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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA
CURSO DE ENGENHARIA AMBIENTAL E SANITRIA
AVALIAO PRELIMINAR DO SISTEMA DE
ABASTECIMENTO DE GUA E PROPOSTA DE
ESGOTAMENTO SANITRIO PARA A ZONA RURAL DE
BELMIRO BRAGA
Andrssa Rezende Pereira
Juiz de Fora
2014
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AVALIAO PRELIMINAR DO SISTEMA DE
ABASTECIMENTO DE GUA E PROPOSTA DE
ESGOTAMENTO SANITRIO PARA A ZONA RURAL DE
BELMIRO BRAGA
Andrssa Rezende Pereira
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Andrssa Rezende Pereira
AVALIAO PRELIMINAR DO SISTEMA DE
ABASTECIMENTO DE GUA E PROPOSTA DE
ESGOTAMENTO SANITRIO PARA A ZONA RURAL DE
BELMIRO BRAGA
Juiz de Fora
Faculdade de Engenharia da UFJF
2014
Trabalho Final de Curso apresentado ao Colegiado do
Curso de Engenharia Ambiental e Sanitria da
Universidade Federal de Juiz de Fora, como requisito
parcial obteno do ttulo de Engenheiro Ambiental e
Sanitarista.
rea de concentrao: Saneamento
Linha de pesquisa: tratamento de gua e tratamento de
efluentes domsticos
Orientadora: Ana Slvia Pereira Santos
Co-orientadora: Renata de Oliveira Pereira
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AVALIAO PRELIMINAR DO SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE GUA E
PROPOSTA DE ESGOTAMENTO SANITRIO PARA A ZONA RURAL DE
BELMIRO BRAGA
ANDRSSA REZENDE PEREIRA
Trabalho Final de Curso submetido banca examinadora constituda de acordo com o artigo
9 da Resoluo CCESA 4, de 9 de abril de 2012, estabelecida pelo Colegiado do Curso de
Engenharia Sanitria e Ambiental, como requisito parcial obteno do ttulo de Engenheiro
Sanitarista e Ambiental.
Aprovado em 25 de junho de 2014.
Por:
_________________________________________
Prof. DSc. Ana Slvia Pereira Santos
_________________________________________
Prof. MSc. Fabiano Csar Tosetti Leal
__________________________________________
Prof. DSc. Marco Antnio Moreira Furtado
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AGRADECIMENTOS
Agradeo primeiramente a Deus por me dar vida e coragem para lutar pelos meus objetivos,
sem me deixar perder jamais a f, mesmo nos momentos de dificuldade.
Aos meus pais, Reinaldo e Leila, pelo esforo e trabalho incansvel em me dar o suficiente
para realizar este sonho.
A toda famlia, especialmente queles que ofereceram suas casas de portas abertas.
minha irm, Alessandra, pelos grandes momentos de alegria e diverso divididos.
Aos grandes companheiros de So Jos e aos amigos da Escola Estadual de Belmiro Braga.
Aos amigos feitos na faculdade de engenharia, por dividir os momentos de tristeza e de
felicidade.
Em especial, agradeo Aline, Cristiane e Ramiro pela disponibilidade e contribuio neste
trabalho.
A todos os professores do curso de Engenharia Ambiental e Sanitria que despertaram minha
vocao, especialmente s professoras Renata e Ana Slvia pela oportunidade e pacincia em
me ensinar coisas que levarei pelo resto de minha vida.
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RESUMO
Atualmente no Brasil, os ndices de abastecimento de gua, assim como os ndices de
esgotamento sanitrio nas zonas rurais dos municpios, so preocupantes devido dificuldade
de acesso a recursos, que normalmente s chegam at as sedes destes municpios e
disponibilidade de profissionais qualificados para execuo e realizao de projetos. Sendo
assim, o presente trabalho busca analisar o sistema de abastecimento de gua focando
principalmente na qualidade da gua distribuda s sete comunidades rurais do municpio de
Belmiro Braga MG e propor um sistema simplificado de tratamento de efluentes domsticos
para cada um destes distritos. No estudo, verificou-se que o sistema de abastecimento de gua
da zona rural de Belmiro Braga MG necessita passar por uma avaliao criteriosa,
considerando que o sistema se encontra em desacordo com a legislao, principalmente com
relao etapa de desinfeco. Com relao qualidade da gua distribuda, verificou-se que
alguns parmetros estavam fora do limite estabelecido pela Portaria 2914/2011. A turbidez e a
cor foram os parmetros em maior desconformidade com a legislao, mostrando a
necessidade de investimento em tecnologias de tratamento eficazes na remoo destes e na
adequao da qualidade da gua destinada ao consumo humano. J com relao aos sistemas
simplificados de tratamento de efluentes domsticos, dois fluxogramas foram sugeridos: i)
reator UASB associado s lagoas de polimento; e ii) sistema de tanque sptico associado ao
filtro anaerbio. Os dois fluxogramas foram dimensionados para as seis comunidades que no
possuem nenhum tipo de tratamento, apesar da existncia de rede coletora. As dimenses e os
custos necessrios para a implantao dos sistemas so baixos, quando comparados a sistemas
convencionais de tratamento, em funo das vazes reduzidas devido populao de cada
distrito ser inferior a 300 habitantes. Aps esta anlise preliminar, conclui-se que este trabalho
uma contribuio importante para garantir a salubridade ambiental na zona rural do
municpio de Belmiro Braga MG, porm sabe-se que um estudo mais aprofundado deve ser
realizado para a correta implantao de sistemas de tratamento de gua e esgoto domstico.
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SUMRIO
LISTA DE FIGURAS ................................................................................................................ v
LISTA DE TABELAS .............................................................................................................. vi
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SMBOLOS ........................................................ vii
1. INTRODUO .................................................................................................................. 1
2. OBJETIVOS........................................................................................................................ 3
2.1 Objetivo Geral ............................................................................................................ 3
2.2 Objetivos Especficos ................................................................................................. 3
3. REVISO BIBLIOGRFICA ............................................................................................ 4
3.1 O municpio de Belmiro Braga ................................................................................... 4
3.2 Qualidade da gua para consumo humano ................................................................. 6 3.2.1 Principais parmetros de qualidade de gua voltada para consumo humano .... 6
3.3 Sistemas de Abastecimento de gua .......................................................................... 8 3.4 Sistemas de Esgotamento Sanitrio ............................................................................ 9
3.5 Tratamento de esgoto domstico .............................................................................. 10 3.5.1 Sistemas Simplificados de Tratamento de Esgoto .............................................. 10
Lagoas de estabilizao ................................................................................................ 11 Tanque sptico seguido por filtro anaerbio ................................................................ 12
Reator UASB seguido por filtro anaerbio .................................................................. 13 Reator UASB seguido por filtro biolgico percolador ................................................. 14
Reator UASB seguido por lagoas de polimento ........................................................... 15 Reator UASB seguido por aplicao no solo ............................................................... 16
3.5.2 Valores tpicos dos sistemas de tratamento de esgotos ...................................... 17
3.5.3 Consideraes para o dimensionamento dos sistemas simplificados ................ 20 Tratamento Preliminar .................................................................................................. 20 Reator UASB ................................................................................................................ 21 Lagoa de Polimento ...................................................................................................... 22
Tanque Sptico e Filtro Anaerbio ............................................................................... 22 3.6 Aspectos Legais ........................................................................................................ 22
3.6.1 Portaria 2914/2011 do Ministrio da Sade ...................................................... 22
Competncias do Municpio ......................................................................................... 23 Competncias do responsvel ....................................................................................... 23 Exigncias Aplicveis................................................................................................... 24 Padro de Potabilidade ................................................................................................. 24
Planos de Amostragem ................................................................................................. 26 3.6.2 Resoluo CONAMA n 396/2008 ...................................................................... 28 3.6.3 Resoluo CONAMA n 357/2005 ...................................................................... 28 3.6.4 Resoluo CONAMA n 430/2011 ...................................................................... 28
3.6.5 Deliberao Normativa Conjunta COPAM CERH 01/2008 ........................... 29
4. MATERIAIS E MTODOS ............................................................................................. 31
4.1 Sistema de Abastecimento de gua ......................................................................... 31
4.1.1 Caracterizao das fontes de abastecimento ..................................................... 31 4.1.2 Planejamento experimental ................................................................................ 33 4.1.3 Anlise das amostras .......................................................................................... 34
4.2 Sistema de Esgotamento Sanitrio ........................................................................... 35
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4.2.1 Caracterizao do local de estudo ..................................................................... 35
4.2.2 Dimensionamento dos sistemas simplificados .................................................... 38
5. RESULTADOS E DISCUSSES .................................................................................... 39
5.1 Sistema de Abastecimento de gua ......................................................................... 39 5.1.1 Avaliao do sistema de abastecimento de gua ............................................... 39
5.1.2 Qualidade das guas de abastecimento das comunidades ................................. 40 5.1.3 Avaliao dos resultados obtidos ....................................................................... 42
pH ................................................................................................................................. 42 Condutividade Eltrica ................................................................................................. 43 Salinidade ..................................................................................................................... 44
Slidos Dissolvidos Totais (SDT) ................................................................................ 45 Turbidez ........................................................................................................................ 46 Cor ................................................................................................................................ 48
