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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA CURSO DE ENGENHARIA AMBIENTAL E SANITÁRIA AVALIAÇÃO PRELIMINAR DO SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA E PROPOSTA DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO PARA A ZONA RURAL DE BELMIRO BRAGA Andrêssa Rezende Pereira Juiz de Fora 2014

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA

    CURSO DE ENGENHARIA AMBIENTAL E SANITRIA

    AVALIAO PRELIMINAR DO SISTEMA DE

    ABASTECIMENTO DE GUA E PROPOSTA DE

    ESGOTAMENTO SANITRIO PARA A ZONA RURAL DE

    BELMIRO BRAGA

    Andrssa Rezende Pereira

    Juiz de Fora

    2014

  • AVALIAO PRELIMINAR DO SISTEMA DE

    ABASTECIMENTO DE GUA E PROPOSTA DE

    ESGOTAMENTO SANITRIO PARA A ZONA RURAL DE

    BELMIRO BRAGA

    Andrssa Rezende Pereira

  • Andrssa Rezende Pereira

    AVALIAO PRELIMINAR DO SISTEMA DE

    ABASTECIMENTO DE GUA E PROPOSTA DE

    ESGOTAMENTO SANITRIO PARA A ZONA RURAL DE

    BELMIRO BRAGA

    Juiz de Fora

    Faculdade de Engenharia da UFJF

    2014

    Trabalho Final de Curso apresentado ao Colegiado do

    Curso de Engenharia Ambiental e Sanitria da

    Universidade Federal de Juiz de Fora, como requisito

    parcial obteno do ttulo de Engenheiro Ambiental e

    Sanitarista.

    rea de concentrao: Saneamento

    Linha de pesquisa: tratamento de gua e tratamento de

    efluentes domsticos

    Orientadora: Ana Slvia Pereira Santos

    Co-orientadora: Renata de Oliveira Pereira

  • AVALIAO PRELIMINAR DO SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE GUA E

    PROPOSTA DE ESGOTAMENTO SANITRIO PARA A ZONA RURAL DE

    BELMIRO BRAGA

    ANDRSSA REZENDE PEREIRA

    Trabalho Final de Curso submetido banca examinadora constituda de acordo com o artigo

    9 da Resoluo CCESA 4, de 9 de abril de 2012, estabelecida pelo Colegiado do Curso de

    Engenharia Sanitria e Ambiental, como requisito parcial obteno do ttulo de Engenheiro

    Sanitarista e Ambiental.

    Aprovado em 25 de junho de 2014.

    Por:

    _________________________________________

    Prof. DSc. Ana Slvia Pereira Santos

    _________________________________________

    Prof. MSc. Fabiano Csar Tosetti Leal

    __________________________________________

    Prof. DSc. Marco Antnio Moreira Furtado

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo primeiramente a Deus por me dar vida e coragem para lutar pelos meus objetivos,

    sem me deixar perder jamais a f, mesmo nos momentos de dificuldade.

    Aos meus pais, Reinaldo e Leila, pelo esforo e trabalho incansvel em me dar o suficiente

    para realizar este sonho.

    A toda famlia, especialmente queles que ofereceram suas casas de portas abertas.

    minha irm, Alessandra, pelos grandes momentos de alegria e diverso divididos.

    Aos grandes companheiros de So Jos e aos amigos da Escola Estadual de Belmiro Braga.

    Aos amigos feitos na faculdade de engenharia, por dividir os momentos de tristeza e de

    felicidade.

    Em especial, agradeo Aline, Cristiane e Ramiro pela disponibilidade e contribuio neste

    trabalho.

    A todos os professores do curso de Engenharia Ambiental e Sanitria que despertaram minha

    vocao, especialmente s professoras Renata e Ana Slvia pela oportunidade e pacincia em

    me ensinar coisas que levarei pelo resto de minha vida.

  • RESUMO

    Atualmente no Brasil, os ndices de abastecimento de gua, assim como os ndices de

    esgotamento sanitrio nas zonas rurais dos municpios, so preocupantes devido dificuldade

    de acesso a recursos, que normalmente s chegam at as sedes destes municpios e

    disponibilidade de profissionais qualificados para execuo e realizao de projetos. Sendo

    assim, o presente trabalho busca analisar o sistema de abastecimento de gua focando

    principalmente na qualidade da gua distribuda s sete comunidades rurais do municpio de

    Belmiro Braga MG e propor um sistema simplificado de tratamento de efluentes domsticos

    para cada um destes distritos. No estudo, verificou-se que o sistema de abastecimento de gua

    da zona rural de Belmiro Braga MG necessita passar por uma avaliao criteriosa,

    considerando que o sistema se encontra em desacordo com a legislao, principalmente com

    relao etapa de desinfeco. Com relao qualidade da gua distribuda, verificou-se que

    alguns parmetros estavam fora do limite estabelecido pela Portaria 2914/2011. A turbidez e a

    cor foram os parmetros em maior desconformidade com a legislao, mostrando a

    necessidade de investimento em tecnologias de tratamento eficazes na remoo destes e na

    adequao da qualidade da gua destinada ao consumo humano. J com relao aos sistemas

    simplificados de tratamento de efluentes domsticos, dois fluxogramas foram sugeridos: i)

    reator UASB associado s lagoas de polimento; e ii) sistema de tanque sptico associado ao

    filtro anaerbio. Os dois fluxogramas foram dimensionados para as seis comunidades que no

    possuem nenhum tipo de tratamento, apesar da existncia de rede coletora. As dimenses e os

    custos necessrios para a implantao dos sistemas so baixos, quando comparados a sistemas

    convencionais de tratamento, em funo das vazes reduzidas devido populao de cada

    distrito ser inferior a 300 habitantes. Aps esta anlise preliminar, conclui-se que este trabalho

    uma contribuio importante para garantir a salubridade ambiental na zona rural do

    municpio de Belmiro Braga MG, porm sabe-se que um estudo mais aprofundado deve ser

    realizado para a correta implantao de sistemas de tratamento de gua e esgoto domstico.

  • SUMRIO

    LISTA DE FIGURAS ................................................................................................................ v

    LISTA DE TABELAS .............................................................................................................. vi

    LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SMBOLOS ........................................................ vii

    1. INTRODUO .................................................................................................................. 1

    2. OBJETIVOS........................................................................................................................ 3

    2.1 Objetivo Geral ............................................................................................................ 3

    2.2 Objetivos Especficos ................................................................................................. 3

    3. REVISO BIBLIOGRFICA ............................................................................................ 4

    3.1 O municpio de Belmiro Braga ................................................................................... 4

    3.2 Qualidade da gua para consumo humano ................................................................. 6 3.2.1 Principais parmetros de qualidade de gua voltada para consumo humano .... 6

    3.3 Sistemas de Abastecimento de gua .......................................................................... 8 3.4 Sistemas de Esgotamento Sanitrio ............................................................................ 9

    3.5 Tratamento de esgoto domstico .............................................................................. 10 3.5.1 Sistemas Simplificados de Tratamento de Esgoto .............................................. 10

    Lagoas de estabilizao ................................................................................................ 11 Tanque sptico seguido por filtro anaerbio ................................................................ 12

    Reator UASB seguido por filtro anaerbio .................................................................. 13 Reator UASB seguido por filtro biolgico percolador ................................................. 14

    Reator UASB seguido por lagoas de polimento ........................................................... 15 Reator UASB seguido por aplicao no solo ............................................................... 16

    3.5.2 Valores tpicos dos sistemas de tratamento de esgotos ...................................... 17

    3.5.3 Consideraes para o dimensionamento dos sistemas simplificados ................ 20 Tratamento Preliminar .................................................................................................. 20 Reator UASB ................................................................................................................ 21 Lagoa de Polimento ...................................................................................................... 22

    Tanque Sptico e Filtro Anaerbio ............................................................................... 22 3.6 Aspectos Legais ........................................................................................................ 22

    3.6.1 Portaria 2914/2011 do Ministrio da Sade ...................................................... 22

    Competncias do Municpio ......................................................................................... 23 Competncias do responsvel ....................................................................................... 23 Exigncias Aplicveis................................................................................................... 24 Padro de Potabilidade ................................................................................................. 24

    Planos de Amostragem ................................................................................................. 26 3.6.2 Resoluo CONAMA n 396/2008 ...................................................................... 28 3.6.3 Resoluo CONAMA n 357/2005 ...................................................................... 28 3.6.4 Resoluo CONAMA n 430/2011 ...................................................................... 28

    3.6.5 Deliberao Normativa Conjunta COPAM CERH 01/2008 ........................... 29

    4. MATERIAIS E MTODOS ............................................................................................. 31

    4.1 Sistema de Abastecimento de gua ......................................................................... 31

    4.1.1 Caracterizao das fontes de abastecimento ..................................................... 31 4.1.2 Planejamento experimental ................................................................................ 33 4.1.3 Anlise das amostras .......................................................................................... 34

    4.2 Sistema de Esgotamento Sanitrio ........................................................................... 35

  • 4.2.1 Caracterizao do local de estudo ..................................................................... 35

    4.2.2 Dimensionamento dos sistemas simplificados .................................................... 38

    5. RESULTADOS E DISCUSSES .................................................................................... 39

    5.1 Sistema de Abastecimento de gua ......................................................................... 39 5.1.1 Avaliao do sistema de abastecimento de gua ............................................... 39

    5.1.2 Qualidade das guas de abastecimento das comunidades ................................. 40 5.1.3 Avaliao dos resultados obtidos ....................................................................... 42

    pH ................................................................................................................................. 42 Condutividade Eltrica ................................................................................................. 43 Salinidade ..................................................................................................................... 44

    Slidos Dissolvidos Totais (SDT) ................................................................................ 45 Turbidez ........................................................................................................................ 46 Cor ................................................................................................................................ 48

    5.1.4 Estudo das tecnologias de tratamento ................................................................ 49 5.2 Sistema de Esgotamento Sanitrio ........................................................................... 51

    5.2.1 Dimensionamento dos sistemas simplificados .................................................... 51

    5.2.2 Demandas de rea, volume de lodo e custos ...................................................... 57

    6. CONCLUSES ................................................................................................................. 59

    7. RECOMENDAES ....................................................................................................... 61

    8. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .............................................................................. 62

    9. ANEXO ............................................................................................................................. 65

    9.1 Memorial de clculos................................................................................................ 65 9.1.1 Clculo das Vazes ............................................................................................. 65

    9.1.2 Tratamento Preliminar ....................................................................................... 65 9.1.3 Reator UASB ...................................................................................................... 68 9.1.4 Lagoa de Polimento ............................................................................................ 69

    9.1.5 Tanque Sptico e Filtro Anaerbio .................................................................... 69

  • v

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1: Delimitao do municpio de Belmiro Braga-MG 5

    Figura 2: Sistema utilizando lagoas de estabilizao seguidas por lagoas de maturao 12

