universidade federal de ouro preto programa de pós ......aos amigos flaviane e leandro que sempre...
TRANSCRIPT
-
Universidade Federal de Ouro Preto Programa de Pós-Graduação Engenharia Ambiental
Mestrado em Engenharia Ambiental
Davi Silva Moreira
“DESENVOLVIMENTO DE METODOLOGIA ANALITICA POR
CROMATOGRAFIA/ESPECTROMETRIA DE MASSAS PARA
AVALIAÇÃO DA OCORRÊNCIA DE PERTURBADORES
ENDÓCRINOS EM MANANCIAIS DE ABASTECIMENTO DA
REGIÃO METROPOLITANA DE BELO HORIZONTE.”
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Engenharia Ambiental,
Universidade Federal de Ouro Preto, como parte
dos requisitos necessários para a obtenção do
título: “Mestre em Engenharia Ambiental –
Área de Concentração: Saneamento Ambiental”
Orientador: Prof. Dr. Sérgio Francisco de Aquino
Ouro Preto, MG
2008
-
ii
Catalogação: [email protected]
M838D MOREIRA, DAVI SILVA. Desenvolvimento da metodologia analítica por cromatografia/ espectrometria de massas para avaliação da ocorrência de pertubadores endócrinos em mananciais de abastecimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte [manuscrito] / Davi Silva Moreira. – 2008. 123f. : il. color., graf., tabs. Orientador: Prof. Dr. Sérgio Francisco de Aquino. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Ouro Preto. Instituto de Ciências Exatas e Biológicas. Núcleo de Pesquisa em Recursos Hídricos Pró-Água.
1. Belo Horizonte - Abastecimento de água - Teses. 2. Mananciais hídricos - Teses. 3. Análise cromatográfica - Teses. I. Universidade Federal de Ouro Preto. II. Título.
mailto:[email protected]
-
iii
-
iv
“Por falta de reflexão os projetos
fracassam, mas se realizam quando
há muitos conselheiros.”
Provérbios 15,22
-
v
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por sempre estar comigo em todos os momentos. Sem Ele não
seria possível completar esta importante etapa na vida.
Ao professor Sérgio por ter acreditado na minha capacidade e ter sido um grande
professor nos ensinamentos de vida acadêmica e profissional. Ao professor Robson por
ter apoiado o projeto e ajudado valiosamente com seus conhecimentos.
Aos professores do DEQUI pela dedicação em repassar seus conhecimentos a
todos nós alunos durante a graduação e mestrado.
Aos colegas da UFMG: Jacson, Lucinda e, principalmente, ao Fábio e a Eliane
que ajudaram no projeto sempre que necessário.
Ao professor Valter por ter confiado no DEQUI-UFOP como parceiro no projeto
PROSAB 5.
Aos amigos do laboratório Aniel, Danusa, Fernanda e Gustavo pela grande
amizade e o intercâmbio de conhecimentos que foram de grande valia para a evolução
de nossos projetos. A Miriany pela grande ajuda no final do projeto com as análises
complementares.
Aos amigos Flaviane e Leandro que sempre estiveram comigo nos melhores e
piores momentos de UFOP, que já são seis anos. Obrigado!
A UFOP pela bolsa concedida.
A COPASA pela colaboração na coleta das amostras.
E finalmente, aos meus pais Luiz Henrique e Iolanda e aos meus irmãos Saulo e
Ariel que sempre apoiaram e incentivaram mostrando que todo esforço vale a pena.
Muito obrigado!
-
vi
SUMÁRIO
Página
1. INTRODUÇÃO............................................................................................ 1 2. OBJETIVOS................................................................................................. 4 3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA................................................................... 5 3.1. O sistema endócrino.................................................................................. 5 3.2. Perturbadores endócrinos......................................................................... 7 3.2.1. Mecanismos de Ação dos Perturbadores Endócrinos............................. 9 3.2.2. Efeitos dos Perturbadores Endócrinos relatados em animais silvestres e de laboratório................................................................................................. 11 3.2.3. Efeitos dos perturbadores endócrinos relatados em humanos............... 13 3.3. Análise e monitoramento de Perturbadores Endócrinos em Águas Superficiais........................................................................................................ 14 3.3.1. Metodologias para análise de perturbadores endócrinos....................... 15 3.3.2. Monitoramento de perturbadores endócrinos em águas superficiais..... 24 3.3.3. Técnicas de remoção de perturbadores endócrinos................................ 30 3.3.4. Considerações finais................................................................................ 32 4. MATERIAIS E MÈTODOS....................................................................... 34 4.1. Desenvolvimento e Otimização do Método Analítico............................... 34 4.1.1. Amostragem, filtração e ajuste do pH .................................................... 36 4.1.2. Extração e concentração dos analitos..................................................... 36 4.1.3. Secagem e suspensão dos analitos........................................................... 38 4.1.4. Análise Cromatográfica........................................................................... 38 4.2. Validação do método analítico.................................................................. 42 4.2.1. Estabilidade............................................................................................. 43 4.2.2. Seletividade.............................................................................................. 44 4.2.3. Curva analítica........................................................................................ 44 4.2.4. Linearidade e Sensibilidade.................................................................... 47 4.2.5. Precisão................................................................................................... 47 4.2.6. Ensaio de supressão................................................................................ 48 4.2.7. Ensaio de recuperação............................................................................ 48 4.2.8. Ensaio de calibração interlaboratorial................................................... 49 4.3. Monitoramento dos Perturbadores Endócrinos nos Mananciais da Região Metropolitana de Belo Horizonte........................................................ 50 5. RESULTADOS E DISCUSSÕES............................................................... 58 5.1.Cromatografia Gasosa com Detecção por Ionização em Chama............. 58 5.2. Cromatografia Líquida com Detecção por Espectrometria de massas - Desenvolvimento do Método Analítico............................................................. 61 5.3. Validação do Método Analítico para LCMS............................................. 65 5.3.1. Estabilidade............................................................................................. 65 5.3.2. Seletividade.............................................................................................. 66 5.3.3. Curva Analítica....................................................................................... 67 5.2.4. Linearidade e Sensibilidade..................................................................... 69 5.2.5. Precisão................................................................................................... 70
-
vii
SUMÁRIO (continuação)
Página
5.3.6 Ensaio de Supressão................................................................................. 71 5.3.7 Ensaio de Recuperação............................................................................ 73 5.3.8. Ensaio de calibração interlaboratorial................................................... 74 5.4. Monitoramento dos Perturbadores Endócrinos em Mananciais da Região Metropolitana de Belo Horizonte......................................................... 76 5.5 Estimativa de valores críticos de toxicidade dos PE estudados................. 94 6. CONCLUSÕES............................................................................................ 97 7. PERSPECTIVAS......................................................................................... 99 8. REFERÊNCIAS........................................................................................... 100
-
viii
LISTA DE FIGURAS
Página
Figura 3.1: Órgãos do sistema endócrino....................................................... 5 Figura 3.2: Funcionamento do hipotálamo..................................................... 6 Figura 3.3: Estruturas químicas de alguns perturbadores endócrinos
comumente encontrados em águas superficiais........................... 8 Figura 3.4: Disfunções endócrinas: (a) resposta natural; (b) efeito agonista;
(c) efeito antagonista.................................................................... 11 Figura 3.5: Diagrama esquemático para preparação e análise dos
perturbadores endócrinos............................................................. 16 Figura 3.6: Etapas da extração por fase sólida para isolamento de
compostos de interesse................................................................. 19 Figura 3.7: Exemplo dos dois passos genericamente associados aos
imunoensaios: A) Imobilização do receptor específico ao suporte, seguido de incubação após a adição da amostra contendo estrogénios e de anticorpos; B) Adição da solução adequada ao tipo de detecção pretendida..................................... 22
Figura 4.1: Diagrama geral para preparação e análises dos PE. .................... 35 Figura 4.2: Cartucho SPE C18 500mg Unitech............................................. 37 Figura 4.3: Sistema de extração em fase sólida utilizado para extração dos
analitos de interesse das amostras ambientais.............................. 38 Figura 4.4: Reação de Silanização a partir dos analitos a serem
derivatizados (nonilfenol, estradiol e etinilestradiol) e o reagente de derivatização utilizado (BSTFA).............................. 39
Figura 4.5: Diagrama esquemático de funcionamento do espectrômetro de massas íon-trap – time-of-flight.................................................. 41
Figura 4.6: Fórmula Estrutural da Fenolftaleína............................................ 45 Figura 4.7: Localização dos 3 mananciais estudados na Região
Metropolitana de Belo Horizonte................................................ 51 Figura 4.8: Contribuição das ETAs no abastecimento da Região
Metropolitana de Belo Horizonte................................................. 51 Figura 4.9: Vista aérea ETA Rio das Velhas.................................................. 53
Figura 4.10: Local de amostragem para água bruta do manancial Rio das Velhas.......................................................................................... 53
Figura 4.11: ETA Vargem das Flores............................................................... 54 Figura 4.12: Vista aérea ETA Vargem das Flores............................................ 55 Figura 4.13: Vista aérea da ETA Sistema Morro Redondo.............................. 56 Figura 4.14: ETA Morro Redondo................................................................... 56 Figura 5.1: Cromatogramas obtidos (5) no GC-FID com a injeção de
mistura de padrões em diferentes concentrações. ........................ 60 Figura 5.2 Curva de calibração obtida com a mistura dos padrões
analisados...................................................................................... 60
-
ix
LISTA DE FIGURAS (continuação)
Página
Figura 5.3: Cromatograma típico da análise dos PE em questão: 1 – Fenolftaleína, 2 – Estradiol, 3 – Etinilestradiol, 4 – ms² Etinilestradiol, 5 – ms² Estradiol, 6 – Nonilfenol , 7 – ms² nonilfenol ) .................................................................................. 63
Figura 5.4: Cromatogramas relativos aos íons precursores ms1 e ms² (modos negativo) característicos de cada composto.................... 64
Figura 5.5: Cromatograma do metanol puro (branco). Ausência de picos para E2, EE2 (Segmento 1 - 5minutos - esquerdo) e a presença de interfente no tempo de retenção do NP (Segmento 2 - 6,8minutos - direito).................................................................... 66
Figura 5.6: Amostra Morro Redondo (água bruta) com adição de estradiol e etinilestradiol (100 μg.L-1, quadro da esquerda) e n-nonilfenol (200 μg.L-1, quadro da direita). ................................................... 67
Figura 5.7: Curvas analíticas obtidas com soluções-padrão para os quatro padrões de PE............................................................................... 70
Figura 5.8: Chuva acumulada mensal na RMBH durante o período de monitoramento (fev/07 a jan/08)................................................. 76
Figura 5.9: Box-plot da concentração dos três compostos determinados nos mananciais estudados em todas as campanhas amostrais. Água Bruta............................................................................................ 78
Figura 5.10: Variação da concentração de nonilfenol em água bruta nos mananciais durante o período de fev/07 a jan/08......................... 80
Figura 5.11: Cromatograma para Nonilfenol da Amostra Rio das Velhas – Nov. 2007 e as diferentes fragmentações (ms²) de seus isômeros (esquerda). Exemplos de estruturas químicas de 5 dos 550 Isômeros de nonilfenol existentes (direita)........................... 81
Figura 5.12: Boxplot da concentração de nonilfenol na água bruta nos 3 mananciais................................................................................... 82
Figura 5.13: Índice de remoção de NP (água bruta – água filtrada) durante as campanhas de junho 2007 a janeiro 2008................................ 83
Figura 5.14: Variação da concentração de estradiol em água bruta nos mananciais durante o período de fev/07 a jan/08......................... 84
Figura 5.15: Variação da concentração de etinilestradiol em água bruta nos mananciais durante o período de fev/07 a jan/08......................... 86
Figura 5.16: Índice de remoção (água bruta – água filtrada) de EE2 durante as campanhas de junho 2007 a janeiro 2008............................... 87
Figura 5.17: Confirmação da presença de Bisfenol A na água a partir do LCMS. Amostra: Rio das Velhas janeiro de 2008....................... 88
Figura 5.18: Análise quimiométrica das amostras referentes aos meses de jun/07 a set/07 com base no PCA................................................ 89
-
x
LISTA DE FIGURAS (continuação)
Página
Figura 5.19: Variação do pH nas amostras de água bruta dos três
mananciais durante o período de monitoramento........................ 91 Figura 5.20: Variação da turbidez nas amostras de água bruta dos três
mananciais durante o período de monitoramento........................ 91 Figura 5.21: Variação da cor aparente nas amostras de água bruta durante o
período de monitoramento nos 3 mananciais............................... 92 Figura 5.22: Variação da cor verdadeira nas amostras de água bruta durante
o período de set/07 a Jan/08 nos 3 mananciais............................ 92 Figura 5.23: Análise da Componente principal (PCA) dos seis parâmetros
utilizados para o monitoramento dos mananciais escolhidos...... 93
-
xi
LISTA DE TABELAS
Página
Tabela 3.1: Seminários, comitês e relatórios de avaliação sobre os Perturbadores Endócrinos............................................................. 9
Tabela 3.2: Efeitos e anomalias atribuídos aos perturbadores endócrinos em animais.......................................................................................... 12
Tabela 3.3: Classificação de alguns perturbadores endócrinos (adaptado de Mol et al. 2000)............................................................................ 15
Tabela 3.4: Cartuchos de SPE mais utilizados e seus principais fabricantes.. 19 Tabela 3.5: Compilação de trabalhos publicados sobre o monitoramento de
nonilfenol, estradiol e etinilestradiol em águas superficiais......... 26-28 Tabela 3.6: Principais fontes de perturbadores endócrinos em águas
superficiais.................................................................................... 30 Tabela 3.7: Metodologias estudadas para remoção de perturbadores
endócrinos..................................................................................... 32 Tabela 4.1: Nome IUPAC, massa, fórmula molecular, pureza, marca e
número CAS dos compostos determinados.................................. 35 Tabela 4.2: Descrição do procedimento de extração com cartucho Unitech
C18 (500 mg) utilizado nesse trabalho para a extração simultânea dos três compostos de interesse.................................. 37
Tabela 4.3: Condições de análise dos Perturbadores endócrinos por cromatrografia gasosa................................................................... 40
Tabela 4.4: Condições de análise dos PE por cromatrografia líquida acoplada à espectrometria de massas............................................ 42
Tabela 4.5: Campanhas realizadas para determinação de nonilfenol, estradiol e etinilestradiol na ETA Rio das Velhas........................ 54
Tabela 4.6: Campanhas realizadas para determinação de nonilfenol, estradiol e etinilestradiol na ETA-Vargem das Flores.................. 55
Tabela 4.7: Campanhas realizadas para determinação dos Perturbadores Endócrinos na Região Metropolitana de Belo Horizonte – ETA Morro Redondo............................................................................. 57
Tabela 5.1: Tempo de retenção, área obtida em relação à concentração e limite de detecção dos compostos analisados por cromatografia gasosa........................................................................................... 59
Tabela 5.2: Fórmulas moleculares, tempos de retenção, íons primários (ms1) e secundários (ms2) característicos para cada padrão utilizado........................................................................................ 64
Tabela 5.3: Variação da concentração dos compostos em relação ao tempo de preparo das amostras................................................................ 66
-
xii
LISTA DE TABELAS (continuação)
Página
Tabela 5.4: Faixa de trabalho, limite de detecção (LD) e limite de quantificação (LQ) dos quatro compostos determinados por LCMS-IT-TOF............................................................................. 68
Tabela 5.5: Coeficiente de correlação (r) obtido para os 4 padrões determinados por LCMS-IT-TOF ao longo do monitoramento... 69
Tabela 5.6: Repetibilidade dos resultados obtidos para soluções-padrão dos três PE expressa por meio do coeficiente de variação (CV)......... 71
Tabela 5.7: Resultados dos testes de supressão realizados com amostras coletadas na entrada da ETA Morro Redondo (fev. 2008)........... 72
Tabela 5.8: Variação da supressão nas amostras de água bruta no mês de janeiro 2008.................................................................................. 73
Tabela 5.9: Valores obtidos pelos ensaios de recuperação de E2, EE2 e NP em função da fortificação das amostras coletadas na entrada da ETA Morro Redondo.................................................................... 74
Tabela 5.10: Resultados obtidos pela calibração interlaboratorial UFOP-CIRRA.......................................................................................... 70
Tabela 5.11: Concentração de nonilfenol (ng.L-1) encontrada durante as campanhas de amostragem........................................................... 79
Tabela 5.12: Concentração de 17β-estradiol (ng .L-1) encontrada durante as campanhas de amostragem........................................................... 84
Tabela 5.13: Concentração de 17α-etinilestradiol (ng.L-1) encontrada durante as campanhas de amostragem...................................................... 86
Tabela 5.14: Dados de pH, Turbidez, Cor Aparente e Real durante o período de fevereiro 2007 a janeiro 2008. Local: Rio das Velhas (água bruta)............................................................................................. 89
Tabela 5.15: Dados de pH, Turbidez, Cor Aparente e Real durante o período de fevereiro 2007 a janeiro 2008. Local: Vargem das Flores (água bruta)................................................................................... 90
Tabela 5.16: Dados de pH, Turbidez, Cor Aparente e Real durante o período de fevereiro 2007 a janeiro 2008. Local: Morro Redondo (água bruta)............................................................................................. 90
Tabela 5.17: Exemplos de pertubação endócrina observada em animais do sexo masculino expostos aos estradióis e nonilfenol durante o período pré-natal. (adaptado Damstra et al., 2002)............................................................................................. 94
-
xiii
LISTA DE NOTAÇÕES
APEO Alquilfenóis Polietoxilados BPA Bisfenol A
BSTFA N-bis(trimetilsilil)trifluoroacetamida CAS Chemical Abstract Service
CETESB Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental CG Cromatografia Gasosa
CG-FID Cromatrografia Gasosa com detecção por Ionização em Chama CGMS Cromatografia Gasosa acoplada a Espectrometria de Massas CSTEE Committee on Toxicity, Ecotoxicity and the Environment
DAD Detector de Arranjo de Diodo (para cromatografia líquida) DDE Diclorodifeniltricloroetileno DDT Dicloro-difenil-tricloro-etano DES Dietilestilbestrol DIC Detector de Ionização em Chama (para cromatografia Gasosa) E1 Estrona E2 Estradiol E3 Estriol
EDC Endocrine Disrupting Chemicals EE2 Etinilestradiol EM Espectrometria de Massas ESI Eletronspray ionization ETA Estação de tratamento de água ETE Estação de tratamento de esgoto FE Fase estacionária FM Fase móvel
H2SO4 Ácido Sulfúrico HCl Ácido Clorídrico
HPLC Cromatografia Líquida de Alta Eficiência IEH Institute for Ecological Health IPCS Programa Internacional de Segurança Química
IUPAC International Union of Pure and Applied Chemistry LC Cromatografia Líquida
LCMS Cromatografia Líquida acoplada a Espectrometria de Massas LCMS-IT-
TOF Cromatografia Líquida acoplada a Espectrometria de Massas. Detecção por Ion Trap e Time of Flight
MSTFA N-metil-n-trifluoroacetamida MTBSTFA N-metil-n-(tert-butildimetilsilil)trifluoroacetamida
4NP 4-nonilfenol
-
xiv
LISTA DE NOTAÇÕES (continuação)
NP Nonilfenol ou n-nonilfenol
NPEO Nonilfenol Polietoxilado OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico OMS Organização Mundial da Saúde PCA Análise de componente principal PE Perturbadores Endócrinos
POP Poluentes Orgânicos Persistentes RMBH Região Metropolitana de Belo Horizonte
SPE Extração por fase sólida SPME Microextração em fase sólida STP Substâncias Tóxicas Persistentes UE União Européia
UKEA Agência de Proteção Ambiental do Reino Unido USEPA Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos UV/VIS Detector ultravioleta na região do visível
VTG Vitelogenina
-
xv
RESUMO
Alguns compostos orgânicos classificados como Perturbadores Endócrinos (PE) são
encontrados em águas superficiais e têm atraído a atenção da comunidade científica
devido à alteração que eles causam no sistema endócrino da fauna aquática e ao
potencial risco à saúde humana. Nessa classe de compostos, destacam-se os hormônios
(17β-estradiol, 17α-etinilestradiol) e subprodutos da degradação de surfactantes não-
iônicos (n-nonilfenol). Devido a atualidade do tema, há poucos trabalhos nacionais
publicados abordando o monitoramento e a remoção de PE de águas naturais, não
havendo ainda uma legislação que regulamente a emissão de hormônios e nonilfenóis
no ambiente ou que estabeleça padrões de potabilidade para tais compostos. Sendo
assim, essa dissertação teve como objetivo desenvolver metodologia analítica para
quantificação de 17β-estradiol (E2), 17α-etinilestradiol (EE2) e n-nonilfenol (NP) em
amostras de água superficial, de forma a permitir o monitoramento de tais PE em três
mananciais de abastecimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). A
quantificação dos PE nas amostras ambientais foi feita em equipamento de
cromatografia líquida acoplada a espectrometria de massas (LCMS) após extração e
concentração em cartuchos tipo C18. A recuperação dos PE pelo processo de extração
em fase sólida variou de 90 a 96¨% ao passo que os limites de detecção do método
foram de 1,4; 0,9 e 4,9 ng.L-1 para o E2, EE2 e NP, respectivamente. Após validação do
método analítico, foi feito o monitoramento do afluente e da água filtrada (em filtro de
areia) de três estações de tratamento de água (Morro Redondo, Vargem das Flores e Rio
das Velhas) da região Metropolitana de Belo Horizonte. Todos os três compostos
monitorados foram encontrados em pelo menos uma amostra, sendo que o n-nonilfenol
esteve presente em todas amostras de água bruta, na faixa de concentração de 44 a 1.918
ng.L-1. Os compostos 17β-estradiol e 17α-etinilestradiol foram determinados em apenas
15% das amostras, na faixa de concentração de 2 a 54 ng.L-1. As análises das amostras
coletadas nas ETAs após o filtro de areia mostraram que as etapas de pré-cloração,
coagulação, sedimentação e filtração não foram capazes de remover, em sua totalidade,
os PE monitorados.
Palavras-chave: Perturbadores endócrinos; microcontaminantes orgânicos; qualidade
da água; tratamento de água; espectrometria de massas.
-
xvi
ABSTRACT
Some organic molecules classified as endocrine disrupters compounds (EDC) have been
found in surface waters and attracted attention from the scientific community due to
their hability to tamper with the endocrine system of aquatic fauna, hence due to the
potential risk they pose to human health. Among the compunds with endocrine
properties, the hormones (17β-estradiol 17α- ethinylestradiol) and a by-product of the
degradation of non-ionic surfactants (n-nonylphenol) are of particular importance. There
are a handful of papers on the monitoring of EDC in Brazilian waters and there is no
Brazilian legislation regulating estradiol and nonylphenol in surface or drinking water.
Therefore, this work aimed at developing analytical techniques to quantify 17 β-
estradiol (E2), 17 α-ethynilestradiol (EE2) and n-nonylphenol (NP) in samples of
surface water from three manancials located in the Belo Horizonte Metropolitan Area,
Minas Gerais, Brazil. The quantification of such EDC was performed by liquid
chromatography coupled to mass spectrometry (LCMS) after the samples being
extracted and concentrated with C18 cartridges. The recovery of EDC by solid phase
extraction varied from 90 to 96% and the limit of detection of the whole analytical
procedure was determined as 1.4; 0.9 and 4.9 ng.L-1 for E2, EE2 and NP, respectively.
After the method validation it was carried out a one year monitoring of raw and filtered
water (sand filtration) of three water treatment plants (Morro Redondo, Vargem das
Flores and Rio das Velhas) that supply Belo Horizonte Metropolitan Area. The results
showed that the three compounds were found in at least one sample, and that the n-
nonylphenol was present in all water samples analysed, in a concentration range of 44 to
1,918 ng.L-1. The estrogens 17β-estradiol and 17 α-ethinylestradiol were detected in
only 15% of the samples, in a concentration range of 2 to 54 ng/L. The analyses of
samples collected in the WTPs after the sand filter indicates that the pre-chlorination,
coagulation, sedimentation and sand filtration steps were not capable of completely
removing the EDC present in the raw water.
Keywords: Endocrine Disruptors Compounds; organic microcontaminants; Water
Quality; Water Treatment; mass spectrometry
-
1
1. INTRODUÇÃO
A água é hoje reconhecida como um dos bens naturais mais importantes do
planeta. Seus múltiplos usos são indispensáveis a um amplo espectro das atividades
humanas. Devido a crescente degradação dos corpos d’água, as preocupações com o uso
e destino têm mobilizado pessoas de diversas áreas acadêmicas a pesquisas científicas
com o intuito de preservar e recuperar esse recurso natural.
A partir da década de 70, o interesse da comunidade acadêmica e a criação de
órgãos de proteção ambiental, como a Agência de Proteção Ambiental dos Estados
Unidos (USEPA), promoveram um crescimento de pesquisas envolvendo
monitoramento de microcontaminantes orgânicos em diversos setores ambientais. Com
isso, o interesse dos setores público e privado por assuntos ambientais resultou em
várias organizações governamentais e não-governamentais que hoje debatem,
estabelecem normas e discutem práticas de minimização e remediação de substâncias
químicas potencialmente poluentes.
Dentre as substâncias químicas potencialmente poluentes, nos últimos anos,
destacaram-se alguns compostos denominados perturbadores endócrinos (PE), que são
substâncias que podem provocar alterações no sistema endócrino de animais e de
humanos. Os PE constituem uma classe de substâncias não definidas pela sua natureza
química, mas pelo seu efeito biológico, que pode causar distúrbios no sistema endócrino
mesmo em baixas concentrações. Muitos dos perturbadores endócrinos listados por
algumas organizações como a USEPA e a Agência Ambiental do Reino Unido (UKEA),
também estão classificados numa série de grupos de compostos orgânicos
potencialmente tóxicos, tais como as substâncias tóxicas persistentes (STP), poluentes
orgânicos persistentes (POP), poluentes emergentes, dentre outros. A União Européia
também elaborou um relatório contendo uma vasta lista de 118 compostos suspeitos de
interferir no sistema endócrino, tanto de seres humanos como de diferentes espécies
animais (Ghiselli e Jardim 2007; Damstra et al. 2002).
O interesse no estudo de compostos classificados como PE foi motivado a partir
de observações sobre a ocorrência de anormalidades no sistema endócrino e reprodutivo
de animais. Os sintomas observados têm sido atribuídos à presença de uma grande
variedade de substâncias químicas, mesmo em concentrações-traço, principalmente em
sistemas aquáticos naturais (Auger et al. 1995; Routledge et al. 1998). Uma evidência
dos possíveis efeitos dos PE em seres humanos foi obtida a partir da experiência
-
2
envolvendo mulheres grávidas que tomaram o estrogênio sintético dietilestilbestrol
(DES), prescrito para evitar o aborto espontâneo e promover o crescimento do feto, no
período entre 1948 a 1971. Muitas das filhas dessas mulheres são hoje estéreis e, uma
minoria, tem desenvolvido um tipo raro de câncer vaginal (Damstra et al., 2002).
Homens adultos que foram expostos a estradiol mostram maior incidência de
anormalidades em seus órgãos sexuais, apresentam contagem média de espermatozóides
diminuída e podem sofrer um risco maior de desenvolver câncer de testículos (Colucci
et al. 2001; Guillette et al. 1996; Legler et al. 2002).
Dentre a vasta quantidade de PE que já foram avaliados pela comunidade
científica, destacam-se três compostos que são comumente avaliados em diversos
trabalhos, que pode ser justificado pelos seguintes fatores:
i) n-nonilfenol ou nonilfenol: é um subproduto da degradação dos
alquillfenóis polietoxilados (APEO), que são agentes surfactantes de
amplo uso tanto em processos industriais como em produtos de uso
doméstico, por exemplo, detergentes (USEPA 2001);
ii) 17β-estradiol ou estradiol: é um hormônio natural que nas mulheres é
responsável pela síntese de estrogênio circulante, sendo por isso
naturalmente e diariamente excretado na urina humana e, assim,
descartado no esgoto doméstico (Bila e Dezotti 2003);
iii) 17α-etinilestradiol ou etinilestradiol: é um dos estrogênios sintéticos
mais usados como contraceptivos orais, na reposição terapêutica na
menopausa ou na prevenção do aborto (Bila e Dezotti 2007; Ghiselli e
Jardim 2007).
De acordo com trabalhos nacionais e internacionais, compostos classificados
como PE têm sido detectados em amostras de águas superficiais, principalmente em
função da atividade antrópica (Alda e Barceló 2001). Pesquisas também têm mostrado
que substâncias estrogênicas são encontradas em rios receptores de esgotos domésticos,
tratados ou in natura. Potencialmente danosos à saúde, os PE têm se mostrado
resistentes aos processos de tratamento convencionais utilizados nas estações de
tratamento de esgotos (ETE) e de águas (ETA), sendo a intensidade de remoção dos PE
dependente das condições operacionais impostas no sistema de tratamento. Os poucos
trabalhos existentes sobre o tema indicam que os tratamentos convencionais não
-
3
conseguem remover completamente tais micropoluentes, havendo relato da presença de
diversos fármacos e de estrogênios naturais e sintéticos no esgoto doméstico e efluentes
de ETEs (Jeannot et al. 2002; Körner et al. 2000).
Em relação aos corpos d’água, outro fator importante é que pouco se sabe sobre
o real impacto desses compostos sobre o ambiente aquático e, principalmente, sobre a
saúde humana. No caso do Brasil, a ausência de ETEs em grande parte dos municípios
brasileiros agrava ainda mais o quadro de possível contaminação das águas superficiais
por PE.
Tendo em vista a crescente preocupação ambiental dedicada aos “perturbadores
endócrinos”, principalmente no Brasil, o objetivo deste trabalho é desenvolver uma
metodologia analítica que permita a detecção e quantificação de três PE (NP, E2 e EE2)
em amostras de água superficiais a partir da técnica de LCMS. Serão também
discutidos, brevemente, resultados sobre análises dos três compostos a partir da
cromatografia gasosa com detector por ionização em chama (CG-FID). Após o
desenvolvimento da técnica de análise, será feito o monitoramento de três mananciais
de abastecimento da RMBH: Rio das Velhas e Morro Redondo e Vargem das Flores.
Dessa forma, o primeiro capítulo de resultados apresentará o procedimento para
validação da metodologia analítica empregada e discutirá os parâmetros mais relevantes
para análise. O segundo capítulo de resultados apresentará os dados do monitoramento
de nonilfenol, estradiol e etinilestradiol em três pontos de captação de água da região
metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) e discutirá os resultados obtidos. Finalmente,
o capítulo de conclusões consubstanciará as informações mais relevantes e destacará a
contribuição da dissertação para o tema pesquisado.
-
4
2. OBJETIVOS
O objetivo geral do trabalho foi desenvolver e validar uma metodologia analítica para a
detecção e quantificação dos perturbadores endócrinos nonilfenol (NP), estradiol (E2) e
etinilestradiol (EE2) em amostras de água usando cromatografia acoplada a
espectrometria de massas (LCMS).
Objetivos específicos:
• Monitorar, pelo período de um ano, a água de três mananciais da região
metropolitana de Belo Horizonte para avaliar a presença de NP, E2 e EE2;
• Avaliar, de forma geral, a eficiência das etapas de pré-cloração, coagulação,
sedimentação e filtração, empregadas nas estações de tratamento de água (ETA)
monitoradas, na remoção de NP, E2 e EE2.
-
5
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1. O sistema endócrino
Dá-se o nome de sistema endócrino ao conjunto de órgãos que apresentam como
atividade característica a produção de secreções denominadas hormônios, que são
lançados na corrente sangüínea e irão atuar em outra parte do organismo, controlando
ou auxiliando o controle de sua função. Os órgãos que têm sua função controlada e/ou
regulada pelos hormônios são denominados órgãos-alvo (Guyton 1988).
Os hormônios influenciam praticamente todas as funções dos demais sistemas
corporais. Freqüentemente o sistema endócrino interage com o sistema nervoso,
formando mecanismos reguladores bastante precisos. O sistema nervoso pode fornecer
ao endócrino a informação sobre o meio externo, ao passo que o sistema endócrino
regula a resposta interna do organismo a esta informação. Dessa forma, o sistema
endócrino, juntamente com o sistema nervoso, atua na coordenação e regulação das
funções corporais (Guyton 1988). A Figura 3.1 apresenta os órgãos do sistema
endócrino. As propriedas dos órgãos do sistema endócrino serão discutidas a seguir.
Figura 3.1 - Órgãos do sistema endócrino (Fonte: AFH, 2007).
Hipófise ou pituitária: os hormônios produzidos pela hipófise são denominados tróficos
por atuarem sobre outras glândulas endócrinas. São responsáveis por ativar a secreção
de outros hormônios como os da glândula tireóide, glândula adrenal, gônadas e do
crescimento.
http://www.afh.bio.br/nervoso/nervoso1.asp
-
6
Hipotálamo: responsável pelo controle da hipófise através de conexões neurais e
substâncias semelhantes a hormônios chamados fatores desencadeadores (ou de
liberação), o meio pelo qual o sistema nervoso controla o comportamento sexual via
sistema endócrino. Em mulheres, a glândula-alvo do hormônio gonadotrófico é o
ovário; no homem, são os testículos. O hipotálamo é responsável pelo controle de
inibição ou liberação destes hormônios. Como a hipófise secreta hormônios que
controlam outras glândulas e está subordinada, por sua vez, ao sistema nervoso, pode-se
dizer que o sistema endócrino é subordinado ao nervoso e que o hipotálamo é o
mediador entre esses dois sistemas A Figura 3.2 apresenta um diagrama de
funcionamento do hipotálamo.
Figura 3.2 - Funcionamento do hipotálamo (Fonte: AFH, 2007).
Tireóide: responsável pela produção de hormônios como triiodotironina (T3) e tiroxina
(T4), que aumentam a velocidade dos processos de oxidação e de liberação de energia
nas células do corpo, elevando a taxa metabólica e a geração de calor. A calcitonina,
outro hormônio secretado pela tireóide, participa do controle da concentração sangüínea
de cálcio, inibindo a remoção do cálcio dos ossos e a saída dele para o plasma
sangüíneo, estimulando sua incorporação pelos ossos.
Paratireóides: glândulas responsáveis pela secreção do paratormônio, hormônio que
estimula a remoção de cálcio da matriz óssea (o qual passa para o plasma sangüíneo), a
absorção de cálcio dos alimentos pelo intestino e a reabsorção de cálcio pelos túbulos
renais, aumentando a concentração de cálcio no sangue.
Adrenais ou supra-renais: são duas glândulas localizadas sobre os rins, divididas em
duas partes independentes, medula e córtex.
-
7
Pâncreas: é uma glândula mista, ou seja, apresenta determinadas regiões endócrinas e
exócrinas ao mesmo tempo. As funções endócrinas do pâncreas são responsáveis por
células que secretam dois hormônios: insulina e glucagon.
3.2. Perturbadores endócrinos
O termo “Pertubador Endócrino” é utilizado nesse texto como sinônimo de
disruptores endócrinos, interferentes endócrinos e agentes hormonalmente ativos, que
na literatura internacional corresponde aos “endocrine disrupting compounds or
chemicals” (EDC). Os termos mais usados são perturbadores endócrinos e disruptores
endócrinos. Muitas definições têm sido propostas para tal classe de compostos,
entretanto, para todas elas existe um ponto em comum: trata-se de uma substância
química que pode interferir no funcionamento natural do sistema endócrino de espécies
animais, incluindo os seres humanos.
Alguns pesquisadores definem um interferente endócrino com base nos seus
efeitos, ou seja, trata-se de uma substância química que, mesmo presente em
concentração extremamente baixa, é capaz de interferir no funcionamento natural do
sistema endócrino, podendo causar câncer, prejudicar os sistemas reprodutivos e causar
outros efeitos adversos (Mozaz et al. 2007; Yang et al. 2006). Em maio de 1997, a
agência de proteção ambiental dos Estados Unidos (Environmental Protection Agency -
USEPA), definiu um interferente endócrino como “agente exógeno que interfere com
síntese, secreção, transporte, ligação, ação ou eliminação de hormônio natural no corpo,
que são responsáveis pela manutenção, reprodução, desenvolvimento e/ou
comportamento dos organismos”.
O Programa Internacional de Segurança Química (IPCS), em conjunto com o
Japão, os EUA, o Canadá, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE) e a União Européia, adotou a seguinte definição para os
perturbadores endócrinos: “Um perturbador endócrino é uma substância ou um
composto exógeno que altera uma ou várias funções do sistema endócrino e tem,
conseqüentemente, efeitos adversos sobre a saúde num organismo intacto, sua
descendência, ou (sub) populações” (CEC 1999).
Os PE podem ser produtos naturais, como os fitoestrógenos produzidos por
plantas, e por isso bastante comuns em alimentos de origem vegetal; ou produtos
sintéticos, como no caso de solventes clorados, aditivos alimentares, constituintes de
-
8
produtos de limpeza, agrotóxicos, e cosméticos; pílulas anticoncepcionais e outros
fármacos. Desta forma, a exposição aos perturbadores endócrinos pode ocorrer a partir
de uma variedade de fontes, de forma voluntária ou não, inclusive por meio da dieta
diária e do consumo de água potável (Damstra et al. 2002; Solé et al. 2003; Veras
2006). A Figura 3.3 mostra exemplos de perturbadores endócrinos comumente
presentes no ambiente (Laganà et al. 2004).
Figura 3.3 – Estruturas químicas de alguns perturbadores endócrinos comumente encontrados em águas superficiais (Laganà et al. 2004).
Embora desde o início do século XX já existissem hipóteses prevendo alterações
no funcionamento do sistema endócrino de algumas espécies animais expostas a
determinadas substâncias químicas tóxicas, apenas recentemente esta importante
questão tem recebido a devida atenção por parte da comunidade científica. Isso pode ser
constatado pelo número crescente de publicações que relatam o aumento da incidência
de disfunções no sistema endócrino de seres humanos (incluindo a infertilidade
masculina), e mais significativamente, efeitos fisiológicos adversos observados em
espécies animais para as quais a relação causa/efeito é mais evidente (Damstra et al.
2002).
De fato, as evidências observadas em estudos envolvendo moluscos, crustáceos,
peixes, répteis, pássaros e alguns mamíferos têm sugerido que possíveis alterações de
saúde humana envolvendo o sistema reprodutivo, tais como o câncer de mama e de
testículo, podem estar relacionadas à exposição aos Perturbadores Endócrinos
(Lintelmann et al. 2003). Para esclarecer, desenvolver estratégias e solucionar o
problema dos perturbadores endócrinos, várias organizações governamentais e não
governamentais, como, União Européia (UE), US-EPA, Damstra et al. 2002, IPCS e a
-
9
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), investigaram
o tema “perturbadores endócrinos”, conforme mostra a Tabela 3.1.
Tabela 3.1: Seminários, comitês e relatórios de avaliação sobre os Perturbadores Endócrinos (Bila e Dezotti 2007). Ano Organização Objetivos do Estudo 1995 Agência Ambiental Federal
Alemã Discussão sobre evidência e impactos dos PE e riscos potenciais que podem causar em humanos e animais
1995 Agência Proteção Ambiental Americana (USEPA)
Seminários para avaliar os riscos à saúde e efeitos ambientais dos PE
1995 Ministério do Meio Ambiente e Energia da Dinamarca
Avaliação dos efeitos de substâncias estrogênicas no desenvolvimento e nas funções do sistema reprodutivo masculino
1996 USEPA Seminário para desenvolvimento de estratégia para avaliar o risco dos PE no ambiente
1996 USEPA Desenvolvimento de programa de testes e análises (screening) para avaliar a ação dos PE
1997 USEPA Relatório sobre os PE presentes no meio ambiente 1998 USEPA Revisão e discussão das informações científicas
disponíveis sobre PE 1998 Organização para a Cooperação
e Desenvolvimento Econômico (OCDE)
Desenvolvimento de métodos de ensaio para os PE
1999 Committee on Toxicity, Ecotoxicity and the Environment
(CSTEE)
Revisão da literatura existente e opinião científica nas evidências dos PE, em particular, avaliação dos riscos ecológicos e diretrizes de ensaios toxicológicos
1999 Comissão das Comunidades Européias
Identificação do problema dos PE, suas causas, conseqüências e definição das medidas adequadas para dar uma resposta ao problema
2001 Comissão das Comunidades Européias
Primeiro relatório sobre o progresso dos trabalhos da comunidade européia sobre os PE
2002 Comissão das Comunidades Européias
Programa COMPREHEND: Avaliação das evidências dos PE no ambiente aquático na Europa
2002 OCDE Avaliação dos métodos de ensaios para as substâncias estrogênicas
2002 Organização Mundial da Saúde (OMS)
Avaliação global do estado da arte da ciência dos PE
2003 Instituto de Saúde Ecológica (IHE)
Relatório de avaliação do progresso internacional da pesquisa dos PE
2004 Comissão das Comunidades Européias
Segundo relatório sobre o progresso dos trabalhos sobre os PE.
3.2.1. Mecanismos de Ação dos Perturbadores Endócrinos
A ação de um determinado hormônio inicia-se através da sua ligação a um
receptor específico, no interior de uma célula. O complexo resultante liga-se a regiões
-
10
específicas do DNA presente no núcleo da célula, o que determina a ação dos genes.
Certos compostos químicos podem também se ligar ao receptor hormonal e,
conseqüentemente, mimetizar ou bloquear a ação do próprio hormônio (Ghiselli e
Jardim 2007; Damstra et al. 2002; Soto et al. 1991).
Esta mudança de atividade é transmitida por várias vias metabólicas, através da
membrana plasmática, dependendo do tipo de hormônio. Os diferentes processos
fisiológicos (em cascata e independentes) obtidos são controlados por mecanismos
complexos, que são ativados ou desativados de acordo com os níveis dos hormônios
encontrados no organismo. Embora muitas destas vias metabólicas possam ser
influenciadas por estimulações externas ao organismo, a grande maioria das disfunções
endócrinas observadas é atribuída ao funcionamento das gônadas, responsáveis pelas
características sexuais secundárias e pelo desenvolvimento e funcionamento dos órgãos
sexuais (Ghiselli e Jardim 2007; OMS 2002).
Um receptor hormonal possui elevada sensibilidade e afinidade por um
hormônio específico produzido no organismo. Por isso, concentrações extremamente
baixas de um determinado hormônio geram um efeito, produzindo uma resposta natural
(Figura 3.4a). Entretanto, estes receptores hormonais também podem se ligar a outros
compostos químicos, e isso explica o porquê de determinados perturbadores endócrinos
presentes no organismo, mesmo em baixíssimas concentrações, serem capazes de gerar
um efeito, provocando conseqüentemente uma resposta (Damstra et al., 2002).
A alteração no sistema endócrino ocorre quando o PE interage com os receptores
hormonais modificando a sua resposta natural, e para isso dois processos distintos
podem ser desencadeados. O PE pode se ligar ao receptor hormonal e produzir uma
resposta, atuando então como um mimetizador, ou seja, imitando a ação de um
determinado hormônio, processo este denominado de efeito agonista (Figura 3.4b). Se o
PE se ligar ao receptor, mas nenhuma resposta for produzida, ele estará agindo como
um bloqueador, ou seja, estará impedindo a interação entre um hormônio natural e o seu
respectivo receptor. Este processo é denominado de efeito antagonista (Figura 3.4c)
(Ghiselli 2006).
Um exemplo de perturbação endócrina é o caso do estradiol. Muitos PE
competem com o estradiol, pelos receptores de estrogênio. Outros competem com a
dihidrotestosterona (hormônio sexual masculino produzido naturalmente pelo
organismo), pelos receptores de androgênio. Portanto, estes compostos exercem efeitos
de feminização ou masculinização sobre o sistema endócrino. Compostos que produzem
-
11
efeitos de feminização são conhecidos como estrogênicos, enquanto que os que
produzem efeitos de masculinização são conhecidos como androgênicos. Assim, se um
determinado composto é considerado anti-androgênico como a flutamida (fármaco
utilizado no tratamento de câncer de próstata) ele certamente inibirá a ação biológica
dos androgênios, ligando-se e, conseqüentemente, inativando os receptores de
androgênios presentes nos tecidos-alvo. Já um composto anti-estrogênico como o
tamoxifeno (fármaco utilizado no tratamento de câncer de mama) inibe a ação biológica
dos estrogênios ligando-se e, conseqüentemente, inativando os receptores de estrogênios
presentes nos tecidos-alvo (Joon Kang et al. 2002; Panter et al. 2000).
Figura 3.4 - Disfunções endócrinas: (a) resposta natural; (b) efeito agonista; (c) efeito antagonista (Ghiselli, 2006).
3.2.2. Efeitos dos Perturbadores Endócrinos em animais silvestres e de laboratório
Vários estudos relacionam a poluição ambiental das águas naturais com
anomalias no sistema reprodutivo e no desenvolvimento de diferentes espécies de
animais. A exposição aos perturbadores endócrinos pode ser responsável por alterações
fisiológicas e histológicas em animais silvestres e de laboratório, incluindo alterações
nos níveis de vitelogenina (VTG) no plasma sangüíneo, feminização de peixes machos,
indução ao hermafroditismo, inibição no desenvolvimento das gônadas e declínio na
reprodução. Essas e outras anomalias relatadas em várias espécies de animais são
apresentadas na Tabela 3.2.
-
12
Tabela 3.2: Efeitos e anomalias atribuídos aos perturbadores endócrinos em animais (Bila e Dezotti 2007)
Espécie Contaminante Efeitos Referência Feminização de Peixes (Allen et al. 1999)
Declínio da Reprodução (Robinson et al. 2003)
Efluente de ETE
Indução da síntese de VTG (Allen et al. 1999; Solé et al.
2000; Solé et al. 2003) Feminização de Peixes (Körner et al. 2000) Alteração nas gônadas (Panter et al. 2000)
Hermafroditismo (Hartley et al. 1998) Incidência de Testículo-Ovulos nas
gônadas (Joon Kang et al. 2002) Declínio da Reprodução (Shioda e Wakabayashi 2000)Mortalidade elevada dos
descendentes (Knorr e Braunbeck 2002)
17β-Estradiol Indução da síntese de VTG (Routledge et al. 1998)
Indução da síntese de VTG (Folmar et al. 2000) Mortalidade da espécie (Schmid et al. 2002)
17α-etinilestradiol
Declínio da Reprodução (Robinson et al. 2003) Estrona Indução da síntese de VTG (Routledge et al. 1998)
Declínio da Reprodução Indução da síntese de VTG
(Jobling e Sumpter 1993; Routledge et al. 1998) Octilfenol
Nonilfenol Butilfenol
Mortalidade elevada dos descendentes
Feminização de Peixes (Knorr e Braunbeck 2002)
Peixe Bisfenol A Declínio da Reprodução (Shioda e Wakabayashi 2000)
Bisfenol A Anomalia no sistema reprodutivo de
ratos (Markey et al. 2002) Mamífero PCB Alta mortalidade de golfinhos (Aguilar e Borrell 1994)
DDE e DDT
Concentrações anormais de hormônios sexuais no plasma e
anomalias morfológicas nas gônadas
(Guillette et al. 1996; Guillette et al. 1999; Milnes
et al. 2002)
Réptil 17β-Estradiol
Indução da síntese de VTG no sangue e alterações na produção de
ovos de tartaruga (Irwin et al. 2001) Feminização de Gaivotas machos (Fry e Toone 1981) DDT
Anomalia no sistema reprodutivo (Bitman et al. 1968) Aves DDE Nascimento prematuro de aves (Damstra et al. 2002)
Anfíbio Efluente de
ETE Indução à síntese de VTG no sangue
e hermafroditismo (Bogi et al. 2003)
Vários estudos mostram que organismos aquáticos respondem com indução da
síntese de VTG à exposição a determinadas concentrações de estrogênios (Panter et al.
2000; Robinson et al. 2003). No estudo de Routledge et al. 1998, duas espécies de
-
13
peixes, Oncorhynchus mykiss e Rutilus rutilus, foram expostas por 21 dias a
concentrações de E2 e estrona (E1) ambientalmente relevantes (1, 10, 100 ng.L-1). Os
resultados mostraram que as espécies do sexo masculino são sensíveis para E2 e E1 nas
concentrações utilizadas, pois ocorreu aumento na concentração de VTG no plasma
sanguíneo durante o período de exposição. Entre as fêmeas da espécie Rutilus rutilus
ocorreu diminuição do tamanho do ovo.
De acordo com esses e outros pesquisadores, os resultados confirmaram que os
estrogênios identificados em efluentes domésticos estão presentes em quantidades
suficientes para induzir o surgimento de órgãos masculinos em peixes fêmeas,
conhecido como “imposex”, ou imposição sexual (Ghiselli 2006). Este fenômeno é
irreversível e provoca a esterilização das espécies, podendo causar declínio considerável
nas populações de espécies mais sensíveis. Segundo o estudo de Fernandez et al (2002),
os PE encontrados nas águas estudadas (organoestânicos) interferiram na síntese da
testosterona (hormônio masculino), ocorrendo aumento na produção deste pelas fêmeas.
Consequentemente, a alteração hormonal faz surgir estruturas sexuais masculinas não
funcionais, mantendo-se, porém, a anatomia interna do organismo (Fernandez et al.
2002; Damstra et al. 2002).
Foram observadas anomalias em embriões machos e fêmeas de trutas, como por
exemplo, a feminização dos machos (Körner et al. 2000; Damstra et al. 2002). Várias
espécies de peixes são usadas como modelo para detectar os efeitos de perturbadores
endócrinos no desenvolvimento de anomalias no sistema reprodutivo. O estudo de
Legler et al (2002) mostrou que as substâncias com atividade estrogênica não só são
importantes na fase aquosa, mas também podem acumular-se em sedimentos marinhos e
expor os organismos em ambientes aquáticos a substâncias com atividade estrogênica.
3.2.3. Efeitos dos perturbadores endócrinos em humanos
Uma variedade de substâncias químicas é suspeita de causar efeitos adversos na
saúde humana, resultando em alterações no sistema endócrino, incluindo efeitos no
sistema reprodutivo feminino e masculino. Os efeitos dos PE em humanos foram
revisados em alguns estudos como o relatório “Global Assessment of the State-of-the-
Science of Endocrine Disrupters” do estudo feito pela International Pannel on
Chemical Safety (IPCS) encomendado pela Organização Mundial da Saúde (Damstra et
al. 2002). Uma das conclusões do estudo foi a possível relação entre alguns PE e
-
14
alterações na saúde humana, como o câncer de testículo, mama e próstata. A
conseqüência da exposição aos PE foi relacionada ao declínio das taxas de
espermatozóides, deformidades dos órgãos reprodutivos e disfunção da tireóide.
Vários grupos de pesquisas acreditam que grande parte da população masculina
sofre com o decréscimo na qualidade do sêmen nas últimas décadas, e que isso parece
estar relacionado à presença de estradióis nas águas (Damstra et al., 2002). De 1973 a
1994, analisaram a qualidade do sêmen de um grupo de homens férteis saudáveis,
levando em conta o volume do fluido seminal, a concentração de esperma e a
mobilidade e morfologia dos espermatozóides. Os autores observaram um declínio na
concentração e mobilidade dos espermas nos homens por um período de 20 anos, e esse
decréscimo da qualidade do sêmen coincide com o aumento na incidência de anomalias
no sistema reprodutivo masculino, incluindo câncer testicular (Auger et al. 1995).
O desenvolvimento e as funções do sistema reprodutivo feminino dependem do
balanço e das concentrações dos hormônios (estrogênios, andrógenos e tireoidianos).
Portanto, uma disfunção no sistema endócrino pode resultar em algumas anomalias, tais
como, irregularidades no ciclo menstrual, prejuízos na fertilidade e ovários policísticos.
No entanto, devido à capacidade dos PE em modular ou alterar a intensidade dos
hormônios, resta saber se essas substâncias podem realmente afetar as funções do
sistema reprodutivo feminino. Alguns fatos demonstram que isso pode realmente
ocorrer, como o uso de dietilestilbestrol (DES) em mulheres grávidas na década de 70.
Uma das conseqüências foram anomalias do sistema reprodutivo feminino (câncer
vaginal, gravidez anormal e redução na fertilidade) de crianças nascidas a partir de mães
que fizeram uso desse medicamento. Este fato é, sem dúvida, uma evidência dos efeitos
à exposição aos perturbadores endócrinos (Damstra et al. 2002).
Apesar de alguns pesquisadores não sugerirem uma correlação entre a exposição
aos perturbadores endócrinos e efeitos danosos em humanos, revisões como a da OMS
(Damstra et al. 2002) indicam que há claras evidências experimentais e epidemiológicas
dessas substâncias na disfunção no sistema reprodutivo humano (Ghiselli 2006).
3.3. Análise e Monitoramento de Perturbadores Endócrinos em Águas Superficiais
Uma importante fonte de contaminação de águas superficiais com perturbadores
endócrinos (PE) é o lançamento de esgotos domésticos tratados ou in natura. Vários
estudos mostram que as águas receptoras de efluentes de estações de tratamento de
-
15
esgoto doméstico (ETEs) foram estrogênicas para peixes, e que a proporção da
intersexualidade nos peixes estava correlacionada com a quantidade dos efluentes
lançados nas águas dos rios estudados (Folmar et al. 2000; Solé et al. 2003; Van den
Belt et al. 2004). Além das emissões pontuais de efluentes doméstico e industrial,
emissões difusas, associadas à chuva e ao escoamento que dela resulta, chegam aos
corpos de água e podem contribuir para o aporte de PE. A poluição difusa pode ocorrer
devido às deposições atmosféricas (poluição industrial e veicular), à lixiviação de solo
contaminado (Ex. drenagem de lixões) e ao escoamento de águas pluviais em ambientes
rurais (Ex. pesticidas) e urbanos (Ex. óleos, lixo). A Tabela 3.3 mostra as classes de
alguns perturbadores endócrinos e a Figura 3.3 mostra a estrutura química de alguns
perturbadores endócrinos comumente encontrados em águas superficiais.
Tabela 3.3: Classificação de alguns perturbadores endócrinos (adaptado de Mol et al. 2000)
Tipo de composto Uso Pesticidas Agricultura (ex: DDT)
Hormônios naturais e sintéticos
Contraceptivos, agentes de crescimento (ex: estradiol e etinilestradiol)
Alquilfenóis polietoxilados
(APEOs)
Detergentes, cosméticos, agroquímicos
Alquilfenóis Produtos de degradação dos APEOs (ex: nonilfenol, octilfenol), anti-oxidantes
PCBs / dioxinas Fluidos para refrigeração / subprodutos da combustão
Ésteres ftalatos Plastificantes Fitoestrogênios Ocorrência natural em plantas
Bisfenol A Produção de polímeros, degradação de plásticos (policarbonatos)
3.3.1. Metodologias para análise de perturbadores endócrinos
Diferentes métodos analíticos têm sido desenvolvidos para a determinação de
perturbadores endócrinos em amostras ambientais (Mol et al. 2000). A metodologia de
análise ideal deve ser rápida, exata, precisa, de fácil adaptação e consumir a menor
quantidade de insumos possíveis (Mozaz et al. 2007). As metodologias utilizadas para a
análise de perturbadores endócrinos são, em sua maioria, técnicas cromatográficas que
podem utilizar equipamentos de cromatografia líquida (Hu et al. 2005; Komori et al.
-
16
2004) ou de cromatografia gasosa (Wang et al. 2005; Yang et al. 2006). Em ambos os
casos, a quantificação dos perturbadores endócrinos nas concentrações ambientais é
normalmente feita com espectrômetros de massa, dada à sua elevada especificidade.
Outro método de análise baseado em técnicas enzimáticas ou bioensaios também têm
sido estudados, todavia, seu maior custo operacional e a pouca especificidade do
método tem favorecido o uso das técnicas cromatográficas na análise de perturbadores
endócrinos (Farré et al. 2007)
Basicamente, a determinação dos PE em amostras aquosas envolve três etapas:
amostragem, pré-concentração e análise. Para a determinação de perturbadores
endócrinos é necessário usar critérios analíticos rigorosos para que as várias etapas,
como amostragem, transporte, estocagem e análise, tenham o menor erro possível, tendo
em vista a baixa quantidade dos PE (µg.L-1 a ng.L-1) nas amostras ambientais (Liu et al.
2004b). A Figura 3.5 mostra um diagrama simplificado do protocolo de análise dos PE.
Figura 3.5 - Diagrama esquemático para preparação e análise dos perturbadores endócrinos
Amostragem, filtração e ajuste de pH
A primeira etapa da análise é a amostragem, e a qualidade do processo de
amostragem e preparação das análises é um fator determinante para um resultado
correto (Mozaz et al. 2007). Como os PE em amostras de água podem sofrer degradação
biológica durante o transporte e estocagem, é comum adicionar alguns biocidas, como o
formaldeído ou metanol, bem como manter as amostras em baixa temperatura (4 ºC) até
-
17
o procedimento de extração e concentração. O tempo máximo recomendado entre a
coleta e a extração é de 48 horas (Fountoulakis et al. 2005; Wang et al. 2005), sendo a
coleta feita em frascos de cor escura uma vez que alguns estrogênios, como estradiol,
podem ser foto-degradados (Jeannot et al. 2002; Wang et al. 2005).
A quantidade de água coletada pode variar de acordo com as propriedades
intrínsecas da água analisada, tipo de composto, método de extração e aparelho utilizado
para quantificação. Aparelhos com grande sensibilidade, águas com nível alto de
poluição e alguns métodos de extração como a microextração por fase sólida (SPME)
geralmente necessitam de pouca quantidade de amostra (Yang et al 2006). Contudo,
para a maioria dos casos é necessária uma quantidade maior de água, que normalmente
varia de 250 a 1000 mL (Jeannot et al. 2002; Wang et al. 2005). Como exemplo,
Lagana et al (2004) fizeram análise de perturbadores endócrinos em diferentes matrizes,
e o volume de amostra variou de 110 mL para esgoto bruto a 1000 mL para água de rio.
Após coletada a amostra, a primeira etapa de preparação consiste na sua
filtração. A filtração tem a finalidade de retirar os sólidos presentes na água, evitando
assim o comprometimento (entupimento e queda na taxa de filtração) da etapa posterior
de concentração em cartuchos de extração em fase sólida. Embora a maioria das
membranas utilizadas e citadas na literatura seja de acetato de celulose, recomenda-se a
utilização de membranas de materiais mais inertes (teflon, fibra de vidro, nylon) para
evitar a adsorção de perturbadores durante a etapa de filtração. As membranas mais
utilizadas na filtração são de 0,45µm feitas de acetato de celulose. Etapas preliminares
de filtração, como a utilização de filtros de 8µm, podem ser necessárias dependendo da
quantidade de sólidos presentes na água. Isso é particularmente importante durante a
amostragem de água de mananciais superficiais durante períodos chuvosos.
Em seguida é feito o ajuste do pH da amostra, que tem como finalidade
aumentar a afinidade dos perturbadores endócrinos, principalmente aqueles de caráter
ácido como nonilfenol, bisfenol e estrona, pela fase estacionária do cartucho de
extração, aumentando assim sua extração da fase aquosa (Raimundo 2007). De fato, Liu
et al (2004b) fizeram um trabalho para avaliar a influência do pH inicial da amostra na
eficiência de extração, e os resultados obtidos mostraram que a melhor recuperação
obtida foi àquela feita em meio mais ácido. À medida que o pH era diminuído, o índice
de recuperação aumentava, chegando a 100% para alguns compostos no pH igual a 3. O
pH escolhido para as amostras pode variar de acordo com a capacidade máxima que o
cartucho de extração suporta, mas a maioria dos trabalhos de fato utilizam o pH
-
18
variando entre 2 e 3, sendo 3 o valor de pH mais utilizado (Gibson et al. 2007; Wang et
al. 2005). Os ácidos mais utilizados para a correção do pH são o clorídrico (HCl) ou o
sulfúrico (H2SO4).
Concentração e eluição dos compostos de interesse
Os PE são, em sua maioria, compostos orgânicos hidrofóbicos encontrados em
baixas quantidades no ambiente, e como a maioria dos equipamentos não consegue
detectá-los nas concentrações usualmente encontradas, uma etapa de concentração é
usualmente necessária (Ghiselli e Jardim 2007). Atualmente existe um considerável
interesse no desenvolvimento de novos métodos seletivos para extração e isolamento
dos componentes de matrizes ambientais complexas (Kasprzyk-Hordern et al. 2007). A
seletividade da fase estacionária é um importante parâmetro, uma vez que um dos
principais objetivos seria remover os interferentes e facilitar as análises posteriores
feitas nos equipamentos de LC-MS e CG-MS (Mozaz et al. 2007). A alternativa mais
utilizada para contornar esses problemas tem sido a extração em fase sólida (Solid
Phase Extration - SPE). A SPE é uma técnica de separação líquido-sólido que, do ponto
de vista prático, pode ser descrita como uma cromatografia líquida, onde se usa uma
pequena coluna aberta, denominada cartucho de extração, que contém a fase sólida (o
correspondente à fase estacionária em cromatografia).
No procedimento de extração a amostra contendo o analito de interesse é
colocada no topo do cartucho e aspirada através dele pela aplicação de um pequeno
vácuo. Ao passar a amostra pelo cartucho o analito fica retido (adsorvido) na fase
sólida, de forma a ser posteriormente eluído com um pequeno volume de solvente, e
essa etapa de eluição permite a determinação do grau de concentração necessário para a
análise uma vez escolhido o volume inicial de amostragem e o volume final de solvente
eluído. Se houver contaminantes que possam interferir na análise, uma lavagem e/ou
clean-up precede a eluição, com a utilização de um solvente que tenha afinidade pelo
contaminante e não pelos compostos de interesse. Em muitos casos, onde a amostra não
precisa ser filtrada, a própria etapa de extração em fase sólida funciona como clean-up
(Lanças 2004a). A Figura 3.6 exemplifica as etapas envolvidas na extração em fase
sólida.
-
19
Figura 3.6 - Etapas da extração por fase sólida para isolamento de compostos de interesse (Lanças 2004a)
Atualmente um grande número de cartuchos de SPE está disponível de modo
que possa ser utilizado por uma grande faixa de aplicações. Um adsorvente genérico é
capaz de adsorver uma grande variedade de PE, mas alguns compostos específicos
exigem cartuchos mais seletivos. O mecanismo mais utilizado é a interação hidrofóbica
e as fases sólidas mais reportadas nos trabalhos são as compostas de octadecil (C18) e
sílica. A Tabela 3.4 mostra os cartuchos mais utilizados na extração por fase sólida para
os perturbadores endócrinos nonilfenol e estradióis.
Tabela 3.4: Cartuchos de SPE mais utilizados e seus principais fabricantes
Cartuchos Descrição Fabricante Oasis HLB Poli(divinilbenzeno-co-N-vinilpirrolidona) Waters
C18 Polimericamente ligado, octadecil (18% C) Vários C18/ENV+ C18 hidroxilado poliestireno-divinilbenzeno IST
Liu et al (2004b) fizeram um estudo a respeito da eficiência de recuperação dos
PE em relação ao tipo de cartucho SPE. A conclusão obtida foi que o melhor cartucho
para adsorção de alquilfenóis e estrogênios é o conhecido como Oasis HLB 500mg. O
maior inconveniente na utilização deste tipo de cartucho é o preço, cerca de cinco vezes
superior aos cartuchos de eficiência de recuperação semelhante, como o DSC-18. Dessa
forma, fases estacionárias compostas de octadecil (C18) possuem melhor relação custo-
benefício.
Uma das grandes desvantagens obtidas na extração em fase sólida é a quantidade
de amostra a ser coletada para análise. Para uma concentração de 1000 vezes, por
exemplo, necessita-se, em média, de 1 litro da amostra, e o tempo de extração pode ser
bastante demorado, podendo chegar a até 3 horas (Wang et al. 2005). Kuch e
Ballschmiter (2001) e Snyder et al (1999) alcançaram baixos limites de detecção de
-
20
estradiol natural, etinilestradiol e nonilfenol devido ao grande volume de amostra
utilizado, que chegou a 5 litros com uma pré concentração de 5000 vezes.
Uma das soluções apresentadas seria a microextração por fase sólida (SPME), a
qual possui as mesmas funcionalidades da SPE e reduz consideravelmente a quantidade
de amostra e tempo de extração para análise. Yang et al (2006) compararam as
metodologias SPME e SPE e os resultados obtidos mostraram que a SPME é bastante
promissora para a análise de estrogênios, anabolizantes e alquilfenóis, sendo possível
utilizar apenas 3mL de amostra para obter fatores de concentração de 100 vezes.
Recentemente, Wang et al (2008) criaram um método alternativo de extração utilizando
filtros de cigarro como cartuchos de SPE. Uma vez que os filtros de cigarro são
utilizados para a retenção de parte dos poluentes orgânicos gerados pela fumaça,
avaliou-se a capacidade destes em reter alguns PE como o estradiol. Uma das grandes
vantagens seriam o baixo custo e a facilidade de aplicação. Os resultados obtidos
chegaram a 100% de recuperação do estradiol para amostras do rio monitorado.
A eluição do cartucho, ou seja, a dessorção dos compostos de interesse vai
depender do tipo de composto a ser analisado. Trabalhos publicados utilizam
geralmente metanol, acetato de etila e acetona, puros ou misturados, como agentes de
eluição (Alda e Barceló 2001; Gibson et al. 2007; Laganà et al. 2004; Wang et al.
2005). É importante destacar que a eluição é normalmente feita com um volume maior
de solvente (5 a 15 ml) para assegurar a completa dessorção dos analitos de interesse.
Desta forma, para se obter um elevado grau de concentração é preciso secar o extrato
orgânico e re-solubilizar o analito em volume adequado de solvente.
Além de obter o grau de concentração adequado, a secagem permite ainda
adequar o solvente ao método de análise tendo em vista que o solvente utilizado na
eluição pode ser incompatível com o equipamento cromatográfico. Um exemplo é o
diclorometano, que não é recomendado para análises em cromatografia líquida devido a
sua alta volatilidade, mas que foi utilizado (junto com o metanol em solução 1:1) por
Laganà et al (2004) para a eluição de fitoestrogênios, micoestrogênios, estrogênios e
alquilfenóis.
A secagem dos extratos orgânicos é normalmente feita em banho-maria à
temperatura pouco maior que a ambiente. Além disso, é comum utilizar fluxo de
nitrogênio sobre os extratos orgânicos para acelerar o processo de secagem. Conforme
dito anteriormente, a reconstituição do extrato seco é feita com o solvente mais
apropriado para análise cromatográfica. Para a cromatografia líquida geralmente utiliza-
-
21
se acetonitrila e metanol como solventes de reconstituição, ao passo que para
cromatografia gasosa é comum o uso de solventes mais voláteis como acetona e acetato
de etila (Jeannot et al. 2002). Outros métodos analíticos, como a utilização de kits
enzimáticos, exigem a reconstituição em soluções tampão de fosfato (Farré et al. 2007).
Análise Instrumental
Do ponto de vista analítico, os métodos mais adequados para monitoramento dos
PE em amostras ambientais incluem, genericamente, métodos biológicos e métodos de
separação (Farré et al. 2007). Dentre os métodos biológicos destacam-se,
principalmente, os imunoensaios, cujos princípios são a produção de anticorpos e/ou
receptores que se ligam especificamente a substâncias que apresentam atividade
estrogênica. A Figura 3.7 exemplifica os dois passos genericamente associados aos
imunoensaios. Inicialmente ocorre a imobilização do receptor específico a um suporte,
seguido de adição da amostra contendo estrogênios e anticorpos, ocorrendo então um
período de incubação, que varia de 1 a 4 horas. Em seguida, por adição de uma solução
adequada ao tipo de detecção pretendida, procede-se à quantificação por medidas de
fluorescência ou isotópicas (Ex. ELRA: "Enzyme Linked Receptor Assay"; ELISA:
"Enzyme Linked Immuno Sorbent Assay"; RIA: "Radio Immuno Assay") (Mozaz et al.
2007; Nogueira 2003).
Com o intuito de análise vestigial em amostras ambientais, têm-se desenvolvido
inúmeros anticorpos e receptores específicos para os mais diversos tipos de poluentes
químicos, permitindo a tais métodos elevada rapidez de screening (Nogueira 2003). As
vantagens dos métodos biológicos são: rapidez, seletividade, especificidade e
sensibilidade. Por apresentarem limites de detecção na ordem de ng/L não necessitam,
em alguns casos, de pré-concentração da amostra. Algumas desvantagens incluem a
necessidade de se fazer análises individualizadas dos PEs e problemas causados por
alguns interferentes da matriz, podendo levar a resultados superestimados. Farré et al
(2007) observaram que seria necessário um clean-up da amostra para que não ocorresse
este efeito e concluíram também que, para análise de estrogênios como o estradiol,
poderia haver interferência de outros contaminantes como estrona e nonilfenol. Para
contornar esta limitação recorre-se, usualmente, a métodos cromatográficos de
separação, que têm se mostrado bastante eficazes e versáteis no monitoramento de um
grande grupo de PE.
-
22
Figura 3.7 - Exemplo dos dois passos genericamente associados aos imunoensaios: A)
Imobilização do receptor específico ao suporte, seguido de incubação após a adição da
amostra contendo estrogênios e de anticorpos; B) Adição da solução adequada ao tipo
de detecção pretendida (Mozaz et al. 2007; Nogueira 2003).
Os métodos cromatográficos implicam em interações fisico-químicas entre os
compostos presentes na amostra e a coluna cromatográfica, e sua aplicação permite a
análise qualitativa ou quantitativa de vários microcontaminantes de interesse ambiental.
A cromatografia permite separar constituintes de uma mistura através de sua
distribuição em duas fases: uma estacionária (fixa na coluna cromatográfica) e outra
móvel. A cromatografia acoplada à espectrometria de massas, seja líquida ou gasosa,
apresenta-se como a técnica analítica mais robusta, abrangente, reprodutível e sensível,
para o monitoramento de amostras ambientais. A instrumentação disponível combina
baixos limites de detecção e reprodutibilidade analítica através do monitoramento de
íons pré-selecionados.
A cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas (CGMS) tem sido
uma técnica comumente empregada, apesar de a cromatografia líquida acoplada à
espectrometria de massas (LCMS) ter ganhado popularidade. O pré-requisito necessário
para análise em cromatografia gasosa é que o analito de interesse seja volatilizável e
termicamente estável, muito embora a derivatização possa ser usada em alguns casos
para superar esta limitação. Tradicionalmente, a cromatografia gasosa necessita do
emprego de derivatização para determinar compostos estrogênicos, e os compostos mais
utilizados com tal finalidade são o MSTFA (n-metil-n-trifluoroacetamida), BSTFA (n-
bis(trimetilsilil)trifluoroacetamida) e MTBSTFA (n-metil-n-(tert-
butildimetilsilil)trifluoroacetamida). A diferença entre eles se baseia no tipo de reação
que ocorre com o grupo hidroxila dos compostos. Quintana et al (2004) fizeram um
-
23
estudo comparando os três compostos e mostrando que o MTBSTFA é mais seletivo e o
MSTFA o mais reativo. Apesar da derivatização ser mais comum quando se usa
cromatografia gasosa, Matsumoto et al (2002) utilizaram o anidrido de
pentafluorpropionil (CDPP) em cromatografia líquida, reduzindo assim os limites de
detecção para os estradióis analisados. As desvantagens do procedimento de
derivatização estão relacionadas ao maior trabalho laboratorial para preparo das
amostras, ao maior tempo de análise, e à possibilidade de perdas de analito, uma vez
que a baixa eficiência da hidrólise dos conjugados a estrogênios livres, via
derivatização, pode compor erros nos estágios de recuperação, extração e quantificação.
Tais desvantagens têm dado mais popularidade à cromatografia líquida para a
determinação de estrogênios (Reis Filho et al. 2006) e outros contaminantes ambientais
pouco voláteis.
A cromatografia líquida tem várias vantagens para análise de compostos
orgânicos em água, e uma delas refere-se ao fato de os compostos voláteis serem apenas
uma pequena fração de poluentes usualmente presentes em água e esgotos. De fato, a
maior parte dos perturbadores endócrinos não é volátil, tornando a cromatografia líquida
a técnica mais adequada para sua análise. Isto é especialmente verdade para esgotos, os
quais contêm muito material húmico e compostos orgânicos polares, tais como os
carboidratos. Vários detectores podem ser acoplados à cromatografia líquida, tais como
ultravioleta-visível, arranjo de diodos, fluorescência e espectrômetro de massas (Alda e
Barceló 2001; Mao et al. 2004; Matsumoto et al. 2002; Raimundo 2007; Solé et al.
2000; Wang et al. 2008).
Os detectores de arranjo de diodos e fluorescência são menos utilizados como
alternativas devido a sua especificidade, mas são poderosas ferramentas adicionais para
análise ou confirmação de alguns grupos específicos de PE (Mozaz et al. 2007).
Conforme mencionado anteriormente, a detecção de perturbadores endócrinos por
espectrometria de massas (MS) tem sido a técnica preferida pela comunidade científica
devido à sua elevada sensibilidade, reprodutibilidade, abrangência e robustez. A
instrumentação atualmente disponível combina a diminuição dos limites de detecção e
excelente reprodutibilidade analítica e elevada seletividade seja no modo de varredura
(modo Full-SCAN), seja através do monitoramento de íons selecionado (modo SIM)
(Hu et al. 2005; Liu et al. 2004b).
Segundo Nogueira (2003), a tendência para um eficiente monitoramento dos PE
em amostras ambientais parece ser a combinação entre métodos biológicos, através de
-
24
ensaios de imunoextração que consistem no isolamento seletivo de classes restritas de
PE de amostras ambientais com a utilização de "immunosorbents", que seria uma SPE
contendo anticorpos muito específicos na constituição da fase estacionária. Os
compostos de interesses que ficariam retidos na fase estacionária seriam analisados por
cromatografia. Atualmente pouco se desenvolveu neste tipo de técnica, mas a
expectativa para a criação ainda existe, pois o desenvolvimento de uma metodologia de
alta especifidade onde baseia-se em reações enzimáticas é possível. A principal
vantagem deste método estaria na minimização de interferentes durante a análise
cromatográfica.
3.3.2. Monitoramento de perturbadores endócrinos em águas superficiais
A Tabela 3.5 resume resultados disponíveis na literatura do monitoramento de
três perturbadores endócrinos encontrados em águas superficiais: um estrogênio natural
(17β-estradiol ou E2), um estrogênio artificial (17α-etinilestradiol ou EE2) e um
produto da degradação dos surfactantes alquilfenóis etoxilados (nonilfenol ou NP), que
foram escolhidos pelo potencial de risco aos seres vivos e pela freqüência com que
foram reportados em trabalhos nacionais e internacionais.
O 17β-estradiol (conhecido também como estradiol ou pela sigla E2) é um
hormônio natural que nas mulheres é responsável pela síntese de estrogênio circulante.
Esses estrogênios são naturalmente e diariamente excretados na urina humana e, assim,
descartados no esgoto doméstico (Bila e Dezotti 2007; Ghiselli 2006). O 17α-
etinilestradiol ou etinilestradiol é um dos estrogênios sintéticos mais usados como
contraceptivos orais (Bila e Dezotti 2007; Ghiselli 2006). Os alquilfenóis, por sua vez,
apresentam uma variedade de aplicações, incluindo detergentes industriais e
domésticos, lubrificantes, emulsificantes, formulações de pesticidas, de tintas, bem
como produtos de higiene pessoal (maquiagem, cremes de pele, produtos para cabelo e
banho). Nas ETEs e mananciais, os alquilfenóis polietoxilatos (APEOs) são
inicialmente biodegradados, derivando em metabólitos persistentes e altamente
lipofílicos que incluem os alquilfenóis etoxilatos e, finalmente, os alquilfenóis, tais
como nonilfenol (NP) e octilfenol (OP).
Os trabalhos apresentados na Tabela 3.5 mostram que a técnica de preparo de
amostra usada predominantemente na análise dos estradióis e do nonilfenol utiliza a
extração em fase sólida, sendo o cartucho Oasis HLB e o octadecilsilano (C18) os mais
-
25
comuns para tal finalidade. Os resultados compilados mostram ainda que as técnicas de
cromatografia (tanto gasosa como líquida) acopladas à espectrometria de massas são as
mais utilizadas, sendo usada ainda, em menor freqüência, cromatografia acoplada a
detector de arranjo de diodos ou a detector de fluorescência. Quando a cromatografia
gasosa é utilizada percebe-se que a derivatização por reações de silanização é preferida
e que os reagentes mais utilizados para tanto são o MTBSTFA, o MSTFA e o BSTFA.
As técnicas preferidas pelos pesquisadores resultam em limites de detecção na ordem de
0,15 a 2,0 ng.L-1 para os PE investigados. Valores baixos de limite de detecção
dependerão do tipo de equipamento utilizado e volume de amostragem, e todas as
técnicas de análise listadas na Tabela 3.5 resultam em limites de detecção semelhantes.
A Tabela 3.5 mostra que para amostras de rios e mananciais