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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS Sandra Rosa Sponchiado Gasparini O Raciocínio Clínico em prática clínica: o uso da ferramenta IDEA, da Avaliação de Competências e do Teste de Concordância de Script. CAMPINAS 2016.

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS

Sandra Rosa Sponchiado Gasparini

O Raciocínio Clínico em prática clínica: o uso da ferramenta IDEA, da Avaliação de

Competências e do Teste de Concordância de Script.

CAMPINAS

2016.

Sandra Rosa Sponchiado Gasparini

O Raciocínio Clínico em prática clínica: o uso da ferramenta IDEA, da Avaliação de

Competências e do Teste de Concordância de Script.

Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências Médicas da Universidade

Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do

título Mestra em Ciências, na Área de Concentração em Ensino em Saúde.

.

ORIENTADOR: Profa. Dra Simone Appenzeller.

CO-ORIENTADOR: Profa. Dra Sarah Monte Alegre.

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO

FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELA

ALUNA SANDRA ROSA SPONCHIADO GASPARINI

E ORIENTADO PELA PROFa. Dra. SIMONE APPENZELLER.

CAMPINAS

2016.

BANCA EXAMINADORA DA DEFESA DE MESTRADO

SANDRA R0SA SPONCHIADO GASPARINI

ORIENTADOR: Profa Dra SIMONE APPENZELLER.

CO-ORIENTADOR: Profa Dra SARAH MONTE ALEGRE.

MEMBROS:

1. PROFa. DRa. SIMONE APPENZELLER.

2. PROF. DR. JAMIRO DA SILVA WANDERLEY.

3. PROF. DR. PAULO MARCONDES CARVALHO JÚNIOR.

Programa de Pós-Graduação em Clínica Médica da Faculdade de Ciências Médicas da

Universidade Estadual de Campinas.

A ata de defesa com as respectivas assinaturas dos membros da banca examinadora

encontra-se no processo de vida acadêmica do aluno.

Data: 15/08/2016

DEDICATÓRIA

Aos meus pais, Ampélio e Eliza, pelo amor, ética, confiança e investimento.

Ao meu companheiro de viagem, Marcos Tadeu, e aos nossos filhos Lucas e Carolina,

pelo amor, paciência e por me tornarem uma pessoa melhor.

Aos meus irmãos, Marco, Paulo, Luis e Adriana, e cunhados, Luisa, Nanci e José,

pelos momentos de alegria e suporte.

Aos meus sobrinhos Alexandre, Aline, Bruno, Filipe e Liam, pela juventude e coragem.

Ao meu avô Basílio pelo amor e pelos ensinamentos.

À profa dra Eliana Amaral, profa Dra Maria Angela Reis de Goes M Antonio, profa dra

Sarah Monte Alegre e profa dra Simone Appenzeller, pelo exemplo de dedicação e

competência no ensino médico, pela confiança e oportunidade.

AGRADECIMENTOS.

Aos graduandos do quarto e quinto ano da FCM 2015 pela confiança e colaboração.

Aos professores do Departamento de Clinica Médica da FCM da UNICAMP,

voluntários para o painel de especialistas, pelo precioso tempo.

À Eliana Mantovani, secretária do Centro de Estudos do Hospital Estadual de Sumaré,

pela ajuda e carinho.

Aos pacientes do Hospital Estadual de Sumaré.

‘I swear to fulfill, to the best of my ability and judgment, this covenant. I will respect the hard-won

scientific gains of those physicians in whose steps I walk, and gladly share such knowledge as is

mine with those who are to follow. I will apply, for the benefit of the sick, all measures [that]

are required, avoiding those twin traps of overtreatment and therapeutic nihilism. I will remember

that there is art to medicine as well as science, and that warmth, sympathy, and understanding

may outweigh the surgeon's knife or the chemist's drug. I will not be ashamed to say “I know not”,

” nor will I fail to call in my colleagues when the skills of another are needed for a patient's

recovery...’ Hippocratic Oath – The modern version (Lasagna 1964).

RESUMO

Introdução: O Raciocínio Clínico (RC) é um processo imprescindível para a prática

médica, permitindo a síntese de informações obtidas de situações clínicas, a

integração do conhecimento e experiências prévias, o diagnóstico e a tomada de

decisões. O Pensamento Crítico (PC) é habilidade fundamental no RC, definido como

um processo de julgamento proposital que inclui o aprendizado autodirigido e auto-

avaliado, contemplando reflexão, razoabilidade. O RC e PC são "invisíveis", e com

frequência negligenciados como foco de ensino formal e de avaliação; estratégias

para explicitá-los podem facilitar o feedback individual e coletivo, a identificação de

deficiências específicas, o planejamento do ensino, o estimulo do desenvolvimento, e

a organização e implementação de estratégias de reparação.

Objetivo: O estudo tem como objetivos: elaborar e validar o Teste de Concordância

de Script (TCS); testar as ferramentas IDEA e a avaliação de competências (AC) como

estratégias explícitas de ensino-aprendizagem do RC (intervenção); avaliar a

intervenção através da aplicação do TCS, da autoavaliação (AA) e da avaliação par

(AP); relatar as impressões individuais e coletivas relacionadas ao uso das

ferramentas documentadas no logbook do professor.

Método: Estudo quantitativo de intervenção e de validação de ferramenta. Estudo

qualitativo de percepções docente e discente.

Resultado: Foi desenvolvido um TCS contendo 112 itens, 40 nas partes A (hipótese

diagnóstica) e B (exames complementares) e 32 na parte C (terapêutica). O teste foi

validado por um Painel de Especialistas (PE) e resultou em um TCS com 84 itens, 28

na parte A, 33 na parte B e 23 na parte C. A confiabilidade do teste pelo alpha de

Crombach foi de 0,767. 36 graduandos do quinto ano médico foram avaliados pelo

TCS pré intervenção; todos receberam treinamento pela ferramenta IDEA e AC por

21 dias, com média de quatro escritas clínicas e duas revisões/graduando. Após o

treinamento 32 graduandos responderam à AA e AP e 14 realizaram o TCS pós.

Houve uma diferença significativamente maior do escore total do TCS pós na análise

T de amostras independentes (p=0,007) e pareadas (p=0,002); escores

significativamente maior no grupo pós intervenção, em amostra independente para a

parte A (p=0,0021), e nas amostras pareadas para partes B (p=0,005) e C (p=0,05).

A análise comparativa com o quarto ano pré estágio clínico mostrou escores

semelhantes entre quarto ano e quinto pré intervenção, e escores significativamente

maiores pós intervenção. A análise do conteúdo das anotações das ferramentas e do

logbook categorizou as percepções em melhorias no ensino, melhorias relacionadas

ao PC e RC e deficiências percebidas. A reflexão das categorias identificou um

processo individual e coletivo de conscientização, problematização, auto-reflexão,

crítica e reparação.

Conclusão: O uso de ferramentas validadas, utilizando anotações clínicas informais,

autorreflexão e comparação com o par é um caminho possível para o ensino do RC e

PC, tornando-os visíveis. O estudo sugere a validade do TCS para avaliação desse

aprendizado, porém a continuidade com uma amostra maior faz-se necessária.

Palavras-Chave: Autoexplicação; Raciocínio clínico; Pensamento Crítico; Avaliação

baseada em competência, Teste de Concordância Script.

ABSTRACT

Introduction: The Clinical Reasoning (CR) is an essential process for medical practice,

allowing the synthesis of information obtained from clinical situations, integration of

knowledge and previous experience, diagnosis and decision-making. Critical Thinking

(CT) is a fundamental skill in CR, defined as a deliberate judgment process that

includes self directed and self assessment of learning, contemplating reflection and

reasonableness. The CR and CT are "invisible" and often overlooked as formal

education and evaluation; strategies to clarify them can facilitate individual and

collective feedback, identification of specific deficiencies, planning of education and

development, organization and implementation of remedial strategies.

Objective: The study aims to: develop and validate the Script Concordance Test (TCS);

to test IDEA tool and skills assessment tool (CA) as explicit strategies for teaching and

learning of CR (intervention); evaluate the intervention by the application of TCS, self-

assessment (SA) and the peer evaluation (PA); report the individual and collective

impressions related to the use of tools and documented in the teacher's logbook.

Method: Quantitative study of intervention and tool validation. Qualitative study of

teacher and student perceptions.

Results: A SCT was developed, containing 112 items, 40 in section A (diagnosis), 40

in section B (complementary exams) and 30 in section C (therapy). The test has

been validated by an Expert Panel (EP) and resulted in 84 items, 28 in section A, 33

in section B and 23 in C. The test reliability by alpha Crombach was 0.767. 36 fifth

year medical students were evaluated by SCT before intervention; they were trained

with IDEA framework, averaging four informal written analyses and two revisions, and

used CA for 21 days (intervention). After de intervention 32 graduates responded to

the SA and PA, and14 performed the SCT after. There was a significantly higher

difference in the total score of SCT for after intervention group at T analysis of

independent samples (p = 0.007) and matched samples (p = 0.002); and significantly

higher scores for after intervention group at section A for independent sample (p =

0.0021); and section B (p = 0.005) and C (p = 0.05) in paired samples. The results of

the comparative analysis with the fourth year pre clinical stage showed similar

results. The analysis of the contente in CA, PA, IDEA framework and logbook

categorized feedback on improvements in education, improvements related to CT

and CR and perceived deficiencies. The reflection on the categories identified an

individual and aggregate process of awareness, questioning, self-reflection, critical

and repair.

Conclusion: The use of validated tools, using informal clinical notes, self reflection and

peer comparison is a path to teach CR and CT, making them visible. The study

suggests the validity of SCT to evaluate acquisitions, but studies using larger samples

are needed.

Keywords: Self-explanation; Clinical Reasoning; Critical Thinking; Competence based

assessment; Script Concordance Test.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

__________________________________________________________

PÁG

Figura 1 Fluxograma para ensinar Raciocínio Clínico..................................... 23

Figura 2 Diagrama integrado de competências ACGME................................. 30

Figura 3 Exemplo de Teste de Concordância Script......................................... 30

Figura 4 Variabilidade das respostas do Teste de Concordância de Script...... 32

Figura 5 Fluxograma do estudo qualitativo e quantitativo de intervenção....... 38

Capítulo 1 ............................................................................................................ 44

Figura 1: Etapas do Raciocínio Clínico e formato do TCS............................ 44

LISTA DE TABELAS

__________________________________________________________

Tabela 1: Sistema de pontuação do Teste de Concordância Script.............. 31

Capítulo 1................................................................................................................. 44

Tabela 1: Confiabilidade do Painel de Especialistas..................................... 48

Tabela 2: Escores do Painel de Especialistas............................................... 48

Tabela 3: Escores do Painel de Especialistas por tempo de formado.......... 49

Capítulo 2................................................................................................................. 55

Tabela 1: Estatística descritiva da Auto Avaliação e Avaliação do Par......... 63

Tabela 2: Teste de significância de Wilcoxon para competências da Auto

Avaliação e Avaliação do Par..................................................................... 63

Capítulo 3................................................................................ ................................ 70

Tabela 1: Teste T de amostras independentes do TCS pré e pós prática.... 73

Tabela 2: Teste T de amostras emparelhadas do TCS pré e pós-prática..... 74

Tabela 3: Escores do TCS do quinto ano pré e pós prática, quarto ano e

Painel de Especialistas................................................................................... 74

Tabela 4: Teste T de amostras independentes da parte A do TCS do quinto

ano pré e pós prática, quarto ano e Painel de Especialistas........................ 75

Tabela 5: Teste T de amostras independentes da parte B do TCS do quinto

ano pré e pós prática, quarto ano e Painel de Especialistas......................... 75

Tabela 6: Teste T de amostras independentes da parte C do TCS do quinto

ano pré e pós prática, quarto ano e Painel de Especialistas......................... 75

Tabela 7: Teste T de amostras independentes do escore T do TCS do quinto

ano pré e pós prática, quarto ano e Painel de Especialistas......................... 76

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

__________________________________________________________

AA Auto Avaliação

ABMS American Board of Medical Specialties

ABP Aprendizagem Baseada em Problemas

AC Avaliação de Competências

ACGME Accreditation Council on Graduate Medical Education

AP Avaliação do Par

CM Clínica Médica

DCM Departamento de Clínica Médica

FCM Faculdade de Ciências Médicas

HES Hospital Estadual de Sumaré

IC Intervalo de Confiança

IDEA Acrômino para Interpretative summary, Differential diagnosis,

Explanation of reasoning and Alternative diagnosis.

MBE Medicina Baseada em Evidências

MFC Medicina da Família e Comunidade

PC Pensamento Crítico

PE Painel de Especialistas

RC Raciocínio Clínico

RIME Acrônimo para Reporter, Interpreter, Manager and Educator.

RP Resolução de Problemas

SNAPP Acrônimo para Summarize, Narrow, Analyse, Probe, Plan and Select.

SPSS Statistical Package for Social Sciences

SUS Sistema Único de Saúde

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TCS Teste de Concordância de Script

UNICAMP Universidade Estadual de Campinas

SUMÁRIO

_______________________________________________________________

PÁG

1. INTRODUÇÃO....................................................................................... 15

1.1. Definição Pensamento Crítico e Raciocínio Clínico.................. 15

1.2. Ensino do Pensamento Crítico e Raciocínio Clínico................. 20

1.3. Ferramentas.............................................................................. 25

1.4. Definição de Expert................................................................... 33

1.5. Contexto.................................................................................... 34

2. OBJETIVO................................................................................................. 36

3. MATERIAL E MÉTODO............................................................................. 37

4. RESULTADOS..............................................................................................43

4.1. Capítulo 1: Elaboração e Validação do TCS para alunos da

graduação em prática clínica................................................ 43

4.2. Capítulo 2: Avaliação de competências e de escritas informais

em prática de enfermaria: AA, AP e ferramenta IDEA............ 55

4.3. Capítulo 3: O Teste de Concordância Script na avaliação pré e

pós- prática clínica no quinto ano da graduação médica.......... 70

4.4. Capítulo 4: O logbook como ferramenta de pesquisa ação: em

desenvolvimento.

5. DISCUSSÃO................................................................................................ 81

6. CONCLUSÃO.............................................................................................. 86

7. REFERÊNCIAS........................................................................................... 88

8. ANEXOS...................................................................................................... 94

8.1. TCLE Docente e Discente........................................................ 94

8.2. Ferramenta IDEA...................................................................... 97

8.3. Auto avaliação IDEA................................................................. 98

8.4. Avaliação do professor IDEA.................................................... 99

8.5. Ferramenta Avaliação de Competências para AA e AP......... 100

15

1. INTRODUÇÃO:

1.1. Definição de Pensamento Crítico e Raciocínio Clínico:

O médico em sua prática clínica recorre a meios indiretos e se depara com

a subjetividade implícita das situações e de suas interpretações e julgamentos,

necessárias para a resolução de problemas (RP) e tomada de decisão. Esse

processo é complexo e não linear, indo além da forte tendência em aproximar a

medicina da neutralidade preconizada pela ciência; requer habilidades de

Pensamento Crítico (PC), Raciocínio Clínico (RC), decisões centrada em valores

do paciente, uso adequado de recursos diagnósticos e terapêuticos e de

recursos humano e financeiro (1).

Apesar dos progressos no treinamento médico e nos sistemas de saúde,

10 a 15 % dos pacientes ainda sofrem com falhas no diagnóstico. Estudos

sugerem 5 a 17% de erros em pacientes hospitalizados, com maior probabilidade

de erros em diagnósticos comuns em relação aos “esotéricos”. Autópsias

revelaram que 9% dos pacientes tinham um erro diagnóstico maior não

detectado. O déficit de cognição, ao invés de deficiências no conhecimento, foi

a causa principal causa de erro, a maioria destes relacionadas ao fechamento

prematuro da hipótese de diagnóstico (2,3,4,5). A ligação entre erro diagnóstico

e segurança do paciente é um alerta para a necessidade de melhor

entendimento do Raciocínio Clínico e seus fatores cognitivos. Julgamento clínico

sólido tem sua base em um Raciocínio Clínico sólido, uma habilidade cognitiva

que não é transmitida pela aquisição de conhecimento factual (2,5).

O Pensamento Crítico é uma etapa fundamental do Raciocínio Clínico, da

resolução de problemas e da tomada de decisão. Pode ser definido como um

processo de julgamento proposital, que proporciona considerações razoáveis

para evidências, contextos, métodos e critérios, centrado em decidir em que

acreditar ou no que fazer (3). O pensador crítico melhora a qualidade de seu

pensamento ao competentemente analisá-lo, avaliá-lo e reconstruí-lo. O

processo é, portanto, auto-dirigido, auto-disciplinado, auto-monitorizado e auto-

corretivo, pressupondo rigorosos padrões de excelência e controle consciente

de sua utilização. É baseado em valores intelectuais que vão além dos limites

16

das segmentações temáticas, como clareza, precisão, consistência, relevância,

racionalidade, profundidade, amplitude, imparcialidade e criatividade, com o

compromisso de ultrapassar nosso natural egocentrismo e sociocentrismo. (3, 4,

5). A racionalidade garante o Pensamento Crítico eficaz, e tem como elementos

essenciais a reflexão e raciocínio, dando suporte a ações, à comunicação efetiva

e à argumentação válida. Disciplina e melhoria contínua refletem um tipo de

pensamento organizado, e que pode ser continuamente desenvolvido e

aperfeiçoado. Transversalidade permite sua aplicação e transferência para

diversos contextos de vida, e diferentes tipos de operações e atividades. O

Pensamento Crítico é essencial para evitar o viés cognitivo e emocional (3,6,

7,8).

O Raciocínio Clínico é um processo de julgamento baseado em síntese

de informações obtidas de situações clínicas. Essas informações são integradas

ao conhecimento e experiências prévias para decidir o que fazer em um dado

contexto, dadas as evidências disponíveis (7, 9,10). As habilidades de Raciocínio

Clínico e a forte e confiável vontade de utilizá-las resulta em excelência e

qualidade profissional. Boas decisões clínicas têm base em individualizações da

situação central, com utilização de evidências; ações sem análise crítica,

repetindo padrões de cuidado sem avaliação de seus efeitos, não preenchem

nem suportam os padrões de qualidade atuais (3, 9, 11).

Do ponto de vista educacional o Raciocínio Clínico é um componente

primordial na competência médica, pressupõndo habilidades de Pensamento

Crítico e reflexão. Duas inovações recentes da Educação Médica, a

Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) e a Medicina Baseada em

Evidências (MBE) pressupõem a habilidade em realizar Raciocínio Clínico. A

Aprendizagem Baseada em Problemas é a introdução da formulação e teste de

hipóteses diagnósticas em currículo pré-clínico; e a Medicina Baseada em

Evidências é um exemplo de aplicação das teorias de decisão estatística à

Clínica Médica (CM). A aplicação prática da medicina é baseada em indivíduos,

mas o ensino médico é baseado em populações, e dúvidas surgem quando o

indivíduo varia do descrito para as melhores evidências (8,11). Ensinar

Raciocínio Clínico e tomada de decisão envolve não só integrar as infomações

e conteúdos aprendidos, mas como aplicá-los; não é uma tarefa fácil, porque ele

17

é complexo, específico para a situação, construído em experiências prévias e

frequentemente baseado em um processo automático de reconhecimento de

padrão (10).

Aristóteles baseava-se em um sistema filosófico de raciocínio prático que

ainda tem relevância quando consideramos a tensão existente entre o cuidado

individual, holístico, centrado no paciente e a aplicação da prática baseada em

evidência. Esse modelo permite a flexibilidade dependendo do que “serve para

a ocasião”, combinando vários elementos às vezes ainda mal definidos, com o

que pode servir para a situação em particular (12,13,14).

O Raciocínio Clínico tem etapas progressivas que se iniciam na coleta de

dados e geração da hipótese, ou suspeita diagnóstica; esta direciona a coleta de

dados complementares, o exame físico e os prováveis exames complementares

necessários. O refinamento e teste da hipótese de diagnóstico leva em conta a

prevalência, a probabilidade, fatores de risco, achados de exame físico e

exames, e se necessário, novas intervenções. O processo resulta em um

diagnóstico final ou lista de problemas, com o desenvolvimento de um plano de

tratamento ou de gestão do problema (15,16).

