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Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campus Foz do Iguaçu CENTRO DE EDUCAÇÃO E LETRAS – CURSO DE LETRAS VIIENCONTRO INTERNACIONAL DE LETRAS 2013 LITERATURA E LINGUÍSTICA: LINGUAGENS DO SÉC.XXI ANAIS ARTIGO – ISSN 2175 389X EIXO TEMÁTICO 4: GÊNEROS DE DISCURSO E ENSINO
O VII Encontro Internacional de Letras – Literatura e Linguística:
Linguagens do século XXI acontecerá nos dias 25, 26 e 27 de setembro de
2013, na UNIOESTE, Campus de Foz do Iguaçu e na Fundação Cultural da
cidade. Além de ser um evento importante na região oeste do Paraná,
também é de grande relevância para os países do Mercosul, pois tem
como objetivo abordar temas que se caracterizam importantes pela
reflexão do ensino e da pesquisa nestes contextos multiculturais,
permitindo a discussão acerca dos temas “Ensino-aprendizagem de Língua
Materna”, “Estudos Literários”; “Políticas Linguísticas e Ensino”, “Gêneros
do Discurso e Ensino de Língua Moderna”, “Tecnologia e a formação
continuada de professores”, “Plurilinguismo/pluriculturalismo e educação
intercultural na fronteira” e “Ensino de Línguas e Formação de
Professores”. O evento acontece pela realização de mesas coordenadas,
conferências, palestras, minicursos, comunicações e mostra cultural. As
contribuições esperadas são as discussões referentes às linguagens do
século XXI, tendo como meta a não-estagnação dos conceitos acerca dos
estudos da literatura e da linguística, que nas últimas décadas vêm
passando por uma rápida renovação e, ainda, as transformações que estes
avanços representam para o ensino de língua e literatura.
Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campus Foz do Iguaçu CENTRO DE EDUCAÇÃO E LETRAS – CURSO DE LETRAS VIIENCONTRO INTERNACIONAL DE LETRAS 2013 LITERATURA E LINGUÍSTICA: LINGUAGENS DO SÉC.XXI ANAIS ARTIGO – ISSN 2175 389X EIXO TEMÁTICO 4: GÊNEROS DE DISCURSO E ENSINO
COMISSÃO ORGANIZADORA/UNIOESTE Coordenação do Evento Ana Maria Kaust Subcoordenação Andréia Cristina de Souza COMISSÃO CIENTÍFICA/UNIOESTE Adriane Elisa Glasser Ana Maria Kaust Andréia Cristina de Sousa Delfina Cristina Paizan Flávio Pereira Izaura Maria Carelli Luciana Vedovato Mariana Francis Mariangela Garcia Lunardelli Martha Ribeiro Parahyba Olga Viviana Flores ORGANIZAÇÃO DOS ANAIS Professores (UNIOESTE) Ana Maria Kaust Andréia Cristina de Souza Martha Ribeiro Parahyba Discentes 3º. Ano de Letras (UNIOESTE) André Gomes Dias Bruna Shirley Gobi Pradella Camilla Arantes Cheratzki Chadya Suelyn Furuzawa Daniele Guimarães Macedo Fernando Monteiro Jéssica Aline de Oliveira Dias Laisla Rafaelly Jardim Elsenbach Luana Pereira Ize Lucélia Regina Kurtz Baes Maiara Scherer Machado Márcia Regina Schmitt Polyana Zwirtes Suellen de Almeida
CONFERENCISTAS: Adalberto Petry (SEED/PR) Barbara Hart Dixon (Purdue University/ USA) Ciro Damke (UNIOESTE) Clara Agustina Suarez Cruz (UNILA) Clarice Nadir von Borstel (UNIOESTE) Cleiser Schenatto Langaro (UNIOESTE) Cristiane Lenz (PPG-UFRGS) Débora Cota (UNILA) Denise Rosana da Silva Moraes (UNIOESTE) Fábio Vedovato (FECILCAM) Gustavo Magnani (Site LITERATORTURA) Isis Ribeiro Berger (UNIOESTE/UFSC) Jorge Anthonio e Silva (UNILA) Juliana Lyra (UDC), Maria Celina Oshiro (ENLINK agência) Maria Elena Pires Santos (UNIOESTE) Miriam Carla Barbosa (ENLINK agência) Oraci Reinheimer (SEED/PR), Paul Bergstrom Dixon (Purdue University/ USA) Pedro Granados Aguero (UNILA) Priscila Yamany Medeiros (ENLINK agência) Roberto Medina (UNIRITTER) Rogério Pereira (Jornal Rascunho/Jornal Cândido - PR) Sírio Possenti (UNICAMP) Yazmín López Lenci (UNILA)
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SUMÁRIO ANÁLISE DAS ORIENTAÇÕES SOBRE O ENSINO DE GRAMÁTICA/ANÁLISE LINGUÍSTICA VIA GÊNERO
DISCURSIVO NAS DCE. .............................................................................................................................. 4
Erika Tayna Gonçalves Medeiros ......................................................................................................... 4
AVALIAÇÃO DE LARGA ESCALA DO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA DE MS: GÊNEROS DISCURSIVOS
EM DEBATE. ............................................................................................................................................ 21
Michele Serafim dos Santos ............................................................................................................... 21
Silvane Aparecida de Freitas .............................................................................................................. 21
A REESCRITA NA SALA DE AULA: UMA PROPOSTA DE TRABALHO COM O GÊNERO BIOGRAFIA ............. 36
Débora Sodré Esper............................................................................................................................ 36
GÊNEROS DO DISCURSO E ENSINO: IMPASSES NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES ................................. 55
Kellys Regina Rodio Saucedo, Elocir Aparecida Correa Pires, Kely Cristina Enisweler ....................... 55
Vilmar Malacarne, Dulce Maria Strieder ........................................................................................... 55
O LIVRO DIDÁTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA E A EXPLORAÇÃO DOS GÊNEROS TEXTUAIS .................... 65
Arisberto Gomes de Souza ................................................................................................................. 65
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ANÁLISE DAS ORIENTAÇÕES SOBRE O ENSINO DE
GRAMÁTICA/ANÁLISE LINGUÍSTICA VIA GÊNERO DISCURSIVO
NAS DCE.
Erika Tayna Gonçalves Medeiros
As Diretrizes Curriculares da Educação Fundamental da Rede de Educação Básica do Estado do Paraná, de Língua Portuguesa, adota como base teórica as reflexões a respeito da linguagem provenientes do Círculo de Bakhtin, optando assim por uma concepção de linguagem não mais fechada na qual a repetição de regras e nomenclatura da gramática tradicional é a base do ensino, assim, a linguagem passa a ser compreendida como fenômeno social, pois acontece na interação entre os homens, considerando a história, o sujeito e o contexto no ensino. De modo que este trabalho pretende analisar as orientações sobre o ensino de gramática/análise linguística no documento institucional educacional do Estado do Paraná - Diretrizes Curriculares da Educação Fundamental da Rede de Educação Básica do Estado do Paraná, de 2008. A fim de compreender se o documento descreve o ensino de gramática/análise linguística coerente com a concepção de língua como interação e sua base teórica no círculo de Bakhtin, e se ele, por si só, é capaz de direcionar o professor de língua portuguesa em sua prática de ensino-aprendizagem em sala de aula dentro da proposta Bakhtiniana. A fundamentação teórica da análise documental é através dos trabalhos de pesquisadores como Antunes (2007), Geraldi (1997), Perfeito (2007), Mendonça (2006), Menegassi (2004), Travaglia (2000) Rodrigues (2004). Concluiu-se que as DCE trazem um forte embasamento teórico, desde o Circulo de Bakhtin com seus conceitos até os atuais pesquisadores do ensino de gramática no Estado do Paraná. Porém, o documento não mostra ao professor de que forma ele irá aplicar toda essa teoria na prática de sala de aula – não são “receitas”, faltam exemplos.
Palavras-chave: Ensino de gramática/análise linguística. Documentos institucionais.
Gêneros discursivos.
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Introdução
Atualmente, veem-se muitos questionamentos e dúvidas por parte dos
professores de Língua Portuguesa a respeito do ensino da língua,
principalmente sobre a gramática.
Para sanar as possíveis dúvidas e questionamentos por parte dos
professores, o governo produz parâmetros, diretrizes e currículos a fim de
auxiliar o professor em sua prática em sala de aula; são textos que norteiam o
trabalho desse profissional. Assim, as Diretrizes Curriculares da Educação
Fundamental da Rede de Educação Básica do Estado do Paraná – DCE, de
2008, são documentos institucionais, em nível estadual, no caso, do estado do
Paraná, que pretende auxiliar a prática do professor da escola pública deste
estado.
Com o objetivo de verificar e refletir se a proposta de ensino de
gramática/análise linguística está coerente com a concepção de língua como
interação e com sua base teórica no círculo de Bakhtin, além de, analisar se
por si só, tal documento é capaz de direcionar o professor de língua portuguesa
em sua prática de ensino-aprendizagem em sala de aula dentro da proposta
Bakhtiniana, realizou-se um recorte, utilizando o documento referente à
disciplina de Língua Portuguesa, no que diz respeito principalmente à
gramática/análise linguística.
Para tanto, estabelece-se relações entre o documento oficial as
Diretrizes Curriculares, e pesquisadores do ensino de gramática,
principalmente no Paraná, como Antunes (2007), Geraldi (1997), Perfeito
(2007), Mendonça (2006), Menegassi (2004), Travaglia (2000) Rodrigues
(2004).
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A construção das DCE de 2008
As Diretrizes Curriculares da Educação Fundamental da Rede de
Educação Básica do Estado do Paraná – DCE, de 2008, foi desenvolvida sob o
governo de Roberto Requião, resultado de um processo que iniciou em 2004 e
finalizado em 2008.
Primeiramente, entre 2004 e 2006, aconteceram várias discussões
coletivas em encontros, simpósios e semanas de estudos pedagógicos
organizados pela Secretaria de Estado da Educação que tinham como objetivo
a construção dos textos das Diretrizes Curriculares com a participação dos
professores da Rede Estadual de Ensino.
Num segundo momento, em 2007 e 2008, a equipe pedagógica do
Departamento de Educação Básica (DEB), em eventos denominados “DEB
Itinerante”, abriu espaço para que os professores da Rede Estadual de Ensino
pudessem novamente contribuir com as DCE, tanto nos fundamentos teóricos
quanto nos aspectos metodológicos de sua prática em sala de aula. No mesmo
período, as Diretrizes Curriculares Estaduais foram lidas por especialistas das
várias disciplinas e da área de História da Educação de diferentes
universidades brasileiras, participando inclusive de debates com as equipes
disciplinares do DEB, com o objetivo de aperfeiçoar ainda mais as DCE
(PARANÁ, 2008, p. 8-9).
Desta forma surgem as Diretrizes Curriculares Estaduais para a
Educação Básica, documento este composto por vários cadernos, cada
caderno pertencente a uma disciplina. Devido ao recorte de análise, este
trabalho se deterá no caderno de Língua Portuguesa, que apresenta a seguinte
ordem e estrutura: o primeiro texto é sobre a Educação Básica, fazendo um
histórico das formas de organização curricular, apresenta a concepção de
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currículo proposta pelo documento para a Rede Pública Estadual,
aprofundando a concepção escolhida nos conceitos de conhecimento,
conteúdos escolares, interdisciplinaridade, contextualização e avaliação.
O segundo texto entra na disciplina de formação/atuação; o texto
começa com um pequeno histórico sobre a constituição da disciplina de Língua
Portuguesa, tanto no campo do conhecimento quanto no político, econômico e
social, já que interferiram na escolha dos saberes e nas práticas de ensino
trabalhados na escola básica. Logo após, mostra os fundamentos teórico-
metodológicos e os conteúdos estruturantes que devem constituir o trabalho do
professor.
O documento finaliza com um anexo contendo uma lista de conteúdos
considerados básicos para as séries do Ensino Fundamental e para o Ensino
Médio; essa lista foi elaborada com base nas discussões realizadas nos
encontros do “DEB Itinerante”, e deverá ser alicerce para a organização das
Propostas Pedagógicas Curriculares das escolas da Rede Pública do Paraná.
A análise das DCE
As Diretrizes Curriculares da Educação Básica, área de Língua
Portuguesa, explica, em seus fundamentos teórico-metodológicos, que existe
um grande paradoxo em nossa contemporaneidade, já que vivemos na “era da
informação” que permite um contato fácil aos mais variados tipos de textos e
informações, mas, ao mesmo tempo, presenciamos o crescimento do
analfabetismo funcional, além das avaliações educacionais que constatam: os
alunos apresentam grandes dificuldades na compreensão dos textos lidos.
Em seguida, o documento afirma que a disciplina de Língua Portuguesa
nas escolas, geralmente, adota uma concepção de linguagem que não foca a
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história, o sujeito e o contexto, mas trabalha com a repetição de regras e
nomenclatura da gramática tradicional, esse ensino normativista não aborda a
noção de discurso porque trabalha com palavras e frases retiradas do contexto
de atividade humana. O que pode estar relacionado ao paradoxo entre o
acesso a informação e o analfabetismo funcional. Pois, o trabalho com a
repetição de regras e nomenclaturas da gramática tradicional, por si só, não
levará o aluno a interpretar os textos que lê e escrever de modo coerente.
No capítulo 3, Mendonça (2006) apontou que é um equívoco do ensino
da gramática tradicional normativista trabalhar com a palavra isolada, pois
torna o aluno um analista dela e não mostra o seu funcionamento, já que não
ocorre à interação, tampouco alcança-se o objetivo maior do ensino da língua
materna que é fazer do aluno um usuário eficiente da língua.
Diante destas dificuldades, as Diretrizes adotam uma concepção de
linguagem não mais fechada “na sua condição de sistema de formas (...), mas
abre-se para a sua condição de atividade e acontecimento social, portanto
estratificada pelos valores ideológicos” (RODRIGUES, apud PARANÁ, 2008, p.
49). Assim, a linguagem passa a ser entendida como um fenômeno social, pois
acontece na interação entre os homens, e terá a sua base teórica nas reflexões
a respeito da linguagem provenientes do Círculo de Bakhtin:
A verdadeira substância da língua não é constituída por um sistema abstrato de formas linguísticas nem pela enunciação monológica isolada, nem pelo ato psicofisiológico de sua produção, mas pelo fenômeno social da interação verbal, realizada através da enunciação ou das enunciações. A interação verbal constitui assim a realidade fundamental da língua. (BAKHTIN/VOLOCHINOV, apud PARANÁ, 2008, p. 49)
Adotando esses pressupostos teóricos, fica descartada a hipótese de
que o homem recebe uma língua pronta para ser usada; deste modo, o ensino
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da língua materna, nessa concepção, exige a inclusão dos aspectos sociais e
históricos em que o sujeito está inserido – o contexto de produção.
De acordo com as Diretrizes, nesta perspectiva, o ensino–aprendizagem
de Língua Portuguesa visa a:
aprimorar os conhecimentos linguísticos e discursivos dos alunos, para que eles possam compreender os discursos que os cercam e terem condições de interagir com esses discursos. (PARANÁ, 2008, p. 50)
Sendo assim, a escola precisará desenvolver o letramento do aluno
através de vários textos com diferentes funções sociais, trabalhando as mais
diversas esferas sociais (jornalística, digital, publicitária, etc.), e envolver o
aluno nas práticas de uso da língua – leitura, oralidade e escrita. O que implica
[...] saber avaliar as relações entre as atividades de falar, de ler e de escrever, todas elas práticas discursivas, todas elas usos da língua, nenhuma delas secundária em relação a qualquer outra, e cada uma delas particularmente configurada em cada espaço em que seja posta como objeto de reflexão [...]. (NEVES, apud PARANÁ, 2008, p. 50)
Deste modo, as Diretrizes vão aderir ao conceito de gênero discursivo
de Bakhtin (1992), entendido como os tipos relativamente estáveis de
enunciados:
O enunciado reflete as condições específicas e as finalidades de cada uma das esferas, não só por seu conteúdo (temático) e por seu estilo verbal, ou seja, para seleção operada nos recursos da língua – recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais, mas também, e sobretudo, por sua construção composicional. Estes três elementos (conteúdo temático, estilo e construção composicional) fundem-se indissoluvelmente no todo do enunciado e todos eles são marcados pela especificidade de uma esfera de comunicação. Qualquer enunciado considerado isoladamente, é, claro, individual, mas cada
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esfera de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, sendo isso que denominamos gêneros do discurso. (BAKHTIN, apud PARANÁ, 2008, p. 52)
Bakhtin dividiu os gêneros discursivos em dois grupos. Os primários que
estão relacionados com as situações cotidianas; e os secundários que estão
relacionados às circunstâncias mais complexas de comunicação. Essas
esferas são interdependentes. Assim, Bakhtin não prepara uma tipologia dos
gêneros, ele apenas faz a distinção, que não é com base em critérios
funcionais, entre gêneros primários e secundários.
