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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS Instituto de Ciências Biológicas Produção de Filmes Poliméricos a Base de Polissacarídeos de Anacardium occidentale L. Fábio Eduardo Fernandes Silva 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

Instituto de Ciências Biológicas

Produção de Filmes Poliméricos a Base de Polissacarídeos de Anacardium

occidentale L.

Fábio Eduardo Fernandes Silva

2014

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Fábio Eduardo Fernandes Silva

Produção de Filmes Poliméricos a Base de Polissacarídeos de Anacardium

occidentale L.

Orientadora: Kátia Flávia Fernandes

Trabalho de Dissertação apresentado ao

Programa de Mestrado em Biologia da

Universidade Federal de Goiás, como

requisito para a obtenção do título de

Mestre em Biologia.

Goiânia

2014

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DEDICATÓRIA

A vida é uma jornada de aprendizado constante. Aprendemos a falar,

andar, comer. Depois nos ensinam números, cores, formas, letras.

Aprendemos então a ler! E deste ponto em diante, nosso universo se expande

sem parar, exponencialmente. Fomos para a escola primária, secundária,

faculdade, e alguns vão um pouco mais adiante, em mestrados e doutorados.

Contudo, a grande escola é a vida, que diariamente nos mostra nossa

pequeneza e nossa carência de aprendizado. Nunca, jamais saberemos tudo,

não importa nossa formação acadêmica.

Nessa grandiosa escola, a vida, tem um mestre que crê em mim acima

de tudo. Que vê em mim alguém capaz de ser melhor, todos os dias. Esse

mestre perdoa minhas falhas e cobra, sem precisar falar uma só palavra, que

eu me empenhe em ser um homem melhor.

Dedico este trabalho ao meu filho, Eduardo Barreto Fernandes Silva, por

ensinar-me diariamente que a vida merece ser vivida com intensidade, com

integridade, com humildade e dedicação.

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AGRADECIMENTOS

À minha mãe, Nair Fernandes: Seu exemplo de vida é a mais pura

inspiração. Sua crença em nós e coragem em enfrentar tudo para que nos

tornássemos gente de bem merece ser reverenciada sempre. Cada sacola de

roupa vendida para que eu pudesse ir à faculdade, cada vale-refeição dividido,

cada esforço e sacrifício seu só podem ser retribuídos com o amor, pois nunca

haverá fortuna no mundo que possa lhe pagar. Obrigado, minha mãe, por ser a

MINHA mãe.

À minha irmã Karla Grace: Ser minha mãe substituta tomou parte de sua

juventude, e fez com que você ainda sonhe comigo ainda menino. Seu amor

incondicional, sua dedicação e carinho são sempre motivos de conforto e de

inspiração para que eu sempre faça o melhor possível. Obrigado, minha irmã,

por estar sempre por perto.

À minha irmã Kátia Flávia: Ser a irmã mais velha teve seus custos, e sua

segurança, inteligência, dedicação e empenho sempre foram inspiradores.

Você cuidou e me protegeu quando éramos menores, ensinou-me muito

sempre, e até hoje tiro lições de nossa convivência. Nesta curta jornada

pudemos nos aproximar, viver e conviver. Você me abrigou, protegeu e

conduziu como uma irmã mais velha deve fazer. Sempre te serei grato e jamais

serei capaz de expressar completamente como seu apoio foi fundamental para

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que esse projeto se concluísse. Obrigado, minha irmã, por cuidar de mim e me

ensinar tanto.

Ao meu pai, Eduardo Almeida: Lembro com carinho das nossas

conversas e mesmo quando criança, do quanto você me ensinou a usar

ferramentas, fazer meus brinquedos e tantas outras coisas que me deram uma

habilidade manual invejável. Acho que este tenha sido um dos grandes motivos

para que eu tenha escolhido ser Cirurgião-Dentista. Aprendi muito com os seus

erros e acertos também, saber que você tem uma certa “inveja da minha

dedicação ao Edu”, é motivo de orgulho, pois sei que você aprova o meu

esforço de ser pai. Obrigado por tudo, pai.

À minha esposa Cleudenir Paiva Ximenes: A vida quis que nos

encontrássemos, e nos jogou um de encontro o outro. É difícil definir um

sentimento tão amplo, tão intangível e tão magnífico quanto o que tenho por

você. Sinto que sou uma pessoa melhor porque você está comigo, e sei que

posso estender a mão em busca de ajuda sempre, pois você estará lá para

segurá-la. Essa segurança, cumplicidade, amizade e parceria me fazem ter

coragem de enfrentar o mundo. Você me completa, me complementa, me

inspira e sinto verdadeiramente que te devo a minha paz. Eu te amo, obrigado

por estar em minha vida, cada minuto de cada dia.

Aos colegas do laboratório, aos que já se foram, outros que estão

chegando: obrigado por suas competências individuais, sua colaboração e

ajudas. Suas gentilezas e favores nunca serão esquecidos, e este projeto só foi

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possível graças à colaboração de muitos. Entretanto, lembrem-se que há vida

lá fora, e que este aspecto, o acadêmico, é só uma pequena parte do que

vocês são, e isto não os define. Sejam felizes, tenham sucesso e tenham uma

boa vida.

Aos demais mestres e doutores do ICB e da UFG, em especial às

doutoras Elizabeth Mendes e Elisandra Gava por sua presteza, dedicação e

boa vontade.

À minha Orientadora, Dra. Kátia Flávia Fernandes: Esse período de

aprendizado não poderia ter sido tão enriquecedor a não ser sob sua

orientação. Todos se referem à “Porta Azul” do laboratório como o caminho

para o saber e para a vitória. Sua grande destreza na gestão de pessoas foi

capaz de extrair o melhor de cada um, no seu tempo e à sua maneira. Sua

vasta experiência e extenso conhecimento científico e técnico são os pilares da

segurança. Obrigado pela oportunidade de conhecer este universo.

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RESUMO

Neste trabalho polissacarídeos extraídos de goma de Anacardium

occidentale (PEJU) foram utilizados para produzir filmes em blendas com álcool

polivinílico (PVA) por processo de casting. Os testes das formulações dos

filmes revelaram que a melhor concentração dos componentes poliméricos era

6% (p/v) de PVA e 6% (p/v) de PEJU, numa razão ente volume da mistura e

área dos moldes de 0,5 mL cm-2. Nestas condições, os filmes obtidos

apresentaram 7,58 Kgf cm-2 de força tênsil, 186 % de elongação e módulo

elástico no valor de 49908,6. Estes filmes, na forma hidratada, apresentaram

níveis de transparência entre 50 e 70% analisadas pela transmitância de luz na

região visível do espectro. A hidratação atingiu um platô após 20 minutos de

imersão em diferentes soluções, e resultou em alterações estruturais

significativas dos filmes, permitindo classificá-los como Materiais Sensíveis a

Estímulos (Stimule Responsive Materials). Ao serem hidratados os filmes

dobram a sua área e apresentam índices de intumescimento na ordem de 1,6,

quando a hidratação é feita com água, até 2,2 quando feita com solução salina.

As alterações dimensionais observadas no processo de

hidratação/desidratação foram estáveis, sem comprometimento da rede

polimérica. Testes de biocompatibilidade a nível celular mostraram ausência

de citotoxicidade e ausência de adesão celular quando culturas de fibroblastos

humanos (PDL) foram colocadas a crescer na presença dos filmes. De modo

similar, os testes in vivo com ratos Wistar mostraram boa resposta tecidual e

cicatrização similar ao controle na ausência dos filmes. A imobilização de

papaína nos filmes de PVA/PEJU se deu com máximo rendimento quando

conduzida em pH 4,0, a 5 ºC, com tempo de reação de 60 minutos. A

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imobilização reduziu a faixa ótima de pH de reação para 8,0, sem no entanto

comprometer totalmente a atividade da enzima em pH fisiológico (7,0). A

enzima imobilizada apresentou alta estabilidade no armazenamento, inclusive a

sem. A bioatividade conferida aos filmes de PVA/PEJU pela imobilização de

papaína confere a estes materiais possibilidades de aplicação em várias áreas,

com especial importância para aplicações na área farmacêutica.

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ABSTRACT

In this study polysaccharides from gummous exudates of Anacardium

occidentale (PEJU) were extracted and blended with polyvinyl alcohol (PVA) in

order to produce films by casting procedure. The best film formulation was

achieved using 6% (w/v) PVA and 6% (w/v) PEJU and 0.5 mL cm-2 ratio of

solution to molds area. Under optimized conditions, the films presented 7,58 Kgf

cm-2 tensile strength , 186% elongation and 49908,6 in the elastic module. After

hydration the films presented good transparency, with values from 50 to 70% of

light transmittance at visible spectrum. Maximum hydration occurred after

immersion of the films for 20 minutes in different solutions. Hydration resulted in

stable structural changes that allow classify these films as Stimule Responsive

Materials (SRM). After hydration the films presented 2-fold higher area and

swelling index from 1.6 to 2.2 when water and saline solution were respectively

used in the process. Absence of cellular toxicity and absence of cell adhesion

were observed when human fibroblasts (PDL) were grown in the presence of

the PVA/PEJU films. Additionally, tissue response and wound healing were

similar both in the presence or absence of the PVA/PEJU films. Immobilization

of papain was maximized when reaction occurred at 5 ºC, pH 4.0 and for 60

minutes. After immobilization optimum pH was restricted to pH 8.0, but

preserving activity at physiological range (pH 7.0). Immobilized papain showed

high stability during storage, including when stored dried. The bioactivity

achieved by immobilization of papain on PVA/PEJU films open

possibilifiguraties of application of this biomaterial in several areas, mainly in the

pharmaceutical.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Exsudato gomoso de A.occidentale. ................................................ 18

