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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Sementes Dissertação COMPOSIÇÃO QUÍMICA E QUALIDADE FISIOLÓGICA DE SEMENTES DE SOJA LEISLI MAIRA DELARMELINO PELOTAS, 2012

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Programa de Pós-Graduação em Ciência e

Tecnologia de Sementes

Dissertação

COMPOSIÇÃO QUÍMICA E QUALIDADE FISIOLÓGICA

DE SEMENTES DE SOJA

LEISLI MAIRA DELARMELINO

PELOTAS, 2012

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LEISLI MAIRA DELARMELINO

COMPOSIÇÃO QUÍMICA E QUALIDADE FISIOLÓGICA DE

SEMENTES DE SOJA

Dissertação apresentada à Universidade

Federal de Pelotas, sob a orientação do Prof.

Dr. Francisco Amaral Villela, como parte das

exigências do Programa de Pós-Graduação

em Ciência e Tecnologia de Sementes, para

obtenção do título de Mestre Profissional.

PELOTAS

Rio Grande do Sul – Brasil Agosto de 2012

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Dados de catalogação na fonte:

( Marlene Cravo Castillo – CRB-10/744 )

D339c Delarmelino, Leisli Maira

Composição química e qualidade fisiológica de

sementes de soja / Leisli Maira Delarmelino ; orientador

Francisco Amaral Villela - Pelotas,2012.-28f. ; il..-

Dissertação (Mestrado ) –Programa de Pós-Graduação em

Ciência e Tecnologia de Sementes. Faculdade de Agronomia

Eliseu Maciel . Universidade Federal de Pelotas. Pelotas,

2012.

1.Glycine max 2.Germinação 3.Vigor 4.Teor de

proteína 5.Teor de óleo I.Villela, Francisco

Amaral(orientador) II .Título.

CDD 633.34

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COMPOSIÇÃO QUÍMICA E QUALIDADE FISIOLÓGICA DE

SEMENTES DE SOJA

Banca examinadora:

______________________________

Prof. Dr. Francisco Amaral Villela (Orientador)

______________________________

Prof. Dr. Luís Osmar Braga Schuch

______________________________

Prof. Dr. Paulo Rigatto

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LISTA DE FIGURA

Página

Figura 1. Procedimento de dobradura do papel para extração de óleo

com éter de petróleo ............................................................... 10

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Germinação de três lotes de sementes de soja, cultivares

Tabarana, Tucunaré e Monsoy 8866. Pelotas, 2012 .............. 12

Tabela 2. Emergência de plântulas de três lotes de sementes de soja,

cultivares Tabarana, Tucunaré e Monsoy 8866. Pelotas,

2012 ........................................................................................ 13

Tabela 3. Viabilidade de três lotes de sementes de soja, cultivares

Tabarana, Tucunaré e Monsoy 8866. Pelotas, 2012 .............. 14

Tabela 4. Teor de proteína de três lotes de sementes de soja,

cultivares Tabarana, Tucunaré e Monsoy 8866. Pelotas,

2012 ........................................................................................ 14

Tabela 5. Teor de óleo de três lotes de sementes de soja, cultivares

Tabarana, Tucunaré e Monsoy 8866. Pelotas, 2012............... 16

Tabela 6. Ácidos graxos livres em três lotes de sementes de soja,

cultivares Tabarana, Tucunaré e Monsoy 8866. Pelotas,

2012......................................................................................... 16

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SUMÁRIO

Página

BANCA EXAMINADORA …………………………………………………… ii

LISTA DE FIGURA ………………………………………………………….. iii

LISTA DE TABELAS ................................................................................ iii

RESUMO .................................................................................................. v

ABSTRACT .............................................................................................. vi

INTRODUÇÃO ……………………………………………………………….. 01

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ………………………………………………... 02

MATERIAL E MÉTODOS ......................................................................... 08

RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................... 12

CONCLUSÕES ........................................................................................ 18

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................... 19

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RESUMO

DELARMELINO, Leisli Maira. Universidade Federal de Pelotas, agosto de

2012. Composição química e qualidade fisiológica de sementes de soja.

Orientador: Prof. Dr. Francisco Amaral Villela

O presente trabalho teve por objetivo estabelecer relação entre a variabilidade

da composição química e a qualidade fisiológica de sementes de soja. Foram

empregados três lotes de sementes de soja, cultivares Tabarana, Tucunaré e

Monsoy 8866. Foram realizados os testes de germinação e de emergência de

plântulas e de tetrazólio e determinações dos teores de óleo, proteína e ácidos

graxos livres. O lote 3 da cultivar Tabarana apresentou maior germinação

comparativamente aos demais. Pelo teste de tetrazólio, a viabilidade de

sementes foi similar entre lotes e cultivares. A maior emergência de plântulas

verificou-se no lote 3 da cultivar Tabarana. Os teores de óleo, proteína e ácidos

graxos livres em sementes de soja foram variáveis entre lotes e refletiram em

diferença média entre cultivares. O teor de proteína foi maior em sementes da

cultivar Tabarana e o teor de óleo apresentou maior valor nas sementes da

cultivar Monsoy 8866. O nível de ácidos graxos livres foi inferior na cultivar

Tucunaré. A composição química de sementes é variável entre cultivares e

lotes e apresenta relação com a qualidade fisiológica de sementes de soja.

