UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
Instituto de Geociências
MARÍA KARLA HERNÁNDEZ GONZÁLEZ
A VALORIZAÇÃO E REFUNCIONALIZAÇÃO TURÍSTICA DO PATRIMÔNIO
CULTURAL NO CENTRO HISTÓRICO DE HAVANA, CUBA
CAMPINAS
2019
MARÍA KARLA HERNÁNDEZ GONZÁLEZ
A VALORIZAÇÃO E REFUNCIONALIZAÇÃO TURÍSTICA DO PATRIMÔNIO
CULTURAL NO CENTRO HISTÓRICO DE HAVANA, CUBA
DISSERTAÇÃO APRESENTADA AO INSTITUTO DE
GEOCIÊNCIAS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE
CAMPINAS PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE
MESTRA EM GEOGRAFIA NA ÁREA DE ANÁLISE
AMBIENTAL E DINÂMICA TERRITORIAL
ORIENTADORA: PROFA. DRA. MARIA TEREZA DUARTE PAES
ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL
DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELA ALUNA
MARÍA KARLA HERNÁNDEZ E ORIENTADA PELA
PROFA. DRA. MARIA TEREZA DUARTE PAES
CAMPINAS
2019
Ficha catalográficaUniversidade Estadual de CampinasBiblioteca do Instituto de Geociências
Marta dos Santos - CRB 8/5892
Hernández González, María Karla, 1991- H43v HerA valorização e refuncionalização turística do patrimônio cultural no Centro
Histórico de Havana, Cuba / María Karla Hernández González. – Campinas, SP: [s.n.], 2019.
HerOrientador: Maria Tereza Duarte Paes. HerDissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de
Geociências.
Her1. Turismo. 2. Patrimônio Cultural. 3. Gentrificação. I. Luchiari, Maria
Tereza Duarte Paes, 1961-. II. Universidade Estadual de Campinas. Institutode Geociências. III. Título.
Informações para Biblioteca Digital
Título em outro idioma: Enhancement and touristic refunctionalization of the culturalheritage in the Historic Center of Havana, CubaPalavras-chave em inglês:TourismCultural HeritageGentrificationÁrea de concentração: Análise Ambiental e Dinâmica TerritorialTitulação: Mestra em GeografiaBanca examinadora:Maria Teresa Duarte PaesMarcelo Antonio SotrattiCristina MeneguelloData de defesa: 24-10-2019Programa de Pós-Graduação: Geografia
Identificação e informações acadêmicas do(a) aluno(a)- ORCID do autor: https://orcid.org/0000-0001-7960-7507- Currículo Lattes do autor: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visu
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
AUTORA: María Karla Hernández González
A VALORIZAÇÃO E REFUNCIONALIZAÇÃO TURÍSTICA DO PATRIMÔNIO
CULTURAL NO CENTRO HISTÓRICO DE HAVANA, CUBA
ORIENTADORA: Profa. Dra. Maria Tereza Duarte Paes
Aprovado em: 24 / 10 / 2019
EXAMINADORES:
Profa. Dra. Maria Tereza Duarte Paes - Presidente
Prof. Dr. Marcelo Antonio Sotratti
Profa. Dra. Cristina Meneguello
A Ata de defesa com as respectivas assinaturas dos membros, encontra-se disponível no
SIGA - Sistema de Fluxo de Dissertação e na Secretaria de Pós-graduação do IG.
Campinas, 24 de outubro de 2019.
A mis padres, a Anibitín y a Adán
por el motivo de siempre,
por querernos.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a minha família, por seu amor e apoio incondicional, pelo carinho e as notícias
diárias que me faziam sentir mais perto de casa.
Ao Adán, por seu apoio, preocupação, por acreditar nas minhas escolhas, por seu carinho e
pelo resgate do trabalho as vezes que perdi alguma parte.
A minha orientadora Tereza, por ter acreditado no meu projeto, por sua paciência e carinho
sempre, pelas explicações e orientações, pela leitura do trabalho e as correções, por ter me
ajudado muito na minha formação nestes três anos.
Aos colegas do grupo de pesquisa “Geografia, Turismo e Patrimônio Cultural”, por me
acolher com muito carinho desde o primeiro momento, pelos encontros, os conhecimentos
compartilhados, pela ajuda com o português, por escutar sobre minha pesquisa atentamente
e fazer sempre oportunas sugestões. A todos, aos que estavam no início e aos que estão
agora, muito obrigada!
Às professoras Vanessa Bello e Ana Maria Fernandes, que participaram do Exame de
Qualificação, pela leitura atenta e pelas valiosas contribuições para a finalização desta
pesquisa.
A meu amigo de sempre, Reynaldo, por sua ajuda no trabalho de campo e na confecção dos
mapas.
À Cris, por sua amizade e apoio.
A minha família cubana no Brasil pelos almoços e as festas sem falar das nossas pesquisas,
o carinho e o apoio, por ter um cantinho de Cuba aqui.
À Secretária da pós-graduação por me auxiliar com todas minhas dúvidas e sua ajuda nesta
etapa.
Aos professores de todos os tempos por compartilhar seus conhecimentos e contribuir na
minha formação profissional e pessoal.
Aos entrevistados por seu tempo e disposição a compartilhar as suas vivências, colaboração
muito significativa na pesquisa.
Corro o risco de esquecer a pessoas que me ajudaram, ensinaram e acolheram, mas saibam
que fico muito grata com todos os que me apoiaram durante a elaboração deste trabalho.
RESUMO
Na década de 1990, nos centros históricos de América Latina, aconteceram processos de renovação
urbana muito vinculados à valorização turística do patrimônio cultural e ao interesse do capital por
transformar a imagem destas zonas e reconfigurá-las como espaços de consumo e lazer. Na
adequação dos centros para o desenvolvimento do setor, o patrimônio cultural foi refuncionalizado
como recurso turístico e adquiriu novos usos vinculados à visitação e lazer, hotelaria, bares, lojas de
souvenirs, restaurantes entre outros atrativos do consumo cultural. A mudança de função tornou
muitos desses espaços exclusivos das classes médias e elites econômicas, ao mesmo tempo em que
gerou uma mudança na significação destes bens culturais, materiais ou imateriais, para as
populações locais. Unido a isto, a turistificação dos centros históricos provocou processos de
gentrificação, com características diferentes de uma cidade a outra. Identificar e analisar os efeitos
da refuncionalização turística do patrimônio cultural na dinâmica socioespacial entre moradores
tradicionais, turistas e novos empreendimentos no Centro Histórico de Havana Velha, Cuba, é o
objetivo desta pesquisa. A revisão bibliográfica, a pesquisa documental e a pesquisa empírica
permitiram compreender que, no Centro Histórico de Havana Velha, está emergindo um processo
de gentrificação, com características similares às de outras cidades da América Latina, mas, com
algumas diferenças, por se tratar de um país socialista e com um governo ainda preocupado com a
população local, que realiza projetos sociais orientados à moradia e a socialização da cultura.
Palavras-chave: Turismo, Patrimônio Cultural, Gentrificação.
ABSTRACT
In the 90s, some processes of urban renovation took place in the historic centers of Latin America.
These processes were related to both a touristic enhancement of the cultural heritage and the interest
of the capital in changing the appearance of these areas and also transforming them into leisure
places. When adapting these historic centers for the development of the sector, the cultural heritage
was refunctionalized as a touristic resource and new leisure areas, hotels, bars, souvenirs shops and
restaurants were built in this part of the cities. This change not only made these places exclusively
affordable for the middle classes and the economic elite, but it also changed the actual meaning of
these tangible or intangible properties for the locals. Also, the touristification of these historic
centers led to a process of gentrification whose characteristics may change depending on the city.
The objective of this research is to identify and analyze the effects of the touristic
refunctionalization of the cultural heritage on the socio-spatial dynamic of city-dwellers, tourists
and new companies in the historic center of Old Havana, Cuba. The bibliographic review and the
empirical research showed that a process of gentrification was taking place in the historic center of
Old Havana. This process presents similar characteristics to the ones in Latin America; however, it
also differs from them since the Cuban government takes special care of its people and leads many
social projects whose main goals are the resolution of housing issues and the cultural promotion.
Keywords: Tourism, Cultural Heritage, Gentrification.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1: Mapa dos oito setores funcionais do Centro Histórico de Havana Velha……….25
Figura 2: Cartaz de protesto dos dos moradores do Centro Histórico de Ciudad de México,
2019.......................................................................................................................................43
Figura 3: Novos prédios residenciais no Centro Histórico de Ciudad México……………46
Figura 4: Mapa do bairro pericentral a Floresta, Ecuador…………………….…..……….49
Figura 5: Exterior da Puerta de Monserrate de la Muralla de La Habana………………54
Figura 6: Plaza e Convento de San Francisco século XVIII…………………….………..55
Figura 7: Plaza Vieja século XVIII…………………….…………………….……………55
Figura 8: Convento de San Juan de Letrán onde radicou a Real y Pontificia Universidad de
San Jerónimo…………………….…………………….…………………….……………..56
Figura 9: Teatro Tacón…………………….…………………….……………………..…..56
Figura 10: Localização geográfica do Centro Histórico de Havana……………………...58
Figura 11: Edificio Bacardí e Cine Fausto, de esquerda a direita………………………..59
Figura 12: Castillo de la Real Fuerza, na atualidade…………………….………………...61
Figura 13: Palacio Aldama…………………….…………………….………………...…..61
Figura 14: Iglesia de San Francisco de Paula, na atualidade…………………….………..61
Figura 15: Antigo Palacio Presidencial, 2017 (Hoje, Museo de la Revolución).................62
Figura 16: Capitolio Nacional…………………….…………………….…………........….62
Figura 17: Centro Asturiano, na atualidade…………………….…………………….…...63
Figura 18: Centro Gallego, na atualidade…………………….…………………….……..63
Figura 19: Instituto de Segunda Enseñanza No. 1, na atualidade……………………..…63
Figura 20: Convento de San Juan de Letrán………………………………..…………....64
Figura 21: Casa Natal de José Martí………………………………..…………………….70
Figura 22: Hotel Inglaterra………………………………..……………………………….70
Figura 23: Museo Histórico de las Ciencias Carlos J. Finlay……………………….……..70
Figura 24: Centro Histórico de Havana Velha e o sistema de fortificações……………...75
Figura 25: Fortificações militares de Havana Velha………………………………..…….76
Figura 26: La Plaza Vieja antes da restauração e depois de recuperada em 2017 ……….78
Figura 27: Antigo Colegio de San Francisco de Sales restaurado e refuncionalizado como
restaurante desde 1984 ………………………………..…………………………………..80
Figura 28: Casa da família Franchi Alfaro antes da restauração da década de 1980 e durante
a década de 1990 ………………………………..…………………………………..…….80
Figura 29: Antiga mansão del Conde de Casa Lombillo antes da restauração da década de
1980 depois nos anos 1990 ………………………………..……………………...……….80
Figura 30: Cooperação internacional (1994-2008)………………………………..……...82
Figura 31: Chegadas turísticas a Cuba no período 1980-1990…………………………..83
Figura 32: Hotel Santa Isabel………………………………..……………………...…..….85
Figura 33: Hotel Marqués de Prado Ameno………………………………..………...…...86
Figura 34: Antiga Lonja do Comercio………………………………..……………...……88
Figura 35: Edifício Gómez Vila………………………………..………………………......88
Figura 36: Organigrama da Oficina del Historiador de la Ciudad de La Habana………..90
Figura 37: Turistas e rendimentos do setor no período 1990-1994………………………..93
Figura 38: Turistas e rendimentos do setor no período 1995-2000……………………...94
Figura 39: Cortiço na antiga moradia de Beltrán de Santa Cruz (esquerda) e Hotel Beltrán
de Santa Cruz (direita) depois da refuncionalização………………………………..……..99
Figura 40: Cortiço da rua Teniente Rey, hoje Hotel Los Frailes…………………….…...100
Figura 41: Hotéis dos diferentes grupos hoteleiros e restaurantes de Habaguanex no Centro
Histórico de Havana Velha ………………………………..…………………….……….105
Figura 42: Mural do antigo Liceo Artístico y Leterario de La Habana…………………106
Figura 43: Apropriação dos espaços públicos pelos restaurantes turísticos…………....107
Figura 44: Terminal Internacional de Cruceros na Baía de Havana…………………….108
Figura 45: Centro Cultural Antiguos Almacenes de Depósito San José………………..109
Figura 46: Artigos comercializados no Centro Cultural Antiguos Almacenes de Depósito
San José…………………..…………………..…………………..……………..……...…109
Figura 47: Fábrica de Cerveza Artesanal no antigo Almacén del Tabaco y la Madera…..110
Figura 48: Catedral de la Virgen María de la Concepción Inmaculada de La Habana na
campanha turística Auténtica Cuba………………………………..………………….…..111
Figura 49: A Plaza Vieja em 1999, já iniciada a recuperação…………………………...112
Figura 50: Imagem atual da Plaza Vieja………………………………..…………...……112
Figura 51: Coches de Cavalo no Centro Histórico de Havana Velha…………………..113
Figura 52: Havanesas………………………………..……………………………….…...114
Figura 53: Pequena loja de artesanato privada no Centro Histórico de Havana Velha…115
Figura 54: Hospedagem privada no Centro Histórico de Havana Velha……………….115
Figura 55: Restaurante privado “Doña Blanquita” no Centro Histórico de Havana
Velha...................................................................................................................................116
Figura 56: Restaurante privado Mojito Mojito………………………………..………..117
Figura 57: Restaurante estatal La Imprenta………………………………..……………..118
Figura 58: Mapa das funções predominantes do solo no Centro Histórico de Havana
Velha...................................................................................................................................121
Figura 59: Hotel Iberostar Grand Packard Habana………………………………..……...124
Figura 60: Hotel Paseo del Prado, ainda em restauração………………………………..125
Figura 61: Mapa das funções predominantes proposta do solo no Centro Histórico de
Havana Velha para 2030………………………………..……………………..….....……126
Figura 62: Ocupação na economia por forma de propriedade em 2012…………………134
Figura 63: Moradias em perigo de desabamento……………………………………..…..135
Figura 64: Mapa dos oito setores funcionais do Centro Histórico de Havana Velha…...137
Figura 65: Reconstrução do futuro Hotel Palacio de Cueto, numa esquina da Plaza
Vieja....................................................................................................................................147
Figura 66: Pantomimeiros na rua Obispo e na Plaza de San Francisco, de esquerda a
direita...…............................................................................................................................149
Figura 67: Interior de um cortiço no Centro Histórico de Havana Velha…………….....151
Figura 68: Imagem da campanha da OHCH pelo 500 aniversário da cidade…………...155
Figura 69: Gran Teatro de la Habana Alicia Alonso……………………………….……..158
Figura 70: População local e turistas internacionais numa apresentação do Festival de
Danza
Callejera………………………………..………….......…………..……………………...159
Figura 71: Chegadas anuais de turistas internacionais a Cuba e Havana no período 2015-
2018….…………………..…………………..……………....……..………………….….164
Figura 72: Manzana de Gómez (2003) e Hotel Manzana Kempinski (2018)…………….171
Figura 73: Prédios em mau estado construtivo no Centro Histórico de Havana Velha….174
Figura 74: Ruas Mercaderes e Muralla………………………………..………….......…..175
Figura 75: Vendedores ambulantes no Centro Histórico de Havana Velha……………..176
Figura 76: Complejo Comercial Gastronómico Variedades Obispo, entrada…………...180
Figura 77: Complejo Comercial Gastronómico Variedades Obispo, lateral rua Obispo..180
Figura 78: Restaurante Floridita………………………………..……………………….171
Figura 79: Hotel Iberostar Parque Central ………………………………..…….....…….181
Figura 80: Grupo de moradias vizinhas ao Hotel Parque Central……………………….182
Figura 81: San Ignacio 255, moradia protegida para idosos………………………..........184
Figura 82: Moradia estudantil em restauração………………………………..………...184
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Entrevistas…………………..…………………..…………………..…........…..26
Quadro 2: Observação guiada…………………..…………………..………………….......27
Quadro 3: Levantamento fotográfico…………………..…………………..………...…….28
Quadro 4: Monumentos Nacionales no Centro Histórico de Havana Velha……………..68
Quadro 5: Sistema de fortificações incluídas na declaratória da UNESCO……………..73
Quadro 6: Assistência econômica da UNESCO no processo de restauração do Centro
Histórico de Havana Velha e seu sistema de fortificações …………………..…………..77
Quadro 7: Alojamentos turísticos estatais no Centro Histórico de Havana Velha……….95
Quadro 8: Bares e restaurantes de Habaguanex no Centro Histórico de Havana
Velha…………………..…………………..…………………..………………………....101
Quadro 9: Número de imóveis e espaços recuperados segundo a sua função no período
1991-2008…………………..…………………..…………………..………......…….…..119
Quadro 10: Imóveis refuncionalizados para atividades culturais e educativas…………...119
Quadro 11: Projetos hoteleiros no Centro Histórico de Havana Velha………………….122
Quadro 12: População e moradia no Centro Histórico de Havana Velha (1990-2012)......133
Quadro 13: Frequência de aparição dos códigos associados à definição de patrimônio
cultural na fala dos atores entrevistados…………………..…………………..………......139
Quadro 14: Patrimônios culturais reconhecidos pelos atores entrevistados ……………141
Quadro 15: Frequência de aparição dos códigos associados ao valor do patrimônio cultural
na fala dos atores entrevistados…………………..…………………..……………….......145
Quadro 16: Principais beneficiários das ações de recuperação e refuncionalização do
patrimônio arquitetônico no Centro Histórico de Havana Velha, segundo os grupos
entrevistados…………........................................................................................................151
Quadro 17: Atividades recreativas, culturais e de turismo frequentadas/pensadas para a
população local e os turistas nacionais…………………..…………………..………….156
Quadro 18: Quantidade de turistas que visitaram Cuba e Havana no período 1990-
2015.....................................................................................................................................163
Quadro 19: Aspectos positivos e negativos do aumento do número de turistas no Centro
Histórico de Havana Velha para a população local…………………..…………………..165
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO…………………..…………………..………………….………………..17
O CAMINHO METODOLÓGICO…………………..…………………..………….......21
PRIMEIRA PARTE: TURISMO E PATRIMÔNIO CULTURAL: NOVOS USOS E
SOCIABILIDADES…………………..…………………..………………..………..…....31
1. A RELAÇÃO ENTRE O TURISMO, O PATRIMÔNIO CULTURAL E O
PROCESSO DE GENTRIFICAÇÃO NA AMÉRICA LATINA……………………..32
1.1 TURISMO E PATRIMÔNIO CULTURAL…………………..…………………..….32
1.2 GENTRIFICAÇÃO E AS SUAS CARACTERÍSTICAS NA AMÉRICA LATINA…44
1.2.1 Ciudad de México: o “blanqueamiento” do Centro……..………..………..……..44
1.2.2 Sem retorno ao centro de Quito…………………..…………………..…………...47
1.2.3 Santiago de Chile e as suas singularidades…………………..…………………....50
1.3 POSSIBILIDADES DO DESENVOLVIMENTO TURÍSTICO……..………..…….52
2. O PROCESSO DE VALORIZAÇÃO TURÍSTICA DO PATRIMÔNIO
CULTURAL NO CENTRO HISTÓRICO DE HAVANA VELHA, CUBA……..…54
2.1 A EVOLUÇÃO DO CENTRO HISTÓRICO DE HAVANA VELHA, CUBA NO
PERÍODO
COLONIAL…………………..…………………..………………..…….........………..….54
2.2 A OFICINA DEL HISTORIADOR DE LA CIUDAD DE LA HABANA: UM INTENTO
POR RESGATAR A HAVANA VELHA…………………..…………………..…………57
2.3 A DECLARATÓRIA DA UNESCO NO CENTRO HISTÓRICO DE HAVANA
VELHA….............................................................................................................................71
2.4 O TURISMO COMO ESTRATÉGIA ECONÔMICA E A CRIAÇÃO DA
COMPANHIA TURÍSTICA HABAGUANEX S.A. NA DÉCADA DE 1990……....….84
3. REFUNCIONALIZAÇÃO TURÍSTICA NO CENTRO HISTÓRICO DE
HAVANA
VELHA…………………..…………………..………………..…..…..………....………...92
3.1 A REFUNCIONALIZAÇÃO TURÍSTICA DAS EDIFICAÇÕES NO CENTRO
HISTÓRICO DE HAVANA VELHA…………………..…………………..…………..…92
3.2 O PAPEL DO ESTADO NO PROCESSO DE REFUNCIONALIZAÇÃO DO
PATRIMÔNIO CULTURAL…………………..…………………..…....…..………..….127
SEGUNDA PARTE: A VISÃO DOS DIFERENTES ATORES ENVOLVIDOS NO
PROCESSO DE VALORIZAÇÃO TURÍSTICA DO PATRIMÔNIO CULTURAL
NO CENTRO HISTÓRICO DE HAVANA VELHA…………………..……………..132
4. REFUNCIONALIZAÇÃO E RESSIGNIFICAÇÃO DO PATRIMÔNIO
CULTURAL NO CENTRO HISTÓRICO DE HAVANA VELHA: A VISÃO DOS
DIFERENTES ATORES ENVOLVIDOS…………………..………….....…..……….133
4.1 RESSIGNIFICAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL PARA A POPULAÇÃO
LOCAL DO CENTRO HISTÓRICO DE HAVANA VELHA…………………..….…133
4.2 O PROCESSO ATUAL DE PRESERVAÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL NO
CENTRO HISTÓRICO DE HAVANA VELHA…………………..………………….....146
4.3 REFUNCIONALIZAÇÃO TURÍSTICA E RESIGNIFICAÇÃO DO PATRIMÔNIO
CULTURAL NO CENTRO HISTÓRICO: POSSIBILIDADES DE USO……..……….156
TERCEIRA PARTE: AS NOVAS DINÂMICAS SOCIOESPACIAIS NO CENTRO
HISTÓRICO DE HAVANA VELHA…………………..…………………..…………162
5. INFLUÊNCIA DA ABERTURA PARA O TURISMO NA VIDA DOS
MORADORES TRADICIONAIS DO CENTRO HISTÓRICO DE HAVANA
VELHA. O TURISMO COMO ALTERNATIVA ECONÔMICA………………..…163
5.1 OS EFEITOS DA ABERTURA PARA O TURISMO E DA REFUNCIONALIZAÇÃO
TURÍSTICA DO PATRIMÔNIO CULTURAL NA DINÂMICA SOCIOESPACIAL
ENTRE MORADORES TRADICIONAIS, TURISTAS E NOVOS
EMPREENDIMENTOS NO CENTRO HISTÓRICO DE HAVANA VELHA……….163
5.2 O CENTRO HISTÓRICO DE HAVANA VELHA: UM CASO DE
GENTRIFICAÇÃO?……..………..………..………..………..………..…...........………170
CONSIDERAÇÕES FINAIS…………………..…………………..……………….......183
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS…………………..…………………..…….…188
ANEXOS…………………..…………………..…………………………….…………...205
16
APRESENTAÇÃO
Pesquisar é sempre um desafio. Quando começamos a investigação nos defrontamos com
horas de leitura minuciosa, com análises e interpretações, com escrever e reescrever uma
mesma página. Pesquisar sobre Cuba pode supor um desafio extra, se não se compreendem
as peculiaridades econômicas e políticas do sistema socialista do país, se não se conhecem
as suas instituições e a sua história, então, é importante, de saída, esclarecer o leitor de que
é deste lugar que escrevo essa dissertação. Sou cubana, vivi toda minha vida no país e
tenho um amor muito grande pelo Centro Histórico de Havana Velha, mesmo não sendo
havanesa, do tempo de estudo universitários, pois minha faculdade se localizava na zona.
Expor a minha nacionalidade e explicar um pouco sobre a minha formação poderiam ser
alguns aspectos esclarecedores na posterior leitura do trabalho. Me formei como Licenciada
em Turismo, em 2014, na Univerdad de La Habana (UH). No meu Trabalho de Conclusão
de Curso pesquisei com patrimônio gastronômico e, desde essa época, tinha interesse e
inquietudes sobre a relação o turismo e o patrimônio cultural. Trabalhei como Especialista
Comercial no Departamento de Vendas do Hotel H10 Habana Panorama, até março 2016 e,
desde essa data, moro no Brasil. Procurei fazer o Mestrado em Geografia, pois soube sobre
a linha de pesquisa da professora Dra. Maria Tereza Duarte Paes, gostei muito da temática
que abordam e de como estudavam o turismo desde uma ótica diferente daquela que eu
estava acostumada. Em março de 2017 comecei o Mestrado sob a sua orientação. As
informações que utilizo no trabalho são fundamentalmente o resultado de revisão
bibliográfica, pesquisa documental e do trabalho de campo realizado no Centro Histórico
de Havana Velha, entre agosto e setembro de 2018, mas, as vezes, não consegui fugir de
colocar dados que conheço por ser cubana e ter vivido no país quase toda minha vida, ou
por ter sido estagiária e ter trabalhado no setor turístico cubano de 2009 até 2016.
O tempo do mestrado, as disciplinas, as leituras indicadas pela professora Tereza, a
oportunidade de conhecer sobre as pesquisas dos seus outros orientandos e dos integrantes
do grupo de pesquisa “Geografia, Turismo e Patrimônio Cultural” sob sua orientação, a
possibilidade de compartilhar informações e critérios com eles, modificou muito (realmente
muito) meu olhar sobre o turismo, o patrimônio e as relações que estabelecem no espaço. O
resultado destes quase três anos de mudanças e aprendizado é este trabalho.
17
INTRODUÇÃO
A turistificação de alguns centros históricos da América Latina está muito
relacionada com as declaratórias destes sítios a Patrimônio Cultural da Humanidade, pela
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e à Cultura (UNESCO). A
declaratória é uma garantia de relevância e notoriedade a nível internacional e vira um
reconhecimento utilizável para atrair investimentos e turistas (DELGADILLO, 2015),
como aconteceu em cidades como Quito (DEL PINO, 2010), Cartagena (POSSO, 2015) e
Ciudad de México (DELGADILLO, 2015).
Com a finalidade de garantir o sucesso no desenvolvimento da atividade
turística, a imagem, muitas vezes deteriorada e decadente (POSSO, 2015; DELGADILLO,
2016), destes bairros centrais deve mudar. Assim, durante a década de 1990, nas diferentes
cidades da América Latina, nos antigos centros históricos aconteceram processos de
refuncionalização turística mediante a renovação urbana (PAES, 2017) e, em vários casos,
pela declaratória de patrimônio mundial da UNESCO. Muitos prédios de valor histórico e
cultural foram transformados em hotéis, restaurantes, cafés, bares, lojas de souvenirs
orientados ao turismo, o que provocou uma “homogeneización del paisaje”
(DELGADILLO, 2015, p. 126) nestes centros históricos convertidos em cenários, nos quais
a fachada é o principal recurso (POSSO, 2015), para o turismo. Os bens imateriais também
entraram nesta lógica comercial de representação da cidade antiga para o turista e, assim as
tradições dos diferentes bairros e municípios foram recriadas e espetacularizadas para o
consumo. A cidade e o seu patrimônio tornam-se mercadorias e o valor cultural, histórico e
social fica relegado a um segundo plano (PAES, 2012).
A patrimonialização pela UNESCO dos bens materiais e imateriais de
significação histórica e cultural colocou na mira das empresas turísticas cidades e bairros
pouco conhecidos a nível global, sendo transformados em atrativos turísticos
economicamente produtivos. Segundo Delgadillo (2015) existe uma relação direta entre o
reconhecimento por organismos internacionais como a UNESCO, e a agudização dos
conflitos pelo espaço e a emergência de processos de gentrificação.
As características deste processo na América Latina variam de uma cidade a
outra (PAES, 2009; HIERNAUX e GONZÁLEZ, 2014; ALEXANDRI ET AL., 2016;
DELGADILLO, 2016; JANOSCHKA, 2016), porém é, de maneira geral, um fenômeno
que exclui aos moradores tradicionais e converte os espaços, valorizados pelo turismo, e
pelo capital imobiliário, em zonas das elites sociais e dos turistas.
18
O presente trabalho se propõe a estudar o caso do Centro Histórico de Havana
Velha, por ser uma zona que possui um alto número de edificações de distintos períodos
históricos e estilos arquitetônicos, um sistema de fortificações que data da etapa colonial e
variados espaços públicos, em um bom estado de conservação patrimonial e que foi
declarado em conjunto com o sistema defensivo pela UNESCO: Patrimônio Cultural da
Humanidade, em 1982.
O desenvolvimento da atividade turística em Cuba se inicia na década de 1990,
porém, nos primeiros anos, o país aposta pelo turismo de sol e praia. Em 1993, as
estratégias para que este setor evolua, variam e se reorientam também para o
desenvolvimento do turismo cultural. Neste mesmo ano, aumentam as ações para fomentar
esta modalidade no Centro Histórico de Havana Velha que passa de receber
aproximadamente 240 mil turistas anuais, em 1990, e a receber perto dos 2 827 146 turistas
em 2018 (MARTÍN FERNÁNDEZ, 2008; PRUDENTE, 2009; ONE, 2019).
Além de ser um país com um sistema político e econômico diferente do resto
das nações da América Latina, ocorrem processos de reestruturação do espaço urbano para
adaptar a zona central aos interesses do capital turístico e dos turistas que criam conflitos
no espaço urbano (SEGRE, 1997; SCARPACCI, 2001).
Assim, a presente pesquisa se propõe como problema a questão: Como
acontecem os processos de recuperação e refuncionalização turística do patrimônio cultural
no Centro Histórico de Havana Velha?
Para tanto, propomos como objetivo geral identificar e analisar os efeitos da
refuncionalização turística (PAES, 2009) do patrimônio cultural na dinâmica socioespacial
entre moradores tradicionais, turistas e novos empreendimentos no Centro Histórico de
Havana Velha.
Além de buscarmos analisar o desenvolvimento das relações entre turismo e
patrimônio cultural na América Latina e, em particular, em Cuba, no Centro Histórico de
Havana Velha, buscamos identificar e analisar a influência da valorização turística do
patrimônio cultural na vida dos moradores do Centro Histórico de Havana Velha.
Segundo nossas hipóteses, a recuperação e a valorização turística do patrimônio
cultural no Centro Histórico de Havana Velha, se manifesta como um processo
contraditório. De um lado, favorece a população local pela infraestrutura instalada e pelos
projetos sociais desenvolvidos na zona, de outro, a turistificação ameaça a permanência da
população de moradores, como tem acontecido em inúmeras cidades da América Latina.
19
O presente trabalho está estruturado em três partes e cinco capítulos. A primeira
parte, intitulada: Turismo e patrimônio cultural: novos usos e sociabilidades, possui três
capítulos. O primeiro: Relação turismo, patrimônio cultural e o processo de gentrificação
na América Latina, aborda a relação que se estabelece entre turismo e patrimônio cultural,
principalmente nos Centros Históricos da América Latina e como nestes espaços, onde o
patrimônio é valorizado pelo turismo, são frequentes as afetações na dinâmica socioespacial
dos moradores. Além disso, se abordam os conceitos de refuncionalização turística e de
gentrificação, com a análise de três estudos de caso: Ciudad de México, Quito e Santiago de
Chile. As cidades foram escolhidas pela tipicidade de cada um dos seus processos nos quais
se analisaram a origem do processo, a trajetória, os atores envolvidos e as consequências
dos deslocamentos originados. O segundo capítulo: O processo de valorização turística do
patrimônio cultural no Centro Histórico de Havana Velha, Cuba; introduz o estudo de caso
principal da pesquisa que é o Centro Histórico de Havana Velha, com sua história,
localização, dados demográficos, entre outras caracterizações. Além disso, este capítulo
apresenta a Oficina del Historiador de la Ciudad de La Habana (OHCH), instituição
encarregada da preservação histórico-cultural nesta zona e a ampliação das suas funções ao
setor turístico, assim como a declaratória do Centro Histórico e o sistema defensivo da
cidade como Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO, em 1982. O terceiro e
último capítulo desta primeira parte, denominado: Refuncionalização turística no Centro
Histórico de Havana Velha, expõe as características do processo de refuncionalização na
zona estudada e o papel das diferentes esferas do Estado cubano no mesmo.
A segunda parte desta dissertação: A visão dos diferentes atores envolvidos no
processo de valorização turística do patrimônio cultural no Centro Histórico de Havana
Velha, consta de um único capítulo. Este está denominado: Refuncionalização e
ressignificação do patrimônio cultural no Centro Histórico de Havana Velha: a visão dos
diferentes atores envolvidos, e é o primeiro capítulo no qual se começam a analisar alguns
dos resultados do trabalho de campo. O mesmo aborda o processo de recuperação atual do
Centro, a significação do patrimônio cultural para a população local e as possibilidades de
uso para os moradores deste espaço refuncionalizado para o turismo.
A terceira, e última parte: Influência da abertura para o turismo na vida dos
moradores tradicionais do Centro Histórico de Havana Velha, aborda o turismo como
alternativa econômica, analisa com os dados obtidos no trabalho de campo o
desenvolvimento turístico no Centro e os aspectos positivos e negativos que a abertura
turística levou para a população local. Além disso, estuda as possibilidades de que no
20
Centro Histórico de Havana Velha esteja emergindo um caso de gentrificação e, finalmente,
explica os desafios para o desenvolvimento local. Este capítulo finaliza as discussões
propostas no trabalho demonstrando o cumprimento da hipótese proposta.
21
O CAMINHO METODOLÓGICO
No processo de pesquisa, para dar cumprimento aos objetivos propostos, se
determinou realizar uma revisão bibliográfica que permitisse, primeiramente, uma análise
teórica sobre a relação que existe entre turismo e patrimônio cultural, a partir da
consolidação do turismo cultural como modalidade que procura colocar os turistas perto
das diferentes expressões históricas de identidade. Se estudaram diversos autores
ressaltando o fato da pesquisa estar orientada para o contexto da América Latina. Tais
referências permitiram entender o processo do patrimônio histórico e cultural e da cidade,
convertidos em produtos, na lógica do mercado capitalista, assim como a refuncionalização
turística e a fragmentação espacial que acontecem nos centros históricos valorizados pelo
turismo.
Por ser um processo de reestruturação espacial que acontece nas cidades
latinoamericanas, vinculado ao desenvolvimento turístico (PAES, 2017), como aponta a
bibliografia estudada, foi analisada também a conceitualização da gentrificação e, num
primeiro momento, as características do processo no Norte global, na década dos 1960.
Esse estudo permitiu entender a definição de gentrificação, muito associada ao retorno da
inversão de capital e das classes com maior poder econômico às áreas centrais da cidade,
reincorporando estes centros ao mercado capitalista como um processo de segregação
socioespacial tendo como base o poder econômico. Vários autores foram fundamentais para
entender as especificidades desse fenômeno na América Latina, que possui características
diferentes do modelo descrito nos primeiros casos dos países centrais e são próprias destes
contextos, com diferenças marcadas de um caso a outro.
Outra revisão bibliográfica foi muito útil para repensar o turismo, não só como
um setor da economia, que gera conflitos financeiros, socioculturais, políticos e ambientais
no espaço, mas também como uma possibilidade de desenvolvimento econômico para as
populações locais, sempre que o seu bem estar seja respeitado, e como oportunidade para a
conservação da riqueza cultural e histórica dos centros urbanos, se bem gerido.
No segundo capítulo, procurou-se estudar o processo de resgate do patrimônio
cultural do Centro Histórico de Havana Velha e como acontece a sua valorização pelo
turismo. Vários textos ajudaram a compreender o papel da OHCH neste processo, como
esta passa de uma instituição que procura preservar os valores patrimoniais, tangíveis e
intangíveis do Centro Histórico de Havana Velha, para uma empresa que administra um
sistema empresarial vinculado principalmente ao turismo, atividade que financia os
trabalhos de recuperação. Na bibliografia estudada se destaca o interesse estatal por integrar
22
à população ao processo de transformação do Centro Histórico e por garantir a sua
permanência na zona. Na investigação sobre a declaratória do Centro Histórico e o sistema
defensivo da cidade como Patrimônio Cultural da Humanidade, foi muito útil também o
acesso aos documentos no portal digital da UNESCO (2018).
Na elaboração do terceiro capítulo procurou-se estudar o processo de
refuncionalização turística no Centro Histórico de Havana Velha para isto também
recorremos à bibliografia específicade modo a analisar o desenvolvimento do turismo em
Cuba e as mudanças de usos dos prédios e do espaço a partir de 1990. Além disso, se
produziram dois quadros que resumem a transformação de diversos imóveis em instituições
turísticas (hotéis e restaurantes), a partir de informações de sites web como: Hoteles
Habaguanex (2019), Holiplus (2019), D-Cuba (2019), Habana Radio (2019), Restaurantes
en Cuba (2019) e Paseos por la Habana (2019). Se trabalhou com o Plan Especial de
Desarrollo Integral do Plan Maestro (2016), que permitiu entender o processo de
transformação do Centro Histórico como uma atividade ainda inacabada e em progresso.
Também se realizou uma análise do papel do Estado neste processo no qual foram de muita
utilidade os artículos do Acuerdo no. 2951 e da Resolución Conjunta de 1996, que
demonstram o apoio do Estado para que o Centro Histórico de Havana Velha vire uma zona
eminentemente turística.
Na escrita do quarto capítulo que pertence a segunda parte deste trabalho: A
visão dos diferentes atores envolvidos no processo de valorização turística do patrimônio
cultural no Centro Histórico de Havana Velha, foram analisados dados do Rodríguez
Alomá (2009, 2012) e o Plan Maestro (2016), para obter estatísticas referentes à população
residente no Centro Histórico de Havana Velha (por sexo, idades, nível educacional), à
densidade populacional nos diferentes períodos, o número de moradias, a população
economicamente ativa, aos ocupados por tipo de atividade econômica e setor, salário médio
mensal, entre outros temas de interesse que se determinaram no processo de pesquisa.
Além disso, neste capítulo se abordam conceitos como significação e ressignificação do
patrimônio cultural, e para compreender os mesmos foram estudados autores como: Leão
(2009), Fernández et al. (2016) e Cordero e Meneses (2019), chegando a entender que a
cidade, os seus bens edificados -patrimoniais ou não- e as suas tradições possuem usos e
significados em determinados períodos de tempo, para grupos ou indivíduos, mas estes
usos podem mudar e estas interpretações são susceptíveis portanto a sua ressignificação.
Para a elaboração do capítulo cinco, pertencente à terceira e última parte do
trabalho: As novas dinâmicas socioespaciais no Centro Histórico de Havana Velha, foram
23
estudados os textos de o Plan Maestro e Oficina del Historiador de la Ciudad de La Habana
(2014) e o Plan Maestro (2016) para ter alguns dados sobre o desenvolvimento do turismo
na zona de estudo, e os textos de Segre (1997), Nuñez Fernández e García Pleyán (2000),
Scarpacci (2000), (Rodríguez Alomá, 2001), Leal (2004), Noguera (2004), Delgadillo
(2015) e Prudente (2009) serviram para analisar se no Centro Histórico se presenta um caso
de gentrificação e as suas características. Porém, para este capítulo e o anterior são de
muito valor os resultados do trabalho de campo, analisados mais à frente.
No referente à pesquisa documental, no trabalho de campo, realizado no Centro
Histórico de Havana Velha, de agosto a setembro de 2018, se obtiveram na Empresa de
Proyectos RESTAURA mapas e fotografias de Havana Velha em períodos anteriores.
Também foram utilizados sites disponíveis na página da Oficina del Historiador de la
Ciudad: Emisora Habana Radio, Habaguanex S.A, Revista Opus Habana e Plan Maestro.
Os documentos obtidos nesses sites foram utilizados a partir do segundo capítulo. Os
documentos da Emisora Habana Radio serviram para determinar os usos anteriores de
várias edificações refuncionalizadas como hotéis e restaurantes. Habaguanex S.A permitiu
obter informações sobre esta companhia turística. Na Revista Opus Habana se consultaram
dentre outros artigos: Centrando una idea de intervención, de Inclán e Castillo (2012), sobre
a refuncionalização do porto. No Plan Maestro se obtiveram textos fundamentais para o
trabalho como Regulaciones. La Habana Vieja, Centro histórico (s/a), que disponibilizou
várias leis sobre as regulações urbanísticas do Centro Histórico e o Plan Especial de
Desarrollo Integral 2030 (2016), que facilita as projeções do trabalho até 2030. Além disso,
se trabalhou com o repositório do Consejo Nacional de Patrimonio Cultural del Ministerio
de Cultura que disponibiliza documentos que listam os Patrimônios Mundiais en Cuba, o
Patrimônio Cultural da nação, os Monumentos Nacionais e o Patrimônio Imaterial, assim
como as resoluções para seus reconhecimentos. No capítulo quatro foram utilizados estes
documentos para conhecer as datas das declaratórias e comparar os bens materiais e
imateriais percebidos como patrimônios pela população -não oficiais- e os nomeados e
reconhecidos oficialmente.
Além disso, se requereram dados que foram obtidos na pesquisa documental
nos Anuários Estatísticos de Cuba, que fornece a Oficina Nacional de Estadísticas (ONE),
para obter estatísticas referentes às cifras de turistas internacionais que visitaram Cuba entre
1990 e 2015 e no período 2015-2018. Estes dados permitiram elaborar o Quadro 18 e a
Figura 71 do capítulo quatro. No repositório digital da UNESCO se obtiveram documentos
referentes à declaratória do Centro Histórico de Havana Velha e seu sistema defensivo
24
como Patrimônio Cultural da Humanidade tais como: a Avaliação da Organização
Consultora (ICOMOS), Documentos da Cooperação Financeira Internacional e da
Assistência Técnica, os critérios para o reconhecimento e a lista das fortificações
declaradas. Estes documentos foram de grande importância na elaboração do capítulo dois.
Para os capítulos quatro e cinco tem muito valor a visão dos moradores
tradicionais, dos trabalhadores estatais (não vinculados diretamente às atividades turística
ou de recuperação do patrimônio), trabalhadores ou donos de negócios privados, atores dos
centros de gestão do patrimônio e do turismo, no processo de valorização turística do
Centro Histórico de Havana Velha é um ponto essencial, pois o trabalho procura analisar as
contradições socioespaciais presentes desde a perspectiva destes atores envolvidos. Desta
forma a elaboração destes capítulos depende em grande medida da análise das entrevistas
semi-estruturadas realizadas no trabalho de campo no Centro Histórico de Havana Velha.
O trabalho de campo se realizou no Centro Histórico de Havana, município de
Havana Velha. Porém, por ser uma área muito extensa (2,14 km2), para selecionar as áreas
de trabalho, se utilizou a divisão feita pelo Plan Maestro no processo de recuperação do
Centro. A mesma consta de oito setores funcionais. Na figura 1, que é um mapa do Centro
Histórico, se podem apreciar os oito setores funcionais, mas, as zonas estudadas são as que
concentram o maior número de atividades terciárias, ou seja quatro setores funcionais:
T1: Catedral-Plaza Vieja: potencialidad para actividades turísticas y terciarias
T2: Corredor Obispo-O'Reilly: potencialidad para actividades terciarias
T3: Paseo del Prado: potencialidad para actividades turísticas y terciarias
T4:Calle Muralla: potencialidad para actividades terciarias (SALINAS e ECHARRI, 2005, p. 177)
25
Figura 1: Mapa dos oito setores funcionais do Centro Histórico de Havana Velha
FONTE: Elaborado por pela autora (2018) a partir de informações extraídas de SALINAS e ECHARRI
(2005)
Nestes setores se realizaram as entrevistas (Anexos A, B, C, D e E), a
observação guiada (Anexo f) e o levantamento fotográfico previsto para o trabalho de
campo, com a participação de diversos atores da sociedade.
As entrevistas semi-estruturadas a moradores tradicionais, trabalhadores
estatais (não vinculados diretamente às atividades turística ou de recuperação do
patrimônio), trabalhadores ou donos de negócios privados, atores dos centros de gestão do
patrimônio e do turismo tiveram como objetivo conhecer e dar voz a estes sujeitos, de
modo de mapear a influência do uso do patrimônio cultural para o turismo na vida dos
moradores tradicionais do Centro Histórico de Havana (Quadro 1).