Diante deste arcabouço teórico, o processo de ensino–aprendizagem de
língua proposto pelas DCE objetiva:
• empregar a língua oral em diferentes situações de uso, saber adequá-la a cada contexto e interlocutor, reconhecer as intenções implícitas nos discursos do cotidiano e propiciar a possibilidade de um posicionamento diante deles; • desenvolver o uso da língua escrita em situações discursivas por meio de práticas sociais que considerem os interlocutores, seus objetivos, o assunto tratado, além do contexto de produção; • analisar os textos produzidos, lidos e/ou ouvidos, possibilitando que o aluno amplie seus conhecimentos linguístico-discursivos; • aprofundar, por meio da leitura de textos literários, a capacidade de pensamento crítico e a sensibilidade estética, permitindo a expansão lúdica da oralidade, da leitura e da escrita; • aprimorar os conhecimentos linguísticos, de maneira a propiciar acesso às ferramentas de expressão e compreensão de processos discursivos, proporcionando ao aluno condições para adequar a linguagem aos diferentes contextos sociais, apropriando-se, também, da norma padrão. (PARANÁ, 2008, p. 54)
O documento das Diretrizes destaca que esses objetivos e práticas
acontecem em um processo longitudinal de ensino e aprendizagem, com início
na alfabetização e estendido por toda a vida. Acrescenta que esse processo
não pretende o abandono do conhecimento gramatical, pois no próprio uso da
língua a gramática estará presente, já que “toda língua é constituída de uma
gramática e de um léxico” (ANTUNES, apud PARANÁ, 2008, p. 53), e que, ao
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usar uma língua, “usamos normas fonológicas, morfológicas, sintáticas e
semânticas” (PARANÁ, 2008, p. 53).
O documento também esclarece que ensinar regra de gramática é
diferente de ensinar nomenclaturas e classificações. De acordo com Antunes
(2003), as regras servem para orientar o uso das unidades da língua, são
normas. Já as nomenclaturas e classificações são questões metalinguísticas –
que consiste em usar a língua para análise consciente da própria língua,
buscando saber o funcionamento da língua em cada situação de interação e
explicar a sua constituição; essa atividade está ligada ao conhecimento da
língua, à gramática teórica.
Assim, ainda conforme Antunes (2003), é preciso que aconteça um
trabalho paralelo entre as atividades metalinguísticas e epilinguísticas:
O estudo dos conhecimentos linguísticos, sob esse enfoque, deve propiciar ao aluno a reflexão sobre as normas de uso das unidades da língua, de como elas são combinadas para produzirem determinados efeitos de sentido, profundamente vinculados a contextos e adequados às finalidades pretendidas no ato da linguagem. (PARANÁ, 2008, p. 54)
Assim, diz Geraldi (1997), o ensino da língua, nesta perspectiva, deve
ser permeado pelas atividades linguísticas, epilinguísticas e metalinguísticas;
as atividades linguísticas acontecem nos processos interacionais, tratam de um
tema e da sua progressão, portanto, há uma reflexão quase “automática”, já
que não há parada nessa progressão da determinação do sentido que se
constrói na intercompreensão dos sujeitos. As atividades epilinguísticas
acontecem nos processos interacionais, mas aqui a reflexão é do próprio
recurso expressivo, ou seja, a própria expressão é usada como assunto do
enunciado, suspendendo o tratamento do tema realizado pelos interlocutores.
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As atividades metalinguísticas tomam a linguagem como objeto, constrói uma
metalinguagem sistemática, consciente, com a qual falam sobre a língua.
Em seguida, as Diretrizes apontam as práticas discursivas como a
oralidade, leitura e escrita, explicando que “a ação pedagógica referente à
linguagem, portanto, precisa pautar-se na interlocução, em atividades
planejadas que possibilitem ao aluno a leitura e a produção oral e escrita, bem
como a reflexão e o uso da linguagem em diferentes situações” (PARANÁ,
2008, P. 55). E, mais adiante, relaciona as práticas discursivas com a análise
linguística, referente aos estudos dos conhecimentos linguístico–discursivos
dos alunos. O documento explica que o termo análise linguística foi
apresentado por Geraldi (2004) e causou um novo olhar ao trabalho de Língua
Portuguesa na escola, principalmente no que alude ao ensino de gramática:
O uso da expressão ‘análise linguística’ não se deve ao mero gosto por novas terminologias. A análise linguística inclui tanto o trabalho sobre as questões tradicionais da gramática quanto questões amplas a propósito do texto, entre as quais vale a pena citar: coesão e coerência internas do texto; adequação do texto aos objetivos pretendidos; análise dos recursos expressivos utilizados [...]; organização e inclusão de informações, etc. (GERALDI, apud PARANÁ, 2008, p. 60)
Esse trabalho de reflexão linguística ancorado no texto ultrapassa o
tradicional ensino da palavra e da frase, pois, ao estudar as atividades
linguísticas, “nos fixemos nas condições de seus usos e nos efeitos discursivos
possibilitados pelo recurso a uma ou a outra regra [...]” (ANTUNES, apud
PARANÁ, 2008, p. 60).
Na concepção de língua como interação, com dimensão linguístico–
discursiva, é primordial a criação de oportunidades para “o aluno refletir,
construir, considerar hipóteses a partir da leitura e da escrita de diferentes
textos, instância em que pode chegar à compreensão de como a língua
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funciona e à decorrente competência textual” (PARANÁ, 2008, p. 60). Portanto,
primeiramente há um intenso trabalho de interação, mediado pelo professor,
entre o aluno e o texto, e só depois a construção de um ensino de
nomenclaturas, definições e regras gramaticais, pois como é dito em
Menegassi (2004), o aluno aprenderá a língua usando-a já que o objetivo é que
ele seja um usuário competente:
Assim, o trabalho com a gramática deixa de ser visto a partir de exercícios tradicionais, e passa a implicar que o aluno compreenda o que seja um bom texto, como é organizado, como os elementos gramaticais ligam palavras, frases, parágrafos, retomando ou avançando ideias defendidas pelo autor, além disso, o aluno refletirá e analisará a adequação do discurso considerando o destinatário, o contexto de produção e os efeitos de sentidos provocados pelos recursos linguísticos utilizados no texto. (PARANÁ, 2008, p. 61)
Com a pretensão de esclarecer aos seus interlocutores as diferenças
entre o ensino de gramática normativa e a prática de análise linguística, o
documento das DCE adicionou, no corpo de seu texto, o quadro “Diferenças
entre o ensino de gramática e análise linguística” (MENDONÇA, 2006, p. 207).
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QUADRO 1 – DIFERENÇAS ENTRE O ENSINO DE GRAMÁTICA E ANÁLISE LINGUÍSTICA (Fonte: MENDONÇA,
2006, p. 207)
Neste quadro, Mendonça (2006) esclarece a diferença teórica entre
trabalhar com gramática normativa e com a análise linguística em sala de aula,
abordando a concepção de linguagem que cada uma adere, até as práticas de
ensino de ambas.
Porém, verifica-se em Perfeito (2005, 2007) um trabalho mais
aprofundado e esclarecedor a respeito da análise linguística, inclusive com
exemplos práticos, organizando este processo em dois momentos mais
detalhados. E, mesmo a autora constando nas referências da DCE de Língua
Portuguesa, este trabalho não é aproveitado, visto que Perfeito é citada apenas
duas vezes no documento, uma na dimensão histórica, falando a respeito da
influência da teoria comportamental/behaviorista no processo de ensino
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aprendizagem das escolas (PARANÁ, 2008, p. 43); e, em um segundo
momento, dentro da prática discursiva da leitura, falando do texto e do leitor
(PARANÁ, 2008, P. 57); portanto, em momento algum a autora é mencionada
no que se refere à análise linguística, mesmo tendo muito a contribuir para
tanto.
Em suma, de acordo com Perfeito (2007), a AL consiste no processo
reflexivo, portanto epilinguístico, dos alunos enquanto sujeitos em relação aos
recursos textuais, lexicais e gramaticais, sempre considerando o contexto de
produção e os gêneros veiculados, abrangendo o processo de leitura, de
construção e de reescrita textuais que o professor deve mediar. De modo que,
mais especificadamente, será feita em dois momentos e contextualizada.
Em um primeiro momento, “na mobilização dos recursos linguístico-
expressivos, propiciando a co-produção de sentidos, no processo de leitura,
tendo em vista o (s) gênero (s) discursivo (s) em que os textos são
apresentados” (PERFEITO, apud PERFEITO, 2007, p. 139)
Em um segundo momento, “da reescrita textual, local de análise da
produção de sentidos; de aplicação de elementos, referentes ao arranjo
composicional, às marcas lingüísticas (do gênero) e enunciativas (do sujeito-
autor), de acordo com o gênero(s) selecionado(s) e com o contexto de
produção, na elaboração do texto” (PERFEITO, apud PERFEITO, 2007, p.
139).
Enfim, na AL, observa-se um texto inserido em um gênero, o arranjo
textual, as marcas linguístico-enunciativas, sempre considerando as condições
de produção no processo de construção de sentidos.
Nos encaminhamentos metodológicos, as Diretrizes explicam mais uma
vez que a prática didática da análise linguística é complementar às práticas de
leitura, oralidade e escrita, e tem o objetivo de refletir a respeito dos recursos
linguísticos e seus efeitos de sentido nos textos, seja no momento de
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ler/escutar ou de produzi-los, pois segundo Antunes (2007) o texto é a única
forma de se usar a língua: “a gramática é constitutiva do texto, e o texto é
constitutivo da atividade da linguagem. [...] Tudo o que nos deve interessar no
estudo da língua culmina com a exploração das atividades textuais e
discursivas” (ANTUNES, apud PARANÁ, 2008, p. 77).
O documento levanta também a importância de o professor
compreender as diferentes formas de estrutura de uma língua e as gramáticas
que procuram sistematizá-las. Por isso, as DCE apresentam quatro tipos de
gramáticas mais vinculadas às questões pedagógicas: a normativa, a
descritiva, a internalizada e a reflexiva:
• Gramática normativa: estuda os fatos da língua culta, em especial da língua escrita. Considera a língua uma série de regras que devem ser seguidas e obedecidas, regras essas do falar e escrever bem; • Gramática descritiva: descreve qualquer variante linguística a partir do seu uso, não apenas a variedade culta. Dá preferência à manifestação oral da língua; • Gramática internalizada: é o conjunto de regras dominadas pelo falante, é o próprio “mecanismo”; • Gramática reflexiva: volta-se para as atividades de observação e reflexão da língua. Essa gramática se preocupa mais com o processo do que com o resultado, está relacionada com as atividades epilinguísticas.(TRAVAGLIA, apud PARANÁ, 2008, p. 78).
Uma vez que o trabalho com o texto é feito a partir da interlocução, os
conteúdos gramaticais serão estudados em seus “aspectos funcionais na
constituição da unidade de sentido dos enunciados”; por isso, o professor
precisa conhecer outras gramáticas, além da gramática normativa, “em
especial, a reflexiva no processo de ensino de Língua Portuguesa” (PARANÁ,
2008, p. 78).
As Diretrizes alertam ainda que, antes de preparar atividades sobre a
análise das marcas linguístico–enunciativas de um texto, o professor deverá
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selecionar o gênero que irá trabalhar e discutir sobre o conteúdo temático e o
contexto de produção/circulação.
Visto que o ensino, na prática da análise linguística, ocorre nas práticas
de oralidade, leitura e escrita, as Diretrizes propõem algumas atividades de
análise das marcas linguístico-enunciativas.
Na oralidade, o aluno deverá refletir sobre a adequação de sua
linguagem ao contexto de uso, percebendo as variedades linguísticas
decorrentes do grau de formalidade de cada gênero discursivo; as marcas
linguísticas características da conversação; as diferentes características
lexicais, sintáticas e discursivas da fala formal e informal; os conectivos que
fornecem coesão e coerência ao texto.
Na leitura, o aluno deverá perceber as particularidades do texto formal e
informal; o efeito da repetição de palavras; o efeito causado por figuras de
linguagem e pensamento; léxico; progressão referencial no texto e os tipos de
discurso. A intenção é compreender os recursos usados pelo texto para
alcançar um determinado objetivo, assim, refletindo com e sobre a língua.
Na escrita, serão utilizados os próprios textos produzidos pelos alunos, e
em um processo de reescrita, analisar aspectos discursivos, textuais,
estruturais e normativos.
Porém, o documento não mostra ao professor de que forma ele irá
aplicar toda essa teoria na prática de sala de aula – não são “receitas”, faltam
exemplos.
E as DCE finalizam com um anexo de conteúdos básicos a serem
trabalhados na disciplina de Língua Portuguesa. São tabelas divididas em
Ensino Fundamental e suas respectivas séries/anos e o Ensino Médio; cada
tabela é dividida em conteúdos básicos, abordagem teórico-metodológica e
avaliação, abordando itens que declaram os objetivos/metas a serem
alcançados. E, por fim, há uma última tabela com vários gêneros discursivos
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separados por suas esferas de circulação, para que o professor opte e só
depois trabalhe os objetivos pretendidos dentro do gênero escolhido.
As DCE trazem um forte embasamento teórico, desde o Circulo de
Bakhtin com seus conceitos até os atuais pesquisadores do ensino de
gramática no Estado do Paraná. O professor tem um documento “carregado”
teoricamente, mas considerando-se que materiais didáticos geralmente são
destoantes dessa teoria, com base na antiga prática do ensino tradicionalista
da gramática normativa, mesmo com pesquisadores como Menegassi (2004),
Mendonça (2006), e Perfeito (2007), estudando e explicando esta nova prática
de ensino, a análise linguística via gênero discursivo, fazem-se necessários sim
exemplos práticos, visto a escassez do mesmo nas escolas.
Conclusão
Este trabalho foi distribuído em dois momentos. O primeiro mostrou a
formação e estrutura do documento DCE e, na segunda parte, foram descritas
e analisadas as orientações sobre o ensino de gramática no documento
institucional educacional as Diretrizes Curriculares da Educação Fundamental
da Rede de Educação Básica do Estado do Paraná – DCE, de 2008, com a
finalidade de perceber quais as orientações a respeito de gramática e análise
linguística foram dadas aos professores, e se esses documentos realmente
conseguem nortear o trabalho deles. Para tanto, utiliza-se da pesquisa de
autores que estudam o ensino de gramática, chegando à conclusão de que
esses documentos não são plenamente satisfatórios em seus objetivos
pretendidos.
Em suma, se o professor procura tais documentos - os parâmetros, as
diretrizes, os currículos - com a intenção de sanar suas dúvidas a respeito de
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sua prática em sala de aula, como deve ensinar a gramática, este apoio
institucional, sozinho, não é capaz de suprir essas dúvidas.
Ao professor que sente dúvidas a respeito de como trabalhar com a
gramática em sala de aula, de que teoria utilizar, de como desenvolver a sua
prática e a que objetivos traçar para o seu aluno, é de suma importância, em
um primeiro momento, que haja um estudo da história da gramática, a fim de
que o professor entenda a origem e os resquícios contidos no atual ensino de
gramática e, posteriormente, perceba as diversas perspectivas de linguagem e
gramática que ele tem a seu alcance, compreendendo a que resultado cada
uma delas levará.
Tendo este arcabouço teórico, o professor poderá aproveitar os vários
trabalhos feitos por pesquisadores do ensino de Língua Portuguesa, como por
exemplo, Mendonça, Perfeito, Menegassi, que além de terem uma bagagem
teórica, também abordam a prática, propondo atividades que podem orientar o
professor em seu trabalho, já que, no caso da análise linguística, ainda não
encontramos com facilidade, pelas escolas, materiais didáticos dentro dessa
perspectiva.
Bibliografia
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AVALIAÇÃO DE LARGA ESCALA DO ENSINO DE LÍNGUA
PORTUGUESA DE MS: GÊNEROS DISCURSIVOS EM DEBATE.
Michele Serafim dos Santos1
Silvane Aparecida de Freitas2
A leitura se caracteriza, nesta investigação, como um processo discursivo em que considera o sujeito leitor como produtor de significados, considerando toda a situação sócio-histórica-ideológica em que o leitor e autor estão inseridos. É o histórico-social que determina o comportamento, as atitudes, a linguagem, bem como as crenças e valores do sujeito leitor. (CORACINI, 1995, p.15). Nessa perspectiva, pretendemos discutir alguns conceitos presentes no debate acadêmico sobre a avaliação externa e sua relação com as políticas públicas, enfatizando o ensino de leitura nas aulas de língua portuguesa, destacando os seguintes objetivos específicos: conceituar avaliação externa de Língua portuguesa em MS (SAEMS) e analisar as questões de leitura aplicadas ao 30 ano do Ensino Médio, com o fito de verificar se estas questões estão em consonância com as atuais concepções sobre leitura. Para isso, partiremos de uma revisão bibliográfica sobre leitura numa perspectiva discursiva e sobre avaliação externa, relacionando-a com as políticas públicas de nosso país. A proposta deste trabalho será refletir sobre como o ensino de leitura é focalizado nessas avaliações de larga escala. Esse tipo de avaliação ofereceria um modelo a ser seguido pelos professores? Que concepções de leitura perpassam essas questões avaliativas? Qual a finalidade desse tipo de avaliação? Nesse sentido, após análise dessas questões, pretendemos discutir os resultados obtidos nas avaliações externas, divulgar seu conteúdo, com o foco na leitura, promovendo uma reflexão sobre as concepções de leitura apresentadas nessas provas, motivando os professores a debater essas propostas, a desenvolver atividades de leitura diversificadas, propiciando diferentes gêneros discursivos aos seus alunos, tendo em vista uma concepção de leitura como processo polifônico, abrangente e complexo.
