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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS UNIDADE DE ENSINO-PENEDO BACHARELADO EM TURISMO Fábio Zacarias Santos Diagnóstico do Patrimônio Cultural e seu potencial para o Turismo na Comunidade Ribeirinha Barro Vermelho em Penedo-AL PENEDO 2019

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

UNIDADE DE ENSINO-PENEDO

BACHARELADO EM TURISMO

Fábio Zacarias Santos

Diagnóstico do Patrimônio Cultural e seu potencial para o Turismo na Comunidade

Ribeirinha Barro Vermelho em Penedo-AL

PENEDO

2019

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FÁBIO ZACARIAS SANTOS

Diagnóstico do Patrimônio Cultural e seu potencial para o Turismo na Comunidade

Ribeirinha Barro Vermelho em Penedo-AL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de

Turismo da Universidade Federal de Alagoas, na modalidade

Monografia, como requisito parcial para obtenção do grau de

bacharel em Turismo.

Orientadora: Professora Doutora Fabiana de Oliveira Lima

PENEDO

2019

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Agradecimentos

Agradeço primeiramente a Deus por permitir e ter dado sabedoria e

perseverança para superar todos os obstáculos que surgiram durante esse trajeto.

Aos meus familiares por toda ajuda oferecida ao longo dessa jornada, sempre

que eu precisei eles estiveram presentes oferecendo o que podiam para ajudar-

me na conclusão desse curso.

E em especial agradeço a Maria de Fátima Vieira Santos, por toda força e

orientação nesses quatro anos que estou na Universidade Federal de Alagoas,

que por muitas vezes teve grande paciência em tirar minhas dúvidas em

trabalhos acadêmicos.

E por fim, mas, não menos importantes agradeço a todos os professores que

passaram na minha vida e especialmente a professora doutora Fabiana Oliveira

de Lima que me acompanhou desde início da minha trajetória na UFAL e não se

indispôs em nenhum momento ao me orientar, da mesma forma agradeço a

todos os participantes desta pesquisa e a toda comunidade do Barro Vermelho.

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RESUMO

O presente trabalho se propõe a realizar um Diagnóstico do Patrimônio Cultural e seu

potencial para o Turismo na Comunidade Ribeirinha Barro Vermelho em Penedo-AL.

Focando, desde suas primeiras manifestações até os dias atuais, tivemos como

principais personagens os grupos culturais, artista e artesãos da referida comunidade.

Assim, o presente estudo objetivou caracterizar o patrimônio cultural na comunidade, e

sua importância para o desenvolvimento do turismo cultural na cidade de Penedo-AL.

Para esse fim, utilizou-se uma metodologia de pesquisa exploratória, que permite a

aproximação entre o pesquisador e o fenômeno a ser estudado, na tentativa de capitar

informações relevantes sobre o objeto de estudo. A partir das pesquisas realizadas,

percebeu-se que a comunidade do “Barro Vermelho”, tem um amplo Patrimônio

Cultural material e imaterial, sendo todos populares e de matriz afro-brasileira. Apesar

da falta de apoio do Poder Público aos grupos culturais, artistas e artesãos, a própria

população junto com os lideres culturais vem mantendo suas manifestações vivas,

vimos também que apenas um grupo cultural não tem nenhum contato com o turismo,

porém todos os grupos, artistas e artesões gostariam que o Turismo Cultural fosse

implantado na comunidade.

Palavras-chaves: Patrimônio Cultural, Diagnóstico e Barro Vermelho.

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RESUMEN

El presente trabajo viene a realizar un Diagnóstico del Patrimonio Cultural y su

potencial para el Turismo en la Comunidad Ribeirinha Barro Vermelho en Penedo-AL,

enfocando, desde sus primeras manifestaciones hasta los días actuales, tuvimos como

principales personajes a los grupos culturales, artistas y artesanos comunitaria. Así, el

presente estudio objetivó caracterizar el patrimonio cultural en la comunidad, y su

importancia para el desarrollo del turismo cultural en la ciudad de Penedo-AL. Para ello

se utilizó una metodología de investigación exploratoria, que permite la aproximación

entre el investigador y el fenómeno a ser estudiado, en el intento de capitar

informaciones precisas y de gran relevancia sobre el objeto de estudio. A partir de las

investigaciones realizadas, se percibió que la comunidad del "Barro Vermelho", tiene un

amplio Patrimonio Cultural material e inmaterial, siendo todos populares y de matriz

afro-brasileña. A pesar de la falta de apoyo del Poder Público a los grupos culturales,

artista y artesanos, la propia población junto con los líderes culturales viene

manteniendo sus manifestaciones vivas, vimos también que sólo un grupo cultural no

tiene ningún contacto con el turismo, pero todos los grupos, ¡artista y artesanos quisiera

que el Turismo Cultural fuera implantado en la comunidade.

Palabras claves: Patrimonio Cultural, Diagnóstico y Barro Rojo.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1. Mapa de Alagoas 21

Figura 2. Mapa da Localização do Forte Mauricio de Nassau. 22

Figura 3. Vista do Forte Mauricio de Nassau. 23

Figura 4. Foto do Fluxo Turístico nas Piscinas. 26

Figura 5. Foto dos Três Peixes em Risco. 27

Figura 7. Foto do Ponto Especifico da Última Curva do Rio São Francisco Antes de

Seguir para o Oceano. 39

Figura 8 - Foto dos negros Malês em Penedo-AL, em 1887. 40

Figura 9 – Ramificação de Rochedos do Barro Vermelho . 43

Figura 10. Porto do Luizinho Bocada 44

Figura 11. Local da Festa. 54

Figura 12. Apresentação na Festa de Santo Antônio. 56

Figura 13. Sede da Batucada. 57

Figura 14. Distribuição do Sopão. 58

Figura 15. Primeiro Carro Alegórico do Bloco da Alegria. 60

Figura 16. Sede do Bloco da Alegria. 60

Figura 16. Prédio da Colônia Z12. 61

Figura 18- Início da Cavalgada 2018. 63

Figura 19 - Cortejo 63

Figura 20 - Boneca Raquel na Lavagem das Escadarias do Rosário 65

Figura 21 - Canoa Rumiada de Poupa e Proa. 67

Figura 22- Canoa Fundo de Calçola 68

Figura 23 - Canoa Fio Dental. 68

Figura 24 - Confecção de Bonecos Gigantes. 69

Figura 25 - Maior Boneco do Brasil. "O Galante". 70

Figura 26- Produto Semiacabado e Matéria Prima Bruta. 72

Figura 27 - Artesão e suas Obras mais recentes 72

Figura 28 - Registro Fotográfico em 1958. 80

Figura 29- Carroça Ornamentada. 84

Figura 30. Mapa do Patrimônio Cultural do Barro Vermelho. 91

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SUMÁRIO

1. Erro! Indicador não definido.

2. 13

2.2 Turismo Cultural 19

3. 19

3.1 Influências do Turismo Na Localidade Receptora 24

3.2 Turismo Cultural e Étnico. 28

4. 29

4.1 Como se Formavam os Quilombos 33

4.2 Quilombos e Estudos Pós-Coloniais 34

4.3 Caracterização dos Quilombos de Penedo-AL 37

5. 40

5.1 Modelos e Escolha Para Pesquisa 44

6. 46

6.1 Caracterização da Pesquisa 50

6.2 Ferramentas escolhidas e suas formas de aplicação 51

6.4 Folia na 15 53

6.5 Milionários do Samba 55

6.6 Mandingueiros de Penedo-AL 57

6.7 Bloco da Alegria 59

6.8 Associação dos Pescadores 61

6.9 Cavalgada de Santo Antônio 62

6.A.1 Bloco da Boneca Raquel 64

6.A.2 Artistas e Artesãos 66

6.A.3 Tadeu dos Bonecos 69

6.A.4 Arte em Pedra 71

6.A.5 Poder Público 73

7 75

7.1 Escolas de Samba do Bairro 78

7.2 Capoeira no “Barro Vermelho” 80

7.3 Associação dos Moradores e Pescadores 81

7.4 Cavalgada de Santo Antônio 82

7.5 Artistas e Artesãos em Atividade no Bairro 83

7.6 Secretarias de Cultura e Turismo 85

7.7 Analisando o Patrimônio Cultural no Bairro 86

8 89

8.4 Mapa Cultural 91

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9 92

REFERÊNCIAS 95

APÊNDICE 99

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10

INTRODUÇÃO

O turismo é uma atividade que sempre promove o encontro de diferentes culturas,

até mesmo, quando ocorre de maneira massificada. Existem vários conceitos que

definem a atividade turística em diferentes disciplinas, tais como, economia, geografia,

sociologia, direito, antropologia, ecologia, entre outros. Tais conhecimentos são

imprescindíveis para uma melhor atuação do turismo. Pois, seus resultados podem ser

negativos ou positivos e por muitas vezes esses resultados são irreversíveis.

Principalmente, no âmbito do Turismo Cultural, como nos explica Barreto:

Los atractivos culturales incluyen manifestaciones de la cultura material

(edificios, monumentos, artes plásticas y visuales) y de la cultura simbólica,

como danzas tradicionales, culinaria y otras rotuladas de típicas o

folklóricas. Una forma particular del turismo cultural es el turismo étnico,

donde el atractivo principal es la forma de vida de determinados grupos

humanos, diferenciados por raza, religión, región de procedencia y otras

características comunes (BARRETO, 2005, p.02)1.

Em especial, aqui no Brasil, país onde aconteceu uma grande miscigenação entre

vários povos, a riqueza cultural mostra-se vasta. Assim, o Turismo Cultural no Brasil,

tem um grande leque de opções em atrativos culturais que vai do Patrimônio Imaterial

ao Material. Porém, como já foi comentado acima, as consequências podem ser

desastrosas para a localidade se este segmento for implementado sem os parâmetros de

preservação de uma visão sustentável do turismo.

Como nos mostra a autora supracitada, uma particularidade do Turismo Cultural

é o Turismo Étnico onde o turista busca apreciar e se possível vivenciar a maneira de

viver de outros povos. Assim, adentrar no convívio social das comunidades receptoras

exige grande responsabilidade, pois esse encontro de culturas requer grande atenção e

planejamento.

En muchos pueblos transplantados la identidad se forja a partir del estado y

de las instituciones oficiales, por la fuerza o por la coacción. No obstante la

internalización de una identidad así formada solo puede ser posible si no es

forjada contra la historia y la memoria. Puede haber, también, hechos

históricos que hagan con que las personas quieran destruir los vestigios del

pasado porque les recuerdan algo que quieren olvidar. En estos casos las

políticas públicas pueden estar orientadas a elaborar proyectos educativos

1 Tradução aproximada: Os atrativos culturais incluem manifestações da cultura material (Edifícios,

monumentos, artes plásticas e visuais) e da cultura simbólica, como danças tradicionais, culinária e outras

consideradas típicas ou folclóricas. Uma das formas do turismo cultural é o turismo étnico, onde o

atrativo principal é o modo de vida de certos grupos humanos, diferenciados por raça, religião, região de

origem e outras características comuns.

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con la sociedad, que ayuden a superar los traumas del passado (BARRETO,

2005, p.13)2.

Neste Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), nosso objeto de estudo é o bairro

Santo Antônio, mais conhecido popularmente como “Barro Vermelho”, trata-se de um

local de grande importância, não só para a cidade de Penedo-AL, como para o estado de

Alagoas, assim, entendemos que essa pesquisa poderá apoiar futuros estudos,

caracterizando os grupos e suas respectivas manifestações culturais, o interesse da

população e de seus grupos culturais em trabalharem de forma participativa, com o

Turismo Cultural. Pois, se esse segmento for primeiramente aceito pelos grupos e sua

população e for planejado e desenvolvido de forma sustentável, com toda

responsabilidade que merece esse tipo de atividade, poderá ser de grande importância

não só para a economia local, mas, também para a preservação do patrimônio cultural e

para que auxilie os grupos culturais através da valorização de seu produto cultural.

Dessa forma, despertará o interesse das crianças e jovens ao aprendizado de sua própria

cultura e consequentemente na perpetuação da manifestação cultural na própria

localidade através da transmissão cultural, diminuindo assim o perigo de extinção de

manifestações culturais de extrema importância para as comunidades.

Logo, a questão-problema do presente trabalho se dá na seguinte questão: qual o

potencial e a importância do Patrimônio Cultural material e imaterial na Comunidade

mais antiga de Penedo-AL, para o desenvolvimento do Turismo Cultural da Cidade?

Sendo assim, o objetivo geral deste estudo é: Caracterizar o Patrimônio Cultural

na comunidade do “Barro Vermelho”, e sua importância para o desenvolvimento do

Turismo Cultural na cidade de Penedo-AL. E especificamente: a) identificar as

referências culturais na comunidade; b) verificar se as manifestações culturais são

apresentadas em eventos na cidade; c) verificar se há políticas públicas? voltadas

especialmente para a comunidade e suas respectivas manifestações culturais.

Para tanto, foi desenvolvido a pesquisa exploratória, por permitir a aproximação

entre o pesquisador e o fenômeno a ser estudado, na tentativa de informações precisas e

de grande relevância sobre o objeto de estudo: “As pesquisas exploratórias têm como

principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em

2 Tradução aproximada: Em muitos povos transplantados, a identidade é forjada a partir do estado e das

instituições oficiais, pela força ou coerção. No entanto, a internalização de uma identidade assim formada

só pode ser possível se não for forjada contra a história e a memória. Também pode haver fatos históricos

que façam as pessoas quererem destruir os vestígios do passado, porque elas os lembram de algo que eles

querem esquecer. Nesses casos, as políticas públicas podem visar o desenvolvimento de projetos

educacionais com a sociedade, que ajudem a superar os traumas do passado.

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vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos

posteriores”. (GIL, 2008, p.27)

Da mesma forma que Lakatos (2007) nos explica:

São investigações de pesquisa empírica cujo objetivo é a formulação de

questões ou um problema, com tripla finalidade: desenvolver hipóteses,

aumentar a familiaridade do pesquisador com o ambiente, fato ou fenômeno,

para a realização de uma pesquisa futura mais precisa ou modificar e

clarificar conceitos. (LAKATOS, 2007, p.190).

No sentido de alcançar o objetivo proposto, fizemos uma aproximação estrutural

participativa, que de acordo com Araújo (2006, p.155), “Na literatura sobre o turismo,

participação tem sido definida de várias maneiras, mas, geralmente, mantém-se como

foco de referência a comunidade”. Essa pesquisa tem como sujeitos os grupos culturais

populares do Barro Vermelho. Sendo assim, os dois motivos principais para a escolha

do Barro Vermelho como campo de estudo foram: O anseio do pesquisador em

contribuir para o registro e preservação do Patrimônio Cultural do bairro onde cresceu;

e pela sua importância histórico-cultural para a cidade.

O presente trabalho está segmentado em nove capítulos que se completam,

divididos na seguinte configuração: No primeiro capítulo, tratamos de Patrimônio

Cultural material e imaterial, para que haja uma melhor compreensão do tema deste

trabalho. No segundo capítulo, discorremos sobre Penedo-AL e suas manifestações

culturais e uma breve caracterização da cidade, para visualizarmos melhor as

manifestações populares da área de estudo. No terceiro capítulo, apresentamos o

Patrimônio Seus Usos e Impactos no Turismo, para alcançar alguns dos conceitos

relativos aos temas supracitados e com o intuito de ampliar a compreensão da temática e

observar as interações entre as partes envolvidas. No quarto capítulo, falamos a respeito

dos Quilombos no Brasil, sua história, formação, conceitos e suas atuais regras para

registro das comunidades. No quinto, exploramos conceitos e características de

diagnósticos turísticos e sobre a escolha do modelo a ser aplicado ao trabalho. No sexto

capítulo, apresentamos a metodologia do trabalho, a caracterização da pesquisa,

ferramentas de aplicação escolhidas e os resultados alcançados. No sétimo capítulo,

temos nossos resultados e discussões.

No sétimo capítulo, trouxemos nossa principal contribuição para o trabalho, que

é a caracterização dos grupos culturais e suas respectivas manifestações, da mesma

forma acontece com os artistas e artesãos. Identificamos as reais condições de todos os

atores envolvidos nesta pesquisa. Também verificamos a possibilidade desses atores

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trabalharem de forma direta com o Turismo Cultural, que teve sua aceitação de 100%

cento entre todos os envolvidos, verificamos a real relação do Poder Público com os

grupos, artistas e artesãos. No oitavo capítulo construímos e inserimos um mapa com a

real localização dos grupos culturais artistas e artesãos. Por fim, no capítulo nove

apresentamos nossas considerações finais.

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2. TESOUROS DA HUMANIDADE: O PATRIMÔNIO CULTURAL

Neste capítulo, discorremos sobre Penedo-AL e suas manifestações culturais e

uma breve caracterização da cidade, para melhor observarmos as manifestações

populares, já que nosso trabalho caminhará por esse trajeto. Segundo Raymond Willians

(1976 apud PERÉZ, 2009) Cultura, pode ser entendido a partir de três perspectivas, são

elas a antropológica, sociológica e estética.

A visão antropológica de cultura entende-a como toda produção e modo de vida

humana. Deste modo, todas as formas culturais presentes nos grupos humanos são

válidas e não há cultura melhor ou pior que outra. Assim, a antropologia defende a

importância equivalente de todas as culturas. Dentro desta perspectiva, há a tendência

de diminuir o etnocentrismo e o elitismo existente, assim como, postula as

particularidades e o respeito pela diversidade cultural.

A visão sociológica a compreende como um campo de ação, ou seja, cultura é

campo de conhecimento dos grupos humanos. Fala-se de cultura a partir da produção e

consumo de atividades culturais. Já a visão estética, descreve cultura como as atividades

intelectuais e artísticas, por exemplo, a música, a literatura, o teatro, o cinema, a pintura,

a escultura e a arquitetura.

Neste trabalho, a concepção antropológica de cultura é a utilizada por entender

que esta visão atende aos modos de vida de grupos culturais de forma abrangente.

Cultura é um processo resultante da participação e da criação coletiva, que se

modificam de acordo com as necessidades econômicas e históricas. As culturas não são

estáticas, mas apesar de se modificarem guardam muito de suas origens, e isso é

importante por sustentar as identidades e características de um povo e/ou grupo.

Logo, conforme descreve-nos Kuper (2001, apud PÉREZ, 2009, p. 105) “O

conceito antropológico de cultura tenta diminuir o etnocentrismo e o elitismo afirmando

o universalismo da cultura humana e o particularismo das culturas, aí que o respeito

pelas diferenças culturais deve ser a base para uma sociedade justa”. Bem como, o

conceito de cultura ou civilização de Edward Burnett Tylor, que é apontado, não só por

ter contribuído significativamente para o campo da antropologia, mas, também por ter

sido ele quem primeiro reuniu e sistematizou os elementos do conceito. De acordo com

Tylor,

Cultura ou Civilização, tomada em seu mais amplo sentido etnográfico, é

aquele todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei,

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costume e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem na

condição de membro da sociedade. (TYLOR, 1871, CASTRO 2005, p. 31).

É neste sentido vasto, de cultura, que este trabalho irá adentrar na comunidade

do “Barro Vermelho”, pois como o autor define anteriormente, a cultura de um povo diz

respeito a seu próprio modo de vida, sem descartar nenhum costume, seja ele herdado

ou obtido em sua trajetória de vida dentro de uma coletividade. Principalmente quando

nos referimos à cultura de povos que foram colonizados, já que o colonizador não

acolhia outra forma de civilização que não fosse a sua própria. Também comungando

com os autores já supracitados, Edgar Morin declara,

A cultura, que é característica da sociedade humana, é

organizada/organizadora via o veículo cognitivo que é a linguagem, a partir

do capital cognitivo coletivo dos conhecimentos adquiridos, das aptidões

aprendidas, das experiências vividas, da memória histórica, das crenças

míticas de uma sociedade. (MORIN, 1991, p.232).

Bem por isso,

[...] se a cultura contém em si um saber coletivo acumulado em memória

social, se é portadora dos princípios, modelos, esquemas de conhecimento, se

gera uma visão do mundo, se a linguagem e o mito são partes constitutivas da

cultura, então a cultura não tem somente dimensão cognitiva: é uma máquina

cognitiva cuja práxis é cognitiva. (Idem, p. 18)

Essa última citação traz a importância do que é produzido por uma cultura, pois

expressa sua história, sua formação, sua visão de mundo, sua forma de ocupar os

espaços e construir neles. Tais produções/construções são diversas e posteriormente,

foram distinguidas, como por exemplo, a cultura popular.

Nesse sentido, Ariano Suassuna define cultura popular, de modo que nos ajuda a

melhor compreender o próprio conceito de cultura,

[...] aquela criada pelo quarto estado, pelo Povo mais pobre, composto, em

sua imensa maioria, de analfabetos ou de semi-alfabetizados, mantidos, de

qualquer forma, desde o século XVI, à margem da Cultura oficial. São os

descendentes mais escuros de ibéricos pobres, negros e índios. (SUASSUNA,

1995, p.10)

É com essa visão, que nosso trabalho será desenvolvido, destacando as

manifestações existentes na comunidade do “Barro Vermelho”, afinal estamos nos

referindo a uma comunidade muito antiga e repleta de histórias, pois nas terras de

Penedo-AL passaram e viveram diversos povos de diferentes etnias.

2.1 Patrimônio Cultural como Herança da Humanidade.

Neste trabalho abordaremos o Conceito de Patrimônio Cultural, por entender

que o Patrimônio está diretamente ligado a Cultura, ao modo de viver de diferentes

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povos e suas respectivas manifestações populares. Pois como abordaremos adiante, no

Brasil em especial, mesmo antes dos colonizadores e escravizados chegarem a essas

terras, já havia grande diversidade de povos nativos. Da mesma forma, o termo

Patrimônio Cultural, só era entendido no que se referia a grandes obras e por isso

grande parte das pessoas só remetem a ideia de bens tangíveis deixando de lado o

intangível, referente ao modo de fazer ou construir.

Entretanto, é forçoso reconhecer que essa imagem, constituída pela política

de patrimônio conduzida pelo estado e por mais de sessenta anos, está longe

de refletir diversidade, assim como as tensões e conflitos que caracterizam a

produção cultural do Brasil, sobretudo a atual, mas também a do passado.

(FONSECA, 2003, p. 56)

Porém o conceito de Patrimônio Cultural vem da Europa.

O património cultural é um conceito que nasce em França nos inícios da

década de 1980 (Calvo, 1995) e que redefine os conceitos de folclore, cultura

popular e cultura tradicional. Podemos falar em património cultural como a

representação simbólica das identidades dos grupos humanos, isto é, um

emblema da comunidade que reforça identidades, promove solidariedade,

cria limites sociais, encobre diferenças internas e conflitos e constrói imagens

da comunidade (PEREZ; CRUCES, 1998).

No Brasil, como já foi citada no início deste capítulo, a visão repassada pelas

políticas do Estado era insuficiente. Foi no período pós-ditadura em 1980 e 1988, que

ocorreu uma mudança considerável na constituição do país. Contudo é sabido que entre

turismo e cultura existe uma relação muito antiga, mas, os termos: Patrimônio Cultural

e Turismo Cultural são recentes.

Atualmente tem-se o conceito de patrimônio cultural alargado compatível

com o entendimento disposto no artigo 216 da constituição federal, incluindo

tanto bens corpóreos, como incorpóreos, visto de forma individual ou

coletiva e que, de alguma maneira, tenham vinculação com a identidade

nacional, nestas inseridas todas as manifestações das diferentes etnias

formadoras da sociedade brasileira [...] (RODRIGUES, 2006, p.1).

Os aspectos repassados pelo movimento político denominado Estado Novo e o

surgimento do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, que era um

conceito fechado e só reconhecia os monumentos, obras e histórias que pertenciam

apenas à elite brasileira, ajudaram a revolucionar e aperfeiçoar mais ainda o conceito de

Patrimônio cultural, entre esses também o surgimento da Constituição Brasileira no fim

dos anos 80.

Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e

imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência

à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da

sociedade brasileira, nos quais se incluem: I – as formas de expressão; II – os

modos de criar, fazer e viver; as criações científicas, artísticas e tecnológicas;

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17

IV – as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados

às manifestações artístico-culturais; V – os conjuntos urbanos e sítios de

valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico,

ecológico e científico. Parágrafo 1º - O Poder Público, com a colaboração da

comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por

meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação e de

outras formas de acautelamento e preservação. Parágrafo 4º - Os danos e

ameaças ao patrimônio cultural serão punidos, na forma da lei.

(CONSTITUIÇÃO FEDERAL. 1988, art. 216, p.124).

Como podemos observar a Constituição Federal de 1988, aqui no Brasil, foi

realmente um marco, não só na história, mas beneficiou a cultura e o patrimônio. Já que,

anterior a essa data, grande parte desses tópicos, descritos pela constituição, não eram

reconhecidos como patrimônio cultural. Deste modo, ampliou-se com justiça o

patrimônio cultural brasileiro e em especial as manifestações populares em geral, já que

anteriormente essas manifestações não eram consideradas. O que enriquece e diversifica

o Turismo Cultural no país, que tem grande diversidade cultural, multiplicando assim os

atrativos culturais como veremos no tópico a seguir.

2.2 Turismo Cultural

A incitação humana pela descoberta de novas culturas é muito antiga, assim

gerando as viagens de cunho cultural. Essa atividade acontece desde a idade média,

porém só era realizada por uma classe de pessoas especifica, pessoas que tinham um

alto capital financeiro.

A natureza cultural de muitas das viagens é bem antiga, assim na Idade

Média, viajantes como Marco Pólo mudaram a concepção do mundo (Novoa

e Villalva, 2007). Mas, na história contemporânea do turismo emerge uma

realidade entre os séculos XVIII e XIX: o “Grande Tour”, que era uma

viagem de formação (iniciação) dos nobres e burgueses com o objetivo de

contactar com outros povos e culturas, criando assim um capital cultural que

lhes serviria para ser melhor aceite no seu próprio país e investir nas tarefas

de liderança e governança. (PEREZ, 2009, p. 106).

Como podemos observar também que só as classes nobres tinham o privilégio e

condições financeiras para realizar grandes e pequenas viagens. E que o conhecimento

adquirido pelos respectivos viajantes seria utilizado posteriormente na tomada de

decisões importantes no seu lugar de origem. Apesar disso e da relação entre o turismo

e cultura serem antigos, o turismo não tinha o reconhecimento devido e o termo

Turismo Cultural é novo, ainda conforme Perez:

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Os profissionais da cultura tendiam, até há pouco tempo, a menus valorizar o

turismo porque entendiam-no como uma atividade banal, superficial,

aculturada e com pouco interesse pela cultura visitada. Isto mudou muito nas

últimas décadas com a criação de pontes entre um campo e outro. (PEREZ,

2009, p. 108).

O turismo cultural é entendido aqui como as atividades turísticas voltadas para

as experiências culturais e estéticas por vezes diferentes das atividades normalmente

vivenciadas.

O turismo cultural poderia ser considerado como um turismo experiencial que

teria como base a experiência de artes visuais, artes manuais e festividades.

Segundo os mesmos autores, o turismo patrimonial também deve ser

considerado como experiencial e cultural, permitindo a visita a paisagens,

sítios históricos, edifícios ou monumentos. (ZEPPEL; HALL 1991 apud

PEREZ; 2009, p. 1109).

O turismo é uma das atividades que mais fomenta o contato intercultural entre

pessoas e grupos. Também é uma das formas de fluxo de bens e mercantilização, até

mesmo de produtos culturais. O Turismo Cultural tem um papel importante na cidade

ou região em que ele é desenvolvido ou que se pretende desenvolver, que pode ser tanto

na esfera social, econômica e ambiental. Pois tem o poder de conservar o patrimônio

cultural, arquitetônico e costumes locais, além de gerar fontes de renda e divisas.

Porém, se desenvolvido de forma incorreta, ou seja, sem o devido planejamento e

acordo entre as partes envolvidas, (governo, localidade receptora e a iniciativa privada)

pode acarretar danos irreversíveis, principalmente para a localidade ou região receptoras

e para a cultura e costumes dos mesmos. Dada sua importância para o trabalho,

aprofundaremos alguns dos seus aspectos em tópico posterior, de forma

contextualizada.

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS UNIDADE DE ENSINO …

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3. PATRIMÔNIO: USOS E IMPACTOS NO TURISMO.

Penedo cidade ribeirinha localizada no extremo sul de Alagoas, a 160 km da

capital alagoana (Maceió), Penedo teve um importante papel na história do estado e da

nação brasileira, pois foi palco de disputas territoriais entre seus colonizadores,

invasores, nativos, escravos e contrabandistas. Sua primeira exploração oficialmente

registrada por volta da segunda metade do século XVI. Duarte Coelho era o donatário

da capitania de Pernambuco que assumiu a direção e conduziu a viagem de inspeção do

território alagoano, e realizando a viagem por divisas, partindo das margens do rio

Igaraçu ao norte, do rio São Francisco ao sul. E também tinha o intuito de anular a

investida de possíveis conquistadores.

Figura 1. Mapa de Alagoas

Fonte: https://biblioteca.ibge.gov.br. 2018.

No entanto, segundo Tenório et.al (2010, p.83) existe discordância entre

historiadores sobre sua data de origem, pois cada um apresenta uma versão

diferenciada. Mas, tem-se certeza que quando Cristóvão da Rocha adquiriu a posse

daquele local, repassado ao seu comando pela coroa portuguesa em 1613, o povoado já

estava formado. Assim, “foi erguido um templo em reverência a um santo católico

cristão e a história de aventura humana nas terras do São Francisco teve início,

mesclando índios, portugueses, holandeses, africanos de várias nações e mestiços,

muitos atores em um só cenário”. (TENÓRIO et.al, 2000, p.83). Logo, podemos

observar que as terras do Penedo tiveram grande miscigenação e até nos dias atuais, a

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data de fundação do povoado causa controvérsia entre os especialistas no assunto.

Figura 2. Mapa da Localização do Forte Maurício de Nassau. Obra de Rerum Per, 1647.

Fonte: TEIXEIRA, L. et. al. (2012)

Penedo também comporta em seu centro histórico uma comunidade ribeirinha

mais conhecida como Barro Vermelho, hoje chamado de Bairro Santo Antônio. Porém,

até mesmo antes dos estrangeiros chegarem nestas terras já havia civilização na

localidade, que de acordo com o registro oficial de doações de terras mais antigo do

município, já havia uma povoação. Denominada pelo próprio tabelião público Manuel

Furtado de “Mata da Aldeia”: “Neste documento importante há referência de um terreno

da Vila, compreendido de – meia légua de terra do pelourinho para baixo, e – meia

légua do pelourinho para cima, correndo o rio até a Mata da Aldeia” (VALENTE; 1957

p. 04).

Comunidade essa com grande importância para toda cidade, pois é toda

margeada pelo grande e belo Rio São Francisco e foi palco de grandes acontecimentos

como: a escolha do ponto e construção do Forte Maurício de Nassau pelos holandeses

em sua ocupação a cidade, e da história da formação da cidade de Penedo. Também foi

nesta localidade que viveu uma grande concentração de africanos muçulmanos,

A Penedo de hoje guarda a sete chaves muitas das respostas às nossas

perguntas. Sabemos através de Abelardo Lobo que os muçulmanos de Penedo

viveram nos bairros da Rocheira e do Barro Vermelho, onde se pode chegar a

pé, descendo a ladeira da Igreja do Rosário dos Pretos. Essa Igreja, pertencente

à irmandade no mesmo nome, tinha como principal orago a Virgem do

Rosário. Era e ainda é hoje, a “Igreja do Rosário dos Pretos” que assim se

distingue da outra, a do Rosário dos brancos, sede da matriz, Além do orago

principal outros santos e variedades da Virgem eram também cultuados na

igreja, mas muito provavelmente aí devem ter existido outras devoções, entre

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21

ele Nossa Senhora da Boa Morte, cuja festa do ano de 1875 foi anunciada no

Jornal de Penedo, 27.08.1875:1. (SOARES; MELLO, 2006, p. 08)

Figura 3. Vista do Forte Maurício de Nassau.

Fonte: TEIXEIRA, et. al (2012).

A cidade também possui o maior acervo de arte neoclássica e barroca do estado.

A penúltima cidade é a inesquecível Penedo. Em excelente posição

estratégica, majestosamente situada a margem esquerda do Rio São

Francisco, a 44 quilômetros da sua foz, primitivamente edificada numa

pequena colina, cuja a rocha lhe empresta o nome, a cidade é o maior centro

de arte barroca e neoclássica de Alagoas. (TENÓRIO; DANTAS, 2010,

p.80).

Assim, com tanta riqueza, apresentada pela cidade ribeirinha, seja na sua

história, uma das mais antigas do Brasil ou pelo seu rico acervo arquitetônico, cultural e

natural, com essa diversidade, seria importante planejar, organizar, promover e executar

o Turismo Cultural na cidade.

No seu centro histórico existem monumentos tombados pelo Instituto do

Patrimônio Histórico Artístico Nacional (IPHAN), tais como: Igreja Nossa Senhora da

Corrente, Mercado Público, Pavilhão da Farinha, Casa da Aposentadoria, Igreja de São

Gonçalo Garcia, Praça Barão de Penedo, Praça Padre Veríssimo, Praça Rui Barbosa,

Rua Dâmaso do Monte, Av. Floriano Peixoto, Adro da Igreja Corrente/prolongamento

da Rua 7 de Setembro, Praça Costa e Silva, Rua Dom Jonas Batinga, Rua São Miguel e

Orla de Penedo, entre outros. Por também terem vivido nela povos de diversas origens,

como: indígenas, africanos, franceses, portugueses e holandeses.

A cidade de Penedo-AL, é um grande museu vivo, a céu aberto, se assim

pudéssemos considerar. Penedo também comporta alguns possíveis atrativos turísticos,

Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS UNIDADE DE ENSINO …

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que segundo o Patrimônio Arqueológico e Paleontológico de Alagoas (2012, p.57), a

cidade está inserida, contendo oito sítios com ocorrências já registradas. São eles Imbi,

Providência, Palma, Jamari, Pindorama, Ivonete, Boacica e Capuru. São classificados

nas categorias: Pré-colonial, Histórico e Pré-colonial-histórico. Bem como comporta um

sítio paleontológico, que é o “Tanque da Aldeia ou Poço Grande”, onde foi encontrada e

registrada a espécie “Stegomastodon waringi”, seu nome científico, mais conhecido

como Mastodonte, cujo sepulcro é classificado como tanque de rocha granítica,

(Patrimônio Arqueológico e Paleontológico de Alagoas-Instituto do Patrimônio

Histórico e Artístico Nacional IPHAN 2012, 63).

O conjunto dos possíveis atrativos turísticos culturais é vasto e heterogêneo,

assim, gostaríamos de poder detalhar minuciosamente esses atrativos. No entanto, nosso

objetivo é outro. A localidade é uma cidade tombada como patrimônio histórico,

cultural e arquitetônico, além de ser a segunda mais antiga do estado. Portanto, possui

um rico acervo arquitetônico, e foi palco de vários acontecimentos marcantes na

construção da cultura de um povo de culturas diversas, desde a colonização, passando

pela construção da cidade propriamente, até chegar aos dias atuais.

3.1 Influências do Turismo Na Localidade Receptora

Neste tópico iremos apresentar alguns dos impactos produzidos pela atividade

turística, pois, como já foi citado, qualquer atividade turística, gera influências tanto

positivas como negativas. Assim, apresentaremos a seguir alguns desses possíveis

impactos turísticos.

O turismo permite ao local abrir-se ao mundo e promover a sua identidade

cultural num mundo global, mas este processo não está isento de

consequências sobre o emprego, a estrutura de autoridade da comunidade

receptora, as práticas sociais, [...] (PEREZ, 2009, p. 76).

Sobretudo em comunidades mais tradicionais e reservadas, pois, o turismo

enquanto fenômeno global interfere direta e indiretamente na economia local, modo de

produção da comunidade, nos seus hábitos sociais, hierárquicos e em todo ecossistema

da localidade.

Desta maneira, os estudos antropológicos vêm se debruçando em três linhas,

sendo elas: estudos sobre os aspectos socioculturais e a visão do turista a partir de sua

viagem, estudos sobre os efeitos turísticos em lugares receptores de turistas e, o terceiro

estuda os impactos do turismo sobre os receptores e hóspedes.

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Por muitas vezes, o turismo só é visto como uma atividade econômica e que será

a atividade que resolverá todos os problemas relacionados à economia da população.

É fato notável, que o turismo, é uma atividade econômica que mobiliza

grandes fluxos em todo o mundo e, que por sua vez, gera altíssimos índices

de trocas comerciais e negócios entre as regiões de emissão e recepção de

turistas. Tendo como consequência mais visível a movimentação de cifras

astronômicas no mercado internacional. Sendo, por essa razão, considerado

um dos maiores setores produtivos da economia global (PIRES, 2004, p. 01).

Do mesmo modo que a esfera econômica, as outras esferas têm grande

importância como: social, cultural e ambiental. Bem por isso, também deveriam ter o

mesmo reconhecimento. E geralmente a visão da atividade turística por parte da

população receptora e estudiosos do assunto é totalmente adversa quanto ao que é

positivo e negativo, assim nos fala Jost Krippendorf:

Aliás, as enquetes sobre os mesmos são chamadas de estudos de mercado.

Elas (as pesquisas em turismo) são encomendadas e financiadas pela

indústria do turismo. Elas chegam todas à mesma conclusão: a grande

maioria dos turistas não escolhe o lugar de férias em função dos autóctones,

mas em função do país. A paisagem e o clima agradáveis são critérios

essenciais. Que haja seres humanos vivendo em tais locais é questão que se

revele de menor importância. Então por que se preocupar com a comunidade

local? (KRIPPENDORF, 2003, p. 68).

Portanto, para que haja um bom desenvolvimento e relacionamento entre turistas

e receptores de atividades turísticas é preciso que no planejamento das atividades a

população receptora seja consultada e seu parecer seja respeitado e executado para

assim os impactos negativos serem amenizados e os positivos cada vez mais ampliados.

Quando falamos em impactos causados pelo turismo, a primeira visão é que se

trata de uma atividade de extrema importância para um determinado local ou região,

pois é geradora de divisas. Saber cada detalhe da localidade e antes de tudo consultar

seus moradores e instituições governamentais responsáveis é imprescindível, pois se

executado sem planejamento poderá causar impactos negativos grandiosos, como

veremos no exemplo em seguida:

O caso que iremos abordar aconteceu aqui no estado de Alagoas, na cidade de

Maceió, onde a atividade turística é desenvolvida o ano inteiro, mas se intensifica no

verão. O fato ocorreu em 2010, no bairro de Pajuçara, onde é recorrente o Turismo

Cultural e Turismo de Sol e Mar na região. A localidade é privilegiada por ter em sua

costa várias piscinas naturais que se formam na maré baixa do oceano. A piscina do

“Amor” como é conhecida, vinha sofrendo uma degradação intensa por conta das

atividades turísticas desenvolvidas no local.

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O Instituto do Meio Ambiente (IMA) iniciou um estudo isolado sobre a

biodiversidade recifal na enseada da Pajuçara, ainda em 2010. Durante a

análise, descobriu-se que havia uma queda no número de algumas espécies

enquanto outras estavam sob ameaça de desaparecer. Pela proximidade dos

bancos de recife à costa, a região vinha sendo explorada significativamente,

com 23% da extensão da praia sofrendo graves processos erosivos, ou seja,

inexistência de parte recreativa. (GAZETAWEB, 2016).

Esses processos erosivos foram em grande parte provocados pelas atividades

turísticas, que são realizadas volumosamente. A seguir, trazemos uma imagem da

Piscina do “Amor”, mar de Pajuçara em Maceió-AL.

Figura 4. Foto do Fluxo Turístico nas Piscinas.

Fonte: http://www.ima.al.gov.br

Como podemos observar na imagem, trata-se de uma área de recifes, que de

acordo com a matéria publicada na Revista Ambiental (2017, p. 27),

Os recifes, em termos físicos, são barreiras que protegem as regiões costeiras

da ação do mar em diversas áreas do litoral brasileiro, reduzindo a energia

das ondas à praia e a ação de correntes costeiras, propiciando ambientes de

sedimentação e, por conseguinte, modelando o perfil da costa (Revista

Ambiental, 2017, p. 27 apud CAVALCANTE, 2009).

O local estava sendo agredido de maneira intensa, por conta de atividades como:

mergulhos, passeios de jangada, pesca entre outras atividades náuticas. Segundo o

jornal Gazeta Web:

De acordo com o coordenador de Gerenciamento Costeiro do IMA, Ricardo

César de Barros, nos últimos três anos, a exploração na Piscina do Amor se

intensificou com atividades de pesca, turismo, recreação e mergulho. Após

estudos complementares, o local foi interditado no dia 9 de junho de 2015. (http://gazetaweb.globo.com, 2016).

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25

O risco de extinção de várias espécies marítimas era grande. Com o isolamento

da Piscina do Amor vieram algumas represálias por parte de alguns banhistas que

depredaram o material de sinalização da área isolada. Porém, após um ano de

isolamento por parte dos pesquisadores responsáveis, já são vistos os resultados

positivos. Ainda segundo Ricardo César Bastos, “Antes, procurávamos espécies de

peixe e não encontrávamos rapidamente; hoje, em trinta segundos, achamos um”

(http://gazetaweb.globo.com,2016). Além disso, outra boa notícia de acordo com o

Instituto do Meio Ambiente (IMA), três espécies em risco de extinção voltaram a

frequentar a Piscina do Amor, que são os peixes: Mero, Neon e Grama Brasileiro.

Figura 5. Foto dos Três Peixes em Risco.

Fonte: http://www.ima.al.gov.br (2016).

Ainda de acordo com o IMA:

O professor Cláudio Sampaio, dos cursos de Engenharia de Pesca e Biologia

da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), as principais ameaças a esses

peixes são a poluição e a pesca não manejada. “A primeira compromete a

qualidade das areias e águas da principal área de lazer dos alagoanos e

turistas, enquanto que a segunda inviabiliza o consumo de pescado, devido a

raridade e o tamanho cada vez menor dos peixes e preços cada vez maiores”,

esclareceu. (http://gazetaweb.globo.com, 2016).

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26

Como destaca o professor da Universidade Federal de Alagoas, os dois

principais problemas da localidade são a poluição e a pesca desordenada. O primeiro

está ligado diretamente ao grande fluxo turístico de sol e mar, no qual é gerador de

grande parte do lixo produzido e descartado de forma irregular, não só na área da

Pajuçara, mas, em todo litoral alagoano. Causando assim um enorme impacto

ambiental, atingindo todo o ecossistema da localidade. Pois, com o descarte irregular na

praia, o lixo segue para o oceano, contaminando suas águas e consequentemente todos

os seres vivos que ali habitam, afastando e por muitas das vezes ocasionando a morte

desses seres tão importantes para todo o ecossistema, uma vez que, se os peixes e outros

seres vivos afastam-se ou morrem e, a população local que depende do pescado ou da

cata de mariscos, não terá mais o alimento para levar para suas casas e suas famílias ou

terá que deslocar-se até outro ponto de pesca considerando o afastamento dos peixes,

dificultando o cotidiano da população.

3.2 Turismo Cultural e Étnico.

Como já foi salientado em capítulo anterior, o Turismo Cultural existe há muito

tempo e, o intercâmbio cultural é inevitável, pois, tanto o turista como o autóctone já

trazem, sua cultura própria. Sendo assim, a imagem de etnia vai muito à frente do

destaque que ela apresenta. Segundo Cardoso (2006) trata-se de observar que:

O conceito de etnicidade está relacionado não apenas na distribuição de um

povo, mas vai além: supera as fronteiras nacionais, podendo ser encarada não

apenas como cultura de uma gente em seu país de origem, mas também aos

que imigram ou recebem influência da cultura estrangeira por meio invasões

e possessões, e que, de alguma maneira, sobrevivem á supremacia de uma

cultura nacional diferente da expressa (grupos de minorias). (CARDOSO,

2006, p.143).

Com a alavancada do turismo de massa no período pós-industrial e, com a sua

exaustão em múltiplas regiões, o Turismo Étnico ganhou maior importância. É válido

ressaltar que existem várias concepções sobre esse tipo de turismo. Segundo o

Ministério do Turismo (BRASIL, 2013, p. 20), “Constitui-se de atividades turísticas

envolvendo a vivência de experiências autênticas e o contato direto com os modos de

vida e a identidade de grupos étnicos”. E esse segmento turístico possui muitas

características que o diferencia dos outros, tanto no perfil da demanda assim como na

oferta.

Page 27: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS UNIDADE DE ENSINO …

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Na demanda, podemos destacar o turista que procura esse tipo de segmento, ele

geralmente possui o grau de escolaridade mais elevado e procura sempre aumentar o

seu conhecimento cultural; Já na oferta, iremos destacar um dos principais pontos desse

segmento, a apropriação e condução da atividade turística pela comunidade, que

desenvolve e executa o produto a ser explorado. No Brasil são muitos e de vários tipos

os grupos étnicos. De acordo com o Ministério do Turismo (BRASIL, 2013, p. 20),

Esse tipo de turismo envolve as comunidades representativas dos processos

imigratórios europeus e asiáticos, as comunidades indígenas, as comunidades

quilombolas e outros grupos sociais que preservam seus legados étnicos

como valores norteadores de seu modo de vida, saberes e fazeres.

Do mesmo modo, Silva e Carvalho (2010, p. 211), afirmam: “O segmento do

turismo étnico baseia-se nas novas necessidades de consumo de experiências

identificadas e percebidas como autênticas tanto por parte da demanda turística, quanto

por parte das comunidades receptoras”. Poderia exemplificar o Turismo Étnico de

várias formas e em vários lugares do Brasil. Porém apresentaremos o exemplo de

Salvador-BA, por sua relevância em destacar os modos de vida de uma comunidade

Casa de Oxumarê. Nossa visita à Comunidade ocorreu no dia 04 de Maio de 2016, às

19h, como parte das atividades de uma visita técnica organizada para a disciplina de

Planejamento e Desenvolvimento Turístico II. Ao chegarmos fomos recepcionados por

um dos integrantes da comunidade, que logo tratou de nos deixar muito bem informados

sobre a história do local e indicou que na comunidade está o terreiro de Candomblé

mais antigo do Brasil.

A história da Casa de Òsùmàrè remete à formação do candomblé no Brasil.

Sua origem remonta ao início do século XIX, e foi marcada pela luta e

resistência de africanos escravizados que, obrigados a abandonarem suas

terras e laços familiares, não renunciaram a sua cultura e fé. .

http://www.casadeoxumare.com.br/ ( 2017.)

Localizada na Avenida Vasco da Gama, nº 343 Salvador-BA, a comunidade

recebe turistas e visitantes de todas as partes do Brasil e do mundo. Nós do curso de

Turismo, pela Universidade Federal de Alagoas, fomos agraciados e podemos observar

e participar de uma cerimônia para o orixá Xangô que representa o Deus da Justiça.

Fomos conhecendo a casa principal e, todos os principais guardiões através de registros

fotográficos, escritos e objetos pessoais dos que lideraram a casa de Oxumarê.

Posteriormente, podemos acompanhar todo o ritual de preparação para a cerimônia de

Xangô.

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A celebração começa em um salão principal da casa e com todos os integrantes

devidamente caracterizados, com vestes tradicionais da religião afro-brasileira, assim. O

Babalorisá, a autoridade máxima da casa, inicia a cerimônia sempre acompanhado de

toques e músicas de idioma predominantemente Yorubá. Em seguida, foi servida para

todos que ali estão um prato tradicional da culinária afro-brasileira, especialmente em

homenagem ao orixá Xangô. Nesse momento, a música e toques dão uma pausa, para

que o babalorisá possa pedir a benção ao orixá e assim abençoar o alimento e as pessoas

que dele vão se servir. Por fim, chegamos ao ponto culminante da cerimônia: o

momento de reverenciar e fazer os pedidos ao orixá Xangô, sempre acompanhado das

músicas e toques até outro local da casa, em uma parte aberta onde formamos uma fila

única para entrar em um templo feito para abrigar a imagem do orixá onde nesse templo

só há espaço para permanecer uma só pessoa por vez.

Particularmente, já havia visitado outros terreiros de candomblé e comunidades

tradicionais afro-brasileiras, porém a Casa de Oxumarê mostrou ter grande organização

no seu dia a dia com todas as tarefas da comunidade, sendo muito bem distribuídas e

executadas entre seus integrantes.

A comunicação com a casa através das redes sociais também é muito rápida,

apresentando um serviço de comunicação eficiente, lembrando que esse é um

diferencial muito importante, já que o número de comunidades tradicionais e terreiros

de matrizes afro-brasileiras com página online, ainda é muito pequeno. A destreza e

preparação dos agentes de informações da casa são excelentes, além da atenção dada

por eles a quem chegue. Dentro da comunidade também existe um pequeno cemitério

onde estão enterrados os seus principais líderes. Contudo, a comunidade está ligada

direta e indiretamente a vida social em todo seu redor, pois elabora e executa projetos e

ações sociais com adultos e crianças em seu entorno.

Essa foi uma experiência inesquecível para um futuro profissional de turismo

mostrando na prática como pode ocorrer o turismo étnico, de forma organizada,

proveitosa para os visitantes e receptores.

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4. COMUNIDADES QUILOMBOLAS E SUAS ORIGENS.

Os quilombos têm uma história que representa toda resistência dos negros no

Brasil, assim como os indígenas que aqui já habitavam. Segundo o Guia Brasil

Quilombola: “São grupos étnico-raciais segundo critérios de autoatribuição, com

trajetória histórica dotados de relações territoriais com presunção de ancestralidade

negra relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida”. (Programa Brasil

Quilombola, 2013, p. 14).

Apesar disso, tem origem na África, de acordo com Munanga (1995),

O quilombo é seguramente uma palavra originária dos povos de línguas bantu

(kilombo, aportuguesado: quilombo). Sua presença e seu significado no

Brasil têm a ver com alguns ramos desses povos bantu cujos membros foram

trazidos e escravizados nesta terra. Trata-se dos grupos lunda, ovimbundu,

mbundu, kongo, imbangala, etc., cujos territórios se dividem entre Angola e

Zaire. (MUNANGA; 1995, p. 58).

Bem como, desde o início da colonização do Brasil, este espaço sempre teve o

objetivo acolher e fortalecer os povos escravizados pela coroa de Portugal que

procuravam libertação. Os quilombos e seus quilombolas em todo tempo foram uma

pedra nos planos da coroa portuguesa.

O quilombo constitui questão relevante desde os primeiros focos de

resistência dos africanos ao escravismo colonial, reaparece no

Brasil/república com a Frente Negra Brasileira (1930/40) e retorna à cena

política no final dos anos 70, durante a redemocratização do país. Trata-se,

portanto, de uma questão persistente, tendo na atualidade importante

dimensão na luta dos afro-descendentes.(BARROS; 2012, p 10).

Dessa maneira, gostaríamos de enfatizar que a luta dos escravos quilombolas

para sempre esteve ligada a luta pela liberdade, pelo território, preservação e

continuidade de sua cultura. De acordo com o Guia Brasil Quilombola,

As comunidades quilombolas localizam-se em 24 estados da federação, sendo

a maior parte nos estados do Maranhão, Bahia, Pará, Minas Gerais e

Pernambuco. Os únicos estados que não registram ocorrências destas

comunidades são o Acre e Roraima, além do Distrito Federal. (PROGRAMA

BRASIL QUILOMBOLA, 2013, p.13).

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30

É sabido que essa luta não foi nada fácil e que as mudanças nas leis do Brasil

teriam que acontecer: Com a constituição de 1898, ocorreu uma mudança considerável,

pois a partir dela foram criadas leis e regras para a melhoria de vida de um modo geral,

fortalecendo assim todas as comunidades tradicionais quilombolas. Vejamos algumas

dessas mudanças, conforme o PBQ,

Constituição Federal de 1988 Artigos 215 e 216 da Constituição Federal –

Direito à preservação de sua própria cultura; Artigo 68 do ADCT – Direito à

propriedade das terras de comunidades remanescentes de quilombos.

Convenção 169 da OIT (Dec. 5051/2004) – Direito à autodeterminação de

Povos e Comunidades Tradicionais. Lei nº 12.288, de 20 de julho de 2010 –

Estatuto da Igualdade Racial Decreto nº 4.887, de 20 novembro de 2003 –

Trata da regularização governamentais. Decreto nº 6040, de 7 de fevereiro de

2007 - Institui a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos

Povos e Comunidades Tradicionais. Decreto nº 6261, de 20 de novembro de

2007 – Dispõe sobre a gestão integrada para o desenvolvimento da Agenda

Social Quilombola no âmbito do Programa Brasil Quilombola. Portaria

Fundação Cultural Palmares nº 98 de 26 de novembro de 2007 - Institui o

Cadastro Geral de Remanescentes das Comunidades dos Quilombos da

Fundação Cultural Palmares, também autodenominadas Terras de Preto,

Comunidades Negras, Mocambos, Quilombos, dentre outras denominações

congêneres. Instrução Normativa INCRA nº 57, de 20 de outubro de 2009 –

Regulamenta o procedimento para identificação, reconhecimento,

demarcação, desintrusão, titulação e registro das terras ocupadas por

remanescentes das comunidades dos quilombos. (PROGRAMA BRASIL

QUILOMBOLA, 2013, p.15).

Baseados nesses decretos de leis surgiram também regras a serem cumpridas por

aquelas comunidades que pretendessem o registro como quilombola e o reconhecimento

junto aos órgãos responsáveis do país. Aqui no Brasil, os principais órgãos responsáveis

em aprovar e emitir a certificação de comunidade quilombola são, a Fundação Cultural

Palmares (FCP) e o Instituto Nacional Colonização e Reforma Agrária (INCRA). De

acordo com o P.B.Q. deverão as comunidades acolitar os seguintes trâmites:

A comunidade deve ingressar com a solicitação junto à Fundação Cultural

Palmares obedecendo aos seguintes passos: 1) Encaminhar solicitação ao

Presidente da Fundação Cultural Palmares juntamente com: b) Relato

sintético da trajetória do grupo (história da comunidade); absoluta de seus

membros; e d) No caso de não haver associação na comunidade, legalmente

constituída, a Ata de reunião convocada para tratar de assunto relativo a auto-

maioria dos seus moradores, acompanhada de lista de presença, devidamente

assinada.

O segundo passo é:

Encaminhar à Superintendência Regional do INCRA do seu Estado uma

solicitação de abertura de procedimento administrativo para Palmares; Base

Legal: Decreto nº 4.887/2003; e Instrução Normativa 57/ Incra, de 20 de

outubro 2009. (Programa Brasil Quilombola, 2013, p. 20).

Assim, essa titulação e registro, junto aos órgãos competentes, asseguram e

garantem os direitos antes nunca reconhecidos. O que é essencial já que os quilombos

em toda América do Sul e especialmente no Brasil, onde ocorreu grande miscigenação

Page 31: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS UNIDADE DE ENSINO …

31

entre vários grupos étnicos de variadas partes do mundo, então o merecimento dessas

terras é essencial para os povos quilombolas para preservação de toda sua cultura e

respeito aos seus antepassados que deram seu sangue na construção e resistência dos

quilombos!

4.1 Como se Formavam os Quilombos

Outros autores nos propõe uma reflexão sobre o período pós-colonial, pois, aqui

no Brasil (América Latina) os quilombos têm particularidades familiares referentes às

formas de abrigar os fugitivos das senzalas e fazendas espalhadas pelo território

brasileiro.

A formação de grupos de escravos fugitivos se deu em toda parte do Novo

Mundo onde houve escravidão. No Brasil estes grupos foram chamados de

quilombos ou mocambos, os quais às vezes conseguiram congregar centenas

e até milhares de pessoas. (REIS, 1996, p. 16)

Os quilombos ou mocambos como eram conhecidos, em sua maioria, tinham

uma formação lenta, pois, fugir das senzalas não era fácil, muito menos seguir um

trajeto que por muita das vezes era por mata fechada. O rebelado tinha que planejar

passo a passo. Porém existiram quilombos que se formaram rápido, devido as fugas em

massa, menos comuns.

As comunidades quilombolas no Brasil constituem territórios rurais ou

urbanos historicamente ocupados por grupos étnico-raciais cujas trajetórias

específicas presumem a ancestralidade negra e remetem a processos de

resistência à opressão histórica sofrida. (ALVES e COSTA 2017).

Nos quilombos eram acolhidos fugitivos de várias etnias, índios e até soldados

desertores da coroa portuguesa. Entretanto a administração desses quilombos era

totalmente africana, que por muitas vezes essa liderança já era de uma família de grande

importância ou já exerceu algum cargo de relevância em tribo.

Como se repetiu em muitos outros quilombos, esta população não era

constituída apenas de escravos fugidos e seus descendentes. Para ali também

convergiram outros tipos de trânsfugas, como soldados desertores, os

perseguidos pela justiça secular e eclesiástica, ou simples aventureiros,

vendedores, além de índios pressionados pelo avanço europeu. Mas

predominavam os africanos e seus descendentes. Ali, africanos de diferentes

grupos étnicos administraram suas diferenças e forjaram novos laços de

solidariedade, recriaram culturas. (REIS, 1996, p. 16)

Assim, podemos ter uma pequena ideia, de com era organizada a maioria dos

quilombos da América Latina. Como exemplo, novamente iremos usar o “Quilombo

dos Palmares”, por ter comportado a maior população e por ser o maior em extensão

territorial da América latina. E com o quilombo dos palmares não foi diferente, o

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32

primeiro líder a se ter registros oficiais, no comando de Palmares foi Ganga Zumba, que

era um africano.

Ganga Zumba foi o primeiro líder do Quilombo dos Palmares, ou Janga

Angolana, no atual estado de Alagoas, Brasil. Zumba era filho da princesa

Aquatune e assumiu a posição de herdeiro do reino de Palmares e o título de

Ganga Zumba. Apesar de alguns documentos portugueses lhe darem este

nome e o traduzirem como “Grande Senhor”, ele provavelmente não está

correto. Entretanto, uma carta endereçada a ele pelo governador de

Pernambuco em 1678, que se encontra hoje nos Arquivos da Universidade de

Coimbra, chama-o de Ganazumba, que é a melhor tradução de Grande Lorde

(em Kimbundu), e portanto o seu nome correto. (GELEDÉS: 2009, acesso

em 31-03-18)

4.2 Quilombos e Estudos Pós-Coloniais

Os estudos pós-coloniais têm grande importância no cenário cultural para todos

os povos colonizados. Visto que, anteriormente não era repassado o ponto de vista do

colonizado e sim do colonizador. Só após os estudos pós-coloniais pode-se dar voz a

esses povos e ter uma visão equivalente a sua realidade, que é totalmente contraditória a

visão repassada pelo colonizador. Desta maneira, os autores Alves e Costa, nos

descrevem dois cenários conceituais: O primeiro é o pós-colonialismo, que segundo

eles:

o termo pós-colonialismo não constitui uma referência temporal simples e

fixa, mas sim uma perspectiva complexa, socialmente problematizadora e

intelectualmente envolvida na crítica ao eurocentrismo e nos processos de

colonização para compreender as novas relações globais e locais na

contemporaneidade. (ALVES; COSTA, 2017, p. 02).

O segundo, é o “ Giro Decolonial”, que:

Para tanto, rompendo com a teoria pós-colonial e os estudos culturais e

subalternos, este grupo intelectual apresenta como ponto de partida a

compreensão do sistema-mundo moderno a partir da América Latina. A

ênfase desta corrente latinoamericana, está em realizar uma crítica bem

fundamentada ao eurocentrismo epistemológico presente na produção

geopolítica do conhecimento. (ALVES; COSTA, 2017, p. 211).

A partir dos estudos pós-coloniais somos chamados para discutir sobre o

colonialismo a partir de outra ótica, aquela que comumente não trazemos para as

reflexões sobre o tema. Geralmente, trazemos uma visão eurocentrista e desta forma

não se consegue visualizar uma realidade compatível com a dos quilombos brasileiros e

latinos, pois, de modo geral, o europeu, mais especificamente os portugueses,

reputavam os negros e os índios como seres sem alma. Desta maneira, grande parte não

só da história dos quilombos, mas de toda cultura dos povos oprimidos que lá resistiram

até os dias atuais (Quilombolas), perderam-se no passado. Um dos maiores exemplos

aqui no Brasil dessa perda cultural é o próprio Quilombo da Serra da Barriga, em União

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dos Palmares. Um dos maiores quilombos da América Latina, terra de Zumbi, e que

segundo o Ministério da Cultura, já abrigou em seu território cerca de 30 mil

quilombolas. Reconhecido como Patrimônio Cultural do MERCOSUL.

Depois do reconhecimento da Serra da Barriga como Patrimônio Cultural do

MERCOSUL, em 2017, a posse do Comitê Gestor é o próximo passo para

que se realizem um conjunto de ações para fomentar as atividades culturais e

turísticas no Parque Memorial Quilombo dos Palmares

http://www.palmares.gov.br/2018, s/p).

Essas ações serão de suma importância, pois atualmente no quilombo, em sua

parte principal onde se localiza o Parque e o Memorial a Zumbi. Lá vivem algumas

famílias e nelas restaram muito pouco ou quase nada da cultura do povo quilombola.

Em visita ao quilombo em 2017, em um dia comum, pude conversar com as famílias

que vivem lá e foi notório perceber como poucas famílias sabem muito pouco, da

história do local ou quase nada. Além disso, a maioria das famílias que ali vive é de

religião evangélica. Segundo a Fundação Cultural Palmares hoje em Alagoas tem 69

comunidades quilombolas certificadas, distribuídas em todo o estado. O número é

significativo, mas a atuação para sua valorização é pequena.

O segundo cenário é denominado pelos mesmos autores de “Giro Decolonial”,

que tem como seu principal objetivo desaprovar a visão eurocentrista e fazer uma

reflexão a partir de uma visão enfatizada latino-americana. “Contar uma história sobre

o ponto de vista do colonizado, questionando as narrativas eurocêntricas da

modernidade requer, antes de tudo, uma transformação na geografia do conhecimento”

(ALVES E COSTA; 2017, p. 212). Ou seja, olhar e ouvir o que dizem as culturas do outro

hemisfério, do Sul.

Como nos mostram os autores supracitados, esse ponto de vista parece ser o

mais racional para relatar todo o passado de histórias de luta de um povo, pois a visão

colonialista oculta toda o prisma do colonizado, o que resultou em uma forma

modernizada e continuada de segregação social para com esses povos até os dias atuais.

Ainda segundo Alves e Costa (2017):

É nesta perspectiva decolonial que devemos considerar o atual contexto das

lutas epistêmicas de povos que ficaram durante séculos marginalizados da

história, carregando as marcas de um tempo histórico perpetuado pela

colonialidade do poder (ALVES E COSTA, 2017, p. 213).

Assim podemos afirmar que essa “Geografia do Conhecimento”, produzida pelo

pós-colonialismo com bases no colonialismo, tem que ser desconstruída, sem a menor

sombra de dúvida, pois desde o período colonial que os povos quilombolas vem sendo

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34

muito afetados com a perda da memória e cultura do seu povo, por conta desse modo

colonial e eurocentrista de conduzir a história.

As marcas do colonialismo podem ser vistas até os dias atuais, marginalização

dos povos quilombolas e exclusão social.

É necessário enfatizar a questão das comunidades quilombolas neste contexto

em consideração ao processo de marginalização ocorrido nas garras da lógica

colonial que impôs um sistema de exclusão e desigualdade social cujas

consequências são observáveis até os dias de hoje. (ALVES E COSTA, 2017,

p.213).

O período pós-moderno soava como algo que seria perfeito para todas as

sociedades, porém, novamente baseados em modelos do norte oriental, como apresenta

Boaventura de Sousa Santos (2008):

Quando em meados da década de 1980 comecei a usar as expressões pós-

moderno e pós-modernidade, fi-lo num contexto de um debate

epistemológico. Tinha chegado a conclusão que a ciência em geral e não

apenas as ciências sociais se pautavam por um paradigma epistemológico e

um modelo de racionalidade que davam sinais de exaustão, sinais tão

evidentes que poderíamos falar de uma crise paradigmática (SANTOS, 2004;

p. 15).

No contexto social, os anseios de modernidade também não cumpriram o papel a

eles designado. O descaso por parte do poder público é recorrente e notório, pois

atualmente na grande maioria dos casos, falta de infraestrutura básica nas comunidades

quilombolas (saneamento básico e distribuição de água potável), educação, transporte,

moradia, saúde entre outros.

Podemos afirmar que o pós-colonial tem raízes profundas na era colonial. De

acordo com Santos (2008):

Nos últimos anos tenho me convencido que aprender com o Sul é uma

exigência que, para ser levada a sério, obriga a algumas reformulações na

teorização do que venho propondo. Como referi, a designação pós-moderno

nunca me satisfez, tanto mais que a hegemonia do pós-moderno celebratório

tornou virtualmente impossível fazer vingar a alternativa do pós-moderno de

oposição. Por outro lado, a ideia de pós-modernidade aponta demasiado para

a descrição que a modernidade ocidental fez a si mesma e nessa medida pode

ocultar a descrição que dela fizeram os que sofreram a violência com que ela

lhes foi imposta (SANTOS, 2008; p. 18).

O que o autor nos mostra, mais uma vez, é o fato de a conceituação de pós-

colonial, pós-moderno e modernidade, sempre foram criados e conduzidos pela Europa.

E que essa condução teve como base o sistema escravista colonial, que por muitos e

muitos anos, era considerado como algo civilizado, não permitindo que as vítimas ou

seus descendentes formulassem tal conceito sobre seu próprio povo e lugar. Quando o

autor refere-se a “aprender com o Sul”, é exatamente permitir que os sacrificados e

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35

consequentemente seus descendentes relatem toda história e cultura próprias. Deste

modo, podemos afirmar que essa concepção norte oriental nunca foi, nem será um

modelo orientador na condição civilizatória mundial e de um mundo moderno, pois,

cada lugar tem suas características próprias e consequentemente sua própria cultura.

Dessa forma, convida-nos a somar os conhecimentos do “Sul”, sem negar os

conhecimentos já produzidos pelo “Norte”, mas dando-nos a oportunidade de ampliar e

dialogar entre os dois conhecimentos. Bem por isso, apresentaremos os quilombos de

Penedo buscando demonstrar de modo mais amplo sobre sua formação e influência

cultural – bem como, nossa descrição e análise do campo também seguirá nessa

perspectiva, ouvindo e descrevendo as falas do Sul.

4.3 Caracterização dos Quilombos de Penedo-AL

Na cidade de Penedo-AL existem duas comunidades Quilombolas registradas e

reconhecidas como quilombos pela Fundação Cultural Palmares e outra, que possui

vários indícios e histórias do povo malês, porém não possui o registro de

reconhecimento (CRQs), que é Certidão de Registros Quilombolas. A primeira é a

comunidade a ser reconhecida foi a do “Oiteiro3” como é chamado formalmente, bairro

Senhor do Bomfim, é considerado um quilombo urbano. A segunda é comunidade

Tabuleiro Dos Negros, na zona rural de Penedo-AL e a terceira é mais conhecida como

“Barro Vermelho”. O Oitero tem sua Certidão Expedida às Comunidades

Remanescentes de Quilombos (CRQs) atualizadas até a Portaria Nº 146/2017,

01420.002702/2006-43 25/10/2006. E no Tabuleiro dos Negros, 01420.000138/1998-

63, 22/11/2007(CRQs,25-04-17).

A comunidade do Oiteiro foi a primeira da cidade de Penedo-AL a conseguir a

certificação da Fundação Cultural Palmares, desde 2006. Localizada à esquerda do

centro histórico de Penedo, foi erguida sobre um monte cercado pela antiga lagoa do

Oieiro, onde na entrada destaca-se uma grande escultura de concreto (Jesus

Crucificado).

Segundo a escritora Cristina Sanches (2015),

Existiu um Quilombo nos arrabaldes do Oiteiro (hoje Bairro Senhor do

Bonfim), que pouco se sabe de sua história, salvo o Maracatu que até a algum

tempo atrás era ainda uma testemunha viva proveniente dos resquícios do

famigerado Quilombo (SANCHES, 2015 s/p).

3 Embora a nomenclatura na gramática seja Outeiro – uma pequena elevação de terreno, menor que um

morro – neste trabalho iremos utilizar o termo como é conhecido na região, Oiteiro.

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Como podemos observar são poucas ou quase nenhuma as referências sobre a história

da localidade.

Figura 6. Escultura de Concreto da Entrada Principal do Quilombo.

Fonte: Autoria Própria (2019).

A comunidade do Oiteiro em Penedo-AL, possui vários problemas enfrentados

atualmente, como a rejeição do auto reconhecimento apesar de herdeiros do povo de

matriz africana por parte da população jovem da comunidade. Outros problemas

poderiam ser apontados aqui por conta do processo de colonização, mas gostaríamos de

apontar um dos maiores crimes ambientais já cometidos, que foi o aterro da lagoa do

Oiteiro, ocorrido na década de 1980.

Nesta época minha, família morava em frente dessa lagoa e os dez primeiros

anos de vida eu morei nesse local, na Rua Ulisses Batinga, nº 249. Vi de perto a

destruição e o aterro da lagoa por parte do governo do estado. Nunca imaginei que ali

comportava tantos animais e de diferentes espécies. O material usado para aterrar a

lagoa foi areia, retirada diretamente do Rio São Francisco. Foi possível observar vários

animais como tartarugas, jacarés, peixes, aves arrastando-se para fora da lagoa

invadindo as casas na tentativa de sobreviver. Sem falar da flora e de vários moradores

que retiravam dali algum alimento para levar às suas casas, pois a lagoa era rica em

peixes e vários tipos de frutas das árvores irrigadas em sua margem. Aterraram a lagoa

alegando que seria construído um grande centro comercial de distribuição de alimentos

para gerar emprego e renda para a população. Hoje após 28 anos, o local continua sem

produtividade nenhuma.

Já o segundo quilombo a ser registrado é o do Tabuleiro dos Negros. Localizado

na zona rural de Penedo-AL, esse é um quilombo muito afastado da cidade e de difícil

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acesso. Partindo de Penedo-AL, seguindo pela rodovia AL-110 até o povoado. Sua

distância é de exatamente 15,5 Km do centro da cidade de Penedo, segundo descrição

do Google Maps4.

Gostaríamos de relatar que até o momento desta pesquisa, são raras ou quase

nenhuma as informações bibliográficas sobre história, fundação, modo de vida entre

outras, a respeito das comunidades do Oiteiro e Tabuleiro dos Negros.

Por fim, mas não menos importante, vem o nosso objeto de estudo, a

comunidade do Bairro Santo Antônio ou como é mais conhecida Barro Vermelho, por

ser a primeira povoação de Penedo, tem como sua principal característica ser margeada

pelo Rio São Francisco e tem em seu território a última curva desse rio antes de seguir

uma reta para o oceano.

Figura 7: Ponto da Última Curva do Rio São Francisco Antes de Seguir para o Oceano.

Fonte: Autoria Própria (2018).

Atualmente, o Barro Vermelho tem como sua principal fonte de renda a pesca,

como já foi explanado anteriormente neste trabalho. Há discórdia entre os historiógrafos

a respeito da data da primeira exploração, porém sabe-se que os portugueses junto com

os africanos escravizados chegaram aqui na segunda metade do século XVI. E uma das

particularidades do bairro é ter sido abrigo dos negros Muçulmanos.

Os escravos muçulmanos traficados para o Brasil, nos primeiros anos do

século XIX, aqui chegaram em consequência da jihad do califa Usman da

Fodio sobre os haussás, e, depois iorubas que foram, em decorrência disso,

escravizados e vendidos nos portos negreiros da Baía do Benim. Em 1815,

4 (https://www.google.com.br/maps). Acesso em maio de 2018.

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quando corre a notícia do levante malê em Alagoas, não deve ter havido

muitas dúvidas de que esses muçulmanos, assim como os rebelados baianos

do anterior deviam ser oriundos da Terra dos Haussás, na atual Nigéria.

(SOARES ; MELLO; 2006, p. 03).

Os escravos muçulmanos tinham características diferentes dos demais, eles eram

de religião maometana seguiam o livro do “Alcorão”. Segundo Duarte (1958):

A infiltração do Maometismo na África ocorreu sabidamente desde época

remota de sua atribulada história, disseminando-se posteriormente em larga

extensão de seu vasto território (DUARTE; 1958, p. 17).

Ficamos sabendo através de Abelardo Duarte, em seu livro “Negros

muçulmanos em Alagoas: Os Malés” que Penedo foi umas das maiores concentrações

negras do estado de Alagoas. Em sua maioria, os negros eram africanos puros e

recebiam intervenções da Bahia e não de Pernambuco - que era a capitania - e os cultos

muçulmanos só ocorriam em Penedo-AL. “Não houve em Maceió culto muçulmano

organizado, como se praticava naquela cidade – Penedo, que recebeu maior influência

negra da Bahia do que do Recife” (DUARTE; 1958 p. 41).

Figura 8 - Foto dos negros Malês em Penedo-AL, em 1887.

Fonte: DUARTE (1958, p.41)

O registro fotográfico acima foi feito pelo médico Carvalho Sobrinho em 1887,

no dia 24 de agosto. Esse registro trata-se da realização da “Festa dos Mortos”,

realizada em Penedo-AL, culto religioso realizado duas vezes por ano. Além de ter a

caracterização das vestes, também havia orações, cânticos e sacrifício de animais. Eram

sacrificados para o culto dois cordeiros brancos e as pessoas responsáveis pelo sacrifício

não poderiam deixar salpicar o sangue em suas mãos, o autor destaca que a

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incompreensão das pessoas leva a confundir esse culto com o Candomblé. (DUARTE,

1958; p.40)

O “Barro Vermelho”, também é um dos bairros mais antigos do estado de

Alagoas e do Brasil. “O auto de mais antiga e autêntica Municipalidade de Penedo tem

a data de 18 de agosto de 1658, foi lavrado pelo tabelião público Manoel Furtado,

refere-se à doação de terras” (VALENTE; 1957 p. 04). O referido tabelião público

apresenta a câmara e a seus juízes ordinários uma escritura que dá plena posse de

aproximadamente dois quilômetros e meio do Pelourinho abaixo, que atualmente é a

Praça Barão de Penedo. E de mais dois quilômetros e meio do mesmo ponto

(Pelourinho), acima, onde o tabelião descreve: “correndo o rio até a Mata da Aldeia”.

Tal fato demonstra que já existia uma civilização no local.

A comunidade do “Barro Vermelho” é a primeira localidade habitada na cidade

de Penedo-AL, como vimos no parágrafo acima. A escolha da comunidade para este

presente estudo deu-se pela grande afinidade que temos com a comunidade e pelo fato

desta comunidade ser tão pouco exaltada na história da cidade e do próprio estado,

sendo que a comunidade sempre contribuiu na formação sociocultural do estado de

alagoas desde o desmembramento com Pernambuco, até os dias atuais.

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40

5. DIAGNÓSTICO TURÍSTICO E SEUS MODELOS

O presente trabalho tem como seu principal objetivo diagnosticar o patrimônio

cultural existente na comunidade do “Barro Vermelho” e reconhecer sua importância

para o desenvolvimento do turismo cultural em Penedo - AL. Mas, o que seria um

diagnóstico? Esse termo muito usado na área da saúde, derivada de diagnose, é o ato de

recolher dados e analisar os problemas, achar as possíveis soluções. No entanto,

diagnóstico não é utilizado somente na medicina, em outras áreas ele também é de

grande importância, como por exemplo, no Turismo. Existem vários modelos e técnicas

de diagnóstico turístico, tendo em vista a complexidade que envolve a atividade. Para

cada situação existente é necessário um modelo específico, pois só assim, pode-se

chegar a um resultado mais aproximado do contexto.

O diagnóstico relaciona-se tanto com o conhecimento, quanto com a ação.

Para planejar e depois agir, o primeiro passo é conhecer a realidade em que

se pretende atuar e sobre ela refletir. Nesse sentido, o diagnóstico permite

orientar a ação, ajuda a definir as necessidades, a conhecer os recursos e os

obstáculos, a estabelecer prioridades. O diagnóstico é parte integrante da

ação, pois pode determinar – se assim for utilizado – o curso que ela irá

tomar. A reflexão produzida nos processos de levantamento amadurece o

conhecimento e indica ações mais coerentes com o objeto analisado

(SEBRAE, 2008, p. 23).

Como podemos observar acima o diagnóstico exerce um papel muito

importante, pois, só se pode agir depois do conhecimento do seu objeto. Esse objeto

pode assumir diferentes formatos tais como: uma localidade, região, empresas, ou até

mesmo uma determinada atividade turística. Assim, conhecendo detalhadamente as

situações adversas existentes é que se poderão tomar as decisões necessárias.

O diagnóstico turístico é uma etapa de extrema importância no planejamento

turístico, pois a partir dele serão definidas todas as ações a serem executadas, de acordo

com todos os atores envolvidos. Ele pode ser aplicado em regiões, localidades ou em

empresas onde já existe a atividade turística ou haja o interesse de implementar.

Portanto, é sabido que em nosso campo de estudo (Barro Vermelho) já são

desenvolvidas duas atividades turísticas dentro de seu território. Neste trabalho serão

nomeadas de atividade 1 e 2, simplesmente para poder descrever mais satisfatoriamente

cada uma delas. Essa contextualização é importante para que se compreenda o modelo

escolhido para esse estudo.

A atividade 1 é realizada na primeira e principal entrada da comunidade,

localizada na parte conhecida como “Rocheira”, local que muitos dos historiadores

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afirmam ter atribuído nome a cidade de Penedo-AL, tal como Valente (1957, p. 05)

afirma: “A origem do nome de Penedo vem de uma rocha viva, onde está assentada à

margem pelo autor esquerda do rio com ramificações até Paulo Afonso”.

O autor refere-se a uma grande ramificação de rochedos onde a cidade encravou

seus alicerces e se desenvolveu. Em seguida mostraremos uma foto atual do local exato.

Figura 9 – Ramificação de Rochedos do Barro Vermelho

.

Fonte: Autoria Própria (2018).

Neste local já é desenvolvido o turismo cultural e pedagógico, trata-se de um dos

atrativos turísticos do centro histórico, sendo assim, faz parte de todos os roteiros

desenvolvidos pelos agentes de informações que atuam no centro histórico da cidade.

A atividade 2 é localizada a aproximadamente 650 metros de distância da

“Rocheira”, em um dos portos existentes no bairro, atualmente mais conhecido pelo

nome de um morador ilustre do bairro, Luiz, apelidado de “Bocada”. No local, há um

restaurante muito antigo e o porto atualmente é mais conhecido dentro e fora do bairro

como o porto do “Luizinho Bocada”

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Figura 10. Porto do Luizinho Bocada.

Fonte: Autoria Própria (2018).

Neste ponto específico, os turistas, visitantes e até a população local procuram

os barqueiros, a fim de realizarem passeios de barco ou até mesmo, para passar um dia

de lazer em alguma das ilhas da localidade. Configurando-se como Turismo Náutico.

Uma das ilhas mais procuradas é a da “Pedra de São Pedro”. É importante destacar que

o serviço de transporte é realizado pelos barqueiros locais e pescadores que pescam

embarcados, pois não existem agências receptoras de turismo que ofereçam esse tipo de

serviço, por isso é tudo de modo informal.

Logo, entendemos que o planejamento é importante para pensarmos o turismo

na localidade, colaborando na conservação, preservação dos recursos naturais e

culturais. Por isso, vamos entendendo melhor o processo de escolha de um modelo de

planejamento.

5.1 Modelos e Escolha Para Pesquisa

Para cada situação existe um modelo que mais se adequa ao planejamento, no

turismo não é diferente. As atividades turísticas são múltiplas e variadas, por isso exige

precisão na escolha de um modelo, mostraremos dois modelos de diagnósticos turísticos

bem utilizados.

Começaremos com um modelo bastante utilizado por empresas comerciais de

diferentes tipos e também na área turística. O modelo SWOT investiga os pontos fortes

e fracos de um lugar ou região.

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A técnica SWOT é uma ferramenta utilizada para fazer análise de ambientes.

É empregada em processos de planejamento estratégico, avaliação da

situação da organização e de sua capacidade de competição no mercado. Essa

técnica contribui para formação de estratégias competitivas através da

identificação dos pontos fortes e pontos fracos, que são os fatores internos da

organização, e as oportunidades e ameaças, que são os fatores externos da

organização (SILVEIRA, 2001, p. 209).

Esse modelo, visa às oportunidades e as ameaças de determinado ambiente, pois

dessa forma pode-se visualizar todas as ameaças e trabalhar no sentido de eliminá-las

ou minimizá-las o máximo possível, já com as oportunidades deve-se tentar e conseguir

maximizar o quanto for viável.

A análise SWOT é um sistema simples utilizado para posicionar ou verificar

a posição estratégica da empresa ou, neste caso, de segmento, no ambiente

em questão. É uma sigla oriunda do inglês e é um acrônimo de forças

(Strengths), fraquezas (Weaknesses), Oportunidades (Opportunities) e

Ameaças (Threats). Assim, esta metodologia torna-se uma ferramenta ideal

no processo de gestão e monitoramento do turismo de uma determinada

localidade. (DANTAS E MELLO, 2008).

Portanto, a análise SWOT é uma excelente ferramenta de diagnóstico turístico,

realizando os pontos fortes e fracos do objeto de estudo pode-se visualizar uma tomada

de decisão precisa ser adequada para cada ambiente específico. Toda via, não será

usado em nossa que pesquisa, pois tratamos de uma comunidade e não uma empresa. O

nosso campo de pesquisa o “Barro Vermelho”, é uma comunidade histórica, relevante

em vários aspectos para a cidade de Penedo-AL e para o estado de Alagoas, por não

apresentar nenhum trabalho acadêmico especifico, na área turística referente a

comunidade e também por apresentar um grande potencial de atrativos turísticos como:

O Rio São Francisco, Grupos Culturais Populares e suas manifestações, artistas e

artesãos em suas dependências, é necessário a realização de um diagnóstico turístico.

Atualmente outro modelo bastante utilizado, na área turística é o Planejamento

Participativo, que segundo Abreu e Costa (2004),

Torna-se necessário o planejamento minucioso para o turismo para que esta

atividade possa gerar receitas, ocasionar o desenvolvimento da localidade, e,

desse modo aproveitar ao máximo os benefícios que podem ser gerados, e

ainda, minimizar os impactos negativos e maximizar os impactos positivos.

Além de promover a qualidade da área receptora, o envolvimento dos

autóctones, e inserir as premissas da sustentabilidade. Cabe ao planejador

conduzir as estratégias que melhor condizem com a realidade local, através

de dados técnicos, pesquisas com diagnósticos e previsões para o destino

turístico. E deste modo promover o crescimento econômico, mas com

responsabilidades social, econômica, cultural, ambiental e política, incluindo

os moradores e preservando da área receptora. (ABREU; COSTA, 2004,

p.06).

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Como já vimos anteriormente, o turismo é uma atividade sociocultural, sendo

assim o planejador tem grande incumbência em oportunizar da forma mais sustentável

possível o seu desenvolvimento. Quando falamos em desenvolvimento turístico a

primeira ideia que nos vem, é a de criação de receita, porém, além da esfera econômica,

o planejador tem a mesma responsabilidade em fazer prosperar e preservar as demais

esferas, como a sociocultural e ambiental por exemplo. Planejar o turismo em

localidades de maneira participativa exige o envolvimento de todos os atores sem

restrições (Poder público, população local, iniciativa privada, sociedade civil organizada

e o terceiro setor). Esclarecem Abreu e Costa (2004):

[...] a falta de um desses componentes no sistema pode causar perdas ao

destino turístico, perdas estas que podem levar à baixa produtividade,

comprometimento da qualidade de vida dos moradores, e impactar de forma

negativa a cultura e o ambiente natural. Para evitar tais danos e perdas o setor

público tem a função de sensibilizar e unir a cadeia produtiva do turismo a

fim de que esta trabalhe alinhada aos princípios sustentáveis, além de

elaborar um planejamento onde cada um terá uma função determinada.

(ABREU; COSTA, 2004, p. 02).

O modelo de Planejamento Participativo no turismo é recente se comparado ao

desenvolvimento da atividade turística. De acordo com Araújo (ABBOTT, 1996 apud

2006, p. 154). “A participação de atores sociais no planejamento ganhou visibilidade

como uma questão política de interesse coletivo pela primeira vez na década de 1950”.

Ainda de acordo com Araújo (KEOGH, 1990; JOPPE, 1996; JAMAL; GETZ, 1997

apud 2006, p.154): “Além disso, a participação sociopolítica na criação de ações de

desenvolvimento turístico tem sido mais comum no nível local”. Portanto, desenvolver

um turismo inclusivo socialmente, viável economicamente e que cuide dos recursos

ambientais requer planejamento preferencialmente, envolvendo todos os atores

atingidos pelo turismo.

O Planejamento Participativo, também está sendo bastante divulgado e utilizado,

principalmente no Brasil, onde temos uma enorme diversidade cultural e diversos

atrativos turísticos. Tal modelo vem sendo impulsionado pelas “agências

financiadoras”, que costumam financiar projetos turísticos a molde do Banco

Interamericano de Desenvolvimento (ARAÚJO; 2006; p. 155) objetivam investimentos

mais seguros.

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Portanto, é essencial para uma boa gestão utilizar-se de algum modelo de

Planejamento, que possui etapas a serem seguidas com rigor por toda administração

(Planejar, organizar, direcionar e controlar), essas são indispensáveis ao processo.

Segundo Chiavenato:

Planejamento é a função administrativa que define objetivos e decide sobre

os recursos e tarefas necessários para alcançá-los adequadamente. Como

principal decorrência do planejamento estão os planos. Os planos facilitam a

organização no alcance de suas metas e objetivos. Além disso, os planos

funcionam como guias ou balizamentos para assegurar os seguintes aspectos:

1. Os planos definem os recursos necessários para alcançar os objetivos

organizacionais.

2. Os planos servem para integrar os vários objetivos a serem alcançados em

um esquema organizacional que proporciona coordenação e integração.

3. Os planos permitem que as pessoas trabalhem em diferentes atividades

consistentes com os objetivos definidos. Eles dão racionalidade ao processo.

São racionais porque servem de meios para alcançar adequadamente os

objetivos traçados.

4. Os planos permitem que o alcance dos objetivos possa ser continuamente

monitorado e avaliado em relação a certos padrões ou indicadores a fim de

permitir a ação corretiva necessária quando o progresso não seja satisfatório.

(2009, p. 360).

Assim, o “plano”, por ser um efeito do planejamento é de suma importância no

desenvolvimento turístico. Já que na atividade turística estaremos trabalhando com

localidades e pessoas de diferentes culturas e que a menor falha pode se tornar uma

tragédia para ambos os lados (Receptor e Turista).

Na área turística o Planejamento também é muito utilizado e de acordo com

Abreu e Costa:

O planejamento do turismo é uma medida que pode contribuir para o uso

adequado dos espaços, além de ser uma ferramenta que envolve toda

localidade afetada pelo desenvolvimento do turismo. Não basta planejar, é

preciso acompanhar e avaliar a execução, deve-se, também, adequar o

planejamento a realidade do destino turístico (2014, p. 05).

Como podemos observar, o trabalho do planejamento vai muito além do ato de

planejar. É preciso um acompanhamento de todos os processos e principalmente que

esses processos estejam ajustados com a vida do lugar a ser explorado.

Outra concepção bastante utilizada entre os autores da área é a de Arnstein

(2002), que afirma:

Minha resposta à pergunta central o que é participação se resume à

constatação de que participação cidadã constitui um sinônimo para poder

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46

cidadão. Participação é a redistribuição de poder que permite aos cidadãos

sem-nada, atualmente excluídos dos processos políticos e econômicos, a

serem ativamente incluídos no futuro. Ela é a estratégia pela qual os sem-

nada se integram ao processo de decisão acerca de quais as informações a

serem divulgadas, quais os objetivos e quais as políticas públicas que serão

aprovadas, de que modo os recursos públicos serão alocados, quais

programas serão executados e quais benefícios, tais como terceirização e

contratação de serviços, estarão disponíveis. Resumindo, a participação

constitui o meio pelo qual os sem-nada podem promover reformas sociais

significativas que lhes permitam compartilhar dos benefícios da sociedade

envolvente (ARNSTEIN; 2002, p. 01).

Desta forma, nossa pesquisa utilizará o modelo de Planejamento Participativo,

por considerá-lo o mais adequado ao nosso campo de estudo e aos objetivos aqui

propostos. Isso porque a comunidade é uma das mais importantes para a cidade de

Penedo-AL, com grande riqueza cultural, o que um modelo mais abrangente consegue

alcançar. Por fim, por acreditarmos que o Planejamento Participativo pode incluir todas

as classes sociais no seu desenvolvimento, em que as diversas vozes poderão se fazer

presentes.

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47

6. METODOLOGIA

Neste estudo foi desenvolvida a pesquisa exploratória, que permite a

aproximação entre o pesquisador e o fenômeno a ser estudado, na tentativa de captar

informações precisas e de grande relevância sobre o objeto de estudo. Pois, “As

pesquisas exploratórias têm como principal finalidade desenvolver, esclarecer e

modificar conceitos e ideias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos

ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores”. (GIL, 2008, p.27)

Em primeiro lugar, foi construída uma base teórica sobre Patrimônio Cultural,

Turismo Cultural e Comunidades Quilombolas. A fim de alcançar alguns dos conceitos

relativos aos temas supracitados e com o intuito de ampliar a compreensão da tônica,

observando as interações entre as partes envolvidas. Posteriormente foi desenvolvido

um estudo de campo, reconhecendo aspectos iguais do bairro, como história,

localização, condições socioeconômicas. Assim como, dos aspectos específicos quanto

ao nosso interesse de pesquisa, como patrimônios culturais.

Os estudos de campo procuram muito mais o aprofundamento das questões

propostas do que a distribuição das características da população segundo

determinadas variáveis. Como consequência, o planejamento do estudo de

campo apresenta muito maior flexibilidade, podendo ocorrer mesmo que seus

objetivos sejam reformulados ao longo do processo de pesquisa. (GIL; 2008,

p. 57)

O estudo de campo oferece flexibilidade maior para a pesquisa e seus

pesquisadores. Quanto maior a aproximação do pesquisador com o agente da pesquisa,

melhor será o seu resultado. Desta maneira, nesse estudo será utilizada também a

técnica de observação participante que segundo Antônio Carlos Gil:

Consiste na participação real do conhecimento na vida da comunidade, do

grupo ou de uma situação determinada. Neste caso, o observador assume,

pelo menos até certo ponto, o papel de um membro do grupo. Daí por que se

pode definir observação participante como a técnica pela qual se chega ao

conhecimento da vida de um grupo a partir do interior dele mesmo. (GIL,

2008, p. 103)

Assim, esse trabalho foi desenvolvido por um pesquisador que tem uma relação

de vida ligada a comunidade que é o campo de estudo deste trabalho, pois toda sua

família materna é nascida, criada e residente até os dias de hoje, na comunidade

ribeirinha do “Barro Vermelho”. A maior parte da sua infância foi vivida na mesma

comunidade. Tendo residido até os oito anos em frente a “Lagoa do Oiteiro”, conhecida

e reconhecida pela Fundação Cultural Palmares como quilombo urbano. Assim sendo,

Page 48: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS UNIDADE DE ENSINO …

48

conhecendo e conhecido na comunidade, será utilizada a técnica de coleta de dados da

observação participante, a fim de somar informações e conhecimentos a pesquisa. Desse

modo pretende-se que essa pesquisa possa colaborar com estudos futuros estudos

futuros, caracterizando os grupos e suas respectivas manifestações culturais,

reconhecendo o interesse da população e de seus grupos culturais em trabalharem de

forma participativa com o Turismo Cultural. Pois, esse tipo de turismo for

primeiramente aceito pelos grupos e sua população e for planejado e desenvolvido de

forma sustentável com toda responsabilidade que merece esse tipo de atividade, poderá

ser de grande importância não só para economia local, mas também para a preservação

do patrimônio cultural e para que auxilie os grupos culturais através da valorização de

seu produto cultural. Dessa forma será despertado o interesse das crianças e jovens ao

aprendizado de sua própria cultura e consequentemente na perpetuação da manifestação

cultural na própria localidade, através da transmissão de saberes diminuindo o risco de

extinção de manifestações culturais de extrema importância para as comunidades.

6.1 Caracterização da Pesquisa

Esta pesquisa procurou descrever os principais pontos da história, cultura e suas

respectivas manifestações do Bairro Santo Antônio na cidade de Penedo-AL, bem

como, identificar, reconhecer e apresentar seus grupos culturais. Trata-se de uma

pesquisa exploratória de cunho participativo, assim aproximando-se do campo de

estudo e de seus atores, revelando seu real interesse em desenvolver o Turismo Cultural.

Segundo Antônio Carlos Gil:

A ciência tem como objetivo fundamental chegar à veracidade dos fatos.

Neste sentido não se distingue de outras formas de conhecimento. O que

torna, porém, o conhecimento científico distinto dos demais é que tem como

característica fundamental a sua verificabilidade. (GIL, 2008, p. 27)

Ou seja, podemos verificar as informações, dados gerados por uma pesquisa

científica.

Pesquisas exploratórias são desenvolvidas com o objetivo de proporcionar

visão geral, de tipo aproximativo, acerca de determinado fato. Este tipo de

pesquisa é realizado especialmente quando o tema escolhido é pouco

explorado e torna-se difícil sobre ele formular hipóteses precisas e

operacionalizáveis (GIL, 2008, p. 46).

A escolha do campo de estudo (Barro Vermelho) e do objeto de estudo (Grupos

Culturais, artistas e artesãos) desta pesquisa foi estimulada pela afinidade com os

grupos da localidade motivando o registro de suas produções, pelo campo de estudo não

Page 49: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS UNIDADE DE ENSINO …

49

apresentar nenhuma pesquisa que fizesse essa caracterização em especial sobre o bairro

e também pelo interesse em contribuir com a valorização e conhecer ainda mais a

realidade cultural de uma das principais localidades produtoras de cultura alagoana. No

caso do tipo de pesquisa que escolhemos, é relevante que tenhamos maior flexibilidade

devido a abrangência de informações, conhecimentos que foram organizados e a não

existência de registros similares anteriores. Assim, esse trabalho se constitui através das

descrições de entrevistas semiestruturadas, dos depoimentos dos organizadores e

observação de cada grupo cultural, sua origem, atualidade e seus anseios futuros,

registros oficiais, fotografias e depoimentos. Na pesquisa bibliográfica, encontramos

apenas um registro de uma manifestação cultural, advindo de um grupo específico (Os

Malês), apresentado no quarto capítulo. Dessa forma, empenhamo-nos em identificar os

responsáveis por grupos culturais e seus participantes, tornando a pesquisa mais

robusta.

6.2 Ferramentas escolhidas e suas formas de aplicação

As entrevistas foram organizadas por roteiro semiestruturado e os entrevistados

foram líderes comunitários. No caso do “Barro Vermelho”, foram: Presidente da

Associação dos Pescadores e Presidente da Associação dos Moradores. Também foram

entrevistados todos os artistas e artesãos, grupos de manifestações populares e seus

respectivos líderes e o poder público (Prefeitura Municipal de Penedo). As entrevistas

foram gravadas e transcritas com autorização dos entrevistados e analisadas em uma

abordagem qualitativa, identificando os temas mais recorrentes nas respostas.

Como ferramenta de pesquisa foram utilizadas além de entrevistas

semiestruturadas, com gravação de áudio, o registro fotográfico e observação

sistemática dos grupos culturais existentes no Bairro. A observação permite que o

pesquisador vivencie de forma mais intensa a coleta de informações, o que auxilia na

sua análise.

Portanto, sistematizamos o campo de pesquisa com os grupos culturais, artistas e

artesãos populares e efetivos na comunidade, nomeadamente: Folia na 15 de Novembro,

Batucada Milionários do Samba, Bloco da Alegria, Bloco da Boneca Raquel, Grupo de

Capoeira Mandingueiros de Penedo-AL, Cavalgada de Santo Antônio, Aloísio dos

Santos (Mestre Lú), Cícero Tadeu Gomes Lyra (Tadeu dos Bonecos Gigantes) e Edézio

e Herildo (Boneca Raquel).

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50

A partir desta identificação foram elaborados os questionários – com o principal

intuito de direcionamento, mas não de fechar as questões, muito mais como um roteiro.

É importante apontar que cada grupo teve um questionário específico, adaptado às suas

particularidades. Desta forma, cada entrevista constituiu-se de acordo com a intenção do

pesquisador e cada grupo, destacando especificidades na história e cotidiano dos

grupos, separadamente. As questões atribuídas aos grupos têm como intuito maior,

descrever com clareza suas manifestações como grupos culturais, sua história, trajetória,

sua condição atual, seus anseios e os demais detalhes que só poderão ser visualizados a

partir das entrevistas. Inicialmente foram efetuadas entrevistas semiestruturadas com os

líderes de cada grupo existente na comunidade, as questões atribuídas aos líderes

tiveram como intuito principal, descrever com clareza a participação de grupos culturais

na comunidade. A seguir são descritas as entrevistas realizadas. Para melhor

compreensão, as entrevistas foram gravadas em áudios e posteriormente transcritas. O

contato com os interlocutores foi feito por telefone ou visita aos seus locais de trabalho,

residência, sendo as entrevistas adequadas de acordo com a disponibilidade.

6.3 Entrevistas no Barro Vermelho.

Quadro 1: Entrevistas.

1. Entrevistado 2. Grupo Cultural 3. Data da Entrevista

Lenair Feitosa Folia na 15 28-06-2018

Zé Messias Milionários do Samba 03-08-2018

Mestre Bentinho Mandingueiros de Penedo-

AL

03-08-2018

Jackson Ventura Bloco da Alegria 15-08-2018

Alfredo Fernandes (Piau) Colônia Z12 15-082018

Jorge Augusto Cavalgada de Santo Antônio 13-09-2018

Edésio e Herildo Boneca Raquel 26-09-2018 e 25-10-2018

Mestre Lú Confecção de Barcos 25-09-2018

Tadeu dos Bonecos Artesão, Artista Plástico e

Carnavalesco.

26-09-2018

Josivan Francisco (Dodí) Artesão e Artista Plástico 02-10-2018

Poder Público Secretária de Turismo 24-10-2018

Poder Público Secretária de Cultura 22-11-2019

Fonte: Elaboração própria (2018).

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51

6.4 Folia na 15

Iniciamos nossas entrevistas dia 28 de julho de 2018, com o grupo “Folia na 15”,

que nos recebeu de braços abertos, mostrando grande interesse em contribuir com nossa

pesquisa. Há exatamente um ano atrás, fui convidado pelos responsáveis para participar

de um seminário cujo tema era as “Festas Populares”, com o objetivo de arrecadar verba

para a organização da festa. A partir de então, fui conhecendo melhor o grupo “Folia na

15” e avisei que precisaria do depoimento dos organizadores para esta pesquisa. Dois

dias antes da entrevista, fui confirmar com um dos líderes do grupo e no dia marcado

fui à quitanda de Lenair Feitosa, que se localiza atualmente na principal entrada do

bairro. Como sempre, Lenair recebeu-me com um grande sorriso e logo começamos a

conversar sobre os grupos culturais do bairro e em especial, sobre o que ela faz parte.

Lenair5 reconhece que o bairro sempre teve grande diversidade cultural e quando

expus sobre a minha pesquisa logo salientou que o “Barro Vermelho é o bairro em que

o povo é muito festivo e receptivo”. O grupo “Folia na 15” vem superando expectativas

pois esse grupo entrou no cenário cultural do bairro apenas em 2007 e não tinha a

intenção de crescer tanto quanto cresceu. Foi criado por amigos da mesma rua

(vizinhos) e o seu objetivo principal era comemorar os aniversários daqueles que

completavam nova idade no mês de novembro e lá residiam. Porém, o evento cresceu

de forma destacada, já é pensado sobre sua ampliação e realocá-la para outra parte da

Rua 15 de Novembro, em que o espaço é mais amplo, pois a cada ano que passa a festa

vem atingindo um público maior.

5 Entrevistada Lenair Feitosa, atual Presidente e Fundadora do Grupo Folia na 15.

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Figura 11. Local da Festa.

Fonte. www.aquiacontece.com (2017).

A festa que foi criada para comemorar aniversários tornou-se coisa séria,

passando a resgatar brincadeiras tradicionais quase esquecidas pelos populares, tais

como: corrida de saco, quebra pote, subida no pau de sebo, entre outras. Também

passou a registrar e divulgar histórias pitorescas de antigos e atuais moradores da Rua

15 de novembro. O grupo sempre traz como atrações para a festa os artistas locais e

bandas, preservando assim o Patrimônio Imaterial do bairro.

Porém, três fatores nos chamaram a atenção: o primeiro fator foi a grande

relação que a festa tem com o turismo, pois segundo os organizadores, embora não

enxergassem essa relação à princípio com o passar do tempo observaram a sua

relevância, pois ao acontecer em um feriado nacional, ex-moradores da rua e da própria

cidade retornam não só para a festa, mas também para rever velhos amigos e parentes

que ficaram na comunidade ou na cidade, passando assim um período maior em

Penedo; o segundo fator foi o desinteresse dos órgãos públicos responsáveis visto que,

segundo a organização da festa: “a comunicação com a prefeitura é mínima e os

representantes municipais poderiam se empenhar mais, considerando que só entram em

contato com os organizadores da festa no mês em que a festa será realizada”, não

acompanhando as necessidades de organização; por fim, segundo os próprios

organizadores, o fator de destaque é a participação dos próprios moradores da rua: “sem

a aceitação dos moradores nada seria realizado”. E nos mostra a foça que tem a

população local,

Page 53: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS UNIDADE DE ENSINO …

53

que mesmo sem muito apoio dos órgãos gestores realizam o evento de maneira

exemplar.

6.5 Milionários do Samba

O segundo grupo a ser entrevistado foi a Batucada Milionários do Samba. De

acordo com Zé Messias, o grupo foi fundado em 12 de janeiro de 1945. É o grupo mais

antigo do bairro. Escola de samba que encantava os foliões do “Barro Vermelho” e de

toda cidade, abrilhantava os carnavais da cidade desde 1945, desfilando pelas ruas do

bairro e do centro histórico. Falar da Batucada Milionários do Samba é voltar ao tempo

de infância, pois eu acompanhava nos carnavais penedenses, quando era criança e

também na adolescência. Meu avô foi um dos integrantes da primeira formação da

bateria da Batucada Milionários do Samba, tocava tamborim. Assim como,

posteriormente, fizeram parte também três de seus filhos (as): a) Joatas, que também

integrava a bateria, tocava um instrumento conhecido por “surdo ou 105”, b) Ângela e

c) Silvania, que integrava a ala das baianas - fato que reforça a relevância de explanar

sobre a Batucada.

Como já foi dito inicialmente, conheço esses grupos há muito tempo, porém foi

minha tia quem repassou o contato do atual líder e mestre da bateria da batucada, José

Messias, um dos discípulos do fundador da batucada maestro Jorge Sousa. Conheço

José Messias ou “Zé Messias” como é mais conhecido na comunidade, há mais de 15

anos e o conheci através de meu tio Paulo Roberto de Sousa, pois são amigos de

infância. Entrei em contato com Zé Messias no dia 01 de agosto de 2018, enviei uma

mensagem de voz via aplicativo para celular, explicando o motivo da minha procura e

logo aceitou em nos conceder a entrevista. Marcamos o dia, horário e local, porém, por

motivos pessoais Zé Messias não pode comparecer. Insisti em outra mensagem e

marcamos em outra data, que foi no dia 03 de agosto de 2018, só que dessa vez Zé

Messias veio até minha residência, no centro Penedo-AL.

Ao chegar a minha residência Zé Messias pediu maiores explicações sobre o

trabalho e logo esclareci que se tratava de meu Trabalho de Conclusão de Curso. Então,

Zé Messias abriu um grande sorriso e comentou: “é muito bom ver pessoas do bairro

interessado nos grupos culturais”. Começamos a relembrar antigos carnavais, as

lembranças são inúmeras tanto para mim como folião, quanto para Zé Messias

componente do grupo. Porém, o primeiro relato não foi tão agradável de ouvir, pois a

Batucada Milionários do Samba, “o grupo completo não existe mais”, relatou o

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54

entrevistado em tom de tristeza. Do grupo, existem apenas alguns componentes da

bateria e que quando são solicitadas as apresentações, Zé Messias reúne os integrantes

que estão disponíveis e realiza. Na maioria das vezes, são os próprios moradores da

comunidade que solicitam as apresentações, como ocorreu em 31 de agosto do mesmo

ano, na Festa do Santo Padroeiro do bairro: Santo Antônio.

Figura 12. Apresentação na Festa de Santo Antônio.

Fonte: Freitas, (2018).

Zé Messias, relata-nos que há seis anos o grupo não desfila mais nos carnavais

da cidade, porém os moradores e apreciadores do grupo sempre estão solicitando suas

apresentações, por esse motivo o grupo ainda não morreu. As dificuldades para manter

o grupo são inúmeras tais como falta de apoio financeiro, tanto da iniciativa privada

quanto do poder público, para a compra e manutenção de instrumentos e vestes,

principalmente. Zé Messias ainda chama nossa atenção e expõe que: “a prefeitura

ajudava com o mínimo, diante de um orçamento anual de 100%, a prefeitura contribuía

com 25%”, apresenta dessa forma para melhor compreensão do apoio dado pela

prefeitura. E da mesma forma que o grupo Folia na 15 nos relatou, a prefeitura da

cidade só costuma entrar em contato com a batucada no mês do carnaval e há mais de

dez anos que a prefeitura não entra em contato com o grupo. “Os grupos culturais de

Penedo acabam por falta de apoio dos órgãos públicos” – conforme relatou em sua

entrevista.

Page 55: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS UNIDADE DE ENSINO …

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No ano de 2018, os integrantes do grupo, junto com o vereador Edivaldo Santos,

morador da comunidade, reformaram a sede do grupo e recuperaram grande parte de

seu acervo histórico.

Figura 13. Sede da Batucada.

Fonte: Autoria Própria (2018).

O grupo está planejando expor este acervo ao público na sua própria sede. É

válido ressaltar que o grupo planeja abrir inicialmente para visitação de turistas,

visitantes e população local, no mínimo duas vezes por mês.

Neste mesmo dia, 03 de agosto de 18, fui convidado por Zé Messias a participar

de uma reunião do grupo, que aconteceria às 19h na sede. Fui e participei dessa reunião,

que tratava sobre a festa do padroeiro do bairro, pois a batucada foi solicitada pela

própria comunidade para realizar uma apresentação. Assim, tinham que colocar em

comum algumas questões como horário de chegada, vestes, repertório entre outros

assuntos. Quando ia retornando para minha residência, decidi passar em uma das

academias do grupo Mandingueiros de Penedo-AL, do qual fui integrante durante oito

anos. Chegando lá, encontrei o Mestre Bentinho que é o responsável pelo grupo.

6.6 Mandingueiros de Penedo-AL

O grupo Mandingueiros de Penedo-AL, é um grupo de Capoeira Regional, que

já está atuando no bairro há mais de dez anos na comunidade, contribuindo com aulas

de capoeira, reforço escolar, acompanhamento ao aluno e distribuição de sopão,

totalmente gratuitos. Conheço Mestre Bentinho há mais de vinte anos, aprendemos

capoeira juntos, na mesma academia, sempre tivemos um bom relacionamento pessoal.

Page 56: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS UNIDADE DE ENSINO …

56

Mestre Bentinho nos conta que o início do grupo no bairro foi muito difícil, pois dava

aulas em um prédio do governo estadual abandonado e disputava o espaço com o tráfico

de drogas e usuários de drogas ilícitas. Contudo, o grupo conseguiu ocupar o prédio e

preservá-lo.

Figura 14. Campeonato de Capoeira Regional, realizado com crianças carentes do Barro

Vermelho .

Fonte: Autoria Própria (2015).

É importante destacar, o trabalho social executado pelo grupo Mandingueiros de

Penedo-AL. Atualmente, o grupo trabalha com 120 crianças da comunidade e

adjacências. O grupo vem se apresentando oficialmente duas vezes por ano: Festa de

Bom Jesus e no dia do Folclore. Na atual gestão municipal, “o prefeito e a Secretaria de

Cultura sempre estão investindo no grupo”. Mestre Bentinho nos chama atenção

quando questionado sobre o Turismo na cidade e nos revela que: “o grupo infelizmente

não tem relação alguma com o turismo na cidade e até gostaríamos de nos apresentar

para turistas e visitantes, porém, o público habitual do grupo são os amantes e

simpatizantes da capoeira”, revela-nos com insatisfação o Mestre. Da mesma forma que

nos coloca sobre o Turismo Cultural: “para que isso aconteça é preciso fortalecer os

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57

grupos culturais, primeiramente”. Mestre Bentinho comenta conosco também que na

cidade de Penedo-AL o único grupo a possuir registro, em cartório oficial e CNPJ é o

dele.

Finalizamos nossa conversa com o Mestre com uma boa notícia, neste ano de

2018, o prefeito Marcius Beltrão, sancionou a LEI MUNICIPAL Nº 1.618/2018, que

transforma o Grupo de Capoeira Mandingueiros de Penedo, em uma instituição de

Utilidade Pública. A concessão do título, de utilidade pública, pela Prefeitura Municipal

de Penedo ao Grupo Mandingueiros, representa o reconhecimento do Poder Público ao

grupo em estar cumprindo o seu propósito perante a sociedade, levando arte, educação,

esporte e cultura em coletividade, sem fins lucrativos. O título também dá o direito ao

grupo a concorrer a editais e conseguir angariar recursos públicos. Adentrando um

pouco mais no bairro, fui à procura de um dos organizadores de outro grupo, o Bloco da

Alegria, para apenas ver sua disponibilidade do senhor Jackson Ventura e se

concordava em nos conceder entrevista.

6.7 Bloco da Alegria

Já era sabido que um dos organizadores era o Senhor Jackson Ventura6 e sua

residência está localizada na Travessa Santo Antônio, 175, sendo este também seu local

de trabalho - o senhor Jackson possui uma pequena oficina de marcenaria. Ao chegar ao

local, no dia 15 de agosto de 2018, na parte da manhã. Expliquei o motivo da minha

procura e expus a respeito da pesquisa, percebi o brilho nos olhos de Jackson e logo

concordou em colaborar com a pesquisa e ressaltou: “para mim é uma imensa satisfação

falar do Bloco da Alegria”.

Começamos a nossa entrevista com a confirmação de que o bloco não está mais

ativo, apesar de todos os seus fundadores estarem vivos. A escola de samba que

arrastava multidões nos carnavais penedenses, fundada em 1982 e com o mesmo

objetivo que iniciou a batucada Milionários do Samba, também iniciou o Bloco da

Alegria - brincar o carnaval, passando nas residências de amigos e componentes do

bloco. Ventura ainda nos coloca que no final da década de 80 e início da década de 90 o

Bloco da Alegria tornou-se um atrativo turístico, pois, pessoas de outras cidades da

região e do país, vinham conhecer o bloco na comunidade. Também segundo Ventura, o

6 Entendo como importante destacar que eu e o senhor Ventura somos primos, minha avó era irmã de seu

pai.

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58

Bloco da Alegria foi o grupo que colocou o primeiro carro alegórico, no desfile

carnavalesco da cidade de Penedo-AL, construindo com recursos próprios sua sede

física, onde aconteciam os ensaios e a maioria de suas atividades. O grupo conseguiu

dispor de três carros alegóricos, nesta mesma época e atingiu cerca de quinhentos a

seiscentos integrantes.

Figura 15. Primeiro Carro Alegórico do Bloco da Alegria.

Fonte: Jackson Ventura (1994).

Na figura 15, podemos observar o Carro Alegórico, que trazia uma homenagem

ao Rio São Francisco, com a alegoria de um de seus peixes nativos, a Tubarana e do

lado esquerdo o entrevistado senhor Jackson Ventura, à direita o senhor José Ronaldo.

Em nossa conversa Ventura comentou chamando nossa atenção: “nessa época eram

poucos blocos carnavalescos e escolas de samba na cidade e região e mesmo assim a

prefeitura só apoiava no mês do carnaval”. Outro ponto de destaque foi quando o

entrevistado nos revelou as razões para a paralisação das atividades do grupo, no seu

ponto de vista: “uma divergência entre antigos e novos componentes e a falta de apoio

da prefeitura”.

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59

Figura 16. Sede do Bloco da Alegria.

Fonte: Autoria Própria (2018).

Ventura indicou que a partir da gestão municipal de 1997 “a prefeitura esqueceu

daqui”. Na entrevista ficou notório seu estado emocionado a todo momento, sendo

denunciado pelos seus próprios olhos que se enchiam de lágrimas ao nos relatar sobre o

grupo. Próximo ao término de nossa entrevista, ele nos falou: “seria muito difícil ativar

o grupo novamente, porém nada é impossível”.

Nesta mesma manhã ao sair da oficina do senhor Ventura estive dividido em

dois sentimentos: primeiramente tristeza, por saber que um grupo tão magnífico

encontra-se parado. E em segundo lugar, alegria por presenciar um relato muito

emocionante sobre a história do meu próprio povo, indicando que embora adormecida

em parte, sua cultura está viva.

6.8 Associação dos Pescadores

Neste mesmo dia fui até a colônia dos pescadores, na tentativa de marcar a

próxima entrevista com o presidente da Associação dos Pescadores da Colônia Z12, o

senhor Alfredo Fernandes, mais conhecido como Piau. A sede da colônia localiza-se na

Praça Trinta e Um de Março, sem número e foi recentemente reformada com recursos

próprios.

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Figura 16. Prédio da Colônia Z12.

Fonte: Autoria Própria (2018).

Chegando a sede da colônia, logo entrei na fila para falar com o presidente da

associação. Após alguns minutos de espera na recepção, Piau assim como Jackson,

aceita de imediato conceder a entrevista para nosso trabalho. Piau começa nos relatando

que a associação é muito antiga, desde 29 de setembro de 1929 que vem atuando na

comunidade, organizando e promovendo a Festa de São Pedro, padroeiro dos

pescadores. A festa acontece no mês de Junho e tem o seu ponto alto no dia 29. Piau

nos relata que a festa tem dois momentos cruciais: o primeiro é quando a imagem do

santo padroeiro sai em cortejo pelas ruas do bairro até o porto, conhecido atualmente

como do “Luizinho Bocada” - referido anteriormente neste trabalho – e ao chegar ao

porto começa o segundo momento, com o cortejo fluvial percorrendo toda a margem do

rio no bairro. Mais uma vez, destacamos a não existência de comunicação, muito menos

apoio da prefeitura, segundo o entrevistado. Contudo o grupo está sobrevivendo até hoje

do dízimo do mercado do peixe, em que é cobrado 10% da arrecadação dos impostos

pagos pelos comerciantes trabalhadores no mercado e de mensalidades cobradas aos

próprios pescadores.

6.9 Cavalgada de Santo Antônio

O grupo de Cavalgada de Santo António promove uma cavalgada que percorre

as principais ruas do bairro e da cidade. Como as entrevistas foram iniciadas em julho

de 2018, coincidentemente um mês antes da realização da cavalgada, decidimos esperar

o término das festividades para que assim pudéssemos coletar as informações dos

organizadores, pois todos os organizadores estavam muito atarefados com os

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61

preparativos do evento. Porém, antecipei o meu interesse em entrevistar o grupo, para

um dos componentes da organização, o senhor Jorge Augusto dos Santos. Ele é um dos

moradores do bairro bastante atuante nos grupos culturais, participando e colaborando

em dois grupos. É importante ressaltar que acompanhei o início da cavalgada e percorri

seu trajeto dentro do bairro. Passada a cavalgada, procurei o senhor Santos, encontrei-o

em sua residência, localizada na Rua do Canto, no referido bairro. Marcamos a

entrevista para o dia 13 de setembro de 2018, chegando em sua residência no dia

marcado fomos recebidos e logo começamos uma conversa muito produtiva.

A Cavalgada de Santo Antônio vem sendo realizada desde de 2011, com muito

sucesso, relata-nos Santos que: “atualmente é a maior e mais organizada do baixo São

Francisco”. Fala-nos que desde sua criação, a organização da cavalgada compra um boi

em condições: “a gente escolhe o boi e rifamos, quando recebemos todo o dinheiro da

rifa, pagamos ao dono do boi”. O grupo também confecciona camisas estilizadas e

vende aos participantes, e assim realizam a festa. Inicialmente a cavalgada sai da igreja

do bairro com a benção do pároco. Da igreja segue em cortejo ao som dos aboiadores

em um mini trio elétrico, percorrendo as principais ruas do bairro.

Figura 18- Início da Cavalgada 2018.

Fonte: Autoria Própria (2018).

Conforme podemos perceber nas figuras 18 e 19, acompanham o cortejo

cavaleiros, amazonas, motociclistas, carros, caminhões e carroças.

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Figura 19 - Cortejo

Fonte: Autoria Própria (2018).

O cortejo sai do bairro em direção à cooperativa, percorrendo outros bairros da

cidade. Chegando à cooperativa, são recebidos com um grande churrasco que é

distribuído para todos os participantes. Após o churrasco, o cortejo retorna para o bairro

e daí iniciam as atrações musicais com as bandas e artistas locais. Santos também nos

revela que a cavalgada atrai em média dois mil participantes e apesar disso, a prefeitura

não apoia em nada. Até já tentaram se comunicar com ela, porém, não obtiveram

sucesso. Santos também considera a cavalgada um grande atrativo turístico e sabe que

pessoas de outros lugares e regiões vem participar do cortejo, pois: “sempre aparecem

pessoas de outras cidades procurando saber sobre nosso evento, nós temos o maior

prazer em receber e informar essas pessoas”. E com muito conhecimento empírico nos

chama a atenção no final de nossa entrevista afirmando: “nosso bairro é privilegiado

não só por ser banhado pelo Rio São Francisco, mas, também pela diversidade cultural

de nossa comunidade”.

6.A.1 Bloco da Boneca Raquel

Quando criança brinquei muitos carnavais neste bloco e por isso, sabia que a

boneca Raquel se originou no bairro. O bloco percorria as ruas do bairro e tinha como

tradição parar em pontos estratégicos, como por exemplo, nas residências de pessoas

importantes para o bloco. Uma desses pontos era na “Praça da Alegria”, onde residia a

família de um dos criadores. Tinha o conhecimento que um dos criadores da boneca já

havia falecido, popularmente conhecido como “Vá”, este cognome, também era usado

Page 63: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS UNIDADE DE ENSINO …

63

pela boneca. Nos anos 1980, a maioria dos foliões que acompanhavam o bloco conhecia

e a chamava de “Boneca do Vá”.

Desde minha infância conhecia a boneca como “Boneca do Vá”, porém não

conhecia o senhor Vá, cujo nome de registro era Valdomiro Santos. No dia 25 de

setembro de 2018 fui convidado a participar de uma pescaria por um dos meus tios,

neste dia começamos a conversar sobre o meu TCC, no meio da conversa comentei

sobre a boneca e logo o senhor Edésio que estava conosco na pescaria, revelou que era

um dos criadores. De imediato pedi ao senhor Edésio a nos conceder uma entrevista e

no dia seguinte retornei para a entrevista.

Encontrei o senhor Edésio, pela manhã na beira do rio. Ele nos conta que a

boneca foi criada em 1964, por ele, o senhor Ermes e o senhor “Vá”. E tinha como seu

primeiro endereço a Rua 15 de Novembro. A boneca todos os anos desfilava no bairro e

tinha como ponto de partida o porto atualmente conhecido como do “Luizinho Bocada”.

Figura 20 - Boneca Raquel na Lavagem das Escadarias do Rosário.

Fonte: www.aquiacontece.com.br (2018).

O senhor Edésio descreveu que para a construção da estrutura da boneca foram

utilizados madeira, bambu e ferro, enquanto sua cabeça era feita de barro. Cabelos

novos eram comprados todos os anos e que sempre mudavam os cabelos e suas roupas.

A prefeitura na gestão da época ajudava a comprar os tecidos para a roupa: “A

prefeitura só ajudava nisso, o resto éramos nós mesmos que comprávamos”. Edésio nos

fala que atualmente não faz mais parte da organização do bloco, e relata que quem

organiza agora é um dos filhos de um dos criadores, o senhor Herildo.

Page 64: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS UNIDADE DE ENSINO …

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Particularmente eu não conhecia o senhor Herildo, porém conheço um de seus

sobrinhos, músico da orquestra que acompanha a boneca. Assim, entrei em contato com

Herminho e pedi para fazer o contato com seu tio. E no dia 25 de outubro de 2018, fui

ao encontro do senhor Herildo. Encontrei com Herildo em sua casa na Rua Joaquim

Nabuco, no centro de Penedo-AL. O senhor Herildo nos confirma o que o senhor

Edésio nos contou, que a boneca teve seu início no Barro Vermelho e que seu pai

Hermes de Carvalho Lima, mais conhecido como “Mão”, junto com o senhor Vá, foram

os criadores da boneca. Os dois eram operários da antiga fábrica de tecido que existia

no bairro. O senhor Herildo nos relatou que a escolha do nome da boneca foi uma

homenagem a uma funcionária da fábrica, uma copeira admirada por todos por sua

beleza, “era uma mulher negra muito linda”, sendo assim, o seu primeiro nome foi

“Chica Boa”, em homenagem a beleza da funcionária que se chamava Francisca.

Porém, Francisca foi trabalhar em São Paulo e foi substituída por outra funcionária, só

que dessa vez uma mulher loira, também muito bonita, e então a boneca passou a ser

chamada de Raquel, nome da funcionária substituta de Francisca.

O senhor Herildo nos fala que, quem primeiramente fez a cabeça da boneca foi o

Mestre Santeiro Antônio Pedro. Após o falecimento do senhor Vá, a boneca ficou

abandonada, ele vendo que iria acabar o bloco, conversou com seu pai e pediu para

restaurar a boneca. Tendo o apoio e indicação de seu pai foi procurar a esposa do

falecido Vá, pois o rosto da boneca estava muito danificado por conta do abandono e

ninguém tinha um registro fotográfico, para que assim pudesse restaurar seu rosto de

maneira mais aproximada possível. E assim, Herildo procurou a esposa do falecido Vá e

conseguiu a fotografia da boneca, usando seu conhecimento e amizade pediu a um dos

discípulos do Mestre Antônio, que restaurasse o rosto da boneca. O senhor Claudionor

Higino de pronto concordou em restaurar e assim o fez.

Atualmente a boneca apresenta-se apenas no carnaval. Herildo revela que recebe

doações de amigos que não querem que o Bloco da Raquel acabe, pois até já tentou

entrar em comunicação com a prefeitura, porém sem muito sucesso. Muitos desses

colaboradores são os próprios músicos e maestros que fazem parte da orquestra de frevo

do bloco. Perto do término da entrevista, o senhor Herildo fez um apelo: “a Boneca tem

história, só não tem lugar para guardar”. Ele relata seu desejo de um local onde a

boneca pudesse ficar o ano inteiro e que esse local servisse de sede para os ensaios da

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65

orquestra e para o aprendizado de novos músicos, pois a boneca é desmontada após o

carnaval e guardada entre o forro e o telhado da residência de sua casa.

6.A.2 Artistas e Artesãos

Como já referido, identificamos três artesãos na comunidade, em pleno exercício

de suas funções. Iniciamos nossas entrevistas com o senhor natural do município de Ilha

das Antas, Aloísio dos Santos ou “Mestre Lú”, como é conhecido na comunidade.

Chegar até o Mestre não foi tarefa difícil, pois, conheço Mestre Lú desde a infância.

Mestre Lú nos recebeu com todo carinho, mostrando muita gentileza em conceder

entrevista no dia 25 de setembro de 2018, em seu estaleiro. Filho de Mestre Arthur, que

também confeccionava barcos, Mestre Lú trabalha com este ofício desde 1966 e assim

que chegou no bairro em 1979, aprendeu a confeccionar barco sozinho (autodidata),

conta-nos que: “não tinha outra opção”, na época queria casar e essa era a única forma

de realizar seu casamento, pois seu pai havia dado a seus irmãos que casaram antes, os

únicos barcos que ele tinha. Assim, Aloísio Dos Santos, ficou “pescando por terra”, o

que não daria para realizar seu casamento. Conseguiu confeccionar seu primeiro barco

aos vinte e dois anos de idade e, segundo conta foi um sucesso; “Barco bom de Pano”,

referindo-se a alta velocidade do barco quando são implantadas as velas. Vendeu sua

primeira produção e logo começou a confeccionar outro.

Mestre Lu descreve que inicialmente ele confeccionava os barcos com as

seguintes matérias-primas: Braúna, Arapiraca, Cedro, Pau Darco, hoje é muito raro

encontrá-las, por conta do desmatamento ilegal. Atualmente tem sido mais usado pelo

Mestre, o Louro Canela. Tem vários trabalhos espalhados, em toda região do baixo São

Francisco. O mestre sempre gostou de corrida de barcos, e conta que: “nunca fiz um

barco para perder, eu fiz um barco de nove metros que era imbatível”. Confecciona três

modelos de barcos: 1º. “Rumbiado de Polpa e Proa, 2º. Fundo de Calçola e 3º. Fiu

Dental”, e é notável sua preferência pelo primeiro, pois, de acordo com ele é o modelo

que atinge uma velocidade maior.

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Figura 21 - Canoa Rumiada de Poupa e Proa.

Fonte: Autoria Própria (2018).

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Figura 22- Canoa Fundo de Calçola

Fonte: Autoria Própria (2018).

Figura 23 - Canoa Fio Dental.

Fonte: Autoria Própria (2018).

Mestre Lú também confeccionava miniaturas e deixou de confeccionar, pois a

matéria prima para a confecção das miniaturas está em extinção. Segundo o mestre era a

raiz de Timbaúba, cuja madeira é mais macia que as demais”. Ficamos sabendo que ele

sempre considerou sua profissão um atrativo turístico, porém não recebe apoio dos

órgãos responsáveis como a Prefeitura e o IPHAN e, não existe nenhum tipo de

comunicação entre ambos, comenta que: “Se existe alguém do IPHAN ou Prefeitura eu

desconheço”, afirma referindo-se a promoção e conservação do patrimônio cultural.

Page 68: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS UNIDADE DE ENSINO …

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Ele se mantém de portas abertas para receber qualquer pessoa que tenha

interesse em conhecer um pouco mais de seu trabalho, porém, atualmente ninguém vem

conhecer sua arte. Além disso, Mestre Lú realiza trabalhos sob pedidos para várias

pessoas de diferentes lugares do Baixo São Francisco. A matéria-prima utilizada na

confecção dos barcos atualmente é comprada na cidade de Propriá-SE. O modelo de

barco que atualmente é mais confeccionado na região é o Rumbiado de Poupa e Proa,

por conta da velocidade e porque pode ser usado para várias atividades como, pescar,

passear e competir.

6.A.3 Tadeu dos Bonecos

Cicero Tadeu Gomes Lyra o “Tadeu dos Bonecos”, é natural de Sergipe, mas com

um ano de vida mudou-se para a cidade de Olinda-PE. Tadeu me conhece há muitos

anos, desde minha infância. Ele nos concedeu entrevista no dia 26 de setembro de 2018.

Iniciou sua vida artística aos treze anos de idade como artista plástico, carnavalesco,

escultor, artesão e folião. Ele afirmou: “não sei fazer outra coisa se não for arte”. Hoje

sobrevive de sua arte e seus bonecos são requisitados por todo o baixo São Francisco,

realiza trabalhos personalizados sob encomenda e trabalha com materiais recicláveis.

No dia de nossa entrevista Tadeu estava confeccionando um boneco para outro

município alagoano.

Figura 24 - Confecção de Bonecos Gigantes.

Fonte: Autoria Própria (2018).

Em 2016, Tadeu foi selecionado para concorrer ao registro de Patrimônio Vivo

da Cultura Alagoana, porém não foi contemplado. E nos chama a atenção, declarando

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que: “A escolha dos contemplados depende muito de politicagem, como nunca gostei

disso, fiquei de fora”.

De acordo com a Secretaria de Cultura do Estado de Alagoas:

É considerado Patrimônio Vivo (Lei Estadual n.6513/04, alterada pela LEI Nº

7.172, DE 30 DE JUNHO DE 2010) a pessoa que detenha os conhecimentos

e técnicas necessárias para a preservação dos aspectos da cultura tradicional

ou popular de uma comunidade, estabelecida em Alagoas há mais de 20 anos,

repassando às novas gerações os saberes relacionados a danças e folguedos,

literatura oral e/ou escrita, gastronomia, música, teatro, artesanato, dentre

outras práticas da cultura popular que vivenciam.

Apesar de não ter sido contemplado, neste mesmo ano, Tadeu confeccionou o

boneco gigante mais alto do Brasil. O boneco possui cinco metros e vinte centímetros

de altura e pesa apenas vinte e cinco quilos.

Figura 25 - Maior Boneco do Brasil. "O Galante".

Fonte: www.aquiacontece.com.br (2016).

Tadeu nos fala com toda cautela que desenvolveu uma técnica para a confecção

dos bonecos com canos de P.V.C, facilitando o trabalho do “Brincante”, pessoas que

levam os bonecos. “Antes até eu fazia os bonecos com a base de vergalhões, madeira e

cimento, e os brincantes só aguentavam carregar os bonecos no máximo uma hora,

agora o brincante dança com os bonecos de três a quatro horas”.

Ainda segundo Tadeu, ele desenvolveu essa técnica observando um encanador

fazer uma instalação de canos em uma casa. “Se ele consegue fazer isso numa casa, por

que não fazer em um boneco?” Assim o fez e a técnica tornou-se um sucesso.

Atualmente ele realiza seminários por todo o Brasil e em especial em Olinda-PE, onde

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70

já ministrou oficinas sobre confecção de bonecos gigantes e coloca: “até agora, não

conheci outra pessoa que trabalha com essa técnica, acho que sou o único no Brasil”.

Com tal grau de talento de Tadeu e sua longa atuação no cenário cultural da

cidade e do país, ele nos revela que não tem comunicação com a prefeitura e nem com o

Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional; também não recebe nenhum tipo

de apoio de ambos. Porém Tadeu tem seu atelier aberto diariamente para qualquer

pessoa que tenha interesse em conhecer seu trabalho na Rua Tenente Mariano, número

80.

Perto do término de nossa entrevista, Tadeu nos mostra que os turistas às vezes

acham seu atelier por conta própria e por acaso, pois seu atelier está situado na principal

entrada do bairro, onde muitos turistas e visitantes passam para conhecer o rio e a

gastronomia do único restaurante instalado dentro do bairro. “Se a prefeitura nos

ajudasse divulgando nossa cidade e seus atrativos turísticos seria ótimo”, finaliza.

6.A.4 Arte em Pedra

Durante a pesquisa de campo, exatamente no dia 02 de outubro de 2018, retornava a

minha residência após uma investida, na tentativa de entrevistar o Presidente da

Associação dos Moradores, vejo à distância uma pessoa trabalhando na confecção de

esculturas em pedra. Aquela visão chamou muito a minha atenção, pois mesmo à

distância, era notável a beleza das obras de arte. Imediatamente, fui ao encontro do

artesão, chegando em sua presença reconheci que era um colega de longa data, o senhor

Josivam Francisco dos Santos, também mais conhecido por “Dodi”. Começamos a

conversar e logo expliquei sobre meu TCC e Dodi aceitou de imediato participar. O

artesão é natural de Penedo-AL e reside no bairro há mais de quarenta anos. Descobriu

seu talento para arte ainda quando criança sua primeira oportunidade foi em sua própria

casa, com desenho e pintura dos números da residência. E nos revela que sua arte “é um

dom que deus lhe deu”, quando aos dezesseis anos de vida viu outro artesão

confeccionando peças na pedra, “aquilo me despertou” – comentou.

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Figura 26- Produto Semi Acabado e Matéria Prima Bruta.

Fonte: Autoria Própria (2018).

Dodi relatou que apenas o referido artista trabalhava com aquele tipo de matéria

prima, Pedra Calcária. Inclusive esse tipo de pedra existe em abundância nas margens

do rio que o bairro margeia principal fonte desse material.

Figura 27 - Artesão e suas Obras mais recentes

Fonte: Autoria Própria (2018).

Durante nossa conversa, Dodi descreve que não repete suas peças, todas são

únicas, tendo realizado trabalhos para outros municípios e regiões. Chegou a

confeccionar um busto de um morador ilustre para um povoado do município de

Penedo-AL, fez também um monumento para a cidade de Porto Real do Colégio,

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construído dentro do rio, com três metros de comprimento e feito de cimento, no ano de

2000.

O artesão acredita que tem uma peça de sua autoria, nos Estados Unidos da

América, pois participou de uma feira de artesanato aqui na cidade em 1993 e um turista

americano veio com um intérprete para conhecer seu trabalho em seu estande, quando

comprou a única peça que ele não imaginava vender.

Mais uma vez é descrito que os órgãos públicos, principalmente a prefeitura, não

apoiam em nada. Porém, o senhor Március Beltrão lhe presenteou com uma máquina de

corte e uma furadeira. Dodi também é restaurador, tendo esse ofício registrado em

carteira profissional de trabalho e afirma: “Eu sei trabalhar com restauração, restauro

qualquer igreja de Penedo, mas aqui ninguém dá valor a prata da casa”. Dodi produz

suas próprias ferramentas de trabalho, adaptando-as para cada situação. Por fim, contou

sobre o desejo de repassar seu conhecimento para crianças e adolescentes do bairro, mas

para que isso acontecesse seria preciso o apoio dos órgãos governamentais.

6.A.5 Poder Público

No dia 16 de outubro de 2018 fui à procura do Secretário de Turismo da cidade

para entrevistá-lo, porém fui informado que estava em uma reunião e iria demorar

muito. Sendo assim, marcamos com sua secretária de gabinete para o dia 24 de outubro.

Ao chegar ao local e hora marcados, o senhor Pedro Soares, atual secretário de

Turismo, recebe-nos mostrando grande disponibilidade em contribuir com o nosso

trabalho. Soares nos revela que o Conselho Municipal de Turismo da gestão atual foi

quem criou o calendário de eventos da cidade. Sua criação foi em 2016 e ficou definido

que iriam apoiar eventos mensalmente com o intuito de movimentar a cidade o ano

inteiro.

Os eventos definidos são: Festa do Bom Jesus dos Navegantes, Carnaval,

Aniversário da Cidade, Moto Fest, Festas Juninas, Encontro de Teatros, Festival de

Música Alagoana, Festival Gastronômico, Festival de Cinema e Natal Iluminado.

Porém, o secretário destaca que a execução é feita pela Secretaria de Cultura. Afirma

também que não tem comunicação com os grupos culturais do Barro Vermelho pois

“quem faz esse link com os grupos é a Secretaria de Cultura”. E revela que quanto a

Cultura Penedense:

Page 73: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS UNIDADE DE ENSINO …

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Trouxemos para a gente como cultura, os artesãos, porque a gente

entende que o artesanato não é cultura só, é muito mais geração de

emprego, renda e desenvolvimento do que só cultura e, se a gente não

tratar esse pessoal como empresa, como empresário para que eles não

trabalhem só com arte, assim a receita não entra (SOARES, 2018).

Quanto aos artesãos, o secretário revelou a elaboração de um cadastro com todos

eles e que realiza um programa de capacitação e diz: “foi bom, que semana passada eles

já se reuniram para formar associação”.

Afirma também que estão elaborando um projeto para os artesãos trabalharem e

complementa: “você é da cidade e sabe que a população espera muito pela prefeitura, e

não pode ser assim, acho que a prefeitura é um tutor e não o executor.” O secretário

aponta a não existência de um espaço comum para que os grupos culturais, artistas e

artesãos possam expor seus produtos, contudo a prefeitura disponibiliza sempre que

solicitado alguns dos prédios do município tais como, Casa da Aposentadoria, Ciclo

Operário, Monte Pio dos Artistas e Teatro Sete de Setembro. E quanto ao projeto dos

artesãos, pretende divulgar o trabalho deles levando-os a feiras estaduais e nacionais.

Conta-nos que nessa primeira etapa do projeto, que se iniciou há oito meses, realizaram

cursos de capacitação em quatro fundamentos: Empreendedorismo, Formatação de

Preços, Atendimento ao Público e Vendas. A Secretaria de Turismo pretende realizar

dez etapas de capacitação, para os artesãos, segundo o secretário. Pontuou ainda que

existe uma verba destinada à Secretaria de Turismo, porém não revelou o valor, como é

feito o repasse e nem onde poderíamos ter acesso a essa informação.

Na manhã do dia 19 de novembro de 2018, retornei à prefeitura para tentar uma

entrevista com a Secretária de Cultura, sendo essa a terceira investida e não consegui.

Deixei agendado com sua secretária para o dia 22 de Novembro. Na manhã desse dia

cheguei à Secretaria no horário marcado e fui recebido pela Secretária de Cultura, Aline

Costa, que tomou posse do cargo no dia 06 de outubro de 2017.

Iniciamos nossa conversa com uma apresentação formal e logo em seguida

expus o objetivo da minha procura à Secretaria de Cultura, o Trabalho de Conclusão de

Curso. Costa nos fala sobre o calendário de eventos da cidade, que tem seu início em:

janeiro; Festa do Bom Jesus dos Navegantes- segundo domingo do mês. Logo em

seguida, a partir do dia 20 de janeiro, vem a Festa de São Sebastião na comunidade

Marituba do Peixe.

Page 74: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS UNIDADE DE ENSINO …

74

Em fevereiro temos as Prévias Carnavalescas com o desfile de blocos de frevo

(O Molinho, Boneca Raquel, Nata dos Músicos, O Galante e Ovo da Madrugada), em

seguida tem a Lavagem do Senhor do Bonfim (Oiteiro) e o BH Folia (Beco do

Hospital). Na sexta-feira que antecede o carnaval, acontece a tradicional “Lavagem da

Escadaria da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos”. Após o carnaval,

na terceira e quarta semana de fevereiro, é realizada a Festa de Bom Jesus do povoado

Ponta Mufina. Em março é realizado a “Encenação da Paixão de Cristo”. No mês de

abril temos o aniversário da cidade celebrado com o “Festival de Cultura Do Penedo”,

que vai do dia doze ao dia dezoito. Ainda no mesmo mês temos a Festa do Senhor do

Bonfim e Semana Santa, essas duas últimas são datas móveis. No mês de maio tem a

“Festa da Coreia” (Bairro Nossa Senhora de Fátima) realizada no dia treze do corrente

mês. Junho tem as festas Juninas, Corpus Christ, Festa de Santo Antônio e Festa de São

Pedro, essas duas últimas são realizadas no “Barro Vermelho”. No mês de julho tem o

Festival de Férias no Teatro, são realizadas apresentações teatrais todos os fins de

semana. Em setembro tem o projeto “Música na Praça e a “Festa de São Miguel

Arcanjo” ( K-Martelo do Meio) está entre os dias quatorze e quinze. No mês de outubro

tem a “Festa da Padroeira Nossa Senhora do Rosário. Novembro tem o Festival de

Cinema Universitário e o “Recita Penedo”. Finalizando o calendário de eventos da

cidade, no mês de dezembro tem o “Festival de Coros de Penedo” e “Natal de Luz”.

A Secretária de Cultura ainda faz uma observação: “durante todo o ano aos

sábados podem acontecer projetos culturais com apresentações”. A respeito da

comunicação com os grupos culturais a secretária afirma só haver comunicação com o

Grupo Mandingueiros de Penedo. E nos conta: “convocamos os grupos para realizar

cadastro, porém, apareceram poucas pessoas.” A secretária nos diz que atualmente está

disponível um espaço público para que os grupos culturais possam se apresentar, que é

o Ciclo Operário, isso desde que haja uma solicitação do espaço antecipadamente. A

secretária afirma também que não há nenhum tipo de divulgação feita pela prefeitura

em favor dos bairros históricos da cidade e geralmente apoia os eventos realizados nos

bairros. Relata a existência mapeamento dos grupos culturais do Barro Vermelho,

embora tenha disponibilizado. Por fim, comentou que: “a maioria desses grupos não

está em atividade e muitas vezes tem que trazer grupos de fora da cidade, como já veio

de Maceió e Piaçabuçu”. Próximo ao final de nossa entrevista a secretária conta-nos

que o projeto da Secretaria de Cultura é fazer um resgate desses grupos e que vai tentar

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75

“Trazê-los na Festa de Bom Jesus”. Além do mais, reforça que a Secretaria de Cultura

não tem uma verba destinada a seus projetos e por isso, qualquer gasto é solicitado à

Secretária de Finanças.

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76

7. BARRO VERMELHO E SUA REALIDADE CULTURAL NA

ATUALIDADE

No primeiro parágrafo do capítulo anterior afirmamos que são sete grupos e três

artesãos existentes no bairro, de diferentes características Culturais. Faremos uma

rápida definição de cada vertente dos grupos e artesãos, buscando refletir sobre as

informações coletadas. É importante ressaltar que as análises foram realizadas a partir

das falas mais recorrentes nos discursos dos interlocutores. No entanto, antes de

apresentar a análise considera-se relevante explicar as características culturais de cada

grupo ou artesão entrevistado. A seguir trouxemos um quadro para melhor compreensão

do leitor.

Quadro 2: Grupos Culturais e Suas Vertentes

Grupos: Vertente:

Folia na 15 Frevo

Boneca Raquel Frevo

Milionários do Samba Samba

Bloco da Alegria Samba

Mandingueiros de Penedo-AL Capoeira Regional

Associação dos Pescadores Associação

Cavalgada Aboio

Fonte: Elaboração Própria (2019).

Quadro 3: Artesãos e Artistas

Mestre Lú Mestre Carpinteiro na Confecção de

Embarcações.

Tadeu dos Bonecos Artista Plástico, Escultor e Carnavalesco.

Dodi Artista Plástico, Restaurador de Igreja e

Imagens e Artesão.

Fonte: Elaboração Própria (2019).

Os grupos Folia Na 15 e Boneca Raquel, tem como destaque da sua manifestação

o Frevo, que segundo a Fundação Cultural Palmares:

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É uma forma de expressão musical, coreográfica e poética, enraizada no

Recife e em Olinda, no Estado de Pernambuco. Trata-se de um gênero

musical urbano que surgiu no final do século XIX, no carnaval, em um

momento de transição e efervescência social como uma forma de expressão

popular nessas cidades. O frevo é formado pela grande mescla de gêneros

musicais, danças, capoeira e artesanato (http://www.palmares.gov7).

Notamos através das entrevistas de campo, que o grupo Folia Na 15, teve seu

início com o Frevo e com o passar do tempo foi incorporando outras manifestações e

brincadeiras. Já a Boneca Raquel, resiste há mais de cinco décadas com o Frevo.

Destacamos que a Boneca Raquel atualmente encontra-se fora do bairro, porém um de

seus criadores encontra-se residindo no bairro e todos os anos a Boneca desfila em suas

ruas. O frevo que teve sua origem em Pernambuco e surgiu em decurso do fim

processo escravocrata, como afirma Valadares,

Na passagem para o século XX, Pernambuco passou por um processo

de transformação das relações de trabalho que passam do modo

escravocrata para assalariado, iniciando-se o regime capitalista neste

estado. Histórica e politicamente, esta mudança se relaciona com

outros processos nacionais como a libertação dos escravos, em 1888 e

com a proclamação da República do Brasil, em 1889. A origem do

frevo se insere nesse processo, pois remete á criação das Corporações

de Ofícios, que começaram a surgir ainda no século XVII. Elas

congregavam artistas e artesãos, trabalhadores livres ou negros

cativos, de uma mesma categoria para defender seus interesses

(VALADARES, 2007: p, 52).

Portanto essa manifestação de características populares e negras tem em sua

junção a música, dança, luta e artesanato e foi direcionado por entidades capitalistas no

processo de industrialização cultural no Brasil. Apenas o direcionamento foi imposto

nesse processo capitalista. Assim como, no século XVII, notamos atualmente, que o

fator mais relevante para que essa perpetuação aconteça é a aceitação da população

local e seu apoio aos grupos.

Queremos destacar que o grupo Folia na 15 está registrando histórias de

moradores, através de audiovisual e fotos, um trabalho de extrema importância

principalmente para a comunidade. Pois a cultura é um aspecto de determinada

comunidade e sem ela é inexistente o referencial de reminiscência cultural (MORIN,

1991). E Também a criação própria de registros do Patrimônio Cultural da comunidade.

Reparamos que a relação do grupo com o turismo é existente e influencia bastante

exponencialmente para o turista e receptor, da mesma forma influencia na economia

7 Acesso em 01-06- 18, 8:30.

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78

local, pois as festividades possibilitam essa vivência (ZEPPEL; HALL 1991 apud

PEREZ; 2009, p. 1109). Foi visto que na própria quitanda de Lina as vendas aumentam

muito acima do habitual. Outros moradores também aproveitam o dia da festa e

complementam suas rendas com vendas de alimentos e bebidas em suas próprias

residências.

Outro ponto importante foi notado na fala de Lina sobre o apoio dos artistas

locais que dão sua contribuição no dia da festa sem cobrar cachê, a exemplo de Tadeu

dos Bonecos e a Orquestra Amigos da 15, além da aceitação e apoio de outros bairros

através de seus representantes legais.

7.1 Escolas de Samba Do Bairro

Como já havíamos informado, anteriormente no “Barro Vermelho” existiam

duas escolas de samba, porém no decorrer da pesquisa, descobrimos que apenas uma, a

Batucada Milionários do Samba, ainda se apresenta no cenário cultural do bairro. E de

acordo com Ligia Vieira Cesar (1990):

A criação do samba, como gênero musical, aconteceu de forma peculiar, e

está ligada ao contexto social do início do século XX. A sociedade do Rio de

Janeiro, o maior centro cultural do país, era constituída de duas classes bem

distintas: de um lado, os aristocratas e a classe média em franca expansão

social e cultural, em decorrência do período de industrialização pelo qual

passava o pais; de outro, vivendo na parte mais antiga da cidade, amontoados

em cortiços, portuários, aventureiros, escravos recém-libertos,[...] (CESAR,

1990; p. 57).

E afirma que:

Foi na casa da Tia Ciata, contando com a presença de moradores desta parte

da cidade e aos quais se juntavam foliões, mestiços e músicos, que nasceu a

primeira música gravada levando no selo do disco a indicação “samba”, com

o nome de “Pelo Telefone”. (1916), tendo como compositor Ernesto dos

Santos, o Donga.(CESAR, 1990; p. 57).

Como podemos notar nas citações acima a classe musical encontrada no Barro

Vermelho é o samba, que teve sua origem na periferia do Rio de Janeiro e que como a

Capoeira tem como seus criadores os escravos.

A Batucada Milionária do Samba, na representação de seu atual Mestre de

Bateria: “Zé Messias”, primeiramente nos trouxe inquietação a data de sua fundação.

Segundo Zé Messias a batucada foi fundada em 1945, porém não apresentou nenhuma

documentação. .Em uma pesquisa na internet no Google Acadêmico e em sites oficiais

como o da Secretaria de Cultura do Estado, IPHAN e Fundação Cultural Palmares, não

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79

encontramos nenhum registro de fundação das escolas de samba em Alagoas. Apesar

disso, encontramos em dois sites não oficiais duas listas com as escolas de samba de

alagoas e suas datas de fundação. De acordo com os sites https://pt.wikipedia.org8 e o

http://www.academiadosamba.com.br/brasil9, a escola de samba mais antiga é a Unidos

do Poço de Maceió-AL, tendo sua data de fundação em 1955. Conseguimos um registro

fotográfico, em que a Batucada Milionários do Samba foi campeã do carnaval

penedense em 1958. O que já daria o título de segunda mais antiga do estado.

Figura 28 - Registro Fotográfico em 1958.

Fonte: Memorial Maestro Jorge Souza (1958).

A Batucada Milionários do Samba exercia um papel social de muita importância

no bairro, como podemos reparar na foto acima e também no relato de Zé Messias. O

grupo atraía muitas crianças e adolescentes, ocupando assim seu tempo ocioso. É

notório a falta de comunicação dos órgãos gestores públicos, também exclamada aqui

neste trabalho por Zé Messias, quando nos contou que há mais de seis anos o grupo não

tem contato com a prefeitura municipal. Ainda assim, o grupo com a ajuda de um

vereador está se organizando para trabalhar diretamente com a atividade turística.

Um dos pontos que nos chamou a atenção foi a grande união entre o grupo e a

paixão pelo mesmo, pois como foi visto os componentes da bateria que é o que resta da

escola de samba, quando sabem que foi solicitado uma apresentação, mesmo por muitas

das vezes sem receber cachê, ficam muito satisfeitos em realizá-la. Apesar do cansaço

8 Acesso em 03-08-2018, 20:40.

9 Acesso em 03-08-2018, 20:52.

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80

do trabalho diário, todos vão para os ensaios contentes, como pudemos observar no

decorrer desta pesquisa.

Destacamos que o grupo já pensa e planeja-se para trabalhar diretamente com o

Turismo Cultural, como abordado aqui neste trabalho, os componentes do grupo

realizaram algumas ações, como restauração da sede e recuperação de material

fotográfico. Desta maneira, todos os atores envolvidos devem tomar o máximo de

atenção e respeito pela comunidade. Sabendo que esse tipo de Turismo é muito

influente no modo de viver das pessoas pois vem de um legado de diferentes linhagens

e as pessoas são os guardiões do saber e fazer que conduzem todo processo cultural

(BRASIL, 2013, p. 20).

Já o Bloco da Alegria, que não faz mais apresentações, apesar de todos os seus

organizadores estarem vivos e também vários componentes da bateria, não conseguiram

perpetuar. Como podemos observar, o grupo que foi o pioneiro no baixo São Francisco

a desfilar fazendo uso de carro alegórico, que chegou a possuir seiscentos integrantes,

em menos de dez anos conseguiram construir sua sede com recursos próprios, recebia

na época, turistas, visitantes, veio a parar suas atividades. Os principais motivos que

levaram o grupo a parar suas atividades foram à falta de apoio da prefeitura e um

desentendimento entre os integrantes. Da mesma forma que a Batucada Milionários do

Samba, o Bloco da Alegria além de recepcionar turistas e visitantes desempenhava um

importante trabalho na comunidade, pois crianças, adolescentes e adultos passavam o

ano inteiro trabalhando em várias funções do grupo, tais como: Bateria, decoração e

ornamentação.

7.2 Capoeira no “Barro Vermelho”

No Barro Vermelho existe um grupo de Capoeira, apenas o Grupo

Mandingueiros de Penedo-AL, de “Capoeira Regional”, como atualmente é mais

conhecida, tem sua origem da Bahia e seu nome original é Luta Regional Baiana, que

segundo Hélio Campos:

A Capoeira Regional é uma manifestação da cultura baiana, que foi criada

nos fins da década de 1920 por Manoel dos Reis Machado (Mestre Bimba).

Ele utilizou os seus conhecimentos da capoeira primitiva e da luta

denominada batuque. A Capoeira Angola é uma manifestação primitiva que

nasceu da necessidade de libertação de um povo escravizado, oprimido,

sofrido e revoltado. (CAMPOS; 2009, p. 53)

Page 81: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS UNIDADE DE ENSINO …

81

É válido ressaltar que Hélio Campos foi aluno de Mestre Bimba, chegou à

academia de Bimba em 1966. No “Barro Vermelho”, esse estilo de Capoeira é

repassada por Mestre Bentinho, como foi visto anteriormente, desenvolve um grande

trabalho na comunidade.

Notamos que apenas dois grupos apresentaram o registro oficial CNPJ, um dos

grupos é o do Mestre Bentinho, que possui também o Cadastro Nacional da Pessoa

Jurídica, inventariado também no Cadastro Nacional de Capoeira. Cuja a instituição

responsável pelo cadastro é o Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional

(IPHAN). Na entrevista com Mestre Bentinho reparamos que, não é fácil a tarefa de

registrar um grupo aqui na cidade, pois a maioria dos grupos quando estão iniciando

não tem verbas para realizar esse registro em cartório oficial e atualmente na cidade de

Penedo-AL, só existe um cartório que realiza esse tipo de registro - além de todo o

processo burocrático que os responsáveis terão que enfrentar como: a elaboração do

estatuto do grupo, formatação de ata, despesas com advogado, pois sem a assinatura de

um advogado dando o parecer legal ao estatuto do grupo não será possível registrar

nenhum grupo, associação, ONG, entre outros. E também os custos com o cartório e

Receita Federal. Na cidade de Penedo-AL, seus custos ficam em torno de dois mil e

quinhentos reais, isso incluindo a assinatura de um advogado.

Porém, Mestre Bentinho com muito trabalho e garra, conquistou seu registro. E

da mesma forma o seu cadastro no IPHAN, além de seu trabalho exemplar no bairro.

Contudo foi o único que nos relatou a comunicação e apoio da prefeitura municipal, que

concedeu um título de extrema importância para o grupo.

Apesar de não ter uma relação com o turismo, o Mestre nos revelou que está

disposto a iniciar essa relação. O Grupo Mandingueiros de Penedo-AL atualmente está

em processo de expansão, tendo registrado seis filiais, espalhadas na cidade e região. E

como os demais grupos, Mestre Bentinho ressalta a importância da aceitação da

comunidade, contudo em uma de suas falas o Mestre nos coloca que para que o Turismo

Cultural venha acontecer na cidade seria essencial que a prefeitura desse o devido

suporte aos grupos. Como por exemplo, na obtenção do registro, que é um dos maiores

obstáculos para esses grupos.

7.3 Associação dos Moradores e Pescadores

Page 82: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS UNIDADE DE ENSINO …

82

De acordo com o Código Civil brasileiro através da Lei de Nº 10. 406 de 10 de

Janeiro de 2002, artigo 53. “Constituem-se as associações pela união de pessoas que se

organizem para fins não econômicos”. Conforme identificado, no bairro é existem duas

associações: Associação dos Pescadores e Associação dos Moradores.

A Associação dos Pescadores possui o CNPJ, desde 1929 o que a coloca como

Associação mais antiga do bairro, contudo, não possui, nenhum vínculo com a

prefeitura, realizando a festa de São Pedro com recursos próprios, da mesma forma o

grupo sobrevive. Foi notória na fala do Presidente da associação dos Pescadores a

naturalidade com que expõe sobre a ausência de apoio da prefeitura municipal e nos

expede a marca do período colonial e seus resquícios pós coloniais, já que os gestores

públicos deveriam ter um pensamento decolonial, pois esse pensamento é o mais

razoável a ser levado em consideração, todo esforço dos povos escravizados para a

preservação de sua cultura que viveu por décadas subjugada pela visão eurocentrista e

sempre às margens da história de um país (ALVES E COSTA, 2017, p. 213). Mesmo

com a ausência do apoio governamental, a associação persiste por 89 anos de forma

ativa e inspiradora para outros grupos culturais.

Já a Associação de Moradores, não conseguimos a entrevista com o atual

Presidente, mesmo sendo identificado e convidado a participar desta pesquisa não

obtivemos sucesso nas investidas. Nós entramos em contato com o senhor “Nei”, no dia

17 de Setembro de 2018, na Praça do Pirulito, centro de Penedo-AL. Porém não

obtivemos uma resposta.

7.4 Cavalgada de Santo Antônio

Como vimos no capítulo anterior, a Cavalga no Barro Vermelho é recente,

contudo sempre comportou um público considerável e ao mesmo tempo, diversificado.

Acompanham a cavalgada além de Cavaleiros e Amazonas, motociclistas, carroças

ornamentadas, carros e caminhões.

As cavalgadas são conhecidas no Brasil desde o tempo dos tropeiros,

durante o processo de ocupação do território no século XVII e XVIII. Essa

atividade de características rurais permaneceu nos estados do país,

sobretudo em áreas de pecuária extensiva e onde o uso do cavalo faz parte

do cotidiano, com finalidades religiosas e de cumprimento de promessas.

(SILVA, J. 2009, P. 03)

A origem das cavalgadas no Brasil é antiga, de acordo com Silva (2012).

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83

Figura 29- Carroça Ornamentada.

Fonte: Autoria Própria (2018).

Um dos pontos que chamou nossa atenção foi o grande público apreciador neste

ano de 2018. A organização da cavalgada estimou uma média de duas mil pessoas ou

mais que participaram do cortejo, sem contar os participantes dos shows musicais.

Outro ponto muito interessante, exposto pela organização foi como a cavalgada

sobrevive, rifando um boi, eles conseguem custear quase toda a festa. A outra parte vem

da venda de camisas personalizadas. Como foi explanado neste trabalho, para que se

possa alcançar um resultado positivo, através do Turismo Cultural e Participativo é

necessário que todos os atores envolvidos façam parte do planejamento e

consequentemente das demais etapas a ser seguida, a ausência de um desses atores

expõe a prejuízos para a localidade receptora (ABREU; COSTA, 2004, p. 02).

A organização funcional da cavalgada é bastante rigorosa: todos os cavaleiros,

amazonas e demais participantes seguem enfileirados ao som das toadas que os

aboiadores recitam e, ninguém ultrapassa o outro, todos sorridentes e cumprimentando

em cada residência que faz parte do seu trajeto. Não temos como mencionar o número

exato de participantes na cavalgada de 2018, porém fiquei admirado com a quantidade

de participantes, acredito que a organização foi modesta ao especular o número de

participantes.

7.5 Artistas e Artesãos em Atividade no Bairro

Nosso trabalho primeiramente faz um breve esclarecimento entre arte e

artesanato sabendo então que: o artesanato se desenvolve desde as primeiras sociedades

Page 84: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS UNIDADE DE ENSINO …

84

da humanidade, sendo os mais variados tipos de artesanato, usos e significados. De

acordo com Silvana Pirillo Ramos:

O objeto artesanal tem como característica ser fruto do trabalho das mãos

humanas. São diversas mãos que, coletivamente, atribuem forma, função e

sentido a um determinado objeto, mãos de trabalhadores, dotados de saberes

e habilidades diferenciadas por meio das quais o sujeito adquire a identidade

de artesão. (RAMOS, 2013, p. 02).

Na atualidade existem várias definições para artesanato.

Assim, para discorrer sobre a conceituação de artesanato deve-se evidenciar

seu reconhecimento como ofício de transmissão do saber/fazer e sua forte

carga simbólica e humana, permitindo ao mesmo ser reconhecido pelas

políticas públicas como patrimônio imaterial, totalmente produzido pelo

homem e um campo de diversidade cultural (MACHADO, 2016, p. 56).

Artesanato tem por sua natureza um objeto construído de maneira manual,

rústica e os artesãos devem dominar todas as etapas de seu ofício.

Já a arte tem sua origem nas “Belas Artes”. Que poder ser um ator, malabarista,

pintor, músico, escritor, entre outros. Sendo assim Mestre Lú, Tadeu dos Bonecos e

Dodi se inserem neste contexto. Mestre Lú é o único artesão na confecção de barcos do

bairro, repassa seu conhecimento apenas para um de seus filhos, que atualmente

trabalha a seu lado em seu estaleiro. Notamos o interesse do Mestre tem de que as

pessoas conheçam seu trabalho, considerando como um atrativo turístico, pois também

está apto a realizar trabalhos mediante pedidos. Este artesão é de extrema importância

não só para o bairro, mas também para toda cidade de Penedo-AL, pois a confecção de

barcos de forma artesanal está cada vez mais escassa, talvez por conta da tecnologia e

principalmente pela falta de reconhecimento e valorização por parte do poder público da

comunidade em geral e empresários, tornando esse ofício cada vez menos conhecido e

prestigiado. Apesar de Mestre Lú ter mais de sessenta anos de vida e pelo seu trabalho

exigir em alguns momentos força bruta, ele encontra-se produzindo de forma esplêndida

os barcos em madeira.

Já Tadeu dos Bonecos, podemos falar que dentro das artes e artesanato é

versátil, um mestre em artes e artesanato, amante do carnaval, Tadeu trabalha de forma

inovadora, desenvolve sua técnica própria na fabricação de bonecos e pintura e

decoração. No caso da confecção de bonecos gigantes ele destaca que “nunca vi em

outro lugar do pais”, sua técnica beneficiou muito o carnaval em geral por toda região,

já que amenizou muito o peso das estruturas dos bonecos gigantes e assim permitindo

Page 85: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS UNIDADE DE ENSINO …

85

que a pessoa que o carrega, tenha mais mobilidade e leveza conseguindo assim passar

um tempo muito maior na sua condução. Tadeu tem ajudado imensamente na

divulgação da cidade, como por exemplo, com seu boneco gigante: “O Galante”, que

trouxe os olhares da mídia em geral, para a cidade de Penedo-AL, pois desde 2017 que

o boneco sustenta o título de maior boneco do Brasil. Tadeu e seus bonecos, também

abrilhantam e alegram todo o carnaval e outras festas na cidade e região, pois seus

bonecos são muito requisitados e estão presentes na maioria dos blocos de rua.

O senhor Josivan o “Dodi”, também trabalha com artesanato há muito tempo,

contudo é desconhecido, tanto no bairro como na cidade. Dodi destaca que só existe

mais um artesão na cidade de Penedo-AL, que trabalha com pedras, esse artesão como

pudemos reparar só produz peças únicas. Foi visto também que é restaurador de

imagens e igrejas, comprovadamente em sua carteira de trabalho, porém o artesão

sobrevive de outras atividades comerciais e não de seu artesanato. Também foi notado

na fala de Dodi que o Poder Público não dá principalmente o reconhecimento e

oportunidade a estes artesãos, quando Dodi refere-se a “Prata da Casa”, no tópico

anterior ele nos mostra todo o descaso por parte da prefeitura, pois não valorizar o

artista ou artesão é não valorizar o próprio local. Porém o que mais nos chama a atenção

foi o fato do artesão querer repassar sua arte para as crianças e jovens da comunidade,

“não consegui por falta de apoio das autoridades competentes”.

7.6 Secretarias de Cultura e Turismo

Nas entrevistas realizadas com o Secretário de Turismo e a Secretária de

Cultura, pudemos observar a falta de sincronia a respeito do calendário de eventos da

cidade. Foi notada a incerteza quanto a real programação e eventos desenvolvidos. Foi

visto que a Secretário de Turismo não tem nenhum tipo de comunicação com os grupos

culturais do “Barro Vermelho” e a Secretária de Cultura só tem comunicação com um

grupo cultural do referido bairro.

Também reparamos que não existe um espaço comum e fixo para que os grupos,

artistas e artesãos, possam se expor e expor seus produtos, havendo contradição também

sobre os possíveis locais, em que os grupos poderiam se expor, isso quando for

solicitado pelos grupos. O Secretário de turismo afirmou que sua secretaria realizou um

cadastro com todos os artesãos da cidade e que está capacitando todos os cadastrados,

para que assim possam ter maior noção de empreendedorismo.

Page 86: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS UNIDADE DE ENSINO …

86

Já a Secretaria de Cultura, através da Secretária Aline Costa, nos relatou que o

projeto da secretaria é resgatar os grupos que pararam suas atividades e trazê-los na

Festa de Bom Jesus dos Navegantes de 2019. Costa também afirmou que não existe

uma verba nem orçamento destinado a Secretária de cultura e que, quando a secretária

precisa de alguma verba é solicitada a secretária de finanças. Já o Secretário de Turismo

disse haver uma verba e orçamento destinado a Secretária de Turismo, entretanto não

apresentou nada que confirmasse sobre seu direcionamento - pesquisamos em todos os

canais de comunicação e informações da Prefeitura Municipal de Penedo, porém sem

sucesso algum.

7.7 Analisando o Patrimônio Cultural no Bairro

Procuramos nesse trabalho realizar uma análise, condizente com a realidade

atual, pois sabemos que essa realidade, dos grupos culturais, artistas e artesãos é

diferente para cada um deles. Desta maneira, podemos distinguir as condições, anseios e

necessidades dos atores envolvidos no cenário cultural do bairro. Hoje conhecido como

“Barro Vermelho”, teve sua primeira povoação indígena.

“Neste documento importante há referência de um terreno da Vila,

compreendido de – meia légua de terra do pelourinho para baixo, e – meia légua do

pelourinho para cima, correndo o rio até a Mata da Aldeia” (VALENTE; 1957 p. 04). O

que confirma que o Barro Vermelho antes da chegada dos portugueses já era habitado.

Também foi o local escolhido pelos negros malês, para sua moradia por volta da

segunda metade do século XVI, talvez seja daí que surgiu tanta diversidade cultural na

localidade. Pode-se conferir que na comunidade a maioria dos grupos culturais é de

matriz africana, bem como a mais antiga manifestação do local, que foi a “Festa dos

Mortos”, que teve seu último registro em 1887. Como tínhamos nos comprometido em

trabalhar um conceito de Cultura mais vasto, que comportasse o entendimento o modo

de viver de forma mais complexa, incluindo desde um simples costume cotidiano até às

manifestações populares (TYLOR, 1871 apud CASTRO 2005, p. 31).

Assim fizemos, pois pouco é falado sobre a história dos verdadeiros donos

destas terras, não só na história da cidade, mas da mesma forma que acontece no roteiro

que é desenvolvido no centro histórico da cidade, nos quais, costumeiramente, é apenas

contada a história dos monumentos católicos de forma católica, o índio em nenhum

momento é citado. E os negros são referenciados como fugitivos em apenas um

Page 87: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS UNIDADE DE ENSINO …

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momento destes passeios realizados por agentes locais, o que fere a diversidade cultural

como patrimônio de uma determinada sociedade e assim Fonseca afirma:

Entretanto, é forçoso reconhecer que essa imagem, constituída pela política

de patrimônio conduzida pelo estado e por mais de sessenta anos, está longe

de refletir diversidade, assim como as tensões e conflitos que caracterizam a

produção cultural do Brasil, sobretudo a atual, mas também a do passado. (

FONSECA, 2003, p. 56)

Atualmente como podemos observar que o pensamento colonial ( no âmbito dos

estudos pós-coloniais) é recorrente perante toda diversidade cultural existente na

comunidade, pois dos seis grupos participantes deste trabalho, apenas um estabelece

comunicação e tem sido apoiado pela Prefeitura Municipal de Penedo-AL. É aí que

destacamos a importância da difusão do pensamento decolonial, o qual destaca a

importância de não reforçarmos o pensamento eurocentrista como único ou mais

importante e por isso, presente em toda nossa historiografia. A compreensão decolonial

amplia a compreensão com uma visão “Latino Americana”, que é a visão dos que aqui

estiveram antes dos exploradores (ALVES; COSTA, 2017, p. 211).

Também esse grupo, Mandigueiros de Penedo é um dos que possui registro de

pessoa jurídica (CNPJ), o outro grupo a possuir é a Associação de Pescadores, que

afirmou não haver apoio nenhum por parte da prefeitura, da mesma forma que os

artistas e artesãos em atividade no bairro. Para que fosse planejado e desenvolvido a

atividade turística de maneira participativa seria indispensável a participação de todos

os atores envolvidos (Poder público, população local, iniciativa privada, sociedade civil

organizada e o terceiro setor).

[...] a falta de um desses componentes no sistema pode causar perdas ao

destino turístico, perdas estas que podem levar à baixa produtividade,

comprometimento da qualidade de vida dos moradores, e impactar de forma

negativa a cultura e o ambiente natural. Para evitar tais danos e perdas o setor

público tem a função de sensibilizar e unir a cadeia produtiva do turismo a

fim de que esta trabalhe alinhada aos princípios sustentáveis, além de

elaborar um planejamento onde cada um terá uma função determinada.

(ABREU; COSTA, 2004, p. 02).

Como no caso da escola de samba Bloco da Alegria, que paralisou suas

atividades a mais de dez anos que conforme o senhor Jackson Ventura, essa paralisação

ocorreu por falta de apoio por parte da Prefeitura e uma discórdia entre os integrantes

do grupo, porém seus organizadores não descartam a possibilidade de uma

Page 88: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS UNIDADE DE ENSINO …

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revitalização. Pois, o grupo ainda possui todos os organizadores vivos e grande parte

dos músicos da bateria, além disso, também possui ainda sua sede própria. O grupo

Milionários do Samba ainda resiste com alguns componentes da bateria, ainda realizam

apresentações e realizaram a reforma da sua sede transformando-a em um Memorial,

também foi visto que o grupo é a segunda Escola de Samba mais antiga do estado de

Alagoas.

Traremos a seguir uma tabela para melhor compreensão do leitor, da situação

dos grupos culturais da comunidade, no cenário cultural Penedense.

Quadro 4. Cenário atual dos Grupos Culturais da Comunidade.

Grupos: Ativos no Cenário

Cultural:

Apoio dos Órgãos

Responsáveis:

Folia na 15 Ativo Não Apoiado

Mandingueiros de Penedo-

AL

Ativo Recebe apoio

Cavalgada de Santo

Antônio

Ativo Não Apoiado

Boneca Raquel Ativo Não Apoiado

Bloco da Alegria Inativo Não Apoiado

Associação dos Pescadores

Z12

Ativo Não Apoiado

Fonte: Elaboração Própria (2019).

Quanto aos mestres artesãos (Tadeu dos Bonecos, Mestre Lú e Dodí), apesar do

descaso por parte do poder público, continuam suas atividades diariamente e apenas

Dodí não sobrevive de sua arte. É de extrema importância destacar que todos os atores

envolvidos neste trabalho, consideram que seus produtos são atrativos turísticos e

também gostariam da implantação na comunidade do Turismo Cultural. Destacamos

que neste trabalho foi notória a força da comunidade no apoio a todas as manifestações,

assim como os organizadores em todo processo para a realização das suas respectivas

manifestações. Todos anseiam também pelo apoio do Poder Público. Atualmente a

secretaria de cultura não tem conhecimento algum a respeito da maioria dos grupos,

artistas e artesãos. Essa condição é extremamente negativa para ambas as partes, pois a

prefeitura é um órgão executor de muita importância em uma cidade e para seus

Page 89: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS UNIDADE DE ENSINO …

89

respectivos grupos culturais, sua ausência pode contribuir para a paralisação de

importantes manifestações, como aconteceu com o Bloco da Alegria na própria

comunidade do Barro Vermelho.

Apesar disso, nosso trabalho de pesquisa possibilitou identificar, caracterizar,

conhecer e expor uma perspectiva da situação atual dos grupos culturais artistas,

artesãos, suas manifestações culturais e perceber que todos, com exceção do grupo de

Capoeira Regional, já tiveram ou tem alguma relação com turismo. Podemos notar

também em alguns casos, como o dos artesãos Mestre Lú e Dodí, que apesar de serem

detentores do conhecimento em seu trabalho, este ofício corre o risco de desaparecer,

pois Mestre Lú tem apenas um discípulo e Dodí até o momento não repassa seu ofício

para ninguém. Conforme observamos apenas dois artesãos trabalham com pedra

calcária na cidade e um deles é Dodí. É preciso reconhecer que em pouco tempo esses

ofícios podem desaparecer, dado que não há repasse desses conhecimentos ou

investimentos adequados. Um dos exemplos que podemos apresentar neste trabalho é o

do Bloco da Alegria, que chegou a ter seiscentos integrantes e atualmente está

paralisado. A Secretária de Cultura de Penedo, não tem conhecimento desta Escola de

Samba.

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8. MAPA DOS ATRATIVOS TURÍSTICOS DO “BARRO VERMELHO”

Após, todo o trajeto percorrido neste trabalho, percebemos a necessidade de uma

maior valorização aos grupos culturais, sua produção cultural e suas respectivas

manifestações. Assim nos indagamos: Como poderíamos contribuir para além do

registro? Então surgiu a ideia de produzir um Mapa Interativo, pois a comunidade do

Barro Vermelho é uma das mais importantes da cidade, tanto pelo seu contexto

histórico, mas também por sua produção cultural. Além disso, atualmente ter um mapa

pontuando e identificando o patrimônio cultural e suas manifestações, seja ele material

ou imaterial vem facilitar a vida de visitantes e turistas, bem como a de quem vai

recebê-los, mostrando claramente um pouco do que a comunidade tem a oferecer em

atrativos turísticos - visto que tínhamos realizado um levantamento identificando,

caracterizando e mapeando todos os grupos, artistas e artesãos da comunidade. A

importância desta produção é indispensável para nossa pesquisa, assim como para toda

comunidade e suas manifestações culturais, a seguir apresentaremos o mapa produzido

a partir deste trabalho.

5.1 Mapa Cultural

Figura 30. Mapa do Patrimônio Cultural do Barro Vermelho.

Page 91: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS UNIDADE DE ENSINO …

91

Fonte: Autoria Própria (2019).

Nosso primeiro contato com o projeto OpenStreetMap10

foi através do

pesquisador da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Antônio Heleno Caldas, que o

apresentou em oficina na Universidade Federal de Alagoas em 2018, promovida pelo

curso de Turismo. Segundo o próprio site é,

um projeto fundado em 2004 com o objetivo de criar e disponibilizar dados

geográficos gratuitos. Num espírito colaborativo, milhares de utilizadores de

todo o mundo recolhem informação sobre estradas, edifícios, linhas de

comboio, florestas, rios e muita outra informação habitualmente visível em

mapas. Como os dados são recolhidos diretamente, e não copiados de outras

fontes, não existem limitações na sua utilização, tornam-se um bem comum e

livre, independentemente do objetivo final (http://openstreetmap.pt, 2004).

E como sabemos dados geográficos são essenciais no Turismo, assim também

com o espírito colaborativo decidimos aderir ao projeto, utilizando o programa

“umap.openstreetmap”. Com a utilização deste programa conseguimos desenvolver e

finalizar o Mapa do Patrimônio Cultural do Barro Vermelho. O mapa encontra-se online

para quem deseja ter acesso a suas informações, através do link:

http://umap.openstreetmap.fr/pt/. Após acessar este link o usuário deverá seguir os

seguintes passos: digitar na procura do site, Mapa do Patrimônio Cultural do Barro

Vermelho, logo aparecerá este título em negrito, clicar no título. Em seguida surgirá o

10

Acesso em 15-02-19, 21:00.

Page 92: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS UNIDADE DE ENSINO …

92

mapa mundial em sua tela, você irá ver uma barra de controles à esquerda de sua tela,

clique na lupa que representa a procura de locais, será apresentado do lado direito de

sua tela um espaço para digitar a localização, digite Penedo-AL Brasil e aparecerá

“town Brazil”, que significa Cidade Brasil, clique em cima e logo o Mapa do

Patrimônio Cultural do Barro Vermelho surgirá, agora é só clicar em qualquer ícone no

mapa que aparecerá o que é e como se chegar até o local.

Este Mapa interativo vem pontuando todas as sedes que abrigam os grupos

culturais, artistas e artesãos onde estão exatamente localizados. Da mesma maneira

mostra suas principais ruas, pontos de comércios (Quitandas, bares e lanchonetes).

Primeiramente está demarcada com uma linha vermelha, toda área onde estão todos os

grupos culturais, artistas e artesãos suas sedes e monumentos. Logo após em amarelo

estão localizados os artistas e artesãos especificamente. Em verde estão localizados

especificamente os monumentos e sedes dos respectivos grupos. E por fim, em

vermelho estão localizados os bares e restaurantes.

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9. BARRO VERMELHO PLURICULTURAL - CONSIDERAÇÕES

FINAIS

A prática do turismo é geradora de renda para a população local, quando o

turismo é bem planejado. Mas não se pode omitir a formação histórica do lugar e suas

implicações. De forma geral, a comunidade do Barro Vermelho tem grande contato com

o Turismo, como já citado neste trabalho, no bairro existem dois pontos em que a

atividade turística é desenvolvida, mesmo sem muito planejamento e participação da

comunidade.

Encontramos diversas dificuldades no decorrer deste trabalho que passa pelas

poucas referências bibliográficas que abordem especificamente o Barro Vermelho. Das

entrevistas de campo, infelizmente não conseguimos entrevistar o atual Presidente

Comunitário, porém isso poderá acontecer em estudos futuros. Também este estudo não

se aprofundou na questão ecológica do local, o que podemos perceber a partir da

observação na comunidade é que todos os esgotos dos estabelecimentos comerciais e

residenciais que margeiam o rio são despejados diretamente nas suas águas, sem

nenhum tipo de tratamento e que não existe nenhum tipo de “Plano de Manejo” que

regulamente o uso de recursos locais. Porém, conseguimos apresentar e caracterizar a

partir da perspectiva dos promotores culturais e moradores em primeira mão, o bairro e

suas Manifestações Culturais, seus artistas e artesãos.

Julgamos esse trabalho relevante, principalmente para a população, já que não

foi encontrado nada que destacasse e desse voz ao Barro Vermelho. O resultado disso é

que na maioria das vezes a própria população local desconhece a história do bairro e

suas manifestações culturais. Os turistas ou visitantes estão condicionados a conhecer

apenas dois atrativos que são: A “Rocheira” e o “Porto do Luizinho Bocada”, visto que

os Agentes de Informações Turísticas apresentam rapidamente, apenas a Rocheira e em

seu discurso sobre o local é totalmente focado na história do Forte Maurício de Nassau,

construído na invasão holandesa de 1604, deixando de fora toda diversidade cultural

existente no bairro mais antigo da cidade. Assim, a população local não é beneficiada

pelo turismo.

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94

Desta forma, podemos compreender que o “Barro Vermelho” tem um grande

potencial cultural e turístico, não só por estar situado às margens do São Francisco, mas,

também por ter grande diversidade artístico-cultural, por ser um lugar que seu povo tem

como uma das maiores características sua hospitalidade e apesar das barreiras diárias e

descaso do Poder Público seguem em sistema de mutirão com suas manifestações

culturais – com claro potencial para o Turismo Étnico. Por fim, quando trazemos o

olhar e a voz de uma comunidade, enriquecemos em registros, conhecimento e

caminhamos para uma valorização que se baseia na relação de reconhecimento – eu

valorizo porque conheço e me reconheço.

Page 95: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS UNIDADE DE ENSINO …

95

REFERÊNCIAS

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APÊNDICE A – Transcrição de Entrevista aplicada aos Grupos Culturais do “Barro

Vermelho”, Folia na 15, Linair Feitosa.

Como exemplo de uma das entrevistas realizadas, trazemos a transcrição a fim

de ilustrar parte da metodologia do trabalho.

Penedo, 28 se setembro de 2018

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Meu nome é Fábio, sou discente do curso de

Turismo da Universidade Federal de Alagoas – gostaríamos primeiramente, que você se

apresenta-se.

Entrevistado (Linair Feitosa): Certo. Meu nome é Linair Feitosa, sou um dos

organizadores da festa “Folia na 15” e responsável pela comunicação interna e externa.

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Quando se deu inicio a este grupo?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Quantos integrantes havia inicialmente?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Quem foi o primeiro dirigente do grupo?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Como este grupo sobrevive?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual é a participação do grupo no calendário de

eventos da cidade?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Existe uma comunicação entre a prefeitura e o

grupo?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo recebe algum tipo de apoio da prefeitura?

Se sim, qual?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Existe alguma relação entre o grupo e turismo?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual a importância do grupo na comunidade?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Durante um ano quantas vezes o grupo apresenta-

se?

Page 100: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS UNIDADE DE ENSINO …

100

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual o publico que habitualmente prestigia as

apresentações?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo teria interesse em se apresentar mais

vezes, para turistas e visitantes?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo acredita que a atividade turística pode

trazer melhorias para comunidade?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo considera sua atividade um atrativo

turístico?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo gostaria que o Turismo Cultural fosse

implantado na comunidade?

APÊNDICE B – Entrevista aplicada com o Grupo Milionários do Samba. José Messias.

Penedo-AL, 03 de agosto 2018

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Meu nome é Fábio, sou discente do curso de

Turismo da Universidade Federal de Alagoas – gostaríamos primeiramente, que você se

apresenta-se.

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Quando se deu inicio a este grupo?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Quantos integrantes haviam inicialmente?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Quem foi o primeiro dirigente do grupo?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Como este grupo sobrevive?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual é a participação do grupo no calendário de

eventos da cidade?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Existe uma comunicação entre a prefeitura e o

grupo?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo recebe algum tipo de apoio da prefeitura?

Se sim, qual?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Existe alguma relação entre o grupo e turismo?

Page 101: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS UNIDADE DE ENSINO …

101

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual a importância do grupo na comunidade?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Durante um ano quantas vezes o grupo apresenta-

se?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual o publico que habitualmente prestigia as

apresentações?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo teria interesse em se apresentar mais

vezes, para turistas e visitantes?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo acredita que a atividade turística pode

trazer melhorias para comunidade?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo considera sua atividade um atrativo

turístico?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo gostaria que o Turismo Cultural fosse

implantado na comunidade?

APÊNDICE C – Entrevista com Grupo de Capoeira Mandingueiros de Penedo-AL,

Mestre Bentinho.

Penedo, 03 de agosto 2018

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Meu nome é Fábio, sou discente do curso de

Turismo da Universidade Federal de Alagoas – gostaríamos primeiramente, que você se

apresenta-se.

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Quando se deu inicio a este grupo?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Quantos integrantes haviam inicialmente?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Quem foi o primeiro dirigente do grupo?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Como este grupo sobrevive?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual é a participação do grupo no calendário de

eventos da cidade?

Page 102: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS UNIDADE DE ENSINO …

102

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Existe uma comunicação entre a prefeitura e o

grupo?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo recebe algum tipo de apoio da prefeitura?

Se sim, qual?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Existe alguma relação entre o grupo e turismo?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual a importância do grupo na comunidade?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Durante um ano quantas vezes o grupo apresenta-

se?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual o publico que habitualmente prestigia as

apresentações?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo teria interesse em se apresentar mais

vezes, para turistas e visitantes?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo acredita que a atividade turística pode

trazer melhorias para comunidade?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo considera sua atividade um atrativo

turístico?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo gostaria que o Turismo Cultural fosse

implantado na comunidade?

APÊNDICE D – Entrevista com Grupo Bloco da Alegria. Jackson Ventura.

Penedo-AL, 15 de Agosto de 2018

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Meu nome é Fábio, sou discente do curso de

Turismo da Universidade Federal de Alagoas – gostaríamos primeiramente, que você se

apresenta-se.

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Quando se deu inicio a este grupo?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Quantos integrantes haviam inicialmente?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Quem foi o primeiro dirigente do grupo?

Page 103: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS UNIDADE DE ENSINO …

103

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Como este grupo sobrevive?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual é a participação do grupo no calendário de

eventos da cidade?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Existe uma comunicação entre a prefeitura e o

grupo?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo recebe algum tipo de apoio da prefeitura?

Se sim, qual?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Existe alguma relação entre o grupo e turismo?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual a importância do grupo na comunidade?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Durante um ano quantas vezes o grupo apresenta-

se?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual o publico que habitualmente prestigia as

apresentações?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo teria interesse em se apresentar mais

vezes, para turistas e visitantes?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo acredita que a atividade turística pode

trazer melhorias para comunidade?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo considera sua atividade um atrativo

turístico?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo gostaria que o Turismo Cultural fosse

implantado na comunidade?

APÊNDICE D – Entrevista com a Associação dos Pescadores. Alfredo Fernandes

(Pial).

Penedo-AL, 15 de Agosto de 2018

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Meu nome é Fábio, sou discente do curso de

Turismo da Universidade Federal de Alagoas – gostaríamos primeiramente, que você se

apresenta-se.

Page 104: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS UNIDADE DE ENSINO …

104

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Quando se deu inicio a este grupo?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Quantos integrantes haviam inicialmente?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Quem foi o primeiro dirigente do grupo?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Como este grupo sobrevive?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual é a participação do grupo no calendário de

eventos da cidade?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Existe uma comunicação entre a prefeitura e o

grupo?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo recebe algum tipo de apoio da prefeitura?

Se sim, qual?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Existe alguma relação entre o grupo e turismo?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual a importância do grupo na comunidade?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Durante um ano quantas vezes o grupo apresenta-

se?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual o público que habitualmente prestigia as

apresentações?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo teria interesse em se apresentar mais

vezes, para turistas e visitantes?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo acredita que a atividade turística pode

trazer melhorias para comunidade?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo considera sua atividade um atrativo

turístico?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo gostaria que o Turismo Cultural fosse

implantado na comunidade?

APÊNDICE E – Entrevista com o Grupo Cavalgada de Santo Antônio. Jorge Augusto

dos Santos.

Page 105: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS UNIDADE DE ENSINO …

105

Penedo-AL, 13 de Setembro de 2018

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Meu nome é Fábio, sou discente do curso de

Turismo da Universidade Federal de Alagoas – gostaríamos primeiramente, que você se

apresenta-se.

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Quando se deu inicio a este grupo?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Quantos integrantes haviam inicialmente?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Quem foi o primeiro dirigente do grupo?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Como este grupo sobrevive?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual é a participação do grupo no calendário de

eventos da cidade?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Existe uma comunicação entre a prefeitura e o

grupo?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo recebe algum tipo de apoio da prefeitura?

Se sim, qual?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Existe alguma relação entre o grupo e turismo?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual a importância do grupo na comunidade?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Durante um ano quantas vezes o grupo apresenta-

se?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual o publico que habitualmente prestigia as

apresentações?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo teria interesse em se apresentar mais

vezes, para turistas e visitantes?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo acredita que a atividade turística pode

trazer melhorias para comunidade?

Page 106: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS UNIDADE DE ENSINO …

106

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo considera sua atividade um atrativo

turístico?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo gostaria que o Turismo Cultural fosse

implantado na comunidade?

APÊNDICE F – Entrevista com Bloco da Boneca Raquel. Edésio e Herildo.

Penedo-AL, 26 de setembro e 25 de outubro de 2018

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Meu nome é Fábio, sou discente do curso de

Turismo da Universidade Federal de Alagoas – gostaríamos primeiramente, que vocês

se apresentassem.

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Quando se deu inicio a este grupo?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Quantos integrantes haviam inicialmente?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Quem foi o primeiro dirigente do grupo?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Como este grupo sobrevive?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual é a participação do grupo no calendário de

eventos da cidade?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Existe uma comunicação entre a prefeitura e o

grupo?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo recebe algum tipo de apoio da prefeitura?

Se sim, qual?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Existe alguma relação entre o grupo e turismo?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual a importância do grupo na comunidade?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Durante um ano quantas vezes o grupo apresenta-

se?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual o publico que habitualmente prestigia as

apresentações?

Page 107: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS UNIDADE DE ENSINO …

107

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo teria interesse em se apresentar mais

vezes, para turistas e visitantes?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo acredita que a atividade turística pode

trazer melhorias para comunidade?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo considera sua atividade um atrativo

turístico?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): O grupo gostaria que o Turismo Cultural fosse

implantado na comunidade?

APÊNDICE F – Entrevista com Artesão: Aloisio dos Santos (Mestre Lú).

Penedo-AL, 25 de Setembro de 2018.

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Meu nome é Fábio, sou discente do curso de

Turismo da Universidade Federal de Alagoas – gostaríamos primeiramente, que vocês

se apresentassem.

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual sua origem?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Como aprendeu este oficio?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Há quanto tempo trabalha com esse oficio?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual a relação do seu artesanato com o turismo?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual o tipo de matéria prima usada no seu

trabalho?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Já realizou ou realiza trabalhos para outros locais?

Se sim, quais?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Realiza trabalhos sob pedidos?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual sua escolaridade?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Por que escolheu faz er barcos?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Onde consegue a matéria prima?

Page 108: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS UNIDADE DE ENSINO …

108

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual o modelo mais confeccionado?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Trabalha com miniaturas? Se sim qual o tipo de

matéria prima?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Suas miniaturas já foram levadas para outros

lugares?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos):Qual sua relação como IPHAN e Prefeitura?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Como é especificamente os barcos?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Muito obrigado Mestre!

APÊNDICE G – Entrevista com Artesão: Cicero Tadeu Gomes Lyra o “Tadeu dos

Bonecos”.

Penedo-AL, 26 de setembro de 2018.

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Meu nome é Fábio, sou discente do curso de

Turismo da Universidade Federal de Alagoas – gostaríamos primeiramente, que você se

apresentasse.

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual sua origem?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Como aprendeu este oficio?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Há quanto tempo trabalha com esse oficio?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual a relação do seu artesanato com o turismo?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual o tipo de matéria prima usada no seu

trabalho?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Já realizou ou realiza trabalhos para outros locais?

Se sim, quais?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Realiza trabalhos sob pedidos?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual sua escolaridade?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Por que escolheu fazer bonecos de carnaval?

Page 109: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS UNIDADE DE ENSINO …

109

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Onde consegue a matéria prima?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual o modelo mais confeccionado?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Trabalha com miniaturas?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Suas miniaturas já foram levadas para outros

lugares?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual sua relação como IPHAN e Prefeitura?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Como é especificamente fazer os bonecos?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Obrigado Tadeu.

APÊNDICE G – Entrevista com Artesão: Josivam Francisco dos Santos o “Dodí”.

Penedo-AL, 02 de outubro de 2018.

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Meu nome é Fábio, sou discente do curso de

Turismo da Universidade Federal de Alagoas – gostaríamos primeiramente, que você se

apresentasse.

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual sua origem?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Como aprendeu este oficio?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Há quanto tempo trabalha com esse oficio?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual a relação do seu artesanato com o turismo?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual o tipo de matéria prima usada no seu

trabalho?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Já realizou ou realiza trabalhos para outros locais?

Se sim, quais?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Realiza trabalhos sob pedidos?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual sua escolaridade?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Por que escolheu faz esculturas em pedra?

Page 110: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS UNIDADE DE ENSINO …

110

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Onde consegue a matéria prima?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual o modelo mais confeccionado?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Trabalha com miniaturas? Se sim qual o tipo de

matéria prima?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Suas miniaturas já foram levadas para outros

lugares?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual sua relação como IPHAN e Prefeitura?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Como é especificamente fazer escultura na pedra?

APÊNDICE H – Entrevista com Secretária de Turismo. Pedro Soares.

Penedo-AL, 24 de outubro de 2018.

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Meu nome é Fábio, sou discente do curso de

Turismo da Universidade Federal de Alagoas – gostaríamos primeiramente, que você se

apresentasse.

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual o Calendário de Eventos da Cidade?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Existe comunicação com os grupos culturais do

Barro Vermelho?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Quais são meios de comunicação entre a

prefeitura e os grupos culturais do bairro?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Existe alguma articulação com os esses grupos?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Existe algum espaço cultural incomum em que os

grupos culturais possam se expor?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Como a prefeitura apresenta o bairro nos meios de

comunicação?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Quais são as ações desenvolvidas pela prefeitura

para ajudar os grupos culturais do Barro Vermelho?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): A prefeitura tem um mapeamento com a

identificação e o número exato dos grupos culturais da cidade?

Page 111: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS UNIDADE DE ENSINO …

111

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Existe algum projeto sendo desenvolvido com os

grupos culturais da cidade realizados pela prefeitura?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Existe alguma verba no orçamento anual da

prefeitura destinada aos grupos culturais? Se sim, como é feito o repasse?

APÊNDICE I – Entrevista com a Secretária de Cultura. Aline Costa.

Penedo-AL, 22 de novembro 2018.

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Meu nome é Fábio, sou discente do curso de

Turismo da Universidade Federal de Alagoas – gostaríamos primeiramente, que você se

apresentasse.

Entrevistado (a) (Aline Costa): Meu nome é Aline Costa sou a atual Secretária de

Turismo da cidade de Penedo-AL.

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Qual o Calendário de Eventos da Cidade?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Existe comunicação com os grupos culturais do

Barro Vermelho?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Quais são meios de comunicação entre a

prefeitura e os grupos culturais do bairro?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Existe alguma articulação com os esses grupos?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Existe algum espaço cultural incomum em que os

grupos culturais possam se expor?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Como a prefeitura apresenta o bairro nos meios de

comunicação?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Quais são as ações desenvolvidas pela prefeitura

para ajudar os grupos culturais do Barro Vermelho?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): A prefeitura tem um mapeamento com a

identificação e o número exato dos grupos culturais da cidade?

Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Existe algum projeto sendo desenvolvido com os

grupos culturais da cidade realizados pela prefeitura?

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Pesquisador (Fábio Zacarias Santos): Existe alguma verba no orçamento anual da

prefeitura destinada aos grupos culturais? Se sim, como é feito o repasse?