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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR NÚCLEO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO MESTRADO EM GEOGRAFIA CLAUDIA CLEOMAR ARAUJO XIMENES CERQUEIRA USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NO PCA FORMIGUINHA, PIMENTA BUENO, RONDÔNIA: ANÁLISE E PROPOSTA DE ARRANJOS PRODUTIVOS PORTO VELHO 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDNIA UNIR

NCLEO DE CINCIAS EXATAS E DA TERRA

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

PROGRAMA DE PS GRADUAO MESTRADO EM GEOGRAFIA

CLAUDIA CLEOMAR ARAUJO XIMENES CERQUEIRA

USO E OCUPAO DO SOLO NO PCA FORMIGUINHA, PIMENTA BUENO,

RONDNIA: ANLISE E PROPOSTA DE ARRANJOS PRODUTIVOS

PORTO VELHO

2016

CLAUDIA CLEOMAR ARAUJO XIMENES CERQUEIRA

USO E OCUPAO DO SOLO NO PCA FORMIGUINHA, PIMENTA BUENO,

RONDNIA: ANLISE E PROPOSTA DE ARRANJOS PRODUTIVOS

Dissertao de Mestrado apresentada ao Ncleo de

Cincias Exatas e da Terra, Departamento de

Geografia, Programa de Ps-Graduao Mestrado

em Geografia PPGG, da Universidade Federal de

Rondnia, como requisito para obteno do Ttulo

de Mestre em Geografia.

rea de Concentrao: Paisagem, Natureza e

Sustentabilidade

Orientadora: Profa. PhD. Marlia Locatelli.

PORTO VELHO

2016

Mesmo que no possa ser considerada um

plano horizontal no sentido matemtico,

mesmo que haja sobre ela montanhas e vales e

as pessoas de algum modo possam se erguer

sobre ela, nada muda no fato fundamental de

que o homem necessita de terra firme sob os

ps para se movimentar, e que a firmeza do

solo que d a base sem a qual a vida humana

carece de segurana.

(BOLLNOW, 2008, p. 51).

No h nada mais difcil de fazer, nada mais

perigoso de conduzir, ou de xito mais incerto

do que tomar a iniciativa de introduzir uma

nova ordem de coisas, porque a inovao tem

inimigos em todos aqueles que tm sado bem

sob condies antigas, e defensores no muito

entusisticos entre aqueles que poderiam sair-

se bem a nova ordem das coisas.

(MAQUIAVEL O Prncipe)

O espao que, para o processo produtivo, une

os homens, o espao que, por esse mesmo

processo produtivo, os separa.

(SANTOS, 2012a, p. 38)

DEDICATRIA

A minha me, Nelci Aparecida Araujo Ximenes, a pessoa que estimulou

em mim o gosto pela leitura, pela escrita, que me deixou ser criana,

adolescente no tempo certo e me ensinou a assumir responsabilidades

sobre os meus erros e acertos. A mulher que me inspirou a sonhar e a

realiz-los. Deixou-me livre para ir e vir e, nunca deixou de me guiar pelas

estradas da vida. Me exemplo de mulher... minha me, meu orgulho!!!

Eternamente...

m

i

n

h

a

Com ela aprendi que

ser tico respeitar as

pessoas e que moral

construdo de acordo

com a sociedade em

que vivemos. Aprendi

que ser me muito

mais do que dizer

SIM, saber dizer

NO. deixar ver o

fundo do poo para se

erguer ainda mais

forte. Aprendi que

cair, impulsiona para

um salto maior. Que

as pedras preciosas

no so encontradas

na superfcie da terra.

Aprendi que sou livre.

Que a honra no se

vende, que ter um

bom ou mau carter

escolha intrnseca.

Herona das minhas

estrias de aventura,

a princesa dos meus

contos de fada,

orgulho da minha

histria de vida.

Minha comadre nas

brincadeiras de

casinha, embora,

crochtasse de

verdade. Brava...

enrgica, porm,

muitas vezes, vi seus

olhos encherem de

lgrimas de emoo...

e quando deixava de

comer para que meus

irmos e eu

pudssemos ter uma

refeio... Mulher que

abriu mo de tantas

coisas para ficar com

os filhos...

h! Guerreira... tenho orgulho de t-la como me, de t-la como referncia, base do meu

universo. Fonte de luz e inspirao para vencer. OBRIGADA!

A todos os mestres da minha vida:

Meus avs maternos e paternos: Emlio de Arajo (in memorian); Luciano Descartes

Ximenes (in memorian); Maria Aparecida de Arajo e Lucinda Martinez Ximenes.

Meus tios e tias maternos: Nancy; Neyli; Nely Rosane; Ney Solange; Nelma, Nara;

Emlio e primos e primas.

Meus tios e tias paternos: Faustino; Teodoro; Ladislau; Lia; Eudete; Elizete; Neuza e

primos e primas.

Em especial as minhas tias:

Eudete e Nara: recordo que eu no tinha dinheiro para a inscrio do vestibular nem para

pagar o nibus para ir de Pimenta Bueno para Cacoal e vocs me ajudaram. Investiram na

minha formao. Fiz o vestibular e passei, o ano era 1994. Pode a distncia ter nos

afastado, que o tempo tenha esfriado os nossos dilogos. Passaram-se 22 anos, mas nunca

esqueci do que fizeram por mim.

Nanci: lembro-me de quando dei uma pausa na minha vida escolar e a senhora fez

minha matricula no supletivo, pagou os mdulos e me disse: agora com voc. Ali, pude

estudar o meu cursinho preparatrio para o vestibular da UNIR, ao mesmo tempo que

terminei meu Ensino Mdio, uma vez que havia desistido no 2 ano do Tcnico em

Contabilidade.

Aos meus irmos:

(Cada um de vocs tem uma participao especial na construo da minha histria de vida. A

singularidade de cada um que completa este ciclo da minha existncia).

Tatiana Regina Araujo Ximenes da Silva voc a balana, ao mesmo tempo em que

a xatiana dos momentos que precisamos, obrigada pela cumplicidade, pela ternura que

tenta esconder, mas que seus olhos assustados de bruxinha sapeca revelam ser amorosa.

Erivelton Athanazio Araujo Ximenes na infncia fomos to amigos, to parceiros...

com as dificuldades da vida cada um precisou correr para um lado, mas nossos sonhos e

nossos ideais continuam semelhantes, obrigada por ter buscado em diversos momentos

suprir a falta do nosso pai.

Arlete Ruiz Ximenes nem distncia, nem o tempo apagou o carinho que tenho por ti,

o pouco tempo em que viveu conosco, fortificou os nossos laos e o amor que tenho por

voc genuno... ultrapassa esta vida.

In memorian: Aroldo Ruiz Ximenes / Elza Ruiz Ximenes (Likinha como nosso pai a chamava) / Carlos

Ruiz Ximenes (Carlinhos).

Aos meus sobrinhos:

- Ueverton; Lorraine; Arhur (Eri) / - Nathalia; Bruno; Diego; Yasmim; Franciely

(Haroldo) / - Jssica; Ingrid (Arlete) / - Jads (Lika) / - Yasmim; Bruno (Carlinhos) / -

Matheus (Maiara) Cada um de vocs so especiais na minha vida.

Aos meus cunhados e cunhada:

Silvinho da Silva / Francislene de Castro / Maiara Neves Cerqueira Dummer / Carlito

Dummer vocs so muito importantes na construo da nossa famlia.

As minhas afilhadas e afilhado:

Ana Rita Araujo Castilho / Kehoma Ricardo Araujo / Namara Karolaine Araujo

Caramello Antunes amor no se mede... mas o meu por vocs maior que o universo.

A todos aqueles que contriburam com a minha formao acadmica, desde a mais tenra

idade, alguns no esto mais neste plano espiritual, outros no lembro o nome, mas, sempre

presente na minha memria.

Em nome dos professores do

Ensino Fundamental: Nair; Gni; Zaira.

Ensino Mdio: Margaridi; Pscoa; Elvira (in memorian); J (ngelo); Maria Emlia;

Lcia Helena; Z Mrio; Josirene; Vera; Elizabete Farjado; Lel; Danielzo; Beth; Elias;

Edmir; Romilda; Izabel (Bel), Josirene, Cidinha Gomes, Elizete,Vera...

Ensino Superior: Quiles (in memorian); Suzenir; Moraes; Estela; Eleonice Dal Magro;

Geraldo Correia; Geraldo Luiz; Valdenice; Lucia; Beth; Simoni Maral; Vagner Boscato,

Mrcia Faquin...

Agradeo pela parcela de cada um na construo do meu conhecimento, sem que houvesse

vocs na minha vida, bem provvel que tudo seria muito mais difcil, tudo seria mais cinza,

mais opaco. Hoje, como professora, vejo que os puxes de orelha eram para o meu bem, que

os riscos de vermelho nas folhas dos meus cadernos foram para que eu aprendesse a escrever,

a interpretar os textos e os nmeros... cada lgrima derramada dos olhos de vocs no auge do

cansao da sensao de ingratido... venho enxugar dizendo a vocs... OBRIGADA!

Aos anjos da minha vida: Meus filhos:

Gabriel Kau

Ximenes

Cerqueira

Foram tantas as vezes que tive que deix-los de lado para estudar. Quantas

e quantas vezes que vocs me procuraram e eu trancada num cmodo de

casa a estudar os deixava de lado. Foram dias e noites, dias comemorativos

e vocs suportando, a minha estranha presena: juntos fisicamente e

distante na mente. Que no cause estranheza, mas quando fisicamente

distante, a mente e o corao estavam to prximo de vocs...

Meus filhos, quantas vezes percebi em ambos, seus olhos vermelhos de

chorar e, quantos murmrios ouvi de vocs conversando sobre o quanto se

sentiam abandonados, excludos da minha vida. E... o quanto chorei

sozinha sabendo que vocs tinham razes suficiente para me deixarem e

no me ouvirem, afinal, na maior parte das vezes eu s fazia o papel da

me chata com as eternas lies de moral materno. Das palavras de

cobranas... de ordem!

Mas, vocs, me ouviram, foram perseverantes e no se deixaram levar

pelas facilidades da vida terrena. OBRIGADA meus filhos. SIM! Meus

filhos. Os dois so filhos da minha alma, eu os escolhi e fui escolhida por

vocs, cada um de uma forma diferente, mas os dois so muito importantes

para mim. Filhos... se eu sou uma pessoa melhor porque vocs existem

na minha vida e me aceitam como me.

