mendez da rocha 2

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  • 7/23/2019 Mendez Da Rocha 2

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    PARTEIIAS CASAS DEPAULOMENDES DAROCHA

    L architecture est une recherche patiente

    Le Corbusier

    Parece-me que o que dinmico a sucesso de modelos:

    um modelo no tem que ser eterno. A evoluo se faz

    de um modelo para outro. Chegar a um modelo nico que se

    adapta eternamente no uma perspectiva dinmica,

    pelo contrrio, uma viso totalmente esttica e imutvel.

    Isso no me faz ver nenhuma forma, d a idia de um caos total.

    No se trata de uma adaptao ad perpetuum do modelo.

    A transformao acontece de um modelo para outro;

    e cada modelo deve ter uma clara inteno

    Paulo Mendes da Rocha(Debate sobre a Cecap)

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    CRONOLOGIA1. ENSAIOS GERAIS: 1958-19602. ENSAIOS CONSOLIDADOS: 1961-19643. TIPOS CONSOLIDADOS:CASA-APARTAMENTO SOBRE PILOTIS

    1963-1965: TEMAPAULISTA, EMPENAS FECHADAS E SOMBRAS ABERTAS1972-1989: SOLOS EM TOM MAIOR EVARIAES SOBRE O COMPACTO

    4. TIPOS CONSOLIDADOS:CASA-APARTAMENTO SOBRE PILOTIS1964-1978: VARIAES SOBRE A CAIXA,TELRICA OU ELEVADA

    5. TIPOS CONSOLIDADOS:COMPOSIES COMPLEXAS1976-1979: CORPOS SUPERPOSTOS INTERCONECTADOS:

    6. PRAIA/CAMPO:VOLUME COMPACTO1961-1984: TRADIOPALLADIANA E INVENO BANDEIRISTA

    7. PRAIA/CAMPO: VOLUMES INTERCONECTADOS1981-1995: FRAGMENTAO E DILOGO INVENTANDO O LUGAR

    TIPOESTRUTURALAESTRUTURA PORTICADA DE CONCRETOAPOIOS INDEPENDENTES E RECUADOS DO PERMETRO

    BESTRUTURA PORTICADA DE CONCRETO

    APOIOS INDEPENDENTES E COINCIDENTES COM O PERMETROCMUROS PORTANTES PERIFRICOS E LAJES NERVURADASDMUROS PORTANTES PERIFRICOSAPOIADOS SOBREPILARES E LAJES NERVURADASEMUROS PORTANTES PERIFRICOS E LAJES NERVURADASCOM PILARES ESTRUTURAIS INTERMEDIRIOS

    FMUROS PORTANTES PERIFRICOS E LAJES NERVURADASCOM MEZANINO EM ESTRUTURA INDEPENDENTE

    GMUROS PORTANTES NO PERIFRICOSAPOIADOS SOBRE PILARES E LAJES NERVURADAS

    HESTRUTURA CONVENCIONAL DE CONCRETO E ALVENARIAIPILARES,VIGAS E LAJES PR-FABRICADOS EM CONCRETO

    171AS CASAS:ETAPAS DE TRABALHO/ ANLISES/CLASSIFICAO/ LEGENDAS

    ETAPAS DE TRABALHO REALIZADAS PARA A ORGANIZAO DO UNIVERSO DE PESQUISA1. LEVANTAMENTO E SISTEMATIZAO DAS INFORMAES GRFICAS1.1. LEVANTAMENTO DO CURRCULO COMPLETO DE OBRAS DO ARQUITETOPAULO

    MENDES DAROCHA1.2. LISTAGEM DAS OBRAS RESIDENCIAIS,INCLUINDO PROJETOS REALIZADOS OU NO E

    MESMO POSSVEIS VARIANTES DO MESMO PROJETO;ORGANIZAO POR DATA.1.3. VISITA, QUANDO POSSVEL, AOS PROJETOS EFETIVAMENTE EXECUTADOS,COM

    DOCUMENTAO DO SEU ESTADO ATUAL

    1.4. RE-DESENHO DE TODOS OS PROJETOS(EXECUTADOS OU NO)EM PADROCADPARTIR DOS DESENHOS ORIGINAIS DO ARQUITETO(EXECUTIVOS ,OU ANTEPROJE

    TOS,NO CASO DAS OBRAS NO REALIZADAS)2. LEVANTAMENTO E SISTEMATIZAO DAS INFORMAES BIBLIOGRFICAS2.1. LEVANTAMENTO DA BIBLIOGRAFIA EXISTENTE ACERCA DO ARQUITETO E DE SUAS

    OBRAS

    2.2. SELEO E CPIA DA BIBLIOGRAFIA REFERENTE AOS PROJETOS RESIDENCIAIS2.3. LEVANTAMENTO E SISTEMATIZAO DA BIBLIOGRAFIA DE APOIO AO TEMA3. ANLISE ARQUITETNICA DO UNIVERSO DE OBRAS SELECIONADAS3.1. ANLISE DE CADA UM DOS PROJETOS HABITACIONAIS ATRAVS DE TEXTOS E

    DESENHOS

    3.2. PROPOSIO E ANLISE CRTICA DE UMA PERIODIZAO TEMPORAL DO UNIVERSODE OBRAS,SEGUNDO AS CARACTERSTICAS REVELADAS PELAS OBRAS

    3.3. PROPOSIO E ANLISE CRTICA DE UMA CATEGORIZAO FORMAL DO UNIVERSODE OBRAS, SEGUNDO AS CARACTERSTICAS DE PARTIDO REVELADAS PELAS OBRAS.

    LEGENDAS/QUADRO DE REASAT REA DO TERRENOPC PROJEO DA COBERTURAPI PAVIMENTO INFERIOR[SUBSOLO OU EMBASAMENTO]PT PAVIMENTOTRREO PL: PILOTISPS PAVIMENTO SUPERIORAC/U REA CONSTRUDA TIL

    VOLUMETRIAT TRREOM MEZANINO1P 1 PAVIMENTO2P 2PAVIMENTO/PL SOBRE PILOTISTJ TETO-JARDIME EMBASAMENTO

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    pilotis. Quanto organizao formal, a grande maioria das casas

    estabelece um padro configurado por duas fachadas

    opostas/abertas e duas outras opostas/fechadas, exceto por alguns

    exemplos que, maneira da Villa Savoye, organizam aberturas

    variadas para todos os quadrantes.A partir de meados dos anos 70, a experimentao com

    diferentes combinaes desse dois tipos bsicos (Dom-

    ino/Citrohan) d incio a um terceiro tipo de abordagem de proje-

    to, qual seja a proposio de dois corpos distintos e superpostos de

    variadas maneiras, cada qual podendo ser, isoladamente,

    enquadrado em uma das solues anteriores, como ser analisado

    mais adiante.

    As casas de praia/campo, sendo mais simples e relativa-

    mente despretensiosas, no enquanto arquitetura, mas enquanto

    espao de fruio mais relaxado e ldico, apresentam a oportu-

    nidade para outros tantos exerccios que, se podem ser considera-

    dos como variaes das casas urbanas, ganham outras caractersti-

    cas prprias. Nestas casas pode-se notar igualmente dois tipos bsi-

    cos: aquelas compactas e aquelas compostas por vrios corpos

    interconectados.

    Face s consideraes acima, decidiu-se propor umentendimento da obra residencial do arquiteto Paulo Mendes da

    Rocha segundo duas grandes fases: um perodo inicial, de 1958 a

    1964, de ensaio de solues inicialmente experimentais e logo a

    seguir mais maduras; e um vasto e amplo perodo de 1964 at hoje

    onde, onde comparecem pelo menos 3 diferentes estratgias de

    abordagem do projeto, ou partidos, nas casas urbanas, e 2 dife-

    rentes estratgias de abordagem do projeto, ou partidos, nas

    casas de praia/campo. Se bem que haja certa preferncia temporal

    na escolha de cada um desses vrios tipos, isso no se d de

    maneira excludente ou estanque, em absoluto. Ou seja, o arquite-

    to livremente retoma, reelabora e resgata propostas e idias que

    j comparecem, em potncia, ou desenvolvidas com outras carac-

    tersticas, em outros momentos de sua trajetria profissional.

    Definiram-se assim, no total de 44 casas analisadas, sete

    momentos cronolgicos/tipolgicos e, dentro desses, h lugar para

    variaes e hibridizaes, como ser analisado adiante.

    II.3.AS CASAS:PERIODIZAO E FICHAS DE DESCRIO

    As 44 casas projetadas pelo arquiteto Paulo Mendes da

    Rocha a seguir apresentadas foram organizadas a partir do seu re-

    desenho em base CAD e de cuidadosa e pormenorizada descrio

    substantiva de cada uma, produto que foi denominado ficha de

    descrio e inclui elementos grficos e textuais. No processo deanlise e redao dessas fichas foram realizados vrios estudos,

    desenhos e croquis que, embora no tenham sido apresentados

    aqui, foram imprescindveis para a compreenso de cada projeto

    em seus traados reguladores, caractersticas formais, estruturais,

    arquitetnicas. As casas sero ento apresentadas seguindo uma

    periodizao cronolgico-tipolgica que define fases no neces-

    sariamente sucessivas, ou seja, que podem e de fato se superpem

    no tempo.

    A grande homogeneidade e qualidade da totalidade dos

    exemplos apresenta certa dificuldade conceitual para uma perio-

    dizao desse tipo. Inicialmente, parece haver quase que apenas

    uma fase em sua obra, ou seja, fase nenhuma, mas um contnuo

    perene. Eventualmente, talvez se pudesse detectar alguns exem-

    plos preliminares conceitualmente menos consolidados mas igual-

    mente de interesse, mas apenas at 1961, ou seja, muito cedo na

    sua carreira profissional. De fato, um exemplo como a casa CelsoSilveira de Mello (1962/1) j pode ser considerada como de alto

    grau de amadurecimento, coerncia e clareza de proposta.

    Entretanto, esse universo posterior a 1961 admite, numa

    segunda leitura, uma certa preciso, a posteriori, que pode ser

    definida a partir do exemplo da casa do arquiteto e sua gmea-

    vizinha (1964/4 e 1964/5), configurando a casa-apartamento

    sobre pilotis, incluindo outros exemplos um pouco anteriores ou

    posteriores, caracterizando um importante ponto de inflexo ao

    explorar uma senda muito determinada e coesa; estando entre os

    exemplos mais divulgados e conhecidos da obra do arquiteto,

    Uma verificao mais pormenorizada dessas casas do uni-

    verso aps 1964 revela que estas podem ser melhor compreendidas

    se agrupadas em dois temas, algumas vezes semelhantes em ter-

    mos de resultados espaciais, mas conceitual e estruturalmente dis-

    tintos, quando a nfase recai na estrutura porticada genrica (

    maneira Dom-ino) ou quando a nfase recai nos grandes murosportantes ( maneira Citrohan. Ou, em outros termos, se poderia

    distinguir, embora nem sempre precisamente pois as variaes e

    hibridizaes so freqentes, os espaos sanduche dos espaos

    megaron, para utilizar a terminologia talvez vaga, mas muito til,

    de Collin Rowe. Quanto sua organizao programtica, todos

    esses exemplos poderiam ser includos na categoria genrica de

    casas apartamento, face priorizarem a compactao dos ambi-

    entes de uso em um nico pavimento, quase sempre elevado sobre

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    1811.ENSAIOS GERAIS1958-1960

    As primeiras casas concebidas pelo arquiteto podem ser

    consideradas, luz de toda a sua trajetria posterior, como ensaios

    preliminares, cada qual com um interesse especfico na explorao

    de distintos territrios conceituais.

    O primeiro projeto para a casa Gaetano Miani (1958/2),embora se trate apenas de um estudo preliminar, muito signi-

    ficativo se comparado a algumas contemporneas de Joo Batista

    Vilanova Artigas, como a Mario Taques Bittencourt (1959); mas seu

    interesse est principalmente naquilo em que a proposta difere da

    abordagem do mestre. A elevao apresentada nos remete leitu-

    ra de um volume extenso, conformado por duas reas de interesse

    nas extremidades conectadas por uma rea intermediria de vazio

    e de circulao. Tal soluo comparece nas obras de Artigas desde

    1946, e tem seus exemplos mais taxativos talvez nas casas Heitor de

    Almeida, 1949 e Geraldo Destefani, 1950, e Oduvaldo Viana, 1951.

    Nestas, a ligao se d preferentemente por rampas,

    e assim a organizao espacial dos dois setores opos-

    tos se diferencia por meios-nveis, quase como pata-

    mares estendidos dessas rampas, que de fato esto

    formal e conceitualmente muito presentes na ger-

    ao dos espaos.Embora a casa Gaetano Miani.1. sugira em

    sua elevao esse mesmo tipo de abordagem, de

    fato o corte e as plantas revelam algo distinto. Cada

    pavimento apresenta-se em apenas uma nica cota

    de nvel; dois teros da rea do pavimento trreo

    est desocupada, configurando uma quase soluo

    em pilotis; no a casa que se acomoda ao terreno,

    mas este que artificialmente trabalhado para aco-

    mod-la - soluo essa tambm presente na obra de

    Artigas, mas quase sempre de maneira multi-ter-

    raceada e no, como neste caso, em camadas super-

    postas. Na casa Gaetano Miani.1 essa modelagem do

    stio serve principalmente finalidade de horizon-

    talizar ainda mais o aspecto geral da soluo, e ao

    mesmo tempo, solt-la do cho - enquanto as casas

    de Artigas preferencialmente pesam sobre o solo.A soluo tripartida dada distribuio dos

    ambientes dessa casa ser, num sentido mais genri-

    co, muito freqente na obra de Mendes da Rocha;

    enquanto o esquema especificamente proposto

    aqui, em que a poro central francamente

    habitvel e no apenas vazio de conexo e circu-

    lao, ser tambm retomado em obras posteriores,

    tanto na proposta final para a Gaetano Miani

    CASAMARIOTAQUESBITTENCOURT, 1959VILANOVAARTIGAS ECARLOSCASCALDICASAGAITANOMINANI.1, 1958

    ELEVAO, PAVIMENTO SUPERIORPAULOMENDES DAROCHA

    CASAHEITOR DEALMEIDA, 1949JOOBAPTISTAVILANOVAARTIGAS

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    183182

    ta quase desaparece, substituda por um espao sanduche mais

    homogneo, onde cada pavimento tem sua cota de piso mais rigi-

    damente fixada; mas essa possibilidade de variao nunca desa-

    parece de maneira total, sendo retomada de maneira mais discre-

    ta na fase 4, por exemplo em casas como a Helena Ometto(1973/3), Fernando Millan (1970/1), Paulo e Lucia Francini (1975/1).

    Note-se que, embora havendo diferenciao nas cotas dos pisos de

    cada pavimento entretanto no h, nesta casa, o recurso ao p-

    direito duplo, que s vai comparecer nas solues de vazio inter-

    no, algumas poucas vezes maneira Citrohan, outras maneira

    ptio-impluvium, ou, muito freqentemente, apenas como uma

    surpresa localizada, excepcional.

    As plantas da casa Bolivar Ferraz Navarro sero pouco

    fecundas enquanto prottipo de futuras solues do arquiteto, em

    sua soluo nitidamente espiralada e centrpeta, que ser retoma-

    da de outra maneira na casa Gaetano Miani.2, e depois disso s

    encontrar similar muito distante, vago mesmo, na casa Antonio

    Gerassi, onde, apesar desta ter apenas um pavimento til, sua com-

    pactao vai recuperar algo desse movimento em

    torno de um centro. Em compensao, a soluo

    dada aos muros portantes ser amplamente explora-da, em outros exemplos futuros, certamente com

    mais ousadia - pois neste caso ela se prope ainda

    discreta, com a presena de um muro portante inter-

    medirio, e ainda por ter a soluo, aqui, um carter

    mais visual que efetivamente estrutural - como de

    resto sucede, em outros termos, com a casa Baeta,

    1956, de Vilanova Artigas, cujo perfil chanfrado

    parece ter tido aqui alguma importncia na deli-

    neao do desenho dos muros, embora estes sejam

    tambm rigorosamente, em ambos os casos, o resul-

    tado das disposies e alturas internas dos am-

    bientes.

    As trs casas includas nesta fase parecem

    apontar para uma busca de caminhos, mais do que

    para o estabelecimento de propostas consolidadas,

    como alis natural tratando-se das primeiras obrasdo arquiteto; entretanto, vale lembrar serem con-

    temporneas do projeto e obra do Ginsio de

    Esportes do Paulistano, proposta de maturidade

    indiscutvel. Trata-se talvez de uma questo de

    escala, pois a relativa limitao do programa resi-

    dencial no favorecia, no ambiente paulistano de

    final dos anos 50, proposies de cunho marcada-

    mente mais radical.

    CASABAETA, 1956

    VILANOVAARTIGAS ECARLOSCASCALDI

    CASABOLIVARFERRAZNAVARRO, 1960PAULO MENDES DAROCHA

    (1961/1), embora muito mais compactada, como nas casas Sylvio

    Albanese (1964/4), G.de Cristfaro (1971/1) e Helena Ometto

    (1978/2). A variante em que, no esquema tripartido, a rea central

    privilegiada como vazio, eventualmente contando com passarela

    de circulao superior, tambm comparecer em vrias outrascasas, como se ver na anlise da casa Celso Silveira de Mello

    (1962/1).

    A casa Fabio Monteiro de Barros (1958/2) possivelmente

    uma das primeiras a ser efetivamente construda, o que talvez

    explique sua soluo mais convencional enquanto volumetria, que

    entretanto atende plenamente ao padro construtivo de alta qua-

    lidade comum na cidade de So Paulo naquele momento, e que

    pode ser verificado na obra residencial de arquitetos como

    Oswaldo Bratke ou Rino Levi, e mesmo na grande maioria das

    obras ento construdas e publicadas como exemplos de solues

    boas e modernas, mas no necessariamente radicais. O interesse

    desta casa, assim sendo, se concentra mais na proposta compositi-

    va e no arranjo espacial dos ambientes do que no seu aspecto

    externo, sem entretanto desmerec-lo.

    A cuidadosa observao das plantas revela algumas pro-

    postas muito interessantes, a comear pela sala em ambiente nicode 6 x 21m, praticamente em continuidade com a rea da cozi-

    nha,cujo precedente notvel talvez seja a casa Tugendhat de Mies

    van der Rohe, e tendo os seus vrios usos zoneados pela aposio

    de eventos como um armrio/mvel que cria um anteparo visual

    no acesso da casa, paralelo a escada de acesso ao pavimento

    superior; o mvel/lareira; o armrio/copa - todos sugerindo um

    carter de elementos acidentais mais do que de paredes portantes,

    que so ou no. Por outro lado interessante notar a no con-

    gruncia exata dos pavimentos inferior e superior, aqui ainda

    muito controlada por uma soluo construtiva convencional, mas

    cuja possibilidade criativa ser explora-

    da radicalmente apenas vinte anos

    depois (ver obras da fase 5). Este talvez

    seja o nico exemplo de casa do autor

    de composio mondrianesca, reme-

    tendo possivelmente a uma releituradas obras miesianas clssicas como o

    Pavilho de Barcelona e as casas-ptio.

    A casa Bolivar Ferraz Navarro

    (1960/2) vai explorar, como outros

    exemplos dessas etapas preliminares,

    uma grande variabilidade na locao

    das cotas de nvel dos pisos e na altura

    dos ps-direitos. Na fase 3 essa propos-

    CASAFABIOMONTEIRO DEBARROS, 1958PAULO MENDES DA ROCHA

    CASATUGENDHAT, BRNO, 1930MIESVAN DERROHE

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    OBSERVAES

    Estudo preliminar, no executado. H outro proje-

    to para o mesmo cliente, aparentemente em outro

    terreno.

    TERRENO

    Terreno trapezoidal de esquina, basicamenteplano, na cota 100.00, com comprimento ~45m e

    largura variando entre ~19 e ~35m aproximada-

    mente. O volume da casa retangular, com ~10 x

    35 m, paralelo com trs das divisas, afastado ~7 m

    da frente menor, ~4 m da divisa lateral, ~8m da

    divisa de fundos, e varivel, mas nunca menos que

    ~4m da frente maior. A dimenso maior do ret n-

    gulo quase paralela linha norte-sul, sendo o

    norte no sentido da frente menor do terreno.

    DESCRIO

    A casa se organiza em dois pavimentos. O pavi-

    mento inferior implantado meio nvel abaixo da

    cota do terreno circundante; essa caracterstica

    enfatizada na elevao, sugerindo uma disposio

    interna em meios nveis que de fato no ocorre. A

    planta configura trs faixas paralelas fachadamenor, com uma quarta faixa correspondendo

    edcula. No pavimento Inferior na cota 100.00 a

    primeira faixa deixada aberta, possivelmente

    servindo de abrigo de carros ou rea de lazer; a

    segunda faixa estende-se alm dos limites do

    permetro da casa aproximando-se da frente

    maior e configurando um deque de acesso e

    recepo, com um ptio com p direito duplo ocu-

    pando metade da sua rea, coroado por uma pr-

    gola; a terceira faixa abriga um ambiente nico

    com estar e jantar, separados por painis

    divisrios. A quarta faixa, que compreende a

    edcula e o ptio entre esta e o corpo principal da

    casa, interliga-se por meio de uma passagem

    coberta ao corpo principal e abriga um hall-

    despensa, lavabo e cozinha.No pavimento superior, na cota 102.40, a primeira

    faixa est recuada do limite da cobertura e com-

    preende dois dormitrios voltados para a fachada

    menor compartilhando um banheiro comum si-

    tuado ao fim do corredor de acesso dos quartos,

    com abertura para a rea em ptio pergolado. A

    segunda faixa abriga corredor de distribuio

    ligeiramente recuado da linha externa do

    184

    protegidos do olhar externo, voltadas para divisas

    internas ou para vazios iluminantes.

    MATERIAIS, TEXTURAS, DETALHES

    Os desenhos originais sugerem, atravs de tex-

    turas de trao, dois tipos de piso: uma textura em

    dois sentidos, fechada, na rea de abrigo de autos(talvez granito em paraleleppedos); faixas parale-

    las com 25 cm de espessura (talvez deque de

    madeira). No corte e elevao h indicao de uso

    de alvenaria de grandes pedras irregulares

    definindo pequenos muros de arrimo no setor

    semi-enterrado.

    GEOMETRIA

    Todos as plantas da casa seguem propores

    baseadas no quadrado, retngulo ureo e retn-

    gulo L-L2, considerando-se inclusive as reas de

    piso no cobertas. Na volumetria e fachadas essas

    propores no so to evidentes, mas procuram

    obter, a partir das bases de geometria regular, um

    equilbrio assimtrico e balanceado, tendendo

    para uma nfase na horizontalidade.

    185

    volumetria funcional que ela envolve. O duto de

    ar de uma lareira tr atado, no desenho da facha-

    da, semelhana de uma dobra na superfcie con-

    tnua desse muro contnuo e portante, e tambm

    ali se posiciona um volume alongado e baixo que

    corresponderia provavelmente a uma caixadgua.

    Embora no exista um desenho da fachada n-ne

    pode-se visualiz-la como uma abertura protegida

    pelas laterais e coberturas em projeo, configu-

    rando uma rea de sombra. A sombra tambm

    est presente no ptio pergolado, e assim pode-se

    dizer que a sensao volumtrica do projeto

    remete idia de um jogo de muros e vazios som-

    breados. As aberturas envidraadas so dispostas

    de maneira a configurar panos contnuos, onde

    aquelas que se voltam para as fachadas exteriores

    esto protegidas por venezianas, o que pode ser

    visto no dormitrio voltado para o ptio, e deduzi-

    do nos demais dormitrios. Dessa maneira, as

    aberturas, que possivelmente seriam totalmente

    envidraadas, esto dispostas apenas em lugares

    1958/2 GAITANOMIANI.1

    permetro da casa e um terceiro dormitrio-sute,

    cujo permetro avana parcialmente sobre a ter-

    ceira faixa, abrindo-se para o ptio pergolado na

    fachada lateral. A terceira faixa abriga a escada

    de acesso ao pavimento superior em continuao

    ao corredor de distribuio, o restante da reaconfigurando um estar ntimo em L, com aber-

    turas tanto para o ptio pergolado como para o

    vazio de p-direito duplo entre a terceira e a quar-

    ta faixas, configurando uma iluminao zenital. A

    quarta faixa abriga lavanderia e dormitrio de

    servio voltados para a fachada s-so, sem ligao

    direta com as demais reas do pavimento superior.

    ESTRUTURA

    Sendo apenas um estudo preliminar, a estrutura

    no est total e claramente definida. A laje de

    piso do pavimento superior tem espessura mnima

    de 20cm, sem vigas, talvez indicando sua execuo

    em sistema de laje maica tipo vigota+tijolo

    cermico; A laje de cobertura indicada com

    espessura de 40cm, talvez numa representao

    simplificada de um sistema de vigas nervuradas, sese puder inferir tal soluo pelas vigas reveladas

    no trecho em prgola. No h indicao de apoios

    intermedirios nos ambientes da residncia, o que

    indicaria que toda a carga vertical seria conduzida

    pelas paredes das fachadas laterais maiores.

    Entretanto, no h indicao clara de como seria

    transferida a carga da laje de piso do pavimento

    superior junto segunda faixa, j que nesse trecho

    as plantas mostram uma ntida descontinuidade

    daquele muro-portante, configurando uma

    soluo em dois volumes unidos por uma ponte.

    VOLUMETRIA

    O acesso ao volume edificado de forma basica-

    mente retangular se d pela fachada extensa, la-

    teral. A configurao em quatro faixas, que

    pode ser percebida nas plantas e mesmo no corte, tratada em um resultado tr ipartido na elevao,

    unificando as duas ltimas faixas de maneira a no

    revelar a separao entre ambas, o que pode

    indicar ser a quarta faixa considerada no como

    uma tradicional edcula, separada do corpo da

    casa, mas como uma fenda iluminante num vo-

    lume contnuo. Assim, o desenho dessa fachada

    lateral est em sutil e parcial contradio com a

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    186 1871958/2 FABIOMONTEIRO DEBARROS

    OBSERVAES

    Projeto executivo, realizado, no publicado.

    TERRENO

    Terreno retangular praticamente regular, com

    15m de frente e 35m nas laterais, plano e elevado

    1m em relao ao alinhamento, situado em lotea-mento com restries contratuais; a linha norte sul

    inclinada 45 no sentido horrio em relao ao

    alinhamento, norte no sentido do alinhamento

    para os fundos.

    DESCRIO

    O volume principal da casa, em dois pavimentos,

    situa-se na cota 1.00m apoiado sobre o terreno

    natural, isolado e paralelo a todas as divisas; a ele

    se agregam uma marquise e uma prgola que

    conectam parcialmente o volume principal s

    divisas do terreno. Uma edcula de servio situa-se

    junto divisa de fundos e lateral esquerda separa-

    da do volume principal por uma passagem

    descoberta.

    Os dois pavimentos do volume principal se super-

    pem apenas parcialmente, sendo o pavimentoinferior mais extenso e parcialmente mais est reito.

    O permetro do pavimento inferior, na cota 1.00,

    pode ser descrito como um retngulo de

    6.30x~21m recuado 6m do alinhamento e 6.70m

    da divisa esquerda, abrigando as reas sociais num

    ambiente nico organizado por divisrias, mveis

    ou meias-paredes; ao qual foi parcialmente super-

    posto um quadrado de 5m de lado afastado 3m da

    divisa lateral esquerda e coincidente com a facha-

    da de fundos do retngulo, destinado copa-co-

    zinha; uma forma triangular destinada a um

    lavabo conecta ambas figuras em seu ngulo

    interno de coliso. Ao pavimento inferior se

    agregam parcialmente outras formas retangu-

    lares: um terrao aberto coberto formado pela

    projeo excedente do pavimento superior, para-lelo e de menor dimenso que o retngulo das

    reas sociais; adjacente e perpendicular a este,

    uma marquise de acesso casa; e um terrao per-

    golado adjacente fachada de fundos e limitando

    com a divisa lateral direita.

    O pavimento superior definido por um retngulo

    de 9x~17.5m superposto ao pavimento inferior na

    lateral direita e na fachada de fundos e recuado

    ~9m do alinhamento e 4m da divisa, abriga trs

    dormitrios-sute; o permetro do retngulo par-

    cialmente interseccionado pelo retngulo da mar-

    quise de acesso casa no pavimento inferior resul-

    tando num terrao superior descoberto.

    ESTRUTURAO setor em balano do pavimento s uperior apia-

    se em pilares isolados sugerindo a posio das

    vigas transversais do pavimento superior num

    ritmo ~4.8/4.8/2.7/4.8m, da frente aos fundos; no

    h indicao aparente dessas vigas no forro do

    pavimento inferior, aparentemente absorvidas

    pela espessura do piso do pavimento superior (de

    0.40m, possivelmente com vigas invertidas e

    preenchimento). No h indicao de vigas no

    sentido longitudinal.

    VOLUMETRIA

    A fachada principal totalmente cega e a fachada

    voltada para a divisa direita praticamente cega,

    exceto por um rasgo vertical envidraado junto

    escada e a uma linha de caixilhos em posio alta

    no pavimento superior, d a aparncia de umvolume fechado em dois lados concorrentes, com

    fenestraes variadas nos outros dois lados. A

    superposio parcial dos volumes cria uma rea de

    sombra no pavimento inferior que destaca o pavi-

    mento superior como parcialmente independente.

    O telhado sobre a cobertura, em ngulo de incli-

    nao bastante abatido, admite uma leitura prxi-

    ma da casa em teto plano.

    MATERIAIS, TEXTURAS E DETALHES

    As lajes do pavimento superior e cobertura so

    aparentes; o desnvel do terreno de 1m marcado

    por muro de arrimo em pedra; no restante da casa

    empregado revestimento sobre as alvenarias.

    GEOMETRIA

    Embora se possam verificar algumas bases

    geomtricas a partir do quadrado e do retnguloL2, a geometria parece basear-se mais numa

    estratgia de equilbrio e superposio parcial e

    dinmica de algumas unidades retangulares e/ou

    quadradas definindo campos semi-abertos que

    so completados com linhas de fora dispostas de

    maneira aparentemente aleatria, mas de fato

    organizando um sistema com rigor geomtrico

    dinmico e aberto.

    1958/2 GAITANOMIANI.1

    PAVIMENTO SUPERIOR

    PAVIMENTO TRREO

  • 7/23/2019 Mendez Da Rocha 2

    12/110

    189188 1958/2 FABIOMONTEIRO DEBARROS

  • 7/23/2019 Mendez Da Rocha 2

    13/110

    190 1911958/2 FABIOMONTEIRO DEBARROS 1960/2 BOLIVARFERRAZNAVARRO

    OBSERVAES

    Projeto executivo, realizado, publicado.

    TERRENO

    Terreno retangular de meio de quadra com 12.5 x

    35m, praticamente plano, linha norte-sul inclinada

    45 no sentido horrio, norte do alinhamento paraos fundos.

    DESCRIO

    A casa em dois pavimentos implantada aprovei-

    tando a largura total do lote, sem recuos laterais,

    resultando em duas empenas cegas sobre as

    divisas e duas empenas abertas para o alinhamen-

    to e para os fundos; a construo atende a um

    recuo de frente de 4m.

    A planta do pavimento inferior se organiza em

    duas faixas paralelas s divisas do lote, e a planta

    do pavimento superior, em duas faixas paralelas

    ao alinhamento do lote. Cada pavimento

    implantado em duas cotas de nvel: no pavimento

    inferior, 0.00/0.80m; no pavimento superior,

    2.40/3.70m; resultando em quatro diferentes

    dimenses de ps-direitos: 2.10 /2.50 / 3.30/ vari-vel 2.10>> 3.30m. Os ambientes se organizam em

    espiral ascendente anti-horria ao redor da escada

    central cujo primeiro tramo se inicia na segunda

    cota do pavimento inferior (0.80m), define um

    patamar na cota intermediria (2.40m) e atinge a

    cota final do pavimento superior (3.70m).

    A faixa longitudinal sudeste do pavimento inferior

    (cota 0.00) organiza-se segundo um espao con-

    tnuo que se diferencia verticalmente na variao

    dos ps-direitos, abrigando em seqncia: recuo,

    abrigo de autos, sala de estar, prosseguindo exter-

    namente em um ptio; os caixilhos de fechamen-

    to, que definem os distintos ambientes, foram

    projetados de maneira a permitirem sua quase

    total abertura e reapropriao do carter de

    espao nico dessa faixa. A faixa longitudinalnoroeste e reas externas situam-se na cota 0.80m

    definindo dois setores: um englobando a rea e

    dormitrio de servio voltados para os ptios

    coberto/descoberto limitados pela elevao dos

    muros de divisa; e outro engloba as reas de cozi-

    nha (junto divisa) e jantar (em ambiente central),

    ambas voltadas para o recuo de fundos.

    No pavimento inferior a escada est posicionada

    de maneira a ter uma presena mnima. Subindo

    at o patamar intermedirio chega-se faixa

    transversal paralela fachada de frente, situada

    na cota 2.40 abrigando banheiro com iluminao

    zenital e escritrio iluminado pelo vo do

    pequeno recuo entre um pano contnuo em con-creto que define a fachada e um caixilho de vidro,

    dele recuado 0.75m; nesse pano de fachada um

    rasgo quadrado permite, desde o escritrio, a vista

    da rua. Essa faixa inclui tambm um espao no

    utilizado, de cota ligeiramente mais elevada, con-

    formando a cobertura das dependncias de

    servio, permitindo sua iluminao zenital e uma

    janela alta central iluminando a cozinha. Subindo-

    se o segundo lance da escada atinge-se a outra

    faixa transversal do pavimento superior paralela

    fachada de fundos, na cota 3.30; um corredor com

    p-direito de 2.00m d acesso aos trs dormitrios

    de p-direito de 2.70m voltados para a fachada de

    fundos e dois banheiros em posio central, ilumi-

    nados zenitalmente.

    ESTRUTURATrs linhas de muros longitudinais, sendo dois nas

    divisas laterais e um em posio central e paralelo

    aos outros, recebem as cargas verticais e definem

    vos transversais de ~6>>7m vencidos por lajes

    macias; entretanto, essa disposio mais clara-

    mente perceptvel apenas no pavimento inferior,

    j que a necessidade de compartime ntao do

    pavimento superior em vrios dormitrios torna

    essa definio menos taxativa.

    VOLUMETRIA

    O acesso ao volume edificado se d de maneira

    frontal. O desenho especial dos muros de divisa

    proporciona uma leitura do volume da casa no

    de fato como um bloco isolado adoado s divisas,

    mas como uma volumetria nica em continuidade

    com esses mesmos muros, de certa maneira esten-dendo o volume longitudinalmente, ao menos na

    percepo possvel pelos desenhos. Essa idia faz

    contraponto com outras foras compositivas que

    se superpem e parcialmente se contradizem. Na

    fachada de frente disposto um pano de concre-

    to que faz seu fechamento no nvel superior, tanto

    da rea til do escritrio como da rea no uti-

    lizada de cobertura do servio, enfatizando certa

    PAVIMENTO SUPERIOR

    PAVIMENTO TRREO

  • 7/23/2019 Mendez Da Rocha 2

    14/110

    192 1960/2 BOLIVARFERRAZNAVARRO

    da de fundos. O uso de ladrilhos hidrulicos

    refora a continuidade conceitual da primeira

    faixa longitudinal sudeste do pavimento inferior.

    GEOMETRIA

    As plantas da residncia tm geometria quadrada,

    com altura total ~L/2; o recuo de frente somado rea da residncia configura-se um retngulo

    L/L2; se se acrescentar tambm o ptio definido

    pela continuidade da faixa longitudinal sudeste

    configura-se um retngulo ureo; a altura maior

    da casa em relao sua largura (fachada poste-

    rior) configura tambm um retngulo ureo.

    horizontalidade transversal e um carter de

    fechamento em relao rua, diminuindo visual-

    mente a altura da construo e sugerindo, atravs

    da sombra inferior resultante do vazio do abrigo

    de autos, a idia de um volume elevado exento; a

    altura total do volume edificado s atingida eclaramente percebida na fachada de fundos, f ran-

    camente rasgada horizontalmente pela caixilharia

    abaixo e por janelas do tipo Ideal acima.

    MATERIAIS, TEXTURAS, DETALHES

    Os muros revestidos e pintados fazem contraste

    com o pano de concreto que aposto fachada

    de frente e com a seqncia de caixilhos da facha-

    ELEVAO 2

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    193

    PAVIMENTO TRREO

    PAVIMENTO SUPERIOR

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    16/110

    faixa de uso, de acesso e estacionamento, sob as reas de cozinha

    e servio - e a disposio centralizada da escada colaboram paratornar mais complexa a precepo espacial e formal, enfatizando

    tambm a sucesso em espiral anti-horria dos ambientes. O pata-

    mar central disposto na cota 2.37, ao no permitir que um dos doisdomos zenitais ilumine a rea de acesso casa, colabora paraeludir a simetria marcante da soluo, mais perceptvel em planta

    mas impedida em corte. Os temas acima explicitados, bem como avariabilidade no tratamento das fachadas, a disposio de grgu-

    las, canhes de luz e os recortes nos muros, tudo parece convergirpara um desejo de elaborao minucioso e nada genrico, mais

    para uma soluo circunstancial que para uma soluo tpica.O tratamento geral dado s elevaes sugere, pela cria-

    o de sombras nos lados 2 e 4, o ideal de uma casa concentradano pavimento superior com o trreo liberado, prenunciando uma

    soluo que ser assumida de fato na fase seguinte. Outra carac-terstica que comparece aqui, e ser depois muito freqente, so os

    acessos dispostos de maneira a sugerir uma certa negao dafrontalidade face a uma aproximao lateral e rotacionada.

    A casa Celso Silveira Mello parece ser o exemplo mais

    acabado e perfeito desta fase, no s por sua geometria precisa,baseada integralmente no retngulo ureo, como pela clarezaampliada de sua soluo - que desdobra temas que sero tornados

    tpicos ao longo da trajetria do arquiteto: a soluo em trs faixas

    marcadamente distintas; paredes de estrutura efetivamente por-tante definindo a dimenso maior do volume retangular; regulari-

    dade do esquema estrutural em contraponto com a aparentealeatoreidade do posicionamento das aberturas zenitais - embora,

    neste caso, o grande rasgo zenital central controle com mo firmeessa liberalidade; e a percepo espacial interna paradoxal obtida

    1952. ENSAIOS CONSOLIDADOS1961-1964

    As seis casas includas nesta fase prosseguem no ensaio

    de possibilidades formais e construtivas, agora somadas francaexplorao das possibilidades estruturais e plsticas do concreto

    armado deixado aparente e de dispositivos como lajes nervuradas,

    rasgos de iluminao zenital,brises

    , panos de concreto. Os ele-mentos de circulao vertical tambm ganham importncia plsti-co-compositiva, sendo quase sempre exteriorizados e apensos ao

    corpo da casa e estruturalmente independentes; o mesmo se dcom elementos secundrios como lareiras; a circulao interna

    tambm sobre-valorizada atravs de passarelas, amplos pata-mares intermedirios e enfatizada pela iluminao natural, que

    entretanto bastante mais controlada nos ambientes propria-mente de uso.

    A diferena principal entre esta fase e a seguinte - quetambm compartilha a grande maioria das caractersticas acima

    descritas - o trabalho compositivo das fachadas e cortes, que aquise mostram muito mais variados e elaborados, enquanto nas eta-

    pas posteriores haver um certo refluxo na importncia compositi-va das elevaes enquanto fachada. Nas casas desta fase se pode-

    ria dizer que est presente com mais fora certa tradio de

    pitoresco balanceado, filtrada por Le Corbusier, no sentido detratar cada face do edifcio segundo seus parmetros especficos deuso, insolao, importncia no contexto urbano e inteno plsti-

    ca. J os cortes so complexos e instigantes, e fundamentais para a

    compreenso do espao proposto, enquanto nas fases seguintes,em especial na fase 3, as propostas tendero a uma estratificao

    vertical mais homognea.A casa Gaitano Miani.2 mostra, em relao ao primeiro

    projeto para o mesmo cliente, uma visvel compactao e aproxi-mao ao quadrado, sem ainda de fato prop-lo como meta,

    sendo mesmo virtualmente prolongado numa forma ideal retan-gular pelo ptio externo que prossegue na cota inferior da sala de

    estar, rebaixado em relao ao terreno. Como na casa BolivarFerraz Navarro (1960/2), a planta do nvel inferior parece enfatizar

    as linha paralelas aos muros portantes (apesar da ntida marcaoentre ptio de acesso semi-privado e o restante da casa) enquanto

    no nvel superior a disposio dos ambientes enfatiza a direoperpendicular, com a forte marcao das paredes que vencem o

    vo entre os muros portantes. Acresce que a variao nos nveis depiso e nos ps-direitos - com a minimizao da altura da primeira

    194

    VILLA MEYER, PARIS, 1925/6LE CORBUSIER

    CASA GAITANO MIANI.2, 1961PAULO MENDES DA ROCHA

    CASA CELSO SILVEIRA MELLO, 1961PAULO MENDES DA ROCHA

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    197

    pelo maior iluminamento do centro do que das bordas, ao modo

    de uma soluo em ptio interno quintessenciado. Aqui aindaesto presentes as variaes minuciosas nas cotas de nvel dos

    ambientes e nos ps-direitos, em parte justificados pelatopografia, mas em parte resultado do desejo, e no da mera

    necessidade.A beleza clssica dessa casa nas suas plantas e organiza-

    o dos espaos internos cuidadosamente balanceada pelaassimetria das elevaes, que tomam temas funcionais internos ou

    necessidades no repetitivas como base para uma variao formalmuito elaborada: pequenas seteiras de observao; a caixa dgua;

    escadas externas etc.Os dois anteprojetos para Edmundo de Freitas, at pela

    sua condio de estudo no plenamente desenvolvido, demons-tram um sabor mais genrico que as demais casas includas nesta

    fase, mas tm em comum a vontade de variabilidade espacial comnfase na definio das seces verticais, parcialmente recordando

    o prottipo Citrohan; por outro lado, ensaiam solues de plantabastante inusitadas, principalmente da Edmundo de Freitas.2,

    experimentando com a mistura de setores que tradicionalmente seapresentam mais estanques (servios/social/ntimo). So possivel-

    mente solues de transio, j que os cortes/elevao se mostramprximos das solues da fase 3 na nfase da horizontalidade; por

    outro lado, a insinuao da possibilidade de uso de materiais rs-

    ticos, como alvenaria de pedra ou concreto ciclpico, o uso detaludes de terra como material de construo, mesmo que virtual,

    das fachadas, desvela uma vontade telrica que ter um exemplocabal na casa Dalton Macedo Soares (1973/5), e que ser ensaiado

    com ainda mais liberdade em algumas casas de praia/campo, comoa Maria Alice/Armando Capuano (1984/1), Marcatto (1984/2) e

    Masetti.2 (1995/1).A casa Francisco Malta Cardoso.1 um interessante caso

    de dois projetos absolutamente distintos elaborados, em seqn-cia, para o mesmo terreno/cliente, e que necessitam ser entendidos

    separadamente, sinalizando uma mudana conceitual importante:este primeiro projeto pode ser considerado uma variante prxima,

    na soluo de plantas e fachadas, das pautas colocadas pela casaGaitano Miani.2; enquanto o segundo projeto (1964/4) pertence

    integralmente fase 3, precedendo ou sendo concomitante com aproposta realizada para a casa Mendes da Rocha (1964/5).

    196

    O terreno em forte aclive coloca a questo do stio e

    recebe duas respostas distintas. Neste caso, a casa se acomoda demaneira a tomar partido da topografia, em parte aliando-se a ela,

    em parte reinventando-a, num cuidadoso bal. Como se ver, asoluo seguinte, e efetivamente realizada, contrria e oposta.

    Esta casa parece mais feminina e acomodada, enquanto suasoluo final ser masculina e desafiadora.

    A casa Sylvio Albanese sem dvida de transio, tantopoderia estar nesta como na seguinte fase. Sua planta pode ser

    considerada uma variante, em um pavimento, da casa CelsoSilveira de Mello, abstrada a variao geomtrica provocada pelo

    terreno trapezoidal e o embasamento de acesso favorecido peloterreno em aclive. Por outro lado, a aparncia externa enfatiza os

    fechamentos extensos por paramentos verticais pendurados nalaje, maneira da fase seguinte. Nota-se entretanto que a inte-

    grao de ambas as direes ainda no chegou a uma propostantegra, a conciliao que prope no estando ainda totalmente

    confortvel; a explicitao dos pilares de apoio na elevao frontaltampouco parece casar com o desejo, expresso na elevao lateral,

    da caixa auto-portante. Enfim, se a presena do tijolo deixadoaparente colabora para calentar os ambientes internos, o conjun-

    to parece menos perfeito, mais ensaio que soluo. Esta ser umadas poucas casas efetivamente trreas projetadas pelo autor, exce-

    to pela Marcelo Nitsche.2 (1973/7), que tampouco soluo cabal,

    embora perfeitamente apropriada na sua singeleza.

    CORTEDA MAISON CITROHAN

    WEISSENHOF SIEDLUNG, STTUTGART, 1927/8LE CORBUSIER

    CASA EDMUNDO DE FREITAS 1 E 2, CORTESPAULO MENDES DA ROCHA

    CASA FRANCISCO MALTA CARDOSO.1, 1964PAULO MENDES DA ROCHA

    CASA SILVIO ALBANESE, 1964PAULO MENDES DA ROCHA

  • 7/23/2019 Mendez Da Rocha 2

    18/110

    ainda mais sombreada pelo recuo da caixilharia

    criando uma varanda; o referido recorte nas

    empenas laterais de concreto indica justamente a

    dimenso dessa rea de varanda. A esse volume

    unitrio se justapem alguns poucos elementos,

    como o volume da lareira na fachada sul, a aber-

    tura sombreada de uma oportuna porta que d

    acesso, desde a sala de jantar, ao pavimento ele-

    vado criado sobre a cobertura do depsito-

    garagem, e a escada externa na fachada oeste,

    destacada como objeto independente.

    MATERIAIS, TEXTURAS, DETALHES

    O extensivo uso do concreto aparente caracteriza

    os ambientes da casa em contraponto com algu-

    mas poucas paredes internas e forros de laje rebo-

    cados e com a caixilharia de vidro; os dois grandes

    domos de iluminao zenital situados na rea cen-

    tral da casa introduzem mais luz em sua poro

    interior central do que aquela admitida pelas

    fachadas abertas, enfatizando o aspecto de inte-

    rioridade do partido adotado.

    GEOMETRIA

    A poro da faixa central que realiza o p-direito-

    total da casa parece ser a forma geradora das pro-

    pores de todos os ambientes, mas no h uma

    leitura clara e precisa das propores, ou estas de

    alguma maneira perderam seu foco, aproximan-

    do-se, mas no realizando, efetivamente, uma

    geometria de base quadrada/retngulo ureo. A

    faixa transversal central e a posio da escada

    interna sugerem uma certa simetria que entretan-

    to no predomina totalmente na definio dos

    ambientes.

    199198

    OBSERVAES

    Projeto executivo, realizado, publicado.

    TERRENO

    Terreno de esquina, ver Gaitano Miani.1

    DESCRIO

    A casa em dois pavimentos, est recuada de t odas

    as divisas e organiza-se segundo duas empenas

    abertas e duas praticamente cegas paralelas ao

    alinhamento por onde se d o acesso. As plantas

    definem trs faixas paralelas s fachadas abertas,

    onde a faixa central iluminada zenitalmente

    assume o papel de elemento de conexo das ou-

    tras duas. O recuo de frente de 6m parcialmente

    ocupado por um depsito/garagem.

    O pavimento trreo na cota 0.00 organiza espaos

    com diferentes ps-direitos: a faixa mais a oeste,

    com p-direito de 2.00m, destina-se a abrigo de

    autos ou rea coberta de servios; na faixa central,

    a de pos io central da escada define uma rea de

    acesso, com 2.00m p direito, e outra zona poste-

    rior, cujo p-direito ocupa a altura total interna da

    edificao (6.22m); a faixa mais a leste ocupada

    por sala e varanda, com p-direito de 3.00m,

    voltadas para um ptio externo na cota 0.00.

    O pavimento superior acessado por escada inter-

    na situada na faixa central atingindo a cota 2.37

    onde se situa a sala de jantar, com p-direito de

    3.85m; na mesma cota, na faixa mais a oeste,dis-

    pem-se cozinha, lavabo e espaos de servio, com

    p-direito de 2.35m, tambm acessveis por uma

    escada externa; por outra escada de menor dimen-

    so tem-se acesso cota 3.42 do pavimento supe-

    rior, na faixa mais a leste, abrigando trs dor-

    mitrios-sute com p-direito de 2.80m, voltados

    para a fachada aberta, sendo os banheiros ilumi-

    nados zenitalmente. A sala de jantar tem contacto

    visual com a de estar atravs da diferena de

    0.63m entre a cota de seu piso e a face inferior da

    laje de piso dos dormitrios.

    ESTRUTURA

    O uso do concreto aparente nas paredes e lajes da

    casa praticamente identifica estrutura e volume-

    tria; o uso de lajes macias no ressalta o sentido

    principal de sua armao. Dois recortes realizados

    nas empenas de concreto das fachadas cegas

    soltam o volume superior indicando ou sugerindo

    balanos nas fachadas leste/oeste. Essa idia no

    comparece com a mesma clareza nas plantas, su-

    gerindo estar a laje dos dormitrios apenas engas-

    tada nas empenas cegas laterais, vencendo o vo

    transversal total (~17m), exceto por um oportuno

    pilar central situado junto escada central, mas

    sem um correspondente simtrico na fachada

    aberta leste. J o muro que nitidamente separa a

    faixa central da faixa mais a oeste pode indicar

    que as lajes, alm de se apoiarem nas empenas

    cegas laterais, tambm nele se engastam, sem

    haver porm qualquer apoio junto ao balano da

    fachada aberta dos servios.

    A escada externa tem seus apoios estruturados de

    maneira independente do corpo principal; a esca-

    da central interna tambm est apenas apoiada

    no piso no seu incio e na laje na cota 2.37, no seu

    fim, com o patamar intermedirio em balano. A

    laje de cobertura das faixas central e leste apre-

    senta vrias aberturas de iluminao zenital e uma

    viga-calha transversal aproximadamente em sua

    poro central. A laje de cobertura da faixa a leste

    situa-se em altura menor, criando um desnvel

    entre ambas no imediatamente perceptvel.

    VOLUMETRIA

    O acesso ao volume bastante compacto da casa se

    d lateralmente pela sua fachada norte em empe-

    na cega; para quem visualiza a casa a partir do

    acesso ele delineado de maneira a enfatizar a

    idia de um volume superior parcialmente em ba-

    lano e um volume inferior mais destacado e

    menor, na fachada norte; enquanto na elevao

    oeste, tambm parcialmente visvel desde o aces-

    so, o pavimento inferior livre de p-direitobaixo

    cria uma sombra profunda, destacando o pavi-

    mento superior como se fosse nico, tendo sua

    horizontalidade reforada por rasgos de ilumi-

    nao extensos e pelo brise de proteo; entre-

    tanto, o posicionamento da escada externa no

    permite de fato essa viso global, exceto nos

    desenhos, desvelando apenas metade dessa facha-

    da de cada vez. A elevao leste sugere a idia de

    um prtico formado pelas empenas laterais e a

    cobertura, enquanto a sua fachada retrocede,

    sombreada no pavimento superior pelo primeiro

    balano da cobertura, e no pavimento inferior

    1961/1 GAITANO MIANI.2

    CORTE C

  • 7/23/2019 Mendez Da Rocha 2

    19/110

    ELEVAO 1

    1961/1 GAITANO MIANI.2200

    ELEVAO 3

    ELEVAO 2ELEVAO 4

    201

    PAVIMENTO TRREO

  • 7/23/2019 Mendez Da Rocha 2

    20/110

    eixos) as vigas de concreto constituem um cont-

    nuo vertical/horizontal/vertical, espcie de prtico

    que se repete idealmente 24 vezes formando

    muros e cobertura (mais precisamente, 8 vigas,

    rasgo para o shed de amplitude equivalente ao

    espao de duas vigas, 15 vigas, ver corte A), trava-

    dos pela lajes de fechamento acima e abaixo

    (caixo perdido) e por duas vigas paralelas e regu-

    larmente espaadas em relao s empenas late-

    rais vedadas. O primeiro pavimento formado na

    faixa mais a norte por 10 vigas e na faixa mais a sul

    por 8 vigas tambm travadas pelas lajes de

    fechamento acima e abaixo (caixo perdido).

    Tambm as empenas verticais nervuradas so

    fechadas por lajes nas duas extremidades, mas

    essa disposio em caixo perdido adaptada, em

    vrios momentos, com a supresso de trechos de

    lajes verticais permitindo a locao de armrios,

    duto-chamin da lareira, espaos para acomodar

    equipamentos domsticos, sendo algumas vezes

    vazado para permitir fenestraes. A escada de

    servio na fachada sul tem estrutura indepen-

    dente; as demais escadas externas esto apoiados

    nos muros-empena estruturais.

    VOLUMETRIA

    O volume da casa enfatiza sua horizontalidade,

    acentuada pelos recortes praticados na laje de

    fechamento das empenas verticais nas duas

    extremidades sul e norte revelando assim as vigas

    verticais (ou pilares), mas sugerindo uma idia for-

    mal de balano e/ou independncia de uma

    poro mais elevada do volume. Alm desses

    recortes o volume regular da casa recebe uma

    srie de incises, perfuraes e abas de proteo

    nas empenas vedadas dispostas de maneira con-

    trolada mas no absolutamente regular, eludindo

    a regularidade da soluo estrutural. Na fachada

    norte, o balano da cobertura em relao ao pavi-

    mento superior, de p-direito maior e a profunda

    varanda no pavimento inferior, de p-direito mais

    baixo, criam um visual escalonado invertido que

    enfatiza o pavimento superior como destacado e

    independente, simulando, para essa vista, a idia

    de um volume erguido sobre pilotis; a mesma

    soluo, com menos nfase nas sombras face

    orientao solar, ocorre na fachada sul.

    A unicidade do volume tambm contraponteada

    pelas diversas escadas externas que a ele se

    agregam, pelo shed superior e por um brise hori-

    zontal com seo encurvada que serve de pro-

    teo insolao dos dormitrios. No espao

    interno a profusa iluminao natural criada pelo

    shed que percorre toda a extenso transversal da

    casa na zona da faixa central cria a sensao de

    um vazio interior e a ventilao cruzada natural

    assim proporcionada enfatiza a idia de ptio

    interior, para o qual se voltam varandas internas.

    A forma geometricamente determinada da volu-

    metria adoada em alguns momentos com o

    emprego de algumas paredes e elementos curvos

    usados parcimoniosamente.

    MATERIAIS, TEXTURAS, DETALHES

    A apreenso da volumetria inseparvel da

    apreenso estrutural da casa e das suas texturas e

    materiais construtivos atravs do uso predomi-

    nante do concreto aparente em praticamente

    todos os paramentos, sejam ou no estruturais.

    GEOMETRIA

    Esta casa pode ser considerada de geometria per-

    feita: todas as suas propores, inclusive aquelas

    de sua implantao no lote, e at o posicionamen-

    to e dimensionamento dos detalhes baseiam-se no

    quadrado, seu retngulo L 2 e seu retngulo

    ureo, que definem todas as dimenses da casa,

    seja do corpo principal, seja dos elementos que a

    ela se anexam. A dimenso L, no caso, tomada a

    partir do vazio ideal resultante do posicionamen-

    to das duas empenas verticais, as quais so consi-

    deradas uma espcie de superestrutura que abri-

    ga, sem participar diretamente, as propores

    geomtricas dos ambientes. As propores verti-

    cais dos ambientes seguem tambm a mesma

    geometria regular.

    203202

    OBSERVAES

    Projeto executivo, realizado, publicado.

    TERRENO

    Terreno triangular de permetro em setor de crcu-

    lo com aproximadamente 67 de abertura, raio

    varivel de 43.50

  • 7/23/2019 Mendez Da Rocha 2

    21/110

    204 2051962/1 CELSO SILVEIRA MELLO

    IMPLANTAO

    PAVIMENTO TRREO

  • 7/23/2019 Mendez Da Rocha 2

    22/110

    206 2071962/1 CELSO SILVEIRA MELLO

    ELEVAO 3

    ELEVAO 4

    ELEVAO 2

    CORTE B

    CORTE A

    CORTE C

  • 7/23/2019 Mendez Da Rocha 2

    23/110

    208 209

    OBSERVAES

    Estudo preliminar com apenas trs desenhos, sem

    data. H outro estudo para o mesmo proprietrio,

    para terreno semelhante, mas com vrias dife-

    renas dimensionais entre ambos.

    TERRENO

    Terreno retangular regular de esquina com

    32.30x21.9m, curva de concordncia na esquina

    com raio ~4m; no h indicaes completas sobre

    a topografia, mas parece haver um desnvel de

    ~1m entre as duas extremidades das divisas

    voltadas para o alinhamento das duas ruas, com o

    terreno possivelmente nivelado pela cota mais

    alta do alinhamento, ou ~1m acima desta. No h

    indicao confirmada do norte, mas pela posio

    do sol no corte pode-se supor a linha norte-sul

    paralela, aproximadamente, dimenso menor

    do terreno.

    DESCRIO

    A casa est recuada de todas as divisas, ~9m da

    frente menor, 3.5m da frente maior, 7m da divisa

    lateral menor e 4m da divisa lateral maior. A

    entrada se d junto cota mais baixa do ali-

    nhamento (-1.10), com uma rampa vencendo o

    desnvel de acesso da casa na cota 0.00; a faixa do

    recuo junto ao acesso mantida nessa cota,

    enquanto o restante da rea livre do terreno

    parece estar definido na cota 1.10, eventualmente

    com taludes vencendo o desnvel at as caladas,

    ao longo das divisas de alinhamento.

    O volume da casa, de formato aproximadamente

    quadrado, define duas empenas opostas vedadas,

    paralelas com as divisas maiores do terreno, e duas

    empenas mais abertas, e estabelece duas faixas de

    ocupao paralelas s empenas abertas, e uma

    faixa central mais estreita. A faixa junto fachada

    posterior abriga dois pavimentos que definem, no

    pavimento inferior, rea de acesso e cozinha/

    lavanderia, com p-direito de 2.20/2.60m (face

    inferior da viga/face inferior da laje) e no pavi-

    mento superior cinco dormitrios voltados para a

    fachadas posterior, com p-direito de 2.30/2.70m,

    sendo um dormitrio-sute de maior dimenso e

    quatro dormitrios de mesma dimenso compar-

    tilhando a cada dois os banheiros, os quais so

    desmembrados em diversos compartimentos (chu-

    veiro, sanitrio, pia), de maneira que a rea de cir-

    culao entre esses compartimentos compartilha

    a rea de acesso e circulao dos dormitrios; esses

    banheiros so iluminados por aberturas zenitais

    na laje de cobertura. Entre essa faixa e aquela

    junto fachada de frente, situa-se uma faixa mais

    estreita com as circulaes horizontais entre os

    ambientes e dando acesso s circulaes verticais,

    configurando no pavimento superior um balco

    voltado para o vazio do pavimento inferior.

    A faixa junto fachada frontal abriga os espaos

    sociais, configurando um trecho com p-direito

    duplo onde se situam as escadas e um trecho em

    dois pavimentos que abriga abaixo a sala de jantar

    e acima uma rea ntima que d continuidade ao

    balco-varanda do pavimento superior. Essa faixa

    aberta para a fachada de frente e protegida por

    um balano da cobertura, havendo tambm um

    vo de iluminao zenital entre essa faixa e a cen-

    tral.

    ESTRUTURA

    O corte mostra lajes e vigas de concreto, armadas

    no sentido longitudinal, ligando as duas fachadas

    abertas, sem indicao de vigas transversais inter-

    medirias, exceto as de bordo; no h indicao

    de pilares nas plantas; as lajes possivelmente

    estariam apoiadas apenas nas empenas das

    fachadas vedadas.

    VOLUMETRIA

    Pode-se inferir dos elementos apresentados e de

    alguns riscos sem escala junto s bordas dos dese-

    nhos que a volumetria compacta do conjunto

    poderia ser trabalhada como um volume superior

    em balano sobre o vazio da rea de abrigo, con-

    trariando parcialmente a idia das duas empenas

    vedadas, mas h indicaes insuficientes para

    maiores anlises.

    GEOMETRIA

    A forma quadrada define as plantas, exceto pelo

    balano da fachada de frente e os elementos em

    projeo na fachada posterior.

    SD/1 EDMUNDO DE FREITAS.1

    PAVIMENTO SUPERIOR

    PAVIMENTO TRREO

    CORTE A

  • 7/23/2019 Mendez Da Rocha 2

    24/110

    210

    OBSERVAES

    Estudo preliminar com apenas quatro desenhos,

    sem data (possivelmente ~1964). H outro estudo

    para o mesmo proprietrio, para terreno seme-

    lhante mas com vrias diferenas dimensionais

    entre ambos.

    TERRENO

    Terreno retangular de esquina com 31x21.2m,

    curva de concordncia na esquina com raio de

    ~4m; no h indicaes completas sobre a

    topografia, mas no parece haver desnvel entre

    as duas extremidades das divisas voltadas para o

    alinhamento das duas ruas (cota 0.00), embora

    parte do terreno na faixa junto divisa lateral

    menor esteja na cota 3.00, o que parece indicar ser

    ao menos parcialmente em aclive, ou original-

    mente plano e elevado em relao s ruas. No h

    indicao do norte.

    DESCRIO

    A casa est recuada de todas as divisas, ~5m da

    frente maior (exceto pelos balanos da c obertura,

    cuja dimenso no est claramente fixada nos

    desenhos), ~4m da frente menor, 9.5m da divisa

    lateral menor e 2m da divisa lateral maior. O volu-

    me da casa define duas empenas opostas vedadas,

    paralelas s divisas maiores do terreno, e duas

    empenas mais abertas contrapostas e estabelece

    trs faixas de ocupao paralelas s fachadas aber-

    tas. O acesso casa se d pela faixa mais prxima

    ao recuo de fundo, com p-direitoduplo de

    5.30/5.80m (face inferior da viga/face inferior da

    laje), iluminada por uma abertura alta j que a

    fachada definida a por um muro de arrimo con-

    tnuo e inclinado (~66) no qual praticada algu-

    ma abertura de maneira a atingir uma escada

    externa que d acesso a essa parte mais elevada

    do terreno. Esse ambiente serve de zona de acesso

    aos dormitrios por uma escada em lance reto. A

    faixa central e a faixa prxima fachada de f rente

    distinguem-se mais claramente no pavimento

    inferior, enquanto no superior praticamente se

    fundem numa s. No pavimento inferior, a faixa

    central abriga um dormitrio de servio, um dor-

    mitrio de maior dimenso, espao para uma esca-

    da helicoidal, um corredor de acesso faixa junto

    fachada de frente, e outros dois dormitrios

    idnticos e simtricos; todos com banheiro

    prprio; os dormitrios abrem-se para a terceira

    faixa, espcie de varanda comum limitada por um

    talude-mesa. No pavimento superior, a faixa junto

    fachada de frente no est t otalmente caracteri-

    zada como separada da faixa central, embora nela

    se organize a circulao, podendo-se consider-las

    como uma nica. A cozinha situa-se em posio

    central, fechada por paredes e iluminada zenital-

    mente, acessvel pela citada escada helicoidal, e

    configurando a um lado a sala de estar, junto

    escada em lance reto, com uma lareira em posio

    central e uma mesa-apoio junto fachada, e de

    outro lado a sala de jantar, com uma mesa em con-

    tinuao a uma abertura lateral de luz; este am-

    biente tambm acessvel por uma escada heli-

    coidal desde a varanda dos dormitrios.

    ESTRUTURA

    O corte mostra lajes e vigas de concreto, armadas

    no sentido longitudinal, ligando as duas fachadas

    abertas, sem indicao de vigas transversais inter-

    medirias, exceto as de bordo; no h indicao

    de pilares nas plantas; as lajes possivelmente

    estariam apoiadas apenas nas empenas das

    fachadas vedadas; entretanto, o desenho de

    fachada mostra no se tratar de um plano vertical

    nico.

    VOLUMETRIA

    A volumetria do conjunto indicada no corte, e

    principalmente na fachada, como um volume

    superior em balano no sentido das fachadas aber-

    tas, sobre um volume inferior menor e ligeira-

    mente mais recuado no sentido das fachadas

    vedadas, fazendo contraponto com um cilindro

    vertical que abrigaria a escada helicoildal externa

    e, possivelmente, uma caixa dgua na poro

    superior. O reforo na horizontalidade do resulta-

    do volumtrico dado pelos desenho dos muros

    de arrimo e taludes.

    GEOMETRIA

    A forma quadrada define a rea til das plantas,

    aproximando-se de um retngulo L/L2 se se con-

    siderarem os balanos da cobertura.

    SD/2 EDMUNDO DE FREITAS.2 211

    PAVIMENTO TRREO

    PAVIMENTO SUPERIOR

  • 7/23/2019 Mendez Da Rocha 2

    25/110

    212

    OBSERVAES

    Anteprojeto, no realizado, no publicado. Para o

    mesmo terreno e cliente foi realizado posterior-

    mente outro projeto, construdo (1964/2).

    TERRENO

    Terreno trapezoidal com frente de 19m, lateral

    direita com 26.7m, lateral esquerda com 32m, fun-dos com 21m, ngulo reto na concordncia entre

    alinhamento e lateral esquerda; a cota do ali-

    nhamento plana (100.00) e o terreno em aclive,

    subindo 1m na faixa inicial junto ao alinhamento

    e depois mais 5m at a divisa de fundos (total 6m,

    declividade mdia 20%). Linha norte-sul quase

    paralela ao alinhamento, norte no sentido da

    divisa esquerda para a direita.

    DESCRIO

    O volume principal da casa est isolado de todas

    as divisas, posicionado paralelo divisa esquerda e

    dela afastado 3m, com recuo mnimo de f rente de

    5m, lateral 2m, fundos ~5m. Um abrigo de auto

    posiciona-se no recuo lateral esquerdo entre o vo-

    lume da casa e a divisa, definindo um espao aber-

    to coberto na cota 101.00 de acesso casa. O volu-me da casa, em dois pavimentos, organiza-se em

    duas emprenas laterais vedadas com poucas fenes-

    traes voltadas para norte e sul e duas fachadas

    abertas frontal (leste) e posterior (oeste).

    A planta do pavimento trreo define trs faixas

    paralelas s fachadas abertas, mais uma faixa

    externa de varanda coberta pelo balano do pavi-

    mento superior e da cobertura. O acesso social se

    d pela faixa central, a qual se organiza em trs

    reas seqenciais, sendo a primeira de recepo,

    com p-direito de 2.5m; a poro central com um

    vazio vertical iluminado por um domo zenital na

    cobertura, abrigando as escadas de acesso faixa

    junto fachada de frente e ao pavimento superior

    e a ltima, junto fachada norte, abrigando sala

    de jantar com p-direito de 3.40m.Desde o abrigo/varanda h tambm um acesso de

    servio diretamente para a faixa junto fachada

    de fundos, que abriga em seqncia lavanderia e

    cozinha com p-direito de 2.50m; imediatamente

    junto ao aces so h uma escada externa que d

    acesso, no patamar intermedirio, ao ptio poste-

    rior organizado na cota 102.40, e no patamar

    superior ao pavimento superior na cota 103.80.

    Ainda no pavimento inferior, a faixa junto facha-

    da frontal, na cota 101.9, define um espao nico

    para escritrio e sala de estar com p-direito de

    2.50m; o piso da sua poro central prolonga-se

    como um deque at a divisa do alinhamento.

    O pavimento superior organiza-se ao redor dovazio central da escada sendo definido em duas

    cotas. O nvel 103.80, situado sobre a faixa inferi-

    or posterior e parte sul da faixa central, abriga

    uma sala-varanda e um dormitrio de servio;

    desde a sala-varanda tem-se acesso ao ptio pos-

    terior situada nesse mesmo nvel.

    O nvel 104.7, situado sobre a faixa inferior frontal

    e a parte norte da faixa central, abriga quatro dor-

    mitrios, sendo duas sutes situadas junto s

    empenas laterais, com iluminao lateral pelas

    fachadas norte e sul e dois centrais compartilhan-

    do um banheiro com iluminao zenital.

    Caso os pavimentos fossem agregados segundo a

    sua condio de abertura/compatimentao,

    poder-se-ia definir a casa como abrigando, sob

    uma cobertura genrica e ampla, trs nveis: umembasamento semi-enterrado de servio corres-

    pondente faixa de fundos do pavimento inferior,

    na cota 101.00; um pavimento inferior pblico e

    aberto nas cotas 101.90 e 103.80, englobando os

    vrios espaos de uso social; e um pavimento supe-

    rior na cota 104.70, ocupando parcialmente a rea

    coberta total maneira de um mezanino, destina-

    do aos dormitrios.

    ESTRUTURA

    No h indicaes completas sobre a soluo

    estrutural face tratar-se de anteprojeto, mas

    pode-se supor constarem lajes nervuradas tipo

    caixo perdido definindo a cobertura e os pisos do

    pavimento superior, e empenas laterais provavel-

    mente estruturais; no h indicao de pilares

    intermedirios no pavimento inferio, embora suaexistncia pudesse ocorrer embebidos em alguns

    dos paramentos indicados; ou possvel que a

    estrutura fosse ser apoiada apenas nas empenas

    laterais, vencendo o vo de 14 m sem apoios inter-

    medirios.

    VOLUMETRIA

    O volume se adapta ao terreno em aclive terra-

    213SD/I.2 EDMUNDO DE FREITAS.2 1964/1 FRANCISCO MALTA CARDOSO.1

    ELEVAO 1

    CORTE A

  • 7/23/2019 Mendez Da Rocha 2

    26/110

    214

    mento inferior, segundo um desenho quase em

    poo ingls ou janela alta. Note-se tambm que os

    espaos internos da casa contrapem ambientes

    com uma disposio contnua e aberta e outros

    muito compartimentados.

    GEOMETRIA

    A geometria no transparece de maneira clara nosdesenhos, mas pode ser melhor compreendida

    superpondo-se os ambientes dos pavimentos infe-

    rior e superior. Nota-se ento certa simetria segun-

    do um eixo central norte-sul que, entretanto, no

    demasiadamente enfatizada e a definio de

    quatro faixas de dimenses idnticas, paralelas s

    empenas laterais; no cruzamento dessas faixas

    com as trs faixas paralelas s fachadas de frente

    e fundos podem ser deduzidas relaes geomtri-

    cas baseadas no quadrado e no retngulo L2.

    215

    ceando-o em diversos patamares. As empenas das

    fachadas laterais tem seu desenho basicamente

    retangular ampliado irregularmente pela agre-

    gao de muros de arrimo que definem os

    permetros dos vrios patamares, e marcado por

    um rasgo horizontal, junto fachada frontal, que

    destaca o pavimento superior sugerindo sua dis-posio em balano.

    As fachada frontal e posterior mostram-se mais

    compactas, vedadas apenas pelos caixilhos dos

    diversos ambientes, e marcadas por faixas hori-

    zontais que definem, no pavimento superior da

    fachada frontal um peitoril-mesa contnuo a todos

    os dormitrios, e na fachada posterior de orien-

    tao oeste um brise horizontal que configura

    uma janela profunda acima e uma janela alta

    abaixo.Note-se, no corte longitudinal, que a acomodao

    do volume da casa ao terreno organiza solues

    de iluminao natural das reas de servio do pavi-

    1964/1 FRANCISCO MALTA CARDOSO.1

    PAVIMENTO TRREO

  • 7/23/2019 Mendez Da Rocha 2

    27/110

    216

    OBSERVAES

    Projeto executivo, realizado, publicado. H algu-

    mas pequenas alteraes entre o anteprojeto e o

    executivo na posio da varanda/sala de estudos,

    voltada para a fachada posterior, e na verso

    definitiva, para o espao central iluminado zeni-

    talmente.TERRENO

    O terreno tem forma trapezoidal irregular, com a

    divisa junto ao alinhamento ligeiramente curva,

    com 9.85m, abrindo para os fundos simetrica-

    mente direita e esquerda, sendo a divisa direita

    mais curta, com 38.14m e a esquerda mais longa,

    com 44.80m, e a divisa de fundos no paralela

    divisa do alinhamento, com 19.16m. A cota do

    alinhamento plana (100.00) e o terreno em

    aclive de 4.75m (declividade mdia ~11%). A

    divisa lateral esquerda adjacente a uma faixa de

    domnio da companhia de eletricidade. A linha

    norte-sul praticamente paralela divisa de fun-

    dos, norte no sentido da lateral direita para late-

    ral esquerda.

    DESCRIOA casa consta de pavimento inferior em embasa-

    mento implantado na cota 100.70 ocupando a

    totalidade da largura do terreno, com recuo de

    frente mnimo de 8m e profundidade total de

    20m, limitado por um muro de arrimo. Esse pavi-

    mento de p-direito de 2.00m define duas faixas

    de ocupao, sendo a primeira junto ao acesso,

    destinada a abrigo de autos e a segunda, junto ao

    arrimo, definindo junto divisa direita usos de

    servio (dormitrio, banheiro, lavanderia) e junto

    divisa esquerda um vazio vertical de p-direito

    duplo at a cobertura da casa, iluminado zenital-

    mente, onde se situa a escada isolada de acesso ao

    pavimento superior.

    O pavimento superior na cota 103.10 est recuado

    1.60m da divisa direita e 8m da divisa do ali-nhamento, exceto pelo balano da cobertura que

    avana 3.35m sobre o recuo de frente, com recuo

    de fundo mdio de 10.95m, e sem recuo na divisa

    lateral esquerda. Alm das duas faixas de ocu-

    pao semelhantes s do pavimento inferior h

    uma terceira faixa voltada para a fachada poste-

    rior, totalizando uma extenso de 27m, incluindo

    os balanos frontal e posterior da cobertura; os

    ambientes tm p-direito de 2.70m.

    Na primeira faixa junto fachada frontal situam-

    se as salas de estar e jantar; a faixa intermediria

    ocupada, no setor sobre a rea inferior de

    servios, pela cozinha, seguida de vazio de circu-

    lao vertical e por passarela sobre o vazio de p-direito duplo ligando a primeira terceira faixa.

    Em relao ao embasamento, esta faixa se amplia

    no pavimento superior, de maneira a abranger o

    espao de uma varanda interna/corredor de dis-

    tribuio dos trs dormitrios-sute situados na

    terceira faixa, voltados para a fachada posterior;

    os banheiros tm iluminao zenital. Vrias outras

    aberturas zenitais incrementam a iluminao dos

    ambientes situados na poro mais central do

    pavimento superior.

    ESTRUTURA

    A cobertura da casa tem formato trapezoidal com

    eixo central longitudinal de simetria, definida por

    um sistema de 12 vigas espaadas regularmente

    cuja distncia varia, de eixo a eixo, de 0.97m a

    1.38m, numa configurao em leque, sendotravadas por outras trs vigas transversais

    espaadas de 10.5m com balanos de 3m, fechados

    com vigas de bordo nas duas extremidades, con-

    figurando uma estrutura regular apoiada em 6

    pilares situados na interseco das vigas transver-

    sais com a terceira viga longitudinal a partir de

    cada extremidade externa.

    O piso do pavimento superior apia-se parcial-

    mente no terreno e, na rea sobre o embasamen-

    to inferior, parcialmente em outra estrutura

    semelhante, de vigas nervuradas, interrompida no

    vazio de circulao vertical. Ao longo das duas la-

    terais so dispostas duas vigas de bordo, quase da

    altura do pavimento superior, afastadas ~0.20m

    da grelha da cobertura, e na qual esto pen-

    duradas. Essa viga no realiza o fechamento inter-no dos ambientes, que se d por uma parede ali-

    nhada com a ltima viga estrutural da malha

    descrita. A escada situada no vazio interno de cir-

    culao tem estrutura independente.

    VOLUMETRIA

    Graas a essas altas vigas laterais de fechamento a

    casa lida externamente como uma caixa muito

    2171964/4 SYLVIO ALBANESE1964/1 FRANCISCO MALTA CARDOSO.1

    ELEVAO 1

    CORTE B

    CORTE A

  • 7/23/2019 Mendez Da Rocha 2

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    218

    horizontal fechada nos dois lados mais extensos e

    aberta nas duas extremidades menores; sua altura

    um pouco menor que o p-direito do pavimento

    superior evita que ela chegue at o piso, e sua se-

    parao dos paramentos internos de fechamento

    cria uma sombra entre ambos que ressalta a idia

    de caixa elevada em balano.Os dois primeiros pilares situados na frente da casa

    e aquele situado no vazio vertical de circulao

    apresentam-se isolados, podendo ser apreciados

    na sua altura total. interessante notar que a dis-

    tribuio dos ambientes nas trs faixas descritas

    mostra-se geometricamente independente da

    estrutura da casa, sugerindo a idia de planta livre

    sob uma superestrutura genrica.

    MATERIAIS, TEXTURAS, DETALHES

    O uso do concreto deixado aparente caracterizaexternamente a casa, sendo contraposto, nos

    ambientes internos, com o emprego de alvenarias

    de tijolos aparentes que definem as paredes de v-

    1964/4 SYLVIO ALBANESE

    CORTE A ELEVAO 1

    CORTE B

    ELEVAO 2

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    219

    rios ambientes. O tratamento da luz natural advin-

    da de aberturas zenitais torna o interior da casa

    bastante iluminado configurando uma espcie de

    ptio interno coberto.

    GEOMETRIA

    A malha regular definida pela estrutura da cober-

    tura regulariza o terreno irregular e define umapercepo mais retangular do permetro em

    trapzio da casa, eludindo a situao em leque. Na

    metade longitudinal da casa a largura se aproxima

    da dimenso de 12m, sugerindo uma regularidade

    de espaamento em 1m das 12 vigas; se a planta

    for assim retificada segundo essa dimenso

    mdia, o permetro da cobertura define uma

    geometria perfeita baseada em dois retngulos

    ureos justapostos, de dimenso menor igual aolado menor do permetro da cobertura.

    PAVIMENTO TRREO

    PAVIMENTO INFERIOR/ EMBASAMENTO

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    30/110

    zadas em 1963-65, constitudo pelas casas Bento Odilon Ferreira,

    Francisco Malta Cardoso.2, Paulo Mendes da Rocha e Lina Mendesda Rocha, todas variantes de uma mesma proposta, um tipo que

    poderia ser denominado casa-apartamento maneira paulista,onde o programa acomodado em apenas um pavimento, dispos-

    to sobre pilotis abertos, usados como rea de lazer e estaciona-mento. Suas caractersticas podem ser descritas de maneira genri-

    ca, para esses quatro exemplos: planta aproximadamente quadra-da, com escadas exteriores de acesso, distribuio da ocupao

    interna em trs faixas paralelas s fachadas mais abertas, por ondetambm se do os acessos, protegidas por largos beirais planos,

    enquanto as outras duas fachadas so quase totalmente vedadaspor paramentos suspensos da laje de cobertura, maneira de plati-

    banda ampliada e descendente; a estrutura se define por quatropilares recuados do permetro, vigas nervuradas e balanos de pro-

    poro ~1/3/1 dispostas em sentido paralelo s fachadas maisfechadas, travadas por duas vigas perpendiculares, com balanos

    de proporo ~1/1.5/1 em outro sentido.A estrutura pode ser considerada, de certa maneira, uma

    variante do esquema Dom-ino, embora as fachadas mais vedadasfavoream uma leitura no homogna em lados abertos/ fechados

    enfatizando uma semelhana, mais visual que construtiva, com oesquema Citrohan - o qual ser explorado, do ponto de vista estru-

    tural, na fase 4, cujos primeiros exemplos seguem-se no tempo

    imediatamente aps estas quatro casas.SOLOS E VARIAES SOBRE O TEMA

    As outras quatro casas includas nesta fase so realizadasao redor do ano 1972/3: James Frances King.1, Ligia e Newton Isaac

    Carneiro Jr., Marcelo Nitsche.2, com um ltimo exemplo do ano1989, a casa Antonio Gerassi Neto; todas podem ser consideradas

    variantes da soluo aventada pelas primeiras quatro casas, cadaqual explorando um determinado vis dentre as infinitas possibili-

    dades de flexibilizao da matriz proposta.Outras casas no includas aqui, mas sim na fase 4, de

    certa maneira tambm poderiam ser igualmente consideradas ou-tras tantas variantes matriciais da casa-apartamento sobre pilotis.

    Entretanto-as distinguem-se das casas agrupadas nesta fase 3 por

    alguns critrios fundamentais, e de carter principalmente estru-tural. Explicitamente, os exemplos da fase 3 so aqueles que man-tm uma clara independncia entre estrutura portante e vedos,

    mesmo quando a soluo formal proposta deixe essa separaomenos evidente, seja fazendo coincidir paredes externas quase

    totalmente vedadas com o permetro, seja alterando o nmero depilares e afastando-os de maneira a faz-los coincidir com o

    permetro - mantendo balanos apenas em um dos sentidos e no

    3.TIPOSCONSOLIDADOS :CASA-APARTAMENTO SOBRE PILOTIS1963-1965: TEMAPAULISTA, EMPENAS FECHADAS E SOMBRAS ABERTAS1972-1989: SOLOS EM TOM MAIOR E VARIAES SOBRE O COMPACTO

    A partir de 1963/64 no h propriamente fases no

    desenvolvimento dos projetos residenciais de Paulo Mendes daRocha, verificando-se sua plena maturidade conceitual e construti-

    va, que de resto j ocorrera desde h algum tempo, muito preco-cemente em sua carreira. Entrentanto, para o objetivo desta

    anlise podem ser discernidas nfases em determinados temasque, embora no sejam estanques no tempo, tm seguramente

    certa preferncia e seqncia temporal, sendo eventualmenteretomados a qualquer tempo face circunstncias de programa,

    cliente, terreno ou mesmo ao arbtrio criador do arquiteto. E semdvida o tema por excelncia, que percorre a grande maioria de

    sua obra residencial a idia de casa-apartamento, geralmenteelevada sobre pilotis, em propostas de carter mais prototpico ou

    mais circunstncial, mesclando-s, em cada caso, a diferentes aproxi-maes estruturais e volumtricas.

    Sob essa subrica foram includas nesta fase oito casas,em dois grupos de quatro: o primeiro muito prximo e coerente

    temporal e formalmente; o segundo, disperso e intercalado comoutras variaes, que sero analisadas na fase seguinte, mas que

    mantm com as primeiras quatro casas uma relao formal/espa-cial/estrutural bastante prxima.

    TEMAPAULISTA: EMPENAS FECHADAS E SOMBRAS ABERTAS

    As primeiras quatro casas definem um ncleo muito

    prximo de propostas assemelhadas, de vocao prototpica, reali-

    220

    CASAMENDES DAROCHA, 1964

    ESQUEMADOM-INO, 1922LECORBUSIER

    ESQUEMACITROHAN, 1922LECORBUSIER

    221

  • 7/23/2019 Mendez Da Rocha 2

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    formato desigual dos lotes, seja na disposio de uma ou duas

    escadas, seja no arranjo dos ambientes internos, sutilmente distin-tos, resultando na variao das aberturas zenitais em cada caso.

    Nestas duas casas comparece uma soluo ensaiada na SylvioAlbanese, e proposta tambm na Bento Odilon Ferreira, e menos

    claramente na Francisco Malta Cardoso.2, da fachada vedada per-mevel conformada pelo deslocamento discreto entre o paramen-

    to em concreto pendurado na laje de cobertura, de altura quasetotal do p-direito, e o muro inferior, apoiado na laje de piso, e da

    altura de uma bancada de trabalho. Esse dispositivo garante ilumi-nao e ventilao controladas via essas fachadas aparentemente

    fechadas, sendo aproveitado criativamente para abrigararmrios, apoios, aberturas em canho de luz etc. interessante

    notar que essa soluo ambgua e contraditria, do ponto devista meramente estrutural, eludindo a idia da geminao das

    casas por justaposio imediata que, embora possvel prototipica-mente, tem seu possvel conceito genrico infringido de maneira

    pragmtica, j que de fato se tratam de casas isoladas das divisas.De qualquer maneira, h sempre outras aberturas nessas mesmas

    fachadas vedadas, geralmente com canhes de luz, mas even-tualmente, nas solues posteriores, at mesmo com janelas tradi-

    cionais, como no caso da casa Antonio Gerassi Neto.A casa James Frances King.1 pode ser considerada tam-

    bm uma casa de geometria perfeita, suas maiores dimenses pos-

    sibilitando variaes de grande interesse no esquema propostopelas quatro primeiras casas. Em termos de implantao na paisa-

    gem inevitvel sua comparao com o precedente notvel daVilla Savoye, da qual tambm se assemelha na disposio de um

    vazio interno retangular, no centralizado e mais prximo de umadas fachadas, que entretanto envelopam o permetro quadrado de

    maneira contnua, mas tambm vazando-se oportunamente.Qualquer leitura que possa ser feita dessa casa sempre necessa-

    riamente complexa, pela riqueza de sua concepo espacial, estru-

    em ambos -, seja variando a forma, de quadrada para retangular

    ou para combinaes de ambas as figuras. J os exemplos que, arigor tambm esto enquadrados na mesma rubrica casa-aparta-

    mento, mas de fato vm a conformar solues de muros por-tantes, foram considerados em tem parte e includos na fase

    seguinte.A casa Bento Odilon Ferreira, no construda, parece ter

    sido um importante ensaio, praticamente idntico em planta soluo muito conhecida proposta para as casas gmeas do

    arquiteto e vizinha (1964/5 e 1964/6), podendo porm serconsiderada ainda como de transio com a fase anteri-

    or pelo tratamento dado s elevaes, que se assemelha da casa Edmundo de Freitas.2; com o emprego de ele-

    mentos secundrios para diferenciar cada fachada: note-se a disposio de duas escadas em fachadas opostas, uma

    centralizada e hierarquicamente mais importante, outradeslocada da simetria e de uso de servios e a nfase no

    contraponto vertical da torre de gua cilndrica tratadacomo volume independente. Alis, o posicionamento da

    caixa dgua sempre um tema de interesse nos projetosde Mendes da Rocha, que aproveita a sua singularidade

    para introduzir uma deliberada assimetrizao na com-posio e na soluo estrutural.

    A casa Francisco Malta Cardoso.2 a segunda e definitiva

    soluo proposta pelo autor para esse terreno/cliente:aqui, a topografia em aclive tratada sem complacncia,

    retificada e dominada; entretanto, essa opo produzcomo resultado no nvel pilotis seu quase total fechamen-

    to, resultando numa aparncia mais de embasamento oupdio do que de pavimento livre. A geometria da planta

    tambm produz uma variao no esquema tripartido dedistribuio dos ambientes, que aqui se v quase trans-

    formado em apenas duas faixas, uma pblica, voltadapara o lado posterior do lote, uma privativa, voltada para

    a via pblica. A soluo proposta, terraceando o terrenoem aclive, mas independentizando o volume construdo

    dos limites do lote, como que se afastando da con-

    tingncia do stio. Posteriormente, uma situao semel-hante ser tratada de maneira mais radical, assumindoefetiva mas poeticamente a situao escavada, na casa

    Fernando Millan (1970/1).A casa do arquiteto tem a singular caracterstica de ser

    uma proposta gmea, de duas casas que aparentam ser idnticas,e de fato o so em seus rasgos principais, mas que no deixam de

    valer-se de pequenas distines para se fazerem peculiares, seja no

    222

    VILLASAVOYE, 1929LECORBUSIER

    CASAJAMESFRANCESKING.1, 1972PAULOMENDES DAROCHA

    CASABENTOODILONFERREIRA, 1964

    CASAFRANCISCO MALTACARDOSO, 1964

    CASAMENDES DAROCHA. 1964ESTUDOS DE ANLISE

    DETALHE DA FACHADA COM CANHO DELUZDETALHES DOS PARAMENTOS DE

    VEDAO E SOMBREAMENTO

    223

  • 7/23/2019 Mendez Da Rocha 2

    32/110

    Aqui o arquiteto retoma uma disposio espacial muito

    comum na cena paulistana, a da casa trrea em terreno estreito elongo, reelaborando-a de maneira a evitar corredores de circu-

    lao, e de permitir a maior porcentagem possvel de rea livre eaberta, obtendo uma rea social com 4x18m que se prolonga pelo

    abrigo de auto e mesmo pela cozinha - tendo como precedente, naprpria obra do arquiteto, a soluo proposta para as casas Fabio

    Monteiro de Barros e Bolivar Ferraz Navarro (fase 1). Neste casotambm o dispositivo da fachada vedada permevel est pre-

    sente, mas foi totalmente transformado: no se trata de um para-mento aposto, mas da prpria viga, que tem como dimenso de

    altura apenas o que de fato necessita estaticamente; e assim, per-mite aberturas variadas e mais amplas ao longo do que seria o

    resqucio de uma fachada vedada, caso fosse analisada como umavariante dessa soluo.

    O ltimo exemplo includo nesta fase a casa AntonioGerassi Neto que pode ao mesmo tempo ser considerada uma

    exceo e um prottipo realizado. As casas desta fase foram, aomenos enquanto desejo e discurso, propostas inicialmente como

    solues que admitiriam uma pr-fabricao, ou melhor dizendo,um certo grau de reprodutibilidade de seus componentes, numa

    busca que foi caracterstica dos anos 60; mesmo assim, esse desejocomparece nos exemplos daquela dcada mais como possibilidade

    simblica que como realizao efetiva.

    A casa Antonio Gerassi Neto entretanto realiza demaneira cabal essa idia da pr-fabricao, pois que efetivamente

    construda com peas de concreto que so variantes dimensionaisde outras usadas para projetos de maior porte como pontes e pas-

    sarelas. Isso explica em parte no haver o recurso aos balanos, aposio perifrica dos pilares e a nfase nos vos totais, que numa

    viso frontal remetem idia de luz mxima, contrabalanadapelo uso de menores dimenses entre apoios no sentido da pro-

    fundidade, sem perda do resultado de grandeclareza e limpeza visual. O equilbrio propor-

    cional do resultado obtido revela uma grandemaestria, superando galhardamente, e com

    recursos muito sutis, o perigo de uma certa

    tendncia para o pesado que resultaria do usode vigas de grande altura (de mais da metade dop- direito til interno).

    225

    tural e formal, que merece e possibilita uma anlise muito cuida-dosa e demorada. interessante notar, por exemplo, que a homo-

    geneidade estrutural, tendo sido rompida tanto por efeito doptio vazado como pela disposio no simtrica de 8 pilares,

    r