universidade federal de mato grosso faculdade de ... · de serviços não financeiros, seguido dos...
TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO E CIÊNCIAS CONTÁBEIS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS
MAPEAMENTO DE CUSTOS NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE CARGAS: CONFRONTAÇÃO ENTRE
REGULAMENTAÇÃO E PRÁTICAS DE MERCADO
ROSANE DALLANORA
CUIABÁ – MT 2019
Rosane Dallanora
Mapeamento de Custos na Prestação de Serviços de Transporte Rodoviário de Cargas: confrontação entre regulamentação e práticas de
mercado
Monografia apresentada a UFMT/Faculdade de Administração e Ciências Contábeis, Departamento de Ciências Contábeis, para obtenção de título de Bacharel em Ciências Contábeis.
Professora Orientadora Dra. Lucia Fernanda de Carvalho
Cuiabá – MT, março de 2019.
2
Rosane Dallanora
Mapeamento de Custos na Prestação de Serviços de Transporte Rodoviário de Cargas: confrontação entre regulamentação e práticas de mercado
Monografia defendida e aprovada em 26 de março de 2019 pela banca examinadora constituída pelos professores:
______________________________________ Professora Dra. Lucia Fernanda de Carvalho
Presidente
_______________________________________ Professor Ms. Adão Ferreira da Silva
Membro
________________________________________ Professor Dr. Benedito Albuquerque da Silva
Membro
3
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, agradeço a Deus por me proporcionar a oportunidade de
concluir este curso.
A meu esposo, por todo o apoio e incentivo para que esse sonho se
concretizasse. Agradeço também ao meu filho, Davi Rafael Corbani, motivo maior da
minha dedicação.
Aos meus pais, que apesar das dificuldades, se empenharam em dar a mim
e a meus irmãos uma educação baseada em princípios, ética e honestidade e por não
terem tido a oportunidade de estudar, minha conquista os enche de alegria.
Aos meus amigos, especialmente a Julia Nobre, Jéssica Abades e Laura
Fernanda pelo apoio, paciência e colaboração em todos esses anos.
Aos professores do curso, em especial professores: Clébia Ciupak, Aldo
Nakao e Adão Ferreira por cumprirem com maestria sua missão de transmitir
conhecimento e boas práticas profissionais, e a minha orientadora, professora Lucia
Fernanda, pelo apoio nos momentos de angustia e indecisão.
Meus sinceros agradecimentos também, aqueles que contribuíram
indiretamente para a realização deste sonho.
4
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Hierarquia de Gastos .................................................................................14
Figura 2- Composição do Rodotrem ...........................................................................30
Figura 3 – Tabela de Preços Mínimos para Carga a Granel .....................................36
5
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Custos Fixos Mensais................................................................................. 22
Tabela 2: Custo por Quilômetro Rodado ....................................................................27 Tabela 3: Custo Básico do Serviço de Transporte ......................................................30
Tabela 4: Simulação de Comissões do Condutor Por Frete Realizado .......................31
Tabela 5: Custos do Serviço de Transporte consideradas as comissões ...................32
Tabela 6: Custos de Operação como Pessoa Jurídica ...............................................33
Tabela 7: Demonstrativo do Resultado do Serviço Prestado seguindo a Legislação
vigente .......................................................................................................................33
Tabela 8: Simulação de custo do serviço de acordo com as práticas de mercado. .....38
Tabela 9: Confronto dos Resultados com a Prestação de Serviços ............................38
6
LISTA DE SIGLAS
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas
AET – Autorização Especial de Trânsito
ANP – Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis
ANTT – Agência Nacional de Transportes Terrestres
ARLA – Agente Redutor Líquido de Óxido de Nitrogênio
CLT – Consolidação das Leis do Trabalho
CNT – Confederação Nacional dos Transportes
CONTRAN – Conselho Nacional de Trânsito
CTB – Código de Trânsito Brasileiro
CVC – Combinação de Veículos de Carga
DAS – Documento de Arrecadação do Simples Nacional
DETRAN – Departamento de Trânsito
DPVAT - Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores
FGTS – Fundo de Garantia por Tempo de Serviço
FIPE – Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INSS – Instituto Nacional de Seguridade Social
IPVA – Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores
IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
PAC – Programa de Aceleração do Crescimento
PRF – Polícia Rodoviária Federal
SCR – Sistema de Redução Catalizadora
TAC – Transportador Autônomo de Cargas
7
SumárioSumárioSumárioSumário
1. INTRODUÇÃO................................................................................................................ 8
2. REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................................................... 11
2.1 Logística e o Transporte Rodoviário de Cargas ......................................................... 11
2.2 Custos e Demanda ................................................................................................... 12
2.3 Exigências Legais para o Transporte Rodoviário de Cargas ..................................... 15
3. MÉTODO ...................................................................................................................... 18
4. RESULTADOs e ANÁLISE ........................................................................................... 20
4.1 Resultados ................................................................................................................ 20
4.1.1 Descrição da Rota Adotada e da Rotina de Serviços ............................................. 20
4.1.2 Custo Fixo Mensal ................................................................................................. 22
4.1.3 Custo Variável ....................................................................................................... 27
4.2 Análise ...................................................................................................................... 36
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 40
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 41
8
1. INTRODUÇÃO
A atividade de transporte figura como a mais importante entre as atividades
que compõe o setor logístico no Brasil. Segundo a Confederação Nacional dos
Transportes(CNT, 2017), o segmento é o maior entre o setor de serviços,
representando, em 2015, 29,3% da Receita Líquida Operacional entre os segmentos
de serviços não financeiros, seguido dos serviços profissionais, administrativos e
complementares (26,8%), Serviços de Informação (22,8%), e Demais Atividades
(21,1%), sendo que, dentro do segmento de transportes, o rodoviário de cargas é o
que tem maior representatividade.
Por ser o maior entre o setor de serviços, o transporte também representa a
maior proporção dos custos logísticos (REAL et al., 2017). Na produção agrícola, por
exemplo, por se tratar de matéria-prima e não ter valor agregado, o impacto desses
custos é ainda mais visível (KUSSANO; BATALHA, 2012), pois o transporte figura
como um serviço crucial para que a produção saia da fazenda e vá para armazenagem
e num segundo momento, saia dos armazéns com destino aos mercados
internacionais ou às indústrias de transformação.
Apesar dos custos de transporte serem considerados altos para quem
contrata, o prestador de serviços se considera mal remunerado em relação ao
investimento e ao risco que lhes é inerente. Isso ocorre devido à crescente demanda
que ao longo do tempo aumentou desproporcionalmente a oferta de serviços, fazendo
com que o setor sofresse um processo de enfraquecimento do caráter específico do
profissional de transporte de cargas.
Neste cenário aparece a figura do transportador autônomo de cargas. As
industrias firmam parcerias com as transportadoras para levar sua matéria prima até
a fábrica ou para levar seus produtos até o consumidor final. A transportadora, por
sua vez, utiliza-se do transportador autônomo para a realização do serviço. Essa
elevada quantidade de agentes na operação acaba encarecendo-a, visto que, todos
os envolvidos visam obter lucro na sua parcela do serviço. Os autônomos, por
necessidade e/ou por desconhecerem os custos e riscos de sua atuação, acabam
muitas vezes, aceitando serviços por preços abaixo do ideal (ARAÚJO; BANDEIRA;
CAMPOS, 2014) comprometendo assim vários fatores que envolvem o bom
funcionamento da atividade, como manutenção do veículo, jornada de trabalho,
excesso de carga, entre outros.
9
Diante do exposto, percebe-se que o transporte tem um papel fundamental
para a existência de qualquer empresa, visto que, é através dele que a produção
chega até o consumidor final.
Considerando as peculiaridades de infraestrutura de estradas e de cada
veículo, além das especificidades entre as empresas e dessas com os profissionais
autônomos é relevante um estudo mais detalhado por perfil de transportador. Através
do mapeamento de custos apresentam-se modelos de fácil compreensão e manuseio
para a mensuração e conhecimento das variáveis que compõe o preço do frete para
que se possa verificar a eficiência e lucratividade de cada serviço, visando aumentar
sua competitividade.
Este estudo se concentra em um modelo específico de veículo. O modelo
escolhido é uma combinação de veículos composta por um cavalo mecânico e duas
carretas semirreboques totalizando nove eixos, denominada rodotrem. O rodotrem
possui uma capacidade de transporte máxima de 50 toneladas ou Peso Bruto Total
(PBT) de 74 toneladas.
Sua alta capacidade de carga fez com que se destacasse no meio do
transporte por ser um modelo de veículo que consegue transportar uma carga superior
aos demais, o que resulta em um maior faturamento bruto por viagem e uma
significativa redução de custos.
Através da análise das particularidades da rota estabelecida e do
mapeamento de custos na ótica do transportador e das regulamentações a que o
serviço está submetido, este trabalho tem por objetivo comparar o preço que o
transportador deveria cobrar pelo serviço obedecendo rigorosamente a legislação com
os preços praticados pelo mercado afim de verificar se há coerência entre ambos .
A Lei que institui preços mínimos para cada modalidade do transporte
rodoviário de cargas foi criada para atender a reivindicações dos próprios
caminhoneiros, que fizeram uma greve a qual foi amplamente divulgada pela mídia
chegando a gerar desabastecimento de produtos essenciais em quase todas as
regiões do país. Porém, há algumas inconsistências na sua elaboração em que, a
adoção de certos parâmetros compromete a generalização dos dados. Para isso,
convém citar a adoção do Estado de São Paulo como parâmetro para mensuração de
valores dos impostos dos veículos, bem como, a utilização da média nacional do preço
dos combustíveis. Este estudo se justifica pela necessidade de demonstrar se a
10
regulamentação pode ser seguida efetivamente sem comprometer o lucro ou mesmo
cobrir os custos.
Este estudo mostra-se como uma alternativa de gestão de custos que aliam
informações e possibilidades e lança luz a necessidade de encontrar alternativas para
desburocratizar o serviço, sem abrir mão da segurança econômica, tanto do
transportador quanto dos usuários.
Sendo um dos principais objetivos da Contabilidade Custos a geração de
informações para o planejamento eficiente de ações operacionais e a mensuração da
eficácia desse planejamento (PINTO et al., 2008), este estudo apresenta uma gama
de informações que pode proporcionar para uma importante tomada de decisão de
gestores ou investidores e uma ferramenta eficaz e de baixo custo para o controle das
operações.
11
2. REFERENCIAL TEÓRICO
Visando os objetivos estabelecidos, o referencial teórico trata de temas sobre
logística, transporte rodoviário de cargas, custos em geral e de transportes, demanda
e legislações e regulamentos que regem o setor.
