universidade federal da bahia faculdade de odontologia … · 2015. 8. 4. · universidade federal...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE ODONTOLOGIA
CENTRO DE ORTODONTIA E ORTOPEDIA FACIAL
PROF. JOSÉ ÉDIMO SOARES MARTINS INFLUÊNCIA DO CLORETO DE GADOLÍNIO NO PERIODONTO
DE INSERÇÃO DE RATTUS NORVEGICUS SUBMETIDOS À MOVIMENTAÇÃO ORTODONTICA
CRISTINA BACELLAR DE PINHO
C.D.
Salvador
2007
CRISTINA BACELLAR DE PINHO
INFLUÊNCIA DO CLORETO DE GADOLÍNIO NO PERIODONTO
DE INSERÇÃO DE RATTUS NORVEGICUS SUBMETIDOS À MOVIMENTAÇÃO ORTODÔNTICA
ORIENTADOR: PROF. DR. MICKELSON RIO LIMA DE OLIVEIRA COSTA
CO-ORIENTADOR: PROF. DR. MARCOS ANDRÉ VANNIER DOS SANTOS
Dissertação apresentada à Faculdade de Odontologia da Universidade Federal da Bahia, como parte dos requisitos para obtenção do Título de Especialista em Ortodontia e Ortopedia Facial.
Salvador
2007
P654 PINHO, Cristina Bacellar de
Influência do cloreto de gadolínio no periodonto de inserção
de Rattus norvegicus submetidos a movimentação ortodôntica /
Cristina Bacellar de Pinho. Salvador, 2007. 86f. : il.
Orientador: Prof. Dr. Mickelson Rio Lima de Oliveira Costa.
Co-Orientador: Marcos André Vannier dos Santos.
Dissertação (Especialização) - Ortodontia e Ortopedia Facial.
Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Odontologia, 2007.
1. Osteoclastos. 2. Movimentação dentária. 3. Gadolínio. I.
Universidade /federal da Bahia. Faculdade de Odontologia. II.
Costa, Mickelson Rio Lima de Oliveira. III. Santos, Marcos
André Vannier dos. IV> Título.
CDU 616.314-089.23
A meus pais,
Com os quais aprendi tudo que sei, mas principalmente que ainda tenho muito
a aprender. Ensinaram-me que tudo que nos propomos a realizar, deve ser
feito com dedicação, coragem, ética e amor. E que o sucesso, nem sempre tem
uma conotação tão óbvia... A satisfação profissional jamais será plena se ao
longo desta jornada não agregarmos amigos, respeito e dignidade. Porém, a
lição mais importante já está bem sedimentada: a base de todas as conquistas
é a família.
Dedico.
AGRADECIMENTOS
A Deus, pois quando os problemas pareciam sem solução, encorajou-
me nos momentos de angústia e conduziu meus caminhos, não deixando
nunca que eu desistisse de meus sonhos.
A Ricardo, amor de minha vida, pelo incentivo, compreensão e carinho
ao longo de toda minha vida profissional. Sua determinação me inspirou e seu
amor me guiou nas escolhas mais difíceis.
A meus irmãos, Juliana, Luis Paulo e Cláudia, pelo apoio e amor
incondicional.
A minha sobrinha, Lucy, por simplesmente existir e mesmo distante
proporcionar tanta felicidade para toda a família.
A minhas tias Dag e Diva, pelo amor e pela fé em mim depositados.
A Tia Cristina e Tio Edílson, pelo incentivo constante.
A meu orientador, Prof. Dr. Mickelson Costa, pela oportunidade de
realizar um trabalho experimental com animais – sonho antigo, mas
principalmente pelo exemplo de amor e dedicação à pesquisa científica; sua
tranqüilidade e paciência me conduziram e ensinaram o verdadeiro papel de
um orientador.
À Profa. Myrela Costa, pela participação ativa em toda execução do
experimento, tornando-o muito mais agradável com sua doçura e simplicidade,
mas principalmente pela amizade confiada.
A meu co-orientador, Prof. Dr. Marcos Vannier, pelo incentivo e
confiança, disponibilizando toda infra-estrutura necessária à execução deste
trabalho.
A Diego Menezes, pessoa fundamental para a viabilização desta
pesquisa, porém principalmente pela amizade e otimismo que me contagiaram.
A Ana Maria e André Pinheiro, pela amizade e incentivo, não exitando
em colaborar em todas as etapas do trabalho.
A toda equipe da FIOCRUZ-Ba, pela receptividade e disponibilidade em
todos os momentos do trabalho.
A Profa. Dra. Cristina Cangussú, pela participação em minha vida
científica desde seu início, na graduação, sempre com muito carinho e atenção.
Aos professores do Centro de Ortodontia e Ortopedia facial Prof. José
Édimo Soares Martins: Profa. Fernanda Catarino, Prof. Fernando Habib, Profa.
Luciana Gomes, Prof. Márcio Sobral, Prof. Dr. Mickelson Costa, Prof. Dr.
Marcos Alan Bittencourt, Profa. Myrela Costa, Profa. Mayra Reis, Prof. Rivail
Brandão, Prof. Roberto Costa Pinto e a coordenadora do Curso Profa. Dra.
Telma Martins de Araújo serei eternamente grata pela paciência, dedicação e
iniciação nesta especialidade pela qual me apaixonei. E, em especial, aos
Profs. Rogério Frederico Ferreira e Marcelo Castellucci, pela orientação e
incentivo em meus primeiros passos na Ortodontia, ainda na disciplina de
Ortodontia II.
À Profa. Mayra Reis e Prof. Roberto Costa Pinto, pelo voto de confiança
a mim prestado e por me contagiarem com sua paixão pela Ortodontia.
A meus colegas de turma: Antônio Franklin, Arthur Farias, Marina Dórea,
Priscila Jandiroba e Thiago Cavalcanti pela amizade, apoio e pelo convívio que
contribuiu para o meu amadurecimento pessoal e profissional.
Aos colegas da 5ª turma: Daniel Mascarenhas, Leonardo Fleishman,
Marcos Fúlvio, Rogério Frederico Filho, Sabrina Kívia e Taiana Martinez pela
receptividade e incentivo, tornando o primeiro ano do curso mais prazeroso.
Aos colegas da 7ª turma: Carolina Calabrich, Dario Neto, Diana Cunha,
Larissa Suzuki, Liz Matzenbacher e Roberta Lauria, pela alegria contagiante.
Aos funcionários do Centro, Dona Lúcia, André, Damião e Dona Ginalva,
pela ajuda prestada durante todo o período do curso, tornando possível e mais
agradável nosso trabalho.
Ao grupo PET (Programa Especial de Treinamento), por ter me iniciado
na vida científica, conjugando o ensino e a extensão, formando alunos mais
completos e conscientes de seu papel na sociedade. Em especial, agradeço à
Profa. Dra. Sílvia Reis, pela contribuição em minha formação universitária,
onde a considero exemplo de ética, perseverança e dedicação, mas
principalmente pela amizade e carinho ao longo desta jornada.
Às amigas Márcia Pinheiro e Maria Isabela Campos, ex-colegas do
grupo PET, pela amizade e incentivo no mundo científico.
A minhas irmãs (Andréa, Lucila, Karla e Alice), que Deus me deixou
escolher, pela compreensão nos momentos de ausência e pela amizade
incondicional;
A todos que, de alguma forma, contribuíram para a concretização deste
trabalho.
“Não basta ter belos sonhos para realizá-los. Mas ninguém realiza
grandes obras se não for capaz de sonhar grande. Podemos mudar
nosso destino se nos dedicarmos à luta pela realização dos nossos
ideais. É preciso sonhar, mas com a condição de crer em nosso sonho,
de examinar com atenção a vida real, de confrontar nossa observação
com nosso sonho, de realizar escrupulosamente nossa fantasia.
Sonhos, acredite neles.”
Lenin
RESUMO
Intervenções farmacológicas podem ser recursos importantes para
compreensão da biologia da movimentação dentária e seus efeitos adversos.
No presente trabalho foi avaliada a influência do cloreto de gadolínio (GdCl3)
sobre a movimentação ortodôntica em ratos da raça Wistar. Para tanto, foram
utilizados 20 animais divididos aleatoriamente em dois grupos submetidos a
movimentação dentária induzida: CONTROLE, livre da influência de fármacos,
e EXPERIMENTAL, com aplicação de 10mg/kg de GdCl3 no primeiro dia do
experimento. Foi realizada a movimentação do 1º molar superior esquerdo com
mola de níquel-titânio, ajustada para liberação de 45g durante 7 dias. Os
resultados evidenciaram diminuição da taxa de movimentação ortodôntica no
GRUPO EXPERIMENTAL quando comparado ao GRUPO CONTROLE
(p=0,01). A avaliação semi-quantitativa dos preparados histológicos, revelou
diminuição estatisticamente significante da quantidade de osteoclastos
(p=0,006), e das lacunas de reabsorção óssea no grupo que recebeu a droga
(p=0,012). Neste, observou-se ainda, diminuição da reabsorção radicular e
aumento das áreas de hialinização, embora tais aspectos não tenham
apresentado significância estatística (p=0,09 e p=0,08 respectivamente). Com
base nestes resultados, concluiu-se que o GdCl3, nestas condições
experimentais, foi capaz de diminuir a taxa de movimentação dentária induzida
ortodonticamente e estimular alterações teciduais compatíveis com a redução
da atividade de reabsorção óssea e radicular.
Palavras-chave: Osteoclastos; movimentação dentária; gadolínio.
SUMMARY
Pharmacological interventions can be important sources helping
comprehending orthodontics biology and its side effects. This study aimed to
evaluate the influence of gadolinium chloride (GdCl3) in orthodontic tooth
movement in Wistar rats. Sample consisted of two groups wth 10 animals each
submitted to orthodontic tooth movement: CONTROL, without any drug
influence and EXPERIMENTAL, injected with GdCl3 (10mg/kg) in the first day of
the experiment. The first left upper molars were orthodontically moved with Ni-Ti
coil spring, adjusted to 45g for seven days. Results showed reduction in tooth
movement rate in the EXPERIMENTAL GROUP when compared with
CONTROL GROUP (p=0,01). Semi-quantitative histological findings showed
fewer osteoclasts (p=0,006), and less bone resorption sites in the
EXPERIMENTAL GROUP (p=0,01). Intense hyalinization and reduced root
resorption were considered relevant observations in the EXPERIMENTAL
GROUP, even though it wasn’t statistical significant (p=0,09 and p=0,08
respectively). Taken together, results suggest that GdCl3, in these experimental
conditions, reduced orthodontic tooth movement rate and decreased bone and
root resorption.
Key words: Osteoclasts; dental movement; gadolinium chloride.
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS
'' Polegadas
% Percentagem
< Menor
= Igual
® Marca registrada
µm Micrômetro
ANOVA Análise de Variância
CR Cemento radicular
D Dentina
FIOCRUZ Fundação Oswaldo Cruz
g Grama
GdCl3 Cloreto de gadolínio
HE Hematoxilina e Eosina
kg Kilograma
LP Ligamento periodontal
M Molaridade
mg Miligrama
mL Mililitro
mm Milímetro
n Número de animais por grupo
NiTi Níquel-titânio
no Número
OA Osso alveolar
OB Osteoblasto
p p valor
pH Pondus hidrogenii (nível de acidez)
UFBA Universidade Federal da Bahia
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Rato da raça Wistar (a); Gaiola onde os ratos foram mantidos com
ração apropriada (b).
Figura 2 Quadro de identificação dos grupos a serem estudados.
Figura 3 Adaptação cervical do conjunto amarrilho-mola de Niti ao primeiro
molar superior esquerdo: a fio de amarrilho metálico 0.08’’ sendo
introduzido na região entre 1o e 2o molares superiores esquerdos com
auxílio de pinça Mathiew (a); fio de amarrilho após passar pelo ponto
de contato (b); fio de amarrilho envolvendo o 1o molar com a respectiva
mola de NiTi (c); amarração do conjunto mola-fio de amarrilho com
auxílio de pinça Mathiew à cervical do 1o molar (d).
Figura 4 Confecção do orifício entre os incisivos superiores com broca
esférica n° 2.
Figura 5 Animal posicionado em dispositivo de acrílico ligeiramente inclinado,
em decúbito dorsal, com a cabeça perpendicular ao solo (a); peso de
chumbo de 45g preso ao amarrilho fixado à extremidade anterior da
mola de NiTi, distendendo-a, produzindo força equivalente (b).
Figura 6 Fotopolimerização da resina na região anterior (a); b desgaste dos
incisivos inferiores com fresa do tipo roda (b); aparelho montado (c).
Figura 7 Aplicação do GdCl3 na veia caudal do animal (a); Cloreto de Gadolínio
em forma de sal (b).
Figura 8 Avaliação da distância entre a face mesial do primeiro molar superior
esquerdo e orifício criado na vestibular dos incisivos superiores,
utilizando paquímetro de precisão (a); espaço criado na distal do
primeiro molar pelo deslocamento mesial deste durante uma semana
de aplicação de força (b).
Figura 9 Osso alveolar osteotomizado.
LISTA DE FIGURAS E GRÁFICOS DO ARTIGO CIENTÍFICO
Figura 1 Aplicação do GdCl3 na veia caudal do animal (a). Cloreto de gadolínio
(b).
Figura 2 Avaliação da distância entre a face mesial do primeiro molar superior
esquerdo e orifício criado na vestibular dos incisivos superiores,
utilizando paquímetro (a). Espaço criado na distal do primeiro molar
pelo deslocamento mesial deste durante uma semana de aplicação de
força (b).
Figura 3 Osteoblastos adjacentes ao osso alveolar recém-formado no grupo
controle (a) e experimental (b). Tecido osteóide.
Figura 4 Área de pressão na região de furca dos grupos: experimental, com
extensa faixa de tecido hialino (a) e controle (b).
Figura 5 Presença de osteoclatos mais freqüente no osso alveolar do grupo
experimental (a); lacunas de reabsorção radicular com presença de
osteoclastos ativos em amostra do grupo controle (b).
Figura 6 Osteclastos ativos no osso alveolar (a); pode-se observar a ausência
de reabsorção radicular mesmo na periferia das áreas de hialinização
no grupo experimental (b).
Figura 7 Lacuna de reabsorção radicular com envolvimento dentinário no
grupo controle (a) no grupo experimental um padrão desorganizado
do ligamento periodontal e cemento radicular íntegro.
Gráfico 1 Variação de peso entre grupos.
Gráfico 2 Taxas de movimentação dentária.
Gráfico 3 Análise semi-quantitativa da concentração de tecido hialino.
Gráfico 4 Análise semi-quantitativa da quantidade de osteoclastos.
Gráfico 5 Análise semi-quantitativa da área de reabsorção radicular.
Gráfico 6 Análise semi-quantitativa das lacunas de reabsorção óssea.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 20
2 PROPOSIÇÃO 36
3 ABORDAGEM EXPERIMENTAL 37
4 ARTIGO CIENTÍFICO 47
5 CONCLUSÃO 76
6 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS 77
REFERÊNCIAS 78
ANEXOS 85
20
1 INTRODUÇÃO
A movimentação dentária induzida ortodônticamente tem como
fundamento biológico os fenômenos inflamatórios induzidos no periodonto, que
possibilitam a remodelação óssea, com o objetivo de dissipar as forças
impressas (CONSOLARO, 2002). O osso é seletivamente removido em
algumas áreas e adicionado em outras. Na essência, o dente se movimenta
carregando consigo os tecidos de sustentação (PROFFIT; FIELDS, 2002).
O movimento dentário é um processo fisiológico que ocorre
continuamente por toda a vida para equilibrar as forças naturais que incidem
sobre os dentes. Através de movimentos dentários de pequena magnitude, o
sistema estomatognático garante sua adaptação às alterações funcionais e
modificação dos tecidos circundantes que ocorrem ao longo dos anos
(NORTON; BURSTONE, 1989). A erupção dentária é o primeiro movimento
fisiológico percebido, sendo este processo ininterrupto, mesmo que em taxa
reduzida, na vida adulta (PROFFIT; FIELDS, 2002).
Apesar do ligamento periodontal ser perfeitamente adaptado para resistir
à forças de curta duração, como por exemplo a função mastigatória, o mesmo
21
perde rapidamente esta propriedade com o extravasamento e compressão do
fluído tissular presente no ligamento periodontal. A movimentação ortodôntica
se torna possível pela aplicação de forças por longos períodos, da mesma
forma que forças leves provenientes da ação muscular dos lábios, das
bochechas e da língua podem modificar a posição dos dentes no ambiente
natural. Assim, a base da terapia ortodôntica reside nos princípios da
remodelação óssea que, de certa forma, podem ser observados na
movimentação dentária fisiológica (PROFFIT; FIELDS, 2002).
Contudo, os mecanismos que convertem a força ortodôntica em
atividade biológica ainda não estão completamente elucidados. A teoria da
bioeletricidade relaciona o movimento dentário às mudanças no metabolismo
ósseo controladas pelos sinais elétricos produzidos quando o osso alveolar
sofre deflexão. A teoria da pressão-tensão, por sua vez, associa tal fenômeno
às mudanças celulares produzidas através de mensageiros químicos gerados
pelas alterações no fluxo sanguíneo através do ligamento periodontal e
resposta inflamatória induzida pela força ortodôntica (PROFFIT; FIELDS,
2002). Mostafa e colaboradores (1983) acreditam que a resposta piezoelétrica
é responsável pela iniciação e direcionamento do movimento dentário,
enquanto os fenômenos inflamatórios atuariam durante a remodelação óssea
como resposta à força ortodôntica.
Entretanto, é consenso que a resposta biológica da aplicação de força
sobre qualquer unidade dentária é reabsorção óssea no lado de pressão e
neoformação no lado de tração do ligamento periodontal, tendo como
resultante o movimento dentário (GIANELLY; GOLDMAN, 1971). Alterações no
espaço periodontal, de acordo com a teoria da pressão-tensão, podem
22
estimular alterações na população celular. No lado de pressão, células
precursoras de osteoclastos se diferenciam e são recrutadas a partir de órgãos
hematopoiéticos, como a medula óssea, via circulação sanguínea (RODY et al.,
2001). Para os sítios de formação óssea, ocorre quimiotaxia para osteoblastos
e seus precursores de células mesenquimais primitivas (REITAN, 1960).
A aplicação de forças ortodônticas implica na criação de um ambiente
hipóxico, devido à oclusão parcial ou completa dos vasos sanguíneos, no qual
as células param de produzir matriz extracelular comprometendo a
permeabilidade e compressibilidade das áreas de pressão. Neste ambiente, as
células deformadas e com hipóxia tendem a migrar dos locais afetados ou
sofrer apoptose. A matriz modificada associada às fibras do ligamento
periodontal, que se encontram desorganizadas, assumem coloração
eosinofílica ou hialina (BRUDVIK; RYGH, 1993; CONSOLARO, 2002;
MAVRAGANI et al., 2004; RYGH, 1977). Para Reitan (1960), tais zonas
hialinas são desprovidas de células, e tanto sua arquitetura tecidual quanto a
coloração do colágeno no material histológico processado se encontram
alteradas. Apesar da relação entre intensidade de força aplicada e a presença
de áreas de hialinização, vários estudos mostram que estas podem ocorrer
mesmo após aplicação de forças mínimas (KRISHNAN; DAVIDOVITCH, 2006;
REITAN, 1960; VON BÖHL et al., 2004).
O primeiro sinal de hialinização das áreas comprimidas é a presença de
células com núcleo picnótico seguida de zonas completamente livres de
células. Poucas horas depois de iniciada a aplicação de força ortodôntica, já se
pode observar a diferenciação de células mesenquimais, enquanto moléculas
específicas são sintetizadas no ligamento periodontal e osso alveolar
23
(KARDOS;SIMPSON, 1980). Com objetivo de eliminar a agressão induzida nos
tecidos circunjacentes, um processo inflamatório será iniciado para dissipar a
força ortodôntica aplicada. Para tanto, unidades osteorremodeladoras, conjunto
formado por osteoclastos, osteoblastos e células mononucleares de linhagem
macrofágica, são recrutadas para reabsorver tecido ósseo nas áreas de
pressão (CONSOLARO, 2002; MELSEN, 1999).
Quando a reabsorção óssea induzida pela força ortodôntica ocorre na
superfície cortical alveolar das áreas sob pressão, é identificada como frontal
ou direta. Este tipo de reabsorção está associado a forças leves, capazes de
preservar a vitalidade celular bem como produzir quantidades mínimas de
áreas hialinas (CONSOLARO, 2002; GIANELLY; GOLDMAN, 1971;
MAVRAGANI et al., 2004; MELSEN, 1999). De acordo com Schwarz (1932),
citado em trabalho de Krishnan e Davidovitch (2006), as forças impressas
durante o tratamento ortodôntico não devem exceder à pressão capilar
sanguínea (20-25g/cm3 da superfície radicular). Quando excedido este limite, a
compressão tecidual poderia causar necrose estéril devido ao contato direto da
raiz dentária com o osso alveolar adjacente e compressão do ligamento
periodontal.
A reabsorção óssea também pode ocorrer à distância, sendo
denominada indireta ou solapante. Este fenômeno está frequentemente
associado à formação de grandes faixas de tecido hialino, forças de grande
magnitude, anóxia e eliminação total das células da região. O processo
inflamatório e de reabsorção se desenvolve ao redor do tecido necrótico, sendo
que somente após sua eliminação e reorganização do periodonto, tem-se o
24
início da movimentação dentária (CONSOLARO, 2002; MAVRAGANI et al.,
2004; MELSEN, 1999; RYGH, 1977).
Diferente da reabsorção, que pode ser do tipo frontal ou solapante, a
neoformação óssea apresenta basicamente um padrão determinado. A
formação de novo osteóide depende da forma e espessura das fibras
periodontais. Este tecido tende a se acumular nas fibras mais espessas
formando osso lamelar. Novo osso é depositado até que a membrana retorne
aos limites de normalidade (REITAN, 1960). Melsen (1999) acredita que o
processo de aposição óssea é uma reação da flexão provocada na cortical
óssea quando a força ortodôntica é aplicada.
A movimentação dentária ortodôntica pode ser dividida em quatro fases.
As reações celulares e teciduais começam na fase inicial, imediatamente após
a aplicação de força. A primeira fase da movimentação corresponde ao
deslocamento dentário dentro de seu próprio alvéolo. Devido à compressão e
distenção das fibras periodontais, o extravasamento de fluídos e a quimiotaxia
para células inflamatórias se inicia (PILON et al., 1996). Já neste momento, é
possível identificar áreas de tecido hialino no espaço periodontal (HELLSING;
HAMMARSTRÖM, 1996; VON BÖHL et al., 2004).
A segunda fase da movimentação dentária induzida pode ser
considerada um período de estagnação. Histologicamente, as áreas de
compressão são reconhecidas pelo arranjo distorcido das fibras periodontais.
Devido à presença de áreas de hialinização e subseqüente comprometimento
da circulação sangüínea, a movimentação dentária pode ser atrasada pelo
período de 4 até 20 dias. O deslocamento dentário torna-se possível apenas
quando o tecido hialino adjacente é eliminado. Este material é fagocitado por
25
macrófagos e células gigantes, oriundas do sistema fagocítico mononuclear, e
eliminado completamente (KARDOS; SIMPSON, 1980; VON BÖHL et al.,
2004).
As terceira e quarta fases da movimentação dentária são caracterizadas
por deslocamento contínuo e aceleração, tendo início cerca de 40 dias após
início da aplicação de força. Neste período, o osso alveolar apresenta
superfície irregular, compatível com reabsorção direta ou frontal. As fibras
periodontais ainda se encontram desorganizadas, principalmente no lado de
pressão. Ainda neste período, é possível encontrar tecido hialino sugerindo que
o desenvolvimento e a remoção deste tecido é um processo contínuo durante o
deslocamento dentário (VON BÖHL et al., 2004). De acordo com Heymann e
colaboradores (1998), o processo de reabsorção pode ser divido em três
etapas diferentes: recrutamento de células precursoras necessárias à
reabsorção óssea; formação e ativação de novos osteoclastos e ativação de
osteoclastos maduros presentes próximos ao sítio ósseo que está sendo
estimulado.
A plasticidade característica do osso alveolar permite sua remodelação
constante frente às necessidades fisiológicas ou estresses mecânicos
induzidos. Contudo, apesar de ser possível observar lacunas reabsortivas em
dentes não movimentados ortodonticamente (CHAN; DARENDELILER, 2005;
HELLSING; HAMMARSTRÖM, 1996), os dentes não participam deste
processo freqüentemente. As unidades dentárias se encontram protegidas
deste fenômeno através dos cementoblastos, situados em sua superfície
radicular. Estas células, diferentemente dos osteoblastos, não possuem
26
receptores para mediadores químicos indutores da reabsorção óssea e, assim,
não controlam unidades de reabsorção (CONSOLARO, 2002). Rygh (1977),
em contrapartida, atribui a maior resistência do cemento à reabsorção radicular
ao tecido cementóide depositado sobre a superfície radicular e às fibras
colágenas do periodonto mais maduras, atuando como barreiras de prevenção
à reabsorção radicular.
A reabsorção radicular é um dos principais efeitos adversos da
movimentação dentária e, durante o tratamento ortodôntico, considerada
inevitável por muitos autores, mesmo que do ponto de vista subclínico. Através
da aplicação de forças sobre estruturas do sistema estomatognático, uma
inflamação é iniciada com o objetivo de dissipar tais forças (CONSOLARO,
2002) e eliminar as áreas de tecido necrótico através da criação de lacunas
ósseas (MELSEN, 1999). Portanto, o processo inflamatório desencadeado pela
compressão do ligamento periodontal, fundamental para a movimentação
ortodôntica, é também o fator responsável pelo processo de reabsorção
radicular (BREZNIAK; WASSERSTEIN, 2002).
A reabsorção radicular ocorre com maior intensidade durante a
eliminação da zona hialina (BREZNIAK; WASSERTEIN, 2002; BRUDVIK;
RYGH, 1993; CONSOLARO, 2002; MAVRAGANI et al., 2004; MELSEN, 1999;
RYGH, 1977). Para que ocorra sua estagnação, é necessária a remoção de
todo tecido hialino e/ou diminuição do nível da força aplicada (BREZNIAK;
WASSERTEIN, 2002). Uma vez cessada a força, a reabsorção inflamatória é
contida em uma semana (CONSOLARO, 2002; RYGH, 1977) e o processo de
reparo é iniciado após duas semanas, através da deposição de cemento
acelular e, em seguida, de cemento celular (BREZNIAK; WASSERTEIN, 2002).
27
Calcula-se que a regularidade completa da superfície se estabelece dentro de
5 a 8 semanas de suspensão da força aplicada inicialmente (CONSOLARO,
2002).
A etiologia da reabsorção radicular ainda permanece incerta. Este
fenômeno é determinado pela interação de vários fatores, tais como: a força
ortodôntica, as células, a matriz circundante e os mensageiros biológicos.
Logo, a susceptibilidade individual e os fatores genéticos e sistêmicos vêm
sendo relacionados a esta condição (BREZNIAK; WASSERSTEIN, 2002).
Fatores locais tais como a morfologia radicular e do osso circundante
(CONSOLARO, 2002), assim como forças de grande intensidade durante a
mecanoterapia, também podem aumentar a susceptibilidade à reabsorção
radicular (CHAN; DARENDELILER, 2005; CHAN; DARENDELILER, 2006;
GIANELLY; GOLDMAN, 1971). Diante de uma etiologia multifatorial, sua
prevenção e tratamento tornam-se um grande desafio.
O entendimento dos mecanismos que regulam e interferem com a
atividade celular no tecido periodontal e são responsáveis pela remodelação
óssea é imprescindível para a compreensão do movimento dentário. O tecido
ósseo é uma estrutura complexa, resultante da atividade de diversas células
(osteoblastos, osteoclastos, monócitos, linfócitos, entre outros) que se
comunicam através de mediadores e receptores de membrana. Um campo
promissor, no que diz respeito à movimentação ortodôntica, é a aplicação de
conceitos da Biologia e Farmacologia para a alteração da atividade celular,
buscando mais conhecimento a cerca deste fenômeno, além de controle da
quantidade e qualidade da resposta dos tecidos submetidos ao estresse
mecânico (MAZZIEIRO; CONSOLARO, 2000).
28
No tratamento ortodôntico, a reabsorção óssea induzida é fator decisivo
na movimentação dentária, e, assim, considerada alvo importante para
intervenções farmacológicas (LIU et al., 2004). Interações medicamentosas
vêm sendo sugeridas para auxiliar o tratamento ortodôntico em diversas
situações, como por exemplo: acelerar a velocidade de movimentação dentária,
aumentar a resistência de unidades de ancoragem, auxiliar na contenção pós-
tratamento e atenuar ou anular a reabsorção radicular (MAZZIEIRO;
CONSOLARO, 2000). Motivados pela necessidade de criar mecanismos
capazes de controlar a movimentação ortodôntica e seus efeitos adversos,
pesquisadores têm se empenhado na avaliação de fármacos capazes de atuar
sobre o metabolismo ósseo.
O gadolínio faz parte da família dos lantanídeos, constituída por grupo
de 15 elementos com propriedades físico-químicas similares. Apesar de serem
conhecidos também como elementos de terra rara, não são incomuns na
natureza. Sua freqüência na crosta terrestre é semelhante à de outros
elementos significativos como iodo, cobalto e selênio. São metais
eletropositivos com número de oxidação +3 (PAŁASZ; CZEKAJ, 2000).
Nos últimos 20 anos, novas tecnologias vêm sendo introduzidas nas
indústrias metalúrgica, óptica e eletrônica, o que otimizou a utilização de
compostos de lantanídeos com propriedades físico-químicas especiais. O
gadolínio, em especial, é utilizado na eletrônica e na optoeletrônica para
produzir laseres, fibras ópticas, componentes de memória magnética,
magnetos permanentes, entre outros (PAŁASZ; CZEKAJ, 2000). Quelatos
contendo gadolínio são utilizados no diagnóstico por ressonância magnética
nuclear como meio de contraste paramagnético intravenoso. Diferente do
gadolínio na sua forma de sal (o cloreto de gadolínio ou GdCl3), o quelato de
gadolínio (Gd-DTPA) exibe baixa toxicidade e sua utilização clínica é
considerada segura (DEAN et al., 1988; HARPUR et al., 1993).
29
Na forma de cloreto, este fármaco é inibidor seletivo da fagocitose dos
macrófagos do fígado (células de Kupffer) e simultaneamente contribui para
eliminação destas células (HARDONK et al., 1992; PAŁASZ; CZEKAJ, 2000).
Rai e colaboradores (1996) observaram que a redução no número de células
de Kupffer do fígado não é significativa após sua aplicação. Contudo, houve
alterações no fenótipo dessas células comprometendo assim sua capacidade
fagocítica.
As propriedades do GdCl3 possibilitam sua aplicação no controle de
doenças diversas que acometem o fígado, visto que as funções dos
macrófagos incluem não só fagocitose e endocitose como também secreção de
ampla variedade de compostos, influenciando também na imunomodulação
(HARDONK et al., 1992). A supressão das células de Kupffer parece auxiliar na
fibrogênese de lesões hepáticas (IDE et al., 2005), atenua a produção de COX-
2 após trauma e sepse (KELLER et al., 2005), aumenta a tolerância do fígado à
intoxicação por metais (SAUER et al., 1997), diminui a atuação das células de
Kupffer após transplante de fígado (SAVIER; THURMAN, 1993), entre outros.
Outra atribuição delegada ao GdCl3 é o auxilio no estudo do papel das
células de Kupffer em diversos processos fisiopatológicos no fígado. Sua
habilidade comprovada de inibir e/ou eliminar estas células viabiliza a
comparação do mesmo processo de saúde ou doença com a presença ou
ausência das mesmas (BANNENBERG et al., 1995; HARDONK; DIJKHUIS,
1993; LEE et al., 2004; MARTIN, 1993). Ainda, o GdCl3 aumenta a expressão
de citocinas hepáticas e vários fatores de transcrição reguladores de citocinas
(PAŁASZ; CZEKAJ, 2000).
30
O mecanismo de ação provável do GdCl3 é o bloqueio dos canais de
cálcio do tipo K e subseqüente competição com o cálcio da membrana, uma
vez que ambos têm raio iônico similar (0,104nm). Esta similaridade é
responsável pelos efeitos fisiológicos dos sais solúveis dos lantanídeos diante
do papel decisivo do cálcio no controle dos processos metabólicos (PAŁASZ;
CZEKAJ, 2000).
Husztik e colaboradores (1980) observaram, através da microscopia
eletrônica, que células de Kupffer, quando submetidas a tratamento com GdCl3,
têm seu mecanismo de fagocitose danificado, além de exibir defeitos na
superfície de adesão. Atribui-se esta influência à substituição dos íons cálcio
pelos cristais de gadolínio ou inibição do seu trânsito através da membrana
plasmática. Sabe-se que os íons cálcio participam da fagocitose não só em
leucócitos polimorfonucleares como também em macrófagos alveolares
(STOSSEL, 1973). Em estudo in vitro, observou-se que o GdCl3 interfere na
fagocitose de maneira dose-dependente (LEE et al., 2004).
O GdCl3 permanece na forma de sal em pH igual ou menor que 5.
Assim, no pH neutro do sangue é esperado que esta solução forme colóides
insolúveis (HARDONK et al., 1992). Na forma coloidal são gerados êmbolos
rapidamente seqüestrados pelos capilares, especialmente do pulmão, ou são
capturados pelo sistema fagocítico mononuclear (HARDONK et al., 1992;
HUSZTIK et al., 1980). Uma vez fagocitados, seus agregados coloidais sofrem
nova dissolução devido ao pH abaixo de 6 dos compartimentos endossômicos-
lisossômicos (HARDONK et al., 1992).
Uma vez dentro das células, os íons de gadolínio danificam os
compartimentos endossômicos-lisossômicos e a membrana plasmática,
31
induzindo à acidez e resultando em desintegração plasmática (HARDONK et
al., 1992; IDE et al., 2005). Em estudo realizado por Liu e colaboradores
(2003), a atuação dos lantanídeos, dentre estes o gadolínio, sobre a
mitocôndria foi confirmada. Esta organela exibe envolvimento crucial na
apoptose celular e poderia ser um dos caminhos para a apoptose induzida
pelos lantanídeos.
Mizgerd e colaboradores (1996), através de estudo in vitro, observaram
a presença do GdCl3 não só em compartimentos lisossômicos, indicando
fagocitose prévia do medicamento, mas também no núcleo celular de
macrófagos alveolares. A rápida associação entre GdCl3 e macrófagos
alveolares reflete ligação estável entre os mesmos e internalização de suas
partículas. Estes dados podem explicar o grande número de células que
sofreram morte por apoptose no referido estudo.
Outras células, além das células de Kupffer, têm demonstrado
sensibilidade à ação do GdCl3. Ultraestruturalmente, os hepatócitos também
mostram depósitos de gadolínio e fosfato de cálcio (SPENCER et al., 1997). No
pulmão, Bannemberg e colaboradores (1995) não observaram efeito funcional
significativo do GdCl3 sobre os macrófagos do pulmão, independente de sua
localização (intersticial ou alveolar), em doses que normalmente seriam
capazes de afetar as células de Kupffer. No baço, a atuação do GdCl3 não é
tão representativa quanto no fígado, entretanto, a diminuição do número de
macrófagos neste órgão foi um achado relevante (HARDONK et al., 1992).
Íons de lantanídeos são eliminados da corrente sanguínea dentro de um
dia, porém permanecem nos órgãos por tempo muito mais longo (PAŁASZ;
CZEKAJ, 2000). A presença de depósitos minerais nos capilares dos pulmões
32
e rins foi achado importante para a compreensão da distribuição do gadolínio
em ratos (SPENCER et al., 1997). Dean e colaboradores (1988) ao
comparararem a distribuição do gadolínio DTPA, utilizado para contraste na
ressonância magnética, e do GdCl3, observaram que o último tem distribuição
preferencial no fígado, baço, pulmões e adrenais.
Os principais efeitos hematológicos 48 horas após a injeção do GdCl3
em doses elevadas (0,014 e 0,035 mmol/kg) são linfocitose e neutrofilia
acentuados e monocitose em menor intensidade. Outros efeitos adversos são:
a redução no número de plaquetas e microhemorragias limitadas ao estômago
e regiões periportais do fígado de ratos. Após duas semanas da aplicação do
medicamento já é possível observar retorno à normalidade dos efeitos
hematológicos e plasmáticos. Em dosagem menor (0,07 mmol/kg), estas
alterações não são encontradas (SPENCER et al., 1997).
Outros efeitos tóxicos do GdCl3 incluem necrose do fígado e pâncreas e
mineralização da mucosa gástrica, sem necrose. Da mesma forma, estes
danos são reversíveis (SPENCER et al., 1997). Rees e colaboradores (1997)
encontraram níveis de cálcio e fosfato aumentados no plasma de ratos tratados
com GdCl3 sugerindo forte relação de causa e efeito com a mineralização da
mucosa gástrica também observada em seu estudo. Contudo, ainda não se
sabe a natureza exata da hipercalcemia e hiperfosfatemia induzidas pelo
GdCl3. Também é observada diminuição da pressão arterial, o que explica a
prostração imediata observada após injeção do cloreto de gadolínio
(SPENCER et al., 1997).
Tendo-se como base a atuação do GdCl3 sobre os macrófagos, foi
levantada a hipótese de sua atuação também sobre osteoclastos, células da
33
mesma linhagem e função integrada quando organizada em unidades de
remodelação óssea. As funções gerais dos macrófagos incluem fagocitose,
apresentação de antígeno, eliminação de patógenos e produção de fatores de
crescimento relacionados à inflamação. Estas células são usualmente divididas
em três grandes grupos: macrófagos do exsudato, macrófagos residentes
(células de Kupffer) e células dentríticas. Essas populações diferem em
ontogenia, morfologia, distribuição tecidual e função (IDE et al., 2005).
Osteoclastos são células multinucleadas, que não se multiplicam, de
vida útil relativamente curta e, sendo assim, fatores que influenciem sua
formação, atividade e sobrevivência podem ter efeito poderoso sobre a
osteólise (QUINN; GILLESPIE, 2005). Para que a movimentação ortodôntica
aconteça, é imprescindível a chegada destas células aos sítios de compressão,
promovendo remodelação óssea (NOXON et al., 2001). Modelos de cultura
experimental indicam sua origem em células hematopoiéticas (HEYMANN et
al., 1998; QUINN; GILLESPIE, 2005) presentes na população de células CD-34
positivas (HEYMANN et al., 1998).
O osteoclasto é, portanto, um membro da família fagocítica mononuclear
e pode ser considerado um tipo de macrófago especializado. Na verdade, o
processo de reabsorção óssea emprega a mesma logística necessária à
fagocitose (QUINN; GILLESPIE, 2005).
Diversas características morfológicas e funcionais definem a atividade
dos osteoclastos. Estas incluem: capacidade de adesão à superfície óssea,
habilidade de migração através desta, síntese e secreção de enzimas
hidrolíticas, diminuição do pH do meio subosteoclástico e internalização
34
eficiente de produtos da matriz óssea extracelular (BRUZZANITI; BARON,
2006).
Durante a reabsorção óssea, os osteoclastos sofrem reorganização em
seu citoesqueleto e polarização celular, resultando na formação de membrana
apical voltada para a superfície óssea, mais conhecida como borda em escova,
estrutura imprescindível neste processo. Outra característica crítica da zona de
contato do osteoclasto com o osso é a zona de selamento, área rica em actina
que circunda a borda em escova. Na zona de selamento a membrana celular
interage intimamente com a matriz óssea através dos receptores de integrina
(principalmente αγβ3, αγβ5, α2β1) (BARON et al., 1986; HEYMANN et al., 1998).
A regulação da atividade dos osteoclastos é realizada pela interação de
diversos mensageiros locais, regionais e sistêmicos (BARON, 1989). Melsen
(1999) destaca a importância do tecido necrótico, presente tanto no ligamento
periodontal quanto no tecido ósseo circunjacente. Esta autora acredita que a
necrose de tecido ósseo nas paredes corticais do alvéolo dentário é o principal
fator estimulador no recrutamento de células reabsortivas para que a
movimentação dentária ocorra.
Células regionais, originárias da medula óssea, do ligamento periodontal
e do periósteo podem ser alvo de intervenções sistêmicas e, por outro lado,
liberar citocinas localmente. Dentre as células que liberam fatores reguladores
da atividade e/ou diferenciação dos osteoclastos, pode-se destacar os
linfócitos, macrófagos e osteoblastos (BARON et al., 1986).
Intervenções farmacológicas durante o tratamento ortodôntico podem
ser utilizadas como recurso importante na compreensão de eventos celulares e
teciduais que regulam o metabolismo ósseo. Ainda, a aplicação de drogas,
35
também pode ser empregada para controle dos efeitos adversos da
movimentação ortodôntica, como por exemplo, a reabsorção radicular. O
cloreto de gadolínio tem se mostrado uma droga favorável à inibição de
macrófagos no fígado, contudo, sua repercussão sobre células de reabsorção
óssea não foi discutida cientificamente até a presente data. Assim, este
trabalho teve como objetivo avaliar a influência do cloreto de gadolínio no
periodonto de inserção de Rattus norvegicus submetido a movimentação
ortodôntica.
36
2 PROPOSIÇÃO
Diante do exposto, a autora se propôs a:
2.1 Estudar a interferência do cloreto de gadolínio na taxa de
movimentação dentária em ratos (Rattus norvegicus) submetidos à aplicação
de força ortodôntica;
2.2 Avaliar a influência desta substância no periodonto dos animais
submetidos à movimentação dentária pela análise das alterações histológicas
nas interfaces ligamento periodontal/osso alveolar e ligamento
periodontal/cemento radicular.
37
3 ABORDAGEM EXPERIMENTAL
Esta pesquisa seguiu os procedimentos de experimentação animal do
Centro de Pesquisa Gonçalo Monis da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ-Ba)
e foi realizada de acordo com as Normas para a Prática Didático-Científica da
Vivissecção de Animais, recomendadas pela Lei 6638 de 08 de maio de 1979
(Anexo).
3.1 Condições Experimentais
Os ratos foram fornecidos pelo Centro de Pesquisas Gonçalo Moniz da
FIOCRUZ (BA) e mantidos no biotério da mesma instituição, alimentados com
ração Purina Labina e água ad libitum (Figura 1b). As serragens das gaiolas
foram trocadas a cada 48 horas e os animais foram pesados no início e último
dia do experimento.
3.2 Caracterização da amostra
Foram utilizados vinte ratos (Rattus norvegicus) machos, com peso
aproximado de 250g e 2 meses de vida (Figura 1a).
38
Estes animais foram divididos igualmente em dois grupos: CONTROLE,
com ratos submetidos à movimentação dentária ortodôntica por 7 dias e
EXPERIMENTAL, cujos animais receberam administração intravenosa de
10mg/kg de GdCl3 no primeiro dia do experimento, antes da montagem do
aparelho ortodôntico e movimentação dentária.
Nome do grupo Descrição n
CONTROLE Montagem e ativação do aparelho Movimentação dentária por 7 dias
10
EXPERIMENTAL
Administração de GdCl3 no primeiro
dia do experimento
Montagem e ativação do aparelho
Movimentação dentária por 7 dias
10
Figura 2 Quadro de identificação dos grupos avaliados.
Figura 1 Rato da raça Wistar (a). Gaiola onde os ratos foram mantidos com ração Purina Labina (b).
a b
39
3.3 Manipulação da Amostra a) Anestesia
Todos os procedimentos foram realizados sob anestesia obtida pela
associação de 1,33mL/kg de cloridrato de quetamina e 13mL/kg de xilazina por
via subcutânea.
b) Montagem do aparelho
Maxila – O aparelho consistiu na utilização de fio de amarrilho metálico
ortodôntico com espessura de 0.08’’ (Dental Morelli), transpassado abaixo do
ponto de contato do primeiro molar superior esquerdo. A este fio de amarrilho
foi adaptada uma mola fechada de níquel-titânio (NiTi) da TP Orthodontics®, de
intensidade de força média, cuja extremidade anterior foi presa a outro
segmento de fio idêntico (Figura 3). Este último foi fixado na região
interproximal dos incisivos centrais superiores. Para tanto, um orifício no terço
cervical foi criado com broca esférica no 2 (KG Sorensen), montada em peça
reta (Kavo) e adaptada a motor elétrico BLM 600 (Driller) (Figura 4).
Em seguida, a extremidade anterior do fio foi transpassada pelo orifício
previamente confeccionado e amarrada a um peso de chumbo de 45g que
ficou suspenso, criando distensão na mola, produzindo força aproximada de
45cN. Para assegurar que a ativação do aparelho fosse padronizada, os
animais foram posicionados em dispositivo de acrílico ligeiramente inclinado,
em decúbito dorsal, com a cabeça perpendicular ao solo (Figura 5).
40
c
a
d
b
Figura 3 Adaptação cervical do conjunto amarrilho-mola de Niti ao primeiro molar superior esquerdo: (a) fio de amarrilho metálico 0.08’’ sendo introduzido na região entre 1o e 2o molares superiores esquerdos com auxílio de pinça Mathiew; (b) fio de amarrilho após passar pelo ponto de contato; (c) fio de amarrilho envolvendo o 1o molar com a respectiva mola de NiTi; (d) amarração do conjunto mola-fio de amarrilho com auxílio de pinça Mathiew à cervical do 1o molar.
Figura 4 (a) e (b) Confecção do orifício entre os incisivos superiores com broca esférica n° 2.
a b
41
Figura 6 (a) Fotopolimerização da resina na região anterior; (b) desgaste dos incisivos inferiores com fresa do tipo roda; (c) aparelho montado.
c
a
Figura 5 (a) Animal posicionado em dispositivo de acrílico ligeiramente inclinado, em decúbito dorsal, com a cabeça perpendicular ao solo; (b) inserção de resina composta fotopolimerizável entre os incisivos superiores (c) peso de chumbo de 45g preso ao amarrilho fixado à extremidade anterior da mola de NiTi, produzindo força equivalente.
b
a
b
c
42
Em seguida, os incisivos superiores foram submetidos a ataque ácido
(ácido fosfórico a 10%) e unidos ao fio de amarrilho com resina composta
fotopolimerizável (Vigodent) (Figura 5c). O excesso de fio foi removido com
alicate de corte de amarrilho (Unitek®-3M) após adaptação em torno dos
incisivos e, por fim, coberto por nova camada de resina composta.
Mandíbula – Os procedimentos na mandíbula foram limitados à
extração do primeiro molar inferior esquerdo e ao desgaste dos incisivos, com
fresa do tipo roda (KG Sorensen), para evitar danos ao aparelho (Figura 6b).
c) Administração de Cloreto de Gadolínio
O GdCl3 (Figura 7b) foi administrado por via intravenosa em
concentração de 10mg/kg diluído em solução salina. A aplicação da droga foi
realizada na veia dorsal da cauda do animal (Figura 7a). Para facilitar sua
aplicação, a cauda do rato foi imersa em água morna, para que houvesse vaso-
dilatação.
Os animais do grupo EXPERIMENTAL receberam a medicação no
primeiro dia do experimento, em dose única, antecedendo a montagem do
aparelho. A injeção da droga foi realizada de forma lenta para reduzir a sua
toxicidade imediata (SPENCER et al., 1997).
43
d) Avaliação da taxa de movimento dentário
Imediatamente após a montagem do aparelho, foi medida a distância
entre a face mesial do molar superior esquerdo e a marcação realizada
previamente na resina que envolvia os incisivos. Para tanto, foi criado orifício
com broca esférica no 1/4 (KG Sorensen). Ao término da movimentação, este
procedimento foi novamente realizado (Figura 8a). Considerou-se como taxa
de movimentação dentária, a diferença entre as medidas inicial e final para
cada animal. Na figura 8b pode-se visualizar a movimentação dentária através
do espaço criado na distal do primeiro molar.
Os resultados obtidos referentes à movimentação ortodôntica foram
submetidos ao teste T através do software Analyse-it for Excel, versão 1,68,
sendo consideradas estatisticamente significantes valores de p menores que
0,05.
b
Figura 7 (a) Aplicação do GdCl3 na veia caudal do animal; (b) Cloreto de Gadolínio.
a b
44
3.4 Sacrifício dos animais e processamento histológico
Os animais foram mortos no oitavo dia do experimento. Em seguida, o
aparelho foi removido com auxílio de alicate de corte de amarrilho da 3M –
Unitek. Os ossos maxilares foram dissecados e osteotomizados para a
obtenção de secções teciduais das regiões mesial e distal aos primeiros
molares superiores do lado esquerdo, englobando estruturas periodontais e
dentárias (Figura 9).
Figura 8 (a) Avaliação da distância entre a face mesial do primeiro molar superior esquerdo e orifício criado na vestibular dos incisivos superiores, utilizando paquímetro de precisão; (b) espaço criado na distal do primeiro molar pelo seu deslocamento após sete dias de aplicação de força.
b
Figura 9 Maxila dissecada.
a b
45
Feito isso, as peças foram imersas em solução de Karnowsky
(Paraformaldeído a 4%, glutaraldeído a 1% e cacodilato de sódio a 2%) para
fixação. Após 48 horas, foram lavadas e imersas em solução de ácido fórmico
a 5% para descalcificação.
Após 5 dias de descalcificação, os segmentos teciduais foram incluídos
em parafina e corados com hematoxilina e eosina (HE). Foram utilizadas
secções sagitais seriadas de 4µm para observações gerais em microscópio de
luz (Olympus BX51). Da amostra total, foram triados doze animais, levando em
consideração a qualidade e orientação dos cortes histológicos.
3.5 Coleta de dados e análise das lâminas
Através de microscopia de luz, foram realizadas análises descritiva e
semi-quantitativa dos cortes histológicos obtidos. Para tanto, foram
determinados alguns parâmetros de interesse: presença de osteoclastos,
reabsorção radicular, reabsorção óssea e tecido hialino. A análise foi limitada à
região de furca da raiz do 1º molar superior esquerdo, sendo possível a
observação de áreas de pressão, na face mesial da raiz distal, e tração, na
face distal da raiz mesial.
Para realização da análise semi-quantitativa, foram determinados
referenciais numéricos de correlação: 0 – ausente, 1 – leve, 2 – moderado e 3
– severo.
Os dados coletados foram organizados e as lâminas fotografadas por
meio de sistema digital Sansung acoplado ao microscópio de luz (Olympus
BX51).
46
Os resultados obtidos através da análise histológica também foram
submetidos ao software Analyse-it for Excel, versão 1,68, para análise de
variância (ANOVA). Valores de p menores que 0,05 foram considerados
estatisticamente significantes.
47
4 ARTIGO CIENTÍFICO
4.1 ARTIGO
Influência do cloreto de gadolínio no periodonto de inserção de Rattus
norvegicus submetidos à movimentação ortodôntica.
Artigo a ser traduzido e enviado para publicação no American Journal of
Orthodontics and Dentofacial Orthopedics.
48
Título:
Influência do cloreto de gadolínio no periodonto de inserção de Rattus
norvegicus submetidos a movimentação ortodôntica.
Autores:
Cristina Bacellar de Pinho (C.D.; Aluna do curso de Especialização em
Ortodontia e Ortopedia UFBA, Salvador, BA – Brasil).
Mickelson Rio Lima de Oliveira Costa (C.D.; M.O.; D.O.; FBDC, Salvador, BA –
Brasil).
Marcos André Vannier dos Santos (PhD; FIOCRUZ, Salvador, BA – Brasil).
Autor para correspondência:
Cristina Bacellar de Pinho
Endereço: Rua Jacarandá, n°186, Parque Florestal, Brotas, Salvador, Bahia ,
Brasil (CEP – 40295-090)
Telefone: 55-71-3451-1596 / 8873-3716
E-mail: [email protected]
49
RESUMO
Intervenções farmacológicas podem ser recursos importantes para
compreensão da biologia da movimentação dentária e seus efeitos adversos.
No presente trabalho foi avaliada a influência do cloreto de gadolínio (GdCl3)
sobre a movimentação ortodôntica em ratos da raça Wistar. Para tanto, foram
utilizados 20 animais divididos aleatoriamente em dois grupos submetidos a
movimentação dentária induzida: CONTROLE, livre da influência de fármacos,
e EXPERIMENTAL, com aplicação de 10mg/kg de GdCl3 no primeiro dia do
experimento. Foi realizada a movimentação do 1º molar superior esquerdo com
mola de níquel-titânio, ajustada para liberação de 45g durante 7 dias. Os
resultados evidenciaram diminuição da taxa de movimentação ortodôntica no
grupo experimental quando comparado ao grupo controle (p=0,01). A avaliação
semi-quantitativa dos preparados histológicos, revelou diminuição
estatisticamente significante da quantidade de osteoclastos (p=0,006), e das
lacunas de reabsorção óssea no grupo que recebeu a droga (p=0,012). No
GRUPO EXPERIMENTAL, observou-se ainda, diminuição da reabsorção
radicular e aumento das áreas de hialinização, embora tais aspectos não
tenham apresentado significância estatística (p=0,09 e p=0,08
respectivamente). Com base nestes resultados, concluiu-se que o GdCl3,
nestas condições experimentais, foi capaz de diminuir a taxa de movimentação
dentária induzida ortodonticamente e estimular alterações teciduais
compatíveis com redução da atividade de reabsorção óssea e radicular.
50
INTRODUÇÃO E REVISÃO DE LITERATURA
O movimento dentário ortodôntico é caracterizado pela aplicação de
forças sobre os dentes, deformando as células, modificando a matriz e criando
ambiente hipóxico, devido a oclusão parcial ou completa dos vasos sanguíneos
do ligamento periodontal. A matriz modificada associada às fibras do ligamento
periodontal, que se encontram desorganizadas, assumem coloração
eosinofílica ou hialina. Neste contexto, as células envolvidas tendem a migrar
dos locais afetados ou ainda sofrer apoptose (BRUDVIK; RYGH, 1993;
CONSOLARO, 2002; MAVRAGANI et al., 2004; RYGH, 1977).
Com objetivo de eliminar a agressão induzida nos tecidos
circunjacentes, um processo inflamatório é iniciado para dissipar a força
armazenada. Para tanto, unidades osteorremodeladoras, conjunto formado por
osteoclastos, osteoblastos e células mononucleares de linhagem macrofágica,
são recrutadas para reabsorver tecido ósseo nas áreas de pressão
(CONSOLARO, 2002).
O conhecimento dos mecanismos reguladores da atividade celular no
tecido periodontal, responsáveis pela remodelação óssea, é imprescindível
para compreensão do movimento dentário. O tecido ósseo é uma estrutura
complexa, resultante da atividade de diversas células (osteoblastos,
osteoclastos, monócitos, linfócitos, entre outros) e, assim, considerado alvo
importante para intervenções farmacológicas (LIU et al., 2003).
O gadolínio é um elemento da família dos lantanídeos constituídos por
um grupo de 15 elementos com propriedades físico-químicas similares. São
metais eletro positivos com número de oxidação +3 (PAŁASZ; CZEKAJ, 2000).
51
O gadolínio, em especial, é utilizado na eletrônica e na optoeletrônica para
produzir laseres, fibras ópticas, componentes de memória magnética,
magnetos permanentes, entre outros (PAŁASZ; CZEKAJ, 2000). Quelatos
contendo gadolínio são utilizados no diagnóstico por ressonância magnética
nuclear como meio de contraste paramagnético intravenoso, onde exibem
baixa toxicidade e sua utilização clínica é considerada segura (DEAN et al.,
1988; HARPUR et al., 1993).
Na forma de cloreto (GdCl3) é um inibidor da fagocitose dos macrófagos
do fígado (Células de Kupffer) e simultaneamente contribui para sua eliminação
(HARDONK et al., 1992; PAŁASZ; CZEKAJ, 2000). Estas propriedades fazem
deste medicamento importante recurso no combate doenças diversas que
acometem o fígado (HARDONK et al., 1992). O mecanismo de ação provável
do GdCl3 é o bloqueio dos canais de cálcio do tipo K e subseqüente
competição com o cálcio da membrana, uma vez que seu raio iônico é similar
ao do cálcio (0.104nm) – elemento que exerce função importante em diversos
processos metabólicos (PAŁASZ; CZEKAJ, 2000).
O cloreto de gadolínio permanece na forma de sal em pH igual ou menor
que 5. Assim, no pH neutro do sangue é esperado que esta solução forme
colóides insolúveis (HARDONK et al., 1992). Na forma coloidal são gerados
êmbolos rapidamente seqüestrados pelos capilares, especialmente do pulmão,
ou são capturados pelo sistema fagocítico mononuclear (HARDONK et al.,
1992; HUSZTIK et al., 1980). Uma vez fagocitados, seus agregados coloidais
sofrem nova diluição, devido ao pH abaixo de 6 dos compartimentos
endossômicos-lisossômicos (HARDONK et al., 1992).
52
Considerando-se a atuação do GdCl3 sobre macrófagos, foi levantada a
hipótese de sua repercussão também sobre osteoclastos, células da mesma
linhagem e função integrada quando organizadas em unidades de remodelação
óssea. As funções gerais dos macrófagos incluem fagocitose, apresentação de
antígeno, eliminação de patógenos e produção de fatores de crescimento
relacionados à inflamação (IDE et al., 2005). Na verdade, o processo de
reabsorção óssea emprega a mesma logística necessária à fagocitose. O
osteoclasto é membro da família fagocítica mononuclear e pode ser
considerado um tipo de macrófago especializado (QUINN; GILLESPIE, 2005).
Intervenções farmacológicas durante o tratamento ortodôntico podem
ser utilizadas como recurso importante na compreensão de eventos celulares e
teciduais que regulam o metabolismo ósseo. Ainda, a aplicação de drogas,
pode ser empregada para controle dos efeitos adversos da movimentação
ortodôntica, como por exemplo, a reabsorção radicular. O cloreto de gadolínio
tem se mostrado uma droga favorável à inibição de macrófagos no fígado,
contudo, sua repercussão sobre células de reabsorção óssea não foi discutida
cientificamente até a presente data. Assim, este trabalho teve como objetivo
avaliar a influencia do cloreto de gadolínio no periodonto de inserção de Rattus
norvegicus submetido à movimentação ortodôntica.
MATERIAIS E MÉTODOS
Neste estudo foram utilizados vinte ratos (Rattus norvegicus) machos,
com peso de cerca de 250g e 2 meses de vida. Estes animais foram divididos
igualmente em dois grupos: CONTROLE, com ratos submetidos à
53
movimentação dentária ortodôntica por 7 dias e EXPERIMENTAL, cujos
animais receberam administração intravenosa de 10mg/kg de GdCl3 no
primeiro dia do experimento, antes da montagem do aparelho ortodôntico e
movimentação dentária.
Todos os procedimentos foram realizados sob anestesia obtida pela
associação de 1,33mL/kg de cloridrato de quetamina e 13mL/kg de xilazina por
via subcutânea.
O aparelho consistiu na utilização de fio de amarrilho metálico
ortodôntico com espessura de 0.08’’ (Dental Morelli), transpassado abaixo do
ponto de contato do primeiro molar superior esquerdo. Ao fio de amarrilho foi
adaptada uma mola fechada de níquel-titânio (NiTi) da TP Orthodontics®, de
intensidade de força média, cuja extremidade anterior foi presa a outro
segmento de fio idêntico. Este último, foi fixado na região interproximal dos
incisivos centrais superiores através de orifício criado no terço cervical com
broca esférica no 2 (KG Sorensen). Para padronizar a ativação do aparelho, os
animais foram posicionados em dispositivo de acrílico ligeiramente inclinado,
em decúbito dorsal, com a cabeça perpendicular ao solo. Em seguida, ao fio de
amarrilho voltado para região anterior, foi amarrado peso de chumbo de 45g
que ficou suspenso, criando distensão na mola, produzindo força aproximada
de 45cN. Por fim, os incisivos superiores foram submetidos a ataque ácido
(ácido fosfórico a 10%) e unidos ao fio de amarrilho com resina composta
fotopolimerizável (Vigodent).
O movimento dentário ortodôntico foi realizado durante sete dias, ao
término dos quais os animais foram mortos.
54
Os procedimentos na mandíbula se limitaram à extração dos primeiros
molares inferiores e ao desgaste dos incisivos para evitar danos ao aparelho.
No início e ao término da movimentação dentária, foi medida a distância
entre a face mesial do molar superior esquerdo e uma marcação realizada nos
incisivos com broca esférica no 1/4 (KG Sorensen) (Figura 2). Considerou-se
como taxa de movimentação dentária, a diferença entre as medidas inicial e
final para cada animal.
Os resultados foram submetidos ao teste T, através do Software
Analyse-it for Excel, versão 1.68, sendo considerados estatisticamente
significantes valores de p menores que 0,05.
Após morte dos animais, os ossos maxilares foram dissecados e
osteotomizados para a obtenção de secções teciduais das regiões mesial e
distal aos primeiros molares superiores do lado esquerdo, englobando
estruturas periodontais e dentárias. A seguir, as peças foram fixadas em
solução de Karnowsky e descalcificadas em ácido fórmico a 5%.
Após 5 dias de descalcificação, as peças foram processadas para
hematoxilina e eosina (HE), e utilizadas para observações gerais em
microscópio de luz (Olympus BX51). Da amostra total, foram triados doze
exemplares, levando em consideração a qualidade e orientação dos cortes
histológicos.
Através de microscopia de luz foram realizadas análises descritiva e
semi-quantitativa dos preparos histológicos, considerando-se a presença de
osteoclastos, reabsorção radicular, reabsorção óssea e tecido hialino. A análise
foi limitada à região de furca do 1º molar superior esquerdo.
55
Os dados coletados foram organizados e as lâminas fotografadas por
meio de sistema digital Sansung acoplado ao microscópio de luz (Olympus
BX51).
Os resultados obtidos foram submetidos ao software Analyse-it for Excel,
versão 1.68, para análise de variância (ANOVA). Valores de p menores que
0,05 foram considerados estatisticamente significantes.
RESULTADOS
Mesmo com a diminuição significativa no peso dos animais de ambos os
grupos (Controle: média=30,8; experimental: média=39,2) não houve diferença
estatística quando os grupos foram comparados (p=0,28) (Gráfico 1).
A taxa de movimentação dentária no GRUPO EXPERIMENTAL
(0,705mm) foi significativamente menor que o do GRUPO CONTROLE
(1,125mm) (p=0,0165) (Gráfico 2).
No GRUPO CONTROLE foi observado padrão característico de
movimentação dentária induzida ortodonticamente, sendo possível identificar
áreas de pressão e tração no ligamento periodontal. A quantidade de
osteoclastos nas áreas de pressão foi expressiva, com distribuição homogênea
ao longo do ligamento periodontal e osso alveolar e mais esparsamente na
superfície radicular. Em ambos os grupos foi observada grande quantidade de
vasos sanguíneos, assim como concentração intensa de osteoblastos
adjacentes ao osso alveolar recém-formado (Figura 3).
Apesar de não ter sido encontrado diferença estatisticamente
significante entre os grupos (p=0,08), somente 16,5% da amostra do GRUPO
56
CONTROLE apresentou áreas de hialinização, sendo ainda em grau
moderado. No GRUPO EXPERIMENTAL este foi um aspecto freqüente
(83,5%) (Gráfico 3; Figura 4a).
No GRUPO CONTROLE, a presença de osteoclastos foi
significativamente maior (p=0,006) nos tecidos periodontais da região de furca
quando comparada ao GRUPO EXPERIMENTAL (Figuras 4,5 e 6; Gráfico 4).
Em especial, neste último, não foram observados osteoclastos na superfície
radicular (Figura 4a e 5a).
A intensidade e freqüência de reabsorção radicular observadas no
GRUPO CONTROLE foram altas (Figura 5b). Foi possível identificar desde
lesões radiculares em processo de reparo até alterações mais severas, com
envolvimento dentinário e presença de osteoclastos ativos (Figura 7a). Já o
GRUPO EXPERIMENTAL, exibiu menor incidência de lesões radiculares,
sendo que 33% da amostra não apresentou sinais de reabsorção radicular nas
áreas de estudo, mesmo na presença de áreas de hialinização (Figuras 4a e
7b; Gráfico 5). Não houve diferença estatística entre os grupos (p=0,09).
A análise histológica das amostras do GRUPO EXPERIMENTAL sugeriu
diminuição na atividade reabsortiva. O GRUPO CONTROLE exibiu maior
número de lacunas de reabsorção óssea (Figuras 4b e 6a). Estas estavam
localizadas com maior freqüência na superfície frontal do osso alveolar. No
grupo EXPERIMENTAL, as áreas de reabsorção óssea foram mais freqüentes
no osso medular, caracterizando reabsorção indireta (Figura 6b). A diferença
entre os grupos foi estatisticamente significante (p=0,01) (Gráfico 6).
57
DISCUSSÃO
A estruturação do aparelho ortodôntico objetivou a liberação de força
suficiente para induzir a movimentação dentária (BRUDVIK; RYGH, 1993;
MAVRAGANI et al., 2005). De acordo com King e colaboradores (1991), tanto a
presença da aparatologia ortodôntica como a extração dentária no arco inferior
são fatores que comprometem a alimentação dos animais, provocando
diminuição no peso. Entretanto, estes autores relatam que o período de 7 dias
é bem tolerado, especialmente se utilizado aparelho unilateral, fato
comprovado no presente estudo.
Apesar da conhecida toxicidade do GdCl3, as modificações de peso não
foram sugestivas de que os animais do grupo experimental ficaram debilitados
em virtude da aplicação do fármaco.
A força foi padronizada em 45g, sendo capaz de estimular a
diferenciação de osteoclastos bem como a reabsorção radicular (KING et al.,
1998; NOXON et al., 2001). Para ativação do aparelho, foram selecionadas
molas de níquel-titânio para eliminar os efeitos do tempo, da temperatura, do
pH salivar, da absorção de água e da deformação permanente, inerentes aos
recursos elastoméricos (REN et al., 2003).
A definição da posologia do GdCl3 teve como fundamentação a literatura
referente à sua ação sobre as células de Kupffer, visto que não há relatos de
sua utilização para inibir osteoclastos ou macrófagos presentes no ligamento
periodontal e osso alveolar. Sendo assim, foi utilizada concentração de
10mg/kg, dose que tem se mostrado eficaz para inibir a expressão e alterar a
58
função das células de Kupffer no fígado (LEE et al., 2004; RAI et al., 1996;
SAUER et al., 1997).
A aplicação do GdCl3 foi realizada no primeiro dia do experimento
simultaneamente a aplicação da força ortodôntica. Apesar de Mavragani e
colaboradores (2005), terem observado o pico de osteoclastos 10 dias após o
início da aplicação de força ortodôntica, outros estudos demonstraram maior
concentração destas células no terceiro dia (KING, 1998; RODY et al., 2001).
Há evidências do comprometimento da atividade fagocítica das células
de Kupffer após 24 horas da aplicação de GdCl3 (HUSTIK et al., 1980; RODY
et al., 2001). Em estudo posterior, Lee e colaboradores (2004) observaram que
a atuação deste medicamento geralmente ocorre entre 1 e 3 dias após
realizada a aplicação do fármaco. Sendo assim, ao induzir a movimentação
ortodôntica em ratos, a aplicação do GdCl3 no primeiro dia seria compatível
com a atuação do medicamento e o recrutamento normal de células
reabsortivas para a região. Este aspecto torna-se relevante se considerarmos
que os macrófagos predominam no ligamento periodontal por volta de 24 a 72
horas de aplicação de força ortodôntica (CONSOLARO, 2002).
Muitos estudos clínicos (HARDONK et al., 1992; HARDONK; DIJKHUIS,
1993; HUSZTIK et al., 1980; IDE et al., 2005; KELLER et al, 2005; MARTIN,
1993; RAI et a., 1996; SAUER et al., 1997) e laboratorias (LEE et al., 2004;
MIZGERD et al., 1996) vêm sendo realizados com o intuito de melhor
compreender o mecanismo de ação do cloreto de gadolínio sobre as células de
Kupffer. Porém, a literatura carece de estudos que investiguem a atuação do
GdCl3 sobre as células responsáveis pela reabsorção óssea. Uma vez
59
constatada a inibição dos osteoclastos e/ou macrófagos pelo GdCl3 seria
possível utilizá-lo para melhor compreender o papel destas células em
diferentes fases do movimento ortodôntico e até mesmo para controle de
efeitos adversos envolvendo estas células.
No presente estudo, a aplicação do GdCl3, em ratos diminuiu a
movimentação ortodôntica de forma significativa quando comparado ao grupo
controle. Estes achados sugerem que o GdCl3 foi capaz de afetar, direta ou
indiretamente, os osteoclastos, células indispensáveis para movimentação
dentária (KARDOS et al., 1980; PROFFIT; FIELDS, 2002; REITAN, 1960).
As alterações histológicas observadas no grupo EXPERIMENTAL foram
compatíveis com redução na taxa de movimentação dentária. Um importante
achado histológico foi a presença de extensas faixas de necrose estéril
(hialinização) nas regiões do ligamento periodontal submetidas à compressão
no grupo EXPERIMENTAL. No grupo CONTROLE, a presença de tecido
hialino não foi detectada, exceto em uma amostra, sugerindo remoção prévia
deste tecido (BRESNIAK; WASSERTEIN, 2002; BRESNIAK; WASSERTEIN,
2002; RYGH, 1977). Estes dados corroboram diversos outros estudos,
demonstrando que a movimentação dentária é dependente da eliminação
prévia do tecido hialino criado no lado de compressão durante a aplicação de
força ortodôntica (BRESNIAK; WASSERTEIN, 2002; CONSOLARO, 2002;
MAVRAGANI et al., 2004; RYGH, 1977).
Os macrófagos desempenham papel fundamental na remoção do tecido
hialino durante a movimentação ortodôntica (CONSOLARO, 2002), desde que
suas principais funções são: fagocitose, apresentação de antígeno, eliminação
60
de patógenos e produção de fatores de crescimento relacionados à inflamação
(IDE et al., 2005). É possível que a presença tardia de tecido hialino no
GRUPO EXPERIMENTAL tenha relação com alguma disfunção relacionada
aos macrófagos desta região, uma vez que há indícios da influência do cloreto
de gadolínio não só em células de Kupffer, mas também em macrófagos
peritoneais e alveolares (HUSZTIK et al., 1980).
Von Böhl e colaboradores (2004) observaram que a remoção do tecido
hialino se faz possível através do recrutamento de células fagocíticas de
regiões hígidas adjacentes ao ligamento periodontal assim como cavidades
alveolares do osso medular. Logo, pode-se sugerir que estas células estariam
mais susceptíveis à influência do GdCl3, já que se encontram próximas aos
vasos sanguíneos (MARTIN, 1993).
Pela avaliação dos dados obtidos a partir do GRUPO CONTROLE,
observa-se quadro histológico previsível, com alta concentração de
osteoclastos no espaço do ligamento periodontal, compatível com a
estimulação ortodôntica desenvolvida (BARON, 1986; KING et al., 1991;
MAVRAGANI et al., 2005). Lacunas de reabsorção radicular foram observadas
ao longo da face mesial da raiz distal com intensidade moderada (KING et al.,
1991), algumas das quais envolvendo dentina, de acordo com resultados já
encontrados na literatura (BRUDVIK; RYGH, 1993).
A análise semi-quantitativa revelou diferenças importantes no número de
osteoclastos presentes na região de furca. No GRUPO EXPERIMENTAL a
quantidade de osteoclastos foi menos expressiva indicando influência no
recrutamento ou no ciclo de vida destas células. A localização dos osteoclastos
61
no osso alveolar foi outra característica importante, indicando o
desenvolvimento de um padrão de reabsorção óssea indireta no GRUPO
EXPERIMENTAL. Este fato provavelmente está relacionado à persistência das
zonas de hialinização (CONSOLARO, 2002; MAVRAGANI et al., 2004; RYGH,
1977).
A redução expressiva na intensidade das lacunas de reabsorção óssea
encontrada (p=0,01) reforça a hipótese da influência do GdCl3 sobre os
osteoclastos.
Dentre as possíveis explicações para o efeito do GdCl3 sobre os
osteoclastos, a atuação indireta pela redução da atividade de macrófagos
parece consistente. Estas células são grandes produtores de citocinas, fatores
de crescimento e produtos do ácido araquidônico, além de outros mediadores
que exercem quimiotaxia para os osteoblastos, reconhecidamente os agentes
que coordenam o processo de reabsorção óssea (CONSOLARO, 2002;
MELSEN, 1999). O fator estimulador de colônias de macrófagos (M-CSF),
produzido tanto por estas células como por osteoblastos, é considerado um dos
fatores estimuladores de osteoclastos mais importante, atuando direta e
indiretamente sobre estas células. Ainda, o hormônio da paratireóide (PTH),
mediado também pelos osteoblastos, é outro exemplo importante do seu papel
na cinética osteoclástica (HEYMANN et al., 1998).
Entretanto, interferências sobre os macrófagos também podem afetar
diretamente os osteoclastos, posto que estas células são capazes de liberar
fatores reguladores da sua atividade e diferenciação (LILJA et al., 1983;
NORTON; BURSTONE, 1989). Lilja e colaboradores (1983), a partir de
62
observações feitas durante movimentação ortodôntica, sugeriram que a
reabsorção de tecido ósseo adjacente ao ligamento periodontal pode ser
mediada pela presença de prostaglandinas, liberadas pelos macrófagos da
região.
Além deste fato, considera-se que o osteoclasto é membro da família
fagocítica mononuclear e pode ser considerado um tipo de macrófago
especializado (QUINN; GILLESPIE, 2005) e assim é possível que o GdCl3
tenha atuado diretamente sobre estas células. Baron e colaboradores (1986)
observaram que osteoclastos maduros e seus precursores mononucleares têm
em comum com as células do sistema fagocítico mononuclear uma enzima
(fluoride inhibitable enzyme nonespecific esterase - NSE), além de algumas
características morfológicas. Somente após sua migração e adesão à
superfície óssea irá ocorrer a fusão com outras células precursoras
mononucleares. Logo, seria sensato sugerir que fatores que afetam os estágios
de desenvolvimento precoce da diferenciação e função de macrófagos também
podem influenciar na formação de osteoclastos (QUINN; GILLESPIE, 2005).
Outro importante achado histológico foi a redução das áreas de
reabsorção radicular. As superfícies radiculares, mesmo nas áreas de pressão,
mantiveram-se hígidas em 33% e com lesões leves em 50,5% do GRUPO
EXPERIMENTAL. Em contrapartida, o GRUPO CONTROLE exibiu lesões
radiculares em toda a amostra, sendo 50,5% de intensidade severa. Apesar de
não ter havido diferença estatisticamente significante entre os grupos, estes
dados não devem ser desprezados e podem ser sustentados por duas
hipóteses. A primeira estaria relacionada a extensa faixa de tecido hialino
63
encontrada na interface do ligamento periodontal com o osso alveolar. Chan e
Darendeliler (2005), em estudo em humanos, observaram que não há
reabsorção radicular enquanto houver tecido necrosado. Ou seja, independente
da atuação do GdCl3 sobre os osteoclastos, a simples presença deste tecido
funcionaria como uma barreira natural à ação dos osteoclastos.
Contudo, a proteção referida se limitaria às regiões imediatamente
subjacentes ao tecido hialino e não aos tecidos vizinhos. A segunda hipótese,
que não exclui a primeira e pode até mesmo complementá-la, estaria vinculada
a diminuição do número de osteoclastos, que foi previamente discutida.
O presente estudo sugeriu que a dose de 10mg/kg foi capaz de afetar
significativamente os macrófagos do ligamento periodontal. Porém, há
necessidade de melhor compreensão do modo de ação, da dose mínima
efetiva, das vias de administração e até mesmo da validade de utilização desta
droga para estudos envolvendo movimentação ortodôntica e seus efeitos
adversos, uma vez que a alta toxicidade do GdCl3 vem sendo alvo de muita
preocupação na literatura (PALASZ; CZEKAJ, 2000; REES et al., 1997;
SPENCER et al., 1997).
O presente trabalho tem característica de estudo piloto, buscando
observar possível influência deste medicamento na movimentação dentária e
assim ampliar o leque de opções para pesquisas neste campo. Com base nos
dados encontrados foi possível incitar novas idéias para pesquisa científica na
ortodontia e tentar auxiliar no esclarecimento da farmacodinâmica deste
medicamento.
64
CONCLUSÃO
Com base nestes resultados, concluiu-se que o GdCl3, nestas condições
experimentais, foi capaz de diminuir a taxa de movimentação dentária induzida
ortodonticamente e estimular alterações teciduais compatíveis com redução da
atividade de reabsorção óssea e radicular.
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69
LEGENDA DAS FIGURAS
Figura 1 Aplicação de GdCl3 na veia dorsal da cauda do animal (a). Cloreto de
gadolínio (b).
Figura 2 Avaliação da distância entre a face mesial do primeiro molar superior
esquerdo e orifício criado na vestibular dos incisivos superiores, utilizando
paquímetro (a). Espaço criado na distal do primeiro molar pelo seu
deslocamento após sete dias de aplicação de força (b).
Figura 3 Osteoblastos (OB) adjacentes ao osso alveolar (OA) recém-formado
no grupo controle (a) e experimental (b). Tecido osteóide (setas). Coloração-
H.E. Aumento de 1000x.
Figura 4 Comparação das áreas de pressão na região de furca entre os grupos
controle (a) e experimental, com extensa faixa de tecido hialino (seta) (b).
Osso alveolar (OA), ligamento periodontal (LP), cemento radicular (CR),
dentina (D). Coloração-H.E. Aumento de 200x.
Figura 5 Área de pressão na região de furca. Comparação entre os grupos
controle (a) e experimental (b) quanto à integridade radicular e localização de
osteoclastos. Presença de lacunas de reabsorção radicular ativas (setas) em
amostra do grupo controle (b). H.E. com aumento de 200x.
Figura 6 Lacunas de reabsorção óssea com presença de osteoclastos (setas)
em grande número no grupo controle (a). Pode-se observar ausência de
reabsorção radicular mesmo na periferia das áreas de hialinização (setas) no
grupo experimental (b). H.E. com aumento de 1000x.
Figura 7 Lacunas de reabsorção radicular com envolvimento dentinário na
periferia de área de hialinização no grupo controle (a). Ausência de reabsorção
70
radicular na periferia de área de hialinização (seta) no grupo experimental (b).
H.E. com aumento de 400x.
LEGENDA DOS GRÁFICOS
Gráfico 1 Variação de peso entre grupos (p=0,02).
Gráfico 2 Taxas de movimentação dentária (p=0,01).
Gráfico 3 Análise semi-quantitativa da concentração de tecido hialino (p=0,08).
Gráfico 4 Análise semi-quantitativa da quantidade de osteoclastos (p=0,006).
Gráfico 5 Análise semi-quantitativa da área de reabsorção radicular (p=0,09).
Gráfico 6 Análise semi-quantitativa das lacunas de reabsorção óssea (p=0,01).
71
FIGURAS
OB
OB
OA
OA
b
Figura 2
a
b
Figura 3
a
ba
Figura 1
72
Figura 7
b
LP
CR
D
LP CR
D
OAOA
b
b
LP
a
Figura 6
LP
LP
OA CR
CR
D
D
OA
b
a b
LP
CR
D
LP
CR
D
OAOA
Figura 4
OA
CR
OA
LP CR
D D
ba Figura 5
OA
OA
LP
LP
CR
CR
D
D
ba
Figura 4
73
GRÁFICOS
Variação de Peso Entre Grupos
30,8
39,2
0
10
20
30
40
50
60
Méd
ia d
a Va
riaçã
o de
Pes
o (g
)
Controle
Experimental
Gráfico 2 p=0,01
Gráfico 1 p=0,02
74
Gráfico 3 p=0,08
83,5%
16,5% 16,5% 16,5%
33,5% 33,5%
Gráfico 4 p=0,006
87,5%
16,5%
87,5%
16,5%
75
Gráfico 6 p=0,01
50,5% 50,5%
33% 33%
16,5% 16,5%
67%
33%
83,5%
16,5%
Gráfico 5 p=0,09
76
5 CONCLUSÃO
Diante do exposto, concluiu-se que o Cloreto de Gadolínio :
5.1 Foi capaz de diminuir significativamente a quantidade de movimentação
dentária em ratos, quando aplicado no mesmo dia da aplicação da força
ortodôntica.
5.2 Nas condições experimentais estabelecidas, induziu as seguintes
alterações importantes no periodonto destes animais:
5.2.1 Redução significativa da quantidade de osteoclastos e atividade de
reabsorção óssea;
5.2.2 Aumento das áreas de hialinização e diminuição da reabsorção
radicular.
77
6 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS
6.1 No presente estudo, o mecanismo de atuação do gadolínio não pôde
ser detectado. Sugere-se análise mais específica, com marcadores para
macrófagos, bem como microscopia eletrônica de transmissão para verificar a
presença deste elemento no interior de osteoclastos. Desta forma, o
mecanismo de ação na movimentação dentária e atuação específica sobre as
células envolvidas, poderia ser melhor compreendido.
6.2 Outro aspecto relevante é a observação do comportamento do GdCl3
aplicado localmente. A administração de drogas diretamente na interface
dente/papila pode ser considerada para diminuição dos efeitos sistêmicos do
GdCl3, assim como da concentração necessária para produzir efeitos sobre o
movimento dentário. Não existem relatos aprofundados sobre a
farmacodinâmica e farmacocinética do GdCl3 no meio intersticial, o que ratifica
a necessidade de mais estudos nesta área.
6.3 Avaliações do processo de remoção do tecido hialinizado sob
influência do GdCl3 em intervalos de tempo mais curtos.
78
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85
ANEXOS
Normas para a prática Didático-Científica da Vivissecção em animais
Art. 01. Fica permitida, em todo território nacional, a vivissecção em animais,
nos termos desta lei.
Art. 02. Os biotérios e os centros de experiências e demonstrações com
animais vivos deverão ser registrados em órgão competente e por ele
autorizados a funcionar.
Art. 03. A vivissecção não será permitida:
I – sem emprego de anestesia;
II – em centros de pesquisas e estudos não registrados em órgãos
competentes;
III – sem supervisão de técnico especializado;
IV – com animais que não tenham permanecido mais de 15 dias em botério
legalmente autorizado;
V – em estabelecimento de ensino de 1º e 2º graus e em quaisquer locais
freqüentados por menores de idade.
Art. 04. O animal só poderá ser submetido ás intervenções recomendadas nos
protocolos das experiências que constituem a pesquisa ou os programas de
86
aprendizagem cirúrgica, quando durante ou após a vivissecção, receber
cuidados especiais.
Parágrafo 1 – Quando houver indicação, o animal poderá ser sacrificado sob
estrita obediência às prescrições científicas.
Parágrafo 2 – Caso não sejam sacrificados, os animais utilizados em
experiência ou demonstrações somente poderão sair do biotério 30 (trinta) dias
após intervenção, desde que destinados a pessoas ou entidades idôneas que
por eles queiram responsabilizar-se.
Art. 05. Os infratores desta lei estarão sujeitos:
I – às penalidades cominadas no artigo 64, caput, do Decreto-lei 3.688 de
03/10/1941, no caso de ser a primeira infração;
II – à interdição e cancelamento do registro do biotério ou do centro de
pesquisa, no caso de reincidência;
Art. 06. O Poder Executivo, no prazo de 90 (noventa) dias, regulamentará a
presente Lei, especificando:
I – o órgão competente para o registro e a expedição de autorização dos
biotérios e centros de experiências e demonstrações com animais vivos;
II – as condições gerais exigíveis para o registro e o funcionamento dos
biotérios;
III – o órgão e autoridades competentes para fiscalização dos biotérios e
centros mencionados no inciso I.
Art. 07. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 08. Revogam-se as disposições em contrário.