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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA
INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
COMPORTAMENTO E BIOLOGIA ANIMAL
Rosielle Concolato da Costa
Análise temporal de uma população de Hydromedusa maximiliani (Mikan, 1820)
restrita a uma área de Reserva em Minas Gerais, Brasil
Juiz de Fora
2018
Rosielle Concolato da Costa
Análise temporal de uma população de Hydromedusa maximiliani (Mikan, 1820)
restrita a uma área de Reserva em Minas Gerais, Brasil
Dissertação de mestrado apresentada ao
Instituto de Ciências Biológicas, da
Universidade Federal de Juiz de Fora, como
parte dos requisitos para obtenção do Título
de Mestre em Ciências Biológicas (Área de
Concentração em Comportamento e
Biologia Animal).
Orientadora: Profa. Dra. Iara Alves Novelli
Coorientadora: Profa. Dra. Bernadete Maria de Sousa
Juiz de Fora
2018
Ficha catalográfica elaborada através do programa de geração
automática da Biblioteca Universitária da UFJF, com os dados
fornecidos pelo(a) autor(a)
Rosielle Concolato da Costa
Análise temporal de uma população de Hydromedusa maximiliani (Mikan, 1820)
restrita a uma área de Reserva em Minas Gerais, Brasil
Dissertação de mestrado apresentada ao
Instituto de Ciências Biológicas, da
Universidade Federal de Juiz de Fora, como
parte dos requisitos para obtenção do Título
de Mestre em Ciências Biológicas (Área de
Concentração em Comportamento e
Biologia Animal)
Aprovada em 28 de fevereiro de 2018.
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________________________________
Profa. Dra. Iara Alves Novelli
Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF
______________________________________________________________________
Profa. Dra. Bernadete Maria de Sousa
Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF
______________________________________________________________________
Prof. Dr. Fabiano Matos Vieira
Fundação Oswaldo Cruz - FIOCRUZ
______________________________________________________________________
Prof. Dr Adriano Reder de Carvalho
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais -
Campus Juiz de Fora
Ao meu grande mestre Altair Mendes da
Costa, o naturalista nato que me fez ser
apaixonada pela observação do ambiente e
dos seres vivos, à Luzia Concolato da
Costa, minha referência de garra e trabalho,
pai e mãe, porto seguro onde pude deixar
minha maior riqueza protegida e bem
cuidada, meu filho Arthur. Aos meus três
amores dedico esse trabalho.
Agradecimentos
Agradeço ao Senhor Deus que sempre está no controle de todas as coisas e
permitiu o cumprimento dessa etapa em minha vida (obrigada Pai).
Agradeço imensamente a dedicação, apoio e incentivo, da minha orientadora
Prof.ª Drª Iara Alves Novelli, sem a qual esse sonho não seria possível. Ao seu marido,
Prof. Dr. Fabiano Matos Vieira por suas generosas contribuições a esse estudo. Muito
obrigada por estarem em minha vida e permitir que eu estivesse na vida de vocês em um
momento tão gostoso como a chegada de seu filho e meu sobrinho emprestado,
Guilherme.
O meu muito obrigada à minha Coorientadora Prof.ª Drª. Bernadete Maria de
Sousa por ensinar com maestria e permitir que sua experiência alcançasse a mim e a
este trabalho. Obrigada pelo voto de confiança.
Agradeço à minha primeira orientadora Profª Drª. Sonia Sin Singer Brugiolo
pelo amor, incentivo e apoio desde a graduação.
Agradeço aos membros da banca pelas considerações, sugestões e contribuições
riquíssimas.
Agradeço ao Prof. Dr. Samuel Campos Gomides pelas sugestões e indicações
valiosas.
À equipe que esteve comigo no trabalho de campo: Erika Gabriela Latorre
Hurtado, Wesiley da Silva Monteiro (amigos que o mestrado me deu) e também ao
Matheus Dutra nas tarefas de campo. Um agradecimento especial ao funcionário da
prefeitura responsável pela Reserva, Sr. Miguel que muito contribuiu com seu
conhecimento empírico da área e do comportamento dos cágados. Agradeço ao meu Pai
Altair Mendes da Costa que nos acompanhou em todas as idas ao campo, não somente
nos levando até à Reserva, antes disso, confeccionando a maioria das ferramentas
utilizadas durante o trabalho, se inteirando do assunto pesquisado e enriquecendo nossos
dias com sua experiência e paixão pelas coisas simples da vida. Sem vocês não
conseguiria executar e finalizar essa etapa de capturas. Obrigada pelos conselhos, risos
por causa dos tombos no barro e partilha de sabedoria.
Aos amigos conquistados durante esse tempo e que vou levar pra toda vida:
Fernanda Silva, Antônio, Rafael e Lucas Brian. A todos que direta e indiretamente me
ajudaram a vivenciar e a concluir esse estudo. Aos estimados colegas do Laboratório de
Herpetologia do Departamento de Zoologia da UFJF.
Ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas da Universidade
Federal de Juiz de Fora – Comportamento e Biologia Animal pela oportunidade de
realização desse estudo e a todos os coordenadores e professores que ministraram cursos
e disciplinas ao longo deste período de mestrado.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
pelo fomento desta pesquisa.
Aos diretores, coordenadores e amigos do colégio dos Jesuítas, onde leciono:
agradeço a compreensão e apoio nesses dois anos de estudos.
Ao amigo Carlos Eduardo Mello pela ajuda com as análises estatísticas.
À amiga Nádia, por todo amor e verdade nas conversas e vezes que me fez
vislumbrar que eu poderia (amiga, eu posso!).
À minha família que me incentivou, me ouviu em momentos de tensão, me
alavancou quando pensei que não conseguiria e me deu o suporte para que eu pudesse
me dedicar à pesquisa: Minhas irmãs e irmãos Katiele, Gilmar, Ricardo e Gizelle,
minhas cunhadas e cunhados Rodrigo, Carla, Gisele e Alexandre meus sobrinhos
queridos: Alice, Mariah, Lucas, Ana Beatriz, Samuel, Pedro e André. Obrigada pelo
amor e confiança.
À minha Mãe Luzia Concolato da Costa que me ajudou desde o início na
confecção de materiais utilizados em campo, cuidando do meu filho e de mim de forma
que eu tivesse tranquilidade para trabalhar.
Agradeço ao Arthur, meu “fiote” pelo abraço mais fabuloso do mundo, dado
quando eu voltava para casa após um período de ausência; pelo sorriso mais lindo que
existe ao poder experimentar, em eventuais idas ao campo, o gosto de estar em contato
com a natureza.
Àqueles que, mesmo me chamando de maluca, me incentivaram e acreditaram
que era possível.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade das tartarugas
mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal
É maior do que o mundo.
Manoel de Barros
Resumo
Para o estudo de monitoramento de uma população de quelônios, é
determinante estudar a variação do número de indivíduos ao longo do tempo e como a
estrutura etária, e a razão sexual podem influenciar na composição da mesma,
permitindo sua expansão, estabilidade ou declínio. Dessa forma, o objetivo deste estudo
foi comparar o tamanho estimado e a estrutura da população de H. maximiliani através
de dados de captura e recaptura obtidos há mais de uma década com os dados obtidos
atualmente pelo mesmo método de captura e recaptura dos espécimes manualmente e
com auxílio de puçás. A estimativa da população em 2004/2005 foi de 9 indivíduos com
amplitude de 6 a 15 espécimes, sendo amostrados 10 indivíduos, enquanto que em
2016/2017 foi de 11 com amplitude de 8 a 16 espécimes, sendo que foram amostrados
um total de 12 indivíduos. Foi observado que o tamanho da população não sofreu
alterações significativas comparado aos dados do presente estudo com os dados
coletados há 12 anos, aparentemente demonstrando uma estabilidade numérica, porém o
esforço amostral do presente estudo foi aproximadamente três vezes maior, o que
levaria a se esperar um número maior de capturas. Não foi observado uma grande
discrepância entre os dois períodos amostrados, mesmo quando comparados entre si
com relação a proporção de jovens e adultos amostrados. Quatro indivíduos foram
capturados nos dois períodos, sendo que em 2004/2005 dois eram animais adultos e dois
eram jovens; em 2016/2017 os quatro indivíduos apresentaram taxas de crescimento
muito similares às taxas observadas para a espécie como também relatado em outros
trabalhos e os dois considerados jovens apresentavam caracteres morfológicos e
morfométricos que os categorizavam como machos adultos. Apesar dessa diferença na
estrutura etária e sexual da população não ter significância estatística, o crescimento ao
longo do tempo e a não observação na amostragem de um número maior de jovens
causou a mudança na composição estrutural. Pode-se afirmar que, apesar de também
não serem precisos, os dados sobre a estimativa dessa população isolada de H.
maximiliani levam ao alarmante questionamento da continuidade da mesma a longo
prazo devido às pressões exercidas por fatores como endogamia por isolamento em uma
área circundada por regiões antropizadas, baixo recrutamento e diminuição do número
de jovens uma vez que esses estão crescendo e mudando de classe etária.
Palavras chave: Hydromedusa; Chelidae, estrutura populacional; crescimento,
populações isoladas.
Abstract
For the monitoring study of a population of chelonians, it’s determinant to study
the variation of the number of individuals over time and how the age structure, and the
sex ratio can influence the composition of the same, allowing its expansion, stability or
decline. Thus, the objective of this study was to compare the estimated size and
structure of the H. maximiliani population through capture and recapture data obtained
over a decade ago with the data currently obtained by the same method of capture and
recapture of the specimens manually and with the aid of puçás.
The population estimate in 2004/2005 was 9 individuals with a range of 6 to 15
specimens, with 10 individuals being sampled, while in 2016/2017 it was 11 with a
range of 8 to 16 specimens, and a total of 12 individuals sampled. It was observed that
the population size didn’t suffer significant changes comparing the data of the present
study with the data collected 12 years ago, apparently demonstrating a numerical
stability, however the sample effort of the present study was approximately three times
higher, which would lead to expect a greater number of catches. A large discrepancy
between the two sampling periods wasn’t observed, even when compared to the
proportion of young adults and adults sampled. Four individuals were captured in both
periods, two of which were adult and two were young; in 2016/2017 the four
individuals presented growth rates very similar to the rates observed for the species as
also reported in other studies and the two considered young had morphological and
morphometric characters that categorized them as adult males. Although this difference
in the age and sexual structure of the population isn’t statistically significant, growth
over time and non-observation in the sample of a larger number of young people caused
a change in the structural composition. It’s possible to affirm that, although they are not
accurate, data on the estimation of this isolated population of H. maximiliani lead to
alarming questioning of its continuity in the long term due to the pressures exerted by
factors such as inbreeding in an enclosed area by anthropized regions, low recruitment
and decrease in the number of young people since these are growing and changing age
group.
Key words: Hydromedusa; Chelidae, population structure; growth, isolated populations.
Lista de ilustrações
Figura 1 – Vista panorâmica da região da Reserva Biológica Municipal Santa Cândida,
Juiz de Fora, Minas Gerais. Localização: 21°41’20’’S e 43°20’40’’W ...................... 16
Figura 2 – Vista parcial de alguns trechos de riacho e do tanque de decantação primária
da Reserva Biológica Municipal Santa Cândida, Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil.
....................................................................................................................................... 17
Figura 3 – Técnicas de marcações utilizadas nos espécimes de Hydromedusa
maximiliani capturados na Reserva Biológica Municipal Santa Cândida, Juiz de Fora,
Minas Gerais ................................................................................................................. 19
Figura 4 – Número de indivíduos de Hydromedusa maximiliani capturados/recaptu-
rados e número de horas de permanência em campo por amostragem ........................ 21
Figura 5 – Médias mensais dos dados abióticos coletados na Reserva Biológica
Municipal Santa Cândida, Juiz de Fora, Minas Gerais e número de indivíduos de
Hydromedusa maximiliani capturados por mês ............................................................ 22
Figura 6 – Indivíduos capturados na Reserva Biológica Municipal Santa Cândida, Juiz
de Fora, Minas Gerais. Detalhe da região do plastrão, da esquerda para a direita:
indivíduo jovem, fêmea adulta e macho adulto de H. maximiliani. ............................. 23
Figura 7 – Número de indivíduos de Hydromedusa maximiliani na Reserva Biológica
Municipal Santa Candida, Juiz de Fora, Minas Gerais, capturados em cada dia de
campo, número acumulado de todos os indivíduos capturados ao longo do período 1 -
2004/2005 e do período 2 - 2016/2017 ......................................................................... 26
Figura 8 – Gráfico mostrando a estrutura da população de Hydromedusa maximiliani na
Reserva Biológica Municipal Santa Candida, Juiz de Fora, Minas Gerais, quanto ao
comprimento máximo do plastrão (CMP), no período 1 (2004/2005) e no período 2
(2016/2017). ................................................................................................................. 27
Lista de Tabelas
Tabela 1 – Morfometria dos espécimes de Hydromedusa maximiliani amostrados
durante o período de 2004-2005 e 2016-2017, na Reserva Biológica Municipal Santa
Cândida, Juiz de Fora, Minas Gerais ............................................................................ 25
Tabela 2 – Número de indivíduos de Hydromedusa maximiliani capturados na Reserva
Biológica Municipal Santa Cândida, Juiz de Fora, Minas Gerais, em 2004/2005 (período
1) e em 2016/2017 (período 2) e proporção de jovens e adultos em cada período ....... 24
Tabela 3 – Média de crescimento utilizando a medida do comprimento máximo do
plastrão (em centímetros) e incremento de massa corporal -MC (em gramas) dos
indivíduos de Hydromedusa maximiliani capturados na Reserva Biológica Municipal
Santa Cândida, Juiz de Fora, Minas Gerais, no período 1 (2004/2005) e no período 2
(20016/2017). ............................................................................................................... 24
Sumário
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 13
2. MATERIAL E MÉTODOS.................................................................................. 16
3. RESULTADOS ................................................................................................... 21
4. DISCUSSÃO ....................................................................................................... 29
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 33
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 34
ANEXO ...................................................................................................................... 39
13
1. INTRODUÇÃO
Os Testudines agrupam os répteis conhecidos como quelônios, que apresentam
carapaça e plastrão. Os quelônios estão distribuídos em duas linhagens, Cryptodira e
Pleurodira, diferenciadas devido à forma de retração do pescoço. Dentro do grupo
Pleurodira estão os espécimes que retraem o pescoço de modo lateral; nele existem
cerca de 92 espécies, distribuídas em três famílias. Na família Chelidae estão reunidos
espécimes com a característica muito marcante do pescoço extremamente longo ou, nos
que possuem o pescoço não tão longo, com a flexão lateral sigmóide muito mais
evidente que nos indivíduos da família Pelomedusidae (ERNST; BARBOUR, 1989). A
família Chelidae é a mais expressiva das famílias de Pleurodira e reúne 58 espécies
distribuídas em 14 gêneros. Duas destas espécies pertencem ao gênero Hydromedusa
(COSTA et al., 2015; Turtles of the World, 2017).
Hydromedusa maximiliani (Mikan 1920) e H. tectifera (Cope, 1869) são
conhecidas popularmente como “cágados-pescoço-de-cobra” ou “cágados-de-pescoço-
comprido” e habitam pequenos riachos de águas límpidas e frias, rasos e
encachoeirados, típicos de regiões serranas, acima de 600 m de altitude (COSTA et al.
2015; SOUZA, 2005;).
Hydromedusa maximiliani é uma espécie endêmica da floresta Atlântica
brasileira (SOUZA, 1995; YAMASHITA, 1990) e das regiões montanhosas (ERNST;
BARBOUR, 1989), considerada vulnerável pela IUCN (2017-3) e pela fundação
Biodiversitas de acordo com a última revisão da lista de espécies ameaçadas (Fundação
Biodiversitas, 2007). No estado de Minas gerais já foi considerada criticamente em risco
(COPAM, 1995; MOREIRA, 1998) e mesmo não estando na Lista Vermelha Brasileira
(Ministério do Meio Ambiente, 2014), é tida como ameaçada localmente em Minas
Gerais (COPAM, 2010) e no Espírito Santo (ALMEIDA et al, 2007; COSTA et al.
2015). Foram registradas em no Estado da Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de
Janeiro e São Paulo (COSTA et al. 2015). Em Minas Gerais, a presença de espécimes
de H. maximiliani ocorre em Viçosa (PEREIRA; CUOCULO, 1940), na Fazenda Santa
Rita, em Faria Lemos (MOREIRA, 1994), na Reserva Biológica Municipais Santa
Cândida (RBMSC) e na Reserva do Poço D’Anta (CHAGAS; RAPOSO-FILHO, 1999;
NOVELLI et al., 2013; COSTA et al., 2015).
14
Os estudos com a população de H. maximiliani da Reserva Biológica Municipal
Santa Cândida em Juiz de Fora, MG, foram iniciados na década de 90 com Chagas e
Raposo-Filho (1999). Outros estudos foram realizados e publicados por Novelli e Sousa
(2007), Novelli et al., (2013) e Rocha-Barbosa et al. (2014). Os últimos dados acerca da
dieta e estrutura populacional foram coletados no ano de 2005 (Novelli et al, 2013).
Os quelônios de água doce apresentam longo tempo de vida e os estudos
temporais com enfoque ecológico em populações desse grupo se fazem necessários para
a avaliação dessas populações e consequentemente para propostas à sua conservação
(HENRY, 2003; LITZGUS, 2006; MOREIRA, 1994; SMITH et al., 2006). Dessa
forma, novos estudos com a população de H. maximiliani após 12 anos de um estudo
ecológico realizado com esse quelônio na RBMSC podem refletir o atual estado de
conservação dessa espécie nessa área.
Para o estudo de monitoramento de uma população de quelônios, é determinante
estudar a variação do número de indivíduos de uma espécie ao longo do tempo, bem
como compreender alguns processos ecológicos relacionados a uma dada espécie, como
a estrutura etária, a razão sexual, a densidade, as taxas de sobrevivência e o
recrutamento de filhotes (BALESTRA et al., 2016). Trata-se de estudos que dependem
de um conhecimento prévio da história natural da espécie a ser monitorada, tais como
sua extensão de ocorrência, o uso do hábitat e hábitos alimentares; além do mais, é
obrigatoriamente, um estudo de longa duração quando se tem como espécies alvo
organismos como os quelônios de água doce que apresentam uma vida longa,
crescimento lento e maturação sexual tardia (BALESTRA et al., 2016).
Em estudos de monitoramentos quando bem delineados tem-se resultados que
permitem avaliar as respostas de uma população às práticas de manejo, a programas de
conservação, bem como aos impactos de fatores externos, tais como doenças, caça e
conversão de hábitat (BALESTRA et al., 2016). Além disso, podem até refletir o
histórico de uso de uma dada espécie em um determinado local e gerar resultados que
possibilitem inferir tendências populacionais futuras em diferentes cenários de manejo
para subsidiar tomadas de decisão (DAIGLE; JUTRAS, 2005; GIBBONS, 1990;
LITZGUS; MOUSSEAU, 2004; SOUZA; VOGT, 1994; TOMAS et al. 2006, ).
O estudo da população H. maximiliani na RBMSC se justifica não somente pela
preocupação com a conservação da diversidade biológica, mas também pela
necessidade de se verificar a atual condição dessa população comparando os dados
atuais com os dados coletados por Novelli et al (2013); população tal que se encontra
isolada e restrita a uma área transformada em Reserva Biológica circundada por bairros
15
de uma zona urbana e que possui um tanque de decantação de alvenaria, ou seja um
ambiente modificado pela ação humana.
Dessa forma, o presente trabalho teve por objetivo estimar o tamanho da
população e verificar a estrutura populacional de uma espécie endêmica de cágado , H.
maximiliani, comparando os dados obtidos com os dados registrados em um estudo feito
com a mesma população em 2004/2005 bem como levantar questionamentos sobre
quais atitudes tomar para solucionar possíveis problemas em decorrência desse
isolamento que levariam a não continuidade desta a longo prazo.
16
2. MATERIAL E MÉTODOS
Área de amostragem
A Reserva Biológica Municipal Santa Cândida (RBMSC) (21º 41’20’’ S e 43º
20’ 40’’W) localiza-se a oeste da área central de Juiz de Fora, região da Zona da Mata,
sudeste do estado de Minas Gerais. Com uma área de cerca de 113,31 ha, a RBMSC é
circundada pelos Bairros Monte Castelo, Carlos Chagas, Milho Branco, São Pedro e
Caiçaras (Figura 1).
Figura 1 – Vista panorâmica da região da RBMSC, Juiz de Fora, Minas Gerais. Localização: 21°41’20’’S
e 43°20’40’’W; Fonte: Google Maps
A área da Reserva representa um fragmento com vegetação típica do bioma
Mata Atlântica, encontrando-se em estágio de regeneração secundária. O relevo é
inclinado, apresentando fortes ondulações que originam encostas e vales acompanhados
pela mata, com morros que variam de 60 a 200m de altura e altitudes extremas que
variam de 760 a 960m acima do nível do mar. Devido ao caráter semidecíduo de muitos
de seus elementos arbóreos nas estações do ano de menor pluviosidade e temperaturas
mais baixas, enquadram-se no tipo de Floresta Estacional Semidecídua Montana
(LAFETÁ, 1998).
17
Antes de ser transformada em Reserva, na área funcionava um reservatório de
águas para abastecer uma fazenda de café (Figura 2). Esse reservatório identificado
como tanque de decantação primária represa águas do córrego Milho Branco, principal
córrego da RBMSC e é formado por uma barragem de alvenaria de 15,6m de extensão,
acumulando água até aproximadamente 29 m acima da barragem com profundidade que
varia de 0,2m, nas margens mais distantes da barragem a 2,0 m, junto à barragem
conforme Novelli et al. (2013) (Figura 2). A ocupação desordenada pela população
carente local muito próxima aos limites da Reserva e a invasão desses moradores para a
coleta ilícita de lenha constitui uma possibilidade de ameaça (obs. pess.), visto que
ações do homem que induzem a perda de habitat como desmatamento e poluição da
água são os principais fatores que afetam as populações de H. maximiliani (MARTINS;
SOUZA, 2009).
Figura 2 – Vista parcial de alguns trechos de riacho (A e B) e do tanque de
decantação primária (C, D e E) da Reserva Biológica Municipal Santa Cândida, Juiz
de Fora, MG, Brasil. Fotos do Autor
18
Amostragem, captura e identificação dos espécimes
Os espécimes de H. maximiliani foram amostrados entre setembro de 2016 e
setembro de 2017. Em cada mês foram realizadas duas idas ao campo. Os espécimes
foram capturados manualmente ou com auxílio de puçás, nos trechos de riachos acima
da do tanque de decantação primária e nos tanques de decantação primária e secundária,
localizados no interior da reserva, represando o córrego Milho Branco (Figura 2).
Após a captura, cada espécime foi marcado permanentemente com entalhes nas
placas marginais da carapaça (CAGLE, 1939) e uma marcação temporária com números
arábicos na região das placas vertebrais da carapaça com caneta corretivo à base de
água, atóxica, que permitia a identificação do indivíduo sem a necessidade de captura
(BALESTRA et al., 2016)
A morfometria dos espécimes também foi realizada no campo, com paquímetro
manual Starret® (precisão de 0,02mm) e a massa corpórea (MC), foi aferida com
dinamômetro portátil Pesola® (precisão de 10g). As medidas aferidas foram às mesmas
adotadas por Souza (1995) e Novelli et al. (2013), onde o Comprimento máximo da
carapaça (CMC) foi medido em linha reta desde a borda anterior até a borda posterior
da carapaça; a Largura máxima da carapaça (LMC) foi medida em linha reta entre a
maior distância da borda lateral dos escudos marginais de um lado ao outro; a altura
máxima da carapaça (AMC) foi medida perpendicularmente ao plastrão, ao nível de
maior distância entre os escudos do plastrão e os escudos vertebrais da carapaça; o
comprimento máximo do plastrão (CMP) foi medido em linha reta desde o escudo
intergular até o ponto de junção dos escudos anais; a largura máxima do plastrão (LMP)
foi medida em linha reta através da sutura entre os escudos abdominais e peitorais, de
um ponto de junção entre estes dois escudos e o marginal (Figura 3)
A identificação sexual dos espécimes de H. maximiliani foi realizada através da
verificação de caracteres morfológicos distintivos como a concavidade no plastrão e a
cauda mais comprida e mais grossa nos machos quando comparados com as fêmeas
(MARTINS, 2006). Foram considerados adultos os machos que apresentaram CMC à
partir de 10,17cm e fêmeas com CMC igual o maior que 13,42cm (MARTINS, 2006).
Aferição dos dados abióticos
Os dados climatológicos (temperatura do ambiente, da água e umidade relativa
do ar) foram aferidos com um termo-higrômetro Oregon Scientific® (THG 312; rigor
19
de medição =/-1ºC de 0ºC a -40ºC) na área de estudo (tanque de decantação primária e
ambiente).
Figura 3 – Técnicas de marcações utilizadas nos espécimes de Hydromedusa maximiliani capturados na
Reserva Biológica Municipal Santa Cândida, Juiz de Fora, Minas Gerais. Indivíduo logo após a captura
(A). Em B marcação do tipo permanente. Indivíduo nº 1 com marcação permanente desde o período 1, em
2004/2005 (C) e com marcação temporária feita com caneta corretivo atóxica (D). Em E marcação
temporária no indivíduo 13. Fotos do Autor
Análise dos dados
Para as análises dos dados foram utilizadas ferramentas da estatística descritiva.
Para algumas das análises estatísticas, foi utilizado o software SPSS (Statistical Package
for Social Sciences), versão 23.0. Para todos os testes foi considerado um nível de
significância ≤ 0,05.
Os dados do estudo feito em 2004/2005 (NOVELLI et al., 2013), considerado
aqui como período 1, foram comparados com os dados do período desse estudo,
chamado de período 2, em 2016/2017, ambos feitos com a mesma população isolada na
Reserva Biológica Municipal Santa Cândida.
O Coeficiente de correlação de Pearson (r) foi utilizado para determinar se o
número de capturas e a quantidade de horas em campo apresentam relação direta.
20
Para verificar a razão sexual macho: fêmea, foi feito o teste binomial em virtude
da amostra não ter um tamanho considerável.
As análises relacionadas às diferenças entre o número de jovens e de adultos na
população em cada um dos períodos (2004/2005 e 2016/2017) separadamente e juntos
comparativamente, foram feitas aplicando o teste do qui-quadrado.
A estrutura da população foi estabelecida a partir de classes de tamanho
corporal, utilizando o comprimento máximo do plastrão – CMP, pelo fato de seu
crescimento ser relativamente reto (ERNST; LOVICH, 1986). Sete classes de tamanho
de plastrão – até 2,0 cm, até 4,0 cm, até 6,0 cm, até 8,0 cm, até 10,0 cm, até 12,0 cm e
até 14 cm. Para a comparação das estruturas populacionais entre os dois períodos foi
utilizado o teste Kolmogorov-Smirnov que permite verificar se os dados seguem uma
distribuição normal e se os dados comparados possuem distribuição equivalentes.
O tamanho da população foi estimado para ambos os períodos (2004/2005 e
2016/2017) através do método Schnabel para populações fechadas (onde os eventos de
migração, emigração, morte e nascimentos não são considerados); os intervalos de
confiança foram obtidos através do método de distribuição de Poisson.
Este trabalho foi desenvolvido em consonância com os princípios adotados pelo
Colégio Brasileiro de Experimentação Animal - COBEA, com a aprovação da Comissão
de ética no uso de animais da UFJF (Protocolo CEUA/UFJF n° 019/2016), adotados no
presente estudo e com autorização do Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade – ICMBio/SISBIO. E a autorização da AGENDA-JF (Anexo 1).
21
3. RESULTADOS
Esforço amostral e número de indivíduos capturados
Foram realizadas 22 incursões à RBMSC, realizadas entre setembro de 2016 e
setembro de 2017, totalizando 90 horas e um esforço amostral de 360 horas, visto que as
buscas ativas e capturas foram feitas por quatro pessoas (Figura 4).
O coeficiente de correlação de Pearson (r) demonstrou que houve uma fraca
relação entre o esforço de captura (número de horas que se permaneceu em campo) e o
número de indivíduos capturados em cada dia de campo (r = 0,390).
Figura 4 – Número de indivíduos de Hydromedusa maximiliani capturados/recapturados e número de
horas de permanência na Reserva Biológica Municipal Santa Candida, Juiz de Fora, Minas Gerais, em cada dia de captura.
Dados abióticos
Os dados abióticos temperatura do ar, temperatura da água e umidade relativa
do ar foram coletados a cada incursão ao campo, posteriormente foi feita uma média
mensal de cada dado. Observou-se uma correlação de moderada a forte (p=0,62) entre a
0
1
2
3
4
5
6
7
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22
Nú
mero d
e h
ora
s
Número de incursões ao campo
Indivíduos capturados em cada dia de campo Permanência em campo (horas)
22
temperatura da água e o número de indivíduos capturados, demonstrando uma maior
chance de se capturar uma maior quantidade de espécimes quando a temperatura da
água é maior (Figura 5).
Figura 5 – Médias mensais dos dados abióticos coletados na Reserva Biológica Municipal Santa Cândida,
Juiz de Fora, MG e número de indivíduos de Hydromedusa maximiliani capturados por mês ao longo
deste estudo.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
02468
1012141618202224262830
Um
idad
e re
lati
va d
o a
r %
Ind
ivíd
uo
s ca
ptu
rad
os
e te
mp
erat
ura
do
ar
e ág
ua
Ind. Capturados Temperatura ar (Celsius)
Temperatura água (Celsius) Umidade relativa do ar %
23
Capturas e Recapturas – dados morfométricos
Um total de 12 espécimes de H. maximiliani foi capturado (Figura 6). Destes
espécimes, um foi capturado dez vezes, 1 oito vezes, 1 sete vezes, 1 seis vezes, 3 quatro
vezes, 1 duas vezes e 4 uma vez cada. Ou seja, foram obtidas 37 recapturas (Tabela 1).
Deste período, identificou-se 5 machos (41,7%), 4 fêmeas (33,3%) e 3 jovens (25%).
Separando os animais em 2 grupos: 75% de adultos e 25% de jovens (Tabela2).
No período de 2004/2005 foram capturados 10 espécimes de H. maximiliani,
em um total de sete incursões a campo, em sete meses (Figura 7). Destes, 2 foram
capturados seis vezes, 1 cinco vezes, 2 quatro vezes, 1 três vezes, 1 duas vezes e 3 uma
vez cada. Ou seja, foram obtidas 23 recapturas (Tabela 1). Deste período, foram
identificados 3 machos (30%), 3 fêmeas (30%) e 4 jovens (40%). Separando os animais
em 2 grupos (60% de adultos e 40% de jovens) (Tabela 2)
Quando considerados os dois períodos de estudo (2004/2005 e 2016/2017),
observou-se um total de 18 espécimes amostrados (oito machos adultos, seis fêmeas
adultas e quatro jovens em que não foi possível identificar o sexo), totalizando 60
recapturas de H. maximiliani (Tabela 3).
Figura 6 – Indivíduos capturados na Reserva Biológica Municipal Santa Cândida. Detalhe da região do
plastrão, da esquerda para a direita: indivíduo jovem, fêmea adulta e macho adulto de H. maximiliani.
Fotos do Autor
24
Crescimento dos indivíduos amostrados em ambos os períodos
Quatro espécimes foram capturados nos dois períodos de amostragem
(indivíduos 1, 4, 9 e 13) e foram os mais recapturados durante o período deste trabalho
(período 2). Dois indivíduos considerados jovens no período 1 (indivíduo 9 e indivíduo
13) foram identificados como machos no período 2.