A teoria do script propõe uma explicação de como a informação aprendida

é armazenada e influencia a interpretação individual do evento. De acordo com

essa teoria o cérebro memoriza conhecimentos relevantes e com base neles

constrói um modelo ou representação percebida do objeto/evento; cria

significado por comparação ativa de atributos com características da cena atual,

até que uma representação mental se encaixe bem o suficiente para nos permitir

uma ação apropriada. Esse conjunto de conhecimento armazenado a partir de

eventos reais são denominados de esquemas ou scripts; sua interpretação

depende muito do conhecimento prévio, sendo a razão pela qual a composição

e estrutura individual do script é fundamental para influenciar quais sinais ele

atende e como ele reage ao mundo (16,17,18,19).

No ensino médico os scripts são chamados scripts de doenças, e são

fatores chave na determinação do Raciocínio Clínico e da performance clínica.

Estudos de desenvolvimento de expertise em medicina tem consistentemente

mostrado que os experts se distinguem não por sua capacidade superior de

resolver problemas, nem por sua capacidade de memorização e lembrança, mas

18

pelo conteúdo e organização da base do conhecimento; essa base é construída

por um conjunto de scripts individualizados adquiridos por aprendizado e

experiência; ou seja, os scripts dependem da maneira de ver, sentir e reagir de

cada pessoa, sendo diferente para cada clínico, dependendo de experiências

pessoais e memórias dos encontros clínicos, justificando o fato de diferentes

experts frequentemente abordarem problemas clínicos similares por caminhos

variáveis. O caminho pelo qual o conhecimento clínico e biomédico torna-se

esquematizado no cérebro do aprendiz durante a formação médica é uma

preocupação primordial para assegurar que eles mantenham uma trajetória

constante para proficiência em Raciocínio Clínico (2,3,15,20).

A percepção de pistas das doenças avaliadas pelo aprendiz começa com

a ativação de scripts de aprendizados prévios sobre a doença em questão, que

conectam as informações relevantes sobre diversas categorias de doenças,

exemplo específicos de doenças e condições que permitem o aparecimento da

doença (fatores de risco modificáveis e não modificáveis). Os conceitos

formadores do centro desses conhecimentos incluem mecanismos

fisiopatológicos, fatores contextuais, sinais e sintomas das doenças. Em

resposta às primeiras dicas, verbais (“começou lentamente”) ou não verbais

(uma mulher jovem), um ou mais script de doença são ativados na base de dados

mental; essa ativação geralmente é inconsciente e molda as expectativas sobre

quais sinais, sintomas e características do paciente são prováveis ou não. Isso

permite a antecipação de achados com atributos centrais como severa ou não,

associado ou não a outro sinal/sintoma. A somatória dos fatores interconectados

ativam o script associado ao diagnóstico (15,21,22,23).

Todo o processo de Raciocínio Clínico é invisível, ou seja, a intuição e a

percepção dão, em frações de segundo, uma representação mental do cenário

clínico. A próxima questão, que envolve reflexão e experiência é se o script

escolhido reflete a realidade do presente encontro clínico. A interpretação dos

dados clínicos envolve acessar a extensão pela qual novos dados coletados

podem ou não consistentemente contribuir como o script ativado. Com poucas

questões bem dirigidas e diretas pode-se reunir dados que suportem sua

hipótese diagnóstica inicial, complementando o script e categorizando a situação

do paciente (15,23).

19

O processo de Raciocínio Clínico pode resumidamente ser dividido em

duas partes: a parte intuitiva ou não analítica (geração da hipótese) e a parte

analítica (teste da hipótese). A teoria do script é capaz de medir os dois

processos: a geração de hipótese (memória automática, rápida) ativa o script em

resposta a “dicas precoces” e o teste de hipótese ativa o script com foco na coleta

de dados (lento, analítico). A interpretação clínica de dados adicionados seja de

história, exame físico, ou complementar, que não suportam a hipótese inicial

devem ativar scripts diferentes, direcionando à outras hipóteses mais prováveis.

O médico irá continuamente reunir e pesar novas informações, procurando por

padrões e irregularidades, até que as características do caso combinem com um

(ou mais) dos scripts ativados de forma perto o suficiente para proceder com a

investigação, intervenção e tratamento apropriados. Conforme o repertório de

scripts de doença do médico cresce, torna-se cada vez mais provável que o

médico possua muitos modelos que se enquadram em situações clínicas

diversas, permitindo-o navegar suave e rapidamente com baixo custo cognitivo

por situações diversas e cada vez mais complexas. (15,24,25,26)

A teoria do script pressupõe a organização do conhecimento, ao invés de

habilidades genéricas de Resolução de Problemas, como a base fundamental

do Raciocínio Clínico. O aprendizado baseado na melhoria da qualidade da

representação do conhecimento é fundamental para o desenvolvimento de

expertise diagnóstica, ou seja, a habilidade do aprendiz raciocinar através do

caso clínico irá depender do caminho pelo qual o conhecimento é gravado na

memória (15). Há uma proposta de modelo teórico sobre RC que integra três

dimensões presentes nos julgamentos clínicos: dimensão diagnóstica, dimensão

terapêutica e dimensão ética (27,28).

20

1.2. Ensino do Pensamento Crítico e Raciocínio Clínico.

Como habilidade ou conjunto de habilidades, o Raciocínio Clínico pode

ser desenvolvido e avaliado, e reconhecer sua importância é um passo no

estimulo do seu desenvolvimento (2,15). Professores clínicos testemunham

diariamente o espanto causado pela percepção do aprendiz de que a clínica é

um constante estado de incertezas; queixas não características, diagnósticos

duvidosos, características sociais, culturais e familiares do paciente e suas

diferentes expectativas, fatores do ambiente de trabalho e suas limitações estão

entre as causas de perda da “inocência” do aprendiz. Supervisionar e ensinar

Raciocínio Clínico oferece um desafio formidável e uma oportunidade única para

a maturidade profissional, cognitiva e emocional do professor e do aprendiz (15).

A observação direta do aprendiz em práticas clínicas oferece um grande

potencial para o ensino do Pensamento Crítico e Raciocínio Clínico,

especialmente se é acompanhado de reflexão, que, de forma completa deve-se

dar antes, durante e após o processo, potencializando o entendimento e

proporcionando os ajustes necessários (15,29,30,31).

Estudos revelam que médicos com função de ensino se sentem

inadequados para ensinar e com frequência relatam a falta de ferramentas

simples e efetivas para rapidamente identificar e tornar objetivo os vários

estágios do processo de Pensamento Crítico e Raciocínio Clínico. Eles tendem

a ter dúvidas de suas percepções das dificuldades dos aprendizes, aumentando

o risco de perder oportunidades para remediação. Ao tornar consciente as

etapas do Raciocínio Clínico, o professor é capaz de entender e escolher bons

momentos para o ensino nas várias oportunidades de supervisão: na consulta

(observação direta), na apresentação de casos (discussão de casos), em

seminários relacionados à prática (15); torna mais fácil perceber e procurar por

dicas que irão permitir ao aprendiz desenvolver as hipóteses, identificando suas

necessidades; o professor pode então realizar um diagnóstico pedagógico e

escolher uma forma específica de supervisão, considerando suas observações

práticas. Isso torna o ensino um processo objetivo, direcionado, reflexivo e

dinâmico (15,32).

21

Entre as funções do professor no ensino do Pensamento Crítico e

Raciocínio Clínico podemos incluir: ajudar o aprendiz na autopercepção, ter

como foco o feedback no pensamento (e não só no comportamento), explicar

estratégias de aprendizado (como ler, como raciocinar), estar disponível, ser

modelo para reflexão e auto-avaliação (o chamado “ pensar alto”), usar

diferentes estilos e estratégias de ensino para promover reflexão

(4,14,15,28,33).

Não existe um modelo suficientemente claro sobre o ensino do

Pensamento Crítico, considerado um processo, uma orientação da mente, não

um método a ser aprendido, incorporando os domínios afetivo e cognitivo. Várias

estratégias podem ser utilizadas para o seu aprimoramento, entre elas: refletir

sobre a própria vida e valores; desenvolver relacionamentos com os pacientes e

com a profissão; reconhecer e promover um ambiente de trabalho que convide

ao debate e questionamento; pensar sobre o próprio pensamento e conectar-se

com o de outros; identificar e desafiar pressupostos, inferências e outras

interpretações; considerar possibilidades alternativas; balancear a própria

verdade e a de outros; desenvolver sensibilidade a fatores contextuais; avaliar a

credibilidade das evidências; reconhecer e aceitar o conhecimento intuitivo;

tolerar a ambiguidade dos julgamentos clínicos; controlar a ansiedade sobre a

possibilidade de estar “errado” (3,7,27).

Para que seu desenvolvimento seja possível as instituições de ensino

médico devem fornecer oportunidades educacionais que contemplem diversos

estilos de aprendizagem, favoreçam a criatividade, os testes, as descobertas e

os questionamentos, as atividades em pequenos grupos, o incentivo ao diálogo

dos pares. Podem ser barreiras ao melhor Pensamento Crítico a existência de

conflitos no local de trabalho, que englobam desde soluções repetitivas, prejuízo

na habilidade de escuta, relacionamento atribulado entre profissionais, uso

estereotipado de categorias diagnósticas, especialização, até a excessiva

demanda de tempo (27,28).

A avaliação do Pensamento Crítico pode ser realizada por instrumentos,

pela observação de desempenho e questionamentos em ambiente prático, pela

estratégia de Resolução de Problemas, pela análise de portifólios escritos,

documentação das análises situacionais e por mapas conceituais, utilizados

22

repetidas vezes (27). Os instrumentos validados para avaliação do Pensamento

Crítico incluem o Watson-Glaser Critical Thinking Appraisal, California Critical

Thinking Skills Test, Ennis Weir Critical Thinking Essay, Cornell Critical Thinking

Test, California Critical Thinking Disposition Inventory, não específicos para o

cenário médico (3).

Existem vários modelos para ensinar Raciocínio Clínico e estratégias

diversas podem ser utilizadas, como resolução de exercícios, leitura, debate,

seminários, discussão de casos, anotações escritas ou supervisão direta da

consulta. Goldszmith et al propuseram uma lista de tarefas para ensino do

Raciocínio Clínico, divididas na esquematização do encontro clínico,

identificando questões ativas e acessando prioridades (urgência/estabilidade,

preferências, necessidades de encaminhamento), descritas a seguir:

- Realizar o diagnóstico inicial e considerar os diagnósticos alternativos,

identificando riscos, fatores precipitantes, exames complementares;

- Selecionar a causa de base e o diagnóstico mais provável, identificando os

fatores de risco modificáveis;

- Investigar complicações associadas ao diagnóstico e tratamento;

- Avaliar a evolução e o prognóstico, explorando as condições físicas e

psicossociais da condição atual e/ou tratamento;

- Esquematizar o gerenciamento clínico, estabelecendo metas de cuidado,

impacto das co morbidades e alternativas terapêuticas;

- Considerar recursos disponíveis e estabelecer um plano de cuidados levando

em consideração o cuidado global e as evidências;

- Selecionar possibilidades de aconselhamento e educação de acordo com o

nível de entendimento do paciente e de familiares, explorando papéis

colaborativos;

- Determinar estratégias de seguimento e monitorização;

- Selecionar o conteúdo prioritário para documentação (prontuário);

- Realizar autorreflexão, identificando falhas do conhecimento e estabelecendo

um plano de aprendizado pessoal, considerando os viéses cognitivo e pessoal

passíveis de influenciar o Raciocínio Clínico (15,30,34) (Figura 1).

23

Figura 1: Fluxograma para ensinar Raciocínio Clínico segundo Goldszmith et al (34).

A autoexplicação é uma ferramenta de ensino ativa do Pensamento

Crítico e Raciocínio Clínico; é definida por técnicas diversas, e flexíveis,

utilizadas pelo estudante para explicar a si mesmo os conteúdos educativo e da

prática médica; desenvolve o conhecimento e a revisão de representações

mentais através da elaboração de novas informações, organização e integração

de novos conhecimentos em estruturas cognitivas existentes, monitorizando o

Continue com a anamnese

explique o porquê de seus questionamentos

como os novos achados ajudam ou não na HD?

repriorize HD com as novas informações

Considere três ou mais hipóteses

Considere os sintoma e a demografia

Quais os achados principais de cada HD?

Quais as características distinguem cada HD?

Queixa atual

Permita que paciente descreva seus sintomas

Investigação relevante

Considere testes diagnósticos se necessário

A investigação ira confirmar ou excluir sua HD? se não, é necessária?

Exame físico

Considere os achados esperados para a HD e procure por ele

Achados relevantes positivos ou negativos devem refinar sua HD

Redefina sua hipótese diagnóstica

hipótese primária e diagnóstico diferencial

24

processo de aprendizado. Estudos demonstram um aumento na performance

diagnóstica dos estudantes quando utilizam a autoexplicação para o

aprendizado de problemas clínicos com os quais não tem familiaridade. Essa

não familiaridade parece ser um gatilho para aumentar a autoexplicação e para

estimulá-los a reativar conhecimentos biomédicos relevantes, o que pode levar

a uma representação de doença mais coerente (35). Estratégias diversas podem

fomentar a autoexplicação, como estudo de casos, Aprendizagem Baseada em

Problemas, Aprendizagem Baseada em Grupos, mapas conceituais e portifólio

reflexivo.

Autoavaliação é definida como um “amplo processo de avaliação auto-

direcionada, iniciado e dirigido pelo indivíduo e usado para melhorias contínuas”;

“uma avaliação pessoal de atributos e habilidades profissionais pessoais em

comparação com normas percebidas” (6,23), ou seja, implica em auto-reflexão,

estimulando O Pensamento Crítico e Raciocínio Clínico. O feedback externo e a

prática ao longo do tempo permitem desenvolver a acurácia e a validade da

autoavaliação. A validade inclui “julgar seu desempenho comparando com

critérios apropriados”, e a acurácia “ obter concordância razoável entre o

desempenho auto-proclamado e outras medidas válidas de desempenho

(6,17,35, 36,37).

Estudos sugerem que os médicos têm capacidade limitada em realizar a

autoavaliação, o que para uma profissão “auto-regulada” torna-se um desafio,

oferecendo oportunidades para melhorias. Determinar no cenário prático suas

próprias habilidades e competências é importante para realizar um cuidado

seguro e de qualidade, possibilitando identificar áreas com necessidade de maior

estudo e treinamento. A educação continuada é, portanto, responsabilidade do

profissional, tornando a autoavaliação um processo que deve ser ensinado. Os

educadores têm um papel fundamental em permitir e alimentar essa reflexão em

prática (38). A combinação de evidência, reflexão e colaboração (olhar para o

par) resulta em um documento compacto, estrategicamente organizado, que

evolui qualitativamente com o processo reflexivo, representando a natureza

dinâmica da aprendizagem. O colaborador (professor, par) tem a função de

ajudar o aprendiz na organização e no conteúdo relevante, auxiliando a revisão

crítica do processo (39).

25

1.3. Ferramentas para ensino do Raciocínio Clínico.

O Raciocínio Clínico efetivo depende da habilidade em coletar os sinais

corretos (the right clues), em tomar as decisões corretas (to take the right

action), para o paciente certo (the right patient), no tempo apropriado (the right

time) e pelo motivo certo (right reason); os “cinco direitos” (five rights) do

Raciocínio Clínico permitem a avaliação, o planejamento e a implementação de

intervenções, a avaliação dos resultados, a reflexão e o aprendizado com o

processo de cuidado, fornecendo um modelo para ensino e avaliação (21).

As avaliações escritas tradicionais testam a habilidade dos estudantes em

aplicar soluções bem conhecidas para problemas bem definidos. Ao avaliar as

competências Raciocínio Clínico, devem-se incluir ferramentas para medir

também as habilidades em resolver racionalmente problemas mal definidos. O

Teste de Concordância de Script (TCS), a abordagem SNAPP e a ferramenta

IDEA foram desenvolvidos com esse propósito, expandindo o material utilizado

através da inclusão do contexto de incerteza. Foram desenhados para adicionar

e não para substituir ferramentas tradicionais. (10,20,30).

SNAPPS é uma técnica centrada no aprendiz para apresentação de casos

em ambulatório. O acrônimo SNAPPS resume as etapas do Raciocínio Clínico:

- S=summarize - resumir a história e os achados de exame físico;

- N=narrow - reduzir o diagnóstico diferencial a duas ou três possibilidades mais

relevantes;

- A=analyse - analisar os diferenciais, comparando e contrastando as

possibilidades;

- P=probe - discutir, explorar com o preceptor as incertezas, dificuldades e

alternativas;

- P=plan - planejar a abordagem do problema;

- S= select - selecionar aspectos do caso para direcionar o estudo autodirigido

(27).

26

As anotações escritas no prontuário ou informais também podem ser

utilizadas para avaliar habilidades clínicas e estimular o Raciocínio Clínico após

as visitas clínicas ou fora do local de atendimento. A utilização dessas anotações

como fonte de avaliação do Raciocínio Clínico foi validada por diversos métodos.

O acrônimo IDEA representa uma dessas ferramentas, definindo uma estratégia

organizacional para guiar a documentação da avaliação clínica. A ferramenta

primeiramente solicita ao graduando que organize suas anotações informais de

avaliação clínica em um parágrafo (chamada esquema IDEA), incluindo quatro

elementos:

- I =interpretive summary- Resumo interpretativo com os principais achados de

história, exame físico e complementar;

- D=differential diagnosis- Diagnóstico diferencial comprometendo-se com um

mais provável;

- E=explanation of reasoning- Explicação do raciocínio, explicando o porquê da

escolha desse diagnóstico como mais provável, com fatores que suportam a

hipótese;

- A=alternative diagnosis- Diagnóstico alternativo explicando seu raciocínio para

sua escolha como alternativa (o que o tornou menos provável).

Os dados do sumário interpretativo, bem como o conhecimento das

patologias, são usados para dar suporte a escolha do diagnóstico mais provável

para o problema apresentado pelo paciente. O mnemônico IDEA serve como

gatilho para incentivar a documentação de raciocínio diagnóstico,

especificamente o raciocínio que é usado para explicar a escolha de um

diagnóstico mais provável (anexo 2). Após a documentação, a ferramenta utiliza

um escore autoavaliativo e outro para avaliação do professor (anexos 3 e 4),

chamado de ferramenta de avaliação IDEA.

A autoavaliação do aluno contém quatro itens, com 12 subitens com três

classificações de habilidade sumativa (nenhuma a mínima, alguns a muitos, a

maioria a todos), com escore total que varia de 12 a 36 (anexo 3). O primeiro

ítem é a avaliação da história escrita, dividida nos subitens história detalhada da

doença (descrição completa das queixas), descrição da apresentação da doença

27

(aguda/crônica, urgência/emergência), cronologia da doença em fluxo lógico e

claro, contextualização da história da doença (achados do passado, história

pessoal e familiar), e história completa e compreensível (história passada,

familiar, social e revisão completa dos sistemas). O segundo item contém

achados escritos de exame físico, incluindo os subitens exame físico completo e

achados chave ou principais (achados que aumentam ou diminuem a

probabilidade de acordo com as hipóteses diagnósticas). O terceiro ítem contém

achados da avaliação escrita e inclui os subitens sumário interpretativo (conciso,

usando qualificadores semânticos que destacam os elementos mais importantes

da história, exame físico, testes, interpretações que representam o maior

problema do paciente), diagnóstico diferencial, explicação do diagnóstico

(explicar a razão que sustenta a escolha, incluindo epidemiologia, achados

chaves e como isso contrasta ou se compara com os achados do paciente),

alternativas diagnósticas (explicando o que sustenta a não escolha). O último

ítem é o plano escrito, definido como as razões para realizar testes diagnósticos

e tratamentos e resumindo as evidencias que suportam a decisão (9,9a).

A parte avaliativa realizada pelo professor contém três itens sumativos,

com escore mínimo de três e máximo de nove. Os itens incluem as habilidades

de relato baseadas na história escrita e nos achados de exame físico; as

habilidades de raciocínio diagnóstico; e as habilidades de tomada de decisão,

baseadas no planejamento escrito. Os items recebem escores um para nenhuma

a minima habilidade, dois para algumas a muitas e três para a maioria a todas

as habilidades (anexo 4).

