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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ PRÓ REITORIA DE PÓS GRADUAÇÃO E PESQUISA CENTRO DE HUMANIDADES CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS MESTRADO ACADEMICO EM POLÍTICAS PÚBLICAS E SOCIEDADE PATRÍCIA DE PONTES TEIXEIRA LIMA ALHADEF PARTICIPAÇÃO E CONTROLE SOCIAL: UM ESTUDO DE CASO SOBRE O CONSELHO MUNICIPAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL DE AQUIRAZ FORTALEZA – CEARÁ 2012

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁPRÓ REITORIA DE PÓS GRADUAÇÃO E PESQUISA

CENTRO DE HUMANIDADESCENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS

MESTRADO ACADEMICO EM POLÍTICAS PÚBLICAS E SOCIEDADE

PATRÍCIA DE PONTES TEIXEIRA LIMA ALHADEF

PARTICIPAÇÃO E CONTROLE SOCIAL: UM ESTUDO DE CASO SOBRE O CONSELHO MUNICIPAL DE

ASSISTÊNCIA SOCIAL DE AQUIRAZ

FORTALEZA – CEARÁ 2012

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PATRÍCIA DE PONTES TEIXEIRA LIMA ALHADEF

PARTICIPAÇÃO E CONTROLE SOCIAL: UM ESTUDO DE CASO SOBRE O CONSELHO MUNICIPAL DE ASSISTÊNCIA

SOCIAL DE AQUIRAZ

Dissertação submetida ao Curso de Mestrado Acadêmico em Políticas Públicas e Sociedade do Centro de Estudos Sociais Aplicados da Universidade Estadual do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Políticas Públicas e Sociedade.

Orientação: Prof. Dr. Horácio Frota

FORTALEZA – CEARÁ 2012

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A397p Alhadef, Patrícia de Pontes Teixeira Lima Participação e controle social: um estudo de caso sobre o

conselho municipal de assistência social de Aquiraz / Patrícia de Pontes Teixeira Lima Alhadef . – 2012.

179f. : il. color., enc. ; 30 cm.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual do Ceará, Centro de Humanidades, Curso de Mestrado Acadêmico em Política Pública e Sociedade, Fortaleza, 2012.

.Orientação: Prof. Dr. Francisco Horácio da Silva Frota.

1. Estado e democrácia. 2. Participação e controle social. 3. Conselhos. I. Título.

CDD: 361

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PATRÍCIA DE PONTES TEIXEIRA LIMA ALHADEF

PARTICIPAÇÃO E CONTROLE SOCIAL: UM ESTUDO DE CASO SOBRE O CONSELHO MUNICIPAL DE ASSISTÊNCIA

SOCIAL DE AQUIRAZ

Dissertação submetida ao Curso de Mestrado Acadêmico em Políticas Públicas e Sociedade do Centro de Estudos Sociais Aplicados da Universidade Estadual do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Políticas Públicas e Sociedade.

Orientação: Prof. Dr. Francisco Horácio da Silva Frota

APROVADA EM: ______/_______/_______

BANCA EXAMINADORA

____________________________________Prof. Dr. Horácio Frota (Orientador)Universidade Estadual do Ceará

___________________________________Profa. Dra. Rejane Bezerra Andrade

Universidade Estadual do Ceará

__________________________________ Dra. Georgia Patrícia Guimarães dos Santos

Universidade Federal do Ceará

5

Á Isabel, por me ensinar que o êxito não é resultado do acaso, mas da insistência em seus objetivos.

Larissa e Fernanda... tudo de sempre!

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AGRADECIMENTOS

Durante estes dois últimos anos muitas pessoas participaram da minha vida.

Dentre estas, algumas se tornaram especiais, seja academicamente ou

pessoalmente; e seria difícil não mencioná-las.

Agradeço a todos os professores do Curso de Ciências Políticas e do

Mestrado Acadêmico, que me ensinaram para além do que se pode ver.

À Profª. Dr.ª Rejane Bezerra, pelo incentivo, paciência e disponibilidade

durante a realização deste estudo. Obrigada pela atenção, amizade e dedicação ao

longo deste período.

Ao Prof. Dr. Horácio Frota, pela confiança.

Ao Prof. Dr. Josênio Parente, por todas as colocações feitas no momento da

qualificação, sem as quais essa dissertação, não seria “essa dissertação”. À

Professora Geórgia Patrícia, pelas contribuições.

A Deus! Aos meus Avós, Patrício e Isabel (in memórian). Sei que teriam

orgulho.

Á minha mãe, Isabel, tudo sempre, em todas as horas! Ao meu Pai, Júlio

Cesar. As minhas filhas, Larissa e Fernanda, pedaços de mim, sempre

compreensivas. Às minhas Irmãs, Júlia e Isabella, companheiras de sonhos.

Aos meus tios, Verônica, Ruth, Patrício e Otacílio, pelo apoio constante.

À Lúcia Macêdo Sales, por ter me apresentado à Aquiraz.

Bianca Garcia, Claudia Pontes, Conceição Passos, Lídia Freitas, Katyuscya

Arraes, Sabrina Maia pela amizade e pelo apoio na pesquisa.

Aos Conselheiros Municipais de Aquiraz, pela disponibilidade.

À FUNCAP, pelo apoio financeiro, com a manutenção da bolsa de auxílio.

Aos colegas da turma de Ciências Políticas da Unifor e do Mestrado

Acadêmico da UECE, especialmente ao futuro Dr. João Paulo Bandeira de Souza,

pelas reflexões, críticas e sugestões recebidas.

Às amigas de longe, que sempre “perto”, acompanham ainda que de modo

virtual cada passo deste trabalho.

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“É espantoso como a história se perde entre nós! A cada nova geração é como se houvesse um corte com relação ao passado e tudo estivesse permanentemente começando. Como eterno 'país do futuro', tendemos sempre a buscar negar nosso passado (que nos envergonha) e a querer construir algo radicalmente diferente” (AZEVEDO, Ricardo. Apresentação. In: AZEVEDO, Ricardo; MAUÉS, Flamarion (org.). Rememória: entrevistas sobre o Brasil do século XX. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 1997:8).

A dimensão “perigosa” do controle social se inicia pelo equívoco conceitual.

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RESUMO

Esta dissertação discute o Tema: Participação e controle social: um estudo de caso sobre o conselho municipal de assistência social de Aquiraz. Orienta-se na busca de respostas para uma questão central: Os conselhos municipais de assistência social cumprem com sua responsabilidade de participação e controle social conforme os determinantes da Política de Assistência Social? A abrangência em Aquiraz foi determinada por sua importância histórica, particularidades e vida própria. No esteio dos problemas locais, duas hipóteses orientaram a busca de repostas, a saber: “a política de assistência social não apresenta avanços significativos na construção da cidadania no município de Aquiraz, por diferentes fatores, sendo um agravante, o despreparo dos (as) conselheiros(as) para o cumprimento da responsabilidade que lhes cabe na defesa do interesse público”. Outra hipótese levantada foi a de que “os conselheiros enfrentam grandes limitações ao exercício imparcial de suas funções, a começar pelo desconhecimento do seu próprio papel na defesa dos interesses do público da assistência social.” A seleção do estudo de caso convergiu para a aplicabilidade da pesquisa bibliográfica, documental e de campo, utilizando-se de questionário para orientar entrevistas realizadas com uma amostra de 24 conselheiros representando o universo de 72 atores sociais que no período compreendido entre 2005 até 2010 assumiram essa função. No primeiro capítulo, discute-se a consolidação do capitalismo, o confronto entre Estado e sociedade; a redemocratização e a participação social em períodos distintos da história até a realidade democrática contemporânea. No segundo, a trajetória histórica da assistência social entra em cena em suas práticas assistencialistas até atingir o status de política pública. A terceira parte deste estudo analisa a construção histórica da democracia no Estado do Ceará, e culmina esboçando reflexões sobre o Conselho Municipal de Assistência Social de Aquiraz, identificando-se o perfil dos conselheiros, suas concepções teóricas e a dinâmica de funcionamento deste conselho oferecendo referências para a compreensão de como se efetivam as disputas e debates em torno da definição das prioridades municipais. Os achados elencados ao longo deste estudo permitem afirmar as hipóteses a principio levantadas, considerando-se que a capacidade dos conselheiros em participar e exercitar o controle social da política mostrou-se limitada, o que compromete a autonomia destes na formulação e na proposição de ações que fomentem a transformação da realidade local. No que concerne às condições objetivas dispensadas pelos gestores municipais aos conselheiros para o exercício de suas responsabilidades identificou-se que a eles tais condições não foram garantidas.

PALAVRAS-CHAVES: Estado e Democracia, Participação e Controle Social, Conselhos de

Políticas Públicas.

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ABSTRACT

This dissertation addresses the theme Participation and Social Control: a case study about the municipal council of social assistance of Aquiraz. It goes after answers to a central question: do the municipal councils of social assistance fulfill their responsibility of participation and social control according to the determining factor of the Social Assistance Politics? The scope in Aquiraz has been determined by its historical importance, its particularities and its life of its own. As a result of the local problems, two hypotheses guide the search for answers: “the social assistance politics does not show significant advances in the construction of citizenship in the town of Aquiraz for different reasons, and an aggravating circumstance is the unpreparedness of the counselors for the fulfillment of their responsibility in the defense of the public interest.” Another hypothesis considered is that “the counselors face great limitations to the impartial execution of their jobs, beginning with the lack of knowledge of their role in the defense of the interests of the public of social assistance.” The selection of the case study pointed towards the applicability of the bibliographical research, documental and in the field, by use of questions to direct the interviews made with 24 counselors that represented the universe of 72 social actors that, in the time period between 2005 and 2010, took this job. In the first chapter, the consolidation of capitalism is discussed, the confrontation between state and society, the redemocratization and social participation in different time periods until the present democratic reality. In the second, the historical course of social assistance is displayed, with its assistencialist acts until reaching the status of public politics. The third part of this study analyses the historical construction of democracy in the state of Ceará and ends with reflections about the Municipal Council of Social Assistance of Aquiraz, with the identification of the counselors’ profile, their theoretical conceptions and the working dynamics of this council with references to the understanding of the disputes and debates around the definition of municipal priorities. The discoveries pointed out throughout this study allow us to affirm the hypothesis mentioned in the beginning, considering that the capacity of the counselors in participating and implementing the social control of the politics has shown itself to be limited, which compromises their autonomy in the formulation and proposition of actions that promote the transformation in the local reality. In relation to the objective conditions given by municipal managers to the counselors for the implementation of their responsibility, it has been identified that these conditions have not been guaranteed to them.

KEYWORDS: State and democracy, Social participation and control, counsels for public

politics.

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LISTA DE QUADROS

1 SOBRE O PERFIL DOS CONSELHEIROS

Quadro 1. Período de Mandato dos Conselheiros …................................................... 155

Quadro 2. Sobre o Local de Residência dos Conselheiros …...................................... 155

Quadro 3. Sobre o Local de Trabalho Atual …............................................................. 155

Quadro 4. Sobre o Tempo que Trabalha / Trabalhou em Aquiraz …........................... 155

Quadro 5. Sobre a faixa etária dos conselheiros …..................................................... 156

Quadro 6. Identidade do Conselheiro Segundo o Gênero …....................................... 156

Quadro 7. Grau de Instrução dos Conselheiros …...................................................... 156

Quadro 8. Disponibilidade de Tempo -Frequência dos Conselheiros nas Reuniões … 156

Quadro 9 . Atualmente é Conselheiro em Aquiraz? …................................................. 157

Quadro 10. Sobre o Tempo de Duração do Mandato ….............................................. 157

Quadro 11. Participa de outros Conselhos? …........................................................... 157

2 CONCEPÇÕES TEÓRICAS

Quadro 12. O Que Entende Por Controle Social? ….................................................... 158

Quadro 13. O que Entende Por Participação? …......................................................... 159

Quadro 14. O que é Ser Conselheiro? …..................................................................... 160

Quadro 15. Quais as Atribuições do Conselheiro? ….................................................. 161

Quadro 16. Conheço a Rede Socioassistencial do Município? …............................... 162

Quadro 17. Opinião sobre a Política Municipal de Assistência Social de Aquiraz …... 162

Quadro 18. Conhece os Critérios de Concessão de Benefícios Eventuais? …............ 163

3 A PRÁTICA DO CONSELHEIRO

Quadro 19. Exerceu a Presidência / Vice Presidência? …............................................ 164

Quadro 20. Como foi Definida a Sua Participação no CMAS de Aquiraz? …............... 164

Quadro 21. Com que frequência participava das Reuniões do CMAS de Aquiraz? ….. 164

Quadro 22. Costumava Emitir Opiniões nas Reuniões do CMAS de Aquiraz? …......... 164

Quadro 23 Minha Opinião era Levada em conta na hora da Tomada de Decisões

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pelo Colegiado do CMAS de Aquiraz? …...................................................................... 165

Quadro 24. Questões Relativas à Atribuições Específicas do Conselheiro …............. 166

Quadro 25. Acompanhava os Registros no Livro de Atas? …..................................... 166

Quadro 26. Realizava o Controle da PMAS? …........................................................... 167

Quadro 27. Acompanhei e Controlei a Execução da PMAS de Aquiraz? …................ 168

Quadro 28. Minha Participação como Conselheiro Interferiu para a Conquista de

Avanços na PMAS de Aquiraz? …............................................................................... 168

Quadro 29. Acompanha o Trabalho da Gestão Atual do CMAS de Aquiraz? …......... 169

Quadro 30. De que Maneira Acompanha o Trabalho da Atual Gestão? …................ 169

4 SOBRE A GESTÃO DO CMAS DE AQUIRAZ

Quadro 31. Condições objetivas do CMAS de Aquiraz …......................................... 170

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SUMÁRIORESUMOABSTRACTINTRODUÇÃO 131 ESTADO E SOCIEDADE: RESGATE HISTÓRICO EM DIMENSÕES PLURAIS .......................................................................................................... 20

1.1 O confronto Estado e sociedade ….............................................................. 231.2 A redemocratização e a participação social no Brasil ….............................. 311.3 A realidade democrática do Brasil contemporâneo .................................... 42

2 A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL.................................. 53

2.1 O assistencialismo frente à questão social no Brasil.................................... 532.2 A assistência social como política pública ................................................... 622.3 Participação e construção da cidadania no Brasil ....................................... 67

3 O CENÁRIO EXPERIMENTAL DA REPRESENTATIVIDADE DOS CONSELHOS: PRESSUPOSTOS E ATITUDES EM FOCO ............................ 79

3.1 A construção histórica da democracia no Estado do Ceará ........................ 793.2 Poder local, representação e territorialidade: Reflexões sobre o Conselho Municipal de Assistência Social de Aquiraz-Ce ................................................. 863.3 Conselhos e conselheiros: Participação e controle social por/para quem? 953.3.1 O perfil dos conselheiros municipais de assistência social de Aquiraz 1003.3.2 Concepções teóricas ................................................................................ 1043.3.3 A prática do conselheiro ........................................................................... 1103.3.4 Sobre a gestão do Conselho Municipal De Assistência Social de Aquiraz ….................................................................................................... 119

CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................... 125REFERÊENCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................ 132APÊNDICE A – Quadros................................................................................... 155APÊNDICE B – Roteiro para Pesquisa de Campo......................................... 172ANEXO A .......................................................................................................... 178

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INTRODUÇÃO

Os conselhos municipais de assistência social cumprem com sua

responsabilidade de participação e controle social, conforme os determinantes da

Política de Assistência Social? Essa é a questão central que orienta o

desenvolvimento deste estudo, o qual se delineia com o objetivo de analisar a

dinâmica da participação e controle social, no interior do Conselho Municipal de

Assistência Social de Aquiraz-Ceará, a partir das seguintes hipóteses: “a política de

assistência social não apresenta avanços significativos na construção da cidadania

no município em foco, por diferentes fatores, sendo um agravante, o despreparo

dos(as) conselheiros(as) para o cumprimento da responsabilidade que lhes cabe, na

defesa do interesse público”. Outra hipótese levantada foi a de que: “os conselheiros

enfrentam grandes limitações ao exercício imparcial de suas funções, a começar

pelo desconhecimento do seu próprio papel, na defesa dos interesses do público da

assistência social”.

O Município de Aquiraz foi escolhido para referenciar este estudo, devido

à sua importância histórica para o Estado do Ceará. Povoado inicialmente pelos

índios potiguara e jenipapo kanydé, e, posteriormente pelos portugueses, religiosos

e militares, que vieram habitar esta região, para a catequização dos índios e a

proteção do território contra invasões espanholas. Aquiraz possui uma área de 482.8

Km², o que representa 0,32% da área total do Estado. Por estar localizado a 21 Km

da capital Fortaleza, possui particularidades e vida própria, ao tempo em que é

quase uma extensão desta. Tais peculiaridades, no que concerne à realidade

histórica e sua proximidade da capital, justificam a escolha deste, e não de outro

município para a área de abrangência deste estudo.

No esteio dos problemas sociais vivenciados pela população de Aquiraz,

e, observando-se que a Política de Assistência Social supostamente se efetiva “para

quem dela necessitar”, outros questionamentos motivaram a realização desta

pesquisa. Interessava identificar os requisitos essenciais, para que um ator social

viesse a assumir a missão de conselheiro(a), visto que a tais sujeitos compete,

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dentre outras funções, deliberar sobre os interesses da população e exercitar o

controle social da gestão desta política. Se, por um lado, os representantes do

governo, em geral, são indicados aleatoriamente e não possuem autonomia para

manifestar-se contrariamente aos interesses dos gestores, por outra via, não há

isenção dos representantes da sociedade civil dentro dos conselhos, porque muitos

deles estão comprometidos com o poder público, numa relação de dependência,

pelo custeio municipal de programas, projetos ou outras ações desenvolvidas pelas

entidades que representam.

Considerando que o processo de participação, no interior dos conselhos,

configura-se como uma forma específica de ação representativa, discute-se, com

base em uma investigação de caso, a existência de um conjunto único de variáveis

presentes e atuantes em todos eles, cujas convergências e similaridades podem vir

a fundamentar a base de um modelo explicativo generalizável, para a compreensão

destes processos de participação. Em caso de não confirmação de similaridades,

busca-se identificar as especificidades locais, que atuariam de forma a determinar a

dinâmica própria, empiricamente observada.

Este estudo desconsidera a definição que naturaliza a emergência das

ações representativas, e adota a perspectiva de que o ato representativo é sempre

resultado de um complexo processo de construção social, o qual envolve uma

intervenção ativa dos indivíduos e grupos em um campo de oportunidades e limites

estruturalmente dados.

A seleção dos instrumentos e procedimentos metodológicos convergiu

para a aplicabilidade da pesquisa bibliográfica, documental e de campo, adotando-

se, para tanto, a compreensão de Fachin (2001), sobre o conceito de método, cuja

escolha deve estar baseada em dois critérios básicos: a natureza do objeto ao qual

se aplica e o objetivo que se tem em vista no estudo.

O interesse investigativo por conhecer a dinâmica com que os

conselheiros(as) da assistência social no município de Aquiraz exercitam suas

funções, convergiu para o desenvolvimento de uma análise qualitativa. Tomou-se

por referência a perspectiva do estudo de caso, considerando-se suas vantagens

15

para desvelar o problema e questões levantadas, sem, no entanto, descuidar de

suas fragilidades, que concorrem para influenciar o pesquisador a ressaltar

evidências equivocadas, em direção a conclusões questionáveis.

A definição de Yin (1989), que destaca o estudo de caso como

inquietação empírica, que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de um

contexto de vida real, mostrou-se particularmente útil ao objeto de estudo desta

pesquisa, visto que suas fragilidades foram minimizadas pelo cuidado em assegurar

a qualidade e a validade de seus resultados.

No primeiro capítulo deste estudo, discute-se a consolidação do

capitalismo; o confronto entre Estado e sociedade; a redemocratização e a

participação social em períodos distintos da história, até a realidade democrática

contemporânea.

Em seguida, o foco deste estudo se volta para as origens da assistência

social no Brasil. Discute-se o período onde as práticas eram realizadas, com base

nos preceitos da caridade e da filantropia, enquanto compromissos do Estado para

com o povo empobrecido, e toda a trajetória vivenciada no início da década de 1980,

no tocante ao alargamento do Estado de Direito, inaugurando a luta pelo fim da

prática assistencialista.

Enquanto marco legal, a Constituição Federal de 1988 redefiniu e

qualificou a assistência social como Política de Seguridade Social, em seu artigo

194, com parâmetros de prestação de serviços e atendimentos às populações.

Posteriormente, no artigo 204, ressaltou a importância da descentralização político-

administrativa e da participação da sociedade nos processos e instâncias de

discussão dos temas inerentes a tal política.

Um longo processo de lutas e esforços foi empreendido, até que se

chegasse a um determinante oficial da Política de Assistência Social, tendo sido a

Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS – Lei Nº 8.742), sancionada pelo então

Presidente da República, Itamar Franco, aos 07 de dezembro de 1993.

A LOAS propõe um rompimento com a tradição assistencialista da cultura

política do Brasil que, desde meados do descobrimento, desenvolvia-se por meio de

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trocas e favoritismos de poucos, em detrimento de muitos. A nova lei busca dar fim

aos acordos e atos paternalistas, oriundos do fazer político brasileiro em distintas

épocas. Seus determinantes devem, portanto, convergir progressivamente para a

formulação de políticas públicas e diretrizes, focadas no atendimento ao cidadão em

situação de pobreza, independente de seus laços de sangue ou de amizade.

A nova configuração da Política de Assistência Social enquanto direito,

suscita o fim do assistencialismo enquanto dádiva ou benesses paternalistas, que

visavam unicamente exercer o controle social sobre os grupos marginalizados. De

acordo com Barbosa (1991), tais atos eram meramente eleitoreiros e usados

enquanto meio de obter legitimação e apoio político.

O fim da prática da assistência social, enquanto favor, é legalmente

postulado e sua concepção determina que esta é direito do cidadão e dever do

Estado, tratando-se de uma política de seguridade social não contributiva, que deve

prover os mínimos sociais, através de um conjunto integrado de ações de iniciativa

pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas. Tais

determinantes legais (LOAS), nortearam um processo de transição que visava

repartir competências da União, com os demais entes da Federação, para uma

prática política mais eficaz, fundada em novos paradigmas de controle e

participação.

A terceira parte deste estudo analisa a construção histórica da

democracia no Estado do Ceará. Discute conceitos de poder local, representação e

territorialidade, esboçando reflexões sobre o Conselho Municipal de Assistência

Social de Aquiraz.

A prática do controle social, através dos conselhos de assistência social,

está amparada no conceito de descentralização, que pressupõe, por um lado, a

redistribuição dos espaços de exercício de poder – ou dos objetos de decisão – isto

é, das atribuições inerentes a cada esfera de governo e, por outro, a redistribuição

dos meios para exercitar o poder, ou seja, os recursos humanos, financeiros e

físicos (UGA, 1991).

17

Considerando-se as competências do CMAS de Aquiraz, de exercitar o

controle social, as experiências de atuação dos seus conselheiros são analisadas na

busca dos significados, limites e possibilidades de sua atuação, enquanto

representantes de um segmento da sociedade: os usuários da Política de

Assistência Social, que residem no referido município.

De acordo com Melo (1995), “a participação é uma variável que depende

de fatores e arranjos políticos institucionais, que exacerba o poder das instituições

em detrimento da vontade particular”. Sem minimizar a importância das experiências

individuais de participação, este estudo apresenta uma reflexão sobre o modo como

ocorre a dinâmica da participação, no Conselho Municipal de Assistência Social de

Aquiraz. Isto pressupõe o entendimento do conselho enquanto grupo de pessoas,

com interesses e representações distintas, que possuem uma mesma função e

objetivo, buscando compreender como suas ações, representativas refletem na

política local.

Com foco na participação dos conselhos na gestão pública, este estudo

discute os impactos e efeitos institucionais do exercício do controle social, por meio

de um conselho municipal, e, centra-se na identificação e análise dos fatores

explicativos da atuação representativa dos segmentos da sociedade civil e

governamentais, em canais de participação direta na gestão pública. A adoção desta

perspectiva de análise apresentou uma série de obstáculos. Inicialmente, o objeto

que constitui a base empírica deste estudo – a participação social, vivenciada pelo

Conselho Municipal de Assistência Social de Aquiraz – apresenta-se como algo

relativamente recente. Tal Conselho foi criado pela Lei municipal N° 079, de 14 de

novembro de 1995. Mesmo assim, este estudo identifica e descreve a dinâmica da

participação, deliberação e controle social, no período compreendido entre os anos

de 2005 a 2010. Outra dificuldade prática se deu pelo fato de alguns conselheiros

empossados em 2005 (ano base deste estudo), não mais participarem da gestão

municipal e, mesmo tendo sido consultados sobre o interesse em compor o quadro

de referências para esta pesquisa, não manifestaram-se favoráveis, sob os mais

18

diferentes argumentos, deixando uma lacuna na composição da amostra

inicialmente pensada.

Outra restrição foi constatar que, na representação da sociedade civil, os

nomes das entidades e de seus representantes repetem-se, nas sucessivas

eleições, o que sugere falta de interesse das demais entidades que integram a rede

socioassistencial do município, ou mesmo, a dominação daquelas que se colocam

no processo eleitoral, não abrindo espaços para a participação de novos atores

sociais locais.

Buscando desvendar os significados do controle social exercido pelo

CMAS de Aquiraz, este estudo identifica o perfil dos conselheiros e a dinâmica de

funcionamento deste conselho, oferecendo referências para a compreensão de

como se efetivam as disputas e debates, em torno da definição das prioridades

municipais.

Os fundamentos teóricos sobre o papel do conselheiro de políticas

públicas e a sua incorporação, como elemento constitutivo do cotidiano do exercício

do controle social (ABREU, 1999; DAGNINO, 1995; AVRITZER; 1999,

BORDENAVE, 1998, dentre outros) não se coadunam com os discursos que

parecem dispensar o esforço de análises empíricas, metodológicas e metódicas.

Observou-se, com este estudo, limitações enfrentadas pelos conselheiros no que

tange à familiaridade com os temas discutidos, especialmente quando a questão

trata da definição de prioridades, considerando-se o conhecimento sobre a rede

socioassistencial do município, a participação na elaboração da Política de

Assistência Social e o próprio exercício do controle social. Tais considerações estão

fundamentadas nas diretrizes da Política Nacional de Assistência Social, que norteia

as análises sobre a participação e o controle social destes conselheiros.

A partir dos elementos expostos, desenvolve-se esta dissertação nos

capítulos que se seguem, onde os conceitos centrais são discutidos em temáticas

sequenciais e complementares, culminando com o relato analítico da experiência de

campo, onde a fala dos conselheiros apresenta-se na íntegra. Os discursos mais

19

representativos quantitativamente são analisados, a partir da fundamentação teórica

selecionada, numa abordagem qualitativa dos seus significados.

20

1 ESTADO E SOCIEDADE: RESGATE HISTÓRICO EM DIMENSÕES PLURAIS

Inicia-se, com este capítulo, uma jornada de estudos e reflexões sobre

diferentes momentos históricos, vividos nos contornos das sociedades ocidentais,

em que a produção do conhecimento filosófico clássico, sobre a vida social,

referenda a busca de compreensão da realidade brasileira presente, onde os

conceitos de Estado e sociedade articulam-se às noções de democracia,

emancipação popular, capitalismo e cidadania em suas contradições e confrontos,

cujos impasses fundamentam a leitura sobre a construção histórica dos conselhos

de políticas públicas no Brasil.

O advento do século XIX concretiza a transição do sistema feudal para o

capitalismo, e, as mudanças provocadas no processo de produção e no modo de

trabalho impactam diretamente nas relações sociais, que reorganizam a sociedade,

adequando-a ao modo capitalista e dividindo-a entre os que detêm e os que não

possuem meios de produção. Evidencia-se, nesse processo, o caráter antagônico

das relações capitalistas, de dominação econômica, política e social, baseado na

manutenção do mando e do poder.

A venda da força de trabalho, exercida por aquela parte da sociedade que

não possui os meios de produção, faz com que o trabalhador não reconheça a

exploração a que está submetido, porém, chega um momento em que este percebe

que está sendo explorado, e, daí, surgem os conflitos de classe. No decorrer do

capitalismo, vários tipos de enfrentamento a diferentes formas de exploração vão se

revelando, de acordo com a capacidade de organização dos operários que, através

de associações e sindicatos, dão vida aos movimentos pela independência. De

acordo com a teoria marxista, quando o trabalhador descobre que seus interesses

são divergentes dos da classe dominante, tem início o processo de formação da

consciência de classe, por meio do qual, os operários começam a reagir de forma

não pacífica às condições impostas pela consolidação do capitalismo.

A teoria marxista mostra a importância do processo de formação da

consciência de classe, por meio da qual, o trabalhador descobre que seus interesses

21

são divergentes dos interesses da classe dominante, e passa a não aceitar as

condições impostas pela consolidação do capitalismo. Diante das contradições,

resultantes desta consolidação ao longo do século XIX, afirma-se que “toda

propriedade exclusiva, é baseada na miséria e no trabalho forçado do povo; forçado

não pela lei, mas pela fome” (BAKUNIN, 1992, p.6).

Em face das condições de vida e de trabalho da classe dos trabalhadores,

as diferenças sociais se tornaram agudas, produzindo resistências distintas em

diversos lugares do mundo. Destacam-se o movimento de escravos e religiosos, na

Baixa Idade Média, movimentos camponeses e servis, que fizeram com que na

Europa, por aproximadamente 400 anos, ocorressem insurreições camponesas e

revoltas. Tais movimentos se alastraram, rompendo os laços de lealdade,

culminando com a derrocada do sistema feudal e surgimento da Idade Moderna, que

trouxe consigo movimentos de mercadores e comerciantes, que protagonizaram a

Revolução Industrial e a transição para o sistema capitalista de produção.

A consolidação do capitalismo, na Idade Contemporânea, destaca os

movimentos operários contra as precárias condições de vida nas fábricas e nas

cidades. De acordo com Marx: “Não é a consciência dos homens que determina o

seu ser, mas, ao contrário, é o seu ser social que determina sua consciência”

(MARX, 1845, p.108).

A exploração do trabalhador, com jornadas excessivas de trabalho e

péssimas condições de sobrevivência, revela uma das faces mais perversas do

capitalismo. Alguns segmentos de trabalhadores, em lugares e momentos diversos,

começam a insurgir contra as explorações sofridas. As lutas, a princípio mais

isoladas, por melhores salários e redução de jornada de trabalho, pouco a pouco,

tornam-se mais frequentes e organizadas. A primeira manifestação de resistência foi

o “Movimento Ludita”, no qual operários ingleses, inspirados em Ned Ludd, deram

início à destruição das máquinas, responsabilizadas como a causa da situação de

miséria dos trabalhadores. O governo reagiu violentamente, com perseguições e até

condenações à morte. Também na Inglaterra, houve a segunda grande

manifestação dos trabalhadores. Denominada de “Movimento Cadista”, eclodiu em

22

1930, resultando na criação da Associação dos Operários, que passou a organizar

greves, passeatas e comícios, com vistas a pressionar o parlamento inglês para

inserir uma representação política do proletariado junto a este poder. Entretanto, a

“Carta do Povo” foi recusada pelo governo, que esvaziou esse movimento em 1848

(RIBEIRO, 2005). Neste mesmo ano, foi publicado o Manifesto Comunista de Karl

Marx e Engels, apontando novos caminhos para os trabalhadores e orientando a

classe proletária para a luta. Após longo processo de conflitos, o movimento operário

foi enfraquecido, e, chegou ao final do século XIX, tendo claro seu papel de sujeito

de transformações sociais, abandonando a condição de passividade e agindo de

maneira reivindicatória.

A valorização das experiências efetivas, de reivindicação e

conscientização dos trabalhadores, ajuda a compreender a construção histórica dos

movimentos sociais que fomentaram a participação. No caso brasileiro, os avanços

observados em alguns momentos da história, estiveram vinculados aos interesses

do capitalismo internacional, demonstrando que na divisão internacional do trabalho,

este país vivenciou a condição de subalternidade, em relação aos mais

desenvolvidos, submetendo seu povo a uma situação de opressão. Constata-se que,

nos três séculos de colonização portuguesa, não foi propiciado ao povo brasileiro as

bases para um desenvolvimento industrial futuro, e os movimentos sociais deste

período tinham como objetivo combater a opressão econômica e política, exercida

pela metrópole (ABREU,1999).

A independência do Brasil, proclamada aos 7 de setembro de 1822,

beneficiou a aristocracia rural, que garantiu a manutenção de seus interesses

econômicos e persistiu respondendo aos movimentos de resistência com opressão.

A “Cabanagem”, movimento ocorrido no Pará, entre os anos de 1835 a 1840, e a

“Balaiada”, no Maranhão, de 1838 a 1841, são exemplos do poder desta

aristocracia, que exterminava, sem piedade, aqueles que clamavam por melhorias,

promovendo, posteriormente, um verdadeiro esmagamento destes movimentos

revolucionários, que apresentavam forte conteúdo libertador e representavam uma

ameaça constante à ordem escravocrata vigente. A aristocracia rural manteve sua

23

estabilidade política, resultando, de acordo com Faria (1993), numa estrutura social

formada por uma classe dominante, composta de senhores de escravos e terras,

uma classe média de militares, profissionais liberais, funcionários públicos e

pequenos produtores agrícolas e por uma classe baixa, composta pela maioria

esmagadora da população, representada pelos escravos, trabalhadores semi livres,

colonos e assalariados, que eram ignorados em seus direitos mais essenciais,

estando sujeitos à dominação das oligarquias agrárias conservadoras.

Os movimentos de Canudos (1893 – 897), e do Contestado (1912 –

1916), marcaram a forma como seriam tratadas as reivindicações nos anos

seguintes, demonstrando a capacidade de resistência da população excluída e

explorada.

Behring (2003) afirma que as mudanças sociais, oriundas deste longo

processo de lutas foram, em parte anuladas, com a globalização da economia,

ocorrida a partir da década de 1990, e que a reversão deste quadro é possível,

porém exige coragem, participação, mobilização popular para além do voto, diálogo

e vontade política, sendo a conquista de direitos, resultado de lutas empreendidas

por movimentos populares, um caminho para a efetivação da participação social e

reconhecimento de direitos.

A partir de tais reflexões, este estudo avança nas discussões históricas

sobre o confronto entre Estado e sociedade civil, considerando-se que o tema é

pertinente e relevante, para elucidar o objeto de estudo delimitado nesta dissertação.

1.1 O confronto entre Estado e sociedade

No horizonte temporal de evolução histórica, a linguagem política é

sempre influenciada pela visão de mundo dominante em diferentes sociedades.

Entretanto, quando o foco de análise se volta para a compreensão das relações

entre Estado e sociedade, a correlação de forças antagônicas adquire noções

valorativas, que ressaltam um permanente confronto, balizado por interesses

distintos, como se um e outro não estivessem confirmados a uma mesma realidade.

24

Uma análise das relações entre Estado e sociedade civil, retomada pela

leitura clássica dedicada ao assunto, norteia a linguagem política contemporânea

para a compreensão da realidade histórica, que baliza noções explicativas do

cenário brasileiro.

