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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA CAEd - CENTRO DE POLÍTICAS PÚBLICAS E AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO PROFISSIONAL EM GESTÃO E AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO PÚBLICA LILIAN APARECIDA ALMEIDA GARRIT DOS SANTOS A IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO REFORÇO ESCOLAR/CECIERJ EM UMA ESCOLA ESTADUAL DE JAPERI JUIZ DE FORA 2014

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA

    CAEd - CENTRO DE POLTICAS PBLICAS E AVALIAO DA EDUCAO

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO PROFISSIONAL EM GESTO E

    AVALIAO DA EDUCAO PBLICA

    LILIAN APARECIDA ALMEIDA GARRIT DOS SANTOS

    A IMPLEMENTAO DO PROJETO REFORO ESCOLAR/CECIERJ EM UMA

    ESCOLA ESTADUAL DE JAPERI

    JUIZ DE FORA

    2014

  • LILIAN APARECIDA ALMEIDA GARRIT DOS SANTOS

    A IMPLEMENTAO DO PROJETO REFORO ESCOLAR/CECIERJ EM UMA

    ESCOLA ESTADUAL DE JAPERI

    Dissertao apresentada como requisito

    parcial concluso do Mestrado

    Profissional em Gesto e Avaliao da

    Educao Pblica, da Faculdade de

    Educao, Universidade Federal de Juiz

    de Fora.

    Orientador: Fernando Tavares Jnior

    JUIZ DE FORA

    2014

  • TERMO DE APROVAO

    LILIAN APARECIDA ALMEIDA GARRIT DOS SANTOS

    A IMPLEMENTAO DO PROJETO REFORO ESCOLAR/CECIERJ EM UMA ESCOLA ESTADUAL DE JAPERI

    Dissertao apresentada Banca Examinadora designada pela equipe de

    Dissertao do Mestrado Profissional CAEd/ FACED/ UFJF, aprovada em __/__/__.

    ___________________________________

    Professor Doutor Fernando Tavares Jnior

    ____________________________________

    Jernimo Jorge Cavalcanti Silva

    ___________________________________

    Luiz Flvio Neubert

    Juiz de Fora, 21 de agosto de 2014

  • Dedico este trabalho a Jorge Garrit, meu

    pai e eterno amigo. E minha querida

    prima Mrcia Cristina Almeida da Silva.

    Sei que onde estiverem sero meus

    referenciais de superao.

  • AGRADECIMENTOS

    - SEEDUC-RJ pela oportunidade de ingressar neste mestrado. - Coordenao do Mestrado Profissional em Gesto e Avaliao da Educao Pblica pela organizao de todo curso. - Ao meu orientador Prof. Dr. Fernando Tavares Junior pelas informaes preciosas que me mostraram o caminho que devia seguir no estudo realizado. - tutora Sheila Rigante Romero, excelente profissional e incentivadora. Seu apoio e pacincia foram fundamentais. - Ao tutor Wallace Adriolli Guedes pelo empenho e dedicao em me chamar para a realidade quando, por vezes, sonhava mais do que a realidade educacional nos permite atingir. - s fiis companheiras de jornada Maria Vernica, Rita Mello, Luciana Gentil e Sandra Albuquerque, por se tornarem minha famlia nos quatro perodos presenciais que ficamos afastadas de nossas casas. - Aos amigos e companheiros do mestrado, que juntos caminharam nesta rdua jornada. - Aos companheiros de trabalho por assumirem minhas funes durante o perodo presencial do Mestrado. Em especial, Diretora Regional Pedaggica, Neide Aparecida, por sempre me apoiar em meu crescimento profissional. - s diretoras, coordenadora pedaggica, professores e alunos no CE Almirante Tamandar, por disporem seu tempo em prol da minha pesquisa. - E por fim, mas no menos importante, aos meus familiares que me apoiaram em todo o perodo de participao na plataforma e na ausncia no perodo presencial.

  • Um dos objetivos que se espera da

    educao escolar o desenvolvimento de

    conhecimentos duradouros por parte dos

    educandos. Vasconcellos (1994)

  • RESUMO

    Este estudo descreve e analisa o processo de implementao, no ano de 2012, do Projeto Reforo Escolar, no Ensino Mdio, em uma escola estadual do municpio de Japeri, a fim de solucionar a seguinte questo: quais estratgias devem ser adotadas para ampliar a adeso dos alunos ao projeto. Por estarmos falando de ofertar um ensino que, de fato, atinja o aluno e eleve seu desempenho acadmico, torna-se necessrio o alinhamento dos recursos oferecidos para que estes alcancem o pblico-alvo e sejam eficazes. O estudo tem incio em uma unidade escolar, identificando os pontos fortes e fracos do programa com a finalidade de traar aes educacionais, que levem o projeto Reforo Escolar a atingir seus objetivos. O trabalho foi dividido em trs captulos. O primeiro apresenta o cenrio educacional do Estado do Rio de Janeiro, o perfil do aluno do Ensino Mdio, a proposta do projeto Reforo Escolar e a realidade da unidade escolar estudada, assim como a Regional onde est localizada. No segundo captulo, utilizamos dois mtodos: o primeiro consistiu em analisar quais habilidades foram exploradas nos exerccios que constam no material pedaggico utilizado nas aulas do projeto, nas turmas do 2 ano do Ensino Mdio (3 bimestre) e compar-lo com as habilidades e competncias do Currculo Mnimo do mesmo ano de escolaridade e bimestre. Por fim, estudamos as habilidades que foram cobradas nos itens do Saerjinho, no mesmo perodo. No segundo momento, foi aplicado um questionrio aos alunos, analisado pela escala de Likert, com a finalidade de averiguar o posicionamento dos estudantes em relao ao projeto. Durante o estudo realizado a partir dos dados tabulados, foram utilizados como referencial terico os autores: Lino de Macedo (2007), Telma Weisz (2011), Celso Vasconcellos (1994/2002), Melchior (1998), Luckesi (2005) e Pierre Bourdieu, apresentado por Maria Alice Nogueira e Cludio Martins Nogueira (2004). E, finalmente, no terceiro captulo foi apresentado um plano de atendimento educacional com aes que buscam sanar as situaes crticas identificadas. Palavras-chave: REFORO ESCOLAR MATERIAL PEDAGGICO

    FORMAO CONTINUADA.

  • ABSTRACT This study describes and analyzes the implementation process of the School Reinforcement Project in High School Education at a public school in the municipality of Japeri in 2012. It aims at solving the following question: what strategies should be adopted to expand the participation of the students in the project. As we are talking about offering an education that actually reaches the students and raises their academic performance, it is necessary to align the available resources so that they reach the target audience to make it more effective. The study begins in a school unit, identifying its strengths and weaknesses in order to draw leading educational activities for the School Reinforcement Project to achieve its goals. The work was divided in three chapters. The first one presents the educational setting of the State of the Rio de Janeiro, the profile of the student of the secondary education, the proposal of the project School Reinforcement and the reality of the school unit studied, as well as the Regional where is located. In the second chapter, we utilize two approaches: The first one consisted of analyze the teaching materials utilized in the classes of the project, in the groups of the 2 year of the secondary education (3 two-month period) and compare them with the abilities and competences of the Most minimum Curriculum of the same year of schooling and two-month period. Finally, we study the abilities that were charged ourselves articles of the Saerjinho, in the same period. In the second moment, was applied a questionnaire to the students, analyzed by the scale of Likert, with the purpose of ascertain the positioning of the students regarding the project. During the study carried out from the controlled facts, were utilized like theoretical yardstick the authors: Lino of Macedo (2007), Telma Weisz (2011), Celso Vasconcellos (1994/2002), Melchior (1998), Luckesi (2005) and Pierre Bourdieu, presented by Maria Alice Walnut and Cludio Martins Walnut (2004). And, finally, in the third chapter was presented a plan of educational service with actions

    that are going to cure the critical situations identified.

    Key words: SCHOOL SUPPORT - EDUCATIONAL MATERIAL - CONTINUING

    EDUCATION

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    CE Colgio Estadual

    CEAT Colgio Estadual Almirante Tamandar

    CECIERJ Centro de Cincias e Educao Superior a Distncia do Estado do Rio

    de Janeiro

    DRPMI - Diretoria Regional Pedaggica Metropolitana I

    FUNDAR - Fundao Darcy Ribeiro

    ID ndice de Desempenho

    IDEB ndice de Desenvolvimento da Educao Bsica

    IDER - ndice de Desenvolvimento Escolar do Rio de Janeiro

    IDERJ - ndice de Desenvolvimento Educacional do Rio de Janeiro

    IDH ndice de Desenvolvimento Humano

    IF ndice de Fluxo Escolar

    INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

    LDB Lei de Diretrizes e Bases

    PNE Programa Nova Escola

    PNUD - Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento

    PPP Projeto Poltico Pedaggico

    SAEB- Sistema de Avaliao da Educao Bsica

    SUPAA Superintendncia de Avaliao e Acompanhamento

    SAERJ - Sistema de Avaliao Externa do Rio de Janeiro

    SEEDUC-RJ Secretaria de Educao do Rio de Janeiro

    SUGEN Subsecretaria de Gesto de Ensino

    UE Unidade escolar

  • LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1 Voc acha vlido assistir aulas do reforo no contra turno?................51

    Grfico 2 - Tenho facilidade em aprender os contedos de Lngua Portuguesa....52

    Grfico 3 - Tenho facilidade em aprender os contedos de Matemtica ................52 Grfico 4 - O projeto Reforo Escolar satisfez minhas expectativas com o aprendizado ..............................................................................................................55 Grfico 5 - As aulas do Projeto Reforo escolar melhoraram meu desempenho na disciplina Lngua Portuguesa ....................................................................................56 Grfico 6 - As aulas do Projeto Reforo escolar melhoraram meu desempenho na disciplina Matemtica ................................................................................................57 Grfico 7 - O material pedaggico utilizado no projeto Reforo Escolar oferece prticas pedaggicas dinmicas ...............................................................................58 Grfico 8 - A metodologia utilizada pelo professor nas aulas do Projeto Reforo Escolar atrativa .......................................................................................................59

    Grfico 9 - Os contedos abordados no Projeto Reforo Escolar so compatveis com os das minhas aulas regulares ..........................................................................60

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Esquema das Aulas do projeto Reforo Escolar Matemtica...................40

    Figura 2 Esquema das Aulas do projeto Reforo Escolar Lngua Portuguesa......44

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 Plano de Ao da Unidade Escolar ........................................................29

    Quadro 2 Comparao entre as habilidades trabalhadas no material pedaggico e

    Currculo Mnimo no perodo correspondente em Matemtica .................................41

    Quadro 3 Comparao entre as habilidades trabalhadas no material pedaggico e

    Currculo Mnimo no perodo correspondente em Lngua Portuguesa ....................43

    Quadro 4 Perfil dos Respondentes .......................................................................48

    Quadro 5 - Reviso do Material Pedaggico utilizado no Projeto Reforo Escolar.66

    Quadro 6 A formao dos professores do Projeto Reforo Escolar .......................70

    Quadro 7 - O projeto Reforo Escolar e o Projeto Poltico Pedaggico (PPP) .........73

