universidade federal da bahia faculdade de … gomes... · componentes celulares como vasos...

92
Curso de Pós-graduação em Patologia Humana DISSERTAÇÃO DE MESTRADO CARACTERIZAÇÃO CLÍNICO-PATOLÓGICA E IMUNO-HISTOQUÍMICA DE COMPONENTES CELULARES E DA MATRIZ CONJUNTIVA EXTRACELULAR DE MUCOCELES DA BOCA JAMILE GOMES CONCEIÇÃO Salvador Bahia Brasil 2012 UFBA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE MEDICINA FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ FIOCRUZ CENTRO DE PESQUISAS GONÇALO MONIZ FIOCRUZ

Upload: lyminh

Post on 14-Nov-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • Curso de Ps-graduao em Patologia Humana

    DISSERTAO DE MESTRADO

    CARACTERIZAO CLNICO-PATOLGICA E IMUNO-HISTOQUMICA DE

    COMPONENTES CELULARES E DA MATRIZ CONJUNTIVA EXTRACELULAR

    DE MUCOCELES DA BOCA

    JAMILE GOMES CONCEIO

    Salvador Bahia Brasil

    2012

    UFBA

    UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

    FACULDADE DE MEDICINA

    FUNDAO OSWALDO CRUZ FIOCRUZ

    CENTRO DE PESQUISAS GONALO MONIZ

    CENTRO DE PESQUISAS GONALO MONIZ

    FIOCRUZ

  • Curso de Ps-graduao em Patologia Humana

    CARACTERIZAO CLNICO-PATOLGICA E IMUNO-HISTOQUMICA DE

    COMPONENTES CELULARES E DA MATRIZ CONJUNTIVA EXTRACELULAR

    DE MUCOCELES DA BOCA

    JAMILE GOMES CONCEIO

    Orientador: Dr. Jean Nunes dos Santos

    Dissertao apresentada ao Colegiado do

    Curso de Ps-graduao em Patologia

    Humana, como pr-requisito obrigatrio

    para obteno do grau Mestre.

    Salvador Bahia Brasil

    2012

    UFBA

    UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

    FACULDADE DE MEDICINA

    FUNDAO OSWALDO CRUZ - FIOCRUZ

    CENTRO DE PESQUISAS GONALO MONIZ

    FIOCRUZ

  • Ficha Catalogrfica elaborada pela Biblioteca do

    Centro de Pesquisas Gonalo Moniz / FIOCRUZ - Salvador - Bahia.

    Conceio, Jamile Gomes

    C744c Caracterizao clnico-patolgica e imuno-histoqumica de

    componentes celulares e da matriz conjuntiva extracelular de mucoceles da

    boca [manuscrito] / Jamile Gomes Conceio. - 2012.

    95 f. : il. ; 30 cm.

    Datilografado (fotocpia).

    Dissertao (Mestrado) Universidade Federal da Bahia. Centro de Pesquisas Gonalo Moniz, 2012. Orientador: Prof. Dr. Jean Nunes dos Santos, Faculdade de Odontologia.

    1. Mucocele. 2. Tecido de granulao. 3. Remodelamento tecidual. I.

    Ttulo.

    CDU 616.316

  • A Deus pelo amor incondicional.

    Todo o crescimento, profissional e pessoal, adquirido nessa etapa foi presente Dele.

    A minha me pelo o amor, carinho e dedicao.

    Por acreditar no meu potencial e me incentivar a lutar pelos meus objetivos.

    Sempre ao meu lado, em uma firme parceria.

    Meu alicerce e meu porto seguro.

    A meu pai, que me faz encarar as dificuldades.

    ele que me autoriza a enfrentar o mundo, como ele .

    Meu refgio nos momentos mais tensos.

    A meu irmo querido, sempre presente em todos os momentos da minha vida.

    Meu companheiro, amigo e confidente.

    Te amo mano velho.

    A meu padrinho Joo Magalhes (in memorian). Pela f e pelos bons conselhos.

    Em muitos cafs da manh ele acalmou meu corao.

    A toda a minha famlia, pela unio, apoio e compreenso.

  • AGRADECIMENTOS

    A todos os integrantes de minha famlia.

    Que sempre me apoiam e torcem pelo meu sucesso. Obrigada tambm pela compreenso da

    minha ausncia nas frequentes reunies familiares. Aos primos, Alessandra e William pela

    fora, principalmente nos momentos de angstia que precederam a seleo do mestrado. A

    prima Flvia pelas vibraes positivas e pelas impresses tambm rss! Tia Nica, pelos mimos,

    carinho e ateno. E as minhas avs, Flora e Celina, pelas oraes, conselhos e incentivo.

    A minha turma.

    Que foi excelente, fazendo do ambiente de sala de aula um local descontrado e divertido.

    Amei fazer parte dessa turma to especial. As mais recentes amigas, Di, Carol, Lena, Dani e

    ao trio, Barbarete, Renatinha, e eu rsss. Obrigada pelos momentos de amizade e estudo. Em

    especial a Carol, nossa, como eu te ocupei heim rs... muito obrigada por ser essa pessoa to

    disponvel e prestativa.

    As meninas de iniciao cientfica.

    Ludmila, Manuela, Las e Fernanda, pelo suporte na imuno-histoqumica e pelos momentos

    de descontrao.

    A Dra Ana Paula e Dra Deise.

    Agradeo pela oportunidade de conviver com pesquisadoras legais como vocs. Foi muito

    bom contar com o apoio de outros profissionais, alm do orientador. A Dra Deise tambm por

    permitir que eu assistisse suas aulas de histologia em outro curso.

    Aos funcionrios da UFBA.

    A Lourdes, Mrian e Sueli, pelo profissionalismo e auxilio nas recorrentes necessidades. A

    Lourdes pela amizade e bom humor.

    Aos funcionrios da Fiocruz-BA.

    A Cris pela amizade. Obrigada pelo suporte nos momentos difceis, e pelas alegrias nos

    momentos de descontrao. A Ana pelo carinho, ateno e auxlio nos experimentos de

    imuno-histoqumica.

  • A Dr. Eduardo,

    Por conceder a utilizao do laboratrio, pelo qual responsvel, para a realizao dos

    experimentos deste trabalho. Sua gentileza, pacincia e acessibilidade o torna um pesquisador

    admirvel.

    A Dra. Clarissa,

    Uma pesquisadora dedicada e comprometida. Toda motivao e empenho pela cincia

    juntamente com a solidariedade aos colegas a torna uma profissional singular. Sua

    contribuio neste trabalho foi de grande valor, do incio ao fim. Muito obrigada Clara.

    A meu orientador, Dr Jean.

    Agradeo imensamente pela receptividade. um privilgio ter como orientador um

    profissional, dedicado, exigente, perfeccionista, e muito atencioso. Admiro sua motivao e

    entusiasmo pela pesquisa e disposio para encarar os desafios da cincia, inclusive o desafio

    de orientar-me, pois apareci sem precedentes, e como a nica biloga que faria parte de um

    grande grupo de dentistas. incalculvel o crescimento profissional e pessoal adquirido sob

    sua orientao.

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    m

    C

    %

    KDa

    Cm

    mm

    vaso/mm

    beta. Segunda letra do alfabeto grego

    gama. Terceira letra do alfabeto grego

    Unidade de medida de tamanho micrmetros

    Unidade de medida de temperatura graus Celsius

    Unidade de valor percentual

    Unidade de medida de massa kilodaltons

    Unidade de medida de tamanho centmetros

    Unidade de medida de tamanho milmetro quadrado

    Vaso por milmetro quadrado

    CD34 Glicoprotena CD34

    CD68 Glicoprotena CD68

    c-Kit Refere-se ao receptor de mastcitos c-Kit

    DP Desvio Padro

    EPCs Refere-se a Clulas Progenitoras Endoteliais

    Et al Colaboradores

    F Feminino

    FceRi Refere-se ao receptor de mastcitos FceRi

    FGF Refere-se ao Fator de Crescimento Fibroblstico

    FGF-2 Refere-se ao Fator de Crescimento Fibroblstico 2

    FOUFBA Faculdade de Odontologia da Universidade Federal da

    Bahia

    H1 Refere-se ao receptor de histamina H1

    H2 Refere-se ao receptor de histamina H2

    Hot spots Refere-se rea com maior marcao

    H&E Refere-se colorao Hematoxilina-Eosina

    IFN Refere-se Interferon

    IgE Refere-se Imunoglobulina E

    IL-1 Refere-se Interleucina 1

    IL-6 Refere-se Interleucina 6

    INF Refere-se ao Fator de Necrose Tumoral

    M Masculino

    M1 Refere-se a macrfagos ativados classicamente

    M2 Refere-se a macrfagos ativados alternativamente

  • MC Refere-se a mastcitos da mucosa

    MDV Refere-se a microdensidade vascular

    MEC Refere-se matriz extracelular

    MMPs Refere-se a protenas de matriz metaloproteinase

    MMP-1 Refere-se protena de matriz metaloproteinase 1

    MMP-2 Refere-se protena de matriz metaloproteinase 2

    MMP-3 Refere-se protena de matriz metaloproteinase 3

    MMP-7 Refere-se protena de matriz metaloproteinase 7

    MMP-8 Refere-se protena de matriz metaloproteinase 8

    MMP-9 Refere-se protena de matriz metaloproteinase 9

    MMP-10 Refere-se protena de matriz metaloproteinase 10

    MMP-11 Refere-se protena de matriz metaloproteinase 11

    MMP-13 Refere-se protena de matriz metaloproteinase 13

    MMP-26 Refere-se protena de matriz metaloproteinase 26

    MTC Mastcitos do tecido conjuntivo

    N Nmero

    NO Refere-se a Oxido Ntrico

    PBS Refere-se a Soluo Salina Tamponada

    PDGF Refere-se ao Fator de Crescimento Derivado das Plaquetas

    SCF Do ingls, stem cell factor

    SPARC Refere-se a Protenas cidas Ricas em Cistena

    TGF Refere-se ao Fator de Crescimento Tumoral

    Th2

    TIMPs

    Do ingls T helper

    Refere-se aos Inibidores Teciduais das Metaloproteinases

    TIMP-1 Refere-se aos Inibidores Teciduais das Metaloproteinases 1

    TIMP-2 Refere-se aos Inibidores Teciduais das Metaloproteinases 2

    UFBA Universidade Federal da Bahia

    VEGF Refere-se ao Fator de crescimento Endotelial Vascular

    VEGF-R1 Refere-se ao Receptor do Fator de Crescimento Endotelial

    Vascular 1

    VEGF-R2 Refere-se ao Receptor do Fator de Crescimento Endotelial

    Vascular 2

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Distribuio da faixa etria e sexo correspondente aos 100 casos

    de mucocele diagnosticados no Servio de Patologia Cirrgica da

    UFBA, no perodo de 2002 a 2010. Salvador BA,

    2012................................................................................................

    37

    Figura 2 Distribuio do tamanho correspondente aos 100 casos de

    mucocele diagnosticados no Servio de Patologia Cirrgica da

    UFBA, no perodo de 2002 a 2010. Salvador BA,

    2012................................................................................................

    38

    Figura 3 Distribuio da localizao correspondente aos 100 casos de

    mucocele diagnosticados no Servio de Patologia Cirrgica da

    UFBA, no perodo de 2002 a 2010. Salvador BA,

    2012................................................................................................

    38

    Figura 4 Ilustrao dos aspectos clnicos e macroscpicos de mucocele

    oral..................................................................................................

    39

    Figura 5 Ilustrao dos aspectos morfolgicos de mucoceles oral em

    HE...................................................................................................

    33

    Figura 6 Ilustrao histolgica de leso de mucocele oral com mltiplas

    cavidades em

    HE...................................................................................................