26
Quadro 1: Entrevistas
Atores
entrevistados
Descrição Centros, atividades e
comunidades às quais pertencem
os atores entrevistados
Entrevistas
realizadas
Moradores
locais
Pessoas que moram em algum
dos quatro setores de estudo
Comunidades: Catedral-Plaza
Vieja, Corredor Obispo-O'Reilly,
Paseo del Prado ou Calle Muralla
5
Trabalhadores
Estatais
Indivíduos que trabalham em
alguma das empresas estatais
dos setores de estudo (porém
não trabalham nas empresas
de patrimônio ou turismo)
Centros: Abaluarte, Biomédica,
Recursos Hidráulicos.
4
Trabalhadores
Privados
Donos e trabalhadores de
negócios privados dos setores
de estudo
Atividades: Artesanato, Guía de
turismo, Restaurantes, Hostal.
4
Atores dos
centros de
gestão do
patrimônio
Pessoas que trabalhem nos
centros de gestão do
patrimônio
Centros: Gabinete de restauración
y conservación de Pintura de
caballete e Empresa de Proyectos
da Oficina del Historiador de la
Ciudad, Plan Maestro
5
Atores dos
centros de
gestão do
turismo
Pessoas que trabalhem nos
centros de gestão do turismo
no Centro Histórico
Centros: Companhía Turística
Habaguanex, S. A., Agencia de
Viajes Amistur, Agencia de Viajes
Cubarama DMC, Grupo de
Turismo Gaviota S.A.
4
FONTE: Da autora (2018)
Foram entrevistados atores entre 19 e 79 anos. As entrevistas realizadas foram
gravadas em áudio. Com o objetivo de garantir a liberdade de participação na pesquisa,
cada pessoa que participou das entrevistas deu o seu consentimento no início da mesma
para ser entrevistado e gravado. Além disso, se esclareceu que a participação era de forma
voluntária e livre, sem obter nenhuma vantagem com isto. A pesquisadora se comprometeu
a preservar os dados que possam identificar aos participantes para assegurar o bem-estar e a
proteção dos indivíduos e a população com a qual se trabalha. As entrevistas foram
transcritas e analisadas com a utilização do programa computacional ATLAS.ti. Esta
ferramenta, criada para estudar dados qualitativos, auxilia na organização e interpretação
dos dados.
A amostra das entrevistas foi determinada de maneira aleatória, desta forma
todas as pessoas que moram ou trabalham no Centro Histórico de Havana Velha tiveram a
mesma possibilidade de fazer parte da pesquisa. Em relação às características esperadas da
27
amostra se deve sinalizar que as pessoas que participaram da pesquisa pertenciam a
qualquer sexo, cor/raça, orientação sexual e identidade de gênero, classes e grupos sociais,
pois estes fatores não são determinantes para os objetivos da mesma, mas se tentou buscar
um equilíbrio no momento de selecionar os entrevistados no campo. Todos os sujeitos
tiveram a mesma oportunidade de ser selecionados a partir de que tivessem mais de 18
anos.
A observação guiada (Quadro 2) e o levantamento fotográfico (Quadro 3)
procuraram determinar e registrar, respetivamente, as condições de vida da população
(moradia, serviços, equipamentos públicos, entre outros), infraestrutura para o turismo
(hotéis, restaurantes, centros noturnos, entre outros) e as características dos negócios
privados da área, conforme sintetizado nos quadros a seguir:
Quadro 2: Observação guiada
Objetivo Instalações e ruas nas quais se realizou a observação guiada
Determinar as condições de
vida da população
(moradias)
Ruas:
Setor 1: San Ignacio, Mercaderes, Teniente Rey e Muralla/ O’Reilly,
Empedrado, outros segmentos de San Ignacio e Mercaderes
Setor 2: Obispo e O’Reilly
Setor 3: Paseo del Prado (duas vias)
Setor 4: Muralla
Determinar as condições
dos equipamentos públicos
dos que dispõe a população
local de cada setor
(escolas, hospitais,
parques, entre outros)
Ruas:
Setor 1: San Ignacio, Mercaderes, Teniente Rey e Muralla/ O’Reilly,
Empedrado, outros segmentos de San Ignacio e Mercaderes
Setor 2: Obispo e O’Reilly
Setor 3: Paseo del Prado (duas vias)
Setor 4: Muralla
Determinar as condições
gerais de infraestrutura
estatal para o turismo
Instalações:
Setor 1: Restaurantes e bares: Cerveceria Plaza Vieja, Café Bohemia,
Azúcar!!! Lounge&Bar, Café el Escorial, Santo Ángel, El Patio, La
Bodeguita del Medio; Hotéis: Não tem presencia de hotéis neste setor
Setor 2: Restaurantes e bares: Bar Floridita, Café Paris; Hotéis:
Florida, Ambos Mundos, Santa Isabel, Hostel Marqués de Prado
Ameno
Setor 3: Restaurantes e bares: Cafeteria Prado Número 12, Havana
Gourmet Restaurants, Restaurante Prado y Neptuno; Hotéis: Saratoga
Havana; Hotel Inglaterra, Hotel Telégrafo, Hotel Iberostar Parque
Central, Hotel Mercure Sevilla
Setor 4: Restaurantes e bares: Mojito Mojito, La Vitrola; Hotéis: Não
tem presencia de hotéis neste setor
Entre outras que possam ser de interesse uma vez no campo
Determinar as condições
gerais de infraestrutura
Instalações:
Setor 1: Restaurantes e bares: Paladar Dona Eutimia, Paladar Galería
28
privada para o turismo Orozco; Hostels: Ana y Surama; Teniente Rey 16
Setor 2: Restaurantes e bares: Los Cocos, Café O’Reilly; Hostels: La
puerta de Obispo, Hostal Obispo, Casa Particular Tres Hermanas,
Hostal Gonzalez
Setor 3: Restaurantes e bares: El Asturianito, Los Nardos, D’Lirios
Bar Restaurante; Hostels: Casa Évora, Casa del Francés, Casa del
científico, La terracita de Julio
Setor 4: Restaurantes e bares: El Shamuskia’o, El Cubanito, Creperie
Oasis Nelva; Hostels: Casa Laura y Rodney, Casa 6 Balcones,
HavanaCasaParticular.com
Entre outras
FONTE: Da autora (2018)
Mesmo se tratando de muitas instalações, a realização da observação guiada
resultou viável, pois, não se realizou uma observação guiada de cada instalação e sim do
conjunto de instalações em geral dependendo do setor ao qual eles pertencem.
Quadro 3: Levantamento fotográfico
Objetivo Instalações, centros, instituições, comunidades e ruas nas
quais se realizará o levantamento fotográfico
Demonstrar a ocupação de
espaços públicos por restaurantes,
cafeterias e outros negócios
lucrativos
Dona Eutimia, D’Giovanni, Papa Ernesto, Café El Escorial,
Casa Victor, Bodegón Onda, Plaza Vieja, Casa del Ángel
Jacqueline Fumero, entre outros que foram encontrados no
campo
Demonstrar as diferenças nas
instalações de serviços
(restaurantes, cafeterias, etc.) em
Peso Cubano (CUP) orientadas
principalmente para a população
nacional e Peso Cubano
Convertível (CUC) destinadas
principalmente para o turismo1
Restaurantes e cafeterias:
Instalações em CUP:
Setor 1: Neste setor só existem instalações destinadas
principalmente ao turismo
Setor 2: Soda Obispo, La lluvia de Oro
Setor 3: Prado 264
Setor 4: -
Instalações em CUC:
1 Em Cuba existem duas moedas com as quais a população e os turistas podem realizar as transações: Peso
Cubano (CUP) e Peso Cubano Convertível (CUC). Os trabalhadores estatais cubanos recebem a maior parte
do salário em CUP, 24 o 25 CUP são equivalentes a 1 CUC. O salário mínimo mensal em Cuba é de 250 CUP
(10 CUC) aproximadamente e segundo a Redacción Nacional de Granma Digital (2019) -jornal oficial
cubano- em 2019 aumentará a 400 CUP (16 CUC). O CUC surge no Período Especial - crise da economia
cubana na década de 1990 que será abordada no transcurso deste trabalho - como uma moeda cubana
equivalente ao dólar estadunidense (1 CUC = 1 USD) com o objetivo de eliminar o excesso de liquidez em
CUP (o país continuava pagando os salários aos trabalhadores, mas existia escassez de produtos para serem
comprados), estabilizar a taxa de câmbio (chegou a ser 150 CUP por 1 USD) e servir como uma alternativa ao
dólar para posteriormente desdolarizar a economia (FERNANDES E MARTINS, 2015). Porém, na troca de
efetivo em Cuba de USD a CUC, é cobrada uma taxa de aproximadamente 10%, e não é possível trocar de
USD a CUP diretamente, o dinheiro em USD deve ser trocado a CUC e de CUC a CUP. Atualmente, na
maioria dos estabelecimentos comerciais, são aceitos tanto o CUP como o CUC, mas com USD - mesmo
estando legalizado - não se realizam operações comerciais em instalações estatais, excepto a troca. Os
29
Setor 1: Neste setor só existem instalações destinadas
principalmente ao turismo
Setor 2: Bar Floridita, Café Paris, Los Cocos, Café O’Reilly
Setor 3: Cafeteria Prado Número 12, Havana Gourmet
Restaurants, Restaurante Prado y Neptuno, El Asturianito, Los
Nardos, D’Lirios Bar Restaurante
Setor 4: Mojito Mojito, La Vitrola, El Shamuskia’o, El
Cubanito, Creperie Oasis Nelva
Hotéis e negócios onde
anteriormente existiam lugares
que ofereciam serviços à
população, e vice-versa
Atual Gran Hotel Manzana Kempinski La Habana - Antiga
Manzana de Gómez.
Hotel Santa Isabel – Antiga Lonja de Víveres
Analisar as diferenças entre as
casas dos moradores tradicionais e
as casa de aluguel para o turismo
Moradias das Ruas:
Setor 1: San Ignacio, Mercaderes, Teniente Rey e Muralla/
O’Reilly, Empedrado, outros segmentos de San Ignacio e
Mercaderes
Setor 2: Obispo e O’Reilly
Setor 3: Paseo del Prado (duas vias)
Setor 4: Muralla
Casas de aluguel para o turismo:
Setor 1: Ana y Surama; Teniente Rey 16
Setor 2: La puerta de Obispo, Hostal Obispo, Casa Particular
Tres Hermanas, Hostal Gonzalez
Setor 3: Casa Évora, Casa del Francés, Casa del científico, La
terracita de Julio
Setor 4: Casa Laura y Rodney, Casa 6 Balcones,
HavanaCasaParticular.com
Analisar as diferenças do estado
de recuperação das casas e ruas,
nas zonas turísticas e residenciais
Moradias e Ruas que estão em zonas de interesse turístico:
Setor 1: San Ignacio, Mercaderes, Teniente Rey e Muralla/
O’Reilly, Empedrado, outros segmentos de San Ignacio e
Mercaderes
Setor 2: Obispo e O’Reilly
Setor 3: Paseo del Prado (duas vias)
Setor 4: Muralla
Moradias e Ruas que estão em zonas residenciais do Centro
Histórico, que estão perto das zonas de interesse turístico:
Ruas: Mercaderes, San Ignacio, Aguiar, Compostela, Colón,
Trocadero
Mostrar a sobrecarga turística em
espaços públicos
Praça Velha, Rua Obispo, Praça da Catedral, entre outros
espaços.
FONTE: Da autora (2018)
Assim, desde março de 2017, a pesquisa passou por diferentes etapas de revisão
bibliográfica, pesquisa documental, desenho dos instrumentos que foram utilizados no
serviços turísticos possuem altos preços em CUC, e pela diferença na troca de CUP a CUC, se pode perceber
a sua orientação ao turismo internacional.
30
trabalho de campo (entrevistas, guia de observação), o trabalho de campo e o
processamento da informação recolhida no mesmo, passos que possibilitaram a elaboração
desta dissertação.
31
PRIMEIRA PARTE: TURISMO E PATRIMÔNIO CULTURAL:
NOVOS USOS E SOCIABILIDADES
32
1. A RELAÇÃO ENTRE O TURISMO, O PATRIMÔNIO CULTURAL E O
PROCESSO DE GENTRIFICAÇÃO NA AMÉRICA LATINA
1.1 TURISMO E PATRIMÔNIO CULTURAL
O turismo, desde a sua consolidação como atividade comercial no século XX,
se converteu em um dos principais motivadores de fluxos de pessoas, capitais e serviços do
período contemporâneo (KATCHIKIAN, 2008). Nas últimas décadas, o crescente aumento
dos deslocamentos para o lazer e a desvalorização dos destinos de turismo de massa fez
com que surgissem modalidades turísticas que enfatizam o caráter formativo, o
enriquecimento cultural e o compromisso com o meio ambiente, de modo a satisfazer as
expectativas dos públicos mais diferenciados e exigentes (AYALA, 2009).
Neste contexto, cresce a oferta e a demanda de produtos culturais, pois segundo
dados da OMT, de 1997 a 2007 as cifras de viagens culturais aumentaram de 199 a 359
milhões, respectivamente. Se se tem em conta que a estimativa percentual que a OMT
atribui a estes viagens é de 40%, então em 2018, 560 milhões de turistas se deslocaram por
esta motivação. Se trata de uma cifra considerável devido a que se contabilizam únicamente
os turistas internacionais (JULIÃO, 2013).
Este tipo de viagem é motivada pela busca por compreender e apreciar as
diferentes expressões de identidades culturais passadas e presentes (monumentos, museus,
arquitetura, sítios arqueológicos, ritos, gastronomia, festivais, estilos de vida e
manifestações artísticas tradicionais), e o seu desenvolvimento se deve ao interesse
crescente de uma parte da população que possui recursos econômicos, disponibilidade de
tempo e valoriza as expressões do passado. Esta modalidade possui importância
quantitativa perceptível no aumento das cifras de destinos e de turistas; e qualitativa, pois
para as elites sociais o turismo cultural é uma atividade sofisticada e que foge dos destinos
tradicionais de turismo massivo (BERTONCELLO, 2009).
Desta forma, a cultura vira um recurso ou uma matéria prima que é
transformada pela indústria turística em produtos de interesse para o consumo de um turista
que visa entrar em contato com as expressões do patrimônio dos povos.
Em 1972, na Convenção de Patrimônio Mundial da UNESCO, a denominação
de patrimônio histórico se altera para patrimônio cultural, entendido como:
Os monumentos: Obras arquitetônicas, de escultura ou de pintura monumentais,
elementos de estruturas de carácter arqueológico, inscrições, grutas e grupos de
elementos com valor universal excepcional do ponto de vista da história, da arte
ou da ciência;
33
Os conjuntos: Grupos de construções isoladas ou reunidos que, em virtude da sua
arquitetura, unidade ou integração na paisagem têm valor universal excepcional
do ponto de vista da história, da arte ou da ciência; Os locais de interesse: Obras do homem, ou obras conjugadas do homem e da
natureza, e as zonas, incluindo os locais de interesse arqueológico, com um valor
universal excepcional do ponto de vista histórico, estético, etnológico ou
antropológico. (CONVENÇÃO PARA A PROTECÇÃO DO PATRIMÓNIO
MUNDIAL, CULTURAL E NATURAL, 1972, s.p.)
Dez anos mais tarde, na declaração do México, a UNESCO definiria o
patrimônio cultural como: “as obras de seus artistas, arquitetos, músicos, escritores e
sábios, assim como as criações anônimas, surgidas da alma popular, e o conjunto de valores
que dão sentido à vida” (DECLARAÇÃO DE MÉXICO SOBRE AS POLÍTICAS
CULTURAIS, 1982, p. 9).
Apenas em 2003, na Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Imaterial, se
reconhecem também os bens imateriais (práticas, saberes, habilidades) como parte do
patrimônio.
Segundo Toledo (2010, s.p.):
Patrimônio cultural é a riqueza comum que nós herdamos como cidadãos,
transmitida de geração em geração. Constitui a soma dos bens culturais de um
povo. Ele conserva a memória do que fomos e somos, revela a nossa identidade.
(...) Apresenta no seu conjunto, os resultados do processo histórico. Permite
conferir a um povo a sua orientação, pressupostos básicos para que se reconheça
como comunidade, inspirando valores, estimulando o exercício da cidadania, a
partir de um lugar social e da continuidade do tempo.
A proteção do patrimônio passa a ser fundamental para salvaguardar a cultura
dos povos, preservando não só “...os bens tangíveis como também os intangíveis, não só as
manifestações artísticas, mas todo o fazer humano, e não só aquilo que representa a cultura
das classes mais abastadas, mas também o que representa a cultura dos menos
favorecidos...” (BARRETTO, 2000, p. 11).
Além disso, é importante ressaltar que existem “bens materiais e imateriais
autorizados por esferas públicas de poder e aqueles que possuem valor para atores locais,
porém não foram eleitos como patrimônio por órgãos oficiais” (FACHINI, 2017, p. 43) .
Então, se pode entender que os bens culturais valorizados pelos atores locais não são
apenas os institucionalizados por organismos internacionais, como a UNESCO, ou
nacionais e locais, embora o processo de patrimonialização selecione apenas parte desses
bens para o registro ou tombamento, em uma esfera técnica, política, cultural e jurídica
(PAES, 2009a).
Para satisfazer a demanda de cultura, história e ambiente que na atualidade
conforma o imaginário das sociedades ocidentais avançadas (URRY, 1996), o setor
34
turístico oferta o patrimônio cultural como parte de seus produtos, determinando uma
relação direta entre ambos. Assim, fazer parte da Lista do Patrimônio Mundial se converte
num ponto na mira dos governos, pela conotação, relevância e carga simbólica que confere
esta nomeação, e como uma oportunidade no mercado, pois este fato está estreitamente
relacionado à possibilidade de desenvolvimento do turismo cultural (FERNANDES, 2017).
Muitos centros históricos coloniais, que preservam seus valores patrimoniais
por terem sido descartados, por conta das suas possibilidades econômicas, localização
geográfica ou de circunstâncias políticas e econômicas determinadas, e terem ficado fora da
lógica modernizante do século XX, são restaurados e recolocados na maquinaria capitalista
como produtos de alto valor cultural a serem consumidos pelos turistas (CASTILLO, 2010;
PAES, 2012). Desde a década de 1990, na América Latina, nas antigas vilas, acontecem
processos de refuncionalização turística mediante a renovação urbana2: os prédios, as vias
e infraestrutura de estas cidades sofrem mudanças nos usos, funções e na aparência para se
orientar à atividade turística (PAES, 2017).
Para Sousa (2006, p. 525) refuncionalizar significa dar: “novos usos para
formas espaciais preexistentes” e segundo Paes (2009) esta aquisição de novas funções é
constante, como um meio para se adaptar às dinâmicas socioespaciais de cada época. Para
esta autora:
Este processo de refuncionalização tem sido acentuado na valorização turística de
patrimônios culturais, sejam estes objetos, conjuntos paisagísticos ou práticas
sociais. Nesse sentido, a refuncionalização é uma atribuição de novos valores e
conteúdos às formas herdadas do passado, que refletem uma renovação das
ideologias e dos universos simbólicos. (PAES, 2009a, s.p.)
Então, se pode entender que a refuncionalização turística consiste em dar novos
usos turísticos ao patrimônio cultural, seja pela conversão de imóveis ou conjuntos, com
valores patrimoniais, em equipamentos turísticos e de lazer como hotéis, restaurantes,
cafés, lojas de souvenirs ou pela recriação de tradições locais espetacularizadas, a
reprodução dos modos de vida de populações atrativas para o turismo, pois este processo
não se limita aos bens materiais.
Além disso, Paes (2012, p. 320) explica que a refuncionalização turísticas nos
centros históricos: “(...) engloba inúmeros projetos de renovação urbana, tais como:
2 Processo de intervenção arquitectónica que procura adaptar bairros, quarteirões, conjuntos de prédios
antigos a usos modernos, transformando a imagem das zonas (PICCINI, 2004). Segundo Silva Santos (s/a)
alguns projetos deste tipo não consideram aspectos como a história e o patrimônio construído do lugar. Esta
estratégia urbana busca levar: “nova vida ao centro das cidades” (SILVA SANTOS, s/a, p. 18), mas também
pode gerar desigualdades, pois uma vez que estes espaços se revalorizam, a população local se vê forçada a se
deslocar pelo aumento dos aluguéis, produtos e serviços, como será abordado no próximo subitem.
35
gentrificação, enobrecimento, reabilitação, requalificação, revitalização, entre outros.”.
Assim, este processo acontece muito vinculado a outros processos espaciais nas cidades.
No referente aos novos valores que são atribuídos ao patrimônio cultural com a
sua refuncionalização, Fernandes (2017, p. 32) aponta que este processo: “(...) modifica a
sua utilidade (valor de uso) e lhe atribui um poder de compra (valor de troca),
impulsionando novas condições de produção do espaço urbano (...)”. Além da mudança no
valor de uso, se transformam as relações e significados que as populações locais
estabeleciam ou atribuiam, respectivamente, a estes bens carregados de “valor social”
(KUPER e BERTONCELLO, 2008, p. 474).
Fernandes (2017, p. 341) aponta para uma “redução narrativa da cidade”, uma
vez que apenas o patrimônio eleito torna-se um recurso turístico, mas não todo o legado
histórico das cidades. Apenas aquelas expressões identitárias, materiais ou imateriais, que
podem ser convertidas em mercadoria de interesse para os consumidores são realçadas e
incorporadas às rotas e aos circuitos turísticos. Não é o significado histórico o que vai
garantir a preservação dos ritos, tradições ou a reconstrução dos monumentos e edificações,
mas sim as possibilidades de comercialização ante a demanda turística. Nesse caso, é
latente o risco da invenção e da produção de falsos históricos para o turismo (PROENÇA,
2004). Tal é o caso da campanha turística Auténtica Cuba, que promociona o destino objeto
de estudo desta pesquisa, como um produto a ser vendido internacionalmente. Então, cabe
se questionar novamente o valor relativo do patrimônio cultural, devido ao uso reiterado
deste termo. Para Paes (2012, p. 320):
(…) definir o que é legítimo ou autêntico no patrimônio cultural arquitetônico
tornou-se um recurso discursivo com baixa credibilidade, afinal, onde está o valor
da memória que se quer preservar? Nos materiais e nas técnicas originais com os
quais as edificações foram erguidas? Na estética que representou o belo em
período histórico pretérito? Na história social que deu conteúdo, sentido e função
às formas remanescentes? Ou seria os valores do presente o sujeito que elege
determinadas formas como representativas do passado? E aqui referimo-nos aos
homens, com suas escolhas, hierarquias, seus valores institucionalizados em
comissões, Conselhos, suas ações e suas normas para decretar o que deve ser
preservado - tombado - e o que pode ser esquecido (...)
Se, segundo Toledo (2010, s.p.): “(…) patrimônio cultural é a riqueza comum
que nós herdamos como cidadãos (...)”, então, a participação cidadã é fundamental na hora
de tomar esta decisão, embora na maior parte das vezes, ela seja excluída ficando em mãos
do Estado e das empresas privadas determinar o que pode ser atrativo para o mercado
turístico. Assim, começa a cenarização dos sítios urbanos históricos, e a criação de cidades
onde o que importa é a imagem e beleza da mercadoria sobre o verdadeiro significado
cultural, histórico e social que fica registrado na paisagem (PAES, 2012).
36
Nesse mesmo sentido, segundo Choay (2001, p. 225), se reconstroem cidades
que se repetem em formas, vias, cores:
(...) estereótipos do pitoresco urbano: alamedas, pracinhas, ruas, galerias para
pedestres, pavimentação ou lajeados à antiga, guarnecidos de mobiliário
industrializado standard (candelabros, bancos, cestinhos de lixo, telefones
públicos) de estilo antigo ou não, alegrados, de acordo com o espaço disponível,
com esculturas contemporâneas, chafarizes, vasos rústicos de flores e arbustos
internacionais; estereótipos do lazer urbano – cafés ao ar livre com mobiliário
adequado, barracas de artesãos, galerias de arte, lojas de objetos usados e ainda,
sempre, por toda parte, sob todas as suas formas (regional, exótica, industrial), o
restaurante (…)
Se recriam maquetes “perfeitas” para o desfrute turístico, mas cidades
repetitivas, para quem conhece uma muito bem tem a sensação de que já viu todas. Esta
ideia de reconstrução padronizada perde de vista um elemento diferenciador de cada
paisagem: as populações tradicionais e as relações que nesses espaços se produzem.
Por outro lado, os recursos históricos melhor conservados, aceitos como mais
notórios e, portanto, prováveis de serem reconhecidos como patrimônio, são sobretudo os
que pertenceram às elites sociais. A cultura e os registros materiais dos desfavorecidos
passaram desapercebidos por muito tempo, ganhando relevância apenas nas últimas
décadas. Como aponta Paes (2005, p. 96):
(…) os bens culturais tombados como patrimônio representam, tradicionalmente,
os grupos sociais hegemônicos (a arquitetura colonial, os palácios, as pirâmides,
as igrejas, entre outros). Só recentemente os artefatos e os bens simbólicos da
cultura popular (as vilas operárias, o artesanato, as tradições imateriais) ganharam
prestígio de patrimônio cultural(...)
O poder é um elemento chave na relação turismo e patrimônio cultural.
Primeiramente, os bens materiais que recebemos como herança e que pareceram ter maior
relevância simbólica são os das classes dominantes. Quem determina o que deve ser
preservado e patrimonializado é o governo, as empresas privadas e as instituições que, em
muitos casos, respondem aos interesses dos primeiros. Por último, o desfrute desse
patrimônio está reservado aos grupos e classes sociais com poder econômico para chegar
até eles e pagar pelo consumo destes recursos sociais.
É no poder econômico da população local, ou na falta deste, e na possibilidade
de poder fazer parte da cidade, que se recria para o turismo, onde radica o principal
problema nesta relação turismo e patrimônio cultural. Primeiramente, se se analisa
cuidadosamente, a refuncionalização turística pode ser entendida como um processo
natural, já que a sociedade está em constante mudança e os bens que ela utiliza para o
desenvolvimento da sua vida assumem novas formas (SANTOS, 1996); por outro lado, a
indústria turística privilegia os recursos econômicos; então, na maioria dos casos ela é
37
orientada por uma lógica de mercado e não pelos interesses da população local. O problema
é a segregação socioespacial que se produz nestas cidades recriadas para o consumo
turístico (LUCHIARI, 2005).
Nas cidades onde o patrimônio é valorizado pelo turismo, são frequentes as
interferências na dinâmica socioespacial dos moradores. O espaço público se converte num
lugar de espetáculo onde cabem os consumidores do lazer, a diversão e os serviços do
consumo cultural e se excluem os moradores tradicionais. Os usos e sentidos do patrimônio
mudam (PROENÇA, 2004). As tradições, desde a vestimenta até o jeito de se relacionar na
sociedade, são transformadas. Os receptores podem ser vistos simplesmente como objetos
(patrimonializados) (BERTONCELLO, 2009) ou como prestadores de serviços (MATÍAS,
2009). Segundo Sotratti (2005, p. 44): “A cidade deixa de ser a materialização de relações
sociais locais para demonstrar comportamentos socioculturais globalizados e associados à
modernidade e ao consumo”.
O Presidente do II Congresso Internacional celebrado no ano 1985 em Basileia,
Suíça, sobre conservação Arquitetônica e Planejamento Urbano, manifestou no seu informe
que:
En algunos países, especialmente algunos en desarrollo, los beneficios del
turismo han resultado ilusorios. Se han quebrantado patrones culturales y
sociales, el consumo por parte de los turistas de recursos que escasean ha ido en
desventaja de la población, el carácter y la identidad local han sufrido
(CASTILLO, 2010, p. 2).
O desenvolvimento do turismo cultural não garante que os bens culturais sejam
desfrutados pelas populações locais, é apenas “(...) uma via ou estratégia parcial de colocar
o patrimônio a disposição de todos, pois só uma parte limitada da sociedade pode praticar
turismo” (BERTONCELLO, 2009, p. 38), já que, para praticá-lo são necessários recursos
econômicos.
Do mesmo modo, os resultados econômicos obtidos no desenvolvimento do
turismo cultural não retornam para a população de forma equitativa. Os atores sociais com
maiores recursos e as empresas privadas com o capital disponível para ser investido,
recebem um maior benefício. Ambos vêem na cidade uma empresa (VAINER, 2002), e no
seu patrimônio um recurso do qual dispõem para satisfazer ao mercado e recuperar seus
investimentos.
Os Centros Históricos refuncionalizados para o turismo viram o lugar de
conflito entre os atores privados, o governo, os moradores tradicionais e as empresas
extranjeras. Os primeiros vem a possibilidade de investir na cidade e nos serviços para
38
obter um lucro significativo. O governo planeja uma cidade embelezada, revitalizada e
segura, mas, excludente através de políticas urbanas neoliberais e pró empresariais
(DELGADILLO, 2016). A população mais pobre é criminalizada e desalojada e seus
bairros dedicados a negócios imobiliários e ao lazer dos consumidores. Mullins (1994)
aponta que aparece uma pequena burguesía vinculada à indústria turística, mas esta não
aparece das classes mais despossuídas, o que reestrutura as classes sociais na cidade
refuncionalizada e aumenta as diferenças. Além disso, as empresas estrangeiras
encaminham o ganho derivado da atividade turística para fora do país (CASTILLO, 2010).
Uma vez que o setor turístico se apodera “(…) de las estructuras físicas y de los
espacios de vida de los habitantes tradicionales para desarrollar sus actividades,
expulsandolos; (…) desposee a los residentes de un género de vida histórico con la
finalidad de acumular experiencias nuevas para su propia cotidianidad” (HIERNAUX e
GONZÁLEZ, 2014, p. 65). Se pode pensar, então, que a valorização turística do patrimônio
e o resgate dos centros urbanos esquecidos, quando exclui aos moradores tradicionais e
converte estes espaços em zonas das elites sociais e dos turistas, cede passo a processos de
gentrificação, num modelo diferente do tradicional europeu, mas coerente com suas
definições, particularmente as relacionadas às remoções de populações pobres (PAES,
2009; HIERNAUX e GONZÁLEZ, 2014; ALEXANDRI ET AL., 2016; DELGADILLO,
2016; JANOSCHKA, 2016) que será analisado no próximo subitem.
1.2 GENTRIFICAÇÃO E AS SUAS CARACTERÍSTICAS NA AMÉRICA LATINA
A gentrificação é um processo que se iniciou entre os anos 1960 e 1970 nos
centros urbanos europeus e norteamericanos que tinham sido abandonados e desatendidos
por décadas, e se converteram nos lugares de moradia das classes sociais mais pobres.
O termo foi introduzido pela socióloga Ruth Glass, para quem, que segundo
Slater (2011, p. 571), gentrificação engloba:
(…) as desigualdades de classe e injustiças criadas pelos mercados de terras
urbanas e as políticas capitalistas. O aumento do custo da casa para as famílias de
baixa renda e da classe trabalhadora e as catástrofes pessoais de deslocamento,
expulsão e falta de moradia, são sintomas de um conjunto de arranjos
institucionais (direitos de propriedade privada e livre mercado) que favoreçam a
criação de ambientes urbanos para atender às necessidades de acumulação de
capital em detrimento das necessidades sociais de casa, comunidade, família (...)
Segundo Smith (2012), uma vez que se produziu a reinversão necessária nestes
centros urbanos, o valor do solo aumentou, e teve uma substituição dos moradores
tradicionais destes bairros, de baixa renda, por uma população das classes médias e altas da
39
sociedade. A gentrificação, nestes primeiros anos em Europa e Estados Unidos, consistiu
no retorno da população com maior renda aos centros esquecidos, foi uma tentativa de
apagar o passado de miséria destas zonas, substituir velhos e pobres prédios por casarões
luxuosos, “(...) si no se demuele el pasado completamente, al menos se reinventa -frotando
suavemente sus contornos de clase y raza- en la renovación de un pasado agradable.”
(SMITH, 2012, p. 67). A gentrificação se caracterizou por ser uma luta pelo poder na
cidade renovada (SMITH, 2012).
De igual modo, Sassen (1991, p. 255) aponta que a gentrificação está vinculada
a “(…) processos de reestruturação espacial, econômica e social(...)”. Na análises destes
processos de gentrificação europeus e norteamericanos, Mendoza (2016) perfila três
agentes gentrificadores: o governo, o mercado e os novos donos. O governo é o principal
agente na reestruturação urbana, estabelece as políticas públicas que beneficiam as
empresas imobiliárias e dinamiza as áreas centrais e pericentrais. O mercado investe capital
no solo a partir da construção de imóveis, de maior padrão, e obtém consideráveis ganhos,
com a brecha de preços no aluguel ou venda de imóveis que se produz a partir da
substituição de classes nestes espaços. Os novos donos mudam as relações socioespaciais
nestas áreas urbanas (MENDOZA, 2016).
De acordo com os autores estudados, a gentrificação se pode compreender
como o retorno da inversão de capital e das classes com maior poder econômico às áreas
centrais da cidade. Este capital transforma a paisagem urbana: as velhas e descuidadas áreas
industriais se transformam em zonas residenciais embelezadas (MENDOZA, 2016), o que
aumenta o valor do solo e marca o reincorporação destes centros ao mercado capitalista. O
aumento do custo da vida e a chegada dos novos grupos sociais que estabelecem
sociabilidades diferentes, excluem os moradores tradicionais que se transferem para outras
zonas menos valorizadas. Este retorno não está marcado pela integração das classes e sim,
pela fragmentação do espaço (MENDOZA, 2016).
Segundo López Morales (2016), alguns autores como Maloutas (2011),
Betancur (2014) o Ghertner (2015), ao estudarem a gentrificação coincidem na afirmação
de que o conceito não descreve o fenômeno na escala planetária devido à: “(…)
inaplicabilidad de las variables que supuestamente caracterizan el fenómeno en lugares que
no sean del hemisferio norte (...) sostienen asimismo que la gentrificación se circunscribe a
un momento particular post-industrial, en el norte global(...)” (LÓPEZ MORALES, 2016,
p. 221). Porém, López Morales (2016) explica que não se pode rejeitar este concepto só
porque algumas expressões atuais, e no Sul, não são réplicas do modelo descrito nos
40
primeiros casos na Inglaterra. “La gentrificación asume también diversas manifestaciones
sociales y físicas dependiendo del contexto, pero siempre con el efecto de producir
desplazamiento o exclusión desde el centro urbano de los segmentos sociales más bajos
(...)”(LÓPEZ MORALES, 2016, p. 221). Na presente pesquisa se assume que o conceito de
gentrificação engloba os processos de reestruturação urbana que acontecem na América
Latina na atualidade, como sustentam Hiernaux e González (2014), Alexandri et al. (2016),
Delgadillo (2016), Janoschka (2016) e Paes (2017), fazendo o paréntesis de que mesmo na
América Latina existem diferentes manifestações deste processo.
Segundo Paes (2009), a gentrificação se manifesta na América Latina a partir
da década de 1990 e “(...) tem se apresentado muito mais como uma recuperação do centro
para atividades culturais, de visitação, de lazer e de turismo, do que como o retorno das
classes médias e das elites para fins residenciais, como ocorreu nos países centrais” (PAES,
2009, p. 16). Então, se pode afirmar que a valorização turística dos centros históricos e do
seu patrimônio edificado, está muito relacionada aos processos atuais de gentrificação no
Sul do continente.
Como para o capitalismo não pode existir “(…) nenhum uso cultural, nenhum
sentimento sobre a natureza, nenhum desejo de conhecer outros lugares, sem colocar em
cada um dos produtos desses derivados um valor econômico(...)” (PAES, 2017, p. 679), os
seus atores (os governos, as empresas privadas, os agentes turísticos) percebem a
possibilidade de converter a cidade e os seus valores patrimoniais em um produto que seja
consumido pelos públicos interessados na cultura e com o poder adquisitivo necessário para
desfrutá-lo. A base econômica das cidades passa da indústria ao desenvolvimento dos
serviços e da indústria cultural (DELGADILLO, 2016).
Nesse processo de mercantilização da cidade a sua imagem deve mudar. Assim,
as descuidadas áreas centrais e pericentrais, que tinham acolhido a marginalidade por
décadas, são renovadas para atividades de comércio, lazer e turismo, como acontece nos
casos dos centros históricos de Ciudad de México (DELGADILLO, 2015) e Lima
(CASTILLO, 2015). Nestas cidades, as políticas se orientam a melhorar a trama urbana
através de investimentos no patrimônio arquitetônico e nos espaços públicos, na
refuncionalização de prédios para funções culturais, de lazer ou habitação dos novos
moradores e na recuperação das fachadas para mudar a imagem (HIERNAUX e
GONZÁLEZ, 2014); à privatização de serviços públicos e da infraestrutura, em mega
projetos urbanos (ALEXANDRI ET AL., 2016); e na promoção de eventos culturais
(CASTILLO, 2015).
41
Se se trata de mudar a visual desses bairros, as populações de baixa renda não
combinam com o cenário de cidade modelo para a visitação e o consumo. Estas estratégias
procuram estabelecer “perímetros seguros” (mediante câmaras, agentes de seguridade,
forças do ordem público) que trazem, conjuntamente, a apropriação privada dos espaços
públicos pela delimitação das áreas comuns e da fragmentação da sociedade (PROENÇA,
2004). Neste processo, com um fundo classista e segregador, os moradores tradicionais são
expulsos do espaço público espetacularizado.
Segundo Alexandri et al. (2016) este processo está muito marcado pela
violência, tanto na:
(…) re-apropiación del patrimonio cultural y arquitectónico; la violencia en la
expulsión de las actividades informales que sirven para “limpiar y desinfectar” la
ciudad y formalizar el control sobre las nuevas formas de urbanidad que emergen;
la violencia del papel de las diferentes formas de capital (bienes raíces, comercial,
simbólica) de reconfiguración urbana y el papel activo y decisivo que juegan los
procesos de inversión de bienes inmobiliarios(…) (ALEXANDRI ET AL., 2016,
p. 12)
Muitos pesquisadores latinoamericanos tem procurado definir este processo e,
mesmo não existindo uma definição única, alguns dos autores analisados (HIERNAUX e
GONZÁLEZ, 2014; ALEXANDRI ET AL., 2016; JANOSCHKA, 2016) coincidem no
fato de que este está vinculado essencialmente ao deslocamento ou remoção da população
pobre das áreas centrais pelos interesses do mercado capitalista que exclui os cidadãos que
não têm poder aquisitivo para garantir o desfrute da cidade e do seu patrimônio convertidos
em mercadorias como acontece nos casos de Cartagena de Indias (POSSO, 2015),
Salvador, na Bahia (DÍAZ, 2015), Recife, em Pernambuco (PROENÇA, 2004) e Ciudad de
México (DELGADILLO, 2015). Para Alexandri et al. (2016, s.p.) é:
(...) la mercantilización del espacio público y la creación de nuevos espacios
urbanos, exclusivos para el consumo de las élites en el que las poblaciones
excedentes con valor de mercado insuficiente (...) han de ser expulsados en sigilo
o por la fuerza...La gentrificación, por lo tanto, genera nuevos patrones de
segregación socio-espacial en sociedades que ya son desiguales, reagrupando a la
población en base a sus ingresos, así como a la identidad social.
É importante assinalar que, como apontam Alexandri et al. (2016), não em
todos os casos os deslocamentos da população acontecem pela força, pois em alguns casos
os moradores saem de suas casas pacificamente, pois existem promessas governamentais de
relocação que nem sempre são cumpridas, como é o caso do bairro de Chambacú, em
Cartagena de Indias, descrito por Posso (2015).
Janoschka (2016, s.p.) aponta que: “La gentrificación consiste en un proceso
territorial que es el resultado de ensamblajes económicos y políticos específicos y que
42
provoca procesos de acumulación por desposesión mediante el desplazamiento y la
expulsión de hogares de menores ingresos”. Os processos de renovação urbana e
valorização, turística ou imobiliária, que acontecem em determinadas zonas e que terminam
transformando a estrutura social dos bairros, estão muito relacionados com os interesses
econômicos e políticos dos ciclos de governo locais. Segundo López Morales (2016):
La gentrificación no se trata sólo de brechas de renta de suelo incrementadas, sino
que se trata de la pérdida de valor de uso en el espacio, así como la denegación
del derecho de uso de determinados espacios para la reproducción social de las
capas sociales más bajas, en cuanto el valor de cambio de esa tierra aumenta
hasta el punto de que cualquier otro valor consideración se vuelve irrelevante
para aquellos que toman decisiones unilaterales sobre el desarrollo de la ciudad.
(LÓPEZ MORALES, 2016, p. 235)
Esta é uma reflexão muito interessante, pois nos usos e nas relações sociais que
se estabeleciam nesse espaço, agora reestruturado, radicava um dos seus valores
patrimoniais. A imagem tradicional dos bairros e as suas sociabilidades são apagadas, pois
a renovação urbana elimina os usos sociais anteriores do espaço público, tais como o
comércio ambulante, os moradores de rua e a prostituição, para criar uma ambiência mais
adequada ao o turismo e à classe média. Nos casos de Cartagena de Indias, Lima e Bogotá,
onde acontecem casos de gentrificação pela valorização do patrimônio os problemas sociais
não se erradicam como resultado da intervenção urbana, eles são deslocados para fora da
zona turística e de interesse para o capital imobiliário (DÍAZ, 2015).
Na cidade espetacularizada para o consumo não existe espaço para as classes
sociais mais pobres. Elas são removidas de maneira direta, com desocupações forçadas, ou,
indiretamente, pelo aumento do custo de vida ou mesmo pela perda da identidade com o
lugar. Também, se podem dar casos de abandono especulativo, por megaprojetos, projetos
militares ou como resultado das ações de atores urbanos ou culturais locais. Estes últimos
tombam determinadas áreas ou bens patrimoniais e o valor do solo no entorno destes
recursos aumenta, podendo chegar à remoção da população de baixa renda (ALEXANDRI
ET AL., 2016). Esta obrigação ao deslocamento é uma injustiça social que legitima o
direito e o pertencimento à centralidade da cidade de um segmento da sociedade escolhido
pelo poder econômico e político.
Para Blanco e Apaolaza (2016), na América Latina, estas populações expulsas
não só perdem o direito a seu espaço tradicional e à centralidade, como são deslocadas para
as periferias com alta privação material, precariedade urbana e vulnerabilidade ambiental.
Os interesses econômicos e políticos e não o bem estar social dos antigos moradores
dominam o espaço.
43
Na exclusão das populações tradicionais e das suas práticas nos bairros centrais
recuperados está uma das características fundamentais da gentrificação latinoamericana,
segundo Delgadillo (2016). Para este autor, as políticas que garantem a revalorização
material e simbólica do patrimônio cultural estão indissoluvelmente ligadas à remoção dos
moradores. É como se a presença deles no centro impedisse o sucesso destas áreas para o
mercado. A figura 2 mostra um cartaz de protesto colocado em um prédio residencial do
Centro Histórico da Ciudad de México no qual a população defende o direito dos
moradores tradicionais e do comércio local a permanecer na zona revalorizada.
Figura 2: Cartaz de protesto dos dos moradores do Centro Histórico de Ciudad de
México, 2019
FONTE: https://mundo.sputniknews.com/reportajes/201905161087279559-gentrificacion-ciudad-mexico-
inmobiliarias-derecho-tanto/
A outra característica que destaca Delgadillo (2016) está relacionada ao
aumento do interesse dos governos e as administrações locais de retornar ao controle dos
espaços centrais, devido ao potencial econômico destas zonas e de como as políticas
urbanas neoliberais e pró-empresariais favorecem os investimentos e desenvolvimento das
empresas privadas. Os governos viram agentes gentrificadores, pois adoptam medidas para
criar uma “cidade sustentável” e renovada, onde o pertencimento está associado à
possibilidade de consumo, e se expulsa e criminaliza aos moradores pobres, ou seja, as
políticas públicas estão desenhadas para beneficiar aos grupos econômicos e os políticos
mais poderosos.