    Figura 3: Sistema utilizando tanque sptico seguido por filtro anaerbio 13

    Figura 4: Sistema utilizando reator UASB seguido por filtro anaerbio 14

    Figura 5: Sistema utilizando reator UASB seguido por filtro biolgico percolador 15

    Figura 6: Sistema utilizando reator UASB seguido por lagoa de polimento 16

    Figura 7: Sistema utilizando reator UASB seguido por aplicao no solo 17

    Figura 8: Poos utilizados para o abastecimento da populao rural do municpio de Belmiro

    Braga 32

    Figura 9: Localizao dos sete distritos do municpio de Belmiro Braga 33

    Figura 10: Locais de lanamento do esgoto domstico em cada distrito 37

    Figura 11: Valores encontrados na primeira e segunda amostragem para pH 42

    Figura 12: Valores encontrados na primeira e segunda amostragem para CE 44

    Figura 13: Valores encontrados na primeira e segunda amostragem para salinidade 45

    Figura 14: Valores encontrados na primeira e segunda amostragem para SDT 46

    Figura 15: Valores encontrados na primeira e segunda amostragem para turbidez 47

    Figura 16: Valores encontrados na primeira e segunda amostragem para cor 49

    Figura 17: Grade fina 66

    Figura 18: Desarenador e Calha Parshall 68

    Figura 19: Lagoas de polimento em srie 69

    Figura 20: Tanque sptico 70

    Figura 21: Filtro anaerbio 71

  • vi

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1: Principais parmetros fsicos, qumicos e microbiolgicos 7

    Tabela 2: Valores tpicos de concentraes mdias efluentes 18

    Tabela 3: Valores tpicos de eficincias mdias de remoo 19

    Tabela 4: Caractersticas tpicas dos principais sistemas de tratamento de esgotos 20

    Tabela 5: Tabela de padro de turbidez para gua ps-filtrao ou pr-desinfeco 26

    Tabela 6: Parmetros da gua potvel e seus VMP estabelecidos na Portaria 2914/2011 27

    Tabela 7: Coordenadas geogrficas de cada poo/nascente e tipo de fonte 31

    Tabela 8: Parmetros e respectivas unidades utilizadas 35

    Tabela 9: Principais caractersticas dos distritos 36

    Tabela 10: Principais parmetros utilizados para os dimensionamentos 38

    Tabela 11: Resultados encontrados na primeira e segunda amostragem 41

    Tabela 12: Caractersticas das guas naturais e tecnologia de tratamento recomendada 49

    Tabela 13: Caractersticas das tcnicas de dupla filtrao e tratamento convencional 51

    Tabela 14: Vazes para cada distrito 52

    Tabela 15: Principais resultados do dimensionamento do tratamento preliminar 54

    Tabela 16: Resultados do dimensionamento dos reatores UASB e lagoas de polimento 55

    Tabela 17: Resultados do dimensionamento do tanque sptico e filtro anaerbio 56

    Tabela 18: Demanda de rea, volume de lodo e custos para UASB e lagoa de polimento 57

    Tabela 19: Demanda de rea, volume de lodo e custos para tanque sptico+filtro anaerbio 57

  • vii

    LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SMBOLOS

    ABNT: Associao Brasileira de Normas Tcnicas

    CE: Condutividade Eltrica (S/cm)

    CERH: Conselho Estadual de Recursos Hdricos

    COPAM: Conselho de Poltica Ambiental

    CONAMA: Conselho Nacional do Meio Ambiente

    COPASA: Companhia de Saneamento de Minas Gerais

    Cter: Coliformes Termotolerantes

    DBO: Demanda Bioqumica de Oxignio

    DQO: Demanda Qumica de Oxignio

    E. coli: Escherichia coli

    ETE: Estao de Tratamento de Esgoto

    FUNASA: Fundao Nacional da Sade

    Helm.: Helmintos

    IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    N: Nitrognio

    NH3: Amnia

    OD: Oxignio Dissolvido

    O&M: Operao e Manuteno

  • viii

    OMS: Organizao Mundial da Sade

    OMSS: Operao e Manuteno de Sistemas Simplificados

    P: Fsforo

    pH: Potencial Hidrogeninico

    PNAD: Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios

    PROSAB: Programa de Pesquisa em Saneamento Bsico

    ReCESA: Rede de Capacitao e Extenso Tecnolgica em Saneamento Ambiental

    SABESP: Companhia de Saneamento Bsico do Estado de So Paulo

    Sal.: Salinidade (%)

    SDT: Slidos Dissolvidos Totais (mg/L)

    SNIS: Sistema Nacional de Informaes sobre Saneamento

    SS: Slidos Sedimentveis (mg/L)

    Turb.: Turbidez (uT)

    UASB: Reator Anaerbio de Manta de Lodo em Fluxo Ascendente

    uH: Unidades Hazen

    uT: Unidades de Turbidez

    VMP: Valor Mximo Permitido

    : Desvio Padro

  • 1

    1. INTRODUO

    De acordo com a definio da Organizao Mundial da Sade OMS (CESAMA, 2014),

    saneamento o controle de todos os fatores do meio fsico do homem, que exercem ou podem

    exercer efeitos nocivos sobre o bem estar fsico, mental e social. Ao conhecer tambm a

    definio de sade pela OMS como sendo o estado de completo bem-estar fsico, mental e

    social, e no apenas a ausncia de doena, possvel entender a relao entre saneamento e

    sade. Assim, com o objetivo de se garantir a salubridade ambiental, alguns servios bsicos

    devem ser oferecidos, como o abastecimento de gua em quantidade e qualidade desejvel, o

    esgotamento sanitrio, a gesto de resduos slidos e a drenagem das guas pluviais.

    O abastecimento de gua na qualidade e quantidade adequada, seguindo as especificaes da

    Portaria n 2914/2011 do Ministrio da Sade, e os sistemas de esgotamento sanitrio evitam

    a exposio da populao aos microrganismos patognicos, diminuindo assim a possibilidade

    de doenas de veiculao hdrica.

    No Brasil, sabe-se que o pas possui um grande atraso com relao ao saneamento bsico.

    Segundo o Diagnstico dos Servios de gua e Esgoto de 2011 (SNIS, 2013), o ndice de

    atendimento da populao do pas, incluindo a rural e a urbana, com relao ao abastecimento

    de gua de 82,4%. Esse mesmo ndice para coleta de esgoto de 48,1%. J quando so

    analisados os ndices da regio Sudeste, para fornecimento de gua e coleta de esgoto, os

    nmeros so, respectivamente, 91,5% e 73,8%.

    De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios PNAD/2012

    fornecida no site da Fundao Nacional da Sade - FUNASA, apenas 33,2% dos domiclios

    nas reas rurais esto ligados a redes de abastecimento de gua com ou sem canalizao

    interna. O restante da populao (66,8%) capta gua de chafarizes e poos protegidos ou no,

    diretamente de cursos de gua sem nenhum tratamento ou de outras fontes alternativas

    geralmente insalubres.

    Ao analisarmos a situao do saneamento no pas, possvel observar que o atendimento com

    sistemas de abastecimento de gua e sistemas de esgotos sanitrios esto centrados nas sedes

    municipais, deixando a populao rural sem atendimento significativo.

  • 2

    Segundo a Companhia de Saneamento Bsico do Estado de So Paulo SABESP (2013),

    desde os primrdios da civilizao, as guas subterrneas so utilizadas pelo homem, atravs

    de poos rasos escavados. Quando a prpria presso natural da gua capaz de lev-la at a

    superfcie, existe um poo artesiano. J o semi-artesiano, necessita de aparelhos para captao

    da gua. Alm disso, existem tambm os poos freticos originados em profundidades

    pequenas. Estes esto mais sujeitos a contaminaes por gua de chuva e at mesmo por

    infiltraes de esgoto. No Brasil observou-se, nas ltimas dcadas, um aumento considervel

    da utilizao de gua subterrnea para o abastecimento pblico. Cabe destacar que grande

    parte das cidades brasileiras com populao inferior a 5.000 habitantes, possui condies de

    recepo de gua proveniente de reservas subterrneas. Isso ocorre devido ao fato de que as

    reservas subterrneas geralmente apresentam gua de melhor qualidade e um custo menor de

    captao, aduo e tratamento (SABESP, 2013).

    Com relao aos dados de esgotamento sanitrio em reas rurais publicados na PNAD/2012, a

    situao mais crtica: apenas 5,7% dos domiclios esto ligados rede de coleta de esgotos e

    20,3% utilizam a fossa sptica como soluo para o tratamento dos dejetos. Os demais

    domiclios (74%) depositam os dejetos em fossas rudimentares, lanam em cursos dgua in

    natura ou diretamente no solo a cu aberto.

    Uma boa soluo para a adequao dos sistemas de esgotamento sanitrio a implantao de

    sistemas simplificados de tratamento de esgoto. De acordo com informaes do Guia

    ReCESA (Operao e Manuteno de Sistemas Simplificados OMSS, 2008), a qualidade

    esperada do efluente advindo de um sistema simplificado semelhante alcanada pelos

    sistemas convencionais, porm com menores custos de implantao e operao, baixo

    requisito de rea, simplicidade operacional, de manuteno e de controle, alm de elevada

    vida til. Essas caractersticas fazem com que o tratamento simplificado tenha grandes

    possibilidades de aplicao no Brasil, e principalmente em regies mais distantes dos centros

    urbanos, devido s dificuldades de aplicao de grandes investimentos financeiros para

    implantao, operao/manuteno de Estaes de Tratamento de Esgotos ETE.

    No presente trabalho, foi adotado o municpio de Belmiro Braga, localizado na Zona da Mata

    do estado de Minas Gerais para realizao de um estudo preliminar sobre o sistema de

    abastecimento de gua da populao residente em sua rea rural e um estudo da melhor

    alternativa de tratamento dos efluentes domsticos gerados nessa mesma localidade.

  • 3

    2. OBJETIVOS

    2.1 Objetivo Geral

    O objetivo do presente trabalho realizar uma avaliao preliminar do sistema de

    abastecimento de gua utilizado pela populao dos distritos da rea rural do municpio de

    Belmiro Braga MG e oferecer uma alternativa de tratamento de efluentes domsticos para

    estes distritos.

    2.2 Objetivos Especficos

    Levantar dados gerais e dados de saneamento do municpio de Belmiro Braga MG.

    Identificar os poos artesianos/freticos da rea rural utilizados para abastecer a

    populao.

    Diagnosticar a populao e rea atendida por cada poo identificado.

    Analisar as definies e diretrizes pertinentes descritas na Portaria 2914/2011 do

    Ministrio da Sade, que dispe sobre os procedimentos de controle e de vigilncia da

    qualidade da gua para consumo humano e seu padro de potabilidade.

    Analisar alguns parmetros de qualidade da gua, a fim de se conhecer a gua que

    distribuda populao rural do municpio de Belmiro Braga MG.

    Realizar um diagnstico preliminar do sistema de abastecimento de gua do municpio de

    Belmiro Braga MG.

