universidade estadual de santa cruz shayanna...

59
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA MITRI AMORIM DA ROCHA SOUZA ESTRUTURA ESPACIAL E DINÂMICA TEMPORAL DA COMUNIDADE BÊNTICA NOS COSTÕES ROCHOSOS DO MORRO DE PERNAMBUCO (ILHÉUS BA) ILHÉUS BAHIA 2014

Upload: others

Post on 26-Oct-2020

3 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ

SHAYANNA MITRI AMORIM DA ROCHA SOUZA

ESTRUTURA ESPACIAL E DINÂMICA TEMPORAL DA

COMUNIDADE BÊNTICA NOS COSTÕES ROCHOSOS DO

MORRO DE PERNAMBUCO (ILHÉUS – BA)

ILHÉUS – BAHIA

2014

Page 2: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

SHAYANNA MITRI AMORIM DA ROCHA SOUZA

ESTRUTURA ESPACIAL E DINÂMICA TEMPORAL DA

COMUNIDADE BÊNTICA NOS COSTÕES ROCHOSOS DO

MORRO DE PERNAMBUCO (ILHÉUS – BA)

Dissertação apresentada, para obtenção do título de

Mestre em Sistemas Aquáticos Tropicais, à

Universidade Estadual de Santa Cruz.

Área de Concentração: Ecologia

Orientadora: ProfªDrªErminda da Conceição Guerreiro

Couto

Co-orientadora: ProfªDrª Helena Mathews-Cascon

ILHÉUS – BAHIA

2014

Page 3: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

S729 Souza, Shayanna Mitri Amorim da Rocha. Estrutura espacial e sucessão ecológica da co- munidade bêntica nos costões rochosos do Morro de Pernambuco (Ilhéus-BA) / Shayanna Mitri Amo- rim da Rocha Souza. – Ilhéus, BA: UESC, 2014. 60f. : il. ; anexos. Orientadora: Ermida da Conceição G. Couto. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual de Santa Cruz. Programa de Pós-Graduação em Sistemas Aquáticos Tropicais. Inclui referências.

1. Bentos – Pernambuco, Morro de (BA). 2. Mo- luscos. 3. Rochas. 4. Impacto ambiental. I. Título. CDD 578.77

Page 4: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km
Page 5: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

Dedico este trabalho aos meus pais Waldir e Scheinimar por me

ensinarem a ver o mundo com olhos otimistas.

Page 6: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

AGRADECIMENTOS

Sempre desconfiei que pudesse bisbilhotar fora da caixinha. Pessoas

geniais em meu caminho tem me mostrado que na verdade não posso, devo! E

de preferência ir um pouco além de um mero „bisbilhoteio‟... Pessoas como

Erminda Couto, minha admirável orientadora por quem tenho enorme gratidão

e inestimável carinho. Por todo conhecimento, conversas, cuidado e visão além

do alcance! Foi um privilégio trabalhar sob sua orientação.

Após muito apreciar o mundo subterrâneo e os milagres da evolução

troglomórfica, eis que me deparo com a clássica e magnífica Ecologia de

Costões Rochosos! Decidi me aventurar no, para mim até então, desconhecido

mundo malacológico. E para compreender os fascinantes animais que o

compõe pude contar com a ajuda da minha co-orientadora Helena Matthews-

Cascon. Muito obrigada!

Agradeço a Universidade Estadual de Santa Cruz e ao Programa de

pós-graduação Sistemas Aquáticos Tropicais pelo ensino gratuito e de

qualidade. À FAPESB pela concessão da bolsa.

E como se não me bastasse realizar este belo projeto que tanto almejei,

tive o enorme prazer de trabalhar ao lado de pessoas incríveis que me

ensinaram diariamente que com café e riso o trabalho árduo fica leve que só...

Aos meus irmãos bênticos: Tulio, por todos os „causos‟ e companheirismo,

Alex, por mostrar a beleza que há na estatística, Poli, pela parceria no campo

sob sol e chuva, Ed, pelas conversas e risadas, Alisson, salve

rockyshore!,Indira pela companhia tranquila e alegre, Rafa, por transpirar

positividade e bom humor. Agradeço a todos pela amizade e apoio!

Pelas primorosas contribuições a este trabalho, meus agradecimentos

ao professor Alexandre Schiavetti e a professora Fernanda Guimarães.

Um agradecimento especial ao professor José Glauco Tostes por me

mostrar um novo caminho para a expansão mental. Por me ensinar a sabedoria

de Cachinhos Dourados e que a ordem pode emergir a partir do caos! Bom

mesmo é levar a vida longe do equilíbrio!

Fruto de uma inesquecível história que vivi na Terra do Nunca, minha

amada Ouro Preto, fui agraciada com a improvável oportunidade de viver

novamente ao lado de grandes e queridos amigos: Vegetal, Lunático, Banzai e

Page 7: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

Valisere. Receberam-me em seus lares, onde tantas vezes celebramos a vida!

Gratidão por toda ajuda e riso compartilhados, amizade verdadeira e sincera.

Algumas pessoas foram e sempre serão minha fonte de inspiração

maior. Aos meus pais, Waldir e Scheinimar, minha eterna gratidão por me

permitirem esta esplêndida experiência que é existir! Por respeitarem o que sou

e por serem os principais incentivadores dos meus sonhos, meus objetivos.As

minhas amadas irmãs, Shaynara e Shellen, por todo carinho, amizade e

traquinagens!

Após 24 meses na ponte aérea Bahia x Pará e breves encontros a cada

três meses, agradeço ao meu Palpite certo por ter me esperado. Por todo

apoio, compreensão e por ser meu fôlego extra em tudo o que faço. “Diante da

vastidão do tempo e da imensidão do espaço é uma alegria compartilhar um

planeta e uma época com você!”

Por fim agradeço a Ilhéus por ter me acolhido e provido o colorido

cenário deste venerado feito.

A todos que de alguma forma contribuíram para que este projeto se

concretizasse, meus sinceros agradecimentos.

Page 8: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

“(...) só possuímos aquilo que vemos, e nada é real. O mais que se pode

conseguir é ter um conjunto de ilusões concordantes entre si.”

John Gribbin

Page 9: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .......................................................................................... 11

1.1 Justificativa .............................................................................................. 12

2. OBJETIVOS .............................................................................................. 12

2.1 Objetivo geral ........................................................................................... 12

2.2. Objetivos específicos.............................................................................. 12

3. ÁREA DE ESTUDO ................................................................................... 13

3.1 Morro de Pernambuco ............................................................................. 13

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................... 14

CAPÍTULO I - ZONAÇÃO DE MACROMOLUSCOS EM COSTÕES

ROCHOSOS URBANOS DO SUL DA BAHIA, BRASIL ................................. 16

1. INTRODUÇÃO .......................................................................................... 18

2 MATERIAL E MÉTODOS .......................................................................... 20

2.1 Área de estudo ......................................................................................... 20

2.2 Delineamento amostral ............................................................................ 21

2.3 Análise dos dados ................................................................................... 21

3 RESULTADOS .......................................................................................... 23

3.1 Composição das assembleias ................................................................ 23

3.2 Efeito dos níveis de emersão .................................................................. 24

3.3 Efeito da exposição às ondas ................................................................. 26

3.4 Efeito combinado dos níveis de emersão e da exposição às ondas... 27

3.5 Distribuição da espécie vágil mais abundante ...................................... 27

3.6 Índice de rugosidade ............................................................................... 29

4 DISCUSSÃO ............................................................................................. 29

Page 10: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

5 CONCLUSÃO ............................................................................................ 35

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................... 35

CAPÍTULO II - SUCESSÃO ECOLÓGICA DA MACROFAUNA BÊNTICA EM

UM COSTÃO ROCHOSO URBANO TROPICAL - BAHIA, BRASIL .............. 40

1. INTRODUÇÃO .......................................................................................... 42

2. MATERIAIS E MÉTODOS ......................................................................... 43

2.1 Sistema estudado .................................................................................... 43

2.2 Caracterização da comunidade .............................................................. 43

2.3 Composição da macrofauna bêntica após distúrbio ............................ 44

2.4 Reestabelecimento da macrofauna bêntica após distúrbio ................. 44

2.5 Competição por espaço pelas espécies dominantes ........................... 44

3. RESULTADOS .......................................................................................... 45

3.1 Caracterização da comunidade .............................................................. 45

3.2 Composição da macrofauna bêntica após distúrbio ............................ 47

3.3 Reestabelecimento da macrofauna bêntica após distúrbio ................. 48

3.4 Competição por espaço pelas espécies dominantes ........................... 48

4. DISCUSSÃO ............................................................................................. 48

5. CONCLUSÃO ............................................................................................ 52

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................... 53

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 55

ANEXO I........................................................................................................... 57

Page 11: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

11

1. INTRODUÇÃO

Costões e afloramentos rochosos são formações costeiras situadas na

transição entre o continente e o oceano, sendo consideradas uma extensão do

ambiente marinho, uma vez que a maioria dos organismos que os habitam

relaciona-se com o mar (LEWIS, 1964).

Uma característica peculiar sobre costões rochosos é o padrão de

zonação vertical com a ocorrência de biobandas que diferem em diversidade

ao longo da região entre marés (STEPHENSON & STEPHENSON 1949). O

limite superior de distribuição das espécies que compõem estas zonas é

controlado por condicionantes abióticas, como tempo de exposição e ação das

ondas. O limite inferior é determinado por interações biológicas como

competição e predação (CONNELL, 1972). Lewis (1964) definiu as principais

zonas como supralitoral, mesolitoral e infralitoral.

Entre os animais que habitam os costões rochosos destaca-se a

macrofauna bêntica, que compreende o grupo de animais aquáticos que

apresenta relação direta com o fundo e tamanho superior a 0,5mm (LANA et

al., 1996). Esse grupo é formado por vários filos. Muitas espécies constituem o

principal alimento de peixes demersais e há aquelas que possuem valor

econômico, como moluscos, crustáceos e equinodermos (DAY et al., 1989;

BELÚCIO, 1999).

Algumas espécies de moluscos têm sido reconhecidas como indicadores

de zonas litorâneas específicas (CHELAZZI & VANNINI, 1980), constituindo

componentes abundantes das comunidades de costões rochosos no mundo e

comumente dominam o recurso espacial de região entre marés (LITTLE &

KITCHING, 1996).

Este trabalho se propõe a verificar a influência de condicionantes

abióticas e interações biológicas na distribuição das assembleias de

macromoluscos ocorrentes nos costões rochosos do Morro de Pernambuco,

Ilhéus – BA.

Page 12: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

12

1.1 Justificativa

A fauna bêntica da região compreendida entre Salvador (BA) e o Rio

Paraíba do Sul (RJ) é a menos conhecida da costa brasileira. Os

levantamentos taxonômicos e as análises de distribuição dos padrões de

grupos zoológicos são menos abrangentes que os já produzidos para outras

regiões e a maioria deles relata informações anteriores à década de 80 do

século XX (LANA et al., 1996; COUTO et al., 2003). Estudos posteriores

sugerem que a região marinha do sul da Bahia constitui uma unidade

biogeográfica com alto grau de endemismo (COUTO et al., 2003). Atividades

humanas como agricultura, urbanização, navegação comercial e recreação tem

sido realizadas em zonas costeiras por milênios, de modo que muitas têm sido

grandemente modificadas. Como consequência, a biodiversidade e a função

ecológica dessas regiões têm sido afetadas (STRAYER et al., 2012).

Dada a estreita relação entre a biodiversidade e o funcionamento dos

ecossistemas, qualquer perda de diversidade refletirá negativamente na

quantidade e na qualidade dos serviços que um sistema pode fornecer. Desta

forma, detectar e compreender alterações nos ecossistemas naturais e

relacioná-las a impactos antropogênicos ou perturbações climáticas tornaram-

se ações imprescindíveis (CRUZ-MOTTA et al., 2010).

2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

Estudar os efeitos de fatores estruturadores abióticos e bióticos na

distribuição espaço-temporal das assembleias de macromoluscos ocorrentes

nos afloramentos rochosos do Morro de Pernambuco (Ilhéus – BA).

2.2. Objetivos específicos

Discutir a distribuição espacial, em diferentes níveis de emersão, das

assembleias de macromoluscos em afloramentos rochosos abrigados e

expostos no Morro de Pernambuco

Page 13: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

13

Investigar o processo de colonização da macrofauna bêntica em um

afloramento rochoso, sua evolução temporal após impacto experimental e a

interação espacial das espécies dominantes.

3. ÁREA DE ESTUDO

O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000

km de extensão. O município de Ilhéus, situado na região sudeste da Bahia

(14°47‟55"S; 39º02‟01"W), possui um litoral com cerca de 80 km de extensão,

limitado ao norte pelo rio Sargi e ao sul pelo rio Acuípe (BAHIA, 2001).

O clima caracteriza-se como quente e úmido. As temperaturas médias

anuais variam entre 22°C e 25°C. A pluviosidade chega a alcançar 2.700 mm

em locais próximos ao litoral. O regime pluviométrico é regular, com chuvas

abundantes, bem distribuídas durante o ano (BAHIA, 2001; FARIA-FILHO &

ARAÚJO, 2003).

3.1 Morro de Pernambuco

O Morro de Pernambuco (14°48‟320‟‟S, 39°01‟462‟‟W) (Figura 1) está

inserido no perímetro urbano da cidade. Apresenta ocorrência de restinga

costeira e remanescentes de Mata Atlântica (IBGE, 1992; BAHIATURSA, 2005)

e uma linha de costa bordejada por terraços arenosos e afloramentos rochosos

irregulares de suave declividade (RODRIGUES, 2005). Atividades de recreação

e turismo são realizadas no local gerando impactos ambientais como acúmulo

de lixo antrópico e natural, pesca, assoreamento, trânsito frequente de

passantes (moradores das imediações, pescadores, turistas e esportistas) e de

veículos automotores (FERREIRA, 2009).

Page 14: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

14

Figura 1: Vista aérea do Morro de Pernambuco – Ilhéus, BA (Fonte: Ferreira, 2009)

Esta dissertação será apresentada no formato de dois artigos: “Zonação de

macromoluscos em costões rochosos urbanos do sul da Bahia, Brasil”, o

qual descreve os padrões de zonação em costões abrigados e expostos e,

“Sucessão ecológica da macrofauna bêntica em um costão rochoso

urbano tropical - Bahia, Brasil”, o qual descreve e analisa o padrão de

sucessão, após distúrbio, em um costão tropical abrigado.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAHIA, A. Programa de Recuperação das Bacias dos Rios Cachoeira e Almada. Diagnóstico Regional. Caracterização Climatológica. Ilhéus, SRH/UESC, v.1, Tomo III. 2001. BAHIATURSA. Empresa de Turismo da Bahia S/A. Turismo receptivo de Ilhéus: maio de 2005. BELÚCIO, L. F. Diagnóstico para avaliação e ações prioritárias da biodiversidade do bentos marinho do Brasil, 54 p. Belém, Pará, 1999. CHELAZZI, G.; VANNINI, M. Zonation of Intertidal Molluscs on Rocky Shores of Southern Somalia.Estuarine and Coastal Marine Science, 10(25), 569–583, 1980. CONNELL, J.H. Community interactions on marine rocky intertidal shores.Annual Review of Ecology, Evolution, and Systematics, 3:169–192. 1972.

Page 15: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

15

COUTO, E.C.G.; SILVEIRA, F.L.D.; ROCHA, G.R.A. Marine biodiversity in Brazil: the current status. Gayana 67(2): 327-340. Brasil, 2003. CRUZ-MOTTA, J. J.; MILOSLAVICH, P.; PALOMO, G.; IKEN, K.; KONAR, B.; POHLE, G.; TROTT, T.; BENEDETTI-CECCHI, L.; HERRERA, C.; HERNÁNDEZ, A.; SARDI, A.; BUENO, A.; CASTILLO, J.; KLEIN, E.; GUERRA-CASTRO, E.; GOBIN, J.; GÓMEZ, D. I.; RIOSMENA-RODRÍGUEZ, R.; MEAD, A.; BIGATTI, G.; KNOWLTON, A.; SHIRAYAMA, Y. Patterns of spatial variation of assemblages associated with intertidal rocky shores: a global perspective.PLoS ONE 5(12): e14354, 2010. DAY JR., J. W.; HALL, C. A. S.; KEMP, W. M.; YNZ-ARANCIBIA, A. Estuarine ecology. John Wiley & Sons, 558p.New YorK, 1989. FARIA FILHO, A. F.; ARAUJO, Q. R. Zoneamento do meio físico do município de lhéus, Bahia, Brasil, utilizando a técnica de geoprocessamento. CEPLAC/CEPEC. Boletim Técnico n. 187, 20 p. Ilhéus, 2003. FERREIRA, M. P. Diferenças na morfologia e no padrão de distribuição espacial do ouriço do mar Echinometrialuncunter (Linnaeus, 1758) na costa sul baiana. Dissertação: Universidade Estadual de Santa Cruz, 48f. Ilhéus, 2009. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – disponível em: <http://www.ibge.gov.br> acesso em outubro de 2012. LANA, P.C.; CAMARGO, M. G.; BROGIM, R. S.; ISAAC, V.J. O bentos da costa brasileira. Avaliação crítica e levantamento bibliográfico (1858 – 1996). FEMAR, 432 p. Rio de Janeiro, 1996. LEWIS, J.R. The ecology of rocky shore.English Universities Press, 323p.London, 1964. LITTLE, C.; KITCHING, J. A.The Biology of Rocky Shores.Oxford University Press, Oxford, England, 1996. RODRIGUES, T. K.; DA SILVA, M. G.; ANDRADE, A. G. S.; LAVENÈRE-WANDERLEY, A. A. Proposta de uso recreacional nas praias do município de Ilhéus (BA.) com base nas características ambientais. In: X Congresso da Associação Brasileira de Estudos do Quartenário- ABEQUA, Guarapari, 2005. STEPHENSON, T. A.; STEPHENSON, A. The universal features of zonation between tide-marks on rocky coast. Journal of Ecology, 37: 289-305, 1949. STRAYER, D. L.; MALCOM, H. M.; FINDLAY, S. E. G.; FISCHER, D. T.; MILLER, D.; COOTE, T. Biodiversity in Hudson River shore zones: influence of shoreline type and physical structure. AquaticSciences, 72 (3): 597-610, 2012.

Page 16: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

16

Zonação de macromoluscos em costões rochosos urbanos do sul da

Bahia, Brasil

Shayanna Mitri Amorim da Rocha Souza*

* Autor para correspondência: Universidade Estadual de Santa Cruz, Campus Soane Nazaré de Andrade, Programa de

Pós-Graduação em Sistemas Aquáticos Tropicais, Departamento de Ciências Biológicas, Rodovia Ilhéus-Itabuna, km

16, CEP 45662-900, Ilhéus, Bahia, Brasil. (http://www.uesc.br). E-mail: [email protected]

Zonation of Molluscs on urban Rocky Shore of southern Bahia, Brazil

Abstract:Tidal exposureand wave action influence the structure of rocky

interdital communities. In this study the hypothesis that areas that remain most

of the time immersed and those who suffer direct impact of waves have higher

diversity and richness were tested. The investigation was carried out on rocky

shores of an urban region in southern Bahia, Brazil. The sheltered shore

showed a gradient of increasing diversity vertical distribution of emergent to

submerged region. The exposed shore this pattern was less clear, with patchy

distribution and greater richness than sheltered. This tropical benthic community

showed less diversity compared to communities of temperate regions.

Key-words: community structure; tropical system; rocky intertidal; spatial

heterogeneity; sheltered; exposed.

Page 17: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

17

Zonação de macromoluscos em costões rochosos urbanos do sul da

Bahia, Brasil

Resumo: Os níveis de emersão originados pela oscilação das marés e a ação

das ondas influenciam a estrutura das comunidades bênticas da região entre

marés. Neste estudo foram testadas as hipóteses de que áreas que

permanecem a maior parte do tempo imersas e aquelas que sofrem impacto

direto das ondas apresentariam maior diversidade e riqueza. A investigação foi

realizada em costões rochosos de uma região urbana no sul da Bahia, Brasil. O

costão abrigado mostrou um gradiente de distribuição vertical aumentando em

diversidade da região emersa para submersa. No costão exposto esse padrão

foi menos evidente, apresentando distribuição das espécies em mosaico e

maior riqueza do que o abrigado. A comunidade bêntica tropical em questão

apresentou menor diversidade quando comparada a comunidades de regiões

temperadas.

Palavras chave:estrutura da comunidade; sistema tropical; entre marés;

heterogeneidade espacial; abrigado; exposto.

Page 18: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

18

1. Introdução

Interações biológicas influenciam a determinação do limite inferior da

distribuição vertical de organismos da região entre marés e a abundância

relativa de cada espécie. O limite superior é determinado pela tolerância à

dessecação, à elevada amplitude térmica e à exposição à radiação solar

(CONNELL, 1972). Além disso, fatores em escala oceanográfica, como

ressurgências, padrão de correntes e exposição às ondas (amplitude de maré e

impacto) podem influenciar a distribuição geográfica das espécies e a

composição das comunidades rochosas, alterando os valores de abundância e

diversidade, cobertura e limites verticais entre marés (LITTLE & KITCHING,

1996; MENGE et al., 1997; SCHIEL, 2004).

Espécies que habitam substratos consolidados da região litorânea

apresentam variadas adaptações morfofisiológicas. Estas adaptações referem-

se à estrutura (fechamento hermético de valvas), textura e cor (produção de

conchas não porosas e mais claras para refletir calor), fisiologia (tolerância a

níveis de desidratação de até 90% em algas ou produção de muco em

anêmonas), comportamento (migração vertical dos organismos vágeis em

função da maré e refúgio em fendas) e determinam sua distribuição

(NYBAKKEN, 1997).

Algumas espécies de moluscos têm sido reconhecidas como indicadores

de zonas litorâneas específicas (CHELAZZI & VANNINI, 1980; CARRANZA &

INE, 2007), comumente dominando o recurso espacial da região entre marés

(MENGE & BRANCH, 2001).

Assembleias de organismos têm sido descritas e delimitadas de acordo

com as espécies dominantes nesses ambientes (CHAPMAN, 1974). Assim,

bandas distintas ocorrem progressivamente ao longo de costões rochosos

(STEPHENSON & STEPHENSON, 1949). Desde o trabalho clássico de

Stephenson & Stephenson (1949), o supralitoral é caracterizado pela presença

de caramujos da família Littorinidae, o mediolitoral é descrito por organismos

sésseis como cracas e bivalves e o infralitoral é dominado por macroalgas.

Na costa brasileira, as cracas Chthamalus bisinuatus e C. stellatus e os

bivalves Brachidontes exustus e B. darwinianus são espécies sésseis que

coexistem em altas densidades no mediolitoral, constituindo abundantes

Page 19: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

19

componentes das comunidades da região litorânea (ESTON et al., 1986;

PETERSEN et al. 1986; TANAKA & MAGALHÃES, 2002).

Macroalgas marinhas podem fornecer variados recursos como maior

área de superfície para fixação de organismos sésseis, abrigo para os vágeis,

além de alimento para diferentes espécies (CHEMELLO & MILAZZO, 2002).

A ocorrência de biobandas de C. bisinuatus (APOLINÁRIO,1999), B.

exustus (CARRANZA & INE, 2007) e macroalgas (EDGAR, 1983) aumenta a

disponibilidade de recursos e favorece o desenvolvimento de diversas formas

de vida, elevando a biodiversidade nestes ambientes.

Diversos trabalhos sobre distribuição vertical das espécies bênticas de

substrato consolidado têm sido realizados em costões rochosos de várias

regiões do globo (STEPHENSON & STEPHENSON, 1949; LAWSON, 1956;

PAINE, 1966; CONNEL, 1972; MENGE et al., 1985; BREMEC, 1990; WALLIN

et al., 2011). Entretanto, o conhecimento sobre a macrofauna bêntica dos

costões rochosos tropicais, sobretudo no Brasil, ainda é incipiente, sendo a

região compreendida entre Salvador (BA) e o Rio Paraíba do Sul (RJ) a menos

conhecida da costa brasileira (LANA et al., 1996; COUTO et al., 2003). Do

mesmo modo, não há estudos sobre distribuição de assembleias de

macromoluscos em costões rochosos do sul da Bahia.

O presente trabalho descreve a zonação vertical dos organismos nos

costões rochosos do Morro de Pernambuco no sul da Bahia, Brasil. Foram

testadas as hipóteses de que áreas imersas por mais tempo e aquelas sob

maior impacto das ondas suportam maiores diversidade e riqueza. Estas

hipóteses refletem processos descritos por MacArthur & MacArthur (1961) que

demonstraram o papel da complexidade ambiental na distribuição das

espécies. Diversos autores (BALLANTINE, 1961; LEWIS, 1964; BOAVENTURA

et al., 2002) apontam áreas permanentemente imersas como as de maior

riqueza. Lewis (1964), Villalobos (1980), Sibaja-Cordero e Vargas-Zamora

(2006) apontaram maior riqueza em costões expostos.

Page 20: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

20

2 Material e métodos

2.1 Área de estudo

O trabalho foi desenvolvido na parte voltada para o oceano do Morro de

Pernambuco (Figura 2), que está inserido em uma área urbana no sul da

Bahia, Brasil.

O costão estudado apresenta afloramentos abrigados, localizados em

áreas de baixo impacto das ondas, e afloramentos expostos, onde a ação das

ondas é intensa e contínua.

Figura 2. Mapa da área de estudo destacando o costão rochoso do Morro de Pernambuco (Ilhéus – BA)

Page 21: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

21

2.2 Delineamento amostral

Foi adotado o protocolo desenvolvido pelo programa de pesquisa

NaGiSA – Natural Geography In Shore Areas(NaGISA, 2010). Na área de

estudo foram amostrados três níveis de emersão (superior, médio e inferior) do

mediolitoral. Os níveis do supralitoral, devido à condição permanentemente

emersa, e do infralitoral, em função da elevada turbidez das águas (causada

pela ressuspensão do sedimento arenoso muito fino localizado a cerca de 2m

de profundidade, na maré baixa), não foram amostrados.

Em cada nível foram tomados dados quali quantitativos para descrição

do ambiente: percentual de cobertura, rugosidade e grupo macroalgal

dominante. O percentual de cobertura foi estimado nos amostradores de

alumínio de 1 X 1m. A rugosidade do substrato foi mensurada através da

colocação de uma corrente de aço na superfície do mesmo ao longo de 1m,

medido com auxílio de um metro rígido. A corrente foi disposta na linha de

intercepção do transecto na mesma área na qual foi alocado o amostrador de1

X 1m. O índice de rugosidade foi calculado através da relação C=1-d/l, onde d

é a distância horizontal coberta pela corrente que segue o contorno do

substrato e l é o comprimento total (AROSON & PRECHT, 1995; KNUBY &

LEDREW, 2007). O percentual de cobertura foi mensurado através de

estimativa visual (DETHIER & DUGGINS, 1984).

O material obtido foi acondicionado em sacos de nylon com malha de

0,2 mm e mantidos imersos no local de coleta até o transporte para o

Laboratório de Ecologia Bêntica da UESC (Universidade Estadual de Santa

Cruz), em containers refrigerados. Os organismos foram mantidos refrigerados

por 24h e posteriormente triados sobre peneiras sobrepostas com malhas de

1,0 e 0,5 mm de abertura, sendo então transferidos para frascos com álcool

70%. A malacofauna foi totalmente triada sob microscópio estereoscópico e

identificada até o menor nível taxonômico.

2.3 Análise dos dados

A caracterização da estrutura das assembleias de macromoluscos foi

efetuada utilizando-se a abundância em número de indivíduos e a riqueza, com

descrição geral realizada pela média ± erro padrão.

Page 22: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

22

A normalidade dos dados foi analisada pelo teste de Shapiro-Wilk

(SHAPIRO & WILK, 1965).

A comparação da riqueza e diversidade entre as assembleias dos três

níveis de emersão (NS – nível superior, NM – nível médio e NI – nível inferior)

foi realizada através de um perfil de diversidade (série de Hill) (HILL, 1973). A

hipótese de que existiam diferenças na estrutura das assembleias entre os três

níveis (NS, NM e NI) foi testada através da análise de variância não

paramétrica multivariada PERMANOVA bifatorial cruzada (PERMANOVA –

Permutational Multivariate Analysis of Variance) seguido por testes pareados

PERMANOVA (ANDERSON 2001). Nesta análise utilizou-se o índice de Bray-

Curtis, calculado a partir da matriz de abundância das espécies de

macromoluscos encontradas (BRAY & CURTIS, 1957). Os testes foram

realizados a partir de 9.999 permutações aleatórias.

Para comparar a riqueza de espécies entre as duas condições de

exposição às ondas (costão abrigado e exposto), foi realizada uma análise de

rarefação baseada no número de indivíduos amostrados (GOTELLI &

COWELL, 2001). A hipótese de que existiam diferenças na estrutura das

assembleias entre as duas condições de exposição foi testada através da

análise de variância não paramétrica multivariada PERMANOVA bifatorial

cruzada segundo os parâmetros supracitados.

O teste de análise de variância bifatorial (Two-way ANOVA – Analysis of

Variance) foi aplicado para testar a diferença (p < 0,05) na distribuição da

espécie vágil mais abundante nos diferentes níveis de emersão e de exposição

às ondas (ZAR, 1996).

A diferença dos índices de rugosidade entre níveis de emersão e de

exposição às ondas foi testada através da análise de variância não paramétrica

multivariada PERMANOVA bifatorial cruzada. Foram realizadas análises de

correlação entre o índice de rugosidade e a riqueza, os índices de diversidade

de Shannon-Weaver (H‟) e de Simpson (D) e a distribuição das espécies Lottia

subrugosae Stramonita haeastoma.

Todos os testes foram executados utilizando o software PAST versão

2.17c (HAMMER et al., 2001).

Page 23: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

23

3 Resultados

3.1 Composição das assembleias

Foi registrado um total de 17.520 moluscos distribuídos em 14 espécies.

A Classe Gastropoda apresentou o maior número de espécies (9) enquanto

Polyplacophora foi representada por apenas uma. A Classe Bivalvia

apresentou o maior número de indivíduos (13.713) refletindo a elevada

abundância do mitilídeo Brachidontes exustus (Linnaeus, 1758) (Tabela 1).

Tabela 1.Número total de indivíduos / espécie registrado nos costões rochosos do Morro de

Pernambuco (Ilhéus, BA) – tabela organizada segundo hierarquia taxonômica

Espécie Número de indivíduos

Calloplax janeirensis 7

Fissurella rosea 6

Eulithidium affine 19

Lottia subrugosa 81

Echinolittorina ziczac 3.660

Stramonita brasiliensis 1

Stramonita haemastoma 23

Anachis isabellei 2

Anachis catenata 2

Mitrella dichroa 6

Sphenia fragilis 10

Brachidontes exustus 13.659

Modiolus americanos 14

Isognomon bicolor 30 Base WORMS – World Register of Marine Species (http://www.marinespecies.org/)

A distribuição dos organismos no costão estudado não foi homogênea

entre os três níveis de emersão e entre as duas situações de exposição

analisados.

O substrato do costão abrigado apresentou maior percentual de

cobertura de Chthamalus bisinuatus (68%) no NS (nível superior), de B.

exustus (76%) no NM (nível médio) e de macroalgas (60%) no NI (nível inferior)

(Figura 3a). No costão exposto, o NS apresentou maior cobertura de C.

bisinuatus (68%),enquanto macroalgas cobriram a maior parte do substrato nos

níveis M (96%) e I (100%) (Figura 3b).

Page 24: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

24

No NM foram dominantes clorofíceas (Gayralia oxysperma e

Anadyomene sp) e no inferior feofíceas (Sargassum sp) e rodofíceas frondosas

e calcáreas articuladas (Gracilaria spp e Amphiroa spp).

Figura 3. Percentual de cobertura de macrofauna e macroalgas nos costões (a) abrigado e (b) exposto

em três níveis de emersão: (NS) nível superior, (NM) nível médio e (NI) nível inferior - Morro de

Pernambuco (Ilhéus, BA)

3.2 Efeito dos níveis de emersão

De acordo com o perfil de Hill para os parâmetros α = 1 (Shannon) e α =

2 (Simpson) a diversidade foi maior no nível inferior nas duas condições de

exposição analisadas (Figura 4). No costão abrigado a diversidade do nível

Page 25: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

25

inferior foi maior do que nos níveis superior e médio. Os mesmos não puderam

ser comparados entre si, pois as curvas geradas se cruzam mostrando que as

duas comunidades não são comparáveis segundo esses parâmetros

(TÓTHMÉRÉSZ, 1995) (Figura 4a). No costão exposto o nível inferior

apresentou maior diversidade que o nível superior. O nível médio não pôde ser

comparado com os demais (Figura 4b).

Figura 4. Perfis de diversidade para os três níveis de emersão: (NS) nível superior, (NM) nível médio e

(NI) nível inferior, usando o perfil de Hill - Morro de Pernambuco (Ilhéus, BA)

No costão abrigado foi detectada diferença significativa (pcalc = 0,0001)

entre os três níveis de emersão (NS, NM e NI), para a comparação entre os

Page 26: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

26

níveis NS e NM (pcalc = 0,0358), NS e NI (pcalc = 0,0087) e NM e NI (pcalc =

0,0094).

Foi observada diferença significativa (pcalc = 0,0003) entre os três níveis

de emersão (NS, NM e NI) no costão exposto ao comparar os níveis NS e NM

(pcalc = 0,0066) e NS e NI (pcalc = 0,007). Entretanto, a comparação entre NM e

NI não foi significativa (pcalc = 0,053).

3.3 Efeito da exposição às ondas

As curvas de rarefação obtidas mostraram que os maiores valores de

riqueza ocorreram no costão exposto, com o número esperado de 11 espécies.

Para o costão abrigado esse número foi de oito espécies (Figura 5).

Apenas o nível superior não exibiu diferença significativa (pcalc = 0,2373)

entre a área abrigada e a exposta. Os níveis médio e inferior apresentaram

diferenças significativas (respectivamente pcalc = 0,0087 e pcalc = 0,0078), entre

as duas situações.

Figura 5. Curvas de rarefação do número de espécies nos costões abrigado e exposto- Morro de

Pernambuco (Ilhéus, BA)

Page 27: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

27

3.4 Efeito combinado dos níveis de emersão e da exposição às ondas

A Tabela 2 apresenta a síntese dos valores obtidos no teste para

avaliação do efeito combinado dos três níveis de emersão (NS, NM e NI) e das

duas situações de exposição (abrigado e exposto). Os resultados da

PERMANOVA mostraram interação significativa entre os níveis de emersão e

de exposição às ondas (PERMANOVA, F = 3,8477 e p = 0,0002), sendo

significativa para os dois fatores (PERMANOVA, Fníveis= 8,235 e pníveis= 0,0001;

Fexposição= 4,0601 e pexposição = 0,0024) (Tabela 2).

Tabela 2. Análises estatísticas das assembleias de macromoluscos em diferentes níveis de emersão e de

exposição às ondas. Os três níveis de emersão (superior, médio e inferior) e os dois níveis de exposição

(abrigado e exposto) foram testados em um teste 2-fatores cruzado seguido por testes PERMANOVA

pareados

PERMANOVA bifatorial

cruzada

Df F p Permutações

Níveis de emersão

Exposição

Níveis x Exposição

1

2

2

8,235

4,0601

3,8477

0,0001

0,0024

0,0002

9999

9999

9999

PERMANOVA teste pareado

Níveis

Abrigado

F

p

Exposto

F

p

Superior-Médio

Superior-Inferior

Médio-Inferior

4,318

9,754

7,194

0,0324

0,0084

0,008

7,955

7,74

1,883

0,0069

0,0095

0,051

PERMANOVA teste pareado

Exposição

Superior

F

p

Médio

F

p

Inferior

F

p

Abrigado-Exposto 1,412 0,2373 5,376 0,0081 3,604 0,0078

3.5 Distribuição da espécie vágil mais abundante

Echinollitorina ziczac foi a espécie vágil mais abundante e apresentou

maiores densidades nos níveis superiores dos costões abrigado (NSabr= 472) e

exposto (NSexp = 280). Nos níveis médio e inferior a ocorrência deE. ziczac foi

restrita ao costão abrigado (NMabr =140 e NIabr =3) (Figura 6).

Page 28: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

28

Figura 6. Média ± desvio padrão da densidade de Echinolittorina ziczac em três níveis de emersão : (NS)

nível superior, (NM) nível médio e (NI) nível inferior nos costões abrigado e exposto - Morro de

Pernambuco (Ilhéus, BA)

As diferenças nas distribuições de E. ziczac foram significativas nos

diferentes níveis de emersão (ANOVA, F = 16,41 e p = 0,03) e nas duas

condições de exposição (ANOVA, F = 4,83 e p = 0,00)(

Tabela 3).

Tabela 3. Análises estatísticas de Echinolittorinaziczac. A influência dos níveis de emersão e da

exposição às ondas foi testada através de uma ANOVA bifatorial

ANOVA bifatorial Df F p

Níveis de emersão

Exposição

Níveis x Exposição

1

2

2

16,41

4,83

1,64

0,03

0,00

0,22

As demais espécies vágeis apresentaram diferenças discretas em suas

distribuições e por isso não foram analisadas separadamente.

Page 29: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

29

Em decorrência de sua elevada densidade e padrão de distribuição

agregado, B. exustus foi considerado um descritor da comunidade e por esta

razão, excluído das análises estatísticas.

3.6 Índice de rugosidade

Os resultados da PERMANOVA mostraram que os níveis de

emersão apresentam índices de rugosidade significativamente distintos

(PERMANOVA, F = 17,947 e p = 0,0001). O mesmo não pode ser

confirmado para diferentes condições de exposição (PERMANOVA, F =

1,8991 e p = 0,1531) (

Tabela 4).

Tabela 4. Análises estatísticas dos índices de rugosidade em diferentes níveis de emersão e de exposição

às ondas. Os três níveis de emersão (superior, médio e inferior) e os dois níveis de exposição (abrigado e

exposto) foram testados em um teste 2 - fatores cruzados.

PERMANOVA bifatorial

cruzada

Df F P Permutações

Níveis de emersão

Exposição

Níveis x Exposição

1

2

2

17,947

1,8991

2,8888

0,0001

0,1531

0,0358

9999

9999

9999

Não foi detectada correlação entre o índice de rugosidade e a riqueza de

espécies (p = 0,60832). O índice de diversidade de Shannon-Weaver (H‟)

também não mostrou correlação com a rugosidade (p= 0,075997), porém a

diversidade de Simpson (D) apresentou correlação positiva (p= 0,031529).

A distribuição das espéciesLottia subrugosa e Stramonita haeastoma

não apresentou correlação com os índices de rugosidade (pL.subrugosa= 0,14166

e pS.haeastoma= 0,90298).

4 Discussão

A região entremarés do costão estudado apresenta três biobandas. Na

área abrigada estas biobandas são bem definidas com o nível superior

dominado pelo cirripédio Chthamalus bisinuatus, o nível médio pelo mitilídeo

Page 30: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

30

Brachidontes exustus, e o nível inferior dominado por macroalgas rodofíceas

(Gracilaria spp e Galaxaura spp). O substrato da área exposta caracteriza-se

por um mosaico e o limite entre as biobandas é menos acentuado, porém elas

são claramente distintas. O nível superior é caracterizado pelo domínio de C.

bisinuatus, enquanto os níveis médio e inferior foram dominados por

macroalgas, com presença de B. exustus em baixas densidades e distribuição

não agregada no nível médio.

Cracas são capazes de colonizar quase qualquer tipo de substrato e

provocam modificações que viabilizam o estabelecimento de outras espécies,

através do fornecimento de alimento e refúgio (CRISP & BARNES, 1954).

Biobandas constituídas por mexilhões caracterizam-se pela criação de habitat

formado por conchas, fornecimento de substrato e refúgio contra predadores

ou estresse fisiológico, e o controle do transporte de partículas e solutos no

ambiente bêntico (GUTIERREZ et al., 2003). Aquelas formadas por macroalgas

aumentam a complexidade ambiental através da sua estrutura física e da

dimensão fractal que fornecem abrigo e proteção contra o estresse físico para

as assembleias que habitam o fital (CHEMELLO & MILAZZO, 2002;

PARESQUE, 2008).

Organismos que modulam a viabilidade de recursos para outras

espécies, causando mudanças físicas em materiais bióticos ou abióticos são

chamados “engenheiros ambientais”. Modificam a paisagem aumentando a

diversidade de habitats e, desta forma, podem afetar a riqueza de espécies,

facilitando a sua ocorrência (JONES et al., 1994; BORTHAGARAY &

CARRANZA, 2007).

Assim, C. bisinuatus (APOLINÁRIO,1999), B. exustus (CARRANZA &

INE, 2007) e macroalgas (EDGAR, 1983) atuam como engenheiros ambientais

dos costões estudados e modificam o substrato rochoso influenciando o padrão

de distribuição das espécies vágeis. Os efeitos desta modificação sobre a

macrofauna bêntica dependem de características como o tempo de emersão e

exposição às ondas.

O nível superior apresentou distribuição similar nos dois costões.

Embora o costão exposto esteja sob efeito direto das ondas, esta condição

parece não ter gerado grandes modificações, pois além de não apresentarem

diferenças no índice de rugosidade, a cobertura de ambos é muito parecida,

Page 31: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

31

dominada por cirripédios. Situação análoga ocorreu entre os níveis médio e

inferior do costão exposto, onde as distribuições não diferiram provavelmente

em decorrência da cobertura similar de ambos, dominada por macroalgas.

Conforme o esperado o nível inferior apresentou maior riqueza que os

demais, sendo o nível médio mais rico que o superior no costão abrigado. Esse

padrão mostra um gradiente de riqueza variando com os níveis de emersão,

sendo aquele que permanece a maior parte do tempo imerso o mais rico. O

nível inferior também foi o mais diverso nas duas condições de exposição

analisadas.

No costão exposto, porém, não foi observado um gradiente de riqueza

ao longo dos níveis de emersão como no abrigado. O nível médio apresentou

maior riqueza, sendo o nível inferior mais rico que o superior (Figura 4b).

Talvez esse padrão de distribuição tenha ocorrido devido à intensidade da

perturbação provocada pelas ondas no nível médio do costão exposto. Os

experimentos de Sousa (1979) na região entre marés de costões rochosos da

Califórnia mostram evidências de que em níveis intermediários de perturbação

um maior número de espécies tende a ser encontrado, o que pode estar

ocorrendo no costão em estudo.

O nível superior apresentou menor riqueza de espécies e elevada

abundância nos dois costões estudados. Essa região se caracteriza por forte

estresse físico, com exposição a elevadas temperaturas e alta taxa de

dessecação. Predadores são menos comuns nessas regiões, aumentando a

competição por espaço e alimento. Esta condição pode gerar exclusão

competitiva, e consequente domínio do sistema por poucas espécies

(CONNELL, 1972; MENGE et al., 1987).

Nos níveis mais baixos (NM e NI) a riqueza foi maior, apresentando

baixas densidades por espécie presente. A complexidade estrutural fornecida

pelos organismos modeladores destes níveis (B. exustus e macroalgas,

respectivamente) pode reduzir o estresse ambiental enfrentado pelas

comunidades da região entre marés (THOMPSON et al., 1996), viabilizando a

existência de uma maior diversidade nas assembleias. As baixas densidades

observadas nestas regiões possivelmente são explicadas por processos

biológicos, como a predação. Considerando que os níveis mais baixos do

costão são mais heterogêneos e com maior disponibilidade de recursos, a

Page 32: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

32

sobreposição de nichos é menor, viabilizando a coexistência de mais espécies.

Entretanto, a predação tende a ser mais intensa e pode impedir que a

comunidade seja dominada por uma espécie competidora mais forte, evitando

a monopolização do habitat (CONNEL, 1972; MENGE et al., 1987;

NYBAKKEN,1997).

Nossos resultados mostraram uma correlação positiva entre os índices

de rugosidade e de diversidade de Simpson (D). Os níveis mais baixos dos

costões estudados apresentaram os maiores valores para ambos. A

complexidade ambiental é um dos fatores que estruturam assembleias bióticas

(KOVALENKO et al., 2011). Fendas e rachaduras fornecem abrigo contra

predadores e um ambiente menos vulnerável às oscilações de temperatura e

umidade. A heterogeneidade espacial pode, portanto, influenciar direta

(padrões de distribuição de espécies) e indiretamente (impacto dos

consumidores, especialmente os herbívoros) a dinâmica das comunidades de

costões rochosos tropicais (WILLIAMS et al., 2000).

A composição das espécies de macromoluscos em áreas abrigadas e

expostas foi heterogênea, havendo maior riqueza de espécies na área exposta.

Resultados similares foram encontrados para outros grupos por Pires (1981) no

litoral de Ubatuba (Brasil) e por Sibaja-Cordero & Troncoso (2011) nas Ilhas

Cíes (Espanha). Embora tais trabalhos tenham demonstrado que áreas

expostas são mais heterogêneas, os resultados deste mostraram que as

regiões abrigada e exposta do costão estudado apresentam índices de

rugosidade similares, diferindo apenas entre níveis de emersão. Assim é

possível que as diferenças de riqueza encontradas nestes ambientes sejam

decorrentes do tipo de recobrimento encontrado nas regiões mais ricas,

caracterizado pela abundante presença de macroalgas.

As espécies vágeis mais representativas neste estudo foram

Echinollitorina ziczac, Lottia subrugosa e Stramonita haeastoma, porém

somente E. ziczac apresentou diferenças significativas em sua distribuição ao

longo dos diferentes níveis de emersão e de exposição as ondas.

O litorinídeo E. ziczac foi associado a regiões que permanecem a maior

parte do tempo emersas, apresentando alta densidade no NS, densidade

média no NM e baixíssima densidade no NI. As espécies desta família

suportam prolongada exposição ao ar, possuindo adaptações fisiológicas,

Page 33: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

33

como a redução das taxas metabólicas e elevada tolerância térmica

(MCMAHON & RUSSELL-HUNTER, 1977).

Resultados similares ao encontrado neste estudo foram obtidos para o

mesmo gênero por Chelazzi & Vannini (1980) em ilhas da costa da Somália

(África), por Davenport & Davenport (2005), na Baia Branca (Escócia) e por

Mais et al. (2009), no litoral do Rio de Janeiro (Brasil).

Entretanto, surpreendentemente, E. ziczac ocorreu em densidade média

no NM do costão abrigado. Esse resultado contrariou o esperado porque as

condições fornecidas no NM (maior tempo de imersão e elevada taxa de

predação) não são propícias para o estabelecimento desta espécie. Entretanto,

o NM do costão abrigado estudado caracteriza-se pela presença do cirripédio

Chthamalus bisinuatus crescendo como epibionte do mitilídeo Brachidontes

exustus. Provavelmente esta característica facilitou a ocorrência de litorinídios

nessa região, pois estes organismos podem usar cirripédios mortos como

refúgio, além de alimentar-se de microalgas que ocorrem associadas a eles

(APOLINÁRIO, 1999).

Hutchinson (1957) distinguiu os conceitos de nicho fundamental e nicho

realizado. Segundo o autor, nicho fundamental é a gama de condições

ambientais em que uma espécie pode viver na ausência de interações

interespecíficas negativas (competição, predação e parasitismo) e nicho

realizado é visto como o espaço físico efetivamente ocupado por uma espécie

após exclusão por competidores e outros inimigos. A incorporação da

facilitação ao conceito de nicho leva a extensão espacial do nicho realizado de

uma espécie, podendo aumentar o alcance espacial previsto pelo nicho

fundamental ao atenuar os efeitos de fatores que provocam estreitamento do

nicho (BRUNO et al., 2003).

Desta forma a facilitação provocada pela presença de cirripédios no NM

do costão abrigado estudado permite que E. ziczac explore uma parcela maior

dos recursos disponíveis (espaço e nutrientes) e, assim, aumente a utilização

do espaço do seu nicho fundamental.

Os diferentes níveis de emersão e de exposição às ondas parecem não

influenciar a distribuição de Lottia subrugosa e Stramonita haeastoma.

Resultados similares foram encontrados por Tanaka et al. (2002) em Ubatuba

(Brasil) para L. subrugosa. Segundo os autores, a variação na densidade não

Page 34: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

34

foi claramente relacionada com a ação das ondas e outras fontes de variação,

como a presença de competidores ou substratos secundários.

A presença de “engenheiros ambientais” e a ocorrência de locas e

reentrâncias no costão estudado fornecem refúgio para estes organismos, que

tendem a apresentar padrão de distribuição agregado nesses pontos. Embora

a distribuição destas espécies pareça estar relacionada com a heterogeneidade

do substrato, as análises de correlação com os índices de rugosidade não

mostraram resultados significativos. Isto provavelmente ocorreu porque o

desenho amostral adotado neste trabalho talvez não seja adequado para

responder questões referentes ao estudo de populações. Além disso, L.

subrugosa e S. haeastoma são espécies vágeis e movimentam-se de acordo

com a oscilação da maré. Assim, considerando que as amostragens deste

trabalho foram realizadas na maré baixa das marés de sizígia e possível que

tais espécies tenham sido subamostradas.

Os processos ecológicos influenciam a distribuição das comunidades

bênticas de diferentes maneiras e de acordo com a escala espacial adotada.

No que se refere a um gradiente latitudinal de diversidade um antigo paradigma

postula um aumento no número de espécies dos pólos ao equador (PIANKA,

1966). Porém ao comparar a composição desta comunidade bêntica tropical

com aquelas de regiões temperadas (OSORIO & CANTUARIAS,

1989;GHAMRAWY, 1991; BOAVENTURA et al. 2002) pode-se afirmar que

este sistema apresenta menor diversidade. Esta característica provavelmente

ocorreu devido à redução na pressão de predação exercida por Stramonita

brasiliensis, principal predador desta comunidade, que tem sido capturada por

passantes na área estudada. Além disso, não foi registrada a presença de

estrelas do mar que são consideradas espécies chave de sistemas bênticos em

regiões entre marés.

Page 35: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

35

5 Conclusão

Os níveis de emersão e a intensidade da exposição às ondas

influenciam a distribuição e a composição das assembleias de macromoluscos

ocorrentes na região entre marés do Morro de Pernambuco (Ilhéus – BA).

Entretanto, a influência exercida pelos níveis de emersão é mais evidente do

que a da exposição. Esta produziu mudanças no limite das biobandas. Os

níveis superiores de distribuição apresentaram baixa diversidade e elevada

dominância.

Na área estudada, a distribuição dos macromoluscos parece ser

influenciada pela modificação do substrato por biobandas formadas por

Chthamalus bisinuatus, Brachidontes exustus e macroalgas.

A comunidade bêntica tropical estudada apresentou menor diversidade

do que aquela encontrada em sistemas temperados provavelmente em

decorrência da pressão de captura humana sobre o principal predador desta

comunidade.

Estudos posteriores devem ser realizados para verificar a relevância da

facilitação na distribuição da fauna bêntica do Morro de Pernambuco. Outros

processos estruturadores não considerados neste estudo, como predação e

competição, também devem ser investigados para esta região.

6 Referências bibliográficas

ANDERSON, M. J. A new method for non-parametric multivariate analysis of variance. Austral Ecology, 26:32-46, 2001.

APOLINÁRIO, M. Temporal variations in community structure in and around intertidal barnacle Chthamalus challenger Hoek patches on a plebby shore in Japan. RevistaBrasileira de Biologia, 59(1): 4-53, 1999.

ARONSON, R.B.; PRECHT, W.F. Landscape patterns of reef coral diversity: a test of the intermediate disturbance hypothesis. Journal of Experimental Marine Biology and Ecology, 192: 1–14, 1995.

BALLANTINE, W. J. A biologically-defined exposure scale for the comparative description of rocky shores. Field Stud 1:1–19, 1961.

BOAVENTURA, D.; ALEXANDER, M.; SANTINA, P. D.; SMITH, N. D.; RÉ, P.; DA FONSECA, L. C.; HAWKINS, S. J. The effects of grazing on the distribution and composition of low-shore algal communities on the central coast of Portugal

Page 36: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

36

and on the southern coast of Britain. Journal of Experimental Marine Biology and Ecology, 267: 185–206, 2002.

BORTHAGARAY, A. I.; CARRANZA, A. Mussels as ecosystem engineers: Their contribution to species richness in a rocky littoral community. ActaOecologica, 31:243–250, 2007.

BRAY, J. R.; CURTIS, J. T.An ordination of the upland forest communities of Southern Wisconsin.EcologicalMonographs, 27: 325-349, 1957.

BREMEC, C. S. Macrobentosdel área de Bahía Blanca (Argentina), distribución espacial de la fauna. Brazilian Journal of Oceanography, 38: 99-110, 1990.

BRUNO, J. F.; STACHOWICZ, J. J.; BERTNESS, M. D. Inclusion of facilitation into ecological theory. Trends in Ecology & Evolution, 18(3):119–125, 2003.

CARRANZA, A.; INE, A. Mussels as ecosystem engineers: Their contribution to species richness in a rocky littoral community. ActaOecologica, 31:243-250, 2007.

CHAPMAN A. R. O. The Ecology of Macroscopic Marine Algae. Annual Review of Ecology, Evolution, and Systematics, 5: 65-80, 1974.

CHELAZZI, G.; VANNINI, M. Zonation of Intertidal Molluscs on Rocky Shores of Southern Somalia.Estuarine and Coastal Marine Science, 10(25): 569–583, 1980.

CHEMELLO, R., MILAZZO, M. Effect of algal architecture on associated fauna: some evidence from phytal mollusks. Marine Biology, 140:981–990, 2002.

CONNELL, J.H. Community interactions on marine rocky intertidal shores.Annual Review of Ecology, Evolution, and Systematics, 3:169–192. 1972.

COUTO, E.C.G.; SILVEIRA, F.L.D.; ROCHA, G.R.A. Marine biodiversity in Brazil: the current status. Gayana, 67(2): 327-340, 2003.

CRISP, D.J.; BARNES, H. The orientation and distribution of barnacles at settlement with particular reference to surface contour. Journal of Animal Ecology, 23:142-162, 1954.

DAVENPORT, J.; DAVENPORT, J. L. Effects of shore height, wave exposure and geographical distance on thermal niche width of intertidal fauna.Marine Ecology Progress Series, 292: 41–50, 2005.

DETHIER, M.N.; DUGGINS, D. O.An "indirect commensalism" between marine herbivores and the importance of competitive hierarchies.The American Naturalist, 124:205-219, 1984.

EDGAR, G. J. The ecology of south-east Tasmanian phytal animal communities. III. Patterns of species diversity. Journal of Experimental Marine Biology and Ecology, 70(1): 181-203, 1983.

Page 37: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

37

ESTON, V.R.; MIGOTTO, A.E.; OLIVEIRA FILHO, E.C.; RODRIGUES, S.A.; FREITAS, J.C. Vertical distribution of benthic marine organisms on rocky coasts of Fernando de Noronha archipelago (Brazil). Boletim do InstitutoOceanográfico de São Paulo, 34: 37-54, 1986.

GHAMRAWY, M. S. Zonation of Organisms on Rocky Shores of Northern Jeddah. Journal of King Abdulaziz University-Marine Sciences, 2 (1): 137-147, 1991.

GOTELLI, N. J.; COLWELL, R. K. Quantifying biodiversity: procedures and pitfalls in the measurement and comparison of species richness. Ecology Letters, 4(4):379-391, 2001.

GUTIERREZ, J.L.; JONES, C.G.; STRAYER, D.L.; IRIBARNE, O. Molluscs as ecosystems engineers: the role of the shell production in aquatic habitats. Oikos, 101:79–90, 2003.

HAMMER, O.; HARPER, D. A. T.; RYAN, P. D. Past: Paleontological Statistics software package for education and data analysis. Paleontologia Electronica, 4(1):9p, 2001.

HILL, M. O. Diversity and evenness: a unifying notation and its consequences. Ecology, 54(2):427-432, 1973.

HUTCHINSON, G. E. Concluding remarks. Cold Spring Harbor Symposia on Quantitative Biology, 22:415-427, 1957.

JONES, C.G.; LAWTON, J.H.; SHACHAK, M. Organisms as ecosystem engineers.Oikos, 69:373–386, 1994.

KNUDBY, A.; LEDREW, E.; Measuring Structural Complexity on Coral reefs.American of Underwater. Science, 26:181-188, 2007.

KOVALENKO, K. E.; THOMAZ, S. M.; WARFE, D. M. Habitat complexity: approaches and future directions. Hydrobiologia, 685(1):1–17, 2011.

LANA, P.C.; CAMARGO, M. G.; BROGIM, R. S.; ISAAC, V.J. O bentos da costa brasileira. Avaliação crítica e levantamento bibliográfico (1858-1996). FEMAR, 432 p. Rio de Janeiro, 1996.

LAWSON, G. W. Rocky shore zonation on the gold coast. Journal of Ecology, 44: 153-170, 1956.

LEWIS, J.R. The ecology of rocky shore.English Universities Press, 323p.London, 1964.

LITTLE, C.; KITCHING, J. A.The Biology of Rocky Shores.Oxford University Press, 240p.England, 1996.

MACARTHUR, R. H.; MACARTHUR,J. W.On bird species diversity. Ecology, 42: 594–598, 1961.

Page 38: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

38

WALLIN, A.; QVARFORDT, S.; NORLING, P.; KAUTSKY, H. Benthic communities in relation to wave exposure and spatial positions on sublittoral boulders in the Baltic Sea. Aquatic Biology, 12(2):119–128, 2011.

MASI, B. P.; MACEDO, I. M.; ZALMON, I. R. Benthic Community Zonation in a Breakwater on the North Coast of the State of Rio de Janeiro, Brazil. Brazilian Archives Of Biology And Technology, 52(3): 637-646, 2009.

MCMAHON, R. F.; RUSSELL-HUNTER, W. D. Temperature relations of aerial and aquatic respiration in six littoral snails in relation to their vertical zonation. Biological Bulletinby the Marine Biological Laboratory, 152: 182-198, 1977.

MENGE, B. A.; BRANCH, G. M. Rocky Intertidal Communities. Marine Community Ecology, 209:143–157, 2001

MENGE, B. A.; DALEY, P.A.; WHEELER, E.; DAHLHOFF, E.; SANFORD; P.T. STRUB. Benthic-pelagic links and rocky intertidal communities: bottom-up effects on top-down control? Proceedings of the National Academy of Sciences, 94:14530-14535, 1997.

MENGE, B. A.; SUTHERLAND, J.P. Community regulation: variation in disturbance, competition, and predation in relation to environmental stress and recruitment. American Naturalist, 130:730–757, 1987.

MENGE, B. A; LUBCHENCO, J.; ASHKENAS, L. R. Diversity, heterogeneity and consumer pressure in a tropical rock intertidal community.Oecologia, 65:394-405, 1985.

NaGISA – Natural Geography In Shore Areas - disponível em: <http://www.coml.org/projects/natural-geography-shore-areas-nagisa> acesso em maio de 2012.

NYBAKKEN, J.W. Marine Biology: An Ecological Approach. Addison Wesley longman, 481p. New York,1997.

OSORIO, C.; CANTUARIAS, V. Vertical Distribution of Mollusks on the Rocky Intertidal of Easter Island. Pacific Science, 43 (4): 302-315, 1989. PAINE, R. T. Food web complexity and species diversity.American Naturalist, 100:65-75, 1966.

PARESQUE, K. Influência das características do hábitat na comunidade macrobentônica associada a diferentes fitais no entre marés da Ilha do Boi, Vitória, Espírito Santo. Dissertação: Universidade Federal do Espírito Santo, Universidade Federal do Espírito Santo, 37f, 2008.

PETERSEN, J. A.; SUTHERLAND, J. P.; ORTEGA, S. Patch dynamics of mussel beds near São Sebastião (São Paulo). Proceedings of the National Academy of Sciences, 93: 389-393, 1986.

PIANKA, E. R. Latitudinal gradients in species diversity - a review of concepts.The American Naturalist, 100: 33–46, 1966.

PIRES, A.A.S. Ecological study on littoral and infralittoral isopods from Ubatuba, Brazil. Boletim do InstitutoOceanográfico, 30(1):27-40,1981.

Page 39: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

39

SCHIEL, D.R. The structure and replenishment of rocky shore intertidal communities and biogeographic comparisons. Journal of Experimental Marine Biology and Ecology, 300: 309–342, 2004.

SHAPIRO, S. S.; WILK, M. B.An analysis of variance test for normality (complete samples).Biometrika, 52:591–611, 1965.

SIBAJA-CORDERO, J.; TRONCOSO, J. S. Upper and lower limits of rocky shore organisms at different spatial scales and wave exposure (Islas Cíes, NW Spain). Thalassas, 27(1):81–100, 2011.

SIBAJA-CORDERO, J.A.; VARGAS-ZAMORA, J.A. Zonación vertical deepifauna y algas enlitoralesrocososdel Golfo de Nicoya, Costa Rica. Revista de Biología Tropical, 54(1):49-67, 2006.

SOUSA, W.P. Experimental investigations of disturbance and ecological succession in a rocky intertidal community.Ecological Monographs, 49: 227– 254, 1979.

STEPHENSON, T.A.; A. STEPHENSON. The universal features of zonation between tide-marks on rocky coast. Journal of Ecology, 37:289-305, 1949.

TANAKA, M. O.; MAGALHÃES, C. A. Edge effects and succession dynamics in Brachidontes mussel beds. Marine Ecology Progress Series, 237:151-158, 2002.

THOMPSON, R.C.; WILSON, B.J.; TOBIN, M.L.; HILL, A.S.; HAWKINS, S.J. Biologically generated habitat provision and diversity of rocky shore organisms at a hierarchy of spatial scales. Journal of Experimental Marine Biology and Ecology, 202: 73-84, 1996.

TÓTHMÉRÉSZ, B. Comparison of different methods for diversity ordering. JournalofVegetation Science, 6(2): 283-290, 1995.

VILLALOBOS, C.R. Algunasconsideraciones sobre elefecto de losfactores físicos y biológicos en La estructura de una comunidad de algas enel Pacífico de Costa Rica. Brenesia, 18: 289-300, 1980.

WALLIN, A.; QVARFORDT, S.; NORLING, P.; KAUTSKY, H. Benthic communities in relation to wave exposure and spatial positions on sublittoral boulders in the Baltic Sea. Aquatic Biology, 12 (2): 119-128, 2011. WILLIAMS, G. A.; DAVIES, M. S.; NAGARKAR, S. Primary succession on a seasonal tropical rocky shore : the relative roles of spatial heterogeneity and herbivory. Marine Ecology Progress Series, 203:81–94, 2000.

WORMS – World Register of Marine Species – disponívelem: <http://www.marinespecies.org/>acessoemjunho de 2013.

ZAR, J. H. Biostatistical analysis.3ª ed. Prentice Hall, 1996.

Page 40: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

40

Sucessão ecológica da macrofauna bêntica em um costão rochoso

urbano tropical - Bahia, Brasil

Shayanna Mitri Amorim da Rocha Souza*

* Autor para correspondência: Universidade Estadual de Santa Cruz, Campus Soane Nazaré de Andrade, Programa de

Pós-Graduação em Sistemas Aquáticos Tropicais, Departamento de Ciências Biológicas, Rodovia Ilhéus-Itabuna, km

16, CEP 45662-900, Ilhéus, Bahia, Brasil. (http://www.uesc.br). E-mail: [email protected]

Ecological succession of benthic macrofauna in an urban tropical rocky

shore - Bahia, Brazil

Abstract: Benthic communities are characterized by a mosaic of patches in

various stages ofsuccession. Regular disturbances caused by constant wave

exposure and the interaction between species explain this composition. By an

experimental study in a tropical benthic community we hypothesized that after

an intentional disturbance, increase the diversity over time and the end of 240

days would be fully reestablished community. It was also investigated the

occurrence of competition between dominant species Chthamalus bisinuatus

and Brachidontes exustus. The diversity did not differ along the successional

stages analyzed and the time of reestablishment of community studied was

greater than the time of the experiment. C. bisinuatus and B. exustus compete

for space and the intensity of this interaction appears to be limited by physical

factors. Intermediate levels of disturbance allow the coexistence of these

species. These results show that tropical benthic communities are restored

faster than communities in the temperate regions. The recovery time appears to

be associated with the severity of the disturbance.

Key-words: disturbance, competition, community structure; temporal variation;

Chthamalus bisinuatus; Brachidontes exustus.

Page 41: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

41

Sucessão ecológica da macrofauna bêntica em um costão rochoso

urbano tropical - Bahia, Brasil

Resumo: Comunidades bênticas são constituídas por um mosaico de

organismos em vários estágios sucessionais. Distúrbios regulares provocados

pela constante exposição às ondas e a interação entre espécies viabiliza esta

configuração. Através de um estudo experimental em uma comunidade bêntica

tropical foram testadas as hipóteses de que, após um distúrbio intencional, a

diversidade aumentaria com o passar do tempo e que ao final de 240 dias a

comunidade estaria totalmente reestabelecida. Foi investigada também a

ocorrência de competição entre as espécies dominantes Chthamalus bisinuatus

e Brachidontes exustus. A diversidade não diferiu ao longo dos estágios

sucessionais analisados e o tempo de reestabelecimento da comunidade

estudada foi superior ao tempo do experimento. C. bisinuatus e B. exustus

competem por espaço e a intensidade desta interação parece ser limitada por

fatores físicos. Níveis intermediários de distúrbio permitem a coexistência

destas espécies. Os resultados deste trabalho mostraram que comunidades

bênticas tropicais apresentam tempo de reestabelecimento superior do que o

observado em comunidades de regiões temperadas. O tempo de recuperação

parece estar associado à intensidade do distúrbio.

Palavras chave: distúrbio; competição; estrutura da comunidade; variação

temporal;Chthamalus bisinuatus; Brachidontes exustus.

Page 42: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

42

1. Introdução

Distúrbios ambientais influenciam a dinâmica dos sistemas ecológicos

através de processos de inibição e crescimento que são característicos de

eventos de perturbação e recuperação (SOUSA, 1984; PASCUAL &

GUICHARD, 2005).

Em comunidades bênticas de substrato rochoso, áreas desnudas são

formadas após distúrbios e podem fornecer substrato para o estabelecimento

de novas espécies (LEVIN & PAINE, 1974; SOUSA, 1984). Essas áreas

descobertas são naturalmente formadas através da predação, herbivoria e

ação das ondas e podem ser colonizadas por larvas e propágulos

transportados na coluna d‟água e por migração lateral de espécies vizinhas

(DAYTON, 1971; CONNEL, 1977; NAVARRETE & WIETERS, 2000; TANAKA

& MAGALHÃES, 2002).

Comunidades bênticas possuem alta taxa de renovação de espécies. As

modificações ocorrem em intervalos de tempo relativamente curtos, de poucos

meses a alguns anos, e a maioria dos organismos são sésseis, de fácil acesso

e manipulação, tornando esse ambiente adequado a estudos ecológicos

experimentais (SKINNER & COUTINHO, 2003).

Estudos sobre sucessão ecológica em substratos rochosos focalizam a

dinâmica do processo de colonização dos organismos ao longo do tempo, em

busca do entendimento da estrutura da comunidade e das interações bióticas

que a definem (FARRELL, 1991).

O emprego de distúrbios experimentais em estudos científicos constitui

uma forma eficiente de aumentar a capacidade de previsão sobre os efeitos

das perturbações ambientais. Isto facilita a interpretação das consequências de

tipos particulares de distúrbios e melhor desenvolvimento de teorias realistas

sobre respostas aos mesmos (UNDERWOOD, 1996).

Avaliar a sensibilidade dos sistemas ecológicos e os parâmetros que a

controlam em escala local permite inferir propriedades da dinâmica temporal e

distribuição dos organismos em larga escala, além de contribuir para detecção

de respostas ambientais às mudanças antropogênicas (UNDERWOOD, 1996;

PASCUAL & GUICHARD, 2005).

Page 43: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

43

Neste artigo foram examinados o efeito de um distúrbio artificial na

estrutura da comunidade bêntica e a ocorrência de competição interespecífica

em um costão rochoso urbano tropical situado no sul da Bahia, Brasil. Foram

propostas as seguintes questões: (1) Como distúrbios artificiais afetam a

composição da macrofauna bêntica na zona entre-marés ao longo do tempo?

(2) Qual o tempo necessário para total reestabelecimento da comunidade? (3)

As espécies dominantes competem por espaço?

Diversos autores (MARGALEF, 1968; ODUM, 1969; CONNELL, 1978)

sugerem que após um distúrbio a composição de uma comunidade modifica-se

ao longo do tempo. Segundo o princípio de Gause (1932) a coexistência de

duas espécies com requerimentos similares conduz a competição entre elas.

Assim, foi predito um aumento da diversidade ao longo do experimento, o total

reestabelecimento da comunidade ao final de 240 dias e a competição por

espaço pelas espécies dominantes, Chthamalus bisinuatus e Brachidontes

exustus.

2. Materiais e métodos

2.1 Sistema estudado

O estudo foi realizado de outubro de 2012 a junho de 2013 em um

costão rochoso urbano no sul da Bahia, Brasil. A zona entre-marés deste

costão caracteriza-se pela ocorrência de três biobandas bem definidas: I –

dominada pelo cirripédio Chthamalus bisinuatus; II – dominada pelo mitilídio

Brachidontes exustus e; III – dominada por macroalgas (SOUZA, subm). O

experimento foi realizado nas zonas I e II, sendo o NS (nível superior) aquele

dominado por cirripédios, o NM (nível médio) representado pela transição d o

domínio de cirripédios para o de mitilídios, e o NI (nível inferior) dominado por

mitilídios.

2.2 Caracterização da comunidade

A caracterização da estrutura das assembleias de macromoluscos foi

efetuada de acordo com a abundância em número de indivíduos e riqueza, com

descrição geral realizada pela média ± erro padrão.

Page 44: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

44

Como descritores ecológicos foram utilizados a riqueza (S) e a

diversidade específica (H‟) (SHANNON & WEAVER, 1949).

2.3 Composição da macrofauna bêntica após distúrbio

A hipótese de que a composição da macrofauna bêntica iria diferir ao

longo de 240 dias foi testada com uma análise de variância fatorial não

paramétrica (teste de Kruskal-Wallis) considerando um nível de significância de

0,05. O teste a posteriori tipo Mann-Whitney foi empregado para evidenciar

quais grupos apresentavam diferença significativa (ZAR, 1996). Estas análises

foram realizadas considerando amostras pós-perturbação. A normalidade dos

dados foi analisada pelo teste de Shapiro-Wilk (SHAPIRO & WILK, 1965).

Foram alocados 40 pontos no NS e no NI. As perturbações foram criadas

através da raspagem do substrato, utilizando-se um amostrador de alumínio

com área de 0,06 m². Os pontos estabelecidos foram monitorados em

intervalos temporais previamente determinados (10, 30, 90, 120, 150, 180, 210

e 240 dias). Em cada intervalo cinco pontos por nível foram aleatoriamente

selecionados sem reposição, garantindo assim que diferentes estágios

sucessionais fossem obtidos a cada amostragem. A fauna presente foi retirada

e acondicionada em sacos telados com abertura de 0,2mm sendo,

posteriormente, mensurada e identificada até o menor nível taxonômico

possível no Laboratório de Ecologia Bêntica (UESC).

2.4 Reestabelecimento da macrofauna bêntica após distúrbio

Para testar a hipótese de que a macrofauna bêntica estaria

reestabelecida 240 dias após o distúrbio foi realizada a comparação entre a

comunidade bêntica encontrada antes do distúrbio e aquela encontrada ao final

do experimento através do teste de Mann-Whitney (Wilcoxon) considerando um

nível de significância de 0,05 (ZAR, 1996). A normalidade dos dados foi

analisada pelo teste de Shapiro-Wilk (SHAPIRO & WILK, 1965). Este hipótese

foi testada com os dados obtidos nos três níveis – NS, NM e NI.

2.5 Competição por espaço pelas espécies dominantes

A hipótese de que haveria competição por espaço pelas espécies

Chthamalus bisinuatus e Brachidontes exustus foi testada com uma análise de

Page 45: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

45

variância fatorial não paramétrica (teste de Kruskal-Wallis) considerando um

nível de significância de 0,05 (ZAR, 1996). Nesta análise a distribuição das

densidades de C. bisinuatus encontradas após o distúrbio foi testada entre os

três níveis (NS x NM x NI). A normalidade dos dados foi analisada pelo teste de

Shapiro-Wilk (SHAPIRO & WILK, 1965). Foram alocados 40 pontos no NM e os

procedimentos de instalação do experimento, coleta, monitoramento e triagem

foram realizados segundo descrito no item 2.3.

Todos os testes foram executados utilizando o software PAST versão

2.17c (HAMMER et al., 2001).

Exemplares de cada espécie obtidos em todas as etapas do trabalho

foram fotografados e inseridos no banco de imagens do projeto para posterior

elaboração de guias de campo. Lotes de cada espécie foram tombados na

coleção malacológica “Prof. Henry Mathews” da Universidade Federal do Ceará

(UFCE) e na “Coleção de Invertebrados Aquáticos” da Universidade Estadual

de Santa Cruz (UESC), constituindo coleções de referência.

3. RESULTADOS

3.1 Caracterização da comunidade

Foram registradas cinco espécies: Chthamalus bisinuatus, Brachidontes

exustus, Echinolittorina ziczac, Lottia subrugosa e Stramonita haemastoma.

A espécie C.bisinuatus atingiu densidade máxima no 240° DAD (dias

após distúrbio) no NS (187 inds/0,06m²) e no NM (184 inds/0,06m²). No NI a

densidade máxima ocorreu no 210° DAD (253 inds/0,06m²) (

Figura 7a). A espécie B. exustus apresentou baixa densidade ao longo

de todo o experimento, com valor máximo registrado no 210° DAD no NI (155

inds/0,06m²) (

Figura 7b). A espécie E. ziczac ocorreu em maior densidade no 180°

DAD nos três níveis: NS (87 inds/0,06m²), NM (153 inds/0,06m²) e NI (132

inds/0,06m²) (Figura 7c).

).

Page 46: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

46

Um indivíduo da espécie predadora Stramonita haemastoma ocorreu em

um dos pontos do NI no 240° DAD.

Figura 7. Média ± desvio padrão das abundâncias das espécies ao longo de 240 dias após distúrbio no

(a) NS - nível superior, no (b) NM - nível médio e no (c) NI - nível inferior – Morro de Pernambuco (Ilhéus –

BA)

Page 47: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

47

Não foram observadas grandes variações temporais do índice de

diversidade de Shannon (H‟) durante os 240 dias avaliados no experimento,

havendo apenas uma queda destes valores no NI no 210° DAD (H‟ = 1,244)

(Figura 8).

Figura 8.Variação temporal do índice de diversidade de Shannon (H‟) da fauna presente no (NS) nível

superior, no (NM) nível médio e no (NI) nível inferior, antes (0) e após distúrbio – Morro de Pernambuco

(Ilhéus – BA)

3.2 Composição da macrofauna bêntica após distúrbio

Na região dominada por Chthamalus bisinuatus (NS – nível superior) e

na região de transição entre C. bisinuatus e Brachidontes exustus (NM – nível

médio) as diferenças na composição da macrofauna bêntica ao longo dos oito

estágios analisados foram significativas segundo o teste de Kruskal-Wallis

(x2(NS) = 18,32 e p(NS) = 0,0018; x2

(NM) = 15,59 e p(NM) =0,0486). Porém o teste a

posteriori Mann-Whitney mostrou que somente a composição observada em

outubro de 2012 (antes do distúrbio) diferiu das demais. Não foi detectada

diferença significativa (x2(NI) = 9,98 e p(NI) = 0,1214) na composição da

comunidade ao longo do tempo na região dominada por B. exustus (NI – nível

inferior).

Page 48: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

48

3.3 Reestabelecimento da macrofauna bêntica após distúrbio

A comparação entre a composição da macrofauna bêntica antes do

distúrbio e 240 dias após, através do teste de Mann-Whitney (Wilcoxon),

mostrou diferenças significativas nos três níveis analisados (pNS= 0,0128 , pNM=

0,0103 e pNI = 0,0226) considerando um nível de significância de 0,05.

3.4 Competição por espaço pelas espécies dominantes

A espécie C. bisinuatus teve recuperação similar nos três níveis e a

distribuição das densidades ao longo dos dias após o distúrbio não mostrou

diferença significativa segundo o teste de Kruskal-Wallis (x2calc= 0,815; pcalc =

0,6648).

4. DISCUSSÃO

A composição específica não diferiu ao longo dos estágios sucessionais

analisados, contrariando o esperado, uma vez que a riqueza e a diversidade

tendem a aumentar com o desenvolvimento da comunidade (MARGALEF,

1968; ODUM, 1969; CONNELL, 1978).

Chthamalus bisinuatus e Echinolittorina ziczac mostraram um padrão de

recrutamento similar ao encontrado por Takada e Kikuchi (1990) para espécies

do mesmo gênero na região de Amakusa - Japão. Entretanto, em um estudo

realizado por Tanaka e Magalhães (2002) no litoral de São Paulo, a cobertura

de cirripédios decresceu gradualmente até desaparecer ao final de 18 meses,

enquanto a densidade de gastrópodes litorinídios foi baixa em todas as etapas

do trabalho.

Os litorinídios podem usar cirripédios mortos como refúgio, além de

alimentar-se de microalgas que ocorrem associadas a eles (APOLINÁRIO,

1999). Neste estudo foi verificada uma forte associação entre a ocorrência e as

densidades de C. bisinuatus e E. ziczac ao longo dos estágios analisados,

sugerindo que os litorinídeos estão sendo beneficiados pela presença do

cirripédio.

Espécies pioneiras podem influenciar as taxas de sucessão, acelerando,

reduzindo ou não afetando esses processos (CONNELL & SLATYER, 1977). É

Page 49: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

49

possível que a duração deste trabalho represente um estágio sucessional

inicial desta comunidade e que C. bisinuatus esteja atuando como espécie

pioneira, viabilizando substrato para o estabelecimento de outras espécies,

através do fornecimento de alimento e refúgio. Provavelmente, estágios

sucessionais mais avançados desta comunidade serão diferentes em sua

composição e diversidade, em resposta a outros fatores estruturadores como

competição e predação.

Embora com baixas densidades, o nível superior parece ter retomado à

conformação original se considerarmos sua abundância relativa. Isto

provavelmente aconteceu porque os cirripédios apresentam rápido

reestabelecimento e este nível tende a ser dominado por estes organismos.

A população de B. exustus não mostrou recuperação expressiva durante

o tempo do experimento. Resultados similares foram encontrados no litoral de

Pernambuco por Almeida et al. (2008) para áreas de perturbação menores

(0,010 m²) que as empregadas neste estudo (0,060 m²), enquanto o estudo

desenvolvido por Tanaka (2005), no litoral de São Paulo, mostrou recuperação

expressiva cinco meses após as perturbações artificiais. Entretanto, a área das

perturbações realizadas foram muito menores (0,003m²), que as empregadas

neste estudo (0,060m²). Tanaka e Magalhães (2002) verificaram que para esta

espécie a recolonização realizada por migração lateral é mais eficiente em

áreas menores. Áreas maiores, por sua vez, demandam mais tempo para

serem recobertas por migração lateral e o recrutamento a partir da coluna

d‟água pode exercer maior influência na sucessão (PAINE & LEVIN, 1981;

SOUSA, 1984; TANAKA & MAGALHÃES, 2002).

O domínio de um costão rochoso por B. exustus tende a ocorrer após

um evento de recrutamento massivo (PETERSEN et al., 1986). Desta forma é

possível que o tempo para o reestabelecimento da comunidade investigada no

presente trabalho seja superior à duração do estudo (240 dias).

Para consumidores vágeis, as condições encontradas em regiões

periféricas de áreas desnudas podem fornecer refúgio contra predadores

orientados visualmente (MERCÚRIO et al., 1985) e contra a dessecação e o

impacto das ondas (SOUSA, 1984). Esperava-se, portanto, que áreas

descobertas maiores apresentem maiores densidades desses animais

(DAYTON, 1971; SOUSA, 1984; FARRELL, 1989). Os dados obtidos

Page 50: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

50

contrariaram o esperado. Foram encontradas baixas abundâncias de Lottia

subrugosa ao longo das etapas analisadas. Tanaka e Magalhães (2002)

também encontraram baixas densidades de herbívoros nos primeiros meses do

seu trabalho, porém altas densidades desta espécie foram registradas durante

o sexto mês do estudo. É possível que haja um aumento na sua abundância

em estágios mais avançados do que os acompanhados neste trabalho.

A espécie C. bisinuatus apresentou recuperação similar nos três níveis,

mostrando que a determinação do seu limite de distribuição é influenciado pela

presença de B. exustus e a emersão parece não afetar o desenvolvimento dos

cirripédios no costão estudado.

Resultados similares foram encontrados para cirriédios e mitilídios por

Dayton (1971) em Ilhas na costa do Estado de Washington (EUA). No clássico

experimento de Connell (1961) o autor testou a competição por espaço entre

Chthamalus stellatus e Balanus balanoides e encontrou que na ausência de B.

balanoides, C. stellatus sobreviveu bem em todos os níveis, inclusive no

submerso.

O resultado obtido mostra que a restrição da ocupação de C. bisinuatus

apenas nos níveis superiores é causada pela competição por espaço com B.

exustus. Desta forma é possível que a distribuição de C. bisinuatus seja mais

fortemente influenciada por interações biológicas, enquanto fatores

estruturadores físicos limitam a distribuição de B. exustus. Além disso, mitilídios

requerem espaço secundário (cracas, algas, bissos de espécimes adjacentes)

para o estabelecimento larval e são capazes de se desenvolver sobre outras

espécies tornando-se o competidor dominante por espaço na comunidade

(DAYTON, 1971). Desta forma é provável que em estágios sucessionais mais

avançados da comunidade estudada, os níveis inferiores sejam novamente

dominados por B. exustus.

O padrão de sucessão das comunidades bênticas pode ser influenciado

pela intensidade de um distúrbio (SOUSA, 1984; TANAKA & MAGALHÃES,

2002). A hipótese do distúrbio intermediário prediz que a diversidade de

espécies dentro de um habitat será máxima em níveis intermediários de

distúrbios (CONNELL, 1978). Quando o nível do distúrbio é baixo, o competidor

mais eficiente em explorar recursos ou o mais efetivo em interferir em outras

espécies elimina ou limita os demais. Altos níveis de distúrbio levam a exclusão

Page 51: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

51

das espécies mais resistentes ou as que ocorrem nos estágios sucessionais

iniciais. Nos níveis intermediários de distúrbio ocorre um equilíbrio entre a

exclusão competitiva de colonizadores e a destruição de competidores

dominantes (CONNELL, 1978; SOUSA, 1979).

O nível superior do costão estudado sofre menor impacto das ondas, ou

seja, nestas áreas o distúrbio é baixo. Assim a espécie com maior habilidade

para utilizar esse recurso, C. bisinuatus, domina o espaço, pois poucas

espécies possuem adaptações para tolerar as condições deste ambiente

(exposição ao ar e elevadas temperaturas). Nesta área não há competidores

capazes de evitar o seu domínio. Este processo baseia-se no pressuposto de

que uma vez que um lugar é ocupado por uma dada espécie, ela impede a

instalação de outros invasores até que ela seja prejudicada ou morta. Assim,

exclui competitivamente todos os invasores potenciais, que são incapazes de

competir e eliminá-lo (CONNELL, 1978). No nível inferior do costão a

frequência entre distúrbios é muito intensa, então poucas espécies serão

capazes de se estabelecer rapidamente. Esta condição leva a exclusão das

espécies colonizadoras, neste caso C. bisinuatus. Assim o nível médio

apresenta distúrbio intermediário, razão esta que permite a coexistência das

espécies dominantes, C. bisinuatus e B. exustus.

Embora as diferenças não tenham sido significativas, o nível médio

apresentou valor de diversidade (H‟), antes do distúrbio, maior que os demais.

Provavelmente esse valor não se manteve ao longo e após o experimento

porque, além da frequência ininterrupta com que a área sofre impacto das

ondas, o tamanho da perturbação foi muito grande. Segundo Connell (1978)

além da frequência, o tempo após o distúrbio e o tamanho da área perturbada

também afetam as taxas de sucessão. Se uma perturbação mata todos os

organismos em uma área muito extensa, a recolonização só ocorrerá através

de propágulos que podem percorrer distâncias relativamente grandes. Em

contraste, em aberturas menores, a recolonização tende a ocorrer a partir de

adultos adjacentes (CONNELL, 1978; FARRELL, 1989; MINCHINTON, 1997;

TANAKA & MAGALHÃES, 2002).

A comunidade estudada foi considerada pouco diversa quando

comparada com outros sistemas (SOUZA, subm). Se distúrbios acontecem

frequentemente, a comunidade será composta apenas por poucas espécies

Page 52: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

52

capazes de atingir a maturidade rapidamente (CONNEL, 1978). Assim é

possível que a ação intermitente das ondas associada à pressão antrópica

elevada, característica deste costão, esteja reduzindo as taxas de recuperação

da diversidade local.

A abertura de espaços por distúrbios são necessários para a

manutenção da diversidade na maioria das comunidades sésseis. Distúrbios

são heterogêneos no tempo e no espaço e renovam recursos promovendo a

coexistência de espécies (SOUSA, 1979). Deste modo, a alta diversidade é

consequência das condições de mudança contínua.

Entretanto, cabe ressaltar que adaptações a perturbações naturais foram

desenvolvidas no decorrer de um extenso período de evolução. Algumas

perturbações provocadas pelo homem, como a destruição dos substratos, a

poluição por metais pesados ou óleo, são muito recentes, e , contra elas os

organismos ainda não evoluíram defesas. Comunidades tropicais tendem a ser

diversas e formadas por populações menos abundantes do que aquelas de

sistemas temperados, desta forma distúrbios antrópicos podem provocar a

extinção de muitas espécies (CONNELL, 1978).

5. CONCLUSÃO

Nossos dados sugerem que, diferente do esperado, sistemas em

ambientes tropicais podem ter uma recuperação mais lenta que aqueles

localizados em áreas temperadas.

A pressão do distúrbio gerado neste experimento pode ter sido muito

intensa, reduzindo as taxas de colonização. Sugere-se que investigações sobre

a influência do tamanho e da forma do distúrbio sobre o processo de sucessão

da macrofauna bêntica sejam realizadas nos costões rochosos do Morro de

Pernambuco.

As espécies sésseis dominantes, Chthamalus bisinuatus e Brachidontes

exustus competem por espaço. A intensidade deste processo parece ser

regulada pelo tempo de emersão. A influência de fatores estruturadores físicos,

bem como, de outras interações biológicas, como a predação, deve ser

pesquisada na área do estudo.

Page 53: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

53

Estudos em maior escala temporal devem ser realizados para fornecer

informações sobre estágios sucessionais mais avançados da comunidade em

questão, bem como para a determinação do tempo necessário para o completo

reestabelecimento da macrofauna bêntica desta comunidade.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, L. R.; GUIMARÃES, M. A.; LUZ, B. R. A.; PORTO NETO, F. F. Interação entre processos de colonização e sucessão ecológica de comunidades bioincrustantes na Praia da Piedade. Tropical Oceanography, 36: 40-46, 2008. APOLINÁRIO, M. Temporal variations in community structure in and around intertidal barnacle (Chthamalus challenger Hoek) patches on a plebby shore in Japan. RevistaBrasileira de Biologia, 59: 43-53, 1999. CONNELL, J. H. Effect of competition, predation by Thais lapillus, and other factors on natural populations of the barnacle, Balanusbalanoides. Ecological Monographs, 31: 61-104, 1961.

CONNELL, J. H. Diversity in tropical rain forests and coral reefs. Science, 199: 1302–1310, 1978.

CONNELL, J. H.; SLATYER, R. O. Mechanisms of succession in natural communities and their role in community stability and organization. The American Naturalist, 111: 1119–1144, 1977. DAYTON, P.K. Competition, disturbance, and community organization – provision and subsequent utilization of space in a rocky intertidal community. Ecological Monographs, 41 (4): 351–389, 1971. FARRELL, T. M. Succession in a rocky intertidal community: the importance of disturbance size and position within a disturbed patch. Journal of Experimental Marine Biology and Ecology, 128: 57–73, 1989. FARREL, T. M. Models and mechanisms of succession: an example from a rocky intertidal community. Ecological Monographs, 61 (1): 95-113, 1991. GAUSE, G. F. Experimental Studies on the Struggle for Existence: Mixed Population of Two Species of Yeast. The Journal of Experimental Biology, 9: 389-402, 1932. HAMMER, Ø.; HARPER, D.A.T.; RYAN, P.D. PAST: Paleontological Statistics Software Package for Education and Data Analysis. Palaeontologia Electronica 4(1): 9pp, 2001.

Page 54: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

54

LEVIN, A. S.; PAINE, R. T. Disturbance, patch formation, and community structure. Proceedings of the National Academy of Sciences USA, 71: 2744–2747, 1974. MARGALEF, R. Perspectives in Ecological Theory. Univ. of Chicago Press, Chicago, 1968. MERCURIO, K.S., PALMER, A.R., LOWELL, R.B. Predator-Mediated Microhabitat Partitioning by Two Species of Visually Cryptic, Intertidal Limpets. Ecology, 66: 1417-1425, 1985. MINCHINTON, T. E. Life on the edge: conspecific attraction and recruitment of populations to disturbed habitats. Oecologia, 111: 45–52, 1997. NAVARRETE, S. A.; WIETERS, E.A. Variation in barnacle recruitment over small scales: larval predation by adults and maintenance of community pattern. Journal of Experimental Marine Biology and Ecology, 253: 131-148, 2000. ODUM, E. P. The Strategy of Ecosystem Development. Science, New Series, 164 :262-270, 1969.

PAINE, R. T.; LEVIN, S.A. Intertidal landscapes: disturbance and the dynamics of pattern. Ecological Monographs, 51: 145-178, 1981. PASCUAL, M.; GUICHARD, F. Criticality and disturbance in spatial ecological systems. Trends in Ecology & Evolution, 20: 88–95, 2005. PETERSEN, J.A.; SUTHERLAND, J.P.; ORTEGA, S. Patch dynamics of mussel beds near São Sebastião (São Paulo), Brazil. Marine Biology, 93:389-393, 1986. SHANNON, C.E.; WEAVER, W.The Mathematical Theory of Communication. Urbana. University of Illinois Press.117pp, 1949. SHAPIRO, S. S.; WILK, M. B.An analysis of variance test for normality (complete samples).Biometrika, 52: 591–611, 1965. SKINNER, L. F.; COUTINHO, R. Preliminary results on settlement of barnacles Tetraclita stalactifera and Chthamalus bisinuatus on a Brazilian tropical rocky shore under upwelling conditions. International Journal of Invertebrate Reproduction and Development, 41(1): 151-156, 2002. SOUSA, W. P. Disturbance in Marine Intertidal Boulder Fields: The Non equilibrium Maintance of Species Diversity. Ecology, 60(6): 1225-1239, 1979. SOUSA, W.P. Intertidal Mosaics: Patch Size, Propagule Availability, and Spatially Variable Patterns of Succession. Ecology, 65: 1918-1935, 1984.

Page 55: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

55

TAKADA, Y.; KIKUCHI, T. Mobile molluscan communities in boulder shores and the comparison with other habitats in Amakusa. Publications from the Amakusa Marine Biological Laboratory, 10: 145-168, 1990. TANAKA, M. O.; MAGALHÃES, C. A. Edge effects and succession dynamics in Brachidontes mussel beds. Marine Ecology Progress Series, 237: 151-158, 2002. TANAKA, M. O. Recolonization of experimental gaps by the mussels Brachidontesdarwinianus and B. solisianus in a subtropical rocky shore. Brazilian Archives of Biology and Technology, 48: 115-119, 2005. UNDERWOOD, A.J. Detection, interpretation, prediction and management of environmental disturbances: some roles for experimental marine ecology. Journal of Experimental Marine Biology and Ecology, 200: 1-27, 1996. ZAR, J. H. Biostatistical analysis.3ª ed. Prentice Hall, 1996.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sistemas tropicais são normalmente associados a altas taxas de

diversidade e renovação. Os resultados deste trabalho confirmam que este

antigo paradigma está sendo reformulado e que características intrínsecas a

cada comunidade e a escala espacial adotada podem confundir estas

interpretações. Os padrões latitudinais de diversidade e abundância

aparentemente não seguem uma distribuição linear. Estas considerações

também demonstram a necessidade de se adotar um protocolo de amostragem

padronizado, como o usado neste estudo, a fim de gerar dados que viabilizem

comparações e generalizações realistas.

A eliminação ou mesmo a redução de uma espécie em dada

comunidade pode influenciar o funcionamento de todo o sistema. A forte

pressão de captura sobre um predador no costão estudado aparentemente

afetou toda a diversidade local.

Eventos de perturbação naturais são importantes para manutenção da

diversidade local. No entanto distúrbios não naturais como aqueles de origem

antrópica podem exercer impacto maior do que o tolerado por uma

comunidade. O costão rochoso estudado sofre alto impacto antrópico. Se

Page 56: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

56

danos maiores ocorrerem, como derramamento de óleo e outros combustíveis

em decorrência da atividade portuária, é possível que a comunidade não se

restabeleça ou que demore muito tempo para tal, reduzindo a diversidade local

e posteriormente regional.

Modificações em pequena escala podem se propagar no espaço e no

tempo repercutindo em maior escala e desta forma afetar a cadeia produtiva,

como, por exemplo, provocar alterações nos recursos pesqueiros e outras

atividades de interesse econômico.

Page 57: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

57

ANEXO I

LISTA DAS ESPÉCIES DE MACROMOLUSCOS REGISTRADOS NOS

COSTÕES ROCHOSOS DO MORRO DE PERNAMBUCO, ILHÉUS – BA

FiloMollusca

Classe Polyplacophora

Subclasse Neoloricata

Ordem Chitonida

Subordem Chitonina

Superfamília Chitonoidea

Família Callistoplacidae

Calloplax janeirensis (Gray, 1828)

Classe Gastropoda

Subclasse Vetigastropoda

Superfamília Fissurelloidea

Família Fissurellidae

Subfamília Fissurellinae

Fissurella rosea (Gmelin, 1791)

Superfamília Phasianelloidea

Família Phasianellidae

Eulithidium affine (C. B. Adams, 1850)

Subclasse Patellogastropoda

Superfamília Lottioidea

Família Lottiidae

Lottia subrugosa (d'Orbigny, 1846)

Subclasse Caenogastropoda

Ordem Littorinimorpha

Superfamília Littorinoidea

Família Littorinidae

Subfamília Littorininae

Echinolittorina ziczac (Gmelin, 1791)

Ordem Neogastropoda

Superfamília Muricoidea

Família Muricidae

Subfamília Rapaninae

Stramonita brasiliensis Claremont& D. G. Reid, 2011

Stramonitahaemastoma (Linnaeus, 1767)

Stramonita rustica (Lamarck, 1822)

Page 58: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

58

Superfamília Buccinoidea

Família Buccinidae

Pisania pusio (Linnaeus, 1758)

Família Columbellidae

Anachis isabellei (d'Orbigny, 1839)

Anachis catenata (G. B. Sowerby, 1844)

Mitrella dichroa (G. B. Sowerby I, 1844) Família Fasciolariidae

Subfamília Fasciolariinae

Aurantilaria aurantiaca (Lamarck, 1816)

Subfamília Peristerniinae

Leucozonia nassa (Gmelin, 1791)

Subclasse Heterobranchia

Superfamília Acteonoidea

Família Aplustridae

Micromelo undatus (Bruguière, 1792)

InfraclasseOpisthobranchia

Ordem Cephalaspidea

Superfamília Philinoidea

Família Aglajidae

Navanax aenigmaticus (Bergh, 1893)

Ordem Anaspidea

Superfamília Aplysioidea

Família Aplysiidae

Aplysia dactylomela Rang, 1828

Classe Bivalvia Subclasse Heterodonta Infraclasse Euheterodonta Ordem Myoida Superfamília Myoidea Família Myidae Sphenia fragilis (H. Adams & A. Adams, 1854)

Subclasse Pteriomorphia

Ordem Mytiloida

Superfamília Mytiloidea

Família Mytilidae

Brachidonte sexustus (Linnaeus, 1758)

Modiolus americanus (Leach, 1815)

Ordem Pterioida

Superfamília Pterioidea

Família Pteriidae

Isognomon bicolor (C. B. Adams, 1845)

Page 59: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ SHAYANNA ...nbcgib.uesc.br/ppgsat/files/PPGSAT/Dissertacoes/Shayanna...O Estado da Bahia possui o maior litoral do Brasil, com cerca de 1.000 km

59

Classe Cephalopoda

Subclasse Coleoidea

SuperordemOctopodiformes

Ordem Octopoda

Subordem Incirrata

Superfamília Octopodoidea

Família Octopodidae

Octopus insularis Leite, Haimovici, Molina &Warnke, 2008

Octopus vulgaris Cuvier, 1797