Então, se na análise dos processos de gentrificação europeus e norteamericanos,
se tinha determinado que, segundo Mendoza (2016), existiam três agentes gentrificadores:
44
o governo, o mercado e os novos donos, nos casos latinoamericanos, estes três atores
continuam a ser grupos gentrificadores sendo as classes altas em menor medida. Porém,
Hiernaux e Gonzalez (2014) identificam um novo agente, pensando ao turista como
gentrificador. Se trata de entender ao turista como “habitante de los centros históricos”
(HIERNAUX e GONZÁLEZ, 2014, p. 63), pois eles ocupam o espaço e o habitam por um
período de tempo, e mesmo se não são sempre os mesmos indivíduos/turistas que vivem
nos centros das cidades, a permanência destes e o consumo dos serviços, os novos
equipamentos, o domínio dos espaços públicos e as novas sociabilidades geram os mesmos
conflitos, devido a uma apropriação do espaço central da cidade por agentes externos. Um
exemplo desta apropriação dos turistas das áreas centrais e históricas é o caso dos
apartamentos e casas colocados no site Airbnb para serem alugados, pois em muitos casos a
população residente sai das suas casas centrais para áreas distantes na cidade para arrendar
suas moradias localizadas perto das zonas valorizadas pelo turismo.
De qualquer modo, mesmo que estas sejam características da gentrificação na
América Latina, cada caso tem as suas próprias singularidades. Nos próximos itens serão
analisados três estudos de caso: Ciudad de México, Quito e Santiago de Chile. As cidades
foram escolhidas pela tipicidade de cada um dos seus processos nos quais se analisaram a
sua origem, trajetória, atores envolvidos e as consequências dos deslocamentos originados.
1.2.1 Ciudad de México: o “blanqueamiento” do Centro
Segundo Delgadillo (2016), a zona central da Ciudad de México se
caracterizava, até a década dos 1990, por ser um área de indústrias obsoletas que abrigava
as classes populares. Os seus espaços “(…) relativamente despoblados, bien comunicados y
declarados “decadentes” por las autoridades (...)” (DELGADILLO, 2016, p. 101), que
possuíam excepcionais valores históricos e culturais, seriam transformados em lugares de
consumo das classes com maiores ingressos e dos turistas.
Para Janoschka (2016), na Ciudad de México o processo de gentrificação está
ligado ao interesse por preservar o centro histórico e o seus bens patrimoniais. Com a
revalorização pelos investimentos públicos e privados neste espaço central, muitos prédios
restaurados adquiriram novas funções vinculadas principalmente ao turismo e os serviços, o
lazer ou à indústria cultural, mas também em alguns casos à venda ou ao aluguel para
novos residentes. Com a modificação da imagem urbana deste espaço que pertencia
anteriormente às classes média e populares, o perfil da população começa a mudar, pois os
moradores de baixa renda e os vendedores ambulantes não eram mais compatíveis com a
45
cidade reestruturada para o consumo. Se tratava da preservação da cidade e do patrimônio
cultural, mas só para um segmento da população. Janoschka (2016) aponta que, mesmo
com alguns moradores tradicionais permanecendo na área, o processo de deslocamento
começou e tratou da “desposesión del patrimonio arquitectónico” (JANOSCHKA, 2016, p.
47) e seria válido complementar: da centralidade.
Segundo López Morales (2016) quando os bairros centrais se tornam
estratégicos muitas moradias informais são reemplazadas por regimes formais de
propriedade. Delgadillo (2016) explica que a partir do 2000, mesmo se muitas pessoas de
baixos ingressos abandonaram o centro para ir morar de maneira informal na periferia, o
governo e as empresas privadas organizaram um plano para acelerar e cobrir este processo
de despossessão na área central. A estratégia consistia na construção de moradias na
periferia. Casas muito pequenas, distantes e de péssima qualidade, mas com um preço
razoável para as classes populares, fato que levou a mudança de muitos, pois os bairros
centrais estavam se tornando caros e cada vez podiam se identificar menos com os mesmos.
Assim, a cada ano mais de cem mil pessoas abandonam a Ciudad de México pelos altos
custos do solo e dos serviços (DELGADILLO, 2016). Se criou assim uma cidade segregada
em função da renda.
Segundo Delgadillo (2016), enquanto isto acontecia, o Gobierno del Distrito
Federal (GDF) traçou uma política de desenvolvimento urbano que propunha aproveitar a
cidade construída e frear a expansão urbana para proteger as áreas de preservação
ecológica. Discurso ambíguo este, pois, por um lado, conscientizava sobre a necessidade de
limitar a expansão da cidade, mas, por outro, construía casas para os “ruídos visuais”
(PROENÇA, 2004) na periferia. A centralidade seria aproveitada, mas por determinados
segmentos da população com a possibilidade de pagar os altos preços da moradia no centro.
Para levar a frente esta estratégia se estabeleceram:
(…) restricciones urbanísticas, programas habitacionales, la rehabilitación de un
selecto patrimonio histórico y acciones en ciertos espacios públicos. Así, selectas
áreas urbanas centrales han sido revalorizadas en términos simbólicos y
materiales: se han elevado los precios del suelo y los costos de las viviendas (...)
(DELGADILLO, 2016, p. 111)
Com diferentes governos e mandatos, e com os mais diversos slogans (Bando 2,
Desarrollo urbano sustentable, Ciudad compacta) a ideia era: repovoar o centro com
determinados estratos econômicos, “recuperar” o espaço público para determinadas
atividades -nada de vendedores ambulantes-, melhorar o transporte e os serviços para os
novos usuários do espaço, incentivar o desenvolvimento econômico e social e recuperar o
46
patrimônio cultural, herança da humanidade a que poucos têm acesso (DELGADILLO,
2016).
Embora os projetos destacassem a importância da preservação do patrimônio,
este se encontrava no território valorizado pelo capital na Ciudad de México, o que levaria a
violação da legislação, pois muitos atores econômicos privados destruiriam construções
patrimoniais e substituiriam estas por altos e novos prédios, ou se restringiriam à
conservação exclusiva da fachada (DELGADILLO, 2016)
López Morales (2016) afirma que, para Sergio González, um ativista contra a
especulação imobiliária da Ciudad de México, a gentrificação nesta cidade é um processo
de “blanqueamiento”. A nova população é branca, os seus gostos estéticos levaram a pintar
de branco as fachadas e interiores de muitos prédios e existe um branqueamento de capitais
com os investimentos em imóveis e solo. A figura 3 mostra novas construções de moradias
na zona central, prédios brancos que motivam a iniciar um novo estilo de vida e sem
dúvida, os preços de compra ou aluguel desses investimentos excluem aos moradores
tradicionais da zona de baixa renda e impulsionam a chegada de outros grupos sociais de
maior poder econômico.
Figura 3: Novos prédios residenciais no Centro Histórico de Ciudad México
FONTE: http://revistainvi.uchile.cl/index.php/INVI/article/view/1088/1315
Para manter esta cidade branca, elitista e fragmentada se cria um sistema de
segurança contínua para o centro, com vigilância reforçada por câmeras e policiais; se
deslocam as formas de comércio informais (vendedores ambulantes), se reordena o trânsito
de veículos e se recuperam espaços públicos (JANOSCHKA, 2016).
47
Para Delgadillo (2016), no caso de Ciudad de México, os agentes
gentrificadores são os atores públicos e privados que modificam o futuro dos bairros e do
centro, pois o que marca a situação não é tanto a chegada de determinados grupos, mas o
investimento de capital por ambos atores. Janoschka (2016) explica que este capital acha o
modo solapado de expropriar a centralidade às classes populares, para prepará-lo para o
consumo dos turistas e das populações não residentes.
No processo de gentrificação na Ciudad de México coexistem a revalorização
de selectos espaços e do patrimônio e a chegada de novos estratos sociais, residentes ou
não, ao centro, motivados pelas mudanças na paisagem que os investimentos públicos e
privados promovem. Este processo se caracteriza pelo aumento do valor do solo, da
moradia e dos serviços e, portanto, da expulsão discreta da população pobre e mestiça à
periferia.
1.2.2 Sem retorno ao centro de Quito
No início do século XX a cidade de Quito era apenas o que hoje se conhece
como o seu Centro Histórico e que, atualmente, é só um pequeno setor de toda a cidade.
Porém, sem dúvidas, se trata do segmento com o maior número de bens históricos e
culturais: 320ha² que guardam um bem cuidado conjunto arquitetônico colonial
(CEVALLOS-ARAÚZ, 2018). Segundo Paes (2017), este Centro Histórico foi o primeiro a
ser declarado Patrimônio Cultural da Humanidade, em 1978, e é um lugar vivo, pois além
da conservação de museus, praças, igrejas e prédios históricos, a população está presente na
dinâmica socioespacial cotidiana com as suas tradições e o seu comércio.
As políticas urbanas da cidade de Quito tem promovido a renovação urbana no
Centro Histórico, com o fim de preservar o seu patrimônio cultural e desenvolver o turismo
nesta área (MARTÍ-COSTA, DURÁN e MARULANDA, 2016). Mesmo quando esta zona
recebe aproximadamente 1107400 turistas nacionais e estrangeiros por ano (LA
ACTUALIDAD, 2018), e existe uma reinversão do capital no centro que tem provocado o
deslocamento dos moradores tradicionais de baixa renda, as classes médias e altas não tem
retornado a este espaço (SANTILLÁN, 2015). Então, a diferença da Ciudad de México e da
maioria dos casos da América Latina, em Quito não se produz uma “(...) vuelta al centro,
sino fundamentalmente procesos de colonización de nuevas áreas periféricas(...)” (MARTÍ-
COSTA, DURÁN e MARULANDA, 2016, p.132) pelas classes com maior poder
econômico. Mas, ainda que não aconteça um caso de gentrificação tradicional no Centro
Histórico de Quito, esse risco não deixa de existir.
48
Janoschka (2016) analisa dois bairros rurais da periferia de Quito: Cumbayá e
Calderón. Estes bairros se dedicavam a atividades industriais e agrícolas e sua população
estava composta pelas classes populares, que foram substituídas, no primeiro caso, por um
espaço habitacional para a classe alta e, no segundo, a partir do investimento público na
construção de um aeroporto internacional na zona, tem sido objeto de interesse para
desenvolver novos projetos com capital público e privado. Os novos prédios habitacionais,
fechados e com muita segurança, e os novos grandes centros comerciais nestas zonas
modificaram as interações sociais, as atividades (agrária e as práticas indígenas) e o
comércio tradicional, provocando uma mudança na paisagem e no uso do espaço
(JANOSCHKA, 2016).
O convívio de grupos (por um lado classes populares e indígenas e, por outro,
classes médias-altas e altas) com duas formas de vida tão diferentes num mesmo espaço
termina excluindo as sociabilidades tradicionais e, finalmente, o grupo mais vulnerável.
Mesmo se nestes casos ainda não se produz um grande deslocamento das pessoas mais
pobres, as suas práticas começam a ser apagadas: restrição das festas comunitárias,
proibição da cria de animais, favorecimento ao transporte privado sobre o coletivo
(JANOSCHKA, 2016). Paulatinamente se “(…) desvaloriza de forma simbólica las
costumbres populares y las prácticas tradicionales arraigadas en el territorio, aplicando una
violencia simbólica de la “modernidad” establecida como proceso normalizador que se
manifiesta en la transformación territorial.” (JANOSCHKA, 2016, p. 62)
Estas transformações, como mencionado anteriormente, são consequências do
investimento público e do incentivo dos governos aos investimentos privados que
aumentam o valor do solo com os seus empreendimentos comerciais, imobiliários e onde
recursos obtidos vão parar nas mãos dos grupos com o poder econômico e político, e não
são revertidos no bem estar social. Não se trata de que os investimentos públicos ou
privados em si mesmos sejam prejudiciais, o problema está em planejar as cidades e os seus
espaços para poucos. Neste caso o espaço é apropriado como uma mercadoria para as elites,
onde as populações tradicionais e as suas práticas podem ser excluídas. Janoschka sinala
que este é um caso de “(…) desplazamiento por desposesión de las plusvalías de la
intervención pública.” (JANOSCHKA, 2016, p. 60)
Por su lado, Cevallos-Aráuz (2018) analisa o caso da Floresta (Figura 4), um
bairro pericentral de Quito, marcado por uma forte história cultural onde, mesmo quando
ainda não exista um marcado processo de gentrificação, começam a se apreciar algumas
características.
49
Figura 4: Mapa do bairro pericentral a Floresta, Ecuador
FONTE: https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=6517035
A revalorização deste bairro, os novos projetos imobiliários, a mudanças nas
atividades econômicas do entorno e a chegada de novos grupos sociais com maiores
recursos mudam a paisagem urbana desta zona. Porém, segundo a autora, não existe uma
ameaça de expulsão das populações tradicionais, mais pobres do que as que estão
chegando, pois os novos moradores parecem interessados em os incluir no espaço
reestruturado e na nova dinâmica socioespacial. Porém, é importante pensar em se uma vez
que aconteça a rearticulação total do bairro e das suas atividades, os moradores tradicionais
ainda sentirão que pertencem à zona e se serão capazes de se identificar com as formas de
vidas dos novos grupos.
A literatura não mostra casos de gentrificação tradicional em Quito, mas não se
pode perder de vista a possibilidade que se estejam gestando nas zonas pericentrais. Mesmo
quando os moradores não tem sido expulsos, a restrição e a desvalorização das suas
práticas, em conjunto com as mudanças na paisagem são formas de lhes desapropriar do
espaço.
50
1.2.3 Santiago de Chile e as suas singularidades
No centro histórico de Santiago de Chile convergem as diversas expressões de
vários períodos do desenvolvimento urbano da cidade (SILVA, 2017). Seus prédios, praças
e trama ficaram como testemunhas da antiga paisagem cultural, pois, segundo López
Morales (2016), nesta cidade tem se perdido muito do patrimônio no que se refere à
imagem das zonas centrais. A imagem dos bairros não se conforma só com as suas
edificações e espaços, ela depende muito das pessoas que as habitam e das relações
econômicas, sociais e culturais que estabelecem. No caso de Santiago, o retorno ao centro
do capital imobiliário trouxe como consequência um reemplazo da população tradicional
mais modesta por grupos sociais de maior poder.
Segundo Imilan, Olivera e Beswick (2016), na década dos noventas o governo
se coloca como um dos objetivos fundamentais solucionar os problemas da moradia,
criando políticas para reduzir a insuficiência de casas. Mas estas estratégias não resolveram
a situação, pois a construção destas se realizou nas periferias onde os preços do solo eram
mais baixos e com subsídio estatal num mercado imobiliário privado. Se criaram assim
bairros com baixo valor do solo, sem serviços básicos e infraestrutura para vida diária, onde
só moram os grupos mais pobres da cidade e proliferam males sociais (IMILAN,
OLIVERA e BESWICK, 2016). O dinheiro investido pelo governo passa a mano de
empresas privadas que obtêm grandes lucros com a renda do solo. Neste caso se produz
uma transformação do problema e não a sua solução. Sem bem a situação habitacional
melhorou apareceram novas ameaças nos novos territórios de exclusão.
No caso de Santiago existe um retorno do capital ao centro e a expulsão dos
moradores em função da renda (Janoschka, 2016), mas os autores estudados Blanco (2016),
Janoschka (2016), López Morais (2016) e Imilan, Olivera e Beswick (2016) não abordam a
associação deste processo ao desenvolvimento do turismo na área, mesmo quando este
acontece (NAVARRETE, 2017), e o relacionam mais à exploração do solo mediante as
empresas imobiliárias privadas com o respaldo dos governos.
Segundo Janoschka (2016) em Santiago no período 2002-2012 a planta
habitacional se duplicou, e nos bairros centrais e pericentrais possuem 60% dos permisos
para novas construções. O preço de venda e aluguel das novas moradias aumentaram em
mais de 100% (LÓPEZ MORALES, 2016) nestas selectas zonas. O aumento do preço faz
com que muitas pessoas devam abandonar as áreas centrais e percam a facilidade de acesso
a vários serviços: transporte, espaços públicos de lazer, escritórios, hospitais, escolas, entre
outros. Além disso se perdem as “redes sociales barriales establecidas” (LÓPEZ
51
MORALES, 2016, p. 233) e se modifica a paisagem dos bairros com a mudança do perfil
dos grupos que nele habitam e a forma de estabelecer as suas relações entre eles e com o
espaço. Um reduzido grupo de grandes investidores privados obteve significativos lucros
com o aumento do valor do solo no centro de Santiago e muitos pequenos proprietários,
residentes e inquilinos se viram obrigados a vender pela subida de preços (JANOSCHKA,
2016).
Em Santiago o processo está fortemente marcado pelas políticas públicas
governamentais e o seu programa de moradias que determina o lugar para morar na cidade
em relação à capacidade financeira das pessoas induzindo a uma reorganização social e
espacial da cidade (JANOSCHKA, 2016). Além, dos governos, se identificam como
agentes gentrificadores às classes altas e médias, pois segundo Blanco (2016) em alguns
bairros se trata de profissionais assalariados que são nomeados como “trabajadores de
cuello celeste” (BLANCO, 2016, p. 87); as empresas imobiliárias e os seus investidores
(LÓPEZ MORALES, 2016) que em alguns casos foram universidades privadas
(JANOSCHKA, 2016) interessadas no investimento residencial.
Estas políticas neoliberais, de mercantilização da moradia (LÓPEZ
MORALES, 2016) e de reconfiguração da cidade não são pensadas para toda a população.
Os moradores, formais ou informais, mais modestos são excluídos a partir da violência
simbólica (JANOSCHKA, 2016) que privilegia os interesses do mercado capitalista.
Cada um dos casos analisados tem as suas particularidades, mas em todos se
produz um retorno do capital ao centro da cidade na década dos 1990. No caso de Ciudad
de México e de Santiago de Chile a reestruturação da cidade, o interesse de preservação
patrimonial e de recuperação de espaços públicos provocaram processos de expulsão dos
moradores tradicionais de baixa renda para as periferias da cidade em condições adversas,
fragmentando a cidade em função do poder adquisitivo dos grupos sociais. Quito pareceria
uma situação diametralmente oposta, pois as classes altas não retornam ao centro, elas
preferem as zonas mais afastadas, porém se abordou a caso da Floresta, zona pericentral e
com um forte caráter cultural de Quito que está atraindo novos moradores de maior perfil
econômico. Mesmo se Santillán (2015), Martí-Costa,Durán e Marulanda (2016) e Cevallos-
Aráuz (2018) aponta que em Quito não existem casos de gentrificação, López Morales
(2016) sinala que na década dos 1990 se proibiu o comércio ambulante no centro que se
estava valorizando para o turismo. Estes estudos de caso permitem entender que o
problema não consiste em que o capital retorne ao centro, o em se as classes altas voltam
para morar o só para atividades de lazer, o questão radica em que as políticas públicas não
52
regulam estes processos de mudança, “embelezamento” e refuncionalização turística que
acontecem, para criar uma cidade inclusiva e com espaços para todos. O problema não é o
turismo, ou as classes altas, é a falta do interesse estatal em cuidar das classes mais
despossuídas e vulneráveis e não só dos interesses econômicos próprios ou do país, pois
nos casos de Ciudad de México e de Santiago de Chile o principal agente gentrificador são
os governos que legitimam o papel das empresas privadas no mercado do solo e
estabelecem políticas mercantilizantes e neoliberais.
1.3 POSSIBILIDADES DO DESENVOLVIMENTO TURÍSTICO
O turismo não é o “vilão” (PAES, 2017, p. 677) nos processos de reestruturação
urbana que acontecem na atualidade. Então, não se trata de eliminar o turismo se não de:
(…) conciliar os diferentes usos e primar pela permanência das populações
locais, observando as possibilidades de sobrevivência econômica e de acesso à
moradia destas, sem excluir os visitantes, nem o caráter público dos bens
tombados, devem constituir-se em uma preocupação central do planejamento
turístico(...) (PAES, 2005, p. 103)
Mesmo tendo em conta os visíveis inconvenientes que a atividade turística gera,
os seus efeitos positivos, se bem planejado o seu desenvolvimento, sobre o patrimônio e as
comunidades, não devem ser negligenciados.
O desenvolvimento turístico pode servir para a conservação da riqueza cultural
e histórica dos centros urbanos, pois atrai os recursos financeiros necessários para a
preservação e recuperação de imóveis, praças e monumentos, põe em valor o patrimônio, o
promove, o difunde e contribui para a conscientização sobre a importância de conservar o
legado material e imaterial.
Além disso, gera empregos que beneficiam os receptores vinculados ao setor e,
se bem gerido, os aportes econômicos que geram as atividades turísticas podem auxiliar na
refuncionalização dos prédios que podem servir de habitação para as populações dos
centros urbanos, ou a funções e serviços comunitários que melhorem a qualidade de vida
dos habitantes.
O Acta de Copenhaguen do Buró Internacional do Turismo Social, de 1972,
expressa a necessidade de “... armonizar las necesidades crecientes del turismo social y el
objetivo esencial de la protección del patrimonio del hombre...” (CASTILLO, 2010, p. 2),
pelo que é primordial garantir que o desfrute dos valores patrimoniais não atente contra o
bem-estar dos mesmos.
A vontade, a conscientização e a implicação real (não só discursiva) do
Governo, das instituições encarregadas da preservação e restauração do patrimônio, dos
53
representantes locais, das empresas privadas e os moradores podem chegar a um consenso
favorável para ambas. Se trata de democratizar o uso dos espaços culturais e os valores
patrimoniais da cidade, para turistas e moradores de todos os grupos econômicos.
Em Cuba, a Oficina del Historiador de la Ciudad de La Habana é a
responsável pela conservação do Centro Histórico de Havana Velha e, mesmo que o
trabalho realizado nas últimas décadas esteja muito longe de ser perfeito, interessa-nos
conhecer as particularidades deste processo que tem como objetivo não excluir a população
local nem as suas representações, e conciliar a valorização do seu patrimônio cultural com
o interesse turístico.
Em 2004, a experiência pontual que se desenvolveu na Havana Velha foi
considerada por especialistas da UNESCO como uma plataforma de inovação e uma
experiência a ser considerada mundialmente, pois procurou, sobre todas as coisas, lograr
um diálogo entre patrimônio, turismo e moradores, o que pode resultar em um modelo para
outras localidades que desenvolvam uma estratégia turística sustentada pelo seu patrimônio
cultural.
Nesse sentido, o próximo capítulo explica como acontece o processo de
valorização turística no Centro Histórico de Havana Velha e o papel da Oficina del
Historiador de la Ciudad de La Habana como instituição que procura preservar o
patrimônio cultural da zona e ao mesmo tempo procura desenvolver o turismo para
autofinanciar os trabalhos de recuperação neste espaço. Além disso, se aborda a
declaratória, pela UNESCO, da zona e do sistema defensivo da cidade como: Patrimônio
Cultural da Humanidade, assim como a significação deste reconhecimento para o posterior
desenvolvimento do turismo cultural no Centro Histórico.
54
2. O PROCESSO DE VALORIZAÇÃO TURÍSTICA DO PATRIMÔNIO
CULTURAL NO CENTRO HISTÓRICO DE HAVANA VELHA, CUBA
2.1 A EVOLUÇÃO DO CENTRO HISTÓRICO DE HAVANA VELHA, CUBA NO
PERÍODO COLONIAL
A vila de San Cristóbal de La Habana foi fundada, por Diego Velázquez e os
conquistadores espanhóis, em 1519. A cidade se desenvolveu até se tornar capital da ilha,
em 1607, fundamentalmente pela sua localização na baía, um porto chave para as relações
entre o Novo e o Velho Continente (LEAL, 2004).
A cidade começou no que hoje se conhece como o seu Centro Histórico no
município de Havana Velha. Se criaram ali os bens materiais para o desenvolvimento da
vida: casas de um único piso com pátio interior, grandes portões e decorações de cerâmica
(PLAN MAESTRO, 2004); fortificações militares, igrejas e praças. O sistema de
fortificações foi uma necessidade, pois pela sua condição de porto conector entre América e
Europa e, portanto, protetora de inúmeras riquezas, a cidade se converteu num objetivo na
mira dos ataques dos corsários e piratas. Surgiram assim, para garantir a defesa deste
espaço e da sua população, no século XVI, o Castillo de la Real Fuerza, o Castillo de Los
Tres Reyes del Morro e o Castillo de San Salvador de la Punta, conjunto de proteção que
se completaria, um século mais tarde, com a fundação da Fortaleza de San Carlos de la
Cabaña e a Muralla de La Habana (Figura 5).
Figura 5: Exterior da Puerta de Monserrate de la Muralla de La Habana
FONTE: Imagem obtida na Empresa de Proyectos RESTAURA (OHCH) (2018)
55
Depois da primeira fortificação da baía, as seguintes construções tinham como
objetivo embelezar a cidade e criar espaços para as diversas ordens religiosas espanholas
(PLAN MAESTRO, 2004). Vão se perfilando assim cinco praças fundamentais (Figura 6 e
7), “(…) espacios públicos para el desarrollo de la vida ciudadana” (PLAN MAESTRO,
2004, p. 2). A religião foi um meio dos colonizadores para conseguir dominar no Novo
Mundo e justificar assim as suas ações, por isto, para eles, a construção de edificações
religiosas era um fator chave. Surgiram as primeiras igrejas, conventos e seminários: o
Convento de San Agustín, a Ermita del Humilladero, a Iglesia del Santo Ángel Custodio, o
Monasterio de Santa Teresa e o Convento de San Felipe Neri (LEAL, 2004). As principais
atividades econômicas dos primeiros anos foram a construção de barcos, utilizando os
meios naturais que fornecia o entorno, e o comércio. Neste espaço, os espanhóis
reproduziram seus modos de vida, se adaptando às novas circunstâncias.
Figura 6: Plaza e Convento de San Francisco século XVIII
FONTE: http://www.habanaradio.cu/articulos/la-plaza-de-san-francisco/
Figura 7: Plaza Vieja século XVIII
FONTE: http://www.habanaradio.cu/articulos/la-plaza-vieja/
56
A cidade crescia e aumentava o desenvolvimento econômico dos seus
habitantes, por tanto, eram necessários novos espaços de formação e encontro que
mostrassem a prosperidade da vila, uma cidade que se refinava. Surgiram, assim, nos
séculos XVIII e XIX, a Real y Pontificia Universidad de San Jerónimo, no Convento de
San Juan de Letrán (Figura 8); o Teatro Tacón (Figura 9); o Liceo Artístico y Literario; o
Teatro Coliseo; o ferrocarril, sendo o quinto país do mundo a contar com este avanço
(LEAL, 2004) e novos bairros residenciais de elite, o que produziu um êxodo da população
para as novas localidades, deixando o centro assumir uma função industrial (PLAN
MAESTRO, 2004).
Figura 8: Convento de San Juan de Letrán onde radicou a Real y Pontificia Universidad
de San Jerónimo
FONTE: http://www.habanaradio.cu/articulos/antiguo-convento-de-santo-domingo/
Figura 9: Teatro Tacón
FONTE: https://palauantiguitats.com/en/grabado/teatro-de-tacon-habana-2/
57
Estas construções foram o resultado das necessidades imperantes, do
desenvolvimento da época, dos conhecimentos, das características geográficas do território,
dos interesses da metrópole espanhola e da disponibilidade de materiais, entre outros
fatores. A cidade da Havana surge a partir desta produção de brancos espanhóis, negros
africanos, aborígenes oriundos de Cuba e, mais tarde, os criollos, que também deixaram a
sua marca nesse espaço.
O país se envolveu em três guerras independentistas, mas o intento de
independência se viu frustrado pela entrada dos Estados Unidos na guerra em 1898, quando
o país passou a ser de uma colônia espanhola para uma neocolônia norteamericana, mesmo
quando formalmente tornou-se uma república em 1902. Se iniciava assim a República
Neocolonial, uma outra etapa na história de Cuba e na produção do seu espaço, pois o país
mudava de dono e mudavam, portanto, os interesses envolvidos.
2.2 A OFICINA DEL HISTORIADOR DE LA CIUDAD DE LA HABANA: UM INTENTO
POR RESGATAR A HAVANA VELHA
A instauração da República de Cuba, no início do século XX, marca uma nova
etapa no desenvolvimento econômico, político e social do país. As mudanças que
acontecem modificam a configuração espacial da cidade de Havana, capital da nação e
centro das principais transformações e fluxos financeiros e, fundamentalmente, do seu
núcleo urbano tradicional, denominado Centro Histórico. A figura 10 mostra a área que
ocupa a província de Havana, em verde, e o município Havana Velha, em rosa, onde se
localiza o Centro Histórico, sinalizado seu perímetro em vermelho, que é um espaço com
uma área de 2,14 km², aproximadamente 50% do município, e abarca a antiga zona
intramuros, espaço de expansão desta parte da cidade no final do século XIX, o Paseo do
Prado e uma parte do Bairro Jesús María (RODRÍGUEZ ALOMÁ, 2012).
58
Figura 10: Localização geográfica do Centro Histórico de Havana
FONTE: Elaborado pela autora (2017) a partir de informações obtidas na Empresa de Proyectos RESTAURA
(OHCH) (2017)
Segundo o Plan Maestro (2004), nesta etapa, o Centro Histórico da cidade
acolhe as principais instituições bancárias e comerciais, para as quais se edificam prédios
altos e luxuosos que mudam o gabarito tradicional da área. Desta forma, o Centro Histórico
de Havana Velha que na metade do século XVIII tinha sido abandonado pelas classes altas,
se recupera como um centro econômico. A cidade cresce e a herança colonial se mistura às
novas construções e estilos. São construídos prédios art déco, como o Edificio Bacardí e o
Cine Fausto (Figura 11) (RIGOL, 2015), que se integram à paisagem tradicional do Centro.
59
Figura 11: Edificio Bacardí e Cine Fausto, de esquerda a direita
FONTE: https://www.encaribe.org/es/Picture?IdImagen=1431&idRegistro=561 e
https://www.cubatechtravel.com/destination/extrahotel/en/292/fausto-cinema-theater
É neste contexto que surge primeiro, em 1935, o cargo de Historiador de la
Ciudad e, depois, em 1938, a Oficina del Historiador de la Ciudad de La Habana
(OCHOA ALOMÁ, 2015). Para Rodríguez Alomá (2001) e Ochoa Alomá (2015), o Plan
Maestro (2004) a criação, tanto do cargo quanto da instituição, se deve a uma campanha de
um grupo de intelectuais com um pensamento nacionalista que pretendia conscientizar e
conseguir apoio estatal para a preservação, nos primeiros momentos, do patrimônio
documental da cidade e, posteriormente, para a conservação dos valores arquitetônicos e
culturais da parte mais antiga da cidade. À frente deste grupo se encontrava o Dr. Emilio
Roig de Leuchsenring, que via com receio as transformações que aconteciam no Centro,
tendo sido o primeiro Historiador de la Ciudad.
Desta forma, a Oficina del Historiador de la Ciudad de La Habana surge como
uma instituição provincial (TERRÓN, 2015) que procura defender a cultura nacional e
proteger as construções coloniais da cidade de Havana, principalmente as que se
encontravam no Centro Histórico. O Historiador de la Ciudad, cargo que ocupava Emilio
Roig desde 1935, seria a pessoa que lideraria o trabalho desenvolvido por este organismo.
Nos primeiros tempos, a OHCH cria algumas instituições para compartilhar a
atividade de resgate do patrimônio e descentralizar as funções. Surgem assim, o Archivo
Histórico de la Oficina del Historiador e a Biblioteca Histórica em 1938, e dois anos mais
tarde a Comisión de Monumentos, Edificios y Lugares Históricos y Artísticos Habaneros -
hoje Comisión Provincial de Monumentos -, e a Junta Nacional de Arqueología y
60
Etnología em 1942. Além destes organismos, era necessário um marco legal para a
salvaguarda do núcleo histórico, por esta razão é aprovada a Ley de los Monumentos
Históricos, Arquitectónicos y Arqueológicos em 1939 (RODRÍGUEZ ALOMÁ, 2001).
O trabalho da OHCH contribuiu na inclusão dos artigos 47, 58 e 59 da
Constituição da República de Cuba em 1940:
Art. 47 La cultura en todas sus manifestaciones, constituye un interés primordial
del Estado, son libres la investigación científica, la expresión artística y la
publicación de sus resultados (...) Art. 58 El estado regulará por medio de la ley la conservación del tesoro cultural
de la nación, su riqueza artística e histórica así como también protegerá
especialmente los monumentos nacionales y lugares notables por su belleza
natural, o por su reconocido valor artístico o histórico. Art. 59 Se creará un Consejo Nacional de Educación y Cultura que presidido por
el Ministro de Educación, estará encargado de fomentar, orientar técnicamente o
inspeccionar las actividades educativas, científicas y artísticas de la nación.
(Cuba, 1940: 115)
Iniciava-se um novo caminho no qual, pelo menos de um jeito formal, existia
um entendimento do valor da cultura, do patrimônio e da importância da sua divulgação por
parte do governo.
Segundo dados do Plan Maestro (2018) nas décadas de 1940 e 1950, a OHCH
dedicou-se à recuperação, conservação e reabilitação de obras e conjuntos arquitetônicos de
valor patrimonial e dentre a suas ações neste período destaca-se a proteção da área externa
e do Castillo de la Fuerza (Figura 12), uma fortaleza construída no século XVI para a
proteção da cidade, na frente da qual tinha uma praça (hoje Praça de Armas) em torno da
que se construíram as moradias dos vizinhos mais notórios; a restauração de um segmento
da Muralla de la Habana, muralha que cercava a cidade, construída a inícios do século
XVII para salvaguardar Havana dos ataques de corsários e piratas, com uma extensão era
de cerca de 4,5 quilómetros, tinha uma média de 1,40 metros de espessura e 10 de altura, e
uma tripulação de 3 400 homens e um armamento de 180 peças (MARTÍN ZEQUEIRA e
RODRÍGUEZ FERNÁNDEZ, 1995); a restauração da porta de La Tenaza, uma das portas
da Muralla de la Habana; do Convento e Igreja de San Francisco, prédios religiosos
situados na Plaza de San Frnacisco de Asís, construídos no século XVI; do prédio da
Hacienda, da Catedral, igreja consagrada à Virgen María, construída no século XVIII, e
do Palacio Aldama (Figura 13), mansão cubana do século XIX. Outro exemplo foi a
campanha realizada contra a destruição da Iglesia e o Hospital de San Francisco de Paula
(Figura 14), prédios situados na Alameda de Paula, construídos no século XVII, e mesmo
quando as ações não permitiram a proteção total da construção, salvaram-na parcialmente.
61
Figura 12: Castillo de la Real Fuerza, na atualidade
FONTE: http://www.soilcropandmore.info/Newsletter/Personal-Newsletters/Havana-Letter/index.htm
Figura 13: Palacio Aldama
FONTE: http://www.habanaradio.cu/articulos/asaltan-palacio-de-aldama/
Figura 14: Iglesia de San Francisco de Paula, na atualidade
FONTE: http://www.habanaradio.cu/articulos/antigua-iglesia-de-san-francisco-de-paula/
62
Para Ochoa Alomá (2015) são memoráveis os protestos da OHCH, em 1942,
para evitar que fosse pintada a fachada do Palacio Presidencial (Figura 15) e as
manifestações contrárias às ações que prejudicassem a estética do conjunto palaciano,
formado pelo Capitolio Nacional (Figura 16), os Centro Gallego e Asturiano (Figura 17 e
18), o Instituto de Segunda Enseñanza No. 1 (Figura 19) e a Manzana de Gómez, pois se
discutia nas esferas do governo sobre a possibilidade de construir nestes espaços vários
arranha-céu.
Figura 15: Antigo Palacio Presidencial, 2017 (Hoje, Museo de la Revolución)
FONTE: http://www.radioreloj.cu/es/noticias-radio-reloj/cultura/velada-la-habana-13-marzo/
Figura 16: Capitolio Nacional
FONTE: http://www.habanaradio.cu/tribuna-del-historiador/nuevas-salas-abiertas-en-el-capitolio-nacional/
63
Figura 17: Centro Asturiano, na atualidade
FONTE: http://www.habanaradio.cu/articulos/edificio-de-la-calle-san-rafael-nos-1-y-3/
Figura 18: Centro Gallego, na atualidade
FONTE: http://www.habanaradio.cu/articulos/el-primer-centro-gallego-de-la-habana/
Figura 19: Instituto de Segunda Enseñanza No. 1, na atualidade
FONTE: http://www.habanaradio.cu/articulos/edificio-de-la-calle-zulueta-no-407/
64
Lamentavelmente, em alguns casos, as ações da Oficina não foram suficientes e
várias construções foram demolidas, como é o caso do Convento de San Juan de Letrán
(Figura 20), ocupado pela ordem Santo Domingo, onde estava localizada a primeira
universidade cubana: a Real y Pontificia Universidad de San Gerónimo de La Habana
(RODRÍGUEZ ALOMÁ, 2001).
Figura 20: Convento de San Juan de Letrán
FONTE: http://www.habanaradio.cu/articulos/antiguo-convento-de-santo-domingo/
O trabalho da instituição não se limitou a preservação e recuperação de prédios
e sítios históricos, a OHCH começou a intervir na regulação dos nomes das ruas na Havana
Velha procurando manter os nomes tradicionais quando não fossem nomes de governantes
despóticos e, nesses casos, seriam substituídos por nomes de próceres independentistas,
principalmente; na recuperação de patrimônio intangível (carnavais e outras festas,
comparsas3, entre outros) (PLAN MAESTRO, 2004), na colocação de inscrições nos
monumentos, igrejas, praças, e na realização de congressos de história (Congresos
Nacionales de Historia e de Historia Municipal Interamericana) (OCHOA ALOMÁ, 2015).
Com a participação da OHCH e da Junta Nacional de Arqueología y Etnología,
nestas décadas, foram declarados Monumento Nacional vários prédios e sítios históricos, na
procura de notoriedade e proteção para estes bens, pois uma vez que eram declarados
monumento a Junta regulava que:
3 Grupos de pessoas fantasiadas que desfilam e dançam juntas pelas ruas com acompanhamento de uma música própria.
65
(…) Los Monumentos Nacionales, no podrán ser modificados o restaurados, sin
la previa autorización de la Junta. La conservación de los edificios declarados Monumentos Nacionales no pueden
limitarse exclusivamente a su exterior, a su fachada, porque ello significaría
convertir a los Monumentos Nacionales en telones decorativos utilizados en una
farsa histórica o artística(…) Prohibe que, sin autorización de la Junta, sea adosada una construcción nueva a
un edificio declarado Monumento Nacional(…) (OCHOA ALOMÁ, 2015: 107)
Esta normativa ditava como proceder com estes prédios de alto valor para a
história e para a cultura cubana e pretendia evitar que fossem derrubados ou sofressem
intervenções sem a assessoria necessária que garantisse processos de restauração
adequados. Assim, foram declarados Monumento Nacional: a Iglesia de Paula em 1944, a
casa natal de José Martí, a Fortaleza de los Tres Reyes del Morro, o Palacio Aldama, em
1949 e, dois anos depois, o Rincón e a Fragua Martiana, e em 1955 o Palacio Pedroso
(OCHOA ALOMÁ, 2015). Eram valorizadas construções representativas das classes altas
da etapa colonial cubana, mas também registros vinculados à figura histórica de José Martí.
Nesta etapa ainda ficavam fora das nomeações a herança das classes menos favorecidas.
Quando se analisam as resoluções atuais do Consejo Nacional de Patrimonio Cultural
(2019) que declaram os Monumentos Nacionales alguns destes prédios: Iglesia de Paula,
Palacio Aldama e o Palacio Pedroso; não possuem mais esta condição devido a que
sufriram demolições ou alterações parciais posteriores (MARTÍN ZEQUEIRA e
RODRÍGUEZ FERNÁNDEZ, 1995) mesmo quando estas declaratórias visavam protegê-
los. Outros como: a casa natal de José Martí, a Fortaleza de los Tres Reyes del Morro e o
Rincón e a Fragua Martiana -fora dos limites do Centro Histórico-; possuem declaratórias
posteriores à década de 1970 -como se abordará em próximos subitens-, talvez devido a
uma necessária revisão para avaliar às suas condições para continuar integrando esta lista.
Além disso, a Junta Nacional de Arqueología y Etnología tinha declarado, em
1944, como “(…) zona de excepcional valor histórico y artístico toda la parte de la Habana
comprendida entre el mar y las antiguas murallas (...)” (OCHOA ALOMÁ, 2015: 109). A
resolução estava assinada pelo Presidente Fulgencio Batista. Esta declaração dava
relevância ao conjunto paisagístico que décadas depois, em 1982, seria reconhecido pela
UNESCO e assentava as bases para a sua proteção, pois se legislou que os prédios que se
construíssem ou reconstruíssem deveriam ter harmonia com os estilos colonial cubano,
neoclássico ou clássicos já utilizados na cidade, e ficava proibida a construção de prédios
com fachadas de estilo moderno - medida respeitada por alguns anos no Centro Histórico
(ÁLVAREZ, 1998).
66
Nestes anos, o trabalho da OHCH esteve muito ligado à Junta Nacional de
Arqueología y Etnología, e ao fato de que “(…) Los Monumentos Nacionales, no podrán
ser modificados o restaurados, sin la previa autorización de la Junta(…)” (OCHOA
ALOMÁ, 2015, p.107), como citado anteriormente, demostra uma supremacia do poder da
segunda instituição, panorama que mudaria nos próximos anos. Mas, cabe ressaltar também
que o Historiador de la Ciudad era membro pleno da Junta e que primava em ambos
organismos o interesse para que as ações de conservação não comprometessem a imagem
original do bem.
Por um lado, parecia que o governo respaldava as ações em favor da defesa dos
monumentos coloniais, com a assinatura do Presidente na declaratória de Havana Velha
como Zona de excepcional valor histórico y artístico, mas, segundo Rigol (2015), sem
consultar a Junta ou a OHCH, foi contratado por Batista, em 1956, uma equipe de
urbanistas estrangeiros para fazer um plano de expansão das vias e de embelezamento do
Centro Histórico de Havana Velha. Este projeto implicava derrubar vários quarteirões de
prédios coloniais, conservando apenas alguns poucos dentre os mais emblemáticos, e
realizar uma transformação radical da cidade antiga. Com este processo de renovação
urbana se procurava que Havana entrasse na lógica do mercado e que se adaptasse aos
tempos modernos. Finalmente o projeto não se realizou, mas, de ter sido acometido, esta
área e o sistema defensivo da cidade não seriam declarados pela UNESCO como
Patrimônio Cultural da Humanidade, três décadas depois.
No primeiro de janeiro de 1959 triunfa a Revolución Cubana e, a partir desta
data, o país entra num período de profundas mudanças sociais, políticas e econômicas. Os
primeiros passos do novo governo estiveram encaminhados pela nacionalização das
principais indústrias do país, pela aprovação da Ley de Reforma Agraria, pela realização da
campanha de alfabetização, entre outras. Mesmo quando havia interesse do estado na
proteção do patrimônio cultural da nação, o país atravessava por uma situação na qual se
impunha a resolução de outros problemas mais urgentes.
As limitações financeiras dos anos 1960 frearam os projetos de transformação
urbana da década anterior. Desta forma, o Centro Histórico de Havana Velha conservou o
seu traçado e a maioria dos seus prédios antigos. A autenticidade original foi preservada,
embora existam ainda algumas áreas em avançado processo de deterioração (PLAN
MAESTRO, 2004).
Segundo Rodríguez Alomá (2001), o novo governo reconheceu a OHCH e o
trabalho que esta vinha desempenhando e, mesmo se nos anos 1960, se realizaram poucas
67
ações de preservação do patrimônio cultural, se acometeram algumas, tais como: o início de
um plano de recuperação para Havana Velha, que incluía trabalhos em três das principais
praças (Plaza de Armas, Plaza de San Francisco e Plaza de la Catedral); continuaram as
obras no Castillo de la Real Fuerza e no Palacio del Segundo Cabo; e começa a
reabilitação do Palacio de los Capitanes Generales para que fosse a sede do Museo de la
Ciudad (OCHOA ALOMÁ, 2015). Também a década do 1960 foi uma etapa de mudanças
para a OHCH, pois em 1964 morre Emilio Roig, e a partir desta data as funções de
Historiador de la Ciudad seriam desempenhadas por Eusebio Leal (PLAN MAESTRO,
2004), mas as concepções e ideias de ambos eram semelhantes, então, se pode apreciar uma
continuidade na obra de recuperação.
No dia 15 de fevereiro de 1976 se aprovou uma nova Constitución de la
República de Cuba, na qual no Capítulo V Educación y Cultura existe um único inciso
referente ao patrimônio cultural cubano:
h) el Estado defiende la identidad de la cultura cubana y vela por la conservación
del patrimonio cultural y la riqueza artística e histórica de la nación. Protege los
monumentos nacionales y los lugares notables por su belleza natural o por su
reconocido valor artístico o histórico(...) (Cuba, 1976: 9)
Sendo insuficiente em matéria de leis o ditado na Constituição de 1976 sobre o
patrimônio cultural cubano, nesse mesmo ano a Asamblea Nacional del Poder Popular
previu outros instrumentos legislativos e aprovou a Ley No. 1 sobre el Patrimonio Cultural
e a Ley No. 2 sobre los monumentos nacionales y locales.
A Ley No. 1 sobre el Patrimonio Cultural procura estabelecer as pautas para o
registro e proteção dos bens culturais ao tempo que dispõe:
ARTICULO 1: La presente Ley tiene por objeto la determinación de los bienes
que, por su especial relevancia en relación con la arqueología, la prehistoria, la
historia, la literatura, la educación, el arte, la ciencia y la cultura en general,
integran el Patrimonio Cultural de la Nación, y establecer medios idóneos de
protección de los mismos. ARTÍCULO 5: Toda persona natural o jurídica tenedora por cualquier título de
bienes que constituyan Patrimonio Cultural de la Nación, viene obligada a
declararlos, previo requerimiento, ante el Registro Nacional de Bienes Culturales
de la República de Cuba, sin que ello implique modificación de título por el que
se posee. Los que faltaren a esta obligación en el término que se les señale serán
sancionados conforme a la legislación vigente. ARTÍCULO 7: Se declaran de utilidad pública e interés social los bienes
culturales a que se refiere la presente ley, los que no podrán ser destruidos,
remozados, modificados o restaurados, sin previa autorización del Ministerio de
Cultura. ARTÍCULO 12:La extracción o el intento de extracción del territorio nacional de
bienes culturales protegidos por esta Ley sin haber obtenido previamente la
autorización del Ministerio de Cultura, constituirá delito de contrabando y será
sancionado conforme establece la Ley Penal. Dichos bienes serán siempre
decomisados.(...) (Cuba, 1976a: 1)
68
Esta lei centralizava as funções de proteção do patrimônio no Ministério de
Cultura.
A Ley No. 2 sobre los monumentos nacionales y locales, por sua parte, estipula
quando um bem pode ser declarado Monumento Nacional, cria a Comisión Nacional de
Monumentos e as Provinciales, adscrita ao Ministério de Cultura e se determinam as suas
funções, estipula como deve ser a realização de escavações arqueológicas e a restauração de
obras de artes plásticas nos monumentos (Cuba, 1976b).
Estas leis, e as sucessivas (Decreto No.55 Reglamento para la ejecución de la
Ley de los Monumentos Nacionales y Locales ou o Decreto No.118 Reglamento para la
ejecución de la Ley de Protección al Patrimonio ambos de 1977) alicerçam as bases legais
para a atuação no resgate, proteção e recuperação do patrimônio cultural cubano.
Em 1978 o Centro Histórico de Havana Velha e as suas fortificações militares
são declarados Monumento Nacional pela Comisión Nacional de Monumentos devido à
preservação arquitetônica do conjunto. A partir desse ano, são reconhecidas, por esta
instituição, várias edificações de valor histórico e cultural com esta declaratoria. O quadro 4
apresenta os Monumentos Nacionales do Centro Histórico de Havana Velha até a
atualidade.
Quadro 4: Monumentos Nacionales no Centro Histórico de Havana Velha
Monumento Descrição Data da declaratória
Antigua Villa de San Cristóbal
de La Habana y el sistema de
fortificaciones coloniales que
la circundan
Centro Histórico do município
Havana Velha e o sistema
defensivo da cidade composto
por 10 fortificações militares
10 de outubro de 1978
Casa Natal de José Martí Moradia do Héroe Nacional de
Cuba
10 de outubro de 1978
Hotel Inglaterra Hotel vinculado às lutas
independentistas
12 de maio de 1981
Museo Histórico de las
Ciencias Carlos J. Finlay
Antiga construção vinculada
ao arte, a história e a ciência
14 de agosto de 1981
Locomotora La Junta Mais antiga locomotora que se
conserva em Cuba, data de
1842
31 de agosto de 1998
Estación de Ferrocarriles
Cristina
Parte do patrimônio ferroviário
nacional
2 de novembro de 2002
69
Estación Central de
Ferrocarriles de La Habana
Parte do patrimônio ferroviário
nacional
12 de novembro de 2002
Capitolio Nacional Emblemática construção,
cenário do acontecer político
do período republicano (1902-
1958)
15 de novembro de 2010
FONTE: Elaborado pela autora (2019) a partir de informações extraídas de Consejo Nacional de Patrimonio
Cultural (2019)
Além dos Monumentos Nacionales reconhecidos no Centro Histórico, em
dezembro de 2014 foi declarado Patrimonio Cultural de la Nación o Cañonazo de las
Nueve4. Esta cerimônia é realizada na Fortaleza de San Carlos de la Cabaña, uma das
fortificações espanholas declaradas Monumento Nacional, de conjunto com Havana Velha,
em 1978.
Segundo Paes (2005, p. 96), muitos dos bens materiais e imateriais
reconhecidos como patrimônio são representativos dos “(...) grupos sociais hegemônicos
(...)”, no Centro Histórico de Havana Velha também acontece assim, pois os bens
declarados Monumento Nacional e Patrimonio Cultural de la Nación, são conjuntos,
construções -exceto a casa de Martí, que provinha de uma família humilde, porém
espanhola- e tradições representativas das classes médias e altas das etapas colonial e
neocolonial; ou estão vinculados às lutas independentistas. Em Cuba, existem poucos
testemunhos construídos das classes mais desfavorecidas, sendo que e a maioria se encontra
na região oriental do país, mas, nos últimos anos, se declararam algumas tradições como: o
sombrero de guano, tipo de chapéu tradicional do campo, lendas dos campos e as parrandas
-carnaval popular da região central- como Patrimonios Culturales ou Inmateriales de la
Nación (CONSEJO NACIONAL DE PATRIMONIO CULTURAL, 2019).
As seguintes figuras mostram as três primeiras edificações em serem declaradas
Monumento Nacional no Centro Histórico: a Casa Natal de José Martí (Figura 21), o Hotel
Inglaterra (Figura 22) e o Museo Histórico de las Ciencias Carlos J. Finlay (Figura 23), a
primeira se trata de uma construção modesta, porém as outras duas são edificações que
acolheram à alcurnia havanesa.
4 Tradição identitária de Havana Velha. Consiste em atirar um tiro com um antigo cânon espanhol às 21h na
Fortaleza de San Carlos de la Cabaña. Na época colonial o realizavam os militares espanhóis para avisar que
as pessoas deviam se proteger na zona amuralhada da cidade. Na atualidade se continua realizando
diariamente e é visitado por turistas nacionais e internacionais.
70
Figura 21: Casa Natal de José Martí
FONTE: https://www.pinterest.es/pin/778982066769112878/
Figura 22: Hotel Inglaterra
FONTE: Da autora (2018)
Figura 23: Museo Histórico de las Ciencias Carlos J. Finlay
FONTE:
http://www.granma.cu/granmad/2008/03/19/nacional/artic05.html
71
A partir das declaratórias de 1981 se inicia uma etapa na qual a OHCH começa
um trabalho de conscientização e difusão dos valores culturais da cidade e do Centro
Histórico, junto à população que morava no Centro e na cidade de Havana em geral. A
partir da publicação de artigos sobre a temática nos jornais nacionais, têm início os ciclos
de conferências e caminhadas por lugares de interesse na cidade (RODRÍGUEZ ALOMÁ,
2001).
O trabalho da Oficina del Historiador de la Ciudad, desde a sua fundação,
esteve orientado ao resgate e conservação dos bens arquitetônicos, monumentos históricos
e dos valores culturais na área mais antiga da cidade. A instituição procurou que as ações
de recuperação não modificaram a estrutura dos imóveis e que não se limitaram às fachadas
dos mesmos. A recuperação se iniciou tendo como motivação principal preservar a história
contida no Centro Histórico de Havana Velha.
2.3 A DECLARATÓRIA DA UNESCO NO CENTRO HISTÓRICO DE HAVANA
VELHA
Segundo Rodríguez Alomá (2001), desde o triunfo da revolução o governo
cubano tinha reconhecido a Oficina del Historiador de la Ciudad como uma instituição
encarregada de preservar a herança cultural do Centro Histórico. Porém, como analisado
anteriormente, nos instrumentos legislativos para a proteção do patrimônio, esta função
aparecia centralizada no Ministério de Cultura oficialmente, mesmo se na prática a OHCH
continuava a realizar o projeto de recuperação de décadas passadas, como demostram os
textos de Rodríguez Alomá (2001), do Plan Maestro (2004) e de Ochoa Alomá (2015). Para
o ano 1981, este panorama muda e o governo designa à OHCH como o organismo
plenamente encarregado para a reabilitação do Centro Histórico contando com o apoio
financeiro estatal (LEAL, 2004).
Um ano mais tarde, como reconhecimento ao trabalho de preservação e
restauração que tinham realizado a Junta Nacional de Arqueología y Etnología e a OHCH,
por mais de quatro décadas, e pelo valor patrimonial da parte antiga de Havana Velha, o
Centro Histórico e o sistema defensivo da cidade foram declarados pela UNESCO:
Patrimônio Cultural da Humanidade (RODRÍGUEZ ALOMÁ, 2001). A declaratória se
baseava nos critérios IV e V da lista de critérios de seleção da UNESCO, e são justificados
no caso de Havana desta forma:
Criterio (iv) Las fortunas históricas de La Habana fueron producto de la función
excepcional de su bahía como una parada obligatoria en la ruta marítima hacia el
Nuevo Mundo, que en consecuencia requería su protección militar. La extensa
72
red de instalaciones defensivas creadas entre los siglos XVI y XIX incluye
algunas de las fortificaciones de piedra más antiguas y más grandes de América,
entre ellas la fortaleza de La Cabaña en el lado este del canal de entrada estrecha
a la Bahía de La Habana, el Castillo Real Fuerza en la Lado oeste, castillo de
Morro y castillo de La Punta custodiando la entrada al canal. Criterio (v) El centro histórico de La Habana ha mantenido una notable unidad de
carácter como resultado de la superposición de diferentes períodos de su historia,
que se ha logrado de manera armoniosa pero expresiva a través de la disposición
urbana original y el patrón subyacente de la ciudad como un todo. Dentro del
centro histórico de la ciudad hay muchos edificios de mérito arquitectónico
sobresaliente, especialmente en torno a sus plazas, que están dispuestas por casas
y edificios residenciales en un estilo más popular o tradicional que, cuando se
considera en su conjunto, proporciona una sensación general de arquitectura,
continuidad histórica y ambiental que convierte a la Habana Vieja en el centro
histórico de la ciudad más impresionante del Caribe y uno de los más notables del
continente americano en su conjunto. (UNESCO, 2018: on line)
Alguns critérios destacados pela UNESCO (2018) nesta declaratória são a
integridade, a autenticidade e os requisitos de proteção e gestão do conjunto. Quanto à
integridade assinala o Valor Universal Excepcional da “(…) distribución urbana de la
Habana Vieja con sus cinco grandes plazas y su conjunto armonioso de monumentos
arquitectónicos y edificios populares de estilo tradicional de diferentes épocas en su
Historia, y su extensa red de fortificaciones (UNESCO, 2018: on line)”, e destaca o fato de
que tenham acontecido poucas mudanças da estrutura urbana e nas construções. Sobre a
autenticidade ressalta que o Centro Histórico e o sistema defensivo da cidade “(…) tienen
un alto grado de autenticidad en términos de ubicación y configuración, formas y diseños, y
materiales y sustancias (UNESCO, 2018: on line)” e que, mesmo tendo acontecido algumas
intervenções desde a década de 1950, a autenticidade do conjunto não foi comprometida.
No referente à proteção e gestão expõe que a grande maioria dos prédios situados na área
declarada patrimônio é propriedade do governo cubano e que estes bens estão protegidos
por diversas disposições, tais como a Constitución de la República de Cuba (1976) e
Resolución de la Comisión de Monumentos Nacionales 3/1978, que declara o Centro
Histórico e as fortificações coloniais Monumento Nacional, garantindo sobre esta área a
aplicação das leis de Protección al Patrimonio Cultural e de Monumentos Nacionales y
Locales que procuram salvaguardar o patrimônio cultural cubano. Além disto, destaca que
velam pela administração do Centro Histórico a Asamblea Provincial del Poder Popular e
o Ministerio de Cultura através da OHCH, organismo que possui os recursos legais,
técnicos, econômicos e de gestão para desenvolver os projetos de restauração.
A UNESCO (2018) recomenda preservar o Centro Histórico e seus valores, o
que requererá a continuidade da atividade que se realizava até o momento e de novos
planos inovadores que resgatem e preservem as construções e a trama urbana que se
73
encontrava em mau estado devido a “negligência crónica” (UNESCO, 2018: on line) e criar
um sistema de prevenção de riscos devido a diversos eventos climatológicos que afetam a
cidade como os furacões.
A declaratória da UNESCO, além do Centro Histórico de Havana Velha,
incluía as seguintes fortificações coloniais da cidade:
Quadro 5: Sistema de fortificações incluídas na declaratória da UNESCO
Fortificação Ano de
inauguração
Localização Espaço Uso atual
Castillo de los Tres
Reyes del Morro
1589 Carretera de La
Cabaña, Costa
Este de la entrada
de la Bahía de La
Habana (Fora dos
limites de Havana
Velha)
1.4 ha Museum Marítimo
Forma junto com a Fortaleza
de San Carlos de la Cabaña o
Parque Histórico-Militar
Morro-Cabaña
Fortaleza de San Carlos
de la Cabaña
1774 Carretera de la
Cabaña, Habana
del Este (Fora dos
limites de Havana
Velha)
9.2 ha
Museu de Fortificações e
Armas
Forma junto com o Castillo de
los Tres Reyes del Morro o
Parque Histórico-Militar
Morro-Cabaña
Hornabeque de San
Diego Fuerte No. 4
1780 Ao noroeste da
Fortaleza de la
Cabaña em
direção a Cojímar
(Fora dos limites
de Havana Velha)
1.1 ha Moradia de militares
Fuerte No. 1 - - 0,35 ha -
Torreón de San Lázaro 1665 San Lázaro y
Malecón, Centro
Habana (Fora dos
limites de Havana
Velha)
0.001
ha
Faz parte de um parque em
homenagem ao Geral das
Guerras de Independência do
século XIX cubano, Antonio
Maceo
Santa Dorotea de la
Luna de la Chorrera
1645 Calle Malecón
entre 18 y 20,
Vedado (Fora dos
limites de Havana
Velha)
0.5 ha
Bar-restaurante
Castillo de Cojímar 1649 Calle 1 D y Final,
Cojímar (Fora
dos limites de
Havana Velha)
1.5 ha Ocupado pela Guarda Costeira
Cubana
74
Polvorín de San
Antonio
Segunda
mitade do
século XVII
Ensenada de
Guasabacoa e
perto da
desembocadura
do río Luyanó
(Fora dos limites
de Havana Velha)
5,2 ha
-
Castillo de Atarés 1767 Fábrica e/ Arroyo
y Gancedo.
Havana Velha
0.5 ha
Unidade militar (porém no
trabalho de campo foi
expressado por membros da
OHCH que tinha sido cedido
pela FAR para a OHCH para
novas funções)
Castillo del Príncipe 1779 Calzada de
Zapata y Calle G,
Vedado (Fora dos
limites de Havana
Velha)
5 ha
Dependência do Ministério de
Cultura
FONTE: Elaborado pela autora (2018), adaptado de UNESCO World Heritage Center (2018) e com
informações do Trabalho de campo.
Mesmo se a maioria das fortificações se encontram fora da área do Centro
Histórico (Figura 24), elas são incluídas na declaratória, pois, de acordo com ICOMOS
(1981), elas têm um caráter homogêneo como sistema defensivo e com o conjunto
reconhecido como patrimônio.
75
Figura 24: Centro Histórico de Havana Velha e o sistema de fortificações
FONTE: UNESCO (2018). Adaptado pela autora (2019)
A Figura 25 mostra seis das dez fortificações militares que formavam parte do
sistema defensivo da cidade de Havana na etapa colonial e que foram reconhecidas pela
UNESCO. Na primeira coluna de cima para baixo aparecem: o Castillo de Cojímar, o
Castillo de los Tres Reyes del Morro e o Castillo de Atares; e na segunda na mesma ordem:
o Torreón de San Lázaro, Santa Dorotea de la Luna de la Chorrera e a Fortaleza de San
Carlos de la Cabaña.
76
Figura 25: Fortificações militares de Havana Velha
FONTE: http://www.habanaradio.cu; https://www.flickr.com/photos/x_angel_x93/4894935965;
http://www.arquitecturahabana.org/centro-habana/torreon-de-san-lazaro;
http://www.cubarte.cu/en/articulo/castillo-de-atar-s-excellent-overlook-oldest-area-havana/45557;
Depois da declaratória, a UNESCO facilitou ajuda técnica e econômica para os
trabalhos de reabilitação do Centro Histórico e do sistema defensivo. Desta forma, chegou a
pagar de 1985 a 2002, 263 777 USD para a recuperação da Plaza Vieja e dos prédios que a
circundam, a conservação do Parque Histórico Militar Morro Cabaña (conformado pelo
Castillo de los Tres Reyes del Morro e a Fortaleza de San Carlos de la Cabaña), que
contém uma parte valiosa da história de defensa nacional e das tradições do povo cubano e
que foram refuncionalizados como museus; e a reabilitação do Convento de Santa Clara de
Asís, como se pode apreciar no quadro 6.
77
Quadro 6: Assistência econômica da UNESCO no processo de recuperação do Centro
Histórico de Havana Velha e seu sistema de fortificações
Motivo Ano Monto (USD)
Equipamento para a recuperação da Plaza Vieja 1985 20 000
Consolidação dos trabalhos na Plaza Vieja 1993 20 000
Reabilitação de prédios da Plaza Vieja: Cine Habana, Café Taberna e
Colegio del Santo Ángel.
1993 55 000
Conservação do conjunto de fortificações Morro-Cabaña 1998 28 777
Reabilitação do Convento de Santa Clara de Asís 1999 30 000
Continuação da reabilitação do Terceiro Claustro do Convento de
Santa Clara de Asís
2000 35 000
Asintência de emergência para a reabilitação do Convento de Santa
Clara de Asís
2002 75 000
Total - 263 777
FONTE: Elaborado pela autora (2019) a partir de informações extraídas de UNESCO (2018)
Além de oferecer assistência financeira para os trabalhos de resgate da Plaza
Vieja, a UNESCO iniciou uma campanha internacional para obter recursos financeiros para
a reabilitação deste espaço e, com esse propósito, fez um chamado:
(…) a los estados miembros (…), a las organizaciones intergubernamentales y no
gubernamentales, a las instituciones públicas y privadas, a las fundaciones,
artistas y poetas, historiadores y educadores, a ofrecer con generosidad sus
contribuciones en dinero, en materiales o en servicios para la gran tarea que
emprende el Gobierno de la República de Cuba para preservar su patrimonio
histórico (...) (RODRÍGUEZ ALOMÁ, 2015: 200)
Porém, para Arteaga et al. (2015), o chamado da UNESCO não conseguiu
arrecadar fundos suficientes para a reconstrução da Plaza Vieja (Figura 26). A mesma só
seria totalmente restaurada no final da década de 1990 (EMISORA HABANA RADIO,
2019).
78
Figura 26: La Plaza Vieja antes da recuperação (acima) e depois de recuperada em
2017 (baixo)
FONTE: http://www.habanaradio.cu/articulos/la-plaza-vieja/ e https://onlinetours.es/blog/post/751/la-camara-
oscura-de-la-habana-vieja
Além dos recursos provenientes da UNESCO e da cooperação internacional,
com a declaratória, aumentou a destinação de recursos governamentais para a recuperação
dos monumentos e a preservação dos bens patrimoniais do Centro Histórico (PLAN
MAESTRO, 2006). Mesmo que os Planes Quinquenales5 e projetos de planejamento
econômico em diversas áreas, tenham se iniciado em 1981, em matéria de recuperação de
Havana Velha, é a partir da declaratória da UNESCO que essas estratégias ganham maior
força. Assim, entre as principais obras que se desenvolveram estão a recuperação de
espaços públicos como as praças (da Catedral e de Armas) e de movimentadas vias de
acesso como: Oficios, Mercaderes, Tacón e uma parte de Obispo (o processo de
reconstrução desta rua ocorre até hoje). Também, se realizaram trabalhos de resgate no
Colegio de San Francisco de Sales (Figura 27) (LEAL, 2004).
5 Planos que consistiam na planificação da economia por períodos de cinco anos.
79
Figura 27: Antigo Colegio de San Francisco de Sales restaurado e refuncionalizado
como restaurante desde 1984 (foto da esquerda depois da restauração, foto da direita
antes)
FONTE: http://www.habanaradio.cu/articulos/edificio-de-la-calle-oficios-6-esquina-obispo-109/
Também, foram recuperados prédios de arquitetura doméstica pertencentes a
Martín Aróstegui, a família Franchi Alfaro (Figura 28), Beatriz Pérez Borroto e de
Lombillo (Figura 29); os Palacios del Marqués de Aguas Claras, Conde de Casa Bayona e
Conde de Jaruco. A maioria destes prédios abrigariam, inicialmente, funções culturais que
eram escassas nesta zona que se orientava fundamentalmente ao comércio e a moradia
(LEAL, 2004).
Uma das características fundamentais deste processo foi que a prioridade para
restaurar os prédios, praças, monumentos e artérias se deveria ao seu estado de conservação
e a sua localização nas principais ruas e espaços públicos do Centro Histórico (OCHOA
ALOMÁ, 2015).
80
Figura 28: Casa da família Franchi Alfaro antes da restauração da década de 1980
(esquerda) e durante a década de 1990 (direita)
FONTE: http://www.habanaradio.cu/articulos/edificio-de-la-calle-mercaderes-no-315-esquina-a-muralla/
Figura 29: Antiga mansão del Conde de Casa Lombillo antes da restauração da
década de 1980 (esquerda) depois nos anos 1990 (direita)
FONTE: http://www.habanaradio.cu/articulos/edificio-de-la-calle-empedrado-no-151-esquina-mercaderes/
Segundo Leal (2004), nos primeiros momentos a recuperação deste espaço
urbano esteve centrada na recuperação dos bens materiais, mas, com o percurso do tempo,
as instituições que lá trabalhavam compreenderam que, pelas características da área, que
nunca deixou de ter funções habitacionais e, por tanto, moradores, então era impossível se
dedicar às obras de reabilitação sem ter em conta a população que ali residia. Assim, a obra
ampliou o seu espectro e se começou a pensar no desenvolvimento de carácter social. Por
81
esta razão se construíram moradias e vários prédios foram dedicados à função habitacional,
e também aumentaram os serviços comunitários, porém, as redes técnicas de água e esgoto
desta área eram muito antigas e não conseguiam dar conta da demanda que se tinha na
época e muitas das obras construídas para a população eram de baixa qualidade (poucos
recursos, inexperiência) e em poucos anos, se encontrariam em tão mau estado quanto
alguns prédios antigos (OCHOA ALOMÁ, 2015).
Para o ano 1990 tinham sido recuperados mais de cinquenta prédios (PLAN
MAESTRO, 2006) e a configuração visual do Centro Histórico de Havana Velha começava
a mudar positivamente. Mas, com o colapso do bloco socialista europeu, e com a
desintegração da União de Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), o panorama
econômico se transformaria radicalmente para o país.
Com a crise econômica que atravessava o país na década de 1990, a UNESCO
incitou novamente à cooperação internacional para ajudar na reabilitação de Havana
Velha. Desta forma, o país recebeu assistência técnica e econômica de países como:
México, Espanha, Itália e Bélgica que somavam até 2008, 25,8 milhões de USD
(RODRÍGUEZ ALOMÁ, 2009). A figura 30 mostra o comportamento da cooperação
internacional de 1994 a 2008, evidenciando que num ano se chegaram a receber mais de
300 mil USD para este fim.
82
Figura 30: Cooperação internacional (1994-2008)
FONTE: Elaborado pela autora (2019) a partir de informações extraídas de Rodríguez Alomá (2009)
As cifras demonstram que mesmo se tratando de um país fechado, pela via do
patrimônio e partir da declaratória da UNESCO, se recebeu auxílio internacional para os
trabalhos de resgate do patrimônio cultural no Centro Histórico de Havana Velha.
Mesmo após a declaratória da UNESCO ter constituído um reconhecimento dos
valores culturais e históricos do Centro Histórico de Havana Velha e do sistema defensivo
da cidade, dado relevância internacional ao conjunto, contribuído no amadurecimento da
consciência nacional para dar importância à preservação deste espaço, oferecido auxílio
financeiro para alguns trabalhos de resgate e incitou à cooperação internacional para a
reabilitação, a declaratória em si mesma não impulsionou as cifras de turistas internacionais
em Cuba ou no Centro Histórico. A figura 31 permite observar o crescimento do número de
turistas que visitavam Cuba desde 1980, antes da declaratória, até 1990. Porém, segundo
Martín Fernández (2008), este crescimento está associado ao próprio aumento dos turistas
na área do Caribe neste período procurando destinos de sol e praia.
83
Figura 31: Chegadas turísticas a Cuba no período 1980-1990
FONTE: Elaborado pela autora (2018) a partir de informações extraídas de Ayala (2001) e Marín Fernández
(2008)
A declaratória da UNESCO vai dar notoriedade ao Centro Histórico para o
desenvolvimento do turismo cultural, pois garantia uma visibilidade a nível internacional
(PLAN MAESTRO, 2006), mas, isto acontecerá na década de 1990, especificamente a
partir de 1993, momento em que o governo decide desenvolver o turismo cultural neste
espaço e a partir da criação da Companhia Turística Habaguanex, como se explicará no
próximo subitem.
A declaratória do Centro Histórico de Havana Velha e seu sistema defensivo,
foi um ponto fundamental no processo de renovação urbana deste espaço, pois a UNESCO
ofereceu meios econômicos para que isto acontecesse, motivou a cooperação internacional
e a declaratória gerou compromisso a nível do governo nacional com a recuperação, e
assim, o Estado destinou uma suma de dinheiro para trabalhos que mudassem a imagem do
Centro como se explicou anteriormente. Além disso, ainda que não tinha sido utilizada,
num primeiro momento, para aumentar os fluxos turísticos, a declaratória deu relevância a
um lugar pouco visitado, legitimando seu valor histórico e cultural e transformando-o num
atrativo turístico que podia ser explorado ou não. A conotação internacional da declaratória
é utilizada atualmente nas campanhas turísticas que procuram promocionar Havana Velha
como destino de turismo cultural, difundidas por INFOTUR (2019) e Cuba-Portal del
Turismo (2019).
84
2.4 O TURISMO COMO ESTRATÉGIA ECONÔMICA E A CRIAÇÃO DA
COMPANHIA TURÍSTICA HABAGUANEX S.A. NA DÉCADA DE 1990
Na década 1990 o país passava por uma séria crise econômica, pois como
consequência do colapso do bloco socialista europeu e da desintegração da URSS, Cuba
deixou de receber o apoio econômico proveniente do Conselho de Ajuda Mútua Econômica
(CAME). Desta forma, o governo também não contava com os recursos financeiros
necessários para dar continuidade as atividades de reconstrução no Centro Histórico e
suspendeu o orçamento aprovado em 1981, com o qual se estavam desenvolvendo esses
trabalhos.
Se iniciava, desta maneira, em Cuba, o chamado Período Especial, que foi uma
etapa de crise econômica. O produto interno bruto (PIB) cubano caiu de -2,90%, em 1990,
para -14,9%, em 1993. As exportações e importações diminuíram a menos da metade das
realizadas antes do início desta etapa; escassearam o petróleo, os fertilizantes, os insumos
agrícolas, os alimentos e os produtos básicos; o fornecimento de energia elétrica e os
sistemas de transporte também se tornaram instáveis (SANTOS, 2014).
É por estas razões que o governo da Ilha optou por desenvolver o turismo
internacional como via para obter recursos financeiros e normalizar a situação econômica
no país. Em 1993 se pensou também no turismo como uma solução que permitiria
continuar desenvolvendo os trabalhos de resgate e recuperação de maneira autofinanciada
no Centro Histórico de Havana Velha.
Desta forma, se assinou, em 1993, a Lei-decreto 143 que declara ao Centro
Histórico “área de conservação de máxima prioridade” e responsabilizava, uma vez mais, à
Oficina del Historiador de la Ciudad de La Habana para a sua recuperação como
contempla a constituição da Companhia Turística Habaguanex, S. A. e facilita os meios
econômicos e legais para sua criação. A mesma se dedicaria à atividade turística e
arrecardaria divisas frescas que se inverteriam na salvaguarda do Centro Histórico (LEAL,
2004).
Assim, a Oficina del Historiador de la Ciudad de La Habana, que tinha sido
criada com o objetivo de proteger e restaurar o patrimônio cultural da zona de Havana
Velha, resgatar e divulgar a história do centro urbano da cidade, teria, a partir deste decreto,
que fazer frente à responsabilidade de criar e gerir as instalações turísticas e comerciais
próprias - e depois um sistema empresarial -, que proporcionaram os recursos econômicos
necessários para continuar o projeto de recuperação, sem esquecer a necessidade da
reanimação cultural e social do entorno. Sem mudar o conceito desta instituição se lhe
85
somavam novas funções que fugiam das razões pelas quais havia sido criada, assim, o que
acontece não é que a OHCH se dedicasse à atividade turística como primeira função, e sim
que a atividade turística atrairia os meios financeiros para continuar o trabalho de proteção
do patrimônio cultural.
Habaguanex, empresa turística gerida pela OHCH, começou a operar com um
único hostel de doze quartos e uma cafeteria (CASTILLO, 2010), mas, com um amplo
programa de investimentos conta hoje com 21 hotéis, localizados em imóveis reabilitados e
redesenhados nas suas novas funções; 36 restaurantes, 56 cafeterias e 112 lojas (PÉREZ
CORBEA, 2010 e GAVIOTA HOTELES, 2018). Habaguanex surgiu para operar o maior
peso da atividade turística do Centro Histórico e do município de Havana Velha em geral,
por esta razão, adquiriu alguns antigos hotéis localizados na zona como Florida, Ambos
Mundos, Santa Isabel, Telégrafo e mansões coloniais que foram convertidas em hotéis,
como é o caso do Hotel Santa Isabel (Figura 32), antiga casa dos Condes de Santovenia ou
do Hotel Marqués de Prado Ameno (Figura 33) antiga moradia da família de Cárdenas.
Uma das características distintivas desta companhia é o fato de que as suas instalações se
encontram em prédios de grande valor histórico e cultural, que foram refuncionalizados
para a atividade turística.
Figura 32: Hotel Santa Isabel
FONTE: Da autora (2018)
86
Figura 33: Hotel Marqués de Prado Ameno
FONTE: https://www.trivago.com.br/havana-33570/hotel/marques-de-prado-ameno-1337368
Dentro do Centro Histórico operam outras companhias, pois todas as agências
de viagens podem realizar passeios turísticos na zona, mas a atividade hoteleira está
praticamente concentrada em Habaguanex, pois só existem oito hotéis que não pertencem a
este grupo: Plaza, Inglaterra e Mercure Sevilla, do Grupo Hotelero Gran Caribe S.A., o
Gran Hotel Manzana Kempinski e o Iberostar Grand Packard do Grupo de Turismo
Gaviota, o Iberostar Parque Central do Grupo Cubanacán e o Caribbean de Hoteles Islazul.
Na década dos 1990 foram fundadas várias instituições no Centro Histórico que
poderiam se dividir em dois grupos: geradoras de divisas e gestoras da recuperação urbana,
social e cultural da área. Ambos os grupos trabalhariam em conjunto e sob a direção da
OHCH. Habaguanex foi a primeira de um sistema de empresas que surgiu para gerar os
recursos econômicos para a recuperação dos espaços públicos do Centro histórico. Porém,
não se podia perder de vista o interesse de recuperação urbana na área e, para guiar os
estudos técnicos, sociais e econômicos sobre o centro, surge, em 1994, o Plan Maestro
(LEAL, 2004). Depois da proclamação do Acuerdo 2951, de novembro de 1995, que
declara o Centro Histórico “(…) zona de alta significación para el turismo(...)” (LEAL,
2004: p. 69), se criaram também a agência de viagens San Cristóbal, nesse mesmo ano para
complementar a oferta turística de Habaguanex, fornecendo um serviço especializado em
turismo histórico, cultural e patrimonial; e as empresas imobiliárias Aurea, Fénix e
Mercurio, a partir de 1996, para alugar locais recuperados de alto standing. Segundo
Rodríguez Alomá (2009), das empresas pertenecientes à OHCH, é a Habaguanex a que
87
maior lucro gera, pois, seus rendimentos anuais superavam os 129,1 milhões de CUC -
equivalente ao dólar estadunidense- no 2008.
Com este modelo de gestão se tem obtido, desde 1994 à atualidade, mais de 500
milhões de dólares (RODRÍGUEZ ALOMÁ, 2012). Este ganho provém, principalmente,
do uso turístico de prédios de valor monumental, e dos serviços que se encontram nesta
área urbana. O orçamento arrecadado se investiu no Centro Histórico e em outras zonas de
Havana. “De estos recursos el 45 % se destina a proyectos productivos, el 35 % a
programas sociales y el resto a colaborar con otros sitios de la ciudad y la nación” (LEAL,
2004, p. 4).
Segundo Blanco (2009), foram restaurados com o dinheiro arrecadado e com o
trabalho do sistema empresarial da OHCH um grande número de atrativos turísticos: 40
museus e casas-museus, 22 lugares históricos, 13 igrejas de importância arquitetônica e
social, 21 galerias de arte, 9 teatros, 9 livrarias e bibliotecas, 11 centros de promoção
cultural e 5 praças principais. Da mesma forma, a produção cultural também aumentou,
conforme ressalta Quintana et al. (2005, p. 109):
En el ámbito de los espectáculos y eventos se presenta un crecimiento de las agrupaciones
profesionales, en el número de exposiciones del movimiento de la plástica y
además un desarrollo de programas y festivales que promueven la afluencia
turística tales como: el Festival de Ballet, el Festival Internacional de Teatro,
Festival Internacional del Nuevo Cine Latinoamericano, La Feria Internacional
del Libro, Festivales de Coro, Guitarra, Jazz, entre outros.
Como parte do processo de reabilitação, as imobiliárias Aurea e Fénix
restauraram apartamentos de alto standing e escritórios para serem dedicados ao aluguel.
Estas ações permitem, por um lado, resgatar prédios de alto valor patrimonial e, por outro,
arrecadar dinheiro que possa ser empregado no financiamento de projetos sociais. Alguns
exemplos de prédios deste tipo são o Emilio Bacardí, a antiga Lonja do Comércio (Figura
34) e o Gómez Vila (Figura 35), na Praça Velha (LEAL, 2004). Segundo RODRÍGUEZ
ALOMÁ (2012), nesta etapa se restaurou um terço do Centro Histórico.
88
Figura 34: Antiga Lonja do Comércio
FONTE: https://www.cubaconecta.com/lugares-interes/articulos/2017-12-18-u43-e42-lonja-comercio-habana
Figura 35: Edifício Gómez Vila
FONTE: http://cuba-explore.com/es/Arquitectura/Camara-Oscura
Como se explicou anteriormente, 35% do capital obtido com a atividade
turística foi investido em programas sociais procurando elevar a qualidade de vida dos
moradores (LEAL, 2004). Desta forma, um dos primeiros pontos a ser trabalhado para
melhorar estas condições foi a moradia. Para Castillo (2010), no caso do Centro Histórico
de Havana Velha, muitas casas coloniais que abrigavam a várias famílias sem as condições
mínimas requeridas foram transformadas em casas de apartamentos, tal como o prédio da
rua San Ignacio, 360, que foi reabilitado mantendo a função habitacional.
89
Além disso, se criaram programas para atender as necessidades dos setores
mais vulneráveis da população como: idosos, mulheres e crianças. Se reabilitaram o Hogar
Materno Doña Leonor Pérez para abrigar as mulheres grávidas que não podem estar nas
suas casas por diversos motivos, a Clínica de Rehabilitación Infantil Senén Casas
Regueiro, o Centro Geriátrico Santiago Ramón y Cajal e o Centro para la Tercera Edad
(LEAL, 2004).
Foram restauradas as escolas Ángela Landa, Mariano Martí, Carlos Manuel de
Céspedes, Israel Cabrera e José Martí, e se criou a Escuela Taller Gaspar Melchor de
Jovellanos, para formar a jovens em trabalhos de restauração de patrimônio (LEAL, 2004).
Segundo Rodríguez Alomá (2012), se criaram mais de 13 000 empregos, sendo 50% destes
destinados aos moradores locais. Estas ações conseguiram, em certa medida, melhorar a
qualidade de vida de uma parte dos moradores: os atingidos por estes programas.
Para conseguir o objetivo de recuperar o Centro Histórico e o seus bens
patrimoniais (LEAL, 2004) a OHCH estabeleceu um grupo de trabalho (Figura 36)
composto por diversos organismos e entidades (como é o caso do Plan Maestro); um
conjunto de departamentos especializados no planejamento econômico, territorial, social e
cultural e um sistema empresarial centrado nas atividades turística e imobiliária,
fundamentalmente, que oferecia os recursos econômicos para desdobrar um plano de
desenvolvimento que abarca a recuperação patrimonial como um todo, incluindo a
recuperação e a refuncionalização dos prédios, monumentos, praças e parques, o resgate de
tradições culturais como as comparsas, os zanqueros6, mas também que beneficiasse a
população que morava, e mora, no Centro Histórico de Havana Velha. Este conjunto de
instituições, direções e empresas eram administradas pela OHCH e realizam um trabalho
conjunto.
6 Pessoas, fantasiadas ou não, que desfilam e dançam sobre zancos (altos postes de madeira) a uma altura
considerável do solo.
90
Figura 36: Organigrama da Oficina del Historiador de la Ciudad de La Habana
FONTE: Rodríguez Alomá (2001)
Os autores analisados, Leal (2004), Plan Maestro (2004), Castillo (2010) e
Rodríguez Alomá (2012), com formações e carreiras bem diferentes, concordam que a
OHCH não virou uma empresa turística, pois, segundo eles, a realização das atividades
turísticas no seio da instituição foi uma ferramenta para arrecadar o dinheiro necessário
para realizar as atividades de resgate patrimonial do Centro Histórico para a população, e
que isto só foi possível pelo apoio do governo, ou a existência de uma única organização
com autoridade para a condução deste processo de reconstrução - a OHCH -, a legislação
sobre patrimônio, as atividades econômicas de autofinanciamento e o fato de que alguns
imóveis fossem próprios da Oficina.
Em Cuba as instituições turísticas não estão centralizadas no Ministerio de
Turismo (MINTUR). Estas instalações estavam divididas, até final de 2016, entre o Grupo
de Administración Empresarial (GAE) (pertencente às Fuerzas Armadas Revolucionarias
91
(FAR) que opera o turismo mediante a empresa Grupo de Turismo Gaviota S.A.; a Oficina
del Historiador de la Ciudad com a Companhía Turística Habaguanex, S. A. e o MINTUR.
Em agosto de 2016 as instituições pertencentes a Habaguanex passaram para as mãos das
FAR. Esta mudança modificou a estrutura da OHCH. Pareceria um lógico retorno gradual
às funções iniciais da Oficina uma vez que o país parece ter sobrepassado o período de
maior crise, porém, pouco se tem explicado sobre com quais recursos econômicos continua
o processo de recuperação do Centro Histórico, pois o trabalho de recuperação não parou e
continua até a atualidade.
Os objetivos fundacionais da OHCH de preservar os valores patrimoniais,
tangíveis e intangíveis, do Centro Histórico de Havana Velha deveriam combinar, a partir
da década de 1990, com funções de administração de un sistema empresarial. A
transformação da paisagem urbana e a recuperação do patrimônio arquitetônico requeria
recursos financeiros que possibilitassem a sua materialização. No contexto do país, a
solução mais pragmática era optar pela via autofinanciada. E o processo que se iniciou com
o interesse de conservação dos valores históricos e culturais da zona, virou uma estratégia
econômica que colocou o Centro Histórico de Havana Velha no mercado turístico global.
Segundo Carrión (2006), assistimos à utilização do antigo como uma estratégia para o
futuro.
Em Havana e no seu núcleo fundacional aconteceu o que ocorria nessa etapa
em outras cidades de América Latina. O centro começava a ser embelezado, seguro e os
prédios refuncionalizados para abrigar atividades culturais, de lazer ou turísticas. Se
produzia uma mercadoria para ser vendida em forma de produto turístico e se apostava
nessa indústria. Porém, este processo tinha algumas diferenças dos que aconteciam no Sul
do continente. Por um lado, a infraestrutura, os serviços e o espaço não foram privatizados,
e são o governo e as instituições -fundamentalmente a OHCH- os encarregados de regular a
atividade turística e recebem os rendimentos. E, por outro lado, o trabalho realizado pela
Oficina parece estar orientado também a pensar na projeção social deste espaço: no bem-
estar e na integração da população ao processo.
92
3. REFUNCIONALIZAÇÃO TURÍSTICA NO CENTRO HISTÓRICO DE
HAVANA VELHA
3.1 A REFUNCIONALIZAÇÃO TURÍSTICA DAS EDIFICAÇÕES NO CENTRO
HISTÓRICO DE HAVANA VELHA
Desde a etapa da colônia, Havana Velha recebeu, pela sua localização na baía,
um alto número de flotas, marinheiros e viajantes. Por esta razão, nas cercanias do porto
sempre existiram lugares simples para o alojamento e refeições para quem chegava. Porém,
os primeiros hotéis da cidade datam da década de 1860 e foram construídos com o
estabelecimento de linhas marítimas regulares entre várias cidades costeiras estadunidenses
e Havana (AYALA, 2001). Mesmo se estas viagens fossem motivadas por fins turísticos,
este setor só iria se desenvolver realmente no século seguinte.
Entre as décadas de 1920 e 1950 se construíram grandes e luxuosos hotéis na
cidade que recebiam fundamentalmente turistas estadounidenses (AYALA, 2001). Mas,
nesta etapa, as construções não se concentraram na parte antiga da cidade, e mesmo quando
se edificaram alguns hotéis como o Ambos Mundos e o Park View, as obras estavam
orientadas mais ao Vedado, nova zona nobre e da moda.
As mudanças econômicas e políticas que aconteceram em Cuba a partir de
1959, transformaram o panorama do desenvolvimento turístico do país. Até 1989
praticamente desapareceu na ilha o turismo internacional e o setor estava orientado ao
fomento do turismo nacional. Como foi explicado anteriormente, com o início da etapa
conhecida como Período Especial, o governo vê no turismo uma oportunidade para sair da
crise através dos ingressos que esta atividade gera.
Assim, a partir dos anos 1990, o governo traça uma estratégia com o objetivo
de desenvolver o turismo, e as ações, segundo Ayala (2001), se centram na construção de
novos hotéis e na recuperação dos já existentes; no estabelecimento de vínculos comerciais
com touroperados e empresas hoteleiras estrangeiras para que começassem a operar em
Cuba; na criação de agências nacionais, com seus próprios sistemas de comercialização e
recepção turística e na organização de um sistema de capacitação e seleção dos
trabalhadores do setor. Na etapa de 1990 a 1994, o setor turístico é um dos poucos setores
da economia cubana que cresce (MARTÍN FERNÁNDEZ, 2008). A figura 37, apresenta o
ininterrupto crescimento dos visitantes e dos rendimentos da atividade de 1990 a 1994:
93
Figura 37: Turistas e rendimentos do setor no período 1990-1994
FONTE: Ayala (2001)
Porém, o aumento nas cifras de turistas nesta primeira etapa esteve associado
principalmente ao desenvolvimento da modalidade de sol e praia, pois só no ano 1994 se
inicia uma etapa de redesenho do turismo no país. Esta reestruturação se realiza para
transmitir uma imagem de Cuba como destino integral, diversificando o produto mediante a
potenciação dos valores históricos, culturais e naturais do país. Assim, a partir de 1994,
começa a crescer o turismo cultural nos centros históricos de Havana Velha, Trinidad,
Cienfuegos, Camagüey e Santiago de Cuba, distribuindo os fluxos turísticos nas diferentes
regiões, influenciando na recuperação do patrimônio cultural edificado e vinculando a
população com a atividade turística a partir da geração de empregos (AYALA, 2001).
O desenvolvimento do turismo cultural influenciou nos fluxos de turistas que
chegavam a Cuba no período, pois, em 1996, se sobrepassa o milhão de turistas. A figura
38 apresenta o aumento das cifras de turistas e dos rendimentos de 1995 a 2000, já
influenciado pela quota correspondente ao turismo cultural.
94
Figura 38: Turistas e rendimentos do setor no período 1995-2000
FONTE: Ayala (2001)
No Centro Histórico de Havana Velha a tarefa de desenvolver o turismo
cultural era responsabilidade principalmente da OHCH e da sua empresa turística
Habaguanex. A análise anterior do setor turístico na cidade de Havana, mostra que a parte
antiga da cidade não tinha uma grande planta hoteleira. Porém, era a zona que abrigava o
maior número de edificações de valor patrimonial, monumentos e museus que poderiam ser
atrativos para o turismo. Mas, mesmo quando existiam prédios históricos e a imagem
urbana deste centro preservava a sua integridade, as edificações estavam num avançado
grau de deterioração ou eram ruínas parciais (CASTILLO, 2001). Correspondeu a OHCH e
ao conjunto de departamentos e organismos vinculados a ela transformar a paisagem do
Centro Histórico. Assim, a partir de 1994, muitos antigos palácios e casas coloniais que
pertenceram às classes endinheiradas cubanas foram reabilitados e transformados em
hostels e hotéis, e os hotéis que já existiam foram restaurados.
O Quadro 7 resume o estado atual da planta hoteleira do Centro Histórico de
Havana Velha. A zona possui 29 hotéis: destes 21 pertencem à marca Habaguanex, agora
operada pelo Grupo de Turismo Gaviota; 2 de recente inauguração, que são também do
Grupo Gaviota, 4 do Grupo Hotelero Gran Caribe, 1 do Grupo Cubanacán e 1 de Hoteles
Islazul. A grande maioria das instalações se encontra localizada em prédios dos séculos
XVII, XVIII e XIX de valor histórico e cultural. Estas edificações foram submetidas a
processos de restauração e em alguns casos de reconstrução pelo avançado estado de
deterioração, mas mesmo nos piores casos de destruição se puderam preservar algumas
95
estruturas, tais como: corrimãos, sacadas, vitrais, louças, entre outros elementos (PLAN
MAESTRO, 2006). Estes imóveis de valor patrimonial pertenciam principalmente à função
habitacional, eram escritórios ou armazéns vinculados às atividades do porto ou colégios e
adquiriram novos usos vinculados ao turismo. O processo de recuperação,
refuncionalização e abertura das instalações foi paulatino se se analisam as datas de
abertura como hotéis de Habaguanex, marca que possui o maior número de hotéis em
construções de valor patrimonial que, antes, tinham outra função, não vinculada ao turismo.
Esse processo que se inicia em 1994 e chega até a atualidade.
Quadro 7: Alojamentos turísticos estatais no Centro Histórico de Havana Velha
Habaguanex (por Gaviota)
Hotéis e Hostels Função anterior Data de
construção
Abertura
como hotel de
Habaguanex
Hotel Ambos Mundos Hotel (hospedou em várias ocasiões a
Ernest Hemingway)
1925 1997
Hotel Armadores de
Santander
Moradia do Conde de la Mortera
Escritórios de armadores da cidade de
Santander, Espanha
Atividades de comércio como bar,
barbería, casa de troca de moedas,
venda de charutos, cigarros e café
Casa Balear, associação de espanhóis
1903 a 1909
Hotel El Universo desde inícios do
século XX
Casa del Joven Creador, instituição
cultural (uso em 1995)
1897 2002
Hotel Beltrán de Santa
Cruz
Casa de Gabriel Beltrán de Santa Cruz,
primeiro Conde de San Juan de Jaruco
Cortiço7 na segunda metade do século
XX
Século XVIII 2002
Hotel Conde de Villanueva Casa de Claudio Martínez de
Pinillos, Conde de Villanueva
Fondo Cubano de Bienes Culturales
Século XVIII 1994
Hotel El Comendador Casa da família de
Don Pedro Regalado Pedroso y Zayas,
Comendador de la orden de Isabel la
Século XVIII 1999
7 Os cortiços do Centro Histórico de Havana Velha são antigos palacetes e mansões coloniais que foram transformados em prédios
multifamiliares com habitações pequenas e ocupadas por pessoas de baixa renda. No Centro Histórico existem mais de 850 cortiços
(PLAN MAESTRO, 2016). Em Cuba são chamados de ciudadelas.
96
Católica
Casa da família de Don Pedro
Regalado Pedroso y Pedroso,
Comendador de la Orden de Carlos III
Comércio, armazém, escritório e
moradia inícios do século XX
Cortiço na segunda metade do século
XX
Hotel El Mesón de la Flota Comércio e armazém no primeiro
andar e moradia no segundo
- 2000
Hotel Florida Casa de Joaquín Gómez
Hotel a partir de 1885
Club Británico de La Habana década
de 1930
Sociedad Mercantil Anónima
Inmobiliaria Bancofo S.A. 1959
Armazém e escritório na década dos
1960
1836 1994
Hotel Los Frailes Casa do marqués Pedro Claudio
Duquesne
Armazém no primeiro andar e moradia
no segundo primeiraa metade do século
XX
Cortiço na segunda metade do século
XX
Século XVIII 2001
Hotel Marqués de Prado
Ameno
Casa da família de Prado Ameno
Moradia de diversas famílias
Prédio de casas de aluguel inícios do
século XX
Comércio e armazém
Imprenta de La Gaceta Oficial
Primeira
década do
século XVIII
2008
Hotel Marqués de San
Felipe y Santiago de
Bejucal
Propriedade de Don Sebastián de
Peñalver IV Marqués de San Felipe y
Santiago
Função comercial século XIX
Escritórios na segunda metade do
século XX
Oficina del Historiador de la Ciudad
década del 1990
Fins do
século XVIII
2010
Hotel Palacio O'Farrill Casa de Don José Ricardo O’ Farrill,
nobre da etapa colonial
Escritórios: Registro de Propiedad,
Tribunal Supremo y la Fiscalía,
Secretaría de Justicia, Colegio de
Abogados e o Fondo Especial de
Obras Públicas
1832 2002
Hotel Park View Hotel 1928 2002
97
Hotel Raquel Construído para escritórios e armazéns
de tecidos
Cámara de Comercio, Industria y
Navegación de Cuba
Escritórios e moradia na década de
1960
1905 2003
Hotel San Miguel Casa de Antonio San Miguel y Segalá,
promotor cultural
Escritórios
Ministerio de Salud Pública desde
1959
1860 2000
Hotel Santa Isabel Antiga casa dos Condes de Santovenia
Hotel a partir de 1867
1889 Lonja de Víveres de La Habana
1943 Escritório, armazém e comércio
segunda metade do século XX Moradia
de várias famílias
Cortiço na década de 1990
Inícios do
século XVIII
1997
Hotel Saratoga Construído com fins comerciais para
funcionar como armazéns, moradias e
casas de hóspedes
Hotel Alcázar a partir de 1911
Hotel Saratoga 1933
Cortiço desde 1960
1880 2005
Hotel Tejadillo Conjunto de casas dos séculos XVIII,
XIX e XX
Colégios religiosos das ordens Sagrado
Corazón (1888-1950) e das Hijas de
María Auxiliadora (1945-1961)
Séculos
XVIII, XIX e
XX
1999
Hotel Telégrafo Hotel Entre 1858 e
1863
2001
Hostal Valencia Casa do regedor Sotolongo
Casa de Oficios e Obrapía
Finais do
século XVIII
1994
Hotel Habana 612 Casa de família Século XIX 2016
Grupo de Turismo Gaviota
Hotéis e Hostels Função anterior Data de
construção
Abertura
como hotel de
Gaviota
Gran Hotel Manzana
Kempinski
Primeiro Centro Comercial Cubano
(com lojas, escolas de comércio
Pittman e Gregg, cartório, escritórios
de advogados, escritório da revista
Show)
Escolas, comércios e escritórios até
1894 a 1917 2017
98
2014
Iberostar Grand Packard Hotel Biscuit
Hotel Packard desde 1931
Cortiço desde a década de 1980 até o
ano 2000
Década de
1920
2018
Grupo Hotelero Gran Caribe S.A.
Hotéis Função anterior Data de
construção
Última
restauração
Hotel Gran Caribe Plaza Casa da família Pedroso
Escritório do Diario de la Marina 1912
Hotel Leal (um segmento do prédio)
1895 a 1909 1991
Hotel Gran Caribe
Inglaterra
Hotel 1856 1989
Hotel Mercure Sevilla
Habana
Hotel 1908 1993
Grupo Cubanacán
Hotéis Função anterior Data de
construção
Última
restauração
Hotel Iberostar Parque
Central
Hotel
Moradia e comércios
1998 2010
Hoteles Islazul
Hotéis e Hostels Função anterior Data de
construção
Última
restauração
Hotel Islazul Caribbean Hotel 1956 2006
FONTE: Elaborado pela autora (2018) a partir de informações extraídas de Martin Zequeira e Rodríguez
Fernández (1995), Blanco (2009), Emisora Habana Radio (2019), Hoteles Habaguanex (2019) e Holiplus
(2019)
Como se pode observar no quadro anterior, alguns dos prédios que foram
refuncionalizados para serem convertidos em hotéis anteriormente eram cortiços que
abrigavam a numerosas famílias de baixa renda. Tal é o caso dos atuais hotéis Beltrán de
Santa Cruz, El Comendador, Los Frailes, Santa Isabel, Saratoga e Iberostar Grand
Packard. Para que estas construções pudessem adquirir este uso turístico, muitas famílias
foram removidas para outras zonas da cidade, com maior frequência para Alamar, zona
periférica longe de Havana Velha, como indica Scarpacci (2000). Os prédios de
excepcionais valores históricos e culturais foram restaurados, embelezados e transformados
em recursos turísticos, mas, para serem desfrutados por novos usuários, aqueles com os
99
recursos econômicos necessários e o tempo para realizar turismo no Centro Histórico, os
moradores tradicionais não puderam permanecer.
A refuncionalização turística acentua as contradições socioespaciais, pois por
um lado se investe na recuperação do Centro Histórico, mas, por outro, uma parte dos
moradores tradicionais, a população mais pobre que mora nos cortiços, são removidos para
zonas periféricas com menos serviços, ofertas culturais e maiores problemas de transporte,
como se abordará nos próximos capítulos. Desta forma, a cidade se fragmenta em função
das classes sociais e da renda.
As figuras 39 e 40 mostram antigos cortiços refuncionalizados para a atividade
turística.
Figura 39: Cortiço na antiga moradia de Beltrán de Santa Cruz (esquerda) e Hotel
Beltrán de Santa Cruz (direita) depois da refuncionalização
FONTE: http://www.habanaradio.cu/articulos/antigua-casa-de-gabriel-beltran-de-santa-cruz-2/
100
Figura 40: Cortiço da rua Teniente Rey (esquerda), hoje Hotel Los Frailes (direita)
FONTE: http://www.habanaradio.cu/articulos/edificio-de-la-calle-teniente-rey-no-8-entre-oficios-y-
mercaderes/
Além da refuncionalização destes antigos prédios, citados no quadro 7, para
serem convertidos em alojamentos turísticos, como parte da estratégia para inserir a Cuba
no mercado turístico global, se fez necessária a criação de vários restaurantes, bares e
cafeterias. Se bem este tipo de instalações não se concentram exclusivamente, no Centro
Histórico, na Companhia Habaguanex, pois existem instituições do Grupo Extrahotelero
Palmares e do Grupo de Turismo Gaviota, Habaguanex possui o maior número de
instalações deste tipo na zona com 36 restaurantes e 56 cafeterias (PÉREZ CORBEA,
2010).
O Quadro 8 se centra na análise dos restaurantes de Habaguanex, pois segundo
Leal (2004) as instalações desta companhia se caracterizam por estar localizadas em
prédios de valor patrimonial que tem adquirido novos usos. A maioria destas instalações
datam dos séculos XVII, XVIII e XIX e as suas funções anteriores estavam relacionadas à
moradia, ensino, armazéns e escritórios vinculados à atividade do porto, mas também aos
serviços, pois vários se encontram em imóveis que sempre estiveram vinculados a este
setor, mesmo se não estavam orientados ao turismo especificamente. Alguns destes
restaurantes oferecem pratos tradicionais da gastronomia cubana, fazendo da culinária
costumbrista um atrativo turístico mais.
101
Quadro 8: Bares e restaurantes de Habaguanex no Centro Histórico de Havana Velha
Habaguanex
Restaurantes Função anterior Data de
construção
Abertura
como bar de
Habaguanex
Restaurante a Prado y
Neptuno
Bodega de madeira
Café de las Columnas 1899
Restaurante Bar Miami 1939
Restaurante Caracas y Budapest década
dos 1980
Século XIX 1999
Restaurante Anacaona
(Hotel Saratoga)
Construído com fins comerciais para
funcionar como armazéns, moradias e
casas de hóspedes
Hotel Alcázar a partir de 1911
Hotel Saratoga 1933
Cortiço desde 1960
1880 2005
Restaurante Bodegón
Onda (Hotel Comendador)
Casa da família de
Don Pedro Regalado Pedroso y Zayas,
Comendador de la orden de Isabel la
Católica
Casa da família de Don Pedro Regalado
Pedroso y Pedroso, Comendador de la
Orden de Carlos III
Comércio, armazém, escritório e
moradia inícios do século XX
Cortiço na segunda metade do século
XX
Século XVIII 1999
Restaurante Cabaña - - -
Restaurante Café del
Oriente
- - 1997
Restaurante Cantabria
(Hotel Armadores de
Santander)
Moradia do Conde de la Mortera
Escritórios de armadores da cidade de
Santander, Espanha
Atividades de comércio como bar,
barbería, casa de troca de moedas,
venda de charutos, cigarros e café
Casa Balear, associação de espanhóis
1903 a 1909
Hotel El Universo desde inícios do
século XX
Casa del Joven Creador, instituição
cultural (uso em 1995)
1897 2002
Restaurante Casa de la
Parra
Casa 1640 -
Restaurante Castillo de Bar-restaurante 1896 -
102
Farnés
Restaurante Conde del
Castillo (Hotel Marqués de
San Felipe y Santiago de
Bejucal)
Propriedade de Don Sebastián de
Peñalver IV Marqués de San Felipe y
Santiago
Função comercial século XIX
Escritórios na segunda metade do
século XX
Oficina del Historiador de la Ciudad
década del 1990
Fins do
século XVIII
2010
Restaurante Don Giovanni Mansão colonial Século XVIII 1994
Restaurante Don Ricardo
(Hotel Palacio O´Farril)
Casa de Don José Ricardo O’ Farrill,
nobre da etapa colonial
Escritórios: Registro de Propiedad,
Tribunal Supremo y la Fiscalía,
Secretaría de Justicia, Colegio de
Abogados e o Fondo Especial de Obras
Públicas
1832 2002
Restaurante Dos
Hermanos
Bar-restaurante Los Dos Hermanos Mediados do
século XX
-
Restaurante El Baturro Armazém
Cantina
1919 -
Restaurante El Condado
(Hotel Santa Isabel)
Antiga casa dos Condes de Santovenia
Hotel a partir de 1867
1889 Lonja de Víveres de La Habana
1943 Escritório, armazém e comércio
segunda metade do século XX Moradia
de várias famílias
Cortiço na década de 1990
Inícios do
século XVIII
1997
Restaurante El Mesón de
la Flota (Hotel Santa
Isabel)
Café el Mercurio Antiga Lonja de Víveres de La Habana
Antiga Lonja de Comercio
Prédio de diferentes escritórios
1909 1997
Restaurante El Patio Palácio colonial do Marqués de Aguas
Claras
Lugar de reunião da bohemia havanesa
na décadas de 1980
Século XVIII -
Restaurante El Templete Bar Entre 1928 e
1931
-
Restaurante Europa Pastelería Século XIX -
Restaurante Factoría Plaza
Vieja
Casa
Comércio
- -
Restaurante Jardín del
Edén (Hotel Raquel)
Construído para escritórios e armazéns
de tecidos
Cámara de Comercio, Industria y
Navegación de Cuba
1905 2003
103
Escritórios e moradia na década de
1960
Restaurante La Barca Propiedade da sociedade comercial
González y Suárez para a importação
de suministros
Sede de várias entidades britânicas:
Legação diplomática do Reino Unido
em Habana, Havana Coal Co., Havana
Marine Railways Co. propriedade do
fundo de investimentos da Rainha
Victoria e a moradia do capitão
Stapleton, fundador do Havana British
Club
- -
Restaurante La Dominica Antiga cafeteria Século XIX -
Restaurante La Floridana
(Hotel Florida)
Casa de Joaquín Gómez
Hotel a partir de 1885
Club Británico de La Habana década de
1930
Sociedad Mercantil Anónima
Inmobiliaria Bancofo S.A. 1959
Armazém e escritório na década dos
1960
1836 1994
Restaurante La Imprenta Imprenta La Habanera Século XIX 2010
Restaurante La Mina Moradia de Obispos da Iglesia
Parroquial Mayor (demolida em 1748
para construir a Catedral de La
Habana)
Antigo colégio de moças Colegio de
San Francisco de Sales 1686-1690
Palacio Episcopal 1758
Pensionato 1917
Restaurante 1984
Século XVI -
Restaurante La Paella
(Hotel Valencia)
Casa do regedor Sotolongo Finais do
século XVIII
-
Restaurante La Torre de
Marfil
- Século XVIII -
Restaurante Plaza de
Armas (Hotel Ambos
Mundos)
Hotel (hospedou em várias ocasiões a
Ernest Hemingway)
1925 1997
Restaurante Prado
(Hotel Park View)
Hotel 1928 2002
Restaurante Puerto de
Sagua
Restaurante 1945 -
104
Restaurante Santo Ángel Casa colonial
Colegio del Santo Ángel para meninos
pobres 1866
Conservatorio de Música de Santa
Amelia 1932
Século XIX -
Restaurante Taberna El
Molino (Hotel Marqués de
Prado Ameno)
Casa da família de Prado Ameno
Moradia de diversas famílias
Prédio de casas de aluguel inícios do
século XX
Comércio e armazém
Imprenta de La Gaceta Oficial
Primeira
década do
século XVIII
2008
Restaurante Telégrafo
(Hotel Telégrafo)
Hotel Entre 1858 e
1863
2001
Restaurante Vuelta Abajo
(Hotel Conde de
Villanueva)
Casa de Claudio Martínez de
Pinillos, Conde de Villanueva
Fondo Cubano de Bienes Culturales8
Século XVIII -
FONTE: Elaborado pela autora (2018) a partir de nformações extraídas de D-Cuba (2019), Restaurantes en
Cuba (2019) e Paseos por la Habana (2019)
A figura 41 apresenta a localização de todos os hotéis do Centro Histórico de
Havana Velha e dos restaurantes da Companhia Turística Habaguanex. Cada grupo
hoteleiro está identificado com uma cor diferente, permitindo apreciar que a maioria dos
hotéis do Centro pertence a Habaguanex. Dentro dos círculos marrons, que representam os
hotéis de Habaguanex, existem, em alguns casos, pontos azuis que indicam os restaurantes
deste mesmo grupo, situados dentro dessas instalações. Além destes estabelecimentos
turísticos localizados no mapa, existem restaurantes de outros grupos estatais e negócios
privados (tanto alojamentos como restaurantes) orientados ao turismo na zona. Se se tem
em conta que a extensão do Centro Histórico é de 2,14 km², se pode afirmar que o Centro
Histórico possui um significativo número de estabelecimentos turísticos, pois além de
hotéis e restaurantes, existem outros serviços e instalações localizados na zona, orientados a
este setor como feiras, agências de viagens, locais para aluguel de carros, dentre outros.
Além disso, no mapa se pode apreciar uma concentração das instalações, na parte esquerda,
que marca o limite da zona, e onde se localiza o Paseo del Prado, importante via; e na zona
direita espaço que abriga as principais praças e perto do Malecón e a área do porto.
8 Instituição que pertence ao Ministerio de Cultura (MINCULT) e que promove e comercializa as obras de
artistas cubanos: artesanato, roupas, quadros, dentre outros.
105
Figura 41: Hotéis dos diferentes grupos hoteleiros e restaurantes de Habaguanex no
Centro Histórico de Havana Velha
FONTE: Elaborado pela autora (2019) a partir de informações obtidas na Empresa de Proyectos RESTAURA
(OHCH) (2018)
A recuperação do Centro Histórico de Havana Velha está estreitamente ligada à
refuncionalização turística das formas arquitetônicas, mas, segundo Herrera (2012, s.p.) o
maior problema radica nos:
106
objetos e imágenes “añadidas” al espacio público urbano, cuya proliferación en
los últimos años, paradójicamente, impide el goce pleno de la arquitectura legada
y rescatada con rigor y profesionalidad por arquitectos y constructores de la
institución (OHCH): me refiero a la cadena de mesas y sillas que obstruyen el
paso en determinadas callejuelas y pasajes del área principal del centro histórico,
a macetas y arecas en abundancia de orden y tamaño, a muros bajos para la
protección de murales, a profusos afiches e infografías montadas sobre
estructuras metálicas en fachadas, esquinas y plazas.
Um exemplo destes muros aos que faz referência Herrera (2012) é o que
protege o mural do antigo Liceo Artístico y Literario de La Habana, inaugurado no ano
2000, no qual aparecem importantes figuras da intelectualidade cubana. Muitos são os
turistas que passam diariamente por este lugar para fazer fotografias (Figura 42).
Figura 42: Mural do antigo Liceo Artístico y Leterario de La Habana
FONTE: Da autora (2018)
107
As praças e ruas de Havana Velha tem sido invadidas pelas mesas dos
restaurantes estatais para o turismo, fazendo com que estes espaços públicos sejam
exclusivos dos consumidores. A figura 43 mostra, da esquerda para a direita, os
restaurantes: Café Paris, La Dominica, La Paella e La Mina -estes três últimos de
Habaguanex- que tem se apropriado de ruas centrais transformadas em espaços de uso
turístico, o que impede o aproveitamento destes lugares para o encontro e o intercâmbio
social dos moradores, mudando a paisagem tradicional desta área urbana. As funções da rua
são alteradas e ficam exclusivas para o turista.
Figura 43: Apropriação dos espaços públicos pelos restaurantes turísticos
FONTE: Da autora (2018)
108
Porém, a estratégia turística no Centro Histórico de Havana Velha não se
concentra unicamente na recuperação de edificações para serem convertidos em hotéis e
restaurantes, e a refuncionalização turística nesta zona não é exclusiva dos prédios com
valores históricos e culturais.
O Puerto de la Habana também tem sido refuncionalizado para abrigar o
negócio turístico. As atividades tradicionais do porto de carga e descarga de produtos tem
sido trasladadas a outras zonas da baía, menos visíveis para o turista e, no seu lugar, ocupa
este espaço o Terminal Internacional de Cruceros (Figura 44). Especialistas afirmam que
esta decisão está relacionada ao avançado nível de deterioração das estruturas do porto, à
contaminação das águas que produziam as indústrias próximas e a que as possibilidades
comerciais da atividade portuária eram insuficientes (INCLÁN e CASTILLO, 2012), mas,
parece ser esta última justificativa a mais certeira, pois as estruturas foram reformadas antes
de abrir o terminal de cruzeiros, a função portuária continua a se realizar e as indústrias
estão localizadas em outras zonas, só que mais longe da área valorizada pelo turismo. Cabe
perguntar se essas áreas não se verão também afetadas pela contaminação num futuro.
Assim se erige a razão do lucro financeiro associado ao turismo como o principal
motivador na refuncionalização do porto e da área fronteiriça.
Figura 44: Terminal Internacional de Cruceros na Baía de Havana
FONTE: Parra (2015)
109
Também, o conjunto de prédios relacionados com a função portuária recebe
novos usos recreativos, culturais e turísticos (PLAN MAESTRO, 20016). Os Almacenes de
Depósito San José foram refuncionalizados entre 2005 e 2009 (PARRA, 2015) e viraram o
Centro Cultural Antiguos Almacenes de Depósito San José (Figuras 45 e 46), um espaço de
exposição e venda de artesanatos que, devido aos produtos que comercializa, souvenirs
padronizados da maioria dos destinos coloniais, e aos altos preços, está fundamentalmente
orientado ao sector turístico. Em 2014 se terminam os trabalhos de refuncionalização do
antigo Almacén del Tabaco y la Madera, atualmente Fábrica de Cerveza Artesanal (Figura
47) (PARRA, 2015). O programa de recuperação da antiga zona portuária concluiu, em
2015, a recuperação da Avenida del Puerto e do Separador Central, da Alameda de Paula.
Figura 45: Centro Cultural Antiguos Almacenes de Depósito San José
FONTE: https://br.pinterest.com/pin/482518547550902311/
Figura 46: Artigos comercializados no Centro Cultural Antiguos Almacenes de
Depósito San José
FONTE: https://br.pinterest.com/pin/482518547550902311/
110
Figura 47: Fábrica de Cerveza Artesanal no antigo Almacén del Tabaco y la Madera
FONTE: https://onlinetours.es/blog/post/585/un-almacen-embriagador-en-el-corazon-de-la-habana-vieja
Para Inclán et al. (2014, s/n), con estas ações:
se aprovecha y se conserva el patrimonio industrial heredado de esta zona. Se
potencia la idea de dar un nuevo frente a la ciudad que estuvo ocupado por mucho
tiempo por las actividades portuarias y de espaldas a la ciudad. Se propicia la
actividad pública y el espacio colectivo, la mezcla de grupos etarios y el espacio
público practicado por la población local fundamentalmente
Neste caso, não se trata do aproveitamento do patrimônio industrial em desuso,
nem da aparição de novas relações espontâneas com os bens históricos pela mudança
social, trata-se da remoção de uma atividade econômica que por séculos tinha acontecido
neste espaço e da alteração da dinâmica de vida dos moradores do Centro Histórico que lá
trabalhavam por decisões governamentais motivadas por razões econômicas. Não se pode
pensar no porto, nas pessoas que frequentavam esta zona, nem nas suas atividades como
processos que aconteciam “de espaldas a la ciudad” (INCLÁN et al., 2014, s/n) pois eles
eram parte característica da zona e este setor econômico estruturou a cidade por muito
tempo. Se a mudança visual e funcional deste espaço tem sido bem recebida pela
população, como aponta Parra (2015), e neste espaço “se propicia la actividad pública”
(INCLÁN et al., 2014, s/n), tem que se pensar se este espaço está pensado para todos os
públicos, pois a maioria dos serviços deste entorno têm preços muito elevados para a
população local, fato que transforma esta área numa zona de consumo turístico
fundamentalmente.
Além da função portuária como atividade econômica, o Centro Histórico de
Havana Velha cresceu como núcleo urbano a partir das cinco praças principais e as ruas
que as unem (CASTILLO, 2001). Das praças fundacionais: Plaza de la Catedral, Plaza del
Cristo, Plaza de San Francisco, Plaza de Armas e Plaza Vieja, as três primeiras abrigam
igrejas católicas ou edificações relacionadas à fé. Estes prédios foram construídos
inicialmente pelos espanhóis que chegavam no país e traziam com eles as suas tradições e
111
crenças, e constituíram lugares importantes de reunião e devoção. Com a refuncionalização
turística do centro, mesmo se continuam com estes usos primários, as igrejas e as praças
viraram lugares de contemplação da paisagem histórica e cultural e de apreciação das
expressões artísticas: da sua arquitetura e decoração. Estas igrejas são destacadas em várias
campanhas turísticas (Figura 48) sobre Havana, fato que influi num alto índice de visitação
turística.
Figura 48: Catedral de la Virgen María de la Concepción Inmaculada de La Habana na
campanha turística Auténtica Cuba
FONTE: https://thecrazycircus.com/cuba/
Também a Plaza Vieja, uma das praças fundacionais, com a refuncionalização
turística do Centro Histórico é transformada num espaço espetacularizado para o turismo.
Esta praça e seus prédios foram restaurados, as fachadas dos imóveis pintadas com as cores
padronizadas de outros destinos coloniais, a praça foi decorada com esculturas
contemporâneas, vasos com arbustos e invadida pelas mesas de diversos restaurantes e
cafeterias como: a Factoria Plaza Vieja, o Café el Escorial e o Santo Ángel, que, como
explica Choay (2001), costuma acontecer na construção de cidades repetitivas. Este espaço
parece uma maquete para o turismo, no qual a população local -que pode e faz uso do
espaço público e das atividades culturais que se realizam ao ar livre- parece uma outra
personagem na representação de um centro histórico habitado. A figura 49 mostra a praça
em 1999, com a reabilitação já iniciada, porém, não concluída; e a figura 50 apresenta este
mesmo espaço, em agosto de 2018, completamente refuncionalizado e com uma imagem
mais comercial.
112
Figura 49: A Plaza Vieja em 1999, já iniciada a recuperação
FONTE: https://placesjournal.org/article/history-of-the-present-havana/?cn-reloaded=1
Figura 50: Imagem atual da Plaza Vieja
FONTE: Da autora (2018)
Tanto a Plaza Vieja como o restaurante Santo Ángel, antigo Colegio del Santo
Ángel, foram restaurados com dinheiro proveniente da UNESCO, como se analisou em
capítulos anteriores. Então, se pode apreciar a influência da UNESCO, não só no processo
de renovação urbana, se não também na refuncionalização turística da zona.
Para Carrión (2006, p. 196), o desenvolvimento do turismo no Centro Histórico
de Havana Velha está vinculado ao: “desarrollo de una imagen basada en la escenografía
urbana”. Se bem é certo que o Centro Histórico possui um elevado número de museus -
Museo Nacional de Bellas Artes, Museo de la Ciudad de La Habana, Museo Nacional de
Historia Natural, Museo Casa Natal de José Martí, dentre outros, com carácter educativo e
recreativo dos quais a população pode desfrutar por um preço simbólico, tem se criado
113
também alguns museus, como o Museo del Chocolate, Museo del Ron e Museo del Tabaco,
reconhecidos produtos cubanos pela sua qualidade e elementos que distinguem o país para
quem chega de fora. Porém, estes museus, situados em casas coloniais do século XVIII,
estão mais orientados à degustação e comercialização destes produtos do que à promoção
da sua história, realmente mais vinculada a outras regiões do país em cada um dos casos. Se
assiste assim à recriação de uma imagem urbana e a ressaltar os produtos que o turista
espera encontrar e desfrutar, além do que realmente pode ser característico da cidade.
Outro exemplo da transformação do Centro Histórico numa zona
eminentemente turística e da recriação das tradições para o turismo é o caso dos coches
tirados por cavalos (Figura 51). Os turistas têm a possibilidade de fazer um percurso pela
zona histórica da cidade nestes meios de transporte, que eram utilizados no período colonial
cubano, mas são pouco viáveis para percorrer, hoje, as longas distâncias da capital.
Também é possível encontrar as havanesas (Figura 52), mulheres vestidas com roupas
típicas cubanas que percorrem a área. Estas roupas tradicionais não são mais utilizadas
pelas mulheres no país, então se trata de uma pessoa fantasiada para atrair o olhar dos
turistas. Se trata da recriação de tradições que estão ali por e para os turistas.
Figura 51: Coches de Cavalo no Centro Histórico de Havana Velha
FONTE:https://www.14ymedio.com/economia/turistas-turismo-cuba-Mintur-Mayda_Alvarez-viceministra-
inversiones_0_2148385151.html
114
Figura 52: Havanesas
FONTE: Da autora (2018)
Até 2010, no Centro Histórico, o setor turístico era gerido fundamentalmente
pelas empresas estatais, mas em setembro desse ano, com a flexibilização das leis que
permitiram a criação de determinados negócios privados, o número de estabelecimentos
particulares direcionados ao turismo aumentou, no país e, nesta zona (ANTÚNEZ,
MARTÍNEZ e OCAÑA, 2013). Um ano mais tarde, se aprovou a lei que permitia a compra
e venda de casas entre pessoas físicas, isto fez com que acontecessem muitos negócios de
compra e venda de moradias, principalmente na parte antiga de Havana Velha, com o
objetivo de refuncionaliza-las para serem utilizadas como restaurantes, casas de aluguel ou
comércio de artesanatos vinculados ao turismo internacional (PLAN MAESTRO, 2016).
Assim, muitos destes novos negócios abriram em prédios de valor patrimonial do Centro
Histórico de Havana Velha.
Para evitar que as ações construtivas privadas que aconteciam neste processo de
refuncionalização danificassem a imagem dos imóveis, o Plan Maestro resolveu que estas
ações deviam tender à mínima modificação para não transformar de um jeito irreversível as
características do prédio. Quanto aos novos usos estipulou-se:
Artículo 452: Se permitirán nuevos usos manteniendo las características
espaciales en los espacios principales del inmueble. Cualquier refuncionalización
deberá tener en cuenta la capacidad del inmueble para lograr la adecuada
accesibilidad y la inserción de soluciones tecnológicas contemporáneas, sobre
todo en edificaciones de dos o más niveles donde sea de interés desarrollar
actividades de uso público de cierta intensidad y, en especial, si implican la
presencia de grupos vulnerables (niños, ancianos y personas con discapacidad).
(PLAN MAESTRO, s/a, p. 86)
115
Surgem assim, no Centro Histórico, pequenas lojas de artesanato e souvenirs
(Figura 53), hospedagens (Figura 54) e restaurantes particulares (Figura 55) em moradias,
das quais a população é proprietária. Muitos deles vão ocupar somente um dos andares da
construção, podendo ser o primeiro ou o segundo, dependendo do uso, e o outro é utilizado
para habitação.
Figura 53: Pequena loja de artesanato privada no Centro Histórico de Havana Velha
FONTE: Da autora (2018)
Figura 54: Hospedagem privada no Centro Histórico de Havana Velha
FONTE: Da autora (2018)
116
Figura 55: Restaurante privado “Doña Blanquita” no Centro Histórico de Havana
Velha
FONTE: Da autora (2018)
Os negócios privados de venda de artesanatos comercializam produtos
padronizados: mercadorias com a imagem do Ché Guevara, de carros antigos, das mulatas,
do rum, dos charutos, elementos que para o turista são os símbolos de Cuba. Assim,
expressões culturais menos divulgadas, e por tanto menos reconhecidas, deixam de ser
produzidas, pois os artesãos ficam a expensas dos interesses do mercado. Os restaurantes e
alojamentos particulares, muitos deles localizados em casas de valor patrimonial, às vezes
não cuidam da adequada decoração das instalações: as cores, a mobília e os elementos do
ambiente não são coerentes e misturam etapas e estilos. Estes cenários são montados para
dar um valor cultural agregado na oferta, mas os negócios terminam cuidando mais da
mercadoria principal, que das formas culturais e históricas que consideram
complementares, e não existe uma fiscalização estatal sobre isto9.
Atualmente não existem grandes diferenças entre os negócios privados e os
estatais, no referente à qualidade das instalações, dos produtos e dos serviços que prestam
ou ao tamanho, como em décadas anteriores. No trabalho de campo alguns entrevistados
explicaram que os negócios particulares até chegavam a funcionar melhor que os estatais,
9 Estes dados foram obtidos a partir da observação guiada e as entrevistas no trabalho de campo
117
pois, o pagamento dos empregados era melhor -fator que incidia na sua motivação e
disposição- e às vezes tinham os produtos que não estavam disponíveis no setor estatal -
cervejas cubanas, maltas- pois os donos se preocupavam mais pelo fornecimento. As
figuras 56 -setor privado- e 57 -estatal- mostram dois restaurantes, um de cada setor, e as
diferenças visuais dos imóveis não são muito significativas. A maior diferença constatada
consiste na importância que oferece cada setor ao valor histórico e cultural dos seus
produtos, sendo maior esta preocupação no setor estatal.
Figura 56: Restaurante privado Mojito Mojito
FONTE: Da autora (2018)
118
Figura 57: Restaurante estatal La Imprenta
FONTE: Da autora (2018)
Por outro lado, os usos turísticos, privados ou estatais, se concentram nas
principais vias e praças do Centro Histórico, e nas suas cercanias. Mas, mesmo nestes
espaços, nas zonas abertas ao público que não implicam consumo de mercadorias, se pode
apreciar a mistura dos turistas com a população havanesa.
O Centro Histórico recuperou a sua posição de centralidade dentro da cidade e
constitui um lugar de visitação para os havaneses pelo número de opções culturais,
recreativas e comerciais da zona, além da maioria ter preços para o turismo. Mesmo
existindo uma refuncionalização turística do centro, ele ainda abriga atividades e usos que
também podem ser aproveitados pelos havaneses, moradores ou não de Havana Velha. O
quadro 9 permite apreciar que foram recuperados 122 imóveis e espaços dos quais a
população pode fazer uso, pois, estão orientados a atividades culturais, educativas ou são
espaços públicos, principalmente no período 2000-2008. Os mesmos podem ser utilizados
tanto pela população local como pelos turistas internacionais, exceto os imóveis vinculados
à educação, por tratar-se principalmente de escolas.
119
Quadro 9: Número de imóveis e espaços recuperados segundo a sua função no período
1991-2008
Año/Função 1991-1999 2000-2008 Total
Cultura 25 47 72
Educação 1 33 34
Monumentos, Praças e parques 0 16 16
Total 26 96 122
FONTE: Elaborado pela autora (2019) a partir de informações extraídas de Rodríguez Alomá (2009)
O quadro 10 resume uma série de imóveis históricos, principalmente dos
séculos XVI, XVII e XVIII, originalmente dedicados à função habitacional, que foram
refuncionalizados para atividades culturais e educativas a partir da década de 1980, porém,
a maioria adquire um novo uso nos anos 1990. Estas edificações com atividades e uma
programação cultural não necessariamente orientada ao turismo internacional, mas das
quais o turista pode e faz uso, também fazem parte dos roteiros turísticos das agências de
viagens. Segundo Segre (1997), a reativação cultural do Centro Histórico de Havana Velha
e a refuncionalização dos antigos casarões como museus e instituições culturais, estão
muito relacionadas ao desenvolvimento turístico da zona. Então, as atividades culturais e os
museus, além de opções recreativas para a população, são atrativos turísticos.
Quadro 10: Imóveis refuncionalizados para atividades culturais e educativas
Imóvel Uso atual Data de
construção
Data da última
refuncionalização
Castillo de la Real Fuerza
(Fortificação militar
colonial)
Museo Castillo de la Real Fuerza
Século XVI 2005
Casa del Conde de Casa
Bayona
(casa colonial)
Museo de Arte Colonial 1720 1969
Casa de Juana Carvajal
(casa colonial)
Gabinete e Museo de Arqueología Século XVIII Antes de 199610
Casa del Conde de Casa
Barreto
ou
Palacio del Marquéz de
Centro Provincial de las Artes
Plásticas y Diseño
Século XVIII Década de 1980
10
Assim indica Segre (1997)
120
Cárdenas
(casa colonial)
Casa de la Condesa de la
Reunión
(casa colonial)
Centro de Promoción Cultural
Alejo Carpentier
1732 Década de 1980
Palacio de Mateo
Pedroso
(casa colonial)
Palacio de la Artesanía 1780 Antes de 199611
Palacio del Segundo Cabo Centro para la Interpretación de
las Relaciones Culturales Cuba-
Europa
1772 -
Casa del Conde de Casa
Lombillo
(casa colonial)
Redação da revista Opus Habana
Galeria de Arte
Século XVIII 2000
Casa de las Hermanas
Cárdenas
Centro de Desarrollo de las Artes
Visuales
- 1989
Convento de San
Francisco
Sala de concertos 1591 1994
Edificio Gómez Vila Cámara Oscura (mediante um
periscópio se pode observar
Havana Velha em tempo real)
1909 2001
Teatro Habana Planetario de La Habana Século XVII 2009
Edificio Romagosa Escuela Primaria Ángela Landa Mediados do
século XVII
Finais da década
de 1990
Moradia Rua Obispo
número 121-123 Librería Boloña Mercaderes Século XVII 1997
Casa de Beatriz Pérez
Borroto
(casa colonial)
Fototeca de Cuba Século XVI 1986
Centro Asturiano Museo de Bellas Artes (Arte
Universal)
1927 2001
Centro Gallego Escuela Primaria Concepción
Arenal
1880 2003
Casa de Don Mariano
Carbó
(casa colonial)
Casa Museo Oswaldo Guayasamín Século XVII 1991
Mansión de los Condes de
Peñalver
Centro de Arte Contemporáneo
Wilfredo Lam
Século XVIII 1983
FONTE: Elaborado pela autora (2019) a partir de informações extraídas de Martín Zequeira e Rodríguez
Fernández (1995), Segre (1997) e Emisora Habana Radio (2019)
11
Assim indica Segre (1997)
121
Além da turistificação do Centro Histórico de Havana Velha, a zona continua
tendo diversos usos. O seguinte mapa (Figura 58) permite apreciar a multiplicidade de
funções do solo na zona.
Figura 58: Mapa das funções predominantes do solo no Centro Histórico de Havana
Velha
FONTE: Plan Maestro (2016, p. 128)
Muitas destas funções são aproveitadas pelos turistas, mas também atendem às
necessidades dos moradores locais do centro e dos havaneses em geral. A utilização, ou
não, de muitos destes espaços que implicam consumo, pelos havaneses, vai depender dos
preços elevados na maioria dos casos, por serem orientados ao turismo internacional.
Mesmo se o turismo gera uma alta ocupação dos espaços públicos e de consumo do Centro
122
Histórico, nas temporadas de baixa turística -de junho a outubro, aproximadamente- esta
zona continua recebendo grandes fluxos de pessoas nos seus espaços públicos; são as
atividades econômicas as que mais sentem os efeitos da temporada de baixa visitação de
turismo internacional. O mapa também permite apreciar que a função habitacional ainda é
alta na zona e que por tanto se trata de um “centro vivo” (LEAL, 2004). Mas cabe a
pergunta: por quanto tempo, quando o valor do solo tem aumentado na área (PLAN
MAESTRO, 2016) e os serviços do entorno são tão caros, ou quem serão os que lograram
continuar a morar lá, sem dúvidas, não será a população atual de baixa renda, elementos
que serão discutidos no último capítulo.
A recuperação e refuncionalização turística do Centro Histórico de Havana
Velha não são processos acabados. Dentre as estratégias do Plan Maestro (2016), no Plan
Especial de Desarrollo Integral destacam alguns pontos para desenvolvimento do turismo
neste espaço: aumentar o número de hotéis e hostels nas vias principais, criar novos museus
temáticos relacionados com as atividades tradicionais do país (o Habano, o café, o açúcar e
os autos antigos); restaurar edificações de alto valor patrimonial para fins culturais,
incrementar as instalações que comercializam produtos culturais especializados, aumentar o
número de restaurantes, bares e cafeterias nas praças e vias principais; dar continuidade ao
passeio marítimo e incrementar as atividades esportivas e culturais do Eje de Bordes
Avenida del Puerto-San Pedro-Desamparados. Para criar estes novos hotéis, restaurantes e
espaços culturais, antigas oficinas, armazéns e cortiços adquiriram novos usos como aponta
o Plan Maestro (2016, p. 120):
Considerar los locales de almacenes incompatibles con el carácter del Centro
Histórico, o aquellos convertidos en viviendas inapropiadas, como potencial de
transformación para la localización de actividades compatibles con la
refuncionalización del territorio.
Assim, dentro do sistema de intervenções previstas destaca a refuncionalização
de vários prédios para serem convertidos em hotéis para o turismo internacional (Quadro
11). A maioria destes prédios que serão refuncionalizados pertencem a inícios do século
XX e vários já tinham abrigado a função hoteleira.
Quadro 11: Projetos hoteleiros no Centro Histórico de Havana Velha
Habaguanex (By Gaviota)
Projeto de Hotéis e
Hostels
Função anterior Data de
construção
Localização
Hoteles Catedral - - Empedrado
123
113
Hotel Marqués de
Cárdenas de Monte
Hermoso
Palácio do Marqués de Cárdenas de
Monte Hermoso
Centro Provincial de Artes Plásticas y
Diseño em 1995
Prédio onde radicou Habaguanex
Século XIX Oficios 110
Hotel Palacio Cueto Armazém
Fábrica de chapéus até os anos 1920
Hotel Palacio Viena (ao ser alugado
por José Cueto)
Sem uso desde os anos 1990
1906 Inquisidor
351-355
Hotel Real Aduana (Ou
Corredores)
Prédio da antiga Alfândega 1910 Oficios 154
Hotel Santo Ángel Casa colonial
Escola Santo Ángel para meninos
pobres 1866
Conservatorio de Música de Santa
Amelia 1932
Atual restaurante Santo Ángel
Século XIX Teniente Rey
60
MINTUR
Hotel New York Hotel
Sem uso desde os anos 1990
1919 Dragones
154-152
Grupo de Turismo Gaviota
Hotel Miramar-Malecón Hotel Miramar 1908 Prado 2
Hotel Regis Moradia e estabelecimentos comerciais
no primeiro andar (fonda, café, bar e
loja de charutos e cigarros)
Hotel Regis 1954
Cortiço da década de 1990 com funções
comerciais no primeiro andar
1909 Prado 161-
163
Hotel Pasaje/Manzana
Payret (em estudo)
Antigo Hotel Pasaje
Cortiço até 1982
Atual Sala Polivalente Kid Chocolate
(sala esportiva) (Futuro Hotel Pasaje)
desde 1991 construída para os Jogos
Panamericanos/
Atual Cine-Teatro Payret (Futuro
Manzana Payret)
1876/1877 Prado 517-
521
Hotel Marina (em estudo) Armazéns do porto
Prédio de escritórios vinculados ao
porto desde 1930
Fins do
século XIX
Desamparado
s s/n -
Edificio Juan
Manuel Díaz
Hotel Edificio Finanzas y
Precios
Antigo Banco Nacional
Atual Ministerio de Finanza y Precios
1907 Obispo 211
124
Hotel La Metropolitana Prédio de escritórios (Sede de Cuba
Tabaco, de uma Companhía Telefónica,
uma inmobiliaria, o Edificio Frank
País, atual sede do Municipio de
Educación en Habana Vieja)
1926 O Reilly 412
Gran Hotel - - Teniente Rey
557 esquina a
Zulueta
Aparthotel Parque Central - - Zulueta 252
FONTE: Elaborado pela autora (2018) a partir de informações extraídas de Plan Maestro (2016), Paseos por
la Habana (2019), Emisora Habana Radio (2019) e Radio Rebelde (2019)
O caso mais alarmante nesta mudança de usos é o do possível complexo
hoteleiro Hotel Pasaje/Manzana Payret, ainda em fase de estudo. Mas, a simples
possibilidade faz pensar em como as aspirações sociais de colocar o esporte ao alcance de
todos -a Sala Polivalente Kid Chocolate era uma instituição esportiva popular na qual se
realizavam eventos dos quais participava a população local e se formavam atletas- e
oferecer, no Centro Histórico, serviços culturais para a população local ficam em segundo
plano ante, o que parece ser, o interesse de criar no corredor Paseo del Prado uma vitrine
para o turismo, já que vários são os empreendimentos que aconteceram recentemente nesta
via como são: o Gran Hotel Manzana Kempinski, o Hotel Iberostar Grand Packard Habana
(Figura 59) e Hotel Paseo del Prado (Figura 60), ainda em restauração. Neste corredor
existem outros hotéis como: o Hotel Saratoga, o Hotel Telégrafo, o Hotel Iberostar Parque
Central Habana, o Hotel Sevilla e o Hotel Caribbean, e instituições históricas e culturais
reabilitadas nos últimos anos como: o Gran Teatro de La Habana Alicia Alonso (2016) e o
Capitolio Nacional (2019).
Figura 59: Hotel Iberostar Grand Packard Habana
FONTE: https://www.iberostar.com/pt/hoteis/havana/iberostar-grand-packard
125
Figura 60: Hotel Paseo del Prado, ainda em restauração
FONTE: https://www.directoriocubano.info/noticias/a-punto-de-inaugurarse-hotel-de-lujo-paseo-del-prado-
en-la-habana/
O Plan Maestro (2016) no Plan Especial de Desarrollo Integral prevê para
2030 uma mudança ampla no uso do solo. A Figura 61 mostra como se continuarão
substituindo as funções de armazém, oficina e as indústrias da Bahía de La Habana por
serviços recreativos, esportivos, de lazer e de transporte -orientados principalmente ao
turismo, que se pode apreciar na substituição da cor vermelha na parte inferior do mapa da
figura 58 pelas cores violeta e roxo, destinadas a marcar estas atividades; a diminuição das
moradias (a cor cinza), e o aumento da indústria cultural em diferentes espaços -em azul
claro neste mapa e que não é muito usada no mapa anterior da figura 58- agora ocupados
por moradias. Poderia parecer uma ação positiva o aumento dos espaços vinculados à
indústria cultural, porém, a preocupação surge pelo tratamento diferenciado entre funções
culturais e da indústria cultural, o documento não o explica, mas, o segundo termo deve
estar associado a cultura como atividade comercial e econômica.
126
Figura 61: Mapa das funções predominantes proposta do solo no Centro Histórico de
Havana Velha para 2030
FONTE: Plan Maestro (2016, p. 129)
As transformações que acontecem no Centro Histórico desde a década dos 1990
renovam a paisagem urbana deste espaço, dão novos usos às formas pretéritas e os lugares
mudam de usuários. O turismo se apodera de imóveis de valor patrimonial, das principais
praças, das vias de acesso que conectam os atrativos e dos restaurantes que ocupam as ruas
e as transformam em lugares de consumo.
Na relação que se deveria estabelecer entre turista e cidade histórica, às vezes,
se coloca a mercadoria como elemento fundamental e a conotação cultural, e o valor
patrimonial das formas e da história ficam relegados a um segundo plano. A zona tem
alguns espaços que parecem uma vitrine para o turismo e nos quais as relações tradicionais
127
acontecem a partir da simulação, tal é o caso das havanesas. Se o espaço onde aconteceram
as trocas sociais de uma população, desde sempre, abriga elementos de valor patrimonial
está bem que este seja compartilhado e se transforme também num espaço de trocas
culturais entre a população e os turistas, mas isto deve acontecer sem que as mercadorias
inundem o lugar e sejam o principal elemento realçado.
Em muitos espaços públicos do Centro Histórico coexistem turistas, moradores
e habitantes de Havana em geral, mas em Cuba as atividades e os serviços estatais são
pensados para turistas ou para nacionais. Os turistas podem se integrar e desfrutar dos
programas desenhados para os cubanos, mas no sentido contrário, os espaços e as
atividades terminam sendo exclusivas e excludentes pelos altos preços. É como se
existissem duas dimensões e duas realidades num mesmo espaço.
Mesmo quando o programa de recuperação do Centro Histórico procura
recuperar Havana Velha para os seus moradores (LEAL, 2004), os novos usos dados aos
lugares tem uma forte orientação ao consumo turístico da cultura e dos serviços.
3.2 O PAPEL DO ESTADO NO PROCESSO DE REFUNCIONALIZAÇÃO TURÍSTICA
DO PATRIMÔNIO CULTURAL
A partir de 1959 na organização político-administrativa do Estado Cubano se
distinguem três esferas: Nacional (Cuba), Provincial (neste caso, Havana) e Municipal
(Havana Velha que contém o Centro Histórico). As peculiaridades da política cubana, a
existência de um único partido e planos de governo a longo prazo, que seguem uma mesma
linha por estar vinculados aos interesses desse mesmo partido, fazem com que a posição,
estratégias e ações destas esferas do Estado sejam, consequentes sempre nos três níveis.
Assim existe, de 1960 até hoje, um alinhamento na colocação dos governos nacional,
provincial e municipal no referente ao Centro Histórico.
Desde 1970 os governos nacional e municipal criaram o aparato legislativo para
a proteção do patrimônio e, nos anos 1980, ofereceram mais de onze milhões de CUP
(CARRIÓN, 2006), o equivalente a quinhentos cinquenta mil USD12
, para os trabalhos de
recuperação da parte antiga da cidade com os planes quinquenales, também as diferentes
esferas do estado deram todo o apoio legal e financeiro ao processo de refuncionalização
turística do Centro Histórico de Havana Velha dos 1990.
12
Segundo o histórico das taxas de câmbio oficiais de CUP a USD disponível em:
<https://fxtop.com/pt/historico-das-taxas-de-
cambio.php?A=1&C1=USD&C2=CUP&YA=1&DD1=01&MM1=01&YYYY1=1980&B=1&P=&I=1&DD2
=12&MM2=12&YYYY2=1989&btnOK=Pesquisar>
128
Foi o governo nacional quem aprovou em outubro de 1993 a Lei-decreto 143
que declara o Centro Histórico “área de conservação de máxima prioridade”, reafirma a
recuperação deste espaço como tarefa da Oficina del Historiador de la Ciudad de La
Habana, amplia as suas faculdades legais e de funcionamento e contempla a criação da
Companhia Turística Habaguanex, S. A. Além disso, o governo ofereceu um crédito de
sessenta e cinco milhões de dólares (CARRIÓN, 2006) para criar Habaguanex e as suas
primeiras instalações turísticas.
Com este decreto, o governo nacional garantiu que a OHCH se subordine
diretamente ao Consejo de Estado e tenha relações horizontais com o Consejo de Ministros,
o governo provincial e municipal (RODRÍGUEZ ALOMÁ, 2012). Assim, se pode
compreender o apoio ao mais alto nível de governo ao trabalho -como empresa turística e
restauradora- da OHCH.
Além disso, como em Cuba a propriedade sobre o solo é maioritariamente do
governo este fato tem facilitado o processo de refuncionalização turística. Segundo
Rodríguez Alomá (2001), como a OHCH é um organismo estatal, as suas atividades são
amparadas como prioritárias pelo governo, uma vez que esta instituição determina que um
imóvel possui valor patrimonial e deve ser restaurado, as esferas do governo:
(...) disponen la necesidad de liberar locales o inmuebles a favor de la
rehabilitación, otorgándolos a la Oficina en usufructo por 25 años, prorrogables a
otra cantidad de años similar. La Oficina no puede comprar el suelo, ni
expropiarlo , a las personas jurídicas estatales, pues resulta un sinsentido que el
Estado expropie al Estado, o que se compre y venda a sí mismo (...)
(RODRÍGUEZ ALOMÁ, 2001, p. 234)
Para Rodríguez Alomá (2012, p. 133) a OHCH vai adquirindo um “fondo
patrimonial propio” que pode aproveitar.
Para legitimar o uso do solo ou moradias em posse de pessoas físicas, em caso
de que a OHCH o estimasse conveniente para ser restaurado por seu valor patrimonial ou
para atividades turísticas, em 1995 de aprovou o Acuerdo no. 2951 del Consejo de
Ministros no qual o Centro Histórico é considerado Zona de Alta Significación para el
Turismo (CUBA, 1995) e, um ano mais tarde, a Resolución Conjunta sobre o regímen
especial para as moradias neste espaço (CUBA, 1996). Estas disposições governamentais
estabelecem condições especiais para as casas e a propriedade do solo no Centro Histórico
de Havana Velha pela sua importância para o desenvolvimento da atividade turística e
colocam à OHCH para atender as questões administrativas nestes casos.
Dentre os artículos do Acuerdo no. 2951 destacam estes:
129
a) Los ocupantes legales de vivienda que no sean propietarios, quedarán en las
mismas en concepto de arrendatarios mediante el pago de la misma cantidad que
vinieron abonando o de la que corresponda fijar según el sistema de precios por
metros cuadrados hasta que el Estado decida reubicarlos en otra vivienda fuera de
la zona turística.
c) Los ocupantes ilegales de viviendas que de acuerdo con lo dispuesto en la Ley
General de la Vivienda deban ser reubicados lo serán en otras zonas que a tal
efecto se determine, en el propio municipio fuera de la zona turística, o en otros
municipios cercanos.
d ) Las permutas de viviendas solo podrán realizarse com el Estado.
e) Las viviendas que queden a favor del Estado serán entregadas al Ministerio de
Turismo y cuando no sean de su interés, este las entregará (…) para ser utilizadas
únicamente com fines sociales.
h) Cuando el Estado, en interés de la nación, requiera áreas para programas de
desarrollo del turismo, tanto internacional como nacional, que exijan la
construcción de hoteles e instalaciones diversas, u outro uso de esas áreas en el
momento que las necesite podrá negociar com los propietarios la compra o
reubicación de viviendas fuera de la zona u otras formas de compensación a los
afectados en la misma, sin perjuicio de los derechos de expropiación que le
corresponden, estabelecidos em la Constitución. (CUBA, 1995, p. 392)
Estes artículos demonstram o apoio do Estado a que o Centro Histórico de
Havana Velha vire uma zona eminentemente turística. Se bem os preços dos impostos
sobre o solo não aumentam a partir da valorização da área, se prevê a remoção de
arrendatários legais e ocupantes ilegais para fora da zona turística ou do Centro quando se
estime preciso, como já tem acontecido segundo Scarpacci (2000) e Rodríguez Alomá
(2009). Se fomenta o uso turístico de determinadas regiões de relevância e com a execução
destas disposições muitos moradores perderam o direito a permanecer e pertencer ao
centro. Se nota um marcado interesse do Estado por ter posse da maior quantidade possível
do solo do Centro Histórico para o dedicar ao turismo, atividade que gera capital financeiro.
Também, se decide dar prioridade para a escolha dos imóveis ao Ministerio de Turismo e
quando este não se interesse neles é que são destinados a projetos sociais.
Além disso, a Resolución Conjunta de 1996 dispõe:
OCTAVO: Las viviendas, las habitaciones y locales que queden desocupados y
disponibles a favor del Estado en la zona, serán entregados directamente a la
Oficina del Historiador, quien dispondrá de ellos, acorde con las regulaciones
establecidas para estos casos, al objeto de lograr los fines siguientes:
a) La reubicación y mejoras de las condiciones habitacionales de la población
residente en la Zona.
b) La restauración y conservación del patrimonio
c) El desarrollo turístico de la Zona
d) La satisfacción de los servicios sociales de la población.
NOVENO: LA Dirección Municipal de la vivienda de la Habana Vieja y los
organismos y entidades que cuenten con locales situados en la Zona, se
abstendrán, en lo sucesivo, de entregarlos con los fines habitacionales. Los
locales que sean recuperados se entregarán a la Oficina del Historiador a los
efectos de cumplimentar los objetivos del apartado anterior
DECIMO: No se aprobarán solicitudes de viviendas en la zona; las que cesaren
como tales, pasarán al fondo de la oficina del Historiador, a los efectos de
130
cumplimentar los objetivos del apartado octavo de esta resolución Conjunta.
(CUBA, 1996, s.p)
Esta normativa favorece à OHCH como proprietária das edificações
desocupadas e sem uso no Centro Histórico para “la reubicación y mejoras de las
condiciones habitacionales de la población residente en la Zona” (CUBA, 1996, s.p) e criar
a infraestrutura de serviços sociais que a população pode requerer ou “el desarrollo turístico
de la Zona” (CUBA, 1996, s.p), porém os artigos nono e décimo interrompem o
crescimento como zona residencial desta área impedindo o fluxo natural da cidade. Ambas
legislações esclarecem que a refuncionalização turística do Centro Histórico de Havana
Velha está amparada pelo Estado.
A aplicação destas leis gera contradições socioespaciais, pois se restaura o
Centro Histórico, mas para o uso turístico, pois mesmo quando se investe em projetos
sociais, desde a seleção dos imóveis para cada função -turística ou social- se evidencia que
se prioriza na seleção dos imóveis a atividade turística sobre os projetos sociais, como se
aprecia ni inciso e) do Acuerdo 2951. Se fomenta o uso dos imóveis patrimoniais
recuperados e do porto, porém a maioria dos seus serviços e atividades possuem preços
muito altos que os deixam inacessíveis à população. A partir da valorização turística do
Centro o governo se centra em diminuir a densidade populacional deste espaço, que se bem
é muito alta, não tinha sido uma prioridade até que se turistifica a zona e, ao mesmo tempo,
sobrecarga o território com turistas como se evidencia nas informações extraídas do
trabalho de campo e que serão abordadas nos próximos capítulos.
Carrión (2006) explica como acontecem as relações da OHCH com os governos
provincial e municipal. Na associação com o governo provincial, este traça o plano da
cidade em geral e determina estratégias gerais para o Centro Histórico, que são avaliadas e
levadas à prática pela OHCH. O vínculo da Oficina com o governo municipal se concebe a
partir do seu funcionamento como instituições complementares, pois a primeira se dedica a
reabilitar edificações com valor patrimonial e espaços públicos, sustentar uma amplia rede
de instituições culturais e a melhorar as condições de vida população; e a segunda a criar a
infraestrutura necessária para a população local e os serviços comunitários como: educação,
saúde, esporte e lazer no Centro Histórico (PLAN MAESTRO, 2016).
Para Rodríguez Alomá (2001), o aumento das faculdades legais da OHCH para
o planejamento urbano e a gestão de uma empresa turística própria foi propiciado para que
esta instituição garantisse o trabalho de resgate patrimonial autofinanciado e colaborasse
com os recursos financeiros obtidos do setor turístico nos programas sociais e culturais do
131
Centro Histórico. Então, se poderia pensar que no apoio do governo à refuncionalização
turística da área existe um interesse social que se pode constatar na execução de projetos
sociais na área como: reconstrução de lares maternos (moradias que acolhem a mulheres
grávidas que vivem em situações de risco), lares de idosos (moradias para pessoas da
terceira idade que não tem parentes que possam velar por eles), escolas, bibliotecas e
moradias (RODRÍGUEZ ALOMÁ, 2001). Porém, isto não justifica que se permita que o
setor turístico se apodere da zona, que se transformem as sociabilidades tradicionais da área
e a vida dos moradores uma vez relocados fora do município, como se propõe nas
legislações analisadas.
Como se explicou no capítulo anterior, em agosto de 2016 a empresa
Habaguanex S.A., gerida desde a sua criação pela OHCH e que tinha como objetivo coletar
fundos que permitissem continuar com o trabalho de recuperação do Centro Histórico e a
revitalização cultural e social desta área, passa a formar parte do Grupo de Administración
Empresarial (GAE), pertencente às Fuerzas Armadas Revolucionarias (FAR). Esta
decisão, ao nível de governo, demonstra que o Estado Nacional é principal decisor e
responsável de tudo o que acontece no Centro Histórico de Havana Velha.
No processo de recuperação do patrimônio cultural no Centro Histórico, o
Estado cubano tomou boas decisões como: a concentração das competências em relação ao
patrimônio numa única instituição e o resgate dos bens históricos e culturais de maneira
autofinanciada a partir do desenvolvimento turístico. Porém, a valorização turística deste
espaço tem transformado seus usos, o Estado negou o crescimento da função habitacional e
alguns arrendatários foram removidos fora do município, mudando a paisagem urbana e as
dinâmicas socioespaciais tradicionais da área. A relação que se devia estabelecer com o
turismo para o desenvolvimento comunitário, terminou virando a criação de espaços
exclusivos para o uso turístico e a perda da centralidade de uma parte da população
tradicional do Centro Histórico. Desta forma, mesmo num sistema econômico e político
socialista se reforçam contradições como a segregação espacial em função do poder
econômico, pois a partir da valorização turística da zona se modificam os usuários
tradicionais do espaço dos moradores mais pobres pelos consumidores turistas, além de que
exista uma preocupação estatal com a parte da população que fica para morar na zona.
132
SEGUNDA PARTE: A VISÃO DOS DIFERENTES ATORES ENVOLVIDOS NO
PROCESSO DE VALORIZAÇÃO TURÍSTICA DO PATRIMÔNIO CULTURAL
NO CENTRO HISTÓRICO DE HAVANA VELHA
133
4. REFUNCIONALIZAÇÃO E RESSIGNIFICAÇÃO DO PATRIMÔNIO
CULTURAL NO CENTRO HISTÓRICO DE HAVANA VELHA: A VISÃO DOS
DIFERENTES ATORES ENVOLVIDOS
4.1 RESSIGNIFICAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL PARA A POPULAÇÃO
LOCAL DO CENTRO HISTÓRICO DE HAVANA VELHA
O Centro Histórico da Havana ocupa 2,14 km² do município Havana Velha,
aproximadamente 50% do seu território (RODRÍGUEZ ALOMÁ, 2012). Desta superfície
1,73 km² se correspondem aos quarteirões e 0,4 km² à rede vial que tem uma longitude de
44,02 km. 60% da área do Centro Histórico se encontra edificada e possui 3 500 imóveis,
dos quais 81% está reservado à função habitacional (SANTANA HERNÁNDEZ, 2018).
Neste espaço moram 55 484 pessoas (SANTANA HERNÁNDEZ, 2018) para uma
densidade populacional de 25 927 habitantes por quilômetro quadrado. A alta densidade
nesta zona se explica pela existência de aproximadamente 850 cortiços, nos quais se
localizam mais da metade das moradias. Contudo, mesmo que este indicador seja muito
alto, as cifras se reduziram nos últimos anos se se analisam os dados do quadro 12 que
mostra alguns dados demográficos do Centro 1990 até 2012. Os dados de 1995, 2001 e
2012 pertencem aos informados nos Censos de Población y Vivienda nas respectivas datas.
Quadro 12: População e moradia no Centro Histórico de Havana Velha (1990-2012)
Ano/ Indicador População Densidade
populacional
(hab/km²)
Moradias
Antes de 1990 ≈ 71 250 ≈ 33 294 -
1995 70 658 33 017 22 516
2001 66 742 31 187 22 623
2012 55 484 25 927 21 241
FONTE: Elaborado pela autora (2019) a partir de informações extraídas de Segre (1997), Rodríguez Alomá
(2001, 2012) e Plan Maestro (2016)
A população do Centro Histórico de Havana Velha se caracteriza, faz várias
décadas, por ter uma maior presença feminina, representando 52,8% da população total e
sendo, na maioria dos casos, as cabeças de família. Em relação à cor da pele, a população
branca representa 48,8%, a mestiza 32% e a negra 19,2%. A estrutura etária segue as
134
características de todo o país, onde a maior parte da população está no grupo entre 15 e 59
anos (54,3%), e a população idosa (20,9%) supera à infantojuvenil (14,8%) (PLAN
MAESTRO, 2016).
Segundo o Plan Maestro (2016) o nível educacional da população da área é
alto, pois a média de estudo é de 10,8 anos. A população economicamente ativa é 60,2% do
total e trabalha nos setores de comércio (15,2%), administração pública (14,9%), defesa e
seguridade social (14,6%) e saúde pública (9,2%), fundamentalmente. O salário médio é de
553 CUP (22,12 CUC) e a maior parte da população trabalha vinculada ao setor estatal,
embora comecem a se vincular a outros setores: às corporações estrangeiras e associações
mistas, às cooperativas13
e aos negócios privados (Figura 62) (PLAN MAESTRO, 2016).
Figura 62: Ocupação na economia por forma de propriedade em 2012
FONTE: Elaborado pela autora (2019) a partir de informações extraídas de Plan Maestro (2016)
A alta ocupação populacional da zona está favorecida pelo elevado número de
imóveis multifamiliares e coletivos, principalmente os cortiços (PALET, SARDIÑAS e
GARCÍA, 2007). Existem, no Centro Histórico, 21 241 moradias e delas só 26% está em
13
As cooperativas agropecuárias surgem em Cuba em 1993, a partir da associação do Estado e pessoas
naturais. Ambos integrantes aportam bens, terras, trabalho ou meios de produção, dentre outros, para
aumentar a produção e assumem os gastos com seus lucros. Em 2011, surgem as cooperativas não
agropecuárias que têm as mesmas características, porém, se criam orientadas aos serviços e outros setores
produtivos (Caballero, 2018). Na fonte dos dados utilizados para a elaboração da figura não se faz distinção
entre o tipo de cooperativa.
135
bom estado construtivo. Os principais problemas das moradias são as infiltrações nos tetos
e paredes, os defeitos estruturais, que provocam riscos de desabamento (Figura 63), e a
deterioração das redes hidrossanitárias (PLAN MAESTRO, 2016).
Figura 63: Moradias em perigo de desabamento
FONTE: Da autora (2018)
No referente à situação legal das moradias, mais de 75% são privadas, mas
existe aproximadamente 12% de moradias em usufruto gratuito -principalmente nos
cortiços- número que tem diminuído desde 2001, quando representavam 40%. O aumento
do número de moradias privadas -menos de 50% em 2001- está associado a trabalhos de
reabilitação que transformaram alguns cortiços em prédios de apartamentos. Estas ações
foram realizadas pelo Estado. Depois destes trabalhos de recuperação, os novos
apartamentos foram entregues em propriedade aos moradores que ficaram, pois, como a
recuperação também procurava diminuir a densidade destes prédios sobreutilizados, nem
todas as famílias permaneceram depois (PLAN MAESTRO, 2016).
Para determinar quais moradores ficam e quais saem, segundo Rodríguez
Alomá (2009, p. 286):
Se considera la extensión del núcleo familiar (en muchas casos conviven más de
un núcleo por vivienda), la edad de los componentes (se favorecen para quedar en
el lugar a los adultos mayores), el sentimiento de arraigo, la condición legal (hay
casos de ocupantes ilegales), la discapacidad de algún miembro de la familia,
entre otros aspectos.
No período 1994-2008, segundo Rodríguez Alomá (2009), se investiram mais
de 7,5 milhões de dólares em projetos relacionados com a moradia, provenientes da
cooperação internacional, e uma parte dos 131,6 milhões de dólares destinados no Plan de
136
Inversiones para programas sociais. Com estes investimentos se conseguiram recuperar
1182 moradias no Centro Histórico, o que representa 5,6% das existentes em 2012.
Para a realização desta pesquisa se tiveram em conta estas características da
área do Centro Histórico de Havana Velha e da sua população. Então, por tratar-se de uma
área muito extensa para a realização das entrevistas e a observação guiada como parte do
trabalho de campo, foi preciso determinar uma zona menor para trabalhar.
Para isto se utilizou a divisão realizada pelo Plan Maestro que segmentou o
Centro Histórico em oito setores funcionais, atendendo a critérios referentes às
características tipológicas e funções tradicionais (SALINAS e ECHARRI, 2005). Se
delimitaram os seguintes oito setores funcionais:
T1: Catedral-Plaza Vieja: potencialidad para actividades turísticas y terciarias
T2: Corredor Obispo-O'Reilly: potencialidad para actividades terciarias
T3: Paseo del Prado: potencialidad para actividades turísticas y terciarias
T4:Calle Muralla: potencialidad para actividades terciarias
R1: “El Angel”: residencial
R2: “Belén-San Isidro”: Residencial
MR: “Cristo-San Felipe”: Mixto – Residencial
M: “Litoral Sur: Muelle de Luz-EstaciónCentral”: Uso mixto. (SALINAS e
ECHARRI, 2005, p.177)
Desta forma, as atividades turísticas se concentram nos primeiros quatro setores
que contém as principais praças, parques, ofertas recreativas, as principais vias conectoras e
comerciais, edificações monumentais e de alto valor histórico-cultural, a rede hoteleira, o
patrimônio industrial e que ainda conserva a função habitacional. Por esta razão a pesquisa
foi realizada no perímetro correspondente aos quatro primeiros setores funcionais (Figura
64).
137
Figura 64: Mapa dos oito setores funcionais do Centro Histórico de Havana Velha.
FONTE: Elaborado pela autora (2018) a partir de informações extraídas de SALINAS e ECHARRI (2005)
Além de delimitar a zona de trabalho, para a realização das entrevistas se teve
presente que se tratava de uma população heterogénea e, mesmo quando a amostra era
aleatória, se procurou ter representatividade dos diferentes grupos etários, de gênero, raça e
nível educacional. Porém, não só se trabalhou com a população residente, pois no Centro
Histórico existe uma população flutuante que trabalha neste espaço, seja no setor estatal ou
privado. Também se entrevistaram os atores dos centros de gestão do patrimônio e do
turismo para conhecer as suas opiniões e dar voz a todas as partes envolvidas no processo
de valorização turística do patrimônio cultural no Centro. Neste capítulo se abordarão e
tratarão os processos de refuncionalização e ressignificação do patrimônio cultural do
Centro Histórico de Havana Velha desde a percepção dos diferentes atores envolvidos.
Segundo Cordero e Meneses (2019, p. 20) a ressignificação: “(...) suele
utilizarse para nombrar al hecho de darle una nueva significación a un acontecimiento o a
una conducta. Esto quiere decir que la resignificación supone otorgar un valor o un sentido
diferente a algo (...)”.
138
Fernández et al. (2016, p. 21) definem a ressignificação do território e do
patrimônio como: “(...) la intencionalidad de un grupo social de dotarlos de nuevas
acepciones, producto del devenir histórico o de la propia lectura que la sociedad hace de un
determinado espacio (...)”
A cidade, os seus bens edificados, patrimoniais ou não, e as suas tradições,
possuem significados em determinados períodos de tempo, para grupos ou indivíduos, mas
estas interpretações são susceptíveis à ressignificação.
A recuperação dos Centros Históricos está associada a processos de
refuncionalização, tanto dos prédios como dos espaços históricos das cidades que levam à
ressignificação destes bens e do espaço para os cidadãos. Para Leão (2009, p. 9):
Ao reajustar o passado às novas percepções da realidade urbana permite-se,
através dos processos de revitalização e preservação patrimonial, a probabilidade
de estabelecer novos elos temporais constituídos de inúmeras significações, pois
tais sentimentos afloram do imaginário daqueles que convivem e possuem algum
tipo de ligação para com o patrimônio em questão e reconhecem nele seu próprio
passado (...) compreende-se que a cidade torna-se mutável de acordo com os
acontecimentos que nela ocorrem e que, por sua vez, são refletidos na variação de
seus significados. Ou seja, a cidade reinventa-se e reconstrói-se ao longo do
tempo e traduz, por excelência, as memórias individuais e coletivas.
A partir do processo de reconstrução dos prédios históricos, da
refuncionalização, da abertura para o turismo e da valorização turística do Centro Histórico
de Havana Velha, o que é entendido como patrimônio cultural para os moradores
tradicionais, para os trabalhadores estatais e privados que convivem neste espaço e para os
atores dos organismos de patrimônio e turismo? E, qual o valor que estes grupos outorgam
a esse patrimônio?
Para conhecer a percepção do que é o patrimônio cultural para os diferentes
atores que convivem no Centro Histórico de Havana Velha foram realizadas entrevistas
semiestruturadas nas regiões dos quatro setores funcionais vinculados à atividade turística e
terciária a: moradores locais, trabalhadores estatais e privados, e a atores dos centros de
gestão de patrimônio e turismo.
Como explicado na metodologia, a análise dos dados foi realizada com a
utilização do programa computacional ATLAS.ti., mediante a determinação de códigos ou
categorias. Neste caso, os códigos estão associados a palavras chaves das diferentes
definições, do patrimônio, trabalhadas na pesquisa (CONVENÇÃO PARA A
PROTECÇÃO DO PATRIMÓNIO MUNDIAL, CULTURAL E NATURAL, 1972;
CONVENÇÃO PARA A SALVAGUARDA DO PATRIMÔNIO IMATERIAL, 2003;
139
BARRETO, 2010) e termos que apareceram na fala dos entrevistados, no caso dos dois
últimos códigos do Quadro 13.
Quadro 13: Frequência de aparição dos códigos associados à definição de patrimônio
cultural na fala dos atores entrevistados
Atores/
Códigos
Moradores
Locais
T. Estatais T. Privados Atores do
Patrimônio
Atores do
Turismo
Total
Monumentos - 2 1 4 3 10
Conjuntos
arquitetónicos
2 - - 3 - 5
Locais de
interesse
1 1 1 1 - 4
Bens
imateriais
2 1 2 5 3 13
Identidade 1 1 2 2 2 8
Beleza 1 - - - 1 2
Conservação - - 1 - - 1
FONTE: Da autora (2019)
O Quadro 13 mostra o número de aparições de cada código na fala dos atores
entrevistados. A tabela permite interpretar que a compreensão do patrimônio para estes
grupos está principalmente associada aos bens imateriais, mesmo quando o grupo no qual
todos os atores assinalaram os bens imateriais na sua definição de patrimônio seja aquele
dos trabalhadores das instituições relacionadas à OHCH e os órgãos reguladores da
atividade de patrimônio no Centro Histórico -pessoas com conhecimentos específicos sobre
o tema- , nos outros grupos, pelo menos um ator fez menção a esta categoria na sua
interpretação. O significado do patrimônio para os entrevistados também está muito
associado aos monumentos e, em terceiro lugar, à identidade. Alguns atores fazem uma
leitura deste espaço e do seu patrimônio cultural desde o pertencimento e a identificação
com eles, como o revelam alguns fragmentos das entrevistas: “(...) todas [as expressões
materiais ou imateriais do patrimônio] tienen mucha importancia capital en lo hoy que
somos nosotros como seres (...)” (MORADOR LOCAL, 2018) ou “(...) Para mí, primero
que todo, el patrimonio es un recordatorio de lo que somos (...)” (TRABALHADOR
140
PRIVADO, 2018). Nas entrevistas, o patrimônio cultural também é associado à beleza o
que demonstra uma preocupação pela aparência e a estéticas das formas como apontava
Luchiari (2005).
No quadro 14 se pode apreciar que os lugares mais mencionados como
exemplos de patrimônio foram as casas e prédios antigos, os museus, as praças e a Havana
Velha como um todo. Os exemplos específicos mais repetidos foram a Plaza Vieja, o
Capitolio e El Templete.
Os exemplos de patrimônio citados demonstram que aqueles patrimônios
reconhecidos pela população local, os trabalhadores da zona e os grupos que direcionam as
atividades de turismo e patrimônio no Centro Histórico de Havana Velha não coincide,
necessariamente, com aqueles declarados Monumento Nacional e reconhecidos pelo seu
valor histórico e cultural. Mesmo se são reconhecidos a Havana Velha como um todo, da
qual o Centro Histórico é Patrimônio Cultural da Humanidade, a Casa Natal de José Martí
e o Capitolio, que são Monumentos Nacionais desde 1978 e 2010, respetivamente
(CONSEJO NACIONAL DE PATRIMONIO CULTURAL, 2010), a rumba, Patrimonio
Cultural Inmaterial de la Humanidad desde 2016, e o Cañonazo, Patrimonio Cultural de la
Nación Cubana desde 2014 (CONSEJO NACIONAL DE PATRIMONIO CULTURAL,
2019), foram nomeados outros doze patrimônios específicos não oficiais, mas que a
população aceita como tais. O sistema de fortificações, declarado pela UNESCO
Patrimônio Cultural da Humanidade, só foi mencionado uma vez, e Monumentos Nacionais
como: Museo Histórico de las Ciencias "Carlos J. Finlay", o Hotel Inglaterra e as
Estaciones de Ferrocarriles não foram apontados, outro fato que prova este distanciamento
entre o que é entendido como patrimônio pela população e o que os organismos e
instituições entendem.
Com a intenção de agrupar em categorias estes patrimônios listados, se
estabeleceram seis classificações atendendo às características e à tipologia dos exemplos
mencionados: Lugar de importância local, Obras, Sistema defensivo, Religiosidade, Bens
imateriais e Natureza. Desta forma, se pode compreender que para estes grupos a ideia de
patrimônio cultural está mais vinculada aos lugares de importância local e aos bens
imateriais.
141
Quadro 14: Patrimônios culturais reconhecidos pelos atores entrevistados
Exemplos de
patrimônio
cultural
Classificação Reconhecimento
oficial Atores Total
ML TE TP AP AT
Plaza Vieja Lugar de
importância
local
Não 3 1 4
Plaza de la
Catedral
Lugar de
importância
local
Não 1 1
Plaza de Armas Lugar de
importância
local
Não 1 1 2
Plaza de San
Francisco
(Mencionada
como Plaza de
las Palomas)
Lugar de
importância
local
Não 1 1
Praças Lugar de
importância
local
- 1 2 3 6
Palacio de los
Capitanes
Lugar de
importância
local
Não 2 1 3
Casa de José
Martí
Lugar de
importância
local
Monumento
Nacional
1 1
Capitolio Lugar de
importância
local
Monumento
Nacional
2 1 1 4
Casas de figuras
históricas
Lugar de
importância
local
- 1 1
142
Museus Lugar de
importância
local
- 1 2 1 2 6
Casas e prédios
antigos
Lugar de
importância
local
- 2 2 3 1 8
Teatros Lugar de
importância
local
- 1 1
Puerto Lugar de
importância
local
Não 1 1
Restaurantes,
Bares e hostels
Lugar de
importância
local
- 1 1
Galerias Lugar de
importância
local
- 1 1
Havana Velha
como um todo
Lugar de
importância
local
Patrimônio
Cultural da
Humanidade (O
Centro
Histórico de
Havana Velha)
1 1 3 5
Lugar de
importância
local
46
Esculturas Obras - 1 1
Tarjas Obras - 1 1
Obras que se
conservam em
museus
Obras - 1 1
143
Obras 3
Sistema de
fortificações
Sistema
defensivo
Patrimônio
Cultural da
Humanidade
1 1
Sistema
defensivo
1
Catedral Religiosidade Não 1 1
Iglesia de la
Loma del Ángel
Religiosidade Não 1 1
El Templete Religiosidade Não 1 1 1 1 4
Convento de
San Francisco
de Asís
Religiosidade Não 1 1
Igrejas Religiosidade - 1 1
Religiosidade 10
Congas,
comparsas e
rumbas
Bens imateriais Rumba:
Patrimonio
Cultural
Inmaterial de la
Humanidad
1 1 2
Vendedores e
comércio
Bens imateriais - 1 1
Comida Bens imateriais - 1 1
Música Bens imateriais - 1 1 2
Zanqueros Bens imateriais - 1 1 2
El Cañonazo Bens imateriais Patrimonio
Cultural de la
1 1
144
Nación Cubana
As pessoas Bens imateriais - 1 1
Festa pelo
aniversário da
cidade
Bens imateriais Não 1 1
Atividades
culturais em
datas
específicas
Bens imateriais - 1 1
Bens imateriais 12
Ceiba del
Templete
Natureza Não 1 1
Natureza 1
FONTE: Da autora (2019)
Se o patrimônio pertence ao povo e é a sua herança (TOLEDO, 2010;
DELGADILLO, 2016), por que existe tanto distanciamento entre o que estes grupos
representativos da população identificam como patrimônio e, os patrimônios e monumentos
reconhecidos oficialmente? Entra em vigor a questão sobre quais são os interesses na hora
de definir quais elementos devem ser preservados como patrimônio, abordada no capítulo
1. Neste caso, a maioria dos patrimônios assinalados pertenceram (...) aos grupos sociais
hegemônicos (...)” (PAES, 2005, p. 96), são legados materiais e imateriais das classes altas
das etapas colonial e neocolonial, que foram os preservados historicamente. A distinção de
um grupo de bens sobre o outro também não foi pensada em função do que pode ser
atrativo para o mercado turístico, pois todos estes exemplos citados estão incorporados nas
rotas turísticas. Existe um distanciamento entre a oficialidade e o verdadeiro sentido de
identidade que a população deve ter com o seu patrimônio cultural.
Para Cordero e Meneses (2019, p. 20), a ressignificação do patrimônio está
associada com: “(...) otorgar un valor o un sentido diferente a algo (...)”, assim para saber
qual é valor dado pelos grupos que fazem parte da pesquisa ao patrimônio cultural do
Centro Histórico de Havana Velha, eles foram questionados sobre a importância que lhe
outorgam. Para analisar os dados qualitativos obtidos nas entrevistas também foi utilizado o
145
programa computacional ATLAS.ti. Neste caso foram elaborados códigos diferentes, pois
as respostas estão associadas a outras categorias que foram determinadas a partir do estudo
das respostas dadas pelos entrevistados.
O Quadro 15 permite interpretar que o valor dado ao patrimônio cultural, pelos
grupos entrevistados, está principalmente associado à ideia de identidade. Da leitura atenta
das falas dos atores que expressaram a importância relacionada a esta categoria, se pode
compreender que veem no patrimônio um elemento formador da identidade do ser
individual, mas também no referente à identidade coletiva como havaneses e como nação.
A segunda categoria mais mencionada pelos entrevistados foi a memória histórica e a ideia
de que o patrimônio cultural preserva parte da história do país.
Quadro 15: Frequência de aparição dos códigos associados ao valor do patrimônio
cultural na fala dos atores entrevistados
Atores/
Códigos
Moradores
Locais
T. Estatais T. Privados Atores do
Patrimônio
Atores do
Turismo
Total
Identidade 1 1 3 3 3 11
Conhecimento - - - 1 - 1
Memória
histórica
2 1 1 - 3 7
Memória
cultural
1 - - - 1 2
Herança - 1 - 1 - 2
Importância
popular
- 1 - - - 1
Conservação 1 - 1 - - 2
Atrativo
turístico
1 - - - - 1
Evocação ao
passado
1 - - - - 1
FONTE: Da autora (2019)
O patrimônio cultural do Centro Histórico de Havana Velha, a partir da década
de 1990, é valorizado pelo setor turístico. As políticas governamentais, os investimentos da
OHCH, do MINTUR e de outros organismos para restaurar e adequar o patrimônio cultural
146
arquitetônico para transformá-lo em hotéis, restaurantes e lojas orientadas ao turismo
internacional, assim como o aumento de turistas e visitantes neste espaço, o convertem
numa zona turística. A apropriação do patrimônio cultural por este setor faz com que
mudem as relações que a população estabelece com o ele e, mesmo nos casos dos prédios
com valores históricos e culturais que não são exclusivos para o uso turístico, e nos quais
existe uma reapropriação por parte dos moradores e atores da área, eles têm um novo valor
para estes grupos que atuam na zona, o que implica a sua ressignificação.
O valor do patrimônio cultural para os atores entrevistados está associado
principalmente ao seu valor simbólico como sinônimo de identidade e memória histórica. O
sentido de pertença, o interesse por conhecer sobre um passado que também sentem seu e
preservar essa herança estão presentes no discurso dos entrevistados. Porém, na fala de um
dos moradores a importância desses patrimônios está associada ao seu valor de uso como
recurso turístico.
Assim a ressignificação do patrimônio cultural do Centro Histórico de Havana
se pode entender associada à apropriação pelo turismo dos espaços de consumo (hotéis,
restaurantes, lojas) e dos atrativos turísticos realçados pelas agências de viagens; e a uma
reapropriação por parte da população local e dos atores que nela trabalham daqueles
espaços que não são exclusivos para o uso turístico e que possuem valores patrimoniais e
que também foram restaurados. Mas também vinculada aos novos valores simbólicos de
identidade e de uso como recurso turístico.
4.2 O PROCESSO ATUAL DE PRESERVAÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL NO
CENTRO HISTÓRICO DE HAVANA VELHA
A preservação histórica-cultural no Centro Histórico de Havana Velha é um
processo contínuo e de um desenvolvimento paulatino, desde a década de 1990, liderado
pela OHCH até a atualidade. Este processo está orientado em dois sentidos: na reabilitação
e refuncionalização dos bens materiais e na recuperação das tradições e fomento da
atividade cultural na zona.