Figura 2. Representação da estrutura do polissacarídeo extraído exsudado gomoso do cajueiro. (R = ramnose, arabnose)[15]. ........................................... 19 Figura 3. Estrutura tridimensional da papaína de Carica papaya. ................... 26

Figura 4. Esquema representando a ativação de suportes poliméricos a base de polissacarídeos utilizando metaperiodato de sódio (Modificado de Batista et al.[53]). ............................................................................................................... 30

Figura 5. Aspectos macroscópicos dos filmes PVA/PEJU: (a) filme 3% antes da lavagem; (b) filme 6% (p/v) antes da lavagem; (c) filme 6% após lavagem. 38

Figura 6. Curva típica apresentadas pelos filmes durante teste de resistência a tração: (a) PVA/PEJU 3% e (b) PVA/PEJU 6%. ............................................. 451

Figura 7. Medida de transparência dos filmes de PVA/PEJU no espectro de luz visível. ............................................................................................................ 462 Figura 8. Potencial de emprego como embalagem. Da esquerda para a direita: lâmina de vidro seguida por amostra de filme de PVA/PEJU 3 e 6 % hidratados. ....................................................................................................................... 473 Figura 9. Comparação dos filmes secos com seus respectivos moldes: (a) Molde 18 x 18 cm com filme ao final da secagem e (b) o filme na sua forma hidratada medindo 14 x 14 cm. ........................................................................ 49 Figura 10. Capacidade de intumescimento dos filmes PVA/PEJU: (a) alterações de área; e (b) alterações de massa. ............................................... 50

Figura 11. Morfologia das células do ligamento periodontal em contato direto com o biofilme (a-c) e análise da viabilidade celular na presença do biofilme (d). As células vivas e células mortas são observadas pela coloração diferencial dos núcleos. As células viáveis estão com as membranas marcadas em verde e as não-viáveis, no mesmo campo de verificação, encontram-se com os núcleos corados em vermelho. ......................................................................... 49

Figura 12. Gráfico de Pareto evidenciando o efeito absoluto das variáveis na imobilização da papaína. .................................................................................. 57 Figura 13. Atividade de papaína em função do pH e temperatura de imobilização. ..................................................................................................... 58

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Figura 14. Predição matemática das condições de imobilização para o máximo de atividade de papaína. .................................................................................. 59

Figura 15. Atividade da papaína livre e imobilizada em diferentes pHs. ....... 606

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Propriedades mecânicas dos filmes de PVA/PEJU. ........................ 44 Tabela 2. Alterações dimensionais observadas nos filmes durante processo de hidratação e secagem. ..................................................................................... 47 Tabela 3. Atividade de papaína nas diferentes condições de imobilização. .... 55 Tabela 4. Análise de variância para a atividade da enzima nas diferentes condições de imobilização................................................................................ 56

Tabela 5. Atividade da papaína imobilizada após 24h de armazenamento em diferentes condições. ....................................................................................... 61

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................... 16

1.1 GOMAS ............................................................................................... 16

1.2 CAPACIDADE FILMOGÊNICA DA GOMA DE CAJUEIRO ................ 20

1.3 BIOCOMPATIBILIDADE ..................................................................... 22

1.4 BIOMATERIAIS PARA CURATIVOS .................................................. 24

1.5 PAPAÍNA ............................................................................................. 26

1.6 IMOBILIZAÇÃO DE ENZIMAS ............................................................ 28

2 OBJETIVOS .............................................................................................. 32

2.1 OBJETIVO GERAL ............................................................................. 32

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................... 32

3 MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................................ 33

3.1 EXTRAÇÃO DOS POLISSACARÍDEOS DA GOMA DE CAJUEIRO (PEJU) .......................................................................................................... 33

3.2 PREPARO DOS FILMES DE PVA/PEJU ............................................ 33

3.3 AUTOCLAVAGEM DOS FILMES ........................................................ 34

3.4 PROPRIEDADES FÍSICAS E ESTRUTURAIS DOS FILMES ............. 35

3.4.1 Propriedades Mecânicas ............................................................ 35

3.4.2 Transparência ............................................................................. 36

3.4.3 Perfil de Hidratação e Intumescimento dos Filmes ................. 36

3.5 TESTES DE BIOCOMPATIBILIDADE ................................................. 37

3.5.1 Ensaio de citotoxicidade ............................................................ 37

3.6 IMOBILIZAÇÃO DE PAPAÍNA ............................................................ 38

3.6.1 Otimização das condições de imobilização ............................. 38

3.6.2 Teste de atividade de papaína livre e imobilizada ................... 39

3.6.3 Efeito do pH na atividade da papaína imobilizada em filme de PVA/PEJU ................................................................................................ 40

3.6.4 Estabilidade durante o armazenamento ................................... 40

3.6.5 Análise estatística ...................................................................... 41

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................ 41

4.1 PREPARO E SECAGEM DOS FILMES .............................................. 41

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4.2 PROPRIEDADES FÍSICAS E ESTRUTURAIS DOS FILMES ............. 43

4.2.1 Propriedades Mecânicas ............................................................ 43

4.2.2 Transparência ............................................................................. 45

4.2.3 Perfil de hidratação dos filmes .................................................. 47

4.2.4 Intumescimento dos Filmes....................................................... 49

4.3 TESTES DE BIOCOMPATIBILIDADE ................................................. 52

4.4 IMOBILIZAÇÃO DE PAPAÍNA EM FILMES DE PVA/PEJU ................ 54

4.4.1 Efeito do pH na atividade enzimática da enzima imobilizada . 59

4.4.2 Estabilidade ao armazenamento ............................................... 61

5 CONCLUSÕES ......................................................................................... 62

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 64

ANEXO 1 – ARTIGO PUBLICADO .................................................................. 73

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16

1 INTRODUÇÃO

1.1 GOMAS

Os polissacarídeos gomosos são matérias primas abundantes para os

mais diversos processos industriais, e tem sido alvo de intensos estudos em

função da sua sustentabilidade, biodegradabilidade e biossegurança[1]. As

gomas naturais são classificadas com base em suas origens, características

físico-químicas e suas estruturas químicas. As principais fontes destes

polissacarídeos complexos são o endosperma de sementes (goma guar),

exsudado de plantas (goma arábica), algas marinhas (goma agar), bactérias

(goma xantana), e fontes de origem animal (quitina)[1].

Exsudados gomosos de plantas são heterogêneos em sua composição,

sendo heteropolissacarídeos cuja hidrólise resulta em unidades de açúcares

simples tais como, arabinose, galactose, glicose, manose, xilose, ácidos

hexurônicos em forma de sal, derivados o-metilados ou ainda derivados

aminados de monossacarídeos. De modo geral os polissacarídeos gomosos

possuem cadeias extensas e muito ramificadas[2].

As árvores em geral, especialmente o cajueiro (Anacardium ocidentale L.)

quando injuriadas, seja mecanicamente ou por invasão microbiológica, reagem

à essas agressões produzindo uma goma que é exsudada afim de corrigir e

minimizar os efeitos dessas injúrias[3].

O cajueiro, espécie vegetal pertencente à família Anacardiceae, é uma

planta muito abundante nas regiões norte e nordeste do Brasil. A planta é

produtora do pseudofruto caju e de suas castanhas (fruto verdadeiro), que são

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bastante utilizadas na indústria de alimentos. A cultura dessa espécie possui

grande importância econômica para essas regiões brasileiras. Além das

frutificações os exsudados gomosos do cajueiro vêm sendo explorados com o

intuito de ampliar sua utilização em processos industrias, além de constituir

fonte adicional de renda para o produtor, especialmente no que se refere ao

aproveitamento dos cajueiros improdutivos, em fase de declínio e

senescência[4].

O cajueiro é encontrado no mundo tropical e sua exploração

econômica restringe-se, principalmente, à Índia, Brasil, Moçambique, Quênia e

Tanzânia. No Brasil, a cultura do cajueiro ocupa uma vasta área de plantação,

praticamente toda no Nordeste, com destaque para os Estados do Ceará, Piauí

e Rio Grande do Norte[5]. O cajueiro também é encontrado em todos os estados

em que ocorre o Bioma Cerrado, sendo que destacam-se a presença da

espécie Anacardium humile St. Hill., conhecido como cajuzinho-do-campo ou

cajuí, Anacardium othonianum, conhecido como cajueiro arbóreo-do-cerrado, e

Anacardium nanum e Anacardium corymbosum, apresentando porte rasteiro[6,

7].

O tronco do cajueiro produz um exsudato, a goma do cajueiro, que tem

potencial para substituição de outras gomas em escala industrial (Figura 1). A

formação da goma de cajueiro pode ser induzida por vários métodos, dentre

eles pode se destacar a incisão deliberada nas plantas e a introdução no caule

de agentes químicos como o óxido de etileno e derivados do ácido benzóico.

Após a retirada destas resinas do caule da planta, faz-se o isolamento da

goma, ou seja, a separação do polissacarídeo das impurezas presentes no

material bruto. As etapas de isolamento e purificação das gomas influenciam

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18

fortemente as suas características gerais, cujo controle é essencial para

aplicação industrial[5].

Figura 1. Exsudato gomoso de A.occidentale.

A goma do cajueiro contém um polissacarídeo de coloração branca,

solúvel em água, com estrutura química semelhante à goma arábica, podendo

ser usada como cola líquida para papel[8]; na indústria farmacêutica, como

aglutinante de cápsulas e comprimidos; na indústria de alimentos, como

estabilizante de sucos, cerveja e sorvetes, bem como clarificante de sucos,

como na fabricação da cajuína[9]. Além de se mostrar como poderosa cola[10],

apresenta ação antimicrobiana e antifúngica[11], característica fundamental

quando do emprego em bioengenharia e reconstrução de tecidos.

A goma do cajueiro interage com a água, sendo bom emulsificante,

adesivo e estabilizador de soluções, podendo ser usada para substituir a goma

arábica[12]. Tem excelente capacidade como espessante quando comparada ou

combinada com a goma arábica, e pode ser formulada como solução, gel, filme

e mesmo em nano partículas para liberação de medicamentos[13].