1 Mestranda em Letras - UEMS. Linha de pesquisa: Ensino de Linguagens. Email:
[email protected] 2 Doutora em Letras (Unesp, 2002); pós doutorado em Linguística Aplicada (Unicamp, 2009). Email:
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Palavras – chave: Avaliação externa. Textos. Leitura. Reading is understood in this investigation as a discursive process, in which the subject reader is a meaning maker, taking into consideration the socio-historical-ideological whole situation where reader and author are inserted. It is the socio-historical environment that determines the behavior, the attitude, the language as well as the beliefs and values of the subject reader. (CORACINI, 1995, p.15). From this perspective, we intend to discuss some concepts current in the academic debate about the external evaluation and its relation with public politics, emphasizing the teaching of reading in the Portuguese language classes, highlightening the following specific goals: conceptualize external evaluation of the Portuguese language in MS (SAEMS) and analyze the issues concerning the reading applied in the 3rd grade of high school aiming at verifying if these questions are consistent with the present reading conceptions. In order to do so, we will begin with a review of references on reading as a discursive perspective and with external evaluation, comparing them to the public politics in our country. The purpose of this study is to reflect on how the teaching of reading is targeted within large scale assessment. Does this kind of evaluation provide a model to be followed by teachers? What reading conceptions underlie such evaluative issues? What is the aim of this kind of evaluation? In this sense, and after analyzing all these issues, we intend to discuss the results from the external evaluation, disclose its results, focusing on reading, reflecting about the underlying concepts presented on these exams, thus motivating teachers to debate on the proposals, to develop varied reading activities and provide different discursive genres for the students considering reading as a wide polyphonic complex process.
Key - Words: External evaluation; Texts; Reading. Introdução
Neste artigo, pretendemos apresentar nossa Projeto de
Pesquisa em andamento do mestrado em Letras, na linha de pesquisa
Ensino de Linguagens, da Universidade Estadual de Mato Grosso do
Sul. Neste estudo, consideramos que a prática da leitura é de suma
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importância para a formação do aluno, bem como para a ampliação de
sua competência discursiva, um dos principais objetivos da escola. Há
uma necessidade de se despertar o prazer de ler no aluno e cabe,
sobretudo, à escola despertar nele o gosto pela leitura.
Consideramos que a leitura deve ser uma prática significativa
para o aluno. Para isso, necessário se faz levar para a sala de aula uma
diversidade de gêneros discursivos, sempre visando a produção de
sentidos do texto e a situação ócio-cultural em que os alunos estão
inseridos.
A escola, assim como o professor, são os responsáveis pelo
trabalho com os textos, buscando tornar o aluno leitor de diferentes
gêneros discursivos e não limitá-los somente às tipologias textuais
tradicionais. Por isso, “professores e alunos precisam ler, porque a
leitura é um componente da educação e a educação, sendo um
processo, aponta para as necessidades de buscas constantes de
conhecimento” (SILVA, 1998, p.11). Porém, para que estas buscas se
efetivem na prática e gerem benefícios sociais, precisamos de condições
concretas para produzir diferentes situações de leitura.
Existem algumas metodologias que são necessárias para que se
consiga produzir bons leitores. Para Cardoso (2005), muitos professores
ainda se encontram desorientados na prática de sala de aula. Muitos se
sentem sem conteúdo, uma vez que o ensino de gramática normativa já
não é prioridade. Neste sentido, a estudiosa afirma que o professor
precisaria buscar uma melhoria em suas concepções de ensino e,
consequentemente, nas estratégias utilizadas em sala de aula. Segundo
os PCN (1998, p. 55), a mais importante estratégia para a prática de
leitura é o trabalho com a diversidade de gêneros textuais/discursivos,
pois sem essa oferta não se formarão leitores ativos e atuantes na
sociedade.
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A educação brasileira hoje é medida por índices, os quais são
obtidos por meio de avaliações aplicadas nas escolas. Segundo dados
do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB), em
2009, da amostra dos estudantes avaliados em Língua Portuguesa,
apenas 34,2% e 26,3% apresentaram aprendizado adequado ao que era
esperado pelos elaboradores dessas provas, respectivamente, ao 5º e
9º anos do Ensino Fundamental.
Em Mato Grosso do Sul, os resultados do SAEMS mostram que
os alunos permanecem em níveis de proficiência aquém dos esperados
para a série/ano ou idade. Mas como as habilidades de leitura podem
ser desenvolvidas? O que pode ser feito, no âmbito da escola e da sala
de aula? Que estratégias adotar para que nossos alunos tornem-se
leitores? Podemos afirmar que as questões de leitura do SAEMS
oferecem subsídios para diagnosticar se o aluno é ou não leitor?
Perguntas como estas são feitas todos os dias em nossas
escolas. Por meio desta pesquisa iremos buscar algumas dessas
respostas. Parte-se do princípio de que é responsabilidade do professor
atuar em sala de aula no sentido de desenvolver, em seus estudantes, o
gosto pela leitura, para que assim, ele possa interpretar, ou seja,
comparar, relacionar, sugerir, transformar o lido, e não meramente
identificar informações. Para isso, a escola teria de enfocar os aspectos
discursivos do texto, propiciando ao estudante uma relação direta com
as condições de produção do discurso. Neste sentido, acredita-se que o
ensino de língua materna precisaria primar pela ampliação dos
conhecimentos linguístico-discursivos do estudante em formação.
Acreditamos que nesta investigação seja importante considerar as
práticas de leitura como elementos significativos para ampliar a nossa
compreensão sobre o objeto de pesquisa proposto. A prática da leitura
se faz presente em todos os níveis educacionais desde o período da
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alfabetização e necessita do professor como mediador para ampliar,
cada vez mais, essa prática em sala de aula, o que poderá ser
expandida também para além dos muros da escola.
Espera-se com esse trabalho, poder contribuir para uma reflexão e
melhorias na metodologia do professor como mediador na prática de
leitura em sala de aula. Para a execução do objetivo geral que é discutir
alguns conceitos presentes no debate acadêmico sobre a avaliação
externa e sua relação com as políticas públicas, enfatizando o ensino de
leitura nas aulas de língua portuguesa, destacamos os seguintes
objetivos específicos: conceituar avaliação externa de Língua
portuguesa em MS (SAEMS); analisar as questões de leitura aplicadas
ao 3 º ano do Ensino Médio, com o fito de verificar as concepções de
leitura que estão presentes nestas questões; refletir sobre os descritores
exigidos nos textos apresentados.
Para tal estudo, partiremos de uma revisão bibliográfica sobre as
diferentes concepções de leitura e sobre avaliação externa,
relacionando-a com as políticas públicas de nosso país. A proposta será
refletir sobre como o ensino de leitura é focalizado nessas avaliações de
larga escala. Esse tipo de avaliação ofereceria um modelo a ser seguido
pelos professores? Que concepções de leitura perpassam essas
questões avaliativas? Qual a finalidade desse tipo de avaliação?
Após análise dessas questões, pretendemos discutir os
resultados obtidos nas avaliações externas, divulgar seu conteúdo, com
o foco na leitura, promovendo uma reflexão sobre as concepções de
leitura apresentadas nessas provas, motivando os professores a debater
essas propostas, a desenvolver atividades de leitura diversificadas,
propiciando diferentes gêneros discursivos aos seus alunos, tendo em
vista uma concepção de leitura como processo polifônico, abrangente e
complexo.
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Trata-se de uma pesquisa qualitativa de base interpretativista,
tendo como fundamento a análise de discurso e a teoria dialógica do
discurso, na qual observamos dados obtidos na avaliação (SAEMS),
realizada na turma do 3º ano do Ensino Médio, no ano de 2012, de uma
escola pública estadual do município de Jardim/MS.
Avaliação externa – foco no aluno
É necessário diferenciar o que é uma prova aplicada por um
professor aos seus alunos de um sistema de avaliação em larga escala.
Segundo Horta Neto (2010):
Uma prova aplicada pelo professor é um evento único e independente, com ênfase somente em um conjunto de objetivos cognitivos que incide sobre o futuro imediato do aluno e que é interpretado independentemente do seu contexto socioeconômico ou educacional. Já um sistema de avaliação – que tem como principais usuários, mas não únicos e exclusivos, os sistemas educacionais – é um processo que envolve um levantamento periódico de dados com o objetivo de captar a evolução do quadro educacional. (p. 84-104, jan./abr. 2010)
As avaliações externas ou em larga escala surgiram a partir da
década de 90, seguindo alguns modelos internacionais, para compor o
conjunto de reformas na educação, fazendo parte do processo da busca
de avanço educacional no Brasil.
Segundo Luckesi (2012), foi “por esses anos, no mundo e no
Brasil, que se começou a perceber que o sistema de ensino também
poderia ser o responsável pelo fracasso escolar”. O autor nos afirma que
a partir de então, além da avaliação da aprendizagem, começou-se a
pensar em práticas avaliativas diferentes, que priorizassem algo mais
que a aprendizagem nas salas de aula, chegando às práticas de
avaliação institucional e de larga escala que temos hoje.
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As avaliações em larga escala proporcionam informações sobre a
realidade educacional brasileira e de cada escola, possibilitando ações
de reflexão sobre o cotidiano escolar. A partir dos resultados (índices
obtidos nas avaliações externas) podemos refletir sobre o processo de
ensino/aprendizagem envolvendo todos os atores deste cenário. Tais
informações podem orientar a implementação de políticas públicas de
educação, pois permitem a construção de um diagnóstico do sistema de
ensino.
São várias as avaliações em larga escala aplicadas no Brasil para
medir índices da educação básica e educação superior, que podem ser
de âmbito nacional como SAEB, Prova Brasil, Provinha Brasil, Enem,
Enade, Encceja; e de âmbito estadual, como o processo que acontece
nos estados da Bahia, Minas Gerais, Ceará, Rio Grande do Sul, entre
outros.
Em MS, as avaliações em larga escala realizadas nas escolas
públicas estaduais, recebem o nome de SAEMS - Sistema de avaliação
da rede pública de MS, criado em 2003, tem por objetivo avaliar a rede
estadual de Ensino, com relação às habilidades e competências
desenvolvidas em Língua Portuguesa - Leitura/Produção de texto e
Matemática. Tem por finalidade acompanhar a qualidade do ensino das
escolas estaduais de MS, refletir sobre os direcionamentos dos
recursos, além de fornecer informações periódicas e comparáveis sobre
o desempenho dos estudantes, as quais poderão fornecer subsídios
para os gestores escolares implantar políticas pedagógicas de
aprimoramento do ensino, ou seja, detectar os problemas no ensino.
A diferença básica entre as avaliações externas nacionais, com
exceção do ENEM (que é aplicado ao ensino médio), é que o SAEB e a
Prova Brasil verificam somente habilidade de leitura. Enquanto que a
avaliação do SAEMS verifica habilidades de leitura e escrita.
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O SAEMS analisa a qualidade do ensino e da aprendizagem nas
séries do quarto ao oitavo ano do Ensino Fundamental, primeiro ao
terceiro ano do Ensino Médio e na primeira fase do ensino médio da
Educação de jovens e adultos; mediante critérios denominados
descritores, que em Língua Portuguesa avaliam a leitura e escrita e
variam de 1 a 31 (D1 a D31), os quais seguem como referência a matriz
curricular nacional de habilidades em Língua Portuguesa para o ensino
médio.
Em 2011, o SAEMS sofreu reformulações e hoje faz parte do
calendário anual da Secretaria de Educação Estadual no Ensino Médio.
Diante dessa constatação, surge uma questão que preocupa
educadores: Como desenvolver nos alunos a prática da leitura e
habilidades exigidas segundo os descritores do SAEMS?
Por meio das questões de leitura da prova da SAEMS, podemos diagnosticar se o nosso aluno é ou não leitor?
Nesta pesquisa, questionamos se as questões de leitura das
provas do SAEMS levariam os alunos a refletir, comparar um texto com
outro a produzir sentidos dos significados possíveis para um
determinado texto. Ou estas questões esperam que o aluno apenas
decodifique, encontre o sentido único em um texto, como se a linguagem
fosse clara e transparente. Para isso, no decorrer de nossa Dissertação
de Mestrado, analisaremos as questões dessas provas, para que
possamos melhor refletir sobre essas indagações.
A leitura é uma busca constante, indispensável para o indivíduo,
por isso, a importância de se desenvolver essa prática em sala de aula,
de forma contínua e sistemática, visando à produção de sentidos dos
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diversos gêneros discursivos. Assim, o aluno poderá ampliar sua
competência linguístico-discursiva. Para Martins (2009):
O aluno de tanto manusear, ler, ouvir determinado gênero, apropria-se de suas características de tal forma que ao ver determinado texto com aquela estrutura textual já a relaciona com aquele gênero, isso facilita a compreensão e todo o processo comunicativo. Por isso a importância de se explorar as características de cada gênero. ( p.1848).
Existem algumas estratégias importantes que colaboram na
formação de leitores. No que diz respeito à leitura, temos as sugestões
dos PCN, tais como: leitura silenciosa, leitura em voz alta, alguém que
lê, leitura em grupo etc. Dessa forma, tais atividades devem ser
previstas no planejamento semanal do professor, para que ele consiga
formar leitores.
Portanto, seria ideal que o professor diversificasse o material
didático a ser empregado em suas aulas e sempre utilizasse novas
estratégias para serem aplicadas em sala de aula, o que se torna
essencial para despertar a atenção do aluno sobre o texto, provocando,
assim, maior compreensão do texto. Segundo os PCN (1998) “a mais
importante estratégia didática para a prática de leitura é o trabalho com
diversidade textual, pois sem ela pode-se até ensinar a ler, mas
certamente não se formarão leitores competentes”.
Neste sentido, Martins (2009) afirma que “os gêneros
discursivos são instrumentos que possibilitam aos agentes leitores uma
melhor relação com os textos”. Portanto, o objetivo da escola é formar
bons leitores, colocando sua clientela em contato com escritores
diversos. No caso da literatura, notícias, que aparecem em jornais e
revistas, leitura lúdica, como acontece nos gibis etc.
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Segundo Kleiman (1995), “quanto mais conhecimento textual,
quanto maior for a exposição a todo tipo de texto, mais fácil será sua
compreensão”. Desse modo, espera-se que sejam oferecidos, diversos
gêneros discursivos para a leitura, como piadas, histórias em
quadrinhos, charges, notícias, documentários, fábulas, bulas de
remédios, anúncios, uma vez que segundo Bakhtin:
[...] a riqueza e a variedade dos gêneros do discurso são infinitas, pois a variedade virtual da atividade humana é inesgotável [...] diversidade que este pode apresentar conforme os temas, as situações e a composição de seus protagonistas [...]. (BAKHTIN, 1992, p. 280-281).
O maior problema da leitura e da escrita é que elas são
instrumentos básicos para todas as disciplinas, entretanto nenhuma
delas assume o compromisso de ensinar aos alunos como efetuar uma
boa leitura, nem como escrever bem.
Para Geraldi (2003), o texto passa a ser considerado o centro de
todo o processo ensino/aprendizagem de língua materna. O conteúdo ao
ser trabalhado na sala de aula é a própria linguagem, por meio de três
práticas interdependentes: leitura, produção de texto e análise
linguística. Neste sentido, as condições de leitura de um texto em uma
aula determinam os modos como o texto seria abordado e
compreendido. (GRIGOLETTO, 2010).
Para Cardoso (2005), a proposta de se ter o texto como ponto
de partida e de chegada de todo o processo ensino/aprendizagem
(visando a ampliação da competência discursiva de nossos alunos em
fase de escolarização), embora não seja algo inteiramente novo, tem
esbarrado em algumas dificuldades ou equívocos, porque muitos
professores se encontram bastante desorientados na prática da sala de
aula, sentem-se sem conteúdo, uma vez que o ensino de gramática
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normativa já não é prioridade e usam o texto como pretexto para o
ensino gramatical. Nesse tipo de trabalho, é deixado de lado: o sentido
do texto e as condições de produção do discurso.
No dizer de Coracini (1995,1999), na prática da escola, ainda
vigora a visão da leitura como decodificação, na qual o texto teria uma
única leitura correta e possível, ou seja, a do professor ou do livro
didático, garantindo o controle de sentido único.
Neste sentido, Cardoso (2005) afirma que à escola fica o desafio
de oferecer condições para que também os alunos se tornem
qualificados para o exercício de diferentes tipos de discursos: o da
imprensa, de propaganda, literário, científico, o político etc. Se assim
não for, nossa escola continuará sendo um poderoso agente reprodutor
das desigualdades sociais deste país.
Considerando os textos apresentados na avaliação,
apresentaremos, para exemplificar nossa análise, recorte de um item
(questão) aleatório do banco de questões aplicadas ao 3. ano do Ensino
Médio (2012) disponível no site do SAEMS3.
texto 1:
3 Questões disponíveis no link: http://www.saems.caedufjf.net/?page_id=238
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Neste recorte, temos um fragmento de um romance da literatura
brasileira. A habilidade avaliada por este item refere-se à capacidade de
os estudantes inferirem o significado de uma palavra ou expressão em
um texto (D11). A resposta correta para os organizadores do SAEMS é a
letra B, e para respondê-la, segundo análise descrita no caderno do
SAEMS, é necessário que os estudantes observem a solicitação do
comando e localizem a palavra sublinhada no corpo textual, para,
juntamente com o contexto no qual ela está inserida mais os
conhecimentos prévios, possam construir uma representação semântica
para esse vocábulo.