As ações para a recuperação do patrimônio arquitetônico neste momento estão
encaminhadas a concluir a reabilitação dos prédios localizados nas cinco praças principais -
Plaza de Armas, Plaza Vieja, Plaza de San Francisco, Plaza de la Catedral e Plaza del
Santo Cristo del Buen Viaje- e nos seus arredores; restaurar a Plaza del Cristo e as
147
plazuelas14
Supervielle, Albear, Las Teresas, Santa Catalina de Siena e Las Ursulinas;
completar os trabalhos de preservação dos prédios destas plazuelas mencionadas; continuar
a restauração das edificações significativas e de alto valor patrimonial nas ruas Tacón,
Oficios, Mercaderes, San Ignacio, Cuba, Teniente Rey, Amargura, Inquisidor, San Pedro,
Desamparados, Zulueta, Obispo e O’Reilly e na Avenida del Puerto e Prado; assim como
realizar ações de conservação nos parques Central, de la Fraternidad e del Agrimensor
(PLAN MAESTRO, 2016).
Na figura 65 se pode apreciar a reconstrução de um dos prédios das esquinas da
Plaza Vieja, o outrora Hotel Palacio Viena, construção sem uso desde os anos 1990, que
está sendo restaurado para acolher ao Hotel Palacio Cueto.
Figura 65: Reconstrução do futuro Hotel Palacio de Cueto, numa esquina da Plaza
Vieja
FONTE: Da autora (2018)
Segundo um dos especialistas da OHCH entrevistados, este processo de
recuperação se caracteriza pela inserção de: “(...) algunos códigos más contemporáneos,
pero siempre teniendo la síntesis de lo que existió (...)” (ATOR DE PATRIMÔNIO, 2018).
Os fundos para a realização destes trabalhos de recuperação provêm dos
recursos obtidos da atividade turística, da contribuição de empresas estatais e privadas, da
14
Praças pequenas
148
atribuição de um orçamento estatal e da cooperação internacional. Além disso, com o
objetivo de diversificar os meios de captação de recursos financeiros para a recuperação, o
Plan Maestro, a Direção Económica da OHCH, a Banca Nacional e outros Organismos de
la Administración Central del Estado (OACE s), vinculados às estratégias econômicas
nacionais, se estabelecem como premissas: melhorar o sistema de tributos, cobrar pelo uso
do espaço público e multar a instalações e trabalhadores privados que usem o espaço
público de modo inapropriado. O dinheiro obtido com estas medidas, em fase de desenho,
será investido na reabilitação do Centro Histórico (PLAN MAESTRO, 2016).
No referente à recuperação das tradições e ao fomento da atividade cultural na
zona, atualmente, segundo o Plan Maestro (2016), se trabalha no resgate de celebrações e
tradições locais, como é o caso da retreta15
de la Banda de Concierto na Plaza de Armas, os
concertos de música lírica e coros na Plaza de la Catedral e as feiras de arte popular e
artesanatos da Plaza del Cristo. Mesmo quando a OHCH já conseguiu recuperar, ou recriar,
costumes como as congas dos domingos, presentes nas praças e ruas, para esta instituição é
primordial o resgate das tradições culturais, assim como impulsionar novas manifestações
artísticas (Rodríguez Alomá, 2009) para imprimir um caráter cultural ao Centro Histórico.
Os pantomimeiro, que se podem encontrar em diferentes espaços do Centro, são
personagens que evocam a antigos frequentadores deste espaço. Os que aparecem na figura
66 usam vestuários de épocas e chapéus e representam um bandido, na esquerda, e um
músico, na direita, figuras frequentes do entorno em períodos anteriores.
15
Concerto de banda musical em espaços públicos.
149
Figura 66: Pantomimeiros na rua Obispo e na Plaza de San Francisco, de esquerda a
direita
FONTE: Da autora (2011, 2014)
As ações também estão encaminhadas a incrementar as exposições de artes
plásticas nos espaços públicos; colaborar no estabelecimento de galerias de reconhecidos
artistas plásticos cubanos para expo-venda; criar escolas de dança para aprender os bailes
tradicionais cubanos; diversificar a produção de artesanatos e aumentar o comércio de
instrumentos musicais cubanos (PLAN MAESTRO, 2016).
Quando se analisam as ações de preservação histórico-cultural no Centro
Histórico de Havana Velha, se pode perceber que se trata de um processo no qual a
população local não é omitida, pois, se potencializa a participação da comunidade no
referente a reconstrução de moradias e aos espaços públicos (PLAN MAESTRO, 2014) e,
segundo Segre (1997, p. 817), a mesma participa, porém, é cada vez menos “entusiasta”.
Além disso, a recuperação do patrimônio arquitetônico inclui a recuperação de espaços
públicos como praças e parques para o desfrute de todos e, no referente ao resgate das
tradições culturais, as mesmas são pensadas para serem reproduzidas ocupando as ruas e
espaços abertos. Segundo o Plan Maestro (2016, p. 120), um dos objetivos do Plan
Especial de Desarrollo Local é: “Conservar el carácter residencial del Centro Histórico,
150
garantizar el derecho a una vivienda digna y aumentar la calidad de vida de la población
local (...)” e é projetada a melhora de toda a rede de serviços públicos e de infraestrutura
para a população: escolas, hospitais, aqueduto, eletricidade, sistema vial, dentre outros. Mas
é realmente o Centro Histórico uma zona da cidade pensada para a população local? Esta
questão será respondida no transcurso deste capítulo.
Como foi analisado no Capítulo 3, a recuperação dos prédios patrimoniais desta
área está ligada a um processo de refuncionalização dos mesmos para as atividades
turísticas, sejam hotéis, restaurantes ou centros vinculados à indústria cultural. O Centro
Histórico tem virado uma zona turística e, também, segundo o Plan Maestro (2016), se visa
consolidar a hotelaria na zona, eliminar os usos incompatíveis com o novo caráter da área,
sejam armazéns ou oficinas, recuperar os térreos para atividades comerciais, mesmo
quando eles estão ocupados atualmente por moradias, e eliminar os cortiços. Então, quais
classes sociais podem permanecer nesta zona se se eliminam os cortiços? A melhoria dos
serviços como aqueduto, eletricidade, sistema viário alcança só aos moradores ou também
garante uma melhoria para o sistema de empresas turísticas da zona?
A figura 67 mostra uma imagem interior de um cortiço no Centro Histórico de
Havana Velha, na mesma se pode ver o estado de deterioração deste tipo de prédio que
abriga 41,5% da população residente na zona (RODRÍGUEZ ALOMÁ, 2009). Com a
erradicação deste tipo de moradia, onde vivem os grupos sociais menos favorecidos
economicamente, sem dúvida se diminuirá a pobreza no Centro Histórico e os trabalhos de
recuperação dos serviços de fornecimento que acontecem na zona também beneficiam as
instalações turísticas do território.
151
Figura 67: Interior de um cortiço no Centro Histórico de Havana Velha
FONTE: https://www.americatevepr.com/la-habana/los-solares-se-multiplican-la-habana-n889447
O Centro Histórico de Havana Velha é um espaço pensado para dois públicos:
turistas internacionais e população local. As praças, parques, museus são lugares comuns,
de encontro, porém, os espaços de consumo, devido aos altos preços de restaurantes, hotéis,
bares, são exclusivos para o turismo, produzindo uma segmentação espacial que, em muitos
casos, alcança os espaços públicos ocupados, como mostrado anteriormente, pelos
restaurantes turísticos.
Então, qual é a visão dos moradores da zona e dos outros grupos entrevistados
sobre recuperação e refuncionalização do patrimônio arquitetônico no Centro Histórico?
Dos 22 entrevistados, 90,9% (vinte entrevistados) percebe as ações de recuperação e os
novos usos como um processo positivo, e 9,1% (dois entrevistados) como um
acontecimento com pontos tanto positivos como negativos. Mas, como beneficiários destas
ações foram assinalados diversos grupos favorecidos como mostra o Quadro 16.
Quadro 16: Principais beneficiários das ações de recuperação e refuncionalização do
patrimônio arquitetônico no Centro Histórico de Havana Velha, segundo os grupos
entrevistados
Atores
entrevistados/
Respostas-
Beneficiários
Moradores
Locais
T. Estatais T.
Privados
Atores do
Patrimônio
Atores do
Turismo
Total
Crianças 1 1
152
Adolescentes e
jovens
1 1
Idosos 1 1
Todos os cubanos 2 1 3
A humanidade 1 1
Os moradores do
Centro Histórico
2 2 2 3 9
Novos
empreendimentos
1 1
Os havaneses 1 1
Turismo
internacional
1 1 3 2 7
Turismo nacional 2 1 3
Economía
Nacional
1 1
Parte da população
cubana
1 1
Todos 1 1
Trabalhadores do
Centro Histórico
1 1
FONTE: Da autora (2019)
Os beneficiários citados no quadro 16 foram listados de maneira aleatória, na
medida em que foram aparecendo nas entrevistas realizadas. Mesmo com critérios muito
gerais, ou alguns que englobam outros, eles foram igualmente colocados na tabela para
plasmar as ideias dos entrevistados o mais fidedigno possível. Como mostra esta tabela,
para os grupos entrevistados os principais favorecidos com as ações de recuperação no
Centro Histórico são em ordem descendente: os moradores do Centro Histórico, o turismo
internacional, os cubanos em geral e o turismo nacional, estes dois últimos ao mesmo nível.
As razões dadas pelos atores questionados para qualificar as mudanças
acontecidas na zona como positivas estão relacionadas à:
● Criação de espaços para projetos sociais orientados às crianças, adolescentes e jovens
● Construção de centros para cuidar às pessoas idosas (Asilos de Ancianos)
● Recuperação de escolas
153
● Reuso adaptativo de espaços e imóveis que estavam em avançado nível de deterioração
● Aumento dos espaços para a recriação da população local
● Embelezamento e limpeza desta parte da cidade
● Concessão do título de Cidade Maravilha16
● Criação das escolas-museus
● Reconstrução de prédios, com diferentes usos, em mau estado
● Recuperação da diversidade de usos que tinham os prédios antes do 1959, para manter a
cidade de maneira dinâmica e que funcione sem precisar se expandir
● Criação da infraestrutura turística
● Resgate histórico
● Geração de empregos
Para os dois entrevistados que explicaram que se tratava de processos com
aspectos positivos e negativos, as suas razões estão associadas, num primeiro caso, a
modificação da arquitetura original de alguns dos prédios restaurados e, no segundo, à
remoção de pessoas que não querem sair dos seus imóveis para recuperá-los. Segundo um
dos trabalhadores privados entrevistados:
Las mismas personas no tienen el poder adquisitivo para poder mantenerla y
entonces, el Estado, como tal, ha tratado de recuperar esas casas para no perder el
patrimonio y volverlas a su imagen antigua, para conservar lo que es su imagen
antigua (...) no lo veo bien, pero no lo veo mal, porque muchas personas llevan
muchos años en esas casas y no les gusta que los saquen de sus viviendas, pero
por otra parte les favorece porque al final les mejora la vida. (TRABALHADOR
PRIVADO, 2018)
Com a finalidade de conhecer a opinião dos moradores locais e os trabalhadores
estatais da zona referente à recuperação das tradições no Centro Histórico, estes grupos
foram interrogados sobre quais tradições culturais desapareceram com o aumento do fluxo
turístico neste espaço. Ambos grupos coincidiram em 100% (nove entrevistados) em que,
com a recuperação e o aumento de turistas nesta área não se perderam as tradições, e
insistiram em que o que aconteceu foi a recuperação de vários costumes esquecidos e o
fortalecimento de algumas tradições.
Para reforçar a sua opinião, seis destes atores mencionaram algumas que têm
sido resgatadas ou mantidas como: músicas, danças, artesanato, artes plásticas, costumes
religiosos, festas populares como os Carnavais, a presença de figuras típicas nas ruas como
16
Título outorgado a Havana no dia 7 de junho de 2016. A cidade foi elegida Maravilha do mundo moderno
através de uma votação popular a nível global na Terceira Competição Anual da fundação suíça
New7Wonders. Resultaram também vencedoras: La Paz (Bolivia), Doha (Qatar), Durban (Sudáfrica), Beirut
(Líbano), Vigan (Filipinas) e Kuala Lumpur (Malásia). (CUBA DEBATE, 2016)
154
as havanesas, as representações da cultura afro-cubana e os pregões dos vendedores
ambulantes.
Além disso, quatro dos entrevistados manifestaram que, em parte, o resgate e a
conservação destas tradições está relacionado à atratividade turística das mesmas e ao
interesse por mostrá-las para o turismo. Nos seguintes depoimentos se pode apreciar a
preocupação de dois dos moradores entrevistados com a cenarização e espetacularização
das tradições e a cultura cubana para o turismo:
(...) hay muchos tríos, mucha música popular, a veces un poquito caricaturesca,
no? Menos original de lo que pudiera ser porque está más pensada en que al
turista le agrade que en su esencia, en ocasiones. Pero también hay quien la hace
bien (...) pero ahora hay más vida cultural, pero sobre todo es más para afuera,
más como visible, porque lo que se quiere es precisamente eso: mostrar, mostrar
la vida cultural. (MORADORA LOCAL, 2018)
Yo creo que las tradiciones culturales, más que perderse, se pueden, tal vez, estar
afianzando, porque no soy de la opinión de que el turista venga a Cuba a ver su
cultura o a que nosotros les presentemos aquí las cuestiones que no son
autóctonas de nosotros (...) La mayor cantidad de espectáculos que se presentan
en todos estos espacio tienen una fuerte raíz cubana, de cualquiera de las ramas
más importantes, pueden ser: la rama europea o la rama africana, o las cuestiones
campesinas del propio pueblo de Cuba, o las tradiciones que ya se formaron
dentro de la nación como: el son, el mambo, el chachachá, son cuestiones que se
ponen muy de manifiesto aquí. O sea que yo soy del criterio que todo esto ha
ayudado un poco a fortalecer la presencia de la cultura cubana. Lo que también
trae el gran desafío para todos los que tienen esta responsabilidad de mostrar la
mejor de las fases o la mejor de las representaciones de la cultura cubana en cada
una de estas manifestaciones, no banalizarla, no vulgarizarla, no comercializarla
para satisfacer determinadas exigencias o reclamos turísticos o de visitantes.
(MORADOR LOCAL, 2018)
Esta inquietude dos moradores locais no referente à banalização das tradições
culturais cubanas pelas montagens para o turismo está latente na fala dos atores de
patrimônio e turismo entrevistados. As instituições do patrimônio (OHCH, Plan Maestro) e
do turismo (MINTUR, Habaguanex, Gaviota) são as encarregadas de regular tudo o que
nestas matérias acontece no Centro Histórico. 77,78% dos participantes destes grupos (sete
entrevistados) responderam que consideram que o turismo pode levar a que as práticas
tradicionais se banalizem, enquanto 11,11% (um entrevistado) expressou que dependia de
alguns fatores e este mesmo número opinou que não necessariamente implicavam a sua
trivialização.
Os entrevistados assinalaram entre as medidas que se tomam para que isto não
aconteça as campanhas da OHCH nas quais se realçam os valores mais autóctones, nas
quais se escolhe o que quer que se conheça e se divulga, porém também explicavam que as
155
instituições estatais não têm como regular o que projetam os trabalhadores privados, os
produtos que comercializam e as manifestações artísticas que recriam nos seus locais, para
que estas sejam o mais representativas possíveis e que não sejam um reflexo do que pode
ser comercializado para o turismo.
A figura 68 mostra a atual campanha da OHCH, lançada em junho de 2019,
para comemorar os 500 anos da cidade. A imagem agrupa monumentos e estátuas
havaneses de significativo valor histórico e cultural. Se misturam elementos reconhecidos e
atrativos para o turismo como o Faro del Castillo del Morro, a Estatua de la República
situada no interior do Capitolio ou os Leones del Prado, terceira, quarta e sexta imagem,
respectivamente, e outros menos difundidos para o turismo, porém significativos para a
população local como a Fuente de la India, a estátua de Cecilia Valdés fora da Iglesia del
Santo Ángel Custodio ou a estátua de Martí a cavalo, situada fora do Museo de la
Revolución, primeira, segunda e quinta imagens, respectivamente.
Figura 68: Imagem da campanha da OHCH pelo 500 aniversário da cidade
FONTE: http://www.eusebioleal.cu/noticia/habana-500-la-ciudad-de-todos/
Porém, 88,89% (8 atores) dos entrevistados considera que a atividade turística
contribui na preservação do patrimônio cultural através da geração de recursos financeiros
que são investidos na conservação, incentiva o resgate de tradições esquecidas (música,
gastronomia, dentre outras) e a valorização simbólica, pelos turistas, gera compreensão do
significado dessa herança criando consciência sobre a necessidade da sua preservação.
A recuperação do Centro Histórico de maneira geral é valorada como positiva
pelos grupos entrevistados sobre este tema. Ainda que exista segregação socioespacial neste
espaço pelo poder de consumo, com a reabilitação desta área melhoraram os serviços
básicos à população (aqueduto, sistema viário), as condições construtivas de muitas
156
moradias e aumentou a oferta recreativa e cultural. Assim, mesmo existindo prejuízos para
a população local pela refuncionalização turística deste espaço, eles parecem perceber mais
os efeitos positivos sobre a sua vida diária do que os inconvenientes.
4.3 REFUNCIONALIZAÇÃO TURÍSTICA E RESIGNIFICAÇÃO DO PATRIMÔNIO
CULTURAL NO CENTRO HISTÓRICO: POSSIBILIDADES DE USO
Uma das premissas do processo de recuperação do Centro Histórico de Havana
Velha é o desenvolvimento cultural neste espaço (PEDI, 2016). Segundo Santana (2018,
s.p. ) se procura: “(...) Garantizar el derecho universal a la cultura. Promover el
conocimiento, la preservación, la rehabilitación y la puesta en valor del patrimonio cultural
tangible e intangible (...)”. Assim, além de criar e estimular uma oferta cultural para o
turismo neste espaço, é pensada e posta em marcha uma oferta de atividades culturais que
dinamizam a vida da zona e das quais podem desfrutar a população local e os visitantes.
Ao questionar aos moradores locais e aos trabalhadores estatais da zona sobre
se se produziu um aumento das ofertas culturais e recreativas nesta área nos últimos 30
anos 100% dos entrevistados (9 atores) coincidiu que sim, cresceu a programação cultural e
de lazer na zona neste período.
O quadro 17 mostra as atividades culturais das quais a população desfruta
frequentemente -segundo as respostas dos entrevistados- e quais atividades de lazer, cultura
e turismo se realizam para a população local neste espaço segundo as respostas dos atores
de patrimônio e turismo interrogados.
Quadro 17: Atividades recreativas, culturais e de turismo frequentadas/pensadas
para a população local e os turistas nacionais
Atividades recreativas, culturais e
de turismo
Atividades frequentadas
pelos moradores locais e
os trabalhadores estatais
da zona
Atividades pensadas
para a população local e
os turistas nacionais
segundo os atores de
patrimônio e turismo
Concertos 3 2
Teatro 1 2
Atividades nos museus 3 0
Apresentações no Gran Teatro de la
Habana Alicia Alonso
3 0
157
Atividades da Biblioteca Rubén
Martínez Villena
1 0
Atividades no Museo de Ciencias
Naturales
1 0
La Cámara Oscura 1 0
Apresentações de livros nas praças 1 0
Espetáculos no Anfiteatro de la
Habana Vieja
2 0
Apresentações da Orquesta Sinfónica
Nacional
1 0
Atividades nas praças 1 0
Apresentações no Teatro Martí 2 0
Pequenas salas de teatro 1 0
Pequenas salas de concerto 1 0
Festival de Danza Callejera (nome
oficial: Festival Internacional de
Danza en Paisajes Urbanos Habana
Vieja: Ciudad en Movimiento)
1 2
Basílica Menor de San Francisco de
Asís (pequena sala de concertos)
1 0
Rutas y Andares17
0 7
Retretas 0 1
Exposições 0 2
Talleres de bordado 0 1
FONTE: Da autora (2019)
O quadro 17 mostra que as atividades mais frequentadas pelos moradores e os
trabalhadores estatais entrevistados são: os concertos, as atividades nos museus e as
apresentações no Gran Teatro de la Habana Alicia Alonso (Figura 69), e em segundo lugar
os espetáculos no Anfiteatro de la Habana Vieja e as apresentações no Teatro Martí. Tanto
17
Rutas y Andares é um programa histórico-cultural que inclui roteiros variados por praças, parques, museus
e prédios patrimoniais. Foi desenhado pela OHCH para os meses de verão que coincidem com as férias
escolares no país. Podem participar os cubanos e também os turistas internacionais de todas as idades. O
preço para os cubanos é preferencial (5 CUP equivalente a 0,20 CUC).
158
o Anfiteatro, como os teatros Martí e Alicia Alonso foram restaurados dentro do processo
de recuperação do Centro Histórico, nos anos 1995, 2014 e 2016 respectivamente, e se trata
de imóveis com elevados valores culturais e históricos nos quais a população local pode
desfrutar das mais diversas manifestações artísticas e que são pensadas para diversos
públicos (crianças, jovens, idosos). Nas atividades assinaladas pela população como as
mais realizadas se pode perceber que se trata de ofertas culturais com preços acessíveis,
tendo em conta os preços dos estabelecimentos pesquisados no trabalho de campo, e que
muitas se realizam em espaços abertos.
Figura 69: Gran Teatro de la Habana Alicia Alonso
FONTE: Da autora (2018)
Além disso, o quadro 17 também permite perceber a opinião dos atores do
patrimônio e do turismo no referente a quais são as atividades recreativas, culturais e
turísticas que estas instituições desenham para a população local e os turistas nacionais,
sendo as mais mencionadas: os roteiros de Rutas y Andares, os concertos, teatros,
exposições e o Festival de Danza Callejera. Tanto os atores que frequentam como os que
desenham as atividades coincidiram em mencionar atividades culturais abertas ou com
preços acessíveis à população.
Cabe destacar que todas as ofertas culturais e artísticas mencionadas pelos
grupos em questão também são abertas para o desfrute dos turistas internacionais, só em
alguns casos aumentam os valores dos ingressos, e as mesmas são frequentadas por estes. A
figura 70 mostra uma apresentação do Festival de Danza Callejera -que acontece em
diferentes praças e espaços públicos de Havana Velha- e a mesma é desfrutada tanto pela
população local como pelos turistas. Esta manifestação artística representa uma dança afro-
159
cubana, colocada em um espaço aberto para os moradores e, ao mesmo tempo, aumenta a
atratividade turística da zona a partir da cenarização do patrimônio cultural imaterial.
Figura 70: População local e turistas internacionais numa apresentação do Festival de
Danza Callejera
FONTE: http://www.cubahora.cu/cultura/vuelve-la-danza-a-los-espacios-de-la-habana-vieja
Por outro lado, um dos moradores locais entrevistados, o mais jovem, explicava
que existe uma oferta cultural em centros noturnos, atrativa para os jovens em geral, mas,
que pelos elevados preços fica inacessível aos moradores locais, e está mais orientada ao
turismo internacional. Então, o turismo pode desfrutar das atividades culturais criadas para
a população local -retretas, concertos em praças, exposições- porém, a população não pode
aceder à programação desenhada para o turismo: espetáculos, concertos em instalações
turísticas, pelos altos preços. A valorização de determinadas manifestações da cultura
cubana, como música e dança, as transforma em recursos turísticos, permitindo a criação de
ofertas artísticas elitizadas para o turismo e encarecidas para a população local. Se
evidencia uma segregação do espaço em função do poder econômico e a agudização das
contradições sociais.
Na análise do quadro 17, também chama a atenção que o roteiro de Rutas y
Andares que foi o mais mencionado pelos atores do turismo e patrimônio, e que é pensado
para a população local e os turistas nacionais, não foi mencionado nem uma vez pelos
moradores e os trabalhadores estatais da zona. Isto demonstra que existem atividades
criadas para a população, mas das que ela às vezes não participa, por exemplo, por
problemas de divulgação.
No referente a qual é a instituição encarregada da organização e realização
destas atividades, os entrevistados das empresas de turismo e patrimônio assinalaram à
160
OHCH, unanimemente, como o organismo possibilitador das mesmas. As companhias e
centros culturais no Centro Histórico determinam os seus calendários de eventos, que são
recepcionados pela OHCH que os agrupa e determina o que pode acontecer e quando,
estabelecendo a programação cultural da zona como um todo, segundo a explicação de um
dos atores do patrimônio entrevistado. O Centro Histórico é um espaço que tem uma
relação de pertencimento com a OHCH, pois segundo estas respostas, o MINTUR não se
envolve na preparação das ofertas para os turistas nacionais, porém, ele cuida da oferta
cultural que se apresenta para o turismo internacional, mesmo neste espaço. Isto acontece
para que a OHCH cuide da “autenticidade” das manifestações artísticas que se projetam
neste espaço. Acaso não seria preciso que, na programação artística que se difunde para o
turismo internacional se velasse porque representa as tradições e a arte cubana o mais real
possível? Sem dúvida, seria necessário que acontecesse assim, mas na programação cultural
para o turismo, muitas vezes o importante é vender um espetáculo atrativo.
A divulgação da oferta cultural desta área de Havana Velha se realiza através
dos meios de difusão massiva: rádios, televisão e em menor medida na imprensa escrita.
Além disso, a programação também se difunde na revista da OHCH: Opus Habana,
publicação online; nos cartazes de anúncios culturais da agência de viagens San Cristóbal e
da Basílica Menor de San Francisco de Assís. A promoção destas atividades está a cargo da
Dirección de Información Cultural da OHCH, segundo as informações obtidas nas
entrevistas aos atores de turismo e patrimônio. Porém, a divulgação deveria ser um pouco
mais intensa e, talvez assim, mais pessoas conheceriam o roteiro Rutas y Andares ou outros
programas. Um dos atores do turismo explicava:
(...) creo que si llegaran con más fuerzas en los medios, pudieran tener muchos
más adeptos y eso es una de las vías, los medios de comunicación, sobretodo la
televisión, no le he visto mucho en la prensa (...) (ATOR DO TURISMO, 2018)
A refuncionalização turística do patrimônio cultural no Centro Histórico de
Havana Velha fez com que os turistas se apropriassem dos espaços de consumo (hotéis,
restaurantes, lojas, centros noturnos) e dos atrativos realçados pelas agências de viagens,
porém, existe uma reapropriação, fomentada pelo Estado, por parte da população local e
dos atores que nela trabalham, daqueles espaços que não são exclusivos para o uso turístico
e que possuem valores patrimoniais e que também foram recuperados, assim como uma
ampla participação destes nas atividades culturais com preços acessíveis que na zona se
realizam. O aumento da programação artística, unido a possibilidade de participar desta são
duas das razões pelas quais a população local e os trabalhadores da zona têm uma visão
161
favorável sobre o processo de recuperação. Se trata de um Centro pensado para dois
públicos, com ofertas culturais para estes e as mesmas co-existem no espaço, mas o poder
econômico determina quem e onde se participa. Se trata de uma zona fragmentada na qual
se agudizam as contradições socioespaciais.
162
TERCEIRA PARTE: AS NOVAS DINÂMICAS SOCIOESPACIAIS NO CENTRO
HISTÓRICO DE HAVANA VELHA
163
5. INFLUÊNCIA DA ABERTURA PARA O TURISMO NA VIDA DOS
MORADORES TRADICIONAIS DO CENTRO HISTÓRICO DE HAVANA
VELHA. O TURISMO COMO ALTERNATIVA ECONÔMICA
5.1 OS EFEITOS DA ABERTURA PARA O TURISMO E DA REFUNCIONALIZAÇÃO
TURÍSTICA DO PATRIMÔNIO CULTURAL NA DINÂMICA SOCIOESPACIAL
ENTRE MORADORES TRADICIONAIS, TURISTAS E NOVOS
EMPREENDIMENTOS NO CENTRO HISTÓRICO DE HAVANA VELHA
No início da década de 1990, tal como explicado anteriormente, o governo
cubano traça como estratégia econômica desenvolver a indústria turística com o fim de
obter divisas frescas que permitiram estabilizar ou mesmo melhorar a situação financeira
que atravessava o país. As cifras de turistas internacionais que recebia Cuba em 1990 não
ultrapassavam os 345.000 turistas no ano, pois até esse momento as políticas se tinham
destinado a desenvolver apenas o turismo nacional. Com a reorientação do plano de
desenvolvimento do Estado, numa década, o país experimentou um crescimento de 345%
nas chegadas de turistas internacionais, devido à construção da infraestrutura de serviços
necessária (hotéis, restaurantes, modernização dos aeroportos), ao alto número de lugares
de interesse e atrativo turístico para visitar, à segurança e à realização de campanhas
publicitárias que destacavam estes valores. Para o ano 2010 o aumento experimentado foi
de 215.7%, cifra ainda alta, e 5 anos mais tarde, Cuba passava a receber mais de 3 milhões
de turistas, em certa medida pelo restabelecimento das relações diplomáticas entre os
governos de Cuba e Estados Unidos (Quadro 18).
Quadro 18: Quantidade de turistas que visitaram Cuba e Havana no período 1990-
2015
Variáveis 1990 2000 2010 2015
Turistas que
visitam
Cuba/miles
340 1173 2531 3540
Turistas que
visitam La
Habana/miles
240 703 1518 2124
% de
crescimento no
- 345 215.7 139.8
164
arribo de
turistas por ano
FONTE: Elaborado pela autora (2015) a partir de informações extraídas de Martín Fernández (2008) e ONE
(2015, 2019)
Não existem cifras exatas de quantos turistas visitam Havana anualmente,
porém, segundo Prudente (2009), a cidade recebe 60% dos turistas que chegam a Cuba. Se
se assume que a visita ao Centro Histórico é um circuito obrigatório, uma vez na cidade,
desde 1990 a 2015 os turistas que visitavam esta zona da cidade aumentaram em quase dois
milhões (Quadro 18). Este crescimento está associado à declaratória da UNESCO -mas
como explicado anteriormente de 1982 a 1990 o país era principalmente um destino de sol
e praia- e, fundamentalmente, à decisão governamental de desenvolver o turismo cultural
neste espaço, com a criação da Companhia Turística Habaguanex, que forneceria a
infraestrutura necessária, e aumentando os trabalhos de resgate patrimonial e realizando
campanhas internacionais para fomentar esta modalidade turística.
A figura 71 mostra o aumento gradual das cifras de turistas internacionais que
recebeu Cuba nos últimos quatro anos. Além disso, indica um paulatino crescimento nas
chegadas à cidade de Havana e que as cifras de visitantes se aproximam, na atualidade, aos
três milhões de turistas anuais.
Figura 71: Chegadas anuais de turistas internacionais a Cuba e Havana no período
2015-2018
FONTE: Elaborado pela autora (2019) a partir de informações extraídas de ONE (2019)
165
Então, como percebem os moradores e trabalhadores estatais do Centro
Histórico este aumento do número de turistas nesta zona? Quais aspectos positivos e
negativos trouxe este incremento de visitantes para a vida diária destes atores?
Quadro 19: Aspectos positivos e negativos do aumento do número de turistas no
Centro Histórico de Havana Velha para a população local
Aspectos positivos ML TE AT
Criação de uma oferta para o turismo da qual a população pode desfrutar X
recuperação de prédios, museus, teatros, ruas, parques, etc. X X X
Embelezamento da zona X X
Aumento da segurança X
Reabertura de centros X
Desenvolvimento econômico para o país X X X
Intercâmbio cultural X X X
Oportunidade para mostrar o país e os níveis de desenvolvimento (por exemplo
educacional)
X
Aumento dos serviços X
Abertura de negócios particulares X X
Melhoria das condições de vida das pessoas que trabalham vinculadas ao turismo X X
Aumento do nível de vida dos moradores X
Aspectos negativos ML TE AT
Aumento da prostituição e dos cafetões na zona X
Crescimento do número de negócios ilícitos X
Aparição de pessoas pedindo esmola X
Fluxo de turismo descontrolado X
Incremento das doenças X
Chegada de narcotraficantes estrangeiros passando como turistas X
Sobreexploração da zona X
Diminuição dos espaços para a população devido ao aumento das instalações
orientadas ao turismo
X
Remoção dos moradores para a refuncionalização de alguns prédios X
Encarecimento dos serviços da zona (táxis, restaurantes, bares) X
Barulho nas ruas X
Sobrecarga turística X
FONTE: Da autora (2019)
166
O quadro 19 resume os aspectos positivos e negativos do aumento do número
de turistas no Centro Histórico, a partir de 1990, para a população local, assinalados por
três dos grupos entrevistados: moradores locais, trabalhadores estatais da zona e atores do
turismo. Os aspectos positivos nos que coincidiram os entrevistados dos três grupos foram:
a recuperação de prédios, museus, teatros, ruas, parques, etc., o desenvolvimento
econômico para o país e a possibilidade de intercâmbio cultural. Segundo Leal (2004), o
Plan Maestro (2006) e Rodríguez Alomá (2012) a exploração dos recursos turísticos da
zona se iniciou para conseguir, exatamente, recuperar os prédios de valor patrimonial da
zona e para o desenvolvimento econômico do país. Resulta interessante que os moradores
locais apontam que eles se beneficiaram da recuperação de museus, teatros, ruas, parques e
da reabertura de centros ações que, segundo Leal (2004), são principalmente, projetos
sociais e não econômicos. O aumento do nível de vida dos moradores, mesmo quando não
estão vinculados diretamente ao turismo, está dado, pois, como explicado anteriormente,
35% dos ganhos da empresa turística Habaguanex se investem no desenvolvimento de
programas sociais (LEAL, 2004), assim, muitos prédios destinados à moradia, escolas e
espaços públicos foram restaurados. No trabalho de campo os atores de patrimônio foram
entrevistados sobre como acontece este retorno, mas não tinham conhecimento sobre o
tema.
No referente aos pontos negativos citados destaca que não existem
coincidências entre os aspectos mencionados por cada grupo. Isto pode acontecer porque
cada segmento tem uma visão própria baseada nas suas experiências.
Um dos critérios negativos assinalado pelos atores do turismo foi a remoção
dos moradores para a refuncionalização de alguns prédios. Porém, esta questão não foi
mencionada pela população local. Para conhecer a opinião tanto dos moradores como dos
trabalhadores estatais da zona eles foram interrogados sobre este tema. De um total de 9
entrevistados 66.6% (6 entrevistados) estima que as mudanças acontecidas no Centro
Histórico, a partir de 1990, beneficiam a permanência dos moradores da área, 22.2% (2
entrevistados) valora que em alguns casos sim e em outros não, e 11.1% (1 entrevistado)
opina que não os favorece. As razões dadas para explicar que estas mudanças beneficiam à
população são: recuperação de prédios de moradia e escolas, aumento dos serviços como
supermercados, as possibilidades de estabelecer um negócio particular e o incremento dos
ganhos pessoais, e a existência de pessoas que não desejam se trasladar para outras zonas
porque se sentem bem morando no Centro Histórico. Os pontos pelos quais alguns
entrevistados percebem as mudanças como negativas são: a construção de hotéis em
167
prédios que estavam destinados à moradia, a remoção permanente ou temporal de algumas
pessoas das suas casas, as fortes regulações urbanísticas no referente às modificações das
fachadas, ao barulho e à higiene. Um dos entrevistados apontava:
No, pienso que no porque han hechos muchos hoteles. Mira, ahí mismo, donde
está el Hotel Parque Central, eso ahí era un edificio de viviendas, muy malo,
estaba muy malo, se estaba cayendo, pero estoy segura que los pobladores de ahí
hubieran querido que lo hubieran arreglado (...) y haber seguido viviendo ahí.
¿Qué hicieron? Lo arreglaron e hicieron un hotel cinco estrella. ¿Y los que vivían
ahí? Porque también yo tengo una compañera que vivía ahí y ahora vive en
Alamar. (TRABALHADOR ESTATAL, 2018)
Este depoimento demonstra que têm existido casos de remoção da população,
mesmo quando a maioria dos atores entrevistados concorda em que, de um jeito geral, as
mudanças foram para melhorar as suas condições de vida. Segundo o Plan Maestro e
Oficina del Historiador de la Ciudad de La Habana (2014, p.19): “(…) el Centro Histórico
(...) muestra entre sus políticas conservar el carácter residencial garantizando la
permanencia de la población residente según los parámetros de habitabilidad, densidad y
calidad de vida que resulten más apropiados(...)”. Então, para garantir uma densidade
adequada, prioridade do governo desde a turistificação da zona, muitas pessoas têm sido
removidas para outras zonas da cidade. Em 1995 a densidade populacional do Centro
Histórico era de aproximadamente 33 017 habitantes por quilômetro quadrado
(RODRÍGUEZ ALOMÁ, 2001) e, em 2018, tinha descido a 25 927 habitantes por
quilômetro quadrado (SANTANA HERNÁNDEZ, 2018). Segundo Palet, Sardiñas e García
(2007), a maior densidade populacional da província Havana está no município Centro
Havana e, na capital, existem outras zonas com esta mesma situação e que são fronteiriças
com Havana Velha, como os municípios Diez de Octubre e Cerro, porém as estratégias para
diminuir a densidade populacional se centram no Centro Histórico, por ser esta uma zona
de interesse para o capital turístico.
Outro dos pontos negativos citado pelos atores do turismo foi a sobrecarga
turística. Por esta razão, tanto os atores do turismo como os de patrimônio, foram
questionados sobre a aplicação de medidas para evitar a sobrecarga turística. Dos 9
entrevistados um tércio opina que sim se aplicam, outro que não e um último terço que não
sabe. Os que consideram que sim, se aplicam, assinalam como exemplos: a proibição de
entrada de grandes cruzeiros (só podem entrar de pequena ou mediana escala) à Havana
Velha, pelo tamanho da zona, a falta de infraestrutura e serviços para atender a um alto
número de visitantes; e a definição e coordenação de horários de visita a diferentes lugares
entre as agências de viagem. Porém, é difícil controlar a sobrecarga turística quando todo o
168
turismo que se realiza não acontece através das agências, então se dificulta controlar, para
as instituições turísticas, os fluxos de visitantes. Seria mais viável que cada museu ou feira
estabelecesse as suas regulações. Mas, existe o fator econômico e de consumo, por
exemplo, nas férias, que em quanto mais pessoas recebem aumentam as possibilidades de
vendas e por tanto os ganhos.
É uma realidade que às vezes o Centro Histórico de Havana se encontra
sobrecarregado. Um dos entrevistados explicava:
(…) Hay veces que en La Habana Vieja se siente uno como persona que lo usa, y
eso que yo no vivo, solo voy a trabajar todos los días, se siente incómodo porque
es mucha gente y la Habana Vieja de por sí tiene mucha población y entonces, a
veces, es imposible caminar por las calles o por espacios, a veces no encuentras
donde sentarte. También, aunque hay gran cantidad de servicios para uno ir y
merendar, o almorzar, siempre hay mucha cola, y siempre están todos llenos
porque no da a vasto. Todavía falta mucho por hacer en la Habana Vieja y
además es bastante la cantidad de visita que recibe, no solo de los turistas, sino de
las mismas personas que encuentran a la Habana Vieja como un lugar para
distraerse (...) (ATOR DE PATRIMÔNIO, 2018)
Se bem é verdade que a sobrecarga do Centro Histórico não se deve
exclusivamente ao uso turístico, as cifras de turistas cresceram muito nos últimos anos.
Segundo os atores de turismo e patrimônio entrevistados esta zona acolhe anualmente, em
uma estimativa, entre dois e três milhões de turistas e visitantes internacionais, a maior
cifra entre os meses de novembro e abril. 88.9% dos entrevistados (8 atores) estima que
este número deve continuar crescendo devido às campanhas publicitárias sobre o destino,
aos novos hotéis que se estão construindo, à atratividade da história desta zona e
principalmente, devido às mudanças econômicas, políticas e sociais que têm dado
visibilidade ao país no contexto internacional.
Uma das medidas econômicas do governo que favoreceu o desenvolvimento
turístico desta zona nos últimos anos foi a flexibilização das leis que permitem o trabalho
privado no país, desde setembro de 2010 (ANTÚNEZ, MARTÍNEZ e OCAÑA, 2013).
Segundo Zaldívar, Mayor e Martínez (2019), em 2015 existiam no Centro Histórico de
Havana Velha 6 387 licenças para desempenhar algum tipo de trabalho privado, destas, a
maioria pertence à zona norte, que possui os setores analisados nesta pesquisa, por abrigar
o maior número de instalações vinculadas à atividade turística e comercial, e uma grande
parte dos imóveis com valor patrimonial. Com estas medidas a oferta turística cresceu nos
negócios vinculados fundamentalmente ao alojamento, aos serviços gastronômicos e à
venda de artesanatos.
169
Ao entrevistar os trabalhadores ou donos de negócios privados sobre o que os
motivou a orientar seu negócio ao setor turístico, 100% (4 pessoas) expressou razões
vinculadas às possibilidades econômicas que oferece o setor e às oportunidades de ganhar
mais do que trabalhando para o governo. Porém, três dos atores explicaram que, mesmo os
negócios estando orientados ao turismo, os cubanos também podem ir. Além disso, estes
entrevistados expõem que a maior parte dos ganhos provém dos turistas, e que alguns
cubanos frequentam este tipo de estabelecimento (restaurantes, bares, lojas de artesanato) e
em algumas épocas do ano (junho, setembro) a maior parte dos rendimentos que obtém
chegam com os nacionais.
Os trabalhadores privados também foram interrogados no referente aos
produtos que comercializam e se estes mostram as tradições culturais cubanas. 100% deles
expressou que sim, que os bens que promovem e vendem refletem estas tradições porque é
o que os turistas procuram. Segundo estes atores os produtos seriam: artesanatos feitos a
mão em Cuba, rum, charutos, Mojitos, guayaberas (camisa dos campesinos cubanos),
música e pratos típicos cubanos.
Muitos destes imóveis onde hoje estão localizados negócios não estatais
possuem valores patrimoniais. Porém, os entrevistados não tinham conhecimento sobre esta
questão e não conheciam as funções anteriores de nenhum dos imóveis. Então, que parte
da história, da cultura e das tradições interessa resgatar? Aquela reconhecida pelo mercado,
que é procurada pelo turismo e que pode ser vendida. Só aquela que pode ser transformada
numa mercadoria.
Na dinâmica socioespacial do Centro Histórico participam a população local, os
turistas e os novos empreendimentos. A população julga como positiva a abertura ao
turismo e o desenvolvimento desta atividade econômica, mesmo quando percebe alguns
dos seus efeitos negativos para a sua vida diária. Esta complacência atual, com o
desenvolvimento turístico, parece contrária às opiniões de algumas pessoas descontentes
com a situação anterior a 2008, na qual os cubanos estavam impossibilitados de se hospedar
nos hotéis destinados ao turismo internacional. A respeito desta proibição se gerou
insatisfação popular e em algumas expressões artísticas se chegou a comparar a chegada de
inversores espanhóis para abrir hotéis, que só podiam ser visitados pelos turistas, com um
processo de doble colonização. Mas atualmente para a população parecem ser mais os
benefícios obtidos desta atividade. Ao mesmo tempo, esta se mostra favorável aos negócios
não estatais na área e vislumbra neles uma oportunidade de progresso econômico pessoal e
para a economia familiar. Porém, os novos empreendimentos, pensados principalmente
170
para o turismo, chegam deslocando aos moradores tradicionais? Esta pergunta será
respondida no próximo subitem.
5.2 O CENTRO HISTÓRICO DE HAVANA VELHA: UM CASO DE
GENTRIFICAÇÃO?
Como foi analisado no capítulo 1, segundo López Morales (2016), a
gentrificação é um fenômeno que se manifesta de diversas formas, dependendo do
contexto. Mesmo dentro da América Latina este processo assume características diferentes
de uma cidade a outra. Mas, como indica Paes (2009), no Sul do continente esse processo
se desenvolve, fundamentalmente, na década de 1990 e se caracteriza pela “(...)
recuperação do centro para atividades culturais, de visitação, de lazer e de turismo” (PAES,
2009, p. 16).
Segundo Smith (2012), a gentrificação pode acontecer em zonas centrais
abandonadas, às classes trabalhadores e mais pobres, e nas áreas desvalorizadas pela falta
de investimento de capital para o desenvolvimento dos bairros (na indústria, nos serviços).
