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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
DEPARTAMENTO DE NUTRIÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM NUTRIÇÃO
Hipovitaminose A em pré-escolares de creches públicas da cidade do Recife: indicadores bioquímico e dietético
TACIANA FERNANDA DOS SANTOS FERNANDES
RECIFE
2002
TACIANA FERNANDA DOS SANTOS FERNANDES
Hipovitaminose A em pré-escolares de creches públicas da cidade do Recife: Indicadores bioquímico e dietético
Orientador: Prof. Alcides da Silva Diniz
RECIFE
2002
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Nutrição da Universidade Federal de Pernambuco, como parte dos requisitos para obtenção do grau de mestre. Área de concentração: Saúde Pública.
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares.....
““AA ffoommee eennddêêmmiiccaa éé aa vveerrggoonnhhaa ddaa aattuuaallcciivviilliizzaaççããoo ddeeccaaddeennttee,, mmuuiittoo mmaaiiss vvoollttaaddaa ppaarraa aammááqquuiinnaa ddoo qquuee ppaarraa oo hhoommeemm.. CCuummpprree aammoocciiddaaddee bbrraassiilleeiirraa ccoorrrriiggiirr ooss eerrrrooss aaccuummuullaaddoossppeellaass ggeerraaççõõeess aanntteerriioorreess ee,, ppaarraa qquuee eessttee oobbjjeettiivvoosseejjaa aattiinnggiiddoo pplleennaammeennttee,, ssããoo iinnddiissppeennssáávveeiiss ooiiddeeaalliissmmoo,, aa ppeerrsseevveerraannççaa ee aa ccoorraaggeemm.. ÉÉ oo qquueeppeeççoo aaooss jjoovveennss nnoo ppôôrr--ddoo--ssooll ddee mmiinnhhaa vviiddaa..””
NNeellssoonn CChhaavveess
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares.....
DEDICATÓRIA
Aos meus pais, especialmente minha mãe, pelo simples fato de existir; por sua fé e grande luz espiritual, alicerce importante na minha vida e da minha irmã.
À minha irmã, Renata, pela grande paciência durante esse período.
A Alaíde, pelo importante papel que exerce na minha família.
Ao meu avô, José Olímpio, que na lucidez de seus 97 anos, é um exemplo de vida para todos nós.
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares.....
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Alcides, um exemplo de competência e dedicação à pesquisa, pela
orientação segura e precisa, condições essenciais para a elaboração deste trabalho.
À Coordenação da Pós-Graduação em Nutrição da Universidade Federal de
Pernambuco.
Aos professores e funcionários do Laboratório de Saúde Pública e do Laboratório de
Nutrição Clínica, pela atenção que me dispensaram durante todo esse período.
A todos do CIMICRON/UFPB, pela disponibilidade e receptividade com que me
receberam, todas as vezes que lá estive.
À Prof. Ilma Kruze, pelo carinho e apoio permanente, que muito contribuiu para a
concretização deste trabalho.
A Poliana Cabral, pela dedicação imprenscindível nos últimos dias, e por todos os
ensinamentos a mim proporcionados desde o início da minha carreira profissional.
A Célia Regina, pelo incentivo antes mesmo do processo seletivo.
A Sandra Cristina, pelo grande apoio nos momentos críticos e paciência em ouvir
minhas intermináveis dúvidas.
A Ana Cláudia, por ter demonstrado inúmeros vezes o significado da palavra
“amizade”. Tornando-se, fundamental em algumas etapas desta dissertação.
Às amigas Mônica Rocha, Luciana Leal e Miriam Guerra, em especial Iracema
Frazão, pelo companheirismo compartilhado, no decorrer do curso, desde os
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares.....
momentos mais difíceis até os mais alegres. Não podendo esquecer as boas
gargalhadas, verdadeiro bálsamo para os dias de “stress”.
Aos amigos da minha turma do mestrado sempre presentes e prontos para
colaborar, quando foi preciso.
Às estagiárias Wanessa e Aldenize, em especial Débora, que ajudaram na tabulação
dos dados, com muito interesse e entusiasmo.
À amiga Ana Karina, pela enorme paciência e importantes palavras de incentivo
durante todo esse período.
A Jocélio que mesmo de longe foi um grande colaborador na realização deste
trabalho.
A Maria de Jesus Araújo por todo carinho e por seu “perfeccionismo”, qualidade
importantíssima para finalização desta dissertação.
A Neci, secretária da Pós-Graduação em Nutrição, pelas importantes informações e
disponibilidade em sempre ajudar.
À Capes, pela concessão da bolsa de estudo.
A todos que contribuíram direta ou indiretamente para a elaboração desta
dissertação.
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares.....
SUMÁRIO
PAG LISTA DE QUADRO E FIGURAS LISTA DE TABELAS RESUMO ABSTRACT
1. INTRODUÇÃO..........................................................................
1.1. Considerações gerais.........................................................
1.2. Absorção, armazenamento e transporte da vitamina A.....
1.3. Biodisponibilidade e recomendações da vitamina A..........
1.4 Diagnóstico do estado nutricional de vitamina A ...............
1.4.1. Clínico/subclínico.......................................................
1.4.2. Bioquímico.................................................................
1.4.3. Dietético ....................................................................
1.5. Aspectos epidemiológicos da hipovitaminose A.................
1.6. Consumo alimentar ............................................................
1.7. Hipovitaminose A e desnutrição energético-proteíca..........
1.8. Hipovitaminose A e morbi-mortalidade................................
17
17 19 20 21 21 22 23 25 27 29 30
2. OBJETIVOS...............................................................................
2.1. Objetivo geral ....................................................................
2.2. Objetivos específicos .........................................................
34
34 34
3. METODOLOGIA........................................................................
3.1. Desenvolvimento da pesquisa ..........................................
3.2. Desenho do estudo...........................................................
35
35 35
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares.....
3.3. População do estudo.........................................................
3.4. Amostragem......................................................................
3.5. Estratégias de ação ..........................................................
3.6. Métodos e técnicas de avaliação.......................................
3.6.1. Retinol sérico ........................................................... 3.6.2. Inquérito de consumo alimentar ...............................
3.6.3. Antropometria ...........................................................
3.7. Processamento e análise dos dados ...............................
3.8. Considerações éticas.........................................................
36 36 39 39 39 41 43 44 48
4. RESULTADOS..........................................................................
4.1. Características da amostra ................................................
4.2. Estado nutricional de vitamina A ........................................
4.2.1. Concentrações de retinol sérico..................................
4.2.2. Consumo alimentar de vitamina A...............................
4.3. Avaliação antropométrica ..................................................
4.4. Estado nutricional de vitamina A vs variáveis
demográficas .....................................................................
4.4.1. Retinol sérico vs sexo ...............................................
4.4.2. Retinol sérico vs idade ..............................................
4.4.3. Consumo alimentar de vitamina A vs sexo ...............
4.4.4. Consumo alimentar de vitamina A vs idade ..............
4.5. Índices antropométricos vs variáveis demográficas ...........
4.5.1. Adequação peso/idade vs sexo .................................
4.5.2. Adequação altura/idade vs sexo.................................
4.5.3. Adequação peso/idade vs idade ................................
4.5.4. Adequação altura/idade vs idade ...............................
4.6. Estado nutricional de vitamina A vs índices
Antropométricos ..............................................................
4.6.1. Retinol sérico vs adequação peso/idade ...................
4.6.2. Retinol sérico vs adequação altura/idade ..................
4.6.3. Retinol sérico vs adequação peso/altura....................
49
49 50 50 52 57
63 63 64 65 65 70 70 71 71 72
73 73 74 75
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares.....
4.6.4. Consumo alimentar de vitamina A vs adequação
peso/idade .................................................................
4.6.5. Consumo alimentar de vitamina A vs adequação
altura/idade ...............................................................
4.6.6. Consumo alimentar de vitamina A vs adequação
peso/altura ................................................................
4.7. Retinol sérico vs consumo alimentar de vitamina A..............
76
77
78 79
5. DISCUSSÃO ............................................................................. 82 6. CONCLUSÕES ......................................................................... 87 7. RECOMENDAÇÕES ................................................................. 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................
88 89
9. ANEXOS .................................................................................... 101
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares.....
LISTA DE QUADRO E FIGURAS
PÁG Quadro 1 Distribuição da amostra por creche, no município do Recife-
PE, 1999.....................................................................................
38
Figura 1 Distribuição das concentrações de retinol sérico, em crianças
de 0 - 5 anos de idade, de creches do município do Recife-PE,
1999............................................................................................
51 Figura 2 Níveis de adequação do retinol sérico, segundo classificação
da OMS (1994), em crianças de 0 - 5 anos de idade, de
creches do município do Recife-PE, 1999..................................
52 Figura 3 Curva de distribuição do consumo alimentar de vitamina A, em
crianças de 0 - 5 anos de idade, de creches do município do
Recife-PE, 1999..........................................................................
53 Figura 4 Consumo alimentar de vitamina A, segundo a fonte dietética,
em crianças de 0 - 5 anos de idade, de creches do município
do Recife-PE, 1999.....................................................................
55 Figura 5
Consumo alimentar de vitamina A, segundo sua fonte
dietética, em crianças de 0 - 5 anos de idade, de creches do
município do Recife-PE, 1999....................................................
56 Figura 6 Estado nutricional, segundo o índice Peso/Idade, de crianças
de 0 - 5 anos de idade, de creches do município do Recife-PE,
1999............................................................................................
58
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares.....
Figura 7 Estado nutricional, segundo o índice Altura/Idade, de crianças
de 0-5 anos de idade, de creches do município do Recife-PE,
1999............................................................................................
60 Figura 8 Estado nutricional, segundo o índice Peso/Altura, de crianças
de 0 - 5 anos de idade, de creches do município do Recife-PE,
1999............................................................................................
62 Figura 9 Correlação entre os níveis séricos de retinol e a idade, de
crianças de 0 - 5 anos de idade, de creches do município do
Recife-PE, 1999..........................................................................
64 Figura 10 Adequação do consumo alimentar de vitamina A, segundo a
faixa etária, considerando-se as recomendações da RDA -
1989, em crianças de 0 - 5 anos de idade, de creches do
município do Recife-PE, 1999....................................................
67 Figura 11 Adequação do consumo alimentar de vitamina A, segundo a
faixa etária, considerando-se as recomendações da DRI -
2001, em crianças de 0 - 5 anos de idade, de creches do
município do Recife-PE, 1999....................................................
68 Figura 12
Correlação entre o consumo alimentar de vitamina A e a
distribuição etária, em crianças de 0 - 5 anos de idade, de
creches do município do Recife-PE, 1999.................................
69 Figura 13 Níveis séricos de retinol e adequação do índice Peso/Idade,
em crianças de 0 - 5 anos de idade, de creches do município
do Recife-PE, 1999..................................................................
73
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares.....
Figura 14
Níveis séricos de retinol e adequação do índice Altura/Idade,
em crianças de 0 - 5 anos de idade, de creches do município
do Recife-PE,1999...................................................................
74 Figura 15 Níveis séricos de retinol e adequação do índice Peso/Altura,
em crianças de 0 - 5 anos de idade, de creches do município
do Recife-PE,1999...................................................................
75 Figura 16 Consumo alimentar de vitamina A e adequação do índice
Peso/Idade, em crianças de 0 - 5 anos de idade, de creches
do município do Recife-PE, 1999............................................
76 Figura 17
Consumo alimentar de vitamina A e adequação do índice
Altura/Idade, em crianças de 0 - 5 anos de idade, de creches
do município do Recife-PE, 1999............................................
77 Figura 18
Consumo alimentar de vitamina A e adequação do índice
Peso/Altura, em crianças de 0 - 5 anos de idade, de creches
do município do Recife-PE, 1999............................................
78 Figura 19 Concentrações de retinol sérico e consumo alimentar de
vitamina A, em crianças de 0 - 5 anos de idade, de creches
do município do Recife-PE, 1999............................................
79
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares.....
LISTA DE TABELAS
PAG Tabela 1 Distribuição da amostra de crianças de 0 - 5 anos de idade,
segundo o sexo, de creches do município do Recife-PE, 1999.....
49
Tabela 2 Distribuição etária da amostra de crianças de 0 - 5 anos de
idade, de creches do município do Recife-PE, 1999.....................
50
Tabela 3 Adequação do consumo alimentar de vitamina A, segundo RDA
- 1989 e DRI - 2001, em crianças de 0 - 5 anos de idade, de
creches do município do Recife-PE, 1999.....................................
54 Tabela 4 Adequação do consumo alimentar de vitamina A, segundo sua
fonte dietética, em crianças de 0 - 5 anos de idade, de creches
do município do Recife-PE, 1999...................................................
56 Tabela 5 Estado nutricional, segundo o índice Peso/Idade, em crianças de
0 - 5 anos de idade, de creches do município de Recife-PE,
1999................................................................................................
59 Tabela 6 Estado nutricional, segundo o índice Altura/Idade, em crianças
de 0 - 5 anos de idade, de creches do município do Recife-PE,
1999................................................................................................
61 Tabela 7 Estado nutricional, segundo o índice Peso/Altura, em crianças
de 0 - 5 anos de idade, de creches do município do Recife-PE,
1999...............................................................................................
62
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares.....
Tabela 8 Distribuição dos níveis séricos de retinol, segundo o sexo, em
crianças de 0 - 5 anos de idade, de creches do município do
Recife-PE, 1999.............................................................................
63 Tabela 9 Consumo alimentar de vitamina A, segundo o sexo, em crianças
de 0 - 5 anos de idade, de creches do município do Recife-PE,
1999...............................................................................................
65 Tabela 10 Estado nutricional do consumo de vitamina A, segundo a faixa
etária, em crianças de 0 - 5 anos de idade, de creches do
município do Recife-PE, 1999........................................................
66 Tabela 11 Adequação do índice Peso/Idade, segundo o sexo, em crianças
de 0 - 5 anos de idade, de creches do município do Recife-PE,
1999 ..............................................................................................
70 Tabela 12 Adequação do índice Altura/Idade, segundo o sexo, em crianças
de 0 - 5 anos de idade, de creches do município do Recife-PE,
1999 ..............................................................................................
71 Tabela 13 Adequação do índice Peso/Idade, segundo a faixa etária, em
crianças de 0 - 5 anos de idade, de creches do município do
Recife-PE, 1999 ............................................................................