Thomas Paine (1776), em sua exaltação sobre os direitos do homem,

adverte que a sociedade é criada por necessidades e o Estado pela maldade

humana. Em sua concepção, o homem é naturalmente bom enquanto o Estado é

invenção humana, necessária para o emprego das leis civis impostas com a coação,

onde os indivíduos regulam suas próprias relações recíprocas, orientados por seus

interesses em prejuízo do direito público ou político. O Estado é entendido como

comando superior para o exercício do poder coativo (BOBBIO, 2009).

A expressão “sociedade civil”, em sua concepção clássica, pode ser

analisada sob diversas identificações. Quando se fala de “sociedade civil” na

acepção não estatal, apela-se para a doutrina jusnaturalista em sua defesa de que,

antes do Estado existem várias formas de associações, formadas por indivíduos

entre si para a satisfação dos seus mais diversos interesses. A tais associações, o

Estado se superpõe para regulá-las, sem vetar ou impedir seu desenvolvimento.

A identificação histórica da sociedade civil, em seu estágio “pré- estatal”,

adquire conotação axiologicamente positiva, passando a indicar o lugar onde se

manifestam todas as instâncias de modificação das relações de dominação e onde

se formam os grupos, que lutam pela emancipação do poder político e adquirem

forças qualificadas como “contra-poderes”. Por outra via, do ponto de vista do

Estado, a sociedade civil, em sua capacidade de renovação, pode constituir-se como

elemento desagregador do projeto político estatal.

A sociedade civil, em sua perspectiva “anti-estatal”, representa o ideal de

sociedade da dissolução do poder político estatal. Essa é a concepção de Gramsci,

desenvolvida em seus ideais característicos de todo o pensamento marxista sobre a

extinção do Estado, descrito como “reabsorção da sociedade política pela sociedade

civil” (BOBBIO, 2009, p.37).

25

Ao desenvolver as noções de sociedade civil em seus estágios: não

estatal, pré-estatal, e anti-estatal, Bobbio (2009) propõe uma aproximação ao

conceito de sociedade civil, definindo-a como “o lugar onde surgem e se

desenvolvem os conflitos econômicos, sociais, ideológicos e religiosos” (BOBBIO,

2009, p.34). Em tais situações, o Estado teria o dever de resolver os conflitos,

usando de mediação ou repressão.

Tal pensamento, trazido para a análise contemporânea, pode ser

compreendido na dinâmica onde os sujeitos do conflito incorporam a sociedade civil,

ou seja: as classes sociais, os grupos, os movimentos, as associações, as

organizações representativas e de classes, os grupos de interesse, as associações

de vários gêneros com finalidades sociais e indiretamente políticas, os movimentos

de defesa de direitos civis, dentre outros.

No debate contemporâneo sobre a teoria sistêmica da sociedade global, a

sociedade civil é compreendida como o movimento que gera demandas, exigindo

respostas do sistema político. Nessa lógica, o contraste entre ambos corresponderia

exatamente à capacidade da sociedade civil de formular suas demandas, em

correspondência direta à capacidade do Estado de respondê-las adequadamente, e

em tempo hábil.

A governabilidade das sociedades complexas não escapa das análises

clássicas, que ensejam a dicotomia entre Estado e sociedade civil. Bobbio (2009)

adverte que uma sociedade torna-se tanto mais ingovernável, quanto mais

aumentam as demandas da sociedade civil, e não amplia-se a capacidade estatal de

respostas a tais demandas, gerando-se a crise de ingovernabilidade e, por sua via, a

crise de legitimidade.

Pelo exposto, entende-se que quando uma grave crise ameaça a

sobrevivência de um sistema político, a solução dos conflitos só pode ser

encontrada na sociedade civil buscando-se novas áreas de consenso.

A expressão “sociedade civil” guarda, em si, a influência da literatura

marxista no debate político contemporâneo. Seu significado, em Marx (1845), é

descrito no prefácio de sua obra “Para a Crítica da Economia Política”, quando

26

declara sua convicção, de que as instituições jurídicas e políticas tinham suas raízes

nas relações materiais de existência, cujo conjunto é incorporado por Hegel sob o

termo “sociedade civil”.

Marx (1845) faz da sociedade civil o lugar das relações econômicas e, a

partir desta compreensão, volta seu olhar sobre o homem, independente, unido a

outro homem apenas pelo vínculo do interesse privado e da necessidade natural

inconsciente.

Enquanto em Marx, o momento da sociedade civil coincide com a base

material, para Gramsci o momento da sociedade civil é superestrutural. Em Marx, a

sociedade civil corresponde a um conjunto de relações econômicas constitutivas da

base material. Para Gramsci, a sociedade civil é a esfera na qual agem os aparatos

ideológicos, que buscam exercer a hegemonia e, através da hegemonia, obter o

consenso (BOBBIO, 2009).

Uma leitura sobre o conceito de sociedade civil encontra fundamentos

também em Rousseau (1754), em sua obra “Discurso sobre a Origem e os

Fundamentos das Desigualdades entre os Homens”. Nela, o significado de

sociedade civil, como sociedade civilizada, não exclui que esta seja também, mesmo

que de forma embrionária, uma sociedade política diferente do estado de natureza,

embora na forma corrupta do domínio dos fortes sobre os fracos, dos ricos sobre os

pobres, dos espertos sobre os ingênuos. O pensamento de Rousseau (1754)

converge para uma forma de sociedade política, da qual o homem deve sair para

instituir a República fundada sobre o contrato social, isto é, sobre o acordo paritário

de cada um com todos os demais.

Como se pode observar, na construção histórica clássica o conceito de

sociedade civil tem vínculos com uma variedade de significados. No debate

contemporâneo, o vínculo entre Estado e sociedade civil permanece. A ideia de que

a sociedade civil é uma contradição do Estado se insere na prática cotidiana.

Vale lembrar que, em Maquiavel, o Estado não se confunde com a

sociedade civil. Quando este autor refere-se ao Estado, ressalta o poder que este

27

exerce sobre os habitantes de determinado território e das estratégias que alguns

homens se utilizam para adquiri-lo ou conservá-lo.

Por outra via, as reflexões seculares em torno do Estado vão convergir

para o resgate do pensamento de Aristóteles, como primeira forma embrionária da

“pólis” e início da concepção política. No Leviatã, de Hobbes (1651), em seu capítulo

sobre as sociedades parciais, é apresentada uma exemplificação correspondente a

uma teoria do Estado.

A teoria política de Hegel, apresentada nos Princípios de Filosofia do

Direito (1821), entende que o Estado se insere no tratado sobre as corporações,

típicas sociedades parciais e com fins particulares no sentido tradicional.

No percurso da história e da construção das ideias, aos poucos a

sociedade, nas suas várias articulações, se insere no contexto do Estado. Mesmo

que este seja considerado como um aparato coativo, nele, um setor da sociedade

exerce o poder, tanto que hoje, nas concepções mais atuais da Ciência Política, o

Estado é compreendido como um subsistema, com respeito ao sistema político e

social.

A contraposição entre governantes e governados, na tradição de

Maquiavel, tem como temas centrais a arte de bem governar, as virtudes,

habilidades ou capacidades que se exigem de um bom governante, as várias formas

de governo, as formas de tirania, dentre outros paradigmas.

O que comporta nas discussões contemporâneas, das relações entre

Estado e sociedade civil, é justamente a condição de liberdade e autonomia dos

cidadãos. As discussões presentes já não se limitam, por exemplo, ao poder do

Estado, mas avançam para compreender o direito do cidadão em se contrapor às

leis injustas. O mérito do Estado é avaliado na medida em que garante direitos, o

que se fundamenta nas “Declarações Internacionais dos Direitos Humanos”, onde

solenemente se anuncia que o governo é para o indivíduo e não o contrário. A partir

de então, as reflexões sobre as relações entre o Estado e a sociedade passam a

adquirir sentidos e valores renovados.

28

O conceito de Estado se impôs, através de “O Príncipe” de Maquiavel

(1513), como organização de um grupo de indivíduos sobre um território, em virtude

de um poder de comando.

O conceito de sociedade civil não é menos ambíguo que o conceito de

Estado. Na verdade, uma leitura sobre as mais diferentes concepções clássicas,

modernas e contemporâneas, que articulam esses dois conceitos, deixam pistas

para a compreensão de que ambos se deslocam, a depender do contexto histórico

em que foram pensados.

Sem esgotar as diferentes concepções sobre as bases que delineiam

reflexões, sobre as relações entre Estado e sociedade civil, vale aqui considerar o

entendimento sobre a legitimidade, na medida em que se consagra como pré-

requisito para a obediência, que só é devida ao comando do poder legítimo. É

justamente sob a concepção de legitimidade, que os movimentos de resistência se

assentam ou se levantam na realidade contemporânea, assumindo o direito de

apoiar ou reprovar determinadas posturas, manifestando-se contra injustiças, na

busca de formas de sociedades mais justas.

Sob o viés das teorias positivistas, abre-se o caminho para a tese de que

apenas o poder efetivo é legítimo. Nessa perspectiva, uma autoridade de fato

constituída é o governo legítimo. “O ordenamento jurídico e a comunidade

constituída por tal ordenamento, é um Estado no sentido do Direito Internacional, na

medida em que este ordenamento é, em seu conjunto, eficaz.” (BOBBIO, 2009, p.

92). Nessa perspectiva, um ordenamento permanece legítimo, até que a ineficácia

avance ao ponto de tornar provável ou previsível a eficácia de um ordenamento

alternativo.

O debate de Luhmann (1972), sobre o poder legítimo do Estado, concorre

para a compreensão de que tal legitimidade é efeito da aplicação de certos

procedimentos instituídos, para produzir decisões vinculatórias, a exemplo das

eleições políticas, onde os próprios sujeitos participam, embora conforme regras

estabelecidas.

29

Sob o enfoque do pensamento jurídico, o Estado é definido a partir dos

elementos que o constituem: o povo, o território e a soberania. Nesse prisma, o

Estado é um ordenamento jurídico, destinado a exercer poder soberano em

determinado território, ao qual estão subordinados os sujeitos que nele habitam.

No cenário contemporâneo, os Estados existem numa verdadeira

sociedade de Estado, suas relações são balizadas internamente pelos vínculos entre

governantes e governados e, externamente, nos limites impostos pelas relações

firmadas entre os próprios Estados. Nessa perspectiva, quanto mais um Estado se

fortalece internamente, mais se torna emancipado, nas relações exteriores com

outros Estados.

Essa relação de forças internas do Estado, e seus reflexos no exterior, foi

observada por Montesquieu (1748) em seu elogio à república federativa, e a sua

capacidade de resistência às potências estrangeiras.

O processo de democratização do Estado tornou necessária a agregação

das demandas provenientes da sociedade civil. Vale lembrar, que muitos são os

elementos necessários para distinguir formas diferenciadas de Estado,

especialmente no que se refere às relações entre a organização política e a

sociedade, ou às diversas finalidades que o poder político busca, em diferentes

épocas históricas, e nas mais diferentes sociedades. Aqui interessa destacar a

forma do Estado Representativo, por ser este o modelo contemporâneo do Estado

Brasileiro. Tal Estado se afirma como resultado de um compromisso de seus

governantes com o poder de resistência de um povo (BOBBIO, 2009).

O desenvolvimento do Estado Representativo se processa

concomitantemente ao alargamento dos direitos políticos, e pelo reconhecimento do

sufrágio universal. Para tanto, são formados os partidos políticos organizados. Tal

sistema representativo divide o poder do Estado entre partidos e, nele, os sujeitos

não são mais indivíduos singulares, e sim grupos organizados. O voto se estabelece

para cumprir um princípio constitucional, segundo o qual, no Estado Representativo

os sujeitos politicamente relevantes são os indivíduos singulares e não os grupos.

30

Mas o voto desses indivíduos passa a ter valor puramente formal, porque apenas

ratifica decisões tomadas em outras instâncias.

O Estado Representativo, tal como se veio estruturando ao longo dos

últimos séculos, constitui-se no modelo ideal em diferentes interpretações. Interessa,

no contexto deste estudo, compreender o Estado Representativo no sistema

capitalista, tal como verifica-se no caso brasileiro, cuja sociedade acomoda-se à

democratização das estruturas de poder sem, no entanto, deixar de evoluir em suas

forças antagônicas, mesmo diante das crises de governabilidade, ou crise do Estado

Democrático, que não consegue corresponder às demandas da sociedade. Fala-se

também, da crise do Estado Capitalista, que já não consegue dominar o poder dos

grandes grupos de interesses entre si. Enfim, o debate contemporâneo sobre a crise

do Estado retoma a ideia da necessidade de se pensar em um novo “contrato

social”, para dar vida a uma nova concepção de Estado.

Afinal, é possível questionar se no debate contemporâneo ainda seria

pertinente discutir a relação entre o Estado e a sociedade civil, quando se observa,

por exemplo, todo o aparato legal que dá origem ao funcionamento dos conselhos

de políticas públicas no Brasil, como resultante do pacto democrático, contido na

Constituição Federal de 1988. Esta questão é atualizada nos próprios contornos em

que a representação do Estado se alinha, nas divergências da composição

representativa da sociedade civil organizada.

A dinâmica das relações entre Estado e sociedade civil, organizada tal

como se manifesta cotidianamente nesses conselhos, revela que este debate está

longe de ser concluído, exatamente por coexistir num contexto de profundas

transformações, contradições e conflitos que exige correlações de forças, onde as

figuras do cidadão protegido pelo Estado se confunde, muitas vezes, com a do

mesmo cidadão, que se insere no corpo administrativo do Estado, ou mesmo

daquele que se insere no entorno da participação ativa em associações,

organizações distintas da sociedade civil ou outras entidades e passa a postular sua

representatividade, seja por interesse individual, seja por envolvimento com causas

coletivas, não existindo neste cenário, uma noção explicativa única e absoluta,

31

capaz de dar conta de tamanha complexidade. Para melhor compreender tal

dinâmica, este estudo passa a discutir aspectos da participação social no Brasil

contemporâneo.

1.2 A redemocratização e a participação social no Brasil

Na transição do Estado Escravista ao Estado Burguês moderno, o Brasil

passou a considerar que todo indivíduo, nascido no território nacional, era declarado

cidadão. Seria, então, previsível que se implantassem mecanismos de limitação da

participação política efetiva, isto porque qualquer extensão da participação política

provocaria, não apenas incômodos operacionais ou cisões políticas no seio da

classe dominante, mas também o perigo da subversão, por via institucional da

ordem vigente (SAES, 2001).

Carvalho (2002) lembra que na década de 1870, a participação eleitoral

chegara a 11% da população total, o que equivalia a 13% da população livre, para

depois descer a 2,2%, em plena fase inicial do período republicano brasileiro (1894).

Da análise destes dados, mencionado autor conclui que, da passagem do Império à

República, o Brasil teria sofrido uma considerável regressão no plano da cidadania

política.

O aspecto central do processo político brasileiro, no período do Império,

era a exclusão eleitoral da classe explorada fundamental, o que significava a

ilegitimidade da incorporação dos seus interesses ao processo decisório imperial,

justamente dessa classe da comunidade política, a qual se deveria estender a

participação, porém não era isto que acontecia.

A cidadania política brasileira, em termos legais, foi formulada logo após a

Revolução Política Burguesa de 1888 – 1891, por uma declaração constitucional de

direitos políticos, contendo aspectos avançados (sufrágio masculino adulto, sem

restrições censitárias) e aspectos restritivos (negação do voto do analfabeto e não

proclamação oficial da legitimidade do voto feminino). A esse respeito, Saes (2001)

considera que essa combinação exprime o projeto de cidadania política, defendido

32

pelo segmento democrático-liberal brasileiro (representado pela classe média

abolicionista e republicana), cuja ação política visava garantir a eventual tentativa de

imposição de um sistema eleitoral censitário ao Estado burguês nascente e, por

outro lado, refletia a luta pela hegemonia política da classe dominante, que mantinha

a classe média revolucionária controlada.

Destaque-se que, a entrada do café brasileiro no mercado internacional

viabilizou um progresso na diferenciação interna do sistema de classes sociais no

país, fazendo emergir uma classe média economicamente separada das classes

dominantes e a consolidação de uma burguesia mercantil, destacada da classe

fundiária. E mais, o movimento da economia causou o movimento do sistema de

classes sociais, onde se enraizaram novos projetos políticos para o Brasil, que

coexistiram em equilíbrio durante alguns anos, mas já se encontrando dissociados,

por ocasião das primeiras revoluções republicanas (SAES, 2001).

A conversão de todos os indivíduos, independente de sua condição

socioeconômica em verdadeiros cidadãos, integrava o projeto central dos

republicanos radicais. Este projeto foi derrotado pelas chamadas “oligarquias”

(compostas pelos proprietários fundiários e burguesia mercantil-exportadora), e

mesmo a ditadura militar, implantada por Floriano Peixoto, não contribuiu na

execução do ideal republicano, persistindo a constante manipulação eleitoral das

massas, que foi se reproduzindo na história brasileira.

O período de 1930 a 1964 foi marcado pela crise, destruição e

reestruturação da cidadania política no Brasil. A revolução de 1930 levou à perda,

por parte do capital mercantil exportador, do controle sobre o aparelho do Estado

central, convergindo para uma crise da hegemonia. Tal situação não promoveu

reviravoltas constantes, mas representou o fim do atendimento prioritário aos

interesses do comércio de exportação e implicou no estabelecimento industrial

brasileiro. A burguesia industrial se revestiu, neste período de 1930 a 1964, das

características de uma burguesia interna, e o empresariado tendeu a oscilar

politicamente, obrigando a burocracia estatal a assumir uma política com vistas a

33

obter apoio político das classes trabalhadoras, criando uma legislação fabril e o

reconhecimento dos direitos sociais.

Mesmo com a concessão de direitos, por parte da burguesia industrial

brasileira e do Estado, o processo de conquista foi, em parte, frustrado, pois a

criação de um sindicalismo rigidamente controlado pelo Estado e, por isso mesmo,

sem força para atuar na construção de uma experiência partidária de massa de

caráter independente, reduziu amplamente as possibilidades de atuação dos

trabalhadores.

Segundo Saes (2001), a cidadania política passou, no período de 1930 a

1964, por três estágios: o da crise, o da destruição e o da reestruturação da

cidadania política. O primeiro estágio começou com a revolução de 1930 e, se

encerrou, com a instauração do Estado Novo (1937). Logo após a vitória do

movimento político-militar de 1930, os segmentos da classe média urbana, que

haviam se envolvido no processo revolucionário, dividiram-se entre duas grandes

propostas de (re)construção da cidadania política no país: a concretização da

cidadania política “liberal-burguesa” autêntica e a instauração de um modelo

alternativo de cidadania política, a cidadania orgânica. Essa divergência se resolveu

de modo conciliado no Código Eleitoral de 1932 e na Constituição Federal de 1934,

mediante a adoção de um sistema misto de representação política (SAES, 2001).

Este sistema misto de representação política permitia que na Câmara dos

Deputados coexistissem representantes, eleitos pelo sufrágio universal, e

representantes de classes e profissionais, indicados por sindicatos ou associações,

o que é considerado uma evolução da cidadania política, graças à instauração da

justiça eleitoral, do voto secreto, do voto feminino, fatores intimamente relacionados

com a margem da liberdade e, a força política, conquistada pela classe média na

fase inicial da crise após a revolução de 1930. Tal circunstância concorreu para que,

nem as antigas classes dominantes tivessem força política suficiente, para preservar

integralmente a antiga democracia oligárquica (devendo submeter-se taticamente ao

reformismo liberal da classe média), nem a burguesia industrial tivesse força política

34

suficiente para se opor à representação da classe defendida pelo movimento

tenentista, por meio de órgãos políticos (SAES, 2001).

Foi no início do século XX que se tornaram comuns os movimentos pela

conquista do poder político. O fim da Segunda Grande Guerra Mundial, em 1945,

alterou o cenário internacional, com a divisão do mundo em dois blocos político-

militares, liderados pelas potências emergentes: Estados Unidos (EUA) e União

Soviética (URSS). O esforço de ampliação da influência dos EUA implicou no

estímulo à penetração da cultura deste povo, reforçado pela prosperidade

econômica que difundia no mundo ocidental, o espírito otimista e esperançoso de

um novo modo de vida, onde o consumo de bens alterava o comportamento de parte

da população que habitava os grandes centros urbanos. Modificava-se a paisagem,

formas livres e funcionais ocupavam o lugar de decorações adornadas, materiais

plásticos e fibrosos tornavam-se mais práticos e acessíveis e, a chamada sociedade

urbano-industrial, se consolidava, sustentada por uma política desenvolvimentista,

que se aprofundaria ao longo da década.

No Brasil, a queda do Estado Novo, ocorrida nos fins de 1945, promoveu

a restauração do regime democrático e da cidadania política, com a integração das

classes trabalhadoras urbanas à política social e o aumento da participação política,

através da ampliação do eleitorado, reduzindo-se, por essa via, a importância do

controle dos coronéis sobre o voto das populações rurais. De acordo com Saes

(2001), a presença da justiça eleitoral impôs limitações à influência dos chefes

locais, na condução do processo eleitoral nessas áreas e, de modo correlato,

aumentou a importância do clientelismo urbano.

A consolidação da sociedade de massas no Brasil trouxe a expansão dos

meios de comunicação e da publicidade. Produtos tornavam-se populares,

fotonovelas, cinema e teatro. O otimismo e a esperança implicavam em alterações

profundas no modo de vida da população em todo o mundo, permitindo o consumo e

ampliando o “desejo de transformar a realidade de um país subdesenvolvido, de

retirá-lo do atraso, de construir uma nação realmente independente” (KORNIS, 2012,

p.01).

35

O entusiasmo pela construção do novo implicou no surgimento de vários

movimentos nos campos artísticos e culturais, que valorizavam o elemento nacional

e popular, reforçando o espírito nacionalista da época, com a crença nas

possibilidades de desenvolvimento do país. Imerso no debate em torno da

necessidade de modernização econômica, política, social e cultural, o Brasil dos

anos de 1950 buscava alternativas que permitissem a superação do passado

colonial, marcado pela exploração e estagnação, vislumbrando a necessidade de

afirmação de sua autonomia, pelo processo de industrialização e fortalecimento

econômico.

Aos intelectuais brasileiros do período coube a missão de sistematizar um

pensamento nacional desenvolvimentista, e, um projeto educacional, que deveria

guiar e fundamentar a ação estatal. Em meados de 1950, os movimentos que

buscavam a modernização do país foram adquirindo visibilidade, através da

realização de manifestações em espaços públicos impulsionados, principalmente,

pelas comunidades eclesiais de base.

No fim da década de 1950, o capitalismo estava integrado ao Brasil e,

neste contexto econômico, as forças políticas envolvidas no processo de

industrialização estavam diante do dilema de romper, ou não, com a propriedade

fundiária e promover uma reforma agrária distributiva, capaz de engendrar um novo

mercado de consumo. Foi neste contexto histórico, marcado pelo fim da transição do

capitalismo no Brasil, e pelo surgimento do interesse do capital estrangeiro em se

internacionalizar nas economias periféricas, que se situou o regime militar, que ao

longo de vinte anos promoveria, de modo persistente, a concentração e a

centralização do capital industrial e bancário e a supressão da cidadania política. “O

grupo militar tendo assumido o controle do aparelho do Estado, buscou, não a

supressão absoluta, mas o confinamento da cidadania política” (SAES, 2001, p. 20).

A forte repressão policial marcou a década de 1960 e as reivindicações

por educação, moradia e melhores condições de vida. Eram os anos de guerra fria

entre os aliados dos Estados Unidos e da União Soviética, os países de terceiro

mundo viviam acelerados processos de urbanização e modernização da sociedade.

36

No Brasil, partidos e movimentos de esquerda buscavam a valorização da ação,

como forma de mudança da sociedade e os ideais de Marx e Che Guevara

inspiravam o modelo de “homem novo”, idealizado no autêntico homem do povo,

com raízes rurais, supostamente não contaminado pela modernidade urbana

capitalista, o que permitiria uma alternativa de modernização que não implicasse no

fetichismo da mercadoria, no consumo desenfreado e na desumanização.

A questão da identidade nacional era discutida e buscava-se a ruptura

com o subdesenvolvimento, com base na intervenção do Estado. Em escala

mundial, o período ficou conhecido pelos traços do romantismo revolucionário, que

difundia a liberação sexual aliada ao desejo de renovação, a fusão entre a vida

pública e privada, ação em detrimento da teoria, ânsia de viver o momento, padrões

irregulares de trabalho e várias circunstâncias, que permitiram e incitaram inúmeras

revoluções de cunho libertário nacional, marcadas pelo ideário socialista. De acordo

com Ridenti: O êxito militar dessas revoluções é essencial para entender as lutas políticas e o imaginário contestador nos anos 1960: havia exemplos vivos de povos subdesenvolvidos que se rebelavam contra as potências mundiais, construindo pela ação as circunstâncias históricas das quais deveria brotar o homem novo. Especialmente a vitória da revolução cubana, no quintal dos Estados Unidos, era uma esperança para os revolucionários na América Latina (RIDENTI, 2008, p. 03).

Os movimentos revolucionários do fim da década de 1960 colocavam em

xeque o modelo soviético de socialismo, considerado por muitos como acomodado à

ordem internacional, e, incapaz de levar às transformações necessárias para se

chegar ao comunismo, colocaria em cena o “homem novo”. Ainda que inspirador de

partidos comunistas do mundo todo, o modelo soviético de socialismo só viria a ruir,

definitivamente, com a desagregação da União Soviética e a queda do Muro de

Berlim, em 1989. As lutas pela emancipação nacional e o distanciamento do modelo

soviético pareciam abrir alternativas libertadoras terceiro-mundistas para a

humanidade. Tais alternativas seriam posteriormente acusadas de mascarar os

conflitos de classe na sociedade brasileira, especialmente a partir dos anos de 1970,

quando a visão do terceiro-mundismo brasileiro passou a ser analisada como sendo

37

uma exaltação das lutas de camponeses e operários que se colocavam na cena

política. De acordo com Pécaut: O suposto delírio nacional-popular organizado em torno do Estado, não teria sido "apanágio de uma minoria ávida de transformar seu 'saber' em 'poder'; apoiava-se, num sentimento difundido em muitos setores sociais. O privilégio concedido à 'libertação nacional' não tinha, então, valor algum de álibi visando a evitar a luta de classes; muito simplesmente, o Brasil vivia a hora do advento do Terceiro Mundo" (PÉCAUT, 1990, p.180).

O desenvolvimento acelerado da mercantilização das sociedades fez com

que a década de 1960 ficasse conhecida como a era da comercialização, e a guerra

do Vietnã, promovida pelos Estados Unidos, mostrava a face monstruosa desta

sociedade, fazendo surgir movimentos de protesto, resistência e mobilização em

todo o planeta, especialmente no ano de 1968.

No Brasil, além dos fatores internacionais, foram principalmente os

aspectos da política nacional que marcaram as lutas de esquerda. O processo de

democratização política e social e a crescente mobilização popular, pelas chamadas

“reformas de base”, que deveriam permitir a distribuição equitativa da riqueza e o

acesso à cidadania, foi interrompido pelo golpe militar de 1964, paralisando as

crescentes reivindicações de classes, que buscavam participar ativamente da vida

política (RIDENTI, 2008).

A vitória dos golpistas, em abril de 1964, representou o fim do sonho

brasileiro revolucionário. A formação de correntes de opinião difusa, dentre o

seguimento de esquerda, expunha a necessidade urgente da constituição de uma

vanguarda realmente revolucionária, capaz de romper com o imobilismo e que

partisse para a luta armada contra a força bruta do governo. Em outubro de 1965,

por imposição do regime militar, a política brasileira passou a ser bipartidarista: de

um lado, a Aliança Renovadora Nacional, (ARENA) constituía-se como partido da

situação e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB) apresentava-se como

oposição construtiva, sendo calado pelos golpistas sempre que necessário.

Porém, foi fora do campo institucional, desmantelado pela repressão, que

surgiu uma série de grupos de guerrilheiros, cuja principal fonte de recrutamento

estava no único movimento de massas capaz de se rearticular nacionalmente nos

38

primeiros anos pós 1964 – o estudantil. Apesar de divergências sobre o caráter da

revolução brasileira (que para alguns seria nacional e democrática e para outros,

socialista) estes guerrilheiros lançavam-se em significativos protestos de rua,

defendendo que somente um governo popular, ou mesmo socialista, possibilitaria a

retomada do desenvolvimento.

De acordo com Ridenti: O caráter antidemocrático da ditadura civil-militar, iniciada com o movimento de 1964, agravou-se nos anos posteriores à edição do Ato Institucional nº 5 (AI-5), o "golpe dentro do golpe", em 13 de dezembro de 1968. Com ele, os setores militares mais direitistas - que haviam patrocinado uma série de atentados com autoria oculta, sobretudo em 1968 - lograram oficializar o terrorismo de Estado, que passaria a deixar de lado quaisquer pruridos liberais, até meados dos anos 1970. Agravava-se o caráter ditatorial do governo, que colocou em recesso o Congresso Nacional e as Assembleias Legislativas estaduais, passando a ter plenos poderes para: cassar mandatos eletivos, suspender direitos políticos dos cidadãos, demitir ou aposentar juízes e outros funcionários públicos, suspender o habeas corpus em crimes contra a segurança nacional, legislar por decreto, julgar crimes políticos em tribunais militares, dentre outras medidas autoritárias. Paralelamente, nos porões do regime, generalizava-se o uso da tortura, do assassinato e de outros desmandos. Tudo em nome da segurança nacional, indispensável para o desenvolvimento da economia, do posteriormente denominado milagre brasileiro (RIDENTI, 2008, p.136,137).

A vitória da ditadura sobre as esquerdas brasileiras, e os rumos dos

eventos políticos internacionais propiciaram o fim da capacidade imaginativa da

revolução social e, de modo paralelo, levaram a sociedade brasileira a uma

modernização conservadora, onde a “socialização da cultura frustrou-se antes da

realização da esperada revolução” (RIDENTI, 2008, p.138), garantindo a

continuidade do modelo vigente, onde o poder político seria lenta e gradualmente

transferido para a democracia, a ser executada pelas classes dominantes.

Nos anos de 1970, a luta pelo voto direto e pela abertura democrática,

promovida durante o Governo Geisel (1974-1978), evidenciava o esforço

modernizador que a ditadura esboçava desde a década passada. Surgiam as

grandes redes de TV, com programação em busca da integração e segurança do

território brasileiro. A sociedade brasileira foi adquirindo nova feição e adaptando-se

à nova ordem. De acordo com Antunes (1995), apesar do arrocho salarial

empregado no pós-1964, os anos de 1970 trouxeram uma expansão qualitativa do

39

emprego urbano e uma elevada diversificação da estrutura ocupacional,

aumentando consideravelmente os postos de trabalho mais qualificados e bem

remunerados e possibilitando a contenção de reformas sociais, “contudo, o Censo

Demográfico de 1980 revelaria notável piora nos níveis de distribuição de renda e

considerável aumento do emprego informal” (ANTUNES, 1995, p. 595).

O início dos anos de 1980 foi marcado no Brasil pelas manifestações

pelas “Diretas Já”, demonstrando que os movimentos sociais apresentavam

questões teóricas complexas, que alteravam a forma de sociabilidade e valores da

sociedade brasileira. A situação econômica no país apresentava-se bastante

complicada. Endividado e submetido à política fiscal norte americana, que obrigava

os países devedores a implantar políticas macroeconômicas de ajuste fiscal, corte

de gastos públicos e forçado pelo capital internacional, o Brasil estatizou a dívida

externa, minando as bases financeiras do Estado e reduzindo a capacidade de

investimentos financeiros. Antes da questão da extensão da cidadania, devido às

contradições do sistema capitalista, as lutas urbanas no Brasil foram se construindo

enquanto campo de investigação de diversos autores, e, pelo menos até a metade

dos anos de 1980, estes movimentos continuaram impulsionados, através da luta

pela redemocratização, visto que o governo Figueiredo mantinha alguns

instrumentos legais de repressão como por exemplo, a Lei de Segurança Nacional.

O movimento dos trabalhadores no início dos anos de 1980, encontrava-

se enfraquecido, grande parte em função da derrota na greve do ABC paulista,

instaurando uma situação de preservação de empregos. A nova política salarial viria

a quebrar a relação existente entre o sindicalismo emergente e sua base composta

de assalariados. À medida que as reivindicações de cunho econômico passam a ser

atendidas, tornam-se mais difíceis as mobilizações trabalhistas, pois ao indexar

salários, o Estado brasileiro conseguiu amenizar o impacto inflacionário e dissolver a

capacidade e disposição do movimento reivindicatório (ANTUNES, 1995).

Diante da situação política e econômica da década de 1980, e apesar do

discurso governamental de Figueiredo, que prometia a abertura lenta, gradual e

segura, a repressão aos movimentos de trabalhadores nestes anos foi rigorosa e

40

não se alterou muito até 1985, quando uma parcela significativa dos intelectuais de

oposição comprometeu-se com a Nova República, iniciando um processo político

que evoluiu até os dias atuais.

De acordo com Kowarick (2007, p. 25) “Os movimentos urbanos

constituem tema que só recentemente ganhou maior envergadura de pesquisa, sem

que tenha deixado de ser extremamente polêmico do ponto de vista interpretativo”.

Por conter questões extremamente complexas, o caráter das lutas desenvolvidas

pelos movimentos sociais, tem seus significados discutidos, e questiona-se: até que

ponto, um sistema de dominação e apropriação de riquezas, altamente excludente,

pode ser realmente por eles combatido? Uma característica básica das lutas sociais e políticas levadas adiante pelas classes populares urbanas estaria na sua oposição radical ao Estado. Tal colocação, que seria reintroduzida e contestada por estudos posteriores, já havia sido, durante a década de 70, formulada por autores estrangeiros, entre os quais Manoel Castells, que teve e tem enorme influência na produção latino-americana, bem como por autores brasileiros que pensaram os movimentos urbanos a partir de um quadro mais global de transformação da nossa sociedade (KOWARICK, 2007, p. 22).

Em 1978 teve início o lento processo de redemocratização brasileiro. A

eleição do General Figueiredo para Presidente da República se desenrolou num

clima de crise institucional e de enorme ilegitimidade política. A escolha, aprovada

pelo parlamento de forma arbitrária, acirrou os antagonismos dentro do círculo

dominante, fazendo eclodir, neste mesmo ano, a primeira grande greve, após 10

anos de ferrenha repressão sobre a classe operária. Foi o início de uma série de

greves que fortaleceram os movimentos urbanos, reivindicando melhorias diversas,

expressando uma contestação à ordem instituída. O papel dos movimentos urbanos,

no processo de redemocratização do país, suscita as mais variadas interpretações

acerca do peso das camadas populares para a transformação social e política.

Uma breve análise sobre os ciclos da cidadania política brasileira sugere

uma evolução na participação política, que configura um salto qualitativo na

consciência popular traduzida, de acordo com Bresser Pereira (1996), no

deslocamento de um universo ideológico feudal para um universo ideológico

burguês, ou seja, passou-se de um comportamento político de constrangimento,

41

pelo dever de lealdade pessoal, a um comportamento político livre. Nesse contexto,

a participação era entendida como vantagem a ser utilizada em função dos

interesses pessoais.

Sem desprezar o significado das reivindicações e lutas urbanas, alguns

estudiosos consideram que os alicerces do sistema autoritário brasileiro se

autodestruiu por problemas internos e pelos desacertos que ocorreram no interior

dos grupos dominantes. Nas palavras de Souza (1991, p. 39): "embora concorde

com outras análises que a abertura foi em grande parte um processo promovido

pelas elites, também concordo que os movimentos sociais tiveram um impacto na

situação política". Esse pensamento é compartilhado por Matos:É difícil sustentar a hipótese segundo a qual as mobilizações populares tenham levado a uma democratização do Estado autoritário, posto que suas finalidades sociais e o controle de sua aplicação escapam totalmente ao âmbito de ação dos movimentos sociais (MATOS, 1998, p. 236).

Estes autores não negam a relevância dos movimentos sociais enquanto

expressão de uma identidade, que se desenvolve no seio da sociedade brasileira, e

levantam questões sobre os impactos das reivindicações e das ações, uma vez que

estas ocorrem de modo fragmentado, não atingindo o âmago do poder do Estado.

Os estudos de Souza (1991) e Matos (1998) sugerem que os movimentos

sociais apresentam um alcance político limitado, na medida em que, nas suas

esferas específicas de reivindicação, não chegam a influenciar o aparato do Estado,

mostrando-se, portanto, incapazes de construir um espaço de debates e de ação.

A questão da participação política, no processo de abertura democrática

no Brasil, é um tema que está longe do consenso, revela interpretações teóricas

diversas e diferentes posições políticas quanto ao alcance e à forma como se deu a

ação das camadas populares e sua influência. Até pouco tempo, tinha-se a

convicção de que a participação, efetivada pela via dos mecanismos de consulta

popular, negociação e formulação de consensos poderia interferir no crescimento

econômico, dificultando a tomada de decisões e burocratizando ainda mais o

Estado. De modo gradativo, este pensamento foi sendo transformado e os

processos participativos foram convertendo-se em condições estratégicas para a

42

viabilidade do desenvolvimento sustentável e a formulação de políticas,

especialmente na área social.

Em 05 de outubro de 1988, reunidos na Assembleia Nacional

Constituinte, foi promulgada a Constituição Cidadã. Resultado de um movimento

histórico de mobilização da sociedade brasileira, instituiu o arcabouço jurídico que

permitiu a consolidação do regime democrático no Brasil, estabelecendo um

conjunto de direitos sociais, em resposta a um longo e conflituoso processo de

mobilizações sociais e políticas, numa trajetória que buscou ampliar o envolvimento

dos atores sociais nos processos decisórios. Inaugura-se uma nova forma de

expressão de interesses e de representação de demandas e atores junto ao Estado,

com a implementação de políticas sociais, em resposta às demandas em torno da

descentralização e da democratização do Estado Brasileiro.

A participação social passou a representar um elemento estruturante do

sistema brasileiro, e sua análise oferece elementos fundamentais para o debate

atual sobre políticas públicas, seja no que se refere à institucionalização e execução,

seja quanto ao enfrentamento das questões sociais.

A participação política pressupõe uma relação de poder que não se pode

e nem se deve limitar ao embate Estado x sociedade civil, mas sim entre os sujeitos

do próprio processo. Esta participação, se não for qualificada e orientada para a

decisão, perde o significado.

Sem esgotar todas as análises sobre os confrontos entre o Estado e a

sociedade civil, este estudo converge para a abordagem mais específica, tomada

como objeto desta pesquisa: a perspectiva da redemocratização brasileira pós golpe

de 1964, como destaque para reflexões acerca da participação e do controle social,

enquanto vias de acesso ao fortalecimento democrático.

1.3 Realidade democrática no Brasil contemporâneo

A recente democratização brasileira, a partir dos anos de 1980, e sua

realidade histórica, considerada a partir de seus marcos legais é o tema que se

43

articula, com a produção deste texto. Discutem-se as repercussões do movimento

democrático, incentivado após a condução do Estado para a formação dos

conselhos de políticas públicas e, mais especificamente, na consolidação do

Conselho de Assistência Social e em seu esteio, todo o movimento convocatório de

participação popular nessas instâncias, onde a representação da sociedade civil

organizada é investida do poder deliberativo de controle social.

A travessia que os brasileiros vivenciam, desde então, é o cenário dos

desafios de construção democrática, onde o apelo político ao desenvolvimento sócio

econômico da nação em padrões de sustentabilidade, o enfrentamento à pobreza,

desigualdades e injustiças, são temas permanentes nos sucessivos discursos.

Tais reflexões exigem considerar a moderna teoria da democracia, fonte

que norteia uma análise crítica da realidade contemporânea, que se delineia no

quadro brasileiro.

Marx (1859) defendia a ideia de que a infraestrutura seria a base

determinante da superestrutura das sociedades, mas a história de colonização

brasileira parece contrariar este pensamento, invertendo a lógica marxista, cuja

formação do Estado, implantado e construído a partir de um modelo importado de

Portugal, configurou-se como entidade anterior à própria formação da sociedade

local, onde tribos indígenas foram sendo dizimadas ou aculturadas.

O Estado no Brasil Colônia cria a sociedade, seja por meio da concessão

de terras, pela via das “Capitanias Hereditárias”, seja pela criação de uma

“aristocracia rural”, ou ainda pela concessão de créditos para empreendimentos

comerciais, originários da formação de burguesias locais, como também por meio da

criação de inúmeros empregos públicos, ocupados por uma classe média de origem

estatal (ROUQUIÉ, 1984).

As primeiras relações entre Estado e sociedade no Brasil apontam para a

formação de um Estado de estrutura dominante, em relação à sociedade que

articula em seu entorno, os demais subsistemas do sistema social nacional

(FERRAZ, 1993). Tudo começa e termina em função dos determinantes do Estado,

que organiza poderes legais, sociais e econômicos. Por outra via, reproduz um

44

sistema cultural e social fundado nos costumes, valores e ideias que se organizam e

são disseminadas em função do prestígio atribuído pelo Estado.

A configuração estatal do Brasil Colônia vai tomando forma e organiza,

em torno de si, a sociedade desigual, não só por viabilizar a formação de grupos

privilegiados, como por ignorar ou exterminar os grupos indígenas primitivos, e

explorar os descendentes de escravos africanos, gerando-se a partir de então, todo

um cenário de injustiças e desigualdades, configurando uma sociedade

desarticulada e desorganizada, onde a dominação do patrimonialismo é alicerçada.

Por esses caminhos, o Estado brasileiro ao longo da história local de todo

o século XX, protagonizou mudanças estruturais sob o imobilismo de uma sociedade

dependente que, em raros momentos episódicos, rebelou-se nas figuras

emblemáticas de seus patriotas, quase sempre na condição de heróis derrotados.

Os estudos de Araújo (2000) sobre as características do Estado brasileiro,

no período compreendido entre 1920 até 1980, destacam seu caráter

desenvolvimentista, conservador, centralizador e autoritário. Observa que a tradição

de assumir muito mais o objetivo do crescimento econômico, em detrimento da

proteção social ao conjunto da sociedade, é simbólico do Estado “fazedor” e não

“regulador”. Na opinião deste autor, o Estado regulador exige diálogo entre governo

e sociedade civil e o Brasil não tem esta tradição.

O Estado “regulador”, embora mais tímido que o Estado “realizador”,

também se revelava, na era Vargas, para intervir e regular a relação trabalho x

capital. Na industrialização, o operariado vai surgindo e Vargas se mostra presente

com a legislação trabalhista e a determinação do salário mínimo.

O Estado centralizador e autoritário é emblemático da história brasileira,

na longa ditadura do período Vargas, e depois acomoda-se, ao longo do Golpe

Militar de 1964, por mais de vinte anos de ditadura, deixando no contexto da vida

social uma tradição de apatia, frente ao domínio dos determinantes governamentais.

A dominação tradicional que a bibliografia define como “patrimonialista”

no caso brasileiro é questionada por Sorj (2000). Para este autor, se o Estado

Brasileiro fosse somente patrimonialista, o país estaria condenado ao atraso, o que

45

as altas taxas de crescimento do século XX não confirmam. Tal situação converge

para que Sorj (2000) faça uso do termo “neopatrimonialismo”, para identificar a

realidade brasileira, uma vez que o termo originalmente utilizado por Weber estaria

associado às formas típicas de dominação tradicional, sendo mais apropriado ao

caso brasileiro identificá-lo como “neopatrimonialista”, tal como empregado por

Schawartznian (1988), porque captura melhor a dimensão do processo de

modernização do Estado, que combinou a manutenção de estruturas tradicionais

com estruturas modernas, resultando na criação de subsistemas políticos, no qual

convivem o moderno e o tradicional.

As formações políticas de herança ibérica configuraram, no Brasil, um

modelo de “colonização da exploração”, tal como sugere Ribeiro (2005). Nesse

modelo, um conjunto de riquezas produzidas no País escoava para fora. No caso

brasileiro, de relacionamento entre Estado e sociedade civil, observa-se um

amálgama de cidadania e consequentemente de democracia, que subverteu a lógica

proposta por Marshall (2008), em que os direitos civis ampliariam as liberdades

individuais, dando vazão aos direitos políticos de participação na esfera política, e

estes, à ampliação dos direitos sociais, como aconteceu no exemplo inglês. Ao

contrário, o Brasil vivenciou uma inversão dessa trilogia, tal como observa Carvalho

(2003): os direitos sociais vieram primeiro, depois os políticos e, por fim, os civis.

Tal inversão deixou, para o Brasil, uma tradição em que os direitos sociais

são compreendidos como regalias concedidas pelo Estado, gerando-se uma espécie

de “estatania” que fortalece o Poder Executivo, em detrimento de outras instituições

como o Parlamento, e, sobretudo, desarticulando o poder de pressão da sociedade

sobre o Estado e minando as possibilidades de emancipação política do povo em

geral.

A esses fatores soma-se a herança imperial, que impôs ao sistema social

brasileiro as características centralizadoras do poder nas mãos do governo central,

que não foram de todo eliminadas do imaginário popular e da cultura política local,

que em seu pacto federalista contrasta com o modelo norte americano de

federalismo, onde predominam as colônias de povoamento, nas quais as riquezas

46

produzidas permaneciam e eram distribuídas entre seus habitantes, diferente do que

se verificou no Brasil.

Historicamente, desigualdade e pobreza estiveram presentes na realidade

brasileira, em contraste com o crescimento econômico. De modo geral, o

crescimento econômico tem sido anunciado como estratégia para o enfrentamento à

pobreza, em razão da crença de que o aumento da produtividade faz crescer o

emprego, e por consequência, os salários, prevalecendo essa tendência em

detrimento da adoção de políticas, com capacidade para distribuição de renda mais

equitativa.

Esse perfil de desigualdades traduz a maneira como o Estado brasileiro

tradicionalmente conduziu suas políticas públicas de desenvolvimento econômico,

em detrimento da perspectiva social. Ao promover seu projeto de industrialização,

financiou, protegeu, criou alíquotas e produziu insumos básicos. A esse respeito,

como destaca Araújo (2000), a partir dos anos de 1990 o projeto neoliberal orientou

as ações do Estado Brasileiro e as estatais foram sendo privatizadas, com taxa de

retorno lento.

O projeto neoliberal brasileiro, em suas particularidades, investiu em

grandes ações, todas onerosas, para viabilizar que o setor produtivo privado se

tornasse mais rentável. Os anos de 1990 anunciavam grandes mudanças na

economia mundial, como também as crises do mundo socialista e capitalista. Mesmo

os grandes países apresentavam taxas de crescimento reduzidas e taxas de

investimentos modestas.

Na América Latina, em geral, e no Brasil em especial, experimenta-se em

meio às grandes mudanças mundiais, o regime político democrático que oficialmente

se estabelece a partir da Constituição Federal de 1988.

Para Huntigton (1994), no mundo contemporâneo as possibilidades da

democracia emergem como ondas sucessivas e intercaladas por ondas reversas.

Esse cientista político identifica que a terceira onda democratizadora teve seu início

com a Revolução dos Cravos, em abril de 1974, em Portugal, espalhando-se pelo

continente europeu e latino-americano. Para a comunidade acadêmica tornou-se

47

necessário pensar as possibilidades da democracia, em diferentes realidades

históricas e, em especial, no Brasil.

Convém destacar que não existe uma uniformidade entre cientistas

sociais e políticos, sobre a dinâmica em que se anuncia a democracia brasileira,

coexistindo diferentes enfoques em torno da questão.

As teorias da modernização, desenvolvidas após a segunda grande

guerra mundial, entendiam que este processo iria culminar com a democracia. O

crescimento econômico, a urbanização, a melhoria dos níveis educacionais, bem

como da saúde das populações, aliadas a uma visão de futuro, tenderiam a edificar

sociedades democráticas. Acreditavam que as estruturas condicionariam os

processos de mudanças políticas e sociais (NUN, 1994).

Entretanto, as teorias da modernização que entusiasmaram a

intelectualidade latino-americana, não lograram êxito. No caso brasileiro, entre os

anos de 1950 e 1960, o processo de modernização, que prometia paz e

prosperidade, culminou com o regime autoritário de 1964 (MOISÉS, 1995).

Nessa linha de raciocínio, também evidenciou-se que o fraco

desempenho da economia brasileira, na década de 1980, não provocou um recuo da

democracia, que no período evoluía em suas concepções, contradizendo a teoria da

modernização.

O enfoque da relevância dos atores políticos vem se contrapor a

explicação das possibilidades democráticas, pela via da modernização. Mesmo

considerando as condições econômicas da transição à democracia que estavam na

base do processo histórico brasileiro, essa vertente considerou que a passagem do

autoritarismo para a democracia dependeria, basicamente, da capacidade de as

lideranças políticas mais expressivas do país aproveitarem ao máximo as

oportunidades do contexto político da época para decidirem no sentido de levarem o

Brasil à democracia (MOISÉS, 1995).

Com base em tais argumentos, a retomada da democracia no Brasil não

seria linear, apresentando-se num suceder de fatos e acontecimentos previsíveis,

pela dimensão econômica. Ao contrário, no Brasil as negociações políticas

48

convergiam para o caminho institucional, isto é, o calendário eleitoral parlamentar

como via gradativa para a redemocratização.

Compreende-se, a partir desta leitura, que o processo de mudança

política no Brasil não se deu de forma bipolar entre o regime e a oposição, mas

envolveu uma complexa trama de relações em que, tanto as lideranças do regime

autoritário, quanto as lideranças da oposição, tiveram um papel importante na

articulação dos caminhos de implementação da democracia no país.

A construção democrática brasileira, analisada sob o prisma da transição

entre regimes políticos, envolve um complexo processo, no qual algumas

suposições são consideradas.

A primeira suposição é a de que o Brasil poderia ser considerado um país

em mudança, em transição para a democracia. Depois, essa tendência se

desdobraria em estágios sequenciais: primeiro ocorrendo a abertura, depois o

colapso do regime para, em seguida, ser declarada a democracia formal (leis e

regras), quando posteriormente seria transformada em democracia substantiva

(ganhos sociais e econômicos). A terceira suposição é a de que as eleições serviram

para alargar a participação política e a responsabilidade democrática do Estado em

relação à sociedade. Outra suposição defendia a ideia de que a transição seria uma

decisão das elites políticas e, finalmente, a quinta suposição defendia que os

processos de democratização estariam redesenhando as instituições do Estado.

(CAROTHERS, 2002).

Todas essas suposições foram negadas pela experiência histórica e

nessa direção, valendo-se da advertência de que a construção democrática não é

tarefa exclusiva das elites políticas, mas também depende de fatores estruturais,

retomam-se as teses sobre novos aspectos.

No que se refere à dimensão estrutural da transição, Samuel de

Huntington (1994), da Universidade de Harvard, em seu livro “A Terceira Onda”

retomou análises que enfatizavam a dimensão econômica da democracia. A

centralidade de sua análise tende na busca de uma correlação entre riqueza e

democratização, embora saliente que fatores econômicos não sejam determinantes

49

para promover a democratização, sugere que eles produzem impacto significativo.

Sua argumentação vai demonstrar a existência de uma correlação positiva entre a

riqueza e a democracia, enfatizando sua permanência a longo prazo, para que seja

propiciada a democratização.

Utilizando-se da variável Produto Nacional Bruto (PNB), Huntington

(1994) constatou que, dos 24 países de “alta renda” (segundo dados do Banco

Mundial), 21 eram democráticos, enquanto entre os 24 países, classificados como

“pobres”, apenas 02 tinham experiência com a democracia, e, entre os 53 países de

“renda média”, 23 eram democracias, e 25 não democracias. A partir de tal leitura, o

autor conclui que a transição para a democracia nos países ricos já aconteceu; nos

países em desenvolvimento médio, anunciam-se as possibilidades democráticas e

nos países pobres, viver a democracia é impossível.

Huntington (1994) destaca as condições infraestruturais que favorecem a

democracia e, nessa perspectiva, no Brasil, o desenvolvimento econômico

patrocinado pelo regime militar autoritário dos anos de 1970 teria, ironicamente,

criado as condições para a sua própria superação nos anos de 1980, ao modernizar

o país.

Huntington (1994) acredita que as crises do petróleo, na década de 1970,

tiveram importante papel na produção das crises dos sistemas autoritários, porque o

mau desempenho dos governos, no gerenciamento das crises, levou à perda de

legitimidade do regime autoritário. Salienta, ainda, outros aspectos explicativos da

“terceira onda” de democratização: a mudança da doutrina da igreja católica, que a

partir do Concílio do Vaticano II, entre 1963 e 1965, passou a apoiar a Democracia;

o incentivo norte americano, a partir de 1974, com sua política de direitos humanos e

o fenômeno dos efeitos demonstrativos, que exportaram modelos de

democratização, por meio das redes de comunicação.

Sobre essa questão, Linz e Stepan (1999) defendem também que quanto

mais interligado for um grupo de países, mais será possível uma transição bem

sucedida para os demais. O espírito do tempo ou momento histórico, sendo

democrático, influenciaria alternativas neste sentido. Enfim, se “fatores estruturais

50

fazem a democracia possível, as lideranças políticas podem torná-la concreta”

(MOISÉS, 1995, p.49).

Max Weber (1919) já havia anunciado, em seus escritos, que não se pode

falar em “monocausualidades”, ou seja, afirmar-se que um dado fenômeno só pode

ser explicado por uma única causa. Há diferentes aspectos que podem contribuir

para explicar um fenômeno. Seguindo-se essa lógica, os estudos contemporâneos

sobre democracia no Brasil, podem recorrer às reflexões de Moisés (1995), em sua

proposta para uma explicação do que chama “maximalismo” e “minimalismo”.

A perspectiva “minimalista” parte do pressuposto de que a democracia é

possível, sob condições mínimas. Nessa lógica, não seriam necessários pré-

requisitos econômicos, sociais ou mesmo culturais para a democracia, e sim, que

ela dependeria basicamente da escolha dos atores envolvidos, dos seus pactos e de

certas regras. Apostando nos atores políticos, Moisés (1995) sugere que a escolha

democrática não se dá por terem a democracia como um valor em si, mas por

observarem ser a democracia a melhor forma de sobreviver politicamente.

Por outra via, a perspectiva “maximalista” parte do pressuposto de que a

democracia não é possível sob condições mínimas, e que as condições econômicas,

sociais, culturais e políticas exercem importante condicionamento sobre a viabilidade

democrática. Moisés (1995) vai além, ao afirmar que a democracia só se efetiva se

os governos forem dotados de mecanismos que lhes dêem autoridade para criar

instituições, que sejam respaldadas por atitudes e comportamentos democráticos

das massas.

No Brasil dos últimos vinte anos, experimentou-se avanços significativos

em relação à democracia. De fato, houve uma modernização das instituições no

país, um crescimento econômico e um refinamento de suas leis, voltadas à garantia

de direitos dos cidadãos. Todavia, percebe-se a existência de uma precária

funcionalidade da lei, isto é, das regras fundamentais para a democracia. A própria

Constituição Federal de 1988 está recheada de leis que nunca saíram do papel,

quer seja no que diz respeito às liberdades individuais, à ordem econômica ou

mesmo em relação às questões sociais.

51

O antropólogo Roberto Damatta (1987) afirma, a respeito das

discrepâncias entre o Brasil legal e o Brasil real, alertando para o distanciamento

entre o Estado e a sociedade e para uma forma particular de “navegação social”,

onde o “jeitinho brasileiro” é, na verdade, uma correspondência entre o social, que

permanece alienado de suas próprias conquistas, apelando para os velhos vícios do

apadrinhamento, do pistolão ou de um “jeitinho” de burlar as leis.

Nessa ordem das coisas, no Brasil democrático, as pessoas em geral não

são tratadas como cidadãos, mas conforme o pertencimento ou não, a determinado

círculo social. Assim, para além da dimensão legal e institucional, ainda se faz

necessária uma mudança na cultura política da sociedade como um todo, para que

seja enfim, viabilizada a democracia.

O conceito de democracia inercial é usado por Baquero (2005) para

referir-se à realidade democrática brasileira. Para este autor, há no país uma

modernização das instituições políticas, uma evolução das leis e das regras,

entretanto, pouco ou nada o Brasil evolui na dimensão social.

Em sua explicação sobre a democracia inercial, o dito autor observa que

no Brasil as políticas econômicas não favorecem as massas excluídas; destaca a

existência de uma cultura híbrida, que institucionaliza um comportamento de

resignação e hostilidade com a política, traduzindo-se numa cultura de desconfiança

generalizada do povo em relação à política e também nas relações interpessoais da

base da sociedade.

As mais recentes discussões sobre a emancipação humana, na

democracia, tem postulado o desenvolvimento do capital social. A este respeito,

Putman (2000) sugere uma necessidade de práticas sociais, normas e relações de

confiança entre os cidadãos, bem como sistemas de participação e associação que

estimulem a cooperação. A relação entre democracia e capital social, segundo esse

autor, estaria no nível de confiança que se estabelece na base de uma nação, o que

também promove o desenvolvimento econômico.

Nessa linha de raciocínio, o economista Fukuyama (1996) observa que os

países com grande destaque no cenário internacional como os EUA, o Japão e a

52

Alemanha, desfrutam também de alto índice de capital social. Isso significa

confiança entre as pessoas e explica o predomínio de grandes empresas nesses

países como a Toyota, a Ford, a Siemens, dentre outras que inovam em tecnologia,

aprimoram as relações de trabalho, qualificam seu pessoal e garantem a harmonia

essencial ao desenvolvimento.

Todo esse processo de confiança entre pessoas (independente de

ocuparem postos na indústria, comércio ou gestão estatal) não se verifica no Brasil.

Para a maioria da população o “jeitinho brasileiro” prevalece, as leis “não pegam” e

as coisas se resolvem por meio de pistolões em esfera pública. Nesse cenário, é

difícil fortalecer elos de confiança e, por isso, o Brasil não acumula estoque de

capital social.

Para efeitos deste trabalho, a participação social no campo das políticas

sociais será analisada a partir da dimensão institucionalizada, nos espaços de

debate, deliberação e controle das políticas públicas da área da assistência social.

O capítulo que se segue, está dividido em três seções. A seção seguinte

trata da trajetória da assistência social, desde quando compreendida como ato

assistencialista eleitoreiro até seu status de política pública, abordando o processo

de transformação ocorrido na sociedade, no que tange à formulação, gestão,

implementação e controle desta política, apontando características, potencialidades

e tensões.

Em seguida, destacam-se os marcos legais de construção da assistência

social enquanto política pública e o redesenho do Estado, que visa a presença da

sociedade em face das políticas sociais. Na terceira e última seção desta fase,

aborda-se a dimensão da participação no processo decisório das políticas sociais,

com destaque para as condições que historicamente desafiam a prática da

participação social no Brasil, como requisito emancipatório.

53

2 A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL

Este capítulo concentra reflexões sobre as condições históricas em que

foram efetivadas as práticas assistencialistas no Brasil. Esgotada tal reflexão, este

estudo prossegue, focalizando as bases legais que fundamentam a

institucionalização da assistência social como política pública, evoluindo para um

último debate sobre a base conceitual das categorias “participação” e “controle

social”, nas quais se assenta toda a discussão que atravessa o terceiro capítulo,

onde a prática efetivada pelo Conselho Municipal de Assistência Social de Aquiraz-

CE, entra em cena com suas peculiaridades que, articuladas as concepções teóricas

em destaque neste estudo, são, enfim, analisadas.

2.1 O assistencialismo frente à questão social no Brasil

A prática da assistência constitui-se um fenômeno antigo, que remonta

aos primórdios dos tempos da Idade Média, quando os males sociais já atingiam

enormes proporções e a pobreza era entendida como algo natural. “A distância do

conhecimento científico permitia que os homens buscassem soluções para seus

problemas no imaginário e nas superstições” (VIEIRA, 1977, p.30). O advento do

Cristianismo fez com que a caridade fosse entendida como uma consequência do

amor divino e, através de postulados bíblicos, a Igreja Católica tomou para si

encargos beneficentes, administrando obras de caridade e fazendo surgir

congregações, como corporações de ofício e confrarias, com fins de caridade e

prática assistencialista.

Quando se pensa na questão da assistência atrelada à realidade

brasileira, é coerente levar em conta a questão das capitanias hereditárias e da luta

pela sobrevivência, em condições desiguais, desde o princípio da colonização do

país. A base da sociedade colonial brasileira estava na exploração agrária-

econômica, em meio a uma população de índios, negros e escravos mestiços, que

viviam sob a dependência de seus senhores rurais e reproduziram, já nos primeiros

54

séculos da história do Brasil, as desigualdades que ainda persistem nos dias atuais.

Desde o início manifestou-se, entre os governantes, o interesse em manter a

situação de dependência e exploração, o que permitiu que esta cultura fosse

mantendo-se ao longo do tempo. Em 1922, com a independência do Brasil de

Portugal, começaram a surgir os primeiros contornos de urbanização e

industrialização, embora prevalecesse o modelo fundado no patriarcalismo arcaico e

as relações fundadas no mando do senhoril rural.

A prática das obras sociais, neste período, era exercida de forma caritária

e precária. As crianças abandonadas eram recolhidas nas Santas Casas de

Misericórdia e a ajuda era, muitas vezes, exercida pela Igreja de modo pontual

(SOUZA, 1991). O fim da escravidão trouxe outro problema à sociedade brasileira,

pois milhões de escravos alforriados não tinham as mínimas condições de

sobrevivência fora das asas de seus exploradores e a classe dominante do período

seguia, aproveitando-se desta parcela da população, gerando cada vez mais

dependência e relações de exploração paternalista.

O advento da República trouxe o Federalismo, o sistema presidencialista

e a independência dos Poderes, bem como a separação do Estado da Igreja. Tal

realidade fez com que diversas congregações religiosas passassem a atuar, ainda

que de forma ineficiente, no campo social. Supostamente, a hierarquia baseada no

nascimento e na tradição familiar, viria a ser substituída gradativamente pela forma

republicana e democrática, fundada no talento pessoal e no mérito (SOUSA, 1998).

Nos primeiros anos do século XX, a instauração do regime capitalista e a

industrialização, agravaram a alienação das forças de trabalho e a marginalidade da

população escrava, que encontrava-se desprovida de conhecimentos e de

condições básicas para se inserir no mercado que se expandia.

A pobreza se expandia no país, e não tinha visibilidade. A classe política

ignorava suas causas e repercussões e não a considerava como expressão da

questão social. Quando a pobreza se insinuava como questão para o Estado era, de

imediato, enquadrada como “caso de polícia”, e tratada no interior de seus aparelhos

55

repressivos. Os problemas sociais eram mascarados e ocultados, enquanto a

pobreza era tratada como disfunção pessoal dos indivíduos (SPOSATI, 1987).

Tal percepção condicionava os modelos de atendimento, em geral em

asilos ou internação de indivíduos pobres ou miseráveis. A assistência se mesclava

com as necessidades de saúde e, por este equívoco, verificava-se a assistência

focada no binômio de ajuda médico-social.

Os organismos da rede de solidariedade social mantinham a

compreensão da assistência como um ato de benevolência e de caridade para com

o próximo.

A partir da crise mundial do capitalismo, o Estado reposiciona-se frente à

sociedade. Insere-se na relação capital trabalho. No caso brasileiro, tal inscrição é

fundamental para a acumulação, consolidação e expansão do capital. Por outra via,

o Estado passa a assumir responsabilidades pelas condições de vida da população,

quando em 1923, a Lei Eloi Chaves (Lei nº 4682) criava a Caixa de Aposentadoria e

Pensões para os funcionários e, em 1930, o Ministério do Trabalho, Indústria e

Comércio é criado para fiscalizar, ordenar e controlar as ações junto às forças de

trabalho.

Progressivamente a assistência começa a se configurar, tanto como uma

esfera programática de ação governamental para a prestação de serviços, quanto

como mecanismo político para amortecimento de tensões sociais.

O serviço social foi implantado no Brasil, em São Paulo, em 1936 pelo

Centro de Estudos e Ação Social. Por esse tempo, a problemática operária era uma

preocupação social deste centro, que entendia a formação social como reação

católica.

O serviço social foi, na sua gênese, marcado pela ausência de

legitimidade junto à população que seria sua clientela, caracterizando-se mais como

uma imposição do Estado, que como demanda legítima da coletividade. A

assistência não passava de benemerência, oferecida voluntariamente pela

solidariedade de poucos e, neste contexto, a profissão do serviço social era pensada

como contraponto ao apostolado voluntário.

56

A concepção histórica do serviço social como ação profissional para a

superação do assistencialismo, da dependência, da sujeição, terminou por identificá-

la como ação positiva para o rompimento da dependência e compromisso com a

liberdade.

Por longo tempo, a prática profissional do serviço social limitou-se, no

entanto, à busca de soluções de situações-problemas, de casos individuais ou,

quando muito, de grupos ou segmentos da população de baixa renda. Nessa lógica,

os insucessos da ação social passaram a ser compreendidos como uma deficiência

técnica do desempenho profissional (YAZBECK, 1980). Tal pressuposto acabou por

favorecer uma visão ingênua da profissão.

Após a criação do Centro de Estudos e Ação Social em 1936, a

assistência se reveste de maior racionalidade, introduzindo serviços sociais de maior

alcance sem perda, no entanto, de sua característica básica: sentido do benefício ou

da benevolência, só que, a partir de então, institucionalizada sob o controle do

Estado. Nesse contexto, a ação dos novos profissionais da assistência social

coincide com o período ditatorial do Estado Novo, instalado com o Golpe de 1937 de

Getúlio Vargas.

Em 1938, o Decreto-Lei nº 525 institui a organização nacional de serviço

social, como modalidade de serviço público, através do Conselho Nacional de

Serviço Social, vinculado ao Ministério da Educação e Saúde.

A criação do Conselho Nacional de Serviço Social (CNSS), em 1938,

representa a primeira tentativa de regulação e fomento público, no âmbito da

assistência social no país. “Sua importância deve-se principalmente à preocupação

do Estado com a centralização e organização das obras assistenciais públicas e

privadas, cuja fiscalização ficou sob sua responsabilidade a partir de 1943” (BRASIL,

2010, p. 33).

O CNSS estava vinculado ao Ministério da Educação e Saúde, e era

formado por pessoas ligadas a atividades filantrópicas, indicadas e nomeadas pelo

Presidente da República, tendo como principais funções: a organização do plano

nacional de serviço social, englobando os setores públicos e privados; sugerir

57

políticas sociais a serem desenvolvidas pelo governo e opinar sobre a concessão de

subvenções e auxílios governamentais às entidades privadas.

Na análise de Raul de Carvalho (1981), poucos foram os resultados

práticos deste Conselho, caracterizado “mais pela manipulação de verbas e

subvenções como mecanismo de clientelismo político” (idem, 1981, p. 59).

O início da década de 1930 no Brasil foi marcado pela criação das leis

trabalhistas e da previdência social, refletindo a preocupação do governo em dar

suporte ao desenvolvimento industrial. A partir de 1940, os direitos e políticas de

cunho social começaram a ser discutidos entre governo e sociedade civil, como

forma de enfrentamento da questão social. O Estado implementou políticas de

caráter compensatório e criou organismos, para a prestação de serviços às camadas

mais pobres da sociedade, como uma forma de manter a ordem social.

A assistência social no Brasil teve sua origem fortemente arraigada nos

preceitos da caridade e da filantropia, enquanto compromisso do Estado para com o

povo empobrecido. Na década de 1940, a criação da Legião Brasileira de

Assistência (LBA) foi um dos primeiros ensaios, no tocante ao alargamento do

Estado de Direito. Funcionava como a grande instituição, de onde provinham os

recursos e as orientações para os programas relativos às creches, assistência social

geral e assistência às crianças, deficientes e idosos. Todas as intervenções estatais,

voltadas ao enfrentamento da pobreza, foram marcadas pela intenção de criar e

manter a dependência dos beneficiários, com conotações clientelistas, fixadas pelo

favor, expressando uma matriz cultural oligárquica, onde os interesses do capital

sempre foram privilegiados, em detrimento dos demais.

A LBA assegurava estatutariamente sua presidência às primeiras damas

da República, representando a simbiose entre a iniciativa privada e a pública, a

presença da classe dominante enquanto poder civil e a relação benefício / caridade

x beneficiário / pedinte, conformando a relação básica entre Estado e a classe

subalternizada (SPOSATI, 1987).

Depois da LBA, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) é

inaugurado, em 1942, como um complexo de medidas assistenciais e educativas

58

necessárias à adequação da força de trabalho às necessidades da Indústria, que

começava a expandir-se.

O progresso social, compreendido como dever do Estado, passa a

orientar as ações do serviço social, que se voltam para o discurso da promoção

social gerando-se, a partir de então, uma certa dicotomia entre assistência e

promoção social.

A assistência social passa a ser compreendida como as atividades de

pronto-socorro social, de ajuda material ou financeira, destinadas às populações

com problemas agudos de subsistência, em geral desenvolvidos por voluntários ou

auxiliares sociais. Tais atividades passam a ser questionadas pelos profissionais de

serviço social, tanto por seu caráter paliativo e clientelístico, quanto pelas limitações

que apresentavam à afirmação do assistente social como profissional.

A academia formadora dos quadros profissionais do serviço social rejeita

a assistência e, na década de 1950, adquire visibilidade o movimento de

reconstrução teórica, coincidente ao período do pós-guerra, quando o Brasil buscava

a libertação do colonialismo, o enfrentamento ao comunismo e as tentativas de

expansão do capitalismo internacional, momento este, que exigia a ampliação das

políticas sociais.

Nesse período, as atividades de promoção social passam a absorver a

prática e a teoria dos profissionais de serviço social, creditando às mesmas,

expectativas de desenvolvimento social para a concretização do Estado do Bem

Estar Social. Por outro lado, o populismo é reforçado como forma política de

legitimação do poder e comando da chamada burguesia nacional, apoiado na

adesão da massa trabalhadora, adesão essa que se afirmava mediante a concessão

antecipada de benefícios.