5.1.4 Estudo das tecnologias de tratamento ................................................................ 49 5.2 Sistema de Esgotamento Sanitrio ........................................................................... 51
5.2.1 Dimensionamento dos sistemas simplificados .................................................... 51
5.2.2 Demandas de rea, volume de lodo e custos ...................................................... 57
6. CONCLUSES ................................................................................................................. 59
7. RECOMENDAES ....................................................................................................... 61
8. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .............................................................................. 62
9. ANEXO ............................................................................................................................. 65
9.1 Memorial de clculos................................................................................................ 65 9.1.1 Clculo das Vazes ............................................................................................. 65
9.1.2 Tratamento Preliminar ....................................................................................... 65 9.1.3 Reator UASB ...................................................................................................... 68 9.1.4 Lagoa de Polimento ............................................................................................ 69
9.1.5 Tanque Sptico e Filtro Anaerbio .................................................................... 69
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v
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Delimitao do municpio de Belmiro Braga-MG 5
Figura 2: Sistema utilizando lagoas de estabilizao seguidas por lagoas de maturao 12
Figura 3: Sistema utilizando tanque sptico seguido por filtro anaerbio 13
Figura 4: Sistema utilizando reator UASB seguido por filtro anaerbio 14
Figura 5: Sistema utilizando reator UASB seguido por filtro biolgico percolador 15
Figura 6: Sistema utilizando reator UASB seguido por lagoa de polimento 16
Figura 7: Sistema utilizando reator UASB seguido por aplicao no solo 17
Figura 8: Poos utilizados para o abastecimento da populao rural do municpio de Belmiro
Braga 32
Figura 9: Localizao dos sete distritos do municpio de Belmiro Braga 33
Figura 10: Locais de lanamento do esgoto domstico em cada distrito 37
Figura 11: Valores encontrados na primeira e segunda amostragem para pH 42
Figura 12: Valores encontrados na primeira e segunda amostragem para CE 44
Figura 13: Valores encontrados na primeira e segunda amostragem para salinidade 45
Figura 14: Valores encontrados na primeira e segunda amostragem para SDT 46
Figura 15: Valores encontrados na primeira e segunda amostragem para turbidez 47
Figura 16: Valores encontrados na primeira e segunda amostragem para cor 49
Figura 17: Grade fina 66
Figura 18: Desarenador e Calha Parshall 68
Figura 19: Lagoas de polimento em srie 69
Figura 20: Tanque sptico 70
Figura 21: Filtro anaerbio 71
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vi
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Principais parmetros fsicos, qumicos e microbiolgicos 7
Tabela 2: Valores tpicos de concentraes mdias efluentes 18
Tabela 3: Valores tpicos de eficincias mdias de remoo 19
Tabela 4: Caractersticas tpicas dos principais sistemas de tratamento de esgotos 20
Tabela 5: Tabela de padro de turbidez para gua ps-filtrao ou pr-desinfeco 26
Tabela 6: Parmetros da gua potvel e seus VMP estabelecidos na Portaria 2914/2011 27
Tabela 7: Coordenadas geogrficas de cada poo/nascente e tipo de fonte 31
Tabela 8: Parmetros e respectivas unidades utilizadas 35
Tabela 9: Principais caractersticas dos distritos 36
Tabela 10: Principais parmetros utilizados para os dimensionamentos 38
Tabela 11: Resultados encontrados na primeira e segunda amostragem 41
Tabela 12: Caractersticas das guas naturais e tecnologia de tratamento recomendada 49
Tabela 13: Caractersticas das tcnicas de dupla filtrao e tratamento convencional 51
Tabela 14: Vazes para cada distrito 52
Tabela 15: Principais resultados do dimensionamento do tratamento preliminar 54
Tabela 16: Resultados do dimensionamento dos reatores UASB e lagoas de polimento 55
Tabela 17: Resultados do dimensionamento do tanque sptico e filtro anaerbio 56
Tabela 18: Demanda de rea, volume de lodo e custos para UASB e lagoa de polimento 57
Tabela 19: Demanda de rea, volume de lodo e custos para tanque sptico+filtro anaerbio 57
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vii
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SMBOLOS
ABNT: Associao Brasileira de Normas Tcnicas
CE: Condutividade Eltrica (S/cm)
CERH: Conselho Estadual de Recursos Hdricos
COPAM: Conselho de Poltica Ambiental
CONAMA: Conselho Nacional do Meio Ambiente
COPASA: Companhia de Saneamento de Minas Gerais
Cter: Coliformes Termotolerantes
DBO: Demanda Bioqumica de Oxignio
DQO: Demanda Qumica de Oxignio
E. coli: Escherichia coli
ETE: Estao de Tratamento de Esgoto
FUNASA: Fundao Nacional da Sade
Helm.: Helmintos
IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
N: Nitrognio
NH3: Amnia
OD: Oxignio Dissolvido
O&M: Operao e Manuteno
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viii
OMS: Organizao Mundial da Sade
OMSS: Operao e Manuteno de Sistemas Simplificados
P: Fsforo
pH: Potencial Hidrogeninico
PNAD: Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios
PROSAB: Programa de Pesquisa em Saneamento Bsico
ReCESA: Rede de Capacitao e Extenso Tecnolgica em Saneamento Ambiental
SABESP: Companhia de Saneamento Bsico do Estado de So Paulo
Sal.: Salinidade (%)
SDT: Slidos Dissolvidos Totais (mg/L)
SNIS: Sistema Nacional de Informaes sobre Saneamento
SS: Slidos Sedimentveis (mg/L)
Turb.: Turbidez (uT)
UASB: Reator Anaerbio de Manta de Lodo em Fluxo Ascendente
uH: Unidades Hazen
uT: Unidades de Turbidez
VMP: Valor Mximo Permitido
: Desvio Padro
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1
1. INTRODUO
De acordo com a definio da Organizao Mundial da Sade OMS (CESAMA, 2014),
saneamento o controle de todos os fatores do meio fsico do homem, que exercem ou podem
exercer efeitos nocivos sobre o bem estar fsico, mental e social. Ao conhecer tambm a
definio de sade pela OMS como sendo o estado de completo bem-estar fsico, mental e
social, e no apenas a ausncia de doena, possvel entender a relao entre saneamento e
sade. Assim, com o objetivo de se garantir a salubridade ambiental, alguns servios bsicos
devem ser oferecidos, como o abastecimento de gua em quantidade e qualidade desejvel, o
esgotamento sanitrio, a gesto de resduos slidos e a drenagem das guas pluviais.
O abastecimento de gua na qualidade e quantidade adequada, seguindo as especificaes da
Portaria n 2914/2011 do Ministrio da Sade, e os sistemas de esgotamento sanitrio evitam
a exposio da populao aos microrganismos patognicos, diminuindo assim a possibilidade
de doenas de veiculao hdrica.
No Brasil, sabe-se que o pas possui um grande atraso com relao ao saneamento bsico.
Segundo o Diagnstico dos Servios de gua e Esgoto de 2011 (SNIS, 2013), o ndice de
atendimento da populao do pas, incluindo a rural e a urbana, com relao ao abastecimento
de gua de 82,4%. Esse mesmo ndice para coleta de esgoto de 48,1%. J quando so
analisados os ndices da regio Sudeste, para fornecimento de gua e coleta de esgoto, os
nmeros so, respectivamente, 91,5% e 73,8%.
De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios PNAD/2012
fornecida no site da Fundao Nacional da Sade - FUNASA, apenas 33,2% dos domiclios
nas reas rurais esto ligados a redes de abastecimento de gua com ou sem canalizao
interna. O restante da populao (66,8%) capta gua de chafarizes e poos protegidos ou no,
diretamente de cursos de gua sem nenhum tratamento ou de outras fontes alternativas
geralmente insalubres.
Ao analisarmos a situao do saneamento no pas, possvel observar que o atendimento com
sistemas de abastecimento de gua e sistemas de esgotos sanitrios esto centrados nas sedes
municipais, deixando a populao rural sem atendimento significativo.
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2
Segundo a Companhia de Saneamento Bsico do Estado de So Paulo SABESP (2013),
desde os primrdios da civilizao, as guas subterrneas so utilizadas pelo homem, atravs
de poos rasos escavados. Quando a prpria presso natural da gua capaz de lev-la at a
superfcie, existe um poo artesiano. J o semi-artesiano, necessita de aparelhos para captao
da gua. Alm disso, existem tambm os poos freticos originados em profundidades
pequenas. Estes esto mais sujeitos a contaminaes por gua de chuva e at mesmo por
infiltraes de esgoto. No Brasil observou-se, nas ltimas dcadas, um aumento considervel
da utilizao de gua subterrnea para o abastecimento pblico. Cabe destacar que grande
parte das cidades brasileiras com populao inferior a 5.000 habitantes, possui condies de
recepo de gua proveniente de reservas subterrneas. Isso ocorre devido ao fato de que as
reservas subterrneas geralmente apresentam gua de melhor qualidade e um custo menor de
captao, aduo e tratamento (SABESP, 2013).
Com relao aos dados de esgotamento sanitrio em reas rurais publicados na PNAD/2012, a
situao mais crtica: apenas 5,7% dos domiclios esto ligados rede de coleta de esgotos e
20,3% utilizam a fossa sptica como soluo para o tratamento dos dejetos. Os demais
domiclios (74%) depositam os dejetos em fossas rudimentares, lanam em cursos dgua in
natura ou diretamente no solo a cu aberto.
Uma boa soluo para a adequao dos sistemas de esgotamento sanitrio a implantao de
sistemas simplificados de tratamento de esgoto. De acordo com informaes do Guia
ReCESA (Operao e Manuteno de Sistemas Simplificados OMSS, 2008), a qualidade
esperada do efluente advindo de um sistema simplificado semelhante alcanada pelos
sistemas convencionais, porm com menores custos de implantao e operao, baixo
requisito de rea, simplicidade operacional, de manuteno e de controle, alm de elevada
vida til. Essas caractersticas fazem com que o tratamento simplificado tenha grandes
possibilidades de aplicao no Brasil, e principalmente em regies mais distantes dos centros
urbanos, devido s dificuldades de aplicao de grandes investimentos financeiros para
implantao, operao/manuteno de Estaes de Tratamento de Esgotos ETE.
No presente trabalho, foi adotado o municpio de Belmiro Braga, localizado na Zona da Mata
do estado de Minas Gerais para realizao de um estudo preliminar sobre o sistema de
abastecimento de gua da populao residente em sua rea rural e um estudo da melhor
alternativa de tratamento dos efluentes domsticos gerados nessa mesma localidade.
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2. OBJETIVOS
2.1 Objetivo Geral
O objetivo do presente trabalho realizar uma avaliao preliminar do sistema de
abastecimento de gua utilizado pela populao dos distritos da rea rural do municpio de
Belmiro Braga MG e oferecer uma alternativa de tratamento de efluentes domsticos para
estes distritos.
2.2 Objetivos Especficos
Levantar dados gerais e dados de saneamento do municpio de Belmiro Braga MG.
Identificar os poos artesianos/freticos da rea rural utilizados para abastecer a
populao.
Diagnosticar a populao e rea atendida por cada poo identificado.
Analisar as definies e diretrizes pertinentes descritas na Portaria 2914/2011 do
Ministrio da Sade, que dispe sobre os procedimentos de controle e de vigilncia da
qualidade da gua para consumo humano e seu padro de potabilidade.
Analisar alguns parmetros de qualidade da gua, a fim de se conhecer a gua que
distribuda populao rural do municpio de Belmiro Braga MG.
Realizar um diagnstico preliminar do sistema de abastecimento de gua do municpio de
Belmiro Braga MG.
