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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO Escola de Farmácia Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas - CiPharma FERNANDA BARÇANTE PERASOLI MICELAS DE POLOXÂMERO 407 CONTENDO ANFOTERICINA B PARA O TRATAMENTO DA LEISHMANIOSE VISCERAL Ouro Preto - MG 2016

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Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO · Micelas de poloxâmero 407 contendo anfotericina B para o tratamento da leishmaniose visceral [manuscrito] / Fernanda Barçante Perasoli. - 2016

UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

Escola de Farmácia

Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas - CiPharma

FERNANDA BARÇANTE PERASOLI

MICELAS DE POLOXÂMERO 407 CONTENDO ANFOTERICINA B PARA O

TRATAMENTO DA LEISHMANIOSE VISCERAL

Ouro Preto - MG 2016

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FERNANDA BARÇANTE PERASOLI

MICELAS DE POLOXÂMERO 407 CONTENDO ANFOTERICINA B PARA O

TRATAMENTO DA LEISHMANIOSE VISCERAL

Linha de pesquisa: Estudos e Desenvolvimento de Medicamentos

Área de concentração: Fármacos, Medicamentos e Vacinas

Orientador: Prof. Dr. José Mário Barichello

Co-orientador: Dr. Diogo Garcia Valadares

Dissertação apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em

Ciências Farmacêuticas da

Universidade Federal de Ouro Preto

como requisito parcial para obtenção

do título de Mestre em Ciências

Farmacêuticas.

Ouro Preto - MG 2016

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P426m Perasoli, Fernanda Barçante.

Micelas de poloxâmero 407 contendo anfotericina B para o tratamento da leishmaniose visceral [manuscrito] / Fernanda Barçante Perasoli. - 2016.

85f.: il.: color; grafs; tabs.

Orientador: Prof. Dr. José Mário Barichello. Coorientador: Dr. Diogo Garcia Valadares.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Ouro Preto. Escola de

Farmácia. Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas.

1. Micelas. 2. Anfotericina B. 3. Leishmaniose visceral - Tratamento. 4. Toxicidade - Testes. I. Barichello, José Mário. II. Valadares, Diogo Garcia. III. Universidade Federal de Ouro Preto. IV. Titulo.

CDU: 616.993.161

Catalogação: www.sisbin.ufop.br

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Este trabalho contou com a colaboração de:

Prof. Dr. Alexandre Barbosa Reis

Laboratório de Imunopatologia (LIMP) – NUPEB – UFOP.

Dr. Maykon Tavares de Oliveira

Laboratório da Doença de Chagas (LADOC) – NUPEB – UFOP.

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Dedicatória

Dedico este trabalho aos que sofrem ou

já sofreram devido às leishmanioses.

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“Tenho a impressão de ter sido uma criança

brincando à beira-mar, divertindo-me em

descobrir uma pedrinha mais lisa ou uma

concha mais bonita que as outras, enquanto o

imenso oceano da verdade continua misterioso

diante de meus olhos.” (Isaac Newton)

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Agradecimentos

À Deus, minha luz e fortaleza, força esta que me ajudou a trilhar mais este caminho.

À UFOP, especialmente à Escola de Farmácia e ao CiPharma, por terem me recebido

de “braços abertos”.

À FAPEMIG pela concessão da bolsa de estudos.

Ao meu orientador, Prof. Barichello, pela oportunidade e aprendizado.

Ao meu co-orientador, Diogo Valadares, pelo aprendizado, amizade e por me acalmar

nos momentos difíceis.

À Maísa Fernandes, minha aluna de TCC, pela amizade e oportunidade de co-orientar

um trabalho, o que contribuiu muito para minha formação.

Aos professores Gustavo Bianco e Orlando David e aos amigos do Laboratório de

Fitotecnologia, Lucas Andrade, Tamires Cunha, Luana Christian, Tati Roquete,

Simone Carneiro, Jana Seibert, Regis Silva, Karen Carvalho, Pedro Amorim,

Fernanda Senna e Deise Pereira, pelo acolhimento, amizade, companheirismo e

conselhos. É nozes! Para sempre!

Ao professor Alexandre Reis por ter cedido seu laboratório e grande parte dos

materiais para a realização deste trabalho, não medindo esforços para que os

objetivos fossem alcançados! Aqui fica o meu sincero agradecimento!

À todo pessoal do LIMP, Professora Cláudia Carneiro, técnicos, alunos, pela boa

convivência e pelo acolhimento e à professora Paula Melo por toda ajuda.

À professora Marta de Lana e aos amigos do LADOC, Renata Branquinho, Matheus

Milagres, Gabi Assis, Micheline Donato e, em especial, ao Maykon Tavares pela

prontidão em sempre ajudar e pela amizade. Vocês foram muito importantes para a

conclusão deste trabalho! Muito obrigada!

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À Patrícia Capelari por toda ajuda no Laboratório Multiusuário e pela amizade.

À professora Simone Rezende, por sempre se mostrar preocupada comigo, pelos

ensinamentos e amizade. Aqui fica o meu sincero carinho e gratidão por você!

Aos professores Evandro Marques e Glenda Nicioli, pelas sugestões feitas na banca

da qualificação que culminaram no aperfeiçoamento deste trabalho.

À Tamires Guedes, pela ajuda, conselhos e amizade.

Às professoras e coordenadoras do CiPharma, Neila Barcellos e Dênia Guimarães, e

à secretária Mirela Pena, que sempre foram muito solícitas.

Aos demais amigos que fiz durante o mestrado, Walysson Costa, Débora Faria,

Moniquinha de Paula, Tamara Moreira, Thaís Paulino, Kelly Christyne, Bruna Carvalho

e Stella Silva, que sempre se preocuparam comigo e me ajudaram. Vocês são demais!

Aos meus pais, Santa e Fernando, que não mediram esforços para a realização de

mais um sonho e que sempre me apoiaram durante essa trajetória. Vocês são meu

alicerce! Obrigada por tudo!

À minha irmã Daniela, pelo companheirismo de sempre, pelas palavras amigas e

pelas risadas do dia-a-dia. Com você os dias foram mais alegres!

Ao Luan, que sempre esteve ao meu lado, me apoiando e me ajudando em tudo.

Obrigada pelos conselhos e por tentar me animar nos momentos difíceis. Você foi

peça-chave na concretização deste sonho!

Enfim, a todos que de alguma forma contribuíram para a realização deste trabalho e

acreditaram em mim.

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RESUMO

A leishmaniose é uma zoonose amplamente distribuída pelas regiões tropicais e

subtropicais do mundo. O número de fármacos utilizados no tratamento da doença é

limitado, além de apresentar alta toxicidade. A anfotericina B (AnB) é um fármaco com

potente atividade leishmanicida, porém apresenta efeitos nefrotóxicos severos. As

soluções micelares do copolímero poloxâmero 407 (P407) possibilitam a solubilização

e/ou dispersão de substâncias lipofílicas ou anfóteras, protege estes componentes

frente às degradações hidrolítica e enzimática e promovem a liberação controlada de

fármacos. Neste contexto, soluções micelares de P407 contendo AnB foram

caracterizadas e avaliadas in vitro quanto a citotoxicidade e a atividade leishmanicida.

As soluções micelares de P407 contendo AnB apresentaram tamanho médio maior

(entre 49 e 300 nm) quando comparadas às soluções micelares sem AnB (entre 8 e

77 nm), o que é indicativo da associação do fármaco às micelas/partículas. O índice

de polidispersão foi influenciado pela composição das formulações variando de mono

a polidisperso. O potencial zeta foi negativo em módulo para todas as soluções

micelares e sua intensidade dependente da composição das formulações. Os

espectros de absorção das formulações de AnB no UV demonstraram que até a

concentração de 10-5 M, as soluções micelares estabilizaram a molécula do fármaco

em seu estado monomérico. A solução micelar de P407 a 20% contendo AnB foi a

que apresentou a maior atividade leishmanicida (IC50%) sobre promastigotas de L.

infantum (0,14 ± 0,50 µg/mL). Em formas amastigotas do parasito a IC50% foi de 0,05

± 0,18 µg/mL. A toxicidade desta formulação para células Vero (CC50%) foi menor

(19,14 ± 0,25 µg/mL) quando comparada à formulação controle de AnB desoxicolato

de sódio (4,13 ± 0,60 µg/mL). A citotoxicidade para macrófagos caninos (CC50%) foi

baixa (438,90 ± 0,08 µg/mL) quando comparada ao controle de AnB desoxicolato (2,85

± 0,15 µg/mL). O estudo de liberação in vitro da AnB a partir do estado gel de P407 a

20% demonstrou que este fármaco foi liberado de forma controlada (21,96 ± 3,18

µg/mL/h) durante as 5 horas de teste. No seu conjunto, estes resultados sugerem que

soluções micelares de P407 são potenciais carreadores de AnB para o tratamento da

leishmaniose visceral.

Palavras-chave: Soluções micelares, poloxâmero 407, anfotericina B, atividade

leishmanicida, citotoxicidade.

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ABSTRACT

Leishmaniasis is a zoonosis widely distributed throughout the tropical and subtropical

regions of the world. The number of drugs available for treating the disease is limited,

besides to exhibit high toxicity. Amphotericin B (AnB) is a drug with potent

leishmanicidal activity but has severe nephrotoxic effects. The micellar solution of

copolymer poloxamer 407 (P407) allows solubilization and/or dispersion of lipophilic or

amphoteric substances, protects these components against the hydrolytic and

enzymatic degradations and promote drugs controlled release. In this context, micellar

solutions of P407 containing AnB were characterized and evaluated in vitro in regard

to their cytotoxicity and leishmanicidal activity. The micellar solutions of P407

containing AnB showed a larger mean size (from 49 to 300 nm) than micellar solutions

without AnB (from 8 to 77 nm), which is indicative of drug association to the

micelles/particles. The polidispersion index was influenced by the composition of the

formulations varying from mono- to polydispersed. The zeta-potential was negative in

magnitude for all micellar solutions and its intensity dependent in the composition of

the formulations. The UV absorption spectra of the AnB formulations showed that until

the concentration of 10-5 M, the micelar solutions stabilized the drug molecule in its

monomeric state. The 20% P407 micelar solution containing AnB was what showed

increased leishmanicidal activity (IC50%) on promastigotes of L. infantum (0.14 ± 0.50

µg/mL). In amastigote forms of the parasite, the IC50% was 0.05 ± 0.18 µg/mL. The

toxicity (CC50%) of this formulations to Vero cells was lower (19.14 ± 0.25 μg/mL)

when compared to the control formulation of sodium deoxycholate AnB (4.13 ± 0.60

μg/mL). The cytotoxicity to canine macrophages (CC50%) was lower (438.90 ± 0.08

μg/mL) compared to the control deoxycholate AnB (2.85 ± 0.15 μg/mL).The release of

AnB from 20% P407 formulation in the gel state was in a controlled fashion (21.96 ±

3.18 μg/mL/h) during the 5 hours of the release study. Thus, these results suggest that

micellar solutions of P407 are potential carriers for AnB for the treatment of visceral

leishmaniasis.

Keywords: Micellar solutions, poloxamer 407, amphotericin B, leishmanicidal activity,

cytotoxicity.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Ciclo biológico das Leishmanias. Adaptado de REINTHINGER e

colaboradores (2007). ............................................................................................... 22

Figura 2. Estrutura química da molécula de anfotericina B. Adaptado de GANIS e

colaboradores (1971). ............................................................................................... 28

Figura 3. Representação esquemática da formação de poros hidrofílicos na

membrana celular devido à associação entre anfotericina B e esteróis presentes na

membrana. Adapatado de CHATTOPADHYAY; JAFURULLA (2011). ..................... 30

Figura 4. Perfis espectrofotométricos dos diferentes estados de agregação da AnB.

(A) Espécie monomérica. (B) Espécie oligomérica. (C) Agregados de oligômeros.

Adaptado de TORRADO e colaboradores (2008). .................................................... 31

Figura 5. Formação de micelas poliméricas. Em meio aquoso, copolímeros anfifílicos

associam-se para formar um núcleo hidrofóbico e uma estrutura de coroa hidrofílica.

Adaptado de OWEN; CHAN; SHOICHET (2012). ..................................................... 34

Figura 6. Estrutura química do copolímero em bloco P407, sendo dois blocos

hidrofílicos de OE e um hidrofóbico de OP. Adaptado de KABANOV; ALAKHOV

(2002). ....................................................................................................................... 35

Figura 7. Representação esquemática do mecanismo de associação do P407 em

água. Adaptado de DUMORTIER e colaboradores (2006). ...................................... 36

Figura 8. Aspecto físico das soluções de P407. (A) Solução de P407 a 20%; (B)

Solução de P407 a 20% contendo AnB. ................................................................... 54

Figura 9. Espectros de absorção no UV-VIS das moléculas de AnB incorporada nas

diferentes soluções micelares de P407 e em solução tampão fosfato pH 7,4. (P20AnB)

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P407 a 20% e AnB; (P20TAnB) P407 a 20%, α-tocoferol a 1% e AnB; (P25AnB) P407

a 25% e AnB; (P25TAnB) P407 a 25%, α-tocoferol a 1% e AnB. ............................. 59

Figura 10. Porcentagem de redução da viabilidade de promastigotas de L. infantum

(cepa OP 46) em função do log das concentrações das soluções de P407. As

concentrações das soluções micelares corresponderam a 10; 5; 2,5; 1,25; 0,625;

0,3125; 0,15625 e 0,078125 µg/mL de AnB. (P20) P407 a 20%; (P20T) P407 a 20% e

α-tocoferol a 1%; (P25) P407 a 25%; (P25T) P407 a 25% e α-tocoferol a 1%; (P20AnB)

P407 a 20% e AnB; (P20TAnB) P407 a 20%, α-tocoferol a 1% e AnB; (P25AnB) P407

a 25% e AnB; (P25TAnB) P407 a 25%, α-tocoferol a 1% e AnB. ............................. 61

Figura 11. Porcentagem de redução da viabilidade de macrófagos caninos (linhagem

DH82) em função do log das concentrações das soluções de P407. As concentrações

das soluções micelares corresponderam a 100; 50; 25; 12,5; 10; 5; 2,5; 1,25; 0,625;

0,3125; 0,15625 e 0,078125 µg/mL de AnB. (P20) P407 a 20%; (P20T) P407 a 20% e

α-tocoferol a 1%; (P25) P407 a 25%; (P25T) P407 a 25% e α-tocoferol a 1%; (P20AnB)

P407 a 20% e AnB; (P20TAnB) P407 a 20%, α-tocoferol a 1% e AnB; (P25AnB) P407

a 25% e AnB; (P25TAnB) P407 a 25%, α-tocoferol a 1% e AnB. ............................. 62

Figura 12. Porcentagem de redução da viabilidade de células renais (linhagem Vero)

em função do log das concentrações das soluções micelares P20 e P20AnB. As

concentrações das soluções micelares corresponderam a 100; 50; 25; 12,5; 10; 5; 2,5;

1,25; 0,625; 0,3125; 0,15625 e 0,078125 µg/mL de AnB. (P20) P407 a 20%; (P20AnB)

P407 a 20% e AnB. ................................................................................................... 65

Figura 13. Porcentagem de macrófagos infectados em função das concentrações das

soluções micelares P20 e P20AnB. As concentrações das formulações

corresponderam a 5; 2,5; 1,25; 0,625 µg/mL de AnB. (P20) P407 a 20%; (P20AnB)

P407 a 20% e AnB. ................................................................................................... 67

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Figura 14. Porcentagem de redução de amastigotas intracelulares de L. infantum em

função das concentrações das soluções micelares P20 e P20AnB. As concentrações

das formulações corresponderam a 5; 2,5; 1,25; 0,625 µg/mL de AnB. (P20) P407 a

20%; (P20AnB) P407 a 20% e AnB. ......................................................................... 68

Figura 15. Curva de calibração, equação da reta e coeficiente de correlação (r2) do

padrão de AnB em tampão fosfato pH 7,4. ............................................................... 71

Figura 16. Perfil de liberação da AnB da formulação de P407 a 20% no estado gel.

