universidade federal de alfenas - mg€¦ · e evoluÇÃo do conhecimento geogrÁfico de pierre...

47
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG Instituto de Ciências da Natureza Curso de Geografia Bacharelado ALEXANDRE ELIAS DE MIRANDA TEODORO GEOGRAFIA FRANCESA EM QUESTÃO: TRAJETÓRIA E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DE PIERRE GEORGE Alfenas - MG 2013

Upload: others

Post on 16-Oct-2020

2 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG€¦ · E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DE PIERRE GEORGE Alfenas - MG 2013 . ALEXANDRE ELIAS DE MIRANDA TEODORO ... 5.7 Geografia da

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG

Instituto de Ciências da Natureza

Curso de Geografia – Bacharelado

ALEXANDRE ELIAS DE MIRANDA TEODORO

GEOGRAFIA FRANCESA EM QUESTÃO: TRAJETÓRIA

E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DE

PIERRE GEORGE

Alfenas - MG

2013

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG€¦ · E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DE PIERRE GEORGE Alfenas - MG 2013 . ALEXANDRE ELIAS DE MIRANDA TEODORO ... 5.7 Geografia da

ALEXANDRE ELIAS DE MIRANDA TEODORO

GEOGRAFIA FRANCESA EM QUESTÃO: TRAJETÓRIA E

EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DE

PIERRE GEORGE

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentada como parte dos requisitos para

obtenção do título de Bacharel em

Geografia pelo Instituto de Ciências da

Natureza da Universidade Federal de

Alfenas- MG, sob orientação do Prof. Dr.

Flamarion Dutra Alves.

Alfenas – MG

2013

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG€¦ · E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DE PIERRE GEORGE Alfenas - MG 2013 . ALEXANDRE ELIAS DE MIRANDA TEODORO ... 5.7 Geografia da

ALEXANDRE ELIAS DE MIRANDA TEODORO

GEOGRAFIA FRANCESA EM QUESTÃO: TRAJETÓRIA E

EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DE

PIERRE GEORGE

A banca examinadora abaixo assinada

aprova o Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado como parte dos requisitos para

aprovação na disciplina de Trabalho de

conclusão de curso II e obtenção do título

de bacharel em Geografia pela

Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL

– MG)

Prof. Dr. Flamarion Dutra Alves Assinatura:

Universidade Federal de Alfenas

Prof.ª Dr.ª Ana Rute do Vale Assinatura:

Universidade Federal de Alfenas

Doutorando Adriano Corrêa Maia Assinatura:

Universidade Estadual Paulista

Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG€¦ · E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DE PIERRE GEORGE Alfenas - MG 2013 . ALEXANDRE ELIAS DE MIRANDA TEODORO ... 5.7 Geografia da

Dedico esta pesquisa a memória de Pierre George,

que contribuiu de maneira incomensurável para o

desenvolvimento e a evolução do conhecimento

geográfico e para a Geografia enquanto ciência,

defendendo seus ideais e deixando um legado

extremamente vasto e completo, sempre fiel à

funcionalidade social do geógrafo.

Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG€¦ · E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DE PIERRE GEORGE Alfenas - MG 2013 . ALEXANDRE ELIAS DE MIRANDA TEODORO ... 5.7 Geografia da

Agradecimentos

Gostaria de agradecer em primeiro lugar a Deus, Nossa Senhora Aparecida, que deram

margem à realidade de poder realizar esse sonho. Meus pais, minha irmã, de modo especial a

meu avô e minha avó paternos que talvez sem nem mesmo fizer mensura de sua importância

tiveram sim contribuição para que eu chegasse a esse momento. Meus avós maternos que

sempre olharam por mim lá de cima e que de alguma forma também contribuíram para minha

formação como ser humano.

A Helena Maria Souza Santos, flor distante, nativa das serra com belo horizonte que

por estar presente nos meus dias fez com que eu sentisse necessidade de ser melhor, de

mostrar que tenho capacidade. A ela que deu outro sentido e fez com que minha rotina

universitária fosse de fato completa.

Agradeço a todo o corpo docente do curso de Geografia da Unifal e aqueles com os

quais tive a oportunidade de conviver durante esse período de formação acadêmica. Através

de seus ensinamentos pude concluir que a formação do geógrafo vai muito além de um curso

dentro de sala de aula, mas que também se dá através do cotidiano e das relações sociais que

são trocadas no espaço. De um modo especial gostaria de destacar aqui meu orientador

Flamarion Dutra Alves, que nos últimos dois anos vêm vencendo a árdua batalha de orientar

um ALUNO, que está sempre fazendo jus a sua escala hierárquica, e que em vários momentos

mostrou-se também um amigo, sendo assim mais uma conquista dentro da Universidade.

A todos os companheiros de sala, que conviveram comigo durante esses quatro anos,

que me bombardearam de ideias e críticas que me ajudaram a enxergar o mundo de outra

forma e sempre estarão presente em minha memória. Em especial a Caetano Lucas Borges

Franco, amigo que em momento algum recolheu a mão quando precisei de sua ajuda e que

muito agregou a mim como pessoa e geógrafo em todos nossos diálogos, tenham sido eles

debates geográficos, perspectivas de vida ou piadas do dia-a-dia.

Por fim gostaria de agradecer também a todos aqueles que em algum momento durante

minha graduação aqui em Alfenas dividiram comigo o mesmo teto, minha prima Miltes,

minha tia Marta e aos parceiros da República Sou Delas, Bruno Ferreira, Rafael Teixeira,

Pedro Fraccarolli e Carlos Eduardo Ferreira.

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG€¦ · E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DE PIERRE GEORGE Alfenas - MG 2013 . ALEXANDRE ELIAS DE MIRANDA TEODORO ... 5.7 Geografia da

"nunca o mundo foi tão profundamente diferenciado, enquanto tantas coisas se

uniformizam..." Pierre George

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG€¦ · E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DE PIERRE GEORGE Alfenas - MG 2013 . ALEXANDRE ELIAS DE MIRANDA TEODORO ... 5.7 Geografia da

Lista de Figuras

Figura 1 – Pierre George.....................................................................................................13

Figura 2 – Organograma das influências teóricas na obra de Pierre George........................23

Figura 3 – Organograma das bases teóricas de Pierre George..............................................25

Figura 4 – Mapa da Agricultura tradicional no globo...........................................................27

Figura 5 – Mapa do crescimento da população em 1963.....................................................31

Figura 6 – Mapa da desigualdade econômica na França por regiões....................................36

Figura 7 – Mapa da análise nacional da indústria dos Estados Unidos.................................40

Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG€¦ · E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DE PIERRE GEORGE Alfenas - MG 2013 . ALEXANDRE ELIAS DE MIRANDA TEODORO ... 5.7 Geografia da

Lista de Quadros

Quadro 1 – Livros selecionados para execução da pesquisa sobre a obra de Pierre George...15

Quadro 2 – Definição dos Conceitos de Região na Geografia Clássica e Ativa......................20

Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG€¦ · E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DE PIERRE GEORGE Alfenas - MG 2013 . ALEXANDRE ELIAS DE MIRANDA TEODORO ... 5.7 Geografia da

Resumo

Ao se discutir as origens e princípios dos fundamentos do conhecimento geográfico constatam-se

lacunas em relação à análise da obra de Pierre George, um grande colaborador para o desenvolvimento

da Geografia como ciência. Desse modo, existe a necessidade de uma interpretação mais minuciosa

em relação a algumas obras do autor, buscando melhor compreender aquilo que foi produzido por ele

durante sua vida acadêmica. Essa pesquisa vai além dos aspectos puramente relacionados com a

História do Pensamento Geográfico, pois se trata de um estudo direcionado para os fundamentos de

Pierre George, identificando assim não apenas qual seu posicionamento em relação à ciência

geográfica, mas também quais suas vertentes de trabalho e peculiaridades que deram a sua obra grande

destaque no cenário mundial. Nesse sentido, a pesquisa visa analisar a contribuição teórica de Pierre

George bem como evidenciar a importância de sua obra na geografia contemporânea.

Palavras-chave: Pierre George, História da Geografia, Geografia Ativa, Geografia Francesa.

Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG€¦ · E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DE PIERRE GEORGE Alfenas - MG 2013 . ALEXANDRE ELIAS DE MIRANDA TEODORO ... 5.7 Geografia da

Abstract

Discussing the sources and principles of the geographic knowledge it is possible to find some gaps on

the analisys of the Pierre George work, who is a big collaborator of the development of Geography as

a science. A more detailed interpretation of some works of this author is necessary to better

comprehend what was produced during his academic life. This research goes beyond History of

Geographic Thoughts related aspects, because this is a study about the fundamentals of Pierre George

that will not just identify his opinion about geographic science, but will also affirm his work directions

and particularities that makes his work a prominence in the world scenario. This work analyses the

theoretical contribution of Pierre George at the same time that evince how his work is important in the

contemporary geography.

Key-words: Pierre George, History of Geography, Active Geography, Geography French.

Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG€¦ · E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DE PIERRE GEORGE Alfenas - MG 2013 . ALEXANDRE ELIAS DE MIRANDA TEODORO ... 5.7 Geografia da

SUMÁRIO

1. Introdução………………………………………………………………………………..12

2. Técnicas e Procedimentos Metodológicos em História do Pensamento Geográfico.....15

3. Características da Geografia Clássica: uma breve retomada........................................17 3.1 O movimento de renovação: A Geografia Ativa e a Crítica..................................18

4. A Geografia Georgeana entre La Blache e Marx: correlações e apontamentos............22

5. Análise dos pressupostos teóricos e práticos na obra de Pierre George.......................26 5.1 Geografia Agrícola do Mundo (1946)...................................................................26

5.2 Geografia Industrial do Mundo (1947)..................................................................27

5.3 Geografia Econômica (1956)................................................................................29 5.4 Panorama do Mundo Atual (1963)........................................................................30

5.5 A Geografia Rural (1963)......................................................................................33

5.6 A Geografia Ativa (1964)......................................................................................34

5.7 Geografia da População (1965).............................................................................37 5.8 Os Métodos da Geografia (1970)..........................................................................38

5.9 Geografia dos Estados Unidos (1971)...................................................................40

5.10 O Homem na Terra (1989)...............................................................................41

6. Considerações Finais...................................................................................................43

7. Bibliografia.................................................................................................................46

Page 12: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG€¦ · E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DE PIERRE GEORGE Alfenas - MG 2013 . ALEXANDRE ELIAS DE MIRANDA TEODORO ... 5.7 Geografia da

12

1 - INTRODUÇÃO

Observar, questionar, levantar teorias, elementos fundamentais que compõe um

Geógrafo, durante a formação acadêmica é necessário que se desenvolva um olhar crítico,

perspicaz, e acima de tudo embasado, para que tenhamos o suporte necessário para trilhar os

caminhos da Geografia sem que a obsolescência acabe por nos determinar. Trabalhar com o

espaço, o meio em que vivemos traduz acima de tudo uma responsabilidade muito grande,

conhecer em seus pormenores o ambiente em que estamos inseridos, dá-nos total domínio

sobre nossas diretrizes, permitindo um posicionamento mais coeso sobre qualquer situação

adversa, além de nos possibilitar um crescimento mais lúcido e sólido.