De acordo com a semântica estrutural, discursos (escritos ou

apresentações orais de caso) podem ser categorizados com base na

organização e no conteúdo: a) conteúdo reduzido ou ausente; (b) conteúdo

abundante porém informação desorganizada; (c) elaborado, ou utilizando

semânticas qualificadoras (aguda, constante, acentuado) para comparar

ativamente possibilidades diagnósticas pertinentes e chegar ao diagnóstico

correto; e (d) compilados, ou semanticamente ricos, com conteúdo altamente

sintetizado. A ferramenta de avaliação IDEA é única ferramenta publicada que

usa anotações escritas de estudantes de medicina para avaliar habilidades

clínicas, especificamente relatórios (reporter), raciocínio diagnóstico

28

(interpreter), e habilidades de tomada de decisão, categorizando o conteúdo. O

trabalho de Cianciolo et al (8,9,9a,11) sugere que o conhecimento biomédico e

cognição clínica são duas ferramentas distintas e complementares que

contribuem para o surgimento de raciocínio diagnóstico eficaz. A ferramenta

IDEA reforça cognição clínica (coleta de dados proposital e comunicação de

dados) e pode ajudar a construir a justificativa diagnóstica. É um instrumento

simples e prático, exigindo do aluno a articulação dos seus pensamentos, com o

potencial para nos dar insights sobre eles e, melhorar a nossa capacidade de

melhor ensinar, avaliar e estudar habilidades clínicas relacionadas ao

diagnóstico em ambientes de cuidados. Além disso, a base de cálculo é o

registro escrito, muitas vezes pouco utilizados, com recursos prontamente

disponíveis para o ensino e feedback (9,9a).

Para dar uma estrutura organizacional ao IDEA foi desenvolvido o método

definido no acrônimo RIME para o feedback do professor, auxiliando-o a

estruturar suas observações, fornecendo uma descrição padronizada do que se

espera em cada estágio de desenvolvimento. Foi desenvolvido por Pangaro, e

descreve quatro estágios cognitivos de desenvolvimento de habilidades de

Raciocínio Clínico:

- R = Reporter- Relato: definido como habilidades interpessoais consistentes

onde o aprendiz obtém e comunica achados clínicos relevantes com confiança;

- I = Interpreter- Interpretação: onde o aprendiz torna-se capaz de priorizar e

analizar o problema do paciente;

- M = Manager- Gerenciamento: onde consistentemente propõe opções

razoáveis incorporando as preferências do paciente;

- E = Educator- Educador: onde atinge um nível de conhecimento consistente

com evidências médicas atuais e aplica criticamente o conhecimento para

pacientes específicos.

O professor pode relatar o estágio RIME, encorajar o aluno a progredir

para o próximo nível e solicitar um plano de desenvolvimento. A ferramenta RIME

é confiável, válida e viável, introduzindo uma moldura de avaliação de

competências mais sintética e que promove a tomada de decisão (9,9a,40).

A avaliação de competências (AC) é centrada em resultados,

contrastando com a avaliação de conhecimentos, centrada no processo.

29

Competência médica pode ser definida como a capacidade de um ser humano

cuidar do outro, colocando em ação conhecimentos, habilidades e valores

necessários para prevenir e resolver problemas de saúde em situações

específicas do exercício profissional; é a resposta satisfatória às necessidades

e demandas dos indivíduos e da coletividade que assiste, mediante o exercício

profissional eficiente e a participação ativa, consciente e crítica no mundo do

trabalho e na esfera social. Pode ser agrupada em áreas, e possui diferentes

metodologias avaliativas. Conhecimento pode ser avaliado por escores em

testes de conhecimento; performance pode ser avaliada por demonstração de

habilidades em ambiente real ou simulado; competências psicométricas podem

ser avaliadas por escores em testes validados e uma reduzida variabilidade da

performance; reflexão pode ser avaliada por evidências de auto-reflexão e auto-

consciência, geralmente através da narrativa; produção pode ser avaliada pelo

impacto direto nos resultados do cuidado (36,41,42). Na Avaliação de

Competências o foco é o estagiário (não o currículo) e o acesso ao aprendizado

individual e longitudinal, informando professores e graduandos sobre as

expectativas do treinamento. Requer uma definição clara dos domínios a serem

adquiridos, normas explícitas e entendimento de como maximizar o aprendizado.

Sem normas explícitas é difícil identificar graduandos com dificuldades, e as

necessidades de intervenção e recuperação (36,41). A avaliação de

competências médicas do Accreditation Council on Graduate Medical Education

(ACGME) e do American Board of Medical Specialties (ABMS) é baseada nas

tarefas de Raciocínio Clínico descritas por Goldszmith e colaboradores,

designada como competências do médico do século 21 (figura 2), com

pontuações crescentes para diferentes graus de expertise (15,42,43,44,45,46).

30

Figura 2: Diagrama integrado de competências - Accreditation Council on Graduate

Medical Education (1,43).

O Teste de Concordância de Script avalia raciocínio clínico em contexto

de incerteza; tem o formato de uma série de caso clínicos no qual a informação

é insuficiente para tomar uma decisão. Segue-se um número de itens adicionais

que podem levar a uma hipótese; é preciso avaliar o impacto da nova informação

na probabilidade de a hipótese tornar-se correta (Figura 3).

Paciente de 78 anos diabética, obesa e dislipidêmica, trazida pela família com quadro

de diminuição da memória e apatia há dois meses.

Questão Se você esta pensando em:

E você encontra: A hipótese se torna:

1 Hipotiroidismo Bócio nodular e bradicardia

A B C D E

2 Demência de Alzheimer

Perda do esposo há 2 meses

A B C D E

3 Demência Vascular DM mal controlado e infarto cerebral préveo.

A B C D E

(A) Praticamente descartada; (B) Menos Provável; (C) Nem mais, nem menos provável; (D) Mais Provável; (E) Praticamente certa.

Figura 3: Exemplo de Teste de Concordância de Script.

31

As respostas do aprendiz são comparadas às respostas de um Painel de

Especialistas (PE). A pontuação total e por item do TCS é baseada em um

combinado de respostas do PE, considerando-se que não existe uma única

resposta (Tabela 1) (15,17,19,47).

Tabela 1: Sistema pontuação do Teste Concordância Script

-2 -1 0 +1 +2

N especialistas que escolheram a questão 0 0 2 8 5

Resposta modal 0/8 0/8 2/8 8/8 5/8

Escore da questão 0 0 0,25 1 0,625

O Teste de Concordância de Script tem boa confiabilidade em um tempo

de teste de uma a uma e meia horas e um mínimo de 10 experts (especialistas)

(19,47,48). O Painel de Especialistas pode ser escolhido de acordo com a

população a ser avaliada, variando desde aprendizes em estágios iniciais até

especialidades, tempo de formado, ou por categorias, como por exemplo

generalistas e especialidades médicas.

O coeficiente alfa, descrito em 1951 por Lee J. Cronbach, é um método

de validação do TCS utilizado para medir a confiabilidade do tipo consistência

interna, ou seja, para avaliar a magnitude em que os itens do teste estão

correlacionados. Geralmente um grupo de itens que explora um fator comum

mostra um elevado valor de alfa de Cronbach. O valor mínimo aceitável para o

alfa é 0,70, pois abaixo desse valor a consistência interna da escala utilizada é

considerada baixa; o valor máximo esperado é 0,90, pois acima deste valor,

pode-se considerar que há redundância ou duplicação, ou seja, vários itens

estão medindo exatamente o mesmo elemento de um constructo; os itens

redundantes devem ser eliminados. O valor de alfa é afetado pelo número de

itens que compõem uma escala: à medida que se aumenta o número de itens,

aumenta-se a variância, e se obtém um valor superestimado da consistência da

escala. O valor do alfa de Cronbach também pode ser superestimado caso não

seja considerado o tamanho da amostra: quanto maior o número de indivíduos

que preenchem uma escala, maior é a variância esperada (49,50). Como medida

de qualidade e rigor psicométrico da confiabilidade, cada item também deve ser

avaliado para identificar os de boa performance, definidos como aqueles que

produzem uma variabilidade de respostas em torno de uma resposta restrita, ou

32

seja, possuem uma concordância razoável dos especialistas, com a distribuição

de um ponto na escala Likert ao redor da resposta modal (figura 4, item b). A

literatura não mostra impacto na confiabilidade após exclusão de itens com mais

de duas posições de ancoragem (deviantes). Os itens contendo uma única

resposta individual fora da variabilidade prevista devem ter essa resposta

excluída, sendo mantidos na análise de confiabilidade. Os itens com respostas

sem variabilidade (respostas únicas) devem ser excluidos por não refletirem o

contexto de incerteza. Os items com correlação total-item negativa, ou positiva,

porém menor que 0,05, devem ser excluídos. Deve-se excluir os respondentes

com escore total com mais de duas derivações padrão do escore do Painel de

Especialistas (19,49,50,51).

Figura 4: Variabilidade das respostas do Teste de Concordância de Script (19,48,52).

A validade relacionada a conteúdo é o exame sistemático do Teste de

Concordância de Scrip para determinar se os itens cobrem uma amostra

representativa do conteúdo a ser medido, e para determinar se a escolha dos

itens é apropriada e relevante; é feita a partir do julgamento de diferentes juízes

ou pessoas de reconhecido saber na área, que analisam a representatividade

dos itens (49).

33

1.4. Definição Expert.

Ericson pontua que a performance do expert pode ser atribuída a

participação ativa na prática deliberada, definida com o processo de

continuamente aumentar as metas e ter tempo para uma autoavaliação séria e

reflexão sobre o auto desempenho. Schon (1998) afirma que a competência mais

importante, que impulsiona a aquisição e desenvolvimento contínuo das outras

competências, é a reflexão; essa é definida como o processo de avaliação e

aprendizado através da experiência; pode se dar durante a atividades, a

denominada reflexão em ação, ou após a atividade, a reflexão sobre a ação (32).

Hubert e Stuart Dreyfus (2008) propuseram um modelo teórico de aquisição de

habilidades que reflete a progressão de um comportamento analítico individual

dividido, conscientemente decompondo seu ambiente em elementos

reconhecíveis, e seguindo regras abstratas e rígidas, para um comportamento

habilidosamente envolvido, baseado em acúmulo de experiências concretas e

em reconhecimento inconsciente de novas situações como similar às já vividas

em completude. Definem cinco níveis de expertise, do novato ao expert. O

novato é caracterizado pelo reconhecimento de fatos e características de

relevância discreta, e regras de tomada de decisão que são tão claras e

objetivamente definidas como livres do contexto; trata cada situação como nova

e procura regras para seguir. Segundo Benner (2004) como não se baseiam na

experiência prévia, uma previsão do resultado esperado deve ser fornecida. O

expert tem uma performance fluida e eficiente, de acordo com o contexto, sem

pensamentos prévios óbvios; as respostas são reativas ao invés de estudadas e

premeditadas, percebe mudanças sutis e se baseia na pesquisa criativa, usando

intuição. Embora esta resposta intuitiva possa ser um trunfo em muitos aspectos,

uma incapacidade de quebrar ações em elementos claramente verbalizados

pode ser um obstáculo para ensinar (32).

Pode-se definir dois tipos de expert: de rotina e adaptativo. O de rotina é

caracterizado pela velocidade, automaticidade e precisão, enfrentando um

problema novo através da adaptação do problema a uma solução na qual ele se

sente confortável; utiliza na sua prática o conteúdo do conhecimento, o processo

de pensamento, scripts do processo de doença, qualificadores semânticos

(agudo x crônico, distal x proximal), e conhecimento encapsulado, (ou

34

mecanismos básicos dentro de exemplos clínicos, como sepse) (13). O expert

adaptativo é caracterizado por inovação e criatividade, utilizando o novo

problema como ponto de partida para exploração, expansão do conhecimento e

entendimento (53,54,55).

1.5. Contexto:

A grade curricular da graduação em medicina no Brasil sofreu grandes

mudanças com a introdução das novas Diretrizes Curriculares do Ministério da

Saúde. Essas mudanças visam adequar o conteúdo programático às normas de

funcionamento do Sistema Único de Saúde, às necessidades de saúde da

população assistida e a um novo perfil de profissional. Um dos desafios principais

do docente adaptado à nova prática é pensar a formação médica como um todo

integrado e não como mera soma de conteúdos das diversas disciplinas e

especialidades médicas. Além das mudanças no pensar, novas adaptações

foram necessárias para ensinar, e novos métodos de avaliação foram

introduzidos (56).

As diretrizes estabelecem competências gerais dos cursos de graduação:

atenção à saúde, tomada de decisões, comunicação, administração e

gerenciamento, e educação permanente. Incluem a capacidade de se atualizar

continuamente, de saber como buscar a informação, saber selecionar a

informação relevante e utilizar os dados obtidos de forma crítica. Os docentes de

Medicina têm então a tarefa de selecionar o que é realmente importante em área

de atuação para a formação geral dos médicos, e torná-los apto a buscar a

complementação necessária para sua prática de forma independente e efetiva.

Estratégias de ensino que exigem a participação ativa na busca de soluções para

problemas reais ou construídos com objetivos pedagógicos claros (aprendizado

baseado em problemas) têm contribuído para a conquista da autonomia

intelectual do estudante (57).

Torna-se uma necessidade a ênfase no ensino centrado no aluno e no

paciente, privilegiando a parte prática, e adequando a conduta às necessidades

do atendimento médico referenciado no território e seu contexto; a integração

dos conceitos de eficácia, eficiência e efetividade, trabalho em equipe, visão

multidimensional da saúde, autonomia individual e capacidade de decisão

35

compartilhada tornam-se necessários para a boa prática médica. As avaliações

da graduação devem contemplar essas práticas de maneira mais abrangente

possível, visando reavaliar o ensino e corrigir desvios institucionais e individuais

(42, 58,59,60).

O conflito entre a formação tradicional dos docentes e a necessidade de

assumir um novo papel no atual currículo foi e continua sendo um motivo de

resistência para a implantação das novas diretrizes; a falta de treinamento em

metodologias ativas dificultam a transição do papel tradicional do professor,

centrado no conteúdo, com aulas expositivas distantes do aluno e do cenário de

prática e decisão. As metodologias ativas constituem um conjunto de práticas

bem fundamentadas nos princípios que sustentam o processo de aprendizagem;

podem ser utilizadas em qualquer contexto, estando em processo de constante

construção e redimensionamento na perspectiva da integração curricular

(42,58,59,60,61). O design de bons exames inclui a criação de tarefas práticas,

conduzir e rever a avaliação, em conteúdo e acurácia, definir um sistema de

pontuação, analisar estatisticamente e relatar os resultados, e dar feedback aos

graduandos para que possam redirecionar e reforçar sua aprendizagem. Não é

uma tarefa fácil.

No quinto ano médico os graduandos receberam extensa carga de

conteúdo teórico, nas grandes áreas básicas e em algumas especialidades, e

participaram de disciplinas práticas em Atenção Primária. O módulo Clínico

Cirúrgico inclui a enfermaria de Clínica Médica (CM) no Hospital Estadual de

Sumaré (HES). O HES é um hospital de nível secundário, que atende uma

população 100% SUS dependente, na faixa etária acima de 16 anos. A

enfermaria de Clínica Médica é desenvolvida em grupos de oito a dez

graduandos, com rodízios a cada 21 dias, em atividades de assistência e com

pequeno conteúdo teórico direcionado para as patologias mais prevalentes; a

avaliação consta de uma parte teórica e uma avaliação prática, através da

observação do aluno. As avaliações da prática sofreram mudanças

concomitantes à adequação do currículo, privilegiando o Raciocínio Clínico e a

Resolução de Problemas, integrado às condições sociais, culturais e

econômicas do indivíduo e às novas políticas de saúde.

36

2. OBJETIVOS.

Objetivo geral.

O presente estudo teve como objetivo geral avaliar o

ensino/aprendizagem do Pensamento Crítico e do Raciocínio Clínico a

graduandos em prática de enfermaria, utilizando a ferramenta IDEA, a avaliação

de competências e o Teste de Concordância de Script.

Objetivos específicos:

1. Desenvolver (elaborar) e validar o Teste de Concordância de Script.

2. Utilizar o Teste de Concordância de Script como ferramenta de

autoavaliação e reflexão docente.

3. Testar a ferramenta IDEA e a Avaliação de Competências como método

de ensino e aprendizagem, estimulando o Pensamento Crítico e o Raciocínio

Clínico, o desenvolvimento da narrativa, e auxiliando o graduando e o professor

no gerenciamento da prática médica.

4. Testar a ferramenta IDEA e a Avaliação de Competência como fonte de

feedback oportuno e estruturado, individual e coletivo, estimulando a reflexão e

autoavaliação.

5. Testar a ferramenta IDEA e a Avaliação de Competências para

identificar e relatar áreas de deficiência, possibilitando reflexão sobre estratégias

de resgate, e redirecionamento oportuno do aprendizado.

6. Coletar as impressões individuais e coletivas do processo de ensino e

aprendizagem no logbook do pesquisador.

7. Avaliar as competências percebidas através da AutoAvaliação de

competências e da Avaliação do Par.

8. Avaliar o Raciocínio Clínico através do Teste de Concordância de Script

pré e pós uso das ferramentas.

37

3. MATERIAL E MÉTODO.

3.1. Hipóteses:

1. A elaboração de um Teste de Concordância de Script confiável validado

por docentes do departamento de Clínica Médica é possível, apesar da

heterogeneidade de perfil profissional.

2. O contato com o Teste de Concordância de Script e o feedback

sumativo do Painel de Especialistas tem um papel formativo para o corpo

docente, facilitando a reflexão (sobre a ação) e a comparação com os pares.

3. A ferramenta IDEA e a Avaliação de Competências podem ser

utilizadas para ensino-aprendizagem do Pensamento Crítico e do Raciocínio

Clínico em prática clínica; proporcionam um ensino mais homogêneo e

estruturado, permitindo o autogerenciamento das metas de aprendizado

(claramente definidas nas ferramentas); podem auxiliar os docentes no

gerenciamento dos graduandos, fornecendo metas gerais e específicas; tornam

as etapas do Raciocínio Clínico “visíveis”, facilitando o processo de ensino e

aprendizagem, e estimulando reflexão e estratégias de remediação (9,44).

4. O feedback formativo individual e coletivo diário obtido com a utilização

das ferramentas é capaz de impulsionar a aquisição de competências de

Pensamento Crítico e Raciocínio Clínico; através da reescrita e correção das

anotações em tempo hábil, permite a reflexão e o desenvolvimento da narrativa

(4,636,62).

5. O feedback verbal individual e coletivo diário obtido com a utilização

das ferramentas proporciona uma melhor identificação, em tempo, dos

graduandos em dificuldade, estimulando o uso e o desenvolvimento de

estratégias de resgate (18,35,40,63,64).

6. O logbook é uma ferramenta para documentação racional e reflexiva do

desenvolvimento e utilização das ferramentas; pode fornecer informações

valiosas sobre o processo ensino aprendizagem (32,39).

38

7. A utilização da Avaliação de Competências para AutoAvaliação e

Avaliação do Par deve documentar as competências percebidas, impulsionando

a reflexão e o reposicionamento pessoal frente as dificuldades (42).

8. A avaliação do Raciocínio Clínico pelo Teste de Concordância de Script

deve documentar uma melhoria nos escores pós experiência clínica utilizando

as ferramentas.

3.2. Tipo de estudo (Figura 5):

1. Estudo de desenvolvimento e validação de ferramenta.

2. Estudo quantitativo prospectivo e de intervenção educacional.

3. Estudo qualitativo.

Figura 5: Fluxograma do estudo qualitativo, quantitativo, prospectivo e de intervenção.

3.3. Painel Especialistas:

Foram convidados 52 professores do Departamento de Clínica Médica da

Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas.

Os critérios de inclusãos foram ter pelo menos cinco anos de formado, ter

vínculo com o departamento de Clínica Médica, aceitar a participação voluntária

e anônima com assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os

critérios de exclusão foram respostas sugerindo não entendimento das regras

para realização do teste e escore total menor que 50%.

Par

Escrito

Escores

TCS pré módulo

IDEA, Avaliação de competências

TCS pós módulo, AA e AP.

Individual

Coletivo

Visita clínicaFeedback Feedback

39

O Teste de Concordância de Script foi enviado via email com explicação

suscinta sobre sua utilidade e as instruções de uso. Foi solicitado a notificação

do tempo para realização; foi sugerido arquivar uma cópia para comparação dos

escores individuais com os do Painel de Especialistas (chamado de feedback

para os professores). Solicitou-se o envio de sugestões de mudanças e críticas

sobre a clareza do teste.

O feedback dos escores do Painel de Especialistas foi fornecido via email

para todos os professores convidados, participantes ou não.

