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Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde Coletiva
Estresse ocupacional e fatores associados entre servidores da UFMT, campus Cuiabá-MT.
Flávio Aparecido da Cruz Magalhães
Dissertação apresentada ao curso de pós-graduação em Saúde Coletiva – ISC/UFMT, como requisito para obtenção do Título de Mestre em Saúde Coletiva. Área de Concentração: Saúde Coletiva – Epidemiologia. Orientadora: Profª Drª Delma P. Oliveira de Souza.
Cuiabá/MT
2011/08
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Estresse ocupacional e fatores associados
entre servidores da UFMT, campus Cuiabá-MT.
Flávio Aparecido da Cruz Magalhães
Dissertação apresentada ao curso de pós-graduação em Saúde Coletiva – ISC/UFMT, como requisito para obtenção do Título de Mestre em Saúde Coletiva. Área de Concentração: Saúde Coletiva Orientadora: Profª Drª Delma P. Oliveira de Souza.
Cuiabá/MT
2011/08
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M188e Magalhães, Flávio Aparecido da Cruz. Estresse ocupacional e fatores associados entre servidores da UFMT, campus Cuiabá-MT. / Flávio Aparecido da Cruz Magalhães. Cuiabá: UFMT, 2011. 98 fls. Dissertação – Mestrado em Saúde Coletiva - Epidemiologia Orientadora: Profª. Drª. Delma P. Oliveira de Souza. 1.Estresse Ocupacional. 2.Saúde do Trabalhador. 3.Servidores Universitários. 4.Epidemiologia – Modelo Demanda-Controle. I.Título.
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AGRADECIMENTOS
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A Deus pela centelha da vida que me deste.
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Aos meus pais, Geraldina e Generoso, por entenderem a minha ausência, que me ensinaram a caminhar, respeitando
e acreditando nas minhas decisões.
À minha irmã Neuzimar e minha querida amiga e porque não também dizer minha irmã Valdete pelo apoio e
compreensão.
À minha adorada esposa Suelen por ser compreensiva principalmente nos momentos onde o estresse predominava e
pelas palavras de apoio e incentivo.
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A Pro-Reitora Adminsitrativa Técnica Valéria Calmon
Cerisara pelo apoio institucional na entrada no campus para a coleta de dados.
A Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Saúde
Coletiva/ISC,Profª Drª Marina Atanka Santos,pela seriedade e competência na condução do curso e incentivo.
Aos professores do ISC que contribuíram com seus
respectivos conhecimentos para minha formação de aluno, profissional e acima de tudo de ser humano.
À minha orientadora Profª Drª Delma P. de Oliveira Souza por aceitar a árdua tarefa dessa orientação, considerando
a forma com a qual fui parar sob sua orientação.
Ao Prof.Dr. Guilherme Werneck pelo consentimento do uso versão traduzida do instrumento Job Content Questionnaire
– JCQ.
Aos professores Dr.Wanderlei Pignati e Dr. Joaão Gurtler Scatena pelas calorosas discussões que tanto contribuíram
para meu crescimento.
Aos servidores do Hospital Universitário Julio Muller pelo apoio na coleta dos dados.
Aos funcionários da secretaria em especial a Jurema e ao
Ailton, por estarem sempre tão prestativos sempre nos ajudando.
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Ao Centro Universitário Cândido Rondon – Unirondon por ter
proporcionado a chance de cursar o mestrado. Aos meus colegas professores e em especial a coordenadora
do curso de Biomedicina professora Liziane pelo apoio e compreensão para com os meus momentos de ausência.
Aos meus queridos alunos que intenderam minha ausência, meu estresse, contribuindo com carinho e incentivo para
conclusão desse trabalho.
Ao Laboratório Exame por aceitar minha ausência quando precisei.
A todos que diretamente e indiretamente contribuíram para execução deste trabalho.
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Dedicatória
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À população universitária, docentes e técnico-
administrativos que fizeram com que esse trabalho se tornasse real, compartilhando informações pessoais para a
Saúde Coletiva. Espero que este estudo contribua para a melhoria da
qualidade de vida no ambiente de trabalho.
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RESUMO Magalhães FAC. Estresse ocupacional e fatores associados entre servidores da UFMT, campus Cuiabá-MT. [Dissertação de Mestrado]. Cuiabá: Instituto de Saúde Coletiva; 2010.
Objetivo: Analisar a prevalência de exposição ao estresse ocupacional e
fatores associados entre os servidores de instituição de ensino superior
localizada em Cuiabá-MT. Método: Trata-se de um estudo de corte
transversal, realizado por amostragem sistemática de 468 servidores
universitários que responderam ao instrumento de autopreenchimento,
anônimo composto por variáveis sociodemográficas, ocupacionais, de
morbidade e comportamento de saúde e questões da versão brasileira da
escala reduzida de estresse no trabalho (modelo Demanda-Controle). O
instrumento passou por um teste-reteste, sendo avaliado a sua
confiabilidade pelo Coeficiente Kappa. Definiu-se como maior exposição ao
estresse ocupacional, os servidores com trabalho ativo, passivo e de alta
exigência e, de menor exposição aqueles com trabalho de baixa exigência.
Realizaram-se as análises descritivas, associação e de regressão logística.
Resultados: Segundo modelo Demanda-Controle, verificou-se 15,2% de
servidores com trabalho ativo, 29,9% de trabalho com alta exigência, 17,5
com trabalho de baixa exigência e 37,4% com trabalho passivo. Houve uma
prevalência de 17,5% de servidores com menor exposição (baixa exigência)
e 82,5% com maior exposição ao estresse, sendo os fatores mais
prevalentes com associação estatisticamente significantes ser mulher
RP=1,33 (IC95% 1,00-1,81), da raça/cor/etnia negra RP=2,02 (IC 95% 1,09-
3,75), considerar o local de trabalho inadequado RP= 2,00 (IC95% 1,00-
4,04), percepção insatisfatória da própria saúde RP=2,41 (IC 95% 1,21-4,79)
e como fator de proteção ter a renda mais elevada. Conclusão: Há elevada
proporção de servidores com alta exposição ao estresse ocupacional. Os
fatores mais associados foram o sexo, condições de trabalho, raça/etnia/cor,
renda e percepção do estado de saúde, os quais podem contribuir para
ações de prevenção e assistência.
Palavras chave: Estresse ocupacional; Saúde do Trabalhador, Servidores
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Universitários; Epidemiologia Modelo Demanda-Controle.
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ABSTRACT
Magalhães FAC. Occupational stress and related factors among servers
UFMT campus Cuiabá-MT. [Thesis]. Cuiabá: Public Health Institute, 2010.
Objective: To assess the prevalence of exposure to occupational stress and
related factors among servers institution of higher education located in
Cuiabá-MT. Method: This is a cross-sectional study, carried out by
systematic sampling of 468 university attendants who responded to self-
reporting instrument, consisting of anonymous demographic variables,
occupation, morbidity and health behavior issues and the demand-control
model (Job Content Questionnaire - JCQ). The instrument went through a
test-retest reliability was assessed by Kappa coefficient. Was defined as
greater exposure to occupational stress, the servers work with active,
passive and demanding, and less exposure to those with low job demands.
There were univariate, bivariate and logistic regression. Results: According
to demand-control model, there was 15,2% of servers with active work,
29,9% work with high demand, with 17,5 in low strain and passive work with
37,4%. There was a prevalence of 17,5% of servers with the least exposure
(low strain) and 82,5% with higher exposure to stress, the factors being more
prevalent statistically significant association with being female RP=1,33
(95%CI 1,00-1,81), race/color/ethnicity black RP=2,02 (95%CI 1,09-3,75),
consider the workplace inappropriate RP=2,00 (95%CI 1,00-4,04), poor
perception of their health RP=2,41 (95%CI 1,21-4,79) and as a protective
factor to have higher incomes. Conclusion: We found a high prevalence of
greater exposure to occupational stress, with few servers with less exposure.
The factors most closely associated were gender, working conditions,
race/color/ethnicity, income and perceived health status.
Keywords: Occupational stress; Occupational Health, University Servers,
Epidemiology, Demand-Control model.
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ÍNDICE
INTRODUÇÃO ..................................................................................................... CAPÍTULO I- QUESTÕES CENTRAIS DO ESTUDO
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1. O Contexto do Estudo: A Universidade Federal de Mato Grosso ................... 22 1.1. Justificativa..................................................................................................... 25 1.2. Objetivos
1.2.1.Objetivo geral ........................................................................................ 26 1.2.2.Objetivos específicos ............................................................................ 26
CAPÍTULO II- FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2. Saúde e os processos de trabalho .................................................................. 27 2.1. Saúde do trabalhador ................................................................................... 30
2.2. Aspectos políticos: saúde do trabalhador no Brasil ...................................... 32 2.3. O estresse ocupacional 2.3.1. Conceito ............................................................................................... 2.3.2. Os Modelos Teóricos do Estresse Ocupacional ................................... 2.3.3. O Modelo Demanda-Controle de Karasek............................................
34 35 37
2.4. Estresse ocupacional: Doenças crônicas não-transmissíveis ..................... 41
CAPÍTULO III- MATERIAL E MÉTODO 3. Desenho do estudo ......................................................................................... 43 3.1. Local de estudo: campus universitário da UFMT – Cuiabá/MT ........... 43 3.2. Critérios de elegibilidade do estudo: inclusão e exclusão ............................ 43 3.3. Plano de amostragem .................................................................................. 44
3.3.1.O cadastro básico – campus Cuiabá/MT ............................................. 44 3.3.2.Tamanho da amostra ........................................................................... 44 3.3.3.Seleção da amostra ............................................................................. 44 3.3.4. Variáveis do Estudo ............................................................................ 45
3.3.4.1. A variável desfecho..................................................................... 45 3.3.5. Instrumento de coleta de dados........................................................... 45
3.3.6. Teste piloto.......................................................................................... 48 3.3.7. Treinamento dos aplicadores.............................................................. 50
3.3.8. Coleta de dados.................................................................................. 50 3.4. Análise dos dados.........................................................................................
3.4.1. Processamento e crítica dos dados ................................................... 3.4.2. Estresse no trabalho........................................................................... 3.4.3. Associação de estresse no trabalho................................................... 3.5. Comitê de ética.............................................................................................
50 50 51 52 53
CAPÍTULO IV- RESULTADOS 4. Amostra ........................................................................................................... 4.1. Características sociodemográficas, ocupacionais, de morbidade e
55
xiii
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comportamento de saúde ................................................................................... 4.2. Distribuição do modelo Demanda-Controle entre os servidores
universitários....................... ............................................................................
55
60
CAPÍTULO V- DISCUSSÃO 5. Discussão ........................................................................................................ 5.1. Descrição da população de estudo e aspectos
metodológicos.................................................................................................. 5.2. Considerações sobre o objeto de estudo...................................................... 5.2.1. Prevalência da exposição..........................................................................
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67 68 68
CAPÍTULO VI- CONCLUSÃO 6. Conclusões.......................................................................................................
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................
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ANEXOS Anexo I – Instrumento de Coleta de Dados...................................................... 84 Anexo II – Manual do Aplicador ....................................................................... Anexo III – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ............................... Anexo IV – Carta de apresentação .................................................................. Anexo V – Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do HUJM .................
88 94 96 98
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LISTA DE SIGLAS
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
CLT Consolidação das Leis do Trabalho
CRST Centro de Referência em Saúde do Trabalhador
DNSP Departamento Nacional de Saúde Pública
DRT Delegacia Regional do Trabalho
FUNDACENTRO Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina
do Trabalho
INSS Instituto Nacional de Previdência Social
JCQ Job Content Questionnaire – Questionário sobre Conteúdo
do Trabalho
LOS Lei Orgânica da Saúde
MP Ministério Público
MPAS Ministério da Previdência e Assistência Social
MS Ministério da Saúde
MTIC Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio
OIT Organização Internacional do Trabalho
OMS Organização Mundial da Saúde
ONU Organização das Nações Unidas
OPAS Organização Pan-Americana de Saúde
PAT Postos de Atendimento ao Trabalhador
PST Programas de Saúde do Trabalhador
RENAST Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador
Senai Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
Sesi Serviço Social da Indústria
SUS Sistema Único de Saúde
UFMT Universidade Federal de Mato Grosso
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Características Socioeconômico-Demográficas dos Servidores da
UFMT, campus de Cuiabá/MT-2010.
56
Tabela 2 Características laborais dos Servidores da UFMT, campus de
Cuiabá-MT/2010.
58
Tabela 3 Características do estado de Saúde dos Servidores da UFMT,
campus de Cuiabá-MT – 2010.
59
Tabela 4 Consistência interna das dimensões demanda, controle e apoio
social dos servidores da UFTM, campi Cuiabá/MT-2010.
60
Tabela 5 Distribuição dos servidores da UFMT segundo as dimensões
Demanda, Controle e Apoio Social, campus de Cuiabá/MT-2010
61
Tabela 6 Distribuição nos quadrantes e exposição ao estresse ocupacional,
segundo modelo Demanda-Controle, dos servidores da UFMT,
campus Cuiabá/MT-2010.
61
Tabela 7 Razão de Prevalência de exposição ao estresse ocupacional,
segundo características sociodemográficas entre servidores
universitários, campus Cuiabá/MT, 2010.
62
Tabela 8 Razão de Prevalência de exposição ao estresse ocupacional,
segundo características laborais entre servidores universitários,
campus Cuiabá/MT, 2010.
63
Tabela 9 Razão de Prevalência de exposição ao estresse ocupacional,
segundo características de saúde entre servidores universitários,
campus Cuiabá/MT, 2010.
64
Tabela 10 Associação de variáveis para exposição de estresse entre
servidores universitários, pela Razão de Odds (RO) ajustada pelo
modelo logístico, Cuiabá/MT, 2010.
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Tabela 11
Análise de fatores e termos de interação associados ao estresse
ocupacional entre servidores de universidade pública, 2010.
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19
LISTA DE FIGURAS E QUADROS
Quadro 1 Resultado da Confiabilidade Kappa para questões do instrumento
de estudo sobre estresse ocupacional entre os servidores
contratados e cedidos da UFMT, Cuiabá/MT, 2010.
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Figura 1 Modelo Demanda-Controle de Karasek 39
Figura 2 Distribuição da média de Idade dos servidores universitários,
Cuiabá/MT, 2010.
55
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INTRODUÇÃO
Dentre as várias acepções possíveis para o termo, a história da
palavra trabalho refere-se à passagem da cultura da caça e da pesca para a
cultura agrária baseada na criação de animais e no plantio, passando, mais
modernamente, à passagem da cultura agrária para a industrial e,
contemporaneamente, da industrial para a sociedade pós-industrial com
objetivo econômico (ALBORNOZ, 1997).
Todo este processo de transformação pelo qual passou o trabalho foi
efetivado à custa de muito sacrifício da qualidade de vida e da saúde dos
trabalhadores. Trabalhar é uma necessidade intrínseca do ser humano,
através dele o homem se realiza e desenvolve suas várias dimensões
(psicológica, social e econômica). Entretanto, nem sempre o trabalho
cumpre essas funções, cabendo então se investigar em que momento ele
deixa de promover o bem estar físico, mental e social e passa a ser um fator
de risco na saúde do trabalhador. Segundo DEJOURS (1992), não é o
trabalho em si que adoece, mas cabe questionar de que tipo de trabalho se
está falando e em que condições ele é realizado.
Na sociedade atual, com o avanço tecnológico de novos saberes, as
relações sociais de trabalho e capital exigem do trabalhador adaptações
constantes aos modelos de produção emergidos pela globalização, onde a
prioridade é a redução de custos, despreocupação com a qualidade dos
produtos e serviços, tendência a precarização das relações de trabalho e,
em consequência a esta reestruturação produtiva fazem surgir trabalhadores
com perfis de adoecimento diferenciados.
Neste cenário, o estresse é uma das principais preocupações,
considerado um problema social e de saúde pública para o século XXI,
sendo visualizado como algo negativo, por ocasionar danos nas esferas
afetivas e sociais da vida do trabalhador. O estresse é reconhecido pelas
Nações Unidas (ONU) e Organização Mundial de Saúde (OMS) como a
maior epidemia mundial do século devido à estimativa de que cerca de 25%
21
de toda população irá experimentar sintomas deste agravo pelo menos uma
vez na vida (SILVA e YAMADA, 2008).
A literatura aponta diversos estudos sobre o estresse, na sua maioria
enfocando os trabalhadores do sistema privado, identificando repercussão
na saúde deste trabalhador relacionando com as características da atividade
ocupacional desempenhada. O setor de serviços público, especificamente
instituições de ensino superior, tem sido analisado de forma restrita a
determinadas ocupações, sendo pouco estudada a saúde de servidores de
diferentes formação e atuação acadêmica, o que envolve trabalhadores
capacitados e com significativa produção intelectual.
Em relação ao servidor universitário, até o advento da Constituição
Federal de 1988, vigoravam no setor público, dois regimes jurídicos de
trabalho, o regime estatutário e o celetista. O primeiro, para regular as
relações de trabalho dos servidores concursados e o segundo, para os
servidores contratados sem a vantagem da estabilidade atribuída ao
primeiro. A Nova Carta Constitucional introduziu, em seu Capítulo VII, seção
II, a terminologia servidores públicos civis para referir-se a todos os que
prestam serviço à Administração e instituiu em seu art. 39, o “regime jurídico
único e planos de carreira” para a Administração direta, autárquica e
fundacional, significando dizer que não mais será possível a diversidade de
contratações na Administração Pública. Porém numa análise de conjuntura
global, as mudanças ocorridas de um regime para outro é resultado da
Reforma do Aparelho do Estado frente às mudanças da sociedade
contemporânea quanto aos obstáculos legais ao avanço em direção a uma
maior eficiência do aparelho do Estado, com as modernas orientações
gerenciais e, novos métodos e ferramentas gerenciais, particularmente em
relação à administração dos recursos humanos.
A dissertação possui em seis capítulos. O primeiro aborda a
construção do objeto de estudo, o seu contexto, formulando os objetivos
geral e específicos. O capítulo II, aborda a fundamentação teórica da saúde
nos processos de trabalho, contextualizando-a na atual conjuntura em
termos de impacto para a saúde do trabalhador, em decorrência da
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reestruturação produtiva e das novas formas de organização do trabalho,
tendo como foco especial o estrese ocupacional.
O Capítulo III refere-se ao material e método, ou seja, aborda o tipo
de estudo realizado, a população, o plano amostral, instrumento, o teste
piloto, realizado através de teste e reteste avaliado pelo Coeficiente Kappa,
a análise estatística dos dados e a aprovação da pesquisa pelo Comitê de
Ética do Hospital Universitário Julio Muller.
Os resultados obtidos junto aos servidores sobre características
sociodemográficas, ocupacionais, morbidades, características de saúde e
estresse, compõem o Capítulo IV.
A discussão dos dados obtidos com base no referencial teórico e
estudos realizados com a temática constitui o Capítulo V. Coube ao último
Capítulo, o sexto, a conclusão da pesquisa.
Pretende-se que este estudo contribua para a implantação de
programas voltados para a saúde mental de servidores universitários e que
venha reduzir a exposição destes trabalhadores ao estresse ocupacional.
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CAPÍTULO I
QUESTÕES CENTRAIS SOBRE O ESTUDO
1. CONTEXTO DO ESTUDO: A UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
A Universidade Federal de Mato Grosso, primeira instituição de ensino
superior no Estado de Mato Grosso tem uma história agregada ao processo
de desenvolvimento do Estado.
O surgimento do Estado de Mato Grosso se deu pelo processo de
ocupação da coroa portuguesa em delimitar as fronteiras do território
brasileiro devido à disputa territorial que tinha em relação à coroa espanhola.
Longos foram às décadas que o estado ficou isolado do país, somente a
partir da década de 1940 no governo de Getúlio Vargas, que foi instituída
uma política de colonização no interior do Brasil, no centro-oeste, o
movimento ficou conhecido por Marcha para o oeste (MORENO, 2005).
Outra política de ocupação voltou a acontecer em outros momentos
do século XX, com destaque para o período da Ditadura Militar, da década
de 1960, resultando em um aumento populacional e da atividade
agropecuária, metas das políticas de ocupação, havendo também desejos
dos habitantes do Estado no desenvolvimento de projetos de qualificação de
profissionais, vindo a acontecer a partir do século XX em consequência do
crescimento populacional e das demandas por serviços públicos, dando-se
assim a criação de espaços de qualificação profissional, tendo como marco
histórico com a criação do Curso de Direito através da Lei nº 26, de 18 de
setembro de 1936 (DORILEO, 2005; INEP, 2005).
Após dezesseis anos da criação da Faculdade de Direito, o Ensino
Superior em Mato Grosso foi ampliado, com a Criação da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras, com a aprovação da lei nº 235, de dois de
outubro de 1952, e treze anos depois foi criada a Faculdade de Ciências
Econômicas, com a aprovação da lei nº 2.413 de dois de setembro de 1965.
24
(DORILEO, 2005). Neste período (ditadura militar) houve uma política de
ocupação da Amazônia que propiciou a vinda de brasileiros de vários
estados do país (INEP, 2005).
A política do governo militar de ocupação da Amazônia aliada aos
interesses dos políticos e da sociedade civil do Estado de Mato Grosso
foram fatores que contribuíram para a criação da Universidade Federal de
Mato Grosso pela Lei nº 5.647, de 10 de dezembro de 1970 a partir da fusão
da Faculdade de Direito de Cuiabá e do Instituto de Ciências e Letras de
Cuiabá. Nesse ano foram abertos os 11 primeiros cursos, oferecidos no
campus universitário, na região do Coxipó (DORILEO, 2005).
Nas décadas de oitenta e noventa, paralelamente à expansão do
campus de Cuiabá, a Universidade Federal implanta o Hospital Universitário
Júlio Muller e inicia o processo de interiorização do ensino superior. Criam-
se os campi de Rondonópolis, do Médio Araguaia e de Sinop. A UFMT
busca interiorizar as ações de ensino, pesquisa e extensão em todo o
Estado, através de Turmas Especiais, Licenciaturas Parceladas e Ensino a
Distância, atingindo mais de 80 municípios, alguns distantes mais de 800 km
de Cuiabá (UFMT, 2010).
Atualmente conta com campi em Cuibá, Rondonópolis, Pontal do
Araguaia e Sinop no estado de Mato Grosso. Sua missão é a formação de
recursos humanos através das atividades de ensino, pesquisa e extensão.
Ocupa uma área total de 4.360 hectares e 149 mil metros quadrados de área
construída. São ofertados em média, 69 cursos de graduação (sendo 39
noturnos), 3.403 vagas na graduação, 60 cursos de pós-graduação (sendo
50 cursos de especialização, 26 de mestrado e cinco de doutorado, sendo
que um está em fase de implantação). São 7.365 alunos em Cuiabá, 2.193
em Rondonópolis, 734 no Médio Araguaia e 5.454 nas turmas especiais, na
graduação, e 3.449 alunos na pós-graduação. Possui um quadro de
servidores docentes e técnico-administrativos regidos pelo Regime Juridico
Único dos servidores civis da União, das Autarquias e das Fundações
Públicas Federais, instituído pela Lei n.º 8.112, de 11 de dezembro de 1990.
25
No Brasil, assim como no mundo, é nas universidades que estão os
principais focos de desenvolvimento de pesquisas nas diversas áreas do
conhecimento. As universidades públicas brasileiras continuam sendo os
polos de alavancagem do progresso científico. A UFMT se destaca como
polo de desenvolvimento tecnológico e cientifico no Estado do Mato Grosso,
porém, ainda há desconhecimento dos níveis de estresse entre os
servidores da Universidade Federal de Mato Grosso, tornando-se
imprescindível identificar e analisar as consequências que ele traz à saúde
destes trabalhadores, constituindo questões centrais deste estudo, quais
sejam: Qual é a prevalência de exposição ao estresse ocupacional entre os
servidores da UFMT? Quais fatores sociodemográficos, ocupacionais e de
saúde estão associados à presença de estresse entre os servidores da
UFMT? Os trabalhadores com maior exposição ao estresse ocupacional
referenciaram alguma morbidade clínica como: pressão arterial elevada,
obesidade, diabetes, doença osteomusculares?
26
1.1. JUSTIFICATIVA
Nas últimas décadas, tem havido grande interesse por investigações
sobre a saúde de trabalhadores das diferentes ocupações do sistema de
produção. Na Universidade Federal de Mato Grosso sabe-se da existência
das mais diversas morbidades, segundo relato de profissionais (médicos,
enfermeiros e assistentes sociais) que atuam na Coordenação de
Assistência e Bem Estar dos Servidores (CABES) em função dos pedidos de
afastamento do trabalho e/ou solicitação a encaminhamentos para a rede
básica de saúde. Porém, não há nenhum estudo científico que abranja o
conhecimento sobre os níveis de estresse profissional dos servidores da
UFMT. Daí a importância do conhecimento das condições de saúde de seus
servidores. Não se pode esquecer que servidores satisfeitos têm melhor
saúde, apresentam maior produtividade e qualidade no seu trabalho. Os
trabalhadores insatisfeitos apresentam mais faltas ao trabalho, baixa
produtividade, baixa estima, falta de atenção, insatisfação, e adoecimento.
Desta forma justifica-se o objeto deste estudo de identificar a prevalência de
exposição ao estresse ocupacional e fatores associados entre os servidores
da UFMT, variável que compõe o Projeto de Pesquisa: “Estudo
Epidemiológico sobre as condições de Saúde dos Servidores da UFMT,
campus Cuiabá-MT”.
27
1.2. OBJETIVOS
1.2.1. Objetivo Geral
Estimar a freqüência de exposição ao estresse ocupacional e fatores
associados entre os servidores da Universidade Federal do Mato Grosso
(UFMT), campus Cuiabá no ano de 2010.
1.2.2. Objetivos Específicos
Descrever as características sócio-demográficas, ocupacionais,
morbidade e características de saúde entre os servidores da
Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), campus Cuiabá no
ano de 2010.
Identificar a prevalência de exposição ao estresse ocupacional entre
os servidores da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT),
campus Cuiabá no ano de 2010.
Analisar a associação de estresse ocupacional segundo variáveis
sócio-demográficas, ocupacionais, presença de morbidade e
características de saúde entre os servidores da Universidade Federal
do Mato Grosso (UFMT), campus Cuiabá no ano de 2010.
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CAPÍTULO II
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2. Saúde e os processos de trabalho
Desde a antiguidade há marcas das interrelações entre trabalho e
saúde, detectadas em papiros egípcios e no mundo greco romano. As
primeiras preocupações ligadas à patologia do trabalho são as observações
de Lucrécio, um século antes da Era Cristã e, os primeiros estudos são
atribuídos a Ramazzini, que em 1633 estabeleceu alguns dos princípios
básicos do conceito de medicina social, entre eles, a necessidade do estudo
da relação entre o estado de saúde de uma dada população e suas
condições de vida.
A Primeira Revolução Industrial, ocorrida no século XVIII na Inglaterra,
é associada ao trabalho pesado e insalubre na indústria têxtil, tendo como
referência tecnológica as máquinas movidas a vapor. Grandes foram as
mudanças introduzidas no modo de produção, afetando a vida e a saúde dos
trabalhadores, com destaque para o surgimento de novas classes sociais
antagônicas (burguesia e proletariado) e a passagem da sociedade agrária
para a industrial, com mudanças significativas no processo de trabalho, tanto
pela introdução de uma base técnica, como pela função do trabalho
assalariado (KANTORSKI, 1997; MERLO, 2007; NAVARRO, 2007).
O século seguinte é caracterizado pelo desenvolvimento do
capitalismo industrial, êxodo rural e concentração de novas populações
urbanas, extenso jornada de trabalho, emprego de mulheres e crianças,
salários baixos, falta de higiene, promiscuidade, esgotamento físico,
acidentes de trabalho, alta morbidade e mortalidade, não havendo durante
este período discussões sobre saúde. Neste cenário o movimento higienista
foi à resposta social para diminuir as enfermidades sociais da época.
Somente a partir do fim daquele século, avanços foram obtidos por meio da
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criação de leis sociais pertinentes à saúde dos trabalhadores, o movimento
operário adquiriu bases sólidas e força nas suas reivindicações (DEJOURS,
1992).
Fatos de grande importância sobre as relações sociais de produção
ocorreram no final do século XIX e início do século XX. Destaca-se a
Segunda Revolução Industrial nos EUA e a consequente difusão do modelo
taylorista/fordista de organização do trabalho, pautado na rígida
especialização e repetição das tarefas gerando exigências fisiológicas até
então desconhecidas, especialmente quanto ao tempo e ritmo de trabalho
(KANTORSKI, 1997; MERLO, 2007; NAVARRO, 2007).
Este modelo de organização do trabalho, Dejours (1992) destaca a
importância de entender as consequências sobre a saúde mental de
trabalhadores. Ao separar o trabalho intelectual do manual, o sistema Taylor
neutraliza a atividade mental dos operários considerando que não é o
aparelho psíquico que aparece como primeira vítima do sistema, mas o
corpo disciplinado do trabalhador, submetido à direção hierarquizada do
comando. Salienta ainda o autor que o desenvolvimento desigual das forças
produtivas, das ciências e da organização e das condições de trabalho
culminou com fenômeno diversificado concebido por saúde mental, até
então pouco entendida, discutida e explorada.
Esta situação e outras contidas na história impulsionaram a luta
sindical por melhorias nas condições de trabalho e de saúde do trabalhador,
cuja principal vitória de grande relevância foi à criação da OIT (Organização
Internacional do Trabalho), pela Conferência de Paz após a Primeira Guerra
Mundial. Sua consolidação se dá no Tratado de Versalhes que a caracteriza
como Organismo Regulador Internacional das relações entre o trabalho e o
capital. Tem como objetivo promover a justiça social, onde os países
signatários ficaram responsáveis por adotar em suas legislações a proteção
ao trabalho da mulher, impedir o trabalho infantil e proteger os operários em
labor considerados perigosos, insalubres e penosos (ARAÚJO, 2003;
Organização Internacional do Trabalho, 2009).
Como consequências das transformações no mundo do trabalho
30
destacam-se: a necessidade de destruir e reconstruir habilidades no
trabalhador; o aumento do número de trabalhadores flexíveis ou não fixos; a
diminuição dos trabalhadores com vínculo, o aumento do desemprego em
nível mundial e o fato do produto e o capital passarem a girar mais
rapidamente, em função da demanda e da flexibilização. É preciso ressaltar
que tais mudanças emergem em um contexto mundial único e peculiar -
após a Segunda Guerra – que propiciou um longo período de crescimento
econômico dos países industrializados (com a criação do mercado europeu
em 1960-70 a economia passa a ser mais globalizada) (KANTORSKI, 1997).
Por fim, tem-se o surgimento de uma nova revolução denominada de
Revolução Informacional, caracterizada pela intensificação da competição
entre as organizações e a necessidade de rápida incorporação das
inovações tecnológicas (microeletrônica, informática, químicas, genéticas e
biotecnológicas) à produção. Com o desenvolvimento tecnológico, a
indústria passa a se organizar sobre uma nova base técnica, a
eletroeletrônica, em substituição à eletromecânica. A força motora que move
a engrenagem do novo modelo econômico passa ser a informação, em
substituição à energia presente, por exemplo, no fordismo (ARRUDA, 2000).
Em relação à saúde dos trabalhadores, somente a partir do Século XX
houve melhoria da qualidade de vida das pessoas que vivem em países
industrializados. Comparando com outras partes do mundo, os padrões de
saúde e bem-estar dessa população estão relativamente altos (GIDDENS,
2005). Atualmente as pessoas são mais saudáveis e sua expectativa de vida
vem aumentando, mas o crescimento econômico possui dois valores
diferentes no que concerne a saúde populacional. É importante ressaltar que
apesar da importância do aspecto financeiro, precisamos ir além das
medidas de renda para entender a relação entre posição social e saúde.
Neste sentido é importante salientar o interesse de diversas áreas do
conhecimento como psicologia, sociologia, administração, medicina, entre
outras, que possibilitou a construção de um novo campo de conhecimento
denominado de Saúde do Trabalhador (PALACIOS et. al., 2008).
31
2.1. Saúde do Trabalhador
Com a Revolução Industrial, houve a necessidade de manter uma
força de trabalho ativa nas fábricas com jornadas de trabalho extenuantes,
ambientes desfavoráveis à saúde, fez com que surgisse na Inglaterra, na
primeira metade do século XIX, a criação de uma nova especialidade
médica, a Medicina do Trabalho – cuja figura central é o médico e em sua
atuação local (nas fábricas).
Com a Revolução Industrial, houve a necessidade de manter uma
força de trabalho ativa nas fábricas com jornadas de trabalho extenuantes,
ambientes desfavoráveis a saúde, fez com que surgisse na Inglaterra, na
primeira metade do século XIX, a criação de uma nova especialidade
médica, a Medicina do Trabalho – cuja figura central é o médico e em sua
atuação local (nas fábricas).
Foi em 1830 que se teve o primeiro serviço de medicina do trabalho e,
posterior a esta data, sucessivas normatizações e legislações foram criadas,
que tem no Factory Act, de 1833, seu ponto mais relevante, estabelecendo
assim a medicina de fábrica (MENDES e DIAS, 1991; MINAYO-GOMEZ e
THEDIM-COSTA, 1997).
Após a II Guerra Mundial, os trabalhadores que permaneceram na
indústria, realizaram grande esforço para reestruturação econômica dos
países envolvidos no conflito e, diante da relativa impotência da medicina do
trabalho para intervir sobre os problemas de saúde causados pelos
processos de produção, surge uma nova especialidade denominada de
Saúde Ocupacional. Ela foi implantada dentro das empresas com uma
proposta multidisciplinar e interdisciplinar, relacionando ambiente de trabalho
e o corpo do trabalhador, seu principal objetivo era intervir nos locais de
trabalho com finalidade de controlar os riscos ambientais, diminuindo assim
as mortes e os gastos com a saúde dos trabalhadores (MENDES e DIAS,
1991; MINAYO-GOMEZ e THEDIM-COSTA, 1997).
Ainda no contexto internacional, em 1959, a experiência dos países
industrializados se transformou na Recomendação 112, aprovada pela
32
Conferência Internacional do Trabalho, sobre Serviços Médicos do Trabalho
que designa um serviço médico organizado nos locais de trabalho ou em
suas imediações. É atribuída assim à medicina do trabalho a tarefa de
“contribuir ao estabelecimento e manutenção do nível mais elevado possível
do bem estar físico e mental dos trabalhadores” (MENDES e DIAS, 1991;
MINAYO-GOMEZ e THEDIM-COSTA, 1997).
Durante as décadas de 60 e 70 ocorre à renovação do movimento
social nos países industrializados (Alemanha, França, Inglaterra, Estados
Unidos e Itália), o que leva, em alguns países, à exigência da participação
dos trabalhadores nas questões de saúde e segurança. Como resposta ao
movimento social e dos trabalhadores, novas políticas sociais tomam a
forma de lei e, introduzem significativas mudanças na legislação do trabalho,
em especial, nos aspectos de saúde e segurança do trabalhador (MENDES
e DIAS, 1991; LACAZ, 1997).
A insuficiência do modelo da saúde ocupacional, modelo este que
mantém o mesmo referencial adotado pela medicina do trabalho, faz com
que sua abordagem desconsidere outras relações como àquelas
configuradas pela organização/divisão do trabalho: o ritmo; a duração da
jornada de trabalho; o trabalho em turnos; a fragmentação/conteúdo de
tarefas; o controle da produtividade, cujas consequências para a saúde
expressam-se como doenças crônico-degenerativas e distúrbios mentais dos
trabalhadores (MENDES e DIAS, 1991; LACAZ, 2007).
Com as mudanças sociais ocorridas nos países desenvolvidos no
contexto da relação trabalho x saúde, fez-se necessário à adoção de um
novo pensar que resultou no surgimento do campo da Saúde do
Trabalhador, que propiciou que as classes trabalhadoras constituem-se em
um novo sujeito político e social, incorporando a idéia do trabalho e seu
significado, aprendendo-o como agente de mudanças, com saberes e
vivências sobre seu trabalho, compartilhadas coletivamente e, como ator
histórico, esses trabalhadores podem intervir e transformar a realidade do
trabalho, participando do controle da nocividade, da definição consensual de
prioridades de intervenção e da elaboração de estratégias transformadoras
33
(PORTO, 2002; LACAZ, 2007a).
Desta forma a relação trabalho versus saúde é pensada a partir da
elaboração de um grupo multiprofissional envolvendo atores da saúde, das
ciências sociais e da filosofia, na construção de uma análise inter, multi e
transdisciplinar, contribuindo para a elaboração de políticas públicas. Temos
assim a articulação da Medicina Social, da Saúde Pública e da Saúde
Coletiva na construção desse modelo teórico-metodológico que constitui o
campo da Saúde do Trabalhador (PORTO, 2002; LACAZ, 2007a).
2.2. Aspectos políticos: Saúde do Trabalhador no Brasil
No Brasil, a relação trabalho x saúde/doença é antiga. Vários
momentos foram importantes no decorrer da história do país e, apesar de
vários fatos importantes ao longo da história da Saúde Pública do Brasil, a
década de 70 é expressiva e com reflexos na década seguinte, trazendo
significativas mudanças na política de saúde brasileira. Foi um momento
marcado pela elaboração da Constituição Brasileira de 1988 e, que no
campo da Saúde, teve seu início na realização da VIII Conferência de
Saúde, em 1986, onde se consolida a proposta da criação do SUS, com
atributo de reger as ações de saúde, agora elevada à condição de direito
social e de cidadania, inclusive da saúde do trabalhador. Como resultados
das lutas sociais foram criados os Programas de Saúde do Trabalhador
(PST) (LACAZ, 1997; LACAZ, 2007a; LACAZ, 2007b; LOURENÇO, 2007).
As bases legais instituídas para o campo de saúde do trabalhador no
Brasil são (MS/OPAS, 2001):
A execução das ações voltadas para a saúde do trabalhador é
atribuição do SUS, prescritas na Constituição Brasileira de 1988 e
regulamentadas pela L.O.S. (Lei Orgânica da Saúde), cujo artigo 6.º confere
à direção nacional do Sistema a responsabilidade de coordenar a política de
saúde do trabalhador. Destacam-se a Portaria/MS n.º 3.120/1998 e a
Portaria/MS n.º 3.908/1998, que tratam da definição de procedimentos
básicos para a vigilância em saúde do trabalhador e prestação de serviços
34
nessa área. A operacionalização das atividades deve ocorrer nos planos
nacional, estadual e municipal.
O ministério da Saúde visando a subsidiar as ações de diagnóstico,
tratamento e vigilância em saúde e o estabelecimento da relação da doença
com o trabalho e das condutas decorrentes, o Ministério da Saúde,
cumprindo a determinação contida no art. 6.º, § 3.º, inciso VII, da L.O.S,
elaborou uma Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho, publicada na
Portaria/MS n.º 1.339/1999. Essa Lista de Doenças Relacionadas ao
Trabalho foi também adotada pelo Ministério da Previdência e Assistência
Social (MPAS), regulamentando o conceito de Doença Profissional e de
Doença Adquirida pelas condições em que o trabalho é realizado, Doença do
Trabalho, segundo prescreve o artigo 20 da Lei Federal n.º 8.213/1991,
constituindo o Anexo II do Decreto n.º 3.048/1999.
Visando a efetivação das propostas de ação do SUS no campo de
Saúde do Trabalhador, a portaria 1.679/2002 do MS normatiza a habilitação
e o convênio entre os municípios, o estado e o MS para a implantação dos
Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (CRST) em âmbito
regional.
No final de 2002, com o intuito de melhorar a estratégia de atenção
integral à saúde do trabalhador, é proposta a criação da Rede Nacional de
Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (RENAST), estruturada a partir dos
CRST, o que resulta numa nova lógica de trabalho com implantação de
Postos de Atendimentos ao Trabalhador (PAT), Delegacia Regional do
Trabalho (DRT), Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e
Medicina do Trabalho (Fundacentro), Ministério Público (MP), Instituto
Nacional de Previdência Social (INSS) e outros (BRASIL, 2005; DIAS, 2005;
LOURENÇO, 2007).
Por último, cabe enfatizar o papel relevante das Conferências de
Saúde na conquista do trabalhador sobre seus direitos. De uma maneira
geral, as conferências debateram as ações que deveriam ser adotadas para
garantir a efetivação da assistência à saúde do trabalhador sujeito aos meios
de produção presentes num mundo globalizado (BRASIL, 2005; DIAS, 2005;
35
LOURENÇO, 2007).
2.3. O estresse ocupacional
2.3.1. Conceito
A palavra “Estresse” vem do inglês “Stress”. Este termo foi usado na
física, inicialmente, para traduzir o grau de deformidade sofrido por um
material, quando submetido a um esforço ou tensão. Foi o médico Hans
Selye que transpôs este termo para a medicina e biologia, significando
esforço de adaptação do organismo para enfrentar situações ameaçadoras à
sua vida e ao seu equilíbrio interno diante a pressões internas e ou externas
e, devido às energias necessárias para esta adaptação ser limitada, o
organismo entra em esgotamento (FRANÇA e RODRIGUES, 2005; SISTO,
2008).
A literatura tem evidenciado que o termo estresse tem significados
diversos para diferentes pessoas. BRITO (2007) afirma que de modo geral
não há consenso a respeito da definição de estresse, embora em seu estudo
apresente várias conceituações, entre elas: pressão (sentir-se pressionado),
tensão (sentir-se tenso), forças externas desagradáveis (barulho, poluição,
etc.) ou respostas emocionais (ansiedade, angústia, etc.). Outra concepção
discutida pelo autor é que o termo estresse pode ser definido, num sentido
técnico, como uma síndrome de adaptação geral constituída de três fases: a)
alarme – o agente causador de estresse é reconhecido e começa uma
mudança fisiológica; b) adaptação - busca da acomodação à situação,
levando a pessoa a atender às demandas dos níveis de estresse mais
elevados; c) exaustão - aonde o organismo chega a seu limite por uma falha
dos mecanismos adaptativos aos estímulos recorrentes ou excessivos.
Uma das principais consequências das mudanças na organização do
trabalho é o Estresse Ocupacional ou Laboral, expressões usadas para
designar não somente o processo, mas também o conjunto de reações
físicas e psíquicas provocadas pela vivência de condições adversas no
36
ambiente organizacional (TAMAYO, 2008). Nesta perspectiva, a palavra
estresse designava todos os efeitos não específicos de fatores que podem
agir sobre o corpo. Estes agentes são os chamados estressores, dada sua
capacidade de produzir estresse.
Para este estudo, concebe-se o estresse ocupacional como sendo um
conjunto de perturbações psicológicas ou sofrimento psíquico associado às
experiências de trabalho, ocorre em função dos diversos tipos de cargos, de
ocupação que a pessoa exerce, resultante da incapacidade de lidar com as
fontes de pressão no trabalho, tendo como consequências problemas na
saúde física, mental, afetando o indivíduo e as organizações, sendo que os
resultados em longo prazo do estresse profissional levaram muitos
investigadores a desenvolver estudos, modelos teóricos (LIPP, 1996).
2.3.2. Os Modelos Teóricos do Estresse Ocupacional
O estresse é uma preocupação da sociedade contemporânea, sendo
já um modo de vida assumido e aceito que evoluiu desde o período da
Revolução Industrial e chegou ao momento atual como um fator responsável
pela diminuição da qualidade de vida. É considerado um problema social e
de saúde pública no século XXI, levando as organizações industriais,
comerciais, a desenvolver programas de prevenção ao estresse nos
ambientes de trabalho, devido a evidências clínicas associadas a
instabilidade emocional, ansiedade, depressão de cunho psicológico e as de
caráter físico como úlceras, alergias, enxaquecas, alcoolismo, diabetes
disfunções coronarianas e circulatórias (FRANÇA e RODRIGUES, 2005).
Os potenciais resultados de longo prazo do estresse ocupacional e a
necessidade de criar programas com vista à sua gestão e redução levaram
muitos investigadores a desenvolver modelos teóricos para detectar o
estresse ocupacional. Segundo França e Rodrigues (2005) avaliar a
presença do estresse nos locais de trabalho não é simples, o fenômeno é
complexo tendo surgido vários conceitos e modelos de análise que ainda
demonstram fragilidades. Os autores destacam a contribuição os modelos
37
que marcaram a trajetória conceitual do estresse como sendo o
desenvolvido por Lazaru e Folkman, Robert karasek e o de Cooper.
O modelo de Lazarus e Folkman, busca responder a questão: “o que
causa estresse em diferentes pessoas?” ao desenvolver um modelo de
estresse e enfrentamento. Para os autores, a compreensão do estresse
passa por muitas variáveis e processos devendo o pesquisador adotar um
quadro teórico sistemático para examinar o conceito em várias análises
especificando processos (avaliação primária, secundária, reavaliação e
enfretamento) e as consequências relevantes ao estresse.
O modelo Cooper e colaboradores, parte das premissas: (a) a maioria
das pessoas procura manter de forma estável seus pensamentos, emoções
com o contexto; (b) há limites aos estados emocionais, quando alguma força
conduz acima dos limites da estabilidade do indivíduo ele precisa enfrentar
para retornar ao estágio anterior; (c) relação comportamento do individuo na
manutenção deste estado conforme o seu processo de ajustamento e ou
suas estratégias de enfrentamento. Os autores destacam cinco categorias
ambientais relacionadas ao trabalho: fatores intrínsecos ao trabalho, papel
da organização, relacionamento do trabalho, desenvolvimento da carreira e
estrutura e clima organizacional. Os autores desenvolveram o instrumento
Occupational Stress Indicator (OSI) já aplicado no Brasil (FRANÇA e
RODRIGUES, 2005).
O Modelo de Karasek (modelo Demanda-Controle) surgiu a partir da
verificação de que os diversos estudos sobre estresse no trabalho e as
repercussões sobre a saúde mental das pessoas eram baseados apenas
nas demandas das tarefas (modelos unidimensionais); outros se detinham
sobre demandas versus capacidades do indivíduo e que o controle do
trabalhador sobre o trabalho não fazia parte na análise dos processos de
produção de estresse (KARASEK, 1990). Neste sentido, Karasek, no final da
década de 70, propôs um modelo teórico bi-dimensional que relacionava
dois aspectos – demandas psicológicas e controle sobre o trabalho – ao
risco de adoecimento, o chamado Modelo Demanda-Controle (Demand-
Control Model) ou "Job Strain", que está relacionado às características
38
psicossociais do trabalho.
Nesse modelo o estresse do trabalho consiste nas respostas físicas e
emocionais prejudiciais que ocorrem quando as exigências do trabalho não
estão em equilíbrio com as capacidades, recursos ou necessidades do
trabalhador. Ele permite a análise do risco dos trabalhadores desenvolverem
doenças ou distúrbios a ele relacionados, além de motivação, satisfação do
trabalho, bem como, o grau de ativação dos trabalhadores. Não se preocupa
em avaliar fatores individuais e ou estressores externos ao trabalho, mas
prevê que os trabalhadores defrontam-se com alta sobrecarga de exigência
(pressões psicológicas) combinadas com um baixo controle sobre o trabalho
(baixa latitude de decisão) estão em maior risco de ter problemas de saúde
física e mental oriundos do estresse (FRANÇA e RODRIGUES, 2005).
Uma terceira dimensão, a do apoio social no ambiente de trabalho, foi
acrescentada ao modelo em 1988, e definida como os níveis de interação
social, existentes no trabalho, tanto com os colegas quanto com os chefes.
Se o apoio social esta presente temos uma diminuição da agressividade
promovida pelo efeito demanda-controle, porém, sua escassez também
pode gerar consequências negativas à saúde, potencializando o efeito
gerador do desequilíbrio (ALVES, 2004).
2.3.3. O Modelo Demanda-Controle de Karasek
O emprego de escalas no âmbito de estudos epidemiológicos tem
sido aplicado com intuito de avaliar o estresse. Os primeiros estudos
realizados na década de 60 visaram associação entre o estresse no trabalho
versus doenças cardiovasculares (ALVES, 2004).
O Modelo Demanda-Controle, elaborado por Karasek vem se
tornando um modelo de referência. Segundo este modelo, os diferentes tipos
de trabalho são caracterizados pela combinação de demanda psicológica e
controle do trabalhador sobre as atividades laborais no surgimento do
estresse. A dimensão controle refere-se ao uso de habilidades envolvendo
novas aprendizagens, criatividade, tarefas variadas, desenvolvimento de
39
habilidades especiais individuais e a tomada de decisões sobre o próprio
trabalho. A dimensão demanda psicológica refere-se às exigências
psicológicas enfrentadas pelo trabalhador no decorrer da execução das
tarefas laborais. Envolve pressão do tempo, nível de concentração
requerida, interrupção das tarefas e necessidade de se esperar pelas
atividades realizadas por outros trabalhadores. Através dessas dimensões
podem ser evidenciados quatro tipos de experiências no ambiente do
trabalho (KARASEK, 1998;ARAÚJO et al, 2003; ALVES et al, 2004), quais
sejam:
(a) alta exigência, refere-se à alta demanda psicológico e baixo
controle. Neste nível os trabalhadores podem apresentar reações mais
adversas de tensão psicológica, como a fadiga, ansiedade, depressão e
enfermidade física. O desgaste psicológico se dá quando o indivíduo
submetido a um estresse, não consegue responder ao estímulo
adequadamente, devido ter pouco controle sobre as circunstâncias
ambientais. Caso o tempo da exposição seja curto, o organismo
prontamente se recupera; se for longo, o desgaste se acumula;
(b) trabalho ativo, trata-se de alta demanda psicológica e alto
controle. Esta situação permite ao trabalhador ter maior possibilidade de
decisão sobre como e quando desenvolver suas tarefas, assim como usar
sua potencialidade intelectual. Produz desfechos psicológicos positivos
como aprendizado e crescimento, pertinentes com a alta produtividade. O
trabalho é encarado como um desafio e a energia gerada pela presença
desses desafios seria traduzida em ação para resolução de problemas,
permitindo ao trabalhador reforçar as ações positivas e repensar sobre as
negativas;
(c) trabalho passivo, compreende a baixa demanda psicológica e
baixo controle. Favorece o estacionamento da aprendizagem de habilidades,
fazendo com que o trabalhador se sente num estado de apatia em
decorrência da ausência de desafios e rejeição às suas iniciativas de
trabalho. Os trabalhos mecanizados também provocam essa sensação. O
desinteresse parece se generalizar para outras esferas da vida;
40
(d) baixa exigência, combina a baixa demanda psicológica e alto
Controle. Situação confortável, ideal, de Relaxamento, havendo baixo risco
de enfermidades, porque o controle sobre o trabalho permite ao indivíduo
responder de forma satisfatória cada desafio e, além disso, existem poucos
desafios a serem enfrentados.
As quatro situações descritas acima acontecem simultaneamente e,
conforme Figura 1, estão representadas por quadrantes atravessados por
duas diagonais, determinadas de Diagonal A e B. A diagonal A representa o
risco do trabalhador em desenvolver doenças de ordem psicológica ou física,
como por exemplo, a fadiga, ansiedade, depressão e doença física
acontecem quando a demanda psicológica do trabalho é maior e o grau de
controle do trabalhador sobre o trabalho é menor (Quadrante 1). A diagonal
B mostra a motivação que o indivíduo tem em desenvolver nova formas de
comportamento. Observa-se que embora o trabalhador estando exposto a
altas demandas psicológicas, o controle sobre como fazer o seu trabalho é
tido como um desafio e estimula o trabalhador em suas atividades laborais.
Figura 1- Modelo Demanda-Controle de Karasek.
Extraído de: ALVES, 2004
41
Esse modelo privilegia duas dimensões psicossociais no trabalho que
são: o controle sobre o trabalho e a demanda psicológica advindo do
trabalho. A partir da combinação dessas duas dimensões, o modelo
distingue situações de trabalho específicas que, por sua vez, estruturam
diferentes riscos à saúde. Para avaliar esses aspectos KARASEK elaborou
um instrumento metodológico: o Job Content Questionnaire – JCQ
(Questionário sobre Conteúdo do Trabalho). Sua versão recomendada
compreende 49 questões, abordando, além de controle e demanda
psicológica, apoio social proveniente das relações entre o trabalhador, chefia
e dos colegas de trabalho. Quando estas relações são de apoio, constituem
num importante fator de proteção ao estresse (KARASEK, 1998; ARAUJO,
2003).
O Job Content Questionnaire (JCQ), ou Questionário do Conteúdo do
Trabalho, é um instrumento desenhado para medir aspectos psicossociais
relacionados ao trabalho. O instrumento foi desenhado para ser aplicável a
todos os tipos de trabalho e pode ser caracterizado como modelo
direcionado à estrutura social e psicológica da situação de trabalho. O JCQ
foi construído para predizer através da avaliação dos níveis estresse laboral,
qual a relação existente no ambiente laboral que poderia resultar no
surgimento de doenças cardiovasculares. Inicialmente o instrumento foi
utilizado nos Estados Unidos e na Suécia e, a partir do uso e avaliação de
seu desempenho, o questionário sofreu alterações e uma nova versão foi
proposta com a incorporação de novas dimensões (KARASEK, 1998;
ARAUJO, 2003).
Uma versão reduzida do questionário JCQ, validada no Brasil por
ALVES et al (2004), composta por dezessete questões, dividida em três
dimensões: demanda psicológica, controle (discernimento intelectual e
autoridade sobre as decisões) e apoio social, vem sendo usado em estudos
no Brasil, sendo esta versão adotada no presente estudo (ALVES, 2004;
SILVA e YAMADA 2008; ALVES et al, 2009, SCHMIDT et al, 2009).
Portanto, o modelo descrito acima pode exercer grande influência nos
42
níveis de tensão mental, nos trabalhadores. É o modelo escolhido para a
análise do estresse entre os servidores da UFMT.
2.4. Estresse Profissional: Doença crônicas não-transmissíveis
A hipertensão, o diabetes mellitus e a presença de obesidade e de
doenças osteomusculares configuram entre as morbidades mais prevalentes
e com maior procura por serviços de saúde e, sobretudo na qualidade de
vida da população. Estudo realizado com trabalhadores da saúde sobre a
questão (COSTA et al, 2007) aponta influências do estresse no
desenvolvimento de patologias ósteo-musculares (lombalgias, lesões em
membros superiores, joelhos e região cervical, bem como dores miofasciais
e dores generalizadas), podendo desencadear e agravar o quadro sendo
considerado um dos mais graves problemas no campo da saúde
ocupacional.
Embora a obesidade e o sobrepeso não façam parte da lista de
doenças relacionadas ao trabalho, ela pode ser responsável por várias
patologias que pertencem a este grupo (PAIXÃO, 2009). Já existem
empresas conscientes de que a obesidade gera o absenteísmo, problemas
cardiovasculares e outras morbidades. Afirmam também, que os acidentes
de trabalho, nos mais variados exercícios do labor, podem ter início a partir
do estresse em que os indivíduos vivem no ambiente de trabalho. Neste
sentido, pode ser relacionado a doenças do trabalho, realizando a prevenção
no local e trabalho (PAIXÃO, 2009).
Quanto à Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) e o diabetes mellitus
(DM), dados do Ministério da Saúde informam que estas constituem fatores
de risco para as doenças do aparelho circulatório, afeta aproximadamente
22% da população brasileira acima de 20 anos, responsáveis por 80% dos
casos de acidente vascular cerebral e 60% dos casos de doença isquêmica
do coração. Portanto, confirmam uma questão de saúde pública, atingindo
indivíduos em idade produtiva, tornando-os incapazes com aposentadoria
precoces (BRASIL, 2001; BRASIL, 2004).
43
A relação do estresse e seus reflexos sobre a Pressão Arterial
constituem na saúde ocupacional um novo campo de estudos, cuja
importância pode ser demonstrada pelo aparecimento de doenças
psicossomáticas e cardiovasculares, especialmente a hipertensão arterial
secundária ao estresse no trabalho, salientando que a monitorização
ambulatorial de pressão arterial durante 24 horas tem-se mostrado uma
ferramenta valiosa para estudar a relação entre o estresse ocupacional e o
comportamento da pressão arterial durante um dia de trabalho, durante o dia
e a noite (COUTO et al, 2007).
Até o momento muitos estudos foram realizados para a melhoria da
qualidade de vida das populações. Porém muitos comportamentos ainda são
presentes tornando-se relevante o desenvolvimento de investigações que
mitiguem a exposição do trabalhador às diversas formas de doenças.
44
CAPITULO III
MÉTODO
3.0. Desenho do Estudo
Trata-se de um estudo epidemiológico que usou como desenho
básico o corte transversal o qual propicia a descrição e análise das
frequências de certos atributos/fenômenos de indivíduos de uma população
definida, em um dado momento no tempo (ALMEIDA-FILHO e
ROUQUAYROL, 1990). Além disso, a identificação de variáveis associadas a
estas prevalências auxiliará no levantamento de hipóteses relativas à
determinação destes fenômenos/atributos para estudos posteriores.
3.1. Local de Estudo : Campus Universitário da UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso) – Cuiabá-MT.
A população desse estudo são os servidores docentes e técnicos
administrativos, do quadro permanente da UFMT – campus Cuiabá, no ano
de 2010, lotados nos órgãos que compõem a Instituição, ou seja,
Faculdades, Institutos, Pró-Reitorias, Reitoria e Órgãos Suplementares. Até
janeiro de 2010, totalizava a existência de 2433 (dois mil, quatrocentos e
trinta e três) servidores lotados no campus Cuiabá, segundo dados
fornecidos pela Coordenação de Recursos Humanos/UFMT.
3.2. Critérios de Elegibilidade do estudo: inclusão e exclusão
Foram elegíveis todos os servidores (docentes e técnico-
administrativos) do quadro permanente vinculados ao campus de Cuiabá e,
excluídos do estudo os servidores cedidos, com contrato temporário e ou
terceirizados.
45
3.3. Plano de Amostragem
3.3.1. O cadastro básico – Campus Cuiabá-MT
A listagem com o nome por ordem alfabética de todos os servidores
foi fornecida pela Coordenação de Recursos Humanos da UFMT em janeiro
de 2010, passou a ser denominada de Cadastro Básico, de onde fez o
sorteio da amostra.
3.3.2. Tamanho da Amostra
A população-fonte – campus Cuiabá, é composta por 2.433 servidores
da UFMT. Para o cálculo do tamanho da amostra, seguiu os procedimentos
de LUIZ e MAGNANINI (2000), conforme fórmula abaixo:
Ζ² α/2 NP (1 – P) n = _____________________
є² (N – 1) + Ζ² α/2 P(1 – P)
Adotou-se os parâmetros: 95% de intervalo de Confiança (z = 1,96), 4% (є =
0,04) de erro de amostragem, Nível de Confiança de 95% e, 50% de
prevalência tendo em vista os desfechos a serem estudados: (1)
dependência de álcool de 12,7% (CARLINI et al, 2005); 33,4% para
Hipertensão Arterial (FRANCO et al, 2009), 13,4% para Distúrbios Psíquicos
Menores (FERREIRA, 2004), 48,4% de sobrepeso (BRASIL, 2008) e
estresse no trabalho (alta exigência 11,6%, baixa exigência 29,5%, ativo
21,8%, passivo 37,1%, Macedo et al. 2007) e, 20% de perdas, obtendo-se
uma amostra de 578 servidores.
3.3.3. Seleção da Amostra
A técnica de amostragem para a seleção dos elementos da população
empregada foi à sistemática, seguindo os procedimentos:
46
- intervalo de seleção: N/n (2433/578 = 4,20 = 4);
- numeração dos elementos da população conforme listagem
fornecida pelo setor de Recursos Humanos da UFMT por ordem alfabética;
- escolha de um número aleatório r entre 1 a 4 através da tabela de
números aleatórios. O número obtido foi o três, sendo o servidor com este
número o primeiro sorteado. O segundo foi este primeiro número sorteado
acrescido do número 4 (intervalo de seleção) e assim sucessivamente até a
obtenção dos 587 servidores necessários para a amostra estimada.
3.3.4. VARIÁVEIS DO ESTUDO
3.3.4.1. A variável desfecho
A variável desfecho ou dependente do estudo compreendeu a
exposição ao estresse, dicotomizada: - Maior exposição, refere-se a todos os servidores com atividades
classificadas como de Alta Demanda psicológica e Baixo Controle (Alta
exigência) + servidores com atividades classificadas como de Baixa
Demanda psicológica e Baixo Controle (Trabalho Passivo) + os servidores
identificados com Alta demanda psicológica e Alto controle (Trabalho Ativo).
- Menor exposição, compreende os servidores que possuem
atividades classificadas como de Baixa Demanda psicológica e alto controle
(Baixa exigência).
As variáveis sociodemográficas, ocupacionais e morbidade e
comportamento de saúde compõe-se como variáveis independentes.
3.3.5. INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS
O instrumento adotado para a coleta dos dados foi o questionário
fechado de autopreenchimento sem identificação pessoal do servidor (Anexo
47
Nº I). Ele compõe-se de blocos: (1) dados sociodemográficos; (2)
ocupacionais; (3) morbidade e comportamento de saúde (4) estresse
ocupacional.
Bloco 1 – Sócioeconômico-demográficas:
o Sexo (Feminino / Masculino); Idade (auto referida); Estado Civil
(Casado / Solteiro / União consensual / Viúvo / Divorciado, Outros),
categorizada para análise descritiva como Casados, viúvo e outros e
posteriormente para análise bivariada de casado e outros; Escolaridade
(Analfabeto ou Ensino Fundamental Incompleto / Ensino Fundamental
Completo / Ensino Médio Incompleto / Ensino Médio Completo / Ensino
Superior Incompleto / Ensino Superior Completo / Pós-graduação),
categorizada para análise descritiva como E. Fundamental, E. Médio, E.
Superior ou mais e posteriormente para análise bivariada de Educação
Básica, E. Superior e Pós-Graduação; Etnia / Raça / cor (Branca / Negra /
Parda ou morena / Amarela / Vermelha / Não sabe / Não quis informar),
categorizada para análise descritiva de Branca e não Branca e para
bivariada de Branca, Negra e outras; Possui prática religiosa (Não / Sim); e
Renda mensal (Menor ou igual a 5 salários-mínimos1 / 6 a 10 salários
mínimos / Acima de 10 salários-mínimos).
Bloco 2 – Ocupacionais
o Vínculo funcional (Docente / Técnico Administrativo), Tempo de
trabalho na UFMT (autor referida em anos e meses); Considera o trabalho
adequado (Não / Sim); Horas trabalhadas por dia (Menos de 6 horas / 6 a 8
horas / 8 a 10 horas / Mais de 10 horas); Costuma levar trabalho para casa
(Não / Sim); Tira férias todo ano (Não / Sim); Exerce atividades em outra
instituição (Não / Sim); Carga horária semanal em outra instituição (autor
referida em horas); e Faltas no serviço nos últimos doze meses (Nenhuma
vez / De 1 a 2 vezes / Mais de 3 vezes).
1 Salário mínimo vigente no período de julho a dezembro de 2010.
48
Bloco 3 – Morbidade e comportamentos de saúde
Foi aplicado de check list sobre hipertensão, diabetes e doenças
osteomusculares. A utilização de informação referida sobre a presença de
morbidade crônica possibilita identificar apenas os casos que já tiveram o
diagnóstico feito alguma vez na vida. Estudos de validação da informação
referida sobre doença crônica, confrontando-a com dados de registros e
prontuários médicos, têm revelado que o grau de acurácia é distinto
conforme a patologia pesquisada, a presença de comorbidades e as
características sociais e demográficas do respondente (Crivelli et al, 2003,
Okura et al, 2004). Para as morbidades crônicas, como a hipertensão e
outras serão utilizadas questões utilizadas no estudo de Oliveira (2000).
Serão considerados hipertensos, nessa pesquisa, os indivíduos que
assinalaram a segunda opção: "Sim mais de uma vez, em dias diferentes".
Também para averiguar a existência de diabéticos na população de
estudo, foi utilizado o mesmo procedimento utilizado na morbidade anterior:
Algum médico ou outro profissional da saúde já lhe informou que você é
diabético? Não/Sim. As doenças osteomusculares, abrangem a todos os
servidores que respondeu afirmativamente para a pergunta: “Você nos
últimos doze meses, antes desta pesquisa, apresentou: a) Bursite, b)
Ciática, c) Hérnia de disco, d) Reumatismo, e) Dores freqüentes no pescoço,
costas e coluna, f) Outros problemas de músculos ou tendões, g) Outros
problemas de ossos ou cartilagens?”. A questão sobre a opinião do servidor
sobre sua saúde abrangeu cinco categorias: Boa, Regular, Ruim, Não
informou e não quis responder, categorizada em insatisfatória (regular, ruim)
satisfatória (boa).
Bloco 4 - Variáveis relacionadas ao Estresse Ocupacional:
Este bloco foi composto pelas questões sobre dimensões
psicossociais do trabalho. Serão medidas pelo instrumento Job Content
Questionnaire (JCQ), usado em estudos anteriores, para tentar averiguar o
estresse no trabalho e sua relação com a ocorrência de doenças
49
cardiovasculares nos Estados Unidos e na Suécia (KARASEK et al., 1998;
ARAÚJO et al., 2003). De acordo com o Job Content Questionnaire Center
(2011), o instrumento original é composto por 49 questões, traduzido para
mais de 22 idiomas. Neste estudo foi utilizada a versão reduzida, traduzida e
adaptada para o português por Alves et al (2004).
A versão foi cedida por um dos autores (por comunicação pessoal,
¨via e-mail¨). É constituída de 17 questões, sendo cinco para avaliar
demanda psicológica (quatro abordam aspectos quantitativos, referentes a
tempo e velocidade para realização do trabalho; outra refere-se a aspectos
qualitativos, relacionados ao conflito entre diferentes demandas); seis, para
o controle (quatro abordam o uso e desenvolvimento de habilidades, e duas
referem-se à autonomia para tomada de decisão quanto ao trabalho). As
opções de respostas são apresentadas em escala tipo Liket (1 – 4), variando
entre “frequentemente” e “nunca/quase nunca”, e seis para apoio social (com
quatro opções de resposta, também em escala tipo Likert (1 – 4), com variação
entre “concordo totalmente” e “discordo totalmente” (Anexo Nº I).
3.3.6. Teste-Piloto
Foi realizado teste-reteste com o intervalo de sete dias entre a
primeira e segunda aplicação, que visou obter a confiabilidade das questões
do instrumento através do Coeficiente Kappa (COHEN (1964), e
interpretação por LANDIS e KOCH (1977)).
Ambos os teste foram aplicados entre os servidores não efetivos na
UFMT, ou seja, os substitutos e os cedidos por órgão de saúde da esfera
municipal, estadual e ou federal, totalizando um total de 508 participantes
elegíveis, estabeleceu-se que 10% deste total (50,8 = 51) seriam suficiente
para o teste piloto, acrescido mais 11,0% (56,6) para eventuais perdas. A
seleção dos participantes foi realizada por amostragem aleatória sistemática
conforme listagem fornecida pela Coordenação de Recursos Humanos da
UFMT e do Hospital Universitário Julio Muller. No processo de sorteio dos
participantes considerou a fórmula “K = N/n”, sendo “K” igual ao número
inteiro mais próximo, N refere-se ao total de servidores e n o numero de
50
servidores a serem sorteados (508/57 = 8,91 = 9,0).
Sorteou um número entre um e “K”, chamado “m”, sendo 0 < m k.
Esse número “m” correspondeu ao primeiro servidor sorteado para compor a
amostra. Para o sorteio do segundo servidor, utilizou a fórmula “m+k”, para o
terceiro elemento utilizou a formula “m+2k” e assim sucessivamente, de
forma sistemática até obter o número total da amostra.
A primeira abordagem para aplicação do teste-piloto foi realizada no
período de fevereiro a março de 2010, no ambiente de trabalho do servidor
ou em local indicado pelo próprio servidor, com privacidade para o
preenchimento do instrumento. Esta aplicação não obteve resultados do
Kappa satisfatórios. Procedeu-se a segunda aplicação que seguiu os
mesmos procedimentos metodológicos da aplicação anterior do teste e
reteste.
Os resultados do Kappa melhoraram (Quadro 1) e foi aprovada a
versão definitiva do instrumento. Observa-se que a maioria das questões
obteve Coeficiente Kappa Moderada, seguida de substancial. O teste-reteste
também serviu de treinamento para os aplicadores, como prática para a
aplicação do instrumento definitivo, preparando-os adequadamente para
garantir a padronização de procedimentos na coleta de dados. Isto significa
obtenção de uniformidade na aplicação por todos os aplicadores de campo
(CARLINI-COTRIM e BARBOSA, 1993).
Quadro 1- Resultado da Confiabilidade Kappa para questões do instrumento de estudo sobre estresse ocupacional entre servidores contratados e cedidos da UFMT, 2010.
Questões N (%)
Interpretação do Coeficiente Kappaa
01 ( 5,9) 04 (23,5) 10 (58,8) 02(11,8)
- -
Quase perfeita, compreende valores entre 0,81-1,00; Substancial, compreende valores entre 0,61-0,80 Moderada, compreende valores entre 0,41- 0,60; Fraca, compreende valores entre 0,21- 0,40; Leve, compreende valores entre 0,00 -0,20 Pobre, compreende valores menores de zero
a Interpretação Landis & Koch (1977).
51
3.3.7. Treinamento dos Aplicadores
A coleta de dados foi realizada por dois alunos do Programa de Pós-
Graduação em Saúde Coletiva da UFMT e uma servidora recém ingressa na
UFMT. Todos foram devidamente treinados pela Coordenadora do Projeto de
Pesquisa. Durante o treinamento, os aplicadores, receberam o Manual de
Orientação (Anexo Nº II). Houve reuniões periódicas com a coordenadora da
pesquisa para ajustes no processo, garantindo a uniformidade do trabalho
de campo.
3.3.8. Coleta de Dados
A aplicação do questionário de autopreenchimento e anônimo foram
realizados no período de julho a dezembro de 2010. Para cada servidor foi
explicado os objetivos e a importância da pesquisa. O Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido foi assinado por todos os participantes
(Anexo Nº III).
O local de aplicação do questionário foi no local de trabalho do
servidor, porém, para alguns participantes, foi realizada aplicação em outros
ambientes de trabalho. Cada aplicador recebeu uma carta de apresentação
(Anexo IV).
O servidor ao entregar o envelope com o questionário, o mesmo era
lacrado com cola na frente do participante, de modo a preservar sua
identidade. Depois o questionário era codificado e entregue para a
coordenadora da pesquisa para que fosse realizada sua digitação.
3.4. ANÁLISE DOS DADOS
3.4.1. Processamento e crítica dos dados
Os questionários foram numerados para facilitar a recuperação das
52
informações. A entrada dos dados foi efetivada por meio do Pacote
Estatístico Epi Info 2000, versão 6.0, com conferência manual de 100% dos
questionários digitados, para evitar possíveis erros de digitação.
As análises estatísticas submeteram-se à SPSS, versão 15.0, 2007 e
Stata, versão 9.0.
A crítica quantitativa visou detectar e corrigir erros de digitação. Para
tanto, cada questionário recebeu um número de identificação, evitando a
duplicidade e facilitando a recuperação da informação. Questionários com
todas as alternativas ¨não¨ marcadas foram anulados e, as alternativas em
branco, consideradas como “não informou”, de modo a manter a
uniformidade na digitação dos dados. Especificamente para este estudo os
questionários em tinham 20% de não resposta às questões do Job Content
Questionnaire (JCQ), foram excluídos do estudo.
3.4.2. Estresse no Trabalho
A análise da exposição sobre estresse no trabalho foi concebida com
base na literatura (ALVES, 2004a; ALVES, 2004b), ou seja, para cada
resposta das perguntas foi atribuído escore de 1 a 4, no sentido da menor para
maior frequência. Por exemplo, para a dimensão demanda, quando se
perguntou: “Com que frequência você tem que fazer suas tarefas de trabalho
com muita rapidez?”, quatro opções de resposta foram oferecidas:
Frequentemente (a qual recebia o escore 4); às vezes (escore 3); raramente
(escore 2) e nunca ou quase nunca (escore 1). Uma das perguntas dessa
dimensão possuía direção reversa: “Você tem tempo suficiente para cumprir
todas as tarefas de seu trabalho?”. Ao responder “Frequentemente” foi atribuído
um escore 1; às vezes (escore 2); raramente (escore 3) e nunca ou quase
nunca (escore 4), na medida em que a pergunta indicava que quanto mais
frequente ter tempo suficiente para realização do trabalho, menor a carga de
demanda .
As questões de 1 a 5 avaliaram a dimensão demanda, sendo a de
número 4 de direção reversa: “Você tem tempo suficiente para cumprir todas as
53
tarefas de seu trabalho?”. Ao responder “Frequentemente”, foi atribuído um
escore 1; às vezes (escore 2); raramente (escore 3) e nunca ou quase nunca
(escore 4), na medida em que a pergunta indicava que quanto mais frequente
ter tempo suficiente para realização do trabalho, menor a carga de demanda.
As questões 6 a 11 estão relacionadas ao controle e são subdivididas
em discernimento intelectual (questões 6 a 9) e autoridade sobre decisões
(questões 10 e 11). No caso das questões sobre discernimento intelectual, o
escore 1 significa pouco discernimento, já o escore 4, muito discernimento,
com exceção da questão 9 (“No seu trabalho, você tem que repetir muitas
vezes as mesmas tarefas?”), em que o escore possui direção reversa. Quanto
às perguntas de autoridade sobre decisões, atribui-se o escore 4 para muita
autoridade e 1 para pouca autoridade.
O apoio social é determinado pelas perguntas 12 a 17, em que o
escore 4 equivale a muito apoio e 1, a pouco apoio.
Dessa forma, as possíveis variações dos escores são: de 5-20 para
demanda e de 6-24 tanto para controle quanto para apoio social. A definição dos quadrantes de exposição ao estresse no trabalho foi
baseada nas dimensões demanda e controle, tendo como ponto de corte a
mediana. Para a demanda, definiram-se como “menor demanda” os escores de
5 até 14, inclusive, e “maior demnda”, os escores acima de 14. No caso do
controle, o ponto de corte foi 17. Consideraram-se de “menor controle” aqueles
que alcançaram escores entre 6 e 17, inclusive, e “maior controle”, os escores
acima desse valor (ALVES, 2004a; ALVES, 2004b).
3.4.3. ASSOCIAÇÃO DE ESTRESSE NO TRABALHO
Inicialmente, realizou a análise descritiva (univariada) e de associação
(bivariada) para estimar a associação entre a variável desfecho (exposição
ao estresse no trabalho), versus variáveis independentes:
sociodemográficas, ocupacionais, e de características de saúde. O teste de
qui quadrado de Pearson foi utilizado para verificar possíveis associações
entre o variável desfecho versus variáveis independentes e, quando
necessário utilizou o teste Exato de Fischer, tendo como medida de
54
associação a Razão de Prevalência (RP) e Razão de Odds (RO) e seus
respectivos intervalos de confiança (IC = 95%). A utilização pela RO foi
devido à opção por apresentá-la na análise multivarida. A análise multivariada foi realizada por meio da regressão logística.
Nesse modelo só entraram as variáveis que, na análise bivariada,
apresentaram valores de p (significância) igual ou menor que 0,25. Essas
variáveis passaram, inicialmente, pela avaliação de multicolinearidade,
pelo método de estimação Stepwise, que verificou a existência de
multicolinearidade através de três pontos: correlação entre as variáveis
independentes, tolerância e VIF (Variance Inflation Factor), não sendo
retirada da análise nenhuma variável, devida à presença de tolerância e
VIF (variance inflation factor) conforme o permitido (PESTANHA e
GAGEIRO, 2003).
A modelagem multivariada se iniciou por um modelo completo
(variável desfecho e todas as possíveis variáveis de confusão e termos de
interação). A presença de interação foi avaliada, comparando-se o modelo
saturado em cada um dos termos de interação, aferida pelo teste de
razões de verossimilhança. A presença de confusão foi analisada,
retirando-se as co-variáveis, uma a uma, pelo critério de p > 0,05 e
verificando se sua saída não provocava mudanças superiores a 10,0% nos
coeficientes das demais variáveis e, em seguida, comparando-se a nova
RO, em cada co-variável, com aqueles obtidos no modelo saturado. No
modelo final restaram às variáveis que, apresentaram um valor p < 0,05,
observado através do teste Wald e, aquelas de importância para o objeto
desta investigação (HOSMER-LEMESHOW, 1989).
3.5. Comitê de Ética
Este projeto foi submetido ao Comitê de Ética do Hospital
Universitário Júlio Müller, obedecendo aos procedimentos éticos da
Declaração de Helsinque e da Resolução 196/96 do CNS sobre Pesquisa
Envolvendo Seres Humanos que exige aprovação do projeto por um
Comitê de Ética em Pesquisa - CEP (Anexo V).
55
Este projeto esta inserido no Projeto: “Estudo epidemiológico sobre
Condições de Saúde de Servidores Universitários”, o qual foi submetido ao
Comitê de Ética do HUJM/UFMT, conforme Resolução 196/96 e obteve a
Aprovação com o seguinte Número de Protocolo: Nº 690/CEP-HUJM/09.
56
CAPITULO IV RESULTADOS
4.0. Amostra
Dos 578 servidores previstos na amostra foram estudados 468, houve
19% de perdas por não responder nenhuma questão, recusa, licença
capacitação, licença médica, não devolveu o questionário, foram transferidos
para outro campi, não foram localizados, aposentadoria, óbito, pedido de
exoneração e, por não ter respondido alguma questão da variável desfecho.
Foram elegíveis para o estudo 468 representando 81,0% da amostra
prevista.
4.1. Características Sociodemográficas, Ocupacionais, de Morbidade e Comportamento de Saúde
A idade dos servidores variou entre 45 e 59 anos (53%), com média de
47,81 DP± 10,33 (Figura 2).
IDADE
7667
6461
5855
5249
4643
4037
3431
2825
Missing
Perc
ent
6
5
4
3
2
1
0
Figura 2- Distribuição da média de idade dos servidores universitários.
57
Na Tabela 1, observa-se que a maioria dos participantes é casada, do
sexo masculino, na faixa etária de 45 a 59 anos. Em relação à renda e
escolaridade, foram observados 36,1% com renda acima de 10 salários,
32,3% com renda entre 06 e 10 salários mínimos, representando 68,4%
acima de 6 salários mínimos, com predomínio de 73,9% possuindo ensino
superior ou mais. Quanto à etnia/raça/cor tivemos 43,8% para parda, 40,4%
para branca.
Tabela 1. Características Socioeconômico-Demográficas dos Servidores da
UFMT, campus de Cuiabá/MT-2010.
Variáveis N % Sexo Masculino Feminino SI*
242 213 13
51,7 45,5 2,8
Faixa Etária ≤ 25 e 34 anos > 35 e 44 anos > 45 e 59 anos ≥ 60 anos SI*
55 99
247 49 18
11,8 21,2 52,8 10,5 3,8
Estado Civil Casado Solteiro Viúvo e outros SI*
310 86 58 14
66,2 18,4 12,4 3,0
Escolaridade E. Fundamental E. Médio E. Superior ou mais SI*
27 81 346 14
5,8
17,3 73,9 3,0
Renda Mensal ≤ 5 salários mínimos Entre 6 a 10 salários mínimos > de 10 salários mínimos SI*
136 151 169 12
29,1 32,3 36,1 2,6
Etnia/Raça/Cor Branca Negra Parda/morena Amarela Vermelha SI*
189 39 205 12 02 21
40,4 8,3 43,8 2,6 0,4 4,5
* SI = Sem Informação
58
Quanto às características laborais dos servidores, conforme
demonstrado na Tabela 2, observa-se maior proporção dos técnicos-
administrativos (61,5%) em relação aos docentes (38,2%), com tempo de
trabalho variando em menos de 10 anos (33,5%), 11-20 anos (15,0%), 21-30
(32,3%) e acima de 30 anos (17,9%).
Em relação a faltas no trabalho e atividades exercidas em outra
Instituição, 48,1% não apresentaram nenhuma falta no ano anterior, 33,1%
faltaram de 1 a 2 vezes, 18,2%, mais de 3 vezes, e 83,1% não possuem
vínculo com outra Instituição, e dos que exercem, 8,5% possuem carga
horária acima de 20 horas fora da Instituição deste estudo (Tabela 2). Quanto às características do estado de saúde dos servidores (Tabela
3), os relatos de morbidades (autorreferidas), apresentaram a seguinte
distribuição: 8,1% são diabéticos, 6,0% apresentam algum distúrbio
osteomuscular, 27,6% são hipertensos, 30,1% apresentam elevação dos
níveis de colesterol e triglicérides, 3,0% tiveram infarto ou derrame.
Em relação a comportamentos de saúde, os servidores afirmaram, em
sua maioria, que fizeram exames de prevenção nos últimos 30 dias que
antecederam à pesquisa, não praticam esportes, porém o lazer faz parte do
cotidiano.
Em se tratando da percepção do servidor sobre a própria saúde,
59,7% consideram-na boa, 34,3%, ruim, e 1,7% não souberam informar
(Tabela 3).
Na Tabela 4, são apresentados os resultados da consistência interna
das dimensões demanda psicológica, controle e apoio social, avaliadas
segundo alpha de Cronbach. Observa-se que a dimensão apoio social
apresenta valores mais altos (alpha=0,85), classificada como Boa seguida
da dimensão demanda que apresentou um alpha de Cronbach de 0,71,
média de 14,1, mediana de 14,0 e com intervalo possível de 5-20; a
dimensão controle apresentou um alpha de Cronbach de 0,56, média de
18,2, mediana de 19,0 e intervalo possível de 6-24. Todas as dimensões
possuem alpha positivo, havendo correlações positivas, não violando o
modelo de consistência interna.
59
Tabela 2. Característica laboral dos Servidores da UFMT, campus de
Cuiabá-MT/2010. Variáveis N % Vínculo Docente Técnico Administrativo SI*
179 288 01
38,2 61,5 0,2
Tempo de Trabalho na UFMT ≤ 10 anos 11-20 anos 21-30 anos >30 anos SI*
157 70 151 84 06
33,5 15,0 32,3 17,9 1,3
Carga horária semanal na UFMT 20 horas 30 horas 40 horas Dedicação exclusiva (DE) SI*
18 32 254 159 05
3,8 6,8
54,3 34,0 1,1
Considera local de trabalho da UFMT adequado Não Sim SI*
137 326 05
29,3 69,7 1,1
Costuma levar trabalho para casa Não Sim SI*
272 193 03
58,1 41,2 0,6
No ano passado, quantas vezes precisou faltar ao serviço Nenhuma vez De 1 a 2 vezes Mais de 3 vezes SI*
225 155 85 03
48,1 33,1 18,2 0,6
Você exerce alguma outra atividade profissional em outra Instituição Não Sim SI*
389 77 03
83,1 16,5 0,6
Carga Horária trabalho fora da UFMT 10 a 20 horas Acima de 20 horas Não se enquadra SI*
33 40 389 06
7,1 8,5 83,1 1,5
Você tira férias todo ano Não Sim Não tem direitos SI*
50 413 03 02
10,8 88,2 0,6 0,4
* SI = Sem Informação
60
Tabela 3. Características do estado de Saúde dos Servidores da UFMT,
campus de Cuiabá/MT-2010. Variáveis N % Opinião sobre sua saúde (percepção) Boa Regular Ruim Não quis informar Não sabe SI*
279 161 08 05 09 06
59,7 34,3 1,7 1,1 1,9 1,3
Relato (auto referido) de: Diabetes Mellitus Não Sim SI*
429 38 01
91,7 8,1 0,2
Distúrbios Osteomusculares Não Sim Não lembra SI*
418 28 22 01
88,7 6,0 4,7 0,2
Hipertensão Arterial Não Sim SI*
338 129 01
72,2 27,6 0,2
Colesterol ou triglicérides elevado Não Sim Não lembra SI*
309 141 14 04
66,0 30,1 3,0 0,9
Teve infarto, derrame ou acidente vascular cerebral Não Sim Não lembra SI*
446 14 05 04
95,0 3,0 1,1 0,9
Nos últimos 30 dias fez exames de prevenção Não Sim SI*
319 143 06
68,1 30,6 1,3
Prática de esporte Não Sim SI*
245 200 23
52,4 42,7 4,9
Lazer Não Sim SI*
35 431 02
7,5
94,1 0,4
* SI = Sem Informação
61
Tabela 4. Consistência interna das dimensões Demanda, Controle e Apoio
Social dos servidores da UFMT, campus de Cuiabá/MT-2010.
Dimensões
Alpha de Cronbach
Média (DP*)
Mediana
Intervalo Possível
Demanda
0,71 14,1 (3,2) 14,0 5-20
Controle
0,56 18,2 (2,9) 19,0 6-24
Apoio Social
0,85 19,5 (3,5) 20,0 6-24
*Desvio Padrão
4.2. Distribuição do modelo Demanda-Controle entre os servidores universitários
A Tabela 5 mostra a distribuição dos servidores segundo as
dimensões (alta e baixa demanda; alto e baixo controle e alto e baixo apoio
social) com seus pontos de cortes obtidos a partir das respectivas medianas
de cada dimensão. Observou-se que 45,1% dos servidores pesquisados
relataram à execução de atividades (tarefas) sobre alta demanda, 34,8% dos
servidores apresentam baixo controle sobre suas próprias tarefas e 56,2%
relataram baixo apoio social sendo este último caracterizado como
potencializador do processo (estresse). Para obtenção do ponto de corte
utilizou-se a mediana.
A Tabela 6 apresenta as possíveis combinações segundo o modelo
Demanda-controle de Karasek que apresentaram os seguintes resultados:
entre os 468 servidores avaliados observa-se que há maior ocorrência do
grupo onde há baixa demanda e baixo controle, chamado pelos autores de
trabalho passivo. Nota-se que o grupo onde poderá haver uma prevalência
maior de reações adversas ao trabalho, como ansiedade, depressão, fadiga,
insatisfação, caracterizado por uma demanda alta e um controle baixo, tem
uma prevalência de 29,8%, sendo este o grupo considerado de maior risco
(alto desgaste); 15,2% com alta demanda e alto controle (trabalho ativo) e
37,5% com menor demanda e menor controle (trabalho passivo), ambos
62
caracterizados como grupo de risco intermediário (totalizando 52,7%); 17,5%
com menor demanda e maior controle (baixo desgaste ou relaxado),
considerado o grupo de menor risco (sem/menor exposição), situação
caracterizada como ideal.
Tabela 5. Distribuição dos servidores da UFMT, segundo as dimensões
Demanda, Controle e Apoio Social, campus de Cuiabá/MT-2010.
Dimensões*
N
%
Demanda Alta Demanda Baixa Demanda
211 257
45,1 54,9
Controle Alto controle Baixo Controle
305 163
65,2 34,8
Apoio Social Alto Apoio Social Baixo Apoio Social
205 263
43,8 56,2
Tabela 6. Distribuição nos quadrantes e exposição ao estresse ocupacional,
segundo modelo Demanda-Controle, dos servidores da UFTM, campus de
Cuiabá/MT-2010.
A prevalência de maior exposição ao estresse foi observada entre as
mulheres em relação aos homens com diferença estatisticamente
significante (RP=1,33, IC95% 1,00-1,81), como também entre os servidores
com renda mais elevada (RP=2,64, IC95% 1,45-4,75) e ser da etnia/raça/cor
de não brancos (RP=0,63, IC95% 0,50-0,78) mais protegidos (Tabela 7).
Em relação às características laborais, verificou-se que a maior
Combinações nos quadrantes:
Freqüência
%
Alta demanda e alto controle (Trabalho ativo) 71 15,2 Alta demanda e baixo controle (Alta exigência) 140 29,8 Baixa demanda e alto controle (Baixa exigência) 82 17,5 Baixa demanda e baixo controle (Trabalho passivo) 175 37,5
63
prevalência de exposição ao estresse está entre os servidores técnico-
administrativos (RP=1,53, IC95% 1,18-1,99) em relação aos docentes, aos
que possuem uma carga semanal de 40 e/ou 20 horas semanais (RP=1,32,
IC95% 1,06-1,64), para os servidores que faltaram ao serviço nos trinta dias
que antecederam à coleta de dados (RP=1,53, IC95% 1,13-2,08). Não levar
atividades do trabalho para casa se mostrou como um fator de proteção
(RP= 0,70, IC95% 0,55-0,88) à exposição de estresse (Tabela 8). Tabela 7. Razão de Prevalência de exposição ao estresse ocupacional,
segundo características sociodemográficas entre servidores universitários,
campus de Cuiabá/MT-2010. Variáveis n P RP1 (IC 95%) p valor
Sexo Feminino Masculino
213 242
86,4 79,3
1,33 (1,00-1,81)
1,00
0,048
** Faixa Etária ≤ 34 anos ≥ 35 a 54 anos >54 anos
155 148 145
87,7 79,1 80,0
1,36(0,94-1,96) 0,97(0,73-1,28)
1,00
0,067 0,841
** Estado Civil Casado Outros
310 144
81,6 84,7
0,87 (0,75-1,01)
1,00
0,416
** Escolaridade E. Superior Pós-Graduação Educação Básica
80
264 111
90,0 80,7 82,0
1,54(0,85-2.84) 0,97(0,82-1,14)
1,00
0,122 0,769
** Renda Mensal ≤ 06 a 10 SM 01 a 05 SM > 10 SM
151 136 169
82,1 92,6 75,1
2,58(1,46-4,58) 1,26(0,91-1,73)
1,00
0,001 0,130
** Etnia/Raça/Cor Negra Outra Branca
189 244 141
74,6 87,7 92,9
0,93(0,87-0,99) 0,97(0,90-1,04)
1,00
0,123 0,564
** Religião Sim Não
364 91
83,2 80,2
0,85 (0,54-1,34)
1,00
0,496
** 1 Razão de Prevalência; ** Categoria de Referência.
64
Tabela 8. Razão de Prevalência de exposição ao estresse ocupacional,
segundo características laborais entre servidores universitários, campus de
Cuiabá/MT-2010.
Variáveis
N
P
RP1 (IC 95%)
p valor
Vinculo Técnico Docente
288 179
87,8 73,7
1,53 (1,18-1,99)
1,00
0,001
** Tempo Trab/UFMT <= 10 anos >= 11anos
157 305
84,7 81,6
1,16 (0,80-1,66)
1,00
0,408
** Carga horária/UFMT 20 a 40 h DE
304 159
86,2 75,5
1,32 (1,06-1,64)
1,00
0,004
** Local trab adequado Não Sim
137 326
87,6 80,7
1,47(0,94-2,30)
1,00
0,072
** Leva trabalho/casa Não Sim
193 272
76,7 86,4
0,70 (0,55-0,88)
1,00
0,007
** Outro trabalho Sim Não
77 389
84,4 82,0
1,15 (0,65-2,04)
1,00
0,612
** Carga hor. fora UFMT 10 a 20 h >= 21 h
33 32
87,9 80,0
1,70 (0,74-3,96)
1,00
0,366
** Tira férias Não Sim
50 413
92,0 81,4
2,43 (0,90-6,58)
1,00
0,125
** Faltas ao Trabalho Sim Não
240 225
87,9 76,9
1,53 (1,13-2,08)
1,00
0,001
** 1 Razão de Prevalência; ** Categoria de Referência.
A Tabela 9 apresenta a exposição ao estresse dos servidores
universitários quanto aos fatores de morbidade autorreferida, segundo
diagnóstico médico e alguns comportamentos desejáveis de saúde.
Iniciando da percepção do servidor sobre a própria saúde, observa-se que
91,9% a classificam como insatisfatória (RP=2,45, IC95% 1,47-4,09) em
relação aos que o dizem satisfatória. Observaram-se diferenças
estatisticamente significativas, com maior chance de exposição ao estresse,
nos servidores que afirmaram ter tido diagnóstico de doenças
osteomusculares em relação aos que não apresentam nenhuma
65
sintomatologia (RP=1,23, IC95% 1,01-1,49). A prática de esportes e o
exercício do lazer se fizeram presentes na maioria dos servidores, porém
sem significância estatística (p>0,05). Tabela 9. Razão de Prevalência de exposição ao estresse ocupacional,
segundo características de saúde entre servidores universitários, campus de
Cuiabá/MT-2010. Variáveis N P RP1 (IC 95%) p valor
Percepção saúde Insatisfatória Satisfatória
161 279
91,9 76,7
2,45 (1,47-4,09)
1,00
0,001
** Hipertensão Sim Não
129 336
84,5 82,0
1,14 (0,75-1,72)
1,00
0,516
** Diabético Sim Não
38 429
84,2 82,5
1,11 (0,48-2,58)
1,00
0,792
** Enfarto Sim Não
14 445
92,9 82,0
2,78 (0,36-20,0)
1,00
0,295
** Ostemo Sim Não
323 130
85,8 76,2
1,23 (1,01-149)
1,00
0,014
** Exame Prevenção Não Sim
266 118
88,4 81,1
1,05 (0,88-1,24)
1,00
0,552
** Pratica de esportes Sim Não
200 245
80,5 84,1
1,12 (0,88-1,42) 1,00
0,323 **
Lazer Não Sim
35 431
91,4 81,7
2,27 (0,71-7,25)
1,00
0,145
** 1 Razão de Prevalência; ** Categoria de Referência.
Na análise multivariada (Tabela 10) por regressão logística ajustada
pelas variáveis em estudo, mantiveram-se associados a maior exposição ao
estresse: o sexo feminino em relação ao masculino, a etnia/raça/cor negra
com uma chance de duas vezes mais do que a outras etnia/raça/cor e a
etnia/raça/cor branca não se mostrou associada. Em relação à renda,
verificou-se que o servidor com renda acima de 10 salários mínimos está
mais protegido do que os que possuem abaixo deste valor. A renda
66
intermediária entre os baixos e altos salários apresentou-se associada aos
servidores expostos, porém sem significância estatística (p>0,05). A
avaliação do servidor sobre a inadequação do ambiente de trabalho se
manteve associada (OR=2,01, IC 95% de 1,00-4,04), o mesmo ocorreu com
a percepção sobre sua saúde, de ser insatisfatória (OR =2,41, IC95% 1,21-
4,79).
Tabela 10. Associação de variáveis para exposição de estresse entre
servidores universitários, pela Razão de odds (RO) ajustada pelo modelo
logístico, campus de Cuiabá/MT-2010.
Variáveis ROAjustada IC 95% p valor
Sexo Masculino Feminino
1,00 1,99
**
1,08-3,68
**
0,026 Etnia/raça/cor Outra Branca Negra
1,00 0,55 2,02
**
0,06-5,00 1,09-3,75
**
0,596 0,024
Renda 01 a 06 SM 06 a 10 SM ≥ de 11 SM
1,00 1,22 0,33
**
0,64-2,32 0,13-0,80
**
0,544 0,015
Local trabalho adequado Sim Não
1,00 2,01
**
1,00-4,04
**
0,050 Percepção Estado de Saúde Satisfatória Insatisfatória
1,00 2,41
**
1,21-4,79
**
0,012 Interação Faltou*Doenças Osteomuscular
2,28
1,17-4,41
0,014
** Categoria de Referência.
A Tabela 11 apresenta as variáveis que apresentaram interação e/ou
modificação de efeito, estatisticamente significante encontrada no modelo de
regressão logística (Tabela 10). Primeiramente, fixando como primeira
variável a maior exposição ao estresse, adicionalmente ao estudo pode-se
ver que dos 468 servidores, 82,5% apresentam maior exposição ao
estresse, sendo que 73,7% com positividade para doenças musculares, e
67
26,3% não possuem doenças osteomusculares, ou seja, os servidores com
maior exposição ao estresse apresentam quase duas vezes a mais chance
de doenças osteomusculares em relação aos de menor exposição de
estresse.
Entre os possuem doenças musculares pode-se distinguir maior
exposição ao estresse ocupacional a partir da informação sobre
absenteísmo do servidor ao trabalho. Quando ele falta eleva-se para 77,3%
e quando não falta reduz para 69,5%. Assim pode-se afirmar que, faltas ao
trabalho interage com doenças musculares como um modificador de efeito
do estresse ocupacional. Na Tabela 11 observa-se como se dá esta
ocorrência. Primeiro, observa-se associação significativa entre a variável
desfecho, as faltas e doenças musculares. Segundo, o efeito (associação)
da variável de exposição (doenças musculares) no desfecho (estresse
ocupacional) em questão varia “substancialmente” de acordo com os níveis
da outra variável (faltou e não faltou ao trabalho).
Tabela 11. Análise de fatores e termos de interação associados ao estresse ocupacional entre servidores de universidade púbica, 2010.
Variáveis N n (%) OR (IC 95%) P valor
Faltas Sim Não Doenças Ostemusculares.* Sim Não
240 225
323 130
211(54,9) 173 (45,1)
277 (73,7) 99 (26,3)
2,18 (1,33-3,59)
1,00
1,88 (1,13-3,14) 1,00
0,002
**
0,014 **
Faltas Sim Não
Doenç. Ostemusc.* Sim Não Sim Não
180 54
142 74
160 (77,3) 47 (22,7)
116 (69,5) 51 (30,5)
1,19 (0,47-2,99)
1,00
2,01 (1,03-3,65) 1,00
0,709
**
0,033 **
*Doenças Osteomusculares; **Categoria de Referência.
68
CAPÍTULO V
5. DISCUSSÃO
5.1. Descrição da população de estudo e aspectos
metodológicos
Os dados obtidos na amostra deste estudo evidenciaram que os
servidores da Universidade Federal de Mato Grosso se constituem, na sua
maioria, pelo sexo masculino (51,7%) não diferenciando dos dados do IBGE
no último censo (2010), apontando que 1.485.097 habitantes são mulheres,
e 1.548.894, homens, no Estado de Mato Grosso. O percentual de mulheres
pesquisadas é elevado. A média de idade dos servidores foi de 47,81 DP±
10,33 anos, média próxima da encontrada em vários estudos realizados com
a classe trabalhadora brasileira (ALVES, 2004, AGUIAR, 2010).
Em relação à escolaridade, evidenciou-se que o maior percentual de
servidores possui curso superior com pós-graduação. Estes dados
demonstram o nível de qualificação dos servidores responsáveis pela
formação da mão-de-obra especializada no Estado de Mato Grosso.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
são adotadas as categorias preta, parda, branca, amarela e indígena para
classificar a cor ou raça das pessoas. Como essas categorias para cor ou
raça são autorreferidas, em estudos epidemiológicos, há uma preocupação
com erros de classificação. Entretanto, estes dados têm sido considerados
em estudos científicos. Não diferenciando dos dados encontrados pelo
IBGE, em seus levantamentos, verificou-se maior proporção de servidores
da raça/cor negra. Acrescenta-se ainda, que o Estado de Mato Grosso foi
colonizado por portugueses com utilização da mão-de-obra escrava,
havendo forte miscigenação com a raça indígena existente no Estado, o que
também justifica os dados encontrados nesta etnia.
Quanto à situação conjugal, o maior estrato era casado, corroborando
outros estudos com docentes do nível superior (ARAÚJO et al., 2005;
69
LEMOS, 2005).
No que se refere à renda familiar per capita, os servidores
universitários apresentaram as maiores proporções entre seis a mais
salários mínimos, evidenciando assim a política salarial associada ao grau
de qualificação.
5.2. Considerações sobre o objeto de estudo 5.2.1. Prevalência da exposição
Vários estudos vêm utilizando o modelo Demanda-Controle por meio
do JCQ como instrumento para detectar os níveis de estresse ocupacional e
associá-lo a uma determinada variável desfecho (Doenças cardiovasculares;
Hipertensão; Distúrbio psíquico menor; Distúrbios musculoesqueléticos;
entre outros). A variável desfecho deste estudo foi criada e denominada de
maior exposição ao estresse. Desta forma realizamos a identificação dos
níveis de estresse ocupacional entre os docentes e técnico-administrativos
da UFMT.
A discussão que se segue abordará inicialmente a consistência
interna do JCQ, seguida dos estudos que identificaram a prevalência e/ou
ocorrência de estresse ocupacional; contudo a interpretação dos resultados
desse estudo deve ser feita considerando as limitações associadas aos
estudos de corte transversal, assim como a possibilidade dos vieses como o
de informação, uma vez que os servidores poderiam esconder algumas
informações, visto o objeto principal deste estudo, o estresse ocupacional.
O alpha de Cronbach é uma das medidas mais usadas para averiguar
a consistência interna de um grupo de variáveis. Alves et al. (2004), no
estudo de adaptação do instrumento reduzido com 17 questões (Estudo Pró-
Saúde), encontraram valores de alpha semelhantes ao apresentado em
nosso estudo. Santos (2006), em seu estudo sobre estresse ocupacional e
saúde mental, avaliou cinco grupos de trabalhadores de diferentes
formações e obteve valores de alpha variando de 0,30-0,90. O autor salienta
70
que tais variações podem estar relacionadas com a tradução da escala e
com grupos de trabalhadores diferentes desempenhando diferentes
ocupações.
Schimidt et al. (2009) identificaram, em estudo sobre estresse
ocupacional entre profissionais de enfermagem do bloco cirúrgico, valores
de alpha semelhantes aos encontrados nessa pesquisa. Aguair et al. (2010)
encontraram, em estudo com trabalhadores de restaurantes industriais do
Rio de Janeiro, valores de alpha menores do que relatados por Alves (2004)
e por nós encontrados. Choi et al. (2008), ao avaliar apenas os itens da
demanda psicológica do JCQ com 22 questões, usados na Coréia, Japão e
EUA, obtiveram valores de alpha menores em relação aos estudos
brasileiros. Apesar das discretas variações encontradas na literatura,
observa-se que os resultados do alpha de Cronbach apresentam-se
concordantes com outros estudos presentes na literatura. Na avaliação do
instrumento pelo Alpha de Cronbach, os valores obtidos nesse estudo
apresentaram concordância com outros estudos brasileiros.
O pressuposto de Karasek estabelece que o trabalho realizado em
certas condições propicia o aparecimento de estresse no trabalhador,
podendo desencadear um processo de doenças das mais variadas
etiologias. O estudo entre os servidores universitários corroborou o
pressuposto do modelo Demanda-Controle.
Tendo como variável desfecho a maior exposição ao estresse
ocupacional, a descrição do perfil dessa população permitiu identificar a
prevalência da exposição ao estresse ocupacional. Tem-se uma prevalência
de 29,8 % para alta exigência (maior exposição) e 52,7% para somatória do
trabalho ativo com o passivo (exposição intermediária), resultando em uma
exposição geral de 82,5%. Em se tratando de uma população diferenciada
pela estabilidade do emprego, pelos incentivos à capacitação e pelo fato de
seletividade para os variados cargos, observou-se que o trabalho passivo
apresentou a maior prevalência (37,5%), seguido da alta exigência. O fato
da identificação da maior prevalência na exposição intermediária pode ter
relação com a limitação do tipo de estudo epidemiológico adotado, sugerindo
71
que estes servidores podem, em outro momento, perceber maior demanda e
menor controle em suas atividades laborais, vindo a ser um grupo com alta
exposição ao estresse, com chances para o adoecimento. Enfatizamos que
a alta proporção de servidores expostos ao estresse é preocupante.
Alves et al. (2009) também evidenciaram em população semelhante
(mulheres no Estudo Pró-Saúde) a ocorrência de alta prevalência para o
trabalho passivo (28,3%), seguido da alta exigência (24,8%) e baixa
exigência (20,9%).
Schimidt et al. (2009) identificaram, em estudo sobre estresse
ocupacional entre profissionais de enfermagem do bloco cirúrgico, valores
de alpha semelhantes aos encontrados nesse estudo.
Aguair et al. (2010) encontraram, em estudo com trabalhadores de
restaurantes industriais do Rio de Janeiro, valores de alpha menores do que
os relatados por Alves (2004) e por nós encontrados.
Choi et al. (2008), ao avaliar apenas os itens da demanda
psicológica do JCQ com 22 questões, usados na Coréia, Japão e EUA,
obtiveram valores de alpha menores em relação aos estudos brasileiros.
Apesar das discretas variações encontradas na literatura, observa-se que os
resultados do alpha de Cronbach apresentam-se concordantes com outros
estudos presentes na literatura. Na avaliação do instrumento pelo Alpha de
Cronbach, os valores obtidos nesse estudo apresentaram concordância com
outros estudos brasileiros.
Schmidt (2009), ao avaliar o estresse ocupacional entre profissionais
de enfermagem do bloco cirúrgico, demonstrou que 56,1% dos
trabalhadores se encontravam na categoria de exposição intermediária ao
estresse, e 26,3% dos participantes se consideravam altamente expostos ao
estresse. O mesmo autor conclui que apenas 17,6% dos enfermeiros que
participaram da pesquisa não se consideravam estressados; em
contrapartida, 82,4% dos participantes apresentavam algum nível de
exposição ao estresse ocupacional, dados estes semelhantes aos
encontrados entre os servidores da UFMT. O conjunto de trabalhadores
estudados eram enfermeiros vinculados ao hospital universitário, como
72
também à Faculdade de Enfermagem, que, embora se ocupem da docência,
também desenvolvem suas atividades laborais em hospitais.
Os dados apontam haver maior exposição das mulheres ao estresse,
mantendo-se o fator associado em todas as fases de análise, sugerindo que,
mesmo que na sociedade contemporânea a mulher tenha obtido várias
conquistas, ainda se encontra em desvantagem quando comparadas ao
sexo oposto, principalmente em relação à falta de oportunidade de
crescimento no ambiente de trabalho e acrescida à sobrecarga das
responsabilidades com a família, estando o trabalho doméstico ainda sob o
seu comando.
A falta do servidor ao trabalho é um fator de relevância no mundo das
relações sociais de produção, sendo questão relevante neste contexto.
Macedo (2007) realizou estudo do tipo transversal com técnico-
administrativos da Universidade do Rio de Janeiro (Estudo Pró-Saúde),
evidenciando associação positiva entre a ocorrência de estresse ocupacional
e a interrupções das atividades diárias desses servidores. Entre os
servidores da UFMT esta associação também esteve presente. Embora
perdesse a significância estatística na análise multivariada, se interagiu com
doenças musculares, comprovando as altas proporções de absenteísmo
existente entre a classe trabalhadora, bem como aposentadoria por
incapacitação, conforme estudos da Previdência Social.
Os servidores participantes deste estudo afirmaram serem portadores
de doenças crônicas não transmissíveis, com proporções acima da média
nacional, entre elas a diabetes e a hipertensão arterial. Embora não se
observou associação significativa em relação ao estresse, estes dados
merecem atenção devido à importância de ações de prevenção que
contribuirá para um quadro mais satisfatório de saúde entre os participantes
deste estudo.
Também se observou elevada prevalência de hipertensão entre a
amostra de servidores em relação a outros estudos realizados, porém sem
associação significativa com o estresse ocupacional. Este dado não difere
da investigação de Couto et al. (2007), ao realizar uma revisão da literatura,
73
demonstram que vários estudos com metodologias variadas tentam associar
a ocorrência de estresse ocupacional com a hipertensão arterial.
Alves (2009), ao estudar o estresse no trabalho entre mulheres no
estudo Pró-Saúde e sua associação com a hipertensão arterial, salienta que,
apesar de haver estudos associando o estresse no trabalho ao
desenvolvimento de hipertensão, novos estudos devem ser realizados para
confirmar tal associação. A autora relata que, neste estudo do tipo
transversal, tal associação não pode ser evidenciada e sugere a realização
de estudos longitudinais, para melhor esclarecimento dessas possíveis
associações. Este resultado não se diferencia do encontrado entre a
população deste estudo, que, embora apresente uma proporção de 27,6%
de relato positivo para hipertensão, não se verificou associação significativa
com a exposição ao estresse.
Magnano (2009), ao estudar a relação existente entre o estresse
ocupacional e a ocorrência de distúrbios musculoesqueléticos entre
trabalhadores de enfermagem, evidencia associação positiva. Esta
associação também foi encontrada entre os servidores da UFMT e, além do
mais, mostrou uma interação significativa com a falta ao trabalho, sugerindo
o aprofundamento de estudos que possam evidenciar relação causal do
distúrbio citado com estresse e outras variáveis ocupacionais que se
mostraram associadas, porém sem significância estatística, como, por
exemplo, locais de trabalho inadequados. A importância de aprofundamentos
com desenhos epidemiológicos são necessários devido ao elevado número
de afastamentos de saúde entre os servidores da UFMT por motivos
osteomusculares, conforme relatos de profissionais que trabalham na
Instituição.
Desta forma, os achados encontrados nesse estudo sugerem que o
estresse ocupacional poderá desencadear morbidades no trabalhador. Esta
inferência deve ser analisada com cautela, tendo em vista tratar de um
estudo transversal bem como deve-se considerar a confiabilidade de
algumas questões do instrumento que apresentaram valores Kappa abaixo
do ideal, o que não aconteceu com a análise de consistência interna
74
avaliada pelo alpha de Cronbach, que mostrou valores dentro do permitido,
apontando boa estabilidade do instrumento (ALVES, 2004a; MAGNANO,
2009; AGUIAR, 2010).
Embora pouco se tem associado à renda do trabalhador com a
positividade para o estresse ocupacional, este estudo evidenciou que os
servidores com melhores rendas estão mais protegidos ao estresse
ocupacional, sugerindo a importância desta variável na saúde dos
servidores, ou seja, melhores salários possibilitam a aquisição de bens
necessários a uma melhor qualidade de vida, possibilitando o enfrentamento
de situações de alta demanda e baixo controle, categoria de maior
exposição ao estresse ocupacional.
Outro fator que se manteve associado ao estresse ocupacional foi
maior exposição de duas vezes mais da etnia/raça/cor negra, com
associação significativa em comparação às demais. Este resultado deve ser
analisado com cautela, tendo em vista os limites do estudo transversal, a
variável etnia/raça/cor pode ser potencialmente confundidora em estudos
epidemiológicos e, sobretudo, por ser uma variável autorreferida. Ademais,
estudo sobre a questão evidenciou a contestação de interpretações de
achados epidemiológicos sobre diferenças raciais na diversidade humana e
doença (LAGUARDA, 2007).
É relevante também a discussão sobre a percepção do servidor sobre
a própria saúde. Ela, referida como insatisfatória e associada à maior
exposição ao estresse ocupacional, sugere a compreensão do servidor
sobre o ideal de estado de saúde, uma vez que, na sua maioria, possui nível
de escolaridade superior à média de outros setores de trabalho e, as
condições precárias de assistência o levem à avaliação referida de sua
saúde.
Acredita-se que os resultados deste estudo, centrados mais na
associação do estresse com morbidades, aspectos ocupacionais, possam
também refletir sobre aspectos importantes na saúde do servidor
universitário, como o lazer, pois apenas 7,4% o tem em sua vida, vindo
assim contribuir para a área da saúde do trabalhador nas políticas de
75
prevenção ao estresse ocupacional, para uma melhor qualidade de relações
produtivas e pessoais do servidor universitário.
76
CAPÍTULO VI
CONCLUSÕES
No mundo moderno, o estresse é uma preocupação mundial, devido
atingir populações de diversas culturas com as mais variadas organizações
do trabalho. Em relação ao estresse ocupacional, ou seja, aquele que
acomete o trabalhador nas suas relações de produção, poucos são os
estudos realizados nas instituições públicas de ensino no Brasil.
Com as reformulações nos modelos de gestão e organização no
mundo do trabalho, os trabalhadores, reféns dessas reorganizações, se
veem, muitas vezes, em situações de exigências contraditórias e
desmedidas, o que resulta em uma sobrecarga desses trabalhadores com
reflexos diretos sobre sua saúde.
Obteve-se, por meio do presente estudo, o conhecimento sobre
demanda psicológica e o controle sobre o trabalho, segundo o modelo
conceitual de Karasek, bem como se estimou a exposição ao estresse
ocupacional e fatores associados entre os servidores de instituição de
ensino localizada em Cuiabá-MT.
Pelos dados obtidos a partir deste estudo, verificou-se uma
prevalência elevada de estresse no trabalho, sendo as exposições mais
significativas aquelas associadas ao fato de ser mulher, com a raça/etnia/cor
negra, que consideram o local de trabalho inadequado e cuja percepção do
estado de saúde foi considerada insatisfatória.
Portanto, a complexidade das condições e relações do trabalho dos
servidores universitários sugere estudos com outros acometimentos
oriundos da especificidade laboral dos servidores docentes e técnico-
administrativos, como, por exemplo, a interação das doenças
osteomusculares com faltas ao trabalho, raramente associada ao estresse
ocupacional, ocasionado pela alta demanda psicológica existente na rotina
do dia a dia, aliada ao baixo controle e pouco suporte social, e, até mesmo,
as variáveis que não se mostraram associadas na análise bivariada,
possivelmente podem mostrar-se modificadores de efeito, contribuindo para
77
uma melhor interpretação dos dados obtidos.
78
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85
ANEXO I
BLOCO: A – SÓCIO-DEMOGRÁFICO A 1. Sexo: 1 Masculino 2 Feminino A 2. Idade: ____ anos A 3. Naturalidade __________________________________ A 4. Estado Civil: 1 casado 2 solteiro 3 Mora com companheiro (a) 4 viúvo 5 divorciado 6 Outros. Citar:____________________________ A 5. Número de filhos? 1 Nenhum 2 Um 3 Dois 4 Três 5 Quatro 6 Mais de quatro A 6. Marque com X a sua escolaridade
1 Ensino fundamental incompleto 2 Ensino fundamental completo 3 Ensino Médio incompleto 4 Ensino Médio incompleto 5 Superior incompleto 6 Superior completo 7 Pós-Graduação: Especialista Mestrado Doutorado Pós-
Doutorado A 7. Com quem vive: 1 Sozinho 2 Companheiro 3 Familiares 4 Amigos 5 Outros A 8. A cor de sua pele é:: 1 Branca
2 Negra
3 Parda ou morena
4 Amarela (oriental)
5 Vermelha (indígena)
6 Não sabe
7 Não quis informar
A 9. Possui alguma prática religiosa? 1 Não 2 Sim
A 10. Renda Mensal
1 Menor ou igual a 5 salários mínimos
2 Entre seis a dez salários mínimos
3 Acima de dez salários mínimos
BLOCO B – VARIÁVEIS OCUPACIONAIS
B 1. Qual o seu vínculo com a UFMT? 1 Docente 2 Técnico Administrativo B 2. Caso seja de Técnico Administrativo, Qual é o seu enquadramento? 1 Nível Médio 2 Nível Superior
86
B 3. Há quanto tempo você trabalha na UFMT? _____ anos _____ meses B 4. Você considera seu local de trabalho na UFMT adequado? 1 Não 2 Sim
Caso negativo, cite as inadequações: ____________________________________________________________________________________ B 5. Considera seu trabalho estressante? 1 Não 2 Sim
B 6. Horas trabalhadas por semana na UFMT: 1 30 horas 2 40 horas 3 Dedicação Exclusiva 4 Outros B 7. Costuma levar trabalho para casa? 1 Não 2 Sim
B 8. Tira férias todo ano? 1 Não 2 Sim
3 Caso negativo, cite o ano que tirou a última.................... B 9. Você exerce alguma outra atividade profissional em outra instituição? 1 Não 2 Sim Se sim, qual carga horária semanal em horas: __________ B 10. De acordo com a tabela abaixo, indique o número do que ocorre com você.
1. Freqüentemente
2. Ás vezes 3. Raramente 4. Nunca ou quase nunca
Com que freqüência você tem que fazer suas tarefas de trabalho com muita rapidez?
Com que freqüência você tem que trabalhar intensamente (produzir muito em pouco tempo)?
Seu trabalho exige demais de você? Você tem tempo suficiente para cumprir todas as tarefas de seu trabalho? O seu trabalho costuma apresentar exigências contraditórias ou discordantes? Você tem possibilidades de aprender coisas novas em seu trabalho? Seu trabalho exige muita habilidade ou conhecimento especializado? Seu trabalho, exige que você tome iniciativas? No seu trabalho, você tem que repetir muitas vezes as mesmas tarefas? Você pode escolher COMO fazer o seu trabalho? Você pode escolher O QUE fazer no seu trabalho
B 11. Em cada uma das alternativas abaixo, indique o número do que ocorre com você.
1. Concordo totalmente 3. Concordo mais do que discordo 2. Discordo mais do que concordo 4. Discordo totalmente
Existe um ambiente calmo e agradável onde trabalho No trabalho, há relacionamentos bons uns com os outros. Eu posso contar com o apoio dos meus colegas de trabalho Se eu não estiver num bom dia, meus colegas compreendem.
87
No trabalho, eu me relaciono bem com meus chefes. Eu gosto de trabalhar com meus colegas
B12 A. No ano passado, quantas vezes você precisou faltar ao serviço?
1 Nenhuma vez 2 1 a 2 vezes 3 mais de 3 vezes B 12 B. Teve a necessidade de se afastar do trabalho por doença nos últimos 2 anos? 1 Sim 2 Não Caso positivo, cite o motivo: ____________________________________ B 13. Durante o seu tempo livre do trabalho a que atividades você se dedica?
1 Prática desportiva 4 Atividades de lazer 7 Assistir TV e vídeos 2 Trabalhos domésticos 5 Atividades artesanais 8 Nenhuma 3 Uso de computador 6 Leitura e estudo 9 Outras: ______________________
BLOCO C – INDICADORES GERAIS DE SAÚDE
C 3 A. Você costuma aferir sua Pressão?
1 Não 2 Sim
C 3 B.Caso positivo, com qual regularidade?
1 Todos os dias 2 Uma vez por semana 3 Mensalmente 4 Acima de 30 dias
C 3 C. Lembra dos valores de sua pressão da última vez que foi aferida?
1 Sim 2 Não 3 Caso positivo, cite: _________ por ________
C 4. Algum médico ou outro profissional da saúde já lhe informou que você é hipertenso ou tem pressão alta?
1 Sim, apenas 1 vez 4 Não, nunca tive pressão alta.
2 Sim mais de 1 vez, em dias diferentes 3 Sim, apenas durante a gravidez
C 5 A. Algum médico ou outro profissional da saúde já lhe informou que você é diabético?
1 Não, tenho diabetes 2 Sim, não tenho diabetes
C 5 B. Caso positivo, qual o tipo? 1 Tipo Um 2 Tipo Dois 3 Outros, cite: ______________________
88
C 5 C. Há quanto tempo?__________ meses
C 5 D. Qual tratamento que faz? 1 Medicamentoso 2 Dieta Alimentar 3 Outros: __________________
C 7 A. Nos doze meses, antes da pesquisa, você apresentou:
1 Bursite 5 Outros problemas de ossos ou cartilagens
2 Ciática 6 Outros problemas de músculos ou tendões
3 Hérnia de disco 7 Dores freqüentes no pescoço, costas e coluna
4 Reumatismo 8 Não tive nenhum problema
C 7 B. Caso tenha apresentado algum problema de saúde assinalado acima, buscou assistência médica? 1 Não 2 Sim C 7 C. A Assistência recebida foi: 1 CABES-UFMT 2 Rede SUS 3 Pela Unimed 4 Particular C 8. Você possui algum Plano de Saúde? 1 Não 2 Sim Caso positivo, qual? _________________________________________________________________________ Favor faça críticas e sugestões em relação a este questionário (construção e clareza das perguntas, formatação, dificuldades, tempo para responder, etc..). _________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
MUITO OBRIGADO. Data: ___/___/___
89
ANEXO II
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA
PROJETO DE PESQUISA Estudo epidemiológico sobre Condições de Saúde de Servidores Universitários da UFMT – Campus Cuiabá – MT.
MANUAL DO APLICADOR TESTE- RETESTE
Coordenadora: Delma P. Oliveira de Souza, Pesquisadora/ UFMT Professora Colaboradora Programa de Pós-Graduação em Saúde
Coletiva/ISC/UFMT
90
Cuiabá, Fevereiro de 2010
INTRODUÇÃO Quando os aplicadores entram em contato com este Manual significa dizer que já foram definidos os objetivos, resultados, métodos e instrumentos. Já foram definidos também os participantes do estudo. Neste momento, a capacitação é muito importante para que todos aqueles que irão responder ao questionário tenham as mesmas instruções de preenchimento e com a devida adequação do conteúdo da instrução que evite possíveis vieses. A elaboração deste manual contou com a referência de alguns estudos sobre métodos de pesquisa, objetivando proporcionar um guia prático para o aplicador. Para melhor precisão e compreensão dos dados coletados nesta pesquisa e correta aplicação do questionário é de fundamental importância que siga corretamente as instruções contidas nesse manual. È composto por 2 (duas) partes detalhadas abaixo. PARTE 1 - ORIENTAÇÕES ESPECÍFICAS AO APLICADOR 1 - Inicialmente o aplicador deverá estar presente no local a ser pesquisado dentro do horário estabelecido pelo coordenador; 2 - Se houver algum imprevisto inerente ao aplicador para a não realização da pesquisa, este deverá avisar à Coordenação com uma antecedência de 24 horas para sua substituição; 3- Na ida ao campo para a coleta de dados os aplicadores deverão levar ofícios de apresentação da Coordenação do Curso de Pós-Graduação em Saúde Coletiva e o Comprovante da aprovação do Comitê de Ética 4- Ao chegar, procurar o funcionário indicado pela coordenadora que
91
facilitará a entrada em campo, EM CAMPO
5- Apresentar-se ao servidor participante como membro da equipe da pesquisa ¨Estudo epidemiológico sobre Condições de Saúde de Servidores Universitários da UFMT – Campus Cuiabá – MT¨; que tem como objetivo estimar a prevalência de agravos à saúde dos servidores da UFMT, segundo variáveis biológicas, socioeconômicas, ocupacionais e de comportamento de saúde. Destacar a importância desta pesquisa que poderá subsidiar as políticas de prevenção e assistência a todos os servidores da UFMT, enfatizando a importância da participação do servidor que foi selecionado por um processo de amostragem aleatória para este teste-piloto, composto de dois momentos. O primeiro é este e o segundo será na próxima semana, no mesmo dia e horário deste (verificar a disponibilidade e deixar acertado). Seu objetivo é verificar é adequar o questionário final que deverá ser aplicado à população universitária. 6- Deixar claro que a participação é voluntária, anônima. Alertar que só participa quem quer e que ao terminar de responder o questionário deposita-lo na urna lacrada que será aberta apenas pela coordenadora do projeto, após o termino da aplicação de todos os questionários, garantindo assim a não identificação de qualquer participante; 7- Colocar para os servidores que o questionário é composto de dados sociodemograficos, ocupacionais, de comportamentos de saúde enfatizando que são dados pessoais, de caráter privado e que em momento algum será identificado o seu nome e, sobretudo enfatizar da importância de responder todas as perguntas;.
8 –Informar que esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética do HUJM conforme a Resolução nº 192/96 e da necessidade de assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Fornecer via do Termo ao servidor para que leia e, caso concorde solicitar assinatura dele na via que ficará com você . 9 – Informar que qualquer dúvida no preenchimento será resolvida pelo aplicador mediante solicitação. Esclarecer que é importante responder a todas as perguntas, não deixar nenhuma em branco, para uma boa análise; 10 – Por último, não esquecer de agradecer ao servidor, mesmo aquelas que recusaram a participar. 11- Não esquecer de preencher também o Boletim de ocorrência.
92
OUTRAS OBSERVAÇÕES E LEMBRETES - Estar atento para, em nenhum momento do nosso contato com os servidores, deixar transparecer uma posição "contra ou a favor" de alguma questão que envolva o instrumento; - Lembrar-se sempre de que nós estamos participando de um projeto de levantamento de dados. Assim, qualquer informação sobre saúde, doença, comportamentos privados, e outros, não deverão ser dadas por enviesar os dados e comprometer a análise dos dados, mas informar que poderá levar a questão para a Coordenadora da pesquisa Profª. Drª. Delma P. Oliveira de Souza (3615 8881; celular 81 16 0093, e-mail: [email protected]);
A receptividade a este tipo de pesquisa em geral é muito boa, em todo caso, possíveis servidores agressivos devem ser tratados com neutralidade, sempre ressaltando que não são obrigados a participar da pesquisa, caso não queiram. PARTE II - ORIENTAÇÕES APÓS APLICAÇÃO DO QUESTIONÁRIO 2.1. Solicitar ao responsável pelo Setor assinatura do Atestado de Participação;
2.2. Fora do Setor, não esquecer de preencher o Boletim de Ocorrência.
93
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA TESTE- PILOTO
PESQUISA: Estudo epidemiológico sobre Condições de Saúde de Servidores Universitários da UFMT – Campus Cuiabá – MT.
Atesto para os devidos fins que o Setor participou da primeira
fase do teste piloto da Pesquisa ¨ Estudo epidemiológico sobre Condições de Saúde de Servidores Universitários da UFMT – Campus Cuiabá – MT¨, do Curso de Pós-Graduação em Saúde Coletiva do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Mato Grosso, realizado no dia......./........./2010.
........................................................................................... ASSINATURA DO(A) (A) RESPONSÁVEL SETOR
94
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA
TESTE- PILOTO
. BOLETIM DE OCORRÊNCIA Nome do Setor: ........................................................................................ Data:.........../............./............... Horário: Aplicador......................................................................................................... Relatar imprevistos e ocorrências dignas de nota em relação aos seguintes itens: 1 - Recepção 1 ( ) Ótima 2 ( ) Boa 3 ( ) Regular 4( ) Não receptivo 2 - Receptividade do trabalhador em relação à pesquisa: 1 ( ) Ótima 2( ) Boa 3 ( ) Regular 4 ( ) Não receptivo 3 – Ocorrência: 1 ( ) Não 2( ) Sim. Caso positivo, informe. ...................................................................................................................................................................................................................................................... ...........................................................................................................................
___________________________________ Assinatura do Aplicador
95
ANEXO III
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA
CURSO DE MESTRADO EM SAÚDE COLETIVA
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Você está sendo convidado(a) para participar, como voluntário, da pesquisa Estudo epidemiológico sobre Condições de Saúde de Servidores Universitários da UFMT,Campus Cuiabá- MT que tem como objetivo estimar a prevalência de agravos à saúde dos servidores da UFMT- Campus de Cuiabá - MT, segundo variáveis biológicas, socioeconômicas e ocupacionais visando o acompanhamento da saúde e condições de vida destes trabalhadores.
Após ser esclarecido (a) sobre as informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte do estudo, assine ao final deste documento, que está em duas vias, uma delas é sua e a outra é do pesquisador responsável. Em caso de recusa você não terá nenhum prejuízo em sua relação com a pesquisadora. Em caso de dúvida você pode procurar o Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Júlio Müller- UFMT- pelo telefone (65) 36158254. Sua participação nesta pesquisa consistirá em responder questões sobre sua saúde. Não há nenhum risco a sua saúde relacionado com sua participação nesta pesquisa, pelo contrário, poderá refletir sobre seus hábitos comportamentais, e contar com orientação dos pesquisadores para buscar assistência médica caso precisar. Informamos também que os dados referentes à sua pessoa serão confidenciais e garantimos o sigilo de sua participação durante toda pesquisa, inclusive na divulgação da mesma. Os dados não serão divulgados de forma a possibilitar sua identificação, os pesquisadores responsabilizam pela sua privacidade. Você poderá qualquer momento da pesquisa deixar de participar da mesma sem nenhum ônus. Você receberá uma cópia desse termo onde tem o nome, telefone e endereço do pesquisador responsável, para que você possa localizá-lo a qualquer tempo, bem como do Comitê de Ética do HUJM/UFMT.
Caso surja no decorrer da pesquisa alguma solicitação de ajuda em relação a alguma doença por parte do entrevistado, a coordenadora desta pesquisa fará o encaminhamento ao Ambulatório da CABES-UFMT onde a equipe médica tomará providencias necessárias.
Delma P. Olivera de Souza, telefone 36158881;cel 81160093; [email protected]
Considerando os dados acima, CONFIRMO minha participação nesta pesquisa. Eu ............................................................................................................................. idade:.......sexo:..........Naturalidade:............................ ....RG: ................................. Nº....................................... declaro que entendi os objetivos, riscos e benefícios de minha participação na pesquisa e concordo em participar.
96
.......................................................
Assinatura do participante
........................................................................................... Assinatura do pesquisador principal
Caso queira entrar em contato com o Comitê de Ética do HUJM/UFMT Coordenadora Profª Drª Shirley Ferreira Pereira Universidade Federal de Mato Grosso Av. Fernando Correa da Costa sn Coxipó Bloco CCBS 1, 1 º andar. Cuiabá, .......... de ...................................... de 2010
97
ANEXO IV
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA
CURSO DE MESTRADO EM SAÚDE COLETIVA
Cuiabá, 5 de julho de 2010 Ilmo(a) .Sr(a) Servidor da UFMT (a).
Prezado (a) Servidor (a),
Temos o prazer de comunicar a realização da pesquisa Estudo epidemiológico sobre Condições de Saúde de Servidores
Universitários da UFMT – Campus Cuiabá – MT, sob a orientação da
Profª.Drª. Delma P. Oliveira de Souza, bem como, apresentar os aplicadores
do questionário Virginia A. Mota, Flavio Aparecido da Cruz Magalhães e Isabel Vasconcelos. O estudo objetiva conhecer as condições de saúde de
servidores da Universidade Federal de Mato Grosso a fim de consolidar
políticas mais efetivas nesta área de saúde do trabalhador.
Todas as servidoras convidadas a participar deste estudo foram
sorteadas, por processo amostral aleatório, a partir de uma lista fornecida
pela Coordenação de Recursos Humanos da UFMT. Cabe ressaltar que o
servidor, não será identificado em nenhuma etapa do estudo. O
questionário a ser aplicado é de auto-preenchimento, anônimo e após
responder as questões do mesmo, você deve colocar no envelope.
Informamos que o referido estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética
em pesquisa (CEP) do Hospital Universitário Julio Muller, segundo Parecer
HUJM/690/2009. Sua participação é importante e, aceitando participar, é
necessário ler e assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido a ser
fornecido pelo (a) aplicador(a) do questionário.
Agradecemos antecipadamente pela atenção dispensada
98
Atenciosamente,
Prfª Drª Marina Atanaka dos Santos
Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva.
99
ANEXO V