universidade federal de minas gerais ufmg...populacional e de produção dos atendimentos, conforme...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS UFMG UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS ESCOLA DE ENFERMAGEM DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM APLICADA RELATÓRIO DE PESQUISA AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS (Financiamento FAPEMIG) Belo Horizonte 2009

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS ‐ UFMG          

 

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS ESCOLA DE ENFERMAGEM 

DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM APLICADA  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

RELATÓRIO DE PESQUISA  

AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: 

UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

(Financiamento FAPEMIG) 

Belo Horizonte 

2009

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

2

 

 

 

 

 

 

 

 

 

RELATÓRIO FINAL DE PESQUISA 

AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE:  

UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

(Financiamento FAPEMIG. Edital PPSUS 005/06. Processo 3301/06) 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Belo Horizonte Dezembro, 2009 

  

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

3

    

 

                                         

  610.734 P665 

PIRES, Maria Raquel Gomes Maia.  

    Avaliação  da  atenção  básica  em  Belo  Horizonte: utilização, oferta e acessibilidade dos serviços/ Maria Raquel Gomes Maia  Pires  e  Leila  Bernarda Donato Gottems; Consultor: Túlio Gomes  da Silva Mauro.  

– Belo Horizonte: UFMG/FAPEMIG, 2009. 

    166 p. 

 

     Bibliografia  

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS ESCOLA DE ENFERMAGEM 

DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM APLICADA  

RELATÓRIO FINAL DE PESQUISA 

 

AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE:  UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

(Financiamento FAPEMIG. Edital PPSUS 005/06. Processo 3301/06)  

 PESQUISADORES RESPONSÁVEIS Maria  Raquel  Gomes Maia  Pires  –  Enfermeira, mestre  e  doutora  em  Política  Social  pela Universidade  de  Brasília,  professora  adjunta  da  Escola  de  Enfermagem  da  Universidade Federal de Minas Gerais (Coordenadora).  Leila  Bernarda  Donato  Göttems  –  Enfermeira,  doutoranda  em  Administração  na Universidade de Brasília, professora do curso de Enfermagem da Universidade Católica de Brasília, assessora técnica da Coordenação de Pós‐Graduação e Extensão da Escola Superior de Ciências da Saúde da SES‐DF (Pesquisadora).  

CONSULTORIA ESTATÍSTICA Prof.:  Túlio  Gomes  da  Silva Mauro.  Psicólogo, mestre  em  Psicologia/UnB,  consultor  em análise organizacional e pesquisas quantitativas em saúde.  MESTRANDAS, APOIO TÉCNICO E BOLSISTAS DE GRADUAÇÃO Ana Carolina Alves Lage – Enfermeira. Apoio Técnico em Pesquisa/EE/UFMG. Camila Mendes Passos – Enfermeira, mestranda em Enfermagem/EE/UFMG. Flávia Leles – Iniciação Científica/CNPq. Lucas Leite‐ Extensão – PROEX/UFMG. Luciana do Vale – Iniciação Científica – FAPEMIG. Marcelo Augusto – Iniciação Científica – CNPq. Nívea Furtado Figueiredo – Enfermeira, mestranda em Enfermagem/EE/UFMG. Tiago Cupertino – Iniciação Científica – FAPEMIG.  ENTREVISTADORES – ETAPA SURVEY Cissa Martina Daiana Oliveira. Denise Pereira. Viviane Costa Soares. 

 

 

 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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RESUMO 

 

Introdução: avaliam‐se a utilização, a oferta e a acessibilidade de Unidades Básicas de Saúde (UBSs) no Sistema Único de Saúde (SUS) de Belo Horizonte (BH). Questiona‐se se a forma de organização da atenção básica, a partir dos princípios do Programa Saúde da Família (PSF),  modificam a utilização e o acesso da população aos serviços.   Hipótese: considera‐se que, embora o contexto de desenvolvimento da política de atenção básica influencie o modo de produzir ações de saúde, a utilização dos serviços pelo usuário ocorre de forma semelhante tanto em UBSs completa e parcialmente cobertas pelo PSF, quanto nas UPAs. Há  influência do modelo tradicional de atenção centrado na consulta médica e na demanda espontânea. Objetivos: analisar o desenvolvimento da política de atenção básica à saúde do SUS de Belo Horizonte, com a implantação do PSF; avaliar a atenção básica à saúde, em Belo Horizonte, quanto  à  articulação  com  as  urgências,  utilização,  oferta  e  acessibilidade  dos  serviços; analisar em que medida a implantação das Equipes de Saúde da Família, em Belo Horizonte, contribuem para a reorganização da atenção básica, no que se refere à oferta, utilização e acessibilidade dos serviços de saúde. Material e método: a pesquisa tem caráter avaliativo, abordagem quantitativa e qualitativa, com triangulação de métodos. O delineamento conta com três etapas complementares: na primeira, realizou‐se um survey com 997 usuários de 10 UBSs e 7 Unidades de Pronto‐Atendimento (UPAs). Interrogou‐se se o problema de saúde que as pessoas  levam às urgências poderia ser resolvido na atenção básica. Verificaram‐se, comparativamente,  os  procedimentos  utilizados  e  a  racionalidade  dos  entrevistados  na escolha  dos  serviços;  na  segunda,  formaram‐se  4  grupos  focais  com  30  profissionais  de saúde (16 enfermeiros e 14 médicos), das 10 UBSs, para avaliar a organização do processo de trabalho, à luz dos princípios do PSF e dos resultados do survey; na terceira, verificou‐se a oferta  dos  serviços  de  atenção  básica,  quanto  aos  parâmetros  nacionais  de  cobertura populacional  e  de  produção  dos  atendimentos,  conforme  as  diretrizes  e  protocolos assistenciais da atenção básica do Sistema Único de Saúde. Analisaram‐se as bases de dados secundárias  do  Sistema  Fênix,  da  Secretaria  Municipal  de  Saúde  de  Belo  Horizonte. Submeteu‐se  o  estudo  à  aprovação  dos  Comitês  de  ética  em  pesquisa,  da  Universidade Federal de Minas Gerais  (UFMG) – Parecer 053/06 –, e Secretaria Municipal de Saúde de Belo  Horizonte  (SMSBH)  –  protocolo  19/2006.  Resultados:  os  resultados  apontam duplicidade de ações entre UBSs e Urgências, ambas realizando procedimentos de atenção básica;  pouca  utilização  e  oferta  de  ações  programáticas  nas  UBSs,  que  seguem  com predomínio do atendimento à demanda espontânea e centralidade no médico e na doença; distanciamento, da organização do processo de trabalho das ESFs, das práticas de vigilância à  saúde;  dificuldade  em  planejar  ações,  realizar  ações  programáticas,  preventivas  e  de promoção à saúde. Conclusão: verificaram‐se, porém, indícios de mudanças, com práticas de educação, calcadas na promoção da saúde, que incluem grupos de unibiótica, qualidade de vida e atividades físicas.  

 

 

Palavras‐chave: Acesso aos  serviços de  saúde – Avaliação em  saúde – Atenção Primária à Saúde   

 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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ABSTRACT  

Introduction:  Utilization,  offer  and  accessibility  to  Basic  Health  Units  in  Unique  Health System  (SUS)  in  Belo  Horizonte  are  evaluated.  The  way  of  organizing  the  basic  care  is questioned,  taking  in  consideration  the  principles  of  Family  Health  Program  (PSF) which affect  the  utilization  and  the  accessibility  to  the  services  by  the  population. Hyphotesis: Although the context of the basic care policy development influences the way of producing health actions, it is considered that the utilization of the services by the patients happens in similar ways  both  in Basic Health Units  –  complete  or  partially  covered  by  Family Health Program  –  and  in    Emergency  Service Units.   Objectives:  To  analyze  the  development  of health  basic  care  policy  provided  by  Unique  Health  System  in  Belo  Horizonte,  with  the implementation  of  Family  Health  Program;  to  evaluate  the  basic  health  care  in  Belo Horizonte in relation to the articulation in emergencies, utilization, offer and accessibility to services; to analyze to which extent the  implementation of Teams of Family Health  in Belo Horizonte contributes to the reorganization of basic care in relation to utilization,  offer and accessibility  to health  services. Material and method:  the  research has evaluative nature, quantitative and qualitative approach, with the use of these three mentioned methods. The structure has  three  additional  steps:  in  the  first one,  a  survey with 997 users of 10 basic health units and 7 units of Emergency Service was carried out.    It was questioned whether the health problems  that bring people  to  the emergency services could be solved  in basic care units. The used procedures were compared to the reasoning of interviewers in choosing services.  In  the  second one, 4  focus groups were  formed with 30 health professionals  (16 nurses  and  14  doctors)  from  10  basic  health  units which were  selected  to  evaluate  the organization of the work taking  in account the principles of the Family Health Program and the  results  of  the  survey.  In  the  third  step,  there was  the  provision  of  basic  health  care services, based on the national parameters of population coverage and production of care,  according  to  the  guidelines  and  protocols  of  basic  care,  provided  by  the  Unique  Health System. The secondary database of the Fenix System of the Municipal Health Secretariat of Belo Horizonte was  analyzed  and  the  study was  submitted  to  the  approval  of  the  ethics committees of research of  the Federal University of Minas Gerais (UFMG) ‐ Opinion 053/06 ‐ and the Municipal Health Secretariat of Belo Horizonte (SMSBH) ‐ Protocol 19/2006. Results: The  studies  showed  duplication  of  actions  between  the  basic  health  units  and  the emergency services, both performing basic care procedures; limited utilization  and offer of programmed actions  in UBSs,  in which there was a predominance of spontaneous demand and centrality in doctor and disease; distance of the organization of the work process in the teams of the Family Health Program, regarding to the health practices;  difficulty in planning actions  and    performing  programmed  and  preventive  actions  to    promote  health. Conclusion:  there  were,  however,  signs  of  change  with  educative  actions  supported  on health promotion, including groups of unibiotica, quality of life and physical activities.   Keys words: Primary Health Care – Health Evaluation – Health Services Accessibility 

 

 

 

 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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LISTA DE TABELAS  

 

Tabela 1 ‐  Amostra  de  Unidades  Básicas  de  Saúde  investigadas  por  Distrito Sanitário e cobertura populacional do Programa de Saúde da Família, em Belo Horizonte, 2009........................................................................ 

  

52

Tabela 2 ‐  Número de questionários aplicados nas Unidades Básicas de Saúde e nas Unidades de Pronto‐atendimento de Belo Horizonte, dezembro de 2008................................................................................................... 

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Tabela 3 ‐  Perfil  dos  usuários  das  Unidades  Básicas  de  Saúde  e  Unidades  de Pronto‐atendimento,  Belo  Horizonte,  por  sexo,  idade,  renda, escolaridade,  situação  empregatícia,  residência,  local  de  trabalho  e plano de saúde, dezembro de 2008....................................................... 

79

Tabela 4 ‐  Tempo  e  meio  de  transporte  utilizado  para  o  deslocamento  dos usuários  às  Unidades  Básicas  de  Saúde  e  Unidades  de  Pronto‐atendimento, em Belo Horizonte, dezembro de 2008...........................  

  

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Tabela 5 ‐  Problema  de  saúde  e  procedimentos  utilizados  pelos  usuários  das Unidades Básicas de Saúde completas, ou parcialmente cobertas pelo Programa  de  Saúde  da  Família,  e  das  Unidades  de  Pronto‐atendimento, de Belo Horizonte, dezembro de 2008............................  

   

83

Tabela 6 ‐  Procedimentos de média complexidade utilizados pelos usuários das Unidades  de  Pronto‐atendimento,  em  Belo  Horizonte,  dezembro, 2008........................................................................................................  

  

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Tabela 7 ‐  Conhecimento  referido pelo usuário sobre o Programa de Saúde da Família, por     serviço de saúde, Belo Horizonte, dezembro de 2008   

 85

Tabela 8 ‐  Opinião do usuário sobre a conduta dos profissionais no momento do atendimento  nas  Unidades  Básicas  de  Saúde  e  nas  Unidades  de Pronto Atendimento, Belo Horizonte, dezembro de 2008..................... 

  

86

Tabela 9 ‐  Tipo de serviço de saúde que o usuário  foi orientado a procurar no momento  do  atendimento  nas  Unidades  Básicas  de  Saúde  e  nas Unidades de Pronto‐atendimento, Belo Horizonte, dezembro de 2008  

  

86

Tabela 10 ‐  Tempo que o usuário levou para ser completamente atendido e para conseguir a consulta médica de que precisa, por locais de entrevista, Belo Horizonte, dezembro de 2008........................................................ 

  

87Tabela 11 ‐  Motivo da procura pela Unidade Básica de Saúde ou pela Unidade de 

Pronto‐atendimento,  referido  pelo  usuário,  Belo  Horizonte, dezembro de 2008..................................................................................  

  

90

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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Tabela 12 ‐  Situações  em  que  o  usuário  procura  a  Unidade  de  Pronto‐atendimento e a Unidade Básica de Saúde, por  locais de coleta Belo Horizonte, dezembro de 2008................................................................  

  

91

Tabela 13 ‐  Motivos da não procura pela Unidade Básica de Saúde, por locais de coleta, Belo Horizonte, dezembro de 2008............................................  

 92

Tabela 14 ‐  Indicadores  de  cobertura  populacional  e  de  consultas médicas  por habitante/ano  nas  Unidades  Básicas  de  Saúde  selecionadas,  Belo Horizonte, 2009......................................................................................  

  120

Tabela 15 ‐  Média  percentual  dos  procedimentos  realizados  pelas  Equipes  de Saúde  da  Família,  nas Unidades  Básicas  de  Saúde  selecionadas,  no período de outubro de 2009 a março de 2009, Belo Horizonte, 2009 .. 

  121

Tabela 16 ‐  Média  percentual  dos  procedimentos  realizados  pelas  Unidades Básicas de  Saúde  selecionadas, no período de  setembro de 2008  a agosto de 2009, Belo Horizonte, 2009...................................................  

  123

Tabela 17 ‐  Comparação  entre  o  percentual  médio  mensal  de  procedimentos realizados  e  a  utilização  informada  pelos  usuários,  nas  Unidades Básicas de Saúde selecionadas, Belo Horizonte, outubro de 2009........  

  124

Tabela 18 ‐  Comparação entre o total da demanda prevista para os programas de atenção  à  saúde e  as  consultas  realizadas nas Unidades Básicas de Saúde selecionadas, Belo Horizonte, no período de agosto de 2008 a setembro de 2009.................................................................................   

   127

Tabela 19 ‐  Comparação  entre  a  média  da  demanda  prevista  e  as  consultas realizadas nos programas de atenção à saúde pela Equipe de Saúde da  Família  e  pela  equipe  de  apoio  nas Unidades  Básicas  de  Saúde selecionadas,  no  período  de  setembro  de  2008  a  agosto  de  2009, Belo Horizonte, 2009..............................................................................  

    129

Tabela 20 ‐  Comparação  entre  o  total  da  demanda  prevista  e  as  consultas realizadas nos programas de atenção à  saúde, pelo médico e pelos enfermeiros das Equipes de Saúde da Família nas Unidades Básicas selecionadas,  no  período  de  setembro  de  2008  e  agosto  de  2009, Belo Horizonte........................................................................................  

    131

 

Xx 

 

 

 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES 

 

 Gráfico 1‐  

Média  percentual  dos  procedimentos  realizados  pela  Equipe  de Saúde da Família, nas Unidades Básicas de Saúde  selecionadas, no período  de  setembro  de  2008  a  agosto  de  2009,  Belo  Horizonte, 2009......................................................................................................  

122

Gráfico 2 ‐  Média  percentual  dos  procedimentos  realizados    pela  Equipe  de Saúde  da  Família  e  de  apoio  nas  Unidades  Básicas  de  Saúde selecionadas,  no  período  de  setembro  de  2008  a  agosro  de  2009, Belo Horizonte, 2009............................................................................  

123

Gráfico 3 ‐  Média  percentual  de  procedimentos  de  ações  programáticas realizados pelas Equipes de Saúde da Família e Equipe de Apoio, nas Unidades Básicas de Saúde selecionadas, no período de setembro de 2008 a agosto de 2009, Belo Horizonte, 2009.....................................   

   126

Gráfico 4 ‐  Comparação  entre  a  média  de  demanda  prevista  e  de  consultas realizadas nos programas de atenção à saúde nas Unidades Básicas de Saúde selecionadas, no período de setembro de 2008 a março de 2009, Belo Horizonte.............................................................................  

   128

Gráfico 5 ‐  Comparação  entre  a média  da  demanda  prevista  e  das  consultas realizadas  nos  programas  de  atenção  à  saúde  pelo  médico  e enfermeiro das Equipes de Saúde da Família e nas Unidades Básicas de Saúde selecionadas, no período de setembro de 2008 a março de 2009, Belo Horizonte............................................................................  

    129

Quadro 1 ‐  Referencial metodológico para avaliação da atenção básica em Belo Horizonte...............................................................................................  

46

Quadro 2 ‐  Indicadores  e  conceitos  utilizados  na  avaliação  dos  serviços  de atenção  básica,  nas Unidades  Básicas  de  Saúde  investigadas,  Belo Horizonte, 2009.....................................................................................  

67

Quadro 3 ‐  Referências  metodológicas  utilizadas  na  avaliação  da  oferta  dos serviços das Unidades Básicas de Saúde investigadas, Belo Horizonte, 2009.......................................................................................................  

73

Quadro 4 ‐  Tipos de organização das ações programáticas usuais nas Unidades Básicas de Saúde, sistematizadas a partir dos Grupos Focais com os profissionais médicos e enfermeiros da Equipe de Saúde da Família   

  114

Quadro 5 ‐  Triangulação  da  utilização,  oferta  e  acessibilidade  das  Unidades Básicas de Saúde investigadas, Belo Horizonte, 2009.........................   

 136

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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Figura 1  Distribuição das unidades  assistenciais do  Sistema Único de  Saúde de Belo Horizonte, segundo tipo e natureza jurídica, 2005‐2007........  

17

Figura 2  Distribuição  geográfica das Unidades Básicas de  Saúde e Unidades de  Pronto  Atendimentos  nos  distritos  sanitários,  Belo  Horizonte, 2008............................................................................................  52

 Figura 3 

 Formas de  Investigação da Hermenêutica de Profundidade segundo Thompson.............................................................................................. 

60

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

11

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS 

 

 

   

AB  Atenção Básica 

AC  Alta Complexidade 

ANS  Agência Nacional de Saúde 

APS  Atenção Primária à Saúde 

BH  Belo Horizonte 

DATASUS  Banco de Dados do Sistema Único de Saúde 

ESF  Equipe Saúde da Família 

IBGE  Instituto Brasileiro de Geografia e Estatítica 

GF  Grupo focal 

FêNIX  Sistema de Informação Registro de Atendimento Individual 

HP  Hermenêutica de profundidade 

MC  Média Complexidade 

MS  Ministério da Saúde 

OPAS  Organização Panamericana de Saúde 

OMS  Organização Mundial de Saúde 

PSF  Programa Saúde da Família 

SMSA‐BH  Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte 

SUS  Sistema Único de Saúde 

SIAB  Sistema de Informação da Atenção Básica 

SPSS  Statistical Package for the Social Sciences 

UBS  Unidade Básica de Saúde 

UPA  Unidade de Pronto Atendimento 

UFMG  Universidade Federal de Minas Gerais 

 

 

 

 

 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

12

SUMÁRIO  

 

1  INTRODUÇÃO   

14 

2  OBJETIVOS   

19 

3  REFERENCIAL TEÓRICO   20    

3.1‐ Oferta, demanda e necessidades em saúde: em busca da acessibilidade dos serviços no SUS...................................................................................   

  20 

  3.2‐  Para  além  da  atenção  básica:  reorganização  do  SUS  por  meio  da interseção do político e do econômico........................................................   

 31 

4  METODOLOGIA   43    

4.1‐Delineamento do estudo.............................................................................   48 

  4.1.1‐Etapa 1: survey com os usuários das UBSs e das UPAs.............................  48   4.1.2‐Etapa 2: organização do trabalho pelas Equipes Saúde da Família............  48   4.1.3‐  Etapa  3:  avaliação  da  oferta  e  da  demanda  por  serviços  de  atenção 

básica/SUS..................................................................................................  49 

   4.2‐Síntese das etapas e triangulação de métodos: grupo de discussão com os gerentes das UBSs..........................................................................................  

  50 

  4.3‐Detalhamento das etapas da pesquisa....................................................   50   4.3.1‐Etapa 1 – utilização dos serviços de atenção básica e de urgência............  50   4.3.1.1‐Plano amostral ...............................................................................  50   4.3.1.2‐Coleta de dados e instrumentos.........................................................  53   4.3.1.3‐Análise estatística............................................................................  

 56 

  4.4‐Etapa 2 ‐ acessibilidade das Unidades Básicas de Saúde...........................  57   4.4.1‐Coleta de dados e instrumentos.........................................................  58   4.4.2‐Análise:  interpretação  dos  depoimentos  a  partir  da  hermenêutica  de 

profundidade e análise do discurso...............................................................  

 59 

  4.5‐Etapa 3 ‐ oferta dos serviços de atenção básica.......................................  65   4.5.1‐Métodos utilizados para a análise das bases de dados secundárias.........  65   4.5.2‐Procedimentos operacionais para o cálculo dos indicadores de oferta....  68   4.5.2.1‐Indicadores de cobertura dos serviços de atenção básica...................  68   4.5.2.2‐Indicadores de produção de ações e serviços de saúde......................  68 

   4.6‐Triangulação de métodos e técnicas............................................................. 

 76 

  4.7‐Aspectos éticos.............................................................................................  

76 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

13

5  RESULTADOS E DISCUSSÕES  77    

5.1‐Utilização dos serviços de atenção básica e urgências pelo usuário............  77 

  5.1.1‐Perfil socioeconômico e procedência do usuário..................................   77   5.1.2‐Problema de saúde referido e acesso aos serviços de saúde..................  81   5.1.3‐Racionalidade do usuário na utilização dos serviços de saúde.................  

 89 

  5.2‐Acessibilidade dos serviços de Atenção Básica/SUS/SMSA‐BH..................   93   5.2.1‐Contextualização sociohistórica dos entrevistados...............................   94   5.2.2‐Análise estrutural...............................................................................   99   5.2.2.1‐O tom dos debates..........................................................................  99   5.2.2.2‐Características do trabalho das ESF nas UBSs.....................................  105   5.2.3‐Dinâmica interpretativa......................................................................  

 118 

  5.3‐Análise da oferta e da demanda por serviços de atenção básica nas UBSs investigadas..............................................................................................   

 119 

  5.4‐Triangulação dos resultados e discussão com os gerentes das UBSs..........   

132 

6  CONCLUSÃO   137    

6.1‐De usuários, usos, serviços e profissionais em saúde...............................  137 

  6.2‐Estranho e esperançoso PSF..................................................................   

141 

  REFERÊNCIAS   

143 

  ANEXOS  155    

Anexo A‐ Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa da UFMG..........................  156 

  Anexo B‐Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa da SMSA‐BH......................  

157 

  APÊNDICES .  158    

Apêndice  A‐  Questionários  para  usuários  do  sistema  de  saúde  de  Belo horizonte................................................................................................... 

 159 

  Apêndice B‐ Roteiro semi‐estruturado para grupo  focal com os profissionais de saúde.................................................................................................... 

 163 

  Apêndice  C‐  Formulário  1:  Análise  dos  grupos  focais;  identificação  de interdiscursos............................................................................................. 

 164 

  Apêndice D ‐ Formulário 2: Para análise dos grupos focais; falas individuais.....  165   Apêndice E ‐ Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).....................  166 

 

XX 

 

 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

14

1 INTRODUÇÃO 

 

 

A discussão que a atenção primária em saúde seria um  lócus privilegiado no qual se 

desencadeariam as mudanças no modelo de atenção à saúde – por influir mais diretamente 

na organização e produção da demanda por bens e serviços de saúde – não é nova.  

Desde o  lema da histórica Conferência  Internacional de Alma Ata1, Saúde para Todos 

no Ano 2000, países do mundo inteiro têm se preocupado em estruturar sistemas de saúde 

mais  resolutivos,  equânimes,  universais  e  pautados  na  integralidade.  Uma  análise 

consistente sobre a rede básica de saúde, entendendo‐a como ponto estratégico para mudar 

a  forma  com  que  serviços  e  práticas  se  organizam  para  assistir  a  saúde  da  população,  é 

realizada por Merhy  (2002).   Esse autor aborda a especificidade da  rede básica  como um 

lugar  fecundo  para  se  operarem  mudanças  no  modelo  assistencial,  e  advoga  que, 

diferentemente  do  hospital,  ocorrem  nela  possibilidades  de  menor  aprisionamento  das 

práticas em saúde, podendo abrir‐se a diversas alternativas. 

Atualmente,  o  Brasil  elegeu  o  Programa  Saúde  da  Família  (PSF)  como  principal 

estratégia  para  reorganização  da  rede  básica  de  serviços  de  saúde,  apostando  nas 

repercussões  para  o  Sistema Único  de  Saúde  (SUS). Um  dos  problemas  que  a  Estratégia 

Saúde da Família (ESF) encontra para se consolidar enquanto mudança de práticas consiste 

nas  diferentes  formas  com  que  ela  se  implanta  nos  grandes  centros  urbanos.  Em  geral, 

devido aos problemas estruturais típicos das metrópoles, o PSF insere‐se de forma periférica 

e, ou sem grandes impactos na forma de organizar as ações básicas de saúde, perpetuando o 

modelo tradicional de atenção.  

Esta pesquisa centra‐se na avaliação da atenção básica no que se  refere à utilização, 

oferta e acessibilidade dos serviços e tem por objetivo investigar como as Unidades Básicas 

de Saúde  (UBSs) se estruturam no sistema de saúde para atender à população a partir de 

suas características  sociais; como  se estabelecem os  fluxos entre UBSs e as urgências; em 

que medida  a  oferta  desses  serviços  é  adequada  às  demandas  da  população;  como  os 

1 A Conferência de Alma Ata, em 1978, tornou‐se um marco para a saúde pública por pactuar com os países membros da ONU o compromisso que, até o ano 2000, toda a população teria acesso aos serviços e ações de saúde,  independentemente  de  cor,  raça,  classe  social  ou  religião.  Passados  quase  30  anos  daquele  evento mundial, constata‐se que o lema instituído permanece mais atual do que nunca.

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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usuários utilizam os serviços e, por fim, a contribuição dos princípios do Programa Saúde da 

Família para a reorganização do trabalho da equipe na atenção básica. Trata‐se, pois, de uma 

pesquisa avaliativa que utiliza as abordagens quantitativas e qualitativas para apreensão do 

objeto. 

Tendo em vista a expressiva implantação do PSF (desde 2002) em Belo Horizonte, que 

o elegeu como política pública de saúde prioritária, questiona‐se se a forma de organização 

da  atenção  básica,  a  partir  dos  princípios  do  Saúde  da  Família, modifica  a  utilização  e  o 

acesso  da  população  aos  serviços.    A  hipótese  inicial  é  que,  embora  o  contexto  de 

desenvolvimento  da  política  de  atenção  básica  influencie  o modo  de  produzir  ações  de 

saúde, a utilização dos  serviços pelo usuário ocorre de  forma  semelhante  tanto em UBSs, 

completa  e  parcialmente  cobertas  pelo  PSF,  quanto  nas  UPAs,    havendo  influência  do 

modelo tradicional de atenção centrado na consulta médica e na demanda espontânea.  

De  forma  abreviada,  o  funcionamento  do  PSF  ocorre  por meio  da  implantação  de 

equipes  de  saúde  formadas  por  médico,  enfermeiro,  auxiliar  de  enfermagem  e  agente 

comunitário de saúde (ACS), que ficam responsáveis pela atenção à saúde da população (de 

2.400  a  4.000  pessoas)  adstrita  ao  território  onde  se  localiza  a  unidade  de  saúde.  Essas 

equipes podem contar com equipes de saúde bucal  (ESB), composta por odontólogo, pelo 

técnico  e  pelo  auxiliar  de  consultório  dentário,  realizam  o  diagnóstico  de  saúde  da 

população, que atende, e planeja as ações a partir dos problemas priorizados.  

A  grande  capilaridade que o PSF  atinge,  associada  aos desafios  gerados pelo  rápido 

crescimento quantitativo, descompassado da devida qualidade necessária à consecução das 

diretrizes éticas que o programa/a estratégia assume, talvez seja a maior virtude e a maior 

fragilidade dessa proposta.  

A  virtude  encontra‐se  no  fato  de  a  rápida  expansão  ter‐se  tornado  fato  político  no 

interior  do  SUS  difícil  de  ser  ignorado,  levantando  antigos  e  acalorados  debates  sobre  o 

modelo  técnico‐assistencial.  Dentre  os  temas  amplamente  discutidos,  citem‐se  a 

necessidade  de mudar  a  formação  dos  profissionais  e  a  forma  de  produzir  cuidado  em 

saúde. O PSF, entretanto, pode retroceder quando reforma ranços antigos da saúde pública 

brasileira,  embalados  pelo  conservadorismo  neoliberal,  qual  seja  a  tendência  em  se 

constituir em ação compensatória de baixo custo para grupos focalizados e marginalizados 

do acesso à qualidade nos serviços de saúde. 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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O potencial de mudança do PSF reside tanto nas diretrizes que norteiam o processo de 

trabalho  dos  profissionais  (integralidade,  resolubilidade  e  intersetorialidade  das  ações, 

trabalho  em  equipe,  vínculo  de  co‐responsabilidade  das  famílias  assistidas  e  estímulo  à 

participação  social), quanto na  reorganização de  serviços e práticas que ele pode ensejar; 

isso porque, ao delimitar o  território2 como  lócus de atuação da ESF, pautada no  trabalho 

em equipe, no cuidado integral à família e no vínculo de co‐responsabilidade, pode organizar 

os  serviços  de  saúde  a  partir  da  priorização  dos  problemas,  contribuindo  para  a 

hierarquização da demanda aos demais pontos da atenção. Dessa forma, além de fortalecer 

o vínculo entre profissionais, usuário, famílias e comunidade, se a ESF estiver  inserida num 

processo de educação permanente e contar com condições adequadas de  trabalho3, pode 

melhorar  consideravelmente  o  acesso  e  a  resolubilidade  da  assistência  à  saúde  da 

população. 

Em geral, em vez de o PSF  inserir‐se na rede  formal de serviços para reorganizá‐la, 

como preconizado,  implanta‐se de forma periférica, focalizada, pouco articulada e, ou sem 

grandes diferenças da forma tradicional de organizar as ações e os serviços básicos de saúde; 

ou  seja,  recortado  por  programas  de  saúde  pública materno‐infantil,  no  atendimento  à 

demanda espontânea, na  fragilidade das ações de vigilância/promoção da saúde, centrado 

na doença e no profissional médico. Tal equívoco, ou desvio nos princípios, que  regem a 

estratégia saúde da família, tem causas estruturais mais profundas, posto tratar‐se de uma 

mudança  paradigmática  processual,  histórica  e  tensa  em  conflitos  na  arena  política  de 

conformação do SUS4.  

Diante de tal premissa, e tendo em vista os propósitos desta  investigação, questiona‐

se como as UBSs organizam‐se, a partir da  implantação da Estratégia Saúde da Família em 

Belo Horizonte, como ocorre a articulação com a urgência/pronto‐atendimento (UPAs), e se 

têm  conseguido  ampliar  o  acesso  da  população  aos  serviços  de  saúde.  A  convivência  do 

modelo tradicional de organização, focado no atendimento à demanda espontânea, com a 

2 Território  como  reconhecimento  de  determinada  área  geográfica  e  populacional  segundo  a  lógica  das relações entre condições de vida,  saúde e acesso às ações e  serviços de  saúde  (TEIXEIRA, 2002; MONKEN e BARCELLOS, 2005). 3 As condições adequadas envolvem aspectos que vão da infraestrutura física das Unidades Básicas de Saúde, equipamentos, insumos e medicamentos em suficiência e qualidade, até a retaguarda de uma rede de serviços de referência especializada e hierarquizada que dê suporte às ações desenvolvidas na atenção básica.  4 Por oportuno, a análise das 14 experiências premiadas na II Mostra Nacional de Saúde da Família realizada em Pires (2004), além do vasto referencial nele citado, expressa os acertos e incoerências da estratégia/programa a que se refere.  

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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Estratégia  Saúde da  Família,  calcada na  vigilância  à  saúde, permeia‐se por  contradições e 

disputas. Na maioria das vezes, há dificuldades na reorganização prevista, que se  insere no 

complexo  contexto  social  e  econômico  das  políticas  públicas  (HOCHMAN  et  al.,  2007), 

principalmente em municípios de grande porte, como Belo Horizonte (BH).  

O  sistema  de  saúde  de  BH  está  conformado  em  nove  Distritos  Sanitários,  que 

correspondem  às  regiões  administrativas  da  cidade,  onde  se  distribuem  os  serviços  de 

saúde.  Na  Figura  1,  visualiza‐se  a  distribuição  das  unidades  assistenciais  do  município 

segundo o tipo e a natureza jurídica5 

 

 Figura 1 ‐  Distribuição  das  unidades  assistenciais  do 

Sistema Único de  Saúde de Belo Horizonte,   segundo  o  tipo  e  a  natureza  jurídica  2005‐2007 

Fonte:  SMSA/BH, Relatório de gestão 2007. 

5  BELO  HORIZONTE.  Secretaria  Municipal  de  Saúde.  Relatório  de  Gestão  2007.  Disponível  em: www.pbh.gov.br/saude. Acesso em: 10 jan. 2010. 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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 A implantação do PSF na capital mineira teve início em 2002, na tentativa de captar os 

profissionais da própria rede, mediante adesão voluntária estimulada por um plus salarial, e 

resultou  na  formação  de  176  equipes.  Com  a  baixa  adesão  dos  servidores,  utilizou‐se  da 

estratégia de contratação de serviços prestados. Hoje, o município conta com 508 equipes 

de saúde da família (ESF), distribuídas em 145 Unidades Básicas de Saúde, responsáveis pela 

atenção básica de aproximadamente 75% da população citadina. A  rede básica conta com 

profissionais que oferecem suporte às ações do PSF na própria UBS, como a equipe de apoio 

(188 médicos pediatras, 124 clínicos, 130 ginecologistas, 89 assistentes sociais), 65 equipes 

de saúde mental, 200 equipes de saúde bucal e 2 núcleos de reabilitação6.  

Porém, a história de construção de um sistema de saúde pautado pela priorização da 

atenção básica e pelo  fortalecimento da gestão municipal,  como ordenadora da  rede dos 

serviços  de  saúde  pública,  conveniados  e  contratados  ganhara  força  a  partir  de  1993 

(CAMPOS  et  al.,  1998).  Ações  implantadas  naquela  época,  como  o  acolhimento  para  a 

ampliação  da  oferta  de  serviços  nas  UBSs  e  a  implantação  da  central  de  regulação, 

repercutem na atual organização dos serviços. Nesse caso, há de se considerar a trajetória 

histórica das políticas públicas, ou Path dependence como pano de fundo importante para o 

entendimento  do  contexto  atual.  A  teoria  do  Path  dependence,  na  análise  das  políticas 

públicas, considera que processos sociais reais têm dimensões  temporais. O exame desses 

processos permite identificar mecanismos sociais, entendidos como os caminhos viáveis com 

que as coisas acontecem. Tem‐se, aqui, a ideia de que uma sequência de escolhas é, a cada 

momento, condicionada pela situação criada por opções anteriores (HELLER, 2007). 

No caso da construção do Sistema de Saúde de Belo Horizonte, a avaliação de como o 

serviço de atenção básica se organiza, a partir dos princípios do PSF, passa pela análise do 

contexto em que  tal estratégia se  insere. A política pública de saúde, circunstanciada pela 

arena  política  de  decisões  do  processo  de  formulação  e  implantação  das  ações,  sofre 

influência  do  passado,  da  sua  história  pregressa  e  recente.  Tais  premissas  igualmente 

nortearam a investigação que se segue.  

 

 

6 BELO HORIZONTE.  Secretaria Municipal de  Saúde. Avanços e desafios na organização da  atenção básica à saúde em Belo Horizonte: HMP Comunicação, 2008. 432 p.  

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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2 OBJETIVOS 

 

1 Analisar o desenvolvimento da política de atenção básica à saúde do SUS de Belo 

Horizonte com a implantação do PSF; 

2 Avaliar a atenção básica à saúde em Belo Horizonte quanto à articulação com as 

urgências, utilização, oferta e acessibilidade aos serviços;  

3 Analisar, em que medida,  a  implantação das  Equipes  Saúde da  Família, em Belo 

Horizonte,  contribuem para a  reorganização da atenção básica no que  se  refere à oferta, 

utilização e acessibilidade aos serviços de saúde. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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3 REFERENCIAL TEÓRICO7 

 

 

3.1 Oferta, demanda e necessidades em saúde: em busca da acessibilidade dos serviços no 

SUS 

 

De um lado, a demanda, ou seja, a quantidade de um bem ou serviço que a população 

está propensa a adquirir e, ou disposta a “pagar” por ele; do outro, o volume de bens ou 

serviços que  fornecedores e, ou prestadores estão dispostos a vender, a um dado preço e 

determinada altura, denominado oferta. Conceitos clássicos da economia, demanda e oferta 

de bens e serviços constituem importantes reflexões teóricas sobre o mercado da saúde no 

Brasil,  principalmente  no  âmbito  da  economia  da  saúde,  seja  em  nível macro  ou micro 

(PIOLA e VIANNA, 1995; SANTOS, 2002; GADELHA, 2003). É nessa perspectiva que se busca 

entender  como  esses  fatores  econômicos  se  comportam  no  setor  saúde  e  quais  as 

repercussões  para  a  consolidação  do  SUS,  em  especial  no  que  tange  ao  princípio  da 

equidade, visto como expressão da justiça no acesso à saúde, direito de cidadania. 

Os fatores que influenciam a demanda e a oferta de serviços de saúde estudados pela 

microeconomia tornam a temática interessante, haja vista as “falhas”, as ambivalências e as 

especificidades  reveladas.  Importa,  igualmente,  aprofundar  a  relação  entre  demanda  e 

necessidades de saúde, ou como a demanda da população é percebida como expressão das 

exigências  humanas mais  essenciais  para  se  ter  ou  conquistar  saúde,  considerando‐se  a 

relação  intersubjetiva que se estabelece entre profissionais e usuários, próprias do cuidado 

em  saúde  (AYRES, 2001). Parte‐se da premissa de que a  incongruência entre a oferta dos 

serviços  e  as  demandas  dos  usuários  do  SUS  funda‐se  na  ambiguidade  com  que  os 

profissionais  interpretam  as  necessidades  de  saúde  da  população,  gerando  ineficiência  e 

agravando a iniquidade no acesso a bens e serviços. 

No  escopo  das  políticas  sociais,  pressupondo‐se  o  contexto,  as  forças  sociais  e  a 

dinâmica que as conformam no capitalismo  (OFFE, 1991), cabe considerar a  relação entre 

demanda e oferta de serviços de saúde para além do enfoque econômico, embora esse lhe 

7 Esse  tópico é composto de uma  revisão conceitual sobre oferta, demanda e acessibilidade dos serviços de saúde, seguida de um artigo publicado Revista Saúde & Sociedade, Revista Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 18, n. 2, p. 189‐198, 2009. 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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seja  fundamental.  Interessa,  sobretudo,  o  cenário  em  que  os  distintos  atores,  ou  seja, 

gestores,  empresários,  profissionais  de  saúde  ou  usuários,  relacionam‐se  para  produzir  e 

consumir  serviços  de  saúde,  o  qual  reflete‐se  sobre  as  condições  desiguais  em  que  tais 

relações  ocorrem.  Nessa  perspectiva,  a  concepção  de  oferta  insere‐se  e  expressa‐se  na 

produção  das  ações  de  saúde  no  âmbito  da  política  pública,  por  meio  da  articulação 

contextual entre  rede  física e uso adequado de equipamentos, profissionais e  tecnologias 

para atender às demandas da população. Significa dizer que o sentido de oferta de serviços, 

para a saúde,  imbrica‐se nos determinantes do modelo de atenção (PAIM, 2007; CAMPOS, 

2006), transcendendo o enfoque das trocas de mercado inerentes ao ambiente econômico. 

Por demanda dos usuários ao SUS, entende‐se a procura por determinados tipos de serviços 

e, ou profissionais para resolverem seus problemas de saúde. A dissonância entre as razões 

que  levam as pessoas a buscarem os serviços de saúde e a capacidade de os profissionais 

escutá‐las,  adequadamente,  respondendo  de  maneira  satisfatória  a  ambos,  ou  o  mais 

próximo possível disso, constitui aspecto central para a gestão dos sistemas de saúde. 

Ainda sobre o consumo de serviços de saúde, sob a ótica dos clássicos determinantes 

econômicos  de  demanda  e  oferta,  muitos  estudos  apontam  as  peculiaridades  do  setor 

(PIOLA  e VIANNA,  1996;  CASTRO,  2002). Arrow  (1963,  citado  por  Iunes,  1995),  elenca  as 

principais características desse tipo de relação de consumo:  

a) do ponto de vista da pessoa, a demanda por serviços de saúde é irregular, tendo em 

vista a imprevisibilidade da doença;  

b)  a demanda por  atenção  à  saúde ocorre numa  circunstância de  vulnerabilidade,  a 

doença, que compromete a racionalidade do consumidor;  

c)  experiências  anteriores  não  são  aprendizados  para  futuras  relações,  pois 

procedimentos bem sucedidos podem não ocorrer da mesma maneira;  

d)  a  relação  de  confiança  médico‐paciente  é  determinante  no  comportamento  de 

consumo  e  nem  sempre  ocorre  sob  os  princípios  adequados  da  clínica,  da  ética  e  da 

racionalidade sistêmica;  

e)  a  ética médica  condena  a  propaganda  e  a  competição;  tais  restrições  limitam  o 

volume de informações, inclusive de preços, para o consumidor tomar decisões;  

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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f) a entrada de novos profissionais e, portanto, a oferta de serviços é extremamente 

regulada pela corporação médica, em especial no que se refere aos outros profissionais de 

saúde8;  

g) o mercado de atenção médica é caracterizado pela discriminação de preços para um 

mesmo tipo de serviço; 

h) a relação médico e paciente é assimétrica, sob o ponto de vista de conhecimento, o 

que reduz as chances de escolha do consumidor. 

Vê‐se que, pelas especificidades e profunda subjetividade do setor saúde, ele não pode 

ser tomado como um “mercado autêntico”, uma vez que as premissas básicas para que as 

leis da oferta e da procura operem  livremente, em busca de um possível “equilíbrio”, não 

existem: ou seja, a condição de liberdade de escolha das pessoas que procuram serviços de 

saúde, em especial nas situações agudas de enfermidade, é restrita e vulnerável. São falhos 

os determinantes clássicos da demanda para o caso da  saúde. Os usuários, em geral, não 

detêm informações suficientes para escolha racional dos bens e serviços, não são tidos como 

os melhores “juízes” do seu próprio bem‐estar e nem capazes de planejar sua demanda e 

consumo, principalmente no contexto do modelo biomédico de atenção à saúde. No geral, 

observa‐se que diversos elementos comprometem a desejada perfeição do mercado para o 

setor  saúde. Essas “falhas”, que  justificariam a atuação do Estado na  regulação e garantia 

dos direitos do cidadão, podem ser sintetizadas em:  

a) assimetria de informações;  

b) imprevisibilidade dos eventos de doença;  

c)  caráter das externalidades  inerente aos bens públicos, ou  seja, a  capacidade de a 

utilização individual promover benefícios para além daqueles gozados pelo consumidor9;  

d) ocorrência de riscos e incertezas, que prejudicam a população mais idosa e, ou mais 

exposta aos fatores condicionantes do processo saúde‐doença;  

8 Cita‐se o caso da luta pela aprovação do “ato médico”, que inibe o exercício das demais profissões de saúde, ao tomar privativamente para o médico, habilidades, que são comuns a outras profissões, desde a semiologia e a clínica até as ações de promoção da saúde, por exemplo. Ver: http://www.atomediconao.com.br/. 9 Um exemplo usual é a campanha de vacinação da poliomielite. A  imunização de uma parcela da população promove o bem‐estar coletivo por meio da “competição” entre os vírus selvagens, causadores da doença, e os atenuados, expelidos pelas fezes das pessoas vacinadas, com vantagens para a saúde de todos. 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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e)  risco moral, comum  tanto nos seguros privados, como nos públicos de saúde, por 

meio do qual o usuário tenderia a consumir mais do que o necessário porque seu gasto não 

aumentaria com esse comportamento;  

f) existência de barreiras, tanto do lado da oferta – regulação do exercício profissional 

pelas categorias –, como da demanda – dificuldades no acesso dos usuários às consultas e 

procedimentos (CASTRO, 2002; SANTOS, 2001). 

Outro  ponto  a  se  analisar  é  a  relação  entre  demanda,  necessidade  e  utilização  dos 

serviços de saúde. No escopo da economia da saúde, a demanda é vista como liberdade de 

escolha do consumidor, segundo suas preferências. Tal concepção opõe‐se ao conceito de 

necessidade, em geral definida como quantidade de serviços que, na opinião médica, deve 

ser consumida num determinado tempo para que as pessoas possam permanecer saudáveis 

(IUNES,  2002). Assim,  entre  o  desejo  do  usuário  em  ter  acesso  ao  bem  ou  serviço  e  sua 

utilização efetiva, existe um profissional que determina o quê, a quantidade, quando e as 

condições  em  que  tal  consumo  ocorrerá.  Para  além  da  crítica  a  alguns  enfoques  sobre 

necessidades de saúde da população10, em geral considerada a expensas do usuário como 

protagonista, importa especificar os meandros e repercussões da procura e do consumo dos 

serviços de saúde para a gestão do SUS. Observa‐se que a atuação de um agente externo, o 

médico, intermedeia a relação entre os pagadores – população, planos de saúde ou Estado – 

e os prestadores de serviços – ofertantes de consultas, procedimentos e exames. 

A figura do expert, médico, que define o que é bom para a saúde da pessoa, da família, 

da sociedade e do sistema de saúde, está calcada em pressupostos “falhos” e insustentáveis 

para o setor, quais sejam:  

a) as decisões e encaminhamentos médicos são  tecnicamente corretos,  impessoais e 

dissociados dos interesses pessoais;  

b) o médico tem perfeito conhecimento das reais condições de saúde da população;  

c) existe um padrão bem definido, entre os profissionais, do que seja “boa saúde”;  

d)  existe  perfeito  conhecimento  sobre  todas  as  possibilidades  de  intervenção  e 

hierarquização  dos  procedimentos,  em  especial  nos  aspectos  de  “custo‐efetividade” 

(SANTOS, 2001).  

10 A discussão sobre necessidades de saúde é realizada adiante, neste mesmo tópico. 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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Para  Castro  (2002),  esse  profissional,  agente  econômico  privilegiado,  tem  papel 

estratégico  no  mercado  em  saúde,  com  poder  de  induzir  tanto  a  demanda  –  por 

procedimentos, consultas, exames, consumo de medicamentos, outros – como a oferta, no 

papel de prestador de serviços. 

No  que  concerne  à  organização  dos  serviços  ambulatoriais,  especializados  e  de 

internações  para  atender  às  demandas  de  saúde  da  população,  observa‐se  no  Brasil  um 

complexo  médico‐hospitalar  expressivo,  por  vezes  acima  dos  parâmetros  de  oferta 

recomendados  por  organismos  nacionais  e  internacionais,  embora  marcado  por 

desigualdade regional. Tal conformação, que inclui a predominância numérica dos hospitais 

filantrópicos  e  privados  sobre  os  públicos,  é  fruto  do  “milagre”  econômico  da  década  de 

1970,  quando  o  governo  investiu  massivamente  na  construção  de  complexos  médico‐

hospitalares  eminentemente  privados,  subsidiada,  em  sua maioria,  por  recursos  públicos 

(MENDES, 1993; COHN e ELIAS, 2003). Essa herança, bem como a compra, pelo Estado, de 

boa  parte  dos  procedimentos  produzidos  pelo  setor  privado,  em  especial  os mais  caros, 

tornam  as  relações  entre  o  segmento  público  e  o  privado  imbricado,  profundamente 

influenciado pelos interesses de mercado (SANTOS e GERSCHMAN, 2004). Em consequência, 

pode‐se dizer que a demanda de serviços de saúde do SUS é extremamente  induzida pela 

oferta,  ocasionando  iniquidades  regionais, má  alocação  de  recursos,  pouca  racionalidade 

sistêmica  e  desigualdade  no  acesso  (CASTRO  et  al.,  2005).  Ou  seja,  a  organização 

indiscriminada  de  recursos,  de  profissionais,  de  equipamentos  e  de  serviços  para 

atendimento  aos  problemas  de  saúde  da  população,  oferta,  influencia  as  demandas  da 

população, que passa a desejar exames, consultas e procedimentos, independentemente da 

real necessidade sentida e, ou recomendada tecnicamente. 

Como  exemplo  da  falta  de  planejamento  na  alocação,  distribuição  e  adequação  da 

oferta  de  serviços  no  país,  e  considerando‐se  o  parâmetro  recomendado  por  organismos 

nacionais e internacionais de 2 a 3 leitos por 1000 habitantes, observa‐se que a maioria das 

Unidades Federadas cumpre esse  requisito, com exceção da  região norte  (BRASIL, 2004a). 

Tendo  em  vista  que  as  desigualdades  em  saúde  inserem‐se  no  contexto  das  iniquidades 

sociais,  refletindo‐as, predominantemente,  vê‐se  coerência  com  as  assimetrias estruturais 

das políticas públicas no país (TRAVASSOS, 1997). Sobre esse tema, destaque‐se um estudo 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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recente  da Universidade  de  São  Paulo  (USP)  divulgado  pelo  jornal  Folha  de  São  Paulo11, 

ainda não publicado nos meios científicos, que afere a densidade da oferta de equipamentos 

médicos por população, a partir de parâmetros internacionais.  

Os resultados parciais, apresentados nesse artigo, confirmam a extrema desigualdade 

na  distribuição  dos  serviços  de  saúde.  Na  relação  entre  o  número  de  equipamentos 

existentes nas unidades de  saúde por população, dos 50 primeiros municípios  listados no 

estudo, 22  têm menos de 5.000 habitantes e 27 até 10.000, havendo apenas uma  capital 

nesse ranking.  

Outro  dado  alarmante  é  a  quantidade  de  aparelhos  de  ressonância magnética  e  de 

tomografia,  recursos e procedimentos mais caros do SUS, que excede a  recomendação da 

Organização  para  a  Cooperação  e  o  Desenvolvimento  Econômico  (OCDE).  Na  referida 

pesquisa,  89  cidades  têm  uma  densidade  de  aparelhos  de  ressonância  magnética  e 

tomografia superior a 100 para cada milhão de pessoas, enquanto o índice da OCDE é de 7,7 

e 17,5, respectivamente. 

A concentração de recursos médico‐hospitalares em algumas regiões do país contrasta 

com  a  incipiente  oferta  de  serviços  em  municípios  menos  desenvolvidos,  e  retrata  as 

desigualdades no acesso ao SUS. Por outro  lado, evidencia a  indução que a oferta produz 

sobre a demanda, em especial nas regiões mais ricas do país, cuja pressão do mercado e das 

corporações profissionais influencia a venda indiscriminada de bens e serviços para o poder 

público.  Essa  situação  acentua  a  ineficiência  do  gasto  público  em  saúde,  um  dos  sérios 

problemas que o SUS tem de enfrentar, conforme constatado em recente estudo do Banco 

Mundial (BIRD, 2007)12. 

Do exposto, cabe adentrar no consenso sobre as possíveis saídas aos  impasses para a 

organização do SUS. Uma delas consiste na difícil tarefa de reorganizar os serviços, a partir 

das  necessidades  de  saúde  da  população.  A  partir  dessa  premissa,  questiona‐se:  de  que 

necessidade se fala? Do usuário, do profissional de saúde ou do gestor? Como os serviços de 

saúde escutam as expressões do processo  saúde‐doença das pessoas? De que  formas  são 

interpretadas,  encaminhadas  e,  ou  atendidas  as  demandas  trazidas  pelas  pessoas  que 

11 MAGALHÃES, João Carlos; REIS, Thiago. Má distribuição faz pequena cidade ter mais equipamentos. Folha de São Paulo, São Paulo, 02 set. 2007. Cotidiano, p. 1‐2. 12 A  despeito  do  enfoque  restritivo  para  as  políticas  sociais  orientadas  pelo  Banco Mundial,  em  respeito  à preponderância do mercado neoliberal globalizado, refira‐se à existência de  técnicos e estudos consistentes, independentemente, da vinculação ideológica da instituição à qual pertencem.

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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procuram  os  serviços  de  saúde?  Será  que  o  exercício  da  democracia,  tão  duramente 

conquistada na conformação do SUS, foi incorporado às práticas de saúde? Embora fuja aos 

objetivos  deste  estudo  aprofundar  todas  essas  questões,  cabe  uma  reflexão  sobre  as 

necessidades em saúde e as repercussões para um acesso mais equitativo ao SUS. 

Das  várias  possibilidades  de  discussão  sobre  necessidades  em  saúde,  seja  pelo  viés 

econômico,  epidemiológico,  social  ou  da  saúde  coletiva,  ambas  as  tendências  concordam 

quanto  à  dificuldade  de  conceituá‐la.  Fala‐se  muito  mais  dos  enfoques,  dimensões, 

influências  e  recortes,  do  que  propriamente  de  definições  rígidas.  Uma  boa maneira  de 

começar, talvez seja pelos dicionários da área. No glossário da economia da saúde (PIOLA e 

VIANNA,  1996),  o  termo  necessidade  aparece  como  “noção  instrumental”,  utilizado  no 

sentido de a pessoa precisar consumir cuidados de saúde. Distinguem‐se as “necessidades 

sentidas”, aquelas singularizadas pelos sujeitos, as “necessidades expressas”, apresentadas 

pela população aos serviços de saúde, e as “necessidades normativas”,  identificadas pelos 

profissionais de saúde. O dicionário de economia, na mesma  linha, classifica o termo como 

“exigência  individual  ou  social  que  deve  ser  satisfeita  por meio  do  consumo  de  bens  e 

serviços” (SANDRONI, 2005: 588). A obra distingue a origem das necessidades como natural 

ou  social. A primeira  relaciona‐se à  reprodução biológica  (fisiológicas, alimentação,  sono), 

enquanto a segunda refere‐se à organização da sociedade, como educação, emprego, saúde 

e outros.  

Sobre a satisfação das necessidades, Sandroni (2005) a contextualiza na forma como a 

riqueza é gerada, reproduz‐se e se distribui entre a população, tendo em vista a escassez de 

bens e serviços para o atendimento de todos. Além da dicotomia entre o natural e o social, 

difícil  de  sustentar  em  realidades  complexas  (MORIN,  2002),  predomina  nos  enfoques 

econômicos  o  sentido  do  consumo,  que,  apenas  em  parte,  explica  e  subsidia  a 

operacionalização das políticas de saúde, tendo em vista os princípios do SUS. 

No  campo  social,  o  atendimento  das  necessidades  torna‐se  objeto  das  políticas 

públicas,  entendendo‐as  no  escopo  da  correlação  de  forças  estabelecidas  na  esfera 

econômica  de  produção,  que  são  vistas  como  “exigências  humanas  essenciais,  requisitos 

indispensáveis à subsistência” (OUTHWAITE e BOTTOMORE, 1996).  

Segundo Marx e Engels (1993), o conceito se inscreve nas relações de produção, sendo 

produto e condição para tal. Algo que precisa ser satisfeito para que a vida continue. É ao 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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mesmo tempo resultado e substrato das relações produtivas, viabilizadas pelo trabalho13. Na 

acepção marxista,  o  ser  humano  trabalha  para  satisfazer  suas  necessidades  básicas  e  as 

reinventa  a  partir  do  trabalho,  aperfeiçoando‐as.  O  modo  de  produção  capitalista 

desvirtuaria  a  essência  genérica  humana  ao  subsumir  o  trabalho  em  favor  do  capital, 

descaracterizando o sentido ético da ação e da dignidade humana. 

Vertentes mais críticas do marxismo atualizam essa visão, marcada por determinismo 

ortodoxo econômico. A Escola de Frankfurt, por exemplo, recupera a subjetividade perdida 

nas  relações  sociais  do  trabalho.  Seus  representantes  advogam  a  influência  que  o 

capitalismo exerce, por meio da cultura da mídia, na  indução de necessidades de consumo 

das pessoas, requisito central para que o capitalismo sobreviva (OUTHWAITE e BOTTOMORE, 

1996; THOMPSON, 1995). Em vista das  transformações atuais do  capitalismo, que precisa 

cada vez mais do  trabalho  imaterial,  subjetivo, calcado no conhecimento humano para  se 

reproduzir, a visão marxista de necessidades, apesar de relevante e válida, por centrar‐se no 

processo  de  trabalho,  é  contemporizada  por  correntes  neomarxistas  (HOLLOWAY,  2003; 

HARDT e NEGRI, 2002; GORZ, 2005; LAZZARATO e NEGRI, 2001). 

Ainda no escopo das políticas sociais, Pereira (2007) realiza pertinente revisão sobre o 

conceito  de  necessidades  humanas.  Em  busca  de  um  elenco  básico  de  demandas  a  ser 

satisfeito pelas políticas sociais – que não se confunda com o mínimo da agenda neoliberal –, 

a autora lista algumas abordagens sobre o assunto. Assim, influenciariam o conceito:  

a) a ortodoxia econômica do bem‐estar, que confunde necessidades com preferências, 

e cidadãos com consumidores, remontando‐se ao liberalismo clássico;  

b) a “nova direita” que, a exemplo da ortodoxia econômica, equipara a satisfação das 

necessidades com o funcionamento seletivo do mercado;  

c) as críticas do  imperialismo cultural, para as quais as necessidades variam de grupo 

para grupo, e a universalização podem  incorrer em  relação de domínio  sobre as minorias 

sociais;  

d) a visão marxista, fundada na concepção de necessidades como fenômeno histórico;  

13 Cf. Marx  (MARX,  ENGELS,  1993:  3):  “A  forma  como  os  indivíduos manifestam  a  sua  vida  reflete muito exatamente aquilo que são, o que são coincide, portanto com a sua produção,  isto é,  tanto com aquilo que produzem  como  com  a  forma  com  que  o  produzem.  Aquilo  que  os  indivíduos  são  depende  portanto  das condições materiais da sua produção. Esta produção só aparece com o aumento da população e pressupõe a existência de relações entre os indivíduos.”  

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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e) os democratas  radicais, para os quais os grupos  têm o direito de  lutar pelos  seus 

interesses, mas sem desrespeitar as regras e a cultura que os unem aos demais membros da 

sociedade; 

f)  os  fenomenologistas,  para  os  quais  as  necessidades  são  fenômenos  socialmente 

construídos, essencialmente subjetivos.  

A autora critica os limites de todas as vertentes e chama a atenção para o excesso de 

subjetividade  e  relativismo  de  algumas  para  a  operacionalização  das  políticas,  como  o 

culturalismo e a fenomenologia, apesar de reconhecer‐lhes a pertinência dos argumentos. 

À  guisa  de  uma  abordagem  das  necessidades  humanas,  que  transcenda  tanto  o 

determinismo econômico, quanto o  subjetivismo pouco operável para  as políticas  sociais, 

Pereira (2007) encontra em Doyal e Gough (1991) uma saída interessante. Esses dois autores 

procuram uma universalidade possível para as necessidades humanas, defendem que todos 

os  seres humanos,  em  todos os  tempos,  lugares  e  culturas,  teriam  “necessidades básicas 

comuns”,  e  as  distinguem,  ainda,  das  necessidades  não  básicas,  ou  intermediárias,  e  de 

aspirações, desejos ou preferências.  

 A implicação particular das necessidades básicas comuns seria “a ocorrência de sérios 

prejuízos  à  vida  material  dos  homens  e  à  atuação  deles  como  sujeitos  (informados  e 

críticos),  caso  essas  necessidades  não  sejam  adequadamente  satisfeitas”  (PEREIRA,  2007: 

68).  Doyal  e  Gough  acreditam  que  tais  exigências  comuns  aos  seres  humanos  seriam 

objetivas e universais, delimitam a “saúde física” e a “autonomia” como pré‐condições para 

se  alcançarem  os  objetivos  da  participação  social.  Não  sendo  um  fim  em  si mesmo,  os 

princípios‐chave  que  alimentariam  tais  necessidades  seriam  a  participação  e  a  libertação. 

Doyal  e  Gough  distinguem  a  autonomia  básica  ou  “de  agência”  como  aquela  em  que  o 

sujeito é capaz de eleger objetivos e crenças, valorá‐los,  responsabilizar‐se por decisões e 

atos. Para  tanto, as pessoas  teriam de dispor de um grau de  compreensão de  si mesmas 

(saúde  mental),  de  capacidade  psicológica  para  formular  opções  para  si  próprias  e  de 

oportunidades objetivas que  lhes permitiriam agir. A autonomia  crítica – um estágio mais 

avançado – é descrita como “a capacidade das pessoas de não apenas saber eleger e avaliar 

informações com vistas à ação, mas de criticar e, se necessário, mudar as regras e práticas 

da cultura a que pertencem” (PEREIRA, 2007: 74). 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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O alcance desse nível de satisfação das necessidades estaria  relacionado à existência 

de  alguns  “satisfatores”  ou  necessidades  intermediárias,  segundo  Doyal  e  Gough,  que 

seriam:  

a) alimentos adequados e água potável;  

b) habitação adequada;  

c) ambiente de trabalho sem riscos;  

d) meio físico sem riscos;  

e) cuidados de saúde apropriados;  

f) proteção à infância;  

g) relações primárias significativas;  

h) segurança física;  

g) segurança econômica;  

h) educação básica;  

i) planejamento familiar, gravidez e parto seguros.  

A garantia de liberdade dos direitos civis, políticos e de acesso aos “satisfatores”, bem 

como de participação política,  seriam pré‐condições para viabilização das políticas  sociais. 

Observa‐se que grande parte dos requisitos para a garantia da autonomia como requisito da 

necessidade,  seja  ela  de  agência  ou  crítica,  relaciona‐se  ao  conceito  ampliado  de  saúde 

traçado na Constituição Federal de 1988, sobre o qual se inscreve o SUS. O direito à saúde, 

numa visão  intersetorial, e  inserida num determinado contexto sociohistórico, constitui um 

dos  alicerces  da  cidadania  ativa,  que  por  sua  vez,  depende  de  condições  estruturais  do 

desenvolvimento humano das nações para se efetivar. 

Assim  sendo,  cabe  ponderar  a  pluralidade  que  o  tema  inspira,  em  especial  para  o 

campo  da  saúde,  cujos  aspectos  culturais,  sociohistóricos  e  subjetivos  precisam  ser 

considerados  na  satisfação  das  necessidades  de  saúde  trazidas  pelos  usuários.  Sobre  o 

assunto,  Campos  e  Bataeiro  (2007),  apesar  do  viés  marxista  pouco  arejado,  realizam 

interessante  análise  sobre  as  concepções  de  necessidades  de  saúde  que  aparecem  em 

publicações de periódicos da área.  

Campos e Bataeiro questionam se as necessidades são apreendidas pelos serviços de 

saúde e qual o conceito é utilizado com maior frequência. Dos 73 resumos encontrados em 

bases científicas digitais, essas autoras delimitam três categorias empíricas sobre o tema:  

a) oferta e demanda de ações nos serviços de saúde;  

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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b) administração e planejamento de serviços de saúde;  

c) necessidades de saúde.  

Os  resultados  indicam  que  os  serviços,  em  geral,  lidam  com  as  necessidades  das 

pessoas sob a ótica restrita da doença, com pouca preocupação com abordagens processuais 

de  saúde‐doença.  Além  disso,  os  resumos  apresentam  visões,  predominantemente, 

instrumentais da  racionalidade econômica,  inscritas no paradigma hegemônico do modelo 

biomédico, calcado no consumo de consultas.  

Tal  cenário,  além  de  perpetuar  práticas  pouco  dialógicas,  que  desconsideram  as 

necessidades  dos  usuários  na  produção  das  ações  de  saúde,  incorre  na  perpetuação  do 

modelo de atenção centrado no hospital, no médico e na doença, bem como na dificuldade 

em realizar‐se acesso efetivo, gerando ineficiência equitativa do sistema de saúde. 

Urge  no  setor  saúde,  seja  no  âmbito  das  práticas  ou  da  organização  dos  serviços, 

repensar a  forma com que as necessidades  são consideradas pelos profissionais,  técnicos, 

gestores e demais atores que conformam as políticas de saúde. Há de se transcender a visão 

medicalizante, autoritária e prescritiva com que as demandas dos usuários são respondidas 

pelos serviços. No âmbito das práticas, o resgate da autonomia e da participação crítica dos 

sujeitos, sejam  individuais ou coletivos, no processo de  restabelecimento ou promoção da 

saúde, precisa tornar‐se  imperativo ético. Para tanto, há de se aperfeiçoar tecnologias que 

instrumentalizem  os  profissionais  para  abordagens mais  democráticas  dos  problemas  de 

saúde da população (CUNHA, 2005). 

Por outro  lado, a micropolítica do trabalho em saúde,  ‘vivo em ato’  (MERHY, 2002b), 

repercute  na  forma  com  que  os  serviços  se  organizam  para  atender  às  demandas  da 

população – expressão ou não de  suas necessidades. Essa escuta ampliada das demandas 

por serviços de saúde, que pode  identificar os motivos e as  racionalidades que movem os 

usuários no sistema de saúde, precisa  igualmente de novos olhares e  formas de gestão. O 

confronto que se estabelece entre a cegueira dos serviços frente à voz, nem sempre clara, 

dos  cidadãos que os procuram,  redunda em dificuldade de acesso efetivo, na perspectiva 

revisada por Travassos e Martins  (2004), para os quais a utilização seria uma dimensão do 

acesso, caracterizada pelo consumo do serviço de saúde ofertado.  

A perspectiva ampla do  termo acesso, por  seu  turno,  contempla  fatores explicativos 

contextuais,  tais  como  as  necessidades  e  a  qualidade  do  cuidado,  foca‐se  no  domínio  da 

efetividade das ações e na satisfação dos usuários. A acessibilidade dos serviços de saúde, ou 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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a adequação da  forma de organização dos profissionais e das  tecnologias às necessidades 

dos usuários, passa pela inversão da lógica com que os mesmos se organizam.  

Em  vez  de  se  criarem  demandas,  a  partir  da  oferta  indiscriminada  e  desigual  de 

serviços,  esses  é  que  precisam  estruturar‐se  a  partir  das  exigências  e  dos  problemas  de 

saúde dos cidadãos. Nisso reside uma mudança de termos e sentidos no acesso ao SUS, para 

que  o  paciente  deixe  de  esperar,  passivamente,  pelo  que  lhe  é  de  direito,  e  assuma  a 

perspectiva  crítica  de  protagonizar  a  conquista  de  sua  saúde  e  da  comunidade  a  que 

pertence. Trata‐se de ampliar o conceito de equidade, e a pluralidade que ele assume no 

âmbito  do  SUS,  ou  seja,  tratamento  igual  para  necessidades  iguais,  igualdade  de 

oportunidade na utilização de serviços, uso igualitário e a partir das necessidades humanas, 

ou na saúde como bem público para todos (PORTO, 1996; TRAVASSOS, 1997).  

Pelo  tamanho  dos  desafios  que  a  gestão  do  sistema  de  saúde  brasileiro  tem  de 

enfrentar,  tal  premissa  traduz‐se  na  redução  das  desigualdades  na  alocação  de  recursos 

financeiros entre as regiões e na redistribuição mais equitativa dos serviços. Pressupõe‐se, 

ainda,  a  garantia  da  universalidade  e  da  democracia  no  acesso,  bem  como  uma melhor 

adequação da oferta às necessidades da população,  sobretudo  aquelas de  autonomia, de 

crítica e de participação. 

 

3.2 Para além da atenção básica: reorganização do SUS por meio da interseção do político 

e do econômico14 

 

A  organização  da  assistência  à  saúde  no  SUS,  por  meio  da  rede  de  serviços  de 

atenção  básica  (AB),  de  média  (MC)  e  de  alta  complexidade  (AC),  é  realizada  pela 

centralidade  dos  procedimentos  médico‐hospitalares  sobre  a  promoção  da  saúde, 

preponderantemente.  Tal  característica  é  fruto  de  um modelo  de  atenção marcado  pela 

hegemonia dos  interesses da corporação médica, das  indústrias e dos serviços privados de 

saúde. A tendência manifesta‐se na compra indiscriminada de serviços do setor privado pelo 

público e na baixa qualidade da atenção básica do SUS, o que contribui para a ampliação do 

uso de planos privados pela classe média.  

14 GÖTTEMS,  L. B. D.;  PIRES, M. R. G. M.  Para  além da  atenção básica:  reorganização do  SUS por meio da intercessão do político com o econômico. Revista Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 18, n. 2, p. 189‐198, 2009. (Texto adaptado com revisões).  

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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Estudo oportuno sobre a oferta de serviços no Brasil (SANTOS e GERSCHMAN, 2004), 

com foco nos arranjos institucionais, credores, pagadores e provedores, argumenta sobre a 

segmentação de clientelas, segundo as lógicas de mercado, e acrescenta, ainda, que o poder 

de compra dos consumidores prepondera sobre os princípios do SUS, com diferenciações na 

qualidade e no tipo de serviço disponível. 

No que se refere à concepção de atenção básica, recente portaria ministerial (BRASIL, 

2006) ratifica a visão clássica da atenção primária à saúde (APS) enquanto primeiro nível de 

atenção, estratégia e  filosofia para organizar os  serviços de  saúde  (STARFIELD, 2002), e é 

descrita como  

 

[...] um conjunto de ações de  saúde, no âmbito  individual e coletivo, que abrange  a  promoção  e  a  proteção  da  saúde,  a  prevenção  de  agravos,  o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde (BRASIL, 2006: 1).  

 

Acrescente‐se o caráter democrático e integrado das ações, bem como os princípios 

que norteiam a organização dos serviços pela Estratégia Saúde da Família, como o trabalho 

em equipe, a  territorialização, a co‐responsabilidade  sanitária, o  foco nas necessidades da 

população, e a Unidade Básica de Saúde (UBS) como contato preferencial dos usuários com 

o sistema de saúde.  

Observam‐se dualidades na política oficial, uma  vez que  a  concepção  ampliada do 

conceito  de  saúde  choca‐se  com  a  delimitação  programática  das  ações,  inicialmente, 

proposta pela Norma Operacional de Assistência  a  Saúde 01/02  (NOAS)  (BRASIL, 2002),  e 

reeditadas no referido documento. Na conjuntura política e econômica em que a proposta 

de implantação do SUS se insere, convém considerar a atenção básica de forma ambígua. Ou 

seja,  ora  como  um  conjunto  de  ações  que  pode  viabilizar  mudanças  a  partir  dos  seus 

princípios, e em diálogo com os demais níveis, como advoga o discurso da Estratégia Saúde 

da Família (ESF), ora como programas de saúde pública, exequíveis por meio de atividades, 

atribuições e normas bem definidas.  

A média e a alta complexidade inserem‐se num cenário permeado por disputas mais 

acirradas  entre  o  público  e  o  privado.  Numa  primeira  conceituação,  a  MC  pode  ser 

entendida  como  um  conjunto  de  ações  ambulatoriais  e  hospitalares  caracterizadas  pela 

especialização  médica,  procedimentos  diagnósticos  e  terapêuticos,  adensamento 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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tecnológico e oferta baseada na economia de escala. A economia de escala, no setor saúde, 

se expressa na redução dos custos da produção, à medida que o volume, ou a demanda por 

ações de  saúde aumenta  (PIOLA e VIANA, 1995). Pauta‐se, nessa  lógica, a organização do 

SUS  por  níveis  de  complexidade,  em  que  os  serviços  de  atenção  básica  tendem  a  ser 

dispersos e próximos da população. Os de média e alta  complexidade  são  regionalizados, 

localizados  em  emergências,  ambulatórios  de  especialidades  e  internações  hospitalares, 

visando  à  concentração  do  volume  para  redução  de  custos.  Alie‐se  a  isso  o  princípio  da 

equidade  no  acesso,  em  que  a  primazia  do  direito  à  saúde  se  sobrepõe  à  eficiência 

econômica (TRAVASSOS, 1997). A alta complexidade é expressa como  

 

[...] um conjunto de procedimentos que, no contexto do SUS, envolve alta  tecnologia e  custo, objetivando propiciar à população acesso a serviços  qualificados,  integrando‐o  aos  demais  níveis  de  atenção (atenção básica e de média complexidade) (BRASIL, 2007a:18). 

 

Percebe‐se  que  esse  conceito  define‐se,  igualmente,  pelo  fator  econômico, 

pautando‐se na regulação para aperfeiçoar a escassez da oferta.  

As ações básicas de  saúde públicas, de menor custo e consumidas eminentemente 

pela população pobre,  com baixo poder de  vocalização e mobilização política,  interferem 

muito  pouco  na  relação  entre mercado  e  trabalho,  inerente  à  conformação  das  políticas 

sociais (BEHRING, 1988; LAURELL, 2002). Por outro lado, a média e a alta complexidades têm 

interface direta com o financiamento e a manutenção do setor privado de serviços. O setor 

público  financia  parte  das  ações mais  caras  ofertadas  pela  rede  de  prestadores  –  a  alta 

complexidade  –  mantendo  uma  situação  rentável  para  os  hospitais  privados,  que 

corresponde  a  61,8%  dos  estabelecimentos  de  saúde  e mais  de  60%  dos  leitos  do  Brasil 

(BRASIL, 2004).  

Em  linhas  gerais,  o  SUS,  forjado  no  seio  do modo  liberal‐privatista  de  organizar  a 

provisão de cuidados à saúde (CAMPOS, 2007), continua comprando os procedimentos mais 

caros  ofertados  pela  rede  privada.  Além  disso,  mantém  baixa  a  concorrência  entre  os 

serviços públicos e os privados de AB e MC, possui clientela três vezes maior e com pouco 

poder  de  pressão.  Para  atender  a  esses  usuários  conta  com  uma  oferta  própria, 

comparativamente menor,  uma  vez  que  apenas  42,6%  dos  estabelecimentos  de  saúde  e 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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39,3% dos leitos são públicos, e regula precariamente os prestadores de serviços (MATOS e 

POMPEU, 2003). 

 

3.2.1 Intercessão do político e do econômico para reorganização do SUS 

 

Nos últimos  anos,  em  especial  a partir da década de noventa  com  a  expansão do 

Programa Saúde da Família (PSF), discute‐se que a mudança do modelo de atenção poderia 

ser feita a partir da atenção básica. Por modelo de atenção, entende‐se a forma com que a 

assistência à saúde é produzida e se estrutura nos serviços para atender às necessidades da 

população.  Concebe‐se  pela  articulação  entre  sujeitos  (gestores,  profissionais  de  saúde  e 

usuários); tecnologias (conhecimentos aplicados) e recursos físicos (insumos, equipamentos, 

infraestrutura)  utilizados  no  processo  de  trabalho  para  intervir  nos  problemas  de  saúde 

individuais  e  coletivos,  contextualizados  sociohistoricamente,  e  diz  respeito  ao modo  de 

organizar as ações e os serviços de saúde, expressando‐se no cotidiano das regras, normas e 

condicionantes  macroeconômicos  que  conformam  as  políticas  de  saúde.  O  foco  na 

autonomia  dos  sujeitos,  na  interdisciplinaridade  e  nas  potencialidades  partilhadas  dos 

recursos  locais,  ampliando  a  noção  de  “clínica”  para  além  do  biológico,  definiria  a  nova 

forma de agir em pauta, diferente da  tradicional, em que a doença e a  fragmentação dos 

processos  de  trabalho  predominam  sobre  as  necessidades  dos  usuários  (CUNHA,  2005; 

PAIM, 2006).  

O potencial da mudança, que a atenção básica enseja, pelo menor aprisionamento 

das práticas, pela  formação de vínculos com as  famílias, pela capilaridade e pelo poder de 

mobilização das redes sociais (PIRES, 2004), parece não ser suficiente para mudar a lógica de 

produção  das  ações  em  saúde,  considerando‐se  as  disputas  entre  capital  e  trabalho 

mediadas pelo Estado na conformação das políticas sociais  (OFFE, 1991). A atenção básica 

precisaria de maior articulação entre as dimensões política e econômica da política de saúde 

para  a  reestruturação  dos  serviços  no  SUS.  Para  análise  dessa  premissa,  verificam‐se  os 

principais  argumentos  usados  para  discutir  a  reorganização  dos modelos  assistenciais,  a 

partir da APS.  

Desde  a  conferência  de Alma Ata,  em  1978,  que  estabeleceu  o  lema  “saúde  para 

todos  no  ano  2000”,  a  utopia  de  transformação  de  sistemas  de  saúde,  a  partir  das 

concepções  e  práticas  ampliadas  da  APS,  inspirou movimentos  de  reforma  sanitária  em 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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diversos países, inclusive no Brasil. Há consenso de que Alma Ata influenciou, na década de 

80,  reformas  tanto  em  países  de  baixa  renda,  preponderantemente,  como  nos 

industrializados – em menor escala, devido a melhores  condições de  saúde da população 

(GREEN et al., 2007). A conquista do SUS legal, fruto de um movimento social, que envolveu 

intelectuais, profissionais de saúde e setores médios da população, contemplou os ideais de 

justiça e democratização do  sistema de  saúde,  a partir da  implantação de  seus princípios 

(FLEURY, 1997; ESCOREL, 1998). Recentemente, o não  cumprimento da meta  “saúde para 

todos no ano 2000”  tem  levado governos, profissionais de saúde,  técnicos e  intelectuais a 

refletirem sobre o tema.  

A Organização Mundial  da  Saúde  (OMS)  e  a Organização Pan‐americana  de  Saúde 

(OPAS) ratificam a APS como eixo da reorganização dos sistemas de saúde, cujas diretrizes 

têm orientado as políticas de saúde de distintos governos.  

Em  recente  ensaio15,  em  que  se  reafirma  a  necessidade  de  renovação  da  atenção 

primária  à  saúde  nas  Américas,  em  consonância  às  orientações  da  OMS, Macinko  et  al. 

(2007) afirmam que existem evidências científicas para correlacionar a atenção primária e a 

efetividade  dos  sistemas  de  saúde  no  mundo  todo  e,  advogam  a  adaptabilidade  dos 

pressupostos aos distintos contextos sociais, políticos e econômicos dos países.  

Dentre os motivos para a renovação proposta, destacam‐se:  

1) a APS seria condição para o alcance das metas do milênio: acabar com a fome e a 

miséria; oferecer educação básica e de qualidade para todos; reconhecer a igualdade entre 

os sexos; valorizar a mulher; reduzir a mortalidade infantil; melhorar da saúde das gestantes; 

combater  a  AIDS,  a  malária  e  outras  doenças;  a  qualidade  de  vida  e  respeitar  o  meio 

ambiente (PNUD, 2007);  

2) o aproveitamento das lições aprendidas nos 25 anos decorridos desde Alma Ata;  

3) o surgimento de novos desafios epidemiológicos;  

4) a correção de alguns desvios nos enfoques divergentes da APS implementados em 

alguns países;  

5) o desenvolvimento de conhecimentos para tornar mais efetivas as práticas de APS;  

15  La  renovación de  la  atención primaria de  salud  en  las Américas. Revista Panamericana de  Salud Publica, Washington DC USA, vol. 21, n. 2‐3, Feb./Mar. 2007, p.73‐84.   

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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6)  o  reconhecimento  de  que  a  APS  é  uma  ferramenta  importante  para  reduzir 

desigualdades sociais; 

7)  a  APS  seria  condição  para  enfrentar  os  determinantes  sociais,  e  alcançar  altos 

níveis de saúde da população.  

Nesse  documento  são  defendidos,  ainda,  compromissos,  concepções,  valores, 

princípios e elementos essenciais para um sistema de saúde baseado na APS e apresentadas 

linhas estratégicas para a  implantação da proposta. No campo das definições, considera‐se 

que um sistema de saúde fundado na APS constitui uma estratégia de organização integral, 

pautada  na  saúde  como  direito  universal,  equitativo  e  solidário  e  apresentam‐se  os 

seguintes princípios:  

a) intersetorialidade;  

b) participação;  

c) sustentabilidade;  

d) justiça social;  

e) responsabilidade e prestação de contas dos governos;  

f) orientação para a qualidade; 

g) respostas às necessidades da população.  

Enumeram‐se, também, Nesse texto os elementos essenciais:  

a) acesso e cobertura universais;  

b) atenção integral e continuada;  

c) ênfase na promoção e prevenção;  

d) atenção adequada;  

e) orientação familiar e comunitária;  

f) mecanismos de participação ativa;  

g) políticas e marco legal sólidos;  

h) organização e gestão ótimas;  

i) políticas e programas para promover equidade;  

j) contato preferencial aos serviços de saúde;  

k) recursos apropriados;  

l) recursos adequados e sustentáveis;  

m) ações intersetoriais (Macinko et al., 2007).  

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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Não obstante a relevância desses preceitos para o desenvolvimento de nações justas 

e  éticas,  percebe‐se  o  tom  ideológico  das  diretrizes  da  OMS/OPAS  nem  tanto  pelo  que 

afirma, mas pelo que não diz. Num discurso que cabe tanto à direita, quanto à esquerda, as 

recomendações  praticamente  confirmam  os  equívocos  presentes  na  declaração  de  Alma 

Ata,  ou  seja,  ratifica  a  ordem  econômica mundial  vigente  e  delega,  unicamente,  para  o 

espaço da política a tarefa de viabilizar políticas de saúde universais. Cabe acrescentar que o 

acesso universal e a atenção  integral representam diretrizes que, em tese, são compatíveis 

tanto com o desenho socializante da tradição européia dos sistemas nacionais, quanto com a 

tradição norte‐americana liberal‐privatista (CAMPOS, 2007). Nem a declaração de 1978, nem 

a atual, explicitam como subverter a atual mercantilização da saúde apenas pelo escopo da 

política; muito menos, como alcançar a equidade em contextos em que prepondera o lucro 

das indústrias de bens e serviços de saúde, concentradas nos países desenvolvidos.  

Tendo  em  vista  as  atuais  transformações  sociais,  políticas  e  econômicas  do 

capitalismo,  a  discussão  sobre  o  modelo  assistencial  é  complexa,  por  envolver  as 

repercussões  ocorridas  com  o  advento  da  globalização.  A  transnacionalização  e  a  rápida 

circulação do capital financeiro, facilitadas pela conectividade das informações, modificaram 

as  lógicas  de  produção  e  de  acumulação  capitalistas; modificaram,  também,  o  papel  do 

Estado na regulação do mercado, que agora rompe as  fronteiras nacionais e conforma um 

“império”  com  múltiplos  focos  de  poder  descentralizados  (HARDT  e  NEGRI,  2002).  Tal 

contexto macroeconômico repercute duramente nos países periféricos, como o Brasil, com 

influências sobre as políticas sociais (PIRES e DEMO, 2006). 

A  intocabilidade  na  ordem  econômica  mundial  é  explicitada  em  ambos  os 

documentos, como se observa no trecho da declaração de Alma Ata:  

 

[...]  o  desenvolvimento  econômico  e  social  baseado  numa  ordem econômica  internacional é de  importância  fundamental para a mais plena realização da meta de saúde para todos e para a redução da lacuna entre o estado  de  saúde  dos  países  em  desenvolvimento  e  dos  desenvolvidos. A promoção e proteção da  saúde dos povos  são essenciais para o  contínuo desenvolvimento econômico e  social e  contribui para a melhor qualidade da vida e para a paz mundial (Rede de Direitos Humanos e Cultura, 2007). 

 

Afirmar que a “ordem econômica internacional” é requisito para a realização da meta 

de  “saúde  para  todos”  revela  certa  incoerência.  Seria  possível  garantir  universalidade  no 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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direito à saúde apenas pelo viés do mercado, que se assenta na mais‐valia e na concentração 

de  renda?  Pelo  que  se  tem  visto,  a  primazia  do  lucro  sobre  o  bem  comum, marca  das 

economias liberais, tem alargado as desigualdades sociais no mundo todo (SANTOS, 2002).  

Na  versão  atual de Alma Ata, o documento da OPAS é menos explícito na  filiação 

ideológica.  Porém,  uma  leitura  atenta  desvela  aspectos  do  neoliberalismo  presentes  nos 

compromissos  assumidos  pelas  nações,  na  18º  reunião  da  OPAS.  Um  deles,  “o 

reconhecimento  das  funções  decisivas  tanto  do  indivíduo  quanto  da  comunidade  para 

estabelecer  um  sistema  baseado  na  APS”  (MACINKO  et  al.,  2007),  embora  seja  requisito 

importante para o  controle democrático da população  sobre os poderes públicos,  aponta 

certa tendência em individualizar e responsabilizar a sociedade, privadamente, por questões 

que são de ordem pública e requerem a mediação essencial do Estado. 

De  todo,  vislumbra‐se  uma  situação  ideal  de  saúde  desconectada  dos  desafios 

globais, que países periféricos da América, como o Brasil, têm de enfrentar. Algumas dessas 

questões centrais com que o SUS se depara são:  

a) importação da maioria dos equipamentos, medicamentos e insumos necessários à 

oferta de serviços de saúde, gerando dependência internacional;  

b) baixa competitiva do setor industrial em saúde;  

c) pouca capacidade produtiva em conhecimento e tecnologias, capaz de aumentar a 

autonomia e o desenvolvimento econômico;  

d) elevação da  taxa de  juros para  atrair  capital,  comprometendo os  investimentos 

internos;  

e) submissão das políticas sociais às determinações restritivas  impostas por bancos, 

credores e FMI;  

f)  contingenciamento  orçamentário  para  pagamento  da  dívida  externa  e  aumento 

dos fundos de reserva nacionais, gerando políticas públicas restritivas e focalizadas (PIRES e 

DEMO, 2006; GADELHA, 2003). 

Para os dilemas da gestão do SUS – como o subfinanciamento das ações e serviços, a 

frágil regulação do setor privado, a  incipiente política de desenvolvimento tecnológico e as 

iniquidades no  acesso  aos  serviços  –  as orientações dos organismos  internacionais pouco 

contribuem para a redistribuição das desigualdades sociais.  É pouco provável a coexistência 

de  sistemas  de  saúde  universais,  equânimes  e  solidários  com  a  concentração  de  renda  e 

poder.  Para  ampliar  as  garantias  sociais,  há  de  haver  intervenção  no mercado  de  bens  e 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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serviços  em  favor  do  direito  à  saúde  ou,  numa  visão mais  global,  desenvolvimento  das 

capacidades  produtivas  do  país,  calcado  no  trabalho  imaterial,  que  se  alimenta  do 

conhecimento  humano  (LAZZARATO  e  NEGRI,  2001;  GORZ,  2005).  Tal  pressuposto  é 

requisito  central  para  aumentar  a  competitividade  das  nações  periféricas  no  capitalismo 

global. 

Observa‐se, nas justificativas para a “renovação da APS”, certa limitação na aposta da 

relação  entre  saúde  e  desenvolvimento  humano  como  condição  determinante  para  o 

alcance das  “metas do milênio”. A afirmação de que a organização de  sistemas de  saúde 

fundados  na  atenção  primária  é  suficiente  para  a  redução  de  desigualdades  sociais 

estruturais,  como  acabar  com  a  fome,  soa  incompleta  e  dissociada  do  contexto 

sociohistórico. Creditar ao setor saúde a responsabilidade de modificar questões complexas, 

como aumentar os níveis de educação do país ou reduzir as discriminações sociais, parece 

ter sido o principal equívoco da implantação do SUS (CONH, 2003). A escolha de um sistema 

“híbrido”  entre  o modo  liberal  e  socializante  de  organizar  o  cuidado  à  saúde  (CAMPOS, 

2007), em que o pagamento de prestadores privados de serviços hospitalares convive com a 

oferta  de  atenção  básica  eminentemente  pública  e  gerida  pelo  Estado,  tem  limitado  a 

consolidação  do  acesso  universal  e  da  atenção  integral.  A  opção  de  o  Estado  brasileiro 

assumir  a APS  como  estratégia  para  a  “revolução  social”  (CAMPOS,  2007),  num  contexto 

marcado por extremas desigualdades  sociais  condizentes  com países periféricos, não  tem 

sido suficiente para reordenar renda e poder. Nesses termos, é como se fosse possível fazer 

a revolução por dentro do Estado, algo controverso se o considerarmos, no final das contas, 

Estado capitalista (COCCO, 2001). 

Contrapondo‐se  aos  argumentos  apresentadas  pelas  correntes  liberais,  que 

concebem uma relação de causa e efeito entre saúde e desenvolvimento humano, como se 

ambos  não  fossem  dialeticamente  imbricados, Gadelha  (2005)  realiza  consistente  revisão 

teórica internacional e cita três estudos curiosos, que desmistificam a relação direta entre os 

indicadores de saúde e o crescimento econômico. O primeiro questiona a relação entre taxa 

de crescimento e mortalidade  infantil e conclui que a educação e o contexto  institucional 

geral são mais centrais para as condições de saúde e o desempenho econômico das nações. 

O  segundo  não  encontra  evidência  entre  aumento  da  expectativa  de  vida  e  a  renda  per 

capita, indicando que, apesar de os países periféricos estarem com os indicadores de saúde 

um pouco melhores, a distância econômica acentua‐se. O terceiro  faz estimativas entre os 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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PIBs dos países, caso fossem eliminadas as adversidades de saúde, e conclui que, na situação 

hipotética de  igualdade das condições de  saúde, a diferença entre os 10% mais  ricos e os 

10% mais pobres cairia dos atuais 20,5 para 17,9, o que é irrisório.  

O  autor  argumenta  pela  não  incorporação  da  saúde  como  um  fator  genérico  nas 

funções econômicas de produção: parte da  ideia de que é necessário repensar a saúde no 

contexto  histórico‐estrutural,  na  sua  inserção  global  e  na  relação  com  a  assimetria  do 

progresso tecnológico. Gadelha (2005) localiza semelhanças entre a agenda liberal e a forma 

como o tema saúde e economia vem sendo tratado no Brasil: ou seja, sujeição às falhas de 

mercado,  tecnologias  de  baixos  custo  e  complexidade,  foco  na  atenção  primária, 

municipalização e saúde como direito individual. À guisa de uma breve síntese, questiona:  

 

[...]  um  país  e  um  povo  pobre,  dependente,  desigual,  sem  acesso  a conhecimento, com condições precárias de  trabalho e sem capacidade de aprendizagem,  mas  que  venha  elevando  sua  expectativa  de  vida,  é saudável? (Gadelha, 2006: 332). 

 

Se entendermos  saúde na perspectiva histórico‐estrutural,  resultado dos processos 

produtivos  e  das  relações  sociais,  responde‐se  sonoramente  não  ao  questionamento  do 

autor.  Para  se mudarem  as  condições  de  pobreza,  educação,  trabalho,  renda,  poder  e, 

portanto, saúde, numa nação democrática, precisa‐se mais que sistemas de saúde fundados 

na  APS.  Ratifica‐se  a  necessidade  de  se  interferir  nas  lógicas  desiguais  de  acumulação 

capitalista, buscando‐se maior equidade no acesso às políticas sociais. Tal tarefa é complexa 

demais para  se  confinar  ao  idealismo dos  valores, princípios e elementos da proposta de 

renovação da APS. Embora o espaço da política seja essencial para a pactuação das questões 

de  interesse  público,  ele  não  ocorre  destituído  de  poder  e  dos  interesses  privados,  em 

especial no capitalismo. Para um embate de tal envergadura, há de se fortalecer o sentido 

do bem comum e da cidadania na sociedade civil, situação ainda distante em países como o 

Brasil (CARVALHO, 2004).  

Cabe reafirmar que, para que a atenção primária à saúde possa conferir equidade e 

universalidade no acesso ao SUS, é preciso que ela seja suficientemente capaz de  interferir 

no mercado de bens e de  serviços de  saúde. O potencial estratégico da  relação entre os 

diferentes  níveis  de  atenção  do  SUS  reside  na  possibilidade  de  se  agregar  ao  poder  de 

vínculo e mobilização da comunidade, inerentes à APS, uma melhor regulação do sistema de 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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saúde,  em  especial  sobre  a  oferta  de  especialidades  diagnósticas  e  terapêuticas, 

pertencentes  à média e  alta  complexidades. A  atenção básica precisa de maior poder de 

resposta, por meio da incorporação de tecnologias e relação eficiente com as especialidades. 

Os valores, princípios e elementos da APS destacados pela OPAS seguem como utopia para o 

sistema de saúde brasileiro, tão duramente conquistado no bojo da democratização do país. 

Porém,  cabe  entendê‐los  na  conjuntura  neoliberal  e  globalizada,  na  perspectiva  de 

vislumbrar estratégias capazes de ampliar a cidadania.  

Argumenta‐se  que  não  é  propriamente  a  atenção  básica, mas  a  relação  entre  os 

níveis de atenção do SUS, o ponto estratégico para se operarem as mudanças necessárias ao 

modelo de saúde vigente. A  interface das UBSs com as urgências, serviços especializados e 

de  diagnóstico  confere maior  adensamento  tecnológico,  resolubilidade  e  organização  dos 

fluxos de usuários para continuidade da assistência. Uma vez melhor articulada a AB com a 

MC, tende‐se a  impactar as ações de alta complexidade do SUS, racionalizando a utilização 

dos  serviços,  a partir das demandas da população.  Em  consequência,  a  relação do poder 

público com os prestadores privados de saúde terá de sofrer maior regulação por parte do 

Estado,  interferir  no  status  quo  de  venda  de  serviços  indiscriminada  e  pouco  controlada 

(MATOS e POMPEU, 2003). 

Outro ponto importante refere‐se ao impacto que um sistema público eficiente pode 

ter  sobre  a  venda  de  planos  privados  de  saúde.  Se  hoje  tal  comercialização  ocorre,  em 

muito, capitaneada pelas debilidades da atenção básica e da média complexidade do SUS, 

essa  relação  poderia  mudar  com  uma  oferta  pública  de  maior  qualidade.  As  melhores 

políticas sociais, no Brasil, são acessadas mais  facilmente pelas classes médias e altas, que 

detêm maior poder de  vocalização de  suas demandas  (DEMO,  2005). Não  se  advoga que 

ocorra um retrocesso na universalidade do SUS, ou que os ricos tomem o lugar dos pobres. 

Porém,  a  presença  da  classe média  como  usuária  do  sistema  público  de  saúde  tem  se 

mostrado  requisito  importante  para  a  conquista  da  cidadania.  Como  exemplo,  cita‐se  o 

programa  nacional  de  AIDS,  referência  mundial  e  palco  importante  dos  movimentos 

organizados da sociedade civil, na sua relação com o Estado.  

A luta iniciada pela Reforma Sanitária e demais atores sociais para a implantação do 

SUS precisa  inserir as questões econômicas nos diversos espaços políticos de decisão para 

conquista  do  acesso  à  saúde  universal.    Para  além  das  necessárias  reivindicações  de 

ampliação  do  orçamento  e  regulamentação  da  Emenda  Constitucional  29/2000  (SANTOS, 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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2005), há de  se  incluir na pauta de negociação aspectos que  se  imbricam no mercado de 

bens e serviços de saúde, tais como:  

a) a relação com os prestadores privados de saúde;  

b) as políticas de investimentos para geração de conhecimentos e tecnologias para o 

setor;  

c) a submissão das emendas parlamentares à gestão do sistema de saúde;  

d) a regulação dos planos e seguros privados de saúde;  

e) regulação da gestão do trabalho em saúde;  

f) a relação entre gastos públicos e resultados em saúde, dentre outros.  

Tratar  a  saúde  como  um  bem  público  e  capital  social,  portanto  implicados  nas 

relações  de mercado,  parece  ser  um  caminho  viável  para  a  intercessão  do  político  e  do 

econômico rumo à sustentabilidade do SUS. Tal perspectiva transcende o discurso focalizado 

na APS como caminho para a implantação de sistemas de saúde universais.  

Do  exposto,  conclui‐se  que  a  atenção  básica,  embora  possa    constituir‐se  espaço 

político para produção de dinâmicas e tecnologias mais partilhadas de poder, tem tido pouca 

influência no reordenamento do mercado de bens e de serviços de saúde, comprometendo 

seu potencial para inversão do modelo de atenção. No caso brasileiro, observa‐se a limitação 

da atenção primária à saúde desencadear a reorganização dos serviços no SUS.  

A  atenção  básica  capaz  de  interferir  na  lógica  da  oferta,  a  partir  da  demanda, 

promover maior acesso, equidade e racionalidade econômica ao SUS, é aquela que melhor 

se articula com os serviços de urgência, especialidades e diagnose‐terapia.  Associe‐se a isso 

uma população politicamente atuante, sabedora dos seus direitos e que exerça com firmeza 

o  controle  social  sobre  o  governo  na  implementação  de  políticas  sociais  de  qualidade. A 

inclusão  da  dimensão  econômica  na  agenda  da  Reforma  Sanitária  aparece  como 

componente central para o atual contexto globalizado e restritivo das garantias sociais. Eis 

um caminho estratégico para reorganização do sistema de saúde em pauta, orientada pelos 

princípios  e  diretrizes  que  ratificam  a  saúde  como  direito  inalienável,  não  sujeito  às 

intempéries do mercado.  

 

 

 

 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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4 METODOLOGIA 

 

O método de abordagem utilizado neste trabalho é o da pesquisa avaliativa, entendida 

como averiguação, em que interagem e disputam espaços de poder avaliadores e avaliados, 

inseridos em uma conjuntura social complexa, orientada para propor mudanças no cenário 

em foco. Para tanto, adotou‐se a triangulação de métodos proposta por Minayo (2005), cujo 

ato  investigativo considera abordagens amplas, para além da clássica tipificação de análise 

calcada em estrutura, processo e resultado. 

A avaliação, como estratégia investigativa, é entendida como um processo sistemático 

de  fazer  perguntas  sobre  o mérito  e  a  relevância  de  determinado  assunto,  proposta  ou 

programa; objetiva estimular processos de aprendizagem e de desenvolvimento de pessoas 

e de organizações,  em  interação  com  a metodologia do  processo  avaliativo;  centra‐se na 

consolidação de entendimentos e parcerias, no apoio às mudanças, na correção de rumos e 

na  ampliação  do  comprometimento  dos  diferentes  atores;  visa  a  fortalecer  o  grupo, 

limitando  o  poder  dos  gestores  e  promovendo  o  diálogo  do  pluralismo  de  valores, 

inevitavelmente  presente,  quando  se  trata  de  definir  prioridades  em  saúde,  objeto 

primordial do planejamento em saúde (MINAYO, 2005, BOSI e MERCADO, 2006). A avaliação 

por  triangulação  de  métodos  incorpora  a  análise  das  estruturas,  dos  processos  e  dos 

resultados,  com  a  compreensão  das  relações  envolvidas  no  desenvolvimento  das  ações, 

levando em conta a visão que os participantes constroem sobre a proposta (MINAYO, 2005).  

Nesta pesquisa, apresenta‐se um estudo de caso (BAUER, 2002; MINAYO, 1992), o qual 

expressa  um  determinado  foco  no  cenário  de  complexas  condições  socioeconômicas  e 

culturais da realidade, sendo parte dele, na totalidade. Um estudo de caso representa uma 

significação estratégica e exemplar para a  investigação, devendo ser  interpretado à  luz das 

referências  teóricas e do  contexto  sociohistórico em que  se  insere  (THOMPSON, 1995). A 

unidade‐caso ou “corpus”16 desta etapa investigativa compõe‐se das informações formais e, 

ou informais produzidas pelos diversos atores que viabilizam ou influenciam os serviços e as 

práticas da atenção básica em Belo Horizonte. 

16 Para Orlandi (2001), a delimitação do corpus e a análise da pesquisa estão  intimamente relacionadas, uma vez que decidir sobre a constituição do corpus envolve priorizar certas propriedades discursivas.  

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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Por centrar‐se na dinâmica da relação entre os serviços de saúde do SUS, são utilizadas 

abordagens quantitativas e qualitativas, entendendo‐as complementares, para interpretar e 

desvelar as realidades. Tal  intento pressupõe reconhecer que as correntes teóricas em que 

se fundamentam os métodos quantitativos, preponderantemente positivistas, opõem‐se às 

abordagens  fenomenológicas  e  dialéticas  dos  enfoques  qualitativos.  Não  se  pretende 

desconsiderar  tal aspecto,  central na discussão epistemológica da  ciência, mas buscar, na 

medida  do  possível,  a  unidade  de  contrários  capaz  de  realizar  sínteses  transformadoras 

(MINAYO et al., 2005). Não sem conflito, porém, e considerando a complexidade avaliativa 

requerida no âmbito do SUS, assume‐se a preponderância da abordagem qualitativa sobre a 

quantitativa. Com isso, afirma‐se que, para além da rigorosa precisão estatística da medição, 

necessária  e  oportuna  em  muitos  sentidos,  busca‐se  com  maior  ênfase  a  análise  de 

profundidade,  o  desvelamento  dos  dados  empíricos  à  luz  do  referencial  teórico  e  da 

hipótese. 

Desse modo, delimitaram‐se as categorias utilização, oferta e acessibilidade em saúde 

como  construtos  centrais da  investigação, por meio das quais  se avaliaram os  serviços de 

atenção  básica  em  Belo  Horizonte.  Categorias  como  “fluxo  de  pensamentos  abstratos 

vivenciados  concretamente  na  realidade  histórica”  são  utilizadas  aqui  como  parâmetros, 

balizas ou estruturas mais definidoras para apreensão do campo‐sujeito‐objeto  investigado 

(THOMPSON, 1995; MARX, 1999). Nesses  termos, a  relação entre os níveis de atenção do 

SUS – em especial a atenção básica com as urgências – é analisada como componente da 

utilização e da oferta dos serviços de saúde. Por sua vez, a caracterização do consumo de 

serviços  e  a  análise  do  padrão  de  oferta  predominante  indicam  elementos  para  a 

investigação da  acessibilidade das UBSs, de modo  a entender  a  forma de organização do 

trabalho das ESFs nas unidades de saúde. Avalia‐se o quão próximas ou distantes estas se 

encontram das necessidades dos cidadãos, tendo por suposto os princípios e as diretrizes do 

SUS. 

Definiram‐se  duas  dimensões  de  análise  para  nortear  a  avaliação,  concebidas  de 

maneira articulada: a) política de  saúde; b) gestão e organização do SUS‐BH. Na primeira, 

mais  contextual,  buscam‐se  elementos  da  conformação  da  política  pública  para  situar  os 

princípios  e  diretrizes  em  que  a  atenção  básica/sistema  de  saúde  se  pauta,  bem  como 

identificar  prioridades,  consensos,  concepções  e  possíveis  contradições  que  orientam  as 

ações da SMSA‐BH. Esse panorama é utilizado para as análises  contextuais dos  serviços e 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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práticas de saúde, em especial no que se refere à influência da trajetória histórica da política 

pública  e  das  diretrizes  técnicas  que  orientam  a  atenção  básica.  Na  segunda,  gestão  e 

organização do SUS‐BH, busca‐se analisar a estruturação dos serviços de saúde, em especial 

na articulação  com as urgências. O  cenário da pesquisa  inclui 10 UBSs, distribuídas nos 9 

distritos sanitários, e as 7 UPAs do sistema de saúde de Belo Horizonte, conforme descrito 

no  plano  amostral  adiante.  As  dimensões,  categorias  e  parâmetros  avaliativos,  que 

originaram o delineamento do estudo, e os  instrumentos de coleta de dados são descritos 

no Quadro1.  

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS

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QUADRO 1 REFERENCIAL METODOLÓGICO PARA AVALIAÇÃO DA ATENÇAO BÁSICA EM BELO HORIZONTE 

OBJETIVOS: 1) Analisar o desenvolvimento da política de atenção básica à saúde/SUS em Belo Horizonte com a  implantação do PSF; 2) Avaliar a atenção básica   à saúde em Belo Horizonte quanto à articulação com as urgências, utilização, oferta e acessibilidade dos serviços; 3) Analisar em que medida a  implantação das Equipes Saúde da Família em Belo Horizonte contribuem para a reorganização da atenção básica no que se refere à oferta, utilização e acessibilidade dos serviços de saúde. DIMENSÕES  CATEGORIAS  INDICADORES/PARÂMETROS AVALIATIVOS FONTES/INSTRUMENTOS a  ‐  Política  de Saúde  

‐Contexto institucional; ‐ Atores políticos ‐ Propósito e ações   

1‐ Coerência entre princípios do SUS e trajetória da política de saúde local;2‐ Conformação dos serviços de saúde no SUS e interdependência das ações; 3‐ Gestão da política de organização da AB/SUS a partir do PSF  

‐ Plano Municipal de Saúde de BH; ‐  Documentos  e  Diretrizes  para  a  organização local da AB/BH; ‐ Protocolos assistenciais/SMSA‐BH. 

 b  ‐  Organização da  atenção básica/SUS  

‐Utilização   

 4‐Padrão  de  utilização  dos  serviços  de  atenção  básica  e  de  urgências  pelos  usuários (UBS como primeira escolha para atendimentos básicos; motivos da escolha; problemas de saúde que motivam a procura pelo atendimento; contra referenciamento das UPAs nos casos de urgência/emergências; vínculos entre a população e a UBS; satisfação da população); 5‐Formas de acesso da população aos serviços da UBS e da UPA. 

‐  Aplicação  de  questionários  aos  usuários  das UBSs e UPAs‐ survey; ‐  Instrumento 1‐ Questionários para usuários dos serviços de saúde/SUS de Belo horizonte 

‐ Oferta   

 6‐População coberta pelo PSF das UBSs (parâmetro 3500 a 4000 hab/ESF); 7‐Número  de  consultas  médicas  por  habitante/ano  da  UBS  (parâmetro  1 consulta/hab/ano) 8‐População adstrita da UBS com e sem ESF (parâmetro 1/30.000 sem PSF e 1/12.000 com PSF, para grandes centros urbanos); 9‐Comparação  da  produção  de  atendimentos  de  demanda  espontânea  e  das  ações programáticas das ESFs e da equipe de apoio, por UBS, em  relação ao  recomendado pelas diretrizes da SMSA‐BH; 10‐ Análise comparativa entre a produção de atendimentos de demanda espontânea e das ações programáticas das ESFs e da equipe de apoio, por UBS, com a utilização dos serviços informada pelos usuários no momento do survey. 11‐ Análise comparativa entre a demanda prevista pelos parâmetros de programação para a atenção básica e os atendimentos realizados dentro das ações programáticas de saúde da criança, mulher e adulto, por ESF e equipe de apoio, nas UBSs. População coberta pelo PSF das UBSs; 

‐ Sistema de Saúde em Rede/ GEREPI/ SMSA‐BH; ‐ Sistema Fênix/GEREPI/ SMSA‐BH; ‐  Prograb  –  Programação  para  gestão  por resultados/DAB/SAS/Ministério da Saúde; ‐Documentos e Diretrizes para a organização local da AB/BH; ‐ Protocolos assistenciais da SMSA‐BH, SES/MG e MS; ‐  Parâmetros  nacionais  de  programação/PT 1101/GM2001 

Continua ...    

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS

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  Conclusão  

OBJETIVOS: 1) Analisar o desenvolvimento da política de atenção básica à saúde/SUS em Belo Horizonte com a  implantação do PSF; 2) Avaliar a atenção básica   à saúde em Belo Horizonte quanto à articulação com as urgências, utilização, oferta e acessibilidade dos serviços; 3) Analisar em que medida a  implantação das Equipes Saúde da Família em Belo Horizonte contribuem para a reorganização da atenção básica no que se refere à oferta, utilização e acessibilidade dos serviços de saúde. DIMENSÕES  CATEGORIAS  INDICADORES/PARÂMETROS AVALIATIVOS FONTES/INSTRUMENTOS b  ‐  Organização da  atenção básica/SUS  

‐ acessibilidade  12‐Coordenação  do  trabalho  dos  profissionais  realizado  a  partir  dos  princípios  da atenção básica/saúde da família; 13‐Realização do trabalho em rede entre os profissionais na UBS, entre os serviços e com a comunidade. 

‐ Grupo Focal com os profissionais em saúde. Apresentação dos resultados do survey com usuários. ‐ Instrumento 2 – Roteiro para grupo focal com profissionais em saúde 

Fonte: Elaboração própria, 2009. 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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4.1 Delineamento do estudo 

O desenho da investigação é composto de três etapas complementares – conforme se 

seguem – que se articulam triangularmente para produzir informações capazes de responder 

à pergunta  investigativa.   Optou‐se por ampliar a pesquisa, antes prevista para apenas um 

Distrito  Sanitário  de  Belo  Horizonte,  para  uma  amostra  de  10  UBSs,  distribuídas  nos  9 

distritos  sanitários  da  cidade.  Justifica‐se  essa  opção  em  virtude  da  relevância  do  estudo 

para a política de  saúde  local, buscando‐se  certa  representatividade e exemplaridade nos 

resultados buscados.  

Para cada uma das etapas da pesquisa foram elaborados e, ou adaptados instrumentos 

que pudessem subsidiar o processo de coleta. Utilizaram‐se questionários para os usuários 

do sistema de saúde de Belo Horizonte e roteiros semiestruturados para as etapas seguintes, 

qual sejam, grupos focais com profissionais em saúde, análise da oferta de serviços e grupo 

de discussão com os gerentes (Anexos A e B). 

 

4.1.1 Etapa 1: survey com os usuários das UBSs e das UPAs  

 

Realizou‐se um survey quantitativo com os usuários das 10 UBSs e de todas as UPAs 

sobre  o  problema  de  saúde,  o motivo  da  procura  e  os  procedimentos  realizados  nesses 

serviços.  Desenvolveu‐se  um  estudo  descritivo  para  teste  da  hipótese  de  que  não  há 

variação estatisticamente significativa nos procedimentos realizados em usuários nas UPAs e 

nas UBSs de Belo Horizonte, predominando a consulta médica básica e os procedimentos de 

enfermagem, independentemente do nível de complexidade do serviço buscado pelo usuário. 

O plano amostral é detalhado adiante. 

 

4.1.2 Etapa 2: organização do trabalho pelas Equipes Saúde da Família  

 

Uma vez sistematizados e contextualizados os resultados do survey, sobre a utilização 

dos serviços pelos usuários, realizou‐se a avaliação do processo de trabalho dos profissionais 

em  saúde  das UBSs,  em  especial  das  ESFs,  aprofundando‐se  os  cenários  obtidos  com  os 

usuários;  investigaram‐se as possíveis mudanças no processo de  trabalho dos profissionais 

em  saúde  com  a  implantação  do  PSF,  tendo  por  referência  os  princípios  que  o  regem. 

Utilizou‐se a técnica de grupo focal para discussão dos resultados. Para tanto, realizaram‐se 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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4 grupos focais, nos dias 17, 19, 24 e 26 de março de 2009, com 30 profissionais em saúde, 

sendo  14 médicos  e  16  enfermeiros  das  ESFs,  distribuídos  nas  10 UBSs  que  compõem  a 

amostra.  

As  perguntas  que  nortearam  as  discussões  foram:  1)  Como  explicar  que  usuários 

acometidos com afecções  leves utilizem mais as UPAs  (57,4%) que as UBSs  (30,9%) para o 

atendimento? Existiriam “barreiras de acesso” dos serviços de atenção básica aos usuários? 

2)  Se  o  PSF  é  considerado  estratégia  prioritária  na  reorganização  dos  serviços,  quais  os 

fatores  que  explicam  a  pouca  utilização  das  ações  programáticas  nas  UBSs  onde  ele  foi 

implantado completamente?  3) O que vocês, profissionais das ESFs, têm feito de diferente 

para  modificar  o  modelo  tradicional  de  atenção  nas  UBSs,  calcada  no  atendimento  à 

demanda  espontânea  e  em  especialidades médicas?  4) Quais  os  princípios  do  Saúde  da 

Família seriam mais fortes na organização do trabalho nas UBSs?  

 

4.1.3 Etapa 3: avaliação da oferta e da demanda por serviços de atenção básica/SUS  

 

Como  forma  de  complementar  as  informações  da  primeira  e  da  segunda  etapas, 

verificou‐se  a  oferta  dos  serviços  de  atenção  básica  quanto  aos  parâmetros  nacionais  de 

cobertura  populacional  e  de  produção  dos  atendimentos,  conforme  as  diretrizes  e 

protocolos assistenciais da atenção básica/SUS; analisaram‐se as bases de dados secundárias 

do  Sistema  de  Saúde  em  Rede  e  do  Sistema  Fênix/SMSA‐BH,  ambos  responsáveis  pela 

produção dos atendimentos realizados pelas UBSs do sistema de saúde de Belo Horizonte. O 

detalhamento dos procedimentos operacionais é  realizado adiante. Procurou‐se avaliar os 

seguintes  indicadores: 6) População coberta pelo PSF das UBSs (parâmetro 4.000 hab/ESF); 

7)  Número  de  consultas  médicas  por  habitante/ano  nas  UBSs  (parâmetro  1 

consulta/hab/ano); 8) População adstrita às UBSs com, e sem ESFs (parâmetro 1/30.000 sem 

PSF e 1/12.000  com PSF, para  grandes  centros urbanos);  9) Comparação da produção de 

atendimentos de demanda espontânea e das ações programáticas das ESFs e da equipe de 

apoio,  por  UBS,  em  relação  ao  recomendado  pelas  diretrizes  da  SMSA‐BH;  10)  Análise 

comparativa  entre  a  produção  de  atendimentos  de  demanda  espontânea  e  de  ações 

programáticas  das  ESFs  e  da  equipe  de  apoio,  por  UBS,  com  a  utilização  dos  serviços, 

informada pelos usuários no momento do survey; 11) Análise comparativa entre a demanda 

prevista  pelos  parâmetros  de  programação  para  a  atenção  básica  e  os  atendimentos 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

50

realizados dentro das ações programáticas de saúde da criança, mulher e adulto, por ESF e 

equipe de apoio, nas UBSs. 

 

4.2 Síntese das etapas e triangulação de métodos: grupo de discussão com os gerentes das 

UBSs  

 

Como  forma  de  verificar  a  adequabilidade  das  triangulações  de métodos  e  técnicas 

realizadas para a síntese das três etapas da pesquisa, realizou‐se um grupo de discussão com 

os gerentes das 10 UBSs. Além de verificar a consonância dos resultados encontrados com a 

realidade  dos  serviços,  esse  momento  constituiu‐se  num  retorno  dos  resultados 

encontrados junto aos gestores, conforme previsto em pesquisas avaliativas. A participação 

dos  sujeitos  no  processo  de  produção  do  conhecimento  é  componente  importante  em 

pesquisas  com  enfoques  emergentes,  que  buscam  transcender  a  relação  causal,  o 

distanciamento  entre  o  sujeito  e  o  objeto,  bem  como  a  falsa  neutralidade  científica, 

amplamente criticado nos enfoques dialéticos (BOSI e MERCADO, 2006). 

 

4.3 Detalhamento das etapas da pesquisa 

 

4.3.1 Etapa 1 – utilização dos serviços de atenção básica e de urgência 

 

Apresentam‐se,  a  seguir,  os  métodos  utilizados  para  a  definição  da  amostra  dos 

usuários,  das  UBSs  e  das  UPAs  do  sistema  de  saúde  de  Belo  Horizonte,  em  que  foram 

aplicados os questionários  (Apêndice A). Relatam‐se, ainda, os momentos de validação do 

questionário e da coleta de dados realizada. 

 

4.3.1.1 Plano amostral  

 

a) Contexto 

O município  de  Belo  Horizonte  possui  uma  população  de  2.238.526  de  habitantes. 

Segundo  informações  da  Agência  Nacional  de  Saúde  (ANS),  estima‐se  que  70%  dessa 

população utilizam os serviços públicos de saúde e  têm como porta de entrada a  rede de 

serviços de atenção básica à saúde e de pronto‐atendimento. Do ponto de vista da oferta de 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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serviços  básicos,  a  rede  é  composta  por  146  unidades  básicas  de  saúde  (UBSs),  cuja 

cobertura é de 70% da população de BH,  e por 7 unidades de pronto atendimento. 

 

b) População 

A  população  envolvida  no  estudo  compreende  todas  as  pessoas  que  utilizam  os 

serviços oferecidos nas unidades básicas e nas unidades de pronto‐atendimento, residentes 

ou não no município de Belo Horizonte. 

c) Cálculo da amostra 

A população, considerada no cálculo, foram todas as pessoas residentes no município 

de Belo Horizonte. Partiu‐se de uma prevalência média de 75% de consultas médicas e de 

procedimentos  de  enfermagem  realizados  tanto  nas  UBSs,  quanto  na  UPA, 

independentemente  do  problema  de  saúde  e  nível  do  atenção  do  sistema,  cujos  dados 

foram obtidos no piloto da  investigação. Levando‐se em conta uma população estimada de 

2.000.000 habitantes, que é atendida na  rede de  serviços públicos da  cidade, um erro de 

amostragem de 3% e de um nível de  confiança de 95%, estimou‐se uma amostra de 800 

usuários. Optou‐se pela aplicação  inicial de 820 questionários, tendo em vista o percentual 

de prováveis perdas. Porém, conforme se relata adiante, finalizou‐se a coleta de dados dessa 

etapa com a aplicação de questionários a 977 usuários. 

Para  a  definição  da  amostra  das  unidades  básicas  e  de  pronto‐atendimento, 

consideraram‐se:  

a) as 7 unidades de pronto‐atendimento (UPAs) do SUS/BH;  

b) as 145 UBSs, que foram divididas em dois estratos: aquelas que possuem população 

completamente  coberta  pelas  ESFs  e  aquelas  com  população  parcialmente  coberta  pelas 

ESFs17. 

A  seleção  da  amostra  de  UBS  foi  feita  por  sorteio  aleatório,  considerando‐se  a 

proporcionalidade de 1 UBS por Distrito Sanitário, totalizando‐se 9. Porém, sorteou‐se mais 

uma  UBS,  no  distrito  Venda  Nova,  para  melhor  contemplar  as  características  sociais  e 

econômicas  da  região.  Tendo  em  vista  que  as  31  UBSs  parcialmente  cobertas  pelo  PSF 

correspondem  a  21,3%  das  145  UBSs  de  Belo  Horizonte,  procurou‐se  manter  essa 

17 Considera‐se UBS completamente coberta aquela em que toda a população adstrita é atendida pelas ESFs implantadas. Parcialmente coberta significa que nem toda a população adstrita da UBS faz parte da área de abrangência da ESF. Parte dela é atendida por profissionais em saúde conforme o modelo tradicional de organização da AB.

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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proporcionalidade na amostra de UBS para o survey. Dessa forma, foram sorteadas 2 UBSs 

parcialmente  e,  8  completamente  cobertas  por  ESFs.  Vale  dizer  que  esse  é  um  critério 

importante para a pesquisa, uma vez que se avalia a contribuição do PSF na organização dos 

serviços  de  atenção  básica.  Na  Tabela  1  e  Figura  2,  explicita‐se  a  amostra  de  UBSs 

investigadas por distritos sanitários de Belo Horizonte. 

  Tabela 1 ‐  Amostra  de  Unidades  Básicas  de  Saúde  investigadas  por  Distrito  Sanitário  e  cobertura 

populacional do Programa de Saúde da Família, em Belo Horizonte, 2009  

 Distritos Sanitários 

Nº UBS com população 

completamente coberta pelo PSF 

Nº UBS com população 

parcialmente coberta pelo PSF 

 

UBS sorteadas completamente PSF 

UBS sorteadas parcialmente 

PSF 

Oeste  13  2 UBS 1Venda nova  14  1 UBS 2

UBS 3 Centro sul  1  11 UBS 4Leste  10  4 UBS 5Norte  17  2 UBS 6Barreiro  20  0 UBS 7Nordeste  20  1 UBS 8Pampulha  1  8 UBS 9Noroeste  18  2 UBS 10Fonte:  Dados da pesquisa, 2009. 

 

 Figura 2 – Distribuição geográfica da amostra de Unidades Básicas de Saúde  e Unidades  de  Pronto Atendimento  investigadas,  por  distritos sanitários, Belo Horizonte, 2008 Fonte: SMSA/BH, Relatório de gestão 2007. 

 

 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

53

A  quantidade  de  usuários  entrevistados,  em  cada  um  dos  serviços,  foi  distribuída 

inicialmente na proporcionalidade de aproximadamente 1/3 da amostra total para as UPAs e 

de 2/3 para as UBSs. Calculou‐se, inicialmente, a aplicação de 40 questionários em cada uma 

das  UPAs,  somando‐se  280  e  60  em  cada  uma  das  UBSs,  totalizando‐se  540.  Porém, 

conforme se descreverá, no decorrer da coleta de dados, realizada no período 20/08/08 a 

16/10/08, aplicaram‐se 993 questionários aos usuários de 10 UBSs de Belo Horizonte e nas 7 

UPAs selecionadas, descritas na Tabela 2. 

 

Tabela 2 ‐ Número de questionários aplicados nas Unidades Básicas de Saúde e nas Unidades de Pronto‐atendimento de Belo Horizonte, dezembro de 2008  

Unidade Básica de Saúde  N°  de questionários 

UPAs N°  de questionários 

UBS 1  87 Oeste 46 

UBS 2  60 Venda Nova 44 

UBS 3  64

UBS 4  63

UBS 5  64 Leste 44 

UBS 6  92 Norte 43 

UBS 7  66 Barreiro 46 

UBS 8  62 Nordeste 45 

UBS 9  61 Pampulha 43 

UBS 10  63

Total  682 Total 311 

Fonte:  Dados da pesquisa, 2009. 

4.3.1.2 Coleta de dados e instrumentos  

 

A necessidade de realização de uma coleta de dados empíricos, nas UBSs e UPAs, começou a 

desenhar‐se,  a  partir  do  delineamento  do  estudo,  devida  aos  poucos  dados  disponíveis  sobre  a 

utilização comparativa desses serviços pelo usuário do sistema de saúde de Belo Horizonte. Embora 

não prevista,  inicialmente no projeto, essa  fase  subsidia  todo o desenrolar do estudo. Geraram‐se 

informações  importantes sobre a caracterização da demanda por serviços de atenção básica e sua 

relação com as urgências dos respectivos distritos.  

Objetivou‐se  com  essa  coleta  quantificar  a  procedência  de  pessoas  que  buscam 

atendimento nas UBSs e nas UPAs; verificar os motivos que as levam a procurar as UBSs e as 

emergências/pronto‐atendimento;  caracterizar  os  principais  procedimentos  de  atenção 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

54

básica  e  de  média  complexidade  demandados  pelos  usuários  nos  serviços  de  saúde 

investigados; avaliar, comparativamente, a demanda que procura as UBSs e os serviços de 

pronto‐atendimento e as emergências, em Belo Horizonte. 

Realizou‐se um survey com fins científicos, cujos rigor metodológico e fundamentação teórica 

assumiram  centralidade  para  a  consistência  acadêmica  requerida  (BABBIE,  2005).  A  expressão 

survey,  que,  traduzida,  significa  levantamento  de  dados,  consiste  em  um  “método  para  coletar 

informações  de  pessoas  acerca  das  suas  ideias,  sentimentos,  planos,  crenças,  bem  como  origem 

social, educacional e financeira” (GUNTHER, 1996: 10). Esse método é utilizado em diversas áreas das 

ciências sociais e requer a elaboração de um questionário para a coleta de dados, que é aplicado na 

forma  de  entrevista  individual,  por  telefone  ou,  mesmo,  enviado  pelo  correio.  Optou‐se  pela 

aplicação direta dos questionários, por entrevistas individuais, uma vez que o encontro intersubjetivo 

com o usuário para desvelamento das escolhas sobre os serviços de saúde, devidamente, registrado 

nos diários de campo subsidiou a complementaridade dos métodos quantitativo e qualitativo. 

A  pesquisa  foi  realizada  com  o  usuário,  nas UBSs  e  nas UPAs,  após  o  atendimento. 

Contou‐se com uma equipe de 8 entrevistadores, que se distribuíram nos turnos da manhã e 

da tarde, de segunda a sexta‐feira. Desse modo, estabeleceram‐se cotas de usuários a serem 

entrevistados por  turno e dia, de  forma a obter um equilíbrio na quantidade de usuários 

entrevistados, nos dias previstos para a coleta. Em média, cada serviço contou com dois dias 

de coleta, sendo realizado um serviço por vez. O tempo total de abordagem do usuário teve 

duração de, no máximo 10 minutos, o que conferiu agilidade ao processo.  

Com  o  objetivo  de  minimizar  possíveis  perdas,  foram  aplicados  e  validados  993 

questionários,  com  um  desperdício  residual  de  15  instrumentos  (0,9%).  Logo,  foram 

aplicados 173 questionários a mais do que a amostra calculada (820). O sucesso da coleta de 

dados  não  foi  individual, mas  fruto  de  um  trabalho  em  equipe  bem  realizado,  em  que o 

envolvimento  de  cada  ator  no  processo  foi  fundamental.  Podem‐se  apontar  algumas 

estratégias que se mostraram relevantes para esse bom desempenho:  

a) entrada em campo, de maneira planejada e articulada com a SMSA‐BH;  

b)  inserção da figura do “coordenador de campo”, cuja função é garantir a qualidade 

das informações no momento da coleta, de modo a se evitarem perdas de questionário;  

c)  inserção  concomitante dos dados no pacote estatístico  Statistical Package  for  the 

Social Sciences (softwere SPSS, versão 13.0),  identificando‐se possíveis erros e reparando‐os 

com os entrevistadores em tempo de sua memória recente;  

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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d)  coleta  concentrada  em  um  único  serviço  da  amostra,  evitando‐se  pulverização  e 

fragmentação das informações. 

A  articulação  com  a  Secretaria Municipal  de  Saúde  de Belo Horizonte,  em  todos  os 

momentos da  coleta,  respaldando  institucionalmente  a entrada nas UBSs e nas UPAs,  foi 

fundamental. Outra  estratégia  importante  –  a  visita  prévia  aos  serviços,  onde  se  daria  a 

aplicação  dos  questionários  –  permitiu  discutir  os  objetivos  e  decidir  com  os  gerentes  a 

melhor  logística  para  a  realização  da  pesquisa.  Nesse  aspecto,  foram  fundamentais  os 

detalhes  referentes  ao  uniforme,  à  identificação  e  localização  dos  entrevistadores,  bem 

como a afixação de um banner explicativo sobre a pesquisa. Pretendeu‐se chamar a atenção 

dos usuários para a investigação, de forma a torná‐la atrativa e, valorizar a participação dos 

sujeitos  nas  entrevistas.  Cabe  repetir  que  os  questionários  foram  aplicados  de  forma 

aleatória  em  usuários  após  o  atendimento  recebido,  o  que  exigiu  atenção  e  cautela  dos 

bolsistas e coordenadores de campo no cumprimento desse quesito. 

No diário de campo os registros eram realizados pelos entrevistadores no momento da 

coleta  de  dados  com  os  usuários.  Anotavam‐se  informações  sobre  a  quantidade  de 

questionários  previstos  e  realizados  no  dia,  bem  como  observações  sobre  o  fluxo  de 

atendimento, as rotinas, a escala dos profissionais, as ocorrências e as impressões pessoais, 

que pudessem prejudicar ou explicar os resultados da coleta. Tais notas mostraram‐se úteis 

no percurso da investigação.  A partir delas foi preciso suspender a realização da coleta nas 

UBSs,  durante  a  campanha  de  vacinação,  que  começou  a  contar  com maior  número  de 

homens  para  se  vacinarem,  precavendo‐se  de  possíveis  vieses  da  amostra,  devidos  à 

alteração significativa do perfil dos usuários. Por precaução, em duas UBSs  (UBS 1 e UBS 6) 

em que se verificou o aumento do número de homens para vacinação, repetiu‐se a aplicação 

dos questionários, após o período de coleta, o que contribuiu para o aumento da amostra. 

Outro  fato  digno  de  nota  foi  a  inclusão  de mais  uma UBS  na  amostra,  além  das  9 

inicialmente sorteadas. Observou‐se que, após a localização geográfica das UBSs no mapa de 

Belo Horizonte e coleta  iniciada, a UBS sorteada no Distrito Sanitário de Venda Nova, não 

correspondia às características  socioepidemiológicas daquela  região, uma das mais pobres 

da cidade. Assim, optou‐se por sortear mais um serviço, conforme descrito anteriormente. 

O questionário para avaliação da utilização dos serviços pelos usuários foi adaptado da 

pesquisa “Análise da Relação da Média Complexidade com os serviços de atenção básica do 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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DF e entorno” (PIRES et al., 2008), que passou por um processo de validação constante de 

cinco etapas.  

Para a pesquisa, realizou‐se um piloto, com aplicação de 103 questionários, sendo 53 

numa UBS e 50 numa UPA.  Foram  feitos diversos ajustes e modificações,  com discussões 

constantes da equipe. A versão final consta de 26 itens. Investigou‐se o problema de saúde 

do usuário no momento da coleta; o motivo, a racionalidade da escolha e as características 

da utilização dos serviços de saúde; tempo de deslocamento e de atendimento, bem como o 

grau  de  satisfação  com  a  resolução  do  problema  inicialmente  buscado.  Levantaram‐se, 

ainda,  informações  socioeconômicas  do  usuário,  de  modo  a  lhe  conformar  um  perfil 

aproximado. Ainda na fase piloto, realizou‐se um grupo focal com os profissionais em saúde, 

ajustando‐se a técnica e os roteiros elaborados. 

 

4.3.1.3 Análise estatística  

 

Tendo  em  vista  os  objetivos  da  pesquisa  e,  em  especial,  da  etapa  de  survey  para 

caracterização da demanda que procura as UPAs e UBSs,  foi utilizada a estatística descritiva básica 

para  quantificação  dos  dados  em  nível  nominal,  ordinal  e  intervalar  (LEVIN  e  FOX,  2004). 

Considerando‐se que as respostas dos usuários sofrem  influências de um contexto socioeconômico 

cultural  complexo  e  ambivalente,  que  necessita  de  amplas  abordagens  e  aprofundamentos  para 

maior  desvelamento  da  realidade  em  foco,  neste  estudo  a  preocupação  inferencial,  embora 

relevante, não foi aprofundada. Tal afirmação se justifica pelas seguintes razões:  

a)  a  pesquisa  prima  pela  complementaridade  de métodos  e  técnicas,  com  predomínio  do 

enfoque qualitativo sobre a mensuração;  

b)  a  etapa de  survey destina‐se  ao mapeamento da demanda  que procura os  serviços de 

saúde, caracterizando‐lhes a forma de utilização predominante pelos usuários;  

c) os sujeitos entrevistados são considerados unidades, ou corpus  investigativo, singulares e 

complexos, propensos a ambivalências múltiplas, pouco padronizáveis pelo viés estatístico.  

Nesse  sentido,  a  estatística  descritiva  serviu  para  quantificar  os  procedimentos  realizados 

pelos usuários nas UPAs e nas UBSs do SUS/BH, os motivos que as levam a procurar o atendimento, 

bem como a forma com que têm acessado os serviços de saúde, em especial a atenção básica. Desse 

modo, utilizou‐se do programa estatístico SPSS (versão 13.0) para a análise dos aspectos conjunturais 

e quantitativos do banco de dados. Identificaram‐se erros de digitação, análise de dados omissos e, 

identificação  e  tratamento  de  outlires.  A  seguir,  usou‐se  a  estatística  descritiva  (análise  de 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

57

frequências  e  percentuais)  e  teste  de  comparação  entre  frequências  x²  para  a  interpretação  e 

apresentação dos resultados. 

 

4.4 Etapa 2: acessibilidade das Unidades Básicas de Saúde 

 

A  avaliação  do  processo  de  trabalho  das  ESFs,  etapa  eminentemente  qualitativa, 

ocorreu  com a  realização de quatro grupos  focais e é  considerada o momento  central da 

investigação, uma vez que, por meio dela, procurou‐se desvelar a proposta de estruturação 

da  atenção  básica,  a  partir  dos  princípios  do  Saúde  da  Família,  que  permeiam  e  são 

amplamente assumidos pelo discurso dos atores sociais do SUS. Nessa etapa, objetivou‐se 

analisar a contribuição da implantação das ESFs, em Belo Horizonte, para a reorganização da 

atenção básica, no que se refere à oferta, utilização e acessibilidade dos serviços de saúde.  

Os grupos focais (GF) reuniram‐se, num mesmo local, e durante certo período. Deles 

participaram pessoas que fazem parte do público‐alvo da investigação. Com a realização dos 

GFs, objetivou‐se coletar uma variedade de informações, de sentimentos, de experiências e 

de interpretações, acerca de um determinado tema, a partir do diálogo e do debate entre os 

participantes. Trata‐se de uma técnica de pesquisa que coleta dados por meio de interações 

grupais  e  da  discussão  de  um  tópico  sugerido  pelo  pesquisador  (DIAS,  2000; GONDIM  e 

BAHIA, 2002; BAUER e GASKELL, 2003).  

Por  tratar‐se  de  encontro  intersubjetivo,  permeado  de  relações  de  poderes, 

singularidades  e  ambiguidades  próprias  das  relações  sociais,  o método  escolhido  para  a 

análise dos depoimentos  foi o do materialismo histórico dialético. Centrou‐se na unidade 

dos contrários e na expressão da realidade dos sujeitos, em busca de possíveis sínteses para 

as questões levantadas (TRIVIÑOS,1996; DEMO, 2000; MINAYO, 2006) 

Procurou‐se desvelar os  interditos, as exemplaridades e as disrupções. Tentou‐se  ir 

além  da  linearidade  das  falas,  sempre  tão  impregnadas  de  padrões  que  mascaram  o 

cotidiano dos serviços de saúde. Visou‐se, assim, ao que não se explicita, o que se contradiz 

sem intenção, o que não se mostra ou aparece num primeiro momento.  

 

 

 

 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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4.4.1 Coleta de dados e instrumentos  

    

A dinâmica dos grupos durou, aproximadamente, 2 horas, contou com um número 

de  participantes  entre  6  e  12,  conforme  recomendação  da  técnica  e  teve  como  objetivo 

conhecer  o  processo  de  trabalho  da  ESF  na  UBS.  Para  tanto,  partiu‐se  do  contexto 

sociohistórico dos entrevistados, aspecto importante para a interpretação dos depoimentos 

produzidos, como se verá no tópico seguinte.  

Inicialmente, os profissionais apresentavam‐se sob um cognome especial e citavam 

um fato, ou momento marcante da sua vida pessoal ou profissional. Em seguida, passava‐se 

à descrição dos resultados obtidos no survey, como subsídio às questões levantadas a seguir. 

A  partir  de  então,  discutiam‐se  a  duplicidade  de  ações  entre  as UBSs  e  as UPAs,  já  que, 

ambas atendem problemas de saúde leves; as barreiras de acesso identificadas nas UBSs; a 

pouca  utilização  das  ações  programáticas  pelos  usuários,  em  relação  às  consultas  de 

demanda espontânea; as distintas formas de organização do trabalho das ESFs e os possíveis 

indícios de mudanças nas práticas profissionais, a partir dos princípios do Saúde da Família. 

O roteiro de entrevista (Apêndice B), que contém quatro questões, foi elaborado a partir da 

primeira etapa da pesquisa e dos resultados do survey, quando surgiram os temas a serem 

aprofundados.  Realizou‐se  um  pré‐teste  das  perguntas,  durante  o  piloto  da  investigação, 

com as adequações cabíveis. 

Participaram dos GFs  observadores  externos que  anotavam o  comportamento dos 

profissionais durante as discussões, ou seja, as expressões, o gestual, os ditos, os silêncios, 

tudo  o  que  pudesse  auxiliar  nas  análises.  Esses  observadores  formavam  a  equipe  de 

bolsistas,  que  passou  por  um  curso  preparatório  sobre métodos  e  técnicas  em  pesquisas 

qualitativas (com enfoque na análise do discurso, teoria que subsidiou a análise, bem como a 

hermenêutica  de  profundidade),  cujos  detalhes  serão  ditos  adiante.  Para  tanto,  foram 

elaborados os instrumentos de análises e um manual para os pesquisadores, como forma de 

melhor  coordenar  a  sistematização  dos  dados.  Cada  sessão  foi  gravada  e  filmada 

integralmente. Tanto as transcrições dos depoimentos, quanto as imagens produzidas, bem 

como os registros dos observadores, foram utilizados nas análises. 

 

 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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4.4.1.1 Análise: interpretação dos depoimentos a partir da hermenêutica de profundidade 

e análise do discurso  

 

Investir  na  avaliação  como  instrumento  que  subsidie  a  indicação  de  mudanças 

constitui  a  principal  aplicabilidade  das  concepções  críticas  dos  processos  avaliativos.  Tal 

prerrogativa  é  pouco  priorizada  em muitas  técnicas  utilizadas  para  avaliar  programas  e 

serviços de saúde, seja porque a premência da doença  imprime um  foco na epidemiologia 

clássica,  seja  porque  a  gestão  dos  sistemas  e  serviços  de  saúde,  igualmente,  exigem 

respostas ágeis em relação à sua eficiência. A despeito de as premissas programáticas serem 

plenamente justificáveis, há de se considerar que a profundidade dos princípios doutrinários 

do SUS, nos quais o PSF se espelha, pressupõe o fomento à centralidade dos sujeitos como 

protagonistas na conquista do direito à saúde.  

Na  tentativa de desvelar a  linearidade dos depoimentos, utilizou‐se um  referencial 

teórico‐motodológico  calcado na hermenêutica de profundidade  (HP)  (THOMPSON, 1995). 

Priorizou‐se a interpretação das falas, dos textos e dos interdiscursos produzidos nos grupos 

focais, para a  identificação das  formas com que os profissionais organizam o  trabalho nas 

UBSs, ou a acessibilidade dos serviços, parte de uma realidade complexa e ambivalente.  

Para visualizar como ocorre a produção e a gestão do cuidado, na prática dos serviços 

de saúde, há de se investir num instrumental analítico, que considere o contexto, as relações 

sociais  e  as  dinâmicas  que  ocorrem  na  realidade  estudada  (PIRES  e  GOTTEMS,  2009).  A 

hermenêutica de profundidade  (HP) é adequável a essa necessidade, pois procura analisar 

como os discursos são produzidos para manter relações de poder. Thompson (1995), calcado 

na teoria crítica, e refletindo sobre ideologia, cultura e comunicação de massas na sociedade 

moderna, propõe um arcabouço metodológico para  instrumentalizar análises de discursos. 

Em  linhas  gerais,  esse  referencial  propõe  interpretar  como  as  “formas  simbólicas”, 

entendidas como construções significativas, que exigem interpretação, são empregadas para 

manter  relações  de  poder,  o  que  se  denomina  ideologia.  Thompson  afirma  que  a 

“hermenêutica da vida cotidiana” deve ir além da “interpretação da doxa”. A doxa, de que se 

fala,  são  as  opiniões,  crenças  e  compreensões  que  são  sustentadas  e  partilhadas  pelas 

pessoas,  num  determinado  contexto  sociohistórico.  No  referencial  teorizado,  o  campo‐

objeto  contextual  é  igualmente  considerado  na  análise,  uma  vez  que  tanto  as  formas 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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simbólicas,  quanto  os  sujeitos  que  as  produzem  estão  inseridos  em  condições  sociais  e 

históricas específicas. 

Em termos de método, Thompson (1995) sistematiza o referencial em três âmbitos: 

análise  sociohistórica,  análise  formal  ou  discursiva  e  interpretação  ou  re‐interpretação. A 

análise  sociohistórica diz  respeito às  condições  conjunturais em que as  formas  simbólicas 

são produzidas e conformadas; a análise  formal ou discursiva procura desvelar a estrutura 

da complexidade dos objetos e expressões, que circulam o campo social. A interpretação ou 

re‐interpretação procede na realização de sínteses possíveis, a partir das etapas anteriores, 

em que se procura manter o caráter aberto, ou a intenção de tentar colocar‐se no lugar do 

outro.  

Na  Figura  3,  sintetizam‐se  as  formas  de  investigação  da  hermenêutica  de 

profundidade (THOMPSON, 1995).  

 

Figura 3 ‐  Formas de Interpretação da Hermenêutica de Profundidade segundo Thompson 

    

  Análise  Sócio‐Histórica 

‐Situações espaço‐temporal;  ‐Campos de Interação  ‐Instituições sociais  ‐Estrutura Social  ‐Meios técnicos de transmissão 

Referencial Metodológico da  Hermenêutica  de Profundidade (HP) 

 Análise Formal  ou Discursiva 

‐Análise semiótica ‐Análise de conversação  ‐Análise sintática  ‐Análise narrativa  ‐Análise argumentativa 

  Interpretação ou Re‐interpretação  

     Fonte: Thompson (1995: 365). 

 

Tanto  a  hermenêutica  de  profundidade,  referencial  metodológico  centrado  na 

interpretação das  formas  simbólicas, quanto a análise do discurso, constructo  teórico que 

privilegia  a  compreensão  da  linguagem  em  suas  condições  de  produção  e  apreensão  de 

significados,  podem  ajudar  a  desvelar  estruturas  mais  profundas,  presentes  nos 

depoimentos.  O  que  há  de  comum  entre  tais  abordagens  é  a  concepção  de  ideologia, 

INTERPRETAÇÃO DA DOXA INTERPRETAÇÃO DA VIDA

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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enquanto discurso que  reedita  relações de poderes excludentes18, bem como o  realce das 

falas, com o objetivo de explicitar as formas de dominação manifestas na comunicação e na 

língua.  

Optou‐se por analisar os depoimentos dos profissionais em saúde à luz da proposição 

metodológica da hermenêutica de profundidade, defendida por Thompson, utilizando‐se os 

subsídios  da  análise  do  discurso,  propostos  por  Orlandi  (2001),  para  exame  das  formas 

simbólicas  expressas  nas  declarações  dos  grupos  focais.  Extraíram‐se  das  obras  desses 

autores  conceitos  e  instrumentos  apropriados  à  pesquisa  realizada,  sem  maior 

aprofundamento sobre o complexo campo teórico que cada uma delas aborda que, embora 

relevantes  e  necessários  à metodologia  do  conhecimento  científico,  fogem  às  ambições 

deste estudo. 

Não se pretende elaborar uma teoria metodológica própria, para manejo dos dados 

empíricos  da  pesquisa,  mas  inspirar‐se  em  algumas  abordagens  para  analisar,  com  voz 

própria, sabendo‐a  limitada, ambígua e discutível, os depoimentos presentes nas  falas dos 

entrevistados,  recurso  igualmente  utilizado  em  produções  anteriores  (PIRES,  2001;  PIRES, 

2004;  PIRES,  2005).  Ciente  da  incompletude  do  conhecimento,  em  que  os  consensos  e 

limites  cabem  na  capacidade  de  objetivação  humana,  assume‐se  aqui  a  dialética  entre  a 

estrutura  e  a  dinâmica  das  relações  sociais19.  Assim,  no  caminho  do  referencial 

metodológico  da  HP,  proposto  por  Thompson  e  reinterpretado  por  Demo  (2001),  o 

procedimento  investigativo  dos  grupos  focais  estrutura‐se  em  três  momentos 

interdependentes  e  complementares:  1)  contextualização  sociohistórica;  2)  análise 

estrutural  e  3)  dinâmica  interpretativa.  O  objetivo  é  desvelar  a  superficialidade  do 

depoimento por meio do  aprofundamento  significativo da  relação  subjetiva manifesta no 

18 A análise do discurso propõe uma ressignificação da noção de ideologia a partir da linguagem, concepção próxima à de Thompson, que se interessa em saber como as formas simbólicas servem para manter relações de dominação. Veja‐se este trecho  em Orlandi  (2001:  47):  “O  sentido  é  assim  uma  relação  determinada  do  sujeito  –  afetado  pela  língua  –  com  a história. É o gesto de interpretação que realiza essa relação do sujeito com a língua, com história, com os sentidos. Esta é a marca da subjetivação e, ao mesmo tempo, o traço da relação da língua com a exterioridade: não há discurso sem sujeito. E não  há  sujeito  sem  ideologia.  Ideologia  e  inconsciente  estão  materialmente  ligados.  Pela  língua,  pelo  processo  que acabamos de descrever.” 19 Minayo (1992) arremata com propriedade a relação entre hermenêutica e dialética, realçando a impossibilidade de uma única  abordagem  dar  conta  de  explicar  a  realidade:  “Enquanto  a  hermenêutica  penetra  no  seu  tempo  e  através  da compreensão procura atingir o sentido do texto, a crítica dialética se dirige contra seu tempo. Ela enfatiza a diferença, o contraste, o dissenso e a  ruptura de sentido. A hermenêutica destaca a mediação, o acordo e a unidade de sentido”  (p. 227). 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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campo‐sujeito‐objeto recortado, sabendo‐os  limitados pelo mistério maior da comunicação 

humana20.  Assim sendo, elencaram‐se as seguintes dimensões: 

a) Contextualização sociohistórica  

A  conjuntura  em  que  se  produzem,  recebem  e  circulam  as  formas  simbólicas 

influencia  o  sentido  expresso  nos  depoimentos  dos  sujeitos;  ou  seja,  as  condições  e  as 

oportunidades  em  que  cada  sujeito  se  encontra,  o  percurso,  os  ritos,  as  tradições,  os 

poderes  e  contra‐poderes,  as  intervenções  possíveis  e,  ou  pouco  prováveis,  os  saberes  e 

conhecimentos; enfim, as circunstâncias em que as formas simbólicas se dão interferem na 

comunicação  e  na  linguagem  das  relações  sociais.  Pretendeu‐se  captar  minimamente  a 

tessitura dialética da historicidade presente no grupo, de forma a perceber como as sínteses 

se movem no cotidiano. No que tange às informações dos entrevistados, importa um breve 

registro  da  trajetória  profissional  e  cidadã,  objetivando  demarcar  o  cenário  em  que  se 

inserem. Os aspectos valorativos, culturais, subjetivos e sociais mencionados têm relevância 

para análise do depoimento, uma vez que integram o campo‐objeto em que se produzem os 

discursos que mantêm relações de poderes; 

b) Análise estrutural 

O espaço onde ocorrem os depoimentos e os sentidos nele  incluídos são histórico‐

estruturais, convivem dialeticamente com movimentos próprios da história e com estruturas 

que  se  reeditam  com  maior  assiduidade  no  contexto  em  foco.  Nele,  ocorrem  as 

características mais  constitutivas  e  formais da  língua  e do  discurso, que  contribuem para 

explicar minimamente, até onde for possível tal formalismo, como a linguagem funciona, em 

cenários sociohistóricos específicos, para produzir significados. A  face estrutural da análise 

não se resume à linguagem e seu funcionamento, posto que o mistério da fala é, por demais, 

complexo  e  imperfeito.  Trata‐se  de  etapa  importante  para  a  tentativa  de  desvelar  a 

superficialidade  do  texto,  destacando‐lhe  as  frequências,  códigos,  “silêncios”, 

“interdiscursos”,  posicionamentos,  modo  de  dizer  e  não‐dizer,  argumentos  e  demais 

características importantes presentes na exterioridade da fala. 

“Texto”,  “interdiscurso”  e  “silêncio”  constituem  conceitos  destacados  na  teoria  do 

discurso  em Orlandi  (2001),  segundo  a  qual,  o  texto  é  uma  unidade  complexa  que  pode 

20 Nunca  se  sabe  ao  certo  o  que  se  diz,  por  que  se  diz  e  como  se  diz,  já  que  o  sentido  revela  elementos  objetivos  e subjetivos  da  existência  humana  não  totalmente  conhecidos.  A  esse  respeito  ver:  Orlandi,  E.  P.  Análise  do  Discurso: princípios e procedimentos. Campinas: Pontes, 2001. 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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significar uma palavra, uma frase ou uma entrevista inteira. Também pode ser um livro, um 

romance ou qualquer recurso que faça sentido ao momento histórico. Não é a extensão que 

delimita o texto, mas o fato de constituir unidade em relação à situação. O interdiscurso diz 

respeito à  ‘‘memória discursiva’’ ou ao que é dito antes, em outro tempo, e que retorna à 

fala dos sujeitos para fazer sentido21. Interdiscurso é a articulação de vários discursos, várias 

interpretações possíveis que sustentam um modo de dizer as coisas. A relação entre o dito e 

o não dito, entre o subentendido, entre o que se diz não dizendo, manifestam‐se nas várias 

formas em que o silêncio ocorre. Entender o silêncio e seus significados depende de como 

acontece a inserção dos interlocutores no contexto histórico. Assim, o silenciamento da fala 

pode ter vários sentidos, muitos dos quais subjetivos, com diversos efeitos sobre a ação do 

sujeito22. 

Para analisar depoimentos em profundidade,  tentando descascar a  fala, extraindo‐

lhe sentidos e  ideologias, o manejo mínimo de estruturas  linguísticas se  faz necessário. Se 

for certo que nunca se saberá com certeza o total significado da fala e seus muitos sentidos, 

tal  incerteza alimenta a busca aprimorada, que se reconstrói continuamente na ambígua e 

controversa comunicação humana. Na tentativa de captar tais entrelinhas, consideram‐se: 

• Códigos  e  termos  frequentes:  investigam‐se  a  frequência  dos  componentes 

comunicativos, os argumentos que voltam, frases e palavras que se repetem, discursos que 

retornam, ênfase em determinadas expressões; 

• Posicionamentos e argumentações: buscam‐se estruturas mais profundas do 

depoimento,  principalmente  as  crenças,  os  comportamentos  arraigados,  as  expectativas, 

silêncios, atos  falhos, astúcias, recorrências. Procura‐se decifrar a  forma de argumentar do 

entrevistado,  os  recursos  e  subterfúgios  de  convencimento,  o  envolvimento  e  a  adesão 

daqueles que escutam. 

c) Dinâmica interpretativa 

Tanto o contexto sociohistórico, quanto a análise estrutural articulam‐se na dinâmica 

interpretativa,  a  qual  constitui  a  síntese  possível  do  campo‐objeto‐sujeito  investigado. O 

21 Para exemplificar a noção de interdiscurso, Orlandi interpreta o sentido de uma convocação para eleição em um campus universitário feito através de uma faixa escrita: “vote sem medo!“, que também poderia significar, por exemplo, “vote com coragem”, remetendo‐se à época da ditadura. Em um outro trecho, a autora pontua que “vote sem medo” pode ter como interdiscurso “vote sem medo de ser feliz!”, slogan da campanha de Lula, candidato de esquerda à presidência do Brasil. 22 Para aprofundamento sobre “silêncio” e demais conceitos da  teoria de discurso ver: Orlandi, E. P. A Linguagem e seu funcionamento. Campinas: Pontes, 1996 e Orlandi, E. P. Análise do discurso: princípios e procedimentos. Campinas: Pontes, 2001. 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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movimento  elucidativo  de  sentidos  e  poderes  requer  idas  e  vindas  como  elementos 

importantes para o entendimento do cotidiano. Trata‐se do arremate possível, do desfecho 

provisório, movediço e  reflexivo, do  significado  construído pelos  sujeitos – entrevistado e 

entrevistador. A  interpretação  implica movimentos de  construção  criativa  e  temporal das 

desconstruções  realizadas,  em  contextos  específicos,  e  pretende  chegar  a  construtos 

inusitados  de  significados,  a  partir  de  análises  formais,  que  subsidiam  novas  críticas 

reconstrutivas.  Interpretar  é  um  processo  inacabado  que  envolve  a  subjetividade  dos 

interlocutores  incluídos  na  relação  comunicativa,  portanto  sempre  incompleta,  por  se 

refazer na diversidade de significados possíveis  (THOMPSON, 1995). É  importante destacar 

que  o método,  aqui,  proposto  não  pretende  esgotar  o  imenso  campo  interpretativo  da 

realidade,  mas  dimensionar  alguns  fatores  que  se  reeditam  com  maior  frequência  nos 

espaços‐tempos  sociais,  sabendo‐os  limitados  e  incompletos23.  Essa  etapa  contém  duas 

partes articuladas: 

1ª) Do ponto de vista do entrevistado  (standpoint epistemology): um exercício de  se 

colocar  no  lugar  do  outro,  dentro  de  seu  contexto  e  vivências,  para  entender  o  que  ele 

gostaria de dizer ou de se fazer ouvir. Ou seja, seria o “entendimento do outro como o outro 

gostaria de ser entendido”; 

2ª) Crítica e  reinterpretação: síntese principal do grupo,  fundamentadas na categoria 

de análise da acessibilidade dos serviços e nos indicadores de avaliação delimitados (Quadro 

1). Revisão da  interpretação realizada, na  tentativa de manter o processo de reconstrução 

próprio do conhecimento inovador. 

A análise dos interdiscursos foi realizada com base nos registros dos observadores e 

da  presença  dos  processos  grupais  que  viabilizam  ou  emperram  as  dinâmicas  relacionais 

(FERN 2001 apud GONDIM e BAHIA, 2002). Assim,  investigou‐se a presença dos  seguintes 

processos grupais:  

• Bloqueios de produção, visto como a ativação simultânea de dois processos 

distintos,  pensar  o  que  vai  dizer  e  ouvir  o  que  os  outros  estão  dizendo,  que  pode 

comprometer a fala do participante ou o momento oportuno para a mesma;  

23 “A metodologia da HP nos possibilita fazer uso de métodos particulares de análise e ao mesmo tempo alerta‐nos sobre seus limites e suas falácias subjacentes. São um esquema intelectual para um movimento de pensamento que demonstra características  distintas  das  formas  simbólicas,  sem  cair  nas  armadilhas  gêmeas  do  internalismo  ou  do  reducionismo” (Thompson, 2000: 377). 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

65

• Influência social, caracterizada pela apreensão da avaliação, a autoconsciência 

e a influência normativa como fatores inibidores das falas;  

• Influência  normativa,  comparação  que  se  faz  com  as  normas  e  padrões 

vigentes num grupo, como  inibidores. Pode ocasionar receio em discordar, em se destacar 

da “média” do grupo, em ser recriminado por não concordar com as regras vigentes;  

• “Pegadores de carona”, diz‐se das pessoas que se beneficiam do discurso do 

grupo,  sem dar nada em  troca.  Elas  fariam pouco esforço em  acrescentar  argumentos  às 

falas grupais.  

O processo de análise dos grupos foi criterioso e detalhado, realizado uma por vez, e 

sistematizada a síntese ao  final. Num primeiro momento, examinaram‐se os  interdiscursos 

dos  participantes, mediante  o  formulário  próprio  (formulário  1,  APÊNDICE  C)  em  que  se 

verificaram as imagens e as transcrições. Numa segunda etapa, procedeu‐se o desvelamento 

individual dos depoimentos, utilizando‐se o referencial da hermenêutica de profundidade e 

a análise do discurso (formulário 2, APÊNDICE D).  

Realizadas as análises  individuais,  sistematizava‐se a  síntese do grupo, extraindo‐se 

as categorias empíricas oriundas das  falas. Finda essa etapa,  retornava‐se ao  relatório dos 

interdiscursos e redigia‐se um único texto analítico. Esse procedimento foi repetido em cada 

um dos quatro grupos focais. Ao final, elaborou‐se uma síntese geral.  

 

4.5 Etapa 3: oferta dos serviços de atenção básica  

 

A  discussão  dos  grupos  focais  elucidou  a  maioria  das  questões  da  pesquisa. 

Aprofundou‐se  a  análise  do  processo  de  trabalho  dos  profissionais  das  ESFs,  tendo  por 

suposto  os  princípios  do  PSF.  Porém,  foi  preciso  comparar  a  utilização  dos  serviços 

informada  pelos  usuários  no momento  do  survey,  ou  a  caracterização  da  demanda  por 

serviços de atenção básica, com a oferta dos atendimentos realizados pelas UBSs. Por outra, 

a presumível diminuição das ações programáticas em relação aos atendimentos de demanda 

espontânea, fomentada nos resultados da etapa quantitativa, foi amplamente questionada 

pelos  profissionais  em  saúde,  embora  se  tenha  ratificado  que  as  distintas  formas  de 

organização das UBSs, para os programas de saúde normatizados, explicariam os números. 

Com o objetivo de verificar a pertinência dos dados coletados, procedeu‐se à análise da série 

histórica de todos os procedimentos realizados no período de setembro de 2008 a agosto de 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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2009 nas 10 UBSs da amostra, como forma de avaliar os indicadores de oferta elaborados no 

referencial metodológico  da  pesquisa  (Quadro1).  Delimitou‐se  esse  período  por  coincidir 

com  o  período  da  coleta  de  dados  do  survey  e  grupo  focal.  Essa  delimitação  justifica‐se, 

ainda, dada  a necessidade de  extrair um padrão médio da produção,  importante para  as 

confirmações  empíricas  buscadas  no  estudo.    Coletaram‐se  dados  sobre  o  cadastro 

populacional das UBSs e sobre a produção de todos os profissionais em saúde das 10 UBSs. 

 

4.5.1 Métodos utilizados para a análise das bases de dados secundárias 

 

Utilizou‐se  o  sistema  de  informação  Registro  de  Atendimento  Individual‐  FÊNIX, 

responsável pela  informação de todo o atendimento realizado pela rede própria da SMSA‐

BH, que possibilita extrair indicadores que avaliam a produção dos serviços. As informações 

disponibilizadas pelo FÊNIX incluem o histórico, por usuário, nas Unidades de Saúde da rede 

própria, bem como o consolidado dos atendimentos realizados, que subsidiam a geração da 

produção ambulatorial do SUS, em Belo Horizonte. Esse sistema alimenta a maior parte dos 

sistemas  de  informações  nacionais  do  Banco  de  Dados  do  Sistema  Único  de  Saúde,  do 

Ministério da Saúde (DataSUS/MS), como o Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB). 

Embora o município esteja em substituição gradual dessa tecnologia pelo Sistema Saúde em 

Rede,  que  inclui  a  implantação  dos  protocolos  eletrônicos  em  todas  as  146  UBSs,  esse 

processo é recente, e não contemplaria todo o período delimitado para a série histórica.   

Escolheram‐se  alguns  atendimentos  específicos  correspondentes  às  áreas 

programáticas mais consolidadas na atenção básica. Assim, avaliaram‐se as seguintes ações 

programáticas:  

a) Saúde da mulher – pré‐natal e prevenção do câncer;  

b)  Saúde  da  criança  –  acompanhamento  do  crescimento  e  desenvolvimento  de 

crianças menores de 1 ano;  

c) Saúde do adulto – atendimentos ao hipertenso.  

Além desse critério, consideraram‐se as situações que possuíam dados consistentes, 

a  fim de evitar vieses no estudo. Para manejo do banco de dados enviado pela SMSA‐BH 

utilizou‐se o programa Excel, versão 2007, e a estatística descritiva  simples. Realizou‐se o 

cálculo  de  percentual  e  de médias,  considerado  suficiente  para  atender  aos  objetivos  da 

etapa.  

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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Construíram‐se  duas  planilhas,  inicialmente,  que  originaram  todos  os  gráficos  e 

análises do estudo. A seguir, descrevem‐se os procedimentos realizados em cada uma das 

tabelas, que por sua vez explicam todos os gráficos gerados. 

Para definição dos procedimentos necessários para a análise da oferta, levaram‐se em 

conta os  indicadores de número 6  a 11  (Quadro 1),  indicadores e  conceitos utilizados na 

avaliação dos serviços nas UBSs, listados no Quadro 2. A partir desses dados, definiram‐se os 

cálculos dos dados disponíveis. 

 

Quadro 2Indicadores e conceitos utilizados na avaliação dos  serviços de atenção básica, nas Unidades Básicas de Saúde investigadas, Belo Horizonte, 2009  

INDICADORES DE AVALIAÇÃO CONCEITOS UTILIZADOS 

Cobe

rtura   6‐População coberta pelo PSF das UBSs ‐ Cobertura populacional das Equipes Saúde da Família 

(ESFs). 7‐Número  de  consultas  médicas  por habitante/ano da UBS  

‐ Cobertura populacional de consultas médicas anual,por habitante. 

8‐População adstrita da UBS com, e sem ESF  ‐ Cobertura  populacional  de  serviços  de  atenção básica. 

Prod

ução

 das ações e serviços de

 saú

de 

 

9‐Comparação  da  produção  de atendimentos  de  demanda  espontânea  e das  ações  programáticas  das  ESFs  e  da equipe  de  apoio,  por  UBS,  em  relação  ao recomendado pelas diretrizes da SMSA‐BH  10‐  Análise  comparativa  entre  a  produção de atendimentos de demanda espontânea e das  ações  programáticas  das  ESFs  e  da equipe de apoio, por UBS, com a utilização dos  serviços,  informada  pelos  usuários  no momento do survey 

‐Média mensal de atendimentos totais realizados por profissionais da ESF e equipe de apoio nas UBSs. ‐Média mensal de atendimentos de ação programática realizados por profissionais da ESF e equipe de apoio nas UBSs.  ‐Média mensal de atendimentos de demanda espontânea. ‐ Procedimentos de demanda espontânea utilizados pelos usuários nas UBSs. ‐ Procedimentos de ações programáticas utilizados pelos usuários nas UBSs. 

 11‐  Análise  comparativa  entre  a  demanda prevista pelos parâmetros de programação para  a  atenção  básica  e  os  atendimentos realizados  dentro  das  ações  programáticas de  saúde  da  criança, mulher  e  adulto,  por ESF e equipe de apoio, nas UBSs 

‐ Média de consulta mensal prevista e realizada para o pré‐natal, por profissional da ESF e equipe apoio nas UBSs. ‐Média de consulta mensal prevista e realizada ao usuário com hipertensão arterial, por profissional da ESF e equipe apoio. Média de consulta mensal prevista e realizada para o preventivo de câncer de mulheres, por profissional da ESF e equipe de apoio. ‐ Média  de  consulta  mensal  prevista  e  realizada  às crianças menores de 1 ano, por profissional da ESF e equipe apoio. 

Fonte: Elaboração própria, 2009 

 

 

 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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4.5.1.1 Procedimentos operacionais para o cálculo dos indicadores de oferta 

 

4.5.1.1.1 Indicadores de cobertura dos serviços de atenção básica 

 

A  análise  da  cobertura  dos  serviços  de  atenção  básica  foi  realizada mediante  os 

indicadores  clássicos  para  verificação  da  oferta  adequada  à  população.  Avalizou‐se  a 

disponibilidade de UBSs, ESFs e de  consultas médicas básicas para  as pessoas da  área de 

abrangência dos serviços investigados. Os cálculos e as fontes de informações utilizados são 

descritos no Quadro 3, adiante.  

 

4.5.1.1.2‐ Indicadores de produção das ações e serviços de saúde  

 

Avaliou‐se a oferta das ações e serviços disponibilizados pelas UBS à população, com o 

uso  dos  dados  sobre  a  produção  dos  serviços  e  estimativas  de  demanda  a  partir  de 

parâmetros  oficiais  de  programação.  Inicialmente  comparou‐se  a  realização  dos 

atendimentos de demanda espontânea com aqueles oriundos das ações programáticas, por 

equipe  e  profissionais  das UBSs. Os  resultados  desse  estádio  foram  contrastados  com  as 

informações  do survey, por meio da análise da oferta e da demanda dos serviços, no que foi 

possível realizá‐la. Por fim, viu‐se o desempenho das ESF e de apoio das UBSs na realização 

das  consultas  previstas  para  cada  uma  das  ações  programáticas  selecionadas  –  saúde  da 

criança,  saúde  da mulher  (pré‐natal  e  preventivo  de  CA)  e  saúde  do  adulto  (controle  da 

hipertensão  arterial).  Seguem‐se  os  conceitos  utilizados,  devidamente  sintetizados  no 

Quadro 3 (pag. 72). 

 

a)Média mensal de atendimentos realizados pela UBS 

 

Selecionou‐se o número total de atendimentos realizados pela UBS, presente na série 

histórica; dividiu‐se o valor por doze meses, correspondente ao período anual delimitado, e 

obteve‐se o total de atendimentos mensal. Para efeitos de cálculo, considerou‐se o total de 

atendimentos realizados em homens e mulheres. 

 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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b) Média mensal de atendimentos de ação programática realizados pela Equipe de apoio e 

Equipe Saúde da Família 

 

Da mesma forma que no item anterior, calculou‐se a média de cada um dos tipos de 

atendimentos  realizados  pelos  distintos  profissionais  nas  UBSs,  ou  seja,  pelo  médico 

generalista e pelo enfermeiro,  integrantes das ESFs, ou médico especialista  (ginecologista, 

pediatra e clínico geral), componentes da equipe de apoio. Somou‐se o número referente ao 

motivo de atendimento de toda a série histórica, dividiu‐se por doze, e obteve‐se a média de 

atendimentos mensal por ação programática.  

Descreveu‐se cada um dos programas, da seguinte maneira:  

•   Consulta de pré‐natal: selecionou‐se a variável “motivo de atendimento: pré‐natal 

no primeiro, segundo e terceiro trimestres”, por profissional de saúde;  

• Consulta para acompanhamento do crescimento e desenvolvimento (CD) da criança: 

selecionou‐se a variável “motivo de atendimento: puericultura, na  faixa etária menor de 1 

ano”, por profissional de saúde;  

•  Consulta  para  preventivo  câncer  ginecológico:  selecionou‐se  o  “motivo  de 

atendimento: coleta de material citopatológico”, por profissional de saúde;  

• Consulta ao hipertenso: selecionou‐se o “motivo de atendimento: hipertensão”, por 

profissional de saúde. 

 

c) Média mensal de atendimentos de demanda espontânea  

 

Considerou‐se para o cálculo da demanda espontânea o item “motivo de atendimento: 

outros, quadro agudo, doença respiratória, diarreia aguda, parasitose intestinal, infecção do 

trato  urinário,  doença  de  pele  e  anexos,  doenças  do  aparelho  geniturinário,  doenças  do 

aparelho  gastrointestinal,  negligência/maus  tratos,  valvulopatia  reumática,  portador  de 

deficiência  física,  alcoolismo,  epilepsia,  Doença  de  Chagas,  doença  reumática,  neoplasia, 

convalescença de AVC, convalescença de infarto”.  

Somaram‐se todos os atendimentos citados acima para os profissionais em saúde das 

ESFs ou da equipe de apoio, de toda a série histórica. Dividiu‐se por doze e encontrou‐se a 

média  mensal  de  atendimentos  de  demanda  espontânea.  Foram  considerados  esses 

atendimentos  por  não  se  encaixarem  em  nenhuma  outra  ação  programática,  mesmo 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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aquelas  não  analisadas  na  pesquisa,  tais  como  controle  da  tuberculose,  eliminação  da 

hanseníase, saúde do idoso, saúde mental. 

Para a obtenção do total das ações programáticas, somou‐se a média mensal de todas as 

ações programáticas consideradas na pesquisa, por profissional de saúde.  

Observe‐se que o cálculo do percentual foi realizado sobre a média mensal do total de 

atendimentos realizados pela unidade básica de saúde. 

 

d) Média de consulta mensal prevista e realizada para o pré‐natal 

 

Estimou‐se a população de gestantes da área de abrangência de cada ESF, utilizando‐

se o parâmetro de 3% do total das mulheres, segundo o proposto pelo Ministério da Saúde 

e, adotado igualmente, pela SMSA‐BH (BRASIL, 2006; BELO HORIZONTE, 2006).  

Do total de gestantes, 85% seriam de baixo risco, e correspondem à demanda de pré‐

natal das ESFs, e 15% seriam de risco elevado, e correspondem à demanda do ginecologista 

da Equipe de apoio. Para estimar a quantidade mensal de consultas a serem realizadas, que 

é  diferente  da  quantidade  de  pessoas,  foi  preciso  fazer  um  ajuste  matemático  que 

expressasse a demanda mensal de atendimento às gestantes da área. Assim, multiplicou‐se 

a estimativa de mulheres grávidas pelo número previsto de consultas anuais (seis) e dividiu‐

se o valor por 12 para obter o valor mensal. Esse procedimento foi realizado sempre que o 

número de consultas anuais recomendado foi superior a uma. 

• Consultas  de  pré‐natal  realizadas:  selecionou‐se  a  variável  “motivo  de 

atendimento:  pré‐natal  no  primeiro,  segundo  e  terceiro  trimestres”,  por  profissional  de 

saúde (médico e enfermeiro das ESFs e ginecologista da equipe de apoio). Dividiu‐se o valor 

por 12, e obteve‐se o valor mensal. 

 

e) Média de consulta mensal prevista e realizada para o preventivo de câncer de mulheres 

 

Para o cálculo da demanda de mulheres para a  realização do preventivo de câncer 

ginecológico, as informações disponíveis no FÊNIX/SMSA/BH eram incompatíveis com a faixa 

etária requerida para o cálculo dos exames a serem realizados.  

Diante  dessa  limitação,  utilizou‐se  a  população  total  das UBSs  para  realização  dos 

cálculos.  Com  os  parâmetros  oficiais  nacionais  e  locais  (BRASIL,  2006;  BELO  HORIZONTE, 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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2006), estimou‐se que 4,4% da população geral sejam de mulheres de 35 a 49 anos, e que 

40%  das  mulheres  nessa  faixa  etária  nunca  fizeram  exame  citopatológico.  O  PSF  seria 

responsável pela cobertura de 70% desse total, o enfermeiro assumiria a metade (50%), e o 

médico generalista a outra metade. Das mulheres que já fizeram exame citopatológico, 50% 

deveriam ser cobertos pelas ESFs, com a mesma distribuição de realização dos exames entre 

o médico  (50%) e o enfermeiro  (50%). Estima‐se que a população  feminina, entre 25 e 35 

anos, e entre 49 e 60 anos, corresponda a 11,49% da população geral. O Saúde da Família 

cobriria 50% dessa parcela,  sendo que o enfermeiro assumiria metade  (50%), e o médico 

generalista, a outra metade.  

• Consultas realizadas para preventivo CA: selecionou‐se a variável “motivo de 

atendimento:  coleta  de  material  cérvico‐uterino”,  por  profissional  de  saúde  (médico  e 

enfermeiro das ESFs e ginecologista da Equipe de apoio). Dividiu‐se o valor por 12, e obteve‐

se o valor mensal. 

 

f) Média de consulta mensal prevista e realizada ao usuário com hipertensão arterial 

 

Estimou‐se a população de hipertensos da área de abrangência das UBSs, utilizando‐

se  o  parâmetro  de  22%  da  população,  com  idade  acima  ou  igual  a  40  anos,  conforme 

recomendações  oficiais  (BRASIL,  2006;  BELO HORIZONTE,  2006).  Prevê‐se  que  80%  dessa 

demanda  sejam acompanhados nas UBSs; assim, adotou‐se a população  referente a esses 

80% como base de cálculo. Para realizar a previsão do número de consultas, de acordo com 

essa  demanda,  calcularam‐se  6  consultas  ao  ano,  para  cada  usuário  hipertenso, 

considerando‐se que duas são de responsabilidade do médico generalista e 4 do enfermeiro. 

Duplicou‐se o número de usuários  estimados por  6  e dividiu‐se  esse montante por doze, 

obtendo‐se o número previsto de consultas mensais a serem realizadas pelas ESFs nas UBSs.   

• Consultas realizadas a usuários hipertensos: selecionou‐se a variável “motivo 

de  atendimento:  hipertensão”,  por  profissional  de  saúde  (médico  e  enfermeiro  da  ESF  e 

clínico da equipe de apoio). Dividiu‐se o valor por 12, e obteve‐se o valor mensal. 

 

 

 

 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

72

g) Média de consulta mensal prevista e realizada à criança 

 

Considerou‐se  a  população  menor  de  1  ano,  cadastrada  nas  UBSs  analisadas. 

Recomenda‐se que sejam realizadas, no mínimo, 8 consultas anuais para cada criança menor 

de um ano, das quais, duas pelo generalista, duas pelo pediatra e quatro pelo enfermeiro. 

Identificou‐se o número de  crianças menores de um ano,  cadastradas na área. A base de 

cálculo da demanda de consultas previstas e  realizadas para as  crianças  foi o  cadastro da 

ESF, e não uma estimativa  com base em dados populacionais,  como nos  itens anteriores.  

Para  a  previsão  do  número  de  consultas  a  serem  realizadas,  multiplicou‐se  o  total  de 

crianças das UBSs por 8, referente ao número de consultas anuais, e dividiu‐se por doze, a 

fim de obter‐se a média mensal.  

• Consultas de acompanhamento ao crescimento e desenvolvimento realizadas: 

selecionou‐se a variável “motivo de atendimento: puericultura”, por profissional de  saúde 

(médico e enfermeiro das ESFs e pediatra da Equipe de apoio). Dividiu‐se o valor por 12, e 

obteve‐se o valor mensal. 

Observa‐se que o percentual foi calculado tendo como base o total de atendimentos 

de cada ação programática. 

 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

73

Quadro 3 

Referências metodológicas utilizadas na avaliação da oferta dos serviços das Unidades Básicas de Saúde investigadas, Belo Horizonte, 2009 

Indicadores de avaliação   Conceitos utilizados Procedimentos operacionais e fontes de informação Parâmetros oficiais6 ‐ População coberta pelo PSF das UBSs; 

‐ Cobertura populacional da Equipes Saúde da Família (ESFs). 

‐ Identificação da área de abrangência de cada ESF das EBS. Fonte: Sistema de Informação Fenix/GEREPI/SMSA‐BH, nov. 2009. 

Cada ESF deve oferecer serviços a uma população de 3500 a 4000 pessoas (BRASIL, 2006a). 

7 ‐ Número de consultas médicas por habitante/ano da UBS;  

‐ Cobertura populacional de consultas médicas anual por habitante. 

‐ Identificou‐se o número total de consultas médicas anuais da UBS; dividindo‐o,depois, pela população total da área de abrangência da UBS. Fonte: Sistema de Informação Fenix/GEREPI/SMSA‐BH, nov. 2009. 

1 consulta médica por habitante ao ano (BRASIL, 2002). 

8 ‐ População adstrita da UBS com e sem ESF;  

‐ Cobertura populacional de serviços de atenção básica. 

‐ Identificou‐se a população total da área de abrangência das UBS completamente e parcialmente cobertas pelo PSF. Fonte: Sistema de Informação Fenix/GEREPI/SMSA‐BH, nov. 2009. 

‐ 1 UBS sem PSF para cada 30.000 habitantes, em grandes centros urbanos (BRASIL, 2006a);  ‐ 1 UBS com PSF para cada para cada 12.000 habitantes, em grandes centros urbanos (BRASIL, 2006a). 

9 ‐ Comparação da produção de atendimentos de demanda espontânea e das ações programáticas das ESFs e da equipe de apoio, por UBS, em relação ao recomendado pelas diretrizes da SMSA‐BH;  10 ‐ Análise comparativa entre a produção de atendimentos de demanda espontânea e das ações programáticas das ESFs e da equipe de 

‐Média mensal de atendimentos totais realizados por profissionais da ESF e equipe de apoio nas UBSs. 

‐ Nº total de atendimentos realizados pela UBS (ações programáticas e demanda espontânea), período out./2008 à out./2009, dividido por 12 (ano).  Fonte:  Sistema  de  Informação  Fenix/GEREPI/SMSA‐BH, nov. 2009. 

‐A SMSA‐BH recomenda que a ESF destine 25% das atividades para o acolhimento (atendimento da demanda espontânea) e que o restante seja dedicada às demais ações da ESF(BELO HORIZONTE, 2008).  ‐As equipes de apoio oferecem retaguarda para as ações da ESF,  inclusive na realização das ações programáticas  (BELO HORIZONTE, 2008).  

‐ Média mensal de atendimentos de ação programática realizados por profissionais da ESF e equipe de apoio nas UBSs.  

‐ Nº de ações programáticas realizadas (“motivo de atendimento:pré‐natal no primeiro, segundo e terceiro trimestres; puericultura, faixa etária menor de 1 ano; coleta de material citopatológico; hipertensão”), por profissionais de saúde (médicos de apoio, generalistas e enfermeiros da ESF), período out./2008 à out./2009, dividido por 12 (ano). Fonte:  Sistema  de  Informação  Fenix/GEREPI/SMSA‐BH, nov. 2009. 

‐Média mensal de atendimentos de 

‐ Nº de atendimentos à demanda espontânea (“motivo de atendimento –outros, quadro agudo, doença respiratória, 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

74

apoio, por UBS, com a utilização dos serviços informada pelos usuários no momento do survey; 

demanda espontânea. diarreia aguda, parasitose intestinal, etc.,”), por médicos de apoio, generalistas e enfermeiros da ESF, período out./2008 à out./2009, dividido por 12. Fonte:  Sistema  de  Informação  Fênix/GEREPI/SMSA‐BH, nov. 2009. 

‐ Procedimentos de demanda espontânea utilizados pelos usuários nas UBSs. 

‐ Nº total de consultas médicas, acolhimentos e consultas de retorno informadas pelo usuário no survey. Fonte: Dados da pesquisa, 2008. 

‐ Procedimentos de ações programáticas utilizados pelos usuários nas UBSs. 

‐ Nº total de procedimentos de ação programática informada pelo usuário no survey. 

Fonte: Dados da pesquisa, 2008. 

11 ‐ Análise comparativa entre a demanda prevista pelos parâmetros de programação para a atenção básica e os atendimentos realizados dentro das ações programáticas de saúde da criança, mulher e adulto, por ESF e equipe de apoio, nas UBSs; 

‐ Média de consulta mensal prevista e realizada para o pré‐natal, por profissional da ESF e equipe apoio nas UBS. 

‐ Nº  consultas previstas às gestantes, referente a 3% das mulheres cadastradas na área de abrangência das ESF e da UBS, multiplicado por 6 (consultas anuais), dividido por 12 (ano); ‐ Nº consultas realizadas, referente ao “motivo de atendimento: pré‐natal no primeiro, segundo e terceiro trimestres”, por profissionais de saúde (médicos de apoio, generalistas e enfermeiros da ESF), período out./2008 à out./2009, dividido por 12. 

‐ Saúde da Criança: 8 consultas anuais, sendo 2 para o médico generalista, 2 para o pediatra e 4 para o enfermeiro da ESF (BELO HORIZONTE, 2008);  ‐ Saúde da Mulher ‐ Pré‐natal (BELO Horizonte, 2008; BRASIL, 2006b): estima‐se que 85% das gestantes da área de abrangência da ESF sejam de baixo risco. Recomenda‐se que o pré‐natal dessas mulheres seja realizado pelo PSF (6 consultas, 3 com enfermeiro, 3 com médico). Os outros 15% das gestantes seriam de risco elevado, cujo pré‐natal deve ser realizado pelos médicos de apoio (ginecologista e, ou obstetra, 7 consultas);  ‐ Saúde da mulher – Preventivo de Câncer (BELO Horizonte, 2008; BRASIL, 2006b): PSF: cobertura de 70% das mulheres entre 25 e 35 anos, e 50% daquelas entre 25 e 35, e 49 e 60 anos. Cada profissional, médico e enfermeiro da ESF, realizam o exame em 50% dessa demanda.    ‐ Saúde do Adulto – Controle da Hipertensão (BRASIL, 2006b): 80% da demanda estimada precisam de 

‐ Média de consulta mensal prevista e realizada ao usuário com hipertensão arterial, por profissional da ESF e equipe apoio. 

‐ Nº de consultas a usuários hipertensos acima de 40 anos, referente a 22% da população cadastrada na área de abrangência das ESF e da UBS, multiplicados por 6 (consultas anuais), divididos por 12 (ano); ‐ Nº referente ao “motivo de atendimento: hipertensão”, por profissionais de saúde (médicos de apoio, generalistas e enfermeiros da ESF), período out./2008 à out./2009, dividido por 12. 

‐ Média de consulta mensal prevista e realizada para o preventivo de câncer de mulheres, por profissional da ESF e 

‐ Nº de preventivos de CA a mulheres, na faixa etária de 25 a 49, referente a 4,4% da população cadastrada na área de abrangência das ESF e da UBS, divididos por 12 (ano); ‐ Nº de preventivos de CA a  mulheres, na faixa etária entre 25 e 35 anos, e entre 49 e 60 anos, referente a 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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equipe de apoio. 11,4% da população cadastrada na área de abrangência das ESF e da UBS, divididos por 12 (ano); ‐ Nº consultas para prevenção do CA às mulheres (“motivo de atendimento: coleta de material citopatológico”), por profissionais de saúde (médicos de apoio, generalistas e enfermeiros da ESF), período out./2008 à out./2009, dividido por 12 (ano). 

acompanhamento pelo PSF, realizando 6 consultas ao ano, sendo 2 do médico e 4 do enfermeiro da ESF.  

‐ Média de consulta mensal prevista e realizada às crianças menores de 1 ano, por profissional da ESF e equipe apoio. 

‐ Nº de consultas previstas às crianças menores de 1 ano, cadastradas pela ESF e UBS, multiplicado por 8 (consultas anuais), dividido por 12 (ano). ‐ Nº de consultas realizadas a crianças menores de 1 ano: “motivo de atendimento: puericultura, faixa etária menor de 1 ano”, por profissionais de saúde (médicos de apoio, generalistas e enfermeiros da ESF), período out./2008 à out./2009, dividido por 12 (ano). 

Fonte: elaboração própria, 2009

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

76

4.6 Triangulação de métodos e técnicas 

 

Ao  término de cada uma das etapas da pesquisa, procedeu‐se à complementaridade 

das informações e dos métodos obtidos. Assim, o resultado sobre a utilização das UBSs e das 

UPAs nas entrevistas com os usuários subsidiou boa parte das discussões nos grupos focais 

dos  profissionais  em  saúde.  Problematizou‐se  como  a  organização  do  trabalho  nas UBSs 

explicaria os cenários delineados, e aprofundou‐se no desvelamento das distintas formas de 

realizar  as  ações  de  saúde  nas  UBSs.  Com  o  fechamento  e  a  síntese  dos  resultados, 

realizaram‐se  a  análise  comparativa  da  utilização  informada  pelo  usuário,  dos 

procedimentos ofertados pelas UBSs (mediante a análise dos bancos de dados secundários), 

bem  como  as  especificidades  dos  grupos  focais  que  explicaram  o  panorama  da  oferta  e 

utilização dos serviços.  

Deu‐se o fechamento da pesquisa com um grupo de discussão com 7, dos 10 gestores 

das UBSs, que ratificaram a consonância dos dados com a realidade dos serviços. Essa fase 

constitui‐se, igualmente, um retorno das informações aos sujeitos, requisito importante em 

pesquisas  avaliativas  com  enfoques  emergentes,  críticos  e  dialéticos  (BOSI  e MERCADO, 

2006). 

 

4.7 Aspectos éticos  

 

A garantia de anonimato e sigilo sobre a origem das  informações foi preservada. Os 

sujeitos foram esclarecidos quanto às formas de divulgação dos resultados em publicações 

com fins científicos, com a garantia de jamais serem citados nomes ou qualquer outra forma 

de  identificação.  Elaborou‐se  um  documento  em  duas  vias,  denominado  “Termo  de 

Consentimento  Livre  e  Esclarecido”  (Apêndice  E),  com  as  informações  pertinentes  à 

pesquisa,  assinado  pelos  entrevistados  e  pesquisadores.  O  estudo  foi  aprovado  pelos 

Comitês  de  ética  em  pesquisa  da  Universidade  Federal  de Minas  Gerais,  Parecer  n  ETIC 

053/06  (Anexo A), e Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, protocolo 19/2006 

(Anexo B). 

 

 

 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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5 RESULTADOS E DISCUSSÕES  

 

5.1 Utilização dos serviços de atenção básica e urgências pelo usuário 

 

Conforme  descrito  na metodologia,  averiguou‐se  a  utilização  dos  serviços  de  saúde 

pelos  usuários  das  UBSs  e  UPAs  do  SUS/BH,  de  forma  a  caracterizar‐se  a  demanda  aos 

serviços de atenção básica e de urgências do sistema de saúde de Belo Horizonte do ponto 

de  vista  do  perfil  socioeconômico,  do  problema  de  saúde  referido,  dos  principais 

procedimentos  realizados,  formas de acesso e de utilização, bem como a  racionalidade na 

escolha  do  serviço  de  saúde.    As  993  entrevistas  foram  realizadas  com  usuários  que,  ao 

término do atendimento, aceitassem participar da pesquisa, com base em escolha aleatória 

e obedecendo aos preceitos éticos em pesquisa. 

Os  resultados  foram  estruturados  em  três  blocos,  descritos  a  seguir.  No    primeiro 

abordam‐se o perfil socioeconômico e a procedência dos usuários; no segundo analisam‐se o 

problema  de  saúde  referido  e  o  acesso  aos  serviços,  no  terceiro  discrimina‐se  a 

racionalidade do usuário na escolha dos serviços de atenção básica e de urgência.  

Sempre que possível, serão analisados, comparativamente, os usuários das UBSs e das 

UPAs, uma vez que  se pretendeu  testar a hipótese que não há diferença  significativa nos 

procedimentos realizados nesses serviços, e que prevalecem as consultas médicas básicas e 

os procedimentos de enfermagem. Entende‐se que a duplicação de ações básicas de saúde é 

inadequada à proposta de  reorganização do SUS, a qual prevê a  resolução dos problemas 

básicos de saúde nas UBSs. A proporção de questionários aplicados foi de 69,0% nas UBSs24 

e de 31% nas UPAs, segundo dinâmica de cada serviço. 

 

5.1.1 Perfil socioeconômico e procedência do usuário 

 

Do  total  de  993  usuários  entrevistados,  94,4%  residiam  em  Belo  Horizonte  e  5,6% 

moravam em municípios metropolitanos.  

No  que  se  refere  ao  gênero,  73,2%  do  total  dos  entrevistados  pertencem  ao  sexo 

feminino  e,  26,8%  ao  masculino.  A  preponderância  do  sexo  feminino  pode  ter  sido 

24 Neste estudo, os termos Unidade Básica de Saúde (UBS) e Centro de Saúde (CS) são considerados sinônimos.

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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influenciada pelo período de dias úteis e horário comercial em que foi realizada a pesquisa, 

embora a  literatura aponte que as mulheres são as que mais utilizam os serviços de saúde, 

até  certa idade (RIBEIRO et al., 2006; PINHEIRO et al., 2002). Quanto à faixa etária, observa‐

se  uma  concentração  na  faixa  de  21  a  40  anos  de  idade;  portanto,  a  população 

economicamente  ativa  foi  a  que mais  demandou  atendimento  nos  serviços  de  saúde  em 

Belo Horizonte.  

Dos participantes,  38,3% não  tinham  concluído o  ensino  fundamental,  seguidos dos 

27,7%,  que  concluíram  o  ensino  médio.  Quanto  ao  local  de  trabalho,  91,5%  dos 

entrevistados trabalham na capital mineira.  

Quando  se  agregam  os  entrevistados,  sem  escolaridade  e  os  que  não  concluíram  o 

ensino fundamental, alcança‐se a porcentagem de 44,2% da amostra, o que aponta a notória 

baixa escolaridade dos usuários do SUS/BH.  

A  empregabilidade  é  bastante  diversificada  e  composta  por  empregados  (33,8%), 

seguida  de  desempregados  com  ocupações  não  remuneradas  (33,2%),  inativos  (17,0%)  e 

subempregados  (16,1%). A  renda dos entrevistados  variou de um  a  três  salários mínimos 

(53,84). Muitos  não  têm  plano  de  saúde  (69,6%)  e  quando  alguns membros  da  família  o 

possuem, o índice não passa dos 25,9%.   

Com exceção do local de residência, de trabalho e da empregabilidade, não há maiores 

diferenças no perfil do usuário que utiliza os serviços públicos de saúde de Belo Horizonte. O 

percentual de usuário das UPAs, que não mora na capital, é de 17,49 % e o das UBSs, de 

0,3%.   No  item empregabilidade, as pessoas entrevistadas nos serviços de urgência (43,8%) 

aparecem mais bem colocadas que as da atenção básica (29,2%), conforme Tabela 3. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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Tabela 3 ‐  Perfil dos usuários das Unidades Básicas de Saúde e Unidades de Pronto‐atendimento, Belo Horizonte, por sexo,  idade,  renda, escolaridade, situação empregatícia,  residência,  local de trabalho e plano de saúde, dezembro de 2008  

SEXO Usuário da UBS Usuário da UPA 

N  %  N  % 

Masculino  162  24  100  33 Feminino  512  76 203 67TOTAL  674  100  303  100 

IDADE Usuário da UBS Usuário da UPA 

N  % N %

11 a 20  72  11  29  9,6 

21 a 30  175  26  96  31,7 

31 a 40  132  20  69  22,8 

41 a 50  113  17  51  16,8 

51 a 60  89  13  25  8,3 

61 a 70  63  9  16  5,3 

Acima de 71  30  4  17  5,6 

TOTAL  674  100  303  100 

RENDA FAMILIAR Usuário do CS  Usuário da UPA 

N  %  N  % 

Até R$ 415,00  110  16,32  64  21,12 

De R$ 416,00 a R$ 1245,00  369  54,75  157  51,82 

De R$ 1246,00 a R$ 2075,00  99  14,69  49  16,17 

Acima de R$ 2076,00  41  6,08  17  5,61 

Sem rendimentos  6  0,89  5  1,65 

Não declarada  49  7,27  11  3,63 

TOTAL  674  100  303  100 

ESCOLARIDADE Usuário da UBS  Usuário da UPA 

N  %  N  % 

Sem Escolaridade  41  6,08%  17  5,61 

Fundamental Incompleto  271  40,21%  103  33,99 

Fundamental Completo  83  12,31%  38  12,54 

Médio Incompleto  70  10,39%  38  12,54 

Médio Completo  183  27,15%  88  29,04 

Até Ensino Superior  26  3,86%  19  6,27 

TOTAL  674  100% 303 100% (Continua) 

     

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

80

Tabela 3 ‐  Perfil dos usuários das Unidades Básicas de Saúde e Unidades de Pronto‐atendimento, Belo Horizonte, por sexo, idade, renda, escolaridade, situação empregatícia, residência, local de trabalho e plano de saúde, dezembro de 2008  

 (Conclusão) 

SITUAÇÃO EMPREGATÍCIA Usuário do CS  Usuário da UPA 

N  %  N  % 

Empregado  197  29,23  133  43,89 

Subempregado  114  16,91  43  14,19 

Sem renda  238  35,31  86  28,38 

Inativo  125  18,55  41  13,53 

TOTAL  674  100  303  100 

LOCAL DE RESIDÊNCIA Usuário do CS  Usuário da UPA 

N  %  N  % 

BH  672  99,7  250  82,51 

Fora de BH  2  0,3  53  17,49 

TOTAL  674  100  303  100 

LOCAL DE TRABALHO Usuário do CS  Usuário da UPA 

N  %  N  % 

BH  278  41,2  158  52,15 

Fora de BH  18  2,7  17  5,61 

Não se Aplica  378  56,1  128  42,24 

TOTAL  674  100  303  100 

PLANO DE SAÚDE Usuário do CS  Usuário da UPA 

N  %  N  % 

Sim, toda família  31  4,6  13  4,29 

Sim, alguns membros  171  25,4  82  27,06 

Não  472  70,0  208  68,65 

TOTAL  674  100  303  100 

Fonte: Dados da pesquisa, 2008.  

Analisando‐se os dados da Tabela 3, não  se observa diferença  significativa entre o 

grupo de homens e de mulheres quanto à escolaridade (x²= 4,404; gl= 5; p=,493) e idade (x²= 

10,791;  gl=  6;  p=,095),  mas  há  diferença  significativa  entre  o  grupo  de  homens  e  de 

mulheres, quanto à renda familiar (x²=72,878; gl=5; p<,000), à ocupação (x²=103,422; gl=3; 

P<,000),  ao  local  de  trabalho  (x²=70,838;  gl=2;  p<,000)  e  a  possuir  plano  de  saúde 

(x²=11,289; gl=2; p<,004).  

   Os  homens  demandam mais  serviços  de  saúde,  na  faixa  etária  de  11  a  30  anos 

(77,8%)  em  relação  às mulheres  (55,0%). Na  faixa  de  idade  de  31  a  40  anos,  a  situação 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

81

inverte‐se, com maior demanda por  serviços  realizada pelas mulheres  (27,1%) em  relação 

aos homens (10,8%). 

Em geral, os usuários das UBSs e das UPAs do SUS/BH têm baixa escolaridade (50%) e 

variadas  formas de  inserção no mercado de  trabalho: predominam mulheres  com  vínculo 

empregatício (52,2%) e homens sem renda (42,0%), os quais estão predominantemente na 

faixa etária economicamente ativa de 21 a 30, residindo na própria cidade de Belo Horizonte 

(94%), embora 17,5% dos usuários que utilizam as UPAs morem na região metropolitana da 

cidade.  Além  disso,  a  presença maciça  das mulheres  na  utilização  dos  serviços  de  saúde 

corrobora outros estudos, que consideram a mulher como principal protagonista do cuidado 

familiar, e cujo aumento dos níveis de autonomia, politização e escolaridade repercutiriam 

favoravelmente na diminuição das iniquidades sociais (DEMO, 2003. PNUD, 2007). 

 

5.1.2 Problema de saúde referido pelo usuário e acesso aos serviços de saúde 

 

Nesse item, caracterizaram‐se o motivo da procura aos serviços, o problema de saúde 

referido pelo usuário, o tempo que  levou para ser completamente atendido, bem como os 

procedimentos realizados, classificados em atenção básica e, ou de média complexidade.  

Para  dimensionar  o  acesso  aos  serviços,  utilizaram‐se  as    variáveis  transporte, 

procedimentos  realizados,  tempo  de  deslocamento  e  de  atendimento.  A  análise  dessa 

categoria  empírica,  assim  como  da  racionalidade  do  usuário  na  procura  ao  serviço,  foi 

norteada  pela  seguinte  questão:  os  problemas  de  saúde  que  o  usuário  leva  às  UPAs 

poderiam, em tese, ser resolvidos nas UBSs?  

A  discussão  buscou  relacionar,  sempre  que  possível,  as  diferenças  entre  os 

respondentes  das UBSs  completa  ou  parcialmente  cobertas  pelo  PSF25,  com  aqueles  das 

UPAs. 

Em relação ao tempo de deslocamento, 94,1% dos usuários das UBSs   gastam menos 

de 30 minutos para se deslocarem. Esse é o tempo que se leva, em média, para se chegar às 

UPAs (77,6%), sendo esse valor altamente significativo (x²= 162,350; gL= 3; sendo p<0,0001).  

25 Para as UBSs completamente cobertas pelo PSF, utiliza‐se a denominação (UBS‐PSF), para aquelas que não são totalmente cobertas pela estratégia, denominou‐se UBSs‐parcial. 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

82

As pessoas vão às UBSs, principalmente, a pé  (85%) ou, de ônibus, van,  lotação,  táxi 

(7,9%), de veículo particular (5,9%;),  de moto (1% ) ou, ainda, de “carona” (0,2%). Nas UPAs, 

essa  proporção  inverte‐se:  utilizam‐se,  principalmente,  do  transporte  público  (43,6%),  do 

veículo particular (23,4%), da caminhada (15,5%), da  ambulância do Serviço de Atendimento 

Móvel de Urgência  (SAMU) (9,2% ), da “carona” ou da moto (8,3%) para chegar ao destino. 

Observou‐se diferença  significativa entre os grupos  tanto para o  tempo  (x²= 39,09; gL= 1; 

sendo  p<0,000),  quanto  para  a  forma  de  deslocamento  (x²=  401,712;  gL=  2;  p<0,000). 

(Tabela 4). 

 

Tabela 4 ‐  Tempo e meio de transporte utilizado para o deslocamento dos usuários às Unidades Básicas de Saúde e Unidades de Pronto‐atendimento, em Belo Horizonte, dezembro de 2008  

TEMPO DESLOCAMENTO Usuário da UBS  Usuário da UPA 

N  %  N  % Menos de 30 min  634  94,1  235  77,6 de 31 min a 1h  36  5,3  52  17,2 TOTAL  670  99,4  287  94,8 de 1h a 2h  4 0,6 11  3,6 mais de 2h  5 2,0 

MEIO DE TRANSPORTE Usuário da UBS  Usuário da UPA 

N  %  N  % 

Ônibus/ Van/ Lotação/ Táxi  53  7,9  132  43,6 

Veículo Particular / Carona  41  6,1  90  29,7 A pé  573  85,0  47  15,5 Ambulância/ SAMU      28  9,0 Moto  7  1,0  6  2,0 TOTAL  674  100  301  89 

Fonte: Dados da pesquisa, 2008.  

Quando  se  compara  o  problema  de  saúde  referido  pelos  usuários,  nas  UBSs 

completamente  (UBS‐PSF)  e,  parcialmente,  cobertas  pelo  PSF  (UBSs‐parcial),  com  o 

problema  referido  pelos  usuários  nas  UPAs,  nota‐se  que  as  afecções  leves  aparecem 

preponderantemente nas urgências (57,4%). Apesar de serem passíveis de serem resolvidas 

na  atenção  básica,  tais  enfermidades  são  a  segunda  causa,  tanto  nas  UBSs  tradicionais 

(30,9%),  quanto  naquelas  completamente  cobertas  pelo  PSF  (27,4%).  Nesses  locais,  as 

consultas  de  retorno  aparecem  como  principal  demanda  por  atendimento  (40,3%  UBS‐

parcial,  33,3% UBS‐PSF)  e  as  ações  programáticas  ocupam  a  terceira  posição  (22,6% UBS 

parcial, 28,5% UBS‐PSF).   

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

83

Nota‐se que essa diferença é bastante significativa na comparação de frequências (p< 

0,000).  Importa  observar  que  as  UBSs  parcialmente  cobertas  pelo  PSF  atendem 

proporcionalmente  mais  usuários  com  afecções  leves  (30,9%)  do  que  aquelas, 

completamente,  organizadas  pelas  diretrizes  do  Saúde  da  Família  (27,4%);  esse  fato  é, 

estatisticamente, significativo ( p< 0,000). 

Como pode ser verificado na Tabela 5, a consulta médica básica e o procedimento de 

enfermagem  são os principais atendimentos  realizados em  todos os  serviços  investigados, 

independentemente do nível de complexidade do SUS. As consultas básicas aparecem em 

primeiro  lugar  (UPAs:  67,3%;  UBS‐parcial:  66,1%;  UBS‐PSF:  62,0%),  seguidas  dos 

procedimentos  de  enfermagem  (UPAs:  31,0%;  UBS‐parcial:  27,4%;  UBS‐PSF:  28,9%)  sem 

diferença estaticamente significante entre as frequências (consultas, p< 0,266; enfermagem, 

p< 0,711).  

 

Tabela 5 ‐  Problema de saúde e procedimentos utilizados pelos usuários das Unidades Básicas de Saúde completas, ou parcialmente cobertas pelo Programa de Saúde da Família, e das Unidades de Pronto‐atendimento, de Belo Horizonte, dezembro de 2008  

Problema de Saúde Usuário de UBS Parcial PSF 

Usuário de UBS Completamente PSF 

Usuário da UPA 

  N  %  N  %  N  % Consultas de retorno  50  40,3  134  33,5  1  0,3 

Afecções leves*  34  27,4  170  30,9  174  57,4 

Ações programáticas/ Controle de agravos** 

28  22,6  157  28,5  1  0,3 

Afecções moderadas a graves***  8  6,5  19  3,5  66  21,8 

Acidente/  lesão/  gravidez  alto risco 

3  2,4  12  2,2  54  17,8 

Outros  1  0,8  8  1,5  7  2,3 

Procedimentos Realizados Usuário de UBS Parcial PSF 

Usuário de UBS Completamente PSF 

Usuário da UPA 

  N  %  N  %  N  % 

Consulta médica  82  66,1  341  62,0  204  67,3 

Classificação de risco/ Acolhimento 

22  17,7  123  22,4  124  40,9 

Procedimentos de enfermagem  84  27,4  159  28,9  94  31,0 

Consultas de enfermagem  3  2,4  33  6,0  21  6,9 Consulta odontológica/ Procedimentos odontológicos 

9  7,3  20  3,6  3  1,0 

    Fonte: Dados da pesquisa, 2008.  

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

84

Quanto  aos  demais  procedimentos  realizados  nos  usuários  da  UPA,  aqueles 

destinados  à  diagnose‐terapia,  como  o  diagnóstico  por  imagem  (30,s%)  e  os  exames  de 

patologia  clínica  (33%),  são  preponderantes  e  seguidos  da  consulta  com  especialistas 

(27,40%), conforme a Tabela 6. 

 

Tabela 6 ‐  Procedimentos  de  média  complexidade  utilizados  pelos usuários  das  Unidades  de  Pronto‐atendimento,  em  Belo Horizonte, dezembro, 2008  

Procedimentos de Média Complexidade  N  % Diagnóstico por imagem  77  37,0% 

Exames de patologia clínica / Anatomapatologia  63  30,2% 

Consulta médica com especialista  57  27,4% 

Procedimentos traumato‐ortopédicos  6  2,8% 

Procedimentos ambulatoriais especializados / Ações especializadas em Odontologia***/ Outros 

5  2,4% 

Fonte: Dados da pesquisa, 2008.  

Perguntado  se  conhecia  o  PSF,  o  usuário,  em  sua  maioria,  afirmou  que  não, 

independentemente,  de  estar  em  uma  UBS  parcialmente  coberta  (76,6%),  totalmente 

coberta pelo PSF (72,7%) ou em uma UPA (70,3%), não havendo diferença estatisticamente 

significativa entre as frequências (p< 0,406). Porém, quando inquirido, se algum profissional 

daquele serviço conhecia sua família, a resposta variou significativamente (p< 0,000).  

Nos  serviços  com  total  cobertura do PSF,  a  resposta  foi  afirmativa   em 70,4% dos 

casos. Nas UBSs‐parcial a resposta aparece em 52,4% das falas e nas UPAs, como esperado, 

apenas 8,6% responderam sim (Tabela 7).  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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 Tabela 7 ‐  Conhecimento referido pelo usuário sobre o Programa de Saúde da Família, por     serviço de 

saúde, Belo Horizonte, dezembro de 2008  

USUÁRIO CONHECE O PSF Usuário da UBS 

Parcial Usuário da UBS 

Completamente PSF Usuário da UPA 

N  %  N  %  N  % 

SIM  29  23,4  150  27,3  90  29,7 

NÃO  95  76,6  400  72,7  213  70,3 

TOTAL  124  100  550  100  303  100 

PROFISSIONAL  CONHECE  A FAMÍLIA DO USUÁRIO? 

Usuário da UBS Parcial 

Usuário da UBS Completamente PSF 

Usuário da UPA 

N  %  N  %  N  % SIM  65  52,4  387  70,4  26  8,6 NÃO  59  47,6  163  29,6  277  91,4 TOTAL  124  100  550  100  303  100 

QUEM  CONHECE  A  FAMÍLIA DO USUÁRIO? 

Usuário da UBS Parcial 

Usuário da UBS Completamente PSF 

Usuário da UPA 

N  %  N  %  N  % ACS  48  38,70  346  62,90     Enfermeiro  15  12,10  52  9,50  12  4,0 Médico  14  11,30  36  6,50  12  4,0 

Técnico de Enfermagem  5  4,00  25  4,50  9  3,0 

Odontólogo/ACD/THD Outro 

4  3,1  9  1,6  2  0,7 

Fonte: Dados da pesquisa, 2008.  

O agente comunitário de saúde (ACS) é citado como quem mais conhece a família do 

entrevistado  (38,7%:  UBS‐parcial;  62,9%:  UBS‐PSF),  seguido  do  profissional  enfermeiro 

(12,1%: UBS‐parcial; 9,5%: UBS‐PSF) e médico (11,3%: UBS‐parcial; 6,5%: UBS‐PSF). 

A opinião do usuário, sobre o atendimento recebido varia, a depender do serviço de 

saúde em que ele  se encontra  (Tabela 8). Em  geral, nas UBS, os usuários  avaliam que os 

profissionais  ouvem  mais  seu  problema  de  saúde  (UBS‐parcial:  95,2%;  UBS‐PSF:  91,5%; 

UPAs: 88,8%); perguntam sobre as condições da sua vida (UBS‐parcial: 29%; UBS‐PSF: 32,2%; 

UPAs: 12,2%) e, que a maioria desses profissionais orienta sobre os cuidados com a saúde 

(UBS‐parcial:  79,8%;  UBS‐PSF:  76,2%;  UPAs:  66%).  Nas  UBSs‐PSFs,  as  respostas  sobre  a 

resolução dos problemas buscados é superior aos demais locais onde se coletaram os dados 

(UBS‐parcial: 37,1%; UBS‐PSF: 82,5%;UPA: 67,7%). Em contrapartida, os profissionais da UPA 

orientam o usuário, com maior frequência (39,3%), a procurar por outro serviço (Tabela 9): 

em geral, o PSF (30,4%), com diferença significativa (p< 0,000).  

 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

86

 

Tabela 8 ‐ Opinião do usuário  sobre a  conduta dos profissionais no momento do atendimento nas Unidades Básicas de Saúde e nas Unidades de Pronto Atendimento, Belo Horizonte, dezembro de 2008  

CONDUTA Usuário de UBS Parcial 

Usuário de UBS Completamente PSF 

Usuário da UPA 

N  %  N  %  N  % ‐Ouviu  e  compreendeu  bem  o problema de saúde 

118  95,2  503  91,5  269  88,8 

‐Perguntou  sobre  as  condições de vida e saúde da família 

36  29,0  137  32,2  37  12,2 

‐Orientou sobre o tratamento e cuidado para com a saúde 

99  79,8  419  76,2  200  66,0 

‐Pediu  sua  opinião  sobre  os tratamentos  e  cuidados prescritos 

27  21,8  127  23,1  36  11,9 

‐Resolveu o problema de saúde  108  37,1  454  82,5  205  67,7 

‐Orientou  a  procurar  outro serviço de saúde 

14  11,3  73  13,3  119  39,3 

Fonte: Dados da pesquisa, 2008.  

 Tabela 9 ‐  Tipo  de  serviço  de  saúde  que  o  usuário  foi  orientado  a 

procurar no momento do atendimento nas Unidades Básicas de  Saúde  e  nas  Unidades  de  Pronto‐atendimento,  Belo Horizonte, dezembro de 2008  

SERVIÇO DE SAÚDE Usuário de UBS Parcial 

Usuário de UBS Completamente PSF 

Usuário da UPA 

N  %  N  %  N  % PSF/ UBS/ Centro de Saúde 

2  1,6  8  1,5  92  30,4 

UPA  4  3,2  7  1,3  3  1,0 

Hospital  2  1,6  14  2,5  16  5,3 

Outros  6  4,8  44  8,0  8  2,6 TOTAL  14  11  73  13  119  39 Fonte: Dados da pesquisa, 2008. 

 

O tempo é um fator importante para o acesso ao serviço, seja o que o usuário levou 

para  ser  completamente  atendido,  seja o que precisou esperar para  conseguir  a  consulta 

médica de que precisava.  

Na  fala  da maioria  dos  respondentes,  as  UBSs  conseguem,  na maioria  dos  casos 

(76%), atendê‐los em até 2 horas, enquanto nas UPAs, o atendimento completo se dá, nesse 

tempo,  em 50,8% dos casos. Nesses locais, é relativamente comum uma espera superior a 4 

horas  (29%), mais  rara nas UBSs  (3,1%). Porém, os entrevistados afirmam conseguir, mais 

rapidamente, a consulta médica de que precisam nas urgências, esperando até 4 horas em 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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81,8% das falas. Nas UBSs, essa espera é comum para apenas 29,4 % dos casos. Ao contrário, 

nas UBSs,  o  usuário  espera mais  de  um  dia  pela  consulta  que  foi  buscar  (52,4%),  o  que 

dificilmente  ocorre  na  UPA  (2,6%).  A  comparação  entre  as  respostas  mostrou‐se 

estatisticamente significativa (p< 0,000) (Tabela 10).  

 

Tabela 10 ‐  Tempo que o usuário levou para ser completamente atendido e para conseguir a consulta médica de que precisa, por locais de entrevista, Belo Horizonte, dezembro de 2008  

TEMPO DE ATENDIMENTO Usuário da UBS  Usuário da UPA 

N  %  N  % Menos de 30 min  204  30,3  40  13,2 De 31 min a 1 hora  136  20,2  61  20,1 De 1 a 2 horas  172  25,5  53  17,5 De 2 a 4 horas  141  20,9  61  20,1 Mais de 4 horas  21  3,1  88  29,0 TOTAL  674  100  303  100% 

TEMPO DE ESPERA PELA CONSULTA MÉDICA Usuário da UBS  Usuário da UPA 

N  %  N  % Menos de 4 horas  198  29,4  248  81,8 De 4 a 12 horas  85  12,6  36  11,9 De 12 a 24 horas  10  1,5  8  2,6 De 1 a 3 dias  78  11,6  2  ‐ De 3 a 5 dias  27  4,0  1  ‐ Uma semana  58  8,6     15 dias  54  8,0     Até 1 mês  76  11,3     Mais de um mês  59  8,8     Não sabe informar  29  4,3  8  2,6 TOTAL  674  100  303  100 Fonte: Dados da pesquisa, 2008. 

 

Em geral, a demanda que chega aos serviços de atenção básica e de urgência do SUS‐

BH  é  decorrente  de  consultas médicas  básicas  (UBS‐parcial:  66,1%;  UBS‐PSF:  62%;  UPA: 

67,3%),  seguida  de  procedimentos  de  enfermagem  (UBS‐parcial:  27,4%;  UBS‐PSF:  28,9%; 

UPA: 31,0 %).  

Na UPA, esses atendimentos são motivados por afecções leves, na maioria dos casos 

(UPA: 57,4%; UBS‐parcial: 27,4%, UBS‐PSF: 30,9%), que poderiam, em tese, ser resolvidos na 

atenção  básica.  Tendo  em  vista  que  as  consultas  médicas  e  os  procedimentos  de 

enfermagem  são  procedimentos  comuns  às  UBSs,  na  maioria  dos  casos,  tais  achados 

indicam  que  a  oferta  de  atenção  básica  em  Belo  Horizonte  é  suficiente,  em  termos  de 

cobertura  populacional  e  acesso  geográfico.  Porém,  tal  oferta  não  tem  sido  capaz  de 

organizar melhor os fluxos de atendimento às urgências, que apresentam certa agilidade no 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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pronto‐atendimento. É provável que esse seja um fator decisivo para o usuário, que prefere 

esperar um pouco mais por atendimento na UPA, mas  sair  com a  consulta médica e, um 

eventual exame que foi buscar, que passar pelo  itinerário previsto para ele na UBS. Nesses 

locais, é comum ter que se dirigir mais de uma vez para conseguir o que precisa, na opinião 

do  usuário.  Contraditoriamente,  o  usuário  avalia  ser melhor  o  atendimento  recebido  nas 

UBSs que nas UPAs, inclusive no que se refere à resolubilidade do problema de saúde  pelos 

profissionais que o atenderam (UBS‐parcial: 37,1%; UBS‐PSF: 82,5%; UPA: 67,7%). 

Esses  resultados  corroboram  a  hipótese  inicial  que motivou  o  survey  e,  levantam 

questionamentos  importantes  para  a  organização  dos  serviços  no  sistema  de  saúde 

existente  em  Belo  Horizonte.  Ao  que  parece,  tanto  as  UBSs,  quanto  as  UPAs  realizam 

praticamente  o mesmo  tipo  de  atendimento,  restrito  ao modelo  tradicional  de  atenção 

centrado na doença, no médico e no medicamento. Por outro lado, o fato de as UPAs serem 

citadas como a principal porta de entrada para o usuário com gripe, tosse, conjuntivite ou 

afecções agudas  leves, contraria a proposta de  reorganização do SUS pela atenção básica, 

uma vez que essas enfermidades são passíveis de ser resolvidas nas UBSs.  

Além disso, tal fato significa uma duplicação de ações, incoerente com a proposta de 

integralidade  e  de  hierarquização  da  assistência,  e  impacta  significativamente  os  gastos 

públicos  em  saúde.  Desse modo,  quando  se  realiza  o  teste  estatístico  de  correlação  de 

spearmans’rho  entre  as  variáveis  problema  de  saúde  e  local  de  atendimento,  observa‐se 

significância  elevada.  Existe  uma  correlação  importante  entre  gravidade  do  problema  de 

saúde, referido pelo usuário, e o local em que foi atendido (r=0,27 p<0,001). Esse resultado 

indica que, quando a gravidade do problema varia, a complexidade do atendimento altera‐

se em 27%.   Esses  valores  têm uma probabilidade muito pequena de acontecer ao acaso 

(p<0,001). Ao que  tudo  indica, embora o usuário busque as urgências para problemas de 

saúde  simples,  também  as  procura  nos  casos  mais  graves,  conforme  preconizado  nas 

diretrizes organizativas do SUS. 

O  problema  de  saúde,  ou  a  causa  que  leva  a  pessoa  a  procurar  atendimento  nos 

serviços  de  saúde,  depende  da morbidade,  da  gravidade  e  da  necessidade  sentidas  pelo 

próprio  usuário.  Esse  julgamento  sobre  a  necessidade  de  atendimento,  que  caracteriza  a 

demanda  que  chega  aos  serviços,  é  influenciado  por  vários  fatores,  como  idade,  sexo, 

localização  geográfica  –  que  facilita  ou  não  o  acesso  –,  crenças,  religião,  condições 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

89

socioeconômicas,  escolaridade,  condições  psicológicas,  dentre  outros  (TRAVASSOS  e 

MARTINS, 2004).  

Levando‐se em conta o baixo nível de informações que as pessoas têm para cuidar da 

própria saúde, em especial aquelas de menor escolaridade, infere‐se que esse seja um fator 

para a procura às UPAs, por problemas de saúde relativamente simples, o que configura um 

desencontro entre a racionalidade do usuário e a acessibilidade dos serviços de saúde.  

Como se verá no  item a seguir, o descompasso entre a racionalidade do usuário e a 

adequação dos serviços às necessidades de saúde  identificadas na população, constitui um 

desafio para ampliação do acesso aos serviços de saúde. 

 

5.1.3 Racionalidade do usuário na utilização dos serviços de saúde 

 

Na  tentativa de explorar, quantitativamente, a racionalidade do usuário na procura 

aos  serviços  de  saúde,  analisaram‐se  questões  sobre  a  necessidade  de mentir  o  local  de 

residência, para ser atendido; o motivo da procura e da não procura de uma UBS, bem como 

o porquê de dirigir‐se uma UPA. Verificou‐se, ainda, se a organização da oferta de atenção 

básica do SUS‐BH influencia a utilização dos serviços de atenção básica e de urgência, pelos 

usuários, de modo a complementar os itens anteriores dessa etapa da pesquisa.  

Os  usuários  não  costumam  mentir  sobre  o  local  de  residência  para  conseguir 

atendimento (UBS: 95,2%; UPA: 94,0%). Pouco mais da metade dos entrevistados das UBSs e 

a maioria dos que estavam nas UPAs  informaram ter o hábito de procurar   as emergências 

ou  os  hospitais,  quando  precisam  de  atendimento  (UBSs‐parcial:  51,6%; UBS‐PSF:  56,4%; 

UPA: 84,2%), havendo diferença estatisticamente significativa (p<0,000).  

O Centro de Saúde ou UBS é a primeira opção de atendimento para a grande maioria 

dos usuários dos serviços de saúde e, para cerca da metade dos que utilizam as urgências 

(UBS: 90,2%; UPA: 52,8%, sendo p<0,000).  

Quanto ao motivo da procura pelo serviço de saúde, predominam como respostas a 

proximidade da residência  (UBSs‐parcial: 64,5%; UBS‐PSF: 64,4%; UPA: 44,2%), o  fato de o 

usuário ser cadastrado no mesmo (UBS‐PSF: 15,5%) ou, de ter sido encaminhado por outro 

serviço,  no  caso  das  UPAs  (12,2%),  havendo  diferença  significativa  entre  as  frequências 

observadas (p<0,000), conforme se pode observar na Tabela 11. 

 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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Tabela 11 ‐  Motivo da procura pela Unidade Básica de Saúde ou pela                            Unidade de  Pronto‐atendimento,  referido  pelo  usuário,  Belo  Horizonte,   dezembro de 2008  

Motivos da procura 

Usuário de UBS Parcial 

Usuário de UBS Completamente 

PSF 

Usuário da UPA 

  N  %  N  %  N  % É mais próximo da minha residência  80  64,5  354  64,4  134  44,2 

É cadastrado nesse serviço  17  3,7  85  15,5  1  0,3 

É o único existente  14  11,3  52  9,5  3  1,0 

O  serviço  é melhor  que  o  existente  próximo  à minha residência 

11  8,9  36  6,5  28  9,2 

Foi encaminhado formalmente do CS / UPA  0  0,0  7  1,3  12  4,0 

Foi  indicação / solicitação de outros serviços de saúde 

0  0,0  6  1,1  37  12,2 

Por decisão própria, da família ou de terceiros  0  0,0  4  0,7  11  3,6 

Atendimento mais rápido  0  0,0  1  0,2  21  6,9 

Porque o CS não resolve o problema de saúde  0  0,0  0  0,0  28  9,2 

Fonte: Dados da pesquisa, 2008.  

Em geral, o usuário costuma procurar a UPA, as emergências ou os hospitais, quando 

considera  que  o  problema  de  saúde  é  grave  (UBSs‐parcial:  35,5%; UBS‐PSF:  37,8%; UPA: 

46,2%); quando fica doente e a UBS não está aberta (UBSs‐parcial: 8,10%; UBS‐PSF: 12,5%; 

UPA: 3,30%; sendo p<0,000) ou, quando avalia que a UBS não irá resolver seu problema de 

saúde  (UBSs‐parcial:  11,3%;  UBS‐PSF:  11,1%;  UPA:  17,8%;  sendo  p<0,017).  O motivo  de 

procura às UBSs é, principalmente, para a realização de consultas médicas e de exames de 

rotina  (UBSs‐parcial:  90,3%;  UBS‐PSF:  84,2%;  UPA:  50,5%;  sendo  p<0,000);  para  aviar 

medicações prescritas (UBSs‐parcial: 72,6%; UBS‐PSF: 68%; UPA: 34,7%; onde p<0,000), para 

vacinação  (UBSs‐parcial:  61,3%;  UBS‐PSF:  63,5%;  UPA:  30,7%;  onde  p<0,000)  ou  para 

realização  de  ações  programáticas  de  saúde  (UBSs‐parcial:  59,7%;  UBS‐PSF:  50,7%;  UPA: 

27%). 

O motivo da não procura pelos Centros de Saúde, pelos usuários das UPAs,  inclui o  

julgamento  da  não  resolução  do  problema  de  saúde  (19,1%).  Nesse  caso,  os  usuários 

consideram o atendimento  lento  (16,8%) ou não conseguem  ser atendidos no mesmo dia 

(10,2%), sendo significativa a diferença entre as frequências (p<0,000), como se constata nas 

Tabelas 12 e 13. 

 

 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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Tabela 12 ‐  Situações  em  que  o  usuário  procura  a  Unidade  de  Pronto‐atendimento  e  a  Unidade Básica de Saúde, por locais de coleta, Belo Horizonte, dezembro de 2008  

Situações em que procura as urgências 

Usuário de UBS Parcial 

Usuário de UBS Completamente 

PSF Usuário da UPA 

N  %  N  %  N  % 

Quando o problema de saúde é grave  44  35,5  208  37,8  140  46,2 

Quando fica doente e o CS não está aberto  10  8,1  69  12,5  10  3,3 

Quando  avalia  que  o  CS  não  vai  resolver  o problema 

14  11,3  61  11,1  54  17,8 

Para  qualquer  situação  de  doença,  porque  tem mais equipamentos e já faz os exames 

1  0,8  11  2,0  18  5,9 

Para qualquer problema de saúde  4  3,2  7  1,3  41  13,5 

Pois  confia  no  desempenho  técnico  dos profissionais 

0  0,0  3  0,5  4  1,3 

Situações em que procura a UBS 

Usuário de UBS Parcial 

Usuário de UBS Completamente 

PSF Usuário da UPA 

N  %  N  %  N  % 

Consultas e exames de rotina  112  90,3  463  84,2  153  50,5 

Para pegar medicação prescrita  90  72,6  334  68,0  105  34,7 

Vacinação  76  61,3  349  63,5  93  30,7 

Realizar preventivo do CA ginecológico  22  17,7  122  22,2  26  8,6 

Acompanhamento de hipertensão e diabetes  24  19,4  100  18,2  28  9,2 

Solicitar  encaminhamento  para  outro  serviço  e, ou especialidade 

19  15,3  100  18,2  27  8,9 

Para tratamento odontológico  26  21,0  53  9,6  14  4,6 

Acompanhamento do CD das crianças  15  12,1  47  8,5  24  7,9 

Participar de atividades educativas   6  4,8  43  7,8  11  3,6 

Para acompanhamento pré‐natal  13  10,5  32  1,8  4  1,3 

Reuniões do conselho de saúde local  1  0,8  3  0,5  1  0,3 

Fonte: Dados da pesquisa, 2008.            

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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Tabela 13 ‐  Motivos da não procura pela Unidade Básica de Saúde, por locais de coleta, Belo Horizonte, dezembro de 2008  

Porque não procura a UBS 

Usuário de UBS Parcial 

Usuário de UBS Completamente 

PSF 

Usuário da UPA 

N  %  N  %  N  % 

Não resolve meu problema de saúde  2  1,6  26  4,7  58  19,1 

Atendimento muito lento  3  2,4  18  3,3  51  16,8 

Não consegue atendimento no mesmo dia  2  1,6  15  2,7  31  10,2 

Tem plano de saúde  3  2,4  11  2,0  11  3,6 

Corro o risco de ir e voltar sem atendimento  0  0,0  5  0,9  16  5,3 

Não existem os atendimentos que procuro  0  0,0  3  0,5  6.  2,0 

O CS nunca está aberto no horário que preciso  0  0,0  1  0,2  4  1,3 

O CS é mais distante de onde moro do que a UPA 

0  0,0  0  0,0  6  2,0 

Fonte: Dados da pesquisa, 2008.  

Observou‐se que a grande parte das ações programáticas em  saúde é utilizada em 

maior percentual pelos usuários das UBSs parcialmente  cobertas pelo PSF,  se  comparado 

com  aqueles  das  UBSs  totalmente  cobertas  pela  estratégia.  Esse  é  o  caso  do 

acompanhamento aos hipertensos e diabéticos (UBSs‐parcial, 19,4%; UBS‐PSF, 18,2%; sendo 

p<0,001),  do  acompanhamento  ao  crescimento  e  desenvolvimento  (CD)  infantil  (UBSs‐

parcial, 12,1%; UBS‐PSF, 8,5%) e da  realização do pré‐natal  (UBSs‐parcial, 10,5%; UBS‐PSF, 

1,8%; p<0,000). Por  sua  vez, percebeu‐se maior utilização das atividades educativas pelos 

usuários das UBS‐PSF (7,8%), em relação à UBS parcial (4,8%). 

O julgamento acerca do seu problema de saúde e dos serviços, que podem solucioná‐

lo,  é  o  principal motivo  da  escolha  das  pessoas,  pelo  hospital  ou  pelo  centro  de  saúde. 

Considerando‐se a capacidade limitada de escolha a que estão sujeitos os consumidores dos 

serviços  de  saúde,  devido  à  limitação  de  informações  (CASTRO,  2002)  e  a  escolaridade 

(RIBEIRO et al., 2006), agravada pela baixa escolaridade dos usuários do SUS, a percepção 

individual sobre seu problema de saúde, em geral, não coincide com o diagnóstico realizado 

pelos profissionais. Haja vista as distintas  interpretações sobre necessidades humanas que 

influenciam  o  direcionamento  das  políticas  de  saúde  (CAMPOS  e  BATAIERO,  2007).  Esse 

assunto mereceu um aprofundamento qualitativo. 

 

 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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5.2 Acessibilidade dos serviços de Atenção Básica/SUS/SMSA‐BH  

 

Os  grupos  focais  (GFs),  realizados  para  análise  do  processo  de  trabalho  dos 

profissionais, constituem um momento de aprofundamento central da pesquisa e ratificam 

grande parte das informações levantadas pela etapa survey.  

A dinâmica dos debates ocorreu  com algumas  características que  se  repetiram em 

todos  os  GFs.  Outras,  não  tão  frequentes,  significaram  resultados  importantes  para  o 

desvelamento da  realidade que se pretendia averiguar. Diferentemente da etapa anterior, 

nesta, priorizaram‐se  a exemplaridade dos  casos, o diferente, o  inusitado, o que  foge do 

padrão e que  são  capazes de produzir  reflexões  importantes  sobre o  fenômeno em  foco. 

Entende‐se  que  são  complementares  tanto  a  recorrência  dos  eventos,  característica  da 

etapa  quantitativa,  como  a  singularidade  que  os  mesmos  possam  expressar,  melhor 

capturável  pelos  métodos  qualitativos.  Nesses  termos,  utilizou‐se  da  triangulação  de 

métodos  e  técnicas  para  responder  aos  questionamentos  da  investigação,  em  que  se 

procurou  articular  a  extensão  dos  fenômenos  à  intensidade  com  que  ocorrem  (MINAYO, 

2006; BOSI e MECADO, 2006). 

A dinâmica dos trabalhos contou com um primeiro momento contextual, em que os 

profissionais  relataram  aspectos  marcantes  da  vida  pessoal  e  profissional,  seguido  da 

apresentação  dos  resultados  do  survey  e  do  debate  das  questões  levantadas.  A  seguir, 

procedeu‐se à discussão dos resultados identificados a partir das dimensões escolhidas para 

o  exame  dos  dados,  a  partir  da  hermenêutica  de  profundidade  e  da  análise  do  discurso 

(THOMPSON,  1995;  ORLANDI,  2001;  DEMO,  2002).  Delimitaram‐se  os  interdiscursos,  as 

categorias e as interpretações dos depoimentos nas três dimensões complementares, quais 

sejam:  contexto  sociohistórico;  análise  estrutural  e  dinâmica  interpretativa.    Procurou‐se 

sintetizar os  resultados do grupo, porém  sem perder as  singularidades  relevantes para as 

respostas buscadas. 

 

 

 

 

 

 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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5.2.1 Contextualização sociohistórica dos entrevistados 

 

Os  interdiscursos  identificados  nos  grupos  sofreram  influência  dos  seguintes 

processos  intergrupais:  pegador  de  carona,  bloqueio  de  produção,  influência  social  e 

normativa  (FERN,  2001  apud  GONDIM  e  BAHIA,  2002).  De modo  geral,  os  participantes 

assumiram com facilidade o discurso hegemônico, com raras e importantes exceções.  

Verificou‐se  que  aqueles  que  divergiam  da  opinião  do  grupo  eram  uma  minoria 

social, embora extremamente relevante para os objetivos desta investigação. No geral, essas 

pessoas  tendiam  a  ficar  caladas  ou  a  se manifestarem  de  forma  simbólica.  Evidenciou‐se 

típica  expressão  da  influência  dominadora  das  normas  e  dos  códigos  de  conduta  dos 

trabalhadores em saúde, que ora se posicionavam de  forma autoritária, ora assumiam um 

tom  defensivo  nos  debates,  ora  reclamavam  seus  direitos.  Essa  peculiaridade  esteve 

presente  em  maior  ou  menor  grau,  influenciando  de  forma  significativa  o  discurso 

produzido,  eminentemente  bloqueador  dos  processos  de  trabalhos  que  se  pretendia 

desvelar. Atenta a essas questões, no processo de análise procurou‐se interpretar, clarear e 

realçar,  sobretudo,  o  que  apareceu  com menor  frequência, mas  que  se  configurou  como 

preciosidade reflexiva pouco comum e  inerente aos processos de mudanças, para além do 

senso  comum e do  instituído  (LABBATE, 2003; BELLATO e PEREIRA, 2006;  LINS e CECILIO, 

2008).   

No que se refere aos fatos narrados e ao cognome de apresentação, percebeu‐se que 

as mulheres  centraram‐se  em  aspectos  da  vida  pessoal  e  afetiva,  em  geral,  enquanto  os 

homens explicitaram assuntos do trabalho e das conquistas pessoais.  

Outras características  importantes  identificadas  foram os aprendizados vivenciados, 

o momento presente e o que se faz dele, as superações por meio de projetos, as valorações 

da  amizade  e  dos  laços  afetivos  familiares.  As  categorias,  apresentadas  a  seguir,  foram 

extraídas dos depoimentos: 

a) Relações  familiares, maternidade e, ou  situações de sofrimento com os usuários: 

foram escolhidos relatos da vida pessoal, considerados marcantes e, predominaram entre as 

mulheres.  Casamento,  filhos,  neto,  afastamentos  do  trabalho,  bem  como  sensibilidades 

diante da morte ou do sofrimento dos usuários foram temas recorrentes. A centralidade do 

afeto predominou nas  apresentações,  seja dos  acontecimentos  significativos de  vida e de 

trabalho, seja nas gravuras escolhidas.  

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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No  momento  da  seleção  dos  postais  para  as  apresentações,  muitas  mulheres 

mostraram  fotos  de  criança  e  de maternidade.  Outras  falaram,  igualmente,  de  aspectos 

emocionais,  exibindo  fotos  de  água,  típica  dos  simbolismos  afetivos  interpretados  pela 

psicologia  (ESTES,  1994),  ou  frases  de  efeito.  Em  alguns  casos,  evidenciou‐se  certo 

comedimento nas participações, que aos poucos ampliou posicionamentos. Noutros casos, 

observou‐se  contradição  entre  a  sensibilidade  declarada  nas  falas  e  as  posturas  diretivas 

sobre  os  usuários  que  vieram  depois,  próprias  da  formação  dos  profissionais  em  saúde 

(PIRES, 1989). 

b)  Formação  e  conquistas  da  profissão médica:  os  homens  (médicos) mantiveram‐se  no 

escopo da vida profissional ao relatarem os aspectos importantes de suas vidas, informando 

a escolha da medicina e as alegrias do vestibular como fatos importantes. É curioso observar 

que nenhum deles mencionou a morte de pacientes como momento marcante, ao contrário 

das médicas.  O  único médico  que  o  fez,  relacionou‐a mais  ao  desempenho  pessoal  em 

conferir  o  atestado  de  óbito  –  sugerindo‐a  como  uma  primeira  experiência  –  do  que 

propriamente a  sensibilidades  ligadas à perda de usuários. Outro  fato  importante  foi que 

todos os profissionais da medicina  fizeram questão de destacar o orgulho que sentiam da 

profissão, seja compartilhando as alegrias com o vestibular, com a escolha da profissão, com 

a vida acadêmica ou nos destaques dados aos títulos de especialistas.  

Cabe destacar que essa pretensa superioridade dos médicos, socialmente sustentada 

e  reproduzida na  formação profissional,  reaparece nos discursos dessa categoria ao  longo 

das  falas,  influenciando o discurso das enfermeiras presentes que, na maioria das vezes, a 

reproduziam. 

c)  Militância  e  palanque:  os  cognomes  escolhidos  por  dois  participantes,  Expectante  e 

Transformador,  que  influenciaram  o  discurso  de  dois  dos  quatro  grupos,  bem  como  a 

apresentação  que  se  seguiu,  anunciara  o  que  viria  em  seguida.  Parece  que  os  dois 

representantes estavam ansiosos por um palanque em que pudessem proclamar o discurso 

da militância  trabalhista  aguerrida,  da  qual  se  ausentavam  reflexões mais  profundas  ou 

auto‐reflexões transformadoras.  

Expectante  veio  preparado  para  falar  “da  demanda  excessiva  e  das  precárias 

condições de trabalho”, temas que não abandonou em nenhum momento. Apresentou‐se, 

declarando  que  esperava  mudança  no  seu  trabalho,  nas  condições  de  trabalho  e  na 

“clientela”  que  atende.  Tal  consideração  evidencia  o  discurso  dominante:  primeiro meu 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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trabalho,  depois  ele  de  novo,  para  só  então  melhorar  a  “clientela”.  Curioso  utilizar  a 

terminologia clientela, bem distante da noção de vínculo e de co‐responsabilidade requerida 

pelo  PSF.  Esse  participante  manteve‐se  determinado  a  levar  a  cabo  sua  bandeira, 

esquivando‐se da responsabilidade sobre a situação que denunciava, mesmo fazendo parte 

dela.   

Da  mesma  forma,  o  tom  amistoso  e  progressista,  presente  na  apresentação  do 

Transformador, modificou‐se no decorrer dos debates, e assumiu um discurso estereotipado 

e pouco comprometido, infelizmente, reforçando a imagem negativa que se tem do servidor 

público,  que  apenas  em  parte  corresponde  ao  real.  Esse  entrevistado  queixou‐se  das 

condições  indignas  de  trabalho,  reclamou  direitos  plenos,  mas  fez  pouca  avaliação  das 

práticas que realiza.  

Curiosamente, a postura do militante irrefletido de si mesmo aparece ao lado de uma 

apresentação amigável e pacífica em praticamente todos os profissionais que assumem tal 

característica.  Perceberam‐se maleabilidade  do  discurso  e  palavras  de  ordem,  típicas  do 

político profissional que precisa adequar‐se às diversas situações para despertar atenções a 

seu  favor.  Porém,  apesar  de  marcante,  não  se  pode  generalizar  essa  postura  entre  os 

participantes. Como  todo estereótipo, esse  também  significa apenas um  rótulo unificador 

que  nem  sempre  cabe  na  pluralidade  e  na  diversidade  do  cotidiano.  Embora  tenha 

influenciado o tom defensivo dos debates, os outros participantes, em geral, demonstraram 

compromisso com a prática profissional e com a melhoria da saúde da população. 

d)  Estranhamento  em acatar  ordens  e decisões:  a  perplexidade  em  ter  que  acatar 

ordens  evidenciou‐se  de  forma mais  expressiva  na  categoria médica,  provavelmente  em 

virtude da formação e da prática voltadas para a centralidade no processo de trabalho em 

saúde.  Alguns  representantes  verbalizaram  situações  desconfortantes  em  relação  à 

autoridade,  pouco  habitual  na  categoria,  bem  como  irritação  em  ter  que  atender  todo 

usuário  que  chega  às  UBSs.  Houve  relatos  de  enfermeiros  que  demonstraram 

descontentamento com negativas a pedidos de mudança de função ou saídas das UBSs para 

atividades formativas. Porém, não se verificou revolta ou perplexidade mais contundentes, 

apenas um desejo forte de eximir‐se das contradições do processo de trabalho nas UBSs. 

e) Politicamente correto e bem pouco de mim: a  fala, bem como a postura retraída 

durante os depoimentos,  indicaram  insegurança no  trabalho  e na  vida para, pelo menos, 

duas participantes, enfermeiras. A primeira mostrou certa autodesvalorização, no momento 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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em que não se considerava uma estrela, mas gostaria de brilhar como tal. Outra agiu como 

uma pegadora de carona  típica, preferindo ancorar‐se em outros depoimentos a  se expor 

desnecessariamente.  Porém,  tal  atitude  aparenta  ser  natural  e  própria  de  quem  tem 

realmente muito pouco a dizer  sobre as coisas, não como defesa elaborada, presente em 

outros profissionais. As  falas politicamente  corretas ou  com pouca explicitação do que  se 

pensa estiveram presentes em parte dos entrevistados, em pelo menos 2 grupos.  

Em  alguns profissionais,  o  tom  laranja  do  depoimento  foi  revelado. Nesses,  ou  se 

tendeu para qualquer lado, ou se evidenciou um distanciamento das posturas de mudança, 

pró‐ativas, frente ao cenário das práticas de trabalho.   

   f) PSF, vamos à luta! Alguns exemplos reproduziram o discurso oficial de mudança de 

práticas no PSF, de maneira aguerrida.  Da mesma forma que o tom defensivo da categoria 

Militância e palanque prejudica uma análise mais consistente dos limites e das possibilidades 

da  estratégia  de mudança  em  foco,  aqui  também,  a  bandeira  de  luta  tende  a  ofuscar  as 

contradições  da  prática  com  que  o  programa/estratégia  se  depara.  Um  dos  principais 

exemplos  identificados, uma enfermeira padrão, com todos os avanços e contradições que 

isso  possa  significar,  mostrou‐se  engajada  do  início  ao  fim.  Embora  se  critique  o  tom 

messiânico inerente às fragilidades políticas pouco ambivalentes (DEMO, 1992; PIRES, 2001), 

há  de  se  destacar  o  valor  de  tal  engajamento.  A  profissional  aparentou  traços  fortes  de 

determinação  e  compromisso  com  tudo  o  que  faz.  A  experiência  de  15  anos  na  área 

hospitalar parece refletir‐se numa segurança profissional importante, demonstrada durante 

as  falas.  Além  disso,  fez  autoavaliação  constante  e  tendeu  a  refletir  de  forma  mais 

aprofundada sobre as situações apresentadas ao grupo.  

g) Estranha no ninho: a  intersubjetividade no  trabalho e na  vida: essa participante 

chegou atrasada e não pegou carona na  turma, desceu antes ou sequer subiu no discurso 

alheio.  Também  não  escolheu  cognome,  parecia  inteira  e  pela  metade  naquele  lugar 

inóspito, com gente tão conhecidamente estranha. Falou a verdade, o que sentia e a crise 

pela  qual  estava  passando,  e  para  qual  dizia  precisar  “de  uma  força  que  não  tem”  para 

continuar.  Disse‐se  desmotivada.  Diferentemente  dos  demais  colegas,  apresentou‐se 

sensibilizada com uma usuária hipertensa, tida como resistente ao tratamento. Na verdade, 

a  usuária  não  sabia  ler,  fato  que  viria  a  descobrir  pela  observação  atenta  em  consultas 

subsequentes. Com ajuda da filha e de estratégias de acompanhamento, a profissional teria 

conseguido  intervir  positivamente  na  situação.  Essa  participante  relatou  a  gratidão  da 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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usuária e sua satisfação em recebê‐la, quem sabe num momento especialmente oportuno, 

haja  vista  o  desalento  relatado.  A  descoberta  singular  desse  encontro  lhe  foi  peculiar, 

exemplificando um sentido de vínculo que ultrapassa o discurso superficial e  inconsistente 

explicitado pelos demais participantes. 

Um olhar atento sobre o contexto sociohistórico dos participantes  indica  influência 

de gênero, de classe social e de formação sobre o perfil que apresentam. Há certa tendência, 

não homogênea, ao conservadorismo das  falas, seja em  relação às  tradições sociais ou ao 

papel  destacado  para  o  homem  e  para  a  mulher  na  sociedade.  Do  lado  masculino, 

sobressaem  a  agressividade,  a  competitividade  e  a  determinação  dos  discursos.  No 

feminino, submissão, afetos e a vida em família. O tom tradicional, por vezes, mescla‐se ao 

discurso  autoritário  dos  profissionais  em  saúde,  acostumados  que  estão  a  prescrever 

condutas  para  o  outro,  desconsiderando  a  singularidade  e  a  história  desses.  Da mesma 

forma, a  formação excessivamente  técnica  inibe uma  reflexão ética, política e  social mais 

aprofundada  da  realidade  social,  com  tendência  à  superficialidade  nas  análises.  A 

delimitação  dos  extremos,  ora  tendendo  ao  tom  defensivo  e  autoritário,  ora  à  defesa 

engajada da bandeira do PSF, igualmente, denuncia fragilidade política típica (DEMO, 1993; 

PIRES, 2001).  

Entre  os  extremos,  ou  nas  brechas  desse  discurso,  verificam‐se  as  saídas  e  as 

possibilidades.  Dos  que  se  mantiveram  mais  quietos  e  contidos,  verificaram‐se  duas 

possibilidades: em alguns casos, tal comportamento pode indicar um mecanismo de defesa 

de não se exporem desnecessariamente, tornando difícil captar o sentido velado do que se 

pretendia;  noutros,  e  aqui  valem  ponderações  oportunas,  pressupõe  uma  divergência 

importante do padrão do grupo.  

Nesses casos, em especial na categoria estranho no ninho, observou‐se uma postura 

mais  refletida  e  preocupada  com  algumas  questões  que  escaparam  à  maioria  dos 

entrevistados,  como  a  singularidade  dos  vínculos  com  o  usuário  como  uma  dimensão 

importante do cuidado, para além do processo de trabalho e do PSF  (PIRES, 2005; PIRES e 

GÖTTEMS,  2009).  Pela  relevância  desses  processos  para  as mudanças  pretendidas,  essa 

excentricidade foi esmiuçada em todas as etapas da análise dos GFs. 

 

 

 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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5.2.2 Análise estrutural 

 

Essa dimensão é dividida em duas partes:  a primeira,  ressalta o  tom dos debates, 

mais interpretativa dos discursos e das argumentações; a segunda centra‐se nas questões da 

pesquisa, acerca da organização do trabalho da ESF.  

Na primeira parte, apresenta‐se o enfoque discursivo presente nos depoimentos, por 

meio  dos  quais  se  procura  desvelar  o  texto,  esmiuçando‐se  os  termos  e  as  expressões 

repetidas, os  silêncios, as contradições, as omissões e os deslizes. Na  segunda, procura‐se 

responder objetivamente às perguntas sobre a acessibilidade dos serviços. As categorias que 

se apresentam foram extraídas das falas dos sujeitos.  

 

5.2.2.1 – Tom dos debates 

a) “Eles, os usuários”: a maioria dos entrevistados, em maior ou menor grau, utilizou‐

se  de  termos  pejorativos,  autoritários,  expressões  irônicas  ou  restritas  à  doença,  para 

referir‐se  ao  usuário.  Por  outra,  o  relacionamento  com  o  cidadão  é  explicitado,  pelos 

entrevistados, como se estivessem num  front, ou numa guerra, em que as ESFs têm de se 

defender das “demandas” da população. São exemplos disso os  seguintes  trechos de  fala: 

“pessoal da obra do parque”; “eles deixam o posto todo vermelhinho”; “minha filha!”; “um 

monte de atirador”; “a pessoa não dá valor”; “eles não fazem o ‘para‐casa’ deles”; “mãe”; “a 

pneumonia”; “a asma grave”; “a verminose”; “a depressão  leve”; “eu falei que  ia chamar a 

polícia  para  me  defender  de  tanto  paciente”;  “algumas  mães”;  “eles  fazem  até  o 

diagnóstico”; “a população sabe o jeito de entrar”; “a febre é uma porta de entrada”; “1005 

dos que vão lá estão com febre”; “A unha quebrou, eles vão. O cílio caiu, eles vão”; “a mãe 

faz o diagnóstico que  ela  acha”;  “eles  só  faltam espancar  a pessoa porque o exame está 

atrasado”; “eles vão lá no Cersam e dão um sossego para todos os outros que até daria para 

resolver antes”; “eles ficam querendo matar a gente que encaminhou para lá”. 

A  prática  autoritária  dos  profissionais  em  saúde,  ora  aparece  ostensivamente  na 

maioria  dos  casos,  ora  veladamente,  sob  a  forma  de  assistencialismo  e  paternalismo.   O 

cuidado à saúde é de concepção restrita, e funciona muito mais como mecanismo de tutela 

e de controle da população – comum ao modelo vertical de atenção sanitarista –, do que 

como uma possibilidade de reconstruir autonomias de sujeitos sociais (PIRES, 2005; PIRES e 

GÖTTEMS, 2009).   

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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Percebeu‐se, nos relatos, indignação de boa parte dos profissionais, em geral os mais 

antigos no serviço público, devida ao fato de os usuários poderem ser atendidos a qualquer 

hora  nas  UBSs,  o  que  antes,  não  acontecia.  Desse  assunto,  não  foram  feitas  nenhuma 

reflexão ou ponderação sobre o direito à saúde da população, duramente conquistado no 

bojo do movimento social da reforma sanitária e da redemocratização do país. Tal discurso 

confirma a fragilidade política dos profissionais, ou uma deficiência em realizar análises mais 

contextuais da situação, para além do fato isolado, que os aborrece circunstancialmente.  

Notaram‐se recorrência de depoimentos, que indicaram o excesso de demanda para 

justificar a não realização das ações programáticas, sem uma reflexão mais profunda ou co‐

responsável sobre o assunto; reforço do discurso hegemônico, que culpabiliza a população 

pelas debilidades do serviço e observações que o “usuário seria mais medicocentrista do que 

todo mundo”, como se o profissional não o influenciasse nessa postura.  

Noutro depoimento, atribuiu‐se a barreira de acesso às UBSs à “cultura do paciente”. 

É  interessante  verificar  a  repetição  do  termo  paciente,  bem  ao  estilo  biomédico, 

completamente  incoerente  com  a  mudança  de  paradigma  preconizada,  que  pressupõe 

autonomia dos sujeitos. Os profissionais explicam de forma simplista os dados da pesquisa. 

Afirmaram, também, os participantes dos GFs,  que o usuário quer o atendimento de forma 

imediata,  sem  maiores  reflexões  sobre  a  conjuntura  em  que  isso  ocorre  ou  a  co‐

responsabilidade do serviço na organização dessa demanda. Tal afirmativa implica perguntar 

se, seria apenas o usuário, a querer resultados ágeis nos serviços de saúde que procura? 

Em evidente preconceito de  classe,  foram  feitas  considerações  sobre uma possível 

desestruturação  da  família  pobre.  A  visão  de  família,  sob  esse  aspecto,  restringe‐se  ao 

enfoque tradicional e nuclear, pouco arejada, refletindo insipiência nas abstrações sobre as 

mudanças,  pelas  quais  o  conceito  de  família  assume  na  contemporaneidade  (RIBEIRO  e 

RIBEIRO, 1995; FONSECA, 2005). Sobre as famílias dos usuários, ouviram‐se afirmativas tais 

como: “São mães que não toleram os filhos... famílias totalmente desorganizadas”. 

Noutras situações, menos explícitas no tom autoritário, os participantes iniciaram os 

depoimentos  falando  do  comportamento  do  “paciente”,  para  depois  refletirem  sobre  a 

organização dos serviços e dos profissionais das UBSs. A utilização do termo “paciente”, em 

vez de usuário,  traduz a verticalidade de práticas que  se deseja evitar. Porém, em alguns 

casos,  tal  posicionamento  não  se  constituiu  em  postura  discriminatória,  apenas  de 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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autoridade. Ao contrário, boa parte dos profissionais, que manteve essa fala mais comedida, 

tentou ver o outro lado da questão, seja do usuário ou dos profissionais. 

b) “Eles, os usuários, os gestores e o governo”: observou‐se a tendência de a maioria 

dos  participantes  responsabilizarem,  apenas,  o  usuário  e  os  gestores  pela  situação 

apresentada  pelos  dados,  o  que  presumivelmente  os  isentaria;  discordância  sobre  a 

“barreira  de  acesso”  nas  UBSs,  uma  vez  que  todos  os  usuários  seriam  “acolhidos”  e 

informação  que  as  UBSs  teriam  “um  limite”, mas  que  caberia  à  Secretaria Municipal  de 

Saúde  resolver  a  situação.  Nessa  perspectiva,  pode‐se  ler  que  nunca  é  responsabilidade 

nossa, profissionais em saúde. 

Percebeu‐se,  também,  explícita  influencia  social  dos  dois  profissionais‐militantes 

(Expectante e Transformador), cujo discurso clássico do movimento sindical ortodoxo, tem 

inspiração marxista, porém superficial. Num dos argumentos, falou‐se que a atenção básica 

ampara‐se  em  três  pilares:  o  usuário,  o  gestor  e  o  profissional.  Porém,  apenas  os 

trabalhadores fariam a sua parte; gestores e usuários estariam em sintonias diferentes.  

Os  dois  participantes  referidos  demonstraram  agilidade  em  adequar  o  discurso  e 

ganhar  simpatia do  grupo, que os elegeu,  confortavelmente,  como  representantes. Outro 

profissional‐militante defendeu que o “governo”, por ser  representado pelos “gestores”, é 

culpado de tudo, ao lado da população que os procura em busca de solução para suas vidas.  

Os usuários são, pois, vistos como se estivessem do  lado de  lá do front, arruaceiros, 

barulhentos, “entes estranhos” dos quais, eles, profissionais  isentos, têm que se defender. 

Expressões como “pessoas  infelizes”, “aqueles pacientes” e “clientela que a gente atende” 

evidenciam  um  distanciamento  da  população  adstrita,  além  de  um  preconceito  de  classe 

explícito.  As  “pessoas  infelizes”  estariam  na  periferia,  não  entre  nós,  trabalhadores 

honestos.  

Para exemplificar o tom desbotado do discurso marxista, que o segundo profissional‐

militante  evidencia,  cabe‐lhe  uma  rápida  análise.  A  teoria  desse  profissional  consiste  na 

consideração que os “gestores” utilizam os trabalhadores para pacificar os conflitos sociais, 

com o objetivo de evitar que a população se organize. Com isso, a demanda para o PSF, que 

seria  muito  maior,  no  Brasil  do  que  em  outros  países,  teria  aumentado  muito.  Nessa  

estratégia estaria, também, a canalização de todas as políticas sociais para a área da saúde, 

que  agora  teria  de  responsabilizar‐se  pelo  registro  dos  cidadãos,  entre  outras  demandas 

específicas da área social.  

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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Essa  visão  equivocada  continua no  entendimento  superficial demonstrado  sobre o 

financiamento  da  saúde,  que  segundo  o  Expectante  estaria  toda  redirecionada  e 

“carimbada”  na  saúde;  ou  seja,  os  governos  estão  “contra  nós,  trabalhadores,  e  nos 

utilizam” para “calar a boca da população”.  

Esse  participante  utilizou‐se,  ainda,  de  questões  trabalhistas,  que  incomodam  a 

todos,  para  ganhar  força  nos  argumentos,  os  quais,  em  geral,  são  destituídos  de 

conhecimentos  ou  profundidade  analítica  e  demonstrou  agilidade  em mudar  o  foco  de 

qualquer discussão para aquilo que considera relevante, conseguindo chamar a atenção do 

grupo. 

O “sonho dourado” de trabalho, evidenciado nas falas do Expectante, foi  um possível 

“PSF  na  Noruega”.  Segundo  ele,  “O  cara  deve  ficar  deitado  na maca  o  dia  inteiro...  eu 

imagino. De vez em quando, deve aparecer algum norueguês lá”. Na ótica desse profissional, 

o  ideal  de  trabalho  seria  a  esperta  ociosidade  do  trabalhador,  mesmo  que  pago  pela 

sociedade. Nota‐se, nesse  caso,  vigência do estereótipo  “levar  vantagem em  tudo” ou da 

primazia do interesse individual sobre o coletivo, o que, de resto, é denunciada no seu tom 

militante. Noutros termos, a mesma ética equivocada do gestor, que usaria o trabalhador do 

PSF para “manter o cabresto na população”, também lhe pertence, na medida em que acha 

certo o uso do escasso recurso público para manutenção de privilégios privados. 

c) Estranho PSF, o “trem do PSF”: utopia e crise: a expressão regional trem é utilizada 

no sentido de trambolho, esquisitice, desconhecimento, estranhamento. Ora, é usuário que 

não entende “o trem das eletivas”, num relato de caso em que, após esperar 3 horas para 

marcar um exame, explicam‐lhe que  sua  consulta  seria eletiva. O pacato  cidadão  teria  se 

aborrecido e perdido o controle por causa “do trem das eletivas”.  

Confusão  feita, a polícia acionada, e o paciente, nem  tão paciente assim, é  levado. 

Noutra ocasião, afirmaram os participantes dos GFs, que a população não quer “esse trem 

de  PSF”,  preferindo  uma UPA  no  lugar  de  uma UBS.  Por  outro  lado,  vários  depoimentos 

explicitaram o sentimento de angústia e crise diante da proposta de mudança prevista pelo 

PSF.  

Confiram‐se alguns exemplos: 

 

Passa dos nossos limites. Eu estou vendo muito, pelo menos lá no meu CS e em  todos  os  profissionais,  um  esgotamento.  O  pessoal  está  cansado  de bater sempre na mesma  tecla,  tentando e ainda não conseguindo sair. Eu 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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achava  que  era  só  um  sentimento  meu,  mas  quando  a  gente  senta  e conversa,  vê  que  é  um  sentimento  geral  da  comunidade.  A  gente  está cansado... 

 A gente está esgotado. E a cobrança vem da família e da própria Secretaria, dos governos... É só cobrando resultados, cobrando dados... E a gente está meio que chegando no limite.  O pessoal tinha que falar que trabalhar no PSF tem vida curta. Eu estou há sete anos, caminhando para os dez anos, mas os próximos dez anos a gente não aguenta mais não. 

 

Houve exemplos de preocupação sincera com a prática profissional e com o processo 

de trabalho antes, e depois da  implantação do PSF.  Identificaram‐se reflexões  importantes 

sobre  alguns  “efeitos  colaterais”  que  o  PSF  teria  trazido,  ou  seja,  um  possível 

aprofundamento  na  fragmentação  do  processo  de  trabalho  e  na  competição  entre  os 

profissionais.  

Sobre  a  discussão  das  possíveis mudanças,  para  os  participantes  dos  GFs,  o  PSF 

estaria  “engatinhando”.  O  “peso  dos  4.000”  usuários,  com  os  quais  as  ESFs  se 

responsabilizam,  reaparece  em  tom  de  desabafo  e  indignação,  ao  lado  da  postura 

paternalista que os profissionais sustentariam. Pouco se aprofunda sobre a possível relação 

de tutela gerada pelo que viria a ser uma relação de vínculo e co‐responsabildiade com as 

famílias; ou  seja, ao  invés do cuidado, na perspectiva autônoma, percebe‐se o “peso” nas 

costas, o “enfado”, a  irritação, a sensação de cansaço, de desilusão e de crise, ao  lado de 

esparsas experiências positivas.  

Resta  perguntar  se  os  profissionais  em  saúde,  realmente,  acreditam  na  estratégia 

saúde  da  família, mesmo  que  a  cumpram  de  forma  relativamente  recomendada. Há  nas 

reflexões  um  tom  de desconfiança  que  gera dúvidas  sobre  o  crédito  dos  profissionais  ao 

programa, em especial, nas reflexões daqueles que têm mais tempo de serviço público.   

Positivamente,  observou‐se  que  uma  das  enfermeiras  repetiu  com  frequência  a 

expressão  “contramão da história”, para  referir‐se às  contradições do nosso  tempo e das 

práticas profissionais nas UBSs, que necessitariam de mudanças profundas. Apesar de não se 

aprofundar  em  maiores  reflexões  epistêmicas,  o  depoimento  indica  sabedoria.  Essa 

enfermeira defendeu uma atenção diferenciada  sobre os desafios da contemporaneidade, 

calcada na gestão da informação e na virtualidade do tempo, que influenciam a vida privada 

e as práticas de saúde que os profissionais precisam incorporar.  

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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Em  outro  exemplo,  pleno  de  angústia  e  de  possibilidade,  a  participante  médica 

estranhada  entre  os  colegas,  a  exemplo  das  prerrogativas  de mudanças  do  PSF,  não  se 

manifestou  verbalmente  nas  discussões. Manteve‐se  quieta,  braços  cruzados,  descrente 

daquilo  tudo,  recolhida,  protegida.  Saiu  antes  do  término  das  discussões.  Um  espasmo 

muscular  indisfarçável,  presente  na  única  vez  em  que  se manifestou,  apresentou‐se  de 

forma recorrente, a despeito do silêncio verbal.  

Numa metáfora aproximativa, parece que a crise estivera inscrita incontrolavelmente 

no corpo, na vitalidade, na voz e na expressão daquele profissional diferente dos pares. O 

caso se aproxima da realidade com que o PSF se depara para constituir‐se em estratégia de 

mudança: ou seja, um cotidiano de serviços espremido entre a crise de um modelo que se 

quer suplantar e a utopia prenhe de um novo que custa a nascer.   

Em síntese, o tom das argumentações presentes, na maioria dos profissionais,  foi o 

de eximir‐se de reflexões mais consistentes sobre o processo de trabalho desenvolvido nas 

UBSs.  

Embora  não  seja  possível  generalizar  (haja  vista  as  situações  de  crise  e  utopia 

descritas,  que  podem  propiciar mudanças),  a  tônica  em  individualizar  os  usuários  pelos 

problemas de acesso e de organização dos serviços das UBSs prevaleceu. Foi necessária uma 

condução precisa para que se pudesse extrair respostas às perguntas formuladas, embora o 

próprio grupo tenha se flagrado em contradições irrefletidas, que ratificavam as informações 

e o levantamento das questões obtidas no survey.  

Cumpre dizer, porém, que tal característica não se manifestou de forma agressiva, à 

exceção dos dois participantes (Expectante e Transformador) detalhados acima. Predominou 

a  falta  de  auto‐reflexão  ou  de  autocrítica  nos  posicionamentos,  apesar  de  serem 

apresentados de forma colaborativa, muito mais que defensiva.  Em algumas falas, era quase 

como se os participantes dos GFs não estivessem se ouvindo, tão explícita era a centralidade 

no biológico e na doença. Em síntese, captou‐se muito dos múltiplos sentidos presentes no 

calor  dos  debates,  em  que  se  podem  aprofundar  os  aspectos  subjetivos  que movem  os 

profissionais no cotidiano dos serviços.   

 

 

 

 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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5.2.2.2‐ Características do trabalho das ESF nas UBSs  

 

Nas  respostas  às  questões  de  acessibilidade  debatidas  nos  grupos  focais, 

identificaram‐se  confirmações das barreiras de  acesso, do  acolhimento  como  triagem, do 

predomínio do modelo  tradicional de atenção e da ambivalência na  realização dos grupos 

educativos, que aparecem como atendimento massificado e, ou como indícios de mudanças. 

Averiguaram‐se os  tópicos  referentes às dificuldades de acesso e de duplicidade de ações 

entre UBSs e UPAs  informadas pelos usuários;  a baixa utilização das  ações programáticas 

verificadas – em relação à demanda espontânea –, bem como as possíveis diferenças que o 

Saúde da Família teria trazido, à luz dos princípios que os norteiam.  

a) Dificuldades no acesso do usuário:  

De  início,  a  dificuldade  de  acesso  do  usuário  foi  negada  por  alguns  participantes, 

como  se  verificou  nas  análises  estrutural  e  dos  interdiscursos.  Porém,  no  decorrer  dos 

debates, verificou‐se que os próprios profissionais flagraram‐se nas deficiências em planejar 

melhor as ações, resumindo‐as ao atendimento da demanda espontânea. Por outro  lado, a 

postura  resistente  às  mudanças  e  o  frágil  entendimento  dos  princípios  do  PSF,  por  si, 

ratificaram as barreiras identificadas no survey. Observou‐se um equívoco na concepção de 

acesso, entendido como forma restritiva, isso é, apenas como uso dos serviços.  

Considerou‐se  o  simples  fato  de  os  usuários  falarem  sobre  suas  demandas  no 

acolhimento como acesso. Os participantes dos GFs afiançaram‐se na débil evidência de que 

o  acolhimento  corresponderia  ao  atendimento  buscado  pela  população,  fato  que 

rapidamente foi contraditado, ao se verificar o tom meramente selecionador da atividade.  

As discussões confirmaram os indicativos de barreiras de acesso, tais como: 

• a listinha, que é preparada no acolhimento para a consulta médica;  

• a dificuldade em conseguir rapidamente o exame que de que se precisa nas UBSs;  

• o relato que o usuário sabiamente “dribla” o horário do acolhimento para tentar uma 

consulta;  

• a priorização de atendimento, a partir do que seria urgente, sempre a partir da visão 

do profissional, que em  geral desconsidera outras necessidades do usuário. Dessa  forma, 

“uma depressão leve” fica para quando houver vaga;  

• a confirmação da informação da pesquisa sobre a agilidade de atendimento nas UPAs 

e a debilidade das UBSs; 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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• o atendimento viciado às mesmas pessoas e a ausência de qualquer mecanismo que 

as ESFs pudessem utilizar para melhor ordenar a demanda e ampliar a acessibilidade; 

• a confirmação de demora na marcação de consultas especializadas; 

• a recepção não orientaria, corretamente, o usuário, caracterizando‐se uma barreira 

de acesso, em muitas ocasiões;  

• a demora na marcação e no retorno dos exames realizados;  

• a afirmação que, em muitas ocasiões, os  “pacientes”  foram encaminhados para as 

UPAs, em virtude da alta demanda nas UBSs; 

• o  agendamento de  consultas é  citado  como uma barreira de acesso, uma  vez que 

induziria o usuário a procurar as UPAs. 

Os participantes dos grupos focais objetaram que a dificuldade de acesso do usuário 

verifica‐se em virtude de  incoerências na recomendação da própria SMSA‐BH, como a que 

indica que apenas 25% do tempo da ESF devem ser destinados ao acolhimento. A realidade 

das UBSs ainda não  condiz  com essa diretriz, o que dificultaria a organização do  trabalho 

pelas ESFs.  

Em  relação  ao  tempo  gasto  para  que  o  usuário  seja  completamente  atendido,  os 

participantes dos grupos  focais  informaram que, dificilmente, o atendimento ocorreria em 

menos de 4 horas, a não ser em caso de acolhimento sem consulta. 

Pelo tom e recorrência dos discursos – de forma velada, mas não menos presente –, 

percebeu‐se que outra dificuldade encontrada pelo usuário, nas UBSs, centra‐se na postura, 

pouco aberta de boa parte dos profissionais, às mudanças preconizadas, com alguns indícios 

de diferenças dignas de nota. 

As  ações  da  UBS  são  citadas  como  um  “apagar  o  fogo”,  porque  as  UPAs  não 

conseguiriam atender à demanda. É digna de nota a fraca percepção de alguns profissionais 

sobre os papéis de  cada nível de  atenção, em especial da  atenção básica e da estratégia 

saúde da família, no sistema de saúde. Da mesma forma, verificaram‐se distorções no papel 

secundário que as UBSs desempenhariam, em relação a outros serviços, o que as situariam 

como retaguarda do atendimento de urgência, especialidade das UPAs. Muitos participantes 

dos grupos  focais confirmaram como resultado positivo e, motivo de orgulho, a ampliação 

da oferta de serviços, em especial de consultas médicas, pelas UBSs, uma vez que “o agudo” 

não  volta.  É  interessante notar o quanto  se preocupam  com o não  voltarem os  casos de 

urgência e o  tão pouco em planejar melhor  as  ações para organizar o  fluxo da demanda 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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espontânea,  que  por  sua  vez  impactaria  o  excesso  de  demanda  de  que  reclamam  os 

participantes dos GFs. Tal fator, igualmente, pode indicar dificuldade de acesso, visto que a 

forma de organizar o processo de trabalho influencia a demanda por serviços.   

Em geral, para os participantes dos GFs é “muito fácil” explicar a duplicidade de ações 

entre  UBSs  e  UPAs,  individualizando‐se  o  usuário  pela  situação,  o  que  predominou  em 

muitos  discursos,  conforme  referido  no  item  anterior. O  usuário  procuraria  as UPAs  por 

dificuldade de  entendimento da  sua doença  e da necessidade  equivocada de  consultas  e 

exames. Essa posição evidenciou a fragilidade em analisar mais profundamente o contexto e 

as práticas profissionais envolvidas na situação, bem como as atribuições previstas para cada 

nível de atenção. No entendimento da maioria dos participantes, em especial dos médicos, é 

quase como se  fosse um “fato consumado”, com muito pouco a se  fazer para modificar a 

situação, uma vez que o usuário “não tem jeito”.  

Um dado importante citado nos grupos foi o fato de a clientela das UPAs ser formada 

basicamente por trabalhadores, que não poderiam esperar pelo atendimento previsto para 

ele  nas  UBSs.  Na  verdade,  isso  é  apenas  parte  da  história,  uma  vez  que  o  perfil 

socioeconômico do usuário, nas UPAs e nas UBSs, não se altera significativamente: ou seja, a 

presença de trabalhadores é frequente em ambas as unidades. Relataram‐se casos inversos, 

em que o usuário retorna das UPAs com uma contra‐referência para atendimento na rede 

básica. Nesse caso, há “um vai‐e‐vem” do usuário, que em geral costuma pagar o ônus pela 

desarticulação  entre  UPAs  e  UBSs;  é  ocasional  os  usuários  com  problemas  de  saúde 

considerados urgentes negarem‐se ir à UPA.  

b) Acolhimento como triagem  

O acolhimento aparece como simples triagem no trabalho das ESFs, em geral com o 

uso  de  uma  listinha,  que  é  preparada  para  a  consulta  médica.  Seria  uma  atividade 

secundária para os médicos e de todo o profissional que dela participa.  

Como,  em  geral,  o  enfermeiro  é  quem  realiza  essa  tarefa,  o  fato  de  o  médico 

participar ocasionalmente da atividade foi motivo de espanto para os colegas da profissão. A 

enfermagem é vista como “apoio”, principalmente para problemas de saúde considerados 

simples. Vejam‐se algumas expressões emblemáticas:  

Eu não estou falando do acolhimento. O acolhimento, a enfermagem está lá para ouvir. Estou falando da consulta médica.   

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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Todos são ouvidos. Tem uma pessoa especializada que sabe discernir o que é mais urgente e o que pode  ‘empurrar  com a barriga. É mais ou menos assim’.  Todo mundo é escutado sim. Antigamente, quem chegava mais cedo com uma  dor  de  barriga,  uma  verminose,  era  atendido.  A  pneumonia  que chegava mais tarde ia embora para casa. Eram doze fichas, acabou, acabou. Hoje não. Todo mundo é escutado. Lógico que, quem está com pneumonia, a enfermagem põe na frente, prioriza. Essa emergência é atendida. Agora, a verminose  fica para quando puder... a depressão  leve, o dia em que  tiver vaga a gente coloca [...]. 

O  acolhimento  com  hora  marcada,  a  contragosto  das  recomendações  oficiais  da 

Secretaria de Saúde do município, ainda é uma realidade para muitas ESFs, constituindo‐se 

em dificuldades de acesso. Houve  relatos de que o acolhimento na UBS seria “rapidinho”, 

quando é feito pelo médico da ESF, supostamente mais resolutivo do que aquele conduzido 

pela  “minha  enfermeira”.  Observam‐se  posturas  da  centralidade  biomédica  nos 

depoimentos. Ratifica‐se que possam existir ainda barreiras de atendimento aos usuários, 

como o acolhimento.  

Veja‐se no trecho abaixo: 

 Uma  enfermagem  de  dar  linha  no  usuário,  de  quanto menos  ficar  aqui melhor!  Acolhimento  não  é!  Quando  você  vai  acolher,  ouvir  a  pessoa, identificar  a  necessidade,  você  vai  muitas  vezes  fazer  a  triagem  do atendimento médico. Se não há medico, não há acolhimento! 

 

A discussão sobre o médico participar, ou não, do acolhimento foi ponto de debate, 

uma vez que caracterizaria uma “consulta rapidinha”.  

Observa‐se,  aqui,  limitação  dos  enfermeiros,  ao  concordarem  que  poderiam  fazer 

uma “consulta rapidinha”, mas os médicos não. Confirmam‐se as dificuldades que o usuário 

encontraria  nas UBSs,  em  geral  limitada  a  certo  número  de  consultas  e  de  acolhimento. 

Verifica‐se a permanência do modelo de atenção  tradicional, centrado no atendimento às 

pessoas que procuram espontaneamente os serviços: a diferença introduzida seria que, com 

o  PSF  essa  “fila”  seria  escutada  de  maneira  mais  qualificada  no  acolhimento.  Porém, 

persistem as dificuldades em organizar essa demanda, a partir dos princípios do PSF. 

c) Predomínio do modelo tradicional de organização dos serviços  

Todos  os médicos  utilizaram,  com  frequência,  o  pronome  pessoal  ou  o  pronome 

possessivo, na primeira pessoa do singular para falar do cotidiano de trabalho, o que sugere 

centralidade  do  ego  ou  tendência  autoritária,  e  que  pode  ser  observado  no  emprego  de 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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expressões como: “eu analiso  isso”, “minha enfermeira”, “minha profissão”, “meu posto”, 

ou  expressões  que  sugerem  distância  entre  os  pares,  com  “a  enfermagem  está  lá  para 

ouvir”. Observa‐se hegemonia da prática médica sobre as demais profissões, em várias falas 

dos participantes dos GFs, tanto de médicos, quanto dos enfermeiros, mas o discurso desses 

pouco se contrapunha ao daqueles.  

Observaram‐se  processos  grupais  de  “influência  social  e  normativa”,  atrelados  ao 

discurso médico. Acentue‐se que, em maior ou menor grau, os médicos  caracterizam  sua 

atividade – a consulta – como a mais importante do serviço de saúde.  

É curioso observar a utilização do  termo “posto de  saúde” para  se  referir às UBSs. 

Trata‐se de uma denominação que se tem procurado evitar, uma vez que faz referência ao 

modelo tradicional de atenção que se quer superar. Tal ato falho, atrelado ao conjunto dos 

depoimentos, indica uma prática eminentemente influenciada pelo modelo biomédico, com 

pouco espaço para as mudanças recomendadas pelo PSF.  

Há de se destacar que a mudança da forma de organização dos serviços de saúde é 

muito mais estrutural do que circunstanciada a um, ou outro setor de política, constituindo‐

se em mudança paradigmática difícil de ocorrer de um dia para outro  (GÖTTEMS e PIRES, 

2009). Porém, o que se verifica é que, ao contrário do que se aposta, o PSF, muitas vezes, ao 

invés  de  relativizar  essa  hegemonia,  acaba  reforçando‐a,  o  que  pode  ser  verificado, 

principalmente,  na  desestruturação  de  programas  de  saúde  pública  clássicos,  como  se 

identifica nesta pesquisa.  

Por  outro  lado,  observou‐se  limitação  no  entendimento  de mudança  do modelo 

preconizado,  como  a  escolha  de  um  programa  de  medicamentos,  por  exemplo,  para 

explicitar o que seria diferente para as ESFs.  

Outro  exemplo,  que  merece  ser  citado,  é  o  da  dupla  triagem  nos  centros  de 

especialidades,  que  encontra  justificativa  em  falas  como  “os  profissionais  do  PSF  não 

saberiam encaminhar”. Tratou‐se, ainda nos GFs, do conflito entre médicos especialistas e 

generalistas,  cujo discurso desvelou que os médicos generalistas do PSF  são  considerados 

incompetentes ou  “de  segunda  categoria”, por aqueles que  se encontram nos  centros de 

especialidades.  Sem dúvida, essa questão é extremamente  importante para  a  adesão dos 

médicos à proposta de mudança do modelo.   

 

 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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d) Processo de trabalho centrado na demanda espontânea: “o agudo engole o PSF!” 

Pode ser identificado, em vários depoimentos sobre a prática profissional, o foco do 

atendimento  na  demanda  espontânea  e  na  consulta médica,  em  detrimento  das  outras 

atividades das ESFs, mesmo que muitos participantes dos GFs afirmassem que “acreditam no 

PSF”.   São raros os exemplos de planejamento das ações, trabalho em equipe, abordagem 

integral ou coordenação do trabalho, a partir dos princípios do SF.  

Em  geral,  há  pouca  apreensão  ou  incorporação  de  atividades  de  vigilância  e  de 

promoção  da  saúde  nos  depoimentos;  débil  preocupação  com  abordagens mais  amplas 

sobre os problemas de saúde que o usuário traz frequentemente às UBSs, com o objetivo de 

investigar o que  estaria por  trás daquelas  “figurinhas marcadas”, que  estão,  sempre, nos 

serviços de  saúde. Da mesma  forma, não  se  identificam entendimentos mais  consistentes 

sobre  a  necessidade  de melhor  organizar  a  demanda  que  procura  as  UBSs,  de  forma  a 

aproximá‐los, o mais possível, das necessidades de  saúde da população,  requisito para as 

mudanças na acessibilidade dos serviços. 

Os depoimentos confirmam que as ações programáticas sempre  ficam para depois, 

uma vez que as ESFs priorizam o atendimento da demanda que chega às UBSs. Em várias 

ocasiões,  informou‐se  a  necessidade  de  desmarcar  as  consultas  agendadas  para 

atendimento  “ao  agudo”,  principalmente  pelo  enfermeiro.  Parece  que  o  termo  agudo, 

repetido várias vezes por muitos profissionais, traduz bem a situação vivenciada pelas UBSs. 

Há  certa  agudização  do  trabalho  das  ESFs  que,  diariamente,  é  renovado  sem  que  os 

profissionais  se  detenham  mais  sobre  ele:  ou  seja,  há  exacerbada  preocupação  com  o 

sangramento da demanda, mas as ESFs não se detêm, satisfatoriamente, na busca de sua 

origem. É quase uma “lavagem de ferida” cotidiana, ou um “enxugar o gelo”. 

Observam‐se  priorização  do  atendimento  ao  usuário,  que  chega  às  UBSs, 

repetidamente, e é tratado como “agudo” pelos profissionais; restrição da pessoa à doença 

que  lhe  acomete,    em  sintonia  com  o modelo  biomédico  que  se  deseja  suplantar.  Se  no 

hospital,  o  paciente  tem  alguma  identidade  –  ainda  que  restrita  ao número  do  leito  que 

ocupa e a sintomatologia da doença que lhe acomete –, nas UBSs ocorre uma generalização 

extrema das  individualidades, escondidas  sob o  rótulo agudo.  Isso é  tão  significativo, que 

muitos profissionais referem‐se aos usuários com termos pejorativos ou assimétricos, como 

“manada”, “eles”, “turba”, “folgadinhos”, dentre outros.  

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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Por outro  lado, o uso do  termo prevenção, para se  referir ao que as ESFs estariam 

fazendo  de  diferente,  de  forma  restrita  à  ótica  da  doença  (ainda  que  numa  abordagem 

profilática),  traduz  bem  a  organização  do  trabalho  nas  UBSs,  a  partir  do  SF:  ou  seja, 

incidência  de  atendimentos  aos  “agudos”,  em  detrimento  de  abordagens  pautadas  na 

promoção  da  saúde.  Noutros  termos,  e  em  tom  de  desabafo,  os  participantes  dos  GFs 

disseram que “o agudo engole o PSF!”. 

 

e) Grupos educativos como atendimento massificado e como indício de mudanças  

A maioria dos participantes dos GFs citou a realização dos grupos educativos como 

uma  forma de agilizar o atendimento, mas não apresentou maiores preocupações teóricas 

ou metodológicas  com  os  processos  de  educação  em  saúde,  que  esses  grupos  poderiam 

propiciar.  O  que,  a  esse  respeito  preocupa,  está  numa  possível  substituição  das  ações 

programáticas  clássicas,  que  incluem  a  alternância  de  diversas  atividades  individuais  e 

coletivas, pelo atendimento massificado por meio dos grupos operativos, principalmente nas 

ESFs.  Em  geral,  são  utilizados  mecanismos  de  “barganha”,  como  a  troca  de  receitas, 

medicamentos  ou  fornecimento  de  lanches,  para  “chamar  a  população”,  sem  que  haja 

reflexões mais apuradas sobre os motivos que afastam os usuários das atividades oferecidas 

nos  grupos  operativos,  a  despeito  de  terem  surgido  exemplos  de  experiências  bem 

disputadas. 

Percebeu‐se  uma  tendência  em  jogar  a  culpa  no  usuário,  mesmo  que  as  falas 

denunciem falta de clareza sobre o papel das ESFs e, de mais facilmente dizer que “eles [os 

usuários] odeiam os grupos”, a refletir sobre o porquê de a população não gostar da maioria 

das  atividades  oferecidas.  Quando  ocorre  alguma  mudança  na  forma  de  realizar  as 

atividades nesses grupos, mesmo que pequena, por exemplo, atividades de educação física, 

a procura da população aumenta consideravelmente. Se as ESFs refletissem sobre o próprio 

processo  de  trabalho,  poderiam  ter melhor  percepção  dos   métodos  ortodoxos  e  pouco 

atrativos, que utilizam para as atividades de educação em saúde, predominantes nas UBSs, 

como se constatou nos depoimentos e nos resultados do survey. A esse respeito, pergunta‐

se  se os profissionais participariam dos grupos que costumam promover ou,  se  seria uma 

atividade pobre, para os pobres (usuários).  

Sobre  os  indícios  de  mudanças,  realizaram‐se  amplas  reflexões,  com  sincera 

preocupação dos participantes dos GFs, sobre a realização de grupos com troca de receita. 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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Foram  admitidas,  pelos  participantes  dos GFs,  deficiências  na  formação  profissional  para 

essa atividade. Percebeu‐se um incômodo em alguns profissionais, ao admitir não trabalhar 

da melhor  forma possível  e que, por  isso,  gostariam de maior  apoio  e  capacitação nessa 

área. Desvelou‐se, com muita propriedade, a realização dos grupos com troca de receitas nas 

UBSs e, sobre eles, ponderaram‐se as fragilidades das estratégias adotadas pelas ESFs frente 

às necessidades dos usuários que, afinal, não estariam tão distante das de todos os cidadão 

que utilizam os  serviços prestados pelo SUS; ou  seja, a necessidade de atendimento mais 

ágil, qualificado, com enfoques inovadores à saúde, que ultrapassem o modelo de palestras 

para repasse de informações que, na maioria das vezes, a população já sabe. O depoimento 

abaixo pode constituir um exemplo do que estaria “na contramão da história”, segundo a 

enfermeira padrão (alínea f), e que precisaria ser ultrapassado: 

 

Uma coisa que a gente não consegue muita adesão é nas ações educativas, por  exemplo,  fazer  grupo  de  grávida  fora  da  consulta  de  pré‐natal  nem precisa! Grupo de hipertenso se não tiver casado com atendimento médico e busca de receita nem precisa! Agora adolescente levar para a unidade de saúde  nem  pensar! Nós  já  fizemos  na  unidade. Nós  temos  na  unidade  o envolvimento das ACS. Nós  falamos vocês vão  fazer grupo de aleitamento materno,  vocês  vão  ser  responsáveis  de  envolver,  vocês  vão  ser  as monitoras.  O  quórum  é  assim  baixíssimo.  Elas  têm  que  ficar  assim  na cobrança.  Elas não  vieram  assim,  você  tem  que  convidar. Hipertensos  só houve  sucesso quando houve a presença do médico. A gente  ficou  lá um tempão sem médico, uns dois anos quase sem médico, e aí começou a fazer grupo  de  troca  de  receita  com  o  clínico.  Ah! Quantos  que  o  senhor  vai poder  atender?  Eu  acho  que  vai  dar  para  atender  uns  dez,  depois  uns quinze,  depois  20.  Cem  por  cento!  Cem  por  cento  das  pessoas  que  se cadastraram no grupo iam. E é o mesmo “lenga‐lenga”, falar um pouquinho de  hipertensão,  não  sei  o  que  lá  e  receitinha.  E  todo mundo  contente achando bonitinho. Oh! O doutor [...] está fazendo grupo aqui! Sabe! Mas se fosse com enfermeiro para orientação à saúde o quórum é baixíssimo. Eu cansei! Não faço grupo de nada! Só de planejamento familiar. Que também só  vai  porque  está  casado  com  a  ligadura,  que  é  o  que  todo mundo  vai buscar.  Então,  as  pessoas  têm muita  informação,  elas  não  dependem  de nós para buscar informação ou o que elas fazem da vida, obviamente.  

 

Ao que tudo  indica, a  implantação do PSF teria vulnerabilizado alguns processos bem 

estruturados nas UBSs, como as ações programáticas, por exemplo. No caso da atenção ao 

hipertenso e ao diabético, tal desestruturação é clara. Por outro lado, notou‐se que, onde os 

serviços estavam mais organizados, eles  tendem  a  acontecer da maneira  tradicional,  sem 

grandes mudanças ou inovações.  

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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f)  Ações  programáticas  secundarizadas,  restritas,  pouco  planejadas,  com  diferentes 

conformações  

As ações programáticas, em especial a hipertensão e o diabetes e, igualmente outras, 

não são realizadas prioritariamente pelas ESFs para a população adstrita, pois dependem do 

contexto  de  organização  de  cada  equipe  e UBS,  a  despeito  da  existência  dos  protocolos 

municipais. Há  sobreposição  e,  ou  duplicidade  de  ações  desenvolvidas  pelas  ESFs  e  pela 

Equipe  de  apoio,  de  forma  que,  ambas  realizam  consultas,  dentro  dos  programas,  sem 

distinção  de  papéis.  Tal  situação  demonstra  fragilidade  na  acessibilidade,  uma  vez  que 

desloca a Equipe de apoio da  função prevista de  retaguarda das ESFs, para os casos mais 

graves, dentro das especialidades clínicas básicas (pediatria, ginecologia e obstetrícia, clínica 

geral).  Ocorre  desarticulação  no  processo  de  trabalho  dentro  das  próprias  UBSs,  com 

comprometimento da reorganização preconizada. 

Como  referido, preocupa uma possível  substituição dos programas de  saúde pública 

pela  realização de grupos operativos, em que ocorrem de  forma  simultânea  a palestra,  a 

consulta e a troca de medicação. Tal indício pode significar um entendimento equivocado do 

sentido de mudança,  atribuído  ao PSF. Como  visto,  a estratégia  Saúde da  Família propõe 

reconstruir  processos  de  trabalho  existentes,  ampliando  o  foco  da  atenção,  e  não 

desestruturar os programas de saúde que classicamente conformaram a atenção primária à 

saúde no Brasil. 

Em vários momentos, confirmou‐se falta de planejamento ou de realização das ações 

programáticas  nas  UBSs  selecionadas,  o  que  corroborou  os  dados  da  pesquisa.  Houve 

relatos,  segundo  os  quais  as  ESFs  estariam  “retomando  as  coisinhas  perdidas”,  como  a 

classificação dos hipertensos da área, para implantação das consultas e definição das demais 

estratégias de atuação, e que, a dificuldade das ESFs em planejar as ações, ocorreria porque 

as  equipes  “sempre  esbarram  no  agudo”.  As  distintas  formas  de  organização  das  ações 

programáticas,  numa  mesma  unidade  de  saúde,  apresentaram  variações  entre  o 

cumprimento total, parcial ou insuficiente dos protocolos. A forma de organização depende 

da habilidade do profissional da ESF, em especial do enfermeiro que, algumas  vezes, não 

realiza as consultas de enfermagem, com exceções importantes e destacadas.  

Acrescente‐se que, muitas das antigas atribuições do enfermeiro, como a supervisão 

da  equipe  de  enfermagem,  da  sala  de  vacina,  de  curativos,  gestão  de  materiais  e 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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equipamentos, dentre outras, não estariam sendo cumpridas a contento e, pelo menos três 

formas de organização de ações programáticas coexistiriam numa mesma ESF.  

As  análises  dos  relatos  registrados,  possibilitaram  a  elaboração  do  Quadro  4,  que 

indica  5  possibilidades  distintas  de  organização  de  ações  programáticas  nas  UBSs 

selecionadas. 

 

Quadro 4Tipos de organização das ações programáticas usuais nas Unidades Básicas de Saúde, sistematizadas a partir dos Grupos Focais com os profissionais médicos e enfermeiros da Equipe de Saúde da Família 

 

 Classificação  Descrição 

TIPO 1 – AZUL  Consultas médicas e de enfermagem realizadas pela ESF, conforme protocolos.  

TIPO 2 ‐ VERDE  Consultas  realizadas apenas pelo médico, com pouca participação da enfermagem. Em geral, médico generalista intercala com apoio. Enfermagem realiza a primeira consulta ou consultas ocasionais.  

MODELO HÍBRIDO 

O enfermeiro realiza os preventivos de CA, encaminhando para tratamento com médico da ESF ou de apoio; ou ainda,  intercala as ações programáticas  com médico de apoio, sem participação do médico da ESF.  

TIPO 3 ‐ AMARELO 

Consultas  sem  participação  da  ESF  ou  da  enfermagem.  São  realizadas  apenas  pelo médico de apoio ou generalista. A enfermagem não realiza consulta.  

TIPO 4 ‐ VERMELHO 

Realização de grupos operativos, com orientações e troca de receitas. Consultas médicas e  de  enfermagem  ocasionais  ou  inexistentes,  por  demanda  espontânea  ou mediante casos identificados pela ESF.  

 

g) Indícios de mudanças e dos princípios do PSF na prática profissional  

De  forma  residual,  dois  participantes  (enfermeiros)  demonstraram  alguma  visão 

contextual da realidade social com que as ESFs deparam‐se no processo de trabalho. Foram 

citados  a  violência,  o  desemprego,  o  alcoolismo,  o  analfabetismo  e  as  agressões,  como 

questões  sociais que permeiam o  trabalho da equipe e, obviamente, a  tornam  impotente 

para  resolvê‐los de  forma  isolada. Observaram‐se o envolvimento e a preocupação desses 

profissionais nas situações vivenciadas, como o abandono de um idoso, pela própria família, 

que se recusa dele cuidar; a sobrecarga de trabalho das ESFs e o pouco preparo para  lidar 

com o peso das questões sociais que batem à porta das UBSs, todos os dias.  

Há  indícios de uma possível crise entre o que se espera dos profissionais das ESFs e 

uma sensibilidade para as mudanças, que se exaure e dá sinais de enfraquecimento diante 

da  realidade dos  serviços. Esse  sentimento de  impotência e angústia permeia os  sentidos 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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despertados pelos profissionais no processo de  trabalho do PSF,  já evidenciado em outros 

estudos  (LANCHMAN  et  al.,  2009; VELOSO,  2005)  e  caracteriza momentos  de  turbulência 

subjetiva,  dos  quais  podem  advir mudanças  ou  retrocessos.  Entretanto,  uma  visão mais 

aprofundada  do  contexto  sociohistórico  desse  cenário,  que  inclui  questões  sociais, 

econômicas, políticas e  culturais,  as quais  influenciam  a  realidade  sanitária da população, 

não foi expressiva nos depoimentos. 

A  análise  dos  depoimentos  apontou  que  o  PSF  ampliou  o  conhecimento  sobre  o 

usuário e  sua  família,  sendo esse um dos avanços. Outra mudança  seria maior acesso do 

usuário  “agudo”  às  UBSs,  o  que  não  acontecia  à  época  das  senhas  para  atendimento. 

Registrou‐se, de forma contundente que, de diferente mesmo, o PSF não estaria realizando 

nada muito significativo. Porém, alguns avanços, como a ampliação da oferta de serviços aos 

usuários,  são  detectados.  Apesar  de  poucos,  para  uma  estratégia  que  pretende  reverter 

modelos  de  atenção,  constituem  um  primeiro  passo  para  a  pretendida  ampliação  da 

acessibilidade dos serviços, como se pode abstrair do depoimento abaixo: 

 

A gente tem evoluído né! Eu estou pensando! Eu  já vivi muitos momentos de estar assim, assoberbada,  louca pra  sair do PSF. Tanto que eu achava maluco  arreganhar  as  portas  e  você  ficar  lá  assim  pra  conter  o  povo,  a boiada.  Sentia  que  eu  estava  no meio  de  uma  guerra.  Entrincheirada  no acolhimento,  você  ficava  entrincheirado  no  acolhimento  esperando  o inimigo.  Quantos  foram  hoje?  Uma  coisa  assim,  viu!  Hoje  isso  está  se suavizando!  Eu  acho  que  esses  grupos  todos  que  a  prefeitura  tem promovido,  as  discussões  todas  com  os  profissionais  que  fazem  PSF.  O próprio documento das diretrizes. É uma coisa bacana que a gente tem no centro de saúde, também acho que é um privilégio para nós, é a gerência. 

 

Há algo, ao mesmo tempo, progressista e conservador nesse discurso, que se coaduna 

com  o  perfil  do  enfermeiro  padrão,  de  formação  arraigada;  percebem‐se  qualidades  e 

debilidades nas características identificadas. O compromisso, a determinação e a postura de 

“arregaçar” as mangas para  fazer as coisas acontecerem,  superando‐se obstáculos,  são os 

valores importantes a destacar. Porém, a exemplo das contradições identificadas na própria 

enfermagem  (PIRES, 2001), sente‐se  falta de  reflexões mais amplas, principalmente, sob o 

ponto de vista político e de correlações entre atores, sobre a prática profissional. A despeito 

disso,  a  profissional  carrega  consigo  características  importantes  para  a  reorganização  de 

qualquer processo de trabalho que se queira, o que é central para sua realização. Pode‐se 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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mesmo  dizer  que  os  possíveis  avanços  que  o  PSF  possa  ter  conquistado  advém  de  uma 

atitude propositiva e reformadora, importante para os processos de mudança. 

Destaque‐se o sucesso do grupo de unibiótica de uma UBS selecionada, conduzido por 

uma ACS, como um trabalho diferente realizado pela ESF. Nos depoimentos, considerou‐se o 

caso como uma excentricidade, pelo fato de ser uma ACS quem o realizaria.   Lamenta‐se a 

frágil capacidade reflexiva sobre a mudança de modelo preconizada, que rompe com a lógica 

da doença e  inclui outros olhares  sobre o processo  saúde‐doença, no qual  a ACS  assume 

relevância acentuada. Relatou‐se, ainda, como inovador, a criação de um núcleo de saúde do 

idoso,  voltado  para  atividades  de  saúde,  não  de  doença,  no  qual  são  desenvolvidas 

atividades  físicas, de  lazer e educativas, calcadas na promoção da  saúde. Essa experiência 

tem como parceira uma faculdade privada e, embora não apresente nada de excepcional, a 

vivência indica ações calcadas em outra forma de enxergar a saúde.  

Outra experiência de grupos de educação em saúde trata de uma forma de organizar 

cursos  de  maneira  mais  sequencial  e  programada,  restrita  a  6  sessões,  cujo  conteúdo 

mínimo  seria  “repassado”.  Apesar  do  tom  diretivo  e  “instrucional”  da  proposta,  essa 

experiência tem conseguido adesão e cumprido o papel de manter‐se no escopo da saúde. 

Contraditoriamente, citaram‐se também como “diferente” ou “avanço” do PSF, o fato 

de as ESFs conseguirem vacinar todos os idosos, uma vez que os profissionais os conhecem. 

É curioso o destaque para uma ação que, historicamente, obteve êxito desde o surgimento 

das políticas públicas de saúde. Não é sem razão que o programa de imunização, do Brasil, é 

um dos exemplos de êxitos e qualidade do SUS  (GADELHA e ROMERO, 2007). Ademais, as 

ações de controle de endemias, pautadas no militarismo de  teor policialesco,  faz parte de 

um modelo de atenção que se quer superar. 

Considerou‐se  inovadora, nos depoimentos, a atividade de planejamento das ações e 

de diagnóstico  situacional elaborado pelas ESFs  como  tarefa do  curso de  capacitação dos 

ACSs. Há, também, informações sobre a rotina de, nas reuniões das ESFs, examinarem‐se os 

casos da demanda espontânea da semana com elaboração de ações para intervir na situação 

identificada.  Nesse  caso,  há  boas  repercussões  da  capacitação  dos  ACSs  no  trabalho  da 

equipe, que contribuem positivamente para ampliar a acessibilidade dos serviços e possíveis 

mudanças no processo de trabalho das ESFs. Outras ações diferenciadas, de alguns grupos, 

são  exemplificadas  de  forma  isolada,  tais  como  reuniões  de  mobilização  popular  e  de 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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formação de grupos de educação  física. Curiosamente,  tais atividades advêm de uma UBS 

parcialmente coberta pelo PSF. 

Acerca  dos  princípios  do  PSF,  dos  quais  se  estaria mais  próximo,  há  ratificação  do 

vínculo,  da  integralidade  e  do  trabalho  em  equipe.  Os  mais  distantes  seriam  a 

intersetorialidade e a resolubilidade, embora tais afirmações não se sustentem nos relatos 

sobre o processo de  trabalho da ESF. Nota‐se maior preocupação  com  a  continuidade da 

assistência prestada às  famílias adstritas como dado positivo. Algumas vezes, tais aspectos 

aparecem  como  uma  construção  partilhada  de  cuidado,  avançando‐se  no  “vínculo” 

preconizado.  Na  maioria  dos  casos,  porém,  predominam  a  obrigatoriedade  e  a  tensão 

gerada  pelo  “peso  dos  4.000”.  A  noção  de  “vínculo”  é  considerada,  mais  como  uma 

obrigação ou dever das ESFs, do que, propriamente, uma relação construída no cotidiano de 

trabalho dos profissionais, ainda que haja exceções. 

Conforme  se  comentou,  não  se  verificou maior  influência  dos  princípios  do  SF  nos 

discursos,  apesar de  a maioria dos profissionais  ter  concordado que o  “vínculo”  seria um 

elemento forte da Estratégia. O entendimento do SF, como estratégia de mudança, é frágil, 

sem  maior  impacto  na  forma  de  organização  do  serviço.  Percebe‐se  fragilidade  na 

incorporação dos princípios do SF no discurso e na prática profissional. 

Vários  participantes  dos  GFs,  das  UBSs  selecionadas,  informaram  não  existir  PSF 

implantado,  de  fato,  nas  UBSs,  em  especial  naquelas  parcialmente  cobertas.    As 

considerações  sobre  as  especificidades  das  UBSs  das  áreas  nobres  da  cidade  devem  ser 

levadas  em  conta.  Nelas,  a  população  estaria  acostumada  a,  e  “vinculada”  aos médicos 

especialistas que, em muitos casos, fizeram o pré‐natal e o parto dos filhos de uma mesma 

família. Tal fato demonstra que alguns princípios do  PSF não foram observados em todas as 

UBSs e que,  se o vínculo  fosse uma das marcas  fortes do Programa, as UBSs  tradicionais, 

também apresentariam vários exemplos de vinculação. Por  isso, pergunta‐se: Que mulher 

não busca essa situação de confiança numa hora tão importante, como o parto? Além disso, 

a situação da violência, típica dos grandes centros urbanos, torna o “vínculo” uma questão 

especial para reversão do modelo de atenção. 

 

 

 

 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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5.2.3 Dinâmica interpretativa 

 

Na articulação do contexto  sociohistórico dos entrevistados com a análise estrutural 

dos  depoimentos,  foi  possível  sintetizar  indicações  que  auxiliam  no  desvelamento  dos 

sentidos  de  poder  que  caracterizam  as  práticas  e  os  discursos  dos  profissionais.  Tais 

arremates são  importantes para aprofundar a  realidade da organização dos processos dos 

trabalhos das ESFs. Assim, a dinâmica dos depoimentos moveu‐se com a presença, em maior 

ou menor grau, das seguintes categorias: 

a) Posturas autoritárias: na maioria das vezes, o usuário pobre é tratado como cidadão 

de segunda linha. 

b) Cultura do  (des)serviço público: os vícios ou os estereótipos do  típico  funcionário 

público,  que  prefere  não  se  envolver  em  processos  de  mudanças,  cumpre  tarefas 

normatizadas  e  tem  pouca  disposição  para  reinventá‐las,  aparece  de  forma  velada.  A 

negação e resistência predominaram nos depoimentos, atreladas à culpabilização do outro, 

em geral o usuário, governo e gestores, pelas deficiências do serviço. 

c)  Pressão  por  resultados  e  atendimentos  no  trabalho  dos  profissionais:  há  de  se 

reconhecer a existência de contradições entre as normatizações da SMSA/BH e a realidade 

dos serviços, predominantemente, ainda centrada no modelo tradicional de atendimento, o 

que tem gerado tensões no ambiente de trabalho. 

 d)  Sensação  de  “‘angústia”  com  o  PSF:  essa  sensação  está  presente  em  muitos 

depoimentos,  principalmente  naqueles  apresentados  no  final  dos GFs,  e  parece  indicar  a 

falência de um modelo biomédico de atenção que é  ilógico, dispendioso, pouco resolutivo, 

desgastante  e  permeado  de  atritos  entre  profissionais  e  usuários.  Ao  cabo,  parece  que 

ambos – usuários e profissionais – permanecem no escopo da doença, sem se olharem de 

frente.  A  frágil  capacidade  de  análise  contextual  das  contradições  de  uma  prática 

profissional  eminentemente  medicalizante  destituída  de  maiores  intersubjetidades  no 

processo  de  trabalho,  que  singularizem  a  satisfação mútua,  exaure  qualquer  tentativa  de 

mudança preconizada. O modelo biomédico, ainda hegemônico, exibe sinais de um paciente 

que  “agoniza”  em  praça  pública,  embora  os  sujeitos  que  o  realizam  (os  profissionais  em 

saúde) não tenham plena consciência disso. 

e)  Adesão  incipiente  ao  PSF:  nas  poucas  falas,  em  que  se  citou  algo  diferente  do 

tradicional, mesmo  que  incipiente,  havia  sempre  um  quê  de  “não  envolvimento”  ou  de 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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dispersão, misturado  com  alguma  iniciativa  de  fazer  as  coisas  diferentes, mesmo  que  de 

forma  isolada. Porém, percebeu‐se que esses profissionais estão  longe de fazer a diferença 

ou de  se engajar mais  fortemente nas mudanças de práticas,  talvez pela exaustão de um 

processo de trabalho angustiante. Ainda que  incipientes, essas adesões significam uma  luz. 

Houve profissionais que disseram  ter aderido ao PSF,  isoladamente, a despeito dos outros 

médicos da UBS. Há de se perguntar se esses profissionais seriam tão diferentes assim dos 

colegas,  ou  se  não  “vestiram”  superficialmente  a  camisa  do  PSF  para  evitar  maiores 

conflitos.  São,  particularmente,  curiosos  alguns  exemplos,  como  o  fato  de  um  pediatra, 

atualmente  generalista  em  uma  das  ESFs  selecionadas,  atender  apenas  crianças  e  não 

realizar nenhuma outra ação programática prevista no PSF; a perplexidade da classe médica 

frente à universalidade do acesso ao SUS, que aparece quase como uma “ousadia” contra a 

ordem hegemônica. Via de regra, esse tipo de postura denota traços do pensamento liberal, 

muito característico da profissão. 

f) Mudanças e aprendizados com o PSF: as expressões de proposição explicitadas na 

apresentação  de  alguns  entrevistados  reapareceram  em  suas  argumentação.  Há  maior 

capacidade de  reflexão desses profissionais, quando ponderam  sobre os desafios  reais da 

implantação do PSF. Destaca‐se a presença de reflexões sinceras sobre a prática profissional, 

quando os participantes dos GFs  consideram o PSF  como um desafio,  a  ser enfrentado e 

superado  no  cotidiano  de  trabalho.  Verificam‐se  atenção  e  envolvimento  de  alguns 

profissionais  com  a  proposta  de  mudança,  ao  lado  de  angústias  vivenciadas  na  prática 

profissional, em especial no que e refere aos grupos operativos que realizam.  

 

5.3 Análise da oferta e da demanda por serviços de atenção básica nas UBSs investigadas 

 

Na última fase da pesquisa, objetivou‐se confirmar os dados da primeira e da segunda 

etapas.  Inicialmente,  foram analisados dos  indicadores  clássicos de oferta,  sintetizados na 

cobertura populacional das ações e dos serviços básicos de saúde. Em seguida, realizou‐se 

avaliação da produção dos atendimentos das UBSs, a partir das bases de dados secundárias 

da SMSA/BH, comparando‐a com a previsão de demanda para as áreas programáticas.  

Conforme verificado na etapa survey, os serviços de atenção básica em Belo Horizonte 

têm  boa  distribuição  geográfica  e  populacional. Na  análise  da  oferta  dos  serviços  das  10 

UBSs, levaram‐se em conta, primeiramente, os parâmetros de cobertura (BRASIL, 2006), seja 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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de ESF (1 para cada 4000 habitantes), de UBS (1 para cada 12.000 hab, quando cobertas pelo 

PSF  e  1  para  30.000,  em  UBS  sem  PSF,  para  grandes  centros  urbanos)  ou  de  consultas 

médicas (1/1.000.000 hab).  

Na Tabela 14, observa‐se que as UBSs investigadas estão bem distribuídas em termos 

de cobertura populacional, pois apenas 4 delas ultrapassam o parâmetro recomendado de 

12.000 pessoas por área de abrangência. No que se refere à população coberta pelas ESFs, 

apesar de todos os grupos focais terem reclamado da “grande demanda”, o fato é que todas 

estão dentro do parâmetro recomendado, com exceção da UBS 7.  

 

Tabela 14 ‐  Indicadores de  cobertura populacional e de  consultas médicas por habitante/ano nas Unidades Básicas de Saúde selecionadas, Belo Horizonte, 2009  

UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE 

Cobertura total de PSF 

(a) 

População de Abrangência*  

População Coberta ESF 

Nº ESF 

Pop/ESF  Nº de consultas médicas/ hab. 

Ano** UBS 1  sim  15.435   11.259 5 2.251,8  1,565

UBS 2  sim  11.300 9.384 3 3.128  0,886  

UBS 3  sim  18.652   15.906 5 3181,2  0,729  

UBS 4  não  10.069 7.842 3 2.614  2,516

UBS 5  sim  14.901 13.947 4 3.486,7  1,543

UBS 6  sim  8.670 8.326 3 2.775,3  2,394

UBS 7  sim  17.679   17.175 4 4.293,7   0,835  

UBS 8  sim  12.205 10.772 5 2.154,4  1,311

UBS 9  não  11.750 5.687 3 1.895,6  1,574

UBS 10  sim  13.627   12.205 5 2.441  1,514

Fonte: Dados da pesquisa, 2009.  * Parâmetro recomendado: 12.000 habitantes para UBSs completamente cobertas pelo  PSF, e 30.000 para parcialmente cobertas, capitais metropolitanas (BRASIL, 2006). ** Parâmetro recomendado: 1 consulta médica por habitante/ano.  

Desse modo, ratifica‐se que muito maior que a “demanda” da qual as ESFs reclamam, 

é a falta de organização e de planejamento das ações dessas equipes. Outro fato importante, 

que se constata, é que, mesmo diante da grande utilização das consultas médicas verificadas 

na etapa survey, 3 Unidades de Saúde  (UBS 2, UBS 3 e UBS 6) não cumprem o parâmetro 

mínimo de oferta na realização de consultas por habitante/ano. Tais resultados ratificam a 

necessidade de melhor organização dos serviços para o atendimento à população, uma vez 

que há recursos físicos e humanos disponíveis em quantidade adequada, sob a análise dos 

indicadores de oferta clássicos. 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

121

Na  comparação  entre  a  oferta  de  atendimentos  de  demanda  espontânea  e  ações 

programáticas  realizadas  pelas  ESF  nas  UBS,  visualiza‐se  total  inversão  do  que  é 

recomendado  pelas  diretrizes  da  SMSA/BH  (BELO  HORIZONTE,  2006):  que  25%  dos 

atendimentos  sejam  destinados  ao  acolhimento,  consequentemente  à  demanda 

espontânea. No Gráfico  1,  a média  de  atendimentos  de  demanda  espontânea  realizados 

pelas  ESF  nas  10  UBSs  corresponde  a  76,9%,  enquanto  apenas  23,02%  são  de  ações 

programáticas.  Quando  se  verifica  a  desagregação  dos  dados  pelas  UBSs  (Tabela  15), 

percebem‐se discrepâncias acentuadas nessa média. Num extremo, as UBSS 4, 6, 8, 9 e 10 

mantêm‐se entre 80% e 86% dos atendimentos restritos à demanda espontânea. Porém, há 

casos  polares,  como  a  UBS  1,  em  que  a  demanda  espontânea  responde  por  44%  da 

produção das ESFs, contrastando com 55,09% de ações programáticas.  

 

Tabela 15 ‐  Média  percentual  dos  procedimentos  realizados  pelas  Equipes  de  Saúde  da Família, nas Unidades Básicas de Saúde selecionadas, no período de outubro de 2009 a março de 2009, Belo Horizonte, 2009  

UBS  Demanda Espontânea Ações Programáticas  Total das Atividades 

N  % N %

1  282   44,06   358   55,94   640 

2  578  68,08 271 31,92  849 

3  679  67,23 331 32,77  1010

4  1054  83,25 212 16,75  1266

5  1034  79,54 266 20,46  1300

6  1250   86,21   200   13,79   1450

7  470  69,02 211 30,98  681 

8  1468  81,33 337 18,67  1805

9  1095  81,84 243 18,16  1338

10  1152  80,45 280 19,55  1432

Total  9062  76,99 2709 23,01  11771

       Fonte: Sistema de Informação Fenix/GEREPI/SMSA‐BH, nov. 2009  

* Demanda espontânea: consultas realizadas pela ESFs, fora dos protocolos e acolhimentos. **Ações programáticas: consultas realizadas pelas ESFs dentro dos protocolos.  

 

 

 

 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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 Gráfico 1 ‐ Média percentual dos procedimentos realizados pela Equipe de Saúde 

da Família, nas Unidades Básicas de Saúde selecionadas, no período de setembro de 2008 a agosto de 2009, Belo Horizonte, 2009  

Fonte:  Sistema de Informação Fenix/GEREPI/SMSA‐BH, nov. 2009.  

Na  produção  global  das  UBSs  (Gráfico  2),  considera‐se  a  produção  das  ESFs  e  das 

equipes  de  apoio.  Nota‐se  que  diminuiu  a  diferença  entre  o  atendimento  centrado  na 

demanda espontânea (68,1%) e as programáticas (31,86%). Quando se desagregam os dados 

por UBS,  persistem  as  discrepâncias  verificadas  anteriormente,  ou  seja,  a UBS  1  chega  a 

inverter a relação, produzindo 67,2% dos atendimentos de ações programáticas e 32,7% de 

demanda espontânea (Tabela 16).  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

123

Tabela 16 ‐  Média  percentual  dos  procedimentos  realizados  pelas  Unidades  Básicas  de  Saúde selecionadas,  no  período  de  setembro  de  2008  a  agosto  de  2009,  Belo Horizonte, 2009  

UBS  Demanda Espontânea Ações Programáticas  Total das Atividades

N  % N % 

1  282  32,71   580   67,29   862

2  578  62,96 340 37,04  918

3  679  60,90 436 39,10  1115

4  1054  72,29 404 27,71  1458

5  1034  69,72 449 30,28  1483

6  1250  79,26 327 20,74  1577

7  470  59,64 318 40,36  788

8  1468  76,58   449   23,42   1917

9  1095  73,84 388 26,16  1483

10  1152  67,84 546 32,16  1698

Total  9062  68,14 4237 31,86  13299

Fonte: Sistema de Informação Fenix/GEREPI/SMSA‐BH, Nov. 2009.  

*  Demanda  espontânea:  consultas  realizadas  pela  ESF  e  equipe  de  apoio  fora  dos  protocolos  e acolhimentos. **Ações programáticas: consultas realizadas pelas ESF e equipe de apoio dentro dos protocolos. 

 

 

Gráfico 2 ‐  Média  percentual  dos  procedimentos  realizados    pela Equipe  de  Saúde  da  Família  e  de  apoio  nas  Unidades Básicas de Saúde  selecionadas, no período de  setembro de 2008 a agosro de 2009, Belo Horizonte, 2009  

Fonte: Sistema de Informação Fenix/GEREPI/SMSA‐BH, nov. 2009.  

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

124

 

Compararam‐se  os  resultados  entre  a  caracterização  da  demanda  identificada  no 

survey com o usuário e a média de atendimentos produzidos nas UBSs investigadas durante 

o  mês  de  outubro  de  2008,  período  da  coleta  de  dados.  Embora  a  análise  esteja 

comprometida, uma vez que as entrevistas ocorreram em apenas 2 dias por UBS, 3 horas 

por  turno,  e  a média  dos  atendimentos  foi  realizada  utilizando‐se  a  produção  do mês, 

percebe‐se  similitudes entre o padrão apresentado em ambas, conforme demonstrado na 

Tabela 17. Observa‐se que a diferença entre os atendimentos de demanda espontânea em 

relação  às  ações  programáticas  se  assemelha,  correspondendo  a  36,48%  da  oferta  de 

procedimentos nas UBS e 38,26% da utilização dos serviços informadas pelos usuários. Esse 

dado  é  relevante  para  as  confirmações  buscadas  nessa  investigação,  haja  vista  os 

questionamentos dos profissionais acerca dos dados obtidos no survey com os usuários, em 

especial no que tange a baixa produção das ações programáticas.  

 

Tabela 17 ‐  Comparação entre o percentual médio mensal de procedimentos realizados e a utilização informada  pelos  usuários,  nas Unidades  Básicas  de  Saúde  selecionadas,  Belo Horizonte, outubro de 2009  

   Demanda Espontânea* 

(a) 

Ação Programática** 

(b) 

Diferença percentual da demanda espontânea em relação à ação programática  

(a‐b)  Procedimentos ofertados pela UBS 

68,14%  31,86%  

36,48%  

 Utilização informada pelos usuários na entrevista 

52,86%  14,60%  

38,26%   

Fonte: Survey com usuários, Sistema Fênix/SMSA‐BH, 2009.  * Demanda espontânea ofertada pela UBS: consultas realizadas fora dos protocolos e acolhimentos. Demanda  utilizada:  consultas médicas,  acolhimentos  e  consultas  de  retorno  informadas  pelo  usuário  no survey. 

**Ações programáticas ofertadas pela UBS: consultas realizadas dentro dos protocolos. Demanda     utilizada: procedimento de ação programática informada pelo usuário no survey. 

 

Para  confirmar  as  informações  produzidas  nas  etapas  precedentes,  procedeu‐se  ao 

exame da produção das ações programáticas ofertadas pelos profissionais da equipe saúde 

da  família e de apoio, por UBS. Conforme  recomendação das diretrizes da SMSA/BH e da 

política  nacional  de  atenção  básica  (BELO  HORIZONTE,  2006;  BRASIL,  2006),  a  ESF  deve 

responsabilizar‐se pela maior parte das ações programáticas da área de abrangência, posto 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

125

que  a  maioria  delas  é  usual,  de  baixo  risco  e,  ou  de  caráter  preventivo.  Na  lógica  da 

organização proposta, os médicos especialistas da equipe de apoio ofereceriam retaguarda 

às ESFs, que  lhes encaminhariam os casos que requerem maior especialidade. Conforme o 

que se verificou no survey e nos grupos focais, ocorre duplicidade de ações entre essas duas 

equipes de atenção básica, ambas realizando as ações programáticas, conforme os distintos 

modelos apresentados no Quadro 4.   

Cabe lembrar que as ESFs são, em geral, numericamente maiores (a variação é de 3 a 5 

equipes) que  a quantidade de médicos especialistas  (Tabela 14). Além disso, na presente 

análise,  considerou‐se  também  a  produção  dos  enfermeiros  das  ESFs.  Assim,  o  fato  de 

existirem mais profissionais do PSF produzindo as ações programáticas, que da equipe de 

apoio,  reflete‐se  na  quantidade  e  na  média  percentual  aferida.  Mesmo  diante  dessa 

ressalva, verificam‐se disparidades entre as UBSs (Gráfico 3). Em algumas (UBS 2, 3 e 8), as 

ESFs assumem entre 75% e 79% das ações programáticas realizadas na UBS e as equipes de 

apoio realizam entre 20% e 24,9%. Há situações, nas UBS 7, 9, 1 e 6, por exemplo, em que 

essa proporção diminui, ficando as ESFs com aproximadamente 65% das ações e as de apoio 

com índice em torno dos 35%. No extremo oposto, as UBSs 5, 4 e 10, praticamente dividem 

as ações programáticas da UBS entre a ESF e de apoio, o que não é recomendado. No geral, 

as ESFs são responsáveis por 63,9% das ações e a equipe de apoio 36%. 

 

 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

126

 Gráfico 3 ‐  Média  percentual  de  procedimentos  de  ações  programáticas 

realizados pelas Equipes de Saúde da Família e Equipe de Apoio, nas Unidades Básicas de Saúde selecionadas, no período de setembro de 2008 a agosto de 2009, Belo Horizonte, 2009  

Fonte:  Sistema de Informação Fênix/GEREPI/SMSA‐BH, 2009.* Ações programáticas: consideram‐se os atendimentos dentro dos protocolos da SMSA‐BH. 

 

Porém,  apenas o exame da produção das  ações não é  suficiente para  verificar  se  a 

forma  de  organizar  e  produzir  serviços  de  atenção  básica  nas  UBSs  consegue  atender  à 

demanda prevista para as mesmas. Tendo por objetivo delimitar melhor a análise da oferta 

das ações programáticas,  fez‐se uma avaliação comparativa entre a demanda de consultas 

previstas para esses programas e as realizadas pelas ESFs e de apoio nas UBSs. Delimitou‐se 

o acompanhamento ao crescimento e ao desenvolvimento da criança menor que um ano, o 

pré‐natal,  o  preventivo  do  câncer  ginecológico,  bem  como  o  programa  de  prevenção  e 

controle  da  hipertensão  arterial,  que  continham  dados  completos  para  o  período 

selecionado, para o este estudo. Em linhas gerais, tratou‐se de averiguar o desempenho das 

UBSs,  por  equipes  profissionais,  em  relação  à  demanda  prevista  a  partir  dos  parâmetros 

oficiais de programação, conforme descrito na metodologia. 

Na  Tabela  18  e  no  Gráfico  4  observa‐se  que  o  total  das  consultas  de  ações 

programáticas  realizadas pelos profissionais nas UBSs  investigadas não atingem o previsto 

(4127 ou 54,5%). Nota‐se, ainda, uma diversidade de cenários entre as 10 UBSs, que varia de 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

127

pouco mais de  30% das  consultas  realizadas  em  relação  à demanda prevista,  até 74,26% 

(UBS 7, UBS 2). Vale  lembrar que o cálculo é feito sobre a área de abrangência da UBS. Se 

considerada a informação da Agência Nacional de Saúde26, que de 20% a 30% da população 

de  Minas  Gerais  são  beneficiários  de  planos  privados  de  saúde,  portanto  com  pouca 

recorrência  ao  SUS  para  as  ações  básicas  de  saúde,  ainda  assim  percebe‐se  um  baixo 

desempenho das UBSs em relação ao esperado para os programas de saúde pública. Porém, 

sabe‐se que a implantação do PSF ocorre, prioritariamente, em regiões de médio a elevado 

risco  social  pelo  Índice  de  Vulnerabilidade  Social  (IVS),  que  se  baseia  no  Índice  de 

Desenvolvimento Humano  (IDH)  para  definição  das  prioridades  em  políticas  públicas. Ou 

seja, a população pobre dos grandes centros urbanos, em que o PSF foi  implantado, utiliza 

quase exclusivamente o SUS.  

 

Tabela 18 ‐  Comparação entre o total da demanda prevista para os programas de atenção à saúde e as consultas  realizadas  nas  Unidades  Básicas  de  Saúde  selecionadas,  Belo  Horizonte,  no período de agosto de 2008 a setembro de 2009  

UBS  Média mensal de demanda prevista* 

Média de consultas realizadas nas ações programáticas** 

Percentual de consultas realizadas em rel. à demanda 

prevista (%) UBS 1  891  580 65,0 UBS2  632  224 34,4 UBS 3  741  436 58,8 UBS 4  544  404 74,2  UBS 5  986  449 45,5 UBS 6  534  327 61,2 UBS 7  1046  324 30,9  UBS 8  671  449 66,9 UBS 9  748  388 51,8 UBS 10  774  546 70,5 TOTAL  7567  4127 54,5  

Fonte:  Sistema de Informação Fênix/GEREPI/SMSA‐BH, nov. 2009. 

* Previsão de consultas calculada para as áreas de saúde da criança, mulher (pré‐natal e preventivo de câncer) e adulto (hipertensão), a partir dos parâmetros do Prograb/Ministério da Saúde e cadastro das ESFs.  

 

26 Boletim “ANS Informação”. Disponível em: http://www.ans.gov.br/portal/upload/informacoesss/folder_ANS‐Info_2009.pdf. Acesso em: 6 dez. 2009.  

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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 Gráfico 4 ‐  Comparação  entre  a média de demanda prevista  e de  consultas 

realizadas  nos  programas  de  atenção  à  saúde  nas  Unidades Básicas de Saúde selecionadas, no período de setembro de 2008 a março de 2009, Belo Horizonte  

Fonte:  Sistema de Informação Fênix/GEREPI/SMSA‐BH, nov. 2009.  

 * Previsão de demanda calculada para as áreas de saúde da criança, mulher  (pré‐natal  e  preventivo  de  câncer)  e  adulto  (hipertensão),  a  partir  dos  parâmetros  do Prograb/Ministério da Saúde e cadastro das ESF. ** Consultas médicas e de enfermagem realizadas dentro dos protocolos. 

 

Cabe  sinalizar  que  a  situação  descrita,  acerca  da  pouca  utilização  das  ações 

programáticas  pelos  usuários  identificada  no  survey,  foi  devidamente  aprofundada  nos 

grupos focais. A análise em curso apenas confirma a frágil capacidade de planejamento das 

ESFs,  impactando  na  acessibilidade  dos  serviços,  que  poderia  ampliar  sua  capacidade  de 

responder às demandas da população pela prevenção de doenças e promoção da saúde. 

Quando  se  observa  a  realização  de  consultas,  em  relação  à  previsão  de  demanda 

para as ESFs e equipe de apoio, constata‐se distanciamento com o que é preconizado: ou 

seja, a equipe de apoio, que deveria realizar as consultas referenciadas pela ESF, ou de maior 

risco,  acaba  concorrendo  com  as  ESFs  na  realização  de  todas  as  ações  programáticas 

demandadas  pela  população,  com  poucos  critérios  de  referenciamento,  como  se  viu  nos 

grupos focais. A Tabela 19  ilustra que as ESFs não conseguem cumprir a demanda prevista 

para os atendimentos programáticos, realizando apenas 36,48% deles. As equipes de apoio, 

no  entanto,  superam  a  previsão  da  clientela  das  ações  programáticas  que  lhes  seriam 

específicas em quase quatro vezes  (379%). Da mesma  forma, observa‐se acanhamento no 

desempenho das consultas de enfermagem em relação à demanda prevista, se comparadas 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

129

ao profissional médico da ESF. Enquanto o médico consegue realizar 71,54% das consultas 

da  demanda  prevista  de  ações  programáticas,  o  enfermeiro  cumpre  apenas  12,96%  do 

preconizado, conforme Gráfico 5. 

 

Tabela 19 ‐  Comparação entre a média da demanda prevista e as consultas realizadas nos programas de atenção à saúde pela Equipe de Saúde da Família e pela equipe de apoio nas Unidades Básicas de Saúde  selecionadas, no período de  setembro de 2008 a agosto de 2009, Belo Horizonte, 2009  

Equipe de atenção básica 

Média mensal de demanda prevista* 

Consultas realizadas* Percentual de consultas realizadas em relação à 

demanda prevista  Equipe de Saúde da 

Família (ESF) 7170,5 2616 36,48%

Equipe de apoio  402,5 1528 379%Fonte: Sistema de Informação Fênix/GEREPI/SMSA‐BH, Nov. 2009 e dados da pesquisa, 2009.  

*Previsão de demanda calculada para as áreas de saúde da criança, mulher (pré‐natal e preventivo de câncer) e adulto (hipertensão), a partir dos parâmetros do Prograb/Ministério da Saúde e cadastro das ESF. **Consultas médicas e de enfermagem realizadas dentro dos   protocolos.     

 Gráfico 5 ‐  Comparação entre a média da demanda prevista e das consultas 

realizadas  nos  programas  de  atenção  à  saúde  pelo  médico  e enfermeiro  das  Equipes  de  Saúde  da  Família  e  nas  Unidades Básicas de Saúde selecionadas, no período de setembro de 2008 a março de 2009, Belo Horizonte   

Fonte:  Sistema de  Informação  Fênix/GEREPI/SMSA‐BH, Nov. 2009  e dados da pesquisa, 2009. 

  

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

130

Quando se discrimina o desempenho de médicos e enfermeiros das ESFs, em relação à 

demanda prevista para os programas de atenção à saúde da criança, pré‐natal, preventivo 

do câncer ginecológico, bem como prevenção e controle da  hipertensão arterial, observam‐

se  diferenças  importantes,  demonstradas  na  Tabela  20.  Quanto  ao  programa  saúde  da 

criança,  percebe‐se  uma  sobreoferta  de  consultas,  em  relação  à  demanda  prevista,  com 

superioridade da produção do generalista (2665%) à do enfermeiro (366%). Porém, há de se 

questionar  esse  dado  da  pesquisa,  que  com  certeza  incorre  em  falhas  na  qualidade  da 

informação obtida no sistema FÊNIX. Atente‐se que, para o cálculo da demanda, considerou‐

se  o  total  de  crianças  cadastradas  da  UBS,  e  não  uma  estimativa  segundo  parâmetros 

oficiais, como nos cálculos anteriores; as consultas  realizadas  foram,  igualmente,  retiradas 

da produção das UBSs.  

Alguns  vieses  podem  explicar  essa  desproporção  entre  o  número  de  consultas 

realizadas e a demanda prevista para o acompanhamento às crianças menores de um ano, 

que chega a 2665%, no caso dos médicos e a 366%, para os enfermeiros. Em primeiro lugar, 

como se constatou nos grupos focais, as ESFs não têm por hábito trabalhar a informação do 

cadastro da área de abrangência como instrumento de planejamento e gestão. Muitas falas 

chagaram a denotar que o “planejamento é zero” nas ESFs. O número de crianças, menores 

de um ano, bem como outros dados cadastrais, é renovado mensalmente pelo trabalho do 

agente comunitário de saúde (ACS). Observou‐se nos grupos focais que a vigilância à saúde 

da população é uma ação incipiente realizada pelo PSF. Diante disso, há pista suficiente para 

inferir que as  informações dos bancos de dados não  conferem  com a  realidade das ESFs, 

mesmo  que  informada  e  atualizada  por  elas. Quanto  às  consultas,  é  possível  que muitas 

crianças  consultadas  tenham  entrado  pelo  fluxo  da  demanda  espontânea  e  não  dos 

protocolos  assistenciais,  haja  vista  a  forma  de  organização  centrada  na  demanda 

espontânea,  identificada  nos  grupos  focais.  Outra  possibilidade  pode  ser  o  registro 

inadequado da  idade efetuado no momento da consulta. De  todos os modos, o  resultado 

explica, em muito, as dificuldades de planejamento das ações das ESFs, em especial   as de 

prevenção  e  promoção  da  saúde,  que  influenciam  diretamente  na  acessibilidade  dos 

serviços. 

 

 

 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

131

Tabela 20 ‐  Comparação entre o total da demanda prevista e as consultas realizadas nos programas de atenção à  saúde, pelo médico e pelos enfermeiros das Equipes de Saúde da  Família nas Unidades Básicas  selecionadas, no período de  setembro de 2008 e agosto de 2009, Belo Horizonte  

Saúde da Criança – Acompanhamento ao Crescimento e Desenvolvimento (menores de 1 ano) Profissionais da ESF  Média mensal de 

consultas prevista* Consultas 

realizadas** Percentual de consultas realizadas em 

relação à demanda prevista Médico  76,5  2039 2665 

 Enfermeiro 

 153  560 

 366  

Saúde da Mulher – Pré‐natal Profissionais da ESF  Média mensal de 

consultas prevista* Consultas 

realizadas** Percentual de consultas realizadas em 

relação à demanda prevista  

Médico  

912,5  233  

25,5  

Enfermeiro  

912,5  560  

16,9  

Saúde da Mulher – Preventivo do Câncer Ginecológico Profissionais da ESF  Média mensal de 

consultas prevista* Consultas 

realizadas** Percentual de consultas realizadas em 

relação à demanda prevista  

Médico  

466  116  

24,8  

Enfermeiro  

466  137  

29,3 

Saúde do Adulto – Prevenção e controle da hipertensão arterial Profissionais da ESF  Média mensal de 

consultas prevista* Consultas 

realizadas** Percentual de consultas realizadas em 

relação à demanda prevista  

Médico  

1395  1561  

111,8  

Enfermeiro  

2787  94  

3,37 Fonte:  Sistema de Informação Fênix/GEREPI/SMSA‐BH, Nov. 2009 e dados da pesquisa, 2009.  *Demanda  prevista  para  a  atenção  à  saúde  da  criança:  crianças menores  de  1  ano  selecionadas  do  cadastro  das  ESFs, considerandose  prevalência  de  95%.  Recomendam‐se  2  consultas  com  médico  generalista,  2  com  pediatra  e  4  com enfermeiro.  Pré‐natal: estima‐se que 3% da população  feminina sejam gestantes.  Identificou‐se esse percentual, a partir do cadastro das ESFs (BRASIL, 2006). Prevêm‐se 3 consultas médicas e 3 de enfermagem.  Preventivo de CA: estima‐se que 40% da população entre 25 e 59 anos precisariam fazer o preventivo de CA, seja porque o fizeram há mais de 3 anos (32%) ou nunca o realizaram (8%), considerando‐se uma cobertura de 80%. Recomendam‐se 50% de consultas médicas e 50% de enfermagem.  Estima‐se que 15% da população adulta são hipertensos, recomendando‐se uma cobertura de 80%. Prevêm‐se 2 consultas médicas anuais e 4 de enfermagem. (BRASIL, 2006; BELO HORIZONTE, 2006).  **Consultas realizadas dentro dos protocolos.   

 

 

 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

132

Com  relação  à  atenção  à  saúde  da mulher,    as  ESFs  cumprem menos  de  30%  das 

consultas previstas, assim distribuídas: a) Pré‐natal: médico, 25,54%; enfermeiro, 16,99%; b) 

preventivo  do  câncer  ginecológico: médico,  24,8%;  enfermeiro,  29,3%.  Por  outro  lado,  o 

programa  de  prevenção  e  controle  da  hipertensão  e  do  diabetes  assume  números 

interessantes. Os médicos cobrem 111,8% da demanda de consultas previstas, enquanto o 

enfermeiro  ficaria  bem  aquém  na  sua  produção,  realizando  apenas  3,37%  das  consultas 

previstas. Igualmente aqui pode acontecer de o usuário hipertenso acessar as consultas pela 

demanda espontânea, uma vez que a forma de organização desse programa, identificada no 

grupo  focal,  restringe‐se,  em maioria,  ao  tipo  4,  com  realização  de  grupos  e  trocas  de 

receita, apenas.   Outro  fato  relevante é que a produção de  consultas do enfermeiro está 

sempre aquém do esperado, mesmo que as diretrizes e protocolos oficiais dos respectivos 

programas de saúde pública estabeleçam um número superior de consultas em relação ao 

médico.  

 

5.4 Triangulação dos resultados e discussão com os gerentes das UBSs 

 

Confirmadas a duplicidade da utilização dos serviços de atenção básica e de urgência, 

as  dificuldades  de  acessibilidade  das  UBS,  em  especial  no  que  se  refere  às  ações 

programáticas, de prevenção e promoção da saúde pelas ESFs, procedeu‐se à avaliação da 

oferta de procedimentos nas UBSs, a partir desses pontos centrais.   Esses  três momentos 

complementares  nortearam  a  triangulação  de  informações  e  métodos  necessários  à 

avaliação da utilização, oferta e acessibilidade dos serviços de atenção básica no SUS de Belo 

Horizonte. 

A partir dos achados da primeira etapa (quantitativa), levantaram‐se questões sobre a 

organização  dos  serviços,  ou  acessibilidade,  a  serem  investigadas  nos  grupos  focais. 

Aprofundaram‐se  os  aspectos  referentes  à  organização  do  trabalho  das  equipes,  que 

explicariam  o  paralelismo  dos  atendimentos  nas UBSs  e  nas UPAs,  bem  como  a  possível 

debilidade na organização de  ações programadas  em  relação  à demanda  espontânea nas 

UBSs,  a  partir  dos  princípios  do  Saúde  da  Família  e  das  diretrizes  da  SMSA/BH. Além  de 

ratificados  os  resultados  parciais  encontrados,  delimitaram‐se  as  características  principais 

referentes ao processo de trabalho das equipes de atenção básica. As principais categorias 

extraídas dessa fase foram: a) dificuldades no acesso dos usuários à UBS; b) o acolhimento 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

133

como triagem; c) predomínio do modelo tradicional de organização dos serviços centrado na 

demanda  espontânea;  d)  diferentes  formas  de  organização  das  ações  programáticas  nas 

UBSs, divergentes ao recomendado nos protocolos da SMSA/BH; e) grupos de educação em 

saúde como atendimento massificado e como práticas de promoção da saúde; f)  indícios de 

mudanças na prática do PSF e g) incipiência dos princípios do PSF na prática profissional.  

A  dificuldade  no  acesso  aos  serviços  de  atenção  básica  verifica‐se  na  “listinha”  de 

usuários  a  serem  consultados,  preparada  pelo  acolhimento‐triagem,  na  demora  em 

conseguir exames e consultas especializadas e no agendamento de consultas desvinculadas 

de ações de planejamento ou no estudo da demanda pelos profissionais.  Ocorrem inversões 

dos  papéis  entre  os  dois  níveis,  com  escolha  acentuada  pelos  pronto‐atendimentos, 

predominando o modo centrado na doença, no médico e no medicamento como principal 

opção da população. A diferença introduzida foi a substituição da “fila” para pegar a senha, 

por  uma  escuta  mais  qualificada  no  acolhimento,  em  geral  ainda  caracterizado  como 

triagem,  com  certa  ampliação  nas  possibilidades  de  acesso.  A  predominância  do modelo 

biomédico pode ser caracterizada da seguinte maneira:  

a)  o  conceito  de  atenção  básica,  conjunto  de  ações  integradas  de  promoção, 

prevenção,  tratamento  e  reabilitação  da  saúde,  passa  ao  largo  da  prática  de  muitos 

profissionais; 

b)  oferecem‐se  poucas  alternativas  mais  estruturadas  de  atendimento,  além  da 

consulta médica, para os problemas de saúde, que “não seriam casos de urgências”, trazidos 

pelos cidadãos, dificultando a reorganização do processo de trabalho preconizada pelo PSF; 

c) observam‐se poucas atitudes ou práticas diferentes daquelas do modelo tradicional 

de atenção, centrado no atendimento à doença, na fragmentação do processo de trabalho e 

nas especialidades médicas;  

d)  fala‐se  da  realização  da  “prevenção”  como  diferença  do  trabalho  do  PSF,  sem 

maiores reflexões sobre a  limitação conceitual do termo: reproduz‐se o modelo sanitarista, 

restrito à ótica da doença, nos depoimentos e no processo de trabalho dos profissionais. 

Classificaram‐se,  pelo  menos,  cinco  formas  distintas  de  organização  das  ações 

programáticas nas UBSs, e quatro delas fogem ao recomendado pela SMSA‐BH e protocolos. 

São elas: 1)  tipo  azul:  consultas médicas e de enfermagem  realizadas pela ESF,  conforme 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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protocolos; 2) tipo verde: consultas realizadas apenas pelo médico, com pouca participação 

da enfermagem. Em geral, o médico generalista  intercala‐se  com o apoio. A enfermagem 

realiza a primeira consulta ou consultas ocasionais; 3) modelo híbrido: o enfermeiro realiza 

os preventivos de CA, encaminhando os casos para  tratamento com médico da ESF ou de 

apoio; ou ainda, intercala as ações programáticas com médico de apoio, sem participação do 

médico da ESF; 4) tipo amarelo: consultas sem a participação das ESFs ou da enfermagem; 5) 

tipo  vermelho:  realização  de  grupos  operativos,  com    orientações  e  troca  de  receitas. 

Consultas médicas e de enfermagem ocasionais ou  inexistentes, por demanda espontânea 

ou mediante casos  identificados pelas ESFs. Observou‐se, ainda, que tanto as ESFs, quanto 

as  UBSs  convivem  com  mais  de  uma  forma  de  organizar  as    atenções  programadas, 

constituindo‐se numa miscelânea de cenários pouco padronizáveis.  

Diante do expressivo e rico resultado da etapa qualitativa, direcionou‐se a análise da 

oferta dos serviços para os gargalos presentes nos grupos focais.  

Aprofundados os fatores explicativos da baixa utilização das ações programáticas, em 

virtude  da  influência  do  modelo  tradicional  de  organização  dos  serviços  identificado, 

examinou‐se a produção das UBSs selecionadas com o objetivo de comparar com os achados 

relatados. Visou‐se ratificar, na análise da oferta, as deficiências das ações de planejamento, 

de prevenção e de promoção da saúde das ESF e das UBS. Por meio dos indicadores clássicos 

de cobertura, pelo exame comparativo da produção das ações programáticas em relação à 

demanda espontânea e, pelo cruzamento das consultas realizadas com a demanda prevista 

para os programas de saúde pública,  investigou‐se o padrão de oferta das unidades, à  luz 

das  evidencias  encontradas.  Os  resultados  da  análise  da  oferta  das  UBS,  além  de 

confirmarem o  survey e o grupo  focal, demonstram a extensão da discrepância verificada 

entre  o  discurso  e  a  prática  da  estratégia  saúde  da  família  no  cotidiano  dos  serviços  de 

saúde.  

Outra  forma  utilizada  para  ratificar  a  veracidade  dos  achados  com  a  realidade  dos 

serviços foi discuti‐los com os gerentes das UBSs. Realizou‐se um grupo de discussão com 7, 

dos 10 gerentes convidados para a atividade, de caráter consultivo, para divulgação prévia 

dos  resultados  e  como  forma de  “retorno”, do  conhecimento produzido,  ao  cotidiano de 

onde ele emergiu. Os gerentes, que participaram do grupo de discussão, concordaram com 

os dados apresentados, acrescentando discussões  relevantes  sobre a condução da política 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

135

de atenção básica em Belo Horizonte. Citou‐se o movimento pela ampliação do acesso às 

UBSs,  com  implantação do  acolhimento,  como um momento de muito  investimento pela 

gestão  central  da  SMSA/BH,  e  certa  resistência  dos  profissionais.  Embora  todos 

concordassem que a porta das UBSs está mais aberta, uma vez que  todo usuário  tem sua 

queixa avaliada, percebeu‐se a necessidade premente de organizar melhor os processos de 

trabalhos  dos  profissionais,  avançando‐se  no  planejamento  da  atenção  e  nas  práticas  de 

promoção da saúde.  

Por fim, os gerentes das UBS ratificaram a veracidade dos resultados, com acréscimo 

de aspectos da gestão, que influenciariam os cenários delineados. Cabe referir que a síntese 

sistematizada  neste  estudo  não  foge  em  nada  ao  diagnóstico  realizado  pela  própria 

SMSA/BH,  no  documento  em  que  se  discutem  os  avanços  e  desafios  na  organização  da 

atenção básica à saúde em Belo Horizonte (BELO HORIZONTE, 2006).  

Na  ocasião  da  elaboração  das  diretrizes  para  a  organização  da  atenção  básica,  a 

própria Secretaria de Saúde de Belo Horizonte, numa demonstração de  seriedade e auto‐

reflexão  importante  para  a  superação  das  dificuldades,  identificou  as  situações  a  serem 

enfrentadas, sintetizados em três pontos principais:  

1)  O movimento  para  a  ampliação  da  oferta  dos  serviços  de  atenção  básica  para 

atendimento  universal  de  todo  usuário  que  procure  a  UBS,  em  curso  desde  gestões 

anteriores, teria dificultado a organização das ações programáticas e de vigilância à saúde; 

2)  Os  principais  desafios  para  a  organização  do  processo  de  trabalho  das  UBSs, 

identificados no citado documento, são: a) os dilemas da atenção programada; b) a gestão 

da demanda espontânea e c) a ampliação da promoção da saúde e da intersetorialidade; 

3) A relação entre a atenção básica e a urgência carece de “trabalho em rede” e de 

“acompanhamento e avaliação do sistema” (Belo Horizonte, 2006: 253). 

No Quadro 5,  sintetizam‐se os  resultados da pesquisa,  sobre os quais  se  remeteu à 

hipótese do estudo. 

 

 

 

 

 

 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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Quadro 5 Triangulação da utilização, oferta e acessibilidade das Unidades Básicas de Saúde investigadas, Belo Horizonte, 2009 

UTILIZAÇÃO DOS SERVIÇOS PELOS USUÁRIOS

 ANÁLISE DA OFERTA DOS SERVIÇOS DE ATENÇÃO BÁSICA 

 ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS: FORMA DE ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO DAS ESF NAS UBS 

 Fonte: Elaboração própria, 2009. 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

137

6 CONCLUSÃO 

 

6.1 De usuários, usos, serviços e profissionais em saúde 

 

A oferta de atenção básica do sistema de saúde de Belo Horizonte, apesar de extensa e 

facilmente acessível, sob o ponto de vista geográfico, tem dificuldades para ampliar o acesso 

efetivo do usuário aos serviços. O cidadão leva a maior parte dos problemas de saúde para 

as urgências, mesmo aquelas tipicamente passíveis de serem resolvidas na atenção primária 

à saúde. A não resolução da demanda do usuário, o atendimento lento e a não marcação de 

consultas para o mesmo dia são citados como limitações das Unidades Básicas de Saúde. 

A caracterização das pessoas que procuram as UBSs e as UPAs se assemelha na maioria 

das variáveis investigadas. O perfil socioeconômico ratifica informações de outras pesquisas 

sobre  o  usuário  do  SUS,  predominando‐se  a  baixa  escolaridade,  com  variadas  formas  de 

inserção no mercado de trabalho, as mulheres com vínculo empregatício e os homens sem 

renda. A faixa etária mais expressiva encontra‐se no grupo economicamente ativo, residente 

na própria cidade de Belo Horizonte, embora menos 1/4 dos que utilizam as UPAs more na 

região metropolitana da cidade. A grande maioria não tem plano de saúde e ganha até três 

salários mínimos, dependendo quase que exclusivamente do SUS para ter acesso a serviços 

de saúde.   

Confirmou‐se  a  utilização  preponderante  da  consulta  médica  básica  e  dos 

procedimentos  de  enfermagem  pelos  usuários  tanto  nos  centros  de  saúde,  como  nas 

emergências,  sem diferença estatisticamente  significativa entre eles. O  achado explicita  a 

duplicidade de ações entre os  serviços de atenção básica e de urgência, o que dificulta a 

organização  do  sistema  de  saúde,  a  partir  da  atenção  básica.  Identificou‐se  a  pouca 

utilização  das  ações  programáticas  em  relação  à  consulta  médica  obtida  pela  procura 

espontânea  do  usuário  às  UBSs,  o  que  indica  centralidade  no  atendimento  à  demanda 

espontânea e no profissional médico, características do modelo de atenção biomédico que 

se pretende superar.  

Ao que tudo indica, a implantação da Estratégia Saúde da Família fragilizou processos 

estruturados nas UBSs, como os programas de atenção à saúde normatizados. Quando tais 

serviços  se  encontravam  mais  bem  consolidados,  tenderam  a  permanecer  com  poucas 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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alterações  com  a  implantação do PSF. Como os programas de  atenção  à  saúde materno‐

infantil  são  clássicos  no  modo  tradicional  de  organizar  a  atenção  básica,  explicado 

historicamente  pelo  “sanitarismo‐campanhista”  (MENDES,  1993),  as  consultas  são 

realizadas, como de costume, pelas especialidades básicas. No caso em questão, há um claro 

exemplo  de  dependência  da  trajetória  histórica  ou  Path  dependence  (HELLER,  2007).  Os 

hábitos  de  agendamentos  do  acompanhamento  ao  crescimento  e  desenvolvimento  da 

criança e do pré‐natal diretamente na recepção, por costumeiro, explicitam a  influência do 

passado de que se fala.  

No  caso do programa de prevenção e  controle da hipertensão,  a desestruturação é 

premente. Em nome do anunciado “novo modelo do PSF” tende‐se a desconsiderar o que já 

existia, como os programas de atenção à saúde por ciclo de vida, vulnerabilizando as ações 

preventivas  e  de  promoção  à  saúde.  Em  seu  lugar,  verifica‐se  a  realização  de  grupos 

operativos diretivos e autoritários, centrados em palestras e troca de receitas, que em nada 

auxiliam na reorganização preconizada.  

O paradoxo da situação é que os indícios de mudanças verificados com o PSF ocorrem 

pelas  vias  da  promoção  à  saúde  nos  grupos  de  educação  em  saúde.  As  experiências  de 

unibióticas, de promoção da qualidade de vida de  idosos ou de atividades  físicas nas UBSs 

exemplificam possibilidades de mudanças. Outro indício oportuno seria o envolvimento das 

ESFs em atividades de planejamento, com a capacitação dos ACSs, que  também envolve a 

área da educação. Por tudo, há de se ter muita atenção com a realização das atividades de 

educação  em  saúde  nas  UBSs.  Elas  constituem‐se  em  importante  estratégia  para 

permanecer e, ou para desequilibrar práticas de saúde vigentes. 

Há  de  se  perguntar  se  o  PSF  seria  estratégia  adequada,  apenas,  para  populações 

pobres e menos esclarecidas. Como pode  ser observado, nas UBSs  localizadas em  regiões 

mais ricas da cidade,  cujos usuários têm nível socioeconômico elevado, tende‐se a rejeitar o 

modelo. Sob o véu da universalidade do SUS, cabem algumas reflexões. Como seria um PSF 

para a classe média, na qual está  incluída quase metade  (47,1%) da população brasileira? 

Quem de nós aceitaria orientações do ACS, com menor nível de informação e formação que 

o  nosso? Deixaríamos  sequer  ele  entrar  na  nossa  residência? Outro  ponto  crítico  seria  o 

“vínculo” obrigatório com determinada equipe de saúde e profissionais. E se não tivermos 

“empatia” com aquele profissional? E se a relação simplesmente não acontecer? Onde fica a 

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liberdade de o cidadão procurar um atendimento que satisfaça melhor suas necessidades? 

Só seria permitida aos que tiveram melhor oportunidade de renda, escolaridade, trabalho, 

vida e  cidadania,  como nós? Seriam possíveis outras possibilidades de organização para a 

atenção  básica, menos  diretiva  na  relação  com  a  população  e mais  assente  em  relações 

partilhadas  de  cuidado?  Embora  fuja  aos  objetivos  deste  estudo  responder  aos 

questionamentos, os resultados obtidos são importantes para futuras agendas de pesquisa. 

Para além da simples quantificação e do desvelamento, nesta investigação procurou‐

se dimensionar, aprofundar e sistematizar, cientificamente, os problemas identificados pela 

própria SMSA/BH, de modo a sinalizar crises e possibilidades inerentes aos processos sociais. 

Nesse sentido, cabe aqui, apropriar‐se da expressão utilizada por um dos profissionais em 

saúde, sobre a necessidade de “retomar certas coisinhas perdidas”, sem tanta necessidade 

de  inventar  a  roda. O mais  expressivo  dos  trabalhos,  inclusive  aqueles  que  indicaram  os 

caminhos da diferença no trabalho do PSF, na maioria das vezes, pauta‐se pela simplicidade. 

Há de se atentar que utilizar‐se do novo não significa destruir tudo o que existe e construir 

algo inédito no lugar. Com esse impulso, pode‐se correr o risco de jogar “A água da banheira 

com  a  criança  ainda  dentro”,  sinal  que  estaria  acontecendo  uma  desestruturação  dos 

programas de saúde pública. 

Mudar  a  abordagem  não  significa  desconsiderar  todas  as  ações  existentes,  mas 

readequá‐las e reinventá‐las cotidianamente. Nesse sentido, espera‐se que o PSF realize de 

forma  diferente,  democrática,  partilhada,  centrada  na  autonomia  dos  sujeitos  e 

contextualizada na  família, as ações previstas nos  respectivos programas e, não, deixar de 

realizá‐las. Da mesma forma, não se pode abrir mão dos fluxos de previsão, de organização e 

de avaliação da demanda de cada um dos programas. Tais normas  subsidiam as ações de 

vigilância  à  saúde,  inerentes  ao  PSF.  O  risco  restritivo  da  permanência  na  clausura  do 

método  programático,  que  desconsidera  a  complexidade  e  a  diversidade  de  contextos 

específicos,  ocorre,  também,  nas  tarefas  realizadas  sem  a  mínima  consistência, 

planejamento ou especificidade, como  se observou nos grupos de educação com  troca de 

receitas.   

É preciso que, principalmente, as equipes saúde da família, retomem as atividades de 

planejamento e de programação da assistência e utilizem, efetivamente, o  vasto material 

hoje  disponível.  É  hora  de  recuperar  as  ações  de  cada  programa  de  atenção  à  saúde, 

utilizando‐se da força de trabalho e de informação que as ESFs detêm sobre o diagnóstico de 

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saúde da população. A equipe da atenção básica tem condições de delimitar efetivamente a 

demanda de usuários para cada uma das ações programáticas, seja pelo cadastro da área, 

seja pelo trabalho dos ACSs, com supervisão atenta do enfermeiro; por isso, é urgente que a 

equipe  da  atenção  básica  trabalhe  a  informação  como  instrumento  de  gestão  e  de 

planejamento;  incorpore  a  avaliação  à  prática  diária  do  processo  de  trabalho,  seja 

verificando  o  perfil  nosológico  e  quantitativo  das  pessoas  que  procuram  a  unidade 

rotineiramente, seja examinando os indicadores de processo e de resultado do trabalho que 

a própria equipe tem em mãos.  É necessário, pois, inserir metas e projetos de realização no 

trabalho  das  ESFs,  em  todos  os  âmbitos,  seja  da  assistência  e  da  prevenção,  seja  da 

promoção da saúde.  

A  gestão  da  demanda  espontânea,  sintetizada  pelo  grupo  focal  como  “o  agudo 

engole o PSF”, pode  ser encarada  como  consequência das debilidades na organização do 

trabalho da equipe de atenção básica, que a origina. Em relação à cobertura populacional, 

nenhuma das ESFs apresentou maior discrepância ao recomendado.  

O  que  parece  caótico  no  sistema  é  a  permanência  de  um  modelo  de  atenção 

“agonizante” e pouco resolutivo, que apenas desgasta a saúde dos trabalhadores e onera os 

cofres públicos. Não há  como diminuir  a procura por  tratamentos  e  remédios,  se não  se 

estudar e organizar melhor  a demanda. Qualquer planejamento, que  se pretenda  atingir, 

passa pelo diagnóstico situacional, pelo estudo aprofundado das causas do problema. Para 

tanto, são necessários classificação, priorização, proposição de ações preventivas, avaliação, 

revisão  de  estratégias, melhor  organização  dos  fluxos,  agendamento  prévio,  garantia  de 

atenção  programada,  que  sejam  consistentes  e  qualificados  para  os  públicos‐alvos  dos 

programas  de  atenção  à  saúde.  Algumas  estratégias,  cujo  desgaste  reflete‐se  no 

acolhimento,  que  atende  de  30  a  50  pessoas  por  turno,  adoece  e  irrita  usuários  e 

enfermeiros (esses, na linha de frente), e estão longe de propiciar um momento de vínculo. 

Tal  problema  precisa  ser  considerado  com  seriedade  por  todos  – médicos,  enfermeiros, 

ACSs, gestores, etc. –, na busca de soluções. 

A  relação  com  os  outros  níveis,  não  apenas  com  as  urgências,  também  com  as 

especialidades, depende de uma  reestruturação produtiva do  trabalho da atenção básica, 

inclusive com a incorporação de tecnologias para a diagnose e a terapia. Para a maioria das 

ações de média complexidade, consumidas pelo usuário nas UPAs, corresponde a exames 

laboratoriais simples, como o EAS e o hemograma, possíveis de serem realizados na atenção 

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básica. Nas UBS, há demora na entrega dos resultados de exames simples, apesar de serem 

marcados  e  terem  o material  colhido  na  própria  unidade.  É  preciso  rever  os  fluxos  e  os 

tempos em que as ações ocorrem, na tentativa de agilizar as respostas que o cidadão busca, 

ainda que, erroneamente nas urgências. É necessário estabelecer um tempo para uma real 

escuta das objeções dos usuários do SUS que, afinal, não divergem muito das da maioria dos 

cidadãos brasileiros. A guerra de barreiras e de normas que se  impõe à população volta‐se 

para os serviços e para a gestão do sistema de saúde, expressas na duplicidade de ações, nos 

procedimentos  desnecessários  e  nas  dificuldades  de  acesso,  principalmente  para  os 

procedimentos mais caros.    

Por  fim,  há  de  se  assumir  os  limites  da  atenção  básica  em  reverter modelos  de 

atenção, que para  tanto precisaria  interferir na articulação entre o político e o econômico 

para a  conformação das políticas  sociais. Tal  tarefa – paradigmática – é  complexa demais 

para os estetoscópios e as palestras da equipe saúde da  família  (GÖTTEMS e PIRES, 2009). 

Há  limites  estruturais,  que  fogem  ao  escopo  da  atenção  básica  e  da  própria  política  de 

saúde, para a inversão das práticas preconizadas, que esbarram na tensão entre o mercado 

e  a  cidadania  presentes  na  arena  político‐econômica  do  Estado,  mediador  e  palco  das 

políticas  públicas.  Talvez  se  as  missões  para  a  atenção  básica  fossem  mais  factíveis  e 

operáveis, sem a pretensão de  revolucionar a  saúde e a sociedade pelo PSF, as angústias, 

crises  e  desestímulos  identificados  nos  depoimentos  dos  profissionais  em  saúde  seriam 

menores, melhor gerenciadas.     

 

6.2 Estranho e esperançoso PSF 

 

A esperança, corporificada nos gestos e nas falas de alguns participantes, manteve‐se 

calada  e  distante  durante  as  discussões,  quase  como  se  aquela  tentasse  encontrar  um 

espaço para manifestação desses. Talvez pela dinâmica dos processos grupais identificados, 

carreados de  influências sociais e normativas, não houvesse espaço suficiente para que ela 

se expressasse. Percebeu‐se, nessas falas, certa tensão entre a crise vivenciada no cotidiano 

de  trabalho  e  a  espera  por  um  recomeço  que  demora  a  chegar.  Enquanto  persistiu  o 

compasso, a melhor estratégia usada pelo grupo foi mantê‐la quieta, mas acolhedora de um 

sentimento  que,  às  vezes,  singularizava  o  encontro  com  o  outro,  noutras  vezes  parecia 

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solitária frente a um modelo de atenção padronizado e com pouco espaço para os reclames 

da alma.   

Numa aproximação com o espírito calado dos poucos representantes dessa metáfora, 

pode‐se dizer que os princípios da estratégia saúde da família, ou a perspectiva de mudança 

que  ela  enseja,  exibam  sinais  de  cansaço,  esgotamento,  desestímulo  e  crise  psíquica. Há 

indícios de esperança nos encontros  intersubjetivos que ela pode propiciar entre as almas 

aflitas, que aparentemente estariam em lados opostos de um campo minado, em que todos 

perdem.  Fala‐se da  casual,  singular  e  residual possibilidade da diferença que pode  existir 

quando a aposta num sentido diferente para o trabalho, para a vida e para a saúde humana 

ilumina os corações e as mentes das pessoas.  

Seja  nas  relações  entre  usuários  e  os  profissionais  em  saúde,  entre  as  ESFs  e  a 

comunidade, ou entre profissionais, há sempre algo de inusitado que pode surgir quando se 

abre espaço para uma atitude dialógica, sublimada e partilhada de poderes. Porém, trata‐se 

de  algo  “espasmódico”,  arrítmico,  sem  regularidade  programada,  a  exemplo  do  tique 

nervoso  encravado  inoportunamente  no  corpo  de  uma  profissional  de  saúde  estranhada 

pelo grupo. Como outros transtornos do espírito, o tique‐PSF também é tratável, mas exige 

muita dedicação, paciência e disposição para  ir fundo nos desígnios do  inconsciente. Não é 

tarefa  fácil,  há  de  se  desvelar  a  soberba  do  ego,  eivado  de  vaidades  de  homens  e  de 

mulheres que se debatem cotidianamente nas práticas e nos serviços de saúde.    

  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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BOSI,  M.  L.  M.;  MERCADO,  F.  J.  (Org.).  Avaliação  qualitativa  de  programas  de  saúde  – enfoques emergentes. Petrópolis: Vozes, 2006.  BRASIL. Agência Nacional  de  Saúde. Operadoras. ANS  Informação.    Folder Disponível  em: http://www.ans.gov.br/portal/upload/informacoesss/folder_ANS‐Info_2009.pdf. Acesso em: 6 dez. 2009.   BRASIL.  Ministério  da  Saúde.  Portaria  Nº  204,  de  29  de  janeiro  2007.  Regulamenta  o financiamento e a transferência dos recursos federais para as ações e os serviços de saúde, na forma de blocos de financiamento, com o respectivo monitoramento e controle. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2007.  BRASIL. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Atenção Primária e Promoção da Saúde. Brasília, DF: CONASS, 2007a. (Coleção Progestores‐Para entender a gestão do SUS, 8).  BRASIL. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Ciência e Tecnologia em saúde. Brasília, DF: CONASS, 2007b. (Coleção Progestores – Para entender a gestão do SUS, 4).  BRASIL.    Conselho  Nacional  de  Secretários  de  Saúde.  Assistência  de  média  e  alta complexidade no SUS. Brasília, DF: CONASS, 2007c.  (Coleção Progestores – Para entender a gestão do SUS, 9).  BRASIL.  Ministério  da  Saúde.  Média  e  Alta  Complexidade.  Disponível  em: <http://portal.saude.gov.br/portal/sas/mac/area.cfm?id_area=821>.  Acesso  em:    23  nov. 2007.   BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria GM/MS nº 648, de 28 de março de 2006. Aprova a Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes e normas para a organização  da  Atenção  Básica  para  o  Programa  Saúde  da  Família  (PSF)  e  o  Programa Agentes Comunitários de Saúde. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2006. Disponível em: < http://www.saude.gov.br/dab> Acesso em: 13 out. 2007.  BRASIL.  Agência  Nacional  de  Saúde  Suplementar.  Atlas  econômico‐financeiro  da  saúde suplementar, 2005. Agência Nacional de Saúde Suplementar. Rio de Janeiro: ANS, 2006.  BRASIL. Ministério  da  Saúde.  Portaria Nº  699,  de  30  de março  de  2006.  Regulamenta  as Diretrizes Operacionais dos Pactos Pela Vida e de Gestão. Brasília, 2006. Diário Oficial da União, Brasília, DF., 03 abr. 2006, p. 49.  BRASIL. Ministério da  Saúde. Portaria Nº 648, de 28 de março 2006.  Estabelece a Política Nacional de Atenção Básica. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2006a.  BRASIL. Ministério  da  Saúde.  Secretaria  de  Atenção  à  Saúde.  Departamento  de  Atenção Básica.  Prograb‐Programação  para  gestão  por  resultados  na  Atenção  Básica.  Brasília,  DF: Ministério  da  Saúde,  2006b.  Disponível  em: http://dtr2004.saude.gov.br/dab/docs/prograb/manual_usuario_prograb.pdf.    Acesso  em: 02 fev. 2010.  

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 BRASIL. Secretaria Executiva. Projeto de Apoio e Assessoria para o Fortalecimento de Gestão Municipal da Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2005.  BRASIL.  Secretaria  de  Estado  de  Desenvolvimento  do  Centro  Oeste.  PRORIDE:  Programa Especial  de Desenvolvimento  do  Entorno  e  do Distrito  Federal.  Cadernos  Centro Oeste  1. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2004.  BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Reforma do Sistema de Atenção Hospitalar Brasileiro. Cadernos de Atenção Especializada. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2004.   BRASIL. Secretaria de Atenção à Saúde. Reforma do Sistema de Atenção Hospitalar Brasileiro. Cadernos de Atenção Especializada. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2004a.  BRASIL. Departamento de Atenção Especializada. Política Nacional de Atenção ao Portador de Doença Renal. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2004b.   BRASIL. Departamento de Atenção Especializada. Política Nacional de Atenção Cardiovascular de Alta Complexidade. Brasília, DF: Ministério da Saúde 2004c.  BRASIL.  Secretaria  de  Atenção  à  Saúde.  Departamento  de  Atenção  Básica.  Avaliação normativa  do  Programa  de  Saúde  da  Família  no  Brasil: monitoramento  da  implantação  e funcionamento das equipes saúde da  família: 2001‐2002. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2004d.  Disponível  em: dtr2001.saude.gov.br/editora/produtos/livros/pdf/04_0053_M1.pdf.Acesso  em:  23  nov. 2007.  BRASIL.  Secretaria  de  Assistência  à  Saúde.  Assistência  à  Saúde  no  SUS:  média  e  alta complexidade. 2. ed. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2003.  BRASIL.  Instituto  Brasileiro  de  Geografia  e  Estatística.  Pesquisa  nacional  por  amostra  de domicílios PNAD. Brasília, DF: IBGE, 2003.  BRASIL.  Ministério  da  Saúde.  Secretaria  de  Assistência  à  Saúde.  Departamento  de Descentralização  da  Gestão  da  Assistência.  Regionalização  da  assistência  à  saúde: aprofundando  a  descentralização  com  equidade  no  acesso:  Norma  Operacional  da Assistência à Saúde: NOAS‐SUS 01/02 e Portaria MS/GM nº 373, de 27 de fevereiro de 2002 e regulamentação complementar. 2. ed. rev. e atual. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2002. (Série A. Normas e Manuais Técnicos).   BRASIL.  Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Secretaria Executiva. Portaria GM 1.101, 12 jun. 2002. Estabelece os parâmetros assistenciais no âmbito do Sistema Único de Saúde. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 13 jun. 2002.    

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BRASIL. Presidência da República. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei complementar nº 94, de  19  de  fevereiro  de  1998.  Autoriza  o  poder  executivo  a  criar  a  região  integrada  de desenvolvimento do Distrito Federal e entorno – RIDE – e  instituir o Programa Especial de Desenvolvimento do Entorno de Distrito Federal, e dá outras providências. Brasília, DF, 19 de fev. de 1998. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LCP/Lcp94.htm.   BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Comissão Nacional de Ética em Pesquisa.  Resolução  CNS  nº  196/96,  de  10  de  outubro  de  1996.  Aprova  as  diretrizes regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 16 out. 1996. Seção 1, p. 21‐82.  CAMPOS, G. W. S. O SUS entre a tradição dos Sistemas Nacionais e o modo  liberal‐privado para organizar o  cuidado à  saúde. Revista Ciência &  Saúde Coletiva, Rio de  Janeiro,  v. 12 (Suplem.), 2007, p.1865‐1874.  CAMPOS, G. W.  S.  Clínica  e  saúde  coletiva  compartilhadas:  teoria  paideia  e  reformulação ampliada do  trabalho em  saúde.  IN: CAMPOS  et al. Tratado de  saúde  coletiva.  São Paulo: Hucitec, 2006/Rio de Janeiro: Fiocruz, 2006. p. 53‐92.  CAMPOS C. R. et al. Sistema Único de Saúde em Belo Horizonte: reescrevendo o público. São Paulo: Xamã Editora, 1998.  CARVALHO,  J. M.  Cidadania  no  Brasil:  o  longo  caminho.  5.  ed.  Rio  de  Janeiro:  Civilização Brasileira, 2004.  CASTRO,  J.  D.  Regulação  em  saúde:  análise  de  conceitos  fundamentais.  Rev.  Sociologias, Porto Alegre, v. 4, n. 7, 2002.  CASTRO, M. S. M.; TRAVASSOS, C.; CARVALHO, M. S. Efeito da oferta de serviços no uso de internações hospitalares no Brasil. Rev. Saúde Pública, São Paulo, v. 39, n. 2, 2005.  COCCO, G. Trabalho e cidadania: produção e direitos na era da globalização. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2001.  CONH, A. Estado e sociedade e as reconfigurações do direito à saúde. Rev. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1, 2003.  CONH, A.; ELIAS, P. E. Saúde no Brasil: políticas e organização de serviços. 5. ed. São Paulo: Cortez/CEDEC, 2003.  CUNHA, T. G. A construção da clínica ampliada na atenção básica. São Paulo: Hucitec, 2005.  DEMO,  Pedro.  Pobreza  política:  a  pobreza mais  intensa  da  pobreza  brasileira.  Campinas: Autores Associados, 2006.  DEMO, Pedro. Dureza: pobreza política de mulheres pobres. Campinas: Autores Associados, 2005. 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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 DEMO, Pedro. Santo Estado, maldito Mercado: de certas esquerdas que são direitas. Revista Sociedade & Estado, Brasília, UnB, v. 20, n. 2, mai./ago. 2005.  DEMO, Pedro. Solidariedade como efeito de poder. São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire, 2002a. (Coleção Perspectiva. v. 6).   DEMO, Pedro. Complexidade e aprendizagem: a dinâmica não‐linear do conhecimento. São Paulo: Atlas, 2002b.  DEMO, Pedro. Pesquisa e informação qualitativa: aportes metodológicos. Campinas: Papirus, 2001.   DEMO, Pedro. Metodologia do conhecimento científico. São Paulo: Atlas, 2000.  DEMO,  Pedro.    Cidadania  tutelada  e  cidadania  assistida.  Campinas:  Autores  Associados, 1995.  DEMO, Pedro. Pobreza política. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1992.  DIAS,  C.  A.  Grupo  focal:  técnica  de  coleta  de  dados  em  pesquisas  qualitativas.  Revista Informação e Sociedade: Estudos, João Pessoa, v.10, n. 2, 2000.  DOYAL, L; GOUGH, I. A theory of human nedd. London, MacMillan, 1991.  DRAIBE,  S.  Rumos  e metamorfoses:  estado  e  industrialização  no  Brasil  1930‐1960.  Rio  de Janeiro: Paz e Terra, 2004.  DUARTE, C. M. R. Equidade na  legislação: um princípio do sistema de saúde brasileiro? Rev. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 5, n. 2, 2000.  DUPAS,  G.  Economia  global  e  exclusão  social:  pobreza,  emprego,  Estado  e  o  futuro  do capitalismo. São Paulo: Paz e Terra, 1999.  ESCOREL,  S.  Reviravolta  na  saúde:  origem  e  articulação  do movimento  sanitário.  Rio  de Janeiro: Fiocruz, 1998.  ESCOREL, S. et al. Programa de Saúde da Família e a construção de um novo modelo para a atenção básica no Brasil. Rev. Panam Salud Publica/Pan Am J Public Health, Washington DC, v. 21, n. 2, 2007.  ESTES, C. P. Mulheres que  correm  com os  lobos: mitos e histórias do arquétipo da mulher selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 2004.  FALEIROS, V. P. Política social do estado capitalista. São Paulo: Cortez, 2000.  FLEURY, S. (Org.). Saúde e democracia: a luta do CEBES. São Paulo: Lemos, 1997. 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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 FLEURY, S. A questão democrática na saúde. In: FLEURY, S (Org.). Saúde e democracia: a luta do CEBES. São Paulo: Lemos editorial, 1997.   FRANCO,  T.  B.;  JUNIOR, H. M. M.  Integralidade  na  assistência  à  saúde:  a  organização  das linhas do cuidado. In: MERHY et al. O trabalho em saúde: olhando e experienciando o SUS no cotidiano. São Paulo: Hucitec, 2004.   FONSECA,  C.  Concepções  de  família  e  práticas  de  intervenção:  uma  contribuição antropológica. Rev. Saúde e Sociedade, São Paulo, v.14, n. 2, p. 50‐59, mai./ago. 2005.  GADELHA, C. A. G. O. Desenvolvimento e saúde: em busca de uma nova utopia. Saúde em debate, Rio de Janeiro, v. 29, n. 71, set./dez. 2005, p. 327‐338.  GADELHA, C. A. G. O complexo industrial da saúde e a necessidade de um enfoque dinâmico na economia da saúde. Revista Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 8, n. 2, 2003, p. 521‐535.  GADELHA, C. A. G.; ROMERO, C. Complexo industrial em vacinas e inovação: desafios para a competitividade  nacional  e  o  papel  da  Fiocruz.  In: GADELHA,  C.  A. G.  et  al.  Inovação  em saúde: dilemas e desafios de uma  instituição pública. Rio de  Janeiro: Fiocruz, 2007. p. 317‐330.  GONDIM,  S.  M.  G.  Grupos  Focais  como  técnica  de  investigação  qualitativa:  desafios metodológicos. Revista Paidéia Cadernos de Psicologia e Educação, Ribeirão Preto, v. 12, n. 24, p. 149‐162, 2002.  GORZ, A. O imaterial: conhecimento, valor e capital. São Paulo: Annablume, 2005.  GÖTTEMS, L. B. D.; PIRES, M. R. G. M. Para além da atenção básica: reorganização do SUS por meio da  intercessão do político com o econômico. Revista Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 18, n. 2, p. 189‐198, 2009.  GOTTEMS, L. B. D et al. Análise da relação dos serviços de média complexidade com a rede básica  de  saúde  do  DF  e  entorno:  buscando  prioridades  para  ampliar  acessos  e resolubilidades.  Brasília:  Universidade  de  Brasília/Universidade  Católica  de Brasília/Universidade Federal de Minas Gerais, 2007. p. 120. (Relatório de Pesquisa).  GOVERNO  DO  DISTRITO  FEDERAL.  Secretaria  de  Estado  da  Saúde.  Plano  Diretor  de Regionalização,  2005.  Disponível  em  URL:  <http//www.saude.df.gov.vr>.  Acesso  em:  jan. 2007.  GÜNTHER, H. Como elaborar um questionário. Brasília, DF: UnB,  Laboratório de Psicologia Ambiental, 2003. (Série: Planejamento de Pesquisa nas Ciências Sociais, n. 1).   HARDT, M.; NEGRI, A. Império. 4. ed. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 2002.  

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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MINAYO, M.  C.  S. O  desafio  do  conhecimento:  pesquisa  qualitativa  em  saúde.  9.  ed.  São Paulo: HUCITEC, 2006, 1992.  MINAYO,  M.  C.  S.;  ASSIS,  S.  G.;  SOUZA,  E.  R.  Avaliação  por  triangulação  de  métodos: abordagem para programas sociais. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2005.  MONKEN, M.; BARCELOS C. Vigilância em saúde e território utilizado: possibilidades teóricas e metodológicas. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 21, n. 3, p. 898‐906, mai‐jun, 2005.  MORIN, E. Método 5: a humanidade da humanidade. Porto Alegre: Sulina, 2002.  NETO, E.;  LIMA, A. C. N. Atlas: o uso dos  serviços de  saúde – Goiânia, Anápolis, Brasília e entornos. Goiânia: UFG/IPTSP, 2004.  OFFE, C. Algumas contradições do Estado Social Moderno. In: OFFE, C.  Trabalho e sociedade: problemas estruturais e perspectivas para o futuro da sociedade do trabalho. Rio de Janeiro: Tempo Universitário 1991.  OFFE, C. Algumas contradições do Estado Social Moderno. In: OFFE, C.  Trabalho e sociedade: problemas estruturais e perspectivas para o futuro da sociedade do trabalho. Rio de Janeiro: Tempo Universitário, 1991. p. 113‐131.  ORLANDI, E. P. A Linguagem e seu funcionamento. Campinas: Pontes, 1996  ORLANDI,  E.  P.  Análise  de  discurso:  princípios  e  procedimentos.  3.  ed.  Campinas:  Pontes, 2001.  OUTHWAITE, W.;  BOTTOMORET,  T. Dicionário  do  pensamento  social  do  século  XX.  Rio  de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1996.  PAIM, J. S. Desafios para a saúde coletiva no século XXI. Salvador: EdUFBA, 2006.  PASQUALI, L. Testes referentes a constructo: teoria e modelo de construção. In: PASQUALI, L. (Org.). Instrumentos psicológicos: Manual prático de elaboração. Laboratório de Pesquisa em Avaliação  e Medida  –  LabPAM/Instituto  Brasileiro  de  Avaliação  e  Pesquisa  em  Psicologia. Brasília:  IBAPP, 1999.  PEREIRA, P. A. P. Necessidades humanas: subsídios à crítica dos mínimos sociais. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2007.  PINHEIRO, R.P.; MATTOS, R. A. Os sentidos da integralidade na atenção e no cuidado à saúde. Rio de Janeiro: UERJ, IMS: ABRASCO, 2001.  PINHEIRO, R. S. et al. Gênero, morbidade, acesso e utilização de serviços de saúde no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, v. 7, n. 4, 2002.  

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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PIOLA, S. F.; VIANA, S. M. (Orgs.). Economia da saúde: conceitos e contribuição para a gestão da saúde. Brasília: IPEA, 1995.  PIRES, D. Reestruturação produtiva  e  trabalho  em  saúde no Brasil. Confederação Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social (CUT). São Paulo: Annablume,1998.  PIRES, D. Hegemonia médica na saúde e na enfermagem. São Paulo: Cortez, 1989.  PIRES, M. R. G. M. Politicidade do cuidado e processo de trabalho em saúde: conhecer para cuidar  melhor,  cuidar  para  confrontar,  cuidar  para  emancipar.  Revista  Ciência  &  Saúde Coletiva, v. 10, n. 4, 2005.  PIRES, M.  R.  G. M.  Politicidade  do  cuidado  e  avaliação  em  saúde:  instrumentalizando  o resgate  da  autonomia  de  sujeitos  no  âmbito  de  programas  e  políticas  de  saúde.  Rev. Brasileira de Saúde Materno‐Infantil, Recife, v. 5, supl. 1, p. S71‐S81, 2005.  PIRES, M. R. G. M. Politicidade do cuidado como referência emancipatória para a gestão de políticas  de  saúde:  conhecer  para  cuidar  melhor,  cuidar  para  confrontar,  cuidar  para emancipar.  277  f.  Tese  (Doutorado  em  Política  Social).  Departamento  de  Serviço  Social, Universidade de Brasília, Brasília, DF, 2004.  PIRES, M. R. G. M. Enfermeiro com qualidade formal e política: em busca de um novo perfil. 197  f.  Dissertação.  (Mestrado  em  Política  Social)  –  Departamento  de  Serviço  Social, Universidade de Brasília, Brasília, DF, 2001.   PIRES, M. R. G. M.; GÖTTEMS, L. B. D. Análise da gestão do cuidado no Programa de Saúde da Família: referencial teórico‐metodológico. Rev. Brasileira de Enfermagem, Brasília, mar./abr. 2009, v. 62, n. 2, p. 294‐299.  PIRES, M. R. G. M. et al. Oferta e demanda por média complexidade no SUS: relação com a atenção  básica.  Revista  Ciência &  Saúde  Coletiva.  (Online),  n.  0736,  2007. Disponível  em: http://www.abrasco.org.br/cienciaesaudecoletiva/artigos/artigo_int.php?id_artigo=1915 Acesso em 2 fev. 2010.  PIRES, M. R. G. M.; DEMO, P. Políticas de saúde e crise do Estado de Bem‐estar: repercussões e possibilidades para o SUS. Rev. Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 15, n. 2, mai./ago., 2006, p. 56‐71.  PORTO,  S.  Justiça  social,  equidade  e  necessidade  em  saúde.  In:  PIOLA,  S.  F. VIANA,  S. M. (Orgs.). Economia da saúde: conceitos e distribuição para a gestão da saúde. Brasília:  IPEA, 1995.  p. 123‐140.  PROGRAMA  DAS  NAÇOES  UNIDAS  PARA  O  DESENVOLVIMENTO  (Brasil).  Atlas  do Desenvolvimento  Humano  no  Brasil.  Disponível  em:  <www.pnud.org.br/atlas/ instalacao/index.php>. Acesso em: 21 jul. 2007.  

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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PROGRAMA  DAS  NAÇÕES  UNIDAS  PARA  O  DESENVOLVIMENTO.  Metas  do  Milênio. Disponível  em:  <http://www.pnud.org.br/odm/index.php?lay=odmi&id=odmi>. Acesso  em:  23 Nov. 2007.  RIBEIRO, M. C. S. A. et al. Perfil sociodemográfico e padrão de utilização de serviços de saúde para  usuários  e  não‐usuários  do  SUS:  PNAD  2003.  Rev.  Ciência &  Saúde  Coletiva,  Rio  de Janeiro, v. 11, n. 4, 2006, 1011‐1022.  SANDRONI, P. Dicionário de Economia do Século XXI. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 2006.  SANTOS, B. S. (Org.). A globalização e as ciências sociais. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2002.  SANTOS,  B.  S.  Os  processos  de  globalização.  In:  SANTOS,  B.  S.  (Org.).  Globalização  e  as Ciências Sociais. São Paulo: Cortez, 2002. p. 33‐106.  SANTOS, G. F. Economia e gestão da política de saúde no período 1995/2002.  In: JORNADA DE ECONOMIA DA SAÚDE, 1. 2005, São Leopoldo.  Disponível em: www.abres.cict.fiocruz.br/. Acesso em: 23 set. 2007.  SANTOS, M. A. B.; GERSCHMAN, S. As segmentações da oferta de serviços de saúde no Brasil: arranjos institucionais, credores, pagadores e provedores. Rev. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 9, n. 3, 2004, p. 795‐806.  SANTOS, N. R. Regulamentar a EC‐29, avançar o modelo de gestão e realizar a universalidade com  integralidade, equidade e participação. Saúde em Debate, Rio de Janeiro, v. 29, n. 71, set/dez. 2005, p. 339‐352.  SANTOS, S. C. M. Melhoria da equidade no acesso aos medicamentos no Brasil: os desafios impostos pela dinâmica da competição extra‐preço. 2001. 180 f. Dissertação. (Mestrado em Saúde Pública) – Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2001.  SCHEFFER, M. A exclusão de coberturas assistenciais nos planos de saúde privados. Saúde em Debate, Rio de janeiro, v. 29, n. 71, 2005.  STARFIELD,  B.  Atenção  primária:  equilíbrio  entre  necessidades  de  saúde,  serviços  e tecnologia. Brasília, DF: Unesco, Ministério da Saúde, 2002. p. 726.  TEIXEIRA,  C.  (Org.).  Promoção  e  vigilância  da  saúde.  Salvador:  Instituto  de  Saúde Coletiva/UFBA, 2002.  THOMPSON,  J.  B.  Ideologia  e  cultura moderna:  teoria  social  crítica  na  era  dos meios  de comunicação de massa. Petrópolis: Vozes, 1995.  TRAVASSOS,  C.  Equidade  e  o  Sistema  Único  de  Saúde:  uma  contribuição  para  debate. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 13, n. 2, abr. 1997, p. 325‐330.  

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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TRAVASSOS,  C.; MARTINS, M.  Uma  revisão  sobre  os  conceitos  de  acesso  e  utilização  de serviços de saúde. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 20, supl. 2, 2004.  TRIVIÑOS,  Augusto  Nibaldo  Silva.  Introdução  à  pesquisa  em  Ciências  Sociais:  a  pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.  UGÁ, M. A. et al. Descentralização e alocação de  recursos no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Rev. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 8, n. 2, 2003.  VICECONTI, P. E. V.; NEVES, S. Introdução à economia. 5. ed. São Paulo: Frase Editora, 2002.  VELOSO,  I. S. C. A  interferência da violência  social no  trabalho em uma Unidade Básica de Saúde.  2005.  93  f.  Dissertação  (Mestrado  em  Enfermagem)  –  Escola  de  Enfermagem, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2005.   

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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ANEXOS 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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ANEXO A – Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa da UFMG 

 

 

 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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ANEXO B –  Parecer do comitê de Ética em Pesquisa da Secretaria Municipal de Saúde 

de Belo Horizonte 

 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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  APÊNDICES    

 

                         

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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APÊNDICE A –  QUESTIONÁRIO PARA USUÁRIOS DO SISTEMA DE SAÚDE DE BELO 

HORIZONTE 

Atenção entrevistador !Esclarecer os objetivos do estudo e Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).FILTRO:  1‐  Entrevistar  usuários  que  concordarem  em  participar  da  pesquisa  e  que  tenham terminado o  atendimento; 2‐ Perguntar  se o usuário  já  respondeu  a  esse questionário  antes.  Em  caso afirmativo, agradecer e escolher outra pessoa. OBJETIVOS: 

A) Quantificar a procedência de pessoas que buscam atendimento nos Centros de Saúde e Unidades de Pronto‐Atendimento; 

B) Verificar  os  motivos  que  levam  as  pessoas  a  procurarem  os  centros  de  saúde  e  as emergências/pronto‐atendimento; 

C) Caracterizar os principais procedimentos de atenção básica e média complexidade demandados pelos usuários nos serviços de saúde investigados; 

D) Avaliar  a  demanda  que  procura  os  Centros  de  Saúde  e  os  serviços  de  pronto‐atendimento/emergências de Belo Horizonte; 

Entrevistador:____________________________________________________________________________Local da entrevista: (   ) Unidade de Pronto‐Atendimento (UPA)     (   ) Centro de Saúde Data ____/____/2008 Dia da Semana:2ª (   )   3ª (   )  4ª (   )  5ª (    ) 6ª (   )  Turno: (   ) Manhã  (   ) Tarde

1‐ Qual é seu problema de saúde no momento (ou da pessoa que você acompanha) : (      ) Afecções  agudas  leves  (gripes,  amigdalites,  dermatite,  bronquites  leves,  tosse,  febre,  conjuntivite,  dor lombar, vômito, diarréia, dor de estômago, dor no corpo, dor de dente, distúrbio nutricional, DST); (   ) Afecções agudas de moderadas à graves (crise asmática, pico hipertensivo, cardiopatias, infecção urinária, cólica renal, sintomatologia do infarto, abcesso dentário, DPOC, tumor/câncer) ; (   ) Acidente (fraturas, ingestão de corpo estranho, etc.); (   ) Lesão (picada de inseto, cortes na pele, entorse, luxações, etc.); (   ) Gravidez de alto risco; (   ) Retorno (cirurgia, parto, consultas de rotina e controle); (      ) Controle de  agravos  (tuberculose, hanseníase, diabetes, hipertensão, doença de  chagas, prevenção de câncer, hipertensão); (   ) Ações programáticas (vacinação, pré‐natal, puericultura, ação educativa, outras); (   ) Outro _______________________ 2 ‐ Que tipo de atendimento foi realizado ? ( marcar todos os procedimentos informados pelo usuário)ATENÇÃO BÁSICA (   ) Consultas médicas (generalista, PSF, clínico, pediatra, ginecologista) (   ) Consultas odontológicas (   ) Ações executadas por outros profissionais de nível superior (   ) Procedimentos médicos em pele e mucosas (   ) Consultas de enfermagem (nível superior) (   ) Procedimentos de enfermagem/ Atendimentos de nível médio (aux. enfermagem) (   ) Procedimentos Odontológicos/ nível médio (   ) Grupos/Atividades Educativas (   ) Acolhimento (   ) Classificação de risco (UPA) (   ) Práticas Complementares (homeopatia, acupuntura, fitoterapia, etc.) (   ) Outro: ______________________________ MÉDIA COMPLEXIDADE (   ) Consultas médicas com especialistas (gastroenterologista, ortopedista, cirurgião, cardiologista, etc.) (  )Procedimentos  ambulatoriais  especializados  (Procedimentos  ginecológicos,  cirurgias  gerais,  de  mama, procedimentos/cirurgias  do  aparelho  visual,  digestivo,  auditivo,  de  pele,  tecidos  subcutâneos  e  mucosa, sistema  ortoarticular,  ap  digestivo  e  anexos/parede  abdominal,  circulatório,  nervoso,  atendimento  a queimados (   ) Procedimentos traumato‐ortopédicos (      ) Ações  especializadas  em Odontologia  (Ações  em  odontologia,  especializadas,  próteses  odontológicas, próteses de face e cabeça, odontorradiologia) 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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(      )  Exames  de  patologia  clínica  (Bioquímica,  coprologia,  hematologia,  imunologia,  microbiologia,  urina, micologia,  LCR  (Liquor),  esperma,  líquido  amniótico,  Líquido  sinovial  e  derrames,  suco  gástrico,  exames diagnóstico em geriatria, patologia clínica ocupacional, medicina nuclear in vitro) (    ) Exames de Anatomopatologia e Citopatologia (    ) Diagnóstico por imagem (Ultra‐sonografias, ecocardiografia, endoscopia, RX) (   ) Outro ?_____________________________________________________________ 

3‐ POR QUE VOCÊ VEM A ESSE SERVIÇO DE SAÚDE ?(    ) Por que foi indicação/solicitação de outros serviços de saúde(    ) Por que foi encaminhado formalmente do Centro de saúde/unidade de pronto atendimento (    ) Por decisão própria, da família ou de terceiros(    ) Porque conhece pessoas nesse serviço que facilitam o acesso(    ) Porque esse é o serviço de saúde mais próximo da minha residência(   ) Porque esse serviço é melhor que o existente próximo a minha residência(    ) Atendimento mais rápido (    ) Por que o Centro de Saúde não resolve o meu problema de saúde

(    ) Por que é o único existente 

(    ) Por que é o mais próximo do local de trabalho e/ou estudo

(    ) Por que o CS está fechado 

(    ) Por que é cadastrado nesse serviço 

(    ) Outro ? _________________________________________________

4 – SOBRE OS PROFISSIONAIS QUE O ATENDENDERAM, RESPONDA:  SIM  NÃOEles lhe ouviram e compreenderam bem o seu problema de saúde Sim (    )  Não (    )

Algum deles Perguntou sobre as condições de vida e saúde da sua família Sim (    )  Não (    )Eles  lhe  orientaram  sobre  o  tratamento  e  cuidados  com  a  saúde  de  forma compreensível 

Sim (    )  Não (    )

Algum deles pediu sua opinião sobre os tratamentos e os cuidados prescritos Sim (    )  Não (    )Eles resolveram seu problema de saúde Sim (    )  Não (    )Eles lhe orientaram a procurar outro serviço de saúde Sim (    )  Não (    )* Se Sim, Qual ?    (    )  PSF/Centro de Sáude    (     ) UPA     (    ) Hospital     (     ) Outro 5‐ VOCE ACHA QUE OS PROFISSIONAIS DESSE SERVIÇO CONSEGUEM RESOLVER A MAIOR PARTE DOS SEUS PROBLEMAS DE SAUDE ? (    ) Sim                                              (    ) Não 6‐ VOCÊ COSTUMA PROCURAR A UPA, EMERGÊNCIAS OU O HOSPITAL QUANDO PRECISA DE ATENDIMENTO ? (    ) SIM                                               (    ) NÃO SE A RESPOSTA FOR “SIM” NO ITEM 6, RESPONDER A QUESTÃO 7. EM CASO NEGATIVO, PULAR PARA A 8. 7‐ PARA QUAIS SITUAÇÕES VOCÊ PROCURA A UNIDADE DE PRONTO ATENDIMENTO OU HOSPITAL ?(Marcar mais de uma opção) 

(    ) Quando o problema de saúde é grave

(    ) Fica doente e o CS não está aberto (    ) Avalia que o CS não vai resolver o problema(    ) Para qualquer problema de saúde (    ) Para qualquer situação de doença, porque tem mais equipamentos e já faz os exames (    ) Considera que vai precisar de internação(    ) Confia no desempenho técnico dos profissionais (melhores médicos, profissionais mais capacitados)(    ) Por que é o serviço mais próximo da minha residência(    ) Outro: ________________________________________8 – VOCÊ VAI AO CENTRO DE SAÚDE ANTES DE IR/VIR À UPA ?(   ) SIM                                                 (   ) NÃO 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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SE A RESPOSTA FOR “SIM” NO ITEM 8, RESPONDER A QUESTÃO 9. EM CASO NEGATIVO, PULAR PARA A 10. 9‐ PARA QUAIS SITUAÇÕES OU ATENDIMENTOS VOCÊ PROCURA O CENTRO DE SAÚDE  (Marcar mais de uma opção)? (    ) Solicitar encaminhamento para outro serviço e/ou especialidade(    ) Vacinação (    ) Realizar acompanhamento de hipertensão e diabetes

(    ) Realizar o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento da criança

(    ) Realizar acompanhamento pré‐natal

(    ) Realizar o exame preventivo de Câncer ginecológico

(    ) Pegar medicação prescrita 

(    ) Tratamento odontológico 

(    ) Para fazer consultas médica e exames

(    ) Para participar de atividades educativas ou reuniões (grupos, palestras, etc.)

(    ) Para participar de reuniões do conselho de saúde local

(    ) Outro: ____________________________________________________________________ 

10‐ POR QUE VOCÊ NÃO PROCURA O CENTRO DE SAÚDE (pode‐se assinalar mais de uma opção) ? 

(    ) Não consegue atendimento no mesmo dia

(    ) O atendimento é muito lento 

(    ) Não resolve o meu problema de saúde

(    ) Não há médicos para atender 

(    ) Não existem os atendimentos que procuro

(    ) Os profissionais do centro de saúde são pouco capacitados

(    ) O Centro de Saúde nunca está aberto no horário que preciso

(    ) No Centro de Saúde corro o risco de ir e voltar sem ser atendido

(    ) O Centro de Saúde é mais distante de onde moro do que a UPA

(    ) O Centro de Saúde é mais distante do meu trabalho do que a UPA

(    ) Outros:_____________________________________________________

11‐ VOCÊ CONHECE O PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA (PSF) ?(   ) SIM                                                (   ) NÃO 12‐ ALGUM PROFISSIONAL DESSE SERVIÇO CONHECE A SUA FAMILIA?(   ) SIM                                                (   ) NÃO SE SIM, QUAL PROFISSIONAL? (      )  ACS    (      )  TEC.ENF.      (      )  ENFERMEIRA      (      )  ACD/THD      (      ) MÉDICO      (      ) ODONTOLOGO  (      ) OUTRO:__________ 13‐ VOCÊ JÁ PRECISOU MENTIR SOBRE O LOCAL DE RESIDÊNCIA PARA SER ATENDIDO NESSE SERVIÇO ?

(    ) SIM        (    ) NÃO 

14‐  QUANTO  TEMPO  VOCE  LEVA  PARA  CONSEGUIR  A  CONSULTA  MÉDICA  QUE  VOCE  PRECISA  NESSE SERVIÇO? (   ) Menos de 4h (   ) De 4h a 12h (   ) De 12 a 24h (   ) De 1 a 3 dias (   ) De 3 a 5 dias 

(   ) Uma semana(   ) 15 dias (   ) 1 mês (   ) Mais de 1 mês 

15‐ QUANTO TEMPO  LEVOU PARA SER COMPLETAMENTE ATENDIDO DO MOMENTO QUE CHEGOU ATÉ O TÉRMINO DO ÚLTIMO PROCEDIMENTO ? (  ) Menos de 30 min.  (    ) Mais de 4h a 6h 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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(  ) De 31 min a 1h (  ) Mais de 1h a 2h (  ) Mais de 2h a 4h 

(    ) Mais de 6h a 8h (    ) Mais de 8h  

INFORMAÇÕES SOBRE O PERFIL DO USUÁRIO 

16‐ INFORMAÇÕES SOBRE O RESPONDENTE AO QUESTIONÁRIO:(    ) É o próprio usuário   (    ) É o acompanhante  *QUANDO  O  USUÁRIO  FOR  CRIANÇA,  RESPONDER  AS  QUESTÕES  QUE  SEGUEM  COM  DADOS  DO ACOMPANHANTE. 17‐Escolaridade: (    ) Sem Escolaridade (    ) Ensino Fundamental Incompleto (    ) Ensino Fundamental Completo 

(   ) Ensino Médio Incompleto (   ) Ensino Médio Completo (   ) Ensino Superior Incompleto (   ) Ensino Superior Completo 

18‐Sexo: (    ) Masculino (    ) Feminino  19‐Idade:  ___________________  

20 ‐ Atualmente você está:(   ) Empregado (   ) Desempregado (   ) Subempregado (serviços temporários, sem renda regular) (   ) Inativo (aposentado, pensionista, afastado) (   ) Estudante (   ) Dona de casa (   ) Outros:__________________ 

21‐ A renda familiar bruta atualmente é :(    ) Até ½ SM (R$ 207,50) (    ) De ½ a 1 SM (R$ 207,50 a 415,00) (    ) De 1 a 2 SM (R$ 415,01 a 830,00) (    ) De 2 a 3 SM (R$ 830,01  a 1245,00) (    ) De 3 a 5 SM (R$ 1245,01 a 2075,00) (    ) De 5 a 10 SM (R$ 2075,01 a 4500,00) (    ) Acima de 10 SM (Acima de R$ 9.000,01) (    ) Sem rendimentos (    ) Não declarada 

22‐ Local onde Trabalha (se empregado ou sub‐empregado)(    ) Belo Horizonte (    ) Fora de Belo Horizonte. De onde ? ________________ (    ) Não se aplica  23‐ Local onde reside (    ) Belo Horizonte. (    ) Outro Município. Qual ? __________________ 

24‐ Você ou alguém da família possui plano de saúde?(    ) Sim, todos os membros (    ) Sim, alguns membros (    ) Não 

25‐ Quanto tempo você demorou a chegar a esse serviço de saúde:(  ) Menos de 30 min. (  ) De 31 min a 1h (  ) Mais de 1h a 2h (  ) Mais de 2h a 4h (  ) Mais de 4hs 

26‐ Qual a forma de transporte utilizada para se deslocar a esse serviço:(   ) Ônibus/van/lotação/táxi (   ) Metrô (   ) Veiculo particular (   ) Carona (   ) A pé (   ) Ambulância ou SAMU 

 

Muito obrigada (o) ! Tenha um bom dia ou boa tarde ! 

 

 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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APÊNDICE B ‐  ROTEIRO  SEMIESTRUTURADO  PARA  OS  GRUPOS  FOCAIS  COM 

PROFISSIONAIS DE SÁUDE 

Objetivo:  Analisar  em  que medida  a  implantação  das  Equipes  Saúde  da  Família  em  Belo Horizonte  contribuem  para  a  reorganização  da  atenção  básica  no  que  se  refere  à  oferta, utilização e acessibilidade dos serviços de saúde. Dimensão – b‐Organização da atenção básica/SUS  Categorias  de Análise 

Indicadores Avaliativos  Questões Norteadoras – GRUPO FOCAL 

Acessibilidade        

14‐Coordenação  do trabalho  dos profissionais  realizado a partir  dos  princípios  da atenção  básica/saúde da  família,  com pactuações  e reprogramações  15‐Realização  do trabalho  em  rede  entre os profissionais na UBS, entre os  serviços e com a comunidade  16‐Inter‐relação  com  os demais  serviços  de saúde  (UBS,  UPAS, Hospital, etc.); 

1‐Por  que  usuários  acometidos  com 

afecções  leves  utilizariam  mais  as  UPA 

(57,4%)  que  as  UBS  (30,9%)  para  serem 

atendidos  ?  Existiriam  ‘barreiras  de  acesso’ 

desses  usuários  aos  serviços  de  atenção 

básica ? 

2‐Se  o  PSF  é  considerado  estratégia 

prioritária  na  reorganização  dos  serviços, 

como  explicar  a  pouca  utilização  das  ações 

programáticas  nas  UBS  onde  ele  foi 

implantado completamente ? 

 3‐ O  que  vocês,  profissionais  das  ESF,  têm 

feito de diferente para modificar o modelo 

tradicional  de  atenção  na  UBS,  calcada  no 

atendimento  à  demanda  espontânea  e  em 

especialidades médicas ? 

4‐ Quais  os  princípios  do  Saúde  da  Família 

seriam  mais  fortes  na  organização  do 

trabalho na UBS ?  

  

 

 

 

  

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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APÊNDICE C ‐  FORMULÁRIO 1: ANÁLISE DOS GRUPOS FOCAIS; IDENTIFICAÇÃO DE INTERDISCURSOS 

CRITÉRIOS DE ANÁLISE 1‐Identificação dos Processos Grupais (Fern, 2001): (  ) Bloqueio de produção  (a ativação simultânea de dois processos distintos, pensar o que vai dizer e ouvir o que os outros estão dizendo, pode comprometer a fala do participante ou o momento oportuno para a mesma); ( ) Influencia Social (a apreensão da avaliação, a autoconsciência e a influencia normativa como fatores inibidores das falas) (  )  Influencia normativa  (comparação que se  faz com as normas e padrões vigentes num grupo como inibidores. Pode ocasionar receio em discordar, etc.) (  )  Pegadores  de  carona  (pessoas  que  se  beneficiam  do  discurso  do  grupo,  sem  dar  nada  em  troca. Pouco esforço em acrescentar argumentos às falas grupais)  1.2‐ Verificar elementos da análise estrutural do grupo ‐ Posicionamentos e argumentação (interditos, silêncios, omissões, contradições, etc.) 2‐ Análise estrutural – argumentações do grupo nas respostas às questões do GF:  1‐QUESTÃO: Como vocês, gerentes de UBS, avaliam e que estratégias têm utilizado quando se vêm diante das seguintes situações extraídas dos GF com os profissionais: 

a‐Mesmo com a existência dos protocolos e do documento de organização da atenção básica da SMSA‐BH, discutida amplamente na rede de serviços,  verificaram‐se distintas formas de organização das ações programáticas nas UBS (pelo menos quatro), que fogem ao recomendado. Em alguns casos, como no programa de hipertensão e diabetes, há total substituição das ações individuais pelo grupo operativo com troca de receita.  b‐Verificou‐se uma ‘exaustão’ generalizada dos profissionais de saúde, presente em todos os grupos focais, que em muitos momentos o fizeram reagir defensivamente aos dados da pesquisa. Viu‐se similitude com o sentimento que eles referiram no atendimento à demanda espontânea, como se estivessem ‘entrincheirados’ nas UBS. As expressões ‘front’, ‘eles’, ‘guerra’, ‘conter o povo’ ou ‘manada’, para se referir ao usuário, apareceram com freqüência. c‐Na voz dos profissionais, a implantação do PSF teria trazido alguns ‘efeitos colaterais’, tais como:  1‐a fragmentação dos processos de trabalho entre os profissionais na UBS e a competição entre as ESF por resultados teria aumentado; 2‐haveria uma cobrança excessiva dos gestores e gerentes s acerca das ‘4000 pessoas que eles teriam que dar conta’,  que incluem os atendimentos à demanda que lhe chega diariamente, dificultando a realização das outras atividades previstas para o PSF.  

 2‐QUESTÃO: Que tipo de suporte os gerentes das Unidades Básicas de Saúde dispõem e necessitariam para ampliar capacidade de mediar a reorganização dos processos de trabalho dos profissionais de saúde, a partir dos princípios e diretrizes da Atenção Básica/SUS ?   3‐ QUESTÃO: Tendo em vista que a UBS e a UPA atendem usuários com problemas de saúde leves, passíveis de serem resolvidos na atenção básica, seria possível dizer que a existência de UPA  geograficamente acessível, com agilidade no pronto‐atendimento e com maior oferta de tecnologias para diagnose‐terapia,  contradiz com a atual forma de organização das UBS, em que o acolhimento funciona muitas vezes como dificultador do acesso?   Ou seja, a  concepção da UPA, calcada no modelo biomédico, comprometeria a reorganização da atenção básica a partir da Estratégia Saúde da Família ?  3‐  Impressões  finais  e  comentários  sobre  a  condução  do  moderador:  registrar  aspectos  gerais identificadas na dinâmica do grupo e nas respostas às questões formuladas.  

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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APÊNDICE D ‐  FORMULÁRIO 2: PARA ANÁLISE DOS GRUPOS FOCAIS; FALAS INDIVIDUAIS 

1‐ IDENTIFICAÇÃO: DATA: 17 

NOME  PROFISSÃO  UBS  COGNOME 

       

2‐ ANÁLISE 

A‐ Contextualização sociohistórica Resumo  da  trajetória  profissional  e  cidadã  dos  entrevistados,  objetivando demarcar o cenário em que eles se inserem. Citar aspectos valorativos, culturais, subjetivos e sociais que possa ter relevância para análise do depoimento 

 

B‐ Análise Estrutural: (utilizar transcrição, vídeo e anotações dos observadores) b.1‐Códigos e termos freqüentes b.2‐Posicionamentos  e  argumentação  (interditos,  silêncios,  omissões, contradições,  identificação dos processos  grupais no depoimento: bloqueio de produção, pegar carona, influencia social e normativa.)   * Questões do GF: 1‐ Como explicar que usuários acometidos com afecções leves utilizem mais as UPA (57,4%) que as UBS (30,9%) para serem atendidos ? Existiriam ‘barreiras de acesso’ desses usuários aos serviços de atenção básica ?  2‐ Se o PSF é considerado estratégia prioritária na reorganização dos serviços, como explicar a pouca utilização das ações programáticas nas UBS onde ele foi implantado completamente ?   3‐ O que vocês, profissionais das ESF, têm feito de diferente para modificar o modelo tradicional de atenção na UBS, calcada no atendimento à demanda espontânea e em especialidades médicas ?   4‐ Diante dos resultados apresentados sobre a utilização dos serviços de saúde pelos usuários e experiência de vocês, quais os princípios do Saúde da Família seriam mais fortes na organização do trabalho na UBS ? Em que medida  a integralidade,  o trabalho em equipe, o vínculo de co‐responsabilidade com as famílias, o estímulo à participação social, a resolubilidade e a intersetorialidade estão presentes nas  ações  desenvolvidas ?  

 

C‐ Dinâmica Interpretativa a‐ Do ponto de vista dos entrevistado(standpoint epistemology) b‐Crítica c‐Reinterpretação * Indicadores de Avaliação:Atentar para identificação dos critérios abaixo 

14‐Coordenação do trabalho dos profissionais realizado a partir dos princípios da atenção básica/saúde da família, com pactuações e reprogramações 

15‐Realização  do  trabalho  em  rede  entre  os  profissionais  na  UBS,  entre  os serviços e com a comunidade 

16‐Inter‐relação com os demais serviços de saúde (UBS, UPAS, Hospital, etc.); 

 

 

 

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AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE: UTILIZAÇÃO, OFERTA E ACESSIBILIDADE DOS SERVIÇOS 

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APÊNDICE E – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) 

   

O Sr.(a). é convidado para participar da pesquisa intitulada “Avaliação da atenção básica em Belo Horizonte:  organização,  oferta  e  acesso  aos  serviços  de  saúde”  que  tem  como  objetivo  1‐Avaliar os Centros de Saúde de Belo Horizonte quanto à articulação com as UPAs, oferta e acesso dos usuários aos serviços; ‐Analisar em que medida a implantação das equipes saúde da família (ESF) em Belo Horizonte tem contribuído para a (re)organização da atenção básica no que se refere à oferta e acesso aos serviços;‐ Indicar prioridades para mudanças nos Centros de Saúde de Belo Horizonte. Sua participação  será  por meio  da  concessão  de  entrevista,  com  a  duração máxima  de  10 minutos, respondendo questões sobre escolaridade, ocupação e  local de residência, problema de saúde que está passando e demais motivos que o fizeram a procurar os serviços de saúde de BH. Essa pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte e lhe garantimos os direitos abaixo relacionados: 

• solicitar, a qualquer momento, maiores esclarecimentos  sobre essa pesquisa pelos telefones: 3248‐9849 ou 9298‐0903;  

• segredo  absoluto  sobre  nomes,  local  de  trabalho,  residência  e  quaisquer  outras informações que possam levar à identificação pessoal e da instituição a qual pertence;  

• ampla  possibilidade  de  negar‐se  a  responder  a  quaisquer  questões  ou  a  fornecer informações que julgar prejudicial à sua integridade física, moral e social; 

• solicitar que parte das falas e/ou declarações sejam excluídas de documento oficial, o que será prontamente atendido; 

• desistir, a qualquer tempo, de participar da pesquisa.   Os  resultados  da  pesquisa  serão  publicados  em  jornais,  revistas  e  eventos  científicos, apresentados  para  equipes  técnicas  e  de  gestores  da  SMSA‐BH  para  que  possa  subsidiar  a organização dos serviços de saúde. Uma cópia deste termo permanecerá com o Sr.(a) e a outra ficará arquivada, juntamente com os demais documentos da pesquisa, com o pesquisador responsável, na Escola de Enfermagem da UFMG, sala 514, Av. Alfredo Balena, 190. Telefones: (61) 3409‐9849.  

Belo Horizonte, ________ de _______________________ 2008.  

Participante: __________________________________________ .  

Assinatura do pesquisador responsável: __________________________________    Profa. Dra. Ma Raquel Gomes Maia Pires Professora Adjunta da Escola de Enfermagem/UFMG Coordenadora da Pesquisa