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Analice Azevedo Bactérias transmitidas por vetores e zoonoses Analice C. Azevedo UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA DEPARTAMENTO DE PARASITOLOGIA, MICROBIOLOGIA E IMUNOLOGIA

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Analice Azevedo

Bactérias transmitidas por vetores e zoonoses

Analice C. Azevedo

UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA

DEPARTAMENTO DE PARASITOLOGIA, MICROBIOLOGIA E IMUNOLOGIA

Doenças bacterianas transmitidas por vetores e zoonoses

• Várias doenças humanas importantes são transmitidas por vetores, principalmente por artrópodes hematófagos (piolhos, carrapatos, mosquitos);

• Muito comum em países tropicais;

• Doenças transmitidas por vetores podem ser controladas mediante controle do vetor;

• Zoonose é uma doença de animais transmissível aos seres humanos, que podem ser transmitidos por contanto direto, aerossóis, mordeduras ou vetores.

Febre Maculosa Doença de Lyme Leptospirose

Riquétsias

• Bactérias intracelulares obrigatórias, pequenas (0,3 µm);

• Se coram fracamente pelo Gram (Gram-);

• Pleomórficas : cocóide ou elipsóide;

• Patogênicas: Rickettsia e Orientia

• Hospedeiros: roedores e outros animais e seus vetores atrópodos

(carrapatos, ácaros, piolhos e pulgas);

• Os seres humanos são hospedeiros acidentais. Com exceção da R.

prowazekii, seres humanos são hospedeiros e o vetor piolho.

Rickettisia

Estrutura celular:

- Camada de peptideoglicano é mínima (por isso se cora fracamente pelo Gram

- LPS - Não apresentam flagelos - Circundada por uma camada limosa

frouxamente aderente

Utilizam energia da célula hospedeira para a replicação extracelular, mas contém DNA, RNA, enzimas para o ciclo de Krebs e ribossomos.

Não sobrevivem muito tempo fora dos seus hospedeiros, isso justifica o fato de ser transmitida de animal a animal por vetores.

Comparações da sequência do genoma de R. prowasekii indicam que esses parasitas intracelulares são estreitamente relacionados às mitocondrias humanas.

Riquétsias

Riquétsias

• Responsáveis por diversas doenças conhecidas como grupo da febre maculosa.

• As infecções por riquétsias danificam os capilares sanguíneos, o que resulta em uma erupção cutânea manchada característica.

• Incluem: - Erliquiose humana: Ehrlichia chaffensis transmitido por carrapato - Tifo endêmico murinho: R. typhi transmitido por pulgas de ratos - Febre maculosa: R. rickettsii transmitida por carrapatos.

Riquétsias

Grupo Tifo

Grupo da ehrlichiose

Grupo da febre maculosa

Rickettisia rickettsii - Epidemiologia

• Relacionada com a distribuição geográfica do vetor

• No Brasil a região Sudeste é a que possui o maior destaque em número de casos

• No Brasil o principal vetor Amblyomma cajennense, mais conhecido como

carrapato estrela, que costuma parasitar cavalos, bois e capivaras.

• Outros carrapatos da espécie Amblyomma também já foram reconhecidos como

vetores da febre maculosa no Brasil, incluindo o Amblyomma aureolatum (comum

de cães) e o Amblyomma dubitatum (comum nas capivaras).

• Doença que ocorre em todo o

continente americano

• Diversas espécies de carrapato podem

ser hospedeiro/vetor de R. rickettsii,

sendo que carrapatos que atacam os

cães é comum nos EUA.

Febre Maculosa

Rickettisia rickettsii

• A bactéria se adere a células endoteliais (OmpA); • Penetram na célula pela indução da fagocitose; • Lise do fagossoma - fosfolipase; • Se multiplicam tanto no citoplasma como no núcleo; • Translocam de uma célula pra outra adjacente

Febre Maculosa- transmissão

• Para que a transmissão da bactéria ocorra, o carrapato precisa estar, pelo menos, de 4 a 10 horas aderido à pele.

• As formas de larva e ninfa são menores e possuem uma picada menos dolorosa, costumam ser a principal forma de transmissão de Rickettsia rickettsii.

• Também pode ocorrer se o carrapato for esmagado ao se tentar retirar, as bactérias entram em contato com a pele lesionada devido ao extravasamento de conteúdo gástrico do carrapato, que é rico em Rickettsia rickettsii.

R. rickettsii -Febre Maculosa

• Período de incubação varia de 2 a 14 dias;

• Inicialmente forma inespecífica (febre alta, dor de cabeça, fadiga, náuseas e vômitos);

• 90% dos pacientes (após 3 dias) desenvolvem erupções cutâneas macular

• As lesões costumam surgir nos punhos e tornozelos e vão se espalhando em direção ao tronco. Palmas das mãos e plantas dos pés também são frequentemente acometidos.