3.4. Graduandos:

Foram incluídos quatro grupos de nove graduandos do quinto ano de

Medicina da Faculdade de Ciências Médicas-UNICAMP, em regime de 21 dias

de internato na enfermaria de Clínica Médica do Hospital Estadual de Sumaré; a

participação foi voluntária com assinatura do Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (TCLE). Os critérios de exclusão foram a não assinatura do TCLE,

a desistência informada durante as avaliações e problemas éticos na avaliação

do par.

O Teste de Concordância de Script foi aplicado aos graduandos no

primeiro dia (pré) e no último dia da prática clínica (pós).

A ferramenta IDEA foi entregue no primeiro dia de prática para ser

utilizada como roteiro das anotações escritas informais. Foi discutida e explicada

verbalmente para cada grupo. As anotações informais foram discutidas

individualmente com o professor. Foi solicitado ao graduando que revisasse as

fortalezas e deficiências apontadas, reformulasse suas anotações, refletisse e

utilizasse o conteúdo aprendido nas visitas clínicas e nas anotações formais de

prontuário, selecionando os fatos e achados relevantes.

A Avaliação de Competências foi entregue no primeiro dia da prática. A

instrução verbal e coletiva incluiu a explicação do conteúdo da ferramenta, os

principais objetivos de aprendizado, o nível de competência esperado, com a

recomendação de utilização como roteiro de reflexão durante a permanência na

enfermaria. O sistema de pontuação também foi esclarecido. Foi solicitado a

40

pontuação individual (AA) e do par (AP) sorteado pelo docente no último dia de

prática, com espaço para anotações.

O feedback diário individual e coletivo foi baseado na análise do conteúdo

das escritas informais, utilizando-se princípios formativos, o método RIME e o

sistema de pontuação das ferramentas.

Todos os graduandos participantes receberam um feedback formativo e

sumativo, via email, ao final da prática, com os resultados do TCS pré e pós, da

AA e AP, e das sugestões de colegas e do professor.

3.5. Termo de consentimento docente e discente:

O trabalho foi aprovado pelo Comite de Ética e Pesquisa da FCM

UNICAMP (Número do CAAE: 35517114.6.0000.5404). O TCLE docente e

discente utilizado encontra-se no anexo 1.

3.6. Ferramenta Teste de Concordância de Script:

O TCS foi desenvolvido pela pesquisadora e avaliado por par, de acordo

com as diretrizes existentes (19). A versão inicial tinha o formato tradicional, com

vinheta (caso clínico) em contexto de incerteza (dados insuficientes para um

diagnóstico preciso), seguido de itens independentes (diferentes situações);

continha 22 vinhetas com 5 itens cada, totalizando 110 questões, sendo 40 sobre

hipótese diagnóstica e fatores de risco (parte A), 40 de solicitação e interpretação

de exames complementares (parte B) e 30 de terapêutica e prescrição (parte C).

As vinhetas continham temas prevalentes em enfermaria, incluindo as patologias

neurológicas, cardiovasculares, endócrinas, pulmonares e gastrointestinais;

imagens de RX e eletrocardiograma foram incluídas na parte B. As respostas

eram em escala Likert de cinco pontos: (-2) praticamente descartada; (-1) menos

provável; (0) nem mais nem menos provável; (+1) mais provável; (+2)

praticamente certa. Não foi estipulado tempo para realização.

O TCS foi aplicado ao Painel de Especialistas para validação. Os itens

foram pontuados de acordo com um combinado de respostas. O escore total foi

transformado em escala de 1 a 10 para facilitar a compreensão.

41

3.7. Ferramenta IDEA:

A ferramenta IDEA foi traduzida por dois tradutores independentes sem

nenhuma modificação e/ou adaptação (9). Continha o acrônimo IDEA: I =

Sumário (ou resumo) interpretativo, resumindo os achados mais importantes do

caso clínico (fatores de risco, co morbidades, exame físico, exames

complementares e tratamentos já realizados) para ajudá- la (o) no diagnóstico;

D= Diagnóstico diferencial, pontuando dois ou três diagnósticos mais prováveis

para esse paciente; E = Explicação do raciocínio, escolhendo um diagnóstico

principal e explicando os motivos da escolha (fatores que suportam seu

diagnóstico X fatores que falam contra o diagnóstico); A = Diagnósticos

alternativos, comparando os diagnósticos alternativos com o principal, e

explicando o motivo de não escolhê-lo (fatores que falam contra o diagnóstico X

fatores a favor do diagnóstico). Foi adicionado ao acrônimo IDEA o T

(Terapêutica), para o planejamento terapêutico a curto, médio e longo prazo. As

instruções eram utilizá-la como roteiro para realizar e refletir sobre as escritas

informais individuais dos pacientes admitidos durante a prática clínica, com foco

no motivo principal da internação (anexo 2).

O escore pessoal e do professor da ferramenta IDEA não foi utilizado, mas

utilizou-se a ferramenta como parâmetro individual (autoavaliação anexo 3) e do

professor (anexo 4) das habilidades básicas a serem alcançadas. Foi coletado

feedback verbal e escrito.

3.8. Ferramenta Avaliação de Competências:

A ferramenta AC foi desenvolvida pelo ACGME e ABMS, e traduzida por

dois tradutores independentes, sem modificações, do site da escola de medicina

de Stanford, USA. Foi chamada de AA e AP quando utilizada, respectivamente,

para avaliação pessoal de desempenho e do par (1,35,43,45,46).

Contém nove competências clínicas: coleta de dados de história e exame

físico, julgamento clínico, lógica de trabalho, cuidado com familiares e

acompanhantes, conhecimento médico (conteúdo), habilidades interpessoais e

42

de comunicação, aprendizado baseado na prática e melhorias, prática baseada

no sistema e profissionalismo. Tem pontuação em escala Likert de uma a cinco,

e inclui zero (insuficiente para julgar). A pontuação três classifica a competência

dentro do esperado; as pontuações um e dois subdividem as competências em

abaixo da expectativa e as quatro e cinco em acima da expectativa (anexo 5).

Foi definido um mínimo de pontuação três para a maioria das competências,

baseado no conteúdo prévio e na experiência clínica do ano anterior.

O escores individuais e do par foram transformados em escala de 1 a 10.

Havia espaço para feedback.

3.9. Ferramenta logbook.

A ferramenta logbook foi constituída de um caderno com anotações

diárias do docente, incluindo reflexões pessoais, percepções e feedback dos

graduandos.

3.10. Análise estatística:

Para os dados qualitativos foi utilizada a análise do conteúdo descrita por

Bardin, com interpretação do sentido das palavras em conteúdos explícitos, com

posterior seleção em unidades de análise por categorização apriorística,

fornecendo um retrato da experiência para posterior reflexão.

Os dados foram analisados pelo Statistical Package for Social Sciences

(SPSS) versão 4. Utilizou-se o coeficiente alfa de Cronbach para validação do

Teste de Concordância de Script. Os dados de distribuição normal foram

analisados pelo teste T de student e os dados não normais pelo Teste de

Wilcoxon e Mann Withman.

43

4. RESULTADOS:

4.1. Capítulo 1: Elaboração e Validação do Teste de Concordância de

Script para alunos da graduação em prática clínica.

Autores: Sandra R S Gasparini, MD, MPH. Eliana Martorano Amaral, MD, PhD.

Sarah Monte Alegre, MD, PhD. Simone Appenzeller, MD, PhD.

Palavras-chave: Raciocínio clínico. Teste de concordância de script. Educação

médica na graduação.

Key words: Clinical reasoning. Script concordance test. Undergraduate medical

education.

Introdução:

O Pensamento Crítico (PC) é um processo intencional de pensamento de

alto nível para definir o problema do paciente, examinar as evidências práticas e

fazer escolhas na prestação dos cuidados. O Raciocínio Clínico (RC) é o

processo cognitivo que usa estratégias de pensamento para reunir e analisar as

informações do paciente, avaliar a relevância das informações e decidir sobre

ações possíveis para o melhor resultado físico e psicológico. Requer a

integração do Pensamento Crítico para identificar as intervenções mais

apropriadas, guiando o processo de acessar, assimilar ou descartar

componentes da informação do e sobre o paciente (1,2).

O processo de Raciocínio Clínico pode ser dividido em uma parte intuitiva

ou não analítica (geração da hipótese) e outra analítica (teste da hipótese); na

geração de hipótese ocorre o reconhecimento de padrões (script) aprendidos de

doenças e no teste de hipótese o foco é a coleta e análise racional e consciente

de dados (1,3,4,5).

O teste de concordância de script (TCS) foi desenvolvido para avaliar o

Raciocínio Clínico adquirido no contexto de incerteza, onde presume-se a

capacidade de decisão, concordando ou não com os novos dados fornecidos. A

construção do TCS começa com análise cuidadosa de sua intenção, indo da

avaliação formativa à sumativa, o grupo alvo e o domínio do conhecimento. O

44

TCS não substitui ferramentas tradicionais e não avalia a habilidade de lembrar

conteúdos isolados e descontextualizados (quantidade de conhecimento).

(1,3,4,5,6).

O TCS pode ser administrado escrito ou on line, no formato de uma série

de caso clínicos no qual a informação é insuficiente para tomar uma decisão,

seguido por um número de itens adicionais e independentes que podem levar a

uma hipótese; é preciso avaliar o impacto da nova informação na probabilidade

que torná-la ou não correta; a pontuação pode ser feita em escala Likert três

pontos (improvável, não muda, provável) ou de cinco pontos (extremamente

improvável a extremamente provável). A pontuação total e por item é baseada

em um combinado de respostas de um painel de especialistas (figura 1).

Figura 1: Etapas do Raciocínio Clínico e formato do Teste de Concordância de Script

(4).

O coeficiente alfa de Cronbach é o método utilizado para validação,

medindo a correlação dos itens do teste. Geralmente um grupo de itens que

explora um fator comum mostra um elevado valor de alfa; o valor mínimo

aceitável para consistência interna do teste é um alfa de 0,70; o valor máximo

esperado é 0,90, e valores maiores significam redundância ou duplicação (7).

A validade relacionada a conteúdo consiste do exame sistemático do teste

para determinar se os itens cobrem uma amostra representativa do universo do

comportamento a ser medido, através do julgamento de diferentes juízes ou

pessoas de reconhecido saber na área (7).

45

O TCS tem boa confiabilidade em um tempo de realização de uma hora,

contendo pelo menos 25 casos com três questões cada, e um alfa de Cronbach

na faixa de 0,75-0,80 (7,8,9) e no mínimo de 10 experts no PE (4,5,7,8).

O painel de especialistas (PE) utiliza a definição de expertise como a

soma do conhecimento com a experiência. As características do expert incluem

o uso do Pensamento Crítico com melhor representação do problema (script),

maior habilidade em filtrar e extrair informações relevantes dos dados

disponíveis gerando hipóteses plausíveis, com um conteúdo de conhecimentos,

estratégias e experiências acumulado através dos anos; por definição não

necessariamente possui um maior conhecimento quando comparado com os

iniciantes, mas uma maior habilidade para organizar o conhecimento mais

eficientemente. A escolha do Painel de Especialistas pode utilizar desde critérios

como certificação formal, área de interesse ou anos de prática (9,10,11,12).

Os scripts tornam-se cada vez mais refinado com os anos de experiência

prática; o refinamento constante e deliberado é um marcador do verdadeiro

expert, e a reflexão é uma estratégia chave utilizada para aprender através da

experiência clínica. A reflexão pode ocorrer durante a prática, ou mais tarde

sobre a experiência prática, analisando a situação vivida. Reflexão requer uma

consciência do desafio da situação, habilidade de auto-monitorização e auto

avaliação de competências, e suplementação com procura deliberada de dados

externos válidos. Programas de desenvolvimento e avaliação podem ser

utilizados para facilitar a prática reflexiva, fornecendo feedback externo de

performance pessoal (13).

Material e Método:

O objetivo geral da pesquisa foi desenvolver o TCS e validá-lo em

docentes do departamento de Clínica Médica. Os objetivos específicos foram:

1. Descrever o processo de desenvolvimento e validação do TCS.

2. Apresentar aos docentes um método avaliativo com foco em Raciocínio

Clínico, em contexto de incerteza.

3. Utilizar o TCS como ferramenta para estimular o desenvolvimento das

habilidades reflexivas docente através do feedback sumativo (reflexão

sobre a ação).

46

4. Relatar as impressões dos docentes sobre o método de avaliação.

Os critérios de inclusão foram: ser docente, auxiliar de ensino ou tutor da

rede municipal de saúde vinculado ao departamento de CM; ter mais de cinco

anos de formado; aceitar participar voluntariamente e anonimamente; assinar o

termo de responsabilidade. O critério de exclusão foi pontuar menos de 50% no

escore total do teste.

A elaboração do TCS foi realizada após extensa pesquisa bibliográfica

das diretrizes de construção. O teste foi elaborado e submetido à avaliação de

um professor externo, com especialização em medicina da família, para críticas

e correções. A situação problema foi descrita em um enunciado (vignettes) curto

e com alguns aspectos relevantes de história, baseada em casos clínicos reais

e nas melhores evidências. Para cada caso (enunciado comum) cinco itens

foram formulados e uma ação proposta, com informações adicionais. Pergunta-

se o efeito dessa informação adicional na plausabilidade da hipótese e da ação.

As respostas de cada item são independentes do item anterior (situação nova).

O conteúdo estava de acordo como os objetivos definidos pela disciplina, com

foco em hipótese diagnóstica e diagnóstico diferencial. Após análise estatística

o teste foi dividido em pequenos blocos, revisados por diversos pares informais,

de acordo com a área de expertise.

O TCS foi enviado via email para os membros do departamento, chamado

Painel de Especialistas, com instrução de uso. As respostas do Painel de

Especialistas recebidas foram arquivadas através de códigos aleatórios para

manutenção do anonimato. Foi solicitado o arquivo das respostas individuais

para posterior comparação como o escore do teste validado. Foi solicitado um

feedback das dificuldades encontradas, tempo de realização e sugestões de

melhorias, bem como a impressão sobre o uso do teste no processo avaliativo.

Foram coletados dados dos respondentes referentes a gênero, local de trabalho

(Hospital, Atenção Primária ou Ambos), tipo de contrato (docente integral ou

parcial, auxiliar de ensino ou tutor da Rede Municipal de Saúde), especialidade

médica e tempo de formado (dividido em grupos de 5 anos). O estudo foi

aprovado pelo Comitê de Ética.

47

Os dados foram analisados pelo Statistical Package for Social Sciences

(SPSS) versão 4. Utilizou-se a correlação total - item e o coeficiente alfa de

Cronbach para a validação do TCS. Utilizou-se teste T de student para os dados

de distribuição normal e estatística descritiva para os demais dados.

Resultados:

Foram necessários dois meses para desenvolver e revisar o Teste de

Concordância de Script, com 110 itens e alternativas em escala Likert de cinco

pontos (8,9). Foram feitas pequenas alterações nas vinhetas e ítens por

sugestão do par externo e dos avaliadores informais, todas relacionadas ao

enunciado, sem alterações de conteúdo. Nenhuma alteração foi sugerida pelo

Painel de Especialistas.

Dos 52 membros do Departamento de Clínica Médica que receberam o

convite, 23 responderam o TCS, com uma exclusão por escore menor que 50%

e quatro desvio-padrão da média do grupo. O tempo médio de realização foi de

40 minutos (n=8). A maioria dos respondentes era homens (n=15), de

especialidades médicas (n=14) com ensino baseado em Hospital e Atenção

Primária (n=16), contrato não docente (n=11) e tempo de formação superior há

quinze anos (n=13). Seis professores eram especialistas em Clínica Médica,

três cardiologistas, três da Medicina da Família, dois Hematologistas, dois

reumatologistas, um pneumologista, um nefrologista, um infectologista e um

oncologista. O TCS era desconhecido por todos os membros do painel que

responderam a essa pergunta (n=15). Cinco professores responderam à

pergunta e consideraram o teste eficaz em avaliar Raciocínio Clínico.

Na validação do Painel de Especialistas considerou-se 22 respondentes

e o TCS original com 110 questões (22 enunciados com 5 itens cada). Cada item

foi avaliado para identificar os de boa performance, definidos como aqueles que

produzem uma variabilidade de respostas em torno de uma resposta restrita.

Não houve impacto na confiabilidade após exclusão de itens com mais de duas

posições de ancoragem (deviantes). Os três itens contendo uma única resposta

individual fora da variabilidade prevista tiveram essa resposta excluída, sendo

mantidos na análise de confiabilidade. Os dois itens com respostas sem

variabilidade (respostas únicas) foram excluidos por não refletirem o contexto de

48

incerteza. Os itens com correlação total- item-negativo, ou item-positivo, porém

menor que 0,05, também foram excluídos. Os itens com uma concordância

razoável dos especialistas, com a distribuição de um ponto na escala Likert ao

redor da resposta modal foram incluídos na análise (8,9). O resultado foi um TCS

com 84 itens distribuidos em 22 enunciados, variando de 2 a 5 itens, a maioria

com 4 itens, com confiabilidade de 0,767 (tabela 1).

Tabela 1: Confiabilidade do Painel de Especialistas.

Alfa de

Cronbach

Alfa de Cronbach

com base em itens

padronizados

N de

itens

Parte A (Hipótese) 0,571 0,569 28

Parte B (Exames) 0,544 0,545 33

Parte C (Terapêutica) 0,549 0,489 23

Total 0,766 0,760 84 N=número.

Para verificar a relação confiabilidade com validade de conteúdo os itens

foram revistos pelo examinador, resultando na versão final do Painel de

Especialistas. Crédito foi atribuído a cada resposta baseado na proporção de

respondentes: o escore máximo um foi dado a resposta mais escolhida e as

outras respostas receberam créditos parciais proporcionais; as respostas não

escolhidas receberam zero. A escala Likert foi então pontuada baseada nesses

créditos (4,8,9). Os escores do TCS foram transformados em escala de zero a

dez para comparação dos resultados. A média, desvio padrão, mínimo e máximo

dos escores total e por partes estão descritas na tabela 2

Tabela 2: Escores do Painel de Especialistas.

Escore A

(Hipótese)

Escore B

(Exames)

Escore C

(Terapêutica)

Escore T

N Painel 22 22 22 22

Questões 28 33 23 84

Média 7,88 7,76 7,82 7,82

Desvio Padrão 0,83 0,74 0,88 0,65

Mínimo 6,49 6,33 5,99 6,54

Máximo 9,63 9,02 9,33 8,88

49

Não houve diferenças significativas de escores entre gênero, tipo de

contrato e local de trabalho. O grupo de formados há mais de vinte anos

apresentou escores totais (p = 0,007; 95% IC -1,37/-0,28) e da parte B (p = 0,009;

95%IC -1,75/-0,35) significativamente maiores que o grupo de formados entre

cinco e dez anos, com diferenças médias respectivamente de 0,83 e 1,05. O

grupo com 15 a 20 anos de formado apresentou escores totais (p = 0,017; 95%

IC -1,47/-0,18) e da parte B (p = 0,004; 95%IC -2,28/-0,588) significativamente

maiores que o grupo de formados entre cinco e dez anos, com diferenças médias

respectivamente de 0,83 e 1,44. Não houve diferenças significativas entre os

demais grupos por ano de formado. Os escores por ano de formado estão

descritos na tabela 3. Não houve diferenças estatisticamente significantes entre

as especialidades isoladamente. Também não houve diferenças

estatisticamente significantes na comparação de especialidades agrupadas.

Tabela 3: Escores do Painel de Especialistas de acordo com tempo de

formado.

TF (anos) N Média DP

Parte A (Hipótese)

5-10 5 7,45 0,716

10-15 4 7,53 0,923

15-20 7 8,21 0,884

>20 6 8,12 0,724

Parte B (Exames)

5-10 5 7,23 0,283

10-15 4 7,80 1,132

15-20 7 7,68 0,590

>20 6 8,28 0,658

Parte C (Terapêutica)

5-10 5 6,98 0,646

10-15 4 7,99 1,026

15-20 7 8,41 0,652

>20 6 7,70 0,756

Escore Total 5-10 5 7,23 0,381

10-15 4 7,76 1,010

15-20 7 8,06 0,554

>20 6 8,06 0,412 TF= tempo formado; N=número; DP=desvio padrão.

Discussão:

A formulação do TCS foi desafiadora, e a opinião do par externo foi

importante para a validade de conteúdo (14). As maiores dificuldades

encontradas na formulação do teste foram o sistema de pontuação, com a

50

necessidade de distribuição modal, e a ausência um par fixo para melhor

elaboração das perguntas, sendo necessário recorrer às sugestões de múltiplos

pares. O treinamento prévio em Clínica Médica, Geriatria e Gerontologia,

Atenção Primária, Saúde Pública, e Ensino Médico, e doze anos de ensino

teórico prático em enfermaria e atenção primária, contemplam as áreas de

abrangência avaliadas e foram um fator facilitador na elaboração do teste. As

respostas foram baseadas em evidências e consensos, fortalecendo a validade

de conteúdo. Porém uma validade superior poderia ter sido alcançada com o uso

de um TCS associado a um teste baseado no índice de probabilidade, com

comparação das respostas (15). Não houve tempo hábil para treinar os

respondentes, mas a informação individual do objetivo do teste e das regras para

realização foram consideradas suficientes pelo par externo. O teste foi de rápida

realização e abrangeu um conteúdo extenso, com a inclusão de figuras (8,9,14).

O envio do teste por email otimizou tempo e recursos, sem nenhum gasto além

da impressão do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE).

Apesar do teste com 110 itens e as múltiplas tarefas do docente a

percentagem de respondentes (44%) foi considerada acima da expectativa

prevista (15). Para a obtenção desse índice foram necessários uma mediana de

cinco e-mails por docente, e um prazo de espera de até três meses.

O número de participantes do Painel de Especialistas está acima do

preconizado (15-20), sendo que não houve diferença de confiabilidade com a

exclusão de dois membros extras, mantendo-se o número original (8,9). Optou-

se pelo critério anos de formado para a escolha do painel devido à falta de

ferramentas para comparação dos especialistas e à grande diversidade dos

membros do departamento (10,16).

O grupo de docentes era heterogêneo, com participantes de várias

especialidades clínicas, conforme esperado em departamentos de Clínica

Médica; todos os participantes tinham função docente e contato com o conteúdo

da prática; não houve diferenças significativas de escores entre as

especialidades, o que não deu suporte às críticas relacionadas à essa

heterogeneidade. O painel também incluiu especialistas com prática hospitalar e

ambulatorial, considerado um fator para evitar o viés de avaliação, mas não

houve diferenças significativas de escores entre os grupos. Todos os membros

51

do painel desconheciam e o sistema de pontuação com possibilidade de

respostas diversas.

O número validado pelos consensos como suficiente para uma boa

confiabilidade é de 25 vinhetas com 3 itens (aceitável de dois a cinco

itens/questão). Mas estudos com 10 vinhetas com três itens cada são descritos

como aceitáveis (8). A autora optou por 110 itens pois previa a perda por baixa

confiabilidade, o que foi confirmado após a análise estatística. A exclusão de 31

% dos itens está acima da média da literatura, que é de 25%, mas dentro do

descrito de até 75%; pode refletir a má qualidade desses, dificuldades na

interpretação do teste, a necessidade de um número maior de itens ou perdas

previstas (8,9,14,18,19,20,23).

Um número considerável de itens de boa qualidade foi descartado pela

discordância do Painel de Especialistas. Esses itens seguiram dois padrões:

resposta bimodal com uma parte concentrada na resposta discordante e outra

na concordante, e respostas sem padrão modal, ou seja, dispersas entre todos

ou a maioria dos pontos da escala Likert (4). Houve dificuldades em determinar

o seu real significado devido ao conteúdo básico, mas dificuldades na

interpretação, deficiência na clareza do enunciado e falta de expertise na área

foram possibilidades levantadas (19,20,21).

O teste de confiabilidade do painel, após a exclusão dos itens com baixa

correlação, esta de acordo com o recomendado para a avaliação de graduandos

(alfa de Cronbach de 0,7 a 0,8). O escore alto obtido por alguns docentes, todos

do grupo com mais de quinze anos de formado, é um fator que sustenta a

validade de conteúdo (14). A autora não encontrou referências quanto ao alfa de

confiabilidade por partes quando se utiliza o teste completo (três partes). O

escore total e a parte C apresentou dois especialistas com um desvio padrão

abaixo de dois em relação à média, ambos com menos de dez anos de formado,

podendo refletir a necessidade de cursos de educação continuada e/ou

dificuldades no Raciocínio Clínico (8,9,14,20).

A validação do TCS pelo Painel de Especialistas poderia ter sido utilizada

como metodologia para avaliar a qualidade técnica dos indivíduos e do grupo,

porém somente os dados coletivos foram analisados, mantendo-se o anonimato

52

por aspectos éticos pactuados no TCLE (13,18,19,20,23). O feedback do escore

do Painel de Especialistas foi enviado a todos os participantes. O feedback de

desempenho individual não foi acessível à pesquisadora. Para os docentes que

arquivaram seus testes foi possível a comparação dos escores pessoais com o

do painel, o que foi considerado uma oportunidade de avaliação formativa e

sumativa, promovendo a confrontação e, talvez, a auto-reflexão sobre a ação e

a posição em relação ao grupo (15). Nenhum comentário foi enviado após o

envio do feedback, tornando impossível fazer qualquer inferência sobre a

experiência; entretanto o contato docente com a ferramenta, alertando para

novas possibilidades de ensino e avaliação, foi considerado positivo.

Conclusão:

O Raciocínio Clínico é peça central na prática médica e seu

desenvolvimento e avaliação é prioridade para a prática atual. O TCS pode ser

utilizado para avalia-lo; é confiável com um coeficiente alfa de Cronbach maior

que 0,75, em uma hora ou mais de teste, com uma validade de construção

consistente com os achados de progressão dos escores com o tempo de

experiência clínica. (1,2,5,12,20,23).

A elaboração do TCS é trabalhosa, requer criatividade, experiência,

persistência e cooperação. Avalia o processo de solução de problema e tomada

de decisão, podendo ser aplicado em vários estágios do desenvolvimento de

competências, com maior ou menor complexidade, e utilizar diferentes painéis

de especialistas, de acordo com o público alvo (1,12,16,20,23).

O teste é rápido e de fácil correção, porém a pontuação é trabalhosa,

podendo ser facilitada por ferramentas; tem conteúdo abrangente, possibilitando

a inclusão de figuras. Pode ser administrado para um grande número de pessoas

e uniformemente comparado, sem custo e sem stress para o paciente. A

pontuação por proporção em relação ao especialista permite classificar os itens

em grau de dificuldade (1,8,9). A preocupação com o Painel de Especialistas

como uma referência válida pode ser minimizada pela utilização de abordagens

baseadas em evidências (15,21). A utilização para educação continuada de

profissionais é descrita em literatura (13).

53

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55

Capítulo 2: Avaliação de competências e de escritas informais em prática

de enfermaria: a autoavaliação, a avaliação de par e a ferramenta IDEA.

Sandra R S Gasparini, MD, MPH. Sarah Monte Allegre, MD, PhD. Simone

Appenzeller, MD, PhD.

Palavras-chave: Autoavaliação. Avalição do Par. Avaliação baseada em

competência. Raciocínio Clínico. Educação Clínica.

Key words: Self-assessment. Peer-evaluation. Competence-based evaluation.

Clinical Reasoning. Clinical Education.

Introdução:

A adoção de um currículo baseado em competências tem sido a resposta

do ensino médico à grande expansão do conhecimento científico, às mudanças

na prática médica, aos altos custos assistenciais e às demandas de qualidade e

segurança; cria-se o conceito de médicos para pacientes e para a sociedade.

Novas metodologias de processo ensino aprendizagem foram e continuam

sendo agregadas para suprir as novas necessidades, direcionando os alunos

para um foco além da memorização e repetição de fatos científicos e

fluxogramas, facilitando o entendimento, a aplicação prática, e contextualizado

o conteúdo aprendido (1,2,3). O aprendizado não hierárquico, sob

responsabilidade do professor e do aluno, com ênfase na formação e no

desenvolvimento do Pensamento Crítico (PC), do Raciocínio Clínico (RC) e da

resolução de problemas (RP) torna-se necessário (1,4,5,6,7).

O Pensamento Crítico é habilidade fundamental no Raciocínio Clínico e

Resolução de Problemas; pode ser definido como um processo de julgamento

proposital que inclui o aprendizado auto-dirigido, autoavaliado e auto-corretivo

(1,8, 9,10). O método de ensino do PC não é objetivo, e o aprendizado não é

superficial nem estrutural. Deficiências em Pensamento Crítico podem

proporcionar dificuldades em resolver problemas similares em contexto diferente

(1, 10); seu desenvolvimento requer uma mente aberta a novas aquisições e

honestidade intelectual (1).

56

O Raciocínio Clínico se desenvolve durante a formação médica em

diferentes etapas, e o grau de expertise adquirido depende menos da quantidade

de conhecimento acumulado e mais da forma como ele se encontra organizado

na memória, é armazenado e recuperado. A primeira fase consiste da formação

das chamadas redes causais, que explicam as causas e as consequência das

doenças em termos de processo fisiopatológico e biológico, com foco em sinais

e sintomas isolados e tentativa de relacioná-los com os conceitos aprendidos;

envolve esforço cognitivo por ser um processo analítico. O estágio intermediário

é chamado conhecimento encapsulado, onde a exposição a diferentes

problemas torna as redes de conhecimentos causais e fisiopatológicos

detalhados em modelos causais simplificados e inter-relacionados, contendo um

número menor de conceitos de alto nível com o mesmo poder explicativo. O

último estágio é a formação dos scripts de doença, onde a prática intensa

reorganiza o conhecimento encapsulado tornando-o organizado em estruturas

narrativas; essas estruturas contêm pouca informação sobre as causas

fisiopatológicas da doença, dos sinais e sintomas, mas uma variedade de

informações clínicas relevantes acerca de condições de doenças; abrangem

desde representações mentais de categorias de doenças até representações de

doentes previamente observados (11,12).

O Raciocínio Clínico tende a ser negligenciado como um foco de ensino

formal e de avaliação dentro do currículo de medicina, dificultando a identificação

de deficiências e criação de planos de feedback e de reparação (1, 7). As

estratégias de ensino e prática dividem-se em gerais e específicas. As

estratégias gerais incluem: exposição a múltiplos e variados casos clínicos,

permitindo o desenvolvimento da intuição (não analítico) através da construção

de memória a longo prazo, dando preferência a problemas comuns

(apresentação prototípica); intervenções educativas desenhadas com um

enquadramento teórico baseado em processo analítico-não analítico, com

instruções explícitas; estímulo aos hábitos de leitura acerca do problema do

paciente, contextualizando-o; estímulo à busca de evidências; feedback

interativo e um facilitador de perguntas durante as atividades (2,3,13).

As estratégias específicas incluem: a organização do material seguindo

uma sequência cronológica do que acontece na vida real; verbalização das

57

representações dos problemas, criando uma definição suscinta e genérica para

o caso clínico; comparação e contraste de hipóteses diagnósticas; adequação

das expectativas em função do nível de desenvolvimento, nem sempre

correspondente aos anos de estudo, com questionamento específico do grau de

dificuldade e familiaridade; feedback específico, identificando os achados

relevantes e irrelevantes, sublinhando as características discriminantes e sua

importância relativa para a retirada de conclusões; sumarização da discussão,

com análise retrospectiva e feedback imediato, evitando erros cognitivos

(2,3,13).

Por ser complexo e multifatorial os estudos sugerem que o Raciocíno

Clínico seja ensinado e avaliado utilizando-se combinação de ferramentas (11,

14, 15,16,17,18). O Teste de Comcordância de Script (TCS), a ferramenta IDEA

e a avaliação baseada em competências (AC) podem ser utilizados para avaliar

e ensinar as etapas do RC.

Material e Método:

O objetivo do estudo foi testar a utilização das ferramentas IDEA e a

avaliação de competências (AC) para o ensino estruturado do Raciocínio Clínico.

Os objetivos específicos incluiram relatar as experiências individuais, coletivas e

do professor de uso das ferramentas e do feedback estruturado e avaliar a

percepção de competências através dos escores da autoavaliação (AA) e

avaliação do par (AP).

A amostra foi de conveniência e os critérios de inclusão foram estar

cursando o quinto ano da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP e

assinar o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE). O critério de

exclusão foi o não desejo de participar e/ou desistência. O estudo foi aprovado

pelo comitê de ética.

A ferramenta IDEA foi utilizada para guiar as anotações informais; foi

traduzida sem adaptações, revisada por um par; foi entregue no primeiro dia de

enfermaria de Clínica Médica (CM), no formato tradicional. Foi solicitado a cada

graduando a utilização do esquema em todos os casos clínicos de internação

recente sob sua responsabilidade, com narração e discussão individual de cada

58

anotação, com foco no motivo da internação. O feedback do esquema IDEA foi

realizado individualmente, para cada caso clínico, com reforços positivos e

sugestões de melhorias; também foi realizado de forma coletiva, durante as

visitas clínicas, com ênfase nos aspectos importantes para o caso. A procura de

evidências em literatura e a rediscussão das anotações remediadas foram

estimuladas sem um limite pré-determinado.

A parte de avaliação da ferramenta IDEA foi utilizada somente para

direcionar o feedback; continha os 12 itens originais e três classificações de

habilidade sumativa (nenhuma a mínima, alguns para muitos, a maioria para

todos), baseada em quatro características: nível de detalhe, descrição,

cronologia e contextualização. Não foi utilizado como ferramenta sumativa nesse

estudo, mas como meta para as melhorias sugeridas no processo formativo.

A ferramenta de avaliação de competências médicas utilizada foi

adaptada pela Escola de Medicina de Stanford, de acordo com a definição do

Accreditation Council on Graduate Medical Education (ACGME) e American

Board of Medical Specialties (ABMS) (47, 48). Tem respostas em escala Likert

com pontuação de zero (insuficiente para julgar) a cinco (acima da expectativa).

Os nove itens avaliados possuem competências relacionadas ao Raciocínio

Clínico e à contextualização do cuidado; incluem coleta de dados de história e

exame físico, julgamento clínico, lógica de trabalho, cuidado com familiares e

acompanhantes, conhecimento médico (conteúdo), habilidades interpessoais e

de comunicação, aprendizado baseado na prática e melhorias, prática baseada

no sistema e profissionalismo (1, 11,17,20,21). Foi nomeada autoavaliação (AA)

e avaliação do par (AP) e foi entregue com o esquema IDEA com as instruções

para uso diário; foi utilizada para refletir sobre o processo pessoal de ensino-

aprendizagem e observar o comportamento do grupo, com anotações para

posterior feedback pessoal, para o professor e para o par. A pontuação da AA

foi realizada ao final do módulo, pelo próprio graduando, que também se

responsabilizou pela AP, escolhido aleatoriamente. Não foi utilizada para

avaliação sumativa, mas sim para avaliação das percepções de competência.

O feedback para o graduando foi definido como o conjunto de informações

para descrever ou avaliar o desempenho na atividade, permitindo melhorias,

identificando o que foi aprendido e a distância das metas de aprendizado

59

definidas pelas ferramentas. Foi utilizado de acordo com a definição de feedback

efetivo: com regularidade, evitando sugestões isoladas, com conexão com a

prática e a realidade, com foco no comportamento observado, com ênfase nos

pontos positivos e negativos, fundamentada no diálogo informal, dinâmico e

desprovido de preconceito (5). Utilizou como roteiro as próprias ferramentas

para desencadear perguntas (5). O feedback para o professor foi coletado das

anotações de relatos verbais no logbook, e de relatos escritos nas avaliações de

competência. O auto feedback foi definido como percepções dos graduandos

sobre si mesmo. O feedback do par foi definido como percepções de graduando

para graduando.

O estudo foi qualitativo, quantitativo e de teste de ferramenta. Para os

dados qualitativos foi utilizada a análise do conteúdo descrita por Bardin. Os

dados quantitativos foram analisados pelo Statistical Package for Social

Sciences (SPSS) versão 24, utilizandos estatística descritiva, teste T student e

teste Wilcoxon.

Resultados:

O estudo avaliou quatro grupos de nove graduandos do quinto ano de

medicina em regime de internato, em um período de vinte e um dia de prática de

enfermaria. Os 36 graduandos utilizaram o esquema IDEA em todos os casos

novos, com foco no diagnóstico principal; a média foi de 4 escritas clínicas por

graduando, em um total de 144 escritas clínicas, com mediana de duas revisões

por caso (mínimo um, máximo seis).

A análise do conteúdo das percepções do professor e do feedback do

professor para o graduando, do graduando para o professor, da AA e da AP

utilizou categorias previamente definidas, agrupou as unidades de análise por

relevância implícita (quasi-quantitativa), e por frequência.

A análise das percepções do professor sobre o uso da ferramenta IDEA,

coletadas diariamente no logbook, após discussões individuais e coletivas nas

visitas clínicas, utilizou a categorização nos cinco grupos do esquema IDEA. No

resumo interpretativo foram percebidas melhorias em: utilizar fatores de risco, co

morbidades e prevalência na formulação da hipótese; exame físico direcionado,

60

com procura por sinais e sintomas para confirmar a hipótese inicial; cronologia

dos dados e utilização de qualificadores semânticos; narrar, flexibilizando o

rígido esquema de registro; incluir exames complementares e tratamentos no

raciocínio diagnóstico; proatividade no desenvolver do caso clínico; contato com

equipe multiprofissional; registro eletrônico. As deficiências percebidas incluiram:

questionar as hipóteses com “fechamento prematuro”; “criar” hipóteses próprias;

“montar” um raciocínio a partir dos dados “encontrados”; exame físico não

direcionado, repetindo padrões; explicar os sintomas e sinais clínicos; buscar

informações adicionais; explicar o porquê da solicitação de um exame; utilizar e

interpretar exames complementares e tratamento já realizados; entender a

evolução temporal da doença.

No diagnóstico diferencial foram percebidas melhorias em: realizar

diagnóstico diferencial pela reanálise dos dados coletados e correlação do

resumo interpretativo; interpretar os achados de exame físico na realização do

diagnóstico diferencial etiológico, nosológico e fisiopatológico. Nas deficiências

percebidas: aceitar a hipótese inicial não confirmada, limitando a geração de

diagnósticos diferenciais; reanalisar dados e utilizá-los para apoiar ou descartar

a hipótese; grande número de diagnósticos diferenciais; diagnóstico diferencial

em termos etiológicos, nosológico e fisiopatológico.

Na explicação do Raciocínio Clínico e terapêutica foram percebidas

melhorias em: selecionar dados do exame físico e complementar que expliquem

o raciocínio; procurar por dados de propedêutica que apoiem o Raciocínio

Clínico; consultar literatura; explicar as escolhas. As deficiências percebidas:

exame físico e complementar desconectado do RC; aceitação fácil das condutas

diagnósticas e terapêuticas; narrar a representação do problema sem sequência

cronológica lógica; reavaliar a hipótese diagnóstica frente a novos dados; utilizar

qualificadores semânticos como urgente/emergente; priorizar e propor ações;

buscar evidências; aceitar sugestões; interesse maior na realização de

procedimentos do que no treino da narrativa; curiosidade e encantamento

deficiente em questões fisiopatológicas e vivenciais; cansaço precoce com

tarefas repetidas; forte tendência em decorar conteúdos e repeti-los sem

conexão; dificuldade em fazer planos a curto, médio e longo prazo; identificar o

motivo principal da internação em pacientes com múltiplas comorbidades;

61

flexibilizar opiniões frente a pontos de vista divergente; criar e avaliar opções

antes da tomada de decisão.

As percepções gerais do professor incluíram: o feedback imediato

mudou rapidamente o entendimento dos graduandos envolvidos; treino da

narrativa escrita melhorou o preenchimento do prontuário e o fluxo das visitas

clínicas; o uso de uma ferramenta padronizada facilitou o ensino mais

homogêneo; possibilidade de adequação do ensino para diferentes graus de

desenvolvimento; melhora da percepção e documentação das dificuldades

individuais, com maior possibilidade de remediação; contato professor-aluno

mais intenso e próximo; diminuição da angústia do professor em ser redundante,

permitindo otimizar os recursos existentes; prática criativa e dinâmica, de

conteúdo abrangente, fortemente estimulante para o docente, estimulando

reflexão, readaptação as diferentes necessidades institucionais, discentes e

docente.

As precepções colhidas dos escritos dos graduandos na avaliação de

competências foram agrupados em:

- Relativos às ferramentas utilizadas: “ ...foi importante para o meu

crescimento...”, à aquisição de competências e habilidades, “...agora consigo

obter dados relevantes para o Raciocínio Clínico...”, “...conversas ajudaram...”,

“...grupo reduzido ajudou...”,”...fundamental a discussão...” “...adicionou

experiência e julgamento clínico...”, “...ajudou a integrar teoria e prática porque

podia consultar referências e corrigir erros...”, “me ajudou a entender o que era

preciso fazer...”, “... entendi melhor o que esperam de mim...”, “... a importância

do RC para o médico”, “...ferramenta validada...não é o que o professor acha...”,

“...seguir consensos é mais fácil...”, “...pensei que era só estudar bastante...”,

“...lacunas na formação...”, “...bastante dificuldade em coletar...e correlacionar

dados escritos...”, “...não tive acurácia nos dados de Exame Físico...”,

“...apresentações incertas, medrosas...”, “...deficiências no diagnóstico

diferencial, principalmente no raciocínio através da prevalência de doenças...”,

“...melhorar conhecimento de fisiopatologia...”, dificuldade em diferenciar o

patológico do normal...”, “...medo de ter conhecimento insuficiente...”.

- Relacionados ao Pensamento Crítico (Auto – regulação, auto- reflexão,

honestidade intelectual): “... desempenho e compreensão melhorou em relação

ao ano...”, “...conhecimento foi crescendo...”, “...aprendendo a separar

62

atribulações pessoais das obrigações profissionais...”, “...me dedicar ao

processo ensino aprendizagem...”, “envolvimento causa sofrimento pessoal e

sentimento de impotência...”,“...reconheci...busquei...procurei compartilhar...”,

“...participação ativa...”, “ainda posso tornar meu exame mais preciso...”,

“...insegura por estar perdendo dados...”, “...não estou acostumado a refletir...”,

“...achava que sabia mas tenho que ampliar minhas habilidades...”.

- Relacionadas ao Raciocínio Clínico (pensamento através de vários aspectos

do cuidado, síntese de informações e integração conhecimento/experiência para

tomada decisão): “...mais seguro, consigo estabelecer uma cronologia temporal

e coletar dados importantes para o RC...”, “...consigo obter dados relevantes...”,

“...procuro saber se o que foi proposto se adequa a realidade do paciente...”,

“...consegui transpor teoria para a prática...”, “...ganhei experiência...”, “...ainda

posso melhorar meu exame...”, “...lacunas na formação...”, “sempre há

...informações que deixo passar...”, “...bastante dificuldade em coletar...e

correlacionar dados escritos...”, ”...sempre aceito as hipóteses do prontuário sem

raciocinar...”.

O feedback para o par, relatado na AP, pode-se citar: “...observar...me

ajudou a compreender a importância do exame físico...”, “...percebi que atrasar

é ruim...”.

Dos 36 graduandos 32 responderam a Autoavaliação e a Avaliação do

Par. Os escores da escala Likert foram convertidos em nota de zero a dez para

facilitar a comparação. A tabela 1 descreve os escores total e por itens. Todos

os participantes realizaram a avaliação do par, mantendo o acordo de respeito

pactuado com cada grupo.

63

Tabela 1: Estatística descritiva dos escores da AA e AP.

Escores por item AA (n = 32) AP (n = 32)

Mediana Min / Max Mediana Min/Max

Coleta de dados (Item 1) 8,0 4,0 / 10,0 10,0 2,0 / 10,0

Julgamento clínico (Item 2) 8,0 6,0 / 10,0 10,0 2,0 / 10,0

Lógica trabalho (Item 3) 8,0 2,0 / 10,0 10,0 2,0 / 10,0

Cuidado c familiares (Item 4) 10,0 0,0 / 10,0 10,0 0,0 / 10,0

Conhecimento (Item 5) 6,0 2,0 / 10,0 10,0 2,0 / 10,0

Comunicação (Item 6) 10,0 4,0 / 10,0 10,0 4,0 / 10,0

Aprendizado prático (Item 7) 8,0 4,0 / 10,0 10,0 0,0 / 10,0

Prática no sistema (Item 8) 8,0 4,0 / 10,0 10,0 0,0 / 10,0

Profissionalismo (Item 9) 8,0 6,0 / 10,0 10,0 2,0 / 10,0

Escore Total 8,3 5,6 / 9,6 9,6 4,2 / 10,0 0=contato insuficiente para julgar.

A tabela 2 descreve a avaliação dos escores totais das avaliações da AA

e AP, de distribuição não normal, pelo Teste de Wilcoxon.

Tabela 2: Teste de significância Wilcoxon para competências de AA e AP

N

Escore AA -Escore AP Postos Negativos 8a

Postos Positivos 20b

Empates 1c

Total 29

Significância bilateral p = 0,004

a. porcentagem escore total par < percentagem escore total auto avaliação

b. porcentagem escore total par > percentagem escore total auto avaliação

c. porcentagem escore total par = percentagem escore total auto avaliação

O teste de significância de Wilcoxon dos itens separados mostrou uma

diferença significativa da avaliação do par em relação à autoavaliação para os

itens 1-história e Exame físico (p = 0,041), 3-lógica de trabalho (p = 0,010), 5-

conhecimento (p = 0,002) e 8 -prática baseada no sistema (p = 0,038).

64

Ao analisarmos a frequência de feedback na AA e AV encontramos uma

proporção total de 11/32 e 12/32, respectivamente; todos os itens da AA e AP

apresentaram algum tipo de feedback, pessoal, sobre o grupo, sobre o par, ou

sobre a prática.

Imediatamente após o término do módulo todos os participantes

receberam um feedback escrito individual sobre a AA, AP e o progresso com a

ferramenta IDEA, com espaço para comentários e sugestões ao professor. Não

houve retorno de comentários, apenas agradecimentos pelo feedback.

Discussão:

A ferramenta IDEA oferece a possibilidade de treinamento de

competências ligadas a Pensamento Crítico e Raciocínio Clínico, tornando-as

mais “visíveis”, facilitando o ensino mais homogêneo e adaptado a diferentes

estilos de aprendizado; permite o aprimoramento da narrativa, recurso pouco

utilizado e elemento essencial na reflexão; alcança o nível mais alto da pirâmide

de Myller, pois tem seu foco no comportamento, técnicas e habilidade prática,

utilizando o encontro clínico no ambiente de cuidado – “faz”. (4,19,21,33).

O excesso de autoconfiança nas habilidades, a falta de vivência discente

e docente em metodologias ativas e feedback não punitivo, as avaliações

baseada em desempenho, o foco em conteúdo e modelos teóricos foram

dificuldades encontradas no decorrer do processo. As dificuldades foram

abordadas através da reflexão coletiva do seu real significado, resultando em

diminuição das insatisfações pessoais geradas pelo processo (10). A literatura

fornece evidências de menor aceitação das ferramentas em indivíduos não

treinados para o Raciocínio Clínico e Pensamento Crítico (7,11), compatível com

o conflito encontrado quando os dados coletados eram comparados com dados

necessários descritos nas ferramentas. Dúvidas quanto ao limite alcançável de

treino individual e formas de adaptação poderão ser esclarecidas com mais

prática e maiores estudos.

Foram identificados com o uso do esquema IDEA: viés de averiguação

(pré concepção), viés de confirmação (olhar para evidências que confirmam e

não que põe em dúvida a hipótese), erros de impulso diagnóstico (rótulo que se

torna cada vez mais “aderido” ao paciente), erro de atribuição (tendência a

65

julgamento e a atribuir ao paciente a “culpa “ pela doença), viés de excesso de

confiança (tendência a achar que sabe mais do que realmente sabe),

fechamento prematuro (aceitar o diagnóstico antes de sua completa verificação),

viés de descompactação (erro ao coletar todas as “dicas” relevantes para o

diagnóstico diferencial), todos descritos em literatura (7,11,22).

A Avaliação de Competências é centrada nos resultados, com foco no

aluno, não o currículo; o conhecimento prévio das habilidades a serem avaliadas

permitiu o acesso ao aprendizado individual e longitudinal; forneceu informações

sobre as expectativas do treinamento, apesar da falta de dados nacionais sobre

o que é adequado para o quinto ano; também forneceu dados ao professor sobre

o estágio de desenvolvimento individual e percepção de habilidades. A definição

clara dos domínios a serem adquiridos, normas explícitas e o auxilio diário do

professor na reflexão individual sobre o “real” nível de competência, bem como

a observação do par, possibilitou intervenção e recuperação (22). Ao refletir

sobre a natureza dinâmica das competências avaliadas, a ferramenta permite

melhor entendimento e a recalibração de critérios inicialmente estáveis de

autoavaliação, baseado no “já sei”, ao invés de “posso aprimorar”, diminuindo o

viés da resposta. Apesar da percepção de melhoria, o estudo poderia ter incluído

os escores pré e pós intervenção educacional, permitindo uma comparação

menos subjetiva. Dados coletados no feedback da ferramenta ao professor

suportam em parte a melhoria de percepção.

Os escores das competências foram maiores na Avaliação do Par,

sugerindo uma melhor percepção das habilidades, ou um maior rigor e auto-

conhecimento na Autoavaliação. Esperava-se um maior número de feedback,

visto a novidade da experiência, o estímulo da proatividade e a relevância do

tópico, com possibilidade de reflexão diária e a proximidade de um tutor. O item

da coleta de dados foi foco da maioria dos comentários, compatível com o

estágio de aprendizado dos graduandos. A atenção dada ao cuidado com

familiares e acompanhantes por ambos os grupos foi uma surpresa, e pode

refletir o estágio em atenção primária do ano anterior. A pouca importância dada

ao julgamento clínico pelos dois grupos pode refletir a falta de conforto em

realizar Raciocínio Clínico. O papel de destaque dado ao profissionalismo na

Avaliação do Par pode refletir o papel do outro no ajuste da conduta. Os escores

66

da AA foram mais baixos, porém com correlação positiva com os escores da AP,

podendo apontar para honestidade, seriedade e crítica. Atitudes ou comentários

pejorativos e negativos não foram detectados, sugerindo boa relação dos grupos

(22,23,26). Os escores não foram utilizados para avaliação sumativa, mas foram

fornecidos para promover a auto-reflexão. O fato da avaliação de competências

ser utilizada na avaliação dos residentes não se mostrou uma barreira para uso

no quinto ano, que tem contato com vários dos conceitos utilizados (22); sugeriu-

se a repontuação da ferramenta durante a carreira para estimular a prática

reflexiva.

O não retorno de comentários após o feedback final foi interpretado como

falta de tempo e/ou interesse.

O uso das ferramentas proporciou uma intensa participação física,

cognitiva e emocional, reflexão e reavaliação docente do processo ensino-

aprendizagem; permitiu um melhor controle da performance, de acordo com o

contexto, sem pensamentos prévios óbvios, baseada na pesquisa criativa,

usando intuição, porém com capacidade de quebrar ações em elementos

claramente verbalizados (29,33).

Conclusão:

A prática de uma medicina segura e efetiva pressupõe excelentes

habilidades de Raciocínio Clínico e uma base extensa e rica de conhecimento

não garante essas habilidades (22). Para ter competência na tomada de decisão

o médico deve manifestar progresso no RC em quatro habilidades: desenvolver

e compartilhar representação verbal ou escrita do problema/caso clínico; utilizar

qualificadores semânticos; habilidade em documentar, procurar, identificar e

lembrar características definidoras e discriminantes para a história e exame físico

do paciente, e conectá-los com o conhecimento baseado em scripts de doenças;

uma crescente capacidade metacognitiva para reduzir o viés cognitivo na

avaliação do paciente (23). As estratégias de ensino do RC devem contemplar

essas habilidades, desenvolvendo-se em ciclos que se repetem e aprimoram;

precisam ser testadas e revisadas, entendidas e analisadas no nosso contexto,

sendo esse estudo uma primeira iniciativa.

O contato íntimo com o graduando em atividades clínicas e de registro

podem contribuir para o refinamento do processo de RC e tomada de decisão, e

67

a procura por dados relevantes e integração de novas informações deve ser

continuamente estimulado pelos educadores (2,3,7,8,10,22,25), proporcionando

melhoria na qualidade cuidado, do ensino e dos erros na assistência.

A utilização de técnicas e ferramentas validadas auxilia na padronização

os processos de aprendizagem e de reparação, criando uma série mais definida

de etapas para o desenvolvimento de habilidades de RC, preparando os

profissionais para a prática independente e autorregulada. A utilização de

estruturas de habilidades ensinadas (skill teaching framework) diminui a

necessidade de fazer avaliações de performance subjetivas e globais, permitindo

o foco em habilidades específicas, a documentação do que foi observado,

comparações longitudinais e generalizações. E diminui o uso de fotografias

(snapshots) do desempenho, criando consistência e foco. Também permite

conteúdos educacionais claros e definidos, e um feedback mais detalhados das

áreas susceptíveis a melhorias (2,3,10,18,19,22,25,26).

As dúvidas quanto à interpretação dos resultados são extensamente

relatadas em literatura e não há garantia que as melhores práticas irão fornecer

informações suficientes para corretamente diagnosticar as dificuldades e as

facilidades do graduando. As razões para um bom ou mau desempenho

envolvem a necessidade de avaliações mais extensas do programa e dos fatores

interferentes, e um maior número de participantes (13,25).

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70

Capítulo 3: O Teste de Concordância Script na avaliação do Raciocínio

Clínico pré e pós prática clínica em graduandos do quinto ano médico.

Sandra R S Gasparini, MD, MPH. Sarah Monte Allegre, MD, PhD. Simone

Appenzeller, MD, PhD.

Palavras-chave: avaliação sumativa, educação médica na graduação,

pensamento crítico, raciocínio clínico, teste de concordância de script.

Key words: summative evaluation, graduate medical education, critical thinking,

clinical reasoning, script concordance test.

Introdução:

Ensinar Raciocínio Clínico é ensinar o pensamento através dos vários

aspectos do cuidado para chegar a uma decisão razoável considerando-se um

paciente específico. Inclui realizar a anamnese, conduzir o exame físico, solicitar

exames laboratoriais e procedimentos de diagnóstico, excluir diagnósticos

diferenciais, programar um tratamento eficaz e seguro, estratégias preventivas,

aconselhamento e educação. Faz-se necessário bons fundamentos em ciências

básicas e habilidade em reunir dados, pensar criticamente sobre todas as

informações coletadas (1,2,3,4,5). A primeira etapa do Raciocínio Clínico é a

geração da hipótese, ou suspeita diagnóstica, seguida pelo seu refinamento e

teste, diagnóstico final ou lista de problemas, e desenvolvimento de um plano de

tratamento ou gestão do problema (6,7,8,9).

O ensino de Clínica Médica no quinto ano médico da UNICAMP é baseado

em princípios de desenvolvimento de habilidades de Pensamento Clínico e

Raciocínio Crítico, em prática de enfermaria, com atividades teóricas inter-

relacionadas. Se desenvolve em pequenos grupos, por um período de vinte e

um dias. Avaliações pré e pós prática que permitam aferir as competências de

Raciocínio Clínico adquiridas não são realizadas. Isso dificulta o processo de

planejamento das atividades, indo desde dificuldades em otimizar recursos

disponíveis até identificação de dificuldades individuais em tempo hábil para

reparação, adequando-os ao nível de competências individuais e do grupo.

71

Método:

O estudo foi qualitativo, quantitativo e prospectivo com o objetivo geral de

avaliar o Teste de Concordância de Script antes e após a prática clínica. Como

objetivos específicos apresentar uma nova metodologia avaliativa, documentar

as percepções sobre seu uso, fornecer feedback de desempenho pré e pós

prática para os graduandos, docentes e gestores.

Participaram do estudo quatro grupos de nove graduandos em regime de

internato em hospital secundário. O teste foi desenvolvido de acordo com

competências esperadas para o nível valiado; foi validado em estudo prévio por

um painel de especialistas (PE), com confiabilidade alfa de 0,767, sendo aplicado

antes do início (pré) e no último dia da prática (pós). A participação foi voluntária,

não fez parte da avaliação disciplinar e todos assinaram o Termo de

Consentimento. Dados de estatística descritiva não foram solicitados. O estudo

foi aprovado pelo Comitê de Ética.

Ao término do teste os participantes responderam a duas perguntas com

respostas fechadas: “Você conhecida o Teste de Concordância de Script ?” (sim/

não) e “O que você achou do Teste de Concordância de Script para avaliar o

Raciocínio Clínico?”(bom/ ruim/ indiferente/ não sei avaliar); havia espaço para

comentários.

Os participantes receberam feedback imediatamente após a realização do

TCS pré, através da reflexão coletiva; o feedback individual com sugestões de

melhorias e reforço dos conteúdos foram sugeridos individual e coletivamente

durante a prática. Todos os participantes receberam um feedback final, que

incluiu os escores individuais pré e pós, do seu grupo, dos grupos anteriores, do

quarto ano e do Painel de Especialistas, com reforços das qualidades individuais

e sugestões de melhoria.

Dados qualitativos sobre a utilização do teste foram registradas em um

logbook.

O TCS também foi realizado por 34 voluntários do quarto ano em estágio

pré-clínico. Os escores foram utilizados para avaliar a consistência dos dados

coletados no quinto ano.

72

Os escores total e por partes do TCS foram transformados em escala de

1 a 10 para facilitar a comparação.

Os dados foram analisados pelo Statistical Package for Social Sciences

(SPSS) versão 24. Para os dados qualitativos foi utilizada a análise do conteúdo

descrita por Bardin.

Resultados:

Participaram do estudo 35 graduandos no TCS pré prática (18 mulheres),

14 no TCS pós. O tempo médio de realização foi de 56 minutos e todos relataram

um primeiro contato com a ferramenta. O TCS foi classificado para valiar

Raciocínio Clínico como indiferente por 25 graduandos (n=35) no pré, e bom por

10 graduandos no pós-teste (n=14).

A análise do conteúdo do feedback documentado no logbook utilizou

categorias previamente definidas em percepções quanto sistema de respostas e

pontuação e percepções sobre a avaliação do Raciocínio Clínico pelo TCS.

A maioria das percepções quanto ao sistema de respostas e pontuação

foram negativas, variando desde estranhamento até extensas discussões sobre

qualidade dos professores: “...é estranho uma prova que compare...com o

professor...”, “...professor que sabe menos que eu...”, “...não gostei do contexto

de incerteza”, “ ...é difícil entender ... acho que não avalia conhecimento”, “...não

se parece com o real”, “...é pior que prova teste...”, “...não entendi o Painel de

Especialistas...”. As percepções positivas incluíram: “...ficou claro para mim que

no real as coisas são incertas”, “...muito bom”.

As percepção sobre a avaliação do Raciocínio Clínico pelo TCS incluíram:

”precisa saber ...senão não faz...”, “...consegui entender para o que serve, mas

achei ruim...”, “...difícil aplicar as evidências...para que servem os Consensos?”,

“...não dá para chutar, tem que pensar...”,“...gostei...”, ...”não tem sim e não

adianta só saber...cobra bastante coisa...”, “...nunca fui cobrado nesse tal de

raciocínio...”.

As percepções do docente incluíram: desconforto generalizado pelo teste

sem resposta direta; curiosidade; frustração pelo desempenho esperado e o

alcançado; desconfiança com o sistema de pontuação baseado nas respostas

do painel.

73

Das 16 variáveis contínuas avaliadas pelo teste de Kolmogorov-Smirnov

(escores A, B, C e Total para grupos do quinto ano pré/pós e PE) somente o

escore B do grupo quinto ano pré tinha distribuição não normal. Optou-se pela

distribuição de normalidade e análise pelo Teste T de student, média e desvio

padrão. Os resultados estão descritos na tabela 1.

Tabela 1: Teste T amostras independentes TCS pré e pós-quinto ano.

TCS pré

(n=35)

TCS pós

(n=14)

Teste T

Média DP Média DP Diferença

média

Sig

bil

95%IC

A (hipótese) 6,91 0,89 7,57 0,83 -0,66 0,021 -1,22/0,10

B (exames) 6,31 0,86 6,69 0,63 -0,38 0,095 -0,83/0,07

C

(terapêutica)

6,40 0,79 6,67 0,95 -0,27 0,357 -0,87/0,33

Total 6,53 0,42 6,98 0,49 -0,44 0,007 -0,75/0,13

A análise de amostras emparelhadas (n=13) mostrou diferença

significativamente maior nos escores pós para a parte B, C e Total, descritos na

Tabela 2. Um graduando realizou somente o teste pós.

