universidade federal da paraÍba centro de … · agradeço primeiramente a deus, pela força que...
TRANSCRIPT
1
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA - PROLING
LUANA ANASTÁCIA SANTOS DE LIMA
EPÊNTESE VOCÁLICA MEDIAL: UMA ANÁLISE VARIACIONISTA DA
INFLUÊNCIA DA LÍNGUA MATERNA (L1) NA AQUISIÇÃO DE INGLÊS (L2)
João Pessoa – PB
2012
2
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA - PROLING
LUANA ANASTÁCIA SANTOS DE LIMA
EPÊNTESE VOCÁLICA MEDIAL: UMA ANÁLISE VARIACIONISTA DA
INFLUÊNCIA DA LÍNGUA MATERNA (L1) NA AQUISIÇÃO DE INGLÊS (L2)
Dissertação apresentada ao programa de Pós-Graduação
em Linguística da Universidade Federal da Paraíba, na
área de concentração Teoria e Análise Linguística e linha
de pesquisa Diversidade e Mudança Linguística , como
requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em
Linguística.
Orientador: Prof. Dr. Rubens Marques de Lucena
João Pessoa – PB
2012
3
L732e Lima, Luana Anastácia Santos de.
Epêntese vocálica medial: uma análise variacionista da influência da língua materna (L1) na aquisição de inglês (L2) / Luana Anastácia Santos de Lima.--João Pessoa, 2012.
128f. : il. Orientador: Rubens Marques de Lucena Dissertação (Mestrado) – UFPB/CCHLA
1. Linguística. 2. Epêntese vocálica medial. 3. Aquisição de L2. 4. Variação linguística.
UFPB/BC CDU: 801(043)
4
EPÊNTESE VOCÁLICA MEDIAL: UMA ANÁLISE VARIACIONISTA DA
INFLUÊNCIA DA LÍNGUA MATERNA (L1) NA AQUISIÇÃO DE INGLÊS (L2)
Luana Anastácia Santos de Lima
Dissertação aprovada em 02 de abril de 2012.
João Pessoa
2012
5
Dedico primeiramente a Deus, que é o motivo maior da minha
existência, e a minha família, em especial aos meus pais,
Gonçalo Alves de Lima (in memoriam) e Gidalva Santos de
Lima.
6
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, pela força que me impulsionou nestes dois anos, por ser a
motivação nas horas de desânimo e a fonte de inspiração para construção de cada linha deste
trabalho e por sua constante presença em minha vida, fazendo-me acreditar que a realização
de mais este sonho seria possível. Eu te agradeço por tudo, meu Senhor!
Aos meus pais, Gonçalo (in memoriam) e Gidalva, pelo incentivo aos estudos, mesmo em
meio às dificuldades, pelo carinho e apoio incondicional e pela dedicação, sem medir
esforços, para que eu concluísse mais esta importante etapa da minha vida. Vocês são os meus
exemplos de superação e os seus ensinamentos são o maior tesouro que tenho!
Aos meus irmãos Flávio e Verônica, pelo apoio e “força” durante os longos momentos de
estudo. Desculpa a ausência de alguns momentos!
Aos meus tios, Ducarmo, França, Salete e Luiz, que me apoiaram, em todos os sentidos,
durante todo o meu curso, contribuindo para que eu concluísse com sucesso mais essa etapa
da minha vida. Vocês fazem parte da minha história!
À Seu Manoel (in memoriam), Dona Zefinha, Maria José e família, por me assistirem desde
os meus primeiros passos e se congratularem a cada vitória alcançada. Jamais os esquecerei e
serei eternamente grata pelo o que já fizeram por mim e minha família!
Ao meu querido orientador, Professor Rubens Marques de Lucena, por me mostrar o gosto
pela pesquisa (sócio) linguística ainda na época da graduação e por ter me aceitado como
orientanda no mestrado, acreditando no trabalho que eu poderia desenvolver. Agradeço,
também, pela dedicação, paciência, ética e profissionalismo em meio às orientações desses
dois anos. O senhor é a minha referência de um profissional brilhante! Obrigada por tudo, de
coração!
Aos componentes da banca examinadora, por terem aceitado o convite para participar da
apresentação da qualificação e acrescentar as valiosas contribuições para enriquecer meu
trabalho.
Aos meus queridos amigos Professora Fátima Aquino, Seu Boaz, João Neto, Pedro, Maria e
Margarida, pelo acolhimento desde a época da graduação, carinho, compreensão e amizade ao
longo desses últimos anos. Agradeço a essa grande família, também, pelos valiosos conselhos
e experiências de vida os quais ficarão comigo eternamente. A realização deste sonho não
seria possível sem o apoio de vocês!
7
A Karol, amiga que conheci no Mestrado, com a qual compartilhei conhecimentos
acadêmicos e diálogos de conforto e confiança para a conclusão deste trabalho. Obrigada pela
afetuosa amizade e por sempre me ouvir nos momentos de dúvidas angustiantes!
A Dona Luzia, pela simpatia e alegria com que sempre me acolheu em seu estabelecimento
durante os intervalos das aulas. A hora passava rápido entre uma conversa e outra!
A todos os meus amigos da UEPB, em especial Jailto, Suênio, Monaliza, Luciana, Luana,
André Pedro, Euda, Marci, Neni que, em meio a divertidas conversas e partilhas, aliviavam a
tensão e a ansiedade da construção deste trabalho. Sem vocês, este momento não poderia ter
sido mais divertido!
A todas as minhas amigas, em especial, Aninha e Jaqueline, pela sincera e fiel amizade,
mesmo apesar da distância. Obrigada por compreenderem minha ausência em tantos
momentos!
A todos os motoristas, em especial Seu Paulo e Seu Guedes, que, sempre que possível,
forneciam transporte e não hesitavam em me levar à universidade para que eu pudesse, a cada
dia, ampliar meus conhecimentos e concluir com êxito essa pós.
A todos os participantes da pesquisa que, gentilmente, cederam parte de seu tempo para que
eu pudesse realizar desde a aplicação dos questionários às gravações e, assim, concluir a
coleta dos dados e a montagem do corpus.
À UFPB, especialmente ao Programa de Pós Graduação em Linguística (PROLING), que me
acolheu como aluna do Curso de Mestrado, no ano de 2010, e onde descobri um universo
fantástico que ajudou a ampliar os meus conhecimentos sobre as variadas faces da
Linguística.
A todos os professores do Mestrado que tive oportunidade de conhecer e que, a cada
disciplina, me proporcionaram um novo olhar para a Linguística, além de contribuições
valiosíssimas para este trabalho.
A Vera, Dona Cida, Ronil, Valberto e todos os funcionários, que, com prontidão e eficiência,
sempre me auxiliaram no PROLING e VALPB.
Finalmente, agradeço a todos que contribuíram direta e indiretamente para a construção desse
trabalho, participando de um momento muito importante e inesquecível da minha vida, de
modo que jamais os esquecerei. Enfim, a todos, meu simples e sincero muito obrigada!
8
SUMÁRIO
LISTA DE QUADROS, TABELAS, GRÁFICOS E FIGURAS
LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS
RESUMO
ABSTRACT
INTRODUÇÃO............................... .....................................................................15
Objetivo geral............................................................................................................................17
Objetivos específicos................................................................................................................17
CAPÍTULO I – Objeto de estudo: epêntese vocálica medial – revisão da literatura.......19
1.1 Epêntese vocálica................................................................................................................19
1.2 Alguns estudos sobre epêntese vocálica.............................................................................27
CAPÍTULO II – Pressupostos teóricos.................................................................................37
2.1 Sociolinguística variacionista.............................................................................................37
2.2 Aquisição de L2..................................................................................................................41
2.3 Consciência fonológica.......................................................................................................46
CAPÍTULO III – Metodologia...............................................................................................50
3.1 Coleta de dados...................................................................................................................50
3.2 Caracterização das variáveis...............................................................................................54
3.2.1 Variável dependente.........................................................................................................54
3.2.2 Variáveis independentes..................................................................................................55
3.2.2.1 Variáveis independentes linguísticas............................................................................55
3.2.2.1.1 Contexto fonológico precedente................................................................................55
3.2.2.1.2 Contexto fonológico seguinte....................................................................................56
3.2.2.1.3 Tonicidade..................................................................................................................58
3.2.2.1.4 Tipo de instrumento...................................................................................................58
3.2.2.2 Variáveis independentes extralinguísticas....................................................................59
3.2.2.2.1 Sexo............................................................................................................................59
3.2.2.2.2 Nível de proficiência na língua..................................................................................59
9
3.2.2.2.3 Idioma........................................................................................................................60
3.3 Instrumento de análise dos dados........................................................................................60
CAPÍTULO IV – Análise e discussão dos dados..................................................................63
4.1 Frequência geral da epêntese vocálica em L1 e L2.............................................................63
4.1.1 Proficiência na língua.......................................................................................................67
4.1.2 Contexto fonológico seguinte..........................................................................................69
4.1.3 Contexto fonológico precedente......................................................................................71
4.1.4 Tonicidade........................................................................................................................73
4.2 Frequência geral da epêntese vocálica em L1.....................................................................75
4.2.1 Proficiência na língua.......................................................................................................78
4.2.2 Contexto fonológico seguinte..........................................................................................81
4.2.3 Contexto fonológico precedente......................................................................................83
4.2.4 Tonicidade........................................................................................................................85
4.3 Frequência geral da epêntese vocálica em L2.....................................................................86
4.3.1 Proficiência na língua.......................................................................................................89
4.3.2 Contexto fonológico seguinte..........................................................................................90
4.3.3 Contexto fonológico precedente......................................................................................92
4.4 Comparação das rodadas realizadas....................................................................................93
CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................................101
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................104
APÊNDICE 1 – Formulário de Consentimento
APÊNDICE 2 – Questionário
APÊNDICE 3 – Corpus de Língua Portuguesa / Corpus de Língua Inglesa
APÊNDICE 4 – Lista de textos em Inglês / Lista de textos em Português
ANEXO 1 – Oxford Placement Test (ALLAN, 2004)
ANEXO 2 – Folha de aprovação do Comitê de Ética
10
LISTA DE QUADROS, TABELAS, GRÁFICOS E FIGURAS
QUADROS
Quadro 1 – Padrão canônico CCVC.........................................................................................22
Quadro 2 – Encontros consonantais favoráveis à epêntese no português.................................23
Quadro 3 – Extravio do elemento flutuante..............................................................................24
Quadro 4 – Encontros consonantais favoráveis à epêntese em língua inglesa.........................26
Quadro 5 – Esquema da consciência fonológica......................................................................47
Quadro 6 – Distribuição das células.........................................................................................53
Quadro 7 – Contextos fonológicos precedentes analisados......................................................55
Quadro 8 – Contextos fonológicos seguintes analisados..........................................................57
Quadro 9 – Sequência de execução de tarefas do GoldVarb X.................................................61
Quadro 10 – Grupos selecionados na 1ª rodada........................................................................66
Quadro 11 – Grupos selecionados na 2ª rodada........................................................................78
Quadro 12 – Matriz de traços distintivos proposta por Guy (2007).........................................84
Quadro 13 – Grupos selecionados na 3ª rodada........................................................................88
Quadro 14 – Grupos selecionados em todas as rodadas...........................................................95
TABELAS
Tabela 1 – Proficiência na língua (L1 + L2).............................................................................67
Tabela 2 – Contexto fonológico seguinte (L1 + L2).................................................................69
Tabela 3 – Contexto fonológico precedente (L1 + L2).............................................................72
Tabela 4 – Tonicidade (L1 + L2)..............................................................................................73
Tabela 5 – Proficiência na língua (L2) nos dados de L1..........................................................79
Tabela 6 – Contexto fonológico seguinte (L1).........................................................................81
Tabela 7 – Contexto fonológico precedente (L1).....................................................................83
Tabela 8 – Tonicidade (L1).......................................................................................................85
Tabela 9 – Proficiência na língua (L2)......................................................................................89
Tabela 10 – Contexto fonológico seguinte (L2).......................................................................91
Tabela 11 – Contexto fonológico precedente (L2)...................................................................92
11
GRÁFICOS
Gráfico 1 – Frequência geral do fenômeno da epêntese vocálica medial.................................64
Gráfico 2 – Frequência do fenômeno da epêntese vocálica medial em L1...............................76
Gráfico 3 – Frequência do fenômeno da epêntese vocálica medial em L2...............................87
Gráfico 4 – Comparação da ocorrência da epêntese vocálica em todas as rodadas..................94
Gráfico 5 – Comparação da variável proficiência na língua em todas as rodadas....................96
Gráfico 6 – Comparação da variável contexto fonológico seguinte em todas as rodadas........97
Gráfico 7 – Comparação da variável contexto fonológico precedente em todas as rodadas....98
Gráfico 8 – Comparação da variável tonicidade em todas as rodadas......................................99
FIGURAS
Figura 1 – Processo de transferência linguística.......................................................................80
12
LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS
PROLING – Programa de Pós Graduação em Linguística
VALPB – Projeto Variação Linguística no Estado da Paraíba
PB – Português do Brasil
L1 – Língua 1
L2 – Língua 2
RS – Rio Grande do Sul
R – Rhyme (rima)
Nu – Nucleus (núcleo)
O – Onset (ataque)
C – Consoante
V – vogal
AEE – Apagamento do Elemento Extraviado
ACC – Afrouxamento da Condição de Coda
SLA – Second Language Acquisition (Aquisição de Segunda Língua)
GU – Gramática Universal
GA – Generalized Alignment (Alinhamento Generalizado)
σ – Sílaba
ᴓ – Vazio
/ / – Representação fonológica
[ ] – Representação fonética
> – X torna-se Y
– X torna-se Y
13
RESUMO
O presente trabalho busca investigar a ocorrência da epêntese vocálica medial na produção do
português brasileiro (como em cognato > cog[i]nato) e de inglês como L2 (object > ob[i]ject). Este
fenômeno fonológico tem sido atestado em vários trabalhos que dão conta de explicar sua aplicação
tanto em L1 quanto em L2 (COLLISCHONN, 2002; CARDOSO, 2005; PEREYRON, 2008;
SCHNEIDER, 2009; LUCENA & ALVES, 2009; 2010), cujos resultados originaram as hipóteses
lançadas para cada variável controlada em nossa análise. Para tanto, utilizamos uma metodologia
sociolinguisticamente orientada (LABOV, 1975; LABOV et al., 2006 [1968] e 2008 [1972]), a qual
contou com a produção de 18 aprendizes da região do Brejo Paraibano que foram submetidos à
leituras de frases e textos em português e inglês. Os dados de produção foram gravados e as
ocorrências do fenômeno foram quantificadas, sendo, em seguida, codificadas para receber um
tratamento estatístico pelo programa GoldVarb X (SANKOFF, TAGLIAMONTE & SMITH, 2005), a
partir dos quais foram realizadas três rodadas distintas (L1 + L2; L1; L2). Os resultados das análises
estatísticas mostraram que, de forma geral, o fenômeno da epêntese vocálica exibiu baixos índices de
aplicação do fenômeno. A partir dos resultados obtidos, constatamos que as variáveis selecionadas
como relevantes para a ocorrência do fenômeno foram as mesmas, em todas as rodadas, na mesma
sequência (proficiência na língua, contexto fonológico seguinte, contexto fonológico precedente e
tonicidade), com exceção da 3ª rodada que refutou a última variável. Concluímos, pois, que os dados
confirmaram a influência dessas variáveis na ocorrência da epêntese, ratificando a forte ligação entre a
L1 e a L2.
Palavras-chave: Epêntese vocálica medial; aquisição de L2; variação linguística.
14
ABSTRACT
This work aims at investigating the occurrence of the epenthetic vowel in word medial clusters in the
speech of Brazilian Portuguese (as in cognato > cog[i]nato) and in English as L2 (as in object >
ob[i]ject). This phonological phenomenon has been attested in several works that explain the
phenomenon in L1 and L2 (COLLISCHONN, 2002; CARDOSO, 2005; PEREYRON, 2008;
SCHNEIDER, 2009; LUCENA & ALVES, 2009; 2010), whose results helped us to formulate the
hypothesis in our research. For this, we used a variationist methodology (LABOV, 1975; LABOV et
al., 2006 [1968] and 2008 [1972]), based on 18 informants from Brejo Paraibano, who were asked to
read sentences and texts in Portuguese and English. The speech data were recorded and the
phenomenon occurrence were quantified and coded in order to be statistically analyzed using
GoldVarb X (SANKOFF, TAGLIAMONTE & SMITH, 2005). Then three different analyses were
carried out (L1 + L2; L1; L2). The analyses results revealed that the epenthetic vowel showed low
frequency in all runs. From the results, we assumed that the significant variables to vowel epenthesis
occurred equally and in the same sequence, in all runs (proficiency level, following phonological
context, preceding phonological context, stress), except on the 3rd
run. We conclude that the
production data confirmed the relation between the variables frequency in all runs, confirming the
strong connection between L1 and L2.
Keywords: Epenthetic vowel in word medial clusters; second language acquisition; linguistic
variation.
15
“Most knowledge and learning in variation theory
has been acquired like this, passed on through
word of mouth, from one research to the next.”
(Tagliamonte)
16
INTRODUÇÃO
Ao longo dos anos de 1960 e 1970 verificou-se um significativo desenvolvimento de
dois ramos da Linguística, sendo eles o estudo quantitativo da variação linguística e a
investigação sistemática da aquisição de L2.
Conforme afirma Bayley (2005), a motivação para a convergência dessas duas áreas
de estudo encontra-se no objetivo comum entre ambas de entender o comportamento das
variáveis linguísticas, bem como entender o sistema que é construído pelo aprendiz de uma
L2.
Os estudos de L2 que combinam, entre outros métodos, métodos variacionistas podem
fornecer um melhor entendimento a respeito de como os aprendizes adquirem recursos
necessários para manipular efetivamente a estrutura da L2, destacando, sobretudo, o possível
contato entre L1 e L2.
Uma das observações mais constantes durante o processo de aquisição1 de uma língua
estrangeira é esse contato entre as duas línguas, o qual ocorre sob a forma de transferência
linguística e que parte da L1 em direção à L2. Esse processo geralmente é mediado por
fenômenos fonológicos ocorridos em um dos sistemas linguísticos envolvidos.
Em se tratando do português brasileiro, temos, entre outros fenômenos que ilustram
esse processo de transferência, a epêntese vocálica, responsável por estabilizar a produção
acústico-articulatória de encontros consonantais constituídos por codas complexas, os quais,
para serem melhor produzidos, precisam estar apoiados em uma vogal.
De acordo com esse processo, os aprendizes tendem a repetir o que é aplicado na L1,
evidenciando a influência que um sistema linguístico exerce sobre a produção do outro.
Tendo em vista essa constatação, o presente trabalho irá analisar o fenômeno da
epêntese vocálica medial nas produções de aprendizes de inglês como L2. Pretende-se, nesta
perspectiva, investigar em que medida esses aprendizes inserem vogais entre encontros
consonantais tanto no português quanto no inglês, de forma a produzir construções do tipo
advérbio > ad[i]vérbio e object > ob[i]ject.
Diversos estudos tratam da investigação deste fenômeno (COLLISCHONN, 2002,
2003; PEREYRON, 2008; SCHNEIDER, 2009; LUCENA & ALVES, 2009, 2010;
CAGLIARI, 2010). No entanto, a maior parte destes trabalhos está concentrada no Sul do
1 Krashen (1982) coloca a distinção entre os termos aquisição e aprendizagem. De acordo com o referido autor,
a aquisição ocorre quando a L2 é adquirida subconscientemente, de forma que o falante se ocupa da
comunicação e compreensão das mensagens. O aprendizado, por outro lado, ocorre quando a língua é adquirida
conscientemente, de forma que a aprendemos em contextos monitorados, como na escola, por exemplo.
17
Brasil, com exceção da pesquisa realizada por Lucena & Alves (2009, 2010) que abrange
corpora do Rio Grande do Sul e da Paraíba, o que despertou o interesse de desenvolver um
estudo analítico do comportamento da epêntese vocálica medial no Nordeste brasileiro, em
específico, na região do Brejo Paraibano, tendo em vista o fato de esta ser a região onde a
pesquisadora reside.
Consideramos pertinente ressaltar que esses trabalhos realizados no Rio Grande do Sul
(RS) embasarão nossa pesquisa, uma vez que iremos compará-los ao nosso durante a análise e
discussão dos dados. Além disso, os resultados encontrados em tais trabalhos serviram de
base para a construção das hipóteses formuladas para nortear esta pesquisa, as quais serão
bem mais detalhadas na metodologia2.
Para respaldar teoricamente nossa análise, ecoamos a Teoria da Variação Linguística3
(LABOV, 1975; LABOV et al., 2006 [1968] e 2008 [1972]), também conhecida como
Sociolinguística Variacionista, a qual admite o aspecto social e variável da língua, indo de
encontro ao postulado de correntes anteriores, como o Estruturalismo (SAUSSURE, 2006
[1916]) e o Gerativismo (CHOMSKY, 1957) que abstraíram a variação linguística de seu foco
de estudo e pregavam a homogeneidade linguística.
Proposta pelo estudioso William Labov (op. cit.), a Sociolinguística Variacionista se
desenvolveu, significativamente, a partir da década de 1960, caracterizando-se como uma
revolução dentro do panorama geral da linguística. Desta forma, ao criar este novo paradigma,
Labov (op. cit.) comprova o indissociável diálogo entre língua/sociedade e o dinamismo do
sistema linguístico (LABOV, 2008 [1976], p. 216).
A Sociolinguística, em consonância com a Fonologia, tem se mostrado uma área de
grande relevância para os estudos de caráter aquisicionista. Além de guiar estudos que dizem
respeito à avaliação do enunciado socialmente apropriado, a Sociolinguística se mostra
fundamental na consideração de aspectos socioculturais no aprendizado e aquisição de uma
língua estrangeira4.
Partindo desta vertente variacionista, empreendemos uma análise fonético-fonológica
do fenômeno da epêntese vocálica, de forma a verificar a variação que ocorre na produção de
2 Deve-se ressaltar que as hipóteses para esta pesquisa foram formuladas a partir de cada variável controlada e
dos resultados encontrados em trabalhos anteriores (COLLISCHONN, 2002, 2003; PEREYRON, 2008;
SCHNEIDER, 2009; LUCENA & ALVES, 2009, 2010; CAGLIARI, 2010) para essas mesmas variáveis.
3 Consideraremos neste trabalho os termos Teoria da Variação Linguística e Sociolinguística Variacionista como
sinônimos.
4 Vale salientar que, neste trabalho, trataremos os termos Língua Materna e Língua Estrangeira como sinônimos
de L1 e L2, respectivamente.
18
falantes brasileiros aprendizes de inglês como L2 diante de encontros consonantais, através de
uma análise empírica.
Para tanto, utilizamos uma amostra constituída de informantes paraibanos aprendizes
de inglês como L2, com nível básico, intermediário e avançado, sendo a maioria do curso de
Licenciatura Plena em Letras, conforme veremos na metodologia (Capítulo III).
Pretendemos, com este trabalho, responder às seguintes questões norteadoras:
1. A frequência da epêntese vocálica é mais recorrente nos dados de L1 ou L2?
2. Que variáveis linguísticas / extralinguísticas favorecem a aplicação do fenômeno em L1 e
L2?
Frente a estas indagações, estabelecemos alguns objetivos gerais e específicos, os
quais serão apresentados a seguir:
Objetivo Geral
a) Descrever como ocorre o fenômeno da epêntese vocálica medial em L1 e L2 na região do
Brejo Paraibano.
Objetivos Específicos
a) Verificar a ocorrência/frequência da epêntese vocálica medial em L1 e L2.
b) Investigar as variáveis linguísticas e extralinguísticas que influenciam a
ocorrência/frequência da epêntese em aprendizes de inglês do brejo paraibano.
Estruturamos a presente dissertação em quatro capítulos. No primeiro capítulo,
traçamos um panorama geral do fenômeno da epêntese vocálica medial, buscando apresentar
dados que comprovem que o referido fenômeno constitui uma estratégia de reparo silábico
19
utilizado pelos falantes desde o português arcaico (CUNHA, 1972; ROACH, 2002;
CRYSTAL, 2006; BECHARA, 2009). Elencamos, ainda, encontros consonantais passíveis de
aceitar ocorrências de epêntese em L1 e L2. Por fim, mencionamos os estudos realizados com
a epêntese vocálica.
O segundo capítulo trata das abordagens teóricas utilizadas na fundamentação deste
trabalho. Inicialmente, tratamos da Sociolinguística Variacionista (LABOV, 1975; LABOV et
al., 2006 [1968] e 2008 [1972]). Em seguida, ecoamos os pressupostos relacionados à
aquisição de L2 (ELLIS, 1997; TARONE, 2007). Discutimos, além disso, aspectos
relacionados à consciência fonológica (ALVES, 2009).
O terceiro capítulo apresenta a metodologia que adotamos no desenvolvimento desse
estudo. Nesse ponto, explicitamos os procedimentos utilizados na coleta de dados e
caracterizamos as variáveis linguísticas e extralinguísticas que foram controladas, buscando
mostrar os resultados de estudos anteriores para cada variável, a partir dos quais
estabelecemos nossas hipóteses. Versamos, ainda, sobre o instrumento de análise dos dados,
no qual apresentamos o programa GoldVarb X (SANKOFF, TAGLIAMONTE & SMITH,
2005) utilizado nas análises quantitativas.
O quarto capítulo contempla a análise e a discussão dos resultados obtidos, de forma a
explicitar a frequência geral da epêntese vocálica tanto em L1 quanto em L2 e mostrar a
dinâmica de cada rodada empreendida. Apresentamos, portanto, as variáveis estatisticamente
selecionadas pelo programa, a fim de verificarmos se os resultados corroboram as hipóteses
estabelecidas a princípio. Promovemos, ainda, a comparação das rodadas realizadas.
Por fim, apresentamos as considerações finais acerca da presente pesquisa, seguindo-
se as referências bibliográficas, os apêndices e os anexos.
20
CAPÍTULO I – Objeto de Estudo: Epêntese Vocálica Medial – revisão da literatura
Neste capítulo, focamos, predominantemente, no fenômeno da epêntese vocálica
medial – objeto de estudo deste trabalho. Desta forma, apresentamos definições acerca do
referido fenômeno, de forma a situá-lo historicamente, pontuando brevemente desde seus
registros mais antigos até estudos atuais. Além disso, pretendemos listar alguns dos trabalhos
empreendidos a respeito da epêntese vocálica em L1 e L2 (BISOL, 1999; COLLISCHONN,
2003; PEREYRON, 2008; SCHNEIDER, 2009), justificando, portanto, o interesse de
investigar o comportamento do fenômeno supracitado na região Nordeste do Brasil.
1.1 Epêntese vocálica
O fenômeno linguístico analisado neste trabalho trata da inserção de uma vogal
epentética em posição medial em encontros consonantais, como em objeto > ob/i/jeto, apto >
ap/i/to, conectar > conec/i/tar.
De acordo com Roach (2002, p. 25), a epêntese é caracterizada como um fenômeno
redundante, haja vista que nesse processo o falante tende a inserir um elemento fonológico
desnecessário e que não acrescenta informação alguma aos outros sons. O referido autor ainda
admite que tal fenômeno, geralmente, ocorre quando há a adaptação de vocábulos de uma
língua para a outra, cujas regras fonotáticas não permitem uma determinada sequência de
sons, ou mesmo quando um falante está lidando com uma outra língua fonotaticamente
diferente da sua língua nativa.
Já Crystal (2008, p. 171) apresenta uma definição mais direta, afirmando que a
epêntese se refere a um tipo de inserção de um som extra na palavra.
Dentre os fatores que levam à ocorrência da epêntese vocálica, temos, no PB, a busca
pelo padrão CV da nossa língua, como uma forma de manter seu molde silábico e desfazer as
codas complexas, a fim de respeitar a boa-formação de sua estrutura.
A epêntese pode se aplicar em diferentes posições na sílaba, dependendo do local que
o falante sinta necessidade de inserir o elemento vocálico, recebendo, assim, diferentes
denominações, as quais Coutinho (1976, p. 146-147) discrimina como sendo:
21
prótese ou próstese, quando a inserção vocálica ocorre no início do vocábulo (state >
/i/state);
anaptixe ou suarabácti, quando o elemento vocálico é adicionado entre os elementos
consonantais, a fim de desfazer o grupo de consoantes (objeto > ob/i/jeto);
paragoge ou epítese, quando a inserção vocálica ocorre no fim do vocábulo (MEC >
MEC/i/).
Tais ocorrências elencadas anteriormente, sejam em posições iniciais, mediais ou
finais, têm sido atestadas em determinadas palavras ao longo do processo de evolução da
língua, mostrando que a epêntese não é um fenômeno recente, mas o qual já fora evidenciado
em épocas antigas nos sons produzidos na fala dos indivíduos e até em suas produções
escritas.
De acordo com Coutinho (op. cit.), esses tipos de construção remontam a estrutura do
latim, perpassando, sobretudo, o português arcaico, até chegar ao português atual, como
percebe-se em gruppa > garupa; bratta > barata; fevrairo > fevereiro, nos quais a epêntese
desfaz o grupo de consoantes através da intercalação de uma vogal.
Camara Jr. (2007, p. 56) corrobora esta perspectiva e afirma que, de acordo com a
literatura, os primeiros indícios de epêntese no português vieram mesmo a partir da escrita,
através da influência do latim clássico sob forma de empréstimo, por volta do século XV.
Bisol (1999, p. 735) também advoga esta perspectiva, afirmando que a epêntese é um
processo vivo que se estende do latim vulgar a nossos dias, tendo alguns exemplos nítidos da
consagração desta vogal na escrita, tais como estrela e eslavo. Neste contexto, percebia-se em
alguns vocábulos uma grafia com encontros consonantais compostos de elementos de traços
complexos, isto é, palavras que possuíam consoantes que geralmente não eram aceitas em
posições de coda. Nesses casos, a única solução fonologicamente sugerida, aceita e mais bem
sucedida é a intercalação da vogal, que, de acordo com a referida autora, não pode, de forma
alguma, ser fonemicamente desprezada, haja vista que em alguns casos é quase que
pronunciado conscientemente, passando a ser suprimida apenas no registro formal da língua
culta.
Neste processo, cria-se outra sílaba que é formada a partir da primeira consoante em
conjunto com a vogal introduzida. Camara Jr. (1973, p. 28) descreve este processo mostrando
que, “o elemento vocálico intermédio, entre as duas consonantes, excepcionalmente reduzido
em sua emissão ou não, assinala com a primeira consoante uma sílaba de per si”.
22
Algumas gramáticas conhecidas, desde a Gramática do Português Contemporâneo –
Celso Cunha (1972) até as mais recentes, como a Moderna Gramática Portuguesa – Evanildo
Bechara (2009), já registravam de forma superficial a ocorrência do referido fenômeno em
encontros consonantais, o que só vem a ratificar que essa tendência de inserir uma vogal em
encontros consonantais já vem sendo observada e descrita há algum tempo.
Cunha (1972, p. 34) já admitia que encontros consonantais mediais, quando
carregados de uma pronúncia tensa, poderiam ser articulados em uma só sílaba, ou em sílabas
diferentes, como em a-pto ou ap-to, di-gno ou dig-no e ri-tmo ou rit-mo. Percebe-se que há,
porém, na linguagem coloquial, uma acentuada tendência de destruir estes encontros de difícil
pronúncia, justamente pela intercalação de uma vogal epentética /i/, como em di-gi-no e ri-ti-
mo, por exemplo.
Celso Cunha (op. cit.) ainda acrescenta que a existência dessa vogal epentética já era
bem frequente no campo da literatura, auxiliando poetas a conservarem a regularidade e a
métrica de seus versos, mantendo, dessa forma, determinadas medidas.
Bechara (2009, p. 72), portanto, atenta ao fato de que muitos desses encontros
consonantais propícios à ocorrência de vogais epentéticas são passíveis de ser encontrados em
vocábulos eruditos, conforme observa-se nos exemplos a seguir, absoluto – ab-so-lu-to,
psicologia – psi-co-lo-gi-a. Além disso, Bechara (op. cit.) também adverte, em sua gramática,
que tais encontros merecem “especial cuidado” porque, exatamente na pronúncia
despreocupada, tendem a construir-se duas sílabas pela intercalação de uma vogal, a qual é a
vogal epentética.
Esta intercalação de uma vogal epentética entre consoantes é proveniente da típica
estrutura do sistema do português brasileiro, o qual possui um inventário de coda limitado,
onde poucos fonemas consonantais são fonologicamente aceitos em posição final das sílabas.
Nesses casos, temos o fenômeno da epêntese como uma espécie de estratégia utilizada pelo
falante para suprir tal carência durante sua produção.
Segundo Collischonn (2003), essa tendência de dirimir encontros consonantais a partir
de uma vogal é resultado do processo de silabação, que ocorrera a partir do componente
lexical da fonologia do português brasileiro (Cf. COLLISCHONN, 2003). De acordo com a
referida autora, o que ocorre é que
Durante a silabação, uma consoante não apta a ocupar uma posição silábica de ataque
ou coda permaneceria não ligada a nenhum nó silábico (chamamos essa consoante de
consoante perdida). A existência de uma dessas consoantes perdidas na representação
fonológica desencadearia a criação de uma sílaba estrutura, desprovida ainda de
núcleo vocálico, mas a qual permite a associação da consoante perdida em posição de
23
ataque. Mais tarde, no pós-léxico, essa sílaba seria preenchida com uma vogal e a
mora correspondente (COLLISCHONN, 2003, p. 286).
Bisol (1999, p. 729), da mesma forma, entende a epêntese como parte do mecanismo
desse processo de silabação, compondo os níveis lexicais e pós-lexicais, e que se faz
responsável, motivada pelo princípio do licenciamento prosódico, pelo preenchimento dos nós
vocálicos por meio do que a mesma determina como “default” ou assimilação, de forma a
configurar a sílaba para não violar os princípios universais ou convenções de determinadas
línguas.
Para a referida autora, esse processo visa a um ajuste ao padrão CV, que consiste em
mapear o elemento extraviado com um V vazio, salvando, desta forma, segmentos flutuantes
que podem ser silabados como ataque de uma rima com V, não associado a material fonético.
Para melhor visualizarmos este processo de silabação iterativa, tomemos a seguinte
demonstração do padrão canônico CCVC como exemplo:
Quadro 1 – Padrão canônico CCVC
σ σ σ
| | |
R R R
| | |
O Nu O Nu O Nu
| | | | | |
C C V C C C V C C C V C
| | | | | |
r a p‟ t o p [ ᴓ ]
CV CV CV
ra pi to
Adaptado do modelo exibido por Bisol (1999, p. 714)
Com base nas iterações propostas acima, temos a consonante [p] como um elemento
extraviado, o qual, devido à ausência da vogal (V vazio), foi incapaz de constituir um nó
silábico. Nesse contexto, o fenômeno da epêntese atua no sentido de recuperar esse segmento
flutuante [p], de forma que tal segmento possa ser silabado como ataque de uma vogal
Resultado
24
epentética, onde antes havia uma posição vazia [ᴓ]. Assim, tem-se que esta estrutura remonta
o padrão canônico CV da sílaba, através da regra geral da epêntese. Nesse âmbito, Bisol
(1999, p. 730) enfatiza que “a regra geral da epêntese coloca um V do padrão canônico,
formando a sílaba CV, cujo núcleo, sem traços, será mais adiante preenchido por regra da
redundância, denominada também como „default‟”.
A seguir, apresentamos o grupo de encontros consonantais (clusters) passíveis de
aceitar ocorrências do fenômeno da epêntese na língua portuguesa.
Quadro 2 – Encontros consonantais favoráveis à epêntese no português
b
+ p, t
d
k
m
n
s
z
x
ʒ
v
l
subproduto, obter
abdicar
subconsciente
submarino
abnegado
absoluto
obséquio
sub-reptício
objeto
óbvio
sublocação
p + t, s captou, psicose
d + m, v
ʒ
admirar, advogado
adjetivo
t + m ritmo
k + t, s
n
compacto, fixe
técnica
g + m, n pigmeu, ignorância
m + n amnésia
f + t afta
Citado por Pereyron (apud COLLISCHONN, 2002, p. 206)
No entanto, essa regra geral pode ser atingida, em alguns casos, pelo que Bisol (op.
cit., p. 714) define como sendo Apagamento do Elemento Extraviado (AEE) que ocorre,
justamente, pelo fato de o elemento situado na posição de coda não estar associado a nenhum
outro elemento e, por este motivo, ser apagado. A referida autora segue explicando que o
processo, neste contexto, é motivado pela não proteção de extraprosodicidade em relação ao
25
elemento flutuante e que figura como exceção à silabação vazia, por não ser contemplado pelo
Afrouxamento da Condição de Coda (ACC) 5.
No exemplo a seguir, pode-se ver como procede tal extravio do elemento flutuante
presente na sílaba.
Quadro 3 – Extravio do elemento flutuante6
σ σ σ σ
| | | |
R R R R
| | | |
O Nu O Nu O Nu O Nu
| | | | | | | |
C C V C C C V C C C V C C C V C
| | | | | | | |
r a p‟ t o r a [ ᴓ ] t o
elemento flutuante
Itô (1986) reconhece este processo como sendo baseado no Princípio do
Licenciamento Prosódico, o qual faz-se responsável por excluir elementos não silabados,
eliminando, por conseguinte, qualquer possibilidade de ocorrência do fenômeno da epêntese.
É oportuno ressaltar que o AEE é um processo que ocorre raramente em língua
portuguesa, já que o mais comum é manter o elemento flutuante por meio do ACC ou da
epêntese. Ainda assim, não se deve desconsiderar a possibilidade de que o mesmo falante
possa usar variantes como rapto ~ rap[i]to ~ ra[ᴓ]to.
A literatura da área, portanto, tem mostrado que a epêntese vocálica é uma estratégia
bastante usada no português brasileiro, a qual acaba, também, sendo adotada por aprendizes
de inglês como L2 que realizam produções do tipo empty > emp/i/ty, object > ob/i/ject, advise
> ad/i/vise, mesmo esse tipo de produção sendo evitado em língua inglesa, caracterizando-se
5 O ACC é um fenômeno que ocorre quando segmentos plosivos ocorrem variavelmente no final da sílaba, isto
é, em posição de coda, conforme verifica-se nas palavras as.pec.to e ap.to. De acordo com Bisol (1999, p. 731)
“essa obstruinte na coda parece reflexo de uma gramática antiga [...]”, já que, atualmente, existe uma forte
tendência no PB de salvar este elemento perdido em coda por meio da inserção de uma vogal.
6 O exemplo tomado para iteração segue o mesmo modelo exposto por Bisol (1999).
extravio do elemento flutuante
26
como o processo de transferência, conforme algumas das teorias postuladas no presente
trabalho (ALVES, 2008; LAMPRECHET [et al.], 2009; LUCENA & ALVES, 2009, 2010).
A epêntese, portanto, funciona justamente como um dos fenômenos fonológicos
variáveis que bem representa este processo de transferência da L1 para L2, a qual evidencia-
se na produção de falantes aprendizes sob forma de interlíngua. Vale salientar que esta
interlíngua emerge, principalmente, nos anos iniciais de aquisição da L2, caracterizando-se
como uma estratégia para adequar a estrutura silábica do português brasileiro à do inglês, haja
vista que o molde silábico de ambas as línguas são diferentes.
De acordo com as pesquisas realizadas por Schneider (2009, p. 38) “a realização da
epêntese na interlíngua parece indicar, portanto, que o processo de aquisição do inglês como
L2 faz uso das mesmas condições de boa-formação para sílaba presentes na L1 (PB)”, uma
vez que a língua inglesa, em si, aceita determinados elementos que não são bem aceitos no PB
em posição de coda.
Todavia, à medida que o aprendiz segue aprimorando seu grau de maturidade
linguística em relação à L2, este falante-aprendiz passa a desenvolver uma certa consciência
de que fenômenos como esses distanciam, em algum ponto, sua produção de um falar nativo.
Assim, essa consciência adquirida pelo aprendiz o fará construir, cognitivamente, meios de
internalizar traços os mais semelhantes possíveis do nativo e processá-los não como o fariam
na L1.
Nesse sentido, ecoando Alves (2009, p. 210) tem-se que, a noção de consciência
fonológica se faz importante porque envolve o reconhecimento não somente do sistema alvo
em si, mas também de processos de transferência da L1 para a L2, que distanciam a produção
daquela tida como semelhante ao falar nativo7. Dessa forma, segundo o autor, a manipulação
de certas habilidades estratégicas, como evidenciar o número de sílabas das palavras da L2,
por exemplo, auxilia a impedir a produção de epênteses vocálicas indevidas.
Em seguida, será apresentado um quadro com os segmentos consonantais possíveis de
aceitar a ocorrência da epêntese em língua inglesa8.
7 Devemos destacar que, neste trabalho, a utilização do termo nativo não implica desconsiderar a variação
linguística inerente a LM.
8 É importante salientar que o referido quadro foi construído por Pereyron (2008) com base em Hammond (1999)
e apresenta, portanto, encontros consonantais da língua inglesa que podem condicionar a epêntese vocálica para
os falantes brasileiros de língua inglesa como LE.
27
Quadro 4 – Encontros consonantais favoráveis à epêntese em língua inglesa
p + t, k, θ, s,
ʃ, ʧ, m
n
neptune, napkin, naphtha, capsule,
option, capture, chipmunk,
grapnel
t + k, s, ʧ,
m, n
catkin, flotsam, chitchat,
atmosphere, chutney
k + t, θ, s,
ʃ, ʧ, m,
n
cactus, ichthyology, accent,
auction, picture, acme,
acne
b + d, f, s, v
z, ʤ, m,
n, t,
k, p, l
abdomem, obfuscate, absent, obvious,
absolve, object, submerse,
obnoxious, obtain,
babka, subpopulation, sublicence
d + b, s, v,
m, n, l
tidbit, adsorb, advantage,
admire, kidney, bedlam
g + p, b, d,
z, ʒ, ʤ, m
n
magpie, rugby, magdalen,
eczema, luxury, suggest, enigma,
magnet
f + t, θ, n nifty, diphthong, hafnium
ʤ + p, l hodgepodge, fledgling
m + n amnesia
n + m enmity
θ + m, n, l arithmetic, ethnic, athlete
ʃ + m, l marshmallow, ashlar
ð + m rhythmic
ʒ + m cashmere
Pereyron (2008, p. 53)
Pelo fato de apresentar um caráter variável9, o fenômeno da epêntese viabiliza, através
de estudos e pesquisas, a avaliação, por parte do sociolinguista, de quais fatores linguísticos e
extralinguísticos influenciam na inserção de vogais epentéticas na produção dos falantes-
aprendizes.
Em se tratando da análise desse fenômeno, pode-se citar, conforme mencionado
anteriormente, vários estudos, tais como o de Collischonn (2003), Cardoso (2005), Alves
(2008), Pereyron (2008), Schneider (2009), Lucena & Alves (2009, 2010), Cagliari (2010),
entre tantos outros, que se propõem a mostrar a ocorrência do fenômeno em alguns estados
9 Vale salientar que, na produção dos indivíduos em L2, a inserção vocálica não exibe um caráter variável da
mesma forma que exibe no PB, haja vista que, neste contexto, esse processo se apresenta como um reflexo da
variação do referido fenômeno na L1 desses indivíduos.
28
brasileiros, bem como de outros autores, que já levantavam questionamentos generalizados a
respeito do mesmo.
Tais estudos divergem na análise do contexto de localização da vogal epentética
(inicial, medial ou final), e do idioma do falante (L1 e/ou L2, enfatizando, em alguns
aspectos, o contexto da transferência).
Contudo, vale ressaltar que a maior parte desses trabalhos se dedicou a estudar o
comportamento da vogal epentética na região Sul do Brasil, à exceção de Lucena & Alves
(2009, 2010) que analisa a epêntese vocálica no estado da Paraíba.
Nessa perspectiva, faz-se necessário conhecer a conjuntura de alguns dos referidos
trabalhos, para se ter uma ideia geral do que a literatura apresenta acerca das pesquisas que se
têm realizado a partir da análise do referido fenômeno e os resultados aos quais têm se
chegado.
1.2 Alguns estudos sobre epêntese vocálica
Discutiremos doravante sobre algumas das pesquisas que nortearam nosso estudo
acerca do fenômeno da epêntese vocálica, o qual tem sido atestado amplamente na literatura
da área, sobretudo em trabalhos desenvolvidos na região sul do Brasil. Dentre tais trabalhos,
destacamos os de Pereyron (2008), Schneider (2009) e Lucena & Alves (2009; 2010)10
, sendo
este último, o único que fornece uma análise do fenômeno com dados do Rio Grande do Sul e
da Paraíba.
Na pesquisa de Pereyron (2008) tem-se uma análise do fenômeno da epêntese
vocálica em posição medial a partir da produção de aprendizes brasileiros de inglês como L2.
Sua análise é amparada basicamente pelos pressupostos teórico-metodológicos da
sociolinguística quantitativa proposta por Labov (LABOV, 1975; LABOV et al., 2006 [1968]
e 2008 [1972]).
A autora buscou uma metodologia que contou com a participação de 16 informantes
porto-alegrenses, os quais foram solicitados a ler uma lista de palavras e frases em inglês. As
produções dos informantes foram gravadas em arquivos de áudio e analisadas acústica (com
auxílio do software Praat – BOERSMA & WEENINK, 2009) e perceptualmente. Os dados
receberam tratamento estatístico pelo pacote computacional VARBRUL 2S.
10
Utilizamos outras bibliografias acerca do fenômeno analisado, no entanto, detalharemos apenas Pereyron
(2008), Schneider (2009) e Lucena & Alves (2009; 2010), que refletem o teor das demais.
29
Em sua pesquisa, Pereyron (op. cit., p. 81, 82) controla as seguintes variáveis:
Variável dependente: presença ou não da vogal epentética.
Variáveis independentes linguísticas:
Qualidade da vogal epentética: [i], [ə], [o] e a não inserção da vogal.
Tipo de consoante perdida ou contexto precedente:
- Oclusiva bilabial [b], como em absent;
- Oclusiva bilabial [p], como em aptitude;
- Oclusiva alveolar [d], como em admire;
- Oclusiva alveolar [t], como em atmospheric;
- Oclusiva velar [g], como em magnet;
- Oclusiva velar [k], como em acne;
- Fricativa labiodental [f], como em fifty;
- Fricativa alveopalatal [ʃ], como em pashmina;
- Nasal bilabial [m], como em gymnastics;
- Nasal alveolar [n], como em enmity.
Além desses fatores, a referida autora considerou outros fatores decorrentes da
produção dos falantes:
- Fricativa alveolar [z], como em fuzby (ocorrência única por motivo de alteração da
palavra de origem, fubsy);
- Africada alveopalatal [dʒ], quando a consoante alveolar [d] e palatalizada pelo
falante, como em [adʒ‘mair]11
(admire);
- Africada alveopalatal [tʃ], quando a consoante alveolar [t] e palatalizada pelo falante,
como em [atʃmos‘ferik] (atmospheric);
- Apagamento da consoante perdida, como em [‘asident] (accident) ou [‘emiti]
(enmity).
11
É necessário deixar claro que, nesta seção, todas as transcrições fonéticas utilizadas para exemplificar os
fatores em questão, estão de acordo com os trabalhos originais.
30
Vozeamento da consoante perdida: vozeada, como em [‘babka]; ou desvozeada, como
em [‘akni].
Contexto seguinte à consoante perdida ou à vogal epentética:
- Oclusiva bilabial [b], como em goodbye;
- Oclusiva bilabial [p], como em webpage;
- Oclusiva alveolar [d], como em abdominal;
- Oclusiva alveolar [t], como em aptitude;
- Oclusiva velar [k], como em babka;
- Africada alveopalatal [dʒ], como em object;
- Africada alveopalatal [tʃ], como em picture;
- Fricativa labiodental [v], como em advantage;
- Fricativa alveolar [z], como em fubsy;
- Fricativa alveolar [s], como em adsorb;
- Fricativa alveopalatal [ʃ], como em functionality;
- Nasal bilabial [m], como em chipmunk;
- Nasal alveolar [n], como em obnoxious;
- Lateral alveolar [l], como em sublicense.
Além dos fatores mostrados, foram realizadas outras produções que constituem os
seguintes fatores:
- Fricativa alveopalatal [ʒ], como em object, ao invés de [dʒ];
- Apagamento do contexto seguinte, como em [viatə‘mi:z] ao invés de [viatnə‘mi:z]
(Vietnamese).
Vozeamento do contexto seguinte: vozeado, como em [‘tʃipmΛnk], ou desvozeado,
como em [ik‘sentrik].
Acento: pretônico, como em [ᴂbsə‘lu:tli] e postônico, como em [‘pa:tnər].
Tipo de cluster: encontros consonantais comumente encontrados no português e no
inglês, como em [mn] gymnastic e amnésia, ou encontros consonantais encontrados apenas
no inglês, como no caso de [kʃ] functionality.
31
Alteração na produção do falante:
- Cluster modificado – quando há mudança na consoante perdida ou no contexto
seguinte, como em obversion ao invés de [ɒbsʒr’veiʃən].
- Acento modificado – quando o falante produz uma palavra pretônica como postônica
ou vice-versa, como em [pa:rt’nər] ao invés de [‘pa:rtnər].
- Duas modificações – quando ocorrem simultaneamente o cluster modificado e o
acento modificado, como em [kap‘tur] (capture), onde o acento é transferido para a última
sílaba e o cluster alvo [tʃ] e produzido como [t].
Variáveis independentes sociais:
Nível de proficiência:
- básico – alunos com até quatro anos de estudo de inglês em escolas de idiomas,
- avançado – alunos que possuem mais de quatro anos de estudo.
Idade: informantes de 15 a 34 anos e de 35 a 57 anos.
Sexo: masculino e feminino.
Tipo de instrumento: lista de palavras e lista de frases.
Informantes: 16 informantes nascidos em Porto Alegre.
De acordo com Pereyron (2008), na análise perceptual, as variáveis linguísticas
selecionadas como relevantes para este estudo foram: consoante perdida, vozeamento da
consoante perdida, contexto seguinte, vozeamento do contexto seguinte e tipo de cluster. As
variáveis extralinguísticas selecionadas foram: idade e nível de proficiência.
Para a variável consoante perdida, os resultados mostraram que a dorsal [g] (como em
magnet) foi a que mais se sobressaiu, confirmando que as consoantes pertencentes à classe
das velares mostram-se estatisticamente relevantes para a aplicação da epêntese.
Já em relação a variável contexto seguinte, a referida autora encontrou o fator [n],
seguido do fator [s] como os que mais condicionam a aplicação do fenômeno. As variáveis
vozeamento da consoante perdida e vozeamento do contexto seguinte apresentaram, no estudo
de Pereyron (op. cit.), o fator vozeado como o mais influente em termos de inserção vocálica.
32
Com relação à variável tipo de cluster, os resultados mostraram, segundo a autora, que
os aprendizes têm um maior cuidado ao produzir encontros consonantais ausentes no
português. Para a variável idade, o estudo de Pereyron (2008) mostrou que falantes
pertencentes à faixa etária de 35 a 57 anos aplicam a regra em maior proporção.
E, por fim, no que concerne a variável nível de proficiência, os dados revelaram que
os informantes inseridos no grupo que estudou inglês por menos de 4 anos foram os que mais
aplicaram a regra. Todavia, ambos os grupos de informantes – básico e avançado
apresentaram valores próximos ao ponto neutro – 0,50.
O trabalho de Schneider (2009) também analisou o fenômeno da epêntese vocálica
medial na produção de falantes de inglês como L2, o qual buscou investigar, especificamente,
a relação entre vocábulos que continham prefixos como sub-, por exemplo, e a produção de
epêntese. Portanto, além de constituir uma pesquisa sociolinguisticamente orientada, na qual
procedeu-se a uma análise quantitativa, o autor destacou aspectos morfofonológicos em seu
trabalho.
A metodologia utilizada por Schneider (op. cit.) partiu da aplicação de quatro
instrumentos de coleta de dados – testes de verificação de transparência de prefixos e listas de
frases, tanto em português quanto em inglês, a 16 informantes de Porto-Alegre – RS,
aprendizes de inglês como L2. A produção desses informantes foi gravada com equipamento
de áudio e interpretadas com o auxílio do programa Praat (BOERSMA & WEENINK, 2009)
e GoldVarb X (SANKOFF, TAGLIAMONTE & SMITH, 2005).
As variáveis controladas por Schneider (op. cit.) foram:
Variável dependente: inserção ou não inserção de vogal epentética entre encontros
consonantais situados em posição medial.
Variáveis independentes linguísticas:
Contexto morfológico:
- vogal inserida no interior da base, como em am[ə]nésias,
- vogal inserida entre o prefixo e sua base, como em arch[I]bishops.
Tipo de consoante perdida:
- oclusiva bilabial desvozeada [p], como em optou, napkin;
- oclusiva bilabial vozeada [b], como em subchefe, objects;
33
- oclusiva alveolar desvozeada [t], como em ritmo, portfólio;
- oclusiva alveolar vozeada [d], como em vodca, adze;
- oclusiva velar desvozeada [k], como em auction;
- oclusiva velar vozeada [g], como em pigmeus, rugby;
- nasal bilabial [m], como em amnésias, amnesia;
- nasal alveolar [n], como em enmity;
- fricativa labiodental desvozeada [f], como em aftas, hafnium;
- fricativa alveopalatal desvozeada [ʃ], como em marshmallows;
- fricativa alveopalatal vozeada [ʒ], como em cashmere;
- africada alveopalatal desvozeada [tʃ], como em archfiend;
- africada alveopalatal vozeada [dʒ], como em fledglings;
- fricativa interdental desvozeada [θ], como em ethnic;
- fricativa interdental vozeada [ð], como em rhythmic.
Vozeamento da consoante perdida: vozeada, como em pigmeus; desvozeada, como
em napkin.
Tipo de contexto seguinte:
- oclusiva bilabial [p]; como em sobpõem, archpriests;
- oclusiva bilabial [b]; como em magbás, rugby;
- oclusiva alveolar [t]; como em aftas, posttest;
- oclusiva alveolar [d]; como em lambda, postdate;
- oclusiva velar [k]; como em vodca, napkin;
- oclusiva velar [g]; como em sobgraves, dodgasted;
- nasal [m]; como em pigmeus, enmity;
- nasal [n]; como em hidnáceas, amnésia;
- fricativa labiodental [f]; como em estagflação, archfiend;
- fricativa labiodental [v]; como em obversão, postvocalic;
- fricativa alveolar [s]; como em absorveu, archsee;
- fricativa alveolar [z]; como em eczemas; sabzi;
- fricativa alveopalatal [ʃ]; como em subchefe; outshone;
- fricativa alveopalatal [ʒ]; como em Djalma; luxurious [gʒ];
- africada alveopalatal [tʃ]; como em éctipo, subchief;
- africada alveopalatal [dʒ]; como em écdico, outjockey;
34
- fricativa interdental desvozeada [θ]; como em diphthongs;
- lateral alveolar vozeada [l]; como em adligação, ashlar;
- retroflexa alveolar vozeada [ɽ]; como em postrecord;
- vibrante alveolar vozeada [ř]; como em sub-raças;
- tepe alveolar vozeado [ſ]; como em outrun;
- fricativa velar desvozeada [x]; como em ad-rogar;
- fricativa glotal desvozeada [h]; como em ad-rogar.
Vozeamento do contexto seguinte: desvozeado, desvozeado.
Acento: pretônica e postônica.
Tipo de cluster:
- Clusters relacionados à epêntese vocálica em PB inexistentes em inglês;
- Clusters relacionados à epêntese vocálica em inglês inexistentes em PB;
- Clusters relacionados à epêntese vocálica existentes em PB e em inglês.
Variáveis independentes sociais:
Sexo: feminino e masculino.
Idade: informantes de 16 a 30 anos e de 38 a 61.
Informante: análise individual da produção de cada um dos dezesseis participantes da
pesquisa.
Proficiência em inglês: informantes com até dois anos de aprendizagem da língua
inglesa e participantes com quatro anos ou mais de instrução na língua estrangeira.
De acordo com os dados de Schneider (2009), os fatores linguísticos que
influenciaram a aplicação do fenômeno da epêntese em língua portuguesa foram: vozeamento
da consoante perdida, tipo de consoante perdida, vozeamento do contexto seguinte, tipo de
contexto seguinte, contexto morfológico, tipo de cluster e acento. Em relação às variáveis
sociais, a variável informante foi a única selecionada como relevante nas rodadas estatísticas.
35
Para a variável vozeamento da consoante perdida, os resultados mostram que o fator
“vozeado” foi o que mais se sobressaiu em termos de aplicação do fenômeno. Em relação à
variável tipo de consoante perdida, os dados revelaram a velar [g] como o fator mais
propenso à inserção vocálica. No grupo vozeamento do contexto seguinte, o contexto
“vozeado” foi o mais relevante para a ocorrência da epêntese.
Já o grupo tipo de contexto seguinte, apresentou os fatores [x, h, ř] e [m, n] como os
que exibiram a maior frequência de ocorrência do fenômeno. Com relação à variável contexto
morfológico, os índices percentuais revelaram que o ambiente mais favorável para a inserção
da vogal epentética encontra-se no contexto “prefixo + base”. Para a variável tipo de cluster,
os dados evidenciaram que a epêntese é mais recorrente em clusters que só ocorrem em PB.
Os resultados para a variável acento mostraram que o contexto pretônico se sobressaiu em
termos de maior ocorrência de inserção vocálica. No que diz respeito à variável informante,
os dados de Schneider (op. cit.) deixam claro que a aplicação da epêntese varia muito entre os
indivíduos participantes da pesquisa.
Os fatores linguísticos que influenciaram na aplicação do fenômeno da epêntese em
língua inglesa, segundo Schneider (op. cit.), foram: vozeamento da consoante perdida, tipo de
consoante perdida, acento e informante.
Para o grupo vozeamento da consoante perdida, os resultados mostraram que o fator
“vozeado” exibe frequências elevadas favoráveis à epêntese vocálica. Em relação à variável
tipo de consoante perdida, o fator [g] foi o que apresentou, de acordo com os dados de
Schneider (2009), índice de frequência mais alto para inserção vocálica medial. Considerando
a variável acento, o contexto “pretônico” se destacou, apresentando valores percentuais mais
favoráveis à epêntese. Por fim, para a variável informante, o referido autor percebeu que a
aplicação do fenômeno da epêntese se apresenta de forma instável, variando de acordo com
cada informante.
A pesquisa de Lucena & Alves (2009; 2010) traz uma perspectiva de estudo diferente
das anteriores, já que analisa as implicações do Afrouxamento da Condição de Coda (ACC)
em um dado dialeto da L1 (variação intra-dialetal), bem como os efeitos de diferentes dialetos
da L1 (paraibano vs. gaúcho) em direção ao sistema da L2 (variação inter-dialetal). Desta
forma, os referidos autores centraram suas análises no fenômeno da epêntese vocálica como
estratégia utilizada pelos falantes para reparar a produção de codas com obstruintes.
A metodologia utilizada por Lucena & Alves (op. cit.) é de caráter variacionista e
contou com os dados de 22 aprendizes elementares de língua inglesa, dos quais 12 eram
gaúchos, naturais da região de Pelotas (RS), e 10 eram paraibanos, da região do Brejo da
36
Paraíba. Os informantes foram submetidos a leituras de palavras e frases, tanto em português
quanto em inglês. Esses dados foram coletados com o auxílio do software Audacity – Version
1.2.6 (MAZZONI, 2011), analisados acusticamente, através do software Praat (BOERSMA
& WEENINK, 2009) e receberam tratamento variacionista pelo software GoldVarb X
(SANKOFF, TAGLIAMONTE & SMITH, 2005).
As variáveis controladas neste trabalho foram:
Variável dependente: realização da vogal ou não realização da vogal.
Variáveis independentes:
Sexo: masculino e feminino;
Dialeto: gaúcho e paraibano;
Tipo de segmento perdido em coda:
- /p/, como em chap[i]ter;
- /k/, como em doc[i]tor;
- /f/, como em af[i]ter.
Tonicidade:
- tonicidade antes do segmento em análise, como em “aspecto” [as.‘pε.ki.tu];
- tonicidade depois do segmento em análise, como em “detector” [de.te.ki.’tor].
Lucena & Alves (op. cit.) decidiram trabalhar com três rodadas, a fim de analisar o
funcionamento da epêntese em L1 e L2, nos dois dialetos analisados. Na primeira rodada, na
qual foram considerados apenas os dados de L1 dos dialetos gaúcho e paraibano, a frequência
geral do fenômeno foi de 60,9 % de não aplicação da epêntese vocálica. Nesta rodada, a
variável dialeto foi a única selecionada como relevante para a inserção da vogal epentética.
De acordo com os resultados encontrados pelos autores para esta variável, o dialeto
paraibano é o que exibe os valores mais altos de ocorrência da epêntese, mostrando, portanto,
que o dialeto gaúcho fica mais à vontade com sílabas travadas em coda.
Na segunda rodada, foram considerados apenas os dados de L2 de ambos os dialetos e
os valores percentuais encontrados para a epêntese foram de 21,2 % de aplicação contra
37
78,8% de não aplicação do fenômeno. Nesta rodada, a única variável estatisticamente
selecionada como relevante foi o tipo de segmento perdido em coda. Para esta variável, os
dados mostraram que a dorsal /k/ é a que mais influencia na aplicação da epêntese,
mostrando-se, portanto, como a mais difícil de ser adquirida.
Na terceira e última rodada foram incluídos os dados de L1 e L2 dos dialetos em
questão, na qual encontrou-se uma frequência global de 46 % para epêntese e 54 % para não
aplicação do fenômeno. Nesta rodada, as variáveis selecionadas como as mais relevantes
foram o dialeto e a tonicidade. Novamente, para a variável dialeto, os dados mostraram que o
dialeto paraibano é o que mais influencia na ocorrência de epêntese vocálica. Em relação à
variável tonicidade, os resultados revelaram que o ambiente favorecedor da epêntese é quando
o segmento se encontra após a sílaba tônica.
Conforme vimos, os estudos apresentados focam na análise do fenômeno da epêntese
vocálica medial sob diferentes perspectivas, porém todos guiados por uma abordagem
quantitativa, proposta pela Sociolinguística Variacionista.
Faz-se necessário ressaltar, todavia, que não pretendemos neste trabalho
comprovar/ratificar os resultados obtidos em tais trabalhos. No entanto, buscamos ampliar a
nossa discussão e utilizamos os referidos resultados no propósito de compará-los aos nossos.
38
CAPÍTULO II – PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
O presente capítulo apresenta as principais abordagens teóricas utilizadas para
subsidiar a análise do processo de variação da epêntese vocálica medial em língua portuguesa
(L1) e língua inglesa (L2). Para tanto, ecoamos, inicialmente, os princípios gerais da
Sociolinguística Variacionista proposta por Labov (LABOV, 1975; LABOV et al., 2006
[1968] e 2008 [1972]). Em seguida, empreendemos uma breve discussão acerca da aquisição
de L2, apresentando importantes aspectos da consciência fonológica para o processo de
aquisição.
2.1 Sociolinguística variacionista
Neste panorama inicial, pretendemos discutir os preceitos da Sociolinguística
Variacionista como um dos principais aparatos teórico-metodológico norteadores desta
pesquisa.
Em se tratando de estudos voltados para a questão da linguagem, é imprescindível
atentar para o fato de que, até o século XX, a dimensão social das formas linguísticas não era
tida como um fator relevante nos estudos linguísticos. Isso se deve ao fato de correntes
anteriores, como o estruturalismo (SAUSSURE, 2006 [1916]) e o gerativismo (CHOMSKY,
1957), por exemplo, abstraírem a variação linguística de seu foco de estudo.
Pode-se dizer que foi a partir da década de 1960 que a ideia de heterogeneidade passou
a ser considerada e trabalhada em estudos de caráter linguístico, os quais buscavam incorporar
o aspecto social, que até então era desconsiderado. Essa nova abordagem teórica ficou
conhecida como Sociolinguística Variacionista.
Foi especificamente a partir de 1964 que a Sociolinguística teve um desenvolvimento
significativo, pois caracterizou-se como uma revolução dentro do panorama geral da
Linguística, criando um paradigma completamente novo para os estudos que se seguiram. A
partir do desenvolvimento da Sociolinguística pode-se trabalhar, de fato, com a relação
língua/sociedade, uma vez que os trabalhos anteriores – estruturalismo e gerativismo,
consideravam a língua como um sistema de signos bem definido, sistematizado e que não
levava em conta nenhum aspecto variável da língua, desconsiderando totalmente a influência
do social sobre a mesma.
39
Yule (2006, p. 205) afirma que “o termo sociolinguística é geralmente usado para o
estudo entre língua e sociedade”. O referido autor ainda acrescenta que tais estudos são
realizados “quando tentamos analisar a língua a partir de uma perspectiva social”.
A Sociolinguística, em sua abordagem variacionista, passa também a ser conhecida
como Teoria da Variação Linguística, Sociolinguística Variacionista, Sociolinguística
Quantitativa, ou ainda como Sociolinguística Laboviana, tendo como principal estudioso, o
americano William Labov (LABOV, 1975; LABOV et al., 2006 [1968] e 2008 [1972]), o
qual desenvolveu essa teoria como uma espécie de reação à ausência do componente social no
modelo gerativo. De fato, uma reação ao falante ouvinte ideal proposto pela escola gerativista
e que foi de grande impacto para a Linguística contemporânea. Labov (op. cit.) insistia na
relação entre língua e sociedade e revelava, através de seus estudos, outras dimensões da
realidade heterogênea da língua, que até então não tinham sido levadas em consideração nos
estudos linguísticos (TARALLO, 1990, p. 7).
Essa condição heterogênea do sistema linguístico é mediada por fatores atuantes na
variação linguística, podendo ser classificados como variantes internas ou linguísticas em que
estão envolvidos os elementos fono-morfo-sintáticos, os semânticos e os discursivos e em
variáveis externas ou extralinguísticas, que se referem aos fatores inerentes ao indivíduo
(sexo, idade, etnia), ao espaço sócio-geográfico (região, profissão, classe social) e ao contexto
(grau de formalidade e tensão discursiva).
Essas diferentes realizações variáveis são perceptíveis no ato da interação verbal, de
tal forma que, quando um falante utiliza determinada variante, identificamos de imediato sua
região de origem, classe social, idade, escolaridade, sexo, se é nativo ou não de um
determinado país, o grau de fluência em uma determinada língua e diferenciamos se a
interação se trata de uma situação formal ou informal, quase que de forma inconsciente.
Tarallo (1990, p. 14) reforça essa tese afirmando que “a língua pode ser um fator
extremamente importante na identificação de grupos, em sua configuração, como também
uma possível maneira de demarcar diferenças sociais no seio de uma comunidade”.
Labov, Weinreich e Herzog (2006 [1968]), assumem como coordenada básica dessa
reflexão sociolinguística a heterogeneidade normal da língua e, ao mesmo tempo,
argumentam contra a ideia, tradicional entre os linguistas, de que sistematicidade e
variabilidade se excluem. De acordo com esses linguistas, havia uma correlação sistemática
entre as variantes linguísticas realizadas por determinado falante e as características sociais
deste falante, tais como, nível social, grau de escolaridade, idade, sexo, entre outros.
40
Este modelo teórico-metodológico variacionista tem como objetivo principal
comprovar a sistematização da heterogeneidade e considera a variação como um fenômeno
regular e ordenado, além de explicá-lo, descrevê-lo e relacioná-lo ao contexto social/
linguístico. Por esse motivo, o referido modelo relaciona todo e qualquer fenômeno de
variação ou mudança linguística a fatores linguísticos e a fatores sociais.
Conforme Guy (2007, p. 6) afirma, “a observação fundamental da pesquisa em
variação linguística é a que manifesta, nas palavras de Labov, Weinreich e Herzog (op. cit.), a
ordenação da heterogeneidade”, a qual busca demonstrar que as variações ocorridas são
guiadas por padrões que seguem uma certa sistematicidade, não se dando ao mero acaso.
Por ser a Sociolinguística uma área de estudo que relaciona constantemente a variação
linguística com o social, deve-se realizar a pesquisa sociolinguística através do levantamento
e análise dos registros de língua falada, a qual possibilita a descrição de determinado
fenômeno variável que esteja sendo estudado.
Vale salientar que esse momento se mostra o mais delicado da pesquisa, pois como
nos reforça Tagliamonte (2006, p. 17), “o desafio fundamental para a pesquisa
sociolinguística é como obter dados linguísticos apropriados para analisar”. Esse
levantamento, realizado pelo pesquisador, permite que o mesmo analise os fatores linguísticos
e sociais que influenciam a realização do fenômeno em questão e apresente uma explicação
sociolinguisticamente orientada para o mesmo.
A sociolinguística variacionista também se utiliza de um modelo matemático capaz de
associar pesos relativos ou probabilidades aos diversos fatores de cada variável independente.
Por operar com números e tratamentos estatísticos dos dados, denomina-se tal modelo teórico-
metodológico de Sociolinguística Quantitativa, o qual será usado, predominantemente, nesta
pesquisa.
Labov (2008 [1972]) foi o responsável por atribuir às regras opcionais, já existentes no
modelo gerativo, o status de regra variável, incorporando a variação sistemática à descrição
linguística. Para ele, essa regra variável deve ter frequência de uso expressiva e estar sujeita à
interferência tanto de fatores linguísticos quanto de fatores extralinguísticos. É através desse
modelo teórico criado por Labov, que o pesquisador poderá coletar dados empíricos e
proceder à análise dos fatores condicionantes no processo de variação de determinado
fenômeno linguístico.
41
Desde a década de 1960, quando ocorreu o primeiro estudo de Labov12
, o modelo da
Sociolinguística vem sendo utilizado pela maior parte dos linguistas que trabalham na área da
variação, e tem comprovado até hoje sua eficiência, enquanto método, no que diz respeito à
questão de levantamento de dados que busquem detectar e explicar a variação e/ou a mudança
em curso, ganhando, assim, muitos adeptos na linguística pós 1960.
No Brasil, observa-se que a Sociolinguística Variacionista tem se expandido
significativamente, empenhando-se no estudo dos fenômenos linguísticos do português
brasileiro e, recentemente, na variação que ocorre na interlíngua do indivíduo durante o
processo de aquisição.
Uma vertente, entre tantas outras, muito propícia a dialogar com a Sociolinguística,
nesse contexto de variação, é a área de Aquisição da Linguagem, a qual tem buscado
compreender os processos aquisicionistas dos indivíduos, sobretudo aqueles relacionados à
L2. A esse respeito, Tarone (2007, p. 838) esclarece que a abordagem sociolinguística nos
permite estudar o impacto de fatores sociais em processos de aquisição de um novo sistema
linguístico. Dessa forma, a abordagem sociolinguística aplicada à aquisição de L2 (SLA)
busca explicar a relação entre as variáveis sociais e as características de produção da língua ou
interlíngua do aprendiz.
Neste sentido, a Sociolinguística tem contribuído cada vez mais na orientação de
estudos sobre questões de uso, aquisição/aprendizado de língua estrangeira em determinados
contextos específicos, enfatizando, sobretudo, processos de aquisição fonológica, apesar de
haver, relativamente, poucos trabalhos nessa área (COLLISCHONN, 2003; PEREYRON,
2008; SCHNEIDER, 2009; LUCENA & ALVES, 2009; 2010).
Bayley & Lucas (2007, p. 1) afirma que abordagens variacionistas têm estabelecido
parcerias teóricas bem sucedidas com estudos de aquisição de L2, onde fatores sociais e
linguísticos são detalhadamente analisados, o que mostra que o entrosamento de ambas as
áreas tem se mostrado bem produtivo para os estudos que as têm como teorias norteadoras.
Esse entrosamento teórico entre Sociolinguística/Variação e Aquisição de L2
demonstra ter em comum o fator social interligando-as, de forma a buscar compreender, com
maior rigor, que teor social há em processos de aquisição da linguagem.
12
O primeiro estudo de Labov (2008 [1972]) foi realizado no Estado de Massachusetts (EUA), na comunidade
da Ilha de Martha‟s Vineyard que, por muito tempo, viveu isolada da costa de Nova Inglaterra, sendo,
posteriormente, invadida por veranistas vindos do continente. Tal fato ocasionou mudanças linguísticas no inglês
falado por esta comunidade, mudanças estas que foram investigadas por Labov (op. cit.) através da Teoria da
Variação, no intuito de comprovar o papel dos fatores sociais na explicação da variação linguística. Para maiores
detalhes da realização desta pesquisa, consultar Labov (op. cit., p. 19-62).
42
Ré (2006, p. 88) corrobora essa perspectiva, ao afirmar que a língua do aprendiz não
é em si observável. Ela é observada através de sua palavra viva, suas produções, cujas
características são essencialmente a variabilidade e a instabilidade, estando esta última
característica ligada em parte ao movimento de adaptação-aquisição, ratificando, portanto, o
fato de que o fator social exerce uma importante função em estudos de caráter fonológico-
aquisicionista.
Assim, tais subsídios teóricos em parceria podem, provavelmente, encontrar
explicações sobre algumas construções realizadas pelos aprendizes ao produzirem
determinados segmentos de outra língua, motivadas, sobretudo, por fatores sociais.
Ré (op. cit., p. 119) advoga que não há como desconsiderar a abordagem
sociolinguística aplicada à análise do processo de aquisição de língua estrangeira, uma vez
que esta abordagem reflete mais uma perspectiva no desenvolvimento de estudos que buscam
entender os processos que envolvem a aquisição de uma L2.
Vejamos no tópico a seguir os empreendimentos da área da Aquisição da Linguagem
e seu desenvolvimento a partir da percepção do social em situações de aquisição, sobretudo de
L2.
2.2 Aquisição de L2
Pode-se afirmar que os estudos envolvendo aquisição de linguagem, sobretudo
aquisição de uma L2, é algo relativamente novo no âmbito dos estudos linguísticos.
De acordo com Ellis (1997, p. 3), o “estudo sistemático de como as pessoas adquirem
uma segunda língua (geralmente referido como L2) é um fenômeno recente, pertencendo à
segunda metade do século XX”, e que pode ser definido como a forma como as pessoas
aprendem uma língua, que não sua língua materna, dentro ou fora da sala de aula.
Vale salientar que o interesse acerca da aquisição de L2 se deu, inicialmente, através
da contribuição de psicolinguistas, sendo mais tarde expandido para áreas como a
Sociolinguística, entre tantas outras. Porém, inicialmente, os estudos13
desenvolvidos neste
sentido eram voltados para a área das Linguísticas Aplicadas dos anos 1950 e das Psicologias,
influenciados, a priori, pelas teorias Behavioristas e Vygotskianas, respectivamente (RÉ,
2006, p. 101).
13
Destacamos, neste sentido, os estudos de Skinner (1957) e Vygotsky (1988).
43
Nesse sentido, a Sociolinguística passou a se mostrar uma forte aliada a esses estudos,
motivada, a princípio, pela convergência de psicólogos e linguistas, com o intuito de
empreender um modelo psicológico de aprendizagem de L2.
Todavia, não se pode deixar de atentar para o fato de que a aquisição de uma L2
sempre foi considerada um processo complexo, o qual envolve vários fatores. De acordo com
Cook (1993, p.2), durante este processo, a pessoa está lidando com duas línguas, onde o
conhecimento de duas gramáticas, i. e., de dois sistemas linguísticos, está presente na mesma
mente tornando-se mais difícil de ser manipulado pelo aprendiz e facilitando, portanto, a
influência de um sistema no outro.
Essa influência é caracterizada, na área da Aquisição da Linguagem, como
interferência, processo este concebido também por alguns estudiosos como a transferência14
de traços de um sistema linguístico para o outro. No caso da aquisição de L2, ocorre a
transferência de traços fonológicos da L1 para a L2 que o indivíduo está adquirindo.
Selinker (1992, p. 207) aponta que essa transferência de elementos da língua materna
na aquisição de uma L2 é um dos fenômenos mais estudados no campo de aquisição. De
acordo com o referido autor, o papel da L1 do falante, neste contexto, é de extrema
importância para a estrutura da interlíngua que o falante constrói. Na verdade, ele funciona
como um processo cognitivo de seleção onde algumas estruturas são mais passíveis de ser
transferidas que outras.
Para Ré (2006, p. 87) longe de poderem ser evitadas, essas transferências constituem
um fenômeno normal e natural na aprendizagem das línguas, logo, qualquer falante que esteja
em contato com outro sistema linguístico que não o materno, está sujeito a sofrer, em algum
momento da fase de aquisição, influência de elementos constituintes da língua materna.
Essas alterações ocorrem devido à necessidade do falante de adequar para sua língua
materna os elementos que nela não ocorrem. Nas palavras de Selinker (1992), o que ocorre é
que, nesse processo, o aprendiz reverte o código da língua alvo para um código mais simples
e básico, de forma a reelaborá-lo de acordo com a língua materna.
É importante ressaltar que essa influência é quase que inevitável, pois a L1
caracteriza-se como um sistema constitutivo de um indivíduo falante, o qual se configura
14
Para Ré (2006, p. 86), a relação entre ambas as modalidades decorre do fato de a transferência ser uma espécie
de fundamento do fenômeno chamado de interferência, ou seja, o primeiro processo gera o segundo e, por isso,
são considerados sinônimos. Por outro lado, Littlewood (1984, p. 17) distingue bem essa relação mostrando que
a transferência ocorre quando, de fato, há a transferência direta dos elementos linguísticos, sendo esta positiva.
Já a interferência, por sua vez, ocorre quando não há a transferência direta dos elementos linguísticos, devido à
significante diferença entre as duas línguas em questão, sendo considerada, portanto, negativa. Neste trabalho,
ambos os termos serão interpretados como sinônimos.
44
como base da estruturação psíquica deste indivíduo. Este sistema, por sua vez, é evocado pelo
aprendiz durante o processo de aprendizagem de uma L2, já que, ao longo do
desenvolvimento de uma segunda língua, são essas bases que solicitamos, e nelas que se
encontram os indícios de nossa língua materna.
Tais bases cognitivas são solicitadas consciente ou inconscientemente, quando o
aprendiz percebe que alguma coisa na língua materna é semelhante ou idêntica à língua alvo,
ocorrendo, então, a transferência de um sistema fonológico para o outro. Em palavras mais
simples, consiste na ampla projeção do sistema da L1 na L2 (COOK, 1993, p. 11).
De forma geral, a transferência da L1 na aquisição fonológica da L2 é um fenômeno
que ocorre sistematicamente e, no qual a L1 do indivíduo emerge inevitavelmente, seja de
forma clara ou atenuada, na interação do falante, o que evidencia que é quase impossível
ignorar a presença de vestígios da L1 na produção em L2 desse aprendiz.
Assim, pode-se afirmar que esta é uma tendência inerente ao falante e exibe graus de
dificuldade para o mesmo – mais fácil ou mais difícil, dependendo da semelhança ou não que
a estrutura de ambos os sistemas linguísticos possam apresentar.
Ecoando Selinker (op. cit., p. 18-19) a este respeito, pode-se afirmar que:
O aprendiz [...] tende a transferir hábitos da estrutura de sua língua nativa para a
língua alvo, a qual é a fonte principal de facilidade ou dificuldade no aprendizado de
uma língua estrangeira. [...] As estruturas que são „similares‟ serão fáceis de aprender
porque são transferidas e podem funcionar satisfatoriamente na língua estrangeira. [...]
As estruturas que são „diferentes‟ serão difíceis porque quando transferidas não
funcionarão satisfatoriamente na língua estrangeira e, portanto, terão que ser
mudadas. (grifos do autor)
Corroborando essa perspectiva apresentada por Selinker (op. cit.), Yule (2006, p. 167)
argumenta, também, que o fenômeno da transferência se dá através do uso de sons, expressões
ou estruturas da L1, as quais podem ser positiva, quando a L1 e a L2 têm características
semelhantes, ou negativa, quando ambas têm características diferentes, dificultando, portanto,
o entendimento do que está sendo dito.
É justamente esta transferência o fator responsável pela produção da interlíngua, sendo
responsável, portanto, por alguns “erros”15
que os aprendizes cometem ao tentar se comunicar
na L2. Além disso, a transferência representa, também, uma espécie de estratégia
15
Estamos utilizando a terminologia “erro”, porque nos trabalhos pesquisados este foi o termo mais aplicado.
Não queremos dar nenhuma conotação negativa ao mesmo, já que neste trabalho “erro” será tratado como
sinônimo de desvio.
45
desenvolvida pelo próprio aprendiz para sanar dificuldades ligadas a deficiências linguísticas
encontradas na L2, relacionadas, sobretudo, a estruturas não reconhecidas na L1.
Ré (2006, p. 87) enfatiza, a esse respeito, que a importância da L1 e sua influência sob
forma de transferência foi considerada, por muito tempo, como a última explicação das
dificuldades encontradas pelo aprendiz. Nessa perspectiva, a língua de origem do falante era
apenas um dos fatores explicativos de certos tipos de erros produzidos pelo aprendiz.
A referida autora argumenta, ainda, a respeito da característica sistemática desses
erros, os quais têm uma espécie de estrutura própria, não tendo, portanto, relação nem com a
L1 nem com a L2 do indivíduo.
Assim, da mesma forma que a transferência constitui um fenômeno normal e natural
no âmbito da aprendizagem de línguas, o mesmo ocorre com o fenômeno do “erro”, que por
vezes acaba sofrendo estigma, sendo, portanto, considerado como negativo. No entanto, tem-
se chegado a um consenso, no qual o “erro” é significantemente positivo, não devendo o
falante-aprendiz sofrer penalizações ou punições. A falha ou erro caracteriza-se como uma
espécie de vestígio de um processo cognitivo que nos orienta em direção às hipóteses do
aprendizado, e, portanto, para seu trabalho ativo de apropriação.
É importante ressaltar que, nem sempre, é estabelecida a diferença entre erro e falha.
No entanto, para aqueles como Rod Ellis (1997, p. 17), erro reflete lacunas no conhecimento
de um aprendiz, ocorrendo porque o aprendiz não sabe o que é correto. Por outro lado, a falha
reflete lapsos ocasionais no desempenho deste aprendiz, ocorrendo porque, em uma instância
particular, o mesmo não se encontra apto a realizar o que sabe. Já Corder (apud COOK, 1993,
p. 21) vai mais além, associando erro e falha à dicotomia gerativista competência e
desempenho. De acordo com referido autor, as falhas referem-se a desvios de desempenho,
enquanto que os erros em si referem-se a desvios sistemáticos na produção do aprendiz, que
são, portanto, erros de competência16
.
Ellis (1997, p. 19) também atesta que os erros não são apenas sistemáticos, sendo,
muitos deles, porém não todos, universais em alguns aspectos.
É inegável que as produções dos aprendizes, as quais apresentam indícios de
transferência da L1 na L2, seguem uma sistematicidade, não podendo, portanto, ser
considerada totalmente “erro”. Em outras palavras, as produções do aprendiz não devem ser
consideradas como uma sequência de formas enganadas e incoerentes, mas como uma
16
No decorrer do presente trabalho, não adotaremos tal distinção, usando ambos os termos como sinônimos.
46
produção que apresenta uma sistemática subjacente, mesmo quando não apresenta erros (RÉ,
2006, p. 87, 88).
Alguns “erros” podem representar, de modo geral, o “fracasso” do aprendiz na
aprendizagem de uma segunda língua, pela forma diferente com que se apresentam em
relação à produção nativa.
Corder (apud SELINKER, 1992, p. 166) coloca essa questão quando afirma que estes
itens e características que são emprestados de outro sistema linguístico, por não serem,
geralmente, semelhantes à língua alvo, acabam por ser incorporados erroneamente ao sistema
de interlíngua, emergindo o erro, o qual pode, às vezes, ser bastante persistente17
.
Todavia, deve-se considerar que esse teor negativo escamoteado nesses deslizes
cometidos pelos aprendizes, apresenta fatores positivos, entre eles a capacidade do indivíduo
de ativar conhecimentos prévios que os fazem associar os elementos de ambos os sistemas
linguísticos em jogo, tanto o da L1 quanto da L2 (RÉ, 2006, p. 131). Corroborando essa
perspectiva, Littlewood (1984, p. 22) advoga que “os erros dos aprendizes não precisam ser
vistos como sinais de falha. Pelo contrário, eles são a evidência mais clara para o
desenvolvimento dos sistemas do aprendiz e podem nos oferecer percepções de como eles
processam dados da língua”.
Ellis (1986, p. 9) segue neste raciocínio, afirmando que:
[...] erros são uma fonte importante de informação sobre SLA, porque demonstram,
decisivamente, que os aprendizes não memorizam simplesmente as regras da língua
alvo e então as reproduz em suas próprias sentenças. Eles indicam que os aprendizes
constroem suas próprias regras nas bases de dados de produção, e que em algumas
instâncias, pelo menos, estas regras diferem daquelas da língua alvo.
Estes “erros” acabam por dar origem a um “fenômeno” conhecido no campo da
aquisição, como interlíngua, a qual se caracteriza como uma espécie de língua intermediária
usada pelo indivíduo para estabelecer a comunicação em uma língua diferente da sua língua
materna.
Este termo foi introduzido por Larry Selinker (1972) para “referir-se ao conhecimento
sistemático da língua, o qual é independente de ambos os sistemas de L1 e L2 que o falante
está tentando aprender” (ELLIS, 1986, p. 42). Portanto, interlíngua representa uma produção
que não se assemelhará com nenhum dos sistemas supracitados, desenvolvendo-se como uma
espécie de fala criativa.
17
Geralmente, os “erros” que persistem nas produções de L2 do aprendiz são tratados como uma construção
internalizada pelo próprio falante devido à semelhança com sua L1. Nesses casos, costuma-se denominar tais
construções como fossilização. Para mais explicações a respeito, cf. Ellis, 1986.
47
Esta produção criativa compõe um processo que pode ser descrito como uma espécie
de terceiro sistema linguístico, criado estrategicamente pelo próprio aprendiz, a fim de fazer
com que os dados da L2 façam sentido para ele.
Como mostra Tarone (2007), esse fenômeno funciona, na realidade, como um sistema
linguístico evidenciado quando um aprendiz de L2, sobretudo adulto, procura expressar
sentido nessa língua que está sendo aprendida.
Na grande maioria das vezes, os aprendizes não têm consciência de que todo esse
processo ocorre durante o aprendizado de um novo sistema linguístico. Vejamos, portanto, no
ponto a seguir, a importância e as implicações da consciência fonológica no processo de
aquisição de L2.
2.3 Consciência fonológica
Cada vez mais, tem sido atestada a importância da consciência fonológica no processo
de aquisição, sobretudo de L2. Isso porque tem-se comprovado que adquirir um novo sistema
linguístico se torna mais simples quando se demonstra uma certa consciência do processo
fonético-fonológico que ocorre, da estrutura do código que se está aprendendo e dos
fenômenos que podem estar envoltos neste processo.
Contudo, pode-se afirmar que ainda é escasso o interesse por trabalhos que se
debrucem sobre a consciência fonológica relacionados ao processo de aquisição de L2.
Nessa perspectiva, os estudos existentes neste sentido revelam que a consciência
fonético-fonológica e o processo de aquisição de L2 devem ser considerados como dois
processos indissociáveis e que, unidos, atuam em favor do aprendiz que esteja adquirindo uma
nova língua (ALVES, 2009).
Porém, para que esse processo ocorra satisfatoriamente, é necessário levar o falante-
aprendiz a uma reflexão sobre o sistema alvo, sobretudo do sistema sonoro que o compõe,
reflexão esta a qual é denominada consciência fonológica. De acordo com Alves (2009, p.
33), “o termo consciência fonológica remete a uma capacidade de reflexão, caracterizando
uma habilidade de análise e julgamento consciente do estímulo auditivo”.
O desenvolvimento desta capacidade em L2 confere ao aprendiz a habilidade em lidar
com elementos do novo sistema que está aprendendo, diminuindo consideravelmente a
ocorrência de erros/desvios que, por ventura, prejudiquem o desempenho do aprendiz em L2.
48
Além disso, esta capacidade permite que o aprendiz realize produções o mais próximo
possível do nativo.
Todavia, não se pode perder de vista que os erros são importantes nesta caminhada,
haja vista que são eles os responsáveis por levar o aprendiz a criar estratégias e empregá-las
durante o processo de aquisição da L2, buscando maturar e internalizar sistematicamente o
novo código.
Nessa perspectiva, aconselha-se instigar o aprendiz a perceber o que há de semelhante
e, principalmente, o que há de diferente nos sistemas sonoros da L1 e da L2, para que assim
possa dar conta de estratégias criativas para lidar com as formas que lhes representem
problemas. Estes problemas decorrem, sobretudo, da transferência da L1 para a L2 fazendo
com que o aprendiz processe oralmente elementos da L2 como pertencentes à L1.
Esta percepção dos elementos sonoros da L1 e da L2, bem como de suas semelhanças
e diferenças, constitui um pré-requisito para a produção do falante-aprendiz. Alves (2009, p.
204) advoga que “é preciso um estranhamento por parte do aprendiz frente a tais diferenças.
Em outras palavras, as diferenças entre ambos os sistemas sonoros precisam ser notadas pelo
aprendiz, para que elas então possam ser manipuladas”.
Esboçando visualmente tal processo, temos no quadro a seguir:
Quadro 5 – Esquema da consciência fonológica
Input
Reflexão
Estranhamento
Criação de mecanismos internos para o aprendizado
Consciência Fonético-fonológica dos sons da L1 e L2
Manipulação
Output
Sons da
L1
L2
49
De acordo com o referido quadro18
, entendemos que para que tal processo ocorra, é
necessário que o aprendiz receba inputs a respeito da diferença entre os sons da L1 e da L2,
isto é, o aprendiz de L2 deve ser exposto a particularidades do sistema sonoro de ambas as
línguas. O input recebido funciona como um dispositivo para ativar a reflexão e todos os
outros processos que levam à manipulação, que, por conseguinte, levam à consciência
fonológica da estrutura de ambos os sistemas – L1 e L2. Dessa forma, espera-se que o
aprendiz possa ser capaz de produzir outputs que poderão ser, ou não, mais próximos de uma
produção nativa, dependendo do nível e da dificuldade que o mesmo apresente.
Para a manipulação do sistema da língua alvo, parte-se do pressuposto de que o
aprendiz dispõe de um modelo de construção criativa já existente a partir da sua L1, através
do qual processa mecanismos internos em direção ao aprendizado da L2. Geralmente, esse
modelo pré-existente ocasiona alguns problemas, sobretudo de pronúncia, decorrentes do
processamento dos sons da L2 como se fossem os mesmos da L1.
Estes mecanismos, por sua vez, permeiam o processo de construção criativo
desenvolvido pelo aprendiz que, como bem mostra Littlewood (1984, p. 21), recai sobre a
transferência das regras da língua mãe (L1), funcionando como estratégia ativa para construir
sentido na comunicação na língua alvo (L2).
Vale salientar que tais mecanismos e estratégias remontam dois termos-chave no
campo da consciência / aquisição fonológica de L2, sendo esses reflexão e manipulação.
Segundo Alves (op. cit., p. 205), “reflexão implica notar o inventário de sons da língua-alvo,
e, por conseguinte, as diferenças entre os sistemas de sons da L1 e da L2 [...]. Já o termo
manipulação das unidades sonoras da L2 significa operar sobre os sons da língua a ser
adquirida [...]” (grifo do autor).
Para o referido autor, é nesse momento que o aprendiz cria e estabelece diferenças
fonético-fonológicas existentes entre a L1 e a L2, podendo interpretá-las como um fator de
dificuldade em apreender o novo código e tomando consciência de que, como consequência
disso, sua produção pode afastar-se, em algum momento, da nativa.
Todavia, chegando a esse grau de consciência dos sons da língua, o aprendiz constrói
uma ponte, na qual ele parte de um primeiro estágio – produção com resquícios da L1, até um
segundo estágio – produção semelhante à nativa, isto é, onde há o acréscimo de novas
categorias perceptuais às categorias prototipicamente estabelecidas.
18
É necessário deixar claro que o quadro 5 foi construído pela autora do presente trabalho, com base nas leituras
de Alves (2009).
50
A explicação de Alves (2009, p. 239) para essa tendência do aprendiz é que “[...] à
medida que os sons da L1 começam a ser adquiridos tem-se a formação de novas categorias
prototípicas. Na aquisição da L2, deve-se considerar que os padrões de sons da língua materna
já se mostram bastante arraigados”. Daí decorre a dificuldade do aprendiz em criar novas
categorias prototípicas para os sons da L2 e em separar funcionalmente as categorias de sons
das duas línguas, haja vista que a tendência mais forte e fácil, nesse caso, é transferir os
padrões da L1 na aquisição de L2.
Em suma, esse é o processo que ocorre ao se obter a consciência dos aspectos
fonético-fonológicos de um novo sistema linguístico que se está adquirindo. A importância,
portanto, de ter a consciência da existência desses aspectos para o indivíduo que está
adquirindo um novo código, caracteriza-se como um artifício primordial no aprendizado de
L2, já que esse seria um dos requisitos mínimos para que, de fato, ocorra a aquisição.
Não obstante, para chegar a este estágio, é imprescindível a participação do professor
na sistematização desse processo, evidenciando para os aprendizes o papel da consciência
fonético-fonológica do sistema da língua alvo como um aspecto inerente à aquisição de um
novo código.
A este respeito, como mostra Alves (2009), além da importância da consciência
fonológica, a participação do professor em despertar o aprendiz, de modo que ele perceba
determinadas particularidades da língua e reconheça os obstáculos existentes neste processo, é
fundamental para a aprendizagem de uma L2.
Ellis (apud ALVES, 2009, p. 258) corrobora esta perspectiva afirmando que:
[...] a intervenção pedagógica constitui um meio de levar o aluno a notar os detalhes
da forma a serem adquiridos, o que possibilita a formação de um conhecimento
explícito acerca de tal detalhe. A formação desse conhecimento de caráter explícito
pode exercer efeitos benéficos na aquisição [...].
Para tanto, é necessário que o professor tenha recursos diferenciados para a
implementação de determinados inputs acústicos, para que o aprendiz amadureça o
processamento dos sons da L2.19
19
Geralmente, os inputs de que os professores se utilizam são figuras, como uma espécie de recurso visual, com
diferentes fonemas para ilustrar a pronúncia. Assim, facilita-se o processo de identificação por parte do
educando. No entanto, apenas mencionamos este processo a título de informação e não entraremos em detalhes a
esse respeito. Para mais informações, cf. Alves (2009).
51
De forma geral, a consciência do aspecto fonológico configura-se como um dos
fatores primordiais para a aquisição, e que poderá acontecer, dentre outros níveis, no nível
silábico.
52
CAPÍTULO III – METODOLOGIA
O presente capítulo visa traçar todo um panorama do caminho percorrido para a
construção deste trabalho, tais como os instrumentos utilizados para a coleta dos dados que
compõem o corpus a ser analisado, caracterização das variáveis (dependentes e
independentes), critérios de delimitação dos informantes e modalidades de análise dos dados
coletados.
Tais elementos metodológicos nos permitiram fazer a análise do fenômeno da
epêntese medial com certo rigor, de forma que nos foi possível, através da amostra de L1 e
L2, investigar quais elementos – linguísticos e/ou extralinguísticos, influenciam na inserção
ou não da vogal epentética na produção dos informantes.
É importante ressaltar que a metodologia tem um papel primordial dentro do modelo
teórico da sociolinguística quantitativa. Ela é composta de vários estágios, dentre os quais
destacam-se:
(i) seleção de informantes;
(ii) identificação das variáveis linguísticas, extralinguísticas e suas variantes;
(iii) processamento dos números, visto que se trata de uma análise estatística;
(iv) interpretação dos resultados, analisando os possíveis fatores
condicionadores (linguísticos e extralinguísticos) que favorecem o uso de uma variante
sobre outra.
Neste trabalho, utilizamos o método pautado pela Teoria da Variação, proposta por
Labov (LABOV, 1975; LABOV et al., 2006 [1968] e 2008 [1972]), baseado, sobretudo, nos
preceitos do aparato teórico metodológico da Sociolinguística Quantitativa.
3.1 Coleta dos dados
Para realizar a coleta de dados que nos forneceu o material para analisar o
comportamento da epêntese medial entre os falantes do Brejo Paraibano, contamos com a
53
participação de 18 informantes. Os participantes da pesquisa20
eram alunos de instituições
superiores públicas – UEPB/UFPB, sendo 12 do curso de Letras, 2 do curso de
Administração, 1 do curso de Psicologia, 1 do curso de Biologia, 1 do curso de Direito e 1 do
curso de Odontologia. No entanto, todos são/já foram estudantes de inglês como L2.
Inicialmente, foi apresentado aos informantes um formulário de consentimento (Cf.
Apêndice 1), que ofereceu informações a respeito da pesquisa a qual os mesmos estavam se
propondo a participar21
, deixando claro que, mesmo se comprometendo a participar da
pesquisa, eles poderiam, a qualquer momento, cancelar sua participação na mesma, tendo em
vista seu caráter voluntário.
Em seguida, já consciente do teor geral da pesquisa, os informantes são requisitados a
preencher um questionário (Cf. Apêndice 2) com seus dados pessoais e responder a algumas
perguntas a respeito do seu nível e frequência de prática da L2, a fim de melhor conhecermos
o perfil deste informante e o seu domínio em relação à manipulação da L2.
Neste momento, o informante toma conhecimento de que empreenderá a realização de
um teste de proficiência em inglês e de leituras de uma lista de frases e textos, os quais serão
gravados para fins de análise e cujas gravações serão examinadas somente pelo pesquisador e
orientador, permanecendo confidencial a identidade do aluno participante.
O teste realizado pelo informante é o Oxford Placement Test (ALLAN, 2004), que é
validado em mais de 30 países e o qual certificará o nível de proficiência dos informantes
participantes da pesquisa.
O referido teste (Cf. Anexo 1) é composto de 100 questões relativas ao conhecimento
auditivo do informante (Listening test) e mais 100 questões relativas ao conhecimento
gramatical do mesmo em relação à língua inglesa (Grammar test), totalizando 200 questões,
cujo resultado nos forneceu informações sobre o nível de cada informante – básico,
intermediário ou avançado.
Após ser agrupado em seu devido nível, cada um dos informantes participantes da
pesquisa foi submetido à leitura de um material em L1 e L2, que contemplava construções nas
quais era possível ocorrer o fenômeno da epêntese.
20
A presente pesquisa – protocolo CEP/HULW no 309/11 foi aprovada no Comitê de Ética em Pesquisa do
Hospital Universitário Lauro Wanderley – CEP/HULW da Universidade Federal da Paraíba (Cf. Anexo 2).
21 Deve-se deixar claro que quando nos referimos às informações da pesquisa, queremos dizer que situamos o
participante em relação à instituição e linha de pesquisa a qual o trabalho está vinculado, os envolvidos e as
etapas desenvolvidas durante a sua participação na pesquisa. Não foi dada nenhuma informação a respeito do
propósito para o qual está sendo desenvolvida tal pesquisa, haja vista que o conhecimento destas informações
prejudicaria a “naturalidade” da produção dos dados.
54
Foram elaboradas frases com palavras que continham contextos favoráveis para a
ocorrência do fenômeno da epêntese vocálica em posição medial, tanto na L1 (português)
quanto na L2 (inglês). As palavras foram inseridas em frases-veículo em L1 (A palavra é...) e
em L2 (The Word is...) e apresentadas aos informantes através de slides exibidos no aplicativo
PowerPoint.
Estas palavras eram constituídas por codas com obstruintes labiais /p/, /b/, coronais /t/,
/d/ e dorsais /k/, /g/, em contextos pretônicos e postônicos (Cf. Apêndice 3). Para cada
segmento, foram escolhidas 4 palavras, totalizando 24 vocábulos. Com o intuito de despistar
os informantes quanto ao fenômeno analisado em nosso estudo, inserimos 6 palavras
distratoras.
Foram elaborados, também, pequenos textos (Cf. Apêndice 4) envolvendo tais
palavras, em ambas as línguas, para que pudéssemos investigar a influência de contextos
maiores e menores na produção de epêntese, tanto em L1 quanto em L2.
Desse modo, considerando as 24 palavras constituintes do corpus, fizemos a
distribuição de 8 palavras em três textos, desconsiderando, nesse momento, as 6 palavras
distratoras.
No total, nosso corpus foi composto da leitura de 180 frases e 6 textos entre L1 e L2,
por falante. Assim, em virtude da grande quantidade de material que foi lido pelos falantes22
,
dividimos a coleta de cada instrumento em 4 etapas, entre as quais cada falante realizava
pausas de cerca de cinco minutos para descanso. Dessa forma, os informantes realizavam
primeiro a leitura das frases em L1, em seguida, a leitura das frases em L2, logo após, a
leitura dos textos em L1 e, finalmente, a leitura dos textos em L2.
Nessa amostra, seguiu-se a técnica da seleção aleatória estratificada com base no sexo
dos informantes (feminino e masculino) e no nível de proficiência na L2 dos mesmos (básico,
intermediário e avançado), o que deu origem às células sociais, como apresenta-se no quadro
a seguir:
22
É pertinente ressaltar que, tanto as frases quantos os textos, não foram previamente apresentados aos
participantes, de forma que não lhes foi fornecida nenhuma informação acerca de significado e/ou pronúncia
dessas palavras. Assim, toda a coleta aconteceu a partir do conhecimento do próprio informante a respeito da
estrutura da L2.
55
Quadro 6 – Distribuição das células
Cada uma das células acima foi preenchida por três informantes, totalizando 18
participantes que atenderam aos requisitos das variáveis estratificadas.
As leituras das frases e textos elaborados com ênfase no fenômeno linguístico
analisado neste trabalho foram coletadas/gravadas com o auxílio do software Audacity 1.3
Beta (MAZZONI, 2011), recebendo, em seguida, tratamento estatístico pelo software
GoldVarb X (SANKOFF, TAGLIAMONTE & SMITH, 2005).
Ouvidas as gravações, procedeu-se o levantamento e decodificação das ocorrências do
fenômeno. Cada ocorrência, depois de transcrita, recebeu uma codificação que varia de
acordo com os fatores estudados. Essa codificação obedece a uma sequência de símbolos, que
representa uma opção dentro de um conjunto de possibilidades.
Na sequência, esse material recebeu um tratamento estatístico pelo software GoldVarb
X (op. cit.), o qual nos forneceu dados para quantificar a ocorrência do fenômeno. O
tratamento estatístico é considerado, dentro dos estudos quantitativos, um dos passos mais
importantes por fornecer dados acerca do comportamento de cada variável. A este respeito,
Tarallo (1990, p. 49) advoga que o tratamento estatístico se faz responsável por indicar quais
grupos de fatores influenciam ou não na implementação de determinada variante.
Essa análise quantitativa realizada com base nos dados estatísticos foi correlacionada
às variáveis linguísticas e extralinguísticas, de modo a verificar em que proporção o referido
fenômeno se propagou.
CÉLULA 6
Sexo masculino
Nível avançado
CÉLULA 5
Sexo masculino
Nível intermediário
CÉLULA 2
Sexo feminino
Nível intermediário
CÉLULA 4
Sexo masculino
Nível básico
CÉLULA 3
Sexo feminino
Nível avançado
CÉLULA 1
Sexo feminino
Nível básico
56
Os resultados fornecidos através destes dados foram confrontados com as hipóteses
levantadas, analisando se realmente as hipóteses foram pertinentes, e a partir de então
buscaram-se as possíveis explicações para a influência de determinados fatores em detrimento
de outros.
3.2 Caracterização das variáveis
Um dos passos fundamentais, em se tratando de uma pesquisa de cunho quantitativo
sociolinguisticamente orientada, é a caracterização das variáveis que darão conta de explicar o
comportamento de um dado fenômeno linguístico.
Definiremos, pois, a seguir, a variável dependente responsável pelo contexto de
variação do fenômeno em questão. Em seguida, as variáveis independentes, que podem ser
linguísticas ou extralinguísticas, atuando diretamente sobre o fenômeno, de forma a favorecer
ou inibir a sua ocorrência.
Vale salientar que nossas hipóteses foram formuladas a partir de trabalhos realizados
nessa perspectiva em outros estados brasileiros, bem como o de Pereyron (2008) e o de
Schneider (2009).
3.2.1 Variável dependente
Temos como variável dependente o embate de duas formas linguísticas que se
sobrepõe uma a outra pela influência de determinados fatores em um mesmo contexto
linguístico (TARALLO, 1990). Nesta perspectiva, temos que, no presente estudo, será
considerada como variável dependente o fenômeno da epêntese vocálica medial que se
caracteriza, sobretudo, pela inserção de uma vogal entre elementos consonantais, implicando
duas possibilidades de classificação: a aplicação da regra (ob/i/ject – inserção da vogal) ou a
não aplicação da regra (object – não inserção da vogal).
O tipo de análise procedida em relação à variável dependente foi a análise de oitiva,
isto é, uma análise perceptual com base na audição dos dados, onde codificamos a variável
para a ocorrência da manutenção ou do apagamento da vogal.
Procuramos, neste momento, proceder apenas a uma análise que enfoque a fala a partir
do ponto de vista mais voltado para o ouvinte.
57
3.2.2 Variáveis independentes
As variáveis independentes são caracterizadas como um grupo de fatores linguísticos
e/ou extralinguísticos que podem condicionar ou não a ocorrência da variável dependente – o
fenômeno da epêntese vocálica em PB e inglês como L2.
3.2.2.1 Variáveis independentes linguísticas
As variáveis linguísticas foram especificadas a partir de trabalhos realizados
anteriormente – Pereyron (2008), Schneider (2009) e Lucena & Alves (2009, 2010),
verificando se as mesmas se fazem relevantes para a manutenção ou inibição do fenômeno e
em que medida isto se aplica, corroborando ou refutando os resultados dos trabalhos
supracitados.
3.2.2.1.1 Contexto fonológico precedente
O contexto fonológico precedente, também denominado de consoante perdida, refere-
se ao segmento consonantal que se encontra em posição de coda travando a sílaba,
antecedendo a vogal epentética, quando esta ocorre. Para tanto, dentre os contextos de codas,
analisamos os contextos labiais /p/, /b/, coronais /t/, /d/ e dorsais /k/, /g/, tanto no português
como L1, quanto no inglês como L2:
Quadro 7 – Contextos fonológicos precedentes analisados
Descrição dos contextos fonológicos
precedentes
Exemplos em
português e inglês
LABIAIS
Oclusiva bilabial
desvozeada
/p/ ap.to
emp.ty
Oclusiva bilabial
vozeada
/b/ ób.vio
ob.ject
CORONAIS
Oclusiva coronal
desvozeada
/t/ ét.ni.co
com.part.ment
58
Oclusiva coronal
vozeada
/d/
vod.ca
kid.nap
DORSAIS
Oclusiva dorsal
desvozeada
/k/ as.pec.to
vic.tim
Oclusiva dorsal
vozeada
/g/ sig.no
cog.ni.tive
Além desses contextos, os aprendizes realizaram outras produções perdidas em coda,
envolvendo apagamentos e mudanças na estrutura dos vocábulos, ora preservando, ora
desfazendo os clusters. Preferimos excluir essas produções da análise, como veremos adiante
na análise dos dados.
Trabalhos anteriores como os de Pereyron (2008) e Schneider (2009), por exemplo,
mostram, de forma semelhante, que o contexto dorsal, especificamente a oclusiva dorsal /g/, é
o que mais propicia a ocorrência de epêntese, apresentando altas taxas de produções de
inserção vocálica diante deste contexto.
Assim, com base nesses estudos e em seus resultados, temos como hipótese que os
dados produzidos neste trabalho indicarão que as oclusivas dorsais perdidas em coda também
se mostrarão como contextos mais propícios para receber a ocorrência da epêntese vocálica.
3.2.2.1.2 Contexto fonológico seguinte
O contexto fonológico seguinte refere-se ao segmento consonantal que se posiciona
logo após a consoante perdida em coda, quando não ocorre o fenômeno da epêntese, ou após a
vogal epentética, quando o fenômeno é aplicado. Assim, os segmentos analisados no contexto
seguinte23
foram, igualmente ao contexto precedente, labiais /v/, /m/, coronais /t/, /d/, /s/, /ʒ/,
/ʃ/, /n/ e dorsais /k/, tanto no português como L1, quanto no inglês como L2, como segue no
quadro24
a seguir.
23
Vale salientar que os contextos fonológicos seguinte e precedente se diferenciam nos segmentos das variáveis,
pelo fato de no contexto precedente controlarmos os segmentos presentes em coda, sendo os elementos do
contexto seguinte resultantes da própria estrutura da palavra escolhida para dar conta das características do
contexto fonológico precedente, estabelecidas a priori.
24
Neste quadro são exibidos os subfatores encontrados a partir dos contextos fonológicos precedentes que foram
controlados, conforme pode-se perceber no item 3.2.2.1.1. Assim, na análise dos resultados relacionados a esta
variável, serão apenas considerados os fatores gerais labial, coronal e dorsal.
59
Quadro 8 – Contextos fonológicos seguintes analisados
Descrição dos contextos
fonológicos seguinte
Exemplos em
português e inglês
LABIAL
Fricativa labiodental
vozeada
/v/ ad.vér.bio
ad.vise
Nasal bilabial
vozeada
/m/ rít.mi.co
bom.bard.ment
CORONAL
Oclusiva coronal
desvozeada
/t/ ob.ter
re.luc.tant
Oclusiva coronal
vozeada
/d/ lamb.da
-25
Fricativa coronal
desvozeada
/s/ con.fec.ção
ab.sent
Fricativa palato-coronal
vozeada
/ʒ/ ob.je.to
ob.ject
Fricativa palato-coronal
desvozeada
/ʃ/ -
out.shine
Nasal coronal
vozeada
/n/ et.nó.gra.fo
mag.net
DORSAL
Oclusiva dorsal
desvozeada
/k/
vod.ca
-
Os aprendizes ainda realizaram algumas alterações durante suas produções
modificando a produção do contexto seguinte, todavia, pelo que observamos, em menor
índice do que o observado no item anterior (3.2.2.1.1).
Os estudos empreendidos nesta perspectiva – Pereyron (op. cit.) e Schneider (op. cit.)
mostram que os contextos coronais, em ambos, lideraram os índices de inserção vocálica,
como em [n], [s], [ʒ], [k], sendo seguidos das labiais [f], [v], [m].
25
O traço (-) indica a ausência de uma palavra em língua inglesa que exiba o contexto /d/ e /k/, e de uma palavra
em língua portuguesa que exiba o /ʃ/ como contexto fonológico seguinte.
60
A partir dos resultados destes estudos, formulamos nossa hipótese no sentido de que
os contextos que mais influenciarão a inserção vocálica serão os coronais e labiais.
3.2.2.1.3 Tonicidade
A variável tonicidade foi segmentada, a partir de seu contexto prosódico, em posição
pretônica ou postônica.
Tem-se um contexto pretônico, quando a consoante perdida encontra-se antes da
sílaba tônica, como em interceptar, adaptation. Já no contexto postônico, ocorre o contrário,
pois a sílaba tônica precede a consoante perdida, como nos exemplos signo > sig[i]no, kidnap
> kid[i]nap.
Embora esta variável não tenha sido selecionada como significante pelo programa
GoldVarb X (SANKOFF, TAGLIAMONTE & SMITH, 2005) em nenhuma das rodadas do
trabalho de Pereyron (2008), no trabalho de Schneider (2009) ela se mostrou relevante em
uma das rodadas de L1. Segundo o autor, isso pode ser indício de uma tendência de se evitar a
realização de epêntese em contextos postônicos.
Portanto, com base nos resultados encontrados por Schneider, nossa hipótese é a de
que o contexto pretônico seja o mais influente para a inserção da vogal epentética, tanto no
PB como na L2 dos aprendizes.
3.2.2.1.4 Tipo de instrumento
Quanto ao tipo de instrumento, foram utilizados leitura de frases e leitura de textos a
fim de coletar dados para análise.
Na análise empreendida por Pereyron (2008), controlou-se a variável tipo de
instrumento, embora a mesma não tenha sido selecionada em nenhuma rodada da análise
perceptual. Sua hipótese para esta variável era a de que a aplicação da epêntese fosse menor
em dados provenientes da lista de palavras, já que esta acarreta uma produção mais elaborada,
na qual o falante-aprendiz encontra-se atento ao que está lendo (LABOV, 2008 [1972], p.
247).
Assim, com base nos dados de Pereyron (2008), lançamos a hipótese de que os
maiores índices de epêntese serão encontrados na leitura dos textos, haja vista que os mesmos
são mais extensos e, por isso, demandam menos monitoramento dos aprendizes.
61
Nesse sentido, trabalhamos aqui tanto com frases como com textos em português e em
inglês, com o intuito de representar a L1 e a L2 desses aprendizes. Desta forma, foi possível
verificar qual instrumento oferece um ambiente mais propício para manipulação ou inibição
de ocorrências da vogal epentética, e em que medida ocorre a transferência de elementos da
L1 para a L2 em ambos os contextos.
3.2.2.2 Variáveis independentes extralinguísticas
3.2.2.2.1 Sexo
A variável social sexo subdivide-se em feminino e masculino, e nos fornecerá
subsídios empíricos acerca de quais informantes, homens ou mulheres, produzem índices
mais altos e mais baixos do fenômeno da epêntese.
Há uma série de trabalhos consistentes de caráter variacionista que associam a variável
sexo a questões linguísticas (PAIVA, 2003; CAMARA JR., 2007; LABOV, 2008 [1972]) e
que trabalham com essa variável na perspectiva de que as mulheres lideram o uso da forma
padrão, mostrando-se sensíveis às formas de prestígio. Já os homens, por outro lado,
mostram-se propensos a liderarem o uso de formas desprestigiadas.
Labov (2008 [1972], p. 281) advoga, neste sentido, que “na fala monitorada, as
mulheres usam menos formas estigmatizadas do que os homens e são mais sensíveis do que
os homens ao padrão de prestígio”.
Deste modo, formulamos nossa hipótese acreditando que em nossos dados ficará
explícito o domínio da aplicação de produções padrão da língua, isto é, de não inserção
vocálica por parte das mulheres, corroborando, portanto, os resultados dos trabalhos
anteriormente elencados.
3.2.2.2.2 Nível de proficiência na língua
Esta variável contempla três níveis de proficiência do informante, sendo eles, básico,
intermediário e avançado, com o objetivo de verificar em quais desses níveis o aprendiz
aplicará mais a regra da epêntese.
62
É preciso enfatizar que tais níveis foram selecionados de acordo com o teste de
proficiência (Cf. Anexo 1) realizado com os informantes e que os categorizou em diferentes
níveis.
Os dados de análise dos trabalhos de Lucena & Alves (2009; 2010) revelam que o
nível de proficiência dos informantes foi selecionado como uma das variáveis relevantes nas
rodadas realizadas. Seus resultados mostram que quanto mais básico o nível de proficiência
do aprendiz, mais próximas as suas produções serão do sistema da L1.
A partir dos dados obtidos no estudo de Lucena & Alves (op. cit.) e Pereyron (2008),
nossa hipótese é a de que aprendizes que exibam um nível avançado na L2 aplique um baixo
índice da inserção vocálica.
3.2.2.2.3 Idioma
Nesta variável, será verificado qual idioma é mais favorável à inserção vocálica – L1
(português) ou L2 (inglês), de forma a verificar como ambas atuam no sentido de fornecer um
ambiente propício para a propagação ou inibição do fenômeno da epêntese.
A escolha desta variável foi controlada com o escopo de verificarmos mais
acuradamente a estrutura linguística de cada idioma – língua portuguesa e língua inglesa.
Schneider (2009) mostra que os índices de aplicação do fenômeno da epêntese
vocálica medial em PB e em inglês divergem. Em seus resultados, a maior incidência do
fenômeno foi na língua portuguesa, com 39,4 % das ocorrências. Em contrapartida, este
percentual diminui para a 1íngua inglesa.
Portanto, com base nos resultados de Schneider, nossa hipótese é a de que a maior
incidência de aplicação da epêntese medial seja no português (PB).
3.3 Instrumento de análise dos dados
Como citado anteriormente, nossos dados foram analisados com o auxílio do
programa computacional GoldVarb X (SANKOFF, TAGLIAMONTE & SMITH, 2005).
Este aplicativo computacional é uma das ferramentas mais versáteis para proceder a
análises quantitativas de dados linguísticos, sendo capaz de realizar análises multivariacionais
desses dados, e pode ser baixado gratuitamente em vários sites na internet.
63
O GoldVarb X é uma versão recente do conhecido programa VARBRUL 2S, que tem
todos os seus programas executados em um único arquivo.
De início, utilizam-se todos os dados devidamente codificados para a criação de um
arquivo de ocorrências, no qual é gerado um fator de especificação. Em seguida, o programa
procede a uma checagem das ocorrências, a fim de identificar possíveis erros de codificação.
No próximo passo, é criado um arquivo chamado “arquivo de condição” o qual exibe
todos os grupos de fatores com os quais trabalhamos em nossa pesquisa.
A partir de então, é criado o arquivo de células, o qual fornece o valor dos pesos
relativos a partir das porcentagens de aplicação para cada grupo de fatores.
Para finalizar, o programa cria o arquivo de resultado que fornece os percentuais de
aplicação e não aplicação da regra variável em análise para cada fator condicionador do
fenômeno. Ainda no arquivo de resultado, realiza-se a rodada binomial stepup e stepdown
que, através de comparações, mostra quais são as variáveis mais e menos relevantes para a
aplicação do fenômeno em estudo.
De acordo com Freire (2011, p. 70), temos a seguinte sequência de execução de
tarefas:
Quadro 9 – Sequência de execução de tarefas do GoldVarb X
Arquivo de ocorrências
Arquivo de especificação de fatores
Comando Check tokens
Comando No recode
Arquivo de condições
Arquivo de células
64
Arquivo de resultados
Rodada binomial Stepup e Stepdown
A seguir, vejamos o que os dados revelam com base na estatística fornecida pelo
programa a respeito da epêntese vocálica medial.
65
CAPÍTULO IV – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS
Nesta seção serão apresentados e discutidos os dados obtidos em cada rodada
realizada. Para tanto, procedemos a três rodadas distintas, analisando o comportamento do
fenômeno em um contexto geral (L1 + L2) e em contextos isolados, L1 e L2.
Inicialmente, apresentamos o resultado da frequência geral do fenômeno da epêntese
vocálica, discriminando, posteriormente, sua ocorrência isolada tanto em português quanto em
inglês.
Posteriormente, explicitamos a dinâmica de cada rodada, de forma a mostrar as
variáveis analisadas e selecionadas pelo programa como as mais relevantes para a aplicação
do fenômeno e o valor percentual de cada variável selecionada, buscando interpretar os dados
e explicar sua ocorrência.
Em seguida, detalhamos cada variável selecionada estatisticamente pelo programa,
demonstrando através de tabelas e gráficos sua frequência e peso relativo.
Para finalizar, verificamos se os resultados obtidos corroboram ou não as hipóteses
inicialmente estabelecidas e os resultados encontrados em outros trabalhos da mesma
natureza.
4.1 Frequência geral da epêntese vocálica em L1 e L2
A primeira rodada dos dados realizada neste estudo pelo programa GoldVarb X
(SANKOFF, TAGLIAMONTE & SMITH, 2005) considerou a frequência geral do fenômeno
da epêntese vocálica medial em português e inglês concomitantemente, de forma a controlar
as variáveis que influenciam a aplicação ou não aplicação do referido fenômeno.
Nesta primeira rodada, foram controladas todas as variáveis, a seguir:
vogal epentética;
sexo;
proficiência na língua;
tipo de instrumento;
contexto fonológico seguinte;
contexto fonológico precedente;
tonicidade.
66
De forma geral, foi levantado nesta rodada um total de 3325 ocorrências, sendo 719 de
aplicações do fenômeno, exibindo um percentual de 21,6 % de inserção vocálica nos dados, e
2606 referentes a não aplicação do fenômeno, com um percentual de 78,4 % de não inserção
vocálica.
Ao observar o gráfico a seguir, visualizamos melhor o percentual de aplicação do
fenômeno:
Gráfico 1 – Frequência geral do fenômeno da epêntese vocálica medial
O resultado apresentado no gráfico acima exibe o valor total de ocorrências analisadas
perceptualmente em L1 e L2.
Nesta rodada, como veremos mais detalhadamente a seguir, não houve ocorrências de
knockout26
em nenhuma variável trabalhada, não sendo, portanto, necessária a amalgamação
ou anulação de nenhuma das variáveis ou de suas variantes.
A princípio, os dados revelam categoricamente o baixo índice de aplicação de
epêntese por falantes paraibanos de inglês como L2 (21,6 %). Isto, de certa forma, demonstra
26
O knockout representa a ocorrência de 0 % ou 100 % de aplicação de um dado fenômeno para um determinado
fator. Em casos de knockout, deve-se corrigi-los através da eliminação ou amalgamação dos dados. Para mais
explicações, sugerimos a leitura de Tagliamonte (2006) e Guy & Zilles (2007).
67
a maturidade das estruturas apreendidas em inglês, contrariando nossas expectativas acerca
dos resultados. De fato, esperávamos um forte indício de transferência de elementos da L1
para a L2 ou percentuais equiparados de aplicação e não aplicação, onde o aprendiz
apresentaria um sistema de interlíngua mais próximo da L1.
Cabe aqui comparar estes resultados aos encontrados por Lucena & Alves (2009, p. 8)
em uma análise comparativa do mesmo fenômeno na Paraíba e no Rio Grande do Sul, onde os
autores obtiveram em seus dados uma frequência global de 46 % referente à aplicação e 54 %
de não aplicação do fenômeno por falantes paraibanos de inglês como L2, ou seja, um
percentual de aplicação inferior ao percentual de não-aplicação, porém em uma proporção
mais equilibrada.
No entanto, o estudo de Lucena e Alves (op. cit.) foi realizado com a produção de
aprendizes apenas do nível básico, o que explica, provavelmente, a ocorrência de resultados
tão equiparados de manutenção de epêntese e de coda (46% e 54%, respectivamente),
indicando que estes aprendizes possuem um sistema de interlíngua ainda em
desenvolvimento, motivando, uma maior incidência da influência da L1 na L2. Outro fator
atuante neste resultado pode ser encontrado no próprio corpus, que contou com a produção de
10 participantes, caracterizando assim uma produção de dados mais restrita, tendo em vista o
número de participantes de um único nível.
Em relação aos nossos resultados, temos a produção de aprendizes de três níveis:
básico, intermediário e avançado, o que pode ter influenciado resultados relativamente
distantes (21, 6 % em nosso trabalho e 78, 4 % no trabalho de LUCENA & ALVES, 2009),
indicando que os aprendizes que analisamos exibem, a nosso ver, um sistema de aquisição de
codas maturado, de forma a não produzir valores muito altos de inserção vocálica.
Nosso corpus contou com a produção de 18 informantes – seis para cada nível, o que
nos auxilia a ter dados mais abrangentes. O número de informantes de diferentes níveis dá a
garantia de dados mais consistentes para serem manipulados em nossa investigação, além de
fornecer subsídios mais sólidos para confirmação ou contestação de nossas hipóteses.
Ambas as pesquisas tiveram como participantes alunos de Graduação (em andamento
ou concluído), sendo a maioria do curso de Licenciatura Plena em Letras. A formação dos
participantes nos faz acreditar que tais informantes possuem determinado conhecimento da
estrutura da L2, diferenciando apenas o nível no qual se encontram. Estes alunos exibem um
estágio avançado de aquisição, o qual dispensa inserção vocálica nas produções de codas
silábicas e evita, de certa forma, a transferência dos elementos da L1 em direção a L2, o que
68
explica o baixo índice de ocorrência de epêntese nas produções dos aprendizes de nossa
pesquisa.
No quadro a seguir será apresentada a relação das variáveis independentes analisadas e
selecionadas nesta primeira rodada, considerando como variável dependente a inserção
vocálica.
Quadro 10 – Grupos selecionados na 1ª rodada
1ª R O D A D A – L1 + L2
Grupos Analisados Grupos Selecionados
sexo proficiência na língua
proficiência na língua contexto fonológico seguinte
tipo de instrumento contexto fonológico precedente
contexto fonológico seguinte tonicidade
contexto fonológico precedente –
tonicidade –
Nesta rodada, todos os grupos de fatores controlados foram analisados, dentre os quais
foram selecionados pelo programa GoldVarb X (SANKOFF, TAGLIAMONTE & SMITH,
2005) os seguintes: proficiência na língua, contexto fonológico seguinte, contexto fonológico
precedente e tonicidade, respectivamente. Todos eles mostraram-se propensos à aplicação do
fenômeno, sendo excluídas as demais variáveis, como pode-se perceber no quadro acima.
Na análise a seguir, contemplamos a discussão do papel de cada variável selecionada
pelo programa na aplicação do fenômeno. As variáveis descartadas que foram excluídas não
serão consideradas nesta análise.
69
4.1.1 Proficiência na língua
Ao procedermos às rodadas estatísticas dos dados de L1 e L2 conjuntamente,
constatamos que a variável proficiência na língua foi a selecionada pelo programa como a
mais favorável para a aplicação do fenômeno da epêntese vocálica.
Como visto anteriormente, esta variável foi inserida em nosso estudo no ímpeto de
analisarmos em que medida o nível de proficiência do aprendiz na L2 influencia na
manipulação de suas produções. Para a análise desta variável, nossa hipótese inicial foi a de
que quanto maior o nível de proficiência do aprendiz na L2, menores os índices de epêntese
vocálica.
Na tabela a seguir, veremos o comportamento das variantes categorizadas nesta
variável e os resultados para as mesmas:
Tabela 1 – Proficiência na língua (L1 + L2)
Fatores Apl./Total % Peso Relativo
básico 300/1090 27,5 0,59
intermediário 283/1106 25,6 0,57
avançado 136/1129 12 0,34
Total 719/3325 21,6 –
Input: .19
Significância: .000
Os resultados revelam que a aplicação do fenômeno estudado é mais recorrente entre
os falantes de inglês como L2 de nível básico, exibindo um peso relativo de 0,59, seguido do
nível intermediário, com peso relativo de 0,57, e avançado, com 0,34.
A frequência percentual dos fatores exibida na tabela confirma nossa hipótese
estabelecida inicialmente. Temos, neste sentido, que quanto mais avançado na L2, mais o
aprendiz se mostra capaz de produzir estruturas complexas da língua alvo. Nossas
especulações acerca da referida variável, portanto, foram comprovadas a partir dos dados
obtidos.
70
É imprescindível destacar que, como citado anteriormente, esses informantes foram
nivelados por proficiência, a partir da realização do Oxford Placement Test (ALLAN, 2004),
de forma a distribuí-los como pertencentes aos níveis básico, intermediário e avançado.
Ao analisarmos detalhadamente a tabela, constatamos de imediato que os informantes
de nível básico e intermediário aplicam mais a regra da epêntese. Acreditamos que estes
informantes podem ainda estar em um período de abstração de determinados elementos da
língua alvo, e não possuem ainda capacidade para manipular tais elementos. Neste estágio
inicial de aprendizado da L2, o aprendiz tem mais facilidade de operar construções mais
próximas à L1, a qual constitui a base estrutural evocada neste processo.
A este respeito, Ré (2006, p. 122) afirma que “a LM já constitutiva do sujeito falante é
evocada no início da aprendizagem de uma L2” e que durante o desenvolvimento inicial de
uma L2, são essas as bases de estruturação solicitadas pelo falante e de onde surgem,
portanto, os indícios da primeira língua.
Em relação aos informantes de nível avançado, conforme o esperado, houve um
percentual de aplicação de inserção vocálica inferior ao dos informantes de nível básico e
intermediário. Isto se deve ao fato de o nível avançado exigir do aprendiz um tempo de
contato relativamente maior com a língua alvo, reforçando mais a nossa hipótese de que
quanto maior este contato, maior o domínio linguístico da L2 e, por conseguinte, maior a
proficiência e habilidade com a L2. Nossos resultados, portanto, se somam aos encontrados
em outros trabalhos, tais como o de Cardoso (2005) e Pereyron (2008).
No estudo empreendido por Pereyron (op. cit.), o nível de proficiência foi uma das
variáveis controladas e que, na análise perceptual, foi selecionada como estatisticamente
relevante. Em seus dados, a frequência dos índices de epêntese demonstra que os informantes
com menos de 4 anos de estudo e que se encontram em um nível básico obtiveram um peso
relativo maior (0,53) em relação aos informantes com mais de 4 anos de estudo e que se
encontram em um nível avançado de uso da L2, com peso relativo de 0,47.
No trabalho desenvolvido por Cardoso (op. cit., p. 41), temos a variável nível de
proficiência como a primeira selecionada, levando em consideração a análise de ocorrências
de codas. Seus dados revelaram que quanto maior o nível de proficiência do aprendiz, maior a
produção de codas (0,61), o que indica a ausência de inserção vocálica, ou seja, epêntese.
Cardoso27
(op. cit.) afirma que em estágios avançados da L2, há um aumento da
27
Vale salientar que o estudo relatado contempla a análise da epêntese vocálica em posição final. No entanto,
por se tratar do mesmo fenômeno fomentado em nossa pesquisa, tomamos parte de seus resultados para guiar
algumas diretrizes do nosso trabalho. Para maiores detalhes desta pesquisa, cf. Cardoso (2005).
71
produção de codas, sendo evitada a inserção vocálica como auxílio para determinadas
construções complexas. Assim, seus dados indicam que todos os aprendizes de níveis mais
elevados são capazes de lidar com estruturas mais elaboradas da L2, aproximando-se ao
máximo, nesses casos, de produções nativas.
4.1.2 Contexto fonológico seguinte
A variável contexto fonológico seguinte foi a segunda mais relevante para o nosso
estudo nesta primeira rodada. Com esta variável, buscamos investigar qual contexto
fonológico seguinte influencia a manutenção ou não aplicação da vogal epentética nos dados
obtidos. Os contextos seguintes controlados foram segmentados em labiais, coronais, dorsais.
Nossa hipótese inicial para esta variável foi a de que os contextos coronais e labiais
seriam os mais influentes na manutenção do fenômeno da epêntese vocálica, tomando como
base os resultados dos estudos realizados por Pereyron (2008) e Schneider (2009) no Sul do
Brasil.
Na tabela28
a seguir, apresentamos os resultados estatísticos desta variável, com base
nos nossos dados:
Tabela 2 – Contexto fonológico seguinte (L1 + L2)
Fatores Apl./Total % Peso Relativo
Labial 292/921 31,7 0,60
coronal 410/2328 17,6 0,46
dorsal 17/76 22,4 0,49
Total 719/3325 21,6 –
Input: .19
Significância: .000
28
Na referida tabela serão apresentados os valores percentuais gerais para cada grupo de fator controlado –
labial, coronal e dorsal, não sendo especificados os valores de cada subfator exibido na apresentação das
variáveis no item 2.2.2.1.2.
72
A partir dos pesos relativos e percentuais apresentados na tabela acima, podemos
observar que o fator de maior condicionamento para a aplicação do fenômeno foi o contexto
labial, apresentando o maior peso relativo de 0,60, seguido do contexto dorsal, com peso
relativo 0,49, e o contexto coronal, com o menor peso relativo de 0,46.
Em parte, nossos resultados corroboram as hipóteses estabelecidas, já que
acreditávamos estarem entre os grupos de fatores mais influentes para a manutenção da
inserção vocálica os contextos coronais ou labiais.
No entanto, como mencionado anteriormente, nossas hipóteses foram confirmadas em
parte, pelo fato de o contexto coronal se mostrar, em nossos resultados, como o menos
relevante nesta variável. Na verdade, o outro fator mais relevante foi o dorsal, o qual,
surpreendentemente, apresentou um índice maior do que o esperado.
A fim de melhor entendermos os resultados obtidos, revisitamos o quadro
demonstrativo das palavras que compõe o nosso corpus (Cf. Apêndice 3), e constatamos que,
dentre as quarenta e oito palavras integrantes do corpus, treze possuem um elemento labial na
posição seguinte ao elemento flutuante ou a vogal epentética. Apenas quatro não possuem um
elemento coronal precedente (sendo, nestes casos, duas dorsais /g/ como em segmento,
dogma, e duas labiais /b/ como em óbvio e submit), ou seja, a maioria dos elementos
fonológicos antecedentes destas palavras possui o traço [+ coronal].
O referido fato se mostrou um tanto interessante para nós, levando-nos a crer que o
traço [+ coronal] dos contextos fonológicos antecedentes motivou a manutenção do fenômeno
da epêntese vocálica, desenvolvendo uma variante sob forma de glide coronal, o qual assume
o lugar da vogal epentética.
Assim, entendemos que, neste caso, houve um espraiamento do traço [+ coronal] dos
contextos antecedentes em direção aos contextos seguintes, criando um ambiente favorável
para a manutenção do contexto epentético, o que pode explicar a ocorrência natural do
fenômeno.
Recorremos aos estudos de Clements & Hume (1995, p. 295) que propõe a Geometria
de Traços, que trabalha com a estrutura dos sons da fala, a fim de explicarmos os dados
obtidos. De acordo com a referida teoria, determinados traços dos sons da fala dispõem de
uma organização hierárquica, sendo, portanto, representados por nós organizados
hierarquicamente. Dentre esses nós, temos o que os autores chamam de Nó de Ponto de
73
Consoante (PC)29
, o qual representa o ponto de articulação na produção dos sons e que são
[labial], [coronal] e [dorsal], compartilhando traços entre si.
Esse compartilhamento de traços decorre da regra de espraiamento de nós, dando
origem à formação de um elemento intrusivo.
Assim, em uma palavra como advérbio, por exemplo, o elemento flutuante [d] adquire
um vocóide intrusivo [i], resultando, portanto, em uma construção do tipo ad[i]vérbio, pois
ambas compartilham do mesmo traço [+ coronal]. Em suma, há um espraiamento do traço do
[d] em relação ao [v], culminando na formação de um vocóide intrusivo, processo que
caracteriza o fenômeno da epêntese vocálica, como dito anteriormente.
Esse processo explica os resultados que encontramos, e justifica o fato de termos a
grande maioria dos elementos flutuantes com o traço [coronal] como favoráveis à aplicação
da epêntese vocálica. Conforme mostramos, isto ocorre devido ao processo de espraiamento
da coronalidade que acontece mesmo quando o contexto seguinte apresenta elementos que
não possuem o traço [+ coronal]. O espraiamento, nesses casos, advém do traço [+ coronal]
do contexto fonológico precedente.
Bisol (1999, p. 733) corrobora a perspectiva dessa teoria proposta por Clements &
Hume (op. cit.), afirmando que o fenômeno da epêntese caracteriza-se, naturalmente, como
um processo de expansão da coronalidade, onde o traço coronal do elemento situado na
posição de coda é espraiado para o elemento seguinte, a fim de preencher o núcleo silábico
vazio.
4.1.3 Contexto fonológico precedente
O contexto fonológico precedente foi a terceira variável mais relevante nesta rodada,
mostrando-se uma das mais favoráveis para a inserção da vogal epentética.
Esta variável refere-se à consoante perdida e buscou investigar qual o fator (labial,
coronal ou dorsal), segmentados conforme 3.2.2.1.1, mais influencia na aplicação da
epêntese. Vale salientar que tais segmentações foram intencionalmente pré-definidas, sendo o
corpus configurado com base nas mesmas.
Cada segmento deste contempla quatro palavras, onde os mesmos aparecem em
posições pretônicas e postônicas (Cf. Apêndice 3).
29
Além de nós consonantais que compartilham traços entre contóides, a teoria contempla nós vocálicos que
compartilham traços entre vocóides. Para maior detalhamento da teoria dos referidos autores, bem como da
representação geométrica por eles proposta, cf. Clements & Hume (1995).
74
A princípio, conforme apontamos na caracterização das variáveis, baseado nos
resultados encontrados em outros estudos (PEREYRON, 2008; SCHNEIDER, 2009), nossa
hipótese era de que o contexto que mais favoreceria a ocorrência da regra de epêntese
vocálica seria o contexto dorsal seguido do contexto labial.
No entanto, conforme os resultados apresentados na tabela a seguir, nossa hipótese
não foi confirmada:
Tabela 3 – Contexto fonológico precedente (L1 + L2)
Fatores Apl./Total % Peso Relativo
labial 194/1138 17% 0, 45
coronal 349/1126 31% 0, 59
dorsal 176/1061 16,6% 0,45
Total 719/3325 21,6% –
Input: .19
Significância: .000
De acordo com os valores encontrados na tabela acima, temos que o contexto coronal,
quando em posição precedente, mostra-se mais favorável à aplicação da vogal epentética,
exibindo um percentual de aplicação de 31 %. Assim, os contextos menos propensos à
epêntese vocálica são dorsal e labial, apresentando, respectivamente, um percentual de 16,6 %
e 17 %, os quais demonstram valores, relativamente, próximos, no que concerne à inibição do
fenômeno.
Inicialmente, nossas hipóteses foram refutadas, haja vista que esperávamos encontrar
o contexto dorsal como o mais relevante para esta variável. Ao invés dele, encontramos no
contexto coronal o maior percentual de incidência do fenômeno, embora, observando
atentamente a tabela, verifica-se que temos valores próximos. No entanto, o dorsal é o único
contexto que apresenta o valor do índice de peso relativo acima do ponto de referência de
0,50.
Vale salientar que outros estudos empreendidos nesta perspectiva como os de
Collischonn (2002), por exemplo, corroboram os resultados encontrados em nossa pesquisa,
haja vista que apontam as coronais como as consoantes que formam as codas mais complexas
75
e difíceis de serem produzidas pelos aprendizes, tornando viável, nesse sentido, o ambiente de
produção da epêntese vocálica.
Assim, percebe-se claramente nos resultados obtidos que, pelo fato de as coronais
constituírem codas complexas, o processo de epentetização se torna mais marcado na
interlíngua destes aprendizes o que, portanto, explica o índice percentual mais elevado que
obtivemos para este fator.
É imprescindível destacar que estes resultados remontam os encontrados na variável
analisada anteriormente – contexto fonológico seguinte, em que quase todas as ocorrências do
fator selecionado (labial) apresentavam uma coronal em posição precedente.
4.1.4 Tonicidade
Esta foi a quarta e última variável selecionada pelo programa como relevante na
primeira rodada dos dados. Nesta variável, controlamos dois fatores: contexto prosódico
pretônico e postônico.
Lançamos a hipótese, inicialmente, de que a frequência maior de aplicação da
epêntese vocálica se manifestaria em contextos pretônicos, já que dados de outros trabalhos,
tais como o de Collischonn (2002) e Schneider (2009), indicam esta tendência.
A tabela a seguir mostra detalhadamente os resultados percentuais, bem como o peso
relativo para cada fator do referido contexto.
Tabela 4 – Tonicidade (L1 + L2)
Fatores Apl./Total % Peso Relativo
pretônico 426/1652 25,8 0,56
postônico 293/1673 17,5 0,43
Total 719/3325 21,6 –
Input: .19
Significância: .000
76
De acordo com os valores expostos na tabela, temos que nossa hipótese foi
confirmada, pois, encontramos, de fato, o fator pretônico como favorável para a ocorrência do
fenômeno de inserção vocálica em posição medial, com um valor percentual de 25,8 %,
exibindo um peso relativo de 0,56, contra o percentual menor do fator postônico de 17, 5 %,
com peso relativo de 0,43.
Tais resultados ratificam os dados encontrados por Schneider (2009, p. 120), onde o
mesmo afirma parecer haver uma forte tendência de se evitar a realização do fenômeno da
epêntese, quando a vogal epentética é produzida em um contexto postônico. Segundo o
referido autor, nesses casos o processo de epentetização destes vocábulos implica
deslocamento do acento principal da palavra na direção esquerda direita.
Vale salientar que os nossos resultados, somados aos encontrados por Schneider
(2009) ecoam a pesquisa desenvolvida por Collischonn (2002), que chega aos mesmos
resultados.
Nossos resultados, bem como os encontrados nos trabalhos supracitados, remontam os
aspectos explicitados no Alinhamento Generalizado, proposto por McCarthy & Prince (1993)
que dá conta de determinadas restrições que explicam as propriedades do acento. O GA
(Generalized Alignment, como é chamado no inglês) corresponde a uma família de restrições
de boa formação do constituinte prosódico, operando no sentido de que a sílaba mais
proeminente esteja localizada na margem esquerda do pé, demandando, neste caso, uma
configuração trocaica30
(MAGALHÃES, 2010, p. 106-107).
Esse processo de boa formação do constituinte admite determinadas estruturas
silábicas estabelecidas através de restrições, sobretudo, de acento. Estas restrições, por sua
vez, determinam os segmentos aceitos em determinados posicionamentos da sílaba (coda,
ataque, núcleo) que se diferenciam de língua para língua. Isto explica o porquê de
determinados fatores relacionados a um dado fenômeno se propagarem de formas diferentes
em cada língua e em cada contexto.
Desta forma, recorremos a tais restrições de acento a fim de justificar a aplicação do
contexto prosódico postônico de forma não favorável ao fenômeno da epêntese. Encontramos,
com base nesta teoria, que a inserção vocálica pode indicar afastamento do acento em relação
ao final da palavra, como podemos ver na segmentação da palavra apto.
30
Termo relacionado à troqueu, o qual designa pé métrico que consiste de uma sílaba acentuada seguida de uma
sílaba não acentuada. Nestes casos, o padrão métrico é dito trocaico (SILVA, 2011).
77
Elemento extraviado, metricamente fraco,
acrescido ao pé mais próximo à sua esquerda.
Inserção da vogal epentética que representa
afastamento do elemento que concentra o
acento (ap), do final da palavra, o que
provoca mudança no acento do vocábulo.
Apto a.pi.to ap.to = esses contextos tendem a rejeitar o recurso da vogal epentética.
Bisol (1999, p. 713) denomina tal processo de adjunção da sílaba extraviada, através
do qual o elemento constituinte não-contado pela regra de acento é acrescido ao pé mais
próximo à sua esquerda, respeitando os limites da palavra. Por isso, em qualquer nível da
estrutura métrica, todo material perdido (da borda) pode ser incorporado ao pé adjacente
como membro metricamente fraco, não podendo, portanto, comportar elementos epentéticos
em sua estrutura. Vejamos os exemplos de étnico:
étnico é.t.ni.co ét.ni.co
Desta forma, entendemos, em linhas gerais, que as teorias de boa formação das sílabas
(McCARTHY, op. cit.; BISOL, op. cit.) dão conta de explicar nossos resultados para a
variável tonicidade, justificando, portanto, a manifestação do fenômeno da epêntese vocálica,
em maior proporção, no fator pretônico.
4.2 Frequência geral da epêntese vocálica em L1
Após a realização da primeira rodada com todos os dados coletados, tanto de L1
quanto de L2 simultaneamente, julgamos necessário proceder a rodadas isoladas apenas com
dados de L1, a fim de investigar mais detalhadamente o comportamento do fenômeno em
cada língua.
78
Assim, nesse segundo momento, o programa GoldVarb X (SANKOFF,
TAGLIAMONTE & SMITH, 2005) considerou a frequência do fenômeno da epêntese
vocálica apenas em língua portuguesa.
Novamente, incluímos nesta rodada estatística todas as variáveis com as quais
trabalhamos na primeira etapa (Cf. em 3.1 a descrição das variáveis na primeira rodada), não
sendo necessária a amalgamação de nenhum fator ou eliminação devido a ocorrências de
knockout.
Considerando os dados de L1, foi atestado um total de 1711 ocorrências em português.
Dentre estas ocorrências, 482 foram de aplicação do fenômeno, com um percentual de 28,2%,
e 1229 de não aplicação, com um percentual de 71,8 %, como segue no gráfico a seguir.
Gráfico 2 – Frequência do fenômeno da epêntese vocálica medial em L1
Os dados comprovam a frequência da epêntese vocálica medial em L1, em uma
porcentagem inferior (28,2 %) ao índice de não aplicação do referido fenômeno.
Este resultado não corresponde a nossas expectativas, haja vista que nossa hipótese era
de que a frequência da epêntese nesta rodada excedesse, significativamente, o número de não
aplicação do fenômeno, tendo em vista que os aprendizes tendem a evitar a presença de uma
79
obstruinte em coda silábica, exigindo que o aprendiz recorra a fenômenos como a inserção da
vogal epentética para desfazer esses tipos de clusters.
No entanto, se compararmos os nossos resultados com os encontrados em outros
trabalhos realizados com os dados de L1, teremos percentuais semelhantes de aplicação do
fenômeno, entre os quais destacamos o de Pereyron (2008, p. 99-100) e de Schneider (2009,
p. 102), por exemplo, que investigaram a epêntese no RS e obtiveram um percentual de 33 %
e 39,4 % de aplicação e 67 % e 60,6 % de não aplicação, respectivamente.
Observando atentamente os nossos resultados e os de Pereyron (2008) e Schneider
(2009), surpreendemo-nos, visto que a maior parte dos trabalhos que buscamos, demonstra
que o dialeto gaúcho fica mais à vontade com sílabas travadas com coda, diferentemente do
dialeto paraibano que fica mais à vontade com as sílabas abertas (LUCENA & ALVES,
2010).
No entanto, acreditamos que o motivo para essa diferença nos resultados possa
encontrar-se nos procedimentos metodológicos entre nossa pesquisa e as pesquisas
supracitadas.
Se atentarmos à pesquisa de Pereyron (2008), veremos que seu corpus foi organizado
com base em uma lista de 69 palavras que apresentam encontros consonantais existentes tanto
em português quanto em inglês, além de incluir uma lista de 34 frases pertencentes ao inglês
coloquial. Já o trabalho de Schneider (2009) conta com um corpus formado por 39 palavras
em inglês inseridas em 13 frases, incluindo também 61 palavras em inglês, as quais compõem
4 parágrafos.
Diferente das pesquisas desenvolvidas no RS, nosso trabalho possui um corpus
formando por 60 palavras tanto em português quanto em inglês, dentre as quais 48
apresentam, intencionalmente, encontros consonantais favoráveis à ocorrência de epêntese
vocálica medial e 12 são distratoras. Estas palavras foram distribuídas entre frases veículos
em ordem aleatória e entre 6 textos, para que pudéssemos proceder a análise das palavras
isoladas e das palavras em um contexto maior de produção.
No quadro a seguir será apresentada a relação das variáveis independentes analisadas e
selecionadas nesta segunda rodada, considerando como variável dependente a inserção
vocálica.
80
Quadro 11 – Grupos selecionados na 2ª rodada
2ª R O D A D A – L1
Grupos Analisados Grupos Selecionados
sexo proficiência na língua
proficiência na língua contexto fonológico seguinte
tipo de instrumento contexto fonológico precedente
contexto fonológico seguinte tonicidade
contexto fonológico precedente –
tonicidade –
Nesta segunda rodada, assim como na primeira, todos os grupos de fatores controlados
na pesquisa foram analisados. Foram selecionados pelo GoldVarb X (SANKOFF,
TAGLIAMONTE & SMITH, 2005) como significantes para o fenômeno em questão, os
seguintes fatores: proficiência na língua, contexto fonológico seguinte, contexto fonológico
precedente e tonicidade. Os fatores sexo e tipo de instrumento não foram selecionados e não
serão considerados. Assim sendo, nossa análise irá contemplar a discussão apenas dos fatores
selecionados pelo programa nesta rodada.
Mais uma vez, percebe-se a forte relação que o fator nível de proficiência exerce sobre
a aplicação do fenômeno nesta rodada, ratificando nossas hipóteses iniciais para esta variável.
Partiremos, agora, para a análise dos fatores selecionados, discutindo o papel de cada
variável na desenvoltura do fenômeno da epêntese medial em língua portuguesa, a fim de
verificar a aplicabilidade das hipóteses estabelecidas.
4.2.1 Proficiência na língua
Na rodada estatística dos dados de L1, temos que a variável proficiência na língua foi,
surpreendentemente, considerada a mais relevante na manifestação da epêntese vocálica em
posição medial, uma vez que não esperávamos a influência dessa variável relacionada à L2 na
produção dos dados de L1.
81
Esta variável conta com os fatores básico, intermediário e avançado, os quais
analisamos a fim de investigar a influência dos mesmos na aplicação da epêntese. Com base
nessa variável, sustentamos, de forma geral, a hipótese de que quanto mais elevado o nível de
proficiência na L2 que o aprendiz apresenta, menor a inserção vocálica em suas produções.
Apresentamos os valores referentes aos fatores dessa variável na tabela a seguir:
Tabela 5 – Proficiência na língua (L2) nos dados de L1
Fatores Apl./Total % Peso Relativo
básico 196/569 34,4 0,58
intermediário 184/569 32,3 0,56
avançado 102/573 17,8 0,35
Total 482/1711 28,2 –
Input: .25
Significância: .008
A tabela mostra dados que confirmam que os aprendizes que exibem um nível mais
elevado de proficiência na L2 aplicam em menor proporção a regra da epêntese vocálica,
diferentemente dos aprendizes que exibem níveis menores de proficiência.
Assim, em termos percentuais, temos que apenas 17,8 % dos aprendizes em níveis
avançados inserem a vogal epentética em suas produções, com um peso relativo de 0,35,
enquanto que 32,3% (0,56) de aprendizes de nível intermediário e 34,4% (0,58) do nível
básico lideram os índices de aplicação do fenômeno.
A partir dos resultados encontrados para esta variável, temos, portanto, a impressão de
que os dados ratificam a estreita relação entre L1 e L2, dado o fato de que, entre outras
variáveis, a variável proficiência na língua foi selecionada como relevante, não apenas nas
rodadas de L1, mas também em L2, como veremos a seguir. A este respeito, Ré (2006, p. 122)
pontua que realmente há uma forte ligação entre a aprendizagem de língua estrangeira e a
relação inconsciente que mantemos com a “língua fundadora”, já que a L1 é a base da
estrutura que construímos para manipular a língua-alvo.
82
Assim, acreditamos que essa relação seja responsável por fazer com que os fatores que
operam na L1 possam também operar na interlíngua e/ou na L2 e vice-versa, motivado,
sobretudo, pelo princípio da transferência linguística. A nosso ver, tal fato configura-se como
uma possível explicação para os resultados obtidos, pois mesmo se tratando de língua materna
na qual o aprendiz é naturalmente proficiente, cremos que a variável foi selecionada devido à
relação de biunivocidade estabelecida entre ambas as línguas L1 e L2, que atua na direção L1
interlíngua L2 (SCHNEIDER, 2009, p. 140).
Desta forma, acreditamos que tal discussão relacionada a esta variável possa ser
demonstrada através da figura a seguir:
Figura 1 – Processo de transferência linguística
Neste sentido, em se tratando de língua materna, ecoamos Geva (2006, p. 1) 31
a fim
de corroborar o resultado obtido em L1, pois, segundo a referida autora, o que ocorre é que
determinados processamentos aplicados em L1 e L2 são responsáveis pela transferência de
habilidades (linguísticas) não só da L1 para a L2, mas também da L2 para L1, de forma a
mostrar a relação mútua existente entre ambas.
31
Vale salientar que a proposta de Geva (2006) não está vinculada propriamente à pesquisa de caráter
variacionista, mas, à atividade de leitura em inglês por crianças, em específico. Todavia, fizemos uso de sua fala
por achar pertinente sua discussão no que concerne à questão da influência recíproca que existe entre L1 e L2.
Para mais detalhes, aconselhamos visitar o material da autora na íntegra.
L2 L1
1º momento
2º momento
83
4.2.2 Contexto fonológico seguinte
Esta variável foi a segunda selecionada como relevante na segunda rodada dos dados,
tendo por finalidade analisar que tipo de contexto – labial, coronal ou dorsal, influencia a
inserção da vogal epentética.
De forma geral, lançamos a hipótese de que contextos coronais e labiais exibiriam os
mais altos índices de frequência do fenômeno epentético, conforme mostram as literaturas que
temos nesta área (PEREYRON, 2008; SCHNEIDER, 2009).
Na tabela que segue, serão discriminados os valores percentuais e relativos para a
referida variável:
Tabela 6 – Contexto fonológico seguinte (L1)
Fatores Apl./Total % Peso Relativo
labial 177/502 35,3 0,57
coronal 288/1137 25,3 0,46
dorsal 17/72 23,6 0,46
Total 482/1711 28,2 –
Input: .25
Significância: .008
Os resultados da tabela mostram que os fatores labiais são os que têm percentuais e
pesos relativos mais elevados, seguidos do contexto coronal e dorsal, que apresentam os
números mais baixos. O fator labial foi aplicado 177 vezes em um total de 502 ocorrências,
apresentando uma margem percentual de 35,3 % e peso relativo de 0,57. No fator coronal,
ocorreram 288 aplicações do fenômeno, totalizando um percentual de 25,3 % e peso relativo
de 0,46. Finalmente, no fator dorsal, de 72 ocorrências totais do fenômeno, 17 foram relativas
a inserção vocálica, distribuídas em um percentual de 23,6 % e também exibindo um peso
relativo de 0,46.
Tais resultados mostram, mais uma vez, que o fator labial liderou o índice de
aplicabilidade do fenômeno da epêntese. Todavia, coincidentemente, este resultado foi
84
praticamente similar aos encontrados com os dados de L1 + L2, em que o fator labial também
se mostrou como fator mais propenso para a inserção vocálica. Assim, julgamos necessário
retomar parte dessa discussão (Cf. tópico 4.1.2).
No tópico em que abordamos esta variável a partir dos dados de L1 + L2, fizemos um
apanhado geral das palavras que continham uma lateral em um contexto seguinte e
identificamos que a maior parte dessas palavras exibia uma coronal como contexto
precedente.
Assim, procedemos da mesma forma, a fim de comprovar se os dados encontrados na
análise anterior correspondiam aos encontrados na presente análise e, ao investigar o corpus
de L1 constatamos que das vinte e quatro palavras, sete apresentam o contexto lateral em
posição seguinte, das quais quatro têm uma coronal como elemento precedente a esta lateral.
Percebe-se que o número de ocorrências é relativamente pequeno para afirmar que um
dado fenômeno é recorrente ou não. Entretanto, tendo em vista que tais dados corroboram os
resultados encontrados anteriormente, acreditamos que esses dados podem dar um leve
indício de que características presentes em determinados contextos são relevantes para a
aplicação do fenômeno fomentado.
Deste modo, tendo encontrado o mesmo resultado entre os dados de L1 e comparando-
os com os nossos resultados anteriores de L1 + L2, bem como os resultados de outros
trabalhos, entendemos que isso só vem a acrescer e fortalecer a proposta inicial de que a
coronalidade presente em elementos fonológicos espraia o traço [+ coronal] para outros
elementos. Este processo de espraiamento, sobretudo da coronalidade, favorece a criação de
elementos que compartilham desse mesmo traço, os quais geralmente são vocóides intrusivos,
processo esse que traduz o fenômeno da epêntese e explica os nossos resultados.
Mais uma vez, ecoamos a teoria de Clements & Hume (1995), que propõe a
Geometria de Traços, através da qual conseguimos justificar este processo. Segundo esta
teoria, os sons da fala são hierarquicamente representados por nós, os quais configuram em
seu interior uma base fonética vinculada a aspectos articulatórios, auditivos e/ou perceptivos
de produção dos segmentos. Os aspectos articulatórios, por sua vez, são responsáveis pela
interação entre consoantes e vogais que compartilham traços entre si, originando, portanto,
elementos intrusivos. Vale ressaltar que, neste contexto, a epêntese vocálica assume o papel
de elemento intrusivo, utilizado pelo aprendiz no intuito de preencher o núcleo vazio e que se
mostra complexo.
85
4.2.3 Contexto fonológico precedente
O fator Contexto Fonológico Precedente foi a terceira variável selecionada como
relevante para a ocorrência da epêntese vocálica medial em L1. Nesta variável, buscamos
investigar qual o contexto em posição de coda que oferece um ambiente favorável para
inserção vocálica. Para tanto, categorizamos os seguintes subfatores: labiais [p] e [b], coronais
[t] e [d] e dorsais [k] e [g].
Estes subfatores foram estabelecidos anteriormente, dado o fato de que todo o corpus
foi constituído com base nesta divisão, totalizando um quadro composto por 24 palavras nas
quais ocorrem os contextos supracitados em posição pretônica e postônica (Cf. Apêndice 3).
Lançamos, portanto, a hipótese de que o contexto dorsal seria mais receptivo no que se
refere à inserção vocálica em posição medial, pois em estudos realizados em outros estados
(PEREYRON, 2008; SCHNEIDER, 2009), esse foi o resultado a que se chegou.
Os resultados referentes a esta variável são observados na tabela que segue:
Tabela 7 – Contexto fonológico precedente (L1)
Fatores Apl./Total % Peso Relativo
labial 145/576 25,2 % 0, 48
coronal 224/566 39,6 % 0, 62
dorsal 113/569 19,9 % 0,39
Total 482/1711 28,2 –
Input: .25
Significância: .008
De acordo com os dados da tabela, percebe-se que as nossas hipóteses não foram
confirmadas, visto que o contexto coronal foi o que se sobressaiu em termos de aplicação do
fenômeno, com um percentual de 39,6 % e peso relativo de 0,62. Os contextos que se
encontram abaixo do ponto neutro (0,50) e, portanto, não se mostram relevantes para o
processo são o labial e o dorsal, respectivamente. O contexto labial se mostra com
86
aplicabilidade de 25,2% e peso relativo de 0,48, seguido do contexto dorsal com frequência
percentual de 19, 9 % e peso relativo de 0,39.
Este resultado confirma as estimativas apresentadas em parte da literatura
empreendida na área, relacionada a esta variável (COLLISCHONN, 2002; CARDOSO,
2005), sustentando a ideia de que as coronais caracterizam-se como elementos responsáveis
pela formação das codas mais complexas.
Por analogia ao fator fonológico seguinte analisado nesta rodada (Cf. item 4.2.2), bem
como na rodada de L1 + L2 (Cf. item 4.1.2), deve-se ressaltar que o comportamento do
contexto coronal também se mostrou mais favorável à aplicação do fenômeno em relação aos
demais contextos. Deve-se destacar, ainda, que a maior parte das palavras analisadas no fator
fonológico seguinte destas rodadas tinha a presença de coronais em posição precedente, o que
novamente ratifica a estreita relação do fator coronal com o fenômeno epentético, já
enfatizada em discussões anteriores em nosso trabalho.
Observamos que mesmo as variantes labial e dorsal apresentando pontos de referência
pouco favorecedores, 0,48 e 0,39, respectivamente, o fator labial é o que mais se aproxima do
ponto neutro e, por conseguinte, da variante coronal que excede este valor, ilustrada na matriz
abaixo, proposta por Guy (2007, p. 10):
Quadro 12 – Matriz de traços distintivos proposta por Guy (2007)
[coronal] [posterior]
labial – –
coronal + –
dorsal – +
Adaptado de Guy (2007)
Na discussão empreendida por Guy (2007) a partir do quadro de traços demonstrado
acima, o mesmo propõe que o contexto coronal compartilha uma característica com o
contexto labial, mas nenhuma característica com o contexto dorsal. Guy (op. cit.) ainda
acrescenta que esse compartilhamento é responsável pelo fato de as coronais serem
parcialmente semelhantes as labiais ([p], [b], [m]) no que concerne ao local de articulação, e
87
mais diferentes das dorsais ([k], [g]), o que dá conta de explicar, ao nosso ver, a aproximação
dos valores de ambos os contextos.
4.2.4 Tonicidade
A variável tonicidade foi a última variável da segunda rodada selecionada como
relevante para o processo. Com esta variável, buscamos investigar quais os contextos
prosódicos que influenciam a ocorrência do fenômeno da epêntese – pretônico ou
postônico.
A partir da literatura empreendida na área (COLLISCHONN, 2002; SCHNEIDER,
2009), levantamos a hipótese de que o contexto mais influente para o processo seria o
pretônico, haja vista que estudos revelavam esta mesma tendência para a referida variável.
Os nossos resultados para a variável tonicidade são os seguintes:
Tabela 8 – Tonicidade (L1)
Fatores Apl./Total % Peso Relativo
pretônico 322/860 37,4 0,62
postônico 160/851 18,8 0,37
Total 482/1711 28,2 –
Input: .25
Significância: .008
De acordo com os dados observados na tabela acima, percebe-se que os resultados
corroboram nossas expectativas, tendo em vista que já esperávamos o fator pretônico entre o
grupo de fatores que mais tendem a favorecer o processo.
O fator pretônico exibe um percentual de aplicação de 37, 4 %, com peso relativo de
0,62, mostrando-se favorável à aplicação da inserção vocálica, enquanto que o fator postônico
mostra um percentual de 18, 8 %, com peso relativo de 0,37, o qual estando abaixo do ponto
neutro, mostra-se desfavorável à aplicação da regra da epêntese vocálica em posição medial
em L1.
88
Como proposto em discussões anteriores (4.1.4), tais resultados convergem para os
resultados encontrados em outros trabalhos realizados por Schneider (2009) e Collischonn
(2002) que também chegaram a esta mesma estimativa.
Os resultados, mais uma vez, solidificam a tese de que contextos situados em uma
posição pretônica são mais passíveis de aceitar vogais epentéticas, pelo fato de estas não
representarem o afastamento da sílaba receptora do acento em relação à sílaba final da
palavra, como, geralmente, ocorre com contextos em posição postônica (BISOL, 1999).
McCarthy & Prince (1993, apud MAGALHÃES, 2010) também dão conta de explicar
a motivação do elemento prosódico postônico em refutar a ocorrência de inserção vocálica em
segmentos mediais. Segundo estes autores, é na teoria do Alinhamento Generalizado que se
encontram as propriedades da tonicidade que versam sobre a boa formação da sílaba. Os
autores afirmam que as sílabas que se mostram mais salientes devem posicionar-se à margem
esquerda do pé silábico, evitando, desta forma, o deslocamento de acento.
Bisol (1999) compartilha desta teoria proposta por McCarthy & Prince (1993), mas
postula a teoria de adjunção da sílaba extraviada. De acordo com a autora, esta teoria deve
incorporar elementos ao pé mais próximo situado à esquerda, para que assim, considerado
como elemento metricamente fraco, fique impossibilitado de transcender acento ou receber
elementos epentéticos.
4.3 Frequência geral da epêntese vocálica em L2
Depois de termos verificado o comportamento da epêntese vocálica nos dados de L1 +
L2 e de L1 apenas, decidimos empreender uma terceira rodada com o programa GoldVarb X
(SANKOFF, TAGLIAMONTE & SMITH, 2005), considerando somente os dados de L2
correspondentes às produções de língua inglesa por aprendizes brasileiros.
Nesta rodada, trabalhamos novamente com todos os dados que foram analisados nas
duas rodadas anteriores, e procedemos à eliminação do fator dorsal do contexto fonológico
seguinte, como veremos mais detalhadamente adiante, devido a um caso de ocorrência de
knockout, tendo em vista que o referido fator apresentou taxa de aplicação nula – 0 %.
O percentual geral do fenômeno da epêntese vocálica em inglês como L2 apresenta
um total de 1610 ocorrências, entre as quais 237 são de aplicações do fenômeno, apresentando
um índice percentual de 14, 7 %, e 1373 de não aplicação com um percentual de 85, 3 %.
Estes valores podem ser conferidos no gráfico a seguir:
89
Gráfico 3 – Frequência do fenômeno da epêntese vocálica medial em L2
Os dados do gráfico acima revelam que a frequência do fenômeno da epêntese em
inglês se mostra significantemente menor do que o índice de não aplicação – 14,7 % contra
85, 3 %, respectivamente.
No geral, já esperávamos que esse percentual fosse atingido, uma vez que temos a
maioria dos informantes do curso de Licenciatura Plena em Letras, o que pode resultar em um
conhecimento mais detalhado a respeito da estrutura silábica da língua inglesa, noção essa
advinda das aulas da disciplina Fonética e Fonologia de Língua Inglesa.
Alves (2008, p. 123) corrobora esta perspectiva, afirmando que mesmo alguns
informantes de sua pesquisa tendo sido apontados pelo teste como pertencentes a um nível
elementar de proficiência na L2, tais aprendizes não poderiam ser completamente vistos como
iniciantes em seus estudos de L2. De acordo com o referido autor, isso se deve ao fato de
estes aprendizes serem/terem sido acadêmicos do curso de Letras – Habilitação Língua
Inglesa e receberem, semanalmente, uma grande exposição à língua estrangeira, o que
constitui, segundo Alves (op. cit.), uma possível explicação para os altos índices de produção
semelhante ao falar nativo, em seus dados.
Tomando como base outros trabalhos, como o de Schneider (2009) realizado no Sul
do Brasil, encontramos valores próximos aos nossos. Em sua análise, o referido autor também
constatou um pequeno índice de aplicação do fenômeno (15,5 %), sendo levemente maior que
90
o nosso. Este resultado não nos surpreende, já que grande parte dos estudos desenvolvidos no
Sul do país revela que falantes gaúchos sentem-se mais à vontade com a produção de codas,
devido a um fenômeno conhecido como Afrouxamento da Condição de Coda (ACC), muito
marcado no dialeto porto alegrense (LUCENA & ALVES, 2009; 2010).
Abaixo, são discriminadas as variáveis independentes submetidas à análise e
selecionadas, nesta última rodada:
Quadro 13 – Grupos selecionados na 3ª rodada
3ª R O D A D A – L2
Grupos Analisados Grupos Selecionados
sexo proficiência na língua
proficiência na língua contexto fonológico seguinte
tipo de instrumento contexto fonológico precedente
contexto fonológico seguinte –
contexto fonológico precedente –
tonicidade –
Novamente, todas as variáveis foram controladas, dentre as quais apenas três foram
selecionadas como relevante para os dados de L2 – proficiência na língua, contexto
fonológico seguinte e contexto fonológico precedente, sendo essas o foco da discussão que
levantamos a seguir.
4.3.1 Proficiência na língua
A variável proficiência na língua foi a primeira selecionada como estatisticamente
relevante na rodada dos dados de L2.
91
Nossa hipótese inicial para esta variável era de que quanto mais avançado o nível de
proficiência do aprendiz na língua, menor o índice de aplicação de inserção vocálica nas
produções desses falantes.
A tabela a seguir mostra os valores percentuais encontradas para os dados dessa
variável:
Tabela 9 – Proficiência na língua (L2)
Fatores Apl./Total % Peso Relativo
básico 104/521 20 0,62
intermediário 99/533 18,6 0,60
avançado 34/556 6,1 0,29
Total 237/1610 14,7 –
Input: .11
Significância: .004
Os resultados expostos na tabela acima demonstram que, entre os dados de L2, temos
um índice de aplicação de 20 % e peso relativo de 0,62 para o nível básico, e um percentual
de 18,6 % e peso relativo de 0,60 para o nível intermediário, ao passo que aprendizes de nível
avançado exibem um valor acentuadamente menor no percentual de manutenção do fenômeno
que é de 6,1 % e peso relativo de 0,29.
A partir dos dados expostos, percebe-se que os índices de aplicação do fenômeno são
mais recorrentes entre aprendizes de nível básico e intermediário, apresentando percentuais de
20 % e 18,6 % e pesos relativos de 0,62 e 0,60, respectivamente.
Note-se que tais resultados são bem próximos, confirmando, portanto, que a
ocorrência da epêntese vocálica está diretamente ligada ao nível de proficiência, conforme já
esperávamos. Os resultados de outros trabalhos, tais como os de Alves (2009, p. 224),
também confirmam o que presumimos a partir de nossos dados, dado o fato de que o referido
autor evidencia que processos como a epêntese vocálica são características dos níveis mais
elementares de aquisição de L2.
Estes resultados ratificam a perspectiva de que em estágios iniciais os aprendizes
ainda estão recebendo os inputs necessários para maturar cognitivamente as informações que
92
estão recebendo sobre a L2. Assim, enquanto as informações não estiverem maturadas, a
tendência natural é de que estes aprendizes se apóiem em construções advindas da L1,
principalmente quando se encontram diante daquelas representadas por segmentos complexos
de serem produzidos. Desta forma, temos que o fenômeno da epêntese vocálica ilustra
adequadamente este processo a partir do qual, clusters passíveis de serem encontrados apenas
no inventário silábico do inglês e não do português apresentam uma estrutura que viola sua
fonotática e tornam-se, por isso, difíceis de serem produzidos.
De acordo com Ré (2006, p. 102), essa é uma situação inevitável, sobretudo quando
considera-se os primeiros momentos de aprendizagem de uma L2, em que a língua de origem
tende a aparecer de forma clara nas produções dos aprendizes, deixando vestígios de sua
estrutura. No entanto, em se tratando de níveis mais avançados, temos aprendizes proficientes
que geralmente exibem um nível de competência mais elevado na L2 e refutam construções
mais próximas à L1 em suas produções. Logo, presume-se que o tempo de contato destes
aprendizes com a L2 pressupõe competência para lidar com estruturas mais elaboradas,
evitando ao máximo a transferência de elementos de L1 para L2.
Nossa discussão a respeito do comportamento desta variável vem, mais uma vez, a
corroborar os dados de trabalhos como os de Cardoso (2005), Pereyron (2008), Schneider
(2009), entre outros encontrados na literatura da área, confirmando o indício de que o nível de
proficiência se mostra um importante fator estreitamente ligado à aplicação do fenômeno da
epêntese vocálica nos dados de língua inglesa.
4.3.2 Contexto fonológico seguinte
O fator contexto fonológico seguinte foi o segundo selecionado pelo software
GoldVarb X (SANKOFF, TAGLIAMONTE & SMITH, 2005) como relevante para a
aplicação do fenômeno da epêntese vocálica.
Com base nas pesquisas realizadas no Rio Grande do Sul por Pereyron (2008) e
Schneider (2009), levantamos a hipótese de que os contextos coronais e/ou labiais
favoreceriam a manutenção da vogal epentética, mostrando-se como os mais propícios para o
fenômeno.
Em seguida, serão expostos os resultados para cada variante considerada nesta
variável:
93
Tabela 10 – Contexto fonológico seguinte (L2)
Fatores Apl./Total % Peso Relativo
labial 115/419 27,4 0,70
coronal 122/1191 10,2 0,42
Total 237/1610 14,7 –
Input: .11
Significância: .004
Desse modo, como pode-se observar na tabela, temos, mais uma vez, que o contexto
labial sobrepõe-se ao coronal, exibindo um percentual de 27, 4 % e um peso relativo de 0,70
de aplicação da epêntese vocálica, ao passo que o coronal exibe um percentual de 10, 2 % e
um peso relativo de 0, 42.
O subfator dorsal foi excluído desta terceira rodada dos dados de L2 pela detecção de
ocorrência de knockout, em que obtivemos 0 % de aplicação de epêntese vocálica em quatro
ocorrências do contexto dorsal [k] e [g]. Assim, pareceu-nos mais sensato, neste caso,
proceder à eliminação desse fator, trabalhando apenas com os fatores labiais e dorsais.
Analisando os dados do quadro acima, procedemos à constatação imediata de que os
fatores labiais são os mais influentes para manutenção da inserção vocálica. Como
mencionamos nessas últimas rodadas, apesar de o contexto labial ter sido selecionado como o
mais relevante, não se pode perder de vista que a maior parte dos contextos anteriores
apresenta uma coronal em posição precedente, o que fortalece mais ainda a tese de que
elementos que possuem traços [+ coronal] oferecem um ambiente favorável para a ocorrência
do fenômeno da epêntese vocálica.
Ecoando Bisol (1999, p. 733), partimos do pressuposto de que o fenômeno da epêntese
vocálica caracteriza-se, em determinados contextos, pelo processo de expansão da
coronalidade, no qual há o espraiamento do elemento da coda silábica, que preenche o núcleo
vazio. Assim, o que ocorre é a incorporação de um novo elemento através da expansão da
coronalidade, mecanismo esse que é o responsável pela criação da nova sílaba. De acordo
com a referida autora, esse é o recurso preferido pelos usuários da língua portuguesa para
desfazer os encontros consonantais complexos. Neste caso, a partir dos resultados que
encontramos em nossos dados, podemos afirmar que os aprendizes utilizaram tal recurso para
94
modificar os clusters encontrados na língua inglesa, a fim de facilitar a produção dos mesmos
em L2.
Estes pontos elencados por Bisol (op. cit.) retratam, em parte, os dados que obtivemos
e a hipótese que levantamos, já que mesmo não sendo formalmente selecionado, o contexto
coronal se fez presente nos dados do contexto labial, o qual foi estatisticamente selecionado.
4.3.3 Contexto fonológico precedente
O fator contexto fonológico precedente foi a terceira e última variável estatisticamente
selecionada pelo GoldVarb X (op. cit.) como relevante para a aplicação do fenômeno da
epêntese vocálica em L2. Para procedermos a sua análise, conforme estabelecido
anteriormente, trabalhamos com os mesmos fatores – labial, coronal e dorsal, analisados em
posição de coda.
Tendo em vista os resultados encontrados na literatura da área a partir da qual nos
pautamos (PEREYRON, 2008; SCHNEIDER, 2009), formulamos nossa hipótese no sentido
de que o fator dorsal seria o mais propício para a ocorrência da epêntese vocálica medial.
A tabela a seguir apresenta os resultados encontrados para os fatores controlados a
partir desta variante:
Tabela 11 – Contexto fonológico precedente (L2)
Fatores Apl./Total % Peso Relativo
labial 49/562 8,7 0, 40
coronal 125/556 22,5 0, 53
dorsal 63/492 12,8 0,56
Total 237/1610 14,7 –
Input: .11
Significância: .004
Ao observar a tabela acima, percebemos que os dados obtidos nesta variável
corresponderam a nossa expectativa, visto que já esperávamos encontrar o fator dorsal como o
95
mais favorável para a aplicação do processo de inserção vocálica, com um percentual de
12,8% de aplicação e peso relativo de 0,56.
O fator labial, todavia, se mostrou menos propenso à ocorrência da epêntese,
revelando um percentual de aplicação de 8,7 % e peso relativo de 0,40. O fator coronal, por
sua vez, exibiu um percentual de 22, 5 % e peso relativo de 0,53.
Nossos resultados confirmam nossa hipótese de que o contexto dorsal mostra-se com
um ambiente mais favorável à epêntese vocálica medial, corroborando as constatações das
pesquisas realizadas no Rio Grande do Sul, também envolvendo a epêntese medial. Em
Schneider (2009), as dorsais do tipo [g], na posição precedente em língua inglesa, mostram-se
intimamente relacionadas à epêntese medial.
No entanto, não se pode perder de vista que, mesmo não sendo selecionada como
relevante, a coronal também se mostrou relativamente equiparada a dorsal em termos de
aplicação do fenômeno, exibindo um peso relativo acima do ponto neutro, e ratificando a
estreita relação que este fator estabelece com o fenômeno.
Isso mostra que mesmo o fator dorsal parecendo ser bem mais aceito pelos aprendizes
em suas interlínguas, a coronal também se manifesta da mesma forma, tendo esse fato
ocorrido em todas as rodadas empreendidas.
Assim, podemos afirmar que, em língua inglesa, as dorsais em posição de coda se
mostram mais complexas de serem produzidas, passando a ser um dos últimos segmentos a
serem adquiridos pelo aprendiz e o mais passível de ocasionar a ocorrência de vogal
epentética. Huf & Alves (2010, p. 20) chegaram a resultados semelhantes aos nossos em sua
pesquisa e afirmam que ocorrências de epêntese após dorsal parecem sugerir que a sequência
/dorsal + coronal/ se mostra mais dificultosa para o aprendiz do que o encontro /labial +
coronal/.
4.4 Comparações das rodadas realizadas
Apresentaremos, a seguir, os resultados das três rodadas que empreendemos, de forma
a verificar o comportamento do fenômeno da epêntese vocálica medial nas mesmas.
Cabe antecipar que os resultados de todas as rodadas foram bem próximos, levando-
nos a crer que mesmo tratando de diferentes enfoques, cada rodada ratificou os resultados
mutuamente.
96
Para início de análise, procedemos à comparação dos percentuais de aplicação e não
aplicação do fenômeno da epêntese vocálica, a partir dos gráficos a seguir:
Gráfico 4 – Comparação da ocorrência da epêntese vocálica em todas as rodadas
No geral, observamos que o maior índice de aplicação da epêntese se mostrou nos
dados de L1, o que, de certa forma, já esperávamos. Tomamos como base de explicação para
este resultado, o fato de que a epêntese caracteriza-se como um recurso natural, usado e
preferido pelos falantes do PB desde muito tempo, em específico desde o latim vulgar, para
atingir o padrão CV da nossa língua. Esta estratégia é utilizada pelo falante como uma forma
de manter o molde silábico da língua e desfazer as codas complexas, a fim de respeitar a boa-
formação de sua estrutura. Respeitar essas condições de boa-formação implica na recuperação
de elementos flutuantes que formam codas complexas, de forma que estes sejam silabados a
partir da inserção de uma vogal epentética (BISOL, 1999).
No que concerne a não aplicação do fenômeno, observamos que o maior índice
ocorreu nos dados de L2, o que permite concluir que o nível de proficiência dos aprendizes
atuou diretamente na obtenção deste resultado, já que tais aprendizes parecem mostrar uma
consciência da estrutura do inglês, aplicando minimamente o fenômeno da epêntese para
desfazer clusters complexos. Este fato comprova, mais uma vez, que quanto mais proficiente
97
um aprendiz se mostra na L2, menor a probabilidade de haver transferências de sua L1 em
direção a L2, tendo em vista que o sistema da L2 já está cognitivamente maturado. Assim,
acreditamos que as estruturas da L2 já se mostram internamente estruturadas, implicando em
produções mais próximas às nativas, com menor indício de evidências de L1 em suas
produções.
Em se tratando dos grupos selecionados como favoráveis à aplicação da epêntese
medial, percebemos que as mesmas variáveis foram selecionadas em todas as rodadas, com
exceção da variável tonicidade, que foi excluída na 3ª rodada, conforme mostra o seguinte
quadro.
Quadro 14 – Grupos selecionados em todas as rodadas
G R U P O S S E L E C I O N A D O S
1ª rodada (L1 + L2) 2ª rodada (L1) 3ª rodada (L2)
proficiência na língua proficiência na língua proficiência na língua
contexto fonológico
seguinte
contexto fonológico
seguinte
contexto fonológico
seguinte
contexto fonológico
precedente
contexto fonológico
precedente
contexto fonológico
precedente
tonicidade tonicidade –
De forma análoga, percebe-se claramente que os dados foram similares, mostrando
que as variáveis favoráveis ao processo de inserção vocálica se aplicam em todas as rodadas,
na mesma sequência, exceto a 3ª rodada que dispensa a variável tonicidade.
Iniciaremos as comparações dessas variáveis por rodada, elucidando os dados da
variável proficiência na língua a partir dos pesos relativos apresentados no seguinte gráfico:
98
Gráfico 5 – Comparação da variável proficiência na língua em todas as rodadas
Os dados expostos no gráfico acima revelam que, em todas as rodadas, a ocorrência da
epêntese vocálica medial foi menos recorrente entre aprendizes de nível avançado, conforme
já presumíamos. De acordo com o que apontam diversos trabalhos na área (COLLISCHONN,
2002; CARDOSO, 2005; PEREYRON, 2008), esses aprendizes pertencentes ao nível
avançado são os que se encontram em estágio mais avançado de aquisição da segunda língua
e que, no caso da análise da epêntese medial, produzem mais codas, o que indica ausência de
epêntese.
Em relação aos níveis menos avançados como o básico e o intermediário, os dados
mostram que esses são mais passíveis de receber a vogal epentética, pois aprendizes que se
encontram nesses estágios talvez não sejam, ainda, capazes de lidar com construções
complexas, principalmente quando se trata de consoantes plosivas presentes em coda silábica.
Assim, o recurso utilizado por tais aprendizes é a inserção vocálica para dirimir estes
encontros consonantais, o que explica, portanto, os resultados mais acentuados nesses níveis.
Passemos adiante para a comparação dos dados do contexto fonológico seguinte, de
modo a verificar o comportamento da vogal epentética em meio às três rodadas empreendidas.
99
Gráfico 6 – Comparação da variável contexto fonológico seguinte em todas as rodadas
Os dados dos gráficos acima revelam que vocábulos que apresentam fatores labiais em
posição seguinte lideram os indícios de aplicação do fenômeno da epêntese vocálica medial.
No entanto, vale ressaltar novamente que estes vocábulos apresentam coronais em posição de
coda, fatores estes que, no histórico da literatura da área, apresentam-se como favoravelmente
receptivos à inserção vocálica (CLEMENTS & HUME, 1995; BISOL, 1999;
COLLISCHONN, 2002; CARDOSO, 2005; PEREYRON, 2008; SCHNEIDER, 2009).
Conforme pontuamos em análises anteriores, estes trabalhos vêm a ratificar o ideal de
espraiamento da coronalidade de determinados contextos, motivando, desta forma, a
manutenção de aplicação da epêntese. Neste contexto, o elemento flutuante condicionado pelo
traço [+ coronal] fica passível de adquirir um vocóide intrusivo marcado geralmente pelo [i],
com o propósito de preencher o núcleo silábico vazio.
É oportuno enfatizar que obtivemos valores próximos em cada rodada, à exceção do
fator dorsal que foi eliminado da rodada de L2 devido à ocorrência de knockout. Por este
motivo, não lhe foi atribuído nenhum valor.
A seguir, apresentamos o gráfico exibindo os valores de peso relativo da variável
contexto fonológico precedente:
100
Gráfico 7 – Comparação da variável contexto fonológico precedente em todas as rodadas
Ao analisar cada rodada da variável contexto fonológico precedente, percebe-se um
comportamento semelhante em relação aos fatores controlados, sobretudo nas rodadas 1 e 2.
Conforme presumimos, o contexto coronal excedeu o número de aplicações do
fenômeno da epêntese medial em todas as rodadas, à exceção do contexto dorsal na última
rodada realizada com os dados de L2.
Não obstante, mesmo tendo a dorsal se sobressaído às demais variantes em L2, cabe
ressaltar que o valor do peso relativo da coronal apresentou-se equiparado à dorsal, ao passo
que ambas se mostraram acima do valor do ponto neutro, o que reforça ainda mais essa
influente característica de espraiamento dos elementos coronais. Além disso, trabalhos
realizados nessa perspectiva (HUF & ALVES, 2010) reforçam a tese de que a aplicação do
fenômeno epentético após contextos dorsais indicam que sequências do tipo /dorsal + coronal/
se mostram mais complexas de serem apreendidas pelos aprendizes, exigindo dos mesmos
algum tipo de mecanismo para viabilizar estes tipos de produção, o que não ocorre com
sequências do tipo /labial + coronal/. Isto explica, portanto, os resultados gerais obtidos para
esta variável.
101
Para finalizar as comparações dos resultados obtidos em cada rodada realizada,
elencamos os dados do contexto tonicidade que foi o último fator selecionado, a partir do
gráfico que segue:
Gráfico 8 – Comparação da variável tonicidade em todas as rodadas
Inicialmente, faz-se oportuno destacar que, diferentemente das outras variáveis, a
variável tonicidade possui apenas resultados referentes a duas rodadas, isto por que na última
rodada com dados de L2, o fator tonicidade não foi selecionado como relevante para a
aplicação da epêntese vocálica, sendo, portanto, excluído da mesma.
Outro aspecto interessante observado na comparação dos dados é que os valores do
peso relativo de ambas as variantes – tanto postônica quanto pretônica, se mostram
equilibrados, dando indícios de que nas rodadas em que foram selecionadas, estas variantes
mostraram comportamento semelhante no que diz respeito à aplicação do fenômeno.
Segundo a literatura encontrada na área (COLLISCHONN, 2002; SCHNEIDER,
2009; MAGALHÃES, 2010), os aspectos prosódicos exibidos pelas variantes pretônicas e
postônicas determinam os requisitos para a boa formação da sílaba. De acordo com esse
padrão de boa-formação, entende-se que a sílaba mais saliente deve localizar-se na margem
102
esquerda do pé, onde a inserção de qualquer elemento intruso implica no deslocamento de
acento (ver discussão no tópico 4.1.4 deste trabalho).
Desse modo, justificamos a presença reduzida dos contextos postônicos na aplicação
da epêntese vocálica, enfatizando que elementos não pertencentes à regra de acento devem ser
incorporados ao pé mais próximo situado à esquerda, para que seja considerado, então, como
elemento metricamente fraco. Isso implica dizer que, nesse contexto, fatores pretônicos ficam
mais propensos a inserção vocálica.
103
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente pesquisa teve por objetivo descrever como ocorre o fenômeno da epêntese
vocálica medial em L1 (língua portuguesa) e L2 (língua inglesa) na região do Brejo
Paraibano, de forma a investigar as variáveis linguísticas e extralinguísticas que influenciam a
ocorrência da epêntese em aprendizes paraibanos de inglês como L2.
Por se tratar de um trabalho sociolinguisticamente orientado (LABOV, 1975; LABOV
et al., 2006 [1968] e 2008 [1972]), utilizamos uma metodologia de caráter quantitativo, a
partir da qual coletamos dados de produção de 18 informantes, tanto em português quanto em
inglês. Nestes dados foram quantificadas as ocorrências do fenômeno, as quais foram
codificadas e submetidas à análise por um programa de análise estatística – GoldVarb X
(SANKOFF, TAGLIAMONTE & SMITH, 2005). Este processo nos possibilitou fazer três
rodadas, sendo a primeira com os dados de L1 e L2, a segunda com os dados de L1 apenas e a
terceira e última somente com os dados de L2.
Os grupos de variáveis que analisamos em cada rodada foram: contexto fonológico
precedente, contexto fonológico seguinte, tonicidade, tipo de instrumento, sexo, nível de
proficiência na língua, e idioma. Dentre estas, foram selecionadas em todas as rodadas as
variáveis proficiência na língua, contexto fonológico seguinte, contexto fonológico precedente
e tonicidade, sendo esta última excluída da última rodada envolvendo os dados de L2.
A partir dos resultados obtidos, pode-se perceber que o fenômeno da epêntese medial
não se sobressaiu em nossos dados, levando-nos a crer que a produção dos nossos informantes
se mostrou em um estágio de desenvolvimento avançado, dispensando o uso da epêntese para
desfazer as codas complexas.
De acordo com os dados obtidos, a variável nível de proficiência na língua foi a
primeira selecionada, em todas as rodadas realizadas. Este fato confirmou nossas hipóteses de
que o nível de proficiência do aprendiz é um importante fator que influencia no
comportamento do fenômeno da epêntese, visto que quanto mais avançado o nível de
proficiência apresentado pelo aprendiz, menor a incidência de aplicação de inserção vocálica
(PEREYRON, 2008; LUCENA & ALVES, 2009; 2010).
Em relação à variável contexto fonológico seguinte, o fator labial se sobressaiu em
relação aos demais em todas as rodadas, exibindo sempre os maiores valores, em termos
probabilísticos. Nossa hipótese foi confirmada parcialmente, já que esperávamos os fatores
coronais e labiais como os contextos que exerceriam maior influência na ocorrência da
epêntese vocálica (PEREYRON, 2008; SCHNEIDER, 2009). Através dos resultados
104
encontrados, percebemos que, na maioria dos vocábulos em que tínhamos uma labial no
contexto seguinte, presenciamos uma coronal na posição de coda, levando-nos a concluir que
os traços coronais revelam traços favoráveis à aplicação do fenômeno.
Para a variável contexto fonológico precedente, os resultados encontrados refutaram a
hipótese estabelecida, na qual esperava-se que o fator labial favorecesse a aplicação do
fenômeno (PEREYRON, 2008; SCHNEIDER, 2009). No entanto, o fator coronal foi o que se
manifestou favoravelmente em torno da aplicação do fenômeno em todas as rodadas
empreendidas, com exceção da última rodada, em que o fator dorsal exibiu um índice maior
de aplicação da vogal epentética. Este resultado ratificou o que encontramos na rodada
anterior, salientando que o compartilhamento do traço coronal com os demais elementos
vizinhos culmina na aplicação da epêntese vocálica. Fica evidente, portanto, que elementos
formados por esses traços formam codas mais complexas e difíceis de serem produzidas pelos
aprendizes (COLLISCHONN, 2002).
Por fim, a análise do fator tonicidade revela que a variante pretônica oferece um
ambiente prosódico mais favorável à aplicação do fenômeno, apontando que, segundo as
propriedades de boa formação do constituinte silábico, sílabas tônicas devem constituir-se à
margem esquerda do pé silábico. O resultado confirma, pois, a hipótese lançada acerca da
maior frequência de ocorrência do fenômeno diante de contextos pretônicos
(COLLISCHONN, 2002; SCHNEIDER, 2009), corroborando o fato de que os fatores
postônicos constituem os contextos que se mostram mais prováveis de refutar o fenômeno da
epêntese vocálica.
Ao contrastarmos os resultados obtidos em cada rodada empreendida, verificamos que
os índices relativos ao comportamento do fenômeno da epêntese se mostraram bem próximos,
apresentando sutis diferenças que variam de acordo com a variável das rodadas analisadas
(Cf. item 4.4).
De forma geral, também observamos algumas divergências entre o comportamento de
algumas variáveis selecionadas como menos favoráveis ao processo em relação aos trabalhos
citados, sobretudo aos desenvolvidos no Rio Grande do Sul que concentram a maior gama de
trabalhos nesta área (COLLISCHONN, 2002; PEREYRON, 2008; SCHNEIDER, 2009;
LUCENA & ALVES, 2009; 2010). A este fato, atribuímos explicações de ordem
metodológica para dar conta dessas divergências.
Esperamos, pois, que nosso estudo tenha somado aos outros já existentes, podendo, de
alguma forma, contribuir para um mapeamento mais amplo não apenas do fenômeno da
105
epêntese vocálica, mas do processo de transferência que ocorre durante o processo de
aquisição de L2.
É certo que são necessárias mais pesquisas neste sentido, embora os estudos já
existentes nos tenham fornecido resultados consistentes o bastante para verificar, dentre
outras coisas, que a interlíngua produzida pelos aprendizes configura-se como um processo
variacionista.
Faz-se importante, pois, apontar algumas sugestões que podem aprofundar as
conclusões as quais se chegou neste trabalho. Em primeiro lugar, seria interessante observar o
comportamento de outros dialetos do PB, a fim de investigar a influência dos mesmos com
relação à epêntese vocálica na interlíngua e para se chegar a um melhor entendimento do
papel da L1 na aquisição de L2.
Também acreditamos que seria oportuno pesquisar sobre o elemento produzido como
vogal epentética ([i], [ə] e [o], por exemplo, conforme PEREYRON, 2008), de forma a
verificar se há a recorrência de outras vogais além da vogal [i], nos dados analisados.
Sugerimos, também, a análise da epêntese vocálica em um contexto de produção espontâneo,
para analisar a aplicação do fenômeno em comparação a um contexto monitorado. Por fim,
propomos uma análise qualitativa dos dados que, somada à análise quantitativa, poderia
colaborar no empreendimento de uma análise etnográfica dos mesmos.
Desta forma, procuramos, ao longo deste trabalho, ilustrar a colaboração das pesquisas
realizadas, bem como elucidar a recíproca contribuição entre a área da Sociolinguística e a
área de Aquisição da Linguagem.
106
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALLAN, Duff. Oxford Placement Test 1. Oxford: Oxford University Press, 2004.
ALVES, Ubiratã Kickhöfel. A aquisição das sequências finais de obstruintes do inglês (L2)
por falantes do Sul do Brasil: análise pela via teoria da otimidade. Tese de Doutorado.
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2008.
_______. Consciência dos aspectos fonéticos/fonológicos da L2. In: LAMPRECHT, Regina
Ritter [et al.]. Consciência dos sons da língua: subsídios teóricos e práticos para
alfabetizadores, fonoaudiólogos e professores de língua inglesa. Porto Alegre: EDIPUCRS,
2009.
BAYLEY, Robert. Second Language Acquisition and Sociolinguistic Variation. San Antonio:
University of Texas, 2005.
_______; LUCAS, Celi. Sociolinguistic Variation: theories, methods, and
applications. New York: Cambridge University Press, 2007.
BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. Rio de Janeiro: Editora
Lucerna, 2009.
BISOL, Leda. A sílaba e seus constituintes. In: Neves, M. H. M. (Org.). Gramática do
português falado. Campinas: Editora da UNICAMP, 1999.
BOERSMA, Paul; WEENINK, David. PRAAT – Doing phonetics by computer – version
4.4.22. 2009.
CAGLIARI, Aline. A produção dos encontros consonantais sC do inglês por falantes nativos
do português brasileiro. Dissertação de Mestrado. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, 2010.
CAMARA JUNIOR, Joaquim Mattoso. Problemas de Linguística Descritiva. 6ª. Ed.
Petrópolis, RJ: Vozes, 1973.
_______. Estrutura da Língua Portuguesa. 40ª. Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.
107
CARDOSO, Walcir. The variable development of English word-final stops by Brazilian
Portuguese speakers. Somerville, MA: Cascadilla Proceedings Project: 2005. v. 19, p. 219-
248.
CHOMSKY, Noam. Syntactic Structures. The Hague: Mouton, 1957.
CLEMENTS, G. N; HUME, E. V. The internal organization of speech sounds. In:
GOLDSMITH, J. (Org). The Handbook of Phonological Theory. Oxford: Blackwell, 1995.
COLLISCHONN, Gisela. A epêntese vocálica no português do Sul do Brasil. In: BISOL,
Leda; BRESCANCINI, Claudia Regina. Fonologia e variação: recortes do português
brasileiro. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002. p. 205-230.
_______. Epêntese vocálica no português do Sul do Brasil: variáveis extralinguísticas. In:
Revista Letras. N. 61, especial. Curitiba: Editora UFPR, 2003, p. 285-297.
COOK, Vivian. Linguistics and Second Language Acquisition. London: The Macmillan Press,
1993.
COUTINHO, Ismael de Lima. Pontos de gramática histórica. 7ª. Ed. Rio de Janeiro: Ao livro
técnico, 1976.
CRYSTAL, David. A dictionary of linguistics and phonetics. New York: Blackwell, 2008.
CUNHA, Celso. Gramática do Português Contemporâneo . Belo Horizonte: Bernardo
Alvares, 1972.
ELLIS, Rod. Understanding Second Language Acquisition. Oxford: Oxford University Press,
1986.
_______. The study of Second Language Acquisition. Oxford: Oxford University Press, 1997.
FERNÁNDEZ, Francisco Moreno. Principios de Sociolinguistica y Sociologia del
lenguaje. Barcelona: Ariel Linguística, 1998.
108
FREIRE, Josenildo Barbosa. Variação da lateral palatal na comunidade de Jacaraú
(Paraíba). Dissertação de Mestrado. Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa,
2011.
GEVA, Esther. Learning to read in a second language: Research, implications, and
recommendations for services. In: Tremblay RE, Barr RG, Peters RDeV, eds. Encyclopedia
on Early Childhood Development [online]. Montreal, Quebec: Centre of Excellence for Early
Childhood Development; 2006.
GUY, Gregory Riordan & ZILLES, Ana. Sociolinguística Quantitativa – instrumental de
análise. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
_______. Variation and phonological theory. In: BAYLEY, Robert; LUCAS, Celi.
Sociolinguistic Variation: theories, methods, and applications. New York: Cambridge
University Press, 2007.
HAMMOND, Michael. The phonology of English: a prosodic optimality-theoretic approach.
Oxford University Press, 1999.
HUF, Júlia Carolina Coutinho; ALVES, Ubiratã Kickhöfel. A produção de /p/ e /k/ em codas
simples e complexas do inglês (L2) por aprendizes gaúchos: discussão a partir dos padrões
acústicos encontrados. Verba Volant, v. 1, nº 1. Pelotas: Editora e Gráfica Universitária da
UFPel, 2010.
ITÔ, Junko. Syllable Theory in Prosodic Phonology. Tese de Doutorado. Universidade de
Massachusetts, 1986.
KRASHEN, Sthepen. Principles and practice in second language acquisition. University of
Southern California, 1982.
LABOV, William. Language in the inner city. Philadelphia: University of Pennsylvania Press,
1975.
_______; WEINREICH, Urial; HERZOG, Marvin I. Fundamentos empíricos para uma teoria
da mudança linguística. Tradução de Marcos Bagno. São Paulo: Parábola, 2006 [1968].
109
_______. Padrões Sociolinguísticos. Tradução de Marcos Bagno; Mª Marta Pereira Scherre &
Caroline Rodrigues Cardoso. São Paulo: Parábola Editorial, 2008 [1972].
LAMPRECHT, Regina Ritter [et al.]. Consciência dos sons da língua: subsídios teóricos e
práticos para alfabetizadores, fonoaudiólogos e professores de língua inglesa. Porto Alegre:
EDIPUCRS, 2009.
LITTLEWOOD, William T. Foreign and Second Language Learning: language acquisition
research and its implications for the classroom. New York: Cambridge University Press,
1984.
LUCENA, Rubens Marques de; ALVES, Ubiratã Kickhöfel. Influência do dialeto materno na
aquisição de inglês (L2): o caso das obstruintes em posição de coda. Letra Viva, v. 9, p. 19-
33, 2009.
_______. Implicações dialetais (dialeto gaúcho vs. paraibano) na aquisição de obstruintes
em coda por aprendizes de inglês: uma análise variacionista. Letras de Hoje, v. 45, p. 35-42,
2010.
MAGALHÃES, José Sueli de. Acento. In: BISOL, Leda & SCHWINDT, Luiz Carlos (orgs.).
Teoria da Otimidade: Fonologia. Campinas, SP: Pontes Editores, 2010.
MAZZONI, Dominic. Audacity, v. 1.2.6 [programa de computador]. Acessado em 4/12/2011,
em <http://audacity.sourceforge.net/>.
McCARTHY, John.; PRINCE, Alan. Prosodic morphology I – constraint interaction and
satisfaction. Technical Report # 3, Rutgers University Center for Cognitive Science, 1993.
PAIVA, M. C. A variável gênero/sexo. In: MOLLICA, M. C.; BRAGA, M. L. (orgs.)
Introdução à Sociolinguística: o tratamento da variação. São Paulo: Contexto, 2003.
PEREYRON, Letícia. Epêntese vocálica em encontros consonantais mediais por falantes
porto-alegrenses de inglês como língua estrangeira. Dissertação (Mestrado) – Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2008.
110
RÉ, Alessandra Del. Aquisição da linguagem: uma abordagem psicolinguística. São
Paulo: Contexto, 2006.
ROACH, Peter. English Phonetics and Phonology: a practical course. 2. ed. Cambridge:
Cambridge University Press, 1991.
_______. Phonetics. 2. ed. Oxford: Oxford University Press, 2002.
SANKOFF, D.; TAGLIAMONTE, S. & SMITH, E. GoldVarb X: a variable rule application
for Macintosh and Windows. Department of Linguistics. University of Toronto, 2005.
SAUSSURE. Ferdinand de. Curso de Linguística Geral. Tradução de Antônio Chelini, José
Paulo Paes, Isidoro Blisksteim. – 27. Ed. – São Paulo: Cultrix, 2006 [1916].
SCHNEIDER, André. A epêntese medial em PB e na aquisição de inglês como LE: uma
análise morfofonológica. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, Porto Alegre, 2009.
SELINKER, Larry. Rediscovering interlanguage. London; New York: Longman, 1992.
_______. Interlanguage. International Review of Applied Linguistics, 1972. v. 10, p. 209-
231.
SILVA, Thaïs Cristófaro. Dicionário de fonética e fonologia. São Paulo: Contexto, 2011.
SKINNER, B. F. Verbal behavior. New York: Appleton-Century Crofts, 1957.
TAGLIAMONTE, Sali A. Analysing sociolinguistic variation. New York: Cambridge
University Press, 2006.
TARALLO, Fernando. A pesquisa sociolinguística. 3 ed. São Paulo: Ática, 1990.
TARONE, Elaine. Sociolinguistic approaches to second language acquisition
research. Modern Language Journal-91, 2007.
111
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1988.
YULE, George. The study of language. Cambridge University Press, 2006.
112
APÊNDICES
113
APÊNDICE 1
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA
FORMULÁRIO DE CONSENTIMENTO
Prezado participante,
O presente formulário traz informações importantes acerca do estudo o qual você
participará, e, portanto, deve ser lido cuidadosamente.
Esta pesquisa contribuirá para a elaboração da dissertação da mestranda Luana
Anastácia Santos de Lima, sob orientação do Profº. Dr. Rubens Marques de Lucena, e tem
como objetivo fortalecer o desenvolvimento de estudos linguísticos no estado da Paraíba, de
modo a contribuir com a linha de pesquisa Diversidade e Mudança Linguística, vinculada ao
programa de Pós Graduação em Linguística, da Universidade Federal da Paraíba, em João
Pessoa (UFPB – Campus I).
Os alunos que se comprometerem a participar da pesquisa podem, a qualquer
momento, mudar de ideia e cancelar sua integração à mesma, visto que a sua participação é de
caráter voluntário.
A tarefa a ser desempenhada pelo participante da pesquisa constitui o preenchimento
de um questionário de informações pessoais e a realização de leituras de uma lista de palavras
e uma lista de textos, as quais serão gravadas para fins de análise. As gravações serão
examinadas somente pelo pesquisador e orientador, permanecendo confidencial a identidade
do aluno participante.
Assim sendo, após a leitura deste documento, por favor, assine-o, indicando que você
está de acordo em fazer parte desta pesquisa.
DECLARAÇÃO
Declaro que li e compreendi as informações acima e que consinto em participar desta
pesquisa.
_____________________________________________
Nome
_____________________________________________
Assinatura Data:_____/_____/____
114
APÊNDICE 2
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA
QUESTIONÁRIO
O presente questionário registrará os dados pessoais dos informantes que se
propuserem a participar da pesquisa e será parte da elaboração da Dissertação da mestranda
Luana Anastácia Santos de Lima, sob orientação do Profº. Dr. Rubens Marques de Lucena, no
programa de Pós-Graduação em Linguística, na UFPB. Sua participação é muito importante
para o nosso trabalho. Muito obrigada!
PARTE I – Informações pessoais
1. Nome:________________________________________________________________
2. E-mail:_______________________________________________________________
3. Data de Nascimento:____________________________________________________
4. Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino
5. Lugar de origem (Cidade e Estado):________________________________________
Reside no mesmo lugar de origem?_________________________________________
Caso não resida, onde mora atualmente, e há quanto tempo mora neste
local?________________________________________________________________
6. Escolaridade:__________________________________________________________
PARTE II – Nível de inglês
7. Nível de proficiência em Língua Inglesa:
( ) nível básico ( ) nível intermediário ( ) nível
avançado
8. Por quantos anos você estudou
inglês?_______________________________________________________________
Ainda estuda? ( ) Sim ( ) Não
9. Você já teve oportunidade de morar em país/países de língua inglesa?
( ) Sim ( ) Não
Se a resposta anterior foi positiva, por quanto
tempo?_______________________________________________________________
Em qual (quais)
país(es)?______________________________________________________________
Estudou inglês nesse(s) país(es) estrangeiro(s)? Por quanto
tempo?_______________________________________________________________
115
10. Você tem contatos com a língua inglesa fora da sala de aula? Caso tenha, especifique
se pessoalmente, virtualmente, por meio de telefone, ou outros, e com que
frequência.____________________________________________________________
Caso não tenha, com que frequência pratica a língua inglesa fora da sala de aula? Ou
apenas pratica na sala de
aula?_________________________________________________________________
11. Assiste a canais de TV em língua inglesa?
Quais?________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
12. Você fala alguma outra língua?
Qual?________________________________________________________________
Data:_____/_____/______ Informante nº.:_______________
116
APÊNDICE 3
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA
CORPUS DE LÍNGUA PORTUGUESA
LABIAIS
/p/ /b/
Pretônicas Postônicas Pretônicas Postônicas
interceptar apto objeto óbvio
concepção corrupto obter lambda
CORONAIS
/t/ /d/
Pretônicas Postônicas Pretônicas Postônicas
etnógrafo étnico advérbio cádmio
aritmética rítmico adjunto vodca
DORSAIS
/k/ /g/
Pretônicas Postônicas Pretônicas Postônicas
confecção aspecto segmento signo
conectar impacto cognato dogma
DISTRATORAS
pulverizador
escrupuloso
vitória
temperamental
aspirador surpreender
117
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA
CORPUS DE LÍNGUA INGLESA
LABIAIS
/p/ /b/
Pretônicas Postônicas Pretônicas Postônicas
adaptation empty object (v.) absent
September aptitude submit object (n.)
CORONAIS
/t/ /d/
Pretônicas Postônicas Pretônicas Postônicas
outshine (v.) atmosphere admire kidnap
outnumber compartment advise bombardment
DORSAIS
/k/ /g/
Pretônicas Postônicas Pretônicas Postônicas
accept (v.) reluctant recognize cognitive
pictorial victim resignation magnet
DISTRATORAS
grumble
formidable
unharmed
hotel
engagement license
118
APÊNDICE 4
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA
LISTA DE TEXTOS EM PORTUGUÊS
Por favor, leia os textos a seguir:
1. É óbvio que quem consome bebida alcoólica perde, em parte, seu sentido rítmico. A
vodca, atualmente, tem sido uma das bebidas mais consumidas e, na concepção dos
brasileiros, considerada a preferida. Sua confecção se dá a partir da mistura de cereais
e aguardente, de modo a obter uma concentração forte da bebida, deixando o
indivíduo não apto a realizar algumas atividades como dirigir ou andar por certos
segmentos de intensa movimentação, o que pode ser bem perigoso.
2. Durante um bom tempo, houve um enorme preconceito no que diz respeito à questão
étnica no Brasil. Os negros eram objetos de escravidão, além de sofrerem severas
punições de seus senhores que chegavam até a vendê-los, além de interceptar outros
escravos. Nesta época, a sociedade era ditada por dogmas bem violentos. Porém,
havia pessoas como a temperamental Princesa Isabel e seu companheiro adjunto
Rodrigo da Silva que decidiram instaurar a lei áurea para extinguir de vez a
escravidão. Esta lei causou enorme impacto na sociedade brasileira, tanto quanto o
desenvolvimento da aritmética na matemática ou a descoberta do cádmio como
elemento químico.
3. O papel do etnógrafo tem se concentrado no aspecto descritivo de determinados
povos, costumes, língua, entre outros, a fim de poder conectar todos esses elementos
e poder chegar a um denominador comum dessas comunidades. Seu trabalho tem
permitido estudar a estrutura da língua de determinados povos, como descobrir, por
exemplo, que o lambda (λ) faz parte do alfabeto grego, ou que determinado signo
linguístico pode ser substantivo, advérbio e, dependendo do contexto, pode ser
cognato de outra. No entanto, alguns etnógrafos corruptos, no entanto, corrompem
seus dados por falta de compromisso com o trabalho que desempenham.
119
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA
LISTA DE TEXTOS EM INGLÊS
Por favor, leia os textos a seguir:
1. On September 11th
, one of the biggest terrorist attacks of the world happened in the
US: the bombardment of the World Trade Center, in New York. This attack was
conducted by the Islamic terrorists from Al-Qaeda, who got planes in order to chock
them against the towers. One of the main reasons for this attempt was because the
United States did not accept the dogmas of the Koran and did not recognize it as a
holy book. So, they did not agree to submit themselves to the Koran rules. But,
according to the Islam, this was a grumble against the Koran and against the Islamic
people. On this tragic day, all the compartments of the building were not empty and
many people that were there did not have time to absent themselves from the building
and because of this, a lot of people died and were hurt or unharmed.
2. Last month, security adaptations were needed in some hotels of our region because of
the violence and frequent attempts of kidnaps. The police have been formidable in the
rescues and have gotten some components of the gangs through a magnet
identification card system installed in these hotels, in order to avoid the bandits action
and calm the atmosphere that was rather tense and frightening the clients. According
to the news, the numbers of kidnaps outnumber the consumption of drugs in Brazil
and authorities advise the people not to react or object to do something the bandits
ask for, because it can be too dangerous to the victim.
3. Nowadays, the aptitude of painting has been important for the mind, especially the
most pictorial portraits that outshine the look of who admire them. According to
some researches, creating art objects like paintings helps cognitive development,
working as a therapy to the individuals. Although some people feel reluctant to deal
with art, others see it like a resignation moment that can be externalized.
120
ANEXOS
121
ANEXO 1 – Oxford Placement Test (ALLAN, 2004)
122
123
124
125
126
127
128
129
ANEXO 2 – Folha de aprovação do Comitê de Ética