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Universidade
Estadual de Londrina
CENTRO DE EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTE CURSO DE BACHARELADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
PROJETO FUTURO: COMPREENSÃO DOS FENÔMENOS SOCIOEDUCATIVOS
Aline Garcia Pinto
LONDRINA – PARANÁ
2009
2
ALINE GARCIA PINTO
PROJETO FUTURO: COMPREENSÃO DOS FENÔMENOS SOCIOEDUCATIVOS
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Bacharelado em Educação Física do Centro de Educação Física e Esporte da Universidade Estadual de Londrina, como requisito parcial para sua conclusão
COMISSÃO EXAMINADORA
______________________________________
Prof.Ms.Catiana Leila Possamai Universidade Estadual de Londrina
______________________________________
Antônio Geraldo Magalhães Gomes Pires Universidade Estadual de Londrina
______________________________________
Prof.Esp. Anísio Calciolari Júnior Universidade Estadual de Londrina
Londrina, ____ de____________ de 2008
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PINTO, Aline Garcia. Projeto Futuro: Análise dos fenômenos socioeducativos. Trabalho de Conclusão de Curso. Curso de Bacharelado em Educação Física. Centro de Educação Física e Esporte. Universidade Estadual de Londrina, 2009
RESUMO
Existem muitas crianças que se encontram em situação de risco social, seja por falta de moradia,drogas, trabalho infantil entre outros. Assim, Projetos Esportivos têm sido implantados com o objetivo de diminuir os riscos dessas crianças incentivando a participação no esporte com fins educacionais. Esse trabalho torna-se relevante em compreender o esporte fora do contexto escolar, ou seja, sua aplicação no espaço de educação não-formal, projetos sociais, apontando-os também como uma possibilidade no campo de atuação do bacharel em educação física. A partir desse cenário, o presente trabalho teve como objetivo compreender os fenômenos socioeducativos relacionados ao esporte na modalidade de futsal praticada por crianças e adolescentes do Projeto Futuro,no pólo CEPAS (Centro Profissionalizante Ágape Smith) que se caracteriza por ser uma entidade social e filantrópica que atende crianças de sete a quatorze anos em situação de risco social, na cidade de Londrina – PR. Foram entrevistados sete alunos utilizando alguns princípios da pesquisa participante e o diário de campo para a coleta dos dados e a análise de discurso. Através dos resultados pode-se inferir que o esporte é um importante instrumento de interação social,contribuindo também para o processo educativo da criança e do adolescente.
Palavras-chave: Esporte educacional; educação não-formal; projetos esportivos.
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO................................................................................................... 6
2. REVISÃO DE LITERATURA.............................................................................. 8
2.1Esporte ao longo do tempo................................................................................8
2.2 Aspectos econômicos,políticos e sociais do esporte........................................9
2.3 Esporte e educação:possibilidade de mudança comportamental...................10
2.4 Educação Física no contexto não-formal........................................................11
3. ENCAMINHAMENTO TEÓRICO-METODOLÓGICO........................................13
3.1 Referencial teórico-metodológico da pesquisa ...............................................13
3.2 Delimitação da pesquisa .................................................................................13
3.3 Coleta de dados...............................................................................................14
4. DESCRIÇÃO DO CENÁRIO DE ESTUDO........................................................14
4.1 Conhecendo o Centro Profissionalizante Ágape Smith (CEPAS)....................14
4.2 Objetivos do CEPAS.........................................................................................20
4.2.1 Objetivo Geral............................................................................................. ..20
4.2.2 Objetivos Específicos....................................................................................20
4.3 Disponíveis ......................................................................................................21
4.4. Diretrizes.........................................................................................................22
5. PROJETO FUTURO..........................................................................................22
5.1Identificação.....................................................................................................23
5.2 Justificativa de existência do Projeto Futuro: o discurso oficial......................24
5.3 Princípios de gestão...................................................................................... 25
5.4 Objetivos do Projeto Futuro........................................................................... 25
5.4.1 Objetivos Gerais .........................................................................................25
5.4.2 Objetivos Específicos...................................................................................26
6. População alvo.................................................................................................26
6.1 Caracterização................................................................................................26
6.2 Divulgação .....................................................................................................26
5
6.3 Núcleos de atendimento.................................................................................26
6.4 Coordenação..................................................................................................27
6.4.1. Diretoria Técnica/Coordenação Administrativa/Pedagógica......................27
7. Modalidades esportivas oferecidas .................................................................27
8. Custos operacionais........................................................................................ 28
8.1 Detalhamento ...............................................................................................28
8.2 Materiais Esportivos .....................................................................................28
8.3 Materiais de divulgação..................................................................................29
8.4 Materiais de escritório ....................................................................................29
8.5 Recursos humanos.........................................................................................29
8.6 Transporte......................................................................................................29
9.RESULTADOS .................................................................................................30
9.1 Esporte : Mecanismo facilitador da interação social .....................................30
9.2 A participação esportiva motivando o sonho..................................................32
9.3 O ensino da técnica aliado ao processo educativo........................................34
10. CONCLUSÃO................................................................................................35
11.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..............................................................36
6
1. INTRODUÇÃO
A população brasileira é de aproximadamente 190 milhões de
pessoas, sendo que 60 milhões são crianças, onde 50% pertencem a famílias
pobres. Existem 97,6% das crianças de 7 a 14 anos na escola, porém o Brasil ainda
tem 660 mil crianças nessa idade fora da escola (UNICEF, 2009).
Ao passar maior tempo nas ruas, as crianças se deparam com
alternativas não favoráveis à sua qualidade de vida, se sujeitando ao envolvimento
com crimes, drogas, prostituição e trabalho infantil como formas de “sobrevivência”
sem perspectiva por uma vida mais segura. Encontram-se assim em situação de alto
risco, que se define por exposição à violência, uso de drogas e falta de afeto.
(LESCHER et al., 2004).
Considerando essa realidade, projetos esportivos estão espalhados
pelo país com objetivo socioeducacional onde o esporte tem sido utilizado como
estratégia para a inclusão social de crianças e adolescentes, a fim de diminuir a
ociosidade e possíveis envolvimentos com o ato criminal. Sendo as atividades
esportivas constituídas por fenômenos sociais, político, econômico e cultural é direito
do cidadão e dever do Estado possibilitar seu acesso e participação afim de que o
esporte se torne acessível às crianças e adolescentes facilitando diversos benefícios
como: desenvolvimento do aspecto afetivo e cognitivo, melhora da coordenação
motora, aumento da qualidade de vida além de sua importância como elemento
educacional incentivando a socialização, a cidadania e a cultura.
Portanto, este estudo teve como público-alvo crianças e adolescentes
participantes de um projeto socioeducativo utilizando a modalidade de futsal como
meio norteador. Particularmente, o Projeto Futuro tem proporcionado um contato
direto com a área de Educação Física, possibilitando assim um olhar de teoria-
prática além do oferecido nas salas de aula durante o período de graduação.
Acreditamos ser importante compreender o esporte além do contexto escolar, ou
seja, sua aplicação neste espaço de educação não-formal, de projetos sociais,
apontando também como uma possibilidade no campo de atuação do bacharel em
educação física. Essas organizações ou instituições buscam oferecer possibilidades
de experiências e vivências para que seu público faça novas escolhas e opções
pessoais e sociais e, principalmente, que não se envolva com o universo da
marginalidade e seus riscos de interrupção breve da existência (SILVA, 2006).
7
Considerando os aspectos educacionais do esporte, torna-se relevante esse
trabalho a fim de buscar outra lógica do esporte além do treinamento desportivo e
seu papel como meio de educação e intervenção da realidade social com crianças e
adolescentes. O objetivo deste trabalho foi compreender os fenômenos
socioeducativos relacionados ao esporte praticado por crianças e adolescentes do
Projeto Futuro,no pólo CEPAS, da cidade de Londrina – PR.
8
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1 O papel do esporte
Caracterizando esta pesquisa o fenômeno esportivo, é de relevância
destacar seu contexto histórico. Segundo KORSAKAS e JUNIOR (2002 p.84) desde
a Idade Antiga já se pensava no esporte como elemento importante na educação do
homem. Nessa época, os gregos atribuíam um grande valor às atividades físicas e
esportivas na formação física e moral de seus cidadãos. O termo esporte era
empregado para atividades que tinham como característica um sentido de
entretenimento, prazer, divertimento. Na Inglaterra referia-se, no início de seu uso,
ao esporte feudal, o que o diferenciava dos exercícios populares que eram
chamados "games" (jogos); esta diferenciação permite que se pense que esporte era
essencialmente uma ocupação de tempo livre (BERNETT apud ZILIO). No ano de
1800, os alunos das escolas públicas inglesas transformaram os jogos e
competições numa atividade que representava para os alunos uma questão de auto-
administração e auto-educação. O espírito de equipe, respeito ao adversário e
obediência às regras eram seus princípios se caracterizando no esporte até hoje
(MESTER apud ZILIO). Relembra KORSAKAS e JUNIOR (2002 p.84) que no
desenvolver da história aparece Thomas Arnold, conhecido como o pai do esporte
moderno por ter iniciado a utilização dos jogos populares ingleses em uma
perspectiva pedagógica, sendo pioneiro no reconhecimento do esporte como um
meio de educação. Durante seu desenvolvimento no século XX surgiram várias
críticas baseada em torno da busca de uma compreensão mais ampla do esporte
como fenômeno social e cultural, rompendo com a perspectiva única do rendimento.
De acordo com Tubino (apud KORSAKAS;JUNIOR, 2002 p.84) a
partir de 1960, “foram várias as manifestações de intelectuais e organismos
internacionais que aprofundaram o seu entendimento”, o esporte passou a ser
conhecido como direito humano através do Movimento Esporte para Todos e a Carta
Internacional de Educação Física e Esportes, editada pela Unesco, e seu conceito
foi renovado, incorporando as dimensões do lazer e da educação, e definindo-as
como práticas diversas do rendimento.
9
2.2 Aspectos econômicos, políticos e sociais do esporte
Para COSTA (1999) o mundo esportivo é um excelente campo de
observação da sociedade onde são apontados elementos que contribui para uma
análise social e possibilita compreender melhor o sentido do homem na comunidade.
Foi na sociedade capitalista industrial que o desporto moderno surgiu como máquina
humana onde o record é o princípio fundamental que “exalta a eficácia, o rendimento
e o progresso” passando a se tornar em produto dessa mesma sociedade refletindo
suas crises, concorrências, sonhos e tipo de funcionamento.
O Esporte, desde antigamente é utilizado como instrumento político,
pois para SIGOLI e JUNIOR (2004) apresenta características como: regras de fácil
compreensão e simples linguagem facilitando com que o Estado o utilize para
transferir suas ideologias;coletividade dando sentido de união nacional;um elemento
alienador que permite aliviar as tensões sociais; a utilização do atleta como
representante favorecendo o prestígio político.Portanto “o Esporte é reflexo da
concepção de valores existentes na sociedade na qual está inserido” possuindo uma
neutralidade interna, permite que o sistema político se direcione através dele.
Quanto ao aparecimento dos projetos sociais, segundo Melo,
Drummond e Bretãs (apud FIDELLIS et all, 2009) :
As "praças de esporte" e "centros de recreios" surgiram na transição das décadas de 1920 e de 1930, inseridos no quadro de controle dos espaços públicos, processos em desenvolvimento desde o fim do século XIX. Naquele momento, as atividades "recreativas" eram entendidas como formas de manutenção da saúde e recuperação da força de trabalho, dimensões importantes para um país que se industrializava e sentia os impactos desse processo, principalmente na organização das cidades, que cresciam rapidamente e de forma desordenada. Não por acaso, houve uma forte ligação e um grande oferecimento de atividades físicas, consideradas as mais adequadas, tendo em vista tais intuitos. (MELO, DRUMMOND, BRÊTAS. 2008 p. 12)
Segundo Fidellis et all (2009) os projetos sociais além de contribuir
com a inclusão social tem por finalidade transformar essa idéia dogmática do
Esporte imposta pelo sistema político externo. Cabe ao profissional de Educação
Física “utilizar o movimento físico como ferramenta, como caminho para libertação
desta alienação que nos impõe as normas deste sistema globalizado e que gera
tantas mazelas.”
10
2.3 Esporte e educação: possibilidade de mudança comportamental
Tem sido crescente a quantidade de atos violentos que cercam a
sociedade de caráter físico e verbal, desrespeito, injustiças, desigualdades. Os
meios de comunicação propagam notícias, reportagens, documentários que relatam
os diferentes conflitos entre as pessoas, denominado de violência cotidiana nas
inter-relações sociais (FERREIRA, 1998).
Na maioria dos casos, o fato das crianças terem atitudes violentas
está relacionado com a falta de limites ou afetividade da própria família. A prática
esportiva surge como a essência do espírito de superação de limites e estimular a
criança e o adolescente ao acesso da participação esportiva (investimento social)
contribui para a construção de valores refletindo no seu modo de ver e viver no
mundo. Assim, a Educação não-Formal tem um importante papel neste contexto, por
uma educação que não se aprende na escola onde há uma reprodução de valores e
costumes, mas possibilitar a reflexão, através de alguma atividade (esporte) e a
partir de um sentimento de debilidade ter a consciência de que é possível mudar a
realidade por uma “práxis contra-ideológica, de gestação de uma nova consciência
social” (TURINO, 2006).
Relembra RUBIO (2002) que para os gregos a formação educacional
do cidadão não era possível sem a Educação Física, onde “não há educação sem
esporte, não há beleza sem esporte; apenas o homem educado fisicamente é
verdadeiramente educado e, portanto, belo.”
A educação segundo FREIRE (2001) não é a adaptação do indivíduo
na sociedade, muito menos transferência de conhecimento, mas que deve
possibilitar a construção de inovadoras maneiras de pensar e agir sabendo que
“quanto mais me assumo como estou sendo e percebo a ou as razões de ser de
porque estou sendo assim, mais me torno capaz de mudar...”
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2.4 Educação física no contexto não-formal
Processos de formação que acontecem fora do sistema de ensino
(das escolas às universidades). É aquela que se aprende “no mundo da vida”, via
os processos de compartilhamento de experiências, principalmente em espaços e
ações coletivos cotidianas (GOHN,2006). Segundo COSTA (1988, p.19) são
“parcialmente institucionais”; havendo mediação do profissional com o participante,
ocorre a adaptação da atividade física, considerando as realidades social e cultural,
por meio das características e interesses individuais e do grupo. De acordo com
GOHN (2006) na educação não-formal, os espaços educativos localizam-se em
territórios que acompanham as trajetórias de vida dos grupos e indivíduos, fora das
escolas, em locais informais, locais onde há processos interativos intencionais. Esta
capacita os indivíduos a se tornarem cidadãos do mundo, no mundo. Sua finalidade
é abrir janelas de conhecimento sobre o mundo que circunda os indivíduos e suas
relações sociais. Seus objetivos não são dados a priori, eles se constroem no
processo interativo, gerando um processo educativo. Um modo de educar surge
como resultado do processo voltado para os interesses e as necessidades que dele
participa. A construção de relações sociais baseadas em princípios de igualdade e
justiça social, quando presentes num dado grupo social, fortalece o exercício da
cidadania. Ela prepara os cidadãos, educa o ser humano para a civilidade, em
oposição à barbárie, ao egoísmo, individualismo etc. A educação não- formal poderá
desenvolver, como resultados, uma série de processos tais como:
• consciência e organização de como agir em grupos coletivos;
• a construção e reconstrução de concepção (ões) de mundo e sobre o mundo;
• contribuição para um sentimento de identidade com uma dada comunidade;
• forma o indivíduo para a vida e suas adversidades (e não apenas capacita-o
para entrar no mercado de trabalho);
• quando presente em programas com crianças ou jovens adolescentes a educação
não-formal resgata o sentimento de valorização de si próprio (o que a mídia e os
manuais de auto-ajuda denominam, simplificadamente, como a auto-estima); ou seja
dá condições aos indivíduos para desenvolverem sentimentos de auto-valorização,
de rejeição dos preconceitos que lhes são dirigidos, o desejo de lutarem para ser
reconhecidos como iguais (enquanto seres humanos), dentro de suas diferenças
(raciais, étnicas, religiosas, culturais, etc.);
12
• os indivíduos adquirem conhecimento de sua própria prática, os indivíduos
aprendem a ler e interpretar o mundo que os cerca. Entende-se a educação não –
formal como aquela voltada para o ser humano como um todo, cidadão do mundo,
homens e mulheres. Em hipótese alguma ela substitui ou compete com a Educação
Formal, escolar. A educação não- formal tem alguns de seus objetivos próximos da
educação formal, como a formação de um cidadão pleno, mas ela tem também a
possibilidade de desenvolver alguns objetivos que lhes são específicos, via a forma
e espaços onde se desenvolvem suas práticas, a exemplo de um conselho ou a
participação em uma luta social, contra as discriminações, por exemplo, a favor das
diferenças culturais etc. Resumidamente podemos enumerar os objetivos da
educação não-formal como sendo:
a) Educação para cidadania;
b) Educação para justiça social;
c) Educação para direitos (humanos, sociais, políticos, culturais, etc.);
d) Educação para liberdade;
e) Educação para igualdade;
f) Educação para democracia;
g) Educação contra discriminação;
h) Educação pelo exercício da cultura, e para a manifestação das diferenças
culturais.
Assim, o entendimento da aplicação de atividades esportivas em
ambientes não-formais, como no pólo CEPAS aplicados pelo Projeto Futuro, amplia
o horizonte da atuação do profissional de Educação Física com habilitação em
Bacharelado. A arte, a cultura e o esporte são meios para a Educação não-formal
que permitem aos sujeitos envolvidos - tanto educadores quanto educandos - se
conhecer e se reconhecer em termos de origem, pertencimento e inserção social. As
práticas dos educadores constituem possibilidades de aprendizagem e
conhecimento desde que não dissociem ação e reflexão. Por isso é premente a
necessidade e a importância de avaliar, discutir, repensar e socializar os objetivos
buscados, os modos de agir, as dificuldades enfrentadas e os resultados
encontrados (SILVA, 2006).Esse espaço possibilita que as crianças adquiram
educação continuada, diminuindo os riscos sociais a que estão expostas diariamente
possibilitando a inclusão a fim de promover o acesso aos direitos de cidadania, que
13
resgatam alguns ideais já esquecidos pela humanidade, como o de civilidade,
tolerância e respeito ao próximo.
3. ENCAMINHAMENTO TEÓRICO-METODOLÓGICO
3.1 Referencial Teórico-Metodológico da Pesquisa
A pesquisa partiu de alguns princípios da Pesquisa Participante, de
abordagem qualitativa e descritiva sendo esta de maior relevância para esse tipo de
estudo pois trabalha com significados, motivos, valores, crenças e atitudes entendido
como parte da realidade social, a interação de pesquisador e sujeito pesquisado.
(MINAYO, 2002).
3.2 Delimitação da Pesquisa
A pesquisa foi realizada no Centro Profissionalizante Ágape Smith
(CEPAS) que se caracteriza por ser uma entidade Social e Filantrópica que oferece
variadas oficinas como artesanato, dança, informática e esportes. Foi escolhida essa
unidade pelo fato de ser um dos pólos do Projeto Futuro, localizado na zona norte de
Londrina a qual faço parte, sendo também de atuação e sabendo-se que a entidade
tem por finalidade atender 200 crianças e adolescentes por dia de 6 a 14 anos, que
se encontram em situação de risco social.
3.3 Coleta de dados
A amostra foi composta por sete alunos. Para coletar os dados foi feita
a entrevista baseada nas seguintes questões:
1. O que você aprende no projeto de futsal?
2. O que mudou em sua vida desde que você começou a participar?
3. Qual é o seu maior sonho?
14
Os materiais utilizados foram um gravador, roteiro de entrevista e caneta para
anotações Ao término das sessões de entrevista deu-se início à transcrição e
posteriormente análise da mesma através da análise de discurso (AD) onde “um
distanciamento do texto se torna possível, dando liberdade a uma maior
interpretação não só daquilo que é dito, como também daquilo que não foi
explicitado nesta produção em análise” (BRANDÃO & DIAS, 2008).
4. DESCRIÇÃO DO CENÁRIO DE ESTUDO
4.1 Conhecendo o Centro Profissionalizante Ágape Smith (CEPAS)
O Centro Profissionalizante Ágape Smith, foi fundado no ano de
1990, por iniciativa da igreja evangélica Batista Monte Sião. Atualmente está sendo
administrado pela Igreja Batista da Esperança, com ajuda de verba da prefeitura
Municipal de Londrina. Surgiu com a finalidade de oferecer formação profissional aos
adolescentes em situação de vulnerabilidade social da região norte de Londrina.
Atualmente o CEPAS oferece o Serviço de Convivência Sócio-Educativo,
desenvolvendo atividades arte-educativas, oferecendo as oficinas de:
Figura 1- Estrutura
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Fonte: arquivo pessoal do pesquisador
- Esportes e lazer
Oferece os módulos de ginástica,atividades esportivas e jogos de tabuleiro afim de
desenvolver as capacidades físicas,o raciocínio lógico além de compreender a
importância do trabalho em equipe estabelecendo melhores relações com os
colegas.
Figura 2
Fonte: arquivo pessoal do pesquisador
- Expressão e Arte
São ofertados os módulos de hip-hop e street-dance trabalhando-se a
percepção,expressão, controle corporal e criatividade.
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Figura 3
Fonte: arquivo pessoal do pesquisador
- Jogos e Brincadeiras
Resgatar as brincadeiras antigas, as cantigas de roda, jogos em geral possibilitando
a convivência em grupo, o aprendizado de regras sociais e de valores.
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Figura 4
Fonte: arquivo pessoal do pesquisador
- Artesanato com Reciclados
Propiciar a manifestação da criatividade, a valorização das
potencialidades e a descoberta de talentos com a criação de objetos utilizados no
dia-a-dia confeccionados a partir de materiais reciclados.
Figura 5
Fonte: arquivo pessoal do pesquisador
- Informática
Contribuir com o acesso das crianças e adolescentes ao computador
e o aprendizado de ferramentas necessárias para a elaboração de trabalhos
escolares, bem como para a futura inserção no mercado de trabalho
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Figura 6
Fonte: arquivo pessoal do pesquisador
- Projeto Futuro
Realizado em parceria com a Fundação de Esportes, o Projeto
Futuro tem como objetivos: desenvolver os fundamentos básicos do futsal,
respeitando a individualidade dos educandos; proporcionar ao educando condições
para o entendimento do jogo; promover a socialização dos educandos; realizar a
prática esportiva do futsal visando, sobretudo o desenvolvimento motor; psicológico
e social. As estratégias utilizadas são: aulas teóricas (vídeos); aulas práticas
(quadra), correções dos fundamentos durante e após os exercícios; avaliações
técnicas (scout) por meio de jogos, amistosos e festivais;
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Figura 7
Fonte: arquivo pessoal do pesquisador
O CEPAS é a única Instituição da região que oferece atendimento a
crianças e adolescentes na faixa etária dos 6 aos 14 anos tendo por meta 200
crianças e adolescentes e suas famílias. A demanda pelo serviço é expressiva, visto
que os educandos não têm outra atividade no contra-turno escolar, o que aumenta a
situação de risco dos mesmos, uma vez que (de acordo com os pais e responsáveis)
são inúmeros os casos de crianças e adolescentes aliciados pelo tráfico na região.
O trabalho de caráter preventivo é importante no sentido de diminuir a incidência de
casos que demandem a utilização da Proteção Social Especial.
A centralidade da família no âmbito das políticas públicas é explícita
no artigo 226 da Constituição Federal e nas leis de regulamentação. Diante disto, o
CEPAS vem buscando implementar o trabalho com as famílias, entendendo a
importância do mesmo para a identificação de situações de risco, bem como o
fortalecimento da família para que ela seja efetivamente um lugar de proteção
social. O Serviço tem caráter preventivo, oferecendo a criança e ao adolescente a
oportunidade de escrever um futuro diferente.
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4.2 Objetivos do CEPAS
Dentre os objetivos do CEPAS estão:
4.2.1- Geral
Garantir os direitos fundamentais da criança e do adolescente de 6 a
14 anos, em regime de atendimento sócio-educativo, conforme preconiza a lei n°
8069/90 Estatuto da Criança e do Adolescente ECA, possibilitando o
desenvolvimento pessoal e social e contribuindo para a formação de sua cidadania.
4.2.2 - Específicos
a) Enriquecer o universo informacional, cultural e lúdico das crianças
e adolescente, por meio de atividades articuladas entre si, destacando aquelas
voltadas ao desenvolvimento da comunicação, da sociabilidade, de habilidades para
a vida, contribuindo para o exercício de sua cidadania;
b) Promover ações que potencializem a sensibilidade, a auto-estima,
atitudes críticas e conscientes, levando a uma participação ativa na vida comunitária
e acesso à cidadania, através de propostas culturais e de lazer;
c) Contribuir, através das linguagens, para o desenvolvimento bio-
psico-social da criança e do adolescente;
d) Favorecer a expressividade emocional, valorizando o bom
relacionamento interpessoal;
e) Auxiliar na formação de valores como cooperação, solidariedade,
espírito de equipe, respeito, promovendo, assim, a sociabilidade e a ética;
f) Proporcionar a formação da cidadania de forma crítica e lúdica;
g) Incentivar a convivência familiar e comunitária, no sentido de
fomentar a participação da criança, do adolescente e da família nos serviços
prestados pela instituição, através de atividades conjuntas e articuladas com
organizações e serviços sociais existentes na comunidade;
h) Promover ações individuais e grupais voltadas para a família de
acordo com suas necessidades, visando proporcionar o desenvolvimento pessoal e
social da criança e do adolescente.
4.3 - Disponíveis
• 1 quadra
• 1 parque
21
• 1 sala com espelho
• 1 teatro
• 1 sala de informática
• 1 biblioteca
• 1 refeitório
• 1 cozinha
• 1 almoxarifado
• 1 sala para atendimento social
• 1 secretaria
•
4.4 Diretrizes
As diretrizes gerais do CEPAS são:
Visão: Crianças vivendo plenamente sua infância, tendo a liberdade
de brincar, de questionar, criar, de fazer escolhas saudáveis, de ter e dar significado.
Tendo suas potencialidades exercitadas e a possibilidade de serem adultos
responsáveis pelos seus atos e escolhas, que amem a Deus e a seu próximo.
Famílias fortalecidas, capazes de lidar com suas demandas internas de forma
saudável, desenvolvendo recursos a fim de cumprir suas funções de proteger, dar
limites e direção. Capazes, também, de dialogar, de criar vínculos significativos com
seus filhos, manifestando carinho e amor.
Missão: Fomentar, planejar e executar ações sócio-assistenciais
básicas junto às famílias da região norte de Londrina possibilitando o
desenvolvimento integral e objetivando a integração no processo de construção e
exercício de sua cidadania. (CENTRO PROFISSIONALIZANTE ÀGAPE SMITH,
2009)
5. - PROJETO FUTURO
A Fundação de Esportes de Londrina foi criada através da Lei
Municipal nº 7941, em 23 de novembro de 1999. Tem por finalidade destinar
recursos públicos a fomentar o esporte escolar, universitário, comunitário, de
competição e de alto rendimento; a recreação; o lazer; a atividade física; os
programas sociais e a promoção de eventos.O Programa Social Esportivo é
realizado pela Prefeitura do Município de Londrina, através da Fundação de
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Esportes com a finalidade de atender as crianças e adolescentes gratuitamente,
através de atividades esportivas de ótima qualidade, ministradas por acadêmicos
dos Cursos de Educação Física e Esporte, sendo supervisionados pelos técnicos
e professores da FEL. A prefeitura tem garantido no orçamento municipal desde
2003, o repasse para atender vários programas esportivos. Entre os
investimentos estão R$ 1,3 milhão para o Projeto Futuro nos últimos quatro anos;
R$ 1,05 milhão nos programas de rendimento da juventude desde 2003 e cerca
de R$ 400 mil para o Torneio Escolar de Esportes da Londrina (Tornescolon),
desde 2000, entre outros investimentos.
O Projeto Futuro atende por ano, mais de 5.500 crianças e adolescentes em 18
modalidades esportivas,sendo que 80 estagiários estão distribuídos em 90 pólos
esportivos em todo o município.
5.1 Identificação
Título do Projeto: Projeto Futuro Instituição Responsável: Fundação de Esportes de Londrina Apoio: Prefeitura do Município de Londrina Coordenação: Diretoria Técnica Financiamento: Fundo Especial de Incentivo a Projetos Esportivos O Projeto Futuro foi criado em 1985, como afirmação de um trabalho
voltado para o desenvolvimento social do município de Londrina. Pautado nos
princípios norteadores da área da Educação, prioritariamente nas crianças e
adolescentes que se encontra em situações de risco. Estatisticamente, o Brasil é um
país que possui milhões de pessoas em estado de pobreza absoluta, meninos e
meninas perambulando pelas ruas, abandonados pelas famílias, jogados à sorte do
ócio.
A Fundação de Esportes de Londrina, com o compromisso de
contribuir para a construção de uma comunidade preocupada com aspectos sociais,
econômicos e políticos, encontrou na implantação do Projeto Futuro, uma
oportunidade de oferecer atividades esportivas e de lazer à população carente de
Londrina.A execução do referido projeto contou com uma proposta de extensão,
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caracterizando uma intervenção na prática espontânea de atividades físicas e
intelectuais, oportunizando crianças e adolescentes a praticarem esporte em
horários inversos à escola (contra turno), evitando a ociosidade, condição relevante
na situação de risco em que alguns se encontram.
Londrina vem buscando viabilizar uma política em esporte, recreação
e lazer, através do governo público. Nesse sentido, foram estabelecidas duas
vertentes principais a serem alcançadas com o Projeto Futuro: A primeira vertente
enfatiza o “Desporto de Base” (iniciação desportiva), com um programa permanente
que proporciona uma prática formativa e diária, de esporte. A segunda vertente atua
no “Desporto Recreativo e Atividades de Lazer”, por meio da organização de eventos
esportivos e lúdicos, para todos os segmentos sociais, tendo como pano de fundo
um cenário político educacional. O ser humano sente necessidade constante de
atividades motoras. A Educação Física, inserida em uma Política Educacional, deve
ser aplicada de forma contínua e não somente voltada à prática pela prática, mas a
uma política que atenda as diferentes classes sociais. Os objetivos do Projeto Futuro
são de auxiliar por meio da prática esportiva, na formação de cidadãos conscientes,
críticos, sabedores de seus direitos e deveres, oportunizando assim às crianças e
jovens, a melhoria do bem estar físico, mental e social. Auxiliam também, os
acadêmicos dos cursos de Educação Física e Ciência do Esporte da Universidade
Estadual de Londrina, Universidade Norte do Paraná e Instituto Filadélfia de
Londrina, promovendo a conciliação da teoria com a prática.
5.2 Justificativa de existência do Projeto Futuro: o discurso oficial.
O presente projeto tem como finalidade ressaltar dentre alternativas,
a necessidade de investimentos nas atividades esportivas, produzindo assim,
reações afetivo-sociais para a vida do ser humano, contribuindo com a sociedade a
curto, médio e longo prazo. Esta iniciativa de inquestionável valor social vem ao
encontro do trabalho desenvolvido pela Fundação de Esportes, cujo objetivo é
buscar um relacionamento mais próximo com a comunidade, desenvolvendo ações e
intervenções pedagógicas que possibilitem o desenvolvimento da criança e do
adolescente.Na tentativa de minimizar os efeitos da sociedade que exclui uma
grande parcela da população infanto-juvenil brasileira, o projeto propõe na
perspectiva de consolidar uma parceria com a comunidade, a construção coletiva de
24
uma trajetória de vida. O esporte educativo deve construir seus princípios rumo à
contribuição da formação da cidadania, indo além do desenvolvimento de funções
utilitaristas. Esta proposta segue nessa expectativa, objetivando relações educativas.
A partir da visão educacional do esporte, entendendo-o como atividade de produção
humana, como patrimônio cultural que deve ser apropriado por meio de ato
educativo, opondo-se a concepção mercantilista do esporte moderno, consolida-se
possibilidades de formação e desenvolvimento social, afetivo e cognitivo. O esporte
educativo proporciona socialização e ascensão pessoal, promovendo a saúde, a
auto-estima, auto-conhecimento e auto-superação, facilitando a compreensão e
inserção no mundo.
5.3 Princípio de gestão
O Projeto Futuro terá como gestores todas as pessoas e órgãos envolvidos
no processo: coordenadores, supervisores, estagiários, crianças e adolescentes,
Prefeitura Municipal de Londrina, Fundação de Esportes, escolas, comunidades e
famílias, enfim, todos que poderão contribuir para programação e realização das
atividades.Uma das preocupações do projeto é fortalecer a relação entre escola,
família e esporte, no sentido de encontrar um melhor caminho a ser seguido. O
Projeto Futuro terá início no mês de março de 2009 e seu encerramento será no dia
30 de novembro de 2009.
5.4 Objetivos do Projeto Futuro
5.4.1 Objetivos Gerais
• Intensificar ações através da prática do esporte;
• Desenvolver ações multidisciplinares, buscando respostas às necessidades
concretas, através de atividades que despertem no indivíduo, o exercício de
suas competências;
• Mudar o enfoque de esporte competição para esporte educação, visando a
integração das ações;
25
• Implantar um programa voltado à iniciação esportiva nos bairros e distritos do
município, proporcionando condições de aprendizado e aprimoramento da
prática esportiva, despertando na criança e adolescente o gosto pelo esporte.
5.4.2 Objetivos Específicos
• Atender o maior número de crianças e jovens, eventualmente em situação de
risco, das cinco regiões e distritos de Londrina, proporcionando atividades
esportivas, recreativas, lúdicas e outras;
• Proporcionar ações educativas a crianças e adolescentes, visando o exercício
pleno de suas competências cognitivo-pessoais, sociais e produtivas;
• Auxiliar no processo de escolarização dos participantes, despertando
motivação para a aprendizagem.
6. População alvo
6.1 Caracterização:
A população alvo foi composta de crianças e adolescentes das cinco
regiões e distritos de Londrina, na faixa etária de 07 a 17 anos, dos sexos masculino
e feminino.
6.2 Divulgação:
A divulgação foi realizada nas escolas e bairros, através de
reuniões, colocação de cartazes e distribuição de folders, como também por
intermédio da imprensa falada, escrita e televisionada.
6.3 Núcleos de atendimento:
26
• Locais de atendimento: quadras públicas, campos públicos, escolas
municipais e estaduais, paróquias, associações comunitárias, clubes
esportivos, centros esportivos, outros;
• Regiões: norte, sul, leste, oeste, central e distritos de Londrina;
• Número de pólos: 90;
• Número de estagiários: 80;
• Previsão de crianças e adolescentes a serem atendidos mensalmente: 6000.
6.4 Coordenação
6.4.1.Diretoria Técnica/Coordenação Administrativa/Pedagógica
Competências/atribuições:
• Apoiar e incentivar o desenvolvimento do esporte em geral;
• Elaborar e organizar documentos pertinentes ao projeto;
• Baixar atos que versem sobre os assuntos de interesse do projeto;
• Estabelecer parcerias;
• Divulgar o projeto;
• Definir locais de abertura de pólos;
• Definir equipe de coordenação e supervisão local;
• Selecionar e contratar estagiários;
• Promover capacitação para os estagiários;
• Supervisionar as atividades desenvolvidas;
• Documentar e analisar os resultados das ações;
• Acompanhar a freqüência dos estagiários;
• Organizar e dirigir reuniões administrativas;
• Organizar eventos esportivos como: festivais, torneios e outros;
• Elaborar relatórios;
• Proceder e realizar prestações de contas;
• Controlar a distribuição de materiais esportivos;
• Zelar pelos materiais e equipamentos.
7. Modalidades esportivas oferecidas
27
• BASQUETEBOL M/F
• BEISEBOL M/F
• CICLISMO M/F
• FUTEBOL M/F
• FUTSAL M/F
• VOLEIBOL M/F
• HANDEBOL M/F
• GINÁSTICA ARTÍSTICA M/F
• GINÁSTICA RÍTMICA F
• JUDÔ M/F
• TAEKWONDO M/F
• NATAÇÃO M/F
• KARATÊ M/F
• ATLETISMO M/F
• RECREAÇÃO M/F
• TENIS DE CAMPO M/F
• XADREZ M/F
8. Custos operacionais
Para a viabilização do projeto foi necessário a aplicação de
R$ 390.000,00 em recursos como: Material de consumo:
Esportivo/Divulgação/Escritório, Recursos Humanos e Transporte/Festivais.
(PROJETO FUTURO, 2009)
9. RESULTADOS
9.1 Esporte : mecanismo facilitador da interação social
No momento em que os alunos foram questionados sobre o que eles
aprendem no projeto, dentre as respostas estavam :
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“Ai companheirismo toque essas coisas assim” (R.,9 anos).
“Muitas coisas se divertir brinca conhecer novos amigos” (T.,11anos).
“A aprendo tudo que se chingá é dois minuto sentado no banco... “(L.,10 anos).
Em relação ao que mudou responderam :
“: Muita coisa comecei a: participar das aulas do CEPAS comecei a brinca com todo
mundo que ás vezes eu não brincava com quase todo mundo” (T.,11 anos).
“Ah arrumei novos amigos fiquei feliz “(J.,10 anos).
Segundo Weinberg e Gould (2001), as crianças apreciam o esporte
devido às oportunidades que o mesmo proporciona de estar com os amigos e fazer
novas amizades. Para Tubino (2005), as atividades físicas e principalmente
esportivas constituem-se num dos melhores meios de convivência humana.
Para compreender essa interação social influenciada pela prática esportiva é
importante destacar alguns tipos de aprendizagem, a Inatista, a Ambientalista e a
Sócio-interacionista.
De acordo com Rego (1996, p.86),
Na abordagem Inatista (também conhecida como apriorista ou nativista), inspirada nas premissas da filosofia racionalista e idealista, se baseia na crença de que as capacidades básicas de cada ser humano (personalidade, potencial, valores, comportamentos, formas de pensar e conhecer) são inatas, ou seja, já se encontram praticamente prontas no momento do nascimento ou potencialmente determinadas e na dependência do amadurecimento para se manifestar. Enfatiza assim os fatores maturacionais e hereditários como definidores de constituição do ser humano e do processo de conhecimento. Exclui, conseqüentemente, as interações sócio-culturais na formação das estruturas comportamentais e cognitivas da criança.
Entende-se que não existe influência do meio em que se relaciona,
mas que o indíviduo vai se desenvolvendo no tempo certo em que suas capacidades
vão surgindo. O meio muito pouco altera os traços comportamentais ou cognitivos.
Diferentemente, a concepção Ambientalista segundo Rego (1996, p.88):
29
É baseada na filosofia empirista e positivista, atribui exclusivamente ao ambiente a constituição das características humanas e privilegia a experiência como fonte de conhecimento e de formação de hábitos de comportamento. Assim as características individuais são determinadas por fatores externos ao indivíduo.
Nesta concepção o meio tem a responsabilidade do desenvolvimento
do indivíduo,ou seja, o aluno é um ser vazio sendo função do adulto (professor)
transmitir o conhecimento estabelecendo modelo de comportamento para a criança
cabendo a ela a execução.
Ao contrário, na abordagem Sócio-Interacionista, na visão de Rego
(1996,p.93) é
{...} organismo e meio exercem influência recíproca, portanto o biológico e social não estão dissociados. Nesta perspectiva, a premissa é de que o homem constitui-se como tal através de suas interações sociais, portanto, é visto como alguém que transforma e é transformado das relações produzidas em uma determinada cultura. [...] Já que a formação e transformação da sociedade humana ocorre de modo dinâmico, contraditório e através de conflitos, precisa ser compreendida como um processo em constante mudança e desenvolvimento.
Esta abordagem sugere a interação entre professor,aluno e alunos
não existindo separação entre o indivíduo e o meio social.Essa mediação é
imprescindível para o desenvolvimento humano.
Finalizando Rego (1996, p.94) aponta que
As características de cada indivíduo vão sendo formadas a partir da constante interação com o meio, entendido como mundo físico e social, que inclui as dimensões interpessoal e cultural. Neste processo, o indivíduo ao mesmo tempo em que internaliza as formas culturais, as transforma e intervém em seu meio.
Diante do que foi verificado, a mudança de comportamento e o
aprendizado não acontecem somente por desenvolvimento humano interno,mas
30
também a interação da criança com o meio,no caso a participação no projeto,onde o
conhecimento ou valores adquiridos são colocados em prática.Essa transformação é
válida a partir do momento que se torna evidente no cotidiano das crianças,ou seja,
em diferentes ambientes de convivência como escola,casa,amigos.
9.2 A participação esportiva motivando o sonho Quando questionados sobre quais são seus sonhos as crianças responderam :
“Ser jogador de futebol“ (A.,9anos).
“Ser quiném o Ronaldo” (L.,10 anos).
Quanto a essas respostas,percebemos a influência dos heróis
esportivos na vida das crianças.Nos dias atuais os adolescentes assistem aos jogos
de futebol pela televisão e nos estádios, onde presenciam a mídia relatar que o
jogador de determinada equipe está indo embora para o exterior, onde receberão
salários superiores aos do Brasil e com isso os adolescentes começam a pensar
que podem ter seus sonhos realizados através do futebol (SILVA,2009). De acordo
com Viana (2008) o Brasil tornou-se, uma referência mundial em produzir atletas de
futebol de campo e com isso o sonho de qualquer atleta é se tornar um Kaká ou um
Ronaldinho Gaúcho. Segundo Soares (2008) existe dois tipos de motivação que
podem levar o adolescente a querer se tornar um jogador profissional de futebol
sendo elas a motivação intrínseca e extrínseca. A motivação intrínseca é chamada
também de pessoal é aquela força que vem do interior do atleta, ele se sente bem
quando está praticando o futebol o seu corpo gosta de sentir as sensações durante
e após a prática do futebol, sua motivação para alcançar o objetivo de se tornar
jogador profissional de futebol origina-se dele mesmo. Já a motivação extrínseca
vem dos fatores externos, o atleta de futebol adolescente vê na vida dos atletas de
futebol profissional realização profissional onde existe o dinheiro, fama e
reconhecimento profissional, pode-se dizer que é a força gerada pela vontade de
conquistar o reconhecimento externo.
Respondendo a mesma questão,duas meninas disseram ter o mesmo sonho que os
meninos :
31
“Ser jogadora de futebol” (T.,11 anos).
“Ai...um dia jogar profissionalmente” (R.,11 anos).
Segundo Singer (1977), antigamente, esperava-se que as meninas
evitassem um desenvolvimento ativo nos esportes. Com a introdução do esporte
como conteúdo curricular da Educação Física Escolar no Brasil, segundo Sousa &
Altmann (1999), a partir dos anos 30, a mulher manteve-se perdedora porque era
considerada culturalmente como um corpo frágil diante do homem, porém, era
considerada vencedora nas danças e nas artes. O corpo da mulher estava dotado
de docilidade, fragilidade e sentimento, qualidades essas negadas ao homem. Aos
homens era permitido jogar futebol, basquete e judô, esportes que exigiam maior
esforço, confronto corporal e movimentos violentos; as mulheres eram permitidas a
ginástica rítmica e o voleibol, que lhes garantia a suavidade de movimentos e o não
contato com outros corpos. O homem que praticasse esses esportes correria o risco,
de ser visto pela sociedade como efeminado. Entretanto, o futebol, esporte mais
violento, tornaria o homem viril e, se fosse praticado pela mulher poderia
masculinizá-la. Se no passado apenas meninos jogavam bola, hoje meninas já
freqüentam esses campos não mais apenas como espectadoras, mas buscando aos
poucos romper com as hierarquias de gênero (Sousa & Altmann , 1999).
Para Pimenta (2008) os adolescentes que praticam o futebol, quando
assistem na televisão reportagens que mostram as belas casas, apartamentos,
carros luxuosos pertencentes aos atletas profissionais de futebol nem imaginam que
existe uma realidade totalmente diferente para alguns atletas, onde esses atletas
vivem no anonimato, levando uma vida nômade, onde os contratos de trabalho são
de baixos salários, uma realidade que a maioria dos atletas enfrentam no futebol
profissional. Os adolescentes atraídos pela força da possibilidade, de terem seus
sonhos, suas identificações, suas expectativas de futuro realizado escolhem o
futebol como válvula de escape. A magia do futebol, potencializado pelos
mecanismos da sedução midiática, pode prorrogar o entendimento das dificuldades
presentes na busca da realização do sonho do iniciante/iniciado, tudo em face do
distanciamento que promove da realidade social.Portanto, na atualidade, não dá
para conceber a equação futebol/sonho sem a contribuição imaginária produzida
pela mídia, representada por um conjunto de idéias, códigos e valores que
32
extrapolam o mundo do futebol e se afeiçoam às tendências tecnológicas e
informacionais em evidência (PIMENTA,2008).
9.3 O ensino da técnica aliado ao processo educativo No momento em que os alunos foram questionados sobre o que aprendem no
projeto obtivemos as seguintes respostas :
“Jogar futebol um monte de coisa... aprender a dominar aprender a lançar essas
coisa” (A.,9 anos).
“Ah aprendo a joga futebol aprendo a toca dominá passá” (J.,10 anos).
“Jogar bola... aprender as coisa dá drible um monte de coisa” (J.,10 anos).
Em seguida, foi perguntado ao aluno o que melhorou em sua vida desde que
começou a participar do projeto
“Ahh mudou um monte de coisa em casa tamém no projeto que eu sempre
bagunçava eu o pé de queijo ((apelido do amigo)) um monte de gente daí agora eu
num to mais bagunçano” (A.,9 anos).
“Não pode desobedecer tem que fazer as coisa certa” (M.,10 anos).
Machado e Presoto (2001) defendem que a iniciação esportiva, deve
ser abordada como aprendizagem e desenvolvimento motor, com táticas e regras
básicas e sem muita exigência técnica, física ou tática, tendo como objetivo cooperar
para a formação integral do aluno (físico, cognitivo e afetivo-social).
Ao analisar este discurso, nota-se que ao aprender a técnica da
modalidade os alunos também apresentam mudança comportamental. Ampliando
essa visão descobre-se o outro lado do esporte, de aceitar que ele também pode
tornar-se um excelente meio que, através de uma abordagem educativa, possa
contribuir para a formação integral e crítica do ser humano indo muito além da
fundamentação técnico e tática priorizando outros aspectos como cooperação,
participação, solidariedade, criatividade dos alunos que devem ser sujeitos desse
processo educativo, e não como meros reprodutores dessa ou àquela modalidade
esportiva. Segundo Bento (1991),
33
10. CONCLUSÃO
Durante o período de execução do presente trabalho, eu obtive experiências que
mudaram a minha perspectiva de atuação. Iniciei a graduação com a intenção de
trabalhar em academia, mas o período de estágio em contato com crianças de risco
social me chamaram a atenção. Percebi que por trás de comportamentos rebeldes
se escondiam almas tristes, amarguradas, violentadas e sem afeto necessitando de
alguém que apostasse nelas, que mostrasse uma nova perspectiva de vida, onde
poderiam mudar a sua história. Desde então notei que eu poderia fazer algo, que em
minhas mãos estava uma ferramenta valiosa, o esporte. Sabendo que as crianças
gostavam tanto de praticá-lo, procurei dar importância a ele, não só para momentos
de diversão, mas que adquirissem valores, atitudes positivas para o resto de suas
vidas. Hoje, eu ensino modalidades esportivas e também aprendo a amar, a
compartilhar, a respeitar e contribuir com o que tenho de melhor para oferecer. Nos
discursos relatados no trabalho, simples e claros, o sentimento delas em fazer parte
do projeto, e a maneira que isso tem refletido na sua casa, escola e grupo de amigos
torna-se visível É difícil para alguns entender e difícil para descrever, porém é no
contato do dia-a-dia que se percebe a real importância de atentar nossos olhares as
crianças e adolescentes se queremos um mundo melhor,não adianta aumentar
presídios e celas, a intervenção deve começar na base.
34
11. REFERÊNCIAS
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