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TRANSCRIPT
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UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL
CAMPUS DE ERECHIM
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EDUCAÇÃO
CURSO DE MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO
NELCI DAGA
HORTA ESCOLAR NA ESCOLA DO CAMPO: DIAGNÓSTICO DA
EXPERIÊNCIA NA ESCOLA ESTADUAL DE ENSINO FUNDAMENTAL DOM
PEDRO I
ERECHIM
2017
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NELCI DAGA
HORTA ESCOLAR NA ESCOLA DO CAMPO: DIAGNÓSTICO DA
EXPERIÊNCIA NA ESCOLA ESTADUAL DE ENSINO FUNDAMENTAL DOM
PEDRO I
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Stricto Sensu, Mestrado em
Educação da Universidade Federal da
Fronteira Sul – UFFS como requisito parcial
para obtenção do título de Mestre em
Educação.
Orientador: Profº Drº. Emerson Neves da
Silva.
ERECHIM
2017
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PROGRAD/DBIB - Divisão de Bibliotecas
Daga, Nelci
HORTA ESCOLAR NA ESCOLA DO CAMPO: DIAGNÓSTICO DA
EXPERIÊNCIA NA ESCOLA ESTADUAL DE ENSINO FUNDAMENTAL DOM
PEDRO I/ Nelci Daga. -- 2017.
111 f.:il.
Orientador: Emerson Neves da Silva.
Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal da
Fronteira Sul, Programa de Pós-Graduação em Mestrado
Profissional em Educação - PPGPE, Erechim, RS , 2017.
1. As Concepções da Educação do Campo: Um Espaço Que
Gera Movimento. 2. Educação do Campo: Apresentando a
Comunidade Escolar. 3. Apresentando a Escola Estadual de
Ensino Fundamental Dom Pedro I. 4. Diagnóstico da Horta
Escolar:Escola Estadual de Ensino Fundamental Dom Pedro
I. 5. PropostaPedagógica: Utilizando-se da Horta Escolar
Da Escola Estadual Dom Pedro l. I. Silva, Emerson Neves
da, orient. II. Universidade Federal da Fronteira Sul.
III. Título.
Elaborada pelo sistema de Geração Automática de Ficha de Identificação da Obra pela UFFS com os dados fornecidos pelo(a) autor(a).
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NELCI DAGA
HORTA ESCOLAR NA ESCOLA DO CAMPO: DIAGNÓSTICO DA
EXPERIÊNCIA NA ESCOLA ESTADUAL DE ENSINO FUNDAMENTAL DOM
PEDRO I
Dissertação apresentada ao programa de Pós-Graduação em Stricto Sensu da Universidade
Federal da Fronteira Sul – UFFS. Para obtenção do título de Mestre em Educação, defendido
em banca examinadora em 15/08/ 2017.
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________________________________________
Prof. Dr. Emerson Neves da Silva –UFFS -Orientador (a):
________________________________________________________________________
Prof. Dr. Fernando Bomfim Mariana –UFRN - Membro
_______________________________________________________________________
Prof. Dr. Jerônimo Sartori– UFFS - Membro
Erechim RS, Agosto de 2017.
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Dedico a todos que lutam pela Educação
Pública e Popular e para todos os que
promovem uma sociedade mais justa,
humana e tem preocupação com o homem do
campo.
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AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus e aos Orientadores Espirituais, pela iluminação e inspiração no
momento de escrever a dissertação. Agradeço a Universidade Federal Fronteira Sul pela
oportunidade de estar cursando o Mestrado Profissional. Agradeço em especial o orientador
Emerson Neves da Silva pela dedicação, comprometimento e ajuda para chegar nesta
construção. Agradeço a meus filhos Fabrício Daga Rubenich e Letícia Daga Rubenich, meus
maiores tesouros, que sempre estiveram comigo nesta caminhada. Também agradeço a
NatieleTodero pelas palavras de apoio nos momentos mais difíceis. Agradeço a meus pais
Pedro Daga e Adelina Catharina Daga, por terem sido o canal que me trouxeram até a terra
para poder cumprir a minha missão, e ainda, agradeço pelos princípios de vida que me
ensinaram pelo exemplo, os quais me tornaram numa pessoa íntegra e grata.
Agradeço a todos os meus antepassados, aos meus irmãos pela caminhada de
aprendizagem, de amor, de amizade, de evolução, de perdão construído nesta vida e em
outras vidas. Agradeço a todos os professores e em especial aos professores que compuseram
Banca Examinadora que contribuíram com a minha pesquisa. Agradeço aos amigos e, em
especial, a professora Solange Todero Von Onçay, o Professor Jerônimo Sartori e demais
professores por estarem presentes quando precisei. Agradeço aos amigos e colegas do
mestrando pela bela caminhada que construímos juntos. Também agradeço a Direção os
professores, alunos da Escola Estadual de Ensino Fundamental Dom Pedro I pela acolhida e
disponibilidade quando solicitados. Muita gratidão a todos.
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“A leitura após certa idade distrai
excessivamente o espírito humano das suas
reflexões criadoras. Todo o homem que lê
mais e usa o cérebro de menos adquire
preguiça de pensar”.
Albert Eistein
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RESUMO
A Educação do Campo está enraizada aos processos de lutas travados pela classe
trabalhadora que é analisada por educadores que apresentam a concepção de educação do
campo. Molina (2012) diz que a mesma nasce e se desenvolve no embaulamento do
movimento com suas experiências de luta e de superação ao capitalismo. É uma educação
que tem como foco o desenvolvimento humano que busca a autonomia dos camponeses
através do movimento. Esta pesquisa conheceu a prática da horta escolar, na Escola Estadual
Dom Pedro I, de Coronel Teixeira, Marcelino Ramos, Rio Grande Sul, partindo do
pressuposto que a mesma não levava os estudantes a entenderem a sua condição de sujeitos
do campo fazendo com que tal atividade se justificasse na prática pela prática. Assim, com o
objetivo de analisar esse processo pedagógico, esta dissertação faz uma apresentação da
comunidade e da Escola Estadual de Ensino Fundamental Dom Pedro I, Coronel Teixeira,
Marcelino Ramos, bem como o objeto de pesquisa a horta escolar. Também apresenta a
análise dos instrumentos utilizados na elaboração do diagnóstico, para isso se utilizou de
diversos mecanismos de análise, como os diários de classe dos alunos do oitavo ano a fim de
verificar a compreensão epistemológica presente na prática pedagógica; o projeto político
pedagógico para ver como se consolidavam os objetivos, princípios, metodologias da
educação, desta escola; a roda de conversa, os professores responderam o questionário
semiestruturado para consolidar o diagnóstico de como se efetivava a prática. Desta forma,
optou-se pela pesquisa–ação para melhor diagnosticar a prática e compreender as questões
voltadas para o campo. De acordo com Thiollent (1947 p.19), “pela pesquisa-ação é possível
estudar dinamicamente os problemas, decisões, ações, negociações, conflitos e tomadas de
consciência que ocorrem entre os agentes durante o processo de transformação da situação”.
Esta metodologia proporcionou a análise do diagnóstico desta dissertação que,
consequentemente, serviu de instrumento para elaborar a proposta pedagógica para ser
aplicada na escola do campo. A proposta pedagógica tem como finalidade gerar autonomia,
emancipação, e está voltada aos interesses dos camponeses em apresentar à auto-organização
dos estudantes na organização da horta. Com isso, a horta escolar pode se tornar um
laboratório de aprendizagens, quando interligar os conteúdos científicos com a prática de
forma interdisciplinar na Escola do Campo.
Palavras-chave: Educação do campo. Horta Escolar. Proposta Pedagógica.
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ABSTRACT/RESUMÉN
La Educación del Campo está enraizada a los procesos de luchas trabados por la clase obrera
que es analizada por educadores que presentan la concepción de educación del campo.
Molina (2012) dice que la misma nace y se desarrolla en el embaulamiento del movimiento
con sus experiencias de lucha y de superación al capitalismo. Es una educación que tiene
como foco el desarrollo humano que busca la autonomía de los campesinos a través del
movimiento. Esta investigación conoció la práctica de la huerta escolar, en la Escuela
Estadual Dom Pedro I, de Coronel Teixeira, Marcelino Ramos, Rio Grande Sul, partiendo
del supuesto que la misma no llevaba a los estudiantes a entender su condición de sujetos del
campo haciendo con que tal La actividad se justificara en la práctica por la práctica. Así, con
el objetivo de analizar ese proceso pedagógico, esta disertación hace una presentación de la
comunidad y de la Escuela Estatal de Enseñanza Fundamental Don Pedro I, Coronel
Teixeira, Marcelino Ramos, así como el objeto de investigación la huerta escolar. También
presenta el análisis de los instrumentos utilizados en la elaboración del diagnóstico, (para
ello se utilizó de diversos mecanismos de análisis, como los diarios de clase de los alumnos
del octavo año a fin de verificar la comprensión epistemológica presente en la práctica
pedagógica, el proyecto político pedagógico para Como se consolidaban los objetivos,
principios, metodologías de la educación, de esta escuela, la rueda de conversación, los
profesores respondieron el cuestionario semiestructurado para consolidar el diagnóstico de
cómo se efectúa la práctica). De esta forma, se optó por la investigación-acción para mejor
diagnosticar la práctica y comprender las cuestiones dirigidas al campo. De acuerdo con
Thiollent (1947 p.19), "por la investigación-acción es posible estudiar dinámicamente los
problemas, decisiones, acciones, negociaciones, conflictos y tomas de conciencia que
ocurren entre los agentes durante el proceso de transformación de la situación". Esta
metodología proporcionó el análisis del diagnóstico de esta disertación que, en consecuencia,
sirvió de instrumento para elaborar la propuesta pedagógica para ser aplicada en la escuela
del campo. La propuesta pedagógica tiene como finalidad generar autonomía, emancipación,
y está orientada a los intereses de los campesinos en presentar a la autoorganización de los
estudiantes en la organización de la huerta. Con ello, la huerta escolar puede convertirse en
un laboratorio de aprendizajes, cuando interconectar los contenidos científicos con la
práctica de forma interdisciplinaria en la Escuela del Campo.