71 Tabela 14 Adequação do índice Altura/Idade, segundo a faixa etária, em
crianças de 0 - 5 anos de idade, de creches do município do
Recife-PE, 1999 ............................................................................
72 Tabela 15
Prevalência de níveis baixos de retinol sérico, segundo a
adequação de consumo alimentar de vitamina A em crianças de
0 - 5 anos de idade, de creches do município do Recife-PE,
1999 ..............................................................................................
80
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares.....
Tabela 16 Poder de discriminação do inquérito de consumo alimentar de
vitamina A, frente ao retinol sérico, no diagnóstico da
hipovitaminose A em crianças de 0 - 5 anos de idade, do
creches do município do Recife-PE, 1999.....................................
81
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares.....
RESUMO
Com o objetivo de traçar o perfil da hipovitaminose A em pré-escolares de creches
públicas da cidade do Recife-PE, foi desenvolvido um estudo de corte transversal
envolvendo 311 crianças menores de cinco anos, de ambos sexos, aleatoriamente
selecionadas, e avaliadas pelos indicadores bioquímico (retinol sérico), dietético
(inquérito de consumo alimentar) e antropométrico (peso/idade, altura/idade e
peso/altura). A prevalência de níveis de retinol sérico baixos (< 20µg/dl) foi de 7%,
caracterizando a deficiência de vitamina A como problema de saúde pública do tipo
leve, segundo critérios da Organização Mundial de saúde (OMS). Cerca de 78% das
crianças apresentaram adequação do consumo de vitamina A, considerando-se as
cifras recomendadas pela Dietary Reference Intakes (DRI), 2001. A distribuição dos
níveis séricos de retinol e do consumo alimentar de vitamina A foi homogênea,
segundo o sexo. No entanto, crianças na faixa etária de 12 a 48 meses, mostraram
menor consumo de vitamina A em relação às demais faixas etárias (p < 0,05). A
prevalência de baixo peso foi de 7,5%, de retardo do crescimento linear de 8,1% e
de desnutrição aguda de 1,8%. A hipovitaminose A, avaliada pelos níveis séricos de
retinol e baixo consumo de vitamina A, não mostrou correlação com a desnutrição
energético-protéica (p > 0,05). Por outro lado, os níveis séricos de retinol não
mostraram correlação (p > 0,05) com o consumo de vitamina A. O inquérito dietético,
enquanto teste de discriminação diagnóstica da hipovitaminose A, apresentou baixo
valor preditivo positivo, pouca sensibilidade, embora razoável especificidade. A
identificação de grupos populacionais vulneráveis, bem como, a seleção de
indicadores fidedignos do estado nutricional de vitamina A, são elementos
essenciais para o diagnóstico e o planejamento de ações visando a prevenção e o
controle desta carência nutricional específica.
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares....
ABSTRACT
In order to outline the profile of vitamin A deficiency among preschool children attending
public day care centres in Recife, state of Pernambuco, a cross-sectional survey
involving 311 under five years old children, boys and girls, who were randomly selected,
evaluated by biochemical (serum retinol), dietetic (vitamin A-rich food consumption) and
anthropometric indicators (weight for height, weight for age and height for age). There
were 7% of serum retinol low levels (< 20µg/dl), which characterize hypovitaminose A as
a public health mild problem, according to World Health Organization (WHO) criteria.
Approximately 77,9% of the studied children presented vitamin A adequate food
consumption, considering recommendation proposed by Dietary Reference Intakes
(DRI), 2001. The serum retinol levels distributions and vitamin A food consumption were
homogeneous for both genders. Nevertheless, children between 12 on 48 months
presented a lower vitamin A food intake than children in different ages (p < 0,05). The
prevalence of low weight was 7.5%, stunting 8.1% and wasting 1.8%. Hypovitaminose
A, estimated by serum retinol levels and the vitamin A intake, did not show correlation
with protein-energy malnutrition (p > 0,05). However, serum retinol levels did not
correlate (p > 0,05) with vitamin A food intake. As a screening test of hypovitaminose A,
the dietary intake presented low positive predictive value, low sensitivity, but a fair
specificity. The identification of vulnerable population groups, as well as the selection of
reliable indicators of the nutritional vitamin A status are essential to diagnosis and
planning towards control and prevention of this specific nutritional deficiency.
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares....
17
1. INTRODUÇÃO
1.1. Considerações gerais
Define-se como hipovitaminose A, a ocorrência de baixos níveis de vitamina A no soro e
de reservas tissulares reduzidas desse nutriente. Em termos epidemiológicos, explica-
se o estado nutricional de vitamina A, pela atuação de fatores ligados ao agente, meio
ambiente e hospedeiro. Dos fatores relacionados ao agente, destacam-se os níveis do
nutriente em determinados alimentos, a sua forma de apresentação nas fontes
dietéticas (ésteres de retinil, β-caroteno e carotenóides de atividade pró-vitamina A),
assim como, a inadequação na ingestão de nutrientes. Quanto ao ambiente, associam-
se as condições físicas, geográficas, os padrões sócio-econômicos, culturais,
saneamento básico, assistência para promoção, proteção e recuperação da saúde.
Com o hospedeiro podemos destacar os hábitos alimentares, idade, sexo, estado
fisiológico e ou patológico (TEIXEIRA & BION, 1978).
Recentemente, Delisle (1996) propôs a utilização do modelo causal preconizado pelo
UNICEF (1990), como forma de estabelecer fatores de risco e análise causal da
deficiência de vitamina A. Sendo assim, Andrade (2000) elaborou um diagrama
conceitual, utilizando um conjunto de variáveis que histórica e estatisticamente
apresentava associação com a hipovitaminose A em menores de cinco anos, onde
verificou que, com exceção das variáveis biológicas e cuidados maternos, todos os
blocos (ambientais, peso ao nascer, suporte alimentar e estado de saúde)
apresentaram-se significantes para a ocorrência desta carência nutricional.
A vitamina A é um micronutriente essencial à manutenção das funções fisiológicas
normais do organismo. Dentre suas diversas funções destacam-se às ligadas ao
crescimento, à reprodução, à integridade das membranas biológicas, à formação de
glicoproteínas e produção do muco (SOMMER, 1995). Além disso, apresenta ação
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares....
18
moduladora da resposta imune (SEMBA, 1994; SEMBA & TANG, 1999) e desempenha
papel crucial na integridade do globo ocular, uma vez que as lesões oculares
decorrentes de sua falta se constituem na principal causa de cegueira evitável na
infância (OLSON, 1972). A Organização Mundial de Saúde (OMS) estimou que em
1995 a xeroftalmia afetava cerca de 3 milhões de crianças em todo mundo (WHO,
1996).
Desde a antiguidade, são conhecidas as manifestações oculares da carência de
vitamina A. A cegueira noturna foi descrita pela primeira vez no Egito, por volta de 1500
AC; o mais antigo texto médico conhecido no ocidente, o papyrus Ebers (1600 AC)
prescrevia, às pessoas atingidas pela hemeralopia, uma dieta rica em fígado, conduta
também recomendada por Hipócrates (WOLF & PHIL, 1978). Wilhelm Pies, em 1648,
referiu a existência de hemeralopia entre os soldados e a plebe americana, atribuindo o
sintoma à má alimentação (CASTRO, 1967).
No Brasil, a descrição detalhada das lesões de córnea e a possível origem nutricional
da xeroftalmia parecem ter sido registradas pela primeira vez pelo médico brasileiro
Manuel da Gama Lobo, que em 1864 descreveu a ocorrência das lesões oculares
típicas da doença em crianças escravas no Rio de Janeiro. Tais lesões estariam
relacionadas a erros na alimentação (GAMA LOBO, 1865 apud DINIZ & SANTOS,
2000, p.312).
A vitamina A foi a primeira vitamina a ser identificada, no início do século passado,
simultaneamente, por Osborne e Mendel e por Mc Collum e Davis, sendo denominada
de “fator dietético não-identificado lipossolúvel A” (RONCADA, 1998). Em 1920, foi
observado que o β-caroteno, presente no extrato amarelo de plantas amarelas e
verdes, também possuía atividade biológica similar a da vitamina A, levando Paul
Karrer, em 1931, a determinar a estrutura química dessas substâncias (REILLY &
GMÜNDER, 1989).
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares....
19
Hoje, a xeroftalmia é reconhecida como uma manifestação tardia da deficiência severa
da vitamina A. Tem sido caracterizada como forma moderada de lesões oculares
quando o acometimento é restrito à conjuntiva e à retina (mancha de Bitot e cegueira
noturna), e na sua forma grave, quando há comprometimento do estroma corneal
(úlcera e ceratomalacia), levando a seqüelas cicatriciais incapacitantes (leucomas,
descemetocele, estafiloma e atrofia ocular). Atualmente, cerca de 250.000 a 500.000
crianças ficam cegas anualmente, decorrentes da xeroftalmia (SOMMER, 1998).
1.2. Absorção, armazenamento e transporte de vitamina A
A vitamina A está presente nos alimentos sob duas formas: a vitamina A pré-formada
(ésteres de retinil), de origem animal, tendo o leite e derivados, fígado, gema de ovo e
manteiga como principais fontes; e a pró-vitamina A (β-caroteno e carotenóides de
atividade pró-vitamina A), de origem vegetal, dentre os quais, destacam-se os legumes
e frutas de cor amarelo-alaranjada e as folhas de cor verde-escura. No estômago, os
ésteres de retinil e os vários carotenóides sofrem ação de enzimas proteolíticas,
separam-se dos alimentos e são agregados em glóbulos junto a outros lipídeos da dieta
(OLSON, 1987).
Todos os ésteres de retinil são enzimaticamente convertidos a retinol na luz intestinal
antes da absorção pelos enterócitos; já os carotenóides são parcialmente convertidos
em retinol ao nível do enterócito, no qual ambos, são melhor absorvidos na porção mais
alta do intestino (GOODMAN, 1984). Após ser reduzido a retinol, o composto é
transportado pelos quilomicrons. Uma pequena quantidade de β-caroteno não sofre
nenhuma hidrólise e chega ao fígado via canal torácico e pela circulação geral
(AMÉDEE-MANESME & DEMAEYER, 1989). No momento da mobilização do fígado, o
retinol é acoplado à proteína fixadora de retinol (RBP) e é transportada a tecidos
determinados num complexo com as pré-albuminas séricas (COMBS JR, 2002).
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares....
20
Alguns fatores parecem afetar a absorção de vitamina A, tais como, as parasitoses
intestinais (ascaridíase e giardíase), particularmente em pacientes com uma alta carga
parasitária, e as diarréias (SOMMER, 1995). A desnutrição energético-proteíca tem sido
reportada como um fator que não interfere na absorção da vitamina A (SIVAKUMAR &
REDDY, 1972). No entanto, quando a deficiência é grave, há uma inibição da absorção,
liberação e transporte desta vitamina (MANDANI & ROSS, 1988). A absorção dos
carotenóides sofre interferência de alguns fatores dietéticos, incluindo o nível e a
origem de gordura na dieta, quantidade de carotenóides e digestibilidade de alimentos;
além disso, este nutriente também pode ser afetado pelo efeito das condições de
preparação, processamento e armazenamento dos alimentos (RODRIGUEZ-AMAYA,
1997).
Quase todo retinol absorvido é armazenado nas células do parênquima hepático, o que
corresponde a cerca de 90% da reserva de vitamina A do organismo; os 10% restantes
são distribuídos pelas células do sangue, medula óssea, tecido adiposo e baço
(GOODMAN, 1984).
1.3. Biodisponibilidade e recomendações de vitamina A
Em quantidades fisiológicas, o retinol é mais eficientemente absorvido do que os
carotenóides; o percentual de absorção do retinol gira em torno de 70 - 90%, enquanto
o dos carotenóides situa-se numa faixa de 20 - 50% (SIVAKUMAR & REDDY, 1972). À
medida que a quantidade ingerida aumenta, a eficiência na absorção do retinol continua
alta (60 - 80%), enquanto que a dos carotenóides cai acentuadamente, situando-se em
patamares inferiores a 10% (OLSON, 1972).
As necessidades médias de uma população, levando-se em consideração as diferentes
classes de idade e sexo, situam-se em torno de 450 - 700µg de retinol para cada
indivíduo por dia, onde 1µg de retinol corresponde a 1 equivalente de retinol (ER)
(RUSSEL & SUTER, 1993). Os requerimentos são, provavelmente, superiores nos
países em desenvolvimento, em razão da estrutura demográfica mais jovem, que nos
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares....
21
países industrializados (FAO/OMS,1991). A Organização das Nações Unidas para
Agricultura e Alimentação e a Organização Mundial de Saúde (FAO/OMS) recomendam
um mínimo de 180 ER, por dia, para os recém-nascidos atenderem suas necessidades
basais. Para permitir um estoque hepático aceitável, são necessárias, em média, 350 –
375 ER, diárias, durante o primeiro ano de vida e 400 ER, nos dois anos subseqüentes.
Atualmente, a Food and Nutrition Board (2001) preconiza 300µg de retinol por dia para
crianças de 12 a 36 meses e 400µg, nos cinco anos seguintes.
1.4. Diagnóstico do estado nutricional da vitamina A
Um amplo espectro de indicadores tem sido descrito para avaliar o estado nutricional de
vitamina A.
1.4.1. Clínico/subclínico
O diagnóstico clínico, consubstanciado, sobretudo, nas lesões ou no comprometimento
do sistema visual, é o indicador mais fidedigno do diagnóstico da hipovitaminose A
(DINIZ, 1997). Alterações subclínicas ocorrem mais precocemente e são traduzidas por
anomalias nos epitélios de revestimento dos sistemas orgânicos, sendo mais evidentes
na mucosa da conjuntiva ocular. A metaplasia ceratinizante do epitélio ocular pode ser
evidenciada pelo estudo histológico da conjuntiva ocular, empregando-se o método de
diagnóstico citologia de impressão conjuntival. Este método é considerado pouco
oneroso (CARLIER et al., 1993), praticamente indolor (FREITAS-LOLA, 1993) e tem
apresentado um grau de aderência satisfatório em trabalhos de campo (REDDY et al.,
1989; CARLIER et al., 1991).