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Resultados da DRPMI .............................................................................26 Tabela 2 Resultados do CEAT ...............................................................................30

  • SUMRIO

    INTRODUO 13

    1.O PROJETO REFORO ESCOLAR E SEU CONTEXTO 15

    1.1 Contextualizao da Rede Estadual do Rio de Janeiro 15

    1.1.1 As avaliaes externas no Rio de Janeiro 17

    1.1.2 Programa Sucesso Escolar 18

    1.1.3 O Projeto Reforo Escolar como ferramenta do Plano

    Estratgico do Estado do Rio de Janeiro

    20

    1.2 Diretoria Regional Metropolitana I (DRMI) 26

    1.2.1 A unidade escolar CE Almirante Tamandar 28

    2. ANLISE DO PROJETO REFORO ESCOLAR NO COLGIO

    ESTADUAL ALMIRANTE TAMANDAR

    36

    2.1 Anlise dos dados apresentados no material pedaggico 38

    2.2 Procedimentos Metodolgicos 48

    2.2.1 Perfil dos Respondentes 48

    2.2.2 Anlise do questionrio aplicado aos alunos 49

    3. PLANO DE ATENDIMENTO EDUCACIONAL PROPOSTA DE

    INTERVENO PARA O PROJETO REFORO ESCOLAR

    62

    3.1 Reviso do Material Pedaggico utilizado no Projeto Reforo

    Escolar

    63

    3.1.1 Objetivos 64

    3.1.2 Justificativa 64

    3.1.3 Desenvolvimento da ao 65

    3.1.4 Prazo 65

    3.1.5 Custo 66

    3.2 A formao dos professores do Projeto Reforo Escolar 67

    3.2.1 Objetivos 68

    3.2.2 Justificativa 68

    3.2.3 Desenvolvimento da ao 68

    3.2.4 Prazo 69

    3.2.5 Custo 69

    3.3 O projeto Reforo Escolar e o Projeto Poltico Pedaggico

  • (PPP) 70

    3.3.1 Objetivos 71

    3.3.2 Justificativa 71

    3.3.3 Desenvolvimento da ao 71

    3.3.4 Prazo 72

    3.3.5 Custo 72

    CONSIDERAES FINAIS 74

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 75

    ANEXOS 78

  • 15

    INTRODUO

    Este trabalho objetiva avaliar o processo de implementao, no ano de

    2012, do Projeto Reforo Escolar, no Ensino Mdio, em uma escola estadual do

    municpio de Japeri para solucionar a seguinte questo: quais estratgias devem ser

    adotadas para ampliar a adeso dos alunos ao projeto. A escolha de tal escola se

    deu por ela ter uma amostra significativa de alunos com baixo desempenho na

    avaliao externa aplicada, desde o ano de 2011, nas escolas estaduais do Rio de

    Janeiro, que ser detalhada no primeiro captulo. A partir dos dados coletados,

    pretende-se traar um Plano de Ao Educacional que proponha medidas que

    promovam a efetiva participao dos alunos nas aulas do projeto.

    O projeto Reforo Escolar foi implementado pela Secretaria de Estado de

    Educao do Rio de Janeiro para dar direito ao aluno recuperao das habilidades

    e competncias no adquiridas no perodo regular das aulas; habilidades e

    competncias estas verificadas a partir da avaliao externa realizada no Estado, o

    Saerjinho que tem por objetivo fornecer um diagnstico do aluno para o professor

    melhorar sua prtica pedaggica. Esta questo garantida ao aluno pelo Art. 12.

    Inciso V- meios para a recuperao dos alunos de menor rendimento (LDB

    9394/96) 1. Existe um processo tramitando na SEEDUC-RJ, que norteia o Projeto

    Reforo Escolar / Fundao CECIERJ, cuja identificao : Ano 2012 - N do

    processo E-03/1079/2012. Mas como so documentos que fazem parte do acervo

    do rgo central (SEEDUC-RJ) a divulgao no autorizada, a presente pesquisa

    pautada nos dados disponveis no site oficial da Secretaria de Educao e no

    Manual do Projeto formulado pela SEEDUC-RJ.

    A averiguao desta implementao foi realizada pela coordenadora de

    ensino da Diretoria Regional Metropolitana I. A Coordenao de Ensino est

    diretamente relacionada Superintendncia Pedaggica e Coordenao do

    Ensino Mdio que gerenciam vrios programas e projetos nas unidades escolares,

    dentre eles o Reforo Escolar. O coordenador de ensino de cada regional deve

    acompanhar todo o processo de implantao do Projeto Reforo Escolar nas

    unidades selecionadas, dar suporte direo das escolas e aos professores a fim

    de sanar todas as suas dvidas e fazer a mediao da escola com o rgo central,

    1BRASIL. Lei N 9.394, de 20 de dezembro de 1996 Lex: Leis de Diretrizes e Bases da educao

    Brasileira (LDB), Braslia, 1996.

  • 16

    buscando minimizar as dificuldades surgidas no processo. Para o entendimento de

    todo o processo de implementao, faz-se necessria descrio do Projeto

    Reforo Escolar e, para isto, realizou-se uma busca por referenciais tericos que

    abordassem o tema.

    No primeiro captulo desta dissertao, foi apresentada a descrio sucinta do

    contexto educacional no Rio de Janeiro e a realidade do Ensino Mdio no Estado.

    Relato a experincia anterior ao Projeto Reforo Escolar, chamada Programa

    Sucesso Escolar, destacando suas fraquezas e justificando sua substituio pelo

    presente projeto.

    O captulo 2 expe um estudo referente a um recorte do material utilizado

    pelos alunos no 3 bimestre do segundo ano e seu desempenho2 na avaliao

    Saerjinho, no mesmo perodo. E aborda a anlise do resultado apresentado pela

    pesquisa de campo, de cunho avaliativo, realizada por meio de questionrio fechado

    aplicado aos alunos que em 2013 cursavam o terceiro ano do Ensino Mdio. Dos

    108 alunos matriculados, 96 participaram do estudo. Este questionrio foi elaborado

    com dez questes afirmativas nas quais os alunos deveriam dizer, na escala de

    Likert,3 desde discordo totalmente at concordo totalmente.

    No captulo trs, trago uma proposta de interveno a partir do Plano de

    Atendimento Educacional, com aes que almejam propor provveis solues para

    as dificuldades encontradas na implementao do Projeto Reforo Escolar durante a

    exposio deste estudo.

    2 Disponvel no link: http://www.saerjinho.caedufjf.net/diagnostica/

    3 Mtodo utilizado para construo de uma escala de atitudes.

  • 17

    1. O PROJETO REFORO ESCOLAR E SEU CONTEXTO

    Neste captulo abordo o momento histrico anterior implementao do

    Projeto Reforo Escolar, ocorrida no ano de 2012, contextualizando a rede estadual

    de educao no que se refere ao Programa Sucesso Escolar. Tambm descrevo o

    ponto do plano estratgico da atual Secretaria de Educao do Estado do Rio de

    Janeiro que diz respeito ao Projeto Reforo Escolar, desenhando um perfil do Ensino

    Mdio das escolas pblicas estaduais do Rio de Janeiro. Aps traar o cenrio

    poltico iniciam-se os estudos referentes ao Projeto Reforo Escolar, pontuando-se o

    histrico de sua implementao. O captulo finalizado com o estudo da escola, o

    municpio em que est inserida a Diretoria Regional da qual ela faz parte e a viso

    dos atores envolvidos na implementao e elaborao do Projeto Reforo Escolar.

    1.1 Contextualizao da Rede Estadual do Rio de Janeiro

    O Estado do Rio de Janeiro vem, desde o ano de 2000, apresentando queda

    em sua taxa de aprovao no Ensino Mdio - que era de 66,7 % em 2000 caindo ao

    longo dos anos at chegar em 2011 com 59,4 %. Consequentemente, houve um

    aumento na taxa de reprovao, que era de 13,6 % em 2000 chegando a 26 % em

    20114.

    De 2000 at 2011, o estado teve uma queda na taxa de aprovao de 7,3

    pontos percentuais, de acordo com os dados do INEP (Instituto Nacional de Estudos

    e Pesquisas Educacionais). J com relao taxa de reprovao, seu aumento foi

    mais expressivo, com o acrscimo de 12,6 pontos percentuais de 2000 a 20115. A

    preocupao com a queda da taxa de aprovao resultou em polticas pblicas que

    buscavam melhorar o desempenho acadmico do aluno, relacionando a isto a

    formao continuada do professor.

    4Dados disponveis em:

    . Acesso em 20 de julho de 2013. 5 Idem ao 4.

  • 18

    O Estado do Rio Janeiro, em 2011, apresentou uma matrcula inicial de

    alunos do Ensino Mdio de 609.6806 mil, sendo que a Rede Estadual de Educao

    do Rio de Janeiro atendeu 407.8897 mil alunos, enquanto os 201.791 mil restantes

    estavam nas redes federal, municipal e privada. Um dado importante que, segundo

    o Censo Escolar (Inep) 8, 52% dos alunos da Rede Estadual esto em distoro

    idade-srie. O dado reflete a realidade nacional quando diz respeito ao Ensino

    Mdio. O Censo Escolar de 2011 apontou uma taxa de reprovao de 13,1%%,

    enquanto a do estado chegou a 26%, de acordo com os dados do INEP.

    J com relao ao IDEB, o Rio de Janeiro apresentou uma melhora

    significativa neste segmento do ensino, saindo da 26 posio em 2009 para a 15

    em 2011. De acordo com os dados do portal do IDEB,9 mesmo com esta evoluo

    no resultado, em 2011, a cada 100 alunos 27 foram reprovados.

    Isto pode ser um indcio do reflexo da cultura da reprovao existente nas

    escolas que ainda mantm uma viso pedaggica tradicional. Moll (2012) 10

    defendem a ideia de que no adianta apenas criar polticas para combater a

    reprovao, mas sim estimular a aprendizagem de fato dos alunos. Para que isto

    ocorra de fato importante intensificar a recuperao dos contedos aplicados e

    no apenas das notas dos alunos.

    O alto ndice de distoro idade-srie citado no primeiro pargrafo refora o

    impacto negativo do quantitativo elevado de alunos retidos, principalmente na

    primeira srie do Ensino Mdio, de acordo com dados da Superintendncia de

    Gesto da Rede do Estado. E uma ao tomada pela SEEDUC-RJ para buscar a

    queda da taxa de reprovao e aumentar o desempenho acadmico dos alunos foi a

    implementao do Projeto Reforo Escolar, que tem seu pblico-alvo nos alunos

    com baixo desempenho nas avaliaes externas do estado descrevo tais

    avaliaes, de maneira breve, no tpico a seguir.

    6 MATRCULA. Disponvel em:< http://www.todospelaeducacao.org.br/educacao-no-brasil/numeros-

    do-brasil/dados-por-estado/rio-de-janeiro/>. Acesso em 05/20/2014. 7 Dados fornecidos pela Superintendncia de Planejamento e Interao de Redes

    8 Inep. Disponvel em: . Acesso em

    05/02/2014. 9 Fonte: http://www.portalideb.com.br/estado/119-rio-de-janeiro/ideb?etapa=EM&rede=estadual

    10 ENSINO MDIO REPROVADO. Disponvel em: <

    http://revistaescolapublica.uol.com.br/textos/28/ensino-medio-reprovado-267452-1.asp>. Acesso em 22 de julho de 2013.