Joo Carlos

Bianchi Furis

Junior

In memorian (especial)

Pai, Athanazio Martinez Ximenes, lhe agradeo por ter aceitado a incumbncia de DEUS

em ficar 14 anos de vida terrena ao meu lado, me protegendo, me amando e me ensinando a

respeitar o meu semelhante e a natureza sua fauna e flora. Por ter oportunizado viver em

famlia... pelos irmos que me deu.

Com ele aprendi que a

minha palavra tem que

ter peso, que pai e me

devem ser honrados, e

que meu nome deve

ser referncia.

Aprendi que famlia

a base, o meio e o fim.

Aprendi que por

AMOR somos capazes

de tudo.

Descobri, que somos

santos e pecadores,

mas, filhos do mesmo

Pai Celeste.

Que podemos amar e

odiar. A escolha

sempre nossa: vingar

ou perdoar.

Aprendi que a luz do

sol to importante

quanto luz da lua e

das estrelas. Mas, que

nenhuma luz mais

forte do que a do

AMOR de CRISTO.

Aprendi a

compreender o quanto

um abrao acalma e

acalenta a alma e

minimiza a dor do

corpo e do esprito.

Aprendi que as

palavras soltas no ar,

so armas do bem e do

mal e, que esta sob a

nossa responsabilidade

as nossas escolhas.

Ah! Meu pai! Contigo aprendi que o fim no justifica os meios, no justifica os nossos

erros, mas, que uma pessoa, muitas vezes erra tentando acertar. OBRIGADA! Pelos seus

erros e acertos!

AGRADECIMENTOS

A professora PhD. Marilia Locatelli, por sua dedicao a esta pesquisa. Muito mais do que

orientadora, amiga, pesquisadora e parceira. Ajudou-me a compreender que na caminhada

cientfica, muitas dores sentimos, mas que vale a pena continuar a jornada em busca dos

nossos ideais, superando a cada segundo um novo obstculo. No foi s co-autora desta

histria, mas autora em muitos momentos. Ajudou-me a construir um novo projeto e

caminhar pelas pedras sem que me machucasse.

A dona Maria e seu Liro que me inspiraram a trabalhar no PCA Formiguinha e me apoiaram

durante todo o tempo que levei em campo. Dona Maria foi minha guia entre os(as)

chacareiros(as). Com pacincia e firmeza me guiou e me mostrou o valor da terra, da gua e

do ar na zona rural para aquele que dela tira seu sustento; proporcionaram visitas valiosas a

pessoas que tanto contriburam na idoneidade dos meus dados estendo os meus

agradecimentos.

Ao meu marido Ronilson Neves Cerqueira, pela parceria durante a primeira etapa da minha

pesquisa. Fotografias e acompanhamento nas visitas realizadas ao campo. Pelo incentivo na

busca dos meus sonhos. Pela cumplicidade junto aos nossos filhos e por sua confiana e apoio

na fase final, quando outra pessoa passou a me auxiliar. Pela pacincia e perseverana nas

minhas crises, nas minhas angstias, nas minhas incertezas. Por cuidar de nossa famlia e me

deixar livre para voar...

A minha prima Nbia Dborah Caramello, por ter insistido para que eu fosse inserida no

meio cientfico e, mesmo em face de construo do seu projeto de doutorado, me incentivou a

elaborar e enviar o projeto para o PPGG/UNIR. No perodo de defesa do projeto foi minha

orientadora. Parceira na fase inicial do mestrado com reviso e intercesso nos artigos em

2014 (alguns j publicados) dando, nas fases seguintes fora para continuar, bem como

sempre me levando a mostrar a contribuio das Cincias Contbeis nos estudos Geogrficos.

Ao engenheiro ambiental Roberto de Castilhos Fritz, funcionrio do INCRA, unidade de

Pimenta Bueno, suas contribuies no levantamento dos dados referentes ao PCA

Formiguinha foi fundamental na caracterizao do espao em que o mesmo est inserido. Os

mapas e os elementos compartilhados comigo me ajudaram a elevar o nvel de informaes

do meu estudo.

Ao meu amigo, parceiro e companheiro Benedito de Matos Souza Junior que sem ele, nesta

ltima etapa, tudo seria mais difcil. Sua persistncia ao meu lado, seu carinho e sua

dedicao foi fora propulsora da reta final da minha jornada. Sua caminhada junto s

visitas tcnicas favoreceu nosso dialogo. Sua paixo pelo meio ambiente e cincia geogrfica

contribuiu na tabulao dos dados e redefinio da ordem das coisas ps qualificao e ps

defesa final. O tempo que mostra quem e quem esta ao nosso lado, obrigada, eternamente.

A Adriana Correia de Oliveira pela parceria e companheirismo em todo o processo

adaptativo numa cincia (Geografia) diferente da minha (Cincias Contbeis). Sua ajuda foi

valiosa na interpretao de dados e conhecimento das categorias da Geografia, nos cortes

necessrios quando eu fugia da realidade e na insero do olhar geogrfico no meu mundo

de nmeros e clculos.

A Snia Maria Teixeira Machado pela sua amizade, pelas horas que se disps a me ouvir e

as palavras de conforto nos momentos que eu tanto precisava. Horas que passvamos juntas a

esperar as aulas do professor Josu e as do professor Eliomar. Quantas lgrimas derramadas!

Assim como as horas que tiramos para conversar fora da UNIR jamais sero esquecidas, pois

elas contriburam para que eu permanecesse firme no mestrado e chegasse ao final desta

jornada com a conscincia de que fiz o meu melhor e que sou mais forte do que era em 2014.

A Carla Pern, por seu apoio no perodo de confeco do projeto, quando em vrios

momentos pensei que no daria conta. Confiou, incentivou e investiu na minha viagem ao Rio

de Janeiro, no evento da APECs-Brasil, o que foi determinante no enriquecimento do meu

currculo lattes.

A Dra. Erli Schneider Costa, que foi fundamental na correo e sugestes do meu projeto

para o mestrado. Embora no seja da rea da Geografia, contribuiu imensamente para que eu

conseguisse apresentar um projeto promissor. Corrigir e sugerir j era muito bom, mas, se

dispor e ligar do Rio de Janeiro para mim e com suas palavras motivadoras foi para mim

supremo, fui confiante, as horas via telefone foram determinantes, e alcancei o mestrado.

A Dra. Francyni Elias-Piera, que no perodo da ordenao das ideias para o projeto at a

defesa do mesmo, contribuiu de forma que pude ir para defesa do mesmo com segurana. Ter

disposto de seu tempo formando junto a Nbia Caramello uma banca virtual, via skype direto

da Espanha foi primordial dando foras para enfrentar meus temores, o seu posicionamento

firme me fez refletir e me levar a seguir uma outra linha que deu certo.

Ao Alcimar Pereira dos Santos, o qual estava ao meu lado no momento em que entrei no site

do PPGG/UNIR e decidi tentar entrar no Mestrado de Geografia. Lembro-me de ter virado

para ele e perguntado: e agora? O que seria bom para entrar no Mestrado ao mesmo tempo em

que ser para Pimenta Bueno? Foi ai que voc comeou a me incentivar a lutar pelos meus

sonhos acadmicos. Com estes questionamentos busquei por aquilo que mais me interessava,

e consegui encontrar o vis correto. Obrigada por dizer: voc consegue.

A Ansia Ferreira Sampaio Silva, sua pacincia em escutar minha lamurias nos momentos

de crise em 2013, dizer que eu daria conta e que venceria aquela luta, as frases cheias de

reticncias : fora...; voc vai conseguir...; continue... e a frase que todas as vezes que

lhe dizia que gostava de estudar, esta levarei por toda a minha vida: Voc tem

problema.... Sim! Eu tenho... Suas palavras de conforto e incentivo a partir de 2013 ficaram

na histria da minha vida.

Ao Dr. Jos Carlos Caetano Xavier, pela sua pacincia e dedicao. As horas que disps a

me ajudar durante o evento da APECs-Brasil no Rio de Janeiro em 2013, foi a mola

propulsora da construo do meu projeto para o PPGG. Sei que mesmo falando a Lngua

Portuguesa, em vrios momentos tivemos dificuldade de entender o que um falava para o

outro, devido sermos de pases diferentes, o mesmo de Portugal e eu brasileira comea,

ento, a tomar forma o projeto para concorrer vaga para o mestrado.

A Dra. Lcia de Siqueira Campos, a ti agradeo por ter me orientado na esquematizao das

minhas ideias, junto s demais contribuies. Sua percepo foi singular. Ainda, tenho a ti a

gratido por ter percebido o que estava acontecendo comigo naqueles dias durante o evento da

APECs-Brasil no Rio de Janeiro. Suas palavras e os seus ensinamentos cientficos e

espirituais fizeram diferena na minha caminhada. Gratido esta que me faz sentir vontade de

abra-la e lhe dizer, novamente, PAZ PROFUNDA!

Ao professor Dr. Josu da Costa Silva, tenho por ti a gratido por ter em 2007 me levado a

pensar em Mestrado; em 2011 me incentivado a continuar a escrever e, em 2013 ter aceito

receber o meu projeto para concorrer o mestrado. Mesmo no sendo voltado a sua linha de

pesquisa, ou mesmo a rea de estudo que realizava no seu grupo de pesquisa, percebeu a

relevncia da proposta de pesquisa e acreditou na minha pessoa. Um dia lhe disse que no iria

se arrepender de ter confiado em mim...

A professora Dra. Ana Cristina Strava Correa, sempre firme, porm gentil, poucas vezes nos

vimos, mas todas elas significativas. Suas explanaes ponderadas e precisas foram

incentivadoras a busca do mestrado. 2010, 2013, 2015 e 2016, anos que nos encontramos,

momentos que guardarei, palavras de incentivo e de apoio que usarei na continuao da

construo da minha histria acadmica por toda a minha vida.

Ao professor Dr. Eliomar Pereira da Silva Filho que muito contribuiu com suas

consideraes e sugestes para a melhoria da grafia deste estudo geogrfico. Sua contribuio

geogrfica me incentiva a busca por maiores conhecimentos na Cincia da Geografia e isso

me leva a Milton Santos que, apesar de no ser gegrafo de base, um dos maiores

colaboradores desta cincia e que inspira muitos gegrafos e no gegrafos a continuar na

Geografia.

Ao professor Dr. Ricardo Gilson da Costa Silva que prontamente aceitou a incumbncia de

examinador suplente, alm disto, suas produes cientficas contriburam com louvor para a

compreenso da formao socioespacial do estado de Rondnia.