De acordo com a recomendação da OMS (1996), quando as prevalências de cegueira
noturna e mancha de Bitot, em crianças de 6 a 71 meses, ultrapassam os percentuais
de 1% e 0,5%, respectivamente, pode-se considerar a xeroftalmia como um problema
de saúde pública. Para o comprometimento corneal ativo, a prevalência crítica é de
0,01% e para as seqüelas cicatriciais é de 0,05%.
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares....
22
1.4.2. Bioquímico
A análise do retinol sérico tem sido o teste bioquímico mais utilizado no diagnóstico do
estado nutricional de vitamina A. Entretanto, apenas tem-se revelado um indicador
fidedigno nas situações onde as concentrações de vitamina A estão muito baixas ou em
excesso (OLSON et al.,1984). Sabe-se ainda que, nas infecções, há uma alteração na
concentração de proteínas que participam no processo de resposta da fase aguda,
dentre as quais, as proteínas carreadoras da vitamina A (FILTEAU et al.,1993). Em
virtude dessas proteínas se comportarem como “negativas” na fase aguda do processo
infeccioso, os níveis séricos de retinol podem estar baixos ou deficientes, sem que haja
uma depleção dos níveis orgânicos dessa vitamina. No entanto, a grande maioria dos
estudos sobre vitamina A, em pacientes com infecção, tem usado o retinol sérico para
medir o status dessa vitamina (DINIZ & SANTOS, 2000).
Tradicionalmente, teores de retinol sérico inferiores a 20µg/dl (0,70µmol/L) têm sido
considerado baixos e valores menores do que 10µg/dl (0,35µmol/L), deficientes. Uma
prevalência de níveis séricos baixos, em crianças na faixa etária de 6 a 71 meses, da
ordem de 2% a menores de 10%, caracteriza um problema de saúde pública leve;
prevalências iguais ou superiores a 10% e inferiores a 20% são indicativas de um
problema de saúde pública moderado; e prevalências iguais ou superiores a 20%
configuram um problema de saúde pública grave (WHO,1996).
Dentre os métodos utilizados para estimar o status de vitamina A no fígado, destaca-se
o teste de Resposta a uma Dose de Retinol (RDR), este é considerado um bom
indicador dos estados marginais, tanto em população como em indivíduos
(TANUMIHARDJO, 1993). Este método se baseia na liberação no sangue do carreador
protéico pré-formado (APO-RBP) após administração de pequena dose de vitamina A
(palmitato de retinol 450 - 1000µg), sendo o retinol sérico determinado
cromatograficamente em tempo-padrão de 5h. O aumento da liberação no sangue
deste carreador protéico é medido em percentual do nível final ([A5 – A0] / A5 x 100)
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares....
23
onde, valores > 20% são indicativos de reservas hepáticas inadequadas, ou seja, status
marginal de vitamina A (FLORES et al., 1984).
Embora o método tenha sido utilizado com sucesso em estudos de campo, a sua
aplicação é limitada pela necessidade de duas coletas de sangue no mesmo dia.
Visando eliminar a inconveniência da segunda tomada de sangue, desenvolveu-se o
método modificado (MRDR). Neste novo procedimento o palmitato de retinol é
substituído pelo 3,4-didehidroretinol (DR), que se liga com a APO-RBP, sendo possível
sua determinação cromatográfica, simultaneamente com o retinol do organismo.
Entretanto,.a desvantagem deste método está na DR não ser reagente comercial
(GONÇALVES-CARVALHO et al., 1997).
1.4.3. Dietético
Os inquéritos dietéticos, ou inquéritos de consumo alimentar, são os únicos
instrumentos capazes de identificar o que uma pessoa ou um grupo populacional
consome. Ao longo das décadas, os inquéritos dietéticos têm se constituído um
instrumento fundamental nos estudos nutricionais em comunidades (MORÓN et al.,
1997; MENCHÚ, 1993). Estes permitem identificar e quantificar deficiências e excessos
dietéticos, conhecer os hábitos e padrões alimentares da população, avaliar programas
de alimentação suplementar, proporcionar informações para a vigilância epidemiológica
e, conseqüentemente, nortear a tomada de decisões (MENCHÚ, 1993).
Existem vários métodos para o estudo do consumo alimentar, dentre eles, os métodos
de inquérito alimentar (recordatórios, questionários e formulários de freqüência
alimentar, histórico alimentar e registro dietético), métodos de observação direta e
métodos de pesagem (pesagem direta ou duplicata da refeição) (CINTRA et al., 1997).
A combinação desses métodos vem sendo bastante utilizada na obtenção de perfil
alimentar de grupos populacionais (STEEN, 1994).
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares....
24
O recordatório 24 horas é o método mais amplamente utilizado, principalmente em
estudos transversais. Dentre suas vantagens, destacam-se não requerer que o
indivíduo seja alfabetizado, utilização de menor tempo para sua execução, além de ser
pouco oneroso. Entretanto, apenas um recordatório não é capaz de estimar
necessariamente a ingestão habitual e a proporção da população que faz ou não uso
de dieta adequada. Portanto, para obter ingestões exatas para grupos de indivíduos
deve-se aumentar o número de registros por indivíduo ou o número de indivíduos por
grupo (BASIOTIS et al., 1987). Por sua vez, a pesagem direta é provavelmente o
método mais preciso visto que proporciona dados do consumo de uma forma exata.
Contudo, a necessidade de maior tempo para coleta e tabulação dos dados e
investimento em treinamento dos pesquisadores de campo, propiciam um custo elevado
(CINTRA et al., 1997).
O inquérito de alimentos fontes de vitamina A, embora pouco oneroso e exeqüível em
trabalhos de campo, tem sofrido pesadas críticas no que diz respeito a sua precisão
(UNDERWOOD, 1990). As dificuldades em obter informações quantitativas,
representativas da ingestão de vitamina A, têm sido bem documentadas em populações
onde o consumo provém de fontes muito variadas de alimentos. No entanto, um
inquérito semiquantitativo, baseado na freqüência do consumo pode ser utilizado para
categorizar grupos de risco para um status inadequado de vitamina A (BLOCK et al.,
1985). Para as crianças dos países em desenvolvimento, onde 80-90% do consumo
vêm de carotenóides, o International Vitamina A Consultative Group (IVACG) elaborou
um guia para proceder a este tipo de categorização, baseado em tabelas de
composição de alimentos adaptadas aos alimentos locais disponíveis (UNDERWOOD
et al., 1989).
Utilizando o indicador de consumo, uma região ou população é considerada em risco à
deficiência de vitamina A, quando o consumo de alimentos ricos neste nutriente, pelo
menos três vezes por semana, ocorre em 75% ou menos dos domicílios ou grupos
vulneráveis (WHO, 1996).
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares....
25
A validação de métodos de inquérito dietético deve levar em consideração que não
existe um “padrão-ouro” uma vez que todos os métodos possuem suas limitações. Por
outro lado, técnicas que associam mais de um método têm sido utilizadas em alguns
estudos (WILLETT, 1998).
1.5. Aspectos epidemiológicos da hipovitaminose A
A deficiência de vitamina A, clínica ou subclínica, tem uma abrangente distribuição
geográfica, especialmente, nos países em desenvolvimento. A OMS (WHO,1995)
identificou 39 países onde a carência nutricional é provavelmente um problema de
saúde pública. A deficiência, principalmente com manifestações clínicas incapacitantes,
destaca-se gravemente na Ásia Meridional e em boa parte do continente africano. Com
relação às manifestações subclínicas, observa-se o registro de dados em vários
continentes, inclusive nos chamados países industrializados, nos estratos pobres e nos
idosos (SPORN et al., 1984).
Segundo critérios clínicos/subclínicos, a OMS em 1988 categorizou os países em três
grupos segundo a magnitude estimada do problema. Na América Latina e Caribe, dez
países foram classificados dessa forma. O primeiro grupo apresentava um problema
significativo de deficiência em parte ou na totalidade do país (Brasil e Haiti), o segundo,
com informação insuficiente, porém alta probabilidade de problema significativo em todo
ou em parte do país (El Salvador, Guatemala e Honduras) e o terceiro, com casos
esporádicos de xeroftalmia, cuja prevalência, contudo, não chega a constituir um
problema significativo de saúde pública (Equador, Jamaica, Bolívia, México e Peru)
(MORA, 1992).
No Brasil, nas últimas décadas, evidências de hipovitaminose A e xeroftalmia têm sido
documentadas, sobretudo, na região Nordeste, mas de modo esporádico em regiões
setentrionais e meridionais do país.
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares....
26
Em Florianópolis, foram registrados (1963 - 1965) 64 casos de crianças com xeroftalmia
corneal, onde 80% delas referiam ingestão de leite desnatado, não fortificado, doado
pelo Fundo do Socorro à Infância (FISI), hoje conhecido como Fundo das Nações
Unidas para a Infância (UNICEF) (PEREIRA et al.,1966). Levantamento realizado no
Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais, revelou prevalência elevada de hipovitaminose A,
ultrapassando os níveis críticos adotados pela OMS para a carência ser considerada
como problema de saúde pública (WHO,1994). Na região metropolitana de São Paulo,
a prevalência de níveis séricos de retinol inadequados (< 20µg/dl) foi de 30,2%
(RONCADA et al., 1984).
O problema carencial foi melhor caracterizado na região Nordeste, local também onde
se originaram os únicos estudos de base populacional, localizando-se publicações
referentes a 16 estudos bioquímicos e 3 clínicos. De uma forma geral, os estudos
demonstraram que a hipovitaminose A no Nordeste deve ser considerado um problema
de saúde pública de moderado a grave, principalmente na região semi-árida (SANTOS
et al., 1996). Estudo clínico-nutricional realizado no Estado da Paraíba, 1981-2,
envolvendo as três mesorregiões bio-climáticas do Estado, demonstrou uma
prevalência significativamente elevada de manchas de Bitot e cicatrizes corneais na
mesorregião do sertão, principalmente, no período da entressafra (SANTOS et
al.,1983).
Manifestações clínicas de xeroftalmia moderada, bem como seqüelas cicatriciais, foram
também documentadas na Paraíba em crianças de 2 a 28 meses de idade, em anos
subseqüentes, sobretudo na seca prolongada de 1981 a 1984 (ARAÚJO, et al.,1984;
DRICOT D`ANS et al.,1988). Em 1986, evidências de xeroftalmia também foram
observadas no Rio Grande do Norte (MARIATH et al.,1989). Estudos realizados nos
Estados do Ceará, Paraíba, Pernambuco e Bahia, nos anos de 1987-1991, mostraram
prevalências de 35,5%, 16,0%, 34,1% e 55,1%, respectivamente, de níveis séricos de
retinol abaixo de 20µg/dl em crianças pré-escolares (McAULLIFE et al., 1991). Foi
também relatada a ocorrência, em 1989, de elevada prevalência de níveis séricos de
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares....
27
retinol inadequados e de baixo consumo de alimentos fonte de vitamina A, em áreas
urbanas do semi-árido baiano (SANTOS et al.,1996).
No Estado de Pernambuco, evidências clínicas (KELNER,1966) e, sobretudo,
bioquímicas da hipovitaminose A têm sido documentados a partir da década de 70,
tanto pela determinação das concentrações hepáticas (FLORES & ARAÚJO, 1984),
quanto dos níveis séricos de retinol (GOMES et al., 1970; BATISTA FILHO et al., 1973;
BATISTA FILHO & TORRES, 1982).
Flores e colaboradores (1988) realizaram exames clínicos e bioquímicos em pré-
escolares de 0 - 5 anos, em Caruaru, além do inquérito dietético, e verificaram baixo
consumo alimentar de vitamina A e baixos níveis de retinol sérico em mais de 30% das
crianças.
Em Recife, Brito (1982) avaliando o estado nutricional de escolares de 7 a 11 anos, de
uma área suburbana da cidade, observou que 19,7% tinham níveis séricos abaixo de
20µg/dl. Em 1987, estudo realizado na mesma cidade, em crianças menores de 7 anos,
mostrou um elevado número de crianças com xerose cutânea e conjuntival,
principalmente na faixa etária de 3 a 7 anos (SOBREIRA,1987).
Posteriormente, Andrade (2000) estudando fatores de risco em crianças menores de
cinco anos, em três estratos geoeconômicos do Estado de Pernambuco, utilizando o
banco de dados da II Pesquisa Estadual de Saúde e Nutrição – Pernambuco (II
PESN/97), observou uma prevalência de 16% de baixos níveis de retinol no Estado e
de 12,2% na Região Metropolitana do Recife.
1.6. Consumo alimentar
A deficiência de vitamina A tem, dentre suas causas, uma dieta inadequada, por
aumento dos requerimentos fisiológicos e/ou por fatores culturais, os quais determinam
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares....
28
o consumo e disponibilidade individuais. Além da dificuldade ao acesso dos alimentos,
o baixo valor atribuído aos vegetais verdes contribui para essa deficiência (WHO, 1982).
Alguns estudos, que utilizaram inquéritos nutricionais, demonstraram elevada
prevalência de hipovitaminose A em crianças.
Na região Sudeste do país, pesquisa realizada em comunidades do Estado de São
Paulo mostrou consumo muito baixo de alimentos fonte de vitamina A, tanto de origem
animal quanto vegetal (RONCADA et al., 1981).
Por sua vez, López Cardona (1999), avaliando o consumo alimentar de crianças em
duas creches do município de São Paulo, através da pesagem direta por três dias não
consecutivos da semana, observou valores aquém do recomendado para os nutrientes
cálcio e ferro em ambas creches e para vitamina A em apenas uma das instituições
estudadas.
Pesquisa realizada em pré-escolares de três capitais da Amazônia para determinar a
prevalência da hipovitaminose A, utilizando dentre outros indicadores o inquérito
dietético, mostrou que o padrão alimentar destas crianças era monótono e limitado, com
baixo consumo de alimentos fonte de vitamina A pré-formada e de frutas e hortaliças
(MARINHO, 2000).
O Estudo Nacional de Despesa Familiar (ENDEF), utilizando o inquérito dietético de
pesagem direta por sete dias consecutivos nas regiões brasileiras, constatou que, no
Nordeste Urbano, 53% das famílias com crianças menores de 5 anos e 69% no Rural
não consumiam metade da recomendação diária de vitamina A preconizada pela
FAO/OMS (1991).
Horner e colaboradores (1981) realizaram inquérito dietético com base no consumo
familiar de uma amostra representativa da população pobre da cidade de Ilhéus - BA e
verificaram que a dieta das famílias era pouco variada, com baixa densidade
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares....