  • 19

    1.1.1 As avaliaes externas no Rio de Janeiro

    O Programa Nova Escola (PNE) 11foi utilizado no Rio de Janeiro para medir o

    desempenho dos alunos e adotava a mesma escala de proficincia do SAEB

    (Sistema de Avaliao da Educao Bsica), assim como seu sucessor, o Saerj

    (Sistema de Avaliao Externa do Rio de Janeiro), que substituiu o PNE. O PNE

    passou por vrias reformulaes e podemos dizer que foi um ensaio para o que

    vivenciamos atualmente no campo das avaliaes externas no Estado do Rio de

    Janeiro.

    O Saerj uma avaliao externa censitria, aplicada anualmente e em larga

    escala, do desempenho dos alunos que produz um diagnstico da realidade

    educacional do Estado, com consequentes desdobramentos regionais e por

    unidades escolares. Tal avaliao permite ao Governo Estadual a formulao,

    monitoramento e reformulao das Polticas Pblicas Educacionais. aplicada aos

    alunos do 5 e 9 ano do Ensino Fundamental e 3 srie do Ensino Mdio, Educao

    de Jovens e Adultos, Ensino Mdio Integrado e Curso Normal e mdulo IV do

    Programa Autonomia.

    Em 2009, o Estado do Rio de Janeiro foi o vigsimo sexto colocado no SAEB

    de acordo com o INEP. A partir da o governo traou metas a fim de desenvolver o

    desempenho acadmico dos alunos. Outra medida adotada pela SEEDUC-RJ foi o

    incio, em abril de 2011, do Saerjinho, um sistema de avaliao externa bimestral do

    processo de ensino-aprendizagem nas escolas. uma avaliao diagnstica que

    possibilita SEEDUC e aos professores tomar conhecimento, com maior rapidez, do

    nvel de aprendizado dos alunos e em que reas eles tm mais dificuldades, para

    que possam planejar aes corretivas imediatas e alcanar as metas estabelecidas

    para cada unidade escolar.

    O Saerjinho pretende mensurar o nvel de aprendizado dos estudantes, onde

    ocorrem as maiores dificuldades, dando oportunidade para a SEEDUC analisar

    estes dados e mostrar aos professores onde devem acontecer as intervenes e

    mudanas nos planejamentos. Dessa forma, possvel estabelecer medidas de

    correo para auxiliar as unidades escolares no alcance das metas propostas pela

    SEEDUC para cada escola. uma avaliao externa, em larga escala, aplicada nos

    11

    Avaliao em larga escala.

  • 20

    trs primeiros bimestres de cada ano letivo. De acordo com a SEEDUC-RJ: A partir

    do resultado do Saerjinho so realizadas aes como: Reforo Escolar, Formao

    Continuada, Material Pedaggico especfico, entre outras 12. Entre essas medidas,

    a partir dos resultados apresentados no SAERJ, pode-se endossar a elaborao do

    projeto Reforo Escolar, que mais bem explicado no prximo tpico.

    O ponto que marca a relao entre a avaliao externa (Saerjinho) e o Projeto

    Reforo Escolar que, a partir das habilidades apontadas como menos

    compreendidas pelos alunos, elaborado o material a ser utilizado nas aulas. . E

    para esclarecer a origem do projeto, passaremos no prximo subttulo a tratar do

    antecessor do Reforo Escolar.

    1.1.2 Programa Sucesso Escolar

    Em janeiro de 2000, foi implementado no Estado do Rio de Janeiro o

    Programa Nova Escola (PNE). Este programa tinha por objetivo avaliar as escolas

    em trs pontos: gesto, desempenho e eficcia escolar. A partir desta avaliao, o

    governo teria parmetros para a criao de polticas pblicas que melhorassem os

    ndices educacionais do Rio de Janeiro.

    O desempenho escolar dos alunos das escolas estaduais do Rio de Janeiro,

    j nesta poca, era medido por uma prova que aferia as competncias e habilidades

    dos alunos. A eficcia escolar era verificada pela aprovao, reprovao e

    abandono. Essas taxas de rendimento apontam o ndice de Fluxo Escolar e a gesto

    era avaliada pela realizao, nos prazos estabelecidos pelo programa, da entrega

    dos resultados obtidos na escola, conforme afirma Costa13 (2008, p. 1). Tanto o

    desempenho quanto o fluxo escolar eram considerados, a fim de desenvolver

    projetos e programas que auxiliassem as escolas a realizar o processo ensino-

    aprendizagem de maneira eficaz.

    Para alm de avaliar o desempenho acadmico dos alunos, o PNE era

    utilizado para nortear as polticas que aspiravam melhorar a qualidade do ensino

    ofertado. Por este motivo, para dar suporte s escolas com baixo desempenho a

    12

    SEEDUC-RJ. Disponvel em: . Acesso em 09/09/2013. 13

    PROGRAMA NOVA ESCOLA: UMA ANLISE DE SEUS IMPACTOS CURRICULARES Disponvel em: . Acesso em 21 de julho de 2013.

  • 21

    SEE criou, em 2004, o Programa Sucesso Escolar, antecessor do Projeto Reforo

    Escolar existente hoje. O Sucesso Escolar foi implementado em parceria com a

    Fundao Darcy Ribeiro (FUNDAR). De acordo com Mendona (2006, p. 134): os

    pilares do Programa so a formao continuada do professor, reestruturao

    curricular e aulas extras de reforo escolar de Lngua Portuguesa e Matemtica para

    os alunos.

    Mendona (2006, p. 136) afirma que, no primeiro ano de implementao, o

    Sucesso Escolar acontecia aos sbados e este fato fez com que muitos alunos no

    frequentassem as aulas. Foi por este motivo que, em 2005, as aulas passaram a

    acontecer no contra turno. Ainda segundo Mendona (2008, p. 137):

    Outra alterao que dinamizou ainda mais o Sucesso Escolar foi ter focado as aulas de reforo no contedo sobre o qual o aluno tinha dvida, poupando seu tempo para se dedicar a outros pontos da matria. Em 2004, o que ocorria era que o estudante com dificuldade em um determinado ponto especfico acabava por assistir a todas as aulas de reforo. Com essas alteraes no programa, o aluno pode ser encaminhado recuperao mais de uma vez, sempre que sentir dificuldades. Para permitir essa mobilidade, foi criada uma ficha para o aluno. A cada vez que encaminhado ao programa, ele recebe do seu professor a ficha, contendo informaes sobre as dificuldades dele em um determinado assunto. Essa providncia, na realidade, uma espcie de compromisso, pois ele deve entregar o documento assinado ao professor, assim que retorna da aula de reforo.

    Conforme a descrio de Mendona (2008) existia uma preocupao em

    atender a um maior nmero de alunos em sistema de rodzio, porque o estudante

    podia frequentar as aulas sempre que sentisse dificuldade em um determinado

    contedo. O professor listava as dificuldades e o monitor devolvia a ficha com os

    avanos do aluno. Outro ponto discutido no Sucesso Escolar foi o currculo

    ministrado. Tal discusso acabou apontando para a necessidade de reformul-lo.

    A atualizao do currculo surgiu, em 2005, a partir de uma parceria com a

    Universidade Federal do Rio de Janeiro dentro do Programa Sucesso Escolar, que

    buscava uma melhor adequao entre a teoria e a prtica. Esta nova proposta de

    currculo era elaborada por professores da rede que passavam por oficinas de

    formao continuada, visando escrita da proposta de Reorientao Curricular para

    todas as reas de conhecimento.

    O Programa Sucesso Escolar tinha tambm questes a serem melhoradas,

    porque os professores que trabalhavam nele no tinham uma formao especfica

  • 22

    para o material utilizado e no havia o acompanhamento semanal por parte do rgo

    central. Na verdade, as visitas tinham cunho de fiscalizao e no pretendiam, em

    muitos casos, levar assistncia para escola e para o professor. Professores e

    diretores no aceitavam fazer parte do Programa, alegando ter uma boa proficincia

    apresentada pelos alunos na avaliao do PNE, alm de no abrirem mo da cultura

    da reprovao. Maggie (2006, p.23) afirma que:

    O Programa Sucesso Escolar parece no ter conseguido romper essa lgica. As aulas reproduziam aulas regulares e os alunos continuaram a ser avaliados a partir desses mesmos parmetros. Como uma espcie de liquidificador que ao triturar retira as propriedades fsicas dos alimentos, a escola tritura os programas implantados dando a eles uma feio que est sempre voltada para reforar o mito de que eles no tm jeito de que eles no querem nada. O Sucesso Escolar foi mais um dado que parece ter comprovado a regra.

    A dinmica empregada no Programa Sucesso Escolar no obteve o resultado

    esperado, uma vez que na realidade era uma continuidade da metodologia aplicada

    em sala de aula, conforme afirmou Maggie (2006). As aulas eram ministradas por

    monitores que, em sua maioria, ainda no haviam concludo o ensino superior e no

    recebiam capacitao para atuar com prticas pedaggicas diversificadas. A partir

    destas consideraes, o presente trabalho passa a descrever o Projeto Reforo

    Escolar, seu foco principal de estudo.

    1.1.3 O Projeto Reforo Escolar como ferramenta do Plano Estratgico do Estado do Rio de Janeiro

    A meta estabelecida, em 2011, pelo plano estratgico da Secretaria de

    Educao do Rio de Janeiro universalizar o ensino levando o estado a estar entre

    os melhores do Brasil em relao ao desempenho apresentado por seus alunos,

    desempenho este medido pelo ndice de Desenvolvimento da Educao Bsica

    (IDEB). Este desafio foi lanado pelo Governador do Estado em seu discurso de

  • 23

    posse em 2011 e est registrado no livro lanado em 2012 com o Plano Estratgico

    do Governo do Rio de Janeiro de 2012 a 203114.

    Desde o ano de 2011, a Secretaria de Educao do Estado do Rio de Janeiro

    (SEEDUC-RJ) colocou em prtica um Plano Estratgico de Governo e, dentre as

    aes deste documento, foi apresentado o Projeto Reforo Escolar em parceria com

    a Fundao Centro de Cincias e Educao Superior a Distncia do Estado do Rio

    de Janeiro (Cecierj).

    O Plano Estratgico do Governo do Estado do Rio de Janeiro est em

    consonncia com o que vem sendo planejado no pas e - almejando atender a meta

    3 do Plano Decenal de Educao 2011-2020que universalizar, at 2016, o

    atendimento escolar para toda a populao de 15 a 17 anos e elevar, at 2020, a

    taxa lquida de matrculas no Ensino Mdio para 85%, nesta faixa etria 15. A

    SEEDUC-RJ, observando a estratgia 3.2 do mesmo plano, que se dispe a

    fornecer acompanhamento individualizado ao estudante com rendimento escolar

    defasado (...) de forma a reposicion-lo no ciclo escolar (...) 16, instituiu o Projeto

    Reforo Escolar/Fundao Centro de Cincias e Educao Superior Distncia do

    Estado do Rio de Janeiro (CECIERJ).