    Analisar o padro de lanamento de efluentes descrito na COPAM/CERH 01 2008, que

    dispe sobre a classificao dos corpos de gua e o seu enquadramento, bem como

    estabelece as condies e padres de lanamento de efluentes para o estado de Minas

    Gerais.

    Identificar as tecnologias de sistemas simplificados de tratamento de esgotos aplicadas no

    Brasil.

    Realizar um estudo preliminar de concepo para proposio de sistemas simplificados

    de tratamento de esgoto mais adequados para a rea rural do municpio.

  • 4

    3. REVISO BIBLIOGRFICA

    3.1 O municpio de Belmiro Braga

    Segundo dados obtidos no IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (2013), a

    histria do municpio iniciou-se quando um dos mais antigos moradores da localidade, o

    Guarda-Mor Mariano de Cerqueira Carneiro, originrio de Portugal, se estabeleceu na regio

    iniciando o plantio de cereais. Posteriormente, requereu a sesmaria onde morava, adquirindo

    mais tarde, outras duas sesmarias. O arraial comeou a povoar-se por volta de 1852. No local,

    existia a fazenda denominada Boa Vista, de propriedade de Joaquim Garcia de Oliveira, que

    mais tarde foi adquirida por Joana Claudina de Jesus, que realizou a doao de terras para a

    criao do povoado de quatro alqueires de terra Santana, hoje padroeira da cidade. Outros

    moradores se estabeleceram na regio, adquirindo terras e ali se fixando, em sua maioria

    portugueses ou descendentes. Mais tarde, tambm chegaram os italianos que muito

    contriburam para o progresso do lugar (IBGE, 2013).

    O distrito criado recebeu a denominao de Vargem Grande, subordinado ao municpio de

    Juiz de Fora. Posteriormente o distrito de Vargem Grande passou a denominar-se Ibitiguaia.

    Em 30 de dezembro de 1962, a localidade se desmembrou de Juiz de Fora e tornou-se um

    municpio, recebendo o nome em homenagem ao grande poeta Belmiro Braga, nascido na

    regio.

    De acordo com o Plano Municipal de Saneamento Bsico de Belmiro Braga (2012), o

    municpio est situado na Zona da Mata do estado de Minas Gerais, com rea total de 393

    quilmetros quadrados. Seu limite territorial faz divisa com os municpios mineiros de Juiz de

    Fora, Matias Barbosa, Simo Pereira e Santa Brbara do Monte Verde. J com o estado do

    Rio de Janeiro possui limites com os municpios de Paraba do Sul, Comendador Levy

    Gasparian e Rio das Flores. O municpio est inserido na Bacia do Rio Paraba do Sul, sendo

    banhado ao norte pelo Rio do Peixe, ao leste pelo Rio Paraibuna e ao sul pelo Rio Preto.

    Inmeros crregos e ribeires tambm compem a rede hidrogrfica, sendo esta uma regio

    predominantemente serrana. A partir do Plano de Recursos Hdricos da Bacia do Rio Paraba

    do Sul, o municpio pertence sub-bacia dos afluentes do Rio Preto e Paraibuna (CEIVAP,

    2014). Na Figura 1 encontra-se o municpio e seus limites geogrficos.

  • 5

    Figura 1: Delimitao do municpio de Belmiro Braga-MG

    Fonte: IBGE (2010)

    Com relao demografia, segundo o Censo do IBGE de 2010, o municpio possui 3.403

    habitantes divididos em 1.089 domiclios. A distribuio dessa populao se organiza da

    seguinte forma: o distrito sede de Belmiro Braga, Vila So Francisco, Sobragy, Trs Ilhas e

    Porto das Flores. Aproximadamente 67,7% da populao vivem na zona rural e distritos, os

    outros 32,3% encontra-se na sede do municpio.

    A organizao do municpio conta com cinco distritos, porm existem outras vilas no citadas

    no IBGE (2010). So os distritos de So Jos das Trs Ilhas, Fortaleza e Vila Klabin. No

    presente trabalho sero analisados apenas os sete distritos da zona rural, excluindo o distrito

    sede de Belmiro Braga.

    O municpio possui uma economia voltada principalmente para a agropecuria, com destaque

    para a produo de leite e gado de corte. De acordo com o IBGE (2013), o Produto Interno

    Bruto do ano de 2009 foi de R$35.245, sendo aproximadamente 33% advindos da

    agropecuria, 19% da indstria e 48% da prestao de servios.

    A Pesquisa Nacional de Saneamento Bsico de 2008, apresentada no site do IBGE, mostra

    que 584 domiclios do municpio possuam abastecimento de gua, representando apenas

    53,6% das residncias. O volume de gua distribuda para os 584 domiclios com tratamento

  • 6

    convencional era de 176 m/d e o volume de gua distribuda, sem nenhum tipo de tratamento

    para estes domiclios, era de 222 m/d.

    Com relao ao esgotamento sanitrio, o municpio possui rede de coleta de esgotos, porm

    os mesmos so lanados nos corpos dgua sem nenhum tipo de tratamento, assim como as

    guas pluviais que tambm so coletadas e lanadas em crregos e rios. Estes dois servios

    so executados pela prefeitura. Atualmente, com relao aos resduos slidos, a administrao

    municipal realiza a coleta, porm transporta os resduos para o Aterro Sanitrio de Dias

    Tavares no municpio de Juiz de Fora.

    3.2 Qualidade da gua para consumo humano

    O conceito de qualidade da gua abrange muito alm de uma simples caracterizao da gua

    pela frmula H2O. Isso porque ela incorpora em si diversas impurezas, devido s suas

    propriedades de solvente e sua capacidade de transportar partculas (VON SPERLING,

    2005).

    Segundo Von Sperling (2005), a qualidade da gua resultante de fenmenos naturais e da

    atuao do homem. Assim, pode-se dizer que a qualidade de uma determinada gua funo

    das condies naturais e o uso e a ocupao do solo da bacia hidrogrfica a qual est inserida.

    Dessa forma, o estudo da qualidade da gua se torna fundamental para caracterizar as

    conseqncias de uma determinada fonte poluidora e estabelecer os meios para que se

    satisfaa determinado uso da gua.

    3.2.1 Principais parmetros de qualidade de gua voltada para consumo humano

    A qualidade da gua pode ser representada atravs de vrios parmetros. A seguir, na Tabela

    1, so destacados os principais parmetros fsicos, qumicos e biolgicos, que determinam a

    qualidade da gua.

  • 7

    Tabela 1: Principais parmetros fsicos, qumicos e microbiolgicos

    PARMETROS FSICOS

    Parmetros Conceito Origem Natural Origem

    antropognica

    Importncia

    Cor (slidos

    dissolvidos)

    Colorao na

    gua

    Decomposio da

    matria orgnica

    Resduos industriais

    e esgotos

    domsticos

    A presena de cor

    associada

    clorao pode

    formar produtos

    cancergenos.

    Turbidez (slidos em

    suspenso)

    Grau de

    interferncia

    com a passagem

    de luz atravs da

    gua

    Partculas de

    rochas, argila e

    silte

    Despejos industriais

    e domsticos,

    eroso

    Pode estar

    associada

    presena de

    organismos

    patognicos.

    Sabor e odor

    Interao entre

    gosto e sensao

    olfativa

    Decomposio de

    matria orgnica,

    microrganismos e

    gases dissolvidos

    Despejos industriais

    e domsticos, gases

    dissolvidos

    Maior causa de

    reclamaes dos

    consumidores.

    Temperatura Intensidade de

    calor

    Radiao,

    conduo e

    conveco

    Despejos industriais

    Aumentam a taxa

    de reaes e

    diminuem a

    solubilidade dos

    gases

    PARMETROS QUMICOS

    pH Concentrao de

    ons hidrognio

    Dissoluo de

    rochas, gases da

    atmosfera e

    fotossntese

    Despejos industriais e

    domsticos

    Tratamento de gua,

    corrosividade e

    incrustaes em

    tubulaes

    Alcalinidade

    Quantidade de ons

    que reagiro para

    neutralizar H+

    Dissoluo de

    rochas, reao de

    CO2 com gua

    Despejos industriais

    Tratamento de gua,

    corrosividade em

    tubulaes

    Acidez

    Resistncia s

    mudanas de pH

    causadas pelas

    bases

    Gs sulfdrico e

    CO2

    Despejos industriais e

    gua em contato com

    minrio

    Corroso de materiais

    e tubulaes,

    desagradvel paladar

    Dureza

    Concentrao de

    ctions

    multimetlicos em

    soluo

    Dissoluo de

    minerais contendo

    clcio e magnsio

    Despejos industriais

    Reduz a formao de

    espuma, causa

    incrustao

    Ferro e

    Mangans

    Esto presentes nas

    formas solveis e

    insolveis

    Dissoluo de

    compostos do solo Despejos industriais

    Pode causar cor, sabor

    e odor gua

    Cloretos ons advindos da

    dissoluo de sais

    Dissoluo de

    minerais e intruso

    de guas salinas

    Despejos domsticos,

    industriais e guas

    utilizadas em

    irrigao

    Confere sabor salgado

    gua

    Nitrognio

    Nitrognio

    molecular,

    orgnico, amnia,

    nitrito e nitrato

    Composio celular

    dos microrganismos

    Despejos industriais,

    domsticos,

    fertilizantes e

    excrementos de

    animais

    Metahemoglobinemia,

    eutofrizao,

    toxicidade aos peixes

  • 8

    PARMETROS BIOLGICOS

    Coliformes Totais Organismos de

    vida livre

    Abundante nas

    fezes de

    animais de

    sangue quente

    Efluentes

    domsticos,

    agropecuria

    Indicadores de

    eficincia do

    tratamento de gua

    Coliformes

    Termotolerantes

    Especialmente a

    bactria

    Escherichia coli

    Abundante nas

    fezes de

    animais de

    sangue quente

    Efluentes

    domsticos,

    agropecuria

    Indicador de

    contaminao

    exclusivamente fecal

    Fonte Adaptado de Von Sperling (2005)

    3.3 Sistemas de Abastecimento de gua

    De acordo com Barros et al. (1995), o Sistema de Abastecimento de gua representa o

    "conjunto de obras, equipamentos e servios destinados ao abastecimento de gua potvel de

    uma comunidade para fins de consumo domstico, servios pblicos, consumo industrial e

    outros usos".

    Este sistema se caracteriza pela retirada de gua da natureza, pelo tratamento desta a fim de

    adequ-la para consumo, pelo transporte e fornecimento populao. Em linhas gerais as

    unidades do sistema de abastecimento de gua so: manancial, captao, aduo, tratamento,

    reservao e rede de distribuio (BARROS et al., 1995).

    Existem tambm as solues alternativas para o abastecimento de gua, ideais para

    localidades onde os sistemas convencionais seriam inviveis de acordo com as caractersticas

    da populao, recursos financeiros, entre outros. De acordo com Heller & Pdua (2006), as

    solues alternativas incluem poos comunitrios, distribuio por veculo transportador,

    instalaes condominiais verticais ou horizontais. Essas solues tm carter permanente

    quando so utilizadas por um longo perodo, em reas rurais ou urbanas (HELLER &

    PDUA, 2006).