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energética, levando as crianças, mulheres grávidas e lactentes ao risco nutricional para
deficiências específicas de nutrientes.
Santos e colaboradores (1996), em estudo realizado no semi-árido da Bahia, utilizando
o inquérito recordatório 24 horas, mostraram que 66% dos pré-escolares apresentavam
consumo de vitamina A abaixo da metade da quantidade recomendada e que 35%
ingeriam menos de ¼ da recomendação diária.
Por sua vez, Miranda Silva (1998), mostrou que a redução no consumo de
determinados alimentos ricos em vitamina A, em gestantes, nutrizes e pré-escolares no
semi -árido paraibano, estavam associados à falta de conhecimento com relação aos
alimentos de maior valor nutritivo e sua forma de preparo, o baixo poder aquisitivo e as
influências culturais decorrentes dos tabus alimentares.
No Estado de Pernambuco, Sequeira (2000), avaliando o perfil do consumo alimentar
das famílias de menores de cinco anos, com dados da IIPESN/97, encontrou menor
percentual de participação do grupo de alimentos “frutas e verduras” na dieta dessas
famílias.
1.7. Hipovitaminose A e desnutrição energético-protéica A associação entre a desnutrição energético-protéica (DEP) e a carência específica de
nutrientes tem sido observada em vários estudos científicos ao longo do tempo, embora
seja motivo de controvérsias.
Para alguns autores a deficiência de vitamina A não ocorre como problema isolado
mas, acompanhado pela DEP (MOORE, 1957; OOMEN,1970; SOMMER et al., 1995).
Estudo realizado no Senegal também demonstra associação entre a DEP e a
deficiência de vitamina A, pondo em risco a saúde de crianças em idade pré-escolar
(CARLIER et al., 1991).
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares....
30
Santos e colaboradores (1983, 1996), em duas pesquisas realizadas no Nordeste do
Brasil, evidenciaram associação estatisticamente significativa entre os sinais clínicos
moderados de xeroftalmia e a desnutrição crônica.
Por sua vez, Ramalho e colaboradores (2001), avaliando pré-escolares em unidade de
saúde do Rio de Janeiro, observaram alta prevalência de hipovitaminose A tanto em
desnutridos quanto em eutróficos, embora a prevalência de DEP na amostra foi
considerada baixa, impossibilitando maiores conclusões nestas relações.
Entretanto, estudo desenvolvido no semi-árido baiano, em pré-escolares com alto
índice de desnutrição, não encontraram correlação entre a DEP e deficiência de
vitamina A (Assis et al,.1997). Dados semelhantes foi observado por Diniz (1997), na
Paraíba, constatando que tanto a DEP quanto a hipovitaminose A podem se manifestar
isoladamente.
1.8. Hipovitaminose A e morbi-mortalidade
Embora a atenção maior tenha sido dada às manifestações oculares, muitos estudos
vêm observando, desde os anos 80, uma relação entre a deficiência de vitamina A e a
morbi-mortalidade em crianças jovens nos países em desenvolvimento (SOMMER et
al.,1983; COHEN et al.,1986; De SOLE et al.,1987; ROSS et al.,1993). Atualmente,
cerca de 230 milhões de crianças estão em risco clínico/subclínico de hipovitaminose A
e mais de 1 milhão de mortes infantis, atribuídos a essa deficiência, ocorrem
anualmente (SOMMER,1995).
A deficiência de vitamina A, mesmo na sua forma moderada aumenta a severidade de
doenças infecciosas, exacerba a anemia ferropriva, e retarda o crescimento pondo-
estatural (SOMMER, 1998).
Julien e colaboradores (1999) encontraram uma redução estatisticamente significante
na duração do internamento das crianças, com infecção respiratória aguda,
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares....
31
suplementadas com vitamina A. Fato semelhante foi verificado por Humprey e
colaboradores (1996) que observaram redução na prevalência da severidade de
infecção respiratória em crianças jovens que receberam suplementação desta vitamina.
Para Sommer (1995), existe uma associação entre a hipovitaminose A e o aumento na
severidade das infecções, particularmente do sarampo e da diarréia; esse sinergismo,
entre o sarampo e a deficiência de vitamina A, contribui na estimativa de 1,1 milhões de
mortes infantis devido ao sarampo todo ano; metade de toda cegueira corneal em
crianças nos países em desenvolvimento é causada pela hipovitaminose A, e metade
destas está associada às infecções por sarampo.
Estudos realizados em Gana (ROSS et al., 1993) e no Brasil (BARRETO et al., 1994)
têm indicado que a suplementação de vitamina A está associada com a diminuição na
severidade das infecções. Em três estudos com crianças hospitalizadas com sarampo,
que receberam suplementação com vitamina A, houve redução na taxa de mortalidade
em até 60% (WHO,1988).
Fawzi e colaboradores (1994) relataram que o consumo de vitamina A está forte e
inversamente associado com o risco de mortalidade e que o componente dietético
mostrou-se especialmente protetor nas crianças com desnutrição aguda e/ou crônica,
ou que apresentavam diarréia ou tosse. Entretanto, Guilermo-Herrera e colaboradores
(1992) observaram que a suplementação de vitamina A em crianças sudanesas não
diminuiu o risco de mortalidade. Situação inversa foi encontrada por Humprey e
colaboradores (1996), avaliando o impacto da suplementação de vitamina A neonatal.
Em virtude das controvérsias, quatro meta-análises foram desenvolvidas nos últimos
anos e apontaram para um efeito protetor da vitamina A, com relação a mortalidade
infantil. Para Beaton e colaboradores (1994), a suplementação com vitamina A reduziu
a mortalidade infantil em 23%; a redução foi de 30% para Fawzi e colaboradores (1993)
e Glasziou e Mackerias (1993), e 34% para Tonascia (1993).
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares....
32
Algumas pesquisas em adultos têm demonstrado uma associação consistente entre a
Síndrome de Imunodeficiência Adquirida (SIDA) e deficiência de vitamina A. Estudo de
coorte realizado em Baltimore, Estados Unidos, com usuários de drogas mostraram que
a mortalidade foi maior no grupo de soropositivos que tinha concentração de retinol
sérico < 1,05µmol/L, depois de ajustado por uma série de potenciais variáreis de
confusão (SEMBA et al., 1993). Situação semelhante foi verificado num estudo
realizado em Ribeirão Preto, onde 25% dos pacientes com SIDA e 17,3% dos
infectados pelo HIV apresentaram valores de retinol abaixo de 1,05µmol/L (SILVEIRA et
al., 1999). Semba e colaboradores (1998) determinaram o impacto da suplementação
com dose única de 60mg equivalentes de retinol em usuários de drogas infectados pelo
HIV e não encontraram influência na diminuição da carga viral mas, uma possível
estabilização do declínio dos linfócitos CD4 circulantes.
Mães soropositivas de Malawi, que transmitiram a infecção para seus filhos, tinham
baixo nível de vitamina A sérico (0,86µmol/L), quando comparadas às mães infectadas
que não transmitiam o vírus (1,07µmol/L). O mais importante é que as taxas de
transmissão mãe para filho (32% a 7%) foram inversamente associadas com ganho de
0,35µmol/L de retinol no nível de sangue do grupo, aumentando de 0,70 a 1,40µmol/L
(SEMBA et al., 1994). Além disso, Nduati e colaboradores (1995), também estudando
mães infectadas pelo HIV, verificaram que a deficiência deste micronutriente, tinha
associação com maior carga viral no leite materno. Isto sugere que a suplementação de
vitamina A na lactação pode reduzir a carga viral do leite materno assim como a
transmissão do HIV da mãe para o filho (SEMBA et al., 1998).
A deficiência de vitamina A materna pode predispor as mulheres e seus filhos a
diversos problemas de saúde. Mulheres gestantes do sul da Ásia rural estão em alto
risco de hipovitaminose A, refletida pelo baixo nível de retinol sérico e freqüente
cegueira noturna. Nessas culturas, a perda fetal pode exceder 8% e a mortalidade
infantil e materna cerca de 10% e 1%, respectivamente (WEST et al.,1997).
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares....
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Estudo duplo cego realizado no Sudeste rural do Nepal, envolvendo 44.646 mulheres
que foram suplementadas semanalmente com vitamina A pré-formada e/ou β-caroteno,
durante três anos, mostrou uma redução significativa na mortalidade das gestantes,
sendo de 40% nas mulheres que receberam retinol, 49% nas que receberam β-caroteno
e 44% nas que receberam suplementação combinada (WEST et al., 1999).
Recentemente, Saunders e colaboradores (2001) realizaram uma revisão de literatura
sobre o estado nutricional de vitamina A no grupo materno-infantil e verificaram que a
carência deste nutriente traz profundas repercussões no processo reprodutivo, podendo
acarretar conseqüências passíveis de ocorrer sem sinais clínicos detectáveis na mãe,
mas com conseqüências múltiplas sobre o binômio mãe-filho.
Portanto, é de primordial importância informações atualizadas sobre o perfil desta
carência, visto que tal informação poderá se constituir numa base de referência a ser
utilizada na avaliação de futuros programas de intervenção. Além disso, a validação de
indicadores menos onerosos e não invasivos, a exemplo do inquérito de consumo
alimentar, facilitaria o mapeamento das áreas de risco e de grupos populacionais
vulneráveis, contribuindo não só para o diagnóstico do problema, como também no
planejamento de ações para a prevenção e o controle desta carência nutricional
específica.
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares....
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2. OBJETIVOS
2.1. Objetivo geral
Traçar o perfil da hipovitaminose A em pré-escolares de creches públicas da cidade do
Recife, Estado de Pernambuco.
2.2. Objetivos específicos
Estimar a prevalência de hipovitaminose A, através das concentrações do retinol sérico,
e do inquérito de consumo de alimentos.
Descrever a carência de vitamina A considerando as variáveis demográficas sexo e
idade.
Correlacionar os níveis séricos de retinol com o consumo alimentar de vitamina A.
Validar o inquérito de consumo alimentar de vitamina A adotando-se, como padrão
ouro, os níveis séricos de retinol.
Avaliar o estado nutricional pondo-estatural utilizando indicadores antropométricos:
peso /idade, altura /idade, peso /altura.
Estabelecer eventuais associações da carência de vitamina A com a desnutrição
energético-protéica.
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares....
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3. METODOLOGIA
3.1. Desenvolvimento da pesquisa
A investigação foi desenvolvida utilizando o banco de dados da pesquisa Carências de
Vitaminas e Minerais em Pré-escolares dos Municípios de João Pessoa e Recife 1997 –
1999, realizado através de convênio entre o Centro de Investigação em Micronutrientes
da Universidade Federal da Paraíba (CIMICRON/UFPB), Ministério da Saúde (MS),
Instituto Materno Infantil de Pernambuco (IMIP), Prince Leopold Institute of Tropical
Medicine – Antuérpia, Bélgica (IMT – BELGICA) e o Departamento de Nutrição da
Universidade Federal de Pernambuco (DN/UFPE).
3.2. Desenho do estudo
Foi desenvolvido um estudo de corte transversal, em crianças menores de 5 anos, para
a avaliação da carência nutricional em vitamina A, utilizando indicadores bioquímico
(retinol sérico) e dietético (inquérito do consumo alimentar).
Este tipo de estudo exige um menor complexo operacional quando comparados aos de
caso-controle e de coorte, apresenta baixo custo e possibilita maior rapidez na
obtenção dos resultados, sendo, portanto, o mais amplamente difundido em
epidemiologia. No entanto, seus resultados não são indicativos de seqüência temporal,
não fornecendo dados de incidências e as únicas conclusões derivadas da análise
desse tipo de estudo, restringem-se às relações de associações e não de causalidade
(ROUQUAYROL & ALMEIDA FILHO, 1999).
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares....
36
3.3. População do estudo
Constituíram a população de estudo, crianças na idade pré-escolar (6 – 59 meses), de
ambos sexos, matriculadas em creches da Prefeitura Municipal da Cidade do Recife,
Pernambuco, no ano 1999.
Foram considerados os seguintes critérios de exclusão:
• Crianças que referiram a ingestão de suplementos vitamínicos e/ou minerais, 30
dias antes da coleta de dados.
• Crianças que não obtiveram o consentimento por escrito dos pais ou
responsáveis para a participação na pesquisa.
A população de estudo elegível foi de 2.500 crianças, distribuídas em 34 creches.
3.4. Amostragem
A amostra foi do tipo aleatório sistemático. Foi calculado o tamanho da amostra a partir
da estimativa da prevalência de 19,3% de deficiência de vitamina A no Estado de
Pernambuco, segundo níveis séricos de retinol (Ministério da Saúde, 1998), com
precisão de 4,5%. Adotou-se uma confiabilidade de 95%. O tamanho amostral
determinado foi de 265 crianças para a dosagem de retinol sérico. Para corrigir
eventuais perdas, procedeu-se a adição de 20% ao tamanho amostral (N = 318). Para o
inquérito do consumo de alimentos, estimou-se uma prevalência de 50% de ingestão
abaixo das recomendações, com uma precisão de 6,5%. O tamanho amostral previsto
para o estudo foi de 209 inquéritos do consumo de alimentos. Para corrigir as perdas,
adicionou-se 20% ao tamanho amostral (N = 251). As crianças foram selecionadas de
forma aleatória, segundo a técnica de amostragem sistemática (BERQUÓ et al., 1981).
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares....
37
Tomou-se como base, para definição do intervalo amostral, a equação descrita na
fórmula 1.
N = K (fórmula 1)
n
onde: N = população do estudo
n = tamanho da amostra
K = intervalo amostral
Após o cálculo do intervalo amostral (K), fez-se um sorteio entre os números 1,2...K,
onde o número sorteado foi chamado de início amostral (i). Logo, nestas condições,
com apenas este sorteio, toda a amostra fica selecionada, sendo composta de
unidades amostrais que tenham recebido os seguintes números (ou ocupem a posição
correspondente), considerando-se a freqüência acumulada das crianças, segundo as
creches identificadas no município de Recife:
i
i + K
i + 2K
.
.
.
i + (n – 1)K
A distribuição da amostra por creche está representada no quadro 1.
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares....