Quando analisados conjuntamente, os quatro indivíduos apresentaram em
média um crescimento de 2,48 cm e um incremento de massa corporal de 221,29
gramas. Na análise dos dois indivíduos que já eram considerados adultos no período de
2004/2005 chegou-se a média de 0,33 cm de crescimento corporal e um incremento de
59,58 gramas. Já na análise dos dois indivíduos que eram jovens em 2004/2005 e se
tornaram adultos em 2016/2017 o crescimento em média foi de 4,62 cm no
comprimento do plastrão e um incremento de massa corporal de 383 gramas (Tabela 3).
Tabela 2 – Número de indivíduos de Hydromedusa maximiliani capturados na Reserva Biológica Municipal Santa Cândida, em 2004/2005 (período 1) e em 2016/2017 (período 2) e proporção de jovens e
adultos em cada período.
2004/2005 2016/2017
Adultos Joven
s
Adultos Joven
s
Macho
s Fêmea
s Total Macho
s Fêmea
s Total
Nº
indivíduo
s 3 3 4 10
5 4 3 12
%
30 30 40
41,7 33,3 25
60 40 100 75 25 100
Tabela 3 – Média de crescimento utilizando a medida do comprimento máximo do plastrão (em
centímetros) e incremento de massa corporal (MC) (em gramas) dos indivíduos de Hydromedusa
maximiliani capturados na RBMSC, no período 1 (2004/2005) e no período 2 (20016/2017).
Adultos e juvenis em 2004/2005 e em 2016/2017
N CMP MC
4 2,48 ± 2,183 221,29 ± 166,64
Adultos em 2004/2005 e em 2016/2017
N CMP MC
2 0,33 ± 2,47 59,58 ± 73,66
Juvenis em 2004/2005 e Adultos em 2016/2017
N CMP MP
2 4,62 ± 0,806 383 ± 32,53
Tabela 1 – Morfometria dos espécimes de Hydromedusa maximiliani amostrados durante o período de 2004-2005 e 2016-2017, na Reserva Biológica Municipal Santa Cândida, Juiz
de Fora, Minas Gerais. M = macho adulto; F =fêmea adulta; J = Jovem/Sexo Indeterminado; M* = jovem em 2004-2005 e macho em 2016-2017. Medidas lineares em centímetro e
Massa corpórea em gramas. CMC= Comprimento máximo da carapaça; LMC= largura máxima da carapaça; AMC= altura máxima da carapaça; CMP= comprimento máximo do
plastrão; LMP= largura máxima do plastrão e MC= massa corpórea. 1=Período 2004-2005. 2=Período 2016-2017.
Espécime Sexo/Idade
CMC CMC LMC LMC AMC AMC CMP CMP LMP LMP MC MC Captura Captura Recapturas Recapturas Total
1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 Recapturas
1M 20,78 20 ,07 11,30 11,95 5,20 5,65 13,48 13,64 7,58 7,80 552,50 560,00 1 1 3 9 12
4F 14,73 15,40 8,84 9,05 3,95 4,00 11,44 11,95 6,73 8,15 308,33 420,00 1 1 5 7 12
5F 15,93 - 9,72 - 4,30 - 11,52 - 6,97 - 323,33 - 1 0 3 0 3
8M 15,28 - 9,32 - 3,76 - 11,63 - 6,85 - 315,00 - 1 0 5 0 5
9M* 10,49 17,80 6,52 10,20 2,84 4,50 7,91 13,10 5,09 7,70 114,00 520,00 1 1 4 6 10
10M 15,00 - 9,44 - 4,06 - 11,38 - 7,65 - 305,00 - 1 0 0 0 0
12M 12,90 - 7,92 - 3,86 - 9,83 - 6,54 - 210,00 - 1 0 0 0 0
13M* 12,18 19,30 7,25 11,25 3,04 4,83 9,00 13,05 6,03 7,96 140,00 500,00 1 1 1 5 6
14F 12,46 - 7,99 - 3,20 - 9,46 - 6,06 - 166,67 - 1 0 2 0 2
15J 4,30 - 3,00 - 0,80 - 2,85 - 1,65 - 7,80 - 1 0 0 0 0
16J - 10,42 - 6,70 - 2,91 - 7,94 - 5,10 - 110,00 0 1 0 0 0
17M - 15,11 - 9,31 - 3,84 - 10,90 - 6,03 - 320,00 0 1 0 3 3
18M - 13,05 - 8,40 - 3,30 - 9,51 - 6,55 - 100,00 0 1 0 3 3
19F - 14,61 - 9,38 - 4,05 - 10,97 - 7,10 - 300,00 0 1 0 3 3
20J - 7,53 - 5,33 - 2,00 - 5,66 - 3,74 - 50,00 0 1 0 1 1
21J - 9,40 - 6,10 - 2,30 - 7,00 - 4,41 - 70,00 0 1 0 0 0
22F - 14,70 - 9,11 - 3,78 - 10,86 - 6,86 - 280,00 0 1 0 0 0
23F - 14,00 - 8,70 - 3,83 - 10,60 - 6,73 - 260,00 0 1 0 0 0
TOTAL 18 10 12 23 37 60
Figura 7 – Número de indivíduos de Hydromedusa maximiliani na Reserva Biológica Municipal Santa Candida capturados em cada dia de campo, número acumulado de todos os indivíduos capturados ao longo do período 1 - 2004/2005 (Gráfico A) e do período 2 - 2016/2017 (Gráfico B).
Estrutura Populacional
A estrutura populacional de H. maximiliani na RBMSC nos períodos
2004/2005 e 2016/217 não apresentou variação significativa (D = 0.14286, p = 1), a
qual possui indivíduos distribuídos nas classes de tamanho do comprimento máximo do
plastrão (CMP) similares nos dois períodos; e que indivíduos com CMP com até 12 cm
foram os mais capturados em ambos períodos de estudo (Figura 8).
Figura 8 – Estrutura da população de Hydromedusa maximiliani na Reserva Biológica Municipal Santa
Candida quanto ao comprimento máximo do plastrão (CMP), no período 1 (2004-2005) e no período 2
(2016-2017).
Nas análises relacionadas às diferenças na proporção de jovens e adultos na
população, não foi observado uma grande discrepância no período de 2004/2005
(p=0,527) e em 2016/217 (p=0,083). Quando a proporção entre jovens e adultos de
ambos os períodos foi comparada, também não foram evidenciadas diferenças
estatisticamente significativas (p=0,439), com a razão entre juvenis e adultos similar
entre os dois períodos de estudo.
Os testes binomiais feitos com os números de machos e fêmeas na população,
tanto para o período 2004/2005 (3 machos - 50%; 3 fêmeas - 50%) quanto para o
período 2016/2017 (5 machos - 55,5%; 4 fêmeas - 44,4%) quando analisados
separadamente, apresentaram valores de p=1 e quando comparados entre si, o valor de p
foi de 0,480, indicando que não existe diferença significativa na razão sexual na
população em ambos os períodos.
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
2 4 6 8 10 12 14
Nú
mer
o d
e in
div
ídu
os
Classes de tamanho CMP (comprimento máximo do plastrão)
2004-2005 2016-2017
28
Estimativa da população
Quanto à estimativa da população, de acordo com o método Schnabel que
analisa captura-recapturas de espécimes, no período 1 (2004/2005) o tamanho médio
estimado da população foi de 9 indivíduos, com uma amplitude calculada pelo método
de distribuição de Poisson de 6 a 15 indivíduos.
No período 2016/2017, de acordo com o mesmo método, o tamanho médio da
população foi estimado em 11 indivíduos, com uma amplitude de 8 a 16 indivíduos.
Comparando a média do tamanho estimado da população através do teste não
paramétrico U de Mann-Whitney, verifica-se que não há diferença significativa no
tamanho da população entre os dois períodos estudados (p=0,447).
29
4. DISCUSSÃO
Quando comparados os dois períodos (2004/2005 e 2016/2017) percebeu-se
que mesmo o esforço amostral tendo sido maior no segundo período (22 incursões ao
campo) o número de indivíduos de H. maximiliani amostrados não foi
proporcionalmente maior, o que levanta questionamentos a respeito do número de
indivíduos nessa população atualmente, uma vez que o esforço amostral foi
aproximadamente três vezes maior, esperava-se que a quantidade de indivíduos
capturados também fosse maior.
As médias dos dados abióticos e o número de capturas em cada mês do
presente estudo apontam correlação entre os dados de estudos da biologia de H.
maximiliani, como por exemplo, eventos de seu ciclo biológico e a época do ano como
também relatado por Famelli (2014) que estudou uma população de H. maximiliani
entre 2007 e 2009.
Em relação aos quatro indivíduos capturados nos dois períodos (espécimes
números 1, 4, 9 e 13) e seu crescimento em 12 anos, verificou-se que apresentaram
médias de crescimento para adultos e para jovens muito similares ao crescimento médio
padrão para a espécie como também estudado por Martins e Souza (2008) também para
H. maximiliani, com um crescimento rápido desde a eclosão para os juvenis seguido de
uma diminuição na taxa de crescimento à medida que os indivíduos atingem a
maturidade sexual, o que reflete estratégias distintas de grupos etários onde os jovens
investem maior energia no crescimento enquanto os adultos investem maior energia na
reprodução como também relatado por Gibbons, (1990) no estudo com a espécie
Trachemys scripta; Spencer (2002) para as espécies Emydura macquarii e Chelodina
expansa; Martins e Souza (2009) em um estudo com H. maximiliani do Parque Estadual
Carlos Botelho (PECB), São Paulo, uma área de Mata Atlântica.
No presente estudo foi observada uma mudança na estrutura populacional entre
os 2 períodos de captura de estudo. Em 2004/2005 a estrutura da população foi
analisada a partir de uma amostragem de três machos, três fêmeas e quatro juvenis com
sexo indeterminado. Em 2016/2017 a amostragem da população foi de cinco machos,
quatro fêmeas e três juvenis. Em ambos períodos quatro indivíduos estavam presentes
na população. Em 2004/2005 dois desses indivíduos já eram adultos, sendo um macho e
uma fêmea, e os outros dois eram juvenis. Os mesmos indivíduos foram recapturados no
período de 2016/2017, porém os juvenis previamente marcados já apresentavam os
30
caracteres morfológicos e morfométricos que os categorizavam como indivíduos
adultos. Essa diferença na estrutura etária e sexual da população não teve significância
estatística, entretanto vale ressaltar que o número de indivíduos jovens no presente
estudo faz questionar se está efetivamente ocorrendo recrutamento de novos animais,
que também foi observado nos estudos de Souza (1995) e Souza e Abe (1997) com H.
maximiliani, ambos no PECB, ocorre entre setembro e janeiro que é o período
reprodutivo da espécie. Somente três indivíduos jovens do presente estudo foram
capturados; um em outubro, um fevereiro e um em março, mesmo o esforço amostral
sendo maior que o do primeiro período de estudos (2004/2005). Uma população é
considerada saudável e em expansão quando apresenta não somente um grande número
de indivíduos, mas diversidade de indivíduos distribuídos nas categorias etárias. O que
influencia diretamente essa distribuição e a viabilidade de uma população a longo prazo
está relacionado a fatores como o grau de isolamento desses indivíduos, razão sexual e
estrutura etária. Uma população estará possivelmente em declínio se apresentar um
maior percentual de indivíduos adultos do que jovens (BEGON, 2007; RICKLEFS,
2003). Dessa forma, de acordo com os dados obtidos nesse estudo, pode-se sugerir que
a população de H. maximiliani esteja possivelmente em declínio.
Existem várias causas para mudanças na estrutura populacional dos quelônios
de água doce, como por exemplo o crescimento corporal ao longo do tempo causa a
mudança na composição estrutural da população (MARTINS; SOUZA, 2009). Porém, a
influência antrópica, a migração de indivíduos entre populações distintas e a predação
também podem ser fatores importantes na estruturação populacional (HAILEY et al.,
1988; HALL et al., 1999; MOORE; SEIGEL, 2006). Na população de H. maximiliani
da RBMSC não podemos considerar a migração como um fator para a mudança na
estrutura populacional, uma vez que se trata de uma população isolada em um ambiente
protegido de uma Reserva Biológica, porém restrito, dentro de uma área bastante
antropizada em seus limites externos.
Em outros estudos com H. maximiliani a variação na razão sexual foi mais
acentuada. Souza (1995) registrou ao longo de dois anos uma população adulta (n=58)
composta por 20 machos e 38 fêmeas, um percentual de 34,5% e 65,5%
respectivamente. Martins e Sousa (2009) estudando a mesma população de Souza
(1995), verificaram que a proporção sexual na população ao longo de 13 anos foi em
média de um macho para duas fêmeas. Entretanto, na população de H. maximiliani
estuda por Famelli et al. (2011) ao longo de 12 meses foi verificada a mesma proporção
31
sexual da população de H. maximiliani da RBMSC (55,5% de machos, n=10; e 44,4%
de fêmeas, n=8).
Em estudo realizado com uma população de H. maximiliani no PECB, uma
área de Mata Atlântica, em São Paulo, entre os anos de 1993 e 1994, Souza (1995)
estimou uma população de 139 indivíduos (amplitude entre 1 a 145 espécimes na
população) ao longo do estudo, porém capturou 103 espécimes ao longo 5 Km de cursos
d'água em uma área de 350 hectares. O que equivale a aproximadamente 21 indivíduos
por quilômetro de rio.
Martins e Souza (2009) ampliaram a amostragem do estudo de Souza (1995)
durante os anos de 2003 e 2006, na mesma região de estudo. Em novas análises, a
estimativa no período de 1993/1994 foi de 235 indivíduos (amplitude entre 92 a 1016
indivíduos), e entre os anos de 2003/2006 foi de 318 indivíduos (amplitude entre 101 a
1842 espécimes). Porém, em todos os dos dois períodos foram capturados 164
indivíduos ao todo, o que corresponde a 33,4 espécimes por quilômetro de rios. Eles
afirmam ainda que maiores conclusões sobre a variação do tamanho estimado dessa
população são inviáveis, uma vez que foram observados grandes intervalos de confiança
nessas estimativas dos dois períodos de amostragem dos quelônios.
Em uma população de H. maximiliani localizada no Parque Estadual da Serra
do Mar (PESM), no estado de São Paulo, Famelli et al. (2011) entre os anos de
2004/2005 estimaram uma população de 43,72 indivíduos ao longo de 1,03 Km de rios.
Entretanto, foram capturados 25 espécimes ao longo do período, correspondendo a
aproximadamente 25 espécimes por quilômetro de rios. Estes dados são próximos aos
observados por Souza (1995) e Martins e Souza (2009).
O tamanho da população de H. maximiliani na RBMSC não sofreu alterações
significativas no intervalo de 12 anos, aparentemente demonstrando uma estabilidade
numérica, o que foi confirmado pelo teste de U de Mann-Whitney (p=0,447).
Em relação às estimativas de tamanho populacional nos diversos estudos feitos
com populações de H. maximiliani, podemos afirmar que os dados não são precisos. De
acordo com Jones e Hartifield (1995) e Verdon & Donnelly (2005) resultados que
apresentam grandes intervalos de confiança são influenciados pela relativa baixa taxa de
recaptura, o que foi constatado no presente estudo e nos estudos de Souza (1995),
Martins e Souza (2009) e Famelli et al. (2011). Em relação ao tamanho da população de
indivíduos capturados, não podemos considerar os trabalhos de Souza (1995), Martins e
Souza (2009) e Famelli et al. (2011) como bons parâmetros comparativos, uma vez que
as áreas de captura desses trabalhos são muito maiores que a área do presente estudo e
32
as populações estudadas são abertas e não isoladas como acredita-se que seja a
população da RBMSC. Outro fato a ser mencionado é a interferência humana, uma vez
que os espécimes amostrados na RBMSC habitam em trechos de riachos e em um
tanque de decantação de alvenaria no interior da mesma, localizada entre cinco bairros
no município de Juiz de Fora, MG. Este tanque tinha, no início do século XX, a função
de armazenar água para abastecer a antiga Fazenda Santa Cândida e localidades
próximas. Os espécimes capturados nos estudos de Souza (1995), Martins e Souza
(2009) e Famelli et al. (2011) são também oriundos de áreas de Reserva Ambiental,
porém, em localidades mais extensas com riachos não represados, ou seja com menor
interferência humana.
Os fatores que mais ameaçam uma população de quelônios de água doce estão
relacionados à perda e fragmentação do habitat (DAIGLE; JUTRAS, 2005; FAMELLI
et al., 2012; GIBBONS et al., 2000; KLEMENS, 2000; LITZGUS; MOUSSEAU, 2004;
MOORE; SEIGEL, 2006). A conservação desses quelônios fica cada vez mais
trabalhosa devido ao crescimento das populações humanas e sua interferência no
ambiente. Somando-se a isso as características biológicas desses espécimes como a
longevidade, a dispersão limitada com baixo índice de migração e alto índice de perda
de ovos e filhotes que não sobrevivem (CONGDON; GIBBONS, 1990, WILBUR;
MORIN, 1988) nos levam ao pensamento de que a população estudada possa apresentar
futuramente uma alteração mais relevante em sua estrutura com um possível aumento de
indivíduos adultos, uma vez que os jovens, apesar de serem mais sucetíveis à ações de
predação, por exemplo, se desenvolvem em adultos e uma diminuição no número de
novos indivíduos, o que levaria à médio e longo prazos ao fim dessa população. Em um
estudo de uma população de Clemmys guttata no Canadá, Enneson e Litzgus (2008)
indicaram que a persistência da população requer uma sobrevivência alta de jovens, o
que indica que esse estágio de vida deve ser considerado estratégico para a conservação
da população.
33
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar da estimativa populacional não diferir estatisticamente nos dois
períodos, foi possível perceber uma tendência ao declínio no número de indivíduos de
H. maximiliani.. Um dos motivos que leva a esse questionamento seria o número de
indivíduos capturados nesse trabalho ter sido muito próximo do número de indivíduos
da amostra em 2004/2005, mesmo o esforço amostral tendo sido três vezes maior (em
22 incursões ao campo foram capturados 12 indivíduos, enquanto em 2004/2005 em
sete incursões, foram capturados 10 indivíduos). Outro fator que reforça o aparente
declínio desta população está no fato da não captura de um número mais expressivo de
jovens. Sabe-se que uma população saudável deve apresentar uma proporção maior de
jovens. O isolamento dessa população de cágados endêmicos de Mata Atlântica,
restritos a uma área de Reserva circundada por bairros de uma zona urbana, e por serem
animais com grande longevidade, maturidade sexual tardia, e a característica de não se
locomoverem em grandes distâncias, nos leva a reforçar a importância da conservação
dessa população e a pensar em formas leva-la a uma estabilidade e posterior
crescimento para que não venha a desaparecer. Com isso é importante salientar a
urgência de um plano político para manutenção da Reserva Biológica Municipal Santa
Cândida, não só pelos cágados que ali vivem, mas por toda forma de vida que um
fragmento que esse ecossistema ameaçado em todo o Brasil representa.
34
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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39
ANEXO
Licença SisBio ICMBio
40