Consideramos que é esperado um sentido único para a palavra
sublinhada. A questão não dá margem para a polifonia, isto é, os
multiplos sentidos do texto, a presença de outros texto dentro de um
texto. Se o aluno não souber o sentido exato da palavra, ele não
produzirá o sentido global do texto?
Neste item, portanto, o nível de estudo linguístico do léxico
parece ser mais importante que o texto como um todo. Segundo Geraldi
(2010, p.104), é no texto que se marcam os processos de enunciação, é
nele que o leitor encontra chaves, para ressituar o texto na história de
sua produção e reencontra os sujeitos com que se relaciona. A palavra
assume o sentido de acordo com a situação de produção – Polissemia.
Para Coracini (2005, p.24):
[...] ainda que o texto siga convenções, se organize de uma forma predeterminada, pretenda ser uma bula [...], nele mergulhamos e nos envolvemos para produzir sempre, a cada olhar, a cada escuta, uma nova leitura e, portanto, um novo texto.
Para Geraldi (2003), a leitura é um processo de interlocução
leitor/autor mediado pelo texto, o leitor não é passivo, mas é o agente
que busca significações. Neste sentido Coracini (2005), afirma que na
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leitura enquanto interação e construção de sentido. Devemos considerar
a existência dos sujeitos – autor e leitor, ambos presentes e ativos.
Considerações Finais
A proposta dessa pesquisa é refletir sobre as avaliações de larga
escala com foco na leitura, promovendo uma reflexão sobre o ensino de
leitura, no sentido de propiciar aos educadores possibilidades de
desenvolverem estratégias a partir dos resultados obtidos na avaliação
do SAEMS.
É necessário discutir os resultados obtidos nas avaliações
externas, divulgar seu conteúdo, motivando os professores a debater as
propostas, a desenvolver atividades diversificadas e ofertar diferentes
gêneros discursivos aos seus alunos. Que essas avaliações sirvam
como diagnóstico para futuras mudanças. Segundo Luckesi (2013), os
atos avaliativos existem para aprender com eles e não para que nos
defendamos, pois a autodefesa não nos permite aprender. Escutar o que
a realidade nos diz é mais produtivo, pois podemos reagir e buscar
soluções.
Os resultados das avaliações de larga escala mostram ao gestor
se está produzindo na qualidade desejada. Se sim, ótimo; do contrário,
há que criar ações, para que atinja o que se deseja. Luckesi (2013)
afirma que “a avaliação de larga escala pode ser benéfica” e os gestores
de instituições educacionais precisam entender que os resultados da
avaliação “são aliados na busca de mais significativos investimentos na
educação” e resultante de ações praticadas.
Portanto, os resultados das avaliações de larga escala são
resultados do processo ensino/aprendizagem, e o professor precisa
refletir que o gosto pelo ato de ler é adquirido na prática contínua e
sistemática, que surge do contato e do incentivo que o indivíduo tem,
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independente de ser velho ou novo e que o resultado da prova do
SAEMS reflete apenas um momento na vida do aluno, não acompanha o
processo de constituição do leitor. Por isso, não podemos avaliar se o
aluno é leitor ou não apenas pelo resultado de uma prova.
Referências
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa. Brasília, MEC/SEF,
1998. 106 p. (Ensino de 5ª a 8ª séries)
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo, Martins Fontes, 1992.
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Portuguesa/Coordenação Egon de Oliveira Rangel e Roxane Helena Rojo. Volume 19.
Coleção explorando o ensino. Brasília. Ministério da Educação. 2010.
CORACINI, M. J. R. F. (Org.). O jogo discursivo na aula de leitura: língua materna e
língua estrangeira. Campinas, SP: Pontes, 3 ed, Campinas, SP: Pontes Editores,
2010.CORACINI, M. J. R. Concepções de Leitura na (pós)-modernidade. In: LIMA,
Regina Célia de C. P. (Org.). Leitura: múltiplos olhares. Campinas, SP:Mercado de
Letras; São João da Boa Vista, SP: Unifeob, 2005. 272 p
KLEIMAN, Ângela. Texto & Leitor -Aspectos cognitivos da leitura. São Paulo: Pontes,
1995.
LUCKESI, Cipriano. Compreendendo mais sobre “Avaliação de larga escala e
currículo escolar nacional”. Disponível em:
http://luckesi.blog.terra.com.br/2013/05/27/avaliacao-de-larga-escala-e-curriculo-
escolar-nacional, 2013
LUCKESI, Cipriano. Avaliação da aprendizagem, institucional e de larga escala.
Disponível em:http://luckesi.blog.terra.com.br/2012/11/15/avaliacao-da-aprendizagem-
institucional-e-de-larga-escala/, 2012.
MARTINS, Silvane Aparecida de Freitas. As condições de Leitura nas escolas públicas
de Paranaíba: Realidades e adversidades. In: ARAÚJO, Doracina Aparecida de Castro.
Pesquisa em Educação: política, sociedade e tecnologia. Campo Grande: Editora
UNIDERP, 2007. p. 143 – 160.
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MARTINS, Silvane Aparecida de Freitas. O livro didático de ensino médio e as
propostas de atividades com gêneros textuais. Disponível em:
http://linguagem.unisul.br/paginas/ensino/pos/linguagem/cd/Port/123.pdf, 2009. p 1839-
1850. Acesso em: 25 de maio/2013.
HORTA NETO, João Luiz. Avaliação externa de escolas e sistemas: questões presentes
no debate sobre o tema. Revista bras. Est. pedag., Brasília, v. 91, n. 227, p. 84-104,
jan./abr. 2010. Disponível em:
http://rbep.inep.gov.br/index.php/RBEP/article/viewFile/1512/1313. Acesso em: 22 de
jun. 2013.
ROCHA, Gladys & CAFIERO, Delaine. Avaliação da Leitura e da escrita nos
primeiros anos do Ensino Fundamental. In: MARTINS, Raquel Márcia; MACIEL,
Francisca Izabel Pereira e CASTANHEIRA, Maria Lúcia (Orgs.). Alfabetização e
letramento na sala de aula. Belo Horizonte: Ceale; Autêntica, 2009. p.75 – 102.
SILVA, Ezequiel T. da. Elementos da pedagogia da leitura; texto e linguagem. São
Paulo: Martins Fontes,1998. p.140.
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A REESCRITA NA SALA DE AULA: UMA PROPOSTA DE TRABALHO
COM O GÊNERO BIOGRAFIA4
Débora Sodré Esper5
A defesa do uso dos gêneros discursivos, assim como da revisão textual docente nas
práticas de escrita escolar não é recente, tampouco superficial. Muito se tem discutido
sobre isso e é quase unânime, entre os vários pesquisadores que se dedicam a esse
estudo, a defesa da escrita como um trabalho processual e contínuo. No entanto, há
ainda um espaço a se preencher, no que se refere às propostas metodológicas e teóricas
que unam a revisão docente às características específicas dos gêneros. Esse desfalque
reflete diretamente em sala de aula, onde percebemos um estímulo à aprendizagem dos
gêneros nas fases anteriores a execução do texto, em seu detrimento durante as
intervenções e, por consequência, na reescrita do texto. Além disso, o trabalho pós-
revisão é quase inexistente; faz-se a revisão, entrega-se o texto para que o aluno
reescreva-o e encerra-se o processo, independentemente da superação ou não das
dificuldades, o que torna o trabalho lacunar. Diante desse contexto, esse estudo busca
contribuir para a mudança desse quadro, propondo um trabalho com o gênero biografia
em conjunto com a revisão textual. Trata-se de uma proposta com exercícios ligados ao
contexto de produção, ao conteúdo temático, à construção composicional e ao estilo do
gênero biografia. Para a elaboração fundamentou-se, no que diz respeito ao ensino-
aprendizagem de produção de texto, em Ruiz (2010); Fiad & Mayrink-Sabinson (1991);
Grillo (2002) e Jesus (2001) e, em relação aos gêneros discursivos, em Bakhtin (1997),
Dolz; Gagnon e Decândio (2010). Para o trabalho, utilizou-se 19 produções de alunos
do 4º ano do Ensino Fundamental (EF) de uma escola privada de Maringá, nos quais se
realizou o levantamento dos principais problemas apresentados e, com base nos
resultados, foi proposta uma série de atividades que visam à aprendizagem do gênero
em questão.
Palavras-chave: Revisão textual. Gênero biografia. Atividades.
INTRODUÇÃO
O ensino de produção textual, segundo as teorias que amparam o ensino de
língua materna, dentre elas a defendida pelos Parâmetros Curriculares Nacionais de
4 Trabalho orientado pela Professora Doutora Cláudia Valéria Doná Hila, do Departamento de Letras da
Universidade Estadual de Maringá- UEM. [email protected] 5 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos da Universidade Estadual de
Maringá-UEM. [email protected]
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Língua Portuguesa (BRASIL, 1998), deve ter como base os gêneros discursivos, e ser
entendido como algo progressivo, no qual, em ambiente escolar, o professor assume um
papel extremamente importante. Por meio de diversos recursos, além de oferecer
preparação prévia para a atividade escrita, ele pode auxiliar o aluno durante a revisão,
através de intervenções realizadas no texto. Por isso, é importante que o docente atente
para a materialização da sua revisão e, além disso, vise uma continuidade desse
trabalho, uma vez que, revisar, levantar os problemas do texto e não proporcionar a real
aprendizagem sobre essas dificuldades faz com que o ensino da língua escrita torne-se
lacunar.
Diante desse contexto, propomos, nesse artigo, um trabalho com o gênero
biografia em conjunto com a revisão textual. Trata-se de um conjunto de atividades que
foram formuladas a partir das dificuldades enfrentadas por alunos de uma turma do 4º
ano do EF na produção do gênero biografia.
A fim de cumprir o objetivo delimitado, organizamos este artigo em
cinco seções. Na primeira, discutimos os aportes teóricos da revisão e da reescrita. Na
segunda, tratamos dos gêneros discursivos e sua relação com o ensino. Na terceira,
fechamos a parte teórica com uma breve explanação sobre o gênero biografia. Em
seguida, contextualizamos a proposta e, por fim, na quinta seção, apresentamos as
atividades propostas.
Revisão e reescrita na escola
De acordo com os documentos oficiais que amparam o ensino de Língua
Portuguesa, o exercício de produção textual é um processo contínuo no qual a atividade
de escrever é apenas uma das etapas nesse percurso. Dessa forma, o texto está sempre
aberto a revisões e a quantas reescritas forem necessárias, com o intuito de aprimorá-lo.
Em sala de aula, além de leitor e avaliador do texto do aluno, o professor assume
o papel de colaborador nesse processo, ajudando-o, por meio da revisão, a aperfeiçoar
sua escrita. Sua mediação é “um dos fatores determinantes do sucesso que o aluno possa
ter em seu processo” de desenvolvimento da escrita (RUIZ, 2010, p.11).
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Garcez explica que, a produção textual, entendida como uma atividade
interativa, “baseia-se no pressuposto de que o conhecimento é mediado pelo par mais
desenvolvido, que serve de suporte temporário e ajustável, funcionando numa zona
sensível à aprendizagem, e que leva o estudante a usar as estratégias de forma
independente” (1998, p. 42), atingindo, assim, conforme Vigotski (2007), o nível de
desenvolvimento real.
Aplicando a teoria de Vigotski ao ensino de produção textual, podemos tomar o
professor, com seu papel de mediador, como atuante na ZDP, tornando-se determinante
na construção do sujeito como autor. Seu trabalho, junto ao aluno, passa por todo o
processo de escrita que vai desde o planejamento até a reescrita do texto, mas torna-se
ainda mais essencial durante a revisão, momento em que, por meio de seus comentários,
ajuda o discente a buscar os possíveis equívocos, preparando-o para a reescrita. Para
isso, professor e aluno “precisam aprender a detectar os pontos onde o que está dito não
é o que se pretendia, isto é, identificar os problemas do texto e aplicar os conhecimentos
sobre a língua para resolvê-los” (BRASIL, 1997, p. 55).
Jesus (2001) salienta, no entanto, que revisar o texto não é higienizá-lo, ou seja,
“limpar” os desvios gramaticais e substituir o texto do aluno pelo do professor. Nesse
sentido, assim como na fase anterior à escrita, “as atividades de revisão tem que levar
em conta os aspectos do gênero trabalhado, para não cair no erro de ‘homogeneizar’ a
linguagem do aluno em algo sem reflexo social” (GRILLO, 2002, p. 72). Cada gênero
possui certas características linguístico-discursivas, ou seja, aspectos ligados ao código
da língua que estão à disposição do autor e aspectos argumentativos vinculados ao seu
contexto de produção e objetivo discursivo. Todos eles devem ser levados em
consideração na revisão, pois são responsáveis pela construção do enunciado.
O processo de revisão também oferece ao professor a oportunidade de
reconhecer os problemas textuais mais recorrentes em sua sala de aula. A partir do
diagnóstico feito durante essa etapa, o docente pode planejar melhor suas aulas tendo
como base as reais necessidades dos alunos. Dessa forma, a revisão serve não como um
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momento de limpeza textual, mas como um instrumento de apoio significativo e
direcionador no ensino da língua escrita.
Os gêneros discursivos e o ensino
De acordo com Bakhtin (1997) a língua é um fenômeno social que se realiza
através da enunciação, gerando, como seu produto, o enunciado. Esses enunciados,
entretanto, não são uma reunião de elementos linguísticos e gramaticais realizados de
modo isolado. Eles situam-se em um determinado contexto sócio-histórico, e têm como
protagonista um enunciador que produz o texto em função de seu interlocutor, em uma
relação dialógica que visa sempre um posicionamento responsivo.
Esses sujeitos interagem e agem em diversas esferas sociais e, em cada uma
delas, circulam determinados gêneros discursivos, ou seja, “tipos relativamente estáveis
de enunciados” (BAKHTIN, 1997, p. 280). Seriam “famílias de textos que
compartilham algumas características comuns, embora heterogêneas” (BRASIL, 1997,
p. 23). As esferas discursivas determinam as condições e as finalidades do texto
produzido, por meio do conteúdo temático, do estilo e da construção composicional do
texto, eixos que caracterizam os gêneros do discurso.
De acordo com a teoria bakhtiniana, os gêneros discursivos se dividem em dois
tipos: os gêneros primários são aqueles que se constituem mais espontaneamente como
um diálogo entre amigos ou familiares; já os secundários “aparecem em uma
circunstância de comunicação cultural, mais complexa e relativamente mais evoluída,
principalmente escrita” (BAKHTIN, 1997, p. 282), sendo estes os que precisam ser
ensinados na escola.
Dolz defende que o gênero, além de ser instrumento cultural, uma vez que media
as interações linguísticas entre os indivíduos, também é instrumento didático, “pois age
como meio de articulação entre as práticas sociais e os objetos escolares” (2010, p. 44).
O gênero biografia
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O caminho entre os primeiros textos biográficos até as famosas e polêmicas
biografias contemporâneas é bastante longo e inconstante. Este, certamente, não é um
gênero textual que se manteve estável, nem em relação as suas características e
objetivos, tampouco a sua aceitabilidade por parte dos leitores e críticos.
No entanto, ainda que as características dos gêneros, dentre eles a biografia, não
sejam estanques, de modo geral, podemos sistematizá-las da seguinte forma, conforme
Carvalho et al. (2010):
Quadro 01: Modelo Didático do gênero biografia
Contexto de
produção
Autor: literários, historiadores, pesquisadores e até fãs;
Esfera social: literária, artísticas, acadêmica e publicitária;
Circulação: internet, revistas, livros;
Objetivo: divulgar a história de pessoas, geralmente, públicas;
Interlocutor: historiadores, pesquisadores, apreciadores, fãs.
Conteúdo
temático
História de vida de uma pessoa.
Construção
composicional
Título
1ª parte: apresentação (descrição) do biografado;
2ª parte: narração de fatos mais marcantes de sua vida;
3ª parte (biografado vivo): aspirações, desejos e planos do biografado.
Na primeira e segunda parte podem aparecer outros personagens, como pais, filhos,
amigo e outros. Porém, estes não podem ganhar mais destaque que o protagonista.
Marcas
estilísticas
Uso da terceira pessoa (ele/ela);
Tipo de discurso: narração e descrição;
Uso de anáforas pronominais e nominais;
Predominância de advérbios, sintagmas preposicionais, coordenativos e subordinativos;
Tempo verbal: uso do presente e futuro do indicativo, com a predominância do pretérito
e perfeito do indicativo;
Não uso de modalizadores, a fim de manter a imparcialidade;
Uso de adjetivos;
Uso de organizadores textuais temporais com “em”, “durante”...
Todas essas características elencadas servirão como apoio para a proposta de
atividades que proporemos para se trabalhar o gênero biografia.
Contextualizando a proposta
Como já ressaltamos, o trabalho de produção textual envolve diversas etapas que
vão desde o planejamento até a reescrita. Nesse contexto, porém, priorizamos a revisão.
Entendemos que essa etapa da produção, quando realizada pelo professor, além de
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oferecer um feedback ao aluno sobre seu texto, pode servir como um instrumento de
reconhecimento das dificuldades de aprendizagem. De posse das produções já revisadas,
o docente tem em mãos um quadro com os problemas mais frequentes nos textos e
pode, a partir disso, estimular os aprendizes, por meio de diferentes meios, a realizar a
análise do texto, levando em consideração as características do gênero discursivo.
Dessa forma, propomos um trabalho de análise linguística intercalado entre as
etapas de revisão e reescrita, que se inicia nos comentários deixados pela professora na
revisão, passa pelo levantamento das principais dificuldades apresentadas na construção
do gênero e chega à aplicação de atividades que promovem uma reflexão sobre os
problemas encontrados, levando a um amadurecimento do aluno quanto ao gênero
biografia e, consequentemente, a uma reescrita mais embasada.
Para nossa proposta, utilizamos 19 biografias produzidas por alunos do 4º ano
do EF I, de uma escola privada de Maringá/PR, nas quais destacamos os problemas
mais recorrentes. Com base na revisão textual feita pela professora da turma e, tendo
em vista os resultados, propomos uma série de atividades que visam sanar ou ao menos
amenizar tais dificuldades.
De todos os problemas, os mais recorrentes foram os relacionados à ortografia e
à pontuação, mesmo porque os alunos têm, em média, nove anos. Mas, como nosso
enfoque é a produção do gênero biografia, nos detemos aos problemas relacionados à
sua produção. Desse modo, descartados esses problemas, destacamos os mais
recorrentes conforme o eixo caracterizador do gênero.
1) Relativos ao conteúdo temático: falta de informações contidas na entrevista; o texto
trata mais da vida de personagens secundários do que do principal; falta de identificação
do personagem principal.
2) Relativos à estrutura composicional: falta de título (faz parte da apresentação do
personagem); falta conclusão.
3) Relativos ao estilo: uso excessivo do pronome pessoal; uso da primeira pessoa no
lugar da terceira.
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A partir desse resultado, construímos a proposta de atividades que busca
estimular a reflexão do aluno sobre a construção do gênero biografia. Tanto os
exercícios quanto os textos que fazem parte dela foram escolhidos levando-se em conta
a idade e a série escolar dos aprendizes.
Na primeira parte da proposta buscamos trabalhar o contexto de produção do
texto. Na segunda propomos exercícios ligados ao conteúdo temático. As duas últimas
partes dizem respeito à construção composicional e ao estilo, consecutivamente.
Vale ressaltar que nosso propósito não é oferecer uma receita pronta e estanque
para se trabalhar o gênero, que deve ser seguida como se fosse uma fórmula adequada a
todos. Pretendemos apenas sugerir alguns exercícios que podem auxiliar no processo de
ensino-aprendizagem de produção da biografia e, acima de tudo, enfatizar a importância
de usar a revisão como uma ferramenta para gerar a produção de atividades de reescrita.
Proposta de atividades
Contexto da produção
Iniciamos a proposta com atividades que estimulam o aluno a pensar no contexto
que envolve a produção da biografia. É importante que eles entendam que, ao
escrevermos qualquer gêneros, precisamos planejá-lo tendo em vista alguns elementos:
O que escrever? Por quê? Para quem? Como? Onde? Quando?
Embora as biografias produzidas tenham tido como circulação apenas o
universo escolar, elaboramos questões que chamem a atenção do aluno para a presença
desse gênero em toda a sociedade, para que, assim, o texto se torne menos artificial.
1) Questões orais ou escritas.
a) Onde as biografias podem ser encontradas?
( ) Outdoor ( ) Embalagens ( ) Folhetos publicitários ( ) Sites da internet ( ) Livros
b) Por que o autor escreve uma biografia?
( ) Para divulgar os fatos mais marcantes de sua vida.
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( ) Para divulgar os fatos mais marcantes da vida de alguém.
c) O que devemos fazer antes de iniciarmos um texto biográfico?
2) Vamos ajudar Ana?
Ana é uma menina muito curiosa e adora conhecer mais sobre a vida das pessoas famosas. Ela
já leu as biografias da autora Ruth Rocha, do compositor Vinícius de Moraes, aquele que
escreveu “Lá vem o pato, pato aqui, pato acolá...”, e da pintora Tarsila do Amaral. Ela acha
engraçado o quadro Abaporu, pintado por Tarsila.
Hoje, no ônibus, enquanto vinha para casa, a menina escutou uma senhora comentando com
sua amiga sobre um ator super engraçado, Charles Chaplin. A mulher afirmou que os filmes
do ator eram mudos e, mesmo assim, provocavam muitos risos.
Logo que chegou a sua casa, a menina foi ligar seu computador, para encontrar a biografia de
Chaplin, mas o seu computador não estava funcionando. Ana, impaciente como é, foi atrás da
biografia de Chaplin em outro lugar. O problema é que ela não sabe bem por onde começar a
procurar.
Vamos ajudá-la?
Texto criado pelas autoras
Sublinhe os lugares que você acha que Ana pode encontrar uma biografia.
Livraria - Padaria - Banca de jornal – Biblioteca - Escola - Farmácia- Igreja - Loja de
eletrônicos– Sebo - Correios - Loja de roupas - Papelaria.
Você lembra-se de mais algum lugar? ______________________________________
Conteúdo temático
Em relação ao conteúdo temático, os principais problemas foram a falta de
informações sobre o biografado e o desvio do foco principal, a vida do biografado.
Mesmo os alunos tendo como apoio para a produção uma entrevista feita com o
personagem principal, muitos textos deixaram de apresentar alguns dados importantes
sobre ele, o que pode comprometer a qualidade da biografia.
Em outros casos, os alunos iniciavam o texto escrevendo sobre o biografado,
mas acabavam descrevendo mais sobre seus filhos ou pais.
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Pretendemos, com essas atividades, mostrar aos estudantes que, embora a
biografia traga outros personagens ligados ao protagonista, o objetivo maior é discorrer
a respeito deste.
1) Imagine a seguinte situação:
Um amigo conta a você que está lendo um livro sobre a vida de uma pessoa muito legal. Você,
ao ouvir aquilo, fica muito curioso e a fim de saber mais sobre esse personagem. Marque um
“X” nas informações mais importantes e que você gostaria de conhecer:
Nome completo
Idade
Estado civil
Nome de seu marido ou esposa
Profissão do cônjuge
Possui filhos?
O que os filhos fazem em seu tempo livre?
Seu trabalho?
Seu hobby
Telefone
Endereço
Seus animais de estimação
Suas ambições profissionais
Nome dos pais
Informações pessoais sobre os pais
Nome do patrão
Fora essas, existem outras informações que seriam importantes em uma biografia? Quais?
2) Sublinhe de verde as informações que você julga serem mais relevantes da biografia descrita
abaixo e de vermelho as que podem ser excluídas, sem que haja prejuízo para a biografia
apresentada.
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Chico Sorriso, o maior humorista brasileiro
Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho, mais conhecido como Chico Anysio, nasceu em
Maranguape, no Ceará, em 12 de abril de 1931. Aos seis anos foi morar no Rio de Janeiro,
cidade onde se encontra o Cristo Redentor e o pão e açúcar.
Chico teve oito filhos, sete homens e uma mulher. O seu filho Bruno Mazzeo, assim como
alguns de seus irmãos, seguiu a carreira do pai e tornou-se um humorista muito reconhecido.
Chico trabalhou como radialista, comentarista, mas ganhou destaque mesmo como escritor e
humorista. Um dos seus papéis mais conhecidos é o professor Raimundo. Este personagem
trabalhava em uma escola e tinha muitos alunos malucos, como Rolando Lero, Galeão Cumbica
e João Cana Brava. Outro aluno da Escolinha do professor Raimundo era o Galeão Cumbica,
personagem que estava sempre vestido de piloto da aeronáutica.
Chico Anysio morreu no dia 23 de março de 2012, aos 80 anos.
Agora, responda as seguintes questões:
a) Quem é o personagem principal dessa biografia?
b) Escreva as informações que não estão essencialmente ligadas à vida de Chico Anysio.
c) Por que, em uma biografia, não devemos nos ater muito a vida de personagens secundários?
Reescreva o texto, fazendo as adequações necessárias, excluindo as informações que
você julgou menos importantes na biografia.
Qual das duas versões está mais adequada para uma biografia do comediante Chico
Anysio? Por quê?
3) Forme grupo com quatro colegas e tente adivinhar de quem é essa biografia.
Parte da biografia Quem sou eu?
Edson Arantes do Nascimento foi jogador de futebol da seleção brasileira
na década de 70. Devido a sua competência com o futebol ficou conhecido
como “o rei do futebol”.
... nasceu no Brasil, no ano que o nosso país foi campeão da Copa de
Futebol. Começou sua carreira ainda jovem, como ator, cantor e dançarino.
Casou-se em 2007 com a também atriz Maria, com quem teve alguns filhos.
Você percebeu a importância das informações na biografia?
Ao ler um texto biográfico, o leitor busca conhecer o máximo possível do protagonista, por
isso, o autor deve fazer um levantamento sobre toda a sua vida e selecionar o que há de mais
importantes.
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Faça você também uma breve biografia sobre alguém da sala. Pense: as informações que
você tem são suficientes para que seus colegas descubram o nome do biografado?
Construção composicional
De modo geral, os textos não apresentaram muitos problemas estruturais.
Mesmo assim, trazemos, nesta parte, atividades que podem proporcionar ao aprendiz
um maior conhecimento sobre a estrutura da biografia.
Conheça a biografia de um dos mais consagrados escritores infantis.
A biografia de Ziraldo
Ziraldo Alves Pinto, mineiro de Caratinga/MG, nasceu em 24 de outubro de 1932. Além de
jornalista, Ziraldo é pintor, cartunista, teatrólogo, chargista e escritor.
Seu primeiro livro infantil foi “Flicts”. Mas, seu maior sucesso veio em 1980, quando lançou
“O menino maluquinho”. A história agradou tanto que, a partir dela, vieram o filme, o site, a
peça, os quadrinhos, um jogo de vídeo game e até a ópera do menino maluquinho, além de
levar o autor a receber o Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro. A partir do “menino
maluquinho” vieram os livros “Uma professora muito maluquinha”, “O bebê maluquinho” e
“Diário da Julieta”.
Há quatro anos, o autor se dedica a uma série de livros intitulada “coleção dos galactomeninos
de Ziraldo", cada volume conta a história de um garoto de um planeta. Já foram lançados
quatro títulos, dentre eles, “O menino da lua” e “O menino da Terra”.
O pai do Menino Maluquinho pretende lançar ainda mais seis livros dessa série. Texto criado pelas autoras
1) Enumere os parágrafos do texto.
2) Relacione a primeira coluna, que marca o número do parágrafo, com a segunda, que
mostra sobre o que o parágrafo trata.
(1º)
(2º) ( ) Aspirações da pessoa biografada.
(3º) ( ) Descrição do biografado.
(4º) ( ) Narração dos fatos mais marcantes de sua vida.
(5º)
3) Como será que o texto ficaria se invertermos essa ordem o texto?
Vejamos como ficaria se a biografia começasse pelas aspirações de Ziraldo:
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A biografia de Ziraldo
O pai do Menino Maluquinho pretende lançar ainda mais seis livros da série coleção
"Galactomeninos de Ziraldo”.
E se iniciarmos a biografia com a narração dos fatos de sua vida? Vamos ver como
fica?
A biografia de Ziraldo
O primeiro livro infantil de Ziraldo foi “Flicts”. Mas, seu maior sucesso veio em 1980, quando
lançou “O menino maluquinho”. A história agradou tanto que, a partir dela, vieram o filme, o
site, a peça, os quadrinhos, um jogo de vídeo game e até a ópera do menino maluquinho, além
de levar o autor a receber o Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro.
a) Comparando as versões da biografia de Ziraldo, qual delas você acredita que ficou mais
clara? Por quê?
4) Imagine que você chegue a uma livraria e encontre esse livro embrulhado em um
plástico, na prateleira das biografias:
5) Você compraria esse livro mesmo sem saber sobre quem ele narra? Por quê?
6) Por que o título é importante no livro ou na folha que está escrita a biografia?
7) E se eu fizesse uma biografia com o título “A biografia de minha mãe”, os leitores, se não
me conhecessem, saberiam sobre quem eu vou falar? Por que isso ocorreria?
Estilo
O maior número de problemas dos textos foram os relacionados ao estilo. Por
isso, passamos a tratar deles de forma separada.
Uso da primeira pessoa verbal
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Embora o livro didático utilizado pela turma tenha apresentado, na unidade
trabalhada, o uso correto da pessoa verbal na biografia, ele não traz algo primordial: a
comparação entre a biografia e a autobiografia, gêneros que possuem características
muito parecidas, diferenciando-se, quase que exclusivamente, pelo uso da terceira
pessoa naquele e da primeira neste.
Esse trabalho é necessário para que os alunos entendam que não se trata apenas
de uma regra que deve ser seguida, mas, sobretudo, perceba que uma escolha errada
compromete seu texto, confundindo seu leitor, que pode não compreender se o texto
narra a vida do autor ou de outra pessoa.
Dessa forma, nos apoiamos, essencialmente, nessa comparação para propormos
as atividades ligadas a esse tipo de problema, mesmo porque esta foi uma das maiores
dificuldades da turma.
1) Leia e compare os dois textos:
Texto 01:
Eu, Antônio Gonçalves da Silva, filho de Pedro Gonçalves da Silva, e de Maria Pereira
da Silva, nasci aqui, no Sítio denominado Serra de Santana, que dista três léguas da
cidade de Assaré. [...]. Quando completei oito anos, fiquei órfão de pai e tive que
trabalhar muito, ao lado de meu irmão mais velho, para sustentar os mais novos,
pois ficamos em completa pobreza. Com a idade de doze anos, frequentei uma
escola muito atrasada, na qual passei quatro meses, porém sem interromper muito
o trabalho de agricultor [...].
Disponível em: http://blog.teatrodope.com.br/2007/07/06/autobiografia-de-
patativa-do-assare/
Texto 02:
José Bento Monteiro Lobato nasceu a 18 de abril de 1882 na cidade de Taubaté. Filho
do fazendeiro José Bento Marcondes Lobato e de dona Olímpia Augusta Monteiro
Lobato, ele foi, além de inventor e maior escritor da literatura infanto-juvenil
brasileira, um dos personagens mais interessantes da história recente desse país.
Trecho do texto. Disponível em: http://educacao.uol.com.br/biografias/monteiro-
lobato.jhtm
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Questões sobre o texto 01:
A que gênero pertence o primeiro texto?
( ) Auto biografia ( ) Anúncio ( ) Biografia
Por que escrevemos um texto assim?
Quem é o autor desse texto?
Retire do texto uma frase que mostre quem é o autor?
Quem é o personagem principal desse texto?
( ) Pedro da Silva ( ) Antônio Gonçalves da Silva
Questões sobre o texto 02:
Qual foi objetivo do autor ao escrever o texto 02?
Sobre quem o texto está falando?
É o próprio protagonista que está narrando sua história? Como podemos perceber
isso?
O gênero do texto 02 é o mesmo do texto 01? O que marca a diferença?
Refletindo sobre os textos:
Percebemos que o autor e o personagem principal do texto 01 são a mesma pessoa.
Dessa forma, temos uma pessoa narrando sobre a sua própria vida, ou seja, uma
autobiografia. Veja como o texto inicia:
Eu, Antônio Gonçalves da Silva [...] nasci aqui, no Sítio denominado Serra de
Santana [...]
Se quiséssemos escrever um biografia sobre Antônio Gonçalves da Silva, utilizando
essas mesmas informações, como ficaria essa frase?
__________________________________
Separe os verbos que estão no quadro abaixo em, aqueles que você poderia usar para
escrever sobre si e os que utilizaria para escrever sobre outra pessoa.
Cresceu Formei
Estudei
Conheci Morou
Viajei
Casou Teve
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Tive
Eu
Ele/ela
Quais dessas formas verbais poderiam ser usadas em uma biografia?
2) Leia o texto:
A vida de Roseli
Roseli nasceu em São Paulo, no dia 23 de outubro de 1972. Agora a Roseli é casada
com meu pai, Miranda. O meu pai e minha mãe têm três filhos, o mais velho se
chama Igor, que tem 12 anos, o do meio se chama Yudi que tem 9 anos e a mais nova
se chama Camilla, que tem 5 anos.
Atualmente, Roseli mora em Maringá- Paraná. Roseli tem um comércio que vende
gás, água, gelo, bebidas e carvões. O meu pai e minha mãe trabalham juntos.
Texto baseado em produção de um dos alunos.
Sobre quem fala este texto?
b) Observe as palavras sublinhadas. Quem está falando?
c) De quem Roseli e Miranda são pais?
d) Este texto é uma biografia ou uma autobiografia? Como podemos comprovar?
Você entendeu?
Quando estamos produzindo uma biografia, ou seja, contando a vida de outra
pessoa, utilizamos a terceira pessoa verbal: ele(s) ou ela(s).
Na autobiografia, como estamos falando de nós mesmos, utilizamos a primeira
pessoa: eu.
Os verbos também têm que ser conjugados da forma correta, conforme a pessoa
usada.
Reescreva o texto “A vida de Roseli” adequando-o ao gênero biografia.
Uso excessivo do pronome pessoal “ele ou ela”.