38
Creches amostra 01. Santa Luzia 08 02. Sementinha 05 03. É lutando 06 04. Vovô Artur 12 05. Mãezinha do Coque 11 06. Senhor Jesus do Bonfim 08 07. Jardim Uchoa 06 08. Bido Krause 09 09. Flor de Guarabira 14 10. São João 05 11. Nossa Senhora das Dores 04 12. Ceape 69 13. Futuro do Amanhã 04 14. Waldir 08 15. Novo Horizonte 03 16. Mardõnio Coelho 12 17. Flor da Comunidade 02 18. Creusa Cavalcanti 14 19. Rosa Sevalgem 05 20. Jesus de Nazaré 02 21. Deus é Amor 07 22. Cajueiro 04 23. São Domingos 05 24. Unidos Venceremos 09 25. Ame as Crianças 10 26. Saber Viver 06 27. Paulo Guerra 09 28. Brasília Teimosa 12 29. Padre Lourenço 07 30. Sonho do Povo 13 31. Waldemar Cabral 03 32. Criança Feliz 04 33. Nossa Senhora Auxiliadora 04 34. Zacarias Maciel 11 Total 311 Quadro 1- Distribuição da amostra por creche, no município de Recife
Pernambuco, 1999.
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares....
39
3.5. Estratégias de ação
O projeto de pesquisa foi previamente apresentado à Secretaria Estadual do Trabalho e
Ação Social e Secretaria Municipal do Trabalho e Promoção Social do Estado da
Pernambuco, para explicitar os objetivos da pesquisa e obter a permissão para sua
realização.
Os pais e/ou responsáveis pelas crianças selecionadas na amostra foram convidados a
comparecer às reuniões na própria creche, para obter informações sobre a pesquisa.
Nessa oportunidade, foram esclarecidos os objetivos e a metodologia de trabalho e
obtida autorização prévia dos pais das crianças, através de um termo de consentimento
(anexo 1), para que estas pudessem colaborar efetivamente com a equipe de pesquisa.
A coleta de dados obedeceu a uma agenda com datas preestabelecidas para as
diferentes etapas de identificação, realização de exames antropométricos (peso altura)
(anexo 2), bioquímico (retinol sérico), bem como, para o inquérito dietético (consumo
alimentar).
3.6. Métodos e técnicas de avaliação
3.6.1. Retinol sérico
Coleta
A coleta foi realizada nas creches, por pesquisadores do Centro de Investigação em
Micronutrientes - CIMICRON/Universidade Federal da Paraíba durante o mês de maio
de 1999. A equipe para a coleta de sangue contava com quatro auxiliares de
enfermagem com prática em atividades laboratoriais. O retinol sérico foi dosado no
CIMICRON, obedecendo ao método estabelecido por Furr e colaboradores (1992).
Resumidamente, foram colhidos 5 ml de sangue por punção venosa cubital, pela
manhã, com a criança em jejum noturno de 12 horas. O sangue foi colocado em tubos
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares....
40
previamente identificados e protegidos da luz. Após uma hora de decantação, as
amostras foram centrifugadas a 3000 rpm (rotação por minuto), durante 10
minutos,separado o soro e acondicionado em tubos eppendorf e armazenado no
freezer à temperatura de - 20°C. Em seguida, as amostras foram transportadas para o
laboratório do CIMICRON /UFPB, em caixas de isopor com gelo, para posterior análise.
Processamento
Após o descongelamento, foram pipetados 100µL de soro de cada amostra e colocados
em tubos cônicos de vidro, identificados, e adicionados 100µL de etanol absoluto
(C2H5OH), para promover a precipitação das proteínas, e 200µL de hexano (C6H14),
responsável pela extração do retinol. Em seguida, as amostras foram agitadas por 30
segundos, no agitador de tubos, em velocidade contínua, e centrifugados à velocidade
de 3000 rpm, durante 5 minutos. Posteriormente, foram extraídos 100µL do
sobrenadante, colocados em tubos de vidro pequeno e evaporados com nitrogênio, por
aproximadamente 1 minuto. O resíduo da amostra foi redissolvido com 50µL de metanol
e deste, retirados 20µL para leitura.
Análise
Os níveis séricos de vitamina A foram determinados pelo método cromatográfico,
utilizando-se a Cromatografia Líquida de Alta Resolução (High Pressure Liquid
Chromatography - HPLC).
Para categorizar os níveis séricos de retinol foram considerados os indicadores da
OMS (WHO,1994):
Deficiente - < 10µg/dl (< 0,35µmol/L)
Baixo - 10 |- 20µg/dl (0,35 |- 0,69µmol/L)
Aceitável - 20 |- 30µg/dl (0,70 |-1,04µmol/L)
Normal - ≥ 30µg/dl (≥ 1,05µMol/L)
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares....
41
3.6.2. Inquérito de consumo alimentar
O inquérito foi previamente montado pela supervisora geral juntamente com uma
consultora especialista em métodos de inquérito dietético, durante 4 meses.
Posteriormente, a supervisora realizou treinamento com as seis nutricionistas que
coletaram os dados para o inquérito. Esta equipe foi subdividida em duplas, onde cada
dupla visitava uma creche por dia.
Coleta A metodologia seguida foi uma associação entre o recordatório de 24 horas e o método
de pesagem direta de um dia. O recordatório foi utilizado junto às mães com o objetivo
de avaliar as duas refeições feitas em casa (desjejum e jantar). Foram registradas, em
formulário específico, informações sobre todos os alimentos ingeridos pela criança
antes de ir para a creche e no dia seguinte, o que foi consumido no jantar em seu
domicílio, anotando-se medidas caseiras (anexo 3). Posteriormente, os resultados
foram transformados em gramas utilizando o Guia prático para estimativa de consumo
alimentar (Magalhães et al., 2000).
Por outro lado, para a alimentação realizada na creche foi utilizado o método de
pesagem direta, no qual foram pesados todos os alimentos crus utilizados na
preparação das refeições. Após o preparo, foi calculada a proporção de cada alimento
em cada preparação. Em seguida, foi efetuada a pesagem de cada porção servida para
cada criança selecionada no estudo, bem como o rejeito de cada porção. Esses dados,
subsidiaram o cálculo da quantidade ingerida de cada alimento por criança e foram
somados ao do recordatório de 24h (anexo 4).
Análise A análise quantitativa do consumo alimentar foi realizada pelo programa Virtual Nutri,
versão 1.0 for windows (PHILIPPI et al., 1996), para a determinação do conteúdo de
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares....
42
vitamina A na alimentação da criança. Devido a grande variação dos teores de retinol
de alguns alimentos e da ausência de alimentos regionais, fonte deste nutriente, no
programa utilizado, houve atualização destes teores de vitamina A, priorizando os
alimentos analisados por Rodriguez-Amaya (1997) e para os que não constavam nesta
referência, utilizou-se a tabela de composição do ENDEF (FIBGE, 1999). Considerou-se
o teor de vitamina A em microgramas de equivalente de retinol por 100g de parte
comestível. Para adequação do consumo alimentar de retinol utilizou-se a
Recommended Dietary Allowances (RDA) (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 1989) e
a Dietary Reference Intakes (DRIs) (FOOD AND NUTRITION BOARD, 2001), que
adotam os seguintes valores, segundo cada faixa etária:
RDA 1989 DRI 2001 0 – 1 ano = 375 ER 0 – 6 meses = 400 µg/d
7 – 12 meses = 500 µg/d 1 – 3 anos = 400 ER 1 - 3 anos = 300 µg/d 4 – 6 anos = 500 ER 4 - 8 anos = 400 µg/d
A RDA é o nível médio de ingestão diária que é suficiente para atender a necessidade
do nutriente para aproximadamente (97 a 98%) de indivíduos saudáveis em um grupo
em determinado estágio de vida e gênero. Contudo, a utilização de um ponto de corte
fixo para avaliar a proporção de indivíduos com ingestão inadequada de nutrientes,
promovia uma variação conforme o número de observações. Diante disto, o comitê de
Dietary Reference Intake, introduziu novos valores de referência correspondentes às
estimativas quantitativas de ingestão de nutrientes, estabelecidos para serem utilizadas
para o planejamento e avaliação das dietas de indivíduos saudáveis em grupo, segundo
estágio de vida e gênero, denominando esse conjunto de referência de DRI
(MARCHIONI et al., 2002).
As recomendações para a ingestão dos nutrientes são expressas em 16 grupos de
estágio de vida. As categorias utilizadas neste estudo foram:
• Primeira infância: 0 – 12 meses (dividido em 2 intervalos de 6 meses)
• Infância: 1 – 3 anos
• Pré-escolar: 4 – 8 anos
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares....
43
3.6.3. Antropometria
A avaliação antropométrica foi realizada no mesmo dia da coleta de sangue pela equipe
previamente treinada. A equipe era composta de dois técnicos especializados em
técnicas antropométricas, responsáveis pela tomada de peso e altura.
Peso
Na tomada do peso, utilizou-se uma balança digital eletrônica, de marca Filizola,
modelo Personal Line E-150, com capacidade de até 150kg e precisão de 100g. As
crianças foram pesadas descalças e portando indumentária mínima. As crianças
menores de 12 meses foram pesadas no colo de um adulto e, posteriormente, tirava-se
a diferença.
Altura A altura das crianças foi determinada com fita métrica de 150cm marca Stanley-
milimetrada, com precisão de 1mm e exatidão de 0,5cm. A fita foi fixada na parede e as
crianças colocadas em posição ereta, descalças, com os membros superiores
pendentes ao longo do corpo, os calcanhares, o dorso e a cabeça tocando a parede
(JELLIFFE, 1968). As crianças menores de 24 meses foram medidas em decúbito
dorsal (comprimento), com infantômetro de amplitude 100cm e subdivisões de 0,1cm. O
comprimento e a estatura tiveram seus valores arredondados para 0,1cm mais próximo.
Na avaliação do estado nutricional, foram utilizados três indicadores antropométricos:
Peso para idade (P/I) – relação entre o peso observado e o peso considerado normal
ou de referência para a idade.
Altura para idade (A/I) – relação entre a altura observada e altura de
referência para a idade.
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares....
44
Peso para altura (P/A) – relação entre o peso observado e a altura para a idade de
referência.
O padrão de referência utilizado para comparação das medidas de peso e altura foi o
do National Center for Health Statistics (1977) (NCHS), de uso recomendado pela World
Health Organization (WHO) (1986), obedecendo aos seguintes critérios:
Normal – crianças com indicadores ≥ - 2 escores Z e < + 2 escores Z.
Desnutrida – crianças com indicadores < - 2 escores Z.
Sobrepeso/obesidade – crianças com indicadores ≥ + 2 escores Z
3.7. Processamento e análise dos dados
O algorítimo de análise proposto para o estudo envolveu, inicialmente, a observação do
comportamento das variáveis segundo o critério de normalidade da distribuição.
Quando as variáveis não apresentaram distribuição normal ou simétrica, procedeu-se a
devida transformação logarítima, visando-se o uso preferencial da estatística
paramétrica. Na descrição das proporções, a distribuição binomial foi aproximada à
distribuição normal pelo intervalo de confiança. As proporções foram comparadas
utilizando-se o teste do qui-quadrado de Pearson, com a devida correção de Yates,
quando aplicável. Quando as variáveis independentes foram categorizadas em três ou
mais atributos, utilizou-se o qui-quadrado de tendência linear. As médias foram
comparadas pelo teste t de student (2 médias) e Análise de Variância (> 2 médias)
utilizando o teste de Scheffé a posteriori. Na comparação das medianas, foram
utilizados os testes de Mann Whitney (2 medianas) e Kruskal Wallis (> 2 medianas). A
correlação entre as variáveis contínuas foi avaliada pelo teste de correlação linear de
Pearson.
FERNANDES, T.F.S. Hipovitmainose A em pré-escolares ...... 45
ALGORÍTIMO DE ANÁLISE - FLUXOGRAMA 1
*
*
VARIÁVEL CONTÍNUA
TESTE KOLMOGOROV-SMIRNOV
DISTRIBUIÇÃO NORMAL (p> 0,05)
DISTRIBUIÇÃO NÃO NORMAL (p< 0,05)
UNIVARIADA BIVARIADA MULTIVARIADATRANSFORMAÇÃO DA VARIÁVEL
(LOG 10)
TESTEKOLMOGOROV-SMIRNOV
DISTRIBUIÇÃONORMAL (p> 0,05)
DISTRIBUIÇÃO NÃO NORMAL (p< 0,05)
MÉDIA
DP
CORRELAÇÃO DE PEARSON
TESTE “ t ” STUDENT
ANOVA
TESTE DE LEVENE
HOMOGÊNEO (p>0,05)
NÃO HOMOGÊNEO (p< 0,05)
TESTE DE SCHEFFÉ (post hoc)
TESTE DE KRUSKAL-WALLIS
UNIVARIADA BIVARIADA MULTIVARIADA
MEDIANA
PERCENTIL
TESTE DE KRUSKAL-
WALLIS
TESTE DE MANN
WHITNEY-U
FERNANDES, T.F.S. Hipovitmainose A em pré-escolares ......
46
* Análise equivalente
ALGORÍTIMO DE ANÁLISE - FLUXOGRAMA 2
VARIÁVEL
UNIVARIADA BIVARIADA MULTIVARIADA
PROPORÇÃO INTERVALO DE CONFIANÇA
QUI-QUADRADO QUI-QUADRADO
INTERVALO DE CONFIANÇA
FERNANDES, T.F.S. Hipovitmainose A em pré-escolares ......
47
Tomando-se como base o diagrama 1, a sensibilidade, a especificidade e os valores
preditivos do inquérito dietético foram calculadas utilizando-se como padrão – ouro, os
níveis séricos de retinol, segundo as fórmulas 2 - 5, respectivamente.
Diagrama 1
Poder de discriminação de um teste diagnóstico
Doença (padrão ouro)
+ -
Teste + VP FP
- FN VN
VP = verdadeiro positivo
FP = falso positivo
FN = falso negativo
VN = verdadeiro negativo
Sensibilidade = VP x 100 (fórmula 2)
(VP+FN)
Especificidade = _VN _ x 100 (fórmula 3)
(FP+VN)
Valor Preditivo + =__VP__ x 100 (fórmula 4)
(VP + FP)
Valor Preditivo - =__VN__ x 100 (fórmula 5)
(FN + VN)
FERNANDES, T.F.S. Hipovitmainose A em pré-escolares ......