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19

Dados da literatura relatam que o polissacarídeo presente na goma de

cajueiro (PEJU) tem em sua composição 61% de galactose, 14% de arabinose,

7% de ramnose, 8% de glicose e 5% de ácido glicurônico[14]. Também é sabido

que o PEJU é uma goma de baixa viscosidade, comparável em muitos

aspectos com a goma arábica e que possui alto grau de ramificação[5].

Figura 2. Representação da estrutura do polissacarídeo extraído exsudado gomoso

do cajueiro. (R = ramnose, arabnose)[15].

Explorando os potencias tecnológicos deste polissacarídeo, muitos

trabalhos vêm propondo formulações de materiais que possuem PEJU em sua

constituição. Magalhães-Júnior et al.[16] sintetizaram microesferas de quitosana

complexadas com PEJU carboximetilado, com finalidade de liberação

controlada de drogas. Os resultados do trabalho demonstraram que com uma

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mistura adequada dos dois polissacarídeos, as microesferas proporcionam a

liberação de drogas em um tempo desejável para essa aplicação.

Guilherme et al.[17] em seu trabalho, sintetizaram um hidrogel

superabsorvente a partir de PEJU e acrilamida. O material obtido apresentou

alta capacidade de retenção de água, alto módulo elástico, com indicações

para ser utilizado como aparato para cultura de células.

Em outro trabalho Guilherme et al.[18], prepararam e caracterizaram

hidrogéis superabsorventes, associando monômeros de acrilamida com PEJU

modificado. As aplicações dos hidrogéis obtidos podem ser exploradas na

agricultura, como condicionador de solo e na área biomédica, como biomaterial

para cultura celular. Além dessas aplicações, estes hidrogéis apresentaram

características para serem utilizados como absorvente para cuidados pessoais.

1.2 CAPACIDADE FILMOGÊNICA DA GOMA DE CAJUEIRO

De modo geral, as características químicas e reatividade das gomas

podem ser utilizadas para obtenção de materiais menos solúveis e com

propriedades mecânicas adequadas para cada aplicação desejada[19].

Dentre as propriedades químicas e físicas interessantes das gomas, a

capacidade filmogênica tem sido alvo de muitos estudos, principalmente

quando a busca é por materiais de revestimento que sejam biodegradáveis.

Além dessa vertente, filmes poliméricos têm sido sintetizados para serem

utilizados como biomateriais com propriedades biocompatíveis, encontrando

aplicações na área biomédica, médica e odontológica.

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21

Outra propriedade interessante dos filmes à base de polissacarídeos é

a sua permeabilidade ao oxigênio, o que permite a sua aplicação em

revestimentos de frutos. Além disto, o caráter hidrofílico destes filmes faz com

que eles sejam permeáveis ao vapor de água e, portanto, podem ser utilizados

como coberturas comestíveis[20, 21].

Se por um lado, estas características são interessantes para as

aplicações citadas, por outro lado, para aumentar a estabilidade dos filmes à

base de polissacarídeos é necessário a presença de um agente

impermeabilizante. Rodrigues et al.[21], propuseram em seu trabalho a

formulação de um filme de PEJU fundido com amido de mandioca e cera de

carnaúba, com finalidade de aplicação como embalagem na indústria de

alimentos. A inserção de um componente hidrofóbico na formulação foi uma

estratégia utilizada pelos autores do trabalho para melhorar as propriedades do

material.

O desenvolvimento de sensores voltamétricos e filmes de múltiplas

camadas (Layer by Layer - LbL) para detecção de neurotransmissores no

líquido extracelular do sistema nervoso central tem sido bastante explorado nas

últimas décadas. Araújo et al.[22], estudaram o potencial do PEJU na síntese de

filmes de múltiplas camadas com aplicação na área de nanobiomedicina. Estes

filmes ultrafinos LbL foram construídos com o PEJU atuando como um

poliânion, sobre o qual foi depositada uma camada do policátion hidrocloreto de

polialilamina. O trabalho demonstrou que o PEJU contribuiu favoravelmente

para obtenção de filmes estáveis, com processo redox bem definido, que

puderam detectar dopamina com limite de detecção adequado aos níveis

necessários para aplicações na área farmacêutica.

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22

Recentemente em um trabalho realizado no Laboratório de Química de

Polímeros (LQP) por Silva et al.[11] blendas de PEJU e álcool polivinílico (PVA)

resultaram em um filme com características bastante interessantes. O filme

PEJU/PVA se mostrou um excelente suporte para imobilização de enzimas

quitinolíticas, permitindo propor sua aplicação como material bioativo para ser

utilizado em embalagens de alimentos. O filme de PEJU/PVA também

apresentou propriedade de biodegradabilidade muito interessante, permitindo

que este material seja utilizado com a proposta ecologicamente correta.

Embora o filme de PEJU/PVA produzido no LQP tenha se mostrado um

material promissor para aplicações biotecnológicas, este não apresentou boas

propriedades mecânicas, bem como não demonstrou características de

transparência adequadas. Neste sentido, novas formulações foram testadas

pelo grupo de pesquisadores do LQP, resultando em uma nova formulação de

filme com características melhores no que diz respeito à propriedades

mecânicas e transparência[23]. A nova formulação conferiu ao filme de

PEJU/PVA uma boa resistência mecânica agregada a uma alta capacidade de

elongação, e alto grau de transparência, o que torna este material bastante

promissor, principalmente para aplicações médicas e biomédicas[23], sendo

uma das aplicações em potencial a sua utilização como material para curativos.

1.3 BIOCOMPATIBILIDADE

Para biomateriais serem considerados biocompatíveis, devem

incorporar características físicas, químicas e sinais biológicos que orientem as

células no tecido funcional, através de migração celular, adesão e

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23

diferenciação, e que estes materiais provoquem pouca ou nenhuma resposta

imunológica no hospedeiro[24]. Além disso, é importante que os biomateriais

apresentem certa morfologia desejada, não toxicidade, propriedades

mecânicas apropriadas e ambiente propício para o crescimento de células

específicas[25].

Uma das aplicações para os filmes e membranas que têm chamado

bastante atenção dos pesquisadores é a sua utilização como material para

curativo. Das etapas do estudo desse tipo de material para aplicação como

aparato para curativo, a investigação da biocompatibilidade é extremamente

importante.

Frequentemente a estratégia para avaliar a biocompatibilidade dos

filmes para aplicação como curativo utilizam a análise toxicológica in vitro,

tendo como modelo celular fibroblastos ou queratinócitos, os quais são os

principais constituintes celulares das camadas dérmicas e epidérmicas,

respectivamente[26].

Além disso, é importante a avaliação do poder de intumescimento do

material para garantir que os exsudados produzidos por ferimentos infectados

sejam absorvidos. As propriedades mecânicas do material devem ser

satisfatórias no que tange à uma combinação de boa força tensil, com boa

flexibilidade, para garantir manipulação adequada do material e uma boa

adesão do curativo ao ferimento[27]. Entretanto, diferindo dos materiais de modo

geral, os materiais utilizados para curativo não devem apresentar adesão

celular, uma vez que devem ser substituídos periodicamente durante o

processo de cicatrização[28].

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24

1.4 BIOMATERIAIS PARA CURATIVOS

A ferida é o resultado de uma lesão, podendo ser reversível ou

irreversível, com base na profundidade da perda de tecido. A maior limitação

para o processo de cura de uma ferida são as infecções, pois causam

formação de exsudados promovendo um atraso no processo de cura e também

facilitam uma deposição imprópria de colágeno[29].

Curativos são ferramentas terapêuticas que auxiliam no processo de

cura para o local ferido de maneira mais rápida. Um curativo ideal para feridas

deve ser capaz de absorver o exsudado e componentes tóxicos da superfície,

manter uma alta umidade na interface ferida / curativo, permitir trocas gasosas,

proporcionar isolamento térmico, proteger a ferida de traumas mecânicos e

contra invazão bacteriana e não apresentar toxicidade. Curativos com

componentes antimicrobianos vêm sendo uma alternativa para tratar ferimentos

infectados[29].

Materiais curativos para tratamento de ferimentos provocados por

queimadura devem apresentar, além de todas essas características descritas,

uma certa conveniência de manipulação do material, tanto por parte do médico

quanto do paciente, facilidade para ser removido da superfície do ferimento,

elasticidade suficiente para promover conformidade à superfície da pele e ser

resisternte a procedimentos de esterelização[28].

Diferentes polímeros sintéticos e naturais vêm sendo utilizados para

preparar materiais para curativos de feridas. Polímeros naturais tais como

colágeno, alginato, quitosana, pectina, dextranas, celulose, goma carragena

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25

entre outros, estão tendo seus potenciais biotecnológicos bastante explorados

para essa finalidade[27].

Mishra et al.[30] realizaram em seu trabalho a síntese de uma

membrana de pectina-gelatina, cito-compatível com células de melanoma B16.

O material obtido foi indicado para atuar como curativo no tratamento de feridas

úmidas. O aumento na proporção de gelatina na formulação da membrana

representou significativa melhora na microporosidade do material, conferindo à

membrana uma arquitetura altamente interligada, tipo favo de mel, e maior

estabilidade térmica.

Thu et al.[31] sintetizaram um filme de dupla camada a base de alginato

e seu potencial como veículo de liberação lenta de droga foi investigado. A

camada superior do filme foi carregada com a droga modelo ibuprofeno,

enquanto a camada inferior, livre de drogas agiu como membrana de controle

da velocidade de liberação da droga. O ibuprofeno foi escolhido em função de

sua grande utilização como um complemento eficaz no tratamento de ferida

para reduzir a dor provocada pelo ferimento e a dor durante as trocas de

curativos. O filme sintetizado apresentou boas propriedades mecânicas, tendo

razoável força tensil e alta porcentagem de elongação, e os testes de liberação

lenta da droga demonstraram a eficácia do filme para essa proposta.