Palabras clave: Educación del campo. Huerta Escolar. Propuesta Pedagógica.
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Figura 1 – Ponte Férrea sobre o Rio Uruguai.......................................................................32
Figura 2 – Vista aérea da cidade de Marcelino Ramos........................................................33
Figura 3-Vista aérea do Distrito de Coronel Teixeira, Marcelino Ramos, RS.....................36
Figura 4- Localização da Escola Estadual de Ensino Fund. Dom Pedro I.......................40
Figura 5-Escola Estadual de Ensino Fundamental Dom Pedro I.........................................41
Figura 6- Imagem da Horta Escolar.......................................................................................43
Figura 7- Alunos plantando mudas na horta escolar............................................................109
Figura 8- Alunos irrigando as mudas plantadas na horta escolar.........................................109
Figura 9 – Canteiro de temperos verdes...............................................................................110
Figura 10– Alfaces da Escola Estadual Dom Pedro I organizada pelos alunos do oitavo ano
..............................................................................................................................................110
Figura 11 - Estufa de germinação da Escola Estadual Dom Pedro I ...................................110
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
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LISTA DE SIGLAS
CAPA – Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor
CPM- Círculo de Pais e Mestres
FNDE- Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
ISE- Informatização da Secretaria da Educação
LDB - Lei de Diretrizes de Bases da Educação Brasileira
MDA - Modelo Discipulado Apostólico
MST- Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
PNAE- Plano Nacional de Alimentação Escolar
PPP - Projeto Político Pedagógico
PT – Partido dos Trabalhadores
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 13
1.1 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................. 17
2 AS CONCEPÇÕES DA EDUCAÇÃO DO CAMPO: UM ESPAÇO QUE GERA
MOVIMENTO ...................................................................................................................... 20
2.1 EDUCAÇÃO DO CAMPO: APRESENTANDO A COMUNIDADE ESCOLAR ......... 29
2.2 APRESENTANDO A ESCOLA ESTADUAL DE ENSINO FUNDAMENTAL DOM
PEDRO I ................................................................................................................................. 37
3 DIAGNÓSTICO DA HORTA ESCOLAR: ESCOLA ESTADUAL DE ESNINO
FUNDAMENTAL DOM PEDRO I. ................................................................................... 47
3.1 ANÁLISE DOS DIÁRIOS DE CLASSE ......................................................................... 48
3.2 ANÁLISE DO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO .................................................. 58
3.3 RODA DE CONVERSA .................................................................................................. 64
3.4 ANÁLISE DO DIAGNÓSTICO ...................................................................................... 69
4 PROPOSTA PEDAGÓGICA: UTILIZANDO-SE DA HORTA ESCOLAR DA
ESCOLA ESTADUAL DOM PEDRO I ............................................................................ 75
4.1 PROPOSTA PEDAGÓGICA: AUTO-ORGANIZAÇÃO NA PRÁTICA DA HORTA
ESCOLAR .............................................................................................................................. 93
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 98
REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 102
ANEXOS ......................................................................................................................... 109
APÊNDICES....................................................................................................................111
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1 INTRODUÇÃO
Sou parte do campo e o campo habita em mim. Desta forma, a Educação do Campo
impregna sentido à vida na infância. Frequentei a Escola Estadual de Primeiro Grau
Incompleto São Caetano1, no interior de Marcelino Ramos. Foi lá que vivi parte de minha
vida com minha família: meus pais, Pedro Daga e Adelina C. Daga; meus cinco irmãos,
Dileta, Valdir, Marilene, Neuza e Jaimir Daga. Somos filhos de camponeses e estudamos na
escola do campo na nossa comunidade de São Caetano, Marcelino Ramos, RS. Como filha
de camponeses, percebi e senti as dificuldades que enfrentam os agricultores para viver e
poder estudar na escola do campo. Relato um fato que veio em minha memória quando
cursava o ensino médio na década de 80. Minha família, na época, tinha cinco vacas de leite,
e todo o dinheiro que a família recebia, no mês, era para pagar o transporte dos três irmãos
que estudavam no Instituto Estadual Marcelino Ramos da Silva, em Marcelino Ramos RS.
Esse fato serve para exemplificar as dificuldades encontradas pelos camponeses para
frequentar a escola.
Estudei em escola pública e conclui o Ensino Médio no Instituto de Marcelino
Ramos, cursei magistério no Bom Conselho de Passo Fundo, RS. Quando retornei a cidade
origem, fui contratada como professora, assumindo uma escola no interior de Marcelino
Ramos na comunidade de Suzana. Iniciei minha vida profissional, junto às escolas do
campo com turmas multisseriadas. Fui educadora, cursei a faculdade em Letras Português,
Inglês, na Universidade Integrada de Erechim, URI e Pós-graduada em Interdisciplinaridade.
Sempre lutei para que a escola do campo elaborasse um projeto de educação que viesse a
atender aos interesses dos camponeses, no entanto, encontrei muitas dificuldades para
realizar um trabalho de coletividade. Esse era um pensamento a ser elaborado neste tempo,
porque competitividade e individualismo estavam aflorados entre as pessoas. Além do mais,
não havia, no grupo, interesse pelo campo e o mesmo não era visto como um local de
possibilidades e desenvolvimento, mas sim, um lugar de atraso, ideologias impostas pelo
capital para obter mão de obra na indústria. Destaco que passei sete anos exercendo várias
funções nas escolas do Município de Marcelino Ramos como: diretora, alfabetizadora,
professora, merendeira e dava aula para quatro turmas multisseriadas.
1 A Escola Estadual de Primeiro Grau Incompleto de São Caetano foi uma das primeiras Escolas do Município
de Marcelino Ramos, que foi desativada. Atualmente a escola não existe mais, foi demolida. Oferecia um
ensino do primeiro ao quinto ano.
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Passado esse tempo, comecei a atuar como educadora nomeada2, na rede Estadual de
Educação e construí outra trajetória como professora, vice-diretora e diretora da Escola
Estadual de Ensino Fundamental Dom Pedro I, de Coronel Teixeira, Marcelino Ramos, RS.
Tive a oportunidade de organizar momentos de formação com os professores e alunos, para
melhorar o desempenho em sala de aula de ambos. Já com a comunidade escolar organizei
cursos de plantas medicinais, horta e outros cursos, em parceria com EMATER nas escolas
em que trabalhei. Com os professores realizei alguns projetos interdisciplinares, entretanto
sem o envolvimento de todos os colegas no trabalho, porque não se sentiam sensibilizados e
comprometidos com a causa.
Nessa caminhada, sempre busquei me fortalecer no coletivo e como gestora trabalhei
para que o grupo crescesse na coletividade e em conhecimento, buscando formação para
construir uma escola de melhor qualidade educacional e que atendesse aos interesses dos
camponeses. Mas não obtive sucesso totalmente, porque o fazer pedagógico está nas mãos
do professor, e se o mesmo não quer ver o mundo de forma crítica,a educação acaba sendo
uma repetição de atividades que acontecem em sala de aulas, que se resume em ler, copiar e
responder questionários. O docente precisa querer interligar os conteúdos científicos com a
vida dos camponeses, só assim a mudança acontece. Portanto, me desafiei a elaborar uma
pesquisa que pudesse melhorar a prática da escola do campo e, consequentemente, atender
aos interesses dos camponeses e mostrar a importância da escola do campo no espaço em
que ela está inserida.
Para o desenvolvimento deste estudo foi realizada uma pesquisa na Escola Estadual
de Ensino Fundamental Dom Pedro I, a qual se localiza no distrito de Coronel Teixeira, no
município de Marcelino Ramos, Rio Grande do Sul. A mesma possui uma horta escolar e
produz hortaliças. Tal prática pedagógica representa uma atividade afim aos propósitos
estabelecidos para uma Educação Rural de qualidade, no entanto, a horta não dialoga com o
processo de emancipação dos sujeitos histórico. Baseada nesta inquietante constatação, nesta
dissertação se examinou a experiência da horta escolar como meio para chegar à elaboração
de uma proposta pedagógica, para ser aplicada na escola, com a finalidade de gerar
autonomia aos sujeitos que vivem no campo.
A referida pesquisa se utilizou da pesquisa-ação como instrumental metodológico
para diagnosticar como se efetivava a prática da horta escolar no oitavo ano da escola
Estadual de Ensino Fundamental Dom Pedro I. Nessa perspectiva observei em que medida a
2Nomeada no Estado do Rio Grande do Sul são professores que passam em concurso e são considerados
efetivos.
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horta pode se tornar objeto de estudo e aproximar os conteúdos científicos, como, por
exemplo, a agroecologia com a prática da horta escolar.
A motivação do presente trabalho está ligada à experiência profissional3 e pela
necessidade de elaborar uma proposta pedagógica que esteja voltada para os interesses dos
camponeses, em que se utilizem da horta escolar como instrumento de emancipação dos
sujeitos envolvidos no processo. Freire diz (2005) que a emancipação busca construir um ser
humano mais esclarecido numa sociedade com valores humanistas que emancipe para
transformação social, e que parte do reconhecimento de sua real condição de ser humano,
enquanto responsável pela sua construção histórica.