48
Foi utilizado o nível de significância de 5% para o teste de normalidade das variáveis,
bem como, para a rejeição da hipótese de nulidade. Os índices antropométricos foram
calculados pelo programa EPINUT (EPI - INFO versão 6.02) (DEAN, et al., 1994). A
construção do banco de dados e a análise estatística foram desenvolvidas no programa
estatístico Statistical Package for Social Sciences - SPSS for windows versão 8.0.
3.8. Considerações Éticas
O protocolo de estudo foi aprovado pelo comitê de ética do Prince Leopold Institute of
Tropical Medicine – Bélgica e do Hospital Universitário Lauro Wanderley da
Universidade Federal da Paraíba, de acordo com as normas exigidas para pesquisas
envolvendo seres humanos (anexo 5).
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares .....
49
4. RESULTADOS
Foram estudadas 311 crianças de 6 a 59 meses de idade, procedentes de creches do
município de Recife. Em 308 crianças procedeu-se a avaliação antropométrica, em 302
avaliação bioquímica e em 240 avaliação dietética. Em 2 crianças foram descartadas
as tomadas de peso e altura por inconsistência dos resultados e em 1 criança essas
variáveis não foram aferidas. Em 12 crianças não foi possível a determinação dos níveis
séricos de retinol, por recusa da criança e/ou responsável, ou por fatores de ordem
técnica inerentes ao método de análise e em 11 delas não foi possível realizar o
inquérito dietético, em virtude do não comparecimento da criança à creche no dia da
coleta de dados.
4.1. Características da amostra
As características demográficas da amostra estão representadas nas tabelas 1 e 2.
Tabela 1 - Distribuição da amostra de crianças de 0 - 5 anos de idade, segundo o
sexo, de creches do município de Recife-PE, 1999.
Sexo n % IC*
Masculino 173 55,6 49,9 – 61,2
Feminino 138 44,4 38,8 – 50,1
Total 311 100
* intervalo confiança 95% χ2 = 3,94; p = 0,05
A distribuição da amostra foi homogênea com relação à variável sexo (χ2 = 3,94; p =
0,05).
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares .....
50
Tabela 2- Distribuição etária da amostra de crianças de 0 - 5 anos de idade, de creches do município do Recife-PE, 1999.
Idade (meses) n % IC*
0|- 12 11 3,5 1,9 – 6,4
12|- 24 55 17,7 13,7 – 22,5
24|- 36 88 28,3 23,4 – 36,7
36|-48 84 27,0 22,2 – 32,4
48|- 60 73 23,5 19,0 – 28,6
Total 311 100
*intervalo de confiança 95% χ2 = 63,2 ; p = 0,00
A distribuição da amostra foi heterogênea com relação à variável idade, caracterizada
em intervalos de 12 meses (χ2 = 63,2 ; p = 0,00). A composição da amostra envolveu
um percentual significativamente menor de crianças na faixa etária de 0 a 12 meses.
4.2. Estado nutricional de vitamina A 4.2.1. Concentrações de retinol sérico
As concentrações de retinol sérico apresentaram distribuição normal (K-S Z = 0,9; p =
0,40), com média 34,9 µg/dl (1,22µmol/L) e desvio padrão de 10,2µg/dl (0,36µmol/L)
(fig.1).
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares .....
51
Retinol Sérico (mcg/dl)
85,080,075,070,065,060,055,050,045,040,035,030,025,020,015,0
80
60
40
20
0
Figura 1 – Distribuição das concentrações de retinol sérico, em crianças de 0 - 5
anos de idade, de creches do município do Recife-PE, 1999.
Na Figura 2, observa-se que a prevalência dos níveis inadequados de retinol sérico (<
20µg/dl) foi de cerca de 7% (95% IC 4,2 – 10,2) , enquanto que em torno de 22% (95%
IC 17,7 – 27,4) das crianças apresentavam níveis aceitáveis ou marginais (20 |-
30µg/dl) de retinol.
n = 302 = 34,9µg/dl
DP = 10,2µg/dl K-S Z = 0,9 p = 0,40
n
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares .....
52
71%(65,7 - 76,2)
22%(17,7 - 27,4)
(4,2 -10,2)7%
baixo (< 20mcg/dl)
aceitável (20 |- 30 mcg/dl)
normal ( >= 30 mcg/dl)
Figura 2 - Níveis de adequação do retinol sérico, segundo classificação da OMS
(1994), em crianças de 0 - 5 anos de idade, de creches do município do
Recife-PE, 1999.
4.2.2 . Consumo alimentar de vitamina A
O consumo alimentar de vitamina A, expresso em µg/dia, apresentou distribuição
assimétrica (K-S Z = 5,2; p = 0,00). A variável foi transformada em Log10 , testada a
normalidade e, no entanto, permaneceu com distribuição assimétrica (K-S Z = 2,5; p =
0,00). A mediana de consumo foi de 455,8µg/dia e os intervalos interquartílicos (P25 e
P75) foram de 355,0µg/dia e 591,0µg/dia, respectivamente (fig. 3).
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares .....
53
consumo Alimentar de Vitamina A (mcg/dia)
7.0006.500
6.0005.500
5.0004.500
4.0003.500
3.0002.500
2.0001.500
1.000500
0
120
100
80
60
40
20
0
Figura 3 – Curva de distribuição do consumo alimentar de vitamina A, em
crianças de 0 - 5 anos de idade, de creches do município do Recife-PE,
1999.
Conforme pode-se observar na tabela 3, 54,2% das crianças consumiram quantidades
adequadas de vitamina A, recomendado para sua faixa etária, segundo RDA - 1989. No
entanto, segundo a DRI - 2001, esse percentual atinge a cifra de 77,9%.
n = 240 K -S Z = 5,3 p = 0,00 med = 455,8µg/d P25 = 355,0µg/d P75 = 591,0µg/d
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares .....
54
Tabela 3 – Adequação do consumo alimentar de vitamina A, segundo RDA – 1989 e
DRI – 2001, em crianças de 0 – 5 anos de idade, e creches do
município do Recife–PE, 1999.
Categorias de Adequação** (%)
RDA – 1989+ n % IC*
DRI – 2001++ n % IC*
< 25 2 0,8 0,1 – 3,3 1 0,4 0,0 – 2,7
25 |- 50 15 6,2 3,7 – 10,3 6 2,5 1,0 – 5,6
50 |- 75 29 12,1 18,4 – 17,0 16 6,7 4,0 – 10,8
75 |- 100 64 26,7 21,3 – 32,8 30 12,5 8,7 – 17,5
≥ 100 130 54,2 47,6 – 60,6 187 77,9 72,0 – 82,9
Total 240 240 *intervalo de confiança 95%
** Recomendação da FAO/OMS + χ2 = 219,7 ; p = 0,00 ++ χ2 = 513,4 ; p = 0,00
Na figura 4, observa-se que o consumo alimentar de vitamina A de cerca de 58% das crianças é proveniente de alimentos de origem animal (fígado, leite e derivados e ovos), enquanto que, o consumo de alimentos de origem vegetal (frutas e verduras), fica em torno de 35% .
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares .....
55
58%
35%
7%animal
vegetal
alimentosenriquecidos
Figura 4 – Consumo alimentar de vitamina A, segundo a fonte dietética, em
crianças de 0 – 5 anos de idade, de creches do município do Recife–PE,
1999.
O consumo alimentar de vitamina A atinge maior adequação, entre 50 – 75% de
adequação, onde os alimentos de origem animal contribuem com 41,3%. Em relação
aos alimentos de origem vegetal, a maioria não atinge os 50% de adequação (40,8%)
(fig. 5).
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares .....
56
0
10
20
30
40
50
< 25 25 |- 50 50 |- 75 75 |- 100
percentual de adequação
%
animalvegetal
Figura 5 – Consumo alimentar de vitamina A, segundo sua fonte dietética, em
crianças de 0 – 5 anos de idade, de creches do município do Recife–
PE, 1999.
Por sua vez, como pode ser observado na tabela 4, 58% dos alimentos enriquecidos
(Margarina, Nescau, Farinha Láctea, etc) contribuem com até 10%, na adequação do
consumo alimentar de vitamina A.
Tabela 4 – Adequação do consumo alimentar de vitamina A, segundo sua fonte
dietética, em crianças de 0 – 5 anos de idade, de creches do
município do Recife–PE, 1999.
Categorias de adequação * (%) Alimentos Enriquecidos
n % IC < 5 43 31,6 24,1 – 40,2 5 |- 10 36 26,5 19,5 – 34,8 10 |- 15 24 17,6 11,8 – 25,3 15 |- 20 13 9,5 5,4 – 16,1 20 |- 25 10 7,4 3,8 – 13,5 ≥ 25 10 7,4 3,8 – 13,5 Total 136 χ2 = 44,4 ; p = 0,00
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares .....
57
4.3. Avaliação antropométrica
Peso
A variável peso teve distribuição assimétrica (K-S Z = 1,68 p = 0,007) e mesmo após
transformação em Log10 , apresentou distribuição assimétrica (K-S Z = 1,88; p ≅ 0,00),
com valores limites de 7 e 25 kg, mediana = 13,6kg, P25 = 11,7kg e P75 =15,4kg .
Altura
A variável altura teve distribuição normal (K-S Z = 1,09 p = 0,185) com média de 92,32
cm e desvio padrão de 10,15 cm, e valores limites de 67 e 113 cm.
Relação Peso/Idade
O índice antropométrico Peso/Idade, expressos em escores Z, apresentou distribuição
normal (K-S Z= 0,7; p= 0,77), com média de - 0,48 e desvio padrão de 1,06. Os valores
limites da distribuição foram -3,11 e 3,04 (fig. 6).
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares .....
58
peso /idade escores Z
3,002,50
2,001,50
1,00,50
0,00-,50
-1,00-1,50
-2,00-2,50
-3,00
40
30
20
10
0
Figura 6 - Estado nutricional, segundo o índice Peso/Idade, em crianças de 0 - 5
anos de idade de creches do município do Recife-PE, 1999.
Conforme pode ser observado na tabela 5, a grande maioria das crianças apresentou-se com adequação ponderal. As cifras de baixo peso e sobrepeso/obesidade são inferiores a 10% e 5%, respectivamente.
n = 308 = - 0,5
DP = 1,06 K-S Z = 0,7 p = 0,77
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares .....
59
Tabela 5 - Estado nutricional, segundo o índice Peso/Idade, em crianças de 0 - 5
anos de idade de creches do município do Recife-PE, 1999.
Peso/Idade (escores Z)
n % IC*
<-2DP 23 7,5 4,9 – 11,1
-2DP |- +2DP 278 90,3 86,2 – 93,2
> +2DP 7 2,3 1,0 – 4,8
Total 308 100
* intervalo de confiança 95%
Altura/Idade
O índice antropométrico Altura/Idade, expresso em escores Z, apresentou distribuição
normal (K S-Z = 0,7; p = 0,78), com média - 0,6 e desvio padrão de 1,07. Os valores
limites foram - 4,5 e 2,8 (fig.7).
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares .....
60
Altura/ idade escores Z
2,502,00
1,501,00
,500,00-,50
-1,00-1,50
-2,00-2,50
-3,00-3,50
-4,00-4,50
50
40
30
20
10
0
Figura 7 – Estado nutricional segundo o índice Altura/Idade, em crianças 0 - 5
anos de idade, de creches do município do Recife-PE, 1999.
Cerca de 8% (95% IC 5,4 – 11,9) das crianças situavam-se abaixo de – 2 DP do
padrão de referência, caracterizando as formas moderada/grave de retardo do
crescimento linear (tab. 6).
n = 308 = - 0,6
DP = 1,08 K-S Z = 0,7 p = 0,78
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares .....
61
Tabela 6 - Estado nutricional segundo o índice Altura/Idade, em crianças de 0 - 5
anos de idade, de creches do município do Recife-PE, 1999.
Altura/Idade (escores Z)
n % IC*
<-2DP 25 8,1 5,4 – 11,9
-2DP |- +2DP 278 90,3 86,2 – 93,2
> +2DP 5 1,6 0,6 – 4,0
Total 308 100,0
* intervalo de confiança 95%
Peso/Altura O índice antropométrico Peso/Altura, expresso em escores Z, apresentou distribuição normal (K S-Z = 1,1; p = 0,18), com média de -0,10 e desvio padrão de 0,97. Os valores limites da distribuição foram -3,6 e 4,1 (fig. 8).
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares .....
62
peso/altura escores Z
4,003,50
3,002,50
2,001,50
1,00,50
0,00-,50
-1,00-1,50
-2,00-2,50
-3,00-3,50
80
60
40
20
0
Figura 8 – Estado nutricional segundo o índice Peso/Altura, em crianças de 0 - 5
anos de idade, de creches do município do Recife-PE,1999.
Deve-se ressaltar que, apenas 1,9% das crianças estavam abaixo de – 2 DP, do valor de referência, caracterizando uma desnutrição aguda nas formas moderada/grave (tab.7).
Tabela 7 - Estado nutricional segundo o índice Peso/Altura, em crianças de 0 - 5
anos de idade, de creches do município do Recife-PE, 1999.
Peso/Altura (escores Z)
n % IC*
< -2DP 6 1,9 0,8 – 4,4
-2DP |- +2DP 291 94,5 91,1 – 96,6
> +2DP 11 3,6 1,9 – 6,5
Total 308 100,0
* intervalo de confiança 95%
n = 308 = - 0,10
DP = 0,98 K-S Z = 1,1 p = 0,18
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares .....
63
4.4. Estado nutricional de vitamina A vs variáveis demográficas
4.4.1. Retinol sérico vs sexo
A distribuição dos níveis séricos de retinol, segundo a variável sexo, está representada
na tabela 8.
Tabela 8 – Distribuição dos nívieis séricos de retinol , segundo sexo, em crianças
de 0 - 5 anos de idade, de creches do município do Recife-PE, 1999.
Retinol Sérico (µg/dl) Valores
Sexo n DP Limítrofes
Masculino 165 34,93 10,98 17 – 84
Feminino 137 34,90 9,21 16 – 66
Total 302 34,92
Teste “t” de student = 0,3; p = 0,98
Pode–se observar que os níveis médios de retinol sérico mostraram comportamento
distributivo homogêneo (“t” = 0,3; p = 0,98), com relação à variável sexo.
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares .....
64
4.4.2. Retinol sérico vs idade
Os níveis de retinol sérico não mostraram correlação com a variável idade (r ≅ 0,0; p =
0,61) (fig. 9).
