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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE ECONOMIA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ECONOMIA
MESTRADO EM ECONOMIA
JULIA TRINDADE ALVES DE CARVALHO
POLTICA NACIONAL DE RESDUOS SLIDOS E ROTAS TECNOLGICAS DE
RECICLAGEM PARA A CIDADE DE SALVADOR
Salvador
2013
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JULIA TRINDADE ALVES DE CARVALHO
POLTICA NACIONAL DE RESDUOS SLIDOS E ROTAS TECNOLGICAS DE
RECICLAGEM PARA A CIDADE DE SALVADOR
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-
Graduao em Economia, como requisito
parcial para obteno do grau de Mestre em
Economia.
Linha de pesquisa: Resduos Slidos Urbanos,
Reciclagem e Meio Ambiente.
Orientador: Prof. Dr. Gervsio Ferreira dos
Santos
Salvador
2013
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C331 Carvalho, Julia Trindade Alves de.
Poltica nacional de resduos slidos e rotas tecnolgicas de
reciclagem para a cidade de Salvador/ Julia Trindade Alves de
Carvalho. Salvador, 2013.
162 f.; Il.
Dissertao (Mestrado) Universidade Federal da Bahia,
Faculdade de Economia. Orientador: Prof. Dr Gervsio Ferreira
dos Santos.
1. Salvador resduos slidos. 2. Reciclagem. 3. Poltica
Nacional de Resduos Slidos. 4. Tecnologias de reciclagem
rotas. 5. Polticas ambientais. I. Universidade Federal da Bahia. II.
Santos, Gervsio Ferreira dos. III. Ttulo.
CDD: 628.445
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AGRADECIMENTOS
Agradeo minha me, Clo Carvalho, que sempre esteve ao meu lado, me apoiando e
incentivando, incondicionalmente, com todo amor dessa vida. Ao meu irmo Diogo, quem,
literalmente, nasceu e cresceu junto a mim, se tornando um grande exemplo de sapincia e
fraternidade.
Ao meu pai, Roberto Carvalho, que me disse as frases mais contundentes e inspiradoras,
contribuindo decisivamente para que eu chegasse aqui e alm. minha tia Leda, minha
segunda me, e sua filha e minha prima-irm, Gaia!
Aos meus colegas mestres, que compuseram uma turma impar em inteligncia e
solidariedade: Sydenia, Conrado, Emerson, Erica, casal germnico Eskeresky - Hank, Laura,
Leidisangela, Lucas, Bernardo e Tyago. Aos colegas e amigos da vida, que contriburam para
a minha formao humana e acadmica, em perodos diversos: Geovana Guedes, Itana Maria,
Magali Alves, Jamilly Dias, Guillermo Etkin, Gileno Jr, Elder Arimatia, Joao Teixeira,
Gustavo Delmont, Enio Antunes, La Santana, Andra Gama, Glaucia Lara, Rodrigo
Carneiro, Ronaldo Lyrio, Luis Carlos de Andrade.
turma do fundo: Daniela Vieira, Isabelle Duplat, Manuela Vidal, Patricia Canrio,
Mauricio Vieira, Tiago Phileto, Miguel Phileto. Simplesmente, vocs so parte do meu
DNA.
Agradeo imensamente ao professor e amigo, Dr. Joao Damsio de Oliveira Filho, a quem
terei eterna gratido. Obrigada por ter me dado a oportunidade de trabalhar, estudar e
aprender com a sua genialidade, brilhantismo e honestidade acadmica. A nossa convivncia
foi um divisor de guas na minha formao e algo que muito orgulha.
minha querida amiga Ana Cristina Sacramento por ter me suportado e me ajudado em
tudo, sempre que precisei.
Ao professore Dr. Henrique Tom da Costa Mata, por suas impagveis contribuies parte
terica deste trabalho. Ao professor Dr. Jardel Gonalves Pereira pelas oportunas
contribuies aos aspectos tcnicos, imprescindveis para a contextualizao do argumento
econmico aqui apresentado.
Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Ensino Superior (Capes), pela
disponibilizao da bolsa para realizao do mestrado. Aos profissionais da Secretaria do
Programa de Ps Graduao em Economia da UFBA, pelo apoio e presteza nos tramites
burocrticos.
Ao meu querido amigo e co-orientador Roberto Maximiano Pereira que nos momentos mais
difceis desta tese e em outros tantos da vida, acreditou no meu potencial, me ajudou na
soluo de problemas centrais e me fez parecer menos s nesta caminhada. Ao grande amigo
Luis Carlos Santana Ribeiro, um grande parceiro, pelas suas tempestivas intervenes na
forma e contedo deste trabalho.
Finalmente, agradeo ao meu orientador, Prof. Gervsio Ferreiro dos Santos. Primeiramente,
por ter acreditado em mim de olhos fechados, abraando as minhas idias como verdadeira
maestria. E, principalmente, por ter sido o meu farol metodolgico nesse pantanoso caminho
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dissertativo. uma honra e um privilgio imenso fazer parte do seu disputado time de
orientandos.
Meus agradecimentos a todos que, direta ou indiretamente, contriburam com esta pesquisa.
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Dedico este trabalho
minha famlia, razo de minha existncia:
Me (Cleo), pai (Roberto), Diogo, Las,
V Alaide (in memoriam), Tia Leda e Gaia.
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RESUMO
O objetivo deste trabalho simular a mudana na estrutura de insumos decorrente da
reciclagem de resduos slidos urbanos na cidade de Salvador, por meio das rotas
tecnolgicas de reciclagem mecnica e reciclagem energtica. O Brasil passa por um
momento de definio das respectivas trajetrias tecnolgicas de reciclagem, a partir da
aprovao da lei que institui a Poltica Nacional de Resduos Slidos. No estado da Bahia, a
aplicao dos princpios dessa poltica ainda incipiente. A teoria da economia ecolgica e do
ambiente aponta que as polticas ambientais, dentre as quais se inclui a gesto de resduos
slidos, devem priorizar os mtodos baseados no principio da Ecoeficiencia, que promovam a
conservao de energia de baixa entropia, observando a sua viabilidade econmica. Deste
modo, a partir da metodologia de analise de Insumo-Produto, o presente trabalho busca
comparar as rotas tecnolgicas de reciclagem, verificando a mudana na tecnologia de
produo proporcionada pela adoo de cada rota. O banco de dados utilizado no trabalho
contm informaes provenientes das Contas Regionais e Nacionais do IBGE e informaes
sobre a gerao de resduos slidos urbanos em Salvador. Os resultados mostraram que a
reciclagem mecnica mais eficiente, do ponto de vista econmico e de conservao dos
recursos naturais ao possibilitar uma maior economia de insumos no processo produtivo
intersetorial
Palavras-chave: Resduos Slidos Urbanos. Reciclagem mecnica. Reciclagem energtica.
Meio Ambiente. Poltica Nacional de Resduos Slidos. Analise de Insumo-
Produto.
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ABSTRACT
The objective of this research is to simulate the change of input structure resulting from the
recycling of municipal solid waste in the city of Salvador, through technological routes of
mechanical recycling and energy recycling. Brazil is going through a defining moment of
their technological trajectories of recycling, starting from the approval of the National Policy
of Solid Wasting. In the state of Bahia, the application of the principles of this policy is still in
its beginning. The theory of ecological and environment economics guides the environmental
policies, among which includes solid waste management, should prioritize methods based on
the principle of eco-efficiency, promoting energy conservation, low-entropy, noting its
economic viability. From the methodology of input-output analysis, this study seeks to
compare the technological recycling routes by checking the change in production technology
provided by the adoption of each route. The database used in the paper contains information
from the Regional and National Accounts IBGE and information on the generation of
municipal solid waste in Salvador. The results showed that mechanical recycling is more
efficient from the point of view of economics and natural resources conservation to enable
greater savings intersectoral inputs in the production process.
Key words: Urbans Solid Wastes. Mechanical Recycling. Energy Recycling. Environment.
National Solid Waste Policy. Input Output Anlysis.
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LISTA DE GRFICOS
Grfico 1- Poder calorfico inferior por grupo de RSU 32
Grfico 2 - Numero de estabelecimentos por CNAE da indstria transformadora de matria
prima reciclvel e reciclada, em 2012. 47
Grfico 3 - Numero de estabelecimentos fabricantes de matrias- primas virgens, no estado da
Bahia, 2012 48
Grfico 4 - Estoque de empregos por setor de atividade produtor de matria prima virgem. 49
Grfico 5 - Destino RSU gerado no Brasil e nos pases europeus selecionados (em Kgs /
habitante /ano) 52
Grfico 6 - Quantidade de RSU coletada no Brasil, por ano (em milhes de toneladas). 2007
2011 59
Grfico 7 - Distribuio dos resduos domiciliares e pblicos coletados gerados no Brasil, por
dia, segundo as Regies do Brasil 60
Grfico 8 - Comparao entre participao percentual na quantidade coletada de RSU
nacional e participao percentual no PIB nacional, por estado, em 2008 61
Grfico 9 - Quantidade de RSU (RDO+RPU) coletada por ano em Salvador, em toneladas.
2004- 2011 62
Grfico 10 - Municpios com coleta seletiva - Comparao 2000 e 2008 64
Grfico 11 - Custo marginal de abatimento de emisses e os efeitos da inovao tecnolgica
81
Grfico 12 - Composio gravimtrica dos materiais para reciclagem mecnica, em Salvador,
ano 2010. 127
Grfico 13 - CI poupado pela reciclagem de todos os materiais 130
Grfico 14 - Consumo Intermedirio poupado pelo setor 'Fabricao de resina e elastmeros.
131
Grfico 15 - Consumo Intermedirio poupado pelo setor Celulose e produtos de papel. 132
Grfico 16 - Consumo Intermedirio poupado pelo setor Outros da indstria extrativa. 133
Grfico 17 - Participao do material no poder calrico para reciclagem energtica, no
municpio de Salvador, no ano de 2010 134
Grfico 18 - Consumo Intermedirio poupado pelo setor Produo e distribuio de
eletricidade, gs, gua, esgoto e limpeza urbana. 136
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Esquema de classificao de Resduos Slidos, por origem. 27
Figura 2 - Organograma das principais correntes de pensamento da economia do meio
ambiente 71
Figura 3 - Hierarquia das opes de gerenciamento ambiental. 87
Figura 4 - Diagrama esquemtico da ordem de prioridade sugerida pela Produo mais Limpa
88
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Responsabilidades do Manejo por Tipo de Resduos 28
Quadro 2 - Processos de reciclagem por tipo de material 30
Quadro 3 - Agregao dos setores da TRU Brasil 106
Quadro 4 - Cdigo SCN e descrio dos 49 setores da matriz 108
Quadro 5 - Principais destaques da PNRS 155
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Composio gravimtrica e valorao dos RSU para reciclagem mecnica
Salvador, 2010 43
Tabela 2 - Incinerao e gerao de energia eltrica nos pases desenvolvidos, em 2000. 54
Tabela 3 - Potencial energtico dos RSU produzidos no municpio de Salvador, para o ano de
2010 112
Tabela 4 - Valorao da energia potencial dos RSUs gerados em Salvador 116
Tabela 5 - Preos materiais reciclveis - 2010, So Paulo. 118
Tabela 6 - Distribuio setorial dos materiais reciclveis. 119
Tabela 7 - Coeficientes Rasmussen - Hirschman de ligao setorial 124
Tabela 8 - Resultados da reduo do VBP CI e VA da reciclagem mecnica. 128
Tabela 9 - Valor da diferena do CI por setor 129
Tabela 10 - Resultados da reduo do Valor Bruto da Produo (VBP), Consumo
Intermedirio (CI) e Valor Adicionado (VA) da reciclagem energtica. 135
Tabela 11 - Poder Calorfico Inferior dos grupos de RSU 154
Tabela 12 - Relaes algbricas da TRU e matriz Insumo-Produto 157
Tabela 13 - Valores das Contas Regionais: VBP, CI e VA do estado da Bahia, em 2009. 159
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LISTA DE SIGLAS
ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas
ANEEL Agencia Nacional de Energia Eltrica
ACB Analise Custo - Benefcio
ACE Analise Custo -Efetividade
CNP Certides Negociveis de Poluio
OCB Classificao Brasileira de Ocupaes
CNAE Classificao Nacional de Atividades Econmicas
CIISC Comit Interministerial para Incluso Social e Econmica dos Catadores de
Materiais Reciclveis
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente
CI Consumo Intermedirio
Cmg Custo Marginal
LIMPURB Empresa de Limpeza Urbana de Salvador
EPE Empresa de Pesquisa Energtica
FEAM Fundao Estadual do Meio Ambiente de Minas Gerais
GIRS Gesto Integrada de Resduos Slidos
GWh Giga-watt hora
GERI Grupo de Estudos de Relaes Intersetoriais
IPI Imposto sobre Produtos Industrializados
IBAM Instituto Brasileiro de Administrao Municipal
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
IBAMA Instituto Nacional do Meio Ambiente
MS Market Share
MRI Matriz de Relaes Intersetoriais
MDL Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
MWh Mega-watt hora
MDS Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome
TEM Ministrio do Trabalho e Emprego
MNCR Movimento Nacional de Catadores de Material Reciclvel
PSA Pagamento por Servios Ambientais
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PSAU Pagamento por Servios Ambientais Urbanos
PAYT Pay as You Throw
P&D Pesquisa e Desenvolvimento
PIA Pesquisa Industrial Anual
PNSB Pesquisa Nacional de Saneamento Bsico
PCI Poder Calorfico Inferior
PVC Policloreto de Vinila
PABD Polietileno de Alta Densidade
PEBD Polietileno de Baixa Densidade
PNRS Poltica Nacional de Resduos Slidos
PP ou P2 Preveno Poluio
PPP Principio do Poluidor - Pagador
PUP Principio do Usurio Pagador
P+L Produo Mais Limpa
PI Produto Intermedirio
PIB Produto Interno Bruto
KWh Quilo-watt hora
RAIS Relatrio Anual de Informaes Sociais
RDO Resduo Slido de origem Domiciliar
RPU Resduos Solido de origem Publica
RSU Resduos Slidos Urbanos
SCN Sistema de Contas Nacionais
SCR Sistema de Contas Regionais
SLU Sistema de Limpeza Urbana
SINIR Sistema Nacional de Informaes sobre a Gesto de Resduos
SNIS Sistema Nacional de Informaes sobre a Saneamento
TRU Tabela de Recursos e Usos
VA Valor Adicionado
VBP Valor Bruto da Produo
WTE Waste - to - Energy
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SUMRIO
1 INTRODUO 18
2 CARACTERSTICAS TCNICAS DA RECICLAGEM DE RESDUOS
SLIDOS URBANOS 24
2.1 DEFINIO DE RESDUOS 24
2.2 DEFINIO E CARACTERIZAO DE RECICLAGEM MECNICA E ENERGTICA 28
2.3 CLASSIFICAO NACIONAL DA ATIVIDADE ECONMICA
RECICLADORA 33
2.4 ASPECTOS ECONMICOS E INSTITUCIONAIS DAS TECNOLOGIAS DE RECICLAGEM ENERGTICA 35
2.5 ASPECTOS ECONMICOS E INSTITUCIONAIS DAS TECNOLOGIAS DE RECICLAGEM MECNICA 40
3 ESTRUTURA ECONMICA E INSTITUCIONAL DA CADEIA DE
RECICLAGEM 44
3.1 INDSTRIA, MERCADO E CADEIA PRODUTIVA DA RECICLAGEM 44
3.2 HISTRICO DA RECICLAGEM DE RESDUOS SLIDOS URBANOS 50
3.3 A RECICLAGEM DE RSU NO MUNDO 51
3.4 LEGISLAO SOBRE RESDUOS SLIDOS URBANOS 54
3.5 MANEJO E DISPOSIO DE RESDUOS SLIDOS NO MUNICPIO DE SALVADOR 58
3.5.1 Manejo e disposio no Brasil 59
3.5.2 Manejo e disposio de Resduos Slidos Urbanos no estado da Bahia 60
3.5.3 Manejo e disposio no municpio de Salvador 61
3.6 RECICLAGEM ENERGTICA E RECICLAGEM MECNICA DE ACORDO COM A PNRS 65
4 ECONOMIA AMBIENTAL E RECICLAGEM 70
4.1 ECONOMIA AMBIENTAL: EVOLUO DAS CORRENTES TERICAS 70
4.2 CORRENTE NEOCLSSICA DE ECONOMIA DO MEIO AMBIENTE: A
ECONOMIA AMBIENTAL 72
4.3 A CORRENTE ECOLGICA DA ECONOMIA DO MEIO AMBIENTE 74
4.4 A ABORDAGEM DA ANLISE CUSTO EFETIVIDADE (ACE) 77
4.5 A ECONOMIA AMBIENTAL NA POLTICA NACIONAL DE RESDUOS
SLIDOS 78
4.5.1 O principio do poluidor pagador na Poltica Nacional de Resduos Slidos. 79
4.5.2 Principio do Protetor - Recebedor 83
4.5.3 Ecoeficincia 86
4.6 COMPARAO ENTRE RECICLAGEM MECNICA E RECICLAGEM ENERGTICA 90
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4.7 LITERATURA SOBRE APLICAO DE INSUMO-PRODUTO A
RECICLAGEM E DADOS AMBIENTAIS 91
5 CONSTRUO DE MATRIZES E MTODOLOGIA DE AFERIO
DOS EFEITOS DAS ROTAS DE RECICLAGEM 94
5.1 O MODELO BSICO DE ANLISE INSUMO-PRODUTO 94
5.2 DERIVAO DA MATRIZ DE RELAES INTERSETORIAIS A PARTIR
DA TRU 98
5.3 O MTODO BIPROPORCIONAL RAS 103
5.4 MRI BAHIA PROCESSO DE CONSTRUO DA MRI BAHIA A PARTIR DA VARIANTE DO MTODO BI-PROPORCIONAL PARA A PROJEO
DE MATRIZES DE RELAES INTERSETORIAIS 104
5.4.1 Construo da matriz Bahia pelo mtodo RAS Biproporcional modificado 104
5.4.2 Detalhamento das informaes utilizadas para a construo da MRI Bahia 106
5.5 MTODOS DE AFERIO DOS EFEITOS ECONMICOS CAUSADOS
PELA RECICLAGEM NA CADEIA PRODUTIVA 109
5.6 VALORAO DOS RESDUOS SLIDOS URBANOS GERADOS NO
MUNICPIO DE SALVADOR EM 2010 110
5.6.1 Valorao do potencial energtico dos Resduos Slidos Urbanos 111
5.6.2 Valorao dos RSUs para reciclagem mecnica 116
5.7 O MTODO DA COMPARAO ENTRE MATRIZES Q QUADRADAS: A
REDUO NA OFERTA DE MATRIA PRIMA VIRGEM 119
5.8 CONTRIBUIES DA PRESENTE METODOLOGIA LITERATURA 121
6 COMPARAO ENTRE IMPACTOS ECONOMICOS DAS ROTAS
TECNOLOGICAS DE RECICLAGEM EM SALVADOR 123
6.1 ANLISE DOS INDICADORES DE ENCADEAMENTO DA MRI BAHIA
2009 123
6.2 RESULTADO DAS SIMULAES DE MUDANA TECNOLGICA NA
ESTRUTURA DE INSUMOS 125
6.2.1 Reciclagem mecnica 126
6.2.1.1 Plsticos 130
6.2.1.2 Papis 131
6.2.1.3 Metais 133
6.2.2 Reciclagem energtica 133
6.3 SINTESE DOS RESULTADOS 136
7 CONSIDERAES FINAIS 138
REFERENCIAS 144
ANEXOS 154
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1 INTRODUO
Atualmente, a quantidade de resduos slidos gerados no mundo de 12 bilhes de toneladas
por ano. A perspectiva, segundo Santos e Dias (2012), de que este valor chegue a 18
bilhes, at 2020. Deste total, cerca de trs bilhes de toneladas se referem aos Resduos
Slidos Urbanos (RSU) 1 gerados pelos 6,6 bilhes de habitantes do planeta Terra.
(CEMPRE, 2010). Os problemas associados gesto de resduos slidos se acumulam e a
cada tempo e lugar so encontrados novos desafios a serem superados. A reciclagem vem
sendo uma alternativa, embora no prometa resolver a maior parte dos problemas associados
aos resduos.
A teoria econmica vem sendo reformulada para absorver as criticas ecolgicas e ambientais.
A concepo econmica tradicional considera que o meio ambiente um dos elementos que
fazem parte do sistema econmico. As teorias econmicas mais modernas invertam esta
relao, ao conceberem o sistema econmico como parte do meio ambiente. A natureza
possui outros sistemas de organizao no antrpicas que se impem ao sistema de
organizao social antrpico, como a economia.
As teorias da economia ecolgica e a da economia do meio ambiente vm evoluindo
conceitualmente para preencher esta lacuna acadmica. Neste contexto, o mais urgente dos
problemas ambientais apontados pela teoria a gerao e destinao dos resduos do processo
de produo e consumo. Este um problema mais urgente porque, no curto e mdio prazo,
pode causar mais externalidades negativas do que a exausto de recursos naturais. Georgescu-
Roagen, considerado pai da economia ecolgica apontava para uma preocupao especial
com a capacidade de absoro e processamento dos resduos pelo ecossistema.
No Brasil, so gerados 67 milhes de toneladas de RSU2 por ano, aproximadamente. A
gesto dos resduos slidos municipalizada (BRASIL, 2011 - a). A Constituio Federal de
1988, no inciso V do artigo 30, estabelece a gesto e gerenciamento de resduos slidos
urbanos como competncia municipal, diretamente ou sob regime de concesso ou permisso.
A gesto de RSU no Brasil, assim como ocorre nos demais pases em desenvolvimento,
1 So os resduos de origem domiciliar e comercial. 2 A Pesquisa Nacional de Saneamento Bsico, do IBGE, mais recente do ano de 2008.
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marcada pela presena de catadores de materiais reciclveis, que retiram do lixo os meios
materiais de sua subsistncia. Desta forma, a presena de catadores uma importante varivel
social a ser considerada na gesto de resduos do Brasil. Alm disso, a reciclagem, ao mesmo
tempo em que gera atividade econmica, tambm evita a produo desnecessria de matrias
primas virgens.
No estado da Bahia, so geradas cerca de11 mil toneladas de RSU por dia, equivalente
quase quatro milhes de toneladas por ano. Dados do Plano Nacional de Saneamento Bsico,
de 2008, indicam que 100% dos 417 municpios do estado possuem manejo de RSU. Na
maioria dos municpios, a prefeitura aparece como nica executora dos servios de manejo de
resduos slidos. O municpio de Salvador, em particular, gera anualmente 830 mil toneladas
por ano, em torno de 2.700 toneladas de RSU por dia. O municpio j no utiliza lixes para
dispor os seus resduos e oferece 100% de cobertura do servio de coleta e manejo de RSU.
Este servio executado por empresas consorciadas terceirizadas, responsveis tambm pelo
servio de disposio final em aterro sanitrio.
A Poltica Nacional de Resduos Slidos (PNRS), instituda pela lei 12.305 /2010 o marco
normativo da gesto de resduos slidos no Brasil. Os princpios constituintes e os
instrumentos econmicos da PNRS formam uma aplicao emprica da abordagem ecolgica
e ambiental da teoria econmica. Os instrumentos econmicos baseados no princpio do
poluidor pagador, do protetor recebedor, e o paradigma da Ecoeficiencia representam os
parmetros normativos da gesto de resduos previstos na PNRS. A PNRS representa um
avano na gesto de resduos slidos no Brasil, pois incorpora os conceitos de poltica
ambiental considerados mais avanados, na atualidade.
A PNRS exige, ainda, que os estados e municpios desenvolvam planos de gesto de resduos
slidos de mbito estadual, municipal e intermunicipal respectivamente. Os planos
intermunicipais so apresentados como uma soluo para o problema de escala
economicamente vivel dos servios de manejo e disposio dos resduos slidos dos
municpios. Os principais destaques normativos da PNRS so: a ordem de aes prioritrias
para a gesto de resduos, mais eficiente do ponto de vista ecolgico; a responsabilidade
compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, especialmente na fase da logstica reversa; a
erradicao de lixes e a incluso de catadores de materiais reciclveis nos planos de gesto
de resduos slidos.
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A PNRS, ao tempo em que traz avanos na poltica de gesto de resduos slidos no Brasil,
tambm exprime uma controvrsia em relao ordem de prioridades das aes estratgicas
na gesto de resduos slidos. Esta ordem de prioridade traz o ideal de conservao energtica
ecoeficiente. Este ideal assume a no gerao, reduo, reutilizao, reciclagem e tratamento
dos resduos slidos, bem como disposio final ambientalmente adequada dos rejeitos.
Entretanto, ao se referir incinerao com aproveitamento energtico de resduos slidos, a
lei no deixa claro quais so os limites entre a reciclagem mecnica (convencional) e a
reciclagem energtica (incinerao). Isto traz conseqncias significativas para o
planejamento tecnolgico e econmico do sistema de gesto.
De acordo com a ordem de prioridade da PNRS, a incinerao deve ocorrer na etapa de
tratamento de resduos slidos. uma etapa posterior reciclagem mecnica e anterior
disposio final. A finalidade primordial da incinerao seria a reduo do volume de RSU e
a gerao de energia eltrica a partir da queima de Resduos Slidos Urbanos seria um
subproduto desejvel desta tecnologia. A gerao de energia eltrica por meio de incinerao
de RSU um processo tambm conhecido como reciclagem energtica. Entretanto, a
utilizao de tecnologias obsoletas de incinerao de resduos com reciclagem energtica vem
sendo cogitada pelos formuladores de polticas de gesto. A literatura mostra que a gerao de
energia, por estas tecnologias, s economicamente vivel quando se inclui a queima de
papeis e plsticos, materiais com maior poder calorfico entre os RSU. Desta forma, a
incinerao concorreria diretamente com a reciclagem mecnica de RSU, trazendo uma
dicotomia na escolha de tecnologias de gesto de Resduos Slidos Urbanos.
Um ponto fundamental que relaciona a teoria da economia ecolgica com a gesto de resduo
a analise da entropia da energia gerada ou conservada. A teoria enfatiza a necessidade de
priorizar tcnicas de conservao de energia de baixa entropia, que seria o caso da reciclagem
mecnica, em detrimento de tcnicas de gerem energia de alta entropia, a exemplo da
reciclagem energtica. Desta forma, neste trabalho, esta dicotomia o tema central do
problema de pesquisa.
No estado da Bahia, o Plano Estadual de Resduos Slidos est na fase de Projeto de Lei. Este
projeto de lei traz a mesma ambigidade tcnica na gesto de resduos. Como parte do sistema
de gesto de resduos a ser implantado no estado, o plano prev a concesso de benefcios
fiscais s empresas e entidades que tenham como atividade econmica o aproveitamento e a
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recuperao energtica de resduos slidos produzidos no estado. Tal como ocorre em mbito
nacional, verifica-se a necessidade de delimitar de forma mais precisa as prioridades tcnicas
da gesto de resduos no estado da Bahia. Em Salvador, ainda no existe nenhum projeto de
lei de plano municipal ou plano intermunicipal de gesto de resduos slidos. Dessa forma,
Salvador ainda se encontra na fase escolha das tecnologias de gesto de resduos slidos.
Considerando as possibilidades de adoo de duas rotas tecnolgicas, Reciclagem
mecnica e reciclagem energtica, para recuperao dos Resduos Slidos Urbanos no
municpio de Salvador, o problema de pesquisa que se coloca : Qual a melhor
rota tecnolgica a ser adotada no mbito da Poltica Nacional de Resduos Slidos,
para recuperao ecoeficiente dos Resduos Slidos Urbanos, no municpio de Salvador?
A partir deste problema de pesquisa, o objetivo do presente trabalho ser simular a mudana
tecnolgica na estrutura de insumos decorrente da adoo de duas rotas tecnolgicas pelo
municpio de Salvador. Como objetivos especficos, sero estabelecidos os seguintes: (i)
Construir um referencial terico da economia do meio ambiente relacionada PNRS e
problemtica dos resduos slidos; (ii) Construir um modelo de Insumo - Produto para o
estado da Bahia, para simular uma mudana tecnolgica refletida na estrutura de insumos das
rotas tecnolgicas; (iii) Comparar os resultados econmicos das duas rotas tecnolgicas a
partir da modelagem de Insumo - Produto. A hiptese levantada a priori de que a
reciclagem mecnica provoca uma reduo mais significativa da depleo de recursos
naturais, se comparada economia de recursos proporcionada pela reciclagem energtica.
Diante do presente problema de pesquisa e respectivos objetivos, ser necessrio seguir
algumas etapas para execuo do trabalho de pesquisa. Desse modo, alm desta introduo, a
dissertao composta de mais seis captulos.
O capitulo 2 apresentar ao leitor as principais definies e conceitos tcnicos relacionados
aos resduos slidos e reciclagem. So apresentadas as classificaes dos Resduos Slidos,
bem como a descrio dos Resduos Slidos Urbanos que sero objeto de analise nesta
dissertao. Neste capitulo, sero dadas as definies de reciclagem mecnica e energtica,
mostrando as diferenas tcnicas entre estas duas rotas tecnolgicas. Este capitulo foi
formulado para tornar as expresses tcnicas, utilizadas em toda a extenso deste trabalho,
mais compreensveis ao leitor.
O capitulo 3 discorre sobre os aspectos econmicos e institucionais cadeia produtiva da
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reciclagem. Ser realizada a descrio do mercado de reciclagem, com a caracterizao dos
agentes que nele atuam. Em seguida, ser apresentada a legislao que rege as instituies
relacionadas cadeia de reciclagem, o histrico da atividade e a configurao da cadeia
produtiva da reciclagem e a legislao que regem o setor reciclador. Por fim, ser explicitada
a problemtica que envolve a Poltica Nacional de Resduos Slidos em relao escolha das
rotas tecnolgicas alternativas de reciclagem e como este trabalho pretende abordar estas
questes.
O captulo 4 traz a reviso da terica sobre a economia ecolgica e a economia ambiental. So
apresentados os principais conceitos e definies tericos relacionados s polticas ambientais
e, em particular, s polticas ambientais urbanas. Neste capitulo so detalhados os conceitos
tericos presentes na PNRS e como estes se relacionam forma ideal de gesto de resduos
slidos urbanos, defendida nesta pesquisa. Tambm so apresentados os trabalhos empricos
precursores da analise comparativa das rotas tecnolgicas, bem como, os trabalhos que j
aplicaram a analise de Insumo-Produto economia da reciclagem. Dessa forma, so
ressaltados os principais conceitos das cincias naturais e da economia que daro
embasamento escolha da rota tecnolgica de reciclagem mais adequada atual realidade
ambiental e ecolgica.
O Capitulo 5 refere-se metodologia utilizada para simulao da mudana tecnolgica,
decorrente da reciclagem, sobre estrutura produtiva do estado da Bahia, para o ano de 2009.
Em primeiro lugar, ser apresentada a metodologia de analise de Insumo-Produto.
Posteriormente, mostrada a construo de Matrizes de Relaes Intersetoriais (MRI)
estaduais pelo mtodo RAS biproporcional modificado e os coeficientes de ligao de
Rasmussen. Em seguida, mostrado o processo de quantificao fsica dos resduos
reciclveis presentes no RSU do municpio de Salvador, tanto do ponto de vista da rota de
reciclagem mecnica quanto da rota de reciclagem energtica. O banco de dados com a
quantidade de resduos gerados em Salvador se refere ao ano de 2010. Uma vez quantificados
fisicamente, os resduos so valorados aos preos de mercado. A partir da, segue-se que com
a explicao do modelo de Insumo-Produto utilizado para a aferio dos efeitos de cada uma
das rotas de reciclagem estudadas nesta dissertao.
A modelagem apresentada pretende simular uma mudana tecnolgica na estrutura de
insumos dos setores da cadeia produtiva produzida pela reciclagem de Resduos Slidos
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23
Urbanos. um modelo que analisa as conseqncias da reciclagem pela tica dos setores
fornecedores de matria prima virgem. Atravs da reduo do Valor Bruto da Produo do
setor ofertante de matria prima virgem e de energia de diversas fontes3, possvel verificar a
os recursos poupados pela reduo na produo de matria prima virgem, na medida em que
esta substituda por insumos reciclveis e reciclados.
No capitulo 6 sero apresentados os resultados da simulao do uso de materiais reciclveis
como insumos na cadeia produtiva do estado da Bahia. O modelo de Insumo-Produto foi
utilizado para produzir resultados para as duas rotas tecnolgicas de reciclagem discutidas
nesta dissertao, quais sejam reciclagem mecnica e reciclagem energtica. Sero
apresentados os resultados calculados pela analise do lado da oferta. Este modelo exprime a
reduo do Valor Bruto da Produo do setor ofertante de matria prima virgem e de energia
de diversas fontes4, ocasionada pela entrada dos materiais reciclveis na cadeia produtiva.
Uma analise da mudana tecnolgica na estrutura de insumos ser apresentada na concluso
deste capitulo.
O capitulo 7 apresentar as consideraes finais da pesquisa. Ser feita uma sntese dos
captulos e dos resultados encontrados e tambm sero elencadas algumas sugestes de
polticas publicas que podem ser fundamentadas neste estudo. Ao final do capitulo, tambm
sero sugeridos futuros temas de pesquisa, a partir deste estudo.
3 Considera-se que a energia gerada pela queima de RSU entra na matriz como substituto perfeito da energia eltrica
provenientes de outras fontes.
4 Considera-se que a energia gerada pela queima de RSU entra na matriz como substituto perfeito da energia eltrica
provenientes de outras fontes.
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24
2 CARACTERSTICAS TCNICAS DA RECICLAGEM DE RESDUOS SLIDOS
URBANOS
Neste capitulo, sero apresentados ao leitor as principais definies e conceitos tcnicos
relacionados aos resduos slidos e reciclagem. So apresentadas as classificaes dos
Resduos Slidos, bem como a descrio dos Resduos Slidos Urbanos (RSU) que sero
objeto de analise nesta dissertao. Tambm so dadas as definies de reciclagem mecnica
e energtica, mostrando as diferenas tcnicas entre estas duas rotas tecnolgicas.
2.1 DEFINIO DE RESDUOS
O termo resduo associado a todo tipo de matria ou energia no aproveitada no processo de
consumo ou produo. Qualquer processo de produo, distribuio, e consumo gera resduo,
seja na forma de matria ou energia dissipada. Atualmente, os 6,6 bilhes de habitantes do
planeta Terra geram cerca de 3 bilhes tonelada de lixo por ano (CEMPRE, 2010). Os
problemas associados a sua gesto se acumulam e a cada tempo e lugar so encontrados
novos desafios a serem superados. A reciclagem vem sendo uma alternativa, embora no
prometa resolver a maior parte dos problemas associados aos resduos. Considerando que
cada processo deste como um ciclo, estes resduos podem ser reintroduzidos no processo de
produo e consumo atravs da sua reutilizao ou reciclagem. Para tanto, faz-se necessrio a
definio correta dos resduos que esto sendo gerados, de forma a encaminhar as melhores
solues possveis para cada tipo de resduo.
Cabe ressaltar que o termo resduo slido se diferencia de lixo. O resduo slido se
configura como algo que tem valor de uso e valor de troca e pode fazer parte de uma cadeia
produtiva em que ocorre a agregao de valor a este (DELMONT, 2007). Por outro lado, o
lixo tem seu preo negativo, pois tudo aquilo que as pessoas pagam, mesmo que
indiretamente para se desfazerem. Os resduos slidos tm um preo positivo, uma vez que
so varias as possibilidades de ganhos que a sociedade e o meio ambiente podem obter com a
sua reintroduo, na cadeia produtiva. Alm das receitas com a reutilizao produtiva dos
RSU, a literatura destaca outros benefcios econmicos derivados da reciclagem (CEMPRE,
2010). Um dos principais benefcios so os custos evitados pela reciclagem devido
economia no transporte e na disposio final dos resduos nos aterros sanitrios. Estes
elementos fazem dos RSU um objeto de valor econmico positivo para a economia e
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25
sociedade em geral. Dentre os vrios segmentos de resduos slidos apresentados
anteriormente, a reciclagem mecnica e energtica vem sendo cada vais mais utilizada a nvel
mundial.
A classificao dos Resduos Slidos varia conforme os critrios de agregao dos materiais.
A classificao tcnica pode ser quanto sua origem, ao seu grau de periculosidade ou quanto
s suas caractersticas fsicas. O tipo especifico de resduo que ser objeto de analise nesta
dissertao so os Resduos Slidos Urbanos, que englobam os Resduos Slidos Urbanos
Domiciliares (RDO) e Pblicos (RPU), uma subclasse dos Resduos Slidos.
De acordo com o Manual de Gerenciamento Integrado de Resduos Slidos do Instituto
Brasileiro de Administrao Municipal (IBAM) de 2001, os resduos slidos so geralmente
agregados de duas formas: i- pelos seus riscos potenciais de contaminao do meio ambiente;
ii- quanto natureza ou origem do resduo. Cada uma destas agregaes apresenta outras
sub-agregaes que especificam com mais exatido as caractersticas dos resduos. Tais
caractersticas determinam o tipo de tratamento mais adequado para cada espcie de resduo.
Com relao primeira classificao, a NBR 10.004 da ABNT determina trs subclasses, a
saber: Classe I ou Perigosos: So aqueles com propriedades intrnsecas de inflamabilidade,
corrosividade, reatividade ou patogenicidade; A Classe II ou No- Inertes: So resduos que
apresentam caractersticas de combustibilidade, biodegradabilidade, ou solubilidade que
possam acarretar riscos sade ou ao meio ambiente; Classe III ou Inertes: So aqueles
resduos que no oferecem riscos sade e ao meio ambiente.
De acordo com o Manual do IBAM (2001), a classificao quanto natureza ou origem dos
Resduos Slidos apresenta ainda cinco subclasses distintas, quais sejam: Domstico ou
residencial; Comercial e demais servios; Publico (limpeza de vias e logradouros pblicos);
Domiciliar especial (entulho, pilhas e baterias, lmpadas fluorescentes, pneus, etc.) e
Resduos de fontes especiais (com cinco subclassificaes: lixo industrial, lixo radioativo,
lixo de portos, aeroportos, e terminais rodovirios, lixo agrcola e lixo de servios de sade).
Na cadeia de consumo e produo, ainda so classificados em Ps - industrial, Ps consumo
e Ps-destino final.
O Resduo Ps-industrial formado pelos refugos da produo industrial de materiais ou de
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26
embalagens que sobram do processo de comercializao do produto final, conhecida como
perda industrial. Este resduo, que anteriormente era descartado completamente,
corresponde atualmente a 70% do mercado de sucata no Brasil (CEMPRE, 2010). Isto se
deve, em grande parte, qualidade ao material, que possui baixo nvel de contaminao por
outros materiais, facilitando a reciclagem.
Quanto aos resduos Ps consumo, estes so formados por resduos domiciliares, comerciais
e pblicos, que no chegaram ao destino final que so os lixes e aterros. Este resduo a
origem de parte dos resduos slidos urbanos coletados por catadores, seja por meio de coleta
seletiva ou pela triagem realizada em logradouros de forma predatria. A composio dos
resduos slidos urbanos em resduos molhados e secos na composio gravimtrica5 do
lixo gerado diretamente proporcional renda per capita.
No caso do resduo Ps - destino final, este se refere aos materiais triados aps chegarem aos
aterros, lixes ou usina de triagem. Segundo Pimenteira (2002), esta a forma de coleta mais
utilizada por estes trabalhadores em todo o mundo, e tambm a mais perigosa. Os materiais
provenientes desta da triagem, ps-destino final, tm sua taxa de reaproveitamento bastante
reduzida (apenas 0,8%) devido ao alto nvel de contaminao dos resduos por substancias
que inviabilizam a sua reciclagem.
A literatura apresenta imprecises na classificao quanto origem dos Resduos Slidos que
podem ser enquadrados como Urbanos. Segundo o manual do IBAM, a classe de resduos
denominada Resduos Slidos Urbanos representa a soma dos resduos domiciliares (RDO) e
dos resduos pblicos (RPU). O RDO, na definio do IBAM usada por Delmont (2007) e
Freitas (2007), englobaria tanto os resduos domsticos ou residenciais, quanto os resduos
comerciais6. O RPU se refere aos resduos comuns gerados pelas atividades da limpeza de
ruas e logradouros pblicos. Ambos, RDO e RPU, podem ser considerados RSU ps
consumo.
A classificao utilizada pela Lei n 12.305/10 que institui a Poltica Nacional de Resduos
5 Composio Gravimtrica, de acordo com Compromisso Empresarial para a Reciclagem (2010), a composio fsica dos
resduos. Em outras palavras, porcentagem dos diversos tipos de materiais que compem o resduo, tais como papel,
papelo, madeira, plstico, matria orgnica, vidro, metal, entre outros. 6 Desde que coletados de pequenos geradores. Segundo IBAM, por pequeno gerador entende-se um estabelecimento
comercial que gere o equivalente a uma domicilio com at cinco membros. Entretanto, cada municpio pode estabelecer
critrios adicionais para a classificao entre grandes e pequenos geradores (IBAM; 2001. p. 27).
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27
Slidos (PNRS), considera como RSU apenas os resduos domiciliares: originrios de
atividades domsticas em residncias urbanas e os resduos de limpeza urbana: os originrios
da varrio, limpeza de logradouros e vias pblicas e outros servios de limpeza urbana. A
PNRS no menciona os resduos de origem comercial ou entulhos como RSU. Neste sentido,
aqui ser levado em conta definio do IBAM (2001), que considera como parte do RSU
tambm os resduos comerciais e entulhos de pequenos geradores, pela semelhana fsica dos
materiais gerados pelos pequenos comerciantes e geradores de entulho com os materiais de
origem domiciliar e publica. A Figura 1 apresenta um organograma de classificao dos RS
conforme o tipo de gerador.
Figura 1 - Esquema de classificao de Resduos Slidos, por origem.
Residuos Slidos
Residuos Slidos Urbanos
Domiciliares
Domsticos ou Residenciais
Comerciais e entulhos de pequeno porte
Publicos
Residuos Solidos de Fontes Especiais
Industrial
Portos, Aeroportos e Terminais Rodovirios
Agricola
Radiotivo
Servios de Saude
Domiciliares especiais
Fonte: Dados da pesquisa, 2013, a partir de IBAM (2001), Delmont (2007), Freitas (2007), Brasil (2010-a).
A classificao de RSU definida pelo IBAM (2001) a mesma utilizada para atribuio de
responsabilidade pelo manejo de RS do municpio de Salvador. O sistema de manejo dos RS
distingue o grande gerador do pequeno gerador, para resduos comerciais, de servios,
industriais e entulhos. O grande gerador, enquadrado nestas categorias, tem responsabilidade
pelo manejo do prprio resduo, enquanto o pequeno gerador pode dispor do servio publico
para a coleta de resduos. Esta diviso poder ser observada no
Quadro 1. Este trabalho pretende fazer uma analise sobre o montante de RSU coletado pelo
sistema publico de limpeza urbana municipal de Salvador.
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28
Quadro 1 - Responsabilidades do Manejo por Tipo de Resduos
Origem dos resduos Responsabilidade pelo manejo
Domiciliar Municpio
Comercial pequeno gerador Municpio
Comercial grande gerador Gerador
Pblico Municpio
Servios de sade Gerador
Industrial Gerador
Em perdimento Gerador
Instalaes porturias, terminais alfandegrios, rodovirios e ferrovirios Gerador
Agrcola Gerador
Construo e demolio - pequeno gerador (at 2 m3) Municpio
Construo e demolio - grande gerador (at 2 m3) Gerador
Fonte: PBLU (2012).
Os RSU podem se apresentar de trs formas: i - Resduos reciclveis secos (plstico, papel,
metal, etc.); ii - Resduos reciclveis orgnicos ou molhados (restos de alimentos) e; iii -
rejeitos, que so resduos sem possibilidade de serem reciclados, devendo ser incinerados ou
dispostos em aterros. A Composio gravimtrica dos RSU derivada de fatores
socioculturais e ambientais, tais como o nmero de habitantes, poder aquisitivo, nvel
educacional, hbitos e costumes da populao, condies climticas e sazonais, mudanas na
poltica econmica do pas e na poltica nacional de resduos slidos (SINDICATO DAS
EMPRESAS DE LIMPEZA URBANA NO ESTADO DE SO PAULO; ASSOCIAO
BRASILEIRA DE RESDUOS SLIDOS E LIMPEZA PBLICA, 2012; CEMPRE; 2010).
A depender da intensidade destes fatores, as propores de materiais presentes no RSU e a
quantidade de lixo per capita podem variar entre as reas urbanas e dentro das prprias reas
urbanas.
2.2 DEFINIO E CARACTERIZAO DE RECICLAGEM MECNICA E
ENERGTICA
A reciclagem de RSU se subdivide em basicamente dois processos. No processo conhecido
como reciclagem mecnica, o produto resultante matria prima secundria, que substitui a
matria prima originalmente utilizada no processo produtivo (OLIVEIRA FILHO; FREITAS,
2009). A reciclagem energtica, tambm conhecida como valorizao energtica, consiste em
aproveitar o poder calorfico gerado na queima de resduos para a gerao de energia eltrica.
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29
Neste caso, o produto da reciclagem , portanto, a energia eltrica.
De acordo com a Poltica Nacional de Resduos Slidos, definida na Lei 12.305/2010, que
normatiza as praticas de gesto e gerenciamento de RSU, a reciclagem um [...] processo
que transforma materiais reciclveis em novos produtos. O termo reciclagem geralmente
aplicado ao processo de transformao dos mais diversos grupos ou tipos de resduos slidos
que tenham as suas propriedades fsicas, fsico-qumicas ou biolgicas alteradas para
obteno de insumos ou novos produtos. A literatura tambm define os termos recuperao
e valorizao de resduos como sinnimos de reciclagem de resduos slidos. O uso de cada
uma das diversas tecnologias de reciclagem depende do tipo de material a ser processado e do
tipo de insumo / produto que se deseja obter.
A diferenciao do termo reciclagem surge quando se trata de processo de reciclagem dos
materiais plsticos. Segundo Franchetti e Marconato (2003), Oliveira Filho e Freitas (2009), a
reciclagem de plstico pode ser categorizada em quatro tipos: A reciclagem primria; a
reciclagem secundria ou mecnica, a reciclagem terciria ou qumica e; a reciclagem
quaternria ou energtica. O termo reciclagem mecnica e reciclagem energtica, apesar de
originalmente empregado para designar diferentes tipos de processo de reciclagem de
plstico, pode ser estendido para a designao dos processos de reciclagem dos demais
materiais.
Segundo Cempre (2010), Oliveira Filho e Freitas (2009), a reciclagem primria o nome
dado reciclagem de artefatos plsticos defeituosos, realizada internamente pela unidade
produtora. tambm conhecida como reciclagem ps-industrial. Este tipo de reciclagem
importante do ponto de vista de reduo de custos do produtor. Pela facilidade tcnica e
logstica atribuda reciclagem de resduos ps industriais, as metas de aproveitamento
associadas a esta so as primeiras a serem alcanadas por indstrias e policy makers.
A reciclagem secundria ou mecnica a converso de resduos plsticos domiciliares ou
pblicos descartados como lixo pelo seu consumidor final, seja na fase ps - consumo ou ps
destino final. A cadeia produtiva da reciclagem mecnica, que est detalhada no capitulo 3
deste trabalho, requer articulao institucional mais complexa no que se refere
implementao de polticas publicas ambientais, devido a sua multiplicidade das transaes e
atores envolvidos. Em funo desta complexidade, a meta de reciclagem mecnica de difcil
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30
alcance.
A reciclagem terciaria ou qumica do plstico a converso dos resduos plsticos em
monmeros ou hidrocarbonetos. Os diversos tipos de plsticos podem ser transformados em
resinas virgens e outras substncias de valor econmico para a indstria. Alm disto, os
diversos tipos de plsticos ps consumo e ps-industrial (PVC, PABD, PEBD, etc.) podem
ser reciclados juntos, sem necessidade de triagem previa. No entanto, sua utilizao em escala
ainda invivel economicamente devido ao alto custo do processo.
Por fim, a reciclagem quaternria ou energtica do plstico consiste no processo de gerao de
energia eltrica atravs do calor advindo da queima dos resduos plsticos. Esta reciclagem se
diferencia da simples incinerao, j que esta no necessariamente produz energia eltrica no
processo de queima do resduo. Trata-se de um tipo de reciclagem bastante difundido nos
pases centrais, especialmente os pases europeus e o Japo. Entretanto, o aproveitamento
energtico pela incinerao de resduos nestes pases recente e ainda no generalizado. De
acordo com o Cempre (2010), o poder calorfico de um quilo de plstico igual ao de um litro
de leo combustvel.
Quadro 2 - Processos de reciclagem por tipo de material
Grupo de
Material
Primria Secundria Terciria Quartenria
Plstico sim sim sim sim
Papel sim sim no sim
Metal sim sim no no
Vidro sim sim* no no
Borracha sim sim* no sim
Madeira sim sim* no sim
Orgnicos sim sim* no sim
Processos de reciclagem
Fonte: Dados da pesquisa, 2013
7.
A reciclagem dos diversos grupos de materiais pode ser categorizada de forma semelhante.
Seguindo os mesmos parmetros utilizados para a classificao da reciclagem de plstico,
possvel estender a categorizao para os demais grupos de materiais. Apenas o processo de
reciclagem qumica ou terciria se aplica somente ao plstico. Assim, os processos industriais
7 Materiais que podem ser reciclados mecanicamente, mas que ainda no possuem a cadeia produtiva desenvolvida no estado
da Bahia
-
31
de reciclagem dos demais grupos e subgrupos de materiais reciclveis, podem tambm ser
classificados como primrio, secundrio ou quaternrio, tal como esquematizado no Quadro 2
Com relao reciclagem quaternria ou incinerao com fins energticos, sabe-se que todos
os materiais reciclveis secos podem ser queimados. Entretanto, nem todos os materiais tem
Poder Calorfico Inferior (PCI) suficiente para gerar energia calorfica, que pode ser
transformada em energia eltrica. No caso da reciclagem mecnica, a maioria dos materiais
reciclvel mecanicamente, porm alguns no possuem cadeia produtiva desenvolvida em
grande escala em todos os estados da federao.
A incinerao definida como uma tcnica de reciclagem ou recuperao energtica e
tratamento trmico de resduos em unidades fsicas de produo denominadas Usinas WTE,
da sigla em ingls de waste-to-energy. Em uma viso mais ampla, Menezes, Gerlach e
Menezes (2000) a definem com um processo de reduo do peso, volume e das
caractersticas de periculosidade dos resduos. A incinerao elimina as caractersticas de
patogenicidade da matria e reduz os seu volume, por meio da combusto controlada. Desta
forma, existe a incinerao sem gerao de energia eltrica, usada para reduo do volume e
patogenicidade de alguns resduos, e a incinerao com finalidade de gerao de energia
eltrica.
O processo de incinerao conhecido como queima mssica (mass burn) consiste em queimar
os RSU para produzir energia eltrica atravs do vapor, podendo tambm ser usado
diretamente em processos industriais (ou para aquecimento). O principio da gerao de
energia eltrica pela incinerao de resduos obedece aos mesmos princpios fsico-qumicos
de uma usina trmica convencional de ciclo Rankine 8. O montante de energia eltrica
gerada uma funo direta do poder calorfico (PC) do material incinerado e da capacidade
de transformao deste calor em eletricidade (Empresa de Pesquisa Energtica, 2008).
8 O ciclo Rankine um ciclo trmico a vapor, considerado o ciclo ideal para uma unidade motora simples a vapor. Baseia-se
na queima direta de resduos. O sistema de ciclo Rankine bsico composto por quatro equipamentos: A bomba hidrulica
(pump) e a Turbina a vapor (turbine), que dividem o sistema em zonas de alta e baixa presso, a caldeira (boiler) e o
condensador de vapor (condenser), que so responsveis por fornecer e retirar energia do sistema na forma de calor.
Atravs do calor, a turbina a vapor aciona um gerador eltrico que converte energia mecnica (Wt) em eletricidade. Difere
das outras tecnologias de ciclos trmicos (ciclo Otto e ciclo Brayton) que esses necessitam da transformao anterior do
resduo em gases combustveis baseadas na gaseificao, pirlise ou digesto anaerbia de resduos, integradas s turbinas
ou micro turbinas a gs, motores de combusto interna ou clulas a combustvel. (MINAS GERAIS, 2012).
-
32
O material orgnico tem como alternativa de reciclagem a biodigesto anaerbica. Este gera
metano, que pode ser utilizado para gerao de energia eltrica, e fertilizante agrcola, que
um subproduto slido da biodigesto. Apesar da sua importncia na resoluo de problemas
relacionados ao descarte de resduos e gerao de energia, esta opo no ser analisada neste
trabalho. Isto porque no existe uma cadeia produtiva suficientemente desenvolvida no estado
da Bahia que possa ser captada nas contas regionais, ficando como sugesto para futuros
trabalhos. Desse modo, ser considerado apenas o processo de reciclagem energtica do
material orgnico pela incinerao, uma vez que um material que possui PCI positivo.
Grfico 1- Poder calorfico inferior por grupo de RSU
712
8.193
2.729
1.921 2.490
8.633
--
1.000
2.000
3.000
4.000
5.000
6.000
7.000
8.000
9.000
10.000
Matria
Orgnica
Plsticos Papel e
Papelo
Txteis e
Couro
Madeira Borracha Inertes /
rejeitos
PCI (base mida sem cinzas) kcal/kg por material
Fonte: Dados da pesquisa, 2013, a partir de Brasil (2008-a), Minas Gerais (2012) e Climate Works (2012).
Nesta pesquisa, a reciclagem mecnica se resume cadeia produtiva do metal (ferrosos e no
ferrosos), plstico e papel / papelo. Quanto reciclagem energtica, esta relevante para o
plstico, papel / papelo, borracha, madeira e material orgnico. O Grfico 1 ilustra o poder
calorfico inferior por cada quilo de material.
A literatura utiliza o conceito de rota tecnolgica para descrever as tecnologias alternativas
utilizadas para a recuperao dos Resduos Slidos Urbanos. Cada rota tecnolgica tem
conseqncias econmicas, sociais e ambientais distintas. O relatrio da Empresa de Pesquisa
Energtica (BRASIL, 2008-a), da Fundao Estadual do Meio Ambiente de Minas Gerais
-
33
(MINAS GERAIS, 2012), divulgado em 2012, e o trabalho da Climate Works (2012) 9
definem duas rotas. A primeira rota, Rota A, baseada na reciclagem energtica de RSU
atravs dos incineradores de combusto em grelha, que utiliza o processo mass burn (queima
massiva), com a queima de todos os RSU, orgnicos e secos (MINAS GERAIS, 2012). A
segunda rota, Rota B, combina a gerao de energia eltrica atravs da biodigesto anaerbica
dos RSU com a triagem dos resduos secos para encaminhamento reciclagem. A escolha da
Rota B demanda um Plano Municipal de Gerenciamento de RSU, com coleta seletiva de
forma mais intensiva, o que no longo prazo tende a reduzir o montante gasto em
investimentos inicial.
Os estudos da Climate Works (2012) e Brasil (2008 - c) mostram o custo beneficio de cada
rota. Estes estudos mostram que a queima de RSU concorre diretamente com a reciclagem
mecnica. Isto ocorre porque as plantas produtivas no apresentam instalaes para triagem
dos resduos secos, e a retirada de plsticos e papel pode inviabilizar tcnica e
economicamente a gerao de energia, uma vez que estes guardam o maior poder calorfico.
Desse modo, a opo por centrar a analise das conseqncias econmicas e tecnolgicas neste
subgrupo de resduos decorre da grande participao dos RSU no total de resduos slidos
gerados em Salvador, assim como no Brasil e dos problemas associados sua m disposio
no meio ambiente.
2.3 CLASSIFICAO NACIONAL DA ATIVIDADE ECONMICA RECICLADORA
O IBGE utiliza dois cdigos de classificao de atividades e setores econmicos, que
possuem relao entre si, que sero compatibilizados neste trabalho. Um dos cdigos
utilizado pelo sistema de Contas Nacionais (SCN), doravante denominado 'cdigo SCN',
enquanto o outro cdigo corresponde Classificao Nacional de Atividades Econmicas
(CNAE) verso 2.0. Com relao indstria recicladora e transformadora, no existe na
verso 2.0 da Classificao Nacional de Atividades (CNAE) do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatstica (IBGE) uma diviso ou grupo para indstria transformadora que utiliza
especificamente os materiais reciclveis. O rgo estatstico nacional entende que a separao
9 Os trabalhos da Empresa de Pesquisa Energtica Brasil (2008-a), da Fundao Estadual do Meio Ambiente de Minas
Gerais Minas Gerais (2012) e do Climate Works (2012) so utilizados como referencia, pois foram os trabalhos
encontrados na literatura destinados a embasar estudos de viabilidade de alternativas tecnolgicas para tratamento de
resduos nas administraes publicas municipais. Desta forma, so trabalhos que contm os parmetros tcnicos das
alternativas tecnolgicas associadas ao tratamento de RSU.
-
34
da atividade recicladora da atividade de transformao convencional s faz sentido at o nvel
de transformao de sucatas e resduos em matrias-primas secundrias, atividades
consideradas pr industriais. Esta atividades esto classificadas na seo E do CNAE 2.0,
denominada gua, Esgoto e Atividades de Gesto de Resduos e Descontaminao. Nesta
seo, encontram-se as classes 3831.9 Recuperao de materiais metlicos; 3832.7 -
Recuperao de materiais plsticos e; 3839.4 - Recuperao de materiais no especificados
anteriormente. Neste ultimo se incluem a recuperao de papel, papelo, vidro e outros
materiais reciclveis. A definio literal do grupo 383 Recuperao de materiais da CNAE
2.0 dada por IBGE (2007) 10
.
Devido alta taxa de informalidade constatada entre os estabelecimentos recicladores no pas
cadastradas no grupo 383 da CNAE 2.0 11
, existe uma baixa representatividade desta
atividade econmica no Sistema de Contas Nacionais (BRASIL, 2009). Ademais, existem
registros de indstrias recicladoras que so verticalizadas para frente e / ou para trs. Isto
significa que alm de realizarem a atividade de reciclagem industrial, tambm atuam como
transformadores (a jusante) e/ou separadores ( montante), o que dificulta ainda mais a
desagregao das atividades do grupo no SCN (FREITAS; OLIVEIRA FILHO, 2009).
Com relao s indstrias transformadoras demandantes dos materiais reciclados, existe uma
diviso mais especifica entre os grupos de materiais. As indstrias transformadoras de
matrias-primas recicladas so: (SCN 307) - Fabricao de Celulose e Produtos de Papel
(reciclagem do papel), cuja diviso CNAE 2.0 17; (SCN 318) - Fabricao de Artigos de
Borracha e Plstico (reciclagem do plstico), CNAE 2.0 diviso 22; (SCN 322) -
Metalurgia Bsica (reciclagem do alumnio) da diviso 24 segundo a CNAE 2.0 e; (SCN
323) - Fabricao de Produtos de Metal - exclusive mquinas e equipamentos (reciclagem do
ferro e do ao), cuja diviso CNAE 2.0 a 25. Desta forma, verifica-se que a separao dos
materiais reciclveis em grupos condizente com as diversas tecnologias de transformao
industrial a que so submetidos.
10
A CNAE define o processo de recuperao de materiais como: separao e transformao de sucatas e resduos em
matrias-primas secundrias mediante a compactao, tratamentos qumicos, fsicos, etc., permitindo nova transformao.
Os produtos obtidos pela recuperao de materiais so utilizados na indstria. As atividades do grupo classificado pelo
IBGE como reciclador compreendem tambm o tratamento de resduos feito por usinas de compostagem, resultando num
composto utilizado para a fertilizao do solo (BRASIL, 2007-a). Em tese, esse grupo deve ser afetado a montante no
processo de avaliao dos impactos econmicos da cadeia produtiva dos materiais reciclveis. Devido ao alto grau de
informalidade deste setor, composto por ferros-velho, depsitos e cooperativas de catadores de materiais reciclveis, a sua
visibilidade na matriz de Insumo-Produto ainda bastante limitada. 11Oliveira Filho (2009)
-
35
Estas indstrias, ao utilizarem os materiais reciclveis, deixam de pressionar os setores de atividade
montante, isto , aqueles que lhes fornecem matrias primas virgens. Desta forma, a reciclagem
de metal reduz a oferta do setor (SCN 202 +203) - Outros da indstria Extrativa, cujo cdigo
CNAE 2.0 abrange as divises 05 a 09, exceto a diviso 06 que diz respeito Extrao de Petrleo
e gs natural. A reciclagem de papel reduz a oferta do setor (SCN 307) - Celulose e produtos de
papel, correspondente diviso 17 da CNAE 2.0 . Quanto reciclagem de plstico, esta reduz a
oferta do setor (312) - Fabricao de resina e elastmeros, o qual corresponde ao grupo 203 da
CNAE 2.0.
Em relao reciclagem energtica, o mesmo o grupo do setor (351) - Gerao, transmisso e
distribuio de energia eltrica, que corresponde ao grupo 351 da CNAE 2.0, , ao mesmo
tempo, o setor que oferta (gerao) e demanda (transmisso / distribuio) de energia eltrica.
Espera-se que a reciclagem, ao reduzir a depleo de recursos naturais, provoque uma
mudana na tecnologia de insumos dos setores, refletindo-se em uma matriz de Insumo-
Produto mais limpa, do ponto de vista ambiental
No prximo capitulo sero apresentadas as informaes sobre o panorama da gerao e gesto
de Resduos Slidos Urbanos no Brasil e no mundo. Sero mostradas as principais questes
institucionais e econmicas relacionadas aos Resduos Slidos Urbanos.A construo deste
panorama indispensvel para a compreenso da problemtica sobre a rota tecnolgica de
reciclagem que contemple os critrios de Ecoeficiencia.
2.4 ASPECTOS ECONMICOS E INSTITUCIONAIS DAS TECNOLOGIAS DE
RECICLAGEM ENERGTICA
No mundo existem registros do uso da incinerao para a reduo do volume de resduos
dispostos em aterros ou lixes desde o sculo XVIII (MORGADO; FERREIRA, 2006). Mas
s a partir da segunda metade da dcada de 60 que passa a ser usada para gerao de energia
eltrica. Atualmente, a tecnologia encontra-se na quarta gerao, marcada por uma maior
presso ambiental, e busca de reduo ao mximo dos gases poluentes.
Os avanos na tecnologia de reciclagem mecnica aumentaram o custo de oportunidade da
reciclagem energtica em decorrncia da ampliao de usos produtivos dos RSUs. Desse
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36
modo, o crescimento do mercado associado reciclagem mecnica valorizou o RSU como
matria prima dos mais variados processos produtivos. Alm disto, presses polticas
decorrentes da insatisfao de ecologistas e da sociedade pela adoo de processos de
reciclagem menos poluentes induziram reorganizao tecnolgica do setor (CONNETT,
2013).
O primeiro incinerador do Brasil foi instalado em fins do sculo XIX, no estado da Amaznia.
Na dcada de 1970, foi iniciada a fase de implantao de incineradores para resduos
perigosos. At o momento, no se verifica registros de plantas de incinerao de RSU com
finalidade de gerao energtica, como a mass burn (CLIMATE WORKS, 2012). Entretanto
existe uma profuso de projetos em todo o Brasil, para implantao destas plantas em virtude
de uma brecha na PNRS. A tecnologia que est sendo comprada pelo Brasil uma reproduo
da tecnologia utilizada na Europa (OLIVEIRA FILHO, 2010).
O Movimento Nacional de Catadores de Materiais Reciclveis (MNCR) e outras organizaes
ambientalistas tm se manifestado contra a incinerao de RSU. A justificativa a possvel
reduo do mercado de materiais reciclveis, que possibilita a recuperao de RSU
considerado menos poluente do que a recuperao energtica. Alm do aspecto ambiental, o
aspecto social tambm considerado a favor da reciclagem mecnica, que gera mais
empregos e renda ao longo da cadeia produtiva.
A legislao nacional que normatiza o processo de incinerao est contida nas resolues do
Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) n 316 e n 358. Estas resolues
dispem sobre os procedimentos e critrios para o funcionamento de sistemas de tratamento
trmico de resduos e sobre a sua aplicao para resduos da sade. As definies e padres
para analise do desempenho do material incinerado, bem como o padro de emisso, de
material particulado, inspeo, anlise do resduo plano de disposio de resduos da queima,
e etc. so normatizados pelas NBR12
11157 e NBR 14.0004 da Associao Brasileira de
Normas Tcnicas (ABNT). Por emitir muitos materiais poluentes ao longo do processo, a
incinerao cercada de legislaes que limitam o seu desempenho.
O rendimento energtico mdio do processo de aproximadamente 20% a 25%, sendo
12Norma Brasileira (NBR) sistematizada pela Associao Brasileira de Normas Tcnicas (ABNT).
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limitado pela necessidade de manuteno de baixas temperaturas de combusto dos resduos
(em torno de 200c). Esta a forma de se controlar a agressividade ambiental dos gases
expelidos pelo uso deste tipo de combustvel e de evitar o desgaste precoce dos equipamentos
(BRASIL; 2008 -a). Existem diversos tipos de tecnologias de tratamento trmico para gerao
de energia eltrica a partir de RSU. As principais tecnologias de tratamento trmico de
resduos so cinco: 1) incinerao; 2) pirlise, 3) a gaseificao; 4) plasma e 5) co-
processamento em forno de clnquer. A incinerao a tecnologia de tratamento trmico de
resduos mais difundida, atualmente. A necessidade de manuteno das baixas temperaturas
faz com que o seu rendimento energtico seja relativamente baixo, em torno de 450 a 700
KWh por tonelada de RSU (BRASIL; 2008 -a).
Menezes et al (2000) define a incinerao como um processo de combusto controlada . As
usinas de incinerao, com capacidade de gerao de energia eltrica, so tambm conhecidas
pela sigla em ingls WTE (Waste to Energy) (BRASIL; 2008 -a). Fundamentado na
reao do oxignio com componentes combustvel presentes no resduo (como carbono,
hidrognio e enxofre), este processo converte energia qumica em calor, que pode tambm ser
transformado em eletricidade. Para analise da viabilidade tcnica e econmica desta
tecnologia prioritrio o estudo do Poder Calorfico Inferior (PCI) dos RSUs a serem
incinerados. O PCI o resultado das contribuies dos poderes calorficos especficos de
cada material (CLIMATE WORKS, 2012 pg. 37). Estes valores so inferidos em anlises
laboratoriais, pela queima completa dos materiais secos em equipamentos denominados
calormetros. O PCI se relaciona, portanto, diretamente composio gravimtrica dos RSU.
Segundo o inventario de tecnologias de incinerao e recuperao energtica das parcelas
secas e orgnicas dos RSU feito pela Climate Works (2012) a tecnologia mass burn a mais
utilizada. O nome mass burn ou mass burning significa literalmente queima qualquer
coisa no estado em que se encontra (CLIMATE WORKS, 2012, p. 34). Esta tecnologia gera
uma maior quantidade de energia, pois utiliza todos os resduos com poder calorfico elevado,
inclusive plstico e papel (MINAS GERAIS, 2010). Essa tecnologia conta com a maior
experincia de aplicao nos pases que optam pela recuperao energtica e est disponvel
comercialmente no Brasil. Estas caractersticas fizeram com que esta tecnologia se tornasse
parte do objeto de estudo do presente trabalho.
A Tabela 11 do Anexo I mostra os valores de PCI associados aos grupos de materiais que
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38
foram utilizados neste estudo para o calculo da viabilidade tcnica da tecnologia de
incinerao mass burn para o municpio de Salvador. O valor do PCI relevante para o estudo
a soma da contribuio de cada material ao PCI Total (em kcal/kg). Esta contribuio
obtida pela ponderao do PCI de cada grupo de material pela participao relativa deste
grupo na composio gravimtrica dos RSU.
Segundo estudo da Empresa de Pesquisa Energtica (2008), embora no seja determinante, o
(PCI) dos RSU deve obedecer aos seguintes parmetros tcnicos: (i) Para PCI < 1.675
kcal/kg, a incinerao no tecnicamente vivel, pois alm das dificuldades tcnicas, exige a
adio de combustvel auxiliar); (ii) Para 1.675 kcal/kg < PCI < 2.000 kcal/kg, a viabilidade
tcnica da incinerao ainda depende de algum tipo de pr-tratamento que eleve o poder
calorfico; (iii) Para PCI > 2.000 kcal/kg, a queima bruta (mass burning) tecnicamente
vivel.
Ainda segundo a Empresa de Pesquisa Energtica (2008), as usinas de incinerao podem
gerar entre 450 e 700 KWh por tonelada de RSU, considerando a tecnologia mass burn. Este
valor semelhante aos informados pelos estudos da Via Pblica e Fundao Estadual do Meio
Ambiente, que servem de referencia para esta dissertao. Segundo a Minas Gerais (2012), o
maior problema da incinerao, do ponto de vista da PNRS, que ela deveria ser usada
somente para os materiais no reciclveis. Entretanto so justamente as fraes de RSU com
maior poder calorfico como plsticos, papel/papelo e borrachas que interessam gerao de
energia e garantem a viabilidade econmica do projeto. Isto torna a tecnologia de reciclagem
energtica concorrente da gesto de resduos que tenha como prioridade a reciclagem
mecnica.
No municpio de Salvador, assim como no restante do Brasil, os RSU possuem uma elevada
frao de matria orgnica que se caracteriza pela umidade e pelo baixo poder calorfico
quando comparada a outros materiais, como pode ser observado na Tabela 11 do Anexo I. Os
valores mostram o PCI individual e a contribuio de cada material ao PCI total, que a
ponderao do PCI individual de cada material pela sua participao na composio
gravimtrica. A participao dos resduos midos ou orgnicos pode variar para mais ou
menos, mas continuam sendo o material com maior incidncia sobre o total de RSUs
brasileiros.
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Um PCI abaixo do mnimo (que varia entre de 1.650 e 1.920 kcal/kg) implica na necessidade
de combustvel auxiliar para gerao de energia eltrica que mantenha a viabilidade tcnica e
econmica do projeto (MINAS GERAIS, 2010; 2012). Este processo inclui a remoo
magntica de materiais ferrosos e no ferrosos dos RSU, para obteno de uma frao de
resduos com maior poder calorfico. Ao final do processo, a composio do RSU
combustvel se constitui basicamente de materiais plsticos, papis e papelo no reciclados,
madeira, pano e frao orgnica.
As receitas operacionais do projeto so compostas por: venda de energia eltrica, destruio
trmica dos resduos slidos urbanos, recepo dos resduos na porta da planta de incinerao
(gate fee) e venda de crditos de carbono. A venda de energia eltrica gerada em
termoeltricas pautada pelo preo de leiles livres de energia. O valor cobrado pela tonelada
incinerada diz respeito ao custo de recepo ou de porta (gate fee) do material reciclvel.
Os crditos de carbono so gerados pela no disposio do RSU incinerado em aterros, apesar
de haver gerao de outros poluentes no processo de incinerao, o que gera, em alguma
medida, um dbito de carbono. Alm disso, ao gerar energia com o RSU, outras fontes de
energia de origem fssil so poupadas, com conseqente reduo de emisses, significando
mais crditos de carbono.
Quanto ao balano de carbono da incinerao com recuperao energtica, este alvo de
controvrsias. Trata-se de um processo altamente poluente, mesmo quando so consideradas
as tecnologias mais modernas (MINAS GERAIS, 2012; CLIMATE WORKS, 2012). O
estudo da Climate Works alerta para o fato de que o balano da quantidade de energia liquida
envolvida nas vrias cadeias de atividades econmicas relacionadas aos RSUs (coletores,
triadores, aparistas, recicladores e agentes coligados), deve considerar a energia produzida e a
energia conservada em cada rota tecnolgica do inicio ao fim do ciclo de vida dos RSUs
como um todo. Logo, a aplicao da metodologia de Analise do Ciclo de Vida (ACV)
necessria para a avaliao do balano de carbono do processo de incinerao e de reciclagem
mecnica.
Existem estudos relacionados a analise do ciclo de vida de embalagens reciclveis feitos pela
Empresa de Pesquisa Energtica e divulgados em 2008. As concluses apontam que a
economia de energia liquida obtida com a rota tecnolgica que alia reciclagem mecnica dos
resduos biodigesto dos resduos orgnicos de aproximadamente 2,5 vezes superior
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economia de energia liquida obtida pela rota da incinerao (MINAS GERAIS, 2012).
Os resultados da ACV dos RSUs justificam a adoo de ordem de prioridade a ser seguida no
gerenciamento dos resduos: no gerao, reduo, reutilizao, reciclagem, tratamento de
resduos slidos e disposio final ambientalmente adequada de rejeitos. Essa ordem j vem
sendo adotada pelos pases desenvolvidos e est presente na legislao brasileira (BRASIL,
2010). Esta sistemtica deve servir para nortear os gestores locais na elaborao dos planos
locais de gesto dos resduos slidos. Alm disso, importante considerar os efeitos sobre a
gerao de trabalho e renda que cada rota tecnolgica pode proporcionar.
Em anlise feita pela Empresa de Pesquisa Energtica vinculada ao Ministrio das Minas e
Energia, em 2008, o abatimento de emisses de Gases do Efeito Estufa (GEE) adota como
linha base de emisses o aterro sanitrio sem aproveitamento energtico. Neste caso, a
incinerao, reduz as emisses de GEE (Brasil, 2008-a). A hiptese de recuperao mecnica
da parcela seca do RSU reduz o PCI incinervel, o que implica no uso suplementar de
combustveis fsseis, com o conseqente aumento de emisses de GEE. Segundo os clculos
da Climate Works, com os parmetros adotados neste estudo, cada tonelada incinerada
evitaria a emisso de 0,24343 tCO2e.
A energia eltrica, produto gerado por termoeltricas movidas a resduos slidos, entra como
insumo direto no setor SCN 401 - Produo e distribuio de eletricidade, gs, gua, esgoto e
limpeza urbana. O CNAE 2.0 deste setor se enquadra no grupo 351- Gerao, transmisso e
distribuio de energia eltrica. Devido ao nvel de desagregao possibilitado pelas Contas
Regionais divulgadas do IBGE, o setor que gera energia (oferta) o mesmo setor que
transmite e distribui energia (demanda) no atacado. Segundo a descrio da Comisso
Nacional de Classificao (B RASIL, 2007-a) do IBGE Este grupo compreende a gerao de
energia eltrica em alta tenso, a transmisso desde as usinas de gerao at os centros de
distribuio e a distribuio para os consumidores finais. Este grupo compreende tambm o
comrcio atacadista de energia eltrica. Desse modo, por imposio tcnica, neste trabalho
no existe a possibilidade de desagregar as duas atividades, de gerao e distribuio de
energia eltrica.
2.5 ASPECTOS ECONMICOS E INSTITUCIONAIS DAS TECNOLOGIAS DE
RECICLAGEM MECNICA
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Para compreenso do processo de recuperao industrial do RSU, torna-se fundamental a
correta classificao dos setores de atividade que compem a cadeia produtiva da reciclagem
mecnica no Brasil. Como processo de recuperao mecnica de materiais, entende-se a
separao e transformao de sucatas e resduos em matrias-primas secundrias mediante a
compactao, tratamentos qumicos, fsicos, etc., permitindo nova transformao (FREITAS
E OLIVEIRA FILHO, 2009; CEMPRE, 2010). O processo de reciclagem mecnica de
materiais , portanto, um processo de produo industrial como outro qualquer. Os produtos
obtidos pela recuperao de materiais so utilizados, como matrias- primas secundrias,
pelos setores da indstria de transformao.
Com relao ao processo produtivo do papel, Freitas e Oliveira Filho (2009) aponta que o
processo produtivo tradicional do papel pode ser resumido em trs etapas: i - a extrao da
celulose natural existente nos vegetais, ii - a produo da massa celulsica , que funde a fibra
celulsica com demais componentes qumicos iii - a transformao da massa de celulose no
papel. O grupo de papel e papelo transformado em matria prima secundaria entra
diretamente na etapa de preparao da pasta de celulose, em que pode ser misturada com a
celulose virgem. A existncia de variados contaminantes e a colorao parda fazem com que a
fibra de celulose reciclada seja geralmente utilizada para a fabricao de papis menos
sofisticados como embalagens, papel carto ou imprensa (FREITAS; OLIVEIRA FILHO,
2009).
Ainda segundo Freitas e Oliveira Filho (2009), com relao ao processo industrial de
reciclagem do grupo dos plsticos, a transformao da matria prima secundria ocorre nas
indstrias chamadas de Terceira Gerao Petroqumica. O plstico reciclvel substitui as
resinas plsticas produzidas pelas indstrias de Segunda Gerao Petroqumica. Estas, por sua
vez, obtm sua matria prima nas indstrias da Primeira Gerao, a de petroqumicos bsicos.
A Terceira Gerao de indstrias petroqumicas transforma a resina, virgem ou reciclada em
diversos produtos, tais como embalagens plsticas, mangueiras de irrigao, tecidos etc.
Segundo relatrio do Instituto Plastivida, de 2011, os maiores mercados consumidores de
plsticos reciclados so os setores de utilidades domsticas (16,5%), seguido do setor
agropecurio (15,3%), Industrial (15%), Txtil (10,3%) e Construo Civil (10,2%). A
quantidade de vezes que um material plstico pode retornar ao ciclo finita e varia conforme
a qualidade e o tipo do plstico (CEMPRE, 2010).
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Quanto ao grupo dos metais, tanto a reciclagem dos metais ferrosos quanto dos no ferrosos
passa por etapas tecnicamente semelhantes. Ambos so separados e vendidos s suas
respectivas indstrias metalrgicas, que executam a fundio e a preparao das ligas
metlicas. A principal diferena entre as cadeias dos metais ferrosos e no ferrosos o preo
de mercado de cada um. Os Metais no ferrosos podem atingir uma relao de preo / quilo
at dez vezes maior do que a observada entre os metais ferrosos. Os metais, de forma geral,
podem ser reciclados infinitas vezes, sem predas significativas das propriedades fsico-
qumicas dos materiais. (FREITAS; OLIVEIRA FILHO, 2009).
A taxa de reciclagem ps-consumo de um dado material dada pela razo entre o total
efetivamente reciclado e o total consumido (IRPM; 2011). As taxas de recuperao dos
plsticos so baseadas nos parmetros suecos. Segundo o Instituto Plastivida (2011) os suecos
reciclam, em media, 35% do total de plstico, ndice superior ao do Brasil, que reciclou em
2011 apenas 22%. Com relao aos papeis brancos ou de escritrio, de acordo com o Cempre
(2010), a taxa mxima encontrada na Argentina, com a reciclagem de at 46% dos papeis
brancos ou de escritrio, bem acima dos 30% reciclados no Brasil. O papelo, juntamente
como alumnio, so um dos poucos materiais cujas taxas de reciclagem brasileira so esto
entre as maiores do mundo, tendo 73% do seu papelo ps consumo e 35,2% do alumnio
recuperados no Brasil por reciclagem mecnica.
Por fim, tem-se a taxa de reciclagem de metais ferrosos, tambm conhecido como sucata de
obsolescncia de utilidades domsticas. A Associao Brasileira de Metalurgia (ABM) estima
que no Brasil sejam reciclados cerca de 50% dos metais ferrosos ps consumo. As taxas de
reciclagem deste material tm informaes escassas quando comparado aos outros materiais
pesquisados. Assim, de um total de aproximadamente 828 mil toneladas geradas anualmente
em Salvador, cerca de 130 mil ou 15,5% do total foram consideradas passiveis de reciclagem
neste trabalho. A Associao Brasileira de Metalurgia (ABM) estima que no Brasil sejam
reciclados cerca de 50% dos metais ferrosos ps consumo. As taxas de reciclagem deste
material tm informaes escassas quando comparado aos outros materiais pesquisados.
Assim, de um total de aproximadamente 828 mil toneladas geradas anualmente em Salvador,
cerca de 130 mil ou 15,5% do total foram consideradas passiveis de reciclagem neste
trabalho.
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Tabela 1 - Composio gravimtrica e valorao dos RSU para reciclagem mecnica Salvador, 2010
Material
Composio
gravimtrica
percentual
Composio
gravimtrica
absoluta (em ton.)
Percentual
reciclavel
mximo (%)
Total reciclavel
por ano (em ton.)
Preo mdio por
tonelada (em R$
1,00)
Valor total do RSU
reciclaveis (em R$
1,00)
Plstico total 22,1% 183.072 64.075 51.154.907
Plstico Duro 4,9% 40.223 35 14.078 733 10.323.869
Plstico Mole 17,3% 142.849 35 49.997 817 40.831.037
Papel 12,1% 99.978 54.508 24.848.651
Papel Branco 8,3% 68.776 46 31.637 530 16.767.622
Papelo 3,8% 31.202 73 22.871 353 8.081.029
Metais 2,6% 21.766,70 10.101,24 7.088.384
Metais Ferrosos 2,0% 16.553 50 8.276 357 2.951.884
Metais No Ferrosos 0,6% 5.214 35 1.825 2.267 4.136.500
Total 36,8% 304.816 128.684 83.091.942
Fonte: Dados da pesquisa, 2013, a partir de CEMPRE (2010); Salvador (2012 - b); ABM (2011); PLASTIVIDA
(2011).
Como qualquer processo de produo, a reciclagem industrial mecnica , em si, um processo
poluente. Desta forma, a reciclagem enquanto processo produtivo possui tambm um passivo
ambiental, que pode ser contabilizado, por exemplo, como emisses de CO2 geradas no
processo de reciclagem. Por outro lado, sabe-se que a produo de bens de consumo finais e
intermedirios a partir de matrias primas secundarias proporciona economia de energia e
gua. Desta forma, o balano ambiental da reciclagem varia de acordo com cada material e
deve ser feito atravs da Analise de Ciclo de Vida especifico cada realidade produtiva.
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3 ESTRUTURA ECONMICA E INSTITUCIONAL DA CADEIA DE RECICLAGEM
Este captulo discorre sobre os aspectos institucionais cadeia produtiva da reciclagem. Ser
realizada a descrio do mercado de reciclagem, com a caracterizao dos agentes que nele
atuam e a distribuio espacial das atividades econmicas. Em seguida, ser apresentada a
legislao que rege as instituies relacionadas cadeia de reciclagem. o histrico da
atividade e a configurao da cadeia produtiva da reciclagem e a legislao que regem o setor
reciclador. Por fim, explicitada a problemtica que envolve a Poltica Nacional de Resduos
Slidos (PNRS) em relao escolha das rotas tecnolgicas alternativas de reciclagem e
como este trabalho pretende abordar estas questes. Sero ressaltados os principais artigos da
Poltica Nacional de Resduos Slidos (PNRS) e a sua relao com as alternativas
tecnolgicas da recuperao de resduos.
3.1 INDSTRIA, MERCADO E CADEIA PRODUTIVA DA RECICLAGEM
De acordo com Grupo de Estudos de Relaes Intersetoriais (2009) e Carvalho (2009),
existem vrios agentes envolvidos no mercado de reciclagem. Podem ser elencados os
seguintes: 1) Fonte geradora; 2) Servio de Limpeza Urbana (SLU) 3) Catadores; 4)
Intermedirios (tambm denominados sucateiros, deposeiros ou atravessadores); 5) Indstria
recicladora; 6) Indstria de embalagens. Estes atores desempenham funes bem definidas na
articulao da coleta, separao e comercializao, e transformao de materiais reciclveis.
O processo inicial (etapas 1 e 2) o mesmo para ambas as rotas de reciclagem, energtica e
mecnica. A diferenciao na rota tecnolgica comea na presena ou no do catador de
materiais reciclveis para fazer a triagem do material.
No caso da reciclagem energtica, a tecnologia mass burn no necessita de triagem previa de
materiais reciclveis por grupo. Do material encaminhado para incinerao, so retirados
apenas alguns metais, atravs de peneiras magnticas automatizadas. Aps a combusto, a
energia trmica gerada transformada em eletricidade e entra nas linhas de transmisso at as
distribuidoras de energia eltrica ao consumidor final ou utilizado por autoprodutores.
No caso da reciclagem mecnica, a etapa inicial da reciclagem a coleta e triagem dos RSU.
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Segundo Oliveira Filho e Freitas (2009), o conjunto de aes requeridas no processo pr-
industrial de reciclagem chamado de recuperao da matria-prima, que inclui a sua
limpeza e prensagem e/ou enfardamento. Este processo deixa o material pronto para ser
utilizado pela indstria de transformao como matria-prima secundria. Desse modo, a
ordem de apresentao das etapas 1 a 6 expressa o fluxo pelo qual passa o material reciclvel.
Segundo pesquisa realizada por Martins et al (2005), a formao de preos no mercado de
reciclagem se enquadra na estrutura de mercado Oligopsnica. Esta caracterizada por
inmeros vendedores de materiais reciclveis e poucos compradores. Logo, a formao de
preos ocorre por parte do comprador, que a indstria recicladora e / ou transformadora.
A fonte geradora definida como um conjunto de agentes que promovem o descarte de
sucata. Por sucata entende-se todo resduo passvel de reaproveitamento aps o seu consumo
produtivo ou final. Neste sentido, possvel dividir os resduos slidos conforme seus
processos geradores da seguinte forma: ps industrial, ps- consumo e ps destino final
(BRITO, 1994 apud PIMENTEIRA, 2002).
Os catadores representam uma parcela da populao marginalizada socioeconomicamente,
que encontra na coleta de materiais reciclveis a nica forma de garantir a sua sobrevivncia
diria. Desde 2001, com a criao do Movimento Nacional de Catadores de Materiais
Reciclveis (MNCR), estes trabalhadores vm buscando uma maior organizao por meio de
cooperativas. Os catadores unem esforos para a r