Palavras-chave: Glycine max, germinação, vigor, teor de proteína, teor de óleo

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ABSTRACT

DELARMELINO, Leisli Maira. Federal University of Pelotas, in august 2012.

Chemical composition and physiological quality of soybean seeds.

Advisor: Prof. Dr. Francisco Amaral Villela

This work aimed to establish the relationship between the variability of chemical

composition and physiological quality of soybean seeds. Three lots were used

for the cultivars Tabarana, Tucunaré and Monsoy 8866. The analyzes were

germination, seedling emergence, tetrazolium test, oil content, protein and free

fatty acids. The lot 3 of Tabarana cultivar presented higher germination

compared to the others. By the tetrazolium test, the seed viability was similar

between lots and cultivars. The seedling emergence was higher in Tabarana

cultivar and also from seeds of lot 3. The contents of protein, oil free fatty acids

in soybean seeds were variable between lots and reflected in the average

difference between cultivars. The protein content was higher in Tabarana

cultivar and oil content showed higher value in cultivar Monsoy 8866. The free

fatty acids was lower in seeds of Tucunaré cultivar. The chemical composition

varies among seed cultivars and lots, maintaining relationship the quality of

soybean seeds.

Keywords: Glycine max, germination, vigor, content protein, content oil

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1

INTRODUÇÃO

A soja é planta de ciclo anual, cuja produção estimada para a safra de

2011/2012, foi superior a setenta milhões de toneladas. Os grãos são utilizados

como fonte de proteína e para a produção de óleo, representando de 20 a 24%

de todos os tipos de óleos e gorduras consumidos no mundo.

O emprego de sementes com potencial superior representa um dos

fatores a considerar na obtenção de altas produtividades. A avaliação da

qualidade fisiológica de sementes é rotineiramente utilizada para determinar o

desempenho de cultivares e lotes, sendo a mensuração deste conjunto de

parâmetros, avaliada pela associação entre viabilidade e vigor. A viabilidade

pode ser aferida por metodologias que analisam o processo germinativo ou a

capacidade de redução do sal de tetrazólio, através de reação catalisada por

enzimas desidrogenases. O vigor consiste na expressão de um conjunto de

processos fisiológicos, governados por mecanismos de sinalização celular,

envolvendo alocação, hidrólise e translocação de assimilados para o embrião.

Este parâmetro fisiológico pode ser determinado pela avaliação da capacidade

de reorganização de membranas celulares, pela associação de mecanismos

enzimáticos e quantificação de compostos de reserva. Ainda, pode ser

estimado pelo teste de emergência de plântulas, que pode expressar

visualmente os processos envolvidos na retomada do crescimento.

A maioria das cultivares de soja apresenta sementes com 30 a 45% de

proteína, 15 a 25% de lipídeos, 20 a 35% de carboidratos e cerca de 5% de

cinzas. Sementes de soja de diferentes cultivares podem apresentar

variabilidade quanto à composição química, bem como sementes de lotes da

mesma cultivar produzidos sob diferentes condições ambientais, com

potenciais reflexos sob a qualidade fisiológica. Neste contexto, a composição

química da semente pode influenciar quali-quantitativamente na disponibilidade

de compostos passíveis de pronta utilização pelo embrião, afetando o processo

germinativo de sementes.

O presente trabalho teve por objetivo estabelecer relação entre a

variabilidade da composição e a qualidade fisiológica das sementes de soja.

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REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A soja (Glycine max L. Merrill) é uma Fabaceae, originária do

extremo Oriente, que possui ciclo anual variável de 90 a 160 dias.

Originariamente, era planta subtropical, mas com o melhoramento genético,

atualmente pode ser cultivada até a latitude de 52ºN.

Na China, a espécie é cultivada há milhares de anos. Em 1920,

agricultores americanos iniciaram o cultivo da soja em larga escala, destinada

principalmente como insumo para ração animal (HIN, 2002). No Brasil, foi

introduzida no Estado do Rio Grande do Sul de 1960 até 1970, sendo que

cerca de 80% da produção nacional de soja concentrava-se na região Sul.

Atualmente, o cultivo avançou pelo Cerrado chegando até a região Norte do

país (SCHNEPF et al., 2001).

O melhoramento genético tem desempenhado importante papel na

ocupação agropecuária da região Centro-Oeste, para adaptar a cultura da soja

ao cerrado (SPEHAR et al., 1993). No cenário mercadológico, destaca-se para

a soja, a produção estimada de 71,9 milhões de toneladas para a safra de

2011/2012 (ABIOVE, 2012). Enquanto, a Associação Brasileira das Indústrias

de Óleo Vegetal tem a projeção que a quantidade a ser processada pela

indústria poderá chegar a 36,2 milhões de toneladas.