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Uma das dificuldades das crianças nessa fase é a referenciação. Fala-se muito aos
alunos que não devemos repetir demais as mesmas palavras no texto, mas, muitas
vezes, não explicamos como fazer referência a algo ou alguém sem repetir seu nome.
Por isso, os alunos repetem exaustivamente o pronome pessoal “ele/a”.
Pretendemos, com essa proposta, mostrar que podemos nos referir ao mesmo objeto
de diferentes maneiras, sem ser usando somente o nome ou o pronome.
1) Responda as questões:
Qual é o seu nome? ____________________________________________________
Você tem apelidos? ____________________________________________________
Seus pais ou avós costumam lhe chamar por algum outro nome? _________________
Sua mãe tem mais de uma forma de chamar você? ____________________________
E você, como a chamaria sem usar a palavra “mãe”? __________________________
Quando nos referirmos a uma pessoa ou coisa podemos utilizar diferentes
palavras. Essas palavras podem surgir a partir de uma característica, da
personalidade, de sua profissão, de algo que a pessoa goste de fazer ou até por
palavras sinônimas.
Outra forma de substituir um nome ou localização é utilizando o pronome.
Veja de quantas formas diferentes podemos nos referir a cidade de Maringá:
Ontem, eu e minha mãe conhecemos Maringá.
Ela é uma cidade bem arborizada.
Além disso, a cidade verde tem jardim coloridos.
Achamos a cidade canção muito bonita.
Fazemos essas substituições para evitar a repetição das palavras no texto.
2) No quadro abaixo temos várias palavras que podem substituir o nome da pessoa
biografada. Tente encaixar essas palavras nos espaços do texto.
ator, Didi, comediante,
Renato, ele
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4) Leia a biografia e responda as questões:
História da Rosa Gomes
Ela é professora. Ela se chama Rosa Gomes. Ela é filha de Antônio da Silva
Gomes e Maria Rosa Gomes. Ela tem dois irmãos. Ela nasceu em Altônia, no dia 12
de dezembro de 1981. Ela é casada com João Batista Monteiro Tonim. Ela não tem
filhos.
Texto baseado em produção de um dos alunos.
No texto, o autor repetiu uma palavra várias vezes. Qual é ela?
Vamos tentar reformular o texto excluindo algumas dessas palavras repetidas?
Para isso, podemos usar as duas formas estudadas: ou a substituímos por outra
palavra ou usamos somente o verbo.
Pense em algumas questões que podem ajudar:
Qual é o nome completo da biografada?
Será que sempre as pessoas a chamam pelo seu nome completo?
Qual é a sua profissão?
Reformulação do texto:
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Ao longo desse artigo, buscamos oferecer ao professor uma proposta com
diversas atividades ligadas ao contexto de produção, ao conteúdo temático, à construção
composicional e ao estilo do gênero biografia.
Você conhece Renato Aragão?
Renato Aragão, ________, nasceu no Ceará, em Sobral, dia 13 de janeiro de 1936.
Com 25 anos, recém-formado em advocacia, ________se inscreveu num concurso da
TV Ceará para trabalhar como realizador, uma espécie de diretor, redator e produtor
de programas. Foi aí que tudo começou, pois, o ________ venceu, provou que tinha
pique e logo, logo já atuava como ator.
Para _______, sua maior satisfação é ter um público cada vez mais fiel e carinhoso,
que ele considera o responsável por todo esse sucesso.
Texto criado pelas autoras.
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Nosso intuito, no entanto, não foi criar um manual pronto e adequado para todos
os alunos. Defendemos que, tendo em vista a vivacidade da língua e a heterogeneidade
de seus usuários, cada educador deve adequar essa proposta a sua realidade. Para isso,
ele pode se valer da revisão textual, recurso que, além de oferecer um feedback ao aluno
sobre seu texto, torna-se um importante instrumento metodológico, uma vez que, por
meio dela, tem-se um panorama de todas as dificuldades que os autores enfrentam na
construção do gênero.
Não tivemos a intenção de esgotar todas as possibilidades de trabalho com a
biografia. Ao contrário disso, apenas abrimos aqui um caminho que, certamente, pode
ser ampliado não só para esse gênero, como para tantos outros que fazem parte da
prática social de nossos estudantes.
REFERÊNCIAS:
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. 2. Ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais:
língua portuguesa. Brasília, 1997, P.33-55. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro02.pdf> Acesso em: 17 fev. 2010.
CARVALHO, A. M. de. et al. Modelo didático do gênero biografia como instrumento
para a elaboração de uma sequência didática. In: V EPCT- Encontro de Produção e
Tecnologia, 2010, Campo Mourão. Anais... Campo Mourão: FECILCAM, 2010. s/ p.
DOLZ, J. ; GAGNON, R. ; DECÂNDIO, F. Produção escrita dificuldades de
aprendizagem. Campinas: Mercado das letras, 2010.
GRILLO, S. V. C. Escrever se aprende reescrevendo: um estudo da interação
professor/aluno na revisão de textos. Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada) –
Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas,
2002.
JESUS, C, A. de. Reescrevendo o texto: a higienização da escrita. In: GERALDI, J. W.;
CITELLI, B. Aprender e ensinar com textos de alunos. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2001,
p. 99-116.
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RUIZ, E. D. Como corrigir redações na escola. São Paulo: Contexto, 2010.
VIGOTSKI, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos
psicológicos superiores. 7ª. Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
Sítios de internet:
http://members.fortunecity.com/scanapieco/didibio.html
http://blog.teatrodope.com.br/2007/07/06/autobiografia-de-patativa-do-assare/
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GÊNEROS DO DISCURSO E ENSINO: IMPASSES NA FORMAÇÃO DE
PROFESSORES6
Kellys Regina Rodio Saucedo7, Elocir Aparecida Correa Pires
8, Kely Cristina Enisweler
9
Vilmar Malacarne10
, Dulce Maria Strieder11
O presente artigo apresenta o relato de experiência realizado numa turma de alunos concluintes de um curso de Pedagogia, de uma instituição localizada na cidade de Cascavel-Pr. O instrumento utilizado para compreender a abordagem interativa em atividades escolares foi o gênero textual fábula. O encaminhamento metodológico partiu da seleção de duas fábulas selecionadas em livros didáticos de 4º ano do Ensino Fundamental. As atividades se desdobraram em três momentos: no primeiro momento os alunos realizaram leituras de Geraldi (1997), Perfeito (2007), Silva (2012) com o objetivo de levantar elementos para análise das fábulas, partindo das correntes de estudos linguísticos, das concepções de linguagem e dos instrumentos de análise linguística, problematizadas por esses autores. O segundo momento compreendeu a análise do conteúdo e do discurso das fábulas, procurando identificar a intenção dos autores dos livros didáticos na forma com que apresentaram os exercícios relativos às fábulas. O terceiro momento refere-se a verificação das respostas apresentadas pelos acadêmicos sobre a análise do material didático em relação a abordagem interativa. Os resultados desses três momentos apontaram os impasses na formação de professores quanto a compreensão do conceito de interação, confundido por estes alunos, apenas, como o processo de comunicação entre professores e alunos ao invés de um lugar em que os interlocutores participam da criação e recriação do conhecimento. Entende-se a pertinência em aprofundar os estudos sobre a abordagem interativa e a sua aplicação em sala de aula, nos cursos de licenciatura em Pedagogia, com vistas a possibilitar melhores condições
6 O presente artigo será apresentado pelas duas primeiras autoras, alunas do curso de
Pedagogia. 7 Bolsista CAPES/DS. Aluna do 4ª ano de Pedagogia e do Programa de Pós-Graduação Stricto
Sensu em Educação/CECA/UNIOESTE. [email protected] 8 Bolsista PIBIC/CNPq. Aluna do 3° ano do curso de Pedagogia/UNIOESTE.
[email protected] 9 Bolsista PIBIC/CNPq. Aluna do 4° ano do curso de Pedagogia/UNIOESTE.
Doutor em Educação. Docente do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação/CECA/UNIOESTE. [email protected] 11
Doutora em Educação. Docente do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação/CECA/UNIOESTE. [email protected]
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formativas para estes profissionais. Condições que irão refletir de forma positiva na sua atuação com este tipo de recurso didático quando em sala de aula. Palavras-chave: Abordagem interativa, Formação de Professores, Gêneros do Discurso. Introdução
Nas últimas décadas, estudos sobre o ensino da Língua Portuguesa tem
alçado significativo destaque em relação à compreensão e o conhecimento das
concepções de linguagem utilizadas em sala de aula por professores de Língua
Portuguesa ou Pedagogos, responsáveis pelo processo de alfabetização na
Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental.
De acordo com Cardoso (1999) a dificuldade da escola para alfabetizar,
pode ser decorrente das concepções errôneas sobre língua, linguagem e
ensino. Travaglia (1996) e Geraldi (1997) propõem três modos de conceber a
linguagem: como expressão do pensamento, como instrumento de
comunicação e como forma de interação. Castilho (1998) aponta três modelos
teóricos de conceber a língua humana: a língua como atividade mental
(linguagem como expressão de comunicação); a língua como estrutura
(linguagem como instrumento de comunicação); a língua como atividade social
(linguagem como meio/forma de interação). A linguagem como atividade social
pode ser concebida por meio da visão dialógica de Bakhtin (1988), ou seja, é
na interação verbal, estabelecida pela língua com o sujeito falante e com os
textos, que a palavra ganha diferentes sentidos, conforme sua
contextualização. Portanto, o modo de dizer de cada sujeito está relacionado
com as possibilidades oferecidas pela língua, sendo concretizada por meio dos
gêneros textuais.
Assim como os autores abordados, considera-se relevante a discussão
do tema na formação de professores de Língua Portuguesa e/ou Pedagogos,
utilizando-se os gêneros textuais e a abordagem interativa no ensino da
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linguagem. Diante disso, apresenta-se a seguir, o relato de experiência
realizado no primeiro semestre de 2013 com alunos formandos em Pedagogia,
em que o objetivo consistiu na compreensão e identificação da presença dos
modelos de linguagem apresentados por Travaglia (1996) e Geraldi (1997)
durante a análise de material didático, voltado para os anos iniciais do Ensino
Fundamental.
Metodologia
A atividade realizada teve por princípio a abordagem qualitativa dos
materiais analisados a partir do levantamento de bibliografia relacionada, da
concepção de linguagem e o uso da língua como atividade social (linguagem
como meio/forma de interação). Participaram da pesquisa 32 alunos
concluintes de um curso de Pedagogia presencial, de uma instituição localizada
na cidade de Cascavel-Pr.
O instrumento utilizado para compreender a abordagem interativa em
atividades escolares foi o gênero textual fábula. Para a atividade o professor
regente da disciplina de Língua Portuguesa do Curso de Pedagogia selecionou
uma fábula retirada do livro didático LP4 (2013) publicado pela Prefeitura da
Cidade do Rio de Janeiro para o uso em sala de aula com alunos de 4º ano do
Ensino Fundamental. A fábula em questão, intitulada “A cigarra e a formiga” de
Ruth Rocha, trata de um trecho do texto adaptado para o livro de língua
portuguesa. Na atividade, os acadêmicos encontram dificuldades para
identificar, nos exercícios propostos pelos autores do livro didático, qual a
corrente de estudos linguísticos que estavam relacionados, conforme
orientação apresentada por Geraldi (1997).
Para realização dessa prática, o encaminhamento metodológico
desdobrou-se em três momentos: no primeiro momento os alunos realizaram
leituras de Geraldi (1997); Perfeito (2007); Guimarães, Sola e Barreto (2009);
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Silva (2012) com o objetivo de levantar elementos para análise das fábulas,
partindo das correntes de estudos linguísticos, das concepções de linguagem e
dos instrumentos de análise linguística, problematizadas por esses autores.
O segundo momento compreendeu a análise do conteúdo e do discurso
das fábulas, procurando identificar a intenção dos autores dos livros didáticos
na forma com que apresentaram os exercícios relativos às fábulas.
O terceiro momento refere-se a verificação das respostas apresentadas
pelos acadêmicos sobre a análise do material didático em relação a abordagem
interativa, estas questões serão discutidas na sequência.
Discussão dos Resultados
A respeito das concepções de linguagem e do ensino de português
Geraldi (1997) problematiza, entre outras coisas, o baixo nível de
desenvolvimento linguístico do alunado, seja no registro da escrita, seja na
expressão oral. Dos fatores que contribuem para essa ocorrência são
indicados: (i) o fracasso escolar e (ii) o ensino de língua portuguesa. No caso
do ensino da língua portuguesa, é necessária a compreensão do contexto
escola/ensino de língua que envolve uma opção política, relacionadas a teorias
de interpretação da realidade e que vão dos conteúdos ensinados, métodos de
trabalho, da bibliografia e do sistema de avaliação adotados. De acordo com o
mesmo autor as diretrizes que orientam o ensino exigem a resposta do ‘para
quê’ ensinamos o que ensinamos? Essa resposta implica a concepção de
linguagem e a postura em relação à educação. Logo, três concepções,
associadas às correntes de estudos linguísticos, são destacadas pelo autor: a)
a linguagem é a expressão do pensamento/gramática tradicional; b) a
linguagem é instrumento de comunicação/estruturalismo; c) linguagem é uma
forma de interação/linguística da enunciação. Durante a realização da
pesquisa os acadêmicos identificaram nas atividades propostas pelos autores
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do livro didático a presença dessas três concepções de linguagem,
encontrando algumas dificuldades em relação à linguagem enquanto forma de
interação da enunciação.
Os resultados dos três momentos, também, apontaram os impasses na
formação de professores de Pedagogos, quanto à compreensão do conceito de
interação, confundido por estes alunos, apenas como o processo de
comunicação entre professores e alunos ao invés de um lugar em que os
interlocutores participam da criação e recriação do conhecimento (CASTILHO,
1998). Essa questão ficou saliente quando da análise do exercício 412,
referente a fábula da cigarra e a formiga, em que os autores solicitavam, por
parte do professor, a abordagem de questões éticas a partir do texto. Essa
sugestão dos autores apontou para um conteúdo fora do texto, que é a “ética”
na relação entre a cigarra e a formiga, mas sem indicar qual abordagem o
professor deveria assumir em sala se em relação à ética no trabalho, nas
profissões ou, ainda, nas relações entre as pessoas, gerando um obstáculo
para o desenvolvimento da atividade. O problema disso é que quando não
existem subsídios suficientes para ampliação do tema, o professor tende a
abandonar esse exercício e avançar para a próxima atividade. Isso ocorre
porque as condições de trabalho dos professores da Educação Infantil e dos
anos iniciais, com poucas horas para a elaboração de atividades e pesquisa,
não possibilitam o aprofundamento necessário que permita ao professor sair do
ponto de partida que é, neste caso, “a história da formiga e da cigarra” e
avançar até o ponto de reflexão “as questões éticas na sociedade”. O percurso
entre o ponto de partida e o ponto de reflexão é muito longo e envolve
disponibilidade de tempo e conhecimentos para além de sua formação inicial.
Nesse caso, especificamente conhecimentos em filosofia, ética e biologia para
o estabelecimento de relações entre o conhecimento espontâneo e o
12
Os três primeiros exercícios estão relacionados a interpretação de texto e a gramática.
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conhecimento científico. Para a construção da proposta em questão, portanto,
não é aceitável uma fala simplista das questões éticas. Percebe-se aqui a
necessidade de compreensão das relações de nicho ecológico de cada espécie
abordada na fábula para, posteriormente, pensar ética. Isso levaria a um
significativo tempo de pesquisa e dedicação que na maioria das vezes o
professor não dispõe.
Para que o professor possa trabalhar essas relações é preciso de
informações que não foram subsidiadas no texto e, portanto, a proposta de
interação tenderá a ser prejudicada em seu desenvolvimento. Apresentar um
tema fora da fábula e pontuando questões do cotidiano dos alunos é uma
proposta de interação, entretanto quando os autores não apontam o caminho a
ser percorrido pelo professor existirá todo um esforço de ir para além do texto e
para o que o antecede. No caso da fábula em questão, anteceder o texto
envolve conhecimento de Ciências e Biologia sobre o habitat desses animais e
ir à frente do texto, significa ampliar as reflexões para história pensando a ética.
Para que ocorra a interação, logo, o Pedagogo carece de uma gama de
conhecimentos que perpassam a linguagem, as Ciências, a biologia, a filosofia
e a sociologia conteúdos e fundamentos geralmente insuficientes em sua
formação. Entende-se que este profissional assume uma postura de
pesquisador, o que chamamos a atenção nesse exercício é para o fato de que
em uma única atividade sejam necessários tantos conhecimentos, sem a
indicação de um caminho de pesquisa. A ausência desse percurso para a
elaboração em conhecimentos de outras áreas que não tem domínio para
alguns pode representar um desafio e um impulso para a apropriação de novos
saberes, mas, todavia, outros professores podem manifestar resistência,
tendendo a abandonar tal tarefa. Uma solução poderia ser encontrada se o
caminho de pesquisa fosse facilitado com a indicação de sites sobre o tema ou
mesmo uma orientação mais clara de um dos aspectos que envolvem ética nas
relações em sociedade, como por exemplo: a ética nas profissões. Não existem
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problemas em relação a indicação da ética como contribuição para uma
abordagem interacionista, a questão emblemática está na limitação dos
subsídios fornecidos pelos autores para que essa atividade seja desenvolvida.
