universidade federal da bahia faculdade de educaÇÃo

33
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO HISTÓRICO E ATRIBUIÇÕES DO PEDAGOGO: Uma breve análise CAROLINA DE MELO CONTREIRAS ALVES Salvador 2011

Upload: others

Post on 13-Nov-2021

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

HISTÓRICO E ATRIBUIÇÕES DO PEDAGOGO:

Uma breve análise

CAROLINA DE MELO CONTREIRAS ALVES

Salvador

2011

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO

CAROLINA DE MELO CONTREIRAS ALVES

HISTÓRICO E ATRIBUIÇÕES DO PEDAGOGO:

uma breve análise

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciatura Plena em Pedagogia, na Faculdade de Educação, da Universidade Federal da Bahia – UFBA. Orientadora: Profª. Selma Barros Daltro de Castro

Salvador

2011

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO

CAROLINA DE MELO CONTREIRAS ALVES

HISTÓRICO E ATRIBUIÇÕES DO PEDAGOGO:

uma breve análise

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciatura Plena em Pedagogia, na Faculdade de Educação, da Universidade Federal da Bahia – UFBA, pela seguinte banca examinadora:

Selma Barros Daltro de Castro- Mestre em Educação pela UFBA. Professora da Universidade Estadual de Feira de Santana Luciene Souza dos Santos – Mestre em Educação pela UFBA. Professora da Universidade Estadual de Feira de Santana.

Cleverson Suzart Silva - Doutor em Educação - Universidade Federal da Bahia

Salvador – Ba, ___ de _________ 2011.

Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO

À Deus, Mainha, Maurício, Selma, Andréia e Aílla.

Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO

AGRADECIMENTOS

“Quem espera no Senhor se erguerá das cinzas...Quem espera no

Senhor sempre irá vencer”. Com parte da letra dessa linda música do

meu tio e as vezes pai Nadson Portugal, eu começo a agradecer a

Deus, pela misericórdia que dispensou a mim mesmo antes de eu

nascer, ao colocar em meu caminho pessoas que contribuíram para o

vôo que alço neste momento da minha vida.

Minha Mãe (Ameci), obrigada por ser minha mainha, meu

tesouro, meu exemplo, minha bússola.

Maurício, meu amado irmão, você é meu riso, minha alegria.

Sem você meus dias seriam cinza. Te amo!!!

A minha família, vó, primos e primas, tios e tias, todos vocês

foram grandes colaboradores, alguns até sem saber, mas só por serem

a “minha” família já me impulsionavam para corresponder bem aos

meus desafios. Alex, Clarissa e Liane. O apoio inicial nessa decisão, o

primeiro vestibular e a vibração em todas as vitórias. Tia Lene, Tia

Rita e Tia Léo, minhas segundas mães, muito obrigada.

As minhas Professoras Marta e Angélica, da Escola Janelinha do

Saber. Sem dúvida essas mulheres foram os primeiros exemplos de

Professoras que quero seguir para sempre.

Selena Rivas, um dia coloquei na cabeça que queria ser igual a

você..cresci e desistir de ser vc.(risos) Vou ser eu mesma, mas me

espelhando nesse grande exemplo de pedagoga, mãe, amiga e

conselheira que é você!!! Te amo! (espero um dia chegar pertinho disso

tudo).

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO

As minhas amigas, lindas... Aline e Vívian...Obrigada meninas,

por me lembrarem sempre que eu nasci para ser Pró! Amo vocês. (As

amigas, Érica e Vivi..sempre irmãs em tudo)

As minhas colegas de faculdade que sempre foram grandes

parceiras nesse processo de formação inicial na academia. (Laísa,

Mayana, Adriana, Carine, Luana..Meninas eu nunca vou me esquecer

das noites intermináveis de trabalhos em nossas casas)

Daniel Pinheiro, amigo e parceiro...Dan eu quero muuuuuuito

trabalhar com você! Obrigada pelos minutos de conversa no corredor

da FACED...é sempre uma força dialogar com um alguém tão

inteligente e alto astral. Deus te abençoe sempre!!!!

Regiane Bispo, amiga quero muito crescer com você

academicamente, te amo B! Você é muito especial, viu?! Sempre vou

guardar nossas saídas, estudos e os momentos happy na faculdade!!

Nina(como esquecer do transporte da tia NINA)!!! Amore, sua

dissertação passou e eu estava por perto! Sei como é bom ter pessoas

que nos amam nos apoiando. Obrigada por ser um grande exemplo

também!! Amo tu, moça!

Aílla, AMIGA!! Você é meu anjo acadêmico. Minha enciclopédia

na vida!!(risos) Com você do meu lado eu trabalho em QUALQUER

lugar!

A turma da Escola de Gestores, Andréia, Ivanna, Carol Castro,

Milenne...Meninas... MISSÃO DADA É MISSÃO CUMPRIDA! Rs

Obrigada pela força também!!

Não posso deixar de citar que foi um grande aprendizado o

estágio na CODESAL, Lisi, Gilberto, Rejane, Jhone, Carol, Nivea, Laís..e

tanta gente, de Tinho da limpeza a Sr Nelson do transporte..nesses

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO

anos aprendi a trabalhar numa instituição pública que serve ao povo.

Gente, saudades e um enorme abraço.

ANA LÚCIA PAIXÃO...você é minha eterna chefinha!!! Lembre-

se vou abrir uma empresa só para você ser minha chefe novamente!!

Eu te amo ANA, amo muito...Com você aprendi a amar mais meu

próximo seja ele quem for. Espero um dia poder trabalhar novamente

contigo. TE AMO MIL VEZESS! A chefe mais humana, mais justa, mais

linda e amorosa desse mundo!

Ao Colégio Adventista de Salvador, pela grande oportunidade de

aprender a lidar com esses minúsculos seres humanos sedentos do

aprender.

Ao meu amado Prof José Wellington, serei sempre grata por ter

me mostrado o primeiro degrau dessa longa escada que é a carreira

acadêmica.

Aos queridos Professores, Robinson Tenório, pelos aprendizados

no Grupo de Avaliação, Cleverson Suzart pela paciência de sempre e a

Maria Couto por ser a nossa mãezona acadêmica.