    44

    Figura 7 Ilustrao histolgica da parede de tecido de granulao de

    mucocele oral com mltiplas cavidades em

    HE...................................................................................................

    45

    Figura 8 Ilustrao da distribuio dos vasos sanguneos em leso de

    mucocele

    oral..................................................................................................

    48

    Figura 9 Ilustrao da distribuio de clulas mastocitrias por imuno-

    histoqumica......................................................................................

    .......

    50

    Figura 10 Ilustrao da distribuio de macrfagos por imuno-

    histoqumica...................................................................................

    51

    Figura 11 Ilustrao da distribuio de metaloproteinase-1 por imuno-

    histoqumica...................................................................................

    53

    Figura 12 Ilustrao da distribuio de metaloproteinase-9 por imuno-

    histoqumica...................................................................................

    54

    Figura 13 Distribuio da fibrose correspondente aos 100 casos de mucocele

    diagnosticadas no Servio de Patologia Cirrgica da UFBA, no

    perodo de 2002 a 2010. Salvador BA,

    2012................................................................................................

    55

    Figura 14 Ilustrao dos diferentes nveis de fibrose m leses de mucocele

    oral por histoqumica para

    picrosirius.......................................................................................

    56

    Figura 15 Box-plot da quantidade de clulas CD34, CD68 positivas e

    mastcitos em relao a MMP-1. Salvador-

    BA...................................................................................................

    58

    Figura 16 Box-plot da quantidade de clulas CD34, CD68 positivas e

    mastcitos em relao a MMP-9. Salvador-

    BA...................................................................................................

    59

    Figura 17 Box-plot da quantidade de clulas CD34, CD68 positivas e

    mastcitos em relao ao picrosirius. Salvador-

    BA....................................................................................................

    59

  • RESUMO

    CARACTERIZAO CLNICO-PATOLGICA E IMUNO-HISTOQUMICA DE

    COMPONENTESCELULARES E DA MATRIZ EXTRACELULAR DE MUCOCELES DA BOCA.

    Mucoceles so leses comuns da cavidade oral, causadas por alteraes nos ductos

    excretrios de glndulas salivares menores. A fim de contribuir para um melhor

    conhecimento do perfil biolgico destas leses, este trabalho teve como objetivo estudar

    os aspectos clnico-patolgicos em uma amostra de mucoceles da boca, bem como

    componentes celulares como vasos sanguneos (anti-CD34), mastcitos (triptase de clula

    mastocitria), macrfagos (anti-CD68) e da matriz extracelular (metaloproteinase de

    matriz -1 e -9), por meio da tcnica imuno-histoqumica. Foram estudados 100 casos de

    mucocele de extravasamento, o seu contedo de fibrose (picrossirius) e 32 casos

    investigados para as protenas propostas, adotando-se critrios morfomtricos e

    semiquantitativos. As leses de mucocele atingiram mais o lbio inferior e a segunda e

    terceira dcadas de vida, com mdia de 23.2 anos de idade (DP12,24), sendo os homens

    mais acometidos pela leso (56%). O tamanho mdio foi de 1,1 cm (DP0,57). Os vasos

    sanguneos CD34 positivos estavam presentes em todos os espcimes (mdia de 55

    microvasos por mm2; DP0,36), mas a medida que se aproximavam do lmen cstico

    pareciam desaparecer. Os mastcitos estavam presentes em todos os casos (mdia= 7.4;

    DP0,12), mais concentrados na regio cpsula em torno do tecido de granulao,

    reduzindo-se neste ltimo. Os macrfagos estavam presentes no tecido de granulao

    (mdia= 88; DP0,52), tambm em todos os casos, mas especialmente concentrados na

    superfcie luminal e dentro da cavidade cstica, sugerindo um importante papel na

    fagocitose de muco. MMPs apresentaram marcao varivel presentes em fibroblastos,

    clulas inflamatrias e matriz extracelular, sendo MMP-1 ausente em um caso e a MMP-9

    em dois. A fibrose tambm mostrou-se varivel entre os casos. Apesar de existir

    associao estatstica ente macrfagos e MMP1 (p 0.05, Kruskal Wallis).

    Este estudo contribuiu para o conhecimento dos mucoceles da boca em uma amostra

    representativa da populao da Bahia, destacando que a dinmica de desenvolvimento de

    formao dessas leses envolve migrao e interao chaves entre componentes celulares

    e da matriz extracelular importantes para o remodelamento tecidual dos mucoceles.

    Palavras Chave: mucocele, tecido de granulao e remodelamento tecidual.

  • ABSTRACT

    CLINICAL AND HISTOPATHOLOGICAL STUDY OF ORAL MUCOCELES AND IMMUNOHISTOCHEMICAL

    CHARACTERIZATION OF CELLULAR AND EXTRACELLULAR MATRIX COMPONENTS. Mucoceles are

    common lesions of the oral cavity, caused by damage to the excretory ducts of salivary glands. The

    present study investigated a sample of oral mucoceles in our population, to describe their clinical and

    histopathological features, and to assess cell components such as blood vessels, mast cells,

    macrophages, and matrix metalloproteinases (MMPs 1 and -9), using immunohistochemistry, for a

    better understanding of biological profile of this lesion. Histochemistry using Picrossirius red staining

    was also included. The sample consisted of 100 oral mucoceles, 32 of which were included for

    investigating both cell components and MMPs, adopting morphometrical and semi-quantitative

    criteria. The lesions were located most often on the lower lip and second and third decades of life,

    with a mean of 23.2 years (SD12,24). Males had a higher frequency (56%) and mean size of the

    lesions was 1.1cm ((DP0,57). CD34-positive blood vessels were present in all specimens (mean, 55

    microvessels per mm2), but as they approached the cystic lumen seemed to disappear. Mast cells

    were present in all cases (mean= 7.4; SD0,12) and concentrated in the capsule surrounding the

    granulation tissue, although they were reduced in the latter. The macrophages were present in the

    granulation tissue (mean=88; SD0.52), also in all cases, but they were especially concentrated on the

    luminal surface and within the cystic cavity, indicating a pivotal role in phagocytosis of mucus. MMPs

    showed variable immunostaining and were found in fibroblast and inflammatory cells, however, they

    were absent in one case of MMP1 and two cases of MMP9. Fibrosis was also variable in all of

    specimens. Although there was a statistical association between macrophages and MMP1 (P

  • 15

    1 INTRODUO

    Mucoceles orais so leses csticas benignas que acometem a populao em geral,

    frequentemente diagnosticadas por patologistas orais em suas prticas dirias (SWELAN et

    al., 2005). Apresentam-se como bolhas ou ndulos, em qualquer local da cavidade oral, desde

    que contenha glndulas salivares menores. Quando as mucoceles aparecem no assoalho da

    lngua so denominados Rnulas (HAROLD; BAURMASH et al., 2003).

    Sua etiologia esta associada a traumas locais ou hbitos parafuncionais como mordida

    em lbio com consequente rompimento de ductos excretrios de glndulas salivares menores,

    desencadeando no derramamento de muco dentro do tecido conjuntivo, e iniciao de uma

    resposta inflamatria reativa composta por tecido de granulao e infiltrado leucocitrio (LI et

    al., 1997; NICO et al., 2003; GUIMARES et al., 2006; HAYASHIDA et al., 2010).

    Microscopicamente so visualizadas como uma, ou mais, cavidades inseridas no

    tecido conjuntivo, adjacente a glndulas salivares menores, e tipicamente circunscrita por uma

    parede de tecido de granulao composto por graus variados de fibrose, vasos sanguneos e

    infiltrado de clulas inflamatrias tais como leuccitos polimorfonucleares, mastcitos,

    macrfagos, linfcitos e fibroblastos (GEORGE et al., 2000; BAURMASH, 2003;

    FREDERIC et al.,2008). O lmen da cavidade preenchido por material proteinceo, e

    frequentemente so identificados macrfagos e mucinfagos em meio a um material mucoso

    (GEORGE et al., 2000; IDE et al., 2002; GUIMARAES et al., 2006).

    As leses de mucoceles orais podem ser de dois tipos. Os Cistos de Reteno de

    muco, pouco frequente, so caracterizados pela presena de um revestimento epitelial ductal

    envolvendo o material mucoso, ou como Mucoceles de Extravasamento que consiste no

    tipo de mucocele mais frequente, caracterizada por no possurem tal revestimento epitelial,

    sendo o muco envolvido apenas por uma parede de tecido de granulao como descrito

    anteriormente (SHAH et al., 2003; YOSHINORI et al., 2003; HAROLD; BAURMASH,

    2003).

    Em situaes patolgicas, para que ocorra o remodelamento tecidual, se faz necessrio

    o surgimento de novos vasos sanguneos que fornecem oxignio e nutrientes para clulas

  • 16

    metabolicamente ativas, alm de contriburem na continuao do recrutamento de clulas e

    mediadores inflamatrios para o ambiente lesado (TONNESEN et al., 2000; OLSSON et al.,

    2011). Este processo conhecido como angiognese e comumente estudado atravs de

    tcnicas imuno-histoqumicas utilizando marcadores para clulas endoteliais tais como o

    CD34, a fim de caracterizar a microdensidade vascular, inclusive em leses de mucoceles

    orais (SWELAN et al., 2005; VASCONCELOS et al., 2011).

    Os mastcitos so clulas localizadas prximo a vasos sanguneos e infiltrado de

    clulas inflamatrias, conhecidos por participarem da resposta a injria celular (ENOKSSON

    et al., 2011). No h relatos na literatura do envolvimento de mastcitos em mucoceles orais,

    no entanto, sabe-se que em ambientes inflamatrios, produzem fatores que induz alteraes

    vasculares, incluindo vasodilatao e aumento na permeabilidade microvascular, assim como

    promovem o recrutamento de clulas inflamatrias para o local da injria (METCALFE et al.,

    1997; ENOKSSON et al., 2011; ). Alm disso, secretam proteases, e tm sido associados com

    fibrose e respostas imunolgicas crnicas (METZ et al., 2007; TEFFERI et al., 2007).

    Os macrfagos, por sua vez, so as principais clulas da inflamao crnica

    destacando-se pelo seu papel na fagocitose e liberao de mediadores pr-inflamatrios tais

    como as metaloproteinases de matriz (ROBBINS et al., 2010). Ao serem recrutados podem

    interferir nos diferentes estgios da inflamao, modulando a funo de variados tipos

    celulares envolvidos neste processo (FILHO, 2010). Em mucoceles orais, representam um

    elemento celular fundamental para fagocitose de muco (NICO et al., 2008; FREDERIC et al.,

    2008; CHI et al., 2010).

    As metaloproteinases de matriz so importantes proteases que participam dos

    processos de remodelamento tecidual e angiognicos. Estas proteases so classificadas de

    acordo com a sua estrutura e especificidade pelo substrato, e coletivamente possuem a

    capacidade de degradar todos os componentes da matriz extracelular (KRECICKI et al.,

    2003). A metaloproteinase de matriz -1 (MMP-1), ou colagenase, degrada colgenos

    fibrilares, enquanto a metaloproteinase de matriz -9 degrada colgeno no fibrilar, e

    juntamente com outras metaloprotenases de matriz fornecem condies para a migrao e

    proliferao dos novos vasos sanguneos contribuindo para o desenvolvimento dos processos

    angiognicos (STEVENSON et al., 1999; PARKS et al., 2004; JOBIM et al., 2008). Assim, o

    remodelamento tecidual e desenvolvimento dos mucoceles orais pode estar relacionado ao

  • 17

    efeito sinrgico das metaloproteinases de matriz nestas leses (HOQUE et al., 1998; PESCE

    et al., 2003; SWELLAN et al. 2005).