Esta pesquisa tem a finalidade de melhorar a qualidade do ensino na Escola
Estadual de Ensino Fundamental Dom Pedro I, e apresenta uma proposta que vem interligar
a teoria com a prática da horta escolar de forma interdisciplinar. Também têm a pretensão de
servir de apoio pedagógico as demais escolas do campo e de referência a quem tiver
interesse no tema.
O trabalho foi constituiu baseado em autores que retratam da Educação do Campo
em que autonomia e emancipação são importantes neste processo. Destacam-se alguns
autores: Monica Molina, Roseli Caldart, Gaudêncio Frigotto, Miguel Arroyo, Paulo Freire e
outros autores. São pesquisadores que escrevem sobre a Educação do Campo, conceituam,
relacionam historicamente e politicamente com a vida dos camponeses e os movimentos
sociais. Possuem o conhecimento epistêmico que levam a compreensão da vida dos
camponeses. Destacam que a educação nasce em meio aos movimentos de lutas dos
trabalhadores. Já Freire (2014) fundamenta a dissertação e especialmente a proposta
pedagógica porque ele se refere à emancipação e a autonomia tanto dos educandos como dos
educadores e eles se constituem num ato de amorosidade. São referências que dialogam no
decorrer desta dissertação.
A experiência pedagógica da horta escolar da Escola Estadual de Ensino
Fundamental Dom Pedro I, serviu de instrumento de análise para construir uma proposta
pedagógica voltada para escola do campo. Ao longo do percurso, produziu um diagnóstico
da experiência pedagógica realizada na horta escolar com finalidade de apresentar uma
proposta pedagógica para a Escola Estadual de Ensino Fundamental Dom Pedro I.
3Nelci Daga Rubenich, mestranda, trabalhou 23 anos com alunos das escolas do campo no Município de
Marcelino Ramos, sendo que desses anos 9 foi gestora pública. Filha de agricultores e conhece a luta dos
pequenos agricultores. Estudou na Escola Estadual de São Caetano, Marcelino Ramos. Foi uma das primeiras
escolas a serem fechadas no município e viu a sua comunidade esvaziar e perder o vínculo da escoa na
comunidade
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A pesquisa utilizou a pesquisa-ação, para analisar e verificar se a horta cumpria o
seu papel como uma prática de emancipação, ou era realizada como uma atividade que fazia
parte do currículo e não refletia a sua ação. Neste pensamento, Freire (2005) diz que a
emancipação ganha o significado de humanização. Humanização essa que se opõe e luta
contra a desumanização. A desumanização é fato histórico, a humanização é vocação
humana. O homem é projetado para ser mais. Se a ordem existente, não possibilita isso, ela
não está de acordo com a natureza humana, sendo, portanto, injusta. Neste caso a horta não
cumpre o papel de humanizar e emancipar.
No entanto, a horta escolar necessita promover a humanização entre alunos,
professores e comunidade escolar. Para isso precisa se voltar para temáticas específicas que
promovam o desenvolvimento do ser humano do campo, conduzindo-os para a compreensão
da vida social e política dos camponeses além desenvolver princípios básicos de
agroecologia4 para intervir na qualidade de vida dos sujeitos utilizando-se da horta escolar
para realizar o aprofundamento teórico e prático.
A horta escolar5 é uma atividade realizada nas escolas municipais e estaduais do
município de Marcelino Ramos, RS. Este é um ponto que contribuiu para esta pesquisa se
constituísse, e além do mais poderá servir de referência para as escolas do campo do
município, com a finalidade de promover a emancipação dos sujeitos camponeses.
Esta dissertação aborda no capitulo I a Concepção de Educação do campo: Um
espaço que gera Movimento; no capitulo II, apresentando a comunidade escolar e a Escola
Estadual de Ensino Fundamental Dom Pedro I; no capitulo III relata o diagnóstico da horta
escolar e finaliza com o capitulo quatro com a proposta de intervenção na escola do campo.
4Os princípios básicos de agroecologia estão referendados no Livro Agroecologia: bases científicas para uma
agricultura sustentável de Miguel Altieri (2012, p. 16). Incluem como princípio da agroecologia: reciclagem de
nutrientes energias; a substituição de insumos externos; a melhoria da matéria orgânica e da atividade biológica
do solo; a diversidade de espécies e plantas e dos recursos genéticos dos agroecossistema no tempo e no
espaço; a integração das culturas com a pecuária; a otimização das interações e da produtividade do sistema
agrícola, como um todo, ao invés de redimensionar isolados obtidos com um única espécie. 5 Destaco a horta escolar como uma prática da produção de alimentos, realizada nas escolas do campo de
Marcelino Ramos- RS.
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1.1 JUSTIFICATIVA
Esta dissertação se justifica pela intenção de apresentar uma proposta pedagógica
voltada para a escola do campo, baseada na experiência6 da horta da Escola Estadual de
Ensino Fundamental Dom Pedro I, de Coronel Teixeira, Marcelino Ramos, RS. Está
fundamentada na realidade da prática e, por isso, se optou em examinar a prática da horta
escolar visando construir uma proposta pedagógica para a escola do campo em que se utiliza
da horta escolar, para servir de laboratório de aprendizagens para as escolas com educação
no campo, de referência para professores, auto-organização dos alunos e quem tiver interesse
no assunto.
Também tem a sua importância por ser um trabalho final do Mestrado Profissional
em Educação da UFFS de Erechim, baseado em leituras e análises de referências, motivada
pela experiência7 e pela necessidade de elaborar uma metodologia que emancipe os sujeitos
do campo, para isso se utilizou da horta escolar8 por ser uma atividade que é realizada nas
escolas Municipais e Estaduais do município de Marcelino Ramos.
Esta dissertação tem a devida importância porque parte do “chão” da escola do
campo, em que frequentam alunos provindos da agricultura familiar, que merecem receber
uma educação de qualidade e que atenda aos interesses dos camponeses. Isso tem a intenção
de motivar aos alunos a frequentarem a escola e consequentemente melhorara prática da
horta escolar de uma forma que os emancipe. Outro ponto importante deste trabalho é
organizar a proposta para interligar os conteúdos científicos com a prática escolar de forma
interdisciplinar.
O objeto da pesquisa horta escolar é uma prática real da escola, portanto servirá de
instrumento de análise para se efetivar o diagnóstico, bem como, um espaço de organização,
para a reflexão do trabalho prático e interdisciplinar no fazer pedagógico. Também terá
importância na auto-organização dos estudantes em se utilizou do diálogo organizador para a
produção de alimentos, na horta da escola do campo. Tudo isso se integra a esta dissertação.
É de relevância esta dissertação porque surge como necessidade de (re) organizar a
práxis na escola do campo,tornando a horta escolar como um laboratório de aprendizagem,
6Experiência da mestranda Nelci Daga em trabalhar com escolas do campo em que envolve a prática da horta
escolar. 7 Destaco, Nelci Daga, mestranda, trabalhou 23 anos com alunos das escolas do campo no Município de
Marcelino Ramos. Sendo que desses anos 9 anos foi gestora pública. 8 Destaco a horta escolar como uma prática da produção de alimentos, realizada nas escolas do campo de
Marcelino Ramos. RS
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capaz de gerar autonomia nos estudantes na produção de alimentos.Essa análise partiu do
pressuposto que a ação não tem a preocupação com a emancipação dos sujeitos e que a
mesma se efetiva e nem faz uma reflexão da práxis na escola do campo, por isso da
importância desta proposta.
Nessa relação o mundo dos camponeses vem para dentro da escola através dos
relatos, temas específicos dos agricultores familiares, produção de alimentos agroecológicos,
discussão das relações entre alunos, professores e produtores, organizando o conhecimento, a
produção de forma coletiva e dialógica. Também relacionar os saberes provindos do campo
com o conhecimento científico tornando este espaço de reflexão e de compreensão das
formas do capital. Perceber que o mesmo se utiliza das vendas de agrotóxicos e de insumos
como um processo de manutenção do sistema. Refletir os modelos de produção utilizando a
horta e apresentar a horta como forma de agregar valor a pequena propriedade. A horta,
nesse processo, servirá de laboratório de aprendizagem e será visto como um espaço didático
onde os conteúdos científicos são relacionados com terra e vida dos alunos.
Destaca-se o referido trabalho pela intencionalidade pedagógica de produzir
discussões, qualificar os sujeitos e levá-los a compreensão da vida no campo. Também
perceber que a horta se apresenta como uma possibilidade de aprendizagem e de renda
agregada a agricultura familiar, com isso compreender os modelos de produção e
preservação do meio ambiente. A Escola Estadual Dom Pedro I é uma escola no campo que
desenvolve atividades voltadas para o meio rural e realiza atividades desconectadas da
realidade, sem ter a preocupação com a emancipação dos sujeitos do campo, por isso da
necessidade de se propor uma proposta pedagógica que venha oferecer momentos de
discussão entre os sujeitos envolvidos, para que haja entendimento de como ocorrem às
relações políticas, sociais e filosóficas entre o mundo capitalista e os camponeses.
Outro fator que destaca a importância deste trabalho se dá pela preocupação com os
sujeitos que fazem parte da escola do campo e necessitam de um olhar diferenciado em que
se possa perceber quais são as reais necessidades dos mesmos e apresentar um trabalho
metodológico que possa atender aos anseios dos camponeses. Para isso, é preciso interligar a
ciência com a prática. Nesta visão, destaca-se Freire (2014) quando menciona que o trabalho
pedagógico precisa ser crítico e necessita apresentar resultados, mas para isso precisa da
“reflexão – ação- reflexão” para que se possa constituir nos sujeitos habilidades de refletir as
suas práticas, ações, capacidades de transformar o meio em que habitam.
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19
Além do mais, esta dissertação se faz necessária, porque aos sujeitos do campo estão
legitimados à educação de “direito” que tenha qualidade. Portanto, mudar a forma de
trabalhar em sala de aula na escola do campo e observar as reais necessidades dos
camponeses, são aspectos urgentes a serem avaliados, porque temos escolas do campo, mas
com características de escolas rurais. Miguel Arroyo (2009) enfatiza que a educação do
campo “nasce de um olhar sobre o campo” e que este olhar não pode ser preconceituoso,
mas de valorização, amorosidade para com a vida dos camponeses, bem como as suas lutas
sociais e os modelos de produção. Portanto, esta pesquisa tem a finalidade de servir de
referência às escolas do campo e em especial a Escola Estadual de Ensino Fundamental Dom
Pedro I.
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20
2 AS CONCEPÇÕES DA EDUCAÇÃO DO CAMPO: UM ESPAÇO QUE GERA
MOVIMENTO
Não existe outra forma de compreender os sujeitos do campo e a organização da escola,
se não relatar e analisar alguns pontos da história da Educação do Campo em que se
relaciona com a Educação Rural. É escrita por historiadores que a nominam de Educação
Rural e do/no campo. Estas concepções da Educação do Campo se fazem presentes na vida
dos camponeses em meio aos movimentos sociais, diz Caldart (2014).
Esses fatos históricos nos levam a compreensão da história da educação, bem como
movimento da educação do campo, que apontam alguns elementos sobre a história da
educação, envolvendo a educação rural e do/ campo. Para elaborar esta análise, são trazidas
as ideias e pensamentos dos seguintes autores: Mônica Castagna Molina, Roseli Salete
Caldart, Miguel Gonzales Arroyo, Marlene Ribeiro, Gaudêncio Frigoto e Paulo Freire que
dialogam e analisam a caminhada da educação do campo.
O caminho da Educação do Campo se construiu em meio ao sistema capitalista.
Nesse sistema estão os camponeses, a escola, a vida e os modelos de produção. Tudo isso
está presente na escola do campo como um movimento globalizado. Por isso, se traz presente
nesta discussão o sistema capitalista em que Marx (1982) se refere ao capitalismo como a
cultura do capital e destaca a sua relação com materialidade hegemônica e contra
hegemônica que apontam e definem os caminhos da educação. No entanto, quando ocorre a
materialidade hegemônica, a educação não analisa e não reflete as ideologias do capital com
a vida dos camponeses na escola. Ela reproduz a alienação dos educandos. Entretanto,
quando a escola está comprometida com a emancipação dos sujeitos pensa num novo
modelo de escola, que venha atender aos interesses dos sujeitos que moram no campo, nesse
caso, se está fazendo a “contra hegemonia”. Portanto, para que ocorra uma educação que
gere autonomia é preciso que ocorra de forma coletiva a elaboração de propostas contra
hegemônica na escola do campo.
Além disso, Marx (1982) também trata do capital como uma relação social de
apropriação de todos os meios de produção convertidos em mercadorias, dinheiro e capital, a
serviço da produção e da mais valia. O sistema capitalista se concretiza na educação do
campo, principalmente quando o modelo de educação que se oferece na escola do campo,
não atende aos interesses dos camponeses e, além do mais, desenvolve um projeto que
beneficia o modelo capitalista e não emancipa para vida.
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21
Não se pode falar em emancipação sem citar Marx (1982, p.37) ao citar a relação do
mundo do trabalho com o universo em que os sujeitos estão envolvidos, já que o homem do
campo faz parte deste universo.
O Estado é emancipado, o homem é determinado. A emancipação política do
homem não é direta, ela é mediada pelo Estado. A emancipação política é a
redução do homem, por um lado, a membro da sociedade civil, indivíduo
independente e egoísta e, por outro, a cidadão, a pessoa moral. Só será plena a
emancipação humana quando o homem real e individual tiver em si o cidadão
abstrato; quando como homem individual, na sua vida empírica, no trabalho e nas
suas relações individuais, se tiver tornado um ser genérico; e quando tiver
reconhecido e organizado as suas próprias forças (forces propes) como forças
sociais, de maneira a nunca mais separar de si esta força social como força política.
Já Frigoto (2010, p. 35), menciona em seus escritos a relação da educação com o
sistema capitalista e chama a relação do capital na educação de “materialismo cultural”
mostrando que o uso das preposições “para, no campo” diferenciam o tipo de ensino na
escola do campo. Destaca que, aparentemente, é só uma expressão histórica da educação dos
homens e mulheres do campo, mas que na verdade são processos educativos alienadores da
ordem do capital que pautam o horizonte da emancipação humana e das formas sociais que
incidem sobre o gênero humano e que consequentemente compõe a história da Educação do
Campo.
A história da educação do campo veio se consolidando em meio ao movimento que
gerou a percepção crítica na formação histórica da educação do/no campo, em que aparecem
os usos das preposições para e no campo, de acordo com Frigoto (2010, p.35)
A expressão para o campo e no campo, expressão concepções políticas do estado e
assim educação escolar para o campo consiste em estender modelos, conteúdos e
modelos pedagógicos planejados de forma centralizada e autoritária, ignorando as
especificidades e particularidades dos processos sociais produtivos simbólicos e
culturais da vida do campo. Por outro lado, a educação do campo mantém o sentido
extensionista do localismo e cresce-lhes a dimensão do localismo e particularismo.
Trata-se da visão de a criança, jovens e adultos do campo estão destinados a
permanecer sempre no campo. Desconhecer os processos produtivos do campo e
cidade atende a industrialização.
Estas denominações compõem os aspectos históricos, críticos e sociais da educação
do campo, no entanto, a educação antes de ser vista como do/no campo era considerada
educação rural. Foi justamente no movimento de luta em que consolidou o “confronto na
perspectiva de colonização, extensionista”, de acordo com Frigoto (2010). O autor ainda
relata que é “possível de ser entendida social e humanamente no processo de construção do
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movimento social e de um sujeito social, político e educacional contra-hegemônico”. Estas
discussões que contrapõe o modelo de produção capitalista são de suma importância na
escola do campo, porque elas proporcionam um entendimento da situação do camponês. Foi
com o movimento que a educação do campo foi legitimada pelo estado.
A Educação do Campo vem sendo vista como um direito do cidadão e um dever do
Estado desde a Constituição de 1988, transformando-a em direito público “subjetivo,
independentemente dos cidadãos residirem em áreas rurais ou urbanas”. Desde então, passou
a regimentação dos processos educativos nas escolas do campo, mas não quer dizer que com
a legitimação do direito as escolas passaram a receber uma educação de qualidade a qual
permitiu que os sujeitos do campo pudessem se desenvolver no campo, até então, porque a
educação do campo acontece moldada à educação urbana determinada pelo capital e com
características de Educação Rural.
A Educação Rural, segundo o Dicionário do Campo em que Ribeiro (2014, p. 293),
diz que é a que:
[...] se destina aos sujeitos que são considerados agricultores e “tem o sustento
provindo da agricultura. Destaca também que quando estes agricultores têm uma
escola próxima de onde vivem, recebem um ensino nos moldes da cidade”. É uma
escola, “destinada a oferecer conhecimentos elementares de leitura, escrita e
operações matemáticas simples, mesmo a escola rural multisseriadas não tem
cumprido esta função. O que explica as altas taxas de analfabetismo e os baixos
índices de escolaridade, nas áreas rurais”.
Mesmo tendo um índice elevado de baixa escolaridade no campo, as instituições
responsáveis pela educação não apresentaram um novo modelo de educação que viesse
desenvolver os sujeitos do campo, mas pelo contrário, propuseram uma educação para
atender a industrialização que, consequentemente, atende aos interesses do capital. Com
isso, foi proposta uma metodologia que disciplinava e ensinava os alunos a obedecer e a não
questionar. Estes eram os quesitos exigidos para que os trabalhadores pudessem atuar na
indústria.
A Educação Rural foi constituída para atender aos interesses do capital, e em meio a
isso, o Estado pensou numa proposta pedagógica, que viesse atender a industrialização:
“corpos disciplinados e dóceis” e a educação rural desempenhou esta função, quando não
valorizou o saber do camponês, aplicando na escola do campo um saber totalmente
urbanizado. Com isso, foi se construindo um processo ideológico que perpassou gerações,
em que, o campo foi visto como um local de atraso e os agricultores foram discriminados e
desvalorizados na sociedade. Mas, atualmente, vem se construindo um movimento de
valorização ao campo, mostrando a sua importância na produção de alimentos e na
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preservação do meio ambiente. Para isso, é importante que se construa uma nova ideia do
homem camponês e que se perceba que o “campo é um lugar de possibilidades”.
Em virtude deste novo paradigma e da intencionalidade da Educação Rural, os
filhos dos camponeses sentem a necessidade de aproximar o trabalho no campo com o
estudo, porque eles ingressam muito cedo na lida do campo. Com isso, surgem os
movimentos de luta para que escola rural esteja voltada aos interesses dos camponeses
oportunizando o surgimento da escola do campo.
Para que uma escola possa ser considerada do campo precisa desenvolver uma
educação que atenda aos interesses dos camponeses, tendo, muitas vezes que transformar sua
forma de ensinar, dando voz e vez aos menos favorecidos com o objetivo de gerar autonomia
e atender as expectativas de aprendizagem dos camponeses. Caso não apresente essas
características, será considerada uma escola com Educação Rural que, segundo Ribeiro
(2013, p.171 – 172), “A educação rural [...] funcionou como uma educação formadora tanto
de uma força de trabalho disciplinada, tanto consumidora de produtos agropecuário, agindo
nesse sentido, para eliminar os saberes acumulados pela experiência do trabalho com a
terra”. Essa escola, ainda segundo a autora, tem a finalidade de manter as demandas do
capital e está muito distante de atender aos interesses dos camponeses, quando não valoriza o
saber que envolve a vida do camponês.
Em contra partida, foram surgindo os movimentos para manter viva a educação do
campo, objetivando a luta pela terra, pela sobrevivência dos pequenos agricultores e da
escola no campo, surgindo grupos que trabalhavam em favor da educação de qualidade nos
Movimentos Sociais e na Escola do Campo, com a finalidade de gerar autonomia aos
agricultores e atender aos interesses dos camponeses. Molina (2014, p. 324), diz que
A concepção de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da
EDUCAÇÃO DO CAMPO, a partir da experiência de formação humana
desenvolvidas ao contexto de luta dos movimentos socais camponeses por terra e
educação. Trata-se, portanto, de uma concepção que emerge das contradições da
luta social e das práticas de educação dos trabalhadores do e no campo.
O direito a uma educação de qualidade passou a ser a grande luta dos movimentos
sociais. Os mesmos defendem uma escola que venha a atender aos interesses dos agricultores
e das comunidades em que a escola está inserida. É uma “peleia” constante, devido à escola
que temos não atender aos interesses dos pequenos agricultores, estar a serviço do capital e
ter características de escola rural. Esta última é uma escola que está no campo, mas que
realiza um ensino que não a tende aos interesses dos camponeses.
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Outro ponto polêmico é conseguir manter a escola no campo funcionando e fazer
com que a mesma tenha condições de atender aos direitos dos camponeses. Caldart (2009,
p149) diz que “a grande luta por direito à educação e a uma educação que seja no e do
campo” e que atendam aos interesses dos camponeses e esteja voltada para manter os
sujeitos no campo. Esses processos de luta se configuram em meio às movimentações que
atendam aos interesses da classe trabalhadora que visem o seu desenvolvimento, ainda de
acordo com a autora, “o movimento por uma educação vincula a luta por educação com o
conjunto das lutas pela transformação das condições sociais de vida no campo”. Tais ações
se constituem em meio ao “movimento9”, que se refere à educação do campo. A mesma está
em movimento desde a forma de olhar para o homem que vive no campo, e precisa ser vista
com outros olhos e atender as prioridades dos sujeitos camponeses. Destaca que a Educação
Básica do campo está sendo produzida numa dinâmica “sociocultural de humanização das
pessoas que dela participam” e menciona que uma nova prática de educação no campo está
sendo gestada no movimento com a finalidade de apresentar possibilidades no entorno do
conhecimento dos sujeitos que vivem na terra.
Já para Fernandes (2009, p 141) a “educação do campo é um conceito cunhado com
a preocupação de delimitar território”. Entretanto LDB10
no seu artigo 206 de 2006 da
Constituição Federal faz um reconhecimento à diversidade sociocultural, ao direito plural
possibilitando a elaboração de diferentes diretrizes operacionais, que conforme Fernandes
(2009, p. 143), a “Constituição foi resultado das lutas” e que a “escola do campo são
palavras que encerram em si uma história de uma luta e que começa a dar frutos com a
provação das Diretrizes Operacionais para educação Básica da escola do Campo”.
9 Movimento expressão utilizada por Roseli Caldart (2009), no Livro Por Uma Educação no Campo,
representando os diferentes tipos de movimentos. 10
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o
acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e
o saber; III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e
privadas de ensino; IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; V - valorização dos
profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente
por concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
53, de 2006) VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei; VII - garantia de padrão de qualidade.
VIII - piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública, nos termos de lei
federal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) Parágrafo único. A lei disporá sobre as
categorias de trabalhadores considerados profissionais da educação básica e sobre a fixação de prazo para a
elaboração ou adequação de seus planos de carreira, no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006). Conforme:
http://pactoensinomedio.mec.gov.br/
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Essas Diretrizes Operacionais para Educação Básica da Escola do Campo, no
parágrafo único do seu artigo 2º, diz que a identidade da escola do campo é mencionada da
seguinte forma:
A identidade da escola do campo é definida pela sua vinculação, as questões
inerentes a sua realidade, ancorando-se na temporalidade e saberes próprios dos
estudantes, na memória coletiva que sinaliza futuros, na rede de ciências e
tecnologias disponível, na sociedade e nos movimentos sociais e tecnologia
disponível na sociedade e nos movimentos sociais em defesa de projetos que
associem as soluções exigidas por essas questões à qualidade social da vida
coletiva do País.
Essa menção feita na LDB sobre a educação do campo foi resultado das lutas dos
movimentos, mas que, mesmo com a legitimação, faz-se necessário uma escola que esteja
vinculada aos interesses dos educandos no campo, já que na prática, existem escolas no
campo com características rurais porque desenvolvem um ensino urbanizado que não
atendem aos interesses dos camponeses. Essa transformação no ensino, segundo Caldart,
(2010 p. 324), se refere a tendências de transformação que se efetivam a partir da
“concepção da forma de educar no debate político e pedagógico voltado as práticas e ao
Movimento Social”. No entanto, conta a história, que a educação do campo foi se
construindo, em meio a lutas, organizadas pelos Movimentos Sociais, buscando
desempenhar a função de fazer com que a “escola do campo fosse vista com outros olhos”.
Esse movimento envolveu os trabalhadores, professores, alunos, pais, comunidades, que se
engajarem na luta para reivindicar os seus direitos e principalmente na luta por um pedaço de
terra.
Essas lutas se configuraram e deram voz à educação do campo, a qual foi pensada
por especialistas que elaboram um conceito em que definiram a educação do campo. Nesse
movimento Arroyo, Caldart, Molina (2004, p. 176), dizem que:
A educação do campo, tratada como educação rural na legislação brasileira, tem
um significado que incorpora os espaços da floresta, da pecuária, das minas e da
agricultura, mas os ultrapassa ao acolher em si os espaços pesqueiros, caiçaras,
ribeirinhos e extrativistas. O campo, nesse sentido, mais do que um perímetro não
urbano, é um campo de possibilidades que dinamizam a ligação dos seres humanos
com a própria produção das condições da existência social e com as realizações da
sociedade humana.
Em meio às lutas e o movimento, surge educação do campo, portanto é possível
afirmar que na sua trajetória, o Movimento acabou fazendo uma verdadeira ocupação da
escola nos três sentidos (CALDART, 2000). No primeiro sentido, houve o envolvimento das
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famílias pelo direito à educação na década de oitenta; no segundo, o MST se configurou um
grupo de articulação e de mobilização para se construir uma proposta pedagógica específica
para as escolas do campo e tendo que formar educadores com capacidade de atuar nesta
perspectiva, isto ocorreu em 1987; e o terceiro elemento foi a incorporação da escola pelo
MST, o qual passa fazer parte do cotidiano do movimento.
Com a mobilização, a educação do campo que surge nos anos de 1990, a qual se
utiliza da legislação para fazer as Diretrizes da Educação do Campo, é considerada um
avanço para uma educação. Já o movimento social surgiu como princípio educativo, com
base na educação construída através da experiência e diz que a “intencionalidade não está no
campo da educação, mas no caráter do MST”. A educação do campo começa ser vista com
outros olhos e passa exigir o seu valor.
A história da Educação do campo teve um avanço no Governo Luís Inácio da Silva,
quando as Diretrizes, que normatizam a Educação do Campo, se tornaram lei pelo Decreto
número7352 de 04/11/2010. Institucionalizou o PRONERA vinculado ao MDA, mas
continuou a ser executado pelo INCRA. Ribeiro (2013) diz que essa foi uma das conquistas
da Educação do Campo e que, garantindo os recursos materiais e financeiros para a sua
realização, pode ser indicado como um avanço: a obtenção dos marcos legais para a
efetivação dos programas educacionais direcionados a esta modalidade de educação. A
inserção do tema na agenda de pesquisa das universidades públicas brasileiras, a articulação
entre os movimentos sociais, populares e as instituições que lutam pela Educação do Campo
geraram o movimento e obtenção de certos recursos destinados a escolas do campo.
Esses movimentos vão construindo a história da educação, a qual aos poucos passam
a fazer parte dos processos educacionais como interlocutores. Caldart (2000, p. 200)
menciona que os “movimentos sociais não têm sido figura muito presente nas teorias
pedagógicas, nem como sujeito educativo, nem como interlocutor da reflexão sobre
educação”. Estes grupos que defendiam a escola do campo, no campo, perceberam que além
de manter a escola do campo aberta era preciso construir um currículo com características
específicas para ser ensinado nesta escola, que contemplasse os interesses da classe
trabalhadora e dos movimentos sociais. Sentindo-se responsáveis por uma educação de
qualidade no campo, Caldart (2000, p. 94) afirma que:
[...] passaram a construir uma escola diferente, o que era (e continua sendo) um
direito passou a ser também um dever [...], precisamos preocupar-nos em
transformar instituições históricas como a escola em lugar que ajudem a formar
sujeitos destas transformações.
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Transformar a escola do campo num local que possa formar sujeitos com capacidade
de se manter no campo é importante e necessário para o desenvolvimento desses sujeitos que
ali vivem. Ribeiro (2002, p.100) diz que os trabalhos realizados nas escolas “[...] estão
voltados para o trabalho urbanizado no sentido de esvaziar a identidade dos filhos dos
agricultores, construído nas vivências que decorrem da relação com a terra, com o trabalho e
acultura ligada a terra”. Nesse viés, a horta escolar, pode servir como um instrumento de
diálogo e de construção de conhecimento e atender aos interesses dos camponeses.
No entanto, no Brasil a história da educação do campo perpassou e ainda perpassa
momentos difíceis. No ano de 2008, no Estado do Rio Grande do Sul, deparou-se com
decisões arbitrárias. O Ministério Público gaúcho e a Secretaria Estadual de Educação
assinaram um Termo de Ajustamento de Conduta, em dezembro de 2008, determinando o
fechamento das escolas itinerantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
(MST), fazendo com que ocorresse o fechamento de muitas escolas no campo. No Município
de Marcelino Ramos, algumas escolas foram fechadas.
Sentindo o impacto político e social, as escolas da Rede Estadual do Rio Grande do
Sul no município de Marcelino Ramos também foram sendo fechadas. Elenco Escolas
Estaduais que encerraram suas funções sendo hoje extintas: Escola Estadual de Pinhalzinho,
Escola Estadual de Santa Bárbara, Escola Estadual de São Caetano, Escola Estadual da
Linha São Paulo, Escola Estadual do Rio Ligeiro11
. Atualmente o Estado tem duas escolas na
Rede Estadual que estão abertas no campo, em funcionamento. A Escola Estadual Nossa
Senhora das Graças com um turno no Estado do 6º ao 9º ano e do 1º ao 5º ano faz parte da
rede municipal do Município de Marcelino Ramos. Já a Escola Estadual de Ensino
Fundamental Dom Pedro I, exerce suas funções, até hoje, em virtude de, na época, ter mais
de cem alunos e por ser uma escola que se localiza distante 25 quilômetros da sede do
Município.
São exemplos que ilustram e vem confirmar a história da educação neste País. Com
isso, é possível perceber que no Brasil, a educação sempre esteve a serviço dos interesses do
capital. Estamos a 300 anos da colonização, período em que brancos e negros, índios e
quilombolas, não lhes eram dados o direito de estudar. No entanto, se configurava a ideia
que para trabalhar na terra não era necessário saber ler e escrever. Tal percepção quanto ao
11 Informações obtidas junto à 15ª Coordenadoria Regional de Erechim.
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papel da escola foi sendo configurado, sem ter uma preocupação com o desenvolvimento do
homem do campo para que permanecesse na terra.
Nessa luta, conta a história que, por uma educação do e no campo e não apenas para
o campo, que nasce dos e nos movimentos sociais um novo contorno nacional, o qual gerou
o que Munarim (2008, p. 58) nomeou de Movimento Nacional de Educação do
Campo,salientando que:
[...] a experiência acumulada pelo Movimento Sem Terra (MST) com as escolas de
assentamentos e acampamentos, bem como a própria existência do MST como
movimento pela terra e por direitos correlatos, pode ser entendida como um
processo histórico mais amplo de onde deriva o nascente Movimento de Educação
do Campo.
É em meio a esses espaços de lutas que se constituem que vai se configurando a
educação do campo. Para compreender a origem deste conceito Molina (2006, p. 30) afirma
que:
É necessário salientar que a Educação do Campo nasceu das demandas dos
movimentos camponeses na construção de uma política educacional para os
assentamentos de reforma agrária. Este é um fato extremamente relevante na
compreensão da história da Educação do Campo. Dessa demanda também nasceu o
Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera) e a Coordenação
Geral de Educação do Campo. As expressões Educação na Reforma Agrária e
Educação do Campo nasceram simultaneamente, são distintas e se complementam.
A Educação na Reforma Agrária refere-se às políticas educacionais voltadas para o
desenvolvimento dos assentamentos rurais. Neste sentido, a Educação na Reforma
Agrária é parte da Educação do Campo, compreendida como um processo em
construção que contempla em sua lógica a política.
O que se percebe é que tanto na história da educação como no seu conceito
elaborado está presente a lógica da política. No entanto, para que a educação no campo tenha
características do campo é preciso o envolvimento dos educadores, em que Ribeiro (2002),
diz que cabe a nós professores, enquanto trabalhadores da educação, nos engajar também
nessa luta e ajudarmos a fazer realidade da escola básica do campo que todos queremos. É
para isso é preciso perceber o valor da história da educação do campo e da vida dos
camponeses, aproximando a vida do campo e o mundo da cidade como um saber cultural.
Numa visão separatista entre cidade e campo se compreende e se justifica que a
educação é uma reprodução do sistema capitalista, que almeja mão de obra barata e o
esvaziamento do campo. O desafio é atender as demandas do capital, para tanto é necessário
atender aos interesses dos sujeitos do campo na escola do campo, e com isso oferecer uma
educação de direito aos povos menos favorecidos em que, Molina (2009, p. 12 -13) diz:
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A Educação do Campo traz, então, uma grande lição e um grande desafio
para o pensamento educacional: entender os processos educativos na
diversidade de dimensões que os constituem como processos sociais,
políticos, culturais; formadores de ser humano e da própria sociedade.
O grande obstáculo na escola do campo é pensar numa educação que atenda os
interesses do campesinato. Um exemplo disso é perceber que a horta escolar pode se tornar
um elemento de aprofundamento histórico, social e político que levam a compreender a
identidade do sujeito do campo, servindo de elemento de discussão e de organização dos
povos menos favorecidos, apontando instrumentos de lutas voltados para os movimentos
com a finalidade de manter a escola aberta no campo em meio a tantos desafios econômicos.
Com isso, é preciso oportunizar aos camponeses o direito à educação de qualidade, em meio
às lutas. Caldart (2009, p. 28) diz que “é preciso pensar a relação homem, campo e cidade,
refletindo os modelos de produção do capitalismo e de desenvolvimento do país”. Portanto,
na escola do campo é preciso que se pense num modelo que favoreça os seus sujeitos, que os
levem a compreender o sistema e os seus impactos sociais, gerando no meio rural
possibilidades de autonomia, de desenvolvimento; emancipando-os. Para isso é preciso
compreender a história dos sujeitos do campo em meio aos movimentos sociais que lutam
pela terra e pelo direito à educação de qualidade que venha manter o homem no campo.
Contudo, não há como fazer educação no campo sem passar pelo movimento e a história da
educação do campo.
2.1 EDUCAÇÃO DO CAMPO: APRESENTANDO A COMUNIDADE ESCOLAR
Educação do Campo ou Educação Rural? Para que se possa apresentar a
comunidade escolar da Escola Estadual de Ensino Fundamental Dom Pedro I, é preciso
caracterizá-la primeiro, com a finalidade de perceber se esta Escola é do Campo ou é uma
Escola Rural. Frente a essa indagação, apresenta-se o que relatam alguns pesquisadores
sobre a Educação do Campo e a Educação Rural. Consta-se que a educação do campo nasce
em meio aos movimentos sociais e está associada ao desenvolvimento dos sujeitos do
campo, com a finalidade de proporcionar autonomia. De acordo com Molina (2012, p.325)
A concepção de escola do campo se insere também na perspectiva gramsciana da
ESCOLA UTILITÁRIA, no sentido de desenvolver estratégias epistemológicas e
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30
pedagógicas que materializam o projeto marxiano da formação humanista
omnilateral, com sua base unitária integradora entre trabalho, ciência e cultura,
tendo em vista a formação dos intelectuais da classe trabalhadora.
A formação da classe trabalhadora se faz necessário para o desenvolvimento dos
trabalhadores do campo, diz Molina (2012, p. 325), e acrescenta que, para que se possa
apresentar um projeto de transformação social voltado para os trabalhadores do campo. A
mesma destaca que o processo ocorre “simultaneamente a transformação do mundo e a
autotransformação humana” e para isso, é preciso que os educadores percebam a importância
da escola do campo e realizem um trabalho pedagógico que atenda aos interesses dos
camponeses. Por tanto, necessitam de formação e de uma mudança na forma de ensinar, isto
quer dizer passar da Educação Rural para a Educação do Campo.
Entretanto, a Educação do Campo antes de ser considerada como tal era chamada de
Educação Rural. Segundo Ribeiro (2012, p. 293) do Dicionário do Campo diz que
Para definir educação rural é preciso começar pela definição de sujeito a que ela se
destina. “De modo geral, o destinatário da educação rural é a produção agrícola
construída por todas aquelas pessoas para as quais a agricultura representa
principal meio de sustento” (Petty, Tombim e Vera, 1981). Trata-se dos
camponeses, ou seja, daqueles que residem e trabalham nas zonas rurais e recebem
os menores rendimentos por seus trabalhos.
No entanto, as escolas rurais foram construídas na zona rural e o ensino se
constituiu baseado na Educação Rural. Ribeiro (2012, p. 293) diz que nas escolas rurais o
ensino está “destinado a oferecer conhecimentos elementares de leitura, escrita e operações
matemáticas, simples” e não tendo a preocupação com os filhos dos camponeses que
precisam de um ensino mais específico para o campo e que possibilite autonomia.
No Estado do Rio Grande do Sul, se constituiu o Ensino Rural, no final da década
de 1950 e início de 1960, período, em que se intensificava a expansão do Ensino Primário.
Conforme constatações de Gritti (2003, p.65),“Foi nesse período a implementação do Plano
“Nenhuma Criança sem Escola no Rio Grande do Sul” que previa a construção de duas mil
escolas em dois anos”. Historicamente serviam para responsabilizar e incorporar o homem e
o meio rural aos planos do desenvolvimento da sociedade capitalista, urbano-industrial.
Essas escolas rurais foram sendo construídas gradativamente no interior do Rio
Grande do Sul e se estabeleceram em determinados locais que eram denominadas de
comunidade. Foram nas comunidades que se estabeleceram os sujeitos que desempenharam
e desempenham as funções no campo. Elas são compostas por famílias que têm seu terreno
próprio e algumas são arrendatários. Na comunidade de Coronel Teixeira, Marcelino
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31
Ramos, RS, todos possuem casa para morar, e além do mais, em algumas propriedades
possuem galpão, chiqueirão, estrebarias para ordenha de vacas e aviários. Outras possuem
somente alguns desses itens. Da terra, os camponeses retiram o sustento da família sendo
que, segundo a EMATER, setenta por cento do alimento que está em nossa mesa é
produzido na agricultura familiar.
A Escola Estadual de Ensino Fundamental Dom Pedro I, fica situada na
comunidade de Santa Terezinha de Coronel Teixeira, Marcelino Ramos, Rio Grande do Sul.
Os moradores da cidade de Marcelino Ramos, que residem em Coronel Teixeira, tem seus
filho frequentando essa escola. Os mesmos construíram a sua história, sendo que parte dela
foi editada pelo histórico do IBGE (2017), dizendo que Marcelino Ramos foi assim
colonizado:
“Entretanto, a colonização do território somente teve início, por ocasião da
revolução Federalista de 1893, também denominada de castilhista, quando algumas
famílias procuravam refúgio no “Vale do Uruguai”. As terras onde tais famílias
procuravam asilo (refúgio) aqui localizadas, pertenciam naquela época ao 8º
Distrito de Passo Fundo. Dentre os colonizadores, merecem destaque aqueles que,
quando ali se instalaram, como o italiano João Antônio Speranza – e o descendente
de açorianos – Francisco Vicente Duarte (da Silva – após suprimido) fixando-se
este, no lugar hoje denominado de Coronel Teixeira, Tais famílias que aqui
aportaram se locomoveram com canoas – a revés de estradas líquidas de cursos
d’água e outros, por picadas, em lombos de burros ou cavalos, munidos de
“Bruacas e mantimentos”, serpenteando densa e inóspita floresta, em moldes de
uma função verdadeiramente civilizadora, nesta fértil e ubérrima região, hoje,
MARCELINENSE.
Nesse relato tem-se a percepção de como foi se formando o povo que reside em
Coronel Teixeira, no município de Marcelino Ramos. As famílias foram se instalando num
determinado local e derrubaram as matas para começar a construir as suas casas. Tiveram
que fazer estradas, sem nenhum auxílio de máquinas. Exemplifico com um fato contado por
minha avó, Angela Daga, que residiu no Município de Marcelino Ramos, no entorno de
1825, em que relatou o seguinte: “Quando chegamos neste município de Marcelino Ramos,
meu marido e eu, viemos de trem de Caxias do Sul, a minha roupa cabia num saco de sal. Os
mantimentos que tínhamos vieram com carroça a cavalo. Instalamo-nos, derrubamos uma
árvore, fizemos fogo e a primeira polenta que fizemos para comer, foi colocada no tronco da
árvore que foi serrada”. Com o passar do tempo foram se organizando suas propriedades e as
comunidades. Chegaram até a construir a igreja para rezarem todos os domingos.
-
32
Esse povo se instalou próximo da água das margens do Rio Uruguai para facilitar a
vida deles. Marcelino Ramos é uma cidade que fica às margens Rio Uruguai12, atualmente ao
lago do Rio Uruguai13. Esse município tem a sua economia essencialmente agrícola. Porém,
é conhecido no Brasil pelo Turismo porque recebe muitos visitantes de todo o país por ter
em seu município o Balneário das Águas Termais (águas sulfurosas e quentes); o Seminário
Salete; Parque Teixeira Soares14; o Parque Quinto Rancho15 que tem atrativos voltados para o
campo.
Marcelino Ramos possui uma riqueza natural formada por águas cristalinas e matas.
No Lago do rio Uruguai tem a Ponte Férrea16, assoalhada, que liga o Estado do Rio Grande
do Sul a Santa Catarina. Tem o comércio local, mas a sua economia provem basicamente da
agricultura familiar.
Figura 1: Ponte Férrea sobre o Rio Uruguai
Fonte: Disponível em:
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definido “O Alto Uruguai, onde se instala a Colônia Erechim, situa-se ao Norte do Rio
Grande do Sul, confrontando com Santa catarina através do Rio Uruguai”.
Figura 2: Vista aérea da Cidade de Marcelino Ramos
Fonte:.https://www.marcelinoramos.rs.gov.br Acessado em: 22-03- 2017
Esse Município se constitui a partir da divisão territorial datada em 1955, em que foi
formada de 4 distritos: Marcelino Ramos, Coronel Teixeira, Maximiliano de Almeida e
Viadutos pela Lei Estadual nº 3728, de 18-02-1959, segundo dados do IBGE. Coronel
Teixeira foi denominado distrito em 2001 por uma lei municipal, sendo que a divisão
territorial ocorreu em 2003. Marcelino Ramos faz divisa com Severiano de Almeida,
Viadutos e Estado de Santa Catarina, que tem como limite o Lago do Rio Uruguai.
O Distrito de Coronel Teixeira tem aproximadamente dois mil e quinhentos
habitantes, fica distante da sede do município de Marcelino Ramos em torno de 25
quilômetros. Antigamente possuía um comércio bem estruturado. Contam os moradores
que, nas décadas cinquenta e sessenta, nesse local tinha subprefeitura, delegacia de polícia,
armazéns, farmácia, serraria, moinho, ferragem e outras atividades. Com o passar do tempo
os moradores foram residir em outros locais, como no Paraná e outras regiões do Brasil.
Essa comunidade também sofreu o impacto da Barragem de Itá, entre 1998 e 2001,
na qual muitas famílias se deslocaram para outras regiões, devido as suas terras terem sido
invadidas pelas águas do Lago do Rio Uruguai. Com isso houve uma diminuição do número
de habitantes e consequentemente diminuiu o número de alunos nas escolas.
O comércio local, hoje assim se constitui: uma loja com mercadorias diversas da
família Roll, um Bazar da família Agliardi, uma Serraria da família Beal, Comércio
Berlanda, Feragem Ferri, Moinho da família Gudoski, uma Unidade Básica de Saúde, dois
centros comunitários, duas igrejas, sendo uma Evangélica Luterana e outra Católica.
https://www.marcelinoramos.rs.gov.br/
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Esse distrito atualmente é formado por comunidades instituídas pela igreja que assim
são nominadas: Comunidade de Santa Terezinha de Coronel Teixeira; Comunidade São
Miguel do Estreito do Rio Uruguai; Comunidade Evangélica Luterana da Água Verde,
Comunidade de São Sebastião. Próximo à comunidade passa a BR 153. São comunidades
formadas por famílias de agricultores que se instalaram e sobrevivem da agricultura familiar.
Na comunidade de Coronel Teixeira existem “duas escolas”: uma de educação
infantil e outra para o Ensino Fundamental, que foram construídas no terreno que “era” do
Estado Do Rio Grande do Sul. Justifico: esse terreno foi doado pela família Rosset17 ao
Estado para construir a Escola. A escola foi construída pelo Estado, mas com o passar do
tempo, devido à necessidade de se construir uma escola para atender as crianças do jardim e
pré-escola, o terreno foi doado para o município de Marcelino Ramos com a finalidade de se
organizar uma Escola de Educação Infantil.
A Escola Municipal de Educação Infantil Gabriel Ferri foi construída entre o ano de
2002 e 2003, já a Escola Estadual de Ensino Fundamental Dom Pedro I foi construída entre
os anos cinquenta a sessenta. A primeira atende os alunos da pré-escola e a segunda escola
atende os alunos do Ensino Fundamental. Na Escola municipal os professores são da rede
municipal do Município de Marcelino Ramos e os da Estadual são da rede Estadual, do
Estado do Rio Grande do Sul. Neste espaço, tem um refeitório que é compartilhado entre os
funcionários, professores e alunos, que além de servir o lanche, em determinados dias serve
como local de reunião com os pais.
A quantidade de alunos nas escolas diminuiu em função do êxodo e da migração do
jovem rural para as cidades maiores em busca de novos rumos. Foram em busca de novas
perspectivas de trabalho junto às indústrias e outras atividades. Veja no quadro abaixo, a
quantidade de alunos matriculados na Escola Estadual de Ensino Fundamental Dom Pedro l,
nos últimos cinco anos.
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Tal informação a respeito da doação da Família Rosset, foi obtida junto a moradora da comunidade.
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Tabela1: Tabela de Alunos Matriculados
Últimos cinco anos Quantidade de alunos do 1º ao 9º ano
2012 101
2013 91
2014 95
2015 84
2016 84
2017 76
Fonte: Senso Escolar, fornecido pela direção Esc. Est. De Ens. Fund. Dom Pedro I, em- 20-04-2017.
Pode-se observar uma diminuição significativa na matrícula de alunos. Observa-se
que do ano de 2012 até 2017, nos últimos cinco anos, houve uma diminuição de 25 alunos na
matrícula escolar. Segundo registros da escola, na década de 90, o número de estudantes era
de até 160 alunos. A diminuição é gradativa, gera preocupação porque algumas escolas
acabaram sendo fechadas devido ao número de alunos e pelo próprio sistema. Esse processo
vem se agravando anualmente, porque saem mais alunos do que são matriculados.
Com a diminuição do número de alunos e o esvaziamento das comunidades, algumas
escolas enceraram as suas funções e foram desativadas. Exemplifico: escola da comunidade
Água Verde; São Miguel na BR 156; eram escolas municipais que atendiam alunos do
primeiro ao quarto ano. No entanto, com o fechamento os alunos e professores foram
transferidos para uma escola núcleo em São Sebastião. Esta última pertencia à rede do
Estado do Rio Grande do Sul e foi municipalizada no final dos anos noventa. Tornando-se os
alunos e o prédio de responsabilidade do município de Marcelino Ramos. Já o professor da
Rede Estadual foi transferido para uma escola mais próxima. Nesta escola de São Sebastião
foram levados alunos de três escolas que foram fechadas no município: Linha Daga, Água
Verde, BR153.
No Distrito de Coronel Teixeira há duas escolas que atendem do primeiro ao quinto
ano: Escola Municipal São Sebastião que hoje tem 22 alunos, e a Escola Estadual de Ensino
Fundamental Dom Pedro I, tem 76 alunos na matricula geral da escola. Sendo que do sexto
ao nono ano, se concentram o maior número de alunos, porque a escola recebe alunos da
rede municipal para concluir o Ensino Fundamental.
Dos alunos que chegam até a Escola Estadual Ensino Fundamental Dom Pedro I,
98% dependem do transporte escolar; que é realizado em parceria do Estado do Rio Grande
do Sul com o município de Marcelino Ramos. Desses, 99% são filhos de pequenos
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agricultores e somente 2% têm sua renda que provem do comércio e funcionários públicos.
Os pais desses alunos são agricultores produtores de milho, soja, feijão, mandioca, pomares
de laranja, hortaliças, arroz e outros produtos.
Os alunos chegam à escola com a finalidade de concluir o Ensino Fundamantal.
Quando encerram, alguns alunos, saem da comunidade e vão estudar no Instituto Estadual
de Educação Marcelino Ramos, já outros estudam em outros municípios, como Severiano
de Almeida, Concórdia, Viadutos e não retornando mais para a propriedade para
desempenhar as funções no campo, apartir do momento que concluem o Ensino Médio.
Pode-se observar na imagem aérea do Distrito de Coronel Teixeira, que é um local
tranquilo e fica em meio natureza. O mesmo tem duas ruas com calçamento e no centro do
Distrito está a Escola Estadual de Ensino Fundamental Dom Pedro I, a Escola Municipal
de Educação Infantil Gabriel Ferri, a igreja Católica Santa Terezinha e o Ginásio de esportes
da comunidade.É uma comunidade harmoniosa em que todos se conhecem e cuidam um dos
outros.
Figura 3: Vista aérea do Distrito de Coronel Teixeira, Marcelino Ramos, RS.
Fonte:
Coronel Teixeira é uma comunidade que está inserida no campo, formada por uma
população descendente da cultura alemã, italiana, polonesa. Pode-se observar que neste
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aglomerado temos aproximadamente em torno de 80 moradores e os demais residem em
locais distantes formando as famílias camponesas.
2.2 APRESENTANDO A ESCOLA ESTADUAL DE ENSINO FUNDAMENTAL DOM
PEDRO I
Como apresentar a Escola Estadual de Ensino Fundamental Dom Pedro I? Essa é a
pergunta que levou a reflexão para iniciar este escrito. Inicio contando uma história que foi
relatada por Gritti (2003), que se refere aos anos de 1930, ano em que as escolas rurais
começaram a ter relevância por parte dos governos federal e estadual, antes disso, era de
responsabilidade dos órgãos de administração local ou privada. Essas escolas foram sendo
construídas no meio rural justamente no período em que no país se intensificava o processo
de industrialização.
Para Gritti (2003), mencionado por Ribeiro (2013, p. 176), afirma que
Escola rural pública foi um potente instrumento para a proliferação do capitalismo
no campo brasileiro, trazendo como consequência a desestruturação do modo de
vida dos trabalhadores rurais principalmente seu trabalho, os saberes e sua cultura
que lhe são próprios [...] contraditoriamente a educação rural objetivava ensinar o
agricultor a trabalhar na terra, como se ele não soubesse fazê-lo.
Em meio, esse processo de se ver o homem do campo como um sujeito que não
sabia trabalhar, nasce a Escola Estadual de Ensino Fundamental Dom Pedro I, no meio rural,
e tem sua origem a partir dos anos de 1946, na qual foi decretada a “Lei Orgânica” no estado
que se referia ao estudo primário. Destaca Gritti (2008, p.22) que:
A escola primária rural tinha como objetivo identificar de que nível de ensino foi
contemplado para as populações rural na referida lei do Ensino Primário, nº 8529.
Tinha como finalidade este ensino primário evidenciar a realidade social e
econômica que se configurava naquele período que passava a exigir uma
escolaridade mínima não somente para o mercado de trabalho, mas também para as
novas condições de sobrevivência e de relações decorrentes da urbanização.
Essa escola se configurou numa época em que o ensino era divido em dois cursos: o
primário e elementar, de quatro anos, e o complementar, isto quer dizer que, os alunos
cursavam até o quarto ano e estudavam mais um ano como reforço. As disciplinas que eram
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trabalhadas na escola, não tinham nenhuma preocupação com o homem rural, segundo Gritti
(2003, p.23) “a lei específica às disciplinas e as atividades para cada um dos cursos, sem, no
entanto, fazer qualquer menção às características peculiares do trabalho rural”. Assim se
constituiu a educação no meio rural.
A história da Escola Estadual Dom Pedro I, foi sendo escrita pelos moradores, já e as
normas foram sendo executadas no Estado. Assim consta no decreto- lei número 8.529, o
qual faz menção à obrigatoriedade da matrícula e frequência escolar, afirmando que “Os
proprietários agrícolas e empresas, em cuja propriedade se localizar estabelecimentos de
ensino primário, deverá facilitar e auxiliar as providências que visem à plena execução da
obrigatoriedade escolar”. Essa obrigatoriedade foi concretizada e a escola passou a existir
nas comunidades.
Constatou-se que essa escola teve outros nomes antes de ser Escola Estadual de
Ensino Fundamental Dom Pedro I. Quando iniciou as atividades era chamada de Escola
Isolada Daltro Filho, porque de acordo com a lei, as escolas que possuíssem somente uma
turma e um só professor, se chamariam isoladas. Por isso do nome Escola Isolada Daltro
Filho. Mais tarde se nominou Grupo Escolar de Coronel Teixeira, pois possuía na época
cinco ou mais turmas, iguais ou superiores ao número de professores. Anos mais tarde essa
escola foi chamada de Escola Estadual de Primeiro Grau Dom Pedro I. Posterior a isso, a
escola com o ensino fundamental completo passou a ser chamado de Escola Estadual de
Ensino Fundamental Dom Pedro I.
É uma escola regida pelas normas do Estado do Rio Grande do Sul e atua com o
Ensino Fundamental Completo do primeiro ao nono ano. É considerado um núcleo no
interior do Município de Marcelino Ramos, porque nela os alunos concluem o Ensino
Fundamental. Pode-se considerar uma escola rural porque ela desenvolve um trabalho que
não se identifica com do trabalho dos camponeses. Segundo Ribeiro (2013, p. 17), “a
educação rural está profundamente distanciada da realidade do trabalho e da vida dos
agricultores, uma vez que a educação tem sido utilizada pelas classes dominantes para
manter a classe trabalhadora rural subordinada aos seus interesses”. Mesmo tendo este perfil
e fazer parte de um modelo de educação que está atrelada ao estado tem desenvolvido a
prática da horta escolar na escola. Nesta horta é produzido verduras, legumes que são
consumidos no refeitório da escola com a merenda para os alunos.
Nesta dissertação, a prática da horta escolar tem importância na escola do campo,
mas pode servir de instrumento de emancipação e autonomia dos camponeses, afim de que
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escola rural se torne realmente uma escola do campo. Entretanto, estudos mostram a
importância da escola do campo que é apresentado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística - IBGE - a Escola do campo é aquela que está situada em área rural, ou aquela
situada em área urbana, desde que atenda predominantemente a populações do campo. Já no
Dicionário da Educação do Campo, Caldart (2012 p. 113),diz que:
Ela nasce e se desenvolve no bojo do Movimento da Educação do Campo, a partir
das experiências de formação humana desenvolvidas no contexto de luta dos
movimentos sociais camponeses por terra e educação. Trata-se, portanto, de uma
concepção que emerge das contradições de lutas sociais e das práticas educativas
dos trabalhadores de e no campo.
Esse campo se constitui de sujeitos que podem ser denominados camponeses que
formam o campesinato que é definido por Caldart (2012, p. 113)
Como um conjunto de famílias camponesas existente em um território [...] isto é
num contexto de relações sociais que se expressão em regras de uso (institucionais)
das disponibilidades naturais (biomas e ecossistemas) e culturas (capacidade difusa
internalizadas nas pessoas e aparatos infraestruturais tangíveis) de um dado espaço
geográfico politicamente delimitado.
Já a família camponesa é definida como um conjunto de sujeitos que vivem num
espaço de terra e dela têm seu sustento. São pequenos proprietários que têm sua renda
econômica retirada da propriedade, isto quer dizer que plantam, colhem e vendem os
produtos produzidos da terra, para dela viver no campo. Caldart (2012, p.113) define família
camponesa como
Aquelas famílias que, tendo acesso a terra e aos recursos naturais que ela suporta,
resolve seus problemas reprodutivos, suas necessidades imediatas de consumo e o
encaminhamento de projetos que permitem cumprir adequadamente um ciclo de
vida da família mediante a produção rural.
Mas porque conceituar campo e família camponesa? Para que se possa entender em
que espaço se está inserido e quem são os alunos que são atendidos na escola do campo.
Feita esta analogia, se pode dizer que os camponeses são as famílias dos alunos que
frequentem a Escola Estadual de Ensino Fundamental Dom Pedro I. Já campesinato se
denomina a quantidade de terreno em que moram as famílias dos alunos da escola. Po