    Fsforo

    Ortofosfato,

    polifosfato e

    fsforo orgnico

    Dissoluo de

    compostos do solo,

    decomposio da

    matria orgnica

    Despejos industriais,

    domsticos,

    fertilizantes,

    excrementos de

    animais e detergentes

    Eutrofizao

    Micropoluentes

    Inorgnicos

    Metais como

    arsnio, cdmio,

    chumbo

    Irrelevante

    Despejos industriais,

    atividades

    mineradoras, garimpo

    e agricultura

    Podem ser txicos

    Micropoluentes

    Orgnicos

    Defensivos

    agrcolas,

    detergentes e

    produtos qumicos

    Vegetais com

    madeira

    Despejos industriais,

    detergentes,

    processamento e

    refinamento do

    petrleo

    No so

    biodegradveis e

    podem ser txicos.

  • 9

    Dentre os mananciais de abastecimento de gua, podem ser destacadas as fontes subterrneas,

    como os aqferos freticos e os aqferos artesianos. Os aqferos freticos tm seu limite

    superior definido pelo lenol fretico e so usualmente os primeiros encontrados quando

    ocorre a perfurao de poos. Estes esto mais sujeitos contaminao, devido ao contato

    com a superfcie. J os aqferos artesianos so aqueles confinados entre camadas de solo e

    rochas, ficando menos expostos s interferncias da superfcie, j que durante a infiltrao a

    gua passa pelo processo de filtrao natural (PALMIER, 2010).

    3.4 Sistemas de Esgotamento Sanitrio

    De acordo com a norma tcnica NBR 9648 de 1986, o sistema de esgotamento sanitrio o

    conjunto de condutos, instalaes e equipamentos responsveis pela coleta, transporte e

    afastamento, tratamento, e disposio final das guas residurias, de uma forma adequada do

    ponto de vista sanitrio e ambiental. O sistema de esgotos existe para diminuir a possibilidade

    de contato de dejetos humanos com a populao, com as guas de abastecimento, com vetores

    de doenas e alimentos.

    Segundo Von Sperling (2005), existem basicamente duas variantes dos sistemas de

    esgotamento sanitrio: i) sistemas individuais indicados como soluo local, individual ou

    para poucas residncias, com baixo adensamento populacional; e ii) sistemas coletivos com

    afastamento dos esgotos da rea servida em regies de alto adensamento populacional, em

    tubulaes para lanamento em outro local.

    Os sistemas individuais consistem no lanamento de esgotos gerados em uma ou poucas

    unidades habitacionais, normalmente envolvendo infiltrao no solo. Esta soluo pode

    funcionar, porm o solo deve ter boas condies de infiltrao, alm do nvel de gua

    subterrnea se encontrar em boa profundidade. Apesar disso, a possibilidade de

    contaminao, principalmente com organismos patognicos, muito grande, necessitando

    assim de uma soluo mais eficaz, tanto financeiramente quanto em relao eficincia de

    remoo.

    J os sistemas coletivos, como so indicados para locais com alta densidade populacional,

    consistem em um conjunto de canalizaes que transporta o esgoto at a destinao final,

    sendo esta com ou sem tratamento. Os sistemas coletivos ainda podem ser classificados de

  • 10

    duas formas: sistema separador, que transporta apenas os efluentes domsticos; e sistema

    unitrio, que incorpora tambm as guas pluviais na mesma tubulao.

    Ressalta-se que um sistema de esgotamento sanitrio coletivo completo contempla desde as

    ligaes prediais aos coletores pblicos at o tratamento adequado antes do seu lanamento

    final.

    3.5 Tratamento de esgoto domstico

    Diversas so as tecnologias atualmente disponveis para tratamento de efluentes domsticos,

    conforme abordado pela verso mais recente da norma brasileira NBR 12.209/2011 que trata

    da elaborao de projetos hidrulico-sanitrios de estaes de tratamento de esgotos

    sanitrios.

    Nas unidades de tratamento, so realizadas as diversas operaes e processos unitrios que

    promovem a separao entre os poluentes em suspenso e dissolvidos e a gua a ser

    descarregada no corpo receptor, bem como condicionamento dos resduos retidos.

    As tecnologias a serem utilizadas em cada ETE so definidas a partir das caractersticas do

    efluente, dos custos de investimento para implantao e operao, da rea disponvel x rea

    requerida, da demanda de energia eltrica, da produo de lodo, etc.

    3.5.1 Sistemas Simplificados de Tratamento de Esgoto

    Segundo o Guia ReCESA A (2008), quando se analisa o grande dficit sanitrio, aliado ao

    quadro epidemiolgico e ao perfil socioeconmico das comunidades brasileiras, a opo por

    sistemas de saneamento bsico simplificados para a promoo associada da sade da

    populao e proteo ambiental assume grande importncia. As solues alternativas para o

    tratamento de esgotos, baseadas em sistemas simplificados, encontram grande aplicabilidade e

    tm apresentado vantagens sobre os sistemas convencionais por conjugar baixos custos de

    implantao e operao, simplicidade operacional, ndices mnimos de mecanizao e uma

    maior sustentabilidade do sistema. Segundo o guia, os principais sistemas simplificados de

    amplo emprego no pas para o tratamento de esgotos domsticos so:

    Lagoas de estabilizao;

    Tanque sptico seguido por filtro anaerbio;

  • 11

    Reator anaerbio de manta de lodo em fluxo ascendente (UASB) seguido por filtro

    anaerbio;

    UASB seguido por filtro biolgico percolador;

    UASB seguido por lagoas de polimento; e

    UASB seguido por aplicao superficial no solo.

    Ressalta-se que UASB refere-se nomenclatura em ingls para reator anaerbio de manda de

    lodo em fluxo ascendente e significa Upflow Anaerobic Sludge Blanket.

    Os fluxogramas citados encontram-se descritos a seguir:

    Lagoas de estabilizao

    Uma das principais tcnicas de tratamento por sistemas de lagoas a combinao de lagoa

    anaerbia seguida por lagoa facultativa e lagoas de maturao. As duas primeiras so as que,

    efetivamente, consistem em lagoas de estabilizao (que estabilizam a matria orgnica). J as

    lagoas de maturao tm a funo de remover organismos patognicos.

    Na lagoa facultativa, predominam as bactrias facultativas, capazes de adaptao aos

    ambientes aerbios (mais superfcie) e anaerbios (no fundo das lagoas). O oxignio

    necessrio estabilizao da matria orgnica fornecido, em grande parte, por algas que

    realizam a fotossntese e esto em grande concentrao na parte superior da lagoa.

    As lagoas de maturao apresentam profundidades inferiores s lagoas facultativas,

    favorecendo a introduo de radiao ultravioleta em toda a massa lquida. Essa a principal

    caracterstica desse tipo de lagoa e fundamental para inativao de microrganismos

    patognicos. Nestes casos com a carga orgnica j bastante reduzida, a fotossntese ocorre em

    grande intensidade, estabelecendo, assim, um ambiente com elevados teores de oxignio

    dissolvido OD. As condies ambientais favorecem a remoo de organismos patognicos e

    podem alcanar eficincia relativamente elevada de remoo de nitrognio.

    Na Figura 2 pode-se observar o fluxograma de um sistema completo de lagoas de

    estabilizao, contemplando lagoa anaerbia, lagoa facultativa e lagoa de maturao.

  • 12

    Figura 2: Sistema utilizando lagoas de estabilizao seguidas por lagoas de maturao

    Fonte: ReCESA (2008)

    Tanque sptico seguido por filtro anaerbio

    Os tanques spticos seguidos por filtros anaerbios (tambm chamados de sistema fossa-

    filtro) tm sido amplamente utilizados para atendimento unifamiliar e de comunidades de

    pequeno porte. O tanque sptico remove a maior parte dos slidos em suspenso, os quais se

    sedimentam e sofrem o processo de digesto anaerbia pela atuao do lodo que se acumula

    no fundo do tanque. O tempo de permanncia do lodo no tanque permite que o mesmo seja

    estabilizado no prprio reator, ou seja, proporciona a reduo da sua frao orgnica. Esse

    lodo poderia dessa forma, ser encaminhado diretamente para uma unidade de desaguamento,

    como por exemplo, os leitos de secagem. Porm, a operao do tanque sptico acaba no

    ocorrendo nas unidades unifamiliares e dessa forma, o lodo acaba sendo removido por

    caminho limpa-fossa e encaminhado a uma estao convencional de tratamento de esgoto.

    Em muitos casos no Brasil, por falta de fiscalizao, esse destino final acaba no ocorrendo e

    o lodo ento lanado em corpos dgua, solo ou reas no apropriadas para este fim.

    O efluente do tanque sptico encaminhado ao filtro anaerbio, que pode ser descendente ou

    ascendente. Para este ltimo caso, mais comum, o esgoto entra na parte inferior, passa por um

    material de enchimento (pedras ou outros materiais) e sai pela parte superior. O filtro

    anaerbio efetua uma remoo complementar de DBO, que pode ocorrer por duas vias: (i)

    pela reteno fsica da matria orgnica particulada (de maiores dimenses) atravs do meio

    suporte e decantao ao longo da unidade; (ii) pela atuao da camada de biomassa que cresce

    aderida ao meio suporte (biofilme). Os microrganismos responsveis pela estabilizao da

    matria orgnica crescem no fundo do filtro e tambm aderidos ao material de enchimento.

    O lodo de excesso descartado periodicamente do filtro anaerbio tambm j sai estabilizado,

    portanto, encaminhado conjuntamente com aquele proveniente do tanque sptico para o seu

    destino final. Na Figura 3, pode-se observar um fluxograma tpico desse sistema, inclusive

  • 13

    com desaguamento natural do lodo. A presena do tratamento preliminar no fluxograma ser

    determinada pela vazo de efluente a ser tratado, j que no caso de populaes muito

    pequenas, no necessria a utilizao das grades devido baixa extenso das redes.

    Ressalta-se que esse lodo desaguado, com algumas restries, pode ser aproveitado em reas

    agrcolas como biosslidos e no caso de regies rurais, essa pode ser uma alternativa

    interessante tanto para gesto do lodo como para a produo de alimentos.

    Figura 3: Sistema utilizando tanque sptico seguido por filtro anaerbio

    Fonte: ReCESA (2008)

    Reator UASB seguido por filtro anaerbio

    No reator UASB, a matria orgnica contida no esgoto estabilizada por microrganismos

    anaerbios que crescem dispersos no reator. O fluxo do lquido ascendente. A parte superior

    do reator UASB contm uma estrutura denominada separador trifsico (gs, slido e lquido).

    O gs coletado pode ser reaproveitado em funo do seu alto poder calorfico ou at mesmo

    para gerao de energia por causa da presena de metano, devendo ser ao menos queimado.

    Adjacente ao separador trifsico encontra-se a cmara de decantao que responsvel pela

    sedimentao do lodo e retorno deste ao sistema e ainda a retirada do efluente clarificado. A

    biomassa que cresce no sistema constitui o lodo cujo excesso (denso e com baixo teor de

    matria orgnica) descartado periodicamente do reator e encaminhado para uma unidade de

    desaguamento, normalmente o leito de secagem em unidades de pequeno porte.

    A utilizao de filtro anaerbio para o ps-tratamento do efluente do reator UASB, o qual

    substitui, com vantagens, o tanque sptico no sistema clssico, tem sido praticada em algumas

  • 14

    localidades no Brasil (ReCESA, 2008). O filtro anaerbio atua na remoo complementar da

    matria orgnica pela reteno fsica, decantao e pela atuao do biofilme.

    O fluxograma do sistema pode ser observado na Figura 4.

    Figura 4: Sistema utilizando reator UASB seguido por filtro anaerbio

    Fonte: ReCESA (2008)

    Reator UASB seguido por filtro biolgico percolador

    A maior parte da matria orgnica removida no reator UASB, e o filtro biolgico percolador

    permite uma remoo complementar da DBO, alm de alguma remoo de amnia no caso de

    filtros de baixa taxa, pelo processo de nitrificao. Essa configurao permite eficincia de

    remoo de DBO bastante superior ao sistema UASB associado ao filtro anaerbio,

    alcanando at 93%, segundo Von Sperling (2005) e apresentado na Tabela 3 do presente

    estudo.

    No filtro biolgico percolador, assim como ocorre nos filtros anaerbios, a biomassa cresce

    aderida a um material de enchimento, que pode ser constitudo de pedras e outros materiais. A

    grande diferena entre esses dois sistemas, que o filtro biolgico percolador funciona em

    presena de oxignio, ou seja, aerbio.

    importante destacar que o lodo aerbio gerado no filtro biolgico percolador, ainda no

    estabilizado, pode ser enviado ao reator UASB, onde sofre adensamento e digesto,

    juntamente com o lodo anaerbio. Dessa forma, o tratamento do lodo grandemente

    simplificado, havendo apenas a etapa de desidratao nos leitos de secagem, conforme pode

    ser observado no fluxograma detalhado apresentado na Figura 5.

  • 15

    Ressalta-se que apesar desse fluxograma ser simplificado e indicado para unidades de

    pequeno e mdio porte, utilizado para tratamento de esgoto de 1,5 milhes de habitantes na

    ETE Ona em Belo Horizonte/MG (COPASA, 2013).

    Figura 5: Sistema utilizando reator UASB seguido por filtro biolgico percolador

    Fonte: ReCESA (2008)

    Reator UASB seguido por lagoas de polimento

    As lagoas de polimento so alternativas bastante atrativas para o ps-tratamento do efluente

    do reator UASB. Essas realizam tanto a funo de remoo complementar de DBO como a

    funo de maturao, com boas eficincias de remoo de organismos patognicos.

    Entretanto, sua utilizao est limitada pela disponibilidade de rea. Essa demanda por

    habitante bastante elevada quando comparada com os fluxogramas de UASB associado ao

    filtro anaerbio e UASB associado ao filtro biolgico percolador.

    Por fim, ressalta-se ainda que esse fluxograma, apresentado na Figura 6, pode alcanar

    elevada eficincia de nitrificao, reduzindo de maneira satisfatria a concentrao de amnia

    no efluente final.

  • 16

    Figura 6: Sistema utilizando reator UASB seguido por lagoa de polimento

    Fonte: ReCESA (2008)

    Reator UASB seguido por aplicao no solo

    O esgoto proveniente do reator UASB aplicado de forma intermitente na parte superior de

    terrenos com certa declividade, atravs dos quais escoa, at ser coletado por valas na parte

    inferior. O terreno deve ser plantado com uma vegetao resistente ao alagamento, para

    auxiliar no tratamento do esgoto e evitar a eroso do terreno. Esse sistema, alm da remoo

    complementar da DBO, pode ainda ser empregado para a remoo de nitrognio, o que ocorre

    por interaes qumicas no solo e absoro pela biomassa vegetal. Outro aspecto importante

    a possibilidade de atendimento conjunto, pelo sistema, aos objetivos de tratamento do esgoto

    e de irrigao, constituindo-se, assim, numa forma de reuso do efluente.

    Essa tecnologia, no muito utilizada no Brasil, apesar de ter sido amplamente estudada pelo

    mais importante programa de pesquisa nacional em saneamento, o Programa de Pesquisa em

    Saneamento Bsico PROSAB.

    Na Figura 7, encontra-se apresentado o fluxograma composto por reator UASB e aplicao no

    solo.

  • 17

    Figura 7: Sistema utilizando reator UASB seguido por aplicao no solo

    Fonte: ReCESA (2008)

    3.5.2 Valores tpicos dos sistemas de tratamento de esgotos

    Para a avaliao do desempenho dos sistemas de tratamento de esgotos, necessrio o

    conhecimento dos valores tpicos neles usualmente observados tanto de concentrao efluente

    de parmetros de qualidade de gua, bem como suas eficincias de remoo.

    Na Tabela 2, podem-se observar os valores tpicos de concentrao efluente de matria

    orgnica, slidos, nutrientes, indicadores de contaminao fecal e ovos de helmintos para os

    sistemas simplificados descritos neste trabalho. J na Tabela 3, para os mesmos parmetros

    mencionados e para os mesmos sistemas, podem-se observar suas eficincias de remoo.

  • 18

    Tabela 2: Valores tpicos de concentraes mdias efluentes

    Qualidade mdia do efluente

    Sistema DBO5

    (mg/L)

    DQO

    (mg/L)

    SS

    (mg/L)

    Amnia-

    N

    (mg/L)

    N total

    (mg/L)

    P total

    (mg/L)

    Ctera

    (NMP/100mL)

    Ovos

    helm.b

    (ovo/L)

    Lagoa

    anaerbia

    + facultativa +

    maturao

    40 a 70 100 a

    180 50 a 80 10 a 15 10 a 20 < 4

    10 a

    104 < 1

    Tanque

    sptico +

    filtro

    anaerbio

    40 a 80 100 a

    200 30 a 60 > 15 > 20 > 4 10

    6 a 10

    7 > 1

    UASB + filtro

    anaerbio 40 a 80

    100 a

    200 30 a 60 > 15 > 20 > 4 10

    6 a 10

    7 > 1

    UASB + filtro

    biolgico

    percolador

    20 a 60 70 a 180 20 a 40 > 15 > 20 > 4 106 a 10

    7 > 1

    UASB +

    lagoas de

    polimento

    40 a 70 100 a

    180 50 a 80 10 a 15 15 a 20 < 4 10 a 10

    4 < 1

    UASB +

    escoamento

    superficial

    30 a 70 90 a 180 20 a 60 10 a 20 > 15 > 4 104 a 10

    6 < 1

    a Coliformes Termotolerantes

    b Ovos de Helmintos

    Fonte: Adaptado de Von Sperling (2005) apud ReCESA (2008)

  • 19

    Tabela 3: Valores tpicos de eficincias mdias de remoo

    Eficincia mdia de remoo

    Sistema DBO (%) DQO

    (%) SS (%)

    Amnia -

    N (%)

    N total

    (%)

    P total

    (%) CTer (unid. Log)

    Lagoa anaerbia

    + facultativa +

    maturao

    80 a 85 70 a 83 73 a 83 50 a 65 50 a 65 < 50 3 a 5

    Tanque sptico +

    filtro anaerbio 80 a 85 70 a 80 80 a 90 > 45 > 60 > 35 1 a 2

    UASB + filtro

    anaerbio 75 a 87 70 a 80 80 a 90 > 50 > 60 > 35 1 a 2

    UASB + filtro

    biolgico

    percolador

    80 a 93 73 a 83 87 a 93 > 50 > 60 > 35 1 a 2

    UASB + lagoas

    de

    polimento

    77 a 87 70 a 83 73 a 83 50 a 65 50 a65 < 50 3 a 5

    UASB +

    escoamento

    superficial

    77 a 90 70 a 85 80 a 93 35 a 65 > 65 > 35 2 a 3

    Fonte: Adaptado de Von Sperling (2005) apud ReCESA (2008)

    Observa-se que a concentrao de DBO e de DQO do efluente final, para todos os sistemas

    simplificados fica no intervalo de 20 a 80 mg/L e 70 a 200 mg/L, respectivamente, sendo a

    tecnologia UASB mais filtro biolgico percolador a mais eficiente nos dois casos. Em relao

    remoo de amnia, essa somente satisfatria em fluxogramas com lagoas ou escoamento

    superficial. No caso do parmetro fsforo, sua remoo satisfatria somente em sistemas

    com lagoas. Conforme j mencionado, a remoo de organismos patognicos tambm

    alcanada com boas eficincias, somente nas unidades com lagoas.

    Por fim, na Tabela 4, encontram-se apresentadas importantes relaes de demanda de rea, de

    energia, custos e produo de lodo dos mesmos sistemas simplificados j descritos e nela,

    pode-se observar a grande diferena de demanda de rea das unidades com lagoas em relao

    s demais.

  • 20

    Tabela 4: Caractersticas tpicas dos principais sistemas de tratamento de esgotos

    Potncia para aerao

    (W/hab)

    Volume de lodo

    (L/hab.ano)

    Custos

    (R$/hab)

    Sistema

    Demanda

    de rea

    (m/hab)

    Instalada Consumida

    por ano

    Lquido

    a ser

    tratado

    Desidratado

    a ser

    disposto

    Instalao O&M por

    ano

    Lagoa

    anaerbia

    +

    facultativa

    +

    maturao

    3,0 a 5,0 0 0 55 a 160 20 a 60 50 a 100 2,5 a 5,0

    Tanque

    sptico +

    filtro

    anaerbio

    0,2 a 0,35 0 0 180 a

    1000 25 a 50 80 a 130 6,0 a 10,0

    UASB +

    filtro

    anaerbio

    0,05 a

    0,15 0 0

    150 a

    300 10 a 50 45 a 70 3,5 a 5,5

    UASB +

    filtro

    biolgico

    percolador

    0,1 a 0,2 0 0 180 a

    400 15 a 55 60 a 90 5,0 a 7,5

    UASB +

    lagoas de

    polimento

    1,5 a 2,5 0 0 150 a

    250 10 a 35 40 a 70 4,5 a 7,0

    UASB +

    escoamento

    superficial

    1,5 a 3,0 0 0 70 a 220 10 a 35 50 a 90 5,0 a 7,0

    Fonte: Adaptado de Von Sperling (2005) apud ReCESA (2008)

    3.5.3 Consideraes para o dimensionamento dos sistemas simplificados

    Para a realizao de dimensionamento de determinadas unidades do tratamento de efluentes

    domsticos, se faz necessrio uma srie de consideraes a serem levadas em conta,

    principalmente quando essas unidades so dimensionadas para vazes muito pequenas, como

    o caso do presente estudo. A seguir sero apresentadas essas consideraes para cada etapa

    do tratamento, de acordo com as recomendaes de Jordo e Volschan (2009).

    Tratamento Preliminar

    Para vazes inferiores a 250 L/s, recomendvel utilizar apenas as grades finas,

    desarenador e Calha Parshall, sendo estes de limpeza manual;

  • 21

    Apenas o sistema Tanque Sptico associado ao Filtro Anaerbio no precedido de

    tratamento preliminar, devido baixa extenso de redes coletoras e consequentemente

    pouca quantidade de slidos grosseiros;

    Mesmo as contribuies de at 250 domiclios devem conter o tratamento preliminar,

    com exceo dos sistemas tanque sptico + filtro anaerbio que tenham vazo inferior a

    1,0 L/s;

    Nas grades finas, adota-se a velocidade mnima de 0,6 m/s para garantir um nmero de

    barras considervel, provocando tambm o aumento da largura da seo;

    Deve ser garantida a velocidade de escoamento de 0,3 m/s no canal da Calha Parshall;

    Para vazes compreendidas entre 0,11 e 5,60 L/s, indica-se a utilizao da seo da

    garganta 1 para o dimensionamento da Calha Parshall;

    Reator UASB

    As diretrizes do dimensionamento esto descritas na NBR 12209/2011;

    Para pequenas vazes indica-se o dimensionamento de reatores cilndricos, j que estes

    so encontrados no mercado pr-fabricados e montados no prprio local;

    O tempo de deteno hidrulica deve estar entre 6 e 9 horas para temperaturas tpicas

    entre 20 e 26 C;

    A Carga Orgnica Volumtrica (COV) deve estar entre 2,5 e 3,5 kg DQO/(d.m);

    A velocidade ascensional de fluxo deve estar entre 0,5 e 0,7 m/h para vazo mdia e 0,9 e

    1,1 m/h para vazo mxima;

    A profundidade til do reator dever estar entre 5 e 6 m;

    A angulao das cortinas dos decantadores deve ser maior que 50;

    A profundidade dos decantadores deve estar entre 1,5 e 2,0 m;

    A taxa de aplicao superficial nos decantadores deve estar compreendida entre 0,6 e 0,8

    m/h para vazo mdia e menor que 1,2 m/h para vazo mxima;

    Para tempo de deteno hidrulica do decantador, indica-se que este esteja entre 1,5 e 2,0

    h para vazo mdia e maior que 1,0 h para vazo mxima;

  • 22

    A velocidade de passagem nas aberturas do decantador deve ser menor que 2,3 m/h para

    vazo mdia e 4,2 m/h para vazo mxima;

    Os tubos de amostragem da manta e do leito de lodo devem estar distantes 0,5, 1,0 e 1,5

    m do fundo;

    Deve haver um tubo de descarte do lodo no fundo e a 1,2 m do fundo;

    Lagoa de Polimento

    O tempo de deteno hidrulica deve estar situado entre 9 e 12 dias;

    A profundidade das lagoas deve estar entre 0,4 a 1,0 m;

    Tanque Sptico e Filtro Anaerbio

    Para evitar perturbaes ao seu funcionamento, a forma prismtica retangular do tanque

    sptico a mais indicada;

    A relao entre o comprimento (L) e a largura (B) para fossas prismticas retangulares

    deve ser: 2 < L/B < 4 e B > 0,80 m;

    A profundidade til (Hu) deve estar compreendida entre 1,80 e 2,80 m;

    A altura do meio suporte do filtro anaerbio de no mximo 1,20 m, j includa a

    distncia entre o fundo da unidade e o fundo falso, sendo que este deve ser menor que

    0,6 m j includa a espessura da laje de fundo;

    Para contribuies acima de 100 habitantes no so aplicveis as unidades cilndricas.

    3.6 Aspectos Legais

    3.6.1 Portaria 2914/2011 do Ministrio da Sade

    Esta portaria dispe sobre os procedimentos de controle e de vigilncia da qualidade da gua

    para consumo humano e seu padro de potabilidade. Segundo a portaria, toda gua destinada

    ao consumo humano, distribuda coletivamente por meio de sistema ou soluo alternativa

    coletiva de abastecimento de gua, deve ser objeto de controle e vigilncia da qualidade da

    gua. A seguir sero destacadas duas definies estabelecidas na Portaria 2914/2011 que so

    de interesse neste estudo:

  • 23

    Sistema de abastecimento de gua para consumo humano: instalao composta por

    um conjunto de obras civis, materiais e equipamentos, desde a zona de captao at as

    ligaes prediais, destinada produo e ao fornecimento coletivo de gua potvel, por

    meio de rede de distribuio;

    Soluo alternativa coletiva de abastecimento de gua para consumo humano:

    modalidade de abastecimento coletivo destinada a fornecer gua potvel, com captao

    subterrnea ou superficial, com ou sem canalizao e sem rede de distribuio.

    Competncias do Municpio

    Com relao s competncias dos municpios, pode-se destacar que dever do poder pblico

    local: inspecionar o controle da qualidade da gua produzida e distribuda e as prticas

    operacionais adotadas no sistema ou soluo alternativa coletiva de abastecimento de gua;

    manter articulao com as entidades de regulao quando detectadas falhas relativas

    qualidade dos servios de abastecimento de gua; garantir informaes populao;

    encaminhar ao responsvel pelo sistema ou soluo alternativa coletiva de abastecimento de

    gua informaes sobre surtos e agravos sade relacionados qualidade da gua para

    consumo humano; realizar, em parceria com os Estados, nas situaes de surto de doena

    diarrica aguda ou outro agravo de transmisso feco-oral, anlise microbiolgica completa;

    cadastrar e autorizar o fornecimento de gua tratada, por meio de soluo alternativa coletiva,

    mediante avaliao e aprovao dos documentos exigidos. Salienta-se tambm que a

    autoridade municipal de sade pblica no autorizar o fornecimento de gua para consumo

    humano, por meio de soluo alternativa coletiva, quando houver rede de distribuio de

    gua, exceto em situao de emergncia e intermitncia.

    Competncias do responsvel

    Com relao ao responsvel pelo sistema ou soluo alternativa de abastecimento de gua,

    dever do mesmo garantir a operao e a manuteno das instalaes destinadas ao

    abastecimento de gua potvel em conformidade com as normas tcnicas da Associao

    Brasileira de Normas Tcnicas (ABNT); manter e controlar a qualidade da gua produzida e

    distribuda; manter avaliao sistemtica; encaminhar autoridade de sade pblica dos

    Estados, do Distrito Federal e dos Municpios relatrios das anlises dos parmetros mensais,

    trimestrais e semestrais com informaes sobre o controle da qualidade da gua; monitorar a

    qualidade da gua no ponto de captao; comunicar aos rgos ambientais, aos gestores de

  • 24

    recursos hdricos e ao rgo de sade pblica dos Estados, do Distrito Federal e dos

    Municpios qualquer alterao da qualidade da gua no ponto de captao; executar aes

    cabveis para proteo do(s) manancial(ais) de abastecimento(s) e das bacia(s) hidrogrfica(s);

    proporcionar mecanismos para recebimento de reclamaes e manter registros atualizados

    sobre a qualidade da gua distribuda; comunicar imediatamente autoridade de sade

    pblica municipal e informar adequadamente populao a deteco de qualquer risco

    sade; assegurar pontos de coleta de gua na sada de tratamento e na rede de distribuio;

    deve requerer, junto autoridade municipal de sade pblica, autorizao para o fornecimento

    de gua tratada. Deve-se ressaltar tambm que a gua proveniente de soluo alternativa

    coletiva ou individual, para fins de consumo humano, no poder ser misturada com a gua da

    rede de distribuio.

    Exigncias Aplicveis

    As principais exigncias relacionadas aos sistemas de abastecimento de gua so:

    Todo sistema de abastecimento de gua para consumo humano deve contar com

    responsvel tcnico habilitado.

    Toda gua para consumo humano, fornecida coletivamente, dever passar por processo

    de desinfeco ou clorao.

    A rede de distribuio de gua para consumo humano deve ser operada sempre com

    presso positiva em toda sua extenso.

    As guas provenientes de manancial superficial devem ser submetidas a processo de

    filtrao.

    Padro de Potabilidade

    Devem ser destacados os seguintes pontos contidos na Portaria 2914/2011:

    Os responsveis pelo controle da qualidade da gua de sistemas ou solues alternativas

    coletivas de abastecimento de gua para consumo humano, supridos por manancial

    superficial e subterrneo, devem coletar amostras semestrais da gua bruta, no ponto de

    captao, para anlise de acordo com os parmetros exigidos nas legislaes especficas,

    com a finalidade de avaliao de risco sade humana.

    A gua potvel deve estar em conformidade com padro microbiolgico.

  • 25

    Na rede de distribuio, quando forem detectadas amostras com resultado positivo para

    coliformes totais, aes corretivas devem ser adotadas e novas amostras devem ser

    coletadas em dias imediatamente sucessivos at que revelem resultados satisfatrios.

    Nos sistemas de distribuio, as novas amostras devem incluir no mnimo uma recoleta

    no ponto onde foi constatado o resultado positivo para coliformes totais e duas amostras

    extras, sendo uma montante e outra jusante do local da recoleta.

    O resultado negativo para coliformes totais das recoletas no anula o resultado

    originalmente positivo no clculo dos percentuais de amostras com resultado positivo.

    Quando houver interpretao duvidosa nas reaes tpicas dos ensaios analticos na

    determinao de coliformes totais e Escherichia coli, deve-se fazer a recoleta.

    A determinao de bactrias heterotrficas deve ser realizada como um dos parmetros

    para avaliar a integridade do sistema de distribuio (reservatrio e rede).

    Na seleo dos locais para coleta de amostras devem ser priorizadas pontas de rede e

    locais que alberguem grupos populacionais de risco sade humana.

    Entre os 5% dos valores permitidos de turbidez superiores ao VMP (valor mximo

    permitido) estabelecidos na Tabela 5, para gua subterrnea com desinfeco, o limite

    mximo para qualquer amostra pontual deve ser de 5,0 uT, assegurado, simultaneamente,

    o atendimento ao VMP de 5,0 uT em toda a extenso do sistema de distribuio

    (reservatrio e rede).

    Entre os 5% das amostras que podem apresentar valores de turbidez superiores ao VMP

    estabelecido, o limite mximo para qualquer amostra pontual deve ser menor ou igual a

    1,0 uT, para filtrao rpida e menor ou igual a 2,0 uT para filtrao lenta.

    Os sistemas ou solues alternativas coletivas de abastecimento de gua supridas por

    manancial subterrneo com ausncia de contaminao por Escherichia coli devem

    realizar clorao da gua mantendo o residual mnimo do sistema de distribuio

    (reservatrio e rede).

    Quando o manancial subterrneo apresentar contaminao por Escherichia coli, no

    controle do processo de desinfeco da gua, devem ser observados os valores do produto

    de concentrao residual de desinfetante na sada do tanque de contato e o tempo de

    contato expressos na portaria ou a dose mnima de radiao ultravioleta.

  • 26

    A avaliao da contaminao por Escherichia coli no manancial subterrneo deve ser

    feita mediante coleta mensal de uma amostra de gua em ponto anterior ao local de

    desinfeco.

    Na ausncia de tanque de contato, a coleta de amostras de gua para a verificao da

    presena/ausncia de coliformes totais em sistemas de abastecimento e solues

    alternativas coletivas de abastecimento de guas, supridas por manancial subterrneo,

    dever ser realizada em local montante ao primeiro ponto de consumo.

    obrigatria a manuteno de, no mnimo, 0,2 mg/L de cloro residual livre ou 2 mg/L de

    cloro residual combinado ou de 0,2 mg/L de dixido de cloro em toda a extenso do

    sistema de distribuio (reservatrio e rede).

    Recomenda-se que, no sistema de distribuio, o pH da gua seja mantido na faixa de 6,0

    a 9,5.

    Recomenda-se que o teor mximo de cloro residual livre em qualquer ponto do sistema

    de abastecimento seja de 2 mg/L.

    Alm disso, vale destacar que esta legislao define um padro de turbidez para ps-filtrao

    ou pr-desinfeco, como mostrado na Tabela 5.

    Tabela 5: Tabela de padro de turbidez para gua ps-filtrao ou pr-desinfeco

    Tratamento da gua

    Valor Mximo Permitido

    Desinfeco (para guas subterrneas)

    1,0 uT em 95% das amostras

    Filtrao rpida (tratamento completo ou

    filtrao direta)

    0,5 uT em 95% das amostras

    Filtrao lenta

    1,0 uT em 95% das amostras

    Fonte: Adaptado da Portaria n 2914/2011

    Planos de Amostragem

    Os responsveis pelo controle da qualidade da gua de sistemas ou solues alternativas

    coletivas de abastecimento de gua para consumo humano, supridos por manancial superficial

    e subterrneo, devem coletar amostras semestrais da gua bruta, no ponto de captao, para

    anlise de acordo com os parmetros exigidos nas legislaes especficas, com a finalidade de

    avaliao de risco sade humana. Tambm devem elaborar e submeter para anlise da

  • 27

    autoridade municipal de sade pblica, o plano de amostragem de cada sistema e soluo,

    respeitando os planos mnimos de amostragem expressos na portaria 2914/2011.

    A seguir, encontra-se a Tabela 6 com os principais parmetros analisados em guas para

    consumo humano e seus principais Valores Mximos Permitidos - VMP, estipulados pela

    Portaria 2914/2011.

    Tabela 6: Parmetros da gua potvel e seus VMP estabelecidos na Portaria 2914/2011

    Parmetro VMPa

    Alumnio 0,2 mg/L

    Amnia (NH3) 1,5 mg/L

    Cor aparente 15 uHb

    Cloreto 250 mg/L

    Dureza total 500 mg/L

    Ferro 0,3 mg/L

    Mangans 0,1 mg/L

    Sdio 200 mg/L

    Slidos dissolvidos totais 1000 mg/L

    Zinco 5 mg/L

    Cloro residual livre 5 mg/L

    Trihalometanos total 0,1 mg/L

    Escherichia coli Ausncia em 100 mL a VMP = Valor Mximo Permitido

    b uH = Unidade Hazen (mg PtCo/L)

    Fonte: Adaptado da Portaria n 2914/2011

    Com relao ao nmero e freqncia de coleta de amostras para mananciais subterrneos,

    indica-se: uma amostragem semanal, referente cor, na sada do tratamento e cinco amostras

    mensais na rede de distribuio de gua; para o cloro residual, uma amostragem na sada do

    tratamento duas vezes por semana, assim como para pH e turbidez; e para os demais

    parmetros, uma amostra na sada do tratamento e uma na rede de distribuio, sendo estas

    semestrais.

  • 28

    3.6.2 Resoluo CONAMA n 396/2008

    A CONAMA n 396/2008 dispe sobre a classificao e diretrizes ambientais para o

    enquadramento das guas subterrneas. As guas subterrneas so classificadas em seis

    classes (especial, 1, 2, 3, 4 e 5) de acordo com as alteraes sofridas pelas aes antrpicas.

    Alm disso, estabelece diretrizes para a preveno e controle da poluio das guas

    subterrneas. Por fim, define os parmetros de qualidade de gua de acordo com seus usos

    preponderantes.

    3.6.3 Resoluo CONAMA n 357/2005

    A Resoluo CONAMA n 375/2005, atualmente somente dispe sobre a classificao dos

    corpos de gua e diretrizes ambientais para o seu enquadramento. Desde 2011, com a

    implantao da Resoluo CONAMA n 430, a CONAMA 357 deixou de estabelecer as

    condies e padres de lanamento de efluentes.

    Assim, a Resoluo CONAMA 357 classifica as guas superficiais em: guas doces (classes

    especial, 1, 2, 3 e 4), salobras (classes especial, 1, 2, 3), ou salinas (classes especial, 1, 2, 3),

    de acordo com a qualidade requerida para seus usos preponderantes.

    Dessa forma, a legislao define, para cada uma das 13 classes descritas acima, limites para

    parmetros fsico-qumicos e microbiolgicos que determinam a sua qualidade, alm de

    estabelecer as diretrizes para o enquadramento de corpos dgua.

    Nas bacias hidrogrficas em que a condio de qualidade dos corpos de gua esteja em

    desacordo com os usos preponderantes pretendidos, devero ser estabelecidas metas

    obrigatrias, intermedirias e finais, de melhoria da qualidade da gua para efetivao dos

    respectivos enquadramentos, excetuados nos parmetros que excedam aos limites devido s

    condies naturais. Especificamente com relao a efluentes domsticos, para se alcanar o

    enquadramento, o ideal o tratamento dos mesmos.

    3.6.4 Resoluo CONAMA n 430/2011

    A Resoluo CONAMA n 430/2011 tem por objetivo definir critrios para lanamento de

    efluentes e estabelece condies, parmetros, padres e diretrizes para a gesto do lanamento

    de efluentes em corpos receptores.

    Inicialmente a legislao classifica os efluentes como: 1) efluentes domsticos; e 2) efluentes

    de qualquer outra fonte poluidora. Essa classificao permite estabelecimento de valores

  • 29

    mximos e/ou eficincias mnimas exigidos levando-se em considerao os diferentes

    potenciais poluidores que cada um deles oferece. No caso do parmetro DBO, sua

    concentrao final limite para lanamento no caso de esgoto domstico de 120 mg/L, sendo

    que deve ser mantida uma eficincia mnima de remoo de 60% para o mesmo parmetro.

    Esta ressalva contempla efluentes que possuam altas concentraes de DBO e que, mesmo

    passando por tratamento, no alcanam a concentrao de 120 mg/L.

    Por se tratar de uma resoluo federal, muitas vezes os parmetros e caractersticas

    estabelecidas se tornam pouco restritivos, j que o pas possui vasta extenso territorial e

    caractersticas distintas, como populao, economia, clima, entre outros fatores, que devem

    ser levados em conta. Assim, alguns estados brasileiros adotam legislaes estaduais para

    lanamento de efluentes mais restritivas. No caso do estado de Minas Gerais, esta a

    Deliberao Normativa Conjunta COPAM/CERH 01/2008.

    3.6.5 Deliberao Normativa Conjunta COPAM CERH 01/2008

    Essa legislao estadual, alm de classificar os corpos dgua superficiais em geral e dar

    diretrizes ambientais para o seu enquadramento, estabelece as condies e padres de

    lanamento de efluentes, assim como era a Resoluo CONAMA 357/2005 antes da

    implantao da CONAMA 430/2011, na esfera federal.

    A COPAM CERH 01/2008 ser utilizada no presente trabalho como referncia e, portanto,

    limites para alguns parmetros que estabelecem o padro de lanamento de efluentes,

    abordados por ela sero destacados a seguir:

    pH entre 6,0 a 9,0;

    Temperatura: inferior a 40C, sendo que a variao de temperatura do corpo receptor no

    dever exceder a 3C no limite da zona de mistura, desde que no comprometa os usos

    previstos para o corpo dgua;

    Materiais sedimentveis: at 1 mL/L em teste de 1 hora em cone Imhoff. Para o

    lanamento em lagos e lagoas, cuja velocidade de circulao seja praticamente nula, os

    materiais sedimentveis devero estar virtualmente ausentes;

    Regime de lanamento com vazo mxima de at 1,5 vezes a vazo mdia do perodo de

    atividade diria do agente poluidor, exceto nos casos permitidos pela autoridade

    competente;

    leos e graxas:

  • 30

    a) leos minerais: at 20mg/L;

    b) leos vegetais e gorduras animais: at 50mg/L.

    Ausncia de materiais flutuantes;

    DBO at 60 mg/L ou tratamento com eficincia de reduo de DBO em no mnimo 60%

    e mdia anual igual ou superior a 70% para sistemas de esgotos sanitrios.

    DQO at 180 mg/L ou tratamento com eficincia de reduo de DQO em no mnimo 55%

    e mdia anual igual ou superior a 65% para sistemas de esgotos sanitrios;

    Slidos em suspenso totais at 100 mg/L, sendo 150 mg/L nos casos de lagoas de

    estabilizao.

    Conhecendo os padres de lanamento, percebe-se claramente a diferena de restrio em

    relao ao parmetro DBO entre a legislao federal e a estadual. Para atender a legislao do

    estado de Minas Gerais, pode-se lanar no corpo receptor um efluente de sistemas de

    esgotamento sanitrio com at 60 mg/L e segundo a legislao federal, esta concentrao

    poderia ser de at 120 mg/L.

  • 31

    4. MATERIAIS E MTODOS

    4.1 Sistema de Abastecimento de gua

    4.1.1 Caracterizao das fontes de abastecimento

    Para a caracterizao das fontes de abastecimento de gua, inicialmente realizou-se um

    levantamento da localizao dos poos e nascentes que abastecem as sete comunidades rurais

    atravs do uso do GPS map 76CS x Garmin, de fotografias dos locais e de informaes

    fornecidas pela populao. Na Tabela 7 sero mostradas as coordenadas geogrficas de cada

    ponto e sua respectiva altitude, alm do tipo de fonte utilizada.

