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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA CENTRO DE EDUCAÇÃO - CE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO PPGE OS EXERCÍCIOS NOS LIVROS DIDÁTICOS DE GEOGRAFIA DESTINADOS AO ENSINO PRIMÁRIO NO BRASIL: UMA DISCUSSÃO METODOLÓGICA (1880 1930) JOSEANE ABÍLIO DE SOUSA FERREIRA João Pessoa PB Maio de 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA

CENTRO DE EDUCAÇÃO - CE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO – PPGE

OS EXERCÍCIOS NOS LIVROS DIDÁTICOS DE GEOGRAFIA

DESTINADOS AO ENSINO PRIMÁRIO NO BRASIL: UMA DISCUSSÃO

METODOLÓGICA (1880 – 1930)

JOSEANE ABÍLIO DE SOUSA FERREIRA

João Pessoa – PB

Maio de 2017

ii

JOSEANE ABÍLIO DE SOUSA FERREIRA

OS EXERCÍCIOS NOS LIVROS DIDÁTICOS DE GEOGRAFIA

DESTINADOS AO ENSINO PRIMÁRIO NO BRASIL: UMA DISCUSSÃO

METODOLÓGICA (1880 – 1930)

Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em

Educação da Universidade Federal da Paraíba

(PPGE/UFPB), como requisito para obtenção do título

de Doutora em Educação.

Orientadora: Maria Adailza Martins de Albuquerque

Linha de pesquisa: História da Educação

João Pessoa – PB

Maio de 2017

iii

Catalogação na Publicação

Seção de Catalogação e Classificação

CDU - 911:37(043) UFPB/BC

Ferreira, Joseane Abílio de Sousa. Os exercícios nos livros didáticos de geografia destinados ao

ensino primário no Brasil: uma discussão metodológica (1880 –

1930) / Joseane Abílio de Sousa Ferreira. - João Pessoa, 2017. 316 f. : il.

Orientadora: Maria Adailza Martins de Albuquerque. Tese (Doutorado) - UFPB/CE/PPGE

1. Livros didáticos - geografia. 2. Ensino de Geografia. 3. Métodos de ensino - exercício. I. Título.

F383e

iv

JOSEANE ABÍLIO DE SOUSA FERREIRA

OS EXERCÍCIOS NOS LIVROS DIDÁTICOS DE GEOGRAFIA DESTINADOS AO

ENSINO PRIMÁRIO NO BRASIL: UMA DISCUSSÃO METODOLÓGICA (1880 – 1930)

Banca examinadora

________________________________________________

Profª. Dra. Maria Adailza Martins de Albuquerque

Orientadora – PPGE/UFPB

_________________________________________________

Profª. Dra. Vera Teresa Valdemarin

Examinadora externa – UNESP

_________________________________________________

Profª. Dr. Manoel Fernandes de Sousa Neto

Examinador externo – USP

_________________________________________________

Prof. Dr. Matheus da Cruz e Zica

Examinador interno – PPGH/UFCG

_________________________________________________

Profª. Dra. Mauricéia Ananias

Examinadora interna – PPGE/UFPB

________________________________________________

Profª. Dra. Circe Maria Fernandes Bittencourt

Suplente externa – USP

_________________________________________________

Prof. Dr. Wojciech Andrzej Kulesza

Suplente interno – PPGE/UFPB

João Pessoa – PB

Maio de 2017

v

Dedico

Ao meu vozinho João (In memoriam), que foi sinônimo de amor, significado

eterno do amor de Deus por mim e por minha história. Obrigada, meu Deus,

pela oportunidade de amar e de ser amada dessa maneira. Só quem já viveu

um amor assim sabe do que falo e a profundidade da dor que carrego em

mim. Lembrarei eternamente de nossas conversas, quantos conselhos

inesquecíveis! Como eu gostava de ouvir as histórias de sua vida, histórias de

luta, de um homem que lutou com garra para educar e cuidar dos seus filhos.

Sou grata a Deus pela oportunidade de ser sua neta... Meu João, tenho muito

orgulho de você.

A você, vozinha Maria (In memoriam), por todo o amor que me deu. O meu

amor por você vai além da dor da separação e da saudade que ficou em meu

coração, pois, o amor que deixou em mim tem alimentado minha vida e me

feito caminhar sentindo tua presença e seu cheiro. Eternas saudades da minha

Maria... Da velhinha mais linda e mais cheirosa, dona do sorriso mais fofo e

do abraço mais aconchegante... Como sinto falta de tê-la comigo, de sua

alegria e da força que tinha para lutar pela vida. Guardarei em mim

lembranças que nem o tempo poderá apagar, pois cada lembrança é regada

do amor que transborda e se eterniza em mim.

A meu amigo Thiago Mamede (In memoriam), pela amizade de criança, pelos

s momentos compartilhados e por o tudo que vivemos juntos. As lágrimas são

inevitáveis, pois queria demais você aqui, para ser um dos primeiros a

comemorar minha conquista, mas a vida tem seus contrários, você não está

mais aqui, e a saudade transpassa meu ser. Porém, em Deus, nos avessos da

vida, eu te encontro, porque amor que é amor vai além da vida.

A vocês, com saudades eternas.

vi

AGRADECIMENTOS

É chegada a hora de agradecer... Meu coração é tomado de muitos sentimentos, e o amor

e a gratidão são os que mais transbordam.

Ah se esse papel fosse capaz de registar o som das minhas lágrimas ao escrever esses

agradecimentos, pois eu chorei sim, e como chorei, pois muitas lembranças tomaram conta do

meu coração. Nesse momento, passa um filme sobre tudo o que vivi e os caminhos que trilhei

para chegar aqui. Se valeram a pena? Valeram muito, e eu faria tudo de novo, pois foi uma

experiência maravilhosa! Até nos momentos difíceis, eu encontrei refúgio, amparo, forças e o

“abraço” necessário de Deus e dos meus, para alcançar meu sonho de concluir essa etapa da

minha vida.

Por isso, agradeço a Deus, por tanto cuidado e zelo durante toda a minha caminhada

acadêmica; por toda a graça, força, sabedoria e por sua presença constate em minha vida. Em

cada detalhe, o meu Deus se fez presente, sua mão me amparou e em seus braços encontrei

refúgio para seguir, mesmo quando os caminhos eram meio turvos e cinzentos. Pude ver sua

mão em cada momento, sendo o sustento que de tanto precisei... Obrigada, meu amado Deus,

por sonhar comigo, por permitir que tudo se realizasse de acordo com seus projetos.

Ao Espírito Santo, por ter me inspirado e sempre sussurrar ao meu ouvido “Eu estou

contigo”;

A minha mãe, Teca, pelo amor sem medida. Como descrever o tamanho desse amor eu

nem sei, apenas sinto... Só sei que é divina nossa troca de olhares, o gosto do abraço e a

suavidade da presença, quando você segura em minhas mãos, e eu me torno forte e percebo que

o amor que existe entre nós é algo mágico. Obrigada por ser tudo o que preciso, por me

compreender apenas quando me olha e por tudo o que me ensina a cada dia. Nosso amor é

sempre forte para suportar as lutas e as batalhas desta vida, pois, desde muito cedo, você lutou

por mim... Muito obrigada por tanto amor!

Ao meu vô João (in memoriam), por ter sido meu pai, meu exemplo de homem bom e

íntegro... Seu coração tão grande me ensinou tanto aqui na terra! Com você aprendi muitas

coisas, até na sua força de silenciar me ensinou. Obrigada por ter me educado, amado e cuidado

de mim! Foi tanto amor ofertado que nunca vai acabar e sempre terei um pouco de você em

mim. Sua voz suave ficará guardada para sempre em meu coração e outras lembranças que

jamais o tempo vai apagar. E as maiores delas são seu sorriso fácil e sua voz a me abençoar...

Você será um amor que jamais acabará em mim!

vii

A minha vó Maria (in memoriam), de quem sinto muitas saudades. Um ano sem seu

abraço, sem seu cheiro e sem seu sorriso. Minha vida está tão vazia sem sua presença. Como

desejei ter você aqui! Seu abraço seria meu maior presente, mas não estava nos planos de Deus.

Não encontro palavras para descrever a falta que você me faz... Apenas recordo-me do seu

amor, pois sei que metade do amor que está em mim foi você quem me deu. Te amarei por toda

a vida!

Ao meu padrinho, Elias Barreiro (in memoriam), por todo o carinho. Você deixou muitas

saudades... Guardarei em mim seus ensinamentos. Obrigada por tudo o já fez por minha mãe e

por mim. Você foi mais um presente de Deus.

Ao meu amor, Segundo Neto, por ter me amado e, muitas vezes, ter sido a força de que

eu precisava, ao me encorajar e me fazer ir, mesmo sem ter certeza. Um impulso para fortalecer

minha fé; por ter acreditado em mim muitas vezes mais do que eu mesma; por ter sido minha

força na fraqueza e meu amor quando eu mais precisei... Amar é isso, ser presença mesmo

quando estamos distantes. Você faz parte dessa caminhada, essa conquista tem muito de você,

em cada detalhe eu vejo seu amor me ajudando a seguir e a ser forte em cada etapa. Obrigada,

ainda, pela ajuda primorosa em minha pesquisa; por ter me acompanhado na USP; por ter ido

comigo aos arquivos e pela ajuda nas produções dos mapas. Muito obrigada, especialmente, por

todo amor ofertado, nos mais simples olhares e singelos gestos! Nosso amor me ensinou que o

amor verdadeiro nos leva a lugares onde, sozinhos, jamais chegaríamos, pois um amor assim

torna o caminho mais leve, mais seguro e cheio de sonhos.

Aos meus tios e tias, por acreditarem na minha capacidade de lutar e de buscar meus

sonhos. E cada um, a seu modo, ter sido força para eu continuar dando passos a caminho das

minhas vitórias... Obrigada de todo coração, Geuda, Cida, Rita, Mizinha, Eunice, Gracinha,

Jose, Enoque e Neto! Agradeço, especialmente, ao meu tio Neto, por ter contribuído com os

meus estudos e me dado apoio nos momentos difíceis. Obrigada por ser um anjo que Deus me

deu de presente!

Aos meus primos e primas, pelo amor de “irmãos”. Vocês são presentes do meu Deus,

com vocês aprendi e vivi muitas coisas maravilhosas. Em especial, aos meus amores Patrícia,

Juninho, Germânia (minha Juliana) e Jairinha, por terem sido tão presentes em minha vida,

sendo força nos momentos difíceis, e por terem me ajudado a caminhar, mesmo quando estava

um pouco mais duro de seguir. Vocês moram no meu coração, nunca poderei retribuir esse amor.

Ao meu amigo, Pe. Djacy, pela amizade de anos e por todo o carinho ofertado.

Nossa amizade é um presente de Deus. A você que, com muita simplicidade, me ajudou com o

viii

português e com outras tantas coisas. Por isso, guardo em meu coração tudo o que fez por mim,

por estar sempre por perto. Obrigada pela amizade e pelo carinho!

Ao meu amigo Thiago Mamede (in memoriam). Como esse título tem a sua cara! Às

vezes, me pego lembrando nossas conversas e de você me dizendo: “Essa minha amiga será

doutora, e eu terei orgulho de ter acompanhado as lutas e as conquistas dela.” Obrigada por ter

me ensinado, em 27 anos de vida, que as coisas mais bonitas da vida são riquezas que

guardamos no coração e na simplicidade dos momentos.

Aos meus afilhados, pelo sorriso fácil de cada um, pelo amor que demonstram em cada

gesto: Flavianne (meu primeiro amor), Stella Mary (minha moça bonita e fofa), Lázaro (meu

príncipe amado) e Tarsila (minha pequena e linda princesa);

Aos meus amores pequenos, Nicolas, Jhonatas, Lorenzo e Ana Beatriz, que deixam

minha vida mais cheia de amor, luz e felicidade. Obrigada por todo o carinho!

Aos meus amigos de infância, Sildely, Sílvia, Carlos Augusto, Joseânia, e a todos da casa

(Mamede), Maria do Socorro, Bruna, Jamerson, Dávilo, Daynny, Larícia, Cícero, Damiana...

Obrigada por todo o amor, pelas brincadeiras, pelas alegrias, pelos sorrisos e pelo

companheirismo;

Aos meus amigos que, mais de perto, dividiram detalhes dessa conquista: Vanderlúcia,

por ter sonhado comigo essa conquista e ter contribuído para que hoje tudo seja real;

Juberlândia, por ter me acolhido e me amado nos momentos difíceis; Francisco, por ter sido a

força e a referência do lugar onde eu queria chegar; Adriana, por sua lealdade e amor de amiga;

Danielle, pelo amor ofertado em cada gesto e em cada detalhe; Mônica, pelo sorriso de menina

e coração tão grande; Damiana, pelos laços de carinho e amor; Lívia, pelo abraço acolhedor;

Laila, pelo doce sorriso e pela amizade prestada; Valdenice, por seu sorriso fácil e pelo coração

tão generoso; Neguinho, pelas alegrias compartilhadas; Pedro, pelos gestos de carinho; Hosana,

por todo o amor que demonstra em cada gesto e palavra; Shirley (e toda a sua casa, em especial,

dona Graça), por sua amizade sincera e leal; Ladjane, por seu carinho e amizade em Deus;

Lucila, por todo o zelo com que cuida de nossa amizade e por sempre me alegrar; Izenilda, por

todos os momentos divididos e pelas boas risadas; Gerônimo, pelo sorriso fácil e pela

cumplicidade de sempre; Vantembergh, por todo o amor que encontramos nos laços de nossa

amizade; Cida, pelo amor e carinho dos laços construídos; Cícera, por tanta dedicação e amor,

serei grata eternamente por seu carinho. Muito obrigada a todos os amigos com que a vida me

presenteou!

ix

Aos amigos que a UFPB me deu, como o Professor Edson Guedes. Obrigada, meu

querido amigo, de quem tanto gosto, que respeito e guardo em um lugar especial do meu

coração. Obrigada por ter me dado o apoio de que tanto precisava, por ter me ajudado mesmo

quando não falou nada! Você foi uma inspiração na UFPB para minha vida, sobretudo, na

maneira como enxerga a vida e como ensina. Sempre aprendi e continuo aprendo com você,

meu professor, pois, para além da Academia, seu tão bondoso coração me ensina que o amor

que carregamos em nós é o mais importante e que os amigos são presentes de Deus em nossas

vidas.

A minha orientadora, a Professora Dadá Martins, pela parceria de seis anos na tarefa

prazerosa e árdua da Pós-graduação. Sou grata pelo companheirismo, por cada bronca e por

todos os ensinamentos, pois com você aprendi tantas coisas, entre elas, que a vida deve ser

regada de amor e de “coisas” que vão para além da Academia. Minha formação tem muito de

você, pois, nessa caminhada, sempre se dispôs a ajudar e a partilhar saberes. Com você

compartilhei alegrias, conquistas e lutas... Valeu pela cumplicidade e pela parceria de sempre.

A Vívian e a Aparecida, minhas amadas meninas, com quem dividi sorrisos, alegrias e

lágrimas e que, de um jeitinho discreto e suave, tocaram profundamente meu coração com o

sentimento de amizade. Vocês são um dos melhores presentes que UFPB me deu ao longo

desses onze anos de caminhada acadêmica.

A UFPB continua a me ofertar pérolas, mais amigos para eu amar e ser amada.

Obrigada, minha amada Angélica, por saber amar e ser amiga em todos os momentos; minha

doce Deusia, por ser uma pessoa que emana luz e amor; Rodrigo, meu anjo lindo, pelo sorriso

acolhedor e amoroso; Aldo, por todo o amor, pois, mesmo longe, nunca deixou acabar nosso

amor de amigo.

Aos amigos da turma 30 do Mestrado, com os quais estreitei os laços de amizade, e isso

foi muito bom! Valeu Francio, Kedna Karla, Kiara, Nayara, Daniela, Vivian, Adlene e a

Rodolfo, pelas boas risadas. Vocês fazem parte de mim, por isso serão meus amigos da vida

inteira. Nosso amor de amigos se renova a cada reencontro; a minha amada Ingrid, #09de maio,

por cada sorriso partilhado, pelo companheirismo e pelas conversas longas... Por alimentar

minha vida de amor e de carinho, com suavidade, regando as flores da nossa amizade; a Fagner,

meu filho querido, por todo carinho e amor que a mim dedica, por sempre me estender a mão; a

minha querida Clara, que, com seu sorriso fácil e sua doce presença, deixa meus dias mais

iluminados;

Ao anjo chamado Antônio Carvalho - foi isso que você foi para mim em 2010, quando

x

comecei o Mestrado na UFPB. Mesmo sem saber, você foi o amparo de que precisava naquele

momento, pois apenas com uma palavra e um simples olhar, depositou em mim uma confiança

que talvez nem merecesse, quando disse: “eu vendo fiado, sim, a você e mais, para me pagar

quando puder.” Essas palavras foram uma resposta a minha oração, foi mais uma vez Deus

enviando seus anjos para guardar e abençoar minha vida... Obrigada pelo carinho, por ter sido

força naquele momento difícil. Ninguém diria que, daquele encontro, nasceria uma linda

amizade que hoje continua a florir minha vida.

As minhas amigas Bruna, Damiana e Neusivânia, presentes de Deus em minha vida! Sou

grata pelo amor, pela amizade e por cada sorriso e abraço dado. Obrigada por vocês terem me

apoiado nos momentos difíceis, por todas as orações e por terem sido amigas de todas as horas!

Vocês exalam a essência do amor de Deus e são provas do cuidado dele por mim!

Ao Grupo de Pesquisa, Ciência, Educação e Sociedade e por ter me proporcionado

aprendizados diversos, por ter me formado como pesquisadora. Sou muito grata por todos os

espaços concedidos nessa minha caminhada, pelas experiências vivenciadas no PIBIC, nos

grupos de leitura, nos eventos realizados, nas conservas de final de tarde com meus colegas e

professores, entre outros momentos. Com o GPCES, muito aprendi, tanto academicamente

quanto pessoalmente. Grata eu sou, em especial, ao Professor Tek, por todas as portas abertas,

por ter me acolhido com amor e carinho. Guardarei lembranças do meu PIBIc para a vida toda,

pois aprendi com você, pelo ser humano que é pela forma como convive com seus pares e

partilha os conhecimentos acadêmicos;

Aos Professores Mateus Zica, Circe Bittencourt e Vera Valdemarin, por todas as

contribuições e conhecimentos partilhados no exame de qualificação;

Ao PPGE, em especial, aos professores que, carinhosamente, dividiram seus saberes e

aprendizados, e aos funcionários, pela dedicação e atenção;

À CAPES, pela bolsa de estudo concedida.

Meus sinceros agradecimentos!

xi

RESUMO

Ousar trilhar os caminhos da História da Educação é pensar que nossas produções fazem parte

dela, construindo seus marcos e temporalidades, ou seja, nossas produções estão imersas no

processo de organização do campo, marcado, recorrentemente, por tempos, espaços e marcos

instituídos pela própria História da Educação, que se constrói e se ergue por meio de áreas e de

especificidades do campo em cada período histórico. O estudo das disciplinas escolares se

configura como parte do estudo da cultura escolar, uma vez que o conhecimento escolar é uma

construção específica das práticas educativas da escola, porque tem características próprias e

apresenta outras formas de conhecimento (CHERVEL, 1990). Cientes da responsabilidade de

fazer estudos dessa natureza, dialogamos por meio de um tipo específico de material didático:

os livros didáticos de Geografia, tendo como objeto de estudo os exercícios. Em nossas

considerações, verificamos que esse tipo de impresso comporta saberes que advêm de instâncias

diversas, mas que estão entrelaçados nos movimentos de produção e construção desse objeto

material (BITTENCOURT, 2003) que, historicamente, é constituído de concepções pedagógicas

e de saberes da cultura escolar de determinado tempo (HÉBRARD, 1990). Assim, nossa

proposta de tese visou discutir sobre as metodologias aplicadas ao ensino primário da disciplina

Geografia, entre os anos de 1880 e de 1930, especificamente sobre o papel dos exercícios nos

livros, na tentativa de compreender como surgiram e de que forma interferem ou não na forma

de ensinar Geografia. Em nosso estudo, partimos do pressuposto de que os exercícios eram

indicados como um novo método de ensino para a escola como um todo e que, para a Geografia,

sua presença representou a busca de inovações metodológicas nos livros didáticos dessa

disciplina destinados ao ensino primário. Por isso, defendemos que os exercícios exerceram

uma função determinante na tentativa de substituir nos livros o texto marcado por perguntas e

respostas explícitas por um texto que, lentamente, passa a adotar os exercícios como uma

expressão dos métodos de ensino que podem interferir na proposta de tornar o ensino menos

decorativo e mnemônico. Em nossas análises, constatamos que, no contexto da escola primária,

os exercícios estiveram presentes como um complemento indispensável à composição dos livros

didáticos e, por conseguinte, ao ensino de Geografia e que o movimento de adoção dos

exercícios nos livros didáticos tinha como principal finalidade tentar introduzir nos textos

exercícios práticos e de observação que rompam com o método catecismo que predominava nos

livros e na escola. Em nossas considerações, reconhecemos e afirmamos o debate em prol da

inserção dos exercícios no ensino primário, e que, mesmo que lentamente, eles interferem na

composição das obras didáticas e na construção dos saberes geográficos. No entanto,

registramos que ainda é muito recorrente o emprego do método mnemônico, que marca a

cultura escolar primária com as permanências dos princípios dos métodos de memorização.

Palavras-chave: Livro didático; Ensino de Geografia; Métodos de ensino. Exercícios.

xii

ABSTRACT

When we dare to tread the paths of the History of Education is to think, as soon as we can, that

our productions are part of this History, building their marks and temporalities. It means that our

productions are immersed in the process of organization of this field, recurrently marked by

times, spaces and History of Education marks instituted itself that rises from areas and

specificities of the field in each historical period. The study of school disciplines is part of the

study of school culture, since school’s knowledge is a specific construction of the educational

practices of the school, because it has its own characteristics and, therefore, presents other forms

of knowledge (CHERVEL, 1990). Thus, aware of the responsibility of conducting studies of

this nature, we seek to discuss from a specific type of didactic material: the Geography

textbooks, having as object of study, the exercises. In our considerations, we find that this type

of book involves knowledge that comes from different instances, but they are intertwined in the

production's movements and constructions of this material object (BITTENCOURT, 2003),

which, historically, they're constituted from Pedagogical conceptions and knowledge of the

school culture of a certain time (HÉBRARD, 1990). So, our thesis proposal sought to discuss

the methodologies applied to primary education in the discipline Geography between the years

of 1880 and 1930, specifically about the role of exercises in textbooks, in an attempt to

understand how they arose and how they interfered or not in the way of teaching Geography. In

our study, we assumed that there was indication of the exercises as a new teaching method for

the school as a whole, and that their presence in Geography classes represented the search for

methodological innovations in Geography textbooks for primary education. Therefore, we hold

the statement that exercises had a decisive role in the attempt to replace the text marked by

explicit questions and answers in the books, by a text that slowly adopts the exercises as an

expression of teaching methods capable of interfering in the proposal to make teaching less

decorative and mnemonic. In our analyses, we verified that in the context of primary school, the

exercises were present as an indispensable complement in the composition of textbooks and,

therefore, in the teaching of Geography. Also, the idea of adoption the exercises in textbooks

had as main purpose the search to introduce practical exercises and of observation that could try

to break with the catechism method that prevailed in the books and in the school with a whole.

In our considerations, we recognize and affirm the debate in favor of the insertion of the

exercises in the primary education, and that these, even if slowly, interfere in the composition of

the didactic works and, consequently, in the construction of the geographical knowledge.

However, we noted that the presence of the mnemonic method, which marks the primary school

culture with the principles of memorization methods, was still very strong.

Keywords: Textbook; Teaching Geography; Teaching methods; Exercises.

xiii

LISTA DE ABREVIATURAS

Grupo de Pesquisa, Ciência, Educação e Sociedade GPCES

Instituto Histórico Geográfico Brasileiro IHGB

Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro SGRJ

Livros Escolares Brasileiros LIVRES

Institutos Históricos e Geográficos do Nordeste IHGNE

Faculdade de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo FAPESP

Universidade de São Paulo USP

Laboratório de Ensino e Materiais Didáticos LEMAD

Ministério da Educação MEC

xiv

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 - Texto organizado em forma de catecismo: perguntas em destaque e

respostas................................................................................................................................................. ....................29

Figura 02 - Texto contínuo, com conceitos destacados em itálico..............................................................................30

Figura 03 - Texto contínuo com destaque de conceitos ou conteúdos em negrito......................................................31

Figura 04 - Livro didático de Geografia publicado no Século XIX...........................................................................34

Figura 05 - Livros didáticos de Geografia publicados no início do Século XX.........................................................35

Figura 06 - Livros didáticos de Geografia publicados na década de 1920.................................................................36

Figura 07 – livro didático de Geografia publicado nos anos de 1920.........................................................................37

Figura 08 – Exemplo de modelos de exercícios comuns aos livros didáticos do período..........................................43

Figura 09 – Mapa de institucionalização jurídica e instauração dos Grupos Escolares no

Brasil.........................................................................................................................................................................108

Figura 10 – As finalidades do Parecer do Ensino Primário.................................................... ...................................127

Figura 11 - Parecer do Ensino Primário: definição e divisão das categorias da educação

primária..................................................................................................................... ................................................129

Figura 12a – Parecer do Ensino Primário: definições e organização do currículo da educação primária

elementar.................................................................................................................... ...............................................130

Figura 12b – Parecer do Ensino Primário: definições e organização do currículo da educação primária

elementar.................................................................................................................... ...............................................131

Figura 12c – Parecer do Ensino Primário: definições e organização do currículo da educação primária

elementar.................................................................................................................... ...............................................132

Figura 13 – A indicação das “Lições de coisas” como um método de ensino necessário a todas as

disciplinas....................................................................................................... ..........................................................134

Figura 14 - Página da obra “Lições de coisas” que traz a definição de método intuitivo.........................................135

Figura 15 - Quando a obra “Lições de coisas” traz recomendações sobre a importância do método

intuitivo.................................................................................................................... .................................................137

Figura 16a - Parecer do Conselho Superior da Instrução publicado nas páginas inicias da

obra......................................................................................................................... ..................................................146

Figura 16b - Parecer do Conselho Superior da Instrução publicado nas páginas inicias da

obra......................................................................................................................... ..................................................147

Figura 16c - Parecer do Conselho Superior da Instrução publicado nas páginas inicias da

obra......................................................................................................................... ..................................................148

Figura 17 - Detalhes das inovações dos elementos de caráter icnográfico elencados na capa do

livro........................................................................................................................ ...................................................149

Figura 18 - Exemplo do anúncio de livros didáticos na Livraria Francisco Alves...................................................152

Figura 19a - Enumeração dos aspectos gerais do Brasil................................................................. ..........................173

Figura 19b - Enumeração dos aspectos gerais do Brasil................................................................. ..........................174

Figura 20a - Exemplo de maior valorização de uma Geografia geral.......................................................................177

Figura 20b - Exemplo de maior valorização de uma Geografia geral.......................................................................178

Figura 20c - Exemplo de maior valorização de uma Geografia geral.......................................................................179

Figura 21 - A importância do desenho e dos exercícios cartográficos para o ensino de

Geografia................................................................................. ..................................................................................181

Figura 22 - Modelos de exercícios práticos de cartografia para o ensino primário..................................................184

Figura 23 - Descrição dos tipos de métodos adotados para o ensino da Geografia..................................................223

xv

Figura 24 - Indicação e definição do método expositivo............................................................... ...........................224

Figura 25 - Exemplo de texto com perguntas e respostas sobre conceitos básicos...................................................229

Figura 26 - Indicação do uso do Methodo Abbade Gaultier......................................................... .............................231

Figura 27 - Parecer expedido em 1º de dezembro de 1883............................................................ ...........................232

Figura 28 - Tipo de exercícicio denominado de

questionário...............................................................................................................................................................233

Figura 29 - Lições de Geografia na ponta da língua...................................................................... ...........................235

Figura 30 - Modelos de exercícios denominado de “recapitulação”.........................................................................236

Figura 31 - Modelos de exercícios mistos................................................................................................................236

Figura 32 - Modelos de exercícios problemas................................................................................ ..........................237

Figura 33 - Modelos de exercícios de observação....................................................................................................238

Figura 34 - Modelos de exercícios práticos.................................................................................. ............................238

Figura 35 - Modelos de como trabalhar os exercícios práticos de observação.........................................................240

Figura 36 - Exemplo de um texto marcado pela adoção de mais de um método de ensino.....................................241

Figura 37 - Exemplo dos primeiros textos que procuravam seguir a nova estrutura de redação dos textos

corridos..................................................................................................................... ................................................243

Figura 38 - Modelos de exercícios fáceis......................................................................................... ........................246

Figura 39 - Modelos de exercícios escriptos e oraes................................................................................................247

Figura 40 - Exercícios de cartografia............................................................................................. ..........................249

Figura 41 - Exemplos práticos de exercícios de Geografia........................................................... ...........................251

xvi

LISTA DE QUADROS

Quadro I: Trabalhos acadêmicos publicados no portal da Capes e em instituições acadêmicas em que os exercícios

são abordados com um dos aspectos gerais de uma

pesquisa......................................................................................................... ..............................................................93

Quadro II: Trabalhos acadêmicos publicados no portal da Capes e em instituições acadêmicas sobre os

exercícios.....................................................................................................................................................................94

SUMÁRIO

1ª parte - LIVRO DIDÁTICO E EXERCÍCIOS: ENUNCIAÇÕES CONCEITUAIS....................... 18

CAPÍTULO I: O DESPERTAR DA PESQUISA: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES INTRODUTÓRIAS

ACERCA DA TESE ................................................................................................................................... 18

1.1 A tese e a emergência da pesquisa ..................................................................................................... 18

1.2 - Trilhas da pesquisa: a tese e os caminhos teórico-metodológicos ................................................. 29

CAPÍTULO II: SOBRE O OBJETO DE ESTUDO: INFERÊNCIAS E APROXIMAÇÕES TEÓRICAS

.................................................................................................................................................................... 52

2.1 A circulação dos impressos e sua relação com as práticas educativas: considerações acerca do

conceito e da produção do campo de estudo sobre o livro didático ...................................................... 52

2.1.1 A produção de saberes escolares: uma discussão a respeito dos exercícios nos livros didáticos como

uma expressão da cultura escolar ............................................................................................................... 68

2.2 Traçando um estado da arte: as pesquisas sobre exercícios nos livros didáticos .......................... 88

2ª parte - A ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA PRIMÁRIA NO BRASIL: CONSIDERAÇÕES

SOBRE O ENSINO DE GEOGRAFIA .................................................................................................. 97

CAPÍTULO III: ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA PRIMÁRIA NO BRASIL: OS TEMPOS, AS

METODOLOGIAS E A CULTURA ESCOLAR ....................................................................................... 97

3.1. A escola primária na Primeira República: entre a obrigatoriedade e a liberdade de ensino ...... 97

3.2. A organização pedagógica da escola primária no Brasil: uma discussão sobre os sentidos e os

métodos .................................................................................................................................................... 111

3.2.1 A construção do currículo da escola primária no Brasil por meio das “Lições de coisas” como um

método de ensino ...................................................................................................................................... 125

CAPÍTULO IV: GEOGRAFIA E CULTURA ESCOLAR: A ORGANIZAÇÃO DOS SABERES

GEOGRÁFICOS NOS LIVROS DIDÁTICOS DESTINADOS AO ENSINO PRIMÁRIO ................... 142

4.1. Livro didático de Geografia: traços da produção, da comercialização e da circulação............. 142

4.2. O ensino primário e as produções didáticas no Brasil no final do Século XIX e início do Século

XX: um enfoque sobre a disciplina escolar Geografia......................................................................... 157

4.2.1 A Geografia nos livros didáticos, nos debates educacionais e nos pareceres destinados à escola

primária: finalidades do ensino primário e da Geografia ......................................................................... 170

3ª parte - MÉTODOS DE ENSINO E EXERCÍCIOS NOS LIVROS DIDÁTICOS ........................ 196

CAPÍTULO V: MÉTODOS DE ENSINO NAS ESCOLAS PRIMÁRIAS: UM DEBATE CENTRADO

NO PROCESSO DE RENOVAÇÃO DOS MÉTODOS NO BRASIL .................................................... 196

5.1 Discussão sobre a renovação dos métodos no Brasil: as propostas pedagógicas e o legado de

Pestalozzi para o ensino de Geografia .................................................................................................. 196

5.2. A difusão dos métodos de ensino e a Escola Nova: um olhar sobre as produções didáticas e seus

autores ..................................................................................................................................................... 210

5.3 Os livros didáticos de Geografia e os exercícios: um debate sobre as concepções metodológicas

para o ensino primário ........................................................................................................................... 227

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................. 255

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................................... 265

APÊNDICE ............................................................................................................................................. 283

18

1ª parte

LIVRO DIDÁTICO E EXERCÍCIOS: ENUNCIAÇÕES CONCEITUAIS

CAPÍTULO I: O DESPERTAR DA PESQUISA: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

INTRODUTÓRIAS ACERCA DA TESE

1.1 A tese e a emergência da pesquisa

Se os conteúdos explícitos constituem o eixo central da disciplina

ensinada, o exercício é a contrapartida quase indispensável. Sem o

exercício e seu controle, não há fixação possível de uma disciplina

(CHERVEL, 1990, p. 204).

Compreender a importância de se discutir sobre as tramas do processo de

escolarização e sobre a importância dos exercícios como uma das formas de organizar

os métodos de ensino e registrá-las é o que propomos nesta pesquisa. A citação acima

nos inquieta, desde muito cedo, na caminhada acadêmica, nas primeiras leituras e nos

questionamentos que, outrora, ainda muito rasos, levaram-nos a indicações sobre os

exercícios e suas funções no processo de aprendizagem e na história das disciplinas

escolares, de modo particular, a disciplina Geografia.

O que deveria ser apenas uma simples pergunta de uma pesquisadora iniciante

revelou-se aos poucos, com reflexões mais aprofundadas, um insight importante para o

próprio estudo da tese que aqui propomos. Um estudo que, dentre outros apontamentos,

propôs-se a pensar: por que os exercícios nos livros didáticos1 de Geografia poderiam

implicar, entre outras funções, mudanças nas metodologias do Ensino Primário?

1 Aqui utilizamos a expressão ‘livro didático’ porque essa expressão é empregada, nos dias

atuais, para se referir aos livros utilizados na escola. Sabemos que, no Brasil, o uso dessa denominação é

apoiado pelo Decreto-Lei nº 1.006, de 30 de dezembro de 1938, que afirma: “Art. 2º Para os efeitos da

presente lei, são considerados livros didáticos os compêndios e os livros de leitura de classe. § 1º

Compêndios são os livros que exponham, total ou parcialmente, a matéria das disciplinas constantes nos

programas escolares. § 2º Livros de leitura de classe são os livros usados para leitura dos alunos em aula”.

Sabemos que outras denominações são atribuídas a esse recurso didático, especialmente em períodos

históricos anteriores à promulgação dessa lei, como compêndios, manuais escolares, rudimentos, tratados,

sistemas, catesistmo, livro de consulta, caderno, entre outros. Entretanto, para tornar nosso texto mais

didático, optamos por chamá-los de livros didáticos, inclusive os publicados em períodos anteriores a essa

lei. Só empregaremos outras denominações nas citações em que se utilizam outra expressão para se referir

a esse tipo de livro, tendo em vista nosso compromisso com os textos originais.

19

Assim, à medida que os contornos desta pesquisa foram se desenhando, fomos

nos questionando sobre o quanto tem sido desafiador estudar esse objeto, devido à falta

de referências e de estudos sobre ele, e o quanto esse questionamento passou a ser

constante nas reflexões e no foco da escrita do texto. Isso nos faz pensar nas

considerações de Ginzburg (1989) de que, como pesquisadores, devemos estar atentos

às informações consideradas “baixas”, as ditas sem muita importância, mas que podem

nos revelar detalhes fundamentais para a discussão no campo da História da Educação.

Enfatizamos que essas e outras questões compõem hoje o centro das

preocupações da prática historiográfica nesse campo de pesquisa, que vale salientar, tem

se alterado significativamente a partir das décadas finais do Século XX e contribuiu

para que os historiadores repensassem os deslocamentos no campo da História com a

inserção de novas abordagens, novos problemas e novos objetos (LUCA, 2010).

A face mais evidente do processo de alargamento do campo de atuação dos

historiadores se constitui na renovação temática, que é visível nos títulos das pesquisas

e nas formas de elaborar os aportes teóricos e metodológicos. Tais mudanças alteraram

o próprio fazer do historiador, que não se propõe a construir uma história global, mas

que, sobretudo, volta-se para o inconsciente, para as mentalidades e para os aspectos da

prática cotidiana que antes eram ausentes do território da História (LUCA, 2010).

Tem sido comum para os historiadores da educação brasileira o debate sobre a

formação desse campo por meio de possíveis arranjos dos modos de organizar a

educação, de pensar nos enfrentamentos, nas intervenções e nas acomodações que se

deram em meio às tensões, aos conflitos e às conformidades desde os primeiros traços

de educação no Brasil. Essa discussão nos leva a indagar sobre o papel que a

historiografia tem relegado às produções que partem de objetos, muitas vezes,

“ordinários”, mais que muito nos dizem sobre a cultura escolar de uma época. As

pesquisas apontam que são inegáveis as modificações nas abordagens acerca da história

dos materiais escolares, porque a produção historiográfica sobre eles e sobre os

impressos2 no Século XIX têm crescido e se tornando cada vez mais férteis no campo

da História da Educação.

2 A produção de qualquer impresso tem um “ciclo de vida comum”, que passa por um processo marcado

pelas “mãos” do escritor, do impressor, do editor, do livreiro, do distribuidor, do vendedor e do leitor.

Esses elementos são entendidos como fases que sofrem modificações ao longo do tempo bem como

sua relação com o sistema econômico, social, político e cultural (DARNTON, 1990).

20

A escolha dos exercícios nos livros didáticos de Geografia, como objeto de

investigação, resultou, dentre outros fatores, dos questionamentos que não puderam ser

respondidos e que resultaram de nossa pesquisa de Mestrado. Este trabalho, intitulado

Os exercícios nos livros didáticos de Geografia no Brasil: mudanças e permanências

(1880-1930), foi defendido em 2012, no Programa de Pós-graduação em Educação da

Universidade Federal da Paraíba – UFPB.

Em nossa pesquisa de Mestrado, estudar os exercícios em uma perspectiva

histórica nos permitiu reconhecer que ele - assim como os livros didáticos, os currículos

e os programas de ensino - exerceu um importante papel na construção dos saberes

escolares e se configura como uma fonte para o campo de estudo das disciplinas em

diferentes contextos históricos.

Em nossas análises, constatamos que os exercícios, historicamente, se

configuram como estratégias de ensino e de avaliação que têm desempenhado um papel

de destaque no processo de ensino e aprendizagem ao longo da História da Educação.

Em outras palavras, procuramos entender que, no Brasil, os exercícios que vêm nos

livros didáticos fazem parte de uma preocupação metodológica relacionada à

abordagem dos conteúdos que surgiu na escola a partir da década de 1880, por causa da

necessidade de as disciplinas vincularem seus conhecimentos às realidades dos alunos

(BITTENCOURT, 2004). Acerca do nosso objeto de pesquisa, no Mestrado, dispusemo-

nos a discutir sobre as implicações dos exercícios no ensino secundário e, agora, em

decorrência de algumas constatações deles como indicativos de um método advindo das

“Lições de coisas”3, verificamos como essas propostas se efetivaram ou não no ensino

primário.

O trabalho com o livro didático, como fonte de pesquisa, tem feito parte de

nossas escolhas desde que ingressamos no campo da História da Educação, ainda como

bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica - PIBIC4, e pelo

fato de termos discutido sobre esses impressos didáticos no trabalho de conclusão de

3Ver: CALKINS, N. A. Primeiras lições de coisas – Manual de Ensino Elementar. Calkins. Traduzido por

Ruy Barbosa. Impressa Nacional. Rio de Janeiro, 1886.

4.Trabalhamos com os materiais didáticos, especificamente com livro didático, no Projeto intitulado –

Materiais didáticos no ensino primário e normal da Paraíba (1886-1930), sob a orientação do Prof.º

Dr. Wojciech Andrzej Kulesza - UFPB.

21

curso5.

Assim, devido à relevância de se estudar o livro didático numa perspectiva

histórica e tendo em vista que o estudo poderá contribuir para entendermos as

peculiaridades do processo de escolarização brasileira, daremos continuidade ao tema, a

fim de compreender as estratégias de organização dos métodos de ensino, focalizando a

disciplina escolar Geografia no ensino primário no período em tela.

Assim, à medida que essa construção de argumentos para discutir sobre o tema

começava a se apresentar menos vaga e indeterminada em nossas “buscas”, indagamos

se estamos diante da chamada “euforia da ignorância”, ou seja, do que Ginzburg (2000,

p. 271) chama de algo que se desconhece totalmente (ou quase totalmente), mas sobre o

qual se está a ponto de descobrir e aprender. Seria, como afirma Ginzburg (1989), um

caminhar por meio de pistas e indícios que podem nos ajudar a desbravar partes do

objeto pesquisado, pois o conhecimento do historiador nunca é direto, ao contrário, é

indireto e indiciário.

Antes, porém, seria necessário transformar a “euforia da ignorância” em um

estudo aprofundado e com sustentação teórica. Sabe-se que, mesmo quando

conseguimos debater e traçamos o caminho da pesquisa, na fala, muitos são os

obstáculos a serem vencidos no momento ímpar da pesquisa, que é o da escrita. Era

preciso, pois, escrever, detalhar e dá sustentação teórica ao objeto de estudo e à opção

pela tese que escolhemos. Porém, uma pergunta tem nos acompanhado e nos

impulsionado: Como trabalhar no Doutorado com o mesmo objeto do Mestrado sem

perder o encanto de pesquisadora, sem repetir análises e dando sustentação à tese a

partir dos resultados já encontrados no Mestrado? Ou seja, como colocar em prática

uma história que tem se apresentado desafiadora e que não encontramos outros

trabalhos sobre a temática para nos ajudar em nossa trajetória? Às vezes, esses

questionamentos nos causaram angústia e nos levaram a pensar: teríamos escolhido uma

proposta de tese correta? Teria sido a temática escolhida superior às forças das

pesquisadoras?

5 Desenvolvemos um trabalho em que discutimos sobre o livro didático em uma perspectiva histórica, a

partir de sua importância como objeto de uso tanto do professor quanto do aluno. O trabalho tem o

seguinte título: Livro didático de Língua Portuguesa em debate: de 1980 aos dias atuais, sob a

orientação da Profª. Dra. Maria Lúcia da Silva Nunes, do Centro de Educação - UFPB.

22

Seguindo as tramas da pesquisa, sem a pretensão de responder a esses

questionamentos, mas focalizando a busca pela produção do nosso estudo, seguimos

afirmando que as discussões no Grupo de Pesquisa Ciência, Educação e Sociedade -

GPCES6, ao qual ingressamos a partir de 2006, foram indispensáveis no sentido de

amainar muitos desses dilemas e de descortinar um amplo campo de debates e

perspectivas de estudo na área. Além disso, enfatizamos as contribuições dos debates

realizados no grupo de leitura7 e os enfrentamentos teóricos sobre a história da

Educação e da Geografia.

Assim, a pesquisa proposta foi orientada por um problema que, aos nossos olhos,

expressava-se em forma de uma pergunta histórica específica: qual o papel dos

exercícios no processo de escolarização? Em outros termos, nosso estudo procurou

discutir sobre se essa bateria de exercícios que se acrescentava aos compêndios e,

consequentemente, às metodologias do ensino primário da época se configurava como

um novo método de ensino, em que se propunham exercícios mais práticos, no período

de 1880 a 1930.

Estabelecemos os anos de 1880 para definir o início da pesquisa porque esse

período marcou as discussões acerca da renovação dos métodos, tanto em nível nacional

quanto internacional. No que se refere às preocupações metodológicas para o ensino da

época, a partir da década de 1880, destacamos a difusão do método intuitivo e das

chamadas “Lições de coisas”8, em detrimento do ensino individual, simultâneo, mútuo

6 Afora subsidiar pesquisas de graduação e pós-graduação, promovendo o intercâmbio entre as áreas de

Geografia, História, Pedagogia e Arquitetura, o Grupo pretende contribuir para melhorar o ensino de

História e de Geografia nas escolas de ensino fundamental e médio da Paraíba. Além de formar

recursos humanos em nível de graduação e de pós-graduação, esse grupo pretende divulgar os

resultados das pesquisas através da produção de artigos e de comunicações para serem apresentados

em congressos científicos e publicados em revistas especializadas. Além disso, está sendo criado um

banco de dados, composto de documentos e objetos recolhidos. Tudo isso compõe o gérmen da futura

constituição de um Museu Pedagógico. O grupo pesquisa e discute sobre os seguintes temas: Ciência

e Educação Popular, Didática urbana, história das disciplinas escolares e história do ensino de

Ciências no Brasil.

7 Como parte integrante das atividades dos GPCES, e sob a coordenação da Profª Drª. Maria Adailza

Martins de Albuquerque, esse grupo tem como foco central promover debates sobre leituras que

contemplem os interesses de pesquisadores como: professores das Universidades e das escolas

públicas e privadas e alunos de Graduação, Mestrado e Doutorado, para discutir a respeito das leituras

realizadas sobre História da Educação e da Geografia, e suas correlações com os caminhos da

educação brasileira.

8 A discussão sobre o método intuitivo tem sido ampliada no campo da historiografia brasileira e tem nos

ajudado a desmistificar e desvendar questões sobre métodos de ensino e conteúdos escolares no

Brasil. Destacamos, entre as pesquisas, as contribuições de Valdemarin (2010). Nos debates acerca

23

ou misto, amplamente adotados nas escolas do Império. De acordo com Hébrard (2000),

o método intuitivo nasceu na Inglaterra e nos Estados Unidos, no Século XIX, com o

proposito de mudar não apenas as formas de ensinar, mas também as de aprender. No

final desse século, ele passou a compor os debates educacionais brasileiros e a

influenciar a escola primária em expansão.

Nesse momento, observamos, também, a crença no progresso da sociedade

brasileira expressa em uma ruptura metodológica e epistemológica no campo do ensino

que antecede a Proclamação da República no Brasil, com as reformas pedagógicas que

propunham a renovação dos métodos. Dentre as proposições destinadas ao ensino de

Geografia, os livros didáticos da época trazem um debate sobre a necessidade de incluir

um saber mais prático, apoiado nos elementos pedagógicos ofertados pela execução dos

exercícios práticos. Essa discussão marca, sobretudo, um momento de renovação da

cartografia escolar, uma das finalidades da Geografia no ensino primário.

Em outras palavras, podemos dizer que a década de 1880 é um marco

representativo para que possamos pensar sobre vários elementos que se expressam no

âmbito educacional, sobretudo no nível primário, e influenciam diretamente os livros

didáticos da época. Destacam-se, pois, as questões de cunho pedagógico, como as

transformações na disposição dos conteúdos e dos exercícios; as de cunho material e

icnográfico, tendo em vista as inovações, mesmo que tímidas, no domínio da imprensa e

no trato das questões de caráter político e ideológico, como a difusão das ideias

republicanas que eram uma das finalidades de alguns autores (ANGELO, 2014).

Quanto à década de 1930, como marco final da pesquisa, foi estabelecida porque

entendemos que, nesse período, foram se arrefecendo os debates e as proposições

metodológicas para a escola primária, pautados no método de ensino intuitivo, que foi,

paulatinamente, substituído pelas proposições da Escola Ativa e pelos princípios

pedagógicos pregados pelo Movimento da Escola Nova (VALDEMARIN, 2004). A

educação primária, a partir desse momento, passou a ser vista como a mola mestra do

projeto de Nação que Vargas tinha para o Brasil. Tal projeto visava, sobretudo, formar

dessa questão, encontramos autores que defendem que a adoção do método intuitivo, em algumas

escolas, seria a primeira entrada de proposições da Escola Nova no Brasil. Já para outros, com os

quais concordamos, seria um método que começa no Século XIX, com as chamadas “Lições de

coisas”. Ao longo do texto, tratamos dessa relação de uma forma mais específica, fazendo associações

a partir das fontes de pesquisa.

24

as crianças, desde os primeiros anos de escolarização, adequadamente para o novo

modelo social, político, cultural e econômico que o país adotara.

Nesse contexto, mas também sob uma forte influência europeia, a Geografia

escolar assumiu um novo papel na sociedade brasileira. Para isso, as proposições

científicas ou modernas passaram a ser valorizadas no ensino. É preciso entender que a

Escola Nova também trazia esse mesmo aparato científico e moderno, pois só assim é

que se pode compreender a relação entre a Geografia escolar e a Pedagogia. É um

movimento que inclui as disciplinas em geral, mas que apresenta especificidades no

caso da Geografia.

Essas inovações, tanto do ponto de vista pedagógico quanto geográfico,

influenciarão a formação de professores e parte dos livros didáticos publicados no Brasil

na época. No âmbito da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, em 1926, foi criado

o primeiro Curso Livre de Formação de Professores de Geografia. Seus criadores,

envolvidos com os debates geográficos e educacionais que se desencadeavam entre os

intelectuais brasileiros, criticavam a Geografia que havia sido difundida apoiada em

práticas mnemônicas propagadas pelos livros didáticos e pelos professores em suas

práticas escolares. Assim, resolveram criar esse curso, destinado aos professores da

escola primária, onde essas inovações - de ordem metodológica e geográfica – deveriam

ser implantadas primeiro.

Nos debates subsequentes à década de 1930, foram criados os Cursos Superiores

de Geografia e História, que formavam profissionais especialistas na Faculdade de

Filosofia, Ciências e Letras, em 1934, e na Universidade do Brasil, em 1935. Esse

evento marcou, especialmente, a produção didática de Geografia, porquanto esse

período histórico foi um divisor de águas para o ensino dessa disciplina, caracterizado,

sobretudo, pela presença de exercícios que contribuíssem para tornar o seu ensino mais

“moderno”.

Em linhas gerais, o período estudado tem marcado grande parte das produções

da historiografia brasileira, e esses estudos têm sido pautados na ideia de que as

configurações representativas que marcam o período do final do Século XIX e o início

do Século XX resultaram de um processo histórico desenhado durante o período

oitocentista. Os estudiosos que discutem sobre esse marco temporal afirmam que,

embora o período em foco tenha promovido essas configurações específicas para a

25

época, elas também têm elos de continuidade com os velhos traços da Monarquia, pois

são muitas as permanências nesse momento de transição de regime político (GONDRA

& SCHNEIDER, 2011).

O recorte temporal que escolhemos para esta pesquisa procura valorizar os

elementos inerentes à cultura nos diferentes espaços e se desvincula de uma vertente

epistemológica que focaliza suas análises em um viés estruturalista cuja base envolve a

história política e as ideias (BURKE, 2008). A esse respeito, destacamos os estudos9 que

priorizam os marcos políticos como acontecimentos que devem ser compreendidos

como elemento determinante para entender todas as relações humanas. No entanto, tem

se renovado o quadro dos estudos que vêm afirmando que o emprego desses marcos e

os campos que eles demarcam são insuficientes para dar conta da complexidade dos

fatos e das ações sociais que marcam esse período histórico (GONDRA &

SCHNEIDER, 2011).

Devemos observar que, a partir de enfoques específicos, o que e como os

estudos desenvolvidos recentemente têm ajudado a confirmar ou a desmistificar a

escrita da História da Educação no que tange às abordagens que trabalham a partir desse

marco temporal com uma nova vertente10

. Nessa nova configuração dos estudos, as

rupturas ou mudanças, sejam elas postas pelo regime, pelas leis ou pela teoria, não

implicam, necessariamente, uma alteração nas relações sociais, devido à existência de

diferentes segmentos e sujeitos que atuam nos mais variados contextos históricos e

sociais (GONDRA & SCHUELER, 2008).

Em nossas investigações, constatamos que tem aumentado entre os

9

Como exemplo, temos os estudos de José Murilo de Carvalho (1993) e Ilmar de Mattos (1987), que são

interpretações consagradas sobre a história da construção do Estado brasileiro como resultado de uma

classe senhorial, articulada a partir de um jogo político em torno da coroa. Segundo Carvalho (1993),

havia uma unidade do território da ex-colônia portuguesa que foi obra de uma elite cuja formação

apresentava uma trajetória que era diferenciada das elites regionais. Na mesma vertente, Mattos

(1987) defende a ideia de que à medida que se construía o Estado nacional, essa classe senhorial

constituía-se como elite dirigente, a chamada elite Saquarema, que exercia uma centralização político-

administrativa por meio do governo geral (DOLHNIKOFF, 2003).

10 A esse respeito, convém lembrar o trabalho da pesquisadora Dolhnikoff (2003), que, ao contrário do

que defendem Carvalho (1993) e Mattos (1987), apresenta a seguinte tese: “As elites regionais

constituíram-se também em elite política, cujo desejo de autonomia não era sinônimo de uma suposta

miopia-localista e estava acoplado a um projeto político que acomodava as reinvindicações regionais

em um arranjo nacional” (p. 432). Segundo a autora, o que prevaleceu foi uma organização

institucional, que garantiu certa articulação em todo o território e preservou a autonomia da cada

província, sob a orientação do governo central.

26

pesquisadores o interesse pelo período compreendido entre o final do Século XIX e o

início do Século XX. Dentre outros interesses, os estudiosos que visam conhecer a

educação escolar ofertada no referido período buscam entendê-la a partir de sua relação

com o contexto histórico que se expressa como período de grande efervescência e de

transformações na sociedade mundial, de forma geral e, especialmente, no cenário

brasileiro.

Em âmbito nacional, havia uma tentativa de modificar a forma de pensar sobre o

ensino, em especial, no que se referia aos materiais didáticos e aos métodos. Era preciso

empregar uma metodologia que trabalhasse na perspectiva de integrar objetivos

pedagógicos e sociais, para possibilitar a constituição da nação brasileira. Nessa

perspectiva, esta tese se propôs a discutir sobre os principais eventos históricos que

aconteceram durante o período estudado, sobretudo, em matéria de educação, para

compreender o processo de renovação dos métodos, considerando os avanços e as

permanências dos questionamentos a respeito do nosso objeto de estudo. Diante disso,

destacamos nossa preocupação em identificar os aspectos que possam desvendar os

traços da cultura escolar expressos nas continuidades e nas descontinuidades do

processo de escolarização da época.

O objetivo geral deste trabalho foi o de analisar os exercícios em livros

didáticos, como uma expressão dos novos métodos destinados ao ensino primário de

Geografia. Para isso, elencamos os seguintes objetivos específicos: 1) desvendar os

saberes escolares de Geografia apresentados nos livros didáticos, formulados a partir

dos exercícios práticos; 2) investigar, no processo de construção do saber escolar do

ensino primário, como a Geografia é apresentada nos livros didáticos; 3) entender o

livro didático como fonte de historicidade para mapear o ensino primário entre os anos

de 1880 e de 1930.

Assim, cientes do zelo que os pesquisadores devem ter com o uso dos

documentos como fonte para a História da Educação, optamos por estudar os livros

didáticos como uma forma de compreender as tentativas de ordenar e de configurar o

ensino, sobretudo, a relação da produção dos livros com a cultura escolar, conduzindo e

conformando práticas diferenciadas nos tempos escolares. Em nossas considerações,

tomamos os livros didáticos como uma literatura que circulou nas escolas primárias em

conjunto com outros materiais didáticos, como: os cadernos de professores, os

27

catecismos, a Bíblia, a Constituição Nacional, os livros de leitura, entre outros.

Portanto, nosso foco não foi a adoção dos livros, mas as indicações das obras como

expressão dos diálogos entre os sujeitos envolvidos na renovação e na difusão dos

métodos e da disciplina escolar Geografia, o poder público e as normas estabelecidas

para o ensino dessa disciplina, bem como a inclusão de outras formas de promover o

ensino que não estão nas indicações ditas oficiais.

Compreendemos que o livro didático, historicamente, não é o único suporte

didático utilizado para formar e instruir o povo, contudo, entendemos que esse recurso

exerceu (e continua exercendo) uma centralidade no contexto escolar. Em nossa

pesquisa, isso foi observado, sobretudo nas obras destinadas ao ensino primário, quando

a produção desses livros é ampliada, e a escolarização no Brasil é expandida. Na

atualidade, esse recurso continua sendo um dos mais utilizados, porquanto embora as

escolas estejam imersas em uma sociedade que passa por uma grande revolução

tecnológica, com uma proliferação de diferentes recursos de informação, seus

professores e alunos continuam enfrentando limites para ter acesso a tais recursos, entre

outros fatores. Isso faz do livro um dos suportes didáticos mais usados e consultados.

Em nossa discussão, o livro didático é entendido um tipo de material da cultura

escolar utilizado por alunos e professores

Essa relação implica pelo menos dois leitores permanentes: aluno e

professor, que mantêm entre si uma relação de poder muito peculiar,

relação que vai caracterizar o livro como didático. Esse precisa ser

usado de forma sistemática, no ensino-aprendizagem de um

determinado objeto de estudo do conhecimento humano, geralmente já

consolidado como disciplina escolar. Didático, portanto, é o livro que

vai ser utilizado em aulas e cursos e que, provavelmente, foi escrito,

editado, vendido e comprado tendo em vista essa utilização escolar e

sistemática, visando ao aprendizado coletivo e orientado por um

professor (SANTOS, 2004, p. 10).

Essa definição nos fez compreender que estudar os livros didáticos, numa

perspectiva histórica, é uma forma de entender o papel que desempenham na formação

dos leitores, especialmente, de professores e de alunos. Por meio do estudo dos livros

didáticos, podem-se conhecer detalhes importantes da cultura escolar e dos saberes

escolares que, supostamente, não poderiam ser apreendidos a partir do estudo de outros

materiais didáticos. Os livros didáticos de Geografia foram para nossa tese uma “janela”

que se abriu para que pudéssemos compreender o processo de escolarização e discutir

28

diretamente sobre o papel dos exercícios na formação dos saberes escolares.

No próximo tópico, trataremos da tese, dos argumentos que embasaram o estudo

e das considerações acerca da trilha da pesquisa e do percurso metodológico.

29

1.2 - Trilhas da pesquisa: a tese e os caminhos teórico-metodológicos

Nossa proposta de tese buscou promover uma reconstrução histórica das

metodologias aplicadas ao ensino primário da disciplina Geografia entre os anos de

1880 e de 1930, com o fim de compreender como surgiram e de que forma se

processaram as transformações metodológicas de ensino, com a adoção dos exercícios

nos livros didáticos destinados a essa disciplina e publicados nesse período histórico.

Assim, para construir nossa tese, partimos de um argumento inicial que foi

delineado pelas análises dos livros didáticos de Geografia publicados no período em

tela. Por muito tempo, antes e ao longo do período estudado, os livros didáticos traziam,

em geral, uma estrutura organizada em forma de perguntas e respostas, denominada

pelos estudiosos de livros didáticos de catecismo, para facilitar o processo tradicional de

ensino baseado na memorização dos conteúdos. Nas edições mais antigas, as perguntas

que deveriam ser feitas pelos mestres eram escritas em negrito ou em itálico, seguida

pelas respostas, que deveriam ser ditadas mnemonicamente pelo aluno, conforme se

observa na figura a seguir:

Figura 01: Texto organizado em forma de catecismo: perguntas em destaque e respostas

Fonte: PINHEIRO, Manoel Pereira de Moraes - Elementos de Geographia universal – Geral do Brazil e

Especial de Pernambuco para a infância escolar da Província de Pernambuco. Recife: Typographia

Mercantil, 1875. Acervo: Gabinete Português de Leitura.

30

Essa estrutura passou a ser questionada por alguns autores de livros didáticos

publicados no período (ALBUQUERQUE, 2010) e resultou do contato deles com os

debates nacionais e/ou internacionais sobre a necessidade de inovar os métodos de

ensino. Quando esses autores mudaram a estrutura de seus textos, eles passaram a ser

escritos de forma corrida, sem a distinção explícita entre seu conceito e/ou o conteúdo.

Assim, devido às necessidades postas por essa inovação, as perguntas que eram o centro

do processo de ensino começaram, lentamente, a ser substituídas por textos corridos

descritivos, apesar de continuarem os destaques em itálico ou negrito para os conceitos.

Isso pode ser observado em livros com mais de uma edição ao longo dos anos, como

mostra esta figura:

Figura 02: Texto contínuo com conceitos destacados em itálico

Fonte: PEREIRA, Jeronimo Sodré. Compêndio de Geographia Elementar: especialmente do Brazil. 1884.

Acervo: Biblioteca Paulo Bourroul - FEUSP

Outra forma que os autores encontraram para suplantar o modelo de catecismo,

já criticado por alguns autores na época, foi recorrer ao texto corrido, porém sem deixar

31

as marcas do passado, ou seja, destacando em negrito os conceitos ou conteúdos que

deveriam ser ditados pelo professor. A figura abaixo ilustra essa assertiva:

Figura 03: Texto contínuo com destaque de conceitos ou conteúdos em negrito

Fonte: A. G. Lima. Noções de Geographia – I parte – Estado do Rio Grande do Sul, 1881.

Acervo: Biblioteca de livro didático da USP.

Esse argumento que ora utilizamos para pontuar nossa tese tem uma relação

direta com a organização dos conteúdos por meio do método expositivo, em detrimento

de um texto com base no formato de catecismo (perguntas e respostas). Isso pode ser

32

observado na obra Compêndio elementar de Geographia Geral e especial do Brasil, de

autoria do Thomaz Pompeu de Sousa Brasil, publicado em 1859. Esse autor demonstra

certa atenção ao debate sobre a inovação dos métodos, pois, embora essa obra seja

destinada ao ensino secundário, apresenta, na introdução, a mesma preocupação com as

concepções pedagógicas difundidas.

Também é possível relacionar tais mudanças com a introdução no Brasil e, mais

especificamente, na escola, a partir do final do Século XIX para o início do Século XX,

de uma Geografia científica em que a descrição passou a ser o centro do processo de

ensino, deixando para trás, lentamente, uma Geografia clássica apoiada em descrições e

relatos sem fundamentos científicos (CARVALHO, 1925; ISLER, 1973; ROCHA,

1996;). Com essas mudanças, os livros foram tomando uma nova configuração, ou seja,

deixando de trazer explicitamente a pergunta e a resposta como centro da redação dos

textos. Porém, não podemos negar que as perguntas e as respostas referentes aos

conceitos, mesmo que indiretamente, permanecem como centro do processo de ensino e

aprendizagem. Entretanto esse processo não pode ser observado somente como

decorrente da troca das perguntas por textos corridos. Há, no bojo dessas

transformações, um debate que vem provocando mudanças metodológicas mais

profundas na escola e, em especial, na relação entre o ensino e a aprendizagem. Assim,

entendemos que é preciso conhecer tais transformações para que possamos compreender

efetivamente a introdução dos exercícios nos livros didáticos de Geografia.

Consultando outro tipo de publicação, neste caso, os manuais destinados à

formação de professores – publicados, mais precisamente, no final do período estudado,

como os livros Como ensinar Geografia, de Firmino Proença, publicado em 1928, e a

obra Didática (nas escolas primárias), de João Augusto de Toledo, em 1930 –vimos

orientações metodológicas que sugerem a relação entre as inovações metodológicas e o

uso dos exercicios como práticas educativas inovadoras. As leituras nos fizeram

entender que essas obras apresentavam propostas didáticas que difundiam novas

concepções pedagógicas e, em algumas circunstâncias, na falta de um currículo para a

escola primária, conduziam a propagação das concepções teóricas e metodológicas e, a

partir delas, difundiam os exercícios.

Com base nesses argumentos foi que construímos nossa tese de que a introdução

de exercícios nos livros didáticos de Geografia destinados ao ensino primário, entre os

33

anos de 1880 e 1930, é um dos indicadores da introdução de novos métodos de ensino

na escola brasileira e representa a adoção de uma nova Geografia pelos autores. Os

exercícios passaram, inicialmente, a compor os livros como forma de substituir as

perguntas e as respostas explícitas que vinham no corpo do texto e que, lentamente,

passaram por um processo de modificação. Em um segundo momento, é pertinente

afirmar que os exercícios passaram a incentivar uma nova forma de ensinar e de estudar,

pois estimulariam o uso de novos mecanismos de leitura, de apreensão dos textos e de

formulação de respostas solicitadas aos alunos, já que elas não estão mais dadas

explicitamente ao longo do texto.

Para tanto, as impressões aqui contidas, entre outras fontes, tomam como base

central para a nossa pesquisa quatro obras selecionadas a partir da catalogação de 229

obras no geral (as destinadas ao ensino primário, os atlas e as que não apresentavam

uma destinação quanto ao nível de ensino) e, dentro desse universo, 131 livros didáticos

de Geografia destinados ao ensino primário, dos quais selecionamos para uma análise

mais apurada os que traziam diversos tipos de exercícios e que foram publicados no

período determinado para a pesquisa – escolhemos um livro publicado no Século XIX e

três no Século XX, um do início, e os outros dois da década de 1920, tendo em vista que

as transformações metodológicas foram difundidas mais expressivamente no final do

período. Outro elemento que pautou essa seleção foi a incorporação, nas obras, dos

debates sobre a produção didática que procurava romper com o modelo de catecismo,

ou seja, a estrutura textual montada a partir de perguntas e respostas, aderindo, portanto,

ao movimento de redefinição de questões de ordem metodológicas, que buscava,

sobretudo, propagar o debate dos exercícios para renovar as metodologias para o ensino

primário.

Em linhas gerais, essas obras foram elaboradas com base em uma Geografia

escolar difundida também em outros livros didáticos da época. Na comparação entre as

obras selecionadas, observamos diversidades na abordagem dos conteúdos, pautadas em

proposições científicas, em princípios religiosos ou em ideias nacionalistas. Notamos

ainda que tais obras valorizam mais os conteúdos sobre o Brasil do que os sobre países

estrangeiros.

Assim, com base nesses critérios, selecionamos as seguintes obras: Compêndio

de Geographia elementar: especialmente do Brazil, por Jeronimo Sodré Pereira,

34

publicada em 1884; Pequena Geografia da Infancia, de Dr. Joaquim Maria de Lacerda,

de 1913; Geographia Atlas: Curso elementar, publicada pela F. T. D, em 1923, e

Geographia, também publicada pela F. T. D. em 1923.

A primeira obra elencada é um livro didático de Geografia regional, publicado

na província da Bahia, que tem 162 páginas e está organizado em: Grammatica da

Geographia e Geographia Descriptiva, cada uma composta de primeira e segunda

parte, mede 16 centímetros de largura e 22 de altura, está em boas condições de leitura e

contém todas as páginas.

Figura 04: Livro didático de Geografia publicado no Século XIX

Fonte: PEREIRA, Jerônimo Sodré. Compêndio de Geographia elementar: especialmente do Brazil,

Bahia: S/Ed, 1884. A primeira edição foi publicada em 1875. Acervo: Biblioteca Paulo Bourroul, FEUSP.

O segundo livro que apresentamos foi publicado por uma das maiores editoras

de livros didáticos da época. Seu autor era muito prestigiado pelas escolas brasileiras. A

35

obra tem 128 páginas, mede 21 centímetros de altura e 14 de largura, encontra-se em

bom estado de conservação, com todas as páginas e todo o material adicional anunciado

na capa, que são seis belas cartas das cinco partes do mundo. Está organizada em seis

seções, que se dividem em geral e particular. Primeiro, temos a Geografia Geral e a

particular do mundo; depois, a Geografia do Brazil, dividida em: descripção geral e

descripção dos estados.

Figura 05: Livro didático de Geografia publicado no início do Século XX

Fonte: LACERDA, Joaquim Maria de. Pequena Geografia da Infancia. Rio de Janeiro: Francisco Alves,

1913. Acervo: LIVRES - Biblioteca do Livro Didático – FEUSP.

O terceiro livro selecionado não tem autor estabelecido. Foi escrito em uma

interface entre os preceitos da igreja católica, os interesses da editora e as proposições

metodológicas inovadoras da época. Tem 48 páginas e foi dividido em: Noções gerais

36

da Geographia, Globo terrestre, Geoggraphia Phisica e Geographia política. Na primeira

parte, a obra traz a Geografia do Brasil e apresenta o país estado por estado. A segunda é

voltada para a Geografia do mundo, em seis capítulos, e mede 22 centímetros de altura e

29 de largura.

Figura 06: Livros didáticos de Geografia publicados na década de 1920

Fonte: Capa do Atlas Geographia Atlas Curso elementar, por F. T. D. 1923. São Paulo: Livraria

Francisco Alves. Acervo: LIVRES - Biblioteca do Livro Didático – FEUSP.

O quarto livro didático de Geografia foi também publicado pela FTD e, como no

anterior, os autores são anônimos, o que indica uma política dessa editora para a questão

autoral. A obra apresenta as seguintes características: tem 112 páginas, foi dividida em

seis capítulos e uma Lição Complementar sobre a Palestina; mede 18 cm de altura e

12,5 cm de largura, está bem conservado e, em anexo, traz os mapas em preto e branco

anunciados na capa.

37

Figura 07 – Livro didático de Geografia publicado em 1920

Fonte: Geographia: Curso elementar. Rio de Janeiro/ São Paulo: F. T. D.,1923. Acervo: LIVRES -

Biblioteca do Livro Didático – FEUSP.

Além das questões supracitadas, consideramos que é importante incluir o debate

sobre o ensino de cartografia, sua normatização e as exigências legais sobre a inclusão

desse conteúdo nas aulas de Geografia do ensino primário, tendo em vista sua

importância para a Geografia escolar no período. Por essa razão, optamos pelo Altas de

Geografia, que traz esse debate e é todo organizado a partir de exercícios.

Para discutir sobre as indicações metodológicas, apoiamo-nos, principalmente,

no debate feito por alguns autores (CARVALHO, 1925; ROCHA, 1996) e no Parecer e

Projeto da Reforma do Ensino Primário de 1883, que concebe os exercícios como um

38

método e aponta a cartografia escolar como uma das finalidades da Geografia na escola

primária. Esse Parecer11

apresenta os conteúdos que serão tratados, as metodologias

adotadas e as finalidades da disciplina. Elaborado como um projeto de lei e apresentado

à Câmara em 12 de setembro de 1882, esse Parecer nunca foi aprovado nessa instituição

nem regulador da escola primária no país. Entretanto, foi referencial para os debates e

outras propostas de reformas educacionais (MACHADO, 1999; PERES, 2005;

BONATO, 2011) e o é para nosso trabalho, pois, a partir dele, podemos verificar grande

parte das propostas de inovação pensadas para a educação no período. Os Pareceres

desses autores destinados ao ensino secundário (1882) são utilizados com mais

frequência na literatura da História da Educação (SOUSA, 2008) e, em especial, na

História da Geografia Escolar (VLACH, 1988; ROCHA, 1996). O uso desse documento

destinado ao ensino primário nesta tese exerce o mesmo papel nas pesquisas

supracitadas, ou seja, é um referencial para as reformas que se desencadearam no

período em tela.

A análise desse documento nos possibilitou fazer afirmações a respeito de uma

legislação que visava introduzir um novo método de ensino na escola, preocupação que

também é apontada por outros autores de História da Educação (HÉBRARD, 1999;

SOUZA, 2000, 2011; VALDEMARIN, 2006, 2010) aos quais também recorremos para

essa análise. Do mesmo modo que observamos essa preocupação com a inovação

metodológica nos documentos, podemos observá-la na introdução de alguns livros

didáticos. Esse processo também é referido em uma literatura da época destinada aos

professores de Geografia, como os livros: A Educação Nacional, de José Veríssimo,

publicado em 1890, e Methodologia do Ensino Geographico, de Delgado de Carvalho,

de 1925.

Esses documentos nos possibilitaram relacionar quatro elementos para a

construção de nossa tese: os debates acerca da superação de uma escola tradicional, os

debates sobre a renovação da Geografia, a legislação a respeito da introdução de um

novo método de ensino para a escola e a adoção dessas inovações pelos autores de

livros didáticos. Esses elementos é que dão sustentação à tese e justificam a escolha do

11 Ver documento: BARBOSA, Ruy; ESPINOLA, Thomaz do Bomfim; VIANA; Ulisses

Machado. Reforma do ensino primario e varias instituições complementares da instrucção publica:

Parecer e projecto da Commissão de Instrucção Publica, de 1882 - Sessão de 12 de setembro de 1882.

Ruy Barbosa (relator). Typographia Nacional. Rio de Janeiro, 1883.

39

livro didático como o documento principal, porquanto pode expressar, em suas páginas,

o resultado desse processo de transformação, já que não temos mais como observar as

práticas escolares daquele período nem como consultar os professores que lecionaram

na época. No entanto, não estamos afirmando que todos os livros didáticos de Geografia

passaram a ser compostos segundo esses preceitos. É preciso entender que esse processo

é lento, como tudo o que diz respeito às transformações em âmbito educacional, e que

há uma série de sujeitos e interesses (econômicos, culturais, sociais etc.) envolvidos.

A proposta é de promover uma reflexão histórica sobre os livros didáticos de

Geografia destinados ao ensino primário, com base nas intenções e nos interesses

pedagógicos que estavam expressos na elaboração dos exercícios. O estudo discutiu

sobre essa metodologia de ensino, partindo das seguintes questões: A partir de quando

esses livros didáticos começaram a trazer exercícios? Por que somente em determinado

momento os exercícios passaram a compor os livros didáticos? Qual a finalidade de se

trabalhar com os exercícios? Como as novas metodologias expressaram a introdução de

uma abordagem moderna para a Geografia? Como os exercícios podem ou não ser

considerados parte de um novo método de ensino?