0102030405060708090
0 12 24 36 48 60
idade (meses)
retin
ol s
éric
o (m
cg/d
l)
Figura 9 – Correlação entre os níveis séricos de retinol e a idade de crianças de
0 - 5 anos de idade, de creches do município do Recife-PE, 1999.
Pearson r ≅ 0,0 p = 0,61
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares .....
65
4.4.3. Consumo alimentar de vitamina A vs sexo
O consumo alimentar de vitamina A não mostrou relação com o sexo (Z = - 0,3; p =
0,75). Embora, a distribuição das medianas do consumo de retinol aponte valores
menores para as crianças do sexo feminino, esta tendência não foi validada
estatisticamente (tab. 9).
Tabela 9 – Consumo alimentar vitamina A, segundo sexo, em crianças de 0 - 5
anos de idade, de creches do município do Recife-PE, 1999.
Consumo vit. A (µg/dia) Percentil
Sexo n Mediana 25 75
Masculino 127 461,59 365,2 587,7
Feminino 113 451,38 340,9 629,0
Total 240
Mann Whitney U Z = - 0,3; p = 0,75
4.4.4. Consumo alimentar de vitamina A vs idade
Como pode ser observado na tabela 10, o consumo alimentar de vitamina A mostrou
relação com a variável idade (χ2 = 13,1; p = 0,01). A distribuição do consumo de
vitamina A apresenta valores de mediana menores para as crianças com idade entre 12
a 48 meses, quando comparadas com crianças na faixa etária igual ou maior do que 48
meses.
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares .....
66
Tabela 10 - Estado nutricional do consumo alimentar de vitamina A, segundo faixa
etária, em crianças de 0 - 5 anos de idade, de creches do município do
Recife-PE, 1999.
Consumo vit. A (µg/dia) Percentil
Idade (meses) n Mediana * 25 75
< 12 08 547,7 387,5 583,7
12 |- 24 43 411,9 a 318,4 478,6
24 |- 36 69 447,2 a 335,8 587,2
36|- 48 59 430,7 a 352,8 568,0
>= 48 61 507,9 b 420,7 702,3
Total 240
Kruskal Wallis χ2 = 13,1; p = 0,01
* letras diferentes indicam variações significativas (p < 0,05) entre as medianas
A adequação do consumo alimentar de vitamina A , segundo a idade das crianças,
considerando-se as recomendações propostos pela RDA -1989, mostrou ingestão de
retinol inadequada (< 375µg/dia) em 25% das crianças menores de 12 meses, em
42,1% (< 400µg/dia) das crianças de 12 a 48 meses e em 47,5%(< 500µg/dia) para as
crianças de 48 meses (fig. 10).
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares .....
67
Figura 10 – Adequação do consumo de vitamina A, segundo a faixa etária,
considerando-se as recomendações da RDA -1989, em crianças de
0 - 5 anos de idade, de creches do município do Recife-PE, 1999.
No entanto, ao se avaliar o consumo de vitamina A, segundo as recomendações
propostas pela DRI de 2001, para as diferentes faixas etárias, observou-se uma
redução acentuada dos percentuais de crianças com ingestão inadequada de vitamina
A, nas duas faixas etárias (12 |- 48 e ≥ 48 meses) (fig.11).
%
0
10
20
30
40
50
60
70
80
< 12 12 |- 48 >= 48 meses
inadequadoadequado
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares .....
68
Figura 11 – Adequação do consumo de vitamina A, segundo a faixa etária,
considerando-se as recomendações da DRI - 2001, em crianças de 0 -
5 anos de idade, de creches do município do Recife-PE, 1999.
O consumo de vitamina A mostrou uma associação positiva com a idade (r = 0,18; p =
0,01) (fig. 12).
%
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
<12 12 |- 48 > = 48 meses
inadequadoadequado
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares .....
69
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
8000
0 12 24 36 48 60
idade (meses)
cons
umo
alim
enta
r de
vita
min
a A
(m
cg/d
ia)
Figura 12 - Correlação entre o consumo de vitamina A e a distribuição etária em
crianças de 0 - 5 anos de idade, de creches do município do Recife-PE,
1999.
Pearson r = 0,18 p = 0,01
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares .....
70
4.5. Índices antropométricos vs variáveis demográficas 4.5.1. Adequação Peso/ Idade vs sexo Conforme pode ser observado na tabela 11, o baixo peso teve distribuição homogênea
nos dois sexos (χ2 = 0,6 ; p = 0,42).
Tabela 11 - Adequação do índice Peso/Idade, segundo o sexo, em crianças de
0 – 5 anos de idade, de creches do município do Recife–PE, 1999.
Adequação P/I (escores Z) Sexo < - 2DP ≥ - 2DP Total n % n % n %
Masculino 11 6,4 161 93,6 172 100
Feminino 12 8,8 124 91,2 136 100
χ2 = 0,6 ; p = 0,42
4.5.2. Adequação Altura/Idade vs sexo
Comportamento similar foi observado para o índice antropométrico Altura/Idade, onde a
prevalência de retardo do crescimento linear foi semelhante nos dois sexos ( χ2 = 0,2; p
= 0,69) (tab. 12).
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares .....
71
Tabela 12 - Adequação do índice Altura/Idade, segundo o sexo, em crianças de
0 – 5 anos de idade, de creches do município do Recife –PE, 1999.
Adequação A/I (escores Z) Sexo < - 2DP ≥ - 2DP Total n % n % n %
Masculino 13 7,6 159 92,4 172 100
Feminino 12 8,8 124 91,2 136 100
χ2 = 0,2; p = 0,69
4.5.3. Adequação Peso/Idade vs idade
Em relação à faixa etária, categorizada em intervalos de classe de 36 meses, a
prevalência de baixo peso foi similar nos dois grupos etários (χ2 ≅ 0,0 ; p = 0,90) (tab.
13).
Tabela 13 - Adequação do índice Peso/Idade, segundo a faixa etária, em crianças
de 0 – 5 anos de idade, de creches do município do Recife–PE, 1999.
Adequação P/I (escores Z) Idade (meses) < - 2DP ≥ - 2DP Total n % n % n %
< 36 11 7,3 140 92,7 151 100
> 36 12 7,6 145 92,4 157 100
χ2 ≅ 0,0 ; p = 0,90
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares .....
72
4.5.4. Adequação Altura/Idade vs idade
A exemplo da distribuição por sexo, o retardo do crescimento linear teve distribuição
homogênea (χ2 = 1,3; p = 0,25), em relação à idade categorizada em crianças com
idade inferiores a 36 meses e aqueles com idade igual ou superior a 36 meses (tab.14).
Tabela 14 - Adequação do índice Altura/Idade, segundo a faixa etária, em
crianças de 0 – 5 anos de idade, de creches do município do
Recife–PE, 1999.
Adequação A/I (escores Z) Idade (meses) < - 2DP ≥ - 2DP Total n % n % n %
< 36 15 9,9 136 90,1 151 100
> 36 10 6,4 147 93,6 157 100
χ2 = 1,3; p = 0,25
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares .....
73
Pearson Pearson r = 0,1 p = 0,16p = 0,16
4.6. Estado nutricional de vitamina A vs índices antropométricos
4.6.1. Retinol sérico vs adequação Peso/Idade Ao serem analisadas como variáveis contínuas, o retinol sérico e o baixo peso não
mostraram correlação significativa entre si (r = 0,1; p = 0,16) (fig. 13).
-5-4-3-2-101234
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
retinol sérico (mcg/dl)
adeq
uaçã
o P/
I (e
scor
es Z
)
Figura 13 – Níveis séricos de retinol e adequação do índice Peso/Idade, em
crianças 0 – 5 anos de idade, de creches do município do
Recife–PE, 1999.
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares .....
74
Pearson r ≅ 0,0 p = 0,51
4.6.2. Retinol sérico vs adequação Altura/Idade
Comportamento distributivo similar foi observado no estudo de associação entre os
níveis séricos de retinol e o retardo do crescimento linear (fig.14). As duas variáveis não
mostraram correlação entre si (r = 0,0 ; p = 0,51).
-5-4-3-2-101234
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
retinol sérico (mcg/dl)
adeq
uaçã
o A
/I (e
scor
es Z
)
Figura 14 – Níveis séricos de retinol e adequação do índice Altura/Idade, em
crianças 0 – 5 anos de idade, de creches do município do Recife–PE,
1999.
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares .....
75
Pearson r = - 0,1 p = 0,17
4.6.3. Retinol sérico vs adequação Peso/Altura
A desnutrição aguda, a exemplo do retardo do crescimento linear, não mostrou
correlação significativa (r = 0,1; p = 0,17), com os níveis séricos de retinol (fig.15)
-5-4-3-2-1012345
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
retinol sérico (mcg/dl)
adeq
uaçã
o P/
A (e
scor
es Z
)
Figura 15 – Níveis séricos de retinol e adequação do índice Peso/Altura, em
crianças 0 – 5 anos de idade, de creches do município do Recife–PE,
1999.
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares .....
76
Pearson r = - 0,1 p = 0,04
4.6.4. Consumo alimentar de vitamina A vs adequação Peso/Idade
Com relação ao consumo de vitamina A, crianças com baixo peso apresentaram uma
tendência significativa a um aumento da ingestão de vitamina A , comparando-se com
aquelas com melhor estado ponderal (r = - 0,1; p = 0,04) (fig. 16).
010002000300040005000600070008000
-6 -4 -2 0 2 4 6
adequação P/I (escores Z)
Con
sum
o A
limen
tar d
e Vi
tam
ina
A (m
cg/d
ia)
Figura 16 – Consumo alimentar de vitamina A e adequação do índice Peso/Idade,
em crianças 0 – 5 anos de idade, de creches do município do Recife–
PE, 1999.
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares .....
77
Pearson r = - 0,1 p = 0,14
4.6.5. Consumo alimentar de vitamina A vs adequação Altura/Idade
No entanto, o consumo de vitamina A não mostrou correlação com o retardo do
crescimento linear (r = - 0,1 ; p = 0,14) (fig.17).
010002000300040005000600070008000
-6 -4 -2 0 2 4 6
adequação A/I (escores Z)
cons
umo
alim
enta
r de
vita
min
a A
(mcg
/dia
)
Figura 17 – Consumo alimentar de vitamina A e adequação do índice
altura/Idade, em crianças 0 – 5 anos de idade, de creches do
município do Recife–PE, 1999.
FERNANDES,T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares...
78
Pearson r = - 0,1 p = 0,09
4.6.6. Consumo alimentar de vitamina A vs adequação Peso/Altura
Resultados análogos foram observados no comportamento das variáveis consumo de
vitamina A e desnutrição aguda, onde não se observaram correlações entre elas (r = -
0,1; p = 0,09) (fig. 18).
010002000300040005000600070008000
-6 -4 -2 0 2 4 6
adequação P/A (escores Z)
cons
umo
alim
enta
r de
vita
min
a A
(mcg
/dia
)
Figura 18 – Consumo alimentar de vitamina A e adequação do índice
Peso/Altura, em crianças 0 – 5 anos de idade, de creches do
município do Recife–PE, 1999.
FERNANDES,T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares...
79
4.7. Retinol sérico vs consumo alimentar de vitamina A
As concentrações de retinol sérico não mostraram correlação com o consumo alimentar
de vitamina A (r = 0,0; p = 0,89) (fig.19).
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
8000
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
retinol sérico (mcg/dl)
cons
umo
alim
enta
r de
vita
min
a A
(m
cg/d
ia)
Figura 19 - Concentrações de retinol sérico e consumo de vitamina A, em crianças
de 0 - 5 anos de idade, de creches do município do Recife-PE, 1999.
Analisando-se a prevalência de níveis baixos de retinol sérico e o consumo alimentar
inadequado de vitamina A, observa-se que apenas 6,7% das crianças com níveis
baixos de retinol ingeriam abaixo da metade da RDA – 1989, para a faixa etária. Ao
analisar a adequação, segundo DRI – 2001, verificou-se um maior número de crianças
que atendem às recomendações do consumo alimentar de vitamina A, mesmo
apresentando baixo nível sérico de retinol (< 20µg/dl) (tab.15).
Pearson r ≅ 0,0 p = 0,89
FERNANDES,T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares...
80
Tabela 15 – Prevalência de níveis baixos de retinol sérico, segundo a adequação
de consumo alimentar de vitamina A em crianças de 0 – 5 anos de
idade, de creches do município do Recife-PE, 1999
Retinol Sérico (µg/dl)
Categorias de 1989 1989+ 2001 2001++ adequação** (%) < 20 ≥ 20 < 20 ≥ 20 n % n % n % n %
< 25 2 100 1 100
25 |- 50 1 6,7 14 93,3 6 100
50 |- 75 2 6,9 27 93,1 1 6,3 15 93,8
75 |- 100 6 9,4 58 90,6 3 10,0 27 90,0
≥ 100 5 4,0 119 96,0 10 5,5 171 94,5
Total 14 6,0 220 94,0 14 6,0 220 94,0
** Recomendação da FAO/OMS
+ RDA 1989
++ DRI 2001
A validação do inquérito de consumo alimentar , como método de diagnóstico do estado
nutricional de vitamina A, foi verificada tomando-se, como padrão-ouro, a variável retinol
sérico (tab.16) .
FERNANDES,T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares...
81
Tabela 16 – Poder de discriminação do inquérito de consumo alimentar de
vitamina A, frente ao retinol sérico, no diagnóstico da hipovitaminose
A em crianças de 0 – 5 anos, de creches do município do Recife–
PE, 1999.
Inquérito Consumo Alimentar de Vitamina A* Retinol Sérico S E VP (+)+ VP (-)++ (ponto corte)
20µg/dl 43 66 6,8 94
30µg/dl 39 66 29 72
*Consumo alimentar de vitamina A - 400µg/dia (DRI – 2001) +χ2 = 2,2; p = 0,14; ++ χ2 = 37,5; p = 0,00
S = sensibilidade
E = Especificidade
VP(+) = valor preditivo positivo
VP (-) = valor preditivo negativo
Pode-se observar que, uma vez adotado o ponto de corte de 20µg/dl, o teste mostrou-
se com baixo poder preditivo positivo (+), pouco sensível, embora específico.
Quando adotado o limite crítico de 30µg/dl, para os níveis de retinol sérico, observou-se
que a sensibilidade, a especificidade e o valor preditivo positivo (+) apresentaram
valores semelhantes (p > 0,05) aqueles observados com o uso do ponto de corte de
20µg/dl. No entanto, o valor preditivo negativo (-) decresceu de forma significativa (p <
0,05).