    O Projeto estudado tem como objetivo estratgico aperfeioar a qualidade da

    educao ofertada pelo estado, promovendo aes, informaes e indicaes

    adicionais que passam a ser um conjunto de situaes-meio para que a escola

    cumpra sua atividade-fim, que o processo ensino-aprendizagem, proporcionando

    conhecimentos bsicos aos alunos conforme o descrito abaixo:

    A SEEDUC em parceria com a Fundao CECIERJ visando priorizar aes qualitativas na educao, tendo como foco as necessidades de Letramento em Leitura e Escrita e Letramento Matemtico para os alunos da 1 e 2 sries do Ensino Mdio Regular das escolas que apresentaram padres de desempenho baixo e intermedirio nas avaliaes diagnsticas realizadas pela Secretaria de Estado de Educao em 2011.17

    14

    PLANO ESTRATGICO. Disponvel em: . Acesso em: 21 de julho de 2013. 15

    ANPEd. Por um Plano Nacional de Educao (2011-2020) como poltica de. Estado. Rio de. Janeiro: ANPED, 2011. 16

    ANPEd. Por um Plano Nacional de Educao (2011-2020) como poltica de. Estado. Rio de. Janeiro: ANPED, 2011. 17

    Projeto Reforo Escolar 2012Disponvel em:< http://www.rj.gov.br/web/seeduc/exibeconteudo?article-id=909407>. Acesso em: 10 jan. 2013.

  • 24

    A Secretaria de Educao acredita que para elevar o desempenho acadmico

    dos alunos importante focar na aprendizagem e principalmente oferecer a estes

    um atendimento em grupos menores para que suas dificuldades apresentadas

    durante o horrio normal da aula possam ser sanadas. Mas sabemos que essa no

    uma misso fcil, porque apesar de ser oferecido ao aluno material pedaggico

    preparado com base no Currculo Mnimo do estado, com atividades dinmicas e

    professores capacitados para ministrar as aulas, preciso que o educando faa a

    adeso ao projeto e participe efetivamente das aulas. de fundamental importncia

    tambm que este material atenda as necessidades reais do aluno, que muitas vezes

    no desenvolve determinada habilidade por no ter as competncias anteriores

    necessrias ao seu crescimento.

    O reforo escolar uma ferramenta que auxilia no processo ensino-

    aprendizagem como afirma Vasconcellos (2002, p. 109):

    A fundamentao epistemolgica da recuperao est no reconhecimento de que o conhecimento no sujeito no se d de uma vez (de primeira.) e s ouvindo, mas por aproximaes sucessivas e num processo ativo, de interao (com o objeto, com os outros sujeitos e com a realidade); assim, aquilo que eventualmente o aluno no captou numa abordagem inicial do contedo, poder faz-lo numa outra; h necessidade, simultaneamente, de novas iniciativas e de um tempo de espera: o respeito ao ser em desenvolvimento.18

    O que Vasconcellos defende um direito garantido pelo aluno a partir do

    Artigo 24 da LDB 9394/96: Nos termos da lei, a verificao do rendimento escolar

    deve ser contnua e cumulativa, e a recuperao deve dar-se, de preferncia,

    paralelamente ao perodo letivo. Desta forma, preciso levar em considerao o

    tempo de aprendizado do aluno e fornecer a este, meios para alcance da

    proficincia esperada para o perodo de estudo.

    Desta forma, fica explcito que a implementao do Projeto Reforo Escolar

    tem como princpio garantir o aprendizado ao aluno e trabalhar as habilidades no

    desenvolvidas no perodo regular de estudo. Mas no necessariamente isso

    acontecer na prtica, pois, segundo Bourdieu (1998, p.74), O rendimento escolar

    da ao escolar depende do capital cultural previamente investido pela famlia. Ou

    seja, as vivncias do aluno no ambiente familiar tambm exercero influncia sobre

    18

    VASCONCELLOS, C. S. Avaliao da Aprendizagem:Prticas de Mudana por uma prxis transformadora. So Paulo: Libertad, 2002.

  • 25

    seu universo escolar. Observando a parte prtica da implementao, houve

    inicialmente, conforme a SEEDUC-RJ, uma prvia seleo dos alunos pelo Sistema

    Conexo Educao para obter o nome e o ano de escolaridade daqueles com

    desempenho baixo e intermedirio. Com estes dados em mos, a parceria foi

    firmada com a Fundao CECIERJ19.

    Foram selecionadas 49 escolas da Diretoria Regional Metropolitana I para

    participar desta nova proposta de reforo escolar, na qual os alunos estudam no

    contra turno com material pedaggico prprio e tm aulas com professores que

    participam de formao continuada sobre a metodologia com tutores da Fundao

    CECIERJ, de acordo com o exposto no site da SEEDUC-RJ. 20

    Os parmetros utilizados para seleo dos alunos, portanto, foram: estar

    matriculados em unidades escolares que possuam turmas do projeto Reforo

    Escolar, ter o seu desempenho no Saerjinho entre baixo e intermedirio e ter

    disponibilidade de assistir s aulas no contra turno por duas horas semanais. J os

    professores foram selecionados de acordo com sua disponibilidade, tendo como um

    dos pr-requisitos ser professor estatutrio, ou seja, professor efetivo com matrcula

    pertencente Secretaria de Educao do Rio de Janeiro. De acordo com o site

    oficial da SEEDUC-RJ, os critrios de elegibilidade do professor para atuar no

    projeto Reforo Escolar so:

    Podem se inscrever para o Projeto Reforo Escolar Os professores de Lngua Portuguesa e Matemtica na Rede Estadual de Educao; Os professores excedentes de Lngua Portuguesa e Matemtica da Rede Estadual de Ensino; Os professores excedentes, habilitados em Lngua Portuguesa e matemtica. Os professores (que ainda no foram habilitados no Sistema Conexo Educao) devero comparecer Regional munido da documentao necessria, para que a Inspeo Escolar o habilite em Lngua Portuguesa e matemtica, aps verificao da documentao; Os professores excedentes de disciplinas de ingresso que NO apresentam carncia no Municpio de Lotao, de acordo com o parecer da Coordenao de Gesto de Pessoas da Regional; Os professores de Lngua Portuguesa e Matemtica na Rede Estadual de Educao.21

    19

    Projeto Reforo Escolar 2012Disponvel em:< http://www.rj.gov.br/web/seeduc/exibeconteudo?article-id=909407>. Acesso em: 10 jan. 2013. 20

    Projeto Reforo Escolar 2012Disponvel em:< http://www.rj.gov.br/web/seeduc/exibeconteudo?article-id=909407>. Acesso em: 10 jan. 2013. 21

    REFORO ESCOLAR. Disponvel em: . Acesso em: 01 de Nov. de 2013.

  • 26

    Todos esses critrios na seleo dos professores eram para garantir em

    primeiro lugar que estas aulas fossem ministradas por profissionais preparados para

    atuar nas disciplinas do projeto e para resguardar que as disciplinas no horrio de

    aula regular no ficassem com carncia de professor.

    Os diretores de escola tinham um papel importante nesta implementao,

    visto que de acordo com o site da SEEDUC-RJ eram de sua responsabilidade

    divulgar o projeto na unidade escolar para professores e alunos, selecionar os

    alunos que fariam parte das turmas, indicar os professores para habilitao e

    ampliao de carga horria feita pelo coordenador de ensino, e alocao no quadro

    de horrio no sistema conexo educao, feita pelo diretor aps a liberao do

    coordenador de gesto de pessoas, assim como sensibilizar os alunos para efetiva

    participao nas aulas.

    As turmas foram criadas no sistema conexo nas escolas selecionadas

    seguindo o critrio exposto no site da SEEDUC-RJ:

    Quanto alocao das aulas, acontecer da seguinte forma: 1 srie 04 tempos de aulas (02 tempos para cada disciplina) no contra turno em dois dias semanais. 2 srie 04 tempos de aula semanais (02 tempos dentro do horrio da turma para uma disciplina e 02 tempos no contra turno para a outra disciplina). A escolha da disciplina ficar a cargo da Direo ou disponibilidade do professor.

    A distribuio das turmas do projeto reforo escolar ocorreu desta forma

    porque a matriz do primeiro ano do Ensino Mdio fechada, com 30 tempos de

    aulas semanais, o que no permitia que os alunos estudassem no projeto no mesmo

    turno. J no segundo ano do Ensino Mdio, houve esta possibilidade em uma turma,

    por sua matriz curricular ter, em 2012, 28 tempos de aula.

    O projeto Reforo Escolar atua em trs frentes interligadas: o material didtico

    elaborado especificamente para atender as necessidades dos alunos com baixo

    desempenho nas avaliaes externas, com dinmicas de Lngua Portuguesa e

    Matemtica e com durao prevista para os cem minutos de aulas semanais de

    cada disciplina, formao de professores para utilizao da metodologia do projeto,

    e a estrutura organizada para acompanhamento da implementao, conforme

  • 27

    exposto no manual do projeto disponvel no site da SEEDUC-RJ. Ainda segundo

    este manual:

    O contedo foi construdo a partir das habilidades apontadas como no desenvolvidas ou em desenvolvimento, segundo os resultados das avaliaes diagnsticas da SEEDUC, referentes s sries contempladas para o programa. Tomamos como norteadores os contedos do Currculo Mnimo, seguindo sua temporalidade, e buscamos as habilidades avaliadas pelo SAERJINHO e as avaliaes que constituem pr-requisitos para esses contedos.

    A equipe de elaborao das dinmicas do projeto Reforo Escolar composta

    por professores da Rede Estadual ou universitrios que atuam como bolsistas na

    Fundao CECIERJ. Este material elaborado pela fundao, impresso pela

    Imprensa Oficial do Estado e entregue nas Diretorias Regionais para distribuio

    para as unidades escolares participantes do projeto. Existem dois cadernos, o do

    aluno, que segue o fluxo descrito acima, e o do professor, que entregue na

    formao e conta com as orientaes para o docente aplicar o material em sala de

    aula.

    A formao oferecida pelo projeto Reforo Escolar ocorre de forma presencial

    e distncia. A cada encontro mensal, ocorrido aos sbados, os professores

    permanecem durante oito horas, recebendo instrues dos tutores bolsistas da

    Fundao CECIERJ e do continuidade deste encontro por meio da plataforma. Nos

    fruns, os professores so convidados a descrever como aconteceu a aplicao das

    dinmicas com seus alunos, promovendo desta forma a troca de experincias.

    Um ponto que no podemos deixar de colocar que nem sempre o projeto

    idealizado, mesmo cercado de cuidados para que atinja o seu objetivo, consegue

    atingi-lo na totalidade, porque existe resistncia por parte dos alunos em aderir ao

    Reforo Escolar e a frequentar suas aulas.

    Finalizo aqui o relato referente ao projeto Reforo Escolar e passo para o

    prximo ponto, descrevendo a realidade da Diretoria Regional Metropolitana I que

    est inserida na estrutura da Secretaria de Educao. Essas diretorias fazem a

    mediao entre o rgo central e a escola, a fim de acompanhar mais de perto a

    implementao de seus projetos e programas. Como o foco do meu estudo uma

    escola que pertence Diretoria Regional onde atuo, passo a partir do prximo tpico

    a detalhar sua estrutura e funcionamento.

  • 28

    1.2 A Diretoria Regional Pedaggica Metropolitana I (DRPMI)

    No ano de 2012, o resultado do nvel de proficincia desta regional em Lngua

    Portuguesa no terceiro ano foi de 257,9, ficando no padro de desempenho

    intermedirio, mas houve uma queda deste ndice em relao a 2011, quando o

    resultado foi de 260,1. Embora continue no mesmo padro intermedirio de

    desempenho, a regional teve uma queda de 0,8%, ou seja, retrocedeu em relao a

    2011. J na disciplina Matemtica, a queda foi um pouco maior, passando de 263,2

    em 2011 para 259,6 em 2012 retrocedendo, portanto, em 1,3% e mantendo-se no

    padro de desempenho baixo. importante ressaltar que o projeto Reforo Escolar

    foi implementado no ano de 2012 nesta regional apenas nas turmas de 1 e 2 ano

    do Ensino Mdio. O foco da presente pesquisa est no segundo ano do Ensino

    Mdio para estudar o impacto do projeto na melhoria do aprendizado dos alunos. O

    exposto pode ser melhor analisado na tabela 1:

    Tabela 1 Resultados da DRPMI

    PROFICINCIA 2011- PADRO22

    DE

    DESEMPENHO

    2012 - PADRO

    DE DESEMPENHO

    PERCENTUAL

    LNGUA

    PORTUGUESA

    260,1-

    INTERMEDIRIO

    257,9 -

    INTERMEDIRIO

    -0,8%

    MATEMTICA 263,2 - BAIXO 259,6 - BAIXO -1,3%

    Fonte: Elaborao prpria com dados da SEEDUC-RJ.

    A Diretoria Regional Pedaggica Metropolitana I tem a seguinte estrutura

    organizacional: uma Diretora Regional Pedaggica e trs coordenadoras: Ensino,

    Avaliao e Acompanhamento Escolar e Gesto e Integrao das Redes. Seis

    articuladoras de Projetos e Programas, uma articuladora do Programa Autonomia,

    uma RAF que acompanha a infrequncia escolar, quatro membros de equipe, sete

    agentes executivos e trs tcnicos de informtica.

    22

    PADRO DE DESEMPENHO. Os padres de desempenho estudantil so balizadores dos diferentes graus de realizao educacional alcanados pela escola. Por meio deles possvel analisar a distncia de aprendizagem entre o percentual de estudantes que se encontra nos nveis mais altos de desempenho e aqueles que esto nos nveis mais baixos. Sendo eles, baixo, intermedirio, adequado e avanado. O que se espera que o maior nmero de alunos, ao final de cada modalidade, esteja no padro de desempenho adequado. Disponvel em: . Acesso em 04 de Abril de 2014.

  • 29

    Esta Diretoria Regional abrange os municpios de Japeri, Queimados e Nova

    Iguau. Conta atualmente com 87 unidades escolares que possuem o segmento

    Ensino Mdio. Todas as escolas do municpio de Japeri ofertam o Ensino Mdio,

    sendo que uma delas tem o Curso Normal, uma o Programa Ensino Mdio Inovador

    e o CE Almirante Tamandar, que oferta em sistemas concomitantes e

    subsequentes o curso tcnico em administrao e o curso tcnico em contabilidade.

    O pblico-alvo para atendimento nas turmas do Projeto Reforo Escolar so

    os alunos da 1 e 2 sries do Ensino Mdio diurno das 439 Unidades Escolares

    com desempenhos baixo e intermedirio, de acordo com as Avaliaes Diagnsticas

    do SAERJINHO 2011. Na DRPMI foram selecionadas 49 escolas, sendo que destas

    cinco estavam localizadas no municpio de Japeri.

    Com o intuito de observar a implementao do Projeto Reforo Escolar, inicio

    com informaes referentes ao municpio no qual est localizada a unidade escolar

    a ser estudada. Japeri um municpio atendido pela DRPMI com IDH 0,724 (RJ:

    78) mdio de acordo com dados do PNUD/200023.

    Por conta desse baixo IDH, muitos so os projetos e programas tanto no

    mbito estadual quanto no federal que vm auxiliar o municpio, tais como: Renda

    Melhor24, Renda Melhor Jovem25, Programa Mais Educao26, Ensino Mdio

    Inovador27, entre outros.

    Diante desta realidade apresentada, foi selecionada uma unidade escolar

    para aprofundar os estudos referentes ao projeto Reforo Escolar, que descrita a

    seguir.

    23

    IDH JAPERI. Disponvel em: Acesso em 08 de maro de 2013. 24

    parte integrante do Plano de Erradicao da Pobreza Extrema no Rio de Janeiro e tem como objetivo assistir com benefcio financeiro as famlias que so integrantes do Programa Bolsa Famlia, do Governo Federal. Disponvel em: . Acesso em: 23 de Nov. de 2013. 25

    O Renda Melhor Jovem uma poupana-escola anual, destinada aos jovens integrantes de famlias beneficiadas pelo Programa Bolsa Famlia, Renda Melhor e o Carto Famlia Carioca, que sejam matriculados na Rede Regular de Ensino Mdio Estadual at 18 anos incompletos. Disponvel em: < http://www.rj.gov.br/web/seeduc/exibeconteudo?article-id=1381569>. Acesso em: 23 de Nov. de 2013. 26

    Estratgia do Ministrio da Educao para induzir a ampliao da jornada escolar e a organizao curricular na perspectiva da Educao Integral. Disponvel em: . Acesso em: 23 de Nov. de 2013. 27

    Integra as aes do Plano de Desenvolvimento da Educao PDE, como estratgia do Governo Federal para induzir a reestruturao dos currculos do Ensino Mdio. Disponvel em: . Acesso em: 23 de Nov. de 2013.

  • 30

    1.2.1 A unidade escolar CE Almirante Tamandar (CEAT)

    No ano de 2011, a unidade escolar tinha cinco turmas do primeiro ano do

    Ensino Mdio com um total de 153 alunos. Ao final do terceiro bimestre, foi realizada

    uma grande ao da SEEDUC-RJ com objetivo de orientar as unidades escolares a

    realizarem aes corretivas a fim de melhorar o fluxo das escolas.

    Conforme o manual com orientaes para a realizao do Pr Conselho28 de

    2011:

    A finalidade do Conselho Preventivo, aps anlise dos resultados pedaggicos, a de intervir em tempo hbil no processo ensino-aprendizagem, oportunizando ao aluno formas diferenciadas de apropriar-se dos contedos curriculares estabelecidos tendo, consequentemente, impacto nos seus resultados do bimestre e ano letivo, evitando a reprovao. (...) Definir estratgias com base nas discusses e anlises dos profissionais da educao para recuperao ainda no bimestre dos alunos que apresentaram baixo desempenho escolar (foco no aproveitamento do bimestre).

    Naquele momento, foi identificada a necessidade de acompanhar mais de

    perto as unidades escolares, para que estas colocassem em prtica aes que

    buscassem atender as dificuldades encontradas pelos alunos. Outro importante

    objetivo destas reunies pedaggicas era reforar nas unidades escolares a prtica

    da recuperao paralela, prevista em 2011 na Portaria SEEDUC/SUGEN n 174 de

    26 de agosto de 2011:

    Art. 5- Os estudos de recuperao paralela so de obrigatrio oferecimento sempre que o aluno apresentar dificuldades no processo de aprendizagem, durante cada bimestre, sendo registrada pelo professor no dirio de classe ou outro instrumento indicado pela SEEDUC. 2- No processo de recuperao paralela da aprendizagem, a cada instrumento de avaliao utilizado, o aluno ser reavaliado e, somente quando constatado seu progresso, dever ocorrer respectiva mudana do resultado.

    Nesta ao, a SEEDUC tinha o papel de orientar a ao e acompanhar sua

    implementao, intervindo caso fosse necessrio. A DRPMI, na figura das

    28

    Manual elaborado pela SEEDUC-RJ em 2011.

  • 31

    coordenadoras pedaggicas, consolidava os dados enviados pelas escolas e

    organizava as reunies que ocorreram nas 20 escolas selecionadas, entre elas o

    CEAT. Os critrios para escolha das escolas foram:

    O Conselho Preventivo ser aplicado, prioritariamente nas escolas que apresentam maior lacuna em relao ao resultado geral da Regional de aprovao. (...) Foram considerados tambm para essa priorizao, os anos de ensino que apresentam os desempenhos mais baixos na rede estadual. No Ensino Fundamental II so: 6 e 7 ano e no Ensino Mdio so: 1 e 2 ano.29

    Cada escola recebeu um arquivo que deveria ser preenchido e devolvido

    DRPMI antes da reunio pedaggica, os dados solicitados no arquivo eram: nome

    do aluno, turma, srie, somatrio de notas at o terceiro bimestre, matria e o

    professor deveria pontuar como o aluno era com relao frequncia, participao e

    disciplina, alm de destacar os pontos positivos e negativos do aluno.

    A Coordenadora de Ensino foi a responsvel da regional designada para

    acompanhar esta escola e recebeu um arquivo com dados dos alunos possveis

    reprovados em todas as disciplinas, mas neste estudo s houve destaque para as

    disciplinas de Lngua Portuguesa e Matemtica. Com os professores de todas as

    disciplinas reunidos, os dados foram apresentados e discutidos quais as melhores

    aes que a escola poderia desenvolver para recuperar o contedo no aprendido

    por esses alunos, j que a recuperao paralela prevista pela Portaria n 174 no foi

    aplicada devidamente30. possvel detectar que 20,3% dos alunos em Matemtica e

    15% dos alunos em Lngua Portuguesa encontravam-se nesta situao de possvel

    reprovao. Ao final da reunio, ficou decidido que seriam implementadas duas

    aes descritas no quadro1:

    Quadro 1 Plano de Ao da Unidade Escolar

    29

    Manual elaborado pela SEEDUC-RJ em 2011. 30

    De acordo com dados da Superintendncia da Gesto de Rede.

    AO RESPONSVEL PELA AO

    PROCEDIMENTO

  • 32

    Fonte: Arquivo entregue a DRPMI aps a reunio.

    As aes descritas no Quadro 1 tinham por objetivo oportunizar ao aluno a

    recuperao dos contedos no apreendidos at aquele momento. A unidade

    escolar, desta forma, buscou sanar as lacunas existentes no aprendizado dos alunos

    a fim de minimizar o impacto na taxa de reprovao.

    Podemos considerar que esta ao trouxe melhorias para os resultados da

    unidade escolar, pois, ao final do Conselho de Classe Final, de acordo com os

    dados do sistema conexo, a unidade escolar teve 13,7% dos alunos do primeiro

    ano do Ensino Mdio reprovados por nota em Matemtica e 9,2 % dos alunos do

    primeiro ano do Ensino Mdio reprovados por nota. Com uma queda considervel do

    nmero provvel apresentado no terceiro bimestre, como podemos observar na

    tabela 2:

    Tabela 2 Resultados do CEAT

    RESULTADOS 1 ANO DO EM MANH

    Colunas1 Colunas2 Colunas3

    CEAT 2011 3 BIMESTRE 4 BIMESTRE DIFERENA

    PROVVEIS REPROVADOS

    REPROVADOS POR NOTA

    LNGUA PORTUGUESA 15% 9,2% -5,8%

    1. Implementar sistema de monitoria de alunos de melhor desempenho sobre os alunos de maiores dificuldades por disciplina.

    COORDENADORA PEDAGGICA

    1.1 Selecionando os alunos de melhor desempenho por disciplina 1.2 Formando dupla fixa entre alunos monitores e alunos de dificuldades durante todas as aulas subsequentes por disciplina 1.3 Auxiliando os alunos com dificuldades atravs do monitor 1.4 Avaliando os alunos da turma e verificando os avanos na aprendizagem durante as aulas 1.5 Premiando em at 2,0 pontos os monitores que conseguirem ajudar na elevao do desempenho do colega com dificuldade

    2. Implementar exerccios de reforo de contedos do bimestre, aps levantamento de alunos possveis de reprovao por disciplina

    COORDENADORA PEDAGGICA

    1.1 Levantando alunos com possibilidades de reprovao por disciplina 1.2 Selecionando questes de contedos do bimestre para reforo por disciplina 1.3 Montando exerccios de reforo do bimestre por disciplina 1.4 Aplicando exerccios de reforo sobre contedos do bimestre por disciplina

  • 33

    MATEMTICA 20,3% 13,7% -6,6%

    Fonte: SISTEMA CONEXO EDUCAO

    Na tabela 2 podemos observar, a partir dos percentuais de reprovao final

    em Matemtica e em Lngua Portuguesa, um nmero elevado de alunos em

    defasagem de contedos e este pblico que no ano seguinte, 2012, teve a

    oportunidade de participar das aulas do projeto Reforo Escolar.

    Mas, apesar da aparente melhora no resultado apresentado pela unidade

    escolar, aps as aes determinadas pelo conselho preventivo, o CEAT continuava

    apresentando um alto ndice de alunos com desempenho baixo nas avaliaes

    externas e, devido a este quadro, dando continuidade ao acompanhamento da

    unidade escolar pela SEEDUC, ocorreu a indicao da unidade escolar para a

    implementao do Projeto Reforo Escolar.31

    A coordenao de ensino ficou responsvel por repassar todas as

    informaes para a direo da unidade, assim como por orientar a alocao dos

    professores nas turmas. Inicialmente, esta unidade teve implementada duas turmas

    de Lngua Portuguesa, uma de primeiro ano do Ensino Mdio e outra do segundo

    ano de Ensino Mdio, e uma de primeiro ano do Ensino Mdio de Matemtica.

    A turma do segundo ano foi selecionada para o estudo mais aprofundado,

    uma vez que os alunos j haviam sido estudados na ao realizada em 2011. A

    escolha dos professores foi difcil, j que esta unidade teve a turma otimizada pelo

    processo de terminalidade do curso tcnico e, desta forma, os professores que

    estavam com carga horria livre32 foram alocados nas turmas do Projeto Reforo

    Escolar. Foi preciso todo um processo de convencimento para que estes

    concordassem em participar; a resistncia foi grande, mas decidiram ficar para no

    ter que completar a carga horria em outra unidade escolar33.

    No ano de 2012, a unidade contava com uma coordenadora do projeto,

    professora que tambm se encontrava com carga horria livre e atuou dando

    suporte aos professores em sala de aula. Realizava ainda aes simples, como a

    retirada do material da regional para entregar aos professores, e era responsvel,

    31

    Projeto Reforo Escolar 2012Disponvel em:< http://www.rj.gov.br/web/seeduc/exibeconteudo?article-id=909407>. Acesso em: 10 jan. 2013. 32

    Dados da Coordenao de Gesto de Pessoas da Diretoria Regional Metropolitana I. 33

    De acordo com a Coordenao de Ensino da Diretoria Regional Metropolitana I.

  • 34

    juntamente com a equipe diretiva, por selecionar os alunos que fariam parte do

    projeto e pela divulgao deste para os pais e a comunidade escolar.34

    Como foi possvel perceber na listagem que consta nos arquivos da unidade

    escolar, inicialmente as turmas estavam fora do padro determinado pela SEEDUC,

    (20 alunos), uma vez que a escola precisou de um tempo para se ajustar. A turma

    de segundo ano possua uma relao com 50 alunos oriundos das cinco turmas do

    turno da manh da escola. Ela funcionava todas as teras-feiras, no horrio de

    13h40min s 14h40min. Outro ponto que foi corrigido posteriormente, uma vez que o

    horrio correto seria de dois tempos de 50 minutos. O acompanhamento das turmas

    no incio da implementao foi precrio, por no termos, na regional, membros que

    pudessem realizar visitas constantes s turmas do Projeto Reforo Escolar. Tais

    turmas eram acompanhadas por meio do retorno dos professores na capacitao e

    das diretoras e coordenadora do projeto nas reunies que ocorreram na regional.

    A unidade escolar em pauta encontra-se localizada numa regio cujo

    panorama de desigualdade social e cultural deixa os jovens desprovidos de

    oportunidades, carentes de perspectivas de crescimento pessoal. Conforme coloca

    Arroyo (2012, p.5):

    Sabem por que os nossos alunos no querem saber de nossas lies? No porque no querem aprender. No porque os professores no so bons. No porque a lio no maravilhosa. Sabem por qu? Porque quando se negam os direitos humanos mais elementares, o conhecimento perde o sentido.

    Na busca por minimizar estes fatores externos, a equipe diretiva da unidade

    tem uma grande preocupao em atuar neste contexto desenvolvendo na escola

    projetos que melhorem as condies de futuro destes alunos.

    Esta instituio de ensino foi selecionada como locus de estudo por ser uma

    escola que possibilitaria um melhor entendimento nas fases de implementao do

    Reforo Escolar, entre as nove unidades escolares de Japeri. A escola apresentou,

    em 2012, a proficincia em Lngua Portuguesa dos alunos do 3 ano do Ensino

    Mdio de 267,2. Mesmo estando no mesmo padro de desempenho da regional

    (intermedirio), notamos a elevao da proficincia. O mesmo ocorre em

    Matemtica, pois o resultado apresentado pela escola foi 267,8, mantendo o padro

    34

    De acordo com a Coordenao de Ensino da Diretoria Regional Metropolitana I.

  • 35

    de desempenho baixo. Conforme informaes da Superintendncia de Avaliao da

    SEEDUC-RJ,35 o objetivo a ser alcanado que a maioria dos alunos esteja no nvel

    adequado na escala de proficincia ao concluir o Ensino Mdio. Ainda existe muito

    trabalho a fazer com estes jovens, principalmente com relao ao ensino da

    Matemtica, no qual a maioria encontra-se no nvel baixo da escala de proficincia,

    ou seja, concluem a educao bsica sabendo o mnimo da matriz de referncia que

    um recorte da matriz curricular.

    Ao pesquisar o projeto poltico pedaggico da unidade escolar, destacamos

    as seguintes informaes:

    Atualmente o Colgio administrado por duas diretoras que pautam como meta uma gesto democrtica onde a escola seja um espao no qual os alunos adquiram compreenso do seu mundo e de seu tempo, a escola incentiva aos jovens a pensar e refletir. So apoiados por professores comprometidos com o saber e o saber fazer. Os alunos so estimulados ainda ao desenvolvimento de competncias e habilidades que os permitam intervir na sua realidade para transform-la e torn-los cidados crticos. (PPP, 2012-2013)

    Ainda neste documento destacamos:

    O CEAT visa a uma proposta dentro de uma perspectiva democrtica e participativa fundamentando-se em princpios ticos e morais de igualdade e qualidade, onde o importante ser a liberdade de expresso num processo de formao contnua oferecendo suporte para uma viso scio-interacionista da produo do conhecimento, capaz de levar o educando a se transformar num cidado crtico e consciente dos seus deveres e direitos. (PPP, 2012-2013)

    Desta forma, diante da realidade oferecida pelo municpio, a unidade escolar

    pretende mediar e facilitar a incluso social oportunizando novas formas de

    autoconhecimento e buscando preparar o aluno para os desafios fora dos muros da

    escola.

    O Colgio Estadual Almirante Tamandar oferta as seguintes Modalidades de

    Ensino: Anos Finas do 2 Segmento do Ensino Fundamental em fase de

    terminalidade e Ensino Mdio e Curso Tcnico em Administrao e Contabilidade

    tambm em processo de extino, todas nos turnos da Manh, Tarde e Noite. As

    turmas tm em mdia 35 alunos. A equipe diretiva composta de uma diretora geral

    35

    SEEDUC. Disponvel em: . Acesso em 09/09/2013.

  • 36

    e uma adjunta, uma coordenadora pedaggica e uma secretria. Entre professores e

    funcionrios, a escola possui, segundo fontes do censo 2011, 69 profissionais.

    A escola equipada com Datashow, impressora, DVD, 20 computadores para

    uso dos alunos e 17 para fins administrativos. O colgio tem 10 salas de aula, uma

    sala de direo, uma sala dos professores, uma secretaria, um laboratrio de

    informtica, uma biblioteca, uma sala de coordenao pedaggica e uma sala

    Multiarte.

    Ao analisar o grfico dos resultados alcanados pela escola no ndice de

    Desenvolvimento Educacional do Rio de Janeiro (IDERJ) 36, em 2011 e 2012 houve

    uma evoluo, mesmo que em determinados momentos no tenham chegado

    meta proposta.

    Em 2011, a escola apresentou os seguintes resultados37 a cada bimestre: 1,3

    no 1 bimestre; 1,5 no 2 bimestre e 1,9 no 3 bimestre. Em 2012, os ndices subiram

    e a escola obteve 2,4 no 1 bimestre, 2,3 no 2 bimestre e 2,4 no 3 bimestre. Os

    resultados vm melhorando bimestre a bimestre, ano a ano, apesar da queda no 2

    bimestre de 2012. Essa crescente ocorre tanto no resultado quanto nas metas

    propostas, o que leva a escola em alguns momentos a no conseguir alcanar todas

    as metas propostas. O acompanhamento dos resultados obtidos pelo Colgio

    Estadual Almirante Tamandar nos aponta uma melhora, mas ainda existe um longo

    caminho pela frente, j que o desempenho da maioria dos alunos ainda est no nvel

    intermedirio na escala de proficincia de Lngua Portuguesa e baixo na disciplina

    de Matemtica.

    No Colgio Estadual Almirante Tamandar, os alunos do 2. ano do Ensino

    Mdio foram selecionados de acordo com os parmetros estabelecidos pelo projeto.

    Estudantes com desempenho baixo e intermedirio foram convidados a aderir s

    classes de reforo, j que estas aulas no so obrigatrias. Os discentes

    interessados tiveram seus pais ou responsveis convocados unidade escolar para

    apresentao do projeto e explicao da ampliao de sua permanncia na escola,

    36

    O IDERJ o ndice de qualidade escolar que almeja fornecer um diagnstico da escola, em uma escala de 0,0 (zero) a 10,0 (dez), calculado a partir da multiplicao do Indicador de Fluxo Escolar (IF) pelo Indicador de Desempenho (ID). O mesmo avalia a qualidade do aprendizado do ciclo escolar, bem como o tempo necessrio para assimilar o contedo proposto. Disponvel em:. Acesso em 20 de agosto de 2013. 37

    Diretoria de Gesto Estratgica da Rede de Ensino SEEDUC/RJ

  • 37

    mas, ao analisar os registros da unidade escolar, foi detectada uma baixa frequncia

    nas aulas do projeto Reforo Escolar.