    Vasos sanguneos CD34 positivos, macrfagos (SWELLAN et al. 2005) componentes

    da matriz extracelular como a MMP-1 e MMP-9 (HOQUE et al., 1998; PESCE et al., 2003)

    pouco tem sido caracterizados em mucoceles orais. Em adio ao nosso conhecimento no h

    referncia da distribuio de clulas mastocitrias nem to pouco o estudo simultneo de

    todos esses marcadores nessas leses. Portanto o objetivo desse estudo foi avaliar o perfil

    clnico-patolgico de leses de mucoceles de extravasamento oral, bem como a distribuio

    desses marcadores imuno-histoqumicos a fim de fornecer subsdios para o conhecimento do

    perfil biolgico e desenvolvimento dessas leses.

  • 18

    2 REVISO DE LITERATURA

    2.1 Mucocele

    2.1.1 Aspectos Gerais

    Mucoceles representam uma das leses mais comuns que afetam a mucosa oral da

    populao em geral (OLIVEIRA et al.,1993; ATA-ALI et al.,2010). Eles podem ser

    encontrados em outras partes do corpo, porm no com tanta freqncia como na boca

    (OLIVEIRA et al.,1993). Na cavidade oral, originam-se a partir de alteraes patolgicas em

    ductos de glndulas salivares menores (SHAH, 2003). Estas glndulas so encontradas em

    muitas partes da cavidade oral, exceto na gengiva, e so as principais responsveis pela

    produo de muco, juntamente com as glndulas sublinguais (NICO et al., 2008).

    Dois tipos de mucoceles so conhecidos: mucocele de reteno e mucocele de

    extravasamento (JINBU et al., 2003; SHAH, 2003). A mucocele de extravasamento consiste

    de muco extravasado no tecido conjuntivo, enquanto a mucocele de reteno ocorre como

    resultado do estreitamento da abertura do ducto, que dificulta a sada adequada da saliva

    produzida, com subsequente dilatao do ducto e tumefao (HAROLD; BAURMASH,

    2003). O termo rnula designa mucocele localizada no assoalho da boca (NICO et al.,

    2008).

    Mucoceles so provavelmente induzidos por trauma local, embora a maioria dos

    pacientes no se recordem de episdios de trauma quando questionados (NICO et al., 2008).

    Como o lbio inferior mais susceptvel a leso, e o local onde a doena encontrada com

    maior frequncia, essa localizao suporta a proposta da etiologia traumtica (SHAH, 2003;

    NICO et al., 2008). Em mucocele de extravasamento, o resultado de trauma mecnico em

    ductos excretrios de glndulas salivares causa a ruptura do ducto, com conseqente

    extravasamento de mucina no estroma do tecido conjuntivo adjacente (HAYASHIDA et al.,

    2010). O material extravasado resultante da secreo glandular primeiro envolvido por

    clulas inflamatrias, seguido por tecido de granulao reacionrio, o qual isola o muco,

    porm sem o envolvimento de revestimento epitelial (LI et al., 1997; GUIMARES et al.,

    2006). No entanto, apesar de no existir esse revestimento epitelial em torno do muco, ele

    torna-se bem encapsulado pelo tecido de granulao e por esse motivo categorizado como

    um falso cisto ou pseudocisto (GUIMARES et al., 2006; ATA-ALI et al.,2010).

  • 19

    2.1.2 Caractersticas Clinicopatolgicas

    Mucoceles orais, tipicamente, apresentam-se como uma tumefao da mucosa em

    forma de cpula, flutuante e mvel a palpao, devido ao seu contedo mucinoso, podendo

    apresentar variao no tamanho, de milmetros a centmetros (NEVILLE et al., 2009;

    GUIMARES et al., 2006). So como vesculas de superfcies lisas e indolor, que

    dependendo da profundidade, vo da cor azul at a cor da mucosa oral normal (CECCONI et

    al., 2010). Frequentemente ocorrem na mucosa labial inferior, podendo ser confundidos com

    outras doenas, incluindo herpes, e quando muito superficiais podem romper

    espontaneamente deixando a rea dolorosa (INOUE et al., 2005). Podem ser simples ou

    mltiplas, com durao de dias a anos, no entanto, apesar dos pacientes considerarem a

    doena um inconveniente, raramente causam problemas significantes (BERMEJO et al., 1999;

    CECCONI et al., 2010).

    Histologicamente, consiste de um espao cstico, central, contendo muco extravasado

    e uma parede de tecido de granulao envolvido por um tecido conjuntivo denso com

    quantidades variveis de inflamao (ANASTASSOV et al., 2000; HAROLD; BAURMASH

    2003; NICO et al., 2008). O tecido conjuntivo denso pode ser confundido com epitlio de

    revestimento cstico (HAROLD; BAURMASH, 2003). No incomum encontrar tecido

    glandular salivar bem diferenciado em reas vizinhas (HAROLD; BAURMASH, 2003). Alm

    disso, muitas clulas tais como neutrfilos, linfcitos, macrfagos entre outras, so

    frequentemente identificadas (FREDERIC et al., 2008). A presena de edema, congesto

    vascular, e infiltrao de clulas inflamatrias tambm so observadas no tecido conjuntivo

    perifrico.

    Mucoceles podem apresentar variaes no componente histopatolgico; tais como: (1)

    mucoceles com alteraes tipo metaplasia sinovial, que exibem uma superfcie membranosa

    eosinoflica com uma zona linear subjacente a vrios tipos celulares (CHI et al., 2010); (2)

    mucoceles com mixoglobuloses, variantes incomuns observadas microscopicamente,

    caracterizadas como estruturas globulares intraluminais, sem um envoltrio epitelial e

    contendo um ncleo eosinoflico e amorfo (HORIE et al., 1993; SHAH, 2003); (3) e

    mucoceles superficiais, que so as vesculas mais superficiais, pequenas e translcidas, que

    logo estouram e que podem ser confundidas com lquen plano bolhoso, herpes simples ou

    penfigide benigno de mucosas (BERMEJO et al., 1999; INOUE et al., 2005).

  • 20

    O diagnstico de mucocele principalmente clnico, no entanto, a anamnese deve ser

    realizada coerentemente, visando coletar informaes sobre traumas prvios (ATA-ALI et al.,

    2010). O tratamento convencional comum a exciso cirrgica da leso, envolvendo o tecido

    glandular adjacente (ATA-ALI et al., 2010). Contudo, existem variaes em tcnicas que

    dependem, principalmente, do tamanho e localizao da leso (NICO et al., 2008). Algumas

    opes, especialmente para leses maiores incluem marsupializao, criocirurgia, ablao por

    laser e micromarsupializao (GUIMARES et al., 2006). Para os mucoceles superficiais e

    que se resolvem espontaneamente, no h necessidade de tratamento (ATA-ALI et al., 2010).

    Um resumo de sries de casos publicados na literatura inglesa esto descritos na

    tabela 1

  • 21

    Tabela 1. Dados de sries de casos de mucoceles da boca publicados na literatura inglesa

    Autor N de

    casos

    Predileo

    pelo sexo

    Proporo

    M:F

    Mdia de

    idade

    Maior

    tamanho

    % em lbio

    inferior

    Tratamento

    COHEN L,

    1965

    80 Masculino 1,5:1 - - 65% Exciso

    cirrgica

    CATOLDO et

    al., 1970

    594 No h

    predileo

    - - - 58.6% Exciso

    cirrgica

    SEIFERTG et

    al., 1981

    273 Masculino - - - 66% Exciso

    cirrgica

    OLIVEIRA et

    al., 1993

    112 No h

    predileo

    - - 2.0 cm 60% Exciso

    cirrgica

    SHAH et al.,

    2003

    76 - - - - 89% Exciso

    cirrgica

    NICO et al.,

    2008

    36 Feminino 3.6:1 - - 83.3% Exciso

    cirrgica

    CHEN et al.,

    2009

    955 Masculino 1.4:1 27.3 anos - 64.5% Exciso

    cirrgica

    GARCIA et

    al., 2009

    68 No houve

    predileo

    - 26 anos 3.0 cm 73.5% Exciso

    cirrgica

    GRANHOLM

    et al., 2009

    298 Masculino - - - 71% Exciso

    cirrgica

    MORAIS et

    al., 2009

    312 - - 15.3 anos - 73.7% Exciso

    cirrgica

    CECCONE et

    al., 2010

    158 No houve

    predileo

    - 31.9 anos - 53% Exciso

    cirrgica

    CHI et al.,

    2010

    1.824 No houve

    predileo

    - 24.9 anos 4.0 cm 81.9% Exciso

    cirrgica

    HAYASHIDA

    et al., 2010

    173 Feminino 1.5:1 17 anos - 78% Exciso

    cirrgica

    JANI et al.,

    2010

    36 Masculino 1.77:1 23.55

    anos

    2.0 cm 94.44% Exciso

    cirrgica

    MINGUEZ-

    MARTINEZ

    et al., 2010

    89 No h

    predileo

    - 6.1 anos 2.0cm 79.8% Exciso

    cirrgica

    SYEBELE et

    al., 2010

    50 Feminino 2.6:1 - - - Exciso

    cirrgica

    OHTA et al.,

    2011

    20 Masculino 1.5:1 30.8 anos 1.2 cm - Injeo com

    OK-432

    WU et al.,

    2011

    64 No h

    predileo

    - - 89% Exciso

    cirrgica

    M:Masculino

    F: Feminino

    - : No h informao no artigo

  • 22

    2.2 Angiognese

    Angiognese definida como o crescimento de novos vasos sanguneos a partir de

    vasos pr-existentes. Em adultos considerada uma das mais importantes reaes estromais

    (SWELAM et al., 2005), fundamental para uma srie de eventos fisiolgicos e patolgicos,

    tais como, ciclo reprodutivo feminino, inflamao, reparo tecidual, crescimento, invaso e

    metstase de tumor (VEIKKOLA et al., 1999; VASCONCELOS et al., 2011 ). Os novos vasos

    sanguneos dilatam-se e proliferam-se para fornecer nutrientes para clulas imunolgicas,

    metabolicamente ativas, bem como facilitam sua locomoo em direo aos tecidos

    cronicamente inflamados (McDONALD et al.,2001; KUMAR et al., 2009).

    A angiognese representa um processo complexo em que vrios fatores tem papeis

    importantes. Um dos estgios iniciais o brotamento vascular, que depende de condies

    ambientais tais como: hipxia, fatores angiognicos, secreo de proteases, e migrao de

    clulas endotelais em uma taxa adequada para garantir o crescimento para fora do vaso, em

    direo a matriz extracelular (DEMIR et al., 2010). Alm disso, tal processo requer digesto

    da membrana basal e protenas da matriz extracelular, por metaloproteinases de matriz

    (MMPs), para facilitar a migrao de clulas endoteliais (BAUER et al., 2005). Os novos

    vasos sanguneos suportam o recrutamento de nutrientes e clulas inflamatrias para o tecido

    em reparo, e facilitam a remoo de debris celulares (KUMAR et al., 2009).

    A angiognese ocorre por meio de uma coordenada sinalizao, que contribui para a

    proliferao, migrao, e recrutamento de clulas endoteliais e de clulas progenitoras

    endoteliais (EPCs) (BREEN et al.,2007). O Fator de crescimento endotelial vascular (VEGF)

    um importante mediador da sinalizao durante angiognese (KUMAR et al.,2009; ZHANG

    et al., 2011). Tal citocina expressa por fibroblastos, macrfagos e clulas endoteliais

    (KUMAR et al., 2009). Seu efeito mediado por dois receptores tirosino quimase, VEGF-R1

    e VEGF-R2, que so expressos em clulas endoteliais (KUMAR et al., 2009).

    A angiogenese deve ser distinguida de outros termos que, embora relacionados com a

    formao e crescimento de vasos sanguneos, possuem diferentes significados, tais como

    vasculognese, arteriognese e crescimento colateral de vasos (PAERNOSTRO et al., 2010).

    A angiognese patolgica muitas vezes associada com rede de capilares caracterizadas por

    vasos tortuosos, mal formados, altamente permeveis e instveis. provavel que estes efeitos

    sejam importantes para uma resposta inflamatria temporria, ou reparadora, como uma

  • 23

    forma de montar uma resposta, imune inata (BREEN et al., 2007).

    Angiognese pode ser mensurada por microscopia de luz, atravs da quantificao dos

    vasos sanguneos, onde eles esto em maior densidade. Sua presena pode ser evidenciada

    utilizando anticorpos com afinidade por eptopos especficos para clula endotelial

    (SWELAM et al., 2005). O CD34, por exemplo, uma glicoprotena transmenbrana de 105-

    120 KDa, que demonstra ter alta especificidade para clulas endoteliais de vasos sanguneos e

    para precursores de clulas endoteliais hematopoiticas (VASCONCELOS et al., 2011), e so

    utilizados em uma diversidade de trabalhos cientficos para a contagem de vasos sanguneos

    em ambientes inflamatrios.

    2.3 Mastcitos

    2.3.1 Caractersticas Gerais

    Os mastcitos so as nicas clulas hematopoiticas granulocticas que residem

    normalmente em todos os tecidos vascularizados e so considerados os principais sensores de

    sinais de perigo endgeno nos tecidos (BOYCE, 2003; ENOKSSON et al., 2011). So

    facilmente reconhecidos por microscopia de luz, devido a alta capacidade de seus grnulos

    metacromticos reagirem com azul de toluidina. Esses grnulos representam as principais

    organelas celulares funcionais, cujo contedo secretado para o exterior da clula aps a sua

    ativao (RIBATTI et al.,1999; CRIVELLATO et al., 2010).

    Os precursores de mastcitos entram na circulao e antes que eles possam ser

    identificados morfologicamente, migram para os tecidos perifricos, onde expressam seu

    fentipo final sobre a influncia de SCF, do ingls stem cell factor, e outras citocinas

    produzidas localmente (METCALFE et al., 1997). Os mastcitos de diferentes tecidos tm

    caractersticas prprias destes tecidos que se definem por diferenas na sua secreo e nos

    seus receptores, assim, os mastcitos da mucosa intestinal diferem daqueles da pele ou do

    interstcio pulmonar e assim por diante (METCALFE et al., 1997).

    So vistas como clulas-sentinela que devem ser pr-posicionadas nos tecidos, de

    forma que contribua para uma resposta rpida (ENOKSSON et al., 2011). So particularmente

    encontrados em associao com estruturas de tecido conjuntivo tais como vasos sanguneos,

    vasos linfticos e nervos, e em proximidade a superfcie que so a interface entre ambientes

    diferentes, tais como a pele, trato gastrointestinal e respiratrio (METCALFE et al., 1997).

  • 24

    Esta localizao contribui para a otimizao da interao com o meio, possibilitando seu

    encontro com organismos invasores para orquestrar uma resposta inflamatria em defesa do

    hospedeiro (CRIVELLATO, 2002; MEKORY et al., 2004).

    Em humanos dois grupos anlogos de mastcitos so descritos e divididos em

    subclasses, baseado na diferena do contedo de protease em seus grnulos; em mastcitos do

    tecido conjuntivo (MTC); mastcitos da mucosa (MC) (RAO & BROWN, 2008; DELAVARY

    et al., 2011; DIACONU et al., 2011). Mastcitos de mucosa so menores, possuem uma

    menor mobilidade, tem menos grnulos, menos histamina, e menor tempo de vida que os do

    tecido conjuntivo (MAJNO et al., 2004). Alm disso, os mastcitos do tecido conjuntivo

    possuem triptase e quimase, enquanto os mastcitos da mucosa possuem apenas triptase

    (RAO & BROWN, 2008).

    Estas clulas possuem capacidade para liberar mediadores quimiotticos e pr-

    inflamatrios na interao com microrganismos, parasitas e protenas virais, dando-lhes um

    significativo papel na resposta imune imediata, contra elementos ofensores (MEKORY et al.,

    2004).

    2.3.2 Mastcitos na angiognese

    Os mastcitos se acumulam adjacentes a locais de angiognese e no reparo tecidual

    (KAMPF et al., 2006). Essas clulas podem produzir muitos tipos de mediadores qumicos

    com propriedades angiognicas que regulam a proliferao e funo de clulas endoteliais.

    Aps serem ativados atravs de seus receptores FceRI e c-Kit, os mastcitos liberam fator de

    crescimento endotelial vascular (VEGF) e fator de crescimento fibroblstico (FGF),

    conhecidos por promover angiognese em fases iniciais da inflamao (RIBATTI et al.,1999;

    KAVITHA, 2008; IM et al., 2010). Alm disso, os mastcitos armazenam grandes

    quantidades de serino proteases pr-formadas, tais como triptase e quimase, em seus grnulos

    (METCALFE et al., 1997). Ambas estimulam a proliferao de clulas endoteliais, promovem

    a formao de estruturas vasculares e degradam o tecido conjuntivo da matriz para fornecer

    espao para o crescimento do novo vaso (RODERO et al., 2010).

    Histamina de mastcitos estimula a formao de novos vasos sanguneos atravs de

    seus receptores H1 e H2 (SRBO et al., 1994) . Mastcitos tambm podem conter MMPs

    pr-formadas, tais como MMP-2, -9 e inibidores de metaloproteinases (TIMPs), que

    contribuem para a modulao da degradao da matriz extracelular. Alm disso, estas clulas,

  • 25

    juntamente com seus mediadores, tambm podem contribuir para a fibrose estimulando a

    produo de colgeno atravs da ativao e proliferao de fibroblastos (JENNIFER et al.,

    1997).

    2.4 Macrfago

    2.4.1 Caractersticas Gerais

    Os macrfagos so clulas derivadas de moncitos que se originam de clulas

    progenitoras mielides da medula ssea (STAPLES et al., 2011). Aps maturao, os

    moncitos so liberados na circulao sangunea e entram nos tecidos, onde diferenciarem-se

    em macrfagos residentes (ROSS et al., 2002). Estes, por sua vez, tornam-se clulas

    especializadas, como as clulas de Kupffer, em sinusides do fgado, os macrfagos

    alveolares do pulmo, as clulas do sistema nervoso, e osteoclastos dos ossos (LIMA, 2006;

    SHARMA et al., 2010). A heterogeneidade de fentipos de macrfagos dependente dos

    estmulos locais do microambiente em que as clulas foram diferenciadas (GORDON, 2003;

    MOUSSER et al., 2008).

    Os macrfagos associados ferida tm um papel central no controle da inflamao.

    Aps leso, quimiocinas so liberadas no local injuriado, produzidas por plaquetas, clulas

    endoteliais, produtos de patgenos degradados e clulas lesadas (ROBBINS, 2005). Ao serem

    recrutados, os macrfagos podem interferir nos diferentes estgios da cicatrizao, modulando

    a funo de variados tipos celulares envolvidos neste processo (FILHO, 2010).

    Nas fases iniciais, aps injria, os macrfagos (M1), tambm conhecidos como

    macrfagos ativados classicamente, so mais importantes para os processos de fagocitose

    (DELAVARY et al., 2006; RODERO et al., 2010). Os macrfagos M1 so ativados por

    agentes microbicidas e citocinas como Interferon gama (IFN-) e Fator de necrose tumoral

    (EDWARDS et al., 2006). Alm disso, estas clulas produzem importantes quantidades de

    xido ntrico (NO) e secretam uma srie de citocinas inflamatrias.

    Por outro lado, nas fases em que a formao do novo tecido mais pronunciada, o

    macrfago M2 mais proeminente (DELAVARY et al., 2011). Macrfagos M2 so

    populaes muito mais heterogneas, compostas por todos os macrfagos que no

    correspondem as caractersticas dos macrfagos M1(RODERO et al., 2010). Eles podem ser

    divididos em trs subpopulaes (RODERO et al., 2010). O macrfago M2a, macrfago

  • 26

    ativado alternativamente, promove inflamao do tipo Th2 resultando no aumento de IgE

    como observada em alergias e imunidade parasitria; os macrfagos M2b tambm promovem

    inflamao tipo Th2 e possuem algumas propriedades de imunoregulao; e os macrfagos

    desativadores, ou M2c capazes de controlar a inflamao e o remodelamento de tecido

    (MOUSSER et al., 2008; RODERO et al., 2010).

    2.4.2 Macrfagos na Angiognese

    Macrfagos so o centro da iniciao e propagao da inflamao. Eles introduzem

    mediadores citotxicos em locais de injria, secretam mltiplas citocinas que direcionam o

    recrutamento e maturao de outros tipos celulares, fagocitam bactrias e debris celulares, e

    induzem a apoptose em clulas senescentes (SMITH et al., 2006). Durante a angiognese, o

    crescimento de novos vasos sanguneos, processo caracterizado pela migrao, proliferao,

    sobrevivncia, atividade proteoltica e formao de estruturas tipo tubo, os macrfagos

    ativados secretam uma variedade de fatores pr-angiognicos tais como VEGF e MMPs

    (NAM et al., 2010).

    A transmigrao de moncitos para o sub-endotlio est fortemente associada com a

    presena de MMPs (JOGHETAEI et al., 2010). Os macrfagos recentemente recrutados

    migram atravs da parede dos vasos sanguneos e liberam enzimas que fragmentam protenas

    da matriz extracelular, o que cria espao para moncitos migrarem para o leito da ferida

    (DELAVARY et al.,2011). Segundo Anghelina et al. (2006), clulas circulantes derivadas da

    medula ssea so cada vez mais reconhecidas com potenciais contribuidoras para a

    vasculognese em adultos e reparo tecidual. Aps trauma e injria, os nveis TNF- e IFN-,

    so elevados nos tecidos lesados e os macrfagos tornam-se existentes e sensibilizados em

    contato com estas molculas (RIFKIN, 2005).

  • 27

    2.5 A Matriz Extracelular na Formao do Tecido de Granulao

    Os tecidos no so constitudos somente por clulas. Uma grande parte de seu volume

    o espao extracelular, o qual preenchido por uma rede complexa de macromolculas que

    formam a matriz extracelular (MEC) (ALBERTS et al., 2010). A MEC consiste de protenas

    fibrosas (colgeno e elastina), proteoglicanas e glicoprotenas (fibronectina e laminina),

    organizados como macromolculas, e contendo subunidades e diferentes regies que

    interagem entre si e com domnios extracelulares de receptores de superfcie celular

    (ALBERTS et al., 2010; HARAWAY, 2010). As protenas matricelulares, tais como tenascina,

    trombospondina, protenas cidas ricas em cistena (SPARC), tambm compem a MEC

    modulando interaes clula-matriz, e ajudam na regulao da resposta inflamatria e de

    certos fatores de crescimento (HARAWAY, 2010). As integrinas so os principais receptores

    de superfcie celular, de molculas da matriz extracelular, que contribuem para adeso das

    clulas na maioria dos tecidos (KALOGLU et al., 2010).

    A matriz extracelular atende muitas funes alm de suas funes estruturais e de

    proteo, incluindo suporte fsico, resistncia a trao, pontos de ligao para receptores de

    superfcie celular, e como um reservatrio para fatores de sinalizao que modulam diversos

    processos, tais como angiognese, vasculognese, resposta inflamatria, migrao,

    proliferao e orientao celular (McCAWLEY et al., 2001; BADYLAK, 2002). Por exemplo,

    durante a angiognese, as interaes das clulas com a MEC, influenciam clulas endoteliais,

    ativando-as, e contribuindo para o recrutamento das clulas progenitoras endoteliais

    (BAUER, 2005).

    A MEC pode ser remodelada por muitos processos, incluindo sntese, contrao e

    degradao proteoltica (LARSEN et al., 2006). O remodelamento est envolvido no

    desenvolvimento, fibrose e reparo tecidual (LARSEN et al., 2006). Juntamente com a

    deposio da matriz extracelular, a degradao da matriz ocorre naturalmente durante o

    remodelamento tecidual, por ao das metaloproteinases de matriz, cruciais na angiognese,

    digerindo a membrana basal e protenas da matriz MEC (MIDWOOD et al., 2004; BAUER,

    2005; RODRGUES et al., 2010). Os fragmentos peptdicos resultantes, presentes no

    ambiente lesado, tambm atuam regulando o reparo tecidual (MIDWOOD et al., 2004).

    Durante o remodelamento, a matriz substituda pelo tecido de granulao, composto por

    fibroblastos, vasos sanguneos neoformados e macrfagos, suportados por uma matriz frouxa

    de fibronectina, cido hialurnico e colgeno (FIGUEIRA et al. 2010).

  • 28

    2.6 Metaloproteinases de Matriz

    Uma srie de proteases tem sido implicadas na degradao proteoltica da MEC,

    incluindo metaloproteinases de matriz, ativadores de plasminognio, e serino proteases, sendo

    as MMPs as mais proeminentes (JIN et al., 2010). As metaloproteinases de matriz so

    endopeptidases neutras, da famlia das proteases dependente de zinco, altamente conservadas,

    e coletivamente capazes de degradar todos os componentes da MEC (KRECICKI et al.,2003;

    JOBIM et al., 2008). As MMPs diferem entre si estruturalmente e pela sua capacidade em

    degradar um grupo particular de protenas da matriz extracelular (KERKELA et al., 2003).

    So classificadas de acordo com sua funo e caractersticas estruturais em (1) colagenases

    (MMP-1, -8, -13), que degradam colgenos fibrilares nativos; (2) gelatinases (MMP-2, -9),

    que degradam colgenos no fibrilares, elastinas, proteoglicanas, fibronectina, entre outras

    MEC; (3) estromelisinas (MMP- 3, -10, -11), que degradam laminina, elastina, fibronectina e

    proteoglicanos; (4) matrilisinas (MMP- 7, -26), que degradam componentes da membrana

    basal, entre outros proteoglicanos (KERKELA et al., 2003; RIBEIRO et al., 2008; MENEZES

    et al., 2009; MURPHY et al., 2010).

    Todas so sintetizadas como pr-enzimas e secretadas de forma inativa na maioria dos

    casos (NAGASE et al., 1999). So ativadas por proteinases e por agentes no proteolticos,

    compostos de mercrio, espcies reativas de oxignio e desnaturantes (NAGASE et al., 1999).

    Suas atividades biolgicas podem ser reguladas ps-transcricionalmente e por interao, nos

    tecidos, com inibidores especficos de metaloproteinases (TIMPs) (LEONARDI et al., 2010).

    As MMPs so tradicionalmente consideradas como as maiores facilitadoras da migrao

    celular atravs da quebra das barreiras da MEC (RODRGUEZ et al., 2010). Expresso

    alterada e erros na atividade de MMPs in vivo tm sido associados com o desenvolvimento de

    diversas patologias, incluindo doenas inflamatrias crnicas (RODRGUEZ et al.,2010).

    Alm disso, as MMPs tm papis importantes nos processos fisiolgicos, como

    embriognese, remodelamento de tecido normal e cicatrizao de feridas (JOBIM et al.,

    2008).

    A protelise da membrana basal e da matriz extracelular pr-requisito para a

    formao de novos vasos (JOBIM et al., 2008). A destruio tecidual que ocorre em doenas

    so mediadas por membros da famlia de MMPs (CAWLEY et al., 2001). As MMPs-1 so

    proteinases de mamferos que pertencem a famlia das colagenases (KRECICKI et al.,2003).

    Elas so consideradas como as mais potentes MMPs com atividade fibrinoltica, que

  • 29

    desencadeia a expresso de MMP-2 por fibroblastos, e MMP-9 por macrfagos, sendo elas

    tambm produzidas por macrfagos (PESCE et al.,2003). Embora ocorra regulao

    transcricional de MMP-1, modificaes ps-transcricionais, tais como ativao de precursores

    latentes pr-formados, ou formas ativas liberadas por leuccitos pode ser a chave da regulao

    e sntese destas proteases (SAITO et al., 2001).

    A MMP-9, ou gelatinase B, so MMPs pertencentes ao grupo das gelatinases. Elas

    contribuem com os processos de invaso celular, atravs da clivagem de protenas da

    membrana basal, digerindo o colgeno desnaturado e colgeno tipo IV (VISE et al., 2003;

    JOBIM et al., 2008; BARROS, 2011). Alm disso, MMP-9 liberadas por clulas imunes

    infiltradas so necessrias para permitir a interao de VEGF com seus receptores nas clulas

    endoteliais (EZHILARASAN et al., 2009).

    2.7 Colgeno

    Colgeno, em todas as suas formas, representa a protena mais abundante nos animais

    (EXPOSITO et al., 2010). uma famlia de protenas da matriz extracelular, sintetizada por

    fibroblastos e clulas afins, que desempenha um papel dominante mantendo a estrutura de

    vrios tecidos entre outras funes importantes (MYLLYHARJU et al., 2004). Os mais

    abundantes, e por isso os mais importantes so os tipos I, III e IV (NETO et al., 2009). O tipo

    II se limita ao tecido cartilaginoso, enquanto os demais so ubquos, mas aparecem em

    pequenas quantidades nos tecidos (NETO et al., 2009). Todas as molculas de colgeno so

    formadas por trs cadeias alfas que podem ser idnticas, ou no (EXPOSITO et al., 2010).

    O tipo I o principal colgeno fibrilar, por ser o mais comum. Ele proporciona

    resistncia a trao em tecidos tais como tendes e crnea (MAJNO et al., 2004). So

    predominantes em reas de tecido fibroso, e sua molcula contm duas cadeias alfas 1 e uma

    alfa 2 (NETO et al., 2009). O colgeno tipo III composto de fibrilas e suportam rgos

    distensveis tais como vasos sanguneos (MAJNO et al., 2004 ). Alm disso, so formados por

    trs cadeias idnticas (homodimricos), e predominantes no tecido conjuntivo frouxo

    (EXPOSITO et al., 2010). O colgeno tipo IV no fibrilar e um dos maiores constituintes da

    membrana basal (BALDO et al., 2010).

    Os colgenos esto envolvidos na adeso celular, quimiotaxia e migrao, e sua

    interao dinmica com as clulas, regulam o remodelamento tecidual durante crescimento,

    diferenciao, morfognese e cicatrizao de feridas em muitos estgios patolgicos

  • 30

    (MYLLYHARJU et al., 2004). Em quelides e cicatrizes hipertrficas, por exemplo, os

    colgenos so abundantes e arranjados em fibras de maneira irregular, ou em forma de

    ndulos, associados a vasos sanguneos recentemente formados e infiltrado de clulas

    mononucleares (SHARKER, 2010). Maior densidade de colgeno e vasos sanguneos so

    caractersticos de tecido de granulao (SAMPAIO et al., 2009).

    A montagem do colgeno aps dano ocorre como um processo de muitas etapas

    (MORIYE et al., 2011). As fibras de colgeno jovens so mais hidratadas e menos

    perfeitamente alinhadas que as fibras maduras. Durante a angiognese, a formao do tubo

    capilar modulada por uma variedade de componentes da MEC, incluindo colgeno, que

    quando adicionado em superfcies que revestem as monocamadas de clulas endotelias,

    contribuem para a proliferao e migrao de clulas endoteliais (SAMPAIO et al., 2009). No

    tecido de granulao, o tecido conjuntivo frouxo rico em capilares sanguneos, leuccitos,

    MEC, formada principalmente por fibras colgenas finas (colgeno III), cido hialurnico, e

    moderada quantidade de proteoglicanos. Com o passar do tempo, a quantidade de colgeno

    aumenta, e suas fibras passam a predominar na matriz extracelular, o colgeno tipo I, tendo

    fibras mais grossas e compactas, adquire predominncia em relao ao colgeno tipo III

    (SIRIMARCO, 2001; ROBBINS, 2005).

  • 31

    3 PROPOSIO

    O presente estudo visa a estudar aspectos clnico-patolgicos de mucoceles da

    cavidade oral, bem como a presena de microdensidade vascular (CD34), mastcitos,

    macrfagos, e protenas da matriz extracelular (MMP-1, MMP-9, colgeno), por meio de

    mtodos histoqumicos e imuno-histoqumicos, na tentativa de contribuir para o

    conhecimento do perfil biolgico e desenvolvimento destas leses.

    3.1 OBJETIVOS ESPECFICOS

    Identificar dados referentes a idade, sexo, cor, consistncia, tamanho, forma clnica,

    trauma, impresso clnica, diagnstico histopatolgico, bem como os aspectos

    morfolgicos das leses de mucocele da boca;

    Identificar a presena de microdensidade vascular (CD34), mastcitos, macrfagos, e

    protenas da matriz extracelular (MMP-1, MMP-9 e colgeno) nas leses de mucocele

    da boca;

    Verificar possvel associao/correlao entre os diferentes marcadores imuno-

    histoqumicos e dados clnicos coletados.

  • 32

    4 MATERIAL E MTODOS

    4.1 Aspectos ticos da Pesquisa

    O projeto foi enviado ao comit de tica em Pesquisa da Faculdade de Odontologia da

    UFBA cujo certificado consta em anexo.

    4.2 Caracterizao do Estudo

    O presente trabalho refere-se a um estudo tipo corte transversal e retrospectivo.

    4.3 Populao e Amostra

    A populao deste estudo foi constituda de todos os casos de leses de boca

    registrados no Laboratrio de Patologia Cirrgica da FOUBA (2002 2010), sendo

    selecionados aqueles diagnosticados como mucoceles (de extravasamento ou de reteno).

    4.4 Seleo dos Casos

    No presente trabalho foram coletados 104 casos de mucoceles da boca. Aps reviso,

    100 casos foram enquadrados como mucoceles (de extravasamento). Destes, foram utilizados

    para o estudo imuno-histoqumico, apenas os espcimes que apresentavam quantidade de

    material biolgico adequadamente suficiente, sendo selecionados 32 casos para este fim.

    Todos os casos foram obtidos do arquivo do Servio de Anatomia Patolgica da Faculdade de

    Odontologia da Universidade Federal da Bahia (FOUFBA) registrados no perodo de 2002 a

    2010. Os casos foram selecionados e revisados, considerando-se os laudos

    anatomopatolgicos.

  • 33

    4.5 Anlise das Informaes Clnicas

    As fichas de requisio de bipsia de cada leso foram utilizadas como fonte original

    de informaes sobre os aspectos clnicos dos pacientes, tais como: sexo, idade, localizao,

    cor, tamanho da leso, consistncia, forma, impresso clnica e sugesto do agente etiolgico.

    4.6 Anlise Morfolgica

    Para esta anlise foram realizados cortes de 4m de espessura do material fixado em

    formol e emblocado em parafina. As lminas referentes a cada caso e coradas pela

    hematoxilina e eosina (H&E), foram submetidas a um novo exame histolgico sob

    microscopia de luz, onde procurou-se descrever os principais aspectos morfolgicos

    representativos de cada leso, bem como os graus de fibrose atravs da analise histoqumica

    para o picrosrius.

    4.7 Tcnica Imuno-histoquimica

    As amostras selecionadas, fixadas em formol a 10% e includas em parafina, foram

    submetidas a cortes de 3m de espessura. Os cortes foram ento estendidos em lminas de

    vidro, previamente tratadas e preparadas com adesivo base de Organosilano (3-

    aminopropiltrietoxi-silano). Posteriormente o material foi desparafinizado em dois banhos de

    xilol por quinze minutos cada. Em seguida foram re-hidratados em lcool absoluto duas vezes

    por cinco minutos cada, e lavadas em gua destilada.

    Para a imuno-marcao de vasos sanguneos, macrfagos e MMP-1 foi utilizado o

    Sistema EnVision TM

    (DAKO Corporation, Carpintaria, USA), enquanto para os mastcitos e

    MMP-9 utilizou-se o Histofine (Nichirei Biosciences Inc., Tokyo, Japan). As informaes

    referentes aos anticorpos primrios tais como, especificidade, clone, soluo recuperadora

    antignica, diluio e tempo de incubao esto descritas na Tabela 2.

    Aps o tratamento de recuperao antignica, os cortes foram resfriados temperatura

    ambiente, lavados duas vezes em gua destilada, secos com papel absorvente e demarcados

    com DAKO-pen. As lminas foram ento colocadas em uma cuba de vidro e mantidas em de

    soluo perxido de hidrognio 3% por 15 minutos, para o bloqueio da peroxidase endgena,

    em cmara escura.

  • 34

    Aps esta etapa foi realizada nova lavagem, com gua destilada, depois lavagem com

    tampo fosfato-salino (PBS), duas vezes por cinco minutos cada, para ento ser aplicado o

    anticorpo primrio, em soluo diluente de anticorpo (Dako Corporation, Carpinteria, CA,

    USA). Terminado o tempo correspondente para cada anticorpo, as lminas foram lavadas com

    gua destilada, e depois mantida em PBS, duas vezes por cinco minutos cada. Em seguida foi

    aplicado sobre o tecido o polmero amplificador por trinta minutos. Aps o perodo de

    incubao com os polmeros, as lminas foram novamente lavadas com PBS para ento ser

    feita a revelao. A revelao da reao foi feita com Diaminobenzidina (Dako Corporation,

    Carpinteria, CA, USA), em cmara escura durante cinco minutos, contra-coradas com

    Hematoxilina de Harris e lavadas com gua corrente. Por fim, os cortes foram desidratados

    duas vezes em solues de lcool absoluto, diafanizados em dois banhos de xilol, montados

    com blsamo e cobertas com lamnulas.

    Tabela 2. Especificidade, clone, tratamento para recuperao antignica, diluio e controle dos anticorpos

    primrios utilizados no estudo imuno-histoqumico.

    Especificidade Clone Recuperao Diluio Tempo de

    incubao

    Fabricante

    CD34

    QBend-10

    Citrato pH 6.4 a

    97C

    1:100

    60 min

    DAKO

    Mastcito AA1 Tripsina 1% a

    37C

    1:50 60 min NOVO

    CASTRA

    Macrfago KP1 Citrato pH 6.4 a

    97C

    1:100 60 min DAKO

    MMP-1 Policlonal Citrato pH 6.4 a

    97C

    1:50 Overnight DBS

    MMP-9 Policlonal Sem recuperao 1:50 60 min DBS

    Como controle positivo foi utilizado placenta (para vasos sanguneos e MMP-1), mastocitose (para

    mastcitos e macrfagos), e carcinoma de mama (para MMP-9). O controle negativo consistiu na

    substituio do anticorpo primrio por soro no imune.

  • 35

    4.8 Exame da Imuno-expresso

    4.8.1 ndice Angiognico

    Para a contagem dos vasos foram considerados os critrios adaptados de Fontanini et

    al. (1997), Kyzas et al. (2004), e Tao et al. (2007), em que foram considerados como vasos

    qualquer clula ou aglomerado de clulas endoteliais, localizados adjacentes a estruturas

    vasculares e que estavam claramente separadas dos microvasos e marcadas pelo anticorpo

    anti-CD34, apresentando colorao marrom-acastanhada. Estruturas ramificadas foram

    contadas apenas como um vaso, a menos que existisse uma descontinuidade na estrutura. As

    cinco reas, do tecido de granulao, com grande nmero de microvasos marcados foram

    identificados e em seguida os vasos foram contados em campos de hot spots em 200x de

    ampliao. A densidade de microvasos foi expressa em porcentagem como a mdia do

    nmero de vasos pela rea (56mm). Em adio, quando a leso era multicstica,

    consideramos os campos de hot spots como antes descritos.

    4.8.2 Mastcitos e Macrfagos

    Para a contagem dos mastcitos e macrfagos foram considerados positivas aquelas

    clulas que exibiam colorao marrom-acastanhada no tecido de granulao das leses. A

    anlise dessas clulas marcadas foi realizada atravs de microscopia de luz com aumento de

    400x em at cinco campos mais representativos de cada espcime, sob um foco fixo com

    clareza de campo. A densidade das clulas foi expressa em porcentagem como a mdia do

    nmero de vasos pela rea de 56mm. Para esta anlise foram considerados os critrios

    adaptados de Sato et al.(2006).

    4.8.3 Componentes da Matriz Extracelular (MEC)

    A expresso dos componentes da matriz extracelular (MMP-1, MMP-9) foi avaliada

    adaptada a partir dos critrios de Santos et al. (2011). Cinco campos histolgicos com rea de

    56mm2

    foram selecionados no tecido de granulao das leses de mucoceles orais. A

    imunoexpresso das metaloproteinases de matriz MMP-1 e MMP-9 foi classificada em cada

    caso como 0 (quando no houve marcao), + ( 50% das clulas imunomarcadas).

  • 36

    4.8.4 Colgeno

    A avaliao da densidade de fibras de colgeno jovens (fibrose), depositadas no

    ambiente em decorrncia da leso, foi detectada atravs da histoqumica para picrosirius. As

    amostras foram minuciosamente analisadas em microscopia tica por um patologista

    experiente. A presena dos colgenos foi classificada em cada caso como 0 (fibrose ausente),

    1 (fibrose discreta), 2 (fibrose moderada) e 3(fibrose intensa).

    4.9 Anlise Estatstica

    Os clculos estatsticos foram realizados atravs do programa Minitab (Belo

    Horizonte, Minas Gerais, Brasil). A diferena entre os grupos foram realizadas atravs do

    teste no paramtrico de Kruskal- Wallis. Teste de correlao de Pearson tambm foi

    empregado. Um valor de P

  • 37

    5 RESULTADOS

    5.1 Aspectos Clnicos

    Aps reviso, um total de 100 casos de mucoceles orais, analisados no perodo de

    2002 a 2010, arquivados no Servio de Patologia Cirrgica FOUFBA, foram selecionados

    para serem includos na pesquisa. Em nossa srie, tivemos um total de 56 homens (56%) e 34

    mulheres (34%) acometidos pela leso (Figura 1), representando uma proporo de 1,64:1.

    Houve um pico de incidncia igualmente visto na segunda e terceira dcadas de vida (Figura

    1), representando mais de 50% dos casos. A idade variou de um ano a 57 anos (mdia = 23.2

    anos; DP12,24).

    A cor da leso foi varivel, a consistncia predominante elstica e encontrava-se sob a

    forma de um ndulo ou bolha, cujo diagnstico clnico consistia predominantemente de

    mucoceles (n=79, 79%) ou rnulas (n=10, 10%). De todos os casos, 16% (n= 16) eram

    mucoceles superficiais. Todos os casos foram tratados por exrese cirrgica.

    Figura 1 - Distribuio da faixa etria e sexo correspondente aos 100 casos de mucoceles

    diagnosticados no Servio de Patologia Cirrgica da UFBA no perodo de 2002 a 2010. Salvador-

    BA, 2012.

    Em 11 fichas de bipsias foi relatado histrico de trauma prvio, sendo 4 relacionados

    a mordida. O tamanho da leso variou de 0,4 a 3,0 cm (mdia= 1,1 cm; DP0,57) (Figura 2).

    De forma geral, as mucoceles apresentaram-se com consistncia firme ou mole a palpao.

    No havia informao referente cor da leso em 50% dos casos, contudo, algumas foram

    Faixa Etria

    N

    M

    E

    R

    O

    D

    E

    C

    A

    S

    O

    S

  • 38

    descritas como rsea, azulada ou esbranquiada. A maioria das leses localizavam-se no lbio

    inferior (Figura 3).

    Ilustraes dos aspectos clnicos e macroscpicos das leses de mucoceles podem ser vistos

    na Figura 4

    Figura 2- Distribuio do tamanho dos 100 casos de mucocele diagnosticados no Servio

    De Patologia Cirrgica da UFBA no perodo de 2002 a 2010. Salvador-BA, 2012.

    Figura 3. Distribuio da localizao dos 100 casos de mucocele diagnosticados no Servio de

    Patologia Cirrgica da UFBA no perodo de 2002 a 2010. Salvador-BA, 2012.

    Nmero de casos

    T

    a

    m

    a

    n

    h

    o

    NMERO DE CASOS

    L

    O

    C

    A

    L

    I

    Z

    A

    O

  • 39

    Figura 4 (no arquivo fotos)

    Figura 4

  • 40

    Um resumo dos dados clnicos esto descritos na tabela 3.

    Tabela 3. Resumo dos dados clnicos dos 100 casos de mucoceles diagnosticados no Servio de Patologia Cirrgica

    da UFBA no perodo de 2002 a 2010. Salvador-BA, 2012.

    Parmetros clnicos Total (n) %

    Cor

    Rsea 22 22

    Esbranquiada 14 14

    Cinza 01 01

    Avermelhada 03 03

    Transparente 03 03

    Azulada 08 08

    Parda 01 01

    Translucida 01 01

    Branco 01 01

    Ausncia de informao 46 40

    Consistncia

    Mole 34 34

    Firme 17 17

    Elstica 02 02

    Ausncia de informao 47 47

    Forma

    Ndulo 19 19

    Circular 02 02

    Bolha 21 021

    Ppula 02 02

    Ausncia de informao 54 54

    Trauma

    Sim 11 11

    Ausncia de informao 89 89

    Impresso Clnica

    Mucocele 79 79

    Fibroma 03 03

    Fibroma traumtico 01 01

    Fibroma/mucocele 01 01

    Cistoadenoma 01 01

    Rnula 10 10

    Ausncia de informao 05 05

    Diagnostico histopatolgico

    Mucocele 90 90

    Rnula 10 10

  • 41

    5.2 Aspectos Microscpicos

    De um modo geral, as leses de mucocele exibiam estruturao nodular e

    eventualmente polipide, revestidas por epitlio pavimentoso estratificado paraqueratinizado

    exibindo acantose sem atipias, ou com atipias reacionais, alm de atrofia especialmente na

    regio correspondente as leses superficiais. Em algumas leses era possvel observar faixa de

    lmina prpria separando a leso, enquanto em outros casos no, nem to pouco epitlio de

    superfcie. Ulcerao foi observada em somente um dos casos.

    As leses eram nicas (n=37; 37%) ou mltiplas (n=33; 33%) formadas por parede de

    tecido de granulao (n=92; 92%), de espessura delgada (n=11; 11%), espessa (n=25; 25%)

    ou varivel (n=51; 37%) circundada muitas vezes por faixa fibrosa aqui denominada de

    cpsula fibrosa. Eventualmente, essas cavidades eram colabadas e, por vezes no havia

    estruturao cstica (n=69; 69%), sendo o tecido de granulao disperso pela lmina prpria

    ou localizado mais superficialmente e/ou ao lado de material proteinceo ou amorfo ou ainda

    distendendo o material proteinceo ou fibras colgenas ou por entre hemcias extravasadas

    quando estas estavam presentes. Outras vezes, a leso mostrava estruturao cstica ao lado de

    tecido de granulao organizado de forma dispersa ou como estruturas nodulares.

    O tecido de granulao era composto por fibroblastos, neocapilares e leuccitos

    mononucleares (n=61, 61%) ou mistos (n=29; 29%), muitas vezes mostrando concentrao de

    macrfagos prximos ao lmen, eventualmente, ora sob a forma de clulas epiteliides ora

    sob a forma de clulas gigantes multinucleadas, configurando uma reao granulomatosa,

    neste ltimo caso. Por vezes, tambm, exibia projees pseudopapilares ou de tufos

    projetando-se em direo ao lmen parecendo despreender-se da parede cstica, ficando livres

    no lmen. Em alguns casos, foram observados histicitos epiteliides prximos a superfcie

    luminal, bem como epitlio ductal em ntimo contato com a parede de tecido de granulao,

    parecendo ser este ltimo formado a partir do rompimento do ducto.

    O lmen cstico quando presente era composto de um modo geral por material

    proteinceo (presente em 48% dos casos) em meio a numerosos mucinfagos (presente em

    45% dos casos). Por vezes eram vistos leuccitos polimorfonucleares de permeio e outras

    vezes grumos de material proteinceo ou material amorfo ou mucide. Em adio, um achado

    menos comum era a presena de esferuloses, tambm denominadas de mixoglobuloses (n=9;

  • 42

    9%). Em um caso, clulas gigantes multinucleadas inespecficas estavam presentes na

    superfcie luminal.

    Comumente, adjacente as leses de mucocele, lbulos compostos por cinos mucosos,

    ductos glandulares (n=81; 81%) ora ectsicos (n=66; 66%) ora metaplsicos (37; 37%)

    tambm eram vistos, assim como ductos glandulares metaplsicos exibindo projees

    papilferas. Inflamao crnica (n=19; 19%) em alguns casos permeava o tecido glandular

    adjacente.

    Naquelas leses, clinicamente, denominadas de rnulas, de um modo geral, o tecido de

    granulao era menos marcante que os mucoceles de lbio. Nas leses de rnula, comumente

    era vista uma parede fibrosa ou frouxa mais espessa, com focos hemorrgicos no interstcio, e,

    escasso material proteinceo no lmen. Mucinfagos raramente foram vistos. Adjacente,

    tecido glandular de aspectos usuais tambm foram evidentes.

    As ilustraes dos aspectos morfolgicos das leses de mucocele desse estudo podem

    ser vistas nas figuras 5, 6, e 7.

    Um resumo das caractersticas histopatolgicas est descrito na tabela 4.

  • 43

    Figura 5 (no arquivo fotos)

    Figura 5

  • 44

    Figura 6 (no arquivo fotos)

    Figura 6

  • 45

    Figura 7 ( no arquivo fotos)

    Figura 7

  • 46

    Tabela 4. Resumo das caractersticas histopatolgicas dos 100 casos de mucoceles diagnosticados no Servio de

    Patologia Cirrgica da UFBA no perodo de 2002 a 2010. Salvador-BA, 2012.

    Parmetros histopatolgicos Total (n) %

    Cavidade Cstica

    nica 37 37

    Mltiplas 33 33

    Ausente 30 30

    Material Proteinceo

    Presente 48 48

    Ausente 52 52

    Cpsula Fibrosa

    Presente 51 51

    Ausente 49 49

    Tecido de Granulao

    Delgado 11 11

    Espesso 25 25

    Varivel 51 51

    Ausente 13 13

    Leuccitos Predominantes

    Polimorfonucleares 5 5

    Mononucleares 61 61

    Mistos 29 29

    Ausente 5 5

    Mucinfagos

    Presente 45 45

    Ausente 55 55

    Mixoglobuloses

    Presente 9 9

    Ausente 91 91

    Ductos

    Ectsicos 66 66

    Metaplsico 37 37

    Ausente 19 19

  • 47

    5.3 Imunomarcao para o CD34

    Todos os espcimes encontravam-se imunomarcados com o anticorpo anti-CD34

    mostrando imunoexpresso desse antgeno no tecido de granulao das leses de

    mucocele em clulas endoteliais de vasos sanguneos com lmen conspcuo, e grupos de

    clulas endoteliais sem um lmen vascular distinto. Por vezes, a medida em que se

    aproximava do lmen, clulas CD34 positivas pareciam desaparecer. A anlise do ndice

    angiognico, por meio da MDV, demonstrou valores mdios que variaram de 10.6 a

    124.4 (mdia de 55 microvasos por mm2; DP0,36).

    Os achados imuno-histoqumicos em relao ao CD-34 pode ser visto na figura

    8

  • 48

    Figura 8 ( no arquivo fotos)

    Figura 8

  • 49

    5.4 Imunomarcao de Mastcitos e Macrfagos

    As clulas mastocitrias foram identificadas pela imunorreatividade ao anticorpo

    anti-triptase que revelou a existncia destas clulas em todos os espcimes submetidos a

    tcnica imuno-histoqumica. Os mastcitos apresentaram formato variado,

    predominantemente arredondados, presente no tecido de granulao da parede cstica,

    prximos a vasos sanguneos e, em especial, concentrados na faixa fibrosa

    correspondente a regio capsular existente em algumas leses. Um achado interessante

    era que medida que se aproximava do lmen, as clulas mastocitrias desapareciam,

    ou estavam reduzidas, e quando o tecido de granulao encontrava-se espalhado, raras

    clulas mastocitrias eram vistas. No entanto, por entre tecido glandular bem

    diferenciado, com ou sem inflamao, elas tambm estavam presentes. Aps a contagem

    das clulas nas leses selecionadas, foram constatados valores mdios que variaram de

    3 a 28.6 (mdia= 7.4; DP0,12).

    Os macrfagos CD68 positivos estavam presentes em todos casos. Eram

    representados por clulas arredondas, ou no, contendo no seu interior grnulos

    castanho-pardo, por vezes, grosseiros, os quais estavam presentes na parede de tecido de

    granulao, mas concentrados no lmen e na superfcie luminal. Em relao a contagem

    de clulas imunomarcadas, foram observados valores mdios de macrfagos que

    variaram de 28.8 a 135.6 (mdia= 88; DP0,52).

    Os achados imuno-histoquimicos em relao as clulas mastocitrias e aos

    macrfagos podem ser vistos na figura 9 e 10, respectivamente.

  • 50

    Figura 9 (no arquivo fotos)

    Figura 9

  • 51

    Figura 10 (no arquivo fotos)

    Figura 10

  • 52

    5.5 Imunomarcao das Metaloproteinases de Matriz (MMP-1 E MMP-9)

    As metaloproteinases de matriz (MMP-1 e MMP-9) apresentaram marcao

    imuno-histoqumica varivel em 32 casos, presente na matriz extracelular como

    estrutura em massa e granular, dispostas no tecido de granulao e especialmente na

    regio de faixa fibrosa capsular, quando presente. Fibroblastos e clulas inflamatrias

    tambm mostraram-se positivas a ambos os marcadores. No lmen, era possvel

    observar mucinfagos e macrfagos tambm positivos a estes marcadores. Na avaliao

    da expresso de MMP-1, a maioria dos casos foi classificada como escore + (n=17;

    53%), seguido do escore ++ (n=11; 34,37%) e +++ (n=3; 9,37%), apenas um caso

    demonstrou ausncia com escore 0 (n=1; 3,12%). Na avaliao do resultado imuno-

    histoqumico, especifico para a expresso de MMP-9, a maioria dos casos foi

    classificada como escore +++ (n=11; 32,4%) e ++ (n=11; 32,4%), com freqncias

    menores para os escores + (n=8; 25%) e 0 (n=2; 6,25%).

    Os achados imuno-histoqumicos em relao as metaloproteinases de matriz,

    MMP-1 e MMP-9, podem ser vistos nas figuras 11 e 12, respectivamente.

  • 53

    Figura 11 (no arquivo fotos)

    Figura 11

  • 54

    Figura 12 ( no arquivo fotos)

    Figura 12figura 12

  • 55

    5.6 Caracterizao Histoqumica do Colgeno

    Todos os espcimes foram submetidos a avaliao histoqumica para o

    Picrosirius. A anlise do colgeno no tecido de granulao das leses de mucocele de

    extravasamento oral demonstrou a presena de fibras colgenas em 77 casos. Por meio

    de microscopia de luz, foi analisada a disposio das fibras colgenas nas leses, que

    apresentaram nveis que variaram de ausente a intenso. Neste estudo, dos casos

    marcados, 35 (45,4%) apresentaram fibrose discreta, 28 (36,3%) fibrose moderada e 14

    (18,2 %) fibrose intensa. (Figura 4). Alm disso, tambm no obtivemos correlao do

    colgeno com o tamanho da leso nem idade do paciente.

    Os achados histoqumicos em relao ao colgeno podem ser vistos na figura 14.

    Figura 13- Avaliao dos nveis de fibrose dos 100 casos de mucocele diagnosticados no Servio de Patologia

    Cirrgica da UFBA no perodo de 2002 a 2010. Salvador-BA, 2012.

    0- Ausncia de fibrose

    1- Fibrose discreta

    2- Fibrose moderada

    3- Fibrose intensa

    Figura 14 Escores da fibrose dos casos de mucoceles orais. Salvador-BA, 2012.

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    35

    40

    0 1 2 3 __

    Nveis de fibrose

    0

    1

    2

    3

    __

  • 56

    Figura 14 ( no arquivo fotos)

    Figura 14

  • 57

    5.7 Resultados Estatsticos

    Um resumo da anlise estatstica encontra-se nas figuras 15, 16 e 17.

    No existiu associao estatisticamente significante do nmero mdio de

    microvasos com clulas mastocitrias (p=0,36, Kruskal Wallis), macrfagos (p=0,44,

    Kruskal Wallis), MMP-1 (p=0,11 Kruskal Wallis), MMP-9 (p=0,996, Kruskal Wallis) e

    colgeno (p=0,408, Kruskal Wallis). Da mesma forma, tambm no existiu associao

    estatisticamente significante entre o nmero mdio de mastcitos com MMP-9

    (p=0,237, Kruskal Wallis) e colgeno (p=0,559 Kruskal Wallis). No entanto, houve

    associao estatstica entre mastcitos e MMP1 (p=0,029 Kruskal Wallis).

    Foi observada associao estatstica entre macrfagos e MMP-1 (p=0,014,

    Kruskal Wallis). No entanto, no houve associao estatisticamente significante do

    nmero mdio de macrfagos com clulas mastocitrias (p=0,11, Kruskal Wallis),

    MMP-9 (p=0,152 Kruskal Wallis) e colgeno (p=0,112 Kruskal Wallis).

    No existiu associao entre colgeno e MMP1 (p=0,72, Kruskal Wallis) e

    colgeno e MMP-9 (p=0,41).

    MMP-1

    mastcitos/ reaCd68/ reaCd34 / rea

    0++++++0++++++0++++++

    2,5

    2,0

    1,5

    1,0

    0,5

    0,0

    Figura 15 - Box-plot da quantidade de clulas CD34, CD68 positivas e mastcitos em

    relao ao MMP-1. Salvador-BA, 2012.

  • 58

    MMP-9

    mastcitos/ reaCd68/ reaCd34 / rea

    0++++++0++++++0++++++

    2,5

    2,0

    1,5

    1,0

    0,5

    0,0

    Picrosirius

    mastcitos/ reaCd68/ reaCd34 / rea

    321321321

    2,5

    2,0

    1,5

    1,0

    0,5

    0,0

    Figura 17 - Box-plot da quantidade de clulas CD34, CD68 positivas e mastcitos

    em relao ao Picrossrius, Salvador- BA, 2012.

    Figura 16- Box-plot da quantidade de clulas CD34, CD68 positivas e mastcitos em

    relao ao MMP-9, Salvador-BA, 2012.

  • 59

    Ao confrontar a presena desses marcadores com dados clnicos como idade e

    tamanho da leso, no obtivemos correlao significante (P>0.05, teste de Pearson),

    nem to pouco correlao entre CD 34 e macrfagos (p= 0,394), macrfagos e

    mastcitos (p= 0,977), CD34 e mastcitos (p=0,448).

  • 60

    6 DISCUSSO

    Mucoceles representam uma das leses mais comuns que afetam a mucosa oral

    (OLIVEIRA et al., 1993; BERMEJO et al.,1999; ANDIRAN et al., 2001; PESCE et al.,

    2003; XU et al., 2003; INOUE et al., 2005; FREDERIC et al., 2008). Na literatura,

    verifica-se uma expressiva predileo da leso pelo lbio inferior (COHEN 1965;

    CATOLDO et al., 1970; SEIFERTG et al., 1981; OLIVEIRA et al. 1993;

    ANASTASSOV et al., 2000; GEORGE et al., 2000; JINBU et al., 2003; SHAH et al..

    2003; KOPP et al., 2004; FREDERIC et al., 2008; NICO et al., 2008; CHEN et al.,

    2009; GARCA et al., 2009; GARCIA et al., 2009; GRANHOLM et al., 2009; de

    CAMARGO et al., 2009; MORAES et al., 2009; CECCONE et al. 2010; CHI et al .,

    2010; HAYASHIDA et al., 2010; JANI et al., 2010; JANI et al., 2010; JANI et al., 2010;

    MINGUEZ- MARTINEZ et al., 2010; SYBELE et al., 2010; OTHA et al., 2011, WU et

    al. 2011). Nossa srie constou de 90% dos casos localizados no lbio inferior, sendo

    17% classificadas como mucoceles superficiais. As rnulas representaram 10% das

    leses de mucocele, porcentagem esta similar quela descrita por Martins Filho et al.

    (2011).

    muito difcil afirmar a real incidncia de mucocele oral, pois podem resolver-

    se espontaneamente, no apresentarem recidivas, alm de muitos casos no serem

    enviados para a realizao da bipsia, (SHEAR et al.,1983; OLIVEIRA et al., 1993;

    IDE et al., 2002; MORAES et al., 2009; de CAMARGO et al., 2009; HAYASHIDA et

    al., 2010). No entanto, sabe-se que so frequentemente diagnosticadas por patologistas

    orais (ESPINOZA et al., 2003, SWELAN et al.,2005). Em nosso servio, de todas as

    leses diagnosticadas at o presente, 16,4 % foram diagnosticadas como mucoceles.

    As leses de mucocele, geralmente, no possuem predileo por sexo

    (CATOLDO et al. 1970; OLIVEIRA et al., 1993; GARCA et al., 2009; CECCONI et

    al., 2010; CHI et al., 2010; JANI et al., 2010; MINGUEZ-MARTINEZ et al., 2010; WU

    et al., 2011). Nesta srie, os homens foram mais acometidos, em uma proporo de 1.6:

    1, corroborando com relatos prvios (SEIFERT et al.,1981; GRANHOLM et al. 2009;

    JANI et al., 2010; OHTA et al., 2011; CHEN et al., 2011. No entanto, alguns trabalhos

    mostraram um predileo pelo sexo feminino (NICO et al., 2008; HAYASHIDA et al.,

    2010; e SYEBELE et al., 2010).

  • 61

    No presente estudo foi evidenciado uma predileo para indivduos pertencentes,

    igualmente, a segunda e terceira dcadas de vida, em conformidade com os trabalhos de

    Hayashida et al (2010) e Sybele et al.( 2010). No entanto, alguns pesquisadores relatam

    uma maior incidncia em indivduos mais jovens, com idade inferior ou pertencentes

    segunda dcada de vida (OLIVEIRA et al., 1993; NICO et al., 2008; CHEN et al., 2009;

    GARCA et al., 2009; MINGUEZMARTINEZ et al., 2010; CHI et al.,2010;

    CECCONE et al., 2010). Todavia, alguns trabalhos encontraram uma maior incidncia

    em indivduos pertencentes terceira dcada de vida (CATOLDO et al., 1970;

    NTOMOUCHTSIS et al., 2010; JANI et al., 2010).

    Em geral, as leses de mucocele aqui estudadas, tinham forma de bolha ou

    ndulo, e consistncia firme ou mole a palpao. Mucoceles so descritas como uma

    tumefao, em forma de bolha, ou ndulo, com superfcie lisa, assintomticas, e

    colorao que pode variar entre rsea, azulada, translcida ou esbranquiada

    (BERMEJO et al., 1999; NICO et al., 2008; CAMPANA et al., 2005; INOUE et al.,

    2005; NICO et al., 2008; ATA-ALI et al., 2010). A cor azul resultado da cianose e

    congesto vascular associado ao carter translcido do tecido distendido (HAROLD;

    BAURMASH, 2003). Quando superficiais, so assintomticas e apresentam-se como

    pequenas vesculas, subepiteliais, translcidas, e sem quantidade significativa de

    inflamao (BERMEJO et al., 1999; SHAH et al., 2002; SHAH et al., 2002; HAROLD;

    BAURMASH, 2003; JINBU et al., 2003; INOUE et al., 2005; INOUE et al., 2005;

    GUIMARAES et al., 2006; CHI et al., 2010; XU et al., 2010; MINGUEZ-MARTINEZ

    et al., 2010). Alm disso, as mucoceles superficiais podem ser simples ou mltiplas

    (BERMEJO et al., 1999; CHI et al., 2010). Estes aspectos antes descritos so similares

    queles encontrados nesta srie de casos.

    As leses de mucoceles podem ser congnitas, ou originadas a partir do

    nascimento, em qualquer idade, contudo, apesar de ser frequente em pessoas jovens, so

    raras em crianas menores de um ano de idade (NICO et al., 2008; MORAES et al.,

    2009; MINGUEZ et al., 2010). Encontramos uma leso de mucocele em uma criana

    com 1.8 anos de idade.

    Histologicamente, nossos casos de mucocele preenchem os critrios

    morfolgicos descritos em relatos prvios (OLIVEIRA et al., 1993; SUGERMAN et al.,

    2000; PHILIP et al., 2000; IDE et al., 2002; CAMPANA et al., 2006; FREDERIC et

  • 62

    al.,2008; CHI et al., 2010; XU et al., 2010). As leses, de modo geral, mostravam-se

    como estruturas csticas nodulares ou no, formadas por parede de tecido de granulao,

    circundando muitas vezes lumens preenchidos por numerosos mucinfagos em meio a

    material proteinceo. Uma faixa de tecido conjuntivo fibroso e denso, circundando as

    leses com estruturao cstica tambm foi observada, aqui denominada de cpsula

    fibrosa, presente em 51% dos casos. Este ltimo aspecto foi observado tambm por

    outros autores (HORIE et al., 1993; LI et al.,1997; IDE et al., 2002; HAROLD;

    BAURSHMAN, 2003; FREDERIC et al.2008; de CAMARGO et al., 2009).

    Poucas leses no apresentaram estruturao cstica bem definida (OLIVEIRA et

    al.,1993, CHI et al., 2010). No entanto a parede cstica delimitando o muco, formada

    por tecido de granulao, uma morfologia tpica de mucoceles orais, frequentemente

    descrita como um processo reparativo, fibrovascular, em resposta ao muco acumulado

    no tecido conjuntivo, com quantidade variada de fibrose, fibroblastos, e infiltrado de

    clulas inflamatrias, tais como, neutrfilos, macrfagos, linfcitos e histicitos

    (HORIE et al., 1993; OLIVEIRA et al 1993; LI et al., 1997; GEORGE et al., 2000; IDE

    et al.,2002; JINBU et al., 2003; SHAH et al., 2003; MUSTAPHA et al.,2004; SWELAN

    et al., 2005; GUIMARES et al., 2006; FREDERIC et al., 2008; HENRY et al., 2008;

    NICO et al.2008, MORAES et al., 2009; CHI et al., 2010;). Estes elementos celulares e

    teciduais tambm foram observados em nosso estudo, alm de uma densa populao de

    vasos neoformados, embebidos dentro de uma matriz colagnica, que tambm contm

    fibronectina, e acido hialurnico, (STEVEN et al., 1999). A formao destes novos

    vasos sanguneos desempenha um importante papel na persistncia da cronicidade das

    leses, durante o remodelamento de doenas crnicas inflamatrias, pela proliferao de

    clulas endoteliais (RAVI et al., 1998; MC DONALD et al., 2001; TAO et al., 2007).

    Um outro aspecto interessante observado neste estudo consistiu da parede de

    tecido de granulao, por vezes, projetando-se em direo ao lmen, parecendo

    desprender-se da parede cstica. Esta projeo contribuiu para a sustentao da hiptese

    de Ide et al. (2002) e Chi et al. (2010), que a atribuem a origem de mixoglobuloses, ou

    esferuloses, dentro do lmen.. No entanto, Li et al. (1997) consideraram desconhecidos

    os fatores que levam a transformao de material mucoide nessas massas globulares. As

    mixoglobuloses ou esferuloses so estruturas globulares, pouco freqentes, nicas, sem

    revestimento epitelial, sem calcificao, e contendo material fibrilar eosinoflico, por

    vezes fagocitadas por macrfagos (HORIE et al., 1993; LI et al.,1997;SHAH et

  • 63

    al.,2003; HENRY et al., 2008). Estas estruturas globulares so raras em mucoceles orais

    (IDE et al., 2002; CHI et al., 2010) e, neste estudo, correspondeu a 9% dos casos.

    Tendo em vista a intensidade do trauma sobre o tecido glandular e cronicidade da leso,

    especulamos que a quantidade de material mucoide extravasado pode ser to grande que

    os macrfagos no conseguem fagocitar suficientemente o muco, e ento o tecido de

    granulao j formado inicialmente migra por ao quimiottica exercida pelos prprios

    macrfagos para auxiliar na fagocitose, de modo a formar tais estruturas.

    Existem algumas possveis explicaes para a pouca freqncia da identificao

    de mixoglobulose. Uma delas que macrfagos e outras clulas inflamatrias, dentro

    do lmen, possam facilmente mascarar as estruturas globulares e dificultar sua

    identificao (SHAH et al., 2003). Alm disso, a raridade de tal aspecto morfolgico

    pode estar relacionada com um anlise histolgica menos detalhada, devido a mucocele

    oral ser uma leso comum, e de fcil diagnstico. Em um trabalho recente que incluiu

    1.824 casos de mucoceles de extravasamento, apenas 0.4% dos casos apresentaram

    mixoglobuloses. Acreditamos que a primeira explicao para a freqncia de tal

    morfologia deve ser a mais adequada.

    Adicionalmente, uma caracterstica rara em mucoceles so as alteraes tipo

    metaplasia sinovial papilar, que consiste da substituio da tpica parede de tecido de

    granulao por uma membrana exibindo vilosidades, composta por uma fina camada

    superficial de matriz eosinoflica, sobrejacente, revestidas por histicitos, fibro-

    histicitos, e/ou clulas gigantes multinucleadas (CHI et al., 2010; CHI et al., 2010).

    Em concordncia com relatos prvios (LI et al., 1997; IDE et al., 2002; CHI et al.,

    2010), a alterao tipo metaplasia sinovial papilar rara e, como tal no foi encontrada

    em nossa amostra, embora em alguns casos a parede de tecido de granulao mostrasse

    histicitos epiteliides e clulas gigantes multinucleadas.

    Embora Harold e Baursman (2003) no considerem comum encontrar tecido

    glandu