Guimarães, Sola e Barreto (2009) afirmam a necessidade de um “[...]
alargamento da concepção de texto e na articulação de diferentes linguagens
para a ressignificação do universo leitor” (p. 1). A premissa dessa orientação
está alicerçada na linguagem (palavra, imagem, som) isso porque as autoras
coadunam com Orlandi (1987) ao entender que “[...] é por meio das linguagens
que materializamos as relações sociais, então elas são o lugar de conflito onde
se estabelece a relação entre sujeito e sociedade” (p. 3). Em pesquisas
realizadas por Guimarães, Sola e Barreto (2009) tendo como instrumento os
gêneros textuais em sala de aula percebe-se a preocupação em “ensinar” o
texto para além da linguagem verbal ou da norma padrão gramatical,
problematizando as relações que o texto estabelece com o contexto; por parte
do livro didático direcionado ao 4º ano e elaborado pela Coordenadoria de
Educação da Cidade do Rio de Janeiro notamos que os exercícios, apesar, de
não terem ênfase nas regras/normas gramaticais se limitaram ao cenário do
texto, sem explicitar mais de uma possibilidade para ocorrência da linguagem
interacionista. Na fábula da cigarra e a formiga o esquema de exercícios
chama a participação dos alunos para discussão e emissão de opinião,
mantendo o foco do interlocutor no texto, entretanto são mínimas as reflexões
que permitem a criação ou o nascimento de uma nova forma de ver que tenha
origem no mundo cotidiano do aluno. Trata-se, conforme definido por Geraldi
(1997) de uma proposta com ênfase na corrente linguística de comunicação.
Para ocorrência da linguagem como interação social, além da temática
da ética, outras possibilidades podem ser aqui mencionadas em relação à
fábula, como: as relações de trabalho em nossa sociedade e como estão
presentes nas personagens do texto que representam o mundo e as relações
de trabalho. Desta maneira, as questões partiriam dos alunos, sendo
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desenvolvidas pelo professor e não simplesmente questões que partem e se
restringem ao texto. Essa proposta de trabalho implica em ir além do texto e
pensar nas relações sociais, também tem o princípio de envolver o interlocutor
na compreensão de “[...] que nenhum texto, mesmo sendo ele apenas uma
palavra, uma imagem ou um som, possui apenas um sentido” (GUIMARÃES;
SOLA; BARRETO, 2009, p. 3-4). Para tanto,
[...] desloca-se, assim, o eixo do ensino voltado para a memorização de regras e nomenclaturas da gramática de prestígio, para um ensino cuja finalidade é o desenvolvimento da competência lingüístico-textual, isto é, o desenvolvimento da capacidade de produzir e interpretar textos em contextos sócio-históricos verdadeiramente constituídos (SANTOS, 2002, p. 31).
Nesse sentido, a Linguística contribuiu para uma nova compreensão do que é
ensino de Língua Portuguesa. O que ocasionou diversas alterações no objeto
e, acima de tudo, na metodologia de ensino dessa disciplina, na medida em
que volta-se para os aspectos discursivos da linguagem e seu papel na
interação social da língua.
Considerações Finais
No ensino de língua é muito mais importante estudar as relações que se
constituem entre os sujeitos no momento em que falam do que simplesmente
estabelecer classificações e denominar os tipos de sentenças (GERALDI,
1997). O papel da linguagem como forma de interação social é
consubstanciado pelo uso dos gêneros textuais em sala de aula, sendo estes
um importante instrumento para estabelecer relações entre o conhecimento
espontâneo dos alunos e o conhecimento científico. Por outro lado, a formação
generalista do Pedagogo, nem sempre possibilita o aprofundamento de
conhecimentos relacionados às diferentes concepções da linguagem,
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resultando em impasses na formação e atuação deste profissional e, por
consequência, no processo inicial de alfabetização dos alunos.
Entende-se a pertinência em aprofundar os estudos, sobretudo, em
relação ao uso da linguagem interativa e a sua aplicação em sala de aula, nos
cursos de licenciatura em Pedagogia, com vistas a possibilitar melhores
condições de trabalho com os gêneros textuais que, atualmente, norteiam as
propostas curriculares do Ensino Fundamental, anos iniciais, na região Oeste
do Paraná. Os resultados da pesquisa revelaram as dificuldades em
compreender e diferenciar as concepções de linguagem por parte dos alunos
concluintes do curso de Pedagogia abordado, mas também denunciaram a
relevância destes estudos para compreensão e análise dos materiais didáticos
utilizados em sala de aula.
Referências
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São Paulo: Hucitec, 1988.
CARDOSO, S. H. Discurso e ensino. Belo Horizonte: Autêntica, 1999.
GERALDI, J. W. O texto na sala de aula. 2. ed. São Paulo: Ática, 1997.
GUIMARÃES, G.; SOLA, B.; BARRETO, R. G. Linguagens, textos e Leituras na escola: por
entre as trilhas de uma pesquisa participante. In: 32ª Reunião Anual da ANPEd, 2009,
Caxambu. Anais da 32ª Reunião Anual da ANPEd, 2009. Disponível em: <
http://www.anped.org.br/reunioes/32ra/arquivos/ trabalhos/gt10-5702--int.pdf> Acesso em: 20
de Maio de 2013.
ORLANDI, E. P. A linguagem e seu funcionamento: as formas de discurso. Campinas: Pontes,
1987.
PERFEITO, A. M. Concepções de Linguagem, análise lingüística e proposta de intervenção. In:
CONGRESSO LATINO-AMERICANO DE PROFESSORES DE LÍNGUAS – CLAPFL, 1.,
2007, Florianópolis. Anais... Florianópolis: EDUSC, 2007.
RIO DE JANEIRO. LP4: primário carioca. 4. Ano, 2 bimestre/2013. Prefeitura da Cidade do
Rio de Janeiro. Secretaria Municipal de Educação: Subsecretaria de Ensino. Coordenadoria de
Educação, p. 4-9, 2013. Disponível em: <
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http://www.rio.rj.gov.br/dlstatic/10112/4244786/4104878/LP4._2.BIM_2.0.1.3._ALUNO.pdf>.
Acesso em: 2 ago 2013.
SILVA, S. P. da. Didática do Ensino da Língua: Concepções de linguagem e práticas docentes
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TRAVAGLIA, L. C. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1º e 2º
graus. São Paulo: Cortez, 1996.
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O LIVRO DIDÁTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA E A EXPLORAÇÃO
DOS GÊNEROS TEXTUAIS
Arisberto Gomes de Souza13
O livro didático de Língua Portuguesa é um importante instrumento didático. Ele representa uma das principais ferramentas de apoio pedagógico e, certamente, fomenta ou deve fomentar o trabalho de exploração dos gêneros textuais. Com base nessa constatação, tivemos como meta construirmos um inventário da diversidade dos gêneros textuais que estavam presentes numa coleção de livros didáticos e a recorrência de cada um deles. O corpus do artigo foi composto pela coletânea Português: Linguagens, de Cereja e Magalhães (2010) e centrou-se na realização de um quadro geral de todos os gêneros que são objeto de exploração em atividades de leitura, escrita e oralidade. Acerca dos resultados gerais, verificamos que há uma relativa diferença no total de gêneros textuais em cada livro didático analisado e que os autores da coleção poderiam otimizar a diversidade de gêneros textuais se deixassem de concentrar o trabalho textual em alguns poucos gêneros, como a tira, o anúncio publicitário e o poema. A coleção apresenta poucos textos advindos da internet e os gêneros onde predominam as sequências tipológicas da ordem do descrever ações são pouco explorados. Palavras-chave: Gêneros Textuais. Livro Didático. Ensino de Língua Portuguesa.
Introdução
É necessário estabelecer uma ligação entre as ações desencadeadas na
sala de aula e o ocorre fora dela, nos espaços sociais por onde o aluno
interage. Essa afirmativa faz emergir a ideia de práticas efetivas de leitura e,
por conseguinte, o conceito de gêneros textuais. Os gêneros textuais são os
textos do qual fazemos uso em nossa vida diária, sejam eles orais ou escritos.
Na prática, isso significa, que os professores devem lançar mão, em suas
13
Técnico em Assuntos Educacionais da Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE. E-mail: [email protected].
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atividades pedagógicas, do uso efetivo de textos que circulam no meio social e
que podem e devem fazer parte do repertório linguístico do aluno, como textos
de jornal, encartes, propagandas, textos da internet, rótulos de produtos,
estampas de camisetas, e-mails, letras de música, etc.
O trabalho com gêneros textuais se torna relevante pelo seu caráter
social, histórico e cultural. Nesse sentido, a escola tem a oportunidade de
proporcionar aos alunos uma vivência onde são evidenciadas práticas
comunicativas de outras esferas sociais. Por meio dessa aproximação, torna-se
possível um trabalho com a linguagem a partir do seu uso. Vale ressaltar que
para se ter competência para utilizar a escrita e a leitura em práticas sociais
faz-se necessário falar de gêneros, uma vez que, a prática social de uso da
língua pressupõe o uso dos gêneros textuais.
Os estudos referentes aos gêneros textuais vêm cada vez mais se
expandindo. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), por exemplo,
preconizam explicitamente o trabalho com os gêneros textuais nas aulas de
língua materna e é na escola que acontece o estudo dos gêneros textuais
tendo o Livro Didático de Língua Portuguesa (LDLP) como uma das principais
ferramentas de apoio pedagógico.
Nessa pesquisa, realizamos um longo inventário da exploração do
trabalho com os gêneros textuais no LDLP, além da análise e a discussão dos
dados. Construímos uma descrição detalhada da diversidade de gêneros
textuais presentes na coleção de LDLP. Construímos um quadro geral de todos
os gêneros que são objeto de exploração em atividades de leitura, escrita e
oralidade e ainda contabilizamos as várias ocorrências de cada gênero.
Esperamos com a pesquisa contribuir e ampliar as discussões que
versam sobre práticas efetivas de leitura e escrita, tendo em vista a relevância
das suas implicações para o ensino de língua materna. Implicações estas que
repercutem de forma direta no que tange as concepções de língua enquanto
lugar privilegiado de interação e de gênero textual enquanto materialização
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dessa dialogicidade, desencadeando assim, a construção de identidade nos
processos de uso da escrita.
Os gêneros textuais e o LDLP
Um ensino de língua baseado na concepção de língua enquanto
interação pressupõe considerar a língua como prática social. Nessa
perspectiva, as atividades que envolvem o estudo de língua materna
desenvolvidas no espaço escolar devem se aproximar ao máximo daquelas
realizadas fora desse espaço. Advém daí, portanto, a necessidade de se trazer
para a sala de aula o estudo dos gêneros textuais. É notória, portanto, a
inserção do estudo dos gêneros na escola por meio do LDLP.
O livro didático, entendido como um material impresso, estruturado,
destinado ou adequado a ser utilizado em um processo de aprendizagem ou
formação (OLIVEIRA; GUIMARÃES; MOMÉNY, 1994), especificamente o de
Língua Portuguesa, começou a apresentar uma estrutura mais sistematizada,
como conhecemos hoje. Na década de 1980, o entendimento do texto
enquanto elemento decorrente da interação social, fruto dos estudos
sociolinguísticos e das ideias de Bakhtin começa a figurar. É a partir daí que o
LDLP começa a se voltar, pelo menos teoricamente, ao tratamento do texto nas
suas funções sociais.
Com o surgimento dos PCN de Língua Portuguesa (BRASIL, 1998), os
LDLP começaram a prever a inserção do estudo dos gêneros. Nos PCN, além
de Bakhtin, estão presentes as ideias das novas contribuições teóricas sobre o
ensino de língua materna que visam à ampliação das competências
comunicativas do aluno e sua inserção efetiva nas práticas reais de uso da
língua. Podemos também perceber presentes Schneuwly e Dolz (2004),
quando enfatizam que o trabalho com vistas ao ensino de uma determinada
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língua deve se dar por meio da experimentação dos diferentes gêneros textuais
orais e escritos pelos alunos. Essa ideia é corroborada por Bronckart (1999)
que afirma que o gênero atua no processo de aprendizagem como um
verdadeiro instrumento para o desenvolvimento das habilidades linguísticas.
A introdução do conceito de gênero textual, enquanto “tipos
relativamente estáveis de enunciados elaborados por indivíduos em diferentes
esferas de utilização da língua (BAKHTIN, 1997), fez surgir, na esfera
acadêmica, muitos desdobramentos, entre estes, a ideia de “esferas de
utilização da língua”. Bakhtin argumenta que, nas diferentes esferas de
comunicação humana, as formas de interação se diferem, acarretando assim
uma vasta variedade de gêneros, pois elas “estão sempre relacionadas com a
utilização da língua, a riqueza e a variedade dos gêneros” (BAKHTIN, 1997, p.
279).
Fica evidenciado, portanto, que quanto mais o indivíduo se apropria da
diversidade textual que circula socialmente, mais ele estará apto a obter
sucesso nas suas investidas comunicativas. De posse desse conhecimento, o
indivíduo torna possível concretizar escrita e oralmente através de textos, suas
mais diversas pretensões de comunicação, lançando mão do gênero textual
mais indicado para cada situação de interação.
Metodologia
Com relação aos gêneros textuais no LDLP, o objetivo central que
norteia esta investigação é o seguinte: averiguar quais são os gêneros textuais
explorados pelo LDLP dos ciclos finais (6º ao 9º ano) do ensino fundamental.
O corpus da pesquisa foi composto pela coletânea Português:
Linguagens, de Cereja e Magalhães (2010), uma coleção de LDLP dos anos
finais do Ensino Fundamental (4 volumes - 6º, 7º, 8º e 9º anos). Cada volume
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da coleção foi codificado da seguinte forma: 6º ano (LDLP – 1) 7º ano (LDLP –
2) 8º ano (LDLP – 3) e 9º ano (LDLP – 4).
A seleção da coleção ocorreu mediante os seguintes critérios: a) a
coleção analisada deveria fazer parte do acervo de coleções de LDLP
aprovadas pelo PNLD, por compreendermos que tais coleções passaram pelo
crivo de profissionais da área de linguagem; b) deveria explicitar na sua
resenha, contida no Guia de Livros Didáticos de Língua Portuguesa (2007),
ênfase no trabalho com gêneros textuais como objeto de exploração; e c) ser
bem avaliada em todos os outros eixos de ensino de língua ao longo do seu
processo de didatização. A escolha dessa coleção ocorreu, também, por
acreditarmos que, na etapa final do Ensino Fundamental, os alunos mais
escolarizados que aqueles dos anos iniciais teriam, relativamente, mais
experiências com práticas de leitura e escrita. Além disso, levamos em conta o
fato de que para avaliação dos LDLP desses ciclos, o PNLD preconiza que o
material apresente diversidade de gêneros e tipos textuais, distribuídos em
atividades de leitura, escrita e oralidade.
Em relação aos desdobramentos da metodologia, cabe-nos, enquadrá-la
enquanto pesquisa documental de abordagem qualiquantitativa. Segundo
Godoy (1995), a pesquisa documental consiste no exame de materiais que
ainda não receberam um tratamento analítico ou que podem ser reexaminados,
visando a uma nova interpretação, além de proporcionar que o investigador
dirija a pesquisa com criatividade. As abordagens qualitativas e quantitativas
não se excluem nem se opõem, elas mesclam os procedimentos e contribuem
para a melhor compreensão dos fenômenos.
Realizamos um inventário da diversidade dos gêneros textuais que
estavam presentes na coleção de LDLP. Além desse dado, verificamos
também a recorrência de cada um dos gêneros identificados em cada coleção.
Construímos um quadro geral de todos os gêneros que são objeto de
exploração em atividades de leitura, escrita e oralidade e ainda contabilizamos
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quantas vezes cada diferente gênero textual se apresentou. Assim, pudemos
observar quais gêneros eram mais e menos frequentes em cada uma das
etapas do ensino.
Tendo em vista as proposições da nossa pesquisa e a gama de gêneros
textuais presentes na coleção de LDLP, optamos por analisar apenas os
gêneros que estão contidos nas unidades de cada LDLP e que explicitamente
são objetos de exploração em atividades escritas, orais e de leitura. Assim,
cabe-nos esclarecer que aqueles gêneros que aparecem de forma isolada no
LDLP, sem que haja qualquer proposição de atividades sobre eles, não foram
objeto de análise.
Gêneros textuais que apareceram no LDLP incompletos, recortados ou
em trechos, também não foram analisados, tendo em vista a impossibilidade de
definição. Neste aspecto, deparamo-nos com muitos casos, como, por
exemplo, os fragmentos de romances, que não foram contabilizados, pois não
tínhamos como enquadrá-los como um determinado gênero.
Acerca da nomeação dos gêneros, optamos por considerar aquelas
apontadas pelo próprio LDLP, assim, apenas em alguns poucos casos, foi
necessário recorrermos à identificação dos gêneros com base em suas
características. Grande parte dos gêneros apontados nessa etapa da pesquisa
foi nomeada conforme a descrição utilizada pela coleção.
É importante frisar que, ao realizarmos essa análise, não buscamos
categorizar severamente os gêneros, pois entendemos que eles não podem ser
rotulados dentro de uma configuração rígida, como entidades fixas, estáticas.