.................................................................................................................................. 71

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LISTA DE TABELAS E QUADROS

Tabela 1. Caracterização físico-química das soluções micelares de P407 contendo ou

não anfotericina B. .................................................................................................... 56

Tabela 2. Atividade leishmanicida sobre promastigotas de L.infantum (cepa OP46) e

citotoxicidade para macrófagos caninos (linhagem DH82) após tratamento de 72 horas

com as soluções micelares de poloxâmero 407 contendo ou não anfotericina B e o

controle de anfotericina B desoxicolato de sódio. ..................................................... 63

Tabela 3. Citotoxicidade para células Vero após tratamento de 72 horas com a solução

micelar de poloxâmero 407 a 20% contendo ou não anfotericina B e o controle de

anfotericina B desoxicolato de sódio. ........................................................................ 66

Tabela 4. Atividade leishmanicida sobre amastigotas intracelulares de L. infantum

(cepa OP46), citotoxicidade para macrófagos (linhagem DH82) e células Vero após

tratamento de 72 horas com a solução micelar de poloxâmero 407 a 20% contendo

ou não anfotericina B e o controle de anfotericina B desoxicolato de sódio. ............. 69

Quadro 1. Características dos diferentes estados de agregação da anfotericina B.

Adaptado de TORRADO e colaboradores (2008). .................................................... 31

Quadro 2. Composição das soluções micelares. ...................................................... 42

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LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS

ALD Anemometria de Laser Dopler

AnB Anfotericina B

AnB-D Anfotericina B desoxicolato de sódio

AnBME Microemulsão de anfotericina B

ANOVA Análise de Variância

ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária

CC50% Concentração Citotóxica 50%

CMC Concentração Micelar Crítica

DMPC Diesteroilfosfatidilcolina

DMPG Diesteroilfosfatidilglicerol

DMSO Dimetilsulfóxido

DP Desvio Padrão

EHL Equilíbrio Hidrófilo-Lipófilo

FDA Food and Drug Administration

IC50% Concentração Inibitória 50%

IP Índice de Polidispersão

IS Índice de Seletividade

LC Leishmaniose Cutânea

LIT Liver Infusion Tryptose

LM Leishmaniose Mucosa

log logaritmo

LV Leishmaniose Visceral

MTT Brometo de 3-(4,5-dimetiltiazol-2-il)-2,5-difenil tetrazólio

OE Óxido de Etileno

OMS Organização Mundial de Saúde

OP Óxido de Propileno

p valor de p

P407 Poloxâmero 407

P85 Pluronic® P85

PCR-RFLP Reação em Cadeia da Polimerase - Polimorfismo de comprimento

dos fragmentos de restrição

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PCS Photon Correlation Spectroscopy

rpm Rotações por Minuto

RPMI-PR- 1640 Meio de cultura sem vermelho de fenol

RPMI-1640 Meio de cultura com vermelho de fenol

r2 coeficiente de correlação

SDS Dodecil Sulfato de Sódio

SFB Soro Fetal Bovino

SFM Sistema Fagocítico Mononuclear

UV/VIS Ultravioleta/Visível

® Marca Registrada

ζ Potencial zeta

ε Absortividade molar

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 17

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .............................................................................. 20

2.1. Leishmanioses ............................................................................................. 21

2.1.1. Aspectos gerais ..................................................................................... 21

2.1.2. Leishmaniose visceral .................................................................................. 24

2.1.3. Epidemiologia da LV ................................................................................. 25

2.1.4. Tratamento da LV .................................................................................. 26

2.2. Anfotericina B (AnB) ..................................................................................... 27

2.3. Formulações contendo AnB disponíveis no mercado .................................. 32

2.4. Micelas poliméricas de poloxâmero 407 (P407) ........................................... 33

3. OBJETIVOS ....................................................................................................... 38

3.1. Objetivo Geral .............................................................................................. 39

3.2. Objetivos específicos ................................................................................... 39

4. MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................. 40

4.1. Materiais ....................................................................................................... 41

4.2. Preparo das soluções micelares .................................................................. 41

4.3. Caracterização físico-química das soluções micelares ................................ 42

4.3.1. Distribuição de tamanho ........................................................................ 42

4.3.2. Potencial zeta (ζ) ................................................................................... 42

4.4. Estudo espectral de absorção no ultravioleta (UV) da AnB incorporada às

soluções micelares ................................................................................................. 43

4.5. Avaliação da atividade leishmanicida das soluções micelares sobre formas

promastigotas de L. infantum (cepa OP46) ............................................................ 43

4.5.1. Preparo das amostras ........................................................................... 43

4.5.2. Cultivo e preparo da L. infantum ............................................................ 44

4.5.3. Ensaio de viabilidade celular ................................................................. 44

4.6. Avaliação da citotoxicidade das soluções micelares sobre cultura de

macrófagos caninos imortalizados (linhagem DH82) ............................................. 45

4.6.1. Preparo das amostras ........................................................................... 45

4.6.2. Cultivo e preparo das células DH82 ...................................................... 45

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4.6.3. Ensaio de viabilidade celular ................................................................. 46

4.7. Avaliação da citotoxicidade das soluções micelares P20 e P20AnB sobre cultura

de células renais de macaco verde africano (linhagem Vero) ................................ 46

4.7.1. Preparo das amostras ............................................................................... 46

4.7.2. Cultivo e preparo das células Vero ........................................................... 47

4.7.3. Ensaio de viabilidade celular .................................................................... 47

4.8. Avaliação da atividade leishmanicida das soluções micelares P20 e P20AnB

sobre formas amastigotas de L. infantum (cepa OP46) ......................................... 48

4.8.1. Preparo das amostras ............................................................................... 48

4.8.2. Cultivo e preparo de macrófagos (linhagem DH82) .................................. 48

4.8.3. Cultivo e preparo da L. infantum (cepa OP46) .......................................... 49

4.8.4. Infecção de células DH82 com cepa OP46 e tratamento ......................... 49

4.8.5. Preparo e análise das lâminas .................................................................. 49

4.9. Estudo de liberação in vitro da AnB da solução de P407 a 20% .................... 50

4.10. Análise estatística ........................................................................................ 51

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ......................................................................... 53

5.1. Preparo das soluções micelares .................................................................. 54

5.2. Caracterização físico-química das soluções micelares ................................ 54

5.3. Estudo espectral da AnB incorporada às soluções micelares ......................... 58

5.4. Atividade leishmanicida in vitro das soluções micelares sobre promastigotas

de L. infantum e citotoxicidade sobre macrófagos DH82 ....................................... 60

5.5. Avaliação da citotoxicidade das soluções micelares P20 e P20AnB sobre

células Vero ........................................................................................................... 65

5.6. Avaliação da atividade leishmanicida das soluções micelares P20 e P20AnB

sobre amastigotas de L. infantum .......................................................................... 66

5.7. Estudo de liberação in vitro da AnB da solução de P407 a 20% .................. 70

6. CONCLUSÕES .................................................................................................. 72

7. PERSPECTIVAS ................................................................................................ 74

8. REFERÊNCIAS .................................................................................................. 76

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1. INTRODUÇÃO

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A leishmaniose visceral (LV) é uma doença zoonótica infecciosa causada por

diferentes espécies do gênero Leishmania com ampla distribuição no mundo,

acometendo o homem e os animais. Ocorre na Ásia, África, Europa e Américas, sendo

que no continente americano há relatos sobre a doença desde a época colonial (RATH

et al., 2003). Esta parasitose possui impacto avassalador na saúde pública mundial,

com prevalência de aproximadamente 12 milhões de indivíduos infectados e cerca de

2,3 milhões de novos casos por ano em todo mundo (PEDROSO et al., 2011; RAMOS

et al., 2011). O Brasil, segundo o Ministério da Saúde, apresentou média anual de

3.454 casos no período de 2000 a 2013, com aumento da letalidade de 3,2%, em

2000, para 7,1%, em 2013 (BRASIL, 2006; BRASIL, 2015).

Os fármacos leishmanicidas de primeira linha utilizados no tratamento da

doença são os antimoniais pentavalentes, tais como antimoniato de meglumina e

estibogluconato de sódio. Além disso, outros fármacos podem ser utilizados como

segunda escolha, tais como anfotericina B (AnB), pentamidina, miltefosina e

paromomicina (WHO, 2010). Todos os fármacos, com exceção da miltefosina,

requerem administração parenteral e longo período de tratamento, o que resulta em

um aumento dos efeitos adversos, e muitas vezes, no abandono do tratamento pelo

paciente (CROFT; COOMBS, 2003). Além disso, os antimoniais pentavalentes são

altamente tóxicos e propensos a estimularem a resistência de algumas cepas do

parasito (CROFT; BARRETT; URBINA, 2005).

A AnB, fármaco de segunda escolha para o tratamento da LV, tem substituído

os antimoniais pentavalentes em regiões da Índia onde a falha terapêutica com estes

chega a mais de 60% (CHAPPUIS et al., 2007). Devido à sua potente ação

leishmanicida, a AnB é considerada o tratamento mais eficaz contra a LV, muito

embora este tratamento esteja relacionado com graves efeitos tóxicos

(CHATTOPADHYAY; JAFURULLA, 2011).

A grande incidência de reações adversas no uso da AnB despertou muitos

estudos com o intuito de reduzi-las. A redução destes efeitos tóxicos tem sido

alcançada por meio da incorporação da AnB em estruturas lipídicas, como lipossomas

(AmBisome®), complexos lipídicos (Abelcet®), dispersões coloidais (Amphocil®) e

microemulsões (AnBME). Porém, essas formulações apresentam elevado custo e

necessitam de ser administradas por via intravenosa, o que gera mais gastos, pois as

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19

infusões são feitas a nível ambulatorial, requerendo pessoas especializadas para

administração e a internação dos pacientes (JULIANO et al., 1987; ANTONIADOU;

DUPONT, 2005; CHAMILOS et al., 2007).

As formulações baseadas em nanotecnologia buscam contornar problemas

relacionados aos efeitos tóxicos e podem aumentar a eficácia destes fármacos. Neste

sentido, soluções aquosas micelares do copolímero poloxâmero 407 (P407) são de

grande interesse, pois seu microambiente possibilita a solubilização e/ou dispersão

de substâncias de baixa solubilidade em água, enquanto protege estes componentes

frente à degradação hidrolítica e enzimática, além de promover controle de liberação

do fármaco (DUMORTIER et al., 2006; LIU; FORREST; KWON, 2008).

É nesta perspectiva que soluções micelares de P407 e AnB foram preparadas,

caracterizadas e avaliadas in vitro, a fim de se encontrar alternativas menos tóxicas e

eficazes de tratamento para a LV, com custo menor se comparadas aos

medicamentos nanotecnológicos disponíveis no mercado.

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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

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2.1. Leishmanioses

2.1.1. Aspectos gerais

As leishmanioses são doenças causadas por parasitos do gênero Leishmania,

pertencente à família Trypanosomatidae da ordem Kinetoplastida (LAINSON; SHAW,

1987). A transmissão ocorre pela picada do mosquito fêmea (vetor) do gênero

Phlebotomus nos países do velho mundo, Europa, Ásia e África, e Lutzomyia nos

países do novo mundo, Américas. Esses parasitos podem infectar o homem e uma

grande variedade de mamíferos domésticos e silvestres (reservatórios naturais) e

nestes se multiplicarem. Os parasitos do gênero Leishmania podem se encontrar na

forma promastigota flagelada que se desenvolve no interior do tubo digestivo dos

hospedeiros invertebrados (flebotomíneos) e na forma amastigota, não flagelada e

presente no interior das células dos hospedeiros vertebrados (MOLYNEUX; KILLICK-

KENDRICK, 1987; KISHORE et al., 2006; SANTOS et al., 2008; WHO, 2008).

Os hospedeiros invertebrados, popularmente conhecidos como mosquito-

palha, birigui, tatuquira, cangalha e asa-dura, dependendo da sua localização

geográfica, são dípteros hematófagos da família Psychodidae e subfamília

Plebotominae. Estes são difíceis de serem percebidos, uma vez que são de cor palha,

muito pequenos e não fazem barulho (REY, 2002; BHATTACHARYA; SUR;

KARBWANG, 2006).

As formas promastigotas de Leishmania parasitam o hospedeiro vertebrado em

seu sistema fagocítico mononuclear (SMF), alojando-se nos fagossomos dos

monócitos, histiócitos e macrófagos onde se transformam em amastigotas e se

multiplicam por divisão binária simples. O número de parasitos aumenta e causa o

rompimento da célula, disseminando-se pela via hematogênica e linfática, iniciando

uma reação inflamatória e proporcionando a atração de outros macrófagos. Os

vetores sugam junto com o sangue as formas amastigotas do homem ou animal

infectado, que se alojam em seu tubo digestivo. No intestino médio, as formas

amastigotas se diferenciam em promastigotas procíclicas que se multiplicam por

divisão simples e assexuada e se diferenciam em promastigotas metacíclicas, formas

infectivas para o hospedeiro vertebrado. Esse evento é denominado metaciclogênese.

Assim, as formas infectantes do parasito migram para a probóscida do inseto após

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aproximadamente 4 a 5 dias. A esta altura, bloqueiam o proventrículo de onde podem

ser inoculadas na pele do hospedeiro vertebrado, junto com a saliva (SACKS;

KAMHAWI, 2001; BASANO; CAMARGO, 2004; CHAPPUIS et al., 2007;

REINTHINGER et al., 2007; SANTOS et al., 2008). A Figura 1 representa o ciclo

biológico do parasito.

Figura 1. Ciclo biológico das Leishmanias. Adaptado de REINTHINGER e colaboradores (2007).

As características do sistema imunológico do hospedeiro em combinação com

a espécie infectante do parasito do gênero Leishmania contribuem muito para a

diversidade dos quadros clínicos na leishmaniose. Assim, a leishmaniose é

classificada em três formas clínicas principais: leishmaniose cutânea (LC),

leishmaniose mucosa (LM) e leishmaniose visceral (LV), sendo esta também

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conhecida como Calazar (SINGH; SIVAKUMAR, 2004; MURRAY et al., 2005; WHO,

2008).

A LC, forma mais frequente da doença, é caracterizada por lesões cutâneas

que aparecem numa área exposta da superfície do corpo. Após um período de

incubação de um a três meses, uma pápula vermelha aparece, a qual se estende

como uma placa ou nódulo. A lesão frequentemente se desenvolve como uma úlcera

circular e indolor, bem delimitada, com crosta central que às vezes é hemorrágica. Na

região do tegumento, local em que o parasito é inoculado pela picada do inseto

ocorrem modificações histológicas que geram uma reação inflamatória caracterizada

por hiperplasia e hipertrofia histiocitária, ou seja, aumento do número e do tamanho

dos macrófagos aparecendo como áreas claras da derme e edema (MURRAY et al.,

2005; PEREIRA; ALVES, 2008; GOTO; LINDOSO, 2010).

Na LM, ocorre o aparecimento de lesões ulcerosas que causam destruição das

mucosas oronasal e faríngea. As lesões desfigurantes e mutilação da face causam

grande sofrimento ao paciente. A propagação dessa forma clínica da doença dá-se

provavelmente por via hematogênica. Nódulos com focos de macrófagos infiltrados

podem surgir com raros parasitas e tendência à ulceração, localizando-se na porção

cartilaginosa do septo nasal. Essas úlceras costumam progredir em extensão e

profundidade, com destruição das cartilagens e dos ossos do nariz, da região palatina

ou do maciço facial. Progressivamente ocorre a perfuração do septo ou do palato e o

processo inflamatório se estende à faringe e à laringe, sendo possível o encontro de

metástases cutâneas. Esta forma da doença recebe também os nomes de úlcera de

Bauru, espúndia, ferida brava e nariz de tapir (REY, 2002; DESJEUX, 2004; GOTO;

LINDOSO, 2010).

A LV, forma mais severa da doença que pode ser fatal se não tratada, é

caracterizada por febre irregular, perda de peso, esplenomegalia, hepatomegalia,

linfadenopatia e anemia. Nesse caso, os parasitos atacam o sistema fagocítico

mononuclear (SFM) do baço, fígado, medula óssea e dos tecidos linfoides. A

hipertrofia e a hiperplasia do SFM das vísceras são a causa da esplenomegalia

(aumento do baço), da hepatomegalia (aumento do fígado) e das alterações da

medula óssea. Os macrófagos aumentam de forma considerável em número e seu

citoplasma torna-se abundante, contenham ou não parasitos em seu interior

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(DESJEUX, 2004; SINGH; SIVAKUMAR, 2004; BHATTACHARYA; SUR;

KARBWANG, 2006; CHAPPUIS et al., 2007).

2.1.2. Leishmaniose visceral

A LV é uma doença infecciosa crônica sistêmica, em que o período de

incubação pode variar de 10 dias até 2 anos, apresentando três fases: fase inicial,

período de estado e período final. O período inicial é caracterizado por febre, palidez,

hepatomegalia e esplenomegalia que podem ser acompanhados por diarreia e tosse.

Muitos casos podem ser oligossintomáticos ou até mesmo assintomáticos, que são

de grande relevância epidemiológica. O período de estado inclui febre intermitente,

perda de peso, aumento da hepatomegalia e esplenomegalia, além do

comprometimento do estado geral do indivíduo. O período final da doença é

caracterizado por desnutrição grave, pancitopenia, icterícia e ascite. A morte é

geralmente o resultado de hemorragia e de infecções oportunistas (BRASIL, 2006).

A LV é causada por espécies do gênero Leishmania, sendo que no leste da

África e Índia o agente etiológico é a Leishmania (Leishmania) donovani e na China,

Ásia Cantral, sudeste da Europa, Mediterrâneo e América Latina, a Leishmania (L.)

infantum (LAINSON; SHAW, 1987; LUKES et al., 2007; MAURÍCIO; STOTHARD;

MILES, 2000).

Considerado o principal reservatório doméstico do parasito, o cão (Canis

familiaris) é um importante elo de transmissão da doença para o homem, uma vez que

apresenta elevado parasitismo cutâneo, observado até mesmo nos animais

assintomáticos (TESH, 1995; COSTA et al., 1999; DE QUEIROZ et al., 2011).

As mudanças ambientais e climáticas, originadas do acentuado desmatamento

e o constante processo migratório de pessoas para as áreas urbanas aliados ao

aumento da densidade do vetor nessas áreas e ao convívio muito próximo de

humanos e cães se tornaram os principais fatores relacionados à elevada incidência

de casos de LV nos grandes centros urbanos (MARZOCHI, 1989; MONTEIRO et al.,

2005).

Dessa forma, o processo de expansão geográfica e urbanização da LV levaram

os órgãos públicos a estabelecer medidas de controle mais eficazes. Atualmente, as

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estratégias de controle da doença são centradas no diagnóstico e tratamento precoce

dos indivíduos infectados, redução da população de vetores no peri e intradomicílio,

eliminação dos reservatórios e atividades de educação em saúde (TESH, 1995).

2.1.3. Epidemiologia da LV

Com o aumento significativo do número de casos e expansão da área de

abrangência da doença, a LV passou a ser considerada uma das seis endemias

prioritárias no mundo e tem se tornado um importante problema de saúde pública,

estando amplamente distribuída nos quatro continentes. Ocorre em várias áreas

geográficas, sendo identificada em mais de 100 países no mundo, de clima tropical

ou subtropical. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que ocorra de 2 a 4

milhões de casos de LV por ano, sendo que 90% dos casos ocorrem na Índia,

Bangladesh, Nepal, Sudão, Etiópia e Brasil (DESJEUX, 2004; BRASIL, 2006;

CHAPPUIS et al., 2007; MICHALSKY et al., 2011; KHALIL et al., 2014).

No Brasil, a LV apresenta aspectos geográficos, climáticos e sociais

diferenciados, em função da sua ampla distribuição geográfica, envolvendo as regiões

Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste. Na década de 90, aproximadamente 90%

dos casos notificados de LV ocorreram na região Nordeste. À medida que a doença

se expande para as outras regiões e atinge áreas urbanas e periurbanas, esta

situação vem se modificando, sendo que em 2013 a região Nordeste passou a

representar 53,6% do total de casos no país. A LV apresenta comportamento

epidemiológico cíclico, com elevação de casos em períodos médios a cada cinco

anos. No período de 2000 a 2013, a média anual de casos foi de 3.454 e o coeficiente

de incidência de 1,9 casos por 100 mil habitantes. A letalidade vem aumentando

gradativamente, passando de 3,2%, em 2000, para 7,1%, em 2013 (BRASIL, 2006;

BRASIL, 2015).

Os dados epidemiológicos dos últimos anos revelam a periurbanização e a

urbanização da LV, destacando-se os surtos ocorridos no Rio de Janeiro (RJ), Belo

Horizonte (MG), Araçatuba (SP), Santarém (PA), Corumbá (MS), Teresina (PI), Natal

(RN), São Luís (MA), Fortaleza (CE), Camaçari (BA) e mais recentemente as

epidemias ocorridas nos municípios de Três Lagoas (MS), Campo Grande (MS) e

Palmas (TO) (BRASIL, 2006; BRASIL, 2015).

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2.1.4. Tratamento da LV

O tratamento de primeira escolha para a LV baseia-se na quimioterapia com

antimoniais pentavalentes, principalmente o antimoniato de meglumina (Glucantime®)

e o estibogluconato de sódio (Pentostam®), disponíveis no mercado desde 1940

(SANTOS et al., 2008; TIUMAN et al., 2011). Porém, esses fármacos possuem

elevada toxicidade e efeitos adversos graves tais como cardiotoxicidade e pancreatite

aguda. Ainda podem ser observados anemia, leucopenia, mialgia, dores de cabeça,

náuseas, vômitos, entre outros. Além disso, o tratamento com os antimoniais

pentavalentes dura em torno de 28 dias para a LV (ASTELBAUER; WALOCHNIK,

2011).

Outra desvantagem destes medicamentos é que eles necessitam ser

administrados por via parenteral, o que dificulta a adesão do paciente ao tratamento,

ocorrendo, na maioria dos casos, o abandono deste, favorecendo o surgimento de

cepas resistentes (SINGH; SIVAKUMAR, 2004; SOARES-BEZERRA; LEON;

GENESTRA, 2004; CROFT; BARRETT; URBINA, 2005).

Em casos de resistência aos antimoniais pentavalentes, a pentamidina, a

anfotericina B e a paromomicina são utilizados como fármacos de segunda escolha e

também possuem efeitos tóxicos severos (SANTOS et al., 2008; ASTELBAUER;

WALOCHNIK, 2011; TIUMAN et al., 2011).

Embora seja um fármaco de segunda escolha, já são conhecidos casos de

resistência à pentamidina. Também há dificuldades no tratamento de pacientes

imunodeprimidos cuja quimioterapia convencional é menos eficaz, o que resulta na

administração de doses mais elevadas do fármaco e um período mais longo de

tratamento. Devido à sua toxicidade resultante do longo tratamento necessário na LV,

a pentamidina tem sido usada apenas em casos de LC. Sendo assim, a busca por

novos fármacos com toxicidade reduzida e mais eficientes é crescente (BRAY et al.,

2003; SANTOS et al., 2008; ASTELBAUER; WALOCHNIK, 2011).

Pertencente à classe dos aminoglicosídeos, a paromomicina é o único fármaco

dessa classe que possui atividade leishmanicida. O fato de apresentar baixa absorção

por via oral, motivou o desenvolvimento de formulações tópicas e parenterais para a

LC e a LV, respectivamente (SUNDAR et al., 2007; TIUMAN et al., 2011). Já foi

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observado que pacientes resistentes aos antimoniais pentavalentes apresentam

ótimos resultados quando tratados com paromomicina. Dessa forma, várias

combinações de antimoniais com paromomicina têm sido estudadas com o objetivo

de se encontrar uma terapia eficaz para a LC e a LV, com redução do tempo de

tratamento e melhora da resposta imunológica. Porém, este tipo de tratamento não

tem sido eficaz contra algumas espécies de Leishmania (BALAÑA-FOUCE et al.,

1998).

A miltefosina foi desenvolvida como fármaco anticâncer e vem sendo utilizada

na Índia na terapia oral de pacientes com leishmaniose não responsivos ao tratamento

convencional com antimoniais, apresentando resultados bastante promissores

(CHAPPUIS et al., 2007; SHAKYA et al., 2012 ). A taxa de cura da miltefosina foi de

94% (ASTELBAUER; WALOCHNIK, 2011). Entretanto, este fármaco apresenta

muitos efeitos adversos, como aumento do nível sanguíneo de transaminases,

creatininemia, uremia, diarreias e vômitos (SOARES-BEZERRA; LEON; GENESTRA,

2004). Há também preocupações com o aparecimento de resistência, uma vez que

esta pode ser facilmente induzida em estudos realizados com cepas de L. infantum in

vitro (CHAPPUIS et al., 2007; ASTELBAUER; WALOCHNIK, 2011).

Devido às falhas terapêuticas dos antimoniais pentavalentes que ocorrem em

mais de 60% dos casos, a AnB tem sido utilizada como alternativa no tratamento da

LV em regiões da Índia. As formulações contendo AnB estão sendo cada vez mais

usadas no tratamento da LV por serem consideradas os tratamentos mais eficazes

contra a doença, atuando tanto contra as formas promastigotas quanto as amastigotas

do parasito, sendo possível alcançar uma taxa de cura de até 97%. Todavia, o

tratamento com a AnB convencional resulta em graves efeitos adversos devido à

elevada toxicidade deste fármaco, como nefrotoxicidade, hipocalemia e anafilaxia.

Dessa forma, a formulação de AnB lipossomal é considerada a melhor alternativa para

o tratamento da LV, uma vez que apresenta baixa toxicidade. Essa formulação é o

medicamento de primeira escolha nos Estados Unidos e na Europa. O mesmo não

ocorre nos países em desenvolvimento, visto que o elevado custo limita a sua

utilização (CHAPPUIS et al., 2007; CHATTOPADHYAY; JAFURULLA, 2011).

2.2. Anfotericina B (AnB)

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A AnB, antibiótico poliênico descoberto em meados de 1953, pertence à classe

dos macrolídeos. Esse fármaco é obtido naturalmente a partir de culturas de

Streptomyces nodosus e desde a sua descoberta é o antifúngico de escolha para

tratar infecções sistêmicas (BARRETT et al., 2003; FILIPPIN; SOUZA, 2006). A AnB

foi inserida no mercado em 1958 na forma de desoxicolato (Fungizone®) e têm sido

utilizada também na terapia da LV em casos de resistência aos antimoniais

pentavalentes (SUNDAR et al., 2001; CHATTOPADHYAY; JAFURULLA, 2011).

O nome anfotericina deriva da característica anfotérica de sua estrutura

molecular, a qual está relacionada com a formação espontânea de sais solúveis tanto

em meio ácido como em meio básico. Em relação à estrutura química da molécula de

AnB (Figura 2) percebe-se que a mesma é bastante complexa, apresentando 37

átomos de carbono organizados em um anel macrocíclico fechado por lactonização.

Possui uma cadeia de ligações duplas conjugadas não-substituídas na porção

hidrofóbica do anel e, na porção hidrofílica oposta, uma cadeia com sete grupos

hidroxila livres, o que lhe confere a característica anfipática ou anfotérica citada

anteriormente. Em uma das extremidades da molécula, encontra-se um resíduo

micosamina (lactona) com um grupamento amina livre, formando uma cadeia lateral

geralmente designada como “cabeça polar” da molécula (GANIS et al., 1971;

FILIPPIN; SOUZA, 2006; JUNG et al., 2009).

Figura 2. Estrutura química da molécula de anfotericina B. Adaptado de GANIS e colaboradores (1971).

A AnB é um pó amarelo alaranjado, inodoro, sensível à luz quando em solução.

A natureza anfipática da molécula limita a sua solubilidade na maioria dos solventes,

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inclusive na água, sendo que a dissolução pode ocorrer em dimetilsulfóxido (DMSO),

dimetilformamida e propilenoglicol, ou parcialmente em metanol (USP 35, 2011;

BRITISH PHARMACOPEIA, 2012). A baixa solubilidade em água compromete a

administração do fármaco por via oral, sendo que o recomendável é administração

lenta em forma de suspensão micelar ou dispersão coloidal do mesmo com o

tensoativo desoxicolato de sódio, via endovenosa (ESPOSITO et al., 2003; FILIPPIN;

SOUZA, 2006; JUNG et al., 2009).

O mecanismo de ação antifúngico da AnB (Figura 3) baseia-se na inibição da

síntese de ergosterol, um esteroide presente na membrana celular fúngica e de alguns

protozoários, ocasionando a formação de poros através das membranas lipídicas. A

alteração da permeabilidade das membranas permite o extravasamento de pequenos

íons e metabólitos, principalmente íons potássio, o que gera um desequilíbrio

eletrolítico e homeostático que tem como resultado a inibição do crescimento e,

consequentemente, a morte celular (FILIPPIN; SOUZA, 2006; WASAN et al., 2009;

CHATTOPADHYAY; JAFURULLA, 2011).

Em altas concentrações, as moléculas de AnB se auto-associam formando

dímeros ou agregados maiores. As duas formas, monomérica e agregada, podem

formar canais em membranas contendo ergosterol. Porém, somente a forma agregada

pode formar tais canais em membranas contendo colesterol, o esterol constituinte da

membrana de mamíferos, a qual seria responsável pela toxicidade da AnB em

humanos (LARABI et al., 2004; FILIPPIN; SOUZA, 2006). Sendo assim, umas das

estratégias para reduzir a toxicidade do fármaco seria o desenvolvimento de novas

formulações que produzam agregados menos tóxicos ou estabilizem a AnB no estado

monomérico na formulação.

A AnB em meio aquoso forma uma mistura de monômeros solúveis e

oligômeros com agregados insolúveis. Apesar de todas as formulações de base

aquosa do fármaco possuírem coloração amarelada, elas podem apresentar

diferentes aspectos dependendo do estado de agregação das moléculas, sendo que

formulações transparentes indicam predominância da conformação monomérica e

formulações opacas indicam que há alta agregação de oligômeros. Vale ressaltar, que

as formulações que apresentam oligômeros, mostram-se como uma dispersão

coloidal translúcida (TORRADO et al., 2008).

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Figura 3. Representação esquemática da formação de poros hidrofílicos na membrana celular devido à associação entre anfotericina B e esteróis presentes na membrana. Adapatado de CHATTOPADHYAY; JAFURULLA (2011).

O estado de agregação das moléculas de AnB em diferentes formulações pode

ser determinado por meio da técnica de espectrofotometria de absorção na faixa do

ultravioleta-visível (UV-Vis). No Quadro 1 estão descritas as principais características

das formulações contendo os diferentes estados de agregação da AnB. A Figura 4

representa os perfis espectrofotométricos dos diferentes estados de agregação das

moléculas de AnB.

O fármaco apresenta dois tipos de toxicidades principais: a toxicidade aguda,

relacionada à infusão e a toxicidade renal crônica (INSELMANN; INSELMANN;

HEIDEMANN, 2002; ANTONIADOU; DUPONT, 2005). A nefrotoxicidade é frequente

em pacientes que utilizam a AnB, e pode apresentar diferentes graus de

complexidade, dependendo da dose administrada e do tempo de tratamento com o

fármaco (FILIPPIN; SOUZA, 2006).

