universidade estadual de campinas instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › reposip...

213
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de Geociências MARÍA KARLA HERNÁNDEZ GONZÁLEZ A VALORIZAÇÃO E REFUNCIONALIZAÇÃO TURÍSTICA DO PATRIMÔNIO CULTURAL NO CENTRO HISTÓRICO DE HAVANA, CUBA CAMPINAS 2019

Upload: others

Post on 27-Jun-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Instituto de Geociências

MARÍA KARLA HERNÁNDEZ GONZÁLEZ

A VALORIZAÇÃO E REFUNCIONALIZAÇÃO TURÍSTICA DO PATRIMÔNIO

CULTURAL NO CENTRO HISTÓRICO DE HAVANA, CUBA

CAMPINAS

2019

Page 2: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

MARÍA KARLA HERNÁNDEZ GONZÁLEZ

A VALORIZAÇÃO E REFUNCIONALIZAÇÃO TURÍSTICA DO PATRIMÔNIO

CULTURAL NO CENTRO HISTÓRICO DE HAVANA, CUBA

DISSERTAÇÃO APRESENTADA AO INSTITUTO DE

GEOCIÊNCIAS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE

CAMPINAS PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE

MESTRA EM GEOGRAFIA NA ÁREA DE ANÁLISE

AMBIENTAL E DINÂMICA TERRITORIAL

ORIENTADORA: PROFA. DRA. MARIA TEREZA DUARTE PAES

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL

DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELA ALUNA

MARÍA KARLA HERNÁNDEZ E ORIENTADA PELA

PROFA. DRA. MARIA TEREZA DUARTE PAES

CAMPINAS

2019

Page 3: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

Ficha catalográficaUniversidade Estadual de CampinasBiblioteca do Instituto de Geociências

Marta dos Santos - CRB 8/5892

Hernández González, María Karla, 1991- H43v HerA valorização e refuncionalização turística do patrimônio cultural no Centro

Histórico de Havana, Cuba / María Karla Hernández González. – Campinas, SP: [s.n.], 2019.

HerOrientador: Maria Tereza Duarte Paes. HerDissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de

Geociências.

Her1. Turismo. 2. Patrimônio Cultural. 3. Gentrificação. I. Luchiari, Maria

Tereza Duarte Paes, 1961-. II. Universidade Estadual de Campinas. Institutode Geociências. III. Título.

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: Enhancement and touristic refunctionalization of the culturalheritage in the Historic Center of Havana, CubaPalavras-chave em inglês:TourismCultural HeritageGentrificationÁrea de concentração: Análise Ambiental e Dinâmica TerritorialTitulação: Mestra em GeografiaBanca examinadora:Maria Teresa Duarte PaesMarcelo Antonio SotrattiCristina MeneguelloData de defesa: 24-10-2019Programa de Pós-Graduação: Geografia

Identificação e informações acadêmicas do(a) aluno(a)- ORCID do autor: https://orcid.org/0000-0001-7960-7507- Currículo Lattes do autor: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visu

Powered by TCPDF (www.tcpdf.org)

Page 4: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

AUTORA: María Karla Hernández González

A VALORIZAÇÃO E REFUNCIONALIZAÇÃO TURÍSTICA DO PATRIMÔNIO

CULTURAL NO CENTRO HISTÓRICO DE HAVANA, CUBA

ORIENTADORA: Profa. Dra. Maria Tereza Duarte Paes

Aprovado em: 24 / 10 / 2019

EXAMINADORES:

Profa. Dra. Maria Tereza Duarte Paes - Presidente

Prof. Dr. Marcelo Antonio Sotratti

Profa. Dra. Cristina Meneguello

A Ata de defesa com as respectivas assinaturas dos membros, encontra-se disponível no

SIGA - Sistema de Fluxo de Dissertação e na Secretaria de Pós-graduação do IG.

Campinas, 24 de outubro de 2019.

Page 5: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

A mis padres, a Anibitín y a Adán

por el motivo de siempre,

por querernos.

Page 6: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

AGRADECIMENTOS

Agradeço a minha família, por seu amor e apoio incondicional, pelo carinho e as notícias

diárias que me faziam sentir mais perto de casa.

Ao Adán, por seu apoio, preocupação, por acreditar nas minhas escolhas, por seu carinho e

pelo resgate do trabalho as vezes que perdi alguma parte.

A minha orientadora Tereza, por ter acreditado no meu projeto, por sua paciência e carinho

sempre, pelas explicações e orientações, pela leitura do trabalho e as correções, por ter me

ajudado muito na minha formação nestes três anos.

Aos colegas do grupo de pesquisa “Geografia, Turismo e Patrimônio Cultural”, por me

acolher com muito carinho desde o primeiro momento, pelos encontros, os conhecimentos

compartilhados, pela ajuda com o português, por escutar sobre minha pesquisa atentamente

e fazer sempre oportunas sugestões. A todos, aos que estavam no início e aos que estão

agora, muito obrigada!

Às professoras Vanessa Bello e Ana Maria Fernandes, que participaram do Exame de

Qualificação, pela leitura atenta e pelas valiosas contribuições para a finalização desta

pesquisa.

A meu amigo de sempre, Reynaldo, por sua ajuda no trabalho de campo e na confecção dos

mapas.

À Cris, por sua amizade e apoio.

A minha família cubana no Brasil pelos almoços e as festas sem falar das nossas pesquisas,

o carinho e o apoio, por ter um cantinho de Cuba aqui.

À Secretária da pós-graduação por me auxiliar com todas minhas dúvidas e sua ajuda nesta

etapa.

Aos professores de todos os tempos por compartilhar seus conhecimentos e contribuir na

minha formação profissional e pessoal.

Aos entrevistados por seu tempo e disposição a compartilhar as suas vivências, colaboração

muito significativa na pesquisa.

Page 7: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

Corro o risco de esquecer a pessoas que me ajudaram, ensinaram e acolheram, mas saibam

que fico muito grata com todos os que me apoiaram durante a elaboração deste trabalho.

Page 8: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

RESUMO

Na década de 1990, nos centros históricos de América Latina, aconteceram processos de renovação

urbana muito vinculados à valorização turística do patrimônio cultural e ao interesse do capital por

transformar a imagem destas zonas e reconfigurá-las como espaços de consumo e lazer. Na

adequação dos centros para o desenvolvimento do setor, o patrimônio cultural foi refuncionalizado

como recurso turístico e adquiriu novos usos vinculados à visitação e lazer, hotelaria, bares, lojas de

souvenirs, restaurantes entre outros atrativos do consumo cultural. A mudança de função tornou

muitos desses espaços exclusivos das classes médias e elites econômicas, ao mesmo tempo em que

gerou uma mudança na significação destes bens culturais, materiais ou imateriais, para as

populações locais. Unido a isto, a turistificação dos centros históricos provocou processos de

gentrificação, com características diferentes de uma cidade a outra. Identificar e analisar os efeitos

da refuncionalização turística do patrimônio cultural na dinâmica socioespacial entre moradores

tradicionais, turistas e novos empreendimentos no Centro Histórico de Havana Velha, Cuba, é o

objetivo desta pesquisa. A revisão bibliográfica, a pesquisa documental e a pesquisa empírica

permitiram compreender que, no Centro Histórico de Havana Velha, está emergindo um processo

de gentrificação, com características similares às de outras cidades da América Latina, mas, com

algumas diferenças, por se tratar de um país socialista e com um governo ainda preocupado com a

população local, que realiza projetos sociais orientados à moradia e a socialização da cultura.

Palavras-chave: Turismo, Patrimônio Cultural, Gentrificação.

Page 9: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

ABSTRACT

In the 90s, some processes of urban renovation took place in the historic centers of Latin America.

These processes were related to both a touristic enhancement of the cultural heritage and the interest

of the capital in changing the appearance of these areas and also transforming them into leisure

places. When adapting these historic centers for the development of the sector, the cultural heritage

was refunctionalized as a touristic resource and new leisure areas, hotels, bars, souvenirs shops and

restaurants were built in this part of the cities. This change not only made these places exclusively

affordable for the middle classes and the economic elite, but it also changed the actual meaning of

these tangible or intangible properties for the locals. Also, the touristification of these historic

centers led to a process of gentrification whose characteristics may change depending on the city.

The objective of this research is to identify and analyze the effects of the touristic

refunctionalization of the cultural heritage on the socio-spatial dynamic of city-dwellers, tourists

and new companies in the historic center of Old Havana, Cuba. The bibliographic review and the

empirical research showed that a process of gentrification was taking place in the historic center of

Old Havana. This process presents similar characteristics to the ones in Latin America; however, it

also differs from them since the Cuban government takes special care of its people and leads many

social projects whose main goals are the resolution of housing issues and the cultural promotion.

Keywords: Tourism, Cultural Heritage, Gentrification.

Page 10: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Mapa dos oito setores funcionais do Centro Histórico de Havana Velha……….25

Figura 2: Cartaz de protesto dos dos moradores do Centro Histórico de Ciudad de México,

2019.......................................................................................................................................43

Figura 3: Novos prédios residenciais no Centro Histórico de Ciudad México……………46

Figura 4: Mapa do bairro pericentral a Floresta, Ecuador…………………….…..……….49

Figura 5: Exterior da Puerta de Monserrate de la Muralla de La Habana………………54

Figura 6: Plaza e Convento de San Francisco século XVIII…………………….………..55

Figura 7: Plaza Vieja século XVIII…………………….…………………….……………55

Figura 8: Convento de San Juan de Letrán onde radicou a Real y Pontificia Universidad de

San Jerónimo…………………….…………………….…………………….……………..56

Figura 9: Teatro Tacón…………………….…………………….……………………..…..56

Figura 10: Localização geográfica do Centro Histórico de Havana……………………...58

Figura 11: Edificio Bacardí e Cine Fausto, de esquerda a direita………………………..59

Figura 12: Castillo de la Real Fuerza, na atualidade…………………….………………...61

Figura 13: Palacio Aldama…………………….…………………….………………...…..61

Figura 14: Iglesia de San Francisco de Paula, na atualidade…………………….………..61

Figura 15: Antigo Palacio Presidencial, 2017 (Hoje, Museo de la Revolución).................62

Figura 16: Capitolio Nacional…………………….…………………….…………........….62

Figura 17: Centro Asturiano, na atualidade…………………….…………………….…...63

Figura 18: Centro Gallego, na atualidade…………………….…………………….……..63

Figura 19: Instituto de Segunda Enseñanza No. 1, na atualidade……………………..…63

Figura 20: Convento de San Juan de Letrán………………………………..…………....64

Figura 21: Casa Natal de José Martí………………………………..…………………….70

Figura 22: Hotel Inglaterra………………………………..……………………………….70

Figura 23: Museo Histórico de las Ciencias Carlos J. Finlay……………………….……..70

Figura 24: Centro Histórico de Havana Velha e o sistema de fortificações……………...75

Figura 25: Fortificações militares de Havana Velha………………………………..…….76

Figura 26: La Plaza Vieja antes da restauração e depois de recuperada em 2017 ……….78

Figura 27: Antigo Colegio de San Francisco de Sales restaurado e refuncionalizado como

restaurante desde 1984 ………………………………..…………………………………..80

Figura 28: Casa da família Franchi Alfaro antes da restauração da década de 1980 e durante

a década de 1990 ………………………………..…………………………………..…….80

Page 11: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

Figura 29: Antiga mansão del Conde de Casa Lombillo antes da restauração da década de

1980 depois nos anos 1990 ………………………………..……………………...……….80

Figura 30: Cooperação internacional (1994-2008)………………………………..……...82

Figura 31: Chegadas turísticas a Cuba no período 1980-1990…………………………..83

Figura 32: Hotel Santa Isabel………………………………..……………………...…..….85

Figura 33: Hotel Marqués de Prado Ameno………………………………..………...…...86

Figura 34: Antiga Lonja do Comercio………………………………..……………...……88

Figura 35: Edifício Gómez Vila………………………………..………………………......88

Figura 36: Organigrama da Oficina del Historiador de la Ciudad de La Habana………..90

Figura 37: Turistas e rendimentos do setor no período 1990-1994………………………..93

Figura 38: Turistas e rendimentos do setor no período 1995-2000……………………...94

Figura 39: Cortiço na antiga moradia de Beltrán de Santa Cruz (esquerda) e Hotel Beltrán

de Santa Cruz (direita) depois da refuncionalização………………………………..……..99

Figura 40: Cortiço da rua Teniente Rey, hoje Hotel Los Frailes…………………….…...100

Figura 41: Hotéis dos diferentes grupos hoteleiros e restaurantes de Habaguanex no Centro

Histórico de Havana Velha ………………………………..…………………….……….105

Figura 42: Mural do antigo Liceo Artístico y Leterario de La Habana…………………106

Figura 43: Apropriação dos espaços públicos pelos restaurantes turísticos…………....107

Figura 44: Terminal Internacional de Cruceros na Baía de Havana…………………….108

Figura 45: Centro Cultural Antiguos Almacenes de Depósito San José………………..109

Figura 46: Artigos comercializados no Centro Cultural Antiguos Almacenes de Depósito

San José…………………..…………………..…………………..……………..……...…109

Figura 47: Fábrica de Cerveza Artesanal no antigo Almacén del Tabaco y la Madera…..110

Figura 48: Catedral de la Virgen María de la Concepción Inmaculada de La Habana na

campanha turística Auténtica Cuba………………………………..………………….…..111

Figura 49: A Plaza Vieja em 1999, já iniciada a recuperação…………………………...112

Figura 50: Imagem atual da Plaza Vieja………………………………..…………...……112

Figura 51: Coches de Cavalo no Centro Histórico de Havana Velha…………………..113

Figura 52: Havanesas………………………………..……………………………….…...114

Figura 53: Pequena loja de artesanato privada no Centro Histórico de Havana Velha…115

Figura 54: Hospedagem privada no Centro Histórico de Havana Velha……………….115

Figura 55: Restaurante privado “Doña Blanquita” no Centro Histórico de Havana

Velha...................................................................................................................................116

Figura 56: Restaurante privado Mojito Mojito………………………………..………..117

Page 12: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

Figura 57: Restaurante estatal La Imprenta………………………………..……………..118

Figura 58: Mapa das funções predominantes do solo no Centro Histórico de Havana

Velha...................................................................................................................................121

Figura 59: Hotel Iberostar Grand Packard Habana………………………………..……...124

Figura 60: Hotel Paseo del Prado, ainda em restauração………………………………..125

Figura 61: Mapa das funções predominantes proposta do solo no Centro Histórico de

Havana Velha para 2030………………………………..……………………..….....……126

Figura 62: Ocupação na economia por forma de propriedade em 2012…………………134

Figura 63: Moradias em perigo de desabamento……………………………………..…..135

Figura 64: Mapa dos oito setores funcionais do Centro Histórico de Havana Velha…...137

Figura 65: Reconstrução do futuro Hotel Palacio de Cueto, numa esquina da Plaza

Vieja....................................................................................................................................147

Figura 66: Pantomimeiros na rua Obispo e na Plaza de San Francisco, de esquerda a

direita...…............................................................................................................................149

Figura 67: Interior de um cortiço no Centro Histórico de Havana Velha…………….....151

Figura 68: Imagem da campanha da OHCH pelo 500 aniversário da cidade…………...155

Figura 69: Gran Teatro de la Habana Alicia Alonso……………………………….……..158

Figura 70: População local e turistas internacionais numa apresentação do Festival de

Danza

Callejera………………………………..………….......…………..……………………...159

Figura 71: Chegadas anuais de turistas internacionais a Cuba e Havana no período 2015-

2018….…………………..…………………..……………....……..………………….….164

Figura 72: Manzana de Gómez (2003) e Hotel Manzana Kempinski (2018)…………….171

Figura 73: Prédios em mau estado construtivo no Centro Histórico de Havana Velha….174

Figura 74: Ruas Mercaderes e Muralla………………………………..………….......…..175

Figura 75: Vendedores ambulantes no Centro Histórico de Havana Velha……………..176

Figura 76: Complejo Comercial Gastronómico Variedades Obispo, entrada…………...180

Figura 77: Complejo Comercial Gastronómico Variedades Obispo, lateral rua Obispo..180

Figura 78: Restaurante Floridita………………………………..……………………….171

Figura 79: Hotel Iberostar Parque Central ………………………………..…….....…….181

Figura 80: Grupo de moradias vizinhas ao Hotel Parque Central……………………….182

Figura 81: San Ignacio 255, moradia protegida para idosos………………………..........184

Figura 82: Moradia estudantil em restauração………………………………..………...184

Page 13: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Entrevistas…………………..…………………..…………………..…........…..26

Quadro 2: Observação guiada…………………..…………………..………………….......27

Quadro 3: Levantamento fotográfico…………………..…………………..………...…….28

Quadro 4: Monumentos Nacionales no Centro Histórico de Havana Velha……………..68

Quadro 5: Sistema de fortificações incluídas na declaratória da UNESCO……………..73

Quadro 6: Assistência econômica da UNESCO no processo de restauração do Centro

Histórico de Havana Velha e seu sistema de fortificações …………………..…………..77

Quadro 7: Alojamentos turísticos estatais no Centro Histórico de Havana Velha……….95

Quadro 8: Bares e restaurantes de Habaguanex no Centro Histórico de Havana

Velha…………………..…………………..…………………..………………………....101

Quadro 9: Número de imóveis e espaços recuperados segundo a sua função no período

1991-2008…………………..…………………..…………………..………......…….…..119

Quadro 10: Imóveis refuncionalizados para atividades culturais e educativas…………...119

Quadro 11: Projetos hoteleiros no Centro Histórico de Havana Velha………………….122

Quadro 12: População e moradia no Centro Histórico de Havana Velha (1990-2012)......133

Quadro 13: Frequência de aparição dos códigos associados à definição de patrimônio

cultural na fala dos atores entrevistados…………………..…………………..………......139

Quadro 14: Patrimônios culturais reconhecidos pelos atores entrevistados ……………141

Quadro 15: Frequência de aparição dos códigos associados ao valor do patrimônio cultural

na fala dos atores entrevistados…………………..…………………..……………….......145

Quadro 16: Principais beneficiários das ações de recuperação e refuncionalização do

patrimônio arquitetônico no Centro Histórico de Havana Velha, segundo os grupos

entrevistados…………........................................................................................................151

Quadro 17: Atividades recreativas, culturais e de turismo frequentadas/pensadas para a

população local e os turistas nacionais…………………..…………………..………….156

Quadro 18: Quantidade de turistas que visitaram Cuba e Havana no período 1990-

2015.....................................................................................................................................163

Quadro 19: Aspectos positivos e negativos do aumento do número de turistas no Centro

Histórico de Havana Velha para a população local…………………..…………………..165

Page 14: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO…………………..…………………..………………….………………..17

O CAMINHO METODOLÓGICO…………………..…………………..………….......21

PRIMEIRA PARTE: TURISMO E PATRIMÔNIO CULTURAL: NOVOS USOS E

SOCIABILIDADES…………………..…………………..………………..………..…....31

1. A RELAÇÃO ENTRE O TURISMO, O PATRIMÔNIO CULTURAL E O

PROCESSO DE GENTRIFICAÇÃO NA AMÉRICA LATINA……………………..32

1.1 TURISMO E PATRIMÔNIO CULTURAL…………………..…………………..….32

1.2 GENTRIFICAÇÃO E AS SUAS CARACTERÍSTICAS NA AMÉRICA LATINA…44

1.2.1 Ciudad de México: o “blanqueamiento” do Centro……..………..………..……..44

1.2.2 Sem retorno ao centro de Quito…………………..…………………..…………...47

1.2.3 Santiago de Chile e as suas singularidades…………………..…………………....50

1.3 POSSIBILIDADES DO DESENVOLVIMENTO TURÍSTICO……..………..…….52

2. O PROCESSO DE VALORIZAÇÃO TURÍSTICA DO PATRIMÔNIO

CULTURAL NO CENTRO HISTÓRICO DE HAVANA VELHA, CUBA……..…54

2.1 A EVOLUÇÃO DO CENTRO HISTÓRICO DE HAVANA VELHA, CUBA NO

PERÍODO

COLONIAL…………………..…………………..………………..…….........………..….54

2.2 A OFICINA DEL HISTORIADOR DE LA CIUDAD DE LA HABANA: UM INTENTO

POR RESGATAR A HAVANA VELHA…………………..…………………..…………57

2.3 A DECLARATÓRIA DA UNESCO NO CENTRO HISTÓRICO DE HAVANA

VELHA….............................................................................................................................71

2.4 O TURISMO COMO ESTRATÉGIA ECONÔMICA E A CRIAÇÃO DA

COMPANHIA TURÍSTICA HABAGUANEX S.A. NA DÉCADA DE 1990……....….84

3. REFUNCIONALIZAÇÃO TURÍSTICA NO CENTRO HISTÓRICO DE

HAVANA

VELHA…………………..…………………..………………..…..…..………....………...92

3.1 A REFUNCIONALIZAÇÃO TURÍSTICA DAS EDIFICAÇÕES NO CENTRO

HISTÓRICO DE HAVANA VELHA…………………..…………………..…………..…92

Page 15: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

3.2 O PAPEL DO ESTADO NO PROCESSO DE REFUNCIONALIZAÇÃO DO

PATRIMÔNIO CULTURAL…………………..…………………..…....…..………..….127

SEGUNDA PARTE: A VISÃO DOS DIFERENTES ATORES ENVOLVIDOS NO

PROCESSO DE VALORIZAÇÃO TURÍSTICA DO PATRIMÔNIO CULTURAL

NO CENTRO HISTÓRICO DE HAVANA VELHA…………………..……………..132

4. REFUNCIONALIZAÇÃO E RESSIGNIFICAÇÃO DO PATRIMÔNIO

CULTURAL NO CENTRO HISTÓRICO DE HAVANA VELHA: A VISÃO DOS

DIFERENTES ATORES ENVOLVIDOS…………………..………….....…..……….133

4.1 RESSIGNIFICAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL PARA A POPULAÇÃO

LOCAL DO CENTRO HISTÓRICO DE HAVANA VELHA…………………..….…133

4.2 O PROCESSO ATUAL DE PRESERVAÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL NO

CENTRO HISTÓRICO DE HAVANA VELHA…………………..………………….....146

4.3 REFUNCIONALIZAÇÃO TURÍSTICA E RESIGNIFICAÇÃO DO PATRIMÔNIO

CULTURAL NO CENTRO HISTÓRICO: POSSIBILIDADES DE USO……..……….156

TERCEIRA PARTE: AS NOVAS DINÂMICAS SOCIOESPACIAIS NO CENTRO

HISTÓRICO DE HAVANA VELHA…………………..…………………..…………162

5. INFLUÊNCIA DA ABERTURA PARA O TURISMO NA VIDA DOS

MORADORES TRADICIONAIS DO CENTRO HISTÓRICO DE HAVANA

VELHA. O TURISMO COMO ALTERNATIVA ECONÔMICA………………..…163

5.1 OS EFEITOS DA ABERTURA PARA O TURISMO E DA REFUNCIONALIZAÇÃO

TURÍSTICA DO PATRIMÔNIO CULTURAL NA DINÂMICA SOCIOESPACIAL

ENTRE MORADORES TRADICIONAIS, TURISTAS E NOVOS

EMPREENDIMENTOS NO CENTRO HISTÓRICO DE HAVANA VELHA……….163

5.2 O CENTRO HISTÓRICO DE HAVANA VELHA: UM CASO DE

GENTRIFICAÇÃO?……..………..………..………..………..………..…...........………170

CONSIDERAÇÕES FINAIS…………………..…………………..……………….......183

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS…………………..…………………..…….…188

ANEXOS…………………..…………………..…………………………….…………...205

Page 16: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

16

APRESENTAÇÃO

Pesquisar é sempre um desafio. Quando começamos a investigação nos defrontamos com

horas de leitura minuciosa, com análises e interpretações, com escrever e reescrever uma

mesma página. Pesquisar sobre Cuba pode supor um desafio extra, se não se compreendem

as peculiaridades econômicas e políticas do sistema socialista do país, se não se conhecem

as suas instituições e a sua história, então, é importante, de saída, esclarecer o leitor de que

é deste lugar que escrevo essa dissertação. Sou cubana, vivi toda minha vida no país e

tenho um amor muito grande pelo Centro Histórico de Havana Velha, mesmo não sendo

havanesa, do tempo de estudo universitários, pois minha faculdade se localizava na zona.

Expor a minha nacionalidade e explicar um pouco sobre a minha formação poderiam ser

alguns aspectos esclarecedores na posterior leitura do trabalho. Me formei como Licenciada

em Turismo, em 2014, na Univerdad de La Habana (UH). No meu Trabalho de Conclusão

de Curso pesquisei com patrimônio gastronômico e, desde essa época, tinha interesse e

inquietudes sobre a relação o turismo e o patrimônio cultural. Trabalhei como Especialista

Comercial no Departamento de Vendas do Hotel H10 Habana Panorama, até março 2016 e,

desde essa data, moro no Brasil. Procurei fazer o Mestrado em Geografia, pois soube sobre

a linha de pesquisa da professora Dra. Maria Tereza Duarte Paes, gostei muito da temática

que abordam e de como estudavam o turismo desde uma ótica diferente daquela que eu

estava acostumada. Em março de 2017 comecei o Mestrado sob a sua orientação. As

informações que utilizo no trabalho são fundamentalmente o resultado de revisão

bibliográfica, pesquisa documental e do trabalho de campo realizado no Centro Histórico

de Havana Velha, entre agosto e setembro de 2018, mas, as vezes, não consegui fugir de

colocar dados que conheço por ser cubana e ter vivido no país quase toda minha vida, ou

por ter sido estagiária e ter trabalhado no setor turístico cubano de 2009 até 2016.

O tempo do mestrado, as disciplinas, as leituras indicadas pela professora Tereza, a

oportunidade de conhecer sobre as pesquisas dos seus outros orientandos e dos integrantes

do grupo de pesquisa “Geografia, Turismo e Patrimônio Cultural” sob sua orientação, a

possibilidade de compartilhar informações e critérios com eles, modificou muito (realmente

muito) meu olhar sobre o turismo, o patrimônio e as relações que estabelecem no espaço. O

resultado destes quase três anos de mudanças e aprendizado é este trabalho.

Page 17: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

17

INTRODUÇÃO

A turistificação de alguns centros históricos da América Latina está muito

relacionada com as declaratórias destes sítios a Patrimônio Cultural da Humanidade, pela

Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e à Cultura (UNESCO). A

declaratória é uma garantia de relevância e notoriedade a nível internacional e vira um

reconhecimento utilizável para atrair investimentos e turistas (DELGADILLO, 2015),

como aconteceu em cidades como Quito (DEL PINO, 2010), Cartagena (POSSO, 2015) e

Ciudad de México (DELGADILLO, 2015).

Com a finalidade de garantir o sucesso no desenvolvimento da atividade

turística, a imagem, muitas vezes deteriorada e decadente (POSSO, 2015; DELGADILLO,

2016), destes bairros centrais deve mudar. Assim, durante a década de 1990, nas diferentes

cidades da América Latina, nos antigos centros históricos aconteceram processos de

refuncionalização turística mediante a renovação urbana (PAES, 2017) e, em vários casos,

pela declaratória de patrimônio mundial da UNESCO. Muitos prédios de valor histórico e

cultural foram transformados em hotéis, restaurantes, cafés, bares, lojas de souvenirs

orientados ao turismo, o que provocou uma “homogeneización del paisaje”

(DELGADILLO, 2015, p. 126) nestes centros históricos convertidos em cenários, nos quais

a fachada é o principal recurso (POSSO, 2015), para o turismo. Os bens imateriais também

entraram nesta lógica comercial de representação da cidade antiga para o turista e, assim as

tradições dos diferentes bairros e municípios foram recriadas e espetacularizadas para o

consumo. A cidade e o seu patrimônio tornam-se mercadorias e o valor cultural, histórico e

social fica relegado a um segundo plano (PAES, 2012).

A patrimonialização pela UNESCO dos bens materiais e imateriais de

significação histórica e cultural colocou na mira das empresas turísticas cidades e bairros

pouco conhecidos a nível global, sendo transformados em atrativos turísticos

economicamente produtivos. Segundo Delgadillo (2015) existe uma relação direta entre o

reconhecimento por organismos internacionais como a UNESCO, e a agudização dos

conflitos pelo espaço e a emergência de processos de gentrificação.

As características deste processo na América Latina variam de uma cidade a

outra (PAES, 2009; HIERNAUX e GONZÁLEZ, 2014; ALEXANDRI ET AL., 2016;

DELGADILLO, 2016; JANOSCHKA, 2016), porém é, de maneira geral, um fenômeno

que exclui aos moradores tradicionais e converte os espaços, valorizados pelo turismo, e

pelo capital imobiliário, em zonas das elites sociais e dos turistas.

Page 18: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

18

O presente trabalho se propõe a estudar o caso do Centro Histórico de Havana

Velha, por ser uma zona que possui um alto número de edificações de distintos períodos

históricos e estilos arquitetônicos, um sistema de fortificações que data da etapa colonial e

variados espaços públicos, em um bom estado de conservação patrimonial e que foi

declarado em conjunto com o sistema defensivo pela UNESCO: Patrimônio Cultural da

Humanidade, em 1982.

O desenvolvimento da atividade turística em Cuba se inicia na década de 1990,

porém, nos primeiros anos, o país aposta pelo turismo de sol e praia. Em 1993, as

estratégias para que este setor evolua, variam e se reorientam também para o

desenvolvimento do turismo cultural. Neste mesmo ano, aumentam as ações para fomentar

esta modalidade no Centro Histórico de Havana Velha que passa de receber

aproximadamente 240 mil turistas anuais, em 1990, e a receber perto dos 2 827 146 turistas

em 2018 (MARTÍN FERNÁNDEZ, 2008; PRUDENTE, 2009; ONE, 2019).

Além de ser um país com um sistema político e econômico diferente do resto

das nações da América Latina, ocorrem processos de reestruturação do espaço urbano para

adaptar a zona central aos interesses do capital turístico e dos turistas que criam conflitos

no espaço urbano (SEGRE, 1997; SCARPACCI, 2001).

Assim, a presente pesquisa se propõe como problema a questão: Como

acontecem os processos de recuperação e refuncionalização turística do patrimônio cultural

no Centro Histórico de Havana Velha?

Para tanto, propomos como objetivo geral identificar e analisar os efeitos da

refuncionalização turística (PAES, 2009) do patrimônio cultural na dinâmica socioespacial

entre moradores tradicionais, turistas e novos empreendimentos no Centro Histórico de

Havana Velha.

Além de buscarmos analisar o desenvolvimento das relações entre turismo e

patrimônio cultural na América Latina e, em particular, em Cuba, no Centro Histórico de

Havana Velha, buscamos identificar e analisar a influência da valorização turística do

patrimônio cultural na vida dos moradores do Centro Histórico de Havana Velha.

Segundo nossas hipóteses, a recuperação e a valorização turística do patrimônio

cultural no Centro Histórico de Havana Velha, se manifesta como um processo

contraditório. De um lado, favorece a população local pela infraestrutura instalada e pelos

projetos sociais desenvolvidos na zona, de outro, a turistificação ameaça a permanência da

população de moradores, como tem acontecido em inúmeras cidades da América Latina.

Page 19: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

19

O presente trabalho está estruturado em três partes e cinco capítulos. A primeira

parte, intitulada: Turismo e patrimônio cultural: novos usos e sociabilidades, possui três

capítulos. O primeiro: Relação turismo, patrimônio cultural e o processo de gentrificação

na América Latina, aborda a relação que se estabelece entre turismo e patrimônio cultural,

principalmente nos Centros Históricos da América Latina e como nestes espaços, onde o

patrimônio é valorizado pelo turismo, são frequentes as afetações na dinâmica socioespacial

dos moradores. Além disso, se abordam os conceitos de refuncionalização turística e de

gentrificação, com a análise de três estudos de caso: Ciudad de México, Quito e Santiago de

Chile. As cidades foram escolhidas pela tipicidade de cada um dos seus processos nos quais

se analisaram a origem do processo, a trajetória, os atores envolvidos e as consequências

dos deslocamentos originados. O segundo capítulo: O processo de valorização turística do

patrimônio cultural no Centro Histórico de Havana Velha, Cuba; introduz o estudo de caso

principal da pesquisa que é o Centro Histórico de Havana Velha, com sua história,

localização, dados demográficos, entre outras caracterizações. Além disso, este capítulo

apresenta a Oficina del Historiador de la Ciudad de La Habana (OHCH), instituição

encarregada da preservação histórico-cultural nesta zona e a ampliação das suas funções ao

setor turístico, assim como a declaratória do Centro Histórico e o sistema defensivo da

cidade como Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO, em 1982. O terceiro e

último capítulo desta primeira parte, denominado: Refuncionalização turística no Centro

Histórico de Havana Velha, expõe as características do processo de refuncionalização na

zona estudada e o papel das diferentes esferas do Estado cubano no mesmo.

A segunda parte desta dissertação: A visão dos diferentes atores envolvidos no

processo de valorização turística do patrimônio cultural no Centro Histórico de Havana

Velha, consta de um único capítulo. Este está denominado: Refuncionalização e

ressignificação do patrimônio cultural no Centro Histórico de Havana Velha: a visão dos

diferentes atores envolvidos, e é o primeiro capítulo no qual se começam a analisar alguns

dos resultados do trabalho de campo. O mesmo aborda o processo de recuperação atual do

Centro, a significação do patrimônio cultural para a população local e as possibilidades de

uso para os moradores deste espaço refuncionalizado para o turismo.

A terceira, e última parte: Influência da abertura para o turismo na vida dos

moradores tradicionais do Centro Histórico de Havana Velha, aborda o turismo como

alternativa econômica, analisa com os dados obtidos no trabalho de campo o

desenvolvimento turístico no Centro e os aspectos positivos e negativos que a abertura

turística levou para a população local. Além disso, estuda as possibilidades de que no

Page 20: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

20

Centro Histórico de Havana Velha esteja emergindo um caso de gentrificação e, finalmente,

explica os desafios para o desenvolvimento local. Este capítulo finaliza as discussões

propostas no trabalho demonstrando o cumprimento da hipótese proposta.

Page 21: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

21

O CAMINHO METODOLÓGICO

No processo de pesquisa, para dar cumprimento aos objetivos propostos, se

determinou realizar uma revisão bibliográfica que permitisse, primeiramente, uma análise

teórica sobre a relação que existe entre turismo e patrimônio cultural, a partir da

consolidação do turismo cultural como modalidade que procura colocar os turistas perto

das diferentes expressões históricas de identidade. Se estudaram diversos autores

ressaltando o fato da pesquisa estar orientada para o contexto da América Latina. Tais

referências permitiram entender o processo do patrimônio histórico e cultural e da cidade,

convertidos em produtos, na lógica do mercado capitalista, assim como a refuncionalização

turística e a fragmentação espacial que acontecem nos centros históricos valorizados pelo

turismo.

Por ser um processo de reestruturação espacial que acontece nas cidades

latinoamericanas, vinculado ao desenvolvimento turístico (PAES, 2017), como aponta a

bibliografia estudada, foi analisada também a conceitualização da gentrificação e, num

primeiro momento, as características do processo no Norte global, na década dos 1960.

Esse estudo permitiu entender a definição de gentrificação, muito associada ao retorno da

inversão de capital e das classes com maior poder econômico às áreas centrais da cidade,

reincorporando estes centros ao mercado capitalista como um processo de segregação

socioespacial tendo como base o poder econômico. Vários autores foram fundamentais para

entender as especificidades desse fenômeno na América Latina, que possui características

diferentes do modelo descrito nos primeiros casos dos países centrais e são próprias destes

contextos, com diferenças marcadas de um caso a outro.

Outra revisão bibliográfica foi muito útil para repensar o turismo, não só como

um setor da economia, que gera conflitos financeiros, socioculturais, políticos e ambientais

no espaço, mas também como uma possibilidade de desenvolvimento econômico para as

populações locais, sempre que o seu bem estar seja respeitado, e como oportunidade para a

conservação da riqueza cultural e histórica dos centros urbanos, se bem gerido.

No segundo capítulo, procurou-se estudar o processo de resgate do patrimônio

cultural do Centro Histórico de Havana Velha e como acontece a sua valorização pelo

turismo. Vários textos ajudaram a compreender o papel da OHCH neste processo, como

esta passa de uma instituição que procura preservar os valores patrimoniais, tangíveis e

intangíveis do Centro Histórico de Havana Velha, para uma empresa que administra um

sistema empresarial vinculado principalmente ao turismo, atividade que financia os

trabalhos de recuperação. Na bibliografia estudada se destaca o interesse estatal por integrar

Page 22: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

22

à população ao processo de transformação do Centro Histórico e por garantir a sua

permanência na zona. Na investigação sobre a declaratória do Centro Histórico e o sistema

defensivo da cidade como Patrimônio Cultural da Humanidade, foi muito útil também o

acesso aos documentos no portal digital da UNESCO (2018).

Na elaboração do terceiro capítulo procurou-se estudar o processo de

refuncionalização turística no Centro Histórico de Havana Velha para isto também

recorremos à bibliografia específicade modo a analisar o desenvolvimento do turismo em

Cuba e as mudanças de usos dos prédios e do espaço a partir de 1990. Além disso, se

produziram dois quadros que resumem a transformação de diversos imóveis em instituições

turísticas (hotéis e restaurantes), a partir de informações de sites web como: Hoteles

Habaguanex (2019), Holiplus (2019), D-Cuba (2019), Habana Radio (2019), Restaurantes

en Cuba (2019) e Paseos por la Habana (2019). Se trabalhou com o Plan Especial de

Desarrollo Integral do Plan Maestro (2016), que permitiu entender o processo de

transformação do Centro Histórico como uma atividade ainda inacabada e em progresso.

Também se realizou uma análise do papel do Estado neste processo no qual foram de muita

utilidade os artículos do Acuerdo no. 2951 e da Resolución Conjunta de 1996, que

demonstram o apoio do Estado para que o Centro Histórico de Havana Velha vire uma zona

eminentemente turística.

Na escrita do quarto capítulo que pertence a segunda parte deste trabalho: A

visão dos diferentes atores envolvidos no processo de valorização turística do patrimônio

cultural no Centro Histórico de Havana Velha, foram analisados dados do Rodríguez

Alomá (2009, 2012) e o Plan Maestro (2016), para obter estatísticas referentes à população

residente no Centro Histórico de Havana Velha (por sexo, idades, nível educacional), à

densidade populacional nos diferentes períodos, o número de moradias, a população

economicamente ativa, aos ocupados por tipo de atividade econômica e setor, salário médio

mensal, entre outros temas de interesse que se determinaram no processo de pesquisa.

Além disso, neste capítulo se abordam conceitos como significação e ressignificação do

patrimônio cultural, e para compreender os mesmos foram estudados autores como: Leão

(2009), Fernández et al. (2016) e Cordero e Meneses (2019), chegando a entender que a

cidade, os seus bens edificados -patrimoniais ou não- e as suas tradições possuem usos e

significados em determinados períodos de tempo, para grupos ou indivíduos, mas estes

usos podem mudar e estas interpretações são susceptíveis portanto a sua ressignificação.

Para a elaboração do capítulo cinco, pertencente à terceira e última parte do

trabalho: As novas dinâmicas socioespaciais no Centro Histórico de Havana Velha, foram

Page 23: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

23

estudados os textos de o Plan Maestro e Oficina del Historiador de la Ciudad de La Habana

(2014) e o Plan Maestro (2016) para ter alguns dados sobre o desenvolvimento do turismo

na zona de estudo, e os textos de Segre (1997), Nuñez Fernández e García Pleyán (2000),

Scarpacci (2000), (Rodríguez Alomá, 2001), Leal (2004), Noguera (2004), Delgadillo

(2015) e Prudente (2009) serviram para analisar se no Centro Histórico se presenta um caso

de gentrificação e as suas características. Porém, para este capítulo e o anterior são de

muito valor os resultados do trabalho de campo, analisados mais à frente.

No referente à pesquisa documental, no trabalho de campo, realizado no Centro

Histórico de Havana Velha, de agosto a setembro de 2018, se obtiveram na Empresa de

Proyectos RESTAURA mapas e fotografias de Havana Velha em períodos anteriores.

Também foram utilizados sites disponíveis na página da Oficina del Historiador de la

Ciudad: Emisora Habana Radio, Habaguanex S.A, Revista Opus Habana e Plan Maestro.

Os documentos obtidos nesses sites foram utilizados a partir do segundo capítulo. Os

documentos da Emisora Habana Radio serviram para determinar os usos anteriores de

várias edificações refuncionalizadas como hotéis e restaurantes. Habaguanex S.A permitiu

obter informações sobre esta companhia turística. Na Revista Opus Habana se consultaram

dentre outros artigos: Centrando una idea de intervención, de Inclán e Castillo (2012), sobre

a refuncionalização do porto. No Plan Maestro se obtiveram textos fundamentais para o

trabalho como Regulaciones. La Habana Vieja, Centro histórico (s/a), que disponibilizou

várias leis sobre as regulações urbanísticas do Centro Histórico e o Plan Especial de

Desarrollo Integral 2030 (2016), que facilita as projeções do trabalho até 2030. Além disso,

se trabalhou com o repositório do Consejo Nacional de Patrimonio Cultural del Ministerio

de Cultura que disponibiliza documentos que listam os Patrimônios Mundiais en Cuba, o

Patrimônio Cultural da nação, os Monumentos Nacionais e o Patrimônio Imaterial, assim

como as resoluções para seus reconhecimentos. No capítulo quatro foram utilizados estes

documentos para conhecer as datas das declaratórias e comparar os bens materiais e

imateriais percebidos como patrimônios pela população -não oficiais- e os nomeados e

reconhecidos oficialmente.

Além disso, se requereram dados que foram obtidos na pesquisa documental

nos Anuários Estatísticos de Cuba, que fornece a Oficina Nacional de Estadísticas (ONE),

para obter estatísticas referentes às cifras de turistas internacionais que visitaram Cuba entre

1990 e 2015 e no período 2015-2018. Estes dados permitiram elaborar o Quadro 18 e a

Figura 71 do capítulo quatro. No repositório digital da UNESCO se obtiveram documentos

referentes à declaratória do Centro Histórico de Havana Velha e seu sistema defensivo

Page 24: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

24

como Patrimônio Cultural da Humanidade tais como: a Avaliação da Organização

Consultora (ICOMOS), Documentos da Cooperação Financeira Internacional e da

Assistência Técnica, os critérios para o reconhecimento e a lista das fortificações

declaradas. Estes documentos foram de grande importância na elaboração do capítulo dois.

Para os capítulos quatro e cinco tem muito valor a visão dos moradores

tradicionais, dos trabalhadores estatais (não vinculados diretamente às atividades turística

ou de recuperação do patrimônio), trabalhadores ou donos de negócios privados, atores dos

centros de gestão do patrimônio e do turismo, no processo de valorização turística do

Centro Histórico de Havana Velha é um ponto essencial, pois o trabalho procura analisar as

contradições socioespaciais presentes desde a perspectiva destes atores envolvidos. Desta

forma a elaboração destes capítulos depende em grande medida da análise das entrevistas

semi-estruturadas realizadas no trabalho de campo no Centro Histórico de Havana Velha.

O trabalho de campo se realizou no Centro Histórico de Havana, município de

Havana Velha. Porém, por ser uma área muito extensa (2,14 km2), para selecionar as áreas

de trabalho, se utilizou a divisão feita pelo Plan Maestro no processo de recuperação do

Centro. A mesma consta de oito setores funcionais. Na figura 1, que é um mapa do Centro

Histórico, se podem apreciar os oito setores funcionais, mas, as zonas estudadas são as que

concentram o maior número de atividades terciárias, ou seja quatro setores funcionais:

T1: Catedral-Plaza Vieja: potencialidad para actividades turísticas y terciarias

T2: Corredor Obispo-O'Reilly: potencialidad para actividades terciarias

T3: Paseo del Prado: potencialidad para actividades turísticas y terciarias

T4:Calle Muralla: potencialidad para actividades terciarias (SALINAS e ECHARRI, 2005, p. 177)

Page 25: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

25

Figura 1: Mapa dos oito setores funcionais do Centro Histórico de Havana Velha

FONTE: Elaborado por pela autora (2018) a partir de informações extraídas de SALINAS e ECHARRI

(2005)

Nestes setores se realizaram as entrevistas (Anexos A, B, C, D e E), a

observação guiada (Anexo f) e o levantamento fotográfico previsto para o trabalho de

campo, com a participação de diversos atores da sociedade.

As entrevistas semi-estruturadas a moradores tradicionais, trabalhadores

estatais (não vinculados diretamente às atividades turística ou de recuperação do

patrimônio), trabalhadores ou donos de negócios privados, atores dos centros de gestão do

patrimônio e do turismo tiveram como objetivo conhecer e dar voz a estes sujeitos, de

modo de mapear a influência do uso do patrimônio cultural para o turismo na vida dos

moradores tradicionais do Centro Histórico de Havana (Quadro 1).

Page 26: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

26

Quadro 1: Entrevistas

Atores

entrevistados

Descrição Centros, atividades e

comunidades às quais pertencem

os atores entrevistados

Entrevistas

realizadas

Moradores

locais

Pessoas que moram em algum

dos quatro setores de estudo

Comunidades: Catedral-Plaza

Vieja, Corredor Obispo-O'Reilly,

Paseo del Prado ou Calle Muralla

5

Trabalhadores

Estatais

Indivíduos que trabalham em

alguma das empresas estatais

dos setores de estudo (porém

não trabalham nas empresas

de patrimônio ou turismo)

Centros: Abaluarte, Biomédica,

Recursos Hidráulicos.

4

Trabalhadores

Privados

Donos e trabalhadores de

negócios privados dos setores

de estudo

Atividades: Artesanato, Guía de

turismo, Restaurantes, Hostal.

4

Atores dos

centros de

gestão do

patrimônio

Pessoas que trabalhem nos

centros de gestão do

patrimônio

Centros: Gabinete de restauración

y conservación de Pintura de

caballete e Empresa de Proyectos

da Oficina del Historiador de la

Ciudad, Plan Maestro

5

Atores dos

centros de

gestão do

turismo

Pessoas que trabalhem nos

centros de gestão do turismo

no Centro Histórico

Centros: Companhía Turística

Habaguanex, S. A., Agencia de

Viajes Amistur, Agencia de Viajes

Cubarama DMC, Grupo de

Turismo Gaviota S.A.

4

FONTE: Da autora (2018)

Foram entrevistados atores entre 19 e 79 anos. As entrevistas realizadas foram

gravadas em áudio. Com o objetivo de garantir a liberdade de participação na pesquisa,

cada pessoa que participou das entrevistas deu o seu consentimento no início da mesma

para ser entrevistado e gravado. Além disso, se esclareceu que a participação era de forma

voluntária e livre, sem obter nenhuma vantagem com isto. A pesquisadora se comprometeu

a preservar os dados que possam identificar aos participantes para assegurar o bem-estar e a

proteção dos indivíduos e a população com a qual se trabalha. As entrevistas foram

transcritas e analisadas com a utilização do programa computacional ATLAS.ti. Esta

ferramenta, criada para estudar dados qualitativos, auxilia na organização e interpretação

dos dados.

A amostra das entrevistas foi determinada de maneira aleatória, desta forma

todas as pessoas que moram ou trabalham no Centro Histórico de Havana Velha tiveram a

mesma possibilidade de fazer parte da pesquisa. Em relação às características esperadas da

Page 27: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

27

amostra se deve sinalizar que as pessoas que participaram da pesquisa pertenciam a

qualquer sexo, cor/raça, orientação sexual e identidade de gênero, classes e grupos sociais,

pois estes fatores não são determinantes para os objetivos da mesma, mas se tentou buscar

um equilíbrio no momento de selecionar os entrevistados no campo. Todos os sujeitos

tiveram a mesma oportunidade de ser selecionados a partir de que tivessem mais de 18

anos.

A observação guiada (Quadro 2) e o levantamento fotográfico (Quadro 3)

procuraram determinar e registrar, respetivamente, as condições de vida da população

(moradia, serviços, equipamentos públicos, entre outros), infraestrutura para o turismo

(hotéis, restaurantes, centros noturnos, entre outros) e as características dos negócios

privados da área, conforme sintetizado nos quadros a seguir:

Quadro 2: Observação guiada

Objetivo Instalações e ruas nas quais se realizou a observação guiada

Determinar as condições de

vida da população

(moradias)

Ruas:

Setor 1: San Ignacio, Mercaderes, Teniente Rey e Muralla/ O’Reilly,

Empedrado, outros segmentos de San Ignacio e Mercaderes

Setor 2: Obispo e O’Reilly

Setor 3: Paseo del Prado (duas vias)

Setor 4: Muralla

Determinar as condições

dos equipamentos públicos

dos que dispõe a população

local de cada setor

(escolas, hospitais,

parques, entre outros)

Ruas:

Setor 1: San Ignacio, Mercaderes, Teniente Rey e Muralla/ O’Reilly,

Empedrado, outros segmentos de San Ignacio e Mercaderes

Setor 2: Obispo e O’Reilly

Setor 3: Paseo del Prado (duas vias)

Setor 4: Muralla

Determinar as condições

gerais de infraestrutura

estatal para o turismo

Instalações:

Setor 1: Restaurantes e bares: Cerveceria Plaza Vieja, Café Bohemia,

Azúcar!!! Lounge&Bar, Café el Escorial, Santo Ángel, El Patio, La

Bodeguita del Medio; Hotéis: Não tem presencia de hotéis neste setor

Setor 2: Restaurantes e bares: Bar Floridita, Café Paris; Hotéis:

Florida, Ambos Mundos, Santa Isabel, Hostel Marqués de Prado

Ameno

Setor 3: Restaurantes e bares: Cafeteria Prado Número 12, Havana

Gourmet Restaurants, Restaurante Prado y Neptuno; Hotéis: Saratoga

Havana; Hotel Inglaterra, Hotel Telégrafo, Hotel Iberostar Parque

Central, Hotel Mercure Sevilla

Setor 4: Restaurantes e bares: Mojito Mojito, La Vitrola; Hotéis: Não

tem presencia de hotéis neste setor

Entre outras que possam ser de interesse uma vez no campo

Determinar as condições

gerais de infraestrutura

Instalações:

Setor 1: Restaurantes e bares: Paladar Dona Eutimia, Paladar Galería

Page 28: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

28

privada para o turismo Orozco; Hostels: Ana y Surama; Teniente Rey 16

Setor 2: Restaurantes e bares: Los Cocos, Café O’Reilly; Hostels: La

puerta de Obispo, Hostal Obispo, Casa Particular Tres Hermanas,

Hostal Gonzalez

Setor 3: Restaurantes e bares: El Asturianito, Los Nardos, D’Lirios

Bar Restaurante; Hostels: Casa Évora, Casa del Francés, Casa del

científico, La terracita de Julio

Setor 4: Restaurantes e bares: El Shamuskia’o, El Cubanito, Creperie

Oasis Nelva; Hostels: Casa Laura y Rodney, Casa 6 Balcones,

HavanaCasaParticular.com

Entre outras

FONTE: Da autora (2018)

Mesmo se tratando de muitas instalações, a realização da observação guiada

resultou viável, pois, não se realizou uma observação guiada de cada instalação e sim do

conjunto de instalações em geral dependendo do setor ao qual eles pertencem.

