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Universidade Estadual de Campinas Faculdade de Engenharia de Alimentos MARIA PAULA MACIEL PINTO VALORIZAÇÃO E APROVEITAMENTO ENERGÉTICO ATRAVÉS DA TÉCNOLOGIA DE DIGESTÃO ANAERÓBIA DE RESÍDUOS DE CAFÉ Campinas SP 2017

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Universidade Estadual de Campinas

Faculdade de Engenharia de Alimentos

MARIA PAULA MACIEL PINTO

VALORIZAÇÃO E APROVEITAMENTO ENERGÉTICO ATRAVÉS DA

TÉCNOLOGIA DE DIGESTÃO ANAERÓBIA DE RESÍDUOS DE CAFÉ

Campinas – SP

2017

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MARIA PAULA MACIEL PINTO

VALORIZAÇÃO E APROVEITAMENTO ENERGÉTICO ATRAVÉS DA

TÉCNOLOGIA DE DIGESTÃO ANAERÓBIA DE RESÍDUOS DE CAFÉ

Dissertação apresentada à Faculdade

de Engenharia de Alimentos da

Universidade de Campinas, para a

obtenção do Título de Mestra em

Engenharia de Alimentos.

Orientadora: Profa. Dra.Tânia Forster Carneiro Co-orientador: Dr. Mauro Donizeti Berni

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE A VERSÃO DA DISSERTAÇÃO A SER DEFENDIDA PELA ALUNA MARIA PAULA MACIEL PINTO, E ORIENTADA PELA PROF(A). DRA. TÂNIA FORSTER CARNEIRO.

Campinas – SP

2017

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BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________

Profa. Dra. Tânia Forster Carneiro - Orientadora

Faculdade de Engenharia de Alimentos – UNICAMP

_______________________________________________

Profa. Dra. Rosana Goldbeck – Membro titular

Faculdade de Engenharia de Alimentos – UNICAMP

_______________________________________________

Prof. Dr. Adriano Luiz Tonetti – Membro titular

Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo – UNICAMP

_______________________________________________

Dra. Bruna de Souza Moraes – Membro suplente

Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético – UNICAMP

_______________________________________________

Prof. Dra. Ana Paula Bortoleto – Membro suplente

Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo – UNICAMP

A ata da defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no

processo de vida acadêmica do aluno.

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AGRADECIMENTOS

Gostaria de expressar meus agradecimentos a todos que contribuíram para

a conclusão de mais um sonho.

Agradeço a Deus, pelo dom da vida e por me manter sempre firme na fé e

perseverante diante das dificuldades.

Ao meu pai Jorge Luiz Pinto e minha irmã Tássia Maria Maciel Pinto

Gonçalves, pelo amor incondicional, incentivo e por sempre acreditarem nos meus

sonhos. Obrigada por serem meus maiores exemplos de amor, compreensão, carinho,

honestidade e solidariedade, sem vocês eu não teria chegado até aqui. E a minha

mãe Carla Maciel, que me incentivou a persistir nos meus sonhos

A professora Dra. Tânia Forster Carneiro, pela orientação e oportunidade

de desenvolver meu trabalho em seu grupo de pesquisa, por todo o incentivo e

compreensão nos momentos difíceis.

Ao Dr. Mauro Donizeti Berni, pela co-orientação.

Aos membros da banca pelas contribuições para a melhoria do trabalho,

por meio de sugestões.

Aos meus amigos de longa data e aos que foram se juntando a mim ao

longo da caminhada, em especial Bruna Barbon, Renata Luz, Fernanda Melo, Carla

Vieira, Daniel Lachos e Paulo Torres, que vivenciaram todas as etapas do meu

trabalho comigo. Cada um de vocês com gestos e palavras de incentivos fizeram

dessa batalha menos árdua.

Aos colegas do Laboratório de Bioengenharia e Tratamento de Águas e

Resíduos.

A Cláudia Viana, por todos os ensinamentos, conversas, conselhos e

incentivo. Cláudinha, que bom ter encontrado você nesse caminho. Você fez tudo

parecer mais fácil. Obrigada pela nossa amizade.

Ao Thiago Neves de Alencar, pela disponibilidade e ajuda com análise

externas e pela amizade.

A UNICAMP, Faculdade de Engenharia de Alimentos e CAPES, pela

oportunidade e financiamento da pesquisa

A Cooxupé pela disponibilidade de informações e doação dos resíduos

utilizados nessa pesquisa.

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Ao Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético e ao Professor Dr.

Rubens Augusto Camargo Lamparelli, pela oportunidade de desenvolver minha

pesquisa como parte do projeto FAPESP nº 2013/50921-5 – Sistema para o

monitoramento Agro-Energético da Cultura do café, no Âmbito da Cooxupé.

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“Não é sobre chegar no topo do mundo

e saber que venceu. É sobre escalar e

sentir que o caminho te fortaleceu. ”

(Ana Vilela).

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Resumo

A tecnologia mais promissora para tratamento de resíduos orgânicos e

lignocelulosicos é a digestão anaeróbia. O processo de digestão anaeróbia consiste

em uma série de reações metabólicas, tais como a hidrólise, acidogênise,

acetogênese e metanogênise que promovem a biodegradação da matéria orgânica,

oferecendo como produto final um adubo orgânico ao mesmo tempo que produz

biogás na ausência de oxigênio. A utilização dos biocombustíveis e bio-produtos

produzidos a partir de biomassa vegetal poderá mitigar o aquecimento global,

diminuindo a emissão de dióxido de carbono e reaproveitamento do hidrogênio e

metano para a geração de energia. O objetivo desse trabalho foi avaliar o potencial

de produção de metano de três resíduos gerados na indústria de beneficiamento de

café; pó de café verde, borra semidesengordurada e pergaminho, através da

tecnologia de codigestão anaeróbia com vinhaça, utilizando inóculo mesofílico. Para

isso foram avaliadas as características físico-químicas dos resíduos e como

parâmetros de controle do processo de digestão foram avaliados a capacidade de

degradação de sólidos (ST e SVT), consumo de carga orgânica (DQO), degradação

de carga orgânica na forma de carbono (COT), capacidade tamponante do sistema

(pH e alcalinidade), proporção volumétrica dos gases hidrogênio e metano e

composição do biogás. Os resultados do reator de codigestão de pó de café verde e

vinhaça mostraram efeito tamponante do processo estável durante todo o

experimento, com redução de 21% na concentração de sólidos voláteis totais (SVT) e

biogás com até 46,0% de hidrogênio ou 50,0% de metano na sua composição. O

reator de codigestão de borra semidesengordurada e vinhaça apresentou redução de

19,4% na concentração de SVT, no entanto devido à alta produção de ácido butírico

proporcionou um biogás com teores de hidrogênio de 40% em proporção volumétrica.

Finalmente o reator de codigestão com pergaminho e vinhaça, obteve o melhor

desempenho entre os três resíduos estudados. Observa-se neste reator um processo

estável tanto em termos de alcalinidade, pH e ácidos graxos voláteis quanto níveis de

amônia, redução de 31% de SVT e biogás com 43% de hidrogênio na fase inicial e

metano (faixa de 40 a 90%) na etapa de estabilização e metanogênica.

Palavras chave: Digestão anaeróbia, Resíduo de café, Biogás, Codigestão.

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Abstract

The most promissing technology for trating organic and lignocelulosic wastes is

anaerobic digestion. The anerobic digestion process consists of a series of metabolic

reaction, such as hydrolysis, acidogenesis, acetogenesis, and methanogenesis that

promote the biodegradation of organic matter, offering as an end product organic

fertilizer while producing biogas in the absence of oxygen. The use of biofuels and bio-

products produced from plant biomass can mitigate global warming, reducing CO2

emissions and reusing hydrogen and methane for energy generation. The objective of

this work was to evaluate the biochemical potential of methane from three residues

generated in the coffee processing industry; green coffee powder, defatted cake, and

parchment, using anaerobic co-digestion technology with vinasse, using mesophilic

inoculum. For this purpose, the physical and chemical characteristics of the residues

were evaluated and as parameters for the control of the digestion process were

evaluated the degradability os solids (TS and TVS), organic load (COD), degradation

of organic load in the form of carbon (TOC), buffering capacity of the system (pH and

alkalinity), volumetric ratio of hydrogen and methane gases, and biogas composition.

The results of the co-digestion reactor of green coffee powder and vinasse showed

stable buffering effect throughout the experiment, with a reduction of 21% in total

volatile solids (TVS) and biogas with up to 46% hydrogen or 50% methane in its

composition. The co-digestion reactor of semi-defatted draff and vinasse showed a

reduction of 19.4% in TVS concentration, however due to the high production of butyric

acid it provided a biogas with 40% hydrogen contents in volumetric ratio. Finally, the

co-digestion reactor with parchment and vinasse, obtained the best performance

among the three residues studied. In this reactor a stable process in terms of alkalinity,

with 43% hydrogen in the initial phase and methane (range of 40 to 90%) are observed

in this reactor in the stabilization and methanogenic stage.

Key words: Anaerobic digestion, Coffee residue, Biogas, Co-digestion.

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Lista de Figuras

Figura 1. Divisão da matriz energética brasileira em 2014. Adaptado de Agencia

Internacional de Energia, 2016 .................................................................................. 21

Figura 2. Estrutura química da celulose. (Brethauer; Wyman, 2010) ....................... 22

Figura 3. Estrutura química da hemicelulose. (Brethauer; Wyman, 2010) ............... 23

Figura 4. Estrutura química da lignina. (Saliba et al., 2001) ..................................... 23

Figura 5. Fluxograma do processo de geração de resíduo da indústria de

beneficiamento de café. ............................................................................................ 25

Figura 6. Fluxograma de produção de etanol de 1º geração. Adaptado de Moraes,

Zaiat, et al. (2015). .................................................................................................... 27

Figura 7. Fluxograma esquemático de conversão de biomassa em biorrefinarias ... 29

Figura 8. Fluxograma do processo de digestão anaeróbia. Adaptado de Zhang et al.

(2014). ....................................................................................................................... 33

Figura 9. Fluxograma de trabalho codigestão anaeróbia de resíduos da indústria de

beneficiamento de café e vinhaça. ............................................................................ 46

Figura 10. Ilustração dos resíduos orgânicos em estudo: a) pó de café verde; b) borra

semidesengordurada; e c) pergaminho. .................................................................... 47

Figura 11. Ilustração do sistema de determinação de nitrogênio total Kjheldahl. ..... 50

Figura 12. Ilustração do sistema de determinação de extrativos: a) Sistema Sohxlet;

b) amostra de extrativo; e c) amostras liofilizadas. .................................................... 52

Figura 13. Ilustração do resíduo após pré-tratamento de deslignificação

(Hollocelulose) ........................................................................................................... 54

Figura 14. Ilustração do analisador de carbono Schimadzu TOC-5000ª. ................. 56

Figura 15. Ilustração da unidade experimental de codigestão anaeróbia. ................ 58

Figura 16. Representação esquemática do reator de codigestão anaeróbia. .......... 59

Figura 17. Sistema de controle de processo de codigestão anaeróbia. ................... 60

Figura 18. Cromatógrafo gasoso Shimadzu® modelo CG2014. .............................. 63

Figura 19. Sistema utilizado para medir o volume de biogás em mililitros (mL). ...... 64

Figura 20. Evolução da concentração de sólidos totais (ST), sólidos voláteis totais

(SVT) e sólidos fixos totais (SFT) ao longo do tempo (dias) no reator de codigestão

anaeróbia de pó de café verde e vinhaça. ................................................................ 68

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Figura 21. Evolução da concentração de sólidos totais (ST), sólidos voláteis totais

(SVT) e sólidos fixos totais (SFT) ao longo do tempo (dias) no reator de codigestão

anaeróbia de borra semidesengordurada e vinhaça ................................................. 69

Figura 22. Evolução da concentração de sólidos totais (ST), sólidos voláteis totais

(SVT) e sólidos fixos totais (SFT) ao longo do tempo (dias) no reator de codigestão

anaeróbia de pergaminho e vinhaça. ........................................................................ 69

Figura 23. Evolução da concentração de ácidos graxos voláteis ao longo do tempo

(dias) no reator de codigestão anaeróbia de pó de café verde e vinhaça. ................ 73

Figura 24. Evolução da concentração de ácidos graxos voláteis ao longo do tempo

(dias) no reator de codigestão anaeróbia de borra semidesengordurada e vinhaça. 73

Figura 25. Evolução da concentração de ácidos graxos voláteis ao longo do tempo

(dias) no reator de codigestão anaeróbia de pergaminho e vinhaça. ........................ 74

Figura 26. Evolução da concentração de alcalinidade e potencial hidrogeniônico (pH)

ao longo do tempo (dias) no reator de codigestão anaeróbia com pó de café verde e

vinhaça. ..................................................................................................................... 76

Figura 27. Evolução da concentração de alcalinidade e potencial hidrogeniônico (pH)

ao longo do tempo (dias) nos reatores de codigestão anaeróbia: a) borra

semidesengordurada e vinhaça e b) pergaminho e vinhaça. .................................... 77

Figura 28. Evolução da concentração da carga orgânica ao longo do tempo (dias) no

reator de codigestão anaeróbia de pó de café verde e vinhaça: a) demanda química

de oxigênio (DQO); b) carbono orgânico total (COT). ............................................... 80

Figura 29. Evolução da concentração da carga orgânica ao longo do tempo (dias) no

reator de codigestão anaeróbia de borra semidesengordurada verde e vinhaça: a)

demanda química de oxigênio (DQO); b) carbono orgânico total (COT). .................. 82

Figura 30. Evolução da concentração da carga orgânica ao longo do tempo (dias) no

reator de codigestão anaeróbia de pergaminho e vinhaça: a) demanda química de

oxigênio (DQO); b) carbono orgânico total (COT). .................................................... 83

Figura 31. Produção de biogás ao longo do tempo (dias) no reator de codigestão de

pó de café verde e vinhaça. ...................................................................................... 85

Figura 32. Produção de biogás ao longo do tempo (dias) no reator de codigestão de

borra semidesengordurada e vinhaça. ...................................................................... 86

Figura 33. Produção de biogás ao longo do tempo (dias) no reator de codigestão de

pergaminho e vinhaça. .............................................................................................. 87

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Figura 34. Desempenho dos parâmetros de volume de biogás acumulado e

rendimento de biogás acumulado dos reatores: a) pó de café, b) borra

semidesengordurada e c) pergaminho. ..................................................................... 90

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Lista de Tabelas

Tabela 1. Caracterização físico-química inicial dos substratos e inóculo utilizado na

codigestão. ................................................................................................................ 66

Tabela 2. Potencial bioquímico de metano teórico (PBMT) e rendimento máximo

teórico dos substratos; pó de café verde, borra semidesengordurada e pergaminho.

.................................................................................................................................. 67

Tabela 3. Evolução do parâmetro de nitrogênio amoniacal em reatores de codigestão

anaeróbia. ................................................................................................................. 72

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 16

2. OBJETIVOS........................................................................................................ 18

2.1. Objetivos específicos .................................................................................... 18

3. REVISÃO BIBLIOGRAFICA .............................................................................. 19

3.1. Geração de resíduos sólidos e o reaproveitamento energético ................ 19

3.2. Biomassa lignocelulósica ............................................................................. 21

3.2.1. Celulose ........................................................................................................ 22

3.2.2. Hemicelulose ................................................................................................. 23

3.2.3. Lignina .......................................................................................................... 23

3.3. Atividades industriais geradoras de resíduos ............................................. 24

3.3.1. Café .............................................................................................................. 24

3.3.2. Vinhaça ......................................................................................................... 26

3.4. Biorefinarias ................................................................................................... 27

3.5. Potencial bioquímico de produção de metano ............................................ 29

3.6. Tecnologias para a produção de biogás ...................................................... 30

3.7. Digestão anaeróbia ........................................................................................ 31

3.7.1. Aspectos microbiológicos da digestão anaeróbia ......................................... 32

3.7.2. Fatores de inibição do processo de digestão anaeróbia (DA) ....................... 33

3.7.3. Influência das condições operacionais .......................................................... 39

3.8. Codigestão anaeróbia .................................................................................... 40

3.9. Reatores anaeróbios ...................................................................................... 41

3.10. Aproveitamento energético dos gases metano e hidrogênio .................. 42

3.10.1. Hidrogênio ................................................................................................... 43

4. MATERIAL E METÓDOS ................................................................................... 45

4.1. Fluxograma de trabalho................................................................................. 45

4.2. Seleção dos substratos e inóculo ................................................................ 47

4.3. Caracterização físico-química dos substratos, vinhaça e inóculo ............ 47

4.3.1. Determinação da umidade e sólidos totais ................................................... 48

4.3.2. Determinação de sólidos voláteis totais e sólidos fixos totais ....................... 49

4.3.3. Análise de nitrogênio total Kjheldahl e proteína ............................................ 49

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4.3.4. Extrativos ...................................................................................................... 51

4.3.5. Lignina .......................................................................................................... 52

4.3.6. Hollocelulose ................................................................................................. 53

4.3.7. Densidade aparente ...................................................................................... 54

4.3.8. Análise de pH ................................................................................................ 54

4.3.9. Análise de demanda química de oxigênio (DQO) ......................................... 55

4.3.10. Determinação do carbono orgânico total .................................................... 56

4.4. Potencial teórico de produção de metano ................................................... 57

4.5. Codigestão anaeróbia de resíduo de café e vinhaça .................................. 57

4.5.1. Unidade experimental ................................................................................... 57

4.5.2. Ensaio experimental de codigestão anaeróbia ............................................. 59

4.5.3. Alcalinidade ................................................................................................... 60

4.5.4. Nitrogênio Amoniacal .................................................................................... 61

4.5.5. Ácidos graxos voláteis .................................................................................. 61

4.5.6. Composição do biogás .................................................................................. 62

4.5.7. Volume de biogás ......................................................................................... 63

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO .......................................................................... 65

5.1. Caracterização inicial das matérias primas ................................................. 65

5.2. Determinação teórica do potencial bioquímico de produção de metano . 67

5.3. Desempenho dos reatores de codigestão anaeróbia termofílica de

resíduo de café e vinhaça. ...................................................................................... 68

5.3.1. Desempenho dos parâmetros de sólidos totais (ST), sólidos voláteis totais

(SVT) e sólidos fixos totais (SFT) .............................................................................. 68

5.3.2. Evolução do parâmetro de nitrogênio amoniacal .......................................... 71

5.3.3. Desempenho do parâmetro de ácidos graxos voláteis ................................. 72

5.3.4. Desempenho dos parâmetros de alcalinidade e pH ...................................... 75

5.3.5. Desempenho dos parâmetros de demanda química de oxigênio e carbono

orgânico total. ............................................................................................................ 79

5.3.6. Composição do biogás e volume produzido ................................................. 85

6. CONCLUSÕES ................................................................................................... 91

7. REFERENCIAS BIBLIOGÁFICAS ..................................................................... 93

8. APÊNDICE ....................................................................................................... 104

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16

1. INTRODUÇÃO

A segunda geração da produção de biocombustíveis concentra-se

principalmente na produção destes a partir de recursos renováveis. A matéria prima

lignocelulosica compõe a maioria dos materiais não-alimentares e estão disponíveis

em grandes quantidades. Os biocombustíveis produzidos a partir de biomassa, como

plantas ou resíduos orgânicos, podem ajudar a reduzir tanto a dependência mundial

da produção de petróleo quanto as emissões de gases de efeito estufa. Assim, a

utilização dos recursos de biomassa será um dos fatores mais importantes para a

proteção ambiental no século XXI. A utilização dos biocombustíveis e bio-produtos

produzidos a partir de biomassa vegetal poderá mitigar o aquecimento global e

proporcionar novas oportunidades de empredo (Stevens; Verhé, 2004; Chandra et al.,

2012).