Ao amado amigo Marcos Epifânio pela ajuda, pela paciência e

pelos momentos de leveza nos momentos de conselho e pré orientação

acadêmica. Você é um anjo!

Roberte, o psicólogo do meu coração. Quem diria hein, uma

viagem Feira-Salvador se transformaria nessa amizade linda quem

nem a nossa!!! Obrigada por acreditar em mim e por me ajudar nessa

etapa final.

Daelcio, obrigada pelo carinho de sempre, e, por acompanhar

minha vida acadêmica sempre me cobrando produtividade. Você

mora em meu coração.

Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO

Dindo, obrigada por todo apoio e por acreditar em mim. Te amo

pessoa de coração lindo!!(vamos fazer muito pela educação ainda!!)

Á minha LINDA, MARAVILHOSA, COMPETENTE, AMAVEL

orientadora, Selma Daltro: Eu coloco você em minhas orações diárias,

para que Deus lhe cubra de bênçãos em todos os aspectos da sua vida,

pois só assim eu conseguirei expressar minha gratidão a você.

Obrigada por tudo.

A toda equipe do Curso de Especialização em Coordenação

Pedagógica(CECOP 1), Profa Iracy, Profo Ronaldo, Luciana, Adriana,

Rosane, Marta, Aline, Paulo, Paula, Márcia e Jean. Obrigada!

A todos vocês! Muito obrigada!

Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO

RESUMO

Quando pensamos em supervisão, não é díficil ligar a palavra ao ato de orientação, fiscalização, acompanhamento e até punição. A história oficial da supervisão, não é tão antiga, mas já se fazia algo parecido na vida primitiva, quando a educação era realizada de forma espontânea, e as pessoas adultas supervisionavam e orientavam as práticas das crianças.Buscando conhecer o histórico acerca da formação do pedagogo, bem como analisar as atribuições do pedagogo nos dias atuais, estabelecemos como objetivo geral , analisar teoricamente qual o papel do pedagogo nos dias atuais. Como objetivos específicos, buscamos resgatar o histórico do pedagogo e refletir sobre o papel do pedagogo na escola nos dias de hoje. Por se tratar de uma pesquisa de natureza revisional, o caminho metodológico traçado foi através do levantamento bibliográfico, que teve como fundamento nos estudos dos autores, ATTA, BRANDÃO, TARDIF, VASCONCELLOS, entre outros.O estudo revelou que a figura do Pedagogo tem sua origem ainda na idade Antiga, contudo em diversos momentos históricos a indefinição da função do Pedagogo trouxe como consequência uma sobrecarga de atribuições e a redefinição de novos cenários para a sua atuação nos dias atuais.

Palavras Chave: Formação do Pedagogo. Historico do Pedagogo. Atribuições do Pedagogo.

Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO

ABSTRACT

When we think supervision is not difficult to connect the word to the act of guidance, supervision, monitoring and evenpunishment. The official history of supervision, is not so old, butalready did something similar in early life, when education wasmade spontaneously, and the adults supervise and guide thepractices of crianças.Buscando know the history about the formation of educator, and analyze the tasks of the teacher today, we established the general objective, which theoretically analyzethe role of the teacher today. As specific objectives, we seek to rescue the history of the teacher and reflect on the role of theteacher at school today. Because it is a revisional study of nature, the methodological framework was traced through the literature, which was based on studies of the authors, ATTA, BRANDAO, TARDIF, VASCONCELLOS, among others. The study revealed that the figure of the pedagogue has its old age home yet, but in differinthistorical moments of the blurring function of the pedagogue as a result brought an overload of assignments and the redefinition of new scenearios for their perfomance today. Keywords: Formation of the Educator. Historical of the Educator. Attributions of the Educator.

Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ___________________________________________________________ 12

1 - BREVE HISTÓRICO SOBRE A ORIGEM DA FUNÇÃO DO PEDAGOGO ____ 15

1.1- BREVE HISTÓRICO SOBRE A EDUCAÇÃO NO BRASIL _____________________ 16

1.2 - CURSO DE PEDAGOGIA NO BRASIL _______________________________________ 19

2 - O PAPEL DO COORDENADOR PEDAGÓGICO __________________________ 23

2.1 - O COORDENADOR PEDAGÓGICO E A QUESTÃO DOS SABERES DOCENTES.

_______________________________________________________________________________ 27

2.2 - IDENTIDADE DO COORDENADOR PEDAGÓGICO___________________________ 29

3 - CONSIDERAÇÕES FINAIS _____________________________________________ 31

REFERÊNCIAS __________________________________________________________ 33

Page 12: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO

12

INTRODUÇÃO

Quando pensamos em supervisão, não é difícil ligar a palavra ao ato de

orientação, fiscalização, acompanhamento e até punição. A história da supervisão,

não é tão antiga, mas já se fazia algo parecido na vida primitiva, quando a educação

era realizada de forma espontânea, e a pessoas adultas supervisionavam e

orientavam as práticas das crianças.

Já na Grécia antiga, a supervisão relaciona-se com a figura do pedagogo, que

era o escravo que conduzia a criança ao local do saber, supervisionando, vig iando,

controlando os atos de tal criança. Importante perceber que o contexto histórico e

econômico reflete a organização da educação, por tanto cada período histórico teve

sua forma de educação.

No Feudalismo, a economia era baseada na troca e a geração sistemática de

excedente fez nascer a burguesia e fortaleceu a ideia de uma sociedade capitalista.

Nessa época a educação era realizada em Escolas Pagãs e pela Igreja e formava

cavaleiros e gentes de “oficio”.

Na Idade Média, o que predominava era a visão teocêntrica, economicamente

a cidade e a indústria estavam subordinadas ao campo e a agricultura. Houve

também nessa época a generalização da escola e um domínio da cultura intelectual,

portanto a escola era o lugar do ócio, privilégio da classe dominante e o papel de

supervisão era desempenhado pelo pedagogo, figura já citada, que controlava,

punia e castigava a criança.

No modernismo a situação da economia se inverte e o campo e a agricultura

ficam subordinados a cidade e a indústria, nesse momento a escola institucionaliza-

se, mas sendo ainda para parte da população.

Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO

13

Antigamente chamada de supervisão escolar, a Coordenação Pedagógica,

tem raízes nos processos de acompanhamento e fiscalização do ensino na escola,

buscando garantir a qualidade da educação. A coordenação Pedagógica é, portanto,

o trabalho que acontece nas instituições que realizam ensino e aprendizagem,

buscando integrar pais, alunos, professores, funcionários e comunidade com a

escola a fim de formar continuamente todos esses atores educacionais.

Por conviver com o trabalho de coordenação pedagógica nos estágios

realizados na Coordenadoria de Defesa Civil de Salvador e na Escola de Gestores

(UFBA), e também após oito semestres de estudos nas disciplinas do curso de

pedagogia (FACED/UFBA), acompanhando o processo de mudança do currículo do

curso, indaguei-me sobre as seguintes questões: “Qual papel do pedagogo?”

Buscando sistematizar as respostas para essa pergunta, estabeleci o

seguinte problema: “Qual o papel do pedagogo nos dias de hoje?”. Tendo como

objetivo geral, analisar qual o papel do pedagogo nos dias atuais. Como objetivos

específicos, buscamos resgatar o histórico do pedagogo e refletir sobre o papel do

pedagogo na escola nos dias de hoje.

Por se tratar de uma pesquisa de natureza bibliográfica, o caminho

metodológico traçado foi através do levantamento bibliográfico, coletando dados da

bibliografia referente ao tema, sistematizando as informações através de resumos e

fichamentos. A construção dos capítulos se deu da seguinte maneira, no primeiro

capitulo, fazemos um breve histórico sobre a coordenação pedagógica, partindo da

história da educação na Grécia, onde surgiu a figura do pedagogo, depois

discutimos sobre a educação no Brasil, perpassando a discussão pelo período

jesuítico, Reforma Pombalina, colônia, república, criação do Ministério da Educação

e Saúde e criação do curso de pedagogia no país.

No segundo capítulo, e último capitulo, intitulado “O Papel do Coordenador

Pedagógico”, analisamos a luz de teóricos como VASCONCELLOS, e ORSOLON, a

função do coordenador pedagógico na escola nos dias de hoje. Nas considerações

finais, levantamos a questão da incompletude do trabalho e necessidade de

aprofundamento dos estudos sobre a temática. Esperamos que este estudo sirva a

Page 14: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO

14

educadores e interessados em conhecer um pouco sobre o trabalho do coordenador

pedagógico.

Page 15: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO

15

1 - BREVE HISTÓRICO SOBRE A ORIGEM DA FUNÇÃO DO

PEDAGOGO

Pode-se dizer que o berço da educação e do conhecimento dos primeiros

povos, foi à Grécia pela maneira de pensar a formação do homem para a vida da

polis. Era através do desenvolvimento do corpo, da consciência nomeado por eles

de Paidéia, que foi o primeiro conceito dado à educação na Grécia.

A educação dos homens gregos dos sete aos quatorzes anos, era

responsabilidade do mestre-escola, homens mais velhos, que formavam o jovem

aristocrata através de um lento trabalho de acompanhamento do educando, por

muitos anos estes davam ensinamentos que assegurassem que a nobre criança

quando jovem estaria preparada para a prática da guerra, da oratória e para a vida

na polis.

A educação dos meninos pobres acontecia nas oficinas, nos campos de

lavoura e pastoreio e os meninos ricos aprendiam em acampamentos e ou ao redor

de velhos mestres, mestre-escola, que era privilégio apenas da nobreza.

Alguns anos mais tarde surgem as “Lojas de Ensinar”, localizadas em bairros,

abertas no meio do mercado e oferecia educação para meninos livres (filhos da

nobreza ou de militares). Dentre as Leis gregas havia aquela que designava o papel

dos pais em relação à escola, e dizia que toda criança deveria nadar e ler,

determinando que os pobres se dedicassem a agricultura ou uma indústria qualquer

e os ricos a dedicação deveria voltar-se para a música e equitação, filosofia e caça,

e frequência assídua aos ginásios.

Nestas leis, falava-se sobre os deveres dos pais: além de fazer aprender a ler e a nadar, prover a aprendizagem de um ofício para os pobres, e para os ricos, a aprendizagem da música e equitação, além de praticar os ginásios, a caça e a filosofia. (MANACORDA, 2000).

Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO

16

Em todo o processo de formação do menino grego, havia o escravo que

conduzia o menino ao local do saber, geralmente esse escravo era um homem

velho, cativo estrangeiro que conduzia à criança a escola das primeiras letras. Estes

escravos, que conviviam muito tempo com a criança, tratavam-se dos pedagogos,

os mesmos passavam para os meninos a educação dos preceitos e das crenças da

cultura da polis. Conforme descreve (BRANDÃO, 1995, p.43), quando diz “que o

pedagogo era o educador por cujas mãos a criança grega atravessava os anos a

caminho da escola, por caminhos da vida.”.

O pedagogo era participante efetivo da formação da criança grega, contribuía

com o ideal de educação imposta pela polis, que era: reproduzir uma ordem social

idealmente concebida como perfeita e necessária, através de transmissão, de

geração a geração, das crenças, valores e habilidades (BRANDÃO, 1995, p. 44).

É perceptível o cultivo aristocrático do corpo e mente, oferecido pela

educação na Grécia, lá se formava o nobre guerreiro e dirigente á habilitação do

cidadão livre, comum para carreira política. Então, como dito no início do texto, a

Grécia clássica, por toda a sua história pode ser considerado o berço da pedagogia

e dos processos educativos na formação do homem.

1.1- BREVE HISTÓRICO SOBRE A EDUCAÇÃO NO BRASIL

No Brasil, as primeiras ações educativas foram realizadas pelos jesuítas, com

as atividades missionárias, que expressava e disseminava o pensamento

estrangeiro, através de uma metodologia de ensino com aulas expositivas, memória

e repetição.

A chegada dos jesuítas no Brasil foi marcada pela imersão europeia no solo

brasileiro e pela atuação disciplinada dos missionários. Como cartilha de ensino, os

jesuítas criaram implantaram o Ratium Studiorium, que consistia em um conjunto de

regras que direcionava as ações dos missionários na catequização dos colonos.

Essas ações eram supervisionadas pelo Prefeito Geral de Estudos que era um

enviado da corte portuguesa, para observar, assistir as aulas dos professores,

Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO

17

organizar, ler os apontamentos dos alunos e acompanhar os missionários em suas

atividades.

Visto que desde essa época houve a necessidade de supervisão do ensino, o

Prefeito Geral dos Estudos era quem cumpria a tarefa de acompanhar o que ocorria

na colônia em termos de ensinamentos.

Após a expulsão dos jesuítas, com a Reforma Pombalina, foram criadas as

aulas régias, e a função supervisora passa a ser do Diretor Geral dos Estudos, que

fazia o levantamento de como andavam as escolas. Nesse momento:

A ideia de inspeção/supervisão passou a englobar aspectos políticos-administrativos através da figura do Diretor Geral dos Estudos em nível de sistema e os aspectos de direção, fiscalização, coordenação e orientação do ensino em nível local ficou a cargo dos missionários. (RIVAS, 2007, p.70)

Com esse novo modelo educacional na colônia, a figura do prefeito de

estudos, foi prejudicada e quase extinta a não ser pela presença do Diretor Geral.

Na Escola das Primeiras Letras, o professor, além de ensinar, era também

supervisor de ensino. E não dando conta das funções que lhes fora atribuído, surge

à figura do inspetor de estudos, que fazia exames para os professores, autorizava a

abertura de escolas, revia e corrigia se necessário substituía livros.

Em 1890 a educação era responsabilidade do Ministério da Instrução Pública

Correios e Telégrafos, sob o comando de Benjamim Constant B. Magalhães, esse

período consistia a Primeira República, momento da história em que se criou o

Conselho de Instrução Superior, com seus delegados, que inspecionava as

instituições de ensino superior, com a finalidade de garantir entre tantas coisas a

moralidade e higiene desses ambientes.

Em 1891 foi promulgada a primeira constituição da república e a educação

ficou ligada ao Ministério dos Negócios e Interiores, sendo o ensino primário

responsabilidade do Estado. Sete anos mais tarde, a lei 430 de 26 de agosto de

1897, extinguiu a de Diretor Geral da Instrução Pública e a lei 520 extinguiu o

Conselho Superior de Instrução Pública e as inspetorias distritais.

Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO

18

Muitos anos depois, mais especificamente 1925, a lei José Luís Alves, através

do decreto 16.782, criou o Departamento Nacional de Ensino e o Conselho Nacional

de Ensino extinguindo assim o Conselho Superior de Ensino e responsabilizando o

novo departamento e conselho por supervisionar a educação escolar no país.

Na década de 30, criou-se o Ministério da Educação e Saúde, com a

finalidade de regulamentar a educação no país. E os Inspetores Educacionais, a

partir de então eram nomeados por concurso, tinham que residir na sede do Distrito

e deveriam prestar assistência às lições, exercícios e trabalhos práticos na seção de

sua competência, acompanhamento das provas parciais e finais, fiscalizar os

exercícios de música, educação física e das condições materiais e didáticas dos

estabelecimentos de ensino.

Nesta mesma década, educadores como Anísio Teixeira, Fernando de

Azevedo e mais 25 educadores, lançam o Manifesto dos Pioneiros lutando por uma

educação obrigatória, gratuita e leiga. Sobre tal manifesto (MIRANDA, 2008, p.10)

salienta:

Esse manifesto defendia uma educação obrigatória, pública, gratuita e leiga, sem privilegiar nenhuma classe social, defendendo uma educação básica e única e a formação unificada para professores de todos os graus de ensino.

Houve uma importante contribuição desse documento para a educação

brasileira, já que os interesses de crianças e jovens eram contemplados através dos

processos pedagógicos instituídos no tal manifesto.

Sete anos depois da criação do Ministério da Educação e Saúde Pública, a

Lei n. 378 de 13/01/1937, reestrutura tal Ministério, dividindo o Brasil em oito regiões

administrativas, tendo em cada região, uma delegacia federal de educação, um

delegado federal de educação, um inspetor de ensino e um técnico em educação.

Os delegados federais de educação além de inspecionar, lhes foram

atribuídos as tarefas de

organizar e manter registros atualizados, promover a melhoria do ensino, realizar estudos e pesquisas educacionais, reunir os inspetores, mensalmente, e reunir, periodicamente, diretores, professores, secretários,

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO

19

orientadores educacionais e pais de alunos, para debate de problemas escolares. (RIVAS, 2007, p.73)

A preocupação por parte governamental de que a função desses inspetores,

técnicos e delegados não fosse meramente técnica-burocrática, mas também

tivesse um caráter pedagógico, se evidencia na criação da Campanha de

Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário (CADES) através do Decreto-Lei

34.638 de 14 de novembro de 1953.

Com a CADES

foram realizados cursos e estágios para professores, inspetores, técnicos em educação e administradores. A expressão orientação pedagógica também começou a aparecer como atribuição de

inspeção. A questão básica da CADES era buscar soluções para problemas ligados á queda dos padrões educacionais em função do

quantitativo da educação brasileira (RIVAS, 2007, p.73)

1.2 - CURSO DE PEDAGOGIA NO BRASIL

A primeira regulamentação do curso de pedagogia no Brasil, seu deu pelo

Decreto n◦ 1.190 de 04 de abril de 1939 que determinava que o curso formasse o

bacharel para atuar como técnico educacional e também o licenciado para atuar

como professor da Escola Normal.

Foi na Universidade do Brasil, São Paulo, Faculdades das Letras, que se

instalou o primeiro curso de pedagogia do país com o chamado “esquema 3+1”, que

fazia parte do processo de formação do pedagogo, onde em três anos, para formar

bacharéis estudava-se os conteúdos específicos de cada área do saber e para

formação dos licenciados com a duração de um ano estudava-se os conteúdos

pedagógicos do curso de Didática. (MIRANDA, 2008, p.10)

O Decreto 1.190/39 sancionado em 1º de janeiro de 1943 determinou que os

cargos técnicos do Ministério da Educação e Saúde Pública, só poderiam ser

preenchidos por profissionais que possuíssem o diploma de Bacharel em

Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO

20

Pedagogia, corroborando com a proposta da então formação do pedagogo,

oferecido nas universidades do país.

A função de coordenação pedagógica sofreu algumas influências de

vertentes, na década de 50 (ATTA, 2002, p.19). A inspiração estava na tradição

norte-americana, onde o ensino primário era supervisionado por um inspetor escolar

que, era um funcionário lotado na Secretaria de Educação, tinha sido capacitada

pelo Programa de Assistência Brasileira Americana ao Ensino Elementar (PABAEE),

e deveria visitar as escolas, semanal, quinzenal ou mensalmente, e aí, cobrar dos

professores desempenhos que se restringiam geralmente a dados estatísticos que

revelassem a melhoria da qualidade do ensino.

Outra vertente que influenciou a educação no Brasil, foi à inspiração européia,

com as quatro séries do ensino fundamental e três séries do ensino médio. A

coordenação pedagógica tinha função assistencialista, de orientação e localizava-se

nas escolas. A escolha desses coordenadores se dava através de eleição entre seus

pares, e o candidato deveria ser licenciado em uma das áreas do currículo escolar,

este se reunia semanal ou quinzenalmente com os professores de sua escola, a fim

de acompanhar os processos pedagógicos da mesma.

A relação do supervisor com o professor se dava de maneira diferente,

segundo o nível de ensino. No ensino primário, o supervisor acompanhava

individualmente o trabalho do professor e no ensino médio o foco no

ensino/aprendizagem caracterizava um acompanhamento mais global da situação

do professor em sala de aula.

Clemente Mariani, Ministro da Educação em 1948, elaborou junto a

educadores como Lourenço Filho a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

(LDBEN), que só foi promulgada em 1961. Após treze anos de debate, a LDBEN

marcava nesse momento um novo caminho para a educação brasileira, agora o

ensino no país estava sendo regulamentado por uma lei que deveria atingir todo o

território nacional. Deveria ser então a LDBEN uma bússola para os educadores

brasileiros.

Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO

21

No início dos anos 60, com a chegada da Lei n. 4024/1961, os governos estaduais e municipais assumiram os encargos de organização e execução dos serviços educativos. Ao Governo Federal coube definir as metas a serem alcançadas em todo território nacional, e uma ação supletiva no caso de deficiências regionais através de auxílio financeiro e também de

assistência técnica. Ficou, portanto a cargo dos Estados a incumbência de organizar o serviço de inspeção. (RIVAS, 2007, p.73)

O Conselho Federal de Educação (CFE) 251/62, buscou inovar o curso de

pedagogia, com a sugestão de fixar os currículos mínimos, na tentativa de suprir o

esquema 3+1 alterando a duração para quatro anos, designando que o bacharelado

seria cursado concomitantemente com a licenciatura. Porém o parecer n. 292/62

manteve a separação entre licenciatura e Bacharelado, por conta da fixação das

matérias pedagógicas para os cursos de licenciatura para o magistério em escolas

de nível médio (ginasial e colegial).

Mais pra frente, a Lei da Reforma Universitária n. 5.540/1968, marca a

reestruturação da Faculdade Nacional de Filosofia e Letras, com a criação dos

Institutos de conteúdos específicos da Faculdade de Educação, responsável por

promover cursos de formação de especialistas em educação para exercerem as

funções administrativas, sendo orientadores, supervisores e inspetores

educacionais.

Em 1969, o CFE n.252/69 aboliu a distinção entre bacharelado e licenciatura

e manteve a formação dos especialistas em educação nas várias habilitações.

Nesse mesmo ano criou-se a Faculdade de Educação da Universidade Federal da

Bahia (FACED/UFBA), em conformidade com a Lei da Reforma Universitária, o

parecer do CFE n.252/69 e do decreto n.662.241 de 08/02/1968, que determinava a

criação de vinte e quatro unidades de ensino no país para formar profissionais em

educação.

Na ditadura militar a educação foi uma maneira de formar mão de obra

qualificada para o exercício de funções produtivas, como direção, supervisão e

liderança. A partir de 1970, a formação do supervisor escolar ficou na

responsabilidade dos cursos de pedagogia. E o coordenador pedagógico deveria

realizar um trabalho coletivo de diagnóstico, planejamento, acompanhamento,

avaliação e replanejamento das atividades de ensino/aprendizagem.

Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO

22

Nessa década, a influência do Taylorismo, a Escola Tecnicista separa a

execução da concepção e o curso de pedagogia sofre regulamentações, ha nesse

momento a fragmentação do processo pedagógico, dando ênfase às funções

específicas.

Em 1996 a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n. 9394/96,

determinava que o curso de pedagogia devesse se responsabilizar pela formação

acadêmica científica, e os cursos Normais Superiores junto com os Institutos

Superiores de Educação formaria o docente da educação básica.

No ano de 1999, foi aprovada e divulgada a proposta de diretrizes curriculares

para o curso de pedagogia, o curso formaria o profissional com habilitação para o

ensino, organização e gestão de sistemas, unidades e projetos educacionais,

produção e difusão do conhecimento. Era uma formação voltada para a docência na

educação infantil e nas séries iniciais do ensino fundamental.

Em 13 de dezembro de 2005, estabeleceu-se como objetivo central do curso

de pedagogia, formar profissionais capazes de exercerem a docência na educação

infantil e nas séries iniciais do ensino fundamental, o mesmo deveria participar do

planejamento, gestão e avaliação de estabelecimentos de ensino, sistemas

educativos escolares e organização da educação básica no país.

Todas essas mudanças nas resoluções do curso de pedagogia demonstram

ainda a indefinição do caráter desse profissional da educação. São anos de lutas, de

debates, e ainda serão, para que se solidifiquem os componentes necessários para

a formação do pedagogo por completo.

Page 23: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO

23

2 - O PAPEL DO COORDENADOR PEDAGÓGICO

A função do coordenador pedagógico (CP) esteve ligada historicamente ao

controle e fiscalização do professor. Essa imagem “equivocada” sobre esta função

se deu devido às condições que a mesma foi implantada, num cenário político e

econômico onde o poder do Estado usava a supervisão educacional, para garantir

números que revelassem a “qualidade” do ensino. Sendo assim ainda hoje, o CP

recebe várias nomeações como por exemplo: “fiscal(dedo duro), pombocorreio,

quebra galho, salva vidas, tapa buraco, burocrata, etc.”

Mas, qual o papel que o CP deve desempenhar? É certo que, com tantos

codinomes adquiridos ao longo da história da sua função, tem este profissional um

grande desafio, se livrar da imagem errada que alguns professores ainda têm deles.

O coordenador pedagógico é sem dúvidas, um articulador, que deve buscar a

integração de pais, alunos, funcionários e comunidade com a escola. E nesse

processo, é também um incentivador do cumprimento do Projeto Político

Pedagógico da instituição.

Para tanto deve o CP organizar a reflexão e meios para participação da

construção do PPP, para concretização deste. Deve também, integrar e sistematizar

o trabalho em grupo, discutir com os professores questões pertinentes a sua prática

de ensino em sala de aula buscando conhecer os alunos e contribuir com o

aperfeiçoamento profissional de cada um dos professores.

Vasconcellos (2009) define algumas dimensões para o trabalho do CP, sendo

elas, reflexiva, organizativa, conectiva, interventiva e avaliativa. A mediação do

trabalho do CP deve visar o bom desenvolvimento da relação do professor com o

aluno. Sobre essa articulação o mesmo diz:

Neste contexto, é preciso atentar para a necessária articulação entre a

pedagogia da sala de aula e a pedagogia institucional, uma vez que, no fundo, o que está em questão é a mesma tarefa: a formação humana seja dos alunos, dos professores, da coordenação, dos pais e etc. VASCONCELLOS (2009, p.88)

Page 24: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO

24

Essa citação nos esclarece que o trabalho pedagógico, como qualquer

trabalho no contexto escolar deve ter como finalidade a formação de todos os que

estão envolvidos no processo. Sendo assim, o CP também tem a tarefa de acolher o

professor em sua realidade, fazer critica dos acontecimentos e ajudar a

compreender a participação do professor no problema, para que o professor seja o

grande parceiro no desafio de formação dos atores educacionais (alunos, pais,

funcionários e comunidade).

O coordenador pedagógico, em função do espaço em que atua, tem tanto a interface com o “chão da sala de aula” (através do contato com os professores e alunos), quanto com a administração, podendo ajudar aos outros a se aproximarem criticamente. (VASCONCELLOS, 2009, p. 89)

Ainda seguindo a linha de raciocínio do autor em que estamos nos

referenciando, para que o CP forme continuamente os professores e envolvidos no

processo educativo, o mesmo deve se basear em três dimensões da formação

humana, que segundo ele é, atitudinal, procedimental e conceitual.

DIMENSÃO ATITUDINAL

A dimensão atitudinal, envolve valores, interesses, sentimentos, disposição

interior e convicções. Concretiza-se essa tal dimensão, principalmente através da

boa relação entre CP e professor. Usar a criticidade para analisar a realidade, e não

ficar preso a primeira impressão. “Criticar é também ser capaz de ver e resgatar

aspectos positivos, não ficar só no cobrar. Valorizar o saber do outro, dado o caráter

contraditório da realidade.” (VASCONCELLOS, 2009, P. 93)

Devemos considerar que como em qualquer processo de mudança, quando o

CP fizer novas propostas, o comportamento do professor de resistência á tal

mudança, não será um caso isolado, este comportamento é comum a um

significativo número de docentes.

Page 25: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO

25

Investigar os motivos por que o professor atingiu o descrédito quanto às

propostas de mudança em relação a sua maneira de ensinar é um meio de alcançar

o professor.

Quando se trata de mudanças, historicamente no nosso sistema educacional

brasileiro, estas sempre aconteceram de cima para baixo, e ainda mais com o

tecnicismo houve uma desqualificação da formação e o ensino ficou preso a

burocracias, formalismos, autoritarismo e um exemplo claro dessa situação é a

obrigação em seguir o livro didático, que muitas vezes nem representa a realidade

de algumas escolas.

É importante que se tenha sensibilidade e confiança no corpo docente, não

fazer generalizações, pois generalizar apaga o verdadeiro conhecimento do outro,

reconhecer seus limites como também seu potencial.

DIMENSÃO PROCEDIMENTAL

A dimensão procedimental trata-se do saber fazer, relaciona-se

principalmente com métodos, técnicas, procedimentos e habilidades.

A aprendizagem mediante a vivência desse saber fazer na escola viabilizaria a interdisciplinaridade no âmbito do conhecimento e permitiria o questionamento das práticas docentes vigentes, no sentido de transformá-las. (ORSOLON, 2010, p.20).

A prática pautada em uma nova visão depende de uma nova postura.

Estruturar as ações para qualificar a ação mediadora, compreendendo a realidade,

construindo a rede de relações, conhecendo, mapeando e aprendendo o que está

por detrás dos limites da prática ou das queixas, clarear sempre os objetivos do

trabalho, cumprir o planejamento e avaliar a prática, são algumas ações em busca

de crédito e confiança no trabalho do CP.

Partir de onde o grupo está e possibilitar um salto qualitativo, respeitando e

problematizando, tendo como plano de fundo o Projeto Político Pedagógico, assim

valorizando a fala do outro. Todas essas ações irão ajudar o professor a construir

significado para seu trabalho, resgatando o valor e o sentido do ensino como espaço

de transformação.

Page 26: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO

26

Ter ética, jogar claro, evitar o disse me disse, responsabilizar-se pelos seus

atos, visualizar o processo dando passos concretos e sempre avaliar o trabalho da

escola, das atividades, dos relacionamentos, criticar o trabalho, fazendo do erro uma

oportunidade de aprendizagem.

O desafio é grande, mas existem estratégias complementares de trabalho

como, atendimento individual ao professor, orientação coletiva para o planejamento

de trabalho em sala de aula, fazer reuniões semanais por série, ciclo ou área,

acompanhar as aulas, fazer reuniões com equipe diretiva buscando subsídios para

os docentes, analisar o material didático, participar de projetos específicos, estimular

a pesquisa, para assim incrementar a formação permanente dos professores.

Deve ser o centro do trabalho do CP a qualificação do processo de ensino.

Sabe-se que o CP também desempenha a função de coordenar o curso, fazer

orientação educacional, orientar a convivência e algumas vezes assistente de

direção. Porém não pode esquecer-se de buscar estratégias adequadas de

interação docente para garantir qualidade do ensino.

DIMENSÃO CONCEITUAL

A dimensão conceitual tem a ver com o saber argumentar, buscar lógica

interna e principalmente ajudar o professor a teorizar sua prática. Criar um clima de

respeito e liberdade, para que o professor sinta que existe espaço para suas

argumentações.

Se o clima na instituição é de constrangimento, existe o risco de as dúvidas, as discordâncias não serem explicitadas, omite-se o questionamento sobre o andamento do processo só para da a impressão de que se é tradicional,

retrógrado contra a proposta, o professor pode ficar preocupado com sua imagem e /ou da escola: certas dúvidas já não poderiam mais existir(principalmente quando a instituição já fez uma certa caminhada certos temas ou posicionamentos seriam tabus. (VASCONCELLOS, 2009, P.112)

Após essa breve discussão sobre as dimensões subjetivas do trabalho

pedagógico, pensemos sobre as condições objetivas do trabalho do CP. Estas

condições objetivas se tratam de comprometer-se com a busca de melhores

condições de trabalho na escola, conquistar o espaço de trabalho coletivo, que pode

Page 27: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO

27

ser no interior da escola, comunidade ou entre escolas da mesma região, ter espaço

para fazer o acompanhamento individual do professor.

Ainda sobre as condições objetivas, o CP pode criar uma biblioteca

pedagógica, constituir grupo de formação entre coordenadores, organizar grupos de

estudos, empenhar-se para diminuir a rotatividade dos professores na instituição e

lutar pela continuidade crítica das políticas educacionais.

Para realização dessas ações, é preciso que o corpo docente, e muito mais,

toda a escola, faça adesão a novas práticas, a mudanças, sobre isso (ORSOLON

2010, p.18) ressalta:

É necessário que haja adesão, a revisão de concepções, o desenvolvimento de novas competências e consequente mudança de atitudes dos envolvidos

no processo. Mudar é, portanto trabalho conjunto dos educadores da escola e supõe diálogo, troca de diferentes experiências e respeito à diversidade de pontos de vista.

Tendo em vista que é necessário que o CP, proponha mudanças na atuação

do professor, se faz interessante a discussão sobre os saberes docentes, já que

estes são os principais agentes na escola que colaboram com a melhoria do ensino,

e ressalto que são eles os principais, não os únicos, mas que fazem o elo entre a

gestão da escola(como corpo diretivo) e os alunos.

2.1 - O COORDENADOR PEDAGÓGICO E A QUESTÃO DOS SABERES

DOCENTES.

A discussão sobre os saberes profissionais pauta-se na “crítica á concepção

do professor como técnico e de valorização das dimensões reflexiva, crítica, ética e

política de formação docente...” (ANDRÉ e VIEIRA, 2000, p. 13).

Pensemos então sobre o “saber”. Para Tardif (2002) o saber engloba os

conhecimentos, as habilidades e as atitudes docentes. O saber é sempre o saber de

alguém que trabalha alguma coisa no intuito de realizar um objetivo qualquer.

Page 28: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO

28

Ainda pensando junto com tal autor, concordamos que os saberes se

modificam com o tempo e que os saberes da experiência são saberes práticos que

formam um conjunto de representações a partir dos quais os professores

interpretam, compreendem e orientam sua profissão e sua prática cotidiana em

todas as suas dimensões.

Todos os saberes docentes se fazem presentes no cotidiano escolar e o CP é

também um “docente que desenvolve suas atividades junto com os professores com

o propósito de favorecer o processo de ensino e aprendizagem e promover a

aprendizagem no espaço escolar” (ANDRÉ e VIEIRA, 2000, p.14).

O CP relaciona-se com o professor, faz atendimento aos pais, também está

em contato com os alunos, resolve questões emergenciais como, por exemplo, a

falta de um professor, planeja os encontros de formação dos docentes, organiza

atividades e algumas vezes, ainda é professor de turma.

Todas essas atividades são resultado da relação que o CP faz com o saber e

o trabalho realizado, é a pessoa do trabalhador relacionando-se com o seu trabalho.

Tardif (2002) ainda fala da pluralidade dos saberes docentes como um dos

eixos da atuação do CP no trabalho escolar. Por exemplo, quando o CP agiliza a

substituição de um professor que faltou, este usa seu saber gerencial, ao se

sensibilizar com o fato de os alunos não poderem ficar sem aula o CP está usando

seu saber profissional, ético e político.

Nesse eixo de pluralidade dos saberes ainda vemos que a interação do CP

com os pais e alunos faz parte do seu saber relacional, e preparar os encontros de

formação dos professores se comunica com o seu conhecimento profissional, com o

seu saber curricular, técnico, afetivo e experiencial.

Diante de tantos saberes, devemos considerar que o CP

[...] atua sempre num espaço de mudança. É visto como um agente de transformação da escola. Ele precisa estar atento ás brechas que a legislação e a prática cotidiana permitem para atuar, para inovar, para provocar nos professores possíveis narrações. (ANDRÉ e VIEIRA, 2000, p.19)

Page 29: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO

29

Por tanto, a experiência enquanto fundamento do saber está sempre em

mutação. E o trabalho da coordenação como atendimento as necessidades e a

garantia do bom andamento do processo de ensino e aprendizagem devem estar em

constantes mudanças acompanhando a evolução de conceitos e práticas

pedagógicas.

E um último eixo dos saberes docentes, são os saberes humanos e o respeito

ao ser humano. Na prática desses saberes, ao ouvir o professor e respeitar a

inexperiência de alguns professores, a identidade do CP vai se fortalecendo diante

de seus colegas de trabalho e por isso que saber repensar a formação dos

professores é também uma maneira de contribuir para qualidade do ensino na

escola em que atua.

2.2 - IDENTIDADE DO COORDENADOR PEDAGÓGICO

Diante de tantas atribuições, onde está a identidade do Coordenador

Pedagógico? Para se discutir tal identidade precisamos rever posições, resgatar

experiências, retomar conflitos, fazer outras opções, fomentar debates e

principalmente enfrentar as diferenças.

A necessidade de se definir a identidade deste profissional se dá a partir da

não institucionalização da função e também por que até aqui a classe tem tido

significativa conquista de uma territorialidade própria. A definição da função do

Coordenador Pedagógico se faz no interior das relações travadas no dia-a-dia da

escola, por tanto:

falar e ouvir sobre experiências passam a fazer parte constitutivas dos

projetos em (re)construção, de modo que busca, o contato e o diálogo com diferentes referenciais teóricos brotam do desejo de compreensão e de respostas para as perguntas e angústias geradas nos espaços de trabalho (MATE, 2006, p.3)

O que percebemos é que o CP é um educador premido pelas urgências da

prática e oprimidos pelas carências de sua formação inicial, e ainda tem que

enfrentar a realidade de escolas que caminham sem projetos, sem estrutura,

Page 30: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO

30

improvisando soluções em curto prazo, de forma que sobrevivem diante das

demandas burocráticas.

Sendo um profissional necessário aos andamentos dos processos de ensino

aprendizagem na escola, o ato de coordenar o pedagógico envolve

comprometimento, ética e uma atitude política, pois a práxis deve envolver o

coletivo, caso contrário dificilmente o CP alcançará metas para a instituição. Como

afirma (FRANCO, 2008) “Coordenar o pedagógico é: instaurar, incentivar, produzir

constantemente um processo reflexivo, prudente sobre todas as ações da escola

com vistas a produção de transformação nas práticas cotidianas.”

A identidade do CP é algo que está sendo construído, por tanto, precisaremos

de tempo para derrubar mitos e pseudos conceitos firmados historicamente a cerca

desta função.

Page 31: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO

31

3 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao chegarmos nesta etapa do trabalho percebemos a incompletude de uma

pesquisa, pois todo trabalho acadêmico revela em si uma verdade parcial, podendo

ser substituída, completada, alterada sempre que se faz um estudo mais

aprofundado sobre algo.

Diante das circunstâncias postas para a escrita deste trabalho, considero de

fundamental importância o fato de ter me debruçado sobre alguns livros para estudar

o histórico da função do pedagogo e atribuições deste profissional, onde busquei

sistematizar minhas aprendizagens diante do que estava lendo e resumindo.

Fazer uma pesquisa bibliográfica é uma oportunidade de reportar-se a

autores, que conversam conosco durante a trajetória acadêmica e que nos dá

subsídios para formar nossa opinião sobre tal assunto.

Nesse breve estudo, pude constatar que a luz dos teóricos expostos, o

pedagogo é um profissional que sofreu ao longo dos anos uma instabilidade no seu

campo profissional, refletindo assim a falta de identidade, dificuldade de atuação e

incertezas quando se trata de perspectivas. A profissão do pedagogo esteve ligada

por muitos anos a supervisão escolar, gênese da atuação deste profissional que

ainda carrega a marca de persegui seus colegas docentes para cumprimento de

burocracias.

Os teóricos analisados também proporcionaram o conhecimento das

dificuldades enfrentadas pelo pedagogo na escola, onde ainda, responde por

demandas que muitas vezes nem te diz respeito. O desafio de construir um projeto

político pedagógico, o desafio de ser ao mesmo tempo que coordenador, ser

também um orientador, algumas vezes, fiscal, assistente social, entre outros.

Page 32: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO

32

O fato é que apesar dos avanços, somos ainda uma classe que precisa de

aperfeiçoamento, de capacitação, de investimento na auto formação e de

posicionamento, para que nossas ações reflitam o caráter de um profissional seguro

do que está fazendo em seu espaço de trabalho.

Esses avanços dependem de um esforço pessoal de cada profissional da

educação, que como docentes ou dirigentes se coloquem a disposição a responder

conjuntamente pelos processos de ensino, aprendizagem, formação e questões

burocráticas que dizem respeito a todas as instituições escolares em que os

pedagogos atuam.

Por fim, e não para encerrar aqui a discussão, acredito que o pedagogo é um

profissional que tem muito a contribuir com a educação, por isso é preciso atenção

do governo, das instituições que formam estes educadores e também dos próprios

pedagogos para cobrarem uma formação básica mais qualificada e uma formação

continuada mais voltada para os problemas que de fato acontecem na escola.

Page 33: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO

33

REFERÊNCIAS

ANDRÉ, Marli Edilza Dalmazo Afonso de; VIEIRA Marli M. da Silva. O Coordenador

Pedagógico e a questão dos saberes. O Coordenador Pedagógico e a questão da

contemporaneidade. Ed. Loyola, 2000.

ATTA, Dilza Maria Andrade. O acompanhamento Pedagógico do Trabalho

Escolar. Revista de Educação CEAP, Salvador, Ano 10, nos 36, p.19-29. mar 2002.

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação?, 33º Ed., São Paulo: Brasiliense

1995

FRANCO, Maria Amélia Santoro. Coordenação Pedagógica: Uma práxis em

busca de sua identidade. Revistas Múltiplas Leituras, V. 1, n. 1, p. 117- 131, 2008.

MANACORDA, Mario Alighero. História da educação da antiguidade aos nossos

dias, 8º ed., São Paulo:Cortez, 2000.

MATE, Cecília Hanna. Qual a identidade do coordenador pedagógico?. UNESP,

RS, 2006. Disponível em www.caxias.rs.gov.br/nidi/_upload/artigo_91 Acessado em

14 de agosto de 2011 ás 23h00.

MIRANDA, Naiane Almeida. A atuação do pedagogo no contexto escolar.

Salvador, Universidade Federal da Bahia. 2008. 44p. Monografia (Graduação em

Pedagogia).

ORSOLON, Luzia Algelina Marino. O coordenador/formador como um dos

agentes de transformação da/na escola. In: ALMEIDA, Laurinha Ramalho de,

PLACCO, Vera Maria Nigro de Souza (Org.). O coordenador pedagógico e o espaço

de mudança. São Paulo: Edições Loyola, 2010.

RIVAS, Selena Castelão. A coordenação pedagógica itinerante: o cotidiano em

duas gestões municipais. Salvador, Universidade Federal da Bahia, 2007, .28p..

Tese (Doutorado em Educação).

TARDIF, Mauricio. Saberes docentes e formação profissional. Petropólis, vozes,

2002.

VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Coordenação do trabalho pedagógico: do

projeto político pedagógico ao cotidiano em sala de aula. 11º ed. São Paulo:

Libertad Editora, 2009.