Quadro 3: Levantamento fotográfico

Objetivo Instalações, centros, instituições, comunidades e ruas nas

quais se realizará o levantamento fotográfico

Demonstrar a ocupação de

espaços públicos por restaurantes,

cafeterias e outros negócios

lucrativos

Dona Eutimia, D’Giovanni, Papa Ernesto, Café El Escorial,

Casa Victor, Bodegón Onda, Plaza Vieja, Casa del Ángel

Jacqueline Fumero, entre outros que foram encontrados no

campo

Demonstrar as diferenças nas

instalações de serviços

(restaurantes, cafeterias, etc.) em

Peso Cubano (CUP) orientadas

principalmente para a população

nacional e Peso Cubano

Convertível (CUC) destinadas

principalmente para o turismo1

Restaurantes e cafeterias:

Instalações em CUP:

Setor 1: Neste setor só existem instalações destinadas

principalmente ao turismo

Setor 2: Soda Obispo, La lluvia de Oro

Setor 3: Prado 264

Setor 4: -

Instalações em CUC:

1 Em Cuba existem duas moedas com as quais a população e os turistas podem realizar as transações: Peso

Cubano (CUP) e Peso Cubano Convertível (CUC). Os trabalhadores estatais cubanos recebem a maior parte

do salário em CUP, 24 o 25 CUP são equivalentes a 1 CUC. O salário mínimo mensal em Cuba é de 250 CUP

(10 CUC) aproximadamente e segundo a Redacción Nacional de Granma Digital (2019) -jornal oficial

cubano- em 2019 aumentará a 400 CUP (16 CUC). O CUC surge no Período Especial - crise da economia

cubana na década de 1990 que será abordada no transcurso deste trabalho - como uma moeda cubana

equivalente ao dólar estadunidense (1 CUC = 1 USD) com o objetivo de eliminar o excesso de liquidez em

CUP (o país continuava pagando os salários aos trabalhadores, mas existia escassez de produtos para serem

comprados), estabilizar a taxa de câmbio (chegou a ser 150 CUP por 1 USD) e servir como uma alternativa ao

dólar para posteriormente desdolarizar a economia (FERNANDES E MARTINS, 2015). Porém, na troca de

efetivo em Cuba de USD a CUC, é cobrada uma taxa de aproximadamente 10%, e não é possível trocar de

USD a CUP diretamente, o dinheiro em USD deve ser trocado a CUC e de CUC a CUP. Atualmente, na

maioria dos estabelecimentos comerciais, são aceitos tanto o CUP como o CUC, mas com USD - mesmo

estando legalizado - não se realizam operações comerciais em instalações estatais, excepto a troca. Os

Page 29: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

29

Setor 1: Neste setor só existem instalações destinadas

principalmente ao turismo

Setor 2: Bar Floridita, Café Paris, Los Cocos, Café O’Reilly

Setor 3: Cafeteria Prado Número 12, Havana Gourmet

Restaurants, Restaurante Prado y Neptuno, El Asturianito, Los

Nardos, D’Lirios Bar Restaurante

Setor 4: Mojito Mojito, La Vitrola, El Shamuskia’o, El

Cubanito, Creperie Oasis Nelva

Hotéis e negócios onde

anteriormente existiam lugares

que ofereciam serviços à

população, e vice-versa

Atual Gran Hotel Manzana Kempinski La Habana - Antiga

Manzana de Gómez.

Hotel Santa Isabel – Antiga Lonja de Víveres

Analisar as diferenças entre as

casas dos moradores tradicionais e

as casa de aluguel para o turismo

Moradias das Ruas:

Setor 1: San Ignacio, Mercaderes, Teniente Rey e Muralla/

O’Reilly, Empedrado, outros segmentos de San Ignacio e

Mercaderes

Setor 2: Obispo e O’Reilly

Setor 3: Paseo del Prado (duas vias)

Setor 4: Muralla

Casas de aluguel para o turismo:

Setor 1: Ana y Surama; Teniente Rey 16

Setor 2: La puerta de Obispo, Hostal Obispo, Casa Particular

Tres Hermanas, Hostal Gonzalez

Setor 3: Casa Évora, Casa del Francés, Casa del científico, La

terracita de Julio

Setor 4: Casa Laura y Rodney, Casa 6 Balcones,

HavanaCasaParticular.com

Analisar as diferenças do estado

de recuperação das casas e ruas,

nas zonas turísticas e residenciais

Moradias e Ruas que estão em zonas de interesse turístico:

Setor 1: San Ignacio, Mercaderes, Teniente Rey e Muralla/

O’Reilly, Empedrado, outros segmentos de San Ignacio e

Mercaderes

Setor 2: Obispo e O’Reilly

Setor 3: Paseo del Prado (duas vias)

Setor 4: Muralla

Moradias e Ruas que estão em zonas residenciais do Centro

Histórico, que estão perto das zonas de interesse turístico:

Ruas: Mercaderes, San Ignacio, Aguiar, Compostela, Colón,

Trocadero

Mostrar a sobrecarga turística em

espaços públicos

Praça Velha, Rua Obispo, Praça da Catedral, entre outros

espaços.

FONTE: Da autora (2018)

Assim, desde março de 2017, a pesquisa passou por diferentes etapas de revisão

bibliográfica, pesquisa documental, desenho dos instrumentos que foram utilizados no

serviços turísticos possuem altos preços em CUC, e pela diferença na troca de CUP a CUC, se pode perceber

a sua orientação ao turismo internacional.

Page 30: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

30

trabalho de campo (entrevistas, guia de observação), o trabalho de campo e o

processamento da informação recolhida no mesmo, passos que possibilitaram a elaboração

desta dissertação.

Page 31: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

31

PRIMEIRA PARTE: TURISMO E PATRIMÔNIO CULTURAL:

NOVOS USOS E SOCIABILIDADES

Page 32: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

32

1. A RELAÇÃO ENTRE O TURISMO, O PATRIMÔNIO CULTURAL E O

PROCESSO DE GENTRIFICAÇÃO NA AMÉRICA LATINA

1.1 TURISMO E PATRIMÔNIO CULTURAL

O turismo, desde a sua consolidação como atividade comercial no século XX,

se converteu em um dos principais motivadores de fluxos de pessoas, capitais e serviços do

período contemporâneo (KATCHIKIAN, 2008). Nas últimas décadas, o crescente aumento

dos deslocamentos para o lazer e a desvalorização dos destinos de turismo de massa fez

com que surgissem modalidades turísticas que enfatizam o caráter formativo, o

enriquecimento cultural e o compromisso com o meio ambiente, de modo a satisfazer as

expectativas dos públicos mais diferenciados e exigentes (AYALA, 2009).

Neste contexto, cresce a oferta e a demanda de produtos culturais, pois segundo

dados da OMT, de 1997 a 2007 as cifras de viagens culturais aumentaram de 199 a 359

milhões, respectivamente. Se se tem em conta que a estimativa percentual que a OMT

atribui a estes viagens é de 40%, então em 2018, 560 milhões de turistas se deslocaram por

esta motivação. Se trata de uma cifra considerável devido a que se contabilizam únicamente

os turistas internacionais (JULIÃO, 2013).

Este tipo de viagem é motivada pela busca por compreender e apreciar as

diferentes expressões de identidades culturais passadas e presentes (monumentos, museus,

arquitetura, sítios arqueológicos, ritos, gastronomia, festivais, estilos de vida e

manifestações artísticas tradicionais), e o seu desenvolvimento se deve ao interesse

crescente de uma parte da população que possui recursos econômicos, disponibilidade de

tempo e valoriza as expressões do passado. Esta modalidade possui importância

quantitativa perceptível no aumento das cifras de destinos e de turistas; e qualitativa, pois

para as elites sociais o turismo cultural é uma atividade sofisticada e que foge dos destinos

tradicionais de turismo massivo (BERTONCELLO, 2009).

Desta forma, a cultura vira um recurso ou uma matéria prima que é

transformada pela indústria turística em produtos de interesse para o consumo de um turista

que visa entrar em contato com as expressões do patrimônio dos povos.

Em 1972, na Convenção de Patrimônio Mundial da UNESCO, a denominação

de patrimônio histórico se altera para patrimônio cultural, entendido como:

Os monumentos: Obras arquitetônicas, de escultura ou de pintura monumentais,

elementos de estruturas de carácter arqueológico, inscrições, grutas e grupos de

elementos com valor universal excepcional do ponto de vista da história, da arte

ou da ciência;

Page 33: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

33

Os conjuntos: Grupos de construções isoladas ou reunidos que, em virtude da sua

arquitetura, unidade ou integração na paisagem têm valor universal excepcional

do ponto de vista da história, da arte ou da ciência; Os locais de interesse: Obras do homem, ou obras conjugadas do homem e da

natureza, e as zonas, incluindo os locais de interesse arqueológico, com um valor

universal excepcional do ponto de vista histórico, estético, etnológico ou

antropológico. (CONVENÇÃO PARA A PROTECÇÃO DO PATRIMÓNIO

MUNDIAL, CULTURAL E NATURAL, 1972, s.p.)

Dez anos mais tarde, na declaração do México, a UNESCO definiria o

patrimônio cultural como: “as obras de seus artistas, arquitetos, músicos, escritores e

sábios, assim como as criações anônimas, surgidas da alma popular, e o conjunto de valores

que dão sentido à vida” (DECLARAÇÃO DE MÉXICO SOBRE AS POLÍTICAS

CULTURAIS, 1982, p. 9).

Apenas em 2003, na Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Imaterial, se

reconhecem também os bens imateriais (práticas, saberes, habilidades) como parte do

patrimônio.

Segundo Toledo (2010, s.p.):

Patrimônio cultural é a riqueza comum que nós herdamos como cidadãos,

transmitida de geração em geração. Constitui a soma dos bens culturais de um

povo. Ele conserva a memória do que fomos e somos, revela a nossa identidade.

(...) Apresenta no seu conjunto, os resultados do processo histórico. Permite

conferir a um povo a sua orientação, pressupostos básicos para que se reconheça

como comunidade, inspirando valores, estimulando o exercício da cidadania, a

partir de um lugar social e da continuidade do tempo.

A proteção do patrimônio passa a ser fundamental para salvaguardar a cultura

dos povos, preservando não só “...os bens tangíveis como também os intangíveis, não só as

manifestações artísticas, mas todo o fazer humano, e não só aquilo que representa a cultura

das classes mais abastadas, mas também o que representa a cultura dos menos

favorecidos...” (BARRETTO, 2000, p. 11).

Além disso, é importante ressaltar que existem “bens materiais e imateriais

autorizados por esferas públicas de poder e aqueles que possuem valor para atores locais,

porém não foram eleitos como patrimônio por órgãos oficiais” (FACHINI, 2017, p. 43) .

Então, se pode entender que os bens culturais valorizados pelos atores locais não são

apenas os institucionalizados por organismos internacionais, como a UNESCO, ou

nacionais e locais, embora o processo de patrimonialização selecione apenas parte desses

bens para o registro ou tombamento, em uma esfera técnica, política, cultural e jurídica

(PAES, 2009a).

Para satisfazer a demanda de cultura, história e ambiente que na atualidade

conforma o imaginário das sociedades ocidentais avançadas (URRY, 1996), o setor

Page 34: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

34

turístico oferta o patrimônio cultural como parte de seus produtos, determinando uma

relação direta entre ambos. Assim, fazer parte da Lista do Patrimônio Mundial se converte

num ponto na mira dos governos, pela conotação, relevância e carga simbólica que confere

esta nomeação, e como uma oportunidade no mercado, pois este fato está estreitamente

relacionado à possibilidade de desenvolvimento do turismo cultural (FERNANDES, 2017).

Muitos centros históricos coloniais, que preservam seus valores patrimoniais

por terem sido descartados, por conta das suas possibilidades econômicas, localização

geográfica ou de circunstâncias políticas e econômicas determinadas, e terem ficado fora da

lógica modernizante do século XX, são restaurados e recolocados na maquinaria capitalista

como produtos de alto valor cultural a serem consumidos pelos turistas (CASTILLO, 2010;

PAES, 2012). Desde a década de 1990, na América Latina, nas antigas vilas, acontecem

processos de refuncionalização turística mediante a renovação urbana2: os prédios, as vias

e infraestrutura de estas cidades sofrem mudanças nos usos, funções e na aparência para se

orientar à atividade turística (PAES, 2017).

Para Sousa (2006, p. 525) refuncionalizar significa dar: “novos usos para

formas espaciais preexistentes” e segundo Paes (2009) esta aquisição de novas funções é

constante, como um meio para se adaptar às dinâmicas socioespaciais de cada época. Para

esta autora:

Este processo de refuncionalização tem sido acentuado na valorização turística de

patrimônios culturais, sejam estes objetos, conjuntos paisagísticos ou práticas

sociais. Nesse sentido, a refuncionalização é uma atribuição de novos valores e

conteúdos às formas herdadas do passado, que refletem uma renovação das

ideologias e dos universos simbólicos. (PAES, 2009a, s.p.)

Então, se pode entender que a refuncionalização turística consiste em dar novos

usos turísticos ao patrimônio cultural, seja pela conversão de imóveis ou conjuntos, com

valores patrimoniais, em equipamentos turísticos e de lazer como hotéis, restaurantes,

cafés, lojas de souvenirs ou pela recriação de tradições locais espetacularizadas, a

reprodução dos modos de vida de populações atrativas para o turismo, pois este processo

não se limita aos bens materiais.

Além disso, Paes (2012, p. 320) explica que a refuncionalização turísticas nos

centros históricos: “(...) engloba inúmeros projetos de renovação urbana, tais como:

2 Processo de intervenção arquitectónica que procura adaptar bairros, quarteirões, conjuntos de prédios

antigos a usos modernos, transformando a imagem das zonas (PICCINI, 2004). Segundo Silva Santos (s/a)

alguns projetos deste tipo não consideram aspectos como a história e o patrimônio construído do lugar. Esta

estratégia urbana busca levar: “nova vida ao centro das cidades” (SILVA SANTOS, s/a, p. 18), mas também

pode gerar desigualdades, pois uma vez que estes espaços se revalorizam, a população local se vê forçada a se

deslocar pelo aumento dos aluguéis, produtos e serviços, como será abordado no próximo subitem.

Page 35: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

35

gentrificação, enobrecimento, reabilitação, requalificação, revitalização, entre outros.”.

Assim, este processo acontece muito vinculado a outros processos espaciais nas cidades.

No referente aos novos valores que são atribuídos ao patrimônio cultural com a

sua refuncionalização, Fernandes (2017, p. 32) aponta que este processo: “(...) modifica a

sua utilidade (valor de uso) e lhe atribui um poder de compra (valor de troca),

impulsionando novas condições de produção do espaço urbano (...)”. Além da mudança no

valor de uso, se transformam as relações e significados que as populações locais

estabeleciam ou atribuiam, respectivamente, a estes bens carregados de “valor social”

(KUPER e BERTONCELLO, 2008, p. 474).

Fernandes (2017, p. 341) aponta para uma “redução narrativa da cidade”, uma

vez que apenas o patrimônio eleito torna-se um recurso turístico, mas não todo o legado

histórico das cidades. Apenas aquelas expressões identitárias, materiais ou imateriais, que

podem ser convertidas em mercadoria de interesse para os consumidores são realçadas e

incorporadas às rotas e aos circuitos turísticos. Não é o significado histórico o que vai

garantir a preservação dos ritos, tradições ou a reconstrução dos monumentos e edificações,

mas sim as possibilidades de comercialização ante a demanda turística. Nesse caso, é

latente o risco da invenção e da produção de falsos históricos para o turismo (PROENÇA,

2004). Tal é o caso da campanha turística Auténtica Cuba, que promociona o destino objeto

de estudo desta pesquisa, como um produto a ser vendido internacionalmente. Então, cabe

se questionar novamente o valor relativo do patrimônio cultural, devido ao uso reiterado

deste termo. Para Paes (2012, p. 320):

(…) definir o que é legítimo ou autêntico no patrimônio cultural arquitetônico

tornou-se um recurso discursivo com baixa credibilidade, afinal, onde está o valor

da memória que se quer preservar? Nos materiais e nas técnicas originais com os

quais as edificações foram erguidas? Na estética que representou o belo em

período histórico pretérito? Na história social que deu conteúdo, sentido e função

às formas remanescentes? Ou seria os valores do presente o sujeito que elege

determinadas formas como representativas do passado? E aqui referimo-nos aos

homens, com suas escolhas, hierarquias, seus valores institucionalizados em

comissões, Conselhos, suas ações e suas normas para decretar o que deve ser

preservado - tombado - e o que pode ser esquecido (...)

Se, segundo Toledo (2010, s.p.): “(…) patrimônio cultural é a riqueza comum

que nós herdamos como cidadãos (...)”, então, a participação cidadã é fundamental na hora

de tomar esta decisão, embora na maior parte das vezes, ela seja excluída ficando em mãos

do Estado e das empresas privadas determinar o que pode ser atrativo para o mercado

turístico. Assim, começa a cenarização dos sítios urbanos históricos, e a criação de cidades

onde o que importa é a imagem e beleza da mercadoria sobre o verdadeiro significado

cultural, histórico e social que fica registrado na paisagem (PAES, 2012).

Page 36: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

36

Nesse mesmo sentido, segundo Choay (2001, p. 225), se reconstroem cidades

que se repetem em formas, vias, cores:

(...) estereótipos do pitoresco urbano: alamedas, pracinhas, ruas, galerias para

pedestres, pavimentação ou lajeados à antiga, guarnecidos de mobiliário

industrializado standard (candelabros, bancos, cestinhos de lixo, telefones

públicos) de estilo antigo ou não, alegrados, de acordo com o espaço disponível,

com esculturas contemporâneas, chafarizes, vasos rústicos de flores e arbustos

internacionais; estereótipos do lazer urbano – cafés ao ar livre com mobiliário

adequado, barracas de artesãos, galerias de arte, lojas de objetos usados e ainda,

sempre, por toda parte, sob todas as suas formas (regional, exótica, industrial), o

restaurante (…)

Se recriam maquetes “perfeitas” para o desfrute turístico, mas cidades

repetitivas, para quem conhece uma muito bem tem a sensação de que já viu todas. Esta

ideia de reconstrução padronizada perde de vista um elemento diferenciador de cada

paisagem: as populações tradicionais e as relações que nesses espaços se produzem.

Por outro lado, os recursos históricos melhor conservados, aceitos como mais

notórios e, portanto, prováveis de serem reconhecidos como patrimônio, são sobretudo os

que pertenceram às elites sociais. A cultura e os registros materiais dos desfavorecidos

passaram desapercebidos por muito tempo, ganhando relevância apenas nas últimas

décadas. Como aponta Paes (2005, p. 96):

(…) os bens culturais tombados como patrimônio representam, tradicionalmente,

os grupos sociais hegemônicos (a arquitetura colonial, os palácios, as pirâmides,

as igrejas, entre outros). Só recentemente os artefatos e os bens simbólicos da

cultura popular (as vilas operárias, o artesanato, as tradições imateriais) ganharam

prestígio de patrimônio cultural(...)

O poder é um elemento chave na relação turismo e patrimônio cultural.

Primeiramente, os bens materiais que recebemos como herança e que pareceram ter maior

relevância simbólica são os das classes dominantes. Quem determina o que deve ser

preservado e patrimonializado é o governo, as empresas privadas e as instituições que, em

muitos casos, respondem aos interesses dos primeiros. Por último, o desfrute desse

patrimônio está reservado aos grupos e classes sociais com poder econômico para chegar

até eles e pagar pelo consumo destes recursos sociais.

É no poder econômico da população local, ou na falta deste, e na possibilidade

de poder fazer parte da cidade, que se recria para o turismo, onde radica o principal

problema nesta relação turismo e patrimônio cultural. Primeiramente, se se analisa

cuidadosamente, a refuncionalização turística pode ser entendida como um processo

natural, já que a sociedade está em constante mudança e os bens que ela utiliza para o

desenvolvimento da sua vida assumem novas formas (SANTOS, 1996); por outro lado, a

indústria turística privilegia os recursos econômicos; então, na maioria dos casos ela é

Page 37: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

37

orientada por uma lógica de mercado e não pelos interesses da população local. O problema

é a segregação socioespacial que se produz nestas cidades recriadas para o consumo

turístico (LUCHIARI, 2005).

Nas cidades onde o patrimônio é valorizado pelo turismo, são frequentes as

interferências na dinâmica socioespacial dos moradores. O espaço público se converte num

lugar de espetáculo onde cabem os consumidores do lazer, a diversão e os serviços do

consumo cultural e se excluem os moradores tradicionais. Os usos e sentidos do patrimônio

mudam (PROENÇA, 2004). As tradições, desde a vestimenta até o jeito de se relacionar na

sociedade, são transformadas. Os receptores podem ser vistos simplesmente como objetos

(patrimonializados) (BERTONCELLO, 2009) ou como prestadores de serviços (MATÍAS,

2009). Segundo Sotratti (2005, p. 44): “A cidade deixa de ser a materialização de relações

sociais locais para demonstrar comportamentos socioculturais globalizados e associados à

modernidade e ao consumo”.

O Presidente do II Congresso Internacional celebrado no ano 1985 em Basileia,

Suíça, sobre conservação Arquitetônica e Planejamento Urbano, manifestou no seu informe

que:

En algunos países, especialmente algunos en desarrollo, los beneficios del

turismo han resultado ilusorios. Se han quebrantado patrones culturales y

sociales, el consumo por parte de los turistas de recursos que escasean ha ido en

desventaja de la población, el carácter y la identidad local han sufrido

(CASTILLO, 2010, p. 2).

O desenvolvimento do turismo cultural não garante que os bens culturais sejam

desfrutados pelas populações locais, é apenas “(...) uma via ou estratégia parcial de colocar

o patrimônio a disposição de todos, pois só uma parte limitada da sociedade pode praticar

turismo” (BERTONCELLO, 2009, p. 38), já que, para praticá-lo são necessários recursos

econômicos.

Do mesmo modo, os resultados econômicos obtidos no desenvolvimento do

turismo cultural não retornam para a população de forma equitativa. Os atores sociais com

maiores recursos e as empresas privadas com o capital disponível para ser investido,

recebem um maior benefício. Ambos vêem na cidade uma empresa (VAINER, 2002), e no

seu patrimônio um recurso do qual dispõem para satisfazer ao mercado e recuperar seus

investimentos.

Os Centros Históricos refuncionalizados para o turismo viram o lugar de

conflito entre os atores privados, o governo, os moradores tradicionais e as empresas

extranjeras. Os primeiros vem a possibilidade de investir na cidade e nos serviços para

Page 38: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

38

obter um lucro significativo. O governo planeja uma cidade embelezada, revitalizada e

segura, mas, excludente através de políticas urbanas neoliberais e pró empresariais

(DELGADILLO, 2016). A população mais pobre é criminalizada e desalojada e seus

bairros dedicados a negócios imobiliários e ao lazer dos consumidores. Mullins (1994)

aponta que aparece uma pequena burguesía vinculada à indústria turística, mas esta não

aparece das classes mais despossuídas, o que reestrutura as classes sociais na cidade

refuncionalizada e aumenta as diferenças. Além disso, as empresas estrangeiras

encaminham o ganho derivado da atividade turística para fora do país (CASTILLO, 2010).

Uma vez que o setor turístico se apodera “(…) de las estructuras físicas y de los

espacios de vida de los habitantes tradicionales para desarrollar sus actividades,

expulsandolos; (…) desposee a los residentes de un género de vida histórico con la

finalidad de acumular experiencias nuevas para su propia cotidianidad” (HIERNAUX e

GONZÁLEZ, 2014, p. 65). Se pode pensar, então, que a valorização turística do patrimônio

e o resgate dos centros urbanos esquecidos, quando exclui aos moradores tradicionais e

converte estes espaços em zonas das elites sociais e dos turistas, cede passo a processos de

gentrificação, num modelo diferente do tradicional europeu, mas coerente com suas

definições, particularmente as relacionadas às remoções de populações pobres (PAES,

2009; HIERNAUX e GONZÁLEZ, 2014; ALEXANDRI ET AL., 2016; DELGADILLO,

2016; JANOSCHKA, 2016) que será analisado no próximo subitem.

1.2 GENTRIFICAÇÃO E AS SUAS CARACTERÍSTICAS NA AMÉRICA LATINA

A gentrificação é um processo que se iniciou entre os anos 1960 e 1970 nos

centros urbanos europeus e norteamericanos que tinham sido abandonados e desatendidos

por décadas, e se converteram nos lugares de moradia das classes sociais mais pobres.

O termo foi introduzido pela socióloga Ruth Glass, para quem, que segundo

Slater (2011, p. 571), gentrificação engloba:

(…) as desigualdades de classe e injustiças criadas pelos mercados de terras

urbanas e as políticas capitalistas. O aumento do custo da casa para as famílias de

baixa renda e da classe trabalhadora e as catástrofes pessoais de deslocamento,

expulsão e falta de moradia, são sintomas de um conjunto de arranjos

institucionais (direitos de propriedade privada e livre mercado) que favoreçam a

criação de ambientes urbanos para atender às necessidades de acumulação de

capital em detrimento das necessidades sociais de casa, comunidade, família (...)

Segundo Smith (2012), uma vez que se produziu a reinversão necessária nestes

centros urbanos, o valor do solo aumentou, e teve uma substituição dos moradores

tradicionais destes bairros, de baixa renda, por uma população das classes médias e altas da

Page 39: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

39

sociedade. A gentrificação, nestes primeiros anos em Europa e Estados Unidos, consistiu

no retorno da população com maior renda aos centros esquecidos, foi uma tentativa de

apagar o passado de miséria destas zonas, substituir velhos e pobres prédios por casarões

luxuosos, “(...) si no se demuele el pasado completamente, al menos se reinventa -frotando

suavemente sus contornos de clase y raza- en la renovación de un pasado agradable.”

(SMITH, 2012, p. 67). A gentrificação se caracterizou por ser uma luta pelo poder na

cidade renovada (SMITH, 2012).

De igual modo, Sassen (1991, p. 255) aponta que a gentrificação está vinculada

a “(…) processos de reestruturação espacial, econômica e social(...)”. Na análises destes

processos de gentrificação europeus e norteamericanos, Mendoza (2016) perfila três

agentes gentrificadores: o governo, o mercado e os novos donos. O governo é o principal

agente na reestruturação urbana, estabelece as políticas públicas que beneficiam as

empresas imobiliárias e dinamiza as áreas centrais e pericentrais. O mercado investe capital

no solo a partir da construção de imóveis, de maior padrão, e obtém consideráveis ganhos,

com a brecha de preços no aluguel ou venda de imóveis que se produz a partir da

substituição de classes nestes espaços. Os novos donos mudam as relações socioespaciais

nestas áreas urbanas (MENDOZA, 2016).

De acordo com os autores estudados, a gentrificação se pode compreender

como o retorno da inversão de capital e das classes com maior poder econômico às áreas

centrais da cidade. Este capital transforma a paisagem urbana: as velhas e descuidadas áreas

industriais se transformam em zonas residenciais embelezadas (MENDOZA, 2016), o que

aumenta o valor do solo e marca o reincorporação destes centros ao mercado capitalista. O

aumento do custo da vida e a chegada dos novos grupos sociais que estabelecem

sociabilidades diferentes, excluem os moradores tradicionais que se transferem para outras

zonas menos valorizadas. Este retorno não está marcado pela integração das classes e sim,

pela fragmentação do espaço (MENDOZA, 2016).

Segundo López Morales (2016), alguns autores como Maloutas (2011),

Betancur (2014) o Ghertner (2015), ao estudarem a gentrificação coincidem na afirmação

de que o conceito não descreve o fenômeno na escala planetária devido à: “(…)

inaplicabilidad de las variables que supuestamente caracterizan el fenómeno en lugares que

no sean del hemisferio norte (...) sostienen asimismo que la gentrificación se circunscribe a

un momento particular post-industrial, en el norte global(...)” (LÓPEZ MORALES, 2016,

p. 221). Porém, López Morales (2016) explica que não se pode rejeitar este concepto só

porque algumas expressões atuais, e no Sul, não são réplicas do modelo descrito nos

Page 40: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

40

primeiros casos na Inglaterra. “La gentrificación asume también diversas manifestaciones

sociales y físicas dependiendo del contexto, pero siempre con el efecto de producir

desplazamiento o exclusión desde el centro urbano de los segmentos sociales más bajos

(...)”(LÓPEZ MORALES, 2016, p. 221). Na presente pesquisa se assume que o conceito de

gentrificação engloba os processos de reestruturação urbana que acontecem na América

Latina na atualidade, como sustentam Hiernaux e González (2014), Alexandri et al. (2016),

Delgadillo (2016), Janoschka (2016) e Paes (2017), fazendo o paréntesis de que mesmo na

América Latina existem diferentes manifestações deste processo.

Segundo Paes (2009), a gentrificação se manifesta na América Latina a partir

da década de 1990 e “(...) tem se apresentado muito mais como uma recuperação do centro

para atividades culturais, de visitação, de lazer e de turismo, do que como o retorno das

classes médias e das elites para fins residenciais, como ocorreu nos países centrais” (PAES,

2009, p. 16). Então, se pode afirmar que a valorização turística dos centros históricos e do

seu patrimônio edificado, está muito relacionada aos processos atuais de gentrificação no

Sul do continente.

Como para o capitalismo não pode existir “(…) nenhum uso cultural, nenhum

sentimento sobre a natureza, nenhum desejo de conhecer outros lugares, sem colocar em

cada um dos produtos desses derivados um valor econômico(...)” (PAES, 2017, p. 679), os

seus atores (os governos, as empresas privadas, os agentes turísticos) percebem a

possibilidade de converter a cidade e os seus valores patrimoniais em um produto que seja

consumido pelos públicos interessados na cultura e com o poder adquisitivo necessário para

desfrutá-lo. A base econômica das cidades passa da indústria ao desenvolvimento dos

serviços e da indústria cultural (DELGADILLO, 2016).

Nesse processo de mercantilização da cidade a sua imagem deve mudar. Assim,

as descuidadas áreas centrais e pericentrais, que tinham acolhido a marginalidade por

décadas, são renovadas para atividades de comércio, lazer e turismo, como acontece nos

casos dos centros históricos de Ciudad de México (DELGADILLO, 2015) e Lima

(CASTILLO, 2015). Nestas cidades, as políticas se orientam a melhorar a trama urbana

através de investimentos no patrimônio arquitetônico e nos espaços públicos, na

refuncionalização de prédios para funções culturais, de lazer ou habitação dos novos

moradores e na recuperação das fachadas para mudar a imagem (HIERNAUX e

GONZÁLEZ, 2014); à privatização de serviços públicos e da infraestrutura, em mega

projetos urbanos (ALEXANDRI ET AL., 2016); e na promoção de eventos culturais

(CASTILLO, 2015).

Page 41: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

41

Se se trata de mudar a visual desses bairros, as populações de baixa renda não

combinam com o cenário de cidade modelo para a visitação e o consumo. Estas estratégias

procuram estabelecer “perímetros seguros” (mediante câmaras, agentes de seguridade,

forças do ordem público) que trazem, conjuntamente, a apropriação privada dos espaços

públicos pela delimitação das áreas comuns e da fragmentação da sociedade (PROENÇA,

2004). Neste processo, com um fundo classista e segregador, os moradores tradicionais são

expulsos do espaço público espetacularizado.

Segundo Alexandri et al. (2016) este processo está muito marcado pela

violência, tanto na:

(…) re-apropiación del patrimonio cultural y arquitectónico; la violencia en la

expulsión de las actividades informales que sirven para “limpiar y desinfectar” la

ciudad y formalizar el control sobre las nuevas formas de urbanidad que emergen;

la violencia del papel de las diferentes formas de capital (bienes raíces, comercial,

simbólica) de reconfiguración urbana y el papel activo y decisivo que juegan los

procesos de inversión de bienes inmobiliarios(…) (ALEXANDRI ET AL., 2016,

p. 12)

Muitos pesquisadores latinoamericanos tem procurado definir este processo e,

mesmo não existindo uma definição única, alguns dos autores analisados (HIERNAUX e

GONZÁLEZ, 2014; ALEXANDRI ET AL., 2016; JANOSCHKA, 2016) coincidem no

fato de que este está vinculado essencialmente ao deslocamento ou remoção da população

pobre das áreas centrais pelos interesses do mercado capitalista que exclui os cidadãos que

não têm poder aquisitivo para garantir o desfrute da cidade e do seu patrimônio convertidos

em mercadorias como acontece nos casos de Cartagena de Indias (POSSO, 2015),

Salvador, na Bahia (DÍAZ, 2015), Recife, em Pernambuco (PROENÇA, 2004) e Ciudad de

México (DELGADILLO, 2015). Para Alexandri et al. (2016, s.p.) é:

(...) la mercantilización del espacio público y la creación de nuevos espacios

urbanos, exclusivos para el consumo de las élites en el que las poblaciones

excedentes con valor de mercado insuficiente (...) han de ser expulsados en sigilo

o por la fuerza...La gentrificación, por lo tanto, genera nuevos patrones de

segregación socio-espacial en sociedades que ya son desiguales, reagrupando a la

población en base a sus ingresos, así como a la identidad social.

É importante assinalar que, como apontam Alexandri et al. (2016), não em

todos os casos os deslocamentos da população acontecem pela força, pois em alguns casos

os moradores saem de suas casas pacificamente, pois existem promessas governamentais de

relocação que nem sempre são cumpridas, como é o caso do bairro de Chambacú, em

Cartagena de Indias, descrito por Posso (2015).

Janoschka (2016, s.p.) aponta que: “La gentrificación consiste en un proceso

territorial que es el resultado de ensamblajes económicos y políticos específicos y que

Page 42: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

42

provoca procesos de acumulación por desposesión mediante el desplazamiento y la

expulsión de hogares de menores ingresos”. Os processos de renovação urbana e

valorização, turística ou imobiliária, que acontecem em determinadas zonas e que terminam

transformando a estrutura social dos bairros, estão muito relacionados com os interesses

econômicos e políticos dos ciclos de governo locais. Segundo López Morales (2016):

La gentrificación no se trata sólo de brechas de renta de suelo incrementadas, sino

que se trata de la pérdida de valor de uso en el espacio, así como la denegación

del derecho de uso de determinados espacios para la reproducción social de las

capas sociales más bajas, en cuanto el valor de cambio de esa tierra aumenta

hasta el punto de que cualquier otro valor consideración se vuelve irrelevante

para aquellos que toman decisiones unilaterales sobre el desarrollo de la ciudad.

(LÓPEZ MORALES, 2016, p. 235)

Esta é uma reflexão muito interessante, pois nos usos e nas relações sociais que

se estabeleciam nesse espaço, agora reestruturado, radicava um dos seus valores

patrimoniais. A imagem tradicional dos bairros e as suas sociabilidades são apagadas, pois

a renovação urbana elimina os usos sociais anteriores do espaço público, tais como o

comércio ambulante, os moradores de rua e a prostituição, para criar uma ambiência mais

adequada ao o turismo e à classe média. Nos casos de Cartagena de Indias, Lima e Bogotá,

onde acontecem casos de gentrificação pela valorização do patrimônio os problemas sociais

não se erradicam como resultado da intervenção urbana, eles são deslocados para fora da

zona turística e de interesse para o capital imobiliário (DÍAZ, 2015).

Na cidade espetacularizada para o consumo não existe espaço para as classes

sociais mais pobres. Elas são removidas de maneira direta, com desocupações forçadas, ou,

indiretamente, pelo aumento do custo de vida ou mesmo pela perda da identidade com o

lugar. Também, se podem dar casos de abandono especulativo, por megaprojetos, projetos

militares ou como resultado das ações de atores urbanos ou culturais locais. Estes últimos

tombam determinadas áreas ou bens patrimoniais e o valor do solo no entorno destes

recursos aumenta, podendo chegar à remoção da população de baixa renda (ALEXANDRI

ET AL., 2016). Esta obrigação ao deslocamento é uma injustiça social que legitima o

direito e o pertencimento à centralidade da cidade de um segmento da sociedade escolhido

pelo poder econômico e político.

Para Blanco e Apaolaza (2016), na América Latina, estas populações expulsas

não só perdem o direito a seu espaço tradicional e à centralidade, como são deslocadas para

as periferias com alta privação material, precariedade urbana e vulnerabilidade ambiental.

Os interesses econômicos e políticos e não o bem estar social dos antigos moradores

dominam o espaço.

Page 43: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

43

Na exclusão das populações tradicionais e das suas práticas nos bairros centrais

recuperados está uma das características fundamentais da gentrificação latinoamericana,

segundo Delgadillo (2016). Para este autor, as políticas que garantem a revalorização

material e simbólica do patrimônio cultural estão indissoluvelmente ligadas à remoção dos

moradores. É como se a presença deles no centro impedisse o sucesso destas áreas para o

mercado. A figura 2 mostra um cartaz de protesto colocado em um prédio residencial do

Centro Histórico da Ciudad de México no qual a população defende o direito dos

moradores tradicionais e do comércio local a permanecer na zona revalorizada.

Figura 2: Cartaz de protesto dos dos moradores do Centro Histórico de Ciudad de

México, 2019

FONTE: https://mundo.sputniknews.com/reportajes/201905161087279559-gentrificacion-ciudad-mexico-

inmobiliarias-derecho-tanto/

A outra característica que destaca Delgadillo (2016) está relacionada ao

aumento do interesse dos governos e as administrações locais de retornar ao controle dos

espaços centrais, devido ao potencial econômico destas zonas e de como as políticas

urbanas neoliberais e pró-empresariais favorecem os investimentos e desenvolvimento das

empresas privadas. Os governos viram agentes gentrificadores, pois adoptam medidas para

criar uma “cidade sustentável” e renovada, onde o pertencimento está associado à

possibilidade de consumo, e se expulsa e criminaliza aos moradores pobres, ou seja, as

políticas públicas estão desenhadas para beneficiar aos grupos econômicos e os políticos

mais poderosos.

Então, se na análise dos processos de gentrificação europeus e norteamericanos,

se tinha determinado que, segundo Mendoza (2016), existiam três agentes gentrificadores:

Page 44: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

44

o governo, o mercado e os novos donos, nos casos latinoamericanos, estes três atores

continuam a ser grupos gentrificadores sendo as classes altas em menor medida. Porém,

Hiernaux e Gonzalez (2014) identificam um novo agente, pensando ao turista como

gentrificador. Se trata de entender ao turista como “habitante de los centros históricos”

(HIERNAUX e GONZÁLEZ, 2014, p. 63), pois eles ocupam o espaço e o habitam por um

período de tempo, e mesmo se não são sempre os mesmos indivíduos/turistas que vivem

nos centros das cidades, a permanência destes e o consumo dos serviços, os novos

equipamentos, o domínio dos espaços públicos e as novas sociabilidades geram os mesmos

conflitos, devido a uma apropriação do espaço central da cidade por agentes externos. Um

exemplo desta apropriação dos turistas das áreas centrais e históricas é o caso dos

apartamentos e casas colocados no site Airbnb para serem alugados, pois em muitos casos a

população residente sai das suas casas centrais para áreas distantes na cidade para arrendar

suas moradias localizadas perto das zonas valorizadas pelo turismo.

De qualquer modo, mesmo que estas sejam características da gentrificação na

América Latina, cada caso tem as suas próprias singularidades. Nos próximos itens serão

analisados três estudos de caso: Ciudad de México, Quito e Santiago de Chile. As cidades

foram escolhidas pela tipicidade de cada um dos seus processos nos quais se analisaram a

sua origem, trajetória, atores envolvidos e as consequências dos deslocamentos originados.

1.2.1 Ciudad de México: o “blanqueamiento” do Centro

Segundo Delgadillo (2016), a zona central da Ciudad de México se

caracterizava, até a década dos 1990, por ser um área de indústrias obsoletas que abrigava

as classes populares. Os seus espaços “(…) relativamente despoblados, bien comunicados y

declarados “decadentes” por las autoridades (...)” (DELGADILLO, 2016, p. 101), que

possuíam excepcionais valores históricos e culturais, seriam transformados em lugares de

consumo das classes com maiores ingressos e dos turistas.

Para Janoschka (2016), na Ciudad de México o processo de gentrificação está

ligado ao interesse por preservar o centro histórico e o seus bens patrimoniais. Com a

revalorização pelos investimentos públicos e privados neste espaço central, muitos prédios

restaurados adquiriram novas funções vinculadas principalmente ao turismo e os serviços, o

lazer ou à indústria cultural, mas também em alguns casos à venda ou ao aluguel para

novos residentes. Com a modificação da imagem urbana deste espaço que pertencia

anteriormente às classes média e populares, o perfil da população começa a mudar, pois os

moradores de baixa renda e os vendedores ambulantes não eram mais compatíveis com a

Page 45: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

45

cidade reestruturada para o consumo. Se tratava da preservação da cidade e do patrimônio

cultural, mas só para um segmento da população. Janoschka (2016) aponta que, mesmo

com alguns moradores tradicionais permanecendo na área, o processo de deslocamento

começou e tratou da “desposesión del patrimonio arquitectónico” (JANOSCHKA, 2016, p.

47) e seria válido complementar: da centralidade.

Segundo López Morales (2016) quando os bairros centrais se tornam

estratégicos muitas moradias informais são reemplazadas por regimes formais de

propriedade. Delgadillo (2016) explica que a partir do 2000, mesmo se muitas pessoas de

baixos ingressos abandonaram o centro para ir morar de maneira informal na periferia, o

governo e as empresas privadas organizaram um plano para acelerar e cobrir este processo

de despossessão na área central. A estratégia consistia na construção de moradias na

periferia. Casas muito pequenas, distantes e de péssima qualidade, mas com um preço

razoável para as classes populares, fato que levou a mudança de muitos, pois os bairros

centrais estavam se tornando caros e cada vez podiam se identificar menos com os mesmos.

Assim, a cada ano mais de cem mil pessoas abandonam a Ciudad de México pelos altos

custos do solo e dos serviços (DELGADILLO, 2016). Se criou assim uma cidade segregada

em função da renda.

Segundo Delgadillo (2016), enquanto isto acontecia, o Gobierno del Distrito

Federal (GDF) traçou uma política de desenvolvimento urbano que propunha aproveitar a

cidade construída e frear a expansão urbana para proteger as áreas de preservação

ecológica. Discurso ambíguo este, pois, por um lado, conscientizava sobre a necessidade de

limitar a expansão da cidade, mas, por outro, construía casas para os “ruídos visuais”

(PROENÇA, 2004) na periferia. A centralidade seria aproveitada, mas por determinados

segmentos da população com a possibilidade de pagar os altos preços da moradia no centro.

Para levar a frente esta estratégia se estabeleceram:

(…) restricciones urbanísticas, programas habitacionales, la rehabilitación de un

selecto patrimonio histórico y acciones en ciertos espacios públicos. Así, selectas

áreas urbanas centrales han sido revalorizadas en términos simbólicos y

materiales: se han elevado los precios del suelo y los costos de las viviendas (...)

(DELGADILLO, 2016, p. 111)

Com diferentes governos e mandatos, e com os mais diversos slogans (Bando 2,

Desarrollo urbano sustentable, Ciudad compacta) a ideia era: repovoar o centro com

determinados estratos econômicos, “recuperar” o espaço público para determinadas

atividades -nada de vendedores ambulantes-, melhorar o transporte e os serviços para os

novos usuários do espaço, incentivar o desenvolvimento econômico e social e recuperar o

Page 46: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

46

patrimônio cultural, herança da humanidade a que poucos têm acesso (DELGADILLO,

2016).

Embora os projetos destacassem a importância da preservação do patrimônio,

este se encontrava no território valorizado pelo capital na Ciudad de México, o que levaria a

violação da legislação, pois muitos atores econômicos privados destruiriam construções

patrimoniais e substituiriam estas por altos e novos prédios, ou se restringiriam à

conservação exclusiva da fachada (DELGADILLO, 2016)

López Morales (2016) afirma que, para Sergio González, um ativista contra a

especulação imobiliária da Ciudad de México, a gentrificação nesta cidade é um processo

de “blanqueamiento”. A nova população é branca, os seus gostos estéticos levaram a pintar

de branco as fachadas e interiores de muitos prédios e existe um branqueamento de capitais

com os investimentos em imóveis e solo. A figura 3 mostra novas construções de moradias

na zona central, prédios brancos que motivam a iniciar um novo estilo de vida e sem

dúvida, os preços de compra ou aluguel desses investimentos excluem aos moradores

tradicionais da zona de baixa renda e impulsionam a chegada de outros grupos sociais de

maior poder econômico.

Figura 3: Novos prédios residenciais no Centro Histórico de Ciudad México

FONTE: http://revistainvi.uchile.cl/index.php/INVI/article/view/1088/1315

Para manter esta cidade branca, elitista e fragmentada se cria um sistema de

segurança contínua para o centro, com vigilância reforçada por câmeras e policiais; se

deslocam as formas de comércio informais (vendedores ambulantes), se reordena o trânsito

de veículos e se recuperam espaços públicos (JANOSCHKA, 2016).

Page 47: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

47

Para Delgadillo (2016), no caso de Ciudad de México, os agentes

gentrificadores são os atores públicos e privados que modificam o futuro dos bairros e do

centro, pois o que marca a situação não é tanto a chegada de determinados grupos, mas o

investimento de capital por ambos atores. Janoschka (2016) explica que este capital acha o

modo solapado de expropriar a centralidade às classes populares, para prepará-lo para o

consumo dos turistas e das populações não residentes.

No processo de gentrificação na Ciudad de México coexistem a revalorização

de selectos espaços e do patrimônio e a chegada de novos estratos sociais, residentes ou

não, ao centro, motivados pelas mudanças na paisagem que os investimentos públicos e

privados promovem. Este processo se caracteriza pelo aumento do valor do solo, da

moradia e dos serviços e, portanto, da expulsão discreta da população pobre e mestiça à

periferia.

1.2.2 Sem retorno ao centro de Quito

No início do século XX a cidade de Quito era apenas o que hoje se conhece

como o seu Centro Histórico e que, atualmente, é só um pequeno setor de toda a cidade.

Porém, sem dúvidas, se trata do segmento com o maior número de bens históricos e

culturais: 320ha² que guardam um bem cuidado conjunto arquitetônico colonial

(CEVALLOS-ARAÚZ, 2018). Segundo Paes (2017), este Centro Histórico foi o primeiro a

ser declarado Patrimônio Cultural da Humanidade, em 1978, e é um lugar vivo, pois além

da conservação de museus, praças, igrejas e prédios históricos, a população está presente na

dinâmica socioespacial cotidiana com as suas tradições e o seu comércio.

As políticas urbanas da cidade de Quito tem promovido a renovação urbana no

Centro Histórico, com o fim de preservar o seu patrimônio cultural e desenvolver o turismo

nesta área (MARTÍ-COSTA, DURÁN e MARULANDA, 2016). Mesmo quando esta zona

recebe aproximadamente 1107400 turistas nacionais e estrangeiros por ano (LA

ACTUALIDAD, 2018), e existe uma reinversão do capital no centro que tem provocado o

deslocamento dos moradores tradicionais de baixa renda, as classes médias e altas não tem

retornado a este espaço (SANTILLÁN, 2015). Então, a diferença da Ciudad de México e da

maioria dos casos da América Latina, em Quito não se produz uma “(...) vuelta al centro,

sino fundamentalmente procesos de colonización de nuevas áreas periféricas(...)” (MARTÍ-

COSTA, DURÁN e MARULANDA, 2016, p.132) pelas classes com maior poder

econômico. Mas, ainda que não aconteça um caso de gentrificação tradicional no Centro

Histórico de Quito, esse risco não deixa de existir.

Page 48: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

48

Janoschka (2016) analisa dois bairros rurais da periferia de Quito: Cumbayá e

Calderón. Estes bairros se dedicavam a atividades industriais e agrícolas e sua população

estava composta pelas classes populares, que foram substituídas, no primeiro caso, por um

espaço habitacional para a classe alta e, no segundo, a partir do investimento público na

construção de um aeroporto internacional na zona, tem sido objeto de interesse para

desenvolver novos projetos com capital público e privado. Os novos prédios habitacionais,

fechados e com muita segurança, e os novos grandes centros comerciais nestas zonas

modificaram as interações sociais, as atividades (agrária e as práticas indígenas) e o

comércio tradicional, provocando uma mudança na paisagem e no uso do espaço

(JANOSCHKA, 2016).

O convívio de grupos (por um lado classes populares e indígenas e, por outro,

classes médias-altas e altas) com duas formas de vida tão diferentes num mesmo espaço

termina excluindo as sociabilidades tradicionais e, finalmente, o grupo mais vulnerável.

Mesmo se nestes casos ainda não se produz um grande deslocamento das pessoas mais

pobres, as suas práticas começam a ser apagadas: restrição das festas comunitárias,

proibição da cria de animais, favorecimento ao transporte privado sobre o coletivo

(JANOSCHKA, 2016). Paulatinamente se “(…) desvaloriza de forma simbólica las

costumbres populares y las prácticas tradicionales arraigadas en el territorio, aplicando una

violencia simbólica de la “modernidad” establecida como proceso normalizador que se

manifiesta en la transformación territorial.” (JANOSCHKA, 2016, p. 62)

Estas transformações, como mencionado anteriormente, são consequências do

investimento público e do incentivo dos governos aos investimentos privados que

aumentam o valor do solo com os seus empreendimentos comerciais, imobiliários e onde

recursos obtidos vão parar nas mãos dos grupos com o poder econômico e político, e não

são revertidos no bem estar social. Não se trata de que os investimentos públicos ou

privados em si mesmos sejam prejudiciais, o problema está em planejar as cidades e os seus

espaços para poucos. Neste caso o espaço é apropriado como uma mercadoria para as elites,

onde as populações tradicionais e as suas práticas podem ser excluídas. Janoschka sinala

que este é um caso de “(…) desplazamiento por desposesión de las plusvalías de la

intervención pública.” (JANOSCHKA, 2016, p. 60)

Por su lado, Cevallos-Aráuz (2018) analisa o caso da Floresta (Figura 4), um

bairro pericentral de Quito, marcado por uma forte história cultural onde, mesmo quando

ainda não exista um marcado processo de gentrificação, começam a se apreciar algumas

características.

Page 49: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

49

Figura 4: Mapa do bairro pericentral a Floresta, Ecuador

FONTE: https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=6517035

A revalorização deste bairro, os novos projetos imobiliários, a mudanças nas

atividades econômicas do entorno e a chegada de novos grupos sociais com maiores

recursos mudam a paisagem urbana desta zona. Porém, segundo a autora, não existe uma

ameaça de expulsão das populações tradicionais, mais pobres do que as que estão

chegando, pois os novos moradores parecem interessados em os incluir no espaço

reestruturado e na nova dinâmica socioespacial. Porém, é importante pensar em se uma vez

que aconteça a rearticulação total do bairro e das suas atividades, os moradores tradicionais

ainda sentirão que pertencem à zona e se serão capazes de se identificar com as formas de

vidas dos novos grupos.

A literatura não mostra casos de gentrificação tradicional em Quito, mas não se

pode perder de vista a possibilidade que se estejam gestando nas zonas pericentrais. Mesmo

quando os moradores não tem sido expulsos, a restrição e a desvalorização das suas

práticas, em conjunto com as mudanças na paisagem são formas de lhes desapropriar do

espaço.

Page 50: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

50

1.2.3 Santiago de Chile e as suas singularidades

No centro histórico de Santiago de Chile convergem as diversas expressões de

vários períodos do desenvolvimento urbano da cidade (SILVA, 2017). Seus prédios, praças

e trama ficaram como testemunhas da antiga paisagem cultural, pois, segundo López

Morales (2016), nesta cidade tem se perdido muito do patrimônio no que se refere à

imagem das zonas centrais. A imagem dos bairros não se conforma só com as suas

edificações e espaços, ela depende muito das pessoas que as habitam e das relações

econômicas, sociais e culturais que estabelecem. No caso de Santiago, o retorno ao centro

do capital imobiliário trouxe como consequência um reemplazo da população tradicional

mais modesta por grupos sociais de maior poder.

Segundo Imilan, Olivera e Beswick (2016), na década dos noventas o governo

se coloca como um dos objetivos fundamentais solucionar os problemas da moradia,

criando políticas para reduzir a insuficiência de casas. Mas estas estratégias não resolveram

a situação, pois a construção destas se realizou nas periferias onde os preços do solo eram

mais baixos e com subsídio estatal num mercado imobiliário privado. Se criaram assim

bairros com baixo valor do solo, sem serviços básicos e infraestrutura para vida diária, onde

só moram os grupos mais pobres da cidade e proliferam males sociais (IMILAN,

OLIVERA e BESWICK, 2016). O dinheiro investido pelo governo passa a mano de

empresas privadas que obtêm grandes lucros com a renda do solo. Neste caso se produz

uma transformação do problema e não a sua solução. Sem bem a situação habitacional

melhorou apareceram novas ameaças nos novos territórios de exclusão.

No caso de Santiago existe um retorno do capital ao centro e a expulsão dos

moradores em função da renda (Janoschka, 2016), mas os autores estudados Blanco (2016),

Janoschka (2016), López Morais (2016) e Imilan, Olivera e Beswick (2016) não abordam a

associação deste processo ao desenvolvimento do turismo na área, mesmo quando este

acontece (NAVARRETE, 2017), e o relacionam mais à exploração do solo mediante as

empresas imobiliárias privadas com o respaldo dos governos.

Segundo Janoschka (2016) em Santiago no período 2002-2012 a planta

habitacional se duplicou, e nos bairros centrais e pericentrais possuem 60% dos permisos

para novas construções. O preço de venda e aluguel das novas moradias aumentaram em

mais de 100% (LÓPEZ MORALES, 2016) nestas selectas zonas. O aumento do preço faz

com que muitas pessoas devam abandonar as áreas centrais e percam a facilidade de acesso

a vários serviços: transporte, espaços públicos de lazer, escritórios, hospitais, escolas, entre

outros. Além disso se perdem as “redes sociales barriales establecidas” (LÓPEZ

Page 51: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

51

MORALES, 2016, p. 233) e se modifica a paisagem dos bairros com a mudança do perfil

dos grupos que nele habitam e a forma de estabelecer as suas relações entre eles e com o

espaço. Um reduzido grupo de grandes investidores privados obteve significativos lucros

com o aumento do valor do solo no centro de Santiago e muitos pequenos proprietários,

residentes e inquilinos se viram obrigados a vender pela subida de preços (JANOSCHKA,

2016).

Em Santiago o processo está fortemente marcado pelas políticas públicas

governamentais e o seu programa de moradias que determina o lugar para morar na cidade

em relação à capacidade financeira das pessoas induzindo a uma reorganização social e

espacial da cidade (JANOSCHKA, 2016). Além, dos governos, se identificam como

agentes gentrificadores às classes altas e médias, pois segundo Blanco (2016) em alguns

bairros se trata de profissionais assalariados que são nomeados como “trabajadores de

cuello celeste” (BLANCO, 2016, p. 87); as empresas imobiliárias e os seus investidores

(LÓPEZ MORALES, 2016) que em alguns casos foram universidades privadas

(JANOSCHKA, 2016) interessadas no investimento residencial.

Estas políticas neoliberais, de mercantilização da moradia (LÓPEZ

MORALES, 2016) e de reconfiguração da cidade não são pensadas para toda a população.

Os moradores, formais ou informais, mais modestos são excluídos a partir da violência

simbólica (JANOSCHKA, 2016) que privilegia os interesses do mercado capitalista.

Cada um dos casos analisados tem as suas particularidades, mas em todos se

produz um retorno do capital ao centro da cidade na década dos 1990. No caso de Ciudad

de México e de Santiago de Chile a reestruturação da cidade, o interesse de preservação

patrimonial e de recuperação de espaços públicos provocaram processos de expulsão dos

moradores tradicionais de baixa renda para as periferias da cidade em condições adversas,

fragmentando a cidade em função do poder adquisitivo dos grupos sociais. Quito pareceria

uma situação diametralmente oposta, pois as classes altas não retornam ao centro, elas

preferem as zonas mais afastadas, porém se abordou a caso da Floresta, zona pericentral e

com um forte caráter cultural de Quito que está atraindo novos moradores de maior perfil

econômico. Mesmo se Santillán (2015), Martí-Costa,Durán e Marulanda (2016) e Cevallos-

Aráuz (2018) aponta que em Quito não existem casos de gentrificação, López Morales

(2016) sinala que na década dos 1990 se proibiu o comércio ambulante no centro que se

estava valorizando para o turismo. Estes estudos de caso permitem entender que o

problema não consiste em que o capital retorne ao centro, o em se as classes altas voltam

para morar o só para atividades de lazer, o questão radica em que as políticas públicas não

Page 52: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

52

regulam estes processos de mudança, “embelezamento” e refuncionalização turística que

acontecem, para criar uma cidade inclusiva e com espaços para todos. O problema não é o

turismo, ou as classes altas, é a falta do interesse estatal em cuidar das classes mais

despossuídas e vulneráveis e não só dos interesses econômicos próprios ou do país, pois

nos casos de Ciudad de México e de Santiago de Chile o principal agente gentrificador são

os governos que legitimam o papel das empresas privadas no mercado do solo e

estabelecem políticas mercantilizantes e neoliberais.

1.3 POSSIBILIDADES DO DESENVOLVIMENTO TURÍSTICO

O turismo não é o “vilão” (PAES, 2017, p. 677) nos processos de reestruturação

urbana que acontecem na atualidade. Então, não se trata de eliminar o turismo se não de:

(…) conciliar os diferentes usos e primar pela permanência das populações

locais, observando as possibilidades de sobrevivência econômica e de acesso à

moradia destas, sem excluir os visitantes, nem o caráter público dos bens

tombados, devem constituir-se em uma preocupação central do planejamento

turístico(...) (PAES, 2005, p. 103)

Mesmo tendo em conta os visíveis inconvenientes que a atividade turística gera,

os seus efeitos positivos, se bem planejado o seu desenvolvimento, sobre o patrimônio e as

comunidades, não devem ser negligenciados.

O desenvolvimento turístico pode servir para a conservação da riqueza cultural

e histórica dos centros urbanos, pois atrai os recursos financeiros necessários para a

preservação e recuperação de imóveis, praças e monumentos, põe em valor o patrimônio, o

promove, o difunde e contribui para a conscientização sobre a importância de conservar o

legado material e imaterial.

Além disso, gera empregos que beneficiam os receptores vinculados ao setor e,

se bem gerido, os aportes econômicos que geram as atividades turísticas podem auxiliar na

refuncionalização dos prédios que podem servir de habitação para as populações dos

centros urbanos, ou a funções e serviços comunitários que melhorem a qualidade de vida

dos habitantes.

O Acta de Copenhaguen do Buró Internacional do Turismo Social, de 1972,

expressa a necessidade de “... armonizar las necesidades crecientes del turismo social y el

objetivo esencial de la protección del patrimonio del hombre...” (CASTILLO, 2010, p. 2),

pelo que é primordial garantir que o desfrute dos valores patrimoniais não atente contra o

bem-estar dos mesmos.

A vontade, a conscientização e a implicação real (não só discursiva) do

Governo, das instituições encarregadas da preservação e restauração do patrimônio, dos

Page 53: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

53

representantes locais, das empresas privadas e os moradores podem chegar a um consenso

favorável para ambas. Se trata de democratizar o uso dos espaços culturais e os valores

patrimoniais da cidade, para turistas e moradores de todos os grupos econômicos.

Em Cuba, a Oficina del Historiador de la Ciudad de La Habana é a

responsável pela conservação do Centro Histórico de Havana Velha e, mesmo que o

trabalho realizado nas últimas décadas esteja muito longe de ser perfeito, interessa-nos

conhecer as particularidades deste processo que tem como objetivo não excluir a população

local nem as suas representações, e conciliar a valorização do seu patrimônio cultural com

o interesse turístico.

Em 2004, a experiência pontual que se desenvolveu na Havana Velha foi

considerada por especialistas da UNESCO como uma plataforma de inovação e uma

experiência a ser considerada mundialmente, pois procurou, sobre todas as coisas, lograr

um diálogo entre patrimônio, turismo e moradores, o que pode resultar em um modelo para

outras localidades que desenvolvam uma estratégia turística sustentada pelo seu patrimônio

cultural.

Nesse sentido, o próximo capítulo explica como acontece o processo de

valorização turística no Centro Histórico de Havana Velha e o papel da Oficina del

Historiador de la Ciudad de La Habana como instituição que procura preservar o

patrimônio cultural da zona e ao mesmo tempo procura desenvolver o turismo para

autofinanciar os trabalhos de recuperação neste espaço. Além disso, se aborda a

declaratória, pela UNESCO, da zona e do sistema defensivo da cidade como: Patrimônio

Cultural da Humanidade, assim como a significação deste reconhecimento para o posterior

desenvolvimento do turismo cultural no Centro Histórico.

Page 54: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

54

2. O PROCESSO DE VALORIZAÇÃO TURÍSTICA DO PATRIMÔNIO

CULTURAL NO CENTRO HISTÓRICO DE HAVANA VELHA, CUBA

2.1 A EVOLUÇÃO DO CENTRO HISTÓRICO DE HAVANA VELHA, CUBA NO

PERÍODO COLONIAL

A vila de San Cristóbal de La Habana foi fundada, por Diego Velázquez e os

conquistadores espanhóis, em 1519. A cidade se desenvolveu até se tornar capital da ilha,

em 1607, fundamentalmente pela sua localização na baía, um porto chave para as relações

entre o Novo e o Velho Continente (LEAL, 2004).

A cidade começou no que hoje se conhece como o seu Centro Histórico no

município de Havana Velha. Se criaram ali os bens materiais para o desenvolvimento da

vida: casas de um único piso com pátio interior, grandes portões e decorações de cerâmica

(PLAN MAESTRO, 2004); fortificações militares, igrejas e praças. O sistema de

fortificações foi uma necessidade, pois pela sua condição de porto conector entre América e

Europa e, portanto, protetora de inúmeras riquezas, a cidade se converteu num objetivo na

mira dos ataques dos corsários e piratas. Surgiram assim, para garantir a defesa deste

espaço e da sua população, no século XVI, o Castillo de la Real Fuerza, o Castillo de Los

Tres Reyes del Morro e o Castillo de San Salvador de la Punta, conjunto de proteção que

se completaria, um século mais tarde, com a fundação da Fortaleza de San Carlos de la

Cabaña e a Muralla de La Habana (Figura 5).

Figura 5: Exterior da Puerta de Monserrate de la Muralla de La Habana

FONTE: Imagem obtida na Empresa de Proyectos RESTAURA (OHCH) (2018)

Page 55: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

55

Depois da primeira fortificação da baía, as seguintes construções tinham como

objetivo embelezar a cidade e criar espaços para as diversas ordens religiosas espanholas

(PLAN MAESTRO, 2004). Vão se perfilando assim cinco praças fundamentais (Figura 6 e

7), “(…) espacios públicos para el desarrollo de la vida ciudadana” (PLAN MAESTRO,

2004, p. 2). A religião foi um meio dos colonizadores para conseguir dominar no Novo

Mundo e justificar assim as suas ações, por isto, para eles, a construção de edificações

religiosas era um fator chave. Surgiram as primeiras igrejas, conventos e seminários: o

Convento de San Agustín, a Ermita del Humilladero, a Iglesia del Santo Ángel Custodio, o

Monasterio de Santa Teresa e o Convento de San Felipe Neri (LEAL, 2004). As principais

atividades econômicas dos primeiros anos foram a construção de barcos, utilizando os

meios naturais que fornecia o entorno, e o comércio. Neste espaço, os espanhóis

reproduziram seus modos de vida, se adaptando às novas circunstâncias.

Figura 6: Plaza e Convento de San Francisco século XVIII

FONTE: http://www.habanaradio.cu/articulos/la-plaza-de-san-francisco/

Figura 7: Plaza Vieja século XVIII

FONTE: http://www.habanaradio.cu/articulos/la-plaza-vieja/

Page 56: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

56

A cidade crescia e aumentava o desenvolvimento econômico dos seus

habitantes, por tanto, eram necessários novos espaços de formação e encontro que

mostrassem a prosperidade da vila, uma cidade que se refinava. Surgiram, assim, nos

séculos XVIII e XIX, a Real y Pontificia Universidad de San Jerónimo, no Convento de

San Juan de Letrán (Figura 8); o Teatro Tacón (Figura 9); o Liceo Artístico y Literario; o

Teatro Coliseo; o ferrocarril, sendo o quinto país do mundo a contar com este avanço

(LEAL, 2004) e novos bairros residenciais de elite, o que produziu um êxodo da população

para as novas localidades, deixando o centro assumir uma função industrial (PLAN

MAESTRO, 2004).

Figura 8: Convento de San Juan de Letrán onde radicou a Real y Pontificia Universidad

de San Jerónimo

FONTE: http://www.habanaradio.cu/articulos/antiguo-convento-de-santo-domingo/

Figura 9: Teatro Tacón

FONTE: https://palauantiguitats.com/en/grabado/teatro-de-tacon-habana-2/

Page 57: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

57

Estas construções foram o resultado das necessidades imperantes, do

desenvolvimento da época, dos conhecimentos, das características geográficas do território,

dos interesses da metrópole espanhola e da disponibilidade de materiais, entre outros

fatores. A cidade da Havana surge a partir desta produção de brancos espanhóis, negros

africanos, aborígenes oriundos de Cuba e, mais tarde, os criollos, que também deixaram a

sua marca nesse espaço.

O país se envolveu em três guerras independentistas, mas o intento de

independência se viu frustrado pela entrada dos Estados Unidos na guerra em 1898, quando

o país passou a ser de uma colônia espanhola para uma neocolônia norteamericana, mesmo

quando formalmente tornou-se uma república em 1902. Se iniciava assim a República

Neocolonial, uma outra etapa na história de Cuba e na produção do seu espaço, pois o país

mudava de dono e mudavam, portanto, os interesses envolvidos.

2.2 A OFICINA DEL HISTORIADOR DE LA CIUDAD DE LA HABANA: UM INTENTO

POR RESGATAR A HAVANA VELHA

A instauração da República de Cuba, no início do século XX, marca uma nova

etapa no desenvolvimento econômico, político e social do país. As mudanças que

acontecem modificam a configuração espacial da cidade de Havana, capital da nação e

centro das principais transformações e fluxos financeiros e, fundamentalmente, do seu

núcleo urbano tradicional, denominado Centro Histórico. A figura 10 mostra a área que

ocupa a província de Havana, em verde, e o município Havana Velha, em rosa, onde se

localiza o Centro Histórico, sinalizado seu perímetro em vermelho, que é um espaço com

uma área de 2,14 km², aproximadamente 50% do município, e abarca a antiga zona

intramuros, espaço de expansão desta parte da cidade no final do século XIX, o Paseo do

Prado e uma parte do Bairro Jesús María (RODRÍGUEZ ALOMÁ, 2012).

Page 58: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

58

Figura 10: Localização geográfica do Centro Histórico de Havana

FONTE: Elaborado pela autora (2017) a partir de informações obtidas na Empresa de Proyectos RESTAURA

(OHCH) (2017)

Segundo o Plan Maestro (2004), nesta etapa, o Centro Histórico da cidade

acolhe as principais instituições bancárias e comerciais, para as quais se edificam prédios

altos e luxuosos que mudam o gabarito tradicional da área. Desta forma, o Centro Histórico

de Havana Velha que na metade do século XVIII tinha sido abandonado pelas classes altas,

se recupera como um centro econômico. A cidade cresce e a herança colonial se mistura às

novas construções e estilos. São construídos prédios art déco, como o Edificio Bacardí e o

Cine Fausto (Figura 11) (RIGOL, 2015), que se integram à paisagem tradicional do Centro.

Page 59: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

59

Figura 11: Edificio Bacardí e Cine Fausto, de esquerda a direita

FONTE: https://www.encaribe.org/es/Picture?IdImagen=1431&idRegistro=561 e

https://www.cubatechtravel.com/destination/extrahotel/en/292/fausto-cinema-theater

É neste contexto que surge primeiro, em 1935, o cargo de Historiador de la

Ciudad e, depois, em 1938, a Oficina del Historiador de la Ciudad de La Habana

(OCHOA ALOMÁ, 2015). Para Rodríguez Alomá (2001) e Ochoa Alomá (2015), o Plan

Maestro (2004) a criação, tanto do cargo quanto da instituição, se deve a uma campanha de

um grupo de intelectuais com um pensamento nacionalista que pretendia conscientizar e

conseguir apoio estatal para a preservação, nos primeiros momentos, do patrimônio

documental da cidade e, posteriormente, para a conservação dos valores arquitetônicos e

culturais da parte mais antiga da cidade. À frente deste grupo se encontrava o Dr. Emilio

Roig de Leuchsenring, que via com receio as transformações que aconteciam no Centro,

tendo sido o primeiro Historiador de la Ciudad.

Desta forma, a Oficina del Historiador de la Ciudad de La Habana surge como

uma instituição provincial (TERRÓN, 2015) que procura defender a cultura nacional e

proteger as construções coloniais da cidade de Havana, principalmente as que se

encontravam no Centro Histórico. O Historiador de la Ciudad, cargo que ocupava Emilio

Roig desde 1935, seria a pessoa que lideraria o trabalho desenvolvido por este organismo.

Nos primeiros tempos, a OHCH cria algumas instituições para compartilhar a

atividade de resgate do patrimônio e descentralizar as funções. Surgem assim, o Archivo

Histórico de la Oficina del Historiador e a Biblioteca Histórica em 1938, e dois anos mais

tarde a Comisión de Monumentos, Edificios y Lugares Históricos y Artísticos Habaneros -

hoje Comisión Provincial de Monumentos -, e a Junta Nacional de Arqueología y

Page 60: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

60

Etnología em 1942. Além destes organismos, era necessário um marco legal para a

salvaguarda do núcleo histórico, por esta razão é aprovada a Ley de los Monumentos

Históricos, Arquitectónicos y Arqueológicos em 1939 (RODRÍGUEZ ALOMÁ, 2001).

O trabalho da OHCH contribuiu na inclusão dos artigos 47, 58 e 59 da

Constituição da República de Cuba em 1940:

Art. 47 La cultura en todas sus manifestaciones, constituye un interés primordial

del Estado, son libres la investigación científica, la expresión artística y la

publicación de sus resultados (...) Art. 58 El estado regulará por medio de la ley la conservación del tesoro cultural

de la nación, su riqueza artística e histórica así como también protegerá

especialmente los monumentos nacionales y lugares notables por su belleza

natural, o por su reconocido valor artístico o histórico. Art. 59 Se creará un Consejo Nacional de Educación y Cultura que presidido por

el Ministro de Educación, estará encargado de fomentar, orientar técnicamente o

inspeccionar las actividades educativas, científicas y artísticas de la nación.

(Cuba, 1940: 115)

Iniciava-se um novo caminho no qual, pelo menos de um jeito formal, existia

um entendimento do valor da cultura, do patrimônio e da importância da sua divulgação por

parte do governo.

Segundo dados do Plan Maestro (2018) nas décadas de 1940 e 1950, a OHCH

dedicou-se à recuperação, conservação e reabilitação de obras e conjuntos arquitetônicos de

valor patrimonial e dentre a suas ações neste período destaca-se a proteção da área externa

e do Castillo de la Fuerza (Figura 12), uma fortaleza construída no século XVI para a

proteção da cidade, na frente da qual tinha uma praça (hoje Praça de Armas) em torno da

que se construíram as moradias dos vizinhos mais notórios; a restauração de um segmento

da Muralla de la Habana, muralha que cercava a cidade, construída a inícios do século

XVII para salvaguardar Havana dos ataques de corsários e piratas, com uma extensão era

de cerca de 4,5 quilómetros, tinha uma média de 1,40 metros de espessura e 10 de altura, e

uma tripulação de 3 400 homens e um armamento de 180 peças (MARTÍN ZEQUEIRA e

RODRÍGUEZ FERNÁNDEZ, 1995); a restauração da porta de La Tenaza, uma das portas

da Muralla de la Habana; do Convento e Igreja de San Francisco, prédios religiosos

situados na Plaza de San Frnacisco de Asís, construídos no século XVI; do prédio da

Hacienda, da Catedral, igreja consagrada à Virgen María, construída no século XVIII, e

do Palacio Aldama (Figura 13), mansão cubana do século XIX. Outro exemplo foi a

campanha realizada contra a destruição da Iglesia e o Hospital de San Francisco de Paula

(Figura 14), prédios situados na Alameda de Paula, construídos no século XVII, e mesmo

quando as ações não permitiram a proteção total da construção, salvaram-na parcialmente.

Page 61: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

61

Figura 12: Castillo de la Real Fuerza, na atualidade

FONTE: http://www.soilcropandmore.info/Newsletter/Personal-Newsletters/Havana-Letter/index.htm

Figura 13: Palacio Aldama

FONTE: http://www.habanaradio.cu/articulos/asaltan-palacio-de-aldama/

Figura 14: Iglesia de San Francisco de Paula, na atualidade

FONTE: http://www.habanaradio.cu/articulos/antigua-iglesia-de-san-francisco-de-paula/

Page 62: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

62

Para Ochoa Alomá (2015) são memoráveis os protestos da OHCH, em 1942,

para evitar que fosse pintada a fachada do Palacio Presidencial (Figura 15) e as

manifestações contrárias às ações que prejudicassem a estética do conjunto palaciano,

formado pelo Capitolio Nacional (Figura 16), os Centro Gallego e Asturiano (Figura 17 e

18), o Instituto de Segunda Enseñanza No. 1 (Figura 19) e a Manzana de Gómez, pois se

discutia nas esferas do governo sobre a possibilidade de construir nestes espaços vários

arranha-céu.

Figura 15: Antigo Palacio Presidencial, 2017 (Hoje, Museo de la Revolución)

FONTE: http://www.radioreloj.cu/es/noticias-radio-reloj/cultura/velada-la-habana-13-marzo/

Figura 16: Capitolio Nacional

FONTE: http://www.habanaradio.cu/tribuna-del-historiador/nuevas-salas-abiertas-en-el-capitolio-nacional/

Page 63: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

63

Figura 17: Centro Asturiano, na atualidade

FONTE: http://www.habanaradio.cu/articulos/edificio-de-la-calle-san-rafael-nos-1-y-3/

Figura 18: Centro Gallego, na atualidade

FONTE: http://www.habanaradio.cu/articulos/el-primer-centro-gallego-de-la-habana/

Figura 19: Instituto de Segunda Enseñanza No. 1, na atualidade

FONTE: http://www.habanaradio.cu/articulos/edificio-de-la-calle-zulueta-no-407/

Page 64: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

64

Lamentavelmente, em alguns casos, as ações da Oficina não foram suficientes e

várias construções foram demolidas, como é o caso do Convento de San Juan de Letrán

(Figura 20), ocupado pela ordem Santo Domingo, onde estava localizada a primeira

universidade cubana: a Real y Pontificia Universidad de San Gerónimo de La Habana

(RODRÍGUEZ ALOMÁ, 2001).

Figura 20: Convento de San Juan de Letrán

FONTE: http://www.habanaradio.cu/articulos/antiguo-convento-de-santo-domingo/

O trabalho da instituição não se limitou a preservação e recuperação de prédios

e sítios históricos, a OHCH começou a intervir na regulação dos nomes das ruas na Havana

Velha procurando manter os nomes tradicionais quando não fossem nomes de governantes

despóticos e, nesses casos, seriam substituídos por nomes de próceres independentistas,

principalmente; na recuperação de patrimônio intangível (carnavais e outras festas,

comparsas3, entre outros) (PLAN MAESTRO, 2004), na colocação de inscrições nos

monumentos, igrejas, praças, e na realização de congressos de história (Congresos

Nacionales de Historia e de Historia Municipal Interamericana) (OCHOA ALOMÁ, 2015).

Com a participação da OHCH e da Junta Nacional de Arqueología y Etnología,

nestas décadas, foram declarados Monumento Nacional vários prédios e sítios históricos, na

procura de notoriedade e proteção para estes bens, pois uma vez que eram declarados

monumento a Junta regulava que:

3 Grupos de pessoas fantasiadas que desfilam e dançam juntas pelas ruas com acompanhamento de uma música própria.

Page 65: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

65

(…) Los Monumentos Nacionales, no podrán ser modificados o restaurados, sin

la previa autorización de la Junta. La conservación de los edificios declarados Monumentos Nacionales no pueden

limitarse exclusivamente a su exterior, a su fachada, porque ello significaría

convertir a los Monumentos Nacionales en telones decorativos utilizados en una

farsa histórica o artística(…) Prohibe que, sin autorización de la Junta, sea adosada una construcción nueva a

un edificio declarado Monumento Nacional(…) (OCHOA ALOMÁ, 2015: 107)

Esta normativa ditava como proceder com estes prédios de alto valor para a

história e para a cultura cubana e pretendia evitar que fossem derrubados ou sofressem

intervenções sem a assessoria necessária que garantisse processos de restauração

adequados. Assim, foram declarados Monumento Nacional: a Iglesia de Paula em 1944, a

casa natal de José Martí, a Fortaleza de los Tres Reyes del Morro, o Palacio Aldama, em

1949 e, dois anos depois, o Rincón e a Fragua Martiana, e em 1955 o Palacio Pedroso

(OCHOA ALOMÁ, 2015). Eram valorizadas construções representativas das classes altas

da etapa colonial cubana, mas também registros vinculados à figura histórica de José Martí.

Nesta etapa ainda ficavam fora das nomeações a herança das classes menos favorecidas.

Quando se analisam as resoluções atuais do Consejo Nacional de Patrimonio Cultural

(2019) que declaram os Monumentos Nacionales alguns destes prédios: Iglesia de Paula,

Palacio Aldama e o Palacio Pedroso; não possuem mais esta condição devido a que

sufriram demolições ou alterações parciais posteriores (MARTÍN ZEQUEIRA e

RODRÍGUEZ FERNÁNDEZ, 1995) mesmo quando estas declaratórias visavam protegê-

los. Outros como: a casa natal de José Martí, a Fortaleza de los Tres Reyes del Morro e o

Rincón e a Fragua Martiana -fora dos limites do Centro Histórico-; possuem declaratórias

posteriores à década de 1970 -como se abordará em próximos subitens-, talvez devido a

uma necessária revisão para avaliar às suas condições para continuar integrando esta lista.

Além disso, a Junta Nacional de Arqueología y Etnología tinha declarado, em

1944, como “(…) zona de excepcional valor histórico y artístico toda la parte de la Habana

comprendida entre el mar y las antiguas murallas (...)” (OCHOA ALOMÁ, 2015: 109). A

resolução estava assinada pelo Presidente Fulgencio Batista. Esta declaração dava

relevância ao conjunto paisagístico que décadas depois, em 1982, seria reconhecido pela

UNESCO e assentava as bases para a sua proteção, pois se legislou que os prédios que se

construíssem ou reconstruíssem deveriam ter harmonia com os estilos colonial cubano,

neoclássico ou clássicos já utilizados na cidade, e ficava proibida a construção de prédios

com fachadas de estilo moderno - medida respeitada por alguns anos no Centro Histórico

(ÁLVAREZ, 1998).

Page 66: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

66

Nestes anos, o trabalho da OHCH esteve muito ligado à Junta Nacional de

Arqueología y Etnología, e ao fato de que “(…) Los Monumentos Nacionales, no podrán

ser modificados o restaurados, sin la previa autorización de la Junta(…)” (OCHOA

ALOMÁ, 2015, p.107), como citado anteriormente, demostra uma supremacia do poder da

segunda instituição, panorama que mudaria nos próximos anos. Mas, cabe ressaltar também

que o Historiador de la Ciudad era membro pleno da Junta e que primava em ambos

organismos o interesse para que as ações de conservação não comprometessem a imagem

original do bem.

Por um lado, parecia que o governo respaldava as ações em favor da defesa dos

monumentos coloniais, com a assinatura do Presidente na declaratória de Havana Velha

como Zona de excepcional valor histórico y artístico, mas, segundo Rigol (2015), sem

consultar a Junta ou a OHCH, foi contratado por Batista, em 1956, uma equipe de

urbanistas estrangeiros para fazer um plano de expansão das vias e de embelezamento do

Centro Histórico de Havana Velha. Este projeto implicava derrubar vários quarteirões de

prédios coloniais, conservando apenas alguns poucos dentre os mais emblemáticos, e

realizar uma transformação radical da cidade antiga. Com este processo de renovação

urbana se procurava que Havana entrasse na lógica do mercado e que se adaptasse aos

tempos modernos. Finalmente o projeto não se realizou, mas, de ter sido acometido, esta

área e o sistema defensivo da cidade não seriam declarados pela UNESCO como

Patrimônio Cultural da Humanidade, três décadas depois.

No primeiro de janeiro de 1959 triunfa a Revolución Cubana e, a partir desta

data, o país entra num período de profundas mudanças sociais, políticas e econômicas. Os

primeiros passos do novo governo estiveram encaminhados pela nacionalização das

principais indústrias do país, pela aprovação da Ley de Reforma Agraria, pela realização da

campanha de alfabetização, entre outras. Mesmo quando havia interesse do estado na

proteção do patrimônio cultural da nação, o país atravessava por uma situação na qual se

impunha a resolução de outros problemas mais urgentes.

As limitações financeiras dos anos 1960 frearam os projetos de transformação

urbana da década anterior. Desta forma, o Centro Histórico de Havana Velha conservou o

seu traçado e a maioria dos seus prédios antigos. A autenticidade original foi preservada,

embora existam ainda algumas áreas em avançado processo de deterioração (PLAN

MAESTRO, 2004).

Segundo Rodríguez Alomá (2001), o novo governo reconheceu a OHCH e o

trabalho que esta vinha desempenhando e, mesmo se nos anos 1960, se realizaram poucas

Page 67: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

67

ações de preservação do patrimônio cultural, se acometeram algumas, tais como: o início de

um plano de recuperação para Havana Velha, que incluía trabalhos em três das principais

praças (Plaza de Armas, Plaza de San Francisco e Plaza de la Catedral); continuaram as

obras no Castillo de la Real Fuerza e no Palacio del Segundo Cabo; e começa a

reabilitação do Palacio de los Capitanes Generales para que fosse a sede do Museo de la

Ciudad (OCHOA ALOMÁ, 2015). Também a década do 1960 foi uma etapa de mudanças

para a OHCH, pois em 1964 morre Emilio Roig, e a partir desta data as funções de

Historiador de la Ciudad seriam desempenhadas por Eusebio Leal (PLAN MAESTRO,

2004), mas as concepções e ideias de ambos eram semelhantes, então, se pode apreciar uma

continuidade na obra de recuperação.

No dia 15 de fevereiro de 1976 se aprovou uma nova Constitución de la

República de Cuba, na qual no Capítulo V Educación y Cultura existe um único inciso

referente ao patrimônio cultural cubano:

h) el Estado defiende la identidad de la cultura cubana y vela por la conservación

del patrimonio cultural y la riqueza artística e histórica de la nación. Protege los

monumentos nacionales y los lugares notables por su belleza natural o por su

reconocido valor artístico o histórico(...) (Cuba, 1976: 9)

Sendo insuficiente em matéria de leis o ditado na Constituição de 1976 sobre o

patrimônio cultural cubano, nesse mesmo ano a Asamblea Nacional del Poder Popular

previu outros instrumentos legislativos e aprovou a Ley No. 1 sobre el Patrimonio Cultural

e a Ley No. 2 sobre los monumentos nacionales y locales.

A Ley No. 1 sobre el Patrimonio Cultural procura estabelecer as pautas para o

registro e proteção dos bens culturais ao tempo que dispõe:

ARTICULO 1: La presente Ley tiene por objeto la determinación de los bienes

que, por su especial relevancia en relación con la arqueología, la prehistoria, la

historia, la literatura, la educación, el arte, la ciencia y la cultura en general,

integran el Patrimonio Cultural de la Nación, y establecer medios idóneos de

protección de los mismos. ARTÍCULO 5: Toda persona natural o jurídica tenedora por cualquier título de

bienes que constituyan Patrimonio Cultural de la Nación, viene obligada a

declararlos, previo requerimiento, ante el Registro Nacional de Bienes Culturales

de la República de Cuba, sin que ello implique modificación de título por el que

se posee. Los que faltaren a esta obligación en el término que se les señale serán

sancionados conforme a la legislación vigente. ARTÍCULO 7: Se declaran de utilidad pública e interés social los bienes

culturales a que se refiere la presente ley, los que no podrán ser destruidos,

remozados, modificados o restaurados, sin previa autorización del Ministerio de

Cultura. ARTÍCULO 12:La extracción o el intento de extracción del territorio nacional de

bienes culturales protegidos por esta Ley sin haber obtenido previamente la

autorización del Ministerio de Cultura, constituirá delito de contrabando y será

sancionado conforme establece la Ley Penal. Dichos bienes serán siempre

decomisados.(...) (Cuba, 1976a: 1)

Page 68: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

68

Esta lei centralizava as funções de proteção do patrimônio no Ministério de

Cultura.

A Ley No. 2 sobre los monumentos nacionales y locales, por sua parte, estipula

quando um bem pode ser declarado Monumento Nacional, cria a Comisión Nacional de

Monumentos e as Provinciales, adscrita ao Ministério de Cultura e se determinam as suas

funções, estipula como deve ser a realização de escavações arqueológicas e a restauração de

obras de artes plásticas nos monumentos (Cuba, 1976b).

Estas leis, e as sucessivas (Decreto No.55 Reglamento para la ejecución de la

Ley de los Monumentos Nacionales y Locales ou o Decreto No.118 Reglamento para la

ejecución de la Ley de Protección al Patrimonio ambos de 1977) alicerçam as bases legais

para a atuação no resgate, proteção e recuperação do patrimônio cultural cubano.

Em 1978 o Centro Histórico de Havana Velha e as suas fortificações militares

são declarados Monumento Nacional pela Comisión Nacional de Monumentos devido à

preservação arquitetônica do conjunto. A partir desse ano, são reconhecidas, por esta

instituição, várias edificações de valor histórico e cultural com esta declaratoria. O quadro 4

apresenta os Monumentos Nacionales do Centro Histórico de Havana Velha até a

atualidade.

Quadro 4: Monumentos Nacionales no Centro Histórico de Havana Velha

Monumento Descrição Data da declaratória

Antigua Villa de San Cristóbal

de La Habana y el sistema de

fortificaciones coloniales que

la circundan

Centro Histórico do município

Havana Velha e o sistema

defensivo da cidade composto

por 10 fortificações militares

10 de outubro de 1978

Casa Natal de José Martí Moradia do Héroe Nacional de

Cuba

10 de outubro de 1978

Hotel Inglaterra Hotel vinculado às lutas

independentistas

12 de maio de 1981

Museo Histórico de las

Ciencias Carlos J. Finlay

Antiga construção vinculada

ao arte, a história e a ciência

14 de agosto de 1981

Locomotora La Junta Mais antiga locomotora que se

conserva em Cuba, data de

1842

31 de agosto de 1998

Estación de Ferrocarriles

Cristina

Parte do patrimônio ferroviário

nacional

2 de novembro de 2002

Page 69: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

69

Estación Central de

Ferrocarriles de La Habana

Parte do patrimônio ferroviário

nacional

12 de novembro de 2002

Capitolio Nacional Emblemática construção,

cenário do acontecer político

do período republicano (1902-

1958)

15 de novembro de 2010

FONTE: Elaborado pela autora (2019) a partir de informações extraídas de Consejo Nacional de Patrimonio

Cultural (2019)

Além dos Monumentos Nacionales reconhecidos no Centro Histórico, em

dezembro de 2014 foi declarado Patrimonio Cultural de la Nación o Cañonazo de las

Nueve4. Esta cerimônia é realizada na Fortaleza de San Carlos de la Cabaña, uma das

fortificações espanholas declaradas Monumento Nacional, de conjunto com Havana Velha,

em 1978.

Segundo Paes (2005, p. 96), muitos dos bens materiais e imateriais

reconhecidos como patrimônio são representativos dos “(...) grupos sociais hegemônicos

(...)”, no Centro Histórico de Havana Velha também acontece assim, pois os bens

declarados Monumento Nacional e Patrimonio Cultural de la Nación, são conjuntos,

construções -exceto a casa de Martí, que provinha de uma família humilde, porém

espanhola- e tradições representativas das classes médias e altas das etapas colonial e

neocolonial; ou estão vinculados às lutas independentistas. Em Cuba, existem poucos

testemunhos construídos das classes mais desfavorecidas, sendo que e a maioria se encontra

na região oriental do país, mas, nos últimos anos, se declararam algumas tradições como: o

sombrero de guano, tipo de chapéu tradicional do campo, lendas dos campos e as parrandas

-carnaval popular da região central- como Patrimonios Culturales ou Inmateriales de la

Nación (CONSEJO NACIONAL DE PATRIMONIO CULTURAL, 2019).

As seguintes figuras mostram as três primeiras edificações em serem declaradas

Monumento Nacional no Centro Histórico: a Casa Natal de José Martí (Figura 21), o Hotel

Inglaterra (Figura 22) e o Museo Histórico de las Ciencias Carlos J. Finlay (Figura 23), a

primeira se trata de uma construção modesta, porém as outras duas são edificações que

acolheram à alcurnia havanesa.

4 Tradição identitária de Havana Velha. Consiste em atirar um tiro com um antigo cânon espanhol às 21h na

Fortaleza de San Carlos de la Cabaña. Na época colonial o realizavam os militares espanhóis para avisar que

as pessoas deviam se proteger na zona amuralhada da cidade. Na atualidade se continua realizando

diariamente e é visitado por turistas nacionais e internacionais.

Page 70: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

70

Figura 21: Casa Natal de José Martí

FONTE: https://www.pinterest.es/pin/778982066769112878/

Figura 22: Hotel Inglaterra

FONTE: Da autora (2018)

Figura 23: Museo Histórico de las Ciencias Carlos J. Finlay

FONTE:

http://www.granma.cu/granmad/2008/03/19/nacional/artic05.html

Page 71: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

71

A partir das declaratórias de 1981 se inicia uma etapa na qual a OHCH começa

um trabalho de conscientização e difusão dos valores culturais da cidade e do Centro

Histórico, junto à população que morava no Centro e na cidade de Havana em geral. A

partir da publicação de artigos sobre a temática nos jornais nacionais, têm início os ciclos

de conferências e caminhadas por lugares de interesse na cidade (RODRÍGUEZ ALOMÁ,

2001).

O trabalho da Oficina del Historiador de la Ciudad, desde a sua fundação,

esteve orientado ao resgate e conservação dos bens arquitetônicos, monumentos históricos

e dos valores culturais na área mais antiga da cidade. A instituição procurou que as ações

de recuperação não modificaram a estrutura dos imóveis e que não se limitaram às fachadas

dos mesmos. A recuperação se iniciou tendo como motivação principal preservar a história

contida no Centro Histórico de Havana Velha.

2.3 A DECLARATÓRIA DA UNESCO NO CENTRO HISTÓRICO DE HAVANA

VELHA

Segundo Rodríguez Alomá (2001), desde o triunfo da revolução o governo

cubano tinha reconhecido a Oficina del Historiador de la Ciudad como uma instituição

encarregada de preservar a herança cultural do Centro Histórico. Porém, como analisado

anteriormente, nos instrumentos legislativos para a proteção do patrimônio, esta função

aparecia centralizada no Ministério de Cultura oficialmente, mesmo se na prática a OHCH

continuava a realizar o projeto de recuperação de décadas passadas, como demostram os

textos de Rodríguez Alomá (2001), do Plan Maestro (2004) e de Ochoa Alomá (2015). Para

o ano 1981, este panorama muda e o governo designa à OHCH como o organismo

plenamente encarregado para a reabilitação do Centro Histórico contando com o apoio

financeiro estatal (LEAL, 2004).

Um ano mais tarde, como reconhecimento ao trabalho de preservação e

restauração que tinham realizado a Junta Nacional de Arqueología y Etnología e a OHCH,

por mais de quatro décadas, e pelo valor patrimonial da parte antiga de Havana Velha, o

Centro Histórico e o sistema defensivo da cidade foram declarados pela UNESCO:

Patrimônio Cultural da Humanidade (RODRÍGUEZ ALOMÁ, 2001). A declaratória se

baseava nos critérios IV e V da lista de critérios de seleção da UNESCO, e são justificados

no caso de Havana desta forma:

Criterio (iv) Las fortunas históricas de La Habana fueron producto de la función

excepcional de su bahía como una parada obligatoria en la ruta marítima hacia el

Nuevo Mundo, que en consecuencia requería su protección militar. La extensa

Page 72: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

72

red de instalaciones defensivas creadas entre los siglos XVI y XIX incluye

algunas de las fortificaciones de piedra más antiguas y más grandes de América,

entre ellas la fortaleza de La Cabaña en el lado este del canal de entrada estrecha

a la Bahía de La Habana, el Castillo Real Fuerza en la Lado oeste, castillo de

Morro y castillo de La Punta custodiando la entrada al canal. Criterio (v) El centro histórico de La Habana ha mantenido una notable unidad de

carácter como resultado de la superposición de diferentes períodos de su historia,

que se ha logrado de manera armoniosa pero expresiva a través de la disposición

urbana original y el patrón subyacente de la ciudad como un todo. Dentro del

centro histórico de la ciudad hay muchos edificios de mérito arquitectónico

sobresaliente, especialmente en torno a sus plazas, que están dispuestas por casas

y edificios residenciales en un estilo más popular o tradicional que, cuando se

considera en su conjunto, proporciona una sensación general de arquitectura,

continuidad histórica y ambiental que convierte a la Habana Vieja en el centro

histórico de la ciudad más impresionante del Caribe y uno de los más notables del

continente americano en su conjunto. (UNESCO, 2018: on line)

Alguns critérios destacados pela UNESCO (2018) nesta declaratória são a

integridade, a autenticidade e os requisitos de proteção e gestão do conjunto. Quanto à

integridade assinala o Valor Universal Excepcional da “(…) distribución urbana de la

Habana Vieja con sus cinco grandes plazas y su conjunto armonioso de monumentos

arquitectónicos y edificios populares de estilo tradicional de diferentes épocas en su

Historia, y su extensa red de fortificaciones (UNESCO, 2018: on line)”, e destaca o fato de

que tenham acontecido poucas mudanças da estrutura urbana e nas construções. Sobre a

autenticidade ressalta que o Centro Histórico e o sistema defensivo da cidade “(…) tienen

un alto grado de autenticidad en términos de ubicación y configuración, formas y diseños, y

materiales y sustancias (UNESCO, 2018: on line)” e que, mesmo tendo acontecido algumas

intervenções desde a década de 1950, a autenticidade do conjunto não foi comprometida.

No referente à proteção e gestão expõe que a grande maioria dos prédios situados na área

declarada patrimônio é propriedade do governo cubano e que estes bens estão protegidos

por diversas disposições, tais como a Constitución de la República de Cuba (1976) e

Resolución de la Comisión de Monumentos Nacionales 3/1978, que declara o Centro

Histórico e as fortificações coloniais Monumento Nacional, garantindo sobre esta área a

aplicação das leis de Protección al Patrimonio Cultural e de Monumentos Nacionales y

Locales que procuram salvaguardar o patrimônio cultural cubano. Além disto, destaca que

velam pela administração do Centro Histórico a Asamblea Provincial del Poder Popular e

o Ministerio de Cultura através da OHCH, organismo que possui os recursos legais,

técnicos, econômicos e de gestão para desenvolver os projetos de restauração.

A UNESCO (2018) recomenda preservar o Centro Histórico e seus valores, o

que requererá a continuidade da atividade que se realizava até o momento e de novos

planos inovadores que resgatem e preservem as construções e a trama urbana que se

Page 73: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

73

encontrava em mau estado devido a “negligência crónica” (UNESCO, 2018: on line) e criar

um sistema de prevenção de riscos devido a diversos eventos climatológicos que afetam a

cidade como os furacões.

A declaratória da UNESCO, além do Centro Histórico de Havana Velha,

incluía as seguintes fortificações coloniais da cidade:

Quadro 5: Sistema de fortificações incluídas na declaratória da UNESCO

Fortificação Ano de

inauguração

Localização Espaço Uso atual

Castillo de los Tres

Reyes del Morro

1589 Carretera de La

Cabaña, Costa

Este de la entrada

de la Bahía de La

Habana (Fora dos

limites de Havana

Velha)

1.4 ha Museum Marítimo

Forma junto com a Fortaleza

de San Carlos de la Cabaña o

Parque Histórico-Militar

Morro-Cabaña

Fortaleza de San Carlos

de la Cabaña

1774 Carretera de la

Cabaña, Habana

del Este (Fora dos

limites de Havana

Velha)

9.2 ha

Museu de Fortificações e

Armas

Forma junto com o Castillo de

los Tres Reyes del Morro o

Parque Histórico-Militar

Morro-Cabaña

Hornabeque de San

Diego Fuerte No. 4

1780 Ao noroeste da

Fortaleza de la

Cabaña em

direção a Cojímar

(Fora dos limites

de Havana Velha)

1.1 ha Moradia de militares

Fuerte No. 1 - - 0,35 ha -

Torreón de San Lázaro 1665 San Lázaro y

Malecón, Centro

Habana (Fora dos

limites de Havana

Velha)

0.001

ha

Faz parte de um parque em

homenagem ao Geral das

Guerras de Independência do

século XIX cubano, Antonio

Maceo

Santa Dorotea de la

Luna de la Chorrera

1645 Calle Malecón

entre 18 y 20,

Vedado (Fora dos

limites de Havana

Velha)

0.5 ha

Bar-restaurante

Castillo de Cojímar 1649 Calle 1 D y Final,

Cojímar (Fora

dos limites de

Havana Velha)

1.5 ha Ocupado pela Guarda Costeira

Cubana

Page 74: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

74

Polvorín de San

Antonio

Segunda

mitade do

século XVII

Ensenada de

Guasabacoa e

perto da

desembocadura

do río Luyanó

(Fora dos limites

de Havana Velha)

5,2 ha

-

Castillo de Atarés 1767 Fábrica e/ Arroyo

y Gancedo.

Havana Velha

0.5 ha

Unidade militar (porém no

trabalho de campo foi

expressado por membros da

OHCH que tinha sido cedido

pela FAR para a OHCH para

novas funções)

Castillo del Príncipe 1779 Calzada de

Zapata y Calle G,

Vedado (Fora dos

limites de Havana

Velha)

5 ha

Dependência do Ministério de

Cultura

FONTE: Elaborado pela autora (2018), adaptado de UNESCO World Heritage Center (2018) e com

informações do Trabalho de campo.

Mesmo se a maioria das fortificações se encontram fora da área do Centro

Histórico (Figura 24), elas são incluídas na declaratória, pois, de acordo com ICOMOS

(1981), elas têm um caráter homogêneo como sistema defensivo e com o conjunto

reconhecido como patrimônio.

Page 75: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

75

Figura 24: Centro Histórico de Havana Velha e o sistema de fortificações

FONTE: UNESCO (2018). Adaptado pela autora (2019)

A Figura 25 mostra seis das dez fortificações militares que formavam parte do

sistema defensivo da cidade de Havana na etapa colonial e que foram reconhecidas pela

UNESCO. Na primeira coluna de cima para baixo aparecem: o Castillo de Cojímar, o

Castillo de los Tres Reyes del Morro e o Castillo de Atares; e na segunda na mesma ordem:

o Torreón de San Lázaro, Santa Dorotea de la Luna de la Chorrera e a Fortaleza de San

Carlos de la Cabaña.

Page 76: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

76

Figura 25: Fortificações militares de Havana Velha

FONTE: http://www.habanaradio.cu; https://www.flickr.com/photos/x_angel_x93/4894935965;

http://www.arquitecturahabana.org/centro-habana/torreon-de-san-lazaro;

http://www.cubarte.cu/en/articulo/castillo-de-atar-s-excellent-overlook-oldest-area-havana/45557;

Depois da declaratória, a UNESCO facilitou ajuda técnica e econômica para os

trabalhos de reabilitação do Centro Histórico e do sistema defensivo. Desta forma, chegou a

pagar de 1985 a 2002, 263 777 USD para a recuperação da Plaza Vieja e dos prédios que a

circundam, a conservação do Parque Histórico Militar Morro Cabaña (conformado pelo

Castillo de los Tres Reyes del Morro e a Fortaleza de San Carlos de la Cabaña), que

contém uma parte valiosa da história de defensa nacional e das tradições do povo cubano e

que foram refuncionalizados como museus; e a reabilitação do Convento de Santa Clara de

Asís, como se pode apreciar no quadro 6.

Page 77: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

77

Quadro 6: Assistência econômica da UNESCO no processo de recuperação do Centro

Histórico de Havana Velha e seu sistema de fortificações

Motivo Ano Monto (USD)

Equipamento para a recuperação da Plaza Vieja 1985 20 000

Consolidação dos trabalhos na Plaza Vieja 1993 20 000

Reabilitação de prédios da Plaza Vieja: Cine Habana, Café Taberna e

Colegio del Santo Ángel.

1993 55 000

Conservação do conjunto de fortificações Morro-Cabaña 1998 28 777

Reabilitação do Convento de Santa Clara de Asís 1999 30 000

Continuação da reabilitação do Terceiro Claustro do Convento de

Santa Clara de Asís

2000 35 000

Asintência de emergência para a reabilitação do Convento de Santa

Clara de Asís

2002 75 000

Total - 263 777

FONTE: Elaborado pela autora (2019) a partir de informações extraídas de UNESCO (2018)

Além de oferecer assistência financeira para os trabalhos de resgate da Plaza

Vieja, a UNESCO iniciou uma campanha internacional para obter recursos financeiros para

a reabilitação deste espaço e, com esse propósito, fez um chamado:

(…) a los estados miembros (…), a las organizaciones intergubernamentales y no

gubernamentales, a las instituciones públicas y privadas, a las fundaciones,

artistas y poetas, historiadores y educadores, a ofrecer con generosidad sus

contribuciones en dinero, en materiales o en servicios para la gran tarea que

emprende el Gobierno de la República de Cuba para preservar su patrimonio

histórico (...) (RODRÍGUEZ ALOMÁ, 2015: 200)

Porém, para Arteaga et al. (2015), o chamado da UNESCO não conseguiu

arrecadar fundos suficientes para a reconstrução da Plaza Vieja (Figura 26). A mesma só

seria totalmente restaurada no final da década de 1990 (EMISORA HABANA RADIO,

2019).

Page 78: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

78

Figura 26: La Plaza Vieja antes da recuperação (acima) e depois de recuperada em

2017 (baixo)

FONTE: http://www.habanaradio.cu/articulos/la-plaza-vieja/ e https://onlinetours.es/blog/post/751/la-camara-

oscura-de-la-habana-vieja

Além dos recursos provenientes da UNESCO e da cooperação internacional,

com a declaratória, aumentou a destinação de recursos governamentais para a recuperação

dos monumentos e a preservação dos bens patrimoniais do Centro Histórico (PLAN

MAESTRO, 2006). Mesmo que os Planes Quinquenales5 e projetos de planejamento

econômico em diversas áreas, tenham se iniciado em 1981, em matéria de recuperação de

Havana Velha, é a partir da declaratória da UNESCO que essas estratégias ganham maior

força. Assim, entre as principais obras que se desenvolveram estão a recuperação de

espaços públicos como as praças (da Catedral e de Armas) e de movimentadas vias de

acesso como: Oficios, Mercaderes, Tacón e uma parte de Obispo (o processo de

reconstrução desta rua ocorre até hoje). Também, se realizaram trabalhos de resgate no

Colegio de San Francisco de Sales (Figura 27) (LEAL, 2004).

5 Planos que consistiam na planificação da economia por períodos de cinco anos.

Page 79: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

79

Figura 27: Antigo Colegio de San Francisco de Sales restaurado e refuncionalizado

como restaurante desde 1984 (foto da esquerda depois da restauração, foto da direita

antes)

FONTE: http://www.habanaradio.cu/articulos/edificio-de-la-calle-oficios-6-esquina-obispo-109/

Também, foram recuperados prédios de arquitetura doméstica pertencentes a

Martín Aróstegui, a família Franchi Alfaro (Figura 28), Beatriz Pérez Borroto e de

Lombillo (Figura 29); os Palacios del Marqués de Aguas Claras, Conde de Casa Bayona e

Conde de Jaruco. A maioria destes prédios abrigariam, inicialmente, funções culturais que

eram escassas nesta zona que se orientava fundamentalmente ao comércio e a moradia

(LEAL, 2004).

Uma das características fundamentais deste processo foi que a prioridade para

restaurar os prédios, praças, monumentos e artérias se deveria ao seu estado de conservação

e a sua localização nas principais ruas e espaços públicos do Centro Histórico (OCHOA

ALOMÁ, 2015).

Page 80: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

80

Figura 28: Casa da família Franchi Alfaro antes da restauração da década de 1980

(esquerda) e durante a década de 1990 (direita)

FONTE: http://www.habanaradio.cu/articulos/edificio-de-la-calle-mercaderes-no-315-esquina-a-muralla/

Figura 29: Antiga mansão del Conde de Casa Lombillo antes da restauração da

década de 1980 (esquerda) depois nos anos 1990 (direita)

FONTE: http://www.habanaradio.cu/articulos/edificio-de-la-calle-empedrado-no-151-esquina-mercaderes/

Segundo Leal (2004), nos primeiros momentos a recuperação deste espaço

urbano esteve centrada na recuperação dos bens materiais, mas, com o percurso do tempo,

as instituições que lá trabalhavam compreenderam que, pelas características da área, que

nunca deixou de ter funções habitacionais e, por tanto, moradores, então era impossível se

dedicar às obras de reabilitação sem ter em conta a população que ali residia. Assim, a obra

ampliou o seu espectro e se começou a pensar no desenvolvimento de carácter social. Por

Page 81: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

81

esta razão se construíram moradias e vários prédios foram dedicados à função habitacional,

e também aumentaram os serviços comunitários, porém, as redes técnicas de água e esgoto

desta área eram muito antigas e não conseguiam dar conta da demanda que se tinha na

época e muitas das obras construídas para a população eram de baixa qualidade (poucos

recursos, inexperiência) e em poucos anos, se encontrariam em tão mau estado quanto

alguns prédios antigos (OCHOA ALOMÁ, 2015).

Para o ano 1990 tinham sido recuperados mais de cinquenta prédios (PLAN

MAESTRO, 2006) e a configuração visual do Centro Histórico de Havana Velha começava

a mudar positivamente. Mas, com o colapso do bloco socialista europeu, e com a

desintegração da União de Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), o panorama

econômico se transformaria radicalmente para o país.

Com a crise econômica que atravessava o país na década de 1990, a UNESCO

incitou novamente à cooperação internacional para ajudar na reabilitação de Havana

Velha. Desta forma, o país recebeu assistência técnica e econômica de países como:

México, Espanha, Itália e Bélgica que somavam até 2008, 25,8 milhões de USD

(RODRÍGUEZ ALOMÁ, 2009). A figura 30 mostra o comportamento da cooperação

internacional de 1994 a 2008, evidenciando que num ano se chegaram a receber mais de

300 mil USD para este fim.

Page 82: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

82

Figura 30: Cooperação internacional (1994-2008)

FONTE: Elaborado pela autora (2019) a partir de informações extraídas de Rodríguez Alomá (2009)

As cifras demonstram que mesmo se tratando de um país fechado, pela via do

patrimônio e partir da declaratória da UNESCO, se recebeu auxílio internacional para os

trabalhos de resgate do patrimônio cultural no Centro Histórico de Havana Velha.

Mesmo após a declaratória da UNESCO ter constituído um reconhecimento dos

valores culturais e históricos do Centro Histórico de Havana Velha e do sistema defensivo

da cidade, dado relevância internacional ao conjunto, contribuído no amadurecimento da

consciência nacional para dar importância à preservação deste espaço, oferecido auxílio

financeiro para alguns trabalhos de resgate e incitou à cooperação internacional para a

reabilitação, a declaratória em si mesma não impulsionou as cifras de turistas internacionais

em Cuba ou no Centro Histórico. A figura 31 permite observar o crescimento do número de

turistas que visitavam Cuba desde 1980, antes da declaratória, até 1990. Porém, segundo

Martín Fernández (2008), este crescimento está associado ao próprio aumento dos turistas

na área do Caribe neste período procurando destinos de sol e praia.

Page 83: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

83

Figura 31: Chegadas turísticas a Cuba no período 1980-1990

FONTE: Elaborado pela autora (2018) a partir de informações extraídas de Ayala (2001) e Marín Fernández

(2008)

A declaratória da UNESCO vai dar notoriedade ao Centro Histórico para o

desenvolvimento do turismo cultural, pois garantia uma visibilidade a nível internacional

(PLAN MAESTRO, 2006), mas, isto acontecerá na década de 1990, especificamente a

partir de 1993, momento em que o governo decide desenvolver o turismo cultural neste

espaço e a partir da criação da Companhia Turística Habaguanex, como se explicará no

próximo subitem.

A declaratória do Centro Histórico de Havana Velha e seu sistema defensivo,

foi um ponto fundamental no processo de renovação urbana deste espaço, pois a UNESCO

ofereceu meios econômicos para que isto acontecesse, motivou a cooperação internacional

e a declaratória gerou compromisso a nível do governo nacional com a recuperação, e

assim, o Estado destinou uma suma de dinheiro para trabalhos que mudassem a imagem do

Centro como se explicou anteriormente. Além disso, ainda que não tinha sido utilizada,

num primeiro momento, para aumentar os fluxos turísticos, a declaratória deu relevância a

um lugar pouco visitado, legitimando seu valor histórico e cultural e transformando-o num

atrativo turístico que podia ser explorado ou não. A conotação internacional da declaratória

é utilizada atualmente nas campanhas turísticas que procuram promocionar Havana Velha

como destino de turismo cultural, difundidas por INFOTUR (2019) e Cuba-Portal del

Turismo (2019).

Page 84: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

84

2.4 O TURISMO COMO ESTRATÉGIA ECONÔMICA E A CRIAÇÃO DA

COMPANHIA TURÍSTICA HABAGUANEX S.A. NA DÉCADA DE 1990

Na década 1990 o país passava por uma séria crise econômica, pois como

consequência do colapso do bloco socialista europeu e da desintegração da URSS, Cuba

deixou de receber o apoio econômico proveniente do Conselho de Ajuda Mútua Econômica

(CAME). Desta forma, o governo também não contava com os recursos financeiros

necessários para dar continuidade as atividades de reconstrução no Centro Histórico e

suspendeu o orçamento aprovado em 1981, com o qual se estavam desenvolvendo esses

trabalhos.

Se iniciava, desta maneira, em Cuba, o chamado Período Especial, que foi uma

etapa de crise econômica. O produto interno bruto (PIB) cubano caiu de -2,90%, em 1990,

para -14,9%, em 1993. As exportações e importações diminuíram a menos da metade das

realizadas antes do início desta etapa; escassearam o petróleo, os fertilizantes, os insumos

agrícolas, os alimentos e os produtos básicos; o fornecimento de energia elétrica e os

sistemas de transporte também se tornaram instáveis (SANTOS, 2014).

É por estas razões que o governo da Ilha optou por desenvolver o turismo

internacional como via para obter recursos financeiros e normalizar a situação econômica

no país. Em 1993 se pensou também no turismo como uma solução que permitiria

continuar desenvolvendo os trabalhos de resgate e recuperação de maneira autofinanciada

no Centro Histórico de Havana Velha.

Desta forma, se assinou, em 1993, a Lei-decreto 143 que declara ao Centro

Histórico “área de conservação de máxima prioridade” e responsabilizava, uma vez mais, à

Oficina del Historiador de la Ciudad de La Habana para a sua recuperação como

contempla a constituição da Companhia Turística Habaguanex, S. A. e facilita os meios

econômicos e legais para sua criação. A mesma se dedicaria à atividade turística e

arrecardaria divisas frescas que se inverteriam na salvaguarda do Centro Histórico (LEAL,

2004).

Assim, a Oficina del Historiador de la Ciudad de La Habana, que tinha sido

criada com o objetivo de proteger e restaurar o patrimônio cultural da zona de Havana

Velha, resgatar e divulgar a história do centro urbano da cidade, teria, a partir deste decreto,

que fazer frente à responsabilidade de criar e gerir as instalações turísticas e comerciais

próprias - e depois um sistema empresarial -, que proporcionaram os recursos econômicos

necessários para continuar o projeto de recuperação, sem esquecer a necessidade da

reanimação cultural e social do entorno. Sem mudar o conceito desta instituição se lhe

Page 85: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

85

somavam novas funções que fugiam das razões pelas quais havia sido criada, assim, o que

acontece não é que a OHCH se dedicasse à atividade turística como primeira função, e sim

que a atividade turística atrairia os meios financeiros para continuar o trabalho de proteção

do patrimônio cultural.

Habaguanex, empresa turística gerida pela OHCH, começou a operar com um

único hostel de doze quartos e uma cafeteria (CASTILLO, 2010), mas, com um amplo

programa de investimentos conta hoje com 21 hotéis, localizados em imóveis reabilitados e

redesenhados nas suas novas funções; 36 restaurantes, 56 cafeterias e 112 lojas (PÉREZ

CORBEA, 2010 e GAVIOTA HOTELES, 2018). Habaguanex surgiu para operar o maior

peso da atividade turística do Centro Histórico e do município de Havana Velha em geral,

por esta razão, adquiriu alguns antigos hotéis localizados na zona como Florida, Ambos

Mundos, Santa Isabel, Telégrafo e mansões coloniais que foram convertidas em hotéis,

como é o caso do Hotel Santa Isabel (Figura 32), antiga casa dos Condes de Santovenia ou

do Hotel Marqués de Prado Ameno (Figura 33) antiga moradia da família de Cárdenas.

Uma das características distintivas desta companhia é o fato de que as suas instalações se

encontram em prédios de grande valor histórico e cultural, que foram refuncionalizados

para a atividade turística.

Figura 32: Hotel Santa Isabel

FONTE: Da autora (2018)

Page 86: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

86

Figura 33: Hotel Marqués de Prado Ameno

FONTE: https://www.trivago.com.br/havana-33570/hotel/marques-de-prado-ameno-1337368

Dentro do Centro Histórico operam outras companhias, pois todas as agências

de viagens podem realizar passeios turísticos na zona, mas a atividade hoteleira está

praticamente concentrada em Habaguanex, pois só existem oito hotéis que não pertencem a

este grupo: Plaza, Inglaterra e Mercure Sevilla, do Grupo Hotelero Gran Caribe S.A., o

Gran Hotel Manzana Kempinski e o Iberostar Grand Packard do Grupo de Turismo

Gaviota, o Iberostar Parque Central do Grupo Cubanacán e o Caribbean de Hoteles Islazul.

Na década dos 1990 foram fundadas várias instituições no Centro Histórico que

poderiam se dividir em dois grupos: geradoras de divisas e gestoras da recuperação urbana,

social e cultural da área. Ambos os grupos trabalhariam em conjunto e sob a direção da

OHCH. Habaguanex foi a primeira de um sistema de empresas que surgiu para gerar os

recursos econômicos para a recuperação dos espaços públicos do Centro histórico. Porém,

não se podia perder de vista o interesse de recuperação urbana na área e, para guiar os

estudos técnicos, sociais e econômicos sobre o centro, surge, em 1994, o Plan Maestro

(LEAL, 2004). Depois da proclamação do Acuerdo 2951, de novembro de 1995, que

declara o Centro Histórico “(…) zona de alta significación para el turismo(...)” (LEAL,

2004: p. 69), se criaram também a agência de viagens San Cristóbal, nesse mesmo ano para

complementar a oferta turística de Habaguanex, fornecendo um serviço especializado em

turismo histórico, cultural e patrimonial; e as empresas imobiliárias Aurea, Fénix e

Mercurio, a partir de 1996, para alugar locais recuperados de alto standing. Segundo

Rodríguez Alomá (2009), das empresas pertenecientes à OHCH, é a Habaguanex a que

Page 87: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

87

maior lucro gera, pois, seus rendimentos anuais superavam os 129,1 milhões de CUC -

equivalente ao dólar estadunidense- no 2008.

Com este modelo de gestão se tem obtido, desde 1994 à atualidade, mais de 500

milhões de dólares (RODRÍGUEZ ALOMÁ, 2012). Este ganho provém, principalmente,

do uso turístico de prédios de valor monumental, e dos serviços que se encontram nesta

área urbana. O orçamento arrecadado se investiu no Centro Histórico e em outras zonas de

Havana. “De estos recursos el 45 % se destina a proyectos productivos, el 35 % a

programas sociales y el resto a colaborar con otros sitios de la ciudad y la nación” (LEAL,

2004, p. 4).

Segundo Blanco (2009), foram restaurados com o dinheiro arrecadado e com o

trabalho do sistema empresarial da OHCH um grande número de atrativos turísticos: 40

museus e casas-museus, 22 lugares históricos, 13 igrejas de importância arquitetônica e

social, 21 galerias de arte, 9 teatros, 9 livrarias e bibliotecas, 11 centros de promoção

cultural e 5 praças principais. Da mesma forma, a produção cultural também aumentou,

conforme ressalta Quintana et al. (2005, p. 109):

En el ámbito de los espectáculos y eventos se presenta un crecimiento de las agrupaciones

profesionales, en el número de exposiciones del movimiento de la plástica y

además un desarrollo de programas y festivales que promueven la afluencia

turística tales como: el Festival de Ballet, el Festival Internacional de Teatro,

Festival Internacional del Nuevo Cine Latinoamericano, La Feria Internacional

del Libro, Festivales de Coro, Guitarra, Jazz, entre outros.

Como parte do processo de reabilitação, as imobiliárias Aurea e Fénix

restauraram apartamentos de alto standing e escritórios para serem dedicados ao aluguel.

Estas ações permitem, por um lado, resgatar prédios de alto valor patrimonial e, por outro,

arrecadar dinheiro que possa ser empregado no financiamento de projetos sociais. Alguns

exemplos de prédios deste tipo são o Emilio Bacardí, a antiga Lonja do Comércio (Figura

34) e o Gómez Vila (Figura 35), na Praça Velha (LEAL, 2004). Segundo RODRÍGUEZ

ALOMÁ (2012), nesta etapa se restaurou um terço do Centro Histórico.

Page 88: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

88

Figura 34: Antiga Lonja do Comércio

FONTE: https://www.cubaconecta.com/lugares-interes/articulos/2017-12-18-u43-e42-lonja-comercio-habana

Figura 35: Edifício Gómez Vila

FONTE: http://cuba-explore.com/es/Arquitectura/Camara-Oscura

Como se explicou anteriormente, 35% do capital obtido com a atividade

turística foi investido em programas sociais procurando elevar a qualidade de vida dos

moradores (LEAL, 2004). Desta forma, um dos primeiros pontos a ser trabalhado para

melhorar estas condições foi a moradia. Para Castillo (2010), no caso do Centro Histórico

de Havana Velha, muitas casas coloniais que abrigavam a várias famílias sem as condições

mínimas requeridas foram transformadas em casas de apartamentos, tal como o prédio da

rua San Ignacio, 360, que foi reabilitado mantendo a função habitacional.

Page 89: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

89

Além disso, se criaram programas para atender as necessidades dos setores

mais vulneráveis da população como: idosos, mulheres e crianças. Se reabilitaram o Hogar

Materno Doña Leonor Pérez para abrigar as mulheres grávidas que não podem estar nas

suas casas por diversos motivos, a Clínica de Rehabilitación Infantil Senén Casas

Regueiro, o Centro Geriátrico Santiago Ramón y Cajal e o Centro para la Tercera Edad

(LEAL, 2004).

Foram restauradas as escolas Ángela Landa, Mariano Martí, Carlos Manuel de

Céspedes, Israel Cabrera e José Martí, e se criou a Escuela Taller Gaspar Melchor de

Jovellanos, para formar a jovens em trabalhos de restauração de patrimônio (LEAL, 2004).

Segundo Rodríguez Alomá (2012), se criaram mais de 13 000 empregos, sendo 50% destes

destinados aos moradores locais. Estas ações conseguiram, em certa medida, melhorar a

qualidade de vida de uma parte dos moradores: os atingidos por estes programas.

Para conseguir o objetivo de recuperar o Centro Histórico e o seus bens

patrimoniais (LEAL, 2004) a OHCH estabeleceu um grupo de trabalho (Figura 36)

composto por diversos organismos e entidades (como é o caso do Plan Maestro); um

conjunto de departamentos especializados no planejamento econômico, territorial, social e

cultural e um sistema empresarial centrado nas atividades turística e imobiliária,

fundamentalmente, que oferecia os recursos econômicos para desdobrar um plano de

desenvolvimento que abarca a recuperação patrimonial como um todo, incluindo a

recuperação e a refuncionalização dos prédios, monumentos, praças e parques, o resgate de

tradições culturais como as comparsas, os zanqueros6, mas também que beneficiasse a

população que morava, e mora, no Centro Histórico de Havana Velha. Este conjunto de

instituições, direções e empresas eram administradas pela OHCH e realizam um trabalho

conjunto.

6 Pessoas, fantasiadas ou não, que desfilam e dançam sobre zancos (altos postes de madeira) a uma altura

considerável do solo.

Page 90: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

90

Figura 36: Organigrama da Oficina del Historiador de la Ciudad de La Habana

FONTE: Rodríguez Alomá (2001)

Os autores analisados, Leal (2004), Plan Maestro (2004), Castillo (2010) e

Rodríguez Alomá (2012), com formações e carreiras bem diferentes, concordam que a

OHCH não virou uma empresa turística, pois, segundo eles, a realização das atividades

turísticas no seio da instituição foi uma ferramenta para arrecadar o dinheiro necessário

para realizar as atividades de resgate patrimonial do Centro Histórico para a população, e

que isto só foi possível pelo apoio do governo, ou a existência de uma única organização

com autoridade para a condução deste processo de reconstrução - a OHCH -, a legislação

sobre patrimônio, as atividades econômicas de autofinanciamento e o fato de que alguns

imóveis fossem próprios da Oficina.

Em Cuba as instituições turísticas não estão centralizadas no Ministerio de

Turismo (MINTUR). Estas instalações estavam divididas, até final de 2016, entre o Grupo

de Administración Empresarial (GAE) (pertencente às Fuerzas Armadas Revolucionarias

Page 91: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

91

(FAR) que opera o turismo mediante a empresa Grupo de Turismo Gaviota S.A.; a Oficina

del Historiador de la Ciudad com a Companhía Turística Habaguanex, S. A. e o MINTUR.

Em agosto de 2016 as instituições pertencentes a Habaguanex passaram para as mãos das

FAR. Esta mudança modificou a estrutura da OHCH. Pareceria um lógico retorno gradual

às funções iniciais da Oficina uma vez que o país parece ter sobrepassado o período de

maior crise, porém, pouco se tem explicado sobre com quais recursos econômicos continua

o processo de recuperação do Centro Histórico, pois o trabalho de recuperação não parou e

continua até a atualidade.

Os objetivos fundacionais da OHCH de preservar os valores patrimoniais,

tangíveis e intangíveis, do Centro Histórico de Havana Velha deveriam combinar, a partir

da década de 1990, com funções de administração de un sistema empresarial. A

transformação da paisagem urbana e a recuperação do patrimônio arquitetônico requeria

recursos financeiros que possibilitassem a sua materialização. No contexto do país, a

solução mais pragmática era optar pela via autofinanciada. E o processo que se iniciou com

o interesse de conservação dos valores históricos e culturais da zona, virou uma estratégia

econômica que colocou o Centro Histórico de Havana Velha no mercado turístico global.

Segundo Carrión (2006), assistimos à utilização do antigo como uma estratégia para o

futuro.

Em Havana e no seu núcleo fundacional aconteceu o que ocorria nessa etapa

em outras cidades de América Latina. O centro começava a ser embelezado, seguro e os

prédios refuncionalizados para abrigar atividades culturais, de lazer ou turísticas. Se

produzia uma mercadoria para ser vendida em forma de produto turístico e se apostava

nessa indústria. Porém, este processo tinha algumas diferenças dos que aconteciam no Sul

do continente. Por um lado, a infraestrutura, os serviços e o espaço não foram privatizados,

e são o governo e as instituições -fundamentalmente a OHCH- os encarregados de regular a

atividade turística e recebem os rendimentos. E, por outro lado, o trabalho realizado pela

Oficina parece estar orientado também a pensar na projeção social deste espaço: no bem-

estar e na integração da população ao processo.

Page 92: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

92

3. REFUNCIONALIZAÇÃO TURÍSTICA NO CENTRO HISTÓRICO DE

HAVANA VELHA

3.1 A REFUNCIONALIZAÇÃO TURÍSTICA DAS EDIFICAÇÕES NO CENTRO

HISTÓRICO DE HAVANA VELHA

Desde a etapa da colônia, Havana Velha recebeu, pela sua localização na baía,

um alto número de flotas, marinheiros e viajantes. Por esta razão, nas cercanias do porto

sempre existiram lugares simples para o alojamento e refeições para quem chegava. Porém,

os primeiros hotéis da cidade datam da década de 1860 e foram construídos com o

estabelecimento de linhas marítimas regulares entre várias cidades costeiras estadunidenses

e Havana (AYALA, 2001). Mesmo se estas viagens fossem motivadas por fins turísticos,

este setor só iria se desenvolver realmente no século seguinte.

Entre as décadas de 1920 e 1950 se construíram grandes e luxuosos hotéis na

cidade que recebiam fundamentalmente turistas estadounidenses (AYALA, 2001). Mas,

nesta etapa, as construções não se concentraram na parte antiga da cidade, e mesmo quando

se edificaram alguns hotéis como o Ambos Mundos e o Park View, as obras estavam

orientadas mais ao Vedado, nova zona nobre e da moda.

As mudanças econômicas e políticas que aconteceram em Cuba a partir de

1959, transformaram o panorama do desenvolvimento turístico do país. Até 1989

praticamente desapareceu na ilha o turismo internacional e o setor estava orientado ao

fomento do turismo nacional. Como foi explicado anteriormente, com o início da etapa

conhecida como Período Especial, o governo vê no turismo uma oportunidade para sair da

crise através dos ingressos que esta atividade gera.

Assim, a partir dos anos 1990, o governo traça uma estratégia com o objetivo

de desenvolver o turismo, e as ações, segundo Ayala (2001), se centram na construção de

novos hotéis e na recuperação dos já existentes; no estabelecimento de vínculos comerciais

com touroperados e empresas hoteleiras estrangeiras para que começassem a operar em

Cuba; na criação de agências nacionais, com seus próprios sistemas de comercialização e

recepção turística e na organização de um sistema de capacitação e seleção dos

trabalhadores do setor. Na etapa de 1990 a 1994, o setor turístico é um dos poucos setores

da economia cubana que cresce (MARTÍN FERNÁNDEZ, 2008). A figura 37, apresenta o

ininterrupto crescimento dos visitantes e dos rendimentos da atividade de 1990 a 1994:

Page 93: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

93

Figura 37: Turistas e rendimentos do setor no período 1990-1994

FONTE: Ayala (2001)

Porém, o aumento nas cifras de turistas nesta primeira etapa esteve associado

principalmente ao desenvolvimento da modalidade de sol e praia, pois só no ano 1994 se

inicia uma etapa de redesenho do turismo no país. Esta reestruturação se realiza para

transmitir uma imagem de Cuba como destino integral, diversificando o produto mediante a

potenciação dos valores históricos, culturais e naturais do país. Assim, a partir de 1994,

começa a crescer o turismo cultural nos centros históricos de Havana Velha, Trinidad,

Cienfuegos, Camagüey e Santiago de Cuba, distribuindo os fluxos turísticos nas diferentes

regiões, influenciando na recuperação do patrimônio cultural edificado e vinculando a

população com a atividade turística a partir da geração de empregos (AYALA, 2001).

O desenvolvimento do turismo cultural influenciou nos fluxos de turistas que

chegavam a Cuba no período, pois, em 1996, se sobrepassa o milhão de turistas. A figura

38 apresenta o aumento das cifras de turistas e dos rendimentos de 1995 a 2000, já

influenciado pela quota correspondente ao turismo cultural.

Page 94: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

94

Figura 38: Turistas e rendimentos do setor no período 1995-2000

FONTE: Ayala (2001)

No Centro Histórico de Havana Velha a tarefa de desenvolver o turismo

cultural era responsabilidade principalmente da OHCH e da sua empresa turística

Habaguanex. A análise anterior do setor turístico na cidade de Havana, mostra que a parte

antiga da cidade não tinha uma grande planta hoteleira. Porém, era a zona que abrigava o

maior número de edificações de valor patrimonial, monumentos e museus que poderiam ser

atrativos para o turismo. Mas, mesmo quando existiam prédios históricos e a imagem

urbana deste centro preservava a sua integridade, as edificações estavam num avançado

grau de deterioração ou eram ruínas parciais (CASTILLO, 2001). Correspondeu a OHCH e

ao conjunto de departamentos e organismos vinculados a ela transformar a paisagem do

Centro Histórico. Assim, a partir de 1994, muitos antigos palácios e casas coloniais que

pertenceram às classes endinheiradas cubanas foram reabilitados e transformados em

hostels e hotéis, e os hotéis que já existiam foram restaurados.

O Quadro 7 resume o estado atual da planta hoteleira do Centro Histórico de

Havana Velha. A zona possui 29 hotéis: destes 21 pertencem à marca Habaguanex, agora

operada pelo Grupo de Turismo Gaviota; 2 de recente inauguração, que são também do

Grupo Gaviota, 4 do Grupo Hotelero Gran Caribe, 1 do Grupo Cubanacán e 1 de Hoteles

Islazul. A grande maioria das instalações se encontra localizada em prédios dos séculos

XVII, XVIII e XIX de valor histórico e cultural. Estas edificações foram submetidas a

processos de restauração e em alguns casos de reconstrução pelo avançado estado de

deterioração, mas mesmo nos piores casos de destruição se puderam preservar algumas

Page 95: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

95

estruturas, tais como: corrimãos, sacadas, vitrais, louças, entre outros elementos (PLAN

MAESTRO, 2006). Estes imóveis de valor patrimonial pertenciam principalmente à função

habitacional, eram escritórios ou armazéns vinculados às atividades do porto ou colégios e

adquiriram novos usos vinculados ao turismo. O processo de recuperação,

refuncionalização e abertura das instalações foi paulatino se se analisam as datas de

abertura como hotéis de Habaguanex, marca que possui o maior número de hotéis em

construções de valor patrimonial que, antes, tinham outra função, não vinculada ao turismo.

Esse processo que se inicia em 1994 e chega até a atualidade.

Quadro 7: Alojamentos turísticos estatais no Centro Histórico de Havana Velha

Habaguanex (por Gaviota)

Hotéis e Hostels Função anterior Data de

construção

Abertura

como hotel de

Habaguanex

Hotel Ambos Mundos Hotel (hospedou em várias ocasiões a

Ernest Hemingway)

1925 1997

Hotel Armadores de

Santander

Moradia do Conde de la Mortera

Escritórios de armadores da cidade de

Santander, Espanha

Atividades de comércio como bar,

barbería, casa de troca de moedas,

venda de charutos, cigarros e café

Casa Balear, associação de espanhóis

1903 a 1909

Hotel El Universo desde inícios do

século XX

Casa del Joven Creador, instituição

cultural (uso em 1995)

1897 2002

Hotel Beltrán de Santa

Cruz

Casa de Gabriel Beltrán de Santa Cruz,

primeiro Conde de San Juan de Jaruco

Cortiço7 na segunda metade do século

XX

Século XVIII 2002

Hotel Conde de Villanueva Casa de Claudio Martínez de

Pinillos, Conde de Villanueva

Fondo Cubano de Bienes Culturales

Século XVIII 1994

Hotel El Comendador Casa da família de

Don Pedro Regalado Pedroso y Zayas,

Comendador de la orden de Isabel la

Século XVIII 1999

7 Os cortiços do Centro Histórico de Havana Velha são antigos palacetes e mansões coloniais que foram transformados em prédios

multifamiliares com habitações pequenas e ocupadas por pessoas de baixa renda. No Centro Histórico existem mais de 850 cortiços

(PLAN MAESTRO, 2016). Em Cuba são chamados de ciudadelas.

Page 96: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

96

Católica

Casa da família de Don Pedro

Regalado Pedroso y Pedroso,

Comendador de la Orden de Carlos III

Comércio, armazém, escritório e

moradia inícios do século XX

Cortiço na segunda metade do século

XX

Hotel El Mesón de la Flota Comércio e armazém no primeiro

andar e moradia no segundo

- 2000

Hotel Florida Casa de Joaquín Gómez

Hotel a partir de 1885

Club Británico de La Habana década

de 1930

Sociedad Mercantil Anónima

Inmobiliaria Bancofo S.A. 1959

Armazém e escritório na década dos

1960

1836 1994

Hotel Los Frailes Casa do marqués Pedro Claudio

Duquesne

Armazém no primeiro andar e moradia

no segundo primeiraa metade do século

XX

Cortiço na segunda metade do século

XX

Século XVIII 2001

Hotel Marqués de Prado

Ameno

Casa da família de Prado Ameno

Moradia de diversas famílias

Prédio de casas de aluguel inícios do

século XX

Comércio e armazém

Imprenta de La Gaceta Oficial

Primeira

década do

século XVIII

2008

Hotel Marqués de San

Felipe y Santiago de

Bejucal

Propriedade de Don Sebastián de

Peñalver IV Marqués de San Felipe y

Santiago

Função comercial século XIX

Escritórios na segunda metade do

século XX

Oficina del Historiador de la Ciudad

década del 1990

Fins do

século XVIII

2010

Hotel Palacio O'Farrill Casa de Don José Ricardo O’ Farrill,

nobre da etapa colonial

Escritórios: Registro de Propiedad,

Tribunal Supremo y la Fiscalía,

Secretaría de Justicia, Colegio de

Abogados e o Fondo Especial de

Obras Públicas

1832 2002

Hotel Park View Hotel 1928 2002

Page 97: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

97

Hotel Raquel Construído para escritórios e armazéns

de tecidos

Cámara de Comercio, Industria y

Navegación de Cuba

Escritórios e moradia na década de

1960

1905 2003

Hotel San Miguel Casa de Antonio San Miguel y Segalá,

promotor cultural

Escritórios

Ministerio de Salud Pública desde

1959

1860 2000

Hotel Santa Isabel Antiga casa dos Condes de Santovenia

Hotel a partir de 1867

1889 Lonja de Víveres de La Habana

1943 Escritório, armazém e comércio

segunda metade do século XX Moradia

de várias famílias

Cortiço na década de 1990

Inícios do

século XVIII

1997

Hotel Saratoga Construído com fins comerciais para

funcionar como armazéns, moradias e

casas de hóspedes

Hotel Alcázar a partir de 1911

Hotel Saratoga 1933

Cortiço desde 1960

1880 2005

Hotel Tejadillo Conjunto de casas dos séculos XVIII,

XIX e XX

Colégios religiosos das ordens Sagrado

Corazón (1888-1950) e das Hijas de

María Auxiliadora (1945-1961)

Séculos

XVIII, XIX e

XX

1999

Hotel Telégrafo Hotel Entre 1858 e

1863

2001

Hostal Valencia Casa do regedor Sotolongo

Casa de Oficios e Obrapía

Finais do

século XVIII

1994

Hotel Habana 612 Casa de família Século XIX 2016

Grupo de Turismo Gaviota

Hotéis e Hostels Função anterior Data de

construção

Abertura

como hotel de

Gaviota

Gran Hotel Manzana

Kempinski

Primeiro Centro Comercial Cubano

(com lojas, escolas de comércio

Pittman e Gregg, cartório, escritórios

de advogados, escritório da revista

Show)

Escolas, comércios e escritórios até

1894 a 1917 2017

Page 98: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

98

2014

Iberostar Grand Packard Hotel Biscuit

Hotel Packard desde 1931

Cortiço desde a década de 1980 até o

ano 2000

Década de

1920

2018

Grupo Hotelero Gran Caribe S.A.

Hotéis Função anterior Data de

construção

Última

restauração

Hotel Gran Caribe Plaza Casa da família Pedroso

Escritório do Diario de la Marina 1912

Hotel Leal (um segmento do prédio)

1895 a 1909 1991

Hotel Gran Caribe

Inglaterra

Hotel 1856 1989

Hotel Mercure Sevilla

Habana

Hotel 1908 1993

Grupo Cubanacán

Hotéis Função anterior Data de

construção

Última

restauração

Hotel Iberostar Parque

Central

Hotel

Moradia e comércios

1998 2010

Hoteles Islazul

Hotéis e Hostels Função anterior Data de

construção

Última

restauração

Hotel Islazul Caribbean Hotel 1956 2006

FONTE: Elaborado pela autora (2018) a partir de informações extraídas de Martin Zequeira e Rodríguez

Fernández (1995), Blanco (2009), Emisora Habana Radio (2019), Hoteles Habaguanex (2019) e Holiplus

(2019)

Como se pode observar no quadro anterior, alguns dos prédios que foram

refuncionalizados para serem convertidos em hotéis anteriormente eram cortiços que

abrigavam a numerosas famílias de baixa renda. Tal é o caso dos atuais hotéis Beltrán de

Santa Cruz, El Comendador, Los Frailes, Santa Isabel, Saratoga e Iberostar Grand

Packard. Para que estas construções pudessem adquirir este uso turístico, muitas famílias

foram removidas para outras zonas da cidade, com maior frequência para Alamar, zona

periférica longe de Havana Velha, como indica Scarpacci (2000). Os prédios de

excepcionais valores históricos e culturais foram restaurados, embelezados e transformados

em recursos turísticos, mas, para serem desfrutados por novos usuários, aqueles com os

Page 99: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

99

recursos econômicos necessários e o tempo para realizar turismo no Centro Histórico, os

moradores tradicionais não puderam permanecer.

A refuncionalização turística acentua as contradições socioespaciais, pois por

um lado se investe na recuperação do Centro Histórico, mas, por outro, uma parte dos

moradores tradicionais, a população mais pobre que mora nos cortiços, são removidos para

zonas periféricas com menos serviços, ofertas culturais e maiores problemas de transporte,

como se abordará nos próximos capítulos. Desta forma, a cidade se fragmenta em função

das classes sociais e da renda.

As figuras 39 e 40 mostram antigos cortiços refuncionalizados para a atividade

turística.

Figura 39: Cortiço na antiga moradia de Beltrán de Santa Cruz (esquerda) e Hotel

Beltrán de Santa Cruz (direita) depois da refuncionalização

FONTE: http://www.habanaradio.cu/articulos/antigua-casa-de-gabriel-beltran-de-santa-cruz-2/

Page 100: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

100

Figura 40: Cortiço da rua Teniente Rey (esquerda), hoje Hotel Los Frailes (direita)

FONTE: http://www.habanaradio.cu/articulos/edificio-de-la-calle-teniente-rey-no-8-entre-oficios-y-

mercaderes/

Além da refuncionalização destes antigos prédios, citados no quadro 7, para

serem convertidos em alojamentos turísticos, como parte da estratégia para inserir a Cuba

no mercado turístico global, se fez necessária a criação de vários restaurantes, bares e

cafeterias. Se bem este tipo de instalações não se concentram exclusivamente, no Centro

Histórico, na Companhia Habaguanex, pois existem instituições do Grupo Extrahotelero

Palmares e do Grupo de Turismo Gaviota, Habaguanex possui o maior número de

instalações deste tipo na zona com 36 restaurantes e 56 cafeterias (PÉREZ CORBEA,

2010).

O Quadro 8 se centra na análise dos restaurantes de Habaguanex, pois segundo

Leal (2004) as instalações desta companhia se caracterizam por estar localizadas em

prédios de valor patrimonial que tem adquirido novos usos. A maioria destas instalações

datam dos séculos XVII, XVIII e XIX e as suas funções anteriores estavam relacionadas à

moradia, ensino, armazéns e escritórios vinculados à atividade do porto, mas também aos

serviços, pois vários se encontram em imóveis que sempre estiveram vinculados a este

setor, mesmo se não estavam orientados ao turismo especificamente. Alguns destes

restaurantes oferecem pratos tradicionais da gastronomia cubana, fazendo da culinária

costumbrista um atrativo turístico mais.

Page 101: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

101

Quadro 8: Bares e restaurantes de Habaguanex no Centro Histórico de Havana Velha

Habaguanex

Restaurantes Função anterior Data de

construção

Abertura

como bar de

Habaguanex

Restaurante a Prado y

Neptuno

Bodega de madeira

Café de las Columnas 1899

Restaurante Bar Miami 1939

Restaurante Caracas y Budapest década

dos 1980

Século XIX 1999

Restaurante Anacaona

(Hotel Saratoga)

Construído com fins comerciais para

funcionar como armazéns, moradias e

casas de hóspedes

Hotel Alcázar a partir de 1911

Hotel Saratoga 1933

Cortiço desde 1960

1880 2005

Restaurante Bodegón

Onda (Hotel Comendador)

Casa da família de

Don Pedro Regalado Pedroso y Zayas,

Comendador de la orden de Isabel la

Católica

Casa da família de Don Pedro Regalado

Pedroso y Pedroso, Comendador de la

Orden de Carlos III

Comércio, armazém, escritório e

moradia inícios do século XX

Cortiço na segunda metade do século

XX

Século XVIII 1999

Restaurante Cabaña - - -

Restaurante Café del

Oriente

- - 1997

Restaurante Cantabria

(Hotel Armadores de

Santander)

Moradia do Conde de la Mortera

Escritórios de armadores da cidade de

Santander, Espanha

Atividades de comércio como bar,

barbería, casa de troca de moedas,

venda de charutos, cigarros e café

Casa Balear, associação de espanhóis

1903 a 1909

Hotel El Universo desde inícios do

século XX

Casa del Joven Creador, instituição

cultural (uso em 1995)

1897 2002

Restaurante Casa de la

Parra

Casa 1640 -

Restaurante Castillo de Bar-restaurante 1896 -

Page 102: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

102

Farnés

Restaurante Conde del

Castillo (Hotel Marqués de

San Felipe y Santiago de

Bejucal)

Propriedade de Don Sebastián de

Peñalver IV Marqués de San Felipe y

Santiago

Função comercial século XIX

Escritórios na segunda metade do

século XX

Oficina del Historiador de la Ciudad

década del 1990

Fins do

século XVIII

2010

Restaurante Don Giovanni Mansão colonial Século XVIII 1994

Restaurante Don Ricardo

(Hotel Palacio O´Farril)

Casa de Don José Ricardo O’ Farrill,

nobre da etapa colonial

Escritórios: Registro de Propiedad,

Tribunal Supremo y la Fiscalía,

Secretaría de Justicia, Colegio de

Abogados e o Fondo Especial de Obras

Públicas

1832 2002

Restaurante Dos

Hermanos

Bar-restaurante Los Dos Hermanos Mediados do

século XX

-

Restaurante El Baturro Armazém

Cantina

1919 -

Restaurante El Condado

(Hotel Santa Isabel)

Antiga casa dos Condes de Santovenia

Hotel a partir de 1867

1889 Lonja de Víveres de La Habana

1943 Escritório, armazém e comércio

segunda metade do século XX Moradia

de várias famílias

Cortiço na década de 1990

Inícios do

século XVIII

1997

Restaurante El Mesón de

la Flota (Hotel Santa

Isabel)

Café el Mercurio Antiga Lonja de Víveres de La Habana

Antiga Lonja de Comercio

Prédio de diferentes escritórios

1909 1997

Restaurante El Patio Palácio colonial do Marqués de Aguas

Claras

Lugar de reunião da bohemia havanesa

na décadas de 1980

Século XVIII -

Restaurante El Templete Bar Entre 1928 e

1931

-

Restaurante Europa Pastelería Século XIX -

Restaurante Factoría Plaza

Vieja

Casa

Comércio

- -

Restaurante Jardín del

Edén (Hotel Raquel)

Construído para escritórios e armazéns

de tecidos

Cámara de Comercio, Industria y

Navegación de Cuba

1905 2003

Page 103: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

103

Escritórios e moradia na década de

1960

Restaurante La Barca Propiedade da sociedade comercial

González y Suárez para a importação

de suministros

Sede de várias entidades britânicas:

Legação diplomática do Reino Unido

em Habana, Havana Coal Co., Havana

Marine Railways Co. propriedade do

fundo de investimentos da Rainha

Victoria e a moradia do capitão

Stapleton, fundador do Havana British

Club

- -

Restaurante La Dominica Antiga cafeteria Século XIX -

Restaurante La Floridana

(Hotel Florida)

Casa de Joaquín Gómez

Hotel a partir de 1885

Club Británico de La Habana década de

1930

Sociedad Mercantil Anónima

Inmobiliaria Bancofo S.A. 1959

Armazém e escritório na década dos

1960

1836 1994

Restaurante La Imprenta Imprenta La Habanera Século XIX 2010

Restaurante La Mina Moradia de Obispos da Iglesia

Parroquial Mayor (demolida em 1748

para construir a Catedral de La

Habana)

Antigo colégio de moças Colegio de

San Francisco de Sales 1686-1690

Palacio Episcopal 1758

Pensionato 1917

Restaurante 1984

Século XVI -

Restaurante La Paella

(Hotel Valencia)

Casa do regedor Sotolongo Finais do

século XVIII

-

Restaurante La Torre de

Marfil

- Século XVIII -

Restaurante Plaza de

Armas (Hotel Ambos

Mundos)

Hotel (hospedou em várias ocasiões a

Ernest Hemingway)

1925 1997

Restaurante Prado

(Hotel Park View)

Hotel 1928 2002

Restaurante Puerto de

Sagua

Restaurante 1945 -

Page 104: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

104

Restaurante Santo Ángel Casa colonial

Colegio del Santo Ángel para meninos

pobres 1866

Conservatorio de Música de Santa

Amelia 1932

Século XIX -

Restaurante Taberna El

Molino (Hotel Marqués de

Prado Ameno)

Casa da família de Prado Ameno

Moradia de diversas famílias

Prédio de casas de aluguel inícios do

século XX

Comércio e armazém

Imprenta de La Gaceta Oficial

Primeira

década do

século XVIII

2008

Restaurante Telégrafo

(Hotel Telégrafo)

Hotel Entre 1858 e

1863

2001

Restaurante Vuelta Abajo

(Hotel Conde de

Villanueva)

Casa de Claudio Martínez de

Pinillos, Conde de Villanueva

Fondo Cubano de Bienes Culturales8

Século XVIII -

FONTE: Elaborado pela autora (2018) a partir de nformações extraídas de D-Cuba (2019), Restaurantes en

Cuba (2019) e Paseos por la Habana (2019)

A figura 41 apresenta a localização de todos os hotéis do Centro Histórico de

Havana Velha e dos restaurantes da Companhia Turística Habaguanex. Cada grupo

hoteleiro está identificado com uma cor diferente, permitindo apreciar que a maioria dos

hotéis do Centro pertence a Habaguanex. Dentro dos círculos marrons, que representam os

hotéis de Habaguanex, existem, em alguns casos, pontos azuis que indicam os restaurantes

deste mesmo grupo, situados dentro dessas instalações. Além destes estabelecimentos

turísticos localizados no mapa, existem restaurantes de outros grupos estatais e negócios

privados (tanto alojamentos como restaurantes) orientados ao turismo na zona. Se se tem

em conta que a extensão do Centro Histórico é de 2,14 km², se pode afirmar que o Centro

Histórico possui um significativo número de estabelecimentos turísticos, pois além de

hotéis e restaurantes, existem outros serviços e instalações localizados na zona, orientados a

este setor como feiras, agências de viagens, locais para aluguel de carros, dentre outros.