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares...
82
5. DISCUSSÃO
A deficiência em micronutrientes tem sido objeto de preocupação entre, governo,
agências internacionais e pesquisadores, em virtude de sua ampla magnitude e danos
à saúde. Segundo dados da década de 90, estima-se que pelo menos um bilhão de
pessoas sofrem de desnutrição protéico-calórica ou desnutrição em micronutrientes nos
países em desenvolvimento. Em escala mundial, a subnutrição contribui com 1,1 bilhão
de dias de doença/ano (SILVA Jr, 1998). Tais números servem para dimensionar o
tamanho dos recursos necessários e como melhor aproveitá-los nas políticas de
alimentação e nutrição, promovendo menor custo e gerando maior benefício.
A hipovitaminose A é um dos principais problemas de nutrição nos países em
desenvolvimento, sendo, no Brasil, um dos mais importantes na área da saúde pública;
apesar disso, não há registros de base populacional, desta carência em nível nacional,
visto que, a maior parte dos estudos reflete situações pontuais, ou seja, estão
circunscritos a uma cidade ou região do país, ou grupo populacional específico.
A prevalência de 7% de deficiência de vitamina A, observada nas crianças menores de
5 anos, freqüentando creches do município de Recife no ano de 1999, configura a
hipovitaminose A como um problema de saúde pública do tipo leve, segundo os
critérios adotados pela OMS para classificar a magnitude do problema (2 a menos de
10% da população com retinol sérico < 20µg/dl). No entanto, estudo realizado neste
mesmo município, em 1989, onde foram analisadas as concentrações de retinol sérico
em crianças de 24 – 72 meses, foi encontrada uma prevalência de 34,1% (McAULIFFE
et al., 1991). Por outro lado, dados mais atualizados, reportados por Andrade (2000), ao
analisar os dados da II PESN/97, evidenciaram níveis séricos de retinol abaixo de
0,70µmol/L (< 20µg/dl), em 13% das crianças menores de cinco anos de idade da
Região Metropolitana do Recife (RMR).
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares...
83
Essa escala descendente na prevalência da hipovitaminose A, nos últimos 15 anos, em
pré-escolares da cidade do Recife, poderia ser atribuída a uma redução do quadro
carencial, em virtude das medidas emergenciais que vêm sendo tomadas no
enfrentamento do problema, a exemplo da distribuição de megadoses de vitamina A
durante as campanhas de multivacinação. Uma redução da prevalência de
hipovitaminose A, inclusive do registro de casos de xeroftalmia, no âmbito hospitalar e
em inquérito populacional, foi também observada no Estado da Paraíba (DINIZ, 1997),
que tem apresentado uma certa regularidade na distribuição de cápsulas de vitamina A,
a partir de meados dos anos 80. No entanto, deve-se levar em consideração que os
dados observados na cidade do Recife, no presente estudo, são oriundos de crianças
institucionalizadas. O fato de freqüentar creches, em princípio, proporcionaria a estas
crianças melhores condições de saúde e uma regularidade na alimentação, que poderia
repercutir favoravelmente no seu estado nutricional e, conseqüentemente, na melhoria
dos níveis séricos de retinol. Vale salientar que 22% dessas crianças apresentaram
níveis marginais de vitamina A (20 |- 30µg/dl), o que as tornaria potencialmente
vulneráveis a um déficit de vitamina A.
A homogeneidade na distribuição dos níveis séricos de retinol, segundo o sexo, foi de
certa forma inesperada, uma vez que há uma tendência descrita na literatura
especializada de que, crianças do sexo masculino apresentam maior risco de
desenvolver hipovitaminose A (BLOEM et al., 1989). Crianças do sexo masculino têm
um risco duas vezes maior de desenvolver xeroftalmia moderada e, até três vezes
maior de desenvolver xeroftalmia grave, quando comparadas com crianças do sexo
feminino (DINIZ, 1997). No entanto, essa tendência também não foi observada em
alguns estudos realizados no Nordeste do Brasil (ANDRADE, 2000; PRADO et al.,
1995).
O comportamento homogêneo dos níveis séricos de retinol, no que diz respeito à
distribuição etária, não confirmou uma tendência que tem sido observada nesse grupo
populacional, onde crianças de menor idade tendem a apresentar níveis sérico de
retinol mais baixos (ANDRADE, 2000; ASSIS et al., 1997; PRADO et al., 1995). Casos
de xeroftalmia grave predominam em crianças menores de dois anos de idade (DINIZ,
FERNANDES, T.F.S. Hipovitaminose A em pré-escolares...
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1997). No entanto, estudos oriundos do Estado de São Paulo não mostraram
correlação dos níveis séricos de retinol com a idade (VELÁSQUEZ-MELENDEZ et al.,
1994; GONÇALVES-CARVALHO et al., 1995).
O percentual de adequação do consumo de vitamina A, sobretudo se considerarmos as
cifras recomendadas pela DRI - 2001 (77,9%), vem reforçar o papel da
institucionalização (creche) no suprimento dos requerimentos nutricionais, através da
alimentação fornecida aos seus alunos. Deve-se salientar que as crianças recebiam
cinco refeições por dia. Esse padrão de consumo diferenciado pode ser evidenciado se
compararmos com dados de consumo de crianças não institucionalizadas, em
contextos ecológicos similares (SANTOS et al., 1996).
O maior consumo de alimentos de origem animal (vitamina A pré-formada) é um dado
complementar no modelo explicativo dos níveis de retinol sérico encontrados nas
crianças de creches. Sabe-se que a vitamina A de origem animal tem um poder de
bioconversão (absorção + biodisponibilidade) extremamente mais elevado, quando
comparado com os carotenóides de atividade pró-vitamina A. Um dado adicional é que
7% das crianças consumiam regularmente alimentos enriquecidos com vitamina A.
A homogeneidade da distribuição do consumo de vitamina A, com relação ao sexo,
estaria em consonância com a distribuição dos níveis séricos de retinol e com dados da
literatura (LÓPEZ CARDONA, 1999). Com relação à idade, o menor consumo
observado na faixa etária de 12 a 48 meses, poderia ser explicado pelo baixo consumo
do leite e pela monotonia alimentar, em virtude da menor aceitação dos vegetais e
folhas verde-escuros.
As prevalências relativamente baixas de baixo peso (7,5%), retardo do crescimento
linear (8,1%) e desnutrição aguda (1,8%), mostraram-se muito próximas das
prevalências encontradas, em outros inquéritos realizados nos Estados de Pernambuco
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1998) e Paraíba (FREITAS-LOLA, 1993; DINIZ, 1997),
porém, significativamente menores do que as prevalências estimadas para a América
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85
Latina (ONIS et al., 1993). Esse decréscimo da prevalência de desnutrição energético-
proteíca tem sido uma tendência observada, nas últimas décadas, na maioria dos
países em desenvolvimento (MONTEIRO, 1997). Entretanto, embora estes dados
evidenciem uma melhoria no estado nutricional das crianças, a Região Nordeste ainda
apresenta percentuais maiores de desnutrição aguda e crônica, quando comparada
com dados oriundos da região Sudeste do país (ZACCARELLI, 2001; RAMALHO et al.,
2001).
Apesar de crianças com baixo peso terem apresentado uma tendência significativa a
um aumento da ingestão de vitamina A, o grau de correlação foi extremamente
reduzido (r = - 0,1), o que levou a opção de considerar o achado como um dado
aleatório sem plausibilidade biológica. Sendo assim, a ausência de correlação entre a
desnutrição energético-protéica e a deficiência de vitamina A (baixos níveis de retinol
sérico e/ou baixo consumo de vitamina A) vem reforçar um comportamento, até certo
ponto freqüente, na distribuição dos déficits nutricionais, onde os estados carenciais
passam a se manifestar de forma isolada, mesmo em populações de risco (GOPALDAS
et al., 1993).
Por outro lado, a não correlação entre o retinol sérico e o consumo alimentar vem
demonstrar as dificuldades no manuseio de indicadores do estado nutricional de
vitamina A. O retinol sérico, em virtude de sofrer a influência do controle homeostático,
traduziria o estado nutricional de vitamina A apenas quando as reservas hepáticas
fossem muito elevadas ou muito baixas (OLSON et al., 1984). Entretanto, os seus
níveis séricos podem apresentar alterações nos processos infecciosos, inclusive
subclínicos, mesmo quando os níveis orgânicos são satisfatórios. Logo, este indicador
deve ser interpretado com a devida cautela. Por sua vez, o inquérito de consumo
alimentar, além de se limitar apenas a um dado do consumo de vitamina A, sem
informações sobre a absorção e utilização biológica, tem recebido pesadas críticas em
virtude da extrema variabilidade da determinação do teor de vitamina A dos alimentos
fontes (UNDERWOOD, 1990), bem como da multiplicidade de tabelas, muitas vezes
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sem uma adequada informação do conteúdo dos alimentos regionais consumidos pela
população alvo.
A baixa sensibilidade e predição do inquérito de consumo alimentar, em relação ao
retinol sérico, no diagnóstico da hipovitaminose A, vêm alertar para o cuidado que se
deve tomar na eleição de indicadores do estado nutricional de vitamina A, em inquéritos
populacionais. O baixo poder preditivo positivo era de certa forma esperado, uma vez
que a prevalência de deficiência de vitamina A foi baixa na população estudada. No
entanto, o valor encontrado para a especificidade é uma informação importante que
pode contribuir para nortear a escolha do teste de diagnóstico que se deve unir na
confirmação da ausência da deficiência de vitamina A, em determinado grupo
populacional.
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6. CONCLUSÕES
• A hipovitaminose A em crianças institucionalizadas (creches) da cidade do Recife
foi considerada como um problema de saúde pública do tipo leve, visto que 7%
das crianças apresentaram níveis baixos de retinol sérico.
• A distribuição das concentrações de retinol sérico foi homogênea segundo as
variáveis demográficas sexo e idade, no entanto, o consumo de vitamina A foi
menor em crianças na faixa etária de 12 a 48 meses.
• A adequação do consumo de vitamina A foi de cerca de 78%, considerando os
critérios adotados pela DRI – 2001, onde predominou o consumo de vitamina A
pré-formada.
• As concentrações de retinol sérico não mostraram correlação com consumo
alimentar de vitamina A. O inquérito de consumo de vitamina A, como teste de
diagnóstico da hipovitaminose A, mostrou baixa predição positiva, pouca
sensibilidade, embora alta especificidade.
• O retardo do crescimento linear foi a forma de desnutrição predominante entre as
crianças estudadas.
• No contexto das creches da cidade do Recife, a hipovitaminose A e a
desnutrição energético-protéica comportaram-se como carências nutricionais
isoladas entre as crianças menores de cinco anos.
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7. RECOMENDAÇÕES
• A elaboração de tabelas de composição de alimentos regionais que informem a
quantidade de carotenóides dos alimentos fonte de vitamina A, visando uma
melhor avaliação do consumo alimentar da população alvo.
• Realizar outros inquéritos envolvendo amostras representativas para estimar a
magnitude da hipovitaminose A em outros grupos biológicos, potencialmente de
risco.
• Promover educação nutricional junto à criança e seus familiares, divulgando os
benefícios dos alimentos ricos em vitamina A disponíveis na comunidade.
• Manter a suplementação periódica com doses de vitamina A para as crianças de
6 meses a 5 anos de idade, por ocasião das campanhas de multivacinação,
visando uma redução maior na prevalência dessa carência nutricional.
• Validar o inquérito de consumo alimentar no diagnóstico de hipovitaminose A,
utilizando, como padrão-ouro, indicadores de maior fidedignidade para a
avaliação do estado nutricional de vitamina A, a exemplo das estimativas de
reserva hepática (RDR e MRDR).
• Monitoramento do cardápio oferecido pelas creches, no que diz respeito às
adequações nutricionais, particularmente, em relação aos micronutrientes.
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ANEXOS
Anexo 1 – Termo de esclarecimento e termo de consentimento.
Anexo 2 - Ficha de identificação e dados antropométricos.
Anexo 3 - Recordatório 24 horas.
Anexo 4 - Inquérito de consumo alimentar e inquérito dietético.
Anexo 5 - Parecer do comitê de ética do Hospital Universitário Lauro Wanderley e
parecer do comitê de ética do Instituto de Medicina Tropical Príncipe
Leopoldo.
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Centro de Investigação em Micronutrientes-CIMICRON
Inquérito de Consumo Alimentar-Recife-Pe Creche:__________________________________________ Código: Data da Coleta: _____/____________/1999 FICHA DE PREPARAÇÃO
Preparação
Rendimento*
Alimentos
Quantidade
% (não preencher em campo)
*Total da preparação após o cozimento/preparação final.
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Centro de Investigação em Micronutrientes-CIMICRON Recordatório de 24 horas
Para informações referentes as refeições realizadas fora da creche
Creche: _______________________________________ N.º de Identificação: Nome da criança:________________________________ Data da coleta: _____/___________/1999 Entrevistador: __________________________________
Refeição/Horário Preparação Ingredientes Quantidade(Medida caseira)
Creche: _______________________________________ N.º de Identificação: Nome da criança:________________________________ Data da coleta: _____/___________/1999 Entrevistador: __________________________________
Refeição/Horário Preparação Ingredientes Quantidade(Medida caseira)
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Centro de Investigação em Micronutrientes-CIMICRON Inquérito de Consumo Alimentar-Recife-Pe Creche: _______________________________________ N.º de Identificação: Nome da criança:________________________________ Data da coleta: _____/___________/1999 Entrevistador: __________________________________
Preparação/Alimento Quantidade servida(g)
Quantidade sobras(g)
Quantidade consumida(g)
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Centro de Investigação em Micronutrientes-CIMICRON Inquérito de Consumo Alimentar-Recife-Pe Creche:_______________________________________ N.º de Identificação: Nome da criança:_______________________________ Data da coleta: ______/___________/1999 Entrevistador: __________________________________
Preparação Alimento % do alimento na preparação
Cálculo % x consumido
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Consumo para o alimento(g)
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Centro de Investigação em Micronutrientes-CIMICRON INQUÉRITO DIETÉTICO Creche: _______________________________________ Identificação Nome da criança: _______________________________
Refeição Alimento Quantidade consumida (g)
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