Desvendar a história de uma ciência é uma tarefa difícil e parcial, pois compreendem

diferentes contextos políticos, autores, ideologias, escolas de pensamento entre outras

inúmeras variáveis que formam o conhecimento científico. Assim, estudos sobre a evolução

de uma ciência são importantes para revelar o andamento e mudanças ocorridas ao longo do

tempo, verificar as contribuições deixadas por pesquisadores, instituições ou escolas.

Conforme pensa Kant:

É necessário que nossas experiências não sejam simplesmente agregado, mas

que sejam organizadas num todo sistemático. Tal como antes de construir-se

uma casa, é preciso um conceito do todo, do qual as várias partes poderão

mais tarde derivar, também é necessário, antes de estudar o mundo, ter-se

um conceito todo, uma moldura arquitetônica da qual se poderão extrair os

múltiplos detalhes. (KANT apud UNWIN, 1995)

A geografia como ciência passou vários momentos paradigmáticos, desde Humboldt e

Ritter até a atualidade com perspectivas fenomenológicas-culturalistas e crítico-ambientais. E

nesses momentos houve pesquisadores importantes na construção do pensamento geográfico

com publicações clássicas que serviram de referência para outras pesquisas ou atravessando

diferentes escolas ou linhas de pensamento no decorrer do tempo.

Nesse sentido, esta pesquisa parte da ideia de compreender parte do legado deixado

pelo geógrafo francês Pierre George (1909 – 2006) para a ciência geográfica e a trajetória do

autor, que ao longo de seis décadas publicou ativamente sobre diversas temáticas e áreas da

geografia (população, agrária, urbana, indústria, agricultura, economia, método entre outros).

Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG€¦ · E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DE PIERRE GEORGE Alfenas - MG 2013 . ALEXANDRE ELIAS DE MIRANDA TEODORO ... 5.7 Geografia da

13

Figura 1 – Pierre George

Fonte:

http://www.fev.edu.br/graduacao/images/upload/geografia/Pierre20George1_www_unifev_ed

u_br.jpg

Fundamentaram-se nossas conclusões através da análise e discussão de dez obras de

Pierre George, sendo elas de diferentes décadas a partir de 1940, com o intuito de interpretar

assim como se deu a evolução do autor, de que forma seus conceitos, temas e métodos

caminharam e foram se transformando no decorrer de suas obras. A questão de sua ligação

com as escolas da Geografia será uma das principais abordagens dessa pesquisa, tendo como

referência uma iniciação com a escola Clássica e a criação e desdobramentos da escola Ativa,

percolando através de algumas peculiaridades da escola Crítica.

A obra de Pierre George possui sua origem teórico-metodológica francesa em Paul

Vidal de La Blache, além disso, foi membro efetivo do movimento de renovação criando

juntamente com Bernard Kayser, Yves Lacoste e Raymond Guglielmo a Geografia Ativa

(GEORGE, 1973). Assim, procura-se entender os mosaicos conceituais de Pierre George ao

longo desse período em que publicou e rever as heranças deixadas pela Geografia Regional de

La Blache na obra de George, além de caracterizar a renovação e contribuir para a formação

de uma Geografia Crítica.

Ao focar nas obras especificamente, é possível identificar melhor quais as

características de Pierre George, com qual escola/momento elas condizem e também se

possível, desvencilhá-las de todas as outras, afirmando assim a Geografia Ativa. Essa

metodologia possibilitou também a identificação de termos próprios que o autor usa como

referência em sua obra, termos que o caracterizam como membro dos diferentes momentos

paradigmáticos da Geografia.

Page 14: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG€¦ · E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DE PIERRE GEORGE Alfenas - MG 2013 . ALEXANDRE ELIAS DE MIRANDA TEODORO ... 5.7 Geografia da

14

Por ter feito parte do movimento de renovação do conhecimento geográfico, Pierre

George merece atenção especial, não somente pela importância e abrangência de sua obra,

mas também por possuir em seu legado características nas distintas escolas da Geografia. A

irreverência do autor ao inserir nos métodos clássicos abordagens de cunho social, que

remetem diretamente às características da Geografia Crítica fez com que seus trabalhos

ganhassem reconhecimento mundial, dando destaque a sua carreira. Diversos autores

contemporâneos1, com destaque na academia escrevem hoje sobre Pierre George, e utilizam

ainda conceitos definidos pelo autor. Por isso, esse breve resgate é relevante tendo em vista a

diversidade de temas estudados, quantidade de material publicado e poucas análises referentes

à sua obra.

1LENCIONI, S. Região e geografia. São Paulo: Edusp, 1999; MOREIRA, R. O pensamento geográfico

brasileiro: as matrizes clássicas originárias. São Paulo: Contexto, 2008; MORAES, A.C.R. Geografia: Pequena

história crítica. 20 ed. São Paulo: Annablume, 2005. Entre outros.

Page 15: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG€¦ · E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DE PIERRE GEORGE Alfenas - MG 2013 . ALEXANDRE ELIAS DE MIRANDA TEODORO ... 5.7 Geografia da

15

2 - TÉCNICAS E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS EM

HISTÓRIA DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO

Por se tratar de um estudo da História do Pensamento Geográfico, a presente pesquisa

se baseará principalmente na leitura e interpretação de textos, que remontam e se relacionam

com seu principal objetivo. Foram escolhidas dez obras, sendo cada uma delas de uma

temática diferente, para que fosse possível perceber a evolução da obra do autor, no decorrer

de toda a trajetória histórica do pensamento geográfico, além de também analisar em seus

pormenores, várias das vertentes com as quais ele trabalhou.

Como em sua bibliografia Pierre George atingiu uma vasta área do conhecimento

geográfico e publicou mais de sessenta livros, a seleção das obras foi feita de modo a escolher

diferentes temas trabalhados por ele, manuais, estudos concretos, monográficos e sintéticos,

ampliando assim a extensão bibliográfica da pesquisa.

A análise do conteúdo de cada uma dessas obras será feita relacionando-as também

com outros referenciais teóricos que contribuirão para a pesquisa: teoria, método e conceitos

(Quadro 1).

Quadro 1 – Livros selecionados para execução da pesquisa sobre a obra de Pierre George.

TÍTULO ANO DE

PUBLICAÇÃO

1 Geografia Agrícola do mundo 1946

2 Geografia Industrial do mundo 1947

3 Geografia Econômica 1956

4 Panorama do mundo atual 1963

5 Geografia Rural 1963

6 A Geografia Ativa 1964

7 A Geografia da População 1965

8 Os métodos da Geografia 1970

9 Geografia dos EUA 1971

10 O homem na terra (A Geografia em ação) 1989

Organização: Alexandre Elias de Miranda Teodoro.

A análise do conteúdo das obras selecionadas enfocou os elementos teóricos e

práticos, a fim de mostrar as principais características ao longo de sua trajetória.

Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG€¦ · E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DE PIERRE GEORGE Alfenas - MG 2013 . ALEXANDRE ELIAS DE MIRANDA TEODORO ... 5.7 Geografia da

16

Teoria: analisar se o autor parte de teorias organicistas, que indicam a sintonia entre o

homem e a natureza, um ‘’todo harmonioso’’. Verificar se ele utiliza o possibilismo, de Paul

Vidal de La Blache, além de teorias marxistas e críticas, durante e após a Geografia Ativa.

Método: será observado se existe na obra do autor a utilização dos métodos descritivos

(corográfico), comparativo e também o método indutivo-empírico. Além de analisar a

abordagem metodológica durante e após a Geografia Ativa, como por exemplo, o

materialismo histórico-dialético.

Conceitos: alguns conceitos que são peculiares a obra de Pierre George também serão

analisados, na tentativa de defini-los e discernir também sua contribuição e atualidade para o

conhecimento geográfico. Entre esses conceitos estão: habitat rural, gênero de vida, sítios,

espaço organizado, ação humana entre outros. Além do conceito de região, tão peculiar a

Geografia Clássica de La Blache e suas transformações ao longo dos anos.

Estudos Empíricos: Ver os tipos de estudos realizados e sua escala de análise (local,

regional, nacional e global), assim como a abordagem em relação às questões sociais, natural,

econômicas e políticas.

Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG€¦ · E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DE PIERRE GEORGE Alfenas - MG 2013 . ALEXANDRE ELIAS DE MIRANDA TEODORO ... 5.7 Geografia da

17

3 - CARACTERÍSTICAS DA GEOGRAFIA CLÁSSICA: UMA BREVE

RETOMADA

Foi Bernard Varenius, em meados de 1620 que inseriu a palavra Geografia no

contexto científico, organizando-a como Geografia Geral, dividida em três grandes eixos:

Humano, Terrestre e Celeste, a partir de então, introduzia-se a debate a formação do espaço

geográfico. A partir daí, com o início da revolução burguesa na Europa dá-se por encerrada a

chamada Geografia Pré-histórica e somente muito depois, na metade do século XIX, através

dos postulados dos alemães Karl Ritter e Alexander Von Humboldt que a Geografia veio se

afirmar como uma Ciência Moderna (MORAES, 2005), com a inserção da revolução

industrial e o capitalismo na dinâmica da sociedade os cientistas viram a necessidade de

entender melhor esses novos assuntos.

A Geografia Clássica, baseada no Positivismo Clássico de Auguste Comte, teve então

dois centros de referência, o francês, liderado por Paul Vidal de La Blache, Jean Brunhes,

Élisée Réclus, Albert Damangeon entre outros e o alemão, por Karl Ritter, Alexander von

Humboldt, Alfred Hettner e Frederic Ratzel como seus principais nomes.

Começando com os alemães, Ritter buscou em Ptolomeu (90 – 168 d.c) um método

que fundamentasse seus postulados, o Método Corográfico, que consistia em uma descrição

pormenorizada das regiões e lugares, considerando também todo o processo de formação

histórica e os detalhes dessa descrição. A corografia está inclusive entrelaçada diretamente

com o desenvolvimento e os fundamentos da Geografia Regional. Ritter caracterizava muito

bem a escola tradicional, pois após a análise detalhada das áreas ele partia para o Método

Comparativo, diferenciando as regiões entre si. O que diferenciava principalmente Ritter de

Humboldt era seu antropocentrismo, ele priorizava as relações entre o homem e a natureza,

enquanto Humboldt se aprofundava mais na descrição, e esta principalmente na área da

botânica (CLAVAL, 2006).

No centro francês se destaca Paul Vidal de La Blache, seus procedimentos

metodológicos consistiam em uma análise minimalista/monográfica do Quadro Natural,

Quadro Agrário, Quadro Urbano, População e Estrutura Industrial (quando houver) a soma

dessas paisagens Natural e Cultural, foram os ingredientes que levaram o autor a criação do

conceito de Gênero de Vida. Esse procedimento metodológico foi base para inúmeras

pesquisas sobre a Geografia Regional, da qual o autor embasou-se principalmente nos

Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG€¦ · E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DE PIERRE GEORGE Alfenas - MG 2013 . ALEXANDRE ELIAS DE MIRANDA TEODORO ... 5.7 Geografia da

18

postulados de Karl Ritter e formou discípulos que reproduziram essa metodologia em diversos

países2.

De um modo geral, ao se caracterizar e sintetizar a Geografia Clássica nota-se que

seus estudos regionais trabalharam com as técnicas empíricas (observação e descrição em

campo) para conhecer diversas regiões, a fim de correlacionar seus aspectos físicos e

humanos na busca do entendimento da paisagem. O método indutivo-empírico-descritivo foi

o predominante entre 1850 e 1950 no contexto geográfico, tendo a figura de La Blache como

principal expoente (ALVES, 2010).

3.1 - O movimento de renovação: A Geografia Ativa e Crítica

Em meados da década de 1950 tiveram início as manifestações do movimento de

renovação na Geografia, com a crise da Geografia Clássica, devido aos questionamentos

sobre a falta de precisão das descrições e o anacrônico método positivista frente às mudanças

da sociedade pós II Guerra Mundial. Uma gama de acontecimentos foi responsável por

eclodir todas essas mudanças no conhecimento geográfico.

A princípio houve uma mudança na base social que havia sido responsável pela

formulação dos alicerces da Geografia Clássica, atrelado a isso o grande desenvolvimento do

capitalismo, que enterrou o liberalismo econômico e trouxe consigo também uma revolução

tecnológica, além de incumbir o Estado com a necessidade de intervir na economia. “Vivia-se

a época dos grandes trustes, do monopólio e do grande capital.” como cita Moraes (2005,

p.104).

O planejamento da economia desse período levou a necessidade também de um

planejamento territorial, e os estudos da Geografia Clássica já não apontavam mais as

respostas para esse novo cenário do espaço, como coloca o autor “A realidade do

planejamento colocou uma nova função para as ciências humanas: a necessidade de gerar um

instrumental de intervenção, enfim uma feição mais tecnológica. A Geografia Tradicional não

apontava nessa direção, daí sua defasagem e sua crise.” (2005, p.104) Ainda a respeito

também desse movimento transitório da Geografia:

A constatação desses fatos e a necessidade de participar do movimento de

reformulação científica e política da sociedade inquietou os geógrafos, que

passaram a percorrer novos caminhos, ora procurando atualizar os princípios gerais da Geografia Tradicional, ora procurando romper com ela, criando

uma “nova” Geografia. (ANDRADE, 1992, p.96)

2 No Brasil a presença de geógrafos franceses foi marcante na década de 1930, quando Pierre Deffontaines,

Pierre Gourou, Pierre Denis, Francis Ruellan, Pierre Monbeig entre outros auxiliaram na formação dos primeiros

cursos universitários (USP e UDF), Conselho Nacional de Geografia e Associação dos Geógrafos Brasileiros.

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG€¦ · E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DE PIERRE GEORGE Alfenas - MG 2013 . ALEXANDRE ELIAS DE MIRANDA TEODORO ... 5.7 Geografia da

19

Os métodos e técnicas da Geografia Clássica estavam agora obsoletos, incapazes de

interpretar e analisar o atual cenário da sociedade. Permanecia o questionamento em relação à

necessidade de definição do objeto de estudo da Geografia, pois os conhecimentos que eram

aplicados para entender as comunidades locais não estavam mais aptos a compreensão da

globalização que o capitalismo criou. Moraes (2005, p.105) comenta a respeito da necessidade

e do combustível que esse movimento de renovação teve para quebrar o paradigma

Tradicional, “O movimento de renovação vai buscar novas técnicas para a análise geográfica.

De um instrumental elaborado na época do levantamento de campo, vai se tentar passar para o

sensoriamento remoto, as imagens de satélite, o computador”.

Finalizando esses aspectos que levaram à necessidade de mudança na Geografia

Clássica vem o fundamento filosófico, que em detrimento daquilo que havia ocorrido e foi

supracitado também ruiu, pois havia se tornado ultrapassado para a interpretação e análise das

transformações que se sucediam. Em relação a isso Moraes (2005, p.105) coloca que “O

desenvolvimento das ciências e do pensamento filosófico ultrapassara em muito os postulados

positivistas, que apareciam agora como por demais simplistas e pueris”.

Manuel Correia de Andrade (1987, p.96) destaca um ponto importante que caracteriza

bem essa pesquisa e relaciona o movimento de renovação com Pierre George, “Viram

também que estava ultrapassada aquela ideia muito difundida dos meios geográficos de dar

maior importância à Geografia Agrária, ao campo, por estar à agricultura mais dependente das

condições naturais do que a indústria e os serviços.” que dá um enfoque maior aos estudos

ligados a Geografia Urbana e a Geografia Econômica por ter uma postura marxista e valorizar

mais aquilo que remete à indústria, às cidades, ao comércio, aos transportes e ao consumo.

Após essa breve análise sobre os motivos que levaram ao rompimento do paradigma

clássico da Geografia, discutir-se-á sobre o movimento de renovação em si. Este foi

caracterizado principalmente por divergir totalmente da característica de unidade da

Geografia, o movimento de renovação é diversificado em sua essência, até porque sua

composição é assim, autores que possuem diferentes posicionamentos e métodos, propostas

que se desvinculam umas das outras, porém é possível ainda classificar esse movimento e

agrupá-lo em suas principais vertentes.

Na ordem cronológica, a primeira é a da Geografia Pragmática-Teorética, que não será

enfatizada na pesquisa, porém se caracterizava por ser uma Geografia Aplicada, calcada em

métodos quantitativos e aplicação de modelos, posterior a ela vem a Geografia Ativa,

caracterizada pela ação do homem na região, e suas relações com a cidade, economia e

Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG€¦ · E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DE PIERRE GEORGE Alfenas - MG 2013 . ALEXANDRE ELIAS DE MIRANDA TEODORO ... 5.7 Geografia da

20

política, e a terceira vertente desse rompimento seria a Geografia Crítica, endossada e

fundamentada no discurso marxista.

A Geografia Ativa teve origem na França, em meados da década de 1960, onde até

então o predomínio era a escola Lablacheana, ela intitulou o livro de Pierre George, Kayser,

Lacoste e Guglielmo em 1964, um divisor de águas no movimento de renovação da

Geografia. A confusão territorial que o capitalismo causou na França trouxe novamente à tona

a necessidade de se discutir o conceito de região, visando uma melhor organização do espaço.

A Geografia Ativa tinha como proposta a organização do espaço. Imbuída de

uma ilusão tecnocrática, considerava que poderia ser possível, por meio de

intervenções a partir do planejamento urbano e regional: ou seja, por meio de

estratégias de organização do espaço, alcançar um certo crescimento

harmonioso do espaço (LENCIONI, p. 141)

O conceito de região permaneceu como uma das ferramentas teóricas da Geografia

para explicar os acontecimentos da sociedade, porém sua definição se alterou (Quadro 2).

Quadro 2 – Definições do conceito de Região na Geografia Clássica e Ativa.

REGIÃO

GEOGRAFIA CLÁSSICA GEOGRAFIA ATIVA

Segundo Ritter a Terra seria um todo

orgânico, sendo a região parte deste

organismo. Foi inclusive essa ideia de

organismo e interpretações separadas que

criou o método comparativo. Sendo assim, a

interpretação de cada uma das partes

colaboraria para um entendimento mais coeso

do todo. “O objeto essencial de estudo da

Geografia passou a ser a região, um espaço

com características físicas e socioculturais

homogêneas, fruto de uma história que teceu

relações que enraizaram os homens ao

território e que particularizou esse espaço,

fazendo-o distinto dos espaços contíguos.”

(LENCIONI, p.100).

Partindo desse ponto de vista, a região fica

assim objetivamente diferenciada pela

paisagem, cabendo ao pesquisador distinguir

essas homogeneidades do globo,

reconhecendo dessa forma as individualidades

regionais.

Para a Geografia Ativa, o conceito de região

seria algo mais abrangente, as interações entre

o homem e o espaço se dariam de forma mais

concreta, aumentando a intensidade da ação

do homem em relação ao meio. Um dos

fundadores da corrente ativa da Geografia

define o conceito de região da seguinte

maneira: “Porção de espaço terrestre, qualquer

que seja o modo pelo qual for considerada ou

a utilidade que lhe for atribuída, a região é de

qualquer forma um fenômeno geográfico. O

geógrafo pode defini-lo, explicá-lo, querer

delimitá-lo. Ao proceder assim, o geógrafo é

ativo, tecnicamente indispensável,

socialmente útil; ele assume com máximo de

plenitude e de fidelidade a vocação

fundamental da ciência.” (KAYSER, p. 281).

Organização: Alexandre Elias de Miranda Teodoro

Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG€¦ · E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DE PIERRE GEORGE Alfenas - MG 2013 . ALEXANDRE ELIAS DE MIRANDA TEODORO ... 5.7 Geografia da

21

Em relação à Geografia Crítica sua ruptura tanto com a escola Clássica quanto com a

Pragmática é bem mais enérgica, pois seu posicionamento é bem radical, defendendo as

transformações da realidade social. Ela é caracterizada principalmente pelo forte argumento e

filosofia marxista, voltada para o cunho sociológico, econômico e político. Seu método de

análise passa então a ser o materialismo histórico-dialético.

Diferente da Teorética, a Geografia Crítica faz uma observação mais aprofundada em

relação às razões da crise. A crítica que se faz em relação à Geografia Clássica é de como o

discurso geográfico fez com que se “maquiassem” as relações sociais, chegando desse modo a

Geografia Crítica à formatação que definia sua ideologia, a relação homem-natureza, que via

a região como sendo homogênea. Sobre as características da Geografia Crítica coloca

Lencioni (1991, p. 161) “O desenvolvimento da Geografia de inspiração marxista e do estudo

da lógica dialética, que buscam captar e destacar as contradições no movimento da sociedade

e da natureza [...] Concebendo o espaço como um produto social.”.

Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG€¦ · E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DE PIERRE GEORGE Alfenas - MG 2013 . ALEXANDRE ELIAS DE MIRANDA TEODORO ... 5.7 Geografia da

22

4 – A GEOGRAFIA GEORGEANA ENTRE LA BLACHE E MARX:

CORRELAÇÕES E APONTAMENTOS

Devido à alta complexidade e também ao caráter de ineditismo da seguinte pesquisa,

em momento algum se encontrou bibliografia que tratasse diretamente da relação da obra de

Pierre George com a de Karl Marx. Sobretudo, é imprescindível que se tome nota de algumas

noções e apontamentos que surgiram e foram se evidenciando de acordo com a leitura e

análise das obras do geógrafo francês. É válido salientar que em momento algum Pierre

George cita diretamente o filósofo e sociólogo alemão - nas obras aqui analisadas -, mas as

transformações pelas quais passou a Geografia em seu movimento de renovação colocaram de

um modo talvez inerente, muitas das ideias pregadas e defendidas por Marx, nas obras de

George, inclusive em Geografia Ativa, que já incorporava um discurso mais crítico, embora

sem desvencilhar-se da raiz clássica lablacheana.

Uma das questões identificadas que permite essa comparação de maneira bastante

clara é quando se trata da definição do meio natural, “Pela concepção marxista, a natureza

isolada da ação humana perde significado para a sociedade e se restringe ao determinismo de

suas leis naturais.” (GOMES, 2007, p. 139) sendo assim, a partir do momento em que o

homem passa a interagir com o meio (práxis humana), seja através do trabalho, ou da inserção

de sua cultura existe uma relação mútua, onde se dá a naturalização da história e, por

conseguinte a historização da natureza. Desse modo, para o marxismo não é possível separar

Homem (ator principal) e Natureza, sendo ela o espaço produzido. Em contrapartida a escola

Clássica (da qual as primeiras publicações de Pierre George se originam), e aí sim podemos

citar além de La Blache, os alemães Ritter e Humboldt, sempre discorreu de forma separada a

respeito de Homem e Natureza (embora esses tenham buscado desde o início as influências

exercidas de um sobre o outro, no caso com as teorias deterministas e possibilistas),

diferenciando-se completamente da lógica marxista, onde esse divórcio é algo inconcebível,

pois definem a natureza como sendo o elemento base para a produção do espaço (Figura 2).

Page 23: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG€¦ · E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DE PIERRE GEORGE Alfenas - MG 2013 . ALEXANDRE ELIAS DE MIRANDA TEODORO ... 5.7 Geografia da

23

Figura 2- Organograma das influências teóricas na obra de Pierre George.

Esse organograma se equipara a uma árvore genealógica das influências de Pierre

George, a começar por Karl Ritter, já citado nessa pesquisa como sendo um dos maiores

expoentes da Geografia, ele definiu num primeiro momento o conceito de Região, o qual era

muito aplicado na escola Clássica. Em seguida La Blache, que tem em sua obra muito da

influência de Ritter, inclusive o conceito de Região, o qual também é definido nesse

organograma.. Esses dois geógrafos seriam então talvez aqueles que mais contribuíram para a

formação teórica de Pierre George, ao mesmo tempo em que Ritter contribuiu para a

formação e base teórica de La Blache.

Esse primeiro exemplo evidencia então uma diferença de cunho teórico entre o

marxismo e a geografia Georgeana, o que não significa que em relação a outros aspectos

possa haver comunhão de ideias entre as duas partes.

Num primeiro instante, para que seja feita a comparação daquilo que existe em comum

entre o marxismo e as obras de Pierre George é necessário que se tenha em mente o que é esse

marxismo, até mesmo para que se entenda quais suas correlações. Conhecido também como

socialismo científico, o marxismo é um conjunto de ideias filosóficas, econômicas, políticas e

Page 24: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG€¦ · E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DE PIERRE GEORGE Alfenas - MG 2013 . ALEXANDRE ELIAS DE MIRANDA TEODORO ... 5.7 Geografia da

24

sociais, que se estruturou nos fundamentos dos sociólogos Karl Marx e Friedrich Engels. Essa

teoria surgiu num momento histórico em que os pensadores começaram a se preocupar e

valorizar mais as relações que tratavam das desigualdades sociais. Os estudos de Marx e

Engels partiam então do materialismo histórico, ou seja, a evolução da história vista com base

no entendimento das relações práticas, tecnológicas e os meios de produção da sociedade.

Seguindo essa analogia, eles notaram que a relação antes existente entre nobres e camponeses,

se retratava em meados do século XIX nas relações entre burguesia e proletariado. Para que o

marxismo de fato fosse instaurado, segundo eles, o proletariado deveria iniciar uma revolução

colocando-os na frente do Estado, de forma a “quebrar” a existência de diferentes classes

sociais. Somente assim, seria possível romper com o sistema capitalista e extinguir ou na pior

das hipóteses amenizar a exorbitante discrepância social existente entre classes.

O discurso de Pierre George não é áspero o suficiente para que possa ser interpretado

como uma incitação à revolução das classes operárias e a quebra do sistema capitalista. O que

o autor francês faz, e afirma ainda ser a função social do geógrafo, é sair do antigo caráter

puramente descritivo e sem funcionalidade para o que ele chama de Geografia Ativa. Seria

então a necessidade de se atentar para o aumento das diferenças entre classes, para o aumento

da produção de alimentos e presença ainda de fome em larga escala, e assim, não parar por aí,

mas procurar através do conhecimento geográfico sanar ou combater essas diferenças. A

semelhança principal entre o discurso marxista e a obra Georgeana é esse olhar social, é a

crítica aos modelos que pregam e perpetuam as desigualdades, e ao mesmo tempo é a

formulação de propostas para que esta seja combatida (figura 3).

Entretanto, o autor faz ainda questão de destacar que o poder para que essa mudança

seja alcançada, esse não se encontra nas mãos do geógrafo, ele está de posse dos governantes

das nações. Ainda que sejam apontadas as problemáticas e propostas por partes dos geógrafos,

sociólogos, antropólogos, aqueles que possuem o poder de acatar ou não as medidas que lhe

são propostas são os que detêm o poder político, são os governantes das nações mais

influentes.

Page 25: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG€¦ · E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DE PIERRE GEORGE Alfenas - MG 2013 . ALEXANDRE ELIAS DE MIRANDA TEODORO ... 5.7 Geografia da

25

Figura 3 - Organograma das bases teóricas de Pierre George.

Já nesse segundo organograma, ficam definidas as bases teóricas de Pierre George, e

são destacadas três importantes considerações a respeito de sua obra. A definição real de o

que foi e o que representou A Geografia Ativa, partindo para uma análise da presença ou não

do marxismo e da crítica nas publicações de George e por fim uma análise geral das

características da obra do autor antes do movimento de renovação e seguinte a ele.

Page 26: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG€¦ · E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DE PIERRE GEORGE Alfenas - MG 2013 . ALEXANDRE ELIAS DE MIRANDA TEODORO ... 5.7 Geografia da

26

5-ANÁLISE DOS PRESSUPOSTOS TEÓRICOS E PRÁTICOS NA OBRA

DE PIERRE GEORGE

A seguir será feita uma explanação detalhada das obras selecionadas visando entender

os pressupostos teórico-metodológicos do autor, sendo destacados os principais conceitos, as

temáticas e alguns elementos gráficos/cartográficos em sua trajetória científica.

5.1 - Geografia Agrícola do Mundo (1946): Para se compreender melhor essa obra de Pierre

George, fazendo a princípio uma análise teórica, é preciso situá-la com o momento histórico

em que foi escrito. Em 1946 o cenário de caos que as Grandes Guerras haviam criado afetou

não somente as estruturas sociais dos países, suas economias, mas também a forma de

interpretar o mundo, principalmente pelos Geógrafos.

As teorias organicistas que evidenciam a relação do homem com a natureza são

claramente identificadas nessa obra, e a maneira como o autor expõe as condições e

limitações que o meio impõe a cada região do globo é um exemplo disso. Já na organização

do livro Pierre George separa espaço dentro de um capítulo para tratar especificamente da

questão das “Condições naturais e condições humanas do desenvolvimento agrícola”. Essa

interação é fruto de uma necessidade evolutiva, presente em todas as sociedades, porém como

enfatiza o autor, cada região possui suas peculiaridades, sendo assim, as técnicas e os níveis

de desenvolvimento variam de região para região. Após a leitura desse trecho fica clara a

ideia organicista com a qual o autor trabalhou nessa obra, “Historicamente falando, todo

espaço agrícola é uma vitória do homem sobre o meio bruto.” (1991, p. 29), ao passo que

também afirma as raízes do possibilismo lablacheano característica relevante em seus livros.

Em relação ao método utilizado por Pierre George em Geografia Agrícola do Mundo,

esse é sem dúvidas o descritivo, uma das principais características da Geografia Clássica. O

uso da Corografia é perceptível em praticamente todo o livro, a riqueza com que o autor

caracteriza cada região, seus potenciais, as particularidades físicas e climáticas, inclusive as

densidades demográficas. Uma ilustração clara do emprego do método corográfico é esse

trecho do livro:

O meio mediterrâneo é, a um tempo, o mais original e o mais contrastado

dos meios geográficos europeus. O vigor do relevo contrapõe, em curtas distâncias, a planície interior ou litorânea aos altiplanos cortados de

“sierras”, ou à montanha de vertentes abruptas, talhadas por gargantas que

formam séries de barreiras selvagens. O clima empresta a essas paisagens colorido e personalidade. Luminoso, de uma sequidão quase absoluta

Page 27: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG€¦ · E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DE PIERRE GEORGE Alfenas - MG 2013 . ALEXANDRE ELIAS DE MIRANDA TEODORO ... 5.7 Geografia da

27

durante a estação quente, exerce severa seleção entre as plantas. (GEORGE,

1991, p. 77)

Em mais de um momento, aparece no livro o conceito de Gênero de vida, outro

indicativo da forte influência lablacheana sobre a literatura de Pierre George. No seguinte

trecho: “Mas o rendimento do trabalho na terra ainda é fraquíssimo, e isso explica a notável

inferioridade do gênero de vida do camponês, na maioria das regiões rurais, em relação ao do

operário.” (1991, p. 60) o autor trata da questão da qualidade de vida que tinham os

camponeses naquele momento da revolução industrial, onde suas condições eram diminutas

quando comparadas com as condições dos operários da época.

Sendo utilizada pelo autor nessa obra a escala global (figura 4), visto que a

caracterização da agricultura feita por ele abrange todo o globo, não apenas as questões

relacionadas à agricultura foram tratadas, Pierre George também argumenta a respeito de

aspectos sociais, condições naturais, a parte econômica, principalmente através de quadros e

tabelas, chegando inclusive a enfatizar questões políticas.

Figura 4 - Mapa da agricultura tradicional no globo. Fonte: George (1991, p.104-105)

5.2 - Geografia Industrial do Mundo (1947): Seguindo os mesmos moldes de sua obra

anterior (Geografia Agrícola do Mundo) o autor agora se volta para as cidades,

especificamente para as indústrias, motrizes revolucionárias do mundo atual. Mais uma vez a

forte característica de descrição do autor e sua alta capacidade de sedimentar o globo em

grupos específicos e de maior compatibilidade para facilitar o estudo e o entendimento se

Page 28: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG€¦ · E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DE PIERRE GEORGE Alfenas - MG 2013 . ALEXANDRE ELIAS DE MIRANDA TEODORO ... 5.7 Geografia da

28

comprovam-regionalização-, a primeira parte do livro é destinada ao estudo das indústrias do

Nordeste do continente europeu, onde surgiram as primeiras fábricas, dá-se início com o

conhecimento do berço da indústria, a “velha indústria inglesa” (GEORGE, 1947, p.5.), suas

crises e reconversões, como o próprio autor se refere à maneira como se deu sua evolução. A

peculiaridade como George insere os conceitos clássicos em sua obra e também a forma como

aplica ao estudo o caráter geográfico é algo que merece ser destacado, com uma linguagem

extremamente clara, que permite através da leitura de algumas páginas o fácil entendimento

de questões remetem ao direcionamento social de um continente. Ao percolar pelos principais

focos de desenvolvimento industrial do nordeste europeu na época, ele cita a indústria

francesa, a italiana, a forte alemã, que ganhou grande destaque durante a década de 1940, e

trata também de uma importante tentativa que surgiu por parte desses países para que se

unificasse desde já, a indústria europeia, o que chama a atenção pela característica de união

existente já naquela época, tendo em vista o nosso conhecimento atual sobre a União

Europeia, fortíssimo bloco econômico, que conseguiu não somente a comunhão econômica de

boa parte do continente, como também a partilha de diversos ideais sociais.

Ao tratar das questões industriais, George é muito didático ao dar destaque as

indústrias de base, e sua grande importância nesse período de crescimento industrial,

explicitando com argumentos sólidos a importância ímpar do sistema energético, que precisou

ser revisado devido a maior demanda e também às indústrias de siderurgia e metalurgia, que

fomentam todos os demais setores que venham a surgir.

Em seguida, o autor francês sai do continente europeu para falar a respeito dos

chamados “países novos”, êmulos da Europa. Grande ênfase é dedicada à indústria norte-

americana, o chamado “continente industrial”, com uma análise evidentemente Clássica, ele

descreve o grande poderio de recursos naturais que o país detém, e sua grande importância

para a fomentação de sua indústria. Além disso, também cabe uma ressalva a forte

característica de competição da indústria norte-americana, que desde os tempos mais

primórdios já se mostrava presente, fato que ainda hoje é dor de cabeça como nós sabemos

para a Organização das Nações Unidas, com os chamados “subsídios” oferecidos aos diversos

setores da indústria e também agricultura do país por parte do governo.

Depois de tratar da promissora indústria norte-americana o autor parte para o próximo

destaque industrial do globo, o Japão. Com exímia capacitação técnica, que ainda hoje é

motivo de orgulho para o povo japonês e principalmente a grande massa de mão de obra do

país, foi possível que chegassem ao patamar de modelo para inúmeras nações. O autor aplica

Page 29: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG€¦ · E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DE PIERRE GEORGE Alfenas - MG 2013 . ALEXANDRE ELIAS DE MIRANDA TEODORO ... 5.7 Geografia da

29

o devido valor da técnica e mão de obra japonesa e salienta a escassez de recursos minerais e

território, que agrava em muito a dificuldade de desenvolvimento industrial.

Por fim, encerrando a análise a cerca das novas promessas industriais do mundo

George cita aqueles que também têm conseguido demasiado destaque no cenário

internacional, como o Canadá, a Austrália, a Índia com seu grande poderio de mão de obra e

também as nações sul-africanas. O autor ainda lança um olhar crítico sobre a América Latina

e comenta sobre suas perspectivas ali, sobretudo a respeito do Brasil.

Assim como no livro anterior, ele trata de forma separada a questão da União

Soviética e das Repúblicas Populares. A forma como foi inserida a indústria na União

Soviética é tratado não somente do ponto de vista geográfico, mas também histórico, como é

necessário por se tratar de outra característica política. Ele comenta que por esse motivo, a

propagação e os percursos de desenvolvimento ali trilhados, são totalmente diferentes, e

explica também a partir daí, em que momento os fatores geográficos são determinantes para

esse diferente modelo de industrialização. George coloca que os interesses geográficos e

industriais vão além, na tentativa de unificar cada vez mais o vasto território soviético, através

da inserção de indústrias pelo seu interior.

Nessa obra também são colocadas conclusões acerca das outras Repúblicas Populares

da Europa e da Ásia e também da China, que desde aquele momento já ia se fortalecendo

como economia e começava a se destacar.

5.3 - Geografia Econômica (1956): Datada de 1956, essa obra de Pierre George foi realmente

uma contribuição importantíssima para a sociedade da época, e talvez um dos marcos em

relação à economia global, pois pode ser considerado inclusive, um manual da economia do

mundo naquele instante, devido à riqueza de detalhes e informações compiladas pelo autor

durante a elaboração do livro.

Com características predominantemente Clássicas, essa obra começa, ainda que de

maneira discreta, a sinalizar para o momento de renovação que se aproximava do

conhecimento geográfico. A forma como Pierre George dividiu os capítulos de seu livro,

continuam evidenciando o organicismo do autor, ao separar primeiramente o homem e os

sistemas econômicos, depois a economia e os sistemas industriais, a economia agrícola e os

produtos alimentícios e por fim o comércio de uma maneira mais ampla, tomando nota

também da forma como este circulava e se articulava.

A riqueza dos detalhes apresentados pelo autor nesta obra e até mesmo sua subdivisão,

ilustram o clássico método descritivo, porém, diferente de em Geografia Agrícola do Mundo,

Page 30: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG€¦ · E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DE PIERRE GEORGE Alfenas - MG 2013 . ALEXANDRE ELIAS DE MIRANDA TEODORO ... 5.7 Geografia da

30

a questão das descrições não estão restritas apenas aos aspectos físicos, pois a economia se

difunde predominantemente nos meios urbanos, onde geralmente o aspecto físico é

praticamente homogeneizado, diferenciando-se em subdesenvolvido, desenvolvido e em

desenvolvimento.

Cada questão é tratada de maneira específica, a descrição dos lugares e de como se dá

a economia em cada um, ressaltando alguns aspectos físicos inclusive, isso fez com que o

livro ficasse indissociável à Geografia Clássica, embora já apresentasse algumas

características menos conservadoras. Outra característica que liga a Geografia Econômica

com a escola Clássica é o método comparativo que o autor utiliza no livro, pegando regiões

diferentes e comparando suas potencialidades, como por exemplo, no seguinte trecho:

Os quocientes de disponibilidade individual acham-se compreendidos entre 1 e 1,5 na Península Ibérica, Iuguslávia, Grécia, África do Norte (1 para o

Marrocos, 1,1 para a Argélia); caem muito rapidamente abaixo de 1 na Ásia

Ocidental, a não ser na Turquia, onde o quociente é de 3. (1988, p. 212-213)

Anteriormente, Pierre George já havia escrito o livro Geografia Econômica e Social

da França em 1938, A economia da URSS (1945) e A economia dos Estados Unidos (1946)

monólogos que tratam das questões econômicas numa escala nacional, em 1949 escreveu A

economia da América Central ainda um monólogo, porém este na escala continental, para em

1956 concretizar seu manual sobre a economia do mundo, atingindo a escala global com

Geografia Econômica.

5.4 – Panorama do Mundo Atual (1963): Essa é uma obra que particularmente chama muito a

atenção por sua peculiaridade em relação às outras analisadas durante essa pesquisa. Aqui,

Pierre George encontra-se à beira do lançamento de sua obra máxima “A Geografia Ativa” e

começa a apontar indícios de condenação a determinadas práticas as quais ele tinha

conhecimento de que estavam acontecendo ao redor do globo. Ainda na introdução o autor já

releva que o momento pelo qual a sociedade mundial se encontrava continha um clima

carregado principalmente pelo medo e pela desconfiança, justificados segundo ele pelas

grandes crises diplomáticas entre países capitalistas e socialistas, pelo grande poderio bélico

que essas nações agora ostentavam. Se outrora as pestes eram a maior ameaça do fim dos

tempos, no então período à radioatividade se mostrava como uma arma de destruição em

massa, com capacidade de dizimar centenas de milhões em fração de segundos. Mas a mesma

técnica que foi utilizada no desenvolvimento de armas com tão grande poder de destruição,

segundo o autor também pode ser utilizada em benefício da sociedade, para reverter esse

Page 31: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG€¦ · E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DE PIERRE GEORGE Alfenas - MG 2013 . ALEXANDRE ELIAS DE MIRANDA TEODORO ... 5.7 Geografia da

31

quadro de medo e angústia, “E nesse caso, a capacidade técnica oriunda das descobertas

extraordinárias dos últimos cinqüenta anos deverá ser aplicada na criação de melhores

condições de vida e na transformação da condição humana.” (GEORGE, 1963, p.6).

Em seguida George coloca a função do Geógrafo em analisar o quadro atual da

sociedade mundial, e demonstrá-lo através de seus aparatos, para que em seguida os políticos

determinem qual rumo deverão tomar, seja pelo bem estar das maiorias ou em função apenas

de uma minoria mais abonada financeiramente.

A primeira parte desse livro trata de questões colocadas pelo autor como

“Originalidades do Mundo”, e começa se referindo à expansão demográfica, que já naquela

época começa a inclinar seus gráficos de maneira extremamente íngreme, colocando na

cabeça dos grandes estudiosos alguns dilemas, como a capacidade do planeta em sustentar um

número de habitantes muito grande (figura 5).

Figura 5 – Mapa do crescimento da população em 1963. Fonte: George (1970, p.16).

Se o planeta possui recursos naturais suficientes para que essa explosão demográfica

perpetue sem afetar a qualidade de vida que havia sido alcançada até o presente momento, se

haveria capacidade humana e de recursos do solo para a produção de alimentos suficientes

para o abastecimento dessa nova ordem populacional mundial, enfim, naquela época, muito

do medo em relação ao futuro advinha das questões relacionadas a esse grande “superávit” da

população humana.

Page 32: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG€¦ · E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DE PIERRE GEORGE Alfenas - MG 2013 . ALEXANDRE ELIAS DE MIRANDA TEODORO ... 5.7 Geografia da

32

Em seguida Pierre George chama a atenção para um fato pouco atentado até a época, e

define como sendo uma “Nova Revolução Industrial”. Com isso, ele queria dizer que embora

às máquinas a vapor, a siderurgia e as estradas de ferro haviam quebrado os paradigmas

econômicos até a segunda grande guerra, a partir de agora, uma nova era econômica se

iniciava, com a audaz evolução da técnica os conflitos entre as classes de produtores e

trabalhadores seriam cada vez mais frequentes, em detrimento de um processo que tendia

cada vez mais a “uma minoria de produtores e uma maioria de consumidores” (GEORGE,

1963, p. 29).

Também são tratadas nesse capítulo duas grandes questões do mundo naquela época, a

primeira era a ascensão norte-americana e o declínio europeu em relação aos Estados Unidos

da América, sobretudo a Inglaterra. A segunda é em relação ao “encurtamento” das distâncias

que a técnica proporcionou, Pierre cita que a velocidade com que pessoas se deslocam e que

decisões são tomadas é muito superior a de tempos atrás e isso implica em grandes mudanças

para os padrões do mundo. A tecnologia favorece também a propagação da informação,

acelerando processos que antes demoravam até mesmo meses para se concretizar. Vale

comentar que em 1963 ainda não havia sido descoberta o maior de todos os fomentadores

dessa aceleração da informação, a internet.

O capítulo seguinte faz jus ao nome do livro, a princípio é tratada a situação atual dos

países desenvolvidos e suas relações entre si e com os outros países menos desenvolvidos. Em

seguida é tratada a questão do Oriente Médio, região ainda pouco desenvolvida, mas com

potencial econômico surpreendente devido à valorização do petróleo. Os continentes asiático,

africano e o latino americano também são discutidos pelo autor, sempre visando a ilustração

do momento atual através de perspectivas políticas e econômicas.

Não menos importante e totalmente contextualizado com o livro, no terceiro capítulo é

feita uma análise das perspectivas que o autor tem de como será dali em diante a sociedade. É

muito discutida a grande expansão dos centros urbanos, colocada por Pierre como sendo uma

aventura, pois já se encontra a maioria da população mundial vivendo em ambientes urbanos.

É comentado também a respeito das tecnologias encontradas somente em áreas urbanas, as

melhores condições de vida e as facilidades e comodidades que o espaço rural não é capaz de

proporcionar. Todavia, o autor não se esquece de elucidar questões desfavoráveis, como

possíveis consequências de uma fuga exacerbada do campo para a cidade, bem como uma

crise na produção alimentícia, altos índices de desemprego e aumento da violência nas regiões

periféricas dos grandes centros.

Page 33: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG€¦ · E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DE PIERRE GEORGE Alfenas - MG 2013 . ALEXANDRE ELIAS DE MIRANDA TEODORO ... 5.7 Geografia da

33

5.5 – A Geografia Rural (1963): Esse livro do início da década de 1960 atua como uma

espécie de continuação do primeiro livro analisado nesse capítulo “Geografia Agrícola do

Mundo” embora extremamente mais complexo e apresentando novas vertentes não tratadas

inicialmente. As noções organicistas estão incorporadas ao texto desde a introdução, podendo

ser evidenciadas em todos os capítulos, aliás, em toda a obra já analisada até aqui, o

deferimento ou não da harmonia entre o homem e a natureza são sinalizados pelo autor,

qualquer que seja o cenário de interação.

Já na primeira parte do livro, Pierre George vai além das análises geográficas,

demonstrando mais uma vez seu vasto conhecimento em tudo aquilo que remete de alguma

maneira ao espaço e suas potencialidades, sobretudo em conjunto com a técnica humana. É

tratado então nesse capítulo do livro basicamente as condições naturais do meio rural,

incluindo o clima, a possibilidade de pragas e outras doenças na lavoura, além de estruturar

informações a respeito de onde geralmente estão localizadas essas áreas que compõe o

“espaço agrícola”.

No início do segundo capítulo uma questão fundamental levantada por Pierre George é

destacada já na introdução: a necessidade de diferenciação entre População Rural e População

Agrícola Ativa. Essa diferenciação segundo o autor é primordial para o entendimento das

potencialidades agrícolas de cada país ou região quando aliadas às suas respectivas técnicas.

Porém, é colocado por ele também que ainda que determinante essa eficácia produtiva do

indivíduo varie em proporções maiores do que 1 pra 100, isso porque cada país ou região –

condicionado também por suas respectivas condições climáticas – possui demasiada

peculiaridade quanto à organização do trabalho e aplicação de técnicas. Partindo então para a

diferenciação feita pelo autor desses dois diferentes grupos propõe-se que a chamada

População Agrícola Ativa está inserida dentro da População Rural, mas contabiliza apenas “o

conjunto de indivíduos que participam efetivamente da produção”. (GEORGE, 1963, p.63)

Sendo assim, ao se analisar uma sociedade subdesenvolvida naquela época a

População Agrícola Ativa se dará indubitavelmente pela composição etária dessa população.

A partir daí então o autor começa a tratar de como eram alocados e organizados os espaços

agrícolas, ou seja, seu arranjo, e insere aí as correlações de apropriação e também de

exploração que se abrolhavam ali.

Sempre com grande riqueza de exemplos e incluindo já em seus trabalhos tabelas

compostas por resultados numéricos de suas análises Pierre George parte para as noções que

se dão de trabalho e de técnica, sobretudo por parte dessa designada População Agrícola

Ativa.

Page 34: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG€¦ · E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DE PIERRE GEORGE Alfenas - MG 2013 . ALEXANDRE ELIAS DE MIRANDA TEODORO ... 5.7 Geografia da

34

No final desse capítulo outra questão fundamental do autor é abordada, um termo

muito utilizado por ele em grande parte de sua obra, através da fusão entre as definições de

Habitat e de Espaço Rural ele usa o conceito de Habitat Rural, criado por Vidal de La Blache

e aprimorado por Pierre George partindo do pressuposto de que as parcelas habitadas de uma

demasiada região são dotadas como um Habitat e aquelas atividades que de certa forma se

relacionam com o campo são taxadas como sendo de teor Rural, esse novo conceito seria

“como o modo de distribuição e de residências das populações que vivem no campo e, na

maioria do campo.” (GEORGE, 1963, p. 123). Como já colocado acima, esse conceito é

utilizado ainda em diversas outras obras, quando o autor vai tratar de questões relativas à

espacialização do homem no rural, permanecendo com grande carga teórica lablacheana.

Em seguida, o autor passa a atribuir a noção econômica a seu enunciado. São descritas

então as diferentes formas de organização regionais do rural e como é estruturada sua

economia. A princípio são apresentadas questões que respondem à Agricultura de

Subsistência, ou a base agrícola segundo George, pois se trata de uma produção com pouca

representatividade econômica, apenas voltada para proporcionar ao produtor o necessário para

sua manutenção. Além desse exemplo, também são elucidados os modelos de Agricultura de

mercado, Agricultura de especulação e os modelos agrícolas nos países socialistas, que se

diferenciam totalmente dos modelos tradicionais baseados nas práticas capitalistas.

No último capítulo dessa obra a semente crítica da Geografia Georgeana começa a

germinar, pois em conseqüência das já vigentes transformações do Movimento de Renovação

da Geografia, alguns apontamentos mais enérgicos são feitos. O autor demonstra sua

insatisfação com uma produção superior à necessária para o abastecimento da população

global e ainda sim a evidenciação de fome, ele coloca também seu descontentamento quanto à

demasiada exploração do solo, visando somente o aumento exorbitante da produção sem se

preocupar com as questões naturais de manejo do solo. Por fim, não menos crítico, o autor

mescla todas essas problemáticas e as correlaciona com o quadro crítico social que a maior

parcela da sociedade está inserida, ou seja, a dificuldade da comercialização e os preços dessa

produção agrícola que refletem diretamente na proporcionalidade de miséria encontrada em

quase todas as regiões do globo.

5.6 - A Geografia Ativa (1964): Essa é sem sombra de dúvidas a obra máxima de Pierre

George, um divisor de águas não somente para o autor, mas também para a história do

conhecimento geográfico. Nesse livro juntamente com Raymond Guglielmo, Bernard Kayser

Page 35: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG€¦ · E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DE PIERRE GEORGE Alfenas - MG 2013 . ALEXANDRE ELIAS DE MIRANDA TEODORO ... 5.7 Geografia da

35

e Yves Lacoste o autor buscou engendrar todo o conhecimento que havia adquirido em

Geografia, com o movimento de renovação pelo qual a ciência estava passando.

A própria subdivisão do livro deixa bem clara seu caráter inovador e sua abrangência

ao cenário geográfico global como um todo. Na primeira parte, o autor aponta os principais

problemas, a doutrina e o método da Geografia Ativa, em seguida Yves Lacoste trata das

perspectivas da Geografia Ativa nos países subdesenvolvidos, retratando principalmente quais

as tarefas do geógrafo no auxílio ao desenvolvimento desses países. A terceira parte é

específica aos países já industrializados, considerados como desenvolvidos naquela época, são

tratadas especificamente questões sobre a agrária, a indústria, o consumo e o desenvolvimento

urbano, situações que segundo o autor vigoravam na segunda metade do século XX, e daí a

necessidade de uma Geografia Ativa para trabalhá-las. Por último, uma definição clara sobre

o objeto de estudo da Geografia, juntamente com Bernard Kayser, Pierre George discorre

sobre o conceito de Região, analisando-a como objeto de estudo e também objeto de

intervenção.

O organicismo é sumariamente evidenciado já nas primeiras páginas do livro, essas

relações do homem com o meio, na busca de uma definição da ciência o autor coloca que, “A

Geografia é uma ciência do espaço, mas seus métodos são diferentes daqueles das ciências

naturais do espaço. Como ciência do espaço ela é chamada a fazer balanços do que representa

globalmente esse espaço para os homens que aí vivem.” (GEORGE, 1973, p. 16).

Ainda em relação a essa distinção entre a geografia antes e depois do movimento de

renovação Pierre George faz questão de diferenciar o método, afirmando que existem dois

modos diferentes de proceder em relação ao estudo de uma situação, através de uma

concepção apenas contemplativa, ou uma concepção ativa. Na primeira o autor se posiciona a

dizer que os autores franceses como La Blache, Brunhes, Demangeon, entre outros,

compuseram a geografia francesa de forma estritamente descritiva, sem o objetivo de

formular leis, e foram inclusive depois, por consequência disso tachados como deterministas.

A segunda, de acordo com o autor provém da mobilidade extrema na qual se encontrava o

panorama mundial e seu alto dinamismo, bebia da fonte de autores clássicos, porém tinha o

caráter ativo:

Supõe adquiridos os resultados de um inventário metódico de tudo o que é

herdado do passado, portanto, métodos de investigação e de explicação, que

fizeram o valor dos trabalhos dos geógrafos da primeira metade do século.

Além deste conhecimento da herança, aplica-se na determinação do jogo de forças, que está incluído em toda situação de uma dada porção do espaço.

Obra difícil, pois se tudo é na realidade movimento, e se não há salto para

adiante em um domínio, sem repercussão em todos os outros setores da

Page 36: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG€¦ · E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DE PIERRE GEORGE Alfenas - MG 2013 . ALEXANDRE ELIAS DE MIRANDA TEODORO ... 5.7 Geografia da

36

atividade, a mobilidade dos dados é muito desigual. (GEORGE, 1973, p. 25-

26)

Nota-se que o empenho maior de Pierre George nessa primeira parte do livro é em

esclarecer para quem não conhece o que é a Geografia, qual seu papel e também alertar os

geógrafos em relação a seu verdadeiro perfil e funções.

Para ele a Geografia Ativa se caracteriza principalmente pela capacidade de analisar o

alto nível de dinamismo das relações da segunda metade do século, ele coloca que “perceber

as tendências e as perspectivas da evolução a curto prazo, medir em intensidade e em projeção

espaciais relações entre as tendências de desenvolvimento e seus antagonistas, definir e

avaliar a eficácia dos freios e obstáculos” (GEORGE, 1973, p.26) e isso define o geógrafo

como um cientista de síntese, a geografia de síntese ativa, para Pierre a única geografia. Essa

capacidade de sintetizar todos os fenômenos ao invés de analisá-los um a um de modo mais

aprofundado é o que coloca o geógrafo a frente dos outros cientistas naturais, pois ele não

visualiza cada fenômeno especificamente, e sim a interação entre os fenômenos.

A questão chave dessa obra se desnuda a partir da evidência de inúmeras

características apontadas por Pierre George que definem o geógrafo ativo, fazendo jus ao

movimento de renovação e o divórcio com muitas particularidades da Geografia Clássica,

porém ao mesmo tempo, com a presença de elementos dessa mesma tradição francesa em

relação ao estudo regional, pois ao colocar a Geografia como ciência de síntese o autor coloca

que a síntese da Geografia é o método regional (figura 6).

Figura 6 – Mapa da desigualdade econômica na França por regiões. Fonte: George (1968, p. 237)

Page 37: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG€¦ · E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DE PIERRE GEORGE Alfenas - MG 2013 . ALEXANDRE ELIAS DE MIRANDA TEODORO ... 5.7 Geografia da

37

5.7 - Geografia da População (1965): Aqui o autor faz um estudo voltado para a população,

sem em momento algum deixar de relacionar o homem e o espaço, características que

remontam à Geografia Clássica, um fator curioso, visto que a obra é posterior a Geografia

Ativa e apresenta já então uma diferença evidente em relação ao marxismo, embora ainda seja

de significante teor crítico. George trata diversas questões que nos permitem entender o

porquê da diversidade e desigual ocupação do espaço, que já naquela época se evidenciava,

explicando com argumentos históricos as grandes exclusivas e as generalidades que se

sucederam durante o crescimento da população mundial. Como não poderia deixar de tratar

também a respeito de questões étnicas o autor faz alguns apontamentos, relevando inclusive a

mortalidade, que obviamente sempre variou muito de acordo com a cultura e realidade de

cada população.

É clara a crítica do autor aos meios sob os quais a população foi se inserindo de forma

desigual não somente nos países desenvolvidos, mas também nas nações subdesenvolvidas.

Cidades extremamente populosas, com enorme população carente e desprovida de condições

básicas para a sobrevivência, vivendo sobretudo a beira da miséria e da pobreza extrema. O

autor também fomenta o discurso que trata do êxodo rural, com o descontínuo povoamento

das zonas rurais e figa para as cidades, onde raramente se encontrava uma vida mais digna,

decorrente da incapacitação técnica da maioria. Todas essas questões que vemos de maneiras

cada vez mais nítidas e acentuadas no mundo, já haviam sido antes diagnosticas por George,

em seus estudos específicos, como é o caso dessa obra.

Sempre trabalhando de maneira descritiva (Clássica) George traz em seguida dados

demográficos, que tratam das questões de crescimento natural. Ele faz uma analise de

perspectivas em relação a alguns países que se destacam tanto de maneira positiva, quanto de

maneira negativa.

Também foi analisada por George aqui a questão das migrações, em seus diferentes

tipos, com destaque para as Econômicas Temporárias, explicadas pelo autor com sendo as

mais comuns, devido a necessidade de melhoria de vida e busca por melhores condições

econômicas e sociais e também as Grandes Migrações Definitivas, apontadas pelo autor com

grande interesse, e atreladas também a diferentes questões históricas, que foram as grandes

motivadoras dessa modalidade migratória.

Concluindo sua obra, George faz questão de citar que esse constante desequilíbrio,

pode em algum momento causar traumas ao planeta, seja pela incessante busca de recursos

minerais, seja pelo excessivo consumo desses que já possuímos. Destarte, encerra colocando

Page 38: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG€¦ · E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DE PIERRE GEORGE Alfenas - MG 2013 . ALEXANDRE ELIAS DE MIRANDA TEODORO ... 5.7 Geografia da

38

uma afirmação que poderia encadear uma série de debates no meio acadêmico atualmente, nas

mais diversas áreas:

Não é de excluir também o fato de que a pressão numérica venha a acelerar a mobilização de novas formas de recursos. Mas surge aqui a ameaça de uma

ruptura de equilíbrio entre dinâmica de população e dinâmica de meio

ambiente. Nesse caso, como no outro, há uma dinâmica da população. A Geografia permite abranger a diversidade na superfície do globo. Mas o seu

objetivo e a sua competência terminam aí. (GEORGE, 1965, p. 116.)

5.8 - Os métodos da Geografia (1970): Aqui percebemos a formulação de mais um “manual

para o Geógrafo” formulado por Pierre George, chega a ser intrigante a ambição do autor em

conceber modelos de como se deve trabalhar um Geógrafo. Mais uma vez ao se analisar o

livro percebe-se em cada capítulo a preocupação em formular etapas e diretrizes para o

trabalho, é realmente a elaboração de um método, com o passo a passo desde a inserção

histórica, e aí se inserindo as definições teóricas necessárias, passando por cada etapa – busca

e coleta de documentos, como deve ser feita sua interpretação e assim por diante até chegar às

conclusões.

É importante salientar que poucos geógrafos conseguiram organizar materiais

metodológicos tanto para a Geografia Física quanto para a Humana, de forma abrangente,

aplicável e consistente, mostrando o generalismo e ao mesmo tempo o conhecimento rico

acerca da relação sociedade/natureza.

Já na introdução é argumentado sobre essa interdisciplinaridade que a Geografia

possui. Essa característica de se relacionar com as outras disciplinas justamente pelo fato de

ser uma “ciência dotada de múltiplas vias de acesso” (GEORGE, 1970, p.5). É exatamente

essa peculiaridade conjuntiva e ao mesmo tempo subjetiva que proporciona a unidade da

ciência. Essa característica de síntese é discorrida de forma a evidenciar essa confluência dos

estudos geográficos com os métodos de outras ciências.

Também é destacada a questão do objeto de estudo da Geografia, como o espaço está

em constante transformação o autor usa o termo “espaço contínuo” para caracterizar as

análises geográficas acerca de um objeto sob constante mutação, influenciado não somente

pelas mudanças físicas naturais a qual o espaço fica sujeito, mas também através do

bombardeio antrópico que lhe é direcionado, podendo esse partir de diversas motivações,

desde a econômica até a cultural.

Feita toda a fundamentação teórica para que se possa então caminhar com uma

pesquisa geográfica chega então a fase de se obter documentos, não somente com o objetivo

Page 39: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG€¦ · E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DE PIERRE GEORGE Alfenas - MG 2013 . ALEXANDRE ELIAS DE MIRANDA TEODORO ... 5.7 Geografia da

39

de solidificar a pesquisa, mas também para que se comprovem todos os apontamentos que se

busca na elaboração de uma pesquisa em Geografia. Assim como a ciência geográfica, os

documentos e fontes podem advir de uma gama extremamente heterogenia, pois a Geografia

permite que as mais variadas formas de interação entre homem e espaço sejam analisadas. O

caráter desses documentos, obviamente irá variar de acordo com o cunho da pesquisa que está

sendo desenvolvida, e o autor relata no livro com exímia perspicácia grande parte dos

exemplos que até a época eram conhecidos.

A partir da caracterização das fontes e dos documentos, Pierre George propõe de que

maneira estes devem ser obtidos e posteriormente como se deve proceder em relação a sua

análise, a partir de uma interpretação geográfica desse material.

Na segunda parte do livro vemos mais uma evidenciação clássica que continuou

presente na obra do autor mesmo após o “surgimento” da Geografia Ativa, a forma sob a qual

o autor subdivide os campos da Geografia para caracterizar como deve ser feita e quais os

problemas característicos da pesquisa geográfica em diferentes áreas. Essa subdivisão é mais

uma raiz lablacheana que se mostra presente em George mesmo após o movimento de

renovação da Geografia. Em seguida, ainda dentro dessa problemática que o autor coloca

dentro da pesquisa geográfica ele trás algumas considerações acerca da geografia regional e

de que maneira essa foi evoluindo, dificultando inclusive a elaboração de trabalhos na área.

Segundo George muitos autores não foram capazes de distinguir essa evolução, o que

culminava em trabalhos taxados como grandes monografias descritivas, que pecavam ao não

“emprestar nenhuma ênfase aos mecanismos das relações existentes entre os diversos fatores”

(GEORGE, 1970, p. 102) que eles possuíam.

Finalizando a análise dessa obra um fato que merece destaque é sua conclusão. Por

tratar da questão da aplicação de métodos na Geografia, esse livro seria uma excelente

oportunidade para que Pierre George colocasse em evidência suas afirmações a respeito da

Geografia Ativa, e ele não a deixa de lado. O autor destaca a grande diferença existente

segundo ele entre a geografia aplicada e a sua geografia ativa. Ele começa falando da já

espera crise pela qual a ciência passou, incentivada pela condição de instabilidade na qual o

mundo se encontrava. A partir daí ele reafirma o papel do geógrafo, que com seu “olhar

crítico” deve não somente analisar e descrever as situações, mas participar de forma ativa,

crítica, através de apontamentos seguidos de ações.

O Geógrafo pretende ser útil. Sente dentro de si arder uma vocação

filantrópica e ao mesmo tempo um anseio de participar do poder. Um sentimento justifica o outro. Mas a geografia só pode ser útil quando não é

“aplicada”. Aplicada, passa a integrar-se numa política. Perde suas

Page 40: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG€¦ · E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DE PIERRE GEORGE Alfenas - MG 2013 . ALEXANDRE ELIAS DE MIRANDA TEODORO ... 5.7 Geografia da

40

possibilidades de crítica, permanece a quo da decisão. Quando ativa, o

quadro muda de figura: estabelece o balanço tanto dos desastres como dos

êxitos e das potencialidades; mantém-se distante das posições doutrinais e fornece elementos para que se possam aquilatar as doutrinas em ação.

(GEORGE, 1970, p. 115,116)

5.9 - Geografia dos Estados Unidos (1971): Este foi um livro que Pierre dedicou a

interpretação de um país, logo a escala nacional foi empregada pelo autor, embora os EUA

possuam proporções continentais. De forma bem didática Pierre George divide a obra em

duas partes, sendo a primeira dedicada às análises morfométricas e suas potencialidades

agrícolas e minerais, enquanto na segunda inseriu-se a dinâmica do território, aliada a todos

os aspectos de formação da população e suas organizações sociais e econômicas no espaço

nacional (figura 7).

Figura 7 – Mapa da análise nacional da indústria dos Estados Unidos. Fonte: George (1990, p.80-81)

A conciliação das potencialidades corroboradas pelo autor no território dos EUA com

as práticas que foram aplicadas durante sua evolução desde o período colonial até a

elaboração do livro permitiu que se chegasse a conclusões que extrapolam inclusive o âmbito

geográfico, dando uma noção bem complexa de como foram utilizados os recursos naturais

para que alcançassem a hegemonia mundial econômica e política. Dentro desse ponto de vista

Pierre George argumenta sobre sucessivos “choques” pelos quais passou a economia

americana.

O primeiro é o do carvão e o do aço, trazendo como corolário a grande

aventura da penetração do continente através das ferrovias e da aceleração da

Page 41: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG€¦ · E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DE PIERRE GEORGE Alfenas - MG 2013 . ALEXANDRE ELIAS DE MIRANDA TEODORO ... 5.7 Geografia da

41

imigração pela navegação a vapor. Ele concentra a primeira grande aventura

industrial e a mobilização dos espaços agrícolas integrados ao mercado pelos

meios de transporte. O segundo choque é o do petróleo, com a conseqüente proliferação do automóvel e a criação da rede de transportes aéreos. O

terceiro é atual, o da informática e da aventura espacial. Cada um teve como

efeito privilegiar uma parte mais ou menos extensa e homogênea do

território. (GEORGE, 1990, p. 110)

Ainda que menos intensa em relação às obras clássicas do autor, nota-se que o

desprendimento total de algumas características não se efetivou, a descrição do território com

destaque para os aspectos físicos ainda permanece. O organicismo é colocado em questão

principalmente na segunda parte do livro, quando são tratadas de maneira mais concisas as

interações do homem no espaço, ratificando o possibilismo de Paul Vidal de La Blache. Nota-

se inclusive que já existe certo desprendimento com aquele tipo de estudo tipicamente

contemplativo, e uma inserção mais enérgica e ativa a respeito das retóricas sociais, sobretudo

por tratar de um país onde segundo o autor “Em cada cinco americanos, quatro vivem numa

cidade” (GEORGE, 1990, p. 90) e as relações sociais se dão quase todas elas no meio urbano,

embora jamais tenham sido deixados de lado os aspectos do rural, tendo como base sua

indissociável relação com o urbano, afirmando inclusive a brutal subordinação do campo em

relação a economia industrial.

5.10 - O Homem na Terra (1989): Nessa obra, Pierre George já detinha notória autoridade ao

tratar os assuntos sobre as ações do homem em detrimento das realidades econômicas pelas

quais passava o mundo. A intensificação da globalização e os grandes avanços tecnológicos

fizeram com que não existissem mais “descobertas” de novos lugares que coubesse a ciência

geográfica e sim entender melhor como o homem tem vivido, ao comentar sobre a sempre

presente dualidade da Geografia Pierre George explica:

É por isso que, ao contrário das tradições escolares e universitárias, uma vez

mais, não se dará a prioridade no estudo da geografia à chamada geografia

física, mas à localização da vida, da população, bem como à sua dinâmica relacional e conflitual com o meio ambiente. Só há geografia porque há

homens na Terra. A geografia só interessa na medida em que ajuda a

compreender como os homens nela vivem nela podem sobreviver apesar da sua curta dimensão e seus conflitos. (GEORGE, 1989, p.14)

O autor começa tratando então das relações de densidades demográficas de cada

região do globo, de modo a descrever (método corográfico) e comparar (método comparativo)

as potencialidades e trajetórias demográficas. Expõe através de mapas as cidades mais

populosas da época e faz também uma comparação sobre suas respectivas taxas de

Page 42: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG€¦ · E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DE PIERRE GEORGE Alfenas - MG 2013 . ALEXANDRE ELIAS DE MIRANDA TEODORO ... 5.7 Geografia da

42

crescimento populacional num determinado espaço de tempo. Apesar de o livro tratar das

questões geográficas em escala global, o autor subdivide suas análises em outras escalas, bem

como continental e nacional. Ao descrever as relações físicas Pierre sempre atrela quais as

suas implicâncias ao homem, característica que se confirma em todas as obras do autor, mais

especificamente nas posteriores à Geografia Ativa, fato que é extremamente claro nesse livro.

Em seguida Pierre começa a discorrer sobre o desenvolvimento da sociedade,

sobretudo, um desenvolvimento desigual, como coloca o autor. O autor parte de um

levantamento histórico, explicando como se deu esse desenvolvimento, cita as redistribuições

geográficas e, por conseguinte dos espaços regionais. O capítulo seguinte é dedicado às

formas do habitat (conceito muito utilizado por Pierre e os discípulos de La Blache), onde são

tratadas as questões do habitat rural e a chamada “aventura urbana”. Também é dedicado

nesse capítulo relatos a respeito das migrações, da mobilidade funcional, dos transportes e das

comunicações.

A já crescente preocupação com o meio ambiente fez também com que um capítulo

fosse dedicado a essa temática, uma vez que as poluições e a já conhecida fragilidade dos

equilíbrios biológicos do planeta já eram de interesse dos estudos relacionados à ciência

geográfica.

Por fim, ao concluir sua obra de maneira extremamente completa, o autor argumenta a

respeito da cartografia, da comunicação e da evolução constante pela qual necessita passar a

ciência geográfica. Encerra então reafirmando a necessidade de refletir, sobretudo acima das

questões ressalvadas por ele no livro, e desse modo fazer e dar sentido à Geografia.

Page 43: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG€¦ · E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DE PIERRE GEORGE Alfenas - MG 2013 . ALEXANDRE ELIAS DE MIRANDA TEODORO ... 5.7 Geografia da

43

6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

A título de conclusão, após analisar minuciosamente cada uma das obras de Pierre

George que foram selecionadas, além de complementar a fundamentação teórica com base em

outros autores que não só comentaram a respeito de Pierre George, bem como trataram

também especificamente da História do Pensamento Geográfico foi possível formular

algumas considerações a respeito da trajetória do autor e de sua real contribuição para a

ciência geográfica.

Uma das questões levantadas a priori durante a elaboração dessa pesquisa foi a real

concretização da Geografia Ativa como sendo de fato uma escola da Geografia. Nota-se, e

será discorrido mais especificamente sobre isso nos próximos parágrafos que há sim grande

peculiaridade nos colóquios relativos à Geografia Ativa, inclusive, comprovou-se também

grande mudança em relação à Geografia Clássica. Entretanto, devido à ausência de

formulação de leis próprias e de ter dado inclusive, continuidade como sendo uma vertente

ímpar dentro dos trilhos do conhecimento geográfico fez com que a análise das obras

permitisse a conclusão de que se trata na realidade de uma extensão do pensamento

geográfico clássico com pioneira inserção de conceitos críticos não marxistas. Seria então, um

fruto do movimento de renovação, um dos primeiros movimentos a inserir o pensamento

crítico dentro da Geografia, de modo sempre a salientar a necessidade de essa se posicionar de

forma Ativa, atuando, sobretudo no social e nas grandes maiorias urbanas, mas que devido à

formação clássica de seus autores, principalmente Pierre George, que beberam da fonte

lablacheana durante boa parte de suas formações e carreiras acadêmicas possui ainda

características clássicas.

A grande inovação da Geografia Ativa foi realmente essa introdução crítica sem que

se esvaísse a base clássica, porém outra conclusão que foi tirada após a leitura das obras,

sobretudo proporcionada pela sequência como foram analisadas, foi à ênfase que o autor deu

para as relações urbanas, principalmente nos países mais industrializados, de forma ainda

mais evidente quando analisadas as obras anteriores à Geografia Ativa e em seguida as

posteriores. Isso é explicado também pelo fato dos caminhos pelos quais trilhou a

humanidade, serem totalmente aguçados para a urbanização de grandes centros. A

perpetuação do sistema capitalista foi outro fator vital para que a Geografia cada vez mais se

colocasse à mercê da compreensão das relações humanas, onde essas eram mais intensas,

logo, nos grandes centros urbanos. Ainda sim, com a globalização e grande difusão de

Page 44: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG€¦ · E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DE PIERRE GEORGE Alfenas - MG 2013 . ALEXANDRE ELIAS DE MIRANDA TEODORO ... 5.7 Geografia da

44

informações em escala global, devido aos avanços tecnológicos a descrição puramente dita

estava completamente obsoleta, e era necessário engendrar aí os novos movimentos sociais

que surgiram em detrimento do novo sistema econômico em vigência.

Embora não tenha sido levada a diante a escola da Geografia Ativa, o conhecimento

deixado por Pierre George é sem dúvida uma das maiores contribuições que a Geografia já

recebeu. A maneira como foi se formando, evoluindo seus conceitos juntamente com a ordem

natural pela qual o mundo também foi se transformando, possibilitou que suas afirmações não

ficassem aquém. Pierre percorreu desde a Geografia Clássica, participando do movimento de

renovação e publicando posteriormente também pela Geografia Crítica, experiência

importante, e que muito agregou em seus trabalhos. Ainda hoje, muitos autores que possuem

destaque dentro dos domínios acadêmicos utilizam de suas teorias, buscam informações em

suas obras e passam adiante parte do conhecimento deixado por ele, sem dúvidas um dos

maiores expoentes da geografia francesa da segunda metade do século XX. Isso afirma mais

uma vez sua importância nos desdobramentos da História do Pensamento Geográfico, para a

evolução do funcionalismo social do geógrafo e seu subsídio para o melhor entendimento do

espaço que nós ocupamos, das relações que temos com ele e também de nossas inter-relações.

Pierre George deixou em suas obras verdadeiros modelos de interpretação do espaço e

das relações que nele se dão, comprovou e funcionalizou em A Geografia Ativa o papel do

geógrafo, quebrou o paradigma de que a geografia é apenas mais uma disciplina das salas de

aulas, e o geógrafo um professor, mostrou a existência de um caráter e uma funcionalidade

social para o geógrafo, tratou com autoridade as questões dos métodos da geografia – tratando

com autoridade nas mais diversas áreas do conhecimento geográfico-, das teorias, e empregou

isso publicando sobre as diversas temáticas da Geografia, uma obra extremamente rica e de

singular valia.

Durante todo o período em que produziu, Pierre sempre demonstrou preocupação em

aliar a decorrente evolução tecnológica e a metropolização da população global com a

natureza, desde sua primeira obra aqui analisada –Geografia Agrícola do Mundo- até a última

–O homem na terra- o que se viu foi que o autor jamais deixou de tratar sobre o espaço físico

e as determinações que ele ainda é capaz de impor ao espaço.

Em momentos de grandes avanços tecnológicos, onde muitas vezes a informação

consegue acompanhar até mesmo a velocidade do pensamento, é importante que se saiba

observar o espaço de maneira a compreender que ele não surgiu tal como o é, que em outros

tempos ele se figurava de modo mais pueril, porém, ele só o é da forma que está hoje, pois no

passado atentaram para a importância de sua descrição, de suas funcionalidades e da

Page 45: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG€¦ · E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DE PIERRE GEORGE Alfenas - MG 2013 . ALEXANDRE ELIAS DE MIRANDA TEODORO ... 5.7 Geografia da

45

necessidade de relacioná-lo com os outros espaços ao seu redor e também com aqueles muito

distantes dele. E essa função foi cumprida por aqueles que pioneiramente levantaram as

bandeiras do conhecimento geográfico, os Geógrafos Clássicos, dentre esses há de se

resguardar cadeira cativa para Pierre George, que dedicou sessenta anos de sua vida para a

construção desse conhecimento.

Page 46: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG€¦ · E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DE PIERRE GEORGE Alfenas - MG 2013 . ALEXANDRE ELIAS DE MIRANDA TEODORO ... 5.7 Geografia da

46

7- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, F. D. Trajetória teórico-metodológica da geografia agrária brasileira: A

produção em periódicos científicos de 1939 – 2009. Tese de Doutorado (Geografia –

Organização do Espaço). Rio Claro: Universidade Estadual Paulista, 2010.

ANDRADE, M.C. de. Geografia, ciência da sociedade: uma introdução à análise do

pensamento geográfico. São Paulo: Atlas, 1987.

CLAVAL, P. História da Geografia. Lisboa: Edições 70, 2006.

CLAVAL, P. Epistemologia da Geografia. Tradução: Margareth de Castro Afeche Pimenta,

Joanna Afeche Pimenta. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2011.

GEORGE, P. Panorama do Mundo Atual. 3 ed. São Paulo: Difusão Europeia do Livro,

1970.

GEORGE, P. Geografia Industrial do Mundo. São Paulo: Difusão Editorial S.A., 1975.

GEORGE, P. Os métodos da Geografia. Rio de Janeiro: Difusão Editorial S.A., 1978.

GEORGE, P. Geografia Rural. São Paulo: Difusão Editorial S.A., 1982.

GEORGE, P. Geografia da População. 7 ed. São Paulo: Difusão Editorial S.A., 1986.

GEORGE, P. Geografia Econômica. 5 ed. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 1988.

GEORGE, P. O Homem na Terra. Rio de Janeiro: Edições 70, 1989.

GEORGE, P. Geografia dos EUA. Campinas: Editora Papirus, 1990.

GEORGE, P. Geografia Agrícola do mundo. 6 ed. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil,

1991.

GEORGE, P.; GUGLIELMO, R.; KAYSER, B.; LACOSTE, Y. A geografia ativa. 2 ed. São

Paulo: Difusão Européia do Livro, 1968.

GOMES, H. Reflexões sobre teoría e crítica em geografía. 2 ed. Rev. e ampl. Goiania:

Editora da UCG, 2007.

KANT, E. “Physische Geographie”, apud Unwin, T. El lugar de la Geografia. Madrid,

Cátedra, 1995.

LENCIONI, S. Região e Geografia. São Paulo: Edusp, 1999.

MORAES, A.C.R. Geografia: pequena história crítica. 20 ed. São Paulo: Annablume,

2005.

MOREIRA, R. Para onde vai o pensamento geográfico? Por uma epistemologia crítica.

Contexto: São Paulo, 2006.

Page 47: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG€¦ · E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DE PIERRE GEORGE Alfenas - MG 2013 . ALEXANDRE ELIAS DE MIRANDA TEODORO ... 5.7 Geografia da

47

MOREIRA, R. O pensamento geográfico brasileiro; as matrizes clássicas originárias.

Contexto: São Paulo, 2008.