Além disso, no mapa se pode apreciar uma concentração das instalações, na parte esquerda,

que marca o limite da zona, e onde se localiza o Paseo del Prado, importante via; e na zona

direita espaço que abriga as principais praças e perto do Malecón e a área do porto.

8 Instituição que pertence ao Ministerio de Cultura (MINCULT) e que promove e comercializa as obras de

artistas cubanos: artesanato, roupas, quadros, dentre outros.

Page 105: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

105

Figura 41: Hotéis dos diferentes grupos hoteleiros e restaurantes de Habaguanex no

Centro Histórico de Havana Velha

FONTE: Elaborado pela autora (2019) a partir de informações obtidas na Empresa de Proyectos RESTAURA

(OHCH) (2018)

A recuperação do Centro Histórico de Havana Velha está estreitamente ligada à

refuncionalização turística das formas arquitetônicas, mas, segundo Herrera (2012, s.p.) o

maior problema radica nos:

Page 106: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

106

objetos e imágenes “añadidas” al espacio público urbano, cuya proliferación en

los últimos años, paradójicamente, impide el goce pleno de la arquitectura legada

y rescatada con rigor y profesionalidad por arquitectos y constructores de la

institución (OHCH): me refiero a la cadena de mesas y sillas que obstruyen el

paso en determinadas callejuelas y pasajes del área principal del centro histórico,

a macetas y arecas en abundancia de orden y tamaño, a muros bajos para la

protección de murales, a profusos afiches e infografías montadas sobre

estructuras metálicas en fachadas, esquinas y plazas.

Um exemplo destes muros aos que faz referência Herrera (2012) é o que

protege o mural do antigo Liceo Artístico y Literario de La Habana, inaugurado no ano

2000, no qual aparecem importantes figuras da intelectualidade cubana. Muitos são os

turistas que passam diariamente por este lugar para fazer fotografias (Figura 42).

Figura 42: Mural do antigo Liceo Artístico y Leterario de La Habana

FONTE: Da autora (2018)

Page 107: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

107

As praças e ruas de Havana Velha tem sido invadidas pelas mesas dos

restaurantes estatais para o turismo, fazendo com que estes espaços públicos sejam

exclusivos dos consumidores. A figura 43 mostra, da esquerda para a direita, os

restaurantes: Café Paris, La Dominica, La Paella e La Mina -estes três últimos de

Habaguanex- que tem se apropriado de ruas centrais transformadas em espaços de uso

turístico, o que impede o aproveitamento destes lugares para o encontro e o intercâmbio

social dos moradores, mudando a paisagem tradicional desta área urbana. As funções da rua

são alteradas e ficam exclusivas para o turista.

Figura 43: Apropriação dos espaços públicos pelos restaurantes turísticos

FONTE: Da autora (2018)

Page 108: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

108

Porém, a estratégia turística no Centro Histórico de Havana Velha não se

concentra unicamente na recuperação de edificações para serem convertidos em hotéis e

restaurantes, e a refuncionalização turística nesta zona não é exclusiva dos prédios com

valores históricos e culturais.

O Puerto de la Habana também tem sido refuncionalizado para abrigar o

negócio turístico. As atividades tradicionais do porto de carga e descarga de produtos tem

sido trasladadas a outras zonas da baía, menos visíveis para o turista e, no seu lugar, ocupa

este espaço o Terminal Internacional de Cruceros (Figura 44). Especialistas afirmam que

esta decisão está relacionada ao avançado nível de deterioração das estruturas do porto, à

contaminação das águas que produziam as indústrias próximas e a que as possibilidades

comerciais da atividade portuária eram insuficientes (INCLÁN e CASTILLO, 2012), mas,

parece ser esta última justificativa a mais certeira, pois as estruturas foram reformadas antes

de abrir o terminal de cruzeiros, a função portuária continua a se realizar e as indústrias

estão localizadas em outras zonas, só que mais longe da área valorizada pelo turismo. Cabe

perguntar se essas áreas não se verão também afetadas pela contaminação num futuro.

Assim se erige a razão do lucro financeiro associado ao turismo como o principal

motivador na refuncionalização do porto e da área fronteiriça.

Figura 44: Terminal Internacional de Cruceros na Baía de Havana

FONTE: Parra (2015)

Page 109: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

109

Também, o conjunto de prédios relacionados com a função portuária recebe

novos usos recreativos, culturais e turísticos (PLAN MAESTRO, 20016). Os Almacenes de

Depósito San José foram refuncionalizados entre 2005 e 2009 (PARRA, 2015) e viraram o

Centro Cultural Antiguos Almacenes de Depósito San José (Figuras 45 e 46), um espaço de

exposição e venda de artesanatos que, devido aos produtos que comercializa, souvenirs

padronizados da maioria dos destinos coloniais, e aos altos preços, está fundamentalmente

orientado ao sector turístico. Em 2014 se terminam os trabalhos de refuncionalização do

antigo Almacén del Tabaco y la Madera, atualmente Fábrica de Cerveza Artesanal (Figura

47) (PARRA, 2015). O programa de recuperação da antiga zona portuária concluiu, em

2015, a recuperação da Avenida del Puerto e do Separador Central, da Alameda de Paula.

Figura 45: Centro Cultural Antiguos Almacenes de Depósito San José

FONTE: https://br.pinterest.com/pin/482518547550902311/

Figura 46: Artigos comercializados no Centro Cultural Antiguos Almacenes de

Depósito San José

FONTE: https://br.pinterest.com/pin/482518547550902311/

Page 110: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

110

Figura 47: Fábrica de Cerveza Artesanal no antigo Almacén del Tabaco y la Madera

FONTE: https://onlinetours.es/blog/post/585/un-almacen-embriagador-en-el-corazon-de-la-habana-vieja

Para Inclán et al. (2014, s/n), con estas ações:

se aprovecha y se conserva el patrimonio industrial heredado de esta zona. Se

potencia la idea de dar un nuevo frente a la ciudad que estuvo ocupado por mucho

tiempo por las actividades portuarias y de espaldas a la ciudad. Se propicia la

actividad pública y el espacio colectivo, la mezcla de grupos etarios y el espacio

público practicado por la población local fundamentalmente

Neste caso, não se trata do aproveitamento do patrimônio industrial em desuso,

nem da aparição de novas relações espontâneas com os bens históricos pela mudança

social, trata-se da remoção de uma atividade econômica que por séculos tinha acontecido

neste espaço e da alteração da dinâmica de vida dos moradores do Centro Histórico que lá

trabalhavam por decisões governamentais motivadas por razões econômicas. Não se pode

pensar no porto, nas pessoas que frequentavam esta zona, nem nas suas atividades como

processos que aconteciam “de espaldas a la ciudad” (INCLÁN et al., 2014, s/n) pois eles

eram parte característica da zona e este setor econômico estruturou a cidade por muito

tempo. Se a mudança visual e funcional deste espaço tem sido bem recebida pela

população, como aponta Parra (2015), e neste espaço “se propicia la actividad pública”

(INCLÁN et al., 2014, s/n), tem que se pensar se este espaço está pensado para todos os

públicos, pois a maioria dos serviços deste entorno têm preços muito elevados para a

população local, fato que transforma esta área numa zona de consumo turístico

fundamentalmente.

Além da função portuária como atividade econômica, o Centro Histórico de

Havana Velha cresceu como núcleo urbano a partir das cinco praças principais e as ruas

que as unem (CASTILLO, 2001). Das praças fundacionais: Plaza de la Catedral, Plaza del

Cristo, Plaza de San Francisco, Plaza de Armas e Plaza Vieja, as três primeiras abrigam

igrejas católicas ou edificações relacionadas à fé. Estes prédios foram construídos

inicialmente pelos espanhóis que chegavam no país e traziam com eles as suas tradições e

Page 111: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

111

crenças, e constituíram lugares importantes de reunião e devoção. Com a refuncionalização

turística do centro, mesmo se continuam com estes usos primários, as igrejas e as praças

viraram lugares de contemplação da paisagem histórica e cultural e de apreciação das

expressões artísticas: da sua arquitetura e decoração. Estas igrejas são destacadas em várias

campanhas turísticas (Figura 48) sobre Havana, fato que influi num alto índice de visitação

turística.

Figura 48: Catedral de la Virgen María de la Concepción Inmaculada de La Habana na

campanha turística Auténtica Cuba

FONTE: https://thecrazycircus.com/cuba/

Também a Plaza Vieja, uma das praças fundacionais, com a refuncionalização

turística do Centro Histórico é transformada num espaço espetacularizado para o turismo.

Esta praça e seus prédios foram restaurados, as fachadas dos imóveis pintadas com as cores

padronizadas de outros destinos coloniais, a praça foi decorada com esculturas

contemporâneas, vasos com arbustos e invadida pelas mesas de diversos restaurantes e

cafeterias como: a Factoria Plaza Vieja, o Café el Escorial e o Santo Ángel, que, como

explica Choay (2001), costuma acontecer na construção de cidades repetitivas. Este espaço

parece uma maquete para o turismo, no qual a população local -que pode e faz uso do

espaço público e das atividades culturais que se realizam ao ar livre- parece uma outra

personagem na representação de um centro histórico habitado. A figura 49 mostra a praça

em 1999, com a reabilitação já iniciada, porém, não concluída; e a figura 50 apresenta este

mesmo espaço, em agosto de 2018, completamente refuncionalizado e com uma imagem

mais comercial.

Page 112: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

112

Figura 49: A Plaza Vieja em 1999, já iniciada a recuperação

FONTE: https://placesjournal.org/article/history-of-the-present-havana/?cn-reloaded=1

Figura 50: Imagem atual da Plaza Vieja

FONTE: Da autora (2018)

Tanto a Plaza Vieja como o restaurante Santo Ángel, antigo Colegio del Santo

Ángel, foram restaurados com dinheiro proveniente da UNESCO, como se analisou em

capítulos anteriores. Então, se pode apreciar a influência da UNESCO, não só no processo

de renovação urbana, se não também na refuncionalização turística da zona.

Para Carrión (2006, p. 196), o desenvolvimento do turismo no Centro Histórico

de Havana Velha está vinculado ao: “desarrollo de una imagen basada en la escenografía

urbana”. Se bem é certo que o Centro Histórico possui um elevado número de museus -

Museo Nacional de Bellas Artes, Museo de la Ciudad de La Habana, Museo Nacional de

Historia Natural, Museo Casa Natal de José Martí, dentre outros, com carácter educativo e

recreativo dos quais a população pode desfrutar por um preço simbólico, tem se criado

Page 113: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

113

também alguns museus, como o Museo del Chocolate, Museo del Ron e Museo del Tabaco,

reconhecidos produtos cubanos pela sua qualidade e elementos que distinguem o país para

quem chega de fora. Porém, estes museus, situados em casas coloniais do século XVIII,

estão mais orientados à degustação e comercialização destes produtos do que à promoção

da sua história, realmente mais vinculada a outras regiões do país em cada um dos casos. Se

assiste assim à recriação de uma imagem urbana e a ressaltar os produtos que o turista

espera encontrar e desfrutar, além do que realmente pode ser característico da cidade.

Outro exemplo da transformação do Centro Histórico numa zona

eminentemente turística e da recriação das tradições para o turismo é o caso dos coches

tirados por cavalos (Figura 51). Os turistas têm a possibilidade de fazer um percurso pela

zona histórica da cidade nestes meios de transporte, que eram utilizados no período colonial

cubano, mas são pouco viáveis para percorrer, hoje, as longas distâncias da capital.

Também é possível encontrar as havanesas (Figura 52), mulheres vestidas com roupas

típicas cubanas que percorrem a área. Estas roupas tradicionais não são mais utilizadas

pelas mulheres no país, então se trata de uma pessoa fantasiada para atrair o olhar dos

turistas. Se trata da recriação de tradições que estão ali por e para os turistas.

Figura 51: Coches de Cavalo no Centro Histórico de Havana Velha

FONTE:https://www.14ymedio.com/economia/turistas-turismo-cuba-Mintur-Mayda_Alvarez-viceministra-

inversiones_0_2148385151.html

Page 114: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

114

Figura 52: Havanesas

FONTE: Da autora (2018)

Até 2010, no Centro Histórico, o setor turístico era gerido fundamentalmente

pelas empresas estatais, mas em setembro desse ano, com a flexibilização das leis que

permitiram a criação de determinados negócios privados, o número de estabelecimentos

particulares direcionados ao turismo aumentou, no país e, nesta zona (ANTÚNEZ,

MARTÍNEZ e OCAÑA, 2013). Um ano mais tarde, se aprovou a lei que permitia a compra

e venda de casas entre pessoas físicas, isto fez com que acontecessem muitos negócios de

compra e venda de moradias, principalmente na parte antiga de Havana Velha, com o

objetivo de refuncionaliza-las para serem utilizadas como restaurantes, casas de aluguel ou

comércio de artesanatos vinculados ao turismo internacional (PLAN MAESTRO, 2016).

Assim, muitos destes novos negócios abriram em prédios de valor patrimonial do Centro

Histórico de Havana Velha.

Para evitar que as ações construtivas privadas que aconteciam neste processo de

refuncionalização danificassem a imagem dos imóveis, o Plan Maestro resolveu que estas

ações deviam tender à mínima modificação para não transformar de um jeito irreversível as

características do prédio. Quanto aos novos usos estipulou-se:

Artículo 452: Se permitirán nuevos usos manteniendo las características

espaciales en los espacios principales del inmueble. Cualquier refuncionalización

deberá tener en cuenta la capacidad del inmueble para lograr la adecuada

accesibilidad y la inserción de soluciones tecnológicas contemporáneas, sobre

todo en edificaciones de dos o más niveles donde sea de interés desarrollar

actividades de uso público de cierta intensidad y, en especial, si implican la

presencia de grupos vulnerables (niños, ancianos y personas con discapacidad).

(PLAN MAESTRO, s/a, p. 86)

Page 115: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

115

Surgem assim, no Centro Histórico, pequenas lojas de artesanato e souvenirs

(Figura 53), hospedagens (Figura 54) e restaurantes particulares (Figura 55) em moradias,

das quais a população é proprietária. Muitos deles vão ocupar somente um dos andares da

construção, podendo ser o primeiro ou o segundo, dependendo do uso, e o outro é utilizado

para habitação.

Figura 53: Pequena loja de artesanato privada no Centro Histórico de Havana Velha

FONTE: Da autora (2018)

Figura 54: Hospedagem privada no Centro Histórico de Havana Velha

FONTE: Da autora (2018)

Page 116: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

116

Figura 55: Restaurante privado “Doña Blanquita” no Centro Histórico de Havana

Velha

FONTE: Da autora (2018)

Os negócios privados de venda de artesanatos comercializam produtos

padronizados: mercadorias com a imagem do Ché Guevara, de carros antigos, das mulatas,

do rum, dos charutos, elementos que para o turista são os símbolos de Cuba. Assim,

expressões culturais menos divulgadas, e por tanto menos reconhecidas, deixam de ser

produzidas, pois os artesãos ficam a expensas dos interesses do mercado. Os restaurantes e

alojamentos particulares, muitos deles localizados em casas de valor patrimonial, às vezes

não cuidam da adequada decoração das instalações: as cores, a mobília e os elementos do

ambiente não são coerentes e misturam etapas e estilos. Estes cenários são montados para

dar um valor cultural agregado na oferta, mas os negócios terminam cuidando mais da

mercadoria principal, que das formas culturais e históricas que consideram

complementares, e não existe uma fiscalização estatal sobre isto9.

Atualmente não existem grandes diferenças entre os negócios privados e os

estatais, no referente à qualidade das instalações, dos produtos e dos serviços que prestam

ou ao tamanho, como em décadas anteriores. No trabalho de campo alguns entrevistados

explicaram que os negócios particulares até chegavam a funcionar melhor que os estatais,

9 Estes dados foram obtidos a partir da observação guiada e as entrevistas no trabalho de campo

Page 117: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

117

pois, o pagamento dos empregados era melhor -fator que incidia na sua motivação e

disposição- e às vezes tinham os produtos que não estavam disponíveis no setor estatal -

cervejas cubanas, maltas- pois os donos se preocupavam mais pelo fornecimento. As

figuras 56 -setor privado- e 57 -estatal- mostram dois restaurantes, um de cada setor, e as

diferenças visuais dos imóveis não são muito significativas. A maior diferença constatada

consiste na importância que oferece cada setor ao valor histórico e cultural dos seus

produtos, sendo maior esta preocupação no setor estatal.

Figura 56: Restaurante privado Mojito Mojito

FONTE: Da autora (2018)

Page 118: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

118

Figura 57: Restaurante estatal La Imprenta

FONTE: Da autora (2018)

Por outro lado, os usos turísticos, privados ou estatais, se concentram nas

principais vias e praças do Centro Histórico, e nas suas cercanias. Mas, mesmo nestes

espaços, nas zonas abertas ao público que não implicam consumo de mercadorias, se pode

apreciar a mistura dos turistas com a população havanesa.

O Centro Histórico recuperou a sua posição de centralidade dentro da cidade e

constitui um lugar de visitação para os havaneses pelo número de opções culturais,

recreativas e comerciais da zona, além da maioria ter preços para o turismo. Mesmo

existindo uma refuncionalização turística do centro, ele ainda abriga atividades e usos que

também podem ser aproveitados pelos havaneses, moradores ou não de Havana Velha. O

quadro 9 permite apreciar que foram recuperados 122 imóveis e espaços dos quais a

população pode fazer uso, pois, estão orientados a atividades culturais, educativas ou são

espaços públicos, principalmente no período 2000-2008. Os mesmos podem ser utilizados

tanto pela população local como pelos turistas internacionais, exceto os imóveis vinculados

à educação, por tratar-se principalmente de escolas.

Page 119: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

119

Quadro 9: Número de imóveis e espaços recuperados segundo a sua função no período

1991-2008

Año/Função 1991-1999 2000-2008 Total

Cultura 25 47 72

Educação 1 33 34

Monumentos, Praças e parques 0 16 16

Total 26 96 122

FONTE: Elaborado pela autora (2019) a partir de informações extraídas de Rodríguez Alomá (2009)

O quadro 10 resume uma série de imóveis históricos, principalmente dos

séculos XVI, XVII e XVIII, originalmente dedicados à função habitacional, que foram

refuncionalizados para atividades culturais e educativas a partir da década de 1980, porém,

a maioria adquire um novo uso nos anos 1990. Estas edificações com atividades e uma

programação cultural não necessariamente orientada ao turismo internacional, mas das

quais o turista pode e faz uso, também fazem parte dos roteiros turísticos das agências de

viagens. Segundo Segre (1997), a reativação cultural do Centro Histórico de Havana Velha

e a refuncionalização dos antigos casarões como museus e instituições culturais, estão

muito relacionadas ao desenvolvimento turístico da zona. Então, as atividades culturais e os

museus, além de opções recreativas para a população, são atrativos turísticos.

Quadro 10: Imóveis refuncionalizados para atividades culturais e educativas

Imóvel Uso atual Data de

construção

Data da última

refuncionalização

Castillo de la Real Fuerza

(Fortificação militar

colonial)

Museo Castillo de la Real Fuerza

Século XVI 2005

Casa del Conde de Casa

Bayona

(casa colonial)

Museo de Arte Colonial 1720 1969

Casa de Juana Carvajal

(casa colonial)

Gabinete e Museo de Arqueología Século XVIII Antes de 199610

Casa del Conde de Casa

Barreto

ou

Palacio del Marquéz de

Centro Provincial de las Artes

Plásticas y Diseño

Século XVIII Década de 1980

10

Assim indica Segre (1997)

Page 120: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

120

Cárdenas

(casa colonial)

Casa de la Condesa de la

Reunión

(casa colonial)

Centro de Promoción Cultural

Alejo Carpentier

1732 Década de 1980

Palacio de Mateo

Pedroso

(casa colonial)

Palacio de la Artesanía 1780 Antes de 199611

Palacio del Segundo Cabo Centro para la Interpretación de

las Relaciones Culturales Cuba-

Europa

1772 -

Casa del Conde de Casa

Lombillo

(casa colonial)

Redação da revista Opus Habana

Galeria de Arte

Século XVIII 2000

Casa de las Hermanas

Cárdenas

Centro de Desarrollo de las Artes

Visuales

- 1989

Convento de San

Francisco

Sala de concertos 1591 1994

Edificio Gómez Vila Cámara Oscura (mediante um

periscópio se pode observar

Havana Velha em tempo real)

1909 2001

Teatro Habana Planetario de La Habana Século XVII 2009

Edificio Romagosa Escuela Primaria Ángela Landa Mediados do

século XVII

Finais da década

de 1990

Moradia Rua Obispo

número 121-123 Librería Boloña Mercaderes Século XVII 1997

Casa de Beatriz Pérez

Borroto

(casa colonial)

Fototeca de Cuba Século XVI 1986

Centro Asturiano Museo de Bellas Artes (Arte

Universal)

1927 2001

Centro Gallego Escuela Primaria Concepción

Arenal

1880 2003

Casa de Don Mariano

Carbó

(casa colonial)

Casa Museo Oswaldo Guayasamín Século XVII 1991

Mansión de los Condes de

Peñalver

Centro de Arte Contemporáneo

Wilfredo Lam

Século XVIII 1983

FONTE: Elaborado pela autora (2019) a partir de informações extraídas de Martín Zequeira e Rodríguez

Fernández (1995), Segre (1997) e Emisora Habana Radio (2019)

11

Assim indica Segre (1997)

Page 121: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

121

Além da turistificação do Centro Histórico de Havana Velha, a zona continua

tendo diversos usos. O seguinte mapa (Figura 58) permite apreciar a multiplicidade de

funções do solo na zona.

Figura 58: Mapa das funções predominantes do solo no Centro Histórico de Havana

Velha

FONTE: Plan Maestro (2016, p. 128)

Muitas destas funções são aproveitadas pelos turistas, mas também atendem às

necessidades dos moradores locais do centro e dos havaneses em geral. A utilização, ou

não, de muitos destes espaços que implicam consumo, pelos havaneses, vai depender dos

preços elevados na maioria dos casos, por serem orientados ao turismo internacional.

Mesmo se o turismo gera uma alta ocupação dos espaços públicos e de consumo do Centro

Page 122: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

122

Histórico, nas temporadas de baixa turística -de junho a outubro, aproximadamente- esta

zona continua recebendo grandes fluxos de pessoas nos seus espaços públicos; são as

atividades econômicas as que mais sentem os efeitos da temporada de baixa visitação de

turismo internacional. O mapa também permite apreciar que a função habitacional ainda é

alta na zona e que por tanto se trata de um “centro vivo” (LEAL, 2004). Mas cabe a

pergunta: por quanto tempo, quando o valor do solo tem aumentado na área (PLAN

MAESTRO, 2016) e os serviços do entorno são tão caros, ou quem serão os que lograram

continuar a morar lá, sem dúvidas, não será a população atual de baixa renda, elementos

que serão discutidos no último capítulo.

A recuperação e refuncionalização turística do Centro Histórico de Havana

Velha não são processos acabados. Dentre as estratégias do Plan Maestro (2016), no Plan

Especial de Desarrollo Integral destacam alguns pontos para desenvolvimento do turismo

neste espaço: aumentar o número de hotéis e hostels nas vias principais, criar novos museus

temáticos relacionados com as atividades tradicionais do país (o Habano, o café, o açúcar e

os autos antigos); restaurar edificações de alto valor patrimonial para fins culturais,

incrementar as instalações que comercializam produtos culturais especializados, aumentar o

número de restaurantes, bares e cafeterias nas praças e vias principais; dar continuidade ao

passeio marítimo e incrementar as atividades esportivas e culturais do Eje de Bordes

Avenida del Puerto-San Pedro-Desamparados. Para criar estes novos hotéis, restaurantes e

espaços culturais, antigas oficinas, armazéns e cortiços adquiriram novos usos como aponta

o Plan Maestro (2016, p. 120):

Considerar los locales de almacenes incompatibles con el carácter del Centro

Histórico, o aquellos convertidos en viviendas inapropiadas, como potencial de

transformación para la localización de actividades compatibles con la

refuncionalización del territorio.

Assim, dentro do sistema de intervenções previstas destaca a refuncionalização

de vários prédios para serem convertidos em hotéis para o turismo internacional (Quadro

11). A maioria destes prédios que serão refuncionalizados pertencem a inícios do século

XX e vários já tinham abrigado a função hoteleira.

Quadro 11: Projetos hoteleiros no Centro Histórico de Havana Velha

Habaguanex (By Gaviota)

Projeto de Hotéis e

Hostels

Função anterior Data de

construção

Localização

Hoteles Catedral - - Empedrado

Page 123: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

123

113

Hotel Marqués de

Cárdenas de Monte

Hermoso

Palácio do Marqués de Cárdenas de

Monte Hermoso

Centro Provincial de Artes Plásticas y

Diseño em 1995

Prédio onde radicou Habaguanex

Século XIX Oficios 110

Hotel Palacio Cueto Armazém

Fábrica de chapéus até os anos 1920

Hotel Palacio Viena (ao ser alugado

por José Cueto)

Sem uso desde os anos 1990

1906 Inquisidor

351-355

Hotel Real Aduana (Ou

Corredores)

Prédio da antiga Alfândega 1910 Oficios 154

Hotel Santo Ángel Casa colonial

Escola Santo Ángel para meninos

pobres 1866

Conservatorio de Música de Santa

Amelia 1932

Atual restaurante Santo Ángel

Século XIX Teniente Rey

60

MINTUR

Hotel New York Hotel

Sem uso desde os anos 1990

1919 Dragones

154-152

Grupo de Turismo Gaviota

Hotel Miramar-Malecón Hotel Miramar 1908 Prado 2

Hotel Regis Moradia e estabelecimentos comerciais

no primeiro andar (fonda, café, bar e

loja de charutos e cigarros)

Hotel Regis 1954

Cortiço da década de 1990 com funções

comerciais no primeiro andar

1909 Prado 161-

163

Hotel Pasaje/Manzana

Payret (em estudo)

Antigo Hotel Pasaje

Cortiço até 1982

Atual Sala Polivalente Kid Chocolate

(sala esportiva) (Futuro Hotel Pasaje)

desde 1991 construída para os Jogos

Panamericanos/

Atual Cine-Teatro Payret (Futuro

Manzana Payret)

1876/1877 Prado 517-

521

Hotel Marina (em estudo) Armazéns do porto

Prédio de escritórios vinculados ao

porto desde 1930

Fins do

século XIX

Desamparado

s s/n -

Edificio Juan

Manuel Díaz

Hotel Edificio Finanzas y

Precios

Antigo Banco Nacional

Atual Ministerio de Finanza y Precios

1907 Obispo 211

Page 124: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

124

Hotel La Metropolitana Prédio de escritórios (Sede de Cuba

Tabaco, de uma Companhía Telefónica,

uma inmobiliaria, o Edificio Frank

País, atual sede do Municipio de

Educación en Habana Vieja)

1926 O Reilly 412

Gran Hotel - - Teniente Rey

557 esquina a

Zulueta

Aparthotel Parque Central - - Zulueta 252

FONTE: Elaborado pela autora (2018) a partir de informações extraídas de Plan Maestro (2016), Paseos por

la Habana (2019), Emisora Habana Radio (2019) e Radio Rebelde (2019)

O caso mais alarmante nesta mudança de usos é o do possível complexo

hoteleiro Hotel Pasaje/Manzana Payret, ainda em fase de estudo. Mas, a simples

possibilidade faz pensar em como as aspirações sociais de colocar o esporte ao alcance de

todos -a Sala Polivalente Kid Chocolate era uma instituição esportiva popular na qual se

realizavam eventos dos quais participava a população local e se formavam atletas- e

oferecer, no Centro Histórico, serviços culturais para a população local ficam em segundo

plano ante, o que parece ser, o interesse de criar no corredor Paseo del Prado uma vitrine

para o turismo, já que vários são os empreendimentos que aconteceram recentemente nesta

via como são: o Gran Hotel Manzana Kempinski, o Hotel Iberostar Grand Packard Habana

(Figura 59) e Hotel Paseo del Prado (Figura 60), ainda em restauração. Neste corredor

existem outros hotéis como: o Hotel Saratoga, o Hotel Telégrafo, o Hotel Iberostar Parque

Central Habana, o Hotel Sevilla e o Hotel Caribbean, e instituições históricas e culturais

reabilitadas nos últimos anos como: o Gran Teatro de La Habana Alicia Alonso (2016) e o

Capitolio Nacional (2019).

Figura 59: Hotel Iberostar Grand Packard Habana

FONTE: https://www.iberostar.com/pt/hoteis/havana/iberostar-grand-packard

Page 125: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

125

Figura 60: Hotel Paseo del Prado, ainda em restauração

FONTE: https://www.directoriocubano.info/noticias/a-punto-de-inaugurarse-hotel-de-lujo-paseo-del-prado-

en-la-habana/

O Plan Maestro (2016) no Plan Especial de Desarrollo Integral prevê para

2030 uma mudança ampla no uso do solo. A Figura 61 mostra como se continuarão

substituindo as funções de armazém, oficina e as indústrias da Bahía de La Habana por

serviços recreativos, esportivos, de lazer e de transporte -orientados principalmente ao

turismo, que se pode apreciar na substituição da cor vermelha na parte inferior do mapa da

figura 58 pelas cores violeta e roxo, destinadas a marcar estas atividades; a diminuição das

moradias (a cor cinza), e o aumento da indústria cultural em diferentes espaços -em azul

claro neste mapa e que não é muito usada no mapa anterior da figura 58- agora ocupados

por moradias. Poderia parecer uma ação positiva o aumento dos espaços vinculados à

indústria cultural, porém, a preocupação surge pelo tratamento diferenciado entre funções

culturais e da indústria cultural, o documento não o explica, mas, o segundo termo deve

estar associado a cultura como atividade comercial e econômica.

Page 126: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

126

Figura 61: Mapa das funções predominantes proposta do solo no Centro Histórico de

Havana Velha para 2030

FONTE: Plan Maestro (2016, p. 129)

As transformações que acontecem no Centro Histórico desde a década dos 1990

renovam a paisagem urbana deste espaço, dão novos usos às formas pretéritas e os lugares

mudam de usuários. O turismo se apodera de imóveis de valor patrimonial, das principais

praças, das vias de acesso que conectam os atrativos e dos restaurantes que ocupam as ruas

e as transformam em lugares de consumo.

Na relação que se deveria estabelecer entre turista e cidade histórica, às vezes,

se coloca a mercadoria como elemento fundamental e a conotação cultural, e o valor

patrimonial das formas e da história ficam relegados a um segundo plano. A zona tem

alguns espaços que parecem uma vitrine para o turismo e nos quais as relações tradicionais

Page 127: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

127

acontecem a partir da simulação, tal é o caso das havanesas. Se o espaço onde aconteceram

as trocas sociais de uma população, desde sempre, abriga elementos de valor patrimonial

está bem que este seja compartilhado e se transforme também num espaço de trocas

culturais entre a população e os turistas, mas isto deve acontecer sem que as mercadorias

inundem o lugar e sejam o principal elemento realçado.

Em muitos espaços públicos do Centro Histórico coexistem turistas, moradores

e habitantes de Havana em geral, mas em Cuba as atividades e os serviços estatais são

pensados para turistas ou para nacionais. Os turistas podem se integrar e desfrutar dos

programas desenhados para os cubanos, mas no sentido contrário, os espaços e as

atividades terminam sendo exclusivas e excludentes pelos altos preços. É como se

existissem duas dimensões e duas realidades num mesmo espaço.

Mesmo quando o programa de recuperação do Centro Histórico procura

recuperar Havana Velha para os seus moradores (LEAL, 2004), os novos usos dados aos

lugares tem uma forte orientação ao consumo turístico da cultura e dos serviços.

3.2 O PAPEL DO ESTADO NO PROCESSO DE REFUNCIONALIZAÇÃO TURÍSTICA

DO PATRIMÔNIO CULTURAL

A partir de 1959 na organização político-administrativa do Estado Cubano se

distinguem três esferas: Nacional (Cuba), Provincial (neste caso, Havana) e Municipal

(Havana Velha que contém o Centro Histórico). As peculiaridades da política cubana, a

existência de um único partido e planos de governo a longo prazo, que seguem uma mesma

linha por estar vinculados aos interesses desse mesmo partido, fazem com que a posição,

estratégias e ações destas esferas do Estado sejam, consequentes sempre nos três níveis.

Assim existe, de 1960 até hoje, um alinhamento na colocação dos governos nacional,

provincial e municipal no referente ao Centro Histórico.

Desde 1970 os governos nacional e municipal criaram o aparato legislativo para

a proteção do patrimônio e, nos anos 1980, ofereceram mais de onze milhões de CUP

(CARRIÓN, 2006), o equivalente a quinhentos cinquenta mil USD12

, para os trabalhos de

recuperação da parte antiga da cidade com os planes quinquenales, também as diferentes

esferas do estado deram todo o apoio legal e financeiro ao processo de refuncionalização

turística do Centro Histórico de Havana Velha dos 1990.

12

Segundo o histórico das taxas de câmbio oficiais de CUP a USD disponível em:

<https://fxtop.com/pt/historico-das-taxas-de-

cambio.php?A=1&C1=USD&C2=CUP&YA=1&DD1=01&MM1=01&YYYY1=1980&B=1&P=&I=1&DD2

=12&MM2=12&YYYY2=1989&btnOK=Pesquisar>

Page 128: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

128

Foi o governo nacional quem aprovou em outubro de 1993 a Lei-decreto 143

que declara o Centro Histórico “área de conservação de máxima prioridade”, reafirma a

recuperação deste espaço como tarefa da Oficina del Historiador de la Ciudad de La

Habana, amplia as suas faculdades legais e de funcionamento e contempla a criação da

Companhia Turística Habaguanex, S. A. Além disso, o governo ofereceu um crédito de

sessenta e cinco milhões de dólares (CARRIÓN, 2006) para criar Habaguanex e as suas

primeiras instalações turísticas.

Com este decreto, o governo nacional garantiu que a OHCH se subordine

diretamente ao Consejo de Estado e tenha relações horizontais com o Consejo de Ministros,

o governo provincial e municipal (RODRÍGUEZ ALOMÁ, 2012). Assim, se pode

compreender o apoio ao mais alto nível de governo ao trabalho -como empresa turística e

restauradora- da OHCH.

Além disso, como em Cuba a propriedade sobre o solo é maioritariamente do

governo este fato tem facilitado o processo de refuncionalização turística. Segundo

Rodríguez Alomá (2001), como a OHCH é um organismo estatal, as suas atividades são

amparadas como prioritárias pelo governo, uma vez que esta instituição determina que um

imóvel possui valor patrimonial e deve ser restaurado, as esferas do governo:

(...) disponen la necesidad de liberar locales o inmuebles a favor de la

rehabilitación, otorgándolos a la Oficina en usufructo por 25 años, prorrogables a

otra cantidad de años similar. La Oficina no puede comprar el suelo, ni

expropiarlo , a las personas jurídicas estatales, pues resulta un sinsentido que el

Estado expropie al Estado, o que se compre y venda a sí mismo (...)

(RODRÍGUEZ ALOMÁ, 2001, p. 234)

Para Rodríguez Alomá (2012, p. 133) a OHCH vai adquirindo um “fondo

patrimonial propio” que pode aproveitar.

Para legitimar o uso do solo ou moradias em posse de pessoas físicas, em caso

de que a OHCH o estimasse conveniente para ser restaurado por seu valor patrimonial ou

para atividades turísticas, em 1995 de aprovou o Acuerdo no. 2951 del Consejo de

Ministros no qual o Centro Histórico é considerado Zona de Alta Significación para el

Turismo (CUBA, 1995) e, um ano mais tarde, a Resolución Conjunta sobre o regímen

especial para as moradias neste espaço (CUBA, 1996). Estas disposições governamentais

estabelecem condições especiais para as casas e a propriedade do solo no Centro Histórico

de Havana Velha pela sua importância para o desenvolvimento da atividade turística e

colocam à OHCH para atender as questões administrativas nestes casos.

Dentre os artículos do Acuerdo no. 2951 destacam estes:

Page 129: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

129

a) Los ocupantes legales de vivienda que no sean propietarios, quedarán en las

mismas en concepto de arrendatarios mediante el pago de la misma cantidad que

vinieron abonando o de la que corresponda fijar según el sistema de precios por

metros cuadrados hasta que el Estado decida reubicarlos en otra vivienda fuera de

la zona turística.

c) Los ocupantes ilegales de viviendas que de acuerdo con lo dispuesto en la Ley

General de la Vivienda deban ser reubicados lo serán en otras zonas que a tal

efecto se determine, en el propio municipio fuera de la zona turística, o en otros

municipios cercanos.

d ) Las permutas de viviendas solo podrán realizarse com el Estado.

e) Las viviendas que queden a favor del Estado serán entregadas al Ministerio de

Turismo y cuando no sean de su interés, este las entregará (…) para ser utilizadas

únicamente com fines sociales.

h) Cuando el Estado, en interés de la nación, requiera áreas para programas de

desarrollo del turismo, tanto internacional como nacional, que exijan la

construcción de hoteles e instalaciones diversas, u outro uso de esas áreas en el

momento que las necesite podrá negociar com los propietarios la compra o

reubicación de viviendas fuera de la zona u otras formas de compensación a los

afectados en la misma, sin perjuicio de los derechos de expropiación que le

corresponden, estabelecidos em la Constitución. (CUBA, 1995, p. 392)

Estes artículos demonstram o apoio do Estado a que o Centro Histórico de

Havana Velha vire uma zona eminentemente turística. Se bem os preços dos impostos

sobre o solo não aumentam a partir da valorização da área, se prevê a remoção de

arrendatários legais e ocupantes ilegais para fora da zona turística ou do Centro quando se

estime preciso, como já tem acontecido segundo Scarpacci (2000) e Rodríguez Alomá

(2009). Se fomenta o uso turístico de determinadas regiões de relevância e com a execução

destas disposições muitos moradores perderam o direito a permanecer e pertencer ao

centro. Se nota um marcado interesse do Estado por ter posse da maior quantidade possível

do solo do Centro Histórico para o dedicar ao turismo, atividade que gera capital financeiro.

Também, se decide dar prioridade para a escolha dos imóveis ao Ministerio de Turismo e

quando este não se interesse neles é que são destinados a projetos sociais.

Além disso, a Resolución Conjunta de 1996 dispõe:

OCTAVO: Las viviendas, las habitaciones y locales que queden desocupados y

disponibles a favor del Estado en la zona, serán entregados directamente a la

Oficina del Historiador, quien dispondrá de ellos, acorde con las regulaciones

establecidas para estos casos, al objeto de lograr los fines siguientes:

a) La reubicación y mejoras de las condiciones habitacionales de la población

residente en la Zona.

b) La restauración y conservación del patrimonio

c) El desarrollo turístico de la Zona

d) La satisfacción de los servicios sociales de la población.

NOVENO: LA Dirección Municipal de la vivienda de la Habana Vieja y los

organismos y entidades que cuenten con locales situados en la Zona, se

abstendrán, en lo sucesivo, de entregarlos con los fines habitacionales. Los

locales que sean recuperados se entregarán a la Oficina del Historiador a los

efectos de cumplimentar los objetivos del apartado anterior

DECIMO: No se aprobarán solicitudes de viviendas en la zona; las que cesaren

como tales, pasarán al fondo de la oficina del Historiador, a los efectos de

Page 130: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

130

cumplimentar los objetivos del apartado octavo de esta resolución Conjunta.

(CUBA, 1996, s.p)

Esta normativa favorece à OHCH como proprietária das edificações

desocupadas e sem uso no Centro Histórico para “la reubicación y mejoras de las

condiciones habitacionales de la población residente en la Zona” (CUBA, 1996, s.p) e criar

a infraestrutura de serviços sociais que a população pode requerer ou “el desarrollo turístico

de la Zona” (CUBA, 1996, s.p), porém os artigos nono e décimo interrompem o

crescimento como zona residencial desta área impedindo o fluxo natural da cidade. Ambas

legislações esclarecem que a refuncionalização turística do Centro Histórico de Havana

Velha está amparada pelo Estado.

A aplicação destas leis gera contradições socioespaciais, pois se restaura o

Centro Histórico, mas para o uso turístico, pois mesmo quando se investe em projetos

sociais, desde a seleção dos imóveis para cada função -turística ou social- se evidencia que

se prioriza na seleção dos imóveis a atividade turística sobre os projetos sociais, como se

aprecia ni inciso e) do Acuerdo 2951. Se fomenta o uso dos imóveis patrimoniais

recuperados e do porto, porém a maioria dos seus serviços e atividades possuem preços

muito altos que os deixam inacessíveis à população. A partir da valorização turística do

Centro o governo se centra em diminuir a densidade populacional deste espaço, que se bem

é muito alta, não tinha sido uma prioridade até que se turistifica a zona e, ao mesmo tempo,

sobrecarga o território com turistas como se evidencia nas informações extraídas do

trabalho de campo e que serão abordadas nos próximos capítulos.

Carrión (2006) explica como acontecem as relações da OHCH com os governos

provincial e municipal. Na associação com o governo provincial, este traça o plano da

cidade em geral e determina estratégias gerais para o Centro Histórico, que são avaliadas e

levadas à prática pela OHCH. O vínculo da Oficina com o governo municipal se concebe a

partir do seu funcionamento como instituições complementares, pois a primeira se dedica a

reabilitar edificações com valor patrimonial e espaços públicos, sustentar uma amplia rede

de instituições culturais e a melhorar as condições de vida população; e a segunda a criar a

infraestrutura necessária para a população local e os serviços comunitários como: educação,

saúde, esporte e lazer no Centro Histórico (PLAN MAESTRO, 2016).

Para Rodríguez Alomá (2001), o aumento das faculdades legais da OHCH para

o planejamento urbano e a gestão de uma empresa turística própria foi propiciado para que

esta instituição garantisse o trabalho de resgate patrimonial autofinanciado e colaborasse

com os recursos financeiros obtidos do setor turístico nos programas sociais e culturais do

Page 131: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

131

Centro Histórico. Então, se poderia pensar que no apoio do governo à refuncionalização

turística da área existe um interesse social que se pode constatar na execução de projetos

sociais na área como: reconstrução de lares maternos (moradias que acolhem a mulheres

grávidas que vivem em situações de risco), lares de idosos (moradias para pessoas da

terceira idade que não tem parentes que possam velar por eles), escolas, bibliotecas e

moradias (RODRÍGUEZ ALOMÁ, 2001). Porém, isto não justifica que se permita que o

setor turístico se apodere da zona, que se transformem as sociabilidades tradicionais da área

e a vida dos moradores uma vez relocados fora do município, como se propõe nas

legislações analisadas.

Como se explicou no capítulo anterior, em agosto de 2016 a empresa

Habaguanex S.A., gerida desde a sua criação pela OHCH e que tinha como objetivo coletar

fundos que permitissem continuar com o trabalho de recuperação do Centro Histórico e a

revitalização cultural e social desta área, passa a formar parte do Grupo de Administración

Empresarial (GAE), pertencente às Fuerzas Armadas Revolucionarias (FAR). Esta

decisão, ao nível de governo, demonstra que o Estado Nacional é principal decisor e

responsável de tudo o que acontece no Centro Histórico de Havana Velha.

No processo de recuperação do patrimônio cultural no Centro Histórico, o

Estado cubano tomou boas decisões como: a concentração das competências em relação ao

patrimônio numa única instituição e o resgate dos bens históricos e culturais de maneira

autofinanciada a partir do desenvolvimento turístico. Porém, a valorização turística deste

espaço tem transformado seus usos, o Estado negou o crescimento da função habitacional e

alguns arrendatários foram removidos fora do município, mudando a paisagem urbana e as

dinâmicas socioespaciais tradicionais da área. A relação que se devia estabelecer com o

turismo para o desenvolvimento comunitário, terminou virando a criação de espaços

exclusivos para o uso turístico e a perda da centralidade de uma parte da população

tradicional do Centro Histórico. Desta forma, mesmo num sistema econômico e político

socialista se reforçam contradições como a segregação espacial em função do poder

econômico, pois a partir da valorização turística da zona se modificam os usuários

tradicionais do espaço dos moradores mais pobres pelos consumidores turistas, além de que

exista uma preocupação estatal com a parte da população que fica para morar na zona.

Page 132: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

132

SEGUNDA PARTE: A VISÃO DOS DIFERENTES ATORES ENVOLVIDOS NO

PROCESSO DE VALORIZAÇÃO TURÍSTICA DO PATRIMÔNIO CULTURAL

NO CENTRO HISTÓRICO DE HAVANA VELHA

Page 133: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

133

4. REFUNCIONALIZAÇÃO E RESSIGNIFICAÇÃO DO PATRIMÔNIO

CULTURAL NO CENTRO HISTÓRICO DE HAVANA VELHA: A VISÃO DOS

DIFERENTES ATORES ENVOLVIDOS

4.1 RESSIGNIFICAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL PARA A POPULAÇÃO

LOCAL DO CENTRO HISTÓRICO DE HAVANA VELHA

O Centro Histórico da Havana ocupa 2,14 km² do município Havana Velha,

aproximadamente 50% do seu território (RODRÍGUEZ ALOMÁ, 2012). Desta superfície

1,73 km² se correspondem aos quarteirões e 0,4 km² à rede vial que tem uma longitude de

44,02 km. 60% da área do Centro Histórico se encontra edificada e possui 3 500 imóveis,

dos quais 81% está reservado à função habitacional (SANTANA HERNÁNDEZ, 2018).

Neste espaço moram 55 484 pessoas (SANTANA HERNÁNDEZ, 2018) para uma

densidade populacional de 25 927 habitantes por quilômetro quadrado. A alta densidade

nesta zona se explica pela existência de aproximadamente 850 cortiços, nos quais se

localizam mais da metade das moradias. Contudo, mesmo que este indicador seja muito

alto, as cifras se reduziram nos últimos anos se se analisam os dados do quadro 12 que

mostra alguns dados demográficos do Centro 1990 até 2012. Os dados de 1995, 2001 e

2012 pertencem aos informados nos Censos de Población y Vivienda nas respectivas datas.

Quadro 12: População e moradia no Centro Histórico de Havana Velha (1990-2012)

Ano/ Indicador População Densidade

populacional

(hab/km²)

Moradias

Antes de 1990 ≈ 71 250 ≈ 33 294 -

1995 70 658 33 017 22 516

2001 66 742 31 187 22 623

2012 55 484 25 927 21 241

FONTE: Elaborado pela autora (2019) a partir de informações extraídas de Segre (1997), Rodríguez Alomá

(2001, 2012) e Plan Maestro (2016)

A população do Centro Histórico de Havana Velha se caracteriza, faz várias

décadas, por ter uma maior presença feminina, representando 52,8% da população total e

sendo, na maioria dos casos, as cabeças de família. Em relação à cor da pele, a população

branca representa 48,8%, a mestiza 32% e a negra 19,2%. A estrutura etária segue as

Page 134: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

134

características de todo o país, onde a maior parte da população está no grupo entre 15 e 59

anos (54,3%), e a população idosa (20,9%) supera à infantojuvenil (14,8%) (PLAN

MAESTRO, 2016).

Segundo o Plan Maestro (2016) o nível educacional da população da área é

alto, pois a média de estudo é de 10,8 anos. A população economicamente ativa é 60,2% do

total e trabalha nos setores de comércio (15,2%), administração pública (14,9%), defesa e

seguridade social (14,6%) e saúde pública (9,2%), fundamentalmente. O salário médio é de

553 CUP (22,12 CUC) e a maior parte da população trabalha vinculada ao setor estatal,

embora comecem a se vincular a outros setores: às corporações estrangeiras e associações

mistas, às cooperativas13

e aos negócios privados (Figura 62) (PLAN MAESTRO, 2016).

Figura 62: Ocupação na economia por forma de propriedade em 2012

FONTE: Elaborado pela autora (2019) a partir de informações extraídas de Plan Maestro (2016)

A alta ocupação populacional da zona está favorecida pelo elevado número de

imóveis multifamiliares e coletivos, principalmente os cortiços (PALET, SARDIÑAS e

GARCÍA, 2007). Existem, no Centro Histórico, 21 241 moradias e delas só 26% está em

13

As cooperativas agropecuárias surgem em Cuba em 1993, a partir da associação do Estado e pessoas

naturais. Ambos integrantes aportam bens, terras, trabalho ou meios de produção, dentre outros, para

aumentar a produção e assumem os gastos com seus lucros. Em 2011, surgem as cooperativas não

agropecuárias que têm as mesmas características, porém, se criam orientadas aos serviços e outros setores

produtivos (Caballero, 2018). Na fonte dos dados utilizados para a elaboração da figura não se faz distinção

entre o tipo de cooperativa.

Page 135: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

135

bom estado construtivo. Os principais problemas das moradias são as infiltrações nos tetos

e paredes, os defeitos estruturais, que provocam riscos de desabamento (Figura 63), e a

deterioração das redes hidrossanitárias (PLAN MAESTRO, 2016).

Figura 63: Moradias em perigo de desabamento

FONTE: Da autora (2018)

No referente à situação legal das moradias, mais de 75% são privadas, mas

existe aproximadamente 12% de moradias em usufruto gratuito -principalmente nos

cortiços- número que tem diminuído desde 2001, quando representavam 40%. O aumento

do número de moradias privadas -menos de 50% em 2001- está associado a trabalhos de

reabilitação que transformaram alguns cortiços em prédios de apartamentos. Estas ações

foram realizadas pelo Estado. Depois destes trabalhos de recuperação, os novos

apartamentos foram entregues em propriedade aos moradores que ficaram, pois, como a

recuperação também procurava diminuir a densidade destes prédios sobreutilizados, nem

todas as famílias permaneceram depois (PLAN MAESTRO, 2016).

Para determinar quais moradores ficam e quais saem, segundo Rodríguez

Alomá (2009, p. 286):

Se considera la extensión del núcleo familiar (en muchas casos conviven más de

un núcleo por vivienda), la edad de los componentes (se favorecen para quedar en

el lugar a los adultos mayores), el sentimiento de arraigo, la condición legal (hay

casos de ocupantes ilegales), la discapacidad de algún miembro de la familia,

entre otros aspectos.

No período 1994-2008, segundo Rodríguez Alomá (2009), se investiram mais

de 7,5 milhões de dólares em projetos relacionados com a moradia, provenientes da

cooperação internacional, e uma parte dos 131,6 milhões de dólares destinados no Plan de

Page 136: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

136

Inversiones para programas sociais. Com estes investimentos se conseguiram recuperar

1182 moradias no Centro Histórico, o que representa 5,6% das existentes em 2012.

Para a realização desta pesquisa se tiveram em conta estas características da

área do Centro Histórico de Havana Velha e da sua população. Então, por tratar-se de uma

área muito extensa para a realização das entrevistas e a observação guiada como parte do

trabalho de campo, foi preciso determinar uma zona menor para trabalhar.

Para isto se utilizou a divisão realizada pelo Plan Maestro que segmentou o

Centro Histórico em oito setores funcionais, atendendo a critérios referentes às

características tipológicas e funções tradicionais (SALINAS e ECHARRI, 2005). Se

delimitaram os seguintes oito setores funcionais:

T1: Catedral-Plaza Vieja: potencialidad para actividades turísticas y terciarias

T2: Corredor Obispo-O'Reilly: potencialidad para actividades terciarias

T3: Paseo del Prado: potencialidad para actividades turísticas y terciarias

T4:Calle Muralla: potencialidad para actividades terciarias

R1: “El Angel”: residencial

R2: “Belén-San Isidro”: Residencial

MR: “Cristo-San Felipe”: Mixto – Residencial

M: “Litoral Sur: Muelle de Luz-EstaciónCentral”: Uso mixto. (SALINAS e

ECHARRI, 2005, p.177)

Desta forma, as atividades turísticas se concentram nos primeiros quatro setores

que contém as principais praças, parques, ofertas recreativas, as principais vias conectoras e

comerciais, edificações monumentais e de alto valor histórico-cultural, a rede hoteleira, o

patrimônio industrial e que ainda conserva a função habitacional. Por esta razão a pesquisa

foi realizada no perímetro correspondente aos quatro primeiros setores funcionais (Figura

64).

Page 137: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

137

Figura 64: Mapa dos oito setores funcionais do Centro Histórico de Havana Velha.

FONTE: Elaborado pela autora (2018) a partir de informações extraídas de SALINAS e ECHARRI (2005)

Além de delimitar a zona de trabalho, para a realização das entrevistas se teve

presente que se tratava de uma população heterogénea e, mesmo quando a amostra era

aleatória, se procurou ter representatividade dos diferentes grupos etários, de gênero, raça e

nível educacional. Porém, não só se trabalhou com a população residente, pois no Centro

Histórico existe uma população flutuante que trabalha neste espaço, seja no setor estatal ou

privado. Também se entrevistaram os atores dos centros de gestão do patrimônio e do

turismo para conhecer as suas opiniões e dar voz a todas as partes envolvidas no processo

de valorização turística do patrimônio cultural no Centro. Neste capítulo se abordarão e

tratarão os processos de refuncionalização e ressignificação do patrimônio cultural do

Centro Histórico de Havana Velha desde a percepção dos diferentes atores envolvidos.

Segundo Cordero e Meneses (2019, p. 20) a ressignificação: “(...) suele

utilizarse para nombrar al hecho de darle una nueva significación a un acontecimiento o a

una conducta. Esto quiere decir que la resignificación supone otorgar un valor o un sentido

diferente a algo (...)”.

Page 138: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

138

Fernández et al. (2016, p. 21) definem a ressignificação do território e do

patrimônio como: “(...) la intencionalidad de un grupo social de dotarlos de nuevas

acepciones, producto del devenir histórico o de la propia lectura que la sociedad hace de un

determinado espacio (...)”

A cidade, os seus bens edificados, patrimoniais ou não, e as suas tradições,

possuem significados em determinados períodos de tempo, para grupos ou indivíduos, mas

estas interpretações são susceptíveis à ressignificação.

A recuperação dos Centros Históricos está associada a processos de

refuncionalização, tanto dos prédios como dos espaços históricos das cidades que levam à

ressignificação destes bens e do espaço para os cidadãos. Para Leão (2009, p. 9):

Ao reajustar o passado às novas percepções da realidade urbana permite-se,

através dos processos de revitalização e preservação patrimonial, a probabilidade

de estabelecer novos elos temporais constituídos de inúmeras significações, pois

tais sentimentos afloram do imaginário daqueles que convivem e possuem algum

tipo de ligação para com o patrimônio em questão e reconhecem nele seu próprio

passado (...) compreende-se que a cidade torna-se mutável de acordo com os

acontecimentos que nela ocorrem e que, por sua vez, são refletidos na variação de

seus significados. Ou seja, a cidade reinventa-se e reconstrói-se ao longo do

tempo e traduz, por excelência, as memórias individuais e coletivas.

A partir do processo de reconstrução dos prédios históricos, da

refuncionalização, da abertura para o turismo e da valorização turística do Centro Histórico

de Havana Velha, o que é entendido como patrimônio cultural para os moradores

tradicionais, para os trabalhadores estatais e privados que convivem neste espaço e para os

atores dos organismos de patrimônio e turismo? E, qual o valor que estes grupos outorgam

a esse patrimônio?

Para conhecer a percepção do que é o patrimônio cultural para os diferentes

atores que convivem no Centro Histórico de Havana Velha foram realizadas entrevistas

semiestruturadas nas regiões dos quatro setores funcionais vinculados à atividade turística e

terciária a: moradores locais, trabalhadores estatais e privados, e a atores dos centros de

gestão de patrimônio e turismo.

Como explicado na metodologia, a análise dos dados foi realizada com a

utilização do programa computacional ATLAS.ti., mediante a determinação de códigos ou

categorias. Neste caso, os códigos estão associados a palavras chaves das diferentes

definições, do patrimônio, trabalhadas na pesquisa (CONVENÇÃO PARA A

PROTECÇÃO DO PATRIMÓNIO MUNDIAL, CULTURAL E NATURAL, 1972;

CONVENÇÃO PARA A SALVAGUARDA DO PATRIMÔNIO IMATERIAL, 2003;

Page 139: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

139

BARRETO, 2010) e termos que apareceram na fala dos entrevistados, no caso dos dois

últimos códigos do Quadro 13.

Quadro 13: Frequência de aparição dos códigos associados à definição de patrimônio

cultural na fala dos atores entrevistados

Atores/

Códigos

Moradores

Locais

T. Estatais T. Privados Atores do

Patrimônio

Atores do

Turismo

Total

Monumentos - 2 1 4 3 10

Conjuntos

arquitetónicos

2 - - 3 - 5

Locais de

interesse

1 1 1 1 - 4

Bens

imateriais

2 1 2 5 3 13

Identidade 1 1 2 2 2 8

Beleza 1 - - - 1 2

Conservação - - 1 - - 1

FONTE: Da autora (2019)

O Quadro 13 mostra o número de aparições de cada código na fala dos atores

entrevistados. A tabela permite interpretar que a compreensão do patrimônio para estes

grupos está principalmente associada aos bens imateriais, mesmo quando o grupo no qual

todos os atores assinalaram os bens imateriais na sua definição de patrimônio seja aquele

dos trabalhadores das instituições relacionadas à OHCH e os órgãos reguladores da

atividade de patrimônio no Centro Histórico -pessoas com conhecimentos específicos sobre

o tema- , nos outros grupos, pelo menos um ator fez menção a esta categoria na sua

interpretação. O significado do patrimônio para os entrevistados também está muito

associado aos monumentos e, em terceiro lugar, à identidade. Alguns atores fazem uma

leitura deste espaço e do seu patrimônio cultural desde o pertencimento e a identificação

com eles, como o revelam alguns fragmentos das entrevistas: “(...) todas [as expressões

materiais ou imateriais do patrimônio] tienen mucha importancia capital en lo hoy que

somos nosotros como seres (...)” (MORADOR LOCAL, 2018) ou “(...) Para mí, primero

que todo, el patrimonio es un recordatorio de lo que somos (...)” (TRABALHADOR

Page 140: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

140

PRIVADO, 2018). Nas entrevistas, o patrimônio cultural também é associado à beleza o

que demonstra uma preocupação pela aparência e a estéticas das formas como apontava

Luchiari (2005).

No quadro 14 se pode apreciar que os lugares mais mencionados como

exemplos de patrimônio foram as casas e prédios antigos, os museus, as praças e a Havana

Velha como um todo. Os exemplos específicos mais repetidos foram a Plaza Vieja, o

Capitolio e El Templete.

Os exemplos de patrimônio citados demonstram que aqueles patrimônios

reconhecidos pela população local, os trabalhadores da zona e os grupos que direcionam as

atividades de turismo e patrimônio no Centro Histórico de Havana Velha não coincide,

necessariamente, com aqueles declarados Monumento Nacional e reconhecidos pelo seu

valor histórico e cultural. Mesmo se são reconhecidos a Havana Velha como um todo, da

qual o Centro Histórico é Patrimônio Cultural da Humanidade, a Casa Natal de José Martí

e o Capitolio, que são Monumentos Nacionais desde 1978 e 2010, respetivamente

(CONSEJO NACIONAL DE PATRIMONIO CULTURAL, 2010), a rumba, Patrimonio

Cultural Inmaterial de la Humanidad desde 2016, e o Cañonazo, Patrimonio Cultural de la

Nación Cubana desde 2014 (CONSEJO NACIONAL DE PATRIMONIO CULTURAL,

2019), foram nomeados outros doze patrimônios específicos não oficiais, mas que a

população aceita como tais. O sistema de fortificações, declarado pela UNESCO

Patrimônio Cultural da Humanidade, só foi mencionado uma vez, e Monumentos Nacionais

como: Museo Histórico de las Ciencias "Carlos J. Finlay", o Hotel Inglaterra e as

Estaciones de Ferrocarriles não foram apontados, outro fato que prova este distanciamento

entre o que é entendido como patrimônio pela população e o que os organismos e

instituições entendem.

Com a intenção de agrupar em categorias estes patrimônios listados, se

estabeleceram seis classificações atendendo às características e à tipologia dos exemplos

mencionados: Lugar de importância local, Obras, Sistema defensivo, Religiosidade, Bens

imateriais e Natureza. Desta forma, se pode compreender que para estes grupos a ideia de

patrimônio cultural está mais vinculada aos lugares de importância local e aos bens

imateriais.

Page 141: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

141

Quadro 14: Patrimônios culturais reconhecidos pelos atores entrevistados

Exemplos de

patrimônio

cultural

Classificação Reconhecimento

oficial Atores Total

ML TE TP AP AT

Plaza Vieja Lugar de

importância

local

Não 3 1 4

Plaza de la

Catedral

Lugar de

importância

local

Não 1 1

Plaza de Armas Lugar de

importância

local

Não 1 1 2

Plaza de San

Francisco

(Mencionada

como Plaza de

las Palomas)

Lugar de

importância

local

Não 1 1

Praças Lugar de

importância

local

- 1 2 3 6

Palacio de los

Capitanes

Lugar de

importância

local

Não 2 1 3

Casa de José

Martí

Lugar de

importância

local

Monumento

Nacional

1 1

Capitolio Lugar de

importância

local

Monumento

Nacional

2 1 1 4

Casas de figuras

históricas

Lugar de

importância

local

- 1 1

Page 142: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

142

Museus Lugar de

importância

local

- 1 2 1 2 6

Casas e prédios

antigos

Lugar de

importância

local

- 2 2 3 1 8

Teatros Lugar de

importância

local

- 1 1

Puerto Lugar de

importância

local

Não 1 1

Restaurantes,

Bares e hostels

Lugar de

importância

local

- 1 1

Galerias Lugar de

importância

local

- 1 1

Havana Velha

como um todo

Lugar de

importância

local

Patrimônio

Cultural da

Humanidade (O

Centro

Histórico de

Havana Velha)

1 1 3 5

Lugar de

importância

local

46

Esculturas Obras - 1 1

Tarjas Obras - 1 1

Obras que se

conservam em

museus

Obras - 1 1

Page 143: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

143

Obras 3

Sistema de

fortificações

Sistema

defensivo

Patrimônio

Cultural da

Humanidade

1 1

Sistema

defensivo

1

Catedral Religiosidade Não 1 1

Iglesia de la

Loma del Ángel

Religiosidade Não 1 1

El Templete Religiosidade Não 1 1 1 1 4

Convento de

San Francisco

de Asís

Religiosidade Não 1 1

Igrejas Religiosidade - 1 1

Religiosidade 10

Congas,

comparsas e

rumbas

Bens imateriais Rumba:

Patrimonio

Cultural

Inmaterial de la

Humanidad

1 1 2

Vendedores e

comércio

Bens imateriais - 1 1

Comida Bens imateriais - 1 1

Música Bens imateriais - 1 1 2

Zanqueros Bens imateriais - 1 1 2

El Cañonazo Bens imateriais Patrimonio

Cultural de la

1 1

Page 144: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

144

Nación Cubana

As pessoas Bens imateriais - 1 1

Festa pelo

aniversário da

cidade

Bens imateriais Não 1 1

Atividades

culturais em

datas

específicas

Bens imateriais - 1 1

Bens imateriais 12

Ceiba del

Templete

Natureza Não 1 1

Natureza 1

FONTE: Da autora (2019)

Se o patrimônio pertence ao povo e é a sua herança (TOLEDO, 2010;

DELGADILLO, 2016), por que existe tanto distanciamento entre o que estes grupos

representativos da população identificam como patrimônio e, os patrimônios e monumentos

reconhecidos oficialmente? Entra em vigor a questão sobre quais são os interesses na hora

de definir quais elementos devem ser preservados como patrimônio, abordada no capítulo

1. Neste caso, a maioria dos patrimônios assinalados pertenceram (...) aos grupos sociais

hegemônicos (...)” (PAES, 2005, p. 96), são legados materiais e imateriais das classes altas

das etapas colonial e neocolonial, que foram os preservados historicamente. A distinção de

um grupo de bens sobre o outro também não foi pensada em função do que pode ser

atrativo para o mercado turístico, pois todos estes exemplos citados estão incorporados nas

rotas turísticas. Existe um distanciamento entre a oficialidade e o verdadeiro sentido de

identidade que a população deve ter com o seu patrimônio cultural.

Para Cordero e Meneses (2019, p. 20), a ressignificação do patrimônio está

associada com: “(...) otorgar un valor o un sentido diferente a algo (...)”, assim para saber

qual é valor dado pelos grupos que fazem parte da pesquisa ao patrimônio cultural do

Centro Histórico de Havana Velha, eles foram questionados sobre a importância que lhe

outorgam. Para analisar os dados qualitativos obtidos nas entrevistas também foi utilizado o

Page 145: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

145

programa computacional ATLAS.ti. Neste caso foram elaborados códigos diferentes, pois

as respostas estão associadas a outras categorias que foram determinadas a partir do estudo

das respostas dadas pelos entrevistados.

O Quadro 15 permite interpretar que o valor dado ao patrimônio cultural, pelos

grupos entrevistados, está principalmente associado à ideia de identidade. Da leitura atenta

das falas dos atores que expressaram a importância relacionada a esta categoria, se pode

compreender que veem no patrimônio um elemento formador da identidade do ser

individual, mas também no referente à identidade coletiva como havaneses e como nação.

A segunda categoria mais mencionada pelos entrevistados foi a memória histórica e a ideia

de que o patrimônio cultural preserva parte da história do país.

Quadro 15: Frequência de aparição dos códigos associados ao valor do patrimônio

cultural na fala dos atores entrevistados

Atores/

Códigos

Moradores

Locais

T. Estatais T. Privados Atores do

Patrimônio

Atores do

Turismo

Total

Identidade 1 1 3 3 3 11

Conhecimento - - - 1 - 1

Memória

histórica

2 1 1 - 3 7

Memória

cultural

1 - - - 1 2

Herança - 1 - 1 - 2

Importância

popular

- 1 - - - 1

Conservação 1 - 1 - - 2

Atrativo

turístico

1 - - - - 1

Evocação ao

passado

1 - - - - 1

FONTE: Da autora (2019)

O patrimônio cultural do Centro Histórico de Havana Velha, a partir da década

de 1990, é valorizado pelo setor turístico. As políticas governamentais, os investimentos da

OHCH, do MINTUR e de outros organismos para restaurar e adequar o patrimônio cultural

Page 146: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

146

arquitetônico para transformá-lo em hotéis, restaurantes e lojas orientadas ao turismo

internacional, assim como o aumento de turistas e visitantes neste espaço, o convertem

numa zona turística. A apropriação do patrimônio cultural por este setor faz com que

mudem as relações que a população estabelece com o ele e, mesmo nos casos dos prédios

com valores históricos e culturais que não são exclusivos para o uso turístico, e nos quais

existe uma reapropriação por parte dos moradores e atores da área, eles têm um novo valor

para estes grupos que atuam na zona, o que implica a sua ressignificação.

O valor do patrimônio cultural para os atores entrevistados está associado

principalmente ao seu valor simbólico como sinônimo de identidade e memória histórica. O

sentido de pertença, o interesse por conhecer sobre um passado que também sentem seu e

preservar essa herança estão presentes no discurso dos entrevistados. Porém, na fala de um

dos moradores a importância desses patrimônios está associada ao seu valor de uso como

recurso turístico.

Assim a ressignificação do patrimônio cultural do Centro Histórico de Havana

se pode entender associada à apropriação pelo turismo dos espaços de consumo (hotéis,

restaurantes, lojas) e dos atrativos turísticos realçados pelas agências de viagens; e a uma

reapropriação por parte da população local e dos atores que nela trabalham daqueles

espaços que não são exclusivos para o uso turístico e que possuem valores patrimoniais e

que também foram restaurados. Mas também vinculada aos novos valores simbólicos de

identidade e de uso como recurso turístico.

4.2 O PROCESSO ATUAL DE PRESERVAÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL NO

CENTRO HISTÓRICO DE HAVANA VELHA

A preservação histórica-cultural no Centro Histórico de Havana Velha é um

processo contínuo e de um desenvolvimento paulatino, desde a década de 1990, liderado

pela OHCH até a atualidade. Este processo está orientado em dois sentidos: na reabilitação

e refuncionalização dos bens materiais e na recuperação das tradições e fomento da

atividade cultural na zona.

As ações para a recuperação do patrimônio arquitetônico neste momento estão

encaminhadas a concluir a reabilitação dos prédios localizados nas cinco praças principais -

Plaza de Armas, Plaza Vieja, Plaza de San Francisco, Plaza de la Catedral e Plaza del

Santo Cristo del Buen Viaje- e nos seus arredores; restaurar a Plaza del Cristo e as

Page 147: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

147

plazuelas14

Supervielle, Albear, Las Teresas, Santa Catalina de Siena e Las Ursulinas;

completar os trabalhos de preservação dos prédios destas plazuelas mencionadas; continuar

a restauração das edificações significativas e de alto valor patrimonial nas ruas Tacón,

Oficios, Mercaderes, San Ignacio, Cuba, Teniente Rey, Amargura, Inquisidor, San Pedro,

Desamparados, Zulueta, Obispo e O’Reilly e na Avenida del Puerto e Prado; assim como

realizar ações de conservação nos parques Central, de la Fraternidad e del Agrimensor

(PLAN MAESTRO, 2016).

Na figura 65 se pode apreciar a reconstrução de um dos prédios das esquinas da

Plaza Vieja, o outrora Hotel Palacio Viena, construção sem uso desde os anos 1990, que

está sendo restaurado para acolher ao Hotel Palacio Cueto.

Figura 65: Reconstrução do futuro Hotel Palacio de Cueto, numa esquina da Plaza

Vieja

FONTE: Da autora (2018)

Segundo um dos especialistas da OHCH entrevistados, este processo de

recuperação se caracteriza pela inserção de: “(...) algunos códigos más contemporáneos,

pero siempre teniendo la síntesis de lo que existió (...)” (ATOR DE PATRIMÔNIO, 2018).

Os fundos para a realização destes trabalhos de recuperação provêm dos

recursos obtidos da atividade turística, da contribuição de empresas estatais e privadas, da

14

Praças pequenas

Page 148: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

148

atribuição de um orçamento estatal e da cooperação internacional. Além disso, com o

objetivo de diversificar os meios de captação de recursos financeiros para a recuperação, o

Plan Maestro, a Direção Económica da OHCH, a Banca Nacional e outros Organismos de

la Administración Central del Estado (OACE s), vinculados às estratégias econômicas

nacionais, se estabelecem como premissas: melhorar o sistema de tributos, cobrar pelo uso

do espaço público e multar a instalações e trabalhadores privados que usem o espaço

público de modo inapropriado. O dinheiro obtido com estas medidas, em fase de desenho,

será investido na reabilitação do Centro Histórico (PLAN MAESTRO, 2016).

No referente à recuperação das tradições e ao fomento da atividade cultural na

zona, atualmente, segundo o Plan Maestro (2016), se trabalha no resgate de celebrações e

tradições locais, como é o caso da retreta15

de la Banda de Concierto na Plaza de Armas, os

concertos de música lírica e coros na Plaza de la Catedral e as feiras de arte popular e

artesanatos da Plaza del Cristo. Mesmo quando a OHCH já conseguiu recuperar, ou recriar,

costumes como as congas dos domingos, presentes nas praças e ruas, para esta instituição é

primordial o resgate das tradições culturais, assim como impulsionar novas manifestações

artísticas (Rodríguez Alomá, 2009) para imprimir um caráter cultural ao Centro Histórico.

Os pantomimeiro, que se podem encontrar em diferentes espaços do Centro, são

personagens que evocam a antigos frequentadores deste espaço. Os que aparecem na figura

66 usam vestuários de épocas e chapéus e representam um bandido, na esquerda, e um

músico, na direita, figuras frequentes do entorno em períodos anteriores.

15

Concerto de banda musical em espaços públicos.

Page 149: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

149

Figura 66: Pantomimeiros na rua Obispo e na Plaza de San Francisco, de esquerda a

direita

FONTE: Da autora (2011, 2014)

As ações também estão encaminhadas a incrementar as exposições de artes

plásticas nos espaços públicos; colaborar no estabelecimento de galerias de reconhecidos

artistas plásticos cubanos para expo-venda; criar escolas de dança para aprender os bailes

tradicionais cubanos; diversificar a produção de artesanatos e aumentar o comércio de

instrumentos musicais cubanos (PLAN MAESTRO, 2016).

Quando se analisam as ações de preservação histórico-cultural no Centro

Histórico de Havana Velha, se pode perceber que se trata de um processo no qual a

população local não é omitida, pois, se potencializa a participação da comunidade no

referente a reconstrução de moradias e aos espaços públicos (PLAN MAESTRO, 2014) e,

segundo Segre (1997, p. 817), a mesma participa, porém, é cada vez menos “entusiasta”.

Além disso, a recuperação do patrimônio arquitetônico inclui a recuperação de espaços

públicos como praças e parques para o desfrute de todos e, no referente ao resgate das

tradições culturais, as mesmas são pensadas para serem reproduzidas ocupando as ruas e

espaços abertos. Segundo o Plan Maestro (2016, p. 120), um dos objetivos do Plan

Especial de Desarrollo Local é: “Conservar el carácter residencial del Centro Histórico,

Page 150: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

150

garantizar el derecho a una vivienda digna y aumentar la calidad de vida de la población

local (...)” e é projetada a melhora de toda a rede de serviços públicos e de infraestrutura

para a população: escolas, hospitais, aqueduto, eletricidade, sistema vial, dentre outros. Mas

é realmente o Centro Histórico uma zona da cidade pensada para a população local? Esta

questão será respondida no transcurso deste capítulo.

Como foi analisado no Capítulo 3, a recuperação dos prédios patrimoniais desta

área está ligada a um processo de refuncionalização dos mesmos para as atividades

turísticas, sejam hotéis, restaurantes ou centros vinculados à indústria cultural. O Centro

Histórico tem virado uma zona turística e, também, segundo o Plan Maestro (2016), se visa

consolidar a hotelaria na zona, eliminar os usos incompatíveis com o novo caráter da área,

sejam armazéns ou oficinas, recuperar os térreos para atividades comerciais, mesmo

quando eles estão ocupados atualmente por moradias, e eliminar os cortiços. Então, quais

classes sociais podem permanecer nesta zona se se eliminam os cortiços? A melhoria dos

serviços como aqueduto, eletricidade, sistema viário alcança só aos moradores ou também

garante uma melhoria para o sistema de empresas turísticas da zona?

A figura 67 mostra uma imagem interior de um cortiço no Centro Histórico de

Havana Velha, na mesma se pode ver o estado de deterioração deste tipo de prédio que

abriga 41,5% da população residente na zona (RODRÍGUEZ ALOMÁ, 2009). Com a

erradicação deste tipo de moradia, onde vivem os grupos sociais menos favorecidos

economicamente, sem dúvida se diminuirá a pobreza no Centro Histórico e os trabalhos de

recuperação dos serviços de fornecimento que acontecem na zona também beneficiam as

instalações turísticas do território.

Page 151: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

151

Figura 67: Interior de um cortiço no Centro Histórico de Havana Velha

FONTE: https://www.americatevepr.com/la-habana/los-solares-se-multiplican-la-habana-n889447

O Centro Histórico de Havana Velha é um espaço pensado para dois públicos:

turistas internacionais e população local. As praças, parques, museus são lugares comuns,

de encontro, porém, os espaços de consumo, devido aos altos preços de restaurantes, hotéis,

bares, são exclusivos para o turismo, produzindo uma segmentação espacial que, em muitos

casos, alcança os espaços públicos ocupados, como mostrado anteriormente, pelos

restaurantes turísticos.

Então, qual é a visão dos moradores da zona e dos outros grupos entrevistados

sobre recuperação e refuncionalização do patrimônio arquitetônico no Centro Histórico?

Dos 22 entrevistados, 90,9% (vinte entrevistados) percebe as ações de recuperação e os

novos usos como um processo positivo, e 9,1% (dois entrevistados) como um

acontecimento com pontos tanto positivos como negativos. Mas, como beneficiários destas

ações foram assinalados diversos grupos favorecidos como mostra o Quadro 16.

Quadro 16: Principais beneficiários das ações de recuperação e refuncionalização do

patrimônio arquitetônico no Centro Histórico de Havana Velha, segundo os grupos

entrevistados

Atores

entrevistados/

Respostas-

Beneficiários

Moradores

Locais

T. Estatais T.

Privados

Atores do

Patrimônio

Atores do

Turismo

Total

Crianças 1 1

Page 152: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

152

Adolescentes e

jovens

1 1

Idosos 1 1

Todos os cubanos 2 1 3

A humanidade 1 1

Os moradores do

Centro Histórico

2 2 2 3 9

Novos

empreendimentos

1 1

Os havaneses 1 1

Turismo

internacional

1 1 3 2 7

Turismo nacional 2 1 3

Economía

Nacional

1 1

Parte da população

cubana

1 1

Todos 1 1

Trabalhadores do

Centro Histórico

1 1

FONTE: Da autora (2019)

Os beneficiários citados no quadro 16 foram listados de maneira aleatória, na

medida em que foram aparecendo nas entrevistas realizadas. Mesmo com critérios muito

gerais, ou alguns que englobam outros, eles foram igualmente colocados na tabela para

plasmar as ideias dos entrevistados o mais fidedigno possível. Como mostra esta tabela,

para os grupos entrevistados os principais favorecidos com as ações de recuperação no

Centro Histórico são em ordem descendente: os moradores do Centro Histórico, o turismo

internacional, os cubanos em geral e o turismo nacional, estes dois últimos ao mesmo nível.

As razões dadas pelos atores questionados para qualificar as mudanças

acontecidas na zona como positivas estão relacionadas à:

● Criação de espaços para projetos sociais orientados às crianças, adolescentes e jovens

● Construção de centros para cuidar às pessoas idosas (Asilos de Ancianos)

● Recuperação de escolas

Page 153: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

153

● Reuso adaptativo de espaços e imóveis que estavam em avançado nível de deterioração

● Aumento dos espaços para a recriação da população local

● Embelezamento e limpeza desta parte da cidade

● Concessão do título de Cidade Maravilha16

● Criação das escolas-museus

● Reconstrução de prédios, com diferentes usos, em mau estado

● Recuperação da diversidade de usos que tinham os prédios antes do 1959, para manter a

cidade de maneira dinâmica e que funcione sem precisar se expandir

● Criação da infraestrutura turística

● Resgate histórico

● Geração de empregos

Para os dois entrevistados que explicaram que se tratava de processos com

aspectos positivos e negativos, as suas razões estão associadas, num primeiro caso, a

modificação da arquitetura original de alguns dos prédios restaurados e, no segundo, à

remoção de pessoas que não querem sair dos seus imóveis para recuperá-los. Segundo um

dos trabalhadores privados entrevistados:

Las mismas personas no tienen el poder adquisitivo para poder mantenerla y

entonces, el Estado, como tal, ha tratado de recuperar esas casas para no perder el

patrimonio y volverlas a su imagen antigua, para conservar lo que es su imagen

antigua (...) no lo veo bien, pero no lo veo mal, porque muchas personas llevan

muchos años en esas casas y no les gusta que los saquen de sus viviendas, pero

por otra parte les favorece porque al final les mejora la vida. (TRABALHADOR

PRIVADO, 2018)

Com a finalidade de conhecer a opinião dos moradores locais e os trabalhadores

estatais da zona referente à recuperação das tradições no Centro Histórico, estes grupos

foram interrogados sobre quais tradições culturais desapareceram com o aumento do fluxo

turístico neste espaço. Ambos grupos coincidiram em 100% (nove entrevistados) em que,

com a recuperação e o aumento de turistas nesta área não se perderam as tradições, e

insistiram em que o que aconteceu foi a recuperação de vários costumes esquecidos e o

fortalecimento de algumas tradições.

Para reforçar a sua opinião, seis destes atores mencionaram algumas que têm

sido resgatadas ou mantidas como: músicas, danças, artesanato, artes plásticas, costumes

religiosos, festas populares como os Carnavais, a presença de figuras típicas nas ruas como

16

Título outorgado a Havana no dia 7 de junho de 2016. A cidade foi elegida Maravilha do mundo moderno

através de uma votação popular a nível global na Terceira Competição Anual da fundação suíça

New7Wonders. Resultaram também vencedoras: La Paz (Bolivia), Doha (Qatar), Durban (Sudáfrica), Beirut

(Líbano), Vigan (Filipinas) e Kuala Lumpur (Malásia). (CUBA DEBATE, 2016)

Page 154: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

154

as havanesas, as representações da cultura afro-cubana e os pregões dos vendedores

ambulantes.

Além disso, quatro dos entrevistados manifestaram que, em parte, o resgate e a

conservação destas tradições está relacionado à atratividade turística das mesmas e ao

interesse por mostrá-las para o turismo. Nos seguintes depoimentos se pode apreciar a

preocupação de dois dos moradores entrevistados com a cenarização e espetacularização

das tradições e a cultura cubana para o turismo:

(...) hay muchos tríos, mucha música popular, a veces un poquito caricaturesca,

no? Menos original de lo que pudiera ser porque está más pensada en que al

turista le agrade que en su esencia, en ocasiones. Pero también hay quien la hace

bien (...) pero ahora hay más vida cultural, pero sobre todo es más para afuera,

más como visible, porque lo que se quiere es precisamente eso: mostrar, mostrar

la vida cultural. (MORADORA LOCAL, 2018)

Yo creo que las tradiciones culturales, más que perderse, se pueden, tal vez, estar

afianzando, porque no soy de la opinión de que el turista venga a Cuba a ver su

cultura o a que nosotros les presentemos aquí las cuestiones que no son

autóctonas de nosotros (...) La mayor cantidad de espectáculos que se presentan

en todos estos espacio tienen una fuerte raíz cubana, de cualquiera de las ramas

más importantes, pueden ser: la rama europea o la rama africana, o las cuestiones

campesinas del propio pueblo de Cuba, o las tradiciones que ya se formaron

dentro de la nación como: el son, el mambo, el chachachá, son cuestiones que se

ponen muy de manifiesto aquí. O sea que yo soy del criterio que todo esto ha

ayudado un poco a fortalecer la presencia de la cultura cubana. Lo que también

trae el gran desafío para todos los que tienen esta responsabilidad de mostrar la

mejor de las fases o la mejor de las representaciones de la cultura cubana en cada

una de estas manifestaciones, no banalizarla, no vulgarizarla, no comercializarla

para satisfacer determinadas exigencias o reclamos turísticos o de visitantes.

(MORADOR LOCAL, 2018)

Esta inquietude dos moradores locais no referente à banalização das tradições

culturais cubanas pelas montagens para o turismo está latente na fala dos atores de

patrimônio e turismo entrevistados. As instituições do patrimônio (OHCH, Plan Maestro) e

do turismo (MINTUR, Habaguanex, Gaviota) são as encarregadas de regular tudo o que

nestas matérias acontece no Centro Histórico. 77,78% dos participantes destes grupos (sete

entrevistados) responderam que consideram que o turismo pode levar a que as práticas

tradicionais se banalizem, enquanto 11,11% (um entrevistado) expressou que dependia de

alguns fatores e este mesmo número opinou que não necessariamente implicavam a sua

trivialização.

Os entrevistados assinalaram entre as medidas que se tomam para que isto não

aconteça as campanhas da OHCH nas quais se realçam os valores mais autóctones, nas

quais se escolhe o que quer que se conheça e se divulga, porém também explicavam que as

Page 155: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

155

instituições estatais não têm como regular o que projetam os trabalhadores privados, os

produtos que comercializam e as manifestações artísticas que recriam nos seus locais, para

que estas sejam o mais representativas possíveis e que não sejam um reflexo do que pode

ser comercializado para o turismo.

A figura 68 mostra a atual campanha da OHCH, lançada em junho de 2019,

para comemorar os 500 anos da cidade. A imagem agrupa monumentos e estátuas

havaneses de significativo valor histórico e cultural. Se misturam elementos reconhecidos e

atrativos para o turismo como o Faro del Castillo del Morro, a Estatua de la República

situada no interior do Capitolio ou os Leones del Prado, terceira, quarta e sexta imagem,

respectivamente, e outros menos difundidos para o turismo, porém significativos para a

população local como a Fuente de la India, a estátua de Cecilia Valdés fora da Iglesia del

Santo Ángel Custodio ou a estátua de Martí a cavalo, situada fora do Museo de la

Revolución, primeira, segunda e quinta imagens, respectivamente.

Figura 68: Imagem da campanha da OHCH pelo 500 aniversário da cidade

FONTE: http://www.eusebioleal.cu/noticia/habana-500-la-ciudad-de-todos/

Porém, 88,89% (8 atores) dos entrevistados considera que a atividade turística

contribui na preservação do patrimônio cultural através da geração de recursos financeiros

que são investidos na conservação, incentiva o resgate de tradições esquecidas (música,

gastronomia, dentre outras) e a valorização simbólica, pelos turistas, gera compreensão do

significado dessa herança criando consciência sobre a necessidade da sua preservação.

A recuperação do Centro Histórico de maneira geral é valorada como positiva

pelos grupos entrevistados sobre este tema. Ainda que exista segregação socioespacial neste

espaço pelo poder de consumo, com a reabilitação desta área melhoraram os serviços

básicos à população (aqueduto, sistema viário), as condições construtivas de muitas

Page 156: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

156

moradias e aumentou a oferta recreativa e cultural. Assim, mesmo existindo prejuízos para

a população local pela refuncionalização turística deste espaço, eles parecem perceber mais

os efeitos positivos sobre a sua vida diária do que os inconvenientes.

4.3 REFUNCIONALIZAÇÃO TURÍSTICA E RESIGNIFICAÇÃO DO PATRIMÔNIO

CULTURAL NO CENTRO HISTÓRICO: POSSIBILIDADES DE USO

Uma das premissas do processo de recuperação do Centro Histórico de Havana

Velha é o desenvolvimento cultural neste espaço (PEDI, 2016). Segundo Santana (2018,

s.p. ) se procura: “(...) Garantizar el derecho universal a la cultura. Promover el

conocimiento, la preservación, la rehabilitación y la puesta en valor del patrimonio cultural

tangible e intangible (...)”. Assim, além de criar e estimular uma oferta cultural para o

turismo neste espaço, é pensada e posta em marcha uma oferta de atividades culturais que

dinamizam a vida da zona e das quais podem desfrutar a população local e os visitantes.

Ao questionar aos moradores locais e aos trabalhadores estatais da zona sobre

se se produziu um aumento das ofertas culturais e recreativas nesta área nos últimos 30

anos 100% dos entrevistados (9 atores) coincidiu que sim, cresceu a programação cultural e

de lazer na zona neste período.

O quadro 17 mostra as atividades culturais das quais a população desfruta

frequentemente -segundo as respostas dos entrevistados- e quais atividades de lazer, cultura

e turismo se realizam para a população local neste espaço segundo as respostas dos atores

de patrimônio e turismo interrogados.

Quadro 17: Atividades recreativas, culturais e de turismo frequentadas/pensadas

para a população local e os turistas nacionais

Atividades recreativas, culturais e

de turismo

Atividades frequentadas

pelos moradores locais e

os trabalhadores estatais

da zona

Atividades pensadas

para a população local e

os turistas nacionais

segundo os atores de

patrimônio e turismo

Concertos 3 2

Teatro 1 2

Atividades nos museus 3 0

Apresentações no Gran Teatro de la

Habana Alicia Alonso

3 0

Page 157: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

157

Atividades da Biblioteca Rubén

Martínez Villena

1 0

Atividades no Museo de Ciencias

Naturales

1 0

La Cámara Oscura 1 0

Apresentações de livros nas praças 1 0

Espetáculos no Anfiteatro de la

Habana Vieja

2 0

Apresentações da Orquesta Sinfónica

Nacional

1 0

Atividades nas praças 1 0

Apresentações no Teatro Martí 2 0

Pequenas salas de teatro 1 0

Pequenas salas de concerto 1 0

Festival de Danza Callejera (nome

oficial: Festival Internacional de

Danza en Paisajes Urbanos Habana

Vieja: Ciudad en Movimiento)

1 2

Basílica Menor de San Francisco de

Asís (pequena sala de concertos)

1 0

Rutas y Andares17

0 7

Retretas 0 1

Exposições 0 2

Talleres de bordado 0 1

FONTE: Da autora (2019)

O quadro 17 mostra que as atividades mais frequentadas pelos moradores e os

trabalhadores estatais entrevistados são: os concertos, as atividades nos museus e as

apresentações no Gran Teatro de la Habana Alicia Alonso (Figura 69), e em segundo lugar

os espetáculos no Anfiteatro de la Habana Vieja e as apresentações no Teatro Martí. Tanto

17

Rutas y Andares é um programa histórico-cultural que inclui roteiros variados por praças, parques, museus

e prédios patrimoniais. Foi desenhado pela OHCH para os meses de verão que coincidem com as férias

escolares no país. Podem participar os cubanos e também os turistas internacionais de todas as idades. O

preço para os cubanos é preferencial (5 CUP equivalente a 0,20 CUC).

Page 158: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

158

o Anfiteatro, como os teatros Martí e Alicia Alonso foram restaurados dentro do processo

de recuperação do Centro Histórico, nos anos 1995, 2014 e 2016 respectivamente, e se trata

de imóveis com elevados valores culturais e históricos nos quais a população local pode

desfrutar das mais diversas manifestações artísticas e que são pensadas para diversos

públicos (crianças, jovens, idosos). Nas atividades assinaladas pela população como as

mais realizadas se pode perceber que se trata de ofertas culturais com preços acessíveis,

tendo em conta os preços dos estabelecimentos pesquisados no trabalho de campo, e que

muitas se realizam em espaços abertos.

Figura 69: Gran Teatro de la Habana Alicia Alonso

FONTE: Da autora (2018)

Além disso, o quadro 17 também permite perceber a opinião dos atores do

patrimônio e do turismo no referente a quais são as atividades recreativas, culturais e

turísticas que estas instituições desenham para a população local e os turistas nacionais,

sendo as mais mencionadas: os roteiros de Rutas y Andares, os concertos, teatros,

exposições e o Festival de Danza Callejera. Tanto os atores que frequentam como os que

desenham as atividades coincidiram em mencionar atividades culturais abertas ou com

preços acessíveis à população.

Cabe destacar que todas as ofertas culturais e artísticas mencionadas pelos

grupos em questão também são abertas para o desfrute dos turistas internacionais, só em

alguns casos aumentam os valores dos ingressos, e as mesmas são frequentadas por estes. A

figura 70 mostra uma apresentação do Festival de Danza Callejera -que acontece em

diferentes praças e espaços públicos de Havana Velha- e a mesma é desfrutada tanto pela

população local como pelos turistas. Esta manifestação artística representa uma dança afro-

Page 159: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

159

cubana, colocada em um espaço aberto para os moradores e, ao mesmo tempo, aumenta a

atratividade turística da zona a partir da cenarização do patrimônio cultural imaterial.

Figura 70: População local e turistas internacionais numa apresentação do Festival de

Danza Callejera

FONTE: http://www.cubahora.cu/cultura/vuelve-la-danza-a-los-espacios-de-la-habana-vieja

Por outro lado, um dos moradores locais entrevistados, o mais jovem, explicava

que existe uma oferta cultural em centros noturnos, atrativa para os jovens em geral, mas,

que pelos elevados preços fica inacessível aos moradores locais, e está mais orientada ao

turismo internacional. Então, o turismo pode desfrutar das atividades culturais criadas para

a população local -retretas, concertos em praças, exposições- porém, a população não pode

aceder à programação desenhada para o turismo: espetáculos, concertos em instalações

turísticas, pelos altos preços. A valorização de determinadas manifestações da cultura

cubana, como música e dança, as transforma em recursos turísticos, permitindo a criação de

ofertas artísticas elitizadas para o turismo e encarecidas para a população local. Se

evidencia uma segregação do espaço em função do poder econômico e a agudização das

contradições sociais.

Na análise do quadro 17, também chama a atenção que o roteiro de Rutas y

Andares que foi o mais mencionado pelos atores do turismo e patrimônio, e que é pensado

para a população local e os turistas nacionais, não foi mencionado nem uma vez pelos

moradores e os trabalhadores estatais da zona. Isto demonstra que existem atividades

criadas para a população, mas das que ela às vezes não participa, por exemplo, por

problemas de divulgação.

No referente a qual é a instituição encarregada da organização e realização

destas atividades, os entrevistados das empresas de turismo e patrimônio assinalaram à

Page 160: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

160

OHCH, unanimemente, como o organismo possibilitador das mesmas. As companhias e

centros culturais no Centro Histórico determinam os seus calendários de eventos, que são

recepcionados pela OHCH que os agrupa e determina o que pode acontecer e quando,

estabelecendo a programação cultural da zona como um todo, segundo a explicação de um

dos atores do patrimônio entrevistado. O Centro Histórico é um espaço que tem uma

relação de pertencimento com a OHCH, pois segundo estas respostas, o MINTUR não se

envolve na preparação das ofertas para os turistas nacionais, porém, ele cuida da oferta

cultural que se apresenta para o turismo internacional, mesmo neste espaço. Isto acontece

para que a OHCH cuide da “autenticidade” das manifestações artísticas que se projetam

neste espaço. Acaso não seria preciso que, na programação artística que se difunde para o

turismo internacional se velasse porque representa as tradições e a arte cubana o mais real

possível? Sem dúvida, seria necessário que acontecesse assim, mas na programação cultural

para o turismo, muitas vezes o importante é vender um espetáculo atrativo.

A divulgação da oferta cultural desta área de Havana Velha se realiza através

dos meios de difusão massiva: rádios, televisão e em menor medida na imprensa escrita.

Além disso, a programação também se difunde na revista da OHCH: Opus Habana,

publicação online; nos cartazes de anúncios culturais da agência de viagens San Cristóbal e

da Basílica Menor de San Francisco de Assís. A promoção destas atividades está a cargo da

Dirección de Información Cultural da OHCH, segundo as informações obtidas nas

entrevistas aos atores de turismo e patrimônio. Porém, a divulgação deveria ser um pouco

mais intensa e, talvez assim, mais pessoas conheceriam o roteiro Rutas y Andares ou outros

programas. Um dos atores do turismo explicava:

(...) creo que si llegaran con más fuerzas en los medios, pudieran tener muchos

más adeptos y eso es una de las vías, los medios de comunicación, sobretodo la

televisión, no le he visto mucho en la prensa (...) (ATOR DO TURISMO, 2018)

A refuncionalização turística do patrimônio cultural no Centro Histórico de

Havana Velha fez com que os turistas se apropriassem dos espaços de consumo (hotéis,

restaurantes, lojas, centros noturnos) e dos atrativos realçados pelas agências de viagens,

porém, existe uma reapropriação, fomentada pelo Estado, por parte da população local e

dos atores que nela trabalham, daqueles espaços que não são exclusivos para o uso turístico

e que possuem valores patrimoniais e que também foram recuperados, assim como uma

ampla participação destes nas atividades culturais com preços acessíveis que na zona se

realizam. O aumento da programação artística, unido a possibilidade de participar desta são

duas das razões pelas quais a população local e os trabalhadores da zona têm uma visão

Page 161: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

161

favorável sobre o processo de recuperação. Se trata de um Centro pensado para dois

públicos, com ofertas culturais para estes e as mesmas co-existem no espaço, mas o poder

econômico determina quem e onde se participa. Se trata de uma zona fragmentada na qual

se agudizam as contradições socioespaciais.

Page 162: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

162

TERCEIRA PARTE: AS NOVAS DINÂMICAS SOCIOESPACIAIS NO CENTRO

HISTÓRICO DE HAVANA VELHA

Page 163: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

163

5. INFLUÊNCIA DA ABERTURA PARA O TURISMO NA VIDA DOS

MORADORES TRADICIONAIS DO CENTRO HISTÓRICO DE HAVANA

VELHA. O TURISMO COMO ALTERNATIVA ECONÔMICA

5.1 OS EFEITOS DA ABERTURA PARA O TURISMO E DA REFUNCIONALIZAÇÃO

TURÍSTICA DO PATRIMÔNIO CULTURAL NA DINÂMICA SOCIOESPACIAL

ENTRE MORADORES TRADICIONAIS, TURISTAS E NOVOS

EMPREENDIMENTOS NO CENTRO HISTÓRICO DE HAVANA VELHA

No início da década de 1990, tal como explicado anteriormente, o governo

cubano traça como estratégia econômica desenvolver a indústria turística com o fim de

obter divisas frescas que permitiram estabilizar ou mesmo melhorar a situação financeira

que atravessava o país. As cifras de turistas internacionais que recebia Cuba em 1990 não

ultrapassavam os 345.000 turistas no ano, pois até esse momento as políticas se tinham

destinado a desenvolver apenas o turismo nacional. Com a reorientação do plano de

desenvolvimento do Estado, numa década, o país experimentou um crescimento de 345%

nas chegadas de turistas internacionais, devido à construção da infraestrutura de serviços

necessária (hotéis, restaurantes, modernização dos aeroportos), ao alto número de lugares

de interesse e atrativo turístico para visitar, à segurança e à realização de campanhas

publicitárias que destacavam estes valores. Para o ano 2010 o aumento experimentado foi

de 215.7%, cifra ainda alta, e 5 anos mais tarde, Cuba passava a receber mais de 3 milhões

de turistas, em certa medida pelo restabelecimento das relações diplomáticas entre os

governos de Cuba e Estados Unidos (Quadro 18).

Quadro 18: Quantidade de turistas que visitaram Cuba e Havana no período 1990-

2015

Variáveis 1990 2000 2010 2015

Turistas que

visitam

Cuba/miles

340 1173 2531 3540

Turistas que

visitam La

Habana/miles

240 703 1518 2124

% de

crescimento no

- 345 215.7 139.8

Page 164: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

164

arribo de

turistas por ano

FONTE: Elaborado pela autora (2015) a partir de informações extraídas de Martín Fernández (2008) e ONE

(2015, 2019)

Não existem cifras exatas de quantos turistas visitam Havana anualmente,

porém, segundo Prudente (2009), a cidade recebe 60% dos turistas que chegam a Cuba. Se

se assume que a visita ao Centro Histórico é um circuito obrigatório, uma vez na cidade,

desde 1990 a 2015 os turistas que visitavam esta zona da cidade aumentaram em quase dois

milhões (Quadro 18). Este crescimento está associado à declaratória da UNESCO -mas

como explicado anteriormente de 1982 a 1990 o país era principalmente um destino de sol

e praia- e, fundamentalmente, à decisão governamental de desenvolver o turismo cultural

neste espaço, com a criação da Companhia Turística Habaguanex, que forneceria a

infraestrutura necessária, e aumentando os trabalhos de resgate patrimonial e realizando

campanhas internacionais para fomentar esta modalidade turística.

A figura 71 mostra o aumento gradual das cifras de turistas internacionais que

recebeu Cuba nos últimos quatro anos. Além disso, indica um paulatino crescimento nas

chegadas à cidade de Havana e que as cifras de visitantes se aproximam, na atualidade, aos

três milhões de turistas anuais.

Figura 71: Chegadas anuais de turistas internacionais a Cuba e Havana no período

2015-2018

FONTE: Elaborado pela autora (2019) a partir de informações extraídas de ONE (2019)

Page 165: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

165

Então, como percebem os moradores e trabalhadores estatais do Centro

Histórico este aumento do número de turistas nesta zona? Quais aspectos positivos e

negativos trouxe este incremento de visitantes para a vida diária destes atores?

Quadro 19: Aspectos positivos e negativos do aumento do número de turistas no

Centro Histórico de Havana Velha para a população local

Aspectos positivos ML TE AT

Criação de uma oferta para o turismo da qual a população pode desfrutar X

recuperação de prédios, museus, teatros, ruas, parques, etc. X X X

Embelezamento da zona X X

Aumento da segurança X

Reabertura de centros X

Desenvolvimento econômico para o país X X X

Intercâmbio cultural X X X

Oportunidade para mostrar o país e os níveis de desenvolvimento (por exemplo

educacional)

X

Aumento dos serviços X

Abertura de negócios particulares X X

Melhoria das condições de vida das pessoas que trabalham vinculadas ao turismo X X

Aumento do nível de vida dos moradores X

Aspectos negativos ML TE AT

Aumento da prostituição e dos cafetões na zona X

Crescimento do número de negócios ilícitos X

Aparição de pessoas pedindo esmola X

Fluxo de turismo descontrolado X

Incremento das doenças X

Chegada de narcotraficantes estrangeiros passando como turistas X

Sobreexploração da zona X

Diminuição dos espaços para a população devido ao aumento das instalações

orientadas ao turismo

X

Remoção dos moradores para a refuncionalização de alguns prédios X

Encarecimento dos serviços da zona (táxis, restaurantes, bares) X

Barulho nas ruas X

Sobrecarga turística X

FONTE: Da autora (2019)

Page 166: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

166

O quadro 19 resume os aspectos positivos e negativos do aumento do número

de turistas no Centro Histórico, a partir de 1990, para a população local, assinalados por

três dos grupos entrevistados: moradores locais, trabalhadores estatais da zona e atores do

turismo. Os aspectos positivos nos que coincidiram os entrevistados dos três grupos foram:

a recuperação de prédios, museus, teatros, ruas, parques, etc., o desenvolvimento

econômico para o país e a possibilidade de intercâmbio cultural. Segundo Leal (2004), o

Plan Maestro (2006) e Rodríguez Alomá (2012) a exploração dos recursos turísticos da

zona se iniciou para conseguir, exatamente, recuperar os prédios de valor patrimonial da

zona e para o desenvolvimento econômico do país. Resulta interessante que os moradores

locais apontam que eles se beneficiaram da recuperação de museus, teatros, ruas, parques e

da reabertura de centros ações que, segundo Leal (2004), são principalmente, projetos

sociais e não econômicos. O aumento do nível de vida dos moradores, mesmo quando não

estão vinculados diretamente ao turismo, está dado, pois, como explicado anteriormente,

35% dos ganhos da empresa turística Habaguanex se investem no desenvolvimento de

programas sociais (LEAL, 2004), assim, muitos prédios destinados à moradia, escolas e

espaços públicos foram restaurados. No trabalho de campo os atores de patrimônio foram

entrevistados sobre como acontece este retorno, mas não tinham conhecimento sobre o

tema.

No referente aos pontos negativos citados destaca que não existem

coincidências entre os aspectos mencionados por cada grupo. Isto pode acontecer porque

cada segmento tem uma visão própria baseada nas suas experiências.

Um dos critérios negativos assinalado pelos atores do turismo foi a remoção

dos moradores para a refuncionalização de alguns prédios. Porém, esta questão não foi

mencionada pela população local. Para conhecer a opinião tanto dos moradores como dos

trabalhadores estatais da zona eles foram interrogados sobre este tema. De um total de 9

entrevistados 66.6% (6 entrevistados) estima que as mudanças acontecidas no Centro

Histórico, a partir de 1990, beneficiam a permanência dos moradores da área, 22.2% (2

entrevistados) valora que em alguns casos sim e em outros não, e 11.1% (1 entrevistado)

opina que não os favorece. As razões dadas para explicar que estas mudanças beneficiam à

população são: recuperação de prédios de moradia e escolas, aumento dos serviços como

supermercados, as possibilidades de estabelecer um negócio particular e o incremento dos

ganhos pessoais, e a existência de pessoas que não desejam se trasladar para outras zonas

porque se sentem bem morando no Centro Histórico. Os pontos pelos quais alguns

entrevistados percebem as mudanças como negativas são: a construção de hotéis em

Page 167: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

167

prédios que estavam destinados à moradia, a remoção permanente ou temporal de algumas

pessoas das suas casas, as fortes regulações urbanísticas no referente às modificações das

fachadas, ao barulho e à higiene. Um dos entrevistados apontava:

No, pienso que no porque han hechos muchos hoteles. Mira, ahí mismo, donde

está el Hotel Parque Central, eso ahí era un edificio de viviendas, muy malo,

estaba muy malo, se estaba cayendo, pero estoy segura que los pobladores de ahí

hubieran querido que lo hubieran arreglado (...) y haber seguido viviendo ahí.

¿Qué hicieron? Lo arreglaron e hicieron un hotel cinco estrella. ¿Y los que vivían

ahí? Porque también yo tengo una compañera que vivía ahí y ahora vive en

Alamar. (TRABALHADOR ESTATAL, 2018)

Este depoimento demonstra que têm existido casos de remoção da população,

mesmo quando a maioria dos atores entrevistados concorda em que, de um jeito geral, as

mudanças foram para melhorar as suas condições de vida. Segundo o Plan Maestro e

Oficina del Historiador de la Ciudad de La Habana (2014, p.19): “(…) el Centro Histórico

(...) muestra entre sus políticas conservar el carácter residencial garantizando la

permanencia de la población residente según los parámetros de habitabilidad, densidad y

calidad de vida que resulten más apropiados(...)”. Então, para garantir uma densidade

adequada, prioridade do governo desde a turistificação da zona, muitas pessoas têm sido

removidas para outras zonas da cidade. Em 1995 a densidade populacional do Centro

Histórico era de aproximadamente 33 017 habitantes por quilômetro quadrado

(RODRÍGUEZ ALOMÁ, 2001) e, em 2018, tinha descido a 25 927 habitantes por

quilômetro quadrado (SANTANA HERNÁNDEZ, 2018). Segundo Palet, Sardiñas e García

(2007), a maior densidade populacional da província Havana está no município Centro

Havana e, na capital, existem outras zonas com esta mesma situação e que são fronteiriças

com Havana Velha, como os municípios Diez de Octubre e Cerro, porém as estratégias para

diminuir a densidade populacional se centram no Centro Histórico, por ser esta uma zona

de interesse para o capital turístico.

Outro dos pontos negativos citado pelos atores do turismo foi a sobrecarga

turística. Por esta razão, tanto os atores do turismo como os de patrimônio, foram

questionados sobre a aplicação de medidas para evitar a sobrecarga turística. Dos 9

entrevistados um tércio opina que sim se aplicam, outro que não e um último terço que não

sabe. Os que consideram que sim, se aplicam, assinalam como exemplos: a proibição de

entrada de grandes cruzeiros (só podem entrar de pequena ou mediana escala) à Havana

Velha, pelo tamanho da zona, a falta de infraestrutura e serviços para atender a um alto

número de visitantes; e a definição e coordenação de horários de visita a diferentes lugares

entre as agências de viagem. Porém, é difícil controlar a sobrecarga turística quando todo o

Page 168: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

168

turismo que se realiza não acontece através das agências, então se dificulta controlar, para

as instituições turísticas, os fluxos de visitantes. Seria mais viável que cada museu ou feira

estabelecesse as suas regulações. Mas, existe o fator econômico e de consumo, por

exemplo, nas férias, que em quanto mais pessoas recebem aumentam as possibilidades de

vendas e por tanto os ganhos.

É uma realidade que às vezes o Centro Histórico de Havana se encontra

sobrecarregado. Um dos entrevistados explicava:

(…) Hay veces que en La Habana Vieja se siente uno como persona que lo usa, y

eso que yo no vivo, solo voy a trabajar todos los días, se siente incómodo porque

es mucha gente y la Habana Vieja de por sí tiene mucha población y entonces, a

veces, es imposible caminar por las calles o por espacios, a veces no encuentras

donde sentarte. También, aunque hay gran cantidad de servicios para uno ir y

merendar, o almorzar, siempre hay mucha cola, y siempre están todos llenos

porque no da a vasto. Todavía falta mucho por hacer en la Habana Vieja y

además es bastante la cantidad de visita que recibe, no solo de los turistas, sino de

las mismas personas que encuentran a la Habana Vieja como un lugar para

distraerse (...) (ATOR DE PATRIMÔNIO, 2018)

Se bem é verdade que a sobrecarga do Centro Histórico não se deve

exclusivamente ao uso turístico, as cifras de turistas cresceram muito nos últimos anos.

Segundo os atores de turismo e patrimônio entrevistados esta zona acolhe anualmente, em

uma estimativa, entre dois e três milhões de turistas e visitantes internacionais, a maior

cifra entre os meses de novembro e abril. 88.9% dos entrevistados (8 atores) estima que

este número deve continuar crescendo devido às campanhas publicitárias sobre o destino,

aos novos hotéis que se estão construindo, à atratividade da história desta zona e

principalmente, devido às mudanças econômicas, políticas e sociais que têm dado

visibilidade ao país no contexto internacional.

Uma das medidas econômicas do governo que favoreceu o desenvolvimento

turístico desta zona nos últimos anos foi a flexibilização das leis que permitem o trabalho

privado no país, desde setembro de 2010 (ANTÚNEZ, MARTÍNEZ e OCAÑA, 2013).

Segundo Zaldívar, Mayor e Martínez (2019), em 2015 existiam no Centro Histórico de

Havana Velha 6 387 licenças para desempenhar algum tipo de trabalho privado, destas, a

maioria pertence à zona norte, que possui os setores analisados nesta pesquisa, por abrigar

o maior número de instalações vinculadas à atividade turística e comercial, e uma grande

parte dos imóveis com valor patrimonial. Com estas medidas a oferta turística cresceu nos

negócios vinculados fundamentalmente ao alojamento, aos serviços gastronômicos e à

venda de artesanatos.

Page 169: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

169

Ao entrevistar os trabalhadores ou donos de negócios privados sobre o que os

motivou a orientar seu negócio ao setor turístico, 100% (4 pessoas) expressou razões

vinculadas às possibilidades econômicas que oferece o setor e às oportunidades de ganhar

mais do que trabalhando para o governo. Porém, três dos atores explicaram que, mesmo os

negócios estando orientados ao turismo, os cubanos também podem ir. Além disso, estes

entrevistados expõem que a maior parte dos ganhos provém dos turistas, e que alguns

cubanos frequentam este tipo de estabelecimento (restaurantes, bares, lojas de artesanato) e

em algumas épocas do ano (junho, setembro) a maior parte dos rendimentos que obtém

chegam com os nacionais.

Os trabalhadores privados também foram interrogados no referente aos

produtos que comercializam e se estes mostram as tradições culturais cubanas. 100% deles

expressou que sim, que os bens que promovem e vendem refletem estas tradições porque é

o que os turistas procuram. Segundo estes atores os produtos seriam: artesanatos feitos a

mão em Cuba, rum, charutos, Mojitos, guayaberas (camisa dos campesinos cubanos),

música e pratos típicos cubanos.

Muitos destes imóveis onde hoje estão localizados negócios não estatais

possuem valores patrimoniais. Porém, os entrevistados não tinham conhecimento sobre esta

questão e não conheciam as funções anteriores de nenhum dos imóveis. Então, que parte

da história, da cultura e das tradições interessa resgatar? Aquela reconhecida pelo mercado,

que é procurada pelo turismo e que pode ser vendida. Só aquela que pode ser transformada

numa mercadoria.

Na dinâmica socioespacial do Centro Histórico participam a população local, os

turistas e os novos empreendimentos. A população julga como positiva a abertura ao

turismo e o desenvolvimento desta atividade econômica, mesmo quando percebe alguns

dos seus efeitos negativos para a sua vida diária. Esta complacência atual, com o

desenvolvimento turístico, parece contrária às opiniões de algumas pessoas descontentes

com a situação anterior a 2008, na qual os cubanos estavam impossibilitados de se hospedar

nos hotéis destinados ao turismo internacional. A respeito desta proibição se gerou

insatisfação popular e em algumas expressões artísticas se chegou a comparar a chegada de

inversores espanhóis para abrir hotéis, que só podiam ser visitados pelos turistas, com um

processo de doble colonização. Mas atualmente para a população parecem ser mais os

benefícios obtidos desta atividade. Ao mesmo tempo, esta se mostra favorável aos negócios

não estatais na área e vislumbra neles uma oportunidade de progresso econômico pessoal e

para a economia familiar. Porém, os novos empreendimentos, pensados principalmente

Page 170: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

170

para o turismo, chegam deslocando aos moradores tradicionais? Esta pergunta será

respondida no próximo subitem.

5.2 O CENTRO HISTÓRICO DE HAVANA VELHA: UM CASO DE

GENTRIFICAÇÃO?

Como foi analisado no capítulo 1, segundo López Morales (2016), a

gentrificação é um fenômeno que se manifesta de diversas formas, dependendo do

contexto. Mesmo dentro da América Latina este processo assume características diferentes

de uma cidade a outra. Mas, como indica Paes (2009), no Sul do continente esse processo

se desenvolve, fundamentalmente, na década de 1990 e se caracteriza pela “(...)

recuperação do centro para atividades culturais, de visitação, de lazer e de turismo” (PAES,

2009, p. 16).

Segundo Smith (2012), a gentrificação pode acontecer em zonas centrais

abandonadas, às classes trabalhadores e mais pobres, e nas áreas desvalorizadas pela falta

de investimento de capital para o desenvolvimento dos bairros (na indústria, nos serviços).

O Centro Histórico de Havana Velha, segundo Segre (1997, p. 817), nos anos 1970 e 1980,

era “un hábitat precário”, pois por diversas razões as condições de vida e moradia na zona

não eram as melhores. Segundo este autor, pelos problemas de moradia que existiam no

início da década de 1970, herdados de épocas anteriores, o governo entregou os imóveis

desocupados e os espaços vazios das lojas do Centro Histórico para que virassem moradias,

como medida paliativa às precárias condições nas quais estas pessoas já moravam.

Obrigadas pela necessidade, algumas famílias tiveram que transformar estes locais, pois

moravam muitas pessoas em espaços reduzidos.

Sin controles ni reglamentaciones, cada usuario adaptó a sus necesidades y

posibilidades el tratamiento de las fachadas, convirtiéndose ligeros paños de

grandes cristales en ciegos muros de bloques o ladrillos (...) la altura de los

locales (...) generó la proliferación de barbacoas (entrepisos) realizadas com

improvisadas estructuras de madera. Su peso y diseño afectó la estabilidad de los

antiguos edificios y el tratamiento exterior, al dividirse los altos paños verticales

de rejas y ventanas, típicos del diecinueve habanero, en toscas aberturas con

persianas (...) (SEGRE, 1997, p.815)

Nos 1980, 131 palácios e mansões viraram descuidados cortiços, densamente

habitados, nos quais as condições higiênicas estavam comprometidas (SEGRE, 1997).

Estas adaptações deterioraram a imagem da cidade.

Segundo Scarpacci (2000), aconteceram vários desmoronamentos de prédios

pelo estado de deterioração e da falta de manutenção dos imóveis. Para Castillo (2001, s.p.

Page 171: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

171

), antes dos 1990 muitas construções eram: “(...) ruinas parciales que sufrieron un grave

deterioro por sobreutilización, maltrato, desidia y falta de mantenimiento adecuado (...)”

A população que morava na zona tinha um baixo nível educacional, prevalecia

a raça negra e tinha um alto índice de desocupação. Além disso, a zona se caraterizava pela

delinquência e a promiscuidade (SEGRE, 1997).

Com a valorização turística do Centro Histórico de Havana Velha e do seu

patrimônio edificado, na década de 1990, se inicia um processo de retorno dos

investimentos a este espaço, para a recuperação e refuncionalização turística de prédios

coloniais, recuperação das moradias e para os projetos sociais, de interesse estatal a favor

da sua preservação.

Segundo Smith (2012), a gentrificação também está associada à substituição de

velhos prédios por imóveis luxuosos. No Centro Histórico, a partir dos anos 1990, começa

um processo que chega até a atualidade com a recuperação de antigos e maltratados

casarões ou palácios e a refuncionalização dos mesmos para a atividade turística. A figura

72 ilustra a mudança do antigo prédio da Manzana de Gómez que abrigava escolas,

farmácias, lojas populares e que foi transformado no Manzana Kempinski, o primeiro hotel

de luxo de Havana.

Figura 72: Manzana de Gómez (2003) e Hotel Manzana Kempinski (2018)

FONTE: https://archpaper.com/2017/04/cuba-tourism-modernist-buildings/ e da autora (2018)

Page 172: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

172

A desatendida área portuária, como analisado anteriormente, também virou uma

zona turística embelezada que contribuiu na transformação da paisagem urbana da zona

(PARRA, 2015).

Para López Morales (2016, p. 21), para que exista gentrificação é preciso que

aconteça “(...) desplazamiento o exclusión desde el centro urbano de los segmentos sociales

más bajos (...)”.

Se pode afirmar que no Centro Histórico de Havana Velha existem casos de

deslocamento da população se se analisa a densidade populacional em diferentes períodos.

Segundo Segre (1997), antes de 1990 a densidade populacional por hectare edificada era de

entre 500 e 1000 habitantes, na atualidade com uma redução de 14 hectares edificadas -

comparando dados de Segre (1997) e Santana Hernández (2018)- a densidade é de 433

habitantes. Como aconteceram esses deslocamentos e quais foram as causas?

Mesmo que o processo de recuperação do Centro Histórico de Havana Velha

esteja marcado pela recuperação de alguns prédios destinados à moradia da população

local, nos investimentos nos programas e serviços sociais (escolas, hogares maternos,

asilos de ancianos) e nas melhorias na infraestrutura (sistema viário, aqueduto)

(RODRÍGUEZ ALOMÁ, 2001; LEAL, 2004), quando se procura a permanência dos

moradores tradicionais da área e a mesma é incentivada pelas esferas do governo e a

recuperação é principalmente para os moradores (LEAL, 2004), alguns autores e os

entrevistados no trabalho de campo assinalam casos de deslocamento negociado.

Para Scarpacci (2000, p. 295):

Most residents of Habana Vieja displaced by historic preservation must relocate

in Habana del Este, across the bay on the eastern side of the city (...) This is the

site of some of the first public housing projects in the 1960s. Many habaneros

consider it unattractive because of its poor sites and services, public

transportation problems, and badly maintained grounds (Hamberg 1994).

Although no official data exist, I estimate that Habaguanex has displaced at least

200 residents.18

Segundo este mesmo autor, a população de um dos prédios que circundam a

Plaza Vieja foi deslocada depois da recuperação do imóvel.

Scarpacci (2000, p. 296) afirma:

On the northeastern corner of the square rests a stately apartment complex built in

18

A maioria dos moradores da Velha Havana deslocados pela preservação histórica deve se mudar para

Habana del Este, do outro lado da baía, no lado leste da cidade (...) Este é o local de alguns dos primeiros

projetos de habitação pública na década de 1960. Muitos havaneses a consideram pouco atraente por causa de

seus locais e serviços ruins, problemas de transporte público e má conservação (Hamberg, 1994). Embora não

existam dados oficiais, calculo que Habaguanex tenha deslocado pelo menos 200 moradores. (Tradução da

autora)

Page 173: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

173

1904. Much of the ornate plasterwork and some of the balconies have fallen off

the six-story apartment building over the years. By the late 1960s, the former

single-family apartments had become homes to several families. Crowding

compounded the interior deterioration. In 1996, a joint venture Italian-Cuban

project began renovating the structure into condominiums. Future occupants will

be foreign business people working in Cuba, not residents of Habana Vieja.

Foreigners will rent the apartments

from Habaguanex and will pay in dollars, not pesos. The adjacent Plaza Vieja has

been restored with an expensive ornate Italian-marble fountain in the center of the

plaza, and the perimeter of the plaza is framed by metal spheres to prevent

vehicular traffic. Officials at Habaguanex justify such building renovation, civic

beautification, and residential displacement.19

No trabalho de campo, 12 atores dos diferentes grupos foram entrevistados

sobre se conheciam casos de desalojo no Centro Histórico. 77% negou a existência de

casos deste tipo, 15% afirmou que aconteciam e 8% explicou que não sabia sobre o

assunto. Porém, 54% reconhece casos de deslocamentos da população mediante uma

negociação entre os moradores e as instituições estatais. Nas entrevistas foi possível

identificar três tipos de casos de deslocamentos:

● Intercâmbio de moradia: Os moradores do Centro Histórico aceitam trocar uma casa em

mau estado no Centro por outra em melhores condições em outro lugar (geralmente fora

de Havana Velha e longe do Centro). A população aceita esta troca, pois na maioria dos

casos não possui os recursos econômicos necessários para realizar a reparação. A moradia

do Centro é restaurada e refuncionalizada pelo Estado.

● Remoção da população por perigo de desabamento ou acidentes.

● Remoção da população para efetuar a reabilitação, mas os moradores retornam.

Os deslocamentos estão associados à recuperação e enquanto alguns

entrevistados afirmam que existem lugares que ainda não foram restaurados porque os

moradores não querem deixar seus prédios, outros explicam que:

(...) conozco muchas personas que vivían en La Habana Vieja, los sacaron de los

edificios, los mandaron para Alamar, en el mejor de los casos, porque hubo

mucha gente que los mandaron hasta para albergues y después nunca los

devolvieron a sus edificios (...) (TRABALHADOR ESTATAL, 2018)

No Centro Histórico ainda moram pessoas com baixa renda e existem prédios

19

No canto nordeste da praça, fica um imponente complexo de apartamentos construído em 1904. Grande

parte do reboco ornamentado e algumas das varandas caíram do prédio de seis andares ao longo dos anos. No

final da década de 1960, os antigos apartamentos unifamiliares se tornaram lar de várias famílias. A multidão

agravou a deterioração interior. Em 1996, um projeto ítalo-cubano começou a reformar a estrutura em

condomínios. Os futuros ocupantes serão empresários estrangeiros trabalhando em Cuba, não residentes de

Havana Velha. Estrangeiros vão alugar os apartamentos de Habaguanex e pagarão em dólares, não em pesos

cubanos. A adjacente Plaza Vieja foi restaurada e ornamentada com uma fonte de mármore italiano no centro

da praça, e o perímetro da praça é emoldurado por esferas de metal para impedir o tráfego de veículos. Os

funcionários de Habaguanex justificam essa renovação, embelezamento cívico e deslocamento residencial.

(Tradução da autora)

Page 174: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

174

em péssimo estado construtivo. A figura 73 mostra imóveis que se encontram situados

dentro dos setores de estudo da pesquisa, que são as zonas que pelas suas possibilidades

para desenvolver o turismo (valores patrimoniais, atrativos turísticos, infraestrutura

hoteleira) já estão passando por processos de recuperação. Também, nas imediações da

Plaza Vieja existe uma Comunidad Provisoria que, segundo um dos entrevistados, abriga

pessoas que perderam as suas casas por desmoronamentos e residem temporariamente neste

local. Então, neste caso, não se pode falar de uma mudança completa da zona, nem de que

se apagaram totalmente os vestígios de pobreza da paisagem.

Figura 73: Prédios em mau estado construtivo no Centro Histórico de Havana Velha

FONTE: Da autora (2018)

Segundo Segre (1997, p. 818), no Centro Histórico de Havana Velha existem

“(...) fronteras muy bien definidas, entre los espacios cualificados por los que deambulan

los turistas y las zonas interiores totalmente abandonadas a su propio destino (...)”. Estas

fronteiras visuais subsistem até hoje (Figura 74). A figura 74 mostra as diferenças entre as

ruas Mercaderes, recuperada para a atividade turística e via importante de circulação entre

hotéis e serviços turísticos, e Muralla, que ainda não recuperada e que abriga vários

moradores.

Page 175: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

175

Figura 74: Ruas Mercaderes e Muralla (de esquerda a direita)

FONTE: Da autora (2018)

Segundo Delgadillo (2016, p. 105), “(...) las políticas que revalorizan el

patrimonio urbano en sus múltiples dimensiones (materiales, simbólicas, económicas,

culturales), excluyen ciertas prácticas populares (comercio ambulante, indigencia) (...)”.

Porém, no caso de Cuba, não se erradicaram os vendedores ambulantes no Centro

Histórico. Estes vendem os produtos mais diversos: cebolas e temperos, água de coco,

churros, bonecas artesanais, chapéus ou pastéis (Figura 75). Coexistem desde os mais

simples até aqueles com mais infraestrutura para desenvolver o seu negócio. Esses

vendedores com seus pregões são um atrativo turístico a mais que se deseja preservar.

Page 176: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

176

Figura 75: Vendedores ambulantes no Centro Histórico de Havana Velha

FONTE: Da autora (2018)

Para Delgadillo (2015), existe um deslocamento por pressão devido ao aumento

dos custos de vida. Mesmo quando nenhum dos entrevistados falou sobre o seu

conhecimento sobre casos de deslocamento pelo encarecimento da zona, esta situação foi

colocada como um dos aspectos negativos do aumento de turistas na zona.

Segundo Smith (2012), uma vez que acontece o reinvestimento e revitalização

destes centros urbanos, o valor do solo aumenta, com a consequente substituição dos

moradores tradicionais destes bairros de baixa renda, por uma população das classes médias

e altas da sociedade.

No caso de Cuba, a partir do processo revolucionário de 1959, se erradicou a

especulação imobiliária, o Estado nacionalizou a maior parte da terra e se determinou um

preço padrão para o solo urbano, e nem a localização, nem as características do entorno

modificam esse valor (NUÑEZ FERNÁNDEZ e GARCÍA PLEYÁN, 2000).

Page 177: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

177

Porém, com a reabilitação do Centro Histórico de Havana Velha, mesmo

quando o valor oficial do solo continua sendo o mesmo, acontece uma revalorização

monetária informal dos imóveis localizados na zona. Segundo Nuñez Fernández e García

Pleyán (2000, s.p.) existem alguns “(...) propietarios que alquilan inmuebles y que elevan

sus rentas en función de procesos de regeneración urbana (...)” e outros que decidem sair da

zona a partir de um intercâmbio de casas e:

(...) que en el mercado subterráneo de la permuta exigen cantidades importantes

de dinero adicional para realizar el trueque de una propiedad inmobiliaria entre

dos barrios de características desiguales (...) El mercado de la permuta, sin

embargo, está extremadamente controlado y limitado en el territorio del casco

histórico y la única forma de apropiarse de esa plusvalía es de manera subterránea

o ilegal. (NUÑEZ FERNÁNDEZ e GARCÍA PLEYÁN, 2000, s.p)

Mesmo quando Nuñez Fernández e García Pleyán (2000) não referenciam a

compra e venda de imóveis, pois a lei que legaliza a compra e venda de casas em Cuba é

posterior ao artigo, com esta acontece de igual jeito, os altos valores são fixos dentro da

informalidade. No trabalho de campo, vários entrevistados fizeram referências ao aumento

do valor das casas, por tanto, mesmo quando não é oficial este incremento, é socialmente

reconhecido e aceito pela população.

O encarecimento do solo, neste caso, parece estar ligado a um interesse por

morar numa zona central e de fácil acesso dentro da cidade, renovada (uma grande parte),

que possui um alto número de serviços, uma infraestrutura melhorada e, fundamentalmente,

uma zona valorizada pelo turismo internacional. Em Cuba, possuir um negócio privado

vinculado ao setor turístico é uma importante fonte de ingressos, e ter um imóvel nesta área

oferece essa possibilidade.

Porém, existe uma revalorização do solo também amparada pelo Estado, pois,

para Nuñez, Brown e Smolka (2007, p. 286):

(...) la Oficina del Historiador (...) comenzó a recaudar impuestos directos e

indirectos que suman el 35 por ciento de los ingresos de empresas privadas no

relacionadas con la Oficina, tales como hoteles, establecimientos comerciales y

restaurantes que se han beneficiado de las labores de rehabilitación del distrito

histórico (...)

Os elevados valores do mercado informal de imóveis e os altos impostos

sustentados pelo Estado na zona do Centro Histórico apontam a um encarecimento do solo.

Este aumento do preço implica na chegada de novos grupos econômicos? Em Cuba, por

muitos anos se defendeu a inexistência de classes sociais. Então, quais seriam estes grupos

que estão chegando ao Centro Históricos e quais as suas características?

Segundo Noguera (2004), a partir de 1969, em Cuba, se podem distinguir

Page 178: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

178

quatro grupos sociais: os trabalhadores, os campesinos, os intelectuais e o pequeno setor

privado, porém, afirma que até 1989 não existiam grandes diferenças econômicas entre

estes grupos. Com o início do Período Especial aconteceram uma série de mudanças na

economia -legalização do dólar e consolidação de uma economia que opera em duas

moedas (CUP e CUC, este último equivalente ao dólar estadunidense), ampliação do

trabalho privado, transformações no setor agrícola que incidem no aumento do setor

campesino privado- que levam à “(...) crear nuevos tipos económico-sociales –grupos

socio-estructurales– en el interior de las clases. Factores que establecen una estratificación

o diferenciación socio-económica intraclasista, ejerciendo una influencia directa sobre la

estructura social (...)” (NOGUERA, 2004, p.50)

Para Acevedo Meireles (s. a.) no continente americano: “(...) los pobres viven

con $2 o menos por día; bajos ingresos entre $2.01 y $10; medio entre $10.01 y $20; media

superior entre $20.01 y $50; ingresos altos más de $50.” e explica que uma parte dos

trabalhadores privados em Cuba consegue ganhar 10 CUC ou mais, diariamente.

No trabalho de campo, se pôde comprovar que os cubanos reconhecem a

existência de classes sociais dentro da sociedade cubana e que o pertencimento à classe

média ou alta, para eles, está relacionado à: posse de uma moradia própria e de um carro

próprio, aos ganhos em CUC (depende do setor onde se trabalha) ou o recebimento de

remessas familiares em dólares desde o exterior, ter um negócio privado, posse de dinheiro

poupado, possibilidades de férias e de viajar ao estrangeiro -uma parte da sociedade cubana

realiza viagens comerciais informais que garantem uma renda extra. Os aspectos

assinalados melhoram as condições de vida destes grupos.

Segundo Noguera (2004, p. 53), se trata de uma “(...) desigualdad caracterizada

por producirse en un modelo de pirámide social invertida, donde un taxista, un camarero o

un participante de la economía sumergida se coloca por encima de un investigador doctor

en ciencias o que un cirujano (...)” As emergentes classe média e alta cubana estão muito

vinculadas ao setor dos serviços.

Ao perguntar aos entrevistados se a partir da recuperação do Centro Histórico e

do desenvolvimento turístico neste espaço as emergentes classes média e alta cubana

chegaram ao Centro Histórico, 100% dos 22 entrevistados opinou que sim, tinham chegado

e continuam chegando. A principal motivação destes deslocamentos urbanos parece estar

associada à possibilidade de criar negócios privados vinculados à atividade turística. De

acordo com alguns dos atores interrogados as classes médias e altas cubanas continuam

morando fora do Centro Histórico e só possuem negócios na zona. Além disso, os

Page 179: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

179

entrevistados explicaram que também muitos antigos residentes da zona criaram seus

próprios negócios não estatais, mas que a maioria pertence a pessoas que chegaram de

outras zonas, e que em alguns casos o dinheiro para desenvolver os negócios provém de

estrangeiros interessados em investir em Havana Velha.

Este interesse por investir no Centro Histórico pode estar associado ao

reconhecimento do mesmo como Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO, em

1982, pois, segundo Díaz (2015), esta declaratória costuma atrair investimentos que

mercantilizam a zona patrimonial para o turismo. No caso de Havana, estes investimentos

chegam mais de 30 anos depois da declaratória pelas características do marco legislativo

cubano que, por exemplo, não favorecia o surgimento de negócios privados até 2010 e

proibia a compra e venda de imóveis até 2011 (ANTÚNEZ, MARTÍNEZ e OCAÑA,

2013).

Para Scarpacci (2000, p. 289), no Centro Histórico de Havana Velha os agentes

gentrificadores são: “(...) a transient group made up of foreign tourists or business people

from Canada, Western Europe, and Latin America (...)”20

. A este grupo de agentes

gentrificadores se poderia somar as classes média e alta cubana que estão chegando à zona

para investir em negócios e colaboram no deslocamento de moradores de baixa renda que

vendem suas moradias, ante a impossibilidade econômica de restaurá-las com recursos

próprios.

Por outro lado, mesmo quando no Centro Histórico coabitam moradores e

turistas internacionais, existe uma grande diferença de qualidade e preços entre os serviços

orientados para cada grupo. A figuras 76 e 77 mostram o Complejo Comercial

Gastronómico Variedades Obispo, um supermercado com preços em CUP para a

população local. O prédio, mesmo estando na central rua Obispo, não está bem pintado e

nas suas janelas persistem restos do que deve ter sido uma proteção de adesivo contra

furacões. A figura 78 mostra o Floridita, emblemático restaurante do Centro, realçado nas

campanhas turísticas por ser um lugar de recorrentes visitas de Ernest Hemingway para

beber um daiquirí. No início da mesma rua Obispo, o imóvel está em bom estado

construtivo e sua fachada está bem pintada. No caso do Floridita, as janelas contam com

uma proteção metálica em caso de furacões.

20

Um grupo transitório composto por turistas ou empresários estrangeiros do Canadá, Europa Ocidental e

América Latina (Tradução da autora)

Page 180: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

180

Figura 76: Complejo Comercial Gastronómico Variedades Obispo, entrada

FONTE: Da autora (2018)

Figura 77: Complejo Comercial Gastronómico Variedades Obispo, lateral rua Obispo

FONTE: Da autora (2018)

Page 181: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

181

Figura 78: Restaurante Floridita

FONTE: Da autora (2018)

Também existe um forte contraste entre as moradias da população local e as

instalações orientadas ao turismo, tanto estatais como privados. Nas figuras 79 y 80 se

podem apreciar as diferenças do estado construtivo e da manutenção entre um hotel, neste

caso o Parque Central, e um grupo de moradias que ficam numa das ruas do hotel.

Figura 79: Hotel Iberostar Parque Central

FONTE: Da autora (2018)

Page 182: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

182

Figura 80: Grupo de moradias vizinhas ao Hotel Parque Central

FONTE: Da autora (2018)

Segundo Scarpacci (2000), Delgadillo (2015) e Prudente (2009), no Centro

Histórico de Havana Velha acontece um processo de gentrificação associado à recuperação

da cidade histórica para sua refuncionalização turística. Nas entrevistas aos atores de

patrimônio, um destes trabalhadores apontava que ainda não é um caso de gentrificação

aguda, mas que se trata de um processo emergente.

O problema no Centro Histórico não radica em embelezar, recuperar ou não a

trama urbana, é a conversão da cultura numa mercadoria, é a modificação dos usuários do

espaço pelos consumidores, é a segregação espacial em função do poder econômico. Se

poderia falar então, de gentrificação em Havana Velha, porém, do tipo de gentrificação que

pode acontecer num país socialista com um governo ainda preocupado com a população e

onde esta é também uma prioridade.

Page 183: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

183

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A valorização turística do patrimônio cultural do Centro Histórico de Havana

Velha incidiu na mudança da dinâmica socioespacial dos moradores tradicionais da zona e

nas relações econômicas e sociais que neste espaço se produziam entre os seus diferentes

usuários. Esta notoriedade está muito relacionada com a recuperação e refuncionalização

das construções com valor histórico e cultural, trabalho que continua até a atualidade.

Então, como a recuperação desta área urbana persiste são muitos ainda os desafios e

possibilidades deste processo.

Hoje, o principal desafio parece radicar em frear o emergente processo de

gentrificação que se apresenta nesta zona. Mesmo quando, segundo Leal (2004), é uma

máxima desta obra e das instituições que a materializam conciliar os usos do espaço pela

população local e os turistas, na prática são apreciáveis os deslocamentos da população

tradicional e a chegada de novos grupos sociais para investir em negócios privados, assim

como a separação entre as áreas e serviços turísticos e aqueles orientados aos moradores

locais. Se bem é certo que o Centro Histórico é ainda um centro vivo, pois abriga mais de

55.000 habitantes, escolas, museus, bibliotecas, centros culturais, instituições para os

setores mais vulneráveis da população: grávidas, idosos (Figura 81), crianças sem família,

pessoas sem recursos econômicos; projetos sociais e a construção deste tipo de centros

continua (Figura 82), existe um desequilíbrio entre o número de programas para a

população, a recuperação de moradias e os projetos orientados ao turismo. Mesmo quando

os recursos provêm da atividade turística não se pode perder a proporção entre os planos

para os moradores e os turistas.

Page 184: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

184

Figura 81: San Ignacio 255, moradia protegida para idosos

FONTE: Da autora (2018)

Figura 82: Moradia estudantil em restauração

FONTE: Da autora (2018)

Para que a população seja realmente a principal beneficiária deste processo se

poderia incentivar a sua permanência na área através de um aumento de planos de

recuperação das moradias a curto prazo -existem mas são muito demorados- e com o

oferecimento de créditos para motivar a que os moradores invistam em criar pequenos

Page 185: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

185

negócios turísticos e frear a chegada de investidores forâneos. No setor estatal, se poderia

fomentar o oferecimento preferencial de emprego nos novos estabelecimentos turísticos

para os moradores da zona.

Como analisado anteriormente, a população local e os atores vinculados à

atividade turística que foram entrevistados no trabalho de campo reconheceram alguns

fatores negativos vinculados à esta atividade econômica. Dentre eles, se poderia prestar

especial cuidado pelas diferentes esferas do governo, a OHCH e as instituições turísticas

que operam na área para a diminuição ou erradicação da prostituição, dos negócios ilícitos,

do tráfico de drogas, no controle de doenças na chegada ao país e na gestão dos fluxos

turísticos para evitar sobrecarga em alguns espaços.

Mas, é preciso considerar também, que além dos problemas que a atividade

turística gera na zona, o setor foi desenvolvido no país como uma solução econômica num

momento de crise financeira. O turismo proporcionou os ganhos que se esperava e, na

atualidade, constitui um ponto chave na economia nacional, pois é uma das principais

fontes de renda. Este setor também contribuiu no desenvolvimento da economia local no

Centro Histórico. No trabalho de campo, um dos moradores entrevistados explicava que,

mesmo quando nesta zona se sentiram os efeitos do Período Especial, depois da abertura

para o turismo os efeitos diminuíram um pouco na zona, mas o alcance deste setor na

economia familiar é visível somente quando as pessoas trabalham vinculadas diretamente

com a atividade. O desenvolvimento turístico é hoje -e no futuro imediato será- uma

importante fonte de renda a nível de Estado e da economia pessoal neste espaço.

A chegada de turistas na Havana Velha, também potenciou a conservação das

riquezas históricas e culturais, o resgate de tradições que tinham se perdido com o tempo -

mesmo quando algumas são só uma cenarização para o turista- e possibilitou o intercâmbio

cultural entre os moradores e os visitantes. O fato do país ter ficado isolado na política e na

cultura por várias décadas e o pouco desenvolvimento turístico antes de 1990, concentrado,

principalmente, na chegada a Cuba de turistas provenientes dos países do leste europeu,

fazem que cresça na maioria da população um interesse por mostrar a sua cultura e entrar

em contato com pessoas de outras nações. No trabalho de campo, um dos moradores locais

explicava que o turismo:

(...) favoreció el intercambio entre todos los pueblos, entre nuestro pueblo y otros, que conocieran a

Cuba, que nosotros tuviéramos la posibilidad de intercambiar con otras personas, que pudiéramos

mostrar el país, la calidad del pueblo cubano, la calidad de sus habitantes, los niveles de desarrollo digamos educacional, de instrucción que tiene nuestro pueblo, la calidez humana de nuestras personas.

Soy de los que consideran que la llegada del turismo a Cuba, o el desarrollo de la actividad turística

no solo nos favoreció económicamente, sino como sociedad. (MORADOR LOCAL, 2018)

Page 186: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

186

Então, a possibilidade de intercâmbio cultural entre os moradores e os turistas é um aspecto

que deve ser cuidado no futuro, pois as fronteiras entre os espaços e instalações turísticas e

aqueles que são para os moradores, podem prejudicar essa relação que é reconhecida pela

população como um ganho.

Outro desafio consiste em potencializar os efeitos positivos reconhecidos pelos

moradores locais e é recomendado que o trabalho futuro das instituições que regem a

reabilitação e o desenvolvimento turístico desta área velem para que os espaços, serviços e

projetos sociais orientados à população continuem, que se embelezam as zonas de função

habitacional.

Como se analisou anteriormente, a imagem urbana de Havana Velha

permaneceu no tempo, isto representa uma possibilidade e, ao mesmo tempo, um desafio,

pois se devem evitar ações que danifiquem a imagem da zona.

As maiores possibilidades no cenário de Centro Histórico estão relacionadas a

que o processo foi liderado pela gestão pública e ao interesse -pelo menos discursivo- do

governo para desenvolver a zona orientada ao turismo sem perder o caráter residencial e as

funções sociais associadas à presença de moradores (escolas, hospitais, centros culturais).

Outro fato que pode ser uma possibilidade para o futuro é a existência de uma única

organização que gestiona todo o processo: a OHCH, que conta com o apoio do governo,

leis que possibilitam o seu atuar, um conjunto de empresas e organismos para realizar o

trabalho de recuperação e relações horizontais com os governos municipal, provincial e o

Consejo de Ministros.

A recuperação do Centro Histórico de Havana Velha é ainda um processo

inacabado, se continua trabalhando na reabilitação de espaços para a população e para o

turismo internacional. Mesmo quando a refuncionalização turística deste espaço não

provocou, ainda, uma rejeição por parte dos moradores em relação aos turistas, como já

vimos em tantos centros urbanos como são os casos de Barcelona, Veneza, Atenas em um

processo de turismofobia (PISANI, 2017); isto pode acontecer num futuro se não se

realizam mais ações que harmonizem a coexistência e o uso por ambos os grupos dos

mesmos espaços. Segundo (BARBERÍA, 2017, s.p.): “A complacência original dos

cidadãos desaparece, especialmente em cidades e espaços limitados ou submetidos com

antecedência à pressão da visitação intensiva.” Atualmente no Centro Histórico de Havana

Velha o turismo é percebido como uma atividade positiva, fundamentalmente, pelos

benefícios econômicos que reporta para a economia nacional e familiar, mas, esta

“complacência” pode mudar com a intensificação de alguns problemas que já existem na

Page 187: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

187

zona e que apareceram na fala dos atores entrevistados como: o aumento dos preços nos

serviços, os deslocamentos dos moradores tradicionais para fora da área turística e a

sobrecarga turística nesta zona, não muito extensa, e de alta densidade populacional.

O desafio fica em conseguir manter o desenvolvimento turístico do Centro

Histórico, como uma base importante da economia do país, ao mesmo tempo, que esta área

da cidade, continue pertencendo e sendo habitada pelos moradores tradicionais e que estes

sejam os principais beneficiários desta atividade.

Page 188: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

188

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ACEVEDO MEIRELES, Waldo. ¿Existe una clase media en Cuba? CUBANÁLISIS,

Miami, s.a. Disponível em:

<http://www.cubanalisis.com/ART%C3%8DCULOS/WALDO%20-

%20EXISTE%20UNA%20CLASE%20MEDIA%20EN%20CUBA.htm > Acesso em: 10

jun. 2019.

ALEXANDRI, Georgia; GONZÁLEZ, Sara; HODKINSON, Stuart. Geografías del

desplazamiento en el urbanismo de América Latina. Revista INVI. Santiago de Chile, v.

31, n. 88, p. 9-25, 2016. Disponível em:

<http://revistainvi.uchile.cl/index.php/INVI/article/view/1176/1310 > Acesso em: 11 abr.

2017.

ÁLVAREZ, Ramón. Plan Maestro. Papelería sobre recopilación de legislación de

monumentos. La Habana: Oficina del Historiador de la Ciudad de La Habana, 1998.

ANTÚNEZ, Alcides Francisco; MARTÍNEZ, Jorge; OCAÑA, Jorge Luis. El trabajo por

cuenta propia. Incidencias en el nuevo relanzamiento en la aplicación del modelo

económico de Cuba en el siglo XXI. Nómadas. Revista Crítica de Ciencias Sociales y

Jurídicas, Madrid, jan. 2013. Disponível em:

<:http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=18127008002 >. Acesso em: 25 jan. 2019.

ARTEAGA, Patricia; BARONI, Patricia; FORNET, Pablo; ARRUGAETA, J. Miguel. Del

parque Habana a la Plaza Vieja: historia de una transformación integral. In:

RODRÍGUEZ ALOMÁ, Patricia (Org.). Cuba: las centralidades urbanas son los lugares de

la memoria. Bogotá: Instituto Distrital de Patrimonio Cultural, 2015. cap. 7. p. 219-258.

AYALA, Héctor. Apuntes sobre Modalidades Turísticas: Características y situación

actual. La Habana: Centro de Estudios de Turismo. Universidad de La Habana, 2009.

AYALA, Héctor. Medio siglo de transformaciones del turismo en Cuba. La Habana:

Universidad de La Habana, 2001. 61 p.

BARRETO, Margarita. Turismo e Legado Cultural: as possibilidades do planejamento.

Campinas: Papirus, 2000.

BARBERÍA, JOSÉ LUIS. Turismofobia, a reação das cidades de aluguel: O turismo deixou

de ser uma atividade incontestável. Na Espanha, turistas se transformaram em incômodas

Page 189: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

189

espécies invasoras ‘culpadas’ pelos preços abusivos. El País, ago./2017. Disponível em:

<https://brasil.elpais.com/brasil/2017/08/08/internacional/1502213658_607233.html.>

Acesso em: 18 set. 2019.

BERTONCELLO, Rodolfo. Turismo y Patrimonio, entre la cultura y el negocio. In:

PAES, María Teresa Duarte; OLIVEIRA, Melissa Ramos da Silva (Org.). Geografia,

Turismo e Patrimônio Cultural. São Paulo: Annablume, 2009. cap. 1. p. 33-54.

BETANCUR, John. Gentrification in Latin America: overview and critical analysis. Urban

Studies Research, [S.L], jan. 2014.

BLANCO, Jorge.; APAOLAZA, Ricardo. Políticas y geografías del desplazamiento.

Contextos y usos conceptuales para el debate sobre gentrificación. Revista INVI. Santiago

de Chile, v. 31, n. 88, p. 73-98, 2016. Disponível em:

<http://revistainvi.uchile.cl/index.php/INVI/article/view/1085/pdf > Acesso em: 11 abr.

2017.

BLANCO, Yinet. Una aproximación al estudio del mercado del Reino Unido que visita

el Centro Histórico de Ciudad de La Habana. 2009. 101 f. Tese (Bacharel em Turismo) -

Facultad de Turismo, Universidad de La Habana, La Habana.

CABALLERO, Claudia María. Mujeres y cooperativismo en Cuba hoy: Un estudio de

redes sociales. Revista Interdisciplinaria de Estudios de Género de El Colegio de

México, México DF, v. 4, p. 1-24, jul./2018. Disponível em:

<http://www.scielo.org.mx/pdf/riegcm/v4/2395-9185-riegcm-4-e218.pdf> Acesso em: 23

jul. 2019.

CARRIÓN, Fernando. El futuro está en el ayer: La Habana Vieja, una plataforma de

innovación. In: PLAN MAESTRO (Org.). Una experiencia singular. Valoraciones sobre el

modelo de gestión integral de La Habana Vieja, Patrimonio de la Humanidad. Boloña:

Editorial Boloña, 2006. p. 172-199. Disponível em:

<http://www.planmaestro.ohc.cu/recursos/papel/libros/singular.pdf > Acesso em: 22 nov.

2018.

Page 190: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

190

CASTILLO, Cintia Cristina. ¿Gentrificación a la limeña en el Centro Histórico de

Lima?¿Expulsión o inclusión? 1993-2013. In: DELGADILLO, Víctor; DÍAZ, Iván;

SALINAS, Luis (Org.). Perspectivas del estudio de la gentrificación en México y América

Latina. México D.F.: UNAM, Instituto de Geografía, 2015. p. 133-152. Disponível em:

<http://www.igeograf.unam.mx/sigg/utilidades/docs/pdfs/publicaciones/geo_siglo21/serie_l

ib_inves/gentrificacion_igg.pdf >. Acesso em: 10 junho 2019.

CASTILLO, Orestes M. La contribución del turismo al rescate patrimonial del centro

histórico de La Habana Vieja. La Habana: Facultad de Arquitectura. Universidad de La

Habana, 2010.

CEVALLOS-ARÁUZ, Andrea. Efectos no esperados del proceso de gentrificación. Barrio

La Floresta (Quito). Bitácora 28, Bogotá, v. 2, p. 25-33, 2018. Disponível em:

<http://www.scielo.org.co/pdf/biut/v28n2/0124-7913-biut-28-02-25.pdf >. Acesso em: 17

jan. 2019.

CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo: Editora UNESP/ Estação

Liberdade, 2001.

CONSEJO NACIONAL DE PATRIMONIO CULTURAL. Declaratorias de los

Monumentos Nacionales. Disponível em: <http://www.cnpc.cult.cu/ > Acesso em: 27

mar. 2019.

CONVENÇÃO PARA A PROTECÇÃO DO PATRIMÓNIO MUNDIAL, CULTURAL E

NATURAL, 17., 1972, Paris. Disponível em: <http://whc.unesco.org/archive/convention-

pt.pdf > Acesso em: 24 jul. 2017.

CORDERO, José De Jesús; MENESES, Carlota Laura. La resignificacion del patrimonio

cultural en el centro histórico de Guanajuato. Pragma, Espacio y Comunicación Visual,

Puebla, v. 13, p. 17-29, jan. 2015. Disponível em:

<https://www.academia.edu/21419128/La_resignificacion_del_patrimonio_cultural_en_el_

centro_historico_de_Guanajuato >. Acesso em: 20 mar. 2019.

CUBA. Acuerdo no. 2951 del Consejo de Ministros. Disponível em:

<https://www.gacetaoficial.gob.cu/codedicante.php > Acesso em: 20 fev. 2019.

CUBA. Constitución de la República de Cuba. 1940. Disponível em:

<https://archivos.juridicas.unam.mx/www/bjv/libros/5/2138/8.pdf > Acesso em: 27 mar.

2017.

Page 191: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

191

CUBA. Constitución de la República de Cuba. 1976. Disponível em:

<http://www.wipo.int/edocs/lexdocs/laws/es/cu/cu054es.pdf > Acesso em: 18 nov. 2018.

CUBA. Ley No. 1 Ley de Protección al Patrimonio Cultural. 1976a. Disponível em:

<http://www.wipo.in/edocs/lexdocs/laws/es/cu/cu054es.pdf > Acesso em: 18 nov. 2018.

CUBA. Ley No. 2 Ley de los Monumentos Nacionales y Locales. 1976b. Disponível em:

<http://www.parlamentocubano.cu/wp-content/uploads/2016/05/LEY-NO.-2-DE-

MONUMENTOS-NACIONALES-Y-LOCALES.pdf > Acesso em: 18 nov. 2018.

CUBA-PORTAL DEL TURISMO. Guía La Habana. Disponível em:

<https://www.cuba.travel/ >. Acesso em: 25 jul. 2019.

CUBA. Resolución Conjunta Ministerio de Turismo, Ministerio de Justicia, Instituto

Nacional de la Vivienda, Instituto de Planificación Física y Oficina del Historiador de

la Ciudad De La Habana. 1996. Disponível em:

<http://www.planmaestro.ohc.cu/recursos/papel/documentos/resolucion-conjunta.pdf >

Acesso em: 20 fev. 2019.

CUBA DEBATE. La Habana recibe formalmente el título de Ciudad Maravilla del

mundo moderno. 2016. Disponível em:

>http://www.cubadebate.cu/noticias/2016/06/07/la-habana-recibe-formalmente-el-titulo-de-

ciudad-maravilla-del-mundo-moderno/#.XTIyW1VKiV4.> Acesso em: 19 jul. 2019.

D-CUBA. Restaurantes en Cuba. Disponível em: <https://d-cuba.com/restaurantes-en-

cuba >. Acesso em: 04 fev. 2019.

DECLARAÇÃO DE MÉXICO SOBRE AS POLÍTICAS CULTURAIS, 9., 1982, México

D.F., Disponível em: <https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000054668_mul > Acesso

em: 14 mar. 2018.

DELGADILLO, Víctor. Ciudad de México, quince años de desarrollo urbano intensivo: la

gentrificación percibida. Revista INVI. Santiago de Chile, v. 31, n. 88, p. 101-129, 2016.

Disponível em: <http://revistainvi.uchile.cl/index.php/INVI/article/view/1088/1305 >

Acesso em: 11 abr. 2017.

Page 192: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

192

DELGADILLO, Víctor. Patrimonio urbano, turismo e gentrificación. In:

DELGADILLO, Víctor; DÍAZ, Iván; SALINAS, Luis (Org.). Perspectivas del estudio de la

gentrificación en México y América Latina. México D.F.: UNAM, Instituto de Geografía,

2015. p. 113-132. Disponível em:

<http://www.igeograf.unam.mx/sigg/utilidades/docs/pdfs/publicaciones/geo_siglo21/serie_l

ib_inves/gentrificacion_igg.pdf >. Acesso em: 10 junho 2019.

DEL PINO, Inés. Centro Histórico de Quito, una centralidad urbana hacia el turismo.

2. ed. Quito: FLACSO, 2010. Disponível em:

<http://biblioteca.ribei.org/25/2/Centro_historico_Quito_Ines_del_Pino.pdf > Acesso em:

10 junho 2019.

DÍAZ, Ibán. Introducción. Perspectivas del estudio de la gentrificación en América

Latina. In: DELGADILLO, Víctor; DÍAZ, Iván; SALINAS, Luis (Org.). Perspectivas del

estudio de la gentrificación en México y América Latina. México D.F.: UNAM, Instituto de

Geografía, 2015. p. 11-30. Disponível em:

<http://www.igeograf.unam.mx/sigg/utilidades/docs/pdfs/publicaciones/geo_siglo21/serie_l

ib_inves/gentrificacion_igg.pdf >. Acesso em: 10 junho 2019.

EMISORA HABANA RADIO. La voz del patrimonio cubano. Disponível em:

<http://www.habanaradio.cu/ >. Acesso em: 01 fev. 2019.

FACHINI, Cristina. Cartografia do Patrimônio na Bacia do Rio das Almas - São Paulo,

Brasil. 2017. 1 recurso online (233 p.). Tese (doutorado) - Universidade Estadual de

Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas e Universitat de Girona, Campinas,

SP. Disponível em: <http://www.repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/330707 >.

Acesso em: 26 jul. 2019.

FERNANDES, Ana Maria Vieira. Patrimônio cultural, turismo e a renovação das

cidades: aproximações e dissonâncias entre Barcelona e Rio de Janeiro. 2017. 410 f. (Tese

Doutorado em Geografia) – Universidade Estadual de Campinas, São Paulo. Disponível

em: <http://www.repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/322465 > Acesso em: 09 jan.

2019.

Page 193: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

193

FERNÁNDEZ, G. et al. Reapropiación y resignificación del territorio y el patrimonio:

aplicación de la evaluación de acogida a la zona de Dos Huecos, Argentina. International

Journal of World of Tourism, [S.L], v. 3, n. 5, p. 20-32, jan. 2016. Disponível em:

<https://idus.us.es/xmlui/bitstream/handle/11441/77134/Reapropiaci%C3%B3n%20y%20r

esignificaci%C3%B3n%20del%20territorio%20y%20el%20patrimonio.pdf?sequence=1 >.

Acesso em: 20 mar. 2019.

FERNANDES, Marcelo; MARTIN, Pâmela. Sistema monetário cubano: a saga das

moedas. In: Congresso Brasileiro de História Econômica. 11., 2015, Vitória. Sistema

monetário cubano: a saga das moedas. Vitória: Associação Brasileira de Pesquisadores

em História Econômica (ABPHE), 2015. s/p. Disponível em:

<http://www.abphe.org.br/arquivos/2015_marcelo_fernandes_pamela_martins_sistema-

monetario-cubano-a-saga-das-moedas.pdf > Acesso em: 20 mai. 2019.

GAVIOTA HOTELES. Hoteles Habaguanex. Disponível em:

<https://www.gaviotahotels.com/es/hoteles-

habaguanex?gclid=Cj0KCQjwgezoBRDNARIsAGzEfe6MWvg4sbk5Gra6Le5DJhqa6Nj9P

6rcYG7Iz9oawXtyfeWewe7Us0oaAttrEALw_wcB >. Acesso em: 04 set. 2018.

GRANMA DIGITAL. La Habana, 1965-. Diário. ISNN 0864-0424. Disponível em:

<http://www.granma.cu/cuba/2019-07-03/un-primer-paso-para-invertir-la-piramide-

salarial-03-07-2019-01-07-09 > Acesso em: 23 jul. 2019.

GHERTNER, Asher. Why gentrification theory fails in ‘much of the world’. City, [S.L], v.

19, n. 4, p. 552-563, jul. 2015.

GLASS, Ruth. Introduction: aspects of change. London: Centre for Urban Studies, 1964.

13–42 p.

HAMBERG, J. The dynamics of Cuban housing policy. Unpublished PhD dissertation.

Columbia University: 1994.

HERRERA, Nelson. Arquitectura cubana, hasta luego. Vitruvius, [S.L], v. 140.07, n. 12,

jan. 2012. Disponível em:

<http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/12.140/4200 >. Acesso em: 01 fev.

2019.

Page 194: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

194

HIERNAUX, Daniel.; GONZÁLEZ, Carmen Imelda. Turismo y gentrificación: pistas

teóricas sobre una articulación. Revista de Geografía Norte Grande. Santiago de Chile, n.

58, set. 2014. Disponível em:

<https://scielo.conicyt.cl/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0718-34022014000200004 >

Acesso em: 15 out. 2016.

HOLIPLUS. Reservar hoteles en Havana, cuba. Disponível em:

<https://holiplus.com/es/hotels/destination/havana >. Acesso em: 04 fev. 2019.

HOTELES HABAGUANEX. Hoteles Habaguanex. Disponível em:

<https://www.gaviotahotels.com/es/hoteles-

habaguanex?gclid=cjwkcaia7vtibraqeiwa4nto66cmds2jhaeorn8bipueqreiywwn8xajuxxsaeb

ocyzhpqr_szw7sxoc7v8qavd_bwe >. Acesso em: 04 fev. 2019.

ICOMOS. Evaluación de la organización consultiva (ICOMOS). 1981. Disponível em:

<http://whc.unesco.org/en/list/204/documents/ > Acesso em: 22 nov. 2018.

IMILAN, W.; OLIVERA, P.; BESWICK, J. Acceso a la vivienda en tiempos neoliberales:

Un análisis comparativo de los efectos e impactos de la neoliberalización en las ciudades de

Santiago, México y Londres. Revista INVI. Santiago de Chile, v. 31, n. 88, p. 163-190,

2016. Disponível em:

<http://whc.unesco.org/en/list/204/documents/http://revistainvi.uchile.cl/index.php/INVI/ar

ticle/view/1093/1307 > Acesso em: 11 abr. 2017.

INCLÁN, O. et al. ¿Cuánto cuesta y cuánto genera el espacio público? Análisis de la

intervención y puesta en valor del frente marítimo del Puerto Viejo de La Habana. Avenida

del Puerto, desde el Muelle de Caballería a los Almacenes San José. In: Congreso

Iberoamericano de Suelo Urbano. La valorización del suelo en los frentes de agua. 2., 2014,

La Habana. ¿Cuánto cuesta y cuánto genera el espacio público? Análisis de la intervención

y puesta en valor del frente marítimo del Puerto Viejo de La Habana. Avenida del Puerto,

desde el Muelle de Caballería a los Almacenes San José. La Habana: Dirección General de

Proyectos de Arquitectura y Urbanismo. Oficina del Historiador de la Ciudad (OHC), 2014.

s/p.

Page 195: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

195

INCLÁN, Orlando; CASTILLO, Claudia. Bahía de La Habana. Centrando una idea de

intervención. Opus Habana, La Habana, fev. 2012. Disponível em:

<http://www.opushabana.cu/index.php/articulos/70-articulos-arquitectura/3259-bahia-de-

la-habana-centrando-una-idea-de-intervencion >. Acesso em: 25 jan. 2019.

INFOTUR. La Habana. Disponível em: <http://www.infotur.cu/destino.aspx?iddest=1 >.

Acesso em: 25 jul. 2019.

JANOSCHKA, Michael. Gentrificación, desplazamiento, desposesión: procesos urbanos

claves en América Latina. Revista INVI. Santiago de Chile, v. 31, n. 88, p. 27-71, 2016.

Disponível em: <http://revistainvi.uchile.cl/index.php/INVI/article/view/1087/1312 >

Acesso em: 11 abr. 2017.

JULIÃO, Liliana. Cidade, cultura e turismo. O impacto turístico em Guimarães, capital

europeia da cultura 2012. 2013. 113 f. Tese (Mestrado em Turismo) - Escola Superior de

Hoteleria e Turismo de Estoril, Estoril. Disponível em:

<https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/6293/1/2013.04.015_.pdf > Acesso em: 23 jul.

2019.

JUSTICIA, Juan; PADILLA, Miguel. Análisis cualitativo asistido por ordenador con

ATLAS.ti. In: JUSTICIA, Juan; PADILLA, Miguel (Org.). Investigar en Psicología de la

Educación. Nuevas Perspectivas Conceptuales y Metodológicas. Barcelona: Amentia,

2011. p. 299-363.

KATCHIKIAN, Miguel. Historia del turismo. Revista Pasos. Tenerife, v. 6, n. 3, out.

2008. Disponível em: <http://www.realyc.org/articulo.oa?id=88160315 > Acesso em: 15

out. 2016.

KUPER, Diego; BERTONCELLO, Rodolfo. Turismo e infraestructura urbana la

refuncionalización de la estación del ferrocarril de Gualeguaychú como atractivo turístico.

Boletín Geográfico: Edición especial: VII Jornadas Patagónicas de Geografía, Neuquén, n.

31, p. 471-488, 2008. Disponível em:

<https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=5017729 >. Acesso em: 30 jul. 2019.

LA ACTUALIDAD. El centro histórico es la semilla del turismo de Quito. Disponível

em: <https://actualidad.rt.com/actualidad/272974-centro-historico-quito-ecuador-

patrimonio-humanidad >. Acesso em: 17 jan. 2019.

Page 196: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

196

LEAL, Eusebio. La rehabilitación del Centro Histórico de La Habana: Una obra

esencialmente humana. In: Forum Universal de las Culturas, 2004, Barcelona. Disponível

em: <http://www.cccb.org/rcs_gene/havana.pdf > Acesso em: 23 out. 2016.

LEÃO, Marina. A representação social do patrimônio cultural para a formação do

sentimento de pertença do sujeito social. 2009. 34 f. (Monografia para obtenção do título

de Especialista em Gestão do Território e do Patrimônio Cultural) - Universidade Vale do

Rio Doce, Governador Valadares. Disponível em:

http://www.pergamum.univale.br/pergamum/tcc/Arepresentacaosocialdopatrimoniocultural

paraaformacaodosentimentodepertencadosujeitosocial.pdf Acesso em: 09 jan. 2019.

LÓPEZ MORALES, Ernesto. Acerca de una gentrificación “planetaria”, políticamente útil.

Revista INVI. Santiago de Chile, v. 31, n. 88, p. 217-240, 2016. Disponível em:

<http://revistainvi.uchile.cl/index.php/INVI/article/view/1086 > Acesso em: 11 abr. 2017.

LUCHIARI, M.T.D. Paes. A reinvenção do patrimônio arquitetônico no consumo das

cidades. GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, n. 17, p. 95-106, 2005.

MALOUTAS, Thomas. Contextual diversity in gentrification research. Critical Sociology,

[S.L], v. 38, n. 1, p. 33-48, 2011.

MARTÍ-COSTA, M.; DURÁN, G.; MARULANDA, A. Entre la movilidad social y el

desplazamiento - Una aproximación cuantitativa a la gentrificación en Quito. Revista

INVI. Santiago de Chile, v. 31, n. 88, p. 131-160, 2016. Disponível em:

<http://revistainvi.uchile.cl/index.php/INVI/article/view/1092/1306 > Acesso em: 11 abr.

2017.

MARTÍN FERNÁNDEZ, Ramón; Principios, organización y práctica del turismo. 1ra.

ed. La Habana: Universidad De La Habana, Facultad De Turismo, 2008. p. 1-141.

MARTÍN ZEQUEIRA, M. E.; RODRÍGUEZ FERNÁNDEZ, E. L.; Guía de

Arquitectura: La Habana Colonial (1519-1898). 2da. ed. La Habana: Dirección Provincial

de Planificación Física y Arquitectura, 1995. p. 1-154.

MATÍAS, Lindon Fonseca. Geotecnologias e Patrimônio Arquitectônico:

Potencialidades no mapeamento e análise para fins turísticos. In: PAES, María Teresa

Duarte; OLIVEIRA, Melissa Ramos da Silva (Org.). Geografia, Turismo e Patrimônio

Cultural. São Paulo: Annablume, 2009. cap. 3. p. 81-112.

Page 197: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

197

MENDOZA, Félix Rojo. La gentrificación en los estudios urbanos: una exploración sobre

la producción académica de las ciudades. Cadernos Metrópole, São Paulo, v. 18, n. 37, p.

697-719, set./dez. 2016. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/cm/v18n37/2236-9996-

cm-18-37-0697.pdf >. Acesso em: 11 jan. 2019.

MULLINS, Patrick. Class relations and tour-ism urbanization: The regeneration of the

petite bourgeoisie and the emergence of a new urban form. International Journal of

Urban and Regional Research. v. 4, n. 18, p. 591-608, 1994.

NAVARRETE, David. Turismo gentrificador en ciudades patrimoniales. Exclusión y

transformaciones urbano-arquitectónicas del patrimonio en Guanajuato, México. Revista

INVI. Santiago de Chile, v. 32, n. 89, p. 61-83, 2017. Disponível em:

<http://www.revistainvi.uchile.cl/index.php/INVI/article/view/1019/1321 > Acesso em: 18

jan. 2019.

NUÑEZ FERNÁNDEZ, Ricardo; GARCÍA PLEYÁN. La regeneración en la Habana

Vieja: ¿Un modelo de gestión que moviliza las plusvalías urbanas?. Lincoln Institute of

Land Policy. 2000. Disponível em:

<https://www.lincolninst.edu/sites/default/files/pubfiles/772_nunez_garcia_00.pdf> .

Acesso em: 29 maio 2019.

NUÑEZ, Ricardo; BROWN, James; SMOLKA, Martim. El suelo como recurso para

promover el desarrollo en Cuba. In: SMOLKA, Martim; MULLAHY, Laura (Org.).

Perspectivas urbanas. Temas críticos en políticas de suelo en América Latina.

Massachusett: Lincoln Institute of Land Policy, 2007. cap. 5.5. p. 284-290. Disponível em:

<https://www.lincolninst.edu/sites/default/files/pubfiles/perspectivas-urbanas-book-full.pdf

>. Acesso em: 29 maio 2019.

NOGUERA, Alberto. Estructura social e igualdad en la Cuba actual: La reforma de los

noventa y los cambios en la estructura de clases cubana. Revista Europea de Estudios

Latinoamericanos y del Caribe. n. 76, p. 45-59, 2004. Disponível em:

<https://www.jstor.org/stable/25676071?seq=1#page_scan_tab_contents > Acesso em: 10

jun. 2019.

OCHOA ALOMÁ, Alina. Pasión y prejuicio en la construcción del patrimonio de La

Habana. In: RODRÍGUEZ ALOMÁ, Patricia (Org.). Cuba: las centralidades urbanas son

los lugares de la memoria. Bogotá: Instituto Distrital de Patrimonio Cultural, 2015. cap. 4.

p. 89-136.

Page 198: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

198

OFICINA NACIONAL DE ESTADÍSTICA E INFORMACIÓN. Anuario estadístico de

Cuba 2015. Turismo. Disponível em: <http://www.one.cu/aec2015/15%20Turismo.pdf>

Acesso em: 28 abr. 2017.

OFICINA NACIONAL DE ESTADÍSTICA E INFORMACIÓN. Turismo internacional.

Indicadores seleccionados. Disponível em:

<http://www.one.cu/publicaciones/06turismoycomercio/indturismointernac/publicaciondic

18.pdf> Acesso em:18 maio 2019.

PAES, María Teresa Duarte. Gentrificação, preservação patrimonial e turismo: os novos

sentidos da paisagem urbana na renovação das cidades. Geousp – Espaço e Tempo

(Online), v. 21, n. 3, p. 667-684, dez. 2017. Disponível em:

<http://www.revistas.usp.br/geousp/%20article/view/128345 > Acesso em: 15 dez. 2018.

PAES, María Teresa Duarte. Introdução e Apresentação. In: PAES, María Teresa Duarte;

OLIVEIRA, Melissa Ramos da Silva (Org.). Geografia, Turismo e Patrimônio Cultural.

São Paulo: Annablume, 2009. p. 13-32.

PAES, María Teresa Duarte. Patrimônio cultural, turismo e identidades territoriais um

olhar geográfico. Observatorio geográfico de América Latina (Online), 2009a. Disponível

em:

<http://www.observatoriogeograficoamericalatina.org.mx/egal12/Geografiasocioeconomica

/Geografiacultural/19.pdf > Acesso em: 30 jul. 2019.

PAES, María Teresa Duarte. Refuncionalização turística de sítios urbanos históricos no

Brasil: das heranças simbólicas à reprodução de signos culturais. GEOGRAFIA, Rio

Claro, v. 37, n. 2, p. 319-334, 2012.

PALET, Marlén; SARDIÑAS, Orestes; GARCÍA, Marlene. La restauración como actor

principal de la revalorización del espacio local. La Habana Vieja, patrimonio vivo.

Memorias. Revista Digital de Historia y Arqueología desde el Caribe, Barranquilla, v. 3,

n. 6, nov. 2007. Disponível em: <http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=85530605 >.

Acesso em: 06 mar. 2019.

PARRA, Reynaldo. Espacios de regeneración en la bahía de La Habana. Conformación

de una estructura urbana saludable. 2015. 171 f. Tese (Bacharel em Arquitetura) - Instituto

Superior Politécnico José Antonio Echevarría, La Habana.

Page 199: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

199

PASEOS POR LA HABANA. Paseos por la Habana. Disponível em:

<http://www.paseosporlahabana.com/ >. Acesso em: 04 fev. 2019.

PÉREZ CORDOBEA, Yaremis. El enfoque de procesos en Hoteles Habaguanex:

perspectiva metodológica. 2010. 111 f. Tese (Bacharel em Turismo) - Facultad de

Turismo, Universidad de La Habana, La Habana.

PICCINI, Andrea. Cortiços na cidade: conceito e preconceito na reestruturação do

centro urbano de São Paulo. 2a ed. São Paulo: Annablume, 2004.

PISANI, Silvia. Onda de 'turismofobia' alcança o verão europeu: Entre ganhos econômicos

e superlotação, viajantes são hostilizados. O Globo Mundo, ago./2017. Disponível em:

<https://oglobo.globo.com/mundo/onda-de-turismofobia-alcanca-verao-europeu-

21700715?fbclid=IwAR3xWYDX31OKZhNNWDq38TlzvI37BaRLVYzD8MTdKCEFdJl

RM84l2wT5JCM.> Acesso em: 18 set. 2019.

PLAN MAESTRO. Historia de la Oficina del Historiador. La Habana, 2018. Disponível

em: <http://http//www.planmaestro.ohc.cu/index.php/quienes-somos/6-historia-ohc >.

Acesso em: 16 nov. 2018.

PLAN MAESTRO. Desafío de una utopía: una estrategia integral para la gestión de

salvaguarda de la Habana Vieja. 2004. Disponível em:

<http://www.planmaestro.ohc.cu/recursos/papel/libros/desafioutopia.pdf > Acesso em: 26

out. 2017.

PLAN MAESTRO. Una experiencia singular. Valoraciones sobre el modelo de gestión

integral de La Habana Vieja, Patrimonio de la Humanidad. La Habana: Editorial Boloña,

2006. Disponível em: <http://www.planmaestro.ohc.cu/recursos/papel/libros/singular.pdf >

Acesso em: 22 nov. 2018.

PLAN MAESTRO - OFICINA DEL HISTORIADOR DE LA CIUDAD DE LA

HABANA. Patrimonio y ciudadanía. Experiencias de participación en La Habana Vieja.

La Habana: Editorial Boloña, 2014. Disponível em:

<http://www.planmaestro.ohc.cu/recursos/papel/libros/patrimonio-ciudadania.pdf> Acesso

em: 22 nov. 2018.

PLAN MAESTRO. Plan Especial de desarrollo Integral 2030. La Habana Vieja, Centro

histórico. La Habana: Plan Maestro, Oficina del Historiador de la Ciudad de La Habana,

2016. Disponível em:<http://www.planmaestro.ohc.cu/index.php/instrumentos/pedi>

Acesso em: 22 fev. 2019.

Page 200: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

200

PLAN MAESTRO. Regulaciones. La Habana Vieja, Centro Histórico. La Habana: Plan

Maestro, Oficina del Historiador de la Ciudad de La Habana, s/a. Disponível em:

<http://www.planmaestro.ohc.cu/recursos/papel/documentos/regulaciones.pdf > Acesso

em: 22 nov. 2018.

POSSO, Ladys. Patrimonialización, especulación inmobiliaria y turismo:

gentrificación en el barrio Getsemaní. In: DELGADILLO, Víctor; DÍAZ, Iván;

SALINAS, Luis (Org.). Perspectivas del estudio de la gentrificación en México y América

Latina. México D.F.: UNAM, Instituto de Geografía, 2015. p. 175-190. Disponível em:

<http://www.igeograf.unam.mx/sigg/utilidades/docs/pdfs/publicaciones/geo_siglo21/serie_l

ib_inves/gentrificacion_igg.pdf >. Acesso em: 10 junho 2019.

PROENÇA, Rogerio. Contra-usos da cidade: lugares e espaço público na experiência

urbana contemporânea. Campinas: Ed. da Unicamp, Aracaju, 2004.

PRUDENTE, Daniela do Valle de Carvalho. Cuba e Brasil: patrimônio cultural e

políticas de patrimonialização. 2009. 132 f. ( Tese Mestrado Profissional em Gestão do

Patrimônio Cultural) - Universidade Católica de Goiás. Disponível em:

<http://tede2.pucgoias.edu.br:8080/handle/tede/2322> Acesso em: 10 jun. 2019.

QUINTANA, R. et al. Efectos y Futuro del Turismo en la Economía Cubana.

Montevideo: Tradinco S.A., 2005.

RADIO REBELDE. La calle obispo, una de las más populares de la Habana. Disponível

em: <http://www.radiorebelde.cu/de-cuba-y-de-los-cubanos/la-calle-obispo-una-mas-

populares-habana-fotos-video-20171209 />. Acesso em: 31 jan. 2019.

RESTAURANTES EN CUBA. Restaurantes en cuba. Disponível em:

<https://www.restaurantesencuba.com/places/restaurantes/ >. Acesso em: 04 fev. 2019.

RIGOL, Isabel. Otra vez sobre lo nuevo y lo viejo. In: RODRÍGUEZ ALOMÁ, Patricia

(Org.). Cuba: las centralidades urbanas son los lugares de la memoria. Bogotá: Instituto

Distrital de Patrimonio Cultural, 2015. cap. 2. p. 31-60.

RIGOL, Isabel; ROJAS, Ángela. Conservación patrimonial: teoría y práctica. La Habana:

UH Editorial, 2012. 129 p.

Page 201: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

201

RODRÍGUEZ ALOMÁ, Patricia. El Centro Histórico de la Habana: un modelo de

gestión pública. In: CARRIÓN, Fernando (Org.). Centros Históricos de América Latina y

el Caribe. Quito, 2001. p. 217-236. Disponível em:

<http://www.flacsoandes.edu.ec/libros/digital/44662.pdf > Acesso em: 26 out. 2017.

RODRÍGUEZ ALOMÁ, Patricia. Gestión del desarrollo integral de los centros

históricos. La metodología ‘TESIS’. 2009. 296 f. Tese (Doutor em Ciências Técnicas) -

Facultad de Arquitectura, Instituto Superior Politécnico José Antonio Echeverría, La

Habana.

RODRÍGUEZ ALOMÁ, Patricia. La rehabilitación integral de la Habana Vieja, una

responsabilidad de la nación. Patrimonio cultural y turismo. Cuadernos, México, n. 19, p.

129-134, set. 2012. Disponível em:

<https://www.cultura.gob.mx/turismocultural/cuadernos/pdf19/cuaderno19.pdf >. Acesso

em: 22 nov. 2018.

RODRÍGUEZ ALOMÁ, Patricia. Un marco conceptual para la gestión del desarrollo

integral de los centros históricos: el caso de la Habana Vieja. In: RODRÍGUEZ ALOMÁ,

Patricia (Org.). Cuba: las centralidades urbanas son los lugares de la memoria. Bogotá:

Instituto Distrital de Patrimonio Cultural, 2015. cap. 6. p. 165-218.

SALINAS CHÁVEZ, Eduardo.; ECHARRI, Maité. Turismo y desarrollo sostenible: el

caso del centro histórico de la Habana – Cuba. Revista Pasos. Islas Canarias, v. 3, n. 1,

2005 Disponível em: <http://www.pasosonline.org/Publicados/3105/PS120105.pdf >

Acesso em: 25 set. 2016.

SANTANA HERNÁNDEZ, Juan Carlos. La economía social y solidaria en el modelo de

gestión integral del Centro Histórico de La Habana. [S.L], mai. 2018. Disponível em:

<https://www.economiasolidaria.org/sites/default/files/news_attachments/Juan%20C%20S

antana%20-La%20Habana%20Oficina%20del%20Historiador.pdf >. Acesso em: 22 nov.

2018.

SANTILLÁN, Alfredo. Quito: materialidad y ficción de una ciudad segregada. Un balance

de la bibliografía disponible. Cuestiones Urbanas, Quito, v. 3, n. 1, p. 93-115, 2015.

Disponível em:

<https://www.institutodelaciudad.com.ec/documentos/revistaq/rcv3n1/files/assets/basic-

html/page95.html >. Acesso em: 16 jan. 2019.

Page 202: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

202

SANTOS, Giselle Cristina Dos Anjos. A representação da crise do Período Especial em

Cuba na obra Trilogia suja de Havana. Revista Eletrônica da ANPHLAC, [S.L], n. 17, p.

139-168, jul./dez. 2014. Disponível em:

<http://revistas.fflch.usp.br/anphlac/article/view/2165 >. Acesso em: 22 nov. 2018.

SANTOS, Milton. A natureza do espaço – técnica e tempo razão e emoção. São Paulo:

Editora Hucitec, 1996.

SASSEN, Saskia. Expulsions: brutality and complexity in the global economy..

Massachusetts: The Belknap Press of Harvard University Press, 2014.

SASSEN, Saskia. The global city: New York, London and Yokyo. New Jersey: Princeton

University Press, 1991.

SCARPACCI, Joseph. Winners and losers in restoring Old Havana. In: TENTH

ANNUAL MEETING OF THE ASSOCIATION FOR THE STUDY OF THE CUBAN

ECONOMY (ASCE). 10., 2000, Miami. Miami: Association for the Study of the Cuban

Economy, 2000. 289-300. Disponível em:

<https://www.researchgate.net/publication/252428246_WINNERS_AND_LOSERS_IN_R

ESTORING_OLD_HAVANA>. Acesso em: 29 maio 2019.

SEGRE, Roberto. La Habana: el ansiado rescate del Centro Histórico. In: SCARPACI,

Joseph L.; SEGRE, Roberto; COYULA, Mario (Org). Havana: two faces of the Antillan

Metropolis. New York: John Wiley & Sons, 1997. p. 813-824.

SILVA, Carlos Hugo. Revisitando el centro histórico de Santiago. El rol del patrimonio

urbano en iniciativas y planes revisados en tres períodos clave (1872-2015). 2017. 124 f.

Tese (Magíster en Desarrollo Urbano) - Institución de Estudios Urbano y Territoriales

Pontificia Universidad Católica de Chile, Santiago de Chile. Disponível em:

<http://estudiosurbanos.uc.cl/images/tesis/2017/MDU_CSilva.pdf > Acesso em: 18 jan.

2019.

SILVA SANTOS, Ana Renata. Renovação urbana ou restauro urbano? O Pátio

Ferroviário das Cinco Pontas em Recife. s/a. Disponível em:

<http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/VI_coloquio_t1_renovacao_urbana.p

df > Acesso em: 22 jul. 2019.

Page 203: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

203

SLATER, Tom. Gentrification of the city. [S.L.]: The New Blackwell Companion to the

City Reference Online, 2011. 15 p. Disponível em:

<https://www.geos.ed.ac.uk/homes/tslater/gotcbridgewatson.pdf > Acesso em: 11 jan.

2019.

SMITH, Neil. La nueva frontera urbana: Ciudad revanchista y gentrificación. Madrid:

Traficantes de sueños, 2012. Disponível em:

<https://www.traficantes.net/sites/default/files/pdfs/La%20nueva%20frontera%20urbana-

TdS.pdf > Acesso em: 28 set. 2017.

SOJA, E. Geografias pós-modernas: a reafirmação do espaço na teoria social crítica. Rio

de Janeiro: Jorge Zahar, 1993.

SOTRATTI, Marcelo Antonio. Pelas Ladeiras do Pelô: A Requalificação Urbana Como

Afirmação de Um Produto Turístico. 2005. 308 f. (Tese Mestrado em Geografía) –

Universidade Estadual de Campinas, São Paulo.

SOUZA, Marcelo Lopes de. A Prisão e a Ágora: reflexões em torno da

democratização do planejamento e da gestão das cidades. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,

2006.

TERRÓN, Grisel. La Oficina del Historiador de La Habana al rescate del patrimonio

bibliográfico. Revista Apuntes. Bogotá, v. 28, n. 2, p. 82-95, 2015. Disponível em:

<revistas.javeriana.edu.co/index.php/revApuntesArq/article/view/17189/13708 > Acesso

em: 16 nov. 2018.

TOLEDO, Francisco. A questão do patrimônio cultural. 2010. Disponível em:

<http://www.valedoparaiba.com/ > Acesso em: 11 abr. 2017.

UNESCO. La Habana Vieja y su sistema de fortificación. 2018. Disponível em:

<http://whc.unesco.org/en/list/204/ > Acesso em: 22 nov. 2018.

UNESCO WORLD HERITAGE CENTER. La Habana Vieja y su sistema de

fortificación. 2018. Disponível em:

<http://whc.unesco.org/en/list/204/multiple=1&unique_number=225 > Acesso em: 22 nov.

2018.

URRY, John. O olhar do turista. Lazer e Viagens nas sociedades contemporâneas. São

Paulo: Nobel, 1996.

Page 204: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

204

VAINER, Carlos. Pátria, empresa e mercadoria. Notas sobre a estratégia discursiva do

Planejamento Estratégico Urbano. In: ARANTES, Otília; VAINER, Carlos, MARICATO,

Ermínia. A cidade do pensamento único. Desmanchando consensos. Petrópolis: Vozes,

2002. p. 75-104.

ZALDIVAR, Martha; MAYOR, Ariam Luis; MARTINEZ, Annie. Ecosistema

emprendedor y pequeños negocios privados en el Centro Histórico de La Habana. Econ. y

Desarrollo, La Habana , v. 161, n. 1, e1, jun. 2019 . Disponível em:

<http://scielo.sld.cu/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0252-

85842019000100001&lng=es&nrm=iso >. Acesso em: 27 maio 2019.

Page 205: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

205

ANEXOS

Anexo A - Roteiro de perguntas para entrevista aos moradores do Centro Histórico de

Havana Velha

La presente entrevista tiene como objetivo conocer su opinión, como morador del Centro

Histórico de la Habana Vieja, en lo referente a temas como: la composición del patrimonio

cultural de esta zona, su relación con el mismo antes y después de la apertura en la Isla para

el turismo, la labor de la Oficina del Historiador de la Ciudad en la recuperación de este

espacio urbano, entre otros. Sus respuestas serán utilizadas desde el anonimato, para dar

cumplimiento a algunos de los objetivos de la tesis de Maestría en Geografía: La

valorización turística del patrimonio cultural en el Centro Histórico de la Habana Vieja,

Cuba; que se realiza en el Instituto de Geociencias de la Universidad Estadual de Campinas

y busca determinar la influencia del uso del patrimonio cultural para el turismo, en la vida

de la población local. De antemano agradecemos su colaboración.

_________________________________

Fecha y local

Datos personales:

Nombre______________________________ Sexo F( ) M( ) Edad__________

Lugar de nacimiento____________________ Años vividos en el Centro

Histórico__________

Preguntas generales:

1. En su opinión, ¿qué es el patrimonio cultural de un pueblo?

2. ¿Qué ejemplos de patrimonio cultural usted citaría dentro del Centro Histórico? Y

¿cuál considera que sea su importancia?

3. Con la recuperación del Centro Histórico, por parte de la Oficina del Historiador de

la Ciudad, muchos edificios han adquirido nuevos usos, ¿esta acción es positiva?

¿Para quién?

4. ¿En el Centro Histórico de la Habana Vieja se puede hablar de casos de desalojo o

expulsión de los moradores?

5. Con la recuperación del Centro Histórico y el incremento del turismo en este

espacio urbano, ¿se puede decir que han llegado a esta zona de la Habana Vieja las

emergentes clases medias y altas del país?

Preguntas específicas de este grupo:

6. ¿Cuáles tradiciones culturales se han perdido com el aumento del flujo turístico en

el Centro Histórico?

7. A partir de la década 90, el número de turistas que visitan el Centro Histórico

aumentó, ¿qué aspectos, positivos y negativos, trajo este aumento, para su vida

diaria?

8. ¿Se ha producido un aumento en las ofertas culturales y recreativas de la zona en los

últimos 30 años? ¿De cuáles disfruta usted con frecuencia?

9. ¿Los cambios ocurridos em el Centro Histórico,a partir de los 90, benefician la

permanencia de los moradores del área?

Page 206: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

206

¡Muchas gracias por su colaboración!

Page 207: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

207

Anexo B - Roteiro de perguntas para entrevista a trabalhadores estatais (não

vinculados diretamente às atividades turística ou de recuperação do patrimônio) do

Centro Histórico de Havana Velha

La presente entrevista tiene como objetivo conocer su opinión, como trabajador de una

empresa del sector estatal, que radica en el Centro Histórico de la Habana Vieja, en lo

referente a temas como: la composición del patrimonio cultural de esta zona, su relación

con el mismo antes y después de la apertura en la Isla para el turismo, la labor de la Oficina

del Historiador de la Ciudad en la recuperación de este espacio urbano, entre otros. Sus

respuestas serán utilizadas desde el anonimato, para dar cumplimiento a algunos de los

objetivos de la tesis de Maestría en Geografía: La valorización turística del patrimonio

cultural en el Centro Histórico de la Habana Vieja, Cuba; que se realiza en el Instituto de

Geociencias de la Universidad Estadual de Campinas y busca determinar la influencia del

uso del patrimonio cultural para el turismo, en la vida de la población local. De antemano

agradecemos su colaboración.

_________________________________

Fecha y local

Datos personales:

Nombre_______________________________ Sexo F( ) M( ) Edad__________

Empresa_______________________________ Años trabajados en el Centro

Histórico_________

Preguntas generales:

1. En su opinión, ¿qué es el patrimonio cultural de un pueblo?

2. ¿Qué ejemplos de patrimonio cultural usted citaría dentro del Centro Histórico? Y

¿cuál considera que sea su importancia?

3. Con la recuperación del Centro Histórico, por parte de la Oficina del Historiador de

la Ciudad, muchos edificios han adquirido nuevos usos, ¿esta acción es positiva?

¿Para quién?

4. ¿En el Centro Histórico de la Habana Vieja se puede hablar de casos de desalojo o

expulsión de los moradores?

5. Con la recuperación del Centro Histórico y el incremento del turismo en este

espacio urbano, ¿se puede decir que han llegado a esta zona de la Habana Vieja las

emergentes clases medias y altas del país?

Preguntas específicas de este grupo:

6. ¿Cuáles tradiciones culturales se han perdido com el aumento del flujo turístico en

el Centro Histórico?

7. A partir de la década 90, el número de turistas que visitan el Centro Histórico

aumentó, ¿qué aspectos, positivos y negativos, trajo este aumento, para su vida

diaria?

8. ¿Se ha producido un aumento en las ofertas culturales y recreativas de la zona en los

últimos 30 años? ¿De cuáles disfruta usted con frecuencia?

9. ¿Los cambios ocurridos em el Centro Histórico,a partir de los 90, benefician la

permanencia de los moradores del área?

¡Muchas gracias por su colaboración!

Page 208: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

208

Anexo C - Roteiro de perguntas para entrevista a trabalhadores ou donos de negócios

privados do Centro Histórico de Havana Velha

La presente entrevista tiene como objetivo conocer su opinión, como trabajador o dueño de

un negocio privado, que radica en el Centro Histórico de la Habana Vieja, en lo referente a

temas como: la composición del patrimonio cultural de esta zona, su relación con el mismo,

la labor de la Oficina del Historiador de la Ciudad en la recuperación de este espacio

urbano, entre otros. Sus respuestas serán utilizadas desde el anonimato, para dar

cumplimiento a algunos de los objetivos de la tesis de Maestría en Geografía: La

valorización turística del patrimonio cultural en el Centro Histórico de la Habana Vieja,

Cuba; que se realiza en el Instituto de Geociencias de la Universidad Estadual de Campinas

y busca determinar la influencia del uso del patrimonio cultural para el turismo, en la vida

de la población local. De antemano agradecemos su colaboración.

_________________________________

Fecha y local

Datos personales:

Nombre_______________________________ Sexo F( ) M( )

Edad__________

Formación_____________________________ Labor

actual______________________________

Negocio_______________________________ Años trabajados en el Centro

Histórico_________

Preguntas generales:

1. En su opinión, ¿qué es el patrimonio cultural de un pueblo?

2. ¿Qué ejemplos de patrimonio cultural usted citaría dentro del Centro Histórico? Y

¿cuál considera que sea su importancia?

3. Con la recuperación del Centro Histórico, por parte de la Oficina del Historiador de

la Ciudad, muchos edificios han adquirido nuevos usos, ¿esta acción es positiva?

¿Para quién?

4. ¿En el Centro Histórico de la Habana Vieja se puede hablar de casos de desalojo o

expulsión de los moradores?

5. Con la recuperación del Centro Histórico y el incremento del turismo en este

espacio urbano, ¿se puede decir que han llegado a esta zona de la Habana Vieja las

emergentes clases medias y altas del país?

Preguntas específicas de este grupo:

6. ¿El negocio en el cual usted trabaja está orientado al turismo? ¿Qué lo motivó a

trabajar para este sector?

7. Si tuviera que dividir en porcientos estimados las ganancias del negocio, ¿qué

porciento de las ganancias diría que provienen de los turistas?

8. ¿Los productos que comercializa reflejan nuestras tradiciones culturales? ¿Cuáles?

9. ¿El inmueble dónde está ubicado su negocio tiene valor patrimonial? ¿Conoce su

función anterior? ¿Recibe alguna ayuda del estado para la manutención del

inmueble o para el desarrollo de su negocio?

¡Muchas gracias por su colaboración!

Page 209: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

209

Anexo D - Roteiro de perguntas para entrevista a atores dos centros de gestão do

patrimônio do Centro Histórico de Havana Velha

La presente entrevista tiene como objetivo conocer su opinión, como representante de los

centros de gestión del patrimonio en lo referente a temas como: la composición del

patrimonio cultural de esta zona, su relación con el mismo, la labor de la Oficina del

Historiador de la Ciudad en la recuperación de este espacio urbano, entre otros. Sus

respuestas serán utilizadas desde el anonimato, para dar cumplimiento a algunos de los

objetivos de la tesis de Maestría en Geografía: La valorización turística del patrimonio

cultural en el Centro Histórico de la Habana Vieja, Cuba; que se realiza en el Instituto de

Geociencias de la Universidad Estadual de Campinas y busca determinar la influencia del

uso del patrimonio cultural para el turismo, en la vida de la población local. De antemano

agradecemos su colaboración.

_________________________________

Fecha y local

Datos personales:

Nombre_______________________________ Sexo F( ) M( )

Edad_______________

Institución_____________________________

Cargo_________________________________ Años en su

función_________________

Preguntas generales:

1. En su opinión, ¿qué es el patrimonio cultural de un pueblo?

2. ¿Qué ejemplos de patrimonio cultural usted citaría dentro del Centro Histórico? Y

¿cuál considera que sea su importancia?

3. Con la recuperación del Centro Histórico, por parte de la Oficina del Historiador de

la Ciudad, muchos edificios han adquirido nuevos usos, ¿esta acción es positiva?

¿Para quién?

4. ¿En el Centro Histórico de la Habana Vieja se puede hablar de casos de desalojo o

expulsión de los moradores?

5. Con la recuperación del Centro Histórico y el incremento del turismo en este

espacio urbano, ¿se puede decir que han llegado a esta zona de la Habana Vieja las

emergentes clases medias y altas del país?

Preguntas específicas de este grupo:

6. ¿Cuáles han sido las principales acciones públicas de las diferentes esferas del

Estado (Nacional, Provincial, Municipal) en el proceso de recuperación del Centro

Histórico?

7. Además de la auto-financiación, ¿con cuáles otros recursos económicos se cuenta

para la labor restauradora?

8. ¿Cómo se realiza este retorno de los recursos económicos obtenidos de la actividad

turística para (el bienestar) los moradores del Centro Histórico?

9. En su opinión, ¿cuántos turistas aproximadamente recibe anualmente el Centro

Histórico de la Habana Vieja? En su opinión, ¿este número debe aumentar? ¿Por

qué?

Page 210: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

210

10. ¿En la actualidad se aplican medidas para evitar la sobrecarga turísticas en museos,

plazas, ferias, etc.? ¿Cuáles?

11. ¿Qué actividades de ocio y turismo se realizan en el Centro Histórico para la

población local y los turistas nacionales? ¿Qué entidad es la encargada de las

mismas? ¿Cómo se realiza la divulgación de estas y cómo puede acceder la

población?

12. ¿Considera que la actividad turística contribuye en la preservación del patrimonio

cultural? ¿De qué manera?

13. ¿Considera que el turismo puede llevar a que muchas prácticas tradicionales y

culturales se banalicen? ¿Qué se hace en la actualidad para que esto no ocurra?

¡Muchas gracias por su colaboración!

Page 211: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

211

Anexo E - Roteiro de perguntas para entrevista a atores dos centros de gestão do

turismo no Centro Histórico de Havana Velha

La presente entrevista tiene como objetivo conocer su opinión, como representante de los

centros de gestión turística en lo referente a temas como: la composición del patrimonio

cultural de esta zona, su relación con el mismo, la labor de la Oficina del Historiador de la

Ciudad en la recuperación de este espacio urbano, entre otros. Sus respuestas serán

utilizadas desde el anonimato, para dar cumplimiento a algunos de los objetivos de la tesis

de Maestría en Geografía: La valorización turística del patrimonio cultural en el Centro

Histórico de la Habana Vieja, Cuba; que se realiza en el Instituto de Geociencias de la

Universidad Estadual de Campinas y busca determinar la influencia del uso del patrimonio

cultural para el turismo, en la vida de la población local. De antemano agradecemos su

colaboración.

_________________________________

Fecha y local

Datos personales:

Nombre_______________________________ Sexo F( ) M( )

Edad____________

Institución_____________________________

Cargo_________________________________ Años en su

función_________________

Preguntas generales:

1. En su opinión, ¿qué es el patrimonio cultural de un pueblo?

2. ¿Qué ejemplos de patrimonio cultural usted citaría dentro del Centro Histórico? Y

¿cuál considera que sea su importancia?

3. Con la recuperación del Centro Histórico, por parte de la Oficina del Historiador de

la Ciudad, muchos edificios han adquirido nuevas funciones (algunos para

desarrollar actividades turísticas y de ocio), ¿esta acción es positiva? ¿Para quién?

4. ¿En el Centro Histórico de la Habana Vieja se puede hablar de casos de desalojo o

expulsión de los moradores?

5. Con la recuperación del Centro Histórico y el incremento del turismo en este

espacio urbano, ¿se puede decir que han llegado a esta zona de la Habana Vieja las

emergentes clases medias y altas del país?

Preguntas específicas de este grupo:

1. ¿Qué aspectos, positivos y negativos, diría que trajo el aumento de turistas que

recibe el Centro Histórico, para la vida diaria de los moradores locales?

2. En su opinión, ¿cuántos turistas aproximadamente recibe anualmente el Centro

Histórico de la Habana Vieja? ¿Cuándo la demanda es mayor?

3. ¿Cree que el número de turistas que visitan el Centro Histórico debe aumentar? ¿Por

qué?

4. ¿En la actualidad se aplican medidas para evitar la sobrecarga turísticas en museos,

plazas, ferias, etc.? ¿Cuáles?

5. ¿Considera que la actividad turística contribuye en la preservación del patrimonio

cultural? ¿De qué manera?

6. ¿Considera que el turismo puede llevar a que muchas prácticas tradicionales y

culturales se banalicen? ¿Qué se hace en la actualidad para que esto no ocurra?

Page 212: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

212

7. ¿Qué actividades de ocio y turismo se realizan en el Centro Histórico para la

población local y los turistas nacionales? ¿Qué entidad es la encargada de las

mismas? ¿Cómo se realiza la divulgación de estas y cómo puede acceder la

población?

Page 213: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de ...repositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 336108 › 1 › Hernande… · H43v HerA valorização e refuncionalização

213

Anexo F - Roteiro para a observação guiada no Centro Histórico de Havana Velha

(Critérios de avaliação de 1 a 5, sendo 1 terrível e 5 excelente)

Setor:

Aspectos gerais das condições de vida da população no setor 1 2 3 4 5

Estado construtivo das moradias

Estado construtivo do equipamento público (escolas, hospitais, parques, entre

outros)

Acessibilidade em transporte público

Estado construtivo das vias de acesso

Higiene

Ruídos

Sinalização

Segurança

Comentários:

Aspectos gerais da infraestrutura para o turismo no setor 1 2 3 4 5

Estado construtivo dos hotéis, restaurantes e centros noturnos

Acessibilidade

Estado construtivo das vias de acesso

Higiene

Ruídos

Sinalização

Segurança

Ambientação

Relação com as tradições culturais

Comentários:

Aspectos gerais da infraestrutura para os negócios privados da área 1 2 3 4 5

Estado construtivo dos hostáis e restaurantes

Acessibilidade

Estado construtivo das vias de acesso

Higiene

Ruídos

Sinalização

Segurança

Ambientação

Relação com as tradições culturais

Comentários: