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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA COLEGIADO DE ENGENHARIA CIVIL FELIPE MENDES GONZÁLEZ TRINCAS E FISSURAS EM REVESTIMENTOS ARGAMASSADOS DE FACHADAS: AVALIAÇÃO DE CAMPO EM EDIFICAÇÕES NA CIDADE DE SALVADOR FEIRA DE SANTANA 2010

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA

COLEGIADO DE ENGENHARIA CIVIL

FELIPE MENDES GONZÁLEZ

TRINCAS E FISSURAS EM REVESTIMENTOS

ARGAMASSADOS DE FACHADAS:

AVALIAÇÃO DE CAMPO EM EDIFICAÇÕES NA CIDADE DE SALVADOR

FEIRA DE SANTANA

2010

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FELIPE MENDES GONZÁLEZ

TRINCAS E FISSURAS EM REVESTIMENTOS

ARGAMASSADOS DE FACHADAS:

AVALIAÇÃO DE CAMPO EM EDIFICAÇÕES NA CIDADE DE SALVADOR

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado a Universidade Estadual de

Feira de Santana como requisito para

obtenção da aprovação da disciplina Projeto

Final II do curso de Engenharia Civil.

Orientador: Prof. Mst. Antônio Freitas da S. Filho

Co-Orientador: Prof Mst. Eduardo A. L. Costa

FEIRA DE SANTANA

2010

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FELIPE MENDES GONZÁLEZ

TRINCAS E FISSURAS EM REVESTIMENTOS

ARGAMASSADOS DE FACHADAS:

AVALIAÇÃO DE CAMPO EM EDIFICAÇÕES NA CIDADE DE SALVADOR

Este trabalho de Conclusão de Curso foi

julgado adequado para aprovação da

disciplina Projeto Final II do curso de

ENGENHARIA CIVIL e aprovado em sua

forma final pelo professor orientador pela

Universidade Estadual de Feira de Santana

Feira de Santana, ____ de _____________ de 2010

BANCA EXAMINADORA:

_______________________________

Antônio Freitas da Silva Filho Mestre em Engenharia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul Orientador

_______________________________

Eduardo Antônio Lima Costa Mestre em Engenhraria pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul Co-orientador _______________________________

Élvio Antonino Guimarães Mestre em Estruturas pela Universidade de Brasília Membro

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Dedico este trabalho aos meus pais,

Venâncio e Tereza, as minhas madrinhas

Vanilde e Denise, a minha companheira e

grande amor, Lorena.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus por ter me dado muita força e dedicação para

conseguir terminar este trabalho.

Aos meus pais Venâncio e Tereza, e irmãos Venâncio Jr. e Patrícia pelo

amor, apoio, força e todo sacrifício prestado por todo este tempo apesar da

distância.

Às minhas madrinhas Vanilde e Denise pelos bons conselhos, carinho e

ensinamentos da vida.

À minha namorada, companheira, amiga e grande amor Lorena por todo

apoio, dedicação, força, carinho e amor que apesar da distância sempre esteve ao

meu lado nas horas boas e ruins.

Ao meu orientador professor Antônio Freitas que me ajudou com a escolha do

tema e nas dificuldades que apareceram.

Ao meu co-orientador professor Eduardo Costa que me acolheu nos últimos

dias da entrega final do trabalho e me ofereceu uma grande ajuda abdicando alguns

de seus sábados para me orientar.

Aos professores Diógenes, Koji Nagahama, Mônica Leite por terem me

ajudado nas vezes que os procurei.

Não posso esquecer os meus amigos-irmãos moradores e freqüentadores da

República dos 7 Engenheiros por toda amizade e companheirismo nestes últimos

cinco anos, onde foram divididos as alegrias, tristezas e estresses.

A todos os grandes amigos que fiz na UEFS que não serão citados para não

cometer injustiças esquecendo o nome de algum.

Aos amigos de Salvador pela força e apoio de sempre.

Aos amigos engenheiros por terem contribuído com muitos ensinamentos.

E, finalmente, a todos aqueles que me ajudaram e incentivaram.

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RESUMO

Os revestimentos argamassados de fachada apresentam funcionalidade

principalmente para as vedações e contribuem para a durabilidade dos edifícios. Os

problemas são representados por manifestações patológicas incidentes nas

edificações. Na verdade são formadores de imagem dos imóveis. As manifestações

patológicas que geralmente aparecem principalmente, as fissuras, causam danos e

influenciam psicologicamente os usuários da edificação. Este trabalho apresenta um

levantamento das principais manifestações patológicas, destacando-se as trincas e

fissuras, observados em edificações na cidade de Salvador. As estruturas das

edificações são em concreto armado e vedações em alvenarias de bloco cerâmico

ou de concreto. O objetivo é levantar dados sobre os problemas, realizar um

diagnóstico quanto às prováveis causas e fornecer medidas corretivas destes danos.

Os dados puderam ser analisados depois que foi feito uma fundamentação teórica

baseada no tema proposto, por meio de registros fotográficos e observações in loco

onde foi possível estabelecer hipóteses diante dos problemas encontrados e

identificados. Com os estudos realizados é possível perceber que essas fissuras são

decorrentes de falhas principalmente nos processos de execução e projeto. A falta

de manutenções nos sistemas estruturais e elementos construtivos também

contribuem para esses defeitos, além da agressividade do meio ambiente a que as

edificações estão expostas.

Palavras-chave: Revestimento de fachada, Argamassa, Trincas, Fissuras

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ABSTRACT

The coatings mortar shell functionality present mainly for the fences and help

the durability of buildings. The problems are represented by pathological

manifestations incidents in buildings. Are actually forming the image of real estate.

The pathological manifestations which usually appear mainly cracks, damage and

influence psychologically users of the building. This paper presents a survey of the

main pathological manifestations, especially at cracks observed in buildings in the

city of Salvador. The structures of the buildings are reinforced concrete and masonry

block fencing ceramic or concrete. The goal is to collect data about the problems,

make a diagnosis as to the probable causes and provide corrective measures such

damage. The data could be analyzed after it was made a theoretical framework

based on the theme proposed by means of photographic records and observations

on the spot where it was possible to establish hypotheses on the problems

encountered and identified. To studies you can see that these fissures are mainly

due to failures in the processes of implementation and design. The lack of

maintenance in structural systems and construction elements also contribute to these

defects, and the aggressiveness of the environment to which these buildings are

exposed.

Key words: Facing Wall, Mortar, Cracks, Fissures

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 14

1.1 JUSTIFICATIVA............................................................................................ 16

1.2 OBJETIVOS ................................................................................................. 18

1.2.1 Objetivo Geral ............................................................................................... 18

1.2.2 Objetivos Específicos ................................................................................... 18

1.3 METODOLOGIA ........................................................................................... 18

1.4 ESTRUTURA MONOGRÁFICA .................................................................... 19

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................... 20

2.1 DEFINIÇÕES SOBRE REVESTIMENTO ARGAMASSADO DE FACHADA .......... 20

2.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA ............................................................................. 21

2.3 FUNÇÕES DO REVESTIMENTO DE ARGAMASSA ................................... 23

2.4 PROPRIEDADES DO REVESTIMENTO DE ARGAMASSA ........................ 24

2.4.1 Propriedades da Argamassa no Estado Fresco ........................................... 24

2.4.2 Propriedades da Argamassa no Estado Endurecido .................................... 29

2.5 DOSAGEM DE ARGAMASSA ...................................................................... 34

2.6 CARACTERÍSTICAS DO REVESTIMENTO DE ARGAMASSA ................... 35

2.6.1 Camadas do Revestimento .......................................................................... 36

2.7 BASES PARA APLICAÇÃO DO REVESTIMENTO ...................................... 39

3 MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS EM REVESTIMENTO

ARGAMASSADO DE FACHADA ................................................................ 41

3.1 PATOLOGIA DAS EDIFICAÇÕES ............................................................... 41

3.1.1 Origem .......................................................................................................... 42

3.1.2 Incidências das Manifestações Patológicas ................................................. 44

3.2 DIAGNÓSTICO DOS DEFEITOS ................................................................. 46

3.3 EFEITOS E CAUSAS EM REVESTIMENTOS ARGAMASSADOS DE

FACHADA .................................................................................................... 48

3.4 DEFINIÇÕES E TIPOS DE TRINCAS E FISSURAS .................................... 50

3.5 TRINCAS E FISSURAS EM REVESTIMENTOS .......................................... 51

3.5.1 Trincas e Fissuras Causadas por Movimentações Térmicas ....................... 51

3.5.2 Trincas e Fissuras Causadas por Movimentações Higroscópicas ................ 54

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3.5.3 Trincas e Fissuras Causadas pela Atuação de Sobrecargas ....................... 56

3.5.4 Trincas e Fissuras Causadas por Deformabilidade Excessiva de Estruturas de Concreto Armado ..................................................................................... 57

3.5.5 Trincas e Fissuras Causadas por Recalques de Fundação ......................... 59

3.5.6 Trincas e Fissuras Causadas pela Retração de Produtos à Base de Cimento ....... 61

3.5.7 Trincas e Fissuras Causadas por Alterações Químicas dos Materiais de Construção ................................................................................................... 64

3.5.8 Trincas e Fissuras Causadas por Hidratação Retardada de Cales .............. 65

3.5.9 Trincas e Fissuras Causadas por Ataque por Sulfatos ................................. 65

4 AVALIAÇÃO DE CAMPO ............................................................................ 67

4.1 CRITÉRIOS NA ESCOLHA DOS ESTUDOS DE CASO .............................. 67

4.2 APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E MEDIDAS CORRETIVAS DOS CASOS .... 69

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 78

5.1 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ............................................ 78

REFERÊNCIAS ............................................................................................ 79

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Fissuras devido às movimentações térmicas ........................................... 53

Figura 2 – Revestimento em argamassa em adiantado processo de degradação,

devido à contínua presença de umidade ................................................................... 55

Figura 3 – Fluxo de água que escorre na fachada devido à falta de pingadeira,

gerando fissuras ........................................................................................................ 56

Figura 4 – Fissuração típica de parede com presença de aberturas devido a um

carregamento uniformemente distribuído .................................................................. 57

Figura 5 – Deformação da viga de apoio maior que a viga superior ......................... 58

Figura 6 – Deformação da viga de apoio menor que a viga superior ........................ 58

Figura 7 – Deformação da viga de apoio igual a superior ......................................... 59

Figura 8 – Fissuras inclinadas devido a interferência da fundação vizinha ............... 60

Figura 9 – Fissuras devido ao recalque provocado pelo tipo e estado do solo ......... 60

Figura 10 – Destacamento provocado pelo abatimento da alvenaria recém-

construída.................................................................................................................. 63

Figura 11 – Fissuras horizontais no revestimento provocadas pela expansão da

argamassa de assentamento .................................................................................... 65

Figura 12 – Fissuras na argamassa de revestimento provenientes do ataque por

sulfatos ...................................................................................................................... 66

Figura 13 – Mapa de Salvador com a área em destaque do bairro dos estudos de

caso ........................................................................................................................... 67

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Figura 14 – Região onde se localizam as edificações – Bairro da Pituba ................. 68

Figura 15 – Fissuras com inclinação a 45° no canto inferior das janelas .................. 69

Figura 16 – Fissuras com inclinação a 45° nos cantos superior e inferior do vão ..... 70

Figura 17 – Fissura com inclinação a 45° ................................................................. 70

Figura 18 – Fissura horizontal na interface da platibanda com a laje da cobertura .. 71

Figura 19 – Fissuras provocadas por dilatações térmicas e movimentações

higroscópicas ............................................................................................................ 72

Figura 20 – Fissuras no vértice inferior da janela, na parede da fachada e na viga.. 74

Figura 21 – Fissura horizontal ocasionada na zona de interface da viga com a

alvenaria .................................................................................................................... 75

Figura 22 – Fissuras horizontais provocadas pela acomodação da alvenaria .......... 76

Figura 23 – Fissuras em mapas em torno das paredes de área molhada ................ 77

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Origem dos problemas patológicos com relação às etapas de produção ........ 42

Gráfico 2 – Origem dos problemas patológicos com relação às etapas de produção ........ 43

Gráfico 3 – Origem dos problemas patológicos com relação às etapas de produção ........ 43

Gráfico 4 – Incidência de manifestações patológicas atendidas pelo CIENTEC/RS .......... 46

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Espessuras admissíveis em revestimentos internos e externos ............. 29

Tabela 2 – Limites da resistência à tração ................................................................ 30

Tabela 3 – Tipos de chapisco e suas composições .................................................. 37

Tabela 4 – Distribuição de percentual de manifestações patológicas mais incidentes

em conjuntos habitacionais de São Paulo ................................................................. 45

Tabela 5 – Incidências de ocorrências patológicas nas construções ........................ 45

Tabela 6 – Manifestações patológicas em revestimentos: causas prováveis ........... 49

Tabela 7 – Classificação das fissuras em alvenarias ................................................ 50

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LISTA DE SIGLAS

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas

IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo

NBR – Norma Brasileira

RILEM – Reunion Internationale des Laboratoires D’essais et de Recherches

sur les Materiaux et lês Constructions

PBQP- H – Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade na Habitação

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14

1 INTRODUÇÃO

O setor da Construção Civil e, particularmente, o subsetor das edificações, está

passando por um processo de evolução, motivada pelo contexto das transformações

econômicas, sociais e políticas que vêm ocorrendo no país, através principalmente

de programas de aceleração de crescimento.

Segundo Costa (2005), as empresas de construção civil estão buscando meios para

melhorarem seu desempenho perante o mercado competitivo e exigente em termos

de qualidade. Diante deste cenário a autora, afirma que algumas empresas buscam

o aprimoramento dos processos de produção aliado a redução de custos e prazos

de execução, sem afetar a qualidade e segurança da obra.

Como destaque é importante ressaltar a importância dos programas de qualidade,

destacando-se o Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade na Habitação

(PBQP-H), implantados nas principais cidades brasileiras.

Entretanto devido à grande velocidade dos acontecimentos na construção civil, é

comum que algumas decisões acabem sendo tomadas de forma empírica afetando

a qualidade do produto. Serviços executados que geram um resultado de baixa

qualidade ainda são marcas de um setor que abriga mão de obra pouco qualificada,

com baixos salários e que não consegue acompanhar a evolução tecnológica.

Não é diferente quanto aos revestimentos empregados na construção das

edificações, e muitas vezes não se dá a devida importância por ser um serviço muito

comum desconsiderando suas técnicas de aplicação e produção.

É usual encontrar espessuras de revestimento acima da recomendada, havendo por

isso um desperdício de material, e consequentemente um aumento do custo deste

revestimento. A falta de respeito ao intervalo mínimo de aplicação entre as camadas,

o uso de cimento inadequado, falta de cuidado na produção de argamassa e no

preparo do substrato são fatores que contribuem para o aparecimento de

manifestações patológicas.

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Porém muitas empresas já têm o pensamento voltado para o desenvolvimento de

projetos de revestimentos com o objetivo se obter um produto com um desempenho

esperado, de boa qualidade e que principalmente, visa diminuir custos e

manifestações patológicas.

Outro aspecto que merece destaque é a preocupação dessas empresas com o

treinamento dos operários e da modernização do setor através de obras planejadas,

enfoque na segurança e sistemas de gestão de qualidade.

Os problemas nos revestimentos provocam uma insatisfação generalizada entre os

usuários, ainda mais se for considerado que, após a conclusão de uma construção,

apenas a camada de revestimento permanece exposta de modo a proporcionar

conforto funcional e estético. Os revestimentos, principalmente das fachadas, são

verdadeiros formadores de imagem do imóvel, sugestionando o que se deve

encontrar em seu interior (JUST; FRANCO apud SEGAT, 2001, p. 17).

Para Maciel e Melhado (1998), o revestimento de argamassa de fachada é uma das

partes integrantes que contribui para a obtenção do adequado desempenho do

edifício como um todo. Porém, ele acredita que esse revestimento é visto na maioria

das vezes como uma forma de esconder imperfeições da base (estrutura e

alvenaria), não sendo valorizadas suas reais funções.

As principais funções do revestimento externo de argamassa são definidas por

Carneiro apud Costa (2005, p. 11) como estanqueidade à água das fachadas,

conforto térmico e acústico do ambiente construído, segurança ao fogo e, por fim,

estética.

Atualmente observa-se que o número de edificações que apresentam problemas nos

revestimentos está cada vez mais freqüente, principalmente o aparecimento de

fissuras. Esse tipo de manifestação patológica geralmente é a que mais chama a

atenção e preocupa os usuários do ponto de vista de conforto, salubridade e

satisfação psicológica. Além do desconforto, reduz a durabilidade do revestimento

permitindo infiltrações nas paredes. Para piorar, origina custos de recuperação das

fachadas.

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16

Bauer apud Costa (2005, p. 24) lista as falhas mais comuns encontradas nos

revestimentos das alvenarias: descolamentos, vesículas, fissuras, eflorescências,

falhas relacionadas à umidade, manchas e bolor, contaminação atmosférica e

contaminação ambiental por substâncias agressivas.

Este trabalho apresenta um estudo sobre manifestações patológicas em

revestimentos argamassados de fachada, destacando-se as trincas e fissuras,

através de uma avaliação de campo fazendo um levantamento em edificações, na

cidade de Salvador mas precisamente no bairro da Pituba.

1.1 JUSTIFICATIVA

Na construção civil, a argamassa, produto originado da mistura de agregado miúdo,

cimento e água, é um dos materiais mais utilizados na execução das edificações,

desempenhando diversas funções sendo preponderante o uso em reboco nas

fachadas dos edifícios. Este fato está atrelado ao baixo custo, fácil execução e a

cultura popular.

O processo de produção de revestimento de argamassa é influenciado por uma

série de ações que, na maioria das vezes, não recebem os cuidados essenciais para

que o produto final obtenha o desempenho esperado. Tais ações iniciam-se nas

atividades de orçamento, solicitação, compra, recebimento e armazenamento dos

materiais e se estendem na produção da argamassa, que envolve transporte,

lançamento e a regularização (MASSETTO et al., REIS e MELHADO apud COSTA,

2005, p. 24)

Segundo Kiss (2003) para o usuário, que visualiza um revestimento com problemas,

é lógico imaginar que os problemas na fachada sinalizam que a obra foi mal

planejada tecnicamente, levando a ocorrência de danos à imagem da empresa

construtora.

Para Duarte apud Segat (2005, p. 17), na maioria das vezes o comprometimento do

desempenho das edificações é evidenciado pela incidência de problemas

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17

patológicos que ocasionam transtornos aos usuários. São falhas que exigem

reparos e que acaba provocando insalubridade dos ambientes, insatisfação

psicológica dos usuários e problema estrutural, e consequentemente influenciando

na durabilidade da edificação.

Os revestimentos de argamassa estão cada vez mais apresentando problemas,

inclusive nas fachadas e paredes de empreendimentos que nem cumpriram o prazo

de garantia (KISS, 2003).

Os usuários cada vez mais se tornam exigentes tendo requerido que o produto

forneça durabilidade, habitabilidade e segurança, ou seja, que cumpra todas as

funções para um desempenho satisfatório.

A partir deste cenário os técnicos projetistas de revestimento, apesar de reduzido

número no Brasil, vêem ganhando espaço dentro da construção civil, onde muitas

empresas já estão contratando projetos específicos de revestimento, buscando a

diminuição das incidências de manifestações patológicas, decorrentes da ausência

dos mesmos.

Segundo Thomaz (1992), as trincas podem começar a surgir de forma congênita, ou

seja, logo no projeto arquitetônico da construção e alerta que os profissionais que

realizam esses projetos devem se conscientizar que muitos problemas podem ser

minimizados, pelo simples fato de reconhecer que as modificações dos materiais e

componentes da edificação são inevitáveis.

Fica evidenciado que muitas, podem ser as causas para o aparecimento de trincas e

fissuras e que cada etapa de produção (projeto, execução, planejamento, escolha de

materiais) deve ser bem analisada visando ter melhoria da qualidade das

edificações.

Devido à grande incidência de manifestações patológicas em revestimentos

argamassados de fachadas, o estudo sobre o tema torna-se importante visto que

muitos profissionais da área técnica de construção civil desconhecem ou minimizam

os problemas que podem vir a acontecer devido a essas características físicas,

químicas e mecanismos diferentes dos materiais. O enfoque do trabalho dado às

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18

trincas e fissuras deu-se por ser um problema com as maiores incidências dentre

muitos estudos realizados, além do fato de causar desconforto aos usuários.

Assim, com o levantamento realizado será possível identificar os diversos fatores

intermitentes, verificar a intensidade dessas manifestações, realizar um provável

diagnóstico e estabelecer medidas corretivas adequadas.

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo Geral

Levantar as manifestações patológicas de fissuras em revestimentos

argamassados de fachadas em edificações na cidade de Salvador.

1.2.2 Objetivos Específicos

Estabelecer as principais causas do aparecimento de fissuras nos

revestimentos das fachadas das edificações e medidas corretivas

adequadas.

Estabelecer pontos positivos para valorização de um projeto de

revestimento argamassado de fachada.

1.3 METODOLOGIA

Fundamentação teórica através de livros, artigos científicos, teses,

dissertações, normas técnicas, periódicos (jornais, revistas, etc.),

internet.

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19

Avaliação de campo através de uma visita técnica a edificações na

cidade de Salvador.

Levantamento fotográfico das fachadas que apresentam fissuras e

observações in loco.

1.4 ESTRUTURA MONOGRÁFICA

Esta monografia está estruturada em cinco capítulos. O Capítulo 1 apresenta a

introdução sobre tema, a justificativa do trabalho, os objetivos pretendidos, a

metodologia a ser utilizada e a estrutura monográfica.

O Capítulo 2 expõe uma fundamentação teórica dos assuntos relacionados ao

revestimento de fachadas de argamassa. São abordados os componentes que estão

diretamente ligados a este sistema e aspectos de projeto que viabilizam a execução

de revestimentos que satisfaça o usuário tecnicamente, esteticamente e

funcionalmente.

No Capítulo 3 é apresentado um estudo sobre manifestações patológicas,

especificamente, fissuras, mostrando suas diversas formas, tipologias e prováveis

causas.

O Capítulo 4 traz o levantamento de manifestações patológicas de fissuras em

edificações na cidade de Salvador através de um cadastro fotográfico das mesmas,

apontando prováveis diagnósticos e medidas corretivas adequadas.

E finalmente o Capítulo 5 apresenta as considerações finais do trabalho

monográfico.

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20

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Este capítulo trata dos sistemas de revestimentos argamassados de fachada. São

apresentadas algumas definições, funções e principais propriedades das

argamassas, e características dos revestimentos argamassados.

2.1 DEFINIÇÕES SOBRE REVESTIMENTO ARGAMASSADO DE FACHADA

A NBR 13281 (ABNT, 2001) define argamassa como mistura homogênea de

agregado (s) miúdo (s), aglomerante (s) inorgânico (s) e água, que pode conter ou

não adições ou aditivos, possuindo propriedades de aderência e endurecimento,

podendo ser dosada em obra ou industrializada.

De acordo com a NBR 13529 (ABNT, 1995) revestimentos de argamassa são

definidos como o cobrimento de uma superfície com uma ou mais camadas

superpostas de argamassa, apta a receber revestimento decorativo ou constituir-se

em um acabamento final.

Conforme a NBR 13530 (ABNT, 1995) os revestimentos de argamassa podem ser

constituídos por chapisco e emboço, como revestimento de massa única, ou por

chapisco, emboço e reboco, cita a NBR 13749 (ABNT 1996).

A NBR 13529 (ABNT, 1995) explica que o revestimento externo é produzido com a

argamassa indicada para revestir fachadas, muros e outros elementos da edificação

em contato com o meio externo. Esta monografia limitar-se-á ao sistema de

revestimento argamassado de fachada, porém não serão tratados assuntos

pertinentes a acabamento decorativo.

Um sistema de revestimento é definido pela NBR 13749 (ABNT, 1995) como um

“conjunto formado por revestimento de argamassa e acabamento decorativo,

compatível com a natureza da base, condições de exposição, acabamento final e

desempenho, previstos em projeto.”

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21

De acordo com Costa (2005), sistema de revestimento de argamassa é um conjunto

de técnicas para a produção de revestimentos de argamassa que resulta numa

combinação lógica e coordenada de especificações de materiais e de procedimentos

e métodos de execução que conduzam ao desempenho desejado. Este sistema

indica o número de camadas do revestimento, as espessuras das camadas, o tipo

de argamassa, as especificações dos traços e dos materiais, a técnica de execução

e o tipo de acabamento superficial (liso, texturado ou decorativo).

2.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA

Com o objetivo de reforçar suas construções, o homem desde cedo fez uso da

argamassa para revestimento das superfícies. Porém, o uso das argamassas pelas

civilizações não tem uma evolução cronológica bem definida, pois a História da

Arquitetura visava enfatizar muito mais a forma das edificações do que as

tecnologias executivas empregadas (TERRA, 2001).

Selmo apud Terra (2001, p. 27) lista relatos históricos de Boltshauser onde fornece

algumas indicações sobre o uso de revestimentos utilizados pelas civilizações

antigas.

Na Grécia, no período micênio (por volta de 2000 a.C.), a argila crua foi empregada

em construções de taipa ou pau-a-pique, envolvendo as estruturas resistentes.

Técnica idêntica foi utilizada pela arquitetura romana etrusca (séculos VIII ao VI

a.C.).

Nas construções egípcias modestas, de 1600 a 1100 a.C., a argila em pasta era

usada envolvendo a armação estrutural das casas, feitas de caules de plantas ou de

tronco de palmeiras.

A argila cozida (terracota), em placas molduradas e com baixos relevos, foi também

empregada na arquitetura grega, para revestir os paramentos de pedra das

fachadas, presumindo-se que tal técnica tinha a finalidade de facilitar o trabalho de

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acabamento da argila, ao passo que seria difícil executá-lo na pedra, levando em

conta as ferramentas e equipamentos que dispunham.

Quanto às argamassas, os gregos e romanos preparavam misturas de cal, areia e

água, ou adicionavam gesso para obtenção do estuque, em alguns casos

acrescentavam-se também pó de mármore.

Nos paramentos pétreos dos gregos, mesmo em mármore, as superfícies eram

recobertas com uma película de estuque, visando ocultar imperfeições da pedra, ou

para receber pintura que proporcionasse aos elementos arquitetônicos um aspecto

mais vivo.

Os romanos fizeram uso amplo das argamassas, tanto no assentamento das

alvenarias, como nos revestimentos de seus edifícios. Eles utilizavam estuque como

acabamento em alto relevo, fornecendo uma base para pintura.

As argamassas de cal, as misturas de gesso e cal, os resíduos de pó de mármore

ou pozolana, possivelmente constituíram os primeiros revestimentos dos

paramentos verticais das construções, conclui Terra (2001).

As alvenarias e os revestimentos argamassados são tecnologias construtivas que,

na sua essência, remontam seu uso desde a Idade Média. Inicialmente, as

alvenarias eram utilizadas como vedação e elemento estrutural, sendo constituídas

por blocos cerâmicos e revestidos por argamassa proveniente da mistura de cal e

areia. Com a invenção do cimento Portland as argamassas passaram a ter sua

resistência aumentada e uma maior aderência às bases onde eram aplicadas já nas

primeiras idades (CEOTTO et al., 2005).

A partir do surgimento do concreto armado, que é caracterizado pela alta resistência

do concreto a esforços de compressão e pelo excelente comportamento do aço à

tração, e devido às mudanças das técnicas construtivas, a alvenaria deixou de

exercer a função estrutural, passando a ser utilizado apenas como vedação

(SPRINGER JUNIOR, 2008).

Para Ceotto et al. (2005) desde então apareceram as manifestações patológicas,

como fissuras e destacamento de argamassas. Inicialmente, as cargas atuantes

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eram uniformemente distribuídas nas paredes e com o surgimento das estruturas em

concreto armado passaram a ser transferidas para as vigas. As vigas conduziam os

esforços aos pilares, ou seja, as cargas eram desviadas horizontalmente para locais

onde eram concentradas, que passavam a ser chamados de pilares. A transferência

dessas cargas provoca deslocamentos verticais que são chamados de flechas. As

paredes até então usadas com finalidade estrutural, onde as cargas agiam

uniformemente comprimindo-as passavam então a sofrer outros tipos de tensões

provocadas pelas vigas.

Conforme Ceotto et. al. (2005), as tensões de compressão deixaram de ser

preponderantes e as de tração e cisalhamento passaram a predominar. Como as

alvenarias têm grande capacidade de resistência à compressão e pouca capacidade

à tração e ao cisalhamento, instalou-se o potencial para manifestações patológicas.

2.3 FUNÇÕES DO REVESTIMENTO DE ARGAMASSA

O uso das argamassas nos revestimentos e assentamentos de alvenarias não é

recente. O homem durante muito tempo buscava encontrar um material ligante para

unir rochas e madeiras, o qual utilizava para cumprir suas construções rústicas. A

solução foi encontrada e as misturas de sucesso para a junção de blocos de

alvenaria foram nomeadas de argamassa (GUIMARÃES apud COSTA, 2005, p.31).

Baía e Sabbatini (2008) apresentam as funções do revestimento de argamassa:

proteger os elementos de vedação dos edifícios da ação direta dos

agentes agressivos;

auxiliar as vedações no cumprimento das suas funções, como por

exemplo, o isolamento termoacústico e a estanqueidade à água e aos

gases;

regularizar a superfície dos elementos de vedação, servindo de base

regular e adequada ao recebimento de outros revestimentos ou constituir-

se no acabamento final;

contribuir para a estética da fachada;

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Costa (2005) ainda acrescenta a estabilidade mecânica e dimensional (resistência à

tração, compressão, impacto e abrasão) e resistência ao fogo.

O revestimento de argamassa não tem a função de corrigir imperfeições da base,

que muitas vezes apresentam-se desaprumadas e/ou desalinhadas devido à falha

no processo executivo, além de falta de controle do serviço. Não se deve “esconder

na massa” estas imperfeições, o que acaba comprometendo o cumprimento

adequado das reais funções do revestimento (BAÍA e SABBATINI, 2008).

O sistema de revestimento pode ser entendido como um conjunto de subsistemas.

Normalmente, os sistemas de revestimento atuam em suas funções e propriedades

em conjunto com o substrato. Desta forma, quando se faz referência à aderência,

não se fala somente da aderência da argamassa e sim da aderência

argamassa/substrato (SPRINGER JUNIOR, 2008).

As funções atribuídas à utilização dos sistemas de revestimento variam muito de

edifício para edifício, dependendo em grande parte da concepção da edificação,

fachadas, paredes e sistema de revestimento (SPRINGER JUNIOR, 2008).

2.4 PROPRIEDADES DO REVESTIMENTO DE ARGAMASSA

O desempenho dos revestimentos de fachada de argamassa depende das

propriedades específicas do material no estado fresco e no estado endurecido. O

entendimento dessas propriedades e dos fatores que influenciam a sua obtenção

permite avaliar o comportamento do revestimento nas diferentes situações de uso.

2.4.1 Propriedades da Argamassa no Estado Fresco

É de extrema importância o conhecimento do comportamento da argamassa no

estado plástico, para que se possa analisar e corrigir as deficiências geradas nessa

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fase e evitar prejuízos no produto final como qualidade e durabilidade (GOMES,

2005).

Gomes (2005) menciona que o desempenho das argamassas no estado fresco está

diretamente ligado aos materiais empregados, ao traço, à mistura, ao tipo de

transporte, à espessura das camadas e até a forma de aplicação.

A seguir são apresentadas as principais propriedades da argamassa para

revestimento de fachada no estado fresco.

a) Trabalhabilidade

Para Baía e Sabbatini (2008) a trabalhabilidade é uma propriedade de avaliação

qualitativa. De acordo com esses autores, uma argamassa é considerável

trabalhável quando:

deixa penetrar facilmente a colher de pedreiro, sem ser fluida;

mantém-se coesa ao ser transportada, mas não adere à colher ao ser

lançada;

distribui-se facilmente e preenche todas as reentrâncias de base;

não endurece rapidamente quando aplicada.

Esta propriedade caracteriza a facilidade do pedreiro em trabalhar com a

argamassa. Quanto mais trabalhável o material maior é a sua produtividade,

portanto é necessário que haja um controle do traço para que não prejudique a

qualidade final do produto.

b) Consistência e Plasticidade

A RILEM apud Silva (2007, p. 41) define consistência como a propriedade da

argamassa pela qual esta tende a resistir à deformação, ou seja, a maior ou menor

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facilidade da argamassa deformar-se sob a ação das cargas. Já a plasticidade, é a

propriedade pela qual a argamassa tende a reter a deformação, após a redução do

esforço de deformação.

Segundo Baía e Sabbatini (2008) a consistência é a propriedade da argamassa

relacionada à trabalhabilidade. Alguns aspectos interferem nessa propriedade, como

as características dos materiais constituintes da argamassa e o seu

proporcionamento.

A consistência é a propriedade da argamassa relacionada à trabalhabilidade, que

pode ser definida através de um índice. A NBR 13276 (ABNT, 2005) estabelece o

método para a determinação do índice de consistência da argamassa.

c) Massa específica e teor de ar incorporado

A massa específica refere-se à relação massa (T, kg, g) do material e seu volume

(em m³, cm³, l). Pode ser dividida em absoluta (não se considera os vazios

existentes) e relativa ou unitária (consideram-se os vazios presentes). Esta última

tem muita importância na conversão do traço em volume para o traço em massa

(BAÍA E SABBATINI, 2008).

O teor de ar é a quantidade de ar existente em um dado volume de argamassa.

A massa unitária e o teor de ar estão diretamente ligados e interferem na

trabalhabilidade da argamassa. Quanto menor a massa específica maior é o teor de

ar e resulta numa melhora da trabalhabilidade. Para aumentar o teor de ar da

argamassa pode-se fazer uso de aditivos incorporadores de ar. Este tipo de adição

deve ser de forma cautelosa visto que o excesso de incorporador de ar pode

prejudicar a resistência mecânica a compressão e a aderência da argamassa (BAÍA

e SABBATINI, 2008).

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d) Retenção de água

Segundo Gomes (2005), a quantidade de água para dar trabalhabilidade à

argamassa é maior do que a quantidade para produzir as condições de

endurecimento. Dessa forma a água em excesso pode ser perdida superficialmente

por evaporação ou na base de aplicação, devido ao gradiente hidráulico proveniente

da diferença de sucção, produzindo porosidade na massa.

Esse mecanismo de transporte da água afeta diversas propriedades tais como

resistência, capilaridade, permeabilidade e aderência da argamassa à base, o que

provoca mudanças significativas não só na aplicação do material à base, mas no

resultado final do revestimento na medida em que as reações de hidratação do

cimento e carbonatação da cal ficam comprometidas. (GOMES, 2005).

A retenção de água permite que as reações de endurecimento da argamassa se

tornem mais gradativas, promovendo hidratação adequada do cimento e

consequente ganho de resistência. Assim como na trabalhabilidade, fatores como

características e dosagem de materiais constituintes da argamassa influenciam na

capacidade de retenção de água. A presença da cal e de aditivos pode melhorar

essa propriedade (BAÍA e SABBATINI, 2008).

e) Aderência inicial

Após lançar a argamassa fresca sobre a alvenaria que se pretende revestir, espera-

se que ela fique aderida à base, sem se desprender. Esta aderência inicial irá refletir

no desempenho da ligação que se dá entre a base e o revestimento, quando a

argamassa estiver endurecida (GOMES, 2005).

A aderência inicial depende de algumas características como trabalhabilidade da

argamassa, porosidade ou rugosidade da base ou de tratamento prévio que

aumente a superfície de contato entre os materiais, como limpeza da superfície

(SABBATINI apud GOMES, 2005).

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Esta propriedade acontece devido ao fenômeno mecânico que ocorre em superfícies

porosas, pela ancoragem da argamassa na base, onde há a entrada da pasta nos

poros, reentrâncias e saliências, seguido do endurecimento da mesma. A

argamassa deve ser comprimida após sua aplicação, promovendo assim um maior

contato com a base (BAÍA e SABBATINI, 2008).

O ato de chapa a massa na parede torna-se muito importante para a aderência

inicial.

f) Retração na secagem

Fenômeno que ocorre devido à evaporação da água de amassamento da

argamassa e, também pelas reações de hidratação e carbonatação dos

aglomerantes, podendo gerar fissuras no revestimento. Essas fissuras podem se

tornar prejudiciais ao revestimento pois permitem a percolação de água, já no estado

endurecido, comprometendo toda a estanqueidade à água (BAÍA e SABBATINI,

2008).

De acordo com Baía e Sabbatini (2008) os fatores que influenciam essa propriedade

podem ser decorrentes das características e dosagem da argamassa, da espessura

e o intervalo de aplicação das camadas, do respeito ao tempo de sarrafeamento e

desempeno.

Segundo Baía e Sabbatini (2008) as argamassas fortes, ou seja, altos teores de

cimento estão mais sujeitas às tensões causadoras do aparecimento de fissuras

prejudiciais durante a secagem, além de trincas e possíveis descolamentos da

argamassa, já no estado endurecido.

Quanto à espessura das camadas de argamassa, recomenda-se que estas não

devem ser superiores a 25 mm. Caso contrário, estão sujeitas a retração na

secagem podendo aparecer fissuras. O tempo de sarrafeamento e desempeno

significam o tempo necessário para que a argamassa perca parte da água de

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amassamento e chegue a uma umidade adequada para poder iniciar o acabamento

superficial do revestimento (BAÍA e SABBATINI, 2008).

A Tabela 1 indica a espessura dos revestimentos externos e internos, de acordo

com a NBR 13749 (ABNT, 1996):

Tabela 1 – Espessuras admissíveis em revestimentos internos e externos

REVESTIMENTO ESPESSURA

Parede interna 5 ≤ e ≤ 20

Parede externa 20 ≤ e ≤ 30

Tetos interno e externo e ≤ 20

(Fonte: NBR 13749 - ABNT, 1996)

Segundo a NBR 13749 (ABNT, 1996), no caso da necessidade de empregar um

revestimento com espessura superior são necessários alguns cuidados de forma a

garantir a aderência do revestimento. Esses cuidados referem-se ao tempo de

aplicação que essas espessuras são empregadas.

2.4.2 Propriedades da Argamassa no Estado Endurecido

O aumento da consistência da argamassa é dado pelas reações de hidratação do

cimento e pela perda de água por evaporação, estando assim a argamassa no

estado semi-sólido. Esse período é chamado de tempo de pega após o qual a

argamassa passa ao estado sólido tendo sua resistência aumentada (GOMES,

2005).

a) Aderência

Baía e Sabbatini (2008) definem como a propriedade de manter-se fixo ao substrato,

através da resistência às tensões normais e tangenciais que surgem na interface

base-revestimento.

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Segundo Baía e Sabbatini (2008) a aderência depende:

das propriedades da argamassa no estado fresco;

dos procedimentos de execução do revestimento;

da natureza e características da base;

da limpeza superficial.

De acordo com a NBR 13749 (ABNT, 1996), o limite de resistência de aderência à

tração (Ra) para o revestimento de argamassa (emboço e massa única) varia de

acordo com o local de aplicação e de acabamento, conforme aTabela 2

Tabela 2 – Limites da resistência à tração

Local Acabamento Ra (Mpa)

Parede

Interna Pintura ou base para reboco ≥ 0,20

Cerâmica ou laminado ≥ 0,30

Externa Pintura ou base para reboco ≥ 0,30

Cerâmica ≥ 0,30

Teto - ≥ 0,20

(Fonte: NBR 13749 - ABNT, 1996)

b) Capacidade de absorver deformações

Cincotto apud Silva (2007, p. 43) define módulo de deformação como a capacidade

das argamassas de dissiparem as tensões a que estão submetidas.

“É a propriedade do revestimento de suportar tensões sem romper, sem apresentar

fissuras prejudiciais e sem perder a aderência.” (BAÍA e SABBATINI, 2008, p.22).

O aparecimento de fissuras não prejudiciais ocorre devido à elasticidade presente

nas argamassas de revestimento quando elas se encontram na fase de pega onde

ainda são passíveis de deformações plásticas. Porém as microfissuras geradas na

fase de pega aumentam em conseqüência da perda de água da argamassa

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afetando a aderência à base e a estanqueidade a água (SABATTINI apud GOMES,

2005).

Os estudos de Gomes (2005) retratam que argamassas ricas em cimento produzem

revestimentos extremamente rígidos, sendo bastante vulneráveis à fissuração.

Muitos trabalhadores da construção civil (mestres de obra) na intenção de fabricar

uma argamassa impermeável aumentam o teor de cimento adotando um traço de

1:6 em volume. O autor salienta que o alto teor de cimento ocasiona um

revestimento sem a necessária elasticidade, gerando um acúmulo de tensões

decorrentes das deformações da base podendo aparecer fissuras.

O revestimento tem a responsabilidade de absorver as deformações de pequena

amplitude ocasionadas da ação da umidade ou temperatura. A capacidade de

absorver deformações segundo Baía e Sabbatini (2008) depende:

do módulo de deformação da argamassa – quanto menor maior a

capacidade de absorver deformações;

da espessura das camadas – espessuras maiores contribuem para

melhorar essa propriedade, entretanto deve-se atentar para não se ter

espessuras excessivas para não comprometer a aderência ;

das juntas de trabalho do revestimento – as juntas delimitam panos com

dimensões menores, compatíveis com as deformações, contribuindo para a

obtenção de um revestimento sem fissuras prejudiciais;

da técnica de execução – a compressão após a aplicação da argamassa e,

também durante o acabamento superficial, iniciado no momento correto,

contribui para o não aparecimento de fissuras.

c) Resistência mecânica

A resistência mecânica diz respeito à propriedade dos revestimentos de possuírem

um estado de consolidação interna capaz de suportar esforços mecânicos das mais

diversas origens e que se traduzem, em geral, por tensões simultâneas de tração,

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compressão e cisalhamento. Esforços como o desgaste superficial, impactos ou

movimentação higroscópica são exemplos de solicitações que exigem resistência

mecânica dos revestimentos, pois geram tensões internas que tendem a desagregá-

los (SELMO apud CARASEK, 2007).

Um dos principais problemas nos revestimentos, associado à resistência mecânica

da argamassa, é a baixa resistência superficial, que se traduz na pulverulência,

prejudicando a fixação das camadas de acabamento, como a pintura ou, mais grave

ainda, as peças cerâmicas (CARASEK, 2007).

Segundo Cincotto apud Silva (2007, p. 43), a resistência mecânica das argamassas

pode variar dependendo das diferentes solicitações a que estará submetida. A

argamassa deverá ter resistência para suportar a movimentação da base que

poderá ocorrer por recalques ou por variação dimensional, por umedecimento e

secagem, ou ainda pela dilatação e contração do revestimento devido às variações

de temperatura. Estas solicitações poderão causar o aparecimento de fissuras ou

falha na aderência entre a argamassa e a base ou entre as camadas de argamassa,

o que poderá comprometer a estanqueidade e durabilidade do revestimento.

Conforme menciona Cincotto apud Silva (2007, p. 43), apesar da resistência

mecânica não ser uma propriedade fundamental justifica-se a análise desta

propriedade, pois está relacionada com várias outras propriedades como, por

exemplo, com a plasticidade das argamassas que interferem na durabilidade dos

revestimentos.

Para Baía e Sabbatini (2008), essa propriedade depende do consumo e da natureza

dos agregados e aglomerantes da argamassa empregada e da técnica da execução,

que busca a compactação da argamassa durante a sua aplicação e acabamento. Os

autores completam fazendo a relação de que a resistência mecânica aumenta com a

redução da proporção de agregado na argamassa e varia inversamente com a

relação água/cimento da argamassa.

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d) Absorção capilar

É a propriedade que está relacionada com a função de estanqueidade da parede,

muito importante quando se trata de revestimentos de fachada. Esse atributo é

primordial quando, por exemplo, o edifício está situado em região de alto índice de

precipitação pluviométrica, pois o revestimento tem como função proteger o edifício

da infiltração de água. Caso contrário, a umidade infiltrada pelas paredes causará

problemas que comprometem tanto a higiene e a saúde dos usuários, como a

estética do edifício, além de estar associada às manifestações patológicas como

eflorescências, descolamentos e manchas de bolor e mofo (CARASEK, 2007).

De acordo com Josiel apud Silva (2007, p. 44), a absorção de água capilar de um

revestimento deve ser inferior à da base a revestir e quanto menor esta absorção,

melhor a proteção da base contra as intempéries. Nos revestimentos que são

caracterizados pela propriedade, as camadas devem ter uma capacidade mínima de

absorção ao vapor d’água para permitir a evaporação da água proveniente de

condensação ou umidade de infiltração que penetra através de fissuras.

Essa propriedade assume maior importância nos revestimentos de argamassa que

não receberão mais nenhum tipo de acabamento final, como a pintura ou o

revestimento cerâmico, caso do revestimento decorativo monocamada – RDM. No

entanto, de nada adianta uma argamassa de baixa absorção capilar à água, se o

revestimento estiver todo fissurado, permitindo a penetração da água pelas

aberturas (CARASEK, 2007).

A absorção capilar depende também: da natureza da base, da composição e

dosagem da argamassa, da técnica de execução, da espessura da camada de

revestimento e do acabamento final (BAÍA e SABBATINI, 2008).

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e) Durabilidade

É a capacidade que um produto, componente, montagem ou construção, possui de

manter o seu desempenho acima dos níveis mínimos especificados, de maneira a

atender as exigências dos usuários, em cada situação específica (JOHN apud

GOMES, 2005).

Baía e Sabbatini (2008) definem como a propriedade de uso do revestimento,

resultante das propriedades do revestimento no estado endurecido e que reflete o

desempenho do revestimento diante das ações do meio externo ao longo do tempo.

Essas ações podem ser físicas, químicas e mecânicas decorrentes das intempéries:

variações de temperatura, abrasão, ações decorrentes de gases naturais ou

artificiais.

Fatores como fissuração, espessura excessiva das camadas, qualidade das

argamassas, falta de manutenção, cultura e proliferação de microorganismos são

prejudiciais para a durabilidade do revestimento (BAÍA e SABBATINI, 2008).

2.5 DOSAGEM DE ARGAMASSA

A situação atual nos canteiros de obra quanto à dosagem de argamassa para

serviços diversos ainda é um problema muito grande, visto que ainda não se aplica

nenhum método específico para tal. Esse questionamento já era feito por Azeredo

apud Selmo (1991, p. 1) quando dizia que a definição da dosagem dos traços das

argamassas de assentamento e revestimento é feita para efeito de custo e de

orçamento ficando a dosagem real a critério de mestres e pedreiros.

É possível observar essas ações facilmente, visto que, os operários no intuito de

obter uma argamassa mais plástica, deixando-a mais trabalhável, acabam

adicionando água ou cimento em excesso à mistura. Na busca de obter a

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plasticidade poderá prejudicar as propriedades mecânicas do revestimento e

contribuir para o aparecimento de fissuras devido à retração, por exemplo.

Selmo (1991) atenta que tendo em vista as funções do revestimento externo de

argamassa pode-se apontar que a durabilidade é um dos principais requisitos de

desempenho para os revestimentos. Esta pode ser afetada por diversos fatores

inerentes ao material e pelo processo executivo. Ele ainda recomenda uma análise

sucinta das condições de intempéries que as fachadas estão expostas, natureza da

base a ser revestida, das condições de execução (técnicas de aplicação ou controle

de serviços)

A falta de métodos totalmente eficientes para se produzir argamassas que

satisfaçam as condições totais de qualidade nos canteiros de obra torna-se

responsável pela descaracterização do traço especificado nos projetos, quando

existem, ou determinado pelas empresas.

2.6 CARACTERÍSTICAS DO REVESTIMENTO DE ARGAMASSA

As condições de habitabilidade e salubridade das edificações de um modo geral

estão diretamente ligadas às paredes e seus revestimentos. Ultimamente essas

exigências têm crescido sendo natural que os estudos dos materiais e as

tecnologias de aplicação dos revestimentos de paredes também sejam aprimorados

(TERRA, 2001).

O revestimento de argamassa é uma das partes integrantes das vedações do

edifício, que deve apresentar um conjunto de propriedades que permitam o

cumprimento das suas funções, auxiliando a obtenção do adequado comportamento

das vedações e, conseqüentemente, do edifício considerado como um todo

(MACIEL et al, 1998).

A seguir serão tratadas as camadas do revestimento e as bases de aplicação. Deve-

se atentar para não deixar o revestimento com tensões exageradas vindo causar

fissuras, devido ao excesso nas camadas.

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2.6.1 Camadas do Revestimento

Os revestimentos de argamassa podem ser constituídos por uma ou mais camadas,

ou seja: emboço e reboco, e camada única. De acordo com a NBR 13529 (ABNT,

1995), o chapisco não é considerado como uma camada de revestimento.

Entretanto, segundo Fiorito apud Costa (2005), embora o chapisco não represente

efetivamente uma camada de revestimento, é considerado de extrema importância

para as camadas seguintes, servindo de regularização da base e de ancoragem

mecânica para aderência da camada da argamassa com o substrato.

a) Chapisco

A NBR 13529 (ABNT, 1995) define chapisco como “camada de preparo da base,

aplicado de forma contínua ou descontínua, com a finalidade de uniformizar a

superfície quanto à absorção e melhorar a aderência do revestimento”.

Para Bauer (2005), o chapisco é um procedimento de preparação de base e não se

constitui de uma camada do revestimento. O autor define a espessura média deste

tratamento próxima a 5 mm, dependendo das características granulométricas da

areia empregada.

Bauer (2005) explica que com o intuito de melhorar e adaptar o substrato emprega-

se rotineiramente o chapisco, para fornecer ao substrato uma textura

adequadamente rugosa e com porosidade adequada ao desenvolvimento da

aderência. O autor completa que além da textura, o chapisco tem a função de

regular a capacidade de sucção por parte do substrato, ou seja, substratos de alta

sucção têm no chapisco um elemento que diminui a intensidade do transporte de

água das argamassas para o substrato. Em contrapartida, substratos com baixa

sucção necessitam do chapisco como elemento incrementador da sucção de água

da argamassa, com o intuito do desenvolvimento adequado da aderência

argamassa-substrato.

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Segundo a NBR 7200 (ABNT, 1998), deve-se fazer aplicação prévia de argamassa

de chapisco, quando a superfície a revestir for parcial ou totalmente não absorvente

(de pouca aderência) ou quando a base não apresentar rugosidade superficial.

O chapisco pode ser industrializado, rolado ou projetado e sua aplicação pode ser

manual (através de rolo de textura, colher de pedreiro, desempenadeira dentada) ou

mecânica (através de projetores de argamassa), o que oferece maior aderência

(OLIVEIRA FILHO, 2006). A Tabela 3 apresenta os tipos de chapisco e suas

respectivas composições:

Tabela 3 – Tipos de chapisco e suas composições

TIPO COMPOSIÇÃO

Chapisco Convencional Argamassa de cimento, areia e água, adequadamente dosada

Chapisco Industrializado Argamassa industrializada semelhante a colante

Chapisco Rolado Mistura de cimento e areia, com adição de água e resina acrílica

Fonte: (Baía e Sabbatini, 2008)

b) Emboço

A NBR 13529 (ABNT, 1995) define emboço como a camada de revestimento

executada para cobrir e regularizar a superfície da base ou do chapisco propiciando

uma superfície que permita receber outra camada, de reboco ou de revestimento

decorativo, ou ainda que seja o acabamento final.

O emboço tem a finalidade de garantir a planeza, a verticalidade e regularidade da

superfície, além de impedir a entrada da água e proporcionar uma boa aderência à

camada de revestimento (TERRA, 2001)

Os emboços podem ser executados com os seguintes tipos de acabamento de

superfície, segundo a NBR 13749 (ABNT, 1996):

sarrafeado, caso venha a receber uma camada de reboco;

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desempenado ou sarrafeado, quando a camada posterior for de

revestimento cerâmico

desempenado, camurçado ou chapiscado, no caso do emboço constituir-se

em única camada de revestimento.

Para apresentar uma textura adequada à aplicação de outra camada o emboço

normalmente emprega uma granulometria um pouco mais grossa que as camadas

de massa única, reboco (BAUER, 2005).

No conjunto, é geralmente a camada mais importante pela função complemento das

vedações como estanqueidade e resistência ao fogo, tendo também importante

função de proteger as vedações (SABBATINI e BARROS apud OLIVEIRA FILHO,

2006).

A espessura média do emboço varia entre 1,5 e 2,5 cm (OLIVEIRA FILHO, 2006).

c) Reboco

A NBR 13529 (ABNT, 1995) define como camada de revestimento utilizada para

cobrimento do emboço, propiciando uma superfície que permita receber o

acabamento decorativo ou que venha a ser o acabamento final.

Os rebocos podem ser executados com tipos de acabamento de superfície:

desempenado, camurçado, raspado, chapiscado, lavado ou tratado com produtos

químicos e imitação travertina, de acordo com a NBR 13749. (ABNT, 1996).

Sabbatini apud Oliveira Filho (2006) menciona que a espessura deve ser suficiente

para constituir uma película contínua e íntegra sobre o emboço, não devendo

ultrapassar 5 mm. O autor completa que o reboco confere a textura superficial final

aos revestimentos de múltiplas camadas, não devendo apresentar fissuras e tendo

que apresentar elevada capacidade de acomodar deformações.

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d) Massa única

O revestimento de camada única é executado diretamente sobre os substratos, sem

a necessidade da aplicação anterior do emboço. A camada única tem função dupla,

ou seja, deve atender as exigências do emboço (regularização) e do reboco

(acabamento). Assim, são necessárias operações específicas de execução, como

corte, sarrafeamento e acabamento, realizadas momentos após a aplicação

(BAUER, 2005).

Segundo Oliveira Filho (2006), por se destinar posteriormente à aplicação de massa

corrida e ou pinturas a massa única não deve apresentar fissuras que comprometam

visualmente o acabamento. Se tratando de paredes externas tais defeitos podem

ocasionar penetração de água de chuva, vindo a prejudicar a aderência,

durabilidade do revestimento e a estanqueidade da vedação.

2.7 BASES PARA APLICAÇÃO DO REVESTIMENTO

Em todas as situações, os sistemas de revestimento de argamassa são aplicados

sobre bases ou substratos formando um conjunto contínuo e bem aderido,

necessários com o desempenho global (BAUER, 2005).

Conforme Scartezini et al. apud Springer Junior (2008), a aderência entre os

revestimentos de argamassa e os substratos possuem um caráter essencialmente

mecânico. Foram desenvolvidos ensaios da influência do preparo da base na

aderência dos revestimentos de argamassa e ou autores afirmam a interferência da

base de aplicação nas resistências de aderência obtidas.

Almeida et al. apud Springer Junior (2008), cita que o adequado desempenho dos

revestimentos de argamassa está intimamente ligado à relação existente entre a

argamassa e o substrato. As diferentes características dos substratos, condições de

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exposição e diferentes revestimentos, alteram significativamente o desempenho

potencial das argamassas.

Os substratos, segundo Bauer (2005) podem ser classificados de diferentes formas:

pela natureza dos materiais constituintes: alvenaria de blocos cerâmicos,

blocos de concreto, blocos de concreto celular, elementos estruturais em

concreto (vigas, pilares e lajes);

pela função: elementos de vedação, estruturais;

por suas características físicas: textura, porosidade, capacidade de sucção

da água (absorção capilar), propriedades mecânicas.

A NBR 7200 (ABNT, 1998) descreve que a aderência do revestimento está

relacionada com o grau de absorção da base que propicia para a microancoragem, e

com a rugosidade superficial que contribui para a macroancoragem. A norma ainda

completa que as bases de revestimentos devem obedecer às exigências de planeza,

prumo e nivelamento, seguindo as normas de alvenaria e de estruturas de concreto.

Quanto às correções de irregularidades a NBR 7200 (ABNT, 1998) seleciona as

seguintes soluções:

a) retirada de pontas de ferro das peças e rebarbas entre juntas e alvenaria;

b) correção de depressões, furos e rasgos:

enchimento de falhas com argamassa com menos de 50 mm de

profundidade;

rasgos efetuados para instalações com tubos de diâmetro maiores que

50 mm devem ser corrigidos através de colocação de telas metálicas e

enchimento com cacos de tijolos e blocos;

enchimento de falhas com argamassa com mais de 50 mm de

profundidade deve ser feito em duas etapas: a primeira camada deve

secar em deve secar em mais de 24 horas e ser levemente umedecida

quando for aplicar a segunda.

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3 MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS EM REVESTIMENTO ARGAMASSADO DE FACHADA

Este capítulo apresenta alguns conceitos sobre a patologia das edificações, tratando

das origens, incidências e das principais causas. Também é explanado o tema

principal deste trabalho que é a abordagem de trincas e fissuras em revestimentos

argamassados de fachada.

3.1 PATOLOGIA DAS EDIFICAÇÕES

Cremonini (1988) define patologia das edificações como a área da engenharia que

se ocupa dos edifícios e seus componentes que já não apresentam desempenho

que ofereça conforto aos usuários, analisando os defeitos através das

manifestações patológicas, suas causas e origens, mecanismos de ocorrências e

conseqüências.

Para Verçoza (1991), a Patologia das Edificações é o estudo das causas dos

defeitos (diagnósticos) elaborando sua correção (terapia). O mínimo entendimento

sobre esse ramo é de muita importância visto que, com conhecimento sobre

possíveis defeitos que uma construção pode vir a apresentar é provável que não se

cometam erros.

Os componentes e os elementos das edificações estão sujeitos a uma perda de

desempenho. É um processo que pode acontecer naturalmente devido à vida útil

dos mesmos, porém pode ser acelerado por diversas causas que tenham origem no

processo construtivo. Quando um componente não alcança mais um nível de

desempenho mínimo ocasiona-se um defeito (CREMONINI, 1988).

Segundo Thomaz (1992), a evolução tecnológica dos materiais de construção e das

técnicas de projetos e execução de edifícios contribuiu para o aparecimento de

construções mais leves, mais esbeltos, menos contraventados. Com os sistemas

atuais de financiamento e o déficit habitacional que atinge a maioria das cidades,

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tais obras estão sendo executadas cada vez mais rápidas e com poucos controles

de qualidade do produto.

3.1.1 Origem

Um diagnóstico adequado de uma manifestação patológica deve indicar em que

etapa do processo construtivo teve origem o fenômeno que desencadeou o

problema. (HELENE apud SILVA, 2007, p. 45). Os problemas podem decorrer da

falha de projeto, materiais empregados de baixa qualidade, da falha na execução

construção (mão-de-obra e fiscalização), e da falha na etapa de utilização da

edificação por uso inadequado ou falta de manutenção (usuários).

De acordo com Verçoza (1991), a freqüência de aparecimento de defeitos é uma

questão previsível de estatística: quanto mais prédios são construídos, maiores as

probabilidades de defeitos. O autor cita em seu livro três levantamentos, mostrando

a porcentagem da origem dos problemas patológicos, sendo dois desenvolvidos na

Europa e um no Brasil.

O Gráfico 1, mostra o estudo feito por Grunau apud Verçoza (1991), onde aponta

como principal origem à falha de projeto:

Gráfico 1 – Origem dos problemas patológicos com relação às etapas de produção (Fonte: Grunau apud Verçoza, 1991)

40%

28%

18%10%

4%

PROJETO EXECUÇÃO MATERIAIS MAU USO MAU PLANEJAMENTO

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O Gráfico 2 apresenta uma pesquisa feito pelo Centre Scientifique et Technique de

la Construcion (Bélgica) apud Verçoza (1991) que analisou 1800 problemas

patológicos e chegou a uma estatística parecida com o autor do primeiro gráfico,

sendo a seguinte:

Gráfico 2 – Origem dos problemas patológicos com relação às etapas de produção (Fonte: Centre Scientifique et Technique de La Construction apud Verçoza, 1991)

Um estudo feito Carmona Filho e Marega apud Verçoza (1991) mostra as causas de

diferente forma. Estes resultados são apresentados a seguir no Gráfico 3:

Gráfico 3 – Origem dos problemas patológicos com relação às etapas de produção (Fonte: Carmona Filho e Marega apud Verçoza, 1991)

46%

22%15% 17%

PROJETO EXECUÇÃO MATERIAIS OUTROS

52%

18% 14%6%

16%

EXECUÇÃO PROJETO MAU USO MATERIAIS OUTROS

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Pode-se perceber a diferença na liderança das causas em relação aos estudos

europeus e o brasileiro. É possível creditar a falha de execução como grande

gerador de manifestações patológicas, devido à baixa qualidade da mão de obra,

falta de uma política de qualidade mais ativa, tecnologias menos avançadas em

relação aos europeus.

3.1.2 Incidências das Manifestações Patológicas

Masuero apud Segat (2005, p. 25), destaca a ação de alguns efeitos para a

contribuição das incidências das manifestações patológicas em edificações,

especialmente em revestimentos. Quanto às ações externas ele cita a dos ventos,

da chuva, da luz, do calor, das emissões gasosas, das vibrações e das variações

térmicas e de umidade.

Internamente, Mansuero apud Segat (2005, p. 25) faz referência aos efeitos da

ventilação, do ar frio e quente, da umidade e da condensação. O autor ainda

menciona as acomodações da fundação, a umidade proveniente do solo e as cargas

estáticas e dinâmicas.

A grande variedade de materiais e tecnologias empregadas nas construções, a

diversidade de condições que caracteriza os espaços construtivos, os erros de

projeto ou execução, contribui para uma diversidade de causas para o surgimento

de patologias, afirma Segat (2005).

Estudos mais antigos já apontavam as principais manifestações patológicas, como o

realizado pelo IPT em 1979 apud Cremonini (1988, p. 37) em 36 conjuntos

habitacionais do Estado de São Paulo onde foram analisados levando em conta o

tipo e a idade das edificações. Os resultados do levantamento seguem na Tabela 4

que relaciona percentualmente os resultados de ocorrência de umidade, fissuração e

deslocamentos dos revestimentos que foram os problemas de maior incidência nas

habitações visitadas.

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Tabela 4 – Distribuição de percentual de manifestações patológicas mais incidentes em conjuntos habitacionais de São Paulo

TIPO DE EDIFICAÇÃO

IDADE (anos)

UMIDADE (%)

TRINCAS (%)

DESCOLAMENTOS (%)

Casas térreas

1 - 3 42 29 29

4 - 7 50 25 25

> 8 37 35 28

Apartamentos

1 - 3 52 35 7

4 - 7 86 14 -

> 8 82 12 6

(Fonte: Cremonini, 1988)

Em outro levantamento sobre incidências de manifestações patológicas apresentado

por Klein apud Segat (2005, p. 27), continua o destaque para os problemas de

umidade e trincas, estando a incidência de defeitos nos revestimentos entre as

principais causas. A Tabela 5 traz os resultados da pesquisa:

Tabela 5 – Incidências de ocorrências patológicas nas construções

TIPO DE OCORRÊNCIA INCIDÊNCIA (%) PRINCIPAIS CAUSAS

Manchas de umidade e bolor em paredes, infiltrações

70 Impermeabilização, revestimento, instalação e qualidade das esquadrias

Trincas e fissuras decorrentes de movimentação estrutural

47 Estrutura inadequada,alvenaria convencional sem vigas e pilares

Trincas e fissuras decorrentes de recalques de fundação

26 Falta de fundação ou inadequada para o solo

Afundamento de pisos (pisos ocos) 9 Má compactação do aterro

Flexão da estrutura do telhado 7

Uso de madeira de baixa qualidade ou com tratamento inadequado, dimensionamento inadequado da estrutura do telhado

Fixação deficiente das telhas 7

Muitas vezes associado ao problema anterior, instalação de telhas de fibrocimento sem seguir normas do fabricante

Cupim em madeiras 2 Uso de madeira de baixa qualidade ou com tratamento inadequado

(Fonte: Klein apud Segat, 2005)

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Entre as décadas de 70 e 80 Dal Molin apud Segat 2005, realizou uma pesquisa em

1615 manifestações patológicas pela Fundação de Ciência e Tecnologia (CIENTEC)

no Rio Grande do Sul onde o panorama muda e as fissuras constam com o maior

número de incidências sendo levado em conta estruturas de concreto, alvenaria e

revestimentos. O Gráfico 4 mostra os resultados do levantamento:

Gráfico 4 – Incidência de manifestações patológicas atendidas pelo CIENTEC/RS (Fonte: Dal Molin apud Segat, 2005)

3.2 DIAGNÓSTICO DOS DEFEITOS

Um bom diagnóstico deve ter condições de prever as conseqüências futuras que o

problema poderá trazer no comportamento geral do edifício. Helene apud Silva

(2007) separa estes prognósticos em dois tipos: os que afetam as condições de

segurança da estrutura (mais urgentes), e os que comprometem somente as

condições de higiene e estética, denominadas condições de serviços, associadas

aos estados limites de utilização.

Devido a um grande número de participantes, projetos de grande variabilidade,

enorme variedade de materiais, condições de exposição variadas, nem sempre é

fácil identificar a natureza das manifestações patológicas (Cremonini, 1988).

Fissuras

Umidade

Descolamentos

Outros

66,01%

18,08%

8,36%

7,55%

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Para obter soluções corretas o diagnóstico deve ser em etapas bem definidas,

desde a fase de planejamento. De acordo com Carmo apud Segat (2005), a prática

profissional é caracterizada pela falta de uma metodologia cientificamente

reconhecida e comprovada, o que acaba prevalecendo, em muitas vezes, a

experiência pessoal em rotinas de investigação.

Na proposição de uma metodologia para diagnóstico de manifestações patológicas

em revestimentos, Sabbatini e Campante apud Segat (2005, p.32) referem-se a uma

verificação de forma hierárquica. Essa análise seria feita primeiramente pela

observação da manifestação patológica, para encontrar a causa imediata, em

seguida a natureza (causa secundária), e finalmente a origem do problema (causa

primária).

Para Johnson e Noronha apud Segat (2005, p. 33) consideram a etapa mais

importante a identificação das causas do problema sendo que deve ser feito por um

técnico para poder discernir quais as informações necessárias, bem como onde e

como buscá-las. O especialista deve ter conhecimentos prévios sobre a constituição,

propriedades físicas e mecânicas dos materiais, além de experiência visto que

indícios obscuros e/ou despercebidos em uma primeira situação investigada serão

facilmente detectados pelo profissional em oportunidades subseqüentes.

Os problemas patológicos são evolutivos e podem gerar outros problemas maiores

com o passar do tempo. É de muito mais durável, barato, fácil e correto efetuar as

correções logo quando da percepção dos defeitos. Porém segundo Helene apud

Silva (2007), a manutenção preventiva ainda é a mais recomendável e correta de se

manter as edificações em boas condições de uso. O autor ainda menciona que a

falta de uma manutenção preventiva durante o uso do edifício pode até quintuplicar

o custo para a realização de uma ação.

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3.3 EFEITOS E CAUSAS EM REVESTIMENTOS ARGAMASSADOS DE FACHADA

Os revestimentos de argamassa estão sujeitos a vários fenômenos, sejam eles

decorrentes do meio ambiente, de modo como foi projetado e construído o edifício,

das propriedades químicas e físicas dos componentes empregados na construção;

do tipo de revestimento superficial, da manutenção, bem como do uso inadequado

dos edifícios (SILVA, 2007). Na Tabela 6, pode-se ter uma noção mais ampla das

manifestações patológicas mais freqüentes nos revestimentos argamassados de

fachada:

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Tabela 6 – Manifestações patológicas em revestimentos: causas prováveis

MANIFESTAÇÃO PATOLÓGICA EFEITOS PRINCIPAIS CAUSAS

Eflorescência

- manchas de umidade - umidade constante

- pó branco acumulado na superfície

- sais solúveis nas alvenarias e na água de amassamento

Bolor (fungos, algas, liquens, etc.)

- manchas esverdeadas, avermelhadas ou escuras

- umidade constante

- revestimento em desagregação

- área não exposta ao sol

Vesículas

- empolamento da pintura

- hidratação retardada da CaO

- pirita ou matéria orgânica na areia (cor escura)

- bolhas com umidade

- concentrações ferruginosas na areia

- aplicação prematura de tinta impermeável

Descolamento do reboco com empolamento

- descolamento do emboço formando bolhas

- infiltração de umidade

- reboco com som cavo - hidratação retardada do MgO

Descolamento do reboco em placas

- placa endurecida quebrando com dificuldade

- placas freqüentes de mica na camada interior

- argamassa muito rica ou espessa

- som cavo

- superfície com substâncias hidrófugas

- falta de aderência da superfície

- placa endurecida e desagregando-se

- argamassa magra

- som cavo - ausência de chapisco

Fissuras horizontais

- ao longo da parede - expansão da argamassa por hidratação retardada do MgO

- descolamento do reboco com som cavo

- expansão da argamassa por reação cimento-sulfatos ou de argilo-minerais nos agregados

Fissuras mapeadas - forma variada e em toda a superfície

- retração da argamassa de base

(Fonte: Cincotto apud Silva, 2007)

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3.4 DEFINIÇÕES E TIPOS DE TRINCAS E FISSURAS

Corsini (2010) comenta que as fissuras são um tipo comum de patologia em

edificações que podem prejudicar a estética, a durabilidade e as características

estruturais da obra. O autor explica que a atuação de tensões nos materiais quando

maiores do que a capacidade de resistência dos mesmos, a fissura tem a tendência

de aliviar essas tensões e quanto mais restrições impostas aos seus movimentos e

mais frágeis eles forem maiores serão a intensidade e magnitude da fissuração.

Tecnicamente, de forma geral o termo fissura é preferível ao termo trinca, comenta

Corsini (2010). Segundo a NBR 9575 (ABNT, 2003), defini-se microfissuras aquelas

que têm aberturas com até 0,05 mm, as aberturas com até 0,5 mm são chamadas

de fissuras e, por fim, as maiores de 0,5 mm e menores de 1,0 mm são chamadas

de trincas.

Segundo Crosini (2010) as fissuras nas alvenarias são divididas de acordo com sua

forma de manifestação, que pode ser geométrica ou mapeada. O autor ainda

completa que as duas classes podem ser subdivididas, cada uma, entre fissuras

ativas e passivas, sendo que as ativas admitem uma nova subdivisão, que podendo

ser sazonais ou progressivas. A Tabela 7 apresenta a classificação das fissuras em

alvenarias:

Tabela 7 – Classificação das fissuras em alvenarias

FISSURAS GEOMÉTRICAS FISSURAS MAPEADAS

Ativas Passivas Ativas Passivas

Sazonais Progressivas - Sazonais -

(Fonte: Crosini, 2010 – adaptada)

As geométricas (ou isoladas) podem ocorrer em elementos de alvenaria ou em

juntas de assentamento. As mapeadas (ou disseminadas) podem ser originadas

devido à retração das argamassas (CROSINI, 2010).

De acordo com Crosini (2010) as fissuras ativas (ou vivas) são aquelas que têm

variações sensíveis de abertura e fechamento sendo sua nomenclatura inaplicável,

pois a classificação mudaria conforme o instante da medição. O autor explica que se

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as variações das aberturas forem correlacionadas com a variação da temperatura e

umidade são classificadas como sazonais, se elas forem sempre crescente, podem

apresentar problemas estruturais e são classificadas como progressivas.

Crosini (2010) também classifica as fissuras passivas (ou mortas) que são as

causadas por solicitações que não apresentam variações sensíveis ao longo do

tempo, sendo consideradas estabilizadas.

3.5 TRINCAS E FISSURAS EM REVESTIMENTOS

Segundo Thomaz (1992), dentre os inúmeros problemas patológicos que afetam os

edifícios o mais importante é o das trincas, devido a três aspectos fundamentais: o

aviso de um problema mais grave para a estrutura, o comprometimento da obra em

serviço (estanqueidade à água, durabilidade, isolação acústica, etc.) e o desconforto

psicológico que as fissuras exercem sobre os usuários.

Incompatibilidades entre projetos de arquitetura, estrutura e fundações normalmente

conduzem a tensões que sobrepujam a resistência dos materiais em seções

desfavoráveis originando problemas de fissuras (THOMAZ, 1992).

Além de problemas de projeto, deve-se ter em mente dos outros problemas citados

anteriormente como má execução, baixa qualidade dos materiais, falta de

planejamento, além da falta de manutenção nas edificações.

3.5.1 Trincas e Fissuras Causadas por Movimentações Térmicas

Os elementos e componentes de uma construção, principalmente os externos, estão

sujeitos a variações de temperatura. Os efeitos da dilatação e contração,

provocados pela temperatura são restringidos pelos diversos vínculos que envolvem

os elementos e componentes, o que acarretam um desenvolvimento de tensões

podendo provocar o aparecimento de fissuras (THOMAZ, 1992).

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Segundo Thomaz (1992) as trincas de origem térmica podem também surgir por

movimentações diferenciadas entre componentes de um elemento, entre elementos

de um sistema e entre regiões distintas de um mesmo material. Essas

movimentações podem ser devido a:

junção de materiais com diferentes coeficientes de dilatação térmica,

sujeitos às mesmas variações de temperatura (ex: argamassa de

assentamento e componentes de alvenaria);

exposição de elementos a diferentes solicitações térmicas naturais (ex:

cobertura em relação às paredes de uma edificação);

gradientes de temperaturas ao longo de um mesmo componente (ex:

gradiente entre a face exposta e a face protegida de uma laje de

cobertura).

O revestimento argamassado de fachada é o que está mais exposto a radiação do

sol, que quando recebe o calor através do seu revestimento superficial tem sua

temperatura aumentada tornando-se maior do que a do ar ambiente. Neste caso,

ocorre a transferência de uma parte do calor para o ar ambiente e da superfície para

os demais componentes aderidos ao revestimento como o chapisco, os blocos, a

argamassa de assentamento e a estrutura (SILVA, 2005).

Thomaz (1992) cita que alguns materiais podem sofrer fadiga pela ação de ciclos

alternados como tração-compressão. Diante das movimentações térmicas gerando

expansão e retração que ocorrem nos revestimentos argamassados de fachadas, as

tensões rompem quando o limite máximo de sua resistência é ultrapassado, criando

fissuras.

As fissuras em revestimento de argamassa, para este caso (movimentações

térmicas), dependem do módulo de deformação da argamassa, onde deseja-se que

a capacidade de deformação do revestimento seja maior do que a capacidade de

deformação da parede.

Segundo Verçoza (1991) há fissurações originadas diretamente pelo reboco, estas

apresentam desenhos irregulares com linhas bem finas, parecidos com teia de

aranha ou mapas, sendo representada pela Figura 1. Estas fissuras são

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ocasionadas devido à expansão e à retração da argamassa durante a fase de

endurecimento. O autor afirma que a dilatação térmica entre o reboco e a alvenaria

pode causar trincas, com uma tendência de evolução no sentido de maior expansão.

De acordo com Josiel apud Sahade (2005), as fissuras de origem térmica nos

revestimentos são bem distribuídas e com aberturas bem reduzidas assemelhando-

se com as fissuras provocadas por retração de secagem.

As retrações ocorrem quando a argamassa seca muito rapidamente onde o correto

conforme Verçoza (1991) seria manter uma umidade numa parede rebocada

exposta ao sol, por três dias no mínimo.

O revestimento argamassado também pode fissurar devido a uma queda brusca da

temperatura. Nesta situação os esforços de tração são preponderantes devido ao

“choque térmico” que o material foi submetido. Marin apud Silva (2005, p. 52) afirma

que os materiais que mais resistem aos choques térmicos são os que possuem boa

condutividade térmica, baixo coeficiente de dilatação térmica linear, baixo módulo de

deformação, e elevada resistência a esforços de tração. As argamassas de

revestimento não apresentam características de materiais que resistem a “choques

térmicos” e consequentemente fissuram.

Figura 1 – Fissuras devido às movimentações térmicas (Fonte: Sahade, 2005)

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3.5.2 Trincas e Fissuras Causadas por Movimentações Higroscópicas

De acordo com Thomaz (1992), as mudanças higroscópicas provocam variações

dimensionais nos materiais porosos que compõem os elementos e componentes da

construção. Segue deste princípio que o aumento da umidade provoca uma

expansão do material e que a diminuição desta produz uma contração. As fissuras

poderão ocorrer devido às restrições impostas pelos vínculos devido ao

impedimento da movimentação dos materiais, completa o autor.

A umidade pode ter acesso aos materiais de construção através das vias:

resultantes da produção dos componentes, proveniente da execução da obra, do ar

ou proveniente de fenômenos meteorológicos, e do solo (THOMAZ, 1992).

A primeira via refere-se a quantidade de água superior que a necessária para que

ocorra as reações químicas de hidratação, no entanto a água em excesso fica livre

no interior do componente e ao evaporar-se provoca uma contração do material.

A segunda trata de uma medida geralmente adotada em execução de revestimentos

que é o umedecimento da alvenaria para que esta não retire a água da argamassa

devido aos diferentes gradientes hidráulicos e que também não prejudique a

aderência do material ao substrato. A problemática desta situação é que o excesso

de água pode vir a provocar uma expansão do material, e consequentemente a

evaporação da mesma produzirá uma contração na argamassa podendo gerar

fissuras.

O terceiro caso faz referência às situações em que o material fica exposto a chuva

durante o transporte ou até mesmo no seu armazenamento e pode absorver água.

Além do mais, as paredes externas podem absorver quantidades consideráveis de

água de chuva e também da umidade presente no ar.

O quarto e último caso que Thomaz (1992) cita relata que a água do solo poderá

ascender por capilaridade à base da construção.

Os ciclos de secagem e umedecimento de argamassas de revestimento, com

deficientes impermeabilizações e somadas a movimentações térmicas podem

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provocar o aparecimento de microfissuras na argamassa. A partir dessas fissuras as

penetrações de água ficam mais intensas aumentando mais ainda as incidências de

fissuras. A Figura 2 mostra como a presença contínua de água pode acelerar a

degradação das fachadas em argamassa:

Figura 2 – Revestimento em argamassa em adiantado processo de degradação, devido à contínua presença de umidade (Fonte: Sahade, 2005)

O peitoril é um detalhe que protege a fachada da ação da chuva e que precisa ser

devidamente projetado e assentado. Outro detalhe que protege o revestimento da

ação da chuva são as pingadeiras que são saliências ou projeções feitas com

argamassa, pedras ou componentes cerâmicos e que servem para o descolamento

do fluxo de água sobre a fachada (BAÍA e SABBATINI, 2008). A falta de detalhes

construtivos pode agravar a ocorrência de fissuras pois permite que ocorra uma

maior incidência de água, as conseqüências podem ser retratadas pela Figura 3:

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Figura 3 – Fluxo de água que escorre na fachada devido à falta de pingadeira, gerando fissuras (Fonte: Thomaz, 1992)

3.5.3 Trincas e Fissuras Causadas pela Atuação de Sobrecargas

As fissuras podem se manifestar nas paredes em função dos esforços de

compressão e de flexão, provocados pela ação das cargas superiores às previstas

em cálculo, conforme Silva (2007).

Segundo Thomaz (1992), em trechos contínuos de alvenarias solicitadas por

sobrecargas uniformemente distribuídas, pode surgir dois tipos de trincas. Estas

podem ser verticais que são provenientes da deformação transversal da argamassa

sob ação das tensões de compressão ou da flexão local dos componentes de

alvenaria. O outro tipo característico de trincas são as horizontais, provenientes da

ruptura por compressão dos componentes de alvenaria ou da própria argamassa de

assentamento, ou ainda de solicitações de flexocompressão.

Thomaz (1992) faz um alerta para os painéis de alvenaria onde as trincas formam-se

a partir dos vértices onde há aberturas e sob peitoris. O autor completa que as

trincas, entretanto se manifestam segundo diversas configurações sendo

influenciadas pelas dimensões do painel de alvenaria, dimensões da abertura,

anisotropia dos materiais que constituem a alvenaria, dimensões e rigidez de vergas

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e contravergas. A configuração real das fissuras devido à situação descrita é

representada na Figura 4:

Figura 4 – Fissuração típica de parede com presença de aberturas devido a um carregamento uniformemente distribuído (Fonte: Thomaz, 1992)

3.5.4 Trincas e Fissuras Causadas por Deformabilidade Excessiva de Estruturas de

Concreto Armado

Segundo Sahade (2005), o aparecimento de fissuras em alvenaria de vedação pode

ser decorrente de um estado de deformação excessiva da estrutura, que pode vir a

ocorrer de forma imediata ou ao longo do tempo.

De acordo com Verçoza (1991), cada tipo de solicitação, quando excessiva, induz a

uma configuração de fissuração diferente no concreto armado, sendo que quase

sempre é possível identificar sua causa pelo simples mapeamento. Ainda segundo o

autor, as fissuras em concreto iniciam onde há tração onde esta é dez vezes menor

do que a de compressão.

Para Silva (2007), a evolução da tecnologia dos materiais tornou as estruturas mais

leves, esbeltas e deformáveis tornando imprescindível a análise das deformações e

influências sobre os revestimentos argamassados em fachadas.

Os maiores problemas encontrados são decorrentes de ocorrências de flechas em

componentes fletidos. Vigas e lajes deformam-se naturalmente sob ação de cargas

permanentes e acidentais além do efeito da retração e da deformação lenta do

concreto. Esses elementos estruturais são dimensionados a flexionar de modo a não

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comprometer a segurança da estrutura, porém as flechas podem ser incompatíveis

com a capacidade de deformação das paredes ou de outros componentes que

integram as construções (THOMAZ, 1992).

Para paredes de vedação sem vãos de janelas e portas Thomaz (1992), identifica

três configurações de trincas. São elas:

Quando a viga de apoio deforma-se mais que a viga superior: surgimento

de trincas inclinadas nos cantos superiores da parede e trinca horizontal

na parte inferior, ver Figura 5. Quando o comprimento da parede é maior

que a altura esta trinca desvia-se em direção aos vértices inferiores;

Figura 5 – Deformação da viga de apoio maior que a viga superior (Fonte: Thomaz, 1992)

Quando a viga de apoio deforma-se menos que a viga superior:

surgimento de trincas análogo ao caso de flexão de vigas de concreto

armado, ou seja, as fissuras surgem perpendicularmente à trajetória dos

esforços de tração, ver Figura 6;

Figura 6 – Deformação da viga de apoio menor que a viga superior (Fonte: Thomaz, 1992)

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Quando as vigas de apoio e superior deformam-se aproximadamente

iguais: as fissuras iniciam-se nos vértices inferiores da alvenaria

propagando-se aproximadamente a 45°, ver Figura 7.

Figura 7 – Deformação da viga de apoio igual a superior (Fonte: Thomaz, 1992)

No caso de alvenaria de vedação com vãos de portas e janelas, as fissuras podem

ter configurações diversas, em função de fatores com extensão da parede,

deformação e posição desses vãos (THOMAZ, 1992). As fissuras geralmente

surgem nos cantos superiores e inferiores propagando-se a 45°.

Thomaz (1992) cita outro caso típico de fissuração que é aquele provocado pela

excessiva deformação de lajes ancoradas nas paredes produzindo esforços de

flexão na lateral. Essa deformação provoca fissuras horizontais próximo à base da

parede.

3.5.5 Trincas e Fissuras Causadas por Recalques de Fundação

As fissuras provocadas por recalques diferenciados geralmente são inclinadas o que

se confunde com as fissuras que surgem devido a deformação de elementos

estruturais. Uma das características dessas manifestações patológicas é a presença

de esmagamentos localizados, em forma de escama (THOMAZ, 1992).

De acordo com o Centre Scientifique et Technique de La Construction apud Thomaz

(1992, p. 96) para edifícios uniformemente carregados existem alguns fatores que

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podem conduzir aos recalques diferenciados, consequentemente gerando fissuras

nas edificações, são eles:

Consolidações distintas do aterro carregado;

Fundações assentadas sobre seções de corte e aterro;

Interferência de fundações vizinhas (vide em Figura 8);

Tipo e estado do solo (vide em Figura 9);

Disposição do lençol freático.

Figura 8 – Fissuras inclinadas devido a interferência da fundação vizinha (Fonte: Thomaz, 1992)

Figura 9 – Fissuras devido ao recalque provocado pelo tipo e estado do solo (Fonte: Thomaz, 1992)

Thomaz (1992) comenta que a adoção de sistemas diferentes de fundação para

uma mesma edificação conduz a recalques diferenciais provocando o surgimento de

fissuras verticais entre eles e algumas vezes aparecem fissuras inclinadas na parte

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menos carregada. O autor também explica que as variações de umidade do solo,

principalmente argiloso, provocam alterações volumétricas e variações no módulo de

deformação podendo ocorrer recalques localizados em função tanto da saturação do

solo como da contração do mesmo, já que a água pode ser absorvida pela

vegetação mais próxima.

3.5.6 Trincas e Fissuras Causadas pela Retração de Produtos à Base de Cimento

De acordo com Helene apud Thomaz (1992, p. 103), para que reação completa

entre os compostos anidros da hidratação do cimento e a água é necessário cerca

de 22 a 32% de água em relação à massa do cimento. O autor completa sugerindo

uma relação de água/cimento de aproximadamente 0,40 para que o cimento seja

totalmente hidratado.

As argamassas estão sujeitas a variações dimensionais que ocorrem logo após a

aplicação em grandes áreas sujeitas ao intemperismo, como revestimentos de

fachada. Essas variações dimensionais são denominadas de retração, explica

Sahade (2005).

A retração é uma contração volumétrica nas argamassas no estado fresco que se dá

por perda d’água para a base, por efeito de sucção, ou para o ambiente devido à

evaporação. No estado endurecido, Bastos apud Sahade (2005, p. 21) comenta que

a retração é provocada pela água adsorvida, ou seja, água que está retida à parede

dos vazios capilares da pasta.

Scartezini apud Segat (2005, p. 54) define retração como um fenômeno físico que

ocorre com os materiais a base cimentícia, que tem o volume diminuído na fase

elástica de acordo com as condições de umidade e a evolução matriz do cimento. O

autor salienta que tais materiais por serem deficientes quanto a resistência à tração

apresentam desvantagens se aplicados em grandes superfícies expostas, e que

esta característica proporciona o aparecimento de fissuras que acabam por afetar a

durabilidade e estética do revestimento de argamassa.

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Thomaz (1992) destaca três formas de retração que ocorrem num produto à base de

cimento, são elas:

retração química: reação química entre o cimento e a água, que sofre

uma contração de 25% do seu volume original, provoca uma redução de

volume ocasionando fissuras;

retração de secagem: a água não utilizada na hidratação do cimento

permanece livre no interior da massa, evaporando-se posteriormente

gerando forças capilares equivalentes a uma compressão, diminuindo seu

volume e consequentemente provocando fissuras;

retração por carbonatação: a redução do volume da massa se dá pela cal

hidratada liberada nas reações de hidratação do cimento que reage com

o gás carbônico presente no ar.

Scartezini apud Segat (2005, p. 54) relaciona também a retração térmica, que ocorre

devido a diminuição da temperatura após a máxima temperatura obtida no acúmulo

de calor de hidratação.

Os fatores que interferem na retração de produtos a base de cimento são citados a

seguir, conforme Thomaz (1992); Sahade (2005):

quantidade de cimento: quanto maior o consumo de cimento, maior a

retração;

granulometria do agregado: a granulometria do agregado determina o

volume de vazios a ser preenchido, e quanto maior este, o teor de pasta

necessário será maior, aumentando o potencial de retração;

quantidade de água na mistura: quanto maior o teor de água, menor será

o volume de agregado e maior o volume de pasta, logo maior a retração

de secagem;

condições de cura: se a evaporação iniciar-se antes do término da pega

do aglomerante, a retração pode ser acentuadamente aumentada.

Além desses fatores que influenciam a retração das argamassas, Thomaz (1992)

acrescenta que a aderência com a base, o número de camadas aplicadas, as

espessuras das camadas, o tempo decorrido entre a aplicação de uma e outra

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camada, ação do vento provocando a perda de água durante o endurecimento,

também proporcionam o aparecimento de fissuras de retração.

Barros et al. apud Segat (2005, p. 55) alerta para a excessiva quantidade de água

utilizada na mistura, visto que resulta em um revestimento endurecido com bastante

número de vazios, conseqüentemente mais propenso à ocorrência de fissuras

mapeadas em função da retração da argamassa de secagem.

A retração das argamassas também pode ser provocada por falhas executivas como

o desempeno excessivo dos revestimentos ou ser feito antes do tempo, assim

explica Masuero apud Segat (2005, p. 56). O autor fala sobre importância de aplicar

uma força suficiente para o desempeno e no tempo correto, tendo em vista que

nessa fase é possível comprimir a pasta e aproximar os grãos, reduzindo assim o

potencial de fissuração da argamassa.

Ribas apud Silva (2007, p. 59) alerta para fissuras de retração devido a falhas

executivas que influenciam no conjunto da alvenaria podendo desenvolver tensões

que causam fissuras na mesma, e acabam transferindo para o revestimento das

fachadas.

De acordo com Thomaz (1992), o preenchimento do espaço entre a viga e a

alvenaria, com bloco em cunha, feito antes da secagem da argamassa de

assentamento das alvenarias pode ser um efeito para a retração de argamassas. O

recalque da argamassa somado com a retração da mesma provoca um abatimento

da alvenaria recém-construída. A conseqüência para este acontecimento é o

surgimento de fissuras horizontais entre a alvenaria e a estrutura, como mostra a

Figura 10:

Figura 10 – Destacamento provocado pelo abatimento da alvenaria recém-construída (Fonte: Thomaz, 1992)

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3.5.7 Trincas e Fissuras Causadas por Alterações Químicas dos Materiais de Construção

Segundo Sahade (2005), as reações químicas se manifestam através de efeitos

físicos nocivos, tais como aumento da porosidade e permeabilidade, diminuição da

resistência, fissuração e destacamento do revestimento.

Os materiais de construção são suscetíveis de deterioração pela ação de

substâncias químicas que reagem com as de seus componentes. Pode-se citar as

substâncias ácidas, alguns tipos de álcool e sais solúveis, entre outras. Dentre todas

as deteriorações que se manifestam nos materiais da construção civil, as mais

preocupantes são os ataques por sais e a corrosão das armaduras (THOMAZ,

1992).

Quanto aos agregados são particularmente prejudiciais na formação de fissuras por

efeito de expansão, desagregação e perda de aderência à base, impurezas tais

como: aglomerados argilosos e a pirita (CINCOTTO apud SILVA, 2007, p. 24).

Quanto aos aglomerados argilosos, eles se desagregam ao longo do tempo se

estendendo a todo revestimento. Na presença de frações de argila, é possível

acontecer reações de expansão e contração na presença de umidade, devido a

existência do argilo mineral montmorilonita, provocando uma desagregação

gradativa do revestimento. Em relação a pirita, que é um sulfeto de ferro (FeS2),

resultam sulfatos que em contato com a água provocam compostos expansivos

(SILVA, 2007).

Além das impurezas é necessário dar importância ao alto teor de presença de finos

existentes nas areias visto que, ocorrendo isto haverá uma necessidade maior de

água de amassamento, deixando o ambiente propício para a retração de secagem.

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3.5.8 Trincas e Fissuras Causadas por Hidratação Retardada de Cales

Uma cal mal hidratada, ou seja, que apresenta alguns óxidos livres de cal e

magnésio pode estar sujeita a uma expansão de aproximadamente de 100% no seu

volume caso esta entre em contato com a água, devido a hidratação dos óxidos

livres (THOMAZ, 1992).

Para Thomaz (1992), devido a intensidade da expansão poderão ocorrer fissuras

conforme visto nas movimentações térmicas e higroscópicas. As fissuras horizontais

podem ocorrer também devido a expansão do material acompanhando as juntas de

assentamento de alvenaria, sendo que essas fissuras aparecerão no topo da parede

onde as cargas de compressão oriundas do peso próprio são menores, conforme a

Figura 11:

Figura 11 – Fissuras horizontais no revestimento provocadas pela expansão da argamassa de assentamento (Fonte: Thomaz, 1992)

3.5.9 Trincas e Fissuras Causadas por Ataque por Sulfatos

Segundo Thomaz (1992), o sulfato em solução pode reagir com elementos químicos

constituintes do cimento como o aluminato tricálcico e formar o sulfoaluminato ou

etringita gerando uma grande expansão. Os sulfatos poderão surgir do solo, águas

contaminadas, componentes cerâmicos compostos por argilas com altos teores de

sais solúveis. Já a água poderá ter acesso aos componentes através da penetração

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da água da chuva devido à superfícies mal impermeabilizadas ou absorção de

umidade resultante da ocupação da edificação.

As trincas que surgem devido a expansão da argamassa serão semelhantes àquelas

que ocorrem pela retração da argamassa de revestimento, acompanhando as juntas

de assentamento vertical e horizontal, de acordo com a Figura 12, e surgindo

geralmente seguido de eflorescências (THOMAZ, 1992).

Figura 12 – Fissuras na argamassa de revestimento provenientes do ataque por sulfatos (Fonte: Thomaz, 1992)

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4 AVALIAÇÃO DE CAMPO

O estudo de caso analisado no trabalho abrange, algumas edificações na cidade de

Salvador, mas precisamente no bairro da Pituba. As edificações estão localizadas na

orla marítima da Região Metropolitana de Salvador.

4.1 CRITÉRIOS NA ESCOLHA DOS ESTUDOS DE CASO

Segue abaixo na Figura 13 o mapa da cidade de Salvador e em destaque a região

fotografada no bairro da Pituba. A localização do estudo é uma área litorânea de

classe média alta, tendo as principais vias a Avenida Manoel Dias da Silva e a Paulo

VI. Por ser uma área litorânea as edificações sofrem os ataques do meio ambiente

nas fachadas devido ao spray marinho, que com a ação dos ventos criam situações

propícias para o aparecimento de fissuras.

Figura 13 – Mapa de Salvador com a área em destaque do bairro dos estudos de caso (Fonte: Google Mapas)

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Optou-se por desenvolver este trabalho na região por apresentar uma variedade de

edificações (múltiplos pavimentos, sobrados, casas). Portanto, é um local que se

podem encontrar manifestações patológicas de fissuras, de formas variadas.

O registro fotográfico foi feito com base em algumas situações de fissuras estudadas

na fundamentação teórica sobre manifestações patológicas.

Outros critérios determinantes para a escolha das edificações foram: estar situados

na cidade de Salvador e apresentar fissuras nas fachadas revestidas em

argamassa.

A Figura 14 apresenta o percurso que foi realizado para fazer o registro fotográfico

das edificações e de suas fachadas que apresentaram fissuras.

Figura 14 – Região onde se localizam as edificações – Bairro da Pituba (Fonte: Google Mapas)

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4.2 APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E MEDIDAS CORRETIVAS DOS CASOS

Depois de coletadas as imagens inicia-se a análise e as respectivas discussões

desse registro fotográfico.

Na Figura 15 identificam-se fissuras com inclinação a 45° no canto inferior das

janelas. Foi um dos tipos mais comuns de manifestações patológicas observados na

visita técnica.

Figura 15 – Fissuras com inclinação a 45° no canto inferior das janelas

A hipótese mais provável é que as fissuras surgiram em decorrência da retração do

revestimento devido às concentrações de tensões nos vértices da abertura do vão,

provocadas por atuação de sobrecargas.

O diagnóstico mais provável para o surgimento dessas fissuras é a falta ou o mau

dimensionamento da contra-verga para poder absorver essas tensões nos vértices

dos vãos. A seta vermelha aponta a fissuração mais comum. A seta amarela indica

que a fissura tem um desvio para cima provocado provavelmente por algum material

mais rígido que mudou sua direção.

A Figura 16 também apresenta o mesmo problema de concentração de tensões nos

vértices de uma abertura. Nesse caso, a fissura evoluiu no canto superior e no

inferior do vão.

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Figura 16 – Fissuras com inclinação a 45° nos cantos superior e inferior do vão

Pode-se determinar que a origem dessas manifestações patológicas esteja ligada a

falta ou falha de projeto específico que deveria ter previsto uma contra-verga e

levanta-se a hipótese também de falha executiva da alvenaria onde quem construiu,

assentou a contra-verga de maneira aleatória ou com dimensões inadequadas.

A Figura 17 também apresenta uma fissura com inclinação a 45° no vértice inferior

da janela. Uma falta ou mau dimensionamento de uma contra-verga seria a causa

da manifestação que já evolui muito. Essa configuração também poderia caracteriza

uma manifestação causada por recalque diferencial do solo. Porém como não há

fissuras no térreo essa hipótese é descartada.

Figura 17 – Fissura com inclinação a 45°

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As fissuras apresentadas nas situações anteriores não apresentam um risco maior

para a edificação. O maior dano que esse tipo de fissura acarreta é permitir que

água de chuva penetre para o interior da parede podendo surgir bolhas de vapor de

água, além da umidade na parede provocar o aparecimento de manchas ou bolor,

consequentemente causando danos à estética.

Nesses casos as medidas de correção seria a colocação de uma nova contra-verga

com dimensões compatíveis para absorção das tensões originadas, que resultaria

num serviço oneroso.

Outra alternativa para solucionar seria a aplicação de um material impermeabilizante

externamente à fissura que impediria a penetração da água de chuva para o interior

da parede, caso a fissura for passiva. Do contrário, se a fissura for ativa é indicado

fazer o tratamento com um produto flexível como selante flexíveis onde conteria o

avanço da mesma.

A Figura 18 apresenta uma edificação com uma fissura horizontal na interface da

platibanda com a laje de cobertura.

Figura 18 – Fissura horizontal na interface da platibanda com a laje da cobertura

A hipótese para a origem da fissura é provavelmente as expansões do comprimento

da laje de cobertura devido a dilatação térmica, provocada pela incidência de raios

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solares a que fica exposta a cobertura durante o dia. Com a diminuição da

temperatura, a noite, a laje retrai para a dimensão inicial, gerando tensões de

cisalhamento na interface laje/platibanda.

Como os elementos estão sujeitos a diferentes coeficientes de dilatação térmica,

ambos desenvolvem variações dimensionais diferentes. No caso do revestimento,

como a argamassa é um produto que não apresenta boas características a esforços

de tração, com a diminuição da temperatura essas solicitações originam o

aparecimento de fissuras.

A forma de correção para essa fissura seria a execução de uma junta de

movimentação na abertura da fissura com a utilização de um material expansivo e

elástico, o que permitiria a movimentação da laje/platibanda.

Outra solução seria a utilização de telas metálicas sobre a interface da alvenaria

com o elemento estrutural que absorveria as tensões de tração.

Três tipos de configurações de fissuras são observadas na Figura 19. As

manifestações patológicas aparecem na interface da platibanda com a laje de

cobertura e na lateral da edificação com diversas formas.

Figura 19 – Fissuras provocadas por dilatações térmicas e movimentações higroscópicas

As setas vermelhas apontam para as fissuras provocadas por movimentações

térmicas, mesmo caso apresentado na Figura 18. Os esforços de tração

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desenvolvidos não são suportados pelo revestimento que fissura na interface da

platibanda com a alvenaria.

As setas da cor lilás destacam as fissuras provocadas por movimentações

higroscópicas. Uma das hipóteses para esta situação é que a argamassa de

revestimento tenha sido mal dosada durante sua produção, sendo que a quantidade

de água foi superior a necessária para ocorrem as reações de hidratação do

cimento.

Outra hipótese seria a falta de proteção no topo da alvenaria, que permite a

penetração de água.

No entanto, a água em excesso provoca uma expansão do revestimento e a

evaporação da umidade, devida incidência radiação solar, produz a diminuição do

mesmo resultando na contração do material. A configuração das fissuras retrata a

hipótese: formam microfissuras em várias direções, são chamadas também de

fissuras mapeadas.

A medida mais adequada para a correção desta fachada seria a substituição do

revestimento, com o preparo de uma argamassa elástica de revestimento prevendo

deformações provocadas por esforços de retração e junção de materiais com

diferentes índices de dilatação. A execução de junta de movimentação na interface

da laje com a platibanda ou o uso de telas metálicas minimizaria a ocorrência da

fissura horizontal presente na fachada. Também é indicada uma proteção para o

topo da alvenaria através de um rufo ou uma manta impermeabilizante.

Na Figura 20 tem destaque as fissuras: no vértice inferior da janela, na parede da

fachada e na viga.

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Figura 20 – Fissuras no vértice inferior da janela, na parede da fachada e na viga

A fissura indicada pela seta lilás apresenta a configuração de uma manifestação

patológica originada pela retração da argamassa de revestimento devido às

concentrações de tensões existentes naquele local provocadas por atuações de

sobrecargas. Normalmente essa fissura apareceria numa inclinação de 45°, mas

provavelmente a presença de algum material mais rígido deslocou-a para a posição

horizontal. Já foi visto nas Figuras 15 e 16 que a ausência ou o dimensionamento

inadequado da contra-verga acarreta o aparecimento dessa fissura. A medida

corretiva mais adequada é a substituição da contra-verga ou impermeabilizar a

fissura se ela for passiva ou o tratamento com um produto flexível se for ativa..

As setas brancas apontam fissuras causadas pela variação dimensional do

revestimento devido a movimentações higroscópicas já apresentadas na Figura 19.

Uma argamassa de revestimento mal dosada pode apresentar uma relação

água/cimento alta e consequentemente a umidade em excesso diminui o volume do

material provocando uma retração no revestimento. Como esse tipo de material não

apresenta uma boa resistência mecânica de tração as fissuras surgem em todas as

direções, chamadas também de fissuras mapeadas.

As setas pretas destacam uma fissura na parte superior da viga. A causa mais

provável é a corrosão da armadura da viga através da penetração da umidade de

água pelo revestimento argamassado. A infiltração se deve a existência da moldura

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projetada na fachada como um elemento decorativo. A água acumulada junto a

deficiência da impermeabilização do revestimento no elemento estrutural ocasionou

a corrosão da armadura na viga. A correção desta anomalia deve ser feita prevendo-

se um dispositivo tipo pingadeira e o tratamento da armadura com a utilização de

produtos anticorrosivos.

Para evitar problemas deste tipo é indicado que qualquer revestimento que esteja

em fachada sacando do alinhamento deste paramento, deve ter um “chamfro” na

parte superior e uma pingadeira na parte inferior da viga.

Por fim as setas verdes indicam fissuras na vertical em baixo do peitoril da janela.

Duas hipóteses são levantadas para o caso. A primeira seria que o escorrimento da

umidade de precipitação pela parede, por falta da pingadeira no peitoril provoca o

desgaste do revestimento, gerando fissuras. A segunda seria uma deformação da

viga superior do pano de fachada maior do que a inferior, gerando fissuras

perpendiculares aos esforços de tração.

O diagnóstico provável é que a falta da pingadeira no peitoril permite o escorrimento

da água de chuva e permite a penetração desta água pelo furo dos ganchos de

fixação da tela de proteção. A vedação das fissuras e a execução de uma pingadeira

são técnicas de reparo na solução desta anomalia.

A Figura 21 apresenta uma fissura horizontal na interface da alvenaria com a viga.

Figura 21 – Fissura horizontal ocasionada na zona de interface da viga com a alvenaria

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Dois diagnósticos para essa situação são apresentados. O primeiro é a acomodação

da alvenaria no “encunhamento” ou “aperto” da região da interface. A aplicação do

revestimento de forma precoce, sem que a argamassa de assentamento seque,

provoca uma redução no tempo de evaporação da mesma. Como a parede revestida

seca primeiro, por estar mais exposta, após secagem da argamassa de

assentamento a alvenaria cede variando a altura. Isso provoca tensões de tração

não suportadas pelo reboco, e consequentemente surge a fissura.

Esse tipo de fissura também é mostrado na Figura 22, tendo como provável

diagnóstico que os traços de argamassa de assentamento possam ter sido diferente

o que acaba provocando comportamentos desiguais.

Figura 22 – Fissuras horizontais provocadas pela acomodação da alvenaria

O segundo diagnóstico é que os coeficientes de dilatação térmica dos diferentes

materiais, da alvenaria e do elemento estrutural, provocam diferentes deformações.

Como o revestimento não apresenta boas características a esforços de tração a

fissura ocorre na interface dos materiais.

Como já foi explicitado anteriormente, essas fissuras podem ser tratadas com o uso

de telas metálicas ou execução de juntas de movimentação.

A Figura 23 mostra a fissuração em toda a fachada das paredes em torno de áreas

molhadas.

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Figura 23 – Fissuras em mapas em torno das paredes de área molhada

Pode-se observar que as fissuras ocorrem com maior incidência na fachada onde

fica um ambiente de área molhada. Devido a isto se levanta a hipótese de que a

umidificação deste ambiente permite a movimentação higroscópica pelos

componentes do sistema de revestimento.

A posição da fachada está para a nascente, logo sofre uma incidência de radiação

solar durante a manhã. A umidade provoca a expansão do revestimento

argamassado devido à absorção pelos seus poros. A perda desta umidade por

evaporação é gradativa durante o dia e provoca sucessivas retrações gerando

esforços internos desenvolvendo fissuras. Da noite para o dia a variação de

temperatura é brusca e a perda d’água de maneira mais rápida contribui para a

ocorrência de manifestações patológicas.

A medida corretiva adequada para este caso é a substituição do revestimento,

prevendo uma argamassa de revestimento com propriedades elásticas para

absorver deformações provocadas por esforços de retração. O uso de telas

metálicas também reforça a capacidade de absorver tensões de tração da

argamassa de revestimento.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A avaliação de campo realizada possibilitou a observação de manifestações

patológicas de fissuras em revestimentos argamassados de fachada. Foi possível

levantar hipóteses, realizar diagnósticos do que pode ter provocado essas fissuras e

propor metodologias corretivas adequadas para cada caso analisado.

As principais causas que originaram as fissuras foram diagnosticadas como

provenientes de retração das argamassas, devido a movimentações térmicas e

higroscópicas, concentração de tensões em aberturas provocadas pela atuação de

sobrecargas, a ausência ou falha de um projeto específico de revestimento de

fachada e falhas executivas. As medidas corretivas propostas neste trabalho foram:

substituição do revestimento, o uso de telas metálicas, execução de juntas e

execução de contra-vergas.

Além de reparar as fissuras é importante fazer manutenções nas fachadas das

edificações pelo fato de ficarem expostas as várias condições de ambiente, tendo

assim uma maior durabilidade e oferecer conforto aos usuários.

Neste trabalho a execução do projeto de revestimento argamassado de fachada,

ainda pouco utilizado pelas empresas, torna-se importante, pois permite a quem

executa o conhecimento e o detalhamento dos critérios técnicos necessários a um

bom revestimento.

5.1 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

Levantamento de manifestações patológicas em edificações que foram

executadas com projetos de revestimentos argamassados de fachada.

Estudo sobre a biodeterioração em revestimentos argamassados de

fachadas.

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