Nossos estudos partiram dos pressupostos teórico-metodológicos pautados na

história das disciplinas escolares. A leitura que fizemos visou discutir sobre a História

da Educação em seus diferentes tempos e espaços. Para tanto, recorremos a outros

significados e sentidos, para dar atenção às questões que, mesmo não sendo pontuais

para as grandes narrativas, poderiam nos ajudar a pensar sobre o processo histórico a

partir de seus descompassos, de suas descontinuidades e de outros contornos (VIDAL,

2005). Fazer história é uma forma de adentrar o processo de concepção dos indivíduos

formadores de opiniões, de ideias, de culturas, de formação social, para que ele

compreenda como atuam os diversos elementos formadores desses discursos e sua

relação com os outros (BENCOSTTA, 2010).

A esse respeito, Gondra (2006) enfatiza que, nesse fazer historiográfico, convém

pensar sobre os novos desafios, apontamentos e possibilidades postas para esse campo e

ir além dos balanços, pois, segundo esse pesquisador, na historiografia da educação

brasileira, há uma necessidade de ultrapassagem que poderá nos fazer enxergar outras

possibilidades e outras direções. Compreendemos que os exercícios, nos livros

didáticos, são elaborados a partir de finalidades e objetivos de aprendizagem, com base

40

em uma metodologia de ensino determinada. Assim, tomamos como objeto de estudo os

exercícios nos livros didáticos de Geografia, porque entendemos que eles são como

peças importantes para se compreender a noção de Geografia escolar e sua relação com

os discursos políticos, econômicos, culturais, entre outros, difundidos em determinado

período.

Em nossa pesquisa de Mestrado, encontramos algumas questões que nos

ajudaram a tecer as primeiras considerações sobre nosso argumento de tese, já que os

resultados alcançados nos possibilitaram elaborar questionamentos e impressões sobre a

presença dos exercícios no processo de escolarização. Ferreira (2012) assevera que

o conjunto de exercícios presentes nos livros didáticos de Geografia

são indícios do que o aluno deve aprender e como deve aprender. Se

analisados numa perspectiva histórica percebemos que esses se

destacam como estratégias de fixação do conteúdo e como

instrumento de verificação de aquisição do saber ensinado. O

exercício em geral é solicitado pelos professores como forma de fixar

ou reforçar a aprendizagem de algum ponto de uma disciplina

estudada. Cada exercício se caracteriza pela finalidade da ação

pedagógica executada em sala de aula. Partindo desse pressuposto

podemos sugerir que os exercícios fazem parte das culturas e das

práticas escolares. Os exercícios nos livros didáticos representavam e

representam metodologias que sugerem procedimentos a serem

executados pelos alunos, centralizam objetos mediadores do saber e

possibilitam modos de interação entre alunos, e desses com o

professor. Por isso, afirmamos: os exercícios podem ter desempenhado

um papel fundamental na aquisição dos conhecimentos. Entendemos

os exercícios como práticas pedagógicas para auxiliar, avaliar e

facilitar os procedimentos e competências dos alunos, além de serem

métodos que orientam o processo educativo com base nos objetivos de

realização de provas exames, atividades, aulas práticas, etc. O

conjunto de exercícios presentes nos livros didáticos indicam que

esses não são apenas elaborados para expor os conteúdos de uma

disciplina, pois, também é função desse recurso pedagógico propagar

as concepções de aprendizagem e metodologias de ensino. São

elementos que possibilitam acompanhar as estratégias adotadas pelos

professores e alunos nas práticas educativas, sejam institucionalizadas

ou não.

As colocações acima nos permitiram refletir sobre a associação entre os

exercícios e as atividades práticas propostas pelas novas metodologias de ensino,

aclamadas pelo debate sobre a renovação dos métodos que começou, no Brasil, a partir

dos anos oitocentos do Século XIX. O conhecimento precisava ser mais aplicável, e os

exercícios eram uma das formas de aproximar, tanto em sala de aula quanto extraclasse,

os conteúdos, os estudos e a aprendizagem.

41

Sobre a presença dos exercícios no processo de escolarização, eles faziam parte

de um debate das modificações na estrutura metodológica do ensino primário da época.

Essa inovação afetou os conteúdos (HÉBRARD, 1999). Assim, os exercícios nos livros

didáticos da época foram se transformando. Segundo Hébrard (1999, p. 50), “entre 1830

e 1880, os professores aperfeiçoaram, nas salas de aula, os exercícios que iriam

permanecer até o Século XX [...]”. Tal afirmação nos leva a inferir que a cultura escolar

tinha e tem uma dinâmica própria que, ao mesmo tempo em que intervém, submete-se

aos limites e às peculiaridades do espaço escolar (VALDEMARIN e SOUSA, 2000).

Há uma preocupação em identificar, em diferentes momentos históricos,

questões que revelam traços da cultura e dos saberes escolares (VIDAL, 2005a) e poder

traçar um panorama para perceber as possíveis mudanças e permanências no processo

de escolarização (BITTENCOURT, 1993). Os debates sobre a Nova História Cultural

influenciaram sobremaneira os estudos em História da Educação que vêm sendo

(re)construídos por meio de uma crescente produção historiográfica, temática e

teoricamente, diferenciada e fértil, ganhando novos contornos, novas perspectivas e

novos olhares (BURKE, 1992).

Gondra (2006), ao discutir sobre esses estudos, afirma que é fundamental pensar

no desafio da “escavação” e no “uso cauteloso da enxada” na arte de fazer História. Por

isso, chama à atenção em seus questionamentos para o esforço de reconhecer o velho,

ou seja, usar as tradições como condição para se pensar nas produções da historiografia

da educação brasileira. Para esse pesquisador, não devemos nos limitar às fronteiras do

campo brasileiro, pois isso nos restringe a alçar outros voos nos mais variados campos

da História da Educação,

[...] trata-se de pensar a escrita da História da Educação, desafiando as

fronteiras do já sabido para forjar o que ainda não foi pensando, não

foi expresso ou que merece ser mais bem discutido e, mantido no

horizonte de nossas reflexões (GONDRA, 2006, p. 166).

Esses novos estudos têm dirigido um olhar diferenciado para as fontes e as

produções históricas e procuram, em sua diversidade teórico-metodológica, trabalhar

com um novo registro dos acontecimentos considerados grandes marcos, para traçar

inter-relações, articulações e tensões com os fenômenos singulares, aparentemente

insignificantes, mas que muito podem nos ajudar a seguir a pista metodológica que cada

42

pesquisador procurar trilhar.

Seguindo esses apontamentos de Gondra (2006), compreendemos que o uso de

livros e materiais escolares, como fontes de pesquisa para a História da Educação, tem

sido intensificado pelos pesquisadores devido à sua importância para compreender a

abrangência do cotidiano da escola. Mais do que meios de difundir conhecimentos, os

materiais didáticos são artifícios que, basicamente, estão no centro das ações

pedagógicas e indicadores de saberes que podem direcionar o processo de aprendizagem

e, muitas vezes, limitam as possibilidades de se adquirir o saber. Por isso, direcionamos

nossas reflexões para os livros didáticos, que são adotados por diversos níveis de ensino

e compreendem documentos de análise no campo de pesquisa da História das

Disciplinas Escolares. Em outras palavras, desenvolver pesquisas sobre esses materiais

escolares significa dar mais atenção ao processo de propagação da cultura escolar.

Sob nosso ponto de vista, o livro didático é um objeto de expressão da cultura

escolar, registro de uma época ou de uma sociedade, um instrumento ou recurso didático

e, ao mesmo tempo, uma valiosa fonte de pesquisa histórica por meio da qual é possível

desvendar elementos da composição curricular. Também é revelador de metodologias,

de políticas disciplinares, de valores culturais, de interesses econômicos e sociais

estabelecidos a partir do poder exercido pela escola e de toda uma simbologia que a

envolve como instituição educativa. Em nossas pesquisas, buscamos compreender

problemas como: o processo de constituição ou os constituintes de uma disciplina

escolar, a escolarização dos saberes e a dinâmica de construção dos saberes e das

culturas escolares, seguindo, assim, o que nos adverte Bittencourt (2008).

Nos livros pesquisados, especificamente nos de Geografia, como demonstrado

na Figura 08, os exercícios passam a ser considerados como um componente do corpo

do texto didático, o que indica o caráter prático ou de sistematização do ensino da

Geografia. Essa sistematização está de acordo com os princípios das metodologias

adotadas. Vejamos um modelo dos exercícios comum às obras didáticas do ensino

primário do período estudado:

43

Figura 08 – Exemplo de modelos de exercícios comuns aos livros didáticos do período

Fonte: LACERDA, Joaquim Maria de Pequena Geografia da infância composta para o uso das escolas

primárias. São Paulo: Francisco Alves, 1913. Acervo: GPCES.

Como podemos ler nessa figura, as perguntas dos exercícios requerem dos

alunos que saibam descrever os conceitos estudados. Isso contribui para o processo de

memorização dos conteúdos geográficos abordados. Partindo dessa constatação e

corroborando o pensamento de Chervel (1990) e o de Bittencourt (2008), podemos

afirmar que os exercícios exerceram função importante para as disciplinas escolares no

período, tendo em vista o processo de formação e aceitação social de uma disciplina

escolar, porquanto são considerados como complementos indispensáveis ao processo de

ensino e aprendizagem.

Compreendendo que os exercícios tinham papel fulcral no ensino escolar,

acrescentamos que há uma relação entre eles e o processo de formação dos

conhecimentos de uma disciplina escolar.

Com o intuito de analisar a relação apontada e, devido às inovações

metodológicas propostas para o período, destacamos algumas questões que tiveram

implicações tanto para essas renovações quanto para a organização dos conhecimentos

da disciplina escolar Geografia: a política de controle social, as representações culturais

e os modelos político-econômicos presentes nos livros didáticos do ensino primário e

observados nos exercícios propostos pelos autores.

44

A pesquisa que ora apresentamos se insere nas discussões acerca da Geografia

escolar presente nos livros didáticos, tendo em vista o que ela representava para o

contexto da época (momento de transição entre o Império e a Primeira República), e

quais as possíveis articulações entre o ensino da Geografia escolar e a constituição dos

saberes escolares. No âmbito da historiografia da Educação, procuramos compreender o

desenvolvimento dos exercícios e relacioná-los com as proposições teóricas desse tipo

de obra elaboradas em diferentes épocas.

Compreendemos o livro didático como uma fonte histórica que pode revelar

traços da cultura escolar de seu tempo e que os saberes neles contidos são formulados a

partir de outras interações que se formam para materializar esses materiais escolares.

Pensando nisso, enfatizamos que o trabalho com essas fontes impulsiona a

problematização dos discursos documentais e sinaliza o confronto entre elas e as normas

para o ensino primário que interferiam na elaboração dos livros e nas práticas dos

professores. Por isso é importante pesquisar também sobre as Leis, os currículos ou

programas adotados para o ensino primário do período, que concebem os exercícios

como um complemento das disciplinas escolares. Para Chervel (1990),

os exercícios podem então se classificar em uma escala qualitativa; e a

história das disciplinas descobre uma tendência constante que elas

apresentam a melhorar a posição de suas baterias de exercícios.

Assim, a renovação pedagógica de 1880 proscreve os exercícios

“passivos” e dá preferência aos exercícios “ativos” (p. 204).

Em outras palavras, os exercícios são componentes básicos de uma disciplina

escolar e fazem parte de qualquer sequência didática sugerida no ambiente escolar

(FREITAS, 2009). Assim, nesse caminhar metodológico, promovemos uma discussão

acerca do entendimento dos exercícios como expressão dos novos métodos para o

Ensino Primário nas produções didáticas de Geografia, na propagação da cultura escolar

e no processo de organização do ensino da época, em especial, dessa disciplina.

Conduzida pela curiosidade de destrinchar o entrelaçamento das questões que

vão desenhando uma pesquisa, os caminhos, suas preocupações e suas finalidades, a

produção de nossa pesquisa visa traçar itinerários que não priorizam os indícios ditos

oficiais, mas, sobretudo, a importância dos pequenos detalhes e das sutilezas dos

discursos (GINZBURG, 1989). Na obra O Queijo e os Vermes (2006), esse autor nos

indica os detalhes sobre como produzir uma pesquisa e afirma que todo percurso

45

teórico-metodológico é traçado pelo pesquisador, que exprime suas inquietações e as

desconfianças desse atuar investigativo, e apresenta uma nova percepção de como

devemos pesquisar e as particularidades do fazer do historiador.

Dessa forma, procuramos entender o processo de inserção dos exercícios nesses

livros, com base na renovação pedagógica de 1880, que recomendava a adoção de

exercícios “ativos” não apenas a partir dos debates postos para organizar o ensino da

época e de como tomaram corpo nos textos dos livros. A proposta é de relacionar o

debate acerca dos exercícios com a Geografia escolar no Brasil e seus constituintes.

Para isso, recorremos a fontes como o Parecer do ensino primário, de 1883, e a

renomada obra Lições de coisas, que nos ajudaram a ler os exercícios nos livros

didáticos ou a falta deles no processo de construção do conhecimento geográfico.

Segundo Valdemarin (2004),

esse manual, marco significativo da tentativa de implantar o método

de ensino intuitivo no ensino brasileiro, que remonta ao decênio de

1880, expressa a pretensão de adotar um método didático consoante

com a renovação pedagógica em curso na Europa e nos Estados

Unidos da América, cujos efeitos poderiam ser irradiados para toda a

sociedade, implementando as transformações sociais, políticas e

econômicas almejadas nas ultimas décadas pelo Império. O discurso

político e educacional produzido nessa época estabelece estritos

vínculos entre as propostas de inovação metodológica e a difusão do

ideário liberal republicano, destacando-se a utilização das “lições de

coisas” ou método intuitivo como estratégia de intervenção na sala de

aula, lócus especifico da instrução e da mudança das práticas

pedagógicas, adequando a escola ao projeto político modernizador (p.

104).

Como referência para a elaboração dos livros didáticos do período, essa obra traz

as concepções gerais sobre como deve ser organizado o ensino por meio do debate da

renovação pedagógica. No decorrer do Século XIX, conteúdos e métodos de ensino

fizeram parte dos discursos que idealizavam a formação de professores no Brasil.

Assim, sabendo que os discursos nem sempre se efetivaram na prática, vimos que eles

serviram como modelos de representação para os ideais de saberes escolarizados,

visando à instrução pública durante todo o Século XIX (SOUZA, 2000).

As pesquisas que fizemos a respeito dos exercícios têm demonstrado que, de

fato, têm feito sentido as pistas e os indícios que temos persistido no fazer desta

pesquisa, tanto no que se refere à sustentação do nosso argumento de tese - por termos

46

percebido que, em uma perspectiva histórica dos exercícios, a pesquisa complementa os

traços da busca por entender alguns fios da escolarização Primária no Brasil – quanto à

delimitação do período estudado, que foi demarcado por nosso próprio objeto.

Em nossos estudos, procuramos entender a ligação entre os tempos e os espaços

escolares com as tramas das representações sociais, pois, como nos reporta Chartier

(1990), as práticas escolares são também práticas de ordenamento do mundo social. Isso

nos chama à atenção para articular esses traços da cultura escolar, expressos nos tempos,

nos espaços e na materialidade da escola (FRAGO, 1995; FARIA FILHO, 2000a), com

outras dimensões importantes do fenômeno educativo, que são, também, perspectivas de

investigação.

Faria Filho (2002) enfatiza que a ideia da manter a unidade territorial foi o

centro dos debates sobre a Constituição do Estado Imperial brasileiro. Esses debates

estavam fortemente associados à formação de cidadãos brasileiros, que, de fato,

despertassem para um sentimento de identidade com o território, fossem disciplinados,

adquirissem bons hábitos e defendessem os interesses da elite econômica brasileira.

Esses interesses eram fundamentados no mundo do trabalho, na ordem social e no

comprimento do dever (VEIGA, 2007). Como se pode observar, um projeto como esse

não poderia ser proposto ou implementado, sem recorrer à disciplina escolar Geografia.

O projeto de escola pensado para o Brasil Imperial visava formar cidadãos

brasileiros e constituir uma nação. Sobre esse aspecto, Gondra e Schueler (2008)

enfatizam que a invenção do Brasil e da escola constitui a integração de um conjunto de

ações articuladas no processo de construção do Estado imperial. Sobre isso, precisamos

atentar para ler essas articulações como

[...] processos de circulação de modelos de educação escolar, calcados

nos ideias de civilização e progresso, e considerar as experiências

históricas singulares de implementação numa sociedade mestiça, que

se apropriou de modelos estrangeiros no contexto de uma cultura

plural e híbrida. Com isso, é preciso perceber como o movimento dos

defensores do modelo escolar de educação para o Brasil do Século

XIX, o qual, em linhas gerais, implicou apropriação e remodelação de

espaço, conhecimentos e valores próprios de instituições e concepções

de educação, atuou no sentido de inventar e produzir a escola como

um lugar próprio, específico, destinado à educação de crianças e

jovens (GONDRA e SCHUELER, 2008, p. 20).

O trecho acima reforça o que vem sendo pesquisado e apontado por muitos

47

historiadores da Educação que têm se preocupado com os processos de constituição de

do espaço próprio da escola, o que Vicent, Lahire e Thin (2001) chamam de forma

escolar, ou seja, uma forma especificamente escolar de socialização da infância. Nas

palavras dos referidos autores, “a forma escolar não é somente um efeito, uma

consequência, mas participa dessa nova ordem” (p. 14). Eles referem que essa definição

nos permite entender a configuração e a difusão da instituição escolar no mundo

moderno, buscando pensar a escola como uma forma de escolarizar o social, isto é,

ampliar sua influência para além dos muros da escola.

Por isso, Gondra e Schueler (2008) definem o Oitocentos como um período fértil

de iniciativas, debates e práticas educativas, que foram elaborados em meio a tensões e

a disputas e que estavam ligados com os projetos de nação e da organização do Estado

brasileiro. Na mesma perspectiva dos autores supracitados, Vicent, Lahire e Thin (2001,

p. 30) chegam a afirmar que a ordem social e a escolar estão extremamente interligadas,

uma vez que

a codificação dos saberes e das práticas escolares torna possível uma

sistematização do ensino e, desse modo, permite a produção de efeitos

de socialização duráveis, registrados por todos os estudos elaborados

sobre os efeitos cognitivos da escola. A escola – como instituição na

qual se fazem presentes formas de relações sociais baseadas em um

enorme trabalho de objetivação e de codificação – é o lugar da

aprendizagem de formas de exercício do poder. Na escola, não se

obedece mais a uma pessoa, mas a regras supra-pessoais que se

impõem tanto aos alunos quanto aos mestres.

Para discutir com mais propriedade sobre a produção do lugar da escola, a noção

de cultura escolar é particularmente importante, porque nos permite articular, descrever

e analisar, de forma rica e complexa, os elementos e os fenômenos educativos expressos

ao longo do tempo. Aqui tomamos a cultura escolar como uma categoria teórica que, em

cada tempo histórico, possibilita-nos dialogar com os modos de socializar e de

escolarizar escola. Por isso, concordamos com Vidal (2005a, p. 24), quando faz a

seguinte reflexão sobre a cultura escolar:

É preciso reconhecer que a guarda dos objetos escolares, como globos,

carteiras, material dourado, projetor de slides, lanterna mágica,

sólidos, museus escolares, dentre outros muitos, é importante, na

compreensão de que os objetos portam pistas das múltiplas maneiras

48

como professores e alunos constituíram inteligibilidades e suscitam a

investigação sobre as diferenciadas formas de sua apropriação [...].

A citação acima retrata indícios das relações passadas dos sujeitos com a

materialidade escolar e se configuram para os pesquisadores como um meio de entender

a formalidade das práticas escolares, o que nos possibilita afirmar que as situações

pedagógicas se constroem a partir também das diferentes formas de socialização. Esses

autores fazem parte de um grupo que tem dirigido um novo olhar para a História da

Educação brasileira tomando a forma escolar como conceito e promovendo novos

estudos, que, em sua diversidade teórico-metodológica, têm apresentado considerações

relevantes acerca das possíveis generalizações centradas nos marcos rígidos e lineares,

nos supostos acontecimentos causadores dos insucessos das práticas educativas

brasileiras do Século XIX.

Partindo dessa perspectiva, indagar sobre as estratégias da escolarização

primária e centramos em suas finalidades e em questões específicas sobre a Geografia

escolar como: o que se deveria aprender? O que difundir e como ensinar Geografia no

ensino primário? Quais os materiais didáticos recomendados?

Nessa discussão, duas questões foram pontuais: o método utilizado e os saberes

propagados pela escola primária. Segundo Gondra e Schueler (2008), uma das

prioridades do Estado, no Império, era a formação do povo e a civilização do país. Para

isso, seria preciso pensar sobre como a educação deveria ser ofertada e organizada.

Ao definir o repertório de saberes da escola primária, o Estado

explicita o que pretende: agir sobre os meninos e meninas. Ação que

busca unificar a língua, selar ainda mais os vínculos do Estado com a

Igreja católica e criar uma história para o Brasil, sendo o texto da

Constituição uma peça-chave nesse projeto, a ponto de ser

recomendada, no corpo da lei, como leitura para as escolas de

primeiras letras (GONDRA E SCHUELER, 2008, p.54).

Além da tarefa de legislar e de selecionar funcionários para atuarem no projeto

de Educação Imperial, o Estado se utilizou de outros elementos, na tentativa de manter o

controle daquilo que deveria ser ensinado nas escolas. Dentre esses elementos,

destacam-se os livros didáticos, como podemos observar nas palavras de Vasconcelos

(2005, p. 199):

A Uniformidade e regularidade também visavam à difusão de

49

compêndios, traduzidos e impressos para a educação dos professores e

dos futuros cidadãos brasileiros aprovados e recomendados pelo

Estado, diferentemente daqueles usados na Casa, que eram escolhidos

seguindo a formação e a opção dos mestres. Na verdade, tanto a

interferência nos manuais, tornando-os diferenciados, quanto a

inspeção que é criada e ganha um quadro próprio de funcionários e

regulamentos para esse fim, têm como finalidade imediata de mandar

seus filhos à escola pública estatal.

Diante dessa realidade, convém nos reportar a Hobsbawn (1995), quando propõe

que pensemos sobre o político como um elemento fundamental na sociedade e na

história social. Nas décadas inicias do Século XIX, destacamos a interferência do

político legitimando a formação do incipiente Estado nacional e na organização da

ordem social, quando, em 1822, o Brasil se tornou independente, o que imprimiu uma

nova configuração social e educacional (ANANIAS, 2012).

A esse respeito, cabe lembrar os apontamentos de Koselleck (2006) ao afirmar

que devemos pensar no conceito a partir das práticas e das vivências. Por isso, o político

deve ser entendido pelo viés conceitual, e não, cronológico. Sobre a história conceitual,

podemos dizer que começou a ser utilizada entre os historiadores, que, entre as décadas

de 50 e 60 do Século XX, perceberam a insuficiência da história das ideias. Desse

modo, a história dos conceitos12

[...] começou como crítica à tradução descontextualizada de

expressões cronologicamente relacionadas ao campo semântico

constitucional; em seguida, essa especialização pretendeu uma crítica

à história das idéias, compreendida como um conjunto de grandezas

constantes, capaz de se articular em diferentes formas históricas sem

qualquer alteração essencial. Ambos os impulsos conduziram a uma

delimitação metodológica mais precisa, pois, ao longo da investigação

de um conceito, tornou-se possível investigar também o espaço da

experiência e o horizonte de expectativa associados a um determinado

período, ao mesmo tempo em que se investigava também a função

política e social desse mesmo conceito (KOSELLECK, 2006, p.104).

12

A história dos conceitos sofreu grande influência da língua alemã, pois foi em território alemão que

essa discussão se tornou mais frutífera, visto que a formação desse campo coincidiu com a emergência

do nazismo, um momento de crise do mundo liberal e burguês da época. Pesquisadores desse campo

afirmam que o momento mais fértil da história conceitual foi a partir dos anos de 1950 e coincidiu

com o fim do nazismo e da II Guerra. O historiador alemão, Reinhart Koselleck, foi o principal

expoente desse campo historiográfico, que ficou conhecido no mundo por sua tese de Doutorado,

intitulada: Crítica e crise: um estudo acerca da patogênese do mundo burguês, de 1954. Reinhart

Koselleck é, ainda hoje, um dos grandes nomes desse campo e foi um dos organizadores de um dos

dicionários mais importantes da história conceitual alemã.

50

É no sentido de investigar as funções do conceito na sociedade que temos

procurado trabalhar o político, pensando em sua relação com os sistemas de

representações que estão à frente de um país ou de grupos sociais que conduzem sua

ação e seu futuro. Nessa direção, temos feito todos os esforços possíveis para entender a

ação política como um elemento que está fortemente associado ao debate de unidade

territorial brasileira.

Segundo Veiga (2007), os modos de ensinar e de aprender no Período Imperial,

em especial, nas décadas finais do Século XIX, foram caracterizados por diferentes

modelos de organizar e transmitir os conteúdos, todos embasados na memorização,

cujos métodos são individual, simultâneo e mútuo. Nesse sentido, uma das principais

preocupações dos administradores encarregados dos projetos educacionais brasileiros,

no Século XIX e início do Século XX, centrava-se na redação dos livros didáticos.

Esses interesses envolviam questões como a difusão do nacionalismo patriótico, a

autoria desses livros e o público que ingressava nas escolas. O projeto de educação

integral republicano visava à promoção dos saberes elementares, às competências

básicas de leitura e de escrita e a uma formação moral e cívica, além da adoção do

método intuitivo e de livros didáticos.

Em nossa discussão, é preciso diferenciar o método intuitivo do ativo. De acordo

com o método intuitivo, o aprendizado se dava a partir da observação e da percepção de

cada aluno, isto é, aprendia-se através de uma “percepção sensível”. Tal método passou

a ser base na organização de escolas que se institucionalizaram na última década do

Século XIX. Já o método ativo se opunha à escola livresca, que “[...] se baseava no

ensino por informação, do que se podem depreender memorização e repetição e,

portanto, passividade do aluno na relação de ensino-aprendizagem” (VIDAL, 1999, p.

336). Tal método foi decorrente do movimento da Escola Ativa encabeçado no Brasil

por intelectuais que defendiam um ensino moderno, pautado na participação ativa do

aluno. A ideia era de tornar o ensino mais atrativo e eficaz.

Sobre a importância de discutirmos sobre o período estudado, embora tenha sido

crescente, nas últimas décadas, o número de pesquisas históricas que abordam esse

tempo da História, ainda tem muito para investigar e registrar sobre o Império e suas

modificações e permanências na transição para o regime republicano. Concordamos

com Gondra e Schueler (2008), quando afirmam que as pesquisas que trabalham com a

51

educação brasileira, no período do Império, precisam produzir abordagens históricas

que se distanciem de uma educação oitocentista que, “[...] via de regra, encontra-se

representada sob o signo do vazio, do atraso, das trevas ou das sombras” (GONDRA E

SCHUELER, 2008, p. 293).

Cientes de o quanto férteis e ricos são os acontecimentos dos Séculos XIX e os

anos iniciais do Século XX, e na tentativa de pensar sobre a educação e suas diferentes

formas de organização pedagógica, entendemos que os impressos são fontes que podem

nos dizer muito sobre os discursos, os valores, os silêncios e as práticas culturais dessa

época. Apesar da existência de projetos educacionais voltados para a difusão de uma

ideologia patriótica durante a primeira metade do Século XIX, a partir da segunda

metade desse século, em especial nas últimas décadas, foi que realmente esse

movimento tomou “corpo”. Isso é reflexo de um espraiamento do ensino primário pelo

território brasileiro, para abarcar outras camadas da sociedade que antes não tinham

acesso à escola.

Feitas as nossas considerações acerca da tese, dos seus principais argumentos e

da proposta de estudo como um todo, no segundo capítulo, aprofundaremos o nosso

estudo, apresentando as concepções teóricas que embasaram a tese e nos ajudaram a

olhar e a entender o objeto de estudo no amplo processo de escolarização.

52

CAPÍTULO II: SOBRE O OBJETO DE ESTUDO: INFERÊNCIAS E

APROXIMAÇÕES TEÓRICAS

Este capítulo foi divido em três partes. Trata, especificamente, da produção do

campo de estudo sobre livros didáticos e aponta que são importantes fontes para a

História da Educação. Ao fazer um levantamento das pesquisas que tomam o livro

didático como fonte ou como objeto, constatamos que os estudos da História da

Educação apontam, entre outras contribuições, para os aspectos internos da instituição

escolar (os modos de expressar a cultura escolar mais ampla). Isso nos permite dialogar

com as especificidades e as subjetividades dos processos de escolarização ao longo da

História da Educação.

2.1 A circulação dos impressos e sua relação com as práticas educativas:

considerações acerca do conceito e da produção do campo de estudo sobre o livro

didático

Discorrer sobre a circulação dos impressos13

, no Brasil oitocentista e meados do

Século XX, como é feito em nossa pesquisa de Doutorado, é trazer à tona traços do

chamado processo de circularidade cultural, evidenciando as peculiaridades de um país

marcado por tentativas de organizar o processo de escolarização que são influenciadas

fortemente por um fundo religioso.

Destacamos a década de 1970 como o berço dos deslocamentos e das alterações

nas formas de entender os impressos como objetos de estudo para a História da

Educação (LUCA, 2010). Na historiografia brasileira, mais especificamente nas

pesquisas sobre os anos finais do Império e os anos inicias da República, tem sido

recorrente o uso dos periódicos como fonte documental para analisar os discursos

públicos produzidos pela imprensa pedagógica que podem revelar traços da formação

da profissão docente, dos saberes escolares, das representações e das identidades

cidadãs. Neste trabalho, abordamos, mais especificamente, os saberes escolares.

A imprensa pedagógica, nesse período, era uma instância privilegiada para se

apreender como a escola primária foi organizada pedagogicamente, no que diz respeito

13 O termo “impresso” foi empregado devido ao período em estudo, já que, na época, tanto os livros

quanto outros materiais eram incluídos na modalidade de impresso.

53

à formação docente, entre outros temas. Uma questão que interessa mais de perto ao

nosso trabalho envolve “[...] as divergências a respeito dos múltiplos significados

possíveis de educação e de instrução primária; as distintas representações, apropriações

e práticas; os sentidos e as funções atribuídas ao ser professor e professora”

(SCHUELER, 2005, p. 381). Sobre esse aspecto, os estudiosos têm percebido que

desenvolver pesquisas que possam destrinchar as tramas desse momento da História é

fundamental para compreender as estratégias de organização, a civilidade, os modos e a

produção de ideias que foram gestadas nesse período e que formam as identidades do

nosso país. Apoiadas nessa premissa e visando discutir sobre nosso objeto de estudo,

concordamos com as colocações de Sena (2014, p.04), quando afirma:

O olhar atento sobre a imprensa permite verificar as diversas vozes

propaladas nele bem como diferentes escritos que se fazem presentes

[...] a imprensa nesse período, e em qualquer outro, deve ser

considerada como o lugar da recepção e difusão de discursos

múltiplos, onde e quando os debates culturais, políticos e literários se

criavam e/ou se firmavam através da escrita.

A autora nos convida a ler os impressos do Século XIX como a representação da

uma escrita de um tempo, uma vez que “[...] a imprensa no Império se apresenta como o

lugar de recepção e difusão do discurso da educação e instrução pública que circulava

entre diversos espaços sociais” (SENA, 2014, p. 19). Essa discussão é importante para a

História da Educação como um campo de estudo, no sentido de estimular reflexões

acerca da produção, da circulação e dos usos dos impressos, por meio da exploração

dessas fontes e da lapidação desses achados (NASCIMENTO e ALMEIDA, 2012).

Os estudos desenvolvidos sobre a história do livro e de outros impressos

apontam para as investigações sobre a cultura imprensa como

[...] a ponta de um iceberg para a apreensão de práticas culturais que

circularam nas sociedades ocidentais, pelo menos, nos últimos

quinhentos anos, quando os impressos imperaram como principal

ferramenta de disseminação cultural (NASCIMENTO e ALMEIDA,

2012, p.24).

Essa citação nos orienta sobre o papel da imprensa no Brasil, no período que

estudamos, de difundir as ideias consignadas nos impressos como fundamentais para

formar as identidades, os significados e os estereótipos construídos historicamente sobre

o que é ser cidadão. Essa colocação nos permite refletir, ainda, sobre a relação da

54

imprensa com o mundo dos livros, quando os tomamos como objetos culturais que

perpassam valores e modelos educacionais que foram repassados culturalmente

(BITTENCOURT, 2003).

Com base em nossas leituras, observamos que as pesquisas acerca da circulação

de livros escolares e outros impressos têm crescido no campo da História da Educação.

Entre os pesquisadores, tem sido cada vez mais recorrente analisar os impressos como

fontes ou objetos que podem indicar pistas das primeiras iniciativas do processo de

escolarização sobre os métodos, as disciplinas escolares e a cultura escolar. No caso das

pesquisas voltadas para o livro didático, vimos que há uma tendência crescente de

estudos que visam considerar os livros como objetos culturais que conservam pistas de

práticas educativas e revelam traços da organização pedagógica de uma época. Todavia,

a História da Educação brasileira ainda é carente de investigações sobre o livro didático,

o que pode configurar esse impresso como um objeto fértil para o campo. Seja como

fonte ou objeto de pesquisa, esse objeto nos possibilita, pelos seus próprios textos ou a

partir do estudo de sua materialidade ou de seus usos, conhecer os saberes e as ideias de

determinados grupos sociais (SCHUELER, 2005). No Brasil e no mundo, alguns grupos

vêm buscando criar acervos de livros escolares para possibilitar tais pesquisas, o que

tem surtido efeito, tendo em vista o crescimento delas em vários países e o

envolvimento de diversos grupos com temáticas referentes aos livros didáticos.

Em nossas pesquisas, constatamos que muitas instituições ou grupo de

pesquisadores que reconhecem a importância do livro como um documento histórico

(BITTENCOURT, 1993, 2008; CHOPPIN, 2004;) vêm não só investindo nas pesquisas

como também na preservação desses documentos. Dentre os pesquisadores que

produzem trabalhos sobre livros escolares, destacamos as contribuições do francês

Choppin (2004), tanto no que se refere à história dos livros didáticos quanto à

organização de acervos desses documentos históricos. Allain Choppin também criou e

organizou o EMMANUELLE, um Banco de dados do Instituto Nacional de Recherche

Pedagogique (INPR) da França, que disponibiliza uma consulta ampliada das edições

didáticas e dos livros escolares.

No Brasil, adotando como referência o Banco de dados EMMANUELLE e a

partir de um convênio com o INPR, foram criados, em 1994, o Banco de Dados do

Livro Escolar Brasileiro – LIVRES - e a Biblioteca do Livro Didático, vinculados à

55

Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo - FEUSP. Tal projeto tem se

empenhado em catalogar e fazer a guarda de livros didáticos14

. O acesso virtual a esse

acervo possibilita ao navegador da internet localizar livros depositados nas seguintes

bibliotecas: Biblioteca do Livro Didático da Biblioteca FEUSP; Biblioteca Municipal

Mário de Andrade de São Paulo; Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro; Biblioteca do

Colégio Pedro II – NUDOM - Rio de Janeiro; Biblioteca do CEALE da UFMG;

Biblioteca do Conjunto da Química da USP; Biblioteca da UNESP - Marília; e na

Biblioteca PUC - Minas Gerais.

Outro projeto que segue essa mesma linha é o acervo do Centro de

Alfabetização, Leitura e Escrita (CEALE), vinculado à Biblioteca da Faculdade de

Educação da UFMG, que tem como objetivo preservar uma gama de documentos

escolares, como livros didáticos e outros suportes didáticos15

. Ainda nessa mesma

perspectiva, temos como exemplo os acervos da Biblioteca do Livro Didático (BLD), da

Universidade de São Paulo, que sedia a Biblioteca Virtual do Livro Didático (LIVRES);

o Laboratório de Ensino e Material Didático (LEMAD); o Acervo de Cartilhas da

UFMG; e a Biblioteca do Grupo de Pesquisa, Ciência, Educação e Sociedade (GPCES),

instalada no Centro de Educação, na UFPB. Em âmbito internacional, destacamos as

iniciativas da Biblioteca Virtual EMANUELLE, que dispõe de um grande acervo de

livros didáticos franceses; a Biblioteca Virtual MANES, que contém um acervo de

publicações didáticas da Espanha e dos países da América Latina de língua espanhola; e

o Centro Internacional de Cultura Escolar – CEINCE, que realiza atividades de

investigativas a partir de três enfoques: memória da escola e do patrimônio educativo,

livros escolares e a relação entre a cultura escolar e a sociedade do conhecimento.

Os acervos supracitados vêm contribuindo expressivamente para o

desenvolvimento de pesquisas educacionais de caráter histórico e fornece um banco de

documentos para as investigações sobre a história das disciplinas escolares e sobre a

trajetória da profissionalização dos sujeitos da educação, além de pistas importantes

sobre as metodologias de ensino e as práticas escolares do passado, entre outros temas

14

Esse projeto tem orientado outros grupos de pesquisadores aqui no Brasil, como o GPCES e o

LEMAD, que já mencionamos ao definir os acervos pesquisados.

15 Esse acervo é composto de manuais de leitura, arquivos privados, cadernos de professores e de alunos,

cartilhas, livros infantis e de literatura, além de alguns cartazes e fotografias que retratam a história e o

cotidiano das salas de aula do início do Século XIX até a atualidade.

56

que abrangem seus objetivos.

Apresentados esses acervos, trazemos nossa posição teórica sobre a

conceituação do livro didático, ou seja, a partir de que conceito abordamos esse tipo de

impresso. E para compreendê-lo, é necessário discutir sobre ele historicamente. Se,

durante muito tempo, o livro didático foi exclusivamente um produto impresso,

atualmente, ele não se restringe mais a esse suporte. Além disso, o fato de as escolas

terem adotados diferentes livros com funções didáticas, como a bíblia, a Constituição,

romances, livros de viajantes, contos etc., que não foram pensados com essa função,

podem também trazer elementos complicadores para a sua conceituação.

Nesta pesquisa, não trabalhamos com livros que não sejam facilmente

identificados como didáticos, porquanto eles já foram criados com destino certo, a

escola. Já assumimos, no primeiro capítulo, que assim o iremos denominar por causa de

suas características, apesar de no período estudado terem outra denominação. Assim,

pelo tempo que trabalhamos com esse impresso, temos nos aproximado dos debates

sobre seu conceito e já o incorporamos em nossas pesquisas desde a graduação. Entre os

debates feitos nos grupos que constituíram os acervos mencionados, destacamos a

preocupação em conceituar o termo livro didático. Considerando as várias faces desse

suporte pedagógico, o grupo de pesquisadores criador do LIVRES adota o seguinte

conceito:

Livros escolares (ou livros didáticos) são todas as obras cuja intenção

original é explicitamente voltada para o uso pedagógico e essa

intenção é manifestada pelo seu autor ou editor. Nessa concepção se

inserem, além dos livros didáticos mais comuns, também

denominados de compêndios ou manuais escolares, as obras

conhecidas como paradidáticas, coletâneas de literatura produzidas

para as escolas e ainda Atlas, dicionários especialmente editados para

uso pedagógico16

.

Devido à abrangência desse conceito e às possibilidades de atualizá-lo de acordo

com as condições impostas e com as pesquisas que se pretendem desenvolver e ao uso

adequado que já foi feito dele por pesquisadores desse e de outros grupos e, por

16 Trecho copiado do Guia de Preenchimento da ficha do Banco de dados da LIVRES, p. 7, elaborado no

âmbito do projeto financiado pela FAPESP, Organização de Livros Didáticos, do Centro de Memória

da Educação – FEUSP.

57

satisfazer efetivamente a este estudo, adotamo-lo em nossa pesquisa, porque

entendemos que ele contempla as diversas modalidades de livros didáticos que

selecionamos para as análises. Some-se a isso o fato de já termos trabalhado com ele no

GPCES que, com o apoio do LIVRES, passou a adotar tal conceito e os procedimentos

de catalogação estabelecidos por seus pesquisadores, principalmente a ficha

catalográfica.

Nessa perspectiva, entendemos que eleger os impressos como fonte ou objeto de

pesquisa implica analisá-los como suporte material de práticas de leitura, a fim de

compreender sua materialidade, as formas por meio das quais ele chega ao leitor, bem

como seus suportes, meios de circulação e usos. A articulação desses requisitos para

pesquisar os impressos nos permite apontar o livro didático como tal suporte. Também

entendemos que ele guarda consigo indícios de um modelo de educação marcado por

uma organização pedagógica que indicava os conteúdos ensinados, os métodos adotados

e as formas de expressão dos textos (NASCIMENTO e ALMEIDA, 2012). Ou seja, o

livro, como qualquer outro impresso, é um objeto cultural que corporifica o saber. Por

essa razão, adotamos, nesta pesquisa, as recomendações de olhá-lo

[...] por dentro, buscando no texto, as mensagens expressas, indícios

das maneiras como eram transmitidas, considerando a materialidade

dos títulos e os conteúdos veiculados, [...] como instrumento de

difusão de saberes e práticas educacionais [...] por fora, buscando

características materiais, exige atenção quanto ao título, autor, editor,

quantidade de páginas, local de publicação, presença ou ausência de

ilustração, características gerais da capa, disposição gráfica da

primeira página, entre outros aspectos que podem delinear a análise no

decorrer da investigação (NASCIMENTO e ALMEIDA, 2012. p.25.).

Tais recomendações metodológicas nos ajudaram a elaborar perguntas sobre as

fontes e formular questionamentos a seu respeito. Também foram úteis nas análises e

inferências acerca do que nos apresenta essa fonte, por que, ao ser escolhida pelo

pesquisador, precisa ser lida e interpretada com atenção.

Se, de um lado, fomos buscar esses debates já sistematizados sobre como e o que

ler no livro didático, de outro, já encontramos referências à origem desse objeto a

respeito da questão que também nos interessam. Bittencourt (2008, p. 23) afirma que

a origem do livro didático está vinculada ao poder instituído. A

articulação da produção didática e o nascimento do sistema

educacional estabelecido pelo Estado distingue essa produção cultural

58

dos demais livros, nos quais há menor nitidez da interferência de

agentes externos em sua elaboração.

Desde sua origem, o livro didático se configurou como um recurso fundamental

para a prática escolar. Durante muito tempo, ele se destinou, especialmente, aos

professores, que tinham o controle sobre o uso do livro, e suas práticas e conteúdos

eram definidos por meio desse recurso didático, que funcionava como uma espécie de

currículo, função que pode ser vista até os dias atuais (ALBUQUERQUE, 2009).

Outra questão importante a respeito da pesquisa sobre livros didáticos é o seu

papel de difundir ideais. No caso da Geografia, devido às suas características, há grande

ênfase na difusão dos ideais defendidos pelo Estado nacional. Bittencourt (2004a), por

exemplo, ao destacar dois momentos da produção de livros didáticos no Brasil, adverte

que é no segundo (de 1870 a 1880) que os livros de Geografia passam a dar ênfase a

essa questão, já que, primeiro, no início do Século XIX, depois da implantação da

Imprensa Régia (BITTENCOURT, 2004a), os livros didáticos escritos no Brasil

passaram a trazer as marcas de modelos estrangeiros, como, por exemplo, da França e

da Alemanha, valorizando o conhecimento sobre esses países, assim como também era

comum a adoção de livros didáticos estrangeiros adaptados, traduzidos ou não (FARIA

FILHO, 2002a).

Ainda de acordo com Bittencourt (2004a), o segundo momento foi marcado por

uma produção legitimamente brasileira (1870 e 1880), quando os ideários liberais

educacionais passaram a ser difundidos com mais ênfase nessas obras didáticas, ou seja,

eram expressões das propostas de nacionalização que defendiam uma escola laica e

brasileira, preocupada com a construção de uma nacionalidade.

É preciso fazer uma ressalva sobre o que afirma Bittencourt (2004a) a respeito

da produção de livros didáticos no Brasil, pois, levando em consideração as pesquisas

mais recentes sobre esse tema, especificamente na Geografia, vemos que, tanto no

trabalho de Silva (2012), quanto no de Maia (2014), é a comprovação de que a produção

nacional é relevante, mesmo para o período em que Bittencourt afirma que ela é

pequena, ou seja, antes dos anos de 1870. Porém, continuaremos considerando como

válida a proposição dessa autora (2004) por dois motivos: primeiro, porque ela trata dos

livros didáticos em geral e, não, especificamente de uma disciplina; segundo porque há

nos livros didáticos de Geografia a ampliação do número de publicações brasileiras

59

depois desse período. Além disso, foi introduzida uma Geografia brasileira por

brasileiros, como advertia José Veríssimo (1985) sobre essa questão, nos idos de 1890.

Assim, entendemos que realmente houve uma transição do primeiro para o segundo

período depois dos anos de 1870.

Esse enfoque dado aos ideais nacionalistas pelos livros didáticos foi, durante

muito tempo, alvo das pesquisas a respeito desses recursos didáticos. A propósito,

Munakata, (2003a, p. 271), discutindo sobre o livro didático no Século XX, afirma:

Nos anos 70 e 80, um gênero literário fez relativo sucesso no Brasil: o

que se poderia denominar “As belas mentiras” [...] uma série de

pesquisas acadêmicas dedicaram-se a flagrar nos livros didáticos e

paradidáticos brasileiros a presença insidiosa da mentira, da

manipulação, do preconceito, da mistificação, da legitimação da

dominação e da exploração burguesas – em suma, da ideologia. [...]

Livro didático (e paradidático) era compreensivelmente objeto de

suspeição, do mesmo modo que era suspeita – e não sem razão – toda

a organização escolar consolidada pela ditadura.

O sucesso desse gênero literário, denominado de “As belas mentiras” estaria

associado às posições políticas de parte da sociedade que julgava ser fundamental

discutir sobre a Ditadura Militar no Brasil e criticá-la. Os principais livros didáticos

pesquisados foram os de História e os de Estudos Sociais, considerados como objetos de

veiculação da ideologia daquele regime político.

A década de 1990 foi a grande reveladora de novas problemáticas para o campo

de pesquisa da História da Educação, com destaque para as abordagens sobre livros

didáticos. A partir de então, os pesquisadores passaram a considerar o livro como um

produto que passa por todo um processo de produção, fabricação e comercialização do

mundo editorial, logo, torna-se uma mercadoria produzida para ser vendida

(MUNAKATA, 2003).

Como alvo de críticas ou de elogios, o livro didático tem provocado indagações

e questionamentos. Essa literatura didática é um tema que possibilita a realização de

uma análise interpretativa baseada em enfoques diversificados. Nas leituras que

fizemos, identificamos outra questão que diz respeito ao livro didático, ou seja, os usos

que se faz dele. Há mesmo divergências entre os professores quando se trata dessa

questão. Bittencourt (2008, p. 13), em suas pesquisas, descobre, inclusive, contradições

entre os professores em relação ao uso desses recursos didáticos na escola básica ao

60

enfatizar que, “para uma parcela de professores, o livro didático é considerado um

obstáculo ao aprendizado, instrumento de trabalho a ser descartado em sala de aula.

Para outros, ele é material fundamental ao qual o curso é totalmente subordinado”.

Como vemos, a utilização dos livros didáticos pode variar. Às vezes, são usados

por alunos ou professores para consultas; em outras situações, como currículo; na

preparação de aulas; na elaboração de planejamentos ou, ainda, como referência de

conteúdo, na elaboração de exercícios etc. Porém, o foco de nossa pesquisa não foi o

uso deles, só apontamos essa questão com o fim de compreender os estudos existentes

sobre o livro didático.

Compreendemos que a obra didática carrega uma série de particularidades e

características que são próprias desse tipo de literatura. O livro didático tem passado por

grandes modificações por ser um produto cultural que tem dado um retorno financeiro

significativo às editoras, considerando esse consumo em nível nacional, por causa do

grande número de escolas públicas e de alunos que têm acesso à escola na atualidade.

Salles (2010, p. 09 e 10) enfatiza que

o livro didático pode ser caracterizado, ainda, enquanto produto

mercadológico, uma vez que está inscrito em uma lógica mercantil de

produção e circulação, obedecendo, desse modo, às técnicas de

fabricação e comercialização, inerentes ao processo de

mercantilização. Tal perspectiva vem ganhando espaço em produções

acadêmicas, ainda mais porque o livro escolar representa, desde algum

tempo, um importante ramo para as editoras, e é, hoje,

indubitavelmente, a atividade mais rentável do setor editorial

brasileiro, cujo maior comprador é o Estado.

Como pudemos perceber, o livro didático deve ser entendido como uma

mercadoria que é produzida de acordo com as influências do mercado editorial.

Pesquisas recentes demonstram que essa relação interfere no resultado final do livro

escolar e na construção do saber escolar17.

Em nossas investigações, podemos inferir que, de maneira geral, esses materiais

didáticos aparecem nos estudos como um suporte pedagógico, um instrumento de

memorização, que atendiam aos primeiros modos de alfabetização estabelecidos com

base na trilogia ler-escreve-contar, estudada por Jean Hébrard (1999) que, interessado

17 A respeito das pesquisas que trabalham o livro didático como um produto mercadológico, consultar :

Gatti Jr. (2004) e Munakata (1997).

61

por pistas do processo de escolarização, retoma o Século XVI para refletir sobre as

relações do mundo da escrita e suas bases, em um cenário predominantemente religioso.

Como bem afirma Jean Hébrard (1999), o livro didático, tanto estudado a partir

das práticas de ensino voltadas para o ensino oral (escutar, memorizar, recitar) quanto

como guia didático em forma de texto escrito, que trazia, ao mesmo tempo, uma

identidade religiosa e cultural por meio de perguntas e respostas, possibilita-nos pensar

sobre o traçado de uma história eternizada nas páginas, nos indícios de saberes e nas

práticas educacionais postas em circulação no Brasil dos oitocentos e nos anos iniciais

do Século XX.

Podemos dizer que, dentro do projeto civilizador, os livros didáticos faziam parte

dos objetivos voltados para as ações da educação e contribuíam para fazer circularem

culturas, hábitos e valores que deveriam ser externados e adotados como prática de um

bom cidadão (BITTENCOURT, 2008; SOUZA e VALDEMARIN, 2000). Em outras

palavras, os livros didáticos estavam impregnados dos ideários da escola e da imprensa

que detinham o controle do conhecimento (BITTENCOURT, 2003; LUCA, 2010).

Chamamos à atenção para o papel da imprensa como um espaço de circulação de

ideias de cima para baixo e como um movimento que ocorria de baixo para cima, o que

justifica os questionamentos de Ginzburg, em “O queijo e os vermes” (1987), quando

aponta para o conceito de circularidade cultural. Aqui cabe apontar os diálogos

estabelecidos entre o Brasil e outros países, não só para entender o Brasil como um país

influenciado, mas também para perceber sua influência cultural em outros países.

Retomamos a questão da nacionalidade para afirmar que esse tema era

recorrente nos impressos, em que se falava da necessidade de unificar a nação e de criar

uma identidade nacional. Os jornais, os periódicos, as revistas, os livros escolares e

outros impressos eram produzidos com a finalidade de gestar na população a ideia de

pertencimento à nação, de constituir um território nacional e de falar um idioma

nacional.

Em nossa pesquisa, procuramos refletir, mesmo que brevemente, sobre a

circulação dos impressos, buscando pensá-los como objetos culturais que, em seu

tempo, foram produzidos por uma elite pensante, para difundir modelos, práticas,

valores e comportamentos necessários para a sociedade da época. O propósito principal

62

dessa discussão é de levantar questões, dúvidas, indagações e desconfianças a respeito

de como os impressos estiveram presentes de forma direta ou indireta nas práticas

culturais do Brasil.

Em nossas considerações sobre esse período histórico, procuramos fazer

questionamentos acerca da finalidade dos impressos e sobre o papel da imprensa de

promover, em seu tempo e a seu modo, a circulação da cultura, ou seja, o registro da

História. Os impressos tinham a função de propagar os modos como o povo era

civilizado e instruído e de discutir sobre eles. Ou seja, difundir regras de bons costumes

e hábitos de bom cidadão (LUCA, 2010).

De modo geral, os debates apresentados nos levaram a fazer questionamentos

que, direta ou indiretamente, orientaram nossa pesquisa e nosso olhar sobre o contexto

da produção de livros didáticos publicados e que circularam entre o Século XIX e nas

décadas iniciais do Século XX no Brasil. Ao longo do estudo, fomos construindo nossas

inferências acerca do tema, baseados em perguntas que foram elaboradas sem a

pretensão de obter respostas certeiras, mas que exerceram influência nas reflexões aqui

elaboradas. Foram estas as perguntas orientadoras: Será que a elaboração desses livros

era um projeto mais autoral ou já havia uma divisão de papéis a partir da organização

ainda incipiente das editoras (no período, poderiam ser livrarias, jornais, gráficas etc.)?

Como a influência estrangeira se configurava nessas publicações, já que, em geral, parte

dos livros que circulavam no Brasil advinha outros países? A partir de que momento as

influências nos livros didáticos dos métodos de ensino desenvolvidos fora do Brasil

começaram a ser observadas? Quem produzia as ideias que circulavam nos livros

didáticos? Seria o livro didático um veículo de controle e de conservação de valores

morais? Como as ideias eram expressas? E como descobrir os silêncios?

No que se refere aos trabalhos com os materiais didáticos no Século XIX,

partimos do pressuposto de que eles eram pensados para iluminar e formar ideias, isto é,

nesse período, as produções tinham, entre outras finalidades, a de imprimir a ideia de

pertencimento ao Brasil. Convém lembrar que, nesse momento, era preciso unificar a

língua e imprimir os ideais iluministas.

Historicamente, os livros didáticos podem ser compreendidos como textos e

impressos que agrupam fatores de natureza social e política. Para Batista (1999, p. 563),

“[...] a produção didática é, quase sempre, um campo em que o Estado atua diretamente.

63

É que esse campo e seu controle são objetos de disputas de diferentes e conflituosos

grupos de interesses (sociais, políticos, étnicos, culturais, econômicos)”. No caso do

período que estudamos, é evidente a atuação do Estado como uma instituição que

influencia diretamente a produção desse tipo de livro (BITTENCOURT, 2008).

Isso nos faz pensar sobre o lugar de produção dos manuais didáticos, as

concepções e os conhecimentos neles compilados com base em posicionamentos

teóricos e nos processos formativos institucionais, entendidos como um movimento que

está diretamente envolvido nesse processo de produção (VALDEMARIN, 2010). Nos

textos produzidos nos livros, as práticas do exercício da profissão e da experiência

pedagógica são associadas aos saberes emergentes que ganham significados e sentidos

próprios da arte de expressar a escrita e os modos de emprego de ideologias.

Os trabalhos de pesquisa sobre os autores eram feitos de forma independente,

sem a preocupação em estabelecer uma ligação entre o papel do autor e a produção da

obra. Para Chartier (1994), os estudos na perspectiva da história do livro e da leitura

foram os responsáveis por inibir o debate acerca da figura do autor. Ele enuncia que, na

literatura dos historiadores ingleses, o livro é visto como desconectado do leitor, da

figura do autor, enquanto na tradição da história social francesa, os livros até têm

leitores, no entanto também não se discute sobre o autor.

Ainda a respeito da ausência dos sujeitos produtores do texto, no que concerne

aos estudos sobre a história do livro, Chartier (1994, p. 34) sugere que atentemos para o

fato de que “[...] a história do livro tem sido praticada como se suas técnicas e

descobertas fossem irrelevantes para a história dos produtores de textos, ou como se

essa fosse destituída de qualquer importância para a compreensão das obras”. Para

Valdemarin (2010), ao produzir seus livros, os autores

[...] apresentam uma apropriação criativa, discursiva e instrumental

das teorias estrategicamente difundidas e, com isso, criam uma rede de

relações significativas. Ao estabelecer modos de emprego, fabricam

novos sentidos que combinam modos de pensar com sua utilização e,

além das sínteses teóricas, consideram a legislação e, principalmente,

fornecem aos professores um sentido de continuidade entre o que já

fazem e as inovações pretendidas, sem ameaça-los com a necessidade

de ruptura (p.130).

Entendemos que esses sujeitos se encontram em uma posição intermediária no

campo pedagógico, situados entre os teóricos e os professores, pois esses autores

64

alternam operações táticas e estratégicas advindas ora das apropriações de leitores, ora

da tentativa de imprimir novas práticas. Por isso, nos livros didáticos e por meio deles,

podemos, em muitos casos, identificar os lugares sociais (de onde escrevem e de onde

falam), os métodos adotados, a legislação da época e os saberes que circularam no

campo educacional, os explícitos e, algumas vezes, os que são discretamente

silenciados. A autora acrescenta que esses autores ocupam uma posição específica no

campo educacional. São leitores de bibliografia especializada e de conjunturas, com um

discurso que incorpora as palavras-chave da teoria, adota as expressões caracterizadoras

de determinadas concepções e, em um contexto de inovação, usam essas expressões

para ser identificados por elas (VALDEMARIN, 2010, p.130).

Na produção de livros, seus autores empregam operações das práticas

pedagógicas estabelecidas pela escola e as referências advindas das novas tendências

que surgem no campo teórico. Assim, identificamos a atuação dos autores inserida em

dois momentos distintos. O primeiro, em que suas ações são reguladas pelo campo

doutrinário, quando eles se apropriam do vocabulário e das tendências que estão em

voga e cumprem o carácter de inovação. E o segundo, por conjugar operações de

leitores e, quase sempre, de ex-professores e, a partir dessas referências, sem sair do seu

lugar de origem, agregar elementos próprios do seu lugar social, que são somados com a

pluralidade e a criatividade de um ser que é local, mas também plural, pois esses

sujeitos sociais dialogam com outras realidades e práticas culturais (VALDEMARIN,

2000).

Nesse debate, não podemos deixar de mencionar a preocupação em entender que

esses elementos que compõem a produção didática interferem diretamente nas

transformações e nas permanências voltadas para a formulação dos métodos e na oferta

de escolarização da população como um todo. A busca por um método de ensino melhor

vem de longas datas, e uma das principais questões apontadas é de que o método, por si

só, não ensina a ninguém e que, para ser executado, precisa de um sujeito, nesse caso, o

professor. Ou seja, trata de reconhecer a intensa interferência do Estado sem

desconsiderar a atuação de outras instituições que interferem diretamente em sua

elaboração, a saber: as editoras, os autores, os livreiros, e outros sujeitos que lidavam

diretamente com esses impressos na preparação de suas aulas ou em suas práticas nas

escolas.

65

Um dos sujeitos que atuam na produção do livro é o autor, que pode ser um elo

para as relações estabelecidas a partir de sua formação e de seu lugar social, com a

escolha de conteúdos, a perspectiva metodológica, os posicionamentos políticos, entre

outros, como o fez Ângelo (2014), que analisou essa relação. Esse não é nosso objetivo

específico, mas o debate pode nos ajudar no objeto de análise.

Bittencourt (2004a), em um texto em que analisa os autores e os livros didáticos

no Brasil18

, afirma que, primeiramente, podemos identificá-los como brasileiros que

pertenciam à elite intelectual e política. Com o tempo, essa tarefa foi delegada a outras

instâncias sociais, incluindo, então, os professores que eram consultores desse material.

De acordo com a mesma autora, no Brasil, há duas gerações de autores nas produções

didáticas:

[...] uma primeira “geração” a partir de 1827, autores preocupados

com a organização dos cursos secundários e superiores, apenas

esboçando algumas contribuições para o ensino de “primeiras letras”.

Uma segunda “geração” começou a se delinear em torno dos anos

1880, quando as transformações da política liberal e o tema do

nacionalismo se impuseram, gerando discussões sobre a necessidade

da disseminação do saber escolar para outros setores da sociedade,

ampliando e reformulando o conceito de “cidadão brasileiro”, criando-

se uma literatura que, sem abandonar o secundário, dedicaram-se à

constituição do saber da escola elementar. (BITTENCOURT 2004a, p.

480)

Segundo essa autora, os autores que formavam a primeira “geração” (1827)

compunham o grupo de intelectuais e políticos importantes atrelados aos interesses e ao

poder do Estado. Naquele momento, os projetos educacionais eram direcionados à

formação de uma elite brasileira que nascia, em especial, no Rio de Janeiro (capital do

Brasil nesse período) ou podia estudar nessa cidade. Isso significa que, em suas

produções didáticas, os autores difundiam o saber a ser ensinado aos filhos da elite que,

por conseguinte, formariam outras instâncias culturais. Isso explica que não era por

acaso que eles eram os autores de livros didáticos da época. Ninguém seria tão

adequado para cumprir tal tarefa como os grandes homens sábios que faziam parte do

Império (BITTENCOURT, 2004a). Nesse período, o ensino primário no país era pouco

18

Mais informações acerca dessa discussão, consultar: Autores e editores de compêndios e livros de

leitura (1810-1910). Educação e Pesquisa. São Paulo, n.3, p. 475-491, set./dez. 2004a, v. 30.

66

valorizado, porquanto se priorizavam o ensino secundário, o técnico e o superior, que

era restrito ou, pelo menos, mais acessível às classes sociais dominantes.

Bittencourt (2004a, p. 481-482) enfatiza também o papel de figuras que se

destacaram na autoria de livros, como, por exemplo, a participação de pessoas ligadas

ao Instituto Histórico e Geográfico do Brasil - IHGB, criado em 1838, e à Escola

Militar, que foi instalada na capital (Rio de Janeiro) do Brasil em 1810. A propósito da

Escola Militar, a autora esclarece:

[...] essa instituição teve que se haver com a questão dos compêndios a

serem adotados. [...] cuidou da oferta de textos escolares, embora com

produção reduzida nas primeiras décadas, no que se refere a trabalhos

didáticos próprios. Os lentes limitaram-se a realizar traduções, ou

adaptações de textos estrangeiros ou, preferencialmente, recorriam às

obras de Portugal. Entretanto, iniciando a década de 1840, durante as

disputas políticas e sociais da fase regencial, com a questão da

unidade nacional e a nova configuração do papel político dos

militares, houve a necessidade de uma produção de obras didáticas

locais, que deveriam se encarregar, entre outros aspectos, de esboçar

os contornos territoriais da nação independente. A escola Militar foi,

então, o lugar institucional responsável pelo aparecimento dos

primeiros compêndios dedicados ao ensino das disciplinas formadoras

da “nacionalidade”, especialmente história e geografia.

Diante do exposto, podemos afirmar que a Escola Militar foi uma instituição

escolar pioneira, talvez a primeira a produzir livros didáticos para formar a nação, sendo

uma das primeiras iniciativas a incluir, a partir de 1840, os brasileiros como autores

dessas obras. Contudo, só com a segunda “geração” - os professores como autores - que

esse movimento se expandiu, visando implantar sentimentos de pertencimento à pátria e

da ideologia nacionalista. Não esqueçamos que parte desses autores defendia a

República.

Na formação desse futuro cidadão, os professores e algumas disciplinas, como

Geografia, por exemplo, destacavam-se. Os mestres, por serem os principais

responsáveis pelo ensino primário, e a Geografia, por ser uma das disciplinas que mais

bem trabalhava o nacionalismo e difundia os valores morais e patrióticos para os alunos

e futuros cidadãos. Dentre as finalidades do ensino primário nesse contexto, a principal

era de “amoldar uma geração”, ou seja, nacionalizar e unificar os filhos dos imigrantes e

transformar todos os habitantes do Brasil em verdadeiros patriotas.

Para entender os livros didáticos do período estabelecido para esta pesquisa,

67

como documentos, recorremos a Le Goff (2013, p.103), segundo o qual o documento é

“[...] o resultado de uma montagem, consciente ou inconsciente, da história da época, da

sociedade que o produziu, mas também das épocas sucessivas durante as quais continua

a viver [...]”. Rodríguez (2004, p. 26) complementa que eles

[...] são elaborados por pessoas de épocas e grupos sociais diferentes,

e a produção dessas pessoas é permeada de elementos determinantes,

seja pelo cargo que ocupa ou pela sua própria inserção social. Em tal

sentido, o historiador deve ficar muito alerta e não pode esquecer o

contexto da produção dos textos.

Sendo assim, o pesquisador tem que considerar que a produção do documento

não se fecha em si mesma, ela está contextualizada e adquire conotação histórica de

uma realidade social, cultural e política de um tempo específico de uma produção

humana, seja ela material ou simbólica.

De certa forma, no Brasil dos fins do Século XIX e início do XX, não foi

diferente. Segundo Bittencourt (1993, p.30 e 31), apesar de ter permanecido a

concepção de que o livro didático era fundamental para o professor,

[…] era essencial garantir a difusão do veículo nação-território,

necessitando-se dos estudos de geografia para o conhecimento do

espaço físico do “país” e da História Nacional para legitimar as

formas de conquista do “continente que é o Brasil”. Os livros

didáticos deveriam sistematizar e divulgar tais conhecimentos e o

Estado incentivou uma produção local capaz de auxiliar a formação do

“sentimento nacionalista”, sem deixar, entretanto, que as futuras

gerações de letrados perdessem o sentimento de pertencer ao mundo

civilizado ocidental.

Corrêa e Valdemarin (2000) asseveram que isso significa dizer que o livro

didático também é portador de uma memória nacional, da história de uma nação. Com

efeito, parece-nos importante avançar nessa compreensão, principalmente porque a

autora adverte que não se pode perder de vista a existência da política do livro didático,

“[...] que significa não só o controle sobre os conteúdos escolares a serem ensinados e,

de certo modo, o controle sobre as práticas escolares, como também sobre a produção

desse tipo de livro” (Ibidem idem, p.17).

Para que possamos compreender o livro didático em sua completitude, devemos

observar e analisar seus vários elementos: título, autoria, editoras, local de publicação,

capa, destinação, pareceres, conteúdos, metodologias, abordagens, tipos de letra,

68

figuras, desenhos, mapas, gravuras, traduções, edições, circulação, marcas de uso, entre

outros elementos. Em nossa pesquisa, destacamos alguns desses elementos, em especial,

os que nos ajudaram a responder aos nossos questionamentos e dialogar com nosso

argumento de tese, a saber: destinação da obra, pareceres, textos introdutórios,

metodologias, figuras, exercícios (problemas, testes, questionários), mapas, entre outros

que nos possibilitaram construir a fundamentação teórico-metodológica.

A seguir, apresentamos algumas considerações sobre as aproximações teóricas

que dialogam com os conceitos que já pontuamos no posicionamento teórico e que

foram relevantes na elaboração mais consistente das constatações sobre nosso objeto de

estudo.

2.1.1 A produção de saberes escolares: uma discussão a respeito dos exercícios nos

livros didáticos como uma expressão da cultura escolar

A produção do saber a ser ensinado na escola é organizada com base nos saberes

e nos conhecimentos oriundos de diversos setores que, em cada geração, são

considerados como fundamentais para a formação cultural de uma sociedade.

Historicamente, as pesquisas que versam sobre esse tema visam entender os processos

que permeiam a formação dos saberes escolares e sua representatividade nas

transformações sociais.

Os estudos oriundos da História da Educação apontam, dentre outras

contribuições, para as peculiaridades e os aspectos internos da instituição escolar que

nos têm possibilitado compreender as complexidades e as subjetividades dos processos

de escolarização (VALDEMARIN e SOUSA, 2000). De acordo com Chervel (1990, p.

191), esses estudos têm contribuído de maneira significativa para as discussões que

buscam compreender a constituição das disciplinas escolares.

Cada época produziu sobre sua escola, sobre suas redes educacionais, sobre os

problemas pedagógicos, uma literatura frequentemente abundante: relatórios de

inspeção, projetos de reforma, artigos ou manuais de didática, prefácio de manuais,

polêmicas diversas, relatórios de presidentes de províncias e de presidentes de bancas,

debates parlamentares, textos jornalísticos etc. É essa literatura que, tanto quanto os

69

programas oficiais, esclarecia os mestres sobre sua função e que hoje nos dá uma chave

do problema.

Chervel (1990) adverte que o historiador que procura saber sobre as finalidades

da escola tem que estar ciente de que essa questão é um dos mais complexos e sutis

problemas da história do ensino, porquanto seu estudo depende, em parte, da história

das disciplinas, porque interage também com a estrutura social, familiar, política e

cultural de cada indivíduo e de cada momento histórico. Para o referido autor, “as

disciplinas escolares estão no centro desse dispositivo. Sua função consiste em cada

caso em colocar um conteúdo de instrução a serviço de uma finalidade educativa” (P.

188).

O estudo da história das disciplinas escolares centra-se na busca por traços do

seu objeto de estudo - a gênese, a função e o funcionamento das disciplinas - e pelos

constituintes de uma disciplina que são os conteúdos, os métodos de ensino e suas

finalidades (ALVES, 2012; CHERVEL, 1990). Por essa razão, afirmamos ser pertinente

pensar nas disciplinas escolares a partir de sua interação com os saberes escolares, uma

vez que “uma ‘disciplina’ é igualmente, para nós, em qualquer campo que se encontre

um modo de disciplinar o espírito, quer dizer de lhe dar os métodos e as regras para

abordar os diferentes domínios do pensamento, do conhecimento e da arte”

(CHERVEL, 1990, p. 180).

Para Bittencourt (2003, p. 29 e 30), a concepção de disciplina escolar

[...] está intimamente associada à de pedagogia e de escola e, portanto,

ao papel histórico de cada um desses componentes. Se concebermos a

disciplina escolar como produção coletiva das instituições de ensino,

isto significa que a pedagogia não pode ser entendida como uma

atividade limitada a produzir métodos para melhor entender transpor

conteúdos externos, simplificando da maneira mais adequada possível

os saberes eruditos ou acadêmicos.

Essa citação nos remete à discussão clássica sobre o campo da história das

disciplinas escolares. Os estudos e as pesquisas realizados nesse campo demonstram

que esse debate ocorre de forma conflituosa entre os dois grupos de pesquisadores: os

que defendem as disciplinas escolares como uma transposição didática e os que a veem

como produtoras de um conhecimento com certa autonomia.

O primeiro grupo a concebe como um saber oriundo da noosfera, constituído

70

pela produção do saber sábio e desenvolvido fora da escola, em especial, na Academia e

em outras instituições de pesquisa. Dentre os estudiosos que defendem as disciplinas

escolares nessa perspectiva, destaca-se o pesquisador francês Yves Chevallard (1998).

Segundo esse autor, a escola é parte de um sistema em que os saberes que ela veicula

são perpassados por agentes sociais externos à sala de aula, como a família, autores de

livros didáticos, inspetores e profissionais da Educação, que atuam intensamente,

criando estratégias de adaptação e circulação do conhecimento acadêmico na escola

(BITTENCOURT, 2004). No que se refere aos procedimentos didáticos utilizados no

processo de ensino e aprendizagem, como os conteúdos e os métodos, esse grupo afirma

que os conteúdos escolares são advindos, especialmente, das produções científicas, e os

métodos decorrem das técnicas pedagógicas originados na didática aplicada nesse

processo de transposição.

Chevallard (1991) entende que a ideia de “transposição didática” parte do

pressuposto de que o saber construído pelas disciplinas escolares é proveniente do saber

científico e legitimado por esse saber que lidera uma hierarquia em relação ao

conhecimento difundido pela escola. Em contrapartida às ideias de Yves Chevallard

(1991), pesquisadores como o inglês, Ivor Goodson (1990), e o francês, André Chervel

(1990), defendem que as disciplinas escolares não são um modelo estabelecido pela

transposição didática. Para esses autores, essa discussão envolve uma série de fatores e

uma diversidade de elementos entre o conhecimento científico e o escolar.

Para justificar tal afirmação, Goodson (1990) e Chervel (1990) alertam para o

que foi dito por Chevallard (1991) sobre a ideia implícita em sua obra de hierarquização

de que o saber é um suporte para a construção do saber social. Para esses autores, essa

discussão transcende problemas epistemológicos, e a compreensão desse conceito

mantém relação com o papel do conhecimento e com as esferas de poder em

determinados lugares ou espaços da sociedade.

Assim, o estudo da história das disciplinas escolares nos permite entender que

[...] o caráter eminentemente criativo do sistema escolar e, portanto, a

classificação no estatuto dos acessórios reflete a imagem de uma

escola encerrada na passividade, de uma escola receptáculo dos

subprodutos culturais da sociedade. Porque são criações espontâneas e

originais do sistema escolar é que as disciplinas merecem um interesse

todo particular. E porque o sistema escolar é detentor de um poder

criativo insuficientemente valorizado até aqui é que ele desempenha

71

na sociedade um papel o qual não se percebeu que era duplo: de fato

ele forma não somente os indivíduos, mas também uma cultura que

vem por sua vez penetrar, moldar, modificar a cultura da sociedade

global (CHERVEL, 1990, p. 184).

Com base nessa concepção de disciplina escolar, Chervel (1990) entende que o

saber escolar, juntamente com os professores e a sociedade, transforma o interior da

escola em um ambiente formador de culturas, um espaço com certa autonomia, cuja

função é de converter os elementos de combinação pedagógica que, muitas vezes,

encontram-se a serviço da função de instrução da escola, em métodos de ensino que

viabilizam uma finalidade educativa.

Considerando que a escola é um lócus de produção de conhecimento, as

disciplinas escolares atuam como agentes facilitadores do entendimento da relação entre

a escola e o saber cultural e devem ser compreendidas como parte integrante da cultura

escolar. Assim, os conteúdos escolares não são produzidos em um local e reproduzidos

em outro, pois o conhecimento escolar é uma construção específica das práticas

educativas da escola (MOREIRA e CANDAU, 2007). Então, como o conhecimento

escolar tem características próprias e, portanto, apresenta outras formas de

conhecimento, entendemos

[…] o conhecimento escolar como um tipo de conhecimento

produzido pelo sistema escolar e pelo contexto social e econômico

mais amplo, produção essa que se dá em meio a relações de poder

estabelecidas no aparelho escolar e entre esse aparelho e a sociedade

(SANTOS, 1995, p. 22).