No discurso governamental, a assistência adquire nova amplitude. Além

dos programas de pronto-socorro social, destinados aos pobres e miseráveis,

começa a incorporar os programas de “Desenvolvimento Comunitário”, idealizados

pela Organização das Nações Unidas (ONU). Tais programas eram destinados às

59

comunidades e regiões brasileiras, que apresentavam problemas de “estagnação

econômica” (FALEIROS, 1981).

Os referidos programas destinavam-se a romper o ciclo de dependência e

provocar a integração de indivíduos e grupos no mercado de trabalho. É nesse

período que surgem os programas de alfabetização de adultos, formação de mão-

de-obra, formação social e desenvolvimento comunitário. Somente mais tarde, tais

atividades foram compreendidas em seus propósitos de ascensão do modo de

produção capitalista. Em suas determinantes, estes programas promoviam

atendimento tutelado e ilusório para trabalhadores em potencial, que eram

minimamente qualificados para o mercado que se expandia.

Nesse contexto, as políticas sociais eram definidas por organismos

internacionais (ONU, Aliança para o Progresso, dentre outros) sendo financiadas por

fundos estrangeiros, e orientadas no sentido de fortalecimento do Estado do Bem

Estar Social.

O início da década de 1960 é marcado por um movimento de

contradependência e denúncia dos modelos e programas importados: as propostas

de reforma de base orientam a elaboração e realização dos programas sociais

nacionais. O método de Paulo Freire (1962) é incorporado aos programas de

alfabetização de adultos, como também na educação de base e aos programas de

desenvolvimento comunitário e ligas camponesas na zona rural.

As propostas desenvolvimentistas do período estimulam o sentimento

nacionalista e a consciência de país terceiro mundista. Tal sentimento foi

incorporado por segmentos progressistas da sociedade, estimulando o surgimento

das pautas das esquerdas nacionalistas.

O conhecimento da realidade nacional implicava rechaçar os modelos de

ação, incorporados até então, para as experiências encontradas pelas Revoluções

cubana e chilena, implicando reposicionamento das práticas dos assistentes sociais.

O serviço social, nos meados dos anos de 1960, começa a explicitar o

conteúdo político de sua prática, pela via do Movimento de Reconceituação do

Serviço Social. Tal movimento depara-se com o golpe militar de 1964, quando

60

instala-se a era do planejamento do serviço social brasileiro, enquanto as políticas

públicas retomam um enquadramento transnacional.

O Estado tecnocrático pós-64 usa o planejamento como técnica de

consenso social. O profissional de formação técnica é apresentado como

representante fiel do Estado e conhecedor das necessidades e interesses das

classes subalternizadas, mantendo-as como objeto passivo dos “benefícios” que

ilusoriamente lhe são dispensados gratuitamente pelo Estado (COVRE, 1983).

A exclusão das classes subalternizadas, das decisões que lhes dizem

respeito, e a ampliação da capacidade de intervenção governamental, que o Estado

ditatorial adquire no pós-64, reforça o caráter assistencial das políticas sociais, como

também, possibilita que interesses de outros segmentos sociais e diferentes setores

empresariais passem a deter amplo espaço de manobra, através da intermediação

estatal.

Ao recriar programas de assistência social, o Estado apela para obter

apoio do regime, despolitizando a organização dos trabalhadores e tratando a

questão social pela via da articulação entre repressão e assistência. A repressão se

faz sentir, especialmente, na desmobilização social, na desarticulação dos

instrumentos de pressão (a exemplo da imprensa) e de defesa de classes populares.

A apreensão do uso do mecanismo combinado “repressão – assistência”, não se

deu de imediato para os assistentes sociais. A saída “hegemônica pela racionalidade

do planejamento e pela teorização científica” do fim da década de 1960 e início dos

anos de 1970, condicionaram o serviço social brasileiro a uma forma de inserção no

Estado Tecnocrático (SPOSATI, 1987).

A superação da desigualdade, através de programas de promoção social

alicerçados na racionalidade técnica, que buscavam a ascensão social da força de

trabalho, como também das políticas sociais oferecidas pelo Estado, que propunham

a igualdade de oportunidades, foi se caracterizando cada vez mais como ilusórias

para as “saídas” do serviço social. Essas “saídas” foram se esvaindo na

consolidação do modelo econômico brasileiro, voltado para os interesses do

capitalismo transnacional. Tal modelo implicava no achatamento salarial dos

61

trabalhadores e provocou maior empobrecimento da população: de um lado, elevam

as desigualdades sociais e, por outro, as demandas para o Estado, na busca de

estratégias capazes de conter a questão social.

No final dos anos de 1970 e início da década de 1980, a leitura marxista

da sociedade capitalista, a partir da vertente althusseniana, em que se apoiavam

vários estudiosos do serviço social, contribuiu para que os assistentes sociais

brasileiros fizessem uma leitura progressista da prática e terminassem por

caracterizá-la como fadada à reprodução ideológica dos interesses do capital

(YAZBEK, 1987).

A consciência da ineficácia das políticas sociais, atreladas a um Estado

comprometido com um processo de expansão capitalista monopolista,

principalmente como resultado da conjuntura de luta que se instala no país, a partir

dos movimentos sociais, levam os profissionais do serviço social a revisões de suas

próprias ações.

O III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, realizado em 1979, é

um marco histórico para a Política de Assistência Social: os congressistas repudiam

a Comissão de Honra no Congresso, substituindo-a pelo trabalhador espoliado. A

presença de lideranças sindicais no encerramento é divisor de águas da assistência

social, com os poderes instituídos.

Como principais medidas relativas à política social pós-75, destacam-se o

processo de unificação das instituições previdenciárias, através da criação do

Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), ocorrendo a progressiva exclusão

da representação dos trabalhadores na gestão da Previdência Social e a extensão

da cobertura previdenciária à quase totalidade da população urbana e parte da

população rural.

O fortalecimento das políticas sociais se dá pela expansão dos

organismos estatais, a exemplo da criação do Sistema Financeiro da Habitação, no

Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS), do Conselho de

Desenvolvimento Social e a instituição do Fundo de Apoio ao Desenvolvimento

Social (FAS).

62

A centralização, que se opera em tais instituições, é excludente em

relação a qualquer possibilidade da população e de suas organizações participarem

decisoriamente. O poder central exclui, igualmente, à participação nas esferas

estaduais e municipais (SILVA, 1984).

Após essas considerações, resta lembrar que a negação do

assistencialismo, por parte dos profissionais do serviço social, vem sendo uma luta

travada contra o discurso simbólico do poder, que via de regra, se utiliza da

condição de pobreza prevalecente no país, para mover as massas na direção do

consenso eleitoral. Superar a leitura fetichizada do assistencialismo, como prática do

serviço social, é movimento que vai além da questão profissional. Enquanto

mecanismo histórico, presente nas políticas sociais brasileiras, o assistencialismo

revela-se em sua versão contemporânea, revestido de novos contornos de discurso

emancipatório, e cujos determinantes passam a ser foco de análise do próximo

ensaio que se delineia neste estudo.

2.2 A assistência social como política pública

A Constituição Federal de 1988 alterou o status da assistência social,

transformando-a em política pública e integrando-a a um sistema de seguridade, que

visa promover mudanças significativas no modo de operar e agir, garantindo

principalmente, o fim do caráter assistencialista e a inserção de novas maneiras de

atuar, viabilizando a impessoalidade e o enfrentamento do caráter politiqueiro e

clientelista, ensejado na prática. Como já se fez referência, uma longa trajetória foi

percorrida, até que a assistência social fosse regulamentada e reconhecida como

política pública de caráter universal.

Em seu primeiro parágrafo único, a Constituição Federal de 1988 destaca

a importância do cidadão, ao afirmar que “todo poder emana do povo, que o exerce

por meio de representantes eleitos ou diretamente”. No decorrer do texto

constitucional, são definidas formas de participação popular, em cada uma das

esferas de poder. No Legislativo, os cidadãos podem participar por meio do voto em

63

eleições, referendum, plebiscitos, podem propor legislação por iniciativa popular e o

encaminhamento de denúncias de irregularidades ao Tribunal de Contas da União

(TCU). No Poder Judiciário, a participação pode ocorrer por meio dos júris

populares, com a finalidade de julgar crimes dolosos contra a vida e pelo direito de

proposição de ação popular, para anular atos lesivos ao patrimônio público. Na

esfera do Poder Executivo, a participação instituída juridicamente acontece através

dos conselhos e comitês de políticas públicas, havendo, ainda, a possibilidade de

apresentar denúncias de irregularidades, perante a Controladoria Geral da União

(CGU). No que tange à questão social, a CF/88 representa um marco na

reorientação da assistência social, que passa a ser definida como direito do cidadão

e dever do Estado, inserindo-se com a saúde e a previdência no tripé da Seguridade

Social.

A assistência social, como política de proteção social, trouxe uma nova

situação para o Brasil, por significar a garantia a “todos” que “dela necessitam”, e

sem contribuição prévia à provisão desta proteção. Segundo Di Giovanni (1998, p.

10), “entende-se por proteção social, as formas institucionalizadas que as

sociedades constituem para proteger parte, ou conjunto de seus membros”. Deve

garantir a segurança da sobrevivência, de acolhida e convivência familiar.

Com a promulgação da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), em

1993, essa política foi regulamentada, delineando-se um novo modelo de

entendimento dos direitos e concepções, afastando-se a prática assistencialista.

Correspondendo aos determinantes constitucionais, de acordo com o primeiro artigo

da LOAS, a assistência social é “política não contributiva de proteção social básica e

especial, para atender às necessidades de acolhida, convívio, autonomia,

rendimento, equidade, travessia de segmentos sociais vulneráveis e riscos sociais e

pessoais, que impeçam a autonomia e o protagonismo” (artigo 1, da LOAS). Indica

programas contínuos e benefícios, promovendo um redesenho da assistência social,

que passa a ser entendida como política de enfrentamento à pobreza, direcionada

aos que dela necessitam, por serem incapazes de acessar bens, serviços e direitos.

64

Para Carvalho (2002, p. 73): “A LOAS representa uma mudança

fundamental na concepção da assistência social, como política de seguridade social,

passando a constituir-se em salvaguarda da sociedade civil, contra as manipulações

e práticas de corrupção e clientelismo político”.

Em consonância com o disposto na LOAS, Capítulo II, Seção I, artigo 4º,

a Política Nacional de Assistência Social rege-se pelos princípios da supremacia ao

atendimento às necessidades sociais, sobre as exigências de rentabilidade

econômica; universalização dos direitos sociais, tornando o usuário da ação

assistencial alcançável pelas demais políticas públicas; respeito à dignidade do

cidadão, vedando-se qualquer comprovação vexatória de necessidade; igualdade de

direitos no acesso ao atendimento, sem discriminação de qualquer natureza,

garantia de equivalência de atendimento e divulgação ampla dos recursos e

programas oferecidos e dos critérios para sua concessão. É, portanto, uma política

pública, que se ocupa em prover a sociedade para o enfrentamento de suas

fragilidades, sendo política de atenção e defesa de direitos.

Demo (2004) observa que, além de significar direito à sobrevivência, a

assistência social não se configura, por si só, enquanto estratégia de enfrentamento

e resolução de desigualdades sociais, uma vez que o enfrentamento à pobreza

requer a introdução de componentes voltados para processos emancipatórios,

fundados na cidadania organizada dos interessados e não como objetos

manipulados necessários à manutenção do assistencialismo.

O processo democrático, que levou ao reconhecimento da assistência

social enquanto política, registra uma série de reformas institucionais que

perpassaram pela extinção de órgãos e entidades representativas do Governo

Federal e adequação de instâncias estaduais e municipais para o exercício de um

novo modelo, que propõe principalmente a co-responsabilização dos entes da

federação na execução da política e na divisão de recursos, amparada nas normas

sobre Finanças Públicas, Capítulo II, da Constituição Federal de 88 (arts. 165 a

169); na Lei nº 4.320/1964, que estabelece normas específicas sobre elaboração e

65

organização orçamentária e na Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei complementar nº

101, de 2000).

O modelo de execução da Política de Assistência Social pressupõe a

descentralização dos serviços, de modo que os municípios e estados executem, de

forma direta, os serviços da assistência. Para tanto, vem sendo feitos investimentos

na capacitação de gestores, técnicos e conselheiros, modernização de

equipamentos e mobilização da sociedade civil organizada, o que representa um

convite à participação na elaboração dos planos e concentração de esforços, no

sentido de fomentar uma nova relação entre governo e sociedade, através do

incentivo às parcerias e às ações conjuntas, na perspectiva do desenvolvimento

econômico com justiça social.

Para se alcançar a tão sonhada “justiça social”, além das iniciativas

registradas inicialmente, foram desenvolvidos esforços, no sentido da criação de

conselhos, planos e fundos (estaduais e municipais de assistência social) e

intensificados programas nas áreas de geração de renda, qualificação profissional,

capacitação das organizações sociais, voltados à priorização da família, crianças e

adolescentes, privilegiando o estabelecimento de parcerias e a descentralização,

como estratégia para garantir a qualidade dos serviços prestados, a fim de melhorar

a situação de pobreza da população.

A primeira década do século XXI promoveu o reconhecimento de diversos

direitos de categorias formadoras da sociedade (crianças, idosos, mulheres,

pessoas com deficiência, povos tradicionais, dentre outros) e observa-se um

crescimento dos gastos públicos com a implementação de políticas sociais, o que

reflete uma assimilação de técnicas e procedimentos para a prestação eficaz dos

serviços socioassistenciais.

A Política Nacional de Assistência Social (PNAS/2004) foi criada por

decisão do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), por

intermédio da Secretaria Nacional de Assistência Social (SNAS), sendo apresentada

ao Conselho Nacional de Assistência Social em junho de 2004, tendo sido

amplamente divulgada e discutida, em todos os estados brasileiros, em encontros e

66

seminários idealizados para garantir um debate descentralizado e participativo. Foi

aprovada por unanimidade, expressando a materialidade do conteúdo da assistência

social, como pilar do Sistema de Proteção Social Brasileiro, no âmbito da

Seguridade Social. A PNAS representa uma tentativa de transformar em ações, os

pressupostos elencados na Constituição Federal de 1988 e da LOAS, por meio de

definições que norteiam a implementação da Política de Assistência Social, “criando

uma nova agenda de cidadania para o Brasil, buscando incorporar as demandas da

sociedade, no que tange à responsabilidade política” (LOPES, 2010, p. 24).

A gestão da política, proposta através da PNAS, pauta-se no pacto

federativo, que detalha as atribuições e competências dos três níveis de governo na

provisão das ações socioassistenciais, em conformidade com o preconizado na

LOAS e na Norma Operacional Básica (NOB), a partir das indicações e deliberações

das conferências e dos demais espaços de discussão, negociação e pactuação da

Política de Assistência Social.

A perspectiva para a assistência social representa um avanço para a

política de proteção social, ainda que seja uma política limitada, vez que “é para os

que dela necessitam”. A assistência deve, de acordo com a NOB, “aportar quem,

quantos, quais e onde estão os brasileiros demandatários de serviços e atenções de

assistência social”, configurando uma situação onde não se dispõe de imediato, da

análise da incidência desta política na realidade brasileira. Sugere, então, que a

nova configuração da assistência deve dar continuidade ao inaugurado pela CF/88 e

pela Lei Orgânica da Assistência, de 1993, pautada na dimensão de “incluir os

invisíveis”, enquanto parte de uma situação social coletiva, observando as

desigualdades e disparidades numa visão social de proteção e reconhecimento dos

riscos e vulnerabilidades e de quais recursos se dispõe para o enfrentamento de

determinada situação (PNAS, 2004, p. 30, 31).

A nova configuração da Política de Assistência Social propõe uma visão

social, capaz de entender que a população tem “necessidades, mas que deverá

desenvolver suas próprias capacidades” [...] “assim uma análise da situação não

pode ser só das ausências, mas também das presenças até mesmo como desejos

67

em superar a situação atual” uma visão social capaz de identificar forças e não

fragilidades que as diversas situações da vida possua (PNAS/ NOB/SUAS, 2005, p.

15).

A Lei Orgânica da Assistência Social assume dimensões que extrapolam

preocupações com o atendimento qualitativo e quantitativo das necessidades

básicas dos cidadãos, introduzindo novas formas de gestão, redefinindo ações e

competências no âmbito das instâncias de poder.

O aprimoramento gradativo da gestão da Política de Assistência Social

contou com diretivas que apontavam uma nova lógica de gestão, exigindo o

aprofundamento de sua concepção com o alargamento das responsabilidades dos

entes federados, na implementação de um Sistema Único que pressupõe novos

mecanismos de gestão e técnicas, capazes de “viabilizar o monitoramento e a

avaliação e instituir o controle social, a ser exercido por todos os setores da

sociedade pressupondo um exercício democrático” (PNAS/ NOB/SUAS, 2005, p.16).

A construção da Política leva em conta a matricialidade na família. De

acordo com a NOB “... leva em conta três vertentes de proteção social: as pessoas,

as suas circunstâncias e, dentre elas, seu núcleo de apoio primeiro, isto é, a família.

A proteção social exige a capacidade de maior aproximação possível do cotidiano da

vida das pessoas, pois é nele que os riscos e vulnerabilidades se constituem”

(PNAS/ NOB-SUAS, 2005, p.16).

É partindo deste princípio que a assistência social passa a relacionar as

pessoas / famílias a seus territórios e o município passa a constituir-se de fato como

importante, sendo este o cenário da vida comum. O município, enquanto menor

escala administrativa governamental, passa a ter territorializações intra-urbanas e a

análise, através da unidade intra-familiar, ganha equipamentos e núcleos para o

atendimento da realidade a partir das necessidades.

O Brasil apresenta um dos maiores índices de desigualdade do mundo,

quaisquer que sejam as medidas utilizadas (PNAS/NOB-SUAS, 2005). A Política

Nacional de Assistência Social se configura necessariamente na perspectiva

socioterritorial, tendo mais de 5.500 municípios brasileiros em suas referências

68

privilegiadas de análise e prevê, na caracterização destes, a presença de

metrópoles. Estes municípios passam a receber os investimentos de recursos

públicos necessários para a execução da Política de Assistência Social. De acordo

com as informações do Tesouro Nacional, considerando somente o financiamento

público nas ações de assistência social no Brasil, em 2002 foram investidos R$ 9,9

bilhões de recursos públicos nos municípios. Em 2003, este número saltou para 12,3

bilhões e os Estados ampliaram em 10% as despesas com assistência social. A

União ampliou sua participação, enquanto os demais entes da federação diminuíram

sua participação (PNAS/ NOB-SUAS, 2005, p. 25).

As diretrizes propostas na organização da assistência social, enquanto

Política Pública, tal como previsto na Constituição Federal de 1988 e na LOAS,

determinam a descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação e as

normas gerais à esfera federal e a coordenação e execução dos respectivos

programas às esferas estadual e municipal, bem como as entidades beneficentes e

de assistência social, garantindo o comando único das ações, em cada esfera de

governo, respeitando-se as diferenças e características sócio-territoriais locais

(PNAS/ NOB-SUAS, 2005, p. 33).

Como política transversal, a assistência social estabelece direitos e

prerrogativas sociais, com vistas a garantir os mínimos sociais a todos os brasileiros.

Conceituando os mínimos sociais (BRANT, 2000, p. 29) adverte que esse padrão

“está diretamente relacionado ao patamar civilizatório alcançado por determinada

sociedade, acrescido das condições socioeconômicas, políticas e culturais”. Observa

também, que esses mínimos sociais não são imutáveis, tendem a mudar pela ação

coletiva dos cidadãos, pelo avanço da ciência, pelo grau e perfil das produções

econômicas e pelas forças políticas. Interferem, portanto, nos padrões dos mínimos

sociais, fatores abrangentes, não se limitando às condições de sobrevivência dos

indivíduos, mas também, às garantias de exercício da cidadania a que todos os

cidadãos têm direito (LOPES, 2008). Assim compreendida, a assistência social,

constitui-se em política de longo alcance, na medida em que a sociedade humana

termina por criar exclusões e vulnerabilidades, e as heterogeneidades dos seres

69

humanos geram necessidades especiais. A esse respeito os estudos de Demo

consideram: Além de significar direito à sobrevivência digna para os grupos vulnerabilizados, incapazes de se auto-sustentar, não se configura, por si só, estratégia de enfrentamento e resolução de desigualdades sociais. O combate à pobreza requer a introdução de outros componentes da política social, voltados para processos emancipatórios (DEMO, 2004, p. 48).

No processo político democrático, os avanços e conquistas na área da

assistência social são significativos, entretanto, convive-se com um duplo fenômeno,

onde no plano jurídico-institucional, há o reconhecimento da assistência, enquanto

política pública dimensionada enquanto direito do cidadão e dever do Estado e no

plano da intervenção estatal, apesar dos esforços até então desenvolvidos, o Brasil

pouco progrediu na diminuição das desigualdades.

Quando o município torna-se a instância legítima para problematização e

equacionamento dos problemas vivenciados percebe-se que, quanto mais próximo

da comunidade se efetivam as decisões políticas, maior é a participação e o

comprometimento das pessoas na busca de soluções para questões concretas.

A gestão da Política de Assistência Social, norteada pelo Sistema

Descentralizado e Participativo se organiza por um conjunto de instâncias de gestão,

de negociação, consenso e deliberação. Silva (2002) identifica que várias razões

dificultam a prática dos preceitos da descentralização na gestão da política de

assistência social, e cita as “raízes históricas, falta de comando único, redução da

descentralização a simples repasse de serviços e recursos, sem transferência de

poder decisório” (SILVA, 2002, p. 4).

A consolidação da assistência social, como política pública de direitos,

exige o enfrentamento de diversos desafios, dentre os quais a implementação do

Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e sua reestruturação orgânica. Partindo

das considerações de Silva (2002) convém refletir acerca de algumas questões,

destacando-se a participação e o controle social, o que não se efetiva somente por

decisão legal e com a existência e funcionamento dos conselhos.

70

2.3 Participação e construção da cidadania no Brasil

A participação e o controle social constituem-se temas imprescindíveis

para a compreensão da dinâmica processual de constituição da cidadania no Brasil.

Os dois conceitos relacionados, concentram as possibilidades de fundamentar a

compreensão da realidade que se pretende aprofundar neste estudo, no que se

refere à prática dos conselheiros de assistência social.

A participação tem se revelado como o caminho natural para o homem

exprimir sua condição inata de realizar, afirmar-se a si mesmo e atuar na natureza,

em busca do atendimento às suas necessidades básicas, a própria reprodução

material da vida. Como afirma Bordenave:“(...) Apesar de ser uma necessidade básica, o homem não nasce sabendo participar. A participação é uma habilidade que se aprende e se aperfeiçoa. Isto é, as diversas forças e operações que constituem a dinâmica da participação devem ser compreendidas e dominadas pelas pessoas” (BORDENAVE, 1998, p. 46).

Por ser recorrente em sociedades democráticas, o tema da participação

social, para uma melhor contextualização, exige, em princípio, a demarcação do

contexto social, econômico e político-institucional.

Assim, para o caso brasileiro, toma-se como base o período do final dos

anos de 1980 até os dias atuais, fase denominada de “Brasil Contemporâneo”, por

ter como referência dois marcos na história nacional: o processo de

redemocratização no país e sua concretização na Constituição Federal de 1988 e o

processo de inserção do Brasil na economia globalizada. O primeiro, como

expressão de lutas sociais, oficializa mudanças no Estado brasileiro, mais

especificamente nas alterações no modo de operar e de se relacionar com a

sociedade civil, fortalecendo o poder local. E o segundo, contraditoriamente,

restringindo a relação Estado x sociedade, negando direitos conquistados,

principalmente com relação ao mundo do trabalho, restringindo políticas sociais,

desarticulando e fragilizando mecanismos de democratização dessas políticas. De

acordo com Carvalho:

71

“(...) tendo como consequência a existência de uma dinâmica contraditória na própria atuação do Estado - um avanço no plano jurídico-institucional com um sistema de proteção social mais universalista e igualitário x uma crescente restrição e desestruturação no plano da ação estatal, com políticas de caráter seletivo e residual” (CARVALHO, 2002, p. 48).

Ainda com altos índices de exclusão social, somente com profundas

mudanças nas relações Estado x sociedade é possível vislumbrar, no Brasil, um

desenvolvimento traduzido em efetiva melhoria das condições de vida da população,

tendo como pressupostos a inclusão na pauta política, a participação da sociedade

civil na formulação e implementação de políticas públicas, não transferindo o que

compete ao Estado para outras instâncias e entendendo a importância do controle

social sobre a gestão pública.

Para tanto, Bordenave (1998) sugere ser necessário que as instituições

públicas quebrem paradigmas na sua forma de gestão. Muitas apresentam

resquícios autoritários e não conscientes das mudanças necessárias, no trato da

coisa pública e da relação com seus clientes (principal foco de sua atuação).

Perdem a dimensão estratégica de desenvolvimento sustentável, e terminam por

utilizar práticas de participação concedida e/ou manipulação. Tal comportamento

apenas contribui para a fragilização do processo de consciência política, necessária

à construção de um país, com elevação da autoestima e sentimento de

pertencimento/nacionalidade. Nesse sentido, torna-se imperativo disseminar o

sentido e a importância da participação em todas as dimensões da sociedade.

Por outro lado, ainda no entender de Bordenave (1998), cabe à sociedade

civil assumir o seu papel, cada vez mais de forma consciente, o que somente será

possível com o exercício de participação constante, mais efetiva e menos

instrumental, mais ativa e menos passiva. Partindo da microparticipação à

macroparticipação. Esse estágio exige uma atitude individual e coletiva, para que se

possa responder: quem sou e qual o meu papel na sociedade? Que país se almeja?

Que contribuição se pode oferecer? Isso facilitará o desencadeamento de um

processo de construção e permanente reconstrução nacional, tendo como referência

a modernidade.

72

Considerando a estrutura social do país, estratificada em classes sociais

e com interesses antagônicos, onde a grande maioria sobrevive em condições de

pobreza, termina por dificultar a participação, que somente é verdadeiramente

construída numa relação entre iguais, um dos princípios da autogestão. É na

autogestão que se encontra o mais alto grau da participação, na qual o grupo

determina seus objetivos, escolhe os meios e estabelece os controles pertinentes,

sem referência a uma autoridade externa (BORDENAVE, 1998).

Como consta nos ensaios teóricos de Morais (1986), as coisas são feitas

por homens e mulheres adequadamente organizados, tendo como pressuposto a

participação. Neste sentido, precisam vivenciar experiências concretas de

participação social, entendida por Longo (2008), como capacidade do grupo ou

organização, de intervir na produção de bens e serviços, usufruto, ou gestão política.

A qualidade da participação se eleva quando as pessoas conhecem a

realidade e aprendem a refletir, a superar contradições reais ou aparentes, a

exercitar a dialógica, a antecipar consequências e a distinguir efeitos de causas.

Assim, o processo vai se qualificando na superação de conflitos. Ou seja, aprende-

se na chamada práxis, na interação da prática com teoria, colocando-as a serviço da

coletividade.

Na concepção de Dallari (1983), as decisões políticas refletem sobre a

vida e os interesses de todos. A Declaração Universal dos Direitos Humanos

considera a participação política um direito fundamental de todos os indivíduos,

assim, faz-se necessária uma vontade individual e coletiva, para fazer valer a

legislação pertinente, buscando ampliar cada vez mais os espaços de participação

social.

Neste sentido, a definição de políticas e programas e as prioridades de

investimentos, ainda que sob a responsabilidade do poder público, devem resultar

de uma ação conjunta entre governo e sociedade, na busca de alternativas e

soluções que venham a se adequar melhor às necessidades da coletividade.

Existem, no país, inúmeras instituições públicas governamentais e não

governamentais, que passam por reestruturação jurídica e administrativa, com

73

revisão de procedimentos e formas de atuação e experimentam formas de gestão

que vão ao encontro do estreitamento e do fortalecimento das relações com a

sociedade. Isso indica uma mudança de visão, ao perceberem a importância da

participação como um imprescindível recurso gerencial, para uma ação mais

eficiente, eficaz e efetiva. Entretanto, muito há que se avançar nesse sentido.

De acordo com Teixeira (2004), a criação e/ou ampliação de espaços

públicos, que possibilitem o aumento da participação social, para o fortalecimento

das relações entre o Estado e a sociedade, na busca de um bem comum, ainda é

um dos aspectos desafiadores em nosso país.

Assim sendo, observando as diferentes formas de participação da

sociedade brasileira, constatam-se alguns avanços, seja através dos conselhos

setoriais, dos planejamentos participativos e orçamentos participativos. Bordenave

(1998, p. 29) considera que “o chamado planejamento participativo, quando

implantado por órgãos oficiais, frequentemente não é mais que um tipo de

participação concedida e, às vezes, faz parte da ideologia necessária para o

exercício do projeto de direção da classe dominante”.

Entende-se que é um processo em construção e que participação implica

em transformação da cultura político-institucional brasileira, um processo sistemático

e desafiador, que exige determinação e controle social eficaz.

As teorias discutidas ao longo deste estudo, fundamentam o

entendimento de que, de modo histórico, no Brasil a legalidade de um direito não

garante sua prática, disseminação e apropriação.

Norberto Bobbio (2009) destaca que um elemento fundamental da

democracia é a “regra da maioria”. Aqueles que são chamados a decidir, têm que

ser colocados diante de alternativas reais, e terem condições de escolher entre uma

e outra (direitos de liberdade de opinião, expressão e associação). Para este autor, a

exigência de publicidade dos atos do governo é importante, não apenas para

permitir ao cidadão conhecer os atos de quem detém o poder, e assim controlá-los,

porque “a publicidade é uma forma de controle, um expediente que permite distinguir

o que é lícito e o que não é” (BOBBIO, 2009, p. 48).

74

A crise do Estado e o agravamento da questão social, fomentaram a luta

pela emancipação e pela democratização no Brasil. A busca por novos espaços de

participação da sociedade civil consubstanciou-se, entre outros aspectos, pela

definição no texto constitucional de instrumentos ativadores da publicização na

formulação e na gestão de políticas públicas (RAICHELIS, 2000).

Estimulou-se a definição de mecanismos de transferência de parcelas de

poder, do Estado para a sociedade civil, e foram induzidas mudanças substantivas

na dinâmica dessas relações. A política social, como estratégia de Estado, começa a

ser implementada no contexto da emergência do capitalismo monopolista, como

mecanismo de enfrentamento das sequelas da questão social.

Acreditando não ser possível abordar o processo histórico brasileiro, sem

apresentar, ainda que de modo relativamente sumário, o conceito de cidadania

política, recorre-se a Marshall (2008), que a define como sendo a participação do

povo, indivíduos que compõem a sociedade, no exercício do poder político.

Segundo este autor, esta participação se concretiza como exercício efetivo, por

parte do povo, do direito de escolher seus governantes. De acordo com Saes (2001),

a definição de cidadania política, apresentada por Marshall (2008), é limitada por

não propor instrumentos conceituais, vez que a participação do povo, no exercício

do poder político, é “mais que uma realidade ou uma possibilidade, uma magnífica

alegoria, que reproduz o princípio de funcionamento reivindicado e proclamado,

porém não cumprido pelas instituições políticas capitalistas” (SAES, 2001, p. 3).

De acordo com Gaetano Mosca (2003), a cidadania política

contemporânea se reduz ao exercício por parte das massas, “de uma influência

periférica e marginal, sobre os agentes tomadores das macrodecisões políticas”

(MOSCA, 1997, p. 48). Saes (2001), considerando a definição de Mosca (1997,

p.49) de que “o exercício da cidadania política pelas massas é insuscetível de

revolucionar a natureza do poder político dentro da sociedade capitalista”, levanta o

seguinte questionamento: a cidadania política não seria uma ilusão, pelo menos

dentro dos limites da sociedade capitalista?

75

Considerando que não há como responder de modo simples a esta

questão, Saes (2001) toma como base a estrutura econômica capitalista e ilustra

que a relação capital – trabalho assalariado não se reproduz numa sociedade onde

não esteja implantada a noção de “sujeito-direito” que nas palavras do autor,

corresponde ao reconhecimento por parte do Estado, de que todos os agentes da

produção – proprietários ou trabalhadores – são sujeitos individuais de alguns

direitos essenciais, sem os quais não se celebram acordos ou contratos (liberdade

de ir e vir e manifestar livremente sua vontade, bem como capacidade de se

apropriar de bens ou de si mesmo e de fazer valer contra terceiros esta capacidade).

Não sendo os direitos dos sujeitos ilusórios, representam prerrogativas

reais, de duras conquistas da luta travada entre as classes, adquirindo uma

aparência universalista e igualitária e produzindo um efeito ideológico de cidadania,

que, de acordo com Saes (2001) representa o sentimento de que a concessão de

prerrogativas reais equaliza todos os indivíduos, o que alimenta o ideal de igualdade.

De acordo com Carvalho (2002), as liberdades políticas apresentam

aspectos reais por permitirem às classes exercerem influências sobre o processo de

tomada de decisões, e também por produzirem um efeito ideológico de sentimento

generalizado de igualdade política entre os membros de uma nação.

A análise da evolução da cidadania política no Brasil perpassa pelo

exame crítico das considerações de José Murilo de Carvalho (2002). Para esse

autor, o padrão defendido por Marshall (2008) é o normal para a instauração

progressiva da cidadania na sociedade contemporânea e analisa a política da

sociedade brasileira detectando a presença constante de anomalias no processo de

implantação e de desenvolvimento da cidadania neste país. A primeira anomalia

consiste na existência de uma defasagem permanente entre os direitos declarados e

os efetivamente exercidos, o que ele chama de contradição persistente entre o “país

legal” e o “país real”. A segunda anomalia consistiria numa inversão constante da

ordem normal de implantação de direitos e cita como exemplo a instauração de

liberdades políticas no Brasil Império que ocorre de maneira paradoxal com a

escravidão, que negava as liberdades civis elementares a escravos e homens

76

pobres. Afirma ainda que a alternância de períodos democráticos e ditatoriais na

história política do Brasil fez com que o direito à participação passasse por avanços

e recuos que fizeram com que importantes direitos sociais fossem muitas vezes

concedidos à titulo compensatório o que gera uma “anômala instauração de direitos

sociais e políticos” (CARVALHO,2002, p.29).

Numa tentativa de explicação das anomalias atribuídas à participação e

concessão de direitos no Brasil, Carvalho (2002) reflete sobre as causas históricas

deste desvio e recorre ao tema da carência relativa de lutas populares pela

conquista de direitos e atribui à cultura política ibérica que transmitiu ao Brasil,

desde a colonização, “um ideal de comunidade paternalista, no qual não há lugar

para a luta pela conquista de direitos, substituída pela distribuição de favores por

parte dos de cima e pela manifestação de lealdade ou gratidão por parte dos de

baixo” (CARVALHO, 2002, p.10).

Luis Carlos Bresser Pereira considera que o desenvolvimento do

capitalismo ocasiona a desconcentração de quatro atributos que conferem poder aos

grupos sociais: a força, a riqueza, a hegemonia ideológica e o conhecimento técnico

e organizacional. Segundo este autor, esta desconcentração de recursos

engendrada pelo capitalismo é indispensável à instauração efetiva de direitos

políticos e a consequente implantação de regimes democráticos. Sugere uma clara

defasagem entre a evolução da política de países de capitalismo avançados e a de

países capitalistas periféricos (Brasil e outros da América Latina): enquanto os

primeiros alcançaram a cidadania política e o regime democrático na primeira

metade do século XX, os últimos só chegaram a esse patamar na segunda metade

deste mesmo século, e essa defasagem parece exprimir o atraso dos países

periféricos no plano do desenvolvimento do capitalismo e da participação cidadã

(BRESSER PEREIRA, 1996).