Sabe-se que na fase de limpeza de tecidos necróticos em ferimentos, a

utilização de curativos contendo enzimas proteolíticas é bastante interessante.

Curativos dessa natureza favorecem uma melhor limpeza de feridas

purulentas, suprime o crescimento da microflora e fornece melhores condições

para a posterior reparação[31]. Várias preparações de curativos contendo

enzimas proteolíticas têm sido investigados e utilizados clinicamente[32]. Dentre

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26

as enzimas proteolíticas utilizadas, a papaína tem destaque como um agente

debridante, principalmente no tratamento de feridas de queimadura[33].

1.5 PAPAÍNA

A papaína é uma enzima proteolítica isolada do látex das folhas e dos

frutos do mamão verde adulto (Carica papaya Linné)[34] muito empregada na

indústria alimentícia, cosmética e farmacêutica (Figura 3).

Figura 3. Estrutura tridimensional da papaína de Carica papaya.

A papaína hidrolisa qualquer proteína que contém resíduos de cisteína.

Esta propriedade torna a papaína uma enzima não seletiva, uma vez que

muitas proteínas, incluindo fatores de crescimento, contêm resíduos de

cisteína. O colágeno não contém resíduos de cisteína, e portanto, não sofre

ação da papaína[35].

Assim a papaína possui ação bactericida, bacteriostática e anti-

inflamatória, auxiliando na remoção de exsudatos inflamatórios e restos

necróticos ou purulentos, reduzindo o período de reparação do tecido, além de

não prejudicar o tecido são ao redor da lesão. Também facilita a contração e a

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27

aproximação dos bordos da ferida, tornando-a mais próxima da estrutura

original com um melhor resultado estético. Isso se dá porque a papaína age

digerindo restos teciduais e constituintes insolúveis do exsudato inflamatório

tais como a fibrina e as desoxirribonucleoproteínas derivadas dos núcleos das

células mortas ou degeneradas, que resultam em peptídeos que são

quimiotáticos para os fibroblastos, estimulando precocemente a fibroplastia [36-

40]. Por estas razões a papaína tem sido utilizada no tratamento de diversos

tipos de feridas, com ação positiva na estimulação do processo de cicatrização

e ausência de efeitos colaterais [36-40].

Por ser uma enzima proteolítica, a papaína poderia agir destruindo o

tecido sadio. No entanto, isso não ocorre devido à presença de um inibidor de

protease plasmático que impede sua ação proteolítica em tecidos considerados

normais, fato que não ocorre no tecido desvitalizado que não possuem este

inibidor[41].

Na terapêutica de feridas, a papaína é utilizada sob várias formas

farmacêuticas, como pó, gel, creme e solução na concentração de 2 a 5%

(p/v)[42]. Outras concentrações podem ser utilizadas como 10% (p/v) para

tecidos com necrose e de 1 a 4% (p/v) para tecido fibrinoso ou de

granulação[43]. Ao contrário do que muitos pensam, a papaína pode ser

utilizada durante todas as fases da cicatrização, variando apenas sua

concentração[41].

No entanto, a papaína apresenta baixa estabilidade, o que dificulta sua

comercialização em uma forma farmacêutica definida. Velasco[44] padronizou

um gel de papaína 0,4% (p/v), com estabilidade durante o armazenamento por

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28

60 dias. No entanto, a forma farmacêutica gel não ofereceu proteção contra

agentes externos e a estabilidade da papaína permaneceu relativamente baixa.

Assim, uma estratégia para utilizar a papaína como agente cicatrizante

deve passar necessariamente por uma formulação que estabilize sua atividade

e permita sua liberação contínua e controlada. Neste aspecto a imobilização de

enzimas fornece ferramentas diversificadas e promissoras a fim de solucionar

este problema.

1.6 IMOBILIZAÇÃO DE ENZIMAS

De acordo com Chibata et al.[45], enzimas imobilizadas podem ser

definidas como enzimas que estão fisicamente confinadas, ou localizadas em

uma certa região do espaço, com retenção de suas atividades catalíticas, e que

podem ser usadas repetidamente e continuamente.

O principal interesse em imobilizar uma enzima é obter um

biocatalizador com atividade e estabilidade que não sejam afetadas durante a

reação[46]. As enzimas imobilizadas deverão exibir uma atividade catalítica

superior. Além disso, não deverão ocorrer alterações estruturais, bem como

modificações no sítio ativo[47].

As vantagens da imobilização de enzimas podem ser sumarizadas como

segue[47]:

a) Possibilidade de usos repetidos de uma única batelada de enzima

ocasionado redução nos custos operacionais;

b) Possibilidade de parar a reação por remoção da enzima do meio

reacional;

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29

c) Estabilização da estrutura terciária da enzima resultante da ligação ao

suporte;

d) O produto não é contaminado com a enzima. Este fato é particularmente

importante em aplicações relativas a alimentos e preparações

farmacêuticas;

e) A extensão do curso da reação pode ser controlada pela velocidade de

fluxo do substrato através da solução ou pela simples remoção da

enzima.

Na literatura estão descritos inúmeros métodos de imobilização. Em

comum, estes métodos visam contornar os possíveis problemas de

instabilidade enzimática e otimizar as várias aplicações para as enzimas

imobilizadas[46, 47]. A escolha do método de imobilização a ser empregado é

muito importante para o sucesso do processo, portanto deve ser criteriosa. É

necessário o conhecimento sobre as características do método, suas

vantagens e limitações em relação às outras opções existentes. Além disto, a

escolha do método deve envolver uma análise criteriosa sobre o rendimento e

pureza do produto pretendido, o tempo e os custos necessários para viabilizar

o método de imobilização escolhido.

Dentre os métodos de imobilização descritos na literatura, o que usa

ligação covalente da enzima ao suporte tem sido o mais utilizado e

investigado[11, 14, 48-53]. Apesar deste método de imobilização envolver um maior

número de etapas de reação, as preparações enzimáticas obtidas apresentam

alta estabilidade. Isto se deve ao fato da ligação entre a enzima e o suporte ser

forte, de tal forma que somente alterações muito drásticas no meio reacional

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30

seriam capazes de romper a ligação, de modo que a estabilidade obtida

permite vários ciclos de uso da enzima[54].

Vários meios distintos são disponíveis para preparar o suporte para a

imobilização da enzima. Diversos grupos funcionais podem ser inseridos na

superfície do suporte, de acordo com o reagente escolhido[55]. Uma

metodologia frequentemente empregada para preparar suportes a base de

polissacarídeos envolve a oxidação de hidroxilas vicinais pelo metaperiodato

de sódio (Figura 4).

Figura 4. Esquema representando a ativação de suportes poliméricos a base de

polissacarídeos utilizando metaperiodato de sódio (Modificado de Batista et al.[53]).

Este método de ativação de suportes resulta em imobilizações estáveis,

tendo a enzima ligada com grande proximidade ao suporte. Esta proximidade

pode ter por consequência alterações no microambiente de catálise

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31

decorrentes de propriedades química e físicas do suporte, tais como alteração

da hidrofilicidade / hidrofobicidade da vizinhança da enzima, efeitos de partição

de prótons com a consequente alteração de pH ótimo de reação, atração ou

repulsão do substrato em função da presença de cargas superficiais do

suporte, entre outras. Portanto, quando se utiliza esta metodologia de ativação

para imobilização, deve-se averiguar se os parâmetros de reação da enzima

imobilizada foram alterados.

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32

2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

O objetivo deste trabalho é a produção de filmes à base de

polissacarídeos de caju (PEJU) em blenda com álcool polivinílico (PVA) que

apresentem propriedades físicas, mecânicas e biológicas que permitam sua

aplicação na área biomédica.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Otimizar as formulações de filmes de PVA/PEJU para obter o máximo de

transparência, maleabilidade e manipulação;

Avaliar a biocompatibilidade dos filmes de PVA/PEJU em testes de resposta

celular;

Conferir bioatividade aos filmes de PVA/PEJU através da imobilização de

papaína em sua superfície;

Testar o efeito da imobilização sobre a atividade e estabilidade da papaína.

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33

3 MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 EXTRAÇÃO DOS POLISSACARÍDEOS DA GOMA DE CAJUEIRO (PEJU)

Amostras da goma do cajueiro foram coletadas de árvores da fazenda

CIALNE (Companhia de Alimentos do Nordeste), no município de Pacajús, no

Ceará, Brasil. Os nódulos passaram por um processo de catação, para

remoção de impurezas maiores, como cascas de árvore e insetos. A goma

resultante foi moída e imersa em água destilada numa proporção de 20% (p / v)

e mantida à temperatura ambiente (25° C), durante 24 horas, sob agitação. A

solução foi filtrada para remover os fragmentos de impurezas remanescentes e

em seguida foi precipitada com etanol absoluto, na proporção de 1:3 (v / v),

durante 24 h. O precipitado polissacarídeo goma do cajueiro (PEJU) foi

separado por filtração, lavado com etanol e secado à temperatura ambiente.

Todo o material obtido foi moído e armazenado em pote hermético em

temperatura ambiente.

3.2 PREPARO DOS FILMES DE PVA/PEJU

Os filmes foram preparados tendo como base a metodologia descrita por

Silva et al.[23] (Anexo 1). Após alguns testes em que a formulação sofreu

ajustes na concentração dos componentes, o filme foi produzido na seguinte

proporção: a 7,5 mL de uma solução de PVA com concentração de 3 ou 6%

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34

(p/v), foram adicionados 7,5 mL de uma solução de PEJU de igual

concentração. Após completa homogeneização, a mistura recebeu 0,6 mL de

metaperiodato de sódio 1.0 mol L−1, 1,5 mL de ácido fosfórico 1mol L−1

contendo 10% (p/v) de cloreto de cálcio e 15 mg de manitol.