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Quadro 1. Características dos diferentes estados de agregação da anfotericina B. Adaptado de TORRADO e colaboradores (2008).

Estado de agregação da

AnB

Aparência macroscópica

da formulação

Picos no espectro de

absorção UV- Vis

Monômero Amarelo transparente 363, 383, 406-409 nm

Oligômero Amarelo translúcido 328-340 nm

Agregados de oligômeros Amarelo opaco 360-363, 383-385 e 406-420

nm

Figura 4. Perfis espectrofotométricos dos diferentes estados de agregação da AnB. (A) Espécie monomérica. (B) Espécie oligomérica. (C) Agregados de oligômeros. Adaptado de TORRADO e colaboradores (2008).

As reações adversas relacionadas à infusão incluem febre, calafrios, náusea,

vômitos, hipocalemia e arritmia cardíaca. Essas reações ocorrem provavelmente pela

indução de citocinas pró-inflamatórias pelo fármaco (INSELMANN; INSELMANN;

HEIDEMANN, 2002; ANTONIADOU; DUPONT, 2005). Já a nefrotoxicidade, ocorre

devido à vasoconstrição que leva à lesão isquêmica e a interação direta com as

membranas celulares epiteliais resultando em disfunção tubular, sendo observado

aumento nos níveis séricos de creatinina (ANTONIADOU; DUPONT, 2005).

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A fim de contornar esses problemas de toxicidade relacionados à utilização da

AnB, muitos estudos têm sido voltados para o desenvolvimento de formulações menos

tóxicas de AnB (FILIPPIN; SOUZA, 2006). Entre as opções, estão as formulações à

base de polímeros como micelas, nanocápsulas e nanoesferas; e as formulações

lipídicas como lipossomas, micro e nanoemulsões. Esses sistemas de liberação de

fármacos constituem uma abordagem terapêutica alternativa para regular tanto a

duração do efeito farmacológico quanto a localização de agentes terapêuticos, o que

pode levar a redução da toxicidade e, consequentemente, aumento de sua eficácia

terapêutica (PEZZINI; SILVA; FERRAZ, 2007).

2.3. Formulações contendo AnB disponíveis no mercado

O Fungizone® (Bristol-Meyers Squibb), primeira formulação farmacêutica de

AnB, consiste na associação do pó liofilizado do fármaco com o sal biliar desoxicolato

de sódio. É administrado na forma de dispersão micelar através de infusão lenta, após

a reconstituição em soro glicosado. Porém, a administração desta formulação está

relacionada com problemas de toxicidade, provavelmente devido à falta de

homogeneidade na formulação e à presença de aglomerados de AnB (JAIN; KUMAR,

2010). Por este motivo, a terapia com AnB desoxicolato de sódio (AnB-D) pode

apresentar inúmeras reações adversas como nefrotoxicidade, hematotoxicidade,

hepatotoxicidade, anemia, trombocitopenia, hipotensão, hipertensão e leucopenia

(GUO, 2001; CHATTOPADHYAY; JAFURULLA, 2011).

Recentes avanços na área de nanotecnologia têm resultado no

desenvolvimento de formulações lipídicas de AnB. Atualmente existem três

formulações lipídicas disponíveis no mercado: Abelcet®, complexo lipídico; Amphocil®,

dispersão coloidal; e AmBisome®, AnB lipossomal. Essas formulações são menos

tóxicas que a formulação convencional de AnB e podem ser administradas em doses

mais altas, sendo, portanto, mais eficazes (FUKUI et al., 2003).

O Abelcet®, complexo lipídico com AnB de estrutura multilamelar constituído de

diesteroilfosfatidilcolina (DMPC) e diesteroilfosfatidilglicerol (DMPG), foi a primeira

formulação lipídica aprovada pelo FDA (Food and Drug Administration), em 1995. É

comercializado na forma de suspensão e sua administração deve ser feita por infusão

após diluição em soro glicosado 5% por duas horas (ROBINSON; NAHATA, 1999;

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FILIPPIN; SOUZA, 2006). Esse complexo lipídico, possui toxicidade diminuída em

relação ao Fungizone®, entretanto demonstra menor efetividade terapêutica devido a

níveis plasmáticos inferiores de AnB no organismo (HILLERY, 1997).

A dispersão coloidal de AnB e colesterilsulfato de sódio, Amphocil®, é

comercializada na forma de pó liofilizado e deve ser reconstituída em água estéril. Sua

administração é realizada por infusão após diluição em soro glicosado 5% por duas

horas. A instabilidade física desta formulação é um fator limitante, uma vez que é

estável por 14 dias nas concentrações de 0,1 a 2 mg/mL à temperatura entre 4 e 25ºC

e protegido da luz. Após sua aprovação pelo FDA em 1996, inúmeros estudos foram

realizados in vitro, em modelos animais e em humanos, confirmando a menor

toxicidade em comparação com o Fungizone® (ROBINSON; NAHATA, 1999;

FILIPPIN; SOUZA, 2006).

O AmBisome® é uma preparação lipossomal de vesículas unilamelares

contendo fosfatidilcolina de soja hidrogenada, colesterol, diesterolifosfatidiglicerol

(DMPG) e AnB, sendo a primeira formulação lipossomal para o fármaco (JAIN;

KUMAR, 2010). É comercializado na forma de pó liofilizado e deve ser reconstituído

em água estéril, sendo diluída em soro glicosado 5% para administração (ROBINSON;

NAHATA, 1999). Diversos estudos mostram que a AnB lipossomal é tão eficaz quanto

a anfotericina B desoxicolato de sódio (AnB-D) nas terapias de infecções fúngicas e

LV, sendo que a primeira apresenta baixa toxicidade (FILIPPIN; SOUZA, 2006). As

formulações lipossomais liberam a AnB de forma mais gradual no organismo e ainda

impedem a formação de agregados, o que pode explicar sua reduzida toxicidade.

Porém o tratamento com AmBisome® possui custo elevado, o que limita a sua

utilização.

Vale ressaltar que a administração destes medicamentos requer a internação

do paciente, o que gera gastos elevados para o governo, principalmente nos países

em desenvolvimento, onde a LV é prevalente. Neste contexto, se faz necessário o

desenvolvimento de sistemas carreadores de AnB capazes de manter a eficácia

terapêutica do fármaco, reduzir seus efeitos tóxicos e custos.

2.4. Micelas poliméricas de poloxâmero 407 (P407)

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As micelas poliméricas têm sido estudadas como sistemas de liberação de

fármacos, sendo formadas a partir de copolímeros constituídos por unidades

monoméricas hidrofílicas e hidrofóbicas (KWON; KATAOKA, 1995). Concentração

micelar crítica (CMC) é a concentração mínima de polímero necessário para formar

micelas. Em meio aquoso, copolímeros em bloco anfifílicos se micelizam

espontaneamente em concentrações iguais ou superiores à CMC, formando uma

coroa de característica hidrofílica e um núcleo de característica hidrofóbica, afim de

minimizar a energia livre da solução (Figura 5). As micelas formadas por copolímeros

anfifílicos são mais estáveis que as micelas preparadas a partir de detergentes, devido

à baixa CMC (MORISHITA et al., 2001; GARREC; RANGER; LEROUX, 2004;

SEZGIN; YÜKSEL; BAYKARA, 2006; OWEN; CHAN; SHOICHET, 2012).

Figura 5. Formação de micelas poliméricas. Em meio aquoso, copolímeros anfifílicos associam-se para formar um núcleo hidrofóbico e uma estrutura de coroa hidrofílica. Adaptado de OWEN; CHAN; SHOICHET (2012).

O núcleo dessas estruturas é, portanto, um compartimento não aquoso

separado do meio aquoso por cadeias hidrófilas da corona, o que possibilita a

incorporação de vários agentes terapêuticos ou de diagnóstico. Dessa forma, micelas

poliméricas podem ser utilizadas como nanocarreadores eficientes para compostos

de baixa solubilidade, substâncias com características farmacocinéticas indesejáveis

e compostos que possuem baixa estabilidade em um ambiente fisiológico (KABANOV;

ALAKHOV, 2002).

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Micelas poliméricas apresentam vantagens quando comparadas à outros

veículos de fármacos, uma vez que micelas possuem tamanho pequeno (10-200 nm);

são fáceis de serem obtidas em grande escala; e ligantes específicos podem ser

anexados à sua superfície externa, otimizando a liberação de fármacos em sítios

específicos e, consequentemente, reduzindo seus efeitos tóxicos (TORCHILIN, 2001;

OWEN; CHAN; SHOICHET, 2012).

Há grande interesse na produção de micelas através de poloxâmeros,

conhecidos comercialmente como Pluronics®, devido à baixa toxicidade destes

quando comparados aos surfactantes convencionais (RIESS, 2003; LIU; FORREST;

KWON, 2008). O poloxâmero 407 (P407), também conhecido como Pluronic® F-127,

é um copolímero tribloco de óxido de etileno (OE) e óxido de propileno (OP), cuja

fórmula molecular é OE95-105 – OP54-60 – OE95-105 (Figura 6). Sua síntese ocorre a partir

de monômeros de OE e OP na presença de um catalisador alcalino, tais como

hidróxido de sódio ou hidróxido de potássio (KABANOV; ALAKHOV, 2002;

DUMORTIER et al., 2006). Possui peso molecular de 12.600 daltons e caráter não

iônico, com equilíbrio hidrófilo-lipófilo (EHL) igual a 22 à temperatura de 22 °C

(TAKÁTS; VÉKEY; HEGEDÜS, 2001; KABANOV; ALAKHOV, 2002).

Figura 6. Estrutura química do copolímero em bloco P407, sendo dois blocos hidrofílicos de OE e um hidrofóbico de OP. Adaptado de KABANOV; ALAKHOV (2002).

Segundo DUMORTIER e colaboradores (2006), a FDA classificou o P407 como

inerte para diversos tipos de preparações, dentre elas, intravenosas, soluções orais,

suspensões, inalatórias, oftálmicas e tópicas.

Este copolímero possui a característica de formar gel in situ, sendo que

amostras suficientemente concentradas (≥ 20%) são soluções micelares a baixas

temperaturas e géis semirrígidos com o aumento da temperatura, a partir de 25°C

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(SCHMOLKA, 1991). O P407 apresenta maior solubilidade à baixas temperaturas,

sendo isto atribuído às extensas ligações de hidrogênio entre as moléculas de água e

os átomos de oxigênio do éter do copolímero. O decréscimo na solubilidade com o

aumento da temperatura é devido à menor hidratação a altas temperaturas, causada

pela quebra das ligações de hidrogênio (FLORENCE; ATTWOOD, 2003).

O fenômeno de transição sol-gel é dependente da concentração de polímero e

temperatura, bem como de interações existentes nos diferentes segmentos do

copolímero. Sendo assim, com o aumento da temperatura, ocorre uma aproximação

das partes hidrofóbicas (OP) das cadeias de P407 que se agregam em micelas devido

à desidratação, sendo circundadas pelas partes hidrofílicas (OE) da cadeia (JUHASZ

et al., 1989; DUMORTIER et al., 2006). A representação esquemática deste processo

é mostrada na Figura 7.

Figura 7. Representação esquemática do mecanismo de associação do P407 em água. Adaptado de DUMORTIER e colaboradores (2006).

Esta propriedade termo-reversível de P407 é de grande interesse na otimização

de formulações, visto que estas podem ser administradas no estado fluido à baixa

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temperatura e passarem ao estado gel à temperatura do corpo, promovendo liberação

controlada do agente farmacológico (LIU; FORREST; KWON, 2008).

É de grande importância ressaltar também que o microambiente de soluções

aquosas micelares de P407 possibilitam a solubilização de moléculas de baixa

solubilidade aquosa, enquanto protegem estes compostos frente às degradações

hidrolítica e enzimática, além de aderirem à superfícies como mucosa do intestino e

pele devido à gelificação (DUMORTIER et al., 2006). É nesse contexto que

formulações micelares de P407 têm sido usadas como veículos, visto que melhoram

a biodisponibilidade de fármacos que possuem baixa solubilidade e baixa

permeabilidade (BARICHELLO et al., 1999).

Neste sentido, RIBEIRO (2014) desenvolveu uma formulação de P407 a 16%

contendo AnB, e os testes in vivo mostraram que formulações de P407 contendo AnB

podem se tornar uma alternativa terapêutica promissora para o tratamento da LV, uma

vez que na avaliação in vivo em camundongos BALB/c infectados e não infectados

com L. infantum, esta formulação reduziu a carga parasitária em órgãos-alvo (fígado

e baço) e não foi nefrotóxica e hepatotóxica.

Diante do exposto, a proposta deste trabalho é preparar, realizar a

caracterização físico-química de formulações de P407 a 20 e 25% contendo AnB e

avaliar in vitro a atividade leishmanicida e a citotoxicidade destas formulações.

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3. OBJETIVOS

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3.1. Objetivo Geral

Preparar, caracterizar físico-quimicamente e avaliar in vitro soluções micelares

de P407 contendo AnB para o tratamento da LV.

3.2. Objetivos específicos

Preparar soluções micelares de P407 a 20% e 25% contendo AnB;

Caracterizar as soluções micelares de P407 a 20 e 25% contendo AnB quanto

ao tamanho médio, índice de polidispersão (IP) e potencial zeta;

Realizar o estudo espectral de absorção no ultravioleta (UV) da AnB

incorporada às soluções micelares de P407 a 20 e 25%;

Avaliar in vitro a atividade leishmanicida das soluções micelares de P407 a 20

e 25% contendo AnB sobre promastigotas de L. infantum (cepa OP46);

Avaliar in vitro a citotoxicidade das soluções micelares de P407 a 20 e 25%

contendo AnB sobre cultura de macrófagos caninos imortalizados (linhagem

DH82);

Avaliar in vitro a citotoxicidade da solução micelar de P407 a 20% contendo

AnB sobre células epiteliais renais de macaco verde africano (linhagem Vero);

Avaliar in vitro a atividade leishmanicida da solução micelar de P407 a 20%

contendo AnB sobre amastigotas de L. infantum (cepa OP46);

Realizar estudo de liberação in vitro da AnB a partir da solução micelar de P407

a 20% no estado gel.

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4. MATERIAIS E MÉTODOS

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4.1. Materiais

Pluronic® F-127 (P407), anfotericina B (AnB), anfotericina B desoxicolato de

sódio (AnB-D), α-tocoferol, meio de cultura RPMI-1640, gentamicina 10 mg/mL,

brometo de 3-[4,5-dimetiltiazol-2-il]-2,5-difenil tetrazólio (MTT) foram adquiridos da

Sigma Aldrich® (Sant Louis, EUA). Cloreto de sódio, monohidrogenofosfato de

potássio e dihidrogenofosfato de potássio, utilizados para a preparação do tampão

fosfato pH 7,4 foram obtidos da Merck® (Darmstadt, Alemanha). A solução de ácido

clorídrico (HCl) 1,0 M foi adquirida da Synth® (Diadema, Brasil) e a solução de

hidróxido de sódio (NaOH) 1,0 M foi fornecida pela Cromoline® (Diadema, Brasil). O

soro fetal bovino (SFB) foi adquirido da Vitrocel Embriolife® (Campinas, Brasil). O meio

de cultura Liver Infusion Tryptose (LIT) e a L. infantum (cepa MCAN/BR/2008/OP46 -

OP46) foram cedidos pelo Laboratório de Imunopatologia, NUPEB, UFOP. Os

macrófagos caninos imortalizados (linhagem DH82) foram fornecidos pela DS Pharma

Biomedical (Osaka, Japão) e as células renais de macaco verde africano (linhagem

Vero) foram cedidas pelo Laboratório da Doença de Chagas, NUPEB, UFOP.