A geração de resíduos é inerente a todo processo industrial, e normalmente

os resíduos são incorporados ao ambiente nos locais de processamento da matéria

prima de forma concentrada ou dispersa, sendo que na maioria dos casos poderiam,

com maior interação, resultar em outros produtos para consumo, agregando valor ao

produto inicial e com a vantagem de reduzir os impactos decorrentes de sua

destinação inadequada (Venturim, 2002). Na indústria do beneficiamento de café a

situação é semelhante 55% dos frutos secos representam os grãos, 29% polpa, 12%

casca e 4% é mucilagem, e destes 45% são considerados resíduos (Braham;

Bressani, 1978).

A indústria sucroalcooleira também é uma grande geradora de resíduos. O

processo produtivo de etanol (processos de produção de etanol de 1ª e 2ª geração)

gera uma gama de outros subprodutos (resíduos agroindustriais) sendo a vinhaça o

resíduo produzido em maior escala, cerca de 10 a 15L são gerados a cada litro de

etanol produzido (Cavalett et al., 2012; Moraes, Zaiat, et al., 2015).

Uma das tecnologias mais promissoras para tratamento de resíduos

orgânicos e lignocelulosicos é a digestão anaeróbia. O processo de digestão

anaeróbia consiste em uma série de reações metabólicas, tais como a hidrólise,

acidogênise, acetogênese e metanogênise que promovem a biodegradação da

matéria orgânica, oferecendo como produto final um adubo orgânico ao mesmo tempo

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17

que produz biogás na ausência de oxigênio. O biogás é composto principalmente por

metano e dióxido de carbono, mas também é possível obter a produção de hidrogênio

por meio do processo, sendo o metano e o hidrogênio possíveis fontes de energias

renováveis e limpa quando comparados com os combustíveis fósseis. A rota

tecnológica da digestão anaeróbia representa uma oportunidade para diminuir a

poluição do meio ambiente e, ao mesmo tempo, gerar produtos de valor agregado

como o biogás e fertilizante orgânico ou material de suporte para biofertilizantes

(Chanakya et al., 2007; Jingura; Matengaifa, 2009; Lee et al., 2009). Assim,

tecnologias de energia renovaveis somadas as fontes de energias convencionais

desempenham um papel importante reduzindo o custo total do ciclo de vida e um

fornecimento mais seguro e menos poluidor de eletricidade (Pazheri et al., 2012).

Este trabalho tem como finalidade estudar a tecnologia de digestão

anaeróbia com objetivo de agregar valor à resíduos orgânicos que hoje não estão

sendo utilizados pela indústria de beneficiamento de café ao mesmo tempo que se

otimiza a produção de metano e hidrogênio no biogás, uma possível aplicação de

energia elétrica descentralizada para ampliar o leque de ofertas para o suprimento

energético do país.

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18

2. OBJETIVOS

O objetivo principal deste trabalho é avaliar o potencial energético de resíduos

gerados na indústria de beneficiamento de café, através da tecnologia de digestão

anaeróbia termofilica (55ºC), com o propósito de se produzir biogás rico em gás

hidrogênio em uma primeira etapa (acidogênica) e, posteriormente o favorecimento

da produção do gás metano na etapa metanogênica.

2.1. Objetivos específicos

Para tal, propõem-se os seguintes objetivos específicos:

Realizar a montagem de reatores anaeróbios para cada um dos resíduos

gerados na indústria de beneficiamento de café (pó de café verde, borra

semidesengordurada e pergaminho) a partir da codigestão com vinhaça;

Avaliar os principais parâmetros de processo em cada reator anaeróbio

termofilico (55ºC), em regime semi-contínuo;

Calcular a eficiência de redução de carga orgânica e produção de biogás

a partir da codigestão de cada reator após 45 dias de experimento;

Calcular o potencial teórico de metano a partir da composição química

de cada resíduo.

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3. REVISÃO BIBLIOGRAFICA

3.1. Geração de resíduos sólidos e o reaproveitamento energético

A geração de resíduos e subprodutos é inerente a qualquer setor produtivo,

as indústrias alimentícias e da agroindústria por exemplo, produzem grandes

quantidades de resíduos líquidos, sólidos e gasosos. A cultura do café é a segunda

maior commodity no mundo depois do petróleo e contribuiu com a geração de grande

quantidade de resíduos (Nabais et al., 2008). Adicionalmente, os significativos

avanços no desempenho do agronegócio implicam no aumento do consumo de

insumos e na geração de resíduos das atividades agropecuária e agroindustrial.

Assim, a geração de resíduos está associada ao desperdício no uso de insumos, às

perdas entre a produção e o consumo, e aos materiais que, gerados ao longo da

cadeia agroindustrial, não possuem valor econômico evidente.

Estima-se que, em média, de 20% a 30% da safra de grãos, de frutas e de

hortaliças colhidas no Brasil sejam desperdiçados no caminho entre a lavoura e o

consumidor (Rosa et al., 2011). Os resíduos agrícolas, no geral referem-se a qualquer

resíduo lignocelulósico produzido por indústrias agroalimentares em suas operações

diárias, tais como folhas, raízes, caules, cascas, bagaço, resíduos de palha,

sementes, resíduos de madeira, resíduos animais dentre outros, e compostos por

celulose, hemicelulose e lignina (Taherzadeh; Karimi, 2007). A crescente preocupação

com a preservação dos recursos naturais e com a questão de saúde pública associada

aos resíduos sólidos indicam que as políticas públicas para tratar desses temas

tendem a ser cada vez mais demandadas pela sociedade.

Como reflexo desta demanda foi regulamentada em dezembro de 2010 a

Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) no Brasil ou Lei Federal n. 12.305/2010

que, reúne o conjunto de diretrizes e ações a serem adotadas com vistas à gestão

integrada e ao gerenciamento adequado dos resíduos sólidos (Jacobi; Besen, 2011).

Segundo Venturim (2002) os resíduos resultantes das atividades agrícolas,

incorporam mais da metade da biomassa ao meio ambiente e não devem ser vistos

como resíduos, mas como subprodutos essenciais que asseguram a perpetuação do

agro-ecossistema produtivo. Igualmente no caso da cultura do café, a maior produção

indica maior quantidade de resíduos gerados, uma vez que a proporção entre estes e

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o café beneficiado é quase de 1:1, sendo este material residual responsável por

impactos significativos ao meio. Outros estudos indicam que na cultura do café, 55%

dos frutos secos representam os grãos, 29% polpa, 12% casca e 4% é mucilagem, e

destes 45% são considerados resíduos (Braham; Bressani, 1978). A Produção de

etanol a partir da casca de café inteira, moída e do extrato aquoso da casca de café,

utilizando como micro-organismo fermentativo a Saccharomyces cerevisiae também

foi alvo de estudos (Gouvea et al., 2009).

Os resíduos animais também possuem grande potencial em processos

fermentativos demonstrando alta produção de biogás com alta porcentagem de

metano e, portanto uma excelente eficiência energética (Forster-Carneiro et al., 2013).

Outro exemplo de aproveitamento e valorização de resíduos foi reportado por

Sookkumnerd e colaboradores (2005) usando a casca do beneficiamento de arroz que

pode ser queimada e o calor de combustão gerado representa uma excelente fonte

de energia, podendo gerar eletricidade para a indústria, colaborando para a redução

da emissão de gases de efeito estufa no ambiente.

Um dos maiores problemas da economia mundial envolve a

geração/consumo energético e o impacto ambiental causado pelo mesmo. O aumento

na demanda de fornecimento energético para bem-estar, tanto de países

desenvolvidos quanto para os que estão em desenvolvimento está aumentando a

concorrência para todos os tipos de recursos (Barbir; Ulgiati, 2008).

A Agência Internacional de Energia relatou que em 2014, 23.816 TWh de

eletricidade foram gerados por combustíveis e 32.381 milhões de toneladas de CO2

foram emitidas, sendo que o Brasil contribuiu com 476,02 milhões de toneladas. A

figura 1 demostra como estava dividida a matriz energética no Brasil em 2014.

Quando se estabelece uma avaliação socioeconômica ao redor do

aumento da demanda energética, a incerteza da disponibilidade a longo prazo dos

recursos fosseis, controle na emissão de poluentes e estabilidade climática, é de

extrema importância considerar o uso de diferentes tecnologias que consigam unificar;

demanda, sustentabilidade e redução nos custos relacionado a produção de energia

(Bilgen, 2014).

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Figura 1. Divisão da matriz energética brasileira em 2014. Adaptado de Agência Internacional de Energia, 2016

3.2. Biomassa lignocelulósica

Os materiais lignocelulósicos da agricultura são as maiores fontes de

açúcares de hexose e pentoses com potencial para a produção de biocombustíveis,

produtos químicos e outros subprodutos. A conversão desse tipo de resíduo pode

promover não só dissociação da produção de alimentos e biocombustíveis como

também a redução das emissões de dióxido de carbono (CO2) e garantir um

suprimento energético mais estável (Mckendry, 2002a).

A biomassa lignocelulósica constitui a maior fonte natural de carboidratos

do mundo, representa mais de 90% do peso seco de uma célula vegetal e, constituída

por três principais frações poliméricas: lignina, hemicelulose e celulose, unidas

fortemente entre si por forças não covalentes e ligações covalentes. Os polímeros de

carboidratos (celulose e hemicelulose) compõem 75% do material lignocelulósico (Liu

et al., 2006). A biodegradação ou bioconversão da celulose e da hemicelulose em

açúcares monoméricos pode ser conduzida por ações conjuntas de enzimas, sendo

as principais delas as celulases e xilanases (Liu et al., 2006). Um fator limitante na

produção de biocombustíveis a partir da utilização de hexoses e pentoses dos

resíduos lignocelulósicos é a característica recalcitrante da lignina que compõe a parte

0

20

40

60

80

100

CARVÃO GÁS NATURAL HIDROELÉTRICAS NUCLEAR OUTROS ÓLEO

Uti

lizaç

ão (

%)

Fonte de energia utilizada

Matriz Enérgetica 2014

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mais externa da célula vegetal. A técnica de digestibilidade enzimática consiste no

pré-tratamento termoquímico, assim como os pré tratamentos alcalinos com hidróxido

de sódio, a baixas temperaturas e pressões, podem causar inchaço, aumentar a área

superficial interna, diminuição do grau de polimerização, separação das estruturas de

ligação entre a lignina e os carboidratos, e o rompimento da estrutura da lignina

deixando a celulose e hemicelulose (Canilha et al., 2010). Outros pré-tratamentos

químicos como a hidrólise ocorre em situações de baixo pH (utilização de ácidos

concentrados) e alta temperatura afetando a estrutura da lignina e hemicelulose,

aumentando a disponibilidade da celulose para os micro-organismos (Fan et al., 2006;

Van Der Pol et al., 2014). A seguir são descritas as principais estruturas que formam

a célula vegetal.

3.2.1. Celulose

Celulose é uma cadeia linear de homopolímeros de unidades repetidas de

glicose usada para a produção de celulose e papel, no entanto pode ser convertida

em açúcares fermentáveis, e estes açúcares podem representar um subproduto final

de maior valor agregado tais como polissacarídeos, oligossacarídeos e

monossacarídeos (Mussatto, S. et al., 2011). Assim, a conversão da celulose em

glicose é o primeiro passo para a utilização dos resíduos agroindustriais como

matéria-prima, a glicose sendo subsequentemente convertida em outros produtos de

interesse, como etanol, butanol, metano e hidrogênio orgânico (Mussatto, S. et al.,

2011). A Figura 2 representa a estrutura química da celulose.

Figura 2. Estrutura química da celulose. (Brethauer; Wyman, 2010)

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3.2.2. Hemicelulose

A hemicelulose compõe de 15 a 45% dos materiais lignocelulósicos.

Consiste em cadeias ramificadas de açúcares principalmente aldopentoses (xilosee

arabinose) e aldohexoses (glicose, manose e galactose) contém ainda ácidos

hexurônicos (β-D-glucurônico, D-4-O-metilglucurônico) e deioxiexoses (Kootstra et al.,

2009). A Figura 3 representa a estrutura química da hemicelulose.

Figura 3. Estrutura química da hemicelulose. (Brethauer; Wyman, 2010).

3.2.3. Lignina

A lignina é uma substância hidrofóbica com estrutura tridimensional e

amorfa, altamente ramificada e sintetizada a partir de 3 precursores, álcool

conoferílico, álcool sinapílico e álcool p-cumarílico. Estrutura de maior complexidade

e altamente recalcitrante que dificulta os processos de hidrolise dos materiais

lignocelulosicos (Chang; Holtzapple, 2000). A figura 4 representa a estrutura química

da lignina.

Figura 4. Estrutura química da lignina. (Saliba et al., 2001)

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3.3. Atividades industriais geradoras de resíduos

A geração de resíduos é inerente a todo processo industrial. Este trabalho

apresenta uma revisão da indústria de beneficiamento de café e da indústria de

produção de etanol, geração de resíduos e alternativas de reutilização destes resíduos

como fonte de substâncias químicas após a recuperação de hidratos de carbonos

simples e complexos que podem ser convertidos por vias fermentativas em

subprodutos de valor agregado (Crognale et al., 2006; Mussatto, S. I. et al., 2011;

Moraes, Zaiat, et al., 2015).

3.3.1. Café

O café verde é constituido de polisacarideos insóluves, celulose e

hemicelulose (variam em torno de 50% m/m), hidratos de carbono solúveis,

monosacarideos, tais frutose, glicose, galactose e arabinose, sacarose a

oligossacáridos (representando mais de 90% dos oligossacáridos), polímeros de

galactose, manose, arabinose e glicose, carboidratos solúveis, ácidos alifáticos não

voláteis (ácido cítrico, málico e ácido quínico) e ácidos voláteis (ácido acético,

propanóico, butanóico, isovalérico, hexanóico e ácido decanóico), óleos e ceras

compõe cerca 8-18% da massa seca, em conjunto com proteínas e aminoácidos livres

(9-12% m/m), minerais, cinzas, cafeína, ácido clorogênico, trigonelina e água (Murthy;

Madhava Naidu, 2012). A forma de consumo de grãos de café verde é obtido após a

torrefacção (Feria-Morales, 2002).

Durante seu beneficiamento o café verde passa por uma série de

processos físicos (esteriras de arraste, penieras para classificação e outros) que

promovem o atrito entre os grãos e geram uma grande quantidade de um pó fino, que

não tem utilidade aparente. Após o processos de controle de qualidade em que o café

verde é organizado em blendes de acordo com cor, forma do grão e tipo de bebida os

grãos que serão destinados ao consumo em forma de pó são submetidos ao processo

de torrefação e ocorre o desprendimento do pergaminho do grão, que também é um

resíduo sem utilidade. E um terceiro resíduo que pode ser gerado na indústria de

beneficiamento do café é a borra semidesengordurada que sobra após o processo de

extração do óleo de grão de café verde de baixa qualidade para consumo, que tem

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25

sido bastante estudado pelas industrias de cosmético. Assim como nos grãos de café,

os carboidratos são os componentes mais abundantes e importantes destes resíduos.

Podem ser transformados por vias fermentativas em subprodutos, como os

biocombustiveis, como o biogás, contribuindo para o abastecimento energético do

sistema de produção como um todo (Arya; Rao, 2007). Comumente esses resíduos

são utilizados na compostagem em suas várias formas, distribuídos nas lavouras

como matéria orgânica, e reutilizados para alimentação animal (Venturim, 2002).

Gouvea et al. (2009) avaliaram a utilização da casca de café para a

produção de etanol, e obtiveram uma produção de 8,49 ± 0,20 g/100g de etanol em

base seca, e adicionalmente, a casca de café contribuiu para a produção de biogás,

entretando sua acidez inviabilizava o processo, após passar por pré-tratamento com

fungos Mycotypha sp, os resultados foram satisfatórios para a produção de gás

metano e o residuo após metanogênese foi avalido como adubo orgânico com efeitos

positivos com tamponante para o solo e germinação das sementes (Jayachandra et

al., 2011). A Figura 5, representa o fluxograma do processo de geração de resíduo da

industria de beneficiamento de café.

Figura 5. Fluxograma do processo de geração de resíduo da indústria de beneficiamento de café. E-01 a E-03: sistema de exaustão que recolhe o pó de café verde, P-01: peneira de separação de pedras, P-01: peneiras de classificação de tamanho e forma, T-01: torrador, PM-01: prensa mecânica

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3.3.2. Vinhaça

Em geral, a utilização do etanol como substituto dos combustíveis

derivados de fontes fosseis pode ser tornar um grande passo para a redução das

emissões de gases causadores do efeito estufa. Entretanto o processo produtivo de

etanol (processos de produção de etanol de 1ª e 2ª geração) gera uma gama de outros

subprodutos (resíduos agroindustriais) sendo a vinhaça o resíduo produzido em maior

escala (Moraes, Zaiat, et al., 2015).

A vinhaça é um efluente de coloração escura, de alto potencial poluidor,

baixo pH, constituída de 94 -97% de água e com altos níveis de carga orgânica e

outros nutrientes como potássio, nitrogênio, fósforo, cálcio, magnésio (Romanholo

Ferreira et al., 2011). Cerca de 10 a 15L são gerados a cada litro de etanol produzido

(Cavalett et al., 2012; Moraes, Zaiat, et al., 2015). A vinhaça é comumente lançado ao

solo como fertilizante (fertirrigação) nas culturas de cana de açúcar, entretanto o seu

uso excessivo, pode causar a salinização do solo, contaminação de águas

subterrâneas, lixiviação de metais e sulfatos e a proliferação de moscas (Cruz et al.,

1991; Madejón et al., 2001; Alves; Lavorenti, 2004).

Alguns fatores podem influenciar na composição química da vinhaça tais

como, variedade de cana de açúcar, tempos de maturação, tipo de cultivo (diferentes

solos com diferentes níveis de fertilização) e processo industrial (variação nas

operações dos processos de fermentação e destilação) (Sheehan; Greenfield, 1980;

Moraes, Zaiat, et al., 2015).