    O que leva os estudantes a esta infrequncia? As aulas no contra turno? A

    metodologia utilizada no projeto? O no reconhecimento da dificuldade de

    aprendizado nas disciplinas de Lngua Portuguesa e Matemtica? O material

    pedaggico utilizado nas aulas?

    Outro fator a ser considerado ao estudar as aulas do projeto ministradas

    nesta escola a grande presena de jovens que vislumbram a possibilidade de

    acessar a universidade e prestar os exames do ENEM. um ponto curioso, j que o

    pblico-alvo a ser atendido so os alunos com baixo desempenho, que necessitam

    atingir as proficincias necessrias para a concluso do curso. Estamos, portanto,

    diante de outro problema nesta implementao: o pblico-alvo no est sendo

    alcanado. Desta forma, o problema que se destaca, no primeiro ano de

    implementao, a baixa adeso ao projeto dos alunos com fraco desempenho.

    No prximo captulo ser apresentada a anlise dos resultados obtidos com a

    pesquisa de campo, a partir da aplicao do questionrio, e a pesquisa realizada

    atravs do recorte de um perodo - o terceiro bimestre de 2012 - no material

    pedaggico, alm dos dados do Saerjinho no mesmo perodo.

    2. ANLISE DO PROJETO REFORO ESCOLAR NO COLGIO ESTADUAL

    ALMIRANTE TAMANDAR

  • 38

    A educao um direito garantido pela Constituio Federal de 1988 que em

    seu captulo III, seo I, Art. 205:

    A educao, direito de todos e dever do Estado e da famlia, ser promovida e incentivada com a colaborao da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exerccio da cidadania e sua qualificao para o trabalho.

    A Lei Magma deixa claro que todo aluno tem o direito a aprender. Desta

    forma, no basta estar na escola, preciso promover o ensino que leve o educando

    ao aprendizado de fato. Segundo Melchior (1998, p. 22):

    A criana tem obrigao de vencer na vida, de dominar obstculos e desvantagens, dever da sociedade oferecer um sistema escolar que assegure o xito de sua clientela. Observa-se, no entanto, que a escola no est ensinando o aluno a conseguir e manter uma identidade de sucesso.

    Considerando a posio da autora, ressaltamos a importncia de o estado se

    ocupar com um Sistema de Ensino eficaz que proporcione ao alunado aprender de

    forma contextualizada e integrada. Em 1990, a Lei 8069, conhecida como o Estatuto

    de Criana e do Adolescente, reafirma o que estava previsto na Constituio Federal

    de 1988, quando em seu Art. 53 faz as mesmas consideraes. J a Lei de

    Diretrizes Bsicas 9394/96 volta a afirmar o que foi descrito em 1988 no Art. 205 da

    Constituio Federal e vai alm, pois determina em seu Art.22 A educao bsica

    tem por finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhe a formao comum

    indispensvel para o exerccio da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no

    trabalho e em estudos posteriores. E no Art. 24 garante ao educando uma carga

    horria mnima anual de 800 horas, dividida em 200 dias letivos de prtica

    pedaggica efetiva, e ainda garante ao aluno o direito de obrigatoriedade de estudos

    de recuperao, de preferncia paralelos ao perodo letivo, para os casos de baixo

    rendimento escolar, a serem disciplinados pelas instituies de ensino em seus

    regimentos. Outro ponto garantido pela LDB 9493/96 o cumprimento de um

    currculo que garanta a base nacional comum.

  • 39

    Mas todo esse direito garantido por Lei desde 1988 no assegura que o

    aprendizado vai ocorrer e que o aluno ter um avano em seu desempenho

    acadmico, visto que existem outras variveis que fazem parte do cotidiano escolar.

    Conforme Weisz (2011, p.34): Na verdade, o conhecimento se constri

    frequentemente por caminhos diferentes daqueles que o ensino supe. preciso

    considerar o contexto social onde o aluno est inserido e as necessidades bsicas

    do ser humano, para se pensar em polticas pblicas que levem o Estado a cumprir

    o que determina a Lei. De acordo com Macedo (2007, 28):

    A escola, hoje, uma substituio sobrecarregada, que acumula funes socioculturais outrora mais bem repartidas: nas ruas, nas vizinhanas, nos quintais de nossas casas, na igreja, na praa. Muitas coisas que antes fazamos e aprendamos nesses lugares agora so feitas na escola. Hoje, os professores convivem com as crianas por mais tempo e mais intensamente do que os pais.

    O autor descreve a realidade encontrada atualmente, na qual a escola est

    assumindo um papel que no seu e encontrando dificuldades de efetivamente

    proporcionar ao educando o ensino real. neste contexto que nasce o projeto

    Reforo Escolar, uma tentativa do Estado de se fazer cumprir o que est previsto em

    Lei desde 1988 com a promulgao da Constituio Federal.

    A presente dissertao se iniciou com a descrio do contexto educacional do

    Estado do Rio de Janeiro a partir do ano de 2004 com foco, principalmente, nas

    intervenes polticas ocorridas a partir de 2011 com a implementao do projeto

    Reforo Escolar. A pergunta que permeia o trabalho refere-se falta de adeso dos

    alunos ao Projeto e como reverter tal situao de modo a aumentar a participao

    destes nas aulas de Reforo Escolar, para que tenham seus desempenhos

    acadmicos elevados - uma vez ser este o objetivo do Projeto.

    Assim, no decorrer do captulo 2, analiso esta questo por meio dos dados

    coletados na unidade escolar selecionada e no referencial terico para compreender

    a no adeso ao Projeto e para pensar em aes futuras que fomentem o aumento

    desta participao.

    Inicio o prximo tpico com esclarecimentos sobre o processo de

    acompanhamento da implementao de uma poltica pblica, baseando-se nos

  • 40

    seguintes autores: Atkinson (1989), Heidemann (2013), Draibe (2001), Feick (1992)

    e Weiss (1995).

    Para a anlise terica dialogo com os autores: Lino de Macedo, que discute

    questes referentes prtica pedaggica do professor e ser importante para

    compreender a metodologia proposta no Projeto; Telma Weisz, uma vez que

    trabalha com a questo do ensino-aprendizagem, muito importante para discutirmos

    o aprendizado proporcionado durante as aulas do Reforo Escolar; Celso

    Vasconcellos que refora as questes referentes prtica pedaggica e a forma de

    aplicar a recuperao de estudos; Melchior, que trata do sucesso escolar como

    fundamental para compreender a questo dos ajustes a serem feitos no Projeto

    Reforo Escolar, alvo da minha pesquisa; Luckesi, pois o conceito que utiliza sobre

    avaliao nos direciona sobre as bases do projeto estudado; E, finalmente, Pierre

    Bourdieu, apresentado por Maria Alice Nogueira e Cludio Martins Nogueira, que

    colocam pontos de reflexo sobre o capital cultural que o aluno traz e orienta o

    presente trabalho no processo de reflexo sobre os ajustes a serem feitos no

    projeto.

    A prxima seo desta dissertao de pesquisa apresenta o resultado dos

    dois instrumentos utilizados para coleta de dados, a pesquisa realizada no material

    pedaggico do projeto e em sites oficiais e as informaes advindas das respostas

    dos alunos no questionrio.

    2.1. Anlise dos dados apresentados no material pedaggico

    Sobre a implementao de um projeto que pretende sanar dificuldades

    detectadas pelo governo, Atkinson38afirma que (1989, p. 114):

    O pressuposto central da maioria das abordagens contemporneas implementao poltica de que esse estgio do processo poltico moldado por fatores polticos relacionados capacidade do Estado de enfrentar os problemas especficos e a complexidade do subsistema com o qual ele tem que lidar.

    A avaliao do processo de implementao um fator importante e por este

    motivo que neste captulo sero feitas colocaes com relao s respostas dadas

    38

    In: Heidemann, FG. Poltica Pblica Seus ciclos e subsistemas. Uma abordagem integral. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.

  • 41

    pelos alunos do terceiro ano do Ensino Mdio do turno da manh do CEAT, visto

    que estes alunos so os que estudaram na unidade escolar em 2012, justamente no

    perodo de implementao do projeto Reforo Escolar nesta unidade escolar.

    Conforme Heidemann (2013, p.199):

    A avaliao de polticas tem sido em termos preponderantes, o campo daqueles que veem essa verificao ou apurao como um exerccio neutro, tcnico, para determinar o sucesso (ou insucesso) dos esforos envidados pelos governos para resolver problemas polticos.

    Confirmando esta fala referente importncia da avaliao da implementao

    de uma poltica pblica, aqui neste caso o projeto Reforo Escolar, Feick39 (1992, p.

    207) diz que:

    fundamental para avaliao de polticas que ela tenha impacto na efetuao da mudana poltica. Afinal de contas, o propsito implcito dessa avaliao mudar a poltica, caso se julgue necessrio assim proceder em consequncia da realizao de uma reviso.

    Desde o incio deste trabalho, o foco est na avaliao do processo de

    implementao, para ainda nesta etapa, a partir dos possveis pontos negativos,

    oferecer aes de melhoria. Este ponto destacado pelos autores citados acima.

    Mencionar os estudos destes sobre a avaliao de processo importante

    para justificar a pesquisa. Eles falam da avaliao de processo como sendo o

    acompanhamento das pequenas etapas realizadas durante a implementao, a fim

    de introduzir pequenos ajustes, melhorando desta forma o resultado final. Acerca

    deste tema, Weiss (1995, p. 77) afirma que avaliaes de processo ajudam o

    programa a entender o que ele tem feito e de que modo, e nos levam a refletir sobre

    como ele poderia aprimorar suas operaes. J Draibe (2001, p.30) destaca que

    buscam identificar os fatores facilitadores e os obstculos que operam ao longo das

    implementaes e que condicionam, positiva ou negativamente, o cumprimento das

    metas e objetivos. Enquanto Heidemann (2013, p. 208) pontua que as avaliaes de

  • 42

    processo examinam os mtodos organizacionais, incluindo as regras e

    procedimentos operacionais, usados para a execuo dos programas.

    Seguindo estas afirmaes, ser esclarecido como foi realizada a coleta de

    dados para anlise da eficcia do Projeto Reforo Escolar. Num primeiro momento,

    foi determinado um recorte no material pedaggico utilizado nas aulas. Os dados

    selecionados foram do 3 bimestre do 2 ano do Ensino Mdio. Na figura 1

    poderemos observar o esquema de desenvolvimento das dinmicas das aulas do

    projeto que constam no material pedaggico.

    Figura 1 Esquema das Aulas do projeto Reforo Escolar Matemtica

    A Figura 1 apresenta o desenvolvimento da aula, que foi utilizada para

    trabalhar a habilidade H-04 Identificar propriedades comuns e diferenas entre

    poliedros e corpos redondos. Durante a aula os alunos so estimulados a trabalhar

    em conjunto com os colegas de classe, trocando experincias e formulando

    hipteses.