Corroborando o entendimento dessa autora sobre conhecimento escolar,

entendemos que o conhecimento escolar é produzido por meio das relações de interação

entre sociedade e escola, entre as práticas e os saberes socialmente construídos. Em

outros termos, podemos dizer que a escola é permeada de outras formas de

conhecimento que se configuram em referenciais para formar o currículo (as instituições

produtoras do conhecimento científico, os movimentos sociais, o mundo do trabalho, as

novas tecnologias, as concepções de cidadania, entre outros). Isso quer dizer que

reconhecemos a escola como produtora de um saber escolar que se forma a partir da

concentração desses demais saberes imersos e resultantes das relações sociais.

72

Tal concepção não descarta as contribuições dos conhecimentos advindos das

disciplinas de referência19

, que são constituídas a partir da interação entre o

conhecimento acadêmico e as relações estabelecidas no interior da escola. Segundo

Chervel (1990, p. 207),

A disciplina escolar é então constituída por uma combinação, em proporções

variáveis, conforme o caso, de vários constituintes: um ensino de exposição, os

exercícios, as práticas de incitação e de motivação e um aparelho docimológico, os

quais, em cada estado da disciplina, funcionam evidentemente em estreite colaboração,

do mesmo modo que cada um deles está, à sua maneira, em ligação direta com as

finalidades.

Assim, se adotarmos a ideia de disciplina escolar como um conhecimento que

tem certo nível de autonomia, pressupomos que é preciso compreendê-la em uma

perspectiva histórica, para conhecer sua origem, sua evolução e identificar essas

transformações nos diversos materiais didáticos que foram e vêm sendo utilizados para

as aulas dessas disciplinas. De modo particular, concordamos com as ideias defendidas

por Chervel (1990) e Goodson (1990) de que essa discussão transcende problemas

epistemológicos, de forma que a compreensão desse conceito mantém relação com o

papel do conhecimento e com as esferas de poder em determinados lugares ou espaços

da sociedade.

Compreendemos o conhecimento escolar como a interação entre professores,

alunos, comunidade escolar, intelectuais e sociedade em geral (GOODSON, 1990).

Assim, o saber escolar, juntamente com os professores e a sociedade, transforma o

interior da escola em um ambiente formador de culturas, ou seja, um espaço autônomo

e, ao mesmo tempo, relacional. Em outras palavras, podemos dizer que a escola é um

ambiente capaz de produzir um conhecimento específico, e não, apenas, de transpor e

reproduzir um conhecimento oriundo das ciências eruditas e simplificá-lo para esse fim.

(CHERVEL, 1990).

Estudar as disciplinas escolares indica pontuar o estudo de sua forma e do seu

conteúdo, considerando a interação entre a prática e o processo em uma perspectiva

19

Termo utilizado por Chervel (1990) para se referir ao conhecimento científico ou erudito e ao saber

produzido pelas ciências nas Academias.

73

histórica, compreendendo o currículo como uma construção social (GOODSON, 2010).

Para esse autor, as disciplinas não se formam de modo isolado, mas por meio de

“amálgamas” que estão sujeitos às mudanças de subgrupos e tradições de indivíduos

sociais.

Sobre a formação dos saberes escolares e as implicações didático-pedagógicas

que lhes são atribuídas, Chervel (1990) e Goodson (1990) enfatizam que o tempo de

surgimento, de promoção e de permanência de uma disciplina escolar não é definido

somente pelas necessidades da comunidade escolar, mas também pelos interesses e

pelas determinações das esferas sociais e históricas.

Dominique Julia (2002) considera que as determinações do espaço são

fortemente influenciadas e marcadas por outras demandas sociais, que podem definir

papéis e finalidades nas práticas educativas. Esse autor entende que não devemos “[...]

pensar que uma disciplina não é ensinada porque não aparece nos programas escolares

ou porque não existem cátedras oficialmente com seu nome” (p.47).

Com base nisso, Chervel (1990, p. 190) procura diferenciar as finalidades reais

das finalidades de objetivo, mesmo quando elas aparecem misturadas nos textos

oficiais:

Deve, sobretudo [o historiador], tomar consciência de que uma

estipulação oficial, num decreto ou numa circular, visa

frequentemente, mesmo se ela é expressada em termos positivos,

corrigir um estado de coisa, modificar ou suprimir certas práticas, do

que sancionar oficialmente uma realidade. “Apenas o francês será

usado na escola”, estipula o regulamento modelo das escolas de 1851:

finalidade de objetivo. Trinta anos mais tarde ensinava-se ainda em

patois ou na língua regional.

Segundo o autor, as finalidades reais devem ser buscadas nos objetivos da

escola, e não, nas instâncias dos poderes públicos, levando em consideração que essas

finalidades não podem negar a “realidade pedagógica”. Por isso, o estudo das

disciplinas escolares deve ir além do estudo das metodologias e das ideias pedagógicas

e centrar-se nas investigações dos objetivos, nos programas oficiais de ensino e nos

planos de estudo para adentrar suas finalidades no espaço da sala de aula.

É importante frisar que os estudos acerca da história das disciplinas escolares

consideram que “a disciplina é aquilo que se ensina e ponto final” (CHERVEL, 1990, p.

74

178). Esse mesmo autor enuncia que o termo, no uso escolar, designou, na França, a

vigilância de condutas até o início do Século XX. Inspirado em Chervel (1990),

Dominique Julia (2002, p. 45) procura trabalhar as disciplinas escolares por meio de

finalidades, conteúdos e métodos e afirma que “[...] uma disciplina se define tanto por

suas finalidades quanto por seus conteúdos”. A esse respeito, esse mesmo autor adverte

que uma disciplina jamais caminha sozinha em uma escola. Ela se mantém solidária

com outras disciplinas, como as interligações da Geografia com a História, e comunga

da ideia de legitimar o espaço físico e a construção do pensamento de pertencimento a

uma nação.

A disciplina escolar é solidária também com os métodos de ensino. Isso é

evidente no modo como a Geografia se modifica quando precisa se adequar aos

princípios do método intuitivo e modificar sua forma de abordar os conteúdos e as

formas de exercitar para facilitar o aprendizado da referida disciplina. Ela também é

solidária no que diz respeito á produção dos materiais didáticos, que se encontram

associados aos conteúdos, aos métodos e aos objetivos das concepções de ensino de

uma época. Como exemplo, podemos citar o livro didático, que seria, para o autor,

elaborado a partir dessas conexões estabelecidas entre os dispositivos pedagógicos e os

elementos internos e externos da organização de uma disciplina escolar (CHERVEL,

1990). Para Julia (2002, p. 62), a disciplina escolar é solidária, enfim, com [...] toda uma

série de dispositivos pedagógicos menos formais, mas que contribuem para sua eficácia.

Com base nessa abordagem, podemos compreender que, historicamente, as

disciplinas vão sendo organizadas de acordo com os interesses e as finalidades que se

adequam e se enquadram em um movimento múltiplo e particular entre a escola e suas

representações (CHARTIER, 1991). Ainda segundo esse autor, os conhecimentos ou o

debate da constituição das disciplinas escolares se formam por meio de embates,

disputas metodológicas e conceituais, e, sobretudo, das tensões entre o político e as

representações sociais.

Assim, para um estudo aprofundado acerca dos conteúdos de uma disciplina

escolar, a cultura escolar é uma categoria de grande respaldo para nossas discussões.

Concordando também com Felgueiras (2010), entendemos que os estudos sobre cultura

escolar ajudam a compreender as relações na escola e os processos educativos e

organizacionais do espaço escolar. Frago (1995) adverte que as discussões sobre o

75

termo cultura escolar, como objeto de investigação histórica20

, ganharam mais espaço a

partir dos estudos voltados para a história das disciplinas escolares e do currículo

(GOODSON, 2010) e quando abordaram os diferentes materiais pedagógicos e saberes

escolares. Essas investigações foram fundamentais para analisar o processo de

escolarização e para entendermos as tradições, as rupturas, as continuidades, os tipos de

mudanças e de grandes permanências nos conteúdos de uma disciplina escolar, bem

como os processos de “disciplinarização” de um saber para se tornar matéria escolar

(FELGUEIRAS, 2010).

Os estudos sobre cultura escolar21

dirigiram um novo olhar sobre a instituição

escola (GONÇALVES e FARIA FILHO, 2005). Nesse diálogo da produção da pesquisa

sobre essa categoria, destacamos autores como: Dominique Julia, André Chervel, Jean-

Claude Forquin, Antônio Viñao Frago, Philippe Perrenoud, Jean Hébrard, Antônio

Nóvoa e Guy Vincent, Bernard Lahire e Daniel Thin, Vera Tereza Valdemarin, Rosa

Fátima de Souza, Farias Filho, Diana Vidal, entre outros. Esses pesquisadores

consideram que é possível, por meio dessa discussão ampla acerca da formação dos

saberes escolares e da cultura escolar, entender a relação que se estabelece entre os

materiais didáticos e as concepções políticas e práticas culturais. Assim,

compreendemos que a cultura escolar22

se configura como um relevante aporte teórico

20

Nesse campo de estudo, o termo cultura escolar tem se destacado, e o número de pesquisas sobre a

questão tem crescido na historiografia brasileira. Hoje é imprescindível abordar esse tema nas

investigações da História da Educação, especialmente, nas discussões que trazem à tona as

complexidades do universo escolar e as ações de sujeitos sociais que estão associados às práticas

escolares em determinado tempo histórico. Em nosso caso, o conceito de cultura escolar em

construção, como um conceito histórico, não será discutido como resultado da junção de variadas

formas de interpretação histórica que se dedicam a explicar como a cultura e suas representações se

manifestaram historicamente (BENCOSTTA, 2010). Em nossas inquirições, reconhecemos que o

emprego desse conceito permite tornar compreensíveis os inúmeros elementos que se relacionam

dentro do campo educacional, ampliando assim, os modos, os sentidos e as significações do que é

particular de ser escola (SOUSA, 2011; CHERVEL, 1990).

21 Os estudos sobre cultura escolar evidenciam a possibilidade de se usarem variadas fontes e se

apresentam associados a outras problemáticas que demandam reflexões sobre as diferentes abordagens

e as novas perspectivas de análises no campo de pesquisa da História da Educação (SOUZA, 2000;

VALDEMARIN, 2007).

22 Em nosso estudo acerca da história das disciplinas escolares, compete-nos apontar questões referentes

à cultura escolar, como uma categoria importante e necessária para se entenderem bem mais os

aspectos referentes ao livro didático como fonte e objeto de estudo. Convém enfatizar que os

conhecimentos escolares são transmitidos a partir de uma seleção daquilo que irá garantir a

perpetuação de determinada cultura (JULIA, 1993).

76

que pode oferecer meios de compreender a história das disciplinas escolares e sua

formação no processo educacional.

As pesquisas sobre História da Educação que discutem sobre essas questões

apontam que os pesquisadores têm se dividido em dois grupos: o primeiro visa

encontrar marcas teóricas que permitam, por meio da escrita histórica, articular o

passado e o manuseio das fontes históricas. O segundo tem a tarefa de localizar,

sistematizar e problematizar as fontes para os estudos sobre história da educação

(VIDAL, 2005). Entendemos que, através do fazer historiográfico, é possível, dentre

outras possibilidades, adentrar os processos de concepção dos indivíduos formadores de

opiniões, de ideias, de culturas, de formação social e compreender como atuam os

diversos elementos formadores desses discursos e sua relação com os outros

(BENCOSTTA, 2010).

Trazendo essa colocação de Bencostta (2010) para os debates a respeito da

formação do conceito de cultura escolar, vemos que, como afirma esse mesmo autor em

seus escritos, o conhecimento histórico e o conceito de cultura escolar se formam a

partir da reunião de conceitos, que podem ser convergentes ou não. Em síntese, o que

importa é que eles possibilitem o diálogo com o que vem sendo discutido.

Em nossas investigações, por meio das análises feitas nos livros didáticos,

tivemos a oportunidade de identificar algumas características do universo escolar, como

finalidades, objetivos e intencionalidades, e de perceber as interações entre as práticas

sociais e o espaço escolar e os movimentos de idas e vindas na interlocução desses

espaços formadores de opiniões, costumes, culturas, valores e identidades. Essas

interações marcam profundamente a organização e a produção dos saberes escolares.

Então, pensar na cultura escolar e na formação do seu conceito nos possibilita entender

os diversos modos como os indivíduos interagem com as diversificadas tradições

culturais presentes no processo de escolarização (VIDAL, 2005a).

Portanto nos apoiamos em uma definição que entende a cultura escolar como

uma forma que nos possibilita historicamente adentrar os discursos que permeiam o

campo dos sujeitos escolares, as dimensões espaço-temporais do ambiente escolar assim

os saberes, as sensibilidades, os valores e a materialidade do que é próprio da escola, ou

77

seja, pensar como determinadas práticas sociais recebem significados e efeitos escolares

(FARIA FILHO, 2007).

Os saberes escolares se organizam a partir de práticas de apropriação e

representação (CHARTIER, 1990) das tradições religiosas, dos costumes e dos valores

culturais que se encontram dispersos na história em diferentes tempos e espaços sociais

(FARIA FILHO, 2007). As práticas sociais e educativas oportunizam a produção de

novos sentidos e significados no processo de escolarização, portanto, na cultura escolar

de determinado período histórico.

Em nossas considerações sobre os espaços educativos, sobre os materiais

didáticos e sobre os diferentes elementos da cultura escolar, não podemos desconsiderar

os diversos sujeitos que atuam na esfera educacional para além das determinações

político-administrativas, considerando, portanto, a educação brasileira como um

processo que é marcado pelos traços da cultura escolar, pela ação de professores, de

alunos, da comunidade escolar e da sociedade, que participa, direta ou indiretamente, da

definição e da produção do lugar escola como tempo e espaço.

Nas palavras de Bencostta (2010), essa cultura escolar revela as “[...]

multiplicidades de interpretações capazes de apresentar fragmentos explicativos do

universo escolar, aptos a contribuir para o estudo dos fenômenos educacionais em seus

mais variados aspectos históricos” (p. 42). O autor sugere que fiquemos atentos à forma

de compreender o conceito de cultura escolar e aos conceitos históricos, porquanto estes

últimos são expressões dos acontecimentos sociais, políticos, culturais, religiosos e

econômicos que têm explicação em certa realidade histórica, que não se manifesta de

modo mecânico.

Para Vidal (2005a) e Faria Filho (2003), a categoria cultura escolar amplia nosso

entendimento por apontar os elementos externos à escola, por isso devemos pensar nas

formas de reproduzir essa cultura para além das incoerências e dos lugares comuns que

sejam internos à escola. No caso do Brasil, sentimos a necessidade de indagar a

propagação dessa cultura para além das tradições francesas e de compreender que

devemos considerar as influências de outros países, como as heranças culturais advindas

da Inglaterra e da Alemanha.

Nesse sentido, compreendemos que o conceito de cultura escolar se instituiu e se

78

institui a partir de diferentes perspectivas de estudos que abordam e reúnem outros

conceitos referentes aos processos educativos da instituição escolar. Por essa razão,

devemos pensar nessa associação de conceitos como uma forma de reunir diferentes

estudos já realizados e os que estão em processo, para estabelecer interpretações com

elementos do tempo e do espaço e eleger semelhanças e disparidades, com o fim de

persistir no próprio conceito que as reúne e as define (CORRÊA, 2000;

VALDEMARIN, 2007).

Essas análises, que se constituem a partir de novas perspectivas de investigação

e de interpretação e têm como referência a cultura escolar, oportunizam estudos tão

diferenciados como “[...] as práticas escolares de diversos conteúdos, os objetos

materiais, a arquitetura, os modos de pensar e a inculcação de comportamento, entre

outros, dando-lhes uma perspectiva comum, sem, no entanto, deixar de apreendê-los em

sua singularidade” (VALDEMARIN, 2007, p. 305 e 306).

Entendemos a cultura escolar como a que se adquire na escola, um conjunto de

normas e práticas originadas e difundidas segundo determinada finalidade de ordem

política, social ou religiosa. Sob nosso ponto de vista, a cultura escolar não é o ponto de

chegada, mas o ponto de partida de nossos questionamentos, como um modo de ter mais

respaldo para compreender o mais abrangente das riquezas da diversidade escolar.

Dominique Julia (1993, p. 15), com sua clássica definição de cultura escolar, tem

inspirado muitos estudiosos, porquanto a entende como

[...] um conjunto de normas que definem saberes a ensinar e condutas

a incorporar e um conjunto de práticas que permitem a transmissão

desses saberes e a incorporação desses comportamentos, normas e

práticas ordenadas de acordo com finalidades que podem variar

segundo as épocas (finalidades religiosas, sociopolíticas ou

simplesmente de socialização).

Descobrimos que três elementos são imprescindíveis para se pensar em sua

composição: o espaço, o currículo e o corpo docente. A análise dos mais variados

objetos - sejam os discursos ou os registros, como cadernetas, cadernos, canetas, livros e

suas marcas de uso - alarga as fontes e pode revelar-nos traços do cotidiano e da cultura.

Felgueiras (2010) assevera que, como uma sociedade organizada e parte da escola,

podemos criar, em tempo comum, a sociedade, que, por sua vez, é criada pela escola. A

79

partir dessas considerações, podemos afirmar que a cultura é parte integrante da escola e

que essas concepções socioculturais da escola e da cultura social em geral convertem-se

em cultura escolar.

Essa mesma autora reforça a colocação de Dominique Julia (1993), que entende

que o que define o escolar não é o espaço em si, mas a atividade e a relação entre os

professores e os alunos e que, portanto, é preciso pensar na cultura escolar atrelada não

somente à escola, mas também aos sujeitos agentes e produtores de culturas. Assim, a

autora interroga-se: podemos falar de cultura escolar ou cultura de escola? E adverte

que o conceito “escolar” tanto diz respeito à escola (entendida como local ou espaço da

vida escolar) quanto aos que a usam e nela atuam – os escolares e todos os que

desenvolvem sua atividade em seu quadro.

Partindo das colocações dessa autora, compreendemos que fazer História da

Educação hoje implica prestar atenção à densidade histórica do sistema educativo nos

contextos concretos de realização, expressos em uma cultura material que,

simultaneamente, traduz as concepções de uma sociedade e manifesta as condições em

que puderam ocorrer (FARIA FILHO, 2007).

Dando continuidade a esse debate, Valdemarin (2007, p. 317) afirma:

[...] o referencial teórico (de origem sociológica) que, na década de

1960, enfatizou o caráter reprodutor das desigualdades sociais na

instituição escolar, foi substituído, desde os anos de 1980, pela

tentativa de, não desconsiderando seus determinantes econômicos e

sociais, compreender a escola por dentro ou, para usar uma expressão

já incorporada ao léxico educacional, “desvendar a caixa-preta da

escola”.

Essas perspectivas de análises viabilizam-se, entres outros aspectos, da

fertilidade que o campo oferece, possibilitam o cruzamento de diferentes fontes e, por

conseguinte, ampliam os estudos que tratam dos livros didáticos. Podemos inferir que as

pesquisas acerca da cultura escolar possibilitam compreender o conceito de cultura

material, definida por Felgueiras (2010, p. 19) como o “conjunto de resultados

materiais, fruto de ações distintas inspiradas por uma mesma tradição”23

.

23

A esse respeito, ler Felgueiras, Margarida Louro – Materialidade da cultura escolar. A importância da

museologia na conservação/comunicação da herança educativa. In Pro-posições. Campinas:

UNICAMP. Vol. 16 nº 1, (2005), p. 93. Olha só existe uma obra de Felgueiras citada e é de 2010.

Inclua essa também nas referências.

80

Em outros termos, a cultura escolar24

deve ser entendida a partir do

funcionamento interno da escola e de sua capacidade de produzir um saber próprio que,

por sua vez, expande-se por toda a sociedade (CHERVEL, 1990). Nas palavras de

Felgueiras (2010, p. 17), o termo ‘cultura escolar’ deve ser pensado como a

[...] articulação de dois conceitos – cultura e escola – necessita que se

esclareça o acréscimo de significados que advém dessa relação, o seu

alcance e os seus limites, para que se possa criar um campo semântico

comum, que facilite a intercomunicabilidade das nossas pesquisas. Na

verdade, o tema [...] é hoje um lugar quase comum da historiografia da

educação. E digo “quase”, pois se o conceito é largamente invocado e

utilizado, a forma como o construímos e dele falamos revela

diferentes compromissos, significações, que o tornam perceptível

como realidade conceptual dissemelhante.

Portanto, entendemos a cultura escolar como uma categoria de estudo que se

manifesta de forma rica e complexa e é capaz de permitir o descortinar de questões

sobre os modos como a escola se mostra como instituição formadora de sujeitos.

Estudar os traços da cultura escolar tem possibilitado, dentre outras questões, estimular

o debate referente à escolarização dos saberes escolares, e para nossa pesquisa, tem nos

ajudado a desvelar os elementos “escondidos” da historiografia educacional brasileira

que podem ter relação direta com nossa tese.

Historicamente, a dinâmica interna da escola e os recursos metodológicos

estiveram articulados, complementaram-se e divergiram de acordo com diferentes

elementos que compõem a cultura escolar. Sobre a relação entre o livro didático e a

cultura escolar, Valdemarin (2007, p. 311) enuncia:

A análise do corpo dos manuais, de sua parte mais substancial,

permite, além de verificar, até mesmo visualizar a seleção cultural ali

levada a efeito. Trata-se de um recorte da cultura estabelecido a partir

da legislação em vigor, por meio da qual se constitui uma

reinterpretação configurada num currículo, por sua vez, desdobrado

em programas de ensino de cada um dos conteúdos.

24 A partir do final do Século XX, surgiu a designação história intelectual para verter uma história das

ideias, quando se sentiu que havia uma visão diferencial de cultura, que identificava suas

manifestações segundo gênero, idade e estratos sociais. Segundo Felgueiras (2010), foram os

antropólogos que desenvolveram o conceito de cultura numa acepção descritiva (todo o complexo que

compreende o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, o direito, os costumes e as outras capacidades

ou hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro da sociedade). A expansão do conceito de

cultura que hoje assistimos é tributária dessa forma antropológica, que se aplica, inclusive, à cultura

escolar.

81

Os conteúdos abordados nos livros didáticos são o resultado de uma seleção de

conhecimentos que compõem as disciplinas, as quais formam parte do currículo escolar.

Compreender a formação dos saberes escolares e, portanto, de sua produção, bem como

as implicações didático-pedagógicas atribuídas a esses saberes, quando interpelados por

outras questões que são próprias do espaço escolar, contribui para que possamos

entender as interposições entre as transformações pedagógicas e suas imposições em

relação ao conhecimento a ser ensinado e perpetuado entre grupos sociais.

Os estudos sobre cultura escolar têm inspirado os pesquisadores que trabalham

com o livro didático como fonte de pesquisa para História da Educação. Os estudiosos

das mais variadas nacionalidades têm afirmado que discutir sobre o termo cultura

escolar é fundamental para entender bem mais os aspectos referentes ao livro didático.

Então, considerando que o livro didático ocupa um lugar privilegiado em nossas

discussões, retomaremos nossas considerações a respeito de seus conceitos e definições,

com os quais dialogamos ao longo da pesquisa, sobretudo, na argumentação da proposta

da tese. E tendo em vista as múltiplas facetas que caracterizam o livro didático ao longo

do tempo, entendemos que é importante pontuar questões referentes aos aspectos que

envolvem sua materialidade e sua função ideológicas, evidenciando o aspecto

documental que assumiu ao longo da história.

Historicamente, o livro didático tem sido considerado uma importante fonte

documental e objeto de estudo no campo investigativo das instituições escolares, dos

sujeitos da educação e das disciplinas escolares. Entre os pesquisadores desses grupos

que se ocupam de estudá-lo, a conceituação tem sido uma questão crucial e bem

complexa. E como os elementos que envolvem o entendimento desse conceito são

complexos, julgamos ser relevante citar as considerações de Batista a seu respeito

(1999, p. 450):

Uma conceituação do livro didático deve, desse modo, levar em conta

esses problemas, sob o risco de excluir do conceito – e, portanto, de

práticas de pesquisa e mesmo de documentação – não só materiais

pedagógico de fundamental importância como também fenômenos

mais amplos que marcam a relação da escala com tecnologias de

transmissão e preservação do conhecimento e da informação (a

escrita, o manuscrito, o impresso, por exemplo), assim como os

impactos dessas tecnologias no trabalho pedagógico, em suas

consequências culturais e cognitivas, em suas formas de organização.

82

Um dos fatores relevantes para ampliar o referido conceito é a preocupação em

valorizar os diferentes materiais existentes no contexto escolar, provocando estudos que

visem organizar acervos que considerem a diversidade de documentos representativos

que marcam a cultura material da escola. Para Choppin (2004, p. 549), a primeira

dificuldade enfrentada pelos pesquisadores é de definir esse recurso didático que, ao

longo do tempo, vem recebendo variadas denominações, apresentando diversidade do

vocábulo e nas inconstâncias em torno dos usos lexicais. Segundo esse autor, em grande

parte das línguas,

[...] o livro didático é designado de inúmeras maneiras, e nem sempre

é possível se explicar as características específicas que podem estar

relacionadas a cada uma das determinações, tanto mais que as

palavras quase sempre sobrevivem aquilo que elas designaram por um

determinado tempo.

Corroborando essa ideia de Choppin (2004), apontamos que essa problemática

pode ser identificada nas pesquisas que são feitas no Brasil. Em termos da variedade do

léxico, aqui entre nós, é bem comum quando nos reportamos ao Século XIX e aos anos

inicias do Século XX, quando há registros de que os livros destinados às escolas

brasileiras recebiam outras designações mais representativas que o termo livro didático.

Essa nomenclatura foi associada oficialmente a esse tipo de livro na década de 1930, a

partir das determinações postas no Decreto-Lei nº 1.006, de dezembro de 1938,

expressamente no Art. 2º:

Para os efeitos da presente lei, são considerados livros didáticos os

compêndios e os livros de leitura de classe. § 1º Compêndios são

livros que exponham, total ou parcialmente, a matéria das disciplinas

constantes dos programas escolares. § 2º Livros de leitura de classe

são os livros usados para leitura dos alunos em aula.

Sobre as prescrições dessa lei ou das legislações em geral, Bittencourt (1993)

avisa que, apesar de, no Brasil, o conceito formal de livro didático estar associado a esse

decreto, é importante ressaltar que, antes de sua promulgação, os livros já eram

referenciados em documentos oficiais. Então, considerando esses apontamentos,

entendemos que o conceito de livro didático, além de abranger os elementos internos à

língua, à etimologia dos vocábulos, organiza-se por meio de diferentes relações sociais,

políticas, religiosas, econômicas e culturais, que se constituem no âmbito educacional e

escolar. Sobre essas questões, adverte-nos Koselleck (2006, p. 98):

83

Sem conceitos comuns não pode haver uma sociedade e, sobretudo

não pode haver unidade de ação política. Por outro lado, os conceitos

fundamentam-se em sistemas político-sociais que são, de longe, mais

complexos do que faz supor sua compreensão como comunidades

linguísticas organizadas sob determinados conceitos-chave

Sobre essa consideração, em seus estudos, Bittencourt (2008) afirma que, no

Brasil, a produção didática não estava dissociada dos ideais e dos objetivos dos liberais,

ou seja, do contexto de uma época. Com as novas finalidades atribuídas à educação

primária nas sociedades modernas, o livro passou a ser considerado como “a carne” da

produção de livros. Segundo Bittencourt (2008), na década de 1880, predominavam nas

escolas brasileiras livros didáticos nacionais, ainda que, prioritariamente, fossem

impressos no exterior.

Em nossa tese, tomamos o livro didático como a fonte principal, porquanto o

compreendemos como um instrumento pedagógico de grande valia para as discussões

acerca da educação brasileira. Para isso, apoiamo-nos, principalmente, no conceito de

livros didáticos que nos apresenta Bittencourt (2003), ao afirmar que são recursos

pedagógicos que se configuram, historicamente, como impressos que podem revelar

traços da historiografia educacional.

De forma geral, os estudiosos de livros didáticos (BITTERCOURT, 1993, 2004;

CHOPPIN, 2002; MUNAKATA, 2001; MAGALHÃES, 2011) procuram configurá-los

como um veículo de transmissão dos valores e um instrumento facilitador da construção

e da formação social de um povo, porque

[...] a relação entre livro escolar e escolarização permite pensar na

possibilidade de uma aproximação maior do ponto de vista histórico

acerca da circulação de ideias sobre o que a escola deveria

transmitir/ensinar e, ao mesmo tempo, saber qual concepção educativa

estaria permeando a proposta de formação dos sujeitos escolares

(CORRÊA e VALDEMARIN, 2000, p.13).

O debate até aqui apresentado leva-nos a compreender que a utilização do livro

didático representa a mais significativa expressão do ensino, de suas teorias, concepções

pedagógicas e metodologias. Esse tipo de recurso é um forte indicador de interesses e

finalidades vinculadas ao currículo das instituições escolares (BITTENCOURT, 1993).

Em nossas considerações acerca do livro didático, chamamos à atenção para a

análise das múltiplas facetas inerentes ao livro, a qual deve ser problematizada e

84

ampliada tendo em vista os elementos históricos e sociais na construção do conceito

(KOSELLECK, 2006). Procuraremos, então, tal como sugere Bittencourt (2004),

demonstrar em nossas discussões as múltiplas relações de cunho social, político,

econômico e educacional e a influência de vários sujeitos na produção e na circulação

do livro didático.

Devido à sua ampla difusão, os livros didáticos cooperam decisivamente para

que determinadas interpretações se tornem hegemônicas na escola (VALDEMARIN,

2010). Para Chartier (1991), o livro didático25 conduz à prática educativa utilizando-se

de normas e representações, valores e condutas a serem inculcados pelos alunos.

Historicamente, tem-se mostrado revelador dos vestígios de uma pedagogia modeladora

de comportamentos e de valores aplicados à política educacional, tendo em vista que “a

história do livro didático permite vislumbrar indícios de seus usos (prescritos e efetivos)

e, assim, apreender aspectos das práticas escolares” (MUNAKATA, 2003. p. 10).

O livro didático tem por definição instruir o aluno em sua plenitude, ofertando

habilidades pedagógicas, físicas, cívicas e morais.

O livro escolar, ao fazer parte da cultura da escola, não integra essa

cultura arbitrariamente. É organizado, veiculado e utilizado com uma

intencionalidade, já que é portador de uma dimensão da cultura social

mais ampla. Por isso, esse tipo de material serve como instrumento,

por excelência, da análise sobre a “mediação” que a escola realiza

entre a sociedade e os sujeitos em formação, o que significa interpretar

parte de sua função social (CORRÊA e VALDEMARIN, 2000, p.19).

Assim, é preciso discutir sobre a elaboração e a produção do livro didático

partindo das combinações e das “mediações” sociais. Munakata (2003) e Valdemarin

(2007) acrescentam que esse recurso didático pode ser considerado como um objeto por

meio do qual se podem desvendar indícios da cultura escolar e relações com a política

de controle social, com as representações culturais e com os modelos políticos e

econômicos.

Segundo Chartier (1998), o livro didático reproduz valores e saberes inculcados

pela escola e transmite concepções, práticas e saberes escolares. Para esse autor, o livro

didático conduz à prática educativa utilizando-se de normas, valores e condutas a serem

25

É importante registrar que, em muitas realidades, os livros didáticos são o único recurso

didático utilizado na educação das classes populares e portadores das informações que possibilitam o

acesso dessa população ao mundo letrado.

85

assimilados pelos alunos. O estudo do livro pode esclarecer alguns aspectos da

organização do ensino e de sua intencionalidade em uma dada época (MUNAKATA,

2003).

Entendemos que o livro didático é um veículo de divulgação de normas sociais

as quais passam a determinar o que deve ser ensinado. Segundo Batista (1999, p. 566),

“[…] o livro escolar é um campo por excelência da ideologia e das lutas simbólicas e

revela sempre, pelas suas escolhas, um viés, um ponto de vista parcial e comprometido

sobre a sociedade, sobre seu passado, seu presente e seu futuro”.

Bittencourt (1993) assevera que o livro está muito longe de ser um simples

recurso didático a ser estudado, pois ao longo de sua história esse se configura em um

problema a ser desvendado e indagado, uma vez que, mesmo sendo um material

didático de comum uso pela escola, pouco se estudou sobre sua interferência na

formação dos saberes escolares.

Nossa pesquisa de Doutorado visou construir um referencial teórico-conceitual

histórico que nos permita compreender que os saberes escolares, de forma geral,

possibilitam mais aproximação entre o projeto de formação social e as concepções

educativas. Nesse quadro, ao livro didático era destinada a tarefa de organizar um

“conteúdo explícito”, fato que aproximava a produção do livro didático da história das

disciplinas escolares.

No Brasil, as pesquisas sobre a história das disciplinas escolares têm sido

desenvolvidas por autores que se interessam por uma matéria específica, pelos

estranhamentos e pelos interesses pela disciplina em que se formaram, ou ainda, pelos

problemas colocados hoje pelo ensino dessa disciplina (HÉBRARD, 1999). Com os

autores estrangeiros não acontece de outro modo, pois as pesquisas passam, atualmente,

por um forte desenvolvimento (FRAGO, 2008). Em seus estudos, os pesquisadores

penetram seu olhar nessas disciplinas

[...] por meio de compêndios adotados, movimento de criação,

extinção e novas nomenclaturas das cadeiras, pelos objetivos e

conteúdos, professores e livros didáticos, porém atentos sempre às

finalidades das disciplinas (ALVES, 2012, p. 142. Grifos nossos.).

A citação anterior coloca os livros didáticos como documentos que podem

revelar os objetivos, as identidades e as formas culturais que uma disciplina escolar

86

pode assumir ao longo dos anos. Os materiais didáticos, especialmente os livros, quando

indicados ou adotados para diversos níveis de ensino e para determinada disciplina,

compreendem um dos documentos de análise no campo de pesquisa da história das

disciplinas escolares.

Para Venturi e Gatti Jr. (2004), cada disciplina tem uma história própria, e para

compreender sua construção histórica, os pesquisadores utilizam diferentes vestígios.

Esses autores apontam os livros didáticos como objetos culturais que guardam

elementos que compõem a tradição didática de determinada disciplina. Esses autores,

que são importantes referências para os estudos sobre as disciplinas escolares e livros

didáticos, afirmam que

[...] a tarefa do pesquisador da história das disciplinas escolares é a de

realizar um trabalho investigativo sobre as metodologias, os

exercícios, as práticas de motivação, os materiais utilizados e os

conteúdos selecionados [...]. Esses aspectos estão em ligação direta

com as finalidades da disciplina. Isso leva o historiador das disciplinas

a utilizar documentos como, livros didáticos, arquivos escolares,

literatura pedagógica, documentação oficial do ensino e outras fontes

de pesquisa (VENTURI e GATTI JR, 2004, p. 69. Grifos nossos.).

Fazendo inferência nas nossas pesquisas, afirmamos que, em consulta a uma

parte dos livros didáticos publicados no Brasil entre o Século XIX e o início do Século

XX, observamos que, de fato, eles podem ser um elemento capaz de revelar a estrutura

didática de uma disciplina escolar. Ou seja, nos livros didáticos, podemos encontrar

indícios de como, ao longo da história, os modos de ensinar foram sendo organizados.

No que diz respeito a essa questão, nossas pesquisas a respeito dos livros

didáticos de Geografia do Ensino Primário revelam, cada vez mais, as diferenças entre

os livros destinados para cada nível de ensino. Sobre isso, nossos questionamentos

surgiram do contato com as obras destinadas ao Ensino Primário, que ora estão sendo

analisadas, quando necessário, comparadas com as destinadas ao nível secundário por

causa da familiaridade já adquirida com as inquirições realizadas no mestrado.

Pelo que temos investigado até o momento, as diferenças entre as obras são

relativas aos mais variados aspectos, a saber: a organização dos textos, a disposição dos

conteúdos e seus objetivos, a finalidade do ensino, as formas metodológicas para sua

execução e sua relação com a disciplina escolar Geografia. Alguns desses aspectos já

foram apresentados no capítulo anterior. Entendemos, pois, que existe uma

87

multiplicidade de textos didáticos, cada um com suas especificidades que atendem às

necessidades dos diversos leitores (aluno, professor e demais pessoas). De acordo com

Chartier (1990), ao conferir ao leitor a oportunidade de ler, o livro didático também abre

espaço para socializar e apreender o que foi lido. Essa formação de conceitos com base

na aquisição da leitura pode partir do individual para o coletivo ou vice-versa.

Para Bittencourt (2008), a história do livro no processo de aprendizagem está

vinculada a uma aprendizagem que envolvia leitura (texto) e oralidade e à presença e à

intervenção do professor como leitor individual e coletivo. É importante ressaltar que

também estavam atreladas às concepções de aprendizagem as imagens ou ilustrações

que serviam como suporte entre a lição escrita e a oralidade dos professores e o

desenvolvimento da capacidade de “memorizar”, porque

a memorização era a tônica do processo de aprendizado e era essa a

principal capacidade exigida dos alunos para o sucesso escolar.

Aprender era memorizar [...] Essa concepção de aprendizado,

fundamentada no desenvolvimento da capacidade do aluno de

memorizar, não foi ignorada pela obra didática. A memorização era

um pressuposto básico para a aprendizagem e o “saber de cor” se

impunha como método de ensino que autores buscavam incentivar

(Idem, p. 203).

O ensino centrava-se na prática de decorar e memorizar. As obras didáticas

também destinavam boa parte de seus textos ao exercício da memória. Os exercícios

portavam-se como uma boa técnica de memorização que garantia o sucesso da

aprendizagem. A esse respeito Bittencourt (2008, p. 219 e 220) ainda acrescenta:

[...] entre método “tradicional” e “método intuitivo”, o livro escolar

expressava, igualmente, as dificuldades na constituição de uma

sociedade letrada que vivia mergulhada na tradição da transmissão

oral. A memorização, base metodológica do ensino de uma sociedade

que estava enraizada em um aprendizado pela oralidade, impregnou a

construção dos livros escolares. O resultado dessa construção foi a

diferenciação das formas de recepção do público leitor frente a esse

material didático.

E é nesse contexto do final do Século XIX, dos debates sobre os métodos de

ensino, que notificamos que se dá o aparecimento de uma bateria de exercícios nos

livros didáticos para fundamentar os métodos de ensino. E esses surgiam não mais

limitados ao papel da memorização.

Assim, entendemos que o estudo do livro didático envolve diversas facetas que

88

ligam o livro ao mundo da cultura escolar e apontam novas perspectivas de análises

associadas ao campo de estudo da história das disciplinas escolares.

Além de todas as questões aqui apresentadas, pontuamos a importância do livro

didático para a formação do professor. Bittencourt (2008), em seus estudos, afirma que,

no final do Século XIX, “o livro era fundamental para a formação dos professores e para

garantir os diversos conhecimentos a serem divulgados pela escola (p.32)”. Com base

em todos esses debates apresentados, reafirmamos a relação intrínseca entre as

concepções de ensino, as produções didáticas e a formação dos saberes escolares.

Traçado esse debate sobre a organização dos saberes e sua relação com o nosso objeto

de estudo, apresentamos, a seguir, algumas considerações a respeito das pesquisas sobre

os exercícios nos livros didáticos.

2.2 Traçando um estado da arte: as pesquisas sobre exercícios nos livros didáticos

A realização de uma pesquisa de Doutorado requer, dentre outras tantas

exigências, um aprofundamento sobre a delimitação do objeto que se busca pesquisar.

Nosso intuito é de explorar o objeto de estudo, ou seja, os exercícios nos livros didáticos

de Geografia, para que ele nos ajude a responder às questões que formulamos no

decorrer da escrita. Porém, a busca por uma bibliografia representativa a respeito da

temática aqui estudada nos direciona para as produções acerca do ensino de Geografia e

para as pesquisas que adotam o livro didático como fonte e/ou objeto de investigação.

Portanto, antes de tratar do nosso objeto propriamente dito, apontaremos algumas

perspectivas de estudos centradas no próprio livro didático, como, por exemplo, as

pesquisas de caráter histórico e faremos um breve apanhado sobre as pesquisas voltadas

para o ensino de Geografia.

Segundo Munakata (2012), a abordagem histórica sobre o estudo do livro

didático se divide basicamente em duas vertentes que, embora estejam interligadas,

podem ser divididas: as que abrangem as pesquisas centradas na história/memória do

livro e da leitura e as que se inserem na perspectiva da história das disciplinas escolares.

De acordo com os estudos de Choppin (2004), apesar de, atualmente, os estudos

sobre o livro didático sejam um campo fértil de pesquisas, com domínio em vários

89

países simultaneamente, nas últimas décadas do Século XX, as produções ainda são

bem escassas e são poucas as que se preocupam em fazer uma síntese que abranja toda a

produção didática e os períodos históricos estudados. Em âmbito nacional, Moreira

(2012)26

evidencia essa mesma problemática e aponta a deficiência de grupos de

trabalhos destinados a escrever a história geral da literatura escolar aqui no Brasil.

Na realidade brasileira, até os anos de 1980, a realização de pesquisa científica

acerca do livro didático era quase nula, uma condição que estava integrada à ideia de

desprestígio inerente a esses livros durante o período da Ditadura Militar

(MUNAKATA, 2003a), ao atribuir-lhes a ideia de verdadeiros “vilões”, devido ao

desenvolvimento das análises acerca das críticas ideológicas dos conteúdos

(BITTENCOURT, 2011) da qual já tratamos. Nesse sentido, os primeiros enfoques

assumidos pelas pesquisas sobre o livro didático no país abordavam-nos a partir das

concepções ideológicas oficial e burguesa, nas ideias de falso e de correto, da

cientificidade ou da falta dela nesses livros (MUNAKATA, 2003a; BITTENCOURT,

2011). Recentemente, a partir da última década do Século XX e início do Século XXI,

os estudos que versam sobre tais obras assumiram direcionamentos diversificados, com

enfoques diferenciados em suas propostas de estudo. Munakata (2003a, p.7) refere que,

no início do Século XXI, “[...] já estão distantes os tempos em que se combatia o livro

didático do mesmo modo como se lutava contra a ditadura militar”.

Sobre tais pesquisas em uma perspectiva histórica, podemos assinalar o caráter

recente desses estudos tanto na realidade brasileira quanto na mundial. Munakata

(2012), ao fazer um balanço de alguns temas pesquisados, afirma que, na última década

do Século XX, houve um crescimento significativo dos estudos sobre essa perspectiva.

Como uma maneira de valorizar as discussões a respeito do livro didático, nesse

período, notificamos o surgimento de eventos específicos para debatê-lo, como o I

Encontro Internacional sobre Manuais Escolares, realizado em 1999, na Universidade

do Minho, em Portugal, com o tema Manuais escolares – Estatuto, funções, história - e

aqui no Brasil, o I Simpósio Internacional do livro didático, realizado na Universidade

de São Paulo – USP, em 2007, com o tema Educação e História.

26 A autora observa, ainda, a falta de um censo de livros didáticos produzidos no país, de inventários das

obras disponíveis, da evolução dos marcos legislativos e regulamentários das edições escolares, da

síntese de sua difusão, entre outros.

90

A expansão das investigações a respeito do livro didático, sob uma perspectiva

histórica, também pode ser observada nas discussões dos GTs em eventos científicos; na

criação de grupos de pesquisas e, recentemente, no interesse de pesquisadores em

organizar acervos e bibliotecas, como já apresentamos no tópico anterior.

Observamos, ainda, que novas temáticas passaram a fazer parte do universo das

pesquisas sobre o livro didático. As diferentes abordagens objetivam identificar as

múltiplas facetas inerentes a esse tipo de livro, pois, além de considerar as abordagens

pedagógicas e metodológicas, procuram abordar os sujeitos envolvidos em sua

elaboração e produção; a relação entre o livro e o Estado; o processo de circulação e de

aquisição e seus diferentes usos no contexto escolar. Recentemente, destacamos as

pesquisas voltadas para a história das disciplinas escolares (MUNAKATA, 2003;

BITTENCOURT, 2011; MOREIRA, 2012).

Essas novas abordagens foram introduzidas no Brasil a partir de um estudo

pioneiro de Circe Bittencourt, na década 1990, quando ela estudou a disciplina escolar

História, tendo como enfoque central o livro didático dessa disciplina. Sua tese tornou-

se uma importante referência, tanto no campo da História, quanto em outros campos

disciplinares na área da Educação, que procuram discutir sobre a construção dos saberes

de uma disciplina escolar. As contribuições dessa pesquisa residem, entre outros

aspectos, na elucidação de importantes elementos referentes ao livro didático e ao saber

escolar, evidenciando as tensões e as articulações entre ele e os interesses do Estado, o

mercado editorial e os autores responsáveis pela sua produção e os enfoques dados às

concepções ideológicas presentes na materialidade dos livros didáticos.

Assim, no Brasil, a produção bibliográfica, cujo foco de análise é o livro

didático, no âmbito de uma perspectiva histórica, parte das disciplinas escolares

específicas, como História, e as de Português e Geografia. Como nosso trabalho

também parte da perspectiva disciplinar e é centrado na Geografia escolar, achamos

necessário fazer um breve apanhado das pesquisas sobre o ensino de Geografia. Em

âmbito nacional, essas pesquisas vêm ganhando espaço nas últimas décadas do Século

XX, considerando as mais diferentes perspectivas e enfoques. Esse breve exercício de

análise da trajetória das pesquisas acadêmica sobre o ensino de Geografia no Brasil

91

toma como base o trabalho de Pinheiro (2005)27

, cujo foco é a catalogação da produção

de dissertações e teses produzidas entre 1967 e 2003. Em maço de 2016, Lana de Souza

Cavalcanti publicou um artigo com informações mais atualizadas sobre as dissertações e

as teses sobre temas nessa área. Entretanto nosso texto já se encontrava em fase final de

escrita e não havia mais tempo para incorporar as informações mais atualizadas.

Pinheiro (2005), em sua produção, destaca a presença dos seguintes eixos

temáticos como enfoque de pesquisa: formação de professores, conteúdo-método,

prática docente e educativa, representações espaciais, educação ambiental, estudos

sociais, formação de conceitos, currículos e programas, história da Geografia escolar e

livro didático.

Dentre os eixos suprarreferidos, os que tratam dos currículos e dos programas,

da história da Geografia escolar e do livro didático são os que mais nos chamam à

atenção, porque são trabalhos que versam sobre temáticas que estão relacionadas ao

nosso objeto de estudo. Em consulta ao trabalho desse autor, constatamos que tais

temáticas, ainda que lentamente, começam a parecer, e nelas, o livro didático de

Geografia passa a ser considerado como um objeto e/ou fonte de estudos para a história

da Geografia escolar28. Os currículos e os programas também aparecem como

documentos utilizados nas pesquisas que versam sobre a história dessa disciplina.

Em alguns casos, constatamos que há trabalhos, como o nosso, por exemplo, que

procuram usar os currículos ou programas de determinado nível de ensino, para ampliar

e discutir bem mais sobre o livro didático. Assim, consideramos que esses estudos têm

se configurado em campos investigativos que têm levantado questionamentos e

27 Ver trabalho completo em: PINHEIRO, Antônio Carlos. O ensino de Geografia no Brasil: catálogo de

dissertações e teses (1967 -2003). Goiânia: Ed. Vieira, 2005.

28 As pesquisas que versam sobre a história da Geografia escolar no Brasil se apresentam de modo bem

diversificado, tanto no que diz respeito aos enfoques temáticos, quanto à escolha das fontes de pesquisa e

aos posicionamentos teórico-metodológicos de cada autor. De acordo com a pesquisa apresentada por

Pinheiro (2005) sobre a história da Geografia escolar e que toma o livro didático como fonte e/ou objeto

de estudo, destacamos os seguintes trabalhos: Colesanti (1984); Pereira, (1989); Vlach (1988); Ferraz

(1995); Rocha (1996) e Campos (1997).

92

reflexões que podem orientar problematizações a respeito da história da Geografia

escolar.

Com a apresentação das pesquisas encontradas que se aproximam do nosso

objeto de estudo, podemos confirmar o caráter inédito e original do nosso trabalho e

afirmar que essa busca vem acontecendo desde a realização do Mestrado, quando

fizemos o levantamento das pesquisas sobre os exercícios nos livros didáticos de

Geografia e não foi encontrada nenhuma referência, seja em dissertação ou em tese e,

agora, no Doutorado, retomamos a pesquisa, com o intento de ampliar a investigação.

No Mestrado, ao fazer esse levantamento entre os anos de 2005 e 2010,

constatamos que, dos trabalhos encontrados sobre os exercícios ou exercícios nos livros

didáticos, de modo geral, só encontramos o de Itamar Freitas, escrito em 2009 e

defendido na Universidade Federal de Sergipe, e o de Marilu de Freitas de Faricelli, de

2005, defendido na Faculdade de Educação/PUC, em São Paulo. Mesmo assim, os dois

partem de outra perspectiva, o que ainda faz da nossa proposta de tese pioneira em

relação ao tema e ao campo da História da Educação brasileira.

Dando continuidade às investigações realizadas no Mestrado a respeito dos

exercícios, investimos em um levantamento bibliográfico do acervo acadêmico existente

sobre o tema, com o objetivo de fazer um apanhado das discussões concernentes aos

exercícios. Para isso, elegemos o site da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal

de Nível Superior (CAPES), especificamente no banco de teses e dissertações, para

sistematizar as informações. Devido ao registro de um pequeno número de teses e

dissertações acerca do assunto, resolvemos ampliar a busca para instituições acadêmicas

(especialmente nos Programas de Pós-graduação), anais de eventos, revistas científicas,

entre outros. No trabalho de busca, usamos os seguintes termos: exercícios; exercícios

nos livros didáticos, exercícios de Geografia e exercícios nos livros didáticos de

Geografia.

Avaliando as publicações apresentadas nos quadros I e II, vimos, de imediato,

que não existe pesquisa sobre os exercícios na perspectiva que abordamos, já que o

único registro é nossa pesquisa de Mestrado. Observemos os resultados apresentados:

93

QUADRO I

Trabalhos publicados no portal da Capes e em outras instituições e que versam

sobre exercícios

Modalidade Título Autores Ano Instituição

Doutorado

Coleção Sérgio Buarque

de Hollanda: livros

didáticos e ensino de

história

José Cássio Másculo 2008 PUC - SP

Artigo científico

Análise de um livro

didático em língua

portuguesa

Josefa Tapia Salzano 2010

Doutorado

Usos do livro didático de

alfabetização no primeiro

ano de ensino

fundamental: uma

abordagem etnográfica

Tamara Cardoso

André 2011 UFPR

Dissertação

Implantação da

matemática moderna nas

décadas de 1960 e 1970

no município de Pato

Branco - PR

Eunice Nunes

Dobrowolski 2011 UFPR

Dissertação

Reflexões sobre o ensino

da geometria em livros

didáticos à luz da teoria

das representações

semióticas segundo

Raymond Duval

Gabriela Teixeira

Kluppel 2012 UEPG

Dissertação

Análise dos conteúdos de

biotecnologia em livros

didáticos de Biologia

Erico Murilo Barros

de Carvalho 2012 UMC

Dissertação

Metáfora no ensino de

língua materna: em

busca de um novo

caminho

Maitê Moraes Gil 2012 UFRGS

Fonte: Elaborado a partir do banco de teses e dissertações do site da CAPES e outros espaços de registro

de pesquisas acadêmicas.

É possível observar uma tendência nas teses e nas dissertações antes

mencionadas, conforme a leitura dos resumos, a uma reflexão voltada para os exercícios

de um modo bem amplo, em que eles aparecem como um dos aspectos que podem ser

analisados ligados ao tema geral da pesquisa. Mesmo nessa busca mais ampla, ainda é

bem pequeno o número de pesquisas, pois só foram encontrados sete trabalhos, como

mostramos no quadro I.

Realizada a pesquisa mais geral, focalizamos nossas investigações para os

exercícios nos livros didáticos, nosso objetivo central nesse levantamento. Vejamos os

dados apresentados no quadro que segue:

94

QUADRO II

Trabalhos acadêmicos publicados no portal da Capes e em instituições acadêmicas

sobre os exercícios

Modalidade Título Autores Ano Instituição

Artigo científico

Exercícios de compreensão ou

copiação nos manuais de

ensino de língua?

Luiz Antônio

Marcuschi 1996 UNB - DF

Projeto de

pesquisa

As atividades nos livros

didáticos de história regional Itamar Freitas 2009

I Semana de Ensino

de História.

Mossoró/RN. 2009,

(CD ROM).

Livro Livros didáticos de História:

escolhas e utilizações Itamar Freitas 2009 EDUFRN

Artigo científico

O papel dos exercícios nas

práticas educacionais: uma

perspectiva histórica

Ana Maria Garcia

Moura 2010

IV Colóquio

Internacional

“Educação e

Contemporaneidade

”.

Laranjeira/SE

Artigo científico

Os exercícios nos livros

didáticos de História no ensino

fundamental: uma análise de

edições

Ana Maria Garcia

Moura e Carla

Karinne Santana de

Oliveira

2011

Anais Eletrônicos do

IX Encontro

Nacional dos

Pesquisadores do

Ensino de História.

Florianópolis/SC

Dissertação

Ensino e aprendizagem nos

livros didáticos de História

(1960/2000): que concepções

apontam os exercícios?

Ana Maria Garcia

Moura 2011 UFSE

Dissertação

Caderno de exercícios:

aprender, escrever e outras

fantasias entre Educação e

Filosofia

Luciana Kalil

Santos 2011 UERJ

Artigo científico

Os exercícios sobre leitura dos

textos, em livros didáticos - C

coleção aprendendo sempre,

no ensino fundamental

Érica Pires Conde e

Éridan Pires Conde

Rocha

UFPI - PI

Doutorado

Pontos de (re) visão e exploraç

ões historiográficas da aborda

gem regional: exercícios

a partir do Cariri

cearense (Século IXI e XX)

Maria Soares da

Cunha 2012 UFC

Dissertação

Os exercícios nos livros

didáticos de Geografia no

Brasil: mudanças e

permanências (1880-1930)

Joseane Abílio de

Sousa Ferreira 2012 UFPB

Artigo científico

Os exercícios nos livros

didáticos de História: objetos,

localização e formas de

denominar (1960-2000).

Ana Maria Garcia

Moura 2014 UFSE

Fonte: Elaborado a partir do banco de tese e dissertação do site da CAPES, grupos de trabalhos de

eventos acadêmicos e outros espaços de registro de pesquisas acadêmicas (a exemplos dos sites).

95

De maneira geral, entre os trabalhos catalogados, só o de Moura (2010 e 2011) e

o de Faricelli (2005), embora partam de perspectivas diferentes da nossa, podem

contribuir para as discussões sobre o nosso objeto de estudo, porque o estudo realizado

por Moura (2010 e 2011) analisa os exercícios em uma perspectiva histórica,

assinalando suas funções e finalidades nas práticas educativas; e o de Faricelli (2005)

traz uma abordagem a respeito da disciplina escolar História, em que analisou os

exercícios destinados às séries finais do ensino fundamental, a partir de categorias

baseadas no conhecimento histórico e nos processos cognitivos que os exercícios

realizam no processo de aprendizagem, além do enfoque dado à maneira como a

História se constituiu como uma disciplina escolar.

Nesse quadro II, destacamos, ainda, o trabalho de Freitas (2009) que, mesmo

não trazendo o nome exercícios nos títulos, examinou o PNLD 2007 e os exercícios

voltados para as séries iniciais do ensino fundamental e observa os livros com base em

seus aspectos pedagógicos e na quantidade de exercícios destinada para cada capítulo.

Os trabalhos de Freitas (2009) merecem destaque, também, porque fazem parte de um

projeto mais amplo, que procura trabalhar com os exercícios abordados nos livros

didáticos e tem gestado outras pesquisas e despertado outros pesquisadores para

discutirem sobre o papel dos exercícios, seja em uma disciplina escolar, seja em

qualquer sequência didática.

Continuando esse levantamento, decidimos fazer uma busca mais particular, ou

seja, no âmbito das produções acadêmicas do estado da Paraíba, especificamente nos

principais Programas de Pós-graduação em Educação, em Geografia e em História, a

saber: o Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal da Paraíba

(PPGE/UFPB); o Programa de Pós-graduação em Geografia (PPGG/UFPB), o

Programa de Pós-graduação em História (PPGH/UFPB), o Programa de Pós-graduação

em Educação da Universidade Federal de Campina Grande (PPGE/UFCG) e o

Programa de Pós-graduação em História da mesma Universidade (UFCG/PPGH).

A catalogação feita nesses programas só apontou nossa dissertação de Mestrado,

defendida em 2012, no Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade

Federal da Paraíba (PPGE/UFPB), o que justifica que, também em âmbito local, nossa

proposta de tese é inédita e original. É importante registrar que retomamos as pesquisas

no ano de 2016, e os resultados apontam os mesmos números que já enfatizamos aqui

96

nesse estado da arte de nosso trabalho.

Com esse levantamento, fechamos a primeira parte da pesquisa. No capítulo

seguinte, que já compõe a segunda parte da tese, versaremos sobre as discussões acerca

da escola primária, as estratégias, as finalidades e a função das metodologias no ensino

primário.

97

2ª parte

A ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA PRIMÁRIA NO BRASIL: CONSIDERAÇÕES

SOBRE O ENSINO DE GEOGRAFIA

CAPÍTULO III: ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA PRIMÁRIA NO BRASIL: OS

TEMPOS, AS METODOLOGIAS E A CULTURA ESCOLAR

Neste capítulo, trazemos uma discussão sobre a escola primária, no período de

transição do regime monárquico para o republicano, sobre como se constituiu, a

legislação da época e os embates políticos travados para configurar esse modelo de

escola no Brasil. Também tecemos algumas considerações sobre sua organização

pedagógica, sobre a forma como os currículos foram elaborados, os métodos de ensino e

as questões do currículo de Geografia e o relacionamos com a produção dos livros

destinados a essas escolas.

3.1. A escola primária na Primeira República: entre a obrigatoriedade e a

liberdade de ensino

A história do ensino primário, no Brasil, é uma questão discutida com frequência

entre os historiadores da História da Educação brasileira (SOUZA, 2000, 2012;

SAVIANI, 2006; ARAÚJO, 2012; FARIA FILHO, 2000). Os pesquisadores - cada um

de acordo com a finalidade de suas pesquisas e os pressupostos teórico-metodológicos,

procuram traçar um panorama das estratégias de funcionamento e sua consolidação em

diversos estados brasileiros29

.

No Brasil, o estudo sobre a história do ensino primário tem se configurado como

um palco que abriga discussões e interpelações epistemológicas de variados temas e

objetos de estudo no campo da História da Educação. As pesquisas sobre a escola

primária começaram a aumentar significativamente em 1990, sobretudo com as

investigações sobre a institucionalização dos grupos escolares e os meandros da cultura

escolar que marca as diversas práticas educativas e questões relacionadas à formação de

professores e sua profissionalização, além dos estudos sobre livros didáticos e métodos

29

Mais detalhes sobre esses estudos, consultar: ARAÚJO, José Carlos Souza, (Org.) et alii. Escola

Primária na Primeira República (1889-1930): subsídios para uma história comparada. Araraquara, SP:

Junqueira & Marin, 2012.

98

de ensino (BARRA, 2001; SOUZA, 2011).

Não pretendemos traçar um panorama da História da Educação, seus avanços e

entraves, tampouco fazer um balanço da configuração do campo, como alguns

pesquisadores têm se dedicado a fazer (SAVIANI, 1998; ALVES, 1998; CATANI e

FARIA FILHO, 2002), mas dialogar, no tempo histórico escolhido, com os vários

indícios da organização do campo, a partir desse período que abrange variadas

pesquisas e tem sido cada vez mais significativo nas tramas da História da Educação

(ARAÚJO, 2001).

Em suas pesquisas, os autores constataram que, no Ocidente, a partir do Século

XIX, a escola e as práticas de escolarização começaram a ser o centro dos debates para

construir e consolidar os chamados “estados-nações”. A difusão do sentido de

“civilização” estava estrategicamente associada ao projeto de escolarização, ou seja, ao

ensinamento dos conteúdos escolarizados30

. Para Souza (2011, p.341),

as primeiras tentativas de sistematização da instrução pública no

Brasil, durante o Oitocentos, ocorreram depois da transferência da

Corte portuguesa em 1808. Como se sabe, esse acontecimento político

e seus desdobramentos acarretaram mudanças significativas na

sociedade brasileira. Bastar assinalar algumas medidas de inegável

repercussão, como a abertura dos portos ao comércio internacional, a

criação da imprensa e de instituições culturais, como bibliotecas,

teatro, museu e, no campo da educação, a instalação de academias e

cursos superiores, além da elaboração de projetos de difusão da

instrução pública.

Esse cenário de modificações marca, sobretudo, as primeiras iniciativas das

elites imperiais de impulsionar o debate sobre a instrução pública. Era necessário pensar

em medidas político-administrativas para elaborar projetos de cunho social, político e

cultural voltados para os fins da difusão da instrução pública.

Como o Brasil se tornou independente de Portugal em 1822, era necessário que

se organizasse como Estado-nação, o que implicaria a promulgação de uma

Constituição própria, uma nova configuração política e social (SAVIANI, 2006; SILVA,

2007; SILVA e ANANIAS, 2011). As elites imperiais e seus dirigentes, na corte e nas

províncias, direcionaram suas ações, reforçando e difundindo o papel das pessoas,

30 Para tentar discutir sobre essa relação, apresentaremos, ainda neste tópico, um mapa que traz um

panorama da distribuição das escolas primárias em vários estados brasileiros, elaborado a partir do

trabalho organizado por: ARAÚJO, SOUZA e PINTO, 2012 e de PINHEIRO2002.

99

natural e hierarquicamente, de forma desigual, elegendo diferenças clássicas entre os

súditos, as elites e o povo (SILVA e ANANIAS, 2013).

Mesmo com a Constituição de 1824, com as primeiras tentativas de organizar a

instrução pública, a educação não apareceu com um direito dos súditos livres. Segundo

Silva (2007, p.236),

[...] a instrução primária gratuita a todos os cidadãos foi considerada

em uma breve linha no trigésimo segundo parágrafo (num total de 35),

do último artigo (o art. 179) pertencente ao último título da

Constituição de 1824 (o 8º) – no qual, junto com algumas Disposições

Gerais, foram tratados os Direitos civis e políticos dos cidadãos

brasileiros.

Podemos dizer que o dispositivo legal se referia muito mais aos modos

estamental, patriarcal, escravista e excludente, que determinavam o lugar social de

todos, do que aos pressupostos de liberdade. No Império brasileiro, os governos

provinciais nunca foram obrigados por lei a promover aulas e a ter professores para

determinadas localidades (SILVA, 2007). Com a independência política do Brasil, os

debates acerca da unidade territorial passaram a ser permeados pela centralização e pela

descentralização do poder, sob o preceito de conceder às províncias a autonomia ou de

deixar o poder concentrado nas mãos de uma elite senhorial e, ainda, sobre como

deveria ser a organização das Forças Armadas do país (SILVA e ANANIAS, 2011).

Com a primeira tentativa de organizar ensino, a Câmara dos Deputados resolveu

aprovar o projeto da escola elementar, que resultou na Lei 15 de outubro de 1827, que

determinava a criação das Escolas de Primeiras Letras (SAVIANI, 2006). Segundo esse

mesmo autor, a escola pública nacional poderia ter decorrido da aprovação dessa Lei,

porém, isso não aconteceu, porque houve uma emenda na Constituição de 1924 que fez

algumas alterações e adições na Constituição Política do Império. Essa única emenda

ficou conhecida como Ato Adicional de 1834, aprovado pela Lei nº 16, de 12 de agosto

de 183431

.

31 O Ato adicional, composto de 32 artigos, estabeleceu algumas modificações significativas,

principalmente no que se referiu ao Capítulo V da Constituição, que definia as atribuições dos

Conselhos Gerais de Província. Ele extinguiu os Conselhos Gerais das províncias e criou, em seu

lugar, as Assembleias Legislativas provinciais com poderes para legislar sobre economia, justiça,

educação, entre outros.

100

Sobre essa discussão, Faria Filho (2000, p.136) faz uma interessante observação,

quando afirma que a escola “[...] teve de inventar, de produzir seu próprio lugar, e o fez,

também, em íntimo diálogo com outras esferas e instituição da vida social”. Os

defensores da escola e de sua importância para o processo de civilização do povo

precisaram dialogar com os discursos políticos, culturais e sociais que permeavam a

vida social do Império. Eles tiveram de, lentamente, criar, remodelar, construir e se

apropriar das dimensões espaço-temporais do ambiente escolar e dos saberes, das

sensibilidades, dos valores e da materialidade do que é próprio da escola (FARIA

FILHO, 2007). E o autor continua:

O estado imperial brasileiro e as províncias do Império, sobretudo, a

partir do Ato Adicional de 1834, foram prodigiosos em estabelecer leis

referentes à instrução pública. No que se refere ao Estado Imperial, à

lei de 1827 sucederam-se várias outras com o intuito de normatizar a

instrução pública no Município da Corte. Tais leis acabavam, no

entanto, por ser, dentro de certos limites, uma referência para as

Províncias. No que concerne a essas últimas, a partir de 1835 e ao

longo de todo o Império, as assembleias províncias e todos os

presidentes das províncias, fizeram publicar um número significativo

de textos legais, levando-nos a acreditar que a normatização legal

constitui-se numa das principais formas de intervenção do Estado no

serviço de instrução (FARIA FILHO, 2000, p. 137).

Com a criação do Ato Adicional em 1834, ficou determinado que as escolas

primárias e secundárias ficariam sob a responsabilidade das províncias, ou seja, não se

tinha mais um projeto de escola pública nacional. Essa discussão sobre a educação e a

instrução das províncias nos remete às considerações da pesquisadora Dolhnikoff

(2003) sobre as determinações do Ato Adicional, no que se refere aos governos das

províncias, divididos em duas instâncias de poder: as assembleias legislativas e a

presidencial. A esse respeito, Silva e Ananias (2011, p. 117) enunciam que

o Ato Adicional de 1834 atendera a essa necessidade, pois, ao mesmo

tempo em que diminuía o poder exercido, representado pelo Coroa,

proibindo o uso do Poder Moderador e suprimindo ao Concelho de

Estado, continuava designando os presidentes das províncias.

Essa citação nos leva a identificar a interferência dos liberais na organização de

uma elite de âmbito provincial, ou seja, devemos relativizar essa autonomia dada às

101

províncias e, talvez, apontar, como faz Dolhnikoff (2003), para a formação da

identidade imperial, quando compreende que ela não pode ser apenas explicada pela

unidade de um projeto nacional que Mattos (1987) chama de federalismo ou de “Tempo

Saquarema”. Esse projeto exercia uma centralização político-administrativa por meio do

governo geral. Para a referida autora sua unidade era formada pelas partes de um todo

em um único governo, ou seja, a atuação dos grupos regionais acabou fazendo parte da

construção do Estado Nacional (DOLHNIKOFF, 2003).

O trecho acima nos leva a pensar nos arranjos e rearranjos presentes nas

articulações dos Governos Imperiais (SILVA, 2011) que, mesmo sendo herdeiro de uma

tradição jurídico-política (MATTOS, 1987), articulada em torno do poder central da

Coroa, foi marcada por arranjos que descentralizavam o poder do governo central.

Segundo Saviani (2006, p.17),

ao longo do Século XIX, o poder público foi normatizando, pela via

legal, os mecanismos de criação, organização e funcionamento de

escolas que, por esse aspecto, adquiriam o caráter de instrução

pública. Mas, de fato, essas escolas continuavam funcionando em

espaços privados, a saber, as próprias casas dos professores.

Essa característica apontada por Saviani (2006) apresenta indícios de como as

escolas primárias da época, de um modo geral, foram se organizando a partir das

indicações da constituição do Império brasileiro, ora pelas determinações de leis, ora

por iniciativas privadas. Não podemos deixar de ressaltar que todas as tentativas de

organizar o ensino primário foram marcadas, sobretudo, por práticas de continuidade e

descontinuidade, que podem ser identificadas (embora os registros dessa época sejam

bem esparsos) nos mais diversificados modelos de educação e instrução dos estados

brasileiros.

Souza (2006), ao discutir sobre as instalações da escola primária graduada,

afirma que a questão da universalização do ensino primário, no final do Século XIX, era

uma discussão que estava posta para muitos países europeus e para os Estados Unidos

da América. A respeito do Brasil, a autora reforça que políticos, intelectuais e

educadores pretendiam modernizar a educação e elevar o país ao patamar dos países

mais desenvolvidos.

Nesse contexto educacional, a importância do ensino nos debates políticos e

102

intelectuais da época foi sobremaneira ressaltada. Tem-se, nesse momento, um debate

que aponta para a necessidade de expandir as instituições de ensino, especialmente as

escolas de primeiras letras, para que outras camadas da população, até então destituídas

do acesso à escola elementar, tivessem o direito de frequentá-la (BITTENCOURT,

2004; 2008). Segundo Saviani (2006), com a criação da Lei do Ventre Livre, foram

instituídos vários estabelecimentos de ensino, tanto pela iniciativa do Estado quanto

pela sociedade civil em geral, ambos com o intuito de ofertar educação a um novo grupo

de alunos: os filhos de escravos, que passaram para a condição de cidadãos brasileiros,

de imigrantes e de índios. Ressaltamos, porém, que não entendemos esse momento

como uma ampliação de acesso pleno à escola, apenas apontamos uma alteração nos

frequentadores da escola primária.

Assim, temos os primeiros vestígios de democratização do Ensino Primário nas

capitais das diferentes províncias e principais vilas que não aparecem dissociadas de um

plano político (SOUZA, 2000; SAVIANI, 2006; VEIGA, 2007). Nas décadas finais do

Império, as discussões acerca da educação começaram a ter notoriedade, como nos

advoga Saviani (2006), quando afirma que, com a implantação dos grupos escolares,

estabeleceu-se a história da escola pública propriamente dita, com base nos ideários do

iluminismo republicano. Entre essas funções atribuídas à escola primária, destacamos a

preocupação com os materiais didáticos, sobretudo com os livros escolares ou

impressos que permeavam os espaços escolares.

Com o intuito de conhecer a história dos materiais didáticos que permearam os

espaços escolares no período estabelecido para esta pesquisa, assinalamos que, devido

às modificações acima relatadas no contexto educacional, o livro, atualmente

denominado de didático, aparece como um dos materiais que passa a exercer

centralidade nos espaços de promoção do ensino, por se configurar como um dos

objetos culturais que fazem parte da formação de um povo (SOUZA e VALDEMARIN,

2005)

Com base nos estudos de Souza (1998b; 2006)32, as “escolas centrais” foram

32

A referida autora, em sua tese de Doutorado, intitulada “Templos de civilização: um estudo sobre a

implantação dos grupos escolares no estado de São Paulo (1890-1910), defendida na Faculdade de

Educação da USP – SP: 1997”, apresenta, com ricos detalhes, o ordenamento legal sobre a instrução

no estado de São Paulo, as leis, os decretos e os regulamentos que determinaram a criação e o

funcionamento das escolas públicas. Chamamos à atenção para a criação do primeiro grupo escolar no

103

criadas no Brasil por via de um artifício legal, pela Lei nº 169, de 7/8/1893, que

determinava que, nas localidades onde houvesse mais de uma escola no raio de

obrigatoriedade escolar, o governo poderia autorizar o funcionamento delas em um só

prédio. Com o Decreto de nº 248, de 26/7/1894, o termo “escolas centrais” foi

substituído no regulamento da instrução pública pelo termo “grupo escolar” 33.

No Brasil, esse modelo de escola se configurou na difusão dos grupos escolares

em vários estados. De acordo com Souza (2011, p. 361),

a escola graduada reuniu, portanto, todos os princípios de

racionalização da organização pedagógica da escola primária em

debate e experimentação no Século XIX – padronização,

uniformização, controle, eficiência e rigidez disciplinar. Entende-se,

dessa maneira, por que esse modelo de escola foi bem sucedido em

todo o Ocidente, tornando-se o ideal de organização da escola pública.

Essa abordagem nos permite compreender os tempos escolares como

componentes de uma cultura escolar e apontar para o fato de que, historicamente, a

organização pedagógica da escola primária vai sendo constituída a partir de interesses e

de finalidades que se adequam a um movimento múltiplo e particular entre a escola e

suas representações (CHARTIER, 1991). Segundo Chartier (1991), os conhecimentos

ou o debate da constituição dos saberes pedagógicos se formam a partir de embates,

disputas metodológicas e conceituais e, sobretudo, das tensões entre o político e as

representações sociais.

Essa discussão nos levar a pensar em algumas colocações de Thompson (1998),

quando afirma que é preciso entender o processo de escolarização associado à história

das tradições e dos costumes. Por isso, esse importante historiador alerta que se devem

compreender as culturas escolares como um pressuposto, como o processo e o resultado

das experiências dos sujeitos e dos sentidos empregados ou compartilhados pelos que

fazem a escola. Há que se ressaltar que a escola não só organiza a cultura a ser

transmitida e a própria organização para fazer tal transmissão, como também produz

uma cultura escolar que é própria da escola e das relações de sua comunidade em cada

tempo histórico (CHERVEL, 1990).

Brasil, em São Paulo, no ano de 1893.

33 Aqui nos referimos à substituição oficialmente por Decreto, o que não implica que já em outras

localidades usassem essa denominação, tampouco, que, com a instituição do Decreto, o termo foi

adotado para o país.

104

A esse respeito, Souza (2008) menciona que a busca por indícios ou pistas sobre

as transformações da cultura escolar e da organização do trabalho escolar têm sido

dentro das investigações históricas, questões fundamentais para entendermos parte do

processo de escolarização. Nessas reflexões sobre a escola e suas diferentes formas de

se organizar, esses estudiosos procuram levar em consideração os diferentes tempos

históricos, as disparidades sociais e culturais, os costumes, as tradições (THOMPSON,

1998) e os traços da cultura escolar e da organização do ensino primário ou secundário.

A instituição escola passou a se organizar estrutural e pedagogicamente, foi

deixando de ser reconhecida a partir da denominação de cadeiras isoladas (PINHEIRO,

2002) e começou a se organizar de forma seriada, com definições de graus de ensino,

classes, disciplinas, prédios e tempo específico a permanecer na referida instituição.

A escola primária graduada, compreendendo a classificação

homogênea dos alunos, várias salas de aulas e vários professores, é

uma invenção recente na história da educação brasileira. Essa

modalidade de escola primária, denominada “grupo escolar”, foi

implantada pela primeira vez no país em 1883, no estado de São

Paulo, e representou uma das mais importantes inovações

educacionais ocorridas no final do Século passado (SOUZA, 2006,

p.35).

Os grupos escolares34

se configuraram em um modelo de organização do ensino

elementar mais racionalizado e padronizado, que se materializaram como símbolo da

escola primária (SAVIANI, 2006) no Brasil. Tratava-se de uma escola primária, que foi

(re) inventada com novas finalidades, outra organização de ensino e outra concepção

educacional, em que o método individual deu lugar ao ensino simultâneo; as cadeiras

isoladas35

foram, lentamente, sendo substituídas pela escola de muitos professores e de

34 As pesquisas sobre os grupos escolares têm se configurado em um número significativo no fazer

historiográfico da educação brasileira. Para citar alguns exemplos de trabalhos desenvolvidos nesse

campo de pesquisa, consultar: Souza (1998), Faria Filho (2000), Pinheiro (2002), entre outros

pesquisadores que se dedicam a estudar a história da educação de alguns estados brasileiros com a

presença dos grupos escolares.

35 Sobre a atuação das cadeiras isoladas, é importante enfatizar que, durante muito tempo, em muitos

estados brasileiros, os grupos escolares funcionaram em conjunto com as cadeiras isoladas. Essa

constatação nos leva a chamar à atenção para a diferença entre as determinações das leis e sua efetiva

prática, ou seja, as legislações, quando são postas em prática, levam um tempo.

105

várias classes; o método tradicional foi substituído pelo intuitivo, e os professores,

sobretudo as professoras, encontraram no Magistério primário uma profissão (SOUZA,

2006).

Em suas considerações acerca dessa discussão, Saviani (2008, p.172) se

preocupou em diferenciar as principais características da estrutura dos grupos escolares

e das cadeiras isoladas:

Cada grupo escolar tinha um diretor e tantos professores quantas

escolas tivessem sido reunidas para compô-lo. Na verdade essas

escolas isoladas, uma vez reunidas, deram origem, no interior dos

grupos escolares, às classes isoladas que por sua vez, correspondiam

às séries anuais. Portanto, as escolas isoladas eram não-seriadas, ao

passo que os grupos escolares eram seriados. Por isso esses grupos

eram também chamados de escolas graduadas, uma vez que o

agrupamento dos alunos se dava de acordo com o grau ou série em

que se situavam, o que implicava uma progressividade da

aprendizagem, isto é, os alunos passavam, gradativamente, da

primeira à segunda série e dessa à terceira até concluir a última série

(o quarto ano no caso da instrução pública paulista) com o que

concluíam o ensino primário.

Esse novo modelo de instituição escolar representava, como expressa Souza

(1998) em seus estudos, verdadeiros “templos de civilização”, que se configuravam

como parte do projeto de modernização do Brasil republicano, e trouxe uma nova

dinâmica de ensino que interferia diretamente no processo de organização de

modernidade dos estados brasileiros (idem, 1998). Segundo Pinheiro (2002, p.147),

[...] as escolas públicas passaram a ser utilizadas como veículo de

propaganda política, também servindo para marcar o poder das

oligarquias, cujos nomes seriam sempre lembrados, uma vez que os

suntuosos prédios escolares, principalmente os dos grupos escolares,

como visto, marcaram a nova feição urbana em pleno processo de

mudança e serviram, por conseguinte, para embelezar a cidade e dar-

lhe um ar de modernidade.

Souza (1998, p. 137) reforça a colocação de Pinheiro (2002), ao considerar o

processo de instituição dos grupos escolares como uma grande inovação para o país,

pois eles foram “[...] criados para reunir em um só prédio de quatro a dez escolas,

compreendidas no raio da obrigatoriedade escolar”.

As escolas públicas, assim como as igrejas, eram construídas estrategicamente

em locais onde residia a elite político-econômica, em geral, que se instalavam perto dos

106

prédios que sediavam os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. As construções

escolares eram pensadas como uma maneira de dar visibilidade à atuação do poder

público.

Nesse processo de implantação dessas instituições escolares, Faria Filho (1998),

ao estudar mais detalhadamente a escola primária de Minas Gerais, identificou os traços

da primeira cultura escolar desse estado e especificou algumas considerações a respeito

da cultura escolar que passaram a imprimir em cada estado brasileiro com pequenas

variações de um estado para outro. Entre os traços dessa cultura escolar, Faria Filho

(1998, p. 146 e 147) menciona:

a) a referência à escola (física e simbolicamente falando), como o

lugar mais apropriado para a formação das novas gerações; isso

implica, não custa dizer, afirmar a legitimidade da intervenção da

instituição escolar na sociedade e, ao mesmo tempo e por isso mesmo,

a sua inserção e autonomia nesse social;

b) o crescente distanciamento da cultura escolar da cultura daquelas

parcelas da população pobre que a ela, cada vez mais, passam a ter

acesso; de uma escola inserida numa cultura e dela fazendo parte, a

escola passa cada vez mais a significar uma instituição que visa não

fundamentalmente a transmitir a cultura às gerações mais novas, mas

a modificar a cultura de toda uma população, sendo as crianças elo de

ligação com as famílias e, ao mesmo tempo, como forma de atuação

sobre as mesmas;

c) não é uma cultura escolar que se articula em torno do

conhecimento, do saber, mas da possibilidade de construção de uma

instituição ordenadora do social e, portanto, produtora de novas

sensibilidades, sentimentos, valores, comportamentos e, também, de

novas formas de perceber, conhecer e transformar o mundo;

d) é uma cultura escolar que dialoga com a cultura urbana, criando

e/ou se apropriando de representações sobre o conjunto do social a

partir do seu lugar específico na cidade. É a cultura de uma escola que

se localiza, literal e simbolicamente, no centro, visando a influenciar

os "poderes constituídos" e, nesse movimento, constituir-se como um

poder de influência sobre os "outros", sobre aqueles que se localizam

na periferia;

e) finalmente, é uma cultura escolar, estruturada pela escrita e que se

utiliza, fundamentalmente, do texto escrito para estruturar as

representações sobre as relações sociais, sobre as sensibilidades e

valores, enfim, sobre a cultura, que constrói e faz circular entre os

habitantes da cidade (e do campo).

107

Nesse momento, temos uma nova cultura escolar que se desenhou em todo o

Brasil. Essas características impõem, necessariamente, o diálogo com as tradições e os

costumes do mundo físico, social e político dos sujeitos. A escola era, naquele

momento, uma instituição em processo de construção, que estava deixando de se

restringir aos ambientes das casas e das igrejas para ocupar as praças e as avenidas dos

espaços urbanos. A escola tornava-se pública, conhecida e reconhecida na cidade e

deixava de ser coisa do mundo do privado (da casa e, portanto, das práticas de uma

educação domestica). As instituições escolares influenciaram a construção do espaço

público por excelência: as cidades.

A moderna organização da escola primária se tornou para o Brasil e para outros

países um modelo cultural em circulação que, guardadas as peculiaridades de cada

localidade, era seguido para as instalações dessas escolas em todo o Brasil. Como um

projeto republicano, a escola primária teve um profundo significado político, social e

cultural, porque a educação popular tornou-se uma das bandeiras de luta dos liberais

republicanos (SOUZA, 2006).

Os grupos escolares foram concebidos e construídos como verdadeiros templos

do saber (SOUZA, 1998) e adotaram todo um conjunto de saberes e de projetos

político-educativos, de modo que, em cada estado brasileiro, a partir de iniciativas

locais, organizava-se para instaurar o ensino primário com base no modelo definitivo da

educação do Século XIX, que circulava no período da Primeira República: o das escolas

seriadas.

Em decorrência da descentralização marcante nesse período, cada

unidade federativa pôde configurar o seu sistema de instrução pública,

enquanto a partir dos anos 30 inicia-se o processo de crescente

centralização da educação nacional com a intervenção do governo

federal (ARAÚJO, 2012, p. 13).

Como podemos notar, eram evidentes os vínculos da escola moderna com a

República. Os republicanos propagavam o discurso de que, com a educação, a nação

chegaria ao progresso e a cultura disseminada na escola propiciaria unidade política e

aplicação de leis comuns. A questão educacional era uma preocupação permanente entre

os intelectuais e os partidos políticos da Primeira República, pois o domínio sobre a

educação era algo estratégico para consolidar um projeto de sociedade (VALLE, 1997).

Na tentativa de espacializar essa discussão, fizemos um mapa em que consta a

108

distribuição da institucionalização da escola graduada em vários estados brasileiros.

Esse mapa foi elaborado com base nos dados apresentados no trabalho organizado por

Araújo, Sousa e Pinto (2012) e nos do trabalho de Pinheiro (2002) sobre a instalação dos

grupos escolares aqui na Paraíba.

109

Figura 09 – Mapa de institucionalização jurídica e instauração dos Grupos Escolares no Brasil

Fonte: Araújo et al (2012); Pinheiro (2002)

Os dados expressos no mapa, como podemos observar, indicam as datas de

institucionalização da escola graduada nos estados. O movimento de instalação desses

110

grupos escolares acontece em quase todo o país, e poucos estados ficam de fora desse

projeto. São 12 grupos escolares criados no Brasil no período da Primeira República. De

um modo geral, a ordem de criação desses grupos é bem próxima uma da outra, pois os

intervalos de instalação de um estado para o outro são datados, geralmente, em períodos

máximos de quatro anos, como o estado de São Paulo para o Rio de Janeiro, por

exemplo.

O mapa acima apresenta um panorama geral de distribuição desse projeto

educacional republicano e nos ajuda a pensar sem como, estrategicamente, a educação

primária pública começou a demarcar seus espaços e a produzir os sentidos dessa nova

cultura escolar, imprimindo suas finalidades sociais, políticas e culturais em cada um

dos estados mencionados.

Nas palavras de Souza (2006, p. 79 e 80),

a implantação dessa nova modalidade de escola teve implicações

profundas na educação pública e na história da educação brasileira.

Introduziu e ajudou a introduzir uma série de modificações e

inovações no ensino primário, auxiliou na produção de uma nova

cultura escolar, repercutiu na cultura da sociedade mais ampla e

encarnou vários sentidos simbólicos da educação no meio urbano,

entre eles a consagração da República.

Souza (2006, p. 51) continua afirmando que, mesmo sendo de interesse do poder

público,

eram precárias as condições do ensino público na província de São

Paulo e em todo o Império durante o Século XIX. Havia poucas

escolas providas, funcionando em salas impróprias, com mobiliário e

materiais didáticos insuficientes; a maior parte dos professores era

formada por leigos que recebiam parcos salários. O desinteresse do

Poder Público pela educação elementar era desolador, o que explica o

florescimento das escolas particulares em todos os níveis de ensino.

Essa citação pode indicar ou dar pistas do motivo pelo qual, nesse

período, as escolas particulares confessionais e leigas que foram instaladas na segunda

metade do Século XIX terem crescido, já que os republicanos que atuavam no campo

educacional influenciaram, direta ou indiretamente, a procura de outras estratégias para

difundir as ideias de renovação do ensino como agentes do processo de construção da

política educacional desse novo regime político.

111

Essa nova configuração pedagógica de que nos fala Souza (2011) aconteceu

quando foram implantados a escola graduada e o ensino simultâneo e foi um desafio e

uma necessidade de difundir a escolarização do povo. A esse respeito, essa mesma

autora, em outro trabalho sobre as escolas graduadas, afirma que a criação dos grupos

escolares foi um modelo de modernização que circulou em vários países e imprimiu

uma nova cultura escolar lenta e gradual, marcada por diferentes momentos (SOUSA,

2011).

Feita essa discussão acerca da institucionalização da escola primária no Brasil,

agora nos deteremos à organização pedagógica, com foco no debate sobre os métodos

de ensino prescritos para o ensino primário da época. Esse debate tem como objetivo

nos ajudar a compreender nosso objeto de pesquisa e sua relação com os métodos de

ensino.

3.2. A organização pedagógica da escola primária no Brasil: uma discussão sobre

os sentidos e os métodos

Os anos de 1880 a 1930 guardam peculiaridades que nos ajudam a conhecer a

educação e a organização pedagógica da escola primária e a revelar uma dada

configuração da cultura escolar. Nesses anos, o Brasil e o mundo passavam por grandes

transformações, sobretudo no que diz respeito às questões relativas a mudança de século

e dos regimes governamentais (BARRA, 2001). De Império à República, de um regime

imperial aos tempos republicanos, de um debate precário sobre a organização da escola

a um novo século que trazia consigo ideias renovadoras para educação.

Ao discutir sobre a escola primária na Primeira República, Sousa (2012) traz

alguns apontamentos interessantes sobre as escolas públicas paulistas que podem nos

ajudar a pensar sobre o Ensino Primário em todo o Brasil. A autora faz referência ao

ciclo de reformas da instrução pública naquele estado e identifica, ao todo, quatro

reformas nos estatutos legais: “[...] em 1892 (Lei nº 88, de 8 de setembro), em 1920 (Lei

nº 1.750, de 8 de dezembro), em 1925 (Lei nº 2.095, de 24 de dezembro) e em 1927 (Lei

nº 2.269, de 31 de dezembro)” (SOUZA, 2012, p.29).

Em termos gerais, essas reformas visavam ampliar os programas de ensino,

modernizar e disseminar o Ensino Primário nos moldes do ideal de formação do cidadão

112

republicano. A primeira delas foi a reforma de 1892, que pode ser mais bem explicada a

partir de um conjunto de legislações, em forma de um pequeno ciclo de reformas, como

bem assinala Souza (2012, p. 29 e 30):

[...] iniciou em 1890 com a reorganização da Escola Normal da

Capital ampliando os programas e redefinindo o papel dos professores

e com a criação da Escola – Modelo destinada à prática de ensino dos

alunos mestres da Escola Normal fundamental nos modernos

processos pedagógicos. Na sequência, a lei da reforma da instrução

pública de 1892 e a legislação complementar que lhe seguiram

estruturam o ensino primário, criaram os grupos escolares – modelo

de escola considerando o mais avançado na época-, e adotaram o

método de ensino intuitivo, ícone da pedagogia moderna. No âmbito

do ensino secundário, foi prevista a criação de três ginásios públicos

para a formação científica e literária dos jovens e no âmbito do ensino

superior foi criada a Escola Politécnica.

Assim como em São Paulo, no Brasil, o ensino primário destaca-se também pela

criação dos grupos escolares (SOUZA, 1998; PINHEIRO, 2002) e pela adoção do

método intuitivo, que expressava a busca por renovar os métodos. Essas duas questões

nos interessam mais de perto, pois são centrais em nosso trabalho e permearão toda a

nossa discussão.

Em linhas gerais, podemos afirmar que os anos iniciais do Século XX foram

marcantes, do ponto de vista da organização do ensino primário, do normal e do

secundário no Brasil36

. Convém relembrar que as datas que estabelecemos como recorte

temporal são marcos que se efetivam em decorrência de processos desencadeados tanto

em período anterior quanto posterior à demarcação. É importante atentar para a

centralidade de São Paulo como referência de modernização educacional no Brasil,

conforme mostrado por Souza (2012).

Sobre a segunda reforma, conhecida como Reforma Sampaio Dória, que ocorreu

já no Século XX, especificamente em 1920, destacamos a autonomia didática concedida

aos professores primários, mas chamamos à atenção para a manutenção da prescrição do

36

Conforme ficou conhecido pela historiografia, esse período marca um tempo de mudanças, ou seja, de

grande efervescência, tanto no campo da política quanto no econômico, no social e no educacional.

Ressaltamos o campo político e o econômico, por serem muito visíveis as preocupações, a partir do então

presidente da República Getúlio Vargas, em tornar o Brasil um país industrial e desenvolvido. Para tanto,

o projeto de formar as crianças desde os primeiros anos de escolarização era uma das metas desse novo

modelo social e econômico do projeto de Nação que Vargas tinha para o Brasil. Ele se interessava pela

modernização da sociedade, por isso, a opção pela centralidade da educação, que implantaria um novo

ideal de controle sobre a sociedade.

113

método intuitivo, pois ficou determinado que,

nas escolas primárias, o método natural do ensino é a intuição, a lição

de coisas, contacto da inteligência com as realidades que se ensinam,

mediante a observação e a experimentação, feitas pelos alunos e

orientadas pelo professor. São expressamente banidas da escola as

tarefas de mera decoração, os processos que apelem exclusivamente

para a memória verbal, a substituição das coisas e fatos pelos livros,

que se devem apenas usar como auxiliar do ensino (art. 103, Decreto

n. 3. 356, de 31 de maio de 1921).

De acordo com Souza (2012), em linhas gerais, podemos afirmar que essa

mesma prescrição é reafirmada nas reformas posteriores (1925 e 1927) que acentuam o

método intuitivo como o marco da renovação pedagógica que prevaleceu durante toda a

Primeira República. Essa reforma nos interessa, também, por apontar as crises desse

modelo escolar paulista, que discutia sobre o analfabetismo como uma questão nacional,

pois, como esse era um dos maiores entraves do progresso do país, a meta era de

erradicar o analfabetismo infantil e universalizar o ensino primário. Essa discussão traz

questões pontuais sobre o ensino primário nos anos iniciais do Século XX. Em suas

pesquisas, Souza (2012, p. 32) considera como medida mais polêmica dessa reforma

[...] a implantação da escola alfabetizante de dois anos. O ensino

primário gratuito ficou reduzido às primeiras e segundas séries do

curso elementar, ministrado em escolas isoladas, reunidas e grupos

escolares. A obrigatoriedade escolar foi alterada abrangendo apenas

crianças de 9 a 10 anos. Os 3º e 4º anos do curso primário foram

transformados em ensino médio, podendo ser ministrado nas escolas

isoladas, reunidas e grupos escolares submetidos à taxação, exceto

para alunos reconhecidamente pobres.

Essa reforma foi muito criticada por diversos grupos sociais e educacionais, e

isso resultou, cinco anos depois (1925), em uma nova reforma, cujo propósito principal

era de reorganizar o modelo escolar paulista a partir das definições estabelecidas no

início da República. Entre as medidas tomadas pelo governo de Carlos de Campos,

estava a prioridade em substituir a escola alfabetizante pela educação integral e o ideal

da educação urbana desenvolvida especialmente nos grupos escolares.

Ainda nos anos 20, a Reforma de 1927, do governo de Júlio Prestes de

Albuquerque, trouxe duas modificações na estrutura da instrução pública paulista: a

alteração nos anos de duração do curso primário nas escolas rurais para dois anos e as

modificações no curso das escolas normais, que passavam a ser de três anos de duração

114

e tinham permissão para se equiparar com as escolas normais livres municipais e

particulares. Assim, pela primeira vez, era retirado o monopólio de São Paulo na

formação de professores.

Em outros termos, são possíveis relações e tensões entre o velho e o novo,

centradas nas perspectivas de mudanças e do moderno, que parecem transformar e

apagar o velho. São projeções próprias dos modos de ser e de se tornar escola,

modificando o espaço “[...] conferindo-lhe novos sentidos ao mesmo tempo em que se

delineiam os contornos de um modo de organização da escola” (BARRA, 2001, p.15),

que também se firmam nos traços silenciosos das permanências. Nas palavras de

Valdemarin (2010, p. 27 e 28),

novo é o lugar teórico produzido por um agente externo que deve ser

reconhecido pelo usuário tanto nos elementos familiares conservados

quanto nas inovações introduzidas. É, portanto, a partir de práticas

conhecidas que o novo adquire significado, como uma melhoria, um

avanço e um aperfeiçoamento, tendo em vista novos objetivos.

O trecho citado denota que o movimento de modernização educacional está

associado, no Brasil, ao período da Primeira República, quando a organização do campo

educacional tinha como referencial principal o “como educar”, baseado em “como

ensinar”, e no como devem ser “os procedimentos de ensinar”. Um exemplo disso foi a

publicação do Parecer da Reforma do Ensino Primário, em 1883, organizado pela

Commissão de Instrucção Pública, por Ruy Barbosa, Thomas do Bonfim Espínola e

Ulysses Machado Pereira Vianna. O relator desse projeto foi o deputado Rui Barbosa.

Esse, talvez, tenha sido um dos motivos de esse documento ter ficado conhecido entre

nós como os Pareceres de Ruy Barbosa37

.

37 Outro motivo de se atribuir a autoria do documento a Rui Barbosa foi sua forte atuação como

reformador do ensino e da sociedade, com propostas e projetos que visam promover o progresso do

homem e do país. Influenciado pelas ideias correntes no Século XIX, que atribuíam fundamental

importância à educação dentro da sociedade, ele preconizou a reforma social pela reforma da

educação. A educação era entendida por Rui Barbosa como uma necessidade social da qual o Brasil

não poderia se poupar. Porém ela não poderia ser dissociada de outras reformas sociais e políticas. A

reforma de ensino proposta por Rui Barbosa procurava preparar o homem para a vida, para o exercício

da cidadania e para o trabalho, seja na indústria ou no campo. Essa preparação requeria o

estabelecimento de um ensino diferente do que era ministrado até então, marcado, sobretudo, pela

retórica e pela memorização. Era preciso privilegiar novos conteúdos, como ginástica, desenho,

música, canto e, principalmente, o ensino de Ciências. Por acreditar que fora um equívoco da Reforma

Leôncio de Carvalho colocar as “Lições de coisas” como disciplina, Rui Barbosa defendia que o

método intuitivo atravessava todos os programas de ensino, por isso não poderia ser reduzido a uma

disciplina. Assim, com o propósito de discutir sobre essa questão, em 1886, Rui Barbosa traduziu a

115

Tais Pareceres sobre a Reforma do Ensino Primário38

, do Secundário e do

Superior39

originaram-se da análise do Decreto nº 7.247, de 19 de abril de 1879, da

Reforma Leôncio de Carvalho. Nos pareceres, seus autores destacaram a

responsabilidade do Estado com a Instrução Pública e apontaram que ele deveria

investir mais na educação. Para isso, seria preciso dispender de mais verbas para a

reforma do ensino. A instrução pública reconhecia, naquele momento histórico, as

vantagens de um Estado esclarecido e reforçava o fato de que todos os outros países

alargavam os orçamentos para as reformas de ensino. Para Souza (2000), as estratégias

dos propositores da reforma partiam de contundente desqualificação das escolas e das

práticas vigentes para a afirmação do novo.

De modo geral, embora não tenham sido aprovados na Câmara dos Deputados,

esses Pareceres foram elaborados e fundamentados com a pretensão de um projeto de lei

para o parlamento brasileiro. Esses documentos ficaram conhecidos, na época, como

projetos que podiam contribuir com o país, em termos de educação, e foram

apresentados por Leôncio de Carvalho para serem discutidos em sessão pública no

referido parlamento.

De acordo com Saviani (2008), o referido projeto nem chegou a ser discutido no

parlamento, porém sua leitura foi bastante significativa para pensarmos na educação

daquele tempo. Ruy Barbosa, como relator da Comissão de Instrução Pública, apresenta

dados no campo educacional que são

[...] significativos da situação do ensino primário. Eles apontam que

naquele ano o município da Corte possuía 96 escolas públicas

obra de Norman Allison Calkins, “Lições de coisas”, escrita em 1861. No entanto, ao falar da atuação

de Rui Barbosa como tradutor dessa obra e relator da Comissão de Instrução Pública da Câmara, não

podemos deixar de destacar algumas críticas sobre seus posicionamentos políticos e interesses

pessoais, como adverte Faria Filho (1999a). De acordo com esse autor (1999), Rui Barbosa não citou

Calkins em sua tradução por uma questão política, pois ele procurou não associar o livro de Calkins

ao texto da Reforma, porque queria que sua tradução fosse aceita para publicação, uma vez que Rui

passava por uma série de dificuldades financeiras. Portanto, observa-se aí uma tradução como um

negócio.

38 Ver documento: BARBOSA, Rui; ESPINOLA, Thomaz do Bomfim; VIANA; Ulisses Machado.

Reforma do Ensino Primário e várias instituições complementares da Instrução Pública: parecer e

projecto da Commissão de Instrucção Publica em 1882 - Sessão de 12 de setembro de 1882. Rui

Barbosa (relator). Typographia Nacional. Rio de Janeiro, 1883.

39 Ver documento: BARBOSA, Ruy; ESPINOLA, Thomaz do Bomfim; VIANA; Ulisses Machado.

Reforma do Ensino Secundário e Superior- Sessão de 13 de abril de 1882, apresentado no decênio de

1870 a 1880. Rui Barbosa (relator). Typographia Nacional. Rio de Janeiro, 1882.

116

primárias; dessas, 54 eram destinadas ao sexo masculino e 42 ao

“segundo sexo”. O número de matriculados do sexo masculino nas

escolas públicas era de 3.042, e nas escolas particulares de 2.592; para

o sexo feminino, era de 3.087 matrículas nas escolas públicas e 2.939

nas particulares. O número total de matriculados nas escolas públicas

era de 6.129 e, nas particulares, de 5.531, perfazendo um total de

11.660, para uma população de 312.554 pessoas livres (Barbosa, 1947,

p. 18-24). O que Rui Barbosa tenta mostrar é que nesse item, a

educação, [no município neutro] está atrasada em relação à média do

país, reforçando a necessidade de uma reforma educacional

(BONATO, 2011, p.02).

Tal parecer apresenta a realidade educacional de diversos países e o quanto de

dinheiro estava sendo investindo em educação, universidades e laboratórios. Para

sensibilizar a Câmara dos Deputados para aprová-lo, os autores se esforçaram para

apresentar, nos documentos, dados que reforçavam a ideia de que o Brasil ainda investia

muito pouco em educação e como ela poderia ser capaz de contribuir para “transformar

a sociedade” (SOUZA, 2000).

Segundo os referidos documentos, o princípio que regia a organização do

sistema de ensino em geral consistia em introduzir ciência desde o jardim de infância

até o ensino superior. Os Pareceres foram elaborados para servir de subsídio para a

discussão do projeto de Reforma do Ensino Primário e Secundário do Município da

Corte e Superior em todo o Império, em substituição à reforma instituída por Leôncio de

Carvalho de 1879. Esses Pareceres podem ser considerados como um projeto de

reforma global da educação brasileira (PEIXOTO, 1926). Como um verdadeiro tratado,

eles compreenderam praticamente todos os aspectos da educação: filosóficos, políticos,

administrativos, didáticos, psicológicos e metodológicos. Porém, mesmo sendo

reconhecido como tal, não se efetivou como lei para o ensino da época.

Sobre a reforma do ensino primário, Souza (2000) enfatiza que ela deveria

fundar uma nova realidade educacional. A favor de um ensino primário obrigatório, dos

sete aos catorze anos, gratuito e laico, o Parecer do ensino primário anunciava a

substituição da “Escola de Primeiras Letras” pela escola primária moderna, com um

ensino renovado, voltado para o progresso do país.

Outra evidência da relevância desses pareceres é a influência desse projeto na

elaboração dos livros didáticos, que passaram a ser produzidos com o objetivo de

orientar os trabalhos pedagógicos nos primeiros anos de organização da escola. Segundo

117

Valdemarin (2006), esses livros se preocupavam em trazer um conjunto de prescrições

metodológicas para o ensino, porque atendiam aos debates propagados pela concepção

de educação integral difundida em âmbito brasileiro acerca da renovação dos métodos.

Para Souza (2000, p. 14), a referida educação integral

[...] converteu-se no primeiro fundamento pedagógico sistemático para

a seleção dos conteúdos para a escola primária. A definição de uma

nova cultura escolar para o povo encontrou justificações filosóficas e

pedagógicas para amparar um projeto de fundo político e social.

Para se chegar a essa educação integral, era preciso integrar os aspectos físicos,

intelectuais e estéticos em um programa ampliado fundamentado em um método

baseado na intuição, na observação e no concreto – fundamentos do pensar racional e

positivo. Esse método, baseado na intuição, fundava-se na “Lição de coisas”, uma forma

de transformar essa educação em ensino integral.

Sobre essa discussão, Valdemarin (2010, p. 134) esclarece que “[...] a escola

primária deveria ter como objetivos à educação integral e a formação da nacionalidade,

estar integrada ao meio social e às necessidades da infância, segundo os preceitos

escolanovistas”. Essas considerações sobre como deveria ser a base para essa escola

integral nos leva a inferir sobre a relação desses princípios com as finalidades da

disciplina escolar Geografia, pois, naquele momento, tal disciplina cumpria exatamente

essas funções dentro do programa para o ensino da época.

Para Valdemarin (2006, p. 173), os princípios fundamentais das “Lições de

coisas” são: a percepção – imaginação e sensação; a atenção – observação e

comparação; e a classificação – raciocínio e conhecimento. Para essa autora,

as lições de coisas têm por objetivo educar os sentidos para a obtenção

do conhecimento, de modo que passe da intuição dos sentidos para a

intuição intelectual fazendo uso de objetos comuns, conhecidos pelas

crianças que frequentaram a escola, a fim de leva-las a ter deles uma

compreensão formal, lançando mão também de outros objetos criados

especificamente para o ensino, os objetos didáticos.

Segundo a autora, os defensores e divulgadores do método intuitivo no Brasil

argumentavam que seria preciso um espaço da sala de aula onde as diversas classes

pudessem fazer as “Lições de coisas”. Entre seus argumentos, os propagadores desse

118

método reconhecem que os sentidos40 são a porta de abertura para todo o conhecimento

(ACKERMAN, 1992).

Vejamos o que a obra “Lições de coisas” traz acerca dos sentidos: “É pelos

sentidos que nos advém o conhecimento do mundo material. Os primeiros objetos onde

se exercem as nossas faculdades, são as coisas e os phenomenos do mundo exterior”

(BARBOSA, 1886, p.01) 41. Essa obra traz exercícios para a educação dos sentidos e

afirma:

A importância de um apropriado cultivo dos sentidos por meio da

educação no seio da família é superior a todo encarecimento. É

exclusivamente pelos sentidos que a crença tem accesso ao mundo

material. Por essas portas e janelas do seu espirito é que ha-de prover

de todas as noções relativas ao mundo. Mas os sentidos carecem ser

cultivados, mediante exercícios que industriem o espirito em utilizar-

se deles com perspicácia e celebridade (BARBOSA, 1886, p.13) 42

.

Como exemplos, temos os exercícios destinados à educação doméstica dos

sentidos: os exercícios para educar a vista, o ouvido, o gosto, o olfato, o tato e a mão,

que aparecem na obra de forma detalhada, passo a passo, para que a instrução primária

possa inserir a aprendizagem a partir dos sentidos (ACKERMAN, 1992).

Ao contrário da tradição, que valoriza o ensino discursivo, que atua por raciocínio

40 Sobre essa questão, advertimos que essa ideia da discussão dos sentidos como uma forma de

apreender a realidade e abrir-se ao conhecimento não é um debate novo, uma vez que, em Aristóteles,

já se percebia que a realidade é apreendida pelos sentidos.

41 Sobre a tradução da obra “Lições de Coisas”, já há algum tempo, tem sido alvo de críticas e

curiosidade de alguns pesquisadores da História da Educação que tem se ocupado em discutir o papel

da tradução e seus interesses de acordo com cada sujeito ou grupo social. Nesse sentido, temos as

críticas levantadas por Fernando de Azevedo, na obra, “A cultura Brasileira”, quando tratou do final

do Império e disse que, ao transplantar o mais moderno dos métodos de ensino para a realidade

nacional por meio da tradução da obra “Lições de coisas” e dos Pareceres, Rui não se preocupou em

enfatizar que o Brasil não estava apto a receber esse modelo de educação e pelo fato de “As lições de

coisas” terem sido consideradas muito mais uma questão metodológica, que estava separada dos

fundamentos da educação primária. Nesse mesmo sentido, temos o trabalho de Faria Filho (1999a),

que discute sobre a história da tradução pedagógica no Brasil e, mais especificamente, questiona o

papel de Rui Barbosa como tradutor e as adaptações que fez na tentativa de implantar a reforma geral

da instrução brasileira. Entre outros questionamentos, Faria Filho (1999a) refere que precisamos olhar

para a atuação de Rui como um sujeito social que estava inserido num contexto intelectual e,

sobretudo, político. Ou seja, não podemos dissociar essa nova orientação pedagógica proposta por ele

dos seus interesses, da questão política e das estratégias pensadas e desenvolvidas para comercializar a

obra “Lições de coisas”. Nessa perspectiva, dentre outras finalidades e interesses, não podemos deixar

de registrar que temos que reconhecer também que Rui Barbosa foi herdeiro de uma tradição de

grandes nomes de didatas europeus e que teve uma atuação importante nos projetos de educação da

instrução brasileira.

42 A escrita foi mantida de acordo com a ortografia da época.

119

lógico e, portanto, é abstrato, busca-se começar a instrução primária educando a sensibilidade,

pela qual percebemos cores, formas, sons, luz etc. É essa que prepara e antecipa a intuição

intelectual, quando então percebemos as relações (de igualdade, causalidade etc.) entre as

coisas. Ou seja, rejeitando a educação livresca, a criança deveria aprender a ler o mundo visível,

pela observação e percepção das relações entre os fenômenos (ARANHA, 2006, p.232).

Na sala de aula, era preciso, primeiro, falar dos sentidos antes de aplicar

qualquer lição, porque os alunos apreenderiam o mundo por meio dos sentidos. Para

Ackermam (1992), pelos sentidos se definiam os limites da consciência para formar um

padrão significativo. Seriam eles os canais de apreensão da realidade, porque poderiam

oferecer “[...] milhares de informações ao cérebro, como se fossem microscópicas peças

de um quebra-cabeça” (ACKERMAM, 1992, p. 17).

A autora citada compreende os sentidos como a ação mais espontânea da

inteligência humana em direção à verdade na busca por aprender. O ensino por meio

desse método chamado “Lições de coisas” tem como princípio o aprendizado por meio

da observação do real e da experiência. Sobre essa discussão, Hébrard (2000, p. 116)

acrescenta que aprender através dos sentidos das coisas “[...] é aprender a ler no mundo

visível que nos cerca a evidência das relações que ligam, entre si, os objetos e os

fenômenos”.

Buisson (1911) afirma que não podemos tratar das “Lições de coisas” sem

mencionar as três acepções principais: disponibilizar um objeto concreto aos olhos do

aluno, para que ele adquira uma ideia abstrata da realidade; propiciar ao aluno discernir

as qualidades dos objetos por meio dos cinco sentidos (a chamada educação dos

sentidos), conhecer os objetos e os fatos por meio da natureza e apreender as coisas e

seus nomes, o fenômeno e o termo que o designa. Concordando com Buisson (1911),

Valdemarin (2006, p. 173) enuncia que

[...] as lições de coisas ou o método de ensino intuitivo têm os objetos

como suporte didático e os sentidos como os atributos humanos que

possibilitam a produção de ideias – a princípio concretas e que

ascendem à abstração – e que a educação deve focalizar elementos

presentes no dia-a-dia, próximos à criança, para leva-la à compreensão

das coisas comuns, unindo-se, na mesma definição, proposições sobre

o que ensinar e como ensinar.

De acordo com Valdemarin (2006), embora a expressão “Lições de coisas” seja

usada para indicar o método intuitivo, restringia-se a uma das disciplinas do currículo.

Em consulta ao Parecer do ensino primário, podemos constatar a crítica feita a essa ação

120

compartimentalizada das “Lições de coisas” em uma única disciplina, sem abranger

todo o ensino de forma geral. No Parecer, determinou-se que

a lição de coisas não é um assunto especial no plano de estudos: é um

método de estudo; não se circunscreve a uma secção do programa:

abrange o programa inteiro; não ocupa, na classe, um lugar separado,

como a leitura, a geografia, o cálculo, ou as ciências naturais: é o

processo geral, a que se devem subordinar todas as disciplinas

professadas na instrução elementar (BARBOSA, 1947, p.215).

Nessas discussões, a necessidade de uma renovação pedagógica era preciso e,

para isso, era imprescindível implantar um método de ensino que fosse capaz de efetivá-

la. Nesse período, foi organizada uma “Nova Pedagogia” que visava, sobretudo,

modificar o ensino que até então se baseava na memorização das fórmulas gramaticais,

do catecismo e da tabuada (SOUZA, 2008), e do ponto de vista da Geografia, a

predominância de nomenclaturas apoiadas no método analítico ou expositivo.

Tal debate teve força durante o decênio de 1880 – quando aclamava a pretensão

de adotar um método didático que pudesse ser associado ao processo de renovação

pedagógica que acontecia também na Europa e nos Estados Unidos da América. Nas

últimas décadas do Império, esse debate ganhou força, pois se pensava que os efeitos

dessa renovação metodológica na escola poderiam modernizar nossa sociedade e

estimular as transformações sociais, culturais, econômicas, políticas e educacionais tão

almejadas naquele momento histórico.

Para Valdemarin (2006, p. 90), as prescrições metodológicas para o ensino se

dividiam em lições, exercícios e atividades indicadas pela obra “Lições de coisas”,

configurando-se como um marco significativo da tentativa de se implantar no ensino

brasileiro o método intuitivo.

O discurso político e educacional produzido nessa época estabelece

estreitos vínculos entre as propostas de inovação metodológica e a

difusão do ideário liberal republicano, destacando-se a utilização das

lições de coisas ou método intuitivo como estratégia de intervenção na

sala de aula, lócus específico da instrução e da mudança das práticas

pedagógicas, adequando a escola ao projeto político modernizador.

Como se sabe, no projeto modernizador republicano, a escola foi se moldando,

revestindo-se de um novo discurso, que visava se projetar a partir da crítica do discurso

sobre que se tinha de velho em relação à organização do ensino, às práticas

121

pedagógicas, aos métodos e aos materiais de ensino, que se renovavam (pelo menos nos

debates), em especial, com propostas de inovar as metodologias. Embora essa discussão

acerca dos métodos de ensino tenha sido secundarizada, em decorrência dos vários

problemas de organização pedagógica considerados mais urgentes, está diretamente

associada ao projeto mais amplo de um modelo de organização da escola primária.

Como bem expressa Souza (2011, p.358 e 359),

No final do Século XIX, começaram a circular no Brasil novas ideias

de renovação da instrução primária. O método de ensino intuitivo foi

um dos marcos dessa renovação pedagógica estreitamente vinculado à

noção de desenvolvimento econômico e social.

A concepção de escola primária moderna era um discurso que circulava entre os

defensores dos princípios dessas inovações. Era necessário introduzir novos princípios

que considerassem a natureza do desenvolvimento infantil no processo de ensinar e de

aprender, a importância da observação e dos sentidos e como usar os objetos para

adquirir conhecimentos (SOUZA, 2011). Segundo essa mesma autora, foram as escolas

graduadas que mais bem catalisaram esse projeto de inovações quanto à organização

pedagógica da escola, portanto, um dos símbolos da modernização educacional.

A escola graduada43

é um modelo de organização da escola primária que surgiu

na Europa em meados do Século XIX (SOUZA, 2011). Segundo Frago (2003), a

graduação se apresenta nas várias salas de aula, cada uma com seu professor, um diretor,

séries e classes, o mais homogênea possível, e a organização do currículo graduada por

cursos. Esse mesmo autor acrescenta que devemos observar os aspectos pedagógicos e

arquitetônicos, porquanto são importantes para diferenciar a escola graduada da escola

singular e a organização pedagógica que ela propõe. Frago (2003, p. 77) explica da

seguinte maneira essa questão:

O primeiro {aspecto pedagógico} implicava a classificação dos alunos

em grupos o mais homogêneo possível a fim de facilitar o ensino

simultâneo, a fragmentação do currículo em graus e a especialização

ou divisão do trabalho dos professores. O segundo {aspectos

arquitetônicos} era a construção dos edifícios ad hoc com várias salas

43 Frago (2003), preocupado com algumas confusões frequentes no uso dos termos ‘graduação escolar’ e

‘escola graduada’, esclarece a diferença entres eles: graduação escolar é a segmentação da educação em

níveis primário, secundário e superior. Já escola graduada é um modelo de organização da escola primária

– símbolos da modernização educacional (exemplos: os grupos escolares aqui no Brasil).

122

de aulas e a atribuição a cada professor de uma sala de aula

independente sob supervisão de um diretor.

Pode-se dizer que a escola graduada permitiu que variados elementos da

organização pedagógica, que estavam em período de experimentação no Século XIX,

chegassem a um estágio racional. Segundo Souza (2011, p. 360),

a gramática espacial permitiu a distribuição dos alunos em classes e a

correspondência entre nível de adiantamento e espaço – cada classe

passa a ocupar uma sala de aula. Outro desdobramento importante foi

a divisão do trabalho docente – cada professor tornou-se responsável

por uma classe, isto é, por um grupo supostamente homogêneo de

alunos classificados por nível de adiantamento. Por sua vez, a

segmentação dos programas acompanhou a determinação temporal

regulariza – uniformizou-se a duração de séries ou seções

(inicialmente seis meses e posteriormente um ano) tempo no qual o

agrupamento de alunos deveria apreender as matérias designadas para

a classe e completar o nível apropriado de instrução determinado para

aquela série.

No Brasil, essa padronização e a divisão da organização pedagógica da escola

primária foram marcadas, sobretudo, pela ideia de que o progresso necessário para o

desenvolvimento da nação estava nos investimentos no ensino popular. Por isso, nesse

momento, identificamos a presença de ideias liberais, de modelos de modernização de

outros países reconhecidos como civilizados, que traçam separações quanto às

finalidades do ensino e a grande distinção entre educação para o povo e educação para

elites (SOUZA, 2008).

Nesse sentido, tínhamos as seguintes atribuições:

A escola primária, destinada à maioria da população, deveria difundir

os saberes elementares e os rudimentos das ciências físicas, naturais e

sócias, enquanto a escola secundária, atendendo as elites dirigentes e a

classe média em ascensão permaneceria como a guardiã da cultura

geral de carácter humanista. Dessa maneira, a formação do cidadão

republicano ancorou-se de um lado, nas possibilidades de integração

social pelo cultivo da formação cívico-patriótica, pela afirmação da

nação como projeto político e pela difusão de elementos das ciências,

das técnicas, das letras e das artes; de outro lado, na constituição de

culturas escolares distintas configuradas em diversos tipos de

estabelecimentos de ensino e em modos diferenciados de distribuição

e apropriação do conhecimento e de produção de disposições, de

percepções de mundo e de pessoas (SOUZA, 2008, p.19).

Essas colocações de Souza (2008) denotam que as primeiras décadas

123

republicanas foram um momento de redefinição dos conteúdos e das matérias escolares,

devido aos novos objetivos e às atribuições da educação popular. A vida social se

organizava, a cultura da vida moderna se espalhava, e uma das preocupações era a

necessidade de haver uma profunda transformação nos saberes úteis à educação do

povo. Os intelectuais e renovadores da educação, na tentativa de construir dispositivos

curriculares cada vez mais sistematizados, tentavam ordenar o tempo e as práticas

escolares da escola primária e definir o que e como ensinar ao povo, e os professores,

como sujeitos que mais participavam diretamente desse processo, tiveram que ampliar

seus conhecimentos para ensinar aos alunos.

No Brasil, no final do Século XIX, a partir de uma tendência internacional, esse

movimento chegou entre nós e promoveu modificações na escolarização elementar. Em

outros termos, podemos afirmar que a ampliação e a modernização dos programas

acompanharam a renovação didático-pedagógica, com destaque para a introdução da

Geografia no currículo primário.

Por toda parte, a língua materna, a matemática, as ciências, a história,

a geografia, a educação física, instrução moral e cívica, o desenho e os

trabalhos manuais foram considerados conteúdos válidos para a

instrução popular, adquirindo em cada país conotações peculiares

moldados pela realidade nacional. Esse enorme enriquecimento da

cultura escolar para o povo acarretou inúmeras implicações no que diz

respeito ao funcionamento das escolas e ao campo pedagógico. [...]

Formulações doutrinárias e prescrições metodológicas foram

constituindo uma rede de saberes sobre cada uma das matérias e uma

pedagogia normativa alimentou os cursos de formação de professores,

inspirou a produção de textos e fomentou um mercado editorial de

livros e periódicos educacionais especializados (SOUZA, 2008, p. 20

e 21).

Essas colocações reforçam as inquirições feitas por Bittencourt (2008) sobre a

comercialização do livro didático, que fez das décadas finais do Século XIX um período

em que a produção do livro didático aumentou e se reconheceu que esse produto

cultural é uma fonte de lucro para ampliar a escolarização de crianças e jovens das

classes populares. Assim, houve uma ligação entre os propósitos de uma educação de

um período, a divulgação de um novo padrão cultural e o desenvolvimento da indústria

do livro.

Sobre esse fato, Bittencourt (2008) afirma que, na década de 1880,

predominavam nas escolas brasileiras livros didáticos nacionais, ainda que,

124

prioritariamente, fossem impressos no exterior. Segundo essa pesquisadora, a produção

didática não estava dissociada dos ideais e dos objetivos dos liberais (BITTENCOURT,

2008). Nessa discussão, é preciso registrar que, segundo Hébrad (1990), até o Século

XVIII, predominava, nas escolas elementares, o ensino de leitura, baseado na

reprodução e na memorização das verdades religiosas. Segundo esse autor, como uma

quebra nessa estrutura curricular, temos a mudança cultural, que ocorreu no final do

Século XVIII, quando Jean Baptista de La Salle articulou para as escolas cristãs as

bases da catequese (recitação dos catecismos) com os saberes da língua vernácula

somado ao ensino das quatro operações (HÉBRAD, 1990). Assim, entendemos que a

organização da escola graduada deve ser compreendida nesse longo processo de

transformação da escola primária, marcado por inúmeros fatores de ordem pedagógica,

religiosa, cultural, estrutural e econômica, com destaque para o esforço dos professores

na dura tarefa de melhorar as condições do modo de ensinar.

Os pesquisadores que estudam a organização pedagógica têm sido categóricos

em afirmar que o Século XIX se configurou como um cenário de experimentação e

construção da escola graduada, fundada em uma política de educação popular produzida

no Brasil com base na crença no poder da escola. Para eles, essa é uma instituição capaz

de moralizar, civilizar e instruir o povo (GONDRA e SCHUELER, 2008). Esse

apontamento nos permite fazer alusão ao que Goodson (1990; 2010) fala sobre as

determinantes sociais e políticas que podem orientar a seleção cultural do processo de

construção do currículo.

Dando continuidade a esse debate, a seguir, discutiremos sobre a construção do

currículo da escola primária no Brasil, fazendo inferências a como esse debate sobre a

renovação dos métodos é marcado por uma cultura escolar que se redesenhou a partir do

método intuitivo.

125

3.2.1 A construção do currículo da escola primária no Brasil por meio das “Lições de

coisas” como um método de ensino

A discussão sobre a escolarização popular no período tratado por nós tem

suscitado questionamentos que podem contribuir para o debate sobre a organização

administrativa e didático-pedagógica do ensino primário. Como vimos, no Brasil, o

processo de renovação dos métodos começou a partir de 1880 e definiu como deveria

ser o processo de modernização educacional no país a partir das influências do contexto

internacional. Assim, temos um currículo44

da escola primária marcado expressamente

pela orientação das “Lições de coisas” (SOUZA, 2000).

Foi nesse contexto em que os mais variados temas sobre a organização da escola

tornaram-se objetos de reflexão e discussão político-administrativa e pedagógica. Entre

eles, o a democratização da cultura, a função política da escola, as finalidades dos

conteúdos e os meios de universalização da escola primária. Segundo Souza (2000), os

conteúdos e os métodos de ensino se destacam nos debates sobre a questão política da

educação popular, pois uma boa organização pedagógica da escola primária implicaria,

entre outras questões, “[...] um projeto político social civilizador, direcionado para a

construção da nação, a modernização do país e a moralização do povo” (SOUZA, 2000,

p. 9).

Sobre as reformas feitas na tentativa de definir um currículo para a escola

primária, em linhas gerais, nos anos iniciais da República, foi estabelecido o plano das

finalidades da escola a partir das indicações da Reforma Leôncio de Carvalho (1867-

1886), que, entre outras determinações, deu continuidade às implicações postas pela

Reforma Couto Ferraz (1854-1867)45

, de se manter a obrigatoriedade do ensino

primário para as crianças com idade “[...] dos 7 aos 14 anos (artigos 2º), a assistência do

Estado para os alunos pobres (idem), a organização da escola primária em dois graus

44 É importante mencionar que não tínhamos um currículo único para todo o Brasil, cada Província se

organizava para ofertar o ensino primário. Essa organização pedagógica procurava atender a um

projeto político-social mais amplo e pautado em interesses nacionais.

45 Sobre a Reforma Couto Ferraz, entre outras importantes providências, criou a Inspetoria Geral da

Instrução Primária e Secundária do Município da Corte, órgão que estava ligado ao Ministério do

Império e era destinado a fiscalizar e orientar o ensino público e particular dos níveis primário e

médio na cidade do Rio de Janeiro. Assim, o ensino foi dividido em dois níveis – o elementar e o

superior – a instrução primária gratuita, constitucionalmente prometida a todos.

126

com um currículo semelhante, levemente enriquecido (artigo 4º), e o serviço de

inspeção (artigo 13)”(SAVIANI, 2006, p. 26).

A reforma de Leôncio de Carvalho, embora radical, esteve em vigor

por pouco tempo, mas a discussão sobre a interferência ou não do

Estado continuou acesa. Por exemplo, Rui Barbosa atribuía ao Estado

a obrigação de tomar para si os cuidados com a educação, porque,

entre outras coisas, as escolas particulares se orientavam pelas leis do

mercado. Essas discussões repercutiram de maneira mais efetiva nos

primeiros anos da República (ARANHA, 1996, p.22).

Dentre as determinações determinadas pela Reforma Leôncio de Carvalho

(1867-1886), destacam-se o Decreto nº 7.247, de 19 de abril de 1879 que, de modo

geral, tinha como objetivo reformar o Ensino Primário e o Secundário do Município da

Corte e o Superior em todo o Império. Tal Decreto demarcava, dentre outras questões, o

crescimento do interesse pela instrução pública. Concordando com Faria Filho (1999),

essa questão nos remete à legislação da época, isto é, nos permite ler os Pareceres da

Reforma do Ensino Primário de 1883 como uma forma de imprimir uma prática

ordenadora das relações sociais.

De acordo com esse Decreto, para o ensino primário, foi determinado, ainda, que

a instrução religiosa seria facultativa. Quanto à coeducação, os meninos poderiam ser

matriculados nas escolas femininas. Em todas as escolas de Primeiro Grau do sexo

masculino, haveria cursos noturnos. Além disso, previu um sistema de preparação do

professor primário e definiu normas para o exercício da liberdade de ensinar. Assim,

ficou previsto que, com a duração de dois anos, as escolas do segundo grau dariam

continuidade às disciplinas do primeiro grau e introduziriam, além de outros conteúdos,

noções gerais dos deveres do homem e do cidadão, de lavoura e de horticultura, para a

economia doméstica das meninas, e a prática manual de ofícios, para os meninos.

Quanto aos métodos de ensino, de acordo com o Decreto de 1879, ficou

determinado que as Escolas Normais teriam como prática o ensino intuitivo ou as

chamadas “Lições de coisas”, que também passariam a ser uma prática no ensino

primário de forma geral. Com a adoção do método intuitivo, era preciso reorganizar o

programa da escola primária. De acordo com as ideias predominantes naquele momento

histórico, a ampliação do programa escolar teria como princípio a educação integral:

educação física, intelectual e moral.

127

Essa reorganização da escola primária passava, diretamente, pelos interesses

postos no Parecer do Ensino Primário, que, naquele momento, mesmo sem ter se

tornado lei, influenciou a educação primária da época. No documento supracitado, as

falas iniciais dos organizadores deixam claras as concepções e as propostas de pretensão

de intervenção na estrutura social e na organização de um debate de produção de

práticas socais. A figura seguinte retrata, em linhas gerais, a finalidade do Parecer em

sua página introdutória:

128

Figura 10 – As finalidades do Parecer do Ensino Primário

Fonte: Parecer do Ensino Primário elaborado pela Comissão de Instrução Pública em 1882, composta de

129

Ruy Barbosa, Thomaz do Bomfim e Viana Ulisses Machado, no ano de 1883.

Como podemos observar, as determinações do Parecer foram expressas como

uma forma discursiva de intervir socialmente na produção de práticas e concepções de

escola. Além disso, verificamos que as recomendações propostas para a década de 1880

eram bem evidentes quanto às indicações das leituras individuais e também havia as

recomendações para que fossem substituídas pelo método “Lições de coisas” ou método

intuitivo.

O currículo da escola primária foi se configurando, durante o Século XIX, como

um trabalho de adaptação das ciências naturais e sociais ao nível de habilidades das

crianças. De forma geral, as indicações metodológicas eram as “Lições de coisas”,

porquanto traziam noções elementares para o desenvolvimento das atividades que,

quase sempre, eram trabalhadas por meio de exercícios, desenvolvidos no âmbito da

sala de aula ou nas aulas extraescolares. Sobre a organização do currículo da escola

primária, Valdemarin (2010, p. 143) enfatiza:

O estudo da língua materna é o principal objeto de conhecimento da

escola primária. A criança deve aprender a expressar-se com correção

gramatical e exatidão das palavras auxiliada pela leitura de livros

recomendados. O ensino da gramática não deve centrar-se nas regras

mas no uso correto da linguagem falada e escrita, mesma orientação a

ser considerada no ensino do cálculo. Numa escala de importância,

após a linguagem e o cálculo vem a geografia, não como ciência

particular mas como descrição do mundo, que tem início pela

observação direta da escola e seus arredores, progredindo para as

atividades humanas e não somente para o relevo.

Na citação acima, a Geografia é indicada como a terceira disciplina mais

importante para o currículo do ensino primário. Esse fato pode ser atribuído ao papel

exercido por esse conhecimento naquele momento, especialmente para atender aos

anseios nacionalistas do período, e por essa disciplina propiciar uma aproximação entre

os preceitos teóricos das “Lições de coisas” e da escola com o ambiente infantil,

especialmente nas lições de cartografia, pois, do “[...] esboço cartográfico da própria

sala de aula, pode derivar para a localização da casa, do município e seus limites, do

estado e suas fronteiras, do país e da América do Sul e assim progressivamente”

130

(VALDEMARIN, 2010, p. 157).

Na figura 11, temos a definição que o referido Parecer apresenta sobre como

deveria ficar organizado o ensino primário a partir de categorias e a finalidade da escola

primária:

Figura 11 - Parecer do Ensino Primário: definição e divisão das categorias da educação primária

Fonte: Parecer do Ensino Primário, elaborado pela Comimisão de Instrução Publica em 1882, composta

por Ruy Barbosa, Thomaz do Bomfim e Viana Ulisses Machado, no ano de 1883.

A figura anterior traz a divisão da educação primária segundo as propostas desse

documento quanto às definições da instrução geral do ensino primário. Vejamos as

definições apontadas pelo mesmo documento sobre a organização do currículo da

131

educação primária, na sessão destinada à “Educação Primária Pública e seu Magistério”

do referido Parecer, expressa nas figuras a seguir:

Figura 12a – Parecer do Ensino Primário: definições e organização do currículo da Educação

Primária Elementar

132

Figura 12b – Parecer do Ensino Primário: definições e organização do currículo da Educação

Primária Elementar

133

Figura 12c – Parecer do Ensino Primário: definições e organização do currículo da educação

primária elementar

Fonte: Parecer do Ensino Primário, elaborado pela Comimisão de Instrução Publica em 1882, composta

por Rui Barbosa, Thomaz do Bomfim e Viana Ulisses Machado, no ano de 1883.

Na figura anterior, temos as determinações estabelecidas no referido documento

134

para a escola primária, que consiste, primeiramente, em promover um ensino com base

nos sentidos que fosse capaz de observar, apreciar, enunciar e executar os conteúdos.

Nessas recomendações sobre como deveria ser conduzido o ensino primário, temos as

indicações sobre os métodos de ensino que deveriam ser adotados, portanto,

determinados no axioma I, de que deveria ser excluído o ensino mecânico. Assim, todo

o processo deveria ser conduzido pela prática do método intuitivo, ou seja, a partir do

estudo das coisas e dos sentidos. A prática pedagógica passaria a ser fortemente

influenciada pelas implicações metodológicas do campo da Psicologia, nos

fundamentos dos estudos de Pestalozzi e Fröebel, que organiza o processo de ensino a

partir de uma série de exercícios úteis para a instrução elementar.

Ainda sobre as indicações dispostas nas figuras, vimos que, com a divisão da

escola elementar em primária, média e superior, também foi definido como a Geografia

deveria ser trabalhada na escola. No final desse tópico, retomaremos essa questão.

Nesse período, o Brasil se organizava tendo como referência ideias e modelos gestados

nos países considerados “civilizados”. As formas de organização escolar passaram,

nesse momento, a ser uma necessidade política e pedagógica, com o propósito de

repensar e organizar os métodos de ensino, a mobília escolar, o tempo escolar, os livros

e os manuais didáticos, a arquitetura, a ampliação dos programas de ensino visando

incluir novas disciplinas, matérias escolares, entre outros.

O propósito do Ensino Primário era de “[...] fundar uma nova realidade

educacional no país substituindo a inócua escola de primeiras letras, voltada para o

passado, pela escola primária moderna, com um ensino renovado e um programa

enciclopédico, direcionado para o progresso do país” (SOUZA, 2000, p.12).

Observemos o que diz o Parecer exatamente sobre a reforma do ensino no qual

aponta as “Lições de coisas” como um novo método que abrangerá todo o ensino.

135

Figura 13 – A indicação das “Lições de coisas” como um método de ensino necessário a todas as

disciplinas

Fonte: Parecer do Ensino Primário, elaborado pela Comimisão de Instrução Publica em 1882, composta

por Ruy Barbosa, Thomaz do Bomfim e Viana Ulisses Machado, no ano de 1883.

No referido Parecer do Ensino Primário, as “Lições de coisas” eram um

princípio geral, ou seja, abrangiam todo o Programa de Reforma, diferentemente das

indicações de “Lições de coisas” que, como já dito, no projeto de Reforma de Leôncio

136

de Carvalho, de 1879, aparecem como uma das matérias. De acordo com seus

formuladores, o método “Lições de coisas”, proposto para o Brasil, já havia sido

adotado em outros países há mais de 70 anos, como Alemanha, Suécia, França, Bélgica,

Itália e Estados Unidos, palco de desenvolvimento desse método.

É sobre esse contexto de difusão do método intuitivo que reforçamos nossa

tentativa de cruzar informações de estudos já consagrados entre nós, como é o caso das

“Lições de coisas”, de Valdemarin (2004), com uma das importantes fontes eleitas neste

trabalho, que é a obra “Primeiras lições de coisas”, de Calkins (1883). Vejamos a

definição de método intuitivo que a obra traz:

Figura 14: Página da obra “Lições de coisas”, que traz a definição de método intuitivo

Fonte: Primeiras lições de coisas – Manual de ensino elementar. N. A. Calkins. Traduzido por Rui

Barbosa. Impressa Nacional. Rio de Janeiro, 1886.

137

A figura anterior (figura13) mostra, passo a passo, o método intuitivo para

ensinar leitura e mostra que o ensino deveria ser conduzido pela observação dos objetos.

Para Valdemarin (2004), esse método é considerado como o caminho para educar por

meio dos sentidos, das coisas e das experiências de cada aluno, com lições que

abrangem o conteúdo a ser ensinado e como fazer em cada atividade por meio de

exercícios.

Nossa proposta é de discutir sobre o livro didático como um lugar de produção e

circulação de ideias e indagar sobre o lugar do leitor e o do autor (CERTEAU, 1994),

pois, nesse período, era comum a prática de reproduzir teorias por meio da produção

didática. Trata-se de compreender que os discursos veiculados nesses livros tinham o

objetivo de facilitar o acesso às inovações pretendidas e às práticas de sala de aula e que

as lições e os conteúdos presentes neles fazem parte da seletividade dos elementos e dos

saberes escolares de uma época (VALDEMARIN, 2010). A figura 15 traz as

recomendações que a obra “Lições de coisas” faz para os professores do ensino

primário quanto ao método intuitivo:

138

Figura 15 – Quando a obra “Lições de coisas” traz recomendações sobre a importância do

método intuitivo

Fonte: Primeiras lições de coisas – Manual de ensino elementar. N. A. Calkins. Traduzido por Rui

Barbosa. Impressa Nacional. Rio de Janeiro, 1886.

Ao longo de toda a obra, percebemos a preocupação dos autores com o trabalho

docente. Isso indica que o método intuitivo requer dos professores mais ânimo na

prática educativa, mais dedicação para ser um bom mestre capaz, pela vocação docente,

de trabalhar os princípios da educação integral. Na renovação do ensino proposta pelas

“Lições de coisas”, o corpo e o espírito eram compreendidos como indissociáveis.

139

De acordo com Souza (2000), tais indicações propunham uma nova cultura

escolar que se utilizou de discursos filosóficos e pedagógicos para dar sustentação a

esse projeto de fundo político e social. Ou seja, ensino primário deveria estar voltado

para disseminar os conhecimentos úteis, para formar os trabalhadores e proporcionar

instrução moral e cívica.

Sobre os saberes escolarizados e ensinados no Século XIX, Hébrard (1990)

refere que, além de ler, escrever e contar, escolarizavam-se os saberes sociais aplicados

ao ensino primário, entre eles, economia doméstica, música, canto, higiene, ginástica,

desenho, valores morais e cívicos, noções de horticultura, escrituração mercantil,

sistema de pesos e medidas, o trabalhos manuais, puericultura, entre outros

(HEBRARD, 1990).

No Parecer sobre a reforma do ensino primário, Rui Barbosa propôs

um programa enciclopédico tendo em vista a necessidade de

ampliação da cultura escolar para o povo, isto é, a formação de uma

classe trabalhadora conformada às exigências do desenvolvimento

econômico e social do país. Esse programa compreendia: educação

física, música e canto, desenho, língua materna, rudimentos das

ciências físicas e naturais, matemática e taquimetria, geografia e

cosmografia, história, rudimentos da economia política e cultura moral

e cívica (SOUZA, 2000, p.15).

Essa definição dos conhecimentos nos possibilita fazer duas colocações

importantes: que esse processo de organização das disciplinas estava fortemente

atrelado à metodologia de ensino proposta nos Pareceres e que esse nível de ensino se

constitui em saberes escolarizados, frutos do processo dinâmico de escolarização dos

conteúdos, de uma cultura escolar que é gerada na escola, ou seja, saberes escolares

organizados e produzidos a partir das disciplinas e sua relação com a escola

(CHERVEL, 1990).

Nessa discussão, é importante mencionar que esses saberes foram constituídos

em meio a enfrentamentos, como é comum em qualquer proposta metodológica que se

diz inovadora, pois ainda que se mantenha revestida de concepções antigas, para não

causar um estranhamento, os embates são inevitáveis. No Parecer do Ensino Primário,

são evidentes os embates para que as “Lições de coisas” fossem tomadas como um

método. Para Souza (2000, p. 22),

isso pode ser claramente observado em relação ao ensino da geografia

140

que foi apresentado por Rui como um desdobramento natural da lição

coisas, com ela se confundindo no início da escolarização e no espírito

de seus processos. Convinha, pois, que o ensino iniciasse pelas lições

de lugar, pelo conhecimento do meio mais próximo a escola, o bairro,

o distrito, para depois deter-se na província, no reino, nos outros

países. O método consistia em partir da observação, único recurso

capaz de dar concreticidade aos dados e às definições. Na

possibilidade da observação direta dos fenômenos, as lições deveriam

partir sempre do conhecido para o desconhecido utilizando objetos

familiares aos alunos.

Dito de outra forma, a Geografia seria ensinada a partir dos princípios básicos

das “Lições de coisas”, em que se deve partir da observação para se chegar ao concreto;

do conhecido para o desconhecido; do conhecimento do meio de vivência das crianças

para possíveis associações com o ambiente escolar e vice-versa. Na prática da sala de

aula,

trata-se, no entanto, de conhecer metodicamente os elementos já

familiares, nomeando-os claramente e ampliando-lhes as relações. As

observações provenientes de um passeio podem ter continuidade nas

atividades de desenho, na recapitulação de nomes e de imagens. O uso

de materiais diversificados é indispensável, porque as palavras

desligadas das ilustrações podem levar a falsas concepções sobre

conteúdos objetivos e esses materiais são as bases para a ampliação do

conhecimento (VALDEMARIN, 2010, p. 156).

Ainda em consulta ao Parecer nas páginas destinadas à Geografia, percebemos

que os mesmos procedimentos se aplicavam ao ensino da Astronomia, da Cartografia e

da Cosmografia. A Geografia se referia a todo o universo da natureza que se

descortinava, por isso “[...] era imprescindível estar atento ao método, ao uso de bons

livros e materiais didáticos, tais como planetários, globos terrestres, cartas em revelo,

cartas planas e cartas escolares parietais” (SOUZA, 2000, p. 22).

Acerca das indagações supracitadas, essa discussão nos permite questionar se e

como o método intuitivo pode ter influenciado a proposta de ensino de uma Geografia

moderna, ou seja, como a indicação metodológica desse método pode ter mostrado aos

professores novas maneiras de trabalhar a Geografia escolar, por meio de imagens,

mapas, projeções, exercícios, atividades práticas, aulas de campo, dentre outras. Essas e

outras questões nos ajudarão a pensar na Geografia escolar e em suas formas de

desenvolvimento no ensino primário e, sobretudo, de que maneira esse debate alcança

ou não as produções didáticas do período destinadas à educação primária.

141

Em nossas investigações, não interpretamos esse momento da Geografia escolar

como uma ruptura, mas como um arranjo desenhado por elementos novos e elementos

antigos, uma combinação necessária na busca por um lugar teórico produzido por

aqueles que compõem novos arranjos. Sobre essa discussão, Le Goff (2013) traz

considerações relevantes que nos ajudaram a compreender bem mais as relações entre

antigo e moderno, num movimento complexo das relações, pois,

[...] em primeiro lugar, porque cada um dos termos e conceitos

correspondentes nem sempre se opuseram um ao outro: “antigo” pode

ser substituído por “tradicional”, e moderno, por “recente” ou “novo”.

Em segundo lugar, porque qualquer um dos dois pode ser

acompanhado de conotações laudatórias, pejorativas ou neutras. (LE

GOFF, 2013, p.161-162).

Os apontamentos da citação podem ser associados ao movimento ocorrido na

Geografia, no processo de renovação dos métodos, em que os exercícios aparecem

como uma expressão deles, para tornar essa disciplina escolar mais moderna e mais

prática. Essa questão tem centralidade em nossas discussões e será detalhada no

transcorrer de nossa escrita, pois esse momento nos permitirá tecer considerações acerca

de questões como: o moderno, o novo e as inovações propostas para o ensino da

Geografia escolar na época e sua expressão nas produções didáticas.

No próximo capítulo, que fecha a segunda parte desta tese, traremos

considerações sobre a organização dos saberes geográficos nos livros didáticos,

especificamente, sobre os aspectos gerais que delinearam as finalidades da disciplina

Geografia para o ensino primário no período em questão.

142

CAPÍTULO IV: GEOGRAFIA E CULTURA ESCOLAR: A ORGANIZAÇÃO DOS

SABERES GEOGRÁFICOS NOS LIVROS DIDÁTICOS DESTINADOS AO

ENSINO PRIMÁRIO

Neste capítulo, trazemos uma discussão sobre os livros didáticos e seu processo

de produção e pensamos em sua relação com o mercado escolar, de acordo com os

interesses e as finalidades sociais e educacionais, porque as produções didáticas são

produzidas em um contexto que leva em consideração as condições de produção, a

comercialização e a circulação das obras em cada tempo histórico.

Também tratamos da presença dos saberes geográficos nos livros didáticos

destinados ao ensino primário, como foram se organizando e suas principais finalidades

na escola primária.

4.1. Livro didático de Geografia: traços da produção, da comercialização e da

circulação

Nosso olhar sobre o livro didático como fonte ou objeto de estudo considera

“[...] a multiplicidade dos agentes envolvidos em cada uma das etapas que marca a vida

de um livro escolar, desde sua concepção pelo autor, até seu descarte pelo professor”

(CHOPPIN, 2004, p.556) e que os elementos estratégicos de concepção, produção,

comercialização e circulação do livro didático são marcados pela influência direta dos

editores e do poder institucional.

Sobre a presença dos livros didáticos no Brasil, no período pesquisado,

constatamos que “[...] houve um aumento da circulação de material educacional

impresso (cartilhas, livros e periódicos especializados em educação) (VEIGA, 2007, p.

169)”. Nesse sentido, entendemos que o uso do material impresso assume um

importante papel no processo de ensino desde o início da escola moderna. Contudo, no

Brasil, a arte da impressão é de cunho relativamente tardio (TAMBARA, 2002). Com a

chegada da Família Real, o príncipe Regente Dom João trouxe, além da Biblioteca Real,

uma ordem para se instalar a Impressão Régia, que ocorreu em 1808, encarregada de

auxiliar na produção de materiais direcionados à educação pública e de tornar públicos

os documentos oficiais do Reino. A esse respeito, Ferreira (2011, p. 29) faz a seguinte

143

afirmação:

Revogada a proibição de imprimir, multiplicaram-se nas Províncias os

pequenos jornais e teve início também, a edição nacional de livros. Os

primeiros investidores do setor tinham como estratégia comercial

produzir de tudo um pouco: jornais, livros, revistas, almanaques,

cartazes, folhinhas e cartas de baralho. No entanto, importar os livros

de uso escolar portugueses era mais rápido, fácil e barato, o que

justifica o porquê de a escola brasileira, nesse período, ter uma reserva

de livros vindos de Portugal.

A última questão posta na citação justifica o motivo de a escola brasileira, nesse

período, ainda ter uma reserva de livros de origem portuguesa. Pelos mesmos motivos

citados, também não se pode negar que da França tanto vinham livros publicados em

francês, quanto livros brasileiros que foram enviados para publicação. Sobre essa

questão, ressaltamos que a indústria nacional ainda dava os primeiros passos e

enfrentava dificuldades para importar e fabricar papel, que era bem incipiente, os

equipamentos gráficos adequados praticamente não existiam, e a distribuição dos livros

dependia de um número muito reduzido de livrarias. Esse período foi marcado pela

atuação de livreiros-editores, portanto, não havia uma indústria editorial consolidada

(HALLEWELL, 2005).

Como já afirmamos no primeiro capítulo, ao longo do Século XIX, houve um

aumento da produção didática, porém esse não pode ser definido como um momento de

ampliação do acesso aos livros didáticos pelos alunos, porque, apesar da ampliação do

acesso ao ensino, esse livro ainda se configurava como um objeto para poucos devido

ao seu preço elevado (BITTENCOURT, 2008).

Assim, sobre o processo de impressão de livros didáticos no Brasil, a primeira

condição evidenciada diz respeito à precariedade das condições de impressão, o que

favorecia, direta ou indiretamente, o mercado estrangeiro. Por falta de papel, de

tecnologia ou de outros recursos, esses livros eram publicados por editoras estrangeiras.

Devido a isso, Hallewell (2005) chama à atenção para as editoras, como a Livraria

Francisco Alves, que estabelecia uma relação comercial efetiva de impressão de suas

obras no exterior.

Sobre a circulação de livros didáticos de Geografia, Silva (2012) nos leva a

afirmar que a pequena circulação e adoção dessas obras podem estar atreladas a outros

elementos. O primeiro é que, em momentos de reorientação do ensino, surgiam novas

144

propostas e, talvez, não se encontrassem no mercado livros brasileiros de Geografia que

se adequassem às novas exigências para o ensino de Geografia. A segunda hipótese é de

que “[...] as pequenas tiragens e o largo tempo para consumi-las, o que levava à

desatualização, ou mesmo à não reedição” (2012, p. 89).

Ressalte-se, no entanto, que o mercado de obras didáticas estrangeiras enxergou

um negócio propício à comercialização de livros didáticos no Brasil. Por isso

encontramos facilmente obras adaptadas ao contexto nacional entre os livros que

circulavam nesse período (ALBUQUERQUE, 2010). Assim, no Brasil, a indústria de

livros, mesmo incipiente, estabelece relações estreitas com o Estado, que apoia tais

indústrias e legisla sobre esse artefato cultural. A respeito da relação entre esses dois

sujeitos e o livro como “consumo cultural”46,

Bittencourt (2008, p. 63) explica:

As editoras, ao conquistarem o direito de fabricar e divulgar o livro

didático, cuidaram de transformá-lo em uma mercadoria inserida na

lógica capitalista. Para captar esse processo, buscamos seguir a

trajetória das principais editoras das obras didáticas acompanhando a

transformação do objeto cultural em bem de consumo em um produto

da indústria cultural destinado a ser consumido em larga escala e que

editores e autores têm interesse em comercializar, e como as demais

mercadorias que circulam no mercado passou a produzir lucro para as

empresas que se organizavam a partir do Século XIX. Para efetivar a

transformação de um material didático em produto de maior consumo

e simbólico da cultura escolar editores aproximaram-se do Estado,

engendrando atuações conjuntas em suas formas de circulação.

Estabeleceram-se entre ambos tramas, por intermédio das quais o livro

didático disseminou-se no quotidiano escolar, transformando-se no

principal instrumento do professor na transmissão do saber.

Com isso, compreende-se que a presença das editoras e, consequentemente, a

produção de livros, implica uma produção de obras didáticas atreladas à organização do

Estado, como também, aos interesses de construção dos saberes escolares.

Nas análises que já foram feitas sobre essas questões, também se pode observar

que os elementos mercadológicos de comercialização e divulgação dos livros didáticos

eram propagados em diferentes impressos, em muitas circunstâncias, nos próprios livros

didáticos. A estratégia de venda das editoras consistia em tentar, por meio dos

46

O termo ‘consumo cultural’ é empregado nesta tese, com base na definição de Certeau (1980, p.11),

como [...] uma produção racionalizada, expansionista, tanto quanto centralizada, estrondosa e espetacular,

corresponde outra produção qualificada como ‘consumo’. Ela é ardilosa, encontra-se dispersa, mas se

insinua por toda parte, silenciosa e quase invisível, uma vez que não assinala sua presença com produtos

próprios, mas com maneiras de utilizar os produtos impostos por uma ordem econômica dominante.

145

exemplares mais vendidos e de mais circulação, difundir tais artefatos culturais junto

com os professores. Outro fato observado e que nos interessa diz respeito à solicitação

desses materiais por professores por meio de ofícios enviados aos inspetores ou

diretores de instrução das Províncias. Nessas solicitações, eram pedidos livros didáticos

dos diversos conteúdos das disciplinas escolares e outras literaturas que pudessem

orientar suas práticas.

O aumento da produção, da circulação e do consumo de livros didáticos, no final

do Século XIX, ocorreu paralelamente à ampliação da produção de uma literatura

especializada destinada à formação de professores. Não podemos nos esquecer dos

debates acerca das inovações metodológicas que já apontamos no capítulo anterior e da

necessidade de transformar as práticas desse sujeito na escola. Sobre o estímulo ao

consumo do livro didático por parte das editoras, Bittencourt (2008, p. 176) relata:

As editoras, no final do Século XIX, incentivavam os professores a

comprar “livros úteis” para o aperfeiçoamento profissional deles,

oferecendo uma bibliografia mais variada, composta por livros

didáticos e uma literatura pedagógica especializada. Nas últimas

décadas do Século, iniciou-se um movimento por parte dos próprios

professores na difusão de obras especializadas e de caráter didático.

Essa forma de iniciativa ocorreu perante incipientes associações de

professores criadas para promoção de melhorias das condições de

trabalho e que incorporaram as questões de aperfeiçoamento docente,

responsabilizando-se algumas delas pela publicação de revistas

pedagógicas e criação de bibliotecas (BITTENCOURT, 2008, p.176).

Como se pode observar na citação, o final do Século XIX foi marcado, entre

outros grandes acontecimentos no campo educacional, por movimentações de

professores que se reuniam para lutar pela melhoria da classe e por um apoio didático-

pedagógico. Incluíam-se aí, livros que tratassem do aperfeiçoamento profissional. Ainda

nesse período, em janeiro de 1883, foi realizado o Congresso da Instrução do Rio de

Janeiro, quando vários documentos foram apresentados, e os professores tiveram a

oportunidade de avaliar e de reconhecer a importância do livro no processo de

escolarização.

As capas e as páginas iniciais e as finais dos livros didáticos passaram a servir de

suporte para todo tipo de propaganda necessária para divulgar a própria obra e de outras

editadas pela mesma editora, mesmo sendo de outros autores. Assim, nas capas, vinham

impressas chamadas referentes a aprovações por instituições públicas; a inovações

146

metodológicas ou de conteúdos; a título de outras obras da mesma ou de disciplinas

diferentes; à introdução de iconografias, mapas e imagens, entre outros elementos que

pudessem chamar à atenção do comprador da obra.

A divulgação, que visava promover e dar credibilidade às publicações didáticas,

era feita com o objetivo de mostrar a relação das produções didáticas com o poder

institucional e com o currículo oficial da época. Por isso é comum encontrar, na capa, na

contracapa ou nas páginas iniciais dessas obras informações indicando que ela foi

elaborada de acordo com os programas oficiais do período; que foi indicada por

estabelecimentos de renome, como o Colégio Pedro II, e lembretes de aprovação pelos

Conselhos de Instrução Pública (superior ou em nível provincial).

Como exemplos, encontramos as obras de Pereira (1884) e de Lacerda (1913),

que apresentam um leque de informações a serem discutidas, seja pelo víeis da

materialidade ou em uma perspectiva de análise dos conteúdos. Nas figuras seguintes,

visualizam-se, nas páginas iniciais, a publicação, na íntegra, do parecer de aprovação da

obra de Jerônimo Sodré Pereira (1884) com muitos elogios à obra e ao autor.

147

Figura 16a - Parecer do Conselho Superior da Instrução publicado nas páginas inicias da obra

148

Figura 16b - Parecer do Conselho Superior da Instrução publicado nas páginas inicias da obra

149

Figura 16c - Parecer do Conselho Superior da Instrução publicado nas páginas inicias da obra

Fonte: PEREIRA, Jerônimo Sodré. Compêndio de Geographia elementar: especialmente do Brazil.

Bahia:1884. Acervo: Biblioteca Paulo Bourroul, FEUSP.

Sobre esse Parecer, o Conselho Superior da Instrução Pública, representado pelo

150

relator, Dr. Francisco Rodrigues da Silva, faz uma advertência sutil sobre a expansão

dos conteúdos que abordassem os sentimentos nacionalistas, já que era uma das

exigências para o ensino como um todo, em especial, para o de Geografia. Porém, tal

Conselho considera que a obra em tela apresentou indicações suficientes no que se

refere às questões do amor à nação e às questões religiosas, por isso aprova a obra e

recomenda que seja utilizada nas escolas primárias.

Outra forma de usar a capa do livro didático como suporte de propaganda era a

difusão das inovações iconográficas presente naquela obra. Isso se pode observar na

figura 17, a seguir:

Figura 17: Detalhes das inovações dos elementos de caráter icnográfico elencados na capa do livro

Fonte: LACERDA, Joaquim Maria de. Pequena Geografia da Infância, 1913. Acervo: LIVRES -

Biblioteca do Livro Didático – FEUSP.

Nesse caso, esses destaques são dados de acordo com o destino das disciplinas.

No caso dos livros de Geografia, era comum as obras evidenciarem os aspectos acima

151

elencados. Em outros livros da mesma disciplina, encontramos indicações semelhantes

a essas, quase sempre destacando os lindos mapas coloridos (em alguns casos em

anexo) e as belas figuras e as cartas coloridas.

Outra evidência desse uso da capa é a inserção do termo novo ou novíssimo em

destaque. Os editores usavam essa estratégia como uma das formas de dizer que a obra

apresentava um caráter inovador. Esses termos podem ser observados nos títulos ou

subtítulos de obras como: Breves noções de Geographia e corographia do Brazil –

Formuladas de acordo com o novo programma de exames geraes de preparatórios, por

Joaquim José de Carvalho, 1883; o Novo Manual de Geographia: para uso das escolas

primarias – curso elementar, por FTD, 1907; Pontos de Geographia – De acordo com a

última Reforma em Minas e o Novo Programma Official, por Carlos Góes, 1918, e do

Novo Atlas universal, por André Perez Y. Marin, 188447

.

De acordo com Bittencourt (2008), o livro didático é um gênero que

constantemente se desatualiza em decorrência do movimento das propostas de

inovações pedagógicas, da abordagem dos conteúdos e das legislações educacionais.

Isso implica diretamente uma constante renovação na produção e comercialização dos

modelos, tipos e formatos desse objeto cultural. O uso desses termos tem se configurado

como mais uma das táticas usadas na comercialização dos livros, que apresentavam ao

leitor, textos “[...] aparentemente inovadores, mas que, na realidade, são meras

repetições dos mesmos livros” (BITTENCOURT, 2008, p. 83).

Essa questão apontada por Bittencourt (2008) aparece em nossas análises de

forma bem evidente, nas observações estabelecidas entre as estratégias de

comercialização e a discussão sobre inovação metodológica. Nos livros didáticos que

lemos, são notáveis os novos “arranjos” que os textos recebem em relação aos métodos,

quando, por exemplo, anunciam perspectivas inovadoras e, no corpo do texto, prevalece

o método de perguntas e respostas.

47

Todas essas obras aqui mencionadas fazem parte das catalogadas no Apêndice I.

152

Outra estratégia de comercialização utilizada pelo mercado editorial era a

divulgação de diversas obras didáticas ou de caráter metodológico nas páginas ou nas

capas finais. Nesse caso, o próprio livro exercia a função de divulgar outras obras do

mesmo autor e/ou de outros autores da mesma editora. Divulgavam-se informações a

respeito do preço das obras e os nomes dos jornais que divulgavam as publicações da

referida livraria/editora. Essa forma de divulgar era mais comum em editoras ou

livrarias de renome no mercado livreiro, como a B. L. Garnier e a Francisco Alves.

Como se pode observar Na figura seguinte, aparecem as obras, os valores e seu destino:

153

Figura 18: Exemplo do anúncio de livros didáticos na Livraria Francisco Alves

Fonte: NOVAES, Carlos. Chorographia do Brazil. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves – Paulo de

Azevedo & Cia., em 1923. Acervo pessoal da autora

154

Outra questão que diz respeito ao tema aqui tratado é a relação entre a

distribuição dos livros, as distâncias e a falta de comunicação entre as várias regiões

brasileiras no período da pesquisa. Por causa desse problema, as principais editoras do

Brasil estabeleceram o controle da produção e da distribuição instalando as próprias

livrarias. Nesses casos, seus donos eram conhecidos como livreiros-editores, uma vez

que exerciam a função de produzir e de difundir os livros e vendê-los ou seja,

desempenhavam o papel intermediário entre o autor e o público.

Na fase inicial das edições brasileiras, a circulação dos livros didáticos de

Geografia era restrita a alguns grupos sociais, a poucas instituições, a alguns

professores, a poucos leitores curiosos e a sócios de instituições, como o IHGB, ou de

províncias, a Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, os clubes de literatura e o

Gabinete Português de Leitura, entre outros. As poucas livrarias existentes no país

também faziam circular parte dessas publicações, mas outra parte era mesmo

comercializada pelos próprios autores, que as vendiam com assinatura em cada livro,

para evitar o comércio de cópias piratas (ALBUQUEQUE, 2008). No entanto, com a

entrada das grandes editoras foi que esse processo se ampliou.

A esse respeito, destacamos o papel exercido pelos jornais e pelas revistas na função

de divulgar os livros didáticos da época. Nesse período, era comum circularem

informações sobre eles via tais meios de comunicação, que, durante muito tempo,

incumbiram-se de cumprir esse papel. Para além dos próprios livros, os autores e os

editores divulgavam em jornais e em revistas suas obras didáticas, apresentando notas

que traziam em destaque as inovações sobre os métodos ou concepções pedagógicas que

ajudavam a comercializar seus produtos (BITTENCOURT, 2008).

Essa estratégia de divulgação era uma forma que as editoras usavam para

investir. Elas também recorriam à divulgação dos nomes dos seus autores, em especial,

os que tinham mais influência social. Essa estratégia também se apoiava no papel que os

jornais exerciam na sociedade e em sua ampla circulação na sociedade letrada. Essa era

uma forma de divulgar bem mais seus produtos e de ampliar as vendas e a indicação

para o uso nas escolas. Com o tempo, essas estratégias ficaram mais especializadas e

destinadas a um público mais específico e mais interessado nesse tipo de obra.

Sobre essa questão, Bittencourt (2008) enfatiza a atuação da Revista Pedagógica

publicada pela livraria Francisco Alves, que divulgava listas de livros que estariam à

155

venda em suas livrarias. Essa prática adotada pela revista promovia uma crescente

aprovação e adoção das obras dessa editora pelas escolas. Bittencourt (2008) chama à

atenção para as relações existentes entre a revista e a produção de livros didáticos e

entre eles e a Livraria Francisco Alves. A mesma revista tinha como diretor e secretário

autores de livros didáticos, como Menezes Vieira e Felisberto R. P. de Carvalho, que

também eram contratados pela mesma editora. Além dessas questões relativas à

divulgação dos livros, havia, nesse processo, uma rede de relações que perpassavam os

interesses econômicos das editoras, ou seja, uma intrínseca e forte relação entre a

indústria cultural do mercado de livros e a atuação e a intervenção do Estado.

Ainda com o olhar atento aos destaques das capas dos livros que analisamos,

duas questões se destacam: a primeira diz respeito ao número de publicações de

Geografia em poucas editoras, e a segunda, à de informações, como a identificação do

nível de ensino a que se destinava a obra. A falta dos níveis de ensino pode estar

relacionada à falta de um sistema nacional de educação e de uma organização escolar

seriada, pois, como se sabe, só na década de 1930, com Getúlio Vargas, foi que se

começa a pensar na organização dos sistemas de ensino. Outra possibilidade que

encontramos como suposta resposta pode ser justificada pelo mercado, ou seja, a falta

de níveis de ensino na capa dos livros poderia ampliar o leque de pessoas que

comprariam as obras já que, em princípio, serviria para todas as séries do primário.

Fazendo um levantamento das editoras a partir do Apêndice (1), constatamos

que, do total de obras catalogadas (229), a Editora Francisco Alves48

se destaca, com 52

obras, seguida pela Editora B. L. Garnier49

, com 11 publicações.

Um fato que nos chamou à atenção, quando observávamos as editoras que mais

apareciam nos livros, foi o de que, nas leituras que fizemos da bibliografia de livros

didáticos, quase sempre encontramos relatos de grande atuação da Editora B. L. Garnier

nesse mercado. No entanto, em nossa pesquisa particular sobre nível primário, não

verificamos um registro de grande atuação dessa editora, como é comum em outros

trabalhos que se ocuparam de estudar a participação das editoras no mercado de livros.

48 Em nossas pesquisas, verificamos que, em muitos livros, essa editora aparece também como Livraria

Clássica de Alves e Cia. Supostamente, isso se deve ao seu crescimento no mercado e a sua parceria

com outras editoras.

49 Tal editora era também conhecida como “Os irmãos Garnier”, um dos principais grupos de livreiros e

editores do final do Século XIX no Brasil.

156

Diante do exposto, fazemos os seguintes questionamentos: Por que a Editora B. L.

Garnier pouco produziu para o ensino primário? Seria seu foco outro nível de ensino?

Ou porque, no universo de obras que catalogamos, não foram contempladas as

produções dessa editora? 50

Considerando esses delineamentos em torno “dos braços da produção” do livro

didático, sobretudo no que concerne às condições de produção, comercialização e

circulação das obras no período estudado, entendemos que, de modo geral, tais relações

foram apresentadas, entretanto não estão circunscritas a essas condições. Por isso, no

próximo tópico, discutiremos sobre outras questões relativas ao livro didático, partindo

do pressuposto de que as produções didáticas estavam sujeitas às influências das

concepções pedagógicas dispostas para o ensino primário. Então, podemos dizer que, no

caso dos livros de Geografia, a organização dos seus saberes perpassava diretamente as

concepções da Geografia do ensino primário, suas finalidades e as estratégias

metodológicas propostas para escola primária na época.

A seguir, apresentamos algumas considerações sobre a disciplina escolar e sua

relação com as produções didáticas no período pesquisado.

50 Esses questionamentos podem nos ajudar a pensar melhor no papel das editoras, porém, neste texto,

não foi possível respondê-las, mas ficam as indagações, que podem gestar mais pesquisas ou

complementar outras em andamento.

157

4.2. O ensino primário e as produções didáticas no Brasil no final do Século XIX e

início do Século XX: um enfoque sobre a disciplina escolar Geografia

Historicamente, os livros didáticos aparecem no centro de ações pedagógicas,

pois, desde suas primeiras impressões, podem ser definidos como textos que são

produzidos e impressos visando ao mercado escolar (MUNAKATA, 2001; BATISTA,

1999), mesmo quando não era bem estruturado e organizado, como ocorre nos dias

atuais.

Como temos anunciado em nossa tese, as produções didáticas não estavam nem

estão dissociadas de seu contexto. Sua elaboração, como nos afirmava Choppin (2004),

passa por diversas mãos. De acordo com Munakata (1997), o processo de produção do

livro é carregado de interesses e finalidades de um discurso educacional e social, que

está atrelado às indicações de fabricação e de comercialização, conforme já discutimos.

Sobre o período que estudamos, mais especificamente na Primeira República,

Bittencourt (2008) reforça que, mesmo com a organização da escola seriada e com os

grupos escolares, os discursos das autoridades ainda discorriam sobre a necessidade de

definir as atribuições para o grau elementar do ensino primário.

A instrução fundamentava-se nas ciências e caberia ao mestre difundi-

las. As ciências serviriam para capacitar o homem para uma sólida

organização da vida social, do trabalho “harmônico”, elevando a

inteligência dos indivíduos, mas eram impotentes para preencher os

ensinamentos morais necessários para atingir a grande “missão da

humanidade”. O progresso moral deveria se articular ao progresso

material e político, porque o espírito da civilização moderna era

eminentemente liberal e religioso (BITTENCOURT, 2008, p. 34).

No referido período, o Estado estava presente na organização do sistema

elementar de instrução pública, para garantir a uniformidade e a harmonia entre os

interesses daqueles que claramente regiam a rede pública de ensino, entre eles, os

legisladores, a Igreja e os discursos dos educadores.

O advento da República foi um momento propício para se discutir sobre as

mudanças e a permanência de um regime para outro, a partir do discurso do novo e do

158

moderno. Na República, as lideranças econômicas e políticas colocam a questão da

alfabetização do povo como uma condição para a participação popular nas práticas da

vida política do Brasil (SOUZA, 2008).

Os grupos dirigentes, cientes dos conflitos e dos descompassos na oferta da

instrução primária, eram unânimes em afirmar que “[...] a escola primária seria um

instrumento de moralização do povo” (BITTENCOURT, 2008, p.36). Essa concepção

de educação permeou as reformas para o ensino da época, porquanto uma parte dos

intelectuais que defendia esse projeto para o Brasil, ciente do poder da escola, queria

levar a instrução para a toda sociedade. Por isso, o critério da gratuidade passou a fazer

parte do discurso de uma parte das elites dirigentes da nação.

No Brasil, como já referimos neste trabalho, as discussões sobre a renovação do

ensino primário intensificaram-se nas décadas finais do Século XIX e imprimiram uma

concepção de educação que [...] encarnava o sentido de uma conformação completa do

indivíduo: intelecto, corpo e alma. Esperava-se, dessa maneira, forjar paras crianças um

novo ser social e adaptar o cidadão a uma nova sociedade (SOUZA, 2008, p. 34).

Aos sistemas nacionais de ensino incorporou-se uma cultura escolar que

produzia diversas implicações e conflitos no que diz respeito ao campo pedagógico e à

organização da escola. Para Souza (2008, p. 21), os “dispositivos curriculares cada vez

mais sistematizados buscaram ordenar o tempo e as práticas escolares, determinando o

que e como ensinar, e os professores tiveram que ampliar seus conhecimentos para

poder ensinar aos alunos”.

Esse contexto de mudança evidencia, dentre outras questões, a construção de um

projeto de sociedade moderna, do qual a escola elementar passou a ter prioridade. Por

essa razão, o que ensinar ao povo e como ensinar era uma preocupação e uma das

pautas principais de parte dos debates políticos. Como nos adverte Hobsbawn (2013),

era importante para nossa sociedade não só garantir o sucesso das ciências dos homens

cultos do período, mas também, sobretudo, assegurar que todas as atividades e modelos

culturais fossem subordinados a esses saberes.

A crença no poder da escola tornou-se a preocupação central do projeto

educacional republicano da sociedade brasileira. Então, caberia à escola primária ofertar

os valores e os saberes necessários às novas gerações. Em síntese, pode-se dizer que a

159

ampliação e a modernização das propostas de ensino perseguiram as indicações da

renovação didático-pedagógica e administrativa da escola primária. No regime

republicano, registrou-se uma expansão gradativa e continuada desse nível de

escolaridade, que atingiu vários estados brasileiros e continuou, ainda que de modo

mais moderado, até meados do Século XX (SOUZA, 2011).

De modo geral, segundo Souza (2000), deveria prevalecer, nas escolas primárias,

um sistema de ensino baseado em quatro elementos fundamentais: a avaliação, a

graduação em séries, os níveis de ensino e a disciplina dos alunos. Assim, recomendava-

se que, para executar o ensino simultâneo, era necessário expor os conteúdos e aplicar

os exercícios em silêncio, distribuir os alunos em classes e mantê-los em silêncio para

fazerem as tarefas.

Essa nova configuração proposta pelas modificações advindas da República nos

leva a refletir acerca das características gerais do funcionamento administrativo e

pedagógico das escolas primárias. Sobre isso, chamamos à atenção para o que nos diz

Souza (2008, p. 42):

Da perspectiva administrativa, ampliava as funções burocráticas,

exigindo um diretor responsável pela fiscalização das atividades

escolares, pelo controle dos professores e pela manutenção da ordem e

disciplina dos alunos. E, ainda, outros funcionamentos de apoio

administrativo como secretários, serventes e porteiros. Da perspectiva

pedagógica, ele implicou uma ordenação mais sistemática e regulada

do currículo com a distribuição dos conteúdos por séries, exigiu

mecanismos mais rígidos de avaliação dos alunos para a classificação

em classes e dispositivos minuciosos de controle do tempo (calendário

letivo e jornada escolar).

Esse modelo ideal de escola pública primária foi um desafio para as diferentes

realidades em que as escolas funcionavam, pois, em quase todos os aspectos, eram

comparadas suas condições materiais e pedagógicas, ancoradas em representações

contrastantes entre a superioridade dos grupos escolares e a simplicidade das escolas

isoladas.

As normas dos órgãos administrativos do ensino primário prescreviam os

aspectos de funcionamento da vida escolar, com regulamentos, pareceres e instruções de

funcionamento dessas instituições educativas. Dentre as exigências, destacamos as que

são relevantes para ampliar nossa discussão, ou seja, o controle sobre o exercício do

160

Magistério, expresso nas dificuldades dos professores quando da seleção dos materiais

didáticos e das estratégias na utilização dos métodos de ensino.

O livro didático se configurava como um recurso do ensino erudito, tanto por

preceder o currículo escolar quanto pela pequena expansão dos meios de comunicação.

Era usado sistematicamente por um grande número de professores, cuja ação tem lugar

de destaque na educação primária, pois, estrategicamente, a dinâmica da organização

pedagógica, marcada pela ação do professor, modifica a história da escola primária.

Em nossa investigação sobre os livros didáticos destinados à disciplina

Geografia, vimos que, em cada lição, ensinavam-se os passos que deveriam ser seguidos

pelos professores, o momento de suas falas e as dos alunos, a hora de recitar a lição,

tanto juntos quanto individualmente, e a resposta certa de cor em destaque. Assim, o

livro didático não só tinha a função de difundir conteúdos, mas também de ser

instrumentalizador do aprendizado do professor, para trabalhar com conteúdos e com os

métodos de ensino em sua prática docente.

Durante muito tempo, a produção do livro didático foi direcionada,

prioritariamente, para atender às necessidades dos professores (BITTENCOURT, 1993),

como suporte para assegurar o domínio dos conteúdos básicos de uma disciplina e,

sobretudo, para garantir a difusão de ideologias, de visões de mundo, entre outros. O

livro didático era usado por meio da ação do professor, porque, com o livro em mãos,

ele recitava ditados, estabelecia os tipos de exercício, selecionava conteúdos para

provas, estabelecia o que era certo e errado, e os alunos, seguindo suas determinações,

“copiavam trechos ou ouviam preleções” (BITTENCOURT, 1993, p.25). Porém, no

decorrer do Século XIX, as obras didáticas passaram a ser objeto de aprendizado de

crianças e adolescentes (BITTENCOURT, 2008), e apesar de, com o passar do tempo, o

aluno ter se tornado o destinatário privilegiado do livro didático, Bittencourt (1993)

assevera que, no Século XIX, ainda era comum os livros didáticos serem destinados

prioritariamente aos professores.

Essa destinação carrega orientações para os professores estabelecidas pelo livro

didático. No período pesquisado, também formam publicados manuais didáticos que

visavam à formação do professor primário. Esses livros passaram a nos interessar

porquanto difundiam os debates sobre metodologia de ensino para a escola primária e

nos ajudavam a compreender as metodologias e as contradições apresentadas quando do

161

emprego delas no ensino primário, em especial, no de Geografia.

Vejamos o trecho retirado de um manual didático do professor primário de

Theobaldo Miranda Santos:

Personalidade do professor primário: - focalizada a personalidade do

professor como figura central da atividade educativa, dois problemas

para logo se levantam: - quais as qualidades que o mesmo deve

possuir para o exercício perfeito da sua função? – qual o critério para

determinação dessas qualidades? Esses problemas foram estudados,

minuciosamente, por Schneider que assinalou três métodos para a

seleção das qualidades que um mestre modelar deve possuir: o método

histórico, o método dedutivo e o método indutivo (199-?, p. 13).

Nesse manual, está descrito, passo a passo, como deve se portar um professor da

escola primária para atender às finalidades e às exigências do ensino primário da época.

Além de descrever a personalidade do professor, o autor se ocupa de definir os objetivos

da escola primária e os métodos de ensino, ou seja, tem-se o foco para a orientação

metodológica do professor primário, em especial, quando assevera:

Os métodos de nada valem sem o espírito do educador para animá-los,

vivificá-los e fazê-los frutificar. E o valor e a eficácia de um método

pedagógico dependem, principalmente, da personalidade do professor,

que representa o fator fundamental de tôda ação educativa (SANTOS,

199-?, p. 13).

Falando com base no Manual do Professor Primário, é possível identificar

algumas aproximações em relação à definição dos métodos (recomendação do método

intuitivo) e ao próprio conceito de professor primário disposto na obra ‘Lições de

Coisas’, de Calkins. O trecho a seguir, retirado dessa obra, apresenta recomendações

bem próximas das que encontramos no manual supracitado, no que se refere à

preparação dos professores.

[...] tenho recommendado aos professores publicos primários que se

abstenham das lições individuaes, hoje em toda parte condenmadas, e

prefiram os exercicios em commum, afim de melhor ser aproveitado o

methodo intuitivo, o unico que deve ser adoptado nas escolas

primarias. Para execução dessas recommendações tenho encontrado,

além de varios embaraços materiaes, que pouco a pouco levarei ao

conhecimento de V. Ex., séria difficuldade na falta de preparação

technica do professorado. Um dos meios de mais prompta realização

para vencer essa difficuldade seria a divulgação de livros de

methodologia, onde os professores colhessem noções acertadas sobre

o uso dos processos intuitivos geralmente applicados nas escolas de

162

todos os povos cultos (Calkins, 1886).

Essa citação denota uma contradição entre a adoção do método intuitivo e o uso

de livros didáticos, tendo em vista que esse método de ensino privilegia a aprendizagem

a partir dos sentidos, das relações reais entre os sujeitos e os objetos da aprendizagem.

O uso dos livros que traziam os conteúdos prontos era realmente um contrassenso, uma

contradição. Por isso se estabelece um debate entre os que entendem a possibilidade de

adequar o método intuitivo ou “Lições de coisas” e o uso de livros escolares e os que

defendem a impossibilidade dessas práticas.

Ainda sobre as contradições, Bittencourt (2008, p.177), ao discutir sobre “os

usos dos livros didáticos”, especificamente, quando analisa os textos organizados pelos

professores para apresentar no “Congresso da Instrução do Rio de Janeiro de 1883”,

afirma:

Os textos apresentados para o Congresso registraram marcas de uma

tendência a renovações metodológicas introduzidas pelo “ensino

intuitivo”, com citações frequentes de obras de Froebel e Pestallozzi.

As inovações pedagógicas eram demonstradas pela introdução de

materiais didáticos “modernos”, sendo que o livro didático passava

por um momento de questionamentos, especificamente quando se

concebia a introdução das disciplinas de cunho “científico” para o

ensino primário e seu método “lições de coisas”.

Essa citação deixa claro que, ao mesmo tempo em que ocorre o processo de

renovação dos métodos, os livros didáticos para o ensino primário passam a ser

questionados. Em seus discursos, os professores estavam questionando que o ensino

intuitivo só poderia ser aplicado às disciplinas cujo objeto tivesse forma sensível, pois,

segundo eles, havia aquelas disciplinas em que o método intuitivo deveria ser aplicado

apenas por meio de alegorias.

Bittencourt (2008, p.177) continua afirmando que as propostas pedagógicas que

acatassem o método intuitivo estavam conferindo ao livro didático um papel secundário

na vida escolar, porém, nos discursos dos professores, podemos identificar um debate

marcado pela contradição:

[...] suas opiniões sobre métodos de ensino nas escolas primárias e a

adoção de compêndios, temas propostos para debate no malogrado

Congresso concordaram, majoritariamente, sobre a impossibilidade de

se abolir o livro na sala de aula, discordando de algumas propostas dos

defensores dos métodos “intuitivos”.

163

Tratava-se de uma crítica, de um lado, aos livros didáticos, por parte daqueles

que defendiam os métodos intuitivos e, de outro lado, o reconhecimento da importância

do livro nas práticas escolares pelos professores, ou seja, por aqueles que os utilizavam

em sala de aula ou para se formar (CHOPPIN, 2009, BITTENCOURT, 1993). Assim,

“[...] os referidos professores insistiam para que os livros fossem fiéis aos programas

estabelecidos demonstrado que esse material seria mais apropriado para o docente

preparar-se para o desempenho didático das matérias a serem ministradas”

(BITTENCOURT, 2008, p. 178).

Em virtude dos debates acerca da importância dos materiais escolares, os

professores defendiam que, para transmitir os conteúdos em sala de aula, era necessário

usar os livros didáticos, que deveriam ser a expressão dos programas e dos

conhecimentos essenciais para aprovação nos exames, cumprindo aqui, como já

mencionamos, a função referencial desempenhada pelo livro apontada por Choppin

(2002). Também constatamos que os administradores dos projetos educacionais

brasileiros se preocupavam com os conteúdos que os livros didáticos abordavam,

principalmente os voltados para difundir o nacionalismo, pensando a quem eram

destinadas essas obras e quais as intenções propostas.

Ressalte-se, no entanto, que, apesar desses debates que poderiam reduzir as

publicações de livros didáticos, tendo em vista as novas propostas metodológicas e sua

incongruência com o uso desse recurso didático, isso não se observa. Em vários estudos,

vem sendo comprovado que o número de publicações desses livros, no período

analisado, cresceu significativamente. Se, de um lado, na catalogação dos livros

didáticos de Geografia feitas por Bittencourt (2004a), Silva (2012) e Ângelo (2014) o

número maior de publicações se destina ao ensino secundário, de outro, a partir da

década de 1880, o número de publicações desses livros destinados à escola primária foi

ampliado. Nesse período, também cresceu o número de livros didáticos regionais

destinados ao ensino primário de Geografia, ou seja, publicados nas províncias por

autores locais ou que viviam fora, mas que tinham uma relação direta com a província

onde haviam nascido (ANGELO, 2014).

Essa ampliação do número de publicações destinadas às províncias pode estar

associada à própria organização desse nível de ensino no país ou, mais especificamente,

as consequências da implementação do Ato Adicional de 1834. Com essa legislação, as

164

províncias passaram a ter um relativo poder sobre a Instrução Pública e, no caso do

ensino primário, essa autonomia pode ser observada pela implementação de legislações

específicas que passaram a definir organizações diferentes para as escolas de cada uma

das províncias51

. É nesse embate que se estabelecem legislações específicas sobre livros

didáticos que se destinam a esse nível de escolaridade e que definem os conteúdos que

serão selecionados, a escolha de livros para as escolas públicas, entre outras

determinações. Entendemos que os autores tinham consciência de que o sucesso de suas

obras dependia da aceitação das autoridades e da aprovação dos professores. Segundo

Hallewell (2005), nesse período, a publicação de livros didáticos estava sendo

expandida em nível local, e alguns autores encomendavam individualmente a

publicação de suas obras didáticas, o que contribuía para valorizar o mercado local.

Acreditamos que, de modo geral, as produções que analisamos, destinadas ao

ensino primário, apresentam traços da Geografia que, possivelmente, fez parte dos

bancos escolares da época estudada. Sobre a Geografia escolar brasileira, no período

que pesquisamos, os pesquisadores, concordando ou discordando, partem da proposição

levantada por Vlach (2004) de que a Geografia era embasada em uma abordagem que

foi difundida na obra do Padre Manuel Aires de Casal, denominada de Corographia

Brasílica, publicada em 1817, e nas publicações do Instituto Histórico e Geográfico

Brasileiro – IHGB.

Com base nas análises que fizemos, podemos nos posicionar do lado dos

pesquisadores que defendem a necessidade de discutir sobre a colocação de Vlach

(2004), pois, com base nos livros didáticos do ensino primário desse período52

, vimos

que eles apresentam outras indicações. Vejamos o que diz a pesquisadora Albuquerque

(2009, p. 165) sobre isso:

51

A esse respeito, enfatizamos a criação de uma lei em 1875, na Província de Pernambuco, de número

1.143. Segundo Albuquerque (2009), tal lei, prescrita no [...] art. 33 S 7º, determinou às escolas

daquela província a obrigatoriedade do “[...] ensino dos elementos de Historia e Geographia

Universal. Historia e Geographia do Brazil, especialmente dessa província.” No ano seguinte, foi

publicado um livro didático de Geografia que trazia exatamente as determinações referidas na lei:

Elementos de Geographia universal - Geral do Brazil e especial de Pernambuco para a infância escolar

da província de Pernambuco, de autoria de Manuel Pereira de Moraes Pinheiro, editado pela

Typographia Mercantil”.

52 Nosso posicionamento está embasado em pesquisas que extrapolam ou se somam a nossa de tese, pois,

desde 2006 (falo especialmente eu, como aluna do PIBIc), estamos em contato com livros didáticos do

Século XIX que nos mostram iniciativas que põem em xeque ou provocam certa desconfiança sobre

essa afirmação de Vlach (2004).

165

Com base nos livros didáticos de geografia do Século XIX, que

estamos analisando há três anos, essa afirmação deve ser discutida,

pois temos encontrado uma série de autores de livros didáticos do

referido período que adotaram outros referenciais teóricos e bancos de

dados para a elaboração dos seus compêndios e manuais. Citaremos

aqui apenas um exemplo, para não nos estendermos muito. No

Compêndio Elementar de Geographia Geral e Especial do Brasil,

Thomaz Pompeu de Souza Brasil (1859) afirma usar como referência

teórica para a elaboração do seu compêndio as seguintes publicações:

Anuário de Garnier, Almanak de Gotha, Revista dos Dous Mundos,

Jornaes Literários e Scientíficos para a parte política do mundo. Para

explicar os fenômenos astronômicos e físicos, acrescentou notas

ilustrativas tiradas das obras de Humbolt, Ganot, Lecoq, Moureau de

Jones, Malte Brun, Bouvillet e outros. Sobre o Brasil, recorreu às

revistas do IHGB, mas também fez levantamentos junto aos

presidentes das províncias e a pessoas importantes, em virtude da

imprecisão dos dados existentes.

Essa citação nos leva a pensar sobre muitas questões, umas delas, a de que

devemos desconfiar das literaturas ditas oficiais, porque cada fonte histórica pode

relevar novos detalhes, que, a depender de cada realidade, podem influenciar ou colocar

em discussão determinado trabalho de pesquisa. Porém, é mister afirmar que, com base

em nossas pesquisas, os conteúdos de Geografia, no período em tela, poderiam, em

alguns livros didáticos, até tomar por base a obra de Aires de Casal, no entanto, outros

autores também eram utilizados como fonte de consulta para a elaboração de livros

didáticos. Assim, concordamos com Albuquerque (2009, p. 165), quando diz que “[...]

até mesmo revistas e jornais eram utilizados com essa finalidade. Não queremos aqui

dizer que a obra de Casal não foi referencial para o período, entretanto, ela e as revistas

do IHGB não eram as únicas fontes de consultas”.

Outra questão que merece destaque diz respeito ao debate sobre o nacionalismo

patriótico como tema da disciplina escolar Geografia. Os debates hoje publicados a

respeito desse tema baseiam-se em duas obras: na de Vlach (1988) e na de Rocha

(1996). A primeira defende que o nacionalismo patriótico, que foi um elemento

importante na composição da Geografia escolar, esteve presente entre os temas que

compõem os conteúdos dessa disciplina, desde a criação do Estado-nacional na Europa,

e alega esse enfoque para analisar a disciplina escolar aqui no Brasil. E a segunda,

discordando dessa primeira, afirma que a questão do nacionalismo só aparece como

uma finalidade da disciplina escolar Geografia a partir do momento em que se dá a

consolidação do projeto nacional das elites brasileiras, portanto, a partir da década de

166

1930.

A respeito desse debate, compreendemos que o nacionalismo patriótico passou a

incorporar o conteúdo do ensino dessa disciplina no momento em que a Geografia do

Brasil foi institucionalizada como disciplina, e as produções didáticas começaram a

tratar das questões relativas ao nosso país. Segundo Albuquerque (2009, p. 166), “[...]

esse debate foi introduzido na escola pelas publicações didáticas brasileiras. Pois,

enquanto os livros didáticos utilizados eram importados, adaptados ou traduzidos esses,

em geral, não traziam conteúdos sobre o Brasil e quando o faziam era de forma muito

superficial”. José Veríssimo (1985), em obra publicada em 1890, faz uma crítica à

Geografia que se difundia nos livros didáticos e adverte sobre a falta de uma

nomenclatura sobre o Brasil. Entretanto, é necessário observar os limites da crítica desse

autor, tendo em vista o acervo de publicações didáticas de Geografia do período. Silva

(2012) fez um levantamento extenso da bibliografia didática da Geografia (1814-1930)

e encontrou um número pequeno de livros traduzidos ou adaptados que circulavam no

país, a maioria escrita por brasileiros.

Considerando as pesquisas já desenvolvidas, é possível afirmar que, do final do

Século XIX para o início do seguinte, as publicações de livros didáticos de Geografia

brasileiros e estrangeiros adaptados ou traduzidos que tratavam sobre o Brasil tomaram

grande fôlego. Havia tantos livros de Geografia Geral, que passaram a incorporar em

suas páginas a corografia do Brasil e publicações em separado, especialmente do Brasil.

Mas, embora esses livros se destinassem mais ao ensino secundário, também foram

encontrados livros com essa estrutura destinados ao ensino primário53

.

Em linhas gerais, com base nas colocações supracitadas, podemos inferir que as

produções didáticas de Geografia do final do Século XIX podem ser compreendidas

como livros didáticos que ainda apreciavam conhecimentos geográficos sobre o

continente europeu. Entretanto a maioria deles já tratava com especificidade de

nomenclaturas recitadas a respeito das províncias brasileiras. Assim, difundiam uma

Geografia geral, fundamentada nos aspectos físicos, de localização, populacionais e

econômicos dos países daquele continente, que era seguida por uma corografia que

trazia os mesmos aspectos do Brasil.

53 Ver lista de livros publicados no período em Silva, 2012. P. 71 a 105.

167

Já no Século XX, especialmente, a partir das décadas de 1920 e 1930, a

preocupação com a renovação pedagógica passou a exercer centralidade nos discursos

políticos e no pensamento de alguns intelectuais, fomentando as políticas públicas de

educação (tanto para o ensino primário quanto para o secundário), que se configuravam

como projetos voltados para constituir uma sociedade moderna e republicana. Esses

projetos deram uma nova configuração ao processo de escolarização brasileira da escola

primária, que, mesmo de forma lenta, começou a ser desenhado a partir de fortes

evidências de permanência54

.

Sobre esse assunto, Rocha (1996) chama à atenção para o fato de que a década

de 1920, até meados da década de 1930, é considerada, na historiografia da educação,

como uma fase de constituição da modernidade educacional brasileira. Nessa

perspectiva, as mudanças no âmbito das políticas educacionais e dos métodos de ensino

influenciaram diretamente a seleção e a abordagem dos conteúdos das disciplinas e os

materiais de ensino utilizados nas escolas do período, como a produção e a circulação

do livro didático.

Observa-se, no Brasil, uma Geografia de cunho científico de orientação moderna

e, paralelamente, a incorporação das proposições da Pedagogia moderna que vão sendo

lentamente incorporadas aos currículos e aos livros didáticos com os debates

desencadeados por importantes intelectuais que atuavam também como professores do

ensino secundário, como Delgado de Carvalho, Raja Gabaglia, Manuel Said Ali Ida e

Everardo Backheuser. Parte deles se envolveu com a formação de professores primários,

em um Curso Livre ofertado pela Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro55

, e

publicou obras de cunho pedagógico, como Delgado de Carvalho (1925) e Backheuser

(1948).

Posteriormente, estabeleceu-se uma relação entre a Geografia escolar e a

acadêmica, com a implantação de cursos voltados para a formação de professores de

Geografia na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, em 1934, em São Paulo, e na

Universidade do Brasil, em 1935, no Rio de Janeiro (MACHADO, 2009) e, com isto o

estabelecimento de uma produção acadêmica no Brasil.

54 Para mais detalhes acerca dessa temática de instalação das escolas primárias em âmbito nacional,

consultar: ARAÚJO, SOUZA, e PINTO, 2012.

55 A partir de 1945, essa sociedade passou a se chamar Sociedade Brasileira de Geografia.

168

Assim, com base nessas afirmações, entendemos que se difundia uma Geografia

científica e moderna, porém, foi a partir da década de 1930 que se constituiu no país

uma Geografia acadêmica brasileira, resultante das produções dos seus primeiros

formandos. Nesse contexto, podemos afirmar que, no Brasil, a década de 1920 pode ser

considerada um marco de importantes transformações nas questões educacionais e na

disciplina escolar Geografia que, em certas circunstâncias, concretizaram-se e ganharam

mais forças com a institucionalização dessa ciência em âmbito acadêmico.

Diante desse panorama, compreendemos que o estatuto da Geografia acadêmica

passa, de certa maneira, a influenciar e indicar modificações para a Geografia em

âmbito escolar, ao mesmo tempo em que também interfere na composição e na

organização daquela, inclusive com autores de livro didático que atuavam nos dois

âmbitos, como Delgado de Carvalho e Aroldo de Azevedo. No entanto, isso não quer

dizer que, a partir desse momento, houve uma mudança na realidade do ensino de

Geografia nas escolas, ou seja, que as escolas passaram a acompanhar as tendências da

Geografia que foram implantadas nas universidades, principalmente em se tratando da

realidade da escola primária. Entretanto, não podemos desconsiderar que essa Geografia

moderna tenha trazido novas configurações para a formação de professores e para a

produção de materiais didáticos destinados a essa disciplina, como, por exemplo, o livro

didático56

.

O sopro da “orientação moderna”, introduzida sobretudo por Delgado

de Carvalho, somada ao sentimento de cansaço aferido pela Geografia

descritiva, a reorientação dos objetivos do ensino (ensino elementar

como formação, habilitação para o exercício de profissões técnicas e

outros), comporá um novo quadro didático para a Geografia. (SILVA,

2012, p. 382).

A produção didática da Geografia apontada pela autora começou a se destacar

nas décadas de 1920 e 1930, com as publicações de Raja Gabaglia, de Mário da Veiga

Cabral, do próprio Delgado de Carvalho e de Aroldo de Azevedo. Esses autores, dentre

outros dessa geração, publicaram obras didáticas de Geografia até, aproximadamente, a

segunda década do Século XX. Porém, é importante ressaltar que a maior parte dessas

56 Desse modo, o desenvolvimento de uma Geografia de base científica no Brasil também proporcionou

mudanças no perfil dos autores de livros didáticos de Geografia nesse período histórico, que

apontaram para o aparecimento de autores oriundos de uma formação diferente da que se destacou

durante as últimas décadas do Século XIX até, aproximadamente, a década de 1910. Passaram a

compor esse grupo sujeitos com uma formação mais específica na área de Geografia (SILVA, 2012).

169

obras se destinava ao ensino secundário, e não, ao ensino primário, mas a formação de

professores para o ensino primário era dada nas escolas normais que também adoravam

os livros didáticos destinados ao secundário. Destaque-se, ainda, o papel que parte

desses autores desempenhou nas transformações políticas educacionais e o fato de suas

proposições de inovação de cunho metodológico para o ensino de Geografia também

terem influenciado o ensino primário e, por conseguinte, as produções didáticas.

Como se pode observar, a Geografia escolar, nesse período, foi marcada,

teoricamente, pela influência de intelectuais que propunham rupturas com as

abordagens metodológicas tradicionais. Assim, dialogavam tanto com as proposições

modernas da Geografia quanto com as da Pedagogia, pois se apoiavam em proposições

metodológicas escolanovistas. Por isso recorriam, inclusive, aos exercícios como

propostas de inovações metodológicas para o ensino de Geografia.

A efervescência das ideias de Delgado de Carvalho e de outros intelectuais de

“orientação moderna”, no âmbito da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, e

posteriormente, em 1934, na Associação dos Geógrafos Brasileiros, favoreceu a

institucionalização dos cursos superiores de Geografia em âmbito acadêmico, voltados

para a formação de professores de Geografia. Segundo Machado (2009), o curso do Rio

de Janeiro era mais voltado para essa formação, tendo em vista sua proximidade com os

objetivos estabelecidos pelo Governo Central, diferentemente de São Paulo, que tinha

propósitos mais regionais e estabelecia diálogos mais internacionais.

Esse novo cenário também está vinculado a um espraiamento maior das escolas

primárias por vários estados e importantes cidades do Brasil, o que leva um número

maior de crianças e jovens de classes menos favorecidas a ocupar os bancos escolares.

Esse novo público escolar demandava, dentre outras questões, a existência de livros

escolares com caráter ainda mais didáticos. Nesse sentido, uma questão fica evidente

quanto aos projetos direcionados às produções de obras didáticas publicadas no período

estudado - a renovação das metodologias de ensino. Convém lembrar que alguns autores

já citados buscam essas inovações pelos exercícios. Isso nos leva a entendê-los como

um novo modo de ensinar Geografia no ensino primário, centrando nosso olhar em

como essa metodologia é expressa nesses livros.

Nesse momento histórico, evidenciamos a organização de um novo projeto de

educação marcado pela institucionalização do sistema de ensino, em que o projeto

170

educacional ganhava novos contornos, e novas funções eram atribuídas à educação.

Temos o marco de um novo regime político, a Era Vargas, que começou em 1930 e foi

até 1945, quando o projeto de educação integrava em seus objetivos questões relativas à

vida humana e social.

Nesse sentido, inferimos que o contexto histórico e educacional representativo

do final do Século XIX e as três primeiras décadas do Século XX abrangeu um período

de importantes transformações, no âmbito da sociedade, da educação, das ideias

republicanas, das ideias pedagógicas, da escolarização e da disciplina Geografia,

influenciando a produção e a circulação dos livros didáticos e os métodos de ensino

utilizados para o ensino dessa disciplina.

Na perspectiva de continuar pensando na disciplina Geografia no contexto do

ensino primário, no próximo tópico, apresentamos alguns aspectos sobre a Geografia da

escola primária, com enfoque nas finalidades estabelecidas para o ensino dessa

disciplina.

4.2.1 A Geografia nos livros didáticos, nos debates educacionais e nos pareceres

destinados à escola primária: finalidades do ensino primário e da Geografia

Na fase inicial desta pesquisa, um dos propósitos da Geografia no ensino

primário era o de estimular a memorização das nomenclaturas referentes à natureza ou a

alguns aspectos humanos. Como já referimos, o universo da escola primária, os livros

didáticos, ocupavam lugar de destaque, pois eram a ferramenta que mais interferiam na

promoção das aulas de Geografia e das demais disciplinas.

Nessa fase, a maioria dos livros trazia uma Geografia que tinha pouca ou quase

nenhuma relação com a realidade dos alunos, da sociedade e de sua relação com a

natureza. Se, de um lado, ao longo de todo o período, os temas eram tratados de forma

estanque, e esse modelo se repetiu com as reformas implementadas no ensino primário,

de outro, algumas proposições de ordem metodológicas ou geográficas inovadoras

foram introduzidas nos livros didáticos dessa disciplina. No universo das obras

catalogadas (Apêndice 1), encontramos um número considerável de livros que seguem

as indicações dos documentos direcionados para orientar o ensino primário, cujas

171

introduções (em alguns casos) trazem referências às proposições metodológicas e de

caráter geográfico, que visavam romper com o princípio da memorização. Contudo,

essas propostas vão se dando muito lentamente, començando a aparecer em algumas

obras, e em outras, não.

Ao discutir sobre as finalidades da disciplina escolar Geografia, não podemos

deixar de pontuar que elas mudam conforme os modos de organização mais amplos da

escola primária e de acordo com as contribuições do ensino de Geografia para a

formação dos indivíduos em cada momento histórico. Estamos nos referido às

recomendações gerais propostas para o ensino elementar como um todo, visto que,

como bem nos lembra Carvalho (2003), apesar da grande centralização política e

administrativa do governo imperial, a educação primária não foi utilizada como

instrumento de socialização política, pois, desde 1834, ficou relegada às províncias e

aos municípios a organização dos currículos escolares, inclusive, no que se refere às

práticas de educação cívica.

Segundo Bittencourt (2008, p. 35), “existiam as leis, mas pouco se fazia

efetivamente para difundir a educação letrada escolar. Havia um descompasso entre a

magnitude das propostas relativas ao ensino primário e sua realização efetiva”. Em

outros termos, a autora entende esse momento de inovação no campo educacional para

além das propostas de mudanças, sobretudo, centrado nas dificuldades para efetivar as

propostas de ensino e nas permanências que marcam, principalmente, as práticas

escolares. No final do Século XIX, os debates sobre educação se evidenciaram na

sociedade, em especial, a partir dos anos de 1880, com as primeiras tentativas de

difundir as bases do regime replublicano, sobretudo quando se falava nas propostas de

educação e formação do povo brasileiro.

No que se refere à formação ofertada pelas disciplinas escolares, destacamos o

lugar que a Geografia ocupava nos debates educacionais e as atribuições dos saberes

disseminados por essa disciplina. Entre as finalidades elecandas para a Geografia no

ensino primário, destacam-se três nos livros analisados: eliminar a memorização como

centro do processo de ensino; aprender a desenhar mapas, para que os alunos possam

orientar-se com facilidade (ensino da cartografia escolar); e difundir o nacionalismo.

Apesar de as publicações didáticas nas províncias destinadas ao ensino primário

serem em maior número, essas finalidades também influenciavam os autores locais.

172

Assim, elas eram elencadas pelos autores com base nos debates sobre o ensino da

Geografia de cada província ou em nível nacional. Isso significa que, quando não havia

um currículo geral e oficial, a organização dos princípios do ensino primário era bem

particular para cada província. Isso definia o papel das disciplinas dentro da escola

primária e influenciava os autores de livros didáticos.

Nos livros didáticos, estava expressa não só a importância dos exercícios para o

desenho de mapas, como também sua importância para disseminar uma Geografia mais

voltada para os aspectos particulares do Brasil. Teoricamente, o foco estava na tentativa

de não mais entender a Geografia meramente como uma disciplina mnemônica, mas

como um ensino mais voltado para orientar e observar os fenômenos geográficos. Vale

ressaltar que, nos livros analisados, encontramos o discurso de romper com o princípio

da memorização, em especial, na introdução ou apresentação das obras. Esse discurso

era o foco da renovação dos métodos, mas, na escola, como um todo, ainda prevalecia o

ensino com base no método mnemônico.

No caso da Geografia, parte dos autores de livros didáticos destinados ao ensino

primário se envolve com tais inovações metodológicas e expressa o combate à

memorização na tentativa de atender às exigências desse debate. Como exemplo de

obras que visavam combater a ideia da memorização como centro do processo de

ensino, citamos os quatro livros que selecionamos para analisar: Sodré (1884), Lacerda

(1913), e dois sem autores publicados pela F. T. D. (1923), que, entre outros aspectos,

evidenciam um ensino capaz de abordar os conteúdos com base nas vivências, nos

saberes geográficos e nas concepções de mundo dos alunos. Entre os conteúdos

elencados, essas obras tratam da forma como alguns povos vivem, das relações dos

elementos naturais e da ação do homem na natureza. Nos três temas, é perceptível o

interesse por uma Geografia mais prática e mais relacionada com as vivências dos

alunos que trabalhasse seus conhecimentos a partir de exemplos mais concretos, menos

abstratos e sem deixar de propagar os sentimentos e as representações de nacionalismo.

No entanto, nossas análises demonstraram que a indicação dessas finalidades, em

especial, a primeira (superação da memorização), aparecia, muitas vezes, nas

introduções dos livros didáticos, mas não, no corpo do texto, pois os autores ainda

continuavam apegados a uma escrita que visava memorizar a nomenclatura de aspectos

gerais do Brasil ou de outros continentes e países.

173

Nas figuras seguintes, vemos contradições de um autor do período que, ao

mesmo tempo em que tenta inovar com um texto corrido e breves descrições de

aspectos da Geografia brasileira, recorre à memorização de nomenclaturas, como no

caso dos nomes das ilhas, dos rios e das montanhas. E isso, em um livro publicado no

início do Século XX, quando a superação da primeira finalidade já era um debate

recorrente entre aqueles que se preocupavam com a educação e, em especial com o

ensino de Geografia:

174

Figura 19a – Enumeração dos aspectos gerais do Brasil

.

175

Figura 19b – Enumeração dos aspectos gerais do Brasil

Fonte: Pequena Geografia da Infancia (1913), por Dr. Joaquim Maria de Lacerda, publicado pela Editora

Francisco Alves - Acervo: LIVRES - Biblioteca do Livro Didático – FEUSP

176

Outra questão ainda permeia essa primeira finalidade: o debate a respeito do

processo de ensino partindo do geral para o particular ou do particular para o geral, que

se destacou na Europa desde o início do Século XIX. No Brasil, com as novas

proposições metodológicas difundidas no final desse século, a questão passou a compor

as proposições de inovações metodológicas. Para os debates da Pedagogia, o geral

refere-se aos conteúdos mais abstratos, e os específicos, aos mais concretos, como já

discutimos na primeira parte deste trabalho.

No caso da Geografia, ressaltamos, ainda, que os debates a respeito dessa

temática incorporam a questão escalar (local/global, Corografia/Cosmografia) e a

distinção entre a Geografia particular e a Geografia geral, que passaram a compor os

novos preceitos teóricos da disciplina no mesmo período. Carvalho (1925) sugere que é

necessário partir do que está mais perto do aluno (mais concreto), da Geografia

particular, para o que se encontra mais distante (mais abstrato), tratado tanto pela

Cosmografia quanto pela Geografia geral. Assim, a Corografia e a Geografia geral não

se diferenciam somente por uma questão de escala geográfica, mas também pelos

conteúdos, porque os conceitos são abstratos, e os aspectos geográficos locais,

observáveis, próximos, são concretos. Por exemplo, o conceito de rio é um conteúdo da

Geografia geral. O rio que passa ao lado da casa do aluno é um conteúdo concreto e

local, por isso deve ser o ponto de partida do ensino de Geografia.

Essas proposições - - pedagógicas ou geográficas - trazem um elemento novo

que visa superar a memorização. Na Geografia, a maioria das propostas de organização

dos conteúdos do início do Século XIX partia do geral para o particular, da Cosmografia

para a Corografia, de modo que os livros estrangeiros pouco tratavam da corografia do

Brasil. No entanto, como já afirmamos, isso foi mudando ao longo do período, e os

livros escritos no Brasil começaram a trazer, sistematicamente, elementos da Geografia

brasileira, mas com conteúdos organizados do geral para o particular. Assim, tratava-se,

respectivamente, dos conceitos, portanto, conteúdos da Geografia geral e depois dos

continentes, países do mundo, províncias do Brasil, conteúdos da corografia, do

particular, da descrição dos lugares.

Essas proposições marcaram significativamente o ensino primário, e as

propostas inovadoras difundiram a ideia de aproximar as crianças das características

mais concretas dessa disciplina, com os fatos, uma aproximação conduzida por dois

177

processos: observar e imaginar os fenômenos geográficos para trabalhar ou exercitar,

especialmente, a intuição, a percepção e a imaginação dos alunos. Já a Geografia geral

voltava-se para as questões conceituais, para as definições, para as leis e para os

princípios mais gerias da Ciência, apresentando às crianças um conhecimento

geográfico mais amplo.

Uma crítica pertinente entre os autores do período é referente ao fato de que

muitos professores e livros didáticos optavam por começar pelas noções gerais e

deixavam de aproveitar mais as oportunidades de trabalhar primeiro o raciocínio de seus

alunos, por meio do desenvolvimento das noções individuais. Durante muito tempo,

essa questão esteve associada à recomendação que fazia parte das indicações mais

gerais para a Educação como um todo. De acordo com alguns estudiosos, como

Carvalho (2003), por exemplo, em muitos casos os livros utilizados nas escolas

primárias não eram brasileiros, portanto, apresentavam pouca relação com a Geografia

nacional. Essa questão pode ser mais bem exemplificada com as críticas de José

Veríssimo (1890), quando trata, mais especificamente, da falta de um ensino de

Geografia mais voltado para questões que visassem à formação cívica e moral dos

brasileiros57

.

Assim, as tradições do passado; as práticas já incorporadas ao fazer pedagógico

de muitos professores que adotavam ou não tais livros didáticos; as proposições

metodológicas e geográficas inovadoras; as críticas à falta de conteúdos sobre o Brasil e

o afã de superar a memorização fizeram com que alguns autores introduzissem em

algumas de suas obras mudanças de forma contraditória, porque continuam partindo dos

conteúdos referentes à Geografia Geral e a incorporar algumas inovações com cautela.

Isso pode ser comprovado no sumário da obra de Pereira (1884), em que os conteúdos

seguem a estrutura de Geografia geral para a Corografia, no entanto a escola mundial

para a local é invertida. O autor introduz alguns conceitos gerais, segue com a

corografia das províncias brasileiras, seguida dos continentes, depois alguns países, e no

final, retorna à Geografia Geral, com a introdução de novos conceitos. Vejamos os

57 Como já fizemos antes, ressaltamos a necessidade de relativizar as colocações de Carvalho (2003) e de

Veríssimo (1890), concernentes à pequena quantidade de livros didáticos de Geografia escritos por

brasileiros, pois, com base na catalogação de Silva (2012), Ângelo (2014) e Maia (2014), observa-se

no período grande número de publicação desses livros, porém sua comercialização e circulação

poderiam ser restritas, de forma a serem desconhecidas pelos dois autores.

178

detalhes da disposição do índice da referida obra nas figuras seguintes:

Figura 20a - Exemplo de maior valorização de uma Geografia geral

179

Figura 20b - Exemplo de maior valorização de uma Geografia

geral

180

Figura 20c - Exemplo de maior valorização de uma Geografia geral

Fonte: Geographia elementar: especialmente do Brazil, 1884, por Jerônimo Sodré Pereira. Acervo:

Biblioteca Paulo Bourroul, FEUSP. Acervo: Biblioteca de livro didático da USP.

Em nossas análises, constatamos que o maior número de obras de Geografia

181

destinadas ao ensino primário segue a estrutura dos conteúdos do geral para o particular

e introduzem, inicialmente, os conceitos e, depois, a nomenclatura e/ou a descrição

referente à escala mais ampla - continentes e países – para, em seguida, apresentar os

conteúdos abordados a partir de uma escala local - as províncias. Eram poucos os livros

que invertiam tal estrutura, visando superar a memorização dos conteúdos, pois partiam

do local e do concreto. No próximo capítulo, retomaremos essa questão a partir das

proposições de Pestalozzi.

Diante do exposto, afirmamos que o ensino primário de Geografia buscou, no

período analisado, superar o problema da memorização, apresentou algumas

contradições nessa busca, mas também permaneceu apoiado em um modelo de ensino

(mais clássico e mnemônico), que fundamentou, de maneira geral, os livros didáticos

até a década de 1930, quando essa disciplina começou a se organizar com outras

finalidades e outros interesses ligados à expansão do ensino no país e à difusão de ideias

renovadoras na educação (GONÇALVES e CHAVES, 1999).

No que diz respeito à segunda finalidade estabelecida no início deste texto - a

necessidade de valorizar o ensino de cartografia - ela pode ser observada tanto nos

livros didáticos quanto em outros documentos, como no Parecer de Rui Barbosa para o

Ensino Primário (1883).

Observe-se, na imagem a seguir, o que diz o referido documento, na sessão VII,

destinada aos Methodos e aos Programmas escolares, inciso 8º, a respeito da introdução

da cartografia no programa de Geografia:

182

Figura 21: A importância do desenho e dos exercícios cartográficos para o ensino de Geografia

Fonte: BARBOSA, Ruy; ESPINOLA, Thomaz do Bomfim; VIANA; Ulisses Machado. Reforma do

ensino primario e varias instituições complementares da instrucção publica: parecer e projecto da

Commissão de Instrucção Publica em 1882 - Sessão de 12 de setembro de 1882. Rui Barbosa (relator).

Typographia Nacional. Rio de Janeiro, 1883.

Nesse documento, ressalte-se a importância dos exercícios cartográficos para o

estudo dessa disciplina no ensino primário, que eram considerados fundamentais para a

execução das finalidades do ensino de Geografia. Assim, o uso da cartografia deveria

auxiliar os alunos nas aulas sobre orientação, com um suporte no aprendizado prático da

Geografia. Nesse trecho de Barbosa (1883), a cartografia é a parte central do ensino de

Geografia.

183

O principal objetivo não era de aperfeiçoar os desenhos dos mapas, mas,

sobretudo, de saber o que as crianças aprenderiam em cada lição de Geografia. Ao

afirmar que os exercícios cartográficos poderiam ser feitos com base na topografia da

escola ou da comunidade, o autor deixa clara uma questão que já discutimos - a

importância da escala local para o ensino de Geografia. Nesse caso, a representação da

escola cumpre exatamente as proposições metodológicas que defendem a importância

de se partir do concreto, da escala local para o geral, e do abstrato, para escalas

geográficas mais amplas.

O documento sugere, também, e tem como referência a escola prussiana, e a

representação espacial é a conclusão do trabalho do professor de Geografia. Os

conhecimentos adquiridos nos traços do mapa deveriam representar não só um saber

capaz de ser definido mentalmente, mas também um valor educativo na prática. Para a

época, essas proposições metodológicas de cartografia deveriam provocar mudanças,

entretanto, se observarmos com um olhar no presente, elas trazem em si também a

memorização, já que o aluno deveria desenhar o mapa com base no que havia

aprendido, e não, lê-lo. Portanto, não se pode criticar o período, tendo em vista que seria

um anacronismo de nossa parte.

Nas obras analisadas, a cartografia é definida na linguagem escolar como a arte

do desenho de mapas, sejam eles desenhados de memória, como cópia de outros

modelos, ou exercícios de mecanização, os chamados exercícios cartográficos. De modo

geral, mas especificamente na fase inicial do período que pesquisamos, os livros

didáticos reforçavam, logo na introdução dos textos, que os exercícios cartográficos

eram fundamentais para o ensino da Geografia (PINHEIRO, 1875), pois, entre outras

funções, auxiliavam o aluno a aprender e a memorizar as formas, as localizações, as

grandezas e as distâncias.

Além dos desenhos executados pelos alunos, a indicação do uso de atlas como

um complemento indispensável para fazer os exercícios cartográficos já era comum no

Brasil, desde o início do Século XIX, como se pode observar na tradução da obra de

Gaultier (1820), que oferece um atlas elaborado pelo mesmo autor. Apesar da sugestão

do uso desse recurso didático, as proposições metodológicas pautadas na memorização

continuavam.

184

Com a difusão das inovações metodológicas e os debates acerca da memorização

e de outros aspectos aqui já tratados, a cartografia foi exercendo um novo papel no livro

didático de Geografia. Dessa forma, a indicação dos exercícios cartográficos revela a

orientação de uma prática de ensino que ultrapassava a ideia de um aprendizado

vinculado apenas a enumerações de elementos geográficos e a áridas descrições, apesar

de ainda trazer em sua essência o sentido da memorização.

Quanto à disposição dos exercícios práticos de cartografia dispostos nos livros

didáticos, nesse período, era comum o professor solicitar o auxílio do dos atlas. Os tipos

de exercícios variavam de acordo com a concepção metodológica de cada autor. Ora

eles eram mais voltados para reforçar a memorização, ora para adquirir conhecimentos

de modo mais prático. Por isso, entendemos que as inovações não se configuram de

forma linear, elas aparecem em uma obra e em outras não, mesmo que publicadas em

períodos posteriores.

Na figura seguinte (figura 22), temos um exemplo de um tipo de exercício

direcionado para um conhecimento prático e bem avançado para a época, pois supera a

ideia de memorização para o ensino de Geografia. A partir da proposta de trabalhar com

a viagem figurada, o autor procura quebrar a ideia de repetição, comum a alguns

exercícios cartográficos da época. Isso pode ser observado nas recomendações iniciais,

em que ele sugere que não se repitam mais o Atlas nem as nomenclaturas.

185

Figura 22 - Modelos de exercícios práticos de cartografia para o ensino primário

Fonte: Geographia do Brasil, de Carlos Delgado de Carvalho - 1929. Acervo: LIVRES - Biblioteca do

Livro Didático – FEUSP

186

Nesse exemplo de exercícios, temos a construção do roteiro de uma viagem

apresentada a partir de duas possibilidades: uma rota, que pode ser percorrida pelo mar,

e outra, pela terra. Ao propor esse tipo de exercício, o autor trabalha a perspectiva da

construção do conhecimento, porque exige que o aluno use mapas específicos, leia-os,

localize os lugares e destaque a localização necessária para o percurso da viagem. O

livro também evidencia que é importante descrever detalhadamente os lugares partindo

dos aspectos históricos e geográficos das cidades. Ou seja, ao fazer esses exercícios, os

alunos podem ir além da visualização e da descrição dos lugares, a partir das referências

apontadas na escala do mapa. Esse tipo de exercício apresenta outra perspectiva de se

trabalhar com o atlas, diferentemente do que propunha muitos livros publicados no

período.

Assim como no parecer de Rui Barbosa (1883), os livros didáticos de Geografia,

ao longo do período estudado, propõem os exercícios cartográficos. No mesmo parecer,

os autores reconhecem que o desenho pode auxiliar o ensino de algumas disciplinas,

entre elas, a Geografia. Isso quer dizer que, se o desenho era um elemento fundamental

para o ensino da Geografia e, por conseguinte, tinha como auxílio principal os

exercícios, podemos inferir que fazem sentido nossas indagações sobre eles como parte

importante de uma nova metodologia de ensino. Assim, tanto os conhecimentos da

cartografia quanto os exercícios propostos deveriam apresentar uma ordem de estudos

que deveriam ir do mais fácil para o mais difícil, de modo que, a cada grau de

dificuldade, o professor traria uma cadeia contínua de esclarecimentos que competiam à

escola primária.

Com essas considerações, entendemos que essa nova vinculação da Geografia

com a cartografia também estava apoiada na primeira finalidade que estabelecemos no

início do texto - romper com a memorização pautada na nomenclatura. Essa proposta de

mudança de indicação metodológica não acontece descolada de um contexto mais geral,

pois, concomitantemente ao debate que apresentava a necessidade de difundir a primeira

e a segunda finalidade da Geografia, as funções da escola mudam ou, pelo menos,

pautam-se em outro discurso e com outros objetivos sociais.

Valle (1997) assevera que a instituição escola, socialmente, tem desempenhado

um papel de destaque nas concretizações e nas consolidações dos projetos de hegemonia

187

e de ideologia burguesa. Assim, essas ideias se tornam reais a partir dessa ideologia e

não nos permitem enxergar as raízes das contradições inerentes ao sistema que usa as

contradições para disfarçar e difundir suas ideologias (VALLE, 1997). Ao usar a

“disciplina” o sistema capitalista “cria” as instituições que se configuram como

estruturas que pretendem formar o corpo e a mente dos estudantes, controlando o espaço

(sala de aula) e criando estratégias que limitam e reprimem por meio de ações

pedagógicas. É nesse contexto em que, em nome da “ordem”, a escola põe em prática o

mecanismo político-pedagógico de controle.

A escola constitui relações sociais pautadas no “discurso da uniformização”, isto

é, a partir do poder do discurso, criam-se modelos, ditam-se regras e constroem-se

comportamentos de modo que se estabelecem formas únicas para entrar, sair,

comportar-se, falar, ser e estar. Quando fala do poder que permeia o espaço escolar,

Foucault (1979, p. 8) afirma que: “[...] o que faz com que o poder se mantenha e que

seja aceito é simplesmente que ele não pesa só como uma força que diz não, mas que de

fato ele permeia, produz coisas, induz ao prazer, forma saber, produz discurso (p. 8)”.

O período de transição do regime monárquico para o regime republicano marcou

o Brasil de diferentes modos e estimulou novos contextos. As transformações sociais se

intensificaram no país desde o período oitocentista, muitas vezes, trouxeram e, em

outras, apenas revestiram os novos debates com o discurso do novo regime. Entre as

primeiras, destacamos a transformação da sociedade escravocrata em sociedade do

trabalho livre, marcada, sobretudo, nos anos iniciais do Século XX, pela intensificação

das atividades capitalistas pautadas no processo de industrialização e de urbanização e

apoiadas no movimento higienista, no apelo ao civismo, entre outros. O cenário

emergente, a partir dessa nova configuração social, revela importantes modificações nas

bases culturais, econômicas, políticas e educacionais do nosso país. Essa discussão

acerca das novas atribuições sociais dadas à instituição escola tem uma relação direta

com a terceira finalidade posta para a Geografia - sua relação com a propagação do

nacionalismo ou com os simbolismos do nacionalismo.

Essa nova conjuntura se apresenta com a divulgação de ideais sobre a concepção

de uma escola que atenda a essas demandas e que se coadunassem com a nova

sociedade emergente, ou seja, uma nova geração, com o intuito de preparar os cidadãos

para atender às exigências do Estado republicano e do movimento de modernização que

188

adentrava o Brasil.

No que concerne ao termo “modernização”, Le Goff (2013) enfatiza que só é

possível entendê-lo considerando o contato entre os países desenvolvidos com os

atrasados socioeconomicamente. Sobre isso, é importante enfatizar que essas interações

e estratégias de projeção de modernização têm como base as relações de poder que se

estabelecem entre eles, marcadas, sobretudo, por conflitos, embates e silêncios.

A discussão sobre modernização nos levou a compreender o termo “moderno”

de acordo com Le Goff (2013), que o apresenta por meio de suas contradições, ao

avaliar que, se, de um lado, a modernização visa romper com o passado, de outro, esse

termo não está carregado de tantos sentidos de “novo” ou de inovação. Nessa discussão,

o referendado autor diz que é possível distinguir três tipos de modernização:

a) a modernização equilibrada, em que o êxito da penetração do

“moderno” não destruiu o valor do “antigo”; b) a modernização

conflitual, que, atingindo apenas uma parte da sociedade e ao tender

para o “moderno” criou conflitos graves com as tradições antigas; c) a

modernização por tentativas, que sob diversas formas, procura

conciliar “moderno” e “antigo”, não através de um novo equilíbrio

geral, mas por tentativas parciais. (LE GOFF, 2013, p.176-177).

No Brasil, essa modernização se deu no que se refere aos três tipos de

modernidade apresentados na citação acima, a partir de uma modernidade definida no

exemplo b, visto que, entre nós, não só no período que estudamos, temos o “moderno” e

o “antigo” numa tentativa de negar o primeiro em relação ao segundo, para afirmar um

grupo social ou as formas de governo (VIDAL, 1999).

Faria Filho (1998), ao estudar os traços da cultura da escola primária, traz

exemplo de como essa instituição foi sendo desenhada e pensada simbolicamente, a

partir das definições de moderno, das representações do que seria ser escola com base

nos debates republicanos. Esse mesmo autor também concorda com Le Goff (2013),

quando afirma que as tradições e os costumes antigos, silenciosa e conflituosamente,

foram construindo um ideal de modernidade de acordo com as finalidades e os

interesses de cada grupo social. Em suma, podemos dizer que, no Brasil, o processo de

modernização ocorreu de forma lenta, e se há uma datação que pode especificar tal

processo, seria o Segundo Reinado. Assim, é possível observar historicamente a

influência dos debates que vão desencadear essa modernização também nos livros

189

didáticos de Geografia da época.

Nos anos iniciais do Século XIX, os livros didáticos de Geografia traziam

sistematicamente impressos os ideais monarquistas. Eles eram expostos tanto na

introdução de tais publicações quanto no corpo do texto. Muitas dessas publicações

eram dedicadas ao Imperador, algumas delas com textos elogiosos sobre ele.

A partir de 1870 e 80, quando as publicações nacionais se avolumaram, esses

livros tanto os destinados ao ensino primário quanto ao secundário - apresentaram

evidências de ideias republicanas (ANGELO, 2014), expressadas por meio de inovações

de cunho pedagógico e científico, e de debates nacionalistas, com destaque para a

exploração e a valorização do território e de um projeto de educação nacional sob os

princípios liberais e positivistas. Assim, encontramos autores que continuam difundindo

a continuidade monarquista e os que defendem o republicanismo58

, o que demonstra

uma relação próxima entre a política e os livros didáticos dessa disciplina.

No Brasil, a construção da nacionalidade via representações da nação, segundo

José Murilo de Carvalho (2003), passou por transformações sistemáticas ao longo da

história, que também compuseram os conteúdos dos livros didáticos de Geografia. De

acordo com esse autor, a primeira figura a simbolizar a nação brasileira foi o índio, e

isso ficou marcado na literatura, no entanto, ele não compôs o acervo de livros escolares

dessa disciplina nas primeiras publicações nacionais. Carvalho (2003) acrescenta que o

segundo elemento a ser associado a essa função foi a natureza, que, durante décadas,

continuou a ser o elemento motivador do estímulo nacionalista para a Geografia. Depois

da Guerra do Paraguai, outro elemento passou a compor essa representação de nação - o

território. Gáudio e Braga (2007) asseveram que o “[...] território precisamente

demarcado e apropriado, além de historicamente associado a determinado povo se

constitui em um dos marcos materiais da ideologia nacional. Portanto, espera-se que

estados nacionais “possuam” um território demarcado e “um povo”, sobre o qual

determinado Estado exerça soberania, e que seja reconhecido como tal pelos demais

estados nacionais [...]”. Este último foi também incorporado pela Geografia escolar e

58 Alguns autores expressavam seu posicionamento político em outros impressos que circulavam no

período, como o renomado Professor-autor de livros didáticos de História e Geografia, Alfredo

Moreira Pinto, um republicano assumido e defensor do federalismo, que difundia suas ideias no

periódico A República, e foi um dos signatários do Manifesto Republicano, de 1870 (ANGELO,

2014).

190

adotado nos livros didáticos destinados à mocidade brasileira.

Segundo Gáudio e Braga (2007), entre nós, brasileiros, a construção da ideologia

nacional é marcada, principalmente, pelo ensino da Geografia. As autoras afirmam “[...]

isso com base na perenidade, no ensino dessa disciplina escolar, de temas como o

destaque atribuído à “nossa extensão territorial”, à exuberância de “nossa natureza” e,

somente depois, à discussão acerca da constituição do povo” (GÁUDIO e BRAGA,

2007, p. 181). Nessa mesma perspectiva, mas em período bem anterior, Carvalho (1925)

afirma que, no Brasil, tivemos uma representação ideológica de nacionalismos marcada

pela dominação de classe, em que o povo não participa das decisões, mas apenas assiste

aos “golpes” do governo como “bestializados”, como denominou Carvalho (2005a),

quando definiu a participação do povo na sistematização da ideologia nacional.

Acreditamos que, entre o final do Império e os anos inicias da década de 1930,

esses elementos representantes da nação foram, de certa forma, constituidores de

conteúdos destinados ao ensino de Geografia. É preciso acrescentar, ainda, que esses

elementos já eram temas abordados nos livros europeus que influenciaram, direta ou

indiretamente, as publicações didáticas brasileiras. Então, abordar contundentemente a

natureza não foi somente, como parece para alguns, uma cópia dos conteúdos abordados

pelos livros didáticos oriundos daquele continente, porque também estava de acordo

com os ideais que aqui se construíam em torno da nação. Essa relação é fundamental

para se compreender a afirmativa já tratada na tese de Valch (1988) e que continuou

sendo debatida posteriormente, porém sem levar em consideração os elementos sobre a

nacionalidade que ora apresentamos.

Assim, a escola, por meio de um conjunto de disciplinas destinadas ao

conhecimento sobre o Brasil, como a Geografia do Brasil, a História Nacional, a Língua

Portuguesa e a Literatura Brasileira, passou a exercer um importante papel na

propagação das ideias nacionalistas e, posteriormente, patrióticos, como apontam alguns

autores que, partindo de distintos posicionamentos e perspectivas teóricas, destacam a

Geografia do Brasil e a História nacional (VLACH, 1988; ROCHA, 1996;

BITTENCOURT, 2008; ALBUQUERQUE, 2011) como difusoras de ideais defendidos

pelos grupos sociais que estavam no poder ou por aqueles que, sendo autores e tendo

possibilidade de difundir suas ideias, também o faziam.

Saviani (2006) enuncia que as ideias republicanas foram amplamente difundidas

191

em âmbito nacional, durante esse período, especialmente nas escolas primárias. O

propósito era de construir uma nação moderna sob as concepções do iluminismo e do

liberalismo, visando formar um cidadão capaz de defender sua pátria, um novo homem

civilizado e profissionalmente capacitado para o mundo do trabalho (MORAES, 1991).

Sobre essa afirmação, Carvalho (2005a) diz que, durante todo o Século XIX, a

educação primária não foi utilizada como instrumento de socialização política, portanto,

não se portou como uma ferramenta eficaz para difundir esse ideal de cidadão nos

bancos escolares. Esse autor corrobora com Veríssimo (1890), quando esse enfatiza que

no período da Primeira República, a educação primária não apresentava uma concepção

de pátria, nem tão pouco ensinava educação moral e cívica, como aponta Vlach (1988),

quando discutiu que a Geografia tinha por finalidade difundir o nacionalismo patriótico.

De acordo com Carvalho (1994, p. 249), a proclamação da República foi um ato

político sem a participação do povo, um movimento nacional que se firmava pautado

em um discurso de uma nova forma de governo, que carregava

[...] os conflitos que seguiam a sua proclamação e à necessidade de

afirmar-se como nova forma de governo em oposição à monarquia

contribuíram para renovar o debate em torno do problema nacional.

Eliminada a dinastia portuguesa, o País ficava entregue a si mesmo, e

a pergunta sobre o que era esse País tornava-se mais premente.

Em outras palavras, podemos dizer que tivemos um “imaginário da República”,

como bem denomina Carvalho (1994, p. 255), pois a concepção de imagem positiva do

país, de sua gente e de sua história “[...] limitava-se à literatura infantil. Entre as elites,

seria considerada ingênua. O cientificismo responsável pelos determinismos

geográficos, climático e racial, ainda impedia que um país tropical e mestiço fosse visto

como competidor sério na corrida da civilização”.

Essa nova concepção de sociedade reclamava a presença de escolas, porquanto

desempenhavam um papel determinante no fortalecimento desse ideal de cidadão

definido pelo mundo do trabalho. No entanto, Saviani (2006) faz questão de mencionar

que, no “breve” Século XIX, sobretudo durante as primeiras décadas, as escolas

sofreram com a escassez de materiais didáticos. Bittencourt (2008) assevera que a

maioria dos alunos e, até, dos professores não tinha acesso a esse tipo de material, seja

pela falta de recursos financeiros desses sujeitos (o livro era um produto muito caro),

192

seja pelo fato de a aquisição desses materiais não fazer parte de uma política efetiva do

governo (ALBUQUERQUE, 2010).

Segundo Rocha (1996), nesse processo de instauração dos ideais liberais

republicanos, havia diversas tentativas de fundir, na sociedade brasileira, a hegemonia

da República por meio de várias instituições, como escolas, igrejas, poder político, isto

é, qualquer instituição que tivesse o poder de controlar e de criar novas visões de mundo

desempenhava importante papel social.

Cientes da importância das estratégias que a escola utilizava para difundir as

representações de formação dos sujeitos sociais e de que elas passam por modificações

ao longo tempo, entendemos que os debates que estavam em voga, no período que

compreende nossa pesquisa, passam diretamente pelos objetivos da educação escolar

republicana. Por isso, enfatizamos que pensar sobre o papel da Geografia nesses debates

é relacionar a influência dessa disciplina na constituição da cultura escolar que se

formou com base nos processos de socialização, apropriação e (re) invenção cultural no

processo de educação primária republicana.

Assim, temos a escola primária, por excelência, como lugar social de educação

da infância, como modelo ideal e hegemônico (GONDRA e SCHUELER, 2008) para

difundir os ideais burgueses que eram tão necessários para manter formas de dominação

e de controle social. Nesse sentido, destacamos o lugar ocupado pela Geografia no

fortalecimento desse debate, porque entendemos que, nesse processo de reconhecimento

e de apropriação do espaço dominar a natureza por parte do sistema capitalista e da

classe burguesa, a Geografia é reconhecida como uma das disciplinas que portavam um

saber que, por excelência, garantia essa dominação (MORAES, 1991).

Nesse contexto, o saber geográfico porta-se como subsídio da dominação, a

começar pelo enquadramento do homem em padrões, controlando espaço e tempo, para

dominar a sociedade e fortalecer o Estado burguês (VLACH, 1988). Ao longo do Século

XIX, o conhecimento geográfico foi se adequando às finalidades do processo de

escolarização mais amplo da sociedade e aos interesses de disseminar um discurso

marcado por uma cultura iluminada pela visão da elite ou dos seus setores de

dominação, ou seja, uma representação da cultura nacional (GÁUDIO e BRAGA,

2007).

193

Conforme observamos nos projetos educacionais que caracterizaram o Brasil

oitocentista e as primeiras décadas do Século XX, além de investir na formação de mão

de obra para servir ao mundo do trabalho, defendiam a formação de um cidadão

conhecedor do território nacional em suas dimensões históricas e geográficas. Nesse

caso, temos a proposta da inculcação de “representações do nacionalismo” pela via da

instituição escolar, que ia se modificando de acordo com os interesses de cada tempo, o

que demandava inovações nos materiais didáticos e nos constituintes da cultura escolar

da época como um todo.

Entre outros acontecimentos que marcaram o início do Século XX e que se

pautavam no nacionalismo, destacamos a atuação da Liga de Defesa Nacional no Rio de

Janeiro (1916) e a Liga Nacional em São Paulo (1917)

59. Chamamos à atenção para

esses fatos, sobretudo por tratarem mais diretamente das estratégias de ação para

propagar o nacionalismo no país, com exemplos claros do papel da Geografia nesse

contexto.

De acordo com Nagle (2001), o Estatuto da Primeira Liga objetivava defender a

ideia de coesão e integridade, na tentativa de difundir a instrução militar nas diversas

instituições, visando formar o trabalho nacional com base no civismo e no culto ao

heroísmo. Nas palavras de Nagle (2001), devemos

[...] manter a ideia de coesão e integridade nacional; defender o

trabalho nacional; avivar o estudo da história do Brasil e das tradições

brasileiras; promover o ensino da língua pátria nas escolas

estrangeiras existentes no país; propagar a educação popular e

profissional; difundir nas escolas o amor à justiça e o culto do

patriotismo; combater o analfabetismo (p.66).

Esses objetivos compunham o ideário de uma elite intelectual que conduzia,

direcionava e formava a mentalidade brasileira. Um dos focos era a alfabetização da

população, para contribuir com o progresso do país e, consequentemente, participar das

eleições. A segunda Liga Nacionalista seguia os princípios elencados pela Liga de

59 A finalidade principal dessas Ligas era de criar estratégias de ação para propagar o nacionalismo no

país. O princípio básico desses movimentos era o serviço militar, cujo objetivo era de proteger os

brasileiros em relação ao estrangeiro, e o foco estava no combate ao perigo interno. É importante

enfatizar que a primeira Liga influenciou e inspirou a criação da segunda, que lutava pelos mesmos

princípios, incorporando apenas alguns pontos como: combater a fraude nas eleições, manter a

obrigatoriedade do ensino da língua e uma história e uma Geografia da pátria nas escolas estrangeiras

que funcionassem em solo brasileiro.

194

Defesa Nacional, porém foram acrescentados os seguintes objetivos ao seu estatuto:

Lutar pela federação e unidade nacional, pela defesa nacional, pela

efetividade do voto, pelo desenvolvimento da educação cívica, da

educação primária, secundária e profissional. Mantêm-se o amor à

pátria e às tradições nacionais, a obrigatoriedade do ensino da língua,

da história e da geografia pátrias em escolas estrangeiras existentes no

país, a educação física, o escotismo, as linhas de tiro e o preparo

militar (NAGLE, 2001, p. 68 e 69).

Esse debate tinha como base as concepções do modelo escolanovista. Já na

década de 20 do Século XX, havia certa inversão nos debates educacionais, e o ensino

intuitivo, que liderava os assuntos pedagógicos, deu lugar à nova Pedagogia do

escolanovismo. Entre os debates postos, identificamos, na literatura educacional, a

emergência de uma pedagogia que se preocupava com o “concreto” e com a natureza

psicológica, no que tange à nova concepção de infância. Quanto ao papel ocupado pela

Psicologia, era bem comum ouvir falar em etapas do desenvolvimento do educando

visando à promoção da nova concepção de infância. Nessas discussões, ficou acordado

que seria preciso formar um educador de méritos, com a capacidade de teorizar a

escolarização.

Assim, no âmbito da educação, entre o final da década de 1930 e o início da

década de 1950, houve um equilíbrio entre a Pedagogia tradicional e a Pedagogia nova.

De acordo com Saviani (2008), a primeira estaria mais voltada para os interesses da

Igreja Católica, portanto visava promover uma educação religiosa, elitista e pautada

numa abordagem dos conteúdos desvinculada da realidade do aluno. E segunda, a

Educação Nova, estava direcionada para uma educação mais prática, voltada para

contato do aluno com a realidade. Essas duas correntes de pensamento pedagógico

influenciaram a produção didática de Geografia no período e as metodologias de ensino

que eram adotadas na escola. Nesse momento, a Geografia se direcionou a um novo

modelo de cidadão e a uma nova perspectiva de nacionalidade, ou seja, essa disciplina

passou a ter outras finalidades.

O governo de Getúlio Vargas preconizava a redução dos poderes da Igreja e

impunha ao Estado a tarefa de conduzir o processo educacional. Para isso, apoiou-se,

principalmente, na Educação Nova, que foi alvo de um conjunto de críticas por parte

dos defensores da Igreja como uma instituição que deveria conduzir o processo

195

educacional. Essas duas matrizes pedagógicas influenciaram, nesse contexto, o

estabelecimento de duas perspectivas para as abordagens nos livros didáticos de

Geografia - uma clássica e outra moderna (ROCHA, 1996).

Essa orientação moderna teve início com os Pareceres de Rui Barbosa, como já

discutimos neste trabalho e se desenvolveu a partir do livro didático Compêndio de

Geographia Elementar, de Manuel Said Ali Ida (1905), e se consolidou como proposta

metodológica com a publicação do livro Geographia do Brasil, de Carlos Miguel

Delgado de Carvalho (1913). Essas publicações indicam o início da segunda fase da

Geografia escolar no Brasil a partir dos livros didáticos, denominada de “Geografia(s)

Moderna(s)” (ROCHA, 1996).

Com essas considerações, entendemos que as discussões de ordem metodológica

tiveram impacto direto no campo educacional e se configuraram na elaboração de

projetos que visavam atingir toda a educação nacional. Quanto à produção dos materiais

didáticos, Bittencourt (2008) enfatiza que as concepções dos projetos de elaboração e

produção dos livros didáticos passam, cada vez mais, a propagar os ideais republicanos

e nacionalistas e a proporcionar um ensino de base positivista e cientificista a favor de

uma escola laica. Esses debates fortaleciam diretamente o círculo dos intelectuais

liberais e republicanos mais radicais, que defendiam a criação de um estado e uma

educação nacional. Nesse aspecto, também observamos as críticas ao conservadorismo e

ao estrangeirismo das obras didáticas que circularam nas escolas brasileiras nesse

período.

A seguir, no último capítulo da tese, apresentamos, mais detalhadamente, nossas

análises referentes à relação dos métodos de ensino, dos exercícios e dos livros didáticos

com a discussão mais ampla do processo de renovação dos métodos.

196

3ª parte

MÉTODOS DE ENSINO E EXERCÍCIOS NOS LIVROS DIDÁTICOS

CAPÍTULO V: MÉTODOS DE ENSINO NAS ESCOLAS PRIMÁRIAS: UM

DEBATE CENTRADO NO PROCESSO DE RENOVAÇÃO DOS MÉTODOS NO

BRASIL

5.1 Discussão sobre a renovação dos métodos no Brasil: as propostas pedagógicas e

o legado de Pestalozzi para o ensino de Geografia

Ao longo do processo de escolarização, os métodos de ensino tinham a função

de reconstruir os espaços e inventar novas sociabilidades. À proporção que a história de

um se fazia, inventava-se e recriava-se a formação do outro. Nesse caminhar da

escolarização, os debates sobre os métodos de ensino aparecem como uma estratégia

primordial da institucionalização da educação escolar e do início do discurso de

formação de professores no Brasil.

A difusão da escolarização, o aumento das funções a ela atribuída

(formação moral e instrução elementar) e a necessidade de formar

professores fomentaram o movimento de renovação pedagógica que

depositou no método de ensino as esperanças de realização dos

propósitos filosóficos e sociais consensualmente aceitos

(VALDEMARIN, 2010, p. 21).

Essa perspectiva de análise nos possibilitou compreender a história da escola a

partir da composição de mecanismos internos e de certa materialidade própria dela

assim como da construção da própria noção de educabilidade da infância e, ainda, da

produção de formas anteriores de educar e instruir as gerações (FARIA FILHO, 2002).

A escola, ao se compor como instituição responsável pela educação e pela instrução das

novas gerações, não assume essa tarefa de maneira tranquila e consensual, mas

conflituosa, procurando resgatar a concepção de infância de outros espaços-tempos

próprios de formação, notadamente a família, a religião e o mundo do trabalho.

Estudos mostram hoje que esses processos ocorreram de modo bem particular

nos diversos países do mundo ocidental e que, nos Séculos XVIII, XIX e XX, essa

discussão sofreu um impulso jamais visto e “[...] acabou por legar-nos uma tradição

cultural no que se refere a infância, escolarizada ou não (FARIA FILHO, ROSA e

197

INACIO, 2003, p. 01).

No nosso entendimento, mesmo sabendo que havia instituições escolares

anteriores ao início do Século XIX e que somos marcados pela cultura letrada do

Período Colonial, foi na pós-Independência que o processo de escolarização foi

impulsionado no Brasil. Nesse momento, são notórias as influências da instituição

escolar para além dos seus “muros”, a qual fez sentir seus traços e significados em

lugares onde ela não existia ou pelos sujeitos que não faziam parte desse universo. O

caminhar da ação escolar foi se propagando para toda a sociedade e passou a ser um

referencial importante para constituir ou definir identidades individuais e de grupos,

públicas e privadas, escolares e não escolares, entre outras.

Ao estudar a organização da escola, sobretudo a questão normativa,

compreendemos o espaço escolar como uma construção social advinda de preocupações

de diversas ordens, entre elas, a política e a administrativa, que acabaram por criar

escolas institucionalizadas e outras não institucionalizadas, assistemáticas, informais e

espontâneas. A implantação da escola como um lugar específico implica o processo de

escolarização com a inserção das novas gerações na cultura social, sobretudo, nas

práticas pedagógicas que se encontravam e se entrelaçavam entre alunos e professores.

Também requer considerações sobre as formas de ensinar e de organizar atreladas às

concepções pedagógicas.

A importância dos métodos de ensino foi algo discutido ao longo dos Séculos

XVII, XVIII e XIX e se estendeu até os dias atuais. Sua relevância, em períodos

anteriores, era tanto pela formação dos professores quanto pela aprendizagem das

crianças e dos jovens. Historicamente, os métodos podem ser definidos como síntese

das proposições teóricas e guia prático da profissão de ensinar (VALDEMARIN, 2010).

Quando falamos dos métodos presentes nos livros didáticos, dentre outras

questões, estamos reconhecendo-os como indicativos de concepções pedagógicas,

práticas e saberes escolares que são transmitidos pelos livros didáticos. Esse

apontamento nos leva a considerar o método como um dos elementos importantes para a

construção do saber escolar e um apoio na execução dos objetivos de uma disciplina

escolar. Essa colocação pode implicar a relação da escola com os métodos de ensino

como um amplo processo histórico de modificações da cultura escolar. Por isso,

Valdemarin (2006, p. 15), em suas reconhecidas pesquisas acerca dos métodos, enfatiza

198

que “[...] o método de ensino é apresentado como um conjunto de procedimentos

derivados de uma teoria do conhecimento que atribui aos sentidos o ponto de partida da

formação das ideias e dos pensamentos claros”.

Historicamente, a questão dos métodos de ensino se apresenta como

indissociável da organização pedagógica da escola, em especial, no que se refere ao

método como processo didático, como algo que lida diretamente com os termos ensino

e aprendizagem.

O método é, pois, uma aplicação dessa relação “ensino-

aprendizagem”. O termo é aplicado a uma infinidade de variedades ou

tipos. Em todos, porém, a função é a mesma e supõe: alguma coisa a

ensinar, alguém que ensine e o ensino para alguém. Essa constatação,

um tanto trivial, responde entretanto aos que julgam que, para ensinar,

não há métodos, mas apenas um bom conhecimento da matéria, por

parte de quem se propõe a ensiná-la (CARVALHO, 1957, p. 139 e

140).

Nas leituras, compreendemos que os métodos, especialmente no Século XIX,

exerciam centralidade nas discussões educacionais. Entre os estudiosos desse tema, tem

sido comum apontar o conceito de método e o que se entende por esse termo em dado

contexto (SOUSA, 2011).

Para situar nossa discussão acerca dos métodos, recorremos aos estudos sobre a

instrução pública de países da Europa, porque entendemos que eles se ampliaram

durante o Século XIX, devido aos avanços da industrialização. Um das exigências

impostas nesse período era a necessidade de formar mão de obra qualificada, e a escola

era responsável por tal processo. Assim, os debates sobre o ensino público ganharam

mais visibilidade e passaram a exigir um sistema educacional que atendesse aos

interesses políticos e sociais do período.

No caso específico da Europa, os estudiosos do período se preocupavam em

diferenciar o conceito de modo, métodos e processos de ensino. As pesquisas apontam

não só o desenvolvimento do campo pedagógico como uma imprecisão conceitual

devido às suas especificidades em cada momento histórico. Para Souza (2011, p. 339),

o conceito de modo estava fundamentado na ideia de organizar e

dirigir o ensino, em como agrupar os alunos e distribuir as matérias

colocando em discussão a organização pedagógica de maneira mais

abrangente. No Brasil, entretanto foi muito comum o uso do termo

método para se referir ao ensino individual, mútuo, simultâneo e

199

misto.

Com base nessa definição conceitual e devido à aproximação dos conceitos com

a aplicação dos termos ao longo da história no Brasil, entendemos que seria mais

apropriado usar em nossa tese esses dois termos com o mesmo sentido: modo e método.

No Brasil, é importante situar a emergência dos métodos associados à prática do

ensino individual e aos modos de organização da escola primária a partir de uma longa

tradição. Entendemos essa configuração pedagógica como um momento de constituição

de uma nova cultura escolar. A prática do ensino individual e mútuo, no Século XIX,

esteve presente tanto nas escolas públicas quanto nas particulares, no Brasil ou em

outros países do Ocidente (SOUZA, 2008).

Retomaremos a discussão que aponta para a organização pedagógica como um

processo histórico e cultural mais amplo, que está diretamente associada às finalidades

da escola e da escolarização. O termo escolarização perpassa toda a nossa tese, porque

acreditamos que, por meio de uma discussão desse termo no sentido mais abrangente

(seus múltiplos significados e diversificados fatores), temos chegado a detalhes do

nosso objeto de estudo que estão relacionados a esse termo e que marcam esse processo.

Isto é, temos compreendido que “os exercícios fazem parte de um amplo processo

histórico e cultural, o da escolarização” (MOURA, 2010, p.6). Em nossos estudos, o

termo escolarização tem dois sentidos, que estão intimamente interligados, ao longo dos

tempos, especialmente nos últimos dois séculos de nossa sociedade.

Primeiramente, o termo escolarização visa definir os processos e as políticas

relativas à “organização” de uma rede, ou, podemos dizer, de “redes”, de instituições

escolares (formais ou não), que tinham a função de promover o ensino elementar da

leitura, da escrita, do cálculo e, na maioria das vezes, da moral e da religião, em níveis

mais simplificados ou aprofundados. O termo escolarização, nesta pesquisa, é mais

voltado para a escola como uma instituição escolar.

Em outra perspectiva, entendemos a escolarização como a produção de

referências sociais que têm a escola como o eixo articulador de seus significados e

sentidos na forma escolar de socialização. Ou seja, nosso olhar se dirige às concepções

sociais, culturais e políticas da escolarização, às questões relacionadas ao processo de

letramento e ao reconhecimento ou não das competências culturais e políticas dos

200

diversos sujeitos sociais e da profissão docente.

Nessa discussão, para entender o fenômeno da escolarização em seu sentido

mais amplo, devemos considerar um tempo mais longo da nossa sociedade, como por

exemplo, os dois últimos séculos. Nesse tempo considerado longo, pudemos perceber,

com mais clareza, no diz que respeito à escola, que os diversos significados e variados

são fatores incisivos da mudança radical na sociedade do início do Século XIX - sem

escolas - para uma realidade de quase todas as nossas crianças do Século XXI – o

acesso à escola.

A esse respeito, vale a pena relembrar o que já apontou E. P. Thompson (1984),

ao enfatizar que, na transição de uma sociedade não escolarizada para uma escolarizada,

os embates e as tensões desse fato influenciam diretamente na totalidade do social, ou

seja, não apenas o que toca diretamente a escola, mas, sobretudo, nas mais profundas

práticas culturais e nos processos sociais. Assim, temos, mesmo que lentamente,

diversas modificações no cenário social, impulsionadas pelo impacto da escolarização:

formas de comunicações, gestando a constituição de sujeitos, passando por inevitáveis

dimensões materiais que promovem a vida humana e sua reprodução na sociedade

(FARIA FILHO, 2002).

A organização do espaço escolar é pensada de maneira detalhada e

estrategicamente articulada, ou seja, a instituição escolar não surge no vazio ou na

substituição de outras instituições.

Os defensores da escola e de sua importância no processo de

civilização do povo tiveram que, lentamente deslocar tradicionais

instituições de educação e instrução, apropriando-se, remodelando ou

recusando a tempos, a espaços, a conhecimentos, a sensibilidades e a

valores próprios às mesmas. Mas não apenas isso, a escola teve

também de inventar, de produzir, o seu lugar próprio, e o fez, também

em íntimo diálogo com outras esferas e instituições sociais (FARIA

FILHO, ROSA, INACIO, 2003, p. 14).

Essa colocação nos encaminha para reafirmar que era evidente a necessidade de

criar possibilidades que poderiam promover o acesso da população à escola,

especialmente para garantir a oferta de ler e de escrever, em que residia a maior das

preocupações de uma parte da intelectualidade a partir do final do Século XIX, mas que

se intensificou nos anos de 1920: a educação do povo. Então, educar o povo era o único

caminho para findar os traços de uma nova tradição que tinha como base a ordem, o

201

progresso e a civilização do povo brasileiro. Nessa tarefa, temos, de maneira evidente,

o reconhecimento do papel da escola primária.

[...] na formação do caráter e no desenvolvimento das virtudes morais

e sentimentos patrióticos fomentou e justificou as expectativas em

relação à sua institucionalização no período republicano. [...] A

história da escola primária guarda uma relação intrínseca com a

história do magistério primário. Formação, condições de ingresso na

carreira de trabalho, as lutas e a identidade profissional são

fundamentais para o entendimento da escola primária como instituição

(SOUZA; FARIA FILHO, 2006, p. 37 e 43).

Nesse chamado “lugar” de formação docente, destaca-se a questão do método de

ensino. Isso significa que o discurso fundador da formação docente passa diretamente

pelas estratégias e tentativas de promover e aperfeiçoar as metodologias de ensino. A

questão dos métodos é uma prioridade no domínio do espaço escolar pelo professor,

pois, através da organização do como ensinar, os professores poderiam habituar-se às

especificidades da forma escolar, dentre elas: os modos como os sujeitos se organizam

na vida social, as formas de transmitir os conhecimentos e o modo mais amplo de se

socializar específico da escola.

A chamada modernidade, que foi diluída ao longo dos Séculos XVII, XVIII e

XIX, trouxe proposições educacionais que elucidaram a importância do método de

ensino tanto para as questões voltadas para a formação de professores, quanto para as

que envolviam a aprendizagem das crianças e dos adultos. No entanto, no Século XX,

havia uma preocupação mais sistemática com a aprendizagem:

[...] as concepções pedagógicas deslocaram suas preocupações sobre o

ensino para as questões sobre como a criança aprende, emergindo aí

um primado dos fundamentos psicológicos da educação em

detrimento dos fundamentos filosóficos e didáticos, componentes

essenciais na elaboração de métodos de ensino. (VALDEMARIN,

2006, p. 01).

A problemática relativa a como ensinar, que também pode ser uma questão

referente aos métodos de ensino, foi considerada, no Século XIX, como uma temática

menos importante na escala dos problemas educacionais que merecem reflexão e debate

profícuo. Essa questão estava no cerne da modernidade, portanto, não poderia deixar de

ser um aspecto de destaque nas discussões concernentes aos processos de escolarização.

Ao longo do Século XX, houve uma aglutinação de problemáticas, pois, partir

202

das discussões sobre processos de aprendizagem do aluno, o conteúdo a ser ensinado e

os valores formativos foram elucidados, a abrangência do processo educativo diminuiu

e foi produzida uma cultura escolar menos rica e mais simplificada. Para traçar um

panorama dos métodos de ensino que definem a profissão de professor e o processo de

aprendizagem do aluno, apresentamos, de maneira genealógica, três importantes obras

importantes na organização das concepções pedagógicas modernas: no Século XVII, a

Didactica Magna, de João A. Comênio60

; no Século XVIII, o Emílio ou da Educação,

de Jean-Jacques Rousseau61

; e no final do Século XIX, Lições de Coisas, de Froebel62

e

Pestalozzi63

.

A obra Didactica Magna, publicada em 1670, continha as diretrizes gerais que

deveriam regimentar as bases da instituição escolar moderna e recomendações relativas

60

Jan Amos Komensky (em português Comênio) (1592-1670), nascido em Nivnice (então domínio dos

Habsburgos, hoje República Tcheca), ficou conhecido como o pai da Didática moderna. Sua educação

foi consumada na Universidade Calvinista de Herbron, na Alemanha, onde se graduou em Teologia e

consolidou seus conhecimentos culturais. Para Comênio, a educação deveria reafirmar a igualdade de

direito de todos os indivíduos, no que tange ao acesso à esfera do conhecimento. A educação

comeniana tinha como base uma concepção religiosa, pois entendia que todos deveriam ter direito a

educação porque todos eram filhos de Deus.

(http://educarparacrescer.abril.com.br/aprendizagem/grandes-pensadores. Acesso em: 20/08/2016).

61 Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) foi um filósofo que nasceu na Suíça e por lá ficou até os 16 anos

de idade. Foi um jovem que, logo cedo, teve que aprender a cuidar da própria vida, porque sua mãe

morreu quando ele ainda era bem jovem. Aos 30 anos, foi morar em Paris e lá começou seus primeiros

contatos com os filósofos iluministas e se interessou pelo estudo das fases da infância da criança. Para

Rousseau, a criança deveria ser educada, sobretudo, em liberdade e viver cada fase da infância na

plenitude de seus sentidos, pois, de acordo com sua concepção de educação, até os 12 anos, o ser

humano é praticamente constituído somente de sentidos, emoções e corpo físico. Tal pensador

defendia a formação do homem como cidadão, e para que isso acontecesse, a dimensão política era

algo fundamental para o desenvolvimento dos seus princípios de educação.

(http://educarparacrescer.abril.com.br/aprendizagem/grandes-pensadores. Acesso em: 15/07/2016).

62 Friedrich Froebel (1782-1860) foi um filósofo alemão que dizia que era por meio da educação que a

criança iria se reconhecer como um membro do todo. Foi ele um dos primeiros educadores a

considerar o início da infância como uma fase de importância decisiva na formação das pessoas, que a

natureza era a manifestação de Deus no mundo terreno e expressava a unidade de todas as coisas.

Froebel defendia a ideia de “aprender a aprender”. Segundo ele, a educação se desenvolvia

espontaneamente, ou seja, quanto mais ativa era a mente da criança, mais ela estava receptiva a novos

conhecimentos. Por causa de sua pedagogia, os jardins de infância rapidamente se espalharam pela

Europa e nos Estados Unidos e, mais tarde, foram incorporados aos preceitos educacionais do

filósofo John Dewey. (http://educarparacrescer.abril.com.br/aprendizagem/grandes-pensadores.

Acesso em: 17/07/2016).

63 Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827) foi um educador suíço, nascido em Zurich, cujo pensamento

foi influenciado pelas ideias de Rousseau, principalmente por fazer parte de um movimento romântico

e mais voltado para questões da natureza. Suas propostas pedagógicas circularam nas escolas da

Prússia, e foi significativa sua influência como pedagogo na reorganização dos métodos, em especial,

na difusão dos métodos pestalozzianos que atuaram diretamente na formação dos professores. Em

virtude da atuação direta desse pensador, a educação prussiana passou a ser chamada de sistema

escolar prussiano-pestalozziano. (http://educarparacrescer.abril.com.br/aprendizagem/grandes-

pensadores. Acesso em: 20/08/2016).

203

à transmissão do conhecimento – como uma proposta para todos os indivíduos. Assim,

caberia aos especialistas do campo da Educação procurar botar em prática

metodicamente as propostas do trabalho de Comênio, que, em seu tratado educacional,

apresenta a escola como um local específico para a educação dos jovens e adultos; o

professor, como portador do conhecimento e responsável por transmitir o conhecimento

como um conjunto de saberes culturalmente selecionado. Seu método de ensino trouxe

inovações que, até hoje, são consideradas fundamentais para se discutir sobre os modos

de ensinar.

Conhecido também como o iniciador da metodologia, Comênio recomendava

que os estudos tomassem como base os sentidos – as percepções sensoriais deveriam

preceder a compreensão das crianças. De forma geral, a educação comeniana tinha

como base uma concepção religiosa – todos deveriam ter direito a educação porque

todos são filhos de Deus.

Nesse momento, temos a emergência das discussões sobre o método para ensinar

e sua relevância para a construção da educação moderna. Nas palavras de Valdemarin

(2006, p. 02),

todas essas novas exigências postas pela sociedade e pela

complexidade da própria tarefa educativa têm no método de ensino

seu suporte: ele é o elemento, o saber que diferencia a docência das

outras profissões tornando-a específica. A tríade educacional é

composta pelo conteúdo a ser ensinado – a natureza – pelo aluno – do

qual se conhece o processo de aprendizagem – e pelo professor – o

portador do método que garante que os conteúdos serão ensinados aos

alunos.

Pelo método, temos a possibilidade de produzir as impressões dos sentidos, a

organização dos conteúdos a serem ensinados de acordo com a utilidade e o proveito

humano. O método preceitua, então, que é preciso observar as coisas, as formas de

impressionar os sentidos, que podem traçar um panorama das generalizações, diferentes

e semelhantes dos conteúdos, cujas variações e resultados serão constatados nas lições

que as crianças realizam na escola.

Dando continuidade às produções europeias sobre o pensamento pedagógico

moderno, no Século XVIII, destaca-se a publicação de outra obra, o Emílio ou da

Educação, de Jean-Jacques Rousseau, uma produção bem diferenciada da defendida por

Comênio. O principal aspecto de divergência diz respeito à concepção de política,

204

considerada como determinante para se entender esse tratado pedagógico, enquanto

Comênio entendia a educação como parte da religião. Em outras palavras, o projeto de

Rousseau é, sobretudo, um projeto político. Diferentemente dos princípios elencados

por Comênio, Rousseau traz outra configuração para educação – todos devem ser

educados para o exercício da cidadania, e a educação é um requisito para a igualdade

política64

. Outra diferença, é que o tratado pedagógico de Rousseau não é pensado para

ser desenvolvido nas escolas, porquanto traz concepções gerais e específicas vinculadas

a um projeto político mais amplo. Nessa obra, Rousseau almeja desenvolver um

trabalho de transformação social, pois nela está contida uma concepção de homem e de

sociedade, em que o modelo de educação centra-se no método, que é um elemento

essencial e determinante em sua concepção pedagógica.

Para Rousseau, o isolamento do educando da sociedade é um recurso essencial

para a formação do indivíduo que depende da capacidade do preceptor para descobrir a

função das atividades, isto é, o conhecimento precisa ser aplicado na vida do indivíduo.

Esse filósofo acreditava na experiência direta pelos sentidos e criticou os métodos que

circularam no Século XVIII. Para ele, cada disciplina deveria partir dos seus objetivos:

“A Geografia deveria, para êle, ser ensinada partindo do estudo local; a História só

deveria ser dada quando maduro o espírito; as línguas, por meio de conversação; as

Ciências, pela descoberta etc.” (CARVALHO, 1957, p. 141).

Essa questão foi fundamental para a educação brasileira no período que

estudamos. A organização dos conteúdos era tema de debates entre aqueles que se

preocupavam com o método de ensino na escola primária e estava posto para a

disciplina Geografia, devido às suas especificidades, que dizem respeito ao ponto de

referência de partida dos conteúdos. Iniciar o ensino a partir dos aspectos gerais em

direção aos particulares era uma característica metodológica que vinha sendo

questionada desde Comenius. E o contraponto dessa posição foi fundamental para os

debates relativos à superação da memorização para o ensino dessa disciplina.

Os autores Comênio e Rousseau reconhecem o método para ensinar como algo

definidor do trabalho docente. Para isso, ancoram-se numa concepção do conhecimento

64 Jean-Jacques Rousseau não toma a religiosidade como princípio central da sua obra, como o faz

Comênio. Mais detalhes sobre as diferenças entre esses dois tratados pedagógicos, consultar

Valdemarin (2000).

205

que tem nos sentidos humanos sua origem, em que decorrem procedimentos didáticos

propostos por cada um desses autores, cujos elementos decisivos para as práticas

educativas são a experiência a ser vivenciada e a atividade.

Já no Século XVIII, começaram a ser construídas as ideias mais incisivas do

pensamento de Pestalozzi sobre as transformações pedagógicas, que procurava partir

das contribuições da concepção de educação posta por Rousseau, ou seja, sua proposta

pedagógica prezava pela “[...] educação como um processo que deve seguir a natureza e

os princípios como da liberdade, da bondade inata do ser e da personalidade individual

de cada criança” (ZANATTA, 2005).

Por volta da metade do Século XIX, a concepção de conhecimento explicitada

por Comênio e Rousseau foi aceita tacitamente e difundida por educadores, com a

finalidade de renovar as práticas pedagógicas. Nesse contexto, a educação dos sentidos

é o objetivo mais importante. Essa discussão marcou o processo de escolarização da

instrução e, por conseguinte, a disseminação de escolas por vários lugares no Brasil

(VALDEMARIN, 2000).

Foi nesse contexto em que foi elaborado e divulgado o método de ensino

intuitivo65

, que visava educar pelos sentidos, para as coisas e pela experiência. Essa

prática pedagógica empregava os objetos didáticos que eram conhecidos pelos alunos

para promover a aprendizagem. Também conhecido como Lições de Coisas, baseou-se

no conhecimento humano, em que as noções e as percepções da existência de

semelhanças e diferenças entre os objetos são medidas por meio dos sentidos. Com a

função de orientar a prática pedagógica da escola elementar, o método de ensino

intuitivo apontou como centro das ações pedagógicas a proposição de exercícios, que

eram indicados para auxiliar as percepções gestadas pela memória para o

desenvolvimento humano.

A arte de como ensinar apresentava-se como um problema pedagógico central, e

os métodos tornaram-se as expectativas para a garantia de bons resultados, que

sintetizavam todos os elementos inerentes à tarefa educativa. Assim, entendemos que os

procedimentos didáticos se configuravam como traduções da teoria do conhecimento, a

partir de cada fase de desenvolvimento da criança.

65 No terceiro tópico do capítulo III, tratamos de forma mais aprofundada a discussão sobre o método

intuitivo ou “Lições de Coisas”.

206

Esse conjunto de regras vai se articulando para definir as orientações necessárias

à prática docente, visando produzir procedimentos capazes de provocar a aprendizagem

entre gerações mais novas. Os autores Froebel e Pestalozzi são conhecidos, entre os

estudiosos das formas de transmissão do conhecimento pelos métodos, como os

responsáveis pelas primeiras tentativas de sistematizar essas proposições teóricas.

Foram eles que procuraram inovar as práticas educativas em curso e adequar suas

experiências educacionais às concepções de infância difundidas naquele período, com

base nas percepções dos sentidos e da observação.

No Brasil, as ideias de Pestalozzi foram introduzidas por livros traduzidos na

época e, de algum modo, pelas adaptações de suas práticas educativas postas na obra

Lições de Coisas, traduzida por Rui Barbosa, conforme discutido neste trabalho. Rui

Barbosa também ficou conhecido entre nós como precursor de um processo didático

baseado na investigação e na experimentação.

As preocupações de Rui Barbosa voltaram-se para um método de

ensino e programas escolares capazes de suscitar o espírito científico,

a curiosidade e o gosto pela experimentação, sintonizados com as

diferentes etapas do desenvolvimento humano. O objetivo de Rui

Barbosa não era trazer apenas a contribuição de um formulário de

lições de coisas, mas documentar uma nova orientação pedagógica

desenvolvida nos países mais adiantados e colocar, pela primeira vez,

os mestres brasileiros em contato com as idéias pestalozzianas

(ZANATTA, 2005, p. 177).

Em outras palavras, podemos inferir que foram esses os motivos mais fortes que

motivaram Rui Barbosa a lutar pela reforma dos métodos. Ele entendia que era

necessário que a racionalidade dos métodos começasse desde a escola primária, visando

a um ensino cuja base fosse a investigação dos fatos, a classificação e a indução das

leis; a comparação por analogia e contraste e a capacidade de observar para ativar a

atividade intelectual das crianças.

Rui Barbosa, como membro do Instituto Histórico e Geográfico, era um dos

intelectuais do seu tempo que lutava pela inclusão do ensino de Geografia no grupo das

disciplinas que compunham o currículo do ensino primário e secundário. Por isso, é

comum encontrarmos pesquisas que o reconhecem como um dos precursores das bases

iniciais do ensino dessa disciplina, sobretudo, pela circulação de suas ideias e seu

envolvimento com os aspectos pedagógicos e didáticos para o ensino da Geografia.

207

Assim, formam constituídas novas perspectivas para o ensino de Geografia,

definidas com a aplicação do método intuitivo, que muito contribuiu para as propostas

metodológicas dessa disciplina, por meio do pensamento de Pestalozzi e de seus

fundamentos para a Educação. Isso foi fundamental para que elaborássemos um

questionamento que ocupa lugar central nesta tese, o destaque dado à Geografia quando

do avanço dessa proposta metodológica no Brasil, pois, “[...] dentre as disciplinas

escolares, a Geografia, em razão de sua própria singularidade e fascínio, destacava-se

como a mais indicada aos interesses e motivações do dinamismo psicológico e físico da

criança” (ZANATTA, 2005, p. 178), portanto, como a disciplina que mais se adequava à

discussão metodológica proposta para o ensino primário da época.

As propostas pedagógicas que compunham os debates entre o final do Século

XIX e os anos iniciais do Século XX, assinalam as contribuições de Pestalozzi acerca

das metodologias de ensino da Geografia, principalmente por entender a experiência e a

percepção sensorial como um processo ativo. Podemos dizer que a Geografia deve a

Pestalozzi a primeira tentativa de estabelecer seu ensino com base na intuição, porque

foi com base em suas ideais que foram elaborados os procedimentos fundamentais do

ensino de Geografia local, que já se falava desde Rousseau, pois, em sua mais famosa

obra, Emílio, encontra-se preconizado o ensino da Geografia local, quando advertia que

as lições de Geografia não deveriam começar pelo estudo dos globos e dos mapas, e que

a criança deveria aprender Geografia por meio do objeto mais próximo e da natureza.

No caso da Geografia, é perceptível, em algumas obras destinadas ao ensino

primário, a recorrência aos estudos de Pestalozzi, a quem foi atribuída a primeira

tentativa de estabelecer os princípios da intuição para o ensino dessa disciplina. Em

nossa pesquisa, temos constatado que muitos autores de livros didáticos e alguns

estudiosos da área afirmam que, antes dos estudos de Pestalozzi, estudar Geografia

limitava-se à tarefa de memorizar nomenclaturas referentes a países, a globos e a cartas.

Para Pestalozzi, o ensino da Geografia local deveria estabelecer “[...] como ponto de

partida o pequeno mundo da criança para o estudo dos fenômenos geográficos por

círculos concêntricos em que primeiro se apresentava ao aluno o “próximo” ou

concreto, para em seguida tratar de áreas distantes” (ZANATTA, 2005, p. 172). Como

no capítulo anterior, novamente enfatizamos o debate sobre a relação do método de

ensino com a Geografia escolar, visto que se acreditava que essa questão se resolveria

208

exclusivamente pela escala geográfica.

As ideias de Pestalozzi também podem ser denominadas de pedagogia intuitiva,

que se fundamentava, principalmente, na tentativa de oferecer capacidades de

desenvolver a percepção e a observação dos alunos.

Essa pedagogia fundamentava-se na psicologia sensualista, cujos

representantes afirmavam que toda a vida mental se estrutura

baseando-se nos dados dos sentidos, ou empregando um vocabulário

pedagógico, valendo-se do concreto. Considerando-se esses

fundamentos, pode-se adotar o conhecimento, até então abordado

independentemente da realidade, a partir da observação do real.

(ZANATTA, 2005, p.180).

Com Pestalozzi66

, inaugurou-se um debate sobre a Geografia local, e o mundo

da criança tornou-se o ponto de partida das discussões teóricas referentes à disciplina,

como a localização de sua casa, a escola, as terras circunvizinhas, os rios e os cursos das

águas, ou seja, primeiro, era preciso estudar os questionamentos das crianças com base

em seu entorno. Na Geografia, esse método era conhecido como ensino por meio de

círculos concêntricos, que consistia em ensinar ao aluno partindo do grau de

complexidade menor até o maior, começando a trabalhar os assuntos mais próximos de

sua realidade e alargando suas possibilidades de aprender até os conteúdos mais gerais

do globo terrestre, portanto, uma solução via escala geográfica.

Proença (1928) adverte que a observação direta do aluno sobre a natureza era de

fundamental importância para a realização do ensino da Geografia local:

Uma das condições de sucesso no estudo da geografia local é a

possibilidade de lições ao ar livre, no pátio da escola, nos arredores da

cidade e mesmo em pontos distantes da escola, porque as coisas e os

fatos devem ser observados in loco. Não quer isso dizer que o estudo

todo exija desenvolvimento fora da escola. Há lições formais e há

trabalhos de aplicação para serem realizados na sala de aula. Em

certos casos, contudo, torna-se indispensável a excursão (PROENÇA,

1928, p.51).

De acordo com Proença (1928), a observação direta dos fenômenos geográficos

deveria cumprir os procedimentos de localização, observação, medição e representação

de um local, e era de suma importância só definir cada objeto quando os alunos já

66

Temos uma literatura que informa que esse estudioso do campo da Educação iniciou seus estudos

geográficos no Instituto de Yverdon, quando se aproximou das noções básicas de Geografia política,

dos pontos de observação e do alcance do saber geográfico.

209

conhecessem os elementos que os compunham. Para esse autor, no ensino primário,

recomendava-se o “[...] estudo através da observação dos fatos da localidade do aluno.

Assim o aprendizado da geografia descritiva do mundo tem de ser precedido, pois, de

um estudo das coisas e fatos da própria localidade. É o que se chama geografia local”

(PROENÇA, 1928, p.37).

Em sua obra, “Como se ensinar geografia”, esse autor faz alusão às

contribuições de Pestalozzi para a Educação e para a Geografia. Quando se trata das

proposições teóricas do método intuitivo, ele aponta que é pelos sentidos que se aprende

Geografia e, consequentemente, o único caminho para conhecê-la é por meio da

observação, seja ela direta ou indireta. A esse respeito, ele acrescenta:

O método das lições de geografia elementar é o intuitivo, quer se trate

da geografia local, quer da regional. A diferença está apenas nisto: na

geografia local a intuição é direta; na geografia regional a intuição é

indireta. Num caso vê-se, examina-se, experimenta-se; em outro,

imagina-se (PROENÇA, 1928, p.45).

Essa assertiva tem relação direta com o método intuitivo e seus princípios,

especialmente nas recomendações de um ensino com base nos sentidos e na observação

das coisas e dos fatos. Sobre essa questão, Bonato (2011, p. 07) afirma que [...] era

necessária uma renovação pedagógica e, para isso, a implantação de um método de

ensino que fosse capaz de efetivá-la. Nessa perspectiva e no caso da Geografia em

particular, a indicação dos exercícios como um método capaz de propiciar essa

aproximação da criança com o objeto e as formas práticas de ensinar os conteúdos era

frequentemente citada, sobretudo nas denominações sobre método apresentadas por Rui

Barbosa (1883; 1886) ou dele em companhia de outros intelectuais.

Nesse contexto de descontentamento com os modos de ensinar, começou a

desapontar, na metade do Século XIX, o movimento pela renovação pedagógica, com o

fim de “[...] investir contra o caráter abstrato e pouco utilitário da instrução,

prescrevendo-lhe um novo método de ensino, novos materiais, a criação de museus

pedagógicos, variação de atividades, excursões pedagógicas, estudo do meio, entre

outras” (VALDEMARIN, 2004, p. 104).

Nesse sentido, pontuamos não só as contribuições do pensamento de Pestalozzi,

pois elas são inegáveis, mas também as críticas a essas propostas de ensino, que são

210

também contundentes, como seriam comuns a qualquer outra corrente teórica, pois, ao

que nos parece, as críticas e a negação do velho ou antigo são, quase sempre,

pressupostos para sustentar determinados grupos no controle e na busca por firmar e

propagar suas ideais no campo social e no cultural.

Ressaltamos a principal crítica de alguns pesquisadores à Pedagogia pestaloziana

referente à posição passiva do aluno no processo de assimilação do conhecimento, pois,

de modo geral, era o professor quem executava as operações na transmissão dos

conteúdos por meio dos sentidos. E, embora o centro dessa Pedagogia fossem o

concreto e as atividades práticas, o aluno não participava do processo, não interagia nem

se integrava de maneira reflexiva. As críticas também eram porque, mesmo com

propostas de trazer o ensino para moldes mais práticos, faltou um direcionamento que

possibilitasse o desenvolvimento do abstrato e, mais ainda, uma metodologia que não

mais se respaldasse na memorização de resumos, conceitos e nos mesmos

procedimentos que visavam encontrar soluções para os exercícios práticos.

Então, nessa perspectiva de contribuições e de críticas ao pensamento de

Pestalozzi, cabe-nos assumir que a percepção sensorial e o método intuitivo, guardadas

algumas proporções, trouxeram melhorias para a aquisição dos conhecimentos do

ensino primário e, em especial, o de Geografia.

A seguir, apresentamos algumas considerações sobre os métodos de ensino e a

Escola Nova, procurando discutir historicamente sobre esse movimento que marcou as

orientações pedagógicas e as produções didáticas no período posterior aos debates aqui

apresentados acerca do método intuitivo.

5.2. A difusão dos métodos de ensino e a Escola Nova: um olhar sobre as produções

didáticas e seus autores

Os métodos de ensino fazem parte da história da formação dos saberes escolares,

da organização pedagógica da escola e, por conseguinte, da constituição de uma

disciplina (SOUZA, 2011). Com base nessa afirmação, consideramos que os métodos de

ensino, como procedimentos didáticos, permeiam a relação entre as concepções do

espaço escolar e a ação dos professores, por meio de orientações pedagógicas

(ALBUQUERQUE, 2010). Ou seja, o método de ensino pode ser definido como um

211

conjunto de procedimentos reguladores que possibilitam que tal intento seja alcançado

no ensino de uma disciplina.

Alguns livros didáticos publicados a partir do segundo decênio do Século XX

traziam, em sua introdução - geralmente destinada ao leitor professor - orientações

pedagógicas que comungavam com as indicações do movimento de inovação em curso,

com concepções epistemológicas centradas “[...] em um conjunto de prescrições

metodológicas para o ensino, desdobrando-se em lições, exercícios e atividades”

(VALDEMARIN, 2006, p.89). Por isso entendemos que é necessário discutir sobre os

métodos de ensino e sobre a Escola Nova, apoiando-nos, entre outros documentos,

nesses livros como um dos elementos que podem nos indicar caminhos para

compreender como podemos difundir esses métodos destinados ao ensino primário.

Há uma relação direta entre o modo de produção didática e o campo de

propagação e difusão dos métodos de ensino. O Século XIX é considerado decisivo para

entendermos essas questões relativas aos modos de ensinar, como se deram as

organizações, e, sobretudo, por ser nesse período que identificamos, no Brasil, a

presença de vários métodos que perpassaram as escolas, entre eles: o individual67

, o

mútuo ou monitoral68

, o simultâneo, o intuitivo, o João de Deus69

etc. Podemos afirmar

que é no cerne dessas inovações que captamos traços dos novos significados conferidos

aos objetos utilizados para ensinar e de todo o cenário da ressignificação material das

escolas primárias.

Na análise do conjunto de livros didáticos destinados à escola primária

analisados nesta pesquisa, constatamos que seus autores demonstravam certa

67Tal método é considerado o mais antigo de todos. É aquele em que o professor ensina a cada menino, o

que podemos considerar como uma vantagem, já que o professor toma a lição dos alunos

individualmente. Suas principais desvantagens eram três: não podia ser aplicado em uma escola com

um grande número de alunos; muitas vezes, os alunos não recebiam a lição diretamente do professor,

mas de monitores, devido ao grande número de alunos, e a dificuldade de encontrar bons decoriões ou

monitores.

68 Conhecido como o método de Lancaster, que foi seu fundador. Nesse método, o mestre dava as lições

aos monitores, para que eles, seguindo a ideia passada pelo professor, ensinassem aos meninos da sua

classe. Esse método está voltado para os estudos elementares, a leitura, a escrita e o cálculo. Entre as

desvantagens apresentadas, destacamos a preparação que a escola deveria ter para trabalhar com esse

método e as dificuldades para encontrar monitores bem habilitados para substituírem um professor.

69 Esse método recebeu o nome do próprio autor e se preocupava com a forma de os alunos aprenderem a

ler. Pode ser chamado de método de alfabetização (como hoje conhecemos). Para que se chegasse ao

ensino da leitura, esse método recomendava algumas regras, que procuravam diferenciar nas letras o

valor e o nome das coisas.

212

preocupação com os métodos de ensino que, de maneira geral, já eram anunciados nos

prefácios ou nas introduções dos livros. Ao ler as indicações ou recomendações dos

métodos, logo percebemos que suas definições estão relacionadas aos preceitos que

regimentavam as escolas. Outra questão importante a ser destacada nos livros é que, em

muitos casos, temos a presença ou o uso dos métodos que coexistem, ou seja, a

indicação de dois ou mais métodos para os livros indicados para as escolas primárias.

Na tentativa de organizar os métodos mais indicados nos livros estudados,

destacamos os seguintes: o misto e simultâneo e o intuitivo são os que mais aparecem

nas indicações dos livros pesquisados. Começaremos, então, pelo misto e simultâneo.

De acordo com Faria Filho (2000), o método misto e simultâneo, como qualquer outra

teoria ou perspectiva pedagógica, surgiu nas discussões cujo foco eram os problemas

apresentados pelo método individual e a insatisfação com o método mútuo. Esses novos

métodos - o misto e o simultâneo - foram surgindo ao longo do Século XIX e estão

intrinsecamente vinculados à forma de organizar a sala de aula e a forma escolar

(VICENT, LAHIRE E THIN, 2001).

Tal método foi inspirado por Jean-Baptiste de La Salle e introduzido a partir de

1850, especialmente nas escolas primárias. Na prática, exigia que o professor fosse

capaz de instruir e dirigir simultaneamente todos os alunos da classe. O ensino era

ministrado de modo coletivo, e o professor apresentava aos alunos as lições de

determinada matéria. Na sala de aula, os alunos eram divididos quase que

homogeneamente e separados por grupos de acordo com o grau de instrução. Nesse

período, era comum se recomendar e definir os métodos para cada grau de ensino. Para

esse momento, a instrução acreditava que o melhor método era o simultâneo.

Como o professor era o agente de ensino, o mestre dirigia a escola sem nenhuma

ajuda. Sobre sua execução, referimos que, embora seja um ensino coletivo, o professor

precisava recorrer ao sistema individual, por causa das disparidades entre o grau de

instrução de cada aluno dentro da mesma sala. Outra desvantagem era o número de

alunos, pois, já que não havia ajudantes, deveria ser muito limitado. As classes deveriam

ser bem pequenas e heterogêneas, de modo que os meninos se encontravam em

diferentes graus de habilitação.

Décadas depois, já por volta de 1885, período em que o Regimento das Escolas

Primárias já deixava livre a escolha do método e demonstrava sua preocupação com os

213

métodos que circulavam nas escolas, houve discussões que introduziam o exercício das

“Lições de Coisas” pelos processos intuitivos. A seguir, apresentamos um exemplo de

uma obra destinada às escolas primárias da Província de Pernambuco que demostrava

que o método poderia ser um dos critérios de aprovação de um livro.

Da leitura do referido manuscripto avaliou a comissão a importância e

utilidade que deve ele trazer ao ensino nas escolas. Importância, pela

diversidade dos assumptos, referentes a vários ramos de

conhecimentos, com especialidade da nossa história pátria, e

principalmente dessa província: utilidade, pela fácil aquisição que

deles podem fazer as crianças, com o simples e ameno estylo em que

estam descriptos, prestando-se muito ainda ao mesmo das – Lições de

causas -, cujo exercício é hoje de tão reconhecido proveito.

(CAVALCANTI, 1880, s/p).

Essa citação foi retirada da obra Leituras Selectas para as Escolas Primárias, de

autoria de João Barbalho Uchôa Cavalcanti, publicada em Pernambuco no ano de 1880.

Nesse momento histórico, era evidente a preocupação com a produção de livros que

fossem circular nas escolas. Assim, “[...] se os livros trouxessem métodos considerados

não apropriados pelos conselhos responsáveis pela aprovação na época, os autores

poderiam ter seu livro reprovado e impedido de circular nas escolas” (ARANTES e

SILVA, 2008, p.05).

Como podemos perceber, o livro supracitado considera o método intuitivo

adequado, por isso, logo nas primeiras páginas, anuncia sua opção pelas “Lições de

coisas”. De acordo com Faria Filho (2000a), o método mútuo e o intuitivo não tiveram

sucesso porque não havia as condições necessárias para executá-los, como, por

exemplo, faltavam espaço e materiais didáticos e pedagógicos, além do problema da

formação dos professores. Em decorrência dessas dificuldades, o método mútuo deu

lugar, em várias províncias, aos chamados “métodos mistos” que, ora procuravam aliar

as vantagens do método individual às do método mútuo, ora seus aspectos positivos

com as inovações propostas pelo método simultâneo. Porém, apesar de tantas

dificuldades para executar os métodos, o intuitivo continuava sendo o mais indicado no

conjunto dos métodos definidos como “mistos”.

Entendemos que os modelos de organização pedagógica da escola primária

estavam atrelados a outras demandas sociais, porquanto as questões educacionais não

estavam – nem estão - dissociadas de seu contexto. Por isso, a seguir, discorreremos

214

sobre a Escola Nova e as transformações sociais desencadeadas a partir dos anos iniciais

do Século XX, já que a nação brasileira foi tomada por um movimento de novas ideias

nos planos cultural, educacional, social, político e econômico.

No final do Século XIX e início do XX, a Escola Nova atuou como um

movimento que tinha propostas de transformações sociais, pois trazia em seus discursos

indicações de inovações a partir da modernização70

. Sobre as modificações provocadas

por tal movimento, ressaltamos os discursos de progresso pregados pela Escola Nova,

porque, como é comum aos movimentos e às correntes teóricas, os discursos são

organizados e pensados em diferentes tempos, com interesses para demarcar seus

espaços na sociedade.

Sobre a atuação desse movimento, Valdemarin (2010), em seu estudo sobre as

“Lições de coisas”, especificamente nas análises feitas em três manuais didáticos,

voltados para a formação de professores, de autoria de João Toledo, a saber: Escola

brasileira (TOLEDO, 1925), Didáctica (nas escolas primárias) (TOLEDO, 1930) e

Planos de lição, Noções comuns (TOLEDO, 1934), mostra, em linhas gerais, como foi

sendo construída a apropriação discursiva dos principais conceitos da Escola Nova e

como podemos identificar a continuação de antigas práticas docentes prescritas a partir

dos novos princípios para o ensino primário, que combinam o velho e o novo de uma

maneira intencional e articulada (VALDEMARIN, 2010).

A fala da referida autora é comungada por Nagle (2001), quando afirma que o

movimento de inserção da Escola Nova no Brasil se organizou de modo contrário aos

relatos apresentados sobre outros países: “[...] o escolanovismo surgiu, primeiro, como

processo de especulação ou de teorização sobre a escolarização, para depois impregnar

as instituições escolares” (p. 241).

Nagle (2001) relaciona o escolanovismo ao liberalismo, porque “[...] o

70

Estamos nos referindo à literatura que afirma que a “penetração do escolanovismo” no Brasil pode ser

definida por duas fases: a primeira, que começou no final do Império e se estendeu até a segunda

metade do Século XX - a fase de propagação de novas ideias sobre a concepção de criança e dos

modos de aprender que começaram a ser introduzidas no debate educacional brasileiro (NAGLE,

2001; KULESZA, 2003). De acordo com Kulesza (2003), a primeira fase foi uma preparação do

terreno para a segunda, que começou nos anos de 1920, quando o movimento se difundiu e se firmou,

concretizando-se nos projetos de reforma educacional.

215

escolanovismo representou, ortodoxamente, o liberalismo no setor da escolarização” (p.

242). Ou seja, na Primeira República, pelos menos até a década de 1920, houve uma

preparação para difundir seus ideais na fase seguinte de sua atuação. A de 1920, o

movimento se fortaleceu, propagou-se e se firmou uma corrente educacional,

concretizando projetos de reformação educacional em várias regiões do país

(KULESZA, 2003). A partir de então, a Escola Nova procurou propagar e polarizar o

debate educacional brasileiro e colocar a “escola tradicional” no polo oposto. Temos

assim, de maneira evidente, um velho discurso se revestindo e se apropriando de um

novo, na tentativa de demarcar espaços no campo educacional e, por conseguinte, no

social e cultural de modo mais amplo (KULESZA, 2003).

Nesse processo, a organização dos saberes escolares também é vista como um

campo de disputa e de conflitos entre grupos, cada um tendo em vista seus interesses e

finalidades. Essas articulações, que entendemos como uma tradição pedagógica

(WILLIAMS, 1979), estruturam-se nas tradições seletivas de saberes que são

intencionalmente selecionados de acordo com seu reconhecimento social e cultural

(APPLE, 1982). Para Certeau (1994), tem-se o expresso movimento de uma inovação

infiltrada nos termos de uma tradição, ou seja, as concepções pedagógicas fazem parte

de um processo de idas e vindas, pois configuram suas bases nas produções anteriores,

nesse caso, o antigo, e projetam seus discursos em um novo, carregado de sentidos e

significados. Temos a formação de uma cultura escolar marcada por tempos próprios

determinados pelo espaço escolar e seus arredores, pelas inter-relações entre a escola e a

sociedade (SOUZA & VALDEMARIN, 2000).

Consideramos essas mudanças e inovações71

na perspectiva de Hobsbawm (1995

e 2013) e tentamos perceber aspectos peculiares desse pensar ou inventar da escola, que

tendem a permanecer tanto conjunturalmente quanto na longa duração do tempo,

determinando algumas tradições na sociedade. Essas tradições, não raramente

71 Na perspectiva de Hobsbawm (2013, p. 25), “a inovação pode acontecer de dois modos. Primeiro, o

que é definido oficialmente como ‘passado’ deve ser claramente uma seleção particular da infinidade

daquilo que é lembrado ou capaz de ser lembrado. Em toda sociedade, a abrangência desse passado

social formalizado depende, naturalmente, das circunstâncias. Mas sempre terá interstícios, ou seja,

matérias que não participam do sistema da história consciente na qual os homens incorporam, de um

modo ou de outro, o que consideram importante sobre sua sociedade. A inovação pode ocorrer, nesses

interstícios, desde que não afete automaticamente o sistema e, portanto, não se oponha

automaticamente à barreira”.

216

inventadas, encaminham-nos a observar as permanências ou continuidades em relação a

determinados aspectos políticos, sociais e culturais.

Segundo Hobsbawm (2013, p. 25), “teoricamente, cada geração copia e reproduz

sua predecessora até onde seja possível, e se considera em falta para com ela na medida

em que falha nesse intento”. Vejamos como isso é perceptível nas tentativas de criar,

recriar e inventar a escola, no conjunto de ideais escolanovistas que esteve presente na

construção da modernização da escolar primária.

Valdemarin (2010, p. 133), ao discutir, com base em Certeau (1994), sobre como

essas questões estavam postas no campo das produções didáticas, afirma:

[...] os manuais se inserem ora no campo das táticas (utilizam e

alteram), ora no campo das estratégicas (produzem, mapeiam e

impõem), dependendo da situação relacional. Apropriando-se das

referências contextuais e conjunturas, o autor elabora um produto

didático destinado a provocar mudanças no sistema investido da

autoridade proveniente da posição que ocupa nesse mesmo sistema –

dirigente e conhecedor do dia a dia escolar – que lhe permite, ao

mesmo tempo, acompanhar e afiançar a mudança. Nesse campo,

composto de táticas e de estratégicas, desenvolve-se também a teoria.

Assim, não se trata apenas de avaliar se as apropriações são coerentes

com as concepções teóricas que veiculam.

Trata-se de abranger o processo que, por meio de diferentes operações, ergue

uma versão que possa aproximar da realidade questões teóricas. Ao fazer esse arranjo,

os autores dos manuais passavam a operar uma seleção do novo com alguns elementos

que adquiriam significado próprio na continuação das práticas. Nesse momento,

reforçamos as evidências dos traços das permanências na propagação das ideias e na

conformação dos discursos. De forma ampla, entendemos que a produção pedagógica

da época tinha relação direta com a ideia de nação (GONDRA, 2007) e, sobretudo, com

os dispositivos permanentes de formação dos professores, dos modos de ensinar e das

ideias da Escola Nova.

Centrando nosso olhar, mais precisamente, para as intencionalidades e os

interesses que dialogam com a produção dos livros, corroboramos o pensamento de

Valdemarin (2010), quando adverte que, em uma pesquisa sobre livros didáticos, é

fundamental considerar os elementos internos (os pedagógicos) e os externos (os

políticos, sociais, econômicos e culturais) que perpassam esse processo. Daí decorre a

preocupação com o aspecto pedagógico, com as ideias veiculadas e sua expressão na

217

constituição dos métodos de ensino e nos modos de ensinar. Por isso, nas produções

pedagógicas, encontramos referências às práticas estabelecidas e às emergentes

dispersas no desenvolvimento da cultura pedagógica mais ampla (VALDEMARIN,

2010). Tais aspectos são predominantemente marcados pela influência decisiva dos

processos formativos que envolvem o trabalho docente, a formação de professor e as

práticas educativas e escolares.

Assim, por integrar um conjunto de ideias da cultura escolar, sobretudo nos

aspectos internos, os livros são objetos vinculados a uma cultura social mais ampla

(influência dos aspectos externos), que obedece a uma ordem composta de operações

articuladas e estrategicamente pensadas, por meio da qual se produzem ou procuram

produzir mudanças em uma dada realidade.

Assim sendo, manuais didáticos e coleções pedagógicas se inserem na

mesma premissa estratégica de moldar a mentalidade do leitor por

meio dos textos. No entanto, os manuais didáticos evidenciam que

seus autores não se apresentam para as concepções teóricas como

páginas em branco, mas se apropriaram delas com táticas de usuários,

o que não os impede de produzir material com o objetivo de moldar

cotidianamente os procedimentos de seus leitores (VALDEMARIN,

2010, p.133).

A produção dos manuais didáticos se insere num conjunto de fatores que

interagem ora no campo pedagógico, ora no campo da cultura mais ampla. Portanto, em

se tratando, mais especificamente, dos aspectos externos, podemos inferir que esses

objetos culturais integram, muitas vezes, elementos do campo das táticas (usando-as ou

as alterando) e do campo das estratégias (quando são capazes de produzir, mapear e

impor suas ideias) (CERTEAU, 1994).

Nesse campo de táticas e de estratégias (CERTEAU, 1994), desenvolve-se um

produto didático proposto, especialmente, para o dia a dia da escola, que se apropria

desse campo e reúne, seleciona e elabora referências contextuais e conjunturais que lhe

permite, ao mesmo tempo, desenvolver teorias, acompanhar e promover mudança no

sistema escolar.

Em nossas análises, ficou evidente o movimento de alguns autores brasileiros

para acompanhar os debates postos nos livros didáticos estrangeiros e, como autores e

elaboradores do currículo, traziam para o Brasil as discussões sobre um conhecimento

mais voltado para a prática, para o aluno exercitar o aprendizado. Como exemplo, temos

218

as publicações de Carvalho (1925), Proença (1928) e Toledo (1930) de livros didáticos

com indicações metodológicas para o período, com base nas indicações do método

ativo. Esses autores acompanhavam as discussões sobre o processo de renovação dos

métodos de ensino e o movimento escolanovista72

aqui no Brasil.

Feitas algumas ponderações acerca das interferências diretas e indiretas que

perpassam o campo das produções pedagógicas, não podemos deixar de explicar como

esse processo foi marcado pela difusão dos métodos e sua relação com os princípios da

Escola Nova. Sobre essas questões, destacamos o estudo de Valdemarin (2004) a

respeito das diferenças entre as concepções de conteúdo e de método de ensino entre as

proposições do método intuitivo e da Escola Nova.

Como já aludimos, uma das inovações que podemos associar ao método de

ensino intuitivo consistiu em considerar a centralidade dos objetos no processo de

aquisição do conhecimento. Já na pedagogia proposta pela Escola Nova, com fortes

críticas ao ensino intuitivo, tomou-se como referência o pensamento de John Dewey,

cujo objeto não é mais o ponto de partida, pois o foco agora é o problema, isto é, “[...] o

conhecimento que resultava da indagação geradora da reflexão que partia da experiência

do aluno” (SOUZA, 2013, p. 108).

De modo geral, para o campo pedagógico e, mais precisamente, para o método

de ensino intuitivo, os objetos e as coisas introduzidos na escola como objetos didáticos

tinham uma forte relação com a produção social e com a aplicação do conhecimento na

sociedade. Contudo, na proposição apresentada por John Dewey da Escola Nova, o

problema passou a ser o foco da percepção do indivíduo na sociedade onde ele está

inserido. Essa percepção depende das experiências já vivenciadas pelos sujeitos sociais

(VALDEMARIN, 2004). A esse respeito, Souza (2013, p.108) esclarece:

No método intuitivo, a seleção dos objetos, mesmo guardando

relações com a infância, resultava de uma escolha do adulto. Na

Escola Nova, os objetos de ensino são recursos auxiliares que devem

ser disponibilizados pela escola para favorecer a atividade do aluno.

72 O período da Segunda República foi fortemente marcado pelas ideias e pelo desejo de reconstruir

práticas educacionais defendidas pelo Manifesto dos Pioneiros (1932). É importante ressaltar que

encontramos em discursos de alguns estudiosos a reprodução ou a ideia de que a educação brasileira

só começara a partir de 1930, o que não é verdade, porquanto o que houve foi a institucionalização do

sistema de ensino, uma vez que já existia uma rede de escolarização: os grupos escolares, que

resultaram da reunião das cadeiras isoladas, uma prática comum do final do Século XIX e o início do

XX.

219

Portanto, na pedagogia nova, os objetos de ensino perdem a

centralidade adquirida na renovação pelas lições de coisas. Eles

deixam de ser condição para a aquisição do conhecimento e se

convertem em meios, componentes de um ambiente deliberadamente

organizado para fomentar experiências de aprendizagem.

Nessa citação, há apontamentos que indicam outras necessidades na estrutura

educacional que justificam certa diversificação de espaços e materiais como:

laboratórios, salas ambiente, museus, bibliotecas, hortas, jardins, auditórios e quadras de

esportes – ou seja, necessidades para que fossem desenvolvidas atividades de

experimentação do meio através de jogos e de brincadeiras.

A Escola Nova se consagrou como o ideário de renovação do ensino primário,

mais precisamente, a partir da década de 1920 (SOUZA, 2013). O final dos anos de

1920 e o início dos anos de 1930 são marcados pela promoção de reformas educacionais

em vários estados brasileiros. Essas reformas foram realizadas com base na moderna

Pedagogia, que sugeria não só mudanças metodológicas no ensino, mais também novas

finalidades para a área da Educação, para agregar a instituição escola aos projetos de

modernização e reconstrução social do Brasil.

Esse período histórico foi marcado, sobretudo, por inovações e reconfiguração

da organização da escola primária. Entre as modificações postas na renovação

educacional feita pela Escola Nova, destacamos dois aspectos que marcaram esse

momento: a chamada Escola Ativa, “[...] envolvendo formulações como a expansão do

ensino, a adoção dos centros de interesse, os métodos ativos, a ênfase em atividades

como excursões, salas ambiente, método de projetos, etc., e as instituições auxiliares da

escola” (SOUZA, 2013, p. 109), que podem ser: as bibliotecas, os museus, as

cooperativas (incluindo as associações de pais e mestres), a chamada caixa escolar, os

locais de assistência médica e dentária, os pelotões de saúde e as ligas de bondade.

Portanto, adotava-se um aparelhamento escolar mais aprimorado, inclusive na

incorporação de novas tecnologias da comunicação.

No Brasil, os renovadores da Escola Nova se destinaram a propagar os

princípios da pedagogia moderna por meio de diferentes estratégias, interesses e pontos

de vista. Educadores e intelectuais, como Fernando de Azevedo, Lourenço Filho, Anísio

Teixeira, Carneiro Leão, Mário Casassanta, entre outros, empenharam-se na tarefa de

reorganizar radicalmente o sistema educacional brasileiro apoiados nas novas

220

finalidades sociais da escola no país. De um lado, cabia ao grupo da Escola Nova

adaptar as crianças às necessidades da sociedade moderna, chamada de civilização em

transformação; de outro, ela precisaria estabelecer-se como em elemento de mudança no

campo social, como instrumento de intervenção e atuação nos processos sociais. Essa

compreensão da escola como instituição social foi declaradamente defendida no

documento do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova:

As instituições periescolares e postescolares, de caráter educativo ou

de assistência social, devem ser incorporadas em todos os systemas de

organização escolar para corrigirem essa insufficiencia social, cada

vez maior, das instituições educacionaes. [...] a escola deve utilizar,

em seu proveito, com a maior amplitude possível, todos os recursos

formidáveis, como a imprensa, o disco, o cinema e o radio, com que a

sciencia, multiplicando-lhe a efficacia, acudiu á obra de educação e

cultura e que assumem, em face das condições geográficas e da

extensão territorial do paiz, uma importância capital (MANIFESTO

DOS PIONEIROS DA ESCOLA NOVA, 1984, p. 423).

Ressalte-se, porém, que as inovações propostas pelos pioneiros não aconteciam

somente no campo das inovações nos usos de recursos didáticos, mas também no campo

no político, no administrativo e no metodológico. Sobre essa temática, nos anos de

1920, Araújo (2001, p. 10 e 11),

[...] os renovadores conquistaram e consolidaram uma hegemonia no

campo educacional em âmbito nacional, pela intensa atividade que

desenvolveram como idealizadores e organizadores dos sistemas

públicos de ensino e da pesquisa educacional, também, como

promotores de cursos, palestras, semanas de educação e da difusão de

uma vasta e diferenciada produção educacional através de obras

próprias ou coleções especializadas e, principalmente, como

organizadores das Conferências Nacionais de Educação. Polarizaram,

ainda, o debate sobre a escola pública, gratuita, laica e universal.

O movimento de modernização educacional, encabeçado pelos renovadores da

educação, no que diz respeito à organização do campo educacional, tinha como

principal referência as propostas oriundas do movimento escolanovista e da expansão da

Escola Ativa, o “como educar”, baseado no “como ensinar” e no como devem ser “os

procedimentos de ensinar”. Para Rocha (1996), esse momento foi uma fase de

constituição da modernidade educacional voltada para a constituição de uma sociedade

moderna e republicana, com projetos que deram uma nova configuração ao processo de

escolarização brasileira, mesmo que de forma lenta, evidenciando, portanto, as

221

permanências que são próprias desse e de outros processos históricos.

Em 1930, especialmente relativo ao modelo mais amplo da Educação, eram

visíveis as preocupações do então Presidente da República, Getúlio Vargas, em tornar o

Brasil um país industrial e desenvolvido pelas vias da educação primária. Logo após a

tomada de poder do Presidente, foi publicado o Decreto nº 19. 40273

, de 14 de

novembro de 1930, que criou o Ministério da Educação e Saúde, incumbido de todo o

estudo e das questões relativas ao ensino e à saúde pública, cuja finalidade era de de

controlar e incentivar, em todo o país, as vias de desenvolvimento dos problemas de

suma importância para o projeto de Nação de Vargas: a educação e a saúde

(SCHWARTZMAN, 1983, p.352). Esse novo Ministério passou a ser prioridade nas

metas para o progresso nacional. Nas palavras de Andreotti (2010, p.106), “[...] a

educação escolar foi considerada não apenas como propulsora do progresso e

instrumento de reconstrução nacional, em conformidade com as aspirações

republicanas, mas também como meio eficaz de promoção e ascensão social”.

Ainda com o propósito de estimular o processo de industrialização e de

desenvolver o país, em 1931, foi realizada a grande reforma educacional, que ficou

conhecida como Reforma Francisco Campos e que, de acordo com Andreotti (2010,

p.108), naquele momento,

[...] estruturou e centralizou, na administração federal, os cursos

superiores, adotando o regime universitário; organizou o ensino

secundário, dividindo-o em dois ciclos, um fundamental, de cinco

anos, e outro complementar, de dois anos, esse último voltado para

determinadas carreiras, ambos obrigatórios para o ingresso no ensino

superior e estruturou o ensino comercial nos níveis médio e superior.

O ensino primário ou elementar e as escolas normais não foram

afetados por essa reforma por serem de competência dos estados,

herança da legislação do Império e do caráter descentralizador da

República.

A autora, de certa maneira, tem razão ao dizer que o ensino primário não foi

afetado pela reforma, no entanto, se configurou como de suma importância para

apolítica educacional. Segundo Scwartzman (1983, p. 360), o ensino primário se

instituiu em “[...] uma política de maior esforço administrativo, de maiores

empreendimentos e realizações, de mais bem orientada organização”.

73

Para saber mais detalhes sobre o Decreto nº 19.402, de 14 de novembro de 1930,

<http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/d19402.pdf>.

222

Sobre a Reforma Francisco Campos, em suas diretrizes gerais, relacionadas ao

ensino primário, não foram incorporadas orientações específicas para esse nível de

ensino, no entanto, dentro das propostas do novo projeto da Nação como um todo, o

investimento no ensino primário foi essencial. Um exemplo disso foi o crescente

número de vagas nas escolas públicas primárias destinadas74

, em grande parte, às

camadas populares da sociedade, e o processo de expansão de grupos escolares no

Brasil.

Na década de 1930, destacaram-se a elaboração de um Plano Nacional de

Educação; a declaração, na Constituição de 1934, de gratuidade e de obrigatoriedade do

ensino elementar, além de muitas reformas educacionais, que ora partiam da iniciativa

da União, ora eram de responsabilidade dos estados. Porém, como em todos os

processos históricos, tal período foi marcado por intensos conflitos e calorosos embates.

No terreno educacional, Andreotti (2010, p.106) ressalta “[...] que envolveram

essencialmente, dois grupos principais: de um lado, os integrantes do movimento

escolanovista e, de outro, os setores conservadores da Igreja Católica”.

Sobre essa colocação da autora, um dos pontos importantes para a educação

como um todo e que atingiu sobremaneira o ensino primário foi o Manifesto dos

Pioneiros da Educação Nova75

, formado pela conhecida tríade - Lourenço Filho (que se

preocupou com as bases psicológicas do documento), Fernando de Azevedo (que

enfatizou as questões sociológicas) e Anísio Teixeira (que pensou nas bases filosóficas e

fortaleceu as políticas da renovação escolar), juntamente com outros acentuados

educadores, que construíram um novo cenário que visava propor intensas mudanças na

organização da educação nacional (SAVIANI, 2008). Em nosso recorte temporal,

entendemos que a Escola Nova teve uma forte atuação associada aos movimentos

políticos envolvidos na organização da educação nacional. Nesse sentido, a Escola

Nova, estrategicamente, foi se adequando e se aliando às bases filosóficas, sociológicas

e políticas dos processos de renovação e reestruturação do campo educacional, ou seja,

em cada momento histórico, esse movimento atrelava seus interesses às finalidades

74 A esse respeito, ler os clássicos estudos realizados por Romanelli (1978) e Ribeiro (1992).

75 A proposição para esse amplo e novo panorama educacional foi sistematizada em um dos

documentos mais importantes para a história da educação brasileira no período, o Manifesto dos

Pioneiros da Educação Nova, de 1932.

223

mais amplas da educação.

No que diz respeito às proposições metodológicas da Escola Nova nos livros

didáticos da época, podemos dizer que, de maneira geral, esse debate é pouco

contemplado nas obras estudadas, porque os livros pesquisados ainda estavam

fortemente marcados pelo método mnemônico e pela Geografia descritiva. Como

exemplos de autores que trabalham com esse método de perguntas e respostas, com um

texto mais marcado pela memorização de nomes de países, de rios e de continentes,

temos as obras: Geographia Elementar, de Novaes José Theodoro de Souza Lobo,

publicado em 1924; Geographia Primária: composto para o uso das Escolas Primárias,

de Dr. Carlos Novaes, publicado em 1892; e Novo Manual de Geographia: Curso

Elementar, publicado pela F.T.D, em 1907. Com essa constatação, convém admitir que

ainda era muito forte a presença desse método nas produções didáticas, com um ensino

cuja finalidade principal ainda era de repassar os conhecimentos geográficos por meio

do reforço dos princípios da memorização.

Contrárias a essa concepção metodológica acima descrita, algumas obras

procuravam romper com outro método de ensino que não se pautasse no método

catecismo. Para isso, organizavam os conteúdos pela indicação dos métodos adotados e

trabalhavam os conteúdos geográficos usando os métodos indicados pelo movimento

escolanovista.

Em nossa pesquisa, encontramos obras que, logo na contracapa, os autores

evidenciavam o tipo ou os tipos de métodos adotados, pois era comum a adoção de mais

de um método. Observe-se o que diz Pinheiro (1875) sobre o método, nas primeiras

páginas da sua obra:

224

Figura 23: Descrição dos tipos de métodos adotados para o ensino da Geografia

Fonte: PINHEIRO, Manoel Pereira de Moraes. Elementos da Geographia Geral do Brazil e especial de

Pernambuco. Recife, 1875. Acervo: GPCES.

Seguindo nessa mesma perspectiva, o livro de Amaral (1904) traz, na

contracapa, matérias de jornais que discorrem sobre o método expositivo em

substituição ao interrogativo, adotado pelo autor do livro:

225

Figura 24: Indicação e definição do método expositivo

Fonte: Geographia Elementar, de Tancredo do Amaral, de 1904 - Acervo pessoal da autora

Como se pode observar, a figura 24 mostra a importância dada ao método pelos

jornais da época, que traziam, inclusive, a definição do método adotado pelo autor,

assim como sua oposição em relação aos métodos mnemônicos adotados em obras

publicadas. Cabe ressaltar que esses debates voltados para as proposições

metodológicas da época estão associados ao processo de renovação dos métodos mais

amplos a que estava exposta a escola brasileira.

Concomitantemente a essas publicações, cresceu o número de manuais

destinados a orientar os professores de Geografia sobre a metodologia, como as obras de

Proença (1928) e Toledo (1930), que indicam um ensino com base nos pressupostos do

método intuitivo. Sugeriam que os conhecimentos geográficos fossem ensinados

partindo dos elementos mais próximos para os mais distantes, dos temas mais fácies

para os mais complexos e recomendavam que os professores do ensino primário

primeiro proporcionassem aos seus alunos a visualização das formas geográficas do seu

entorno, por meio dos círculos concêntricos.

226

Entre as recomendações apresentadas nas obras de Proença (1928) e de Toledo

(1930) referentes aos métodos de ensino, era perceptível o apelo para que o ensino

primário tivesse como base o método intuitivo e que ele fosse executado,

principalmente, por meio dos exercícios cartográficos e mais práticos. Tais autores, cada

um a seu modo, trazia suas preocupações sobre a finalidade do ensino da Geografia,

suas concepções pedagógicas e os métodos de ensino.

Em linhas gerais, o centro de interesse desses autores eram os métodos aplicados

ao ensino primário e as concepções pedagógicas voltadas para a escola primária. Em

nossas análises, verificamos que Proença e Toledo buscavam nos percussores da Escola

Nova, como Pestalozzi e Decroly, as inspirações para organizar propostas

metodológicas. Assim, tinha-se a proposta de um ensino que se pautava mais nos

métodos expositivos e na aplicação de exercícios práticos de Geografia.

Nesse sentido, destacamos a ênfase que Proença (1928) dava às contribuições de

Pestalozzi para que fosse possível trabalhar a Geografia sobre as bases da intuição, ou

seja, a partir dos princípios do método intuitivo. De acordo com esse autor, antes dos

estudos de Pestalozzi, a Geografia se limitava “a definições memorizadas e exercícios

nos globos e nas cartas” (PROENÇA, 1928, p.48). Para Proença, depois de Pestalozzi,

inaugurou-se a Geografia local:

É na natureza que a criança deve aprender geografia. A casa paterna,

as terras circunvizinhas, os cursos da água da região, a marcha do Sol

no céu, a orientação, eis os primeiros centros de interesse para a

criança. Depois viria o traçado da carta do terreno que se estudou

(PROENÇA, 1928, p. 48-9).

Essa questão apontada por Proença tem relação direta com as finalidades dos

exercícios no ensino primário e com as indicações dos seus modelos e tipos, pois as

proposições metodológicas consistiam em saber como os alunos deveriam praticar os

exercícios de Geografia, e como os exercícios poderiam contribuir para tornar o ensino

de Geografia menos decorativo. É dessa relação que tratamos no último tópico deste

capítulo e da tese.

227

5.3 Os livros didáticos de Geografia e os exercícios: um debate sobre as concepções

metodológicas para o ensino primário

Nos livros didáticos pesquisados, a denominação dos exercícios varia de acordo

com o autor ou a editora, com os níveis de ensino, com os objetivos pretendidos e com

os métodos adotados. Com base em nossas investigações, encontramos nove

denominações distintas para definir tais atividades: exercícios, recapitulação, exercícios

de observação, exercícios práticos e fáceis, exercícios escritos e orais, exercícios

mistos, problemas e questionários.

Para didatizar nossa análise, apresentamos, a seguir, uma tipologia dos

exercícios, que levou em consideração a nomenclatura adotada pelos autores, sua

localização nos livros e seus objetivos implícitos ou explícitos: exercícios no meio do

texto; exercícios no final de cada capítulo; exercícios orais e escritos - memorização

(com perguntas e respostas bem próximas, indicando que o professor deveria perguntar

oralmente aos alunos e pedir que escrevessem as respostas); exercícios práticos

(utilizados, em geral, para as aulas-passeio de Geografia ou nas práticas no bairro);

exercícios de orientação de desenhos e elaboração de mapas e exercícios cartográficos

(as cartas que ajudavam os alunos a fazerem seus mapas); exercícios de observação (a

partir da realidade, os alunos observavam os fenômenos geográficos); exercícios de

recapitulação (quando o livro, além das lições em formato de perguntas e respostas,

apresentava outras perguntas para reforçar a memorização); e textos organizados em

estrutura de exercícios (quando todo o livro aborda os conteúdos por meio de

exercícios).

Os diferentes tipos de exercício passam a ser incorporados no texto dos livros,

sobretudo, com a indicação de renovação metodológica posta expressamente nas

décadas finais do Século XIX, o que implica uma relação direta entre os exercícios, as

finalidades e os objetivos de uma disciplina, porque cada exercício tem seus objetivos, o

que se pretende com eles, o modo como devem ser aplicados, os recursos didáticos

utilizados, sobre como pegar no livro, como encontrar palavras-chaves no texto, enfim,

os detalhes necessários aos procedimentos na aplicação de determinado tipo de

exercício.

228

Os modelos de exercícios pertencentes a cada obra estão diretamente

relacionados aos objetivos estabelecidos pelos autores. A variação na tipologia dos

exercícios, em geral, estava diretamente associada à postura metodológica do autor.

Assim, pelos tipos de exercícios, pode-se até mesmo chegar ao método adotado na obra.

Em muitos casos, foi por meio dos exercícios que conseguimos identificar as

contradições sobre os métodos, pois os autores dos livros do período costumavam

anunciar que iriam trabalhar com uma perspectiva metodológica e, depois,

apresentavam outra filiação teórica tanto no corpo do texto quanto nos exercícios. Outra

questão importante que observamos a esse respeito foi o fato de tais posturas ocorrerem

ao longo de todo o período estudado, e tanto no final do Século XIX quanto no XX,

essas contradições se apresentam nos livros didáticos de Geografia. Isso nos leva a

inferir que os discursos de renovação só influenciavam uma parte dos autores.

É preciso retomar uma questão já discutida neste trabalho, nos primeiros

capítulos, para explicar, em parte, a persistência dos autores em manter a memorização

como centro do processo do ensino de Geografia. Como já foi discorrido em várias teses

e dissertações, quase todos os livros didáticos dessa disciplina, publicados no Brasil no

início do Século XIX, enfatizavam a memorização e seguiam o modelo de catecismo.

No Brasil, essa estrutura “impregnou” a literatura didática de Geografia por mais de um

século. Como parte do mesmo processo, foram adotadas em sala de aula, em

concordância com os métodos adotados na Europa e aqui difundidos, práticas escolares

fundadas na memorização. Assim, essa estrutura dos livros se relacionava diretamente

com as práticas escolares e era influenciada por elas. Desse modo, não era fácil para o

autor romper com modelos estabelecidos nem isso ocorria de forma rápida.

Outra questão importante que retomamos e que diz respeito à introdução dos

exercícios nos livros didáticos é a estrutura de redação dos textos que os compõem, em

especial, os destinados ao ensino de Geografia. Uma das marcas dos primeiros livros

didáticos brasileiros destinados ao ensino dessa disciplina era a redação em formato de

catecismo ou de perguntas e respostas. As perguntas, destacadas em itálico ou em

negrito, referiam-se, em geral, aos conceitos ou às nomenclaturas, e as respostas ou

definições seguiam tais perguntas e deveriam ser memorizadas pelos alunos. Como por

exemplo: O que é uma ilha? O que é um continente? O que é uma península? O que

estuda a Geografia? Como está dividida a Geografia?

229

Esse tipo de redação, que, nesta tese, também consideramos como um tipo de

exercício, pode ser encontrado em inúmeros livros didáticos publicados em todo o país,

no período estabelecido para a pesquisa, conforme se pode observar na imagem a

seguir:

230

Figura 25: Exemplo de texto com perguntas e respostas sobre conceitos básicos

Fonte: S/A. Geographia Curso elementar. Rio de Janeiro: F. T. D.,1923. Acervo: LIVRES - Biblioteca do

Livro Didático – FEUSP.

Sobre esses conceitos, era comum se repetirem na maioria das obras destinadas

ao ensino primário, porquanto eram considerados básicos para o ensino de Geografia.

231

Segundo Isler (1973), essa estrutura apoiava-se no método dialógico, ou também

conhecido como método de Abbade Gaultier, e por copiar o modelo dos pequenos livros

dedicados a difundir o catecismo católico76, passou a receber essa mesma

denominação, ou seja, um livro escrito em modelo de catecismo. A respeito da indicação

desse método nas obras didáticas, o estudo mostrou que, mesmo sendo um dos métodos

mais adotados ou indicados no período estudado para os livros destinados ao ensino

primário, só encontramos uma obra que indica, logo na capa, que adota o método de

Abbade Gaultier. Observemos essa postura do autor nesta figura:

76 Catecismo católico é um texto de referência, seguro e autêntico, para o ensino da doutrina católica, por

meio do qual se pode conhecer o que a Igreja professa e celebra, vive e reza em seu cotidiano. Nesse

livro, encontram-se orientações para o católico comprometido com sua fé. É também oferecido a todo

homem que deseja perguntar à Igreja e saber em que ela crê.

232

Figura 26: Indicação do uso do Methodo Abbade Gaultier

Fonte: MENEZES, de Estácio de Sá. Lições Elementares de Geographia – Segundo o Methodo Gaultier.

Rio de janeiro: Editora Garnier,1885. Acervo: Biblioteca Paulo Bourroul, FEUSP.

O autor Estácio de Sá e Menezes redigiu, no início da obra, uma justificava em

defesa da adoção desse método, que, para esse autor, era mais completo e levava

233

vantagens sobre todos os outros. Menezes refere que uma das inovações que sua obra

trouxe foi a substituição do método de catecismo pelas recapitulações, pois, ao

apresentar cada lição no formato de perguntas e respostas, logo em seguida, seria feita

uma recapitulação das perguntas. Para esse autor, tal método possibilitaria ao aluno do

ensino primário um aprendizado mais consistente das lições de Geografia.

Na figura abaixo, destacamos um parecer sobre essa obra que reforçava o fato de

o autor ter seguido as indicações de Gaultier.

Figura 27: Parecer expedido em 1º de dezembro de 1883

Fonte: MENEZES, Estácio de Sá. Lições Elementares de Geographia – Segundo o Methodo Gaultier. Rio

de janeiro: Editora Garnier, 1885. Acervo: Biblioteca Paulo Bourroul, FEUSP.

Em pesquisa recente, publicada em relatório, Albuquerque (2015) adverte que o

método adotado e difundido pelo livro Lições de Geographia, de Abbade Gaultier,

traduzido para o português, foi modificado. Nos originais franceses, para introduzir a

234

memorização, o autor trabalha com jogos infantis, para estimular as crianças a

brincarem no processo de ensino controlado pelo mestre. Na obra original, Albuquerque

recorre a três tipos diferentes de jogos, um para cada parte do livro, o que é negado ou

silenciado na tradução da sua obra para o Brasil. Tendo em vista os resultados desta

pesquisa, entendemos que Menezes (1885) havia recorrido a uma edição do livro de

Gaultier traduzido para o Brasil por uma Sociedade de Literatos Portugueses (edição de

1838) ou pelas edições já controladas por Irineu Roquete (1846, 1855, 1859, 1867 e

1878). O fato é que essa obra pode ter influenciado a escrita de livros didáticos

brasileiros, a partir de uma tradução que não trazia o cerne do debate difundido pelo

mestre francês.

Outras contradições foram observadas em uma parte dos livros analisados, que,

na introdução, anunciavam que a obra estaria de acordo com o debate de renovação dos

métodos - tornar a Geografia mais moderna por meio dos exercícios práticos

introduzindo a cartografia e, no corpo do texto, adotavam modelos de exercícios em

forma de questionários, com perguntas e respostas, que fortaleciam o tradicionalismo

nas atividades e visavam reforçar o ensino mnemônico. Assim, teoricamente, defendiam

uma finalidade específica – a de superar a memorização. No entanto, na prática,

reforçavam a posição contrária. Esse tipo de exercício é apresentado na figura abaixo:

Figura 28: Tipo de exercícicio denominado de questionário

Fonte: PEREIRA, Jerônimo Sodré. Compêndio de Geographia elementar: especialmente do Brazil. 1884.

Acervo: Biblioteca Paulo Bourroul, FEUSP.

235

Esses modelos de questionário - com perguntas e respostas - trazem indícios da

tradição de um discurso pedagógico fortemente marcado pela memorização e que se

sobrepõe ao debate sobre tornar o ensino mais prático. Em muitas obras, verificamos

que a finalidade da Geografia primária continuava a ser de propagar que só era capaz de

saber Geografia quem soubesse de cor as lições, ou seja, exigia-se dos alunos que

respondessem, “na ponta da língua” às perguntas dos conteúdos estudados. Para isso, os

exercícios baseados no modelo de catecismo eram um auxílio fundamental. Essa postura

pode ser observada até mesmo na capa de livros publicados já no Século XX, como se

observa na figura a seguir.

236

Figura 29: Lições de Geografia na ponta da língua

Fonte: Geographia: Curso elementar. Rio de Janeiro/ São Paulo: F. T. D, 1923. Acervo: LIVRES -

Biblioteca do Livro Didático – FEUSP

Outros tipos de exercícios encontrados nos livros analisados seguem nessa

mesma vertente, confirmando a contradição posta para os autores, pois procuravam

reforçar o ensino das lições de Geografia de maneira menos direcionada à memorização.

Porém isso dependeria da forma como o professor trabalhasse a atividade, pois, se

adotasse a consulta ao mapa, poderia contextualizar a leitura desse recurso didático.

237

Caso contrário, o mestre continuaria desenvolvendo estritamente a memorização. São

desse tipo os exercícios de recapitulação, os mistos e os problemas.

Nas imagens a seguir (figuras 30, 31 e 32), é possível observar esses tipos de

exercícios.

Figura 30: Modelos de exercícios denominados de “recapitulação”

Fonte: MENEZES, Estácio de Sá e. Lições Elementares de Geographia segundo o methodo Gaultier.

1885. Acervo: Biblioteca Paulo Bourroul, FEUSP.

Figura 31: Modelos de exercícios mixtos

Fonte: S/A. Novo Manual de Geogaphia – Curso Elementar para o uso das escolas primárias. São Paulo:

F.T.D., 1907. Acervo pessoal da autora.

238

Figura 32: Modelos de exercícios-problemas

Fonte: LACERDA, Joaquim Maria de. Curso Methodico de Geographia Physica, Política e Astronomica

– Composto para uso das escolas brazileiras, 1884. Biblioteca Paulo Bourroul, FEUSP.

Nesses exercícios, o objetivo não era só de memorizar, porque, para resolvê-los,

o aluno deveria fazer a parte prática solicitada e, com a ajuda do mapa, responder às

questões. Esse tipo de exercício era pouco comum nos livros pesquisados, mas foram

encontrados nos denominados de Altas, destinados ao ensino primário.

Se, de um lado, os exercícios apresentados se apoiavam direta ou indiretamente

na memorização, o que dificultava a difusão das finalidades estabelecidas pelos

estudiosos por parte dos autores e pelos defensores de um ensino inovador de

Geografia, de outro, encontramos autores mais sintonizados com esse debate, que

difundiam em seus livros os exercícios práticos e de observação, que podem ser

considerados como um modelo bem avançado para a época, porque proporcionavam

uma leitura atenta dos mapas e a observação dos fenômenos geográficos, ou seja, que se

trabalhasse partindo da realidade do aluno e fazendo conexões entre as escalas

geográficas.

239

Figura 33: Modelos de exercícios de observação

Fonte: LIMA, Affonso Guerreiro. Noções de Geographia – 1º parte – Estado do Rio Grande do Sul -

1911. Acervo pessoal da autora

Figura 34: Modelos de exercícios práticos

Fonte: GABAGLIA, Fernando Raja. Praticas de Geographia: para uso do Collégio Pedro II e no ensino

secundário e Normal77

. Rio de Janeiro, 192-? Acervo pessoal da autora

Entendemos que os exercícios, cada um de acordo com suas finalidades e tipos

de concepções metodológicas, modificaram a estrutura dos textos didáticos, porquanto

os autores desse tipo de literatura começam a introduzi-los em seus textos no afã de

inovar as metodologias por meio dos exercícios. Neste estudo, verificamos que os livros

didáticos de Geografia da época passaram a incorporar exercícios que estimulavam a

orientação e a observação dos fenômenos geográficos por meio dos sentidos e do ensino

77

É importante ressaltar que adotamos esta obra como fonte, porque orientações metodológicas

para os professores da Escola Normal, portanto, para os futuros professores das escolas primárias.

240

ativo. Para tanto, o autores tiveram que, primeiramente, modificar a estrutura de redação

dos seus livros, ou seja, passaram a definir uma posição específica para os exercícios no

corpo do texto. Então, pode-se afirmar que, observando a posição dos exercícios nos

livros, se ele é parte do texto, como os catecismos, ou se ele sai do corpo do texto para

compor uma parte específica da obra, pode ser um indicador da influência dos debates

sobre renovação dos métodos.

Na fase inicial das edições didáticas brasileiras, como já discorremos, todas as

obras didáticas destinadas ao ensino primário de Geografia eram organizadas por meio

de exercícios, os catecismos. Com a influência dos debates sobre a renovação dos

métodos, os exercícios, em parte dos livros publicados, passaram a compor uma posição

distinta no texto. Alguns autores os posicionavam no final de cada conteúdo trabalhado,

independentemente de ser ou não o final do capítulo ou da unidade, enquanto outros,

que ainda se apoiavam fortemente na memorização, posicionavam-nos no final dos

capítulos ou das unidades. A posição dos exercícios no corpo do texto tem uma relação

direta com o método e com as inovações adotadas na redação dos textos didáticos, tema

que abordaremos ainda neste tópico.

Como já discutido nos capítulos anteriores, a adoção de mais de um método na

escola brasileira foi uma prática tão recorrente que se denominou de método misto. Nos

livros que analisamos, também encontramos tal posicionamento, o que fundamenta

nossa posição acerca da relação entre a postura teórica dos autores de livros didáticos e

as práticas adotadas na escola. Ou seja, autores e professores trilhavam caminhos

próximos, pois um dependia do outro e o influenciava. Esse tipo de posicionamento é

encontrado na obra Noções de Geographia – 1º parte – Estado do Rio Grande do Sul, de

Affonso Guerreiro Lima, publicada em 1911. Na primeira parte da obra, encontra-se um

conjunto de exercícios práticos de observação, e na segunda, um texto mais estruturado

e exercícios com perguntas e respostas (método diálogo), nos moldes dos livros mais

antigos. Assim, tanto o autor mostrava um posicionamento inovador, quanto defendia

certo conservadorismo em relação ao método de ensino de Geografia, agradando a

professores com posicionamentos distintos.

Não se pode esquecer que o livro é uma mercadoria, e como tal, gera lucros para

editoras ou ganhos diretos para os autores, como os que financiavam a publicação das

próprias obras. No entanto, nem as editoras nem os autores iriam arriscar um

241

investimento de ordem econômica – seja pessoal ou empresarial – nem de ordem

cultural - a redação do próprio livro pelo autor.

Tal obra dispõe de exercícios de observação bem avançados para o período,

porquanto trabalham os conhecimentos geográficos com base na realidade e por meio da

observação. A seguir, apresentamos um exemplo de exercício prático e de observação:

Figura 35: Modelos de como trabalhar os exercícios práticos de observação

Fonte: Noções de Geographia – 1ª parte – Estado do Rio Grande do Sul, de Affonso Guerreiro

Lima, publicada em 1911. Acervo pessoal da autora.

242

Em sua obra, o autor Affonso Guerreiro Lima já apresenta ao leitor um texto

organizado em duas partes: a primeira voltada para a indicação de exercícios práticos de

observação, e a segunda, para a Geographia física, política e econômica do Brasil.

Nessa segunda parte, encontramos um texto mais inclinado para adotar o método

dialógico, pois, mesmo em forma de escrita corrida e descritiva, ainda há uma pergunta

e, em seguida, a resposta, com destaques em negrito. A figura 36 mostra essa estrutura:

Figura 36: Exemplo de um texto marcado pela adoção de mais de um método de ensino

Fonte: Noções de Geographia – 1º parte – Estado do Rio Grande do Sul, de Affonso Guerreiro

Lima, publicada em 1911. Acervo pessoal da autora.

Outra questão importante a ser abordada referente à adoção dos métodos no

243

período estudado é o fato de que, embora predominasse o método dialógico na cultura

escolar primária, era bem pequeno o número de autores que defendiam esse tipo de

método nos livros do ensino primário. Nas obras estudadas, era mais comum -

acreditamos que, devido ao debate em defesa da renovação metodológica - encontramos

a indicação do método expositivo, como vimos no exemplo dado na figura 24, retirada

da obra Geographia Elementar, de Tancredo do Amaral, publicada em 1904.

A esse respeito e com base em Bittencourt (2008), nos anos finais do Século

XIX, esse mesmo modelo de catecismo também foi adotado com outras finalidades,

entre elas, a de difundir o civismo, o nacionalismo e as atividades relativas à agricultura.

Outra questão importante a ressaltar é o fato de que, apesar de ser criticado por diversos

intelectuais, sobretudo os que defendiam mudanças metodológicas, esse modelo de livro

didático de Geografia perdurou por muito tempo. Ainda se encontram exemplares

publicados nas primeiras décadas do Século XX, como a obra citada na figura 36.

A partir de meados do Século XIX, em parte dos livros didáticos de Geografia,

esse modelo foi substituído por outro, denominado de método expositivo. Com essa

proposição, a memorização começou a ser criticada e, para romper com essa prática, os

autores que adotavam tais posturas passaram a escrever seus textos em outro formato e

assumiram teoricamente a descrição como uma ferramenta fundamental para o ensino

de Geografia. Esse debate tem relação com as novas proposições destinadas à Geografia

advindas da Europa – difundidas no Brasil pelo IHGB e por intelectuais que não

compunham o quadro dessa instituição – com os métodos de ensino e com as questões

políticas, conforme veremos a seguir, não necessariamente nessa ordem.

Uma evidência relativa à superação da memorização pode ser observada nos

livros em que os autores expressam, especialmente na parte introdutória, certa

preocupação em superar os modelos de redação em formato de catecismos e passam a

defender a introdução de textos corridos e menos descritivos.

Na análise das obras, vimos que essa preocupação trouxe algumas inovações

para os textos, ou, melhor dizendo, para sua estrutura. Alguns autores assumiram um

novo modelo de redação em seus livros, agora com breves descrições, sobretudo de

elementos naturais mais importantes e formulados em textos corridos. No entanto,

outros autores não abandonaram a antiga forma de destacar os conceitos em negrito ou

em itálico apoiada na difusão de nomenclaturas, apesar das breves descrições de

244

aspectos naturais mais importantes. Se, de um lado, isso demonstra que a memorização

continua sendo o centro da metodologia de ensino de Geografia, de outro, mostra uma

primeira tentativa de transformar o ensino dessa disciplina.

O livro de Carlos Novais, Geographia Primária, cujas marcas de uso são do ano

de 1902, e cuja data de publicação não sabemos ao certo, traz exatamente essa estrutura

de escrita, em que o conceito ou a nomenclatura vêm em negrito, e o texto, antes escrito

em forma de perguntas e de respostas, passou a ser redigido de forma corrido, em que o

ponto de é retirado da frase, que é transformada em uma afirmação. Veja-se esta

estrutura na imagem a seguir:

Figura 37: Exemplo dos primeiros textos que procuravam seguir a nova estrutura de redação dos

textos corridos

Fonte: Carlos Novais, Geographia Primária. Acervo da Biblioteca particular de Maria Adailza

Martins de Albuquerque

Thomaz Pompeu de Sousa Brasil, importante autor de livros didáticos de

Geografia destinados ao ensino secundário, entusiasta da disciplina e cujas obras foram

adotadas no Colégio Pedro II, foi grande defensor da mudança na redação dos textos

apoiada pelo método expositivo, em detrimento da redação dos conteúdos pautados no

método dialógico. Como importante autor de livros didáticos, já vinha discutindo sobre

245

essa questão com seus pares. A esse respeito, o senador Pompeu apontou para a

necessidade de inovar seu livro, Compêndio elementar de Geographia Geral e especial

do Brasil, especificamente na 3ª edição da obra publicada em 1859.

Como já enfatizamos, apesar das transformações trazidas por esse debate, as

marcas de permanência estão mais presentes do que as de mudanças. Essa nova forma

de redigir as produções didáticas se configura em expressões claras dos autores na

tentativa de romper com o modelo anterior. Em alguns casos, desejosos de atender às

exigências postas pelos debates de renovação dos métodos, esses autores anunciam nas

introduções de suas obras que não mais seguirão o “modelo tradicional”, que seus textos

passaram a ser organizados de forma corrida. No entanto, essas mudanças nem sempre

se efetivam na escrita do texto, embora haja uma tentativa, mas as descrições não são

profundas, e os conteúdos ficam delimitados pela nomenclatura.

A assunção de tal mudança na introdução dos seus livros, mesmo que não se

efetivasse de fato nos textos, pode ser justificada com algumas questões, a saber: a falta

de conhecimento dos autores, da própria Geografia descritiva com embasamentos

científicos, que já estava em voga na Europa e uma bibliografia que orientasse esse

modelo de escrita e os propósitos nele implícitos, como o combate à memorização.

Também constatamos que a inclusão desse discurso inovador, especialmente na

introdução desses livros didáticos de Geografia, pode ter sido uma estratégia para

cumprir exigências estabelecidas por critérios de avaliação das obras, para que fossem

adotadas nas escolas públicas.

Além dessas questões apontadas, havia outra de cunho político mais amplo,

como afirma Bittencourt (2008, p.47):

A escolha do método analítico na alfabetização, em oposição ao usual

método sintético, representava a posição dos grupos dos educadores

defensores de uma escola laica. Os seguidores desse método eram, em

sua maioria, republicanos com discursos voltados para uma

democratização do saber escolar e contrários ao espírito tradicional de

educação, com o ensino calcado em métodos da igreja.

Nessa citação, a autora apresenta um debate a que nos referimos em tópicos

anteriores, ou seja, os livros didáticos também expressam os posicionamentos políticos

dos autores. Em pesquisa realizada por Ângelo (2014), foi observado o posicionamento

dos defensores da monarquia e do republicanismo em inúmeros livros didáticos de

246

Geografia. No entanto, essa relação entre tais posicionamentos e a escolha dos métodos

não havia sido feita em seu trabalho. Essa perspectiva defendida por Bittencourt (2008)

possibilita uma análise mais ampla da relação entre os livros didáticos e as

metodologias destinadas ao ensino.

Ainda nos referindo à citação anterior, destacamos o embate entre os autores

conservadores, defensores dos métodos de ensino tradicionais, ligados à igreja e

pautados nos catecismos e os inovadores, defensores do republicanismo, da escola laica,

das inovações metodológicas que passaram a introduzir na elaboração de seus textos

novas proposições. Observe-se que Bittencourt (2008) está relacionando os métodos ao

processo de alfabetização, entretanto, é necessário entender que a escola primária, no

Império, tinha como propósito essa ação. Ou seja, apesar de esse debate metodológico

estar sendo o apoio para a alfabetização, ele também influencia os autores de livros

didáticos destinados às disciplinas que compunham a escola primária.

Essa afirmação pode ser observada em alguns livros publicados na época, como

as obras de Manuel Pinheiro (1875), Estácio de Sá e Menezes (1885), Novaes José

Theodoro de Souza Lobo (1924), Dr. Carlos Novaes (1892), entre outros, que

defendiam a adoção do método dialógico em detrimento do método expositivo. No

grupo daqueles que reforçavam o debate sobre a produção de um texto mais embasado

nos princípios do método expositivo, destacamos autores como: Thomaz Pompeu de

Sousa Brasil (1859), Manoel Pereira de Moraes Pinheiro (1875), Alfredo Moreira Pinto

(1894), Tancredo do Amaral (1904) e Affonso Guerreiro Lima (1911). Sobre as

publicações desses autores, é relevante reforçar que que aqui não está em jogo o

processo de silabação, mas a aprendizagem de conteúdos específicos de uma disciplina.

Esse embate, ao longo do período imperial, apoiou-se em duas perspectivas

metodológicas pouco assentadas em pedagogias modernas, como ocorreu

posteriormente, em especial, a partir do final do Século XIX, quando as influências

dessa ciência tomaram parte dos debates educacionais, e os métodos defendidos pelos

diversos grupos se apresentaram mais sistematizados. No entanto, acreditamos que essa

mudança foi uma das responsáveis pela introdução dos exercícios nos livros didáticos

de Geografia a partir dos anos de 1880. Com a adoção desse novo modelo de escrita e

os debates sobre a superação da memorização, as perguntas que antes faziam parte dos

textos foram retiradas deles. Isso significa que são necessárias formulações para orientar

247

o ensino. Esse processo envolveu perguntas feitas sobre o que o professor havia

ensinado e aplicado.

Mas é preciso observar que, com a introdução dos debates sobre os métodos

mais sistematizados, ou seja, o intuitivo, e depois, com as proposições do método ativo,

as atividades foram tomando novas configurações e diversidades que dependiam dos

objetivos dos processos de ensino e incorporando, inicialmente, as atividades escritas e

orais, os exercícios práticos e fáceis, os exercícios de observação e práticos, os escritos

e os orais, recapitulação etc., conforme apresentamos nos primeiros parágrafos deste

tópico. Esses tipos de exercício podem ser vistos nas imagens seguintes:

Figura 38: Modelos de exercícios fáceis

Fonte: LACERDA, Joaquim Maria de. Curso Methodico de Geographia Physica, Política e Astronomica

– Composto para uso das escolas brazileiras,1884. Biblioteca Paulo Bourroul, FEUSP.

248

Figura 39: Modelos de exercícios escriptos e oraes

Fonte: AMARAL, Tancredo do. Geographia elementar. 1904. Acervo da Biblioteca Paulo Bourroul,

FEUSP. Esses exercícios se repetem no S/A. Novo Manual de Geogaphia – Curso Elementar para o

uso das escolas primárias. São Paulo: F.T.D., 1907. Acervo pessoal da autora.

Nesse contexto de debates mais sistematizados sobre o método, quando as

proposições pedagógicas passam a circular bem mais no país e orientar as propostas de

mudanças educacionais, é que se vai observar um debate teórico que vincula o ensino de

Geografia aos métodos de ensino de forma mais sistemática e apoiada na Pedagogia,

porque, como já afirmamos, as primeiras transformações no ensino primário de

Geografia começaram com as proposições de Pestalozzi. Porém é com o método ativo

que o debate teórico sobre esse tema vai sendo central para o ensino dessa disciplina.

Vejamos o que diz, no início do Século XX, Delgado de Carvalho, que era

defensor fervoroso do ensino científico de Geografia, do método ativo, da formação

específica para professores da escola primária e autor de manual destinado ao ensino

dessa disciplina e de livro de didático para o ensino secundário:

Mas o que se destaca na geographias [...] norte-americanas e inglezas

e até certo ponto nas allemãs é o importante appendice que segue cada

capitulo com numerosos e valiosas questões oraes sobre o texto já

visto. São fontes discussões geographicas que solicitam a iniciativa do

alunno e provocam a sua actividade. Nos Estados Unidos chamam

isso manuaes ou lições de laboratorio de geographia physica. O cunho

pratico é a feição caracteristica dos livros didacticos inglezes

249

posteriores à reforma. (1925, p. 8 e 9)78

.

Essa proposição evidencia a possibilidade de os exercícios serem vistos como

elementos que podem propiciar a sistematização dos conteúdos no ensino da Geografia,

seja em atividades de cunho teórico ou prático. Entendemos que esses exercícios que

foram introduzidos nos compêndios e, consequentemente, as metodologias do ensino

primário que se configuravam eram expressões dos novos métodos de ensino

(FERREIRA, 2012). Assim, a metodologia de ensino do curso primário trazida nos

compêndios de Geografia, a partir de então, passou a ser mais focalizada nos exercícios.

Os exercícios fazem parte da longa tradição do ensino e suas concepções

didático-pedagógicas. Em nossas análises, defendemos que os processos de

transformação dos exercícios (formas e tipos) podem variar quando compõem o corpo

dos livros de Geografia na organização das disciplinas escolares (VALDEMARIN e

CORRÊA, 2000).

A integração entre a disciplina e os exercícios assegura um ensino apoiado em

determinados modelos, pois, muitas vezes, os exercícios é que dão forma à disciplina

escolar (FERREIRA, 2012). Assim, os conteúdos constituem os conhecimentos

sistematizados de uma disciplina e se articulam com os métodos de ensino e com os

processos de avaliação, em entram os exercícios. A disciplina escolar é constituída de

conceitos e conteúdos que são apresentados aos alunos, através de um ensino de

exposição e de esquemas comparativos ou de exercícios de fixação do saber ensinado

(BITTENCOURT, 1993).

Nesse contexto, os exercícios expressam as metodologias de ensino e as formas

como se avalia a aprendizagem dos alunos. Ou seja, os exercícios presentes nos livros

didáticos indicam que não são apenas elaborados para expor os conteúdos de uma

disciplina, pois, também é função sua propagar concepções pedagógicas, metodologias

de ensino, visões de mundo, ideologias, entre outros, difundidas como conhecimentos

que compõem a disciplina escolar.

Assim, os livros didáticos de Geografia passaram a incorporar exercícios que

estimulavam a orientação, com atividades que, quando feitas a partir da leitura de

78 A reforma a que se refere Delgado de Carvalho nessa citação foi organizada por Mackinder, defensor

do ensino de Geografia, responsável por adotá-la na escola e por criar cursos superiores na Inglaterra

(GOODSON, 1999).

250

mapas, sugeriam a superação da memorização. No entanto, se a atividade fosse feita na

falta deles, ela deixaria de cumprir seu propósito e se tornaria mnemônica. A imagem

seguinte mostra os exercícios que ensinam o aluno a ler mapas, mas que pode ser

utilizado de forma contrária ao proposto:

Figura 40: Exercícios de cartografia

Fonte: Alfredo Moreira Pinto Elementos de Cosmographia, por, 1894.

O referido livro é organizado por exercícios que tem por finalidade estimular o

aluno a leitura atenta dos mapas. Faculdade de Educação – UPS – Biblioteca Paulo

251

Bourroul.

A atividade descrita na figura 40 é um exemplo evidente dessa possibilidade

inerente ao livro didático, ou seja, mesmo que seu propósito não seja a memorização,

pode estimulá-la. Assim, definem-se o papel do professor nesse processo e o uso correto

de outros recursos didáticos em sala de aula necessários à superação da memorização

como finalidade dessa disciplina. Durante todo o período estudado e, mais

especificamente, depois de adotar os textos corridos e separá-los dos exercícios, os tipos

de atividades apoiados na memorização, em geral, solicitavam aos alunos

nomenclaturas, que, como estavam escritas em destaque no corpo do texto, entendia-se

que o processo de escrita das respostas dos alunos fora facilitado. Assim, eles só

precisavam encontrar as palavras-chaves e chegariam à resposta correta e,

consequentemente, à memorização dos conteúdos. Além disso, havia certa ordem de

disposição das perguntas e das respostas que seguia a mesma do texto.

Ressalte-se, todavia, que, para além da memorização por ela mesma, como

suporte para o ensino, com a adoção de novos métodos, em especial, o intuitivo, até os

exercícios passaram a ter outros propósitos. Como vimos, depois desses debates, uma

das funções dos exercícios seria de facilitar os procedimentos didáticos, utilizados de

acordo com a necessidade das disciplinas ou os assuntos específicos. No ensino

primário, com a adoção do método intuitivo, os exercícios passaram a fazer parte dos

procedimentos metodológicos e das sequências didáticas das disciplinas, conduzindo as

prescrições do que e de como ensinar, a partir das orientações dos livros que se

apoiavam nessa metodologia.

No exercício exposto na figura 41, vemos que a atividade sugere exatamente as

proposições feitas por esse método, ou seja, olhar o objeto real, vivenciá-lo, observá-lo

e intuir para, em seguida, o aluno aprender e responder. Aqui se destacam, inicialmente,

as relações topológicas elementares (dentro e fora, acima e abaixo, na frente e atrás,

perto e longe, sem levar em conta as distâncias) e, posteriormente, a introdução de

conceitos mais sistematizados, como os de localização, orientação, de escala

(proporcionalidade) e de representação, todos advindos da cartografia e necessários ao

desenvolvimento da leitura de mapas.

252

Figura 41: Exemplos práticos de exercícios de Geografia

Fonte: Noções de Geografia, por Affonso Guerreiro Lima – I parte – Estado do Rio Grande do Sul - Porto

Alegre: 1911. Acervo: GPCES

Aí estão modelos de exercícios do tipo prático, ou seja, que trabalham os

conhecimentos geográficos e as relações dos alunos com o espaço mais próximo e,

depois, com o mais distante, ou seja, da sala de aula, do prédio da escola e do caminho

percorrido entre a casa e a escola. Esse tipo de exercícios ainda é bem comum no ensino

de Geografia atual, pois permite ver, na prática, os saberes geográficos e como essa

disciplina pode ajudá-los na percepção do meio em que vivem. Assim, vale ressaltar que

253

essas indicações metodológicas ainda ocupam os nossos bancos escolares. Por isso

concordamos com Bittencourt (2008, p.193), quando afirma que “os exercícios

tornaram-se um complemento indispensável das obras didáticas e deles, muitas vezes,

dependia seu sucesso”.

Nesse exercício, também se observam a introdução dos círculos concêntricos, a

metodologia que foi adotada nas obras de Pestalozzi, e aprimoradas com o método

intuitivo, e a Escola Nova. Os círculos concêntricos, como já mencionamos, referem-se

à abordagem dos conteúdos do próximo para o distante, ou seja, de uma escala local - a

sala de aula - para a escola, que é seguida pela rua, e esta pelo bairro, pela cidade, pelo

estado, pelo país e pelo mundo consecutivamente. Essa estrutura de abordagem dos

conteúdos de Geografia tratava tais escalas de análise de forma isolada, sem mencionar

os eventos, os espaços e as relações entre eles. No entanto, nos livros analisados, não se

observa ainda essa estrutura de abordagem dos conhecimentos.

Nessa perspectiva, os exercícios seriam para a Geografia um auxilio primordial

nas aulas práticas, nos trabalhos de campo, nas excursões escolares e, sobretudo, nas

tarefas diárias, que buscavam repassar os conhecimentos básicos que os alunos do curso

primário deveriam saber sobre os conteúdos das disciplinas. A proposta que os autores

dos livros didáticos apresentavam era de que os professores recorressem aos exercícios

para tornar o ensino de Geografia menos mnemônico, com exercícios práticos sobre a

Geografia nacional. Essas proposições podem ser observadas em textos jornalísticos,

geralmente elogiosos, publicados nas páginas iniciais dos livros didáticos, como o fez

Jerônimo Sodré (1884, p. 13):

É que instruindo o menino estudioso, de hoje, futuro cidadão de

amanhã, no que d’essas materias mais lhe importa conhecer, não se

esquece e felizmente consegue o illustrado author da a seu livro uma

côr nacional, tornando-o, dest’arte, sympathico a todos que prezam e

amam o Brazil. Na segunda secção da geographia descriptiva não faz

o author do seu compendio uma arida e monotoma nomenclatura a

espaços ligada a uma ou outra notabilidade historica; porque sabe,

porque ensinou-lhe a experiência do ensino, que isto desgosta o

alumno, e cançando-lhe a memoria, fal-o olhar com tedio para uma

das mais bellas, variadas e uteis sciencias.

Ao publicar esse texto, Sodré procura chamar à atenção dos professores para

trabalharem os conhecimentos geográficos a partir de exemplos práticos, procurando

fazer com que os alunos partissem de sua experiência ou realidade e não só se

254

ocupassem de memorizar os fenômenos da Geografia. Nessa obra, em várias partes,

encontramos estratégias metodológicas propostas com base nos exercícios voltados para

a prática, que sugeriam procedimentos a serem realizados pelos alunos e pelos

professores, pois, muitas vezes, eram os exercícios que possibilitavam os modos de

interagir entre eles no momento mais prático das aulas.

Sob nosso ponto de vista, os exercícios exerceram nos livros didáticos a função

de um importante recurso didático e, no caso da Geografia, no afã de tornar a disciplina

mais prática, como um modelo prático, os exercícios introduziam as bases modernas

que direcionavam os modos de ensinar Geografia na Europa. Essa iniciativa marca a

cultura escolar do ensino primário e indica que, quando o processo de difusão dos

métodos interfere nas produções didáticas, provoca modificações diretas ou indiretas

nas concepções teóricas e práticas da disciplina escolar Geografia.

Esses diferentes tipos de exercício compunham os livros didáticos destinados à

escola primária e serviam de suporte para os professores nas aulas práticas, nas de

desenho e para os exercícios cartográficos. Estes últimos se apresentavam para o ensino

primário como instrumentos mobilizadores para ensinar Geografia, e os mapas, como

uma das formas de aguçar a facilidade inata das crianças de imaginar, de simbolizar e de

representar. Ou seja, pela representação gráfica, o aluno poderia elaborar e visualizar a

imagem, compreender o texto geográfico e executar os exercícios, sobretudo, os que

eram feitos por meio de desenhos.

Apesar das inovações metodológicas apresentadas e observadas na prática dos

exercícios, não se pode esquecer que as permanências, no que diz respeito às

finalidades, às intenções e às funções dos exercícios para a escola primária são comuns

a todo o período estudado, pois os livros trazem exercícios apoiados nos princípios da

memorização, mesmo quando já estavam em pauta indicações contrárias a uma

Geografia mnemônica. Aqui temos mais um indício dos traços da permanência das

práticas curriculares prescritas para o ensino primário, pois, mesmo com as indicações

de mudanças em relação à finalidade dos exercícios, nossas fontes demonstram que só

alguns livros didáticos passaram a adotar as novas perspectivas e não reforçavam o

princípio da memorização

255

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo nos possibilitou compreender que estudar os livros didáticos é pensar

nas “janelas” de conhecimentos que esses impressos deixam ou permitem que sejam

revelados e/ou, principalmente, nos elementos que, intencionalmente ou não, são

silenciados no registro impresso desse material. Partindo de uma perspectiva histórica,

nossa discussão lançou olhar para o passado, com o fim de entender, por meio das

representações mais “ordinárias” da cultura escolar, os detalhes que marcaram os

processos de escolarização primária e os modos de ensinar usando esses materiais

didáticos para o desempenho de tal função.

Neste trabalho, fizemos o que aconselha Nóvoa (1996), quando adverte que é

chegado o tempo de a História da Educação redirecionar o olhar para os aspectos

internos do trabalho escolar, sobretudo, para os momentos de conflito, de descompassos

e de rupturas que caracterizam o sistema educacional. Desse modo, acreditamos que os

resultados e as discussões aqui levantados ajudam a compreender os processos

educativos contemporâneos, porquanto comungamos da ideia de que muitas concepções

de educação atuais resultam das alianças e das práticas de um processo sociocultural e

histórico.

Em nossa tese, os termos ‘cultura escolar’ e ‘escolarização’, em suas múltiplas

instâncias, destacaram-se, quando falamos da formação dos saberes escolares, porque,

ao longo do tempo, a escola transmitiu e transmite ideologias e saberes em todo o

processo de escolarização primária. Além disso, procuramos entender a escola como

uma instituição capaz de promover um saber próprio, que se expressa nas diversas

formas de manifestação da cultura escolar de determinada época. Por essa razão,

apoiamo-nos na ideia de cultura e de concepções socioculturais como partes

complementares da escola, visto que as interações entre as diferentes expressões

culturais se convertem em cultura escolar.

Sobre os modos de ensinar, com base em nossas análises, em concordância com

Neves (2005), entendemos que nunca foram unânimes ou homogêneos e que, no

movimento de busca por inovações no campo dos métodos, a difusão e a adoção de

novas teorias se constituem com a desestabilização das bases do que estava instituído.

Isso se aplica bem às discussões que introduzem o debate centrado na proposição dos

256

exercícios para aprimorar o ensino primário. Assim, estudar o processo de difusão dos

métodos de ensino e sua incorporação nas produções pedagógicas foi uma operação

difícil de executar, devido à sua efemeridade e à localização no passado e ao fato de

esse campo investigativo ser um terreno bem fértil e de poucos trabalhos que se

ocuparam dessa temática.

Com o apoio de Chartier (2002), assumimos em nossa tese que o livro didático

é um objeto cultural diferente de outros suportes da cultura escrita, cuja coerência e

completude resultam de uma intenção intelectual e estética, ou seja, são, muitas vezes,

as relações de uso e de destino estabelecidas que determinam sua finalidade na escola e

na vida do professor e do aluno. Por isso, as pistas seguidas demonstraram que, nesses

tipos de material pedagógico, foram impressas diversificadas interpretações que, ao se

transformar em dispositivos modeladores de ação, registraram valores e práticas e

comunicaram sentidos e significados, dialogando com políticas públicas e com os

dispositivos sociais postos para a escolarização em suas diferentes formas, graus e

conteúdos a serem ensinados nas escolas naquele período histórico.

Nossas análises também confirmaram o que diz Hébrard (1990), que esse tipo de

impresso pedagógico agrega saberes que advêm de instâncias diversas, algumas vezes,

distantes, no entanto, entrelaçadas no momento da produção (DARNTON, 1990), nos

movimentos dos autores e nos demais aspectos que compõem o livro didático como um

objeto material, constituído, basicamente, de tinta e papel e que guarda as marcas de sua

produção e de seus usos (BITTENCOURT, 2003; MUNAKATA, 1997). Como foi

constatado na bibliografia consultada, havia, na escola, certa preocupação com a

superação dos modelos de ensino baseados no método lancasteriano. Depois que esse

método foi proibido, outras perspectivas metodológicas foram incorporadas à escola.

Inicialmente, vimos a presença dos métodos misto e simultâneo, que se apresentavam

dentro das propostas pedagógicas como uma tentativa de organizar os modos de ensinar,

já que o método individual e o mútuo não conseguiram responder às perspectivas ou

exigências para o ensino na época. Depois, precisamente no final do Século XIX, mas

em um movimento de mudanças e de permanência ou concomitância, foi divulgado o

método intuitivo, em paralelo à adoção, às críticas e aos debates acerca dos métodos

misto e simultâneo, que, de forma lenta e gradual, passaram (os três) a influenciar as

perspectivas metodológicas para todo o ensino.

257

Sobre a presença dos métodos nos livros didáticos de Geografia que

pesquisamos, os autores empregavam, nas primeiras obras publicadas do Século XIX, o

método dialógico. Porém, com a crítica a ele, lentamente foram incorporando o método

analítico ou expositivo e, com ele, a iniciativa de produzir textos corridos, com a

finalidade, pelo menos do ponto de vista do discurso, de que o aluno da escola primária

aprendesse Geografia não mais por meio da repetição e memorização dos fatos e

fenômenos geográficos. Como foi apresentado nos capítulos desta tese, esses dois

movimentos de renovação metodológica foram de suma importância para as

transformações dos exercícios nos livros didáticos dessa disciplina escolar.

Com base nessas descobertas, vimos que esse movimento de renovação

metodológica, mesmo lento, modificou os modos de produzir textos nos livros

didáticos, e, por conseguinte, a forma de ensinar Geografia no ensino primário. No

conjunto das obras analisadas, isso ocorria, ainda que só fosse quando os autores

defendiam a necessidade de recorrer aos exercícios como uma das formas de modificar

o ensino de Geografia.

Em nossas análises, percebemos os aspectos pedagógicos que compõem os

livros didáticos e as concepções de cada autor e, consequentemente, o modo como cada

obra apresentava as funções e as finalidades dos exercícios para o ensino de Geografia.

Outra questão importante nas obras são os aspectos pedagógicos na produção e na

apropriação das concepções culturais mais amplas, adquiridas, criadas e reinventadas

em cada período histórico.

Agora que estamos fechando este trabalho de pesquisa, retomamos nossa

dissertação para concluir aqui uma investigação iniciada lá. Ou seja, por meio dos

estudos dos livros didáticos de Geografia destinados ao ensino primário, concluímos

que os exercícios aparecem com mais frequência neles do que nos que são destinados ao

ensino secundário79

. Isso fica evidente quando se compara a quantidade de obras

catalogadas nos dois trabalhos, já que o critério em comum a eles foi a existência de

exercícios nos livros didáticos. No Mestrado, do universo pesquisado, foram 65 obras

79

Estamos apresentando essas impressões com base em uma comparação ampliada entre esta pesquisa e a

realização do Mestrado, com as obras destinadas ao ensino secundário, tendo como foco os exercícios,

a forma como surgem nos livros, seu papel e sua função e sua presença nos textos, que podem

modificar a forma de ensinar Geografia tanto no ensino primário quanto no secundário.

258

do ensino secundário, mas somente 12 apresentavam exercícios. Neste estudo do

Doutorado, foram reunidas 229 obras que continham exercícios, e dessas, 131

destinavam-se ao ensino primário e apresentavam exercícios. Com esses dados,

podemos inferir que os exercícios eram mais comuns nos livros destinados ao ensino

primário do que nos publicados para o secundário.

Então, devido à comprovação de que os exercícios eram efetivamente uma

expressão dos métodos, as inovações metodológicas postas pelos movimentos de

renovação influenciaram mais os autores que escreviam para o ensino primário, tendo

em vista as proposições para auxiliar bem mais o aprendizado das crianças.

Outro aspecto a ser mencionado diz respeito ao fato de termos compreendido a

relação entre os livros e as orientações sobre os procedimentos avaliativos para serem

executados pelos professores. Assim, os exercícios se tornaram uma expressão dos

métodos que orientavam a elaboração dos saberes geográficos nos livros didáticos dessa

disciplina e indicavam como os professores deveriam proceder na realização dos

exames, das atividades ou das aulas práticas de Geografia.

As produções didáticas de Geografia dos anos de 1880 aos anos de 1930

apresentam uma produção significativa de obras destinadas ao ensino primário com

exercícios na composição dos seus textos. Nessas obras, existem importantes elementos

acerca da centralidade reservada ao ensino de Geografia e suas principais finalidades no

currículo primário. Dentre os enfoques observados em nossas fontes, nos projetos de

reforma do ensino primário e nos manuais de metodologia do ensino dessa disciplina,

destacamos a predominância dos projetos voltados para difundir o nacionalismo

patriótico, que primavam pela exaltação dos elementos geográficos formadores do

território nacional. Quanto às preocupações com as propostas pedagógicas de cunho

metodológico, os autores embasavam suas produções em um discurso da inovação dos

métodos e apresentavam os exercícios com base nos princípios postos nas discussões

pautadas nos métodos misto, simultâneo e intuitivo, que, dentre outras coisas,

propunham um ensino embasado não só nos princípios da memorização.

A respeito das finalidades da Geografia do ensino primário, uma questão que

merece destaque nessa discussão é o papel exercido pelos livros didáticos na busca pelo

cumprimento dessas finalidades, posto que neles estavam contidas as indicações de

ensino da Geografia não mais voltado somente para memorizar nomes de países ou rios

259

mas mais direcionado para orientar e observar os fenômenos geográficos com base nas

vivências das crianças e de sua comunidade. Não podemos nos esquecer das

continuidades fundamentais para compreender todo o processo de constituição dessa

disciplina escolar.

Sobre a presença dos exercícios cartográficos, eram considerados fundamentais

para o desempenho dessas finalidades, em especial, para fazer mapas e desenhar as

cartas. Esses exercícios passaram a ser, teoricamente, o maior auxílio dos professores na

condução das aulas de Geografia do ensino primário e apoio no repasse dos conteúdos e

na elaboração dos conhecimentos geográficos.

Consideramos os métodos de ensino como procedimentos didáticos que

permearam as concepções teóricas e a ação dos professores através de orientações

pedagógicas próprias para o ensino primário, e os exercícios aparecem nos livros como

uma expressão deles. Nos livros didáticos, essas prescrições metodológicas

corroboravam o movimento de inovação pedagógica em curso e se configuravam como

um conjunto de lições e de exercícios, cada um partindo de seus objetivos e seguindo as

prescrições metodológicas que estavam em curso no período. Com base em nossas

análises, afirmamos que a presença dos exercícios no processo de escolarização

primária marcou as concepções metodológicas da disciplina escolar Geografia com o

debate das modificações na estrutura textos. Essa inovação afetou diretamente os

conteúdos.

Com essa constatação, afirmamos que, com a presença dos exercícios,

especialmente os apoiados pelos métodos intuitivo e ativo, vimos a indicação de um

ensino de cunho mais prático e moderno de Geografia. Por isso, o conjunto de

exercícios que se acrescentava aos livros didáticos no período pesquisado se

configurava como novas metodologias de ensino para a Geografia, e como os exercícios

eram uma expressão dos métodos, foram os meios para que os métodos fossem

aplicados no ensino da Geografia. Assim, houve uma modificação nas metodologias de

ensino do curso primário trazida nas produções didáticas de Geografia, em que os

exercícios ocupavam um lugar de destaque nas propostas de elaboração dos conteúdos.

Os exercícios fizeram parte dos procedimentos metodológicos e das sequências

didáticas da disciplina Geografia. Nos livros, eles aparecem como orientação básica

para conduzir as prescrições sobre o que e como ensinar Geografia no ensino primário.

260

Retomamos nossa proposta de tese e afirmamos que a introdução dos exercícios no

corpo dos livros didáticos de Geografia representou uma tentativa de alguns autores de

adotar as inovações metodológicas propostas diretamente pela recomendação dos

exercícios como uma expressão das orientações metodológicas do período estudado.

Neste trabalho, concluímos que os autores pretenderam usar os exercícios para

compor a estrutura dos livros como forma de substituir as perguntas e as respostas

explícitas, marcando não só as produções didáticas como também e, sobretudo, a cultura

escolar primária como um todo. Essa concepção pedagógica, que recomendava os

exercícios, tinha como princípio teórico o estudo acerca das percepções sensoriais, que

recomendavam que os estudos tomassem como base os sentidos, que deveriam preceder

a compreensão das crianças.

Sobre a educação dos sentidos, para a Geografia, de modo particular, a indicação

que mais interferiu na aprendizagem das crianças foi a possibilidade que os sentidos

ofertavam quando recorriam a lições que visavam apreender as evidências entre os

objetos e os fenômenos (HÉBRARD, 2000). Assim, os conhecimentos geográficos

presentes nos livros tomavam como base o método “Lições de coisas” ou método

intuitivo que, dentre outros princípios, prezava pelo aprendizado por meio da

observação do real e da experiência.

Em relação às influências diretas do método intuitivo no ensino da Geografia,

ele contribuiu significativamente para rever as metodologias adotadas por essa

disciplina, no que se refere às concepções do pensamento de Pestalozzi e seus

fundamentos gerais para a Educação. Em nossas análises, constatamos que, entre as

disciplinas escolares do período pesquisado, a Geografia foi a mais adequada para a

discussão metodológica proposta para o ensino primário da época, a partir dos

princípios defendidos por esse método, em função das habilidades necessárias ao

desenvolvimento dos conhecimentos inerentes a essa disciplina. A observação da

sociedade na relação com a natureza requer do aluno, a descrição e a representação, e

para que ele saiba usar as representações espaciais, precisa recorrer aos conhecimentos

cartográficos. Isso justifica a aproximação entre a Geografia e a cartografia nos

exercícios encontrados nos livros pautados nesse método de ensino.

Essa questão se justifica porque essa disciplina considera a experiência e a

percepção sensorial como um processo ativo em suas metodologias de ensino, o que

261

corrobora o que defendia Pestalozzi. Então, pontuamos que a Geografia se baseou nas

contribuições de Pestalozzi, que estabeleceu um ensino com base na intuição e na

observação. Pestalozzi influenciou também a elaboração dos procedimentos

fundamentais do ensino da Geografia local, segundo a qual a criança deveria aprender

Geografia a partir do objeto mais próximo e por meio das percepções da natureza.

O ensino de Geografia não mais deveria tomar como base o estudo dos globos e

a memorização de nomes de países. A recomendação era de que os exercícios fossem

adotados por meio de um método que contribuísse para explorar nas crianças não só o

acumulo de informações ou conteúdos, mas também, principalmente, desenvolver sua

capacidade de aprender por meio dos sentidos e da experiência.

Assim, entendemos os exercícios como uma metodologia usada para expor os

conteúdos da disciplina Geografia e reconhecemos seu papel como uma expressão dos

métodos, quando exerceram, dentro das propostas do ensino primário, a função de

propagar as concepções de aprendizagem que estavam em vigor no contexto estudado.

A presença dos exercícios nos livros didáticos da época transformou a estrutura do texto

organizado em perguntas e respostas, promovendo ou anunciando mudanças, ainda que

de forma lenta, por meio dos exercícios.

Portanto, as produções didáticas que visavam inserir os exercícios como uma

expressão do método como suporte para tornar o ensino da Geografia menos

mnemônico visavam atender às aclamações postas no debate de renovação pedagógica

proposto para a escola. Na história dessa disciplina, os exercícios desempenharam um

papel importante, na tentativa de interferir no modelo de perguntas e de respostas que

vigorava na época, pois, gradualmente, começavam a aparecer nos livros didáticos sob a

influência da perspectiva moderna. Assim, as produções didáticas destinadas ao nível

primário demonstram que os exercícios foram a expressão de uma nova metodologia de

ensino para a Geografia.

Verificamos que houve uma diversificação dos objetos utilizados para se ensinar

Geografia nas indicações que datam o início do Século XX, marcado pela

recomendação de modernas metodologias propostas nos livros didáticos, como o livro

“Methodologia do ensino geográfico - Introdução aos estudos de Geografia Moderna”,

de Delgado de Carvalho, publicado em 1925. Essa constatação pode indicar, dentre

outros fatores, que as dificuldades enfrentadas pela disciplina Geografia, nos dias atuais,

262

não podem mais se respaldar no discurso da carência de novas metodologias.

Convém, no entanto, lembrar que, apesar das inovações metodológicas e do

aumento expressivo de exercícios práticos nos livros didáticos, eles ainda eram vistos

como um trabalho de repetição e de memorização, que, mesmo em outra perspectiva,

tinham a função de exigir dos alunos que lessem atentamente as instruções e o texto

indicado, que encontrassem as respostas corretas, copiassem corretamente as respostas e

retivessem as informações principais trabalhadas pelo exercício. Ressaltamos que o

método mnemônico ainda era muito forte e marcava a cultura escolar primária, fazendo

com que a finalidade principal dos exercícios ainda fosse a de reforçar os princípios da

memorização.

Os resultados empreendidos nos levaram a considerar que nossos

questionamentos e as discussões têm relação direta com um processo maia amplo de

escrita e de leitura, que passa, diretamente, pelos espaços ocupados pelos livros. Nesse

sentido, compreendemos que a escrita e a leitura, cada um ao seu modo, são processos

cognitivos complexos, com múltiplas linguagens e infiltrados numa tradição e nos

costumes de uma época. Nos livros, há registros da escrita e da leitura de um tempo e de

uma tradição. Por isso, é interessante pensar nas relações de leitura e em sua

apropriação pelos leitores.

Assim, considerando os resultados alcançados e as conexões mais amplas

estabelecidas com as marcas da cultura escolar, que delimitam os modos de produzir e

de adquirir conhecimentos por meio dos livros, questionamos: Como nossos leitores

têm convivido com o aroma e o rastro da cultura escrita? Como as novas gerações têm

adentrado os arquivos e os acervos, em conjunto com os novos suportes de leitura?

Como a produção de livros tem se relacionado com o sistema de ensino “apostilado”

imposto para as diferentes realidades?

Com base nessas colocações, podemos pontuar o quanto o processo de formação

mais ampla da identidade de um povo passa diretamente por meio dos processos de

aquisição da leitura e da escrita. Entendemos que, numa perspectiva histórica, o estudo

sobre os materiais didáticos nos ajudou a compreender a sociedade de hoje,

considerando que ela vivencia espaços marcados por relações instauradas em redes de

conexões (SILVA, 2002). Essa discussão também nos levou a pensar sobre o mundo

digital e sobre como os livros impressos têm resistido às intertextualidades dos espaços

263

e convivido com elas.

Em nossa pesquisa, verificamos que estudar os livros didáticos por meio da

cultura escrita é refletir sobre as relações que se estabelecem entre as inovações e os

traços do passado. Nessa relação, precisamos entender que, na era de hibridismos80

,

vivenciada, atualmente, pela sociedade, precisamos pensar sobre a complementaridade

das coisas nas articulações que as informações estabelecem, sem, necessariamente,

pensar na dualidade e na anulação dos conhecimentos. Um exemplo disso é o uso das

bibliotecas que traz o aroma de passado, mas abriga leitores e usuários que, quase

sempre, trazem o cheiro da inovação. São espaços diferenciados com suas

particularidades, de modo que a inserção de práticas de inovação não implique a

rejeição do passado, ou seja, seus leitores não podem negar as tradições e os costumes

presentes naquele espaço e fora dele.

Em dias atuais, as bibliotecas continuam cheias de usuários que utilizam objetos

digitais e impressos do acervo. Logo, temos uma hibridização nos espaços, por isso

podemos inferir que os objetos “ditos novos” não anulam ou não substituem os

“velhos”. O que acontece é que eles vão se encaixando e, nesse processo, alguns passam

mais rápidos e outros permanecem e marcam nossas histórias. Acreditamos que os

suportes de leitura precisam formar um leitor expandido, capaz de transitar nesses

espaços sem desconsiderar os valores das coisas, pois os livros - analógicos ou digitais -

compõem traços do mundo do conhecimento.

Nessa perspectiva, consideramos o livro didático como um suporte informativo

que, apesar de presente no cotidiano escolar dos alunos e dos professores há, pelo

menos, dois séculos, ainda se configura como o único material didático que faz parte da

construção do mundo do conhecimento de muitos alunos. Por isso, afirmamos que esse

produto, que faz parte da indústria cultural e, portanto, é usado como ferramenta

80

A dimensão do conceito de hibridismo tem várias facetas que têm em comum a experiência da

oscilação e de diferentes linguagens. Para Lévy (1997), falar de hibridismo é pensar que “o espaço do

novo nomadismo não é o território geográfico nem o das instituições ou dos Estados, mas um espaço

invisível dos conhecimentos, dos saberes, das forças de pensamento no seio da qual se manifestam e

se alteram as qualidades do ser, os modos de fazer sociedade. Não são os organismos do poder, nem as

fronteiras disciplinares, nem as estatísticas dos mercados, mas sim o espaço qualitativo, dinâmico,

vivo, da humanidade que se inventa, ao mesmo tempo em que produz o seu mundo” (p. 17).

264

pedagógica ou não, compõe, junto com outros “suportes informativos”, como livros

paradidáticos, atlas, apostilas, cadernos, CDs e DVDs, e os materiais de computador,

como CD-ROMs, jogos etc., o grupo dos materiais pedagógicos que comunicam os

elementos do saber das disciplinas escolares. Historicamente, no processo de formação,

de repasse e de produção dos conhecimentos, esses suportes exerceram e exercem

funções determinantes, visto que valores e ideologias são transmitidos na escola o

tempo todo.

Assim, procurando relacionar essas inferências que elencamos com as

impressões obtidas acerca do nosso objeto de estudo, podemos afirmar que a formação

dos saberes escolares é marcada por um movimento de idas e vindas, por uma busca

constante por inovações que está, quase sempre, esbarrando-se no velho, que está

instituído nas mais diversas concepções pedagógicas. Isso quer dizer que nossa cultura

escolar, ao longo do tempo, vem trazendo traços de mudanças e permanências que não

devem ser analisadas separadamente da seleção que a escola faz para garantir a

perpetuação de costumes, valores e identidades, tampouco das diversificadas tradições

culturais presentes no processo de escolarização.

Considerando que a presença dos exercícios marca os traços da cultura escolar

primária, afirmamos que houve uma interação entre eles e o processo de formação dos

conhecimentos da disciplina escolar Geografia e que a concepção da disciplina escolar

Geografia está intimamente associada ao papel histórico exercido pela Pedagogia e pela

escola, e não, somente, à ideia de transposição de saberes ou métodos, que se integram e

resultam em uma produção coletiva dessas instâncias.

O estudo sobre os exercícios nos permitiu afirmar que eles desempenharam um

papel relevante na formação dos saberes da disciplina escolar Geografia e se

configuraram como uma expressão da metodologia que tinha, entre outras finalidades, a

de fixar o saber ensinado por meio de um ensino ora mais descritivo ora mais prático,

mas que não abria mão da indicação dos exercícios como subsídio necessário à

organização e à produção dos saberes geográficos da época.

265

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BARBOSA, Ruy; ESPINOLA, Thomaz do Bomfim; VIANA; Ulisses Machado.

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(Publicação Original). In. Coleção de Leis do Império do Brasil. Disponível em

http://www2.camara.leg.br/. Acesso em 09 de outubro de 2014.

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282

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Acesso em outubro de 2014.

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emhttp://ihgp.net/catalogo_3o.htm.

Biblioteca Nacional de Maestro - Argentina. Disponível em http://www.bnm.me.gov.ar/.

Biblioteca Nacional de Portugal. Disponível em http://www.bnportugal.pt/.

Biblioteca digital do Senado Federal (seção de obras raras). Disponível em

http://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/4.

283

APÊNDICE

284

O trabalho de catalogação das obras destinadas ao Ensino Primário e suas

classificações ou aquelas aqui por nós denominadas de não identificadas já vem sendo

organizado desde início da pesquisa de doutorado.

O processo de levantamento e catalogação das publicações entre os anos de

1880-1930, quando nos foi possível, foi feito por meio da fotografia ou fotocópia dos

detalhes da obra como: a capa, a contracapa, as primeiras folhas, os textos

complementares, e, em alguns casos, quando tivemos acesso, realizamos registro da

obra inteira. Alguns desses livros foram adquiridos em sebos, ou em bibliotecas

particulares, outros ainda conseguimos baixar da internet, em sites que se ocupam de

fazer a guarda desses materiais e disponibilizar para que outros pesquisadores tenham

acesso a essas fontes.

É bom enfocar que o nosso trabalho caminha junto com os trabalhos

desenvolvidos pelo o Grupo de Pesquisa Ciências, Educação e Sociedade – GPCES,

cujo principal objetivo é suscitar e subsidiar pesquisas de graduação e pós-graduação,

promovendo o intercâmbio entre as áreas de Geografia, História, Ciências, Pedagogia e

Arquitetura. Para isso, já foram organizados muitos projetos denominados projetos

guarda-chuva, que abrangia essas disciplinas e tinha como foco formar um banco de

dados dos livros didáticos catalogados nas bibliotecas da Paraíba (obras em geral dentro

do recorte temporal delimitado para pesquisa 1870 – 1940), depois se estendendo para

os IHGNE – Institutos Históricos e Geográficos do Nordeste.

Primeiro, gostaríamos de esclarecer ao leitor que para organização das obras

catalogadas, partimos da base de dois projetos que tem se dedicado a tarefa de criar,

alimentar e disponibilizar um banco de dados de livros didáticos. Faz-se importante

informar que devido o Projeto LIVRES ser referência aqui no Brasil desse tipo de

trabalho e pelas aproximações de algumas pesquisas ou experiências vividas de alguns

pesquisadores com esse projeto, o GPCES para catalogação dos livros didáticos faz uso

da ficha de catalogação elaborada pelo LIVRES.

O primeiro é o banco de dados da Biblioteca do Livro Didático e do banco

virtual de livros didáticos: Livros Escolares Brasileiros – LIVRES81

(1810 – 2005)

81

O banco de dados da LIVRES apresenta um variado e extenso catálogo de produções didáticas de

diferentes disciplinas desde o Século XIX até os dias atuais, além de preservar outras fontes

285

(http: //pajé.fe.usp.br/estrutura/livres/index.htm), locado na Faculdade de Educação da

USP. Tal projeto fora organizado pela Faculdade de Apoio à Pesquisa do Estado de São

Paulo – FAPESP. E o segundo foi a partir das atividades de catalogação do já

mencionado GPCES, que mesmo ainda que bem pequeno se comparado ao LIVRES,

que tem se dedicado a organizar na Paraíba o acervo de livros didáticos.

Para isso, inicialmente lançamos mão de catalogar e também fazermos pesquisas

de referências de livros didáticos do ensino primário que estivesse dentro do nosso

período de pesquisa (1880 – 1930), vale ressaltar que também listamos aqueles livros

didáticos que não estão definidos quanto ao nível de ensino, pois, nesses encontrarmos

indícios que podemos caracterizá-los como primários ou como livros utilizados ou

destinados a esse nível de ensino.

As pesquisas tiveram início no acervo de livros didáticos do GPCES, se

configurando no primeiro contato (com as fontes dessa pesquisa, pois, desde PIBIC que

já trabalhamos com os livros didáticos como fonte e objeto de pesquisa) com a

materialidade das fontes (obras didáticas), ou seja, um contato primordial para qualquer

uma pesquisa dessa natureza. O aproximar-se das fontes de pesquisas, nos permitiu e

tem permitido não só fazermos inferências com as colocações por nós feitas no decorrer

da pesquisa, mais, sobretudo, por se configurar num momento em que essas fontes

foram dadas a ler e cuidadosamente apreendidas por nós, que sabemos da relevância

desse momento e dos cuidados de se deve ter ao ler uma fonte histórica.

Sobre as atividades de catalogação no GPCES destacamos que o primeiro passo

foi listar os locais por nós pesquisados, inicialmente nos seguintes acervos: Biblioteca

da Universidade Federal da Paraíba - UFPB - coleções especiais, Biblioteca do IEP –

Instituto de Educação da Paraíba, Biblioteca do CENTEMAR – Biblioteca do

Seminário Arquidiocesano da Paraíba, Biblioteca do UNIPÊ – Centro Universitário de

João Pessoa, Biblioteca do CEFET/PB – Escola Técnica da Paraíba, hoje o IFPB –

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba, na FJA Fundação José

Américo e no Espaço Cultural – seção obras raras. Depois, fomos fazer um apanhado do

que os projetos que já tinha catalogado livros didáticos que pudesse nos interessar,

relacionadas à produção didática, documentos históricos como programas curriculares, legislação,

catálogo de editoras e bibliografia de pesquisas nacionais e internacionais sobre livro didático.

286

primeiros os projetos de iniciação científica – PIBICs82

e depois os projetos universais,

o das bibliotecas da Paraíba e dos Institutos Históricos e Geográficos do Nordeste83

.

O segundo passo foi realizado no acervo físico da Biblioteca de livro didático da

USP em abril de 2014. O momento oportunizou, entre outras questões, o contato com a

materialidade das obras desse acervo, pois, boa parte delas já havia sido catalogada no

acervo digital. Aqui cabe ressaltar que isso facilitou e ajudou demais na busca pelas

obras, pois, já com esse levantamento prévio de boa parte das obras coletas, ficava mais

fácil na hora de fotografar e selecionar o que nos interessava mais de perto em cada uma

delas. Vale lembrar que, no acervo físico da Biblioteca de Livro Didático da USP 84

, não

encontramos um número expressivo de livros destinados ao ensino primário, visto que,

a maioria deles estão dispersos nas outras bibliotecas vinculadas ao projeto LIVRES,

que não tivemos oportunidade de visitar, pois, fica em diferentes Estados brasileiros.

Em São Paulo além da Biblioteca de Livro Didático da USP, fomos a Biblioteca

Municipal Mário de Andrade e a Biblioteca Brasiliana e Guita José Mindlin – USP. O

proposito da visita as referidas biblioteca foi de termos acesso aos livros didáticos que

foram catalogados em conjunto com o LIVRES, porém, no caso da Biblioteca

Municipal Mário de Andrade, não tivemos acesso ao local, pois, o setor de obras raras

estava interditado. Já no caso da Biblioteca Brasiliana e Guita José Mindlin – USP,

tivemos acesso e realizamos a pesquisa de forma satisfatória.

O levantamento nos acervos digitais foi feito no catálogo do Banco de Dados de

Livros Escolares Brasileiros – LIVRES, a pesquisa foi realizada diretamente no site

(http: //pajé.fe.usp.br/estrutura/livres/index.htm), por ano, por vezes por autores e por

outras por título. A importância dada a esse site para nossa pesquisa se dá pelo fato

desse nos levar automaticamente aos acervos de outras bibliotecas e instituições

brasileira que trabalham com a temática discutida, pois o seu catálogo integra o acervo

82 Destaco aqui a minha participação no processo de catalogação desses livros para GPCES, enquanto

aluna e bolsista do PIBIC do projeto já mencionado na parte introdutória da pesquisa.

83 Aqui cabe enfatizar que fizemos parte e coletamos os dados in lócus da proposta de catalogação do

Projeto Universal Ensino de Geografia: materiais didáticos, currículos, autores e práticas escolares

(1860 a 1940), financiado pelo CNPq e coordenado pela professora Maria Adailza Martins de

Albuquerque.

84 Na pesquisa realizada na referida biblioteca, é importante também registrar a acolhida e importante

ajuda da bibliotecária Maria José, que com sua experiência de arquivo, nos ajudou na pesquisa. E

ainda, sua disponibilidade em ajudar nas pesquisas a distância, estreitando os laços entre a Paraíba e o

banco de dados digital da LIVRES.

287

da Biblioteca do Livro Didático da Biblioteca FEUSP; Biblioteca Municipal Mário de

Andrade de São Paulo; Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro; Biblioteca do Colégio

Pedro II – NUDOM do Rio de Janeiro; Biblioteca do CEALE da UFMG; Biblioteca da

UNESP - Marília; Biblioteca PUC - Minas Gerais e a Biblioteca Brasiliana - USP. Além

do site LIVRES também realizamos a pesquisa em outros endereços eletrônicos, a

exemplo o site do Laboratório de Ensino e Materiais Didáticos - LEMAD85

; Acervo de

obras raras da biblioteca do Senado Federal86

, dentre outros.

85

O referido Laboratório tem como coordenadores os professores: Silvia Basseto, Antônia Terra de

Calazans Fernandes, Mauricio Cardoso e Ana Maria de Almeida Camargo.

86 Aqui enfatizamos que a pesquisa em acervos (físicos ou digitais) não especializados em acervos

didáticos não é uma tarefa fácil, tendo em vista a variedade de fontes existentes nesses locais, e

também, em alguns casos, a falta de sistematização e organização dos tipos de fontes. Nos casos dos

acervos digitais, quando estávamos pesquisando por termos e expressões chaves que pudessem estar

associadas aos livros didáticos, a partir da grafia da época, como: compêndio, cosmographia,

geographia, geografia, chorographia, corographia, corográfica(o), dentre outros termos.

288

Quadro I – Obras didáticas destinadas ao Ensino Primário (1880 – 1930)

Título da obra

(subtítulo/outras

informações)

Autor (es) Local:

data/edição

Editora/ Impressor/

gênero

Localização das

obras –

catálogo/referênc

ias

1 - Introdução

Corographica à

História do Brasil

Pedro

d’Alcântara

Bellegarde

Rio de

Janeiro:

1840

Typ. J. E. S.

Cabral

Manual Biblioteca do

Livro Didático e

do banco virtual

de livros

didáticos -

LIVRES

2 - Noções geraes

de Geographia

Universal:

contendo

particularmente a

Geographia do

Imperio do Brazil e

da provincia do

Amazonas

Raimundo

A. Nery

Paris:

França:188

?

Guillard,

Aillaud &

Cia

Manual Biblioteca do

Livro Didático e

do banco virtual

de livros

didáticos -

LIVRES

3 - Atlas do

Imperio do Brazil:

comprehendendo

as respectivas

divisões

administrativas,

ecclesiasticas,

eleitorais e

judiciarias

Candido

Mendes de

Almeida

Rio de

Janeiro:

1868

Lithographi

a do

Instituto

Philomathic

o

Manual Biblioteca do

Livro Didático e

do banco virtual

de livros

didáticos -

LIVRES

3 - Atlas do

Imperio do Brazil

Homem de

Mello;

Claudio

Lomellino

Carvalho;

Francisco

Antonio

Pimenta

Bueno;

Paulo

Robin

Rio de

Janeiro:

1882

Angelo

Agostini e

Paulo

Robin

Manual Biblioteca do

Livro Didático e

do banco virtual

de livros

didáticos -

LIVRES

4 - Breves noções

para se estudar

com methodo a

Geographia do

Brasil

J. Praxedes

P. Pacheco

Rio de

Janeiro:

1857

Typ. Imp. e

Const. de J.

Villeneuve e

Cia.

Biblioteca do

Livro Didático e

do banco virtual

de livros

didáticos -

LIVRES

5 - Chorographia

da provincia do

Ceará

José

Pompeu de

A. Cavalca

nti

Rio de

Janeiro:

1888

Imprensa

Nacional

Manual Biblioteca do

Livro Didático e

do banco virtual

de livros

didáticos -

LIVRES

6 - Chorographia

de Portugal

Bibliotheca

do Povo e

das Escolas

Lisboa:

Portugal:

1881. 1ª.

David

Corazzi

Manual Biblioteca do

Livro Didático e

do banco virtual

289

Título da obra

(subtítulo/outras

informações)

Autor (es) Local:

data/edição

Editora/ Impressor/

gênero

Localização das

obras –

catálogo/referênc

ias

ed. de livros

didáticos -

LIVRES

7 - Chorographia

do Brazil

Bibliotheca

do Povo e

das Escolas

Lisboa:

Portugal:

1882

David

Corazzi

Manual Biblioteca do

Livro Didático e

do banco virtual

de livros

didáticos -

LIVRES

8 - Compendio de

Geographia da

Provincia do

Paraná: adaptado

ao ensino da

mocidade

brazileira, e

acompanhado de

cento e trinta notas

instructivas

Luiz de

França

Almeida e

Rio de

Janeiro:

1871

Eduardo &

Henrique

Laemmert

Manual Biblioteca do

Livro Didático e

do banco virtual

de livros

didáticos -

LIVRES

9 - Compendio

de Geographia

elementar:

especialmente do

Brazil

Jeronimo

Sodré

Pereira

Bahia:1884.

2ª. ed.

Lopes da

Silva Lima

& Amaral

Manual Biblioteca do

Livro Didático e

do banco virtual

de livros

didáticos -

LIVRES

10 - Compendio de

Geographia

Universal: especial

do Brazil e da

provincia de

Pernambuco

Salvador

Henrique

de

Albuquerqu

e

Rio de

Janeiro:

1880. 2ª.

ed.

Eduardo &

Henrique

Laemmert

Manual Biblioteca do

Livro Didático e

do banco virtual

de livros

didáticos -

LIVRES

11 - Compendio

elementar de

Geographia geral e

especial do Brasil

Thomaz

Pompêo de

Souza

Brasil

Rio de

Janeiro:

1864. 4ª.

ed.

Lambert Manual Biblioteca do

Livro Didático e

do banco virtual

de livros

didáticos -

LIVRES

12 - Curso

methodico de

Geographia

physica, politica e

astronomica:

composto para uso

das escolas

brasileiras

Joaquim

Maria de

Lacerda

Rio de

Janeiro:

1884. 3ª.

ed.

B. L.

Garnier

Manual Biblioteca do

Livro Didático e

do banco virtual

de livros

didáticos -

LIVRES

13 - Geographia da

Provincia de S.

Paulo

Brigadeiro

José

Joaquim

Machado

de Oliveira

São Paulo:

1862

Typ.

Imparcial

de J. R.

Azevedo

Marques

Manual Biblioteca do

Livro Didático e

do banco virtual

de livros

didáticos -

LIVRES

14 – Geographia

das Provincias do

Brazil

Alfredo

Moreira

Pinto

Rio de

Janeiro:

1885. 2ª. ed.

Livraria

Nicolau

Alves; Alves

Manual Biblioteca do

Livro Didático e

do banco virtual

290

Título da obra

(subtítulo/outras

informações)

Autor (es) Local:

data/edição

Editora/ Impressor/

gênero

Localização das

obras –

catálogo/referênc

ias

& C. de livros

didáticos -

LIVRES

15 - Geographia

Geral: descripção

das raças, religiões,

governos e estados

do globo

Bibliotheca

do Povo e

das Escolas

Lisboa:

Portugal:

1881 2ª. ed.

David

Corazzi

Manual Biblioteca do

Livro Didático e

do banco virtual

de livros

didáticos -

LIVRES

16 - Geographia

Physica

Maury; L.

A. da Costa

Aguiar

Rio de

janeiro:

1873

B.L.

Garnier

Manual Biblioteca do

Livro Didático e

do banco virtual

de livros

didáticos -

LIVRES

17 - Lições de

Corographia do

Brazil

Joaquim

Manoel de

Macedo

Rio de

Janeiro:

1877

B.L.

Garnier

Manual Biblioteca do

Livro Didático e

do banco virtual

de livros

didáticos -

LIVRES

18 - Licoes de

Goegraphia

Abbade

GAULTIE

R

Paris:

Lisboa:

1878

Guillard,

Aillaud&Ci

a

Manual Biblioteca do

Livro Didático e

do banco virtual

de livros

didáticos -

LIVRES

19 - Lições

elementares de

Geographia

segundo o methodo

Gaultier

Estacio de

Sá e

Menezes;

Luiz

Leopoldo

Fernandes

Pinheiro

Junior

Rio de

Janeiro:

1885. 4.ed.

B.L.

Garnier

Manual Biblioteca do

Livro Didático e

do banco virtual

de livros

didáticos -

LIVRES

20 - Noções de

Corographia do

Brazil

Joaquim

Manoel de

Macedo

-

1873

- Manual Biblioteca do

Livro Didático e

do banco virtual

de livros

didáticos -

LIVRES

21 - Noções de

Geographia do

Brazil: para uso da

mocidade

brazileira

Manoel

José

Pereira

Frazão

Rio de

Janeiro:

1883

Typ.

Esperança

de J.

d'Aguiar &

C.

Manual Biblioteca do

Livro Didático e

do banco virtual

de livros

didáticos -

LIVRES

22 - Noções geraes

de Geographia

Universal:

contendo

particularmente a

Geographia do

Imperio do Brazil e

Raimundo

A. Nery

Paris:

Lisboa:

188-?

Guillard,

Aillaud &

Cia

Manual Biblioteca do

Livro Didático e

do banco virtual

de livros

didáticos -

LIVRES

291

Título da obra

(subtítulo/outras

informações)

Autor (es) Local:

data/edição

Editora/ Impressor/

gênero

Localização das

obras –

catálogo/referênc

ias

da provincia do

Amazonas

23 - Novo Atlas

Universal

Anônimo

(Autor);

G. Lorsigno

l

Paris:

Lisboa:

1884

Guillard,

Aillaud &

Cia

Consulta Biblioteca do

Livro Didático e

do banco virtual

de livros

didáticos -

LIVRES

24 - Terra e os

Mares: divagações

scientificas

Bibliotheca

do Povo e

das Escolas

Lisboa:

Portugal:

1882

David

Corazzi

Manual Biblioteca do

Livro Didático e

do banco virtual

de livros

didáticos -

LIVRES

25 - Noções de

Geographia Geral

para o uso da

infancia

Alfredo

Moreira

Pinto

Rio de

Janeiro:

1885

Francisco

Alves

Manual Obra catalogada

pelo GPCES, no

projeto universal

de livros

catalogados nos

Institutos

Históricos e

Geográficos dos

Estados do

Nordeste –

Instituto

Histórico

Geográfico e

Antropológico do

Ceará –

Fortaleza.

26 - Geographia da

infância – para o

uso das escolas

Forjaz Coimbra:

1855. 2ª ed.

Imprensa

da

Universida

de de

Coimbra

Manual Obra catalogada

pelo GPCES, no

Gabinete

Português de

Leitura - GPL.

27 - Compêndio de

Geografia

Elementar I e II

Mario de

Vasconcelos

de Sá

Porto:

Lisboa,

Paris: 1921

Aillaud e

Bertrand/Li

vraria

Chardron,

De Lélo &

Irmãos

LTD

Manual Obra catalogada

pelo GPCES, no

Gabinete

Português de

Leitura - GPL.

28 - Compendio

elementar de

Geographia geral e

especial do Brasil

Tomás

Pompeo de

Souza

Brasil

Rio de

Janeiro:

1859. 3ª ed.

Aillaud e

Bertrand/Li

vraria

Chardron,

De Lélo &

Irmãos

LTD

Manual

Obra catalogada

pelo GPCES, no

Gabinete

Português de

Leitura - GPL.

29 - Geographia

elementar

adaptada às

Escolas Públicas

Tancredo

do Amaral

Rio de

Janeiro,

Paris: 1914.

4ª ed.

Francisco

Alves

Cia/Aillaud

Alves & Cia

Manual Obra catalogada

pelo GPCES, no

Gabinete

Português de

292

Título da obra

(subtítulo/outras

informações)

Autor (es) Local:

data/edição

Editora/ Impressor/

gênero

Localização das

obras –

catálogo/referênc

ias

Primárias Leitura - GPL.

30 - Pequena

Geographia da

Infância –

composta para o

uso das escolas

primárias

Joaquim

Maria de

Lacerda

São Paulo,

Belorizonte

: 1926

Francisco

Alves

Manual Obra catalogada

pelo GPCES, no

Gabinete

Português de

Leitura - GPL.

31 - Compendio de

Geographia par o

uso das aulas de

primeiras letras

- Recife:

1836

typographi

a de Santos

Manual BN

32 - Compendio

elementar de

Geographia geral e

especial do Brasil

Tomás

Pompeo de

Souza

Brasil

Fortaleza:

1856. 2ª ed.

typographi

a de Santos

Manual Obra catalogada

pelo GPCES, no

Gabinete

Português de

Leitura - GPL.

33 - Elementos de

Geographia

Universal – Geral

do Brasil e especial

de Pernambuco

para a infância

escolar da

Província de

Pernambuco

Manoel

Pereira de

Morais

Pinheiro

Recife:

1875

Typographi

a Mercantil

Manual Obra catalogada

pelo GPCES, no

Gabinete

Português de

Leitura - GPL.

34 - Geographia do

Brasil – Adaptado

as escolas

primárias

Francisco

Manuel

Rapozo

D`Almeida

Bahia:

1864. 1 ed.

Typographi

a

Constitucio

nal de

França

Guerra

Manual Obra catalogada

pelo GPCES, no

Gabinete

Português de

Leitura - GPL.

35 - O Atlas

elementar de

Geographia

J. E. da

Silva

Lisboa

Recife:

1877

Typographi

a do Jornal

do Recife

Consulta Obra catalogada

pelo GPCES, no

Gabinete

Português de

Leitura - GPL.

36 - Lições da

Geographia geral

Thomas

Pompeu de

Souza

Brasil

188-? - Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

37 - Geographia

patria infantil-

Escripta em verso

para uso das

classes primarias

João

Baptista

Pires de

Castro

Lopes

188-? - Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

38 - Pequena

Geographia da

infancia: composta

para o uso das

escolas

Joaquim

Maria de

Lacerda

Rio de

Janeiro:

1880. 2ª ed.

96 p

B. L.

Garnier

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

39 - Pequena Joaquim Rio de B. L. Manual Referências do

293

Título da obra

(subtítulo/outras

informações)

Autor (es) Local:

data/edição

Editora/ Impressor/

gênero

Localização das

obras –

catálogo/referênc

ias

Geographia da

infancia: composta

para o uso das

escolas

Maria de

Lacerda

Janeiro:

1884. 3ª ed.

96 p

Garnier catálogo

organizado por

Silva (2012)

40 - Pequena

Geographia da

infancia: composta

para o uso das

escolas –

Melhorada com

seis cartas

coloridas, das cinco

partes do mundo,

sendo a última

melhorada com

seis cartas, das

cinco partes do

mundo, sendo a

última um lindo

mappa do Brazil

Joaquim

Maria de

Lacerda

Rio de

Janeiro:

1887. 4ª ed.

96 p

B. L.

Garnier

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

41 - Pequena

Geographia da

infancia: composta

para o uso das

escolas

Joaquim

Maria de

Lacerda –

Corrigida e

actualizada

por Luiz

Leopoldo

Fernandes

Pinheiro

Rio de

Janeiro:

1890. 5ª ed.

97 p

B. L.

Garnier

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

Pequena

Geographia da

infancia para o uso

das escolas

primarias

Joaquim

Maria de

Lacerda –

Feita por

Luiz

Leopoldo

Fernandes

Pinheiro

Rio de

Janeiro:

1895. 5ª ed.

108 p

B. L.

Garnier

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

42 - Pequena

Geographia da

infancia: composta

para o uso das

escolas

Joaquim

Maria de

Lacerda –

Corrigida e

actualizada

por Luiz

Leopoldo

Fernandes

Pinheiro

Rio de

Janeiro:

1898. 5ª ed.

97 p

B. L.

Garnier

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

43 - Pequena

Geographia da

infancia para o uso

das escolas

primarias

Joaquim

Maria de

Lacerda

Rio de

Janeiro:

1908. 126

p

Francisco

Alves & Cia

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

44 - Pequena

Geographia da

infancia: composta

Joaquim

Maria de

Lacerda -

Rio de

Janeiro:

1910. 116

Livraria

Francisco

Alves

Manual Referências do

catálogo

organizado por

294

Título da obra

(subtítulo/outras

informações)

Autor (es) Local:

data/edição

Editora/ Impressor/

gênero

Localização das

obras –

catálogo/referênc

ias

para o uso das

escolas

Corrigida e

actualizada

Por João

Ribeiro

p Silva (2012)

45 - Pequena

Geographia da

infancia: composta

para o uso das

escolas

Joaquim

Maria de

Lacerda -

Corrigida e

actualizada

Por João

Ribeiro

Rio de

Janeiro:

1914. 116

p

Livraria

Francisco

Alves

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

46 - Pequena

Geographia da

infancia: composta

para o uso das

escolas

Joaquim

Maria de

Lacerda -

Corrigida e

actualizada

Por João

Ribeiro

Rio de

Janeiro:

1915. 116

p

Livraria

Francisco

Alves

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

47 - Pequena

Geographia da

infancia: composta

para o uso das

escolas

Joaquim

Maria de

Lacerda -

Corrigida e

actualizada

Por João

Ribeiro

Rio de

Janeiro:

1917. 116

p

Livraria

Francisco

Alves

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

48 - Pequena

Geographia da

infancia: composta

para o uso das

escolas

Joaquim

Maria de

Lacerda -

Corrigida e

actualizada

Por João

Ribeiro

Rio de

Janeiro:

1918. 116

p

Livraria

Francisco

Alves

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

49 - Pequena

Geographia da

infancia: composta

para o uso das

escolas –

Enriquecida com 8

bellas cartas

coloridas das cinco

partes do mundo e

um lindo mappa do

Brasil.

Joaquim

Maria de

Lacerda -

Corrigida e

actualizada

Por João

Ribeiro

Rio de

Janeiro:

1924. 116

p

Livraria

Francisco

Alves

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

50 - Pequena

Geographia da

infancia: composta

para o uso das

escolas primarias –

Curso Primeiro

Joaquim

Maria de

Lacerda

Rio de

Janeiro:

1928. 118

p

Livraria

Francisco

Alves

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

51 - Pequena

Geographia da

infancia: composta

para o uso das

escolas

Joaquim

Maria de

Lacerda

Rio de

Janeiro:

1930. 118

p

Livraria

Francisco

Alves

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

295

Título da obra

(subtítulo/outras

informações)

Autor (es) Local:

data/edição

Editora/ Impressor/

gênero

Localização das

obras –

catálogo/referênc

ias

52 - Noções

elementares de

Geographia,

compiladas para

uso das escolas

primarias – É

escrito de acordo

com os pontos de

Geographia, que

são hoje

preparatório para

a matricula de

primeiro anno do

Collegio de Pedro

II

Augusto

Emilio

Zuluar

Rio de

Janeiro:

1880. 123 p.

Livraria

Clássica de

N. Alves

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

53 - Noções

elementares de

Geographia do

Brasil

Alfredo

Moreira

Pinto

Rio de

Janeiro:

1881

- Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

54 - Noções

elementares de

corographia do

Brazil, para uso

das escolas

primarias

Alfredo

Moreira

Pinto

Rio de

Janeiro:

1881

- Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

55 - Corographia

do Brasil.

Rudimentos:

Alfredo

Moreira

Pinto

Rio de

Janeiro:

1893

Livraria

Clássica de

Alves e Cia.

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

56 - Rudimentos de

Chorographia do

Brazil. Para uso

das escolas

primarias

Alfredo

Moreira

Pinto

Rio de

Janeiro:

Paris:1881

16 p.

Alves & C.

; Guillard,

Aillaud &

Cia

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

57 - Rudimentos de

Chorographia do

Brazil. Para uso

das escolas

primarias

Alfredo

Moreira

Pinto

Rio de

Janeiro:

Paris: 1891.

2ª ed. 6 p.

Livraria

Clássica da

Alves

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

58 - Rudimentos de

Chorographia do

Brazil. Para uso

das escolas

primarias

Alfredo

Moreira

Pinto

Rio de

Janeiro:

Paris: 1895.

3ª ed. 6 p.

Alves & C.

; Guillard,

Aillaud &

Cia

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

59 - Pequena

Geographia Brazil.

Meltodo intuitivo

para uso dos

alunos do curso

primário do

Externato Azurara

João José

Pereira de

Azurara

Santos- PB

1884

Typ. do

Diário de

Santos

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

60 - Noções

elementares de

Geographia do

Joaquim

José de

Carvalho

Rio de

Janeiro:

1885

- Manual Referências do

catálogo

organizado por

296

Título da obra

(subtítulo/outras

informações)

Autor (es) Local:

data/edição

Editora/ Impressor/

gênero

Localização das

obras –

catálogo/referênc

ias

Brasil – Para uso

dos alunnos do

curso primário do

colégio Amorim

Carvalho e das

escolas do corpo

militar de policia

da corte.

74 p. Silva (2012)

61 - Epitome da

Geographia do

Brasil – Destinado

ao ensino primário

João de

Simas

Enéias

Rio de

Janeiro:

1888

99 p.

- Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

62 - Noções

geográficas e

históricas do

estado de

Pernambuco –

Compêndio

Adoptado pelo

Conselho litterario

para uso das

Escolas Primárias

do Estado de

Pernambuco

E. R. T.

Espirito

Santo

Recife:

1891

6ª ed.

Typographi

a d’A

Província

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

63 - Geographia

elementar,

adaptada às escolas

publicas primarias

– adoptado

unanimemente pelo

Conselho superior

das instrucção

publica de S.

Paulo, e adoptado

nas escolas

Tancredo

Leite do

Amaral

Coutinho

Rio de

Janeiro:

1892

78 p.

Francisco

Alves

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

64 - Geographia

elementar,

adaptada às escolas

publicas primarias

Tancredo

Leite do

Amaral

Coutinho

Rio de

Janeiro:

1893

2ªed. Cor. e

aum.

213 p.

Francisco

Alves

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

65 - Geographia

elementar,

adaptada às escolas

publicas primarias

Tancredo

Leite do

Amaral

Coutinho

Rio de

Janeiro:

1895

2ªed. Cor. e

aum.

213 p.

Francisco

Alves

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

66 - Geographia

elementar,

adaptada às escolas

publicas primarias

– adoptado

unanimemente pelo

Conselho superior

Tancredo

Leite do

Amaral

Coutinho

Rio de

Janeiro:

1896

5ª ed.

Revista e

argumenta

da com 28

Francisco

Alves

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

297

Título da obra

(subtítulo/outras

informações)

Autor (es) Local:

data/edição

Editora/ Impressor/

gênero

Localização das

obras –

catálogo/referênc

ias

das instrucção

publica de S.

Paulo, e adoptado

nas escolas

artigos

213 p.

67 - Geographia

elementar,

adaptada às escolas

publicas primarias

Tancredo

Leite do

Amaral

Coutinho

Rio de

Janeiro:

1904

8ªed.

213 p.

Francisco

Alves

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

68 - Geographia

elementar,

adaptada às escolas

publicas primarias

Tancredo

Leite do

Amaral

Coutinho

Rio de

Janeiro:

1907

10ª ed.

213 p.

Francisco

Alves

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

69 - Geographia

elementar,

adaptada às escolas

publicas primarias

Tancredo

Leite do

Amaral

Coutinho

Rio de

Janeiro:

1909

11ª ed.

213 p.

Francisco

Alves

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

70 - Geographia

primária:

composto para uso

das Escolas

Primárias

Carlos

Novaes

Rio de

Janeiro:

1892

164 p.

Francisco

Alves

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

71 - Geographia

primária:

composto para uso

das Escolas

Primárias

Carlos

Novaes

Rio de

Janeiro:

1895

3ª ed.

162 p.

Francisco

Alves

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

Geographia

primária:

composto para uso

das Escolas

Primárias

Carlos

Novaes

Rio de

Janeiro:

1900

6ª ed.

164 p.

Francisco

Alves

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

72 - Geographia

primária:

composto para uso

das Escolas

Primárias

Carlos

Novaes

Rio de

Janeiro:

190-

12ª ed.

164 p.

Francisco

Alves

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

73 - Geographia

especial do Pará –

Aprovada para uso

das escolas

primárias

Raimundo

Ciríaco

Alves da

Cunha

Pará: 1894

89 p.

Typographi

a e

encadernaç

ão da V.

Travessa

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

74 - Geographia

especial do Pará –

Aprovada para uso

das escolas

primárias

Raimundo

Ciríaco

Alves da

Cunha

Pará: 1898

2ª ed.

89 p.

Typographi

a e

encadernaç

ão da V.

Travessa

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

75 - Geographia

elementar –

Arthur

Thiré

Rio de

Janeiro:

Francisco

Alves

Manual Referências do

catálogo

298

Título da obra

(subtítulo/outras

informações)

Autor (es) Local:

data/edição

Editora/ Impressor/

gênero

Localização das

obras –

catálogo/referênc

ias

Compendiada para

uso das escolas

primárias

1901

164 p.

organizado por

Silva (2012)

76 - Geographia

elementar –

Compendiada para

uso das escolas

primárias

Arthur

Thiré

Rio de

Janeiro:

1909

10ª ed.

164 p.

Francisco

Alves

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

77 - Geographia

elementar –

Compendiada para

uso das escolas

primárias

Arthur

Thiré

Rio de

Janeiro:

1909

10ª ed.

164 p.

Francisco

Alves

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

78 - Geographia

elementar –

Compendiada para

uso das escolas

primárias

Arthur

Thiré

Rio de

Janeiro:

1925

17ª ed.

173p.

Francisco

Alves

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

79 - Geographia

elementar: para

uso das escolas

Primárias

M. Filho

Albuquerqu

e

Recife:

1914

233 p.

Imprensa

Industrial

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

80 - Curso

Elementar de

Geographia: para

uso das Escolas

Primárias

F.T.D. Rio de

Janeiro:

1914

48 p.

Francisco

Alves

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

81 - Pontos de

Geographia para o

Estado de Minas –

2º, 3º e 4º anno

primário

Carlos Góes Bello

Horizonte:

1917

128 p.

Imprensa

Official de

Minas

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

82 - Pontos de

Geographia – 2º, 3º

e 4º anno primário

Carlos Góes Bello

Horizonte:

1924

2ª ed.

128 p.

Imprensa

Official de

Minas

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

83 - Pontos de

Geographia – De

acordo com a

última Reforma em

Minas e o Novo

Programma

Official (Decreto n

4930 de 6 de

fevereiro de 1918).

2º, 3º e 4º anno

primário. Para uso

dos Grupos

Escolares e Escolas

Singulares

Carlos Góes Bello

Horizonte:

1918

203 p.

Imprensa

Official de

Minas

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

85 - Manual de

Geographia

elementar e noções

O. de Souza

Reis

Rio de

Janeiro:

1918

Ed. do

Autor

Manual Referências do

catálogo

organizado por

299

Título da obra

(subtítulo/outras

informações)

Autor (es) Local:

data/edição

Editora/ Impressor/

gênero

Localização das

obras –

catálogo/referênc

ias

rudimentares de

physiographia:

para uso das

classes superiores

das escolas

primárias e

princípios do

ensino secundário

2º ed.

119 p.

Silva (2012)

86 - Chorographia

do Districto

Federal – Manual

de Geographia das

escolas primárias

Curso

Complementar

O. de Souza

Reis

Rio de

Janeiro:

1921

2º ed.

151 p.

- Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

87 - Geographia –

Edição texto só,

para escolas

primárias

(Admissão ao curso

gymnasial)

25 mappas pretos

F.T.D. Rio de

Janeiro,

São Paulo:

1923

Livraria

Paulo de

Azevedo e

Cia

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

88 - Geographia

primaria

Mário da

Veiga

Cabral

Rio de

Janeiro:

1925

212 p.

Jacintho

Ribeiro dos

Santos

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

89 - Noções de

Geographia – III

Parte, Globo

Terrestre

Afonso

Guerreiro

Lima

Porto

Alegre:

1930

Globo Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

90 - Novo manual

de Geographia –

Curso elementar

para uso das

Escolas Primárias

F.T.D. São Paulo:

1907

- Manual Obra catalogada

no acervo

GPCES

91 - Compêndio de

Geographia

elementar

M. Said Ali Obs: a capa

do livro está

deteriorada

não

permitindo

ver

informaçõe

s refere ao

ano, local

de

publicação

e outras

informaçõe

s

- Manual Obra catalogada

no acervo

GPCES

92 - Elementar de

cosmographia

geral

Ezequiel de

Moraes

Leme

São Paulo,

Cayeiras,

Rio de

Janeiro e

Recife:

Comp.

Melhorame

ntos de São

Paulo

Manual Obra catalogada

no acervo

GPCES

300

Título da obra

(subtítulo/outras

informações)

Autor (es) Local:

data/edição

Editora/ Impressor/

gênero

Localização das

obras –

catálogo/referênc

ias

1922

4ª edição

93 - Pequena

Geographia da

infância –

Composta para uso

das escolas

primárias

Joaquim

Maria de

Lacerda

Rio de

Janeiro e

Paris: 1913

Francisco

Alves

Manual Obra catalogada

no acervo

GPCES

94 - Geographia

especial –

Chorographia do

Brasil

Dr. Carlos

de Novaes

Bello

Horizonte:

1923

5ª edição

Livraria

Francisco

Alves

Manual Obra catalogada

no acervo

GPCES

95 - Geographia

Composta

primária para uso

das Escolas

Primárias

Dr. Carlos

de Novaes

Rio de

Janeiro e

Paris: 1982

9ª edição

Livraria

Francisco

Alves

Manual Obra catalogada

no acervo

GPCES

96 - Geographia

elementar

adaptada as escolas

primárias

Tancredo

do Amaral

Rio de

Janeiro,

Bello

Horizonte e

São Paulo:

1904

2ª edição

Livraria

Francisco

Alves & Cia

Manual Obra catalogada

no acervo

GPCES

97 - Geographia

elementar

José

Theodoro

de Souza

Lobo

(Organizaç

ão)

Porto

Alegre:

11ª edição

Manual Obra catalogada

no acervo

GPCES

98 - Geographia –

Curso elementar

F.T.D. Rio de

Janeiro,

São Paulo e

Bello

Horizonte

Edição

texto só,

para escolas

primárias

Nova

coleção de

livros

clássicos,

por F.T.D.

Manual Obra catalogada

no acervo

GPCES

99 - Geographia

pátria elementar

José Júlio

Augusto

Burgain

Rio de

Janeiro:

1885

110 páginas

B. L.

Garnier

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

100 - Geographia-

Atlas (Contendo

oito mapas seguida

d’um ligeiro esloço

chronologico da

historia do Brazil e

de algumas noções

de cosmographia,

dedicado à infância

Dr. Moreira

Pinto

Rio de

Janeiro:

1893

2ª edição

Livraria

Clássica de

Alves e Cia

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

Geographia

elementar

Elysio de

Araújo

Rio de

Janeiro:

Francisco

Alves

Manual Referências do

catálogo

301

Título da obra

(subtítulo/outras

informações)

Autor (es) Local:

data/edição

Editora/ Impressor/

gênero

Localização das

obras –

catálogo/referênc

ias

1901

107 p.

organizado por

Silva (2012)

101 - Geographia

elementar –

Approvada

unanimamente

pelo Conselho

Superior de

Instrucção Publica

do Districto

Federal

Elysio de

Araújo

Rio de

Janeiro:

1910

4ª edição

140 p.

Livraria

Francisco

Alves

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

102 - Geographia

elementar

Elysio de

Araújo

Rio de

Janeiro:

1924

107 p.

Francisco

Alves

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

103 - Geographia

elementar

Elysio de

Araújo

Rio de

Janeiro:

1928

201 p.

Francisco

Alves

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

104 - Compendio

de Geographia

elementar

Manuel

Said Ali

Rio de

Janeiro,

São Paulo:

1905

161 p.

Laemmert

& C.

Editores

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

105 - Curso

elementar de

Geographia Geral

Horacio

Scrosoppi

Rio de

Janeiro:

1905

390 p.

Francisco

Alves & Cia

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

106 - Curso

elementar de

Geographia Geral

Horacio

Scrosoppi

Rio de

Janeiro:

1912

5ª edição

396 p.

Francisco

Alves & Cia

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

107 - Curso

elementar de

Geographia Geral

Horacio

Scrosoppi

Rio de

Janeiro:

1922

555 p.

Paulo

Azevedo

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

108 - Curso

elementar de

Geographia Geral

Horacio

Scrosoppi

Rio de

Janeiro,

São Paulo:

1924

100 p.

Francisco

Alves & Cia

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

109 - Curso

Elementar de

Geographia

Themistocle

s Savio

Rio de

Janeiro:

1908

583 p.

Orosco

Impressores

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

110 - Curso

Elementar de

Geographia

Themistocle

s Savio

Rio de

Janeiro:

1909

2ª edição

433 p.

Heitor

Ribeiro &

Cia

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

111 - Curso

Elementar de

Geographia

Themistocle

s Savio

Rio de

Janeiro:

1914

Francisco

Alves & Cia

Manual Referências do

catálogo

organizado por

302

Título da obra

(subtítulo/outras

informações)

Autor (es) Local:

data/edição

Editora/ Impressor/

gênero

Localização das

obras –

catálogo/referênc

ias

596 p. Silva (2012)

112- Geographia

elementar – com

gravuras e oito

mappas coloridos

Amélia de

Rezende

Martins

São Paulo,

Rio de

Janeiro:

1919

79 p.

Livraria

Francisco

Alves & Cia

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

113 - Geographia

elementar – com

gravuras e oito

mappas coloridos –

Approvada e

adoptada pela

instrucção Publica

do Distrito Federal

Amélia de

Rezende

Martins

São Paulo,

Rio de

Janeiro:

1926

11º mileiro

79 p.

Livraria

Francisco

Alves

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

114 - Geographia

atlas: curso

elementar

F.T.D. Rio de

Janeiro:

1923

Livraria

Paulo de

Azevedo &

C.

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

115 - Geographia:

curso elementar

F.T.D. São Paulo:

1923

3 edição

110 p.

- Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

116 - Geographia

elementar

Carlos

Miguel

Delgado de

Carvalho

São Paulo:

1923

328 p.

Cia.

Melhorame

ntos

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

117 - Geographia

elementar

Carlos

Miguel

Delgado de

Carvalho

São Paulo:

1924

328 p.

Weizflog

Irmão

Incorp.

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

118 - Noções

preliminares de

Geographia –

Colligidas por uma

professora

primária

Uma

professora

Primária

[Pseud]

Campos:

1924

Ed. da Casa

“A Penna

de Bronze”

51 p.

- Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

Quadro II– Obras paradidáticas / livros de consulta destinados ao Ensino Primário (atlas e

dicionários geográficos)

Título da obra

(subtítulo/outras

informações)

Autor (es) Local:

data/edição

Editora/ Impressor/

gênero

Localização das

obras –

catálogo/referênci

as

119 - Atlas do

Imperio do

Brazil:

comprehendendo

as respectivas

divisões

administrativas,

ecclesiasticas,

eleitorais e

judiciarias

Candido

Mendes de

Almeida

Rio de

Janeiro:

1868

Lithographia

do Instituto

Philomathico

Manual Biblioteca do

Livro Didático e

do banco virtual

de livros

didáticos -

LIVRES

303

Título da obra

(subtítulo/outras

informações)

Autor (es) Local:

data/edição

Editora/ Impressor/

gênero

Localização das

obras –

catálogo/referênci

as

120 - Atlas do

Imperio do

Brazil

Homem de

Mello;

Claudio

Lomellino

Carvalho;

Francisco

Antonio

Pimenta

Bueno;

Paulo

Robin

Rio de

Janeiro:

1882

Angelo

Agostini e

Paulo Robin

Manual Biblioteca do

Livro Didático e

do banco virtual

de livros

didáticos -

LIVRES

121 - Novo Atlas

Universal

Anônimo

(Autor);

G. Lorsigno

l

Paris:

Lisboa: 1884

Guillard,

Aillaud &

Cia

Consulta Biblioteca do

Livro Didático e

do banco virtual

de livros

didáticos -

LIVRES

122 - O Atlas

elementar de

Geographia

J. E. da

Silva

Lisboa

Recife: 1877

Typographia

do Jornal do

Recife

Consulta Obra catalogada

pelo GPCES, no

Gabinete

Português de

Leitura - GPL.

123 -

Geographia-

Atlas (Contendo

oito mapas

seguida d’um

ligeiro esloço

chronologico da

historia do Brazil

e de algumas

noções de

cosmographia,

dedicado à

infância

Dr. Moreira

Pinto

Rio de

Janeiro:

1893

2ª edição

Livraria

Clássica de

Alves e Cia

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

124 - Geographia

elementar – com

gravuras e oito

mappas

coloridos

Amélia de

Rezende

Martins

São Paulo,

Rio de

Janeiro:

1919

79 p.

Livraria

Francisco

Alves & Cia

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

125 - Geographia

elementar – com

gravuras e oito

mappas

coloridos –

Approvada e

adoptada pela

instrucção

Publica do

Distrito Federal

Amélia de

Rezende

Martins

São Paulo,

Rio de

Janeiro:

1926

11º mileiro

79 p.

Livraria

Francisco

Alves

Manual Referências do

catálogo

organizado por

Silva (2012)

Geographia

atlas: curso

elementar

F.T.D. Rio de

Janeiro:

1923

Livraria

Paulo de

Azevedo &

Manual Referências do

catálogo

organizado por

304

Título da obra

(subtítulo/outras

informações)

Autor (es) Local:

data/edição

Editora/ Impressor/

gênero

Localização das

obras –

catálogo/referênci

as

C. Silva (2012)

126 - Atlas de

Geographia

Universal –

Descrito e

ilustrado

Julio

Gaspar

Ferreira da

Costa

Lisboa: 1903 empresa

editora do

Atlas

Universal

Consulta Obra catalogada

pelo GPCES, no

Gabinete

Português de

Leitura - GPL.

127 - Novo Atlas

universal

MARIN,

André

Perez Y.

Paris/França

:1884

[s/ed.];

Guillard,

Aillaud &

Cia.

LIVRES

Biblioteca FEUSP

(Biblioteca Paulo

Bourroul)

128 - Pequeno

atlas de histórica

universal: curso

elementar para o

ensino do

primeiro grau

SILVA,

Olavo

Freire da

Rio de

Janeiro/RJ:

1910; [s/ed.];

Livraria

Clássica de

Francisco

Alves

Biblioteca

Nacional de

Maestros

129 - F.T.D

Geographia –

Atlas – livro II

F.T.D. São Paulo:

1910; [s/p];

[s/ed.];

1923; [s/ed.];

[s/l.]; [s/p.]

GPL: edição do

ano. 1910 (livro

II);

130 - Cartografia Antônio São

Paulo/SP:

19??;

[s/ed.];

Gráfica

Palmeiras

LIVRES:

Biblioteca FEUSP

– (Biblioteca do

Livro Didático)

131 -

Cartografia: 2º

caderno: mapas

– Brasil (vol. 2)

MUNHOZ,

M. e

Iracema

FOSTER,

Anita

São

Paulo/SP:

19??; [s/ed.];

Typ.

Paulista.

LIVRES:

Biblioteca FEUSP

– (Biblioteca do

Livro Didático)

305

Quadro III– Obras catalogadas para a pesquisa não identificadas quanto ao nível de ensino (1880 –

1930).

Título da obra

(subtítulo/outra

s informações)

Autor

(es)

Local:

data/edição

Editora/ Impressor/

gênero

Localização das obras –

catálogo/referências

132 - Elementos

de Geographia

Moderna

Cosmografia

Pedro

José de

Abreu

Rio de

Janeiro:

1885

Editores

Soares e

Niemeyer

Manual Obra catalogada pelo

GPCES, no projeto

universal de livros

catalogados nos

Institutos Históricos e

Geográficos dos

Estados do Nordeste –

Instituto Histórico

Geográfico e

Antropológico do Ceará

– Fortaleza.

133 -

Geographia

Especial do

Ceará

João

Gonçalv

es Dias

Sobreira

Fortaleza:

1902. 4ª ed.

-Typ.

Econômica

Manual Obra catalogada pelo

GPCES, no projeto

universal de livros

catalogados nos

Institutos Históricos e

Geográficos dos

Estados do Nordeste –

Instituto Histórico

Geográfico e

Antropológico do Ceará

– Fortaleza.

134 -

Geographia das

Províncias

Desconh

ecido

1905. 5ª

edição

- Manual Obra catalogada pelo

GPCES, no projeto

universal de livros

catalogados nos

Institutos Históricos e

Geográficos dos

Estados do Nordeste –

Instituto Histórico

Geográfico e

Antropológico do Ceará

– Fortaleza.

135 -

Compendio de

Chorographia

do Brasil

Mario

de Veiga

Cabral

Rio de

janeiro: 1919.

4ª ed.

Livraria

Cruz

Coutinho

de Jacinto

Ribeiro

dos Santos

Manual Obra catalogada pelo

GPCES, no projeto

universal de livros

catalogados nos

Institutos Históricos e

Geográficos dos

Estados do Nordeste –

Instituto Histórico

Geográfico e

Antropológico do Ceará

– Fortaleza.

136 -

Chorographia

do Brazil

Antonio

A.

Borges

Reis

Bahia: 1920

Livraria

Catilina

Manual Obra catalogada pelo

GPCES, no projeto

universal de livros

catalogados nos

Institutos Históricos e

Geográficos dos

Estados do Nordeste –

Instituto Histórico

Geográfico e

Antropológico do Ceará

306

Título da obra

(subtítulo/outra

s informações)

Autor

(es)

Local:

data/edição

Editora/ Impressor/

gênero

Localização das obras –

catálogo/referências

– Fortaleza.

137 - Lições de

Cosmografia

José de

Calazan

s

Rio de

Janeiro: 1922

Leuzinger Manual Obra catalogada pelo

GPCES, no projeto

universal de livros

catalogados nos

Institutos Históricos e

Geográficos dos

Estados do Nordeste –

IHGRN – Natal.

138 - Rio

Grande do

Norte

Augusto

Tavares

Lyra

Natal: 1912

Jornal do

comércio

Manual Obra catalogada pelo

GPCES, no projeto

universal de livros

catalogados nos

Institutos Históricos e

Geográficos dos

Estados do Nordeste –

IHGRN – Natal.

139 - O Rio

Grande do

Norte

Augusto

Tavares

Lyra

Rio de

Janeiro: 1912

Typografia

do Jornal

do

Commérci

o e Cia

Manual Obra catalogada pelo

GPCES, no projeto

universal de livros

catalogados nos

Institutos Históricos e

Geográficos dos

Estados do Nordeste –

IHGP – Paraíba.

140 - O Rio

Grande do

Norte – Ensaio

Chorográphico

Manuel

Dantas

Natal: 1918 Typográfia

D´a

Republica

Manual Obra do catálogo do

GPCES no projeto de

Iniciação Cientifica

PIBIC, pela

pesquisadora Dinaever

Lima de Moura, na

Biblioteca do Instituto

Histórico e Geográfico

da Paraíba – BIHGP.

Obra catalogada pelo

GPCES, no projeto

universal de livros

catalogados nos

Institutos Históricos e

Geográficos dos

Estados do Nordeste –

IHGP – Paraíba.

141 - A pequena

Chorographia

do município de

Caruaru

G.

Malague

ta

Pontes e

Henriqu

e Pinto

Caruaru:

1871

Typografia

Movida a

Vapor

Freitas e

Azevedo

Manual Obra catalogada pelo

GPCES, no projeto

universal de livros

catalogados nos

Institutos Históricos e

Geográficos dos

Estados do Nordeste –

IHGP – Paraíba.

142 -

Geographia

Alagoana ou

Descrição

Thomas

do Bom-

fim

Espíndol

Maceió: 1871

Typografia

do Liberal

Manual Obra do catálogo

organizado pelo

GEPCES, no projeto de

Iniciação Cientifica

307

Título da obra

(subtítulo/outra

s informações)

Autor

(es)

Local:

data/edição

Editora/ Impressor/

gênero

Localização das obras –

catálogo/referências

Physica Política

e Histórica da

Província das

Alagoas

a PIBIC, pela

pesquisadora Dinaever

Lima de Moura, Na

Biblioteca do Instituto

Histórico e Geográfico

da Paraíba – BIHGP.

Obra catalogada pelo

GPCES, no projeto

universal de livros

catalogados nos

Institutos Históricos e

Geográficos dos

Estados do Nordeste –

IHGP – Paraíba.

143 - Geografia

do Brasil –

Corografia da

Paraíba

Figueira

Sampaio

Fortaleza:

186?

Edições

Figueira

Sampaio

Manual Obra catalogada pelo

GPCES, no projeto

universal de livros

catalogados nos

Institutos Históricos e

Geográficos dos

Estados do Nordeste –

IHGP – Paraíba.

144 –

Compendio de

Chorographia

do Brasil

Mario

Veiga

Cabral

Rio de

Janeiro: 1933.

20ª ed.

Livraria

Jacintho

Editora

Manual Obra catalogada pelo

GPCES, no projeto

universal de livros

catalogados nos

Institutos Históricos e

Geográficos dos

Estados do Nordeste –

IHGBA – Salvador.

145 -

Compendio de

Chorographia

do Brasil

Mario

Veiga

Cabral

Rio de

Janeiro: 1918.

3ª ed.

Jacintho

Ribeiro

dos Santos

Manual Obra catalogada pelo

GPCES, no projeto

universal de livros

catalogados nos

Institutos Históricos e

Geográficos dos

Estados do Nordeste –

IHGBA – Salvador.

146 - O Rio

Grande do

Norte

Augusto

Tavares

Lyra

Rio de

Janeiro: 1912

Jornal do

Comércio

Manual Obra catalogada pelo

GPCES, no projeto

universal de livros

catalogados nos

Institutos Históricos e

Geográficos dos

Estados do Nordeste –

IHGBA – Salvador.

147 - Lições de

Cosmografia

José

Calazan

s

Pinheiro

Rio de

Janeiro: 1922

Leuzinger Manual Obra catalogada pelo

GPCES, no projeto

universal de livros

catalogados nos

Institutos Históricos e

308

Título da obra

(subtítulo/outra

s informações)

Autor

(es)

Local:

data/edição

Editora/ Impressor/

gênero

Localização das obras –

catálogo/referências

Geográficos dos

Estados do Nordeste –

IHGBA – Salvador.

148 - Geografia

da América

Antenor

de A.

Lima

Praia

Vermelha:

1883

Litografia Manual Obra catalogada pelo

GPCES, no projeto

universal de livros

catalogados nos

Institutos Históricos e

Geográficos dos

Estados do Nordeste –

IHGSE – Aracajú.

150 - Breve

tratado de

Corographia

portuguesa

Joaquim

Lopes de

Mello

Lisboa: 1851

Typ. De

Sotero

Antonio

Borges

Manual Obra catalogada pelo

GPCES, no Gabinete

Português de Leitura -

GPL.

151 - Lições de

Geographia

Abbade

Guatier

Pariz: 1855.

2ª ed.

Pariz: 1878.

s/ed

Casa de

Vª. J. P.

Aillaud,

Monlon e

Cª.

Manual Obra catalogada pelo

GPCES, no Gabinete

Português de Leitura -

GPL.

BMP

152 -

Compendio de

Geographia

Antonio

Manoel

dos

Ramos

Porto: 1889

Livraria

Portuense

Lopes &

Cia

Manual Obra catalogada pelo

GPCES, no Gabinete

Português de Leitura -

GPL.

153 - Atlas de

Geographia

Universal –

Descrito e

ilustrado

Julio

Gaspar

Ferreira

da Costa

Lisboa: 1903 empresa

editora do

Atlas

Universal

Consulta Obra catalogada pelo

GPCES, no Gabinete

Português de Leitura -

GPL.

154 -

Compendio de

Corographia do

Brasil

Felician

o

Pinheiro

Bittenco

urt

Paris: 1922. 9ª

ed.

Typ.

Aillaud

Manual Obra catalogada pelo

GPCES, no Gabinete

Português de Leitura -

GPL.

155 - Elementos

de Geografia

Moderna e

Cosmographia

P.

D`Abreu

Rio de

janeiro: 1882.

7ª ed.

Typograph

ia

Montenegr

o

Manual Obra catalogada pelo

GPCES, no Gabinete

Português de Leitura -

GPL.

156 -

Geographia –

Altas – Livro II

Coleção

FTD

São Paulo:

1910

FTD

Consulta Obra catalogada pelo

GPCES, no Gabinete

Português de Leitura -

GPL.

157 -

Compendio de

Geografia

universal

Afonso

José de

Oliveira

Recife: 1836 Typograph

ia M. de

Faria

Manual BN

158 - Estudo

chorographico e

Social do Brasil

Florenti

no

Menezes

Aracajú: 1912

Typografia

Amaral

Manual Obra catalogada pelo

GPCES, no projeto De

iniciação científica

PIBIC, pela

pesquisadora Dinaever

Lima de Moura, na

309

Título da obra

(subtítulo/outra

s informações)

Autor

(es)

Local:

data/edição

Editora/ Impressor/

gênero

Localização das obras –

catálogo/referências

Biblioteca do Instituto

Histórico e Geográfico

da Paraíba – BIHGP.

159 -

Physiografia de

Alagoas

Moreira

M. Silva

Maceió: 1919 Imprensa

Oficial

Manual Obra catalogada pelo

GPCES, no projeto De

iniciação científica

PIBIC, pela

pesquisadora Dinaever

Lima de Moura, na

Biblioteca do Instituto

Histórico e Geográfico

da Paraíba – BIHGP.

160 -Aspectos

do Piauhy

Abdias

Neves

Theresinha:

1926

Typografia

d´ “O

Piauhy”

Manual Obra catalogada pelo

GPCES, no projeto De

iniciação científica

PIBIC, pela

pesquisadora Dinaever

Lima de Moura, na

Biblioteca do Instituto

Histórico e Geográfico

da Paraíba – BIHGP.

161 - Terra

ilustrada:

Geographia

universal:

physica,

etnographica,

política,

econômica dos

cincos partes do

mundo.

F. I. C.

[Frere

Ignace

chaput],

Traduçã

o e

adaptaç

ão por

Eugenio

de

Barros

Raja

Gabagli

a

Rio de

Janeiro: 188-?

Livraria

Garnier

Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

162 - Terra

ilustrada:

Geographia

universal:

physica,

etnographica,

política,

econômica dos

cincos partes do

mundo.

F. I. C.

[Frere

Ignace

chaput],

Traduçã

o e

adaptaç

ão por

Eugenio

de

Barros

Raja

Gabagli

a

Rio de

Janeiro: 1902

Livraria

Garnier

Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

163 - Terra

ilustrada:

Geographia

universal:

physica,

etnographica,

política,

F. I. C.

[Frere

Ignace

chaput],

Traduçã

o e

adaptaç

Rio de

Janeiro: 1904

Livraria

Garnier

Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

310

Título da obra

(subtítulo/outra

s informações)

Autor

(es)

Local:

data/edição

Editora/ Impressor/

gênero

Localização das obras –

catálogo/referências

econômica dos

cincos partes do

mundo.

ão por

Eugenio

de

Barros

Raja

Gabagli

a

164 - Terra

ilustrada:

Geographia

universal:

physica,

etnographica,

política,

econômica dos

cincos partes do

mundo.

F. I. C.

[Frere

Ignace

chaput],

Traduçã

o e

adaptaç

ão por

Eugenio

de

Barros

Raja

Gabagli

a

Rio de

Janeiro: 1920

Livraria

Garnier

Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

165 - Noções de

Geographia

astronómica

Alfredo

Moreira

Pinto

Rio de

Janeiro: 188-

?. 2ª ed.

- Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

166 -

Compendio de

noções de

Geographia

Doming

os

Theophil

o de

Carvalh

o Leal

Manaus: 188-

?

- Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

167 - Noções de

Geographia I

parte – Estado

do Rio Grande

do Sul

Afonso

Guerreir

o Lima

Porto Alegre,

Santa Maria e

Cruz Alta:

1911 (ano de

aprovação da

obra), 1917:

(ano de

publicação)

3ª edição

- Manual Obra catalogada no

acervo pessoal de

Ângelo

Geographia

Geral do Brasil

A. W.

Sellin

(traduzi

da e

consider

avelmen

te

argumen

tada)

Rio de

Janeiro: 1889

- Manual Biblioteca do Senado

Federal – seção de

obras raras

168 - Dicionário

Geographico

das Minas do

Brasil

Francisc

o

Ignacio

Ferreira

Rio de

Janeiro: 1885

- Manual Biblioteca do Senado

Federal – seção de

obras raras

169 -

Chorographia

da Província do

Ceará

José

Pompeu

de A.

Cavalca

Rio de

Janeiro: 1888

- Manual Biblioteca do Senado

Federal – seção de

obras raras

311

Título da obra

(subtítulo/outra

s informações)

Autor

(es)

Local:

data/edição

Editora/ Impressor/

gênero

Localização das obras –

catálogo/referências

nte

170 - Noções de

Geographia

geral – para uso

da infância

Alfredo

Moreira

Pinto

Rio de

Janeiro: 1885

Livraria

Nicolau

Alves

Manual Biblioteca do Senado

Federal – seção de

obras raras

171 –

Geographia

primária

Dr.

Carlos

Novaes

Obs: a capa

do livro está

deteriorada

não

permitindo

ver

informações

refere ao ano,

local de

publicação e

outras

informações

Manual Obra catalogada no

acervo pessoal de

Ângelo

172 -

Compendio de

Geographia da

província de

Pernambuco

Manoel

Pereira

de

Moraes

188-

Mineo.

Inédito

Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

173 -

Geographia

Physica –

Primeira Serie

de sciencias

naturais.

Opúsculos

elementares,

adaptados ao

portuguez

Archibal

d Geikie

traduzid

o e

adaptad

o de

Carlos

Jansen

Rio de

Janeiro, São

Paulo:1880

Laemmert

& Cia

Coleção

Biblioteca

do ensino

intuitivo

Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

174 -

Geographia

Physica –

Primeira Serie

de sciencias

naturais.

Opúsculos

elementares,

adaptados ao

portuguez

Archibal

d Geikie

traduzid

o e

adaptad

o de

Carlos

Jansen

Rio de

Janeiro, São

Paulo:1882

2ªedição

Laemmert

& Cia

Coleção

Biblioteca

do ensino

intuitivo

Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

175 -

Geographia do

Rio Grande do

Sul

Hilário

Ribeiro

Porto Alegre:

1880

50p.

Ed. Carlos

Pinto &

Cia

Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

176 -

Geographia do

Rio Grande do

Sul

Hilário

Ribeiro

Porto Alegre:

1881

58p.

Typografia

da

Livraria

Americana

Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

177 - Elementos

de Geographia

Physica

Compila

do

segundo

os

melhores

autores,

Rio de

Janeiro: 1880

215 p.

Typograph

ia de

Pinheiro &

Cia

Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

312

Título da obra

(subtítulo/outra

s informações)

Autor

(es)

Local:

data/edição

Editora/ Impressor/

gênero

Localização das obras –

catálogo/referências

por um

professo

r

178 - Elementos

de

cosmographia

Henriqu

e

Martins,

Augusto

Eduardo

(organiz

adores.)

Porto

Alegre:1881

96 p.

- Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

179 - Elementos

de

cosmographia

Henriqu

e

Martins,

Augusto

Eduardo

(org.)

Porto

Alegre:1882

108 p.

- Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

180 - Elementos

de

cosmographia

Henriqu

e

Martins,

Augusto

Eduardo

(org.)

Porto

Alegre:1897

3ª edição

160 p.

Cunha Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

181 - Elementos

de Geographia

Lemos

D’Sá

1882 - Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

182 -

Corographia do

Brasil

Viriato

Augusto

da Silva

Lisboa: 1882 - Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

183 - Breves

noções de

Geographia e

corographia do

Brazil –

Formuladas de

acordo com o

novo

programma de

exames geraes

de

preparatorios

Joaquim

José de

Carvalh

o

Rio de

Janeiro: 1883

127 p.

- Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

184 - Breves

licções de

Geographia e

Corographia do

brazil

Joaquim

Carvalh

o Filho

1883 Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

185 -

Corografia do

Brazil – Pontos

escritos de

Geographia

Henriqu

e

Martins

[August

o

Eduardo

]

Porto Alegre:

1883

78 p.

Editor

Rodolfo

José

Machado

Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

186 - Elementos

de

Cosmographia

Affonso

José de

Sanctos

Rio de

Janeiro,

Paris: 1884

178 p.

Garnier Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

313

Título da obra

(subtítulo/outra

s informações)

Autor

(es)

Local:

data/edição

Editora/ Impressor/

gênero

Localização das obras –

catálogo/referências

187 -

Compendio

elementar de

chorographia

do Brazil

Raul

Villa-

Lobos

Rio de

Janeiro: 1886

165 p.

Typograph

ia

Mont’Alve

rne

Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

188 -

Compendio

elementar de

chorographia

do Brazil

Raul

Villa-

Lobos

Rio de

Janeiro: 1890

168 p.

2ª edição

Typograph

ia

Mont’Alve

rne

Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

189 -

Compendio

elementar de

chorographia

do Brazil

Raul

Villa-

Lobos

Rio de

Janeiro: 1896

244 p.

3ª edição

Typograph

ia

Mont’Alve

rne

Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

190 -

Compendio

elementar de

chorographia

do Brazil:

resumo

didactico

Raul

Villa-

Lobos

Rio de

Janeiro: 1901

234 p.

5ª edição –

Corr. e

aumentada

Laemmert

& C.

Editores

Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

191 -

Compendio

elementar de

chorographia

do Brazil:

resumo

didactico

Raul

Villa-

Lobos

Rio de

Janeiro: 1906

234 p.

6ª edição –

Laemmert

& C.

Editores

Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

192 - Elementos

de chorographia

do Brazil –

Compilados de

accôrdo com o

último

programma

para os exames

geraes

João

Arnoso

[Pedro

Moreira]

Maranhão:

1887

136 p.

- Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

193 - Pequena

Geographia da

Província do

Pará

Raymun

do

Cyiaco

da

Cunha

Pará: 1887

85 p.

Typograph

ia do

Diário de

Belém

Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

194 - Curso de

Geographia

geral

Alfredo

Moreira

Pinto

Rio de

Janeiro: 1887

222 p.

Livraria

Classica de

Alves & C.

Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

195 - Curso de

Geographia

geral

Alfredo

Moreira

Pinto

Rio de

Janeiro: 1893

256 p.

Livraria

Classica de

Alves & C.

Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

196 - Curso de

Geographia

geral

Alfredo

Moreira

Pinto

Rio de

Janeiro: 1906

316 p.

Livraria

Classica de

Alves & C.

Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

197 - Noções

elementares de

Geographia

geral e do

Lindolp

ho de

Siqueira

Bastos

Rio de

Janeiro: 1888

- Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

314

Título da obra

(subtítulo/outra

s informações)

Autor

(es)

Local:

data/edição

Editora/ Impressor/

gênero

Localização das obras –

catálogo/referências

Brazil.

Especialmente

da província do

Paraná,

compiladas

para uso das

escolas daquela

província

198 - A

Chorographia

da província do

Ceará

José

Pompeu

de A.

Cavalca

nti

Rio de

Janeiro: 1888

317 p.

Imprensa

Nacional

Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

199 -

Compêndio de

Geographia e

chronographia

do Brasil –

acompanhado

de três mappas

e de um índice

alphabetico

Manoel

Tomaz

Alves

Nogueir

a

(Leipzip

– F. A.

Brockha

us

1889

234 p.

- Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

200 - Elementos

de Geographia

do Brazil

Elesbão

Alves

Maya

189- - Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

201 - Pontos de

Geographia

Alfredo

Moreira

Pinto

(organiz

ados,

etc.)

Rio de

Janeiro: 189-

- Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

202 - Licções

elementares de

Geographia –

especialmente

do Amazonas

Goeth

Galvão

de

Carvalh

o

189- - Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

203 - Elementos

de Geographia

geral

Carlos

Melo

1893 - Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

204 - Elementos

de

Cosmographia

Alfredo

Moreira

Pinto

1894,

3ª edição

Livraria

Clássica de

Alves

Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

205 - Licções de

Geographia

geral:

Geographia

especial

Carlos

Jorge

Sallaber

ry

Rio de

Janeiro: 1897

Jacintho

Ribeiro

dos Santos

Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

206 - Licções de

Geographia

geral:

Geographia

especial

Carlos

Jorge

Sallaber

ry

Rio de

Janeiro: 1898

413 p.

Livraria

Cruz

Coutinho

Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

207 - Lições de

Geographia

geral

Basilio

de

Magalhã

es

São Paulo:

1898

120 p.

Typograph

ia Aurora

Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

315

Título da obra

(subtítulo/outra

s informações)

Autor

(es)

Local:

data/edição

Editora/ Impressor/

gênero

Localização das obras –

catálogo/referências

208 -

Chorographia

do Brazil –

resumo

didactico

Raul

Villa-

Lobos

Rio de

Janeiro: 1901

4ª edição

245 p.

Laemmert

& C.

Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

209 -

Geographia

especial ou

chorographia

do Brazil

Carlos

Novaes

Rio de

Janeiro: 1912

Livraria

Francisco

Alves &

Cia

Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

210 -

Geographia

especial ou

chorographia

do Brazil

Carlos

Novaes

Rio de

Janeiro: 1923

5ª edição

328 p.

Livraria

Francisco

Alves

Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

211 -

Geographia

especial ou

chorographia

do Brazil

Carlos

Novaes

Rio de

Janeiro: 1925

6ª edição

330 p.

Livraria

Francisco

Alves

Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

212 –

Geographia

geral

Horacio

Scrosop

pi

Rio de

Janeiro, São

Paulo: 1915

5ª edição

553 p.

Livraria

Francisco

Alves

Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

213 -

Compendio de

chorographia

do Brasil

Horacio

Scrosop

pi

Rio de

Janeiro, São

Paulo: 1921

5ª edição

553 p.

Livraria

Francisco

Alves

Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

214 -

Compendio de

chorographia

do Brasil

Horacio

Scrosop

pi

Rio de

Janeiro, São

Paulo: 1923

5ª edição

553 p.

Livraria

Francisco

Alves

Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

215 -

Compendio de

chorographia

do Brasil

Horacio

Scrosop

pi

Rio de

Janeiro, São

Paulo: 1927

5ª edição

556 p.

Livraria

Francisco

Alves

Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

216 -

Compendio de

chorographia

do Brasil

Mário

da Veiga

Cabral

Cabral

Rio de

Janeiro: 1916

Editora

Paulo de

Azevedo

Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

217 -

Compendio de

chorographia

do Brasil

Mário

da Veiga

Cabral

Cabral

Rio de

Janeiro: 1920

5ª edição

373 p.

Jacintho

Ribeiro

dos Santos

Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

218 -

Compendio de

chorographia

do Brasil

Mário

da Veiga

Cabral

Cabral

Rio de

Janeiro: 1921

363 p.

Jacintho

Ribeiro

dos Santos

Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

219 -

Compendio de

chorographia

do Brasil

Mário

da Veiga

Cabral

Cabral

Rio de

Janeiro: 1925

10ª edição

556 p.

Jacintho

Ribeiro

dos Santos

Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

316

Título da obra

(subtítulo/outra

s informações)

Autor

(es)

Local:

data/edição

Editora/ Impressor/

gênero

Localização das obras –

catálogo/referências

220 -

Compendio de

chorographia

do Brasil

Mário

da Veiga

Cabral

Cabral

Rio de

Janeiro: 1926

363 p.

Jacintho

Ribeiro

dos Santos

Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

221 -

Compendio de

chorographia

do Brasil

Mário

da Veiga

Cabral

Cabral

Rio de

Janeiro: 1927

633 p.

Jacintho

Ribeiro

dos Santos

Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

222 -

Chorographia

do Brasil

Antonio

Alexand

re

Borges

dos Reis

Bahia: 1920 - Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

223 -

Compendio de

Geographia

Lucci L.

Schwalb

ach

1920 - Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

224 - Elementos

de

Cosmographia e

Geographia

geral

Ezequiel

de

Moraes

Leme

São Paulo:

1920

5ª edição

215 p.

Melhoram

entos

Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

225 - Elementos

de

Cosmographia e

Geographia

geral

Ezequiel

de

Moraes

Leme

São Paulo:

1921

6ª edição

216 p.

Nacional Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

226 - Elementos

de

Cosmographia e

Geographia

geral

Ezequiel

de

Moraes

Leme

São Paulo:

1922

7ª edição

210 p.

Nacional Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

227 -

Geographia

geral

J.

Monteir

o F.

Oliveira

Rio de

Janeiro: 1921

446 p.

- Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

228 - Curso de

Geograpgia

geral

Mario

da Veiga

Cabral

Rio de

Janeiro: 1929

7ª edição

711 p.

J. R. dos

Santos

Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)

229 - Curso de

Geograpgia

geral

Mario

da Veiga

Cabral

Rio de

Janeiro: 1931

724 p.

Livraria

Jacintho

Manual Referências do catálogo

organizado por Silva

(2012)