Moraes, Triolo, et al. (2015) e colaboradores estudaram duas condições de

digestão anaeróbia mesofílica com vinhaça: um reator com apenas vinhaça e inóculo

e um segundo reator com codigestão de vinhaça, esterco bovino e inóculo. Os

resultados mostraram que os reatores, de codigestão de vinhaça e esterco

representou o melhor desempenho. Os parâmetros avaliados (AGV, amônia e

produção de biogás) foram mais estáveis quando comparados ao reator que continha

apenas vinhaça, que necessitou de adição de carbono e nutrientes.

A Figura 6 representa um fluxograma de produção de etanol de 1ª geração,

indicando onde é produzida a vinhaça.

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Figura 6. Fluxograma de produção de etanol de 1º geração. Adaptado de Moraes,

Zaiat, et al. (2015).

3.4. Biorefinarias

O desenvolvimento do conceito de biorefinarias baseadas na reutilização

de subprodutos para a produção de biocombustíveis (calor e/ou eletricidade) tem sido

focalizado nos últimos anos (Zhang et al., 2014). A biorefinaria de biomassa é uma

unidade produtiva que integra a geração de energia e produtos de valor agregado a

partir de resíduos e/ou subprodutos. Este conceito de biorefinaria é fundamentado na

conversão integral destes recursos renováveis como por exemplo a celulose,

hemicelulose, lignina, pectina, taninos, amido, ácidos graxos, colágeno, quitosana,

corantes naturais e outros constituintes químicos, em outros produtos finais (energia,

produtos químicos, bio-materiais e alimentos). Esse conceito preconiza ainda a

minimização dos impactos ambientais e maximização do uso do recurso renovável,

considerando o ciclo de vida dos produtos obtidos (Fernando et al., 2006).

Adicionalmente, na biorefinaria a biomassa pode ser convertida em sub-produtos sem

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desperdício e com emissões gasosas minimizadas trazendo novas oportunidades e

produtos. O processo envolve um conjunto de rotas tecnológicas capazes de

fracionar, extrair, separar e converter a matéria-prima em diferentes produtos

intermediários ou finais, incluindo alimentos, produtos químicos, bio-materiais e

energia, maximizando os ganhos econômicos, minimizando os aspectos ambientais

negativos, e melhorando a eficácia e sustentabilidade das cadeias agroindustriais

(Rosa et al., 2011). De acordo com Chen et al. (2005) e Zhang (2008) diversas

biorefinarias são descritas envolvendo a produção de vários produtos e subprodutos,

como os biocombustíveis, calor e / ou eletricidade. De acordo com Aristizábal M et al.

(2015) a biorefinaria pode extrair diferentes componentes de biomassa e maximizar o

valor derivado a partir da matéria-prima de forma mais eficaz e eficiente quando se

trata de unidades integradas. Através desta estratégia, os processos incluídos no

conceito de biorefinaria podem ser economicamente rentáveis e ambientalmente

sustentáveis. Sheehan et al. (2003), mostraram no seu trabalho a importância do

desenvolvimento de biorefinarias baseadas em biocombustíveis a partir da biomassa

lignocelulósica como uma possibilidade de aumentar a eficiência de materiais e

energia e mitigar as emissões de gases de efeito estufa. Ou seja, tecnicamente seria

possível utilizar biomassas lignocelulósicas para a produção de bioetanol a partir da

conversão da celulose e a conversão da hemicelulose em biohidrogênio. Biogás rico

em metano poderia ser produzido a partir dos efluentes dos dois primeiros processos.

O conceito de biorrefinaria pode ser aplicado de duas formas: I) industrias

que utilizam como matéria prima a biomassa de outros setores produtivos para

conversão em energia, químicos e materiais ou II) a própria indústria integra ao seu

processo a conversão da biomassa, resultante do seu processo primário, para a

produção de energia para próprio consumo e outros bioprodutos de valor agregados.

A Figura 7 representa um sistema de conversão de biomassa em

biorrefinarias.

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Figura 7. Fluxograma esquemático de conversão de biomassa em biorrefinarias.

3.5. Potencial bioquímico de produção de metano

O crescente interesse na recuperação do biogás gerado pelos resíduos

orgânicos procedentes da agricultura ou indústria de alimentos está associado ao seu

uso energético. Até pouco tempo o biogás era considerado somente um subproduto

da decomposição anaeróbia de resíduos orgânicos. No entanto, as mudanças

climáticas, os impactos ambientais, ratificação do Protocolo de Kyoto, rápido

desenvolvimento econômico dos últimos anos, bem como a crescente elevação do

preço dos combustíveis fósseis tornam os investimentos na produção de energia a

partir de fontes renováveis economicamente atrativos (Salomon; Lora, 2005). Existem

muitas metodologias capazes de estimar o potencial teórico da produção de biogás e

metano estão disponíveis na literatura, como por exemplo os cálculos

estequiométricos de química analítica, partindo-se das análises da composição

química do resíduo utilizado, conhecida como Fórmula de Buswell (Buswell; Mueller,

1952). Esta fórmula expressa a produção máxima de metano em uma digestão

anaeróbia completa de matéria orgânica e é calculada a partir da formula química do

material orgânico. Estabelecer o potencial bioquímico de metano é fundamental para

avaliar as questões econômicas e de gerenciamento de projetos para a

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implementação em grande escala. Uma grande variedade de componentes presente

nos resíduos podem causar inibição ou falhas no processo de digestão e uma forma

de minimizar esses efeitos inibitórios é a utilização da combinação de substratos, que

consigam implementar nutrientes e diluir substancias tóxicas (Mata-Alvarez et al.,

2000).

3.6. Tecnologias para a produção de biogás

O biogás pode ser produzido a partir de todos os tipos de matéria orgânica

biodegradável, ou seja, resíduos que contenham hidratos de carbono, proteínas,

gorduras, celulose, etc. O biogás pode ser definido como uma mistura gasosa

resultante da degradação da matéria orgânica pela ação de micro-organismos

anaeróbios. A taxa de produção e o rendimento do biogás pode depender do tipo de

matéria orgânica (resíduo inicial) e alguns parâmetros do processo tais como, tempo

de retenção e desenho do reator (Weiland, 2010; Hamawand, 2015). De acordo com

Alves (2000) o biogás apresenta 50-90% de metano, 10-50% de gás carbônico e

outros gases em proporções de 1 a 5%, tais como hidrogênio (0-1%), gás sulfídrico

(0-3%), oxigênio (0-1%) e nitrogênio (0-1%). O biogás pode ser transformado em

outros tipos de energia, como a térmica, elétrica ou mecânica. O valor calorífico da

mistura de 1m3 biogás é cerca de 6,0 kWh.

A recuperação de biogás a partir de águas residuárias tem aumentado em todo

o mundo e tornou-se um biocombustível renovável comercial a partir de captura de

metano em aterros sanitários e digestão anaeróbia de águas residuais urbanas, de

resíduos lignocelulósicos, resíduos de processamento de alimentos e resíduos

animais (Hamawand, 2015).

Dentre os métodos biológicos para a obtenção de energia a partir de fontes

renováveis, destacam-se (Mudhoo et al., 2011):

Bio-fotólise no qual a energia solar é convertida em hidrogênio através da

reação fotossintética: 2H2O + hv → 2H2 + O2. (h constante de Planck e v é a

frequência da luz);

Foto-fermentação em que a produção de hidrogênio é feita por bactérias

fotossintetizantes na presença de luz em atmosfera inerte e anaeróbica, sendo a

nitrogenase a principal enzima associada à produção de H2;

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Digestão anaeróbia no qual o material orgânico é diretamente convertido

a biogás (Mckendry, 2002b).

3.7. Digestão anaeróbia

A digestão anaeróbia é uma tecnologia de decomposição da matéria

orgânica através da ação de micro-organismos anaeróbios, possibilitando a

reciclagem e recuperação de resíduos sólidos ou líquidos, ao mesmo tempo que

produz energia na forma de biogás. O processo eficiente, de baixo custo e limitado

impacto ambiental, torna a digestão anaeróbia uma opção viável quando comparado

com os demais processos biológicos de tratamento de resíduos (Mata-Alvarez et al.,

2000). Os produtos finais da digestão anaeróbia incluem a produção de biogás rico

em metano (60 – 70%) e um resíduo orgânico final rico em nitrogênio. Esse processo

tem sido aplicado com alto grau de sucesso em uma vasta gama de matérias primas,

incluindo as águas residuárias municipais e industriais, lodo procedente do tratamento

de efluentes municipais e resíduos sólidos das indústrias agrícolas e de alimentos

(Ward et al., 2008; Li et al., 2011). Finalmente, considerando que os resíduos

orgânicos não poderão, no futuro, serem destinados aos aterros sanitários, de acordo

com a Lei 12.305 de 2 de agosto de 2010, a digestão anaeróbia representa uma

tecnologia para melhor aproveitamento dos resíduos ao mesmo tempo que se produz

energia para operação (Mata-Alvarez, 2003; Ward et al., 2008). Os processos de

digestão anaeróbia são classificados de acordo com os parâmetros críticos de

operação (pH e temperatura), projeto de operação do reator (batelada ou contínuo), e

quantidade máxima de sólidos totais (digestão seca ou úmida) (Rapport et al., 2008).

Os reatores úmidos são aqueles com um valor de sólidos totais (ST) máximos de 15%

enquanto reatores do tipo seco apresentam valores de ST entre 20% e 40%. A

tecnologia de digestão anaeróbia seca (SS-AD) é considerada mais vantajosa em

relação a digestão úmida em vários fatores como: volumes menores de reatores e

maior volume de resíduos sólidos. Entretanto o tempo de retenção hidráulico (TDH)

dos reatores secos são três vezes maiores que o TDH dos reatores úmidos devido a

maior porcentagem de matéria biodegradável que requerem mais tempo de retenção

para que sua carga orgânica seja degradada.

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32

3.7.1. Aspectos microbiológicos da digestão anaeróbia

A digestão anaeróbia envolve um consorcio de micro-organismos que

podem ser classificados de acordo com uma serie de vias metabólicas. O processo

inicia-se com a produção de exoenzimas excretadas pelas bactérias fermentativas

hidrolíticas que reduzem polímeros orgânicos complexos em moléculas solúveis

simples. Proteínas, lipídeos e carboidratos são hidrolizados para aminoácidos, ácidos

graxos de cadeia longa e açucares, respectivamente. Essa etapa é conhecida como

Hidrólise. Em sequência, bactérias fermentativas acidogênicas convertem os

compostos da hidrolise em ácidos graxos voláteis de cadeia curta, dióxido de carbono,

hidrogênio e ácido acético. Os micro-organismos responsáveis por esta segunda

etapa Acidogênica apresentam uma rápida taxa de crescimento (30 minutos)

resultando em mais de 90% da população de micro-organismo do digestor nos

primeiros estágios do processo de digestão. A terceira etapa (Acetogênica) do

processo é onde as bactérias acetogênicas convertem os ácidos orgânicos produzidos

em maior quantidade na etapa acidogênica, dióxido de carbono e/ou hidrogênio e

acetato (que é produzido por um grupo especial de bactérias, homoacetogen

derivadas da utilização de CO2 e H2 durante esta etapa), que são os substratos

necessários para a produção de metano.

A etapa final do processo de digestão anaeróbia (Metanogênese) é quando

as Arqueas metanogênicas acetoclásticas consomem o acetato, como fonte de

carbono (equação 1), as Arqueas metanogênicas hidrogenotroficas utilizam CO2 e H2

(equação 2) e as Arqueas metanogênicas metilotroficas degradam álcool metílico

(equação 3) para a produção do gás metano. A maior parte do metano (70%) é

produzido pelas Arqueas metanogênicas acetoclásticas, que estão em maior

quantidade dentro dos reatores na etapa metanogênica (Chernicharo (1997); Liu et

al., 2009; Li et al., 2011; Karthikeyan; Visvanathan, 2013):

4CH3COOH → 4CH4 + 4CO2 (1)

CO2 + 4H2 → CH4 + 2H2O (2)

3CH3OH + 3H2 → 3CH4 + 3H2O (3)

A Figura 8 representa um fluxograma do processo de digestão anaeróbia.

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Figura 8. Fluxograma do processo de digestão anaeróbia. Adaptado de Zhang et al. (2014).

3.7.2. Fatores de inibição do processo de digestão anaeróbia (DA)

Muitos resíduos procedentes dos processos agrícolas e das indústrias

contém altos níveis de materiais facilmente biodegradáveis e ideais para o processo

de digestão anaeróbia. Porém alguns fatores afetam a estabilidade do processo, com

consequência direta na produção de metano. A causa primaria de falhas ou

perturbações do processo AD pode surgir da variedade de concentração de

substâncias inibitórias presentes nos resíduos utilizados como substratos. A inibição

do processo é usualmente identificada quando ocorre uma queda na produção de CH4

e um aumento da concentração de produtos intermediários como os ácidos graxos

voláteis.

Uma substância pode ser classificada como inibitória quando causa

mudanças inesperadas na população microbiana ou impede o seu crescimento. Os

inibidores mais comuns da digestão anaeróbia são amônia, sulfureto, íons de metais

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leves, metais pesados e orgânicos. Destes, a amônia e os ácidos graxos voláteis tem

se destacado como principal fator de instabilidade do processo de digestão anaeróbia

(Calli et al., 2005; Rajagopal et al., 2013).

3.7.2.1. Amônia

Amônia é o produto final do processo AD de materiais nitrogenados na

forma de proteínas, ureia e ácidos nucleicos. Uma situação de instabilidade do

processo pode acontecer quando a concentração de nitrogênio amoniacal está entre

1500 – 7000 mg/L. O aumento da concentração de nitrogênio amoniacal segundo

Chen et al. (2008) está associado a diferenças da composição química dos substratos,

condições ambientais de inoculação (temperatura, pH), tempo de aclimatização e

também a utilização de sais para controle do pH como cloreto de sódio, cloreto de

potássio e cloreto de amônio.

Entre os quatros tipos de micro-organismos anaeróbios, os micro-

organismos metanogênicos são os mais sensíveis e provavelmente terão o seu

crescimento mais afetado causando a inibição da produção de biogás devido à alta

concentração de amônia (Chen et al., 2008)

Íon amônio (𝑁𝐻4+) e amônia livre (FAN) (NH3) são as principais formas de

nitrogênio amoniacal inorgânico em soluções aquosas (Gallert et al., 1998; González-

Fernández; García-Encina, 2009). A amônia (NH3) pode ser a principal causa de

inibição do processo devido a sua alta permeabilidade na membrana celular

bacteriana. De acordo com Müller et al. (2006), a concentração de nitrogênio

amoniacal livre está ligado a três fatores; nitrogênio amoniacal total (𝑁𝐻4+ + NH3 ), pH

e temperatura.

Kayhanian (1999), apresentou concentrações de amônia livre seis vezes

maiores em condição termofílica quando comparada à condição mesofílica em uma

mesma faixa de pH. Quando o pH foi aumentado de 7 para 8 houve um aumento de

8 vezes na concentração de amônia livre em condições mesofílicas, sendo o aumento

ainda maior em condições termofílicas, porque a temperatura influência a constante

dissociação de nitrogênio amoniacal. Resíduos orgânicos municipais foram avaliados

em escala laboratorial, condições mesofílicas e com aumento gradual da

concentração de nitrogênio amoniacal total de 800 mg/L a 6900 mg/L. Em pH 7,9 e

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concentração de nitrogênio amoniacal total de 3300 mg/L, a produção de metano foi

satisfatória. Porém quando a concentração de nitrogênio amoniacal total chegou a

5500 mg/L, ocorreu um decréscimo de 50% na produção de metano (Westerholm et

al., 2011). Outro estudo com fração biodegradável de resíduos sólidos municipais em

escala piloto, condições termofílicas e diferentes tempos de retenção, observou-se

que o início da inibição das atividades microbianas se deu em concentrações de

amônia de 1000 mg/L. Uma inibição de 50% foi observado quando a concentração de

amônia foi 1500 mg/L e inibição total da produção de biogás foi constatada quando a

concentração de amônia atinfiu valores de em 2500 mg/L (Kayhanian, 1999). (Gallert

et al. (1998); Kayhanian, 1999) submeteu frações orgânicas de resíduos domésticos

a digestão anaeróbia em reatores de tanque agitado sob condições mesofílicas e

termofílicas, os resultados sugerem em pH 7,5 concentrações de 220 mg/L de CH3 e

50% de inibição na produção de metano em condições mesofílicas e 690 mg/L de CH3

em condições termofílicas. O esterco de porco e silagem de milho foram submetidos

a digestão anaeróbia em escala piloto utilizando tanque agitado e condições

termofílicas, nos primeiros 46 dias foi registrado valor de pH de 7,5 e concentração de

amônia livre de 150 mg/L que indicou uma possível inibição na produção de biogás;

entre os dias 49 e 57 a alimentação com carga orgânica foi sessada para permitir a

avaliação da adaptação do inóculo em altas concentrações de nitrogênio amoniacal

livre e diminuição dos ácidos graxos voláteis, ou seja o aumento no pH propiciou a

dissociação do amoníaco e consequentemente o aumento da concentração de NH3,

600 mg/L, ocasionando uma maior inibição na produção do biogás (Strik et al., 2006).

3.7.2.2. Estratégias para controle de inibição por amônia

Em altas concentrações de amônia, a atividade microbiana, principalmente

das Arqueas metanogênicas, é diretamente afetada pela aclimatização da microflora

que pode influenciar positivamente o grau de inibição. Considerando a aclimatação do

inóculo como estratégia de controle de inibição por amônia Angenent et al. (2002) e

colaboradores observaram na digestão anaeróbia de dejetos de suínos que o inóculo

aclimatizado suportou um aumento de concentração de amônia de 2000 mg/L-3000

mg/L sem afetar a etapa metanogênica, garantindo um desenvolvimento estável na

principal rota de produção de metano. Bujoczek et al. (2000) concluiu que quanto

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maior o tempo de aclimatização em diferentes concentrações de amônia, maior é o

nível de concentração de nitrogênio amoniacal livre é suportado pela biomassa

microbiana sem interferir em suas atividades metabólicas, portanto sistemas que

utilizam inóculo não aclimatizados tendem a apresentar falhas às concentrações

baixas de amônia livre. Abouelenien et al. (2009) avaliando a fermentação seca (20 a

40% de sólidos totais) em condições mesofílicas, concluiu que pode haver

aclimatização espontânea da biomassa metanogênica após um período de tempo de

retenção hidráulico em altas concentrações de NH3 e resultar em uma produção

satisfatória de metano, mas Sung e Liu (2003) afirma que nem sempre essa adaptação

espontânea é seguida de uma conversão completa em biogás rico em metano. Para

Calli et al. (2005) tratamento de resíduos animais submetidos ao processo de digestão

anaeróbia é aconselhável o uso de inóculo já aclimatizado a altas concentrações de

CH3 logo no início do processo para evitar inibições devido as altas concentrações de

proteínas desses resíduos.