A tabela 3 descreve os escores do TCS dos graduandos do quarto e

quinto ano e do PE. As tabelas 4,5,6 e 7 descrevem o teste T por partes para os

escores do TCS do quinto ano pré e pós em relação ao painel de especialistas

(PE) e ao quarto ano (antes do início dos módulos clínicos).

74

Tabela 2: Teste T de amostras emparelhadas TCS pré e pós-quinto ano.

N Média Diferenças emparelhadas

Pré Pós Média DP 95%IC

diferença

Sig

bilateral

A

(Hipótese)

13 7,39

7,70

-0,31 0,72 -0,74

/0,12

0,144

B

(Exames)

13 5,87

6,64

-0,76 1,27 -1,53/

0,00

0,051

C

(Terapêutica)

13 6,16

6,72

-0,55 0,93 -1,11

/0,01

0,054

Total 13 6,46

7,01

-0,55 0,50 -0,86

/0,25

0,002

Tabela 3: Escores TCS pré e pós quinto ano, quarto ano e painel de

especialistas.

TCS pré

(n=35)

TCS pós

(n=14)

TCS quarto

(n=34)

TCS PE

(n=22)

Média DP Média DP Média DP Média DP

A (Hipótese) 6,91 0,89 7,57 0,83 6,97 0,73 7,89 0,83

B (Exames) 6,31 0,86 6,69 0,63 6,34 0,64 7,76 0,74

C

(Terapêutica)

6,40 0,79 6,67 0,95 5,52 1,05 7,82 0,89

Total 6,53 0,42 6,98 0,49 6,32 0,52 7,82 0,65

75

Tabela 4: Teste T de amostras independentes da parte A do TCS do quinto

ano pré e pós, quarto ano e painel de especialistas (PE).

Amostras Diferença

média

Sig bil 95%IC

A (Hipótese) Quinto pré /

Quarto

-0,07 0,757 -0,45 / 0,33

Quinto pós /

Quarto

0,60 0,028 0,07 / 1,13

Quinto pré / PE -0,98 ≤0,001 -1,45 / -0,51

Quinto pós / PE -0,32 0,276 -0,90 / 0,27

Tabela 5: Teste T de amostras independentes da parte B do TCS do quinto

ano pré e pós, quarto ano e painel de especialistas (PE).

Amostras Diferença

média

Sig bil 95%IC

B (Exames) Quinto pré / Quarto -0,027 0,882 -0,39 / 0,34

Quinto pós / Quarto 0,35 0,092 -0,06 /0 ,77

Quinto pré / PE -1,45 ≤0,001 -1,88 / -1,02

Quinto pós / PE -1,07 ≤0,001 -1,54 / -0,60

Tabela 6: Teste T de amostras independentes da parte C TCS do quinto

ano pré e pós, quarto ano e painel de especialistas (PE).

Amostras Diferença

média

Sig bil 95%IC

C

(Terapêutica)

Quinto pré / Quarto 0,89 ≤0,001 0,43 / 1,34

Quinto pós / Quarto 1,16 ≤0,001 0,51 / 1,80

Quinto pré / PE -1,41 ≤0,001 -1,88 / -0,95

Quinto pós / PE -1,14 ≤0,001 -1,79 / -0,49

76

Tabela 7: Teste T de amostras independentes do escore total do TCS do

quinto ano pré e pós, quarto ano e painel de especialistas (PE).

Amostras Diferença

média

Sig bil 95%IC

Total Quinto pré / Quarto 0,21 0,074 -0,02 / 0,44

Quinto pós / Quarto 0,66 ≤0,001 0,33 /0,98

Quinto pré / PE -1,28 ≤0,001 -1,60 / -0,97

Quinto pós / PE -0,84 ≤0,001 -1,23 / -0,45

Discussão:

Os dados qualitativos dos participantes sugerem: desconhecimento do

conceito no qual o teste se baseia e da noção de expert, bem como um

desconforto com o sistema de pontuação; dúvidas quanto ao conceito de

Raciocínio Clínico e os determinantes do processo de decisão clínica; tempo

adequado para realização; preocupação com avaliações sumativas. A maioria

dos graduandos avaliou o teste negativamente, o que esta de acordo com o

descrito em literatura (6,7,8).

Na percepção do professor o teste foi rápido, sem custo; foi possível a

inclusão de um conteúdo extenso abrangendo hipótese, diagnóstico e

tratamento, e o uso de imagens, utilizando conteúdos de discussões clínicas.

O teste foi realizado sem supervisão, o que pode ter proporcionado troca

de informações. Não houve treinamento prévio, mas foi realizada uma explicação

do significado e modo de realização antes de cada teste (6). Parte do conteúdo

era compatível com casos clínicos do quarto ano da graduação, e esperava-se

uma maior pontuação (8,9).

Houve uma diferença significativamente maior para o grupo pós prática

em relação ao pré no quinto ano, nos escores na parte A ou de hipótese

diagnóstica (p=0,021) e Total (p=0,007); esses dados sugerem uma prática

efetiva no desenvolvimento dessas habilidades. A ausência de diferenças

significativas no teste T de amostras emparelhadas na parte A sugere

inefetividade da prática no desenvolvimento das habilidades de coleta de dados;

77

entretanto, o desaparecimento da diferença escore da parte A entre o grupo pós

e o Painel de Especialistas, e o aparecimento de diferença significativamente

maior em relação ao quarto ano (p=0,028) sustentam a hipótese de possível

efetividade e necessidade de ampliar a amostra.

Na análise de amostras emparelhadas houve uma diferença

significativamente maior de escores no TCS pós para as partes B ou exames

complementares (p=0,05), C ou terapêutica (p=0,05) e total (p=0,002) em

relação ao TCS pré prática. O resultado pode refletir um viés de seleção, com

participantes do TCS pós com mais interesse e melhor desempenho, ou que

consideraram ter adquirido competências de Raciocínio Clínico; ou pode

representar um ganho real de habilidades.

A diferença significativa de escores entre todos os grupos de graduandos

e o Painel de Especialistas era esperada, de acordo com a definição de

especialista (6,7,8,9); todos os escores do quinto ano pré e pós teste e quarto

ano mantiveram a diferença de duas derivações padrão da média do escore dos

especialistas, com exceção do escore A do grupo quinto ano pós (6,7,9).

A a manutenção da diferença significativamente maior do escore da parte

terapêutica entre o grupo quinto ano pré e pós e quarto ano pode ser explicada

pelo pequeno contato com a terapêutica no quarto ano; ou por uma efetividade

da prática, visto que a diferença média entre os grupos aumentou no teste pós;

os escores do teste pós ainda são significativamente menores que o do Painel

de Especialistas, porém com uma diminuição da diferença, o que sustenta um

ganho real de habilidade.

Os escores totais significativamente maiores do TCS pós em relação ao

quarto ano também suportam a hipótese de ganho de competências de

Raciocínio Clínico. A diferença significativamente maior entre o Painel de

Especialistas e TCS pré e pós, porém com diferenças menores no teste pós

sustentam efetividade da prática.

Faz-se oportuno lembrar que a avaliação de competências clínicas passa

por uma fase de transição entre prática pré-clínica e o internato, onde apesar do

aumento expressivo das experiências práticas, a performance em testes de

avaliação não mostra ganho (fenômeno do “intermediate dip” ou mergulho

78

transitório). Sugere-se duas explicações para o fato: a falta de organização

temporária do conhecimento devido à integração insuficiente de experiências

práticas e conhecimento teórico; e deficiências dos testes convencionais para

medir a competência de resolução de problemas de forma válida. A ausência

deste dip intermediário no TCS, quando comparamos os resultados em

diferentes níveis de experiência proporciona uma melhor avaliação dessa fase

de desenvolvimento acadêmico (9,10).

O índice de reprovação não foi avaliado nesse estudo, mas o descrito é

de 3% para esse tipo de teste (5% para o teste de múltipla escolha); não

possuímos experiência e dados para definir um escore de corte não arbitrário, e

o escore padrão pode variar em diferentes universidades para a mesma questão

e para diferentes Painéis de Especialistas (7,9). Porém parece mais justo basear

o escore de corte em performance real, como no TCS, do que em um escore

arbitrário baseado em predições hipotéticas (9). Se consideramos escore sete

ou a média do PE menos dois desvios padrões (7,82-0,65=7,17) para aprovação,

obtivemos em ambos 8 participantes (n=14) com escores abaixos destes no

teste pós. Os dados podem ser insuficientes para caracterizar um escore de

corte, devido ao baixo número de participantes.

Conclusão:

A teoria do script sugere que o conhecimento médico é baseado em

“arquivos” de patologias, que conectam informações clínicas e fisiopatológicas

em grandes categorias e em categorias específicas, iniciando sua formação

antes dos primeiros encontros clínicos. A experiência torna possível atualizar,

reestruturar, adaptar, podar e refinar os scripts adquiridos. O TCS foi projetado

para avaliar competências adquiridas no Raciocínio Clínico e comparar a

capacidade dos graduandos de interpretar dados clínicos em contexto de

incerteza com um painel de referência. É uma ferramenta padrão passível de

generalização e comparação, de fácil aplicabilidade, compatível com a realidade,

com baixo consumo de recursos e valiadade documentada (6,8,9).

Do ponto de vista educacional o Raciocínio Clínico é um componente

primordial na competência médica, em qualquer área de atuação, incluso no

modelo de ensino atual, e como tal deve ser explicitamente ensinado e avaliado.

79

Ferramentas para estimular, ensinar e avaliar as diferentes etapas do RC e

tomada de decisão, podem e devem ser adicionadas ao currículo dos

profissionais de saúde; o treinamento para utilização dessa ferramenta pode

desenvolver habilidades cognitivas superiores que envolvem pensamento crítico,

como analisar, avaliar e criar, passo além do simples relembrar e entender.

A avaliação do graduando através do TCS foi considerada como um

caminho complementar para avaliar a prática clínica em nossa universidade;

atingimos o nível 2 do modelo de avaliação de programa de Kirkpatrick,

avaliando o aprendizado; porém são necessários mais estudos, com uma

amostra maior, um maior refinamento estatístico do sistema de pontuação do

teste, com definição dos escores de aprovação (10,11,12,13,14).

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81

5. DISCUSSÃO:

O presente estudo teve como objetivo geral testar e avaliar o ensino do

Raciocínio Clínico em prática de enfermaria, através de uma estratégia explícita

de ensino-aprendizagem utilizando as ferramentas IDEA, avaliação de

competências e o Teste de Concordância de Script.

O TCS explica como médicos progressivamente adquirem o

conhecimento adaptado ás necessidades clínicas; é construído com o objetivo

de medir um elemento chave do Raciocínio Clínico, a interpretação de dados

clínicos, caracteristicamente em contexto de incerteza (4). A elaboração do TCS

foi possível utilizando um Painel de Especialistas do departamento de CM, com

domínios que incluíram grandes temas clínicos. A elaboração é trabalhosa, de

acordo com dados, sendo necessário esforço semelhante ao do Teste de

múltipla escolha (50); faz-se necessário um conhecimento extenso e a

distribuição modal das respostas, teste, reteste e a escolha adequada do PE

(54). A confiabilidade do TCS elaborado está dentro da preconizada, e o PE foi

adequado para o quinto ano, com uma maior derivação padrão da média devido

a heterogeneidade. (50). A validade de construção mede um atributo ou

qualidade que não é “operacionalmente definido” e não foi avaliada

individualmente, mas as diferenças encontradas entre o quarto e quinto ano pós

teste sugerem uma progressão linear dos escores.

Apesar de nenhum docente ter relatado a impressão pessoal com o TCS,

o fato de ter participado do estudo voluntáriamente sugere uma certa “satisfação”

com o formato; feedback do desempenho global pode ter proporcionado reflexão

nos docentes que se dispuseram a rever seus escores e deve ser melhor

avaliado como estratégia para abordar dificuldades e reparos no conteúdo do PE

(63).

Os escores do TCS sugerem ganho de competência e, apesar de dados

numéricos documentarem com clareza o processo, não existe certeza que a

correlação de desempenho corresponda à encontrada na prática real. A

percepção de melhoria e eficiência da metodologia empregada, bem como a

intensa atividade ensino-aprendizagem vivenciadas foram mais marcantes que

os escores encontrados.

82

A experiência com a ferramenta IDEA foi muito boa; proporcionou reflexão

diária e intensa das metodologias empregadas, permitindo a incorporação de

diferentes recursos, estruturando a visita clínica, a narrativa escrita em prontuário

e estimulando a pesquisar evidências. Permitiu um ciclo de ensino-aprendizado,

tornando as tarefas progressivamente mais completas, utilizando parâmetros e

pontuações predefinidas e dinâmicas (9).

Foi possível identificar algumas das habilidades de Pensamento Crítico

nos graduandos, como curiosidade, comunicação efetiva (saber ouvir

respeitando pensamento e sentimento de outros, e saber falar e escrever com

clareza), prudência (reconhecendo seus próprios limites), reflexão e auto-

correção (considerar cuidadosamente os dados e interações interpessoais,

solicitar feedback e corrigir os próprios erros), proatividade, lógica e intuição

(24,33,54). O uso das ferramentas foi um estimulo à procura e entendimento dos

dados mais relevantes, lista de prioridade no cuidado e na solicitação de exames

complementares, análise dos resultados, vigilância de dados a serem

monitorizados e antecipação das complicações.

Os desvios de conduta e aprendizagem identificados foram

oportunamente corrigidos através de feedbacks apreciativo, possibilitando

reestruturação pessoal. O feedback dos alunos e o logbook indicam que as

percepções pessoais e do par também podem ser utilizados na detecção de

deficiências; proporcionaram o acesso a sentimentos e conceitos equivocados

e/ou inadequados que não foram comunicados verbalmente. Os feedbacks

coletivos proporcionaram oportunidades de ouvir e refletir sobre opinião de

pares, serviu de reforço competências desejadas ou não, e permitindo o ajuste

de ações e reforço de conceitos. Ambos diminuíram a distância docente e

discentes, aumentando a colaboração interpessoal e a revisão e reflexão das

metas de aprendizado, com foco em habilidades essenciais (10,33,34,35,63).

A intervenção foi bem planejada, os dados criteriosamente coletados por

um único observador, porém com pequeno número de graduandos; a proposta

preliminar pressupunha a participação de um grupo docente, permitindo

diferentes pontos de vistas na coleta de dados, porém não foi viável; o pequeno

número discente foi proposital e baseado em uma amostra de conveniência,

devido à complexidade da intervenção e à necessidade de monitorização diária.

83

A experiência limitada com metodologias ativas, feedback e as ferramentas, bem

como a ausência de um par fortemente vinculado ao projeto para discutir seu

andamento, foi parcialmente suprida pela participação em cursos de

desenvolvimento docente; permitiu confrontar conhecimento, prática e

resultados pessoais com o de profissionais com maior treinamento,

proporcionando reflexão (6,10,40,63).

A participação do graduando identificando se atingiu as metas ou não do

aprendizado, baseada na reflexão pessoal da prática e das experiências vividas,

permitiu avaliar o próprio nível de conhecimento, habilidades e entendimento das

necessidades e campos de melhoria; também proporcionou o desenvolvimento

de mudanças nas atividades de aprendizado, melhorou a prática clínica e

melhorou o cuidado ao paciente (4,6). A autoavaliação “ gera um balanço entre

confidência e precaução, entre persistência e flexibilidade, experimentação e

segurança, e independência e colaboração” (8,11). A autoavaliação é capaz de

auxiliar na identificação das necessidades de melhoria, na criação de metas e

estratégias de aprendizado, documentando o progresso; faz-se necessário

traçar um plano individualizado de aprendizado (individualized learning plan,

ILP), auxiliado por um mentor; durante o estudo foi possível incorporar alguns

conceitos de plano, porém ainda muito inicial em relação à complexidade da

mentoria. Mas existe evidência de que o plano de aprendizado efetivo e auto

direcionado melhora a efetividade do ensino (4,19).

As estratégias de ensino de RC permitem a expansão da experiência e

conhecimento, possuindo etapas que dever ser treinadas e retreinadas,

refletidas e constantemente aprimoradas, indo além de definições literárias de

sintomas, sinais e abordagens terapêuticas. As possibilidades de detecção de

deficiências e utilização de remediação devem ser “em tempo” real, indo além

de escores de aprovação. Constituem um campo a ser explorado de

oportunidades de ensino e vivência profissional.

O presente estudo testa um modelo para o aprendizado do RC e tomada

de decisão sobre o aprendizado, baseado em princípios e em um ciclo de

treinamento. O esquema IDEA não é um guia detalhado da ação, mas coloca o

sujeito na condição de poder usar os meios sugeridos, através da identificação

dos vários componentes da ação. Permite a ação-reflexão sobre a ação, através

84

da revisão das anotações no esquema IDEA, da auto-comparação com a ação

realizada e a desejada nas competências descritas, e de competências

compartilhadas através das explicações e exemplos de pares e do professor.

Segue-se a reflexão retrospectiva sobre a ação, através das discussões das

escritas com o professor, desencadeando o processo de reflexão antecipada

sobre a próxima ação, com pesquisa e aquisição de novos saberes teóricos e

reparação (35). O treino proporcionou experiência individual e coletiva,

fornecendo elementos do “que funciona melhor para mim”, respeitando estilos

de aprendizagem, e pode ser utilizado e aprimorado na vida pessoal e na carreira

profissional.

As competências trabalhadas incorporam: cognição, afetividade e

competências sociais. O nível cognitivo constitui-se das representações

cognitivas ou conhecimentos adquiridos pela formação e esquemas e teorias

implícitos. E da representação que o ator faz da situação, construindo ativamente

um sentido. O componente afetivo inclui a autoimagem, valorizada ou não, o

investimento afetivo e a motivação, influenciados pelo reforço positivo ou

negativo da prática (o professor, a equipe) (35). A motivação foi em parte

prejudicada pela alta competitividade dos graduandos e pelo enraizado conceito

de utilização das avaliações para finalidades sumativas; mas a percepção de

ampliar e aprimorar competências foi uma motivação para parte do grupo.

A restrição de tempo e recursos humanos dificulta o acesso ao PC e RC

individual, e o ensino destes é uma tarefa muito mais complexa e extenuante

que uma aula expositiva; o trabalho em pequenos grupos, a utilização de

ferramentas para a prática, reflexão e avaliação, é um caminho para facilitar e

auxiliar o professor no desenvolvimento e utilização de ténicas adequadas ao

grupo, e ao nível de complexidade em questão. Amplia os horizontes da prática

diária de forma estruturada, observando o graduando na realização de tarefas

que incluem todo o cuidado, e não somente parte dele; não desmerece em nada

a associação com outros métodos de prática e avaliação, podendo aumentar a

acurácia na identificação de deficiências. Permite utilizar dados individuais

coletados da ferramenta em atividades em grupo, complementando a

propedêutica nas visitas clínicas; a experiência coletiva de práticas estruturadas

permite reflexão e ações pró ativas individuais por comparação de deficiências

85

e fortalezas com a de pares, vivenciando o poder de atividade de grupo. O

conhecimento prévio das competências avaliadas durante o aprendizado,

através de ferramentas validadas, dá consistência ao esforço individual e

coletivo, estabelecendo metas. Em conjunto fecha-se um ciclo formativo do

feedback: individual, coletivo, do par, do professor e da avaliação sumativa; e

abre-se outro, com o docente no papel de mentor das atividades e

redirecionamento oportuno do ciclo de formação.

PC, RC, RP e tomada de decisão têm três características básicas e

comuns: eficácia, inovação e auto direcionamento. Eficácia na medida em que

evita erros comuns, como ver somente um lado da questão, falha em usar

evidências que confirmem o raciocínio, uso da paixão ao invés da razão, este

último grandemente impulsionado pelo autoconhecimento e boa utilização das

habilidades psicológicas individuais; inovação na medida em que não somente

se relembra fatos e vivências, mas utiliza-se experiências prévias na reinvenção

de estratégias que servem para o momento; e autodirecionada porque não utiliza

caminho de outros, mas define-se os próprios passos (28).