2.1 Logística e o Transporte Rodoviário de Cargas
Embora algumas pessoas acreditem que transporte e logística sejam
sinônimos, na verdade, o transporte é uma das etapas do processo de logística, a qual
“contempla o envolvimento de informações relacionadas ao recebimento,
armazenagem, estoque, embalagem e transporte de materiais e
produtos”(GOULART; CAMPOS, 2018, p. 5). Dentro dessas etapas, o transporte se
destaca devido sua importância e visibilidade tanto no início quanto no fim da cadeia
produtiva.
Sendo o transporte de suma importância para a logística, a infraestrutura
nesse setor também é relevante para alavancar e desenvolver uma economia e uma
sociedade como um todo, pois, a redução no custo de transporte, consequentemente
reduz o custo dos produtos, fazendo com que as pessoas tenham maior poder de
compra (GOULART; CAMPOS, 2018). O transporte, por ser a operação mais
importante dentro das operações logísticas, requer mais atenção ao controle de
custos. Porém, deve-se ter em mente que, para um processo logístico completo com
mais eficiência, o controle de custos deve estar presente em todas as etapas.
A matriz de transportes no Brasil é operada através de diversos modais,
porém o que mais predomina é o rodoviário, que figurou como o responsável pela
movimentação de 61,1% das cargas do país em 2017 (CNT, 2018) . Além de figurar
como a principal etapa do processo de logística do país, o setor de transportes
também tem alta relevância na economia do país. Pesquisa da CNT (2017) utilizando
os dados do IBGE apontou o setor de transporte como o maior setor dentre os
serviços, ressaltando que o transporte terrestre foi o segmento que mais empregou
no 1º semestre de 2018 e que o transporte rodoviário foi o que mais contribuiu para
esse resultado.
Dada sua importância para a economia do país, destaca-se que esta atividade
possui pontos positivos e negativos. Segundo Goulart, et al., (2018), no que diz
respeito aos pontos positivos, evidencia-se que o modal rodoviário é o mais
12
independente pois, através dele, pode-se movimentar uma vasta gama de materiais.
Além disso, é possível fazer a movimentação de produtos sem a necessidade de
integração com outros modais, o que o torna mais prático para os usuários. Em
relação aos pontos negativos sobressaem os custos mais elevados do serviço, que o
torna menos competitivo, e a menor capacidade de carga se comparado aos outros
modais. Detectados os pontos positivos e negativos da atividade, nota-se um esforço
para atacar os entraves que impedem o setor de crescer. Para isso nota-se que
planos de ação que deem suporte as decisões relativas a esta questão ganharam importância no país e passaram a constituir a pauta dos programas de governo, pois a melhoria no sistema de transporte contribui para o aumento da competição no mercado, o que garante a economia de escala na produção e reduz os preços das mercadorias(GOULART; CAMPOS, 2018, p. 12).
2.2 Custos e Demanda
Desde o advento da produção industrial que se expandiu através da
Revolução Industrial ocorrida no século XVII viu-se a necessidade de conhecer e
implantar controles de custos. Naquela época, a contabilidade geral ou financeira já
era aplicada e a adaptação dessa contabilidade à realidade industrial formou as
primeiras noções de contabilidade de custos (ECHEVERRIA, 2015). Com o
desenvolvimento do conceito de contabilidade de custos o objetivo era planejar os
acontecimentos afim de minimizar possíveis impactos negativos.
Para uma análise mais objetiva, a contabilidade geral volta seu olhar para o
passado enquanto a contabilidade de custos enxerga o futuro. Com isso, os termos
que melhor definem a contabilidade de custos são: planejamento e controle. Partindo
da premissa de que só se gerencia aquilo que se controla, antes de tomar qualquer
decisão é importante que o gestor busque conhecer todas as possibilidades, tanto de
ganho quanto de perdas afim de obter os melhores resultados (PINTO et al., 2008).
Para melhor compreensão do estudo, é necessário ter conhecimento dos principais
conceitos que envolvem os custos.
Eliseu Martins (2003)conceitua o gasto como sendo a compra de um qualquer
produto ou serviço que gere desembolso para a empresa. Sendo este um conceito
amplo, aplica-se a todo tipo de produção, tanto de bens, como de serviços. Como
esse gasto pode ocorrer em diferentes fases da produção, tem-se a necessidade de
desmembrá-lo para a correta alocação deste gasto. Assim, os gastos são divididos
em quatro etapas: despesas, investimentos, custos e perdas. Para esse estudo, é
13
inevitável que todos os gastos sejam mensurados para a composição do preço final
do serviço, porém, foi dado enfoque maior nos custos.
Cabe aqui ressaltar a diferença entre despesas e custos. A principal diferença
entre ambos, segundo Viceconti e Neves (2013) é que, enquanto o gasto que será
alocado como despesa se refere a desembolsos com bens e serviços não utilizados
na produção, o custo, é o gasto alocado com a aquisição de bens e serviços que serão
consumidos no processo produtivo, com a finalidade de geração de receita.
Após essa distinção, pode-se verificar que existem custos que se referem aos
produtos de maneira direta, enquanto outros não, portanto, custos diretos e indiretos.
De acordo com Martins (2003, p. 32) custos diretos são “custos que podem ser
diretamente apropriados aos produtos, bastando que haja uma medida para
consumo”. Já os custos indiretos são classificados pelo autor como custos que não
conseguem ser mensurados objetivamente e sua alocação deve ser feita através de
estimativa e/ou rateio.
Da mesma maneira como existem dois conceitos inseridos em custo, o custo
direto também apresenta diferentes formas de alocação. Dentre elas, destacam-se
para este estudo o custo fixo e o custo variável. Conforme Viceconti e Neves (2013) o
primeiro trata dos custos que se mantém estáticos, mesmo que não haja produção e
são fixos em relação a quantidade, porém, variam de valor no decorrer do tempo. Já
o custo variável muda em função da quantidade, anulando-se caso não haja produção.
A Figura 1 mostra como fica a disposição das diferentes categorias de custos
colocadas em gráfico de hierarquia.
Figura 1 – Hierarquia de Gastos
Fonte: Elaborado pela autora (2019) a partir de (VICECONTI; NEVES, 2013).
GASTO
DESPESASINVESTIMEN
TOS CUSTOS
CUSTOS
DIRETOS
CUSTOS FIXOSCUSTOS
VARIÁVEIS
CUSTOS
INDIRETOS
PERDAS
14
Para auxiliar no mapeamento dos custos da atividade, é importante conhecer
os principais fatores que alavancam esses valores.
Os elevados custos de operação no transporte terrestre refletem no custo
Brasil e interferem diretamente na competitividade comercial do país (GOULART;
CAMPOS, 2018). Esses custos elevados se dão, principalmente, pelos seguintes
fatores: infraestrutura e falta de manutenção adequada dos veículos.
Em relação a infraestrutura, Goulart e Campos (2018), enfatizam que há muito
tempo o país não recebe investimentos públicos significativos. O último de grande
relevância deu-se na década de 70 através dos militares que queriam promover a
interiorização do Brasil. Desde então, poucas tentativas se destacaram nesse sentido,
como a privatização das rodovias na década de 90 e o Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC).
Essas raras tentativas de investimentos em infraestrutura não geraram os
resultados esperados. No que diz respeito às privatizações, segundo o Boletim
Estatístico da CNT referente ao mês de agosto de (2018a), somente 1,2% da extensão
das rodovias brasileiras estão atualmente sob concessões. De acordo com esse
mesmo boletim, o Brasil possui 1.720.700 quilômetros de rodovias. Desse total,
apenas pouco mais de 12% é pavimentada e, desta parcela, a maioria é de rodovias
estaduais e municipais.
Além da quantidade ser baixa, a qualidade da pavimentação dessas estradas
também deixa muito a desejar, com o agravante da sinalização precária. Essas
variáveis por si só já dão a dimensão dos enormes custos que o setor de transporte
tem para se manter ativo. Além da precariedade da infraestrutura, a falta de segurança
também preocupa e acarreta em maiores custos aos transportadores com a
contratação de seguros contra roubos de cargas e seguros de vida para o condutor.
Ademais, a falta de manutenção dos veículos impacta principalmente nos
custos variáveis da operação. Goulart e Campos (2018, p. 110), citando a Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) trazem o conceito de manutenção como
sendo:
o conjunto de ações necessárias para que um item seja conservado ou restaurado, de modo a permanecer nas condições especificadas, pois apenas uma ocorrência no equipamento não impede o seu funcionamento, mas a médio e longo prazo pode compromete-lo.
O comprometimento do veículo está diretamente ligado ao déficit de
conservação de rodovias. Por não conhecerem seus custos, ou os conhecerem
15
superficialmente, algumas empresas de pequeno porte e, especialmente, os
autônomos, tendem a não planejar adequadamente a manutenção da frota. Essa
ação, num primeiro momento é custosa, pois o veículo deverá deixar de produzir pelo
período em que estiver em manutenção, porém, essa manutenção, tecnicamente
chamada de preventiva visa manter o veículo em bom estado, evitar acidentes e a
paralização inesperada do veículo para reparo o que faz com que haja melhora na
produtividade (GOULART; CAMPOS, 2018).
Outro fator a se mencionar no quesito manutenção é a renovação da frota. De
acordo com o anuário da CNT (2018) a idade média de um caminhão trator e de um
caminhão trator especial é de 14,2 anos e 10,9 anos, respectivamente. Já os
semirreboques e semirreboques especiais, que são tracionados pelos caminhões
tratores, tem uma idade média de 10,4 anos e 12,8 anos. A reparação da frota em
detrimento da substituição pode aumentar os custos, pois operar com veículos antigos
pode gerar mais gastos, visto que os veículos novos são dotados de maior tecnologia
e eficiência (GOULART, et al., 2018).
Para renovação da frota, Smith; Oliveira; Cia (2008) enfatizam que, buscando
inovar nas estratégias de gestão, tem-se a possibilidade de depreciar os bens por sua
vida econômica, em detrimento da vida útil determinada pela legislação, utilizando
para o cálculo, o valor econômico do bem. Iudícibus, Martins e Gelbcke (2007, p. 202)
conceituam valor econômico como “a estimativa pelo valor presente dos benefícios
líquidos futuros decorrente de seu uso”.
O caso do escoamento da produção e acesso aos insumos agrícolas na região
norte de Mato Grosso mostra-se favorável a esse estudo, pois o agronegócio é forte
gerador de demanda por transporte. Para que essa produção abundante da região
chegue aos principais mercados mundiais com preço acessível e gere cada vez mais
competitividade dos produtos nacionais é imprescindível que a participação do
transporte de cargas também tenha a mesma eficiência da produção.
2.3 Exigências Legais para o Transporte Rodoviário de Cargas
Sendo o transporte rodoviário de cargas uma modalidade de serviço que está
subordinada a uma vasta gama de legislações e regulamentos, exige-se muito
cuidado e atenção das empresas e dos profissionais que atuam nessa área para
atender a essas exigências. Cumprir com as determinações da lei, mais que atender
16
as questões burocráticas, ajuda a diminuir os riscos envolvidos na atividade, como
infrações de trânsito, ações trabalhistas, ações por violação ao direito do consumidor,
danos causados a mercadorias, entre outros. A normatização da atividade visa coibir
abusos, estabelecendo um padrão a ser seguido.
Para decidir a viabilidade da prestação de qualquer serviço, ou mesmo, ofertar
preços para os clientes, tem-se a necessidade de analisar o quanto cada uma dessas
leis ou regulamentos impactam no custo final do serviço. Com o propósito de suscitar
esses valores, foram analisadas as seguintes:
a) Lei 13703/2018 que institui a Política Nacional de pisos Mínimos do Transporte
Rodoviário de Cargas em conjunto com a Resolução 5820/2018 da ANTT que
estabelece a metodologia e publica a tabela com preços mínimos vinculantes
referente ao quilômetro rodado na realização de fretes, por eixo carregado;
b) Lei 13103/2015 – leigamente chamada de Lei do Caminhoneiro – dispõe sobre
o exercício da profissão de motorista e altera a Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT) para disciplinar a jornada de trabalho e o tempo de direção do motorista
profissional e dá outras providências;
c) Lei 12619/2012 – nomeada Lei do Descanso - Dispõe sobre o exercício da
profissão de motorista; altera a Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, para regular
e disciplinar a jornada de trabalho e o tempo de direção do motorista profissional; e
dá outras providências.
d) Resolução 211/2006 do CONTRAN que institui os requisitos necessários para
a circulação de Combinações de Veículos de Carga – CVC, juntamente com suas
alterações, cito, Resolução 326/2009, Resolução 489/2014, Resolução 635/2016 e
Resolução 640/2016.
e) Convenção Coletiva de Trabalho 2018/2019 do Sindicato dos Trabalhadores
no Transporte Rodoviário do Norte de Mato Grosso em conjunto com o Sindicato das
Empresas de Transporte de Carga do Estado de Mato Grosso que estipulam as
condições de trabalho dos motoristas contratados.
f) Consolidação das Leis do Trabalho (CLT);
g) Código de Trânsito Brasileiro (CTB)
O § 2º do Artigo 4º da Lei 13703/18 veda a celebração de contratos que
diferem do disposto nesta. Já Artigo 5º concede a Agência Nacional dos Transportes
Terrestres (ANTT) a responsabilidade de normatizar os pisos mínimos de que trata a
referida lei, bem como, divulgar “planilha de cálculos utilizada para a obtenção dos
17
respectivos pisos mínimos” e o § 6º deste mesmo artigo responsabiliza a entidade
pela fiscalização do cumprimento das leis e punições.
A normatização da Lei 13.703/18 deu-se através da Resolução 5.820/18 a
qual “estabelece a metodologia e publica a tabela de preços mínimos”. A seguir,
enfatizar-se-á os principais pontos que se julgou necessários a este estudo.
O Artigo 2º em seus § 2º e 3º determina que “ao valor constante do Anexo II
deverá ser acrescido o valor do pedágio” e que o percentual de lucro não compõe os
preços mínimos estabelecidos na Resolução, respectivamente. O Anexo II é onde
constam as tabelas com preços referenciais.
O Artigo 3º, inciso I, por sua vez, mostra que os valores utilizados referentes
“a impostos de taxas de licenciamento de veículos, tratores e implementos, bem como
o valor do salário do motorista” têm como parâmetro o Estado de São Paulo. O inciso
VIII aponta que os tributos foram desconsiderados e o IX que se estabeleceu que “o
consumo médio do óleo diesel e do Arla 32 é único para todos os mercados”.
Afim de dar suporte ao cumprimento da Lei, a ANTT publicou, em 6 de
setembro de 2018, a Resolução 5.828, que insere o Parágrafo único ao Artigo 3º da
Resolução 5.820/18, a qual permite notificar “os contratantes, subcontratantes e
transportadores identificados na documentação” do transporte pelo descumprimento
do piso mínimo estabelecido em Lei.
No site da ANTT (2018), encontram-se instruções práticas e de fácil
compreensão de como devem ser realizados os cálculos para obter o preço mínimo a
cobrar pelo serviço, bem como exemplo prático para ilustrar a sugestão. De posse
desta informação, esse passo a passo será adotado com o serviço especificado neste
estudo, afim de auferir se o valor proposto pela tabela está em conformidade com o
preço ofertado pelo mercado.
18
3. MÉTODO
Nesta seção, apresenta-se o método utilizado para o desenvolvimento deste
trabalho.
A abordagem metodológica utilizada foi majoritariamente qualitativa, embora, em
alguns pontos, pode-se encontrar abordagens quantitativas. Afim de compreender o
conceito de ambos os enfoques, tem-se “enfoque quantitativo se volta para a
descrição, previsão e explicação, bem como para dados mensuráveis ou observáveis,
enquanto o enfoque qualitativo se atém na exploração, descrição e entendimento do
problema” (MARCONI; LAKATOS, 2018).
Quanto a modalidade, o estudo se dará através de pesquisa-ação e estudo de
caso. Este último tem como objetivo a compreensão de detalhes das situações e fatos
que compõe o estudo, enquanto a pesquisa-ação, segundo Severino (2017), é aquela
que munida da compreensão do assunto, intervém na situação visando modificar ou
melhorar alguns aspectos. Dentro deste conceito de pesquisa-ação proposto por
Severino, encontra-se nuances da abordagem qualitativa, onde Marconi e Lakatos
(2018) ponderam que a participação nos fatos melhora a compreensão desses o que
resultará na elaboração do estudo.
Em relação aos objetivos da pesquisa, esses serão exploratórios e
explicativos. As técnicas utilizadas serão baseadas em documentação, entrevistas
não-diretivas e observação.
O veículo objeto de estudo é relevante, tanto quanto os pontos de partida e
destino escolhidos, para delimitar esse tema. O veículo que serve de exemplo foi
adquirido em dezembro de 2015 e o proprietário está programando trocá-lo por um
veículo zero quilômetro no final o ano de 2019, portanto, o utilizará durante 4 anos, ou
48 meses.
Para fins de mensuração e comparação, foram utilizados valores operacionais
cedidos por uma empresa de transporte de cargas de pequeno porte que atua com o
mesmo veículo citado neste estudo no regime de tributação do Simples Nacional.
Entrevistas não diretivas com indivíduos envolvidos na operacionalização desse
veículo e da empresa em questão auxiliaram no entendimento e conhecimento de
estratégias de mercado, riscos, oportunidades e dificuldades de atuação afim de
auferir custos reais e conhecer os entraves que impedem ou dificultam a obediência
das leis, propostas essas que objetivam este estudo.
19
O ponto de partida da rota a ser considerada é a região Norte do Estado de
Mato Grosso, mais precisamente no munícipio de Sorriso - MT. Essa escolha se
justifica pelo fato da região se destacar como maior produtora de grãos do país, com
a maior parte do seu volume destinado à exportação e o destino é o Porto de
Paranaguá – PR, que em 2017 bateu o recorde de movimentação de produtos para
exportação, sendo que a soja ficou em primeiro lugar (G1 PR, 2018).
Inicialmente, foram seguidas as etapas essenciais para a correta mensuração
dos custos envolvidos, pois, segundo (MARTINS, 2003 p. 361) “onde antes nunca
houve sistemas formais de captação de dados, há que se começar com o mínimo”, o
que é exatamente o caso. Essas etapas são basicamente: identificação, classificação
(entre fixos e variáveis), mensuração do custo dos itens já identificados e classificados
e por último a consolidação dos dados afim de apresentar o custo real do serviço
prestado e a confrontação proposta no objetivo.
Após a demonstração do custo do serviço, foi apresentado uma estimativa de
receita mensal dessa rota, feita através de pesquisa de preços. Com isso, foi possível
apurar se esta operação gerou lucro ou prejuízo à empresa. Esta análise se dará
obedecendo as legislações em vigor, como, por exemplo, a Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT) e a Lei 13.703/18 que instituiu a Política Nacional de Pisos Mínimos
do Transporte Rodoviário de Cargas. Por fim, foi elaborado um comparativo entre o
preço que deveria ser cobrado pelo serviço para que o transportador obtivesse lucro
e o preço imposto pelo mercado, onde foi apontado até que ponto o transportador é
capaz de suportar a onerosidade das regulamentações e os motivos pelo qual isso
ocorre.
20
4. RESULTADOS E ANÁLISE
A seguir, são apresentados os resultados e a análise dos dados coletados
através dos documentos fornecidos pela empresa, pesquisa mercadológica e
entrevistas não diretivas feitas com o sócio da empresa e o motorista do veículo que
será objeto dessa análise.
4.1 Resultados
Para atingir os objetivos deste estudo, a seguir serão apresentados os
resultados que darão suporte a análise. Os resultados estão expostos divididos em
três sessões, que são: Descrição da Rota Adotada e da Rotina de Serviços, Custos
fixos e Custos Variáveis.
4.1.1 Descrição da Rota Adotada e da Rotina de Serviços
A rota partindo da cidade de Sorriso – MT tendo como destino Paranaguá –
PR é comumente adotada para escoamento da produção agrícola destinada à
exportação. A rota traçada para realização do serviço tem 2.200 quilômetros. O
caminho utilizado pelo veículo é diferenciado pois o Estado de São Paulo não autoriza
o tráfego de veículos com grandes dimensões de tamanho e carga pelas suas
rodovias estaduais.
Para esse trecho há vinte praças de pedágio as quais o veículo deverá pagar
para trafegar um total de R$ 1.494,00 (Mil quatrocentos e noventa e quatro reais)
desde a origem até seu destino. A Lei 10.209 (2001) institui o Vale-Pedágio obrigatório
sobre o transporte rodoviário de carga para atender à solicitação dos caminhoneiros
autônomos como uma das formas de minimizar custos, portanto, este custo passa a
ser do remetente da carga, não incidindo sobre o transportador.
Para estipular o tempo gasto no trajeto, foi considerado uma velocidade média
de 80 km/h. O artigo 61 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), em seu parágrafo
primeiro dispõe que “a velocidade máxima para os veículos com exceção de
automóveis, caminhonetes e motocicletas nas rodovias de pista dupla e simples é de
90 km/h e nas estradas, de 60 km/h”. A partir desses dados, convencionou-se utilizar
a média de 80 km/h.
De acordos com os cálculos feitos para este estudo, um veículo que precisa
percorrer 2.200 km/h a uma velocidade média de 80 km/h levará 27,5 horas para
21
chegar ao destino. A Convenção Coletiva do Sindicato da Categoria dispõe que a
jornada de trabalho para motoristas profissionais deve ser de oito horas diárias, sendo
prorrogável por duas horas, conforme artigo 59 da CLT. Porém, ao conceder a
prorrogação o empregador fica obrigado a pagar por ela como hora extra, por isso, o
motorista é orientado a sempre cumprir as oito horas estabelecidas. Então,
trabalhando por oito horas diárias, o veículo e seu condutor levarão três dias e outras
três horas e meia para chegar ao destino. Atentos a segurança, este estudo
considerará 3,5 dias como média de tempo.
A carga a ser transportada, no trajeto de ida é, na quase totalidade das vezes,
de grãos. Conforme entrevista não diretiva com o atual condutor do veículo o tempo
médio para o carregamento dos grãos nos armazéns da região é de dois dias – este
tempo se refere desde o momento em que o motorista pega a autorização para
embarque até a carga estar pronta para ser transportada – , enquanto o tempo para
descarga nos terminais do porto de Paranaguá – PR é, em média, de um dia, pois, os
terminais já dispõe de um sistema de agendamento de descargas onde a empresa
transportadora ou o motorista, ainda em viagem, pode programar dia e horário para
realizar a entrega, podendo alterá-los caso haja imprevistos.
De acordos com os dados supracitados, pode-se perceber que o veículo
demorará 6,5 dias para realizar o serviço. Findo o primeiro serviço, aqui denominado
de ida, começam os preparativos para o serviço de retorno, aqui denominado de volta.
Para a operação de retorno, o veículo costuma fazê-la carregado de
fertilizante, produto esse que tem o carregamento feito no próprio porto. O tempo
médio de carregamento é de 1,5 dias. O trajeto é o mesmo, porém pode sofrer
pequenas variações quanto a quilometragem, visto que, as cargas de fertilizantes
comumente são entregues nas fazendas enquanto o grão carregado para a ida é
coletado em armazéns na cidade. Sendo assim, considerar-se-á os mesmos 3,5 dias
para o veículo chegar ao destino. Para a descarga de fertilizante o tempo médio é de
um dia, portanto, o veículo e seu condutor precisarão de seis dias para concluírem o
serviço de retorno.
Analisando o tempo necessário para a realização do serviço pode-se
constatar a possibilidade realizar duas viagens de ida e duas de volta a cada mês –
computando 8.800 km/mês - e ainda restarão cinco dias. Esses cinco dias serão
considerados como margem de segurança afim de contemplar os dias de descanso
do condutor e os eventuais feriados, bem como o tempo que o veículo precisa
22
permanecer parado para manutenções e os horários com restrição de tráfego a
veículos de grande porte estabelecidos através de portarias emitidas pela Polícia
Rodoviária Federal (PRF), a qual convém citar a Portaria n 200, publicada no Diário
Oficial da União em 7 de Dezembro de 2018, a qual divulga o calendário de restrições
para 2019.
4.1.2 Custo Fixo Mensal
Apresentada a rota e suas especificidades, os custos são identificados com mais
facilidade. A Tabela 1, traz a ilustração do custo fixo mensal do veículo, custo esse
que independe da rota a ser adotada:
Tabela 1: Custos Fixos Mensais
CUSTO VALOR (R$) 1. Custo de Reposição do Veículo R$ 4.773,63 2. Custo de Reposição do Implemento R$ 1.041,67 3. Custo mensal com Motorista R$ 2.712,64 3.1 Salário R$ 2.000,00 3.2 FGTS R$ 160,00 3.3 Provisão Mensal Para Férias R$ 166,67 3.4 Provisão Mensal para 1/3 de Férias R$ 55,56 3.5 Provisão Mensal para 13º R$ 166,67 3.6 Provisão Mensal para FGTS sobre 13º R$ 13,33 3.7 Auxílio Alimentação (Cesta Básica) R$ 150,41 4. Impostos R$ 248,03 4.1 IPVA R$ 215,13 4.2 Licenciamento R$ 31,52 4.3 Seguro DPVAT R$ 1,40 5. Proteção Veicular R$ 1.450,00 6. Seguro contra terceiros R$ 500,00 7. Autorização Especial de Trânsito (AET) R$ 58,33 8. Prestação de Consórcio R$ 4.200,00 TOTAL DE CUSTOS FIXOS MENSAIS R$ 14.984,32
Fonte: Elaborado pela autora com dados da pesquisa (2018)
Conforme tabela da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE)
vigente há uma diferença de R$ 229.134,00 (Duzentos e vinte e nove mil, cento e
trinta e quatro reais) entre o atual veículo que o empresário almeja adquirir (zero
quilômetro). Dividindo esse valor pelos 48 meses de uso do veículo em questão,
obtém-se o valor que deve ser aprovisionado mensalmente durante o período para
repor o veículo nas mesmas condições de compra do atual.
23
Assim como acontecerá com o veículo, o proprietário planeja também
substituir os implementos por zero quilômetro, no mesmo período. A data de aquisição
dos implementos é a mesma do veículo. Conforme consulta em sites especializados
de compra e venda de veículos, a diferença de preços entre um implemento novo e o
usado é de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais). Para obter o valor a ser aprovisionado
mensalmente para a reposição do implemento, utilizou-se a mesma lógica de cálculo
usada para o veículo.
Os valores que representam os custos de reposição do veículo e do
implemento muitas vezes passam despercebidos quando da apuração dos custos da
operação por não se tratar de desembolso propriamente dito, em suma, o investidor
não vê o dinheiro saindo do seu caixa. Porém, esse custo deve ser levado em
consideração para a saúde financeira da empresa, visto que, através da provisão
desse valor a empresa poderá organizar-se financeiramente afim de ter condições de
fazer a substituição do bem no tempo devido, sem comprometer o orçamento
empresarial.
Como o estudo trata de mapeamento de custos, optou-se por utilizar o custo
de reposição do veículo como critério de depreciação. Depreciação é a perda de valor
de um ativo por desgaste ou obsolescência. Não configura desembolso efetivo, mas
trata-se de uma despesa, dedutível de receita para fins de Imposto de Renda. Pelo
método contábil, o valor do bem zera ao final da vida útil estabelecida, porém, é
comum um ativo apresentar boas condições de uso após estar totalmente depreciado,
o que foi observado com o ativo em estudo.
Verificou-se através da documentação da empresa que o valor negociado
para compra do veículo adquirido com três anos de uso, em dezembro de 2016, foi de
R$ 265.000,00 (Duzentos e sessenta e cinco mil reais). Conforme pesquisa realizada
na Tabela FIPE, no início de 2019, esse veículo estava avaliado em R$ 260.521,00,
tendo, portanto, uma desvalorização de apenas 1,7%, entre 2016 e início de 2019.
Viana (2015) salienta que, a maior desvalorização desse tipo de veículo ocorre nos
primeiros dois anos de fabricação.
Para a elaboração do custo com o motorista do veículo, utilizou-se como base
a Convenção Coletiva de Trabalho 2018/2019 do Sindicato dos Trabalhadores no
Transporte Rodoviário no Norte de Mato Grosso em conjunto com o Sindicato das
Empresas de Transporte de Cargas do Estado de Mato Grosso que abrange a região
determinada por esse estudo como sendo o ponto de partida da rota de escoamento.
24
Essa convenção estipula o piso salarial para motoristas de carreta com mais de uma
articulação no valor de R$ 1.923,75 (Mil novecentos e vinte e três reais e setenta e
cinco centavos), porém optou-se pelo valor de R$ 2.000,00 (Dois mil reais) pois facilita
o cálculo e entendimento.
Sobre esse salário base desconta-se o percentual de Fundo de Garantia por
Tempo de Serviço (FGTS) de 8%. Conforme regulamento do Simples Nacional as
empresas optantes por essa modalidade de tributação não precisam recolher valores
referentes a contribuição patronal para o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS),
pois esse tributo já está incluso no Documento de Arrecadação do Simples Nacional
(DAS) todos os meses. O valor descontado do empregado a título de contribuição para
o INSS não foi considerado pois trata-se de mero recolhimento, não onerando o
empregador.
Férias acrescidas de 1/3 e o décimo terceiro salário são direitos adquiridos de
todo o trabalhador, portanto, deve-se considerar uma provisão para o pagamento
desses direitos quando ocorrerem. Essa provisão é dividida por 12 meses para que
integre o custo mensal com o respectivo empregado. Considerando a obrigatoriedade
do recolhimento de FGTS sobre o décimo terceiro, esse valor também é passível de
provisão e integrará o custo mensal com motorista.
A convenção coletiva também estipula a obrigatoriedade de conceder ao
trabalhador o auxílio alimentação de, no mínimo, R$ 150,41 (Cento e cinquenta reais
e quarenta e um centavos) por mês, valor esse que será considerado nesse estudo.
Como a atividade de motorista de caminhão é considerada perigosa, a
convenção coletiva também determina a contratação de um seguro de vida para o
trabalhador que compreenda morte acidental e invalidez permanente com cobertura
mínima equivalente a 10 (dez) vezes o piso salarial de sua categoria. Essa proteção,
porém, já está inclusa no montante pago a título de Seguro contra Terceiros e que
está de acordo com as exigências da Convenção Coletiva. Através da mensuração
desses itens chegou-se ao valor mensal fixo que será gasto com o motorista desse
veículo.
Para mensurar os impostos a serem pagos para garantir que o veículo transite
sem nenhuma restrição, foi realizada consulta junto ao site do Departamento de
Trânsito do Estado de Mato Grosso (DETRAN MT). Para o valor do Imposto Sobre a
propriedade de Veículos Automotores (IPVA) fez-se uso da Tabela de Valores Venais
para Base de cálculo para o IPVA 2019 divulgada pela Secretaria Adjunta da Receita
25
Pública do Estado de Mato Grosso, que apontou que o valor do IPVA para o veículo
objeto deste estudo para o ano de 2019 é de R$ 2.581,54 (Dois mil, quinhentos e
oitenta e um reais e cinquenta e quatro centavos) apontado uma leve queda no valor
do imposto em relação ao ano de 2018.
Para mensurar o valor do licenciamento anual deste veículo utilizou-se a
Tabela de Valores dos Serviços disponibilizada pelo Departamento de Transito de
Mato Grosso (Detran MT) que aponta o valor de R$ 126,06 (Cento e vinte e seis reais
e seis centavos) para licenciamento na categoria em que se encontra o veículo objeto
de nosso estudo. O licenciamento anual, diferente do IPVA também é aplicado aos
implementos. Por serem duas carrocerias e terem placas diferentes, deve-se
considerar o valor do licenciamento para três unidades.
O seguro para Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores (DPVAT)
é de recolhimento anual obrigatório e seu valor foi obtido através do site da
Seguradora Líder, que é a Administradora do mencionado seguro, e foi constatado
que para caminhões e caminhonetes o valor para 2019 é de R$ 16,77 (Dezesseis
reais e setenta e sete centavos), também apresentado queda em relação a 2018.
Para apurar o valor mensal referente ao seguro do veículo, encaminhou-se
pedido a uma seguradora situada na cidade de Cuiabá que fizesse uma cotação com
as empresas de seguro afim de comparação. Das seguradoras tradicionais, apenas
uma encaminhou proposta de valores, sendo ela de pouco mais de R$ 65.000,00
(Sessenta e cinco mil reais) e que só se manteria nesse valor caso fosse pago em até
quatro parcelas mensais, acima desse prazo, teria acréscimo de juros. As outras não
mostraram interesse em efetuar o serviço. Questionado sobre o porquê de as
seguradoras não passarem proposta de valores, o corretor informou que os principais
motivos são a configuração do veículo que é propensa a acidente, os altos índices de
roubo desse veículo em específico aliado ao valor significativo do bem.
Como uma alternativa ao seguro de veículos tem-se a proteção veicular, que
é oferecida por cooperativas e associações afim de resguardar os associados que não
possuem seguro dos veículos. Em síntese, a cooperativa ou associação funciona
como um grupo de amigos que se compromete a pagar um valor mensal à entidade.
É esse recurso que será utilizado para pagar o conserto dos veículos que integram o
acordo, bem como, indenizar o mutuário em caso de furto ou roubo do veículo. Por
entender que o valor proposto pela seguradora tradicional é oneroso, visto que
representa, aproximadamente 15% do valor do bem, optou-se por utilizar o valor da
26
proteção veicular contratada para o veículo objeto desse estudo junto a uma
associação. É importante salientar que, apesar de o valor mensal ser
consideravelmente inferior a um seguro veicular, o valor sofre oscilações decorrentes
do número de ocorrências.
A proteção veicular contratada não tem cobertura em caso de danos para
terceiros, por isso, a empresa optou por contratar somente o seguro contra terceiros
com uma seguradora tradicional, visto que, essa modalidade não se mostrou tão
onerosa quanto o seguro veicular e abrange também indenização ao condutor do
veículo em caso de morte ou invalidez permanente, o que é exigido pela convenção
coletiva da categoria.
A Resolução 211/2006 do Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN), em
seu artigo 1º determina que
as Combinações de Veículos de Carga - CVC, com mais de duas unidades, incluída a unidade tratora, com peso bruto total acima de 57 t ou com comprimento total acima de 19,80 m, só poderão circular portando Autorização Especial de Trânsito – AET.
Essa Resolução se aplica a todas as rodovias federais, porém, alguns
Estados também a adotam para circulação desse tipo de veículos em suas rodovias.
No trajeto estipulado para o veículo objeto deste estudo, é preciso obter duas
autorizações para circulação junto aos órgãos de trânsito: a Federal e a do Estado do
Paraná. O Estado de São Paulo, que também faria parte da rota, não permite o trânsito
de veículos com essas especificações em suas rodovias Estaduais. Afim de adequar-
se à exigência da Resolução 211/2006, foi analisado junto aos documentos da
empresa o valor médio pago para a emissão e renovação dessas autorizações.
De acordo com o levantamento dos valores das autorizações, foi apurado que
a empresa precisa desembolsar o valor médio de R$ 700,00 (Setecentos reais) por
ano para que o veículo possa circular sem nenhuma restrição pela rota escolhida.
Diluindo esse valor anual por doze meses, tem-se o custo mensal com AET.
É preciso esclarecer que o custo com Autorizações Especiais de Trânsito é
específico para as combinações determinadas pela Resolução 211/2006, e pode
variar de acordo com o tamanho da combinação e da rota a ser executada, já que
cada Estado cobra tarifas diferentes para emissão das autorizações, bem como há
alguns Estados em que ela é dispensada, a exemplo de Mato Grosso.
No que diz respeito a aquisição, considerando o alto custo do veículo, é
aceitável que a compra deste seja feita através de financiamento ou consórcio. O
27
empresário apontado neste estudo, por ter se programado para a aquisição do veículo
e dispor de parte dos recursos, optou pela compra através de consórcio. Com a
análise dos demonstrativos financeiros da empresa constatou-se que é desembolsado
um valor de R$ 4.200,00 (quatro mil e duzentos reais) por mês para pagamento das
parcelas do consórcio utilizado para compra do veículo. Como este é um estudo de
caso, foi adotado este valor para apuração dos custos fixos mensais, por representar
a realidade deste caso, embora, é preciso esclarecer que esse valor varia muito em
relação a modalidade de levantamento de recursos e ao montante a ser captado.
Somando as oito variáveis elencadas na Tabela 1, pode-se obter o custo fixo
total por mês referente ao veículo em estudo. Assim, é possível visualizar os custos
sobre o transporte que são inerentes e que independem de atividade operacional, ou
seja, existem e precisam ser liquidados mesmo se o veículo não faturar.
4.1.3 Custo Variável
Conhecendo os custos fixos, o próximo passo é indicar os valores para os
custos variáveis. Na Tabela 2, serão apresentados os custos variáveis por quilômetro
rodado e suas respectivas mensurações em valores no veículo utilizado neste estudo.
Tabela 2: Custo por Quilômetro Rodado CUSTO (POR KM) VALOR (R$) 1. Manutenção R$ 0,3977 2. Combustível R$ 2,0278 3. Arla R$ 0,1014 4. Lubrificante R$ 0,0148 4.1 Motor R$ 0,0132 4.2 Transmissão R$ 0,0016 5. Lavagens R$ 0,0682 6. Pneus R$ 1,0767 7. Recapagens R$ 0,2833 TOTAL R$ 3,9699
Fonte: Elaborado pela autora com dados da pesquisa (2018)
O primeiro custo a ser considerado e que depende diretamente da
quilometragem a ser percorrida pelo veículo é o custo de manutenção. Em síntese, a
manutenção preventiva é o ato de se antecipar a um problema enquanto a
manutenção corretiva é o ato de sanar um problema que já ocorreu.
Aqui, quando tratado de custo ou gasto de manutenção, a terminologia
abrangerá tanto a manutenção preventiva quanto a corretiva. São considerados
28
gastos com manutenção, todos os gastos com peças e serviços, exceto combustível,
lavagens, lubrificantes, ARLA 32 (Agente Redutor Líquido de Óxido de Nitrogênio),
pneus e recapagens. Para mensuração dos valores de cada item, analisou-se as
notas fiscais de peças e serviços adquiridos pela empresa entre os meses de julho a
dezembro de 2018.
De acordo com a análise documental anteriormente descrita foi constatado
que o gasto com manutenção do veículo gira em torno de 1,34% do valor do veículo
usado, ou, 0,71% do valor apurado anteriormente para o veículo novo.
Após a manutenção, o custo a ser observado será o de combustível.
Considerando a habitual oscilação de preços dos combustíveis, para apurar o valor
gasto por quilometro percorrido, realizou-se uma pesquisa dos preços médios para o
combustível utilizado no veículo, ao longo do percurso adotado. A pesquisa dos
preços médios deu-se através do site da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural
e Biocombustíveis (ANP). O combustível utilizado é óleo diesel S10, por ser o
recomendado pelo fabricante.
Através de entrevista não diretiva com o condutor, foi informado que,
deslocando-se na velocidade recomendada (80 km/h) e pelas condições do trajeto, o
veículo consegue percorrer 1,8 km para cada litro de combustível. Com essas
informações, consegue-se chegar ao valor gasto com combustível a cada quilômetro
percorrido e consequentemente, do serviço prestado como um todo. É comum que o
custo com combustível prevaleça como o maior entre os custos do serviço de
transporte, com uma média de 50,89% do total do custo variável.
Na sequência, o custo a ser abordado é com o Agente Redutor Líquido de
Óxido de Nitrogênio Automotivo (ARLA). O ARLA é um reagente utilizado para a
diminuição química da emissão de óxido de nitrogênio pelos escapamentos dos
veículos movidos a diesel. A partir de 2012, todos os veículos movidos a diesel
fabricados no país possuem o Sistema de Redução Catalizadora (SCR), cujo
funcionamento se dá através do reagente ARLA 32, sendo seu uso, portanto,
obrigatório (IBAMA, 2016). A proporção de consumo média é de 5% do consumo de
combustível, portanto, como é de conhecimento o consumo do combustível, o
consumo do reagente foi encontrado através de cálculo de proporção inversa.
De acordo com o Manual de Instruções do Veículo, o fabricante recomenda
que a troca de óleo do motor para a categoria de veículo pesado que percorre longas
distâncias seja a cada 30.000 quilômetros. O cálculo para se chegar ao valor gasto
29
com óleo do motor deu-se da seguinte maneira: preço do litro de lubrificante de motor
recomendado pelo fabricante multiplicado pela capacidade do cárter e posteriormente
dividido pelo intervalo de tempo em que ocorrem as trocas.
Outra troca de óleo necessária para o bom funcionamento do veículo é a do
transmissor – ou caixa de mudança. A recomendação do fabricante é que este óleo
seja trocado a cada 400.000 quilômetros percorridos. O cálculo para mensuração do
gasto por quilômetro deu-se pela mesma metodologia adotada para o óleo de motor.
Cabe ressaltar que o custo com a substituição dos filtros de óleo está inserido
no custo de manutenção, visto que, filtros são classificados pela empresa como peças.
A lavagem do veículo, além de garantir sua higienização, também é
importante para manter o bom funcionamento do veículo e não comprometer sua
eficiência, já que a sujeira pode danificar peças, que, por sua vez, podem ter a vida
útil diminuída ou necessitarem de substituição. Como o fertilizante é um produto
químico, corrosivo, a empresa faz a lavagem do veículo a cada viagem de volta. Sendo
assim, o veículo passa pelo processo duas vezes a cada 4.400 quilômetros, ou duas
vezes ao mês. Para a mensuração do custo de lavagem por quilômetro basta dividir o
valor da lavagem pelo intervalo de tempo em que elas ocorrem.
O penúltimo custo a ser tratado é com pneus. Estes devem ser mantidos em
boas condições para garantir tanto a eficiência do serviço, quanto a segurança do
condutor e dos demais veículos. Como já mencionado anteriormente, a combinação
possui nove eixos, distribuídos entre o veículo e seus implementos. São oito eixos que
possuem quatro pneus cada, e um eixo – o dianteiro – que possui dois pneus,
portanto, a combinação utiliza trinta e quatro pneus, que trabalham constantemente.
A combinação é composta por três partes, e cada parte possui um pneu reserva
(estepe), que somente são utilizados quando necessário. A Figura 2 ilustra a
composição do rodotrem.
Figura 2- Composição do Rodotrem
Fonte:(NTC & LOGÍSTICA, 2016)
30
As especificações dadas pelo fabricante dos pneus utilizados na combinação
são as seguintes: 295 cm de largura, 80 cm de perfil e 22,5 cm de aro. Segundo o
condutor do caminhão, após gasto, a orientação da empresa é que o pneu receba
somente uma recapagem. A vida útil de cada pneu é de 60.000 km e a recapagem a
prolonga em 100%.
De acordo com as notas fiscais de compra analisadas, o valor para aquisição
dos pneus especificados pelo fabricante e descritos acima é de R$ 1.900,00 cada,
bastando dividir esse valor pela quantidade de quilômetros da sua vida útil e
posteriormente multiplicar pela quantidade de pneus utilizados pelo veículo para
apurar o custo por quilômetro rodado.
Mapeados os custos que envolvem cada serviço de transporte prestado, a
empresa tem meios de calcular qual seria o valor ideal para remunerar seu serviço e,
também, obter lucro, que é a razão primeira pela qual o negócio existe. É importante
destacar que a precificação do serviço de transporte rodoviário é feita de maneira
inversa ao que ocorre com outros segmentos, ou seja, os preços são regulados pelo
mercado, independente do produto a ser transportado. Essa é uma peculiaridade do
transporte rodoviário de cargas, visto que, outras modalidades, como os serviços de
transporte aéreo, transporte de encomenda e de passageiros, tem seus serviços
formulados pelo prestador.
Ao final, conhecendo a rota a ser operada e os custos fixos e variáveis que
incorrem a cada operação, pode-se mensurar o valor que deveria ser cobrado pelo
serviço, ou, nesse caso, se o serviço vai ser efetuado ou não, dependendo do valor
ofertado.
A tabela 3 demonstra o cálculo que deve ser efetuado rotineiramente pelo
administrador para verificar a viabilidade econômica do serviço.
Tabela 3: Custo Básico do Serviço de Transporte
FATORES VALOR POR KM (R$ VALOR TOTAL DO SERVIÇOS (R$)
Rota 2.200 km Custos Fixos R$ 14.984,32/8.800 km
= R$ 1,702763 R$ 1,702763 x 2.200 km = 3.746,07
Custos Variáveis R$ 3,96991 R$ 3,9699 x 2.200 km = 8.733,78
CUSTO DO SERVIÇO R$ 12.479,85
1 Vide tabela 2 "Custo Por Quilômetro Rodado”. Fonte: Elaborado pela autora com dados da pesquisa (2018)
31
Seguindo a Cláusula Oitava, em seu Parágrafo Segundo da Convenção
Coletiva do Sindicato da Categoria, a qual recomenda que “a remuneração seja paga
preferencialmente na forma de salário misto (salário fixo mais comissões)”, é
necessário demonstrar o custo das comissões percebidas pelo condutor por viagem
e seus reflexos nas verbas trabalhistas, já que esses custos dependem do volume de
serviços realizados, impactando assim, no custo variável.
A tabela 4 simula valores para demonstrar os efeitos que as comissões
causam sobre os custos variáveis. Como as comissões são calculadas através de
porcentagem sobre faturamento bruto, considerou-se uma carga com peso de
cinquenta toneladas (capacidade máxima de carga do veículo), a um preço de R$
260,00 (Duzentos e sessenta reais) por tonelada. A comissão percebida pelo condutor
a cada serviço realizado é de 8%. Com base nesses dados, o valor bruto recebido
pelo serviço será de R$ 13.000,00 (treze mil reais), valor esse que servirá como base
de cálculo para a comissão. O valor pago pela tonelada do transporte foi obtido através
de pesquisa de mercado com transportadoras que realizam operações no trajeto.
O termo serviço, para fins deste estudo, foi utilizado para designar o trajeto de
um mesmo produto, desde seu carregamento até seu destino final,
independentemente de o veículo voltar para a sede da empresa ou não.
Tabela 4: Simulação de Comissões do Condutor Por Frete Realizado
RUBRICA VALOR (R$) 1. Comissão do Condutor (por Frete) R$ 1.040,00 2. FGTS s/ Comissões R$ 83,20 3. Provisão para Férias sobre Comissões R$ 86,67 4. Provisão para 1/3 de Férias sobre Comissões R$ 28,89 5. Provisão para 13º sobre Comissões R$ 86,67 6. Provisão para FGTS sobre 13º de Comissões R$ 6,93 TOTAL R$ 1.332,36
Fonte: Elaborado pela autora com dados da pesquisa (2018)
Conhecidos os valores referentes a comissões percebidas pelo condutor, o
demonstrativo a seguir projeta o valor que deverá ser cobrado pelo serviço, para que
seja remunerado, ao menos, os custos, porém, ainda sem lucros.
Na primeira coluna da tabela, estão identificados os fatores que contribuem
para o cálculo do valor gasto em um determinado serviço. Na segunda coluna, os
valores em reais representam o montante dos custos, tanto fixo quanto variável, por
quilômetro percorrido. Tendo como base os valores apurados quando da mensuração
32
do custo fixo mensal, esse total foi dividido pela quilometragem percorrida no mês,
8.800, afim de encontrar um valor que representasse o custo fixo por quilômetro. Por
fim, na última coluna, os valores encontrados na segunda coluna são multiplicados
pelos quilômetros percorridos para realização do serviço. Tais valores são
demonstrados na Tabela 5, a seguir.
Tabela 5: Custos do Serviço de Transporte consideradas as comissões
FATORES VALOR POR KM (R$ VALOR TOTAL DO SERVIÇOS (R$)
Rota 2.200 km Custos Fixos R$ 14.984,32/8.800 km
= R$ 1,702763 R$ 1,702763 x 2.200 km = 3.746,07
Custos Variáveis R$ 3,96991 R$ 3,9699 x 2.200 km = 8.733,78
Comissão do Condutor R$ 1.332,36² CUSTO DO SERVIÇO R$ 13.812,21
1 Vide tabela 2 "Custo Por Quilômetro Rodado”. ²Vide tabela 4 “Simulação de Comissões do Condutor”. Fonte: Elaborado pela autora com dados da pesquisa (2018)
Analisando os dados demonstrados acima, pode-se evidenciar que o valor a
receber pelo serviço em questão, para que o valor somente remunere os custos com
o transporte é de R$ 13.812,21 (treze mil, oitocentos e doze reais e vinte e um
centavos), algo em torno de 6,2% acima do que o mercado costuma remunerar.
Porém, como este é um estudo de caso e trata de um investidor que
despendeu seus recursos para a compra de um veículo transportador de carga afim
de diversificar seus investimentos, contratando um terceiro para conduzir o veículo,
este não se configura como Transportador Autônomo de Cargas (TAC). A Resolução
4.799/2015 da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), no inciso XIV,
artigo 2º, capítulo I define o TAC como “pessoa física que exerce, habitualmente,
atividade profissional de transporte rodoviário remunerado de cargas, por sua conta e
risco, como proprietária, coproprietária ou arrendatária de até três veículos
automotores de cargas”. Para atender as exigências do próprio mercado, o investidor
aqui estudado necessitará operar através de pessoa jurídica, caso contrário, ficará
limitado a poucos e pequenos clientes que ainda aceitam que o transporte seja feito
por um terceiro, sendo o proprietário pessoa física.
Com a constituição de uma pessoa jurídica os custos acabam aumentando.
Despesas como salário de funcionário(s) da administração, contador, impostos,
33
certificação digital, que inexistem para pessoa física, acabam por onerar ainda mais a
operação pois, em se tratando de apenas um veículo, os custos indiretos são alocados
a somente uma unidade produtiva, sobrecarregando seu resultado.
Para exemplificar, a Tabela 6, mostra as principais despesas indiretas que o
investidor deve liquidar para manter-se ativo e sem restrições como pessoa jurídica.
Tabela 6: Custos de Operação como Pessoa Jurídica
DESPESA VALOR MENSAL (R$)
VALOR PROPORCIONAL A VIAGEM (R$)
1. Contador R$ 300,00 R$ 75,00 2. Software de Informação R$ 430,00 R$ 107,50 3. Funcionário Administrativo R$ 2.712,64 R$ 678,16
3.1 Salário R$ 2.000,00 R$ 500,00 3.2 FGTS R$ 160,00 R$ 40,00 3.3 Provisão para Férias R$ 166,67 R$ 41,67 3.4 Provisão para 1/3 de Férias R$ 55,56 R$ 13,89 3.5 Provisão para 13º R$ 166,67 R$ 41,67 3.6 Provisão para FGTS sobre 13º R$ 13,33 R$ 3,33 3.7 Auxílio Alimentação R$ 150,41 R$ 37,60
4. Impostos R$ 3.000,00 R$ 1.000,00 4.1 Simples Nacional R$ 3.000,00 R$ 1.000,00
5. Telefone R$ 400,00 R$ 100,00 6. Certificado Digital Empresarial R$ 300,00 R$ 25,00 TOTAL R$ 7.142,64 R$ 1.985,66
Fonte: Elaborado pela autora com dados da pesquisa (2018)
Então, o demonstrativo do resultado para esse serviço ficaria como
demonstrado na Tabela 7.
Tabela 7: Demonstrativo do Resultado do Serviço Prestado seguindo a Legislação
vigente
DEMONSTRATIVO DE RESULTADO Receita Bruta do Serviço R$ 13.000,00 (-) Custos Fixos Proporcionais (R$ 3.746,07) (-) Custos Variáveis (R$ 8.733,69) (-) Comissão do Condutor (R$ 1.332,36) (-) Custos Indiretos (R$ 1.985,66) (=) Resultado Líquido Operacional (R$ 2.797,78)
Fonte: Elaborado pela autora com dados da pesquisa (2018)
Pode-se observar que, ao operar como pessoa jurídica, as despesas indiretas,
que antes geravam um prejuízo de 6,2%, conforme apurado na Tabela 5, acabam por
projetar um prejuízo ainda maior e passa a ser de 21,52%.
34
Por último, é importante que se faça uma análise sobre o que foi exposto
considerando a Lei 13.703/18 que institui a Política Nacional de Pisos Mínimos do
Transporte Rodoviário de Cargas em conjunto com a Resolução 5.820/18 da Agência
Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), responsável por estabelecer a
metodologia e publicar a tabela com preços mínimos a serem adotados. Essas
regulamentações atuam em conjunto e, por serem recentes, ainda geram discussões
por parte dos transportadores, dos embarcadores e da sociedade em geral, pelo
impacto que podem gerar nos preços dos mais diversos produtos.
A seguir, serão enfatizados os principais aspectos de ambas as legislações
que podem tanto beneficiar quanto onerar os transportadores, afim de formar uma
conclusão sobre a viabilidade delas para as operações. Os destaques serão feitos
sempre considerando as especificidades do veículo e a empresa objetos deste estudo.
As cargas com que a empresa trabalha são classificadas no Artigo 3º, inciso
II da Lei 13.703/18 como carga a granel: “a carga líquida ou seca embarcada e
transportada sem acondicionamento, sem marca de identificação e sem contagem de
unidades.”
Essa classificação é importante para saber qual tabela será utilizada para
obter o valor do preço mínimo a ser cobrado. Neste caso, o ponto positivo é que a
legislação diferencia os diversos tipos de carga que são transportados no país.
O Anexo I, da Lei 5.820/2018 traz a classificação dos custos considerados
para o cálculo, bem como a metodologia utilizada para a mensuração dos valores.
Neste Anexo, o que mais chama a atenção é a utilização do preço médio nacional do
litro do combustível.
A Figura 3 mostra tabela que deverá ser utilizada para o serviço especificado
neste estudo.
35
Figura 3 – Tabela de Preços Mínimos para Carga a Granel
Fonte:ANTT (2018).
Com isso, demonstra-se o cálculo a ser feito para obedecer a exigência e
calcular o preço mínimo do frete.
O primeiro passo sugere identificar o tipo de carga a ser transportada.
Identificou-se que a carga que exemplifica este estudo é a granel e a tabela a ser
utilizada é a que consta na Figura 3 deste trabalho.
O segundo passo é encontrar a distância percorrida para a execução do
serviço e identificar a linha da tabela a que ela se encontra. A distância a percorrer
será de 2.200 km, portanto, o serviço encontra-se na linha da tabela identificada pela
seta, a qual estabelece que o Custo por Km/Eixo é de R$ 0,90.
Feito isso, é preciso multiplicar a quantidade de eixos da combinação pelo
Custo por Km/Eixo identificado na tabela e por último, multiplicar esse valor pela
distância necessária a percorrer para a execução dos serviços.
PM = (9 x 0,90) x 2.200
PM = 17.820,00
36
Através do cálculo sugerido, o valor considerado mínimo para a execução
desse serviço é de R$ 17.820,00, muito acima dos 13.000,00 que foi encontrado
através da pesquisa de mercado.
4.2 Análise
O mapeamento dos custos fixos e variáveis do veículo especificado permitiu
a criação de uma tabela que demonstrou os custos dos serviços. Posteriormente,
foram analisadas as Legislações e Regulamentação as quais o transportador em
específico está subordinado para apontar os custos excedentes para o cumprimento
destas e por último, foi realizado uma pesquisa de preços para apontar o valor que o
mercado paga pelo frete. Com a realização dessas etapas o estudo atinge o objetivo
a que se propõe.
Verificou-se também que há algumas práticas de mercado que não seguem
ou seguem parcialmente a legislação, provavelmente pela falta de fiscalização - e que
acabam impactando nos custos do serviço. Neste contexto, as práticas de mercado
em relação a legislação contêm duas classes: as práticas desrespeitadas e as práticas
negligenciadas.
As práticas desrespeitadas, identificadas no decorrer do estudo são
basicamente três: auxílio alimentação para funcionários, vale-pedágio obrigatório e
impostos.
O auxílio alimentação é um dos requisitos constantes na Convenção Coletiva
do Sindicato da Categoria, em sua cláusula Décima Oitava, que prevê a concessão
deste auxílio a todos os empregados. Com exceção dos motoristas, os demais
empregados têm um teto salarial de R$ 3.519,45 (três mil, quinhentos e dezenove
reais e quarenta e cinco centavos) para terem direito ao benefício, porém, a empresa
estudada não concede esse benefício aos funcionários.
A Lei 10.209/01 obriga as empresas embarcadoras ou remetentes a
concederem Vale-Pedágio no valor integral ao gasto do trajeto, porém, o empresário
relatou que esse valor nunca foi recebido em nenhum dos serviços prestados.
Portanto, é corriqueiro que o transportador tenha de arcar com esse custo, que acaba
impactando diretamente no resultado do serviço.
Por último, tem-se o custo com impostos. A forma mais comum de tentar
diminuir esse custo, é a prática de pagamento de comissões sem anotação na carteira
37
de trabalho. Normalmente, o contratante faz a anotação somente do valor do piso
salarial constante na Convenção Coletiva da Categoria, omitindo a informação do
pagamento de comissões. Essa informação omitida, gera reflexos em todos os
encargos trabalhistas do empregado, e se apresenta como uma forma de diminuir o
custo com folha de pagamento.
Das práticas consideradas negligenciadas, a mais comum são as provisões.
Provisões para reposição do veículo e implementos, provisão para encargos
trabalhistas futuros e provisão para impostos, como IPVA. Sem a mensuração e
classificação correta dessas provisões, o mês no qual elas ocorrem acabam ficando
sobrecarregados com despesas. É prudente que as despesas sejam mensuradas no
período em que ocorrem, portanto, para renovação de frota, por exemplo, é importante
ter um planejamento de quanto tempo o investidor deseja utilizar o veículo e qual os
valores entre o veículo novo e usado. Distribuindo esses valores entre os meses que
faltam para troca, evitará o endividamento da empresa com financiamento e
pagamento de juros desnecessários e facilitaria a negociação de um veículo novo.
Igualmente ocorre com os encargos trabalhistas pagos geralmente no final de
cada ano aos funcionários, como férias e 13º salário. Para a empresa objeto deste
estudo, o mês de dezembro tem o menor fluxo de serviços para o transporte de carga.
Sendo assim, o aprovisionamento dessas despesas trabalhistas obrigatórias evita que
a empresa passe por dificuldades financeiras no período em que o faturamento
diminui.
Outro fator observado que pode impactar negativamente no custo com o
veículo é a utilização de combustível diferente daquele recomendado pelo fabricante.
A priori, vislumbra-se uma diminuição no custo do combustível, pois um produto
inferior costuma ter um preço também inferior. Porém utilizando um combustível que
não o indicado para aquele tipo de motor pode gerar custos maiores com manutenção
e reposição de peças, pois diminuirá a vida útil destas. Isso ocorre também com o uso
de peças paralelas ou genéricas, que são aquelas produzidas por fabricantes não
homologados junto as montadoras. Essas peças, além durarem menos, acarretam a
perda de garantia oferecida pelo fabricante.
A Tabela 8 mostra o resultado que a empresa obteria operando de acordo
com o mercado:
38
Tabela 8: Simulação de custo do serviço de acordo com as práticas de mercado.
SERVIÇOS PRESTADOS DE ACORDO COM AS PRÁTICAS DE MERCADO 1. Custos Fixos Proporcionais R$ 2.077,50 2. Custos Variáveis R$ 10.227,69 3. Comissão do Condutor R$ 1.040,00 4. Despesas Indiretas R$ 1.822,50 TOTAL R$ 15.167,69
Fonte: Elaborado pela autora com dados da pesquisa (2018)
Finalmente, a Tabela 9, confronta o resultado da empresa nas duas situações,
operando conforme o mercado e conforme a legislação.
Tabela 9: Confronto dos Resultados com a Prestação de Serviços
CONFRONTAÇÃO DOS RESULTADOS LEGISLAÇÃO MERCADO
Receita Bruta do Serviço R$ 17.820,00 R$ 13.000,00 (-) Custos Fixos Proporcionais (R$ 3.746,07) (R$ 2.077,50) (-) Custos Variáveis (R$ 8.733,69) (R$ 10.227,69) (-) Comissão do Condutor (R$ 1.332,36) (R$ 1.040,00) (-) Despesas Indiretas Proporcionais (R$ 1.985,66) (R$ 1.822,50) (=) Resultado Líquido Operacional R$ 2.022,22 (R$ 2.167,69)
Fonte: Elaborado pela autora com dados da pesquisa (2018)
O custo fixo proporcional ao serviço apurado de acordo com as práticas de
mercado teve uma queda em relação ao custo apurado conforme legislação vigente
principalmente por não considerar o custo de reposição do veículo e dos implementos.
Desconsiderar as provisões com encargos trabalhistas e com os impostos
referentes ao veículo e o efeito que despesas como a Autorização Especial de Trânsito
(AET) trazem para o custo do serviço. Já o custo variável sofreu uma forte alta por
conta do custo com pedágios que foram inseridos.
Com a comissão do condutor aconteceu o mesmo que com o custo fixo, teve
queda por desconsiderar os reflexos dessa parte integrante do salário nos demais
encargos e direitos trabalhistas. As despesas indiretas tiveram seu valor reduzido pelo
mesmo motivo.
Quanto aos valores da tabela referencial para cálculo do preço mínimo,
através da necessidade de pesquisar valores de impostos dos veículos e preços dos
combustíveis em várias cidades para apurar com a maior precisão possível os custos
com o serviço apresentado neste estudo, constatou-se claramente que os valores dos
39
impostos divergem a depender do estado e o preço do combustível ainda mais,
portanto, há o risco de os valores não serem representativos, pois tais valores
divergem do Estado de São Paulo, que foi utilizado pelos legisladores como parâmetro
para o cálculo do preço mínimo.
A possibilidade de notificar o transportador em caso de descumprimento da
política de preços mínimos não faz sentido, exatamente porque o preço é estipulado
pelo mercado, portanto, o mercado deveria se autorregular. Caso contrário, há o risco
de ocorrer o mesmo que ocorre com o vale-pedágio, a lei que obriga o cumprimento
existe, porém, na prática é pouco respeitada. A maior responsável por isso, sem
dúvida, é a fiscalização ineficiente, ou mesmo, inexistente.
40
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através da análise das Tabelas Demonstrativas de Resultados, pode-se
concluir, que a desoneração da folha de pagamento para o setor de transportes e a
fiscalização para que as Leis, em especial a 10.209/01, sejam cumpridas são as
melhores opções para que os transportadores possam auferir lucros sem desabonar
outras partes envolvidas.
Com a elaboração deste estudo pode-se identificar que, a adoção da Política
de Preços Mínimos para o setor de transporte rodoviário de cargas pode ter os
seguintes riscos: o mercado pode não absorver os preços mínimos, pois, como já
demonstrado anteriormente, o preço mínimo da tabela fica muito além do preço
comumente praticado pelo mercado e isso pode gerar uma desestabilização na
economia, devido à grande relevância que o setor tem, como enfatizado quando da
introdução deste estudo. Considerando que os novos preços mínimos sejam
absorvidos sem resistência pelo mercado, esse ajuste, via de regra, será repassado
para os consumidores, encarecendo produtos.
Por fim, a lei põe em risco a livre concorrência, impedindo que os profissionais
mais organizados e competentes negociem preços com seus clientes, diminuindo sua
margem, afim de aumentar o faturamento. Este estudo evidenciou como isso poderia
acontecer quando apurou um custo para o serviço de pouco mais de R$ 13 mil reais,
enquanto o preço mínimo passou dos R$ 17 mil. Essa diferença de valores é o espaço
que o profissional tem para negociar e cativar seu cliente e que não poderá ser
utilizado caso seja obrigado a adotar o preço mínimo.
Quanto às limitações encontradas, a primeira se refere a sazonalidade da
safra de grãos, o que faz com que a demanda por serviços durante o ano seja instável,
refletindo no faturamento da empresa e modificando os resultados. A seleção da
amostra também representa uma limitação, visto que, outros trechos, veículos ou
empresas estão sujeitos a riscos de mudança de preços devido as circunstancias
especiais em cada caso. Assim, os resultados encontrados não podem ser
generalizados, pois não oferecem representatividade no universo do transporte
rodoviário de cargas. Diante da extensão do tema, não foi possível abordar esses
tópicos, por isso, podem ser interessantes para serem desenvolvidos em futuros
trabalhos.
41
REFERÊNCIAS
ANP. Sistema de Levantamento de Preços. Disponível em: <https://preco.anp.gov.br/>. Acesso em: 14 mar. 2019.
ANTT. Instruções de Uso - Passo a Passo das Tabelas de Preço Mínimo. Disponível em: <http://www.antt.gov.br/cargas/arquivos_old/Tabelas_de_Precos_Minimos_do_Transporte_Rodoviario_de_Cargas.html>. Acesso em: 14 mar. 2019.
ARAÚJO, M. da P. S.; BANDEIRA, R. A. de M.; CAMPOS, V. B. G. Custos e fretes praticados no transporte rodoviário de cargas: uma análise comparativa entre autônomos e empresas. Journal of Transport Literature, v. 8, n. 4, p. 187–226, out. 2014.
CAIXA ECONÔMICA FEDERAL. Perguntas Frequentes. Disponível em: <http://www.caixa.gov.br/beneficios-trabalhador/fgts/perguntas-frequentes/Paginas/default.aspx#wp_20>. Acesso em: 14 mar. 2019.
CNT. Transporte é o maior segmento do setor de serviços. Economia em foco, 11 dez. 2017.
CNT. Boletim Estatístico - CNT - Agosto 2018. Boletim Estatístico, 2018a.
CNT. Anuário CNT do Transporte. Disponível em: <http://anuariodotransporte.cnt.org.br/2018/Rodoviario/1-6-1-/Transporte-nacional>. Acesso em: 14 mar. 2019b.
CNT. Conjuntura do Transporte: Investimentos. [s.l: s.n.]. . Acesso em: 23 out. 2018c.
Conversão da Medida Provisória no 832, de 2018. 13703. . 8 ago. 2018.
DETRAN MT. Tabela de Valores - Serviços. Disponível em: <https://www.detran.mt.gov.br/-/tabela-de-valores>. Acesso em: 14 mar. 2019.
ECHEVERRIA, I. Contabilidade Geral, Custos e Análise Contábil. Cuiabá: KCM, 2015.
FIPE. Fipe - Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas. Disponível em: <https://www.fipe.org.br/>. Acesso em: 14 mar. 2019.
G1 PR. Porto de Paranaguá fecha 2017 com movimentação recorde de 51,5 milhões de toneladas. Disponível em: <Porto de Paranaguá fecha 2017 com movimentação recorde de 51,5 milhões de toneladas>. Acesso em: 7 fev. 2019.
GOULART, V. D. G.; CAMPOS, A. Logística de Transporte - Gestão Estratégica no Transporte de Cargas. 1. ed. São Paulo: Érica/Saraiva, 2018.
IBAMA. Cartilha orienta uso do Arla 32 para controle das emissões de poluentes. Disponível em: <http://www.ibama.gov.br/noticias/58-2016/132-cartilha-orienta-uso-do-arla-32-para-controle-das-emissoes-de-poluentes>. Acesso em: 14 mar. 2019.
42
IBAMA - INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS NÃO RENOVÁVEIS. Cartilha de Conscientização Pública do Uso do Arla 32. Disponível em: <http://www.ibama.gov.br/noticias/58-2016/132-cartilha-orienta-uso-do-arla-32-para-controle-das-emissoes-de-poluentes>. Acesso em: 4 fev. 2019.
IUDÍCIBUS, S. de; MARTINS, E.; GELBECKE, E. R. Manual de Contabilidade das Sociedades por Ações: aplicável as demais sociedades. 7 ed. ed. São Paulo: Atlas, 2007.
KUSSANO, M. R.; BATALHA, M. O. Custos logísticos agroindustriais: avaliação do escoamento da soja em grão do Mato Grosso para o mercado externo. Gestão & Produção, v. 19, n. 3, p. 619–632, 2012.
MARCONI, M. de A.; LAKATOS, E. M. Metodologia Científica. 7 ed ed. São Paulo:
MARTINS, E. Contabilidade de Custos. 9 ed. ed. São Paulo: Atlas, 2003.
MINISTÁRIO DOS TRANSPORTES. Resolução 4.799. Regulamenta procedimentos para inscrição e manutenção no Registro Nacional de Transportadores Rodoviários de Cargas, RNTRC; e dá outras providências. . 27 jul. 2015.
MINISTÉRIO DAS CIDADES. Resolução 211. Requisitos necessários à circulação de Combinações de Veículos de Carga – CVC, a que se referem os arts. 97, 99 e 314 do Código de Trânsito Brasileiro-CTB. . 13 nov. 2006.
MINISTÉRIO DOS TRANPORTES, PORTOS E AVIAÇÃO CIVIL. Resolução 5.820. Estabelece a metodologia e publica a tabela com preços mínimos vinculantes, referentes ao quilômetro rodado na realização de fretes, por eixo carregado, instituído pela Política de Preços Mínimos do Transporte Rodoviário de Cargas. . 30 maio 2018.
NTC & LOGÍSTICA. A Experiência Brasileira Com Veículos de Grande Capacidade. Atitude e Gestão, p. 35 p., 25 out. 2016.
PINTO, A. A. G. et al. Gestão de custos. 2 ed. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2008.
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. 5.452. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. . 1 maio 1943.
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. 9.503. Institui o Código de Trânsito Brasileiro. . 23 set. 1997.
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. 10.209. Institui o Vale-Pedágio obrigatório sobre o transporte rodoviário de carga e dá outras providências. . 23 mar. 2001.
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Lei Complementar 123. Institui o Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte; altera dispositivos das Leis no 8.212 e 8.213, ambas de 24 de julho de 1991, da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, da Lei no 10.189, de 14 de fevereiro de 2001, da Lei Complementar no 63, de 11 de janeiro de
43
1990; e revoga as Leis no 9.317, de 5 de dezembro de 1996, e 9.841, de 5 de outubro de 1999. . 14 dez. 2006.
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. 12.619. Dispõe sobre o exercício da profissão de motorista; altera a Consolidação das Leis do Trabalho - CLT. . 30 abr. 2012.
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. 13.103. Dispõe sobre o exercício da profissão de motorista; altera a Consolidação das Leis do Trabalho - CLT. . 2 mar. 2015.
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. 13703. Institui a Política Nacional de Pisos Mínimos do Transporte Rodoviário de Cargas. . 28 nov. 2018.
PRF. Dispõe sobre a restrição do trânsito de Veículos e Combinações de Veículos excedentes em peso e ou dimensões aos limites máximos estabelecidos pela Resolução no 210/2006 do Conselho Nacional de Trânsito e suas alterações, passíveis ou não da concessão de Autorização Especial de Trânsito - AET ou Autorização Específica - AE, em rodovias federais nos períodos dos feriados do ano de 2019. Disponível em: <http://imprensanacional.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/54291404>. Acesso em: 14 mar. 2019.
REAL, R. B. et al. Custos Logístico: Mapeamento do Setor Metal-Mecânico de Santa Catarina. Anais do Congresso Brasileiro de Custos - ABC, v. 0, n. 0, 14 nov. 2017. Disponível em: <https://anaiscbc.emnuvens.com.br/anais/article/view/4242>. Acesso em: 14 mar. 2019.
SECRETARIA DE ESTADO DE FAZENDA. Base de Cálculo IPVA 2018. Cuiabá: Estado de Mato Grosso, 2018. .
SEGURADORA LÍDER. DPVAT - Calendário de pagamento. Disponível em: <https://www.seguradoralider.com.br/pages/calendario-de-pagamento.aspx>. Acesso em: 14 mar. 2019.
SEVERINO, A. J. Metodologia do Trabalho Científico. 2 ed. ed. São Paulo: Cortez, 2017.
SINTTRONORMAT. Convenção Coletiva de Trabalho 2018/2019, 30 ago. 2018. .
SMITH, M. S. J.; OLIVEIRA, M. A. D.; CIA, J. N. S. Impairment - Obrigatoriedade ou Estratégia: O Caso de uma “Sociedade LTDA”. In: II Congresso UFSC Controladoria e Finanças, Florianópolis. Anais... In: II CONGRESSO UFSC CONTROLADORIA E FINANÇAS. Florianópolis: UFSC, 2008.
TABELA INSS 2019. TABELA INSS 2019. Disponível em: <https://tabeladoinss2019.com/>. Acesso em: 14 mar. 2019.
VIANA, F. R. Cálculo da Vida Econômica de Caminhões de Transporte em Indústria. 2015. Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2015.
VICECONTI, P.; NEVES, S. das. Contabilidade de Custos. 11 ed. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.