O controle do pH é outro exemplo de estratégia de controle e estabilidade

do processo da digestão anaeróbia pois altos valores de pH aumentam a taxa de

conversão de 𝑁𝐻4+ para amônia (NH3). O aumento da concentração de amônia causa

a inibição das atividades metanogênicas com acúmulo de ácidos graxos voláteis

(AGV) e este acúmulo reduz o pH e a concentração de amônia, sendo esse processo

chamado de estado estacionário inibido ou seja processo de digestão anaeróbia

estável porém com baixa ou nula produção de metano (Rajagopal et al., 2013). O

mesmo foi observado por Shanmugam e Horan (2009) na avaliação da DA de resíduo

de carne onde concentrações de NH3 de 2475 mg/L, pH de 8,5 foi associado a queda

na produção de biogás resultando na inibição das atividades metanogênicas por altas

concentrações de amônia, entretanto em baixos níveis de pH (4,5) a concentração de

nitrogênio amoniacal (510 mg/L) e a produção de biogás também foram baixos.

Possivelmente, baixos valores de pH contribuem para diminuir a atividade das

bactérias metanogênicas e favorecer a atividade das bactérias acidogênicas, que são

responsáveis pela produção dos ácidos graxos voláteis, mantendo assim uma baixa

produção de biogás (Shanmugam; Horan, 2009).

A temperatura também é referenciada pela literatura como um fator

importante para o controle do processo de inibição por amônia. O aumento da

temperatura faz com que o equilíbrio químico se desloque no sentido da reação que

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absorve calor. Neste caso o aumento da temperatura irá acelerar a taxa de produção

de NH3 fazendo com que a concentração de amônia seja rapidamente aumentada

dentro do reator conforme equação 4 (Angelidaki; Ahring, 1994):

N2(g) +3H2(g) →3NH3(g) (4)

Resíduos domésticos foram submetidos a digestão anaeróbia em reatores

de mistura completa em condições mesofílicas (35ºC), termofílicas (55ºC) e diferentes

concentrações de amônia (𝑁𝐻4+) foram adicionadas na faixa de pH de 7,5. Os autores

observaram que a concentração de 220 mg/L de amônia causou a inibição 50% da

produção de metano em condições mesofílicas e 690 mg/L de amônia em condições

termofílicas no mesmo tempo de retenção (Gallert; Winter, 1997). Para avaliar o efeito

da temperatura em digestão de esterco de gado, reatores contínuos de escala

laboratorial foram submetidos ao incremento de temperatura de 40ºC para 64ºC em

uma faixa de concentração de amônia de 2500 mg/L e 6000 mg/L, e os resultados

apresentaram um aumento na concentração de amônia de 350 para 700 mg/L quando

a temperatura estava a 64ºC e essa concentração provocou inibição total da produção

de metano (Angelidaki; Ahring, 1994). Gallert et al. (1998) e colaboradores estudaram

a digestão anaeróbia de resíduos orgânicos e obteve resultados em que a produção

de metano era inibida em 50% por 0,22gNH3/L em condições mesofílicas e de 0,69

gFAN/L em condições termofílicas. Esses estudos demonstram que a flora microbiana

termofilica é pelo menos duas vezes mais resistente a inibição por amônia do que a

flora mesófilica, entretanto o aumento da temperatura faz do processo mais instável e

dificulta o seu controle (Gallert et al., 1998).

3.7.2.3. Ácidos graxos voláteis

Os polimeros orgânicos complexos, carboidratos, lípidos e proteinas são

hidrolizados a açucar, ácidos graxos de cadeia longa, e aminoácidos respectivamente.

Por meio do processo fermentativo e β-oxidação os compostos hidrolizados são

reduzidos em ácidos graxos volateis de cadeia curta, maior quantidade, e outros

produtos como hidrogenio, dióxido de carbono e ácido acético em menor quantidade

(Li et al., 2011).

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Os ácidos graxos voláteis são importantes compostos intermediários para

a produção de metano, pois durante a etapa acetogênica, esses ácidos orgânicos são

convertidos em acetato, dióxido de carbono e hidrogênio. No entanto a produção

excessiva desses ácidos prejudica a atividade metanogênica, interferindo diretamente

na produção do biogás. O controle da alimentação dos reatores com carga orgânica

é um parâmetro importante a ser avaliado. Quando há sobrecarga dos reatores, as

bactérias hidrolíticas e acidogênicas produzem em um curto espaço de tempo altas

quantidades de ácidos graxos voláteis, inibindo a etapa de hidrolise, operação

limitante do processo, e por consequência a inibição das demais etapas e decréscimo

direto da produção de metano (Kwietniewska; Tys, 2014).

Wang et al. (2014), avaliaram a produção de ácidos graxos voláteis através

da digestão anaeróbia de resíduo alimentar e pode observar que durante a

fermentação em pH 4.0 as concentrações de AGV aumentaram com o tempo de

fermentação (1,5g/L no dia 2 para 4,0 g/L no dia 20), mas quando comparado a outras

condições de pH, esses valores eram baixos. Observaram que em meio muito ácido

(pH menor ou igual a 4) ocorre a inibição da atividade metabólica das bactérias

acidogênicas, consumidoras de AGV, acarretando em falhas por acúmulo de ácidos e

falta de subprodutos para as etapas seguintes.

Estudando duas unidades de tratamento anaeróbio na Áustria, Franke-

Whittle et al. (2014) propôs situações de desequilíbrio entre produtores e

consumidores de AVG quando é observado uma sobrecarga de carga orgânica,

quando os reatores foram alimentados a uma taxa de 5,2 KgSV/m3, nos processos,

acarretando uma queda no pH e um colapso na capacidade tamponante no sistema,

que afeta diretamente o metabolismo dos micro-organismos responsáveis pelas

primeiras etapas de degradação do matéria orgânica. Eles também ressaltam que não

é possível determinar uma “concentração de falha” pois isso está diretamente ligado

ao processo e ao substrato utilizado. Forster-Carneiro et al. (2008), estudando a

digestão anaeróbia de resíduo alimentar, avaliou várias taxas de substrato/inóculo

para o melhoramento na produção de biogás e também concluiu que um desequilíbrio

(taxas de produção diferentes das taxas de consumo) entre a relação

produção/consumo de AGV pode acarretar em falhas no sistema.

Lindmark et al. (2014), avaliaram a produção de biogás correlacionada ao

sistema de agitação e pode perceber que reatores agitados continuamente a 25 RPM

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tiveram um desempenho maior quando comparados a reatores com agitação intensa

(150 RPM) e reatores minimamente agitados (<25RPM). Isso foi avaliado observando

a produção de ácidos graxos voláteis e conversão em biogás. Nos processos

continuamente agitados a 25 RPM houve uma melhor produção do biogás e mais

rápida estabilização dos AGV produzidos evitando o acumulo destes e

consequentemente desequilíbrios do sistema. Os autores concluíram que agitações

vigorosas podem desestabilizar as comunidades microbianas e causar inibição das

etapas e que a falta de agitação também influencia no consumo dos ácidos orgânicos

causando falhas no processo.

3.7.3. Influência das condições operacionais

No processo de digestão anaeróbia (DA) os parâmetros de inibição

concentração de amônia e de ácidos graxos voláteis são os mais importantes no

controle do processo assim como as seguintes condições operacionais: temperatura,

pH, taxa de carga orgânica, sistema de agitação e tempo de retenção influenciam

diretamente no bom desempenho do sistema.

O parâmetro temperatura na digestão anaeróbia pode ser classificada em

três tipos: Psicrofílicas (10 a 20º), mesofílicas (20 a 45ºC) e termofílicas (50 a 65ºC).

A temperatura do processo influencia de forma direta no crescimento microbiano, taxa

de degradação do substrato e produção de biogás. Quando as condições são de

baixas temperatura as reações químicas e biológicas são mais lentas, interferindo

diretamente na taxa de metano produzida e no tempo de retenção do substrato no

reator.

O tempo de retenção hidráulico do sistema também está associado aos

parâmetros de controle tais como substrato, tipo de reator, carga orgânica, inóculo e

outros. Os tempos de retenção mais curtos tendem a um melhor rendimento na

produção de hidrogênio (H2), porque podem causar inibição das Arqueas

metanogênicas que são consumidoras diretas de H2. Alguns autores afirmam que,

melhores rendimentos de metano (CH4) são necessários então tempos mais longos

de retenção para que as Arqueas metanogênicas possam entrar em atividade,

consumir o H2, acetato e CO2 das etapas anteriores. Em contrapartida, quando se

trabalha em temperaturas mais elevadas (sistemas termofílicos) os controles de

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processos devem ser mais rigorosos, pois à acidificação do reator e o maior acúmulo

de amônia são identificados em faixas de temperaturas mais altas, gerando falhas

diretamente ligadas a queda ou aumento brusco do pH, tendo em vista que a atividade

microbiana neste tipo de processo é sequencial e em diferentes faixas de pH, as

mudanças bruscas inibem as bactérias fermentativas e a produção do biogás é

cessada. Ou seja, o processo está todo interligado e o sucesso de cada etapa

determina o sucesso da etapa seguinte (Khalid et al., 2011; Wang et al., 2013; Kothari

et al., 2014; Zhang et al., 2014). Uma forma eficiente de se trabalhar em processos de

digestão anaeróbia seria dividir o processo em duas fases distintas, a primeira,

hidrólise/acidogênese, trabalhando em condições termofílicas e baixo pH, para

otimizar a produção de ácidos orgânicos e H2, e a segunda,

acetogênese/metanogênese em condições mesofílicas e pH entre 6,5 e 8,0

otimizando a produção de metano (Mao et al., 2015).

3.8. Codigestão anaeróbia

A codigestão anaeróbia consiste na digestão anaeróbia de uma mistura de

dois ou mais substratos com características complementares. As vantagens desse

sistema são maiores rendimentos na produção de biogás por promoveram maior

capacidade tamponante, maior eficiencia na remoção da matéria orgânica, diluição de

compostos tóxicos e diminuição do desequilibrio de nutrientes, relação de carbono e

nitrogênio (C/N) (Nayono et al., 2010; Astals et al., 2012).

A relação C/N é um parâmetro importante que influencia o processo de

digestão e codigestão de diferentes materiais orgânicos, dependo do valor pode

aumentar a estabilidade do processo (Zhang et al., 2013). Em seu estudo Park e Li

(2012) avaliaram a codigestão de resíduos de biomassa de algas e resíduos de

lipideos. A codigestão foi realizada em sistema semi-continuo, em reator de vidro de

1L, com temperatura de 37ºC. O inóculo utilizado foi efluente de reatores de

tratamento de águas resíduarias e as taxas de alimentação variaram de 2gSV/L a

6gSV/L. Os autores observaram que o sistema de codigestão com uma taxa de

alimentação de 3gSV/L obteve uma produção de 0,54LCH4/gSVd, resultado superior

ao obtido na digestão de apenas resíduo de biomassa de algas. Esse aumento na

produção de biogás provalmente está relacionado aos valores de alcalinidade mais

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adequados evitando a acidificação do meio. Agyeman e Tao (2014), avaliaram a

codigestão anaeróbia em digestores anaeróbios de vidro de 2L, sistema semi-

contínuo a 36ºC. Uma mistura de lama de reatores de tratamento de águas residuárias

municipais (50%) com esterco bovino (50%) foi utilizada como inóculo. Foi observado

pelos autores um efeito sinérgico de codigestão com altos rendimentos de metano

(≤0.46 LCH4/g VS e) em comparação com a digestão de resíduos de alimentos.

Ademais, estes autores verificaram que o esterco animal possuia maiores

concentrações de macro e micro-nutrientes, proporções equilibradas de C/N, que o

resíduo alimentar e devido a esta combinação houve melhora significativa na

eficiência do processo devido a estabilização do pH na faixa ótima para as Arqueas

metanogênicas. Abouelenien et al. (2014) realizaram esperimentos de codigestão com

esterco de galinha e residuos agro-indústriais (resíduos de coco, mandioca e borra de

café) em sistema de codigestão regime semi-continuo e condições mesofílicas e

termofílicas, e relataram um aumento de 93% na produção de metano na codigestão

em relação ao controle (digestão apenas do esterco de galinha) e acúmulo de amônia

do substrato codigerido 39% menor quando comparado ao controle.

3.9. Reatores anaeróbios

Entre as várias opções tecnológicas de reatores anaeróbios, cabe destacar:

Reatores de tanque agitado contínuo (CSTR): tecnologia derivada da

tecnologia de lagoa anaeróbia, apresenta reduzido volume de reator, onde a

concentração da biomassa é aumentada somente pela separação e

recirculação dos sólidos efluentes. A biomassa normalmente não tem suporte

físico, o agitador possibilita o contato entre os micro-organismos e o efluente

evitando a sedimentação de sólidos no interior (Berni; Bajay, 2000). Uma

desvantagem desse sistema é a perda de partículas não degradadas, devido à

ao curto-circuito e também a dificuldade em reter a biomassa microbiana no

sistema (Boe; Angelidaki, 2006; Kaparaju et al., 2008). Esse sistema foi

utilizado para o desenvolvimento do presente trabalho;

Filtro anaeróbio (FA): o filtro anaeróbio é um reator no qual a matéria orgânica

é estabilizada através da ação de micro-organismos que ficam retidos no

material suporte que constitui o leito através do qual os despejos líquidos

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escoam. As maiores taxas de remoção ocorrem nos níveis mais baixos do leito

(quando o fluxo é ascendente) sendo que nessa região existem grandes

concentrações de substratos e de sólidos biológicos. Os filtros anaeróbios em

boas condições de funcionamento podem apresentar elevada remoção de

carga orgânica (Campos; Dias, 1989);

Reatores anaeróbico de leito fluidizado (FB) e o de leito expandido

(EGSB): reatores que não apresentam suporte para a biomassa, tendo o fluxo

ascendente de efluente a função de manter a biomassa em suspensão,

assegurando um bom contato entre os micro-organismos e o material orgânico

(Berni; Bajay, 2000);

Reator de manta de fluxo ascendente (UASB): no reator UASB o afluente é

introduzido pela parte inferior e percorre o reator em fluxo ascendente até a

parte superior do reator, através de três fases: a) leito de lodo com grande

concentração de biomassa ativa; b) manta de lodo com biomassa menos

densa; c) separador de três fases, onde ocorre a separação dos sólidos em

suspensão (lodo), do líquido e do biogás formado no tratamento. Dentre as

vantagens proporcionadas por este sistema tem-se necessidade de uma

pequena área, o baixo custo de implantação e de operação, baixa produção de

lodo, baixo consumo de energia e considerável eficiência na remoção de DQO

(Chernicharo e Campos, 1992).

Lagoas anaeróbias: sistema amplamente utilizado na prática de tratamento de

águas residuárias domésticas em todo o Brasil, tendo-se observado resultados

satisfatórios em termos da qualidade do efluente, sempre quando o projeto é

tecnicamente adequado e exige um mínimo de operação e manutenção, como

desvantagem destaca-se a baixa eficiência o que acarreta sua inviabilidade de

uso no âmbito industrial e cidades com alta vazão (Sperling, 1986).

3.10. Aproveitamento energético dos gases metano e hidrogênio

O biogás, contendo princiapalmete metano e dióxido de carbono, o qual é

gerado a partir da degradação anaerobia de biomassa (resíduos orgânicos urbanos,

agro-indústriais, entre outros) é considerado uma fonte renovável de metano que tem

alto potencial para atingir a produção sustentável de combustivel para transportes

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(Yang et al., 2014). Hamawand (2015), relata que o metano é 21 vezes mais eficaz do

que o gás dióxido de carbono (CO2) na retenção de calor na atmosfera, ou seja, um

gás de efeito estufa muito superior. Entretanto, a tecnologia de digestão anaeróbia

permite a recuperação do gás metano e seu uso como energia ao contrário de outros

métodos que não são capazes de reduzir as emissões globais de metano.

De acordo com Liu e colaboradores (2012) uma tonelada (massa seca) de

resíduo sólido urbano, dependendo da configuração de processo de digestão

anaeróbia, pode produzir 635,0 m³ de biogás rico em metano que equivale a 2,30x1010

J de energia ou 751,0 L de gasolina. Outros autores tem estudado a produção de

biogás através da tecnologia de digestão anaeróbia como uma opção futura de

substituição dos biocombustíveis originários do petróleo e minimização da emissão

dos gases de efeito estufa (Mata-Alvarez, 2003; Abouelenien et al., 2009; Nayono et

al., 2010; Astals et al., 2012; Hamawand, 2015; Li et al., 2016).

O aproveitamento energético a partir do metano pode reforçar o

crescimento econômico de uma comunidade, promover a segurança energética e

melhorar o ambiente (Hamawand, 2015).

3.10.1. Hidrogênio

O hidrogênio é o elemento químico mais abundante do universo e um

átomo simples constituído de um próton mais um elétron. Apesar de ser simples e

abundante ele não é encontrado naturalmente como gás , somente combinado com

outros elementos, como o oxigênio para formação da água (H2O) (Momirlan;

Veziroglu, 2005).

Por ser uma fonte limpa de energia, pode ser facilmente aplicado em

células combustíveis, ou utilizado como combustível substituto dos atuais derivados

de petróleo, e adicionalmente seu uso pode minimizar as emissões de gases tóxicos

como o CO2 tendo em vista que a combustão de H2 é 2,75 vezes maior que a de

combustíveis de hidrocarbonetos (122KJ/g), gerando apenas vapor de água como

produto final (Kapdan; Kargi, 2006; Chaubey et al., 2013).

A utilização de vários recursos renováveis, entre eles as biomassas agro-

indústriais, por vias biológicas tem sido um atrativo para as tecnologias de produção

de hidrogênio (Cheong; Hansen, 2006). A produção de biohidrogênio utilizando

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biomassa em rotas fermentativas é promissora segundo autores da literatura (Zaman,

2013; Hosseini; Wahid, 2016). A otimização da produção de hidrogênio via digestão

anaeróbia de resíduos de laticínios em sistemas semi-contínuos em reatores de 60,0

L foi estudada por (Zhong et al. (2015)) e os autores concluíram que as condições

ótimas de operação para produção de hidrogênio foram: tempo de retenção hidráulico

de 3 dias, taxa de carga orgânica de 32,9g-COD/L.d, faixa de pH 4,8-5,5 e temperatura

de 60 ºC com maior produção de H2 próxima a 160,7 mL/g-CODremovida e eficiência de

remoção de COD de 44,6%.

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4. MATERIAL E METÓDOS

4.1. Fluxograma de trabalho

Os experimentos de codigestão anaeróbia de resíduo de café e vinhaça

foram realizados no laboratório de Bioengenharia e Tratamento de Águas e Resíduos

(BIOTAR) da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade de Campinas

(FEA – UNICAMP).

A Figura 9 representa o fluxograma de trabalho realizado dos experimentos

de codigestão de resíduos da indústria de beneficiamento de café e vinhaça.

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Figura 9. Fluxograma de trabalho codigestão anaeróbia de resíduos da indústria de beneficiamento de café e vinhaça.

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4.2. Seleção dos substratos e inóculo

Os resíduos sólidos, procedentes da indústria de beneficiamento de café

selecionados, foram: pó de café verde, borra semidesengordurada de café verde e

pergaminho (Figura 10). Todos os resíduos foram doados pela Cooperativa Regional

de Cafeicultores em Guaxupé Ltda. (COOXUPÉ), localizada na cidade de Guaxupé,

Minas Gerais.

Figura 10. Ilustração dos resíduos orgânicos em estudo: a) pó de café verde; b) borra semidesengordurada; e c) pergaminho.

A vinhaça, utilizada como substrato na codigestão anaeróbia e o inóculo

(lodo anaeróbio mesofílico de tratamento de vinhaça) foi doada pela Usina Ester,

localizada na cidade de Cosmópolis, São Paulo.

4.3. Caracterização físico-química dos substratos, vinhaça e inóculo

Para a caracterização físico-química dos resíduos sólidos (pó de café

verde, borra semidesengordurada, pergaminho) vinhaça e inóculo foram realizadas as

seguintes análises físico-químicas: sólidos totais (ST), sólidos voláteis totais (SVT) e

sólidos fixos totais (SFT), extrativos, lignina solúvel e insolúvel de acordo com métodos

normalizados National Renowable Energy Laboratory (NREL), demanda química de

oxigênio (DQO), carbono orgânico total (COT), densidade aparente e pH, de acordo

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com métodos normalizados por American Public Health Association (APHA) e

nitrogênio total Kjheldahl e proteína de acordo com métodos normalizados por Journal

of AOAC International.

Todas as análises foram realizadas em triplicata e os resultados obtidos

como a média dos resultados.

4.3.1. Determinação da umidade e sólidos totais

A porcentagem de umidade e sólidos totais foram determinados de acordo

método NREL/TP-510-42621 (Sluiter, A, Hames, B, et al., 2008).

Aproximadamente 1,0 grama de amostra foi pesada em balança analítica

(METTLER TOLEDO AB204 ±0,1), em cadinho de porcelana (massa do cadinho foi

previamente anotada) previamente seco em estufa (FANEM, Modelo 315 SE) a

temperatura de 105ºC. As amostras foram mantidas em estufa a 105ºC por 12 horas.

Após as 12 horas, as amostras permaneceram em dessecador até temperatura

ambiente e posteriormente pesadas.

A porcentagem de umidade e sólidos totais foram calculados de acordo

com as equações 5 e 6 respectivamente:

𝑈105℃ = 𝑊𝑐𝑎−𝑊𝑐

𝑊𝑐𝑎𝑠−𝑊𝑐 ∗ 100 (5)

𝑆𝑇105℃ = 100 − 𝑈105℃ (6)

Onde, U105º (%) é a porcentagem de umidade amostra seca a 105ºC, ST105ºC

(%) é a porcentagem de sólidos totais da amostra a 105ºC, Wc (g) massa do cadinho

de porcelana, Wca(g) massa do cadinho de porcelana mais massa da amostra úmida

e Wcas(g) massa do cadinho de porcelana mais massa da amostra de substrato após

estufa a 105ºC.

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4.3.2. Determinação de sólidos voláteis totais e sólidos fixos totais

A porcentagem de sólidos voláteis totais e sólidos fixos totais foram

determinados de acordo com método NREL/ TP-510-42622 (Sluiter et al., 2005).

Na balança analítica (METTLER TOLEDO AB204 ±0,1) aproximadamente

1,0 grama de amostra previamente seca em estufa 105ºC em cadinho de porcelana

(massa do cadinho foi anotada após secagem de 3 horas em mufla a 600ºC) foi

pesada. As amostras foram incineradas em mufla a 600ºC por 3 horas. Após esse

período as amostras foram colocadas em dessecador até atingirem temperatura

ambiente e posteriormente foram pesadas. A porcentagem de sólidos voláteis totais e

sólidos fixos totais foram calculados a partir das formulas 7 e 8 respectivamente:

𝑆𝑉𝑇 = 𝑊𝑐𝑎𝑠−𝑊𝑚

𝑊𝑐𝑎𝑠−𝑊𝑐∗ 100 (7)

𝑆𝐹𝑇 = 𝑆𝑇 − 𝑆𝑉𝑇 (8)

Onde, SVT (%) é a porcentagem de sólidos voláteis totais da amostra,

Wcas(g) massa do cadinho de porcelana mais massa da amostra após estufa a 105ºC,

Wm é a massa do cadinho de porcelana mais amostra após incineração em mufla e

SFT (%) é a porcentagem de sólidos fixos totais da amostra.

4.3.3. Análise de nitrogênio total Kjheldahl e proteína

O teor de nitrogênio total Kjheldahl e proteína das amostras foram avaliados

de acordo com Official Method 2011.11. Protein - AOAC (Crude) in Animal Feed ,

Forage (Plant Tissue), Grain and Oilseed (Thiex et al., 2002).

Inicialmente pesou-se 0,2g de amostra (previamente seca para resíduo

sólido e líquida para as demais amostras) em tubo Kjheldahl, foram adicionados 5mL

de ácido sulfúrico concentrado (95 – 98%) e 0,5 de uma mistura catalítica (7,0g K2SO4

+ 0,8g CuSO4). Os tubos foram aquecidos a 400 ºC em um digestor por

aproximadamente 7 horas. Os tubos permaneceram resfriando até temperatura

ambiente. Após resfriados, foram adicionados 10mL de água destilada para diluição.

O tubo foi acoplado ao destilador e 25 mL de NaOH 40% m/v foram

adicionados.

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50

Um frasco Erlemeyer com 10 mL de uma solução de ácido bórico 2% m/v

com 5 gostas de indicador de proteína (vermelho de metil mais verde de bromocresol)

foi acoplado ao destilador Kjheldahl para recolher o destilado. O processo de

destilação foi encerrado quando um volume de 100 mL foi recolhido no Erlenmeyer. A

solução obtida foi titulada com ácido clorídrico padronizado (0,02 N). A porcentagem

de nitrogênio total Kjheldahl e proteína foram calculados a partir das fórmulas 9 e 10:

𝑁2 = 𝑉𝐻𝐶𝑙 ∗ 𝑁𝐻𝐶𝑙 ∗ 14,01

𝑊𝑎𝑠∗10∗ 100 (9)

𝑃 = 𝑁2 ∗ 𝐹 (12)

Onde, VHCl (mL) é o volume de HCl gasto para titular solução após

destilação, NHCl (N) normalidade do HCl utilizado para titular solução após destilação

(0,02N), 14,01 é massa atômica do nitrogênio; Was é massa de amostra, 10 é fator

de conversão, F é fator de conversão de nitrogênio para proteína (6,25), N2 (%) é a

porcentagem de nitrogênio livre no substrato e P (%) é a porcentagem de proteína no

substrato. A Figura 11 mostra o sistema para determinação de nitrogênio total

Kjheldahl.

Figura 11. Ilustração do sistema de determinação de nitrogênio total Kjheldahl.

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4.3.4. Extrativos

A porcentagem de extrativos foi determinada utilizando o método NREL/TP-

510-42619 (Sluiter, A, Ruiz, R, et al., 2008). Somente os resíduos sólidos foram

avaliados. O método consiste na solubilidade de materiais inorgânicos e açucares

livres em água e de lipídeos, ceras e outros em etanol. Uma primeira extração foi feita

utilizando 2,5g de amostra de substrato previamente seco a 105ºC com 190 mL água

destilada em balão em um extrator Soxhlet. O sistema foi aquecido até ebulição,

mantendo de 4 a 5 refluxos por hora por 8 horas. Após a extração a solução aquosa

foi diluída a 250 mL e uma alíquota de 5,0 mL foi transferida para uma placa de petri

e esta foi liofilizada. Os extrativos solúveis em água foram expressos em base seca e

calculados de acordo com a equação 11:

𝐸𝐻2𝑂 = (𝑊𝑝𝑒−𝑊𝑝)∗

250

𝑣

𝑊𝑎𝑠∗ 100 (11)

Onde EH20 (%) é a porcentagem de extrativos solúveis em água, Wpe (g) é

o peso da placa de petri com a massa de extrativo após liofilização, Wp (g) é o peso

da placa de petri, V é o volume da alíquota que foi liofilizada e Was é a massa de

substrato seco em estufa a 105ºC.

A massa de substrato utilizada para extrativos em água, foi reutilizada para

extração com etanol e colocado no balão (anotar o peso do balão seco) 190 mL de

etanol, extrator Soxhlet. O sistema foi aquecido até ebulição, mantendo de 4 a 5

refluxos por hora por 8 horas. O resíduo final foi lavado com 100mL de etanol e a

solução etanoica total foi evaporada em rota-evaporador (Marca Fisaton, modelo

802D). O resíduo do balão foi seco em estufa a 105ºC por 12 horas e depois pesado

em balança analítica. A amostra utilizada para análise de extrativo foi seca em estufa

a 105ºC e armazenada em dessecador para posterior utilização. A Figura 12 mostra

o sistema Soxhlet, amostra de extrativos e liofilizadas. Os extrativos solúveis em

etanol foram expressos em base seca e calculados de acordo com a equação 12:

𝐸𝑒𝑡𝑎𝑛𝑜𝑙 = (𝑊𝑏𝑒−𝑊𝑏)

𝑊𝑎𝑠∗ 100 (12)

Onde Eetanol (%) é a porcentagem de extrativos solúveis em etanos, Wbe

(g) peso do balão com a massa de extrativos após serem secos em estufa a 105ºC,

Wb (g) peso do balão, Was (g) massa de substrato previamente seca a 105ºC.

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a b c

Figura 12. Ilustração do sistema de determinação de extrativos: a) Sistema Sohxlet; b) amostra de extrativo; e c) amostras liofilizadas.

4.3.5. Lignina

O conteúdo de lignina insolúvel e solúvel dos resíduos sólidos foram

determinados a partir do método NREL/ TP-42618 (Sluiter, Amie et al., 2008).

No frasco apropriado para autoclave pesou-se 0,3 g de substrato

previamente seco em estufa a 105ºC, 3mL de ácido sulfúrico concentrado (72% m/m).

O tubo foi colocado em banho maria a 30ºC por 45 minutos (agitado de tempos em

tempos), após os 45 mim no banho a 30ºC, o tubo foi colocado no ultrassom (para

garantir mistura completa) também a 30ºC por 15 minutos. Posteriormente, a amostra

foi resfriada a temperatura ambiente e 84mL de água destilada foi adicionado e o tubo

foi colocado em autoclave a 120ºC por 60 minutos. Após 60 minutos, na autoclave o

frasco permaneceu resfriando até temperatura ambiente. Utilizando bomba a vácuo,

a mistura autoclavada foi filtrada. O volume filtrado foi medido em proveta volumétrica

e anotado e avaliado em espectrofotômetro (HACH, DR4000U) no comprimento de

onda de 240nm (os resultados de absorbância devem obedecer a faixa de 0,700 a

1,00 e serem avaliados até 6 horas após procedimento em autoclave). O resíduo

sólido permaneceu em estufa a 105ºC por 4 horas e depois mantido em dessecador

até temperatura ambiente e posteriormente pesado. Após pesagem o resíduo sólido

foi incinerado em mufla a 575ºC (rampa de aquecimento: 12mim a 105ºC, 30 mim a

250ºC, 24 horas a 575ºC). O teor de lignina solúvel e insolúvel do substrato foi

calculado de acordo com as formulas 13 e 14 respectivamente:

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𝐿𝑆 = (𝐴240𝑛𝑚 ∗ 𝑉𝑓𝑖𝑙𝑡𝑟𝑎𝑑𝑜∗ 𝐹

𝑊𝑎𝑠∗ 𝑒) ∗ (100 − 𝐸) (13)

Onde, LS (%) é a porcentagem de lignina solúvel do substrato, A240nm é a

absorbância do filtrado lida em espectrofotômetro, Vfiltrado é o volume do filtrado, F é o

fator de diluição usado para a análise espectrofotométrica, Was é a massa seca de

substrato, E é a porcentagem de extrativos do substrato, e e fator de correção (25).

𝐿𝐼 = ((𝑊𝑐𝑎−𝑊𝑐)−(𝑊𝑚−𝑊𝑐)

𝑊𝑎𝑠∗ (100 − 𝐸) (14)

Onde Wca (g) é a massa do cadinho de porcelana mais a massa de resíduo

que foi filtrado, Wc (g) massa do cadinho de porcelana, Wm é a massa do cadinho de

porcelana mais a massa de resíduo após incineração em mufla, Was é a massa do

substrato seca a 105ºC e E é a porcentagem de extrativos do substrato.

4.3.6. Hollocelulose

O método de hollocelulose consiste na desliginificação do material

lignocelulósico. A análise transcorreu de acordo com metodologia descrita por

Teramoto et al. (2008) e Goh et al. (2012). Somente amostras lignocelulosas

(substrato sólido) foram avaliados.

A mistura de 2,5g de amostra livre de extrativos, 150mL de água destilada,

0,2mL de ácido acético concentrado e 2,0g NaClO2 foi aquecida em banho maria por

1 hora com agitação manual. Após 1 hora, 0,2mL de ácido acético concentrado e 1,0g

NaClO2 foi adicionado e esse procedimento se repetiu de hora em hora nas próximas

3 horas. Após as 4 horas em banho maria, o resíduo foi filtrado, utilizando bomba a

vácuo. O resido foi lavado com acetona e água destila. O resíduo sólido após filtração

e lavagem permaneceu em estufa a 105ºC por 24 horas. Após 24 horas o resíduo

sólido foi pesado e a equação 15 demonstra os cálculos para a porcentagem de

holloceluse da amostra. Os resultados foram apresentados em base seca e livre de

extrativos. A Figura 13 representa o resíduo após pré-tratamento de deslignificação

(Hollocelulose).

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54

𝐻 = (𝑊ℎ

𝑊𝑎𝑒∗ 100) ∗ (100 − 𝐸) (15)

Onde, H(%) porcentagem de Hollocelulose, Wh(g) massa de resíduo após

pré-tratamento, Wae(g) massa de amostra livre de extrativos e E (%) de extrativos da

amostra.

Figura 13. Ilustração do resíduo após pré-tratamento de deslignificação (Hollocelulose)

4.3.7. Densidade aparente

Para a análise de densidade aparente foi utilizado uma proveta graduada

de 10mL, o volume da proveta foi completado com o substrato e sua massa foi pesada

em balança analítica (METTLER TOLEDO AB204 ±0,1). A fórmula 16 foi utilizada para

os cálculos:

𝑑 =𝑚

𝑉 (16)

Onde, d (g/mL) é a densidade aparente do substrato, m (g) é a massa de

substrato e v (mL) é o volume utilizado pela massa (no caso 10,0 mL).

4.3.8. Análise de pH

O pH representa a concentração de íons de hidrogênio presentes em uma

solução.

Para a avaliação em pH em pHmetro digital de bancada (DIGIMED, DM20),

dos substratos sólidos foi feita uma solução de 1:5 e para os líquidos foram avaliados

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55

diretamente, de acordo com método 4500 –H+ B de Standard Methods for

examination of Water and Wastewater, (Apha, 1998).

4.3.9. Análise de demanda química de oxigênio (DQO)

A quantidade de oxigênio necessária para oxidar a matéria orgânica e

inorgânica oxidável de uma determinada amostra líquida é conseguida através da

avaliação da demanda química de oxigênio. Para a análise de DQO seguiu-se o

método 4520D da metodologia proposta por Standart Methods for Examination of

Water and Wastewater (Apha, 1998).

O método consiste na avaliação colorimétrica da amostra após digestão de

2 horas em digestor para DQO (Hach) a 150ºC. As amostras foram diluídas na

proporção de 1:100 e posteriormente filtradas. O filtrado foi adicionado ao tubo

digestor juntamente com uma solução oxidante (dicromato de potássio, ácido sulfúrico

e água destilada) e solução catalítica (ácido sulfúrico e sulfato de prata), nas

proporções de 2,5ml de amostra, 1,5mL de solução oxidante e 3,5mL de solução

catalítica. Os tubos foram colocados em digestor por duas horas a 150ºC.

Posteriormente foram resfriados ao abrigo da luz e em seguida procedeu-se a leitura

em espectrofotômetro (Hach, DR4000U) em um comprimento de onda de 600nm. A

concentração de material orgânico pode ser observada pela coloração da amostra

digerida. Quanto maior a concentração de carga orgânica mais verde se apresenta a

coloração do digerido, e quanto menor a carga orgânica mais amarela apresenta-se o

digerido. Nos casos, de extrapolação da curva, o filtrado a ser digerido foi diluído, até

que o valor de absorbância se encaixasse na curva padrão. O fator de diluição do

filtrado foi considerado nos cálculos.

Para avaliação dos resultados, foi feita uma calibração através de uma

curva padrão utilizando bifitalato de potássio. A equação 17 foi utilizada para os

cálculos. A curva padrão e analítica para a determinação da demanda química de

oxigênio se encontra no apêndice A.

𝑌 = 0,0004𝑥 + 0,0014 (17)

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4.3.10. Determinação do carbono orgânico total

A análise de carbono total foi realizada num analisador de carbono

Shimadzu TOC-5000A acoplado num módulo para amostras sólidas SSM-5000ª

(Figura 9). Para análise de carbono total, a amostra previamente seca em estufa (±

60°C) é submetida ao processo de combustão num forno à 900°C. O dióxido de

carbono (CO2) gerado na reação é quantificado por meio de infravermelho não-

dispersivo presente no equipamento. O CO2 quantificado é correlacionado com

carbono presente no material por meio de curva analítica preparada usando padrões

de glicose anidra. Os cálculos foram feitos a partir da equação 18 e a figura 14

demonstra o analisador de carbono:

𝐶𝑂𝑇 =𝑆𝑇∗𝐶∗𝑀

𝑉 (18)

Onde COT (g/L) é a concentração de carbono orgânico total, ST é a fração

de sólidos totais da amostras, C é a fração de carbono da amostra, M(g) é a massa e

V(L) o volume da amostra.

Figura 14. Ilustração do analisador de carbono Schimadzu TOC-5000ª.

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4.4. Potencial teórico de produção de metano

O potencial teórico de metano será estimado a partir da composição

química de cada substrato utilizado (pó de café verde, borra semidesengordurada e

pergaminho) através das equações 19 e 20,estequiométrica de Buswell (Metcalf,

2003):

𝐶𝑛𝐻𝑎𝑂𝑏𝑁𝑑 + (𝑛 −𝑎

4−

𝑏

2+

3𝑑

4) ∗ 𝐻2𝑂 → (

𝑛

2+

𝑎

8−

𝑏

4−

3𝑑

8) . 𝐶𝐻4 + (

𝑛

2−

𝑎

8+

𝑏

4+

3𝑑

8) . 𝐶𝑂2 + 𝑑(𝑁𝐻3)

Onde, CnHaObNd representa a fórmula química do composto biodegradável

avaliada através de análise elementar.

𝑃𝑇𝑀 =22,4∗1000∗(

𝑛

2+

𝑎

8−

𝑏

4−

3𝑑

8)

12𝑛+𝑎+16𝑏+14𝑑 (20)

Onde, PTM (𝑚𝐿 𝐶𝐻4

𝑔𝑆𝑉𝑇) corresponde ao volume acumulado de metano

produzido a partir da massa de sólidos voláteis totais adicionas.

4.5. Codigestão anaeróbia de resíduo de café e vinhaça

4.5.1. Unidade experimental

O sistema de digestão anaeróbia, ou unidade experimental era composta

por um reator de aço inox de diâmetro interno de 16 cm e externo de 22cm,

encamisado com volume total de 4,3L, que foi utilizado para a codigestão. A tampa do

reator continha os orifícios para sistema de agitação, coleta de biogás, alimentação e

retirada de amostra para controle. Um segundo reator de vidro de diâmetro interno de

15 cm e diâmetro externo de 18,4 cm, encamisado de 3,7L, foi utilizado para

acondicionamento do inóculo. O sistema de agitação contava com dois 2 agitadores

mecânicos (Fisaton, Modelo 715 e Marconi, Modelo AM259). Um banho

ultratermostático (Novatecnica) era utilizado para manter o sistema a 55ºC. Proveta

graduada de 1L, béquer de 5L e mangueiras de silicone utilizados para mensurar o

volume de biogás produzido e outros componentes. A Figura 15a é uma ilustração da

unidade experimental utilizada para a codigestão e a Figura 15b é a representação

esquemática do processo de codigestão.

(19)

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Figura 15. a) Ilustração da unidade experimental de codigestão anaeróbia; b) Ilustração esquemática da unidade experimental de codigestão anaeróbia; R1: reator de codigestão, R2: reator de inóculo, V1 e V2: válvulas, P1: sistema de proveta para quantificação do biogás.

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59

4.5.2. Ensaio experimental de codigestão anaeróbia

A codigestão anaeróbia foi realizada em sistema semi-contínuo alimentado

por 45 dias, em condições termofílicas (55ºC), inoculado com lodo proveniente de

tratamento anaeróbio mesofílico de vinhaça e mantido sob agitação.

O reator de codigestão foi montado seguindo as seguintes proporções dos

resíduos envolvidos (Figura 16):

- 30% do volume útil foi destinado ao armazenamento do gás;

- 70% destinado a mistura dos resíduos inicial: 30% inoculo e 70%

substrato (30% sólido e 40% líquido).

Figura 16. Representação esquemática do reator de codigestão anaeróbia.

Os parâmetros de controle diários foram: pH e temperatura. O tempo de

controle do sistema (TC) era de 3 dias (volume de 50mL), sendo a composição de

35,0 mL inóculo + vinhaça e 15,0 mL resíduo sólido. Ambas, retirada de amostra e

alimentação eram realizadas através de mangueiras de silicone, conectadas nos

orifícios da tampa do reator, com auxílio de uma seringa. Os seguintes parâmetros de

controle foram analisados a cada 3 dias: umidade e sólidos totais (descrita em 4.3.1),

sólidos voláteis totais e sólidos fixos totais (descrita em 4.3.2), nitrogênio total Kjhedahl

(descrita em 4.3.2), pH (descrita em 4.3.7), demanda química de oxigênio (descrita

em 4.3.9), carbono orgânico total (descrita em 4.3.10), alcalinidade, nitrogênio

amoniacal, determinação de ácidos graxos voláteis e composição do biogás. Todas

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as análises foram realizadas em triplicata e os resultados obtidos como a média dos

resultados. Um reator de vidro de 3,9L de volume total foi utilizado para armazenar o

inóculo. O inóculo foi alimentado com vinhaça para manter suas características, a

alimentação era feita 1 vez por semana, para evitar a saturação do inóculo, com 50%

do volume retirado para a alimentação e do reator de codigestão e controle. A Figura

17 esquematiza o sistema de controle do processo.

Figura 17. Sistema de controle de processo de codigestão anaeróbia.

4.5.3. Alcalinidade

A alcalinidade foi determinada de acordo com o método 2320B de Standard

Methods for examination of Water and Wastewater, (Apha, 1998).

O método consiste em uma técnica volumétrica de titulação

potenciométrica onde ácido sulfúrico 0,02N foi titulado sobre a amostra até que o pH

final atingisse 4,5 (4,5 – 4,59) que era medido com pHmetro de bancada (DIGIMED,

DM20). Para as amostras sólidas foi feito uma diluição 1:10 para realizar a titulação e

posterior medição do pH.

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61

A equação 17 expressa a alcalinidade das amostras:

𝐴𝑡 = 𝑁𝐻2𝑆𝑂4 𝑥 𝑉𝐻2𝑆𝑂4 𝑥 50.000

𝑉𝑎𝑚𝑜𝑠𝑡𝑟𝑎 (17)

Onde, At (mg CaCO3 /L) alcalinidade total da amostra, NH2SO4 é

anormalidade do ácido sulfúrico utilizada (0,02N), V H2SO4 é o volume de ácido sulfúrico

titulado para atingir pH final (4,5), Vamostra Volume de amostra utilizada para a análise.

4.5.4. Nitrogênio Amoniacal

O conteúdo de nitrogênio amoniacal foi avaliado seguindo método

45000NH3 –C descrito em Standart Methods for Examination of Water and

Wastewater, (Apha, 1998). O método consiste em destilar a amostra alcalina (pH 9,5)

por arraste de vapor, e para que o equilíbrio químico dos compostos de amonia (NH4

+ +H2O ↔ NH3 +H3O+) seja deslocado no sentido da amônia não ionizada (NH3).

As amostras foram alcalinizadas com solução tampão de borato de sódio e

destiladas em destilador Marconi, modelo MA036. O conteúdo destilado (100mL) foi

coletado em erlenmeyer que continha solução de ácido bórico que reverte o

deslocamento do equilíbrio químico dos compostos de amônia. A solução contida no

erlenmeyer foi então titulada com ácido sulfúrico (0,02N) até ponto de viragem. O

conteúdo de nitrogênio amoniacal foi calculado pela equação 18:

𝑁𝐻3 − 𝑁𝐿−1 = (𝐴−𝐵)∗280

𝑚𝐿𝑎𝑚𝑜𝑠𝑡𝑟𝑎 (18)

Onde, NH3-NL-1 (%) é a porcentagem de nitrogênio amoniacal da amostra,

A é o volume de H2SO4 gasto para titular a amostra, B volume de H2SO4 gasto para

titular o branco.

4.5.5. Ácidos graxos voláteis

A quantificação dos ácidos graxos voláteis foi realizada através de

cromatografia gasosa. O cromatógrafo utilizado foi um 17ª Shimadzu® de coluna

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62

capilar DBWAX (Argilent Tecnologies®) de 30cm de comprimento, 0,20mm de

diâmetro interno e 0,20µm de espessura de filme, acoplado a um espectrômetro de

massa QP5050A. As condições cromatográficas foram: Hélio (1mL/mim, 133KPa)

como gás de arraste, 250ºC para temperatura do injetor, programa de temperatura do

forno iniciando a 80ºC durante 3 minutos e rampa de 15ºC/mim até 180ºC mantida por

2 minutos, 250ºC de temperatura na interface, 2µL de amostra injetada e Split de

1:100. Os ácidos avaliados foram: ácido acético, butírico, propiônico, valérico e

hexanóico.

As amostras foram preparadas seguindo a seguinte metodologia: em tubo

falcon foram pesadas 2g de amostra, em seguida 1mL de ácido fosfórico 3M, a

amostra foi agitada por 1 minuto em agitador (Pheonix, AP56), em seguida 10mL de

hexano concentrado foram adicionados, a amostra foi agitada por 2 minutos,

novamente foi adicionado 1mL de ácido fosfórico 3M e agitação de 1 minuto e por fim

mais 10mL de hexano foi adicionado e agitação de 2 minutos. O sobrenadante foi

coletado com auxílio de seringa e filtrado com filtro de nylon com poro de 22µm.

O ácido fosfórico permitiu a vaporização dos AGV na entrada do injetor.

As curvas para a quantificação de cada ácido e suas respectivas equações

estão representadas no apêndice B.

4.5.6. Composição do biogás

Os componentes (H2, O2, CH4, CO2) do biogás produzido na codigestão

foram avaliados em cromatógrafo gasoso Shimadzu® modelo CG2014, com detector

de condutividade térmica e coluna microempacotada (ShinCarbon ST) 50/80 mesh de

6m de comprimento, 3mm de diâmetro interno. As condições cromatográficas

utilizadas foram: nitrogênio (35mL/mim, 5bar) fase móvel, 200ºC de temperatura no

injetor, 200ºC de temperatura no detector de condutividade térmica, 0,5mL de amostra

injetada, o programa de temperatura do forno iniciou-se a 50ºC por 3 minutos, rampa

de aquecimento de 5º/mim até 180ºC mantida por 5 minutos, tempo total de 34

minutos. A Figura 18 mostra uma imagem do cromatógrafo gasoso.

Para o cálculo da proporção volumétrica, equação 19, foi utilizado um fator

de correção que correlaciona a área do bico do padrão com o volume injetado:

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63

𝑋 =(𝐴𝑐𝑜𝑚𝑝𝑜𝑛𝑒𝑛𝑡𝑒 ∗𝐹)∗100

𝑣 (19)

Onde, X (%) é a proporção volumétrica do gás de interesse, Acomponente é a

área do componente de interesse, F é o fator de correção e v é o volume de amostra

injetada.

Figura 18. Cromatógrafo gasoso Shimadzu® modelo CG2014.

4.5.7. Volume de biogás

O volume de biogás foi quantificado através do método de deslocamento

de líquido. Uma proveta graduada (1L) cheia de água foi colocada invertida dentro de

um béquer, conforme o gás é produzido, o mesmo se desloca e consequentemente a

água também, assim considerou-se o volume de biogás produzido como sendo o

mesmo volume de água deslocado (Figura 19). O volume de biogás acumulado e o

rendimento do biogás acumulado foram calculados pelas equações 20 e 21

respectivamente:

𝑉𝑎𝑐𝑢𝑚𝑢𝑙𝑎𝑑𝑜 = ∑ 𝑉𝑛𝑛𝑖𝑛=1 (20)

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64

Onde, V (mL) é o volume acumulado de biogás, n é o número de dias

analisados.

𝑅𝑎𝑐𝑢𝑚𝑢𝑙𝑎𝑑𝑜 = 𝑉𝑏𝑖𝑜𝑔á𝑠

𝑔𝑆𝑉𝑇𝑎𝑑𝑖𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑑𝑜 (21)

Onde, Racumulado é o rendimento de biogás, Vbiogás é o volume de biogás

produzido e gSVTadicionado massa de sólidos voláteis totais adicionados.

Figura 19. Sistema utilizado para medir o volume de biogás em mililitros (mL).

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65

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1. Caracterização inicial das matérias primas

A Tabela 1 mostra os resultados da caracterização físico-química inicial dos

resíduos utilizados no trabalho. Todos os parâmetros foram avaliados em triplicata,

com exceção de pH e COT. Os resultados foram expressos com a média obtida das

repetições.

Em termos de sólidos totais, sólidos voláteis totais, lignina, carbono e

extrativos Liew et al. (2012), observaram valores semelhantes aos deste trabalho na

digestão anaeróbia de palha de milho, palha de trigo, resíduos de jardim e folhas, os

valores observados para sólidos totais foram de 97,0%, 97,8%, 98,0% e 95,9%

respectivamente, sólidos voláteis totais 92,6%,92,6%,94,6% e 89,2

%respectivamente, carbono 42,6%, 45,8%, 49% e 48,8% respectivamente, lignina

15,2%, 17,4% 26,0% e 23,1% respectivamente e extrativos 9,9%, 13,4%, 17,8% e

34,7% respectivamente.

Analisando a Tabela 1 também é possível perceber altos valores iniciais de

DQO do pó de café verde de 193,50 gDQO/L, da borra semidesengordurada de

426,00 gDOQ/L, valores próximos para a DQO do pergaminho de 62,37 gDQO/L e

vinhaça, 51,87 gDQO/L. O parâmetro de demanda química de oxigênio indica níveis

altos de matéria orgânica oxidável justificando os maiores valores para a borra

semidesengordurada dentre as matérias primas deste estudo. Sydney et al. (2014),

encontraram valores de pH de 4,52 e DQO de 29,6g/L para a vinhaça. A diferença

entre os valores obtidos pelos autores e os valores encontrados nesse trabalho pode

ser justificado por alguns fatores, por exemplo variações nas operações de processos

de fermentação e destilação, que influenciam na composição química da vinhaça

(Moraes, Zaiat, et al., 2015).

O inóculo utilizado nesse trabalho é proveniente do tratamento mesofílico

de vinhaça, com pH de 7,79, sólidos totais de 2,47 (%), umidade 97,52 (%), densidade

de 979,89 Kg/m³ e DQO de 20,50 gDQO/L. Estes valores são semelhantes a outros

encontrados na literatura, característico de um inóculo de boa qualidade e adequado

para o arranque de reatores.

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Tabela 1. Caracterização físico-química inicial dos substratos e inóculo utilizado na codigestão.

Substratos da Codigestão Anaeróbia

Parametros Análiticos

Pó de café verde Borra

semidesengordurada Pergaminho Vinhaça Inóculo

Ph 5,630 - 5,911 - 7,493 - 4,359 - 7,798 -

Umidade (%) 7,261 - 3,292 - 5,974 - 95,85 - 97,52

Sólidos Totais (%) 92,73 ±0,01 96,71 - 94,09 ±0,01 4,145 - 2,476 ±0,05

Sólidos Voláteis Totais (g/Kg)

823,5 0,05 929,7 ±0,07 849,0 ±0,03 29,64 16,97 ±0,07

Sólidos Fixos Totais (g/Kg)

81,45 ±0,02 35,37 ±0,01 90,06 ±0,04 7,187 ±0,08 6,751 ±0,02

Extrativos (%) 10,52 ±0,78 12,88 ±1,09 12,04 ±0,51 - - - -

Proteína (g/Kg) 9,863 ± 0,11 13,93 ±0,38 12,52 ±0,10 3,155 ±0,32 7,504 ±1,67

Lignina (%) 28,00 ±1,60 20,68 ±1,33 32,96 ±3,52 - - - -

Hollocelulose (%) 68,95 ±1,33 74,02 ±0,11 53.96 ±1,87 - - - -

Densidade aparente (Kg/m³)

387,5 ±0,01 938,1 ±0,02 323,1 ±0,01 982,5 ±0,01 979,8 ±0,01

DQO (g/L) 193,5 ±4,24 426,0 ±2,82 62,37 ±0,88 51,87 ±2,30 20,50 ±1,76

Nitrogênio amoniacal (mg/L)

- - - - - - 37,33 ±6,46 504,0 -

COT (g/L) 171,1 - 400,0 - 141,0 - - - - - Nitrogênio Total K (%)

1,863 ±0,01 2,632 ±0,07 2,367 ±0,02 0,40 ±0,05 - -

Carbono (%) 46,94 - 47,67 - 46,58 - - - - -

Nitrogênio 1,944 - 2,816 - 2,523 - - - - -

C/N 24,23 - 16,97 - 18,50 - - - - - Número de repetições (n) = 3, exceto para pH e COT n = 1 Resultados expressos com média das repetições.

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5.2. Determinação teórica do potencial bioquímico de produção de metano

A determinação do potencial bioquímico de metano estabelece conversão

da carga orgânica do substrato em metano. A partir dessa avaliação é possível avaliar

questões econômicas e de gerenciamento para a implementação em grandes escalas

(Mata-Alvarez et al., 2000).

A Tabela 2 relaciona o potencial bioquímico de metano teórico de cada

substrato utilizado nesse trabalho e também o rendimento máximo de produção de

metano de cada um deles.

Tabela 2. Potencial bioquímico de metano teórico (PBMT) e rendimento máximo teórico dos substratos; pó de café verde, borra semidesengordurada e pergaminho.

Substrato Fórmula Química PBMT

% Volumétrica Rendimento NmLCH4/gSV

Pó de café verde C46,9H0O51,1N1,9 85% - CH4

158,7 14% - CO2

Borra semidesengordurada

C47,6H0O49,5N2,8 22% - CH4

165,5 78% - CO2

Pergaminho C46,5H0O50,9N2,5 74% - CH4

152,4 26% - CO2

A partir da Tabela 2 é possível observar que os resíduos de pó de café

verde e pergaminho possuem as porcentagens volumétricas de metano teórica maior.

Estes resultados sugerem um maior potencial bioquímico destes dois substratos no

processo de digestão anaeróbia e, portanto, a obtenção de um biogás rico em metano.

De forma contrária, o resíduo de borra semidesengordurada apresentou

porcentagem volumétrica de metano teórica (PBMT) menor e percentual volumétrico

teórico de CO2 superior. O PBMT de CO2 observado foi de 78%, este resultado é maior

quando comparado com os outros resíduos e também superior ao de metano (22%),

indicativo de que esse substrato não seria um bom produtor de biogás rico em metano.

Quando comparado ao PBMT da celulose (C6H10O5), 415,0 NmlCH4/gSVT,

comumente utilizado como padrão para esse tipo de ensaio por ser açúcar de fácil

degradação é notório que os substratos utilizados são de difícil degradação. (Wang et

al., 1994)

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68

Owens e Chynoweth (1993), estimaram um rendimento de 200,0

NmLCH4/gSVT para resíduos sólidos municipais. Triolo et al. (2012), encontraram

valores de PBM para material lignocelulosico em uma faixa de 159,3 – 249,5

NmLCH4/gSVT. Adicionalmente, Shiralipour e Smith (1984) avaliaram o potencial

bioquímico de metano de 24 espécies lignocelulósicas e obtiveram uma faixa de

produção de 20NmlCH4/gSVT a 270NmLCH4/gSVT.

5.3. Desempenho dos reatores de codigestão anaeróbia termofílica de

resíduo de café e vinhaça.

5.3.1. Desempenho dos parâmetros de sólidos totais (ST), sólidos

voláteis totais (SVT) e sólidos fixos totais (SFT)

As Figuras 20, 21 e 22 representam o desempenho da remoção de sólidos

totais (ST), sólidos voláteis totais (SVT) e sólidos fixos totais (SFT) dos reatores de

codigestão anaeróbia de pó de café verde e vinhaça, borra semidesengordurada e

vinhaça, pergaminho e vinhaça, respectivamente.

Figura 20. Evolução da concentração de sólidos totais (ST), sólidos voláteis totais (SVT) e sólidos fixos totais (SFT) ao longo do tempo (dias) no reator de codigestão anaeróbia de pó de café verde e vinhaça.

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

0 4 6 9 12 15 18 21 24 27 30 33 36 39 46

Concentr

ação (

%)

Tempo (dias)

ST SVT SFT

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Figura 21. Evolução da concentração de sólidos totais (ST), sólidos voláteis totais (SVT) e sólidos fixos totais (SFT) ao longo do tempo (dias) no reator de codigestão anaeróbia de borra semidesengordurada e vinhaça

Figura 22. Evolução da concentração de sólidos totais (ST), sólidos voláteis totais (SVT) e sólidos fixos totais (SFT) ao longo do tempo (dias) no reator de codigestão anaeróbia de pergaminho e vinhaça.

0

5

10

15

20

25

0 3 6 9 12 15 18 21 24 27 30 33 36 39 42 45

Concentr

ação (

%)

Tempo (dias)

ST SVT SFT

0

2

4

6

8

10

12

0 3 6 9 12 15 18 21 24 27 30 33 36 39 42 45

Concentr

ação (

%)

Tempo (dias)

ST SVT SFT

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70

Observa-se que o reator de codigestão contendo pó de café verde e

vinhaça (Figura 20) apresentou redução de 14,1% de sólidos totais (ST) e 21,0 % de

sólidos voláteis totais (SVT) após 45 dias de experimento. Este mesmo reator mostra

no dia 12º um aumento na concentração de ST e STV de 14,8%, estes resultados

podem ocorrer quando o sistema de alimentação é realizado de forma semi-contínua

podendo ocasionar a sobrecarga de alimentação e fazendo com que os micro-

organismos deixem de atuar de forma efetiva e contínua, o que não ocorreu neste

presente trabalho.

O reator de codigestão contendo borra semidesengordurada e vinhaça

(Figura 21) apresentou redução de 12,5% de sólidos totais e 19,4% de sólidos voláteis

totais após os 45 dias de experimento. Os sólidos em geral se mantiveram

praticamente estável durante todo o período de avaliação.

O reator de codigestão com pergaminho e vinhaça (Figura 22) apresentou

redução de 29,8% de sólidos totais e 31,0 % de sólidos voláteis totais. Estas

eficiências de redução de carga orgânica foram consideradas as mais altas quando

comparamos os três resíduos estudados. Adicionalmente, observa-se no 15º dia

houve queda de 50% da carga orgânica indicando intensa atividade microbiana.

Alguns fatores podem contribuir para uma baixa redução da concentração

de sólidos, tais como, composição de estrutura da matéria prima e disponibilidade de

matéria mais facilmente biodegradável e pouco tempo de operação (45 dias). A

composição e estrutura do material lignocelulósico (celulose, hemicelulose e lignina)

são fatores importantes na limitação da digestão anaeróbia, já que a celulose, um

polímero formado por uma cadeia de glicose, é envolta por hemicelulose (polímero

composto por açucares de 5 e 6 carbonos) e lignina (polímero fenólico) e ambas

compõem o material estrutural da planta oferecendo rigidez, impermeabilidade e

resistência, dificultando o acesso dos micro-organismos. Além da estrutura rígida e

impermeável outros fatores como cristalinidade (cadeias de celulose agrupam-se

formando fibrilas altamente ordenadas e compactas impedindo a penetração de

água), e grau de polimerização (determina a quantidade de ligações β-glicosídicas e

a concentração de substratos disponíveis para a ação dos micro-organismos), da

celulose também afetam a biodegradabilidade deste tipo de material. (Ramos, 2003;

Zhang; Lynd, 2004; Fernandes et al., 2009).

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71

Finalmente, a disponibilidade de açúcar da vinhaça pode ter contribuído

para este aumento da matéria mais facilmente biodegradável, permanecendo mais

disponíveis em forma menos complexas, facilitando a metabolização destes em um

curto intervalo de tempo. Quanto a carga orgânica proveniente dos resíduos

lignocelulósicos, a biodegradação necessitaria de um intervalo de tempo maior para

serem degradados. Chanakya et al. (1997), avaliaram a remoção de sólidos voláteis

do bagaço de cana de açúcar e verificaram eficiência de aproximadamente 20% após

30 dias e 43% após 90 dias de digestão, sendo esses resultados semelhantes ao

presente trabalho. Um estudo avaliando o efeito no pH na degradação de sólidos

voláteis foi realizado por Cysneiros et al. (2012) e estes autores observaram que a

hidrólise de resíduos sólidos ocorre melhor em pH neutro, levando em conta que

alguns micro-organismos são normalmente inativos em pH abaixo de 6,0 (Russell;

Wilson, 1996). Neste trabalho, a etapa de hidrólise foi mantida em baixo pH e isso

pode também ter influenciado negativamente no processo de degradação dos sólidos.

5.3.2. Evolução do parâmetro de nitrogênio amoniacal

A Tabela 3 mostra as variações do parâmetro de nitrogênio amoniacal dos

reatores de codigestão de pó de café verde e vinhaça, borra semidesengordurada e

vinhaça, pergaminho e vinhaça.

Amônia é o produto final do processo de digestão anaeróbia de materiais

nitrogenados na forma de proteínas, uréia e ácidos nucleicos. O parâmetro de

nitrogênio amoniacal influência de forma direta na alcalinidade do sistema e é uma

fonte importante de nutrientes para a flora microbiana.

Observa se na Tabela 3 que durante todo o processo de codigestão o

parâmetro de nitrogênio amoniacal manteve-se relativamente abaixo de valores que

poderiam causar falhas no processo, início da inibição das atividades microbianas em

concentrações de amônia de 1000 mg/L, inibição de 50% a 1500 mg/L e inibição total

em 2500 mg/L (Kayhanian, 1999). A baixa concentração de nitrogênio amoniacal está

relacionada com a baixa porcentagem de proteína encontrada nos substratos. Seu

aumento gradativo e variável está relacionado com as faixas de pH trabalhadas e

temperatura, sabendo-se que o estado redutor do amônio e dependente destas duas

variáveis (Lei et al., 2007).

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Tabela 3. Evolução do parâmetro de nitrogênio amoniacal em reatores de codigestão anaeróbia.

Nitrogênio amoniacal

Dias Codigestão pó de café verde e vinhaça

Codigestão borra semidesengordurada e vinhaça

Codigestão pergaminho e vinhaça

0 205,33 ± 3,23 112,00 - 252,00 ±3,95

3 280,00 ±0,04 261,30 ±3,23 196,00 ±3,95

6 224,00 ±0,04 168,00 - 224,00 -

9 336,00 ± 9,69 168,00 - 112,00 -

12 261,33 ±3,23 149,30 ±6,46 168,00 -

15 354,67 ±3,23 168,00 ±5,6 168,00 -

18 392,00 - 242,70 ±3,23 280,00 -

21 466,67 ± 3,23 224,00 - 280,00 -

24 373,33 ±3,23 130,70 ±3,23 93,33 ±6,46

27 560,00 ±9,69 280,00 ±5,6 186,67 ±3,23

30 522,67 ±12,93 410,70 ±3,23 168,00 -

33 466,67 ±3,23 541,30 ±6,46 224,00 -

36 802,76 ±3,23 765,30 ±3,23 242,67 ±3,23

39 541,33 ±3,23 336,00 - 130,67 ±3,23

42 - - 802,70 ±3,23 149,67 ±3,23

45 1064,00 ±0,06 840,00 ±3,23 186,67 ±3,28 Número de repetições (n) = 1 Resulto expresso com a média das repetições

5.3.3. Desempenho do parâmetro de ácidos graxos voláteis

As Figuras 23, 24 e 25 mostram o comportamento da produção dos ácidos

orgânicos nos processos de codigestão anaeróbia ao longo dos 45 dias de

experimento.

Os ácidos graxos voláteis são importantes compostos intermediários para

a produção de metano, pois durante a etapa acetogênica, esses ácidos orgânicos são

convertidos em acetato, dióxido de carbono e hidrogênio que são os substratos

utilizados nas etapas subsequentes do processo para produção de gás metano

(Kwietniewska; Tys, 2014).

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73

Figura 23. Evolução da concentração de ácidos graxos voláteis ao longo do tempo (dias) no reator de codigestão anaeróbia de pó de café verde e vinhaça.

Figura 24. Evolução da concentração de ácidos graxos voláteis ao longo do tempo (dias) no reator de codigestão anaeróbia de borra semidesengordurada e vinhaça.

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50

Concentr

ação d

e A

VG

(m

g/L

)

Tempo (dias)

Ácido Acético Ácido Propiônico Ácido Butírico Ácido Valérico

50

2050

4050

6050

8050

10050

0 3 6 9 12 15 18 21 24 27 30 33 36 39 42 45 48

Concentr

ação d

e A

VG

(m

g/L

)

Tempo (dias)

Ácido Acético Ácido Propiônico Ácido Butírico Ácido Valérico

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74

Figura 25. Evolução da concentração de ácidos graxos voláteis ao longo do tempo (dias) no reator de codigestão anaeróbia de pergaminho e vinhaça.

Nas Figuras 23 e 25 observa se altas concentrações de ácido butírico,

estes valores eram esperados pois os valores de pH dos reatores foram mantidos na

faixa de 5,5 - 6,0. De acordo com estudo de Ren et al. (2007) a faixa ótima de pH para

fermentação do tipo butírica é de 5,0 – 6,0, onde ocorre um crescimento rápido das

bactérias fermentativas e altas produções de hidrogênio. O reator de codigestão de

pó de café verde e vinhaça apresentou uma estabilidade de produção de ácido butírico

em uma faixa de concentração de 2000,0 a 2500,0 mg/L, nota-se um aumento na

produção de ácido acético durante os 45 dias de avaliação, no entanto a produção

máxima foi de somente 891,0 mg/L (Figura 23).

Para o reator de codigestão de borra semidesengordurada e vinhaça

(Figura 24) observa se a baixa produção de AVG nos primeiros dias de ensaio e uma

produção máxima de 10.259,0 mg/L de ácido butírico e uma baixa produção dos

demais AVGs avaliados durante todo o processo de digestão. A alta concentração de

ácido butírico pode estar relacionada com a inibição das arqueias metanogênicas.

Será possível observar na secção de “Avaliação da Composição do Biogás”, que o

reator de codigestão de borra semidesengordurada, durante os 45 dias de avaliação,

não foi capaz de produzir metano, foi observado apenas a produção de gás hidrogênio

o que explica a dificuldade de estabilização do pH e desquilíbrio entre produtores e

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

0 3 6 9 12 15 18 21 24 27 30 33 36 39 42 45

Concentr

ação d

e A

VG

(m

g/L

)

Tempo (dias)

Ácido Acético Ácido Propanôico Ácido Butírico Ácido Valérico

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75

consumidores diante de uma concentração alta de DQO (400,00mgDQO/L) do

substrato sólido.

O reator de codigestão de pergaminho e vinhaça apresentou uma maior

variação na concentração de ácido butírico. Observando a Figura 25, pode-se notar

que há uma queda na concentração de ácido butírico a partir do 27º dia de digestão.

Estes resultados podem indicar que os ácidos orgânicos foram consumidos, sem

sinais de desequilíbrio entre produtores e consumidores de AVG. A produção máxima

de ácido butírico foi no 21ºdia (1462,0 mg/L) e a produção máxima de ácido acético

foi de 530,0 mg/L no 36º dia de análise.

Horiuchi et al. (2002), estudaram o efeito do pH na formação dos ácidos

orgânicos em reatores anaeróbios. Os autores avaliaram a produção dos ácidos,

acético, butírico, propanoico, em 4 faixas de pH (5,0; 6,0; 7,0; 8,0). Para faixa de pH

5,0, tempo de retenção hidráulico (TDH) máximo de 14,4 horas e temperatura de

operação de 37ºC, foi produzido no reator 666mg/L de ácido acético, 100mg/L de

ácido propanoico e 3036mg/L de ácido butírico. Para a faixa de pH 8,0, 12,8 horas de

TDH máximo e 37ºC de temperatura de operação, a produção de ácido acético foi de

2850 mg/L, a de ácido propanoico foi de 1650mg/L e a de ácido butírico foi de

190,0 mg/L. O estudo indica que em faixas de pH de 5,0 a 7,0 ocorre a maior produção

de ácido butiríco seguido do ácido acético, e que acima dessa faixa, pH de 8,0, a

produção de ácido acético e propanoico são beneficiados.

O estudo feito por Horiuchi et al. (2002), justifica então, a alta produção de

ácido butírico e produção intermediaria, mas com aumento gradual do ácido acético,

deste trabalho, levando em consideração que a faixa de pH trabalhada foi de 5,5 – 6,0

nos primeiros 20 dias de experimento e 6,0 – 7,5 nos 25 dias subsequentes.

5.3.4. Desempenho dos parâmetros de alcalinidade e pH

As Figuras 26 e 27 apresentam os resultados da concentração de

alcalinidade e pH dos reatores anaeróbios de codigestão de pó de café verde e

vinhaça, borra semidesengordurada e vinhaça, pergaminho e vinhaça.

Os valores de pH nos reatores de codigestão estudados foram mantidos

em uma faixa de 5,5 – 6,0 durante os 20 primeiros dias. Este controle é essencial para

aumentar o crescimento das bactérias hidrolíticas/acidogênicas com o intuito de

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76

favorecer a etapa de hidrólise dos substratos sólidos e priorizar a produção de biogás

com alto percentual de gás hidrogênio (Yu; Fang, 2002; Kim et al., 2003). Assim como,

decidiu-se nos 25 dias finais elevar o pH para uma faixa de 7,0 - 8,0 com o objetivo

de propiciar um ambiente adequado para o crescimento das bactérias

acetogênicas/arqueais metanogênicas e favorecer a produção de biogás rico em gás

metano.

Figura 26. Evolução da concentração de alcalinidade e potencial hidrogeniônico (pH) ao longo do tempo (dias) no reator de codigestão anaeróbia com pó de café verde e vinhaça.

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

0 4 6 9 15 18 21 24 27 30 33 36 39 45

pH

Concentr

ação C

aC

O3/L

(m

gC

aC

O3/L

)

Tempo (dias)

Alcalinidade pH

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77

Figura 27. Evolução da concentração de alcalinidade e potencial hidrogeniônico (pH) ao longo do tempo (dias) nos reatores de codigestão anaeróbia: a) borra semidesengordurada e vinhaça e b) pergaminho e vinhaça.

A alcalinidade está relacionada a capacidade tamponante porque pode ser

gerada a partir da degradação de compostos nitrogenados, quebra das cadeias longas

de gordura e/ou da redução de sulfato nos processos de digestão anaeróbia. O

equilíbrio de dióxido de carbono e íons bicarbonato pode fornecer resistência a

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

0 3 6 9 12 15 18 21 24 27 30 33 36 39 42 45

pH

Concentr

ação C

aC

O3/L

(m

gC

aC

O3/L

)

Tempo (dias)

Alcalinidade pH

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

0 3 6 9 12 15 18 21 30 33 36 39 42 45

pH

Concentr

ação C

aC

O3/L

(m

gC

aC

O3/L

)

Tempo (dias)

Alcalinidade pH

a)

b)

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78

alterações rápidas de pH, como exemplo possíveis acúmulos de ácidos orgânicos, e

proporcional a concentração de bicarbonato.

Observa-se nas Figuras 26 e 27 valores de concentração de alcalinidade

nos reatores que acompanham os valores das variações de pH, este comportamento

é observado neste tipo de reação biológica onde os parâmetros pH e alcalinidade

possuem relação direta. O reator de codigestão de pó de café verde e vinhaça (Figura

26) foi iniciado com alcalinidade de 258,45 mg CaCO3/L ±2,76 e pH de 5,92 e no 45º

dia a alcalinidade foi de 1273,68 mg CaCO3/L ± 1,38 e pH 7,29. As produções de

ácidos orgânicos nas primeiras etapas do processo contribuíram para manter o meio

acidificado como havia sido proposto sem a necessidade de intervenções. Os

resultados indicam que esta estratégia de ajuste de pH durante os 20 primeiros dias

funcionou bem e o sistema permaneceu bem estável pois os valores de pH não

apresentaram alterações significativas ou bruscas.

Na Figura 27a observa-se no reator de codigestão com borra

semidesengordurada e vinhaça queda tanto na alcalinidade do dia 0 (314,26 mg

CaCO3/L) e 3º dia (112,59 mg CaCO3/L), quanto para o pH (dia 0 e 3 de 6,08 e 4,76,

respectivamente). Estes resultados sugerem que, as quedas acentuadas dos valores

de pH podem estar associadas ao início da etapa de degradação de compostos

nitrogenados (Tabela 3) e aumento rápido da concentração de ácido butírico que pode

ser observado na Figura 24. O mesmo foi observado para o 33º dia (1213,00 mg

CaCO3/L) e 39º dia (1245,00 mg CaCO3/L). Esses aumentos inesperados podem ter

sido consequência da extração do óleo característico do grão de café verde durante

os primeiros dias de digestão. Adicionalmente, conclui-se que o pH de todo o processo

não se manteve estável, havendo uma tendência do pH do meio em se manter ácido.

Desta forma, intervenções diárias foram necessárias para elevar o pH utilizando base

(NaOH 6N).

O reator de codigestão com pergaminho e vinhaça (Figura 27b) mostrou

um comportamento semelhante ao reator com borra semidesengordurada, com

aumento da alcalinidade no dia 0 e 3º dia (222,23 mgCaCO3/L e 326,98 mg CaCO3/L,

respectivamente). Estes resultados podem estar associados a diminuição da

concentração de compostos nitrogenados, como mostra a Tabela 3.

O reator de codigestão com pergaminho mostrou um comportamento

contrário ao reator com pó de café, em relação ao aumento da concentração de ácido

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79

butírico, que pode ser observado na Figura 25. É possível notar que o pH desse reator

se manteve praticamente estável nos primeiros 20 dias na faixa pretendida (5,5-6,0)

e algumas variações pouco significativas nos 25 dias finais. Avaliando a figura 27b é

perceptível a tendência deste reator em se manter alcalino, que pode ser justificado

pelo alto pH do pergaminho (7,49) que pode ser observado na Tabela 1.

5.3.5. Desempenho dos parâmetros de demanda química de oxigênio e

carbono orgânico total.

As Figuras 28, 29 e 30 apresentam os resultados referentes ao parâmetro

de demanda química de oxigênio (DQO) e carbono orgânico total (COT) dos reatores

de codigestão avaliados neste trabalho. Através da Figura 28a é possível observar

que a concentração em termos de demanda química de oxigênio para o reator de

codigestão de pó de café verde e vinhaça aumentou, não havendo um período de

estabilidade significativa. Observa-se que do dia 0 para o 18º dia houve um aumento

de 21% da DQO e para o 21º dia foi constatada uma queda de 6,2% e no dia 45 a

DQO apresentou um aumento de 38,2% em relação ao dia 0. Esse comportamento

pode se justificar pela dificuldade dos micro-organismos em metabolizar a carga

orgânica do pó de café verde, que representava a maior fração de DQO (193,50

gDQO/L) em um curto espaço de tempo (TC = 3 dias) e também pelo sistema semi-

contínuo de alimentação que acabou gerando uma sobrecarga de DQO forçando os

micro-organismos a consumirem apenas o excesso. Para o parâmetro carbono

orgânico total (COT) (Figura 28b) observa-se comportamento diferente do parâmetro

de DQO para o mesmo reator.

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80

Figura 28. Evolução da concentração da carga orgânica ao longo do tempo (dias) no reator de codigestão anaeróbia de pó de café verde e vinhaça: a) demanda química de oxigênio (DQO); b) carbono orgânico total (COT).

Em relação a remoção da carga orgânica em termos de COT, o reator com

pó de café verde apresentou no dia 0 concentração de 48,45 gCOT/L sendo possível

acompanhar um aumento dessa concentração, avaliando a curva da Figura 28b, de

22% para o 9º dia e uma queda de 15,5% da concentração do dia 9 para o 18º dia. O

aumento e queda da concentração de carbono orgânico pode ser observado durante

40

48

56

64

72

0 4 6 9 12 15 18 21 24 27 33 36 39 45

Concentr

ação d

e D

QO

(m

g/L

)

Tempo (dias)

Concentração de DQO

35

45

55

65

0 4 6 9 15 18 21 24 27 30 33 36 39 45

Concentr

ação d

e C

OT

(g/L

)

Tempo (dias)

Concentração de COT

a)

b)

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81

todo o período de análise e ao fim, no dia 45, o reator apresentou uma redução de

16,8% em relação ao dia 0.

Para o reator de codigestão de borra semidesengordurada e vinhaça

(Figura 29a) os valores de DQO apresentaram bastantes variações, com um maior

aumento observado no dia 36 do experimento. Esta variação se reflete também no

parâmetro de concentração de ácido butírico (Figura 24). Ao final dos 45 dias de

experimento houve um aumento de 74% em relação ao dia 0 (dia 0:134,25 gDQO/L;

dia 36: 234,00 gDQO/L), seguido de uma queda de 61% do dia 36 para o dia 39. Essa

variação foi observada durante todos os 45 dias de experimento, indicando que a

atividade microbiana estava sendo capaz de consumir os excessos de carga orgânica

gerado pela alimentação. Por outro lado, a borra semidesengordurada entre os

resíduos estudados foi aquela que apresentou a maior concentração de DQO (426,00

gDQO/L) do sistema (Tabela 1).

A partir da Figura 29b é possível observar que ocorreu uma queda de 8,4%

na concentração de carbono orgânico total do dia 0 (104,42 gCOT/L) para o dia 6

(95,64 gCOT/L) e uma queda de 15% do dia 0 para o 30º dia. A menor concentração

de carbono orgânico total foi no dia 39, com valores de 21,8% de remoção de COT

em relação ao dia 0.

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82

Figura 29. Evolução da concentração da carga orgânica ao longo do tempo (dias) no reator de codigestão anaeróbia de borra semidesengordurada verde e vinhaça: a) demanda química de oxigênio (DQO); b) carbono orgânico total (COT).

100

150

200

250

0 3 6 9 12 15 18 21 24 27 30 33 36 39 42 45

Concentr

ação d

e D

QO

(m

g/L

)

Tempo (dias)

Concentração de DQO

75

80

85

90

95

100

105

110

0 3 6 9 12 15 18 21 24 27 30 33 36 39 42 45

Concentr

ação C

OT

(g/L

)

Tempo (dias)

Cocentração de COT

a)

b)

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83

Figura 30. Evolução da concentração da carga orgânica ao longo do tempo (dias) no reator de codigestão anaeróbia de pergaminho e vinhaça: a) demanda química de oxigênio (DQO); b) carbono orgânico total (COT).

O reator de codigestão de pergaminho e vinhaça apresentou

comportamento semelhante ao reator de codigestão de borra semidesengordurada e

vinhaça. Porém através da Figura 30a é possível observar apenas dois picos que

0

10

20

30

40

50

60

70

0 3 6 9 12 15 18 21 24 27 30 33 36 39 42 45

Concentr

ação d

e D

QO

(m

g/L

)

Tempo (dias)

Concentração de DQO

15

20

25

30

35

40

45

50

0 3 6 9 12 15 18 21 24 27 30 33 36 39 42 45

Concentr

ação d

e C

OT

(g/L

)

Tempo (dias)

Concentração de COT

a)

b)

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84

superasse a concentração inicial de DQO, no 26º dia e no dia 27. No 45º dia houve

um decréscimo de 51% da concentração de DQO em relação ao dia 0.

Em termo de carbono orgânico total (COT) observa-se na Figura 30b que

durante os primeiros 15 dias de análise houve uma queda na concentração de carbono

orgânico total, 60%, em relação ao dia 0 e de 40% no dia 45. Assim como para DQO,

essa queda na concentração de carbono indica alta atividade microbiana.

Avaliando os 3 reatores de codigestão, é possível constatar que o melhor

desempenho na redução da carga orgânica foi observado no reator de codigestão

com pergaminho e vinhaça, justificado pelo fato de que entre os três substratos sólidos

o pergaminho era o que apresentava menor concentração de DQO (62,37 gDQO/L).

O fato de esse resíduo (pergaminho) ter passado por um tratamento térmico durante

o processo de torra do grão que pode ter iniciado a solubilização da hemicelulose e

lignina (Bobleter, 1994), e a baixa concentração de carga orgânica possibilitou um

melhor desempenho dos micro-organismos utilizados como inóculo.

Adicionalmente, dentro das condições de sistema de alimentação semi-

contínua e TC de 3 dias, e considerando a baixa concentração de carga orgânica não

houve sobrecarga, sendo possível um melhor desenvolvimento dos microrganismos.

Fernández et al. (2008), abordam no seu trabalho a influência da

concentração de sólidos totais (TS) no desempenho da redução da carga orgânica e

chega à conclusão de que quanto maior a concentração de ST do sistema, pior é o

seu desempenho de remoção de DQO, chegando a uma queda de 17% da eficiência.

Outro fator que também pode ter prejudicado a eficiência de remoção de

carga orgânica dos reatores é que durante as etapas iniciais do processo

(hidrolise/acidogênese) estima-se que apenas 5,78% de DQO seja convertida em H2

comparada com 82,18% de DQO convertida em metano nas fases finais

(acetogênese/metanogênese) (Wang; Zhao, 2009). Levando em consideração que

dos 45 dias estudados, 20 foram mantidos em condições ótimas para a produção de

hidrogênio um possível aumento na redução da matéria orgânica poderia ter sido

conseguido aumentando o TDH e também o tempo total de avaliação.

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85

5.3.6. Composição do biogás e volume produzido

A tecnologia de digestão anaeróbia é capaz de produzir, a partir da

degradação de matéria orgânica e material lignocelulósico, biogás constituído de

hidrogênio, metano e gás carbônico.

Como já foi mencionado, os valores de pH dos processos de codigestão

avaliados nesse trabalho foram manipulados para propiciar a produção de gás

hidrogênio nos primeiros 20 dias e nos 25 dias finais foram adaptadas condições para

o desenvolvimento da metanogênese e produção de biogás com maior proporção

volumétrica de metano.

As Figuras 31, 32 e 33 representam a composição e produção de biogás

em proporções volumétricas em função do tempo de digestão (45 dias), dos reatores

de codigestão de resíduo de café e vinhaça.

Figura 31. Produção de biogás ao longo do tempo (dias) no reator de codigestão de pó de café verde e vinhaça.

Avaliando a Figura 31 observa-se a produção de hidrogênio elevada nos

primeiros 15 dias com uma produção máxima alcançada no 1º dia de 46,36% e a

continua produção crescente de metano a partir do dia 25. Estes resultados sugerem

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44

Volu

me(%

)

Tempo (dias)

H2 O2 CH4 CO2

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86

que o sistema inicia o processo de arranque da etapa metanogênica em apenas 20-

25 dias de experimento. Os valores de COT obtidos no reator com pó de café verde

também indicam um forte decréscimo a partir do dia 25, demonstrando maior eficiência

de biodegradação da matéria orgânica (Figura 28b). Adicionalmente, os valores de

alcalinidade e potencial hidrogeniônico se mostram bastante estáveis e adequados,

com uma suave elevação dos valores demonstrando um bom equilíbrio do sistema

nesta fase de metanização (Figura 26). Finalmente, quando se compara a produção

máxima teórica e a produção real, observa-se que o biogás obtido a partir de pó de

café verde apresenta proporção volumétrica de metano de 54% em relação ao valor

teórico estimado (Tabela 2).

Figura 32. Produção de biogás ao longo do tempo (dias) no reator de codigestão de borra semidesengordurada e vinhaça.

Para o reator de codigestão de borra semidesengordurada e vinhaça, o

único gás de interesse produzido foi o hidrogênio. Observa-se pela Figura 32 uma

produção alta de 40% entre o 14º e o 32º dia. É possível observar também uma

produção máxima de 43% no 27º dia, que coincide com o aumento na produção de

ácido butírico (Figura 24), e queda da concentração de carbono orgânico total (Figura

29b), esses resultados indicam que o reator foi capaz de se recuperar da inibição

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observada nos primeiros dias de experimento, produzindo e consumindo os ácidos

orgânicos de forma eficiente para a produção de biohidrogênio.

Estes resultados eram esperados, considerando que os valores de pH

durante os primeiros 20 dias se mantiveram em uma faixa ácida (5,5 – 6,0) e baixa

alcalinidade (100 – 500 mgCaCO3/L) (Figura 26a) ambiente propicio para a produção

de hidrogênio. Entretanto para os 25 dias subsequentes, foram realizadas ações para

tentar ativar a fase metanogênica, através do aumento de pH, no entanto o reator se

acidificava todos os dias, mostrando uma forte tendência de permanecer no meio

ácido, justificada pelo aumento continuo da produção de ácido butírico (Figura 24),e

relacionada a quantidade de gordura presente no substrato (Tabela 1).

Os cálculos de potencial bioquímico de metano teórico (Tabela 2)

inicialmente, já eram indicativos de que este resíduo em especial não alcançaria alta

produção de biogás rico em metano. O experimento comprovou que durante o ensaio

de codigestão a produção de metano foi baixa ou nula, entretanto se considerarmos

que a produção de hidrogênio permaneceu entre 10-40% durante 30 dias, poderíamos

afirmar que foi eficiente na produção de biogás constituído de hidrogênio.

Figura 33. Produção de biogás ao longo do tempo (dias) no reator de codigestão de pergaminho e vinhaça.

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O reator de codigestão anaeróbio de pergaminho e vinhaça apresentou um

bom desempenho na produção de biogás constituído de hidrogênio e metano.

Avaliando a Figura 33, é possível observar que durante os 20 primeiros dias

de digestão, em que a faixa de pH era de 5,5 – 6,0 (Figura 27b) e alta produção de

ácido butírico (Figura 25), o reator apresentou bom desempenho na produção de gás

hidrogênio com produção máxima de 43%, o que era esperado tendo em vista que

todas as ações foram tomadas para proporcionar um ambiente adequado que

potencializasse a produção deste gás. A partir do dia 20 é possível perceber o

arranque da etapa metanogênica. Os valores de DQO (Figura 30a) e COT (Figura

30b) do reator de codigestão de pergaminho e vinhaça apresentam quedas

significativas a partir do 15º dia, mostrando alta atividade microbiana e maior

degradação da matéria orgânica que se reflete na produção de biogás rico em metano

em uma faixa de pH, Figura 27b (7,5 – 8,0), propicia para o desenvolvimento e

eficiência dos micro-organismos metanogênicos.

A produção de metano real máxima foi capaz de superar em 21% em

proporção volumétrica à estimativa teórica do substrato, isso indica que o sistema foi

capaz de utilizar todas as fontes de (pergaminho, vinhaça e inóculo) para produção

de metano. Comprovando mais uma vez que a eficiência do reator de pergaminho, a

partir do inóculo utilizado, foi superior aos demais ensaios com pó de café verde e

borra semidesengordurada para a produção de biogás.

A Figura 34 é uma representação gráfica do volume acumulado de biogás

e rendimento acumulado dos reatores de codigestão avaliados neste trabalho.

Conforme observa-se na Figura 34a reator de codigestão com pó de café verde e

vinhaça foi capaz de produzir um volume acumulado de biogás de 8,2 L durante os 45

dias de digestão e rendimento máximo acumulado de 18,0 NmL/gSVTadd. O reator de

codigestão com borra de café semidesengordurada (Figura 34b) produziu 14,5L de

biogás e rendimento máximo de 26,0 NmL/gSVTadd. O resultado do volume acumulado

de biogás dos reatores de codigestão de pó de café verde e borra

semidesengordurada é maior ao obtido pelo reator de codigestão com pergaminho e

vinhaça (7,4 L) entretanto seu rendimento acumulado foi de 42,6 Nml/gSVTadd, ou seja

136% de rendimento a mais que o reator de codigestão de pó de café verde e vinhaça

e 63% melhor que o reator de borra semidesengordurada e vinhaça.

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Quando comparados ao rendimento máximo de produção de biogás

teórico, os valores experimentais estão bem a baixo do esperado. Isso se deve ao fato

de que para o cálculo do potencial teórico de produção, considera-se que toda a carga

orgânica do substrato seja convertida em metano. Para este trabalho foi possível

observar que os micro-organismos tiveram dificuldade de degradar o substrato de

forma eficiente, levando em consideração que o substrato era recoberto de material

recalcitrante.

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Figura 34. Desempenho dos parâmetros de volume de biogás acumulado e rendimento de biogás acumulado dos reatores: a) pó de café verde, b) borra semidesengordurada e c) pergaminho.

Adicionalmente, concluiu-se que o tempo de detenção de 3 dias pode ter

sido muito baixo para esse tipo de matéria prima, mas os valores de rendimento

encontrados estão dentro da faixa encontrada por Shiralipour e Smith (1984) na

avaliação de 24 substratos lignocelulósicos. Estudos feitos por Triolo et al. (2012)

indicaram que substratos contendo acima de 100gliguinina/KgSVT afetam diretamente a

produção de metano, para esse trabalho foram encontrados valores de

280glignina/KgSVT pra o pó de café verde, 200glignina/KgSVT para borra

semidesengordurada e 330glignina/KgSVT. Entretanto, mesmo em volumes pequenos,

foi possível a produção de biogás contendo proporções volumétricas relevantes de

metano para os reatores de codigestão anaeróbia de pó de café verde e vinhaça e

pergaminho e vinhaça, e o reator de codigestão de borra semidesengordurada e

vinhaça apesar de não ter produzido metano, produziu biogás com porcentagens

consideráveis de hidrogênio, que também é um gás de interesse para a produção de

energia de alto valor agregado. E dentre os três resíduos, mesmo contendo a maior

porcentagem de lignina, o reator de codigestão de pergaminho e vinhaça obteve o

melhor desempenho.

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6. CONCLUSÕES

Ao final do desenvolvimento deste trabalho pode-se concluir que:

Os reatores de codigestão anaeróbia com resíduos de pó de café verde e/ou

pergaminho e vinhaça nas condições termofílicas (55 ºC) apresentaram tempos

de arranque inferiores a 20 dias, condições operacionais favoráveis para

produção de metano após 30 dias de experimento (fase de estabilização ou

metanogênica). De forma contrária, o reator de codigestão de resíduo de borra

semidesengordurada com vinhaça apresentou condições operacionais

favoráveis somente para produção de hidrogênio (fase

acidogênica/acetogênica);

Após 45 dias de experimento o reator de codigestão contendo pergaminho

apresentou maior remoção de sólidos voláteis totais de 31,0 % e partir do 15º dia

queda de 50% da carga orgânica indicando intensa atividade microbiana, o

reator com pó de café verde e vinhaça apresentou redução de 21,0 % de SVT e

o reator com borra semidesengordurada redução de 19,4%;

A estratégia de manter os valores de pH baixo, na faixa de 5,5 – 6,0, nos reatores

de codigestão, durante os 20 primeiros dias permitiu manter a capacidade

tamponante assim como a produção de biogás rico em hidrogênio ao princípio

e, a continuação, após 25 dias de experimento, a estratégia de elevar o pH para

uma faixa de 7,0 - 8,0 promoveu um gás rico em metano;

Conclui-se que durante todo o processo de codigestão os resíduos de pó de café

verde e pergaminho a concentração de nitrogênio amoniacal manteve-se

relativamente abaixo de valores que poderiam causar falhas no processo, ao

contrário do reator com borra semidesengordurada que apresentou alta

concentração de amônia durante a maior parte do experimento;

Durante os 45 dias de experimento observa-se uma variação muito grande de

demanda química de oxigênio (DQO) e concentrações crescentes nos reatores

com pó e borra semidesengordurada sugerindo sobrecarga do sistema pelo

baixo tempo de detenção hidráulico (TC = 3 dias) e regime semi-contínuo, por

outro lado as concentrações de carbono orgânico total (COT) apresentam uma

menor variação e tendência de queda em todos os reatores, principalmente no

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reator com pergaminho com melhor desempenho de remoção de matéria

orgânica;

Todos os reatores de codigestão contendo resíduos de café e vinhaça

produziram altas concentrações de ácido butírico, entretanto o reator com borra

semidesengordurada foi o único a apresentar uma produção de 10.259,0 mg/L

de ácido butírico, ou seja, um valor considerado inibitório pela bibliografia para

estes tipos de processos;

Quanto ao parâmetro potencial de produção de biogás constituído

principalmente de metano e hidrogênio, a partir dos resíduos da indústria de

beneficiamento de café, os mesmos atingiram proporções volumétricas

satisfatórias, sendo o reator de codigestão com pergaminho e vinhaça foi aquele

que obteve maior desempenho na produção de metano;

A codigestão de pó de café verde mostra produção de hidrogênio elevada de

46,36% nos primeiros 15 dias e produção crescente e contínua de metano (40-

50%) a partir do dia 25, indicando início da etapa de arranque da fase

metanogênica;

Apesar da produção de metano ter sido nula durante os 45 dias de experimento

no reator de codigestão de borra semidesengordurada e vinhaça foi possível

produzir biogás com alto percentual de hidrogênio (40%) entre os dias 15 e 35

de experimento;

A codigestão com pergaminho e vinhaça mostra produção de hidrogênio elevada

de 43 % e produção crescente e contínua de metano (40-90%) a partir do dia 20,

indicando as maiores concentrações de metano no biogás quando comprado

com os outros reatores de codigestão;

Quanto ao parâmetro volume acumulado durante os 45 dias de experimento o

reator de codigestão de pergaminho e vinhaça obteve o melhor desempenho

acumulado de 42,6 Nml/gSVTadd, ou seja 136% de rendimento a mais que o

reator de codigestão de pó de café verde e vinhaça e 63% melhor que o reator

de borra semidesengordurada e vinhaça.

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8. APÊNDICE

APÊNDICE A: Curva padrão e analítica da determinação de demanda química de oxigênio.

y = 0,0004x + 0,0014R² = 0,9998

0

0,05

0,1

0,15

0,2

0,25

0,3

0,35

0,4

0,45

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000

Ab

so

rbân

cia

Concentração de DQO (mgO2/L)

Curva Padrão de DQO

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APÊNDICE B. Curvas padrões de determinação de ácidos graxos voláteis: a) ácido acético; b) ácido propiônico; c) ácido butírico e d) ácido valérico.