As soluções utilizadas no preparo do filme foram pré-aquecidas e

mantidas a 55ºC até serem vertidas em moldes onde se dava a polimerização

para formação do filme pelo método de casting (secagem natural por

evaporação do solvente) em temperatura ambiente, ou em estufa de circulação

forçada com temperatura de 45 ºC.

A fim de padronizar a espessura dos filmes foram feitos testes em que a

relação entre o volume de solução e a área dos moldes foi variada entre 0,3 e

0,5 mL cm-2.

Depois de secos, os filmes foram removidos de seus moldes, lavados à

exaustão com água destilada até a neutralização do pH da água residual de

lavagem e a completa remoção do excesso de iodo. Testes de presença de

iodo com solução padrão de lugol foram aplicados como prova. Os filmes foram

então secos por desidratação natural, em temperatura ambiente e em seguida

guardados em vasilhames hermeticamente fechados.

3.3 AUTOCLAVAGEM DOS FILMES

Com o objetivo de testar a aplicação clínica do material, os filmes foram

submetidos a processo de esterilização por vapor úmido em autoclave, em

procedimento padrão do Ministério da Saúde do Brasil, isto é, 121ºC por 30

minutos. A fim de verificar a estabilidade do material, a autoclavagem foi feita

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35

em amostras de filme desidratado e hidratado. As amostras foram

autoclavadas individualmente em potes de vidro e após resfriamento foram

analisadas as alterações morfológicas.

3.4 PROPRIEDADES FÍSICAS E ESTRUTURAIS DOS FILMES

3.4.1 Propriedades Mecânicas

Os ensaios mecânicos de microtracionamento foram realizados em

texturômetro LLOYD (Modelo TA1), de coluna simples, utilizando célula de

carga de 50 N e garras de apreensão. As amostras de filme tiveram sua

dimensão padronizada em 10 X 20 mm, de acordo com a norma ASTM D-

638M[56]. O espaço de montagem da amostra foi de 10 mm e os testes de

tração feitos com uma velocidade de separação 5 mm min-1. Foram utilizadas

nestes testes amostras de filme de PVA/PEJU 3 e 6% que estavam

desidratadas, tinham espessura variando entre 140 a 200 μm e um tempo de

armazenamento superior a 30 dias. Amostras com imperfeições e variações de

espessura maiores que 5% foram descartadas.

A resistência à tração (T), porcentagem de elongação na ruptura (%E) e

módulo de elástico (ME) foram avaliados usando o Nexygen 3 Plus (LLOYD

Instruments CO). A porcentagem de elongação na ruptura (%E) e o módulo de

elasticidade foram calculados como descrito por Silva et al.[11].

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36

3.4.2 Transparência

As medidas da transparência dos filmes foram feitas de acordo com a

metodologia descrita por Wang e Xiong[57], usando um espectrofotômetro

(Biospectro SP-330). Para medida da transparência, amostras de filme

hidratado foram presas com presilhas à célula de leitura do espectrofotômetro e

a leitura em porcentagem de transmitância medida em varredura nos

comprimentos de onda entre 350 a 750 nm, com incrementos de 5 nm. A cada

mudança de comprimento de onda o equipamento foi zerado utilizando uma

cubeta de poliestireno contendo água destilada.

3.4.3 Perfil de Hidratação e Intumescimento dos Filmes

A fim de testar as alterações dimensionais, os filmes foram submetidos a

teste de hidratação utilizando água destilada, solução salina 0,9%, tampão

fosfato de sódio 0,1 mol L-1 pH 8,0 e tampão Tris-HCl 0,1 mol L-1 pH 8,0. Os

testes foram conduzidos como segue: amostras de filmes selecionadas entre

aquelas que não apresentaram bolhas ou deformações, cortadas

aleatoriamente de todas as áreas dos filmes, de massa, comprimento, largura e

espessura conhecidas, foram hidratadas por imersão em uma das soluções. A

cada 10 min, uma amostra era retirada da respectiva solução, seca em papel

absorvente para remoção do excesso de solução, e suas medidas e peso

aferidos. O índice de intumescimento para cada amostra no tempo t foi

calculado utilizando-se a seguinte equação:

0

0t

M

)M(M entointumescim de Índice

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37

Onde Mt refere-se à massa do filme intumescido no tempo t e Mo refere-se à

massa inicial da amostra seca.

A fim de se verificar se a alteração estrutural era estável, amostras de

filme foram submetidos a hidratação e secagem sequenciais. A hidratação foi

feita com água destilada aquecida a 55 ºC, por intervalos de no mínimo 3 h.

Decorrido esse tempo, os filmes foram colocados em superfície seca e o

aumento dimensional aferido com paquímetro. Em seguida os filmes foram

deixados à temperatura ambiente até a secagem completa e o procedimento

de hidratação e medida de alteração dimensional foi repetido como descrito.

3.5 TESTES DE BIOCOMPATIBILIDADE

3.5.1 Ensaio de citotoxicidade

Para a verificação da citotoxicidade amostras autoclavadas do filme de

PVA/PEJU medindo 10 x 2 cm foram depositadas sobre placas contendo meio

de cultura Dulbecco’s/Eagles, suplementado com penicilina/estreptomicina e

soro fetal bovino a 10% (v/v). As placas foram semeadas com fibroblastos (PDL

human fibroblast) e em seguida incubadas em estufa umidificada, a 37°C, em

atmosfera saturada em 5% de CO2 por até 96 horas. Após 48h de incubação,

os filmes foram removidos e analisados quanto à presença de células aderidas

à sua superfície.

A viabilidade celular foi analisada qualitativamente utilizando o kit

Live/Dead, que permite a distinção visual entre células vivas e mortas. Para

isso, as amostras foram lavadas com tampão fosfato de sódio por 5 min, e em

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38

seguida, incubadas por 30 min com uma solução preparada em tampão fosfato

contendo calceína AM para marcação das células vivas e homodímero de

etídio para marcação das células mortas. Por fim as células foram fixadas por

30 min com solução de formaldeído 4% (v/v), lavadas com tampão fosfato de

sódio por 15 min e analisadas em microscópio de luz invertida (Leica

DMI4000). A visualização da calceína AM se deu a 488 nm com um espectro

de emissão entre 491 a 545 nm e o homodímero de etídio foi visualizado a 568

nm com um espectro de emissão entre 590 a 685 nm.

3.6 IMOBILIZAÇÃO DE PAPAÍNA

3.6.1 Otimização das condições de imobilização

Análise multivariada foi utilizada com o objetivo de otimizar as condições

de imobilização da papaína sobre filmes de PVA/PEJU. Para tanto, foi utilizado

um planejamento do tipo Composto com Rotação no Ponto Central, cujos

fatores e níveis testados foram pH (4,0; 6,0; 8;0), tempo (15, 30 e 60 min) e

temperatura (5 ºC, 15 ºC e 25 ºC) de reação.

Os resultados deste planejamento foram analisados usando metodologia

de superfície de resposta com auxílio do software Statistica 6.0 (Statsoft Inc.,

Tulsa, USA, 1997). O ajuste dos dados experimentais para as variáveis

independentes foi representado pela seguinte equação polinomial de segunda-

ordem:

j ji j

jjjjiijjj exxxxy

2

0

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39

onde y representa a variável dependente a ser analisada; ijj ,,0 e jj são os

coeficientes de regressão; ix e jx são as variáveis independentes e e

corresponde ao erro. O modelo foi simplificado descartando-se os termos que

não foram estatisticamente significativos (p > 0.05) por ANOVA.

Para a imobilização os filmes de PVA/PEJU foram previamente ativados,

mergulhando-se por 30 min tiras de 1 cm2 de filme em uma solução de

metaperiodato de sódio 0,1 mol L-1 sodium conforme descrito por Silva et al.[11].

As tiras foram então lavadas com tampão Tris-HCl 0,1 mol L-1, pH 8,0, para

remover o excesso de solução de metaperiodato e em seguida incubadas em

uma solução de papaína de concentração 5 mg mL-1 (Calbiochem, La Jolla,

CA, USA). Após imobilização, as tiras de filme (PVA/PEJU-papaína) foram

lavadas com tampão Tris-HCl 0,1 mol L-1, pH 8,0 para remover a enzima não

imobilizada.

3.6.2 Teste de atividade de papaína livre e imobilizada

A atividade da enzima foi determinada pela metodologia descrita por

Kunitz, modificada por Arnon[58], como segue: a 0,1 mL de uma solução 5 mg

mL-1 de papaína foram adicionados 0,9 mL de uma solução ativadora contendo

EDTA 20 M e cisteína 50 M preparados em tampão Tris-HCl 0,1 mol L-1, pH

8,0. Após 10 min de incubação a 37 ºC, 1 mL de uma solução de caseína a 1%

(p/v) foi adicionada à mistura. A reação prosseguiu por mais 10 min e foi

paralisada pela adição de 1 mL de solução de ácido tricloroacético 10% (p/v). A

suspensão foi deixada resfriar até atingir a temperatura ambiente para em

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40

seguida ser centrifugada e a extensão da hidrólise medida em

espectrofotômetro a 280 nm.

A atividade da papaína imobilizada nos filmes de PVA/PEJU foi medida

de modo similar, substituindo-se a solução de papaína livre por uma tira de

filme medindo 1 cm2 suspensa em 0,1 mL de tampão Tris-HCl pH 8,0. Uma

unidade de enzima foi definida como a quantidade de enzima capaz de elevar a

absorbância em 0,1 unidade. Provas em branco foram feitas com a adição de

ácido tricloroacético antes da adição da enzima.