4.2. Preparo das soluções micelares

As soluções micelares foram preparadas pelo método de dispersão a frio

conforme descrito previamente por BARICHELLO e colaboradores (1999). O P407 foi

pesado e adicionado lentamente sob agitação moderada e em banho de gelo (4 - 8

°C) à solução tampão fosfato pH 7,4 até dissolução do polímero. A soluções micelares

de P407 foram mantidas em geladeira por 12 horas para garantir a completa

dissolução do polímero e eliminação de bolhas de ar. Foram obtidas soluções

micelares com concentrações finais de P407 a 20% (p/p) e 25% (p/p) acrescidas ou

não de 1% (p/p) de α-tocoferol. A AnB foi pesada em um microtubo do tipo Eppendorf®,

solubilizada em 500 µL de hidróxido de sódio 0,5 N e adicionada às soluções do

polímero de modo a obter soluções estoques contendo 1 mg/g de AnB. Em seguida,

volume correspondente de ácido clorídrico 0,5 N foi adicionado diretamente às

soluções de P407 com a finalidade de neutralizar a base adicionada anteriormente.

No Quadro 2 estão descritas as soluções micelares preparadas e suas

composições.

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Quadro 2. Composição das soluções micelares.

Solução micelar Composição

P20 P407 a 20% (p/p)

P20T P407 a 20% (p/p) e α-tocoferol a 1% (p/p)

P25 P407 a 25% (p/p)

P25T P407 a 25% (p/p) e α-tocoferol a 1% (p/p)

P20AnB P407 a 20% (p/p) e AnB (1 mg/g de solução)

P20TAnB P407 a 20% (p/p), α-tocoferol a 1% (p/p) e AnB

(1 mg/g de solução)

P25AnB P407 a 25% (p/p) e AnB (1 mg/g de solução)

P25TAnB P407 a 25% (p/p), α-tocoferol a 1% (p/p) e AnB

(1 mg/g de solução)

4.3. Caracterização físico-química das soluções micelares

4.3.1. Distribuição de tamanho

O diâmetro ou tamanho médio e o índice de polidispersão das

micelas/partículas foram determinados através da técnica de espectroscopia de

correlação de fótons (ECF), utilizando o equipamento Zetasizer Nano ZS (Malvern

Instruments®). Para esta análise, 5 µL das amostras (soluções micelares) foram

diluídos em 1 mL de água ultrapurificada pelo sistema Milli-Q. O ângulo de

espalhamento incidente utilizado na leitura das amostras foi de 173°. As leituras foram

realizadas em cubeta de vidro à 25 °C em triplicata e os resultados obtidos foram

expressos como média ± desvio padrão.

4.3.2. Potencial zeta (ζ)

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A carga superficial das micelas (potencial zeta) foi determinada pela técnica de

microeletroforese associada à anemometria de laser doppler (ADL), utilizando o

equipamento Zetasizer Nano ZS (Malvern Instruments®). Para esta análise, 5 µL das

amostras (soluções micelares) foram diluídos em 1 mL de água ultrapurificada pelo

sistema Milli-Q. As amostras foram submetidas a um campo elétrico de 150 V/cm. As

leituras foram realizadas em cubeta apropriada à 25 °C em triplicata, sendo os

resultados expressos como média ± desvio padrão.

4.4. Estudo espectral de absorção no ultravioleta (UV) da AnB incorporada às

soluções micelares

Os espectros de absorção na região do UV da AnB formulada em solução

tampão fosfato pH 7,4 e nas soluções micelares de P407 foram obtidos através de

leitura em espectrofotômetro UV-VIS (Duplo feixe AJX-6100 PC, Micronal). No feixe

de referência foram utilizados como branco tampão fosfato e solução de P407 sem o

fármaco. Para realizar as leituras, foram usadas cubetas de quartzo de 0,1 cm para

as concentrações de 10-4 M (100 mg/L) e 10-5 M (10 mg/L); e 1 cm para as

concentrações de 10-6 M (1 mg/L) e 10-7 M (0,1 mg/L). Esses caminhos ópticos foram

escolhidos para obter espectros com valores de absorbância inferiores a 1,2. Os

coeficientes de absortividade molar (ε) foram calculados utilizando a equação de

Lambert-Beer conforme descrito previamente por EGITO e colaboradores (2002).

Todos os espectros foram registrados a 25 °C.

4.5. Avaliação da atividade leishmanicida das soluções micelares sobre

formas promastigotas de L. infantum (cepa OP46)

4.5.1. Preparo das amostras

As diluições das soluções micelares descritas no item 4.2 foram realizadas em

meio RPMI-1640 sem vermelho de fenol (RPMI-PR-), suplementado com 10% de soro

fetal bovino (SFB) e 1% de gentamicina, pH 7,4 (RPMI-PR- SFB 10%) de modo a obter

amostras nas concentrações de 12,5; 6,25; 3,125; 1,5625; 0,78125; 0,390625;

0,1953125 e 0,09765625 µg/mL. As amostras de AnB-D (controle positivo) foram

preparadas a partir de uma solução estoque contendo 100 µg/mL do fármaco,

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diluindo-se a mesma em meio RPMI-PR- SFB 10% de modo a obter amostras nas

concentrações de 1,25; 0,125 e 0,0125 µg/mL. Os demais controles, tampão fosfato

pH 7,4 a 12,5% e DMSO a 12,5% foram também preparados em meio RPMI-PR- SFB

10%.

4.5.2. Cultivo e preparo da L. infantum

Os parasitos foram cultivados em frasco de Erlenmeyer contendo meio LIT e

incubados em estufa a 24 °C. Para a realização do ensaio, os parasitos foram

transferidos para um tubo de 50 mL do tipo Falcon® e centrifugados a 3000 rpm por

10 minutos a 4 °C. O sobrenadante foi descartado e os mesmos ressuspendidos em

meio de cultura RPMI-PR- SFB 10%. Em seguida, foi realizada a contagem dos

parasitos viáveis em câmara de Neubauer. Após a contagem, o volume celular foi

ajustado para uma concentração de 1x106 células/poço para determinação da

viabilidade celular.

4.5.3. Ensaio de viabilidade celular

A viabilidade dos parasitos foi avaliada através do teste de MTT de acordo com

a metodologia proposta por MOSMANN (1983), adaptada por VALADARES e

colaboradores (2012). As células parasitárias foram plaqueadas (20 µL/poço) em

placas de 96 poços (Nunc® Lab-Tek®, EUA) a uma concentração de 1x106

células/poço e incubadas por 72 horas a 24 °C juntamente com as soluções micelares

(80 µL/poço) em diferentes concentrações conforme descrito no item 4.5.1. Decorridas

as 72 horas, as placas de cultura foram centrifugadas a 3000 rpm por 10 minutos a 4

°C. O sobrenadante foi descartado e foram adicionados 100 µL/poço de RPMI-PR-

SFB 10%. Logo após, foram adicionados 50 µL/poço da solução de MTT (2 mg/mL)

em RPMI-PR- 1640 suplementado com 1% de gentamicina, pH 7,4 e esterilizada por

filtração (membrana de 0,22 µm). As placas de cultura foram incubadas por mais 4

horas em estufa a 24°C. Após esse tempo, foi adicionado o SDS 10% HCl 0,01N (60

µL/poço) e as placas de cultura foram novamente incubadas nas condições descritas

anteriormente por um período de 18 horas para solubilização dos cristais de formazan.

Células do meio de cultura em RPMI-PR- SFB 10% foram utilizadas como controle,

correspondendo a 100% de viabilidade celular. As amostras foram colocadas na placa

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em triplicata e o teste foi realizado três vezes em dias diferentes. A leitura foi realizada

em leitor de ELISA (EL 800 BioTek) no comprimento de onda de 490 nm. Finalmente,

utilizando-se regressão sigmoidal para cada formulação micelar e controle de AnB-D,

calculou-se a concentração necessária para inibir a viabilidade de 50% dos parasitos

(IC50%).

4.6. Avaliação da citotoxicidade das soluções micelares sobre cultura de

macrófagos caninos imortalizados (linhagem DH82)

4.6.1. Preparo das amostras

As diluições das soluções micelares descritas no item 4.2 foram realizadas em

meio RPMI-PR- SFB 10% de modo a obter amostras nas concentrações de 125; 62,5;

31,25; 15,625; 12,5; 6,25; 3,125; 1,5625; 0,78125; 0,390625; 0,1953125 e 0,09765625

µg/mL. As amostras de AnB-D foram preparadas a partir de uma solução estoque

contendo 100 µg/mL do fármaco, diluindo-se a mesma em meio RPMI-PR- SFB 10%

de modo a obter amostras nas concentrações de 1,25; 0,125 e 0,0125 µg/mL. Os

demais controles, tampão fosfato pH 7,4 a 12,5% e DMSO a 12,5% foram também

preparados em meio RPMI-PR- SFB 10%.

4.6.2. Cultivo e preparo das células DH82

Os macrófagos foram cultivados em garrafas de cultura contendo meio de

cultura RPMI-1640 com vermelho de fenol suplementado com 10% de soro fetal

bovino (SFB) e 1% de gentamicina, pH 7,4 (RPMI SFB 10%). As células foram

incubadas em estufa a 37 °C e 5% CO2. A coleta dos macrófagos foi feita através de

“cell scraper” e os mesmos foram transferidos para tubo de 50 mL do tipo Falcon®. As

células foram centrifugadas a 1300 rpm por 7 minutos a 4 °C. O sobrenadante foi

descartado e as células foram ressuspendidas em meio RPMI-PR- SFB 10%. Em

seguida, foi realizada a contagem das mesmas em câmara de Neubauer através do

teste de exclusão de viabilidade pelo azul de tripan. Logo após, o volume celular foi

ajustado para uma concentração de 1x105 células/poço para determinação da

viabilidade celular.

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4.6.3. Ensaio de viabilidade celular

A viabilidade celular foi avaliada pelo teste de MTT de acordo com o item 4.5.3.

As células foram plaqueadas (100 µL/poço) em microplacas de 96 poços a uma

concentração de 1x105 células/poço e incubadas por 2 horas a 37 °C e 5% CO2 para

aderência das células no fundo dos poços. Após esse tempo de incubação, o

sobrenadante das placas foi retirado e foram adicionados 20 µL/poço de RPMI-PR-

SFB 10% e 80 µL/poço das diferentes concentrações das soluções micelares

conforme descrito no item 4.6.1. As placas de cultura foram incubadas por 72 horas a

37 °C e 5% CO2. Decorridas as 72 horas, o sobrenadante foi retirado e foi adicionado

100 µL/poço de RPMI-PR- SFB 10% e 50 µL/poço da solução de MTT conforme

descrito no item 4.5.3. As placas de cultura foram incubadas por mais 4 horas em

estufa a 37 °C e 5% CO2. Após esse tempo, foi adicionado o SDS 10% HCl 0,01N (60

µL/poço) e as placas de cultura foram novamente incubadas nas condições descritas

acima por um período de 18 horas. Células do meio de cultura em RPMI-PR- SFB 10%

foram utilizadas como controle de viabilidade celular. As amostras foram colocadas

na placa em triplicata e o teste foi realizado três vezes em dias diferentes. A leitura foi

realizada em leitor de ELISA no comprimento de onda de 490 nm. Em seguida, foi

calculada por regressão sigmoidal, a concentração necessária de cada formulação e

controle de AnB-D para inibir a viabilidade de 50% dos macrófagos (CC50%).

4.7. Avaliação da citotoxicidade das soluções micelares P20 e P20AnB sobre

cultura de células renais de macaco verde africano (linhagem Vero)

4.7.1. Preparo das amostras

As diluições das soluções micelares foram realizadas em meio RPMI-PR- SFB

1% de modo a obter amostras nas concentrações de 125; 62,5; 31,25; 15,625; 12,5;

6,25; 3,125; 1,5625; 0,78125; 0,390625; 0,1953125 e 0,09765625 µg/mL. As amostras

de AnB-D foram preparadas a partir de uma solução estoque contendo 100 µg/mL do

fármaco, diluindo-se a mesma em meio RPMI-PR- SFB 1% de modo a obter amostras

nas concentrações de 1,25; 0,125 e 0,0125 µg/mL. Os demais controles, tampão

fosfato pH 7,4 a 12,5% e DMSO a 12,5% foram também preparados em meio RPMI-

PR- SFB 1%.

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4.7.2. Cultivo e preparo das células Vero

As células Vero foram cultivadas em garrafas de cultura contendo meio de

cultura RPMI SFB 1%. As células foram incubadas em estufa a 37 °C e 5% CO2. Para

a desaderência das células, o meio de cultura das garrafas foi retirado e foram

adicionados 10 mL de uma solução de PBS estéril com Glicose 20 mM e EDTA 5 mM,

sendo que as garrafas foram colocadas na estufa a 37 °C e 5% CO2 por 15 minutos.

Após esse tempo, as células foram coletadas para um tubo de 50 mL do tipo Falcon®

e centrifugadas a 2500 rpm por 10 minutos a 4°C. O sobrenadante foi descartado e

as células foram ressuspendidas em meio RPMI-PR- SFB 1% e novamente

centrifugadas para retirar o excesso do PBS adicionado anteriormente. Após a

centrifugação, o sobrenadante foi descartado e as células foram ressuspendidas em

meio de cultura. Em seguida, foi realizada a contagem das mesmas em câmara de

Neubauer através do teste de exclusão de viabilidade pelo azul de tripan. Logo após,

o volume celular foi ajustado para uma concentração de 1x104 células/poço para

determinação da viabilidade celular.

4.7.3. Ensaio de viabilidade celular

A viabilidade celular foi avaliada pelo teste de MTT de acordo com o item 4.5.3.

As células foram plaqueadas (100 µL/poço) em microplacas de 96 poços a uma

concentração de 1x104 células/poço e incubadas por 24 horas a 37 °C e 5% CO2 para

aderência das células no fundo dos poços. Após esse tempo de incubação, o

sobrenadante das placas foi retirado e foram adicionados 20 µL/poço de RPMI-PR-

SBF 1% e 80 µL/poço das diferentes concentrações das soluções micelares conforme

descrito no item 4.7.1. As placas de cultura foram incubadas por 72 horas a 37 °C e

5% CO2. Decorridas as 72 horas, o sobrenadante foi retirado e foram adicionados 100

µL/poço de RPMI-PR- SBF 1% e 50 µL/poço da solução de MTT conforme descrito no

item 4.5.3. As placas de cultura foram incubadas por mais 4 horas em estufa a 37 °C

e 5% CO2. Após esse tempo, foi adicionado o SDS 10% HCl 0,01N (60 µL/poço) e as

placas de cultura foram novamente incubadas nas condições descritas acima por um

período de 18 horas. Células do meio de cultura em RPMI-PR- SBF 1% foram

utilizadas como controle de viabilidade celular. As amostras foram colocadas na placa

em triplicata e o teste foi realizado três vezes em dias diferentes. A leitura foi realizada

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em leitor de ELISA no comprimento de onda de 490 nm. Para o cálculo da CC50% foi

utilizada a mesma estratégia citada acima (4.6.3).

4.8. Avaliação da atividade leishmanicida das soluções micelares P20 e P20AnB

sobre formas amastigotas de L. infantum (cepa OP46)

4.8.1. Preparo das amostras

As diluições das soluções micelares foram realizadas em meio RPMI SFB 10%

de modo a obter amostras nas concentrações de 6,25; 3,125; 1,5625; 0,78125 µg/mL.

Essas concentrações foram definidas com base no teste de citotoxicidade para

macrófagos caninos, uma vez que estas possibilitam que aproximadamente 100% da

cultura de macrófagos permaneçam viáveis. As amostras de AnB-D foram preparadas

a partir de uma solução estoque contendo 100 µg/mL do fármaco, diluindo-se a

mesma em meio RPMI SFB 10% de modo a obter amostras nas concentrações de

1,25; 0,125 e 0,0125 µg/mL.

4.8.2. Cultivo e preparo de macrófagos (linhagem DH82)

Os macrófagos foram cultivados em garrafas de cultura contendo meio de

cultura RPMI SFB 10%. As células foram incubadas em estufa a 37 °C e 5% CO2.

Para a desaderência das células, o meio de cultura das garrafas foi retirado e foram

adicionados 10 mL de uma solução de PBS estéril com Glicose 20 mM e EDTA 5 mM,

sendo que as garrafas foram colocadas na estufa a 37 °C e 5% CO2 por 15 minutos.

A utilização da solução de desaderência ajuda a evitar o plaqueamento com grumos

de células, o que dificulta ou até mesmo impede a análise de certos campos das

lâminas. Decorridos os 15 minutos, para a completa desadesão dos macrófagos foi

utilizado “cell scraper”, sendo os mesmos transferidos para tubo de 50 mL do tipo

Falcon® e centrifugados a 1300 rpm por 7 minutos a 4 °C. O sobrenadante foi

descartado e as células foram ressuspendidas em meio RPMI SFB 10% e novamente

centrifugadas. Após a centrifugação, o sobrenadante foi descartado e as células foram

ressuspendidas em meio de cultura. Em seguida, foi realizada a contagem das

mesmas em câmara de Neubauer através do teste de exclusão de viabilidade pelo

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azul de tripan. Logo após, o volume celular foi ajustado para uma concentração de

2x104 células/poço.

4.8.3. Cultivo e preparo da L. infantum (cepa OP46)

Os parasitos foram cultivados em frasco de Erlenmeyer contendo meio LIT e

incubados em estufa a 24 °C. Para a realização do ensaio, os parasitos foram

transferidos para um tubo de 50 mL do tipo Falcon® e centrifugados a 3000 rpm por

10 minutos a 4 °C. O sobrenadante foi descartado e os mesmos ressuspendidos em

meio de cultura RPMI SFB 10%. Em seguida, foi realizada a contagem dos parasitos

viáveis em câmara de Neubauer. Após a contagem, o volume celular foi ajustado para

uma concentração de 2x105 células/poço. Para este ensaio, utilizou-se promastigotas

em fase estacionária de crescimento e com, no máximo, dez passagens em meio de

cultura.

4.8.4. Infecção de células DH82 com cepa OP46 e tratamento

O experimento in vitro de infecção seguiu a seguinte proporção: 1 macrófago:

10 promastigotas. Os macrófagos foram plaqueados (100 µL/poço) em placas

Chamber Slide (Nunc® Lab-Tek®, EUA) de 16 poços em uma concentração de 2x104

células/poço. Em seguida colocou-se as placas em estufa a 37 °C e 5% CO2 por duas

horas para a adesão das células no fundo dos poços. Após esse tempo, o

sobrenadante foi retirado ligeiramente e cuidadosamente. Logo em seguida, foi

colocado os parasitos (100 µL/poço) em uma concentração de 2x105 parasitos/poço

e as placas foram mantidas em estufa a 37 °C e 5% CO2 por quatro horas, tempo

necessário para infecção de macrófagos. Decorridas as 4 horas, o sobrenadante foi

retirado e foi feita a lavagem com RPMI SFB 10% (150 µL/poço) para retirada dos

parasitos que não infectaram as células. Após a etapa de lavagem, foram adicionados

20 µL/poço de RPMI SFB 10% e 80 µL/poço das diferentes concentrações das

soluções micelares descritas no item 4.8.1. Em seguida, as placas foram incubadas

em estufa de CO2 pelo tempo determinado para avaliação nos tempos de 24 e 72

horas após o tratamento.

4.8.5. Preparo e análise das lâminas

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Decorridos os tempos de tratamento, o sobrenadante foi retirado das placas e

foram adicionados 100 µL/poço de metanol que permaneceu nos poços por 5 minutos

para a fixação das células. Após esse tempo, o metanol foi retirado e os poços foram

descolados da Chamber Slide. As lâminas foram coradas com Panótico Rápido

InstantProv (Newprov®) e lavadas imediatamente com água após a coloração. Após

24 horas de secagem, as lamínulas foram aderidas com Entellan® (Merck, Alemanha)

sobre as lâminas. Após a secagem do Entellan®, foi realizada a análise das lâminas

com auxílio de microscópio (Olympus Optical, Japão), na objetiva com aumento de

100x. Foi realizada a contagem do número de macrófagos infectados e do número de

amastigotas em um total de 100 macrófagos por poço. As amostras foram colocadas

na placa em duplicata e o teste foi realizado três vezes em dias diferentes. Os

resultados foram expressos como porcentagem de macrófagos infectados e

porcentagem de redução de amastigotas intracelulares. As concentrações inibitórias

de 50% dos parasitos intracelulares (IC50%) para as formulações e o controle de AnB-

D foram determinadas através de regressão sigmoidal das curvas de concentração-

inibição.

4.9. Estudo de liberação in vitro da AnB da solução de P407 a 20%

Para a realização do estudo de liberação in vitro foi utilizado um modelo de

dissolução sem membrana (BARICHELLO et al., 1999). Foram pesados 3,0 g de

solução de P407 a 20% contendo AnB, conforme descrito no tópico 4.2., para cinco

tubos (13 mL) de fundo chato do tipo Falcon®. Os tubos foram colocados em banho

de água a 37 °C por 10 minutos para que as soluções gelificassem. Em seguida, um

mililitro de tampão fosfato pH 7,4 pré-aquecido a 37 °C foi adicionado cuidadosamente

sobre a superfície de cada um dos géis. Durante a realização do experimento o

equipamento (Banho Dubnoff 304D, Nova Ética®) foi programado para manter uma

agitação lateral de 100 rpm. De hora em hora, por um período de 5 horas, o

sobrenadante foi completamente removido e um mililitro de solução tampão pré-

aquecida a 37 °C recolocado, de modo a manter as mesmas condições anteriores do

teste. A leitura foi realizada em quintuplicata. As amostras coletadas foram analisadas

por espectrofotometria no ultravioleta (Espectrofotômetro UV-VIS duplo feixe AJX-

6100 PC, Micronal) no comprimento de onda de 380 nm a fim de quantificar a AnB

liberada da formulação em teste.

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Para quantificar a AnB liberada, construiu-se a curva padrão de AnB. Foram

usadas para a construção da curva padrão concentrações de 5, 10, 15, 20, 25, 30 e

35 µg/mL, tendo como solvente a solução tampão fosfato pH 7,4. A quantificação da

AnB foi realizada pela determinação da absorbância das amostras em

espectrofotômetro UV/VIS e a absorção das soluções do padrão do fármaco foram

determinadas no comprimento de onda de 380 nm.

4.10. Análise estatística

A análise estatística foi realizada utilizando o GraphPad Prism software (versão

6.0 para Windows 8). As diferenças entre as variáveis foram avaliadas através do teste

ANOVA one-way, seguida do pós-teste de Bonferroni para múltiplas comparações. As

diferenças foram consideradas significativas quando p<0,05. Para a determinação dos

valores de IC50% utilizou-se a equação log (inibidor) vs resposta – declive variável,

no programa GraphPad Prism 6. Já para as diferenças estatísticas entre os valores

de IC50% e ou CC50% foram feitas análises por ANOVA, usando-se média, desvio

padrão e N+1 graus de liberdade das amostras.

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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

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5.1. Preparo das soluções micelares

As soluções micelares sem AnB apresentaram-se transparentes. As que

continham o fármaco apresentaram coloração amarelada e aspecto translúcido,

conforme ilustrado na Figura 8. À temperatura ambiente (25 °C), as soluções de P407

transformaram-se em géis semirrígidos, mesmo após a adição de AnB, sendo que à

temperatura de 4-8 °C, as mesmas permaneceram na condição de soluções.

Figura 8. Aspecto físico das soluções de P407. (A) Solução de P407 a 20%; (B) Solução de P407 a 20% contendo AnB.

De acordo com TORRADO e colaboradores (2008), formulações que

apresentam oligômeros de AnB, mostram-se como uma dispersão coloidal

translúcida. Todavia, formulações transparentes indicam predominância da forma

monomérica da AnB, sendo esta a mais ativa e, portanto, quanto maior a concentração

de monômeros, maior poderá ser a eficácia da formulação. Já a alta agregação de

oligômeros do fármaco, produz formulações opacas. Sendo assim, como as soluções

micelares apresentaram aspecto translúcido após a incorporação do fármaco, isto

pode ser um indicativo da presença de oligômeros de AnB nestas formulações.

5.2. Caracterização físico-química das soluções micelares

A técnica de ECF, conhecida também como Dynamic Light Scattering (DLS) é

caracterizada por um feixe de laser que atravessa a amostra de modo que as

A B

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partículas presentes espalhem a luz. Esse espalhamento está relacionado com o

movimento browniano das partículas e a intensidade luminosa espalhada adquire um

padrão de movimento, o que permite determinar o diâmetro médio das partículas.

Dessa forma, partículas menores movimentam-se mais rapidamente, resultando em

rápidas modificações no espalhamento de luz. Já as partículas de maior diâmetro

causam menores flutuações na intensidade de espalhamento da luz (HASKELL;

SHIFFLETT; ELZINGA, 1998; FORMARIZ et al., 2006).

A técnica de microeletroforese associada à ADL consiste na aplicação de um

campo elétrico a uma solução de moléculas ou a uma dispersão de partículas e cada

partícula, bem como os íons mais fortemente ligados à mesma se movem como uma

unidade e o potencial no plano de cisalhamento entre essa unidade e o meio

circundante é denominado potencial zeta. Este reflete o potencial de superfície das

partículas, o qual é influenciado pelas mudanças na interface com o meio dispersante,

em razão da dissociação de grupos funcionais na superfície da partícula ou da

adsorção de espécies iônicas presentes no meio aquoso de dispersão (LEGRAND et

al., 1999; SCHAFFAZICK et al., 2003).

A Tabela 1 refere-se aos resultados de caracterização físico-química das

soluções micelares de P407 contendo ou não AnB. Nesta tabela é observado que os

tamanhos médios das micelas das formulações sem AnB variaram de 8,35 ± 0,24 a

76,36 ± 2,70 nm. Estes valores estão de acordo com os valores de tamanho médio de

micelas formadas a partir de copolímeros anfifílicos descritos anteriormente (OWEN;

CHAN; SHOICHET, 2012). Já as micelas das soluções de P407 contendo AnB

apresentaram tamanhos médios variando de 49,13 ± 0,65 a 297,80 ± 4,39 nm, sendo

que os diâmetros médios das micelas/partículas aumentaram com a adição de AnB

às soluções micelares, o que indica que o fármaco foi associado às nanoestruturas.

Especula-se que a AnB, por se tratar de uma molécula anfótera e de baixa solubilidade

aquosa, possa estar localizada no núcleo hidrofóbico e na interface

hidrofóbica/hidrofílica da micela.

Adicionalmente, na Tabela 1 é observado que as soluções micelares contendo

α-tocoferol a 1% apresentaram diâmetros médios de micelas/partículas mais próximos

antes e após a incorporação de AnB, sendo que o tamanho médio das micelas de

P407 contendo α-tocoferol após a adição de AnB foi maior.

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Tabela 1. Caracterização físico-química das soluções micelares de P407 contendo ou não anfotericina B.

Soluções

micelares Diâmetro médio (nm) ± DP IP ± DP Potencial zeta (mV) ± DP

P20 8,35 ± 0,24 0,31 ± 0,01 -22,10 ± 1,00

P20T 28,77 ± 0,02** 0,08 ± 0,01** -16,70 ± 7,92**

P25 76,36± 2,70 0,28± 0,02 -8,23 ± 2,10

P25T 27,29 ± 0,02** 0,07 ± 0,01** -2,95 ± 0,53**

P20AnB 297,80 ± 4,39* 0,38 ± 0,01 -20,00 ± 0,72

P20TAnB 51,72 ± 0,98* ** 0,75 ± 0,02* -12,70 ± 1,23**

P25AnB 258,95 ± 0,64* 0,29 ± 0,03 -19,60 ± 0,50*

P25TAnB 49,13 ± 0,65* ** 0,76 ± 0,02* -11,20 ± 0,35* **

Legenda: (P20) P407 a 20%; (P20T) P407 a 20% e α-tocoferol a 1%; (P25) P407 a 25%; (P25T) P407 a 25% e α-tocoferol a 1%; (P20AnB) P407 a 20% e AnB; (P20TAnB) P407 a 20%, α-tocoferol a 1% e AnB; (P25AnB) P407 a 25% e AnB; (P25TAnB) P407 a 25%, α-tocoferol a 1% e AnB; (DP) desvio padrão; (IP) índice de polidispersão; (*) diferença significativa em comparação à solução micelar de mesma composição sem AnB (P<0,05); (**) diferença significativa em comparação à solução micelar de mesma composição sem α-tocoferol (P<0,05).

O índice de polidispersão (IP) refere-se à homogeneidade da distribuição de

tamanho das partículas presente na amostra, sendo que amostras com valores de IP

menores que 0,3 são consideradas monodispersas, ou seja, a distribuição de tamanho

das micelas na amostra é mais homogênea ou estreita (ZHANG; KOSARAJU, 2007).

Em relação às formulações contendo AnB, apenas a P25AnB foi monodispersa,

enquanto a P20AnB foi ligeiramente polidispersa e as soluções P20TAnB (0,75 ± 0,02)

e P25TAnB (0,76 ± 0,02) foram definitivamente polidispersas. Estes resultados

mostram que a composição da formulação influencia no tamanho médio e distribuição

de tamanho das micelas/partículas. Adicionalmente, observou-se que a adição de AnB

aumentou o valor de IP das micelas contendo α-tocoferol e o α-tocoferol reduziu a

polidispersão das micelas sem AnB.

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O α-tocoferol foi adicionado às formulações com o objetivo de melhorar a

estabilidade físico-química das micelas e, consequentemente, proporcionar maior

estabilidade para as formulações. De acordo com dados da literatura, o α-tocoferol

associado em membranas lipossomais garante maior organização das cadeias de

fosfolipídeos, estabilizando-as por meio de ligações de hidrogênio e Van der Waals

(URANO et al.,1990; QUINN, 2012). Dessa forma, a intercalação do α-tocoferol nas

cadeias poliméricas das micelas pode ter levado a uma maior organização e menor

reatividade, minimizando a coalescência, o que induz micelas com tamanho e IP

menores.

O potencial zeta é uma variável influenciada pelas mudanças na interface entre

o sistema particulado e o meio dispersante, em razão da dissociação de grupos

funcionais na superfície das partículas ou da adsorção de espécies iônicas presentes

no meio aquoso de dispersão. Dessa forma, quanto maior o valor do potencial zeta

em módulo, maior a repulsão entre as partículas e menor a tendência à formação de

agregados (SCHAFFAZICK et al., 2003; MORA-HUERTAS, 2010).

De acordo com CLOGSTON; PATRI (2011), partículas contendo valores de

potencial zeta de 10 mV em módulo são consideradas praticamente neutras, enquanto

que as que apresentam valores maiores que 30 mV em módulo são consideradas

fortemente aniônicas ou catiônicas e são efetivamente estabilizadas por repulsão

elétrica em meio líquido. Esses valores positivos ou negativos são influenciados pela

natureza química do polímero e dos materiais utilizados para a modificação da

superfície das partículas, em termos dos grupos funcionais ionizáveis ou polarizáveis

em função do meio líquido em que se encontram (SOPPIMATH et al., 2001).

Na Tabela 1 é observado que o potencial zeta da formulação P20 (-22,10 ±

1,00 mV) foi maior em módulo do que o da formulação P25 (-8,23 ± 2,10 mV), e que

a adição de α-tocoferol a estas formulações reduziu, em módulo, o valor de potencial

zeta (P20T, -16,70 ± 7,92 mV; P25T, -2,95 ± 0,53 mV). A redução do valor do potencial

zeta em módulo devido a adição de α-tocoferol ocorreu também para as formulações

contendo AnB. Sugere-se que devido a interações químicas entre o α-tocoferol e o

P407 menos cargas na superfície das micelas estavam disponíveis culminando na

redução do potencial zeta em módulo.

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É possível notar também que a adição de AnB causou uma pequena redução

em módulo do valor de potencial zeta da formulação P20AnB (-20,00 ± 0,72 mV),

enquanto que para a formulação P25AnB houve um aumento significativo em módulo

do potencial zeta (-19,60 ± 0,50 mV). Em relação à solução micelar P25TAnB, foi

notado que o potencial zeta também foi maior em módulo (-11,20 ± 0,35 mV) quando

comparado à formulação de mesma composição sem AnB (-2,95 ± 0,53 mV). O

mesmo não ocorreu para a formulação P20TAnB, que apresentou uma pequena

redução em módulo do valor de potencial zeta.

Entretanto, como o P407 pertence à classe de estabilizantes estéricos

(SWATHI et al., 2010; MEHNERT; MÄDER, 2012), não foi possível inferir

considerações a respeito da estabilidade das soluções micelares com base nos

valores de potencial zeta encontrados.

5.3. Estudo espectral da AnB incorporada às soluções micelares

Na Figura 9 estão representados os espectros de absorção na região do UV

das moléculas de AnB incorporadas às soluções micelares de P407 e em tampão

fosfato pH 7,4.

Por meio do estudo espectral de absorção na faixa do ultravioleta-visível (UV-

VIS), é possível determinar o estado de agregação das moléculas de AnB nas

formulações. Segundo TORRADO e colaboradores (2008), os picos no espectro de

absorção no UV-VIS para os estados monomérico, oligomérico e agregados de

oligômeros da AnB são 363, 383, 406-409 nm; 328-340 nm; e 360-363, 383-385 e

406-420 nm, respectivamente.

De acordo com os espectros de absorção da Figura 9, é notado que quanto

menor foi a concentração do fármaco nas formulações avaliadas, maior foi a

predominância de picos em comprimentos de ondas característicos da existência da

forma monomérica de AnB. Por outro lado, em solução tampão fosfato, nas

concentrações mais elevadas de AnB (10-4 e 10-5 M) houve predomínio de picos em

comprimento de onda característicos da existência de moléculas do fármaco na forma

agregada, enquanto que para a AnB veiculada em soluções micelares de P407, o

predomínio de formas agregadas só foi observado na concentração de 10-4 M.

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Figura 9. Espectros de absorção no UV-VIS das moléculas de AnB incorporada nas diferentes soluções micelares de P407 e em solução tampão fosfato pH 7,4. (P20AnB) P407 a 20% e AnB; (P20TAnB) P407 a 20%, α-tocoferol a 1% e AnB; (P25AnB) P407 a 25% e AnB; (P25TAnB) P407 a 25%, α-tocoferol a 1% e AnB.

Estes dados corroboram com os achados de LARABI e colaboradores (2004) e

FILIPPIN e SOUZA (2006), os quais referenciaram que em altas concentrações, as

moléculas de AnB se auto-associam formando dímeros ou agregados maiores.

P20AnB

P20AnB

P20TAnB

P20TAnB

P25AnB

P25AnB

P25TAnB

P25TAnB

AnB em tampão

AnB em tampão

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Entretanto, os perfis espectrofotométricos encontrados para as micelas de P407

contendo AnB mostram que, até a concentração de 10-5 M de fármaco, estas

nanoestruturas conseguem estabilizar a molécula de AnB em seu estado monomérico,

fator de grande importância para a redução da toxicidade deste fármaco. Sugere-se

que as moléculas de AnB podem estar se intercalando nas cadeias poliméricas, o que

pode estar relacionado com a estabilização deste fármaco na forma monomérica na

formulação.

5.4. Atividade leishmanicida in vitro das soluções micelares sobre

promastigotas de L. infantum e citotoxicidade sobre macrófagos DH82

A cepa OP46 foi escolhida para a realização deste estudo visto que esta

apresenta alta e rápida infectividade, além de se multiplicar bem. Esta cepa foi isolada

de cão sintomático identificado pelo número 46 do município de Governador

Valadares/MG - Brasil e caracterizada como L. infantum por PCR-RFLP no

Laboratório de Imunopatologia da UFOP.

O teste de MTT utilizado para a avaliação da atividade leishmanicida e

citotoxicidade consiste na redução mitocondrial do reagente MTT através da enzima

succinil desidrogenase presente em células viáveis. Essa enzima converte o sal de

tetrazólio de cor amarela em cristais de formazan, insolúveis, de coloração azul.

A Figura 10 representa as curvas de porcentagem de redução da viabilidade

de promastigotas de L. infantum (cepa OP46) após o tratamento de 72 horas com

diferentes concentrações das soluções de P407 contendo ou não AnB.

É possível observar que todas as formulações apresentaram atividade

leishmanicida. As soluções P20 e P25T apresentaram as maiores atividades

leishmanicidas, entre as soluções micelares sem o fármaco, seguidas da formulação

P20T. A solução P25 foi a que apresentou menor porcentagem de redução da

viabilidade celular.

Em relação às soluções micelares contendo AnB, a solução P20AnB foi a que

apresentou maior atividade leishmanicida, seguida pela solução P20TAnB. As

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formulações P25TAnB e P25AnB foram as que apresentaram menor atividade

leishmanicida sobre promastigotas.

Figura 10. Porcentagem de redução da viabilidade de promastigotas de L. infantum (cepa OP 46) em função do log das concentrações das soluções de P407. As concentrações das soluções micelares corresponderam a 10; 5; 2,5; 1,25; 0,625; 0,3125; 0,15625 e 0,078125 µg/mL de AnB. (P20) P407 a 20%; (P20T) P407 a 20% e α-tocoferol a 1%; (P25) P407 a 25%; (P25T) P407 a 25% e α-tocoferol a 1%; (P20AnB) P407 a 20% e AnB; (P20TAnB) P407 a 20%, α-tocoferol a 1% e AnB; (P25AnB) P407 a 25% e AnB; (P25TAnB) P407 a 25%, α-tocoferol a 1% e AnB.

Analisando os dados obtidos nos estudos de atividade leishmanicida, observa-

se que a atividade das soluções micelares aumentaram significativamente com a

adição de AnB. ESPUELAS e colaboradores (2000) demonstraram através de análise

isobolográfica que existe um efeito sinérgico quando a AnB e o poloxâmero 188 foram

associados em uma formulação micelar e esta foi testada em promastigotas de cepas

resistentes de L. donovani. Especula-se que um efeito sinérgico possa estar

ocorrendo com a adição de AnB às soluções de P407, porém é necessário também

um estudo específico que comprove esta hipótese.

A Figura 11 representa as curvas de porcentagem de redução da viabilidade

de macrófagos caninos (linhagem DH82) após o tratamento de 72 horas com

diferentes concentrações das soluções de P407 contendo ou não AnB.

É possível observar que todas as soluções micelares apresentaram baixa

citotoxicidade, mesmo após aumentar em dez vezes a maior concentração de AnB

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testada inicialmente (10 µg/mL). A formulação P25AnB foi a que apresentou a menor

toxicidade para macrófagos DH82, seguida das formulações P20AnB, P20TAnB e

P25TAnB, respectivamente.

Figura 11. Porcentagem de redução da viabilidade de macrófagos caninos (linhagem DH82) em função do log das concentrações das soluções de P407. As concentrações das soluções micelares corresponderam a 100; 50; 25; 12,5; 10; 5; 2,5; 1,25; 0,625; 0,3125; 0,15625 e 0,078125 µg/mL de AnB. (P20) P407 a 20%; (P20T) P407 a 20% e α-tocoferol a 1%; (P25) P407 a 25%; (P25T) P407 a 25% e α-tocoferol a 1%; (P20AnB) P407 a 20% e AnB; (P20TAnB) P407 a 20%, α-tocoferol a 1% e AnB; (P25AnB) P407 a 25% e AnB; (P25TAnB) P407 a 25%, α-tocoferol a 1% e AnB.

Com base nestes dados, pode-se inferir que as soluções micelares de P407,

com e sem AnB são seguras para administração in vivo, uma vez que testadas

diretamente em cultura de macrófagos (células hospedeiras) apresentaram baixa

toxicidade.

Na Tabela 2 são apresentados os valores de IC50% (concentração que inibe a

viabilidade de 50% dos parasitos), CC50% (concentração tóxica para 50% dos

macrófagos) e o índice de seletividade (IS) das soluções de P407, contendo ou não

AnB, e da AnB-D. O IS foi obtido pela divisão dos valores de CC50% pelos valores de

IC50%, mostrando, neste caso, o quanto as soluções micelares são mais seletivas

para o parasito do que para o macrófago. Quanto maior for essa razão, mais seletiva

é a solução micelar sobre o parasito e menor efeito a mesma tem sobre a célula

hospedeira do mamífero.

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Tabela 2. Atividade leishmanicida sobre promastigotas de L.infantum (cepa OP46) e citotoxicidade para macrófagos caninos (linhagem DH82) após tratamento de 72 horas com as soluções micelares de poloxâmero 407 contendo ou não anfotericina B e o controle de anfotericina B desoxicolato de sódio.

Formulações IC50% ± DP (µg/mL) CC50% ± DP (µg/mL) IS

P20 1,62 ± 0,07 98,87 ± 0,16 61,03

P20T 6,75 ± 0,05 77,84 ± 0,22 11,53

P25 12,18 ± 0,32 78,85 ± 0,36 6,47

P25T 1,20 ± 0,06 77,31 ± 0,11 64,43

P20AnB 0,14 ± 0,50* 438,90 ± 0,08* ** 3.135,00

P20TAnB 0,26 ± 0,18* 168,00 ± 0,09* ** 646,15

P25AnB 3,49 ± 0,14* ** N.D. N.D.

P25TAnB 0,27 ± 0,14* 73,00 ± 0,21* ** 270,37

AnB-D 0,23 ± 0,27 2,85 ± 0,15 12,39

Legenda: (P20) P407 a 20%; (P20T) P407 a 20% e α-tocoferol a 1%; (P25) P407 a 25%; (P25T) P407 a 25% e α-tocoferol a 1%; (P20AnB) P407 a 20% e AnB; (P20TAnB) P407 a 20%, α-tocoferol a 1% e AnB; (P25AnB) P407 a 25% e AnB; (P25TAnB) P407 a 25%, α-tocoferol a 1% e AnB; (AnB-D) Anfotericina B desoxicolato de sódio; (IC50%) Concentração que inibe a viabilidade de 50% dos parasitos; (CC50%) Concentração tóxica para 50% dos macrófagos; (DP) desvio padrão; (IS) índice de seletividade; (N.D.) não detectável; (*) diferença significativa em comparação à solução micelar de mesma composição sem AnB (P<0,05); (**) diferença significativa em comparação à formulação controle AnB-D (p<0.05).

Como pode ser observado, a formulação P20AnB (0,14 ± 0,50 µg/mL)

apresentou atividade leishmanicida (IC50%) semelhante ao controle de AnB-D (0,23

± 0,27 µg/mL). Além disso, o valor de CC50% da formulação P20AnB foi de 438,90 ±

0,08 µg/mL, enquanto que a CC50% da AnB-D foi de 2,85 ± 0,15 µg/mL, ou seja, a

formulação P20AnB foi 154 vezes menos tóxica para macrófagos comparada à AnB-

D. Sendo assim, o IS da formulação P20AnB foi 3.135 enquanto o IS da solução de

AnB-D foi 12,39.

Acredita-se que a alta toxicidade da AnB-D esteja relacionada à presença do

fármaco preferencialmente na forma agregada solúvel em água, que é a forma mais

tóxica para as células de mamíferos, além de conter o sal biliar desoxicolato de sódio,

o qual também pode gerar toxicidade em decorrência de sua ação surfactante

(TORRADO et al., 2008).

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As formulações micelares P20TAnB (0,26 ± 0,18 µg/mL) e P25TAnB (0,27 ±

0,14 µg/mL) também apresentaram atividade leishmanicida (IC50%) próxima ao

controle de AnB-D (0,23 ± 0,27 µg/mL). Entretanto, os valores de CC50% para

P20TAnB (168,00 ± 0,09 µg/mL) e P25TAnB (73,00 ± 0,21 µg/mL) foram maiores em

relação a AnB-D (2,85 ± 0,15 µg/mL), resultando em um índice de seletividade maior

para P20TAnB (646,15) e P25TAnB (270,37) em comparação a AnB-D (12,39).

Em relação à solução micelar P25AnB, esta apresentou valor de IC50% de 3,49

± 0,14 µg/mL, porém sua citotoxicidade para macrófagos foi muito baixa, não sendo

possível a determinação do seu CC50% e do IS.

CALDEIRA e colaboradores (2015), avaliaram a citotoxicidade através do

ensaio de MTT de uma nanoemulsão contendo AnB sobre cultura de macrófagos J774

e obtiveram como resultado valor de CC50% maior que 200 µg/mL, sendo que para o

controle de AnB-D foi encontrado valor de CC50% igual a 1,0 ± 0,1 µg/mL. Os autores

deste trabalho não estabeleceram um valor exato de CC50%, pois mesmo na

concentração de 200 µg/mL a nanoemulsão desenvolvida por eles não apresentou

citotoxicidade in vitro. Para este experimento foram utilizados 5 x 104 macrófagos por

poço e o tempo de tratamento foi de 24 horas.

No presente trabalho, foi mostrado que as soluções micelares P20AnB e

P25AnB apresentaram valores de CC50% para macrófagos DH82 superiores a 400

µg/mL após tratamento de 72 horas. Entretanto, não se pode fazer uma comparação

com os resultados encontrados por CALDEIRA e colaboradores (2015), visto que não

foi definida a CC50% da nanoemulsão desenvolvida. Além disso, o número e a

linhagem de células utilizada nos dois estudos foi diferente, o que pode influenciar

diretamente nos resultados obtidos.

Os valores de CC50% das soluções P20 (98,87 ± 0,16 µg/mL), P20T (77,84 ±

0,22 µg/mL), P25 (78,85 ± 0,36 µg/mL) e P25T (77,31 ± 0,11 µg/mL) também foram

altos indicando que os veículos das formulações apresentaram baixa citotoxicidade

para macrófagos DH82. Esses dados demonstram que a solução P20 foi a que

apresentou menor citotoxicidade para a cultura de macrófagos caninos dentre as

formulações sem AnB. Esta menor citotoxicidade da solução micelar P20 pode estar

relacionada com a menor quantidade de polímero nesta formulação, visto que o P407

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se trata de um surfactante e quanto menor a quantidade deste, menor é o efeito tóxico

em membranas celulares.

Com base nos resultados obtidos, as formulações P20AnB, e a P20 (sem AnB)

foram escolhidas para avaliar a citotoxicidade em células Vero – modelo in vitro para

investigar a toxicidade renal - visto que um dos grandes problemas da utilização da

AnB é a ocorrência de nefrotoxicidade. Estas soluções micelares também foram

selecionadas para a avaliação da atividade leishmanicida em formas amastigotas do

parasito infectando cultura de macrófagos caninos (linhagem DH82) com L. infantum

(cepa OP46), uma vez que em mamíferos, os parasitos se alojam no interior de

macrófagos.

5.5. Avaliação da citotoxicidade das soluções micelares P20 e P20AnB sobre

células Vero

A Figura 12 representa as curvas de porcentagem de redução da viabilidade

de células Vero (renais) após o tratamento de 72 horas com diferentes concentrações

das soluções micelares P20 e P20AnB.

Figura 12. Porcentagem de redução da viabilidade de células renais (linhagem Vero) em função do log das concentrações das soluções micelares P20 e P20AnB. As concentrações das soluções micelares corresponderam a 100; 50; 25; 12,5; 10; 5; 2,5; 1,25; 0,625; 0,3125; 0,15625 e 0,078125 µg/mL de AnB. (P20) P407 a 20%; (P20AnB) P407 a 20% e AnB.

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Segundo a ISO 10993 - Parte 5 (2009), que trata dos testes para avaliar a

citotoxicidade in vitro, são consideradas substâncias citotóxicas aquelas que reduzem

a viabilidade celular a patamares abaixo de 70%. Como pode ser observado na Figura

12, na concentração de 10 μg/mL, as soluções micelares P20 e P20AnB apresentaram

baixa toxicidade para células Vero e que acima desta concentração houve um

aumento de citotoxicidade.

Na Tabela 3 estão descritos os valores de CC50% encontrados para as

formulações P20, P20AnB e controle de AnB-D após o tratamento de células Vero por

72 horas.

Tabela 3. Citotoxicidade para células Vero após tratamento de 72 horas com a solução micelar de poloxâmero 407 a 20% contendo ou não anfotericina B e o controle de anfotericina B desoxicolato de sódio.

Formulações CC50% ± DP (μg/mL)

P20 161,10 ± 0,19

P20AnB 19,14 ± 0,25* **

AnB-D 4,13 ± 0,60

Legenda: (P20) P407 a 20%; (P20AnB) P407 a 20% e AnB; (AnB-D) Anfotericina B desoxicolato de sódio; (CC50%) Concentração tóxica para 50% das células Vero; (DP) desvio padrão; (*) diferença significativa em comparação à solução micelar de mesma composição sem AnB (P<0,05); (**) diferença significativa em comparação à formulação controle AnB-D (p<0.05).

Observa-se que as soluções micelares P20AnB e P20 apresentaram menor

citotoxicidade (CC50% de 19,14 ± 0,25 μg/mL e 161,10 ± 0,19 μg/mL,

respectivamente) para células Vero quando comparadas à formulação de AnB- D

(CC50% de 4,13 ± 0,60 μg/mL). A nefrotoxicidade da AnB sempre foi um obstáculo à

sua utilização clínica, devido a sua alta incidência e gravidade (MAYER et al., 2010).

Sendo assim, a menor citotoxicidade para células renais observada in vitro para a AnB

incorporada em micelas de P407 quando comparada à formulação convencional de

AnB-D, pode fazer desta formulação uma alternativa promissora para o tratamento da

LV.

5.6. Avaliação da atividade leishmanicida das soluções micelares P20 e P20AnB

sobre amastigotas de L. infantum

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A Figura 13 representa a porcentagem de macrófagos (linhagem DH82)

infectados com L. infantum (cepa OP46) após os tratamentos de 24 e 72 horas com

diferentes concentrações das soluções micelares P20 e P20AnB.

Figura 13. Porcentagem de macrófagos infectados em função das concentrações das soluções micelares P20 e P20AnB. As concentrações das formulações corresponderam a 5; 2,5; 1,25; 0,625 µg/mL de AnB. (P20) P407 a 20%; (P20AnB) P407 a 20% e AnB.

Para os tempos de tratamento de 24 e 72 horas, a média de macrófagos

infectados no grupo controle de infecção (macrófagos infectados com parasitos em

meio de cultura não submetidos a nenhum tipo de tratamento) foi de 74 e 48%,

respectivamente. Com base no tempo de 24 horas observa-se que a porcentagem

média de macrófagos infectados após tratamento com a formulação P20AnB (5

µg/mL) foi de 7,50 ± 2,17%, enquanto que para a formulação P20 (sem fármaco) foi

de 44,00 ± 12,10%. No tempo de 72 horas foi observado que as porcentagens médias

de macrófagos infectados para as formulações P20AnB (5 µg/mL) e P20 foram de

8,17 ± 2,56% e 32,17 ± 2,64%, respectivamente. Esses resultados indicam que após

24 horas de tratamento com a solução micelar P20AnB ocorreu redução expressiva e

significativa da porcentagem de macrófagos infectados em todas as concentrações

utilizadas.

A Figura 14 representa a porcentagem de redução de amastigotas

intracelulares de L. infantum após os tratamentos de 24 e 72 horas com diferentes

concentrações das soluções micelares P20 e P20AnB.

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Figura 14. Porcentagem de redução de amastigotas intracelulares de L. infantum em função das concentrações das soluções micelares P20 e P20AnB. As concentrações das formulações corresponderam a 5; 2,5; 1,25; 0,625 µg/mL de AnB. (P20) P407 a 20%; (P20AnB) P407 a 20% e AnB.

A porcentagem de redução de amastigotas intracelulares 24 horas após o

tratamento com a formulação P20AnB (5 µg/mL) e P20 foi de 93,75 ± 5,75% e 14,71

± 20,57%, respectivamente, enquanto que para o tratamento de 72 horas esses

valores foram de 90,91 ± 4,88 % para P20AnB e 58,13 ± 12,07 % para P20. Esses

dados mostram que após o tratamento de 24 horas com a formulação P20AnB ocorreu

uma redução expressiva e significativa do número total de amastigotas intracelulares

de L. infantum, a qual não alterou com o aumento do tempo de tratamento.

Estes resultados mostram que a solução micelar P20AnB foi ativa em 24 horas

de tratamento, confirmando a potente ação leishmanicida desta formulação em formas

amastigotas do parasito. Entretanto, para a formulação P20 foi percebido que houve

uma maior redução de amastigotas intracelulares com tratamento de 72 horas,

mostrando que a formulação sem fármaco foi mais ativa após um maior tempo de

tratamento.

Na Tabela 4 estão descritos os valores de IC50% para formas amastigotas

intracelulares de L. infantum, a CC50% e o IS para células DH82 e Vero, após o

tratamento de 72 horas com as soluções micelares P20 e P20AnB e a formulação

controle AnB-D.

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Tabela 4. Atividade leishmanicida sobre amastigotas intracelulares de L. infantum (cepa OP46), citotoxicidade para macrófagos (linhagem DH82) e células Vero após tratamento de 72 horas com a solução micelar de poloxâmero 407 a 20% contendo ou não anfotericina B e o controle de anfotericina B desoxicolato de sódio.

Formulações IC50%

± DP (μg/mL)

CC50% (DH82)

± DP (μg/mL)

CC50% (Vero)

± DP (μg/mL)

IS (DH82) IS (Vero)

P20 1,80 ± 0,19 98,87 ± 0,16 161,10 ± 0,19 54,93 89,50

P20AnB 0,05 ± 0,18* 438,90 ± 0,08* ** 19,14 ± 0,25* ** 8.778,00 382,80

AnB-D 0,02 ± 0,13 2,85 ± 0,15 4,13 ± 0,60 142,50 206,50

Legenda: (P20) P407 a 20%; (P20AnB) P407 a 20% e AnB; (AnB-D) Anfotericina B desoxicolato de sódio; (IC50%) Concentração que inibe a viabilidade de 50% dos parasitos; (CC50%) Concentração tóxica para 50% das células; (DP) desvio padrão; (IS) índice de seletividade; (*) diferença significativa em comparação à solução micelar de mesma composição sem AnB (P<0,05); (**) diferença significativa em comparação à formulação controle AnB-D (P<0,05).

Com base nos resultados descritos na Tabela 4, nota-se que a solução micelar

P20AnB apresentou atividade leishmanicida sobre amastigotas de L. infantum

semelhante (0,05 ± 0,18 µg/mL) à formulação controle de AnB-D (0,02 ± 0,13 µg/mL).

Entretanto, as CC50% para macrófagos e células Vero foram maiores para a

formulação P20AnB quando comparada ao controle de AnB-D, demonstrando que a

formulação P20AnB foi mais seletiva para o parasito do que para as células

macrofágicas e renais (IS (DH82) e IS (Vero)) quando comparada à formulação de AnB-D.

No estudo de CALDEIRA e colaboradores (2015), foi avaliada a atividade de

nanoemulsão contendo AnB em formas amastigotas (1 macrófago : 10 promastigotas)

de L. amazonensis, com tratamento de 24 horas. Os autores encontraram valor de

IC50% correspondente a 0,21 ± 0,03 µg/mL. Essa formulação também apresentou

baixa citotoxicidade para macrófagos, uma vez que a CC50% para macrófagos

murinos J774 foi maior que 200 µg/mL.

VANDERMEULEN e colaboradores (2006) desenvolveram formulações

micelares poliméricas de poli (etilenoglicol)-bloco-poli (ɛ-caprolactona-co-trimetileno

carbonato) contendo AnB e compararam a atividade antifúngica e hemolítica das

mesmas ao Fungizone®. As formulações contendo 1%, 10% de polímero e o

Fungizone® apresentaram 9, 32 e 94% de hemólise, respectivamente. Os autores

concluíram que quanto menor a concentração de polímero nas formulações, mais

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retardada foi a hemólise. A redução de toxicidade também foi explicada pela presença

de AnB nas formulações, em sua maior parte, na forma monomérica.

Em outro trabalho, KABANOV e colaboradores (2003) estudaram o efeito da

doxorrubicina veiculada em micelas de Pluronic® P85 (P85) sobre células tumorais

resistentes a fármacos anti-tumorais. Os autores sugeriram que o P85 pode inibir a

respiração celular e fluidificar a membrana de células tumorais. Adicionalmente,

ESPUELAS e colaboradores (2000) relataram que o efeito surfactante do poloxâmero

188 melhorou a absorção de fármacos pelo macrófago e a disponibilidade destes para

o parasito, levando à sua morte intracelular.

Como nestas informações, e levando-se em consideração que a formulação

P20 também apresentou atividade contra formas amastigotas do parasito, com IC50%

de 1,80 ± 0,19 µg/mL, é possível que quando os parasitos foram submetidos às

formulações micelares de P407, o polímero tenha auxiliado na fluidificação da

membrana do parasito e na inibição da respiração celular do mesmo, auxiliando na

absorção de AnB em sua forma monomérica, e na redução da citotoxicidade do

fármaco in vitro.

5.7. Estudo de liberação in vitro da AnB da solução de P407 a 20%

A curva de calibração da AnB construída para o teste de liberação in vitro

juntamente com a equação da reta e o coeficiente de correlação (r2) está representado

na Figura 15. O coeficiente de correlação foi igual a 0,9958. Dessa forma, todos os

valores obtidos na leitura das amostras foram lineares na faixa de concentração do

padrão de AnB, visto que segundo a ANVISA, o critério mínimo aceitável para o

coeficiente de correlação (r2) é que este deve ser maior ou igual a 0,99, comprovando

assim, a linearidade do experimento (BRASIL, 2003).

A Figura 16 representa o perfil de liberação da AnB à partir da solução de P407

a 20%. Foram liberados 109,81 µg de AnB durante as cinco horas de experimento,

sendo que a cada hora ocorreu, em média, a liberação de 21,96 ± 3,18 µg/mL de AnB,

mostrando que o fármaco foi liberado de forma controlada. De acordo com LIU;

FOREST; KNOW (2008), a liberação controlada do agente farmacológico é

característica de géis de P407.

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Figura 15. Curva de calibração, equação da reta e coeficiente de correlação (r2) do padrão de AnB em tampão fosfato pH 7,4.

Figura 16. Perfil de liberação da AnB da formulação de P407 a 20% no estado gel.

RIBEIRO (2014) avaliou o perfil de liberação da AnB de uma solução micelar

de P407 a 16% contendo 150 µg/mL de AnB, mostrando que a formulação liberou

16,41 μg de AnB durante 5 horas de teste, sendo que houve uma liberação de 3,28 ±

0,27 μg/mL de AnB por hora, demostrando também uma liberação controlada do

fármaco.

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VEYRIES e colaboradores (1999), estudaram a liberação in vitro da

vancomicina a partir de formulações de P407 a 25% (p/p) e observaram que este

antibiótico foi liberado de forma controlada e prolongada e que o efeito antibacteriano

foi mantido por pelo menos 8 dias.

WANG; WANG; HSIUE (2009) encapsularam AnB em micelas copoliméricas à

base de poli (2-etil-2-oxazolina) e poli (ácido aspártico) e realizaram o estudo de

liberação in vitro a fim de comparar a liberação de AnB dessas nanoestruturas com a

liberação do Fungizone®. Os autores demonstraram que as micelas liberaram o

fármaco de forma contínua por 48 horas, enquanto que o Fungizone® precipitou em

12 horas. Sendo assim, os estudos citados acima evidenciam que micelas poliméricas

podem possibilitar a liberação controlada e prolongada de fármacos.

Em suma, soluções micelares de P407 fornecem uma alternativa simples e de

baixo custo para estabilizar a AnB em sua forma monomérica e reduzir a

citotoxicidade, mantendo a sua alta atividade leishmanicida.

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6. CONCLUSÕES

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As formulações de P407 contendo AnB foram caracterizadas quanto ao

tamanho médio, IP e potencial zeta, sendo que na presença de α-tocoferol foram

observados tamanhos médios menores e mais homogêneos das micelas/partículas,

além de redução em módulo do potencial zeta.

O estudo dos espectros de absorção da AnB no UV demonstrou que soluções

micelares de P407 estabilizam as moléculas do fármaco na forma monomérica até a

concentração de 10-5 M.

Todas as formulações apresentaram potencial leishmanicida in vitro sobre

cultura de promastigotas de L. infantum (cepa OP46) e seguras no ensaio in vitro de

toxicidade sobre cultura de macrófagos caninos (linhagem DH82), com destaque para

a formulação P20AnB.

A formulação P20AnB apresentou menor citotoxicidade para células Vero e

atividade leishmanicida semelhante sobre amastigotas de L. infantum, comparada à

formulação de AnB-D.

O estudo de liberação da AnB a partir da solução micelar de P407 a 20%

demonstrou que este fármaco foi liberado de forma controlada durante o período de 5

horas de ensaio.

Dessa forma, a formulação P20AnB pode se tornar uma alternativa eficaz e de

baixa toxicidade ao tratamento da LV, além de ser de fácil produção e apresentar

baixo custo quando comparada aos medicamentos nanotecnológicos disponíveis para

o tratamento desta doença. Além disso, a solução micelar P20 é um veículo promissor

para o carreamento de outros fármacos com potencial leishmanicida, uma vez que

esta formulação apresentou baixa toxicidade para células hospedeiras e atividade

significativa contra o parasito.

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7. PERSPECTIVAS

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Realizar os testes de porcentagem e eficiência de encapsulação da formulação

P20AnB, para determinar a quantidade de fármaco que está associado à

nanoestrutura e avaliar a eficiência do processo;

Obter imagens das formulações P20 e P20AnB por meio de microscopia

eletrônica de varredura (MEV), com a finalidade de visualizar as

nanopartículas/micelas;

Dosar óxido nítrico a partir de sobrenadante de cultura de monócitos isolados

de sangue periférico de cães e diferenciados em macrófagos, sendo estes não-

infectados e infectados com L. infantum (cepa OP46) e tratados com as

formulações P20 e P20AnB, a fim de avaliar se estas formulações ativam

células macrofágicas;

Avaliar a atividade fagocítica, utilizando beads fluorescentes, de macrófagos

diferenciados a partir de monócitos de sangue periférico de cães não-

infectados e infectados com L. infantum (cepa OP46) após tratamento com as

formulações P20 e P20AnB, a fim de observar se as formulações micelares

aumentam esta atividade;

Realizar estudos in vivo com o objetivo de avaliar a toxicidade e a eficácia

terapêutica da AnB veiculada em solução micelar de P407 a 20%.

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8. REFERÊNCIAS

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