Sabemos, portanto, que os gêneros textuais nascem e desaparecem e que os
indivíduos podem criá-los, assim como modificar aqueles já existentes. Como
já mencionado anteriormente, optamos por considerar a identificação do
próprio LDLP.
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Análise e tratamento dos dados
Iniciamos nossos comentários acerca dos resultados obtidos, a partir da
apresentação da Tabela 1, com a tabulação da diversidade de gêneros
encontrada no LDLP1 e a recorrência de cada um desses gêneros:
Tabela 1 – Gêneros textuais e suas recorrências no LDLP1
Gênero textual Nº de recorrências do
gênero Tira 45
Boxe explicativo 16
Poema 13
Anúncio publicitário 12
Cartum 05
Fábula 04
História em quadrinhos 04
Piada 04
Anedota 03
Cartaz 03
Conto 03
Diário pessoal 03
Relato 03
Crônica 02
E-mail 02
Letra de música 02
Receita culinária 02
Artigo de opinião 01
Carta pessoal 01
Conto popular 01
Manchete de jornal 01
Panfleto 01
Reportagem 01
Verbete de dicionário 01
Total 24 133
Analisando os resultados de maneira global, percebemos que o LDLP1
apresenta, para fins de exploração em atividades de leitura, escrita e oralidade,
um total de 24 gêneros diferentes. Esse quantitativo pode até não parecer
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pequeno, se levarmos em consideração o histórico do ensino de língua e o seu
culto aos textos consagrados da literatura (fragmentos de romances, contos,
poemas, etc.). A afirmação de Geraldi (1993), de que a escola há muito vem
propondo ao aluno um trabalho textual predominantemente com base em
arquétipos de textos de grandes escritores literários, confirma nossa
argumentação. No entanto, se pensarmos que os gêneros que circulam no
meio social são incontáveis, damo-nos conta de que, em um ano de ensino, a
diversidade de gêneros apresentada pelo LDLP1 ainda é pequena.
Sobre essa questão, Santos, Mendonça e Cavalcante (2006) esclarecem
que, para que o letramento se dê, é necessário trabalhar, de fato, com a
diversidade de gêneros. Dolz e Schneuwly (2004), por sua vez, elaboraram
uma proposta para o ensino dos diferentes gêneros ao longo dos ciclos. Eles
não falam em quantidades, mas deixam claro que, no decorrer da escolaridade
do aluno, os diferentes gêneros devem ser trabalhados e retomados com
objetivos mais complexos. Já Marcuschi (2002) observa que o trabalho com
uma maior diversidade de gêneros é uma maneira de a escola abordar as
propostas dos PCN.
A Tabela 1 mostra dois dados quantitativos que são bastante
reveladores: de um lado, 24 gêneros textuais diferentes, do outro, 133
recorrências desses gêneros. Esses resultados nos possibilitaram inferir que o
problema da pouca diversidade de gêneros, do qual comentamos, pode ser, na
verdade, uma questão de repetição. No LDLP1, 59% de todos os textos que
são explorados em atividades de leitura, escrita e oralidade giram em torno de
apenas quatro gêneros textuais: tira, boxe explicativo, poema e anúncio
publicitário. Não é intuito nosso mostrar que uma distribuição nestes enquadres
não seja eficaz, até porque não poderíamos provar esse tipo de afirmação. O
que queremos enfatizar é que os autores se utilizam de muitas repetições de
um mesmo gênero na composição do LDLP1. Mais da metade de todas as
atividades do LDLP1 estão ancoradas em poucos exemplares de gêneros.
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Sobre essa questão, acrescentamos ainda que os gêneros - tira, boxe
explicativo, poema e anúncio publicitário – estão uniformemente distribuídos
entre as unidades do LDLP1, o que descarta, por exemplo, a hipótese de uma
mesma unidade ou capítulo ter sido toda dedicada a um dado gênero. No MP
não encontramos, em nenhuma passagem textual, referência explícita ao
trabalho predominante de um gênero. Os autores apenas enfatizam e
recomendam o trabalho com textos advindos do jornal, porém advertem que o
jornal é um suporte e não um gênero. Cereja e Magalhães (2010) mencionam
que o jornal é um veículo dinâmico que apresenta textos que podem ser
abordados em todas os ciclos, mas não pormenorizam a formatação do LDLP
com relação à distribuição dos gêneros na coleção.
Se na análise dos dados do LDLP1 enfatizamos o baixo número na
diversidade de gêneros textuais, os dados do LDLP2, constantes da Tabela 2,
a seguir, também não são muito diferentes.
Tabela 2 – Gêneros textuais e suas recorrências no LDLP2
Gênero textual Nº de recorrências do
gênero Tira 44
Poema 35
Anúncio publicitário 15
Boxe explicativo 12
Conto 03
Depoimento escrito 03
Diário pessoal 03
Fábula 03
Cartum 02
Entrevista 02
Notícia 02
Anedota 01
Cartaz 01
Crônica 01
História em quadrinhos 01
Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campus Foz do Iguaçu CENTRO DE EDUCAÇÃO E LETRAS – CURSO DE LETRAS VIIENCONTRO INTERNACIONAL DE LETRAS 2013 LITERATURA E LINGUÍSTICA: LINGUAGENS DO SÉC.XXI ANAIS ARTIGO – ISSN 2175 389X EIXO TEMÁTICO 4: GÊNEROS DE DISCURSO E ENSINO
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Sinopse de filme 01
Total 16 129
No LDLP2, o grau de diversidade dos gêneros detectado foi ainda menor
que no LDLP1. Apenas 16 categorias de gêneros compõem o rol de textos a
serem explorados. Se levarmos em consideração o fato de que, acessando a
internet, um indivíduo terá contato com uma quantidade inumerável de
diferentes gêneros, só podemos chegar à conclusão de que o LDLP2
proporciona ao aluno, no período de um ano letivo, o contato com um baixo
número de gêneros textuais.
Nossos comentários se ancoram na máxima de que o LD,
principalmente na área de língua portuguesa, tem presença marcante no
ensino e os textos, aos quais os alunos têm acesso, advêm principalmente
desse instrumento pedagógico. Ressaltamos, porém, que isso não caracteriza
uma regra, pois sabemos que existem muitos docentes que se utilizam de
outros recursos para trabalhar nas aulas de língua materna e não somente o
LD.
Mais uma vez chamamos atenção para o fato de que as atividades do
LD se concentraram nos textos de alguns poucos gêneros, com destaque
especial para a tira, o poema e os anúncios publicitários que juntos perfazem
quase dois terços do total de gêneros que aparecem no LDLP2. Esses três
gêneros que foram os mais recorrentes no LDLP2 também aparecem na lista
dos mais trabalhados no LDLP1. Essa constatação, aliada a ausência de
explicações no MP sobre essa ênfase dada a determinados gêneros, pode ser
um indício de que o destaque no trato de alguns gêneros talvez decorra da
aleatoriedade.
Os dados referentes ao LDLP3 estão dispostos na Tabela 3, que segue:
Tabela 3 – Gêneros textuais e suas recorrências no LDLP3
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Gênero textual Nº de recorrências do gênero
Anúncio publicitário 26
Tira 25
Crônica 16
Poema 16
Cartum 06
Notícia 05
Carta ao leitor 04
Boxe explicativo 03
Carta de reclamação 03
Piada 03
Reportagem 03
Anedota 02
Artigo científico 01
Artigo de opinião 01
Charada 01
Conto 01
Entrevista 01
História em quadrinhos 01
Letra de música 01
Manchete de jornal 01
Resenha crítica 01
Rótulo 01
Texto teatral 01
Verbete de dicionário 01
Total 24 124
Nos resultados da Tabela 3, assim como nos das tabelas anteriores,
verificamos que a distribuição dos gêneros textuais ocorreu de maneira
extremamente concentrada. A falta de equilíbrio na distribuição dos gêneros no
LDLP3 foi ainda mais marcante que o verificado nos demais volumes.
Quase 70% de todos os gêneros abordados pelo LDLP3 pertencem a
apenas quatro categorias de gêneros, assim, mais uma vez, percebemos que
os autores destacam, como nos ciclos anteriores, os gêneros tira, anúncio
publicitário e poema.
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Averiguamos ainda que no LDLP3 a crônica foi um dos gêneros que
receberam destaque, diferentemente dos ciclos anteriores em que os gêneros
mais enfatizados foram aqueles menores em extensão. A crônica também não
é um gênero de grande extensão de tamanho, porém, neste aspecto, ela se
diferencia dos outros gêneros que mereceram destaque nos volumes
anteriores – tira, anúncio publicitário e poema. A utilização do gênero crônica
talvez decorra de uma possível tentativa de os autores tornarem mais
complexo o trabalho com os gêneros ou mesmo de trabalharem os tradicionais
gêneros literários.
Em contraste com os dados da tabela anterior, observamos que ocorreu
uma significativa mudança nas categorias de gêneros abordados. Mais da
metade dos gêneros apresentados no LDLP3 são diferentes daqueles do
volume anterior, a saber: artigo científico, artigo de opinião, carta ao leitor, carta
de reclamação, charada, letra de música, manchete de jornal, piada, resenha
crítica, rótulo, texto teatral e verbete de dicionário.
Já na Tabela 4, que segue, referente aos dados do LD do 9º ano do
ensino Fundamental, percebemos que a tendência dos autores em priorizar o
trabalho textual com base em uns poucos gêneros textuais se consolida.
Tabela 4 – Gêneros textuais e suas recorrências no LDLP4
Gênero textual Nº de recorrências do
gênero
Tira 31
Anúncio publicitário 25
Poema 24
Crônica 10
Boxe explicativo 09
Reportagem 08
Cartum 04
Miniconto 04
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Redação 04
Conto 03
Bilhete 02
Notícia 02
Sinopse de filme 02
Anedota 01
Aviso 01
Convite de casamento 01
Debate 01
Editorial 01
Entrevista 01
Letra de música 01
Piada 01
Total 21 136
Como nos resultados dos volumes anteriores, a Tabela 4 mostra que
alguns gêneros são abordados demasiadamente, enquanto outros ou têm raras
aparições ou simplesmente nem aparecem. Também merece comentário o
fato, certamente não ocasional, do destaque dado à tira, ao anúncio publicitário
e ao poema, gêneros que foram postos em evidência também nos outros três
volumes.
Cabe ressaltar que, neste volume, em comparação com o anterior,
ocorreram mudanças significativas nas categorias de gêneros abordadas.
Percebemos que quase metade dos gêneros textuais que estão presentes no
LDLP-4, como, aviso, bilhete, convite de casamento, debate, editorial,
miniconto, redação e sinopse de filme, não estão no volume anterior. Esse tipo
de mudança pode caracterizar uma tentativa, ainda que mínima, dos autores
em colocar os alunos em contato com mais possibilidades textuais.
O grande número de gêneros, quando são contabilizadas todas as
ocorrências, não reflete necessariamente qualidade no que se refere ao
aproveitamento do potencial dos textos, pois verificamos que muitos gêneros
não são trabalhados com vistas à exploração de suas particularidades. Uma
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amostra disso são as estratégias de exploração textual priorizadas por Cereja e
Magalhães (2010), muitas delas baseadas num ensino de língua
compartimentado, que toma como norte a nomenclatura e não percebe a língua
como interação. Verificamos, ainda, por vezes, que a inserção de um dado
gênero textual visava à simples resolução de uma questão objetiva, como
podemos observar no exemplo (01). Neste aspecto, o LDLP subutiliza os
gêneros que apresenta.
(01)
Fonte: Cereja e Magalhães (2010, p. 233, 8º ano)
Outra reflexão que fizemos acerca dos dados gerais da coleção foi a de
que, em relação às semelhanças entre os quatro volumes, no tocante à
diversidade de gêneros, não conseguimos estabelecer uma gradação coerente,
tanto qualitativa quanto quantitativa. Ao contrastarmos os dados, verificamos
que os LDLP mais parecidos são o 1 e o 3. Cerca de 72% dos gêneros textuais
apresentados no LDLP1 também estão presentes no LDLP3, as propostas de
escrita, leitura e oralidade desses volumes praticamente giram em torno dos
mesmos gêneros. Já os volumes que mais divergem em relação à semelhança
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no trato da diversidade de gêneros são os LDLP 2 e 3. Pouco mais de 40% dos
gêneros que aparecem no LDLP2 estão presentes no LDLP3.
No MP não encontramos explicações acerca da distribuição e escolha
dos gêneros por volume. Os autores da coleção apenas exaltam a ideia de
aprendizagem em espiral proposta por Dolz e Schneuwly (2004). Cereja e
Magalhães (2010) ressaltam, no MP, que os gêneros, nessa perspectiva, são
“retomados, aprofundados e ampliados” (p.12) em consonância com diferentes
fatores.
Algumas conclusões
A temática dos gêneros textuais vem ganhando a cada dia mais espaço
em sala de aula. Essa presença marcante no ensino se deve a vários fatores,
entre eles, o forte interesse acadêmico que evidencia o tema, pesquisas que
apontam para a necessidade de uma abordagem prática das questões
relacionadas aos gêneros, além de recomendações oriundas de políticas
públicas voltadas ao ensino. Então, por ser relativamente nova, a inserção dos
gêneros textuais em sala de aula ainda suscita curiosidades e
questionamentos, como, por exemplo, o de saber se a escola propõe de fato
um trabalho que enfatiza essas questões.
Como não podíamos investigar todo o campo que envolve a temática
dos gêneros textuais no ensino, optamos por delimitar o nosso objeto de
pesquisa, analisando o LDLP. Dada a importância que se observa quanto à
presença do LDLP na sala de aula, em especial nas aulas de língua
portuguesa, esta pesquisa teve como propósito analisar esse suporte textual, a
fim de investigar se atualmente ele consegue propor uma didatização que
proporcione a experimentação da diversidade de gêneros textuais pelo aluno.
Acerca dos resultados gerais da pesquisa, verificamos que há uma
relativa diferença no total de gêneros textuais em cada volume de LDLP
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analisado. Percebemos também que os autores da coleção poderiam otimizar a
diversidade de gêneros textuais se deixassem de concentrar o trabalho textual
em alguns poucos gêneros, como a tira, o anúncio publicitário e o poema.
A coleção apresenta poucos textos advindos da internet. Como sabemos
que os jovens destes ciclos geralmente manuseiam textos oriundos dessa
esfera, acreditamos que a adoção desses textos pelo LDLP acrescentaria na
aprendizagem, principalmente se pensarmos em termos motivacionais. Outra
lacuna averiguada é a dos gêneros com sequências tipológicas da ordem do
descrever ações que, apesar de estarem presentes no dia a dia das pessoas,
são pouco exploradas na coleção.
Em todos os volumes, há uma predileção pelo trabalho com gêneros
com sequências tipológicas predominantemente narrativas, por meio dos
gêneros como: cartum, fábula, história em quadrinhos, piada e tira. Já os
gêneros que trazem sequências tipológicas injuntivas, da ordem do descrever
ações, são raros. Nesses primeiros dois volumes, é notória a falta de equilíbrio
na distribuição dos agrupamentos de gêneros para cada CL. Os textos com
predominância de sequências tipológicas narrativas são bem mais enfatizados
que os demais.
Por fim, ressaltamos que, com essa análise quali-quantitativa, o nosso
maior intuito foi o de fazer um levantamento exaustivo dos gêneros textuais
para avaliar a qualidade do LDLP em termos do ensino de língua materna no
tocante à diversidade de gêneros.
Referências
CEREJA, W. R.; MAGALHÃES, T. C. Português, Linguagens. 6. ed. São Paulo: Atual, 2010. (Coleção - Português, Linguagens – 4 volumes - 6º, 7º, 8º e 9º anos).
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BAKHTIN, M. A Estética da Criação Verbal. Os gêneros do discurso. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997. BRASIL. PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais para 3º e 4º Ciclos do Ensino Fundamental - Língua Portuguesa. Brasília, DF: MEC/SEF, 1998. BRONCKART, J-P. Atividade de linguagem, textos e discursos: por um interacionismo sócio-discursivo. Tradução de Anna Rachel Machado, Péricles Cunha. São Paulo: EDUC, 1999. GERALDI, J. W. Portos de passagem. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1993. GODOY, A. S. Introdução à pesquisa qualitativa, tipos fundamentais. In: Revista de Administração de Empresas, v. 35, n. 3, Mai/Jun. 1995. Guia de livros didáticos PNLD 2008: Língua Portuguesa / Ministério da Educação. Brasília: MEC, 2007. MARCUSCHI, L. A. Oralidade e Ensino de Língua: uma questão pouco “falada”. In: DIONÍSIO, Â. P. BEZERRA, M. A.. (orgs.) O Livro Didático de Português: múltiplos olhares. Rio de Janeiro: Lucerna, 2001. OLIVEIRA, J. B. A.; GUIMARÃES, S. D. P.; BOMÉNY, H. M. B. A política do livro didático. Campinas: Summus, 1994. SANTOS, C. F. MENDONÇA, M.. CAVALVANTE, M. C. B. Trabalhar com texto é trabalhar com gênero? In: SANTOS, C. F. MENDONÇA, Márcia. CAVALVANTE, M. C. B. (org.). Diversidade textual, os gêneros na sala de aula. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. SCHNEUWLY, B; DOLZ, J. Gêneros orais e escritos na escola. Trad. e org. ROJO, R.; CORDEIRO, G. S. Campinas: Mercado de Letras, 2004.