    Deste recorte, foram destacadas as habilidades trabalhadas nos exerccios

    propostos no material pedaggico aplicado aos alunos e realizado uma comparao

    com as habilidades a serem trabalhadas no Currculo Mnimo da SEEDUC-RJ para

  • 43

    Lngua Portuguesa e Matemtica no mesmo perodo. O fato que fica claro, ao

    observar o Quadro 2, que o material pedaggico utilizado nas aulas do Projeto

    Reforo Escolar est em consonncia com o Currculo Mnimo.

    Quadro 2 Comparao entre as habilidades trabalhadas no material pedaggico e Currculo Mnimo

    no perodo correspondente em Matemtica

    HABILIDADES TRABALHADAS EM

    MATEMTICA NA 2 SRIE DO EM - 3

    BIMESTRE

    HABILIDADES CORRESPONDENTES DO

    CURRCULO MNIMO EM MATEMTICA NA 2

    SRIE DO EM - 3 BIMESTRE H04 Identificar propriedades comuns

    e diferenas entre poliedros e corpos redondos.

    Reconhecer e nomear pirmides e cones.

    H30 - Resolver problema, envolvendo a rea total e/ou volume de um slido

    (prisma, pirmide, cilindro, cone, esfera).

    Resolver problemas, envolvendo o clculo de rea lateral e rea total de

    pirmides e cones. Reconhecer e nomear pirmides e cones.

    H31 - Resolver problema, envolvendo noes de volume

    Resolver problemas, envolvendo o clculo de rea lateral e rea total de

    pirmides e cones. Reconhecer e nomear pirmides e cones.

    Fonte: Material Pedaggico do Projeto Reforo Escolar

    Nas regras de elaborao das dinmicas est estabelecido que elas devem

    atender as habilidades no atingidas pelos alunos na avaliao externa (Saerjinho).

    No ano de 2012, at o terceiro bimestre, as habilidades que foram avaliadas e que

    os alunos apresentaram maior dificuldade consistem em: relacionar diferentes

    poliedros ou corpos redondos com suas planificaes; identificar a relao entre o

    nmero de vrtices, faces e/ou arestas de poliedros expressa em um problema;

    resolver problema que envolva porcentagem; resolver problemas envolvendo a

    medida da rea total e/ou lateral de um slido (prisma, pirmide, cilindro, cone,

    esfera); resolver problemas envolvendo P.A./P.G., dada a frmula do termo geral

    e/ou a soma dos termos; identificar a expresso algbrica que expressa uma

    regularidade observada em sequncias de nmeros ou figuras (padres); resolver

    problemas envolvendo juros simples ou compostos; efetuar operaes utilizando as

    propriedades operatrias do logaritmo; resolver problemas envolvendo a funo

    logartmica.

  • 44

    Se compararmos as habilidades do material pedaggico de Matemtica do 3

    bimestre e todas as habilidades que foram avaliadas no Saerjinho, nas quais os

    alunos apresentaram dificuldades, s identificamos o reforo especfico, em uma,

    que se encontra destacada no pargrafo anterior. Aqui est posto um problema na

    implementao do Projeto Reforo Escolar que precisa ser repensado, pois de

    acordo com Weisz (2011, p.51): Ningum conseguir aprender alguma coisa se no

    tiver como reconhecer aquilo como algo apreensvel. O aluno precisa se identificar

    com o material pedaggico utilizado para ter vontade de assistir s aulas.

    Observamos uma incompatibilidade, portanto, no material que objetiva auxiliar os

    alunos em suas dificuldades e o diagnstico de quais so estas deficincias. Com

    estes indcios, j temos uma proposta de ao para ser apresentada no plano de

    atendimento educacional que ser a reviso do material, para que este retorne sua

    ideia inicial de trabalhar com as dificuldades apontadas pelo Saerjinho.

    Vasconcellos (1994, p.34) pontua que:

    A questo central no a dos contedos escolares, mas da necessria mediao que estes contedos devem fazer, no sentido de remeter o sujeito para a compreenso da realidade (ter condies de apreender o movimento do real para nele intervir); isto o que importa; os contedos escolares devem ser uma mediao para isto, e no um fim em si mesmos, como ocorre amide.

    Vasconcellos aponta que preciso acontecer na escola a mediao dos

    conhecimentos. O aluno precisa reconhecer o contedo escolar como algo real. E o

    autor complementa: A proposta de trabalho do professor dever ser significativa

    para o educando, sendo esta uma condio para elaborao do conhecimento.

    (Vasconcellos 1994, p.51).

    De certo, o aluno participa bimestralmente de uma avaliao diagnstica

    (Saerjinho) e para Luckesi (2005, p.43): Um diagnstico um conhecimento que

    adquirimos por meio de dados que qualificamos e, por isso, nos permite uma

    deciso e uma interveno. Temos ento os dados para trabalhar as dificuldades

    dos alunos e estes no esto sendo utilizados de forma eficaz na elaborao das

    dinmicas.

    Conforme Macedo (2007, p.131):

  • 45

    Os alunos veem sentido nas tarefas que lhes propomos? Hoje, o grande desafio do cotidiano da escola propor tarefas significativas para os alunos e professores. Desenvolver o ensino e a aprendizagem em um contexto de projeto educacional pode ajudar a resgatar esse significado.

    E este desafio apontado por Macedo (2007) no diferente do proposto pelo

    Projeto Reforo Escolar. importante que os alunos adiram s aulas do projeto,

    para que este cumpra seu objetivo de auxiliar o aluno a melhorar seu desempenho

    acadmico.

    Na disciplina de Lngua Portuguesa, o quadro no diferente no exposto em

    Matemtica, conforme as informaes no Quadro 3. As habilidades observadas nas

    dinmicas correspondem ao que foi determinado no perodo no Currculo Mnimo.

    Quadro 3 Comparao entre as habilidades trabalhadas no material pedaggico e Currculo Mnimo

    no perodo correspondente em Lngua Portuguesa

    HABILIDADES TRABALHADAS EM LNGUA

    PORTUGUESA NA 2 SRIE DO EM - 3

    BIMESTRE

    HABILIDADES CORRESPONDENTES DO

    CURRCULO MNIMO EM LNGUA

    PORTUGUESA NA 2 SRIE DO EM - 3

    BIMESTRE H20 Diferenciar as partes principais das secundrias em um texto.

    Identificar e empregar mecanismos de coeso referencial e sequencial.

    H11 Reconhecer os modos de organizao das diferentes tipologias textuais (Descrio e Narrao)

    Identificar os recursos expressivos do gnero textual cano, reconhecendo sua relao com a poesia e a msica

    H22 Identificar a tese de um texto. Diferenciar tese, argumentos e contra-argumentos para a estruturao e defesa do ponto de vista.

    H24 Estabelecer relaes de concordncia nominal e verbal.

    Reconhecer os termos integrantes da orao.

    Fonte: Material Pedaggico do Projeto Reforo Escolar

    As habilidades destacadas no quadro 3, so trabalhadas nos exerccios

    apresentados de acordo com o esquema da Figura 2, onde demonstrado toda a

    estrutura da aula, inclusive pontuando para o professor o tempo que dever ser

    disponibilizado para cada momento da aula. E nos mostra que em cada atividade

  • 46

    proposta ao aluno este ser convidado a falar e a ouvir seus colegas de classe. Na

    dinmica em questo, o aluno foi convidado a identificar a tese do texto aps um

    debate e discusso em grupo para resoluo do exerccio proposto.

    Figura 2 Esquema das Aulas do projeto Reforo Escolar Lngua Portuguesa

    Como podemos observar na Figura 2, para trabalhar a habilidade desta

    dinmica, H-22 Identificar a tese de um texto, em um primeiro momento o professor

    contextualiza o tema que ser tratado. Aps esta breve introduo os alunos entram

    em contato com os textos, sendo eles de diversos gneros textuais, mas todos com

    o mesmo tema. Depois do estudo e debate dos textos sobre o tema sustentabilidade

    os alunos divididos em grupos resolvem os exerccios propostos. Para finalizar este

    momento o professor, prope aos representantes dos grupos que exponham suas

    opinies e finalmente cada aluno resolve individualmente uma questo do Saerj que

    aborde a habilidade estudada na dinmica.

    Abaixo esto relacionadas s habilidades que foram verificadas no Saerjinho

    em 2012, no qual os alunos tiveram mais problemas em resolver as seguintes

    questes: inferir o sentido de uma palavra ou expresso; identificar o tema de um

    texto; distinguir um fato da opinio relativa a esse fato; distinguir um fato da opinio

    relativa a esse fato; localizar informaes explcitas em um texto; inferir uma

    informao implcita em um texto; identificar a finalidade de textos de diferentes

    gneros; identificar o gnero de diversos textos; relacionar caractersticas do texto

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    tradio literria em que se inscreve e/ou ao contexto social; reconhecer diferentes

    formas de tratar uma informao na comparao de textos que tratam do mesmo

    tema, em funo das condies em que ele foi produzido e daquelas em que ser

    recebido; reconhecer posies distintas entre duas ou mais opinies relativas ao

    mesmo fato ou ao mesmo tema; estabelecer relaes entre partes de um texto,

    identificando repeties ou substituies que contribuem para a continuidade de um

    texto; identificar a tese de um texto; estabelecer relaes lgico-discursivas

    presentes no texto, marcadas por conjunes, advrbios etc.; reconhecer o efeito de

    sentido decorrente do uso da pontuao e de outras notaes; reconhecer o efeito

    de sentido decorrente da escolha de uma determinada palavra ou expresso;

    reconhecer o efeito de sentido decorrente da explorao de recursos ortogrficos

    e/ou morfossintticos; reconhecer efeitos provocados pelo emprego de recursos

    estilsticos; identificar as marcas lingusticas que evidenciam o locutor e o

    interlocutor de um texto; identificar o conflito gerador do enredo e os elementos que

    constroem os textos narrativos; estabelecer relao causa/consequncia entre

    partes e elementos do texto.

    Diante de tantas habilidades no desenvolvidas pelos alunos somente uma foi

    trabalhada no material pedaggico do Projeto Reforo Escolar, que se encontra em

    negrito na listagem. Constatamos que ser necessrio a reformulao do material

    pedaggico apresentado ao aluno, mas este ser um ponto para o terceiro captulo

    deste estudo.

    No caso da disciplina de Lngua Portuguesa, ocorre um agravante, pois so

    notrias as dificuldades apresentadas pelos alunos que esto cursando o segundo

    ano do Ensino Mdio, pela quantidade de itens com habilidades bsicas a esta

    modalidade de ensino que os alunos no conseguem responder de forma correta.

    Exemplo disto a habilidade Estabelecer relaes entre partes de um texto,

    identificando repeties ou substituies que contribuem para a sua continuidade.,

    que obteve apenas 21,79%40 de acerto pelos alunos do CEAT que realizaram a

    prova no 3 bimestre de 2012.

    Para Vasconcellos (1994, p.41): todo ser humano capaz de aprender e

    ainda de acordo com o autor (1994, p.41) a atividade de recuperao de estudos se

    apresenta como uma nova oportunidade de aprendizagem (Idem, p.41). Portanto,

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