Analisar o padro de lanamento de efluentes descrito na COPAM/CERH 01 2008, que
dispe sobre a classificao dos corpos de gua e o seu enquadramento, bem como
estabelece as condies e padres de lanamento de efluentes para o estado de Minas
Gerais.
Identificar as tecnologias de sistemas simplificados de tratamento de esgotos aplicadas no
Brasil.
Realizar um estudo preliminar de concepo para proposio de sistemas simplificados
de tratamento de esgoto mais adequados para a rea rural do municpio.
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4
3. REVISO BIBLIOGRFICA
3.1 O municpio de Belmiro Braga
Segundo dados obtidos no IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (2013), a
histria do municpio iniciou-se quando um dos mais antigos moradores da localidade, o
Guarda-Mor Mariano de Cerqueira Carneiro, originrio de Portugal, se estabeleceu na regio
iniciando o plantio de cereais. Posteriormente, requereu a sesmaria onde morava, adquirindo
mais tarde, outras duas sesmarias. O arraial comeou a povoar-se por volta de 1852. No local,
existia a fazenda denominada Boa Vista, de propriedade de Joaquim Garcia de Oliveira, que
mais tarde foi adquirida por Joana Claudina de Jesus, que realizou a doao de terras para a
criao do povoado de quatro alqueires de terra Santana, hoje padroeira da cidade. Outros
moradores se estabeleceram na regio, adquirindo terras e ali se fixando, em sua maioria
portugueses ou descendentes. Mais tarde, tambm chegaram os italianos que muito
contriburam para o progresso do lugar (IBGE, 2013).
O distrito criado recebeu a denominao de Vargem Grande, subordinado ao municpio de
Juiz de Fora. Posteriormente o distrito de Vargem Grande passou a denominar-se Ibitiguaia.
Em 30 de dezembro de 1962, a localidade se desmembrou de Juiz de Fora e tornou-se um
municpio, recebendo o nome em homenagem ao grande poeta Belmiro Braga, nascido na
regio.
De acordo com o Plano Municipal de Saneamento Bsico de Belmiro Braga (2012), o
municpio est situado na Zona da Mata do estado de Minas Gerais, com rea total de 393
quilmetros quadrados. Seu limite territorial faz divisa com os municpios mineiros de Juiz de
Fora, Matias Barbosa, Simo Pereira e Santa Brbara do Monte Verde. J com o estado do
Rio de Janeiro possui limites com os municpios de Paraba do Sul, Comendador Levy
Gasparian e Rio das Flores. O municpio est inserido na Bacia do Rio Paraba do Sul, sendo
banhado ao norte pelo Rio do Peixe, ao leste pelo Rio Paraibuna e ao sul pelo Rio Preto.
Inmeros crregos e ribeires tambm compem a rede hidrogrfica, sendo esta uma regio
predominantemente serrana. A partir do Plano de Recursos Hdricos da Bacia do Rio Paraba
do Sul, o municpio pertence sub-bacia dos afluentes do Rio Preto e Paraibuna (CEIVAP,
2014). Na Figura 1 encontra-se o municpio e seus limites geogrficos.
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5
Figura 1: Delimitao do municpio de Belmiro Braga-MG
Fonte: IBGE (2010)
Com relao demografia, segundo o Censo do IBGE de 2010, o municpio possui 3.403
habitantes divididos em 1.089 domiclios. A distribuio dessa populao se organiza da
seguinte forma: o distrito sede de Belmiro Braga, Vila So Francisco, Sobragy, Trs Ilhas e
Porto das Flores. Aproximadamente 67,7% da populao vivem na zona rural e distritos, os
outros 32,3% encontra-se na sede do municpio.
A organizao do municpio conta com cinco distritos, porm existem outras vilas no citadas
no IBGE (2010). So os distritos de So Jos das Trs Ilhas, Fortaleza e Vila Klabin. No
presente trabalho sero analisados apenas os sete distritos da zona rural, excluindo o distrito
sede de Belmiro Braga.
O municpio possui uma economia voltada principalmente para a agropecuria, com destaque
para a produo de leite e gado de corte. De acordo com o IBGE (2013), o Produto Interno
Bruto do ano de 2009 foi de R$35.245, sendo aproximadamente 33% advindos da
agropecuria, 19% da indstria e 48% da prestao de servios.
A Pesquisa Nacional de Saneamento Bsico de 2008, apresentada no site do IBGE, mostra
que 584 domiclios do municpio possuam abastecimento de gua, representando apenas
53,6% das residncias. O volume de gua distribuda para os 584 domiclios com tratamento
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convencional era de 176 m/d e o volume de gua distribuda, sem nenhum tipo de tratamento
para estes domiclios, era de 222 m/d.
Com relao ao esgotamento sanitrio, o municpio possui rede de coleta de esgotos, porm
os mesmos so lanados nos corpos dgua sem nenhum tipo de tratamento, assim como as
guas pluviais que tambm so coletadas e lanadas em crregos e rios. Estes dois servios
so executados pela prefeitura. Atualmente, com relao aos resduos slidos, a administrao
municipal realiza a coleta, porm transporta os resduos para o Aterro Sanitrio de Dias
Tavares no municpio de Juiz de Fora.
3.2 Qualidade da gua para consumo humano
O conceito de qualidade da gua abrange muito alm de uma simples caracterizao da gua
pela frmula H2O. Isso porque ela incorpora em si diversas impurezas, devido s suas
propriedades de solvente e sua capacidade de transportar partculas (VON SPERLING,
2005).
Segundo Von Sperling (2005), a qualidade da gua resultante de fenmenos naturais e da
atuao do homem. Assim, pode-se dizer que a qualidade de uma determinada gua funo
das condies naturais e o uso e a ocupao do solo da bacia hidrogrfica a qual est inserida.
Dessa forma, o estudo da qualidade da gua se torna fundamental para caracterizar as
conseqncias de uma determinada fonte poluidora e estabelecer os meios para que se
satisfaa determinado uso da gua.
3.2.1 Principais parmetros de qualidade de gua voltada para consumo humano
A qualidade da gua pode ser representada atravs de vrios parmetros. A seguir, na Tabela
1, so destacados os principais parmetros fsicos, qumicos e biolgicos, que determinam a
qualidade da gua.
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Tabela 1: Principais parmetros fsicos, qumicos e microbiolgicos
PARMETROS FSICOS
Parmetros Conceito Origem Natural Origem
antropognica
Importncia
Cor (slidos
dissolvidos)
Colorao na
gua
Decomposio da
matria orgnica
Resduos industriais
e esgotos
domsticos
A presena de cor
associada
clorao pode
formar produtos
cancergenos.
Turbidez (slidos em
suspenso)
Grau de
interferncia
com a passagem
de luz atravs da
gua
Partculas de
rochas, argila e
silte
Despejos industriais
e domsticos,
eroso
Pode estar
associada
presena de
organismos
patognicos.
Sabor e odor
Interao entre
gosto e sensao
olfativa
Decomposio de
matria orgnica,
microrganismos e
gases dissolvidos
Despejos industriais
e domsticos, gases
dissolvidos
Maior causa de
reclamaes dos
consumidores.
Temperatura Intensidade de
calor
Radiao,
conduo e
conveco
Despejos industriais
Aumentam a taxa
de reaes e
diminuem a
solubilidade dos
gases
PARMETROS QUMICOS
pH Concentrao de
ons hidrognio
Dissoluo de
rochas, gases da
atmosfera e
fotossntese
Despejos industriais e
domsticos
Tratamento de gua,
corrosividade e
incrustaes em
tubulaes
Alcalinidade
Quantidade de ons
que reagiro para
neutralizar H+
Dissoluo de
rochas, reao de
CO2 com gua
Despejos industriais
Tratamento de gua,
corrosividade em
tubulaes
Acidez
Resistncia s
mudanas de pH
causadas pelas
bases
Gs sulfdrico e
CO2
Despejos industriais e
gua em contato com
minrio
Corroso de materiais
e tubulaes,
desagradvel paladar
Dureza
Concentrao de
ctions
multimetlicos em
soluo
Dissoluo de
minerais contendo
clcio e magnsio
Despejos industriais
Reduz a formao de
espuma, causa
incrustao
Ferro e
Mangans
Esto presentes nas
formas solveis e
insolveis
Dissoluo de
compostos do solo Despejos industriais
Pode causar cor, sabor
e odor gua
Cloretos ons advindos da
dissoluo de sais
Dissoluo de
minerais e intruso
de guas salinas
Despejos domsticos,
industriais e guas
utilizadas em
irrigao
Confere sabor salgado
gua
Nitrognio
Nitrognio
molecular,
orgnico, amnia,
nitrito e nitrato
Composio celular
dos microrganismos
Despejos industriais,
domsticos,
fertilizantes e
excrementos de
animais
Metahemoglobinemia,
eutofrizao,
toxicidade aos peixes
-
8
PARMETROS BIOLGICOS
Coliformes Totais Organismos de
vida livre
Abundante nas
fezes de
animais de
sangue quente
Efluentes
domsticos,
agropecuria
Indicadores de
eficincia do
tratamento de gua
Coliformes
Termotolerantes
Especialmente a
bactria
Escherichia coli
Abundante nas
fezes de
animais de
sangue quente
Efluentes
domsticos,
agropecuria
Indicador de
contaminao
exclusivamente fecal
Fonte Adaptado de Von Sperling (2005)
3.3 Sistemas de Abastecimento de gua
De acordo com Barros et al. (1995), o Sistema de Abastecimento de gua representa o
"conjunto de obras, equipamentos e servios destinados ao abastecimento de gua potvel de
uma comunidade para fins de consumo domstico, servios pblicos, consumo industrial e
outros usos".
Este sistema se caracteriza pela retirada de gua da natureza, pelo tratamento desta a fim de
adequ-la para consumo, pelo transporte e fornecimento populao. Em linhas gerais as
unidades do sistema de abastecimento de gua so: manancial, captao, aduo, tratamento,
reservao e rede de distribuio (BARROS et al., 1995).
Existem tambm as solues alternativas para o abastecimento de gua, ideais para
localidades onde os sistemas convencionais seriam inviveis de acordo com as caractersticas
da populao, recursos financeiros, entre outros. De acordo com Heller & Pdua (2006), as
solues alternativas incluem poos comunitrios, distribuio por veculo transportador,
instalaes condominiais verticais ou horizontais. Essas solues tm carter permanente
quando so utilizadas por um longo perodo, em reas rurais ou urbanas (HELLER &
PDUA, 2006).
Fsforo
Ortofosfato,
polifosfato e
fsforo orgnico
Dissoluo de
compostos do solo,
decomposio da
matria orgnica
Despejos industriais,
domsticos,
fertilizantes,
excrementos de
animais e detergentes
Eutrofizao
Micropoluentes
Inorgnicos
Metais como
arsnio, cdmio,
chumbo
Irrelevante
Despejos industriais,
atividades
mineradoras, garimpo
e agricultura
Podem ser txicos
Micropoluentes
Orgnicos
Defensivos
agrcolas,
detergentes e
produtos qumicos
Vegetais com
madeira
Despejos industriais,
detergentes,
processamento e
refinamento do
petrleo
No so
biodegradveis e
podem ser txicos.
-
9
Dentre os mananciais de abastecimento de gua, podem ser destacadas as fontes subterrneas,
como os aqferos freticos e os aqferos artesianos. Os aqferos freticos tm seu limite
superior definido pelo lenol fretico e so usualmente os primeiros encontrados quando
ocorre a perfurao de poos. Estes esto mais sujeitos contaminao, devido ao contato
com a superfcie. J os aqferos artesianos so aqueles confinados entre camadas de solo e
rochas, ficando menos expostos s interferncias da superfcie, j que durante a infiltrao a
gua passa pelo processo de filtrao natural (PALMIER, 2010).
3.4 Sistemas de Esgotamento Sanitrio
De acordo com a norma tcnica NBR 9648 de 1986, o sistema de esgotamento sanitrio o
conjunto de condutos, instalaes e equipamentos responsveis pela coleta, transporte e
afastamento, tratamento, e disposio final das guas residurias, de uma forma adequada do
ponto de vista sanitrio e ambiental. O sistema de esgotos existe para diminuir a possibilidade
de contato de dejetos humanos com a populao, com as guas de abastecimento, com vetores
de doenas e alimentos.
Segundo Von Sperling (2005), existem basicamente duas variantes dos sistemas de
esgotamento sanitrio: i) sistemas individuais indicados como soluo local, individual ou
para poucas residncias, com baixo adensamento populacional; e ii) sistemas coletivos com
afastamento dos esgotos da rea servida em regies de alto adensamento populacional, em
tubulaes para lanamento em outro local.
Os sistemas individuais consistem no lanamento de esgotos gerados em uma ou poucas
unidades habitacionais, normalmente envolvendo infiltrao no solo. Esta soluo pode
funcionar, porm o solo deve ter boas condies de infiltrao, alm do nvel de gua
subterrnea se encontrar em boa profundidade. Apesar disso, a possibilidade de
contaminao, principalmente com organismos patognicos, muito grande, necessitando
assim de uma soluo mais eficaz, tanto financeiramente quanto em relao eficincia de
remoo.
J os sistemas coletivos, como so indicados para locais com alta densidade populacional,
consistem em um conjunto de canalizaes que transporta o esgoto at a destinao final,
sendo esta com ou sem tratamento. Os sistemas coletivos ainda podem ser classificados de
-
10
duas formas: sistema separador, que transporta apenas os efluentes domsticos; e sistema
unitrio, que incorpora tambm as guas pluviais na mesma tubulao.
Ressalta-se que um sistema de esgotamento sanitrio coletivo completo contempla desde as
ligaes prediais aos coletores pblicos at o tratamento adequado antes do seu lanamento
final.
3.5 Tratamento de esgoto domstico
Diversas so as tecnologias atualmente disponveis para tratamento de efluentes domsticos,
conforme abordado pela verso mais recente da norma brasileira NBR 12.209/2011 que trata
da elaborao de projetos hidrulico-sanitrios de estaes de tratamento de esgotos
sanitrios.
Nas unidades de tratamento, so realizadas as diversas operaes e processos unitrios que
promovem a separao entre os poluentes em suspenso e dissolvidos e a gua a ser
descarregada no corpo receptor, bem como condicionamento dos resduos retidos.
As tecnologias a serem utilizadas em cada ETE so definidas a partir das caractersticas do
efluente, dos custos de investimento para implantao e operao, da rea disponvel x rea
requerida, da demanda de energia eltrica, da produo de lodo, etc.
3.5.1 Sistemas Simplificados de Tratamento de Esgoto
Segundo o Guia ReCESA A (2008), quando se analisa o grande dficit sanitrio, aliado ao
quadro epidemiolgico e ao perfil socioeconmico das comunidades brasileiras, a opo por
sistemas de saneamento bsico simplificados para a promoo associada da sade da
populao e proteo ambiental assume grande importncia. As solues alternativas para o
tratamento de esgotos, baseadas em sistemas simplificados, encontram grande aplicabilidade e
tm apresentado vantagens sobre os sistemas convencionais por conjugar baixos custos de
implantao e operao, simplicidade operacional, ndices mnimos de mecanizao e uma
maior sustentabilidade do sistema. Segundo o guia, os principais sistemas simplificados de
amplo emprego no pas para o tratamento de esgotos domsticos so:
Lagoas de estabilizao;
Tanque sptico seguido por filtro anaerbio;
-
11
Reator anaerbio de manta de lodo em fluxo ascendente (UASB) seguido por filtro
anaerbio;
UASB seguido por filtro biolgico percolador;
UASB seguido por lagoas de polimento; e
UASB seguido por aplicao superficial no solo.
Ressalta-se que UASB refere-se nomenclatura em ingls para reator anaerbio de manda de
lodo em fluxo ascendente e significa Upflow Anaerobic Sludge Blanket.
Os fluxogramas citados encontram-se descritos a seguir:
Lagoas de estabilizao
Uma das principais tcnicas de tratamento por sistemas de lagoas a combinao de lagoa
anaerbia seguida por lagoa facultativa e lagoas de maturao. As duas primeiras so as que,
efetivamente, consistem em lagoas de estabilizao (que estabilizam a matria orgnica). J as
lagoas de maturao tm a funo de remover organismos patognicos.
Na lagoa facultativa, predominam as bactrias facultativas, capazes de adaptao aos
ambientes aerbios (mais superfcie) e anaerbios (no fundo das lagoas). O oxignio
necessrio estabilizao da matria orgnica fornecido, em grande parte, por algas que
realizam a fotossntese e esto em grande concentrao na parte superior da lagoa.
As lagoas de maturao apresentam profundidades inferiores s lagoas facultativas,
favorecendo a introduo de radiao ultravioleta em toda a massa lquida. Essa a principal
caracterstica desse tipo de lagoa e fundamental para inativao de microrganismos
patognicos. Nestes casos com a carga orgnica j bastante reduzida, a fotossntese ocorre em
grande intensidade, estabelecendo, assim, um ambiente com elevados teores de oxignio
dissolvido OD. As condies ambientais favorecem a remoo de organismos patognicos e
podem alcanar eficincia relativamente elevada de remoo de nitrognio.
Na Figura 2 pode-se observar o fluxograma de um sistema completo de lagoas de
estabilizao, contemplando lagoa anaerbia, lagoa facultativa e lagoa de maturao.
-
12
Figura 2: Sistema utilizando lagoas de estabilizao seguidas por lagoas de maturao
Fonte: ReCESA (2008)
Tanque sptico seguido por filtro anaerbio
Os tanques spticos seguidos por filtros anaerbios (tambm chamados de sistema fossa-
filtro) tm sido amplamente utilizados para atendimento unifamiliar e de comunidades de
pequeno porte. O tanque sptico remove a maior parte dos slidos em suspenso, os quais se
sedimentam e sofrem o processo de digesto anaerbia pela atuao do lodo que se acumula
no fundo do tanque. O tempo de permanncia do lodo no tanque permite que o mesmo seja
estabilizado no prprio reator, ou seja, proporciona a reduo da sua frao orgnica. Esse
lodo poderia dessa forma, ser encaminhado diretamente para uma unidade de desaguamento,
como por exemplo, os leitos de secagem. Porm, a operao do tanque sptico acaba no
ocorrendo nas unidades unifamiliares e dessa forma, o lodo acaba sendo removido por
caminho limpa-fossa e encaminhado a uma estao convencional de tratamento de esgoto.
Em muitos casos no Brasil, por falta de fiscalizao, esse destino final acaba no ocorrendo e
o lodo ento lanado em corpos dgua, solo ou reas no apropriadas para este fim.
O efluente do tanque sptico encaminhado ao filtro anaerbio, que pode ser descendente ou
ascendente. Para este ltimo caso, mais comum, o esgoto entra na parte inferior, passa por um
material de enchimento (pedras ou outros materiais) e sai pela parte superior. O filtro
anaerbio efetua uma remoo complementar de DBO, que pode ocorrer por duas vias: (i)
pela reteno fsica da matria orgnica particulada (de maiores dimenses) atravs do meio
suporte e decantao ao longo da unidade; (ii) pela atuao da camada de biomassa que cresce
aderida ao meio suporte (biofilme). Os microrganismos responsveis pela estabilizao da
matria orgnica crescem no fundo do filtro e tambm aderidos ao material de enchimento.
O lodo de excesso descartado periodicamente do filtro anaerbio tambm j sai estabilizado,
portanto, encaminhado conjuntamente com aquele proveniente do tanque sptico para o seu
destino final. Na Figura 3, pode-se observar um fluxograma tpico desse sistema, inclusive
-
13
com desaguamento natural do lodo. A presena do tratamento preliminar no fluxograma ser
determinada pela vazo de efluente a ser tratado, j que no caso de populaes muito
pequenas, no necessria a utilizao das grades devido baixa extenso das redes.
Ressalta-se que esse lodo desaguado, com algumas restries, pode ser aproveitado em reas
agrcolas como biosslidos e no caso de regies rurais, essa pode ser uma alternativa
interessante tanto para gesto do lodo como para a produo de alimentos.
Figura 3: Sistema utilizando tanque sptico seguido por filtro anaerbio
Fonte: ReCESA (2008)
Reator UASB seguido por filtro anaerbio
No reator UASB, a matria orgnica contida no esgoto estabilizada por microrganismos
anaerbios que crescem dispersos no reator. O fluxo do lquido ascendente. A parte superior
do reator UASB contm uma estrutura denominada separador trifsico (gs, slido e lquido).
O gs coletado pode ser reaproveitado em funo do seu alto poder calorfico ou at mesmo
para gerao de energia por causa da presena de metano, devendo ser ao menos queimado.
Adjacente ao separador trifsico encontra-se a cmara de decantao que responsvel pela
sedimentao do lodo e retorno deste ao sistema e ainda a retirada do efluente clarificado. A
biomassa que cresce no sistema constitui o lodo cujo excesso (denso e com baixo teor de
matria orgnica) descartado periodicamente do reator e encaminhado para uma unidade de
desaguamento, normalmente o leito de secagem em unidades de pequeno porte.
A utilizao de filtro anaerbio para o ps-tratamento do efluente do reator UASB, o qual
substitui, com vantagens, o tanque sptico no sistema clssico, tem sido praticada em algumas
-
14
localidades no Brasil (ReCESA, 2008). O filtro anaerbio atua na remoo complementar da
matria orgnica pela reteno fsica, decantao e pela atuao do biofilme.
O fluxograma do sistema pode ser observado na Figura 4.
Figura 4: Sistema utilizando reator UASB seguido por filtro anaerbio
Fonte: ReCESA (2008)
Reator UASB seguido por filtro biolgico percolador
A maior parte da matria orgnica removida no reator UASB, e o filtro biolgico percolador
permite uma remoo complementar da DBO, alm de alguma remoo de amnia no caso de
filtros de baixa taxa, pelo processo de nitrificao. Essa configurao permite eficincia de
remoo de DBO bastante superior ao sistema UASB associado ao filtro anaerbio,
alcanando at 93%, segundo Von Sperling (2005) e apresentado na Tabela 3 do presente
estudo.
No filtro biolgico percolador, assim como ocorre nos filtros anaerbios, a biomassa cresce
aderida a um material de enchimento, que pode ser constitudo de pedras e outros materiais. A
grande diferena entre esses dois sistemas, que o filtro biolgico percolador funciona em
presena de oxignio, ou seja, aerbio.
importante destacar que o lodo aerbio gerado no filtro biolgico percolador, ainda no
estabilizado, pode ser enviado ao reator UASB, onde sofre adensamento e digesto,
juntamente com o lodo anaerbio. Dessa forma, o tratamento do lodo grandemente
simplificado, havendo apenas a etapa de desidratao nos leitos de secagem, conforme pode
ser observado no fluxograma detalhado apresentado na Figura 5.
-
15
Ressalta-se que apesar desse fluxograma ser simplificado e indicado para unidades de
pequeno e mdio porte, utilizado para tratamento de esgoto de 1,5 milhes de habitantes na
ETE Ona em Belo Horizonte/MG (COPASA, 2013).
Figura 5: Sistema utilizando reator UASB seguido por filtro biolgico percolador
Fonte: ReCESA (2008)
Reator UASB seguido por lagoas de polimento
As lagoas de polimento so alternativas bastante atrativas para o ps-tratamento do efluente
do reator UASB. Essas realizam tanto a funo de remoo complementar de DBO como a
funo de maturao, com boas eficincias de remoo de organismos patognicos.
Entretanto, sua utilizao est limitada pela disponibilidade de rea. Essa demanda por
habitante bastante elevada quando comparada com os fluxogramas de UASB associado ao
filtro anaerbio e UASB associado ao filtro biolgico percolador.
Por fim, ressalta-se ainda que esse fluxograma, apresentado na Figura 6, pode alcanar
elevada eficincia de nitrificao, reduzindo de maneira satisfatria a concentrao de amnia
no efluente final.
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16
Figura 6: Sistema utilizando reator UASB seguido por lagoa de polimento
Fonte: ReCESA (2008)
Reator UASB seguido por aplicao no solo
O esgoto proveniente do reator UASB aplicado de forma intermitente na parte superior de
terrenos com certa declividade, atravs dos quais escoa, at ser coletado por valas na parte
inferior. O terreno deve ser plantado com uma vegetao resistente ao alagamento, para
auxiliar no tratamento do esgoto e evitar a eroso do terreno. Esse sistema, alm da remoo
complementar da DBO, pode ainda ser empregado para a remoo de nitrognio, o que ocorre
por interaes qumicas no solo e absoro pela biomassa vegetal. Outro aspecto importante
a possibilidade de atendimento conjunto, pelo sistema, aos objetivos de tratamento do esgoto
e de irrigao, constituindo-se, assim, numa forma de reuso do efluente.
Essa tecnologia, no muito utilizada no Brasil, apesar de ter sido amplamente estudada pelo
mais importante programa de pesquisa nacional em saneamento, o Programa de Pesquisa em
Saneamento Bsico PROSAB.
Na Figura 7, encontra-se apresentado o fluxograma composto por reator UASB e aplicao no
solo.
-
17
Figura 7: Sistema utilizando reator UASB seguido por aplicao no solo
Fonte: ReCESA (2008)
3.5.2 Valores tpicos dos sistemas de tratamento de esgotos
Para a avaliao do desempenho dos sistemas de tratamento de esgotos, necessrio o
conhecimento dos valores tpicos neles usualmente observados tanto de concentrao efluente
de parmetros de qualidade de gua, bem como suas eficincias de remoo.
Na Tabela 2, podem-se observar os valores tpicos de concentrao efluente de matria
orgnica, slidos, nutrientes, indicadores de contaminao fecal e ovos de helmintos para os
sistemas simplificados descritos neste trabalho. J na Tabela 3, para os mesmos parmetros
mencionados e para os mesmos sistemas, podem-se observar suas eficincias de remoo.
-
18
Tabela 2: Valores tpicos de concentraes mdias efluentes
Qualidade mdia do efluente
Sistema DBO5
(mg/L)
DQO
(mg/L)
SS
(mg/L)
Amnia-
N
(mg/L)
N total
(mg/L)
P total
(mg/L)
Ctera
(NMP/100mL)
Ovos
helm.b
(ovo/L)
Lagoa
anaerbia
+ facultativa +
maturao
40 a 70 100 a
180 50 a 80 10 a 15 10 a 20 < 4
10 a
104 < 1
Tanque
sptico +
filtro
anaerbio
40 a 80 100 a
200 30 a 60 > 15 > 20 > 4 10
6 a 10
7 > 1
UASB + filtro
anaerbio 40 a 80
100 a
200 30 a 60 > 15 > 20 > 4 10
6 a 10
7 > 1
UASB + filtro
biolgico
percolador
20 a 60 70 a 180 20 a 40 > 15 > 20 > 4 106 a 10
7 > 1
UASB +
lagoas de
polimento
40 a 70 100 a
180 50 a 80 10 a 15 15 a 20 < 4 10 a 10
4 < 1
UASB +
escoamento
superficial
30 a 70 90 a 180 20 a 60 10 a 20 > 15 > 4 104 a 10
6 < 1
a Coliformes Termotolerantes
b Ovos de Helmintos
Fonte: Adaptado de Von Sperling (2005) apud ReCESA (2008)
-
19
Tabela 3: Valores tpicos de eficincias mdias de remoo
Eficincia mdia de remoo
Sistema DBO (%) DQO
(%) SS (%)
Amnia -
N (%)
N total
(%)
P total
(%) CTer (unid. Log)
Lagoa anaerbia
+ facultativa +
maturao
80 a 85 70 a 83 73 a 83 50 a 65 50 a 65 < 50 3 a 5
Tanque sptico +
filtro anaerbio 80 a 85 70 a 80 80 a 90 > 45 > 60 > 35 1 a 2
UASB + filtro
anaerbio 75 a 87 70 a 80 80 a 90 > 50 > 60 > 35 1 a 2
UASB + filtro
biolgico
percolador
80 a 93 73 a 83 87 a 93 > 50 > 60 > 35 1 a 2
UASB + lagoas
de
polimento
77 a 87 70 a 83 73 a 83 50 a 65 50 a65 < 50 3 a 5
UASB +
escoamento
superficial
77 a 90 70 a 85 80 a 93 35 a 65 > 65 > 35 2 a 3
Fonte: Adaptado de Von Sperling (2005) apud ReCESA (2008)
Observa-se que a concentrao de DBO e de DQO do efluente final, para todos os sistemas
simplificados fica no intervalo de 20 a 80 mg/L e 70 a 200 mg/L, respectivamente, sendo a
tecnologia UASB mais filtro biolgico percolador a mais eficiente nos dois casos. Em relao
remoo de amnia, essa somente satisfatria em fluxogramas com lagoas ou escoamento
superficial. No caso do parmetro fsforo, sua remoo satisfatria somente em sistemas
com lagoas. Conforme j mencionado, a remoo de organismos patognicos tambm
alcanada com boas eficincias, somente nas unidades com lagoas.
Por fim, na Tabela 4, encontram-se apresentadas importantes relaes de demanda de rea, de
energia, custos e produo de lodo dos mesmos sistemas simplificados j descritos e nela,
pode-se observar a grande diferena de demanda de rea das unidades com lagoas em relao
s demais.
-
20
Tabela 4: Caractersticas tpicas dos principais sistemas de tratamento de esgotos
Potncia para aerao
(W/hab)
Volume de lodo
(L/hab.ano)
Custos
(R$/hab)
Sistema
Demanda
de rea
(m/hab)
Instalada Consumida
por ano
Lquido
a ser
tratado
Desidratado
a ser
disposto
Instalao O&M por
ano
Lagoa
anaerbia
+
facultativa
+
maturao
3,0 a 5,0 0 0 55 a 160 20 a 60 50 a 100 2,5 a 5,0
Tanque
sptico +
filtro
anaerbio
0,2 a 0,35 0 0 180 a
1000 25 a 50 80 a 130 6,0 a 10,0
UASB +
filtro
anaerbio
0,05 a
0,15 0 0
150 a
300 10 a 50 45 a 70 3,5 a 5,5
UASB +
filtro
biolgico
percolador
0,1 a 0,2 0 0 180 a
400 15 a 55 60 a 90 5,0 a 7,5
UASB +
lagoas de
polimento
1,5 a 2,5 0 0 150 a
250 10 a 35 40 a 70 4,5 a 7,0
UASB +
escoamento
superficial
1,5 a 3,0 0 0 70 a 220 10 a 35 50 a 90 5,0 a 7,0
Fonte: Adaptado de Von Sperling (2005) apud ReCESA (2008)
3.5.3 Consideraes para o dimensionamento dos sistemas simplificados
Para a realizao de dimensionamento de determinadas unidades do tratamento de efluentes
domsticos, se faz necessrio uma srie de consideraes a serem levadas em conta,
principalmente quando essas unidades so dimensionadas para vazes muito pequenas, como
o caso do presente estudo. A seguir sero apresentadas essas consideraes para cada etapa
do tratamento, de acordo com as recomendaes de Jordo e Volschan (2009).
Tratamento Preliminar
Para vazes inferiores a 250 L/s, recomendvel utilizar apenas as grades finas,
desarenador e Calha Parshall, sendo estes de limpeza manual;
-
21
Apenas o sistema Tanque Sptico associado ao Filtro Anaerbio no precedido de
tratamento preliminar, devido baixa extenso de redes coletoras e consequentemente
pouca quantidade de slidos grosseiros;
Mesmo as contribuies de at 250 domiclios devem conter o tratamento preliminar,
com exceo dos sistemas tanque sptico + filtro anaerbio que tenham vazo inferior a
1,0 L/s;
Nas grades finas, adota-se a velocidade mnima de 0,6 m/s para garantir um nmero de
barras considervel, provocando tambm o aumento da largura da seo;
Deve ser garantida a velocidade de escoamento de 0,3 m/s no canal da Calha Parshall;
Para vazes compreendidas entre 0,11 e 5,60 L/s, indica-se a utilizao da seo da
garganta 1 para o dimensionamento da Calha Parshall;
Reator UASB
As diretrizes do dimensionamento esto descritas na NBR 12209/2011;
Para pequenas vazes indica-se o dimensionamento de reatores cilndricos, j que estes
so encontrados no mercado pr-fabricados e montados no prprio local;
O tempo de deteno hidrulica deve estar entre 6 e 9 horas para temperaturas tpicas
entre 20 e 26 C;
A Carga Orgnica Volumtrica (COV) deve estar entre 2,5 e 3,5 kg DQO/(d.m);
A velocidade ascensional de fluxo deve estar entre 0,5 e 0,7 m/h para vazo mdia e 0,9 e
1,1 m/h para vazo mxima;
A profundidade til do reator dever estar entre 5 e 6 m;
A angulao das cortinas dos decantadores deve ser maior que 50;
A profundidade dos decantadores deve estar entre 1,5 e 2,0 m;
A taxa de aplicao superficial nos decantadores deve estar compreendida entre 0,6 e 0,8
m/h para vazo mdia e menor que 1,2 m/h para vazo mxima;
Para tempo de deteno hidrulica do decantador, indica-se que este esteja entre 1,5 e 2,0
h para vazo mdia e maior que 1,0 h para vazo mxima;
-
22
A velocidade de passagem nas aberturas do decantador deve ser menor que 2,3 m/h para
vazo mdia e 4,2 m/h para vazo mxima;
Os tubos de amostragem da manta e do leito de lodo devem estar distantes 0,5, 1,0 e 1,5
m do fundo;
Deve haver um tubo de descarte do lodo no fundo e a 1,2 m do fundo;
Lagoa de Polimento
O tempo de deteno hidrulica deve estar situado entre 9 e 12 dias;
A profundidade das lagoas deve estar entre 0,4 a 1,0 m;
Tanque Sptico e Filtro Anaerbio
Para evitar perturbaes ao seu funcionamento, a forma prismtica retangular do tanque
sptico a mais indicada;
A relao entre o comprimento (L) e a largura (B) para fossas prismticas retangulares
deve ser: 2 < L/B < 4 e B > 0,80 m;
A profundidade til (Hu) deve estar compreendida entre 1,80 e 2,80 m;
A altura do meio suporte do filtro anaerbio de no mximo 1,20 m, j includa a
distncia entre o fundo da unidade e o fundo falso, sendo que este deve ser menor que
0,6 m j includa a espessura da laje de fundo;
Para contribuies acima de 100 habitantes no so aplicveis as unidades cilndricas.
3.6 Aspectos Legais
3.6.1 Portaria 2914/2011 do Ministrio da Sade
Esta portaria dispe sobre os procedimentos de controle e de vigilncia da qualidade da gua
para consumo humano e seu padro de potabilidade. Segundo a portaria, toda gua destinada
ao consumo humano, distribuda coletivamente por meio de sistema ou soluo alternativa
coletiva de abastecimento de gua, deve ser objeto de controle e vigilncia da qualidade da
gua. A seguir sero destacadas duas definies estabelecidas na Portaria 2914/2011 que so
de interesse neste estudo:
-
23
Sistema de abastecimento de gua para consumo humano: instalao composta por
um conjunto de obras civis, materiais e equipamentos, desde a zona de captao at as
ligaes prediais, destinada produo e ao fornecimento coletivo de gua potvel, por
meio de rede de distribuio;
Soluo alternativa coletiva de abastecimento de gua para consumo humano:
modalidade de abastecimento coletivo destinada a fornecer gua potvel, com captao
subterrnea ou superficial, com ou sem canalizao e sem rede de distribuio.
Competncias do Municpio
Com relao s competncias dos municpios, pode-se destacar que dever do poder pblico
local: inspecionar o controle da qualidade da gua produzida e distribuda e as prticas
operacionais adotadas no sistema ou soluo alternativa coletiva de abastecimento de gua;
manter articulao com as entidades de regulao quando detectadas falhas relativas
qualidade dos servios de abastecimento de gua; garantir informaes populao;
encaminhar ao responsvel pelo sistema ou soluo alternativa coletiva de abastecimento de
gua informaes sobre surtos e agravos sade relacionados qualidade da gua para
consumo humano; realizar, em parceria com os Estados, nas situaes de surto de doena
diarrica aguda ou outro agravo de transmisso feco-oral, anlise microbiolgica completa;
cadastrar e autorizar o fornecimento de gua tratada, por meio de soluo alternativa coletiva,
mediante avaliao e aprovao dos documentos exigidos. Salienta-se tambm que a
autoridade municipal de sade pblica no autorizar o fornecimento de gua para consumo
humano, por meio de soluo alternativa coletiva, quando houver rede de distribuio de
gua, exceto em situao de emergncia e intermitncia.
Competncias do responsvel
Com relao ao responsvel pelo sistema ou soluo alternativa de abastecimento de gua,
dever do mesmo garantir a operao e a manuteno das instalaes destinadas ao
abastecimento de gua potvel em conformidade com as normas tcnicas da Associao
Brasileira de Normas Tcnicas (ABNT); manter e controlar a qualidade da gua produzida e
distribuda; manter avaliao sistemtica; encaminhar autoridade de sade pblica dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municpios relatrios das anlises dos parmetros mensais,
trimestrais e semestrais com informaes sobre o controle da qualidade da gua; monitorar a
qualidade da gua no ponto de captao; comunicar aos rgos ambientais, aos gestores de
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recursos hdricos e ao rgo de sade pblica dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municpios qualquer alterao da qualidade da gua no ponto de captao; executar aes
cabveis para proteo do(s) manancial(ais) de abastecimento(s) e das bacia(s) hidrogrfica(s);
proporcionar mecanismos para recebimento de reclamaes e manter registros atualizados
sobre a qualidade da gua distribuda; comunicar imediatamente autoridade de sade
pblica municipal e informar adequadamente populao a deteco de qualquer risco
sade; assegurar pontos de coleta de gua na sada de tratamento e na rede de distribuio;
deve requerer, junto autoridade municipal de sade pblica, autorizao para o fornecimento
de gua tratada. Deve-se ressaltar tambm que a gua proveniente de soluo alternativa
coletiva ou individual, para fins de consumo humano, no poder ser misturada com a gua da
rede de distribuio.
Exigncias Aplicveis
As principais exigncias relacionadas aos sistemas de abastecimento de gua so:
Todo sistema de abastecimento de gua para consumo humano deve contar com
responsvel tcnico habilitado.
Toda gua para consumo humano, fornecida coletivamente, dever passar por processo
de desinfeco ou clorao.
A rede de distribuio de gua para consumo humano deve ser operada sempre com
presso positiva em toda sua extenso.
As guas provenientes de manancial superficial devem ser submetidas a processo de
filtrao.
Padro de Potabilidade
Devem ser destacados os seguintes pontos contidos na Portaria 2914/2011:
Os responsveis pelo controle da qualidade da gua de sistemas ou solues alternativas
coletivas de abastecimento de gua para consumo humano, supridos por manancial
superficial e subterrneo, devem coletar amostras semestrais da gua bruta, no ponto de
captao, para anlise de acordo com os parmetros exigidos nas legislaes especficas,
com a finalidade de avaliao de risco sade humana.
A gua potvel deve estar em conformidade com padro microbiolgico.
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25
Na rede de distribuio, quando forem detectadas amostras com resultado positivo para
coliformes totais, aes corretivas devem ser adotadas e novas amostras devem ser
coletadas em dias imediatamente sucessivos at que revelem resultados satisfatrios.
Nos sistemas de distribuio, as novas amostras devem incluir no mnimo uma recoleta
no ponto onde foi constatado o resultado positivo para coliformes totais e duas amostras
extras, sendo uma montante e outra jusante do local da recoleta.
O resultado negativo para coliformes totais das recoletas no anula o resultado
originalmente positivo no clculo dos percentuais de amostras com resultado positivo.
Quando houver interpretao duvidosa nas reaes tpicas dos ensaios analticos na
determinao de coliformes totais e Escherichia coli, deve-se fazer a recoleta.
A determinao de bactrias heterotrficas deve ser realizada como um dos parmetros
para avaliar a integridade do sistema de distribuio (reservatrio e rede).
Na seleo dos locais para coleta de amostras devem ser priorizadas pontas de rede e
locais que alberguem grupos populacionais de risco sade humana.
Entre os 5% dos valores permitidos de turbidez superiores ao VMP (valor mximo
permitido) estabelecidos na Tabela 5, para gua subterrnea com desinfeco, o limite
mximo para qualquer amostra pontual deve ser de 5,0 uT, assegurado, simultaneamente,
o atendimento ao VMP de 5,0 uT em toda a extenso do sistema de distribuio
(reservatrio e rede).
Entre os 5% das amostras que podem apresentar valores de turbidez superiores ao VMP
estabelecido, o limite mximo para qualquer amostra pontual deve ser menor ou igual a
1,0 uT, para filtrao rpida e menor ou igual a 2,0 uT para filtrao lenta.
Os sistemas ou solues alternativas coletivas de abastecimento de gua supridas por
manancial subterrneo com ausncia de contaminao por Escherichia coli devem
realizar clorao da gua mantendo o residual mnimo do sistema de distribuio
(reservatrio e rede).
Quando o manancial subterrneo apresentar contaminao por Escherichia coli, no
controle do processo de desinfeco da gua, devem ser observados os valores do produto
de concentrao residual de desinfetante na sada do tanque de contato e o tempo de
contato expressos na portaria ou a dose mnima de radiao ultravioleta.
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A avaliao da contaminao por Escherichia coli no manancial subterrneo deve ser
feita mediante coleta mensal de uma amostra de gua em ponto anterior ao local de
desinfeco.
Na ausncia de tanque de contato, a coleta de amostras de gua para a verificao da
presena/ausncia de coliformes totais em sistemas de abastecimento e solues
alternativas coletivas de abastecimento de guas, supridas por manancial subterrneo,
dever ser realizada em local montante ao primeiro ponto de consumo.
obrigatria a manuteno de, no mnimo, 0,2 mg/L de cloro residual livre ou 2 mg/L de
cloro residual combinado ou de 0,2 mg/L de dixido de cloro em toda a extenso do
sistema de distribuio (reservatrio e rede).
Recomenda-se que, no sistema de distribuio, o pH da gua seja mantido na faixa de 6,0
a 9,5.
Recomenda-se que o teor mximo de cloro residual livre em qualquer ponto do sistema
de abastecimento seja de 2 mg/L.
Alm disso, vale destacar que esta legislao define um padro de turbidez para ps-filtrao
ou pr-desinfeco, como mostrado na Tabela 5.
Tabela 5: Tabela de padro de turbidez para gua ps-filtrao ou pr-desinfeco
Tratamento da gua
Valor Mximo Permitido
Desinfeco (para guas subterrneas)
1,0 uT em 95% das amostras
Filtrao rpida (tratamento completo ou
filtrao direta)
0,5 uT em 95% das amostras
Filtrao lenta
1,0 uT em 95% das amostras
Fonte: Adaptado da Portaria n 2914/2011
Planos de Amostragem
Os responsveis pelo controle da qualidade da gua de sistemas ou solues alternativas
coletivas de abastecimento de gua para consumo humano, supridos por manancial superficial
e subterrneo, devem coletar amostras semestrais da gua bruta, no ponto de captao, para
anlise de acordo com os parmetros exigidos nas legislaes especficas, com a finalidade de
avaliao de risco sade humana. Tambm devem elaborar e submeter para anlise da
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autoridade municipal de sade pblica, o plano de amostragem de cada sistema e soluo,
respeitando os planos mnimos de amostragem expressos na portaria 2914/2011.
A seguir, encontra-se a Tabela 6 com os principais parmetros analisados em guas para
consumo humano e seus principais Valores Mximos Permitidos - VMP, estipulados pela
Portaria 2914/2011.
Tabela 6: Parmetros da gua potvel e seus VMP estabelecidos na Portaria 2914/2011
Parmetro VMPa
Alumnio 0,2 mg/L
Amnia (NH3) 1,5 mg/L
Cor aparente 15 uHb
Cloreto 250 mg/L
Dureza total 500 mg/L
Ferro 0,3 mg/L
Mangans 0,1 mg/L
Sdio 200 mg/L
Slidos dissolvidos totais 1000 mg/L
Zinco 5 mg/L
Cloro residual livre 5 mg/L
Trihalometanos total 0,1 mg/L
Escherichia coli Ausncia em 100 mL a VMP = Valor Mximo Permitido
b uH = Unidade Hazen (mg PtCo/L)
Fonte: Adaptado da Portaria n 2914/2011
Com relao ao nmero e freqncia de coleta de amostras para mananciais subterrneos,
indica-se: uma amostragem semanal, referente cor, na sada do tratamento e cinco amostras
mensais na rede de distribuio de gua; para o cloro residual, uma amostragem na sada do
tratamento duas vezes por semana, assim como para pH e turbidez; e para os demais
parmetros, uma amostra na sada do tratamento e uma na rede de distribuio, sendo estas
semestrais.
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3.6.2 Resoluo CONAMA n 396/2008
A CONAMA n 396/2008 dispe sobre a classificao e diretrizes ambientais para o
enquadramento das guas subterrneas. As guas subterrneas so classificadas em seis
classes (especial, 1, 2, 3, 4 e 5) de acordo com as alteraes sofridas pelas aes antrpicas.
Alm disso, estabelece diretrizes para a preveno e controle da poluio das guas
subterrneas. Por fim, define os parmetros de qualidade de gua de acordo com seus usos
preponderantes.
3.6.3 Resoluo CONAMA n 357/2005
A Resoluo CONAMA n 375/2005, atualmente somente dispe sobre a classificao dos
corpos de gua e diretrizes ambientais para o seu enquadramento. Desde 2011, com a
implantao da Resoluo CONAMA n 430, a CONAMA 357 deixou de estabelecer as
condies e padres de lanamento de efluentes.
Assim, a Resoluo CONAMA 357 classifica as guas superficiais em: guas doces (classes
especial, 1, 2, 3 e 4), salobras (classes especial, 1, 2, 3), ou salinas (classes especial, 1, 2, 3),
de acordo com a qualidade requerida para seus usos preponderantes.
Dessa forma, a legislao define, para cada uma das 13 classes descritas acima, limites para
parmetros fsico-qumicos e microbiolgicos que determinam a sua qualidade, alm de
estabelecer as diretrizes para o enquadramento de corpos dgua.
Nas bacias hidrogrficas em que a condio de qualidade dos corpos de gua esteja em
desacordo com os usos preponderantes pretendidos, devero ser estabelecidas metas
obrigatrias, intermedirias e finais, de melhoria da qualidade da gua para efetivao dos
respectivos enquadramentos, excetuados nos parmetros que excedam aos limites devido s
condies naturais. Especificamente com relao a efluentes domsticos, para se alcanar o
enquadramento, o ideal o tratamento dos mesmos.
3.6.4 Resoluo CONAMA n 430/2011
A Resoluo CONAMA n 430/2011 tem por objetivo definir critrios para lanamento de
efluentes e estabelece condies, parmetros, padres e diretrizes para a gesto do lanamento
de efluentes em corpos receptores.
Inicialmente a legislao classifica os efluentes como: 1) efluentes domsticos; e 2) efluentes
de qualquer outra fonte poluidora. Essa classificao permite estabelecimento de valores
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mximos e/ou eficincias mnimas exigidos levando-se em considerao os diferentes
potenciais poluidores que cada um deles oferece. No caso do parmetro DBO, sua
concentrao final limite para lanamento no caso de esgoto domstico de 120 mg/L, sendo
que deve ser mantida uma eficincia mnima de remoo de 60% para o mesmo parmetro.
Esta ressalva contempla efluentes que possuam altas concentraes de DBO e que, mesmo
passando por tratamento, no alcanam a concentrao de 120 mg/L.
Por se tratar de uma resoluo federal, muitas vezes os parmetros e caractersticas
estabelecidas se tornam pouco restritivos, j que o pas possui vasta extenso territorial e
caractersticas distintas, como populao, economia, clima, entre outros fatores, que devem
ser levados em conta. Assim, alguns estados brasileiros adotam legislaes estaduais para
lanamento de efluentes mais restritivas. No caso do estado de Minas Gerais, esta a
Deliberao Normativa Conjunta COPAM/CERH 01/2008.
3.6.5 Deliberao Normativa Conjunta COPAM CERH 01/2008
Essa legislao estadual, alm de classificar os corpos dgua superficiais em geral e dar
diretrizes ambientais para o seu enquadramento, estabelece as condies e padres de
lanamento de efluentes, assim como era a Resoluo CONAMA 357/2005 antes da
implantao da CONAMA 430/2011, na esfera federal.
A COPAM CERH 01/2008 ser utilizada no presente trabalho como referncia e, portanto,
limites para alguns parmetros que estabelecem o padro de lanamento de efluentes,
abordados por ela sero destacados a seguir:
pH entre 6,0 a 9,0;
Temperatura: inferior a 40C, sendo que a variao de temperatura do corpo receptor no
dever exceder a 3C no limite da zona de mistura, desde que no comprometa os usos
previstos para o corpo dgua;
Materiais sedimentveis: at 1 mL/L em teste de 1 hora em cone Imhoff. Para o
lanamento em lagos e lagoas, cuja velocidade de circulao seja praticamente nula, os
materiais sedimentveis devero estar virtualmente ausentes;
Regime de lanamento com vazo mxima de at 1,5 vezes a vazo mdia do perodo de
atividade diria do agente poluidor, exceto nos casos permitidos pela autoridade
competente;
leos e graxas:
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a) leos minerais: at 20mg/L;
b) leos vegetais e gorduras animais: at 50mg/L.
Ausncia de materiais flutuantes;
DBO at 60 mg/L ou tratamento com eficincia de reduo de DBO em no mnimo 60%
e mdia anual igual ou superior a 70% para sistemas de esgotos sanitrios.
DQO at 180 mg/L ou tratamento com eficincia de reduo de DQO em no mnimo 55%
e mdia anual igual ou superior a 65% para sistemas de esgotos sanitrios;
Slidos em suspenso totais at 100 mg/L, sendo 150 mg/L nos casos de lagoas de
estabilizao.
Conhecendo os padres de lanamento, percebe-se claramente a diferena de restrio em
relao ao parmetro DBO entre a legislao federal e a estadual. Para atender a legislao do
estado de Minas Gerais, pode-se lanar no corpo receptor um efluente de sistemas de
esgotamento sanitrio com at 60 mg/L e segundo a legislao federal, esta concentrao
poderia ser de at 120 mg/L.
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4. MATERIAIS E MTODOS
4.1 Sistema de Abastecimento de gua
4.1.1 Caracterizao das fontes de abastecimento
Para a caracterizao das fontes de abastecimento de gua, inicialmente realizou-se um
levantamento da localizao dos poos e nascentes que abastecem as sete comunidades rurais
atravs do uso do GPS map 76CS x Garmin, de fotografias dos locais e de informaes
fornecidas pela populao. Na Tabela 7 sero mostradas as coordenadas geogrficas de cada
ponto e sua respectiva altitude, alm do tipo de fonte utilizada.