Manchas avermelhadas na pele, também conhecidas como máculas, deram origem ao nome da doença

R. rickettsii -Febre Maculosa

Tratamento/Prevenção e Controle • A doxociclina é o antibiótico de escolha;

• Evitar áreas infestadas de carrapatos e quando isto não for possível, utilizar

roupas para proteção e carrapaticidas;

• As pessoas devem remover os carrapatos imediatamente.

• Controle de carrapatos em animais, assim como o uso de inseticidas/carrapaticidas

Espiroquetas

• Ordem: Spirochaetales

• Helicoidais, Flexíveis, Delgado, São móveis

• 3 Famílias e 13 gêneros

Treponema (sífilis e outras)

Borrelia (febre recorrente e doença de Lyme)

Leptospira (leptospirose)

Borrelia

• Família Spirochaetaceae;

• Distinguem-se de Leptospira e Treponema: - por serem maiores (0,2 a 0,5 x 8 a 30 µm), - maior número de flagelos periplasmáticos (7 a 20) - menor quantidade de espiras. • São microaerófilos e nutricionalmente exigentes;

• Borrelia (febre recorrente e doença de Lyme)

• A Doença de Lyme (DL) foi descoberta em 1975 na comunidade de Old Lyme, EUA, ao reportar casos sugestivos de artrite juvenil, antecedidos por picada de carrapatos e formação de lesão de pele denominada eritema migratório (EM);

• O agente etiológico da DL foi identificado em 1982 por Willy Burgdorfer sendo denominado Borrelia burgdorferi.

• Complexo: B. burgdorferi, B. garinii, B. afzelli, Borrelia sp.

Borrelia burgdorferi – Doença de Lyme

Borrelia burgdorferi – Patogenicidade

• O crescimento nos vetores artrópodes e nos hospedeiros mamíferos é regulado

pela expressão gênica diferencial;

• OspA – especificidade de ligação ao intestino médio do carrapato;

• OspC – relacionada a fase de transmissão do carrapato para mamíferos;

• Não possuem toxinas reconhecidas e são eliminados pela resposta imune do

hospedeiro;

• Febre recorrente – grande número de genes homólogos de genes OspC , mas

apenas um desses genes é expresso de cada vez.

Borrelia burgdorferi – Doença de Lyme

• Lesão clássica (em média oito a nove dias após a picada, no sítio de inoculação da Borrelia spp). O eritema é geralmente uniforme correspondendo ao local da picada do carrapato.

• Difusão hematogênica – sinais de doença sistêmica - 60% dos pacientes não tratados – artrite - 10 a 20% - manifestações neurológicas - 5% - complicações cardíacas

Borrelia – Epidemiologia

• A doença de Lyme é a principal doença transmitida por vetor nos EUA (B. burgdorferi);

• Os carrapatos de carapaça dura são os principais vetores (Ixodes) ;

• Os principais hospedeiros reservatórios nos EUA são os camundongos e cervo;

• O homem é considerado hospedeiro acidental • Febre recorrente epidêmica (B. recurrentis) tem o piolho

humano como vetor e o homem é o reservatório • Febre recorrente endêmica (diversas espécies de Borrelia) é

transmitida por carrapatos moles (Ornithodoros) e os principais reservatórios são roedores e pequenos mamíferos

Borrelia

• Considerando as diferenças etiológicas e os aspectos clínicos e laboratoriais, quando comparada com a borreliose de Lyme norte-americana ou européia, a infecção no Brasil deve ser referida como borreliose de Lyme simile, Borreliose humana brasileira ou Síndrome Baggio-Yoshinari

• Os primeiros casos publicados no início da década de 1990.

• Os prováveis carrapatos responsáveis pelo ciclo silvestre pertencem aos gêneros Ixodes enquanto o gênero Amblyomma estaria implicado na transmissão a animais domésticos e seres humanos.

Borrelia – Epidemiologia

Ehrlichiose Humana

• Causada por bactérias estritamente intracelulares, da Ordem Rickettsiales, e

gêneros Ehrlichia e Anaplasma;

• Transmitidas para humanos através da picada do carrapato.

• Parasitas intracelulas que parasitam granulócitos, monócitos, eritrócitos e

plaquetas

• Anaplasma phagocytophilum causador da Erliquiose humana granulocítica;

• Ehrlichia chaffensis, causadora da Erliquiose humana monocítica

• Infecções por bactérias do gênero Erlichia são conhecidas há muito tempo pela medicina veterinária, mas os primeiros casos humanos foram reconhecidos somente em 1987.

• No Brasil, esta doença ainda é pouco diagnosticada em humanos, mas já se têm registros em estados como Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais.

Ehrlichiose Humana

• Espiroquetas delgadas, móveis,

• Podem ser observados por microscopia de campo escuro,

• São aeróbios obrigatórios ,

• Crescem em meios bacteriológicos (suplementados com vitaminas, ácidos graxos, e sais de amônio), temperature ótima entre 28 oC e 30 oC

• Não sobrevivem em pH baixo;

• Crescimento é lento.

• Invade diretamente através da pele lesionada e pode se replicar no fígado e rins.

Leptospira Podem penetrar membranas mucosas ou pele intacta através de pequenos cortes e abrasões

L.interrogans

CARACTERÍSTICAS DA DOENÇA:

• É uma zoonose de notificação compulsória

• A maioria das infecções humanas é clinicamente

inaparente;

• As infecções sintomáticas - duas fases características :

- fase inicial: semelhante a uma gripe

- segunda fase: doença sistêmica severa (falha renal,

hepática, miocardite, meningite, forma ictérica e morte)

• Gravidade depende do Nº DE MICRORGANISMOS,

RESPOSTA IMUNOLÓGICA E VIRULÊNCIA

Leptospira interrogans Leptospirose

CARACTERÍSTICAS DA DOENÇA:

• Período de incubação: 1 a 2 semanas;

• FASE INICIAL

Semelhante a um estado gripal (febre e mialgia)

Bacteremia

MICRORGANISMO PODE SER ISOLADO NO LCR

Leptospira interrogans Leptospirose

• SEGUNDA FASE

Cefaléia, calafrios, mialgia, dores abdominais, vermelhidão nos olhos,

Pode evoluir para colapso vascular, hemorragia e disfunção hepática e renal

• Pode ser confundida como meningite viral (evolução não é complicada e a taxa de mortalidade é baixa)

• Forma ictérica é a mais grave (envolvimento hepático, mas sem danos caso a pessoa se recupere)

• Leptospirose congênita – cefaléia, febre, mialgia, erupção difusa

Leptospira interrogans Leptospirose

Leptospirose manifestação clínica

Icterícia

Sufusão conjutival

Sua ocorrência está relacionada às precárias condições de infraestrutura sanitária e alta infestação de roedores infectados. As inundações propiciam a disseminação e a persistência do agente causal no ambiente, facilitando a eclosão de surtos.

Leptospirose - Epidemiologia

• Dois tipos de hospedeiro: reservatórios e acidentais.

• Comuns: vários animais, incluindo ratos (principal) e outros roedores, animais de criação e domésticos

• DOENÇA DAS ENCHENTES, doença ocupacional, doença e atualmente doença associada com prática de esportes (água contaminada) e recreação

• Sobrevivem na água por até 6 semanas

Leptospirose - Epidemiologia

• DIAGNÓSTICO: sinais clínicos, aumento de anticorpos, e isolamento das leptospiras, ou detecção direta.

Ingestão ou penetração (pele, mucosas, cortes)

CORRENTE SANGUÍNEA

Multiplicação em vários órgãos (febre,

disfunções hepática e renal, SNC)

Multipicam e danificam o endotélio (principais

manifestações da doença)

Leptospirose - Patogenia

• Penicilina intravenosa ou doxiciclina

• A leptospirose geralmente não é uma

doença fatal

• Controle de roedores para evitar a

disseminação das leptospiras na urina

• Vacinação de rebanhos e animais

domésticos

Leptospirose – Tramento/Prevenção

Chlamydophila psittaci

• Chlamydophila psittaci é uma bactéria intracelular obrigatória;

• Pertence à família Chlamydiceae, anteriormente Chlamydia;

• Agente da psitacose (febre do papagaio - psittakos papagaio)

• O reservatório pode ser outras espécies de ave – ornitose

• C. psittaci está presente no sangue, das fezes e nas penas das aves

infectadas

Chlamydophila psittaci - psitacose

• A doença se desenvolve após uma incubação de 5 a 14 dias;

• A enfermidade em humanos inicia com sintomas

brandos e inespecíficos, assemelhando-se a infecções

de vias aéreas superiores;

• Os sinais clínicos típicos incluem febre, calafrios, dor

de cabeça, mialgia, mal estar, tosse não produtiva

acompanhada de dificuldade respiratória, além de

casos graves e multissistêmicos (peneumonia).

Chlamydophila psittaci

• Uma das principais zoonoses aviárias, com ocorrência esporádica em humanos;

• A transmissão da C. psittaci ao homem ocorre pela inalação do microrganismo

presente em penas e fezes secas.

• Acomete principalmente pessoas que mantêm contato direto com esses

animais (trabalhadores de abatedouros de aves, trabalhadores de lojas de

animais e criadores de aves).