    Tabela 7: Coordenadas geogrficas de cada poo/nascente e tipo de fonte

    Numerao

    das

    amostras

    Distrito Latitude Longitude Altitude Tipo de

    Fonte

    1 Fortaleza 215756,3 S 432909,0 W 606 m

    Poo

    artesiano

    2 Vila Klabin 215640,1 S 432628,4 W 528 m Nascente

    3 Vila So

    Francisco 215430,5 S 432311,4 W 460 m

    Poo

    artesiano

    4 Sobragy 215750,6 S 432221,4 W 451 m

    Poo

    artesiano

    5 Trs Ilhas 220337,9 S 432623,2 W 385 m Nascente

    6 Porto das

    Flores 220455,0 S 433331,3 W 392 m

    Poo

    artesiano

    7 So Jos das

    Trs Ilhas 220152,5 S 432902,2 W 603 m

    Poo

    artesiano

    Nas Figuras 8a, 8b, 8c, 8d e 8e, so mostradas as imagens dos poos utilizados em cinco

    distritos. Como apresentado na Tabela 7, os distritos de Trs Ilhas e Vila Klabin so

    abastecidos por nascentes espalhadas na regio e de difcil acesso, o que dificultou o acesso

    aos locais para posterior registro. Sendo assim so mostradas apenas cinco das sete fontes de

    abastecimento de gua utilizadas na zona rural do municpio de Belmiro Braga.

  • 32

    a) Fortaleza

    b) Porto das Flores

    c) So Jos das Trs Ilhas

    d) Sobragy

    e) Vila So Francisco

    Figura 8: Poos utilizados para o abastecimento da populao rural do municpio de

    Belmiro Braga Fonte: Acervo pessoal

  • 33

    A localizao das sete fontes nos distritos mostrada na Figura 9. Como pode-se perceber, os

    distritos de Porto das Flores e Trs Ilhas esto localizados na divisa entre o estado de Minas

    Gerais e Rio de Janeiro.

    Figura 9: Localizao dos sete distritos do municpio de Belmiro Braga

    Fonte: Google Earth (2014)

    Nos sete distritos, o abastecimento de gua ocorre de forma semelhante. Em cinco das sete

    comunidades, a gua captada em mananciais subterrneos atravs de bombeamento, sendo

    transportada para um reservatrio, onde ocorre distribuio da gua atravs das redes de

    abastecimento. Nos distritos de Vila Klabin e Trs Ilhas, a reservao e distribuio da gua

    ocorrem da mesma forma, porm utilizam-se nascentes como mananciais. Nestas duas

    comunidades, assim que a gua das nascentes chega superfcie, esta captada e levada at o

    reservatrio de distribuio.

    4.1.2 Planejamento experimental

    Realizaram-se duas campanhas de amostragem nos dias 21 de abril e 20 de maio do ano de

    2014, todas iniciadas s 8 h da manh. Devido s grandes distncias entre os sete locais de

    amostragens, realizou-se o transporte de carro com tempo entre as coletas de

    aproximadamente 30 min. A rota para a coleta das amostras iniciou-se na comunidade de So

    Jos das Trs Ilhas, seguindo por Fortaleza, Vila Klabin, Vila So Francisco, Sobragy, Trs

    Ilhas, Porto das Flores, sendo que a ltima amostra foi coletada na localidade de onde a rota

  • 34

    comeou. A distncia total percorrida em cada campanha de amostragem chegou a

    aproximadamente 70 km.

    As coletas das amostras foram do tipo simples, feitas em torneiras ligadas diretamente rede

    coletiva de distribuio de gua, sendo assim localizadas aps os reservatrios de cada

    localidade, porm antecedendo a chegada at as residncias. Utilizaram-se garrafas PET de

    510 mL limpas e estas foram numeradas em 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7, correspondendo,

    respectivamente, s fontes dos distritos de Fortaleza, Vila Klabin, Vila So Francisco,

    Sobragy, Trs Ilhas, Porto das Flores e So Jos das Trs Ilhas. Posteriormente cada amostra

    foi preservada em isopor com gelo e levadas para anlise no dia seguinte coleta no

    Laboratrio de Mecnica dos Fluidos da Faculdade de Engenharia da UFJF. As etapas de

    amostragem e preservao de amostras seguiram as especificaes da NBR 9898/1987, que

    determina para cada parmetro a ser analisado o tipo de frasco, volume mnimo, o tipo de

    amostra, a preservao e o prazo de anlise.

    4.1.3 Anlise das amostras

    Os parmetros analisados foram: pH, cor, turbidez, condutividade eltrica, slidos dissolvidos

    totais (SDT) e salinidade. No caso da cor, esta pode ser dividida em cor verdadeira,

    proveniente das partculas dissolvidas na mesma, e em cor aparente, que influenciada pela

    presena de slidos suspensos. No presente estudo, a cor avaliada faz referncia cor

    aparente, pois esta a analisada pelo medidor de cor Alfakit. O pH, condutividade, salinidade

    e SDT foram medidos atravs da Sonda Multiparmetro Hanna HI9828, enquanto que para a

    turbidez, utilizou-se o turbidmetro DLT-WV Del Lab. Para realizao das medies, todos os

    aparelhos foram calibrados com o objetivo de diminuir os erros gerados. As unidades para

    cada parmetro so mostradas a seguir, na Tabela 8.

  • 35

    Tabela 8: Parmetros e respectivas unidades utilizadas

    Parmetro Unidade

    pH -

    Cor mg PtCo/La

    Turbidez uTb

    Condutividade eltrica S/cm

    SDT ppm ou mg/L

    Salinidade %

    a Unidades Hazen

    b Unidades de Turbidez

    Para a obteno dos valores mdios encontrados para pH, condutividade eltrica, salinidade e

    slidos dissolvidos totais anotaram-se trs valores mostrados na tela do aparelho, sendo estas

    anotaes espaadas em 30 segundos. Posteriormente, calculou-se a mdia aritmtica entre os

    trs valores anotados e seu respectivo desvio padro.

    J para a turbidez realizou-se este procedimento trs vezes, anotando os valores gerados pelo

    aparelho e realizando tambm o clculo da mdia aritmtica entre os trs valores e do desvio

    padro.

    A anlise da cor seguiu o mesmo procedimento da turbidez, porm s foram realizadas apenas

    duas repeties na primeira amostragem e uma leitura na segunda amostragem, devido a

    problemas com o aparelho.

    4.2 Sistema de Esgotamento Sanitrio

    4.2.1 Caracterizao do local de estudo

    Inicialmente, para a proposio de um sistema de tratamento de esgoto de cada distrito, foram

    levantados dados sobre a populao residente, a disponibilidade de rea, a presena ou

    ausncia de rede de coleta de esgoto e o corpo receptor em cada localidade que atualmente

    recebe os esgotos sem tratamento. Na Tabela 9 so destacadas as caractersticas anteriormente

    citadas.

    Dentre os sete distritos do municpio, apenas o distrito de Trs Ilhas j possui um sistema de

    fossa sptica para tratar os esgotos das dez famlias residentes na rea. Sendo assim, foram

    propostos apenas seis sistemas.

  • 36

    Tabela 9: Principais caractersticas dos distritos

    Distritos Populao Mdia

    (habitantes) Presena de Rede Corpo Receptor

    Fortaleza 160 Sim Crrego para o

    Rio Paraibuna

    Porto das Flores 295 Sim Rio Preto

    So Jos das Trs Ilhas 206 Sim Crrego para o

    Rio Preto

    Sobragy 279 Sim Rio Paraibuna

    Vila Klabin 189 Sim Crrego para o

    Rio Paraibuna

    Vila So Francisco 214 Sim Rio do Peixe

    Fonte: Secretaria de Sade de Belmiro Braga

    Devido baixa densidade populacional do municpio, a quantidade de rea disponvel para

    implantao dos sistemas grande em todas as comunidades. A seguir, nas Figuras 10a, 10b,

    10c, 10d, 10e e 10f so mostrados os pontos de lanamento de esgoto domstico nos corpos

    dgua de cada distrito.

  • 37

    a) Fortaleza

    b) Porto das Flores

    c) So Jos das Trs Ilhas

    d) Sobragy

    e) Vila Klabin

    f) Vila So Francisco

    Figura 10: Locais de lanamento do esgoto domstico em cada distrito

    Fonte: Acervo pessoal

    Ressalta-se que conforme pode ser observado nas Figuras 10b e 10d, as residncias prximas

    ao rio lanam seus esgotos diretamente no corpos dgua e as residncias mais afastadas

    lanam na rede coletora.

  • 38

    Aps conhecer algumas caractersticas, foram escolhidos os sistemas simplificados ideais para

    cada comunidade, para o posterior clculo de dimensionamento para cada sistema e estimativa

    de custos e rea requerida de acordo com a Tabela 4, citada na reviso bibliogrfica.

    4.2.2 Dimensionamento dos sistemas simplificados

    Por simplificao, foram dimensionados apenas dois fluxogramas para todos os distritos. Nos

    distritos com mais de 250 habitantes (Porto das Flores e Sobragy) adotou-se o sistema

    composto pelo tratamento preliminar, reator UASB e lagoa de polimento. Para os demais

    distritos, com menos de 250 habitantes, dimensionou-se o sistema com tanque sptico

    associado ao filtro anaerbio.

    Esses fluxogramas foram adotados no em funo exclusivamente de melhor desempenho e

    sim, levando-se em considerao caractersticas prprias do local como disponibilidade de

    rea e preocupao com a maior simplicidade operacional possvel por se tratar de uma rea

    rural

    A seguir, na Tabela 10, so mostrados os principais parmetros utilizados para os clculos. No

    caso do parmetro vazo per capita de gua, adotou-se o valor sugerido por Von Sperling

    (2005) para comunidades rurais.

    Tabela 10: Principais parmetros utilizados para os dimensionamentos

    Parmetro Unidade Valor

    QPC vazo per capita L/(hab.d) 140*

    R coeficiente de retorno esgoto/gua 0,8*

    K1 coeficiente do dia de maior consumo 1,2*

    K2 coeficiente da hora de maior consumo 1,5*

    K3 coeficiente da hora de menor consumo 0,5*

    ndice de atendimento % 100

    * valores adotados segundo Von Sperling (2005)

    Devido taxa negativa de crescimento populacional do municpio (-0,1% segundo dados do

    Censo 2010 IBGE), sero mantidos os mesmos valores de populao para incio e fim de

    projeto. Todos os clculos foram realizados segundo as definies de Jordo e Pessa (2011).

  • 39

    5. RESULTADOS E DISCUSSES

    5.1 Sistema de Abastecimento de gua

    5.1.1 Avaliao do sistema de abastecimento de gua

    De acordo com as definies da Portaria n 2914/2011, a forma de abastecimento das

    comunidades rurais do municpio de Belmiro Braga no pode ser classificada como soluo

    alternativa coletiva de abastecimento de gua para consumo humano, j que os distritos

    possuem rede de distribuio de gua. Sendo assim, a distribuio de gua populao das

    comunidades rurais ocorre de forma irregular, j que esta no passa por nenhum processo de

    desinfeco ou clorao, que o tratamento mnimo exigido pela Portaria 2914/2011 para o

    sistema de abastecimento de gua.

    A Portaria 2914/2011 tambm estabelece que, para que se realize a desinfeco da gua

    atravs da clorao e se obtenha o tempo de