Aos professores que ministraram aulas para mim no PPGG: Dr. Josu da Costa Silva; Dr.

Eliomar Pereira da Silva Filho; Dr. Adnilson Almeida Silva; Dra. Marilia Locatelli. Com

eles desenvolvi novas competncias, conheci a Geografia com uma linha de pensamento

mais cientfica, o que contribuiu para dar continuidade a minha pesquisa.

A Faculdade de Pimenta Bueno FAP, na pessoa da diretora Me. Eliene Alves Ferreira,

pelo suporte operacional, junto coordenadoria do curso de Cincias Contbeis e

Administrao nos momentos que precisei me ausentar das minhas atividades enquanto

docente desta IES no perodo de 2014.1 a 2016.1.

Ao SENAC, na pessoa da Gerente de Unidade - CEP de Pimenta Bueno Neila Giron, pela

oportunidade de palestrar nos programas da unidade, as quais os temas estavam, sempre,

voltados para a rea de minha pesquisa do Mestrado, o que contribuiu imensamente para a

disseminao de uma sociedade mais consciente, tica e sustentvel.

As professoras e professor: Graciane Bergamachi Araujo Neto, Viviane Gomes e Rogrio

Antnio Carnelossi a vocs o meu agradecimento pelo apoio constante, pela amizade

incontestvel. Em vrios momentos em que pensei que estava sozinha, vocs estiveram ao

meu lado me dando fora para continuar a minha caminhada. Ora concordando, ora podando,

ora discordando, ora empurrando para frente... enfim, esta foi a diferena: amigos de verdade

sabem dizer no, pare, discordo!!!

Aos meus (eternos) alunos da FAP, turmas 2012, 2013, 2014 e 2015 de Cincias Contbeis, e

turma de 2013 de Administrao. Todos, de alguma forma foram coadjuvantes nesta minha

jornada. Com vocs aprendi que ter e ser de confiana so duas coisas diferentes, mas que

podem andar juntos. Aprendi que mesmo com cabeas to diferentes, podemos respeitar o

nosso prximo, saber reconhecer nossos erros, encontrar harmonia em meio a tantos

conflitos... e, sobre tudo, que quem cobra, tambm cobrado.

A minha aluna Deisiane Nicolau Santos, meu agradecimento especial. Voc foi o meu brao

direito e esquerdo durante os trs semestres que ministrei aula para a sua turma, sem seu apoio

logstico tudo seria mais difcil. Alm de aluna, se transformou numa grande amiga, minha e

de minha famlia, alm dos muros da faculdade... amizade que transborda em respeito mutuo,

admirao e harmonia.

CERQUEIRA, Claudia Cleomar Arajo Ximenes. Uso e Ocupao do Solo no PCA

Formiguinha, Pimenta Bueno, Rondnia: anlise e proposta de arranjos produtivos. 124 fl.

Dissertao (Mestrado em Geografia), Fundao Universidade Federal de Rondnia. Porto

Velho, RO, Brasil. [s.n.], 2016.

RESUMO

O desenvolvimento econmico e social ruralista depende de uma gama de eventos naturais e

de aes humanas, as quais causam impactos ambientais com necessidade de estudos de suas

causas e efeitos. Neste aspecto os sistemas agroflorestais surgem como importantes

ferramentas para a renda familiar, alm de ser uma forma sustentvel e com benefcios

ecolgicos. O objetivo deste estudo identificar a viabilidade de implantao de sistemas

agroflorestais no Projeto Casulo de Assentamento Formiguinha, localizado no municpio de

Pimenta Bueno, Rondnia, o qual tem a possibilidade de transformao em arranjos

produtivos locais. O mtodo da pesquisa a dialtica, a qualitativa e quantitativa, tambm, foi

realizado estudo de caso. As categorias de anlise geogrfica so: espao, local e territrio.

Como tcnica de coleta dos dados, utilizou-se o protocolo de entrevista e observao, de

forma participativa. A pesquisa proporcionou sugesto de desenvolvimento econmico local,

propondo planejamentos futuros rentveis. A amostragem foi de cento e seis famlias das

cento e quarenta e quatro, que residem no assentamento, independente de serem ou no os

proprietrios. Diante aos resultados, diagnosticou-se que a maioria dos lotes desprovida de

cobertura vegetal nativa, devido ao desmatamento legal no incio da liberao dos lotes para

os assentados. Observou-se que h espao suficiente para implantao de sistemas

agroflorestais, permitindo outras formas associadas de agronegcio, alm da diminuio dos

impactos ambientais e no incentivo do crescimento econmico local.

Palavras-Chaves: Assentamento; Espao; Local; Sistemas Agroflorestais; Territrio.

CERQUEIRA, Claudia Cleomar Arajo Ximenes. Land Use and Occupancy in PCA

Formiguinha, Pimenta Bueno, Rondnia: analysis and proposal of production arrangements.

124 fl. Dissertation (Masters in Geography), Federal University Foundation, Rondnia. Porto

Velho, RO, Brasil. [s.n.], 2016.

ABSTRACT

The economic and social development at rural areas depends on a range of natural events and

human actions, which cause environmental impacts needed to study its causes and effects. In

this respect agroforestry systems emerge as an important tool for family income, besides

being a sustainable and ecological benefits form. The aim of this study was to identify the

viability of implementing agroforestry systems in Casulo Settlement Project Formiguinha,

located in the municipality of Pimenta Bueno, Rondnia, which has the possibility of

transformation in local clusters. The research method was dialectical, qualitative and

quantitative, and it was also done a study case. The geographical analysis categories are:

space, place and territory. Data collection technique used was interview protocol and

observation, which were participatory. The research provided local economic development

suggestion, proposing profitable future planning. It was sampled one hundred and six , of a

hundred and forty-four families, which live in the settlement, regardless of whether or not are

the owners. Results, predicted that most of the lots were deprived of native vegetation due to

legal deforestation in the early release of the lots to the settlers. It was observed that there is

enough space for agroforestry systems implementation, allowing other associated forms of

agribusiness, in addition to lowering environmental impact and encouraging local economic

growth.

Key Words: Settlement; Space; Local; Agroforestry; Territory.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Relao de (in)sustentabilidade com os sistemas ambientais .................................. 28

Figura 2: Rede de influncias na gesto compartilhada de recursos naturais ......................... 31

Figura 3: Fase inicial da pesquisa (2014) ................................................................................ 41

Figura 4: Fase de execuo da pesquisa (2014/2015) ............................................................. 42

Figura 5: Fase de anlise da pesquisa (2014/2015) ................................................................. 43

Figura 6: Fase final da pesquisa (2015/2016) .......................................................................... 44

Figura 7: Solo e relevo do PCA Formiguinha ......................................................................... 58

Figura 8: Sede do Parque Natural de Pimenta Bueno

(reserva legal do PCA Formiguinha) ........................................................................ 60

Figura 9: Croqui do PCA Formiguinha em sua fase inicial, abril de 1999 ............................. 64

Figura 10: Croqui do acesso interno no PCA Formiguinha .................................................... 65

Figura 11: Grfico da situao dos entrevistados no PCA Formiguinha (2014/2015) ............ 70

Figura 12: Grfico tempo de permanncia dos proprietrios do PCA Formiguinha, 2015 ..... 71

Figura 13: Evidncia de Eutrofizao causada pela natureza e ao antrpica ...................... 74

Figura 14: Eutrofizao no PCA Formiguinha causado pelo Estado ...................................... 74

Figura 15: Tentativa de represar gua direto do rio no PCA Formiguinha ............................. 77

Figura 16: Grfico das caractersticas do sistema produtivo ................................................... 78

Figura 17: Produo com ndice de desperdcio em chcaras no PCA Formiguinha.............. 80

Figura 18: As frutas ctricas nas chcaras no PCA Formiguinha ............................................ 82

Figura 19: Quintal agroflorestal de uma das chcaras no PCA Formiguinha ......................... 84

Figura 20: Sistemas agroflorestais no PCA Formiguinha ....................................................... 85

Figura 21: Horta cultivo com irrigao e correo de solo com calcrio, sem agrotxico ..... 88

Figura 22: Croqui do Lote 47, ano de 2000 ............................................................................. 90

Figura 23: SAFs na Chcara Bela Vista, jan./2016 ................................................................. 91

Figura 24: Cupim no SAF (A Cupim no mogno; B Casa de cupim no SAF) ................... 92

Figura 25: Quintal Agroflorestal (A entrada da Chcara; B lateral da Chcara) .............. 93

Figura 26: Croqui das espcies arbreas madeireiras de SAF

proposto para o PCA Formiguinha ....................................................................... 98

LISTA DE MAPAS

Mapa 1: Localizao do municpio de Pimenta Bueno no Estado de Rondnia ..................... 52

Mapa 2: Localizao do PCA Formiguinha ............................................................................ 56

Mapa 3: Evoluo do desmatamento no PCA Formiguinha (1975, 1990 e 2014) .................. 61

Mapa 4: Evoluo do desmatamento no PCA Formiguinha (1999, 2007 e 2015) .................. 62

Mapa 5: Acesso externo do PCA Formiguinha ....................................................................... 66

Mapa 6 reas de APPs desmatadas no PCA Formiguinha ..................................................... 76

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Compromisso social com o meio ambiente .......................................................... 30

Quadro 2: Um esquema Operacional: a anlise da situao atual ......................................... 37

Quadro 3: Descrio de levantamento de dados primrios e secundrios ............................. 38

Quadro 4: Obras de Milton Santos ........................................................................................ 40

Quadro 5: Legenda e significados das siglas da frmula do VERA ..................................... 48

Quadro 6: Taxonomia Geral do Valor Econmico do Recurso Ambiental ........................... 49

Quadro 7: Espcies com maior incidncia na Reserva Legal do PCA Formiguinha ............ 59

Quadro 8: Evoluo do desmatamento no PCA Formiguinha de 1975 a 2015 ..................... 63

Quadro 9: Caractersticas do Instituto Estadual de Educao Rural Abaitar ...................... 68

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Transporte utilizado no PCA Formiguinha ........................................................... 67

Tabela 2: Sistema de trabalho usado no PCA Formiguinha entre

janeiro/2014 a agosto/2015 .................................................................................... 72

Tabela 3: Espcies frutferas em comum localizadas nas chcaras do PCA Formiguinha ... 81

Tabela 4: Espcies madeireiras encontradas na Chcara Bela Vista ..................................... 91

Tabela 5: Espcies Frutferas localizadas no Quintal Agroflorestal da Chcara Bela Vista . 94

Tabela 6: DRE Demonstrao do resultado do Exerccio Chcara Bela Vista ............... 95

Tabela 7: Mdia do valor total de venda in natura da madeira da Chcara Bela Vista ........ 95

Tabela 8: Valor da madeira beneficiada ................................................................................ 96

Tabela 9: Espcies Frutferas localizadas no SAF da Chcara Bela Vista ............................ 96

Tabela 10: Comparativo do DAP do SAF da chcara Bela Vista a mdia de outros SAFs

com 14 anos ......................................................................................................... 97

Tabela 11: Custo de Implantao de SAFs, quanto as espcies arbreas lenhosas ............... 99

Tabela 12: Custo do SAFs nas Fases Intermedirias espcies arbreas lenhosas ............ 100

Tabela 13: Custo do SAF nos anos de corte de todas as espcies arbreas lenhosas ........... 101

Tabela 14: Estimativa de renda bruta por ciclo de corte ....................................................... 102

Tabela 15: DRE Demonstrao do resultado do Exerccio no final do perodo de

25 anos estimativa da proposta do SAF ........................................................... 103

Tabela 16: Demonstrao por espcie, no final de cada ciclo estimativa da proposta

do SAF ................................................................................................................. 103

SIGLAS E MEDIDAS

APL Arranjos Produtivos Locais

APPs reas de Preservao Permanentes

ASPROJECASULO Associao de Produtores Rurais do Assentamento do Projeto

Casulo

BR Brasil Rodovia

CAR Cadastro Rural

CNH Carteira Nacional de Habilitao

CNPJ Cadastro Nacional de Pessoa Jurdica

CMV Custo de Mercadoria Vendida

CPV Custo do Produto Vendido

CSLL Contribuio Social sobre o Lucro Lquido

CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente

COE Custo de Operao Efetiva

COT Custo de Operao Total

DAP Dimetro da Altura do Peito

DRE Demonstrao do Resultado do Exerccio

EMATER/RO Associao de Assistncia Tcnica e Extenso Rural do Estado de

Rondnia

EVA Estudo de Valorao Ambiental

FAESC Fazenda Escola Cenecista Abaitar

FMI Fundo Monetrio Internacional

IDH ndice de Desenvolvimento Humano

Ha Hectare

IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renovveis

IBGE Instituto Nacional de Geografia e Estatstica

IDARON Agncia de Defesa Sanitria Agrosilvopastoril do Estado de

Rondnia

IE Instituio de Ensino

INCRA Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria

IRPJ Imposto de Renda de Pessoa Jurdica

km Quilmetro

MDA Ministrio do Desenvolvimento Agrrio

MDO Mo de Obra

MMA Ministrio de Meio Ambiente

PAA Programa de Aquisio de Alimentos

PCA Projeto Casulo de Assentamento

PIC Projetos Integrados de Colonizao

PLANAFLORO Plano Agropecurio e Florestal de Rondnia

PNAE Programa Nacional de Alimentao Escolar

PNIA Painel Nacional de Indicadores Ambientais

PNRA Programa Nacional de Reforma Agrria

PMPB Prefeitura Municipal de Pimenta Bueno

POLONOROESTE Programa Integrado de Desenvolvimento do Noroeste do Brasil

PPCDAm Plano de Ao para Preveno e Controle do Desmatamento na

Amaznia Legal

PPGG Programa de Ps Graduao em Geografia

PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

QTD Quantidade

RB/C relao benefcio-custo

RL Reserva Legal

RO Rodovia

SAFs Sistemas Agroflorestais

SEDAM Secretaria de Estado do Desenvolvimento Ambiental

SEMAGRI Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente

SEMAST Secretaria Municipal de Assistncia Social e do Trabalho

SEMOSP Secretaria Municipal de Obras e Servios Pblicos

SEFIN Secretaria de Estados de Finanas

SIPRA Sistema de Informaes de Projetos de Reforma Agrria

TRARL Termo de Responsabilidade de Averbao de Reserva Legal

UNIR Fundao Universidade Federal de Rondnia

VERA Valor Econmico do Recurso Ambiental

VU Valor de Uso

VUD Valor de Uso Direto

VUI Valor de Uso Indireto

VO Valor de Opo

VNU Valor de No Uso

VE Valor de Existncia

VPL Valor Presente Lquido

SUMRIO

INTRODUO ................................................................................................................... 21

CAPTULO I - RECURSOS NATURAIS: ESPAO SUSTENTVEL ........................ 23

1.1 A Construo do Espao ............................................................................................... 24

1.2 Economia e Espao: recursos naturais ...................................................................... 25

1.3 Degradao do Espao: terra, ar, e gua................................................................... 26

1.4 Direitos e Deveres Compartilhados: sntese de percurso ......................................... 29

1.5 Alternativas Agroflorestais: SAFs ............................................................................. 31

1.6 Espao Rural: Aglomerado e Arranjo Produtivo Local .......................................... 34

CAPTULO II - MTODOS E TCNICAS DA PESQUISA ......................................... 36

2.1 Fases da Pesquisa ......................................................................................................... 39

2.2 Valorao Econmica do Meio Ambiente ................................................................. 45

2.3 Indicadores Financeiros do Estudo do SAF .............................................................. 49

CAPTULO III - CARACTERIZAO DA REA DE ESTUDO ............................... 51

3.1 Informaes Gerais do PCA Formiguinha ................................................................ 54

3.2 Solo e Relevo do PCA Formiguinha ........................................................................... 57

3.3 Cobertura Vegetal ....................................................................................................... 59

CAPTULO IV - APRESENTAO E ANLISE DOS RESULTADOS .................... 65

4.1 Vias de Acesso Externo e Interno ............................................................................... 65

4.2 Transportes .................................................................................................................. 67

4.3 Meios de Comunicao ................................................................................................ 68

4.4 Educao Escolar Formal ...................................................................................... 68

4.5 Diagnstico Socioeconmico do PCA Formiguinha ................................................. 69

4.6 Relaes de trabalho e renda dos chacareiros do PCA Formiguinha .................... 71

4.7 Mensurao e Contabilizao da Produo no PCA Formiguinha ........................ 73

4.8 Aporte Hdrico como Base para Valorao Econmica........................................... 73

4.9 Sistemas Produtivos ..................................................................................................... 78

4.9.1 Quintais agroflorestais no PCA Formiguinha .................................................. 83

4.9.2 Sistemas agroflorestais (SAFs) no PCA Formiguinha ...................................... 85

4.10 Treinamentos, Financiamentos e Polticas de Meio Ambiente no

PCA Formiguinha ..................................................................................................... 86

4.11 Produo, Comercializao e Escoamento do Produto ......................................... 88

4.12 Estudo de um SAF no PCA Formiguinha: Chcara Bela Vista ............................ 89

4.12.1 Diagnstico da Chcara Bela Vista ................................................................... 90

4.12.2 Avaliao econmica do SAF da Chcara Bela Vista ..................................... 93

4.13 Avaliao Econmica: proposta de implemento de SAFs ...................................... 97

CONSIDERAES FINAIS .............................................................................................. 106

REFERNCIAS .................................................................................................................. 109

APNDICES ........................................................................................................................ 118

APNDICE A Protocolo de entrevista pesquisa de campo ..................................... 119

APNDICE B Termo de autorizao para a realizao do estudo de caso ................ 124

21

INTRODUO

Na Geografia, o estudo do espao e sua dinmica, favorece a compreenso do seu

objeto: a Terra e o que nela existe. Compreender e analisar o uso e ocupao do solo favorece

ampla discusso quanto s ameaas e oportunidades socioeconmicas e a destinao dos

recursos naturais. O desenvolvimento social e econmico de um pas est relacionado com a

gesto ambiental, por ser, a natureza, fonte de vida.

O meio rural fornecedor de matria prima para a manuteno da sociedade humana,

bem como, provedor de gerao de energia, abastecimento de gua, produo de alimentos,

extrao de minerais e o lazer. Nestes termos, este estudo parte do princpio de que no h um

s ramo de atividade humana que no utilize recursos naturais. Por conseguinte, a anlise de

viabilidade e proposta de arranjos produtivos no PCA Formiguinha fortalecida com a

percepo de que os sistemas agroflorestais so boas alternativas para este e outros fins.

A conjuntura econmica internacional dita uma nova ordem econmica, a qual sofre

rejeio por parte daqueles que no aceitam a necessidade de uso sustentvel dos recursos

naturais. As regies que mais sentiram as mudanas foram as que dependiam da natureza para

o sustento da famlia. Nesta onda ecolgica, uma srie de sanes legais foi delegada pelo

Governo a fim de inibir o desmatamento acelerado, a caa e a pesca predatria.

O primeiro captulo trata da fundamentao terica, sobre a gesto dos recursos

naturais, numa perspectiva sustentvel. O primeiro enfoque a construo do espao e o

apoderamento humano social e econmico. A economia no espao discutida de forma a

compreender os o uso dos recursos naturais. Postula, tambm, os aspectos gerais da

degradao do espao e as obrigaes do estado e da sociedade. O espao rural, sua produo

e as alternativas agroflorestais so apresentados na perspectiva de fomento de arranjos

produtivos locais (APL).

No segundo captulo so apresentados os procedimentos metodolgicos, no qual so

aferidos os mtodos e tcnicas utilizadas na pesquisa, tanto quanto apresenta as fases de todo

processo investigatrio. O mtodo utilizado dialtica com enfoque qualitativa e

quantitativa. Para completar e fortalecer a concepo dos agentes usurios do Projeto Casulo

de Assentamento (PCA) Formiguinha, utilizou-se protocolo de entrevista, o qual tambm

direcionou a observao da rea de estudo. Neste mesmo captulo, so apresentadas as

frmulas de anlise financeira e de medio das espcies arbreas madeireiras.

O terceiro captulo trata da caracterizao do local de estudo com suas informaes

22

gerais, como a localizao geogrfica dentro do municpio de Pimenta Bueno. Tambm

apresentado os aspectos legislativos que regem a criao do PCA Formiguinha, quanto a

evoluo do desmatamento devido ao uso e ocupao do espao. A formao fsica como o

solo, relevo e cobertura vegetal so descritos neste captulo.

No quarto captulo se d a apresentao e anlise dos resultados, no qual foi realizado

o reconhecimento socioeconmico atual, que possibilitou uma caracterizao da evoluo do

contexto e suas variveis com a identificao das respectivas causas. Assim como a

mensurao da geografia econmica com as estatsticas, de forma a abranger qualitativa e

quantitativa os impactos sob o meio. Identificou-se a necessidade de implemento de

alternativas econmicas a prevenir os impactos ambientais e apresenta-se medidas preventivas

para os chacareiros, como a implantao de Sistemas Agroflorestais no Projeto Casulo de

Assentamento Formiguinha.

Relacionado ao desenvolvimento sustentvel importante conduzir as categorias de

anlise em conjunto: espao, local, territrio e paisagem rural. A ampla percepo do espao

essencial no desenvolvimento de um plano de ao, bem como, o estudo da populao local

contribui com o planejamento e execuo de aes mitigadoras para que o chacareiro deixe de

ser improdutivo, na viso econmica, e passe a ser, de fato, produtor rural, gerando renda e

emprego, por meio da proposta de implantao de SAFs.

O estudo tem como objetivo geral a identificao da viabilidade de implantao de

sistemas agroflorestais no PCA Formiguinha, localizado no municpio de Pimenta Bueno,

Rondnia, o qual tem a possibilidade de transformao em arranjos produtivos locais, ou seja,

propondo planejamentos futuros rentveis.

Quanto aos objetivos especficos, primordial a busca por:

a) Diagnosticar os impactos ambientais sobre o meio que visa

mensurao qualitativa e quantitativa de uso e ocupao do solo no que

tange a explorao econmica do PCA Formiguinha;

b) Apontar as demandas de produo agrcola e outras formas do

agronegcio no PCA Formiguinha;

c) Identificar a viabilidade econmica de SAFs no PCA Formiguinha.

Convergente aos interesses de estudo da Geografia busca-se neste estudo representar o

espao socioeconmico agrrio, com o estudo no PCA Formiguinha. Com a viso de que os

SAFs so alternativas viveis para a preveno dos impactos ambientais e sua reduo no

habitat chacareiro.

23

CAPTULO I

RECURSOS NATURAIS: ESPAO SUSTENTVEL

Postergar o entendimento sobre a dinmica do mercado formal e informal no espao

ruralista negar a existncia de indivduos que sobrevivem de pequenos espaos utilizados

para a agricultura e a criao de animais para consumo prprio e comercializao do

excedente. Muitas das anlises neste campo acabam por deixar um lastro de lacunas que

necessitam ser preenchidos. Para conseguir realizar esta anlise se faz necessrio maior

interao da dinmica geogrfica econmica e social.

A gesto compartilhada entre o Governo e o cidado para que o crescimento

econmico no se estagne, ao mesmo tempo em que, se preserva a natureza de forma

responsvel essencial. A dinmica espacial de uma rea, segundo Santos (2014a), ocorre

com a ao de vrios agentes, portanto, aes isoladas no so o suficiente para resolver

questes relativas ao uso dos recursos naturais e a ocupao e transformaes dos espaos.

Milton Santos (2012b, p. 45) explica que A cada momento a totalidade existe como

uma realidade concreta e est ao mesmo tempo em processo de transformao. A evoluo

jamais termina. O fato acabado pura iluso. Consoante ao exposto, percebe-se um elo entre

a subjetividade do espao e a construo do mesmo de acordo com os interesses da sociedade

organizada e da sociedade de modo geral.

A organizao das sociedades humanas ao longo da Histria se firma na busca pelo

conhecimento e domnio da natureza. Neste contexto, a flora, fauna silvestre e a gua,

segundo Bertoni e Lombardi Neto (2014, p. 13) tm [...] sido impiedosamente maltratados

por uma verdadeira agricultura de explorao, o que causa desequilbrio na natureza,

chegando a alguns casos a destruir todo ecossistema de um determinado lugar.

No mesmo sentido Costa Silva (2014) discursa sobre a forma exploratria de se

ocupar os espaos e destaca que no Estado de Rondnia as vrias formas de ocupao advm

de perodos conturbados e de expanso constante na segunda metade do sculo XX. O autor

explica que a natureza sofreu metamorfose a revelia dos interesses das empresas de

colonizao e do crescimento do capital.

Compreender o espao numa perceptiva geogrfica e econmica favorece a anlise da

dinmica de uma sociedade, sua formao social, econmica e ambiental. As intervenes

necessrias no implemento de polticas pblicas advm, ou deveria advir, de estudos prvios

em que abordem a construo do espao em anlise, como neste estudo: o espao rural.

24

1.1 A Construo do Espao

Oportuno refletir sobre o espao: espao que no sofreu aes antrpicas, o espao-

transformado e o espao-construdo, o que em linha direta se destaca que o primeiro o

espao na sua forma natural sem manejo antrpico e o segundo, tanto quanto o terceiro

delineado como sendo aquele que foi transformado pelas aes humanas, ou seja, o prprio

nome revela sua forma de metamorfose.

O espao constante, re-configurado pelas aes humanas e por fenmenos naturais.

Porquanto, todas as transformaes espaciais levam aos fenmenos na natureza, que em

alguns momentos fortalece e em outros exaure as foras da evoluo positiva do ser humano e

do meio. Segundo Santos (1980, p. 122) O espao deve ser considerado como um conjunto

de relaes realizadas atravs de funes e de forma que se apresentam como testemunho de

uma histria escrita por processos do passado e do presente.

As relaes sociais que incidem a todo o momento so promotoras de eventos que

ocorrem na construo do espao e na aceitao das formas que so delineadas. Este fato d

ao homem o poder de criar e recriar o ambiente que quer para si. As mudanas podem ser

apreendidas e inelegveis na anlise do espao a partir das aes e de objetos. Neste sentido, o

pensar geogrfico busca por compreender os fenmenos e a correlao entre estes fenmenos

e o ecossistema.

A ideia de espao e tempo, quanto s teorias apresentadas, defere a este estudo a

compreenso de que um conjunto de paisagens que se formam por aes antrpicas

concernentes a natureza de um determinado ponto a outro. Tuan (2013) explica que possvel

mensurar o espao e que uma unidade geomtrica. O autor considera que o jeito de se

trabalhar o espao que d forma ao mesmo, modificando-o, ou mesmo reconstruindo-o.

Segundo Harvey (2005), o processo de integrao socioeconmica parte do poder de

compra que o indivduo possui. O que leva pessoas derrubarem a mata, pescar e caar para

sobreviverem. A preservao da natureza importante, porm, Mello (2006) considera que

para isso h necessidade de um planejamento adequado e incentivo ao comrcio sustentvel,

falta do mesmo fator impeditivo ao desenvolvimento regional e crescimento econmico da

populao local.

A transformao do espao, ou seja, o espao construdo realizado de acordo com as

necessidades humanas. Milton Santos (2012a, p. 55) destaca que [...] o espao se modifica

para atender as transformaes da sociedade. Sendo do interesse humano o desenvolvimento

e crescimento da economia em determinado espao, ser modificado. O ser humano no basta

25

por si s ocupar um espao na imensido do Universo, preciso que se tenha a inteno de

faz-lo de forma que possa preservar o meio.

Santos (2014d, p. 67) aponta que, Um conceito bsico que o espao constitui uma

realidade objetiva, um produto social em permanente processo de transformao. Ainda,

ressalta-se aqui que Santos (2014c) destaca para a necessidade de considerar o espao como

uma categoria autnoma do pensar filosfico, ou seja, a reflexo acerca de como uma

categoria de anlise o que contribuir com o estudo da revoluo tcnica-cientfica e salutar.

Compreender a relao entre a tcnica e o espao de suma importncia para estudos

voltados geografia leva explicao de Milton Santos (2014a, p. 31), o qual explica que o

espao [...] um conjunto de formas contendo cada qual fraes da sociedade em

movimento. O gingo das aes comunitrias no espao rural prevalece as macro polticas

econmicas, mesmo que as leis estejam para serem cumpridas.

1.2 Economia e Espao: recursos naturais

O levantamento da legislao neste estudo destaca que a globalizao e

mundializao1 do espao rural, tornam imperioso o desenvolvimento sustentvel, mediante a

evoluo mercantil. Em 1994 Milton Santos (2013a, p. 18) afirma que a economia

mundializada, foi por todas as sociedades adotadas [...] de forma mais ou menos total e de

maneira mais ou menos explcita, um modelo tcnico nico que se sobrepe multiplicidade

de recursos naturais e humanos. Desta maneira a natureza una e passa a responder a uma

nova conjuntura mundial: econmica e ecolgica.

A viso de que se faz necessria anlise de categorias como territrio, local,

paisagem e espao no mbito das polticas pblicas so amplamente discutidos por Castro

(2005, 2012), expondo, a priori, o papel da administrao pblica no contexto geogrfico,

como fundamental na delimitao territorial. A autora pondera o poder como problema, uma

vez que emerge de interesses e conflitos individuais, tanto quanto coletivos. Porm, no deixa

de ser importante fator no desenvolvimento social e econmico.

Conquanto a compreenso da economia e do espao rural, vale buscar por Santos

(2014b) que na dcada de 1980 j destacava que o homem do campo sofria com a

modernizao da economia. Trazendo para o sculo XXI, percebe-se semelhana com as

consideraes de Milton Santos. Aqui, o papel da contradio de levantar discusses que

1 Globalizao, de certa forma uma parcela da mundializao, trata da relao entre poder econmico e o

capitalismo, se v como ideologia neoliberal.

26

contribuam com a melhoria das polticas pblicas ambientais, favorecendo amplo debate

conceitual e prtico.

A exemplo de Steinberger (2006), Castro (2005, 2012), destaca que estas categorias de

anlise so importantes na formao das polticas pblicas espaciais. Para a resoluo de

problemas, compete investimento tecnolgico na economia e, a produo rural tem avanado

neste campo, porm, h necessidade de maiores estudos e incentivo ao agronegcio em

pequenas propriedades.

1.3 Degradao do Espao: terra, ar, e gua

A legislao brasileira, determina que os entes federativos e a sociedade em geral

contribuam para a recuperao de reas degradadas e que seja criado espaos de proteo dos

recursos naturais como as matas, bosques e cursos dgua, a exemplo da criao dos

corredores ecolgicos, os quais no Brasil s foram reconhecidos dois at 20142. Estes espaos

so conhecidos como reas de Preservao Permanente (APPs). As reas protegidas pelo

Estado corroboram com a preservao do que h de mata nativa, tanto quanto as de

reflorestamento.

Faz-se necessrio a recuperao de reas degradadas ou reposio das mesmas, a fim

de reverter situao de degradao para uma rea no degradada, cumprindo a ordem de

deixar para as futuras geraes a natureza sem perdas quantitativas e qualitativas. Cunha e

Guerra (2012) so incisivas a afirmarem que o processo de reverso das reas degradadas

possvel. A exemplo, dessa possibilidade, h o estudo desenvolvido por Sanches (2014)3, em

que mostra o quanto provvel a recuperao daquilo que foi destrudo e que o retorno do

investimento garantido e coletivo.

No contexto, importante compreender que reas que sofreram perturbaes mdias ou

graves em sua integridade, independente de sua natureza (fsica, qumica ou biolgica), so

consideradas como degradadas. Araujo, Almeida e Guerra (2014, p. 19) explica que A

degradao das terras envolve a reduo dos potenciais recursos renovveis por uma

combinao de processos agindo sobre a terra. De forma simplificada Martins (2014, p. 44)

pondera que [...] um ecossistema torna-se degradado quando perde sua capacidade de

2 Corredores Ecolgicos so reas que possuem ecossistemas florestais biologicamente prioritrios e viveis

para a conservao da biodiversidade na Amaznia e na Mata Atlntica, compostos por conjuntos de unidades de

conservao, terras indgenas e reas de interstcio. Sua funo a efetiva proteo da natureza, reduzindo ou

prevenindo a fragmentao de florestas existentes, por meio da conexo entre diferentes modalidades de reas

protegidas e outros espaos com diferentes usos do solo.. (MMA, 2015c) 3 De reas degradadas a espaos vegetados (SANCHES, 2014).

27

restaurao natural aps distrbios, ou seja, perde sua resilincia.

A degradao no um termo que se utiliza para designar a modificao do meio, de

tal forma que a torne incapaz de se desenvolver enquanto espaos naturais, mas, destaca

Snchez (2008), tambm se utiliza para os ambientes construdos, A sade um dos aspectos

fsicos que mais atingida e este vem, por vezes pelo ar, pelos animais transmissores de

doenas por conta de sua proliferao mediante a desordem provocada pelas aes antrpicas

no ecossistema em que vivem.

Pela dimenso do Estado e a reduzida quantidade de efetivo nos rgos competentes,

muitos destes atos acabam por ser ignorados. No obstante, recorremos ao trabalho de

Sanches (2014) qual destaca que os entraves esto relacionados aos passivos ambientais que

aplicam um alto custo para a recuperao de reas afetadas por aes antrpicas ou demolio

de edificaes existentes.

O alto custo, a burocratizao dos tramites de licenciamento ambiental, falta de

mercado interno para o re-ordenamento das polticas pblicas de desenvolvimento local e as

divergncias entre o Poder Pblico e o setor privado quanto aos interesses sobre o destino dos

mesmos. As barreiras esto alm dos interesses coletivos, os individuais por vezes superam o

que preconiza a Carta Magna brasileira de 1988 e outras leis nacionais que colocam os

recursos naturais como bens de uso coletivo.

A conservao do solo necessria para melhor qualidade da vida vegetal e animal,

pontuado de forma em que a cincia j tem apresentado resultados aos estudos relativos ao

tema. Na busca por preservar o que j existe, bem como recuperar reas que apresentam

problemas ambientais necessrio realizar por meio dos rgos Estaduais competentes e pelo

IBAMA o RIMA que apresentaro o grau do impacto ocorrido no ambiente natural.

Nestes termos, lcito destacar que o impacto ambiental definido pela Resoluo

Conama n 1, de 23 de janeiro de 1986, como sendo:

Artigo 1 - Para efeito desta Resoluo, considera-se impacto ambiental qualquer

alterao das propriedades fsicas, qumicas e biolgicas do meio ambiente, causada

por qualquer forma de matria ou energia resultante das atividades humanas que,

direta ou indiretamente, afetam: I - a sade, a segurana e o bem-estar da populao; II - as atividades sociais e econmicas; III - a biota; IV - as condies estticas e sanitrias do meio ambiente; V - a qualidade dos recursos ambientais.

No sendo possvel dar intervalo nas reflexes ambientais, Snchez (2008, p. 27), com

efeito, explica o conceito de degradao ambiental e os objetivos das aes de recuperao

28

ambiental, de forma esquematizada, a qual a figura 1, a seguir contribui com a compreenso

da mesma.

Figura 1: Relao de (in)sustentabilidade com os sistemas ambientais Fonte: Snchez (2008, p. 27) (Figura Adaptada)

A premissa de Bertoni e Lombardi Neto (2014, p. 14) de que A evoluo social da

coletividade moderna est na dependncia cada vez maior dos recursos naturais, pelos

progressos tecnolgicos que facilitam a elevao do nvel de vida, se encaixa ao debate

travado neste estudo. A facilitao das atividades corriqueiras na vida domstica, social e

comercial, no quesito tecnolgico, fica evidente a melhoria da qualidade de vida humana. No

entanto, este progresso trouxe custos natureza e, consigo os passivos ambientais os quais

no podem ser ignorados, pelo contrrio, necessrio se faz maior ateno contabilizao dos

mesmos.

Sistemas

degradados

Produo de recursos

naturais em estado

selvagem

Agricultura, pecuria,

silvicultura e aquicultura

Produo industrial

e de servios

Recuperao

ambiental

Sis

tem

as

auto

rreg

ula

dos

Sis

tem

as p

arci

alm

ente

Reg

ula

dos

pel

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Pote

nci

alm

ente

sust

ent

vel

In

sust

ent

vel

Tipo de sistemas Funes

Sistemas de suporte a

vida e regulagem dos

ciclos naturais

Sistemas

urbano-industriais

Sistemas

naturais

Sistemas

modificadores

Agrossistemas

29

1.4 Direitos e Deveres Compartilhados: sntese de percurso

No sculo XXI, h percepo de que vrios dos discursos geogrficos e ecolgicos do

sculo passado permanecem atuais e necessrios na discusso da sustentabilidade, seja ela na

rea urbana ou rural. Outro destaque que se traz aqui que na busca de apresentao de

solues para os problemas ambientais e sociais, cabe a juno de estudiosos das reas fsica e

humana. A aluso s obras de Milton Santos e Harvey, por exemplo, so pertinentes para

compreenso do espao e territrio, de seus ocupantes e toda a metamorfose decorrente das

aes antrpicas e fsico-naturais.

Com a ampliao do mercado e unificao do espao mercantilista, tambm,

compem o rol da globalizao das questes ambientais. Neste contexto, pessoas fsicas e

jurdicas, governamentais e privados, passam a terem obrigaes a serem cumpridas.

Obrigaes estas, que necessitam ser pensadas, compreendidas e postas em ao em sua

amplitude socioeconmica, as quais so esforos direcionados a manuteno e conservao da

natureza em prol da coletividade. a construo do espao numa territoriedade complexa,

porm possvel de ser compreendida.

As tentativas de mudanas relativas conscientizao da humanidade em conciliar a

evoluo socioeconmica com a preservao do meio ambiente tem tido defensores acirrados

em todo o Planeta. Estudos socioambientais, ao serem disseminados seus resultados,

contribuem com a formao de uma nova conscincia de preservao da flora e fauna em seu

aspecto atual para esta e para as prximas geraes. Poder novos estudos surgir a partir do

estudo aqui exposto, contribuindo com a formao de uma nova gerao de pessoas com

conscincia e aes socioambiental tico.

O pressuposto de que a natureza pertence a todos, leva a ideias dbias de liberdade,

sem limites, ao uso dos recursos naturais e que os mesmos so infinitos. Por conta destes

equvocos a fauna e flora esto sendo extintas, ecossistemas esto deixando de existir. Esta

afirmativa consenso, nos discursos encontrados em dezenas de discursos, tanto cientficos

quanto de populares que tem a ideia da importncia dos recursos naturais.

Segundo Bert (2013, p. 39) importante [...] analisar a questo ambiental baseada

na interao entre os meios sociais e fsico-natural, com uma abordagem e uma viso holstica

e sistmica de mundo. Para isto, o autor sistematiza a forma que se deve ocorrer

manuteno da melhoria da qualidade da natureza, ou seja, grupos de pessoas com

denominaes prprias possuem deveres compartilhados. No quadro 1, se compreende como

se d as forma em que os compromissos socioambientais so distribudo por grupos sociais.

30

Quadro 1: Compromisso social com o meio ambiente

Grupos Deveres

Ambientalistas Devem consolidar as conquistas e conferir maior consistncia s propostas, tanto tcnica

como politicamente o pragmatismo continua.

Tcnicos e Gestores

Governamentais

Devem integrar as polticas ambientais de gesto s outras reas polticas e

administrativas dos governos devem atuar nas interfaces.

Empresrios

Tm as tarefas de buscar a coeficincia e de utilizar os padres ambientais como

incentivos s estratgias de competitividade, bem como de enfrentar os desafios das

pequenas e mdias empresas e alertar para poltica ambiental e de responsabilidade social.

Pesquisadores

Por meio dos centros de pesquisa e das universidades, devem produzir o conhecimento e

as tecnologias que o desenvolvimento sustentvel requer e, desse modo, formar quadros

tcnicos.

Parlamentares

No mbito governamental, tm a obrigao de defender os interesses nacionais nessa rea

e de garantir as institucionalidades conquistadas, bem como de responder s demandadas

da sociedade.

Movimentos sociais

Devem comprometer-se com o combate pobreza e com a promoo do desenvolvimento

socialmente justo e ecologicamente equilibrado, isto , praticar a justia ambiental.

Fonte: Bert (2013, p. 39) (Adequado para quadro)

Salutar reafirmar a importncia do envolvimento de toda a sociedade prol ambiente,

contudo, tambm necessrio anlise dos fatores que contribuem com a existncia da

humanidade, tambm, necessrio. No basta pensar na natureza de forma isolada, nem como

fechar o espao natural em si. Os aspectos relacionados ao meio ambiente e as aes

antrpicas sobre as mesmas, avaliadas sob a tica da gesto ambiental, carecem consideraes

no planejamento estratgico, tanto em setores privados quanto pblicos, o que se d no

processo consciente de gesto compartilhada.

Por meio das avaliaes socioambientais e econmicas possvel o levantamento de

pontos fortes e fracos, bem como as ameaas e oportunidades dentro de um plano de gesto

ambiental. As necessidades sociais, nestes casos so priorizados em detrimento dos interesses

do mundo mercantil. Mesmo neste cenrio, o capitalismo sobressai a pontos como as

necessidades fisiolgicas bsicas, fornecidas pelas indstrias. No entanto, considera-se neste

estudo, a necessidade de trabalho conjunto entre o crescimento econmico e a preservao da

Natureza.

As polticas pblicas ambientais so as bases endgenas que contribuem com as

tomadas de decises gerenciais devido a sua natureza legalista, bem como h considerveis

influncias exgenas na formao das mesmas. Delas partem as possibilidades e

disponibilidades de recursos naturais na perceptiva social e econmica. O Estado tem a fora

legal de desenvolver projetos e aprovar outros encaminhados a ele, assim como, tem o dever

de proporcionar condies de sobrevivncia humana sob a Terra. As ocorrncias descritas

podem ser visualizadas e compreendidas numa rede de influncias, conforme figura 2:

31

Figura 2: Rede de influncias na gesto compartilhada de recursos naturais Fonte: elaborado pela autora a partir dos dados da pesquisa, 2015

A integrao dos setores privados e pblicos com a sociedade organizada de suma

importncia na conscientizao de que mudanas comportamentais so necessrias para a

preservao da natureza. O cumprimento das normas ambientais e a gesto compartilhada

entre os entes federativos e os usurios devem ser levados em considerao, no s por ser

determinado por lei, mas, porque uma regra s valida quando aceita e cumprida por todos.

1.5 Alternativas Agroflorestais: SAFs

A produo rural a base que fornece a matria prima agroindstria e outros eixos

do comrcio, como por exemplo, as feiras do produtor rural e as sees de hortifrutigranjeiro

nos pequenos, mdios e grandes mercados, assim como a restaurantes e outros. Sem ela no

se teria a quantidade de produtos para atender as necessidades humanas e dos animais

domsticos e comerciais. Mesmo com os alimentos sintticos desenvolvidos, de forma

experimental, necessita de substncias extradas da natureza.

A tentativa poltica do desenvolvimento do agronegcio imperativa exploso

demogrfica, a qual demanda o uso e ocupao, cada vez maior, do solo. Por conseguinte, a

falsa viso de ter que derrubar a mata para promover a agricultura, levou a uma desmedida

invaso s florestas brasileiras. Atividades econmicas predatrias esto atreladas ao

desenvolvimento da regio no Bioma Amaznico.

32

O contexto leva a compreender que para atender o sistema produtivo uma varivel de

atividades necessria e entre elas a expanso do agronegcio. Para a realizao do mesmo,

num ritmo diferente do que caminhava no sculo XX, propostas e algumas tentativas na

dcada de 1980 e 1990 foram aperfeioadas. Exemplo disso o desenvolvimento de Sistemas

Agroflorestais (SAFs) na Amaznia Brasileira, o qual Locatelli et al. (2010, p. 1) explicam ser

[...] exemplos de explorao de solo mais prximo da forma natural da floresta pela

consorciao de vrias espcies dentro de uma rea, por isso, so determinados como

alternativas sustentveis.

No reajuste das polticas desenvolvimentistas, os sistemas agroflorestais emergem

como opo de uso de solo numa menor proporo do que a forma tradicional. Este uma

forma promissora de cultivo, o qual o ciclo de retorno muitas vezes mais gil. Esta forma de

uso do solo consolida-se num conjunto de tecnologias e sistemas de uso da terra, segundo

Locatelli et al. (2010, p. 1), [...] onde espcies lenhosas perenes (rvores, arbustos,

palmeiras), so cultivadas deliberadamente numa mesma rea com culturas agrcolas e/ou

animais, dentro de um arranjo espacial ou uma seqncia temporal.

Facultado a atividade agrcola o benefcio de enfraquecer a pobreza, alguns pontos

tcnicos so importantes ser vistos. Brienza Jnior et al. (2009, p. 68) chama ateno para o

fato de que [...] limitaes agronmicas referentes a tipos de solo, clima e potencial de

tecnificao so questes que devem ser consideradas nas prognoses de sustentabilidade e no

dimensionamento dos empreendimentos. No estado de Rondnia, Locatelli et al. (2013)

identificaram 24 sistemas agroflorestais, em seis municpios, com crescimento prejudicado

pelo espaamento inadequado, apesar da fertilidade do solo ser suficiente em algumas

localidades.

O empreendedor necessita de clareza em relao aos pressupostos tcnicos necessrios

para o emprego de qualquer que seja o tipo de cultivo escolhido. Quanto aos sistemas

agroflorestais, Locatelli et al. (2012) apresentam caractersticas bsicas positivas que

contribuem com a compreenso do que so sistemas agroflorestais e, no que consiste sua

importncia no desenvolvimento regional. No obstante necessrio se faz apresentar em

sntese a posio dos autores:

a) Envolvem combinaes e manejo da terra, nas quais plantas agrcolas em

conjunto com espcies florestais ou arbustos so associadas numa mesma rea;

b) so alternativas produtivas e sustentveis e proporcionam uma opo

estratgica para os pequenos produtores, devido a baixa demanda de insumos

(fertilizantes, agrotxicos, etc.);

33

c) representarem uma forma de produo mais sustentveis e de menos impacto

do que as pastagens.

d) tem aproveitamentos intensivo da mo de obra familiar e maior rendimento

lquido por unidade de rea em comparao com sistemas convencionais de

produo.

Brienza Jnior et al. (2009) ponderam que desde meados do sculo XX, os sistemas

agroflorestais foram introduzidos na Amaznia brasileira, adentrando pelo Par, com alto

ndice de sucesso. Na dcada de 1980, segundo Almeida et al. (2011), em Rondnia, iniciou-

se o plantio por meio de SAFs com intercultivos de cacaueiro e pupunheira nos municpios de

Ariquemes, Buritis, Campo Novo, Cujubim, Machadinho do Oeste. Vindo a ser estudados

posteriormente por pesquisadores de diversos rgos governamentais, inclusive da

EMBRAPA.

Locatelli et al. (2010, 2012, 2013, 2015) enfatizam que h vrios consrcios em uso no

estado de Rondnia e que os sistemas implantados apresentam ndice de retorno econmico

aos empreendedores, mesmo aqueles com crescimento reduzido. No entanto, estudos

elencados por Almeida et al. (2011) mostram que a falta de mo de obra um dos maiores

problemas para a expanso dos sistemas agroflorestais e, que o retorno poderia ser maior caso

suprisse esta deficincia. O contingente de trabalhadores rurais diminuiu, no s pela

diminuio da natalidade familiar, mas, pelo baixo valor salarial e as sedues das facilidades

urbanas.

Bentes-Gama et al. (2005, p. 409) em estudo no municpio de Machadinho DOeste e,

em Rondnia, identificou que, Os SAFs podem ser uma alternativa de investimento para a

diversificao da renda e recuperao ambiental para o proprietrio rural de Rondnia, com

base na composio de espcies e densidades estudadas. Esta concluso se deu a partir da

analise de risco de investimento, com base em Locatelli (1987), a qual prope alguns modelos

de testes de sistemas agroflorestais para o Estado de Rondnia, j testados e comprovados

pela Embrapa de Rondnia.

Segundo Bentes-Gama et al. (2005), os arranjos produtivos necessitam de avaliao ao

implemento de novas tecnologias e conhecimento das tendncias de mercado. Esse tipo de

avaliao pode ser realizado por meio dos demonstrativos contbeis os quais favorecem a

anlise de passivos e ativos ambientais, bem como contribui com tomadas de decises

gerenciais. Considerados como tipos de produo adequados para a Regio Amaznica

brasileira, os sistemas agroflorestais com seus arranjos e culturas necessitam de

acompanhamento na produo.

34

1.6 Espao Rural: Aglomerado e Arranjo Produtivo Local

Relativo aos temas aglomerado e arranjo produtivo a literatura apresenta um vasto

acervo em formato de artigos cientficos, entretanto, na zona rural, a iniciativa, embora no

seja nova, ainda tmida. Com o desenvolvimento sustentvel, novos temas so alocados ao

meio ruralista e a concepo de aglomerados e arranjos produtivos est volta dos mesmos. O

que pese ser os Sistemas Agroflorestais e, ou outros tipos de produo como o familiar e a

monocultura, so necessrios que definamos o significado dos mesmos e o que podem

contribuir no agronegcio.

O uso e ocupao dos espaos amaznicos deram-se pela necessidade de acomodao

de uma parcela da sociedade que poderiam gerar riquezas a outros, como as empresas

governamentais e no governamentais. Fonseca (2014) esclarece que os arranjos produtivos

so importantes na evoluo econmica de um dado local. Deste modo, as aes do Governo

foram prover polticas pblicas que contribussem para a formao de arranjos produtivos

locais (APL).

Os Arranjos Produtivos Locais APLs se do numa perceptiva de ao integradora e,

apesar dos riscos de mercado, segundo Costa (2006, p. 36) [...] essencial o

desenvolvimento e a implantao de novos instrumentos de leitura das realidades econmico-

sociais, como uma contabilidade social capaz de captar a estrutura e a dinmica das

economias locais considerando sua constituio em APL.

A contribuio dos Arranjos Produtivos Locais (APL) no meio rural do Estado de

Rondnia considerada como de suma importncia para o desenvolvimento da regio e

integrao da mesma ao restante do pas. Em estudos realizados relativos APL na Amaznia

Ocidental so identificados por Marques et al. (2010) pontos cruciais na posio da economia

rural a nvel nacional. Segundo os autores o Estado de,

Rondnia tem uma participao no PIB nacional de 0,6% e apresenta um PIB

estadual estruturado da seguinte forma: agropecuria: 15,3%, indstria: 30,6% e

prestao de servios: 54,1%. A economia de Rondnia caracterizada pela

atividade extrativista, na retirada de madeira e borracha. No ramo industrial,

Rondnia caminha de acordo com as atividades agrcolas e minerais, onde as

indstrias localizam-se prximo fonte de matrias-primas (Portal Brasil, 2009). Os

principais APLs de Rondnia so: madeira e mveis, pecuria de corte e leite,

apicultura e piscicultura. (MARQUES et al., 2010, p. 6).

Os territrios ou regies fazem parte da integrao econmica e, a geografia

econmica singular nas diferentes reas, porm a essncia das APLs permanece inalteradas

nas cidades e no campo. Entretanto, vale ressaltar Fajardo (2011, p. 51), o qual pontua que as

35

variaes econmicas atingem o espao rural [...] Ainda que, dentro do todo rural se

considere uma interao entre elementos de ordem ambiental, cultural ou poltica, o conjunto

das atividades agrcolas e agropecurias so determinantes na organizao e nos

direcionamentos socioeconmicos processados ali.

Os arranjos produtivos locais no espao rural podem ser agrcolas e outros animais de

corte. Interessa-nos salientar que para ser um APLs necessita de flexibilidade produtiva, ou

seja, necessrio compreender o espao em que se encontra. Segundo Fuini (2011, p. 104), os

APLs nos empreendimentos de pequeno porte, numa anlise geogrfica e social do espao

rural, [...] tm surgido justamente em reas localizadas na confluncia do rural/urbano e que

desenvolvem capacidades inovadoras e empreendedoras calcadas nos recursos culturais

especficos da cada localidade.

Vale trazer para esta discusso Milton Santos (2011, p. 190) em que se pese A Ao

sobre o Mundo Rural. O autor sugere que a ajuda dada ao desenvolvimento do meio rural

tem a finalidade de [...] modernizar a economia rural e aumentar a composio tcnica e

orgnica do capital na agricultura (ibid. p. 190). Assim visto, com base em estudos outrora

realizados, o implemento de SAFs ao ponte de transformar em Arranjos Produtivos, pode e

possvel.

O uso e ocupao do solo com mecanismos agressivos (Derrubadas, queimadas,

alteraes foradas dos cursos dgua e etc.), ocorrem a todo momento, o que poderia ser

resolvido mediante a presena e ao tcnica-cientfica de gesto socioambiental com fora de

lei. A funo da gesto sugerida, seria de aplicar planos de negcios sustentveis voltados ao

espao rural, com apoio do Estado de forma a preservar todo o ecossistema da regio e

impedir a poluio da rede hdrica, da atmosfera e as mudanas climticas atuais. Os arranjos

produtivos so alternativas viveis quando implementados de forma correta.

36

CAPTULO II

MTODOS E TCNICAS DA PESQUISA

Devido caracterizao de especificidades da populao alvo e o carter abrangente e

multifacetado dos questionamentos da pesquisa, a base metodolgica utilizada foi dialtica.

Sposito (2004) explica tratar da refutao do senso comum, utilizando-se das contradies

para alcanar verdade, parte integral da razo. O autor faz analogia a Plato e Aristteles,

sendo que o primeiro utiliza-se da razo e o segundo soma os sentidos.

A posio de que as formas so construdas de acordo com o conhecimento de

particularidades das coisas so empregados em pesquisa qualitativa, bem como considera que

os fatos sempre ocorrem um contexto social. Neste contexto; as contradies do origem a

novas contradies que requerem solues. Assim, quanto aos objetivos a pesquisa aplicada

e, como destaca Gil (2008), objetiva gerar conhecimentos para aplicaes prticas dirigidos

soluo de problemas especficos.

Devido caracterizao de especificidades da populao alvo e o carter abrangente e

multifacetado dos questionamentos da pesquisa, foram oportunas as entrevistas. A viabilidade

desta tcnica se deu pelo fato de no haver disperso geogrfica, no entanto, para alcanar o

objetivo proposto se buscou o apoio de protocolo semi-estruturado (questionrio), e do ponto

de vista dos procedimentos tcnicos foi uma pesquisa participante4, facilitando a anlise e

discurso da situao encontrada no espao pesquisado.

Conforme as necessidades que foram surgindo a partir das entrevistas com os

chacareiros buscaram-se por rgos pblicos como SEDAM, EMATER e SEMAGRI e de

sites oficias de entes federativos. Necessrio se fez esta busca devido a diversas informaes

adversas aos dados adquiridos em ocasio de elaborao do projeto para este estudo. Toma no

ponto de vista dos objetivos a posio de pesquisa exploratria, a qual possibilita maior

integrao com o problema estudado, levantamento bibliogrfico e entrevistas com pessoas.

A tcnica utilizada para a anlise da situao atual geral foi o esquema operacional

sugerida por Milton Santos (2014a), apresentado no quadro 2. Este esquema trata da

formulao de um cenrio de organizao espacial. Para o objetivo do estudo proposto,

contribui com o entendimento do que levou a situao ambiental e o que se pode aplicar para

um desenvolvimento sustentvel, ao mesmo tempo em que torna a vida dos envolvidos mais

agradvel.

4 Considera-se, neste estudo, participante, devido a pesquisadora ter interagido com os(as) entrevistados(as),

como, por exemplo, na colheita de frutos e de verduras.

37

Quadro 2: Um esquema Operacional: a anlise da situao atual

ANLISE DA SITUAO ATUAL

SRIE DE ESTUDOS FASES

Estudo formal

(estatstico e documental)

1. Distribuio espacial das atividades materiais, dos servios das infraestruturas e dos homens.

2. Fluxos gerados pelas atividades e pela presena de uma populao: vias e meios de transporte e comunicao.

Anlise de

contedo

1. Uma caracterizao da evoluo do contexto e de suas variveis, com a identificao das causas respectivas.

2. A distino entre evoluo espontnea, derivada principalmente das foras do mercado, e evoluo dirigida, ou planificada.

3. Os efeitos recprocos entre os diversos tipos de evoluo.

4. As condies da evoluo recente e atual.

Tentativa de periodizao

de identificao das

tendncias

1. As caractersticas de cada perodo.

2. A periodizao da evoluo.

3. A identificao das tendncias nascentes em cada perodo.

4. A identificao, assim, dos fatores de evoluo e dos fatores de mutao.

5. As principais consequncias ligadas aos itens precedentes.

Definio da problemtica

atual

1. concentrao geogrfica das atividades e suas consequncias sociais, econmicas, administrativas etc.

2. s atividades de controle externo, recentes ou no, e suas consequncias sociais, econmicas, administrativas etc.

3. s perspectivas de uma evoluo espontnea, e aos seus componentes especulativos.

4. Ao papel do poder pblico, nos seus diversos nveis, nessa evoluo.

Fonte: Santos (2014a, p. 124-126) (Adequado para quadro)

No contexto mais amplo dos mtodos empregados neste estudo que preciso situar o

panorama geral para compreender a especificidade do enfoque socioeconmico e ambiental

da pesquisa. De certo modo, a ideia preencher lacunas que a prpria densidade investigativa

da Geografia Econmica favorece, levando a contribuir com a sociedade de forma geral. A

convenincia do estudo que possvel ser realizado, adequado (quando necessrio) em

novas pesquisas, em locais diversos.

Todos os dados foram recolhidos de maneira espontnea, com orientaes adequadas

e, com os protocolos pr-estabelecidos, o que deu uma boa margem de segurana na

elaborao das tabelas, grficos e quadros, assim como interpretao dos mapas. Para esta

fase da pesquisa contamos com prvia pesquisa bibliogrfica de reconhecimento da proposta

de investigao, bem como do espao e populao alvo.

A tcnica utilizada para o levantamento da anlise da situao atual sugerida por

Milton Santos (2014a) foi aplicao de questionrio (apndice A), com questes abertas e

fechadas, visando pontos estratgicos dentro do PCA Formiguinha:

38

a) identificao dos impactos ambientais;

b) demanda de produo;

c) historiografia social e econmica local;

d) existncia de arranjos produtivos;

e) demanda de mo de obra;

f) transporte, educao, sade, meios de comunicao.

Tambm, foram realizadas entrevistas na SEDAM; EMATER, INCRA e

SEMAGRI/PMPB/RO, na busca de confrontar as informaes recolhidas no PCA

Formiguinha, sobre o mesmo, em rgos governamentais. Bem como, houve o recolhimento

de informaes pertinentes em sites oficiais do MMA e INCRA.

Foi realizado a observao in lcus, com visitas nas chcaras no momento de

aplicao dos questionrios, ocorrendo nestes momentos dilogos informais em que o

chacareiro fornecia informaes extras, no especificadas no questionrio. Ocorria, ento, o

reconhecimento do territrio. Doravante, a apresentao das tcnicas, pertinente o quadro 3,

o que evidencia os dados primrios e secundrios.

Quadro 3: Descrio de levantamento de dados primrios e secundrios

ESCRITO OUTROS

PRIMRIOS SECUNDRIOS PRIMRIOS SECUNDRIOS

Compilados pela autora Transcritos de fontes

primrias

Feitos pela autora Feitos por outros

1. Documentos de arquivos pblicos

2. Publicaes de agentes pblicos

(Leis, ofcios,

relatrios etc.).

3. Estatsticas (sensos) (caractersticas da

populao; fatores

econmicos; meios

de comunicao e

locomoo; ndice

de queimada e

desmatamento etc.).

4. Documentos de arquivos privados

(correspondncias)

5. Livros impressos e on-line

6. Artigos com experincias de

outros pesquisadores

por meio da internet

1. Relatrios de pesquisa baseados em trabalho

de campo de

auxiliares.

2. Estudo histrico recorrente de

documentos originais.

3. Pesquisa estatstica baseado em dados do

recenseamento.

4. Documentrios (vdeos).

1. Fotografias 2. Grficos 3. Quadros 4. Figuras 5. Artigos publicados em

livros, e-book, e

revistas on-line

1. Material cartogrfico; 2. Fotografias; 3. Relatrios de campo; 4. Figuras.

Fonte: a autora a partir da pesquisa, 2016.

39

Por meio das tcnicas j apresentadas foi oportunizado internalizar a concepo de

geografizar o estudo de viabilidade econmica. Os dados primrios foram escolhidos, a

princpio, por ser de autores da Geografia, porm, com as leituras iniciais, passamos a

compreender que o estudo das categorias, demanda estudos interdisciplinares, abrindo a

outras reas do conhecimento.

Doravante a este entendimento, buscamos compreender as seguintes categorias:

espao, paisagem e lugar, num conjunto de estudos geogrficos. Os mesmos foram estudados

com base na Geografia Geral, com nfase em duas reas especficas: poltica e econmica de

forma a compreender a dinmica regional agrria.

Os procedimentos para o estudo de caso partiram do estudo do local, dando

sequenciamento com a localizao de SAF no Lote 47 do PCA Formiguinha. Sua paisagem

diferenciada tornou a observao e percepo instigadora para as seguintes anlises:

a) Solicitao de permisso para visitao do local e para divulgao dos dados

coletados para futuras pesquisas (apndice B);

b) Anlise, em conjunto, dos documentos pertencentes rea dos chacareiros;

c) A aceitao e apresentao do objeto de estudo mediante a pesquisa

participante que a aplicao do protocolo de entrevista, e as anotaes

presentes no dirio de campo sobre os dilogos informais com os moradores

adaptado de Menezes (2008);

d) Levantamento das espcies: hortcolas, forrageiras e as arbreas madeireiras e

ornamentais (no caso do quintal agroflorestal) (VIEIRA, ROSA e SANTOS