De acordo com SAES (2001, p. 8) “a concentração e a centralização do

capital têm como subproduto o aumento da capacidade de pressão das classes

sobre o Estado, o que pode refletir-se na conquista de direitos” mais precisamente,

considera que “a evolução da cidadania política é parte do processo de

77

desenvolvimento do capitalismo numa formação social [...] ela é influenciada pela

dimensão econômica e também exerce influência sobre a mesma” (SAES, 2001,

p.8).

A configuração específica desse processo evolutivo tem influência direta

na radicalização, ou não, da luta popular pelos seus direitos, incorporação da

democracia e da cidadania política. De acordo com Saes (2001) o advento de uma

democracia representativa, ou de uma ditadura, pode ser influenciado pela atuação

popular.

Como determinante para a busca das causas históricas da concretização

de um certo padrão de evolução da cidadania política no Brasil, Saes (2001) afirma

que duas características fundamentais devem ser consideradas: a instauração dos

direitos políticos no Brasil entre 1891 e 1988 apresentaram limitações específicas,

em que se configura um quadro, onde seria esperar demais que a cidadania política

pudesse ser instrumento institucional de instauração do poder político da maioria

social. A evolução da cidadania política no Brasil, além de ter apresentado limitações

de caráter específico, foi realizada de modo instável e intermitente, o que distancia o

Brasil de países onde a instauração da cidadania se delineou após rupturas

institucionais radicais, como um longo processo evolutivo, sem recuos ou

sobressaltos (o que não quer dizer, sem lutas sociais), como a Inglaterra ou alguns

países da Europa do Norte (SAES, 2001).

Com a aprovação da CF/88 abriu-se a possibilidade de as classes

trabalhadoras desenvolverem práticas de participação e controle social de modo

institucionalizado, configurando-se um quadro histórico favorável à restauração da

eficácia prática do exercício do direito ao voto, experiências de caráter massivo e

independente. Os governos civis, da década de 1990, fortaleceram uma nova

hegemonia política, pela reestruturação do setor público, enfraquecendo a burguesia

do Estado, mediante o programa de privatizações.

As inovações trazidas com o advento da CF/88 evidenciam a participação

popular formal, através dos conselhos em todas as esferas. Para discutir esta

participação, torna-se oportuno a este estudo conceituar os conselhos com base na

78

normativa nacional, e avançar nas análises das experiências vivenciadas pelos

conselheiros do CMAS de Aquiraz-CE, estudo que se desenvolve no capítulo que se

segue.

79

3 O CENÁRIO EXPERIMENTAL DA REPRESENTATIVIDADE DOS CONSELHOS: PRESSUPOSTOS E ATITUDES EM FOCO

O objetivo deste texto é situar, com base na análise de diferentes

momentos históricos, como vem se processando as relações entre Estado e

sociedade civil no Ceará e suas repercussões para o delineamento da realidade

presente no cenário local. Tal perspectiva alinha-se a questões políticas,

econômicas, culturais e sociais, onde os aspectos relacionados às desigualdades, à

pobreza e ao enfrentamento desta problemática adquirem relevância. Destacam-se

as formas assistencialistas, que dominaram o fazer político local por longo tempo e a

ultrapassagem formal pelas vias legais de conquistas democráticas, ensejadas a

partir da Constituição de 1988, quando a Política de Assistência Social entra em

cena, delimitando novos horizontes para o enfrentamento do processo de exclusão

que, por longo tempo, limitou possibilidades concretas para a transformação da

realidade excludente, cujas marcas persistem (PINHEIRO, 2002).

3.1 A construção histórica da Democracia no Estado do Ceará

A incorporação do território cearense ao projeto colonial português deu-

se, de modo tardio, com as primeiras tentativas de Pero Coelho de Sousa em 1603,

depois com Martim Soares Moreno e, por último, com a chegada dos holandeses,

depois de mais de 150 anos de conquista do litoral pernambucano.

A Capitania do Ceará não despertava o interesse dos colonizadores, que

só se lançaram para desbravar suas terras, no momento em que a expansão da

produção açucareira passou a disputar terreno com a pecuária e, também, ao tempo

em que as possibilidades de ascensão social, pela propriedade de terras do sertão,

foram anunciadas com a doação da Carta de Sesmaria, entre 1679 até 1710

(PINHEIRO, 2002).

A ocupação da capitania do Ceará se deu com a submissão de sua

população indígena, tendo sido marcada pelo conflito entre nativos que defendiam

80

seus territórios, enquanto os colonizadores queriam “limpar a terra” para que o gado

pastasse livremente. Sendo assim, o avanço da pecuária implicava na prisão ou

mesmo extermínio dos índios, para a garantia da liberdade do gado, que no período

representava o interesse mercantil (Ib id, 2002).

A resistência armada dos povos nativos do Ceará prevaleceu de 1679,

com a doação das Sesmarias, até 1713, quando uma confederação dos povos

indígenas invadiu a Vila de Aquiraz, então capital da capitania do Ceará.

Delineava-se uma sociedade marcadamente patriarca, onde o poder

pessoal dos proprietários de terra adquiria relevância.

No início do século XIX, a economia pecuária no Ceará entra em crise,

dando lugar à produção do algodão, matéria prima ambicionada pela indústria têxtil

inglesa que se expandia no período. Nesse contexto, as terras adequadas para a

produção do algodão (Uruburetama, Baturité e a Vila de Fortaleza) foram palco de

disputa pelo interesse mercantil que representavam no momento (Oliveira, 2002).

As Vilas de Aquiraz e Fortaleza foram criadas pelo interesse de estratégia

militar, porque o Ceará era ponto de apoio para a conquista do Maranhão, portanto,

não havia da parte dos colonizadores, outros interesses que animassem maiores

investimentos para o desenvolvimento de tais vilas.

Entre 1817 e 1824 ocorreram os primeiros movimentos de caráter

republicano no Ceará. Sem negar a importância de tais movimentos, registra-se que

não promoveram alterações na estrutura social vigente, marcadamente escravista e

latifundiária, mantendo-se a garantia do poder dos proprietários de terras aliados ao

setor comercial nascente (Ib. Id., 2002).

A expansão da produção algodoeira necessitava de força de trabalho, e,

como os proprietários locais não tinham recursos suficientes, para a compra de mais

escravos, começaram a recorrer à população pobre usando de violência para obrigá-

los ao trabalho pesado.

O período de 1824 até 1845 foi marcado por profunda crise. O algodão,

que era o principal produto de exportação, perdeu força comercial devido ao

fechamento do mercado inglês. O comércio nascente e os grandes proprietários de

81

terras, que viviam da exploração do trabalho escravo e dos pobres, entraram em

decadência, apesar das iniciativas do governo da época, sob o comando do Padre

José Martiniano de Alencar (1834-1837 e 1840-1841).

Em 1850 ocorre o fim do tráfico internacional de escravos, e o período

marca a transição do trabalho escravo para o trabalho livre em todo o Brasil. Na

província do Ceará, apesar do trabalho escravo ter tido participação secundária, a lei

regulamentadora de acesso à terra beneficiou grandes proprietários, porque oferecia

instrumentos legais para garantir-lhes o domínio sobre a população pobre

(OLIVEIRA, 2002).

Em 1858, o Presidente da Província criou a Companhia dos

Trabalhadores do Ceará, uma organização militarizada, com seções em todas as

vilas, com a missão de alistar todas as pessoas, na faixa etária de 14 aos 45 anos,

sem ocupação regular, numa reedição da legislação contra a vadiagem (PINHEIRO,

2002).

O convencimento da população pobre, para aderir ao trabalho manual, foi

assumido pela Igreja Católica que, com seus missionários, percorria terras do

Nordeste, para convencer os pobres a se submeter ao trabalho disciplinado, sob a

condição de morador.

Outro aspecto relevante na história do Ceará, foi a repercussão política da

Abolição da Escravatura, mesmo considerando-se que a classe dominante de

proprietários de terras tinha domínio e controle sobre a situação. Na verdade, o

contingente de escravos no Ceará era reduzido e insignificante, representando

apenas 4,4% da população total, conforme o primeiro censo nacional de 1872.

O século XIX, analisado sob o olhar de Bezerra de Menezes (2002), sobre

os documentos disponíveis, atestam uma saga cujos condicionamentos geográficos,

etnográficos e econômicos conduziram a história sociopolítica, por uma trilha

marcada pela seca no sertão, o criatório de gado, o plantio de algodão, a coragem, a

força e a violência, o crime e o sangue, o sacrifício e o misticismo de um povo

ousado, que teria enfrentado primitivos ocupantes, dando lugar à formação de uma

gente mesclada (BEZERRA DE MENEZES, 2002).

82

As sequelas da escravidão, a pobreza, as desigualdades e o isolamento

de povos indígenas do meio rural cearense, não foram superadas e a submissão da

economia local, a cultura oligárquica desligada dos valores das grandes massas

adentravam à história que circunscreve a realidade do Estado do Ceará no decorrer

do século XX (OLIVEIRA,2002).

A travessia, percorrida para atingir o atual estágio de desigualdades

socioeconômicas no Ceará, como já se fez referência, tem antecedentes históricos.

Em 1824, Fortaleza foi elevada à categoria de cidade, apresentando, no período,

uma ascensão econômica pela evolução da lavoura algodoeira, estimulada pela

procura internacional e também pelas modificações técnicas do sistema de

transportes marítimos, o que gerou forte movimento comercial no Porto do Mucuripe.

Evidenciam-se, por esse tempo, as primeiras condições para o

surgimento do setor industrial no Estado, com a instalação de algumas fábricas a

partir de 1920.

As estradas de ferro, transitando entre a cidade e o sertão, levavam ao

campo a propaganda ilusória dos centros urbanos. O sertanejo cearense, desiludido

com o fraco desempenho da pecuária e da agricultura local, começa a migrar para a

Capital, Fortaleza ou outros destinos, em busca de trabalho na indústria ou no

comércio, mas para a grande maioria, o trabalho permanece uma ilusão: o

desemprego, o agravamento da situação de pobreza dentre outras dificuldades

ampliam as situações de violência e exclusão.

A partir da década de 1950, criam-se organismos tais como: SUDENE,

BNB e CHESF, todos eles com a missão de alterar o processo migratório campo x

cidade, apresentando soluções para a fixação do homem no campo, cujas medidas

mais frequentes se davam pela construção de açudes públicos, para minimizar os

efeitos das secas. No entanto, tais açudes, em maioria, foram construídos nas

propriedades dos latifundiários, desprotegendo o sertanejo pobre das adversidades

do clima, gerando-se por esse tempo, a chamada “indústria das secas” (OLIVEIRA,

2002).

83

Nos anos de 1960, os incentivos fiscais criados pela SUDENE estimulam

a aceleração do processo de industrialização no Ceará, entretanto, o setor agrícola

preserva características tradicionais. Em períodos de grandes estiagens de chuvas e

sucessivas secas, o processo migratório se mostra como alternativa de

sobrevivência para muitos.

Tal como no restante do país, o Ceará vivencia, de 1964 até 1970, o

período da ditadura militar, com os governos autoritários dos chamados “coronéis”.

Na transição democrática, no início dos anos de 1980, o governo civil de

Gonzaga Mota evidencia o verdadeiro caos econômico no Estado, onde a maioria de

seus “apadrinhados políticos” tinha um emprego público, muito embora não

prestassem nenhum serviço ao governo local. Como resultante dessas concessões,

o Banco do Estado do Ceará entrou em processo de falência, e os servidores

públicos passaram a enfrentar dificuldades, porque o salário não tinha calendário

fixo. Sem fundos no orçamento estadual, para cumprir compromissos com a folha de

pagamento dos servidores, o governo lançou as “gonzaguetas” (cheques sem fundo

emitidos pela gestão pública), que eram negociados pelos servidores com

comerciantes para pagamento posterior.

Entre 1978 até 1986 um grupo de “jovens empresários” se sucederam na

presidência do Centro Industrial do Ceará – CIC e assumiram papel político

relevante, privilegiando bandeiras tais como: o combate à relação promíscua entre

empresários e o Estado e a dependência financeira fiscal, provocada por tal relação,

bem como o combate à falta de eficiência, que tal dependência gerava no

comportamento empresarial; o combate às elites tradicionais locais e aos

compromissos estabelecidos por essas elites, de onde derivava o clientelismo

político local. O enfrentamento à realidade fiscal-financeira, que predominava no

governo estadual; a abertura política do país, o combate à queda do salário real, à

pobreza e aos problemas sociais. Tais propostas fizeram nascer, no interior do

Grupo de Jovens Empresários, o viés político “social-democrático” que, mais tarde,

em 1990, possibilitou o ingresso deste grupo no Partido da Social Democracia

84

Brasileira (PSDB), sob o comando do então governador Tasso Jereissati

(VERGARA, 2004).

Sintonizados com ideias de vanguarda, os jovens empresários do Ceará

transformaram o CIC num grande fórum de debates sobre os problemas políticos

sociais e econômicos locais. Aliados ao grupo dos oito (Ermírio de Morais, Paulo

Villares, Paulo d´Arrigo, Laerte Setúbal e Jorge Gerdau) assinaram, em 1978, o

Documento dos Empresários, onde faziam uma análise da situação política no

campo social do país (MARTINS, 1993). Nesse movimento, engajaram-se nas

campanhas pelas “Diretas Já”, e apoiaram a candidatura de Tancredo Neves à

Presidência da República.

A partir do fortalecimento político dos Jovens Empresários do Ceará, em

1986, contra os coronéis pelo poder do governo estadual, o nome de Tasso

Jereissati foi indicado para a representação do Grupo, na defesa de um projeto

político, representado pelo “movimento pró-mudanças” (AMARAL FILHO, 2004).

Em 1987, a população do Ceará elege Tasso Jereissati sob o slogan

“Governo das Mudanças” e o compromisso de superar valores deformados de

clientelismo e o protecionismo às oligarquias locais. O novo governo afirma o

compromisso com o enfrentamento à miséria, enfatiza o empenho de estruturar uma

base econômica forte, estabelecendo metas setoriais estratégicas para a construção

do Complexo Industrial Portuário do Pecém; Aeroporto de Fortaleza; a Rota Turística

do Sol Poente, dentre outras iniciativas infra-estruturais.

As medidas administrativas implementadas no Ceará, desde 1987, se

caracterizavam por serem uma proposta de modernização política, que

configuravam um novo paradigma nas relações entre o Estado e a Sociedade Civil.

Estas mudanças tiveram repercussões internas, com a melhoria da performance

financeira do Estado. Segundo dados do Instituto de Pesquisas e Estratégias

Econômicas do Ceará (IPECE), o Produto Interno Bruto (PIB) do Estado cresceu

127,99% no período de 1986 a 2000, correspondendo a uma taxa média anual de

5,65% (NETO CISNE, 2004).

85

Em abril de 2002, o Ceará foi o maior empregador industrial do Nordeste,

o que reflete resultados da política de atração de novos incentivos para o Estado

(IBGE/PNAD, 2002).

A ampla reforma do Estado, promovida pelo “Governo das Mudanças”,

gerou grande insatisfação entre os servidores públicos locais, porque os

“apadrinhados” dos antigos governos militares acumulavam até três empregos

públicos sem, de fato, contribuírem para a gestão do Estado. O governo de estilo

“empresarial” promoveu ajustes nas contas públicas e colocou o Estado na rota do

desenvolvimento.

Nos governos que se seguem (Ciro Gomes, a volta de Tasso Jereissati,

Lúcio Alcântara e o atual governo Cid Gomes) a inclusão social, como eixo

articulador para o desenvolvimento local, é a base dos sucessivos discursos

políticos. O enfrentamento aos desafios da pobreza e miséria buscam materialização

na mudança dos padrões de gestão pública. Essas propostas diferem da tradicional

intervenção assistencialista, junto a grupos vulneráveis, quando a distribuição

eventual de cestas básicas ou outros benefícios, eram moeda de troca pelo voto dos

desvalidos.

Apesar de todos esses esforços é importante considerar que a

caracterização da pobreza no Estado do Ceará envolve um conjunto de privações

históricas, culturais, políticas, sociais e econômicas, onde carências múltiplas de

alimentação, habitação, educação e saúde concorrem para um quadro desafiador.

Com uma população de 7,4 milhões de habitantes, o Estado do Ceará é

geograficamente dividido em 184 municípios, onde mais de 50% da população

sobrevive em situação de pobreza.

Dados do IBGE/PNAD de 2002, mostram que, além da distribuição

desigual de riqueza, o Ceará apresenta renda familiar baixa, equivalente a apenas

56,4% da renda nacional.

Nas áreas urbanas, a renda média mensal é de R$ 263,00 (duzentos e

sessenta e três reais) e esse valor é mais que o dobro da renda média dos

trabalhadores que residem nas áreas rurais. Destaca-se que, apenas 60% dos

86

trabalhadores rurais do Ceará possuem rendimento monetário, sendo ainda muito

comum o esquema de parcerias (meeiros) e produção para o próprio consumo

(FALCÃO, 2004).

A população da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) cresceu, a uma

taxa muito mais elevada do que qualquer outra região do Estado, com uma média

anual de 3,23%, enquanto que nas regiões costeiras, como é o caso do município de

Aquiraz, verificou-se o segundo maior crescimento, com média anual de 1,40%. Tal

crescimento se deu também em termos do mercado de trabalho concentrado à RMF,

onde 58,9% das oportunidades de ocupação e dão no setor industrial e 52,2% no

setor de serviços (FALCÃO, 2004).

Nesses termos, a manutenção de elevadas taxas de pobreza no Ceará,

não obstante o crescimento econômico verificado nas duas ultimas décadas, pode

ser considerada uma consequência dos efeitos históricos, combinados com os

desequilíbrios nas estruturas espacial e econômica, visto que o interior do Estado

tem mostrado limitada capacidade para potencializar desenvolvimento econômico

equilibrado, com investimentos no desenvolvimento social. Por outra via, a redução

contínua dos investimentos na agricultura não estimulou a permanência do homem

no campo, o que gerou processo de urbanização desordenado com aglomerações

de favelas estendendo-se pelos quatro cantos da capital.

Parafraseando a atual presidenta da República do Brasil, não se pode

falar sobre democracia em um país onde reina a pobreza, a miséria e os extremos

da desigualdade. É com esse sentimento, que este estudo avança para o próximo

tema, onde o cenário do município de Aquiraz é focalizado, na dinâmica das

representações do Estado e da sociedade civil local, no contexto do Conselho

Municipal de Assistência Social.

3.2 Poder local, representação e territorialidade: Reflexões sobre o Conselho Municipal de Assistência Social de Aquiraz-Ce

87

A sociedade brasileira contemporânea começa a mostrar sinais de

inquietação pela dissonância entre o discurso político democrático e a repressão

vivenciada por grandes contingentes, que no país permanecem vivendo situações

de extrema pobreza, com deterioração da qualidade de vida, ameaçada pelos altos

índices de violência, aumento do desemprego, dentre outros males sociais,

observados em pleno cenário de crescimento econômico.

Existe um amplo e recente consenso, em torno do qual não é qualquer

tipo de crescimento que gera desenvolvimento, o que vem sendo enfatizado pelo

Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), há mais de uma

década.

As desigualdades sociais se transformaram em desigualdades de

cidadania, impedindo o exercício dos direitos básicos, e deixando os cidadãos mais

pobres, como fácil presa do clientelismo e patrimonialismo, além de reduzir a

capacidade de participação e controle social.

No caso do Brasil e do Ceará, a presença da corrupção é um mecanismo

complementar, de grande importância na geração das desigualdades sociais

(VERGARA, 2004).

Faria (1993) adverte que a superação das desigualdades sociais afeta o

conjunto das políticas públicas mas, sobretudo, exige a alteração dos equilíbrios de

poder e das regras do jogo entre os diferentes atores sociais, e, para tanto, sugere a

reforma institucional.

As desigualdades territoriais foram anunciadas como o principal desafio

da nova Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR), portanto, focar o

olhar para os fatores internos, os condicionantes locais presentes no município de

Aquiraz-Ce é exercício que se pretende desenvolver a partir de então, nele situando

os achados de uma pesquisa de campo, onde os conselheiros municipais de

assistência social figuram como atores sociais qualificados, para apresentar

referências importantes sobre a participação e controle social, na dinâmica das

relações em que o Estado e a sociedade civil se esbarram, para negociações

88

voltadas à garantia dos direitos da população pobre que reside no município, sendo

esta, a parcela legalmente legitimada como público da política de assistência social.

Aquiraz constitui-se atualmente, dentro da classificação nacional,

enquanto município de médio porte, executor de uma política descentralizada e

habilitada pela Comissão Intergestora Bipartite (CIB-Ce), o que significa dizer que o

município coordena seu próprio Sistema de Assistência Social, sendo responsável

pela execução das ações e implementação dos benefícios, serviços, programas e

projetos no seu âmbito de atuação, a ele cabendo ainda, a organização da rede de

prestação de serviços socioassistenciais, em pactuação com o Estado e o Governo

Federal, na constituição e fortalecimento da rede de proteção social (PLANO DE

AÇÃO, 2007).

Aquiraz foi a primeira capital do Ceará, perdendo essa posição para

Fortaleza em 1799. Criada por ordem régia, em 13.02.1699, a Vila de São José de

Ribamar do Aquiraz disputou, durante muitos anos, a liderança política do Estado

com Fortaleza. O Município de Aquiraz pertence à Região Metropolitana de

Fortaleza, sendo o quarto em extensão territorial e o quinto em número de

habitantes, limita-se ao norte com o Oceano atlântico, Fortaleza e Eusébio, ao Sul

com os municípios de Horizonte, Cascavel e Pindoretama, a leste com o oceano

atlântico e a oeste com os municípios do Eusébio, Itaitinga e Horizonte

(IBGE/Iplance – Projeto Arquivo Geográfico Municipal).

Abrange três unidades geoambientais: planície litorânea, planície flúvio-

marinha e tabuleiro pré-litorâneo. Sua diversidade ambiental é composta de dunas,

vegetação pioneira da caatinga litorânea, manguezais banhados por rios,

margeados por carnaubais, que formam a fisionomia típica do estuário. O clima é

tropical quente sub-úmido, com temperatura média de – máxima 36º C e mínima de

28º C (FUNCEME/INMET). Apresenta uma pluviometria variando de 1.379 mm/ano,

até 900 mm/ano. Está totalmente inserido na bacia hidrográfica do Rio Pacoti. As

potencialidades físicas e naturais destacam o município como território de

significativo valor histórico, paisagístico, ambiental e cultural.

89

A beleza das praias, o potencial hídrico, vegetal e de solos, atraiu a

ocupação do território, hoje correspondente aos seus limites municipais. A vocação

turística é confirmada pelo patrimônio ambiental e histórico. 30 km de litoral são

constituídos por diversas praias conhecidas nacionalmente, como Porto das Dunas,

Prainha, Presídio, Iguape, Barro Preto e Batoque.

Um dos grandes atrativos de Aquiraz, a faixa litorânea, é responsável

pelas altas taxas de expansão imobiliária da região. Um dos principais problemas

está no uso ligado a atividades de veraneio, o que faz com que os loteamentos e

casas sejam muitas vezes ocupados por estrangeiros.

A partir dos anos de 1990, a atividade turística passou a se orientar pela

intenção de fazer de Aquiraz, um município capaz de atrair investimentos e

equipamentos de grande porte, para servir de âncora à atividade turística nacional e

internacional e movimentar a vida econômica da comunidade local, com a geração

de empregos. Diversos conflitos foram travados no contexto fundiário do litoral, que

culminaram com o litígio jurídico entre a comunidade local e empresários, que

tentavam investir e construir em áreas como o Batoque, que tornou-se propriedade

da União, sendo atualmente gerida pelo IBAMA.

Aquiraz é um município de extremos e complementaridade. Em sua faixa

litorânea observa-se de um lado, a base local (leste – representada pela Reserva

Extrativista do Batoque), lutando pela preservação e manutenção das características

locais, enquanto que no Porto das Dunas (oeste), as premissas do desenvolvimento

com base na inserção econômica do capital internacional. De acordo com a

Secretaria Estadual de Turismo, Aquiraz possui hoje o maior parque hoteleiro do

Ceará.

A produção agrícola municipal é montada em bases tradicionais, sendo o

cultivo de frutas e cultura de subsistência, uma importante parte da produção

municipal. É destaque ainda, a criação bovina, suína e equina. A produção avícola

ocupa a primazia em arrecadação de ICMS, sendo responsável pela absorção do

maior número de empregados do setor e fonte de alimentação local. A atividade

90

extrativa do município resume-se à produção da cera de carnaúba e a extração de

lenha, usada como fonte de geração de energia.

O setor secundário concentra indústrias de bens de consumo,

especialmente de bebidas e castanhas. É no setor terciário que está concentrada a

maior parcela do PIB de Aquiraz, em especial no setor de serviços, que contribui

com 52,01%, principalmente nas atividades ligadas ao turismo receptivo.

No setor terciário, os vínculos mercantis são fortes com o município de

Fortaleza, para onde escoa a produção agrícola e artigos industrializados,

importando desta, produtos manufaturados.

Atualmente o município prepara-se para ser sub-sede da copa de 2014 e

algumas ações vem sendo fomentadas, no sentido de preparar a população para

atender melhor ao turista, investindo ainda, em parceria com o Governo Federal e

Estadual, na ampliação da estrada que corta o município.

Aquiraz é atualmente administrada pelo senhor Edson Sá, que foi prefeito

de Eusébio, em 1966 e no ano 2000. Em 2004, ele não disputou as eleições no

município do Eusébio, quebrando a sequência de reeleições, e, em 2008 foi eleito,

em primeiro turno, prefeito de Aquiraz pelo PMDB, com 18.650 votos (Tribunal

Regional Eleitoral do Ceará – Secretaria de Tecnologia da Informação: Resultados

Eleitorais – Eleições Municipais 2008 – 1º turno – 05/10/2008).

A assistência social em Aquiraz, na perspectiva de implantação do

Sistema Único de Assistência Social (SUAS), iniciou sua reestruturação em 2005

com a habilitação do município e medidas de adequação inerentes à adesão. Neste

período, foram empossados 08 gestores da Política do Trabalho e Assistência Social

no Município, com a missão de consolidar o SUAS, conforme os preceitos

estabelecidos na LOAS.

Para executar as ações da Política de Assistência Social, o município

conta com equipamentos públicos, integrantes da estrutura organizacional da

Secretaria do Trabalho e Ação Social (STAS): 04 CRAS – Centro de Referência da

Assistência Social; 01 CREAS – Centro de Referência Especializado da Assistência

Social; Projeto ABC; Casa dos Conselhos; Cozinha Comunitária, Casa do Cidadão,

91

dentre outros. Em consonância com os preceitos constitucionais e com a

NOB/SUAS, executa atividades de Proteção Social Básica, Proteção Social

Especial, Segurança Alimentar e Transferência de Renda.

A Rede Socioassistencial privada passa a integrar o SUAS, não somente

como prestadora complementar de serviço, mas como co-gestora e corresponsável

pela garantia de direitos sociais dos usuários da assistência social, na perspectiva

da reafirmação do SUAS e do rompimento com qualquer conceito de assistência

social que não seja sua compreensão como política pública. A rede é composta pela

iniciativa pública, em parceria com as entidades da sociedade civil, com as quais a

STAS de Aquiraz, através da Casa dos Conselhos, desenvolve um trabalho de

assessoramento e acompanhamento, convidando-os à participação e ampliando

parcerias com agentes financiadores.

Através do Plano Plurianual de Assistência Social trienal, considerado

instrumento político de discussão entre o governo e a sociedade civil, propõe

“Desenvolver a Política de Assistência Social, em consonância com o SUAS e

demais legislações pertinentes, de forma integrada às políticas setoriais, com a

finalidade de combater as vulnerabilidades sociais e desenvolver as potencialidades

das famílias” (PLANO PLURIANUAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL DE AQUIRAZ,

2004-2007-2010, p.39). E considera em seus objetivos específicos a implantação de

um sistema de informações, monitoramento e avaliação da política de assistência

social, que funcione em articulação com o Conselho Municipal de Assistência Social

de Aquiraz. Considera ainda, que este Conselho deverá ser consolidado, enquanto

instância máxima de controle social, propondo seu assessoramento ao CMAS de

Aquiraz, a fim de subsidiar tecnicamente a tomada de decisões do colegiado.

Com uma densidade demográfica de 125,79 hab./km², o município de

Aquiraz apresenta uma população de 67.265 habitantes, segundo estimativas do

IBGE/2007, distribuída em nove distritos administrativos: Sede, Jacaúna, Justiniano

de Serpa, Camará, Patacas, Tapera, Caponga da Bernarda, João de Castro e Assis

Teixeira, sendo 34.620 homens e 32.645 mulheres, ocupando uma área total de

480,97 Km².

92

A base de dados do Cadastro Único de Aquiraz, referenciada no mês de

dezembro de 2010, contabiliza um total de 13.342 mil famílias com cadastros ativos

e 53.416 mil indivíduos cadastrados. Do total de famílias, 8.235 figuram como

beneficiárias do Programa Bolsa Família.

A distribuição dos beneficiários dos programas de transferência de renda,

por faixa etária, mostra que 11.819 compreendem a idade de 01 mês incompleto até

12 anos incompletos; 11.499 de 12 a 18 anos; 30.055 de 19 anos completos e 1.427

a partir de 67 anos completos. Ressalta-se, também, que em dezembro de 2009 o

sexo feminino configura-se entre o maior número de pessoas cadastradas, 52,9% e

o sexo masculino 41,1%.

Quanto à renda observou-se que 13.172 domicílios apresentam renda

familiar média inferior a 01 salário mínimo; 170 domicílios possuem renda familiar

média a partir de 01 salário mínimo, evidenciando-se a condição de pobreza entre

expressiva parcela da população local.

Os dados relativos à situação no mercado de trabalho revelam, no que

tange aos beneficiários dos programas de transferência de renda, que 8.142 são

assalariados, com Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) assinada.

4.581 são assalariados, sem Carteira de Trabalho assinada; 84 autônomos, com

previdência social; 2.655 autônomos, sem Previdência Social; 6.119 são

aposentados e 31.835 se enquadram em outras situações.

Considerando-se o conjunto de todos os beneficiários ocupados, verifica-

se que a ocupação mais representativa é de empregado doméstico, com 7.488

ocupações, dos quais a grande maioria é composta por mulheres chefes de família.

Em seguida, aparece trabalho agrícola polivalente (7.349); servente (3.702);

faxineiro (3.291); tecelão de rendas e bordados (1.468); lavadeira (1.149); costureira

(1.021); avicultor (829); pedreiro (431); garçom (420); gari (319) e lixeiro (226)

(Dados do Cadastro Único de Aquiraz – Dez, 2010).

Procedendo-se à análise quanto ao tipo de moradia das famílias inseridas

no Cadastro Único, tomando-se como base as informações de dezembro de 2009,

constata-se que 12.713 beneficiários residem em casa e 42 em cômodos. Sobre o

93

tipo de construção dos imóveis, os dados indicam que 12.558 são de tijolo/alvenaria,

102 de madeira e 98 de adobe.

Com relação à situação dos imóveis, verifica-se ainda, que 2.952 são

cedidos, 756 alugados, 24 invadidos, 17 arrendados, 5 financiados e 9.883 próprios.

Com relação aos serviços públicos de fornecimento de água e iluminação

pública, existem 7.850 domicílios com abastecimento por meio de poço/nascente e

34 por carro pipa. A iluminação residencial se dá por meio de relógio próprio, com

fornecimento terceirizado pela companhia estadual – 11.087, enquanto que 491

domicílios compartilham o abastecimento, 968 não possuem luz, utilizando vela e

lampião como meio de iluminação.

No que se refere ao tratamento de água, de acordo com informações do

Cadastro Único, em 2.234 residências se dá por meio de coloração; 8.014 por meio

de filtração; 384 consomem água após fervura e 2.835 domicílios sem qualquer tipo

de tratamento. O esgotamento sanitário, feito por meio da rede pública, abrange

1.057 domicílios (dos inscritos no Cadastro Único). 7.072 utilizam fossa rudimentar;

3.969 fossa séptica; 1.210 céu aberto e 141, vala.

No que concerne ao lixo, os dados do Cadastro Único de dezembro de

2009 revelam que 8.814 domicílios são atendidos pela coleta pública; 3.599 fazem a

queima dos resíduos; 899 enterram; 422 despejam a céu aberto; 77 dão outro

destino ao lixo.

Sobre as condições das moradias dos beneficiários da Política de

Assistência Social, registrados no CADÚNICO, as construções necessitam de apoio

do Estado, haja vista a precariedade de boa parte delas, seja nos materiais

utilizados, seja pela falta deles, ou pelo número de cômodos incompatíveis com o

número de moradores.

No tocante ao perfil educacional, cabe ressaltar a necessidade de se

planejar e executar ações promotoras da elevação dos níveis de escolaridade e de

capacitação profissional dos beneficiários dos programas sociais, tendo como

referencial, o preceito da intersetorialidade preconizada pela Política Nacional de

94

Assistência Social, buscando maior articulação e parceria entre as áreas de

educação e trabalho.

O número de pessoas no CADÚNICO, com até a quarta série do ensino

fundamental completo, é de 43.377, o que representa, em termos percentuais 79%

do total da base de dados, referente a dezembro de 2009. O nível de escolaridade,

nos dias atuais, é fator de grande relevância nas condições e possibilidade de

inclusão social, notadamente no mercado de trabalho, mesmo em ocupações ou

negócios autônomos, no segmento do empreendedorismo.

Os dados relativos aos perfis de educação de Aquiraz permitem avaliar os

desafios e metas a serem alcançados, notadamente quanto aos baixos níveis de

escolaridade dos beneficiários cadastrados no CADÚNICO, que associado à falta de

qualificação profissional, dificulta a inclusão via promoção do emprego, haja vista os

dados de escolaridade dos beneficiários dos programas de transferência de renda.

Em sua estratégia gerencial, a Prefeitura de Aquiraz estruturou um

espaço para funcionamento dos conselhos municipais (Casa dos Conselhos),

garantindo, secretaria executiva, equipamentos e outros insumos necessários ao

ordenamento das ações, tendo implantado calendário mensal de reuniões para os

Conselhos Municipais de Assistência Social e dos Direitos da Criança e do

Adolescente, além de outros requisitos para qualificar sua atuação.

Fisher (19993) afirma que, o poder local não se reduz à dimensão da

territorialidade. Abordar o poder local envolve a discussão de relações de poder, que

se estabelecem entre diferentes atores sociais, em diferentes esferas, não restritas

ao município. De acordo com esta autora, “local não significa, necessariamente, um

espaço físico determinado e delimitado geograficamente” (FISHER, 1993, p. 11).

O poder local, para efeito deste estudo, pode ser identificado como a

governança do município, ou seja, para além dos gestores da prefeitura, o poder

local envolve os atores importantes do processo econômico, político e cultural, sua

força de trabalho e, principalmente, as redes socioassistenciais oficialmente

instaladas, que se inserem na gestão dos conselhos e, mais especificamente, no

Conselho Municipal de Assistência Social, cujas condicionalidades de gestão

95

passam a ser analisadas no próximo tópico desta dissertação, em suas condições

objetivas de funcionamento e, logo em seguida, a partir das considerações de seus

atores sociais.

3.3 Conselhos e conselheiros: Participação e controle Social por / para quem?

Alimentar as possibilidades de participação legitimada é um grande

desafio no Brasil, especialmente para os municípios nordestinos, onde a

centralização do poder, o analfabetismo, o voto do cabresto e o clientelismo, dentre

outros comportamentos, determinaram a condição de aceitação da realidade e

distanciaram o povo do exercício da cidadania. Esta compreensão ficou evidenciada

no resgate histórico viabilizado por este estudo, idealizado sob a hipótese de que os

conselheiros da política de assistência social de Aquiraz enfrentam grandes

limitações ao exercício imparcial de suas funções, a começar pelo desconhecimento

de seu próprio papel, na defesa aos interesses do público da assistência social.

Para desvelar tal hipótese, e considerando os questionamento e objetivos

iniciais que orientaram a formulação desta pesquisa, o estudo de caso focado na

participação e controle social, experimentada pelos atores sociais que integram o

Conselho Municipal de Assistência Social (CMAS), delineou-se metodologicamente

como a opção mais viável para sua concretização.

De acordo com Yin (1989), a preferência pelo estudo de caso deve ser

dada quando o estudo de eventos contemporâneos, em situações onde os

comportamentos relevantes não podem ser manipulados, mas onde é possível se

fazer observações diretas e entrevistas sistemáticas. Apesar de ter pontos em

comum com o método histórico, o estudo de caso se caracteriza pela capacidade de

lidar com uma completa variedade de evidências – documentos, artefatos,

entrevistas e observações.

Este método foi eleito, por ser o objeto desta pesquisa, um fenômeno

contemporâneo e plenamente situado dentro do contexto de vida real. A

necessidade de utilização da estratégia de “estudo de caso” advém do desejo de

96

entender um fenômeno social complexo, que envolve categorias distintas:

participação, controle social e conselho de assistência social, traçando um diálogo

entre a empiria e a história.

Alguns estudiosos criticam o método de estudo de caso, acusando este

de falta de rigor, por possibilitar a influência do investigador e fornecer pouquíssima

base para generalizações. Porém, é sabido que há diversas maneiras de evidenciar

a validade e a confiabilidade do estudo, através da análise documental ou mesmo de

evidências empíricas comprováveis. De acordo com Frota (1992) o que se procura

generalizar são proposições sobre populações, de tal modo que os estudos de

casos múltiplos e as replicações de um estudo de caso com outras amostras podem

indicar o grau de generalização de proposições e “nem sempre é necessário recorrer

a técnicas de coleta de dados que consomem tanto tempo” (FROTA, 1992, p. 20).

Além disso, a apresentação do documento não precisa ser uma enfadonha narrativa

detalhada.

Em sua essência, o estudo de caso visa esclarecer um conjunto de

decisões em seus porquês e motivos de implementação e resultados obtidos. O que

vem a se enquadrar de modo perfeito na busca pelo alcance do objeto deste estudo.

Para investigar o controle e a participação social vivenciada pelo

Conselho Municipal de Assistência Social de Aquiraz, o método de estudo de caso

mostrou-se adequado por permitir reconhecer as fronteiras entre o fenômeno

exposto e seu contexto real de realização, permitindo a utilização de múltiplas

evidências.

Esse método contém especificidades que permitem explicitar as ligações

causais em intervenções ou situações da vida real, que sendo complexas, devem

ser descritas no contexto em que ocorreram a fim de possibilitar analise e sugestões

a partir dos seus resultados. Nessa perspectiva, adotou-se o método de estudo de

caso como referência para este estudo, por permitir a “validação interna”, que visa

estabelecer o relacionamento causal que testa a coerência interna entre as

proposições iniciais dos fatos, para se analisar com a observância de seu

desenvolvimento os resultados encontrados.

97

As características do investigador tornam-se pressupostos para o bom

andamento da aplicação do método de estudo de caso. De acordo com Souza

(1998) deve ser assegurada a capacidade de extrair do caso as informações

relevantes, através de procedimentos fortemente baseados na percepção e

capacidade analítica para tanto, sendo necessário ser bom ouvinte e não ficar

prisioneiro de preconceitos. Nas palavras de Lisieux (1998) é preciso que o

pesquisador seja adaptativo e flexível, sem perder o rigor para trabalhar evidências

convergentes e as interferências prováveis que referendam os achados.

Decidida a escolha sobre o estudo de caso, a seleção da base

documental e bibliográfica foi decisiva para as reflexões sobre a trajetória histórica

do processo de exclusão social arquitetado desde o Brasil Colônia em cujos

determinantes foram assentadas formas de assistencialismo, paternalismo e tantas

outras estratégias de subordinação das camadas populares empobrecidas ao

poderio do Estado em suas mais diferentes fases até as conquistas democráticas do

presente.

A abordagem qualitativa foi proposta nesta pesquisa por sua

peculiaridade de viabilizar estudos voltados para a compreensão da vida humana

em grupos, em campos como sociologia, antropologia, psicologia, dentre outros das

ciências políticas e sociais. De acordo com Denzin e Lincon (2000), esta abordagem

tem tido diferentes significados ao longo da evolução do pensamento científico, mas

se pode dizer, enquanto definição genérica, que abrange estudos nos quais se

localiza o observador no mundo, constituindo-se, portanto, num enfoque naturalístico

e interpretativo da realidade.

Oliveira (2003) defende que um estudo comporta os dois tipos de

abordagem: quantitativa e qualitativa. A primeira, preocupa-se com a quantificação

de dados, utilizando para tanto de técnicas estatísticas. Por outro lado, as pesquisas

de natureza qualitativa envolvem uma grande variedade de materiais empíricos, que

podem ser estudos de caso, experiências pessoais, histórias de vida, relatos de

introspecções, produções e artefatos culturais, interações, enfim, materiais que

descrevam a rotina e os significados da vida humana em grupos.

98

Partindo das premissas elencadas ao longo desta dissertação, este

estudo objetivou analisar a dinâmica da participação e do controle social no interior

do Conselho Municipal de Assistência Social de Aquiraz, no período compreendido

entre os anos de 2005 a 2010, suas nuances e peculiaridades. A idealização deste

estudo comportou em si, muitos questionamentos. Interessava discutir inicialmente:

Quais os significados do controle social da Política de Assistência Social exercido

pelos conselheiros? Como se qualifica a implementação da Política de Assistência

Social em Aquiraz? Outros questionamentos emergiram de imediato, por mostrarem-

se intimamente vinculados: como ocorre o debate para a tomada de decisões no

CMAS de Aquiraz? Estas decisões estão sendo efetivadas? Ou apenas legitimam

imposições advindas do executivo local? Os conselheiros compreendem e fazem

parte do processo de definição orçamentária para a assistência social? De que

forma funciona este conselho? Como se dá o acesso às informações e instrumentos

para o exercício do controle social? Como se dá o processo de eleição deste

colegiado? Há um programa de formação destes conselheiros? Este conselho vem

acompanhando e monitorando, ao longo de sua existência, as entidades existentes

no Município e a aplicação de recursos executada pelo governo? Que registros há

no tocante a isto? Que resultados foram obtidos? O CMAS – Aquiraz, enquanto

instância de controle e participação, exercita tal poder ou pode ser configurado

apenas como um instrumento formal, no cumprimento de exigências para o repasse

de recursos públicos estaduais e federais ao município? Qual a avaliação do

Colegiado a respeito da importância e execução de seu papel? Quais são os

principais desafios para execução do controle a da participação dentro do Conselho

de Assistência Social de Aquiraz? Enfim, de que forma a prática ensejada pela

LOAS vem sendo contemplada neste processo?

Diante de tantos questionamentos, uma pergunta central motivou este

estudo: O Conselho Municipal de Assistência Social de Aquiraz cumpre com sua

missão de participação e controle social, conforme os determinantes da Política

Nacional de Assistência Social?

99

Para responder a estas questões efetivou-se uma pesquisa documental,

junto à Casa dos Conselhos do Município de Aquiraz, cujo conteúdo é matéria que

referenda a atuação deste colegiado e posteriormente, uma pesquisa de campo, a

partir da qual, identificam-se as proposições dos atores envolvidos no processo de

controle social (conselheiros municipais de assistência social) acerca das questões

aqui elencadas.

O trabalho de campo foi orientado por um instrumental de pesquisa

(Apêndice I) cujas abordagens, em forma de perguntas abertas e fechadas

permitiram aproximações acerca da dinâmica efetivada no cotidiano dos

conselheiros, onde a participação e o controle social constituem-se no centro das

investigações efetivadas no âmbito deste estudo.

O instrumental utilizado nas entrevistas segue roteiro semi estruturado,

para fins de melhor aproveitamento dos achados. Na entrevista se reproduziram

falas espontâneas dos indivíduos, constituindo-se numa fonte de expressão dos

fatos (MARTINELLI, 1992).

Para compor um quadro amostral dos participantes deste estudo,

estimou-se que no decorrer do quinquênio 2005 até 2010 o Conselho Municipal de

Assistência Social de Aquiraz vivenciou três gestões distintas, porque a cada dois

anos são efetivadas eleições. Outro dado que orientou a seleção da amostra deu-se

a partir do quantitativo de atores sociais, que integram seu colegiado composto por

36 representantes da sociedade civil e 36 representantes governamentais,

perfazendo um universo de 72 conselheiros. Sem dispor de informações prévias

sobre a recondução de conselheiros durante os três períodos de gestão, contidos no

intervalo de 2005 até 2010, decidiu-se trabalhar com uma amostra de 24

conselheiros, que em números percentuais representam 30% do total de

conselheiros, conduzidos a esta função em cada mandato no período estudado.

O critério de escolha dos participantes das entrevistas deu-se de modo

aleatório, considerando-se como princípio algumas condições essenciais: primeiro, o

interesse do conselheiro em participar da entrevista e, por último, e não menos

100

importante, sua vontade de contribuir livremente com suas próprias observações

sobre a prática vivenciada nas reuniões do referido conselho.

Os indicadores de análise correspondem aos mais diferentes

questionamentos que orientaram este estudo, articulados às determinações

propostas na Lei Nacional de Criação dos Conselhos, nas três esferas de governo

(Lei nº 8.752). No caso específico das competências, a preocupação central é

observar se estas garantem aos conselhos municipais formas de participação ativa

na gestão da política de assistência social, em especial no que tange às funções de

fiscalização e controle do fundo municipal para a política de assistência social.

Considerando ainda que a existência formal não garante a efetiva ação

destes organismos públicos de participação e controle social, este estudo procurou

compreender as peculiaridades de tais questões, relacionadas à ação dos

conselheiros e sua contribuição para o desempenho da política de assistência social

em Aquiraz.

3.3.1 O perfil dos conselheiros municipais de Assistência Social de Aquiraz

Durante o período de elaboração deste estudo, esta pesquisadora esteve

presente às reuniões mensais, ordinárias e extraordinárias do CMAS de Aquiraz,

sempre na condição de ouvinte. A oportunidade propiciou conhecer os conselheiros

e realizar o acompanhamento do livro de registro (Atas) destas reuniões, bem como

dos documentos pertinentes a este conselho.

A decisão de entrevistar o maior número possível desses atores sociais

convergiu para orientar a busca nos registros, os possíveis contatos destes sujeitos

e ao final foi possível realizar o total de 24 (vinte e quatro) entrevistas, cujos

resultados passam a ser apresentados. De acordo com as informações contidas no

quadro 1 (ver anexo), 25% dos entrevistados foram conselheiros durante os anos de

2005 a 2007; 33,3%, representaram o conselho no intervalo entre os anos de 2007 e

2009 e 41,6% da amostra deste estudo, esteve enquanto conselheiro do CMAS de

Aquiraz nos anos de 2009 a princípio de 2011.

101

Quanto ao tipo de representação, foram entrevistados 13 representantes

governamentais e 11 representantes não governamentais, que cumpriram mandato

dentro do período estipulado. Observou-se a repetição de nomes de representantes

não governamentais, devido à recondução. O mesmo não acontece quando se trata

da composição governamental, que não é reconduzida, pois de modo geral, ao

término da gestão, tais profissionais são imediatamente destituídos de seus cargos,

bem como das funções de conselheiro, perdendo qualquer espécie de vínculo

empregatício com o município, exceto em 02 casos identificados neste estudo, por

se tratar de trabalhadores concursados.

No que se refere ao local de residência dos conselheiros (ver quadro 2)

observa-se que, na maioria, os residentes em Aquiraz são os representantes de

Organizações Não Governamentais (ONGs), muitas vezes pessoas que acumulam

cargos na Prefeitura e assumem funções diversas em associações não

governamentais – algumas vezes figuram como dirigentes ou mesmo fundadores

destas ONGs.

A maioria dos que não residem em Aquiraz é composta por

representantes governamentais do Conselho. Como já se fez referência, estes

sujeitos estão muitas vezes em cargos comissionados, que perduram durante uma

gestão da administração pública, portanto, terminam não aprofundando

compromissos com a transformação da realidade do município.

Dos entrevistados nesta pesquisa, apenas 04 afirmaram não trabalhar no

Município de Aquiraz (ver anexo, quadro 3). Quando questionados, justificaram que

no período em que foram conselheiros, exerciam atividades na Prefeitura de Aquiraz

e que atualmente estão exercendo outras funções em outros órgãos e não possuem

nenhum vínculo com a Prefeitura local. Tais atores demonstraram desconhecimento

sobre a situação da política atual do município. Dentre os entrevistados que

afirmaram não trabalhar em Aquiraz, há os que ainda nele residem, e, portanto,

acompanham a gestão da política e dos conselhos, mesmo afirmando que não estão

ativamente envolvidos.

102

Levando em consideração que 30% dos entrevistados (ver anexo,quadro

4) nem residem nem trabalham mais no município, pode-se observar que o número

dos que mantiveram vínculos trabalhistas passageiros com a gestão local é

relativamente alto. Considerando-se que passaram menos de 01 ano exercendo

atividades laborais no município, sugere-se que também não cumpriram o mandato

de Conselheiro, que no caso é de 02 anos.

Quanto à faixa etária (ver anexo, quadro 5), observa-se que os

conselheiros são indivíduos na idade produtiva, entretanto não se tem elementos

para afirmar o tempo de suas vidas dedicado às causas sociais ou movimentos de

lutas por questões de interesse social.

No que se refere à questão de gênero (ver anexo, quadro 6), a

representação é equilibrada, mas segundo a lógica dos dados do IBGE que

demonstram que no caso brasileiro, especialmente do Nordeste, o número de

mulheres é superior ao de homens, a representação feminina supera

quantitativamente à masculina.

A análise dos dados do quadro que trata do grau de instrução dos

Conselheiros do CMAS de Aquiraz (ver anexo, quadro 7) demonstra que todos são

alfabetizados e possuem a formação mínima para o exercício da função. Somando-

se os que apresentam mais baixo grau de escolaridade, variando entre o ensino

fundamental completo e o médio completo, chega-se ao quantitativo de 06 (seis)

conselheiros, ou seja, 25% do total. Mais representativa é a faixa que vai do ensino

superior completo ao pós-graduado, composta por 75% dos conselheiros. Se a

educação é determinante para a base de consolidação da cidadania ativa, esses

conselheiros, pelo grau de escolaridade que acumulam, supostamente estão

qualificados para defender os interesses das categorias populacionais que

representam.

Quando questionados quanto à disponibilidade de tempo para participar

das reuniões do conselho (anexo, quadro 8), 54% dos entrevistados respondeu

afirmativamente, confirmando ter disponibilizado tempo para esta atividade. As

demais respostas, 46% (não, raramente podia comparecer e compareceu à maioria

103

das reuniões) convergem para o entendimento de que a dinâmica da realidade e a

evolução dos procedimentos, normas metodológicas e outros componentes da

política de assistência social, exigem tanto dos profissionais que dinamizam sua

prática, quanto dos seus conselheiros, a apropriação de conhecimentos sempre

renovados.

Não há como participar ativamente da dinâmica da realidade, sem um

projeto consistente de capacitação dos atores sociais, que se inserem na

representatividade dos interesses da comunidade.

Quando questionados se atualmente exercem a função de conselheiro

(ver anexo quadro 09), apenas 12,1% dos entrevistados respondeu de maneira

negativa. Os demais, estão atualmente inseridos em outros conselhos,

especialmente no Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente,

(30,3%) e no próprio Conselho Municipal de Assistência Social, onde 24,4% dos

entrevistados exerce atualmente a função de conselheiro. Acumular a função de

conselheiro acaba sendo naturalizado e a representação permanece mantendo-se

entre pequeno grupo. Em tais condições, a vivência democrática limita-se mais ao

aparato burocrático que a determina, que na sua expressão maior de participação e

exercício do controle social.

De acordo com a Lei Municipal nº 079, o tempo de mandato dos

conselheiros da assistência social de Aquiraz deverá ser de dois anos, com uma

única recondução subsequente. Os dados obtidos nesta pesquisa (ver anexo,

quadro 10) demonstram que, em sua maioria, os conselheiros participantes deste

estudo foram reconduzidos.

Ocorre que na análise dos questionários, o cruzamento dos dados

permite verificar que a recondução acontece exclusivamente no caso das ONG´s,

visto que muitos conselheiros representantes governamentais, como já dito

anteriormente, não permanecem por muito tempo trabalhando no Município, porque

assumem, por curto tempo, contratos temporários de trabalho, numa alternativa que

vem sendo utilizada no cenário contemporâneo do mundo do trabalho e,

104

principalmente, pelas prefeituras que fogem da legislação que determina a exigência

de contratação de pessoal via concurso público.

Uma evidência observada no município de Aquiraz, no que concerne ao

acúmulo de responsabilidades assumidas pelos conselheiros, consiste no fato de

que estes atores sociais são frequentemente convocados a se inserirem como

representantes de diferentes políticas públicas. Dos 24 entrevistados, 11 (45.8%)

acumulam representatividade em outros conselhos municipais (ver anexo, quadro

11). Considerando o contingente populacional que habita Aquiraz, tal evidência

converge para sugerir que a população local não vivencia uma participação ativa, na

condução dos seus próprios interesses. Restrita a poucos atores sociais, a

representatividade não é disseminada, e o conhecimento sobre a realidade local

permanece restrito a pequeno grupo, que acaba acomodando-se ou se sentindo

incomodado com a frequência com que são convocados a assumir tal função.

Após delinear o perfil do Conselheiro Municipal de Assistência Social de

Aquiraz, passamos a investigar as questões referentes às concepções teóricas

destes, de acordo com o que se segue.

3.3.2 Concepções teóricas

A compreensão dos conselheiros municipais de assistência social de

Aquiraz, sobre o significado do controle social encontra, em expressiva maioria das

respostas, ressonância com as formulações teóricas sobre essa categoria analítica.

Algumas respostas, no entanto, apelam para relacionar o controle social a uma

prática de “inspeção policial”, conforme observa-se no discurso dos entrevistados

(ver quadro 12) que afirmam que o controle social serve “para que o prefeito não

roube” (entrevistado 05), “para controlar a roubalheira do governo” (entrevistado 20).

O agravamento da questão social, somado ao descrédito na ação

governamental, mobilizou a produção de ideias sobre a necessidade de alargamento

dos espaços de formulação e gestão das políticas públicas, para inserir a

participação de novos atores sociais no campo das decisões políticas.

105

A persistência das formas clientelistas, tão conhecidas nas ações dos

gestores inescrupulosos que continuam praticando antigas formas de

apadrinhamento político e assistencialismo, acabam gerando descrédito e incitando

revolta entre atores sociais mais esclarecidos, que já não aceitam a costumeira

“enganação” de alguns, principalmente nas manobras políticas, onde o desvio de

dinheiro público compromete a transformação da realidade de pobreza e injustiças.

Quando questionados sobre o conceito de participação, nem todos os

conselheiros verbalizaram, visto que 12% dos entrevistados não responderam a este

questionamento (ver anexo, quadro 13). Entre os demais (83,3%), os

posicionamentos são convergentes, para um entendimento sobre esta categoria

analítica. Alguns se expressaram por meio de conteúdo simplista, sugerindo não

possuírem uma leitura mais aprofundada sobre esta questão. Não existe aqui, a

intenção de secundarizar as contribuições dos entrevistados, mas de ressaltar o

conteúdo simbólico que o ato de participar confere aos atores sociais, que se

qualificam para assumir a representatividade dos interesses, no caso específico

deste estudo, da população que demanda serviços e benefícios da Política de

Assistência Social.

Assim considerando, vale ressaltar a fala de um dos entrevistados:

“participação é um dos princípios democráticos, que não foi possível transformar-se

em realidade por longos períodos da nossa história, mas que hoje é

institucionalizado” (entrevistado 2). Vale observar que “ser institucionalizado” não

garante ser efetivamente assumida e praticada. Há um reducionismo na

compreensão dos entrevistados. Mesmo assim, importa destacar que a participação

em formatos (instâncias a exemplo dos conselhos) oficialmente criados, abre

possibilidades mais amplas, do que marcar presença em uma Reunião Ordinária ou

Extraordinária do Conselho.

A participação pressupõe o aprendizado da ação política, a utilização da

vontade colaborativa, bem como a capacidade de fazer fruir coletivamente a vida da

comunidade. Obviamente que os obstáculos são muitos, mas não se pode minimizar

a importância da participação ativa dos conselheiros, no próprio ambiente em que se

106

inserem, legitimados para propor, avaliar, controlar, validar ou inviabilizar

procedimentos de gestão da Política de Assistência Social.

Indagados sobre a compreensão do significado de ser conselheiro (ver

anexo, quadro 14), a maioria dos entrevistados, manifestou em suas falas uma

aproximação ao conteúdo teórico legal, que analisa e justifica a criação desta

Instância e consequentemente das funções e competências dos conselheiros.

Conforme observa-se na fala abaixo:“É estar junto com a sociedade civil organizada, a capacidade de interferir nas políticas públicas, interagindo com o Estado na definição de possibilidades e na elaboração de planos de ação nos municípios. Os conselhos são uma forma democrática de controle social” (PESQUISA DIRETA – Conselho Municipal de Assistência Social – Novembro de 2010 à janeiro de 2011. Quadro 14- Entrevistado 1)

De acordo com Raichellis (2000), a experiência dos conselhos é

composta por visibilidade; controle social; representação de interesses coletivos;

democratização e cultura pública. A autora define visibilidade como sendo a

transparência dos discursos e das ações dos tomadores de decisões para com os

implicados nestas mesmas decisões. O controle social é a participação da

sociedade civil organizada na arbitragem dos interesses em jogo e

acompanhamento das decisões segundo critérios pactuados. A representação de

interesses coletivos é a constituição de sujeitos sociais ativos, mediadores de

demandas coletivas; a democratização é a ampliação dos espaços de decisão

política, extrapolando os condutos tradicionais de representação e incorporando

novos protagonistas, gerando uma interlocução pública capaz de articular acordos e

entendimentos que orientem decisões coletivas e finalmente, a cultura pública

consiste no enfrentamento do autoritarismo social e da cultura privatista de

apropriação do público pelo privado. “No caso da assistência social, superação da

tutela, para que os usuários tenham autonomia e se coloquem como sujeitos

portadores de direitos legítimos” (RAICHELIS, 2000, p. 106, 107).

O que se observa nos discursos (ver quadro 14) é que, para alguns, os

conselhos são apenas pró-forma para o recebimento de recursos, não tendo

107

nenhum caráter popular e representativo, dado ao fato da pequena organização

popular e a cultura autocrática dos poderes nas esferas municipais.

Nessa linha de pensamento, a resposta de um dos entrevistados chama

a atenção quando este afirma que ser conselheiro “é nadar contra a corrente nos

conselhos não temos o poder de mando. temos que dizer sim, porque se não o

município perde o recurso” (quadro 14, entrevistado 24). Tais argumentos reforçam

as contradições entre o que a legislação em seu conteúdo democrático determina e

o que na prática acontece. Na verdade, o aprendizado da democracia ainda não

efetivou-se em amplas dimensões, e o que se observa são arremedos de pactos que

acabam privilegiando os interesses do poder, em detrimento da satisfação das

demandas populares.

A compreensão dos conselheiros sobre suas atribuições foi verbalizada

por expressiva maioria dos participantes (ver anexo, quadro 15). Apenas 2 (8.33%)

não formularam resposta a este questionamento. Entre os demais, 18 (75%),

observa-se uma linha de pensamento convergente para a expressão do

compromisso desses atores sociais, com a participação e o controle social da

política de assistência social no município. De acordo com a fala do entrevistado 22,

as atribuições do conselheiro consistem em “fazer um trabalho de divulgação e

acompanhamento do município, fortalecendo as ONG´s e o terceiro setor, que

através dos conselhos pode interferir na política local”.

Contrariando essa perspectiva positiva, 4 entrevistados (16,6%),

demonstraram descrédito na condição de ser conselheiro, o entrevistado 20, afirma

que sua atribuição limita-se a “trabalhar além do necessário, reunir-se com um

monte de gente, que pensa diferente para propor um monte de coisa que não vai

sair do papel”. Tal entendimento pode estar associado à falta de credibilidade, não

só do trabalho do Conselho, mas também na gestão municipal da política de

assistência social de Aquiraz. Com outras palavras, mas sugerindo o mesmo

significado, outros 3 conselheiros (12,5%) minimizaram a importância do trabalho

que desempenham no mesmo colegiado.

108

Sobre o conhecimento da Rede Socioassistencial do município (ver

quadro 16) a maioria, 70,8% dos entrevistados respondeu afirmativamente, contra

29,1% que negaram tal conhecimento.

No atual contexto histórico, onde a gestão da política de assistência social

é compartilhada entre o Estado e a sociedade civil organizada, conhecer a rede

socioassistencial do município é requisito essencial para o exercício do controle

social, até porque, tais organizações, em expressiva maioria, são mantidas com

recursos públicos e executam projetos sociais financiados com dinheiro público, e

caberia ao conselho fazer o acompanhamento do uso destes recursos.

Os entrevistados opinaram sobre a Política Municipal de Assistência

Social em Aquiraz (ver anexo, quadro 17) e sobre a concordância ou discordância

sobre a condução de tal política no município. Sobre esta questão, 54% dos

participantes concordam com os encaminhamentos dados pela gestão municipal na

condução da política, enquanto 45,8% discordam.

Indagados sobre os porquês da concordância, as respostas focalizam a

percepção dos conselheiros sobre as melhorias que estão sendo efetivadas no

município, no entanto, tais considerações quase sempre foram associadas à

necessidade de refinamento da política, no que diz respeito à sua efetividade para o

alcance dos seus objetivos. Um argumento ilustra bem tal consideração: “Devia

investir mais em famílias carentes, principalmente nos catadores de lixo da região,

que sofrem muito com a fome” (Entrevistado 09, quadro 17).

Segundo a Política Nacional de Assistência Social, a territorialização, a

redistribuição de poder, os deslocamentos dos centros decisórios, a tomada de

decisão do município contribuem para o reconhecimento das particularidades e

interesses próprios e, nesse sentido, a capacidade deliberativa dos conselheiros não

estaria isenta da responsabilidade de formular pactos com gestores locais, no

sentido de satisfazer as demandas mais urgentes da população local.

Por outra via, aqueles que afirmam discordâncias com a condução da

política no município justificam suas respostas, com base em diferentes argumentos,

sendo preocupante a fala de um dos conselheiros, expressa literalmente no seguinte

109

recorte: “Não concordo porque vejo muito roubo ainda e as ONG´s estão recebendo

cada vez menos recursos, difícil trabalhar assim” (Entrevistado 16, anexo, quadro

17). Além da insatisfação expressa, tal argumento vem acompanhado de forte teor

político, ao tempo em que acusa a gestão pública e reivindica aporte financeiro para

as ONG´s.

A parceria entre Estado e sociedade civil deve ser discutida também

como um dos elementos que dão continuidade, ou mesmo reforçam o modelo

neoliberal. Segundo Montaño (2002) o que está em jogo é a alteração de um novo

padrão de resposta social à “questão social”, com a desresponsabilização do

Estado, a desoneração do capital e a auto-responsabilização do cidadão e da

comunidade local, para responder às demandas da sociedade.

Considerando-se tal advertência, é importante questionar se ao repassar

recursos públicos, para que organizações não governamentais executem projetos

que seriam responsabilidade do Estado, no trato das necessidades sociais, a gestão

pública não estaria recuando em suas responsabilidades de garantia de direitos do

cidadão e transferindo para a sociedade civil, uma missão que legalmente lhe

compete.

Ao serem indagados sobre o conhecimento dos critérios utilizados pelo

município para a concessão de Benefícios Eventuais, (ver anexo, quadro 18) 58,3%

responderam afirmativamente e 41% afirmaram desconhecer tal procedimento,

agregando questionamentos do tipo: “o que são Benefícios Eventuais?”

(entrevistado 05).

Os critérios de seleção dos usuários da política para a concessão de

Benefícios Eventuais se constituem na forma democrática de se promover justiça

social. Por essa via, os indicadores sociais se apresentam como mecanismos

indispensáveis para a percepção dos problemas locais, possibilitando maior

proximidade do poder decisório, aqui também incluído o Conselho Municipal, com o

conhecimento apropriado das necessidades da população.

Vale considerar que os Benefícios Eventuais são descritos na LOAS,

seção II, art. 22 como aqueles que visam o pagamento de auxílio por natalidade ou

110

morte às famílias cuja renda mensal per capita seja inferior a ¼ do salário mínimo,

podendo ser estabelecidos outros benefícios eventuais para atender as

necessidades advindas de situações de vulnerabilidade temporária com prioridade

para a criança, a família, o idoso, a pessoa com deficiência, a gestante, a nutriz e

nos casos de calamidade pública, conforme esta descrito no caput 2° do mesmo

artigo.

Os critérios de partilha de benefícios ou recursos tem se tornado uma

ferramenta cada vez mais necessária e essencial para o processo de gestão das

políticas sociais, especialmente por não ser uma política universal, é preciso que se

priorize os usuários que se encontram em maiores dificuldades, entretanto, aos

conselheiros compete a apropriação desse conhecimento e a partir de então

deliberar com justiça social sobre a partilha sob sua responsabilidade.

No tópico seguinte, a pesquisa investiga a prática do conselheiro com

perguntas relacionadas ao exercício das atividades dos entrevistados durante seu

mandato.

3.3.3 A Prática do conselheiro

De acordo com a Lei de Criação do CMAS de Aquiraz, e conforme

recomendação nacional, a Presidência e a Vice presidência do conselho deve ser

exercida em alternância entre um representante governamental e um Não

Governamental, de modo que, quando a presidência for Governamental, a vice seja

não governamental e assim sucessivamente. Mesmo que esta pergunta não conste

no Roteiro para a Pesquisa, na análise dos questionários nota-se que esta regra foi

observada em Aquiraz no período em estudo.

Importa considerar que, entre os conselheiros participantes deste estudo,

três deles vivenciaram a experiência de trabalhar como presidente do Conselho e

dois foram indicados para a vice-presidência (ver anexo, quadro 19) o que sugere

liderança desses conselheiros na condução da política de assistência social do

município.

111

Indagados sobre a definição de sua participação no CMAS de Aquiraz

(ver anexo quadro 20) os entrevistados revelaram desproporção entre aqueles que

se situam na condição de conselheiros por vontade e interesse próprio dez

participantes (30.3%), divergindo dos demais quinze (62.5%) participantes que

afirmaram terem sido indicados pela gestão municipal não sendo facultado a estes o

poder de não representar os interesses do município no conselho.

Matus (1993, p. 09) afirma que “a qualquer cidadão de um país pode-se

perguntar, com razão, qual o seu papel na conformação do futuro”. Estamos

caminhando para onde queremos? Fazemos o suficiente para alcançá-lo? De

acordo com este autor, o problema consiste em reconhecer a fronteira que nos

separa do “deixar-se ir” pela correnteza dos fatos em direção a um fim desconhecido

ou se sabemos aonde chegar e estamos conduzindo o direcionamento das coisas

nesta ou naquela direção.

Entendidos como “alternativas de controle do poder baseada na

autogestão” (ROTOLO, 2007, p. 25), os conselhos são órgãos pensados para

possibilitar a construção de um novo tipo de relação com o poder, onde todos tem o

mesmo peso político, independente da representação, cada cidadão é partícipe das

decisões.

Há portanto nos conselhos, uma nova maneira de articular o individuo e a

coletividade, formando um contra-poder popular absolutamente distinto das

instituições nas democracias burguesas. Nesse sentido, os conselhos podem ser

vistos também como espaços de realização da liberdade humana e de afirmação

das individualidades. Eles são espaços que conseguem juntar pela palavra, os

interesses coletivos e os desejos individuais em função do bem comum. Neles os

homens podem decidir sobre os assuntos públicos de maneira igual, tendo

igualmente o mesmo acesso às decisões e o mesmo peso político (ROTOLO, 2007).

A realização da liberdade humana, tal como postulada pelo autor, acaba

divergindo da política quando servidores públicos não são consultados sobre o

interesse individual de se inserirem na condição de conselheiros. Ultrapassados os

112

constrangimentos que tal situação provoca individualmente, os prejuízos à

coletividade que requer tal representatividade são incalculáveis.

Comparecer, estar presente nas reuniões ordinárias ou extraordinárias do

conselho é uma atitude afirmativa do compromisso com as atribuições de “ser

conselheiro”. Ao ausentar-se da responsabilidade de estar presente e participar

ativamente das decisões, quebra-se a tradição política que fundamenta a concepção

do conselho como espaço democrático onde as formas do sistema de representação

se assentam. Dentre os achados deste estudo, (ver quadro 21) preocupa perceber

que 29,1% só compareciam as reuniões do conselho “quando era possível” e que

16,6% apenas quando “era para votar alguma coisa muito importante”.

Apesar de a legislação incluir os conselhos como parte do processo de

gestão descentralizada e participativa, e constituí-los como novos atores

deliberativos e paritários, vários pareceres oficiais têm assinalado e reafirmado o

caráter apenas consultivo dos conselhos, restringindo suas ações ao campo da

opinião, da consulta e do aconselhamento, sem poder de decisão ou deliberação.

Teixeira (2004) considera que o controle social não é uma simples

operação técnica de apuração de irregularidades ou fraudes do poder público, afirma

que é pela via da participação nos conselhos, que os sujeitos sociais potencializam a

participação, conferindo-lhe caráter político transformador ou, do contrário fragilizam

a perspectiva da participação assumindo posturas de indiferença ou alienação diante

das pautas levadas aos termos em ocasiões concretas de decisão política.

As respostas dos conselheiros entrevistados neste estudo (ver anexo,

quadro 22) sugerem muitas vezes essas posturas de indiferença ou alienação a que

Teixeira (2004) se refere. Indagados sobre o costume de emitirem suas opiniões nas

reuniões do CMAS de Aquiraz, 87,5% responderam afirmativamente, enquanto

12,5% negaram tal costume e as negativas são convergentes para afirmar o

pensamento de Teixeira, ou seja: indiferença ou alienação são conceitos que

correspondem às posturas, por exemplo, de quem não se sente à vontade para

opinar, ou de quem “nem sempre entendia as pautas e reivindicações e achava um

113

pouco perda de tempo às reuniões, pois não passavam de discussões tolas de

grupos que iam ali brigar por seus próprios interesses.” (entrevistado 22).

A percepção de ter sua opinião considerada na hora da tomada de

decisões pelo colegiado do CMAS de Aquiraz foi positivada por 83,3% dos

entrevistados contra uma minoria representada por 16,6% dos que negaram tal

percepção, (ver anexo, quadro 23) e dentre elas, vale destacar a fala de um dos

atores nos seguintes termos: “Minhas opiniões quase sempre divergiam das

opiniões da maioria, eu sempre contestava especialmente os valores apresentados

nas prestações de contas” (entrevistado 10). Nessa mesma linha de pensamento

outro entrevistado verbalizou: “nem sempre, porque feriam os interesses da maioria

que é submissa à administração” (entrevistado 12).

Ao pensar especificamente na participação da sociedade no conselho

municipal de assistência social de Aquiraz, além de avaliações quantitativas

(quantos membros possuem, qual a rotatividade destes membros, como chegaram

ao conselho e etc.) faz-se necessário compreender outras análises que privilegiem

aspectos envolvidos na questão da qualidade desta participação. Neste sentido,

questionamentos devem ser feitos e a reflexão para tentar respondê-los é urgente,

sob pena de que o que foi outrora considerado avanço, sofra um retrocesso.

A opção da institucionalização da participação não foi estabelecida de

modo unanime dentre os diversos pesquisadores e participantes do processo, além

de sofrer vários tipos de resistência dentro da cúpula governamental quando da sua

implantação. Deve-se, portanto, encará-la como um processo, com avanços, recuos

e equívocos para os quais é necessário estar atentos.

Mesmo admitindo que a institucionalização da participação possa ser um

avanço, no sentido de permitir a divisão do poder através dos mecanismos de

controle e participação popular, faz-se necessário penetrar nos meandros destes

espaços, mapeando as dificuldades e possibilidades do envolvimento de novos

atores e novos poderes.

114

Indagados acerca da participação dos entrevistados nas atribuições do

conselho (ver anexo, quadro 24) elencou-se questões sobre as tarefas básicas, para

as quais obteve-se os seguintes resultados:

Sobre a apresentação de propostas e aprovação do plano Municipal de

Assistência Social expressiva maioria (87,5%) respondeu “não” contra apenas

12,5% dos que responderam “sim”. Tal situação remete a questionamentos sobre a

validade de criação e funcionamento de um conselho se seus atores cumprem

apenas uma formalidade legal e se excluem da obrigação das responsabilidades

que lhes cabem.

A mesma ausência verificou-se no que diz respeito ao monitoramento da

Rede Socioassistencial, quando 79,15% dos entrevistados informaram não exercitar

tal responsabilidade.

Aqui vale lembrar que a participação da sociedade organizada ocorreu em

todos os níveis de pressão por liberdade e democracia, contra a discriminação e a

garantia de direitos. Estranhamente, quando conselheiros, (quer sejam

representantes da sociedade civil organizada ou dos interesses do Estado) são

convocados a participar da condução de uma política pública, se retiram deste

cenário, sem contribuir para o fortalecimento democrático.

Quando questionados sobre o acompanhamento dos registros das

reuniões no livro de atas, a maioria dos entrevistados (ver anexo, quadro 25)

respondeu positivamente a esta questão.

Considerando que uma “Ata” constitui-se, no campo de trabalho dos

conselhos, num instrumento legal onde os pactos, conflitos, posicionamentos, enfim,

todos os procedimentos são registrados com citação da identidade dos conselheiros

em suas atitudes e determinações.

Como instrumento simbólico da representatividade do conselheiro, a Ata

guarda em si mesma os conteúdos vividos no interior dos conflitos travados nas

reuniões do conselho, expressando em seu referencial histórico o deslocamento do

poder decisório a favor ou contra determinadas pautas apresentadas em sua

dinâmica processual.

115

Conferir seu conteúdo e nele se fazer representar por sua identidade

afirmativa na assinatura que cada conselheiro deixa firmada é atitude

comprometedora da sua convivência com o que esta posto em seus escritos.

Dizer “não” para a responsabilidade de ler uma Ata antes de assiná-la

(ver anexo, quadro 25) sugere um comportamento irresponsável, não tanto quanto

ao compromisso com o bom desempenho da Política de Assistência Social no

município, mas, principalmente, consigo. Há na atitude dos 20.8% dos entrevistados

que responderam “não” a essa pergunta, uma falta de entendimento de suas

responsabilidades pessoais que extrapolam o compromisso institucional, fato

preocupante por conter em si, o viés da alienação. “Só lia quando dava tempo, as

vezes eu pedia a ata para ler das reuniões que tinha faltado, mas como só podia ver

após as reuniões, nem sempre eu acompanhava” (entrevistado 05). Ainda mais

preocupante é a fala de outro entrevistado, que em suas palavras sugere a

manipulação de documentos, inclusive de atas, para cumprir formalidades: “Só

quando era possível. Porém, assinei muitas atas de reuniões que de fato não

aconteceram, e nas quais não estive presente, porque havia prazos, e pra não

prejudicar o município, eu lia as atas e analisava os documentos e assinava”

(entrevistado 07).

Indagados sobre o “como” exercitavam o controle social, mais

especificamente, se realizavam o controle da PMAS de Aquiraz (ver anexo, quadro

26) os participantes deste estudo, em maioria, sinalizaram para a objetividade dessa

ação tal como postulada oficialmente, ou seja, pela via da análise dos Planos de

Ação e Demonstrativos de Gastos, na definição de critérios de partilha de recursos e

na participação em reuniões. Divergindo de tais posicionamentos, restrito

quantitativo de participantes (16,6%) respondeu contraditoriamente afirmando “não

considero controle quando se chega à reunião, às vésperas da aprovação de um

plano de ação todo feito não sei por quem, não sei onde e ao conselho cabe apenas

dizer sim” (entrevistado 12). Tal afirmativa sugere manipulação o que compromete

os princípios democráticos e nega a essência da própria concepção que motiva a

criação dos conselhos como espaços de lutas e conquistas de cidadania.

116

Os conselhos estão inscritos na Constituição Federal de 1988 na

qualidade de instrumentos de expressão, representação e participação popular no

governo. Em tese, dotados de potencial de transformação política e se efetivamente

representados poderão imprimir um novo formato as políticas sociais, pois se

relacionam ao processo de formação das políticas públicas e tomada de decisões.

Assim considerando, os entrevistados responderam ao seguinte

questionamento: Acompanhei e controlei a execução da Política Municipal de

Assistência Social de Aquiraz? (ver anexo, quadro 27)

As respostas dos entrevistados referendam o “sim” em mais de 60% e

para o “não” foram direcionadas 33,3% das respostas. Vale, portanto comentar

esses antagonismos tomando-se por referencia a fala dos posicionamentos distintos

para a mesma questão.

Objetivamente, o entrevistado 5, associa o acompanhamento às visitas

que realizou aos “locais” onde as ações da política de assistência social se

desenvolve no município e as demais justificaram o “sim” em seus próprios

interesses de zelar pelo trabalho do conselheiro.

De modo negativo, as justificativas dos entrevistados remetem ao

descrédito destes atores sociais na própria condução da política de assistência

social pelos gestores responsáveis. Acompanhar e controlar a execução dessa

política passa a ser visto como “perda de tempo”, de acordo com a fala do

entrevistado 08.

Como regra geral, as principais competências dos conselhos municipais

de assistência social definidas na LOAS podem ser agrupadas em quatro grandes

eixos : definição da política de assistência social do município; acompanhamento,

avaliação e fiscalização da política local de assistência social; garantir formas de

participação da sociedade civil organizada na formulação e gestão da política

municipal; capacitação técnica e estruturação administrativa para o funcionamento

do conselho (RIZZOTI,1994).

Se por um lado observa-se a operacionalização não plena dessas novas

instâncias democratizantes devido à falta de tradição participativa da sociedade civil

117

e da cultura autocrática de setores do governo e desconhecimento de suas

possibilidades, observa-se por outro lado, a existência de concepções oportunistas

que não baseiam-se em postulados democráticos e que veem os conselhos apenas

como instrumentos para operacionalização de objetivos pré-definidos, o que faz com

que este campo seja cada vez mais conflituoso e tenso.

Ainda que se reconheçam as dificuldades e os impasses existentes para

o efetivo desempenho da missão de controle social, não se pode deixar de

reconhecer que a criação dos conselhos na esfera da assistência social repercute de

forma positiva na consolidação do SUAS e cria condições para um sistema de

vigilância sobre a gestão pública, implicando numa maior cobrança de prestação de

contas do poder executivo, principalmente em nível municipal. Importa, no entanto,

identificar até que ponto os atores sociais envolvidos estão aptos ao exercício de

uma nova cultura política expressa através da prática do controle social.

Quando questionados se sua participação interferiu para a conquista de

avanços na política municipal de assistência social (ver anexo, quadro 28)

expressiva maioria dos entrevistados (91,6%) afirma a interferência de sua

participação para a conquista de avanços na Política Municipal de Assistência Social

em Aquiraz. As justificativas elencadas por esses atores sociais transitam entre a

compreensão individual de cidadania aos entendimentos diversos sobre a

necessidade de controle social da gestão pública. “Porque sou cidadão e sempre

que estava ou estou em algum conselho eu busco fazer o melhor para a política de

Aquiraz funcionar” (entrevistado 03). “Acho que é muito importante, porque os

conselhos de algum modo ainda conseguem controlar os gastos do prefeito.”

(entrevistado 05).

De modo contraditório, 8,33% dos entrevistados posicionaram-se

negativamente, isto é, não consideram que sua participação possa ter interferido

para a conquista dos avanços na Política Municipal de Assistência Social de

Aquiraz. “Acho que a administração pública ainda corre muito solta neste país”

(entrevistado 7). Tal argumento está relacionado à experiência do conselheiro que

118

acrescentou: “quando eu estive no conselho eu notava que muitas coisas e

propostas que fazíamos não saiam dos papéis”.

Apesar da polêmica que envolve a questão dos conselhos e as diferentes

visões sobre seus significados, é fato que a participação e o controle social

ensejados constituem-se em importantes referências para a ampliação do debate

sobre este mecanismo e sua prática.

Para efetivar-se, o controle social pressupõe, além do envolvimento e

participação popular, o compromisso do Estado, com a criação e fortalecimento de

mecanismos operacionais e instâncias representativas da territorialidade. A busca

pelo significado político da ação dos conselhos, no âmbito da Política de Assistência

Social, tem despertado posições críticas e questionadoras quanto à real expressão e

impacto da participação da sociedade civil nesses espaços (LOPES, 2010).

Raichelis (2000) aponta múltiplos desafios para a consolidação dos

conselhos de assistência social, enquanto instância de deliberação, controle e

participação social. A autora afirma que as principais dificuldades advêm da

identificação de um conflito duplo: no campo governamental, prevalece a resistência

à participação e controle social, por parte dos representantes da sociedade civil. Do

lado da sociedade civil, a heterogeneidade dos atores e de suas concepções,

práticas e experiências geradoras de interesses divergentes, desafiando o consenso

orientador das decisões coletivas. No campo governamental, uma das principais dificuldades relaciona-se as resistências para que as definições das políticas públicas sejam abertas à participação e ao controle social, retirando-as das mãos da burocracia estatal para permitir a penetração da sociedade civil. No da sociedade civil, o reconhecimento da heterogeneidade dos atores e das concepções, práticas, experiências e propostas acumuladas geradoras de múltiplos interesses e demandas, nem sempre convergentes, desafia o estabelecimento da agenda comum que deve orientar ações e decisões coletivas (RAICHELIS, 2000, p. 37).

Independente de ser “governamental” ou “não governamental”, a

participação do conselheiro no cenário de lutas por conquistas de direitos, deve ser

efetivada por todos que se lançam nessa função.

Indagados sobre o acompanhamento ao trabalho da gestão atual do

CMAS de Aquiraz (ver anexo, quadro 29) 41,7% responderam afirmativamente,

119

contra 58,3% dos que disseram “não”. Nesse caso, a negativa desses atores sociais

sugere a falta de compromisso com os destinos da Política de Assistência Social no

município. Em tal circunstância, resta considerar que se uma pessoa que foi

conduzida à função de conselheiro não se interessa pelos destinos do conselho do

qual participou ou participa, sua insatisfação deve ser objeto de aprofundamento de

estudos, dado que tal situação guarda, em si, forte conteúdo simbólico, cujos limites

desta pesquisa não deixam espaços para aprofundar.

Quando indagados sobre a maneira como acompanham o trabalho da

atual gestão do CMAS de Aquiraz, os conselheiros demonstraram que esta não é

uma prática comum (ver anexo, quadro 30). A afirmativa: “Faço parte de outros

conselhos e algumas vezes participo” foi referendada por 29,1% dos entrevistados.

De fato, há uma correspondência valorativa com as respostas à pergunta anterior na

negativa simbólica do envolvimento destes atores com o trabalho do CMAS de

Aquiraz.

A partir de tais posicionamentos, percebe-se que alguns conselheiros não

se entendem como “sujeitos políticos” e que, acompanhar o trabalho do governo,

seja na esfera municipal, estadual ou federal, ultrapassa qualquer forma de

nomeação legítima para o cargo de conselheiro, mas está vinculada com a própria

consciência crítica do sujeito que se entende como cidadão.

3.3.4 Sobre a gestão do Conselho Municipal de Assistência Social de Aquiraz

Concebido como fórum de interlocução, representação e diálogo, a

gestão dos conselhos ultrapassa preceitos legais, e se afirma na prática cotidiana

dos conselheiros que nele se inserem.

Os depoimentos transcritos no quadro 31 (ver anexo), que focaliza

posicionamentos sobre a gestão do CMAS de Aquiraz revelam, no geral, a trama

dos interesses envolvidos no processo de afirmação da assistência social como

política pública. Sem a pretensão de reconstruir detalhadamente estes embates,

120

identifica-se o conflito majoritariamente representado entre o “sim” e o “não”, cujos

argumentos revelam o peso político que cada conselheiro identifica em si mesmo.

Dos entrevistados na pesquisa, 41,6% não sabem informar ou “não

acompanham a gestão dos benefícios, programas e projetos da política municipal de

assistência social". É um dado preocupante, se comparado à minoria (25,0%) dos

que afirmaram cumprir esta tarefa.

Avelar (1999) conceitua a participação enquanto diretamente ligada aos

ideais de soberania e instrumento de legitimação e fortalecimento do modelo

democrático. Seus estudos ressaltam as dificuldades impostas à efetivação da

participação e do controle social, mesmo quando instituídos legalmente no seio da

sociedade (conselhos setoriais, conselhos de direitos, associações comunitárias e

outras formas de organização e movimentos populares) e atribui características aos

atores sociais envolvidos no processo, ligando-as às questões pessoais, sociais e

intelectuais, que terminam por determinar um maior ou menor acesso aos canais de

participação.

A problemática da participação fez com que diversos estudiosos

buscassem compreender o envolvimento pessoal na questão pública, quando trata-

se de busca por melhorias gerais e não particulares. Aprofundar conhecimentos

sobre essa questão faz-se necessário, a fim de que se possa discutir a participação

ativa do colegiado do Conselho Municipal de Assistência Social no cumprimento dos

preceitos elencados pela descentralização política.

Mesmo sem a nomeação oficial de “ser conselheiro”, o cidadão comum

que vivenciou essa experiência, deve guardar um compromisso individual com a

gestão dos benefícios, programas e projetos da Política Municipal de Assistência

Social, principalmente num cenário onde as desigualdades de renda se afirmam

num grande contingente de pobres. Entretanto, os dados obtidos nesta pesquisa

negam a preocupação dos antigos conselheiros com a realidade presente. 74,96%

dos entrevistados responderam “não” ou “não sei informar”, contra o mínimo de

25,00 % dos que afirmaram saber sobre e acompanhar a gestão dessa política no

município. A sequência de perguntas/respostas, sobre essa mesma questão,

121

reafirmam, com pequena margem de diferença, para o “sim” ou para o “não” os

mesmos comportamentos.

Indagados sobre a fiscalização do Conselho sobre as entidades e

organizações de âmbito municipal, os entrevistados majoritariamente responderam

“não” (70,8 %).

A CF/1988, em seu artigo 204 estabelece a participação da sociedade

civil, tanto na execução dos programas, através das entidades beneficentes e de

assistência social, bem como na participação, na formulação e no controle das

ações em todos os níveis. As entidades prestadoras de assistência social integram o

SUAS, não só como prestadoras complementares de serviços socioassistenciais,

mas como co-gestoras, por meio dos conselhos de assistência social e

corresponsáveis, na luta pela garantia dos direitos sociais dos usuários dessa

política. Entretanto, quando se trata de fiscalizar a prática de tais organizações ou

entidades, observa-se uma negligência dos conselheiros, ou um entendimento

equivocado do que o controle social limita-se na percepção dos gastos efetivados

pela gestão pública, desconsiderando que, no novo desenho institucional, o

gerenciamento dos recursos financeiros para a Política de Assistência Social é

também manuseado por presidentes de associações e seus colaboradores. A

debilidade do sistema de controle, por essa via, estimula abusos e fomenta a

desconfiança nas atividades e nas relações de parceria que envolvem o Estado e a

sociedade civil.

A missão de analisar e aprovar a proposta orçamentária dos recursos

destinados às ações finalísticas da assistência social pelos conselheiros, está

estabelecida pela NOB e pela PNAS. Trata-se de uma função básica e

determinante, para afirmar a participação e o controle social por esses atores

sociais.

Chiavenato (1999) afirma que o controle é parte do processo gerencial.

Entende-se, portanto, que o controle é algo inerente a qualquer organização e

atividade, principalmente em se tratando de políticas públicas, cujo desempenho

exige, de um lado, o compromisso do Estado na garantia dos direitos do cidadãos, e

122

de outro lado, a participação da sociedade na formulação de demandas,

monitoramento dos resultados e avaliação do desempenho estatal (LOPES, 2010, p.

69).

A definição constitucional da assistência social, como política pública

geradora de direitos, permitiu que sua construção fosse acompanhada por

mecanismos institucionais de democratização e controle social, instrumentos que se

inserem no campo de definição da responsabilidade pública. Oferece, portanto, aos

conselheiros, os mecanismos gerenciais para que se apropriem de conhecimentos

essenciais para sua função deliberativa, principalmente no que concerne ao

orçamento e financiamento desta política.

Nesse caso, as respostas dos conselheiros entrevistados se deram

quantitativamente uniformes, ou seja, 50% sim, 50% não. A segunda alternativa não

corresponde ao cumprimento das responsabilidades desses conselheiros na

representação dos interesses da sociedade. Há uma falta de compromisso, nas

posturas que negam as formas de participação ativa nos determinantes dos destinos

dos recursos, que supostamente deveriam ser pensados para promover a equidade.

Sem aprovar propostas orçamentárias (50%) e sem acompanhar o plano de

aplicação dos recursos (50%) e o controle do FMAS de Aquiraz (50%), os

conselheiros negam a si próprios, o direito de participar e interferir no exercício do

controle social.

A fragmentação das políticas sociais tem sido um tema recorrente, tanto

nos discursos, quanto na prática de seus operadores. As políticas sociais obedecem

a lógica da setorização, recortando o social em partes estanques, segmentando o

atendimento às demandas sociais. Do mesmo modo, a questão social tende a ser

obscurecida e particularizada pelos objetos de cada uma dessas políticas.

Segundo a mesma lógica setorializada das políticas, às quais são

vinculadas, os conselhos voltam-se para questões específicas em seus campos de

atuação, onde pautas específicas condicionam o olhar dos conselheiros para

questões focalizadas.

123

Contemporaneamente se discute a perspectiva da transversalidade entre

políticas públicas e, por essa via, os mecanismos de articulação entre conselhos.

Trata-se de um movimento de pressão contrária à fragmentação das respostas à

questão social, que não se explica isoladamente pela pobreza, pelo analfabetismo,

pela ausência de oportunidades de trabalho digno, pelas precárias condições de

atenção básica, transferência direta de renda ou proteção especial. Trata-se, enfim,

da compreensão de que os problemas sociais exigem um olhar multifocal, onde

questões de ordem social, econômica, cultural e política sejam consideradas para

seu enfrentamento.

A esse respeito, indagados sobre a realização de ações integradas com

outros conselhos, os entrevistados em maioria (54,1%) responderam “sim” contra

45,8% dos que não souberam informar, ou de fato não vivenciaram tal experiência.

Na verdade é preciso considerar que a natureza transversal das políticas são

insuficientes para assegurar que suas instâncias articulem um conjunto intersetorial

em suas práticas cotidianas.

A participação dos usuários da Política da Assistência Social transcende

reivindicações específicas por serviços ou benefícios de caráter individual. Sair da

zona de conforto, que acomoda a pobreza como desígnio divino, para uma

compreensão politizada dos seus determinantes, assume caráter determinante nas

lutas por justiça social. Essa possibilidade foi afirmada por apenas 33,3 % dos

conselheiros entrevistados, enquanto os demais, representados por 66,7% dos que

disseram “não” ou “não sei informar”. Essa lógica repercute no presente, onde a

mesma realidade se afirma no desconhecimento dos conselheiros entrevistados

sobre a participação dos usuários na atual gestão do CMAS de Aquiraz.

Há significativa unanimidade nos estudos e avaliações sobre a frágil

presença dos usuários nos determinantes da prática da assistência social.

Sobre a divulgação das ações dos conselheiros, este estudo identificou,

nas respostas da maioria dos entrevistados, um saldo positivo, representado por

83,3% daqueles que afirmaram divulgar suas ações.

124

Num contexto em que a informação assume essencial relevância, divulgar

procedimentos político-institucionais assume caráter ético, fundado no direito do

cidadão de conhecer o desempenho do Estado sobre o destino dos recursos

públicos. A visibilidade do trabalho dos conselheiros mostra-se tão importante,

quanto as decisões que no interior dessas instâncias se processam.

A dinâmica de funcionamento de um conselho exige um desenho

organizacional que condiciona, em longa medida, a capacidade interventiva de seus

atores. Assim considerando, indagou-se sobre a existência de secretaria executiva,

sede própria, equipamentos, material de expediente e transporte próprio. A

consolidação das respostas dos entrevistados foi convergente para negar tais

condições. Sem infraestrutura básica, o trabalho do conselheiro fica comprometido,

e, sem dispor do apoio de uma secretaria executiva, a mobilização dos conselheiros,

a documentação / registros de pautas, atas e publicação de resoluções não se

efetivam, ou sofrem morosidade e não resolutividade dos processos burocráticos.

A ausência de transporte próprio disponível, para o uso do trabalho dos

conselheiros às visitas à rede socioassistencial, simplesmente não acontece, devido

à extensão territorial do município.

A partir dos elementos expostos, pode-se inferir que o aprofundamento do

debate sobre as variáveis consideradas, no limite deste estudo, merecem ser

formuladas, especialmente em novos cenários, onde a relação Estado e sociedade

civil é formalizada pelo trabalho dos conselhos gestores de políticas públicas.

125

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A natureza teórico-prática deste estudo contribuiu para reflexões, cujos

achados podem vir a referendar novas posturas. O resgate histórico da assistência

social no Brasil, mesmo em suas formulações presentes, sob o status de política

pública, sugere que apesar dos avanços, ainda se faz necessária a adoção de

medidas para a superação das dificuldades, no exercício da participação e do

controle social. Alguns fundamentos explicativos, para a configuração assumida pelo

controle social, na dinâmica vivenciada por conselheiros no âmbito do CMAS de

Aquiraz, encontram respostas num processo histórico de exclusão e dependência,

que concorrem para limitar possibilidades de evolução da cidadania política,

almejada para a consolidação da democracia.

O Conselho Municipal de Assistência Social de Aquiraz foi criado pela Lei

Municipal 079/95, de 14 de novembro de 1995, aprovada pela Câmara e sancionada

pelo então prefeito, Tarcísio Vieira Mota. A lei esclarece que as competências deste

conselho concentram-se: na definição de prioridades da Política de Assistência

Social; no estabelecimento diretrizes a serem observadas no Plano Municipal de

Assistência Social e na formulação de estratégias e controle da execução desta

política. Compete ainda a estes conselheiros, propor e acompanhar critérios para a

programação e execução financeira e orçamentária do Fundo Municipal de

Assistência Social; fiscalizar a movimentação e aplicação de recursos; acompanhar

e avaliar os serviços de assistência; aprovar critérios de qualidade para o

funcionamento destes; apreciar contratos e convênios, zelar pela efetivação do

sistema descentralizado e participativo, propor, sempre que necessário diretrizes

para o aperfeiçoamento deste sistema; aprovar critérios de concessão e valor dos

benefícios eventuais.

No que se refere às particularidades da escolha dos representantes da

sociedade civil e governamentais, constatou-se que prevalece no caso da

representação governamental a indicação de nomes dos técnicos que respondem a

cargos de confiança do Prefeito, indicador de dificuldade na isenção da tomada de

126

decisões favoráveis à coletividade em detrimento da missão que esses atores

sociais assumem de resguardar os interesses da gestão municipal local. O fato de

serem profissionais contratados ou “comissionados” (cargos de confiança) aponta

ainda outra particularidade, uma vez que estes atores muitas vezes não são

residentes do município, terminam não constituindo vínculos com os interesses da

comunidade local – além dos temporários. Por sua vez, a representação da

sociedade civil se dá pelo revezamento dos mesmos atores sociais, que, residindo

no município, abraçam causas, não só da assistência social. Por isso mesmo

acabam acumulando a função de conselheiros de outras políticas públicas. Embora

alguns se mostrem comprometidos e interessados, o tempo de militância concorre

para deixar em muitos, o descrédito na própria capacidade decisória.

A análise da dinâmica da participação, e controle social no interior do

Conselho Municipal de Assistência Social de Aquiraz - CE, no período selecionado

para este estudo revelou que os atores sociais envolvidos no processo formal de

participação através dos conselhos, enfrentam limitações estruturais. Mesmo que

legalmente instituídos, os conselhos ainda são vistos como uma obrigação formal

pelo poder público, o que remete ao debate sobre o significado estrutural da

democracia. Tal ideia é salientada por Dows (1956), para quem o cidadão comum

não tem capacidade ou interesse político senão para escolher as lideranças a quem

encobrirá de tomar as decisões.

A analise da Ata que descreve a primeira reunião para a composição do

CMAS de Aquiraz, contraposta a sua lei de criação, demonstra um abismo entre o

legalmente postulado e o efetivamente praticado, especialmente quando justifica a

criação deste. Tal documento deixa clara a intenção em resguardar repasses de

recursos: “A importância deste conselho, esta na necessidade de garantir o repasse

de recursos ao município” (Ata N° 1 do Conselho Municipal de Assistência Social de

Aquiraz, Setembro de 1995).

Naquele momento, o controle social e os elementos que configuram a

participação política parecem esquecidos diante da necessidade de se obter

vantagens financeiras, tanto para o terceiro setor quanto para a administração

127

pública. Tal comportamento sugere, que os conselheiros, desconhecem seu papel

na formulação e no controle da política municipal de assistência social. Quando nem

mesmo aqueles que fazem parte do processo entendem realmente suas atribuições,

competência e missão o que se pode esperar dos demais usuários da política de

assistência social? Como fazer entender que o controle social é uma estratégia que

deve garantir a descentralização e a participação dos atores sociais no controle das

políticas? Estas questões merecem aprofundamento e podem ilustrar novas

pesquisas sobre a mesma temática.

A leitura dos documentos relacionados ao CMAS de Aquiraz leva a supor

que além da preocupação com a garantia dos repasses de recursos, os conselheiros

não demonstravam interesse em definir prioridades e metas para a política. Focault

(1987) afirma que a efetivação do controle social, numa ótica popular depende da

relação de forças dos segmentos sociais que exercem o poder. No caso especifico

em análise a relação de forças se esbarra na capacidade de cada um em canalizar

investimento público para os cofres das entidades que representam. Enquanto isso,

os interesses da coletividade se perdem em meio à defesa de interesses de

presidentes destas.

Ao buscar elementos para historicizar a criação e o funcionamento do

CMAS de Aquiraz, verificou-se que sua primeira reunião, datada de 14 de setembro

de 1997, deixou expresso nos registros de sua ata que sua criação correspondeu a

uma necessidade legal e imediata para garantir o de repasse de recursos da ordem

de R$ 2,855.00 para uma entidade. Tal entidade possuía acento no conselho que

outrora estava sendo criado, e, portanto teria direito à voto, podendo opinar de modo

positivo e assegurar a transferência do recurso.

Curioso foi perceber que na segunda reunião descrita em Ata, ocorrida

em 30 de outubro de 1997 o repasse do recurso foi aprovado e a partir de então o

conselho não manteve um cronograma de atividades, voltando a reunir-se apenas 7

meses depois, mais precisamente em 09 de Maio de 1998, motivado por uma pauta

que envolvia novamente o repasse de recursos a entidades.

128

Observou-se que a dinâmica interna de funcionamento deste órgão de

colegiado em sua fase inicial não atende ao disposto na LOAS no que se refere á

participação popular. Afinal, reunir-se para deliberar repasses específicos de

recursos sem uma continuidade no exercício do controle social denota

incompreensão destes atores sobre suas responsabilidades no monitoramento,

avaliação e fiscalização de recursos públicos.

Para Habbermas (1987) o discurso prático respeita a individualidade e a

autonomia das pessoas que integram uma comunidade. Dentro desse princípio de

justiça, postula o direito à liberdade e os mesmos direitos para todos. A partir de tal

pressuposto, a ética discursiva coloca em ação uma vontade racional descrita nesta

pesquisa. Garante-se o interesse de todos os conselheiros integrantes da amostra

selecionada, salvaguardando suas divergências, ressaltando-se na leitura de seus

posicionamentos, a capacidade comunicativa dos conselheiros harmonizando seus

pensamentos às referências teóricas que nortearam todo este estudo. O discurso

teórico contribui para o questionamento dos fatos e do mundo objetivo em um

contexto concreto que aqui se assenta no CMAS de Aquiraz

Ao fim deste estudo confirma-se a hipóteses a principio levantadas de que

“a política de assistência social não apresenta avanços significativos na construção

da cidadania no município em foco, por diferentes fatores, sendo um agravante, o

despreparo dos (as) conselheiros (as) para o cumprimento da responsabilidade que

lhes cabe na defesa do interesse público”. A capacidade dos conselheiros em

acompanhar e deliberar acerca da política mostrou-se limitada. Além dos fatores já

citados, estes atores muitas vezes, demonstram desconhecer a política, não só em

seus termos técnicos, mas, também em seus aspectos práticos, o que compromete

a autonomia destes na formulação e na proposição de ações que fomentem o seu

controle social.

A segunda hipótese levantada também se confirma: “os conselheiros

enfrentam grandes limitações ao exercício imparcial de suas funções, a começar

pelo desconhecimento do seu próprio papel na defesa dos interesses do público da

assistência social”. Na verdade as condições objetivas dispensadas pelos gestores

129

municipais aos conselheiros para o exercício e efetividade do controle social, não

foram garantidas. Não há registro da participação dos conselheiros em

capacitações; não há referencias de cronogramas de reuniões e visitas as

entidades; nem da produção de relatórios correspondentes a resultados do trabalho

destes conselheiros. Em tais limites, os discursos dos entrevistados apresentaram-

se, por vezes, intersubjetivos, fundados nas relações sociais espontâneas que

vivenciam. Tais falas apresentam as certezas por eles dadas “a priori”.

Qualquer processo social é constituído por elementos distintos, de ordem

objetiva e subjetiva, verificando-se uma articulação entre o fato e a representação,

base insuperável da complexidade da realidade social. Este reconhecimento, no

entanto, não deve minimizar a preocupação necessária a qualquer cientista social,

de buscar “despir” os fatos de suas representações como procedimento

indispensável para superar o que está oculto ou distorcido. Assim compreendendo,

identifica-se com este estudo que as relações de força nos conselhos são resultado

de vários saberes e poderes que o atravessam, e não somente do direito de

participar instituído por lei.

O argumento de cada conselheiro constitui uma manifestação ou

comportamento criticável na medida em que se estabelece uma relação

comunicativa de aprendizagem: tanto para o pesquisador quanto para seus

entrevistados, e um processo de aprendizagem jamais poderá ser concluído.

No elenco de tais questões, processo argumentativo dos entrevistados foi

analisado sob a justificativa de suas falas para as quais foram buscados

fundamentos teóricos compreensivos ou problematizados de tais afirmações. No

discurso prático, a interação dos conselheiros entre si não significa uma

padronização do pensamento, mas uma convergência de ideias. Ao apontar suas

divergências, não se trata aqui de censura da expressão em que as liberdades

individuais foram proferidas. Trata-se, mais precisamente, de referências obtidas em

um estudo de caso cujos achados podem dar conta do real em seu universo, cujas

balizas se delineiam no campo de ação dos conselhos municipais de assistência

130

social, circunscritas na abrangência dos 184 municípios cearenses, guardadas as

suas peculiaridades históricas, sociais, culturais e políticas em que se assentam.

Observa-se que a dinâmica interna de funcionamento deste órgão de

colegiado em sua fase inicial não atende ao disposto na LOAS no que se refere á

participação popular. Afinal, reunir-se para deliberar repasses específicos de

recursos sem uma continuidade no exercício do controle social denota

incompreensão destes atores sobre suas responsabilidades no monitoramento,

avaliação e fiscalização de recursos públicos.

Passados onze anos desde a criação do CMAS de Aquiraz, pode-se olhar

de modo mais aproximado para a história construída. É então pertinente se

interrogar tanto a respeito do que realmente se passou naquele período, como sobre

quais foram as consequências práticas das decisões tomadas e como se exprimem

hoje, após terem sido apropriadas por diversos segmentos do município e

reproduzidas ao longo deste período. As transformações concretizadas nas práticas

e saberes possíveis a um determinado momento político remetem a necessidade de

um novo olhar, distanciado e comprometido a fim de que se concebam limites e

práticas resguardadas na atuação dos atores envolvidos no processo.

Os achados neste estudo, embora restritos a uma experiência vivenciada

pelos conselheiros municipais de assistência social no município de Aquiraz- Ceará

permitem considerações mais amplas para o contexto nacional em que essa política

se assenta.

Pelo exposto, pode-se considerar que o grande desafio contemporâneo

seria não somente consolidar a democracia, o que implicaria numa reforma do

Estado e das suas instituições e leis que regulamentam o funcionamento da

sociedade, mas, também, uma transformação na cultura política nacional capaz de

conquistar a credibilidade popular local, a confiança nos sistemas de participação

cívica em grupos intermediários entre o Estado, família e sociedade para o

fortalecimento das conquistas democráticas até então legalmente consagradas.

Outro grande desafio contemporâneo seria a participação na democracia

cognitiva tal como foi proposta por Edgar Morin (2011) do contrário, a decisão

131

continuará indecifrável para os cidadãos, o julgamento permanecerá o fiel servidor

dos poderes. É desafiador reformar o pensamento, a participação e o progresso da

democracia cognitiva. Sem participação e controle social como exercitar a

democracia? Como animar o debate para a efetivação de políticas públicas de

enfrentamento à pobreza? Como propor soluções aos fracassos do desenvolvimento

e aos males que corroem a democracia? – o crime organizado, a droga, a lavagem

de dinheiro, a corrupção, a exclusão e o velho “jeitinho brasileiro” sempre reeditado

em novas facetas?

Os constrangimentos do “assistencialismo” ainda persistem, muito

embora enredados por discursos renovados que enaltecem a condição democrática

da cidadania e contraditoriamente alienam os beneficiários da assistência social a

fim de mantê-los na condição de subalternidade.

Enfim pode-se afirmar que as singularidades observadas no conjunto de

variáveis presentes no âmbito do Conselho Municipal de Assistência Social de

Aquiraz retratam uma distância do ideal da participação compreendida enquanto

processo onde os agentes se descobrem enquanto sujeitos políticos, exercendo

direitos políticos, prática diretamente relacionada à consciência dos cidadãos e

cidadãs, ao exercício da cidadania, as possibilidades de contribuir com processos de

mudanças e conquistas.

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154

A P Ê N D I C E S

155

APÊNDICE A - QUADROS

1 O PERFIL DOS CONSELHEIROS MUNICIPAIS DE ASSISTÊNCIA SOCIAL DE AQUIRAZ –CE

Quadro 1. Período de Mandato no CMAS de AquirazPeríodo de Mandato Total de entrevistados

N° abs % 2005 – 2007 06 25.12007- 2009 08 33.32009-2011 10 41.6

TOTAL 24 100 Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social

(Nov/2010 a Jan/2011)

Quadro 2. Sobre o Local de Residência dos ConselheirosReside em Aquiraz? N° Abs. %SIM 09 37.5NÃO 15 62,5TOTAL 24 100

Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social (Nov/2010 a Jan/2011)

Quadro 3. Sobre o Local de Trabalho AtualAtualmente trabalha em Aquiraz? N°.Abs %SIM 22 91.6NÃO 04 08.4TOTAL 24 100

Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social (Nov/2010 a Jan/2011)

Quadro 4. Sobre o Tempo em que Trabalha / Trabalhou em AquirazPeríodo N.abs %Menos de 01 ano 04 16,6De 01 a 05 anos 05 20.8De 06 a 10 anos 06 25.0Mais de 10 anos 09 37.5Total 24 100

Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social (Nov/2010 a Jan/2011)

156

Quadro 5. Sobre a Faixa Etária dos ConselheirosIdade N. abs. %

De 20 a 30 anos 05 20,8De 21 a 40 anos 09 37.5De 41 a 50 anos 05 20.8De 51 a > de 60 anos 05 20.8TOTAL 24 100

Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social (Nov/2010 a Jan/2011)

Quadro 6. Identidade do Conselho Segundo o GêneroSexo N°.abs %

Feminino 14 58.3Masculino 10 41.6Total 24 100

Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social (Nov/2010 a Jan/2011)

Quadro 7. Grau de Instrução dos Conselheiros Escolaridade N.abs %Fundamental incompleto --- --Fundamental completo 01 04.1Médio incompleto 03 12.5Médio completo 02 08.3Superior incompleto 09 37.5Superior completo 08 33.3Pós graduado 01 04.1Total 24 100

Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social (Nov/2010 a Jan/2011)

Quadro 8 . Disponibilidade de Tempo – Frequência às reuniõesDisponibilidade N.Abs %

Sim 13 54.6Não 02 8.3Raramente podia comparecer 04 16.6Compareceu a maioria das reuniões 05 20.8Total 24 100

Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social (Nov/2010 a Jan/2011)

157

Quadro 9. Atualmente é Conselheiro em Aquiraz?Conselho N. Abs. %

CMAS 08 24.2CMDI 01 3.03CMDCA 10 30.3CMDM 01 3.03CMDEF 01 3.03CMDS 02 6.06CMHAB 01 3.03CAE 02 6.06Outros 03 9.09Não 04 12.12

TOTAL 33 100 Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social

(Nov/2010 a Jan/2011)

Quadro 10. Sobre o Tempo de duração do Mandato no CMAS de AquirazTempo de Mandato N° Abs. %Não cumpriu dois anos de mandato 03 12.5Cumpriu dois anos de mandato 07 35.0Cumpriu dois anos e foi reconduzido

por mais 2 anos

14 58.3

Total 24 100 Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social

(Nov/2010 a Jan/2011)

Quadro 11. Participou ou participa de outros conselhos?Sim % Não % Quais

11 45.8 13 54.1 CMDCA – 07CMDI – 01CMHAB 01CMDM-01CMDEF – 01

Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social

(Nov/2010 a Jan/2011)

158

2 CONCEPÇÕES TEÓRICAS

Quadro 12. O Que Você Entende Por Controle Social?N° Controle Social é:01 Pergunta repetitiva é igual a ser conselheiro02 Controlar para que haja uma política social para a Assistência03 É a participação efetiva da sociedade organizada04 Acompanhar os trabalhos realizados pela Secretária de Ação Social do município05 É tentar interferir para que o prefeito não roube06 É participar, definindo os rumos da administração publica07 É quando a sociedade tá no controle da política!08 São ações desenvolvidas para acompanhar a gestão pública09 É quando a sociedade se organiza pra controlar o governo10 São ações integradas da sociedade civil e do poder público pra fazer acontecer a

política11 Controle da sociedade sobre o governo12 É quando a sociedade acompanha o desenvolvimento do trabalho público e da

prefeitura13 É o acompanhamento dos gastos públicos14 É o controle da sociedade sobre o governo15 É uma manifestação do poder da sociedade organizada16 É o controle do gasto do prefeito17 É decidir onde o dinheiro público- que é nosso , deve ser investido : se em hospital, se

em educação... priorizando os investimentos18 É uma ação de controle da sociedade civil organizada, especialmente as ong´s podem

fazer o controle social e acompanhar os gastos do prefeito.19 É acompanhar a gestão pública.20 É tentar controlar a roubalheira no governo.21 Prefiro não responder.22 Não respondeu.23 É quando as pessoas que moram numa comunidade se sentem parte desta, e tem

direitos de interferir na administração pública, inclusive, propor como o dinheiro público

deve ser gasto.24 É controlar os gastos do Governo e tentar impedir que haja fraude pública.

Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social (Nov/2010 a Jan/2011)

159

Quadro 13. O Que Entendo por Participação?

24.1 O que entendo por participação?01 É participar!02 É um dos princípios democráticos que não foi possível transformar-se em

realidade por longos períodos da nossa história, mas que hoje é

institucionalizado.03 Não é possível participar de fato, pois sempre existem as “amarras” que nos

impedem de realmente exercer a participação.04 Liberdade, qualidade, diversidade05 É poder dizer o que pensa.06 É estar disponível para exercer o papel de conselheiro07 Não respondeu08 É estar por dentro dos assuntos pra poder dar boas ideias09 É ser um conselheiro presente sempre que necessário, participando das

reuniões, das capacitações e dando opiniões importantes. 10 Estar presente nas ações que estão sendo desenvolvidas11 É poder dizer o que pensa12 É fazer parte do grupo13 É lutar por uma sociedade melhor e mais justa14 Não respondeu15 Não respondeu16 Entendo que é buscar estar mais presente nos conselhos procurando colaborar

com o município17 Participar e contribuir com o município18 Participar dos eventos e todos os momentos que seja necessário19 Participar e contribuir com a política de assistência20 Fazer minha parte em tudo que necessário21 Participar é estar ativo, seja onde e como for. Mesmo diante das adversidades22 Participar é qualificar-se, estar pronto para dar opiniões que sirvam para

melhorar a vida das pessoas 23 Participar é interagir com os demais na busca da solução dos problemas24 Participar é se dedicar a uma causa

Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social (Nov/2010 a Jan/2011)

160

Quadro 14. Compreensão do Entrevistado Sobre O Que é Ser ConselheiroN abs O que é ser conselheiro?01 É estar junto com a sociedade civil organizada, a capacidade de interferir nas políticas

públicas, interagindo com o Estado na definição de possibilidades e na elaboração de planos de ação nos municípios. Os conselhos são uma forma democrática de controle social.

02 É exercer seu papel político e cidadão na sociedade03 É ser aquele individuo que procura trazer mais benefícios para as comunidades04 É ter responsabilidades sobre as ações e ter atenção 05 NÃO RESPONDEU06 É participar dos interesses do município colaborando e contribuindo para melhorar a

vida dos cidadãos07 É ter poder de controlar de algum modo os desmandos do poder público. Também é a

possibilidade de verificar se as ONG´S do município estão verdadeiramente cumprindo seu papel, ou apenas recebem recursos para beneficiar seus próprios dirigentes.

08 É ajudar e propor políticas na área da assistência social09 É ter compromisso para com a sociedade10 É ocupar-se diretamente do acompanhamento da execução das políticas públicas

municipais11 É ser responsável12 Ser conselheiro é uma vocação!13 Acredito que ser conselheiro é ter poder de interferir diretamente nos assuntos da

gestão pública13 É participar das reuniões e propor sempre melhorias para a população de Aquiraz14 O Conselheiro tem a capacidade de interferir no rumo da política local.15 É participar ativamente da elaboração da política local16 Acredito que os conselhos estão muito longe dos seus objetivos, pois vejo que mesmo

que tentamos muito fazer acontecer alguma coisa nesta cidade, mas nunca conseguimos sair das ideias e ir pra ação. Por isto considero perda de tempo.

17 É ter compromisso com o município e com as famílias que são usuárias da rede socioassistencial

18 É interferir na política local. 19 É representar os interesses da população, mas claro, que isto inclui o diálogo com

diversos setores da prefeitura e do poder civil.20 Acredito que é fortalecer no dia a dia a missão de cidadão21 É envolver-se de forma direta com a política. 22 É trabalhar voluntariamente, além da conta, para acompanhar a execução da política

no município23 É buscar justiça social.24 É nadar contra a corrente, pois o nosso sistema mesmo que diga que os conselhos

são importantes e todo o blábláblá sempre termina demonstrando que na realidade nós conselheiros não temos mesmo poder de mando, pois se de fato pudéssemos agir contra o que vemos de errado e determinar os rumos da política com certeza a história seria outra. Por exemplo eu vejo em Aquiraz que muitas pessoas que necessitam de cestas básicas não recebem porque a prefeitura diz que não tem verba, mas como é que pode? Se tem verba pra pagar um monte de funcionário “a toa” porque não tem verba pra cesta básica? Se são os conselheiros quem decidem, aqui em Aquiraz não é bem assim. Só vemos as prestações de contas quando já tá tudo pronto, além do mais, temos que dizer sim, porque se não o município perde o recurso. Acho um absurdo.

Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social

161

(Nov/2010 a Jan/2011)

Quadro 15. A Compreensão do Entrevistado sobre as atribuições do Conselheiro

N Abs. Quais as atribuições do Conselheiro? 01 Não respondeu02 Fiscalizar, deliberar e acompanhar a política de Assistência Social03 Fiscalizar as ações da execução da política de As; Zelar pela aplicação desta

política e apreciar e aprovar as propostas orçamentárias04 Fazer o acompanhamento e o controle das políticas públicas 05 Participar das reuniões e opinar sobre o desenvolvimento das pautas.06 Participar efetivamente e contribuir pro desenvolvimento do conselho.07 Dar mais agilidade aos trabalhos desenvolvidos pelo conselho08 Não respondeu09 Perder tempo!10 Votar, propor e participar da construção da política local11 Acompanhar e fiscalizar o trabalho das ONGS e da prefeitura (tentar diminuir os

roubos e as fraudes)12 Trabalhar além do necessário, reunir-se com um monte de gente que pensa

diferente para propor um monte de coisa que não vai sair do papel.13 É acompanhar de perto a política local14 Fiscalizar e executar a política local15 Acompanhar a política local16 Fiscalizar o executivo e as ong´s17 Acompanhar o gasto dos recursos públicos e decidir onde o dinheiro deve mesmo

ser investido18 São várias coisas.19 Entendo que é participar das reuniões e tentar fazer dar andamento nas pautas

principais.20 Colaborar com a gestão para o bom funcionamento da máquina pública.21 Decidir e opinar sobre a política local22 Fazer um trabalho de divulgação e acompanhamento do município, fortalecendo

as ong´s e o terceiro setor, que através dos conselhos pode interferir na política

local23 São muitas coisas, acho que a primeira é ter compromisso com a população de

Aquiraz, e tentar fazer o melhor para que a política atinja seus objetivos 24 Várias coisas. Fazer resoluções que mostre ao poder público que o conselho tem

poder de decidir. Também fiscalizar essas ong´s que recebem recursos públicos. Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social

(Nov/2010 a Jan/2011)

162

Quadro 16. Conheço a Rede Socioassistencial do Município?Opções N° absoluto %

Sim 17 70.8Não 07 29.1Total 24 100

Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social (Nov/2010 a Jan/2011)

Quadro 17. Qual a sua opinião sobre a política municipal de Assistência Social de Aquiraz?Qual a sua opinião sobre a PMAS de Aquiraz

Você concorda com o que vem sendo feito?

Justifique

SIM Não 01 A política de Aquiraz

melhorou muito nestes últimos anos

X Porque vem melhorando

02 Esta melhorando X Acho que poderiam fazer mais e melhor se houvesse menos roubo

03 É um município que precisa crescer mais

X Acho que o atual prefeito vem trabalhando legal.

04 ---- X ------05 É muito bom morar em

AquirazX Porque sim.

06 Acho que a atual secretaria não tem pulso

X Precisa melhorar.

07 Acho que o prefeito não destina recursos corretamente

X Devia investir mais na assistência

08 Tá melhorando X Pode melhorar ainda mais09 Acho que tem muita coisa

boa, mas tem muita coisa pra melhorar

X Devia investir mais nas famílias carentes. Principalmente os catadores de lixo da região que sofrem muito com a fome

10 O município cumpre os requisitos nacionais, considero isto importante

X Acho que podemos avançar em muitos sentidos se houver a colaboração de todos os agentes públicos

11 Mais ou menos X O município é muito carente.12 Precisa melhorar em

muitos aspectosX Em partes, porque eu acho que ainda

há muitas famílias que precisam estar cadastradas nos programas federais. Além do mais em Aquiraz não temos nenhuma industria forte, que possa garantir emprego pros nossos cidadãos.

13 A PMAS de Aquiraz precisa avançar muito

X Acho que precisa de avanços urgentes.

14 Sim X -----15 Acho que a assistência é a

área que recebe menos recursos, porque em grande parte as

X Precisa de mais investimento municipal na PMAS e também de profissionais mais preparados.

163

transferências são feitas diretamente do executivo, o que termina eximindo o município de sua responsabilidade

16 A política atual é eleitoreira como sempre, acho que os políticos são todos iguais

X Não concordo porque vejo muito roubo ainda e as ONGS estão recebendo cada vez mais menos recursos, é difícil trabalhar assim.

17 Acho que tá boa X Sim, eu concordo com a administração do atual prefeito. Claro, que a anterior era um pouco melhor, pois investia mais nas ong´s

18 Acho que precisa melhorar os hospitais. A Saúde de Aquiraz tá um caos

X Precisa melhorar muito

19 Tá boa mais pode melhorar

X Concordo sim.

20 ------ X -----------21 Tá boa sim. Ainda bem

que é ano eleitoral, então as coisas acontecem mais fáceis

X Talvez precise fazer o trabalho do povo da assistência social aparecer mais

22 Acho que tá boa X Concordo 23 Acho que pode melhorar

mais porque tem pouco investimento na assistência social

X Investir mais na assistência social

24 ---- X Porque o prefeito atual não investe na assistência, muito menos nas ong´s. Todo nosso trabalho esta perdido e disperso. Nesta gestão muitas ong´s tiveram que fechar as portas por não ter subsídios da atual administração, acho isto um absurdo.

Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social (Nov/2010 a Jan/2011)

Quadro 18. Conhece os Critérios de Concessão de Benefícios Eventuais?Sim % Não %

14 58,3 10 41.6

Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social (Nov/2010 a Jan/2011)

164

3.4.3 A PRÁTICA DO CONSELHEIRO

Quadro 19. Sobre o Exercício da Presidência e Vice- Presidência do CMASConselheiros N.Abs %Exerceu a presidência 03 12.5Exerceu a Vice presidência 02 8.3Exerceu a presidência em um mandato e a vice-presidência em outro 01 4.1Não exerceu nem a presidência nem a vice-presidência 18 75.0Total 24 100

Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social (Nov/2010 a Jan/2011)

Quadro 20. Como Foi Definida Sua Participação no CMAS de Aquiraz?Opções N°Abs %Vontade e interesse próprio 07 29.1Indicado pela Entidade que represento e não pude evitar 05 20.8Indicado pela gestão e não pude evitar 10 41.6Outros (fui indicado pela gestão e gosto de ser conselheiro) 02 8.3Total 24 100

Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social (Nov/2010 a Jan/2011)

Quadro 21. Com Que Frequência Participava das Reuniões Ordinárias e Extraordinárias do CMAS de Aquiraz? Frequência N Abs %Mensalmente 08 33.3Sempre que convocado 05 20.8Quando era possível (sempre tinha muitos compromissos) 07 29.16Quando era pra votar alguma coisa muito importante 04 16.6Outros ----- --Total 24 100

Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social (Nov/2010 a Jan/2011)

Quadro 22. Costumava Emitir Opiniões nas Reuniões do CMAS de Aquiraz? N° Sim Não Justificativas01 X Porque gosto de participar02 X Sempre que o tema me interessava03 X Sempre04 X Não me sentia à vontade para opinar, talvez pelo pouco tempo que

passei no município05 X Gosto de contribuir06 X Sempre que possível07 X Se tinha algo pra falar, sempre falava, mesmo que fosse discordar

da maioria.

165

08 X Sempre que possível09 X As vezes, pois algumas pessoas sempre falam demais, o que

tornava as reuniões muito cansativas e maçantes.10 X -----11 X Porque gosto de contribuir12 X Porque estava nas reuniões para contribuir13 X Sempre que possível14 X -------------------15 X Sempre procurava indicar o que é mais necessário pro município e

pras ONG´S e comunidades16 X Sempre procuro contribuir em tudo que me proponho a fazer17 X Porque é uma forma de contribuir com o colegiado18 X Na maioria das vezes não19 X Se tivesse algo a acrescentar falava mesmo20 X Sempre que possível21 X Sim.22 X Nem sempre entendia as pautas e reivindicações. Achava um pouco

perda de tempo as reuniões, pois não passavam de discussões tolas de grupos que iam ali brigar por seus próprios interesses.

23 X Quando necessário sempre me manifestei24 X Sempre que tive vontade ou que era pedida minha opinião eu falava.

Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social (Nov/2010 a Jan/2011)

Quadro 23. Minha Opinião era Levada em Conta na Hora da Tomada de Decisões pelo Colegiado do CMAS de Aquiraz?

N° Sim Não Justificativas01 X Acredito que sim02 X Sempre foi um consenso. Dependia da votação. Se a opinião era

válida eles aceitavam03 X Sim, as decisões eram do colegiado04 X Acho que sim05 X Não costumava a me manifestar06 X Acredito que sim porque eu sempre obtive respostas positivas 07 X Quando eu dizia alguma coisa era no sentido de contribuir08 X Acredito que sim09 X -------10 X Minhas opiniões quase sempre divergiam das opiniões da maioria,

eu sempre contestava especialmente os valores apresentados nas prestações de contas.

11 X Acredito que sim12 X Nem sempre, porque feriam os interesses da maioria que é

submissa a administração13 X Sempre que possível eu ajudava14 X Sempre15 X Sim.16 X Porque eu gosto de colaborar, então sempre emitia opiniões17 X Quando era do interesse da maioria18 X Não costumava a me meter, só mesmo nas votações19 X Acredito que sim, já que as decisões são de todos20 x Sim, muitas vezes21 X Sempre que possível

166

22 X Quase sempre, mas a decisão final era da maioria23 X Eu participava sempre e ajudava a formar os consensos24 X Sim, especialmente porque na função da presidência tinha

obrigação de participar ativamente. Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social

(Nov/2010 a Jan/2011)

Quadro 24. Questões relativas ao exercício das atribuições do conselheiro Questões Sim % Não % totalAnalisei, apresentei propostas e aprovei o plano Municipal de AS

03 12,5 21 87.5 24

Realizei o monitoramento da Rede Socioassistencial de Aquiraz

05 20.8 19 79.15 24

Não sei informar --- ---- --- --- -- Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social

(Nov/2010 a Jan/2011)

Quadro 25. Acompanhava os Registros em ATA do CMAS de Aquiraz?N° Sim Não Justificativas01 X Mesmo quando não podia comparecer as reuniões, porque gostava

de saber o que tava acontecendo no conselho02 X Porque é um documento03 X Porque eu sempre leio algo antes de assinar04 X Mesmo não concordando com tudo, eu sempre gostava de ler antes

de assinar, porque acho importante.05 X Só quando dava tempo , As vezes eu pedia a ATA pra ler das

reuniões que tinha faltado, mas como só podia ver após as reuniões nem sempre eu acompanhava. Mas me recusava a assinar se não pudesse ler.

06 X Eu sempre leio antes de assinar07 X Só quando era possível. Porém assinei muitas atas de reuniões que

de fato não aconteceram, e nas quais não estive presente, porque havia prazos, e pra não prejudicar o município eu lia as atas e analisava os documentos e assinava.

08 X Eu sempre leio antes de assinar09 X Só das reuniões que eu tinha que assinar10 X Quando era necessário eu assinava11 X ---------12 X Sim, lia antes de assinar.13 X Na maioria das vezes li antes de assinar14 X Eu assinava sempre, mas nem sempre pude ler tudo15 X Claro que sim! 16 X Sempre assino, mas leio antes.17 X Se eu propus alguma alteração que não era levada em conta eu não

assinava, porque queria pelo menos que constasse em ata.18 X Assinava sempre 19 X Sempre lia antes20 X Sempre lia, mesmo que não tivesse participado da reunião, se eu

tinha que assinar eu tinha que ler.21 X Só quando dava tempo

167

22 X Sempre lia antes de assinar e se não concordava não assinava23 X -----24 X Sempre.

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Quadro 26. Como Conselheiro Você Realizava (Realiza) o Controle da PMAS?N° Sim Não Não

opinouJustifique

01 X Participo das reuniões02 X Analisamos o plano de ação e os demonstrativos de

gastos03 X04 X Acompanho a política de Aquiraz05 X06 X Procurava sempre dentro das possibilidades e das

condições oferecidas realizar este controle social07 X Sim, fui as reuniões e vi os projetos08 X Participando das reuniões e analisando os gastos públicos09 X Não justificou10 X Pois ainda não fui chamada pra fazer este controle e

tenho pouco tempo de mandato11 X Porque é minha obrigação de conselheiro12 X Não considero controle quando já se chega na reunião às

vésperas da aprovação de um plano de ações todo feito não sei por quem, não sei onde.... e ao conselho cabe apenas dizer sim!

13 X14 X Quando participo das reuniões e vemos os gastos todos

nas tabelas e sabemos pra onde foi os recursos e aprovamos a execução da política

15 X Todo mês nas reuniões a gente aprova os recursos públicos gastos

16 X Porque é importante.17 X É a missão do conselheiro18 X Eu não me lembro de ter visto isto em pauta19 X É o trabalho do conselheiro20 X As vezes quando apresentam os planos pra gente, e

temos que dizer se o recurso será ou não aprovado.21 X Analisamos sempre planos de aplicações de recursos e

demonstrativos financeiros 22 X Sempre nas reuniões é feito o controle23 X Votamos pra decidir quem merece ou não receber cestas

básicas e vale transporte, acho que isto faz parte do controle, também a técnica responsável por este setor, envia relatórios dizendo quem fez o que, e onde foi gasto o dinheiro.

24 X Não. Como conselheiro acho que nunca tive essa oportunidade.

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Quadro 27. Acompanhei e Controlei a Execução da Política Municipal de Assistência Social de Aquiraz?

N° Sim Não Justificativas01 X É meu papel02 X É um dos melhores caminhos democráticos03 X ----04 X Porque é interesse da comunidade05 X Porque fiz visitas onde estão sendo desenvolvidas as atividades06 X Porque eu observava sempre tudo07 X ------08 X Porque acho perda de tempo09 X -----10 X Porque é importante11 X Porque não tive tempo12 X Não tive condições de participar ativamente do CMAS13 X Não tinha tempo, além de acumular funções na minha secretaria ainda

ser conselheiro de modo voluntário era muito complicado14 X Eu fiz questão de acompanhar tudo sempre15 X Me dediquei sempre ao conselho.16 X Foi difícil mas eu sempre tentei fazer o melhorq17 X Acho que investi muito no conselho18 X Não dispunha de tempo pra acompanhar tudo sempre19 X Sou uma pessoa dedicada20 X Eu acompanhei sim.21 X Acredito que sim22 X Não pude participar e acompanhar as coisas como deveria23 X Acredito que fiz o possível24 X --------

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Quadro 28. Minha Participação Como Conselheiro Interferiu Para a Conquista de Avanços na Política Municipal de Assistência Social?

N° Sim Não Justificativas01 X Acredito que sim porque eu sempre to ativo no conselho02 X Porque sempre proponho coisas que podem ser importantes03 X Porque eu sou cidadão e sempre que estava ou estou em algum conselho

eu busco fazer o melhor pra política de Aquiraz funcionar.04 X Pois aprovo as propostas, e analiso os recursos05 X Acho que é muito importante, porque os conselhos de algum modo ainda

conseguem controlar os gastos do prefeito.06 X Sim, porque estamos em cima da administração pública e fazíamos nossa

função de conselheiro, sempre buscando zelar pelo patrimônio do Aquiraz.

07 X Porque quando eu estive no conselho eu notava que muitas das coisas e propostas que fazíamos não saiam dos papéis. Acho que a administração pública ainda corre muito solta neste país.

08 X Porque acompanhei e fiscalizei e ainda faço isto!09 X Porque sou cidadão10 X -------11 X Porque eu me dediquei muito no Aquiraz.12 X ------

169

13 X Porque eu sou da comunidade, e quando estive nos conselhos eu sempre levei demanda da comunidade pra ser votada ali.

14 X Acredito que sim.15 X Considero que minha participação de certa forma contribui para o

desenvolvimento do município. 16 X Porque quanto maior a participação, melhores são as condições ao

exercício pleno da democracia.17 X Porque eu ajudei no fortalecimento dos conselhos e briguei muito para

que o conselho funcionasse.18 X Sim porque eu consegui 02 coletivos do pró-jovem para minha

comunidade19 X Porque eu acredito que minha participação foi importante em muitos

aspectos20 X Porque eu gosto muito de participar da política21 X Porque trabalhei pouco tempo em Aquiraz, eu tentei muito ajudar, mas

não acredito que tenha feito tanta diferença22 X Porque eu lutei pelos direitos da pessoa com deficiência, pedi que as ong

´s que trabalham com crianças especiais tivessem mais atenção no município.

23 X Porque eu acho que como conselheira eu ajudei bastante, aprovando o uso de recursos e permitindo que o município seguisse arrecadando e utilizando bem.

24 X

Porque eu sempre quis o melhor pra população de Aquiraz.

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Quadro 29. Acompanha o Trabalho da Gestão atual do CMAS de Aquiraz?Sim % Não %

10 41.6 14 58.3

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Quadro 30. De que maneira acompanha o Trabalho da Atual gestão do CMAS de Aquiraz?

Como acompanha a gestão atual do CMAS N° % Sou conselheiro do CMAS 04 16.6Acompanho porque me interesso 06 25,0Faço parte de outros conselhos e algumas vezes participo 07 29,1Não acompanho, mas sei das ações 01 4,1Não acompanho e nem sei se esta funcionando atualmente 06 25.0Total 24 100

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3.3.4 SOBRE A GESTÃO DO CMAS DE AQUIRAZ

QUADRO 31. Questionamentos relativos à gestão do Conselho Questões Sim % Não % Não sei

informar%

01 O CMAS de Aquiraz acompanhava a gestão dos benefícios, programas e projetos da Política Municipal de Assistência Social?

06 25.1 08 33.3 10 41.6

02 Atualmente, você saberia informar se o CMAS acompanha a gestão de benefícios, programas e projetos da PMAS de Aquiraz

06 25.1 05 20.8 13 54.16

03 O CMAS acompanhava a gestão dos Recursos destinados á programas e projetos da PMAS ?

10 41.6 04 16.6 10 41.6

04 Você saberia informar se atualmente este acompanhamento vem sendo realizado?

05 20.8 03 12.5 16 66.6

05 O conselho inscrevia e fiscalizava as entidades e organizações de âmbito municipal?

04 16.6 03 12.5 17 70.8

06 Sabe informar se atualmente o conselho inscreve e fiscaliza as entidades e as organizações de âmbito municipal

07 29.1 03 12.5 14 58.3

07 O conselho analisava e aprovava a proposta orçamentária dos recursos destinados as ações finalísticas da Assistência Social alocadas no FMAS?

12 50.0 05 20.8 07 29.16

08 Sabe informar se atualmente o conselho analisa e aprova a proposta orçamentária dos recursos destinados às ações finalísticas da Assistência Social alocadas no Fundo Municipal?

07 29.1 04 16.6 13 54.1

09 O Conselho faz o acompanhamento do plano de aplicação dos recursos do fundo municipal?

07 29.1 05 20.8 12 50.0

10 No período em que fui conselheiro, fazíamos o acompanhamento do plano de aplicação dos recursos do FMAS?

04 16.6 03 12.5 17 70.8

11 O conselho exercia a orientação e o controle do FMAS?

08 33.3 01 4.16 15 62.5

12 Analisava e aprovava o plano anual de gestão?

10 41.6 04 16.6 10 41.6

13 Durante o período em que estive no conselho, foram realizadas ações integradas com outros conselhos municipais?

13 54.6 09 37.5 02 8.33

14 Durante o período em que fui conselheiro garantimos o debate e a participação dos usuários?

08 33.3 10 41.6 06 25.0

171

15 A gestão atual divulga suas ações? 02 8.33 02 8.33 20 83.316 No período em que fui conselheiro

havia meios de publicizar as decisões do conselho?

22 91.6 01 4.16 01 4.16

17 Durante o período em que fui conselheiro, havia secretária executiva ?

23 95.8 -- --- 01 4.16

18 O Conselho possuía sede própria? 23 95.8 -- --- 01 4.1619 O conselho possui sede própria

atualmente?17 70.8 --- --- 07 29.1

20 O Conselho possuía equipamentos e material de expediente?

10 41.6 12 50.0 02 8.33

21 Possuía transporte próprio? 02 8.33 22 91.6 02 8.3322 Durante seu mandato no CMAS foram

realizadas visitas ás entidades da rede privada de Aquiraz?

17 70.8 03 12.5 04 16.5

Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social (Nov/2010 a Jan/2011)

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APÊNDICE B- Roteiro para a Pesquisa de Campo

Entrevista perfazendo um total de 24 conselheiros Municipais de assistência Social de Aquiraz, no período de 2005 a 2010.

1. O Perfil dos Conselheiros Municipais de Assistência Social de Aquiraz Ceará

1. Período em que exerceu mandato no CMAS 1.2 Reside no Município? ( ) sim ( ) não 1.3 Trabalha atualmente no município? ( ) sim ( ) não1.4 Tempo em que trabalhou em Aquiraz? 1.5 Idade 1.6 Gênero ( ) M ( )F 1.7 Grau de Instrução 1.8 Tenho disponibilidade de tempo para participar das reuniões ( ) sim ( ) não1.9 Atualmente é Conselheiro? ( ) sim ( ) não01/10/12

Cumpriu todo o mandato no CMAS de Aquiraz? Porque? ( ) sim ( ) não

1.11 Participa de outros Conselhos? Quais?

2. Sobre as Concepções Teóricas

2.1 O que você entende por Controle social?

2.2 O que você entende por Participação?

2.3 O Que é Ser Conselheiro?

2.4 Quais as atribuições do Conselheiro?

173

2.5 Conheço a Rede Socioassistencial do Município? ( )sim ( ) não

2.6 Qual a sua opinião sobre a PMAS de Aquiraz? Justifique sua resposta

2.7 Conheço os Critérios de Concessão dos Benefícios Eventuais?

3. A Prática do Conselheiro

3.1 Exerceu a presidência ou Vice- presidência? ( )sim ( ) não

3.2 Como foi definida sua participação no CMAS de Aquiraz? • Foi minha própria vontade • Fui indicado pela entidade que represento e não pude evitar • Fui indicado pela Gestão e não pude evitar • Na próxima gestão pretendo continuar conselheiro• Espero na próxima gestão, não ser conselheiro

3.4 Enquanto conselheiro, comparecia sempre as reuniões ordinárias e extraordinárias do CMAS de Aquiraz ( ) sempre que possível( ) quando necessário( ) as vezes( ) nem sempre( ) raramente, pois acumulava muitas funções ( ) outros

3.5 Costumava emitir opiniões nas Reuniões do CMAS de Aquiraz( )sim ( ) não ( ) sempre que necessário

3.6 Minha Opinião era levada em conta na hora da Tomada de Decisões pelo Colegiado do CMAS de Aquiraz? ( )sim ( )não Justifique

174

3.7 Como conselheiro, analisei e aprovei o Plano Municipal de Assistência Social de Aquiraz. ( )sim ( )não

3.8 Realizei o monitoramento da Rede Socioassistencial de Aquiraz? ( )sim ( )não

3.9 Eu faço a leitura das atas das reuniões do CMAS de Aquiraz? ( ) sim ( ) não justifique

3.10 Acompanho e controlo a execução da política municipal de assistência social? ( ) sim ( ) não justifique

3.11 Considero que a minha participação interfere para a conquista de avanços na Política. ( ) sim ( ) não - justifique

3.12 Acompanho o trabalho da Atual Gestão do CMAS de Aquiraz? ( ) sim ( )não ( ) não sei. Se respondeu afirmativamente a esta questão, informe de que maneira faz este acompanhamento.

4. Sobre a gestão do conselho Municipal de assistência Social

Questão Justificativa

4.1 O CMAS de Aquiraz acompanha os benefícios, programas e projetos da Política Municipal de Assistência Social? ( )sim ( ) não

175

4.2 O CMAS acompanha a gestão dos recursos destinados à programas e projetos?

4.3 O conselho inscreve e fiscaliza as entidades e as organizações de âmbito municipal?

4.4 O conselho analisa e aprova a proposta orçamentária dos recursos destinados às ações finalisticas de assistência social alocadas no Fundo Municipal ?

4.5 O conselho acompanha o plano de aplicação dos recursos do fundo municipal

4.6 O conselho exerce a orientação e controle do Fundo?

4.7 Analisa e aprova o Plano Anual de Gestão?

4.8 Realiza ações integradas com outros conselhos municipais?

4.9 Garante o debate e a participação dos usuários? Viabiliza a participação destes?

4.10 Há publicidade das ações do conselho?

176

4.11 Possui Secretária Executiva?

4.12 O conselho possui sede própria?

4.13 O conselho possui equipamento e material de consumo?

4.14 Possui carro?

177

A N E X O S