O grão desta espécie é líder mundial na produção de óleos vegetais,

representando entre 20 e 24% de todo o óleo e gordura consumido no mundo.

No Brasil, este percentual é superior a 50% em produtos alimentícios

(MOREIRA et al., 1999). O teor de óleo no grão atinge em média 18 a 20%,

correspondendo, em média a 600 kg de óleo por hectare. No processamento

de 100 kg de grãos de soja são produzidos em média 79 kg de farelo, com

cerca de 50% de proteína e 18,4 kg de óleo (MOREIRA et al., 1999). Enquanto,

a maioria das cultivares de soja apresenta de 30 a 45% de proteínas, 15 a 25%

de lipídeos, 20 a 35% de carboidratos e cerca de 5% de cinzas em suas

sementes.

A qualidade fisiológica da semente é avaliada por meio de dois

atributos fundamentais, a viabilidade e o vigor. A viabilidade é determinada

principalmente pelo teste de germinação e procura determinar a máxima

germinação de sementes sob condições favoráveis. O vigor detecta aspectos

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mais sutis da qualidade fisiológica não revelados pelo teste de germinação,

constitui o reflexo do conjunto de características que determinam seu potencial

fisiológico, ou seja, a capacidade de apresentar adequado desempenho sob

diferentes condições de ambiente (MARCOS FILHO, 1999).

Sob o ponto de vista bioquímico, o vigor envolve a biossíntese de

energia e de compostos metabólicos como, proteínas, ácidos nucléicos,

carboidratos e lipídeos associados à atividade celular, à integridade das

membranas celulares e ao transporte e utilização de substâncias de reserva

(AOSA, 1983). Neste sentido, segundo Carvalho e Nakagawa (2000), tanto o

vigor quanto o potencial de armazenamento das sementes são influenciados

pela quantidade dos compostos presentes na semente e, de modo geral,

quanto maior o teor de reservas, maior será o vigor das plântulas formadas.

Os processos fisiológicos de germinação e vigor são influenciados

pelos teores de proteína, lipídio, açúcar e amido. Sementes com baixo vigor

podem estar sujeitas à redução da velocidade de emergência, produção de

biomassa seca e nas taxas de crescimento das plantas, podendo afetar o

estabelecimento e o desempenho da cultura ao longo do ciclo, reduzindo a

produtividade (SCHUCH et al., 2000; MELO et al., 2006).

O principal objetivo do teste de germinação é determinar o potencial

máximo de germinação de um lote de sementes. Utilizado para comparar a

qualidade de diferentes lotes, também possibilita estimar o valor para

semeadura em campo (BRASIL, 2009). A condução de um teste em condições

de campo geralmente não é satisfatória, pois devido às variações das

condições ambientais, os resultados nem sempre podem ser reproduzidos

fielmente.

Métodos de análise em laboratório, efetuados em condições

controladas, têm sido estudados e desenvolvidos de maneira a permitir uma

germinação mais regular, rápida e completa das amostras de sementes de uma

determinada espécie. As condições consideradas favoráveis são padronizadas

para que os resultados dos testes de germinação possam ser reproduzidos e

comparados, dentro de limites tolerados pelas Regras para Análise de

Sementes (BRASIL, 2009).

A germinação de sementes em laboratório expressa a emergência e

o desenvolvimento das estruturas essenciais do embrião, demonstrando sua

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aptidão para produzir uma planta normal, sob condições favoráveis de campo.

Além disso, a porcentagem de germinação de sementes corresponde à

proporção do número de sementes que produziu plântulas normais, em

condições e períodos especificados.

O tetrazólio é um teste bioquímico que pode ser empregado para

avaliação da viabilidade das sementes após tratamentos pré-germinativos, do

vigor, danos por secagem, insetos e por umidade. Além disso, para detectar

danos mecânicos na colheita e/ou beneficiamento.

No teste topográfico de tetrazólio, as sementes são submetidas à

embebição em solução incolor de 2, 3,5 trifenil cloreto ou brometo de tetrazólio

usada como indicador para revelar o processo de redução que acontece nas

células vivas. Neste processo, os íons de H+ liberados durante a respiração dos

tecidos vivos são transferidos pela desidrogenase do ácido málico e interagem

com o tetrazólio, que é reduzido a um composto vermelho, estável e não

difusível, denominado trifenil formazan. Esta reação verifica-se no interior das

células vivas, assim o composto não se difunde, ocorrendo a separação dos

tecidos vivos coloridos que respiram, daqueles mortos que não apresentam

coloração (BRASIL, 2009).

O objetivo principal do teste de tetrazólio é distinguir as sementes

viáveis das não viáveis. Uma avaliação cuidadosa, baseada nos padrões de

coloração e de sanidade dos tecidos, torna possível separar diferentes

categorias de sementes dentro desses dois grupos.

As sementes viáveis são potencialmente capazes de produzir

plântulas normais em um teste de germinação, sob condições favoráveis,

depois de superada a dormência, ou após a desinfecção, se necessária. Tais

embriões colorem completamente e, se parcialmente coloridos, os padrões de

coloração apresentados ainda indicam que a semente é viável. Porções

variáveis de tecido necrosado podem ser encontradas em diferentes regiões

desses embriões parcialmente coloridos. A posição e o tamanho das áreas

necrosadas e não necessariamente a intensidade da coloração, determinam se

tais sementes podem ser classificadas como viáveis. Estas diferenças de

coloração devem também estar associadas à firmeza dos tecidos para serem

consideradas como decisivas no reconhecimento e classificação das sementes

viáveis.

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As sementes não viáveis não se enquadram nos requisitos

anteriores e apresentam colorações não bem caracterizadas ou definidas e,

ainda, com estruturas essenciais flácidas ou não coloridas. Sementes com

desenvolvimento anormal do embrião ou de outra estrutura essencial devem

ser consideradas não viáveis, independentemente se estão coloridas ou não.

Para uma avaliação cuidadosa das sementes é necessário expor o

embrião e todas as estruturas essenciais, sendo indispensável o uso de

iluminação e microscópio estereoscópico ou lupa. A maioria das sementes

contém tecidos essenciais e não essenciais. São considerados tecidos

essenciais os meristemas e todas as estruturas necessárias ao

desenvolvimento normal da plântula. Embriões bem desenvolvidos e

diferenciados podem ter a habilidade de superar pequenas necroses. Neste

caso, as necroses superficiais de pequena extensão podem ser toleradas,

mesmo se localizadas dentro dos tecidos essenciais.

As proteínas são compostos poliméricos complexos formados por

moléculas orgânicas e estão presentes em toda matéria viva. São compostas

por aminoácidos, classificados em essenciais e não essenciais. Os essenciais

são aqueles que o organismo não sintetiza ou sintetiza em quantidade inferior à

necessária, enquanto os não essenciais são sintetizados pelo organismo

(SOARES, 2008). Existem vários aminoácidos essenciais que por não serem

sintetizados pelo organismo, devem estar presentes na dieta, podendo a falta

ocasionar problemas à saúde (MOLINA et al., 2001).

A qualidade da proteína é avaliada pela composição em

aminoácidos. A proteína da soja é comumente relatada, como a única proteína

vegetal com qualidade semelhante à encontrada nos produtos de origem

animal, pela presença dos nove aminoácidos essenciais aos humanos (SOUZA

et al., 2010). Neste contexto, Silva et al. (2006) relatam que o grão de soja

apresenta 40% de proteína em sua composição, além dos aminoácidos

histidina, isoleucina, leucina, lisina, metionina, cistina, fenilalanina, tirosina,

treonina, triptofano e valina em quantidades maiores do que as recomendadas

pelo padrão de referência Food and Agriculture Organization of de United

Nations (FAO / WHO) para crianças em idade pré-escolar.

Segundo Ziegler (1995), os carboidratos, lipídios e proteínas de

reserva são utilizados na formação de componentes estruturais durante o

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crescimento da plântula. Bewley e Black (1994) afirmam que carboidratos pré-

formados na semente servem como substrato na respiração, durante o período

pré-germinativos. Óleos e gorduras podem ser encontrados em células de

origem animal, vegetal ou microbiana. São os maiores componentes do tecido

de adiposo, e, juntamente com proteínas e carboidratos, constituem os

principais componentes estruturais das células vivas. As gorduras exercem

funções nutricionais importantes, suprindo energia e ácidos graxos essenciais,

além do transporte das vitaminas lipossolúveis para o interior das células.

Responsáveis pelo isolamento térmico e permeabilidade das paredes celulares;

contribuem para o sabor e palatibilidade dos alimentos e também para a

sensação de saciedade após a alimentação (RIBEIRO, 2007).

O grão de soja apresenta em torno de 20% de óleo, constituindo-se

em fonte de energia e ácidos graxos essenciais. Do total de lipídios, 86% são

ácidos graxos insaturados e 60% destes são constituídos pelos ácidos graxos

essenciais oléico, linoléico e linolênico (VIOLA, 2008).

O índice de acidez é um fator qualitativo a ser considerado nos

grãos de soja por influenciar no maior ou menor custo da industrialização desse

produto. É importante ressaltar que para a obtenção de um produto final

industrializado com alta qualidade, é necessário que a matéria prima seja

dotada de características superiores. Grãos de soja com elevados índices de

danos mecânicos, secos com procedimentos inadequados e armazenados em

ambientes impróprios, resultam na produção de óleos de baixa qualidade e

aumentam o custo de produção. Grãos com estas características estão mais

susceptíveis à rancificação, alteração de coloração e maior índice de acidez.

Entre os fatores de degradação de lipídios, segundo Araújo (2004), a

oxidação é a principal causa e altera diversas propriedades dos alimentos

como a qualidade sensorial, o valor nutricional, a funcionalidade e a toxidez.

Afirma ainda que, embora a oxidação inicie geralmente na fração lipídica,

eventualmente, as proteínas, vitaminas e pigmentos são afetados. Além disso,

durante a secagem ocorrem três fenômenos simultâneos, de modo que as

moléculas componentes do alimento aproximam-se e aumentam a

possibilidade de interação entre elas; a remoção da água acarreta a formação

de microcapilares no produto, facilitando o acesso físico do oxigênio

atmosférico e o aumento da sensibilidade química dos seus componentes,

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devido à remoção da água de hidratação que é protetora dos locais reativos

das moléculas do alimento.

Segundo Liu (1997), a redução na qualidade da soja durante o

armazenamento é caracterizada pela redução da viabilidade e da germinação,

alteração na coloração, redução na absorção de água, variação na composição

química, na qualidade da proteína e do óleo. Para o mesmo autor, danos

causados pelo calor constituem-se na principal causa da redução de qualidade.

O escurecimento do tegumento é caracterizado por controles inadequados da

temperatura e da umidade dos grãos durante a armazenagem e o transporte. A

limpeza depois da secagem pode minimizar danos térmicos durante o

armazenamento.

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MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi conduzido em um laboratório de análise de sementes

em Sapezal e as análises físico-químicas realizadas em um laboratório em

Cuiabá, no Estado de Mato Grosso.

Foram utilizadas sementes de soja produzidas em Sapezal na safra

2010/2011, cultivares Tabarana, Tucunaré e Monsoy 8866. Para a escolha das

cultivares, foi considerada a representatividade em quantidade de sementes no

Estado. Estima-se que a produção das três cultivares em questão atinge 60 %

do total de sementes comercializado na safra 2010/2011.

Para execução das análises nos laboratórios, foram coletadas

amostras 1,5 kg por lote de sementes de cada cultivar, sendo utilizados três

lotes para cada cultivar. Para a avaliação da qualidade fisiológica e

composição química de sementes foram empregados os seguintes testes:

Teste de germinação: foram empregadas 400 sementes, distribuídas

em 8 repetições de 50. A semeadura foi em rolos de papel, sendo as sementes

dispostas sobre duas folhas de papel previamente umedecidas com 2,5 vezes

o peso do papel seco com água destilada, com pH entre 6,0 e 7,5 e cobertas

com outra folha. Os rolos, devidamente identificados, foram dispostos em

germinador, acondicionados em posição vertical em recipientes plásticos e

mantidos em sala de germinação, a temperatura de 25 °C. A avaliação foi

realizada oito dias após a semeadura e os resultados foram expressos em

porcentagem de plântulas normais (BRASIL, 2009).

Teste de emergência em areia: para tal a areia foi previamente lavada

e peneirada. O cálculo da quantidade de água utilizada para umedecer a areia

foi para a família Fabaceae e utilizando 60% da capacidade de retenção de

água (BRASIL, 2009). As sementes foram distribuídas sobre uma camada de

5-6 cm de areia umedecida em bandeja de polietileno e cobertas por outra

camada de 1-2 cm de espessura. A distribuição das sementes seguiu

espaçamento uniforme e suficiente para individualizar as plântulas, facilitando a

interpretação, remoção e controle da contaminação decorrente do contato de

sementes e/ou plântulas sadias com aquelas contaminadas por

microrganismos. Cada bandeja foi devidamente identificada com os dados

necessários para a realização do teste (número da amostra e data de

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instalação). A avaliação foi efetuada 5 e 8 dias após a semeadura e os

resultados expressos em porcentagem.

Teste de tetrazólio: realizado por meio de duas repetições de 50

sementes. O papel foi umedecido e com auxílio de contador colocaram-se 50

sementes; dobrado adequadamente para o melhor acondicionamento da

semente e envolvido por um saco plástico, mantidos em temperatura ambiente

(25°C), por um período de 16 horas. Após o pré-condicionamento, as sementes

foram mantidas submersas em copos de plásticos de 50 mL, contendo solução

de tetrazólio (0,50g 1000 mL-1), permanecendo a temperatura de 38°C a 40 °C

no germinador, por 3 horas. As sementes foram avaliadas individualmente,

cortando através do eixo embrionário, observando a diferenciação da cor dos

tecidos vermelho carmim (tecido vivo e vigoroso), vermelho forte (tecido em

deterioração) e tecido leitoso (tecido morto). Após a avaliação, as sementes

foram classificadas em 6 classes da seguinte forma: a) Classe 1: vigor alto; b)

Classe 2: vigor alto; c) Classe 3: vigor médio; d) Classe 4: vigor baixo; e)

Classe 5: vigor muito baixo; f) Classe 7: semente morta.

Para o percentual de sementes com viabilidade, somaram-se os

resultados das classes as classes 1, 2, 3, 4 e 5.

As metodologias aplicadas no laboratório de análises físico-químicas

para a determinação da composição química de sementes seguiram métodos

oficiais da American Oil Chemists´Society (AOCS, 2009).

Teor de óleo: determinado a partir da pesagem de 2,0000 gramas (±

0,0005) de amostra moída de sementes em papel filtro e dobrado conforme

Figura 1. Foram utilizados 50 mL de éter de petróleo dentro do balão

volumétrico, limpo, seco e tarado. Seguiu-se o procedimento de extração a

uma vazão de 150 a 200 gotas por minuto e tempo de extração de 12 horas.

Após a extração, seguiu-se a etapa de recuperação do solvente, deixando

evaporar todo o solvente e levando o balão volumétrico para estufa a 130 ºC,

por aproximadamente 15 minutos. A seguir, o balão foi pesado após ser

resfriado em dessecador, até atingir a temperatura ambiente. O teor de óleo foi

expresso em porcentagem.

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Figura 1. Procedimento de dobradura do papel para extração de óleo

com éter de petróleo.

Teor de proteína: determinada pelo método Kjeldahl, a partir da

pesagem de 1,0000g (± 0,0005) da amostra de sementes secada em estufa a

130ºC por 40 minutos e então submetida à moagem. Após, o material foi

transferido para balão de digestão de 800 mL e adicionada a mistura catalítica

composta por 16,7g de Na2SO4 + 0,01g CuSO4 + 0,6g de TiO2. A seguir,

adicionaram-se 30 mL de ácido sulfúrico para arrastar os resíduos e a mistura

catalítica aderidos à parede do balão, sendo em etapa posterior realizada a

digestão completa da amostra. A solução foi resfriada, sendo adicionado 400

mL de água destilada no balão, para diluição completa de todo o precipitado

existente. Em erlenmeyer de 500 mL foram adicionados 80 mL de solução de

ácido bórico 2%, seguido da adição de 85 mL de solução de hidróxido de sódio

50%, escorrendo pelas paredes do balão. Foi realizado o processo de

destilação completa e o destilado então, foi titulado com solução de ácido

sulfúrico 0,1143N até a cor púrpura (AOCS, 2009). O teor de proteína foi

expresso em porcentagem e o fator de conversão empregado foi de 6,25. Para

transformar o percentual de nitrogênio em proteína, considerou-se que a

proteína contém 16% de nitrogênio referente à composição centesimal da

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cadeia (molécula) de proteína na soja.

Teor de ácidos graxos: quantificados a partir da pesagem de uma

amostra de 250 gramas de semente de soja seca e moída, em bécker de 500

mL. A seguir, foi adicionado hexano, sendo a mistura homogeneizada

vigorosamente com auxílio de um bastão de vidro. Após a decantação da parte

sólida, o material foi filtrado para um balão de 250 mL fundo chato tarado, com

auxílio de um funil de vidro e papel filtro. Este procedimento foi repetido até a

extração completa do óleo contido nas sementes de soja moída. Procedeu-se a

etapa de evaporação do solvente, ficando no balão somente o óleo. O balão foi

então levado à estufa 130°C, por 1 hora e pesado após atingir temperatura

ambiente em dessecador. Após, foi adicionado ao balão 75 mL álcool etílico

aquecido e neutralizado. O óleo foi titulado com solução de hidróxido de sódio

0,1N, agitado vigorosamente até a formação da coloração rosa permanente,

por um período de 30 segundos (AOCS, 2009). Os ácidos graxos livres

(acidez) foram expressos em porcentagem.

O delineamento experimental foi inteiramente ao acaso, com nove

tratamentos (três cultivares versus três lotes), com quatro repetições. A

comparação de métodos pelo teste de Duncan em nível de probabilidade de

5%.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir dos resultados obtidos é possível observar que não houve

diferenças significativas na germinação das sementes das três cultivares. No

entanto, entre lotes de mesma cultivar, a germinação apresentou variações

expressivas (Tabela 1).

Para a cultivar Tabarana, o lote 3 apresentou maior germinação

comparativamente aos demais (Tabela 1). Na cultivar Tucunaré, as sementes

do lote 1 atingiram maior germinação e na cultivar Monsoy 8866, as sementes

dos lotes 2 e 3 obtiveram inferior desempenho na retomada do crescimento do

embrião. Diferenças no processo germinativo de sementes podem ser reflexos

das diferentes condições edafoclimáticas de cultivo, que refletem tanto na

síntese de quanto na alocação de fotoassimilados na semente. Ainda,

consequência do efeito estressor de determinada condição do ambiente sobre

o desenvolvimento da semente ou sobre o sistema enzimático hidrolítico,

resultando em menor hidrólise e também menor capacidade de remobilização

de assimilados para o embrião.

Tabela 1. Germinação de três lotes de sementes de soja, cultivares Tabarana,

Tucunaré e Monsoy 8866. Pelotas, 2012

Germinação (%)

Cultivar Lote 1 Lote 2 Lote 3 Média

Tabarana 87 b* 85 b 95 a 88

Tucunaré 92 a 88 b 86 b 89

Monsoy 8866 89 a 83 b 76 c 83

CV (%) 2,4

*Médias seguidas da mesma letra minúscula na linha não diferem entre si pelo teste de Duncan

em nível de probabilidade de 5%.

Eichelberger et al. (2002) observaram a existência de correlação

positiva entre a germinação e o teor de proteína solúvel em sementes de

azevém. Tais afirmações corroboram aos resultados de germinação e proteína

obtidos para a cultivar Monsoy 8866. Além disso, evidenciam a relação entre

estes constituintes químicos e a qualidade fisiológica de sementes (HENNING

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et al., 2010).

A maior emergência, para a cultivar Tabarana, ocorreu em plântulas

originadas a partir de sementes do lote 3 (Tabela 2). Tal evento confirma o

melhor resultado do teste de germinação obtido neste lote e indica a

superioridade na expressão do vigor das referidas sementes. Os lotes de

sementes das cultivares Tucunaré e Monsoy 8866, mesmo apresentando

diferença na germinação, mostraram similaridade quanto à emergência de

plântulas. Fato que, em parte, pode ser explicado pela variabilidade na

qualidade entre sementes que compõem um mesmo lote.

Tabela 2. Emergência de plântulas de três lotes de sementes de soja,

cultivares Tabarana, Tucunaré e Monsoy 8866. Pelotas, 2012

Emergência de plântulas (%)

Cultivar Lote 1 Lote 2 Lote 3 Média

Tabarana 75 b* 75 b 87 a 79

Tucunaré 79 a 76 a 70 a 75

Monsoy 8866 81 a 77 a 77 a 78

CV (%) 7,2

*Médias seguidas da mesma letra minúscula na linha não diferem entre si pelo teste de Duncan

em nível de probabilidade de 5%.

O menor valor de viabilidade das sementes, verificada pelo teste de

tetrazólio, foi de 89% (lote 3 da cultivar Tucunaré) e o maior foi 94% (lote 3 da

cultivar Tabarana) embora não tenham diferido dos demais lotes das cultivares

Tabarana, Tucunaré e Monsoy 88966 (Tabela 3). Neste sentido, sementes

provenientes de lotes e cultivares distintas apresentaram similar qualidade e,

possivelmente, semelhante eficiência da enzima desidrogenase em reduzir o

sal de tetrazólio.

Em valor absoluto, o lote 3 da cultivar Tabarana apresentou maior

germinação (95%), maior emergência de plântulas (87%) e maior viabilidade

(94%), conforme as Tabelas 1, 2 e 3.

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Tabela 3. Viabilidade de três lotes de sementes de soja, cultivares Tabarana,

Tucunaré e Monsoy 8866. Pelotas, 2012

Viabilidade (%)

Cultivar Lote 1 Lote 2 Lote 3 Média

Tabarana 90a 91a 94ª 91

Tucunaré 91a 93a 89ª 92

Monsoy 8866 92a 90a 91ª 91

CV (%) 3,4

*Médias seguidas da mesma letra minúscula na linha não diferem entre si pelo teste de Duncan em nível de probabilidade de 5%.

O teor de proteína em sementes de soja foi variável entre lotes (Tabela

4). Sementes dos lotes 2 e 3 da cultivar Tabarana e do lote 1 da cultivar

Tucunaré apresentaram os maiores teores de proteína. Na cultivar M-Soy

8866, os teores mais elevados foram obtidos em sementes dos lotes 1 e 2.

Em relação ao teor de proteína entre cultivares verificou-se variação

entre lotes da mesma cultivar (Tabela 4). Em média, as sementes dos lotes da

cultivar Tabarana apresentaram maior teor de proteína, seguida pela Tucunaré

e Monsoy 8866. A diferença de teor de proteína entre as sementes da cultivar

Tucunaré e as da cultivar Monsoy 8866 atingiu 1,5 pontos percentuais.

Tabela 4. Teor de proteína de três lotes de sementes de soja, cultivares

Tabarana, Tucunaré e Monsoy 8866. Pelotas, 2012

Teor de Proteína (%)

Cultivar Lote 1 Lote 2 Lote 3 Média

Tabarana 39,57 c 40,74 a 39,82 b 40,04

Tucunaré 38,70 c 39,91 a 39,03 b 39,21

Monsoy 8866 38,01 a 37,85 a 37,28 b 37,71

CV (%) 0,42

Médias seguidas da mesma letra minúscula na linha não diferem entre si pelo teste de Duncan

em nível de probabilidade de 5%.

O teor de proteína é regulado geneticamente, entretanto, a

concentração de proteínas em sementes pode ser influenciada pela

disponibilidade de nitrogênio. Este nutriente se for proveniente da fixação

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simbiótica é empregado para na formação da semente. Neste sentido, a

maximização da fixação simbiótica pode contribuir para a maior concentração e

para a elevação do teor de proteína em sementes de soja (ÁVILA et al., 2007).

O teor de óleo apresentou diferença de acordo com a cultivar e o lote

de sementes (Tabela 5). O teor de óleo quantificado em sementes da cultivar

Tabarana foi maior no lote 2 e menor no lote 1. Na cultivar Tucunaré,

superiores teores foram obtidos em sementes dos lotes 1 e 3. Enquanto, na

Monsoy 8866, sementes do lote 1 mostraram superioridade relativamente ao

lote 3 e similaridade em relação ao lote 2.

Em relação à média do teor de óleo, a diferença entre as cultivares, em

média não excedeu a 0,84 pontos percentuais. Segundo Ávila et al. (2007), os

teores de óleo e de proteína em sementes de soja são reflexo da interação

genótipo e ambiente. Assim, as variações na síntese podem ser atribuídas às

condições edafoclimáticas de cultivo.

A associação entre os teores médios de proteína e de óleo aferidos nos

lotes das três cultivares permitem verificar que, o aumento no teor de proteína

coincidiu com a redução do teor de óleo na cultivar Tabarana. Por outro lado, o

menor teor de proteína em sementes da cultivar Monsoy 8866 corrobora o

superior teor de óleo e evidencia a relação negativa entre estas características

químicas. Segundo Moraes et al.(2006), o aumento do teor de proteína em

linhagens de soja ocorre concomitantemente com a redução no teor de óleo e

de carboidratos totais. A redução no teor de carboidratos totais em sementes

pode influenciar negativamente o processo germinativo e no vigor de plântulas,

por afetar a disponibilidade de carboidratos solúveis disponíveis e absorvíveis

pelo embrião.

Os teores de ácidos graxos livres de sementes de soja foram menores

naquelas provenientes do lote 1 da cultivar Tabarana (Tabela 6). A máxima

diferença observada entre as médias de cultivares não passou de 0,042 pontos

percentuais.

O incremento na porcentagem de ácidos graxos livres pode ser

atribuído à superior atividade hidrolítica de enzimas lipases sobre os

triacilgliceróis (JORGE et al., 2012).

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Tabela 5. Teor de óleo de três lotes de sementes de soja, cultivares Tabarana,

Tucunaré e Monsoy 8866. Pelotas, 2012.

Teor de óleo (%)

Cultivar Lote 1 Lote 2 Lote 3 Média

Tabarana 20,80 c* 21,55 a 21,09 b 21,14

Tucunaré 21,28 a 21,06 b 21,33 a 21,23

Monsoy 8866 22,10 a 21,99 ab 21,84 b 21,98

CV (%) 0,62

*Médias seguidas da mesma letra minúscula na linha não diferem entre si pelo teste de Duncan

em nível de probabilidade de 5%.

Cabe salientar que a síntese de ácidos graxos livres pode estar entre

as reações bioquímicas decorrentes de condições adversas de cultivo. Nestas

condições, lipídeos da membrana celular estão sujeitos à ação de radicais

livres e podem sofrer peroxidação. Desse modo, a maior quantidade de ácidos

graxos livres, também pode estar relacionada a alterações bioquímicas nestas

estruturas.

Tabela 6. Ácidos graxos livres em três lotes de sementes de soja, cultivares

Tabarana, Tucunaré e Monsoy 8866. Pelotas, 2012.

Acidez (%)

Cultivar Lote 1 Lote 2 Lote 3 Média

Tabarana 0,601 b* 0,728 a 0,772 a 0,699

Tucunaré 0,685 a 0,685 a 0,660 a 0,677

Monsoy 8866 0,702 a 0,730 a 0,728 a 0,719

CV (%) 6,9

*Médias seguidas da mesma letra minúscula na linha não diferem entre si pelo teste de Duncan

em nível de probabilidade de 5%.

Em sementes de arroz, Biaggioni e Barros (2006) constataram que ao

aumentar o teor de ácidos graxos livres ocorreu a diminuição da germinação.

No presente trabalho foi verificado resultado semelhante para as cultivares de

soja estudadas, sendo o maior valor médio de acidez encontrado (acidez:

0,719%) e o menor valor médio de germinação (germinação: 83%) foi

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encontrado na cultivar M-SOY 8866.

Da mesma maneira, o menor valor de acidez médio (acidez: 0,677%)

coincidiu com o maior teor médio de germinação (germinação: 89%) para a

cultivar Tucunaré.

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CONCLUSÕES

A composição química de sementes de soja é variável entre as

cultivares Tabarana, Tucunaré e Monsoy 8866 e entre lotes.

O aumento no teor de proteína coincide com a redução no teor de óleo

em lotes de sementes de soja da mesma cultivar.

Os teores ácidos graxos insaturados apresentam relação com a

germinação de sementes de soja.

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