Tabela 7: Coordenadas geogrficas de cada poo/nascente e tipo de fonte
Numerao
das
amostras
Distrito Latitude Longitude Altitude Tipo de
Fonte
1 Fortaleza 215756,3 S 432909,0 W 606 m
Poo
artesiano
2 Vila Klabin 215640,1 S 432628,4 W 528 m Nascente
3 Vila So
Francisco 215430,5 S 432311,4 W 460 m
Poo
artesiano
4 Sobragy 215750,6 S 432221,4 W 451 m
Poo
artesiano
5 Trs Ilhas 220337,9 S 432623,2 W 385 m Nascente
6 Porto das
Flores 220455,0 S 433331,3 W 392 m
Poo
artesiano
7 So Jos das
Trs Ilhas 220152,5 S 432902,2 W 603 m
Poo
artesiano
Nas Figuras 8a, 8b, 8c, 8d e 8e, so mostradas as imagens dos poos utilizados em cinco
distritos. Como apresentado na Tabela 7, os distritos de Trs Ilhas e Vila Klabin so
abastecidos por nascentes espalhadas na regio e de difcil acesso, o que dificultou o acesso
aos locais para posterior registro. Sendo assim so mostradas apenas cinco das sete fontes de
abastecimento de gua utilizadas na zona rural do municpio de Belmiro Braga.
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a) Fortaleza
b) Porto das Flores
c) So Jos das Trs Ilhas
d) Sobragy
e) Vila So Francisco
Figura 8: Poos utilizados para o abastecimento da populao rural do municpio de
Belmiro Braga Fonte: Acervo pessoal
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A localizao das sete fontes nos distritos mostrada na Figura 9. Como pode-se perceber, os
distritos de Porto das Flores e Trs Ilhas esto localizados na divisa entre o estado de Minas
Gerais e Rio de Janeiro.
Figura 9: Localizao dos sete distritos do municpio de Belmiro Braga
Fonte: Google Earth (2014)
Nos sete distritos, o abastecimento de gua ocorre de forma semelhante. Em cinco das sete
comunidades, a gua captada em mananciais subterrneos atravs de bombeamento, sendo
transportada para um reservatrio, onde ocorre distribuio da gua atravs das redes de
abastecimento. Nos distritos de Vila Klabin e Trs Ilhas, a reservao e distribuio da gua
ocorrem da mesma forma, porm utilizam-se nascentes como mananciais. Nestas duas
comunidades, assim que a gua das nascentes chega superfcie, esta captada e levada at o
reservatrio de distribuio.
4.1.2 Planejamento experimental
Realizaram-se duas campanhas de amostragem nos dias 21 de abril e 20 de maio do ano de
2014, todas iniciadas s 8 h da manh. Devido s grandes distncias entre os sete locais de
amostragens, realizou-se o transporte de carro com tempo entre as coletas de
aproximadamente 30 min. A rota para a coleta das amostras iniciou-se na comunidade de So
Jos das Trs Ilhas, seguindo por Fortaleza, Vila Klabin, Vila So Francisco, Sobragy, Trs
Ilhas, Porto das Flores, sendo que a ltima amostra foi coletada na localidade de onde a rota
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comeou. A distncia total percorrida em cada campanha de amostragem chegou a
aproximadamente 70 km.
As coletas das amostras foram do tipo simples, feitas em torneiras ligadas diretamente rede
coletiva de distribuio de gua, sendo assim localizadas aps os reservatrios de cada
localidade, porm antecedendo a chegada at as residncias. Utilizaram-se garrafas PET de
510 mL limpas e estas foram numeradas em 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7, correspondendo,
respectivamente, s fontes dos distritos de Fortaleza, Vila Klabin, Vila So Francisco,
Sobragy, Trs Ilhas, Porto das Flores e So Jos das Trs Ilhas. Posteriormente cada amostra
foi preservada em isopor com gelo e levadas para anlise no dia seguinte coleta no
Laboratrio de Mecnica dos Fluidos da Faculdade de Engenharia da UFJF. As etapas de
amostragem e preservao de amostras seguiram as especificaes da NBR 9898/1987, que
determina para cada parmetro a ser analisado o tipo de frasco, volume mnimo, o tipo de
amostra, a preservao e o prazo de anlise.
4.1.3 Anlise das amostras
Os parmetros analisados foram: pH, cor, turbidez, condutividade eltrica, slidos dissolvidos
totais (SDT) e salinidade. No caso da cor, esta pode ser dividida em cor verdadeira,
proveniente das partculas dissolvidas na mesma, e em cor aparente, que influenciada pela
presena de slidos suspensos. No presente estudo, a cor avaliada faz referncia cor
aparente, pois esta a analisada pelo medidor de cor Alfakit. O pH, condutividade, salinidade
e SDT foram medidos atravs da Sonda Multiparmetro Hanna HI9828, enquanto que para a
turbidez, utilizou-se o turbidmetro DLT-WV Del Lab. Para realizao das medies, todos os
aparelhos foram calibrados com o objetivo de diminuir os erros gerados. As unidades para
cada parmetro so mostradas a seguir, na Tabela 8.
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Tabela 8: Parmetros e respectivas unidades utilizadas
Parmetro Unidade
pH -
Cor mg PtCo/La
Turbidez uTb
Condutividade eltrica S/cm
SDT ppm ou mg/L
Salinidade %
a Unidades Hazen
b Unidades de Turbidez
Para a obteno dos valores mdios encontrados para pH, condutividade eltrica, salinidade e
slidos dissolvidos totais anotaram-se trs valores mostrados na tela do aparelho, sendo estas
anotaes espaadas em 30 segundos. Posteriormente, calculou-se a mdia aritmtica entre os
trs valores anotados e seu respectivo desvio padro.
J para a turbidez realizou-se este procedimento trs vezes, anotando os valores gerados pelo
aparelho e realizando tambm o clculo da mdia aritmtica entre os trs valores e do desvio
padro.
A anlise da cor seguiu o mesmo procedimento da turbidez, porm s foram realizadas apenas
duas repeties na primeira amostragem e uma leitura na segunda amostragem, devido a
problemas com o aparelho.
4.2 Sistema de Esgotamento Sanitrio
4.2.1 Caracterizao do local de estudo
Inicialmente, para a proposio de um sistema de tratamento de esgoto de cada distrito, foram
levantados dados sobre a populao residente, a disponibilidade de rea, a presena ou
ausncia de rede de coleta de esgoto e o corpo receptor em cada localidade que atualmente
recebe os esgotos sem tratamento. Na Tabela 9 so destacadas as caractersticas anteriormente
citadas.
Dentre os sete distritos do municpio, apenas o distrito de Trs Ilhas j possui um sistema de
fossa sptica para tratar os esgotos das dez famlias residentes na rea. Sendo assim, foram
propostos apenas seis sistemas.
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Tabela 9: Principais caractersticas dos distritos
Distritos Populao Mdia
(habitantes) Presena de Rede Corpo Receptor
Fortaleza 160 Sim Crrego para o
Rio Paraibuna
Porto das Flores 295 Sim Rio Preto
So Jos das Trs Ilhas 206 Sim Crrego para o
Rio Preto
Sobragy 279 Sim Rio Paraibuna
Vila Klabin 189 Sim Crrego para o
Rio Paraibuna
Vila So Francisco 214 Sim Rio do Peixe
Fonte: Secretaria de Sade de Belmiro Braga
Devido baixa densidade populacional do municpio, a quantidade de rea disponvel para
implantao dos sistemas grande em todas as comunidades. A seguir, nas Figuras 10a, 10b,
10c, 10d, 10e e 10f so mostrados os pontos de lanamento de esgoto domstico nos corpos
dgua de cada distrito.
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a) Fortaleza
b) Porto das Flores
c) So Jos das Trs Ilhas
d) Sobragy
e) Vila Klabin
f) Vila So Francisco
Figura 10: Locais de lanamento do esgoto domstico em cada distrito
Fonte: Acervo pessoal
Ressalta-se que conforme pode ser observado nas Figuras 10b e 10d, as residncias prximas
ao rio lanam seus esgotos diretamente no corpos dgua e as residncias mais afastadas
lanam na rede coletora.
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Aps conhecer algumas caractersticas, foram escolhidos os sistemas simplificados ideais para
cada comunidade, para o posterior clculo de dimensionamento para cada sistema e estimativa
de custos e rea requerida de acordo com a Tabela 4, citada na reviso bibliogrfica.
4.2.2 Dimensionamento dos sistemas simplificados
Por simplificao, foram dimensionados apenas dois fluxogramas para todos os distritos. Nos
distritos com mais de 250 habitantes (Porto das Flores e Sobragy) adotou-se o sistema
composto pelo tratamento preliminar, reator UASB e lagoa de polimento. Para os demais
distritos, com menos de 250 habitantes, dimensionou-se o sistema com tanque sptico
associado ao filtro anaerbio.
Esses fluxogramas foram adotados no em funo exclusivamente de melhor desempenho e
sim, levando-se em considerao caractersticas prprias do local como disponibilidade de
rea e preocupao com a maior simplicidade operacional possvel por se tratar de uma rea
rural
A seguir, na Tabela 10, so mostrados os principais parmetros utilizados para os clculos. No
caso do parmetro vazo per capita de gua, adotou-se o valor sugerido por Von Sperling
(2005) para comunidades rurais.
Tabela 10: Principais parmetros utilizados para os dimensionamentos
Parmetro Unidade Valor
QPC vazo per capita L/(hab.d) 140*
R coeficiente de retorno esgoto/gua 0,8*
K1 coeficiente do dia de maior consumo 1,2*
K2 coeficiente da hora de maior consumo 1,5*
K3 coeficiente da hora de menor consumo 0,5*
ndice de atendimento % 100
* valores adotados segundo Von Sperling (2005)
Devido taxa negativa de crescimento populacional do municpio (-0,1% segundo dados do
Censo 2010 IBGE), sero mantidos os mesmos valores de populao para incio e fim de
projeto. Todos os clculos foram realizados segundo as definies de Jordo e Pessa (2011).
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5. RESULTADOS E DISCUSSES
5.1 Sistema de Abastecimento de gua
5.1.1 Avaliao do sistema de abastecimento de gua
De acordo com as definies da Portaria n 2914/2011, a forma de abastecimento das
comunidades rurais do municpio de Belmiro Braga no pode ser classificada como soluo
alternativa coletiva de abastecimento de gua para consumo humano, j que os distritos
possuem rede de distribuio de gua. Sendo assim, a distribuio de gua populao das
comunidades rurais ocorre de forma irregular, j que esta no passa por nenhum processo de
desinfeco ou clorao, que o tratamento mnimo exigido pela Portaria 2914/2011 para o
sistema de abastecimento de gua.
A Portaria 2914/2011 tambm estabelece que, para que se realize a desinfeco da gua
atravs da clorao e se obtenha o tempo de