O Centro Histórico de Havana Velha, segundo Segre (1997, p. 817), nos anos 1970 e 1980,
era “un hábitat precário”, pois por diversas razões as condições de vida e moradia na zona
não eram as melhores. Segundo este autor, pelos problemas de moradia que existiam no
início da década de 1970, herdados de épocas anteriores, o governo entregou os imóveis
desocupados e os espaços vazios das lojas do Centro Histórico para que virassem moradias,
como medida paliativa às precárias condições nas quais estas pessoas já moravam.
Obrigadas pela necessidade, algumas famílias tiveram que transformar estes locais, pois
moravam muitas pessoas em espaços reduzidos.
Sin controles ni reglamentaciones, cada usuario adaptó a sus necesidades y
posibilidades el tratamiento de las fachadas, convirtiéndose ligeros paños de
grandes cristales en ciegos muros de bloques o ladrillos (...) la altura de los
locales (...) generó la proliferación de barbacoas (entrepisos) realizadas com
improvisadas estructuras de madera. Su peso y diseño afectó la estabilidad de los
antiguos edificios y el tratamiento exterior, al dividirse los altos paños verticales
de rejas y ventanas, típicos del diecinueve habanero, en toscas aberturas con
persianas (...) (SEGRE, 1997, p.815)
Nos 1980, 131 palácios e mansões viraram descuidados cortiços, densamente
habitados, nos quais as condições higiênicas estavam comprometidas (SEGRE, 1997).
Estas adaptações deterioraram a imagem da cidade.
Segundo Scarpacci (2000), aconteceram vários desmoronamentos de prédios
pelo estado de deterioração e da falta de manutenção dos imóveis. Para Castillo (2001, s.p.
171
), antes dos 1990 muitas construções eram: “(...) ruinas parciales que sufrieron un grave
deterioro por sobreutilización, maltrato, desidia y falta de mantenimiento adecuado (...)”
A população que morava na zona tinha um baixo nível educacional, prevalecia
a raça negra e tinha um alto índice de desocupação. Além disso, a zona se caraterizava pela
delinquência e a promiscuidade (SEGRE, 1997).
Com a valorização turística do Centro Histórico de Havana Velha e do seu
patrimônio edificado, na década de 1990, se inicia um processo de retorno dos
investimentos a este espaço, para a recuperação e refuncionalização turística de prédios
coloniais, recuperação das moradias e para os projetos sociais, de interesse estatal a favor
da sua preservação.
Segundo Smith (2012), a gentrificação também está associada à substituição de
velhos prédios por imóveis luxuosos. No Centro Histórico, a partir dos anos 1990, começa
um processo que chega até a atualidade com a recuperação de antigos e maltratados
casarões ou palácios e a refuncionalização dos mesmos para a atividade turística. A figura
72 ilustra a mudança do antigo prédio da Manzana de Gómez que abrigava escolas,
farmácias, lojas populares e que foi transformado no Manzana Kempinski, o primeiro hotel
de luxo de Havana.
Figura 72: Manzana de Gómez (2003) e Hotel Manzana Kempinski (2018)
FONTE: https://archpaper.com/2017/04/cuba-tourism-modernist-buildings/ e da autora (2018)
172
A desatendida área portuária, como analisado anteriormente, também virou uma
zona turística embelezada que contribuiu na transformação da paisagem urbana da zona
(PARRA, 2015).
Para López Morales (2016, p. 21), para que exista gentrificação é preciso que
aconteça “(...) desplazamiento o exclusión desde el centro urbano de los segmentos sociales
más bajos (...)”.
Se pode afirmar que no Centro Histórico de Havana Velha existem casos de
deslocamento da população se se analisa a densidade populacional em diferentes períodos.
Segundo Segre (1997), antes de 1990 a densidade populacional por hectare edificada era de
entre 500 e 1000 habitantes, na atualidade com uma redução de 14 hectares edificadas -
comparando dados de Segre (1997) e Santana Hernández (2018)- a densidade é de 433
habitantes. Como aconteceram esses deslocamentos e quais foram as causas?
Mesmo que o processo de recuperação do Centro Histórico de Havana Velha
esteja marcado pela recuperação de alguns prédios destinados à moradia da população
local, nos investimentos nos programas e serviços sociais (escolas, hogares maternos,
asilos de ancianos) e nas melhorias na infraestrutura (sistema viário, aqueduto)
(RODRÍGUEZ ALOMÁ, 2001; LEAL, 2004), quando se procura a permanência dos
moradores tradicionais da área e a mesma é incentivada pelas esferas do governo e a
recuperação é principalmente para os moradores (LEAL, 2004), alguns autores e os
entrevistados no trabalho de campo assinalam casos de deslocamento negociado.
Para Scarpacci (2000, p. 295):
Most residents of Habana Vieja displaced by historic preservation must relocate
in Habana del Este, across the bay on the eastern side of the city (...) This is the
site of some of the first public housing projects in the 1960s. Many habaneros
consider it unattractive because of its poor sites and services, public
transportation problems, and badly maintained grounds (Hamberg 1994).
Although no official data exist, I estimate that Habaguanex has displaced at least
200 residents.18
Segundo este mesmo autor, a população de um dos prédios que circundam a
Plaza Vieja foi deslocada depois da recuperação do imóvel.
Scarpacci (2000, p. 296) afirma:
On the northeastern corner of the square rests a stately apartment complex built in
18
A maioria dos moradores da Velha Havana deslocados pela preservação histórica deve se mudar para
Habana del Este, do outro lado da baía, no lado leste da cidade (...) Este é o local de alguns dos primeiros
projetos de habitação pública na década de 1960. Muitos havaneses a consideram pouco atraente por causa de
seus locais e serviços ruins, problemas de transporte público e má conservação (Hamberg, 1994). Embora não
existam dados oficiais, calculo que Habaguanex tenha deslocado pelo menos 200 moradores. (Tradução da
autora)
173
1904. Much of the ornate plasterwork and some of the balconies have fallen off
the six-story apartment building over the years. By the late 1960s, the former
single-family apartments had become homes to several families. Crowding
compounded the interior deterioration. In 1996, a joint venture Italian-Cuban
project began renovating the structure into condominiums. Future occupants will
be foreign business people working in Cuba, not residents of Habana Vieja.
Foreigners will rent the apartments
from Habaguanex and will pay in dollars, not pesos. The adjacent Plaza Vieja has
been restored with an expensive ornate Italian-marble fountain in the center of the
plaza, and the perimeter of the plaza is framed by metal spheres to prevent
vehicular traffic. Officials at Habaguanex justify such building renovation, civic
beautification, and residential displacement.19
No trabalho de campo, 12 atores dos diferentes grupos foram entrevistados
sobre se conheciam casos de desalojo no Centro Histórico. 77% negou a existência de
casos deste tipo, 15% afirmou que aconteciam e 8% explicou que não sabia sobre o
assunto. Porém, 54% reconhece casos de deslocamentos da população mediante uma
negociação entre os moradores e as instituições estatais. Nas entrevistas foi possível
identificar três tipos de casos de deslocamentos:
● Intercâmbio de moradia: Os moradores do Centro Histórico aceitam trocar uma casa em
mau estado no Centro por outra em melhores condições em outro lugar (geralmente fora
de Havana Velha e longe do Centro). A população aceita esta troca, pois na maioria dos
casos não possui os recursos econômicos necessários para realizar a reparação. A moradia
do Centro é restaurada e refuncionalizada pelo Estado.
● Remoção da população por perigo de desabamento ou acidentes.
● Remoção da população para efetuar a reabilitação, mas os moradores retornam.
Os deslocamentos estão associados à recuperação e enquanto alguns
entrevistados afirmam que existem lugares que ainda não foram restaurados porque os
moradores não querem deixar seus prédios, outros explicam que:
(...) conozco muchas personas que vivían en La Habana Vieja, los sacaron de los
edificios, los mandaron para Alamar, en el mejor de los casos, porque hubo
mucha gente que los mandaron hasta para albergues y después nunca los
devolvieron a sus edificios (...) (TRABALHADOR ESTATAL, 2018)
No Centro Histórico ainda moram pessoas com baixa renda e existem prédios
19
No canto nordeste da praça, fica um imponente complexo de apartamentos construído em 1904. Grande
parte do reboco ornamentado e algumas das varandas caíram do prédio de seis andares ao longo dos anos. No
final da década de 1960, os antigos apartamentos unifamiliares se tornaram lar de várias famílias. A multidão
agravou a deterioração interior. Em 1996, um projeto ítalo-cubano começou a reformar a estrutura em
condomínios. Os futuros ocupantes serão empresários estrangeiros trabalhando em Cuba, não residentes de
Havana Velha. Estrangeiros vão alugar os apartamentos de Habaguanex e pagarão em dólares, não em pesos
cubanos. A adjacente Plaza Vieja foi restaurada e ornamentada com uma fonte de mármore italiano no centro
da praça, e o perímetro da praça é emoldurado por esferas de metal para impedir o tráfego de veículos. Os
funcionários de Habaguanex justificam essa renovação, embelezamento cívico e deslocamento residencial.
(Tradução da autora)
174
em péssimo estado construtivo. A figura 73 mostra imóveis que se encontram situados
dentro dos setores de estudo da pesquisa, que são as zonas que pelas suas possibilidades
para desenvolver o turismo (valores patrimoniais, atrativos turísticos, infraestrutura
hoteleira) já estão passando por processos de recuperação. Também, nas imediações da
Plaza Vieja existe uma Comunidad Provisoria que, segundo um dos entrevistados, abriga
pessoas que perderam as suas casas por desmoronamentos e residem temporariamente neste
local. Então, neste caso, não se pode falar de uma mudança completa da zona, nem de que
se apagaram totalmente os vestígios de pobreza da paisagem.
Figura 73: Prédios em mau estado construtivo no Centro Histórico de Havana Velha
FONTE: Da autora (2018)
Segundo Segre (1997, p. 818), no Centro Histórico de Havana Velha existem
“(...) fronteras muy bien definidas, entre los espacios cualificados por los que deambulan
los turistas y las zonas interiores totalmente abandonadas a su propio destino (...)”. Estas
fronteiras visuais subsistem até hoje (Figura 74). A figura 74 mostra as diferenças entre as
ruas Mercaderes, recuperada para a atividade turística e via importante de circulação entre
hotéis e serviços turísticos, e Muralla, que ainda não recuperada e que abriga vários
moradores.
175
Figura 74: Ruas Mercaderes e Muralla (de esquerda a direita)
FONTE: Da autora (2018)
Segundo Delgadillo (2016, p. 105), “(...) las políticas que revalorizan el
patrimonio urbano en sus múltiples dimensiones (materiales, simbólicas, económicas,
culturales), excluyen ciertas prácticas populares (comercio ambulante, indigencia) (...)”.
Porém, no caso de Cuba, não se erradicaram os vendedores ambulantes no Centro
Histórico. Estes vendem os produtos mais diversos: cebolas e temperos, água de coco,
churros, bonecas artesanais, chapéus ou pastéis (Figura 75). Coexistem desde os mais
simples até aqueles com mais infraestrutura para desenvolver o seu negócio. Esses
vendedores com seus pregões são um atrativo turístico a mais que se deseja preservar.
176
Figura 75: Vendedores ambulantes no Centro Histórico de Havana Velha
FONTE: Da autora (2018)
Para Delgadillo (2015), existe um deslocamento por pressão devido ao aumento
dos custos de vida. Mesmo quando nenhum dos entrevistados falou sobre o seu
conhecimento sobre casos de deslocamento pelo encarecimento da zona, esta situação foi
colocada como um dos aspectos negativos do aumento de turistas na zona.
Segundo Smith (2012), uma vez que acontece o reinvestimento e revitalização
destes centros urbanos, o valor do solo aumenta, com a consequente substituição dos
moradores tradicionais destes bairros de baixa renda, por uma população das classes médias
e altas da sociedade.
No caso de Cuba, a partir do processo revolucionário de 1959, se erradicou a
especulação imobiliária, o Estado nacionalizou a maior parte da terra e se determinou um
preço padrão para o solo urbano, e nem a localização, nem as características do entorno
modificam esse valor (NUÑEZ FERNÁNDEZ e GARCÍA PLEYÁN, 2000).
177
Porém, com a reabilitação do Centro Histórico de Havana Velha, mesmo
quando o valor oficial do solo continua sendo o mesmo, acontece uma revalorização
monetária informal dos imóveis localizados na zona. Segundo Nuñez Fernández e García
Pleyán (2000, s.p.) existem alguns “(...) propietarios que alquilan inmuebles y que elevan
sus rentas en función de procesos de regeneración urbana (...)” e outros que decidem sair da
zona a partir de um intercâmbio de casas e:
(...) que en el mercado subterráneo de la permuta exigen cantidades importantes
de dinero adicional para realizar el trueque de una propiedad inmobiliaria entre
dos barrios de características desiguales (...) El mercado de la permuta, sin
embargo, está extremadamente controlado y limitado en el territorio del casco
histórico y la única forma de apropiarse de esa plusvalía es de manera subterránea
o ilegal. (NUÑEZ FERNÁNDEZ e GARCÍA PLEYÁN, 2000, s.p)
Mesmo quando Nuñez Fernández e García Pleyán (2000) não referenciam a
compra e venda de imóveis, pois a lei que legaliza a compra e venda de casas em Cuba é
posterior ao artigo, com esta acontece de igual jeito, os altos valores são fixos dentro da
informalidade. No trabalho de campo, vários entrevistados fizeram referências ao aumento
do valor das casas, por tanto, mesmo quando não é oficial este incremento, é socialmente
reconhecido e aceito pela população.
O encarecimento do solo, neste caso, parece estar ligado a um interesse por
morar numa zona central e de fácil acesso dentro da cidade, renovada (uma grande parte),
que possui um alto número de serviços, uma infraestrutura melhorada e, fundamentalmente,
uma zona valorizada pelo turismo internacional. Em Cuba, possuir um negócio privado
vinculado ao setor turístico é uma importante fonte de ingressos, e ter um imóvel nesta área
oferece essa possibilidade.
Porém, existe uma revalorização do solo também amparada pelo Estado, pois,
para Nuñez, Brown e Smolka (2007, p. 286):
(...) la Oficina del Historiador (...) comenzó a recaudar impuestos directos e
indirectos que suman el 35 por ciento de los ingresos de empresas privadas no
relacionadas con la Oficina, tales como hoteles, establecimientos comerciales y
restaurantes que se han beneficiado de las labores de rehabilitación del distrito
histórico (...)
Os elevados valores do mercado informal de imóveis e os altos impostos
sustentados pelo Estado na zona do Centro Histórico apontam a um encarecimento do solo.
Este aumento do preço implica na chegada de novos grupos econômicos? Em Cuba, por
muitos anos se defendeu a inexistência de classes sociais. Então, quais seriam estes grupos
que estão chegando ao Centro Históricos e quais as suas características?
Segundo Noguera (2004), a partir de 1969, em Cuba, se podem distinguir
178
quatro grupos sociais: os trabalhadores, os campesinos, os intelectuais e o pequeno setor
privado, porém, afirma que até 1989 não existiam grandes diferenças econômicas entre
estes grupos. Com o início do Período Especial aconteceram uma série de mudanças na
economia -legalização do dólar e consolidação de uma economia que opera em duas
moedas (CUP e CUC, este último equivalente ao dólar estadunidense), ampliação do
trabalho privado, transformações no setor agrícola que incidem no aumento do setor
campesino privado- que levam à “(...) crear nuevos tipos económico-sociales –grupos
socio-estructurales– en el interior de las clases. Factores que establecen una estratificación
o diferenciación socio-económica intraclasista, ejerciendo una influencia directa sobre la
estructura social (...)” (NOGUERA, 2004, p.50)
Para Acevedo Meireles (s. a.) no continente americano: “(...) los pobres viven
con $2 o menos por día; bajos ingresos entre $2.01 y $10; medio entre $10.01 y $20; media
superior entre $20.01 y $50; ingresos altos más de $50.” e explica que uma parte dos
trabalhadores privados em Cuba consegue ganhar 10 CUC ou mais, diariamente.
No trabalho de campo, se pôde comprovar que os cubanos reconhecem a
existência de classes sociais dentro da sociedade cubana e que o pertencimento à classe
média ou alta, para eles, está relacionado à: posse de uma moradia própria e de um carro
próprio, aos ganhos em CUC (depende do setor onde se trabalha) ou o recebimento de
remessas familiares em dólares desde o exterior, ter um negócio privado, posse de dinheiro
poupado, possibilidades de férias e de viajar ao estrangeiro -uma parte da sociedade cubana
realiza viagens comerciais informais que garantem uma renda extra. Os aspectos
assinalados melhoram as condições de vida destes grupos.
Segundo Noguera (2004, p. 53), se trata de uma “(...) desigualdad caracterizada
por producirse en un modelo de pirámide social invertida, donde un taxista, un camarero o
un participante de la economía sumergida se coloca por encima de un investigador doctor
en ciencias o que un cirujano (...)” As emergentes classe média e alta cubana estão muito
vinculadas ao setor dos serviços.
Ao perguntar aos entrevistados se a partir da recuperação do Centro Histórico e
do desenvolvimento turístico neste espaço as emergentes classes média e alta cubana
chegaram ao Centro Histórico, 100% dos 22 entrevistados opinou que sim, tinham chegado
e continuam chegando. A principal motivação destes deslocamentos urbanos parece estar
associada à possibilidade de criar negócios privados vinculados à atividade turística. De
acordo com alguns dos atores interrogados as classes médias e altas cubanas continuam
morando fora do Centro Histórico e só possuem negócios na zona. Além disso, os
179
entrevistados explicaram que também muitos antigos residentes da zona criaram seus
próprios negócios não estatais, mas que a maioria pertence a pessoas que chegaram de
outras zonas, e que em alguns casos o dinheiro para desenvolver os negócios provém de
estrangeiros interessados em investir em Havana Velha.
Este interesse por investir no Centro Histórico pode estar associado ao
reconhecimento do mesmo como Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO, em
1982, pois, segundo Díaz (2015), esta declaratória costuma atrair investimentos que
mercantilizam a zona patrimonial para o turismo. No caso de Havana, estes investimentos
chegam mais de 30 anos depois da declaratória pelas características do marco legislativo
cubano que, por exemplo, não favorecia o surgimento de negócios privados até 2010 e
proibia a compra e venda de imóveis até 2011 (ANTÚNEZ, MARTÍNEZ e OCAÑA,
2013).
Para Scarpacci (2000, p. 289), no Centro Histórico de Havana Velha os agentes
gentrificadores são: “(...) a transient group made up of foreign tourists or business people
from Canada, Western Europe, and Latin America (...)”20
. A este grupo de agentes
gentrificadores se poderia somar as classes média e alta cubana que estão chegando à zona
para investir em negócios e colaboram no deslocamento de moradores de baixa renda que
vendem suas moradias, ante a impossibilidade econômica de restaurá-las com recursos
próprios.
Por outro lado, mesmo quando no Centro Histórico coabitam moradores e
turistas internacionais, existe uma grande diferença de qualidade e preços entre os serviços
orientados para cada grupo. A figuras 76 e 77 mostram o Complejo Comercial
Gastronómico Variedades Obispo, um supermercado com preços em CUP para a
população local. O prédio, mesmo estando na central rua Obispo, não está bem pintado e
nas suas janelas persistem restos do que deve ter sido uma proteção de adesivo contra
furacões. A figura 78 mostra o Floridita, emblemático restaurante do Centro, realçado nas
campanhas turísticas por ser um lugar de recorrentes visitas de Ernest Hemingway para
beber um daiquirí. No início da mesma rua Obispo, o imóvel está em bom estado
construtivo e sua fachada está bem pintada. No caso do Floridita, as janelas contam com
uma proteção metálica em caso de furacões.
20
Um grupo transitório composto por turistas ou empresários estrangeiros do Canadá, Europa Ocidental e
América Latina (Tradução da autora)
180
Figura 76: Complejo Comercial Gastronómico Variedades Obispo, entrada
FONTE: Da autora (2018)
Figura 77: Complejo Comercial Gastronómico Variedades Obispo, lateral rua Obispo
FONTE: Da autora (2018)
181
Figura 78: Restaurante Floridita
FONTE: Da autora (2018)
Também existe um forte contraste entre as moradias da população local e as
instalações orientadas ao turismo, tanto estatais como privados. Nas figuras 79 y 80 se
podem apreciar as diferenças do estado construtivo e da manutenção entre um hotel, neste
caso o Parque Central, e um grupo de moradias que ficam numa das ruas do hotel.
Figura 79: Hotel Iberostar Parque Central
FONTE: Da autora (2018)
182
Figura 80: Grupo de moradias vizinhas ao Hotel Parque Central
FONTE: Da autora (2018)
Segundo Scarpacci (2000), Delgadillo (2015) e Prudente (2009), no Centro
Histórico de Havana Velha acontece um processo de gentrificação associado à recuperação
da cidade histórica para sua refuncionalização turística. Nas entrevistas aos atores de
patrimônio, um destes trabalhadores apontava que ainda não é um caso de gentrificação
aguda, mas que se trata de um processo emergente.
O problema no Centro Histórico não radica em embelezar, recuperar ou não a
trama urbana, é a conversão da cultura numa mercadoria, é a modificação dos usuários do
espaço pelos consumidores, é a segregação espacial em função do poder econômico. Se
poderia falar então, de gentrificação em Havana Velha, porém, do tipo de gentrificação que
pode acontecer num país socialista com um governo ainda preocupado com a população e
onde esta é também uma prioridade.
183
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A valorização turística do patrimônio cultural do Centro Histórico de Havana
Velha incidiu na mudança da dinâmica socioespacial dos moradores tradicionais da zona e
nas relações econômicas e sociais que neste espaço se produziam entre os seus diferentes
usuários. Esta notoriedade está muito relacionada com a recuperação e refuncionalização
das construções com valor histórico e cultural, trabalho que continua até a atualidade.
Então, como a recuperação desta área urbana persiste são muitos ainda os desafios e
possibilidades deste processo.
Hoje, o principal desafio parece radicar em frear o emergente processo de
gentrificação que se apresenta nesta zona. Mesmo quando, segundo Leal (2004), é uma
máxima desta obra e das instituições que a materializam conciliar os usos do espaço pela
população local e os turistas, na prática são apreciáveis os deslocamentos da população
tradicional e a chegada de novos grupos sociais para investir em negócios privados, assim
como a separação entre as áreas e serviços turísticos e aqueles orientados aos moradores
locais. Se bem é certo que o Centro Histórico é ainda um centro vivo, pois abriga mais de
55.000 habitantes, escolas, museus, bibliotecas, centros culturais, instituições para os
setores mais vulneráveis da população: grávidas, idosos (Figura 81), crianças sem família,
pessoas sem recursos econômicos; projetos sociais e a construção deste tipo de centros
continua (Figura 82), existe um desequilíbrio entre o número de programas para a
população, a recuperação de moradias e os projetos orientados ao turismo. Mesmo quando
os recursos provêm da atividade turística não se pode perder a proporção entre os planos
para os moradores e os turistas.
184
Figura 81: San Ignacio 255, moradia protegida para idosos
FONTE: Da autora (2018)
Figura 82: Moradia estudantil em restauração
FONTE: Da autora (2018)
Para que a população seja realmente a principal beneficiária deste processo se
poderia incentivar a sua permanência na área através de um aumento de planos de
recuperação das moradias a curto prazo -existem mas são muito demorados- e com o
oferecimento de créditos para motivar a que os moradores invistam em criar pequenos
185
negócios turísticos e frear a chegada de investidores forâneos. No setor estatal, se poderia
fomentar o oferecimento preferencial de emprego nos novos estabelecimentos turísticos
para os moradores da zona.
Como analisado anteriormente, a população local e os atores vinculados à
atividade turística que foram entrevistados no trabalho de campo reconheceram alguns
fatores negativos vinculados à esta atividade econômica. Dentre eles, se poderia prestar
especial cuidado pelas diferentes esferas do governo, a OHCH e as instituições turísticas
que operam na área para a diminuição ou erradicação da prostituição, dos negócios ilícitos,
do tráfico de drogas, no controle de doenças na chegada ao país e na gestão dos fluxos
turísticos para evitar sobrecarga em alguns espaços.
Mas, é preciso considerar também, que além dos problemas que a atividade
turística gera na zona, o setor foi desenvolvido no país como uma solução econômica num
momento de crise financeira. O turismo proporcionou os ganhos que se esperava e, na
atualidade, constitui um ponto chave na economia nacional, pois é uma das principais
fontes de renda. Este setor também contribuiu no desenvolvimento da economia local no
Centro Histórico. No trabalho de campo, um dos moradores entrevistados explicava que,
mesmo quando nesta zona se sentiram os efeitos do Período Especial, depois da abertura
para o turismo os efeitos diminuíram um pouco na zona, mas o alcance deste setor na
economia familiar é visível somente quando as pessoas trabalham vinculadas diretamente
com a atividade. O desenvolvimento turístico é hoje -e no futuro imediato será- uma
importante fonte de renda a nível de Estado e da economia pessoal neste espaço.
A chegada de turistas na Havana Velha, também potenciou a conservação das
riquezas históricas e culturais, o resgate de tradições que tinham se perdido com o tempo -
mesmo quando algumas são só uma cenarização para o turista- e possibilitou o intercâmbio
cultural entre os moradores e os visitantes. O fato do país ter ficado isolado na política e na
cultura por várias décadas e o pouco desenvolvimento turístico antes de 1990, concentrado,
principalmente, na chegada a Cuba de turistas provenientes dos países do leste europeu,
fazem que cresça na maioria da população um interesse por mostrar a sua cultura e entrar
em contato com pessoas de outras nações. No trabalho de campo, um dos moradores locais
explicava que o turismo:
(...) favoreció el intercambio entre todos los pueblos, entre nuestro pueblo y otros, que conocieran a
Cuba, que nosotros tuviéramos la posibilidad de intercambiar con otras personas, que pudiéramos
mostrar el país, la calidad del pueblo cubano, la calidad de sus habitantes, los niveles de desarrollo digamos educacional, de instrucción que tiene nuestro pueblo, la calidez humana de nuestras personas.
Soy de los que consideran que la llegada del turismo a Cuba, o el desarrollo de la actividad turística
no solo nos favoreció económicamente, sino como sociedad. (MORADOR LOCAL, 2018)
186
Então, a possibilidade de intercâmbio cultural entre os moradores e os turistas é um aspecto
que deve ser cuidado no futuro, pois as fronteiras entre os espaços e instalações turísticas e
aqueles que são para os moradores, podem prejudicar essa relação que é reconhecida pela
população como um ganho.
Outro desafio consiste em potencializar os efeitos positivos reconhecidos pelos
moradores locais e é recomendado que o trabalho futuro das instituições que regem a
reabilitação e o desenvolvimento turístico desta área velem para que os espaços, serviços e
projetos sociais orientados à população continuem, que se embelezam as zonas de função
habitacional.
Como se analisou anteriormente, a imagem urbana de Havana Velha
permaneceu no tempo, isto representa uma possibilidade e, ao mesmo tempo, um desafio,
pois se devem evitar ações que danifiquem a imagem da zona.
As maiores possibilidades no cenário de Centro Histórico estão relacionadas a
que o processo foi liderado pela gestão pública e ao interesse -pelo menos discursivo- do
governo para desenvolver a zona orientada ao turismo sem perder o caráter residencial e as
funções sociais associadas à presença de moradores (escolas, hospitais, centros culturais).
Outro fato que pode ser uma possibilidade para o futuro é a existência de uma única
organização que gestiona todo o processo: a OHCH, que conta com o apoio do governo,
leis que possibilitam o seu atuar, um conjunto de empresas e organismos para realizar o
trabalho de recuperação e relações horizontais com os governos municipal, provincial e o
Consejo de Ministros.
A recuperação do Centro Histórico de Havana Velha é ainda um processo
inacabado, se continua trabalhando na reabilitação de espaços para a população e para o
turismo internacional. Mesmo quando a refuncionalização turística deste espaço não
provocou, ainda, uma rejeição por parte dos moradores em relação aos turistas, como já
vimos em tantos centros urbanos como são os casos de Barcelona, Veneza, Atenas em um
processo de turismofobia (PISANI, 2017); isto pode acontecer num futuro se não se
realizam mais ações que harmonizem a coexistência e o uso por ambos os grupos dos
mesmos espaços. Segundo (BARBERÍA, 2017, s.p.): “A complacência original dos
cidadãos desaparece, especialmente em cidades e espaços limitados ou submetidos com
antecedência à pressão da visitação intensiva.” Atualmente no Centro Histórico de Havana
Velha o turismo é percebido como uma atividade positiva, fundamentalmente, pelos
benefícios econômicos que reporta para a economia nacional e familiar, mas, esta
“complacência” pode mudar com a intensificação de alguns problemas que já existem na
187
zona e que apareceram na fala dos atores entrevistados como: o aumento dos preços nos
serviços, os deslocamentos dos moradores tradicionais para fora da área turística e a
sobrecarga turística nesta zona, não muito extensa, e de alta densidade populacional.
O desafio fica em conseguir manter o desenvolvimento turístico do Centro
Histórico, como uma base importante da economia do país, ao mesmo tempo, que esta área
da cidade, continue pertencendo e sendo habitada pelos moradores tradicionais e que estes
sejam os principais beneficiários desta atividade.
188
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205
ANEXOS
Anexo A - Roteiro de perguntas para entrevista aos moradores do Centro Histórico de
Havana Velha
La presente entrevista tiene como objetivo conocer su opinión, como morador del Centro
Histórico de la Habana Vieja, en lo referente a temas como: la composición del patrimonio
cultural de esta zona, su relación con el mismo antes y después de la apertura en la Isla para
el turismo, la labor de la Oficina del Historiador de la Ciudad en la recuperación de este
espacio urbano, entre otros. Sus respuestas serán utilizadas desde el anonimato, para dar
cumplimiento a algunos de los objetivos de la tesis de Maestría en Geografía: La
valorización turística del patrimonio cultural en el Centro Histórico de la Habana Vieja,
Cuba; que se realiza en el Instituto de Geociencias de la Universidad Estadual de Campinas
y busca determinar la influencia del uso del patrimonio cultural para el turismo, en la vida
de la población local. De antemano agradecemos su colaboración.
_________________________________
Fecha y local
Datos personales:
Nombre______________________________ Sexo F( ) M( ) Edad__________
Lugar de nacimiento____________________ Años vividos en el Centro
Histórico__________
Preguntas generales:
1. En su opinión, ¿qué es el patrimonio cultural de un pueblo?
2. ¿Qué ejemplos de patrimonio cultural usted citaría dentro del Centro Histórico? Y
¿cuál considera que sea su importancia?
3. Con la recuperación del Centro Histórico, por parte de la Oficina del Historiador de
la Ciudad, muchos edificios han adquirido nuevos usos, ¿esta acción es positiva?
¿Para quién?
4. ¿En el Centro Histórico de la Habana Vieja se puede hablar de casos de desalojo o
expulsión de los moradores?
5. Con la recuperación del Centro Histórico y el incremento del turismo en este
espacio urbano, ¿se puede decir que han llegado a esta zona de la Habana Vieja las
emergentes clases medias y altas del país?
Preguntas específicas de este grupo:
6. ¿Cuáles tradiciones culturales se han perdido com el aumento del flujo turístico en
el Centro Histórico?
7. A partir de la década 90, el número de turistas que visitan el Centro Histórico
aumentó, ¿qué aspectos, positivos y negativos, trajo este aumento, para su vida
diaria?
8. ¿Se ha producido un aumento en las ofertas culturales y recreativas de la zona en los
últimos 30 años? ¿De cuáles disfruta usted con frecuencia?
9. ¿Los cambios ocurridos em el Centro Histórico,a partir de los 90, benefician la
permanencia de los moradores del área?
206
¡Muchas gracias por su colaboración!
207
Anexo B - Roteiro de perguntas para entrevista a trabalhadores estatais (não
vinculados diretamente às atividades turística ou de recuperação do patrimônio) do
Centro Histórico de Havana Velha
La presente entrevista tiene como objetivo conocer su opinión, como trabajador de una
empresa del sector estatal, que radica en el Centro Histórico de la Habana Vieja, en lo
referente a temas como: la composición del patrimonio cultural de esta zona, su relación
con el mismo antes y después de la apertura en la Isla para el turismo, la labor de la Oficina
del Historiador de la Ciudad en la recuperación de este espacio urbano, entre otros. Sus
respuestas serán utilizadas desde el anonimato, para dar cumplimiento a algunos de los
objetivos de la tesis de Maestría en Geografía: La valorización turística del patrimonio
cultural en el Centro Histórico de la Habana Vieja, Cuba; que se realiza en el Instituto de
Geociencias de la Universidad Estadual de Campinas y busca determinar la influencia del
uso del patrimonio cultural para el turismo, en la vida de la población local. De antemano
agradecemos su colaboración.
_________________________________
Fecha y local
Datos personales:
Nombre_______________________________ Sexo F( ) M( ) Edad__________
Empresa_______________________________ Años trabajados en el Centro
Histórico_________
Preguntas generales:
1. En su opinión, ¿qué es el patrimonio cultural de un pueblo?
2. ¿Qué ejemplos de patrimonio cultural usted citaría dentro del Centro Histórico? Y
¿cuál considera que sea su importancia?
3. Con la recuperación del Centro Histórico, por parte de la Oficina del Historiador de
la Ciudad, muchos edificios han adquirido nuevos usos, ¿esta acción es positiva?
¿Para quién?
4. ¿En el Centro Histórico de la Habana Vieja se puede hablar de casos de desalojo o
expulsión de los moradores?
5. Con la recuperación del Centro Histórico y el incremento del turismo en este
espacio urbano, ¿se puede decir que han llegado a esta zona de la Habana Vieja las
emergentes clases medias y altas del país?
Preguntas específicas de este grupo:
6. ¿Cuáles tradiciones culturales se han perdido com el aumento del flujo turístico en
el Centro Histórico?
7. A partir de la década 90, el número de turistas que visitan el Centro Histórico
aumentó, ¿qué aspectos, positivos y negativos, trajo este aumento, para su vida
diaria?
8. ¿Se ha producido un aumento en las ofertas culturales y recreativas de la zona en los
últimos 30 años? ¿De cuáles disfruta usted con frecuencia?
9. ¿Los cambios ocurridos em el Centro Histórico,a partir de los 90, benefician la
permanencia de los moradores del área?
¡Muchas gracias por su colaboración!
208
Anexo C - Roteiro de perguntas para entrevista a trabalhadores ou donos de negócios
privados do Centro Histórico de Havana Velha
La presente entrevista tiene como objetivo conocer su opinión, como trabajador o dueño de
un negocio privado, que radica en el Centro Histórico de la Habana Vieja, en lo referente a
temas como: la composición del patrimonio cultural de esta zona, su relación con el mismo,
la labor de la Oficina del Historiador de la Ciudad en la recuperación de este espacio
urbano, entre otros. Sus respuestas serán utilizadas desde el anonimato, para dar
cumplimiento a algunos de los objetivos de la tesis de Maestría en Geografía: La
valorización turística del patrimonio cultural en el Centro Histórico de la Habana Vieja,
Cuba; que se realiza en el Instituto de Geociencias de la Universidad Estadual de Campinas
y busca determinar la influencia del uso del patrimonio cultural para el turismo, en la vida
de la población local. De antemano agradecemos su colaboración.
_________________________________
Fecha y local
Datos personales:
Nombre_______________________________ Sexo F( ) M( )
Edad__________
Formación_____________________________ Labor
actual______________________________
Negocio_______________________________ Años trabajados en el Centro
Histórico_________
Preguntas generales:
1. En su opinión, ¿qué es el patrimonio cultural de un pueblo?
2. ¿Qué ejemplos de patrimonio cultural usted citaría dentro del Centro Histórico? Y
¿cuál considera que sea su importancia?
3. Con la recuperación del Centro Histórico, por parte de la Oficina del Historiador de
la Ciudad, muchos edificios han adquirido nuevos usos, ¿esta acción es positiva?
¿Para quién?
4. ¿En el Centro Histórico de la Habana Vieja se puede hablar de casos de desalojo o
expulsión de los moradores?
5. Con la recuperación del Centro Histórico y el incremento del turismo en este
espacio urbano, ¿se puede decir que han llegado a esta zona de la Habana Vieja las
emergentes clases medias y altas del país?
Preguntas específicas de este grupo:
6. ¿El negocio en el cual usted trabaja está orientado al turismo? ¿Qué lo motivó a
trabajar para este sector?
7. Si tuviera que dividir en porcientos estimados las ganancias del negocio, ¿qué
porciento de las ganancias diría que provienen de los turistas?
8. ¿Los productos que comercializa reflejan nuestras tradiciones culturales? ¿Cuáles?
9. ¿El inmueble dónde está ubicado su negocio tiene valor patrimonial? ¿Conoce su
función anterior? ¿Recibe alguna ayuda del estado para la manutención del
inmueble o para el desarrollo de su negocio?
¡Muchas gracias por su colaboración!
209
Anexo D - Roteiro de perguntas para entrevista a atores dos centros de gestão do
patrimônio do Centro Histórico de Havana Velha
La presente entrevista tiene como objetivo conocer su opinión, como representante de los
centros de gestión del patrimonio en lo referente a temas como: la composición del
patrimonio cultural de esta zona, su relación con el mismo, la labor de la Oficina del
Historiador de la Ciudad en la recuperación de este espacio urbano, entre otros. Sus
respuestas serán utilizadas desde el anonimato, para dar cumplimiento a algunos de los
objetivos de la tesis de Maestría en Geografía: La valorización turística del patrimonio
cultural en el Centro Histórico de la Habana Vieja, Cuba; que se realiza en el Instituto de
Geociencias de la Universidad Estadual de Campinas y busca determinar la influencia del
uso del patrimonio cultural para el turismo, en la vida de la población local. De antemano
agradecemos su colaboración.
_________________________________
Fecha y local
Datos personales:
Nombre_______________________________ Sexo F( ) M( )
Edad_______________
Institución_____________________________
Cargo_________________________________ Años en su
función_________________
Preguntas generales:
1. En su opinión, ¿qué es el patrimonio cultural de un pueblo?
2. ¿Qué ejemplos de patrimonio cultural usted citaría dentro del Centro Histórico? Y
¿cuál considera que sea su importancia?
3. Con la recuperación del Centro Histórico, por parte de la Oficina del Historiador de
la Ciudad, muchos edificios han adquirido nuevos usos, ¿esta acción es positiva?
¿Para quién?
4. ¿En el Centro Histórico de la Habana Vieja se puede hablar de casos de desalojo o
expulsión de los moradores?
5. Con la recuperación del Centro Histórico y el incremento del turismo en este
espacio urbano, ¿se puede decir que han llegado a esta zona de la Habana Vieja las
emergentes clases medias y altas del país?
Preguntas específicas de este grupo:
6. ¿Cuáles han sido las principales acciones públicas de las diferentes esferas del
Estado (Nacional, Provincial, Municipal) en el proceso de recuperación del Centro
Histórico?
7. Además de la auto-financiación, ¿con cuáles otros recursos económicos se cuenta
para la labor restauradora?
8. ¿Cómo se realiza este retorno de los recursos económicos obtenidos de la actividad
turística para (el bienestar) los moradores del Centro Histórico?
9. En su opinión, ¿cuántos turistas aproximadamente recibe anualmente el Centro
Histórico de la Habana Vieja? En su opinión, ¿este número debe aumentar? ¿Por
qué?
210
10. ¿En la actualidad se aplican medidas para evitar la sobrecarga turísticas en museos,
plazas, ferias, etc.? ¿Cuáles?
11. ¿Qué actividades de ocio y turismo se realizan en el Centro Histórico para la
población local y los turistas nacionales? ¿Qué entidad es la encargada de las
mismas? ¿Cómo se realiza la divulgación de estas y cómo puede acceder la
población?
12. ¿Considera que la actividad turística contribuye en la preservación del patrimonio
cultural? ¿De qué manera?
13. ¿Considera que el turismo puede llevar a que muchas prácticas tradicionales y
culturales se banalicen? ¿Qué se hace en la actualidad para que esto no ocurra?
¡Muchas gracias por su colaboración!
211
Anexo E - Roteiro de perguntas para entrevista a atores dos centros de gestão do
turismo no Centro Histórico de Havana Velha
La presente entrevista tiene como objetivo conocer su opinión, como representante de los
centros de gestión turística en lo referente a temas como: la composición del patrimonio
cultural de esta zona, su relación con el mismo, la labor de la Oficina del Historiador de la
Ciudad en la recuperación de este espacio urbano, entre otros. Sus respuestas serán
utilizadas desde el anonimato, para dar cumplimiento a algunos de los objetivos de la tesis
de Maestría en Geografía: La valorización turística del patrimonio cultural en el Centro
Histórico de la Habana Vieja, Cuba; que se realiza en el Instituto de Geociencias de la
Universidad Estadual de Campinas y busca determinar la influencia del uso del patrimonio
cultural para el turismo, en la vida de la población local. De antemano agradecemos su
colaboración.
_________________________________
Fecha y local
Datos personales:
Nombre_______________________________ Sexo F( ) M( )
Edad____________
Institución_____________________________
Cargo_________________________________ Años en su
función_________________
Preguntas generales:
1. En su opinión, ¿qué es el patrimonio cultural de un pueblo?
2. ¿Qué ejemplos de patrimonio cultural usted citaría dentro del Centro Histórico? Y
¿cuál considera que sea su importancia?
3. Con la recuperación del Centro Histórico, por parte de la Oficina del Historiador de
la Ciudad, muchos edificios han adquirido nuevas funciones (algunos para
desarrollar actividades turísticas y de ocio), ¿esta acción es positiva? ¿Para quién?
4. ¿En el Centro Histórico de la Habana Vieja se puede hablar de casos de desalojo o
expulsión de los moradores?
5. Con la recuperación del Centro Histórico y el incremento del turismo en este
espacio urbano, ¿se puede decir que han llegado a esta zona de la Habana Vieja las
emergentes clases medias y altas del país?
Preguntas específicas de este grupo:
1. ¿Qué aspectos, positivos y negativos, diría que trajo el aumento de turistas que
recibe el Centro Histórico, para la vida diaria de los moradores locales?
2. En su opinión, ¿cuántos turistas aproximadamente recibe anualmente el Centro
Histórico de la Habana Vieja? ¿Cuándo la demanda es mayor?
3. ¿Cree que el número de turistas que visitan el Centro Histórico debe aumentar? ¿Por
qué?
4. ¿En la actualidad se aplican medidas para evitar la sobrecarga turísticas en museos,
plazas, ferias, etc.? ¿Cuáles?
5. ¿Considera que la actividad turística contribuye en la preservación del patrimonio
cultural? ¿De qué manera?
6. ¿Considera que el turismo puede llevar a que muchas prácticas tradicionales y
culturales se banalicen? ¿Qué se hace en la actualidad para que esto no ocurra?
212
7. ¿Qué actividades de ocio y turismo se realizan en el Centro Histórico para la
población local y los turistas nacionales? ¿Qué entidad es la encargada de las
mismas? ¿Cómo se realiza la divulgación de estas y cómo puede acceder la
población?
213
Anexo F - Roteiro para a observação guiada no Centro Histórico de Havana Velha
(Critérios de avaliação de 1 a 5, sendo 1 terrível e 5 excelente)
Setor:
Aspectos gerais das condições de vida da população no setor 1 2 3 4 5
Estado construtivo das moradias
Estado construtivo do equipamento público (escolas, hospitais, parques, entre
outros)
Acessibilidade em transporte público
Estado construtivo das vias de acesso
Higiene
Ruídos
Sinalização
Segurança
Comentários:
Aspectos gerais da infraestrutura para o turismo no setor 1 2 3 4 5
Estado construtivo dos hotéis, restaurantes e centros noturnos
Acessibilidade
Estado construtivo das vias de acesso
Higiene
Ruídos
Sinalização
Segurança
Ambientação
Relação com as tradições culturais
Comentários:
Aspectos gerais da infraestrutura para os negócios privados da área 1 2 3 4 5
Estado construtivo dos hostáis e restaurantes
Acessibilidade
Estado construtivo das vias de acesso
Higiene
Ruídos
Sinalização
Segurança
Ambientação
Relação com as tradições culturais
Comentários: