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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO - UFOP ESCOLA DE FARMÁCIA CIPHARMA PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS MARIANA COSTA AZEVEDO ESTUDO DE ATIVIDADES BIOLÓGICAS DOS EXTRATOS DE FOLHAS DE Psychotria viridis (Ruiz & Pav.) E DE CAULES DE Banisteriopsis caapi [(Spruce ex Griseb) C.V. Morton] E INCORPORAÇÃO EM FORMULAÇÕES MICELARES OURO PRETO - MG 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO - UFOP

ESCOLA DE FARMÁCIA

CIPHARMA

PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS

MARIANA COSTA AZEVEDO

ESTUDO DE ATIVIDADES BIOLÓGICAS DOS EXTRATOS DE FOLHAS DE

Psychotria viridis (Ruiz & Pav.) E DE CAULES DE Banisteriopsis caapi [(Spruce ex

Griseb) C.V. Morton] E INCORPORAÇÃO EM FORMULAÇÕES MICELARES

OURO PRETO - MG

2018

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MARIANA COSTA AZEVEDO

ESTUDO DE ATIVIDADES BIOLÓGICAS DOS EXTRATOS DE FOLHAS DE

Psychotria viridis (Ruiz & Pav.) E DE CAULES DE Banisteriopsis caapi [(Spruce ex

Griseb) C.V. Morton] E INCORPORAÇÃO EM FORMULAÇÕES MICELARES

Dissertação de mestrado apresentada ao

Programa de Pós-graduação em Ciências

Farmacêuticas da Escola de Farmácia da

Universidade Federal de Ouro Preto –

UFOP, como requisito para a obtenção do

título de Mestre em Ciências

Farmacêuticas.

Professor orientador: Doutor Orlando David Henrique Dos Santos

OURO PRETO – MG

2018

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À Deus dedico este estudo, pelas Leis que sempre se cumpriram.

Ao meu pai, à minha mãe e aos meus irmãos, pelos cuidados,

ensinamentos e por estarem ao meu lado.

À minha vó Catarina, que partiu deste plano físico

durante a finalização deste, deixando seus ensinamentos

de Fé, amor, compaixão e força.

Aos meus amigos, irmãos de alma, que tornam esta caminhada

mais tranquila e divertida.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente à Deus, pela Vida.

Agradeço ao Prof. Dr. Orlando David Henrique dos Santos, pela oportunidade e orientação.

Pela paciência, atenção e conhecimentos compartilhados durante esta jornada, e pela amizade

que foi estabelecida neste período. Por conduzir este trabalho com paciência e atenção,

possibilitando que esta caminhada fosse mais tranquila. Foi um privilégio trabalhar com você.

Ao querido Prof. Dr. Sidney Augusto Vieira Filho, grande Bibo, um exemplo de mestre e

amigo, que foi essencial para a realização deste estudo, orientando os caminhos e tranquilizando

sempre que o desespero chegava. Ajudou de diversas formas para que este trabalho se

concretizasse: com a empresa de transporte Bibex, sempre à disposição; com os cafézinhos e

trocas de ideias, acadêmicas e sobre coisas da vida; com as palavras de incentivo durante todo

o tempo; com toda ajuda que foi necessária, as quais sempre realizava com imensa boa vontade.

É uma honra ter sua amizade, desde a graduação, e para a posteridade. Agradeço imensamente

por estar do meu lado e ao meu lado, e por compartilhar sua sabedoria comigo.

Ao Prof. Dr. Gustavo Henrique Bianco de Souza, pela amizade, convivência e ensinamentos

desde a graduação, que felizmente permaneceram presentes na pós. Agradeço pela paciência e

prontidão em tirar dúvidas e ajudar sempre que necessário, e também pelas cervejas

compartilhadas.

Ao Prof. Dr. Luiz Fernando Medeiros Teixeira, por disponibilizar seu laboratório com boa

vontade e estar sempre disposto a tirar dúvidas, um grande amigo pelos corredores da Escola e

fora deles também.

Ao Prof. Dr. Geraldo Célio Brandão, também presente em minha vida acadêmica desde a

graduação, docente de disciplinas fundamentais que solidificaram meus conhecimentos,

parceiro de pesquisa no TCC e agora no mestrado, aceitando de boa vontade os convites para

avaliar este trabalho.

Ao Prof. Dr. José Carlos Magalhães, por aceitar os convites para a avaliação destes estudos.

Aos colegas e amigos do Laboratório de Fitotecnologia, por proporcionarem um ambiente de

trabalho fraterno, com muitas risadas e apoio em momentos de dúvidas e necessidade, o melhor

lab do Brasil! Em especial às doutorandas Tatiane Roquete Amparo e Janaína Brandão Seibert

que sempre se dispuseram a ajudar e esclareceram muitos procedimentos experimentais, vocês

são 10. À mestranda Benila Maria Silveira, pela prontidão no apoio e parceria na realização dos

testes microbiológicos, sem sua ajuda uma parte deste estudo estaria incompleta. Aos

doutorandos Luan Bianchini e Fernanda Silva Oliveira e a mestranda Luciana Miranda, que se

dispuseram a ajudar sempre que preciso. A doutoranda Giana Kaufmann sempre disposta a

ajudar, e se tornou uma amiga com direito a passeios na natureza para espairecer a tensão

cotidiana. Minha sincera gratidão a todos, vocês foram essenciais nesta caminhada. Aos

responsáveis pelo laboratório, Orlando, Gustavo e Bibo, por criarem este ambiente amistoso e

influenciarem a amizade, e não a competitividade, entre os integrantes do lab.

Ao Laboratório Multiusuário e seus responsáveis técnicos, Hygor Mezadri, Patrícia Capellari e

Renata Branquinho, exemplos de competência e boa vontade. As análises se tornaram mais

tranquilas com o apoio de vocês.

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Ao CiPharma e à gloriosa Escola de Farmácia de Ouro Preto, seu corpo docente e equipe

técnica, pelo aprendizado e por me acolherem por mais este período da pós. Em especial aos

técnicos: Acácio, Délio e Regiane, e a Mirela. E aqueles que guardam nossa Escola, os amigos

André, Carlos e Alisson (Nem), que permitem que nossa chegada e partida sejam receptivas e

agradáveis e ao pessoal da limpeza pelos cafézinhos revigorantes.

Ao pessoal do Laboratório de Enzimologia e Protêomica do Nupeb/UFOP, coordenado pelo

Prof. Dr. Milton Hércules Guerra, pela recepção agradável, em especial ao técnico Bruno Mattei

que se disponibilizou, com muita boa vontade, a ajudar com o uso do liofilizador desse

laboratório.

À UFOP pelo ensino público de qualidade e pela estrutura fornecida para o bem-estar de seus

estudantes, e a todos seus funcionários. Em especial à Serralheria da UFOP, e seus técnicos,

que atendeu a um pedido de ajuda de forma alegre e disposta.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo financiamento

destes estudos.

Ao perito da Polícia Federal André Dias Cavalcanti, que se tornou um amigo. Agradeço pelos

conhecimentos compartilhados e ideias trocadas, assim como pelas análises e pela boa vontade

ao realizá-las, e por disponibilizar o material vegetal da Chacrona e materiais acadêmicos para

que este estudo pudesse ser realizado. Agradeço também a todo pessoal da Polícia Federal pela

ótima recepção e convivência durante as análises.

Ao Prof. Dr. Ricardo Luiz Narciso Moebus por disponibilizar as amostras vegetais do Jagube,

e também pela paciência, ideias esclarecidas e conhecimentos passados, sempre com boa

vontade.

À Profa. Dra. Adriana Akemi Okuma do Departamento de Química do Centro Federal de

Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG), por partilhar seus estudos de síntese da

DMT e disponibilizar o produto final com boa vontade.

À doutora Juliane de Sousa Lanza pela parceria nas análises e extrema boa vontade em ajudar,

e a todos do Programa de Pós-Graduação em Fisiologia e Farmacologia do Instituto de Ciências

Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) pela recepção amigável

na realização das análises.

À minha família que, mesmo quando longe, sempre zelou por mim e esteve presente a cada

instante através da educação que me foi confiada. Ao meu pai e minha mãe pelo amor

incondicional, apoio infinito e paciência, esta conquista nunca seria possível sem vocês. O

exemplo de força, caráter e educação que me passaram desde pequena faz parte do que sou.

Amo vocês. Aos meus irmãos Davi e Gabriel pela parceria desde sempre, vocês são parte muito

importante na minha caminhada, estaremos junto sempre! A minha amada vó Catarina, que

agora zela por nós de um local onde os olhos não podem enxergar, suas preces, conselhos e

ensinamentos me são essenciais. Ao meu tio Walter, principalmente pelo exemplo de Fé e força,

até mesmo nos momentos mais difíceis. Aos meus queridos avós, Tônico e Cidinha, aos meus

tios, primos e primas.

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Ao Dr. Henrique Nogueira Soares que, mesmo do outro lado do Atlântico, se preocupou com a

estética deste trabalho, com paciência e boa vontade, sem nunca identificar, um salve! Suas

incríveis habilidades e conhecimento de formatação facilitam e melhoram muito o caminho

acadêmico.

À vida republicana de Ouro Preto, que me trouxe tantos amigos e irmãos, reforçando o

significado da palavra fraternidade, e que facilitou mais esta fase de minha vida. À mansão

Bastilha, ao Bonde e aos irmãos Bastilhanos, por me escolherem como parte dessa família e

serem essenciais nesta caminhada, sem a fraternidade e cuidados de vocês nada disso seria

possível, em especial Bicudo, B3, Botâniko, Bomba Trance, Carneiro, Disgosto, E.T.,

Integrante, Gustavo, Kiosky, Keymar, Lei-de-Gaga, Makumba, Virruga, Xuazinéguer e Xubak.

À querida Maracangalha, ao Quardidois e aos irmãos Maracangalhanos, por estarem sempre ao

meu lado e me permitirem sentir em casa, o apoio e acolhida de vocês sempre me foram

necessários e revigorantes, em especial Sumidu e Sargento, presentes desde o começo desta

caminhada pela Terra do Nunca, e Abrobra, Celibato, Chico Bento, DiBr, Jack Sparros, Kinum,

Listerine, Massacration, Mini-Crack, Paulo 13, Resguardo e Surfista. Aos amigos Aliviado,

Custelinha, Duh, Duenti, Fala Grosso, Google, Kidó, Madá, Marcelão (Índio), Mute, Nefertite,

Pracinha, Polícia, Samuel, Sevira e Vassoura. Às Repúblicas Cantinho do Céu, Doce Mistura,

Nau sem Rumo, Sparta, UPA (folgados) e Virada pra Lua. Um salve a todos vocês, que o

Rock’n’Roll e a fraternidade nunca morram neste Outro Planeta.

À família Wushu, por me passarem seus ensinamentos e tradições milenares e pelas amizades

consolidadas durante os treinos, as quais seguirão pela posteridade. Em especial Tiago (Moita),

Walliston, Gilney, Oshiro-san, Lazarus, Pedro (Curirin), Léo, Otho, Camila e Bruno. Um

grande xièxiè a todos vocês.

Ao Barroco, pelos inúmeros baldões e rolês inusitados, o Bar das Coxa faz parte da história de

muitos que por Ouro Preto passaram, inclusive da minha. Valeu Antônio e cia.

À família Oliveira, sempre gentis e prestativos, em especial Elaine, por serem os melhores

locadores que tive nesta cidade, permitindo que eu tivesse um lar com um ambiente tranquilo e

familiar durante estes dois anos finais.

Ao Seu Bibi e a todos da padaria, e também à Colega, pela gentileza e alegria cotidiana que

sempre estavam presentes em seus dias de serviço, e contagiavam os meus dias.

Aos amigos de longa data cuja distância nunca afastou, uma sorte boa que a vida em Santa Rita

Rock City do Sapucaí me trouxe. Em especial Muleki, Anormal, Kblo, Lia, Coxinha, Mingau,

André, Pelife, Derwão, Arvin, Pokémon, Chocooky, Haruo, Júlia, Lilith, afilhada querida,

Giovanni Bruno, Deborah, Lion, Digão, Dani-mãe, Kbça, Seu Agente e Débora Daniela. Um

salve à vocês, que transformam Santa Roots em uma cidade menos pacata, cheia de boas

histórias e bons companheiros, as férias não seriam tão revigorantes sem a presença de vocês.

E a todos que, mesmo indiretamente, tornaram possível a concretização deste trabalho.

“Diante da vastidão do tempo e da imensidão do universo, é uma imensa alegria para mim

dividir um planeta e uma época com vocês.”

Carl Sagan

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“A Fé é uma estrela luminosa que guia o investigador através dos segredos da

Natureza. É preciso que busqueis vosso ponto de apoio em Deus e que coloqueis a vossa

confiança num credo divino, forte e puro.... A Medicina se fundamenta na Natureza, a

Natureza é a Medicina, e somente naquela devem os homens buscá-la. A Natureza é o mestre

do médico, já que ela é mais antiga do que ele, e ela existe dentro e fora do homem.”

Philippus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim (Paracelso)

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RESUMO

Este trabalho se baseia na obtenção de extratos de polaridade crescente a partir de caules do

cipó Banisteriopsis caapi, também conhecido como Mariri ou Jagube, e de folhas de Psychotria

viridis, também conhecida como Chacrona ou Rainha. Estas plantas foram utilizadas, em

associação para o preparo de um chá (Ayahuasca), originalmente por povos indígenas latino-

americanos em rituais religiosos. Sabe-se que este chá possui ações psicoativas, e acredita-se

que isso ocorra em função da presença do alcaloide indólico N,N-dimetiltriptamina (DMT), um

agonista dos receptores serotoninérgicos, nas folhas da Chacrona. A DMT é ativa oralmente

pela ação de alcaloides beta-carbonílicos presentes nos caules do Jagube, a harmina, a

harmalina e a tetrahidroharmina, que inibem a enzima monoaminooxidase (MAO) a qual

degrada a DMT. Outras ações farmacológicas foram demonstradas em pesquisas com a DMT

e extratos de folhas da P. viridis, como atividade antitumoral e inibição da acetilcolinesterase

(AChE). O extrato aquoso de B. caapi é utilizado para tratar pacientes acometidos com a doença

de Parkinson, uma vez que os alcaloides contidos nesse cipó têm a capacidade de inibir a enzima

MAO e estimular a liberação de dopamina, dois mecanismos que melhoram os sintomas dessa

doença. O presente estudo demonstrou que os extratos metanólico e etanólico de folhas da

Chacrona possuem a molécula DMT, enquanto que os extratos acetato de etila e metanólico de

caules do Jagube contêm alcaloides beta-carbonílicos. Os extratos, de ambas as plantas, onde

foram detectadas a presença de alcaloides demonstraram melhores atividades biológicas nos

testes realizados. Das dezoito espécies de bactérias testadas, os extratos de folhas de Chacrona

apresentaram atividade antibacteriana moderada para quatro espécies e fraca atividade para

onze bactérias testadas, enquanto que os extratos de caules de Jagube demonstraram fraca

atividade para três bactérias e forte atividade para treze espécies testadas. O extrato metanólico

de folhas da Chacrona apresentou uma moderada atividade antioxidante e o de caules de Jagube

uma forte atividade, quando comparados com a atividade antioxidante de outros extratos

vegetais. Os extratos metanólicos das duas plantas foram incorporados em formulações do tipo

soluções micelares as quais demonstraram, através dos testes de caracterização, uma boa

estabilidade e incorporação dos extratos pelas micelas. Nos testes de atividade antioxidante

realizados com as formulações preparadas foi observada uma melhor atividade dos extratos

metanólicos de folhas da Chacrona e de caules do Jagube quando comparados aos resultados

obtidos nas análises dessa atividade quando realizadas somente com esses extratos metanólicos

isolados.

Palavras chaves: Psychotria viridis; Banisteriopsis caapi; atividade antimicrobiana; atividade

antioxidante; N,N-dimetiltriptamina; alcaloides beta-carbonílicos; formulações micelares.

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ABSTRACT

The present work is based on obtaining extracts of increasing polarity from stems of the vine

Banisteriopsis caapi, also known as Mariri or Jagube, and leaves of Psychotria viridis, also

known as Chacrona or Rainha. These plants were used, in association for the preparation of a

tea (Ayahuasca), originally by Latin-American indigenous people in religious rituals. It is

known that this tea has psychoactive properties, and it is believed to occur due to the presence

of the indole alkaloide N,N-dimethyltriptamine (DMT), a serotoninergic receptor agonist, in

Chacrona’s leaves. The DMT is orally active by the action of the beta-carbonyl alkaloids

present in the stem of Jagube, harmine, harmaline and tetrahydroharmine, which inhibit the

enzyme monoamine oxidase (MAO) which degrades DMT. Other pharmacological activities

were demonstrated in research with DMT and extracts from the leaves of P. viridis, as

antitumoral activity and inhibition of acetylcholinesterase (AChE). The aqueous extract of B.

caapi is used to treat patients with Parkinson's disease, once the alkaloids contained in this vine

have the property of inhibit the MAO enzyme and stimulate the release of dopamine, two

mechanisms that improve this disease’s symptoms. This study has shown that the methanolic

and ethanolic extracts from Chacrona’s leaves owns the DMT molecule, while the ethyl acetate

and methanolic extracts of Jagube’ stems contain beta-carbonyl alkaloids. The extracts where

were detected the presence of the alkaloids, from both plants, demonstrated better results of

biological activities in the tests performed. Of the eighteen bacterial species tested, Chacrona’s

leaves extracts presented moderate antibacterial activity against four species and a weak activity

for eleven bacteria tested, while the Jagube’ stems extracts showed a weak activity for three

bacteria and a strong activity against thirteen species tested. The methanolic extract from leaves

of Chacrona presented a moderate antioxidant activity and the one from stems of Jagube a

strong activity, when compared with the antioxidant activity of other vegetal extracts. The

methanolic extracts from both plants were incorporated in micellar solutions formulations

which demonstrated, trough the characterization tests, a good stability and incorporation of the

extracts by the micelles. In the antioxidant activity tests carried out with the prepared

formulations a better activity of the methanolic extracts from Chacrona’s leaves and Jagube’

stems were observed when compared with the results obtained in analysis carried out with only

these isolated methanolic extracts.

Key-words: Psychotria viridis; Banisteriopsis caapi; antimicrobial activity; antioxidant

activity; N,N-dimethyltriptamine; beta-carbonyl alkaloids; micellar formulations.

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LISTA DE ABREVIAÇÕES

%IDDPH Porcentagem de inibição do DPPH

5-HT 5-hidroxitriptamina

ABTS 2,2' – azino-bis(3-etilbenzotiazolina-6-ácido sulfônico)

AChE Acetilcolinesterase

A Água

AM Absorção da amostra

C+ Controle positivo

C- Controle negativo

CAM Absorbância do controle da amostra

CE50 Concentração eficaz a 50%

CIM Concentração inibitória mínima

CG Cromatografia a gás

CG-EM Cromatografia a gás acoplada a espectrometria de massas

CN Absorção do controle negativo

DLS Dynamic Light Scattering – espalhamento de luz dinâmico

DMSO Dimetil-sulfóxido

DMT N,N - dimetiltriptamina

DPPH 2,2-difenil-1-picril-hidrazila

EAG Equivalente de ácido gálico

EM Espectrometria de massas

ExAE Extrato acetato de etila

ExE Extrato etanólico

ExH Extrato hexânico

ExM Extrato metanólico

IP Índice de polidispersão

IV Infravermelho

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MAO Monoaminooxidase

NMT Mono-metil-triptamina

NTA Nanoparticle Tracking Analysis – análise de rastreamento de nanopartícula

O Óleo

OE Óxido de etileno

OMS Organização Mundial de Saúde

OP Óxido de propileno

RMN Ressonância magnética nuclear

SMC Solução micelar do extrato metanólico de folhas da Chacrona

SMJ Solução micelar do extrato metanólico de caules do Jagube

tr Tempo de retenção

UDV União do Vegetal

UFC Unidade formadora de colônias

UV Ultravioleta

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LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1 Foto de Psychotria viridis de um chacronal. ........................................................... 26

Figura 2.2 Foto de Banisteriopsis caapi. .................................................................................. 26

Figura 2.3 Foto da floração de Banisteriopsis caapi. ............................................................... 27

Figura 2.4 Estrutura química do alcaloide N,N–dimetiltriptamina e do neurotransmissor

serotonina. ............................................................................................................ 29

Figura 2.5 Estrutura química dos alcaloides: harmina, harmalina e tetrahidroharmina. .......... 30

Figura 2.6 Representação esquemática do mecanismo de associação do Poloxamer 407 em

água. ..................................................................................................................... 35

Figura 4.1 Esquema do processo de obtenção dos extratos de folhas de P. viridis utilizando

solventes de polaridade crescente, sendo o mais polar o metanol. ...................... 37

Figura 4.2 Esquema do processo de obtenção dos extratos de folhas de P. viridis utilizando

solventes de polaridade crescente, sendo o mais polar o etanol. ......................... 38

Figura 4.3 Esquema de processo de obtenção dos extratos de caules de B. caapi

fragmentados, utilizando solventes de polaridade crescente. .............................. 39

Figura 4.4 Esquema de processo de obtenção dos extratos de caules de B. caapi triturados,

utilizando solventes de polaridade crescente. ...................................................... 39

Figura 5.1 Cromatograma do extrato hexânico de folhas de P. viridis obtido por

cromatografia a gás. ............................................................................................. 53

Figura 5.2 Cromatograma do extrato acetato de etila de folhas de P. viridis obtido por

cromatografia a gás. ............................................................................................. 54

Figura 5.3 Cromatograma do extrato metanólico de folhas de P. viridis obtido por

cromatografia a gás. ............................................................................................. 54

Figura 5.4 Cromatograma do extrato etanólico de folhas de P. viridis obtido por

cromatografia a gás. ............................................................................................. 54

Figura 5.5 Comparação do espectro de massas do composto de tr = 3.62 min, presente no

ExM de folhas de P. viridis, com o da dimetiltriptamina, disponível no banco

de dados NIST. .................................................................................................... 55

Figura 5.6 Comparação do espectro de massas do composto de tr = 3.62 min, presente no

ExE de folhas de P. viridis, com o da dimetiltriptamina, disponível no banco de

dados NIST. ......................................................................................................... 55

Figura 5.7 Cromatograma do extrato hexânico de caules de B. caapi obtido por

cromatografia a gás. ............................................................................................. 56

Figura 5.8 Cromatograma do extrato acetato de etila de caules de B. caapi obtido por

cromatografia a gás. ............................................................................................. 56

Figura 5.9 Cromatograma do extrato metanólico de caules de B. caapi obtido por

cromatografia a gás. ............................................................................................. 56

Figura 5.10 Comparação do espectro de massas do composto de tr = 4.68 min, presente no

ExH de caules de B. caapi, com o do hexadecanoato de butila, disponível no

banco de dados NIST. .......................................................................................... 57

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Figura 5.11 Comparação do espectro de massas do composto de tr = 4.80 min, presente no

ExAE de caules de B. caapi, com o da harmina, disponível no banco de dados

NIST. ................................................................................................................... 57

Figura 5.12 Comparação do espectro de massas do composto de tr = 4.60 min, presente no

ExM de caules de B. caapi, com o da tetrahidroharmina, disponível no banco

de dados NIST. .................................................................................................... 57

Figura 5.13 Comparação do espectro de massas do composto de tr = 4.80 min, presente no

ExM de caules de B. caapi, com o da harmina, disponível no banco de dados

NIST. ................................................................................................................... 58

Figura 5.14 Gráfico da porcentagem de inibição dos extratos de folhas da Chacrona versus

concentração (µg/mL) pelo método do DPPH. .................................................... 63

Figura 5.15 Gráfico da porcentagem de inibição dos extratos de caules do Jagube versus

concentração (µg/mL) pelo método do DPPH. .................................................... 64

Figura 5.16 Curva de calibração do padrão ácido gálico e sua equação linear, obtidas pelo

método do ABTS. ................................................................................................ 67

Figura 5.17 Teste de solubilidade dos extratos metanólicos de folhas da Chacrona (C) e de

caules do Jagube (J). ............................................................................................ 68

Figura 5.18 Soluções micelares do extrato metanólico de folhas da Chacrona (C) e de caules

do Jagube (J). ....................................................................................................... 69

Figura 5.19 Fotomicroscopia da solução micelar com extrato metanólico de folhas da

Chacrona. ............................................................................................................. 70

Figura 5.20 Fotomicroscopia da solução micelar com extrato metanólico de caules do

Jagube. ................................................................................................................. 70

Figura 5.21 Representação gráfica da distribuição de tamanho das partículas da SMC no dia

1, pela técnica de DLS. ........................................................................................ 72

Figura 5.22 Representação gráfica da distribuição de tamanho das partículas da SMC no dia

7, pela técnica de DLS. ........................................................................................ 72

Figura 5.23 Representação gráfica da distribuição de tamanho das partículas da SMC no dia

14, pela técnica de DLS. ...................................................................................... 73

Figura 5.24 Representação gráfica da distribuição de tamanho das partículas da SMC no dia

21, pela técnica de DLS. ...................................................................................... 73

Figura 5.25 Representação gráfica da distribuição de tamanho das partículas da SMC no dia

28, pela técnica de DLS. ...................................................................................... 74

Figura 5.26 Representação gráfica da distribuição de tamanho das partículas da SMJ no dia

1, pela técnica de DLS. ........................................................................................ 75

Figura 5.27 Representação gráfica da distribuição de tamanho das partículas da SMJ no dia

7, pela técnica de DLS. ........................................................................................ 75

Figura 5.28 Representação gráfica da distribuição de tamanho das partículas da SMJ no dia

14, pela técnica de DLS. ...................................................................................... 76

Figura 5.29 Representação gráfica da distribuição de tamanho das partículas da SMJ no dia

21, pela técnica de DLS. ...................................................................................... 76

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Figura 5.30 Representação gráfica da distribuição de tamanho das partículas da SMJ no dia

28, pela técnica de DLS. ...................................................................................... 77

Figura 5.31 Gráfico de concentração versus tamanho de partículas para a SMC, pela técnica

de NTA. ............................................................................................................... 78

Figura 5.32 Gráfico de intensidade versus tamanho de partículas para a SMC, pela técnica

de NTA. ............................................................................................................... 78

Figura 5.33 Gráfico de intensidade versus concentração versus tamanho de partículas para a

SMC, pela técnica de NTA. ................................................................................. 79

Figura 5.34 Gráfico de concentração versus tamanho de partículas para a SMJ, pela técnica

de NTA. ............................................................................................................... 80

Figura 5.35 Gráfico de intensidade versus tamanho de partículas para a SMJ, pela técnica de

NTA. .................................................................................................................... 80

Figura 5.36 Gráfico de intensidade versus concentração versus tamanho de partículas para a

SMJ, pela técnica de NTA. .................................................................................. 81

Figura 5.37 Gráfico da porcentagem de inibição das soluções micelares versus concentração

(% v/v) pelo método do DPPH. ............................................................................ 83

Figura 5.38 Curva de calibração do padrão ácido gálico e sua equação linear, obtidas pelo

método do ABTS. ................................................................................................ 84

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LISTA DE TABELAS

Tabela 4.1 Bactérias Gram + utilizadas na avaliação da atividade antibacteriana dos extratos

de folhas de P. viridis e de caules de B. caapi. .................................................... 41

Tabela 4.2 Bactérias Gram – utilizadas na avaliação da atividade antibacteriana dos extratos

de folhas de P. viridis e de caules de B. caapi. .................................................... 41

Tabela 4.3 Antibióticos usados como controle positivo (C+) para as bactérias Gram +. ........ 42

Tabela 4.4 Antibióticos usados como controle positivo (C+) para as bactérias Gram -. ......... 42

Tabela 4.5 Composição da solução micelar elaborada com extratos metanólicos de folhas da

Chacrona e de caules do Jagube. ......................................................................... 48

Tabela 4.6 Composição do controle da solução micelar sem extrato metanólico. ................... 48

Tabela 5.1 Rendimento dos extratos de P. viridis na extração com o metanol como solvente

de maior polaridade. ............................................................................................ 52

Tabela 5.2 Rendimento dos extratos de P. viridis na extração com o etanol como solvente de

maior polaridade. ................................................................................................. 52

Tabela 5.3 Rendimento dos extratos de B. caapi na primeira extração, com caules secos

cortados com tesoura de poda. ............................................................................. 52

Tabela 5.4 Rendimento dos extratos de B. caapi na segunda extração, com caules secos

triturados. ............................................................................................................. 53

Tabela 5.5 Halos de inibição (mm) encontrados na triagem preliminar usando controle

positivo (C+) e extratos de folhas de P. viridis (50,0 mg/mL). ........................... 58

Tabela 5.6 Halos de inibição (mm) encontrados nos testes com bactérias Gram + usando

controle positivo (C+) e extratos de folhas de P. viridis (50,0 mg/mL). ............. 59

Tabela 5.7 Halos de inibição (mm) encontrados nos testes com bactérias Gram – usando

controle positivo (C+) e extratos de folhas de P. viridis (50,0 mg/mL). ............. 59

Tabela 5.8 Halos de inibição (mm) encontrados na triagem preliminar usando controle

positivo (C+) e extratos de caules de B. caapi (50,0 mg/mL). ............................ 60

Tabela 5.9 Halos de inibição (mm) encontrados nos testes com bactérias Gram + usando

controle positivo (C+) e extratos de caules de B. caapi (50,0 mg/mL). .............. 60

Tabela 5.10 Halos de inibição (mm) encontrados nos testes com bactérias Gram – usando

controle positivo (C+) e extratos de caules de B. caapi (50,0 mg/mL). .............. 61

Tabela 5.11 CIM (mg/mL) para as bactérias Gram +. ............................................................. 61

Tabela 5.12 CIM (mg/mL) para as bactérias Gram -. .............................................................. 62

Tabela 5.13 Classificação da atividade antimicrobiana de extratos vegetais pelos resultados

da CIM (mg/mL) segundo Giner et al.,2012. ...................................................... 62

Tabela 5.14 Equações da regressão linear da curva de inibição dos extratos de folhas de P.

viridis. .................................................................................................................. 64

Tabela 5.15 Equações da regressão linear da curva de inibição dos extratos de caules de B.

caapi. ................................................................................................................... 65

Tabela 5.16 Determinação da CE50 da propriedade antioxidante das espécies vegetais e

própolis pelo método do DPPH por Vicentino e Menezes, 2007. ....................... 65

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Tabela 5.17 Valores médios da determinação do tamanho de partículas e do índice de

polidispersão (IP) da SMC, pela técnica de DLS. ............................................... 71

Tabela 5.18 Valores médios da determinação do tamanho de partículas e do índice de

polidispersão (IP) da SMJ, pela técnica de DLS. ................................................ 74

Tabela 5.19 Valores médios da determinação do potêncial zeta das soluções micelares. ....... 81

Tabela 5.20 Equações da regressão linear da curva de inibição das soluções micelares. ........ 83

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 20

2 REVISÃO DA LITERATURA ..................................................................................... 23

2.1 Plantas medicinais e a indústria farmacêutica .......................................................... 23

2.2 Metabólitos secundários ........................................................................................... 24

2.3 Psychotria viridis, Banisteriopsis caapi e a Ayahuasca ........................................... 25

2.4 DMT e suas propriedades ......................................................................................... 29

2.5 Harmina e suas propriedades .................................................................................... 30

2.6 Análises espectrométricas ......................................................................................... 30

2.7 Ensaios microbiológicos ........................................................................................... 31

2.8 Atividade antioxidante .............................................................................................. 32

2.9 Sistemas nanoestruturados ........................................................................................ 33

3 OBJETIVOS E METAS ................................................................................................ 36

3.1.1 Objetivo geral ..................................................................................................... 36

3.1.2 Metas .................................................................................................................. 36

4 MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................................... 37

4.1 Preparação dos extratos ............................................................................................ 37

4.2 Análises dos extratos por CG-EM ............................................................................ 40

4.3 Testes microbiológicos com os extratos ................................................................... 40

4.3.1 Avaliação qualitativa da propriedade antimicrobiana ........................................ 41

4.3.2 Avaliação da concentração inibitória mínima .................................................... 43

4.4 Teste da atividade antioxidante ................................................................................ 44

4.4.1 Método do ensaio do DPPH ............................................................................... 44

4.4.2 Método do ensaio do ABTS ............................................................................... 46

4.5 Teste de solubilidade dos extratos ............................................................................ 47

4.6 Desenvolvimento das formulações ........................................................................... 47

4.6.1 Obtenção das soluções micelares ....................................................................... 47

4.6.2 Caracterização das soluções micelares ............................................................... 48

4.7 Avaliação da propriedade antioxidante das formulações contendo extratos ............ 50

4.7.1 Método do ensaio do DPPH ............................................................................... 50

4.7.2 Método do ensaio do ABTS ............................................................................... 51

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................... 52

5.1 Rendimento dos extratos .......................................................................................... 52

5.1.1 Psychotria viridis ................................................................................................ 52

5.1.2 Banisteriopsis caapi ........................................................................................... 52

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5.2 Análise dos extratos por CG-EM .............................................................................. 53

5.2.1 Psychotria viridis ................................................................................................ 53

5.2.2 Banisteriopsis caapi ........................................................................................... 55

5.3 Testes microbiológicos qualitativos ......................................................................... 58

5.3.1 Psychotria viridis ................................................................................................ 58

5.3.2 Banisteriopsis caapi ........................................................................................... 60

5.4 Testes microbiológicos quantitativos ....................................................................... 61

5.5 Teste atividade antioxidante dos extratos ................................................................. 63

5.5.1 Método do ensaio do DPPH ............................................................................... 63

5.5.2 Método do ensaio do ABTS ............................................................................... 66

5.6 Teste de solubilidade dos extratos ............................................................................ 68

5.7 Elaboração de soluções micelares ............................................................................ 69

5.8 Caracterização das soluções micelares ..................................................................... 69

5.8.1 Análise macroscópica ......................................................................................... 69

5.8.2 Análise microscópica .......................................................................................... 70

5.8.3 Ensaio de estabilidade acelerada ........................................................................ 71

5.8.4 Determinação do tamanho de partícula .............................................................. 71

5.8.5 Determinação do potencial zeta .......................................................................... 81

5.8.6 Teste da atividade antioxidante com as soluções micelares ............................... 82

6 CONCLUSÃO ................................................................................................................. 86

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 88

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20

1 INTRODUÇÃO

A medicina popular brasileira tem como herança três raízes principais: a indígena, a

portuguesa e a africana, as quais no século XVI tinham em comum a espiritualidade [1]. Os

usos de plantas nativas de nosso país, utilizadas para a cura e em rituais religiosos dos povos

indígenas e africanos, sempre aproximaram a curiosidade científica e popular por essas plantas.

Algumas culturas indígenas se expandiram para além de seu próprio povo. Movimentos

sincréticos religiosos, por exemplo, fazem uso do chá Ayahuasca, sendo os principais grupos:

o Santo Daime, a União do Vegetal (UDV) e a Barquinha [2]. Esse sincretismo significa que

houve a fusão de diferentes cultos e doutrinas religiosas, com reinterpretação de seus elementos,

porém mantendo traços perceptivos das doutrinas originais.

A ayahuasca era originalmente utilizada por grupos indígenas associados ao xamanismo

e por vegetalistas curandeiros que se baseavam em extratos vegetais para praticarem a medicina

popular. Trata-se de uma bebida composta pela associação de duas plantas: os caules da

Banisteriopsis caapi [(Spruce ex Griseb) C.V. Morton] e as folhas da Psychotria viridis (Ruiz

& Pav.) [2].

A espécie P. viridis é popularmente conhecida como Chacrona, pelos praticantes da

UDV, ou Rainha, pelos adeptos do Santo Daime. Esta planta distribui-se geograficamente em

território nacional pelas regiões Norte (Acre e Amazonas) e Sudeste (Minas Gerais e São Paulo)

[3], e em suas folhas é encontrado o alcaloide N,N-dimetiltriptamina (DMT), uma amina

indólica psicoativa [2].

A DMT tem sido estudada com outras finalidades e diferentes ações farmacológicas que

não as psicotrópicas. Estudos demonstraram que este alcaloide diminui a migração e a

proliferação de células tumorais de duas linhagens celulares de melanomas [4]. Outros estudos

mostraram ação antioxidante e inibitória da acetilcolinesterase (AChE) de extratos metanólico,

clorofórmico e acetato de etila obtidos de folhas de P. viridis, e que possivelmente contêm a

DMT [5].

A espécie B. caapi é chamada de Jagube pelos praticantes do Santo Daime, e de Mariri

pelos adeptos da UDV, e possui outros nomes populares como: Cabi, Caupurí, e Uni. Este cipó

ocorre geograficamente em toda floresta amazônica (Brasil, Peru, Colômbia, Equador e

Bolívia). Os princípios ativos encontrados na casca deste cipó são derivados beta-carbonílicos:

harmina (majoritariamente), harmalina e tetrahidroharmina [6].

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21

As substâncias harmina e harmalina são inibidores reversíveis da enzima

monoaminooxidase (MAO), a qual é responsável pela degradação do alcaloide DMT ao oxidá-

lo rapidamente, transformando-o em um metabólito inativo. Por esta razão, estes derivados

beta-carbonílicos conferem a atividade oral da DMT quando administrados conjuntamente [6].

A harmina além de um potente inibidor reversível da MAO-A, também se mostrou capaz de

estimular a liberação de dopamina nas fendas sinápticas, propriedades também encontradas no

extrato aquoso do Jagube [7].

Os estudos de atividades terapêuticas de extratos e/ou princípios ativos de plantas,

anteriormente utilizadas apenas por tradições populares, elucida suas verdadeiras propriedades

biológicas, seus mecanismos de ação, seus possíveis efeitos tóxicos e margem segura de uso,

contribuindo para a evolução das Ciências Farmacêuticas. A evolução destas ciências é a aliada

que mais contribui para a descoberta de novos fármacos, como também na melhoria dos já

existentes, proporcionando o tratamento e a cura de diversas doenças. As incorporações de

novos princípios ativos aos novos tipos de formulações têm permitido um avanço

consideravelmente rápido de tratamentos cada vez mais eficazes.

A nanotecnologia é uma ampla área da Farmacotécnica que auxilia no melhoramento de

biodistribuição dos fármacos. São sistemas nanoestruturados que controlam a liberação de

fármacos ao modularem a velocidade com que estes atravessam as barreiras biológicas,

penetram a circulação e atingem o alvo farmacológico [8].

O desenvolvimento de formulações contendo extratos de folhas de P. viridis e de caules

de B. caapi é interessante do ponto de vista de inovações farmacológicas e desenvolvimento de

terapias diferentes para algumas doenças. Isto porque já foram comprovadas algumas ações

farmacológicas de alguns extratos destas plantas, e de seus alcaloides isolados, e também a

importância da administração conjunta desses alcaloides.

Visto tais potenciais terapêuticos dos extratos de folhas de P. viridis e de caules de B.

caapi, surgiu o interesse em analisar outras possíveis atividades biológicas de outros extratos

dessas plantas, por exemplo, se possui ou não ação antimicrobiana e antioxidante. Há uma

necessidade contínua de novos antibióticos, principalmente aqueles com novos mecanismos de

ação, em vista dos altos, e crescentes, níveis de resistência bacteriana e o fato de as doenças

infecciosas representarem a segunda maior causa de morte no mundo [9].

Diante de tais resultados positivos de atividades biológicas dos extratos de folhas de P.

viridis e de caules de B. caapi, novos caminhos surgem para um melhor entendimento sobre os

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extratos em questão: Como usá-los de forma mais efetiva? Qual melhor veículo para sua

biodistribuição? Neste quadro se encontram vários princípios ativos e extratos naturais, fazendo

surgir um questionamento inevitável: Como o estudo e desenvolvimento de novas formulações

com princípios ativos naturais, ainda não formulados, podem contribuir para o desenvolvimento

e/ou melhoria dos processos dos laboratórios de pesquisa de instituições de ensino superior e

de grandes indústrias farmacêuticas do Brasil?

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23

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Plantas medicinais e a indústria farmacêutica

A mais antiga evidência escrita do uso de plantas medicinais, para a preparação de

fármacos, foi encontrada em uma laje de argila suméria de Nagpur, com aproximadamente

5.000 anos, que cita em torno de 250 plantas [10]. O uso de plantas medicinais pela população

ocorre desde milhares de anos antes de Cristo como uma alternativa de tratamento para a cura

de diversas doenças. Algumas destas plantas são utilizadas até os dias atuais, como a papoula

(Papaver somniferum) e a maconha (Cannabis sativa), as quais o uso tem sido descrito por pelo

menos 4.000 anos [11].

Algumas outras evidências do uso milenar das plantas medicinais incluem: o livro

Chinês sobre raízes e ervas, Pen T’Sao, escrito há cerca de 2.500 anos pelo imperador Chen

Nung, no qual são relatadas 365 espécies vegetais; os quatro sagrados livros indianos, os Vedas;

o papiro de Ebers, uma coleção com referência a 700 espécies de plantas, escrito no Egito antigo

por volta de 1.550 AC; a Bíblia e o Talmud, livro sagrado dos judeus, que relatam o uso de

plantas aromáticas; os épicos poemas de Homero, Ilíada e Odisseia, criados cerca de 800 AC,

os quais fazem referência a 63 espécies de plantas [10].

Por outro lado, a história da indústria farmacêutica não é nem bicentenária, e pode ser

analisada como um processo evolucionário o qual teve início no século XIX [12]. O marco

histórico no desenvolvimento da indústria farmacêutica global foi a descoberta da salicina

(analgésico e antipirético) por Rafaele Piria, em 1832, isolada da espécie Salix alba. Em 1839,

foi feita a primeira modificação estrutural da salicina resultando no ácido salicílico, usado na

época para o tratamento de artrite reumatoide [11]. Desta forma, nota-se que a origem dos

medicamentos industriais modernos são as plantas medicinais e seus princípios ativos.

Com o surgimento da indústria farmacêutica houve um declínio no uso terapêutico de

plantas medicinais, observado no final do século XIX e começo do século XX. Entretanto,

recentemente tem surgido uma tendência em relação ao uso de plantas medicinais,

principalmente devido aos expressivos efeitos colaterais causados pelas drogas sintéticas e ao

aumento das contraindicações das mesmas [13]. Além disso, existem obstáculos que impedem

o acesso a medicamentos industriais pela população carente, principalmente a dos países em

desenvolvimento. Por isto, a tradição do uso de plantas medicinais nestas populações contribui

para sua utilização com fins terapêuticos entre esses povos [14].

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24

O Brasil tem uma das maiores biodiversidades do planeta, e muitas classes de princípios

ativos têm sido isoladas de plantas medicinais brasileiras [15]. Esta rica flora é proporcionada

pelo vasto território nacional, que abrange diferentes relevos, climas e solos, e possui mais de

56.000 espécies de plantas [16]. A população brasileira tem a antiga tradição do uso de plantas

medicinais para o tratamento de diversas doenças, tradição essa herdada pela história cultural

dessa nação. Diante destes fatos, pesquisadores brasileiros e companhias farmacêuticas

brasileiras têm voltado sua atenção para o estudo de plantas medicinais nativas e seus princípios

ativos [11].

As plantas medicinais são importantes para a pesquisa farmacêutica e o

desenvolvimento de novas drogas, podendo ser usadas diretamente como constituintes de

agentes terapêuticos, como material de partida para a síntese de novos fármacos ou como

modelos de compostos farmacologicamente ativos [17].

2.2 Metabólitos secundários

Na história antiga, o mais proeminente escritor sobre plantas foi Dioscorides, “o pai da

farmacognosia”, o qual estudava as plantas medicinais por onde viajava com o exército de

Roma, uma vez que ele era um médico militar do exército de Nero [10]. O termo

“Farmacognosia” foi empregado pela primeira vez entre 1811 e 1815, significando:

conhecimento (gnosis) dos fármacos ou venenos (pharmakon). A farmacognosia é uma ciência

de caráter multidisciplinar, a qual envolve: o estudo de identificação de drogas vegetais por

caracteres morfológicos e anatômicos; o estudo de sua origem e formas de produção; o controle

de sua qualidade e composição química; a elucidação estrutural e conhecimento sobre as

propriedades físico-químicas das substâncias ativas; e suas propriedades farmacológicas e

toxicológicas [18].

Um dos focos de estudo da farmacognosia são os metabólitos secundários e suas

estruturas químicas. As plantas produzem uma grande diversidade de arranjos de compostos

orgânicos que aparentemente não têm função direta no crescimento e desenvolvimento das

mesmas. Estes compostos são conhecidos como metabólitos secundários ou produtos

secundários [19]. Os metabólitos secundários aumentam as chances de sobrevivência de uma

espécie, uma vez que são responsáveis por diferentes atividades biológicas para esse fim, como

por exemplo, atuando como antibióticos, antifúngicos e antivirais, e protegendo as plantas dos

patógenos [20].

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25

Alguns fatores influenciam o conteúdo e a quantidade de metabólitos secundários

produzido pelas plantas, como: a sazonalidade; o ritmo circadiano e a fase do desenvolvimento

do vegetal; a temperatura; a disponibilidade hídrica; a radiação ultravioleta; os nutrientes

disponíveis; a altitude; a poluição atmosférica; e a indução por estímulos mecânicos ou ataques

de patógenos [21]. Desta forma, pode haver diferença do conteúdo e da quantidade de

metabólitos secundários entre duas plantas da mesma espécie cultivadas de formas e em locais

diferentes.

Os metabólitos secundários são divididos em três grandes grupos quimicamente

distintos: os terpenos, os fenólicos e os compostos nitrogenados. Os alcaloides se encontram no

grupo dos compostos nitrogenados, e são uma vasta família com mais de 15.000 variedades

estruturais desses produtos secundários, os quais são encontrados em aproximadamente 20%

das espécies de plantas vasculares. O átomo de nitrogênio nestes compostos geralmente se

encontra em um anel carbônico heterocíclico [19]. Os alcaloides indólicos e beta-carbonílicos,

presentes nas espécies vegetais estudadas neste trabalho, são derivados do aminoácido

triptofano [22].

2.3 Psychotria viridis, Banisteriopsis caapi e a Ayahuasca

A espécie Psychotria viridis (Figura 2.1), também denominada de Rainha, pelo Santo

Daime, ou Chacrona, pela UDV, se trata de uma planta arbustiva da família Rubiaceae,

apresentando pequeno porte (entre 2 e 3 metros de altura, se cultivada). Ela ocorre

espontaneamente na Floresta Amazônica, além de México e das Antilhas, e da Bolívia até o

Sudeste do Brasil e Argentina, porém por questões religiosas, são encontradas plantações em

várias regiões do mundo [3].

A espécie possui em suas folhas o alcaloide DMT, uma amina indólica que é

considerada um potente alucinógeno. Foi utilizada originalmente relacionada ao xamanismo

por grupos indígenas, em associação com o cipó Banisteriopsis caapi.

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Figura 2.1 Foto de Psychotria viridis de um chacronal.

Fonte: Cavalcanti, A.D., autor da foto.

A espécie Banisteriopsis caapi (Figura 2.2 e Figura 2.3), conhecida como Jagube, pelo

Santo Daime, ou Mariri, pela UDV, é um cipó ou trepadeira gigante pertencente à família

Malpighiaceae. Ocorre geograficamente nas regiões Norte (Acre, Amazonas, Pará e Rondônia)

e Centro-Oeste (Mato Grosso), em um tipo de vegetação de floresta de terra firme, tendo seu

domínio fitogeográfico na região da Amazônia [23].

Neste cipó são encontrados alcaloides beta-carbonílicos, sendo os principais: harmina

(majoritariamente), harmalina e tetrahidroharmina. Estes alcaloides têm como função primária

a inibição específica e reversível da enzima MAO tipo A (MAO-A), enzima responsável pela

degradação da serotonina endógena [6].

Figura 2.2 Foto de Banisteriopsis caapi.

Fonte: Moebus, R.L.N., autor da foto.

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Figura 2.3 Foto da floração de Banisteriopsis caapi.

Fonte: Moebus, R.L.N., autor da foto.

Quando as folhas da P. viridis são associadas aos caules da B. caapi acontece uma

combinação sinérgica, uma vez que o Jagube possui alcaloides beta-carbonílicos, substâncias

inibidoras reversíveis da monoaminooxidase (MAO), enzima que metaboliza a DMT,

impedindo que esse alcaloide seja ativo quando administrado por via oral. Ayahuasca é o nome

dado à bebida composta pela associação de extratos aquosos destas duas espécies vegetais [2].

O nome Ayahuasca é um termo de origem quéchua, com significado etimológico: Aya –

persona, espíritu muerto, alma; Waska – cuerda, enredadera, parra, liana. Este termo pode ser

traduzido como “trepadeira das almas”, significando que a bebida é capaz de despertar o

indivíduo para o mundo espiritual [24].

Plantas alucinógenas estão entre as mais antigas drogas utilizadas de forma ritualística

ou abusiva pelo ser humano, porém durante séculos suas utilizações eram associadas apenas à

religião, magia e medicina [25]. As chamadas “religiões ayahuasqueiras”, como o Santo Daime,

a União do Vegetal (UDV) e a Barquinha, têm início nas décadas de 1920-1930. Este

sincretismo religioso institucionalizado é exclusivamente brasileiro, uma vez que em outros

países com tradição de consumo do chá Ayahuasca pelos povos nativos (Colômbia, Peru,

Venezuela, Bolívia e Equador) não foram desenvolvidas religiões organizadas em torno dessa

bebida. Estas “religiões ayahuasqueiras” atualmente estão presentes em todo território

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brasileiro, e em diversos países como Espanha, Holanda, França, Itália, Japão e Estados Unidos

[24].

Em 2010, na resolução número 1 do Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas

(CONAD) foi regulamentado o uso religioso e liberada a pesquisa do chá Ayahuasca. Após este

reconhecimento e permissão, algumas instituições de ensino superior começaram as pesquisas

com esta bebida, como a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade de Campinas

(Unicamp), a Universidade de Brasília (UnB) e a Universidade Federal de Minas Gerais

(UFMG) [26].

Uma grande parte destas pesquisas é mais focada na área antropológica acerca das

“religiões ayahuasqueiras”. Uma destas pesquisas tentou compreender o uso ritual da Ayhuasca

na recuperação de pessoas em situações de rua, como viciados em crack, pela Unidade de

Resgate Flor das Águas Padrinho Sebastião, grupo do Santo Daime situado em São Paulo. As

experiências com o chá e o convívio com os organizadores das sessões colaboraram para

auxiliar os pacientes a lidar e cuidar dos problemas que estavam passando [27].

Pesquisas médicas também têm sido feitas com o chá Ayahuasca. Foram demonstradas:

atividade antinociceptiva, atividade ansiolítica e efeito citostático leve em culturas de células

tumorais humanas de mama (MCF-7), rim (786-0), pulmão (NCI-H460), próstata (PC-3),

ovário (OVCAR-3), cólon (HT-29) e mama resistente a múltiplas drogas (NCI-ADR) [28].

Outros estudos com doenças mentais como depressão, pânico e ansiedade também

foram realizados, onde resultados mostram melhoras do quadro clínico de pacientes com

depressão, que fazem o uso do chá, por até vinte dias após o contato com a bebida [24] [29].

Devido aos alcaloides presentes no chá Ayahuasca e suas funções neurais, os indivíduos que

fazem o uso da bebida vivenciam alterações no sistema límbico e monoaminérgico, o que causa

melhoras dos sintomas depressivos e ansiosos [26].

O presente estudo utilizou extratos de polaridade crescente das duas plantas que

compõem o chá Ayahuasca, a Chacrona e o Jagube, para avaliar o potencial antimicrobiano e

antioxidante desses extratos. Através dos resultados obtidos, poderemos contribuir de alguma

forma para um melhor entendimento sobre as atividades biológicas presentes nesta bebida.

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2.4 DMT e suas propriedades

A DMT (Figura 2.4) está presente em raízes, caules e folhas de diversas espécies

vegetais, e também em mamíferos, incluindo os humanos, e alguns animais aquáticos. Por ser

agonista dos receptores serotoninérgicos (5-HT), a DMT é um potente alucinógeno [30]. A

serotonina (5-hidroxitriptamina, 5-HT) (Figura 2.4) é responsável por funções no sistema

nervoso central, tais como: regulação do humor, sono, atividade sexual, apetite, ritmo cardíaco,

funções neuroendócrinas, sensibilidade à dor, temperatura corporal, funções cognitivas e

atividades motoras [31].

Figura 2.4 Estrutura química do alcaloide N,N–dimetiltriptamina e do neurotransmissor serotonina.

Além de ser um potente agonista serotoninérgico, a DMT possui outras propriedades

terapêuticas que foram atribuídas a ela por meio de pesquisas científicas. Coimbra (2012)

concluiu que a DMT tem a propriedade de alterar a metabolização, impactar na expressão

gênica e diminuir a migração em linhagens de melanomas humanos SK-Mel-19 e SK-Mel-147

[4].

Também foi demonstrada a propriedade antioxidante com o extrato metanólico de folhas

de P. viridis. Os extratos clorofórmico e acetato de etila obtidos de folhas desta espécie

induziram ação inibitória da AChE maior que 90%. Os extratos acetato de etila, metanólico e a

DMT foram capazes de induzir a morte e/ou inibir a proliferação de linhagens de células

tumorais, B16F10 (melanoma murino) e 4T1 (carcinoma de mama murino). Os extratos não

afetaram a viabilidade de células normais, CHO (células de ovário de hamster chinês) e BHK

(fibroblastos de rim de hamster chinês), enquanto que a DMT reduziu a viabilidade dessas

células [5].

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30

2.5 Harmina e suas propriedades

A espécie B. caapi produz três alcaloides beta-carbonílicos: harmina (majoritariamente),

harmalina e tetrahidroharmina (Figura 2.5) [6]. Os alcaloides beta-carbonílicos são derivados

do triptofano e são potentes antagonistas serotoninérgicos, o que explica suas propriedades

psicoativas relatadas [22]. A harmina é um potente inibidor específico e reversível da MAO-A,

enzima responsável pela degradação de neurotransmissores como: noradrenalina, dopamina e

5- HT [6] [7].

Figura 2.5 Estrutura química dos alcaloides: harmina, harmalina e tetrahidroharmina.

No Equador o extrato aquoso de B. caapi é usado clinicamente para tratar pacientes

acometidos com a doença de Parkinson. Estudos confirmaram a potente inibição da enzima

MAO-A pela harmina, e também demonstraram a capacidade desse alcaloide de estimular a

liberação de dopamina, dois mecanismos utilizados para a melhora dos sintomas dos pacientes

com a doença de Parkinson [7].

2.6 Análises espectrométricas

A Química Analítica frequentemente é descrita como a área da Química responsável por

caracterizar a composição da matéria, ambos qualitativo (o que está presente) e quantitativo (o

quanto está presente). Uma análise fornece informações químicas ou físicas de uma amostra.

Enquanto que uma técnica é qualquer princípio físico ou químico que é utilizado para estudar

um analito (o componente de interesse na amostra). Já um método é considerado a aplicação de

uma técnica para determinação de um analito específico em uma matriz específica (o restante

dos componentes da amostra que não é o analito) [32].

Uma das técnicas mais utilizadas para a análise de composição química de amostras é a

espectroscopia, que é o estudo da interação quantizada de energia (energia eletromagnética

tipicamente) com matéria. A espectroscopia na região do infravermelho (IV) e do ultravioleta

(UV), de Ressonância Magnética Nuclear de hidrogênio e de carbono (RMN de H1 e de C13) e

a espectrometria de massas (EM) são consideradas as principais ferramentas para a

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31

determinação de estruturas de compostos orgânicos. Por meio destas técnicas é possível

detectar, caracterizar e identificar uma ampla variedade de elementos estruturais [33]. IV, UV

e EM são utilizados em técnicas hifenadas, acoplados a cromatografia a gás (CG) e a

cromatografia líquida de alta eficiência e pressão (High pressure liquid chomatography –

HPLC).

Através da cromatografia a gás acoplada a espectrometria de massas (CG-EM) é

possível analisar os extratos de folhas da Chacrona e de caules do Jagube, alvos deste estudo.

Através destas metodologias se obtém maior conhecimento em relação à presença dos

princípios ativos contidos, ou não, em cada um dos extratos e assim correlacionar os resultados

dos testes biológicos realizados com os extratos brutos e princípio ativo neles presente.

2.7 Ensaios microbiológicos

A microbiologia é o estudo dos microrganismos, os organismos unicelulares

microscópicos e os vírus, que são microscópicos, porém acelulares. A microbiologia, que pode

ser vista como base das ciências biológicas, abrange dois campos: o entendimento dos processos

básicos da vida; e a aplicação do conhecimento adquirido pela microbiologia para o benefício

da humanidade [34].

Somente após os trabalhos do médico alemão Robert Koch (1843-1910) o conceito de

doença infecciosa ganhou fundamento experimental. Koch foi o primeiro a cultivar bactérias

em meios de culturas sólidos, inicialmente utilizando gelatina como agente solidificante para

os nutrientes fluidos que utilizava para o cultivo das bactérias. Porém, havia a limitação de a

gelatina não permanecer sólida a 37ºC (temperatura ótima para o crescimento de quase todos

os patógenos humanos) [34].

Um associado de Koch, Walter Hesse, foi o primeiro a utilizar o ágar como agente

solidificante de meios de culturas bacterianas. O ágar é um polissacarídeo derivado de algas

vermelhas, e era muito utilizado no século XIX como agente gelificante, por exemplo para

solidificar geleias de frutas [34]. Estas descobertas possibilitaram o estudo minucioso de

bactérias patógenas e a descoberta de antibióticos para o tratamento das mesmas.

Apesar da grande variedade de antibióticos, naturais e sintéticos, disponíveis atualmente

ainda há um grande número de mortalidade causadas por infecções bacterianas, principalmente

em países em desenvolvimento. Tal situação é consequência da disseminação da resistência

bacteriana, que tende a aumentar devido ao uso indiscriminado de antibióticos, sendo um

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grande problema de saúde pública. Antibioticoterapia correta significa não utilizar antibióticos

sem indicação, e nem esquema errado ou por tempo demasiado [35].

A Organização Mundial de Saúde (OMS) afirma que a resistência aos antibióticos é uma

grande ameaça à saúde global, e que ela pode afetar a qualquer pessoa, em qualquer idade e em

qualquer país. A resistência aos antibióticos ocorre naturalmente, mas utilização inadequada

destes em humanos e animais contribui para a aceleração do processo. Um crescente número

de doenças contagiosas, como tuberculose e pneumonia, estão se tornando difíceis de curar uma

vez que os antibióticos utilizados para tratá-las estão se tornando menos efetivos. A resistência

aos antibióticos leva a uma maior estadia dos pacientes nos hospitais, maiores custos de

medicamentos e um aumento da mortalidade [36].

Diante a situação atual de resistência bacteriana que ameaça o globo, os derivados de

plantas ainda não estudadas para a finalidade antibiótica ganham um interesse especial para a

busca por novos fármacos dessa classe. O extrato metanólico de folhas de P. virirdis já teve seu

potencial inibitório no crescimento de cinco espécies de bactérias (duas Gram + e três Gram -)

avaliado, sem nenhum resultado positivo [5]. Porém, os demais extratos (apolar e de média

polaridade) de folhas de P. viridis não haviam sido testados para este fim. Por isso, o presente

estudo utilizou outros extratos de folhas de P. viridis, uma maior concentração dos extratos nos

testes e um maior número de espécies bacterianas para a avaliação da atividade antimicrobiana

desses extratos. Além disso, os extratos de caules de B. caapi ainda não haviam sido testados

com esta finalidade até o momento.

2.8 Atividade antioxidante

Um radical livre é definido como qualquer espécie que tem um ou mais elétrons

desemparelhados em órbita externa. Esta definição inclui o átomo de hidrogênio (um elétron

desemparelhado), a maioria dos metais de transição e a molécula de oxigênio [37]. Tais estados

químicos reagem prontamente com moléculas orgânicas e inorgânicas, pois são extremamente

instáveis. Uma vez gerados nas células, radicais livres reagem rapidamente com ácidos

nucleicos e uma variedade de proteínas e lipídios celulares. Além disso, reações auto-catalíticas

são iniciadas por radicais livres e convertem as moléculas que reagem com eles em novos

radicais livres e dessa forma propagam a cadeia de danos [38].

Antioxidantes são compostos ou sistemas que retardam a auto-oxidação por inibirem a

formação de radicais livres ou por interromperem a propagação destes através de um, ou mais,

dos diversos mecanismos: (1) eliminando espécies que iniciam a peroxidação, (2) quelando íons

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metálicos de tal forma que se tornam incapazes de gerar espécies reativas ou decompor

peróxidos lipídicos, (3) estabilizando a molécula de ·O2- prevenindo a formação de peróxido,

(4) quebrando a cadeia de reação oxidativa, e/ou (5) reduzindo as concentrações locais de O2

[39].

Extratos de frutas, vegetais, cereais e seus subprodutos industriais são ricos em

antioxidantes, como ácido ascórbico, tocoferóis, carotenoides e compostos fenólicos, e têm

demonstrado eficaz atividade antioxidante em sistemas modelo. É importante ressaltar que

antioxidantes naturais possuem uma toxicidade mais baixa quando comparados aos

antioxidantes sintéticos [40] [41].

Antioxidantes naturais são associados ao aumento de efeitos promotores da saúde que

previnem doenças, como: aterosclerose, câncer, mal de Alzheimer e de Parkinson, doenças

autoimunes, entre outras, relacionadas a espécies reativas de O2* [42].

Já foi demonstrada a propriedade antioxidante do extrato metanólico de folhas de P.

viridis [5]. Assim sendo, a formulação deste extrato contribui para a obtenção de um novo

fármaco de origem natural a ser utilizado na prevenção e tratamento de doenças causadas por

radicais livres. Os extratos de caules do cipó B. caapi ainda não haviam sido testados para este

fim, o que torna a pesquisa da atividade antioxidante desses extratos relevante para melhor

entender as atividades biológicas que eles possuem ou deixam de possuir.

2.9 Sistemas nanoestruturados

Na pesquisa de fito-formulação, formas de distribuição de nanodosagens

(nanopartículas ou nanocápsulas poliméricas, lipossomas, nanopartículas sólidas lipídicas,

fitossomas, nanoemulsões e outras), têm inúmeras vantagens relacionadas a substâncias de

origem vegetal, incluindo desde uma melhor solubilidade e biodisponibilidade até a proteção

contra a degradação física e química. A solubilidade lipídica e o tamanho molecular são os

principais fatores limitantes para que compostos bioativos presentes em substâncias de origem

vegetal atravessem membranas biológicas e sejam absorvidos sistematicamente após

administração oral ou tópica [43].

As microemulsões são sistemas aparentemente transparentes, homogêneos, de baixa

viscosidade, que contêm alta porcentagem de óleo e água e altas concentrações (15-25%) de

mistura emulsificante. Estas nanoestruturas formam-se espontaneamente e são

termodinamicamente estáveis quando seus componentes são misturados na proporção

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adequada. Em sua forma mais simples, esses sistemas são constituídos de pequenas gotículas

(5-140 nm de diâmetro) de um líquido disperso em outro na presença de alta concentração de

uma associação adequada de tensoativos [44].

O uso de microemulsões apresenta vantagens, tais como: absorção oral mais rápida e

eficiente de fármacos, melhoria da liberação transdérmica ao aumentar a difusão pela pele,

capacidade de direcionar a substância ativa para sítios específicos, entre outras [45].

Substâncias oleosas ou lipofílicas são incorporadas em uma emulsão do tipo óleo/água (O/A)

ou óleo/água/óleo (O/A/O). Por outro lado, compostos solúveis em água são inseridos em

emulsão do tipo A/O ou A/O/A [43].

Dentre as diversas formas farmacêuticas acima citadas temos o lipossoma, que é

constituído de partículas esféricas que encapsulam uma fração do solvente, no qual eles se

difundem livremente no seu interior. Os lipossomas são construídos utilizando lipídios polares

os quais possuem um grupo lipofílico e um hidrofílico em sua estrutura química. Devido esta

versatilidade química, uma de suas principais vantagens está no fato de se poderem carrear

compostos hidrofílicos, lipofílicos ou anfifílicos [43].

Também tem sido observado que a complexação com certos compostos melhoram

substancialmente a biodisponibilidade de extratos vegetais e seus constituintes individuais. Nas

formulações do tipo fitossomas, a fosfatidilcolina e os componentes vegetais formam um

complexo molecular na forma de 1:1 ou 2:1, dependendo da substância complexada,

envolvendo ligações químicas [43]. Pode ser visto que as opções para veicular extratos vegetais

e princípios ativos são inúmeras, e a escolha dessas vai depender da identidade química e física

do composto em questão.

Outro tipo de formulação são os sistemas de formação in situ, como os géis

termossensíveis, os quais têm sido comumente citados na literatura. Entre eles se encontra o

Poloxamer 407, o qual é considerado um ingrediente “inativo” pelo Food and Drug

Administration (FDA), e é utilizado para diversos tipos de preparações (soluções orais,

suspensões tópicas ou oftalmológicas, inalação, entre outras). Este grupo de co-polímeros

consiste de blocos de oxido de etileno (OE) e oxido de propileno (OP) arranjados em tri-blocos:

OE-OP-OE (Figura 2.6) [46].

Em soluções aquosas, o Poloxamer 407 apresenta propriedades termorreversíveis,

possibilitando otimização de formulações de fármacos. Em baixas temperaturas as amostras

contendo estas soluções se mantêm fluídas, porém quando a temperatura aumenta as moléculas

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deste copolímero se agregam em forma de micelas (Figura 2.6). Estas micelas podem carrear

substâncias com baixa solubilidade no meio aquoso [46].

Figura 2.6 Representação esquemática do mecanismo de associação do Poloxamer 407 em água.

Fonte: Adaptado de Dumortier et al, 2006.

O gel formado por soluções aquosas deste copolímero é reversível, isto é, ao colocar o

gel sob refrigeração ou ao aquecê-lo acima de sua temperatura de liquefação, o estado sólido se

reverte à fase líquida. O gel pode ser resfriado e/ou aquecido inúmeras vezes e não haverá

mudanças em suas propriedades. Uma solução aquosa de Poloxamer 407 a 20% se apresenta

como um sólido rígido em temperatura ambiente, isto é, um gel viscoso. Por outro lado, em

uma concentração de 18% este tipo de solução se apresenta como um gel pouco viscoso em

temperatura ambiente [47]. Ou seja, quanto menor a concentração deste copolímero na solução

aquosa, menor será a viscosidade do gel formado.

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36

3 OBJETIVOS E METAS

3.1.1 Objetivo geral

Realizar análises fitoquímicas e de atividades biológicas dos extratos de folhas da

Chacrona (P. viridis) e de caules do Jagube (B. caapi) obtidos com hexano, acetato de etila,

metanol e etanol, este último apenas para as folhas da Chacrona. Caracterizar alguns possíveis

potenciais terapêuticos destes extratos in vitro, visando o desenvolvimento de formulações com

os extratos que apresentem melhores atividades biológicas.

3.1.2 Metas

As metas desta pesquisa são:

• Obter extratos de folhas de P. viridis e de caules de B. caapi, utilizando como

solventes extratores hexano, acetato de etila, metanol e etanol, este último

apenas para as folhas de P. viridis;

• Analisar estes extratos por cromatografia a gás acoplada a espectrometria de

massas (CG-EM);

• Submeter os extratos a testes de atividade antioxidante, antibacteriana e

antifúngica;

• Preparar formulações a partir dos extratos;

• Caracterizar as formulações;

• Submeter as formulações obtidas a testes de atividade antioxidante.

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4 MATERIAL E MÉTODOS

4.1 Preparação dos extratos

Os extratos foram preparados a partir das folhas secas e trituradas de P. viridis e a partir

dos caules de B. caapi secos e triturados, por processo de extração contínua em aparelho de

Soxhlet, no Laboratório de Fitotecnologia do CiPharma. Para as duas plantas duas extrações

foram feitas, conforme descrito a seguir.

A coleta das folhas de P. viridis, utilizadas para obtenção dos extratos, foi realizada pelo

perito da Polícia Federal André Dias Cavalcanti, em julho de 2013, na parte da manhã na

plantação existente no núcleo da UDV, situado no município de Lagoa da Prata, Minas Gerais,

situado a 20º 01' 21" de latitude Sul e a 45º 32' 37" de longitude Oeste. O plantio e o manejo de

P. viridis nesta plantação são supervisionados por Engenheiro Agrônomo da UDV, o que

garante a identidade dessa espécie. O material coletado foi seco em estufa de ventilação forçada

a 40°C. Após secagem, as folhas foram trituradas em moinho de martelos.

Na primeira extração das folhas da Chacrona, partiu-se de 56,4 g do material vegetal

triturado, utilizando-se sequencialmente os solventes hexano, acetato de etila e metanol, com

um tempo médio de sete horas de extração para cada solvente, conforme esquema demonstrado

a seguir (Figura 4.1).

Figura 4.1 Esquema do processo de obtenção dos extratos de folhas de P. viridis utilizando solventes de

polaridade crescente, sendo o mais polar o metanol.

Folhas trituradas (56,4 g)

•HexanoExtrato

hexânico(0,6 g)

• Acetato de etila Extrato

acetato de etila (0,9 g)

• MetanolExtrato

metanólico(10,1 g )

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Em uma segunda extração das folhas da Chacrona, partiu-se de 91,3 g do material

vegetal triturado, utilizando-se sequencialmente os solventes hexano, acetato de etila e etanol,

novamente com o tempo médio de extração de sete horas para cada solvente, conforme esquema

representado a seguir (Figura 4.2).

Figura 4.2 Esquema do processo de obtenção dos extratos de folhas de P. viridis utilizando solventes de

polaridade crescente, sendo o mais polar o etanol.

A coleta dos caules do cipó B. caapi foi realizada pelo Prof. Dr. Ricardo Luiz Narciso

Moebus, da Escola de Medicina da UFOP, e pelo médico urologista Dr. Rodrigo Quintela

Soares, em abril de 2017, na parte da tarde na plantação do núcleo do Santo Daime na zona

rural do município de Esmeraldas, Minas Gerais, situado a 19º 42' 29" de latitude Sul e a 44º

22' 59" de longitude Oeste. A exsicata foi depositada no Herbário Prof. José Badini do

Departamento de Biodiversidade, Evolução e Meio Ambiente (DEBIO) do Instituto de Ciências

Exatas e Biológicas da Universidade Federal de Ouro Preto (ICEB/UFOP), sob o número

OUPR 29757. O material da coleta foi seco de forma natural, sendo reduzido a tamanhos

menores e posteriormente triturados em moinho de facas.

Para a primeira extração, após secagem, os caules do cipó B. caapi foram cortados em

formas circulares na serralheria da UFOP. Posteriormente, devido a não disponibilidade de um

moinho de martelos ideal para a trituração deste tipo de material vegetal, as rodelas foram

cortadas em tamanhos menores com o auxílio de uma tesoura de poda. O material fragmentado

obtido (61,5 g) foi submetido em aparelho de Soxhlet utilizando hexano, acetato de etila e

finalmente metanol (Figura 4.3). Para cada solvente extrator foi gasto um tempo médio de oito

horas.

Folhas trituradas (91,3 g)

• Hexano

Extrato hexânico(1,7 g)

• Acetato de etila Extrato

acetato de etila (1,2 g)

• EtanolExtrato

etanólico(12,3 g )

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Figura 4.3 Esquema de processo de obtenção dos extratos de caules de B. caapi fragmentados, utilizando

solventes de polaridade crescente.

A fim de tentar aumentar o rendimento das extrações, os caules de B. caapi foram

inicialmente fragmentados utilizando uma tesoura de poda e posteriormente triturados

utilizando o moinho de facas do Laboratório de Aulas Práticas de Farmacognosia da Escola de

Farmácia da UFOP. O processo de extração sequencial utilizando solventes de polaridade

crescente, com tempo médio de oito horas de extração para cada um deles, está esquematizado

a seguir (Figura 4.4).

Figura 4.4 Esquema de processo de obtenção dos extratos de caules de B. caapi triturados, utilizando solventes

de polaridade crescente.

Caules reduzidos (61,5 g)

• Hexano

Extrato hexânico(0,4 g)

• Acetato de etila Extrato

acetato de etila (0,5 g)

• MetanolExtrato

metanólico(1,8 g )

Caules triturados (60,5 g)

• Hexano

Extrato hexânico(0,7 g)

• Acetato de etila Extrato

acetato de etila (0,5 g)

• MetanolExtrato

metanólico(3,0 g )

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Em todos os esquemas, após a extração cada solvente foi removido e recuperado em

rotaevaporador, na temperatura de 40ºC e pressão reduzida no sistema.

4.2 Análises dos extratos por CG-EM

Para averiguar a presença de DMT nos extratos de folhas de P. viridis e de alcaloides

beta-carbonílicos nos extratos de caules de B. caapi, cada um deles foi analisado por CG-EM.

Estas análises foram feitas com a colaboração do perito da Polícia Federal André Dias

Cavalcanti no Departamento de Polícia Federal – Setor Técnico-Científico do Estado de Minas

Gerais. Os extratos secos foram ressuspendidos em seus respectivos solventes de origem e

dissolvidos sob agitação em aparelho de Vórtex. Posteriormente, as amostras foram analisadas

em aparelho Agilent Technologies 6890N, equipado com detector de massas seletivo Agilent

Technologies 5973, operando a 70 eV, e usando uma coluna DB-1MS como fase estacionária

e gás hélio (0,8 mL/min) como fase móvel. Condições analíticas: Injetor a 280oC; split (140:1);

temperatura 150oC (2 min); 40oC/min; 315oC (4,87 min); Corrida total: 11,0 min. Detector de

massas: Scan (40-550 m/z); Atraso do solvente: 1,80 min.; Volume injetado: 0,2 µL. O espectro

de massas de cada constituinte do extrato foi comparado com o do composto de maior

probabilidade (≥ 95%) disponível no banco de dados NIST 2.0.

4.3 Testes microbiológicos com os extratos

Os testes de atividade antifúngica e antimicrobiana foram realizados no Laboratório de

Microbiologia do CiPharma. A triagem para a verificação da atividade antimicrobiana dos

extratos foi realizada utilizando o método de difusão em ágar, qualitativo, e a concentração

inibitória mínima (CIM), quantitativo, pelo método de microdiluição em caldo.

Ao todo foram estudados dezenove microrganismos, dezoito bactérias, seis Gram + e

doze Gram -, e um fungo. Os microrganismos utilizados são de coleções padrão da American

type culture collection (ATCC) e espécies isoladas de amostras clínicas, conforme detalhado

abaixo (Tabela 4.1 e Tabela 4.2). O fungo leviduriforme utilizado foi Candida albicans ATCC

14408.

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Tabela 4.1 Bactérias Gram + utilizadas na avaliação da atividade antibacteriana dos extratos de folhas de P.

viridis e de caules de B. caapi.

Espécies Referência

Staphylococcus aureus ATCC 25923

Staphylococcus aureus MRSA isolado clínico

Staphylococcus saprophyticus ATCC 15305

Enterococcus faecium ATCC 6569

Enterococcus faecalis ATCC 15325

Listeria monocytogenes isolado clínico

Tabela 4.2 Bactérias Gram – utilizadas na avaliação da atividade antibacteriana dos extratos de folhas de P.

viridis e de caules de B. caapi.

Espécie Referência

Escherichia coli ATCC 25922

Escherichia coli EPEC isolado clínico

Enterobacter aerogenes ATCC 13048

Salmonella enteritidis ATCC 13076

Salmonella typhimurium ATCC 14028

Shigella flexneri ATCC 12022

Klebsiella oxytoca ATCC 13182

Proteus mirabilis ATCC 25933

Providencia rettgeri ATCC 29944

Pseudomonas aeruginosa ATCC 27853

Shigella sonnei ATCC 25931

Klebsiella pneumoniae ATCC 13833

4.3.1 Avaliação qualitativa da propriedade antimicrobiana

Para a avaliação qualitativa da atividade antifúngica e antibacteriana foram utilizados

os métodos de triagem por difusão em ágar com controle positivo, e de difusão em poço descrito

por Okunji e colaboradores [48].

Em uma primeira triagem utilizou-se duas bactérias (uma Gram + e uma Gram -) e um

fungo mais sensíveis, para avaliar se os extratos possuíam ou não propriedade inibitória do

crescimento desses microrganismos, visto que se os sensíveis não apresentassem inibição de

crescimento provavelmente os mais resistentes também não o fariam. A maior sensibilidade

destas espécies foi observada em experimentos anteriores, com outros extratos ou óleos

vegetais, pelos pesquisadores que utilizam este laboratório.

Para a realização destes testes, os extratos de folhas de P. viridis e de caules de B. caapi

foram dissolvidos em dimetil-sulfóxido (DMSO) (Vetec®, Brasil) em uma concentração de

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50,0 mg/mL. Foram feitas duplicatas com controle positivo (C+) (100,0 µg/mL), este de acordo

com a espécie testada e sua sensibilidade ao antibiótico utilizado (Tabela 4.3 e Tabela 4.4), e

controle negativo, ou seja, o DMSO puro, utilizado para todas as espécies estudadas. As

bactérias utilizadas nesta fase preliminar foram: Staphylococcus aureus (Gram +) e Escherichia

coli (Gram -). E o fungo utilizado foi Candida albicans, neste caso, foi utilizado como controle

positivo o cetoconazol (100,0 µg/mL).

Tabela 4.3 Antibióticos usados como controle positivo (C+) para as bactérias Gram +.

Espécies C+

Staphylococcus aureus Tetraciclina

Staphylococcus aureus MRSA Tetraciclina

Staphylococcus saprophyticus Tetraciclina

Enterococcus faecium Tetraciclina

Enterococcus faecalis Tetraciclina

Listeria monocytogenes Moxifloxacino

Tabela 4.4 Antibióticos usados como controle positivo (C+) para as bactérias Gram -.

Espécie C+

Escherichia coli Tetraciclina

Escherichia coli EPEC Tetraciclina

Enterobacter aerogenes Tetraciclina

Salmonella enteritidis Tetraciclina

Salmonella typhimurium Tetraciclina

Shigella flexneri Tetraciclina

Klebsiella oxytoca Tetraciclina

Proteus mirabilis Moxifloxacino

Providencia rettgeri Moxifloxacino

Pseudomonas aeruginosa Moxifloxacino

Shigella sonnei Moxifloxacino

Klebsiella pneumoniae Moxifloxacino

Antes do preparo do inóculo, os microrganismos, mantidos sob refrigeração, foram

repicados em placas Petri contendo ágar Muller Hinton (Oxoid®), para as bactérias, e ágar

Sabouraud (Predimol®), para a levedura. Em seguida, as bactérias foram incubadas em estufa

a 37 ± 2ºC por 24 horas, e a levedura durante 48 horas. Após o crescimento dos microrganismos,

os inóculos foram preparados em salina (NaCl 0,9%), visando obter suspensões de turvação

referente ao tubo 0,5 da escala de McFarland (1 x 108 UFC/mL).

Placas Petri contendo ágar Muller Hinton ou ágar Sabouraud foram perfuradas, obtendo-

se orifícios de 6,0 mm de diâmetro. Após este procedimento, estas placas foram inoculadas por

semeadura de superfície, com o auxílio de um swab, com as suspenções microbianas. Em

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seguida, aproximadamente 50,0 µL da solução de cada um dos extratos, controle positivo e

controle negativo foram aplicados nos orifícios das placas, as quais foram incubadas por 24/48

horas em estufa a 37 ± 2ºC. Depois do período de incubação, os halos de inibição de crescimento

foram medidos com o auxílio de uma régua milimétrica.

Os testes foram realizados em duplicatas e os resultados expressos como sendo a média

do halo de inibição ± desvio padrão.

4.3.2 Avaliação da concentração inibitória mínima

Para a avaliação da concentração inibitória mínima (CIM) foi utilizada a metodologia

de microdiluição em caldo, estabelecida pelo Clinical and Laboratory Standards Institute

(CLSI) com modificações [49]. Devido a C. albicans ter sido resistente aos extratos testados de

forma qualitativa, somente as bactérias foram submetidas aos testes quantitativos.

Visto que há a ausência de padronização para testes de atividade antimicrobiana com

produtos naturais e que estes possuem uma difícil solubilização em meio de cultura líquido, em

2016, Amparo desenvolveu e validou um método para a avaliação da CIM para extratos e

frações insolúveis no meio de cultura líquido [50]. Este método foi utilizado neste estudo.

Para o preparo do inóculo, as bactérias foram cultivadas em placas Petri contendo ágar

Muller Hinton por 24 horas em estufa a 37 ± 2ºC, e posteriormente suspendidas em salina (NaCl

0,9%) obtendo-se turvação referente ao tubo 0,5 da escala de McFarland (1 x 108 UFC/mL). As

suspenções obtidas foram diluídas 1:100 em caldo Muller Hinton (Himedia®) para se obter

uma suspensão de 1 x 106 UFC/mL, visando uma concentração final de 5 x 105 UFC/mL de

microrganismos no teste.

Os extratos foram dissolvidos em metanol (MeOH) em uma concentração de 100,0

mg/mL, para que a maior concentração testada fosse 50,0 mg/mL, como nos testes

microbiológicos qualitativos.

Em microplacas estéreis de 96 poços, foram adicionados 25,0 µL de MeOH a partir do

segundo poço. Logo após, 50,0 µL da solução do extrato foram colocados no primeiro poço e

foram feitas diluições seriadas 1:2, retirando 25,0 µL de solução do primeiro poço e transferindo

para o seguinte, homogeneizando o conteúdo deste último poço e transferindo 25,0 µL para o

próximo poço, e assim sucessivamente até o último poço. Desta maneira, os extratos foram

testados em 12 concentrações diferentes, variando entre 50,000 a 0,024 mg/mL. Depois de

feitas estas diluições, foram adicionados 25,0 µL de caldo Muller Hinton em cada poço.

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44

No controle de crescimento foram colocados 25,0 µL de meio de cultura (caldo Muller

Hinton). Para o controle positivo foram adicionados 25,0 µL do antibiótico correspondente à

bactéria testada (conforme listado no subitem 4.3.1). No controle negativo, foram adicionados

25,0 µL de MeOH e 25,0 µL de caldo. Para o controle do meio de cultura foram adicionados

50,0 µL de caldo. Os controles, assim como os testes com os extratos, foram feitos em

duplicatas.

Para a evaporação do MeOH, as microplacas foram mantidas em repouso por

aproximadamente 25 minutos dentro da capela de segurança biológica, evitando qualquer

contaminação. Após confirmada a evaporação do MeOH, foram adicionados 25,0 µL de inóculo

em todos os poços, exceto nos poços de controle do meio de cultura. A seguir, as microplacas

foram incubadas em estufa a 37 ± 2ºC por 24 horas.

Posteriormente, todos os poços foram repicados, com auxílio de uma alça

bacteriológica, em placas Petri devidamente identificadas com relação ao poço correspondente,

e essas foram incubadas em estufa a 37 ± 2ºC por 24 horas. Foi considerado como CIM a menor

concentração em que não foi detectado crescimento microbiano.

4.4 Teste da atividade antioxidante

Para a avaliação da atividade antioxidante dos extratos foi utilizado o método do DPPH,

no qual ocorre a mudança de coloração de violeta para amarelo em presença de agentes

antioxidantes, e o método do ABTS, onde também ocorre mudança de coloração na presença

de agentes antioxidantes, porém de cor esverdeada para incolor.

4.4.1 Método do ensaio do DPPH

O teste do DPPH (2,2-difenil-1-picril-hidrazila) é um método espectrofotométrico

relativamente simples, o qual se baseia na capacidade “descolorante” da amostra. O método

avalia a capacidade de transferência de elétrons por ação de um antioxidante ou uma espécie

radicalar. O DPPH, de coloração púrpura, o qual absorve luz em um comprimento de onda

máximo de aproximadamente 517 nm, é reduzido formando o radical difenil-picril-hidrazila,

de cor amarela, com consequente diminuição da absorção [51]. A propriedade dos extratos de

reduzirem o radical DPPH foi avaliada através do decréscimo de absorbância a 490 nm,

conforme descrito por Quintão e colaboradores [52].

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45

Os extratos de folhas da Chacrona foram solubilizados em etanol 98,2º GL na

concentração de 200,0 µg/mL. A partir desta solução foram realizadas diluições obtendo outras

quatro soluções nas concentrações: 150,0; 100,0; 71,5 e 28,5 µg/mL.

Os extratos de caules do Jagube também foram solubilizados em etanol 98,2º GL, porém

a 300,0 µg/mL. Uma vez que não havia conhecimento da atividade antioxidante destes extratos,

um intervalo maior de concentrações foi testado, se comparado aos testes realizados com os

extratos de folhas da Chacrona. Assim sendo, a partir da concentração inicial foram feitas

diluições de modo a obter as seguintes concentrações: 246,43; 203,27; 150,00; 96,43; 53,57;

21,43; 10,71 e 6,43 µg/mL.

Em microplacas com 96 poços, foram adicionados 100,0 µL de solução etanólica de

DDPH (Sigma-Aldrich®) 0,008% p/v e 140,0 µL das diferentes concentrações dos extratos das

duas plantas estudadas. Como controle negativo, foram utilizados 140,0 µL de etanol 98,2º GL,

sem adição dos extratos, juntamente com 100,0 µL da solução etanólica de DPPH. Como padrão

foi utilizada solução etanólica de ácido gálico, um antioxidante sintético, nas concentrações:

12,0; 6,0; 2,1; 0,85 e 0,4 µg/mL. De forma similar ao procedimento utilizado para os extratos,

adicionou-se 140,0 µL das diferentes concentrações do padrão e 100,0 µL de solução etanólica

0,008% p/v de DPPH. Como branco, foram adicionados 240,0 µL de etanol 98,2º GL. A leitura

das placas foi feita em 490 nm, após 30 minutos de incubação das microplacas em temperatura

ambiente e ao abrigo de luz, no Laboratório Multiusuário do CiPharma.

As absorbâncias das amostras foram utilizadas para calcular o percentual de inibição do

radical livre DPPH, através da seguinte fórmula:

%IDPPH = [(CN-AM)/CN] x 100, onde:

%IDDPH = porcentagem de inibição do radical livre DPPH;

CN= absorbância do controle negativo;

AM = absorbância da amostra descontada a absorbância do branco.

O experimento foi realizado em triplicata, e os resultados foram expressos como média

± desvio padrão.

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46

4.4.2 Método do ensaio do ABTS

O método do ABTS (2,2-azino-bis [3-etil-benzotiazolina-6-ácido sulfônico]) também é

um método espectrofotométrico, onde o radical ABTS primeiramente será formado através de

reações enzimáticas ou químicas, como com o persulfato de potássio. Uma vez formado, este

radical apresenta uma coloração esverdeada a qual vai sendo eliminada à medida que o

composto é reduzido por uma substância antioxidante [53] [54]. O método é baseado na

capacidade de sequestro do cátion ABTS•+ de diferentes substâncias comparado a um

antioxidante padrão por uma curva de dose-resposta, conforme descrito por Cano [55].

O método espectrofotométrico do ABTS foi utilizado de acordo com Arnao e

colaboradores [56]. Foram preparadas duas soluções aquosas, uma contendo 7,4 mM de ABTS

(Sigma-Aldrich®) e a outra com 2,6 mM de persulfato de potássio. A solução final foi feita

com a mistura das duas soluções estoque, na proporção de 1:1 (v/v). Esta solução final foi

deixada em repouso por 12 horas ao abrigo da luz e em temperatura ambiente. Após este

período, a solução final foi então diluída em uma mistura com uma proporção aproximada de

1,0 mL de solução de ABTS com 55,0 mL de etanol 98,2º GL, para se obter uma absorção de

0,70 ± 0,02 no comprimento de onda de 650 nm, solução esta a qual foi utilizada no teste.

Os extratos de folhas da Chacrona e de caules do Jagube foram solubilizados em etanol

98,2º GL na concentração de 150,0 µg/mL. A partir desta solução foram feitas mais 11 diluições

obtendo-se as seguintes concentrações: 100,0; 50,0; 25,0; 15,0; 10,0; 5,0; 2,5; 1,5; 0,67; 0,34 e

0,17 µg/mL.

Em microplacas com 96 poços, foram adicionados 30,0 µL das diferentes concentrações

dos extratos testados e 120,0 µL da solução final diluída de ABTS. Este mesmo procedimento

foi feito com o ácido gálico, o qual foi novamente utilizado como padrão, nas concentrações de

5,00; 3,34; 1,67; 1,00; 0,67; 0,34 e 0,17 µg/mL. Para o controle negativo, foram adicionados

30,0 µL de etanol 98,2º GL e 120,0 µL da solução final diluída de ABTS. A leitura das

microplacas foi feita em 650 nm, após 6 minutos de incubação das mesmas ao abrigo da luz e

em temperatura ambiente, no Laboratório Multiusuário do CiPharma.

O experimento foi feito em triplicata e os valores expressos como a média das

absorbâncias ± desvio padrão. Com os valores obtidos no teste com o padrão, foi construída a

curva de calibração. A propriedade antioxidante das amostras foi determinada pela interpolação

da média de suas absorbâncias na equação linear originada pelos resultados do padrão, e foi

expresso por mg equivalentes de ácido gálico (EAG) por g dos extratos.

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4.5 Teste de solubilidade dos extratos

Os extratos metanólicos de ambas as plantas foram escolhidos para serem incorporados

a uma formulação. Assim sendo, foi feito um teste de solubilidade com estes extratos para

verificar a hidrofilicidade e/ou a lipofilicidade destes, no Laboratório de Fitotecnologia do

CiPharma. Para este teste uma amostra de cada extrato foi colocada em água e em óleo de

girassol para ver a solubilidade desses extratos nesses meios. Uma vez em contato com estes

solventes, as amostras foram agitadas levemente e posteriormente colocadas em repouso em

estufa a 40 ± 2ºC por 24 horas. Após este período, foi avaliada visualmente a solubilidade de

cada extrato nos meios aquoso e oleoso.

4.6 Desenvolvimento das formulações

4.6.1 Obtenção das soluções micelares

Após avaliar a solubilidade dos extratos metanólicos de folhas da Chacrona e de caules

do Jagube, concluiu-se que a melhor forma de os incorporar a uma formulação seria

desenvolvendo uma solução micelar com esses extratos.

Foram feitas duas soluções micelares, uma com o extrato metanólico de folhas da

Chacrona e outra com o extrato metanólico de caules do Jagube. Ambas as formulações tiveram

as mesmas constituições quantitativas e qualitativas (Tabela 4.5), diferindo apenas no extrato

metanólico utilizado em cada uma, e a mesma técnica foi utilizada para o desenvolvimento das

duas soluções, as quais foram desenvolvidas no Laboratório de Fitotecnologia do CiPharma.

Esta técnica envolve a dissolução do copolímero Poloxamer 407 (Symperonic™ PE/F 127

CRODA) em água destilada em banho de gelo com agitador magnético (VELP scientific, ARE).

Após a solubilização completa do copolímero, o extrato em questão foi adicionado, ainda sob

agitação magnética, até sua completa incorporação na dispersão. Após o repouso da solução em

temperatura ambiente, o copolímero se reorganiza, uma vez que quanto maior a temperatura

menor sua solubilidade em água, formando micelas as quais contêm em seu interior o extrato

incorporado.

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48

Tabela 4.5 Composição da solução micelar elaborada com extratos metanólicos de folhas da Chacrona e de

caules do Jagube.

Componentes Porcentagem (%)

Extrato metanólico 1

Poloxamer 407 10

Água destilada 89

Para os testes de atividade biológica realizados com as soluções micelares

desenvolvidas, foi necessária a elaboração de uma solução micelar a qual não continha extrato

incorporado (Tabela 4.6), para poder verificar se a atividade biológica apresentada nos testes

era referente aos extratos incorporados nas soluções e não resultado dos excipientes utilizados

na constituição das mesmas. Esta formulação foi denominada de controle da solução e foi

desenvolvida com a mesma técnica descrita anteriormente, porém sem a adição de extrato.

Tabela 4.6 Composição do controle da solução micelar sem extrato metanólico.

Componentes Porcentagem (%)

Poloxamer 407 10

Água destilada 90

4.6.2 Caracterização das soluções micelares

4.6.2.1 Análise macroscópica

Após 24 horas da produção das soluções micelares foi feita a análise macroscópica das

soluções no Laboratório de Fitotecnologia do CiPharma, onde foram observadas as

características organolépticas e a homogeneidade das formulações.

4.6.2.2 Análise microscópica

Na análise microscópica, as soluções micelares estáveis foram avaliadas de acordo com

sua morfologia e homogeneidade. Adicionou-se sobre a lâmina de microscopia uma gotícula

da formulação e, sobre esta, uma lamínula. Em seguida foi feita a análise utilizando microscópio

(Zeiss - Scope.A1) no Laboratório de Fitotecnologia do CiPharma.

4.6.2.3 Ensaio de estabilidade acelerada

A fim de avaliar a estabilidade das formulações através da centrifugação, 1,0 mL de

cada solução micelar foi adicionado em um frasco de Eppendorf e submetidos a ciclos de 5

minutos de rotação a 1.500, 2.500 e 3.500 rotações por minuto (rpm) em centrífuga (Nova®).

Após cada ciclo, foi avaliada macroscopicamente a ocorrência de separação de fases. As

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49

análises ocorreram no dia 1 após o preparo das soluções e foram realizadas no Laboratório de

Fitotecnologia do CiPharma.

4.6.2.4 Determinação do tamanho de partícula

A distribuição do tamanho das partículas das soluções micelares foi analisada por duas

técnicas diferentes. Uma através da espectroscopia de correlação de fótons, também conhecida

como espalhamento de luz dinâmico (Dynamic Light Scattering, DLS), sendo realizada no

equipamento Zetasizer (Malvern, modelo Zetasizer Nano series - Nano ZS), nos dias 1, 7, 14,

21 e 28 após o preparo das soluções, para observar a estabilidade destas durante esse período.

Estas análises foram realizadas no Laboratório Multiusuário do CiPharma. As amostras foram

preparadas em proporções aproximadas de 1:100, adicionando-se 10,0 µL de formulação em

1,0 mL de água ultrapura (MilliQ – Millipore) e homogeneizando esta solução, a qual foi feita

em uma cubeta de quartzo para a realização das leituras. As análises foram realizadas em

triplicata e as medidas efetuadas sob ângulo de espalhamento de 90º. Os resultados foram

expressos como diâmetro médio das partículas e índice de polidispersão (IP).

A outra técnica utilizada para a análise do tamanho das partículas nas soluções foi

realizada no dia 2 após o preparo das formulações. Este experimento foi feito com a colaboração

da agora Doutora Juliane Sousa Lanza do Programa de Pós-Graduação em Fisiologia e

Farmacologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Minas

Gerais (UFMG), sendo realizado no laboratório desse programa. Esta técnica se chama análise

de rastreamento de nanopartícula (Nanoparticle Tracking Analysis – NTA) e utiliza o

equipamento Nanosight® modelo LM14C (Malvern Instruments, Reino Unido), acoplado a uma

câmera CMOS de alta sensibilidade, a qual utiliza o programa NTA 3.2 Dev Build 3.2.16 para

o registro dos movimentos das partículas. Ambas propriedades de partículas são utilizadas neste

procedimento: o espalhamento de luz e o movimento browniano. Estes movimentos são

gravados quadro-a-quadro, registrando a difusão de pontos individuais de luz espalhados por

cada partícula iluminada por um feixe de laser infravermelho. Após o processamento do vídeo,

o coeficiente de difusão das partículas no meio é utilizado para se ter acesso a distribuição de

tamanho e a densidade de partículas [57]. A solução foi diluída em água ultrapura (1:1000) e

inserida na câmara de visualização do equipamento para a gravação do vídeo, com as seguintes

configurações de captura de imagens: 5 de threshold, 15 de Gain, Luminosidades e Blur

automáticos. As análises foram realizadas em triplicatas e em uma temperatura de 25ºC.

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50

4.6.2.5 Determinação do potencial zeta

Através das medidas de mobilidade eletroforética das partículas em suspensão foi

determinado o potencial zeta das emulsões micelares, nos dias 1, 7, 14, 21 e 28 após o preparo

das mesmas. Estas análises foram realizadas no Laboratório Multiusuário do CiPharma

utilizando o equipamento Zetasizer, o qual dispõe de uma célula que contém eletrodos de cargas

opostas, um em cada parte terminal de um tubo em forma de “U”, onde a amostra foi adicionada

para análise. Neste experimento utilizou-se a mesma amostra obtida da diluição de 1:100 de

formulação em água ultrapura obtida na solução para análise de tamanho das partículas pela

técnica de DLS.

4.7 Avaliação da propriedade antioxidante das formulações contendo extratos

Os procedimentos de avaliação da propriedade antioxidante das formulações foram

feitos de forma similar a utilizada para os extratos e descritos no item 4.4, ou seja, ensaio do

DPPH e do ABTS. A diferença foi a concentração utilizada e a presença do controle da solução,

como descrito a seguir.

4.7.1 Método do ensaio do DPPH

A partir de uma concentração inicial de 6,25% de cada formulação diluída em etanol

98,2º GL (% v/v), obteve-se mais cinco concentrações diferentes. Assim sendo, as

concentrações testadas, para ambas formulações, foram: 6,25; 1,79; 0,25; 0,125; 0,063 e

0,036%. Para cada uma das seis diferentes concentrações testadas foi feito um controle da

formulação nas mesmas concentrações, porém sem a adição da solução etanólica de DPPH

0,008% p/v. Uma vez que a coloração resultante das emulsões interfere na leitura final do teste,

é necessário descontar o valor obtido na leitura deste controle da formulação do valor final da

leitura da formulação a qual foi adicionada a solução etanólica de DPPH, conforme a fórmula

a seguir.

%IDPPH = {[CN-(AM-CAM)]/CN} x 100, onde:

%IDDPH = porcentagem de inibição do radical livre DPPH;

CN= absorbância do controle negativo;

AM = absorbância da amostra (com solução etanólica de DPPH);

CAM = absorbância do controle da amostra (sem solução etanólica de DPPH).

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51

O experimento foi realizado em triplicata para as amostras com solução etanólica de

DPPH, e em duplicata para os controles das amostras sem adição da solução etanólica de DPPH.

Os resultados foram expressos como média ± desvio padrão.

Como padrão utilizou-se o ácido gálico, nas concentrações de: 12,0; 6,0; 2,1; 0,85 e 0,4

µg/mL. O controle da solução, a qual não teve adição de extrato, também foi testado a fim de

verificar se os componentes da formulação não influenciavam nos resultados finais.

Os resultados encontrados pelas concentrações em % v/v das soluções foram expressos

também como a quantidade de extrato contida na porcentagem de interesse para uma melhor

comparação com os testes realizados com os extratos isolados.

4.7.2 Método do ensaio do ABTS

Partindo de uma concentração inicial de 1,67% de cada formulação diluída em etanol

98,2º GL (% v/v), outras cinco diluições foram feitas, obtendo-se as seguintes concentrações:

1,67; 0,25; 0,17; 0,03; 0,02 e 0,005%. De forma similar à descrita no subitem acima, também

foi utilizado um controle para cada formulação, sem a adição da solução de ABTS, nas seis

diferentes concentrações testadas. Do valor da absorbância obtido pelas amostras contendo a

solução de ABTS foi descontado o valor da absorbância das amostras controle, sem a adição da

solução de ABTS.

A substância pura ácido gálico foi novamente utilizada como padrão, nas seguintes

concentrações: 1,67; 0,5; 0,34; 0,17 e 0,08 µg/mL. De maneira similar ao método anterior, o

controle da solução também foi testado para verificar se os componentes da formulação não

interferiam nos resultados finais.

As análises foram feitas em triplicata para o padrão e as amostras, e em duplicata para

o controle das amostras e os valores expressos como média das absorbâncias ± desvio padrão.

Os cálculos novamente se basearam nos valores obtidos na análise do padrão e na curva de

calibração construída com esses valores. A capacidade antioxidante das soluções foi

determinada pela interpolação da média de suas absorbâncias na equação linear originada pelos

resultados do padrão, e foi expressa por mg equivalentes de ácido gálico (EAG) pela

concentração em porcentagem (% v/v) das soluções testadas, e os valores da quantidade de

extrato contida nessas concentrações das soluções.

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52

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 Rendimento dos extratos

5.1.1 Psychotria viridis

O rendimento percentual das duas extrações em relação ao peso de folhas secas

utilizadas e o peso dos extratos obtidos estão compilados na Tabela 5.1 e Tabela 5.2.

Tabela 5.1 Rendimento dos extratos de P. viridis na extração com o metanol como solvente de maior polaridade.

Extrato Rendimento (%)

ExH 1,06

ExAE 1,59

ExM 17,9

ExH: extrato hexânico; ExAE: extrato acetato de etila; ExM: extrato metanólico.

Tabela 5.2 Rendimento dos extratos de P. viridis na extração com o etanol como solvente de maior polaridade.

Extrato Rendimento (%)

ExH 1,86

ExAE 1,31

ExE 13,47

ExH: extrato hexânico; ExAE: extrato acetato de etila; ExE: extrato etanólico.

5.1.2 Banisteriopsis caapi

O rendimento percentual das duas extrações, relacionados ao peso de caules secos e o

peso dos extratos obtidos estão compilados nas tabelas a seguir (Tabela 5.3 e Tabela 5.4).

Na primeira extração (Tabela 5.3), o material vegetal apresentava um tamanho maior,

ou seja, uma menor superfície de contato, enquanto que na segunda extração (Tabela 5.4), o

mesmo se encontrava triturado, isto é, com uma maior superfície de contato.

Tabela 5.3 Rendimento dos extratos de B. caapi na primeira extração, com caules secos cortados com tesoura de

poda.

Extrato Rendimento (%)

ExH 0,54

ExAE 0,83

ExM 2,94

ExH: extrato hexânico; ExAE: extrato acetato de etila; ExM: extrato metanólico.

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53

Tabela 5.4 Rendimento dos extratos de B. caapi na segunda extração, com caules secos triturados.

Extrato Rendimento (%)

ExH 1,16

ExAE 0,76

ExM 5,00

ExH: extrato hexânico; ExAE: extrato acetato de etila; ExM: extrato metanólico.

Observa-se que o rendimento encontrado para os extratos de folhas da Chacrona foi

maior que os encontrados para os extratos de caules do Jagube. Por se tratar de um material

lenhoso, caules normalmente apresentam baixos rendimentos quando submetidos a extração

direta, com solventes orgânicos ou inorgânicos, mesmo quando o material apresenta maior

superfície de contato (triturado), enquanto folhas e flores apresentam melhores rendimentos de

extração direta.

5.2 Análise dos extratos por CG-EM

5.2.1 Psychotria viridis

Em relação às folhas da Chacrona foram analisados os cromatogramas obtidos por CG

para os extratos hexânico (Figura 5.1), acetato de etila (Figura 5.2), metanólico (Figura 5.3) e

etanólico (Figura 5.4).

Figura 5.1 Cromatograma do extrato hexânico de folhas de P. viridis obtido por cromatografia a gás.

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54

Figura 5.2 Cromatograma do extrato acetato de etila de folhas de P. viridis obtido por cromatografia a gás.

Figura 5.3 Cromatograma do extrato metanólico de folhas de P. viridis obtido por cromatografia a gás.

Figura 5.4 Cromatograma do extrato etanólico de folhas de P. viridis obtido por cromatografia a gás.

Nos cromatogramas obtidos para o extrato hexânico (Figura 5.1) e extrato acetato de

etila (Figura 5.2) não foram detectados sinais correspondentes a constituintes voláteis. Por outro

lado, no cromatograma obtido para o extrato metanólico (ExM) (Figura 5.3) e extrato etanólico

(ExE) (Figura 5.4), o sinal de tempo de retenção (tr) = 3.62 min, o qual se encontra no eixo X

do cromatograma, foi atribuído ao alcaloide DMT e o de tr = 3.80 min a mono-metil-triptamina.

(NMT), possível produto de degradação da DMT. A confirmação da DMT foi feita por meio

dos respectivos espectros de massas e comparação com espectros existentes no banco de dados

NIST (Figura 5.5 e Figura 5.6).

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55

Figura 5.5 Comparação do espectro de massas do composto de tr = 3.62 min, presente no ExM de folhas de P.

viridis, com o da dimetiltriptamina, disponível no banco de dados NIST.

Figura 5.6 Comparação do espectro de massas do composto de tr = 3.62 min, presente no ExE de folhas de P.

viridis, com o da dimetiltriptamina, disponível no banco de dados NIST.

A identificação da mono-metil-triptamina (NMT) foi feita utilizando um procedimento

similar. O alcaloide DMT foi detectado nos extratos metanólico e etanólico, enquanto que no

primeiro também foi observada a presença do alcaloide NMT. Nos extratos hexânico e acetato

de etila não foi detectada a presença de compostos voláteis.

5.2.2 Banisteriopsis caapi

Na análise dos resultados, a primeira observação a ser feita é a presença de um ruído de

fundo nos cromatogramas obtidos por CG dos três extratos de caules do Jagube: o hexânico

(Figura 5.7), o acetato de etila (Figura 5.8), e o metanólico (Figura 5.9). A diferença da

intensidade deste ruído se deve à variação da escala que corresponde à abundância relativa dos

compostos voláteis presentes nas amostras analisadas (eixo Y).

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56

Figura 5.7 Cromatograma do extrato hexânico de caules de B. caapi obtido por cromatografia a gás.

Figura 5.8 Cromatograma do extrato acetato de etila de caules de B. caapi obtido por cromatografia a gás.

Figura 5.9 Cromatograma do extrato metanólico de caules de B. caapi obtido por cromatografia a gás.

Pode ser observado que o ruído de fundo tem início aproximadamente no tr = 4.90 (eixo

X), podendo ser ignorado o sinal apresentado no cromatograma a partir desse tempo. No

cromatograma do extrato hexânico (ExH) obtido por CG (Figura 5.7), foi observada a presença

de sinal de tr = 4.68 min. O espectro de massas deste constituinte foi comparado com o banco

de dados NIST e identificado como sendo o hexadecanoato de butila (Figura 5.10). Este

composto é uma possível contaminação, pois haviam sido efetuadas leituras de amostras de

anabolizantes apreendidos pela Polícia Federal uma semana antes destas análises.

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57

Figura 5.10 Comparação do espectro de massas do composto de tr = 4.68 min, presente no ExH de caules de B.

caapi, com o do hexadecanoato de butila, disponível no banco de dados NIST.

Nos cromatogramas obtidos por CG para o extrato acetato de etila (Figura 5.8) e para o

extrato metanólico (Figura 5.9), este sinal de tr = 4.68 min foi considerado como um ruído,

devido a escala do eixo Y estar aumentada nesses cromatogramas em relação ao cromatograma

obtido por CG do extrato hexânico.

No cromatograma obtido por CG do extrato acetato de etila (ExAE) (Figura 5.8), nota-

se a presença de um sinal no tr = 4.80. O espectro de massas para este pico quando comparado

com o banco de dados das fragmentações do composto em questão, encontrou alta semelhança

com a fragmentação do alcaloide beta-carbonílico harmina (Figura 5.11).

Figura 5.11 Comparação do espectro de massas do composto de tr = 4.80 min, presente no ExAE de caules de B.

caapi, com o da harmina, disponível no banco de dados NIST.

No cromatograma obtido por CG do extrato metanólico (ExM) (Figura 5.9), os sinais

de tr = 4.60 min e tr = 4.80 min, foram respectivamente atribuídos aos alcaloides beta-

carbonílicos tetraidroharmina e harmina, após comparação dos respectivos espectros de massas

com o banco de dados NIST (Figura 5.12 e Figura 5.13).

Figura 5.12 Comparação do espectro de massas do composto de tr = 4.60 min, presente no ExM de caules de B.

caapi, com o da tetrahidroharmina, disponível no banco de dados NIST.

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58

Figura 5.13 Comparação do espectro de massas do composto de tr = 4.80 min, presente no ExM de caules de B.

caapi, com o da harmina, disponível no banco de dados NIST.

Não foram detectados compostos voláteis no extrato hexânico de caules de Jagube. Por

outro lado, nos extratos acetato de etila e metanólico foi detectada a presença do alcaloide beta-

carbonílico harmina (tr = 4.80 min). No extrato metanólico também foi detectada a presença do

alcaloide beta-carbonílico tetrahidroharmina (tr = 4.60 min). A presença do alcaloide beta-

carbonílico harmalina não foi observada em nenhum dos três extratos analisados.

5.3 Testes microbiológicos qualitativos

Nos testes de atividade antimicrobiana foram testadas dezoito espécies de bactérias,

Gram + e Gram -, incluindo as cepas mais sensíveis utilizadas em uma triagem preliminar, uma

Gram + e uma Gram -, como será melhor detalhado na exposição dos resultados nos subitens a

seguir. Na triagem preliminar com a espécie de fungo mais sensível não foi detectada inibição

do crescimento com nenhum extrato das duas plantas estudadas.

5.3.1 Psychotria viridis

Os resultados da triagem preliminar estão representados como média do halo de inibição

e seu desvio padrão, formado pelos extratos testados quando estes apresentaram atividade

(Tabela 5.5).

Tabela 5.5 Halos de inibição (mm) encontrados na triagem preliminar usando controle positivo (C+) e extratos

de folhas de P. viridis (50,0 mg/mL).

Espécies C+ ExH ExAE ExM ExE

Staphylococcus aureus 32,5 ± 1,5 ND 9,0 ± 0,5 17,0 ± 0,0 15,5 ± 0,1

Escherichia coli 20,0 ± 0,5 ND ND 9,5 ± 0,5 9,5 ± 0,5

Candida albicans 43 ± 1,5 ND ND ND ND

ExH: extrato hexânico; ExAE: extrato acetato de etila; ExM: extrato metanólico; ExE: extrato etanólico.

ND: Nas condições experimentais, não foi detectada inibição.

A partir destes resultados, as demais bactérias foram submetidas aos testes de atividade

antimicrobiana, enquanto que os fungos foram descartados, uma vez que a cepa mais sensível

não demonstrou nenhum resultado de inibição de crescimento com as condições experimentais

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dos extratos testados. Os resultados também estão representados como média do halo de

inibição e seu desvio padrão (Tabela 5.6 e Tabela 5.7).

Tabela 5.6 Halos de inibição (mm) encontrados nos testes com bactérias Gram + usando controle positivo (C+) e

extratos de folhas de P. viridis (50,0 mg/mL).

Bactéria C + ExH ExAE ExM ExE

Staphylococcus aureus MRSA 33,0 ± 2,0 ND 15,0 ± 0,0 16,5 ± 0,5 16,5 ± 0,5

Staphylococcus saprophyticus 27,0 ± 3,0 ND 13,5 ± 0,5 17,0 ± 0,0 16,0 ± 0,0

Listeria monocytogenes 34,0 ± 1,0 ND ND 16,5 ± 0,5 14,5 ± 1,5

Enterococcus faecium 24,0 ± 1,0 ND ND 14,0 ± 0,0 13,0 ± 0,0

Enterococcus faecalis 24,0 ± 1,0 6,5 ± 0,5 12,0 ± 1,0 15,0 ± 1,0 14,5 ± 1,5

ExH: extrato hexânico; ExAE: extrato acetato de etila; ExM: extrato metanólico; ExE: extrato etanólico.

ND: Nas condições experimentais, não foi detectada inibição.

Tabela 5.7 Halos de inibição (mm) encontrados nos testes com bactérias Gram – usando controle positivo (C+) e

extratos de folhas de P. viridis (50,0 mg/mL).

Bactéria C+ ExH ExAE ExM ExE

Proteus mirabilis 32,0 ± 2 ND 8,5 ± 0,5 13,0 ± 1,0 12,50 ± 1,0

Providencia rettgeri 35,0 ± 1,0 ND 8,5 ± 0,5 14,5 ± 0,5 16,5 ± 0,5

Pseudomonas aeruginosa 24,0 ± 1,0 ND 9,5 ± 0,5 13,0 ± 1,0 13,0 ± 1,0

Shigella sonnei 34,0 ± 1,0 ND ND 13,5 ± 1,5 13,5 ± 1,5

Klebsiella pneumoniae 31,0 ± 1,0 ND ND ND ND

Klebsiella oxytoca 24,5 ± 1,5 ND 9,0 ± 0,0 14,5 ± 0,5 13,5 ± 0,5

Enterobacter aerogenes 17,0 ± 2,0 ND ND 13,0 ± 1,0 12,0 ± 1,0

Escherichia coli EPEC 19,0 ± 1,0 ND ND 13,5 ± 1,5 12,0 ± 1,0

Salmonella enteritidis 23,0 ± 1,0 ND 8,5 ± 0,5 ND ND

Salmonella typhimurium 18,0 ± 2,0 ND ND ND ND

Shigella flexneri 19,0 ± 1,5 ND ND 13,0 ± 0,0 11,0 ± 0,0

ExH: extrato hexânico; ExAE: extrato acetato de etila; ExM: extrato metanólico; ExE: extrato etanólico.

ND: Nas condições experimentais, não foi detectada inibição.

Os testes realizados no presente estudo usaram quatro tipos de extratos de folhas de

Chacrona, incluindo o extrato metanólico, porém com uma concentração cinquenta vezes maior

que a utilizada no estudo citado anteriormente [4]. Também foram utilizadas dezoito espécies

de bactérias, sendo seis Gram + e doze Gram -, obtendo bons resultados com dois dos quatro

extratos utilizados. Os ExM e ExE demonstraram a formação de halo de inibição em quinze das

dezoito espécies de bactérias testadas.

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60

5.3.2 Banisteriopsis caapi

De forma similar aos testes de atividade antimicrobiana realizados com os extratos de

folhas da Chacrona, foi feita uma triagem preliminar com os extratos de caules do Jagube para

verificar a inibição do crescimento das bactérias, uma Gram + e uma Gram -, e do fungo mais

sensíveis. Os resultados estão demonstrados a seguir (Tabela 5.8), como média do halo de

inibição de crescimento e seu desvio padrão.

Tabela 5.8 Halos de inibição (mm) encontrados na triagem preliminar usando controle positivo (C+) e extratos

de caules de B. caapi (50,0 mg/mL).

Espécies C+ ExH ExAE ExM

Staphylococcus aureus 32,0 ± 1,0 ND ND 13,0 ± 1,0

Escherichia coli 19,5 ± 0,5 ND 11,5 ± 0,5 16,0 ± 1,0

Candida albicans 44,0 ± 1,0 ND ND ND

ExH: extrato hexânico; ExAE: extrato acetato de etila; ExM: extrato metanólico.

ND: Nas condições experimentais, não foi detectada inibição.

De maneira semelhante aos resultados preliminares com os extratos de folhas da P.

viridis, a cepa de fungo mais sensível não demonstrou inibição de crescimento com nenhum

dos extratos testados nesta concentração. Assim, apenas as demais bactérias foram submetidas

aos testes e os resultados estão demonstrados como média do halo de inibição do crescimento

e seu desvio padrão (Tabela 5.9 e Tabela 5.10).

Tabela 5.9 Halos de inibição (mm) encontrados nos testes com bactérias Gram + usando controle positivo (C+) e

extratos de caules de B. caapi (50,0 mg/mL).

Bactéria C + ExH ExAE ExM

Staphylococcus aureus MRSA 33,5 ± 1,5 ND 15,0 ± 0,0 16,0 ± 1,0

Staphylococcus saprophyticus 28,0 ± 5,0 ND 15,5 ±1,5 20,5 ± 1,5

Listeria monocytogenes 35,0 ± 0,0 ND 19,5 ± 0,5 ND

Enterococcus faecium 25,0 ± 0,0 ND 10,5 ± 0,5 12,0 ± 0,0

Enterococcus faecalis 24,5 ± 1,5 ND 13,5 ± 1,5 12,0 ± 1,0

ExH: extrato hexânico; ExAE: extrato acetato de etila; ExM: extrato metanólico.

ND: Nas condições experimentais, não foi detectada inibição.

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Tabela 5.10 Halos de inibição (mm) encontrados nos testes com bactérias Gram – usando controle positivo (C+)

e extratos de caules de B. caapi (50,0 mg/mL).

Bactéria C+ ExH ExAE ExM

Proteus mirabilis 31,0 ± 2,0 ND ND 13,0 ± 1,0

Providencia rettgeri 36,0 ± 0,0 ND ND ND

Pseudomonas aeruginosa 25,0 ± 0,0 9,0 ± 0,5 11,5 ± 0,5 13,5 ± 0,5

Shigella sonnei 35,5 ± 0,5 ND 15,0 ± 0,0 14,5 ± 0,5

Klebsiella pneumoniae 30,5 ± 0,5 ND ND 13,0 ± 0,0

Klebsiella oxytoca 25,0 ± 0,0 9,0 ± 0,5 17,5 ± 0,5 16,5 ± 0,5

Enterobacter aerogenes 18,0 ± 1,0 ND 11,5 ± 0,5 11,5 ± 0,5

Escherichia coli EPEC 19,5 ± 0,5 ND ND 10,5 ± 0,5

Salmonella enteritidis 22,5 ± 0,5 ND 15,0 ± 0,0 12,5 ± 0,5

Salmonella typhimurium 18,5 ± 1,5 ND 9,5 ± 1,5 10,0 ± 2,0

Shigella flexneri 18,5 ± 1,5 ND 11,5 ± 0,5 13,0 ± 0,0

ExH: extrato hexânico; ExAE: extrato acetato de etila; ExM: extrato metanólico.

ND: Nas condições experimentais, não foi detectada inibição.

O extrato acetato de etila apresentou formação de halo de inibição para treze das dezoito

bactérias testadas, enquanto que o extrato metanólico obteve a formação de halo de inibição

para dezesseis das dezoito espécies estudadas.

Observa-se com estes resultados que os extratos, de ambas as plantas, que contêm

alcaloides demonstraram resultados mais satisfatórios, na formação de halo de inibição de

crescimento das bactérias testadas, que os extratos que não contêm alcaloides.

5.4 Testes microbiológicos quantitativos

A concentração inibitória mínima (CIM) foi determinada para os extratos, das duas

plantas, que demonstraram halo de inibição maior ou igual a 10,0 mm. Os resultados são

demonstrados a seguir, com o valor em mg/mL (Tabela 5.11 e Tabela 5.12).

Tabela 5.11 CIM (mg/mL) para as bactérias Gram +.

P. viridis B. caapi

Espécie ExH ExAE ExM ExE ExH ExAE ExM

Staphylococcus aureus − − 50,000 50,000 − − 1,563

Staphylococcus aureus MRSA − 12,500 6,250 6,250 − 0,195 1,563

Staphylococcus saprophyticus − 6,250 6,250 6,250 − 0,098 0,391

Enterococcus faecium − − 12,500 50,000 − 0,195 12,500

Enterococcus faecalis − 50,000 25,000 25,000 − 0,781 3,125

Listeria monocytogenes − − 12,500 12,500 − 0,391 −

ExH: extrato hexânico; ExAE: extrato acetato de etila; ExM: extrato metanólico; ExE: extrato etanólico.

−: CIM não determinada por resultados anteriores de halo de inibição menor que 10,0 mm.

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62

Tabela 5.12 CIM (mg/mL) para as bactérias Gram -.

P.viridis B. caapi

Espécie ExH ExAE ExM ExE ExH ExAE ExM

Escherichia coli − − 50,000 50,000 − 0,391 0,391

Escherichia coli EPEC − − 50,000 50,000 − − 0,781

Enterobacter aerogenes − − 50,000 50,000 − 1,563 3,125

Salmonella enteritidis − − − − − 0,195 0,781

Salmonella typhimurium − − − − − 0,195 1,563

Shigella flexneri − − 50,000 50,000 − 0,195 0,391

Klebsiella oxytoca − − 50,000 50,000 − 0,195 0,781

Proteus mirabilis − − 6,250 25,000 − − 12,500

Providencia rettgeri − − 6,250 12,500 − − −

Pseudomonas aeruginosa − 50,000 12,500 12,500 − 1,563 50,000

Shigella sonnei − − 25,000 12,500 − 0,195 0,391

Klebsiella pneumoniae − − − − − − 3,125

ExH: extrato hexânico; ExAE: extrato acetato de etila; ExM: extrato metanólico; ExE: extrato etanólico.

−: CIM não determinada por resultados anteriores de halo de inibição menor que 10,0 mm.

Tanto as bactérias Gram + quanto as Gram – se mostraram mais sensíveis aos extratos

de caules do Jagube que contêm alcaloides beta-carbonílicos, do que aos extratos de folhas da

Chacrona que contêm a DMT.

Para classificar os resultados da CIM, foi adotada a classificação de Giner e

colaboradores (2012) (Tabela 5.13), que trata de dados relativos a extratos vegetais [58].

Tabela 5.13 Classificação da atividade antimicrobiana de extratos vegetais pelos resultados da CIM (mg/mL)

segundo Giner et al.,2012.

Atividade CIM (mg/mL)

Forte CIM ≤ 3,2

Moderada 3,2 < CIM < 6,4

Fraca CIM ≥ 6,4

Para os extratos de folhas de Chacrona obteve-se a seguinte classificação: o ExAE

apresentou atividade antimicrobiana moderada para S. saprophyticus, e fraca atividade para as

outras três espécies sensíveis a ele, o ExM demonstrou atividade antimicrobiana moderada para

as espécies S. aureus MRSA, S. saprophyticus, P. mirabilis e P. rettgeri, e atividade fraca para

as outras onze bactérias sensíveis a ele, e o ExE relatou atividade antimicrobiana moderada para

S. aureus MRSA e S. saprophyticus, e fraca atividade para as outras treze espécies sensíveis a

ele.

Em relação aos extratos de caules de Jagube a classificação obtida foi a seguinte: o

ExAE demonstrou forte atividade antimicrobiana para as treze espécies sensíveis a ele, e o ExM

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apresentou fraca atividade antimicrobiana para as espécies E. faecium, P. mirabilis e P.

aeruginosa, enquanto que para as outras treze espécies sensíveis a ele relatou-se forte atividade

antimicrobiana.

5.5 Teste atividade antioxidante dos extratos

5.5.1 Método do ensaio do DPPH

Como citado anteriormente, o padrão utilizado nos testes foi o ácido gálico, uma

substância pura sintética. Para este padrão foi encontrada a concentração eficaz a 50% (CE50)

de 1,78 µg/mL, calculada pela regressão linear da inibição após 30 minutos (y = 4,8843x +

41,328).

5.5.1.1 Psychotria viridis

Os resultados dos testes antioxidantes pelo método do DPPH com os extratos de folhas

da Chacrona estão representados na Figura 5.14. As equações da regressão linear da inibição

dos extratos, calculadas após 30 minutos, são demonstradas na Tabela 5.14, juntamente com

seus respectivos valores do coeficiente de determinação.

Figura 5.14 Gráfico da porcentagem de inibição dos extratos de folhas da Chacrona versus concentração

(µg/mL) pelo método do DPPH.

ExH: extrato hexânico; ExAE: extrato acetato de etila; ExM: extrato metanólico; ExE: extrato etanólico.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0 50 100 150 200 250

% d

e in

ibiç

ão

Concentração (µg/mL)

Gráfico da porcentagem de inibição dos extratos de

folhas de Chacrona versus concentração (µg/mL)

ExM

ExE

ExAE

ExH

Linear (ExM)

Linear (ExE)

Linear (ExAE)

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Tabela 5.14 Equações da regressão linear da curva de inibição dos extratos de folhas de P. viridis.

Extrato Regressão linear R²

ExM y = 0,3816x + 9,5014 0,9896

ExE y = 0,2982x + 6,6435 0,9918

ExAE y = 0,2546x + 4,1313 0,9997

ExM: extrato metanólico; ExE: extrato etanólico; ExAE: extrato acetato de etila.

R2: coeficiente de determinação.

Como pode ser observado, o ExM apresentou uma boa atividade antioxidante com a

CE50 em 106,13 µg/mL. O ExE também demonstrou uma boa atividade antioxidante, com uma

CE50 de 145,39 µg/mL. O ExAE obteve uma CE50 na concentração de 180,16 µg/mL, enquanto

que o ExH não demonstrou nenhuma atividade antioxidante significativa.

5.5.1.2 Banisteriopsis caapi

A Figura 5.15 representa os resultados obtidos com os testes antioxidantes pelo método

do DPPH realizados com os extratos de caules do Jagube. As equações de regressão linear da

inibição, calculadas após 30 minutos, e seus respectivos coeficientes de determinação são

apresentados na Tabela 5.15.

Figura 5.15 Gráfico da porcentagem de inibição dos extratos de caules do Jagube versus concentração (µg/mL)

pelo método do DPPH.

ExH: extrato hexânico; ExAE: extrato acetato de etila; ExM: extrato metanólico.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0 50 100 150 200 250 300 350

% d

e in

ibiç

ão

Concentração (µg/mL)

Gráfico da porcentagem de inibição dos extratos de caules do

Jagube versus concentração (µg/mL)

ExM

ExAE

ExH

Linear (ExM)

Linear (ExAE)

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Tabela 5.15 Equações da regressão linear da curva de inibição dos extratos de caules de B. caapi.

Extrato Regressão linear R²

ExM y = 0,1366x + 45,853 0,4029

ExAE y = 0,1502x + 12,847 0,991

ExM: extrato metanólico; ExAE: extrato acetato de etila.

R2: coeficiente de determinação.

Pode ser visto que o ExM apresentou melhor atividade antioxidante, com a CE50 de

30,36 µg/mL. O ExAE demonstrou uma inibição menor, com a CE50 de 353,17 µg/mL. O ExH

não apresentou nenhuma atividade antioxidante significativa, como pode ser observado, nem

mesmo em sua concentração máxima testada.

Em um estudo envolvendo tinturas vegetais (extratos hidroalcoólicos) e o extrato

hidroalcoólico do própolis, realizado por Vicentino e Menezes (2007), os extratos secos destas

tinturas foram testados pelo método do DPPH e suas CE50 comparadas com a CE50 do Ginkgo

biloba, uma planta considerada com alta atividade antioxidante [59]. Os resultados obtidos

neste estudo são mostrados a seguir (Tabela 5.16).

Tabela 5.16 Determinação da CE50 da propriedade antioxidante das espécies vegetais e própolis pelo método do

DPPH por Vicentino e Menezes, 2007.

Espécies Nome popular CE50 (µg/mL)

Ginkgo biloba Ginkgo 38,91

Hamamelis virginiana L. Hamamelis 0,13

Psidium guajava L. Goiabeira 33,57

Própolis Própolis 40,16

Matricaria chamomilla L. Camomila 78,22

Hydrocotile asiatica L. Centela asiática 87,61

Mentha pulegium L. Poejo 155,04

Aesculus hippocastanum L. Castanha-da-índia 165,80

Erythrina velutina Wild Mulungu 207,15

Passiflora coerulea L. Passiflora 245,84

Valeriana officinalis L. Valeriana 283,63

Pilocarpus jaborandi Hulmes Jaborandi 429,13

Melissa officinalis L. Erva cidreira 463,29

Capsicum annuum L. Pimentão 906,08

Mikania glomerata Guaco 1283,88

CE50: concentração eficaz a 50%.

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Vicentino e Menezes consideram que M. pulegium e A. hippocastanum, apesar de

demonstrarem uma propriedade antioxidante quatro vezes menor do que a do vegetal utilizado

como padrão, o G. biloba, estas plantas ainda apresentam alguma atividade antioxidante [59].

O extrato metanólico de folhas da P. viridis apresentou uma CE50 de 106,13 µg/mL, uma

propriedade antioxidante três vezes menor que a do extrato hidroalcoólico de G. biloba, porém

ainda assim uma propriedade antioxidante significativa para um produto vegetal.

Por outro lado, o extrato metanólico de caules de B. caapi obteve uma CE50 de 30,36

µg/mL, um valor menor que a CE50 de 38,91 do extrato hidroalcoólico de G. biloba. Assim

sendo, o ExM de caules de Jagube possui uma maior atividade antioxidante que a do extrato

hidroalcoólico do G. biloba, considerado um vegetal com alta propriedade antioxidante. Desta

forma, o ExM de caules do cipó B. caapi pode ser considerado um vegetal com alta propriedade

antioxidante.

5.5.2 Método do ensaio do ABTS

Com o objetivo de confirmar a atividade antioxidante dos extratos, um segundo método

foi utilizado, o método do ensaio do ABTS. O padrão utilizado foi o ácido gálico, um

antioxidante puro sintético. Com os valores de absorção do padrão foi possível a construção da

curva de calibração para o mesmo, a qual foi utilizada para a interpolação das médias de

absorção das soluções dos extratos para determinar a propriedade antioxidante desses extratos.

A seguinte curva de calibração foi gerada com os valores de absorção do ácido gálico a

650 nm, obtendo-se a equação linear demonstrada no gráfico (Figura 5.16), a qual foi utilizada

para calcular a capacidade das amostras de reduzirem o radical ABTS.

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Figura 5.16 Curva de calibração do padrão ácido gálico e sua equação linear, obtidas pelo método do ABTS.

5.5.2.1 Psychotria viridis

O ExM na concentração de 5,0 µg/mL apresentou uma absorbância média de 0,578, a

qual é equivalente a 0,72 µg/mL de ácido gálico. O ExM, portanto, tem uma capacidade de

reduzir o ABTS de 144,0 mg EAG/ g de ExM, o que significa que sua capacidade antioxidante

é 7 vezes menor do que a do padrão ácido gálico.

O ExE apresentou uma absorção de 0,515 na concentração de 10,0 µg/mL, o equivalente

a 1,46 µg/mL do padrão. Desta forma, o ExE tem uma capacidade de reduzir o radical ABTS

de 146,0 mg EAG/ g de ExE, demonstrando uma capacidade também 7 vezes menor do que a

do padrão.

Já o ExAE obteve uma absorção de 0,585 em uma concentração de 25,0 µg/ml,

equivalendo a 0,63 µg/mL de ácido gálico. Assim sendo, este extrato tem a capacidade de

reduzir o ABTS de 25,2 mg EAG/ g ExAE, uma capacidade quase 40 vezes menor do que a do

padrão utilizado.

O ExH não demonstrou absorbância significativa em nenhuma das concentrações

testadas, por isso não foi realizado nenhum cálculo de equivalência para esse extrato.

Observa-se que o ExM e o ExE apresentaram uma capacidade praticamente igual de

redução do radical ABTS, enquanto que o ExAE demonstrou uma capacidade de redução bem

menor quando comparada aos extratos que contêm a DMT.

y = -0,0864x + 0,6387

R² = 0,996

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0 1 2 3 4 5 6

Ab

sorb

ânci

a a

65

0 n

m

Concentração (µg/mL)

Curva de calibração do ácido gálico

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68

5.5.2.2 Banisteriopsis caapi

O ExM apresentou uma absorção de 0,536 na concentração de 15,0 µg/mL, valor este

que equivale a 1,21 µg/mL de ácido gálico. Sendo assim, a capacidade de redução do radical

ABTS é de 80,67 mg EAG/ g ExM. Esta capacidade é 12 vezes menor que a do padrão utilizado.

O ExAE teve uma absorção de 0,559 em uma concentração de 50,0 µg/mL, equivalendo

a 0,94 µg/mL de ácido gálico. Este extrato tem a capacidade de redução do radical ABTS de

18,8 mg EAG/ g ExAE. Conclui-se que o ExAE tem uma capacidade 53 vezes menor de

redução do que a do ácido gálico.

Mais uma vez o ExH não apresentou valores de absorbância significativos e por este

motivo nenhum cálculo foi realizado para a equivalência desse extrato com o padrão.

Apesar das capacidades de redução do radical ABTS dos ExM, ExE e ExAE de folhas

da Chacrona e ExM e ExAE de caules do Jagube terem sido menores que a capacidade do

padrão utilizado, deve ser levado em consideração que o padrão é uma substância pura.

5.6 Teste de solubilidade dos extratos

Os extratos metanólicos de ambas as plantas demonstraram melhores resultados, tanto

para a atividade antimicrobiana quanto para a antioxidante, por isso foram os escolhidos para

serem incorporados em uma formulação. Os extratos metanólicos de folhas da Chacrona e de

caules do Jagube se mostraram solúveis em meio aquoso e insolúveis em meio oleoso, como

pode ser observado o corpo de fundo remanescente desses dois extratos neste meio (Figura

5.17). Este resultado já era esperado, uma vez que se tratam de extratos polares e foram solúveis

no meio polar.

Figura 5.17 Teste de solubilidade dos extratos metanólicos de folhas da Chacrona (C) e de caules do Jagube (J).

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69

5.7 Elaboração de soluções micelares

Como já discutido, a incorporação de extratos às formulações aumenta a sua

biodisponibilidade e eficácia terapêutica, melhorando os resultados farmacológicos em questão.

Por se tratarem de extratos solúveis em meio aquoso, a solução micelar foi o tipo de formulação

escolhida para a incorporação desses extratos. As soluções micelares obtidas foram analisadas

e caracterizadas para confirmar a estabilidade das mesmas.

5.8 Caracterização das soluções micelares

5.8.1 Análise macroscópica

As soluções micelares se apresentaram translúcidas quando observadas contra a luz e

ambas inodoras. A solução micelar do extrato metanólico de folhas da Chacrona (SMC) obteve

uma coloração marrom escura, como o seu extrato (Figura 5.18). Já a solução micelar do extrato

metanólico de caules do Jagube (SMJ) obteve uma coloração marrom clara, também como seu

extrato (Figura 5.18). Não foi observada separação de fases e nenhuma alteração das

características organolépticas, não sendo, dessa forma, identificados sinais de instabilidade, fato

este que as consideraram adequadas para as caracterizações posteriores.

Figura 5.18 Soluções micelares do extrato metanólico de folhas da Chacrona (C) e de caules do Jagube (J).

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70

5.8.2 Análise microscópica

Nesta análise foi possível confirmar a homogeneidade de ambas soluções e a ausência

de estruturas micrométricas (Figura 5.19 e Figura 5.20).

Figura 5.19 Fotomicroscopia da solução micelar com extrato metanólico de folhas da Chacrona.

Figura 5.20 Fotomicroscopia da solução micelar com extrato metanólico de caules do Jagube.

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71

5.8.3 Ensaio de estabilidade acelerada

No teste de centrifugação tem-se a força da gravidade atuando sobre a amostra, o que

faz com que suas partículas se movimentem no seu interior. Este teste produz estresse ao

simular um aumento da força da gravidade na amostra, o que aumenta a mobilidade das

partículas e antecipa possíveis instabilidades, as quais podem ser observadas na forma de

precipitação, coalescência, separação de fases, entre outras [60].

Nos três testes de centrifugação aos quais foram submetidas as amostras das

formulações não foi observada nenhuma instabilidade nessas soluções ao final dos testes. Isto

demonstrou que as formulações apresentaram uma boa estabilidade depois de prontas.

5.8.4 Determinação do tamanho de partícula

Na análise do tamanho de partículas, pela técnica de espalhamento de luz dinnâmico

(DLS), nos dias 1, 7, 14, 21 e 28 após o preparo das soluções micelares, foram encontrados três

picos principais de tamanho, o que significa que há três subpopulações de diferentes tamanhos

de micelas que foram formadas. A Tabela 5.17 contém os valores, já com a média calculada

com o desvio padrão, da solução micelar da Chacrona (SMC). Nesta mesma tabela observam-

se também os índices de polidispersão (IP) com o desvio padrão.

Tabela 5.17 Valores médios da determinação do tamanho de partículas e do índice de polidispersão (IP) da SMC,

pela técnica de DLS.

Dados Dia 1 Dia 7 Dia 14 Dia 21 Dia 28

Pico 1 (nm) 148,3 ± 106,6 25,8 ± 1,7 26,6 ± 1,2 29,9 ± 1,1 27,9 ± 2,2

Pico 2 (nm) 91,7 ± 116,4 224,5 ± 37,6 282,5 ± 4,3 302,9 ± 23,6 315,6 ± 59,7

Pico 3 (nm) 5252,0 ± 278,1 5286,0 ± 130,1 4828,0 ± 324,6 3000,0 ± 2593,0 4912,0 ± 258,4

IP 0,386 ± 0,071 0,308 ± 0,104 0,488 ± 0,176 0,667 ± 0,025 0,543 ± 0,167

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Figura 5.21 Representação gráfica da distribuição de tamanho das partículas da SMC no dia 1, pela técnica de

DLS.

Figura 5.22 Representação gráfica da distribuição de tamanho das partículas da SMC no dia 7, pela técnica de

DLS.

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Figura 5.23 Representação gráfica da distribuição de tamanho das partículas da SMC no dia 14, pela técnica de

DLS.

Figura 5.24 Representação gráfica da distribuição de tamanho das partículas da SMC no dia 21, pela técnica de

DLS.

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74

Figura 5.25 Representação gráfica da distribuição de tamanho das partículas da SMC no dia 28, pela técnica de

DLS.

A distribuição de tamanho das partículas pode ser estreita ou larga, ou seja,

monodispersa ou polidispersa respectivamente. Em uma escala compreendida entre 0 e 1, um

índice de polidispersão (IP) com valor inferior a 0,1 representa uma população de partículas de

elevada homogeneidade, ou ainda, monodispersa. Já um IP com valor superior a 0,1 demonstra

populações de partículas com diferentes tamanhos, ou seja, uma formulação polidispersa [61].

Como pode ser observado, a solução micelar do extrato metanólico de folhas da

Chacrona se mostrou como uma solução polidispersa, uma vez que o IP variou de

aproximadamente 0,3 a 0,5 e apresentou três picos principais de populações de diferentes

tamanhos durante todos os dias de análises, confirmando esta polidispersão (Tabela 5.17).

Resultados similares foram encontrados para a solução micelar com extrato metanólico

de caules do Jagube (SMJ), como mostrado a seguir (Tabela 5.18).

Tabela 5.18 Valores médios da determinação do tamanho de partículas e do índice de polidispersão (IP) da SMJ,

pela técnica de DLS.

Dados Dia 1 Dia 7 Dia 14 Dia 21 Dia 28

Pico 1 (nm) 243,6 ± 10,3 237,3 ± 27,3 206,1 ± 44,9 315,7 ± 18,4 231,3 ± 46,1

Pico 2 (nm) 34,8 ± 3,1 40,7 ± 8,2 37,5 ± 3,4 49,6 ± 3,6 37,6 ± 5,8

Pico 3 (nm) 7,7 ± 0,9 5,4 ± 4,6 1858,0 ± 3206,0 4456,0 ± 1029,0 4983,0 ± 208,7

IP 0,86 ± 0,125 0,376 ± 0,067 0,301 ± 0,041 0,668 ± 0,249 0,622 ± 0,121

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Figura 5.26 Representação gráfica da distribuição de tamanho das partículas da SMJ no dia 1, pela técnica de

DLS.

Figura 5.27 Representação gráfica da distribuição de tamanho das partículas da SMJ no dia 7, pela técnica de

DLS.

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Figura 5.28 Representação gráfica da distribuição de tamanho das partículas da SMJ no dia 14, pela técnica de

DLS.

Figura 5.29 Representação gráfica da distribuição de tamanho das partículas da SMJ no dia 21, pela técnica de

DLS.

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Figura 5.30 Representação gráfica da distribuição de tamanho das partículas da SMJ no dia 28, pela técnica de

DLS.

Assim como a SMC, a SMJ também apresentou índice de polidispersão (IP) maior que

0,1, com valores variando de aproximadamente 0,3 a 0,8 durante os dias das análises.

Apresentou também três populações de partículas de tamanhos diferentes durante todos os dias

das análises realizadas, confirmando que se trata de uma solução polidispersa (Tabela 5.18).

Pode ser visto que, apesar de uma certa variação, os valores dos tamanhos médios das

populações (nm) e do IP das duas soluções se manteve relativamente estável durante o período

em que as análises foram realizadas (Tabela 5.17 e Tabela 5.18). É importante ressaltar que

após o preparo das soluções micelares, as mesmas foram mantidas sob refrigeração no período

em que os testes foram realizados.

Resultados similares foram encontrados na outra técnica utilizada para a determinação

do tamanho de partículas das soluções, a de análise de rastreamento de nanopartícula (NTA), a

qual demonstra de forma mais detalhada esses valores. Estas análises foram realizadas no dia 2

após o preparo das formulações.

Primeiro vamos observar os gráficos gerados para a solução micelar do extrato

metanólico de folhas da Chacrona (SMC) (Figura 5.31, Figura 5.32 e Figura 5.33).

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Figura 5.31 Gráfico de concentração versus tamanho de partículas para a SMC, pela técnica de NTA.

Figura 5.32 Gráfico de intensidade versus tamanho de partículas para a SMC, pela técnica de NTA.

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79

Figura 5.33 Gráfico de intensidade versus concentração versus tamanho de partículas para a SMC, pela técnica

de NTA.

Observa-se que o tamanho das partículas varia de acordo com o observado na técnica

de espalhamento de luz dinâmico (DLS), assim como também a intensidade, confirmando por

esta técnica mais robusta as variações de tamanho de partículas e de intensidade encontradas

entre as diferentes populações de micelas formadas na SMC.

Vejamos agora os gráficos encontrados nas análises da solução micelar do extrato

metanólico de caules do Jagube (SMJ) (Figura 5.34, Figura 5.35 e Figura 5.36).

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Figura 5.34 Gráfico de concentração versus tamanho de partículas para a SMJ, pela técnica de NTA.

Figura 5.35 Gráfico de intensidade versus tamanho de partículas para a SMJ, pela técnica de NTA.

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Figura 5.36 Gráfico de intensidade versus concentração versus tamanho de partículas para a SMJ, pela técnica de

NTA.

Por meio destes gráficos pode-se confirmar os resultados obtidos na técnica de

espalhamento de luz dinâmico (DLS) para a determinação do tamanho de partículas na SMJ,

uma vez que as variações de tamanho das partículas e de intensidade foram semelhantes àqueles

resultados.

5.8.5 Determinação do potencial zeta

As análises foram feitas para a determinação do potencial zeta de ambas as soluções nos

dias: 1, 7, 14, 21 e 28 após o preparo das mesmas. Os valores foram expressos na média

encontrada ± desvio padrão (Tabela 5.19).

Tabela 5.19 Valores médios da determinação do potêncial zeta das soluções micelares.

Potêncial zeta (mV)

Dias SMC SMJ

1 -19,900 ± 1,120 -27,000 ± 4,560

7 -19,300 ± 1,210 -24,200 ± 5,190

14 -19,100 ± 0,569 -28,800 ± 1,230

21 -14,500 ± 1,960 -24,000 ± 1,320

28 -21,500 ± 0,889 -27,700 ± 0,924

SMC: solução micelar com extrato metanólico de folhas da Chacrona.

SMJ: solução micelar com extrato metanólico de caules do Jagube.

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Observa-se que os valores encontrados para ambas as soluções, durante todo o período

em que as análises foram realizadas, apresentaram uma certa constância, indicando a

estabilidade das formulações durante os 28 dias após o desenvolvimento das mesmas.

A magnitude do potencial zeta possibilita avaliar a estabilidade das partículas em

suspensão admitindo que, se as partículas apresentam um valor desse potencial altamente

positivo ou altamente negativo, elas irão se repelir evitando, assim, a agregação. Quando os

valores de potencial zeta são próximos de zero, a ausência de carga superficial nas partículas

pode beneficiar interações entre elas o que pode promover processos de floculação ou

agregação. De uma maneira geral, considera-se como a fronteira entre suspensões estáveis e

não estáveis como sendo um valor de potencial zeta de ± 30,0 mV [62] [63].

É interessante observar que o valor do potencial zeta obtido para o controle da solução,

a solução micelar sem adição de extrato, foi de -7,99 ± 3,70 mV, enquanto que os valores

obtidos para a SMC e SMJ desse potencial ficaram, de uma forma geral, próximos a -20,00 mV.

Estes resultados sugerem que a incorporação dos extratos metanólicos de folhas de Chacrona e

de caules de Jagube pelas micelas formadas pelo copolímero Poloxamer 407 melhorou a

estabilidade dessas micelas nas soluções em relação ao potencial zeta.

5.8.6 Teste da atividade antioxidante com as soluções micelares

5.8.6.1 Método do ensaio do DPPH

O padrão utilizado, o ácido gálico, apresentou uma concentração eficaz a 50% (CE50) de

1,78 µg/mL, calculada pela regressão linear: y = 4,8843x + 41,328. A partir das curvas de

inibição (Figura 5.37), obtidas após 30 minutos, de cada uma das duas soluções (SMC e SMJ),

calculou-se suas equações de regressão linear e seus respectivos coeficientes de determinação,

os quais estão apresentados na Tabela 5.20.

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83

Figura 5.37 Gráfico da porcentagem de inibição das soluções micelares versus concentração (% v/v) pelo método

do DPPH.

SMC: solução micelar do extrato metanólico de folhas da Chacrona.

SMJ: solução micelar do extrato metanólico de caules do Jagube.

Tabela 5.20 Equações da regressão linear da curva de inibição das soluções micelares.

Formulação Regressão linear R²

SMC y = 9,3119x + 34,62 0,6763

SMJ y = 6,9892x + 31,854 0,7896

SMC: solução micelar com extrato metanólico de folhas da Chacrona.

SMJ: solução micelar com extrato metanólico de caules do Jagube.

R2: coeficiente de determinação.

Para a SMC obteve-se o valor da concentração eficaz a 50% (CE50) de 1,65 % (v/v).

Nesta porcentagem da solução encontra-se uma concentração de 23,1 µg/mL de extrato

metanólico de folhas da Chacrona. Se comparado a CE50 de 106,13 µg/mL encontrada para o

ExM quando testado de forma isolada, conclui-se que a incorporação desse extrato na solução

micelar aumentou seu potencial de atividade antioxidante.

Já para a SMJ encontrou-se uma CE50 de 2,6 % (v/v). Esta porcentagem contém uma

concentração de 36,4 µg/mL de extrato metanólico de caules do Jagube. Quando este extrato

foi testado de forma isolada, ele apresentou uma CE50 de 30,36 µg/mL. Se voltarmos para

analisar novamente os valores de inibição do ExM de caules de B. caapi expressos nos

resultados dos testes para os extratos dessa planta isolados (Figura 5.15), percebemos que a

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0 1 2 3 4 5 6 7

% d

e in

ibiç

ão

Concentração (%v/v)

Gráfico da porcentagem de inibição das formulações

versus concentração (%v/v)

SMC

SMJ

Linear (SMC)

Linear (SMJ)

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partir de uma certa concentração há uma diminuição da inibição do DPPH pelo ExM, ao

contrário das outras curvas que quanto maior a concentração maior a inibição. Isto pode ser

devido à saturação do meio, o que leva a uma inibição completa do radical e posterior alteração

da banda máxima de absorção, levando a uma diminuição no valor absoluto para o comprimento

de onda avaliado.

Não foi observada absorbância significativa em nenhuma das concentrações testadas

com o controle da solução, a formulação na qual não houve adição de extrato, fato que sugere

que os excipientes da formulação não têm nenhuma participação nos resultados finais

demonstrados.

5.8.6.2 Método do ensaio do ABTS

Para os valores de absorção encontrados para o padrão ácido gálico foi construída a

curva de calibração e o cálculo de sua equação linear, a qual se encontra no gráfico (Figura

5.38).

Figura 5.38 Curva de calibração do padrão ácido gálico e sua equação linear, obtidas pelo método do ABTS.

A SMC apresentou uma absorbância de 0,331 em uma concentração de 0,17% (v/v), a

qual contém 0,51 µg/mL de extrato metanólico de folhas da Chacrona. Esta absorbância

equivale a 0,63 µg/mL do padrão. Desta forma, a capacidade de redução do radical ABTS é de

1.235,0 mg EAG/ g de extrato, ou seja, uma capacidade 1,235 vezes maior que a capacidade do

padrão. Uma vez que o ExM de folhas da Chacrona, quando testado de forma isolada,

demonstrou uma capacidade 7 vezes menor quando comparada à do padrão, pode-se dizer que

y = -0,2491x + 0,4867

R² = 0,961

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0 0,5 1 1,5 2

Ab

sorb

ânci

a a

65

0 n

m

Concentração (µg/mL)

Curva de calibração do ácido gálico

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85

a incorporação desse extrato na solução micelar melhorou a eficácia de redução do radical

ABTS do mesmo em aproximadamente 8 vezes.

Já a SMJ também na concentração de 0,17% (v/v), contendo igualmente 0,51 µg/mL de

extrato metanólico de caules do Jagube, apresentou uma absorção de 0,353, a qual equivale a

0,54 µg/mL de ácido gálico. Admite-se então que a capacidade de redução do radical ABTS é

de 1.058,0 mg EAG/ g de extrato, essa capacidade é 1,058 vezes maior que a capacidade do

ácido gálico. Lembrando que quando testado de forma isolada, o ExM de caules do Jagube teve

uma capacidade 12 vezes menor que a do padrão para a redução do radical ABTS, conclui-se

que a incorporação desse extrato na solução micelar aumentou sua capacidade de redução em

algo próximo de 13 vezes.

Quando comparados, o ExM de caules do Jagube demonstrou maior aumento na

capacidade de redução do radical ABTS do que o ExM de folhas da Chacrona, após a

incorporação desses extratos em soluções micelares.

Novamente o controle da solução, a formulação que não contém extrato algum

incorporado, não demonstrou absorbância significativa em nenhuma das concentrações

testadas, o que sugere que os componentes utilizados na composição das soluções micelares

não têm nenhuma participação nos resultados finais observados.

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86

6 CONCLUSÃO

Pelos resultados obtidos vemos que os extratos de folhas de P.viridis que mais

apresentaram atividade antibacteriana foram aqueles que contêm a DMT, e de caules de B.

caapi aqueles que contêm alcaloides beta-carbonílicos. É interessante ressaltar que dentre as

espécies de bactérias que tiveram o crescimento inibido por um, ou mais, extratos de ambas a

plantas, algumas estão na lista da OMS de bactérias que precisam urgentemente de novos

antibióticos, devido à resistência apresentada por essas espécies à várias classes de antibióticos.

A espécie Pseudomonas aeruginosa e a família Enterobacteriaceae estão na lista como de

prioridade crítica. Como alta prioridade, das bactérias testadas estão Enterococcus faecium e

Staphylococcus aureus, assim como a família Sallmonelae. Como média prioridade está a

espécie Streptococcus pneumoniae e também Shigella spp [64]. Diante destes fatos, podemos

concluir que temos em mãos possíveis candidatos a um novo antibiótico de origem natural.

É necessário estudar a possibilidade de ação conjunta dos extratos das duas plantas que

apresentaram atividade antimicrobiana para a mesma espécie de bactéria, pois se a atividade

estiver mesmo relacionada com os alcaloides presentes nos extratos, a fusão destes pode

originar uma melhor eficácia diminuindo ainda mais a concentração inibitória mínima

necessária para impedir o crescimento dessas espécies bacterianas.

Os extratos, de ambas as plantas, contendo os alcaloides também demonstraram

melhores resultados nos testes de atividade antioxidante, nos dois métodos testados, quando

comparados aos extratos que não contêm alcaloides. Apesar dos extratos que apresentaram

atividade antioxidante se mostrarem menos eficazes que o padrão utilizado para comparação,

uma substância pura isolada, quando comparados com a atividade antioxidante de outros

extratos de origem vegetal, o extrato metanólico de folhas da Chacrona apresentou uma

atividade moderada, enquanto que o extrato metanólico de caules do Jagube apresentou alta

atividade antioxidante. Conclui-se, portanto, que os extratos metanólicos destas plantas

apresentam atividade antioxidante significativa em relação a extratos vegetais.

É interessante também realizar os testes antimicrobianos e antioxidantes com os

alcaloides isolados e/ou com extrato alcaloídico de ambas as plantas, para sabermos se os

extratos estão potencializando ou diminuindo a ação da DMT e dos alcaloides beta-carbonílicos

ou, ainda, se não influenciam, caso os alcaloides demonstrem resultados semelhantes aos dos

extratos para essas atividades biológicas.

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87

Ambas formulações elaboradas se mostraram estáveis e com uma boa incorporação dos

extratos nas micelas. Nos testes de atividade antioxidante realizados com as soluções micelares

de ambas as plantas foi possível perceber a melhora na eficácia dessa atividade quando

comparados com os resultados apresentados nos testes correspondentes realizados apenas com

os extratos. O teste usando as duas formulações de forma conjunta não foi realizado, mas seria

uma boa perspectiva para avaliar o potencial conjunto dos dois extratos incorporados nas

soluções micelares para a atividade antioxidante.

A realização dos testes antimicrobianos com as espécies que se mostraram sensíveis aos

extratos metanólicos destas plantas e as soluções micelares desenvolvidas com esses extratos

precisa ser realizado para verificar se houve ou não a melhora da atividade desses extratos

contra o crescimento bacteriano das espécies em questão. Se tais testes se mostrarem positivos,

já temos em mãos possíveis formulações de fármacos antibióticos e antioxidantes de origem

natural.

Conclui-se com este trabalho que, além das ações psicotrópicas do chá Ayahuasca,

outras ações farmacológicas também podem estar presentes na bebida, uma vez que os extratos

aquosos de folhas da Chacrona e de caules do Jagube são utilizados em associação nos rituais

das “religiões ayahuasqueiras”, e que extratos aquosos se assemelham em polaridade com

extratos metanólicos. Testes de ações farmacológicas futuros com os extratos aquosos destas

plantas, isolados e em associação, são importantes por dois motivos principais: a extração

aquosa gera menos resíduos tóxicos, o que seria um benefício para futuras formulações com

extratos farmacologicamente ativos dessas plantas e para o meio ambiente; e para uma melhor

compreensão do termo de “cura” utilizado pelos praticantes destas religiões que fazem uso deste

chá, visto que há relatos da cura de diversas doenças por pessoas que se integram a essas

religiões e passam a fazer o uso do chá Ayahuasca. Atualmente, os praticantes destas religiões

acreditam que estas doenças sejam curadas uma vez que o espírito é “acalmado”, porém pode

ser que haja uma explicação científica para esse fato, ou que ambos os pontos antagônicos ajam

na cura: a Fé e a Ciência.

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