3.6.3 Efeito do pH na atividade da papaína imobilizada em filme de

PVA/PEJU

Para verificar se a imobilização alterou o pH ótimo de reação da papaína

após imobilização, foram feitos testes em que a hidrólise da caseína foi testada

na presença de tiras de PVA/PEJU-papaína em meio tamponado com tampão

fosfato de sódio 0,1 mol L-1, pH 6,0; tampão Tris-HCl 0,1 mol L-1, pH 8,0; e

tampão glicina 0,1 mol L-1, pH 10,0.

3.6.4 Estabilidade durante o armazenamento

A fim de se estabelecer a melhor forma de armazenar o filme bioativo de

PVA/PEJU-papaína, foram feitos testes em que tiras de 1 cm2 foram

armazenadas durante 24h a 4º C nas seguintes soluções: tampão glicina 0,1

mol L-1 , pH 3,6 contendo CaCl2 0,6 mmol L-1; tampão glicina 0,1 mol L-1, pH 9,6

contendo CaCl2 0,6 mmol L-1; tampão Tris-HCl 0,1 mol L-1, pH 8,0; tampão

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41

Tris-HCl 0,1 mol L-1, pH 8,0 contendo CaCl2 0,6 mmol L-1. Adicionalmente tiras

de PVA/PEJU-papaína foram armazenadas a seco, a temperatura ambiente.

A estabilidade dos filmes foi determinada pela comparação da atividade

observada antes e após o armazenamento nas diferentes condições.

3.6.5 Análise estatística

Todos os testes foram realizados em triplicata com repetição. Os dados

foram tabulados usando o programa Statistica 6.0 (Statsoft Inc., Tulsa, USA,

1997) e os resultados foram expressos como média ± desvio padrão.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 PREPARO E SECAGEM DOS FILMES

Independente da concentração das soluções de PVA e de PEJU

utilizadas na formulação dos filmes houve necessidade de ajuste da relação do

volume de solução por área dos moldes, uma vez que o método de obtenção

do filme por casting resultava em material de espessura variável e com

propriedades mecânicas diferentes, ora com características de espessura

muito reduzida, polimerização irregular, friáveis, o que impedia uma análise

mecânica adequada.

Os filmes com razão volume/área inferiores a 0,3 mL cm-2 mostraram-se

friáveis à manipulação e muito finos, dificultando sua remoção intacta dos

moldes, resultando em rasgos e furos, e inviabilizando seu emprego em testes

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42

padronizados. Assim, os filmes com melhores características foram obtidos

com a proporção de 0,5 mL cm-2 dos moldes.

O processo de secagem se deu de maneira uniforme independente de

ser conduzido à temperatura ambiente ou em estufa a 45 ºC, sendo que o

tempo médio de polimerização e secagem não sofreu variação. No entanto,

quando o processo foi feito em estufa, o aquecimento dos moldes resultou em

uma aceleração da perda de água de forma irregular, levando ao aparecimento

de falhas na estrutura do filme.

O fator que interferiu no tempo de secagem foi a concentração dos

componentes. Os filmes produzidos com 3% (p/v) de PVA/PEJU levaram em

média 18 horas para completa secagem, enquanto que os filmes produzidos

com 6% de PVA/PEJU levaram em média 14 horas.

Ao final da otimização, os filmes obtidos apresentaram aspecto opaco,

esbranquiçado e semirrígido, com imperfeições superficiais decorrentes do

descolamento do molde (Figura 5). Após as lavagens para remoção do

excesso de ácido e iodo, os filmes adquiriram aspecto transparente, tornando-

se maleáveis e resistentes à manipulação (Figuras 5b e 5c).

Figura 5. Aspectos macroscópicos dos filmes PVA/PEJU: (a) filme 3% antes da

lavagem; (b) filme 6% (p/v) antes da lavagem; (c) filme 6% após lavagem.

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43

Além disso, as formulações de filmes de PVA/PEJU 6% na razão 0,5

mL cm-2 apresentaram características físicas, mecânicas e macroscópicas

viáveis à manipulação e realização de ensaios, mesmo após o processo de

autoclavagem, apresentando tempo de polimerização e secagem reduzido.

Para efeito de comparação, a primeira formulação de filme PVA/PEJU testada

por Silva et al.[23] necessitou de 5 dias para completa polimerização e secagem,

enquanto a formulação otimizada secou completamente em 14 horas.

4.2 PROPRIEDADES FÍSICAS E ESTRUTURAIS DOS FILMES

4.2.1 Propriedades Mecânicas

As propriedades mecânicas dos filmes são medidas importantes, uma

vez que de acordo com estas propriedades pode-se sugerir diferentes

aplicações para estes materiais.

A medida da resistência à tração na ruptura ou força tensil (T), é

definida pela capacidade de um material resisitir a romper-se quando

submentido a uma força de pressão. Já a porcentagem de elongação (%E)

relaciona-se com a elasticidade de uma material, ou seja, sua capacidade de

elongar-se quando submetido a uma forção de estiramento ou tração. O

módulo elástico (ME) ou módulo Young mede a elasticidade de um material em

termos de flexibilidade molecular, isto é, o módulo elástico nos informa quanta

energia o material pode absorver e dispersar por sua rede polimérica sem

sofrer deformação.

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44

Os resultados referentes às propriedades mecânicas dos filmes estão

dispostos na Tabela 1.

Tabela 1. Propriedades mecânicas dos filmes de PVA/PEJU.

PVA/PEJU

(%)

Razão

(ml cm-2)

Força tensil

Kgf cm-2

Elongação

(%E) Modulo Elástico

3% 0,5 3,71 263,2 12135,8

6% 0,5 7,58 186,6 49908,6

Como pode ser visto, à medida que a concentração do PVA e do PEJU

aumenta de 3 para 6% a resistência à tração dos filmes dobrou em valor, o que

provavelmente se deu por consequência da formação de uma rede polimérica

mais densa. Por outro lado, ao tornar-se mais resistente o filme perdeu

elasticidade, como mostram os valores de %E, que caíram de 263,2

(PVA/PEJU 3%) para 186,6 Kgf/cm2 (PVA/PEJU 6%). Isto por que ao aumentar

a concentração dos componentes na formulação dos filmes, aumentam-se os

pontos de interação de hidrogêncio e de ligação covalente entre as cadeias,

tornando a rede polimérica mais rígida. No entanto, ainda que a rede formada

no filme PVA/PEJU 6% tenha menor elongação, o módulo elástico deste

material é maior e revela que este filme tem maior capacidade de manter sua

estrutura sem sofrer deformação, quando submetido a forças de tração e

elongação.

Para visualização e comparação, os perfis típicos dos filmes quando

submetidos a testes de tração e elongação são mostrados na Figura 6.

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45

Figura 6. Curva típica apresentadas pelos filmes durante teste de resistência a tração:

(a) PVA/PEJU 3% e (b) PVA/PEJU 6%.

Os resultados observados na caracterização mecânica dos filmes

evidenciaram que os filmes contendo 6% de PVA/PEJU são mais promissores

no que se refere à maleabilidade e resistência. Desse modo, os testes de

caracterização e aplicabilidade foram realizados utilizando as formulações

contendo 6% PVA/PEJU.

4.2.2 Transparência

A análise macroscópica dos filmes PVA/PEJU 6% revelou que estes se

apresentaram homogêneos e transparentes quando hidratados (Figura 6c).

Sob o ponto de vista da aplicabilidade, a propriedade de transparência é

altamente desejável, seja por ampliar o leque de possíveis aplicações, seja por

favorecer a apresentação do produto final[59].

As medidas de transparência na região visível do espectro revelaram

que os filmes hidratados de PVA/PEJU apresentaram porcentagem de

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46

transmitância variando entre 50 a 70%, dependo do comprimento de onda,

como pode ser observado na Figura 7. Contrariamente, os filmes secos

apresentaram-se esbranquiçados, bloqueando completamente a passagem de

luz na região visível do espectro.

A transparência pode ser afetada pela composição química dos

componentes do filme ou ainda pelo arranjo assumido pelas cadeias

poliméricas na matriz. De acordo com Levkin et al.[60], a transparência é

prejudicada pela rugosidade da superfície, uma vez que a presença de

rugosidade promove a dispersão da luz. Assim, pode-se inferir que nos filmes

secos os arranjos das cadeias dos polímeros componentes são mais

compactos deixando a superfície mais rugosa. Ao sofrer hidratação as cadeias

relaxam ao mesmo tempo em que permitem a entrada de moléculas de água, o

que torna a superfície mais plana e menos densa, tendo então por

consequência uma menor restrição à passagem da luz[57, 60].

Figura7. Medida de transparência dos filmes de PVA/PEJU no espectro de luz visível.

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47

Figura 8. Potencial de emprego como embalagem. Da esquerda para a direita: lâmina

de vidro seguida por amostra de filme de PVA/PEJU 3 e 6 % hidratados.

4.2.3 Perfil de hidratação dos filmes

Os filmes apresentaram alterações estruturais relevantes nos processos

de hidratação e secagem. Os resultados de hidratação com subsequente

secagem dos filmes PVA/PEJU 6% em diferentes razões volume/área são

mostrados na Tabela 2.

Tabela 2. Alterações dimensionais observadas nos filmes durante processo de

hidratação e secagem.

I – área inicial; H1 - primeira hidratação; D1 - primeira desidratação; H2 - segunda

hidratação; D2 - segunda desidratação; H3 - terceira hidratação.

PVA/PEJU

(%)

Razão

(área/volume)

I

(cm2)

H1

(cm2)

D1

(cm2)

H2

(cm2)

D2

(cm2)

H3

(cm2)

6 0,5 360 513 126 416 112 416

6 0,3 520 782 188,5 598 182 598

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48

Os resultados indicam que no processo de casting, a velocidade com

que a polimerização e ligação entre as cadeias de PVA e PEJU ocorre é alta e,

portanto, ao final da secagem a rede guarda ainda certo grau de desordem. Ao

ser colocado em contato com o solvente, as interações de hidrogênio entre as

cadeias dos polímeros são substituídas por interações entre os polímeros e as

moléculas de água, levando ao afrouxamento da rede polimérica com

consequente alteração dimensional.

Como evidenciado na Tabela 2, na primeira etapa de hidratação foi

observado um aumento de 50,4% na área dos filmes com razão 0,3 mL cm-2 e

42,5% nos filmes com razão 0,5 mL cm-2. Isso provavelmente ocorre em função

da lixiviação para o meio de fragmentos curtos de PVA e PEJU que ficaram

aprisionados na rede durante o processo de polimerização e secagem.

Com a saída destes fragmentos para a solução, o processo de secagem

subsequente leva a uma retração mais pronunciada da rede polimérica,

provavelmente porque a interação entre as cadeias dos polímeros se dá agora

de modo mais efetivo e ordenado, resultando em um material com dimensão

menor devido à organização estrutural mais compacta. Por consequência, a

redução observada na área dos filmes preparados na razão 0,3 mL cm-2 na

segunda secagem foi de 63% e nos filmes com razão 0,5 mL cm-2 foi de 75%.

Para ilustrar melhor esta alteração, filmes fotografados logo após o

processo de polimerização/secagem e após a primeira hidratação com água

destilada são apresentados na Figura 9.

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49

Figura 9. Comparação dos filmes secos com seus respectivos moldes: (a) Molde 18 x

18 cm com filme ao final da secagem e (b) o filme na sua forma hidratada medindo 14

x 14 cm.

Após a redução da área na primeira etapa de hidratação/secagem, novo

processo de hidratação leva a alterações estruturais menores e estáveis, uma

vez que a rede final está formada e estabilizada (Tabela 2).

4.2.4 Intumescimento dos Filmes

A capacidade de intumescimento é uma importante propriedade a ser

determinada para a proposição de possíveis aplicações de filmes a base de

polissacarídeos nas diferentes áreas biotecnológicas[61]. Os resultados

referentes à capacidade de intumescimento dos filmes de PVA/PEJU em

diferentes solventes são apresentados na Figura 10.

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50

Figura 5. Capacidade de intumescimento dos filmes PVA/PEJU: (a) alterações de

área; e (b) alterações de massa.

O intumescimento dos filmes resultou em alteração da área, conforme

pode ser observado na Figura 10(a). Os filmes passaram por alterações

conformacionais, com aumento de área de 2 vezes, atingindo a estabilidade

dimensional após a 20 min de imersão no solvente. Estas alterações de área

foram acompanhadas por alterações na massa (Figura 10(b)), sendo obtidos

índices de intumescimento após equilíbrio variando entre 1,6 (água) e 2,2

(solução salina 0,9%).

Os filmes apresentaram estabilização de intumescimento após 20 min de

imersão, indicando que a capacidade de difusão dos solventes no filme é

rápida, especialmente quando comparado com outros filmes a base de

polissacarídeos[61-63]. O rápido intumescimento pode estar relacionado com as

características de hidrofilicidade das moléculas de PVA e PEJU. A presença de

grupos amino e hidroxilas na estrutura do PEJU, assim como o conteúdo de

hidroxilas presentes no PVA permitiram a formação de interações entre estes

grupos hidrofílicos e a água de forma efetiva, contribuindo para o rápido

aumento de água e massa após imersão nos diferentes solventes.

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51

Outra característica importante está relacionada com a manutenção do

intumescimento após o equilíbrio. A maioria dos filmes a base de

polissacarídeos acabam por se degradar à medida que aumenta o tempo de

contato com a água, em função do rompimento das ligações intermoleculares e

lixiviação dos polissacarídeos que não estão ligados à rede polimérica para a

solução solvente[61, 64]. A natureza dos polímeros e a estabilidade das ligações

entre PVA e PEJU nos filmes permite que estes mantenham sua característica

estrutural, mesmo em contato prolongado com os solventes. Além disto, ao

serem hidratados os filmes perdem o aspecto esbranquiçado e adquirem

transparência.

As alterações observadas nos filmes permitem classificá-los como

Materiais Sensíveis a Estímulo – (Stimuli Responsive Materials - SRM), uma

classe de materiais que respondem a estímulos do meio com alterações que

variam entre: i) ligação ou desligamento de camadas ou moléculas; ii)

alterações conformacionais; e iii) mudanças em grupos funcionais[65]. Materiais

do tipo SRM tem sido objeto de muitas publicações recentes, especialmente

devido às possibilidades de aplicações deste tipo de materiais na área médica,

ambiental e clínica, como sensores, elementos ativos de dispositivos

microfluídicos, elementos ópticos inteligentes e biomateriais[65].

No caso dos filmes de PVA/PEJU, a alteração estrutural observada é

provavelmente resultado de alteração na rede polimérica na presença de

solvente. É provável que durante o processo de secagem, a saída das

moléculas de água permita a aproximação das cadeias de PVA e PEJU que

então, reagem entre si em pontos específicos que foram oxidados pela ação do

metaperiodato de sódio, em mecanismo similar ao proposto por Papas et al.[66].

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52

Com isto forma-se uma rede intercruzada destes polímeros, unida por pontos

de ligação covalente e reforçada por interações de hidrogênio entre as cadeias

de PVA e PEJU.

O curto tempo requerido para se obter o máximo de inchamento e a

manutenção desta capacidade após desidratações sequenciais são resultados

promissores, uma vez que demonstraram que a rede polimérica formada é

estável e não sofre desintegração por ação dos diferentes solventes testados.

Além disso, a alta capacidade de inchamento apresentado pelos filmes é uma

importante característica quando se pensa em utilização para recobrimento de

feridas, especialmente no que se refere a remoção de exsudados[27, 29].

4.3 TESTES DE BIOCOMPATIBILIDADE

A biocompatibilidade de um determinado material pode ser

determinada levando-se em consideração a capacidade que tal material tem de

permitir crescimento e proliferação celular em sua superfície, bem como

garantir a viabilidade das células ali depositadas. Essa característica é

fundamental quando se pensa em materiais passíveis de serem utilizados na

área biomédica.

Os resultados dos testes in vitro evidenciaram a proliferação celular na

presença do filme de PVA/PEJU 6%, como pode ser observado na Figura 11.

Esse resultado sugere que o filme não apresenta citotoxicidade para as células

testadas. Entretanto, quando o filme foi retirado do meio de cultura observou-se

que as células crescem na presença do filme mas não ficaram aderidas a ele.

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53

Figura 6. Morfologia das células do ligamento periodontal em contato direto com o

biofilme (a-c) e análise da viabilidade celular na presença do biofilme (d). As células

vivas e células mortas são observadas pela coloração diferencial dos núcleos. As

células viáveis estão com as membranas marcadas em verde e as não-viáveis, no

mesmo campo de verificação, encontram-se com os núcleos corados em vermelho.

A confirmação da viabilidade celular foi realizada através de análise

qualitativa feita com o kit Live/Dead. Como pode ser observado na Figura 11

(d), há uma grande quantidade de células viáveis, o que confirma que os filmes

não apresentam toxicidade e são biocompatíveis nos testes conduzidos em

meio de cultura celular. A ausência de citotoxicidade é uma característica que

permite usar o filme de PVA/PEJU em aplicações biomédicas.

Além dos testes com células, foram realizados testes utilizando

animais, no intuito de se verificar se o filme causaria algum efeito no processo

de inflamação e cicatrização de feridas.

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54

A biocompatibilidade do filme, associada à ausência de aderência

celular e alta capacidade de intumescimento deste material torna-o promissor

para utilização em revestimento de lesões. Além disso, trabalhos anteriores

evidenciaram que este filme é um excelente suporte para imobilização de

biomoléculas, o que o aumenta seu potencial para utilização como material

bioativo contendo enzimas imobilizadas para utilização na área biomédica[11].

4.4 IMOBILIZAÇÃO DE PAPAÍNA EM FILMES DE PVA/PEJU

Com o objetivo de transformar o filme de PVA/PEJU em um material

bioativo, papaína foi imobilizada por ligação covalente. A escolha da papaína

deveu-se ao fato de que essa enzima é largamente utilizada no tratamento de

feridas, tendo como objetivo a remoção de tecido lesionado e a consequente

melhora do processo cicatricial[36-40].

A otimização do processo de imobilização foi realizada utilizando-se

planejamento fatorial por superfície de resposta. Os resultados referentes à

atividade enzimática em cada uma das condições de imobilização são

mostrados na Tabela 3.

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55

Tabela 3. Atividade de papaína nas diferentes condições de imobilização.

Teste

pH

X1

Tempo (min)

X2

Temperatura (ºC)

X3

Atividade papaína

(U cm-2)

1 4,0 15 5 7,31 ± 0,01

2 4,0 15 25 1,43 ± 0,49

9 4,0 30 15 1,19 ± 0,54

3 4,0 60 5 11,11 ± 0,54

4 4,0 60 25 0,97 ± 0,28

11 6,0 15 15 2,45 ± 0,66

13 6,0 30 5 8,60 ± 0,47

15 (C) 6,0 30 15 2,29 ± 0,91

16 (C) 6,0 30 15 2,30 ± 0,72

14 6,0 30 25 1,98 ± 0,08

12 6,0 60 15 3,86 ± 0,63

5 8,0 15 5 3,40 ± 0,19

6 8,0 15 25 1,29 ± 0,50

10 8,0 30 15 1,46 ± 0,62

7 8,0 60 5 1,78 ± 0,42

8 8,0 60 25 1,43 ± 0,59

Como pode ser observado, a atividade da enzima imobilizada variou de

0,97 U cm-2 (teste 4) a 11,11 U cm-2 (teste 3), dependendo das condições

utilizadas na imobilização.

A análise dos valores apresentados na tabela de ANOVA (Tabela 4)

indicou que o modelo foi estatisticamente significativo e adequado para

representar o relacionamento entre as variáveis independentes tempo, pH e

temperatura e a variável dependente, neste caso a atividade da papaína, o que

pode ser confirmado pelo valor de F apresentado (razão entre F calculado pelo

tabelado). O ajuste do modelo também pode ser avaliado pelo valor de r2, que

foi 0,89; indicando que 89% da variabilidade na resposta pode ser explicada

pelo modelo. Isso sugere que o modelo pode representar acuradamente os

dados na região coberta pelo delineamento experimental. Outro dado bastante

expressivo é o valor reduzido de p, demonstrando o bom domínio da técnica.

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56

Tabela 4. Análise de variância para a atividade da enzima nas diferentes condições de

imobilização.

Causa da variação SQ1 GL2 QM3 F p4

pH (linear) 34,24 1 34,24 27,29 2 10-5

pH (quadrático) 14,34 1 14,34 11,42 2 10-3

Temperatura (linear) 126,00 1 126,00 100,44 3 10-10

Temperatura (quadrática) 33,84 1 33,84 26,98 2 10-5

Efeito de interação (pH/tempo) 8,10 1 8,10 6,46 1,7 10-2

Efeito de interação (pH/temperatura) 45,94 1 45,93 36,62 3 10-6

Erro 31,36 25 1,25

1SQ: soma dos quadrados; 2GL: grau de liberdade; 3QM: média quadrática; 4p: nível de

significância.

Além disso, como pode ser observado no gráfico de pareto (Figura 12),

os termos lineares e quadráticos para a variável tempo (X2) e a interação entre

os fatores tempo e temperatura (X2/X3) não afetaram a atividade enzimática da

papaína (p>0,05). Por outro lado, o termo quadrático da temperatura (X3) e a

interação entre os fatores pH e temperatura (X1/X3) afetaram positivamente a

imobilização, enquanto que o termo linear da temperatura, termo quadrático do

pH (X1) e a interação entre o pH e o tempo (X1/X2) afetaram negativamente a

resposta (p>0,05).

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57

0,19

-0.86

1,28

-2,52

-3,30

4,75

-5,18

5,99

-9,97

p=0,05

Ef eitos estimados (v alor absoluto)

tempo quadrático

interação tempo/temperatura

tempo linear

interação pH/tempo

pH quadrático

temperatura quadrática

pH linear

interação pH/temperatura

temperatura linear

Figura 7. Gráfico de Pareto evidenciando o efeito absoluto das variáveis na

imobilização da papaína.

A análise de regressão mostrou um ajuste adequado dos valores

experimentais a um modelo polinomial de segunda-ordem (r2=0,89), em função

dos fatores significativos. Desse modo, a correlação entre a atividade da

papaína e as variáveis de imobilização pode ser descrita de acordo com a

seguinte equação:

31

2

33

2

1

-2 08,002,048,139,016,9)cm (UE Papaína de Atividade XXXXX

Onde X1 corresponde à variável pH e X3 corresponde à variável temperatura. A

equação acima foi utilizada para construção do gráfico de superfície de

resposta para a atividade de papaína nos limites operacionais do delineamento

experimental, mostrado na Figura 13.

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58

Figura 8. Atividade de papaína em função do pH e temperatura de imobilização.

Como pode ser observado, o aumento da temperatura e pH de

imobilização tem um efeito geral negativo na atividade da enzima. Além disso,

a análise de correlação demonstrou que a temperatura teve o efeito mais

pronunciado na atividade da enzima, apresentando uma correlação negativa na

ordem de -0,67.

Buscando estabelecer a condição ótima de imobilização, foi realizada

um teste de predição matemática utilizando a função de desejabilidade. A

determinação da desejabilidade baseia-se no estabelecimento de uma relação

matemática que permita predizer as interações entre as variáveis de modo a se

obter a máxima resposta, no caso, a máxima atividade de papaína. Como pode

ser observado na Figura 14, as condições ótimas de imobilização para se obter

a máxima atividade de papaína seria a imobilização a 5ºC, em pH 4,0, por 60

min, sendo que esta predição garante 78% de fidelidade dos resultados.

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59

Figura 9. Predição matemática das condições de imobilização para o máximo de

atividade de papaína.

A validação da condição de imobilização estabelecida pela predição

matemática foi realizada em triplicata, sendo encontrada uma atividade de

papaína de 11,1 U cm-2. Esse valor confirma a eficiência da predição

matemática, 11,49 U cm-2 estabelecido pela desejabilidade.

4.4.1 Efeito do pH na atividade enzimática da enzima imobilizada

O perfil de atividade enzimática da papaína livre e imobilizada em função

do pH da reação está apresentado na Figura 15. Como pode ser observado,

enquanto para a papaína livre há um platô de atividade ótima entre pH 7 e 8,

para a enzima imobilizada no filme de PVA/PJU o ótimo restrito ao pH 8.0, o

que indica a presença de um efeito do suporte no microambiente de catálise da

enzima, uma vez que o filme apresenta caráter ácido.

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60

Alterações no perfil de pH de enzimas imobilizadas são comuns e

geralmente estão relacionadas a um efeito de partição de prótons promovido

pelo suporte na vizinhança da enzima [14, 51, 67, 68].

Figura 10. Atividade da papaína livre e imobilizada em diferentes pHs.

No caso observado na Figura 15, o estreitamento do pH ótimo da

enzima imobilizada provavelmente se deu em função do suporte sofrer

desprotonação crescente até o pH 7,0, quando todos os grupos perderam os

prótons ionizáveis. Deste modo, o pH na vizinhança da enzima provavelmente

permanece mais ácido que o pH do meio de reação, e portanto com força

iônica insuficiente para promover ionização apropriada dos aminoácidos que

compõem o sítio ativo da papaína. Ultrapassada a capacidade tamponante do

suporte, o pH do microambiente se eleva constituindo força iônica capaz de

forçar a ionização dos aminoácidos do sítio ativo da enzima, que é

caracterizado por um pico de atividade da papaína imobilizada em pH 8,0.

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61

Embora apresente diferença no perfil de pH ótimo, a enzima imobilizada

apresentou boa retenção de atividade no pH próximo ao fisiológico (pH 6,0 -

7,0), o que permite sua indicação para aplicações na área médica.

4.4.2 Estabilidade ao armazenamento

A estabilidade dos filmes de PVA/PEJU-papaína foi testada

armazenando este material em diferentes condições. Como pode ser

observado na Tabela 5, os filmes mantiveram de 78% a 97% da atividade

proteolítica quando armazenados em solução. Entretanto, o armazenamento a

seco foi mais eficiente, garantindo a retenção de 100% da atividade.

Tabela 5. Atividade da papaína imobilizada após 24h de armazenamento em

diferentes condições.

Condição de armazenamento

Atividade de

papaína

(UE cm-2)

Retenção da

atividade

(%)

Tampão glicina pH 3,6 + CaCl2 5,09 ± 0,57 80,9

Tampão glicina pH 9,6 + CaCl2 4,95 ± 0,93 78,6

Tampão Tris-HCl pH 8,0 5,04 ± 0,95 80,1

Tampão Tris-HCl pH 8,0 + CaCl2 6,09 ± 0,30 96,8

Seco 8,46 ± 1,49 134,4

Atividade Inicial 6,30 ± 0,19 100

O fato do filme PVA/PEJU-papaína reter valores superiores a 70% da

atividade inicial após 24h de armazenamento nas diferentes soluções é

bastante relevante quando se pensa em aplicações deste material como

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62

curativo, já que a manutenção da bioatividade é essencial para a eficiência

terapêutica.

Sobretudo importante é a manutenção de 80% da atividade da papaína

armazenada em pH ácico (Tampão glicina pH 3,6 + CaCl2), uma vez que este

dado mostra a alta estabilidade adquirida pela enzima no processo de

imobilização, além de ampliar o leque de aplicações deste material.

Além disso, a manutenção da atividade da enzima submetida ao

processo de secagem é um excelente resultado. Muitas enzimas perdem

completamente a atividade quando submetidas à secagem na forma

imobilizada[51]. Isto ocorre porque a mobilidade natural da molécula é

restringida pela imobilização ao suporte e assim as alterações conformacionais

necessárias para acomodar as cadeias polipeptídicas com a saída da água são

comprometidas, levando à perda de atividade. No caso do filme PVA/PEJU-

papaína esta restrição à mobilidade não ocorre, o que abre boas perspectivas

de aplicação desse material.

5 CONCLUSÕES

As modificações promovidas na formulação dos filmes de PVA/PEJU

resultaram em um material com propriedades mecânicas superiores no

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que se refere à força tênsil porcentagem de elongação, tendo como

consequência a produção de um material com boa maleabilidade e de

fácil manuseio.

O filme PVA/PEJU apresentou boa transparência caracterizada por

valores de transmitância na região visível do espectro próximas a 70%.

A completa hidratação dos filmes de PVA/PEJU ocorre em 20 minutos e

resulta em alterações conformacionais que permitem classificar estes

filmes como Materiais Sensíveis a Estímulos (Stimule Responsive

Materials).

O filme de PVA/PEJU apresenta boa capacidade de absorção de água o

que é uma característica desejável para materiais destinados a

aplicações biomédicas.

A imobilização de papaína nos filmes de PVA/PEJU resultou em um

material bioativo com potencial aplicação como curativo oclusivo.

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ANEXO 1 – ARTIGO PUBLICADO ARTIGO – FILMES DE BLENDAS DE PVA/POLISSACARÍDEOS: PROPRIEDADES MECÂNICAS

JOURNAL OF MATERIALS, v. 2013, Article ID 413578, 6 pages

PVA/POLYSACCHARIDES BLENDED FILMS:

MECHANICAL PROPERTIES

FÁBIO E. F. SILVA; MARIA CAROLINA B. DI-MEDEIROS; KARLA A. BATISTA; KÁTIA F. FERNANDES