O presente estudo amplia o entendimento da metodologia clínica utilizada

e avalia objetiva e subjetivamente as mudanças, fornecendo indícios das

dificuldades e facilidades da sua utilização. Utiliza a ciência concreta e as redes

neurais invisíveis, baseadas na experiência, na intuição, nos sentidos, no

raciocínio e nos sentimentos; fornece evidências da consciência de graduandos

sobre a necessidade de conhecimentos médicos, de experiência prática, de

estimular o olhar, sentir, perceber, pensar, e de ordenar reflexivamente, no

tempo e no espaço, os eventos constituintes do processo saúde-doença. Não

ignora a tensão e contradição existente entre teoria e prática, esforçando-se para

aprimorar, organizar, pontuar, explicar e receber explicações do gerenciamento

do cuidado, foco raramente aceito, esclarecido e declarado na educação médica;

diagnósticos incertos, subjetividade nas interpretações de dados, julgamentos e

necessidade de decisão compatível com inúmeros contextos: da narrativa dos

pacientes “cria-se” a narrativa médica, resgatando a necessidade de escutar e

interpretar como ponto de partida para todo e qualquer exercício de diagnóstico

e decisão terapêutica. Valoriza habilidades variadas, reforçando atitudes e

86

comportamentos éticos e autoreflexivos, impulsionando a pró-atividade em cada

passo do desenvolvimento profissional discente e docente na prática diária (36).

6. CONCLUSÃO:

1. Foi elaborado um TCS de acordo com as diretrizes, baseado em

evidências e com conteúdo compatível com o quinto ano médico; o teste foi

validado por docentes do departamento de CM e atingiu um alfa de Cronbach

aceitável; a validade de conteúdo foi assegurada pelas evidências e pela revisão

de pares; não houve diferença significativa no escores de acordo com a

especialidade profissional, o tipo de contrato e o local predominante de trabalho.

Tempo de formado foi significativamente associado com o maior escore.

2. O contato com o TCS elaborado e com o feedback do escore do Painel

de Especialistas pode ter tido um papel formativo para o corpo docente,

facilitando a reflexão e a comparação com os pares; não obtivemos feedback

para maiores inferências.

3. As ferramentas IDEA e a Avaliação de Competências foram testadas e

podem ser utilizadas para ensino do Raciocínio Clínico em prática clínica;

proporcionaram um ensino mais homogêneo e estruturado tornando as etapas

do RC visíveis; permitiram a introdução do conceito de auto-gerenciamento das

metas de aprendizado (claramente definidas nas ferramentas) As ferramentas

auxiliaram o docente no gerenciamento dos graduandos, fornecendo metas

gerais e específicas, porém necessitou de dedicação diária e contato intenso

com o processo, o que foi facilitado pelo trabalho em pequenos grupos.

4. O feedback individual e coletivo diário obtido com a utilização das

ferramentas proporcionou informação e a correção do caminho do raciocínio,

proporcionado a auto-reflexão e comparação. As visitas clínicas melhoraram na

percepção do docente, tornando-se mais efetivas e estruturadas.

5. O feedback verbal individual e coletivo diário obtido com a utilização

das ferramentas proporcionou uma percepção melhor e em tempo, dos

graduandos em dificuldade, estimulando o uso e o desenvolvimento de

estratégias de resgate que foram discutidas individualmente. Dificuldades

87

anteriormente não verbalizadas foram visualizadas nas correções das narrativas

e nas discussões intensas e mais provocativas. A competição com um ambiente

recheado de conteúdo e escores dificultou o processo.

6. O logbook foi utilizado para documentação racional e reflexiva do

desenvolvimento e utilização das ferramentas; forneceu informações valiosas

sobre o processo ensino aprendizagem; possibilitou o registro e recordações de

passagens que seriam de outra forma esquecidas; possibilitou a reflexão pessoal

da docente sobre caminhos bons e ruins e estratégias alternativas.

7. A utilização da Avaliação de Competências para Autoavaliação e

Avaliação do Par documentou as competências percebidas, impulsionando a

reflexão; forneceu um escore e espaço para comparação, além de formalizar a

avaliação do par. Trabalhou o conceito de competência não como aquisição, mas

como hábito de aprendizado.

8. A avaliação do Raciocínio Clínico pelo Teste de Concordância de Script

documentou uma melhoria nos escores pós experiência clínica, porém não

temos um grupo controle sem intervenção, limitando as conclusões.

88

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57. Feuerwerker LCM. Mudanças na educação médica: os casos de Londrina e Marília. Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. São Paulo: USP; 2002.

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92

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93

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94

8. ANEXOS

Anexo 1:

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

_______________________________________________________________

Título da pesquisa: O uso do teste de concordância de script e o portfólio de auto

avaliação na avaliação e feedback dos graduandos do Quinto ano Médico no

módulo de Atenção Clínico-Cirúrgica, submódulo Clínica Médica (MD 944) da

FCM UNICAMP.

Responsáveis: Dra Sandra R S Gasparini e Prof Dra Simone Appenzeller

Número do CAAE: 35517114.6.0000.5404

Você está sendo convidado a participar como voluntário de um estudo.

Este documento, chamado Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, visa

assegurar seus direitos e deveres como participante e é elaborado em duas vias,

uma que deverá ficar com você e outra com o pesquisador.

Por favor, leia com atenção e calma, aproveitando para esclarecer suas

dúvidas. Se houverem perguntas antes ou mesmo depois de assiná-lo, você

poderá esclarecê-las com o pesquisador. Se preferir, pode levar para casa e

consultar seus familiares ou outras pessoas antes de decidir participar. Se você

não quiser participar ou retirar sua autorização, a qualquer momento, não haverá

nenhum tipo de penalização ou prejuízo.

Justificativa e objetivos:

Avaliar se os métodos de avaliação utilizados atualmente são um modelo

fidedigno de aferição das intervenções educacionais ofertadas pelo submódulo

de Clínica Médica, quando comparado com instrumentos validados.

Procedimentos:

Participando do estudo você está sendo convidado a responder ao teste

de concordância de script no início e término do submódulo e a utilizar o portfólio

de auto avaliação; a participação é voluntária, não identifica o participante e

garante o sigilo de sua resposta; os dados serão divulgados e publicados sem

fazer referência à um participante em particular. O teste de concordância de

95

script tem duração aproximada de uma hora. O portfólio de auto avaliação será

usado na sua prática diária.

Desconfortos e riscos:

O único desconforto é o tempo necessário para responder os testes e

preencher o portfólio. Não será atribuída nota ao teste de concordância de script

e, de nenhuma forma, seu desempenho será utilizado na sua nota oficial da

disciplina. O portfólio de auto avaliação também não fará parte de sua nota, mas

fará parte do seu feedback diário, mesmo que você não participe do estudo. A

participação é voluntária e não haverá punição se sua decisão for a de não

participar.

Benefícios:

O presente estudo faz parte da reestruturação das metodologias de

ensino do módulo atual e vai fornecer subsídios para ajustes do módulo de

Clínica Médica no quinto ano, beneficiando tanto o corpo docente quanto

discente.

Sigilo e privacidade:

Você tem a garantia de que sua identidade será mantida em sigilo e

nenhuma informação será dada a pessoas que não façam parte da equipe de

pesquisadores. Na divulgação dos resultados desse estudo, seu nome não será

citado.

Contato:

Em caso de dúvidas sobre o estudo, você poderá entrar em contato com

Sandra R S Gasparini, UNICAMP e Hospital Estadual de Sumaré, telefone (19)

996540875, e mail: [email protected].

Em caso de denúncias ou reclamações sobre sua participação no estudo,

você pode entrar em contato com a secretaria do Comitê de Ética em Pesquisa

(CEP): Rua: Tessália Vieira de Camargo, 126; CEP 13083-887 Campinas – SP;

telefone (19) 3521-8936; fax (19) 3521-7187; e-mail: [email protected]

96

Consentimento livre e esclarecido:

Após ter sido esclarecimento sobre a natureza da pesquisa, seus objetivos,

métodos, benefícios previstos, potenciais riscos e o incômodo que esta possa

acarretar, aceito participar:

Nome do (a) participante:

________________________________________________________

_______________________________________________________

(Assinatura do participante)

Data: ____/_____/______.

Responsabilidade do Pesquisador:

Asseguro ter cumprido as exigências da resolução 466/2012 CNS/MS e

complementares na elaboração do protocolo e na obtenção deste Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido. Asseguro, também, ter explicado e fornecido

uma cópia deste documento ao participante. Informo que o estudo foi aprovado

pelo CEP perante o qual o projeto foi apresentado. Comprometo-me a utilizar o

material e os dados obtidos nesta pesquisa exclusivamente para as finalidades

previstas neste documento ou conforme o consentimento dado pelo participante.

______________________________________________________

(Assinatura do pesquisador)

Data: ____/_____/______.

97

Anexo 2: Ferramenta IDEA – Esquema _______________________________________________________________

Utilize o método IDEA para documentar cada paciente durante a prática

clínica com foco para o motivo principal da internação. Para isso siga as

instruções abaixo:

- I = Interpretative summary: realizar um resumo dos achados mais

importantes do caso clínico (fatores de risco, co morbidades, exame físico,

exames complementares e tratamentos já realizados) para ajudá- la (o)

no diagnóstico.

- D= Differential diagnosis: pontue dois ou três diagnósticos mais

prováveis para esse paciente.

- E = Explanation of reasoning: escolha o diagnóstico principal e

explique os motivos da escolha (fatores que suportam seu diagnóstico X

fatores que falam contra o diagnóstico).

- A = Alternative diagnosis: compare os diagnósticos alternativos

com o principal, e explique o motivo de não escolhê-lo (fatores que falam

contra o diagnóstico X fatores a favor do diagnóstico).

-T= Terapeutics: pontue a terapêutica utilizada nesse paciente.

98

Anexo 3: Auto avaliação IDEA _______________________________________________________________

Conte-me sua avaliação IDEA Uma ferramenta para avaliar RC baseada na documentação de anotações de pacientes novos.

Pontue a qualidade de cada sessão das escritas clínicas com base na presença dos elementos definidos: 1=elementos escassos ou ausentes; 2= alguns a muitos elementos; 3= a maioria dos elementos

_______________________________________________________________ História Escrita História detalhada da patologia atual:

Definida como uma descrição completada queixa: localização, qualidade, severidade, duração, periodicidade, irradiação, fatores agravantes, fatores de melhora, fatores acompanhantes. 1 2 3 Hitória descritiva da patologia atual:

Definida como o uso de qualificadores semânticos e vocabulário descritivo como agudo ou crônico, contínuo e intermitente. 1 2 3 Cronologia história da patologia atual:

Definida como contar uma história clara que flui logicamente 1 2 3 Contextualização histórica da patologia atual:

Definida como identificação e inclusão de achados “chave” (relevantes) do passado, história familiar e social e outros sintomas que podem ter relevância para a parte final história. 1 2 3 História Completa e abrangente:

Definida como uma história pregressa, familiar e social completa e uma revisão completa dos sistemas 1 2 3

Achados de exame físico escritos Exame físico completo:

Definido como a documentação de um exame abrangente 1 2 3 Achados relevantes de exame físico:

Definido como incluir e realçar a presença ou ausência de achados relevantes conforme sugerido pela hipótese diagnóstica inicial 1 2 3 ____________________________________________________________________________ Avaliação escrita Sumário interpretativo:

Definido como um resumo interpretativo que utiliza vocabulário semântico para realçar os elementos mais importantes da história, exame físico, teste e interpretação do problema maior do paciente. 1 2 3 Diagnóstico diferencial:

Definido como fornecer um ou mais diagnósticos possíveis, se comprometendo como mais provável e considerando os menos prováveis ou imporváveis. 1 2 3 Bem explicado:

Definido como explicação do raciocínio que levou ao diagnóstico, incluindo epidemiologia, achados relevantes e como eles se comparam ou contrastam com a apresentação do paciente 1 2 3 Alternativas consideradas

Definidas como a explicação do raciocínio por trás da alternativa diagnóstica, incluindo epidemiologia e achados relevantes e como eles apoiam ou não a apresentação do paciente e levam ao diagnóstico 1 2 3

Plano escrito Plano bem razoável:

Definido como incluindo as razões para os testes de diagnóstico e o tratamento, e resumindo as evidências usadas para apoiar as decisões. 1 2 3

99

Anexo 4: Avaliação do professor IDEA _______________________________________________________________

Por favor pontue as habilidades desse estudante documentada nas anotações sobre o paciente.

Habilidades de “relato” (baseada na história escrita e nos achados de exame físico) □ Iniciante: inclui alguns elementos importantes de história, exame físico e achados de exames complementares (1 ponto); □ Adequado: inclui vários elementos importantes de história, exame físico e achados de exames complementares (2 pontos); □ Excelente: inclui quase todos ou todos os elementos importantes de história, exame físico e achados de exames complementares (3 pontos); _______________________________________________________________ Habilidades de raciocínio clínico (baseada na avaliação da escrita) □ Iniciante: erros na acurácia diagnóstica OU explicação limitada do raciocínio OU erros no raciocínio (1 ponto); □ Adequado: compromete-se com pelo menos um diagnóstico pertinente, define com acurácia a epidemiologia e achados chaves do diagnóstico e compara com os achados de história do paciente, exames físico ecomplementares (2 pontos); □ Excelente: inclui um diagnóstico diferencial completo e pertinente, se comprometendo com o mais provável, acuradamente define a epidemiologias e os achados do diagnóstico mais provável e dos alternativos, e compara/contrasta com os achados de história, exame físico e complementar do paciente (3 pontos).

Habilidades de tomada de decisão (baseada no planejamento escrito): □ Iniciante: lista os testes diagnósticos e o planejamento terapêutico (1 ponto); □ Adequado: usa raciocínio lógico para dar suporte aos testes diagnósticos e plano terapêutico (2 pontos); □ Excelente: usa evidência para dar suporte aos testes diagnósticos mais importantes e ao plano de tratamento, considerando as preferencias do paciente (se aplicável) (3 pontos).

Total de pontos = (9 possivel)

100

Anexo 5: Avaliação de competências: Autoavaliação e avaliação do par _______________________________________________________________

Nome:____________________________ RA:_______________ Data:__________ Par:______________

1. Coleta de dados de historia e exame físico:

Anamnese incompleta, superficial, não inclui elementos essenciais para condução do caso. Exame físico incompleto, superficial e não confiável, com técnica incorreta. Incapaz de incorporar elementos do contexto.

Capaz de executar história e exame físico com precisão, lógica, de forma completa e eficiente. Inclui elementos relevantes para o raciocínio clínico e condução do caso. Incorpora elementos importantes de contexto, como condição econômica, familiar, suporte social, autonomia.

Contato insuficiente para julgar

Abaixo da expectativa

Dentro do esperado

Acima da expectativa

AA 0 1 2 3 4 5

AP 0 1 2 3 4 5

Comentários:_____________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

2. Julgamento clínico:

Incapaz de distinguir entre um achado normal e anormal e focar o exame no diagnóstico, selecionando o que é relevante. Subestima ou superestima os achados relevantes. Falha em reconhecer sinais de gravidade e necessidade de interconsulta com especialista.

Distingue com precisão os achados normais e anormais e direciona seu exame para facilitar o diagnóstico. Reconhece com precisão sinais de gravidade e necessidade de consulta com especialista.

Contato insuficiente para julgar

Abaixo da expectativa

Dentro do esperado

Acima da expectativa

AA 0 1 2 3 4 5

AP 0 1 2 3 4 5

Comentários:_____________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

101

3. Lógica de trabalho

Ignora os dados na formulação do diagnóstico principal e dos diagnósticos diferenciais. Não considera as patologias por ordem de prevalencia. O plano de tratamento é incompleto e inapropriado. Não reavalia dados novos.

Formula hipóteses para os problemas apresentados; considera a prevalência das doenças. Recomenda intervenções apropriadas. Reavalia dados novos com precisão e redireciona o tratamento.

Contato insuficiente para julgar

Abaixo da expectativa

Dentro do esperado

Acima da expectativa

AA 0 1 2 3 4 5

AP 0 1 2 3 4 5

Comentários:_____________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

4. Cuidado com os familiares e acompanhantes:

Relacionamento com as famílias é vago, inadequado ou insensível. Não considera as circunstâncias individuais das famílias na prestação de recomendações ao paciente durante a internação e na alta. Não inclui as famílias na discussão da terapêutica e intervenções necessárias.

Considera os familiares nas orientações; identifica abordagens e intervenções adequadas para o nível sócio-econômico e cultural. Considera o contexto individual e familiar nas intervenções sugeridas.

Contato insuficiente para julgar

Abaixo da expectativa

Dentro do esperado

Acima da expectativa

AA 0 1 2 3 4 5

AP 0 1 2 3 4 5

Comentários:_____________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

______________________________________________________________

102

5. Conhecimento médico (conteúdo):

Conhecimento fragmentado, limitado e mal organizado. Conhecimento mínimo de epidemiologia, fatores de risco, fisiopatologia e terapêutica. Participação nos seminários deficiente.

Conhecimento extenso, consistente e bem aplicado à prática diária. Excelente conhecimento de epidemiologia, fatores de risco, fisiopatologia e terapêutica. Capaz de procurar por respostas e realizar perguntas pertinentes. Excelente participação nos seminários.

Contato insuficiente para julgar

Abaixo da expectativa

Dentro do esperado

Acima da expectativa

AA 0 1 2 3 4 5

AP 0 1 2 3 4 5

Comentários:_____________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

6. Habilidades interpessoais e de comunicação:

Comportamento inapropriado com relação ao respeito, compaixão e empatia. Demonstra insensibilidade, impaciência, intolerância para com pacientes, familiares e equipe de saúde. Não conhece a equipe, os familiares e o paciente, e mantém seu foco em suas necessidades pessoais. Não é capaz de escuta ativa ou de estabelecer conexão eficaz. Utiliza linguagem inapropriada, com termos científicos ou de difícil compreensão.

Comunica–se de forma respeitosa, empática, sem julgamento. Estabelece confiança e relacionamento com os pacientes e ouve ativamente às suas preocupações e de seus familiares. Consegue trabalhar respeitosamente com a equipe de saúde, conhecendo seus membros e colaborando com a rotina diária. Utiliza linguagem apropriada e de fácil compreensão.

Contato insuficiente para julgar

Abaixo da expectativa

Dentro do esperado

Acima da expectativa

AA 0 1 2 3 4 5

AP 0 1 2 3 4 5

Comentários:_____________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

103

7. Aprendizado baseado na prática e melhorias durante o submódulo:

Não reflete sobre a prática ou incapaz de fazer alterações em seu comportamento com base na experiência adquirida ou em sugestões. Não pesquisa literatura médica efetiva ou avalia criticamente as novas informações. Não faz nenhum esforço aparente para melhorar o atendimento ao paciente. Não contribui com aprendizagem dos colegas e professores.

Reflete sobre a prática e usa a experiência adquirida na condução dos casos novos. Procura por provas e informações usando tecnologia da informação. Avalia informações criticamente e argumenta baseado em evidências. Contribui com a aprendizagem dos colegas e professores.

Contato insuficiente para julgar

Abaixo da expectativa

Dentro do esperado

Acima da expectativa

AA 0 1 2 3 4 5

AP 0 1 2 3 4 5

Comentários:_____________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

8. Prática baseada no sistema:

Compreensão inadequada dos recursos locais. Age sem consciência do impacto dos sistemas de cuidados de saúde na atenção individual do paciente. Não se preocupa com o registro adequado de informações (prontuário).

Demonstra consciência e compreensão dos recursos locais. Recomenda exames complementares e encaminhamentos adequados, e atua com uma compreensão do impacto dos sistemas de cuidados de saúde no cuidado individual do paciente. Registro eficaz (prontuário). Demonstra consciência da relação custo benefício e da relação eficácia, eficiência e efetividade.

104

Contato insuficiente para julgar

Abaixo da expectativa

Dentro do esperado

Acima da expectativa

AA 0 1 2 3 4 5

AP 0 1 2 3 4 5

Comentários:_____________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

9. Profissionalismo:

Não participa ativamente ou demonstra compromisso com a aprendizagem. Não completa as tarefas atribuídas. Não consegue se comunicar de forma eficaz com os colegas e equipe. Não demonstra postura apropriada e atitude que inspire confiança.

Rápido, confiável e responsável. Participa ativamente em atividades de aprendizagem. Conclui tarefas atribuídas e auxilia os colegas em dificuldade. Comunica-se de forma eficaz com os colegas e a equipe.

Contato insuficiente para julgar

Abaixo da expectativa

Dentro do esperado

Acima da expectativa

AA 0 1 2 3 4 5

AP 0 1 2 3 4 5

Comentários:_____________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

http://med.stanford.edu/gme/current_residents/corecomp.html