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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL HABILITAÇÃO: JORNALISMO RELATÓRIO FINAL DO DOCUMENTÁRIO PRODUÇÕES SUSTENTÁVEIS EM CINCO SENTIDOS ARLAND REBBECA RICARTE BARBOSA BRUNA ANDRADE BORGES

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

HABILITAÇÃO: JORNALISMO

RELATÓRIO FINAL DO DOCUMENTÁRIO

PRODUÇÕES SUSTENTÁVEIS EM CINCO SENTIDOS

ARLAND REBBECA RICARTE BARBOSA BRUNA ANDRADE BORGES

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João Pessoa 2013

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

HABILITAÇÃO: JORNALISMO

RELATÓRIO FINAL DO DOCUMENTÁRIO

PRODUÇÕES SUSTENTÁVEIS EM CINCO SENTIDOS

Relatório Final do documentário Produções Sustentáveis em Cinco Sentidos de Arland Rebbeca Ricarte Barbosa, matrícula 1091-3409, e Bruna Andrade Borges, matrícula 1092-3333 apresentado como exigência parcial para obtenção do bacharelado em Comunicação Social, habilitação Jornalismo, da Universidade Federal da Paraíba, sob orientação do professor Dr. Wilfredo Maldonado.

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Abril de 2013

Arland Rebbeca de Oliveira Xavier Ricarte

Bruna Andrade Borges

PRODUÇÕES SUSTENTÁVEIS EM CINCO SENTIDOS

Orientador: Professor Doutor Wilfredo Maldonado. Banca examinadora: ______________________________________________________ Nota: ________ Professor Dr. Wilfredo Maldonado ______________________________________________________ Nota: ________ Professor Dr. Luiz Antônio Mousinho ______________________________________________________ Nota: ________ Professor Msc. Carmélio Reynaldo Ferreira

Média final: ________

Aprovadas em ____ de Abril de 2013.

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DEDICATÓRIA

A Deus, que nos apresentou como colegas de classe, nos tornou

companheiras nesta árdua e deliciosa tarefa e, mais do que isso, nos

fez amigas. A Ele nosso eterno agradecimento por nos conduzir pelo

caminho do bem e nos mostrar a saída diante das adversidades.

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AGRADECIMENTOS GERAIS

Ao nosso professor orientador Wilfredo Maldonado, por topar nos ajudar na transformação

deste sonho em realidade, sempre com paciência e dedicação. Pelas dicas, pelas críticas e,

sobretudo, por enfatizar nossas habilidades e acreditar e confiar no nosso trabalho.

À todos os professores do Curso Jornalismo da UFPB, em especial aos queridos Carmélio

Reynaldo e Luiz Antônio Mousinho, que aceitaram fazer parte de nossa banca examinadora e

que, com suas aulas e ensinamentos, fizeram nossa passagem pela Universidade valer muito

mais a pena.

Aos nossos colegas de classe, vindos de vários períodos, pelas risadas, pelo incentivo e votos

de sucesso – em especial a nossa linda amiga Melissa Paulino, mais um presente vindo dos

corredores e salas da UFPB. A vocês, colegas, todo o nosso carinho! Fica aqui nosso desejo

de que vocês sejam muito felizes nessa profissão que escolhemos.

Aos amigos Dinho Leite e Diógenes Silva, que acompanharam grande parte deste trabalho,

aceitando apoiar na gravação e edição do material, nosso sincero obrigado.

Aos entrevistados: Eusivan Lemos Alves, Josileide dos Santos, Fábio Agnes, Gisele Viana,

Julindio Macuxi e Adeilton Meira. As histórias que sonhamos, diante dos nossos olhos.

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AGRADECIMENTOS PESSOAIS

- Arland Rebbeca Ricarte

Lembro-me como hoje quando meus pais resolveram passar as férias de julho de 2005

em uma casa de praia. Estava tudo perfeito, claro, se não fosse a chuva – se todo inverno

chove, como naquele não choveria? Mas, graças a meu pai, as férias não foram por água

abaixo! Ele me levou recortes de jornais, papel e caneta. Teria uma série de coisas para

aprender em duas semanas, e sequer fazia ideia daquilo. No período, tinha convicção que

queria ser arquiteta, se bem que já tinha tido essa mesma convicção algumas outras vinte

vezes até aquele momento. Na chuva da praia, conheci as letras como amigas de férias, e isso

foi fascinante!

Daí por diante, a saciedade por ler e escrever, de tudo, pelo menos um pouco de cada

vez, foi transbordante! Aos 15 escrevi meu primeiro livro. Aos 16 andava com um inseparável

caderno de poesia, trocava qualquer aula pela de Redação. Aos 17 ganhei minha própria

coluna de crônicas em um jornal. Ainda assim, agora tinha plena certeza que tinha que ser

Diplomata! Ora, ora... então que eu fosse, antes de tudo, justa comigo mesma: eu tinha era

que ser jornalista! Não pela convicção, mas simplesmente pra ser eu mesma, naquilo que mais

fazia e gostava de fazer, sem sequer perceber, o tempo inteiro!

Pai, obrigada por estimular em mim algo que eu não enxergava, por colecionar papéis

jornais com meu primeiro ano de reportagens “na íntegra”, além, é claro, de sugerir milhares

de títulos de artigos que, sinceramente, eu juro, gostaria de viver mil anos para poder

escrever! Mãe, obrigada, antes de tudo, pelos seus joelhos dobrados. Seu coração, tão pertinho

de Deus, foi a força para que eu fosse pra longe de vocês, encarar a vida como ela é. Juninho,

quem vê, até pensa que você é meu irmão mais novo... mas você é os meus pés no chão!

Você, sempre menino, mas tão sério e preocupado com a minha felicidade em todos os

aspectos. Abuelita Iôiô, minha companheira! Qual é a avó que deixa sua casa, o cuidado dos

filhos e parte com a neta para morar numa cidade que não conhece ninguém? A senhora é

impressionante!

E, claro! Como não agradecer aquele que tem sido meu companheiro diário de vida?

Meu esposo, meu conforto! Ele que, incansáveis vezes fez a ponte Recife-João Pessoa, e que,

garantia: “é só até o casamento!”. Que nada! O casamento chegou quando a greve acabou!

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Tinha mais um semestre para ele ir e vir, e não era só como marido não! Ainda teve que ser

motorista, cinegrafista, diretor, pagar as contas... Você não existe! Na verdade, existe, e como

é um só, e como presente assim é uma única vez, prometo te amar pra sempre.

Agradeço aos meus amigos Dinho Leite e Diógenes Silva, com quem trabalho todos os

dias, que aceitaram apoiar nas gravações e edições deste material, mesmo depois do horário,

mesmo em dias de folga, e mesmo, de graça! Vocês são extremamente talentosos e terão

minha eterna gratidão! Agradeço ao pastor Carlos Ferreira (meu chefe), que não só me liberou

do trabalho infinitas vezes para eu dar “prioridade”, como ele mesmo diz, ao que é prioridade:

a minha formação.

E para acabar essa lista, termino com amor. Agradeço a Deus, de verdade, por Ele ter

nos dado o amor. Porque sem o amor, não teríamos sonhos, não teríamos motivos! O amor é o

começo e o fim dessa história. E por tudo isso, simplesmente: agradeço.

- Bruna Andrade Borges

Ao meu Painho Dido Borges e à minha Mainha Cristina Borges, meu muito obrigada!

Agradeço incessantemente pelo amor, carinho e dedicação em tempo integral. Por enfatizarem

sempre que a educação é o melhor caminho rumo à vitória e por me apoiar em todas e

quaisquer circunstâncias. A eles meu eterno agradecimento pela força, pelo zelo, pelas

orações e incentivo diante das dificuldades. Esta jornalista jamais existiria sem o “VAI LÁ!

VOCÊ PODE!” de vocês.

À minha irmã, Clara Borges, por ler todos os meus textos com carinho, me ouvir dando a

entonação que eles precisavam e pelas gargalhadas nas noites de insônia. À minha

Miruquinha que – me parece – vai seguir os passos jornalísticos da irmã, minha gratidão

infinita. A gente se encaixa, a gente se entende, a gente combina!

À minha família – que sonha em me ver na bancada do Jornal Nacional ou no Arquivo

Confidencial do Faustão – que vibra a cada texto publicado ou matéria no ar! Muito obrigada

pelos incansáveis “Parabéns!” ou “Você tem futuro!”. À vocês, minha base, o meu eterno

amor.

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Aos meus poucos amigos de sempre e para sempre: Raphael Cardoso, Nayara Queiroz,

Cândida Luiza, Luiz Paulo Cavalcanti, Rafael Melo, Diego Machado e Jaiana Lopes, pelo

ombro e pelo carinho. Amo vocês.

Aos queridos Caio Henrique, Ricardo Tolêdo e Igor Sarmento por me salvarem! Eles bem

sabem do que estou falando.

E, enfim, ao que me é mais importante. Ao nosso Deus! Pelo dom da vida, por iluminar meus

caminhos, guiar meus passos e amenizar os momentos de dor.

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“Ser sustentável não é apenas “pensar” ou “planejar” o futuro, mas,

sim, agir. Agir hoje para que os resultados de nossos atos sejam

usufruídos no futuro, mas que também possam proporcionar uma

melhoria em nosso cotidiano. Viver num mundo sustentável não é

difícil, nem demanda muito trabalho ou esforço, é apenas preciso uma

mudança de hábitos e uma nova visão da sociedade em que vivemos”.

Thaís Fernandez

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RESUMO

O universo da Comunicação dialoga com muitos outros universos e foi pensando nisso que

este projeto foi concebido. O trabalho a seguir foi escrito a fim de mostrar todo o processo de

criação do documentário Produções Sustentáveis em Cinco Sentidos. Propomos, através dele,

uma reflexão acerca da sustentabilidade como conteúdo, uma relação entre o vídeo e cinco

produções – de sucesso – de cunho sustentável. Para tal, foi realizada uma pesquisa

bibliográfica, cujos referenciais foram aliados às experiências em pesquisa e prática de

produções ecologicamente corretas. A proposta foi criar um vídeo simples e intimista, de

forma que os espectadores adentrem nas cinco histórias que serão exibidas e concluam que é

possível colher frutos sem destruir o meio ambiente.

Palavras-chave: Documentário; Sustentabilidade; Sustentável; Vídeo.

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ABSTRACT

This project was conceived based on how the universe of Communication dialogues with many other

universes. The following work was written to show the whole process of making the documentary

Produções Sustentáveis em Cinco Sentidos (Sustainable Production in Five Senses). Through it, it was

proposed a reflection on the sustainability content as a link between the video and five productions –

of success – with sustainable issues. To this purpose, a literature search was made, in which references

were allied to experiences in research and environmentally friendly production practices. The proposal

was to create a simple and intimate video, so that viewers could enter the five stories that would be

displayed and realize that it is possible to harvest fruit without destroying the environment.

Keywords: Documentary; Sustainability, Sustainable, Video.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................................................................14

1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ..................................................................................15

1.1. Reportagem x Documentário..................................................................................15

1.2. A Linguagem..........................................................................................................17

1.3. Parâmetros da Sustentabilidade..............................................................................18 1.4. A Sustentabilidade nas Micro e Pequenas Empresas.............................................20

1.5. Sentido x Sinestesia................................................................................................23

1.6. Sentidos e Sensores................................................................................................24

1.6.1. Visão.............................................................................................................24

1.6.2. Olfato............................................................................................................25

1.6.3. Tato...............................................................................................................25

1.6.4. Audição.........................................................................................................25

1.6.5. Paladar............................................................................................................25

2. PROCEDIMENTOS REALIZADOS ..............................................................................27

2.1. Pré-Produção ............................................................................................................27

2.2. Produção ...................................................................................................................30

2.2.1. 1º Dia de Gravação..........................................................................................30

2.2.2. 2º Dia de Gravação..........................................................................................30

2.2.3. 3º Dia de Gravação..........................................................................................31

2.2.4. 4º Dia de Gravação..........................................................................................32

2.3. Pós-Produção ............................................................................................................33

3. CRONOGRAMA EXECUTADO.....................................................................................35

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................36

REFERÊNCIAS ...................................................................................................................37

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APÊNDICES......................................................................................................................38

ANEXOS ...........................................................................................................................51

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INTRODUÇÃO

A sustentabilidade nos negócios tem ganhado expressão e visibilidade nos

últimos anos. Mas a preocupação com a natureza, a preservação ambiental e a geração de

recursos naturais para as próximas gerações são apenas alguns aspectos do que conhecemos

como sustentável. Como um objetivo de vida (e dos negócios – por ser, também, uma

categoria que remete à subsistência), algo que se sustenta, é algo que tem força suficiente para

não se extinguir. Os ideais de vida são um exemplo – e são eles que geram produções

sustentáveis, preocupadas com a preservação do planeta e, ao mesmo tempo, dos sentidos

particulares para se ter uma vida plena e renovável.

É nesse quadro que surge o questionamento desse projeto: o que mobiliza

pessoas a investirem em produções sustentáveis – de recursos e de ideias – que não prometem

estabilidade quando se trata de retorno financeiro? E por que, mesmo sem se preocupar com

crescimento, esses negócios estão tomando forma, se espalhando e se tornando opção de vida

de muitas pessoas, inclusive daquelas com alto padrão de vida? Quais os sentidos – objetivos

e ações sensitivas – que propiciam essas produções? A inquietação existe e é viva! Tão viva

quanto a natureza que cerca as ideologias dos atores desse novo segmento que, mesmo

aparentemente não-lucrativo, tem se expandido e dado retorno, também, de uma forma

sustentável e compartilhada. Tão viva quanto tudo o que somos e o que sentimos. Viva tal

qual o que cheiramos, vemos, tocamos, comemos ou ouvimos.

Na ótica jornalística, responder essas perguntas é olhar para a

sustentabilidade além de suas diversas fronteiras e, como mídia, expandir a propagação de um

universo que, além de produtivo, é inovador, visionário e humanitário. A preocupação com o

que é natural – do planeta e do homem – e com suas razões mantenedoras, é um importante

desafio para o jornalismo e, principalmente, para o audiovisual que, estrategicamente, a cada

dia mais, tem se posicionado como um importante e imponente poder influenciador

populacional – o que, inclusive, pode ser decisivo para sustentar a própria existência do termo

“sustentabilidade”.

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1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.1. Reportagem x Documentário

O vídeo-documentário é um produto midiático que representa a realidade de

forma ampla e, ao mesmo tempo, esmiuçada (isso decorre exatamente por causa da

abrangência). As mensagens, em forma de imagens, facilitam a compreensão do espectador.

O documentário tem o compromisso com a exploração da realidade, e não necessariamente

com a afirmação do real. O dicionário francês Littré (1879) se refere ao termo ‘documentário’

como um “caráter de documento”. De acordo com a lei 1987, artigo 12, todos os tipos de

documentários, sejam eles usados ou não de ficção, são permitidos no Brasil desde 2011.

Cada vez mais tem se produzido e se pesquisado sobre os documentários.

Mesmo não possuindo grandes investimentos da indústria cinematográfica, – se comparado a

filmes de sucesso estrondoso como os da saga Crepúsculo – o número de produções tem

crescido muito, conquistando um número cada vez maior de admiradores e invadindo as salas

de cinema de todo o mundo. Os documentários, porém, não são produzidos na intenção de

entreter como um filme ficcional, mas para constituir certezas sobre o mundo que é mostrado

na tela. Como afirma o especialista em estudos de cinema Fernão Ramos, “existem os

documentários com os quais concordamos, aqueles dos quais discordamos, os que aplaudimos

e, ainda, os que abominamos, mas que não deixam de ser documentários”.

Essa explosão de interesse pelo gênero deve-se, em grande parte, ao

surgimento da câmera digital, que barateou a produção. É interessante que o público tenha

procurado narrativas que reflitam que reflitam sobre as imagens relacionadas com a realidade

concreta em que vive. Segundo Ramos, “hoje, a audiência do documentário já domina cerca

de 15% das exibições no país, o que é um salto muito grande ao índice de 1% a 2% de anos

atrás".

A reportagem de TV é uma produção usada pelo dispositivo áudio-visual

extraído do universo jornalístico. Diferente do documentário, a reportagem precisa estar

baseada no testemunho direto dos fatos e situações e histórias contextualizadas. Independente

do nível de explorações, a reportagem tem o objetivo de retratar a realidade, seja de forma

impressa ou falada. Objetividade e imparcialidade são, na grande maioria das vezes, as

palavras de ordem.

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O documentário e a reportagem, esses dois estilos de produção midiática,

muitas vezes são confundidos. Mas a produção final pode mostrar diferenças claras. É função

do comprometimento jornalístico deter-se aos fatos, já o documentário tem a possibilidade

que enveredar pelas nuances da linguagem, utilizar-se das metáforas, dos sons, da ironia e da

poesia para maximizar, inclusive, o próprio conceito do que é a realidade. O documentário

possibilita a ampliação de um tema, pois expande através da imagem, mais do que apenas a

transmissão do real e, sim, as interpretações que a realidade pode ter.

Apesar de ser mais usado dentro do cinema, visto como produto, o vídeo

documentário representa, entre outras vertentes, a mídia televisiva. Considera-se relevante

então a conceituação: “existem diferentes tipos de documentário jornalístico televisivo –

compilativo, investigativo, culturais, de pessoas ou lugares especiais – para que se possa

delimitar o recorte do documentário a ser avaliado: documento cultural”, (Sebastião

Siqueira,1995).

Na visão de Consuelo Lins e Cláudia Mesquita, o ímpeto experimentalista

busca por novas formas, no rigor do recorte ou do dispositivo, e lhes impõe limites; e numa

certa insurreição sobre a relevância temática, tende-se a se ater ao insignificante e ao miúdo

de ambientes ordinários. (FILMAR O REAL, 2008). O documentário quebra esses grilhões

do recorte e, pela abrangência, se permite ousar.

As autoras propõem no ideal de documentário a ruptura estigmatizada de

som e imagem, como é vista no jornalismo. “O som direto é captado com esmero e utilizado

na montagem com autonomia, sem muito apego a sincronia com as imagens”. Para o cineasta

e documentarista Cleber Eduardo, a discordância ainda não é o máximo que o documentário

pode atingir para se desvincular do retrato da verdade. “Em alguns casos não apenas evita-se a

palavra, substituindo-a por uma atmosfera sonora, como evita-se o sentido”.

Por acreditar que o jornalismo precisa de abordagens mais ricas e visões

mais apuradas sobre temáticas frequentemente abordadas de forma superficial e de caráter

meramente informativo pela grande mídia, o projeto vai usar como dispositivo o vídeo-

documentário. Para trabalhar com o dispositivo, esse projeto vai seguir a mesma linha que

defende o teórico francês de cinema, naturalizado brasileiro e doutor em artes da

Universidade Estadual de São Paulo (USP), Jean-Claude Bernardet. “O documentarista

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determina um projeto, sabe de onde parte, sabe o que gostaria de alcançar, mas não pode

prever os resultados a que chegará nem o percurso que terá que cumprir.”

O documentário caracteriza uma produção mais instigante e sedutora – por

ter a concessão de ser ousado e, mais, por necessitar de uma pitada ousadia. Segundo o

cineasta Eduardo Coutinho "O documentário não tem que informar, educar, não é jornalismo;

mostra maneiras de se ver o mundo".

1.2. A Linguagem

A linguagem jornalística precisa ser formal e compreensível. Pela

característica da abrangência, o jornalismo precisa usar de artifícios facilitadores para expor a

notícia, visto que diferentes públicos têm acesso a esse meio. Mas, a formalidade, o uso

correto da gramática e da concordância são aspectos indispensáveis nessas produções, quer

sejam escritas ou faladas. Também é função do jornalismo atenuar a empatia. O sentimento

do outro, o foco da notícia, precisa ser transportado pelo jornalista ao espectador.

No documentário, a linguagem jornalística permite mais aberturas, não no

requisito formal e, sim, na flexibilidade de expressões, contextualizações e usos de elementos

do ramo literário – como metáforas, anáforas, metonímias, rimas, poesia e etc.

Com o objetivo de mostrar a vida e a arte de empresários e futuros

empreendedores com seus projetos inteligentes e compromissados, o projeto também se

permite ser ousado no requisito linguístico e provocar o estilo jornalístico usado pela grande

mídia quando o assunto é a micro e pequena empresa. Por se tratar de ações movidas por bons

“sentidos” (intenções), a proposta é usar o outro “sentido” da palavra para descrever esses

trabalhos. Em cada ação, um sentido sensorial, numa miscelânea sinestésica de som, cor e

poesia. Neste caso, fizemos uso de artifícios como som, ângulos diferenciados, abordagens e

perguntas aproximando o entrevistador do entrevistado – e ambos ao público – para

desconstruir a formalidade jornalística e trazer à tona a emoção que, muito provavelmente,

envolverá e sensibilizará o espectador.

Essa sensibilidade foi dada pela união de imagem e som. O texto mescla

suavidade ao se apropriar da linguagem poética, da fala comum, da narração leve do

indivíduo, daquele que participa sendo entrevistado e, pela propriedade que possui, acaba se

tornando narrador daquilo que se vê. Em combinação com um texto leve e sincronizado, uma

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trilha que se acentua ou se atenua de acordo com os tons da própria fala, da própria voz. A

suavidade das valsas, o peso dos atabaques, o encantamento dos violinos e flautas. O uso da

música no vídeo e do vídeo em poesia é uma combinação indispensável que traduz emoção a

cada frame.

As imagens e os propósitos da temática deste vídeo-documentário pedem

um cuidado com percepções, angulações e uso de lentes. De perto se vê melhor, seja o sorriso

da criança, sejam as rugas da velhice. O geral como conquista também determina um

posicionamento de câmera, que deve abrir a lente para ver mais, para ver o que se alcançou. A

conversa “de longe”, com cara de prosa, sem tanta formalidade, faz sumir a cara de entrevista,

atrás de uma árvore ou detrás de uma janela. Uma segunda câmera ajuda a não perder o que

foi contado e a contar as histórias, com tantas faces, por pelo menos mais de um lado.

Quem entrevista só aparece quando precisa, não se intromete, para que a

história não perca seu curso natural, mas se interpõe para acrescentar, indagar, ser até

subjetivo, quando o contexto pedir mais do que informação, quando ele pedir que se reflita. A

posição das repórteres nesse vídeo documentário é, principalmente, a de instigar. Esgotar a

curiosidade, ouvir sem se preocupar em quantas vezes será preciso trocar de fita e deixar que

as pessoas se emocionem com elas mesmas, com suas próprias histórias que, quando contadas

por outras pessoas, vão se tornar maiores do que elas imaginavam.

A produção do texto é o abuso da linguagem. Esgotar-se das fontes, se

apoderar das palavras, das poesias criadas e até de algumas já existentes. Falar o essencial e

ressaltar aquilo que se fala. Ouvir o que foi dito várias vezes, para procurar aquilo que não

pode deixar de aparecer, e cortar aquilo que não compromete o enredo. Esse é o difícil

processo da edição que deve ser acompanhado por um roteiro feito com a mesma emoção e

sinestesia que tudo que foi dito e visto pareçam ser naturalmente encaixáveis.

1.3. Parâmetros da Sustentabilidade

Uma palavra que está na moda e na mídia. Mas, será que a sustentabilidade

será a redentora do caos em que estamos? “Sustentabilidade” vem de “sustentável”. Segundo

o dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, esse adjetivo pode ser substituído pela definição:

“que se pode sustentar, capaz de se manter mais ou menos constante, ou estável, por longo

período.” O conceito de sustentabilidade é recente, foi criado na década de 80 por Lester

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Bown, fundador do Instituto Worldwatch (Visão/Assistência Global). Ele define

sustentabilidade como “aquela que é capaz de satisfazer suas necessidades sem comprometer

as chances de sobrevivência das gerações futuras”.

Quem primeiro usou o termo foi a norueguesa Gro Brundtland, ex-primeira

ministra de seu país. Em 1987, como presidente de uma comissão da Organização das Nações

Unidas, Gro publicou um livreto chamado Our Common Future, que relacionava meio

ambiente com progresso. Nele, escreveu-se pela primeira vez o conceito: "Desenvolvimento

sustentável significa suprir as necessidades do presente sem afetar a habilidade das gerações

futuras de suprirem as próprias necessidades". A proposta não era só salvar a Terra cuidando

da ecologia, mas suprir todas as necessidades de gerações sem esgotar o planeta. "Nem de

longe se está pedindo a interrupção do crescimento econômico", frisou Gro. "O que se

reconhece é que os problemas de pobreza e subdesenvolvimento só poderão ser resolvidos se

tivermos uma nova era de crescimento sustentável, na qual os países do sul global

desempenhem um papel significativo e sejam recompensados por isso com os benefícios

equivalentes."

O conceito surgiu em um momento em que o social se sobrepôs ao natural

em questões de uso e exploração. A preocupação com a manutenção dos recursos naturais é

geralmente o que leva a se aplicar a palavra sustentabilidade. O destaque é para a

sustentabilidade ambiental: preservação e conservação do ambiente – “aquilo que nos cerca

ou envolve os seres vivos e/ou as coisas e os influencia” (FERREIRA, 2000, p.38) – de forma

que o desenvolvimento não agrida o meio ambiente.

Sustentabilidade é um termo usado para definir ações e atividades humanas

que visam suprir as necessidades atuais dos seres humanos, sem comprometer o futuro das

próximas gerações. Ou seja, a sustentabilidade está diretamente relacionada ao

desenvolvimento econômico e material sem agredir o meio ambiente, usando os recursos

naturais de forma inteligente para que eles se mantenham no futuro. Seguindo estes

parâmetros, a humanidade pode garantir o desenvolvimento sustentável.

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Não é novidade que a Terra tem gritado socorro. As catástrofes naturais são

cada vez mais freqüentes e provam o ecoar do grito. Ser sustentável é ter compaixão pelo

planeta e clama pela união de todos. É ser ético, solidário. É ceder aos apelos do mundo

consumista e capitalista, dando espaço para um mundo ecologicamente correto e – por que

não? – rentável.

O grande marco para o desenvolvimento sustentável mundial foi, sem

dúvida a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada

no Rio de Janeiro em junho de 1992 (a Rio 92), onde se aprovaram uma série de documentos

importantes, dentre os quais a Agenda 21, um plano de ação mundial para orientar a

transformação desenvolvimentista, identificando, em 40 capítulos, 115 áreas de ação

prioritária. A Agenda 21 apresenta como um dos principais fundamentos da sustentabilidade o

fortalecimento da democracia e da cidadania, através da participação dos indivíduos no

processo de desenvolvimento, combinando ideais de ética, justiça, participação, democracia e

satisfação de necessidades. O processo iniciado no Rio em 92 reforça que antes de se reduzir a

questão ambiental a argumentos técnicos, deve-se consolidar alianças entre os diversos grupos

sociais responsáveis pela catalisação das transformações necessárias.

1.4. A Sustentabilidade nas Micro e Pequenas Empresas

Elas são o boom do momento. As micro e pequenas empresas devem tomar

conta do mercado e ultrapassar os outros segmentos econômicos do país até o fim desta

década. Segundo o Serviço de Apoio a Micro e Pequenas Empresa, o Sebrae, somente na

Paraíba, por dia, 50 novos empreendedores querem transformar ideias em empresas

consolidadas.

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Os micro e pequenos negócios ganharam importantes dimensões nos

últimos 20 anos. Hoje, no Brasil, eles crescem mais do que o setor de média e grande

produção. Segundo pesquisa do Ministério do Trabalho, em 2011, enquanto o crescimento das

grandes empresas mostrou um aumento de 3,8% em relação a 2010, os micro e pequenos

negócios alcançaram o índice de 6,8% de crescimento. Segundo o estudo, a perspectiva é que

até dezembro de 2012, as micro e pequenas empresas sejam responsáveis por 52% dos

empregos formais no país.

A projeção do segmento é caracterizada pelas facilidades de implantação e

crédito e pelas diversificadas maneiras de investir – característica impulsionada pelo fato do

investidor criar o próprio negócio, no qual tem liberdade de aderir suas próprias ideologias e

metas, sem influência de rígidos pensamentos e normas empresariais.

A versatilidade a que se permite o pequeno negócio, para o especialista em

Marketing Chan Wook Min, presidente da Associação Internacional Especializada no

Desenvolvimento e Valorização do Marketing para Ponto de Venda (Popai/Brasil), é um

grande diferencial ofertado por este segmento, o que impulsiona a expansão. Ele comenta que

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“[...] para se adaptar ao novo comportamento do consumidor, não basta seguir a tradicional cartilha do varejo. É preciso fazer mais e melhor. Transformar a venda em uma experiência de compra. Comunicar-se de forma objetiva e personalizada com o público-alvo. Lançar mão da tecnologia. Sem, é claro, descuidar do atendimento primoroso”.

No ramo das micro e pequenas empresas, a sustentabilidade pode ou não ser

inserida. Propostas realmente sustentáveis são positivas não apenas para a preservação do

planeta, como hoje, também, para o próprio negócio, pois atribuem a si próprias o requisito

“consciência” como marketing empresarial. Mas nesse segmento propulsor, encontramos

investidores que não se preocupam apenas em produzir para crescer. Os negócios

sustentáveis, vez ou outra, surgem com idéias de preservação da natureza que geralmente são

simples, inovadoras, e, por que não, de sucesso.

Segundo dados do Sebrae Paraíba, a inovação de micro e pequenas

empresas que apostam em atitudes conscientes chegaram a faturar em 2011 mais de 100 mil

reais, além de terem reduzido despesas naturais, como da água, por exemplo, em 70%. Esse

comportamento pode ser observado em todo o Brasil. Sondagem realizada pelo Sebrae

Nacional, divulgada em 3 de maio de 2012, aponta que os pequenos negócios brasileiros estão

atentos às boas práticas como: coleta seletiva de lixo (70,2%), controle de consumo de papel

(72,4%), de água (80,6%) e de energia (81,7%). A sondagem foi aplicada em 3.912 empresas

em 2012 com o objetivo de avaliar o nível de percepção dos empreendedores sobre os temas

da sustentabilidade.

Os micro e pequenos negócios sustentáveis atingem diferentes ramos, entre

eles: turismo, vestuário, gastronomia, paisagismo, ambientação e edificações. O envolvimento

com as causas ambientais aguça as necessidades consumistas de outro público, que se volta

para o resgate de valores e destina seus interesses para empresas que usam a ideologia

preservativa como um dos itens de suas diretrizes.

As micro e pequenas empresas são componentes de um segmento em franca

expansão, mas precisam ser vistas além daquilo que produzem. O setor que é tema frequente

nos telejornais é exibido como sinônimo de crescimento e autonomia, o que projeta o país do

futuro. Mas quando esse assunto é tratado com responsabilidade de sentidos e valores, como

na proposta desse documentário, ele pode ser visto de forma ainda melhor – com menos foco

nos números e mais nas pessoas e seus sentimentos. Crescimento responsável inclui preservar

e isso é desenvolver.

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1.5. Sentido x Sinestesia

Para entender além do superficial e do fator “notícia” que move pessoas a

construírem empreendimentos sustentáveis, é preciso compreender com quais sentidos vamos

lhe dar. A definição da palavra “sentido”, de origem grega, segundo o dicionário Aurélio, não

é a capacidade sensorial humana, mas, sim, “uma ordem imanente ou transcendente a cada

coisa”. Logo, o sentido pode ser compreendido em vários contextos: finalidade, proporção,

inteligência, direção, inerência de uma qualidade, necessidade ou ordem. O sentido é um fator

de coerência presente nas coisas, nas pessoas ou em comportamentos, na percepção empírica

ou sensorial.

A sinestesia, no entanto, é a mistura dos sentidos. Segundo o dicionário

Aurélio, ela é uma “figura de estilo de planos sensoriais diferentes”. Semelhante a metáforas

ou comparações, a sinestesia tem o objetivo de relacionar contextos distintos, mas que geram

compreensão quando relacionados. No universo dos sentidos, o cruzamento causado pela

sinestesia propicia poesia ao texto. O sinestésico une sentidos, tanto sensoriais, como

empíricos, em prol de uma compreensão que vai além do texto.

A sinestesia é um termo que está presente em diversas áreas de

conhecimento. Na literatura, por exemplo, Faraco & Moura, (1998) definem a sinestesia

como fazendo parte de uma rede semântica de figuras de linguagem muito característica do

simbolismo que, enquanto propriedade de um discurso, gera uma associação entre uma

sensação e outra sensação, ou uma impressão, ou uma situação. Machado (1967), por sua vez,

define etimologicamente o termo como o ato de perceber uma coisa no mesmo tempo que

outra percepção esta evocada por sensações simultâneas. Em Silva (1945) observamos um

certo alargamento do conceito visto que aponta para a produção de duas ou mais sensações

sob a ação de uma só impressão, segundo o autor, uma das sensações aparece no ponto ou

órgão onde atuou a impressão, a(s) outra(s) sensações se manifestam em órgãos afastados.

Dorsch (1976) é da mesma opinião quando fala da possibilidade de aparecimento de

sensações associadas por um estímulo real.

No projeto, duas vertentes de “sentido” são trabalhadas. Os sensoriais

sentidos do corpo humano – olfato, paladar, visão, audição e tato – e os sentidos empíricos

que conotam motivação e objetivo de um empreendimento sustentável. Sensitivamente (nos

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dois sentidos da palavra – biologicamente e no viés da intenção), o trabalho analisa o que leva

pessoas a transformarem ideias em projetos sustentáveis. Cada um deles será representado por

um trabalho empreendedor que usa este sentido de forma mais aguçada.

Cinco sentidos, cinco objetos e uma sinestesia de propósitos. No nosso

projeto, a intenção é mostrar, através de uma produção audiovisual, como os sentidos

sustentáveis – quer sejam eles biológicos, quer sejam eles objetivos – influenciam para que

ideias inovadoras e ecologicamente pensadas possam crescer – mais do que em status, mas

que se multiplicam e dignificam, antes de uma obra, seu próprio autor.

1.6. Sentidos e Sensores

O canto dos pássaros, o aroma do café, o gosto do chocolate, o afago de um

travesseiro, ler um livro. A percepção que temos do mundo à nossa volta é decorrente do

contato sensorial. Tudo que é percebido pelos nossos sentidos faz com que construamos uma

percepção da realidade. As sensações que temos são interpretadas pelo cérebro e criam

diversas reações, como de paz e tranquilidade; ou de medo e apreensão, se estivermos em

lugares sujos e escuros. Entretanto, cada pessoa reage aos mesmos estímulos de maneira

completamente diferente.

De acordo com Adilson de Oliveira, professor do Departamento de Física da

Universidade Federal de São Carlos, as sensações que temos são interpretadas pelo cérebro e

criam diversas reações, como de paz e tranquilidade; ou de medo e apreensão, se estivermos

em lugares sujos e escuros. Entretanto, cada pessoa reage aos mesmos estímulos de maneira

completamente diferente.

Ainda segundo Adilson, nossos sentidos funcionam em determinadas regiões do nosso corpo a partir de estímulos que recebemos do meio ambiente. Eles são baseados em “sensores” muito sofisticados que foram desenvolvidos ao longo de milhões de anos, fruto da evolução.

“Cada um deles foi se transformando devido aos estímulos do meio ambiente, favorecendo as configurações mais adaptadas aos desafios impostos pelo meio. Estamos aqui hoje graças ao sucesso do nosso projeto. Ele foi vencedor na concorrência imposta pela natureza”.

1.6.1. Visão

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A visão (a vista) é um dos cinco sentidos que permite aos seres vivos

dotados de órgãos adequados, aprimorarem a percepção do mundo. Os olhos são os órgãos

sensoriais da visão, enquanto o cérebro é a ferramenta essencial para processar os estímulos

provenientes dos olhos criando a visão.¹

1.6.2. Olfato

O olfato é um dos cinco sentidos básicos e refere-se à capacidade de captar

odores com o sistema olfativo. No homem e demais animais superiores, o órgão olfativo se

forma a partir de um espessamento epidérmico situado na região etmoidiana do crânio, a

neurorecepção somente será ativada após as moléculas das substâncias odoríferas serem

dissolvidas no muco que recobre a membrana pituitária.¹

1.6.3. Tato

O tato é um dos cinco sentidos. O órgão responsável por esse sentido é o

maior órgão do corpo humano: a pele. Os mecanismos responsáveis pelo tato estão na

segunda camada da pele, a derme. Para que nós sejamos capazes de obter as percepções táteis

existem na pele uma série de terminações nervosas e corpúsculos. Eles são os chamados

receptores táteis.²

1.6.4. Audição

É a capacidade de percepcionar o som. O órgão responsável pela audição é o

ouvido, capaz de captar sons até uma determinada distância, dependendo da sua intensidade

ou nível de pressão sonora.¹

1.6.5. Paladar

É a capacidade de reconhecer os gostos de substâncias colocadas sobre a

língua. Na língua, existem as papilas gustativas que reconhecem substâncias do gosto e

enviam a informação ao cérebro. Os receptores envolvidos neste sentido são células que se

agrupam nas chamadas papilas gustativas.¹

¹ Disponível em http://www.wikipedia.org ² Disponível em http://www.infoescola.com/anatomia-humana/tato/

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No presente documentário, relacionamos produções sustentáveis com os

sentidos do corpo humano. Cinco histórias, cinco sentidos. Cada enredo se relaciona com um

sentido. Destrincharemos cada uma deles a posteriori.

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2. PROCEDIMENTOS REALIZADOS

Este relatório final é sobre o documentário Produções Sustentáveis em

Cinco Sentidos, realizado como exigência parcial para conclusão do curso de Comunicação

Social – Jornalismo, da Universidade Federal da Paraíba.

Nossa afinidade com produções áudio-visuais vem de muito antes da

academia – fato que nos aproximou ainda mais no período em que percorremos os corredores

e salas de aula da UFPB. Os trabalhos nos Laboratórios de Radiojornalismo e

Telecinejornalismo enfatizaram nossas habilidades e nos levaram à ideia de finalizar o curso

com um projeto prático, que associasse os conhecimentos adquiridos no curso às nossas

aptidões. Com a consciência de que ser sustentável é ter compaixão pela Terra, estava

definido o tema e, junto com o professor Wilfredo Maldonado, nos sentimos à vontade em

colocar esse projeto – até então presente apenas em conversas sonhadoras – em prática.

Todo o projeto foi realizado em três etapas: pré-produção, produção e pós-

produção. Ao todo foram cerca de seis meses mergulhadas no tema central, procurando buscar

novos conhecimentos, escutando opiniões, aprendendo com as – muitas – dificuldades que

surgiram, superando barreiras e transformando este trabalho em algo prazeroso e produtivo. O

sonho, agora, é mais do que real: é palpável, visível, audível. A sensação? Dever cumprido.

2.1. Pré-Produção

Entre o pré-projeto e a produção do documentário, percebemos que

imprevistos são bastante comuns. A nossa primeira dificuldade, acreditamos, surgiu

justamente pelo intervalo entre o surgimento da ideia e a execução das gravações – quase dez

meses, pois tivemos uma greve de cinco meses na Universidade, fato que atrasou a

confirmação se o nosso pré-projeto seria aprovado ou não pela Coordenação do Curso.

Quando, finalmente, tivemos o resultado positivo, Rebbeca, uma das componentes do projeto,

estava prestes a se casar e mudar de cidade, o que postergou o início das gravações por, pelo

menos, mais três meses.

Quando iniciamos a produção, fomos em busca das histórias que havíamos

sugerido no pré-projeto. A ideia inicial era abordar três pessoas: um burguês que retomou as

origens indígenas e vive de ecoturismo, uma senhora que mantém a família fazendo bonecas

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de retalhos e um projeto de cocadas em Lucena. Três projetos sustentáveis que geram renda e

que são capazes de causar impacto e reflexão sobre a importância de cuidar da natureza – e

como isso pode gerar uma via de mão dupla pois, ao mesmo tempo que preserva, gera

satisfação pessoal.

Mas a linguagem do nosso projeto, desde o começo, sugeria que usássemos

a lógica dos “sentidos” (nos dois significados da palavra, sentidos sensoriais – tato, olfato,

paladar, visão e audição; e sentidos objetivos – o significado da intenção de alguém ao

realizar determinada coisa) para abordar essas histórias. O nome do projeto seria “Cores,

cheiros e sabores: os sentidos das produções sustentáveis”.

Ao nos programarmos para o início dos trabalhos, veio uma inquietação: se

temos cinco sentidos, porque explorar no documentário apenas três histórias e três sentidos?

Foi aí que começaram as primeiras alterações no nosso projeto. Resolvemos procurar cinco

histórias que envolvessem produções sustentáveis, de forma que, cada uma delas estivesse

relacionada a um sentido sensorial. Observando as histórias que tínhamos em mãos,

percebemos que elas já se relacionavam a um sentido específico. Isso era o que tínhamos:

1- Projeto Cocadas na Kenga/Lucena: estava relacionado ao paladar, pois era através dos

sabores que uma associação de mulheres tinha encontrado um negócio lucrativo e com

o diferencial de utilizar embalagens naturais (as quengas de coco) como embalagem,

ao invés de plásticos.

2- Reserva Indígena/Conde: estava relacionado a visão. Uma família burguesa de

Brasília, descendente de indígenas, resolveu tornar as origens e morar no mato. A

moradia com 3 hectares, eles transformaram em uma reserva florestal e mata nativa

com atrativos para os olhos: rio, plantações, animais, trilhas, mangue. A reserva

Macuxi virou ponto de ecoturismo, atividade responsável pelo sustento da família.

3- Bonecas de Pano/João Pessoa: estava relacionado com o tato. Através de mãos

habilidosas, uma senhora costura bonequinhas de pano, trabalho que rende sustento a

família. Os tecidos usados para a produção das bonecas é proveniente de doações.

Pequenos retalhos que podiam ser jogados fora, viram brincadeira para crianças.

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Agora precisávamos de mais duas histórias: uma que envolvesse o olfato, e

outra que abordasse algum projeto sustentável auditivo! Começamos, então, uma nova

pesquisa. Enquanto colhíamos as novas histórias e procurávamos os personagens das histórias

que já tínhamos, outro imprevisto: não conseguimos contato com a senhora das bonecas de

pano e as cocadeiras de Lucena estavam passando por uma reforma na estrutura em que

trabalham, logo, não estavam produzindo em grande escala e não queriam ser filmadas com a

estrutura precária.

Tivemos que buscar algo que substituísse o projeto de Lucena. Foi então

que partimos para a pesquisa de cozinhas sustentáveis e descobrimos que a prática está

presente em um restaurante de classe alta de João Pessoa graças ao trabalho do chefe de

cozinha, que pensa em todo o processo produtivo para desperdiçar o mínimo possível e ainda

relaciona a cozinha profissional como uma forma de valorizar o sustento da terra através do

incentivo ao consumo de orgânicos e o reaproveitamento de subprodutos culinários, como o

óleo. Encontramos na versátil ilha de sabores do chefe Adeilton um novo norte para o quesito

“paladar” do nosso documentário.

Mas ainda faltava preencher as lacunas do olfato e da audição. Foi então que

uma das componentes da dupla lembrou de um músico que conheceu há cerca de dois anos

em uma feira cultural no interior de Pernambuco. Na ocasião, ele apresentava uma série de

instrumentos feitos com canos de PVC. Conseguimos o contato deste músico e descobrimos

que a versatilidade de instrumentos que ele produzia agora, dois anos após a tal feira, era

muito maior. Sete instrumentos de sopro (como flauta doce, clarinete, trompete, tuba, e flauta

transversal), além de instrumentos de percussão - tudo produzido a base de canos de PVC

(usados em encanamentos) e diversos materiais reciclados (embalagens de desodorante

aerossol, vasos e pratos de plantas, tampas de garrafa, pedaços de madeira que seriam

facilmente descartados, entre tantos outros).O criador dos instrumentos é pedagogo e ensina

musicalização nas escolas com esses instrumentos. Achamos nele justamente o que estávamos

procurando para que a um projeto auditivo fosse sustentavelmente bem apresentado.

Faltava apenas o olfato. Procurando em João Pessoa mesmo, descobrimos o

trabalho da administradora Gisele. Como hobby, a profissional começou a investir na

produção de cosméticos e inseriu a sustentabilidade dentro deste trabalho – que hoje contribui

para o seu sustento. Reutilizando sementes, cascas de frutas, essências naturais e produtos

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sem base química, Gisele cria sabonetes, essências e produtos de beleza ecologicamente

corretos e que não agridem a pele, por não possuírem química. A artesã aceitou contar toda

essa história e mostrar o trabalho que desempenha em vídeo para o nosso documentário, e foi

assim que definimos as cinco histórias que fariam parte deste trabalho, em cinco sentidos:

1- Culinária Sustentável - Paladar

2- Reserva de Ecoturismo – Visão

3- Bonecas de Pano – Tato

4- Instrumentos Musicais Reciclados – Audição

5- Cosméticos Naturais – Olfato

Com novas pautas definidas e tudo pronto para gravar, precisávamos dar ao

nosso trabalho um novo nome. O documentário deixou de ser “Cores, cheiros e sabores:

sentidos de produções sustentáveis” para “Produções Sustentáveis em Cinco Sentidos”.

Também percebemos que, para falar do assunto, além dos cinco personagens, o documentário

deveria contar com um depoimento de peso de alguém da área de ecologia e cuidados

ambientais que falasse sobre a necessidade e os benefícios de ser sustentável na atualidade.

Encontramos esse especialista em projetos e pesquisas de preservação natural na sede da

Secretaria de Meio Ambiente do Município de João Pessoa.

2.2. Produção

Como já tínhamos certo conhecimento das histórias e os cinco novos

personagens aceitaram gravar conosco, partimos para o agendamento dessas entrevistas. A

produção das reportagens foi feita pelas duas alunas, assim como a pauta que levamos

conosco, resultado do que conversamos com os entrevistados por telefone e pelas pesquisas

que fizemos sobre as temáticas na Internet.

Referente às gravações, a primeira dificuldade que tivemos foi com a

combinação de horários, pois as duas componentes do grupo já trabalham com Comunicação,

com o agravante de uma delas o fazer em Recife. Ambas ajustaram que um dia por semana

teriam que se encontrar e esse dia seria durante a semana, para ajustar os pontos de gravação e

começar a produzir o material de audiovisual. Reuniões constantes por telefone e e-mail, até

que foram definidos quatro dias de gravação, divididos com as seguintes pautas:

2.2.1. 1º dia de gravação: João Pessoa (PB)

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- Gravação da abertura do documentário

- Gravação de entrevista com o especialista da Secretaria de Meio Ambiente

- Gravação com Projeto de Bonecas de Pano

- Gravação com Projeto de Cosméticos Naturais

Esse primeiro dia de gravações foi bastante puxado, mas foi cumprido com

100% de êxito. Todas as locações deste dia foram na cidade de João Pessoa. A abertura do

documentário foi feita no Jardim Botânico, onde aproveitamos para fazer imagens de apoio,

que aparecem ao longo do vídeo, e, ainda, a gravação com o especialista da Secretaria de

Meio Ambiente. De lá, seguimos para o projeto das bonecas de pano, localizado no Centro

Histórico de João Pessoa. Lá pudemos conversar e conhecer as histórias de cinco mulheres

que trabalham com retalhos e trazem o sustento para dentro de casa. Ao encerrarmos com

elas, seguimos para o projeto de Cosméticos Naturais, no bairro dos Ipês, na residência de

Gisele, a artesã entrevistada

Nesse primeiro dia – e exclusivamente nesse dia – tivemos o auxílio de um

cinegrafista profissional que nos ajudou a entender o manuseio com a câmera, microfones,

iluminação, entre outros detalhes que necessitaríamos para conduzir o trabalho dali por diante.

2.2.2. 2º dia de gravação: Garanhuns (PE)

- Projeto Instrumentos Musicais Reciclados

Para essa gravação, foi preciso investir em combustível e alimentação, pois

Garanhuns fica a aproximadamente quatro horas e meia de João Pessoa. Na cidade das flores,

aproveitamos para gravar em um cenário conhecido da região, o parque Ruber Vander Linder,

que possui uma variedade de flores silvestres e vegetação nativa e fica localizado bem no

centro da cidade. A entrevista contou com apresentação musical feita pelo Fábio (músico e

artesão de instrumentos reciclados) e mais dois músicos da cidade que trabalham com a

musicalização dentro das escolas públicas e privadas da região. Ainda aproveitamos para

gravar imagens de apoio no local.

2.2.3. 3º dia de gravação: Conde (PB)

- Projeto Reserva de Ecoturismo

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Reservamos um dia para essa gravação, pela distância e difícil acesso ao

local, que fica na parte de Mata Atlântica que separa a BR 101 das praias do Conde e Jacumã,

ambas na Paraíba. No local, conhecemos a família Macuxi, descendente de indígenas que saiu

do conforto da cidade para viver no mato. Os personagens desta gravação nos surpreenderam

por nos receberem vestidos como índios, com pinturas no rosto e um estilo de vida muito

simples. A reserva, cuidada com carinho pela família composta por marido, mulher e dois

filhos pequenos, não é nada pequena: 3 hectares. Uma estrutura com elementos naturais que

foram preservados para a diversão e aprendizado dos ecoturistas: rio, mangue, banho de

argila, trilhas, árvores frutíferas – além de adaptações que a família fez para atrair visitantes:

kaiakes, campinho de futebol e redário.

Nesta gravação, tudo nos encantou. Pena que tivemos dificuldades com a

luz e, envolvidas com a história, esquecemos em alguns momentos de “bater o branco” da

câmera, o que deixou a imagem um pouco azulada em alguns frames e, mesmo com os

corretores de tons na edição do vídeo, não conseguimos corrigir completamente a falha.

2.2.4. 4º dia de gravação: João Pessoa (PB)

- Projeto Cozinha Sustentável

Neste dia, o que parecia improvável apareceu diante dos nossos olhos. Por

que um chef de cozinha bem sucedido, que trabalha em um dos restaurantes mais finos da

capital paraibana e ainda apresenta um programa de culinária em uma das emissoras de TV da

Paraíba, estaria preocupado com a sustentabilidade? Era exatamente isso que estávamos

vendo. O chef Adeilton Meira enxerga a cozinha sustentável de maneiras que iam muito além

da nossa compreensão. Desde a escolha por produtos orgânicos, – ou seja, produtos que ao

serem plantados não agridem a terra com o uso de agrotóxicos, sustentando a terra boa para as

futuras gerações – através da manipulação correta dos alimentos na cozinha, evitando ao

máximo qualquer tipo de desperdício, e ainda pela prática de “greenchef”, ou seja, aquele que

se preocupa com os resíduos da cozinha profissional – como o óleo, que geralmente é

descartado, mas que Adeilton usa para transformar em sabão.

E quando achávamos que tinha acabado, o chefe ainda nos presenteou com

uma receita exclusiva e prática usando produtos orgânicos, pouco dinheiro, e muita

criatividade! Nessa última gravação, sentimos mais facilidade com a câmera, não esquecemos

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de “bater branco” e a luz proporcionada pelo ambiente no horário da gravação favoreceu

bastante a imagem.

2.3. Pós-Produção

Depois de todas as imagens feitas, foi quando percebemos: o trabalho estava

só começando! A edição é uma fase muito criteriosa do trabalho, precisa de atenção e

habilidade. Primeiro, ouvimos todas as sonoras gravadas para termos consciência do que seria

usado e o que descartaríamos. Ainda que sentíssemos falta de bons elementos que mereciam

destaque, acrescentamos com o uso de OFFs, o que, acreditamos, faz com que a sequencia do

vídeo não se torne cansativa e prenda a atenção por conectar temáticas. Foi assim que

construímos o roteiro do vídeo. Incansáveis idas e vindas de fita rebobinando para deixar o

vídeo com a essência que imaginamos.

Para a edição de vídeo, contamos com a ajuda de um editor profissional, que

nos acompanhou durante todo o processo de edição, incluindo a escolha das trilhas, das

imagens para cada OFF, das imagens de apoio para cortes de entrevista, dos efeitos de

transição, e que foi responsável pela criação dos GCs e da vinheta de abertura – algo que nos

foi solicitado pelo professor orientador, mas que não sabíamos como fazer, por ser uma

especificidade mais detalhista do programa que usamos para editar, o AdobePremier. No total,

investimos seis dias para a edição desse documentário – sendo dois deles apenas para edição

de texto e os quatro restantes para a edição de vídeo e finalização do produto.

A estrutura do documentário se inicia com as imagens feitas no Jardim

Botânico de João Pessoa. Através dos OFF’s e das passagens feitas pela dupla no local,

apresentamos o documentário. Em seguida, a fala do Eusivan Lemos Alves, ecólogo da

Semam, dá o caráter técnico que precisávamos para anteceder as histórias por nós escolhidas.

Após a técnica, as histórias reais. Todas enlaçadas como se percorressem o corpo humano e

seus sentidos.

O formato do vídeo teve que ser alterado, pois gravamos com dois

equipamentos diferentes: em uma filmadora captamos em Full High Definition Widescreen, e

na outra filmamos em Full High Definition DVD. Logo, teríamos duas soluções: ou

colocávamos uma tarja preta em todas as imagens ou, na única reportagem gravada em DVD,

ampliaríamos. Como era apenas uma, optamos pela segunda opção, perdendo um pouco da

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qualidade da imagem nela – e ainda pensamos que usar a tarja preta nos demais vídeos iria

prejudicar imagens que já estavam bem fechadas, correndo o risco de cortar parte do

entrevistado ou da imagem que havíamos dado destaque.

As trilhas usadas no documentário foram: Epitaph of Seikiles, de Alxander

Peace; e The Winner Is, de Mycael Danna; além dos sob-sons das músicas apresentadas com

instrumentos reciclados pelos personagens do documentário. A capa do DVD foi

confeccionada pelo amigo designer gráfico Igor Sarmento, através de briefing produzido pela

dupla deste trabalho. Todo esse relatório é impresso em folhas recicladas. Sim! Também

aprendemos lições com essa história toda. O documentário Produções Sustentáveis em Cinco

Sentidos foi finalizado com 27 minutos, formato de finalização Widescreen, com som estéreo,

colorido, NTSC.

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3. CRONOGRAMA EXECUTADO

2012 / 2013

Novembro Dezembro Janeiro Fevereiro Março Abril

Pesquisa Bibliográfica

Contato com os entrevistados

Produção do Roteiro

Catalogação do Material e Produção

do Vídeo

Gravação

Edição do Material e Escolha da Trilha

Elaboração do Relatório Final

Defesa do Trabalho de Conclusão de

Curso

MESES

ANO

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho foi, antes de tudo, motivo de pesquisa e compreensão de

que precisamos ir além sempre. Além daquilo que sabemos, além daquilo que fazemos.

Estudar sobre sustentabilidade, na prática, imergindo na vida de pessoas que fazem diferente

pensando na natureza e nas futuras gerações, sem sequer sentir! O que pode parecer até

utopia, para eles é sucesso, é motivo de sorrir e viver cada dia como se fosse o último, mas

com o cuidado de primeiro. O amor às coisas simples, o valor ao que se tem. Pessoas e

natureza envolvidas em uma relação de preservação mútua, onde um é o presente e o futuro

do outro.

Preservar, simplesmente, por preservar, por saber que vale a pena e que não

custa quase nada. Falar sobre sustentabilidade com sentido não poderia ser mais proveitoso do

que utilizando os próprios sentidos que temos. Aquilo que nos traz motivos verdadeiramente

importantes passa necessariamente pelo o que ouvimos, vemos, tocamos, provamos e

cheiramos – ou não? Claro que sim! Temos um mundo de boas possibilidades em cada uma

dessas cinco faces e essas histórias nos mostraram como isso é possível – e ainda há tanto

mais!

Por fim – e se fosse apenas por isso, já valeria a pena – acreditamos que este

trabalho nos fez pessoas melhores e, se isso aconteceu, cumprimos a nossa parte. Acreditamos

que através dessas histórias, dessas filosofias de vida tão sérias e tão práticas ao mesmo

tempo, outras pessoas também poderão ser melhores ao ter o seguinte pensamento: aquilo que

fazemos hoje é inteiramente responsável por aquilo que nos fará amanhã.

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REFERÊNCIAS

AZEVEDO, Ricardo. Livro dos Sentidos.

ESTEVES, Sérgio A. P. (org). O Dragão e a borboleta.

FAULKNER, Keith. The five senses.

GOVERNO FEDERAL. Guia de Sobrevivência para MPEs, 2011.

LINS, Consuelo; MESQUITA, Claudia. Filmar o real – sobre o documentário brasileiro

contemporâneo. Editora Zahar, 2008.

MCKINSEY & COMPANY. Negócios Sociais Sustentáveis. Estratégias inovadoras para

o desenvolvimento social. Editora Peirópolis.

NETO, João Elias da Cruz. Reportagem de Televisão: como produzir, executar e editar.

Editora Vozes, 2009.

NICHOLS, Bill. Introdução ao Documentário/ Bill Nichols; tradução Mônica Saddy

Martins. – Campinas, SP: Papirus, 2005. – (Coleção Campo Imagético)

RAMOS, Fernão Pessoa. Mas afinal: O que é mesmo documentário? Editora Senac, 2008.

SACHS, Ignacy. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. Rio de Janeiro:

Garamond, 2000.

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APÊNDICES

APÊNDICE A: Histórico dos Personagens

Josileide dos Santos

Josileide dos Santos é artesã há 25 anos. Especialista na tipologia de bonecas de pano, boa

parte de sua carreira foi dedicada ao trabalho independente. Há pouco mais de sete anos,

Josileide, junto a mais cinco amigas, compõe a cooperativa ASTEAR (Associação que Tece

Arte) em economia solidária. O trabalho tem como uma das bases a sustentabilidade, pois boa

parte dos produtos feitos pelas artesãs são provenientes de materiais reciclados. Retalhos de

pano que poderiam ser jogados fora são transformados em arte. O trabalho de produção de

bonecas é bem procurado e gera renda suficiente para que as cinco participantes da

cooperativa sustentem suas casas ou colaborem com as finanças da família.

Fábio Agnes

Músico e pedagogo da cidade de Garanhuns, no interior de Pernambuco, Fábio Agnes

trabalha com musicalização em escolas Públicas e Privadas há dez anos. Percebendo a

dificuldade para compra de instrumentos, o músico teve a ideia de criar instrumentos através

de materiais reciclados. A iniciativa deu certo. Através de canos de PVC, vasos de plantas,

restos de tablados e diversos outros matérias que poderiam ser jogados fora, Fábio já criou

mais de 15 diferentes instrumentos de sopro e percussão. A ideia de Fábio foi implantada nas

escolas da cidade, e o seu trabalho atualmente faz parte de um dos projetos da Secretaria de

Educação do Município.

Gisele Viana

Administradora por profissão, Gisele é artesã nas horas vagas. O dinheiro extra vem da

produção de cosmético, que além de naturais, são pautados na sustentabilidade. Isso porque a

artesã não utiliza a química da indústria para produzir, e reutiliza cascas, sementes e essências

naturais nos sabonetes e perfumes que confecciona. É do próprio jardim da casa da Gisele que

saem esses elementos naturais para os produtos. O que era pra ser apenas um hobby se tornou

um negócio lucrativo e responsável que traz benefícios para o meio-ambiente e para os

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clientes da artesã, que não sofrem mais com agressões causadas pela química dos produtos

industrializados.

Julindio Macuxi

Júlio adotou o nome “Julindio Macuxi” quando decidiu sair do conforto da cidade para viver

no mato. O descendente indígena Macuxi voltou as raízes da bisavó, que vivia como índia, há

mais de 15 anos. Natural do estado de Goiás, Julindio veio morar na Paraíba e construiu um

espaço de moradia sem destruir os elementos naturais na região do Conde. Julindio casou-se

com Elaine Macuxi e é pai de Yuri e Iamê Macuxi. A família mora em uma reserva de três

hectares, que conta com reserva de mata atlântica, vegetação tropical, rios, fontes, argila e até

um pântano. Do local de moradia, a família Macuxi faz um ponto de ecoturismo, onde,

visitantes da cidade podem ter contato com a natureza e uma experiência viva de que ser

sustentável vale a pena.

Adeilton Meira

O Chef Adeilton Meira, com mais de 20 anos de atuação na área de gastronomia, é um dos

principais nomes da Culinária Paraibana e Nordestina. Sua experiência profissional é extensa:

trabalhou em respeitados restaurantes e em empresas como o SESC e SENAC, ministrando

diversos cursos de culinária. Adeilton faz da gastronomia uma arte, e em cada prato, na

mistura dos ingredientes, ele consegue transformar o alimento, tornando sua cozinha especial

e de sabor inesquecível. Hoje, o Chef Adeilton Meira presta assessorias a restaurantes, bares,

lanchonetes, hotéis e similiares. Adeilton ainda é o chef de cozinha do programa de TV

“Mulher Demais”, apresentado todas as manhã pela Rede Record/Paraíba. A sustentabilidade

na cozinha é um dos destaques da carreira do chef, que ainda alimenta com frequência o

próprio site: adeiltonmeira.com.br

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APÊNDICE B:

Capa do DVD (Igor Sarmento)

APÊNDICE C: Roteiro de Edição

Vinheta de Abertura – Áudio: Ausente

Sob-som – Áudio: Epitaphof Seikiles/Alexander Peace(trilha segue como BG)

OFF – Áudio: Bruna Borges

A terra desperta pra mais um dia. Toque. Sons. Cores. Cheiros e sabores. Em cinco sentidos,

motivos para produzir, preservando riquezas, essência, vida.

Passagem – Áudio: Rebbeca Ricarte (crédito: repórter)

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A palavra chave é sustentabilidade. Uma relação entre aquilo que se consome e que se produz.

Ser sustentável é utilizar sem exageros, manter. Mas a sustentabilidade pode estar ligada a

muitas outras coisas.

Como, por exemplo, os sentidos. E em todos os sentidos! Aquilo que tocamos, cheiramos,

ouvimos, provamos e vemos! Além, é claro, da motivação para fazer: ou seja, o sentido de

cada ação humana. Gestos sustentáveis.

OFF – Áudio: Rebbeca Ricarte

Isso porque, para manter, é preciso, antes de tudo, desejar.

Sonora– Áudio: Eusivan Lemos Alves (Diretor de Pesquisas Ambientais/Semam)

“Parece algo que é incompatível, né? Essa relação do homem com a natureza. Mas é algo

perfeitamente possível (...) Então, essa relação precisa ser revista, e existem caminhos para

isso”.

OFF – Áudio: Rebbeca Ricarte

O cenário é um nordeste rico, e é viajando pelas suas estradas, que nos deparamos com

produções sustentáveis que esbanjam sentido e vida! Em meio à cidade, na mata, na serra, na

praia, no campo. Cinco cenários, cinco sentidos. E, é claro, histórias inspiradoras.

Sonora – Áudio: Josileide dos Santos

“Meu nome é Josileide dos Santos, sou artesã, e trabalho com bonecas de pano há 25 anos.”

Sonora – Áudio: Fábio Agnes

“Meu nome é Fábio Agnes, eu sou professor, sou pedagogo, e o meu projeto é trabalho nas

escolas com material reciclado, só que através da música, com a musicalização nas escolas.”

Sonora – Áudio: Gisele Viana

“Meu nome é Gisele, eu trabalho há dois anos com produtos artesanais para a beleza, mais na

área de cosméticos”.

Sonora – Áudio: Julindio Macuxi

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“Meu nome é Julindio Macuxi, sou um naturista, encantado pela natureza, e sobrevivo nela de

Ecoturismo”.

Sonora – Áudio: Adeilton Meira

“Eu sou o chefe Adeilton Meira e trabalho com gastronomia há 25 anos. Hoje trabalho com

gastronomia sustentável”.

OFF – Áudio: Bruna Borges

A nossa primeira parada é em meio ao barulho da cidade. É lá que encontramos um grupo de

amigas que criaram a associação de mulheres que tecem arte em economia solidária.

Passagem – Áudio: Bruna Borges

Sustentabilidade aqui nessa oficina transforma retalhos de tecidos em uma verdadeira obra de

arte. Aqui no ateliê, o trabalho e produto, viram quase que brincadeira de criança, mas, com

propósitos de adulto.

OFF – Áudio: Bruna Borges

Bonequinhas, pesos de porta, e as famosas bruxinhas. Símbolos de tradição e cultura

nordestina.

Sonora – Áudio: Josileide dos Santos (crédito: artesã)

“É cultura, né? Eu acho que isso é dos antepassados, porque eu aprendi fazer as bruxinhas

vendo a minha bisavó. A gente morava sempre no interior, e eu rasgava às vezes a roupa da

minha mãe, apanhava, mas rasgava. Aí, para eu não apanhar, minha bisavó fazia as roupinhas,

aí eu via como ela cortava. Quando ela saia pro roçado, eu catava a tesoura, rasgava a roupa e

ia fazer a bruxinha de pano. Aí a gente corta, como se fosse cortar uma calcinha, né? E

costura na mão, porque esse trabalho é feito na mão, e faz a boneca, toda em tecido. Depois

eu fecho e costuro, faço pecinha por pecinha, monto ela, toda costuradinha na mão, e coloco o

cabelo de linha ou de fiapo do mesmo próprio pano, e o enchimento é dos fiapinhos de pano,

a gente enche a bruxinha de paco.”

Passagem – Áudio: Bruna Borges

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Josete tem dois filhos, e a renda pro sustento da casa é proveniente do trabalho com artesanato

de bonecas. Boa parte da matéria prima chega aqui assim: em retalhos.

Sonora – Áudio: Ana Regina Pinto (crédito: artesã)

“Quando a gente trabalha com o reciclado, trabalhamos a criatividade. Então você pega um

pano, que talvez esteja amassado, não esteja legal. Aquelas bonequinhas ali foram panos que

nós ganhamos de descartados mesmo, roupas que foram descartadas, aí a gente transformou

nas vovós, entendeu? Então, quando você vê o produto final, você também elabora a

criatividade. Você traz de dentro de você, você elabora dentro de você, um outro produto.

Então você vai desenvolvendo, né? Você se vê dentro do produto. Quando você termina o

produto, você se vê ali”.

OFF – Áudio: Bruna Borges

Como o grupo trabalha com economia solidária, cada uma das bonecas recebe contribuição

das cinco artesãs. E se tem uma coisa que elas se preocupam, é com a inclusão. As

bonequinhas negras são um exemplo. Porque tem muito mais!

Sonora – Áudio: Ana Regina Pinto (crédito: artesã)

“A gente vai trabalhar as negras, né? Recorte de raça. O que o recorte de raça trouxe como

aprendizado? Josileide é negra, e ela fazia as negrinhas. Então é fazer com que as pessoas

aceitem o outro não pela cor, mas por aquilo pelo potencial que ela tem, pelo humano que ela

é. Então a gente começou a trabalhar recorte de raça. A Josileide é expert em bonecas negras.

Aí as escolas começaram a procurar as negras, as índias, as bonecas negras e as índias, nós

fizemos uma boneca com Síndrome de Down, com os olhinhos caídos de Síndrome de Down,

fizemos um menininho com uma perninha só, uma menininha cega, a gente fez um rostinho

que, em uma bandinha não tinha o olho, então os colégios começaram a pautar também esse

desenvolvimento”.

OFF – Áudio: Bruna Borges

Diferença em produção e produto, que vale a pena!

Sonora – Áudio: Josileide dos Santos (crédito: artesã)

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“A Josileide de vinte e cinco anos atrás não sabia ler, não sabia escrever, certo, acreditava em

tudo que o pessoal falava, e achava que tudo tava certo. Hoje não. Hoje a Josileide é mais

feliz porque ela sabe o que quer. Tem consciência daquilo que faz e daquilo que quer, e tem

muitos sonhos. Sonhos de crescer no ASTEAR com as minhas colegas”.

OFF – Áudio: Rebbeca Ricarte

Do centro da cidade, pegamos a estrada rumo a serra. Garanhuns, cidade das flores. Clima

agradável. Cenário que inspira arte em cores e sons.

Passagem – Áudio: Rebbeca Ricarte

Música que sai do lixo? Acredite! Tem um grupo que descobriu que materiais do dia a dia que

poderiam ser facilmente jogados fora, podem ser usados para produzir instrumentos de

verdade, e que dá gosto de ouvir!

OFF – Áudio: Rebbeca Ricarte

Nem eu resisti! Pena que não peguei o ritmo! Os instrumentos reciclados são parte de um

trabalho desenvolvido pelo Fábio há mais de cinco anos. As adaptações surgiram de uma

necessidade que o professor descobriu na sala de aula.

Sonora – Fábio Agnes (crédito: músico pedagogo)

“Eu comecei a perceber uma dificuldade nesta relação da música e a escola, que sempre onde

a gente ia trabalhar, fazer projetos com corais, e a gente sempre queria fazer projetos com

instrumentos, mas sempre os diretores, secretários diziam que não tinham condições de

comprar os instrumentos. Então foi daí que eu comecei a ter a ideia de criar instrumentos

através de materiais recicláveis, para que a gente pudesse musicalizar as crianças”.

OFF – Áudio: Rebbeca Ricarte

O primeiro instrumento que o Fábio criou foi a flauta, que é feita de cano PVC, usado em

encanamentos.

Sonora – Fábio Agnes

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“São canos que às vezes ficam jogados em casa, as vezes tem um pedacinho. Então foi dessa

ideia que eu comecei a criar e visualizar que através de materiais recicláveis a gente pode

criar, e que de um custo muito baixo, a gente pode musicalizar as crianças e os adolescentes”.

OFF – Áudio: Rebbeca Ricarte

Aos poucos, o músico foi descobrindo novas afinações. Criou o pífano, o claricano, o

trombone e até o sax!

Sob-som – Áudio: instrumentos

OFF – Áudio: Rebbeca Ricarte

Mas a criatividade em produzir instrumentos reciclados foi além do sopro!

Sonora – Fábio Agnes

“A gente tem vários instrumentos de percussão. Então, por exemplo, o ganzá. É um

instrumento muito utilizado, o original, é um instrumento pequenininho, um ovinho, e aí eu

comecei a perceber que, algumas coisas que a gente tem no dia a dia em casa, como, por

exemplo, aqueles frascos de desodorante aerossol, então, aquele frasco, colocando arroz,

colocando feijão, alguns grãos, a gente também tem o som semelhante ao ganzá”.

Sob-som – Áudio: instrumentos

OFF – Áudio: Rebbeca Ricarte

A novidade encantou os alunos!

Sonora – Fábio Agnes

Foi interessante, porque os meninos não imaginavam que esses instrumentos que fui

colocando em cima da mesa, na sala de aula podiam ter som, ou qualidade sonora semelhante

aos instrumentos originais. E ai as crianças começaram a ver e ficar encantadas com aquilo,

não acreditando que poderia se fazer desses meios de cano, madeira, de restos de materiais,

que a gente poderia fazer musicalização através disso. E daí eles começaram a ter uma

credibilidade. Começaram a ouvir e a ver, e foi desenvolvendo esse projeto.”

OFF – Áudio: Rebbeca Ricarte

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E projeto que, para o Fábio, o Sérgio e o Aldecy, tem um objetivo claro, principalmente

quando o assunto é criança!

Sonora – Fábio Agnes

“É desenvolver nele o gosto, e fazer a criatividade acontecer, como muitos alunos estão

fabricando outros instrumentos, que eles começaram a criar, baseado em ideias do que eles já

escutam em instrumentos originais”.

OFF – Áudio: Rebbeca Ricarte

Fazer do som, arte. Fazer da música, aprendizado. E em todos os sentidos!

Sonora – Fábio Agnes

Então, fazer a questão da preservação. Que nós precisamos cuidar de onde vivemos. Então,

ele vai aprender a questão da reciclagem, então é importante este trabalho, principalmente nos

dias que a gente tá vivendo hoje”.

Sob-som - instrumentos

OFF – Áudio: Bruna Borges

Dos sons da serra para os aromas do campo, produtos de beleza que exalam cuidado com o

corpo e com a natureza.

Passagem – Áudio: Bruna Borges

Este é o jardim da casa da Gisele. Aparentemente um jardim comum, mas é daqui que sai boa

parte da material prima natural dos seus produtos. As sementes do romã, por exemplo, são

utilizadas para produzir um dos diversos tipos de sabonetes produzidos aqui.

Sonora – Áudio: Gisele Viana (crédito: artesã)

“A minha ideia inicial foi trabalhar com cosméticos. (...) Para trabalhar com este tema novo

de sustentabilidade”.

OFF – Áudio: Bruna Borges

A produção de sabonetes artesanais exige menos química do que na indústria, o que traz mais

benefícios para a pele.

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Sonora – Áudio: Gisele Viana

“Porque a glicerina não agride a pele como os sabonetes comuns. (...) Quando a gente usa o

sabonete normal”.

OFF – Áudio: Bruna Borges

No processo de produção, Gisele corta e derrete a glicerina. Logo após vem a aromatização e

os elementos naturais, que também tem propriedades medicinais. O sabonete fica com melhor

qualidade quando seco ao ar livre.

Sonora – Áudio: Gisele Viana

“Até o acabamento final, o lacinho final, foi você que fez. (...) Para quem está vendendo”.

OFF – Áudio: Bruna Borges

O reaproveitamento de cascas, sementes e essências, são diferenciais que fidelizam os clientes

da Gisele.

Sonora – Áudio: Gisele Viana

“Faz diferença sim, porque eu comecei a fazer por hobby. (...) Eu sei que estou oferecendo

pro publico um produto que nem todo mundo pode oferecer”.

OFF – Áudio: Rebbeca Ricarte

Do jardim da Gisele, estrada de barro rumo a floresta. Um terreno enorme! Contato com a

natureza, visão de mata atlântica.

Passagem – Áudio: Rebbeca Ricarte

Pra quem mora na cidade, a pergunta: é quantos metros quadrados tem sua casa? Já pra quem

opta por um estilo alternativo de vida, a proporção é bem diferente. Na família Macuxi, o

território de Moradia tem três hectares, que consiste com reserva demata nativa, rio e até, um

pântano!

OFF – Áudio: Rebbeca Ricarte

Uma família de descendentes indígenas que trocou o conforto da cidade pelas aventuras do

mato.

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Sonora – Áudio: Julindio Macuxi (crédito: naturista)

“Desde menino eu sempre gostei de mato. (...) E comecei.”

OFF – Áudio: Rebbeca Ricarte

Criar a família em meio à natureza, com diversões simples. Foi então que surgiu a ideia de

proporcionar esse mesmo estilo de vida para outras pessoas.

Sonora – Áudio: Julindio Macuxi

“Tentamos usar da maneira mais ECO possível (...) Te isolando desta terra”

OFF – Áudio: Rebbeca Ricarte

Contato com a terra. Usar o espaço natural de forma sustentável. Proporcionar experiências

incríveis para quem vem de fora.

Sonora – Áudio: Julindio Macuxi

“Terra, meto eles na lama (...) O grupo determina qual é o procedimento”

OFF – Áudio: Rebbeca Ricarte

Floresta de vida, de felicidade, o habitat dos macuxis. Qualidade de vida que Elaine e Julindio

não trocam por nada!

Sonora – Áudio: Elaine Macuxi (crédito: naturista)

“Não tem comparação, não tem dinheiro que pague (...) vale a pena!”

Sonora – Áudio: Julindio Macuxi

“Não faz bem a mim porque eu sobrevivo do que ganho (...) Seja cuidando bem do seu

cachorro, do seu gato, plantando uma árvore, que elas ajudem a cuidar da natureza de alguma

forma.”

OFF – Áudio: Rebbeca Ricarte

Quem vem aqui, se encanta, limpa a visão e passa a enxergar a natureza do jeitinho deles,

com tantos outros sentidos.

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Sob-som – Áudio: The Winner Is/Mychael Danna

OFF – Áudio: Rebbeca Ricarte

Da floresta dos Macuxis, para a Ilha de Sabores do Chefe Adeilton. Restaurante de cozinha

internacional, fino em cada detalhe.

Passagem – Áudio: Rebbeca Ricarte

Mas aí você pode se perguntar: o que é que sustentabilidade tem a ver com um restaurante

chique?! Acredite! O termo é mais do que popular. E é nesse restaurante aqui que ela tem se

transformado em diversos pratos que agradam muitos paladares.

OFF – Áudio: Rebbeca Ricarte

O incentivo vem do chefe. E quer saber como começa?

Sonora – Áudio: Adeilton Meira (crédito: chefe de cozinha)

“Eu comecei a trabalhar em cozinha em 1989, já são quase 25 anos (...) tanto a terra quanto a

saúde da gente”

Passagem – Áudio: Bruna Borges

Mas a cozinha sustentável não se resume a escolha dos alimentos ao preparo do prato. Mesmo

após finalizada a receita, ainda é possível ser sustentável na cozinha.

Sonora – Áudio: Adeilton Meira

“Esse é um trabalho que já foi iniciado há muitos anos pelo banco de alimentos do SESC e

SENAC (...) É contribuir com a sustentabilidade da gastronomia”

OFF– Áudio: Bruna Borges

Uma das formas é reutilizando o óleo de cozinha.

Sonora – Áudio: Adeilton Meira

“Já existem empresas especializadas e cadastradas pela Anvisa que recolhem esses óleos nos

restaurantes (...) nos restaurante já se tem essa consciência que jamais se joga óleo fora”

OFF – Áudio: Bruna Borges

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Responsabilidade com sabor que vale a pena.

Sonora – Áudio: Adeilton Meira

“Bom, vou dar uma pequena demonstração do que você pode fazer (...) Do açúcar, coloca por

cima”

OFF – Áudio: Bruna Borges

Ser sustentável traz recompensas que vão além da preservação, viram um estilo de vida.

Sonora– Áudio: Eusivan Lemos Alves (Diretor de Pesquisas Ambientais/Semam)

“É pensar em um presente, pra essas gerações (...) Mas é um desafio”

OFF – Áudio: Rebbeca Ricarte

Lição que traz benefícios para a natureza e para quem a usufrui. Cinco sentidos que se

misturam com a vontade de fazer diferente. E que na simplicidade, ensinam lições para o

futuro, em um verdadeiro presente.

Sob-som – Áudio: The Winner Is/Michael Danna

Créditos finais

Reportagens: Rebbeca Ricarte e Bruna Borges

Roteiro: Rebbeca Ricarte

Produção: Bruna Borges

Imagens: Rebbeca Ricarte, Bruna Borges, Péricles Barbosa, Dinho Leite e Cléo Marinho

Edição: Diógenes Silva e Rebbeca Ricarte

Professor Orientador: Wilfredo Maldonado

Entrevistados: Eusivan Lemos Alves (SEMAN), JulindioMacuxi, Elaine Macuxi, Gisele

Viana, Josileide dos Santos, Ana Regina Silva, Adeilton Meira e Fábio Agnes

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ANEXOS

Fotos das gravações:

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL E TURISMO

DECLARAÇÃO DE AUTORIA

Discentes: Arland Rebbeca Ricarte Barbosa e Bruna Andrade Borges

Matrículas: 1091-3409 e 1092-3333

Título do Trabalho: Produções Sustentáveis em Cinco Sentidos

Professor orientador: Wilfredo Maldonado

Declaramos, a quem possa interessar, que o presente trabalho é de nossa única e exclusiva

autoria e que responderemos por todas as informações e dados nele contidos, cientes da

definição legal de plágio e